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Projeto de Documentário “MUDERNAGE” A História do Modernismo Artístico Goiano Autora: Marcela Borela Goiânia, junho de 2008. A) Visão original A construção do recorte proposto por este documentário se caracteriza fundamentalmente pela investigação histórica. Expressamos abaixo esta busca. Uma procura/tema/documentário que deu origem a uma pesquisa de mestrado que acontece simultaneamente a criação artística. O pouco que se sabe sobre a história do modernismo nas artes plásticas goianas não está escrito ou filmado, está, contudo, cristalizado na

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Projeto de Documentário

“MUDERNAGE”

A História do Modernismo Artístico Goiano

Autora: Marcela Borela

Goiânia, junho de 2008.

A) Visão original

A construção do recorte proposto por este documentário se caracteriza fundamentalmente pela investigação histórica. Expressamos abaixo esta busca. Uma procura/tema/documentário que deu origem a uma pesquisa de mestrado que acontece simultaneamente a criação artística. O pouco que se sabe sobre a história do modernismo nas artes plásticas goianas não está escrito ou filmado, está, contudo, cristalizado na memória de muitos que viveram os idos anos 1950, 1960 e 1970 em Goiânia sob um clima de efervescência artística e cultural. Eis a busca de nossa MUDERNAGE.

A experiência moderna nas artes plásticas ocorre em Goiás quase três décadas após o advento do modernismo no Brasil - Semana de Arte Moderna de 1922. A história do Modernismo Artístico Goiano remonta necessariamente os primeiros anos da vida cultural de Goiânia, após sua construção, e está intimamente ligada a uma concepção de modernidade concebida a partir da existência da nova capital do estado. Goiânia era a cidade que, fundada sob as medidas exatas do moderno, do progresso e do desenvolvimento, resolveria todos os problemas de atraso de Goiás. A jovem cidade planejada era a imagem da modernidade em

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oposição à imagem de atraso da velha capital, ligada aos valores tradicionais, às oligarquias e ao passado colonial.

Neste sentido, a pesquisa que sustenta o ponto de vista a ser apresentado no documentário “MUDERNAGE”, entende que o modernismo em Goiás parte de um acontecimento específico, uma espécie de marco inicial dos desdobramentos que levarão a experiência moderna propriamente dita: a criação da EGBA - Escola Goiana de Belas Artes e os esforços de seus fundadores para oferecer condições de desenvolvimento de uma arte em Goiânia que se diferenciasse do modelo neoclássico que imperava na nova capital pelas mãos de artistas oriundos da antiga Vila Boa.

O movimento1 moderno é, portanto, aqui compreendido como manifestação imagética da cultura da cidade de Goiânia nas décadas de 1950, 1960 e 1970. São considerados pioneiros da arte moderna em Goiás: o gravurista e escultor Luiz Curado, o pintor Frei Nazareno Confaloni, o pintor, gravurista e muralista D. J. Oliveira, o escultor Gustav Ritter e o gravurista e pintor Cléber Gouveia, todos infelizmente já facelidos. Cada um destes atores/artistas possui historicidade particularíssima. Além disso, cada um deles entra para a história da arte moderna em Goiás por vias específicas e diferenciadas. Trata-se de um encontro de experiências individuais em trânsito: Luis Curado era o único goiano (de Pirinópolis), formado, porém, na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Gustav Ritter era alemão e estudou em Bauhaus, famosa escola modernista de Hamburgo. Frei Confaloni era italiano e passara pelas mais tradicionais escolas de arte de lá, como a Escola de Belas Artes de Florença. D.J. Oliveira teve sua formação ligada ao Grupo Santa Helena em São Paulo, o mesmo de Volpi e Rebolo, trazendo para Goiás sua experiência de “ateliê coletivo”. Cléber Gouvêa, mineiro de Uberlândia, estuda em Belo Horizonte com o grande pintor modernista Guinard, e acaba sendo o primeiro a desenvolver o abstracionismo em Goiás. Cinco pontos de partida e só um de chegada: a MUDERNAGE que aqui se configurou.

Os olhos da nação estavam voltados para o centro do país (primeiro por conta da recém-fundada cidade de Goiânia e depois em função da construção de Brasília). Goiânia era vista como a “capital do sertão”, considerada um ambiente de fronteira, de encontro de culturas diferentes, tencionadas e impulsionadas por um sentido próprio de busca de uma identidade cultural. Curiosamente então, o grupo de pioneiros é formado por um alemão, um italiano, um paulista, um mineiro e um goiano, conectados, entretanto, pelo fato de terem desenvolvido seus projetos artísticos modernos em solo goiano. Por isso falamos especificamente em arte moderna goiana, uma vez que vemos os traços de nossa cultura tematizados e representados na obra desses artistas. Eis aqui o princípio de nossa MUDERNAGE: estes artistas formaram, (com exceção dos naifes) a maior parte dos artistas modernos em exercício hoje em Goiânia; além disso, desenvolveram em solo goiano, cada um a seu modo, seus projetos modernistas, se utilizando do ambiente e dos materiais aqui encontrados para a construção de seus sistemas representacionais.

B) Proposta de Documentário

O documentário MUDERNAGE se pretende um olhar contemporâneo sobre a história da arte moderna goiana, uma vez que o sujeito/autor (cineasta/documentarista) que constrói a narrativa é alguém ligado ao tempo presente, a sistemas de valores particulares e perspectivas subjetivas de análise e interpretação. Entende-se que ao assumir o direcionamento pessoal do olhar é possível construir uma narrativa documental, neste caso, necessariamente histórica (no sentido que visa representar e/ou apresentar acontecimentos passados), fora de padrões estéticos que costumam revelar um objeto se valendo de um discurso de neutralidade e não-interferência do sujeito-criador e do aparato cinematográfico no processo de abordagem do real. A palavra-chave que delineia o conceito de realização do documentário MUDERNAGE é INTERPRETAÇÃO. O documentário, neste caso, não é compreendido como discurso do real, mas como uma construção assertiva sobre este real.

Buscando inserir a proposta estética do filme MUDERNAGE no contexto das orientações que delineiam o documentário na contemporaneidade, caracterizado por se valer simultaneamente da experiência moderna e clássica, e, com objetivo de inserí-lo também na problemática moderna de representação, apresentamos uma proposta disposta a assumir

1 Sabemos da dificuldade de se falar em “movimento” moderno. Ao que parece não houve mesmo um movimento organizado em torno de ideais estéticos comuns, mas houve uma movimentação: dispersa? esparsa? desorganizada? Nesta controvérsia se justifica em parte a idéia de “Mudernage” que faz referência as particularidades de nosso subdesenvolvimento em relação aos modernismos e a modernidade.

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contradições formais e recriar, longe de parâmetros rígidos, uma preocupação narrativa de inteligibilidade e experimentação. O método narrativo e as estratégias formais adotadas no filme buscam escapar ao didatismo da maior parte dos filmes históricos sem se afastar de uma proposta de inteligibilidade.

MUDERNAGE é um filme que se quer cronológico, mas sem a necessidade de ser auto-explicativo. A cronologia (apresentação dos temas de acordo com a ordem em que eles apareceram no tempo) será o fio condutor da narrativa. O objetivo é fugir da obviedade e de certa “caretice” presente na maior parte dos filmes que tratam de questões históricas, que na busca da verossimilhança, e mais ingenuamente, pela verdade dos fatos, o cineasta ao fazer um documentário que busca apresentar “a História”, se encontra diante do extremo desconhecido: o passado. Tal opção mais comum da qual objetivamos nos desviar é produto de uma herança estética clássica que prevê a invisibilidade do aparato cinematográfico como forma de submergir a possibilidade de percepção da ideologia que orienta a narrativa.

MUDERNAGE apresentará versões, e, não, verdades. MUDERNAGE, como um filme histórico, tem o objetivo de construir uma narrativa documental experimental de linguagem híbrida, uma vez que se pretende, a partir de uma idéia de filme-ensaio, propor uma reflexão mais geral sobre as formas de representação da cultura no cinema brasileiro, e, mais especificamente, sobre as formas de representação do passado e de reconstrução deste por meio de recursos audiovisuais. MUDERNAGE é também essencialmente um “filme de montagem” por utilizar uma gama de imagens de arquivo. Contudo, não se pretende dar a este material de arquivo um aspecto homogêneo, mas ao contrário, pretende-se enfatizar os aspectos híbridos que carregam. É preciso ressaltar que MUDERNAGE não deixa de ser um documentário de entrevistas, na medida em que pretende recuperar a história através da memória de pessoas, mas não tão somente. Como um “filme sobre arte” pretende-se perseguir uma idéia de “filme de arte” no sentido alcançar um equilíbrio entre aspectos plásticos e narrativos, na busca da superação da exclusividade do recurso da entrevista.

O método narrativo de MUDERNAGE se apoiará no tratamento estético dado a imagens de arquivo, enfatizando informações sobre os cinco artistas pioneiros da arte moderna goiana, bem como revelando indicações de uma visualidade de época. Este material, relacionado a uma gama entrevistas com artistas que tiveram sua formação intimamente ligada à experiência destes primeiros modernos, com familiares, amigos e pesquisadores, e, somados ao registro de dezenas de obras de arte (incluindo pinturas, gravuras, esculturas e murais) formarão um corpo documental capaz de trazer à tona os acontecimentos que determinaram o desenvolvimento da arte moderna em solo goiano.

Tais recursos reunidos serão instrumentos de interpretação artística e histórica, numa perspectiva de intervenção criadora e investigativa sobre o tema em questão por meio de uma idéia de mosaico e/ou caleidoscópio. O intuito é reunir pedaços do passado (sabemos que o passado todo não estará ao nosso alcance), bem como fragmentos de memória e indícios visuais e sonoros, que, alocados numa perspectiva cronológica, mas não-linear, ão de fazer mais que simplesmente apresentar a história da arte moderna em Goiás: ão de compor, sobretudo, o imaginário da MUDERNAGE goiana do passado sob o imaginário do espectador muderno do presente.

C) Eleição e Descrição dos Objetos

Memória dos cinco artistas pioneiros: arquivos sonoros e visuais relacionados a estes cinco personagens. Uma vez que estes artistas são já falecidos, contamos com tais arquivos para tornar presente seus rostos, vozes e posicionamentos específicos relacionados aos acontecimentos históricos dos quais são protagonistas. Existem materiais de arquivo já identificados, bem como existe a necessidade de ampliar possibilidades de escolha.

Familiares dos cindo artistas.

Artistas goianos modernos que tiveram sua formação ligada à experiência dos pioneiros. Muitos destes foram alunos e logo se tornaram professores e/ou artistas de grande repercussão. Estas pessoas são as maiores autoridades para se falar um uma história da arte moderna em Goiás, na medida em que através da EGBA ou do IBAG (Instituto de Belas Artes de Goiás – fundado na UFG a partir da dissidência de alguns

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professores da EGBA) tiveram a oportunidade de dar seus primeiros passos artísticos. Todos estes entendem e expressam a grande importância, tanto das escolas quanto dos pioneiros, para sua formação e para a existência de um ambiente artístico moderno hoje em Goiás.

Artistas goianos contemporâneos, que apesar de não terem suas formações artísticas diretamente ligadas aos cinco pioneiros, fazem parte da tradição fundada por eles, ora negando e criticando a tradição, ora se valendo dela. O objetivo aqui é o de verificar representações.

Ex-alunos e ex-professores da EGBA e do IBAG que não necessariamente se tornaram artistas famosos, mas que guardam no tesouro de suas trajetórias pessoais e profissionais, as recordações e representações que os ambientes formados por estas escolas configuram.

Pessoas ligadas ao mercado e ao estudo de arte em Goiânia

O artista naif Antonio Poteiro o mais importante do Brasil, um dos quatro mais importantes do mundo. Apesar de não fazer parte do movimento moderno, conviveu por muitos anos nos ateliês de Frei Confaloni, DJ Oliveira, Cléber Gouvêa e Siron Franco. Era e é amigo pessoal de todos eles, sendo um admirados de suas obras e tendo aprendido com eles muitas coisas.

Obras de arte que compõem a visualidade do modernismo artístico goiano. (inclui a idéia de “lugar”, na medida em que muitas obras foram construídas para determinados espaços). Trata-se das obras dos artistas pioneiros: gravuras, pinturas, esculturas e murais, além de obras dos artistas que serão entrevistados.

Lugares como o antigo Prédio da EGBA (onde hoje funciona a Escola de Arquitetura da UCG – a parede principal que dá sustentação ao prédio é a mesma); o ateliê de D.J. Oliveira que se encontra intacto e fechado assim como ele deixou na cidade de Luziânia; o lugar onde era o ateliê de Cléber Gouvêa em sua casa; o lugar onde era o ateliê de Gustav Ritter no terreno onde mora a Sra. Gudrum (sua cunhada); o quarto onde dormia Frei Confaloni no Convento dos Frades Dominicanos.

A música relacionada às memórias dos artistas pioneiros (suas origens) e, sobretudo, relacionada aos modos de vida no interior do Brasil nas décadas de 1950, 1960 e 1970. O nome deste documentário tem origem na música de Elomar Figueira de Melo “O Violeiro” de 1972: “Vou cantar num canto de primeiro as coisas lá da minha MUDERNAGE...”, que será tema principal do filme. A trilha sonora original será composta basicamente por viola e sanfona e será composta por músicos-pesquisadores goianos que conhecem a fundo a música sertanista de raiz.

D) Eleição e Justificativa para a(s) Estratégia(s) de Abordagem

1. Uso de materiais de arquivo

As imagens de arquivo são necessárias pelo caráter histórico do filme MUDERNAGE, que além de tratar de diversos acontecimentos das décadas de 1950, 1960 e 1970, tem como ponto de partida as trajetórias artísticas de cinco artistas que estão falecidos. A idéia do filme surgiu justamente a partir do contato com alguns arquivos de entrevistas com Luis Curado, Cléber Gouvêa e D.J. Oliveira onde falam de suas respectivas participações na história da arte moderna em Goiás.

2. Entrevistas

Justificam-se na medida da necessidade que tem o documentário MUDERNAGE de propor um processo de composição de memória a partir de experiências pessoais vividas no geral mais de 30 anos antes do acontecimento deste filme. O objetivo é possibilitar a essas pessoas que

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relembrem e, em muito, refaçam frente às câmeras os caminhos de suas memórias, elaborando o processo de passagem do tempo cada um a seu modo.

3. Registro das obras de arte

As obras de arte são os principais documentos visuais da história da arte moderna goiana, carregam consigo o seu tempo, o espaço que representam, as figuras e as não-figuras que representam. Não só o traço se seus autores estão ali, mas o imaginário, o momento de vida, as intenções, as orientações ideológicas e toda uma concepção de mundo. Estas obras dizem muito sobre a vida em Goiás naqueles tempos. A idéia é registrá-las, após um processo de escolha. Estas obras formam o principal aspecto visual do filme, na medida em que a escolha das que serão registradas passa tanto pela verificação de sua relevância história e estética, quanto pela formação da paleta de cores do filme. As obras de arte serão registradas de dois modos: em seus locais de origem e deslocadas para a Galeria Frei Confaloni no Museu de Arte Contemporânea de Goiás.

4. Registro de lugares:

Registrar lugares onde coisas aconteceram no passado é, de alguma forma, testar a materialidade do mundo e constatar o passado-passado. No bojo dos lugares onde serão registradas as obras de arte (elas estarão sempre em algum lugar e a equipe terá que se deslocar até elas) entram também a série de lugares que tiveram importância para os acontecimentos e experiências da época, que, entretanto, não estão povoados de obras. O sentido é o de verificar vestígios, compondo o processo de investigação histórica – oferecendo visualidade a ele.

E) Sugestão de Estrutura

Idéia para seqüência inicial, depois dos créditos:

Grafismos com as palavras: muderno, moderno, mudernage, mudernismo, modernismo, modernoso, mudernoso, moderninha, mudernim, modenidade, moderna, mudernage e outras demais possíveis variações até chegar a MUDERNAGE.

Tema musical: O Violeiro – Elomar Figueira de Melo.

Proposta geral:

A estrutura é a de um mosaico – reunião de fragmentos que tendo ou não sentido em si mesmos compõem um imaginário – elementos para pensar e oferecer visualidade a nossa MUDERNAGE. Entrevistas, obras de arte, espaços, lugares, objetos, arquivos – imagens e sons - processos artísticos e criativos elencados a partir de uma noção de cronologia. Na medida em que tais recursos revelam momentos e elementos particulares da passagem de tempo e desta história é que serão convidados a fazer parte da narrativa.

Referências:

Alguns filmes sobre arte e sobre artistas (neste caso, cinebiografias – e aqui vale dizer que MUDERNAGE não se pretende uma cinebiografia coletiva dos cinco artistas pioneiros, mas apenas compreende a importância da memória destes para contar a história da arte moderna em Goiás) foram utilizados como pesquisa estética para a composição da proposta do documentário, são eles: “O Mistério de Picasso”, de Jean Clouzot., “Modigliani”, de Mike Davis,

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“Pollock”, de Ed Harris, “Frida”, de Julie Taymor, “Sonhos”, de Akira Kurossawa, “Cartola”, de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, “Andrei Rublev”, de Andrei Tarkovsky, “Buena Vista Social Club”, de Wim Wenders, “Janela da Alma”, de João Jardim de Walter Lima Júnior e “O Pintor”, de Joel Pizzini.

Métodos/estratégias (detalhamento descritivo):

1. Uso de materiais de arquivo: indicamos abaixo aqueles materiais que já estão identificados e disponíveis para utilização, referentes à memória dos artistas-pioneiros:

1. Documentário. “Pioneirismo da Gravura Goiana”. EDNA GOYA. Digital. 1998. Entrevistas sobre as origens da gravura goiana e sobre a história artística de cada um dos artistas: Luis Curado (20’), D.J. Oliveira (20’), Cléber Gouvêa (15’).2. Documentário. D.J. Oliveira em seu ateliê. VHS. (Registro feito por Edna Goya em dois momentos). 3. Documentário. Memória da Arte em Goiás. Flavio Pessoa. Sebrae. Digital. (15’)4. Documentário. Memória da Arte em Goiás. Marcos Lobo. Sebrae. Digital. (15’)Série da TV Anahnguera. “Artistas Goianos”. Semanal. Cléber Gouvêa - 1 hora. D.J. Oliveira – 1 hora. 5. Documentário. Nove minutos de eternidade. PX Silveira. Sobre D. J. Oliveira. 1’. 35 mm. ABD-GO.6. Entrevista de D.J. Oliveira sobre a EGBA e outros assuntos (áudio) para o Jornal Opção e o artista Alexandre Liah.- 03/10/2005 (última entrevista antes de sua morte). 7. FOTOGRAFIA DE FREI CONFALONI pintando os afrescos da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e outras fotografias. Fotógrafo Hélio de Oliveira. 1954.

Acervos gerais:

- Acervos para Pesquisa (material visual e sonoro):

Acervo TV Brasil Central.Acervo TV Anhanguera.Acervo MIS – Museu da Imagem e do Som – Goiás. Acervos pessoais das famílias dos artistas: Dona Eli Curado (viúva de Curado), Dona Gudrum (Cunhada de Ritter) , Dona Tereza (viúva de Oliveirra), Éric Gouvêa (filho de Cléber) e Rosella Orsini (sobrinha de Confaloni). Acervo Instituto Histórico e Geográfico de Goiás.Acervo pessoal Amaury Menezes.Acervo pessoal Saída Cunha.Acervo Fotógrafo Marcos Lobo.Acervo Fotógrafo Hélio de Oliveira.Acervo do Arquivo Nacional – Rio De Janeiro.

- Fontes de Pesquisa (material impresso):

Revista Arte Hoje – O Progresso em Goiás visto por dentro. Org: PX Silveira e Betúlia Carvalho. Editora Marco Zero. Coleção Multi Arte. Rio de Janeiro.Revista Renovação – EGBA. Gravura Goiana. Fundação Pio XII. 1955.Revista Arte Nossa – EGBA. Fundação Pio XII.Atas de reunião da Fundação da EGBARelatório: Raízes da Faculdade de Artes da UFG. Antônio Henrique Péclat. 1º Regimento Interno da EGBA2º Regimento Interno da EGBARegimento interno do IBAGCatálogos de exposições diversas (coletivas e individuais)

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Matéria de periódico. O Popular. 21 de fevereiro de 1954. matéria sobre o Congresso Brasileiro de Intelectuais. Revista OesteLivro de autoria de Luis Curado sobre Goiás. Livro “Trilogia da Arte em D.J. Oliveira – A Reflexão da Gravura” de PX Silveira. Livro “Conhecer Confaloni” de PX Silveira – 2ª edição - 2008. Livro de Amaury Menezes. Da Caverna ao Museu – Dicionário das Artes Plásticas em Goiás. Fundação Cultural Pedro Ludovico Teixeira. Goiânia. 1998.Livro de Aline Figueiredo. Artes Pásticas no Centro-Oeste. Ed. UFMT/MAC. Cuiabá.

1979. Livro de Nasr Fayad Chaul e Luis Sérgio Duarte da Silva. As cidades dos sonhos: desenvolvimento urbano em Goiás.Livro de Luis Sérgio Duarte da Silva. A Construção de Brasília: modernidade e

periferia.Acervo do Instituto Histórico e Geográfico e GoiásArquivo da Academia Goiana de LetrasArquivo da Universidade Católica de GoiásArquivo da Universidade Federal de GoiásArquivos do Museu Marieta Telles Machado – Biblioteca Pio VargasArquivos do Museu Zoroastro ArtiagaAcervo do MAG – Museu de Arte de Goiânia.Matérias de periódicos escritas pelo crítico de arte Emílio Vieira.

2. Entrevistas:

Haverão três tipos de entrevistas:

a) O primeiro tipo será sempre uma ‘visita’ a casa das pessoas, aos ateliês dos artistas, quando serão utilizadas 2 câmeras: Câmera 1 - fixa - fechada no rosto do entrevistado. Câmera 2 - móvel: câmera na mão que revela a complexidade do ambiente da entrevista, perseguindo objetos, detalhes, observando ora atenta e ora desatenta a materialidade de tudo que ali está – cores, texturas, formas, gerando por vezes imagens de caráter experimental que serão utilizadas como momentos de transição na narrativa.

b) O segundo tipo diz respeito a algumas entrevistas que serão feitas em espaços abertos (cenas externas) com o uso de stead cam com objetivo de dar ênfase ao movimento tanto do personagem quando do mundo que “acontece”. A exemplo: nos deslocaremos com Amaury Menezes até alguns lugares onde o grupo de pintores da EGBA (professores e alunos) iam sempre pintar ao ar livre, por exemplo o Bosque dos Buritis e o Lago das Rosas. Trata-se de, por meio do contato com o “lugar” de memória, tentarmos nos encontrar com ela, possibilitando que o entrevistado elabore seus conteúdos de forma a visualizá-la, uma vez que no caso de Amaury, estes pintores saiam para pintar paisagens, hábito que ele guarda até hoje e que é fato marcante em sua obra.

Entrevistados sob métodos de entrevista a e b:

Familiares:

1. Dona Eli Curado – viúva de Luis Curado. Guarda todas as lembranças do marido. Guarda consigo a versão dos fatos de acordo com a visão de Curado. Conhece a história da EGBA como poucas pessoas, uma vez que Curado nunca foi devidamente ouvido e são poucos aqueles que conhecem sua verdadeira importância para a arte moderna goiana. 2. Luiz Curado Filho – filho de Luis Curado. Guarda as memórias do pai e da escola que ele fundou nos anos 1950 em Goiás. 3. Gudrum – cunhada de Gustav Ritter, irmã da mulher de Ritter que se chamava Ingrid. Uma senhora alemã de 90 anos que viera para o Brasil com a família Ritter

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fugindo da guerra. Encontra-se extremamente lúcida e guarda memórias impressionantes do Prof. Ritter. Gudrum mora no mesmo terreno onde funcionou durante anos o ateliê e Ritter e onde ele faleceu. 4. Ingrid Ritter – neta de Gustav Ritter, filha do filho mais velho dele. É uma grande admiradora da obra do avô, desejosa de facilitar dentro de suas possibilidades o acontecimento desta pesquisa e deste documentário. 5. Gaspar Ritter – filho mais velho de Gustav Ritter que guarda o acervo do pai em uma fazenda nas margens do Rio Araguaia. 6. Filomena Gouvêa – artista plástica, pesquisadora, professora da UCG e irmã de Cléber Gouvêa. Acompanhou a trajetória artística do irmão. 7. Eric Gouvêa – filho de Cléber Gouvêa. Acompanhou a trajetória do pai e hoje guarda e gere o acervo pessoal de Cléber.8. Milton – irmão de Cléber Gouvêa. Gere hoje em dia boa parte do acervo do artista que está à disposição para comercialização. 9. Dona Tereza Oliveira – Viúva de D.J. Oliveira.10. Valéria Oliveira – filha mais velha de D.J. Oliveira que acompanhava todos os projetos do pai. 11. Frei Humberto – frade dominicano que dividiu o quarto com Frei Confaloni por mais de 20 anos. 12. Frei Marcos – frade Dominicano que cuida da Igreja do Rosário na Cidade de Goiás e que acompanhou o processo de Frei Confaloni pintando os afrescos desta Igreja.

Observação: não há garantia da possibilidade de contato presencial com familiares de Frei Nazareno Confaloni, uma vez que sua irmã Rita Confaloni e sua sobrinha Rosella Confaloni vivem na Itália. Entretanto, Rosella e fez uma viagem à Goiânia para conhecer as obras do tio no Brasil em fevereiro de 2008, ocasião que foi registrada por meio de uma pequena câmera e cujas imagens podem ser aproveitadas, caso se faça necessário.

Artistas modernos:

1. Amaury Menezes – artista formado pela primeira turma da EGBA, foi também professor da escola. Lecionou até recentemente na Faculdade de Arquitetura e Artes da UCG que assumiu o prédio onde funcionava a EGBA. Conhece profundamente a história em questão e tem sua formação artística intimamente ligada ao mestre Frei Confaloni, bem como estudou, conviveu e foi colega de docência de Luis Curado, D. J. Oliveira e Gustav Ritter. Amaury reconhece um aspecto caro a este documentário: a injustiça cometida em relação a Luis Curado, que morreu praticamente esquecido e ignorado, além de diversas minúcias de pequenas/grandes estórias desta História.

2. Siron Franco – freqüentou o Curso Livre da EGBA e tem sua formação intimamente ligada aos ensinamentos de D. J. Oliveira e Frei Confaloni. Dizem, inclusive, que o “menino” Gessiron não saía do ateliê de D.J. e que foi a partir da verificação da vontade artística dele, que ainda não tinha idade para começar um curso superior foi criado o Curso Livre da EGBA. Depois de se mudar para São Paulo e de ter seu trabalho reconhecido Siron volta para Goiânia e continua convivendo muito com D.J., Frei e Cléber. Há referências ao trabalho do Frei em determinadas séries de suas pinturas. Houve momentos que eles dividiram o mesmo ateliê interferindo profundamente no processo de criação um do outro.

3. Ana Maria Pacheco – tem sua formação artística inicial na EGBA, principalmente dentro dos ateliês de DJ Oliveira e Frei Confaloni, ali se forma e logo consegue grande destaque no meio artístico. Seu talento é revelado na EGBA (foi também professora da escola) e de lá esta artista conquista o mundo. É a primeira estrangeira a dirigir uma Escola de Belas Artes na Europa. Ela afirma que buscou o projeto pedagógico da EGBA para lecionar e dirigir a escola na Europa, bem como expressa enorme gratidão à D. J. Oliveira, pelos ensinamentos que dele recebeu, considerando-o um “mestre”.

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4. Isa Costa – artista revelação da primeira turma da EGBA, assim como Ana Maria Pacheco. Tem sua formação artística ligada a atividade dos artistas pioneiros, mas principalmente à D.J. Oliveira, com que teve sempre grande ligação.

5. Selma Parreira – aluna do IBAG e artista plástica que têm como mestre formação Cléber Gouveia. Foi monitora dele no ateliê de gravura do IBAG, convivendo diariamente com o artista durante anos.

6. Roosevelt – freqüentou o Curso Livre da EGBA e freqüentou intensamente o ateliê de D. J. Oliveira. Apesar de autodidata, tem sua formação muito ligada a este artista.

7. Maria Guilhermina – formada pela primeira turma da EGBA, logo alcança destaque como artista, se tornando professora e expondo fora de Goiás. Faz parte do grupo dissidente que funda o IBAG (acompanhando o Prof.. Antônio Henrique Peclat e o Prof. Orlando Ferreira). É responsável pelo convite feito a Cléber Gouvêa para lecionar nesta escola. Conhece profundamente a história da arte moderna goiana. É professora na FAV e atuante na arte goiana até os dias de hoje.

8. Zé César – artista e professor de gravura da FAV, cadeira que era de Cléber goivêa. Conhece as diretrizes da escola. Conviveu com Cléber Gouvêa durante anos e tem sua formação profundamente ligada aos ensinamentos deste artista, assim como teve também uma intensa relação com D. J. Oliveira, tendo sido aluno do artista e freqüentador de seu ateliê.

9. Ilca Canabrava – artista plástica, aluna da primeira turma da EGBA.

10. Alexandre Liah – artista de que teve sua formação profundamente ligada a D. J. Oliveira, convivendo com ele até os últimos dias de sua vida. D.J. dizia que se tinha alguém que herdara algo dele era Liah, cujo traço ele reconhecia como semelhante ao seu.

11. Ângelus Ktenas – artista plástico e professor do IBAG. Conviveu bastante com Cléber Gouvêa e com todos os demais artistas pioneiros.

Artistas contemporâneos:

1. Divino Sobral – artista plástico e crítico de arte. Conhece profundamente a obra de Gustav Ritter, assim como dos demais modernistas goianos, em especial Confaloni. É um crítico de idéias sofisticadas a respeito da tradição da qual faz parte.

2. Leonan Nogueira – artista plástico e amigo de Ana Maria Pacheco. Conhece as influências dos pioneiros na obra desta artista. Além disso, participa ativamente do ambiente artístico goiano atual.

3. Paulo Fogaça – considerado o primeiro artista contemporâneo, na década de 1960, a produzir em Goiás. Pode falar bem das impressões que a tradição moderna local teve no início da contemporaneidade, ou seja, como a tradição moderna, mesmo num sentido de ruptura, pôde influenciar seu fazer artístico contemporâneo.

4. Juliano Moraes – artista plástico contemporâneo que tem uma perspectiva crítica com relação à tradição moderna em Goiás. Faz trabalhos em escultura e entende a importância de Gustav Ritter para a escultura em Goiás.

5. Marcelo Solá – artista contemporâneo que também constrói suas representações sobre a história das artes plásticas em Goiás.

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6. Pitágoras – artista plástico contemporâneo em alta no mercado de arte em Goiás atualmente.

Ex- alunos e ex-professores:

1. Professora Violeta – uma das fundadoras do IBAG – conhece profundamente o teor dos acontecimentos da época.2. Prof. Dr. Grace Maria Machado de Freitas (UNB) – aluna da EGBA, onde se formou, é conhecedora do movimento moderno em Goiás.3. Dona Eni Benevides – ex- aluna do Curso Livre da EGBA. Tem uma relação afetiva importante com a escola e com os mestres, pois teve que largar tudo em função do casamento.4. Orlando Ferreira – foi professor da EGBA fez parte do grupo que funda o IBAG. Ao IBAG dedicou boa parte de sua vida e de sua carreira. Conhece profundamente as razões pelas quais o grupo dissidente resolve criar outra escola de arte em Goiás, bem como conhece de modo geral toda a história em questão. Está, inclusive, escrevendo a história do Instituto. 5. . Heleno Godoy – foi aluno do IBAG/FAV nos primeiros anos da escola. Hoje é professor da Faculdade de Letras da UFG. Conhece a fundo a história da arte moderna em Goiás e suas contradições gerais. Fez parte, juntamente com Siron Franco, do Grupo Macunaíma nos anos 1960. 6. Liselotem – foi professora da EGBA e amiga pessoal de Gustav Ritter.7. Saída Cunha – artista plástica e professora da UCG. Foi amiga pessoal de Frei Confaloni e aluna da Escola Goiana de Belas Artes. Tem um acervo impressionante de todos os artistas goianos em sua casa.

Pessoas ligadas ao mercado e ao estudo de arte:

1. Emílio Vieira – historiador e critico de arte. É professor na FAV/UFG. Exerceu a critica de arte em diversos jornais nas décadas de 1960 e 1970. 2. Carlos Sena Passos – artista plástico e professor na FAV/UFG. É também critico de Arte. Conhece bem a trajetória dos artistas goianos modernos e tem uma postura crítica com relação a tradição. 3. Dona Zilca – apreciadora e entusiasta as artes em Goiás desde os anos 1950. Participava ativamente de leilões de arte e conhecia pessoalmente os artistas modernos. 4. Prof. Dr. Edna Goya – gravurista, professora e pesquisadora que primeiro levantou as raízes da arte moderna em Goiás; primeiro em sua pesquisa de mestrado e posteriormente em sua pesquisa de doutorado. 5. Prof. Dr. Luis Edegar – professor da FAV atualmente e crítico de arte. Orientou monografias e dissertações de mestrado sobre artistas goianos.6. Adriane Camilo – aluno do Mestrado em Cultura Visual pela FAV/UFG, produziu monografia sobre Frei Confaloni e conseguiu um bom levantamento de sua obra.7. Adelmo Café – crítico de arte. 8. Miguel Jorge – escritor e crítico de arte. Acompanhou na época a evolução da arte moderna goiana de perto. Sua obra é um marco modernista na literatura. Conhece profundamente a história em questão.9. Atiço Villas Boas – crítico de arte.10. PX Silveira – empresário das artes em Goiás, documentarista e escritor. Fez vários documentários sobre artistas goianos, lançou vários livros sobre o assunto e conhece a fundo os meandros do modernismo goiano, assim como as diretrizes da cultura produzida em Goiás.11. Marcos Caiado – poeta e empresário das artes em Goiás.12. Eliane Miklos – Marchand em Goiás há aproximadamente duas décadas. Conhece as obras de todos os artistas goianos com grande especificidade. Trabalhou com exclusividade por alguns anos com a comercialização das obras de Siron Franco e Cléber Gouvêa.

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c) A terceira forma de entrevista incorpora uma ação específica de alguns artistas modernos que tiveram sua formação ligada à trajetória dos primeiros modernistas. Eles serão entrevistados da forma convencional, mas serão também convidados a produzirem uma obra-intertexto a partir de algum tema - indicação da obra dos pioneiros, de livre escolha destes artistas. O processo de feitura desta obra-homenagem será registrado pelo aparato cinematográfico enquanto se realiza uma entrevista que pode ser entendida como uma conversa pontual. O objetivo é enriquecer narrativa com a construção de memória pela qual passará o processo criativo destes artistas, quando se revelarão aspectos íntimos do ponto de vista tanto estético quanto pedagógico da relação que tinham com seus mestres. O objetivo aqui é colocar os personagens em ação, fazendo aquilo que mais fazem: produzindo obras. O “acontecer” das obras frente às câmeras dão um caráter de “presente” ao filme, tornando-o mais bonito aos olhos do espectador e enfatizando o aspecto plástico/ estético do modernismo goiano. Parte-se do principio que já há forte ligação entre este pintor e o artista-pioniero para o qual a tematização foi proposta (há referência de pesquisa neste sentido).

Sugestões iniciais (há uma breve conversação a respeito disso com alguns artistas, por isso trata-se apenas de sugestões, uma vez que podemos recorrer a outros nomes que também podem ser cogitados):

- ANA MARIA PACHECO homenageia D.J. OLIVEIRA. - SIRON FRANCO homenageia CONFALONI. - AMAURY MENEZES homenageia LUIS CURADO. - MARIA GUILHERMINA homenageia GUSTAV RITTER.- ZÉ CÉSAR homenageia CLÉBER GOUVÊA.

Prevemos aqui a utilização de 3 câmeras: Câmera 1 – logo em cima da tela do pintor (close) no rosto. Câmera 2 – móvel, na mão – busca registrar traço do artista. Câmera 3 – visão lateral que enquadra o artista e a tela em um plano quase geral/conjunto - se for o caso se enquadra também a câmeras 2 e 1, assim como o câmera e a diretora.

3. Registro de Obras de arte

4. Registro de lugares

Abaixo a cronologia do aparecimento dos assuntos que serão abordados na narrativa seguindo a dinâmica: 1. ARQUIVOS/ 2. ENTREVISTAS/ 3. OBRAS DE ARTE/ 4. LUGARES.

TEMAS / ASSUNTOS ABORDADOS NA NARRATIVA (por ordem cronológica):

1. movimentação artística de várias pessoas em Goiânia que antecede a criação da EGBA – Escola Goiana de Belas Artes: o que existia entes da EGBA? A Sociedade Pró-arte de Goiás. Falar do hábito dos artistas de pintarem em grupo e ao ar livre nesse período. Falar dos artistas vindos de Vila Boa de Goiás e sua atividade não-moderna.

2. criação da EGBA: o encontro de Curado e Ritter, e, posteriormente de Curado e Confaloni.

3. artimanhas para trazer Confaloni para Goiânia4. inicio do funcionamento da escola5. projeto pedagógico e artístico baseado na Escola Nacional de Belas Artes.6. a importância o curso livre da EGBA7. os alunos/ artistas de destaque8. O Congresso Brasileiro de Intelectuais e a Exposição da EGBA9. o clima/ ambiente da escola10. o aprendizado com os mestres

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11. aspectos modernos da escola12. aspectos conservadores da escola13. importância da escola de maneira geral14. divergências entre os docentes15. racha interno da EGBA que dá origem ao IBAG16. saída de Gustav Ritter da EGBA e sua ida para o IBAG – ficam Curado e Confaloni.17. Problemas entre EGBA e IBAG: diferenças e semelhanças18. EGBA contrata D. J. Oliveira19. IBAG contrata Cléber Gouveia20. O ambiente fundamental do ateliê livre do DJ21. os aprendizes ilustres22. Atuação de Cléber Gouveia no IBAG – contextos do IBAG até o Salão de Artes.23. Processo de decadência da EGBA24. fim da EGBA25. a situação de Curado após do fim26. a situação de Frei Confaloni após o fim27. a trajetória de DJ fora da EGBA28. a trajetória de Ritter no IBAG e fora dele29. a trajetória de Cléber Gouveia em Goiás e o advento do abstracionismo30. a 1ª Bienal de Artes de Goiás em 197031. o IBAG vira FAV32. memórias da época: o que ficou? Qual a versão oficial dos fatos? Há versão oficial ou

há uma versão mais difundida?33. qual o verdadeiro papel destes artistas pioneiros para o desenvolvimento da arte

moderna goiana?34. até que ponto estes artistas são reconhecidos?35. o que os artistas modernistas goianos de todas a gerações pensam sobre a atuação

dos artistas pioneiros?36. o que pensam os artistas contemporâneos dos artistas modernos pioneiros? Sob qual

aspecto é possível identificar a ruptura do contemporâneo com o moderno em Goiás?37. que modernismo artístico foi este implantado em Goiás? Quais são suas características

estéticas e temáticas? Quais suas possíveis limitações?38. comparação entre os diferentes níveis de reconhecimento que gozam os 5 artistas

pioneiros. Esclarecer sob que aspectos cada um deles teve papel fundamental na história da arte moderna goiana.

39. que Goiânia era a cidade deste tempo e destes artistas? Que Goiânia é a destes artistas hoje?

Pré-pesquisa: Aqui detalhamos parte da pesquisa que dá sustentação ao argumento do filme MUDERNAGE.

O que se sabe sobre a História da Arte Moderna Goiana?

A experiência moderna nas artes plásticas ocorre em Goiás quase três décadas após do advento do modernismo no Brasil - Semana de Arte Moderna de 1922. Trata-se de uma experiência tardia, mas que encerra, entretanto, uma série de questões apontadas tanto nos termos da arte moderna manifestada pelas diversas correntes da avant gard na Europa, quanto no âmbito do modernismo brasileiro e também latino americano.

A história do Modernismo Artístico Goiano remonta necessariamente os primeiros anos da vida cultural de Goiânia, após sua construção. Uma idéia de modernismo em Goiás estaria intimamente ligada a uma concepção de modernidade concebida a partir da existência a nova capital do estado. Goiânia era a cidade que, fundada sob as medidas exatas do moderno, do progresso e do desenvolvimento, resolveria todos os problemas de atraso de Goiás. A jovem cidade planejada era a imagem da modernidade em oposição à imagem de atraso da velha capital, ligada aos valores tradicionais, às oligarquias e ao passado colonial.

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Assim como a afirmação da identidade urbana de Goiânia se dá a partir da negação do modelo vilaboense2, do ponto de vista localizado da manifestação da arte moderna acontece algo semelhante calcado numa mesma base de oposição fundamental. A ruptura ocasionada pela arte moderna se dá a partir da negação dos valores artísticos tradicionais da Cidade de Goiás que tinham sido trazidos para Goiânia no período de transição. A mudança da capital é, sem dúvida, uma espécie de marco também para as artes plásticas goianas, assim como relata o pintor Amaury Menezes3:

(...) Não tínhamos conhecimento das reações que já formavam um movimento de vanguarda nas artes do Brasil (...). Não podemos afirmar com segurança que a fundação de Goiânia e a conseqüente mudança da capital tenham propiciado o surgimento de novos artistas, mas, seguramente a menor dificuldade de intercâmbio com o restante do país possibilitou uma efervescência cultural com reflexo principalmente nas artes plásticas (MENEZES, 1998, p. 34).

Partimos de um acontecimento específico, uma espécie de marco inicial dos desdobramentos que levarão a experiência moderna em Goiás propriamente dita: a criação da EGBA - Escola Goiana de Belas Artes e os esforços de seus fundadores para oferecer condições de aprendizagem e desenvolvimento de uma arte em Goiânia que se diferenciasse do modelo neoclássico que imperava na nova capital pelas mãos de artistas oriundos da antiga Vila Boa4. Estes artistas, ligados ainda à arte mimética de cunho notadamente decorativo e ao modelo acadêmico neoclássico europeu de herança colonial5, formaram em Goiânia nos anos 1940 a Sociedade Pró-Arte de Goiás.

Logo após a transferência oficial da capital, um grupo interessado em artes de um modo geral, em música principalmente, encabeçado pelo engenheiro-arquiteto José Amaral Neddermeyer que trabalhara nas obras de construção da cidade, criava em 22 de outubro de 1942 a Sociedade Pró-Arte de Goiás. Embora se dedicando mais a música, a Sociedade Pró-Arte prestou grande colaboração as artes plásticas goianas, formando uma corrente positiva em torno do tema. Eram os artistas envolvidos: Octo Marques, Goiandira do Couto, Antônio Henrique Péclat, Jorge Félix de Souza, José Edilberto da Veiga e Brasil Grassini. Em 1947 a Pró-Arte enfraquecia, mas em 1948 e 1949 Neddermeyer, juntamente com o desenhista José Edilberto da Veiga e o pintor-engenheiro José Félix de Souza movimentaram no meio da Praça Cívica uma espécie de “Escolinha de Belas Artes”. Chamados “bandeirantes das artes” pela historiadora motogrossense Aline Figueiredo6, estes artistas estavam de alguma maneira sendo levados por uma diretriz ligada ao impressionismo ou pós-impressionismo. Em 1951 faleceu Neddermeyer.

Segundo Edna Goya (1998: p. 76) a EGBA nasce da inconformidade de Luís Augusto do Carmo Curado, professor da Escola Técnica Federal de Goiás (ETFG) que, insatisfeito com o diletantismo desorientado nas artes e preocupado com a falta de um ambiente artístico que assegurasse a permanência do artista no estado, pensava em criar uma escolhinha para viabilizar seus ideais: uma arte que fosse compromissada com sua época, que eliminasse a cópia desonesta, que acabasse com o provincianismo e que buscasse uma identidade própria. Na ETFG, Curado conheceu o escultor Henning Gustav Ritter que se entusiasma com a idéia. Eles montam juntos um curso particular de artes plásticas, e, em 1950, o curso criado por estes artistas transformou-se em uma escola que passou a funcionar de forma itinerante.

Em uma de suas viagens a cidade de Goiás, Luís Curado soube da presença de um “frade louco” que pintava umas coisas esquisitas, segundo a população da cidade que provavelmente estranhava naquele momento o traço já moderno do missionário dominicano Nazareno Confaloni que fazia estudos para pintar os 15 afrescos da Igreja do Rosário (FIGUEIREDO,

2 OLIVEIRA, Eliézer Cardoso. As imagens de Goiânia na Literatura Mudancista. In: CHAULL. As cidades dos sonhos. 3 MENEZES, Amaury. Dicionário das Artes Plásticas em Goiás: da caverna ao museu. 1999.4 GOYA, Edna de Jesus. O Pioneirismo da Gravura Goiana. Dissertação de Mestrado. 1998. 5 A primeira Escola de Artes fundada no Brasil data de 1826 - Academia Imperial de Belas Artes -futuramente - já sob uma perspectiva moderna - Escola Nacional de Belas Artes, contou com a presença marcante do pintor francês Jean-Baptiste Debret, em função disso é o estilo neoclássico puro que funda o ensino de artes plásticas no Brasil do século XIX, assim como boa parte da experiência artística (ADES, 1997, p.) Aqui é importante ressaltar a fascinante e tortuosa relação da arte latino americana com a arte européia, vivenciada posteriormente também em parâmetros modernos.6 FIGUEIREDO, Aline. Artes Plásticas no Centro Oeste.

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1979, p. 94). Curado, logo após conhecer o Frei, o convida a fazer parte do corpo docente da escola que pretendiam criar. Segundo GOYA (1998: p.77), Curado considera a arte do Frei de vanguarda e que esta seria capaz de imprimir uma nova mentalidade nas artes goianas.

Em 1952, o Arcebispo de Goiás, Dom Emanuel Gomes de Oliveira preparava-se para criar a Universidade Católica - ainda chamada Universidade de Goiás - vendo o esforço de Curado, Ritter e Confaloni e desejando mais uma faculdade para completar o conjunto necessário, os convida a anexar seu projeto a este maior (FIGUEIREDO, 1979, p. 94). É Luis Curado quem cuida das questões processuais e propriamente de modelo pedagógico da Escola, que foi pensado a partir do curso da Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Em 1953 a EGBA é inaugurada sob direção de Luís Curado, primeiro do grupo de pioneiros7 formado também por Frei Confaloni e Gustav Ritter. Eis o que chamamos de “trio articulador”. Em 1954 ocorre em Goiânia, na EGBA, um evento de grande impacto cultural:

Os intelectuais goianos, reagindo ao isolamento cultural da jovem metrópole do oeste, liderados pelo escritor Xavier Júnior, então presidente da Academia Goiana de Letras, e, apoiados pela Associação Brasileira de Escritores, promoveram, entre 14 e 21 de fevereiro o I Congresso Nacional de Intelectuais. Nomes importantes da intelectualidade brasileira e da América Latina, entre escritores, poetas, sociólogos, professores, arquitetos, educadores, músicos, artistas plásticos, cineastas e jornalistas reuniram-se pela primeira vez no Centro-Oeste. Destaques as presenças de Pablo Neruda, Jorge Amado, Mário Schenberg, José Geraldo Vieira, Mário Barata, Orígenes Lessa, Lima Barreto, Vila-nova Artigas, entre outros. (FIGUEIREDO, 1979, p. 94). A EGBA organiza, na ocasião do Congresso Brasileiro de Intelectuais, uma exposição coletiva que teria “marcado época8”. Foram mostradas cerca de 317 obras entre pinturas, desenhos, gravuras e esculturas de artistas goianos (Curado, Confaloni e Ritter) e de diversos artistas representantes de vários estados do país (só pra citar alguns: Oswaldo Goeldi, Carlos Scliar, Vasco Prado, Mário Gruber, Mario Zanini, Rebolo, Volpi, Djanira). A exposição deu espaço também para artistas anônimos da arte popular em cerâmica e madeira, além de dezessete imagens do escultor barroco José Joaquim da Veiga Vale (1806 – 1874) (FIGUEIREDO, 1979, p. 94).

Goiás viveu de modo intenso o que ficou conhecido como a década da utopia (1954-1964), marcada pela perda do pai – Getúlio Vargas e a busca de um novo centro para o Brasil. É o período de construção de Brasília (experiência social da utopia9) e a atenção se volta para Goiânia de alguma forma. Na década de 1950 ocorre o início do crescimento demográfico da cidade de Goiânia (de cerca de 53 mil no início, para 153 mil no final da década) graças a política de valorização do interior promovida por Vargas (1951-1954), gente de Minas Gerais e Bahia, principalmente migram para Goiás. Além disso, em fins da década de 1950 havia um clima otimista na cidade com relação às melhorias urbanas que a construção de Brasília traria pra Goiânia. (OLIVEIRA, 2005, p. 171)

No trecho que se segue, Aline Figueiredo, assinala a importância da EGBA ao criar um clima favorável ao pensamento moderno nos anos 50 em Goiânia: “Na década de 1950 a EGBA desempenhou papel de grande importância na vida cultural de Goiânia, uma vez que era a única a atuar no setor. Principalmente pela formação de valores que esboçariam o movimento goiano” (FIGUEIREDO, 1979, p. 95).

A atuação da EGBA mobiliza a opinião publica e em 1959 é aberto o MAG – Museu de Arte Moderna de Goiânia, lamentavelmente fechado em 1961 e reaberto em 1969. “Nos anos 50, a EGBA liderou o movimento artístico goiano, não medindo esforços para atingir tais objetivos. Buscou elevar a cultura da nova capital a níveis que ultrapassariam, no futuro, as fronteiras goianas por meio de uma geração de valores artísticos de grande repercussão, o que levou à fundação do Museu de Arte Moderna de Goiânia” (GOYA, 1998, p. 90).

Entretanto, em 1959 começa a crise da EGBA, que por ser uma instituição sem fins lucrativos e estar ligada a uma empresa, lutava para enfrentar a falta de recursos e suportava ainda problemas internos ligados a concepções conservadoras10 que impediam o avanço da

7 Edna Goya (1988: p.77) define o grupo de pioneiros da arte moderna em Goiás a partir do critério de um ideário modernista e também a partir de uma atuação artística independente do modelo neoclassicista. A estes três nomes soma-se posteriormente o de DJ Oliveira e Cléber Gouveia, como veremos posteriormente ao longo da exposição. 8 Expressão de Frei Confaloni. 9 SILVA, p. 63.10 Havia uma restrição por parte da orientação religiosa da Universidade Católica em aceitar o desenho vivo nu na EGBA. (GOYA, 1998, p. 91).

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escola. Um grupo dissidente, formado por professores e alunos, em nome da liberdade de expressão, organizava-se para fundar uma outra escola, o IBAG – Instituto de Belas Artes de Goiás, que começa independente e logo é anexado a recém criada UFG – Universidade Federal de Goiás em 1962 (GOYA, 1998. p.92). Entre os professores dissidentes estava um dos pioneiros. Ritter se liga ao IBAG juntamente com Antônio Henrique Peclát e Maria Guilhermina (formada na primeira turma da EGBA, tornara-se a primeira artista goiana a expor na Bienal de São Paulo11).

A existência de duas escolas de arte em Goiânia levaria a acirrada concorrência entre elas. Face a isso, a EGBA contrata em 1961 o pintor paulista D. J. Oliveira que tinha grandes habilidades artísticas e fazia sucesso na cidade desde que chegara e instalara seu ateliê no fundo do palco do Teatro de Emergência12, liderado por João Bênio. Oliveira é convidado a levar seu ateliê para dentro da EGBA, o que possibilita uma integração interessante entre os artistas do período. Logo em seguida, em 1962, o IBAG contrata Cléber Gouvêa, artista mineiro que despontava na pintura e dominava as técnicas de gravura. Já em 1963 acontece o I Salão de Artes do IBAG. Em 1969 a EGBA é transformada na Escola de Arquitetura e Artes da UCG, sendo posteriormente extinguida em 1972.

Em 1970 acontece a I Bienal de Artes Plásticas de Goiás, afirmação da existência de uma arte moderna no estado que começava a despontar no cenário artístico nacional.

1.1. Luís Curado

Luís Augusto do Carmo Curado foi economista, escultor e xilógrafo. Sua atuação é marcada pela ação pedagógica na área de ensino de Arte na EGBA, acrescida de seu papel de animador das artes e suas incursões como artista plástico, especialmente na gravura (xilogravura e serigrafia). Curado teria transitado por várias áreas das artes, entre elas, a música, o teatro, a cenografia, a escultura, o desenho, a terracota, a pintura, colagens e iluminação cênica (GOYA, 1998, p. 108).

Nascido na cidade de Pirinópolis (1919 – 1996) teve seus contatos com as artes quando ainda era menino, durante o tempo que estudou no Colégio Jesuíta Anchieta, em Friburgo, cidade fluminense. Após muitos anos estudando em colégios como Bonfim, em Silvânia e no Liceu de Goiás, na cidade de Goiás, ele volta para Pirinópolis para ajudar a família nos negócios. Lá ele acaba se envolvendo com o teatro local. Curado vem depois para Goiânia, onde se formou em Contablidade pela Escola Goiana de Comércio. Tornou-se contador da Prefeitura de Goiânia e, por meio deste cargo, professor da Escola Técnica Federal de Goiás (ETFG), permanecendo ligado à instituição por 34 anos, até se aposentar. (GOYA, 1998, p. 109).

Curado era insatisfeito com o rumo das Artes em Goiás e via na idéia de montar uma escolhinha a possibilidade de um movimento que despertasse novos conceitos artísticos na sociedade da nova capital. Assim como já explicitamos anteriormente, em 1950, juntamente com Gustav Ritter, ele funda a escolhinha que seria o embrião da EGBA, a qual se dedicou completamente deste o processo de fundação até seu fechamento. Ele é o primeiro artista a fazer gravura em Goiânia e foi responsável também pela elevação da serigrafia ao nível comercial (GOYA, 1998, p. 114).

Vale dizer sobre Curado que, apesar de ter sido ele um dos mais importantes articuladores das artes em Goiás, termina sua vida relegado ao esquecimento por parte dos artistas, inclusive pelas nova gerações. “Desde a extinção da EGBA, o artista, ressentido com a destruição da escola e com sua exclusão do quadro de docentes da Faculdade de Arquitetura da UFG, recluiu-se na ETFG, voltando-se para o magistério secundarista completamente esquecido no meio cultural e artístico” (GOYA, 1998, p. 120). A pouca ênfase dada à Luis Curado seria justificada por alguns artistas, segundo GOYA, em função de sua atividade

11 As primeiras turmas de formandos da EGBA já mostram, através da visibilidade que alguns artistas já começam a ter de imediato, que Goiânia guardava talentos: Ana Maria Pacheco, Isa Costa, Siron Franco, Ross... são alguns nomes revelados na EGBA.12 Aqui é importante salientar, a partir da citação da existência do Teatro de Emergência, que o advento do modernismo na literatura ( se dá com a criação do GEN – Grupo de Escritores Novos) e nas artes cênicas (com João Bênio atuando no cinema e no teatro) em Goiás se deu de maneira independente mas não desarticulada da movimentação vista nas artes plásticas. D.J. Oliveira chega a fazer o cenário da peça Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, para o Teatro de Emergência.

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artística representativa, porém, tímida, já que sempre se dedicou mais as questões ligadas a articulação pedagógica e artística. Entretanto, mesmo tendo produzido pouco, o fato é que ele produziu, e, além disso, idealizou e fundou com o apoio de muitos outros artistas a Escola Goiana de Belas Artes, marco fundamental da modernização das formas artísticas em Goiás.

1.2. Henning Gustav Ritter

Nascido em Hamburgo, Alemanha, em 10 de março de 1904, faleceu em Goiânia em 1979. Iniciou seus estudos se arte em Hamburgo. Vem para a América do Sul em 1935 (Peru) e no ano seguinte para o Brasil. Se estabelece primeiro em Araxá (MG) e chega a Goiânia em 1949. Em Goiânia, como vimos, foi professor de Mobiliário da Escola Técnica Federal de Goiás, co-fundador da EGBA e do IBAG, assim como professor. Por seu trabalho com marcenaria ele começa a esculpir em madeira, de estilo arredondado e liso, assimilando depois uma linha geométrica. Além de também ensinar a técnica de cortar a esteatita (pedra sabão), estimulou o gosto pela matéria-prima de grande oferta na região Centro Oeste (GOYA, 1998, p. 152).

Sabe-se pouco sobre a formação artística de Ritter na Alemanha, entretanto, sua influência em relação a Escola de Bauhaus, fundada por Walter Gropius em 1919 em Weimar, parece indicar talvez a origem de seu estilo concreto muito ligado ao design e a arquitetura. Pode-se dizer que a obra de Ritter seja a menos conhecida e devidamente estudada, justificando, pois, o aprofundamento dos estudos deste projeto neste sentido.

1.3. Frei Nazareno Confaloni

Pintor, desenhista, muralista e animador das artes, nasceu em Grotte de Castro, Viterbo, Itália, em 23 de janeiro de 1917, e faleceu em Goiânia em 1977. Ainda na Itália, ordenou-se sacerdote na Ordem dos Dominicanos em 1939. Estudou na Academia de Belas Artes de Florença, no Instituto do Beato Agélio de Pintura, na Escola de Arte Brera de Milão e na Escola de Pintura Michelangelo com Felipe Carena Baccio, Maria Bacci e Primo Conti. Em Roma, participou do Salão de Minerva (1948) e de uma coletiva em Milão (1949). Em 1972, foi premiado com a medalha de prata no Concurso Europa, realizado pela galeria Ieda, de Florença.

Vem para o Brasil em 1950, fixando residência na cidade de Goiás. Como vimos, acompanha Curado na tarefa de fundar a EGBA em 1952, já residindo em Goiânia. “Foi inegavelmente o mais importante professor da EGBA” (MENEZES, 1998, p.184). Participou durante toda a vida de incontáveis exposições em todo o Brasil e teve um importância fundamental na vida artística dos que seriam a primeira geração de artistas formados em Goiás, entre os quais: Isa Costa, Amaury Menezes, Roosevelt e Siron Franco. Foi considerado “um edificador moral e intelectual de Goiânia” e foi sem dúvida, pioneiro da Arte Moderna Goiana. (GOYA, 1998, p. 149). Sua obra é vasta e extensa, configurando um material riquíssimo de pesquisa e contemplação.

1.4. D. J. Oliveira

Dirso José de Oliveira nasceu em Bragança Paulista em 14 de novembro de 1932. Já em 1943 iniciava pintura à óleo com o pintor paisagista de sua cidade, Luis Gualberto. Em 1946 muda-se para São Paulo e começa a trabalhar com pintura decorativa, cenografia para teatro e televisão (TV Tupi), onde trabalha por alguns anos. De 1946 a 1955 convive com artistas da Fundação Álvares Penteado e participa do Grupo do Braz (imigrantes italianos que fazem arte aplicada), onde tem aulas de desenho. É através deste grupo que ele conhece o gravador Volpi e entra para o Grupo Santa Helena13, também de imigrantes, estes de orientação socialista, um

13 “Esses italianos faziam uma arte que não era reconhecida pelo movimento moderno, pois que eram considerados pelos modernistas como artistas de segunda classe em função de suas origens humildes. Alguns como Volpi e Mario Zanini conseguem destaque, mas a maioria é rejeitada, inclusive não são nem convidados para participar do movimento moderno. Tanto é que agora que o Grupo Santa Helena está sendo reconhecido, desde a década de 90 apenas,

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dos primeiros ateliês livres do país, de imensa representatividade para a arte moderna brasileira, onde fica de 1949 a 1956. Em São Paulo, Oliveira participa da primeira Exposição de Arte do Grupo dos Artistas Paulistas. Muda-se em 1956 para Goiânia, onde recomeça os trabalhos de artes aplicadas (comerciais e não artísticas), no entanto, é aqui que ele retoma também seu projeto artístico e desenvolve seu estilo expressionista figurativo inconfundível (GOYA, 2005, p. 32).

Quando Oliveira chega a Goiás, é apresentado por Batista Custódio ao diretor do Teatro de Emergência, João Bênnio (dramaturgo pioneiro do estado), e com ele realiza seu primeiro trabalho como cenógrafo na montagem da lendária peça de Nelson Rodrigues, Vestido de Noiva, que revoluciona a concepção de arte neo-romântica obsoleta presente na nova capital, introduzindo o que havia de mais moderno na dramaturgia e nas artes plásticas. Por este trabalho, D.J. é convidado por Luiz Curado a integrar o grupo de professores da recém criada EGBA – Escola Goiana de Belas Artes – precursora da atual Escola Edgar Graeff de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Goiás, que na época era apenas Universidade de Goiás.

Oliveira trás para Goiânia sua experiência moderna. Ele não tem uma experiência acadêmica, mas sim, uma formação, como era de praxe na época, com artistas, da convivência com estes. Tem a primeira fase deste aprendizado dele, que é a arte aplicada, uma arte mais utilitária, e tem a segunda fase, de aprendizado artístico mesmo, quando ele já participa do Santa Helena e da primeira exposição. Primeiramente, ele não aceita o convite de Curado porque toda vida foi muito rebelde, não queria se sujeitar as normas da Academia. Por outro lado, ele passa por muitas dificuldades aqui para se inteirar com os artistas da região porque ele era completamente diferente, produzia uma arte arrojada para a condição regional neo-romântica. Mas o Curado insiste e leva ele em 1961 para dar aulas de desenho vivo, pintura e gravura – primeiro em madeira (1961) e depois em ferro (1967) - na EGBA14.

Como professor, D.J. Oliveira cria, juntamente com outros artistas, o Primeiro Ateliê Livre da EGBA. Ele contribui para a formação direta ou indireta de praticamente todos os artistas goianos das próximas gerações, que eram alunos regulares da EGBA ou freqüentadores assíduos de seu Ateliê, a exemplo de Siron Franco (aluno do Curso Livre da EGBA), Ana Maria Pacheco, Isa Costa, Roosevelt (Roos), Dinéia Dutra, José César e Vanda Pinheiro. Mas é uma de suas alunas, Grace Maria Machado de Freitas (hoje professora da UNB), que desenvolve com ele, com base na idéia que Cléber Gouveia havia lhe dado, de fazer gravura com ferro (material abundante em Goiás) ao contrário do cobre (metal caro e difícil de conseguir na região) (GOYA, 2005, p. 49). D.J. Oliveira tem um papel fundamental na história das artes plásticas goianas, tanto como artista, articulador cultural e como mestre de tantos outros artistas goianos.

1.5. Cléber Gouvêa

Mineiro, natural de Uberlândia (1942 – 1999), iniciou seus estudos nas artes em 1954, trabalhando em murais como aluno auxiliar do mestre mineiro, Geraldo Queiroz. Cléber, aos 12 anos de idade, ficara fascinado com o trabalho deste pintor, de orientação humanista, preocupado com a problemática social e política do país. Com a morte de Queiroz, em 1958, Cléber segue para a capital mineira. Lá ingressa na Escola de belas Artes Guinard, tornando-se aluno do mestre Alberto da Veiga Guinard, um dos mais importantes pintores mineiros. Cléber experimenta neste momento a gravura, a pintura e a escultura, esta última sob inspiração das obras do escultor expressionista alemão Frans Wasnan (GOYA, 1998, p. 136).

quando se fez uma grande exposição recuperando a memória deste grupo. Havia um clima tenso de vigilância sobre estes imigrantes na época, pois eles haviam fugido da guerra, havia um preconceito por parte da elite modernista. E eles se organizavam nesta casa Santa Helena para dividir as despesas do ateliê, comprar os materiais e possibilitar a criação artística conjunta”, palavras da pesquisadora Edna Goya em entrevista concedida a mim em novembro de 2005 para confecção de uma matéria jornalística a respeito do falecimento de D.J. Oliveira. Momento em que ela organizava juntamente com ele uma exposição comemorativa dos 50 anos de sua atividade artística, haja vista que esta pesquisadora acabara de terminar o doutorado cujo tema era “Processo Criativo em D.J. Oliveira”. Publicado em www.uniciencia.org,br . 14 Trecho da mesma entrevista comentada anteriormente.

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Cléber Gouveia faz diversos cursos de artes em Belo Horizonte além de importantes contatos com o meio artístico. Em 1959 participa do XIV Salão Municipal de Belo Horizonte, quando recebe o primeiro prêmio de escultura (GOYA, 1998, p. 137).

Em 1959, Cléber vem a Goiânia fazer uma visita à sua mãe, que aqui morava, e acaba ministrando um curso de pintura mural em um ateliê livre situado no centro da cidade. Em função do contato feito com Maria Guilhermina, Cléber é convidado a fazer parte do corpo docente do IBAG que acabava de ser fundado. Ele não aceita o convite de imediato mas assume a cadeira de gravura em 1962. No período de 1962 à 1968 o artista dedicou-se a prática e ao ensino de pintura, gravura e desenho, participando de diversos Salões de Arte, sobretudo de pintura. “De concepção modernista mais avançada, Cléber teve dificuldades para adaptar-se ao academicismo goiano, mas com o passar do tempo consegue superar as dificuldades e as limitações que o cercavam. Firma-se como artista moderno, sendo considerado responsável pela introdução do abstracionismo nas artes goianas, na área de pintura” (GOYA, p. 138).

Como base nisto, Cléber é o ultimo dos pilares do Modernismo Artístico a chegar a Goiânia. Sua trajetória indica um momento menos iniciático da arte moderna em Goiás, pois é ligado já ao IBAG, e, para, além disso, representa a introdução da última característica estética a ser apropriada pelo modernismo goiano, a expressão abstrata. De modo que podemos inferir que antes de Cléber o que se tinha era a experiência do expressionismo figurativo, como é o caso de D. J. Oliveira, Curado e Confaloni, haja vista que o estilo de Ritter é caracterizado pela escola concretista de Bauhaus.

Como se pode ver, o modernismo em Goiás se dá primeiramente através da importante contribuição de artistas estrangeiros, universos estéticos/históricos diferentes condensados e reelaborados em contexto goiano. É posteriormente que artistas diretamente ligados ao Modernismo Brasileiro surgem no cenário goiano. Temos então a amálgama fundamental aqui já decodificada com auxílio da ainda tímida historiografia goiana sobre o assunto: Luis Curado, goiano ligado às tradições interioranas do estado, mas tendo estudado fora de Goiás e tendo tido contado com a arte moderna brasileira, conhece o escultor concretista alemão Gustav Ritter e, em seguida, articula o encontro dos dois com o pintor italiano Frei Nazareno Confaloni. O trio de fundadores da EGBA depois se dispersa e entram na cena artística goiana o pintor e gravurista paulista D. J. Oliveira, bem como o pintor e gravurista mineiro Cleber Gouvêa. Estes entram também de forma definitiva e revolucionária na prática da arte moderna em Goiás.