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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS
Angela Carboni Martinhoni
A responsabilidade civil ambiental: um estudo a par tir do problema da contaminação do solo
MESTRADO EM DIREITO
PUC/SP
2010
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO MESTRADO EM DIREITO DAS RELAÇÕES SOCIAIS
Angela Carboni Martinhoni
A responsabilidade civil ambiental: um estudo a par tir do problema da contaminação do solo
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo,
como exigência parcial para obtenção
do título de Mestre em Direito das
Relações Sociais, na área de Direitos
Difusos e Coletivos, sob a orientação
do professor Doutor Marcelo Gomes
Sodré.
PUC/SP
2010
Banca Examinadora
________________________________
________________________________
Dedico este trabalho primeiramente e com muito amor e carinho às minhas filhas Beatriz e Laura, simplesmente pelo fato de existirem em minha vida, e somente por isso já justificaria, entretanto, faço questão de consignar o quanto são importantes e permeiam, mesmo inocente e involuntariamente os meus atos e minha postura diante da vida. Dedico ainda aos meus pais Ismael e Dalva por todo exemplo e esforços que desprenderam durante todos os momentos da minha vida. Por fim, mas não menos importante, e com muito amor dedico este trabalho a Paulo Roberto, pelo simples fato de fazer-me enxergar que a vida pode ser melhor do que eu podia imaginar e ainda por me fazer tão feliz.
Agradeço primeiramente a Deus por tudo em minha vida e em especial neste momento por mais esta oportunidade. À todos aqueles que colaboraram intelectual ou emocionalmente ao meu aprendizado, e de uma maneira especial a todos os professores com quem tive a honra de aprender durante toda minha vida. Aos professores desta instituição que despertaram em mim o prazer pelo estudo e, À todos aqueles que direta ou indiretamente cooperaram para o acontecimento do meu tão sonhado curso de Mestrado na PUC
Angela Carboni Martinhoni
A responsabilidade civil ambiental: um estudo a par tir do
problema da contaminação do solo
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo destacar o problema da contaminação do
solo, uma vez que se trata de preocupação que ganhou relevo no cenário mundial
ambiental nos últimos tempos. Nesta esteira, vários países têm investido no
desenvolvimento de novas técnicas de descontaminação, bem como em suas
legislações no sentido de incrementar os instrumentos legais de combate à
contaminação do solo. O estudo da responsabilidade civil por dano ambiental se
justifica na medida em que possui a finalidade primordial de evitar o próprio dano,
que muitas vezes é irreparável. Assim, diante da ocorrência de um dano nasce a
possibilidade de invocação da conseqüente reparação, sendo certo ainda que
será possível, por previsão legal, a aplicação da responsabilização penal, civil e
administrativa, sem que com isso tenha-se um bis in idem. Além do mais a
reparação do dano ambiental ocorrido no solo deve priorizar a reparação integral
do dano, sendo que para tanto, necessário que se verifique primeiramente a
possibilidade da restauração in natura e somente se esta não for possível é que
poderá ser aplicada pela ordem, as formas de compensação e a indenização. Na
verdade considerando que a responsabilização é maneira de combate ao próprio
dano, temos que também é forma de garantia da própria qualidade de vida, ou
porque não, da própria vida das presentes e futuras gerações.
Palavras-chave: dano ambiental - contaminação do solo - responsabilidade civil -
reparação.
Angela Carboni Martinhoni
The environmental liability: a study from the probl em of soil
contamination
ABSTRACT
This paper aims to highlight the problem of soil contamination, since it is of
concern that has gained momentum in the global environmental scene in recent
times. On this track, several countries have invested in developing new techniques
for decontamination, and in their legislation to enhance the legal instruments to
combat soil contamination. The study of civil liability for environmental damage is
justified to the extent that it has the primary purpose of preventing the damage
itself, which is often irreparable. Thus, before the occurrence of an injury, arises
the possibility of invoking the consequent repair, given that even be possible, for
legal provision, the application of criminal responsibility, civil and administrative,
though this does have is a bis in idem. In addition to repairing the environmental
damage occurred in the soil should prioritize the repair of the damage, and to this
end, necessary go first check the possibility of restoration in nature and only if is
not possble it might be applied in order, forms of compensation and damages. In
fact considering that accountability is the way to combat the damage itself, there is
also a guarantee of their quality of life, or because of life of present and future
generations.
Keywords: environmental damage - soil contamination - liability - compensation.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 09 1. O PROBLEMA DAS ÁREAS CONTAMINADAS .............................................. 14
2. A RESPONSABILIZAÇÃO PELO DANO AMBIENTAL: UMA VISÃO GERAL..28
2.1 A responsabilidade penal ambiental ........................................................ 32 2.2 A responsabilidade administrativa ambiental ........................................... 37 2.3 A responsabilidade civil ambiental ............................................................ 40
3. PECULIARIDADES DA RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL DO DANO AMBIENTAL .............................................................................................................................. 42
3.1 Considerações acerca do dano ambiental ............................................... 55 3.3.1 O nexo de causalidade no dano ambiental ..................................... 62
3.2 A responsabilidade objetiva e subjetiva ambiental ................................... 65 3.3 A responsabilidade solidária ambiental .................................................... 73
4. A RESPONSABILIZAÇAO CIVIL POR CONTAMINAÇÃO DO SOLO ............ 78
4.1 Aspectos relevantes acerca da Resolução CONAMA nº 420 .................. 78 4.2 Aspectos relevantes acerca da Lei Paulista nº 13.577/09 ........................ 87 4.3 A questão da competência e principais divergências entre Resolução
CONAMA nº 420 e a Lei Paulista nº 13.577......................................................... 98 4.4 Alguns princípios informativos da responsabilidade civil por dano ambiental
destacados na contaminação do solo ................................................................ 109 4.5 Formas de reparação da contaminação do solo .................................... 121
4.5.1 A reparação integral ...................................................................... 125 4.5.1.1 A restauração natural ou in natura .................................. 126 4.5.1.2 A compensação................................................................ 129 4.5.1.3 A indenização................................................................... 131
5. RELATOS DE CASOS CONCRETOS ........................................................... 134
CONCLUSÃO .................................................................................................... 143 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ....................................................................... 147
9
INTRODUÇÃO
É impressionante como a contaminação
do solo tem sido objeto de preocupação mundial nas últimas décadas,
deixando inclusive, clara a demonstração da necessidade de adoção de
medidas preventivas e do combate ao impacto causado ao meio ambiente,
sendo certo que por isso a matéria se revela ainda contemporânea e
extremamente interessante e instigante, motivo pelo qual o presente trabalho
tem como escopo tratar da responsabilização do dano ambiental pela
contaminação do solo.
Desta forma, destacamos que com o
crescimento industrial houve um significativo aumento dos danos ambientais,
eis que não havia uma maior atenção com a preservação dos recursos
naturais e a ocorrência dos impactos ao meio ambiente, tendo sido criados
grande centros urbanos e industriais, assim, a contaminação do solo foi algo
certo, uma vez que indústrias eram instaladas e desinstaladas sem qualquer
controle ou conscientização, e com isso grandes acontecimentos nocivos ao
meio ambiente puderam ser constatados ao longo da história.
Assim, o crescimento urbano e
principalmente o desenvolvimento industrial ocorrido contribuíram para o
aumento de áreas contaminadas e têm sido objeto de grandes discussões
sobretudo em países industrializados, mesmo porque, até o final dos anos 70 o
solo era considerado como um receptor ilimitado de substâncias nocivas sem
qualquer controle, sendo certo que somente após este período percebeu-se
que o potencial depurador do solo era limitado e estava em estado de alerta,
porém, inevitavelmente e lamentavelmente já existiam grandes e muitas áreas
contaminadas.
Na verdade, a questão ambiental passou
a ser assunto central no cenário político, jurídico, econômico e científico. Tal
assertiva decorre da preocupação com a situação ecológica na qual se
10
encontra o planeta, até porque as alterações no clima são visíveis e com
certeza decorrem do modelo de sociedade em que vivemos1.
Importante consignar, desde já, que a
contaminação de uma área pode apresentar vários reflexos de ordem
ambiental não somente ao solo, mas também a água e ar, devendo ainda ser
ressaltado que quando atinge o nível de contaminação de pessoas, chegam a
ser um grande problema de saúde pública, que acaba por ser um desafio para
o próprio Sistema Único de Saúde – SUS, uma vez que necessário se torna
saber qual a melhor maneira de cuidar da saúde daquelas pessoas
contaminadas e ainda como fazer cessar os efeitos daquela contaminação,
atitudes estas que quase sempre contam com a imprevisibilidade dos efeitos
da doença, vez que não são raros os casos de contaminação em que pessoas
são tratadas em determinado momento, porém a contaminação deixa rastros e
conseqüências que desencadeiam outras e outras doenças.
Não obstante o Brasil poder ser
considerado ainda como um “recente poluidor”, haja vista que nosso País tem
praticamente 50 e 60 anos de história de poluição considerável2, a
contaminação de áreas é um problema extremamente preocupante e que
merece atenção, mesmo porque é sabido que apesar dos avanços técnicos e
jurídicos, ainda não podemos contar com um inventário de áreas contaminadas
ou potencialmente contaminadas apto a permitir real dimensão das
necessidades das áreas degradas.
Entretanto, podemos considerar que o
Brasil está em fase de ascensão, jurídica e tecnológica no que concerne à
contaminação do solo, devendo ser destacada a recentemente Resolução
Federal do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA nº 420, bem
como a Lei Paulista nº 13.577/09, e ainda todo o trabalho desenvolvido pela 1 CARVALHO, DÉLTON Winter. A proteção jurisdicional do meio ambiente. Revista de Direito Ambiental, n. 24, p. 188-208, out-dez-2001. 2 CAPELLO, Eduardo. Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) e Resíduos Sólidos Industrias (RSI). Revista Gestão de Resíduos. São Paulo, n. 17, p. 24-26, nov/dez 2008 .
11
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - CETESB.
Grande problema que se enfrenta é o fato
de que ao serem desativados, alguns empreendimentos se transformam em
nada mais do que áreas extremamente contaminadas. Se antes o
gerenciamento dos passivos ambientais era considerado assunto de grande
complexidade para as empresas, agora o prédio abandonado é também uma
questão complicada de gestão urbana que passa a desvalorizar o imóvel, bem
como aqueles que estão ao seu redor, deterioram a imagem da própria cidade
e desfavorece a disposição irregular de resíduos, enfim, um problema
empresarial passa a ser agora de ordem pública.
Outrossim, a integração empresa e Poder
Público são imprescindíveis para a obtenção do melhor resultado na
recuperação de áreas contaminadas, eis que na medida em que extrapola a
ordem empresarial passa a surgir um problema generalizado, e porque não
global diante das conseqüências que apresentam.
Nesta esteira verificamos que a
responsabilização civil por dano ambiental é de suma importância para a
preservação de um bem que é “essencial para a qualidade de vida” e a má
utilização de resíduos pode causar graves impactos ambientais, sendo por
essas e outras razões que ousamos a abordar o tema aqui proposto, no intuito,
ainda, de cooperarmos para o entendimento e aperfeiçoamento deste
instrumento de preservação, motivo pelo qual, cremos que sempre é bem vinda
a tentativa de tornar efetiva a reparação por danos ambientais, haja vista que
não podemos estar satisfeitos com obras primas legislativas que podem deixar
a desejar quando da subsunção com a realidade.
De mais a mais, notamos que se trata de
tema árido na doutrina pátria, motivo pelo qual por si só já justificaria a escolha,
contudo, vamos mais além, a escolha se deu tendo em vista que a preservação
da área é acima de tudo um cuidado com a própria humanidade e condição de
12
vida.
Quanto à disposição dos capítulos do
presente trabalho, inicialmente trataremos do problema das áreas
contaminadas, denunciando seus primeiros contornos e reflexos, trazendo uma
abordagem integrada entre saúde-ambiente, eis que a contaminação de uma
maneira geral se reflete direta e indiretamente na saúde humana e no meio
ambiente, motivo pelo qual é considerada, inclusive um problema de saúde
pública, conforme se verificará.
Posteriormente, no segundo capítulo
traremos uma visão geral da reparação do dano ambiental, enfatizando
peculiaridades do dano e suas esferas de responsabilização, em especial
serão destacadas as peculiaridades da tríplice responsabilização prevista no
§3º do artigo 225 da Constituição Federal e legislação esparsas, bem como
outras repercussões da responsabilidade civil por dano ambiental, até porque o
surgimento da responsabilização civil significou um grande avanço da própria
humanidade e merece ser relembrado.
Já no terceiro capítulo, elucidaremos
aspectos específicos da responsabilização civil do dano ambiental, abordando
a responsabilidade objetiva e subjetiva ambiental, a solidariedade, a função
social da responsabilidade civil ambiental, trazendo, ainda a questão da
identificação do dano e do nexo de causalidade do dano ambiental.
O quarto capitulo foi dedicado à
responsabilização civil por contaminado do solo, tendo sido dado destaque à
recente Lei Paulista nº 13.577, de 8 de julho de 2009, que dispõe sobre
diretrizes e procedimentos para a proteção da qualidade do solo e
gerenciamento de áreas contaminadas, bem como à Resolução Federal do
Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA nº 420, de 29 de dezembro
de 2009, que trata de critérios e valores orientadores de qualidade do solo
quanto a presença de substancias químicas e estabelece diretrizes para o
13
gerenciamento ambiental de áreas contaminadas, tendo sido demonstradas as
peculiaridades de cada regramento, bem como seus contrapontos,
principalmente no que tange ao campo de aplicabilidade sob o critério de
competência.
Trataremos, ainda, dos princípios
informativos da responsabilidade civil ambiental destacados na contaminação
do solo, sem prejuízo das formas de reparação da contaminação do solo, que
envolve a reparação integral nas suas modalidades: restauração in natura,
compensação e indenização, sem prejuízo de destacar aspectos particulares
da revitalização de áreas.
Em seguida, no quinto e último capítulo,
foram trazidos relatos de casos concretos no mundo, sendo abordadas
peculiaridades da responsabilização civil pela contaminação do solo,
enfatizando o caso da Rhodia ocorrido no litoral paulista do Brasil, que
ocasionou grandes e irreparáveis danos à saúde humana e ao meio ambiente
É com muita satisfação que passaremos a
abordar peculiaridades acerca de um tema dotado de grande relevância ao
mundo jurídico, em especial por se tratar de assunto relativamente novo na
doutrina e jurisprudência, sendo certo que conta, ainda, com recentes
previsões nacionais acerca do mesmo, sem prejuízo, é claro do fato que tanto
a prevenção da contaminação do solo quanto a revitalização de áreas
contaminadas passa a ser questão sine qua non para a própria continuidade da
existência humana, haja vista que diante da contaminação descontrolada do
solo, estamos fadados à extinção.
14
1. O PROBLEMA DAS ÁREAS CONTAMINADAS
A contaminação de áreas não é um
problema relativamente recente, sendo certo que a efetiva exteriorização do
problema das áreas contaminadas somente ocorreu na década de 70, com os
primeiros relatos acerca da real constatação de problemas de saúde em
pessoas expostas a substâncias químicas em áreas contaminadas nos Estados
Unidos e na Europa, tendo tal acontecimento, inclusive motivado a criação de
Leis específicas para a proteção do solo e ou gerenciamento de áreas
contaminadas, devendo ser destacada uma das primeiras previsões que
ocorreu através da lei americana Comprehensive Environmental Response
Compensation and Liability Act, também conhecida como CERCLA.
Atualmente a contaminação do solo é um
problema generalizado que atinge grande parte das áreas urbanas, sendo uma
das mais significativas evidências do passivo ambiental, motivo pelo qual,
prevenir já não basta, é necessário o desenvolvimento de iniciativas concretas
de reparação de danos ambientais. Entretanto, no Brasil, a contaminação do
solo somente passou a ser reconhecida durante a década de 80, tendo
motivado inclusive a criação da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente em
1981, devendo ainda serem destacadas previsões contidas na Constituição
Federal de 1988, notadamente em seu artigo 225, sendo certo ainda que nesta
época também começaram a ser desenvolvidos programas de capacitação e
recursos humanos e de desenvolvimento de ferramentas de gestão.
Apenas no Estado de São Paulo, a
CETESB iniciou um levantamento das áreas contaminadas em maio de 2002,
apresentando uma lista de 255 áreas nesta condição em novembro de 2006, o
Estado já contava com 1.822 áreas contaminadas, contudo, de acordo com o
Ministério da Saúde, de 2004 a 2008 as áreas contaminadas chegaram a
2.527, sendo que os Estados que apresentaram maior número são os de São
Paulo, Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro.
15
Outrossim, vários são os problemas
gerados pelas áreas contaminadas, sendo certo que dentre eles podemos
destacar: o risco à saúde humana e aos ecossistemas, à segurança pública,
além das restrições ao desenvolvimento urbano causado principalmente pela
redução do valor imobiliário das propriedades, problemas de gestão urbana,
tendo em vista a deterioração da imagem das cidades perante investidores e a
opinião pública, sendo que desta forma verificamos que a presença de áreas
contaminadas afeta não somente o meio ambiente, mas também a saúde
econômica e social de uma cidade3.
Dentre os riscos apresentados é
importante consignar que a contaminação de áreas tem se destacado ainda
mais por ser um problema para a saúde pública e ambiental, uma vez que a
contaminação de áreas é capaz de gerar diversos problemas concretos,
devendo ser lembrado novamente os inúmeros danos à saúde humana,
comprometimento da qualidade dos recursos hídricos, restrições ao uso do
solo e danos ao patrimônio público e privado, com a desvalorização das
propriedades, além de danos ao meio ambiente.
É certo que a contaminação do solo se
agravou em muito com o crescimento dos centros urbano-industriais, até
porque está intimamente ligado à falta de conhecimento da população em geral
e principalmente dos empresários do ramo, no que concerne à realização de
procedimentos seguros quanto à utilização de produtos e ou substâncias
perigosas, o que freqüentemente causa acidentes e vazamentos contaminando
assim o solo.
Quanto ao problema de saúde pública, a
contaminação de áreas manifesta-se das mais diversas formas, quer seja por
contato direito com a pele, ingestão de substâncias sólidas, inalação de gases
3 GRIMSKI, Detlef. Revitalização de áreas degradadas e contaminadas na Alemanha e Europa. In: II Seminário Internacional sobre Remediação In-Situ de Sites Contaminados, 2004, São Paulo, Remediação e Revitalização de Áreas Contaminadas. São Paulo: Signus Editora, 2004, p.3-15.
16
decorrentes da citada contaminação, pelo consumo de águas que foram
atingidas, dentre outras formas, o que além de ser um problema, acaba
também, por se tornar um desafio para a própria medicina, que deve saber
como melhor tratar pessoas contaminadas para fazer cessar os efeitos daquela
contaminação.
Outro ponto que merece destaque e que
contribuiu para o agravamento da situação foi a ausência de implementação de
planos e políticas governamentais quanto a instrumentos de planejamento
urbano e ambiental acerca da contaminação do solo, sendo certo que até então
não existiam grandes preocupações quanto ao assunto, além disso
desativações de campos industriais eram realizadas em crescente escala e
geralmente as áreas eram utilizadas com outras finalidades sem a observância
dos necessários parâmetros sanitários-ambientais.
Ademais, é sabido que se prioriza pela
progressiva utilização de espaços livres para habitação, comércio e indústria,
assim, como lembra Patrícia Marra Sepe e Francisco Adrião Neves da Silva4:
“Mesmo em países que há mais tempo implantaram o gerenciamento de áreas
contaminadas nota-se que o processo de urbanização foi marcado pelo avanço
da marcha urbana em direção às áreas livres (greenfields) em detrimento de
áreas já urbanizadas, não utilizadas (brownfields), aumentando gastos com
infraestrutura e perda de qualidade ambiental”.
Tal postura, aos olhos dos investidores se
justifica tendo em vista que a aquisição de uma área já utilizada possui um
potencial de contaminação (quando já não foram identificadas), o que implicaria
na responsabilidade civil ambiental, uma vez que se trata de responsabilidade
solidária, conforme se verificará, o que com certeza desmotiva o mercado
imobiliário e de investimentos.
4 Revitalização de áreas contaminadas no município de São Paulo. In: II Seminário Internacional sobre Remediação In-Situ de Sites Contaminados, 2004, São Paulo, Remediação e Revitalização de Áreas Contaminadas. São Paulo: Signus Editora, 2004, p. 43-52.
17
No que concerne ao planejamento urbano
e políticas nacionais, destacamos o Projeto Gestão Ambiental Urbana –
ProGAU5, desenvolvido pela Prefeitura Municipal de São Paulo, através da
Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente – SVMA, que desenvolveu o
Projeto “Modelo de Gerenciamento de Recuperação de Áreas Degradadas por
Contaminação, sendo que foram realizadas pesquisas nacionais e
internacionais acerca do tema, bem como foram desenvolvidos estudos no
sentido de levantar os principais instrumentos legais e econômicos existentes
no âmbito do município de São Paulo, que poderiam ser utilizados.
Notemos que a idéia de revitalização de
áreas degradadas e contaminadas surgiu na Alemanha, sobretudo nos últimos
5 “PROJETO GESTÃO AMBIENTAL URBANA, ProGAU foi um projeto da Cooperação Técnica Brasil-Alemanha, coordenado pelo Ministério de Meio Ambiente e que se inseriu nas políticas de desenvolvimento sustentável e descentralização da gestão ambiental. Os Projetos Demonstrativos são o meio principal da atuação do ProGAU. São assim denominados, pois devem servir de exemplo e de modelo para outros municípios, contendo propostas criativas e inovadoras. A GTZ é empresa pública alemã responsável pela implementação dos projetos de cooperação técnica e especializada em assessoria técnica e gerencial. Justificativa: O processo de industrialização agressivo causou à cidade de São Paulo vários passivos ambientais, entre eles, a contaminação. Uma atuação do poder público, em geral, apenas em situações emergenciais, os altos custos das ações de investigação e a falta de recursos e incentivos econômicos para ações de remediação são alguns dos aspectos que demonstram a complexidade técnica e gerencial que envolve o tema. Portanto, faz-se necessário disponibilizar mecanismos e instrumentos de reutilização destes espaços urbanos. Objetivos e Resultados: O projeto visa fortalecer a capacidade de atuação da SVMA na recuperação de espaço urbano sub-utilizado e iniciar processos de recuperação em conjunto com outros atores locais, como, por exemplo, os empreendedores privados ou públicos. A implementação de um modelo de gerenciamento para a recuperação de áreas degradadas possibilitará e estimulará a SVMA a adotar uma postura mais "proativa" nesta temática complexa. Este modelo pode ser caracterizado como um conjunto de instrumentos de interação e cooperação definidos que facilitarão uma ação mais efetiva. O Projeto Demonstrativo visa analisar, elaborar ou apropriar instrumentos legais, econômicos, jurídicos ou técnicos, necessários para a viabilização de uma revitalização de uma área piloto. Num plano de recuperação o projeto detalha as possíveis intervenções físicas. Neste plano será estabelecido o grau de remediação em relação ao uso futuro previsto. Um outro resultado visa a elaboração e aplicação de instrumentos de cooperação com os atores locais que facilitarão o gerenciamento das atividades múltiplas. Finalmente, com a elaboração de uma estratégia de comunicação o projeto visa aumentar o grau de informação sobre a temática, tanto no setor público, quanto no setor privado.Situação atual do projeto: A fase de Concepção foi concluída com a aprovação da "Carta do Projeto" pelo Ministério do Meio Ambiente, em meados de novembro de 2002. A fase de Planejamento foi iniciada logo em seguida com a realização de um workshop de Planejamento Operacional, de três dias. Nesse workshop produziram-se os primeiros elementos para a elaboração do "Plano do Projeto” que teve o início de implantação em abril de 2003. Em junho foi realizado um seminário em SVMA para divulgação do projeto e dos produtos então existentes. Foram elaborados três relatórios como produtos do projeto, os quais estão disponíveis para download. Em 31 de março de 2004 foi realizado o workshop de replanejamento”. (http://www.prefeitura.sp.gov.br/servicos/pesquisadores/estudos_e_pesquisas/meio_ambiente/degradacao/index.php?p=357). Acesso em 17/03/2010.
18
20 (vinte) anos, tendo como mola propulsora a necessidade de proteção de
áreas verdes, minimização da impermeabilização do solo e redução do
crescimento das zonas urbanizadas6 e tem sido aproveitada em vários países.
Além de todo o problema de ordem
ambiental a contaminação de áreas representa um significante impacto
econômico e social, eis que é evidente a desvalorização das áreas, bem como
desmotivação por parte de investidores no tocante a referidas áreas. Na Suíça,
por exemplo, mesmo que as áreas contaminadas estejam situadas em locais
privilegiados é freqüente que fiquem abandonadas por mais de 10 (dez) anos,
tendo em vista o alto custo de gestão em áreas contaminadas, sendo certo que
os investidores preferem os “terrenos virgens” o que causa um outro problema,
tendo em vista que a construção neste tipo de terreno causa destruição de
terrenos agriculturáveis, destruindo ainda mais a paisagem natural7.
Entretanto, o quadro já começa a ser
modificado8, haja vista que no Estado de São Paulo, podemos contar com a
previsão da recente Lei nº 13.577, de julho de 2009, que trata da proteção da
qualidade do solo e gerenciamento de áreas contaminadas, bem como a
Resolução CONAMA nº 420, de 28 de dezembro de 2009, instrumentos este
que podem ser considerados como uma evolução da gestão pública,
regramentos estes que serão tratados no decorrer do presente.
De início trazemos alguns conceitos
definidos nos diplomas, sendo certo que o artigo 3º, II da citada Lei Paulista
define como áreas contaminadas: “área, terreno, local, instalação, edificação
ou benfeitoria que contenha quantidades ou concentrações de matéria em
6 HOFFMANN, Helmut. Exemplos da revitalização de áreas degradas e contaminadas na Alemanha. In: II Seminário Internacional sobre Remediação In-Situ de Sites Contaminados, 2004, São Paulo, Remediação e Revitalização de Áreas Contaminadas. São Paulo: Signus Editora, 2004, p. 27-41. 7 WENGER, Christoph; KUGLER, Pia. A Reciclagem de Brownfields na Suíça: eliminando áreas contaminadas e reutilizando terrenos abandonados simultaneamente. In: II Seminário Internacional sobre Remediação In-Situ de Sites Contaminados, 2004, São Paulo, Remediação e Revitalização de Áreas Contaminadas. São Paulo: Signus Editora, 2004, p. 17-26. 8 Lembramos também, que a Lei nº 7.876, de 13 de novembro de 1989, instituiu o Dia Nacional da Conservação do Solo a ser comemorado, em todo o País, no dia 15 de abril de cada ano.
19
condições que causem ou possam causar danos à saúde humana, ao meio
ambiente ou a outro bem a proteger9”.
O Artigo 23 da referida Lei também diz
que será classificada como área contaminada quando forem ultrapassados os
valores definidos para risco aceitável à vida, à saúde humana e ao meio
ambiente, e ainda que deverá ser promovida a necessária remediação da área.
Sobre áreas contaminadas, destacamos,
ainda, que a CETESB esclarece: “Considera-se uma área, local, instalação,
edificação ou benfeitoria , onde depois de realizadas amostragem e análise
químicas de solos ou águas subterrâneas, os valores dos parâmetros
analisados forem superiores àqueles estabelecidos nos valores de intervenção,
ou, ainda, se as amostras possuírem fase livre de contaminantes (gasolina,
solvente, óleos,etc)10.
Já a Resolução do CONAMA nº 420, que
“Dispõe sobre critérios e valores orientadores de qualidade do solo quanto à
presença de substâncias químicas e estabelece diretrizes para o
gerenciamento ambiental de áreas contaminadas por essas substancias em
decorrência de atividades antrópica11”, define em seu Art. 6º, V a contaminação
como sendo:
“presença de substância (s) química (s) no ar, água ou solo, decorrentes de atividades antrópicas, em concentrações tais que restrinjam a utilização desse recurso ambiental para os usos atual ou pretendido, definidas com base em avaliação de risco12 à saúde humana, assim como aos bens a proteger, em cenário de exposição padronizado ou específico”
Assim, uma área é considerada
9 como a qualidade das águas em geral, a qualidade dos solos e das águas subterrâneas, a saúde do indivíduo e do público em geral. 10 Informações extraídas do manual da CETESB 11 Atividade relativa à humanidade, à sociedade humana, à ação do homem. 12 “Avaliação de risco: processo pelo qual são identificados, avaliados e quantificados os riscos à saúde humana ou a bem de relevante interesse ambiental a ser protegido”. (Art. 6º, I da Resolução CONAMA nº 420/09).
20
contaminada na medida em que é constatada a presença de uma ou mais
substância química em concentrações que restrinjam a utilização da mesma e
que apresentem riscos à saúde humana ou bens que devam ser protegidos,
sendo certo que uma vez identificada a contaminação de uma área, devem ser
iniciados procedimentos de gerenciamento da área contaminada, visando
minimizar os riscos decorrentes da contaminação, o que muitas vezes pode ser
alcançado, porém tal medida exige um alto custo financeiro, uma vez que é
bastante elevado o valor dispendido para a recuperação de uma área
contaminada.
É certo que a Resolução CONAMA 420
em apreço veio tratar de assuntos de grande relevância, visando sempre a
eliminação do perigo ou a redução de riscos à saúde humana e ao meio
ambiente, sendo que dentre eles destacamos: os critérios e valores
orientadores de qualidade do solo, diretrizes para o gerenciamento ambiental
de áreas contaminadas trazendo como princípios básicos a geração e
disponibilização de informações, a necessidade de integração dos órgãos
públicos em seus três níveis: Federal, Estadual e Municipal.
Além disso, define como medir os níveis
de contaminação, responsabilizada empresas poluidoras, traz procedimentos
para a descontaminação do solo, impõe a criação e gerenciamento de um
banco de dados com todas as informações disponíveis sobre as áreas
contaminadas, impõe o dever de fiscalização aos órgãos públicos, estabelece
que o poluidor deverá apresentar um plano de despoluição, que deverá ser
submetido à aprovação dos órgãos competentes, prevê a implantação de
programas de monitoramento da qualidade do solo, dentre outras medidas.
Entretanto, se é verídico que toda
atividade polui, é também que devemos considerar a tolerabilidade desta
poluição, sendo certo que podemos nos servir do levantamento realizado
através do Estudo Prévio de Impacto Ambiental, o EIA, uma vez que nele são
avaliadas as condições para a identificação do dano e a partir daí são
21
estabelecidas medidas mitigadoras e compensatórias dos impactos da
atividade proposta.
Outrossim, importante a determinação do
“ingresso diário tolerável” que é a quantidade diária tolerável a seres humanos
de determinadas substâncias encontrada no ar, água, solo ou em alimentos ao
longo da vida, sem efeitos maligno comprovado à saúde humana (art. 6º, VII da
Res. CONAMA 420).
Assim, nem toda lesão ao meio ambiente
poderá ser vista como um dano ambiental, uma vez que deve ser levada em
consideração a necessidade humana e o desenvolvimento econômico, haja
vista que desenvolver é preciso, entretanto o desenvolvimento deve ocorrer de
uma forma sustentável.
Neste sentido lembramos que a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente visa proteger :
- a saúde e o bem estar da população; - a fauna e a flora; - a qualidade do solo, das águas e do ar; - os interesses de proteção à
natureza/paisagem; - a ordenação territorial e planejamento regional
e urbano; - a segurança e ordem pública.
Ainda, os artigos 2º e 4º trazem como
objetivos da referida Lei a recuperação de áreas degradadas e ao poluidor a
obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados.
No que concerne ao conceito à poluição o
art. 3º, III da Lei nº 6.938/81 define como:
“degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a). prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b). criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
22
c). afetem desfavoravelmente a biota; d). afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e). lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos”.
Conforme estabelece o Decreto n.º
28.687/82, art. 72, a poluição do solo e do subsolo consiste na deposição,
disposição, descarga, infiltração, acumulação, injeção ou enterramento no solo
ou no subsolo de substâncias ou produtos poluentes, em estado sólido, líquido
ou gasoso.
Já o Manual de Gerenciamento de Áreas
Contaminadas da CETESB define como áreas contaminadas, qualquer terreno,
local ou área que comprovadamente apresente poluição ou contaminação
causada pela introdução de quaisquer substâncias ou resíduos que nela
tenham sido depositados, acumulados, armazenados, enterrados ou infiltrados
de forma planejada, acidental ou até mesmo natural.
As contaminações do solo podem ser
alcançadas de várias maneiras, porém destacamos como principais fontes: as
contaminações por agrotóxicos, que chegam a atingir 20% das contaminações,
seguida dos derivados do petróleo com 16%, resíduos industriais e metais que
poluem em média 12% cada um, devendo, ainda serem lembrados os aterros
sanitários, postos de gasolina, depósitos de resíduos em geral, lixões, dentre
outras13.
É certo que a desativação dos
empreendimentos industriais pode ser considerado também como grande
cooperação da geração de áreas degradadas, haja vista que durante vários
séculos os empresários investiam apenas e tão somente na construção de
prédios e infraestrutura para seu empreendimento, sem sequer preocupar-se
com a amortização do investimento, ou seja, com a finalização das atividades o
empresário deixava aos moradores do local uma área abandonada, inútil e
13 Dados extraídos do site: http://www.observatorioeco.com.br/index.php/integra-resolucao-conama-de-gestao-de-areas-contaminadas. Acessado em 21/01/2010.
23
muitas vezes contaminada.
Contudo, começou-se a considerar o ciclo
de vida do produto, chamando-se a atenção para a utilização de “cadáveres”
do empreendimento, devendo ser destacado que a reciclagem é um exemplo
desta preocupação, inclusive, citado ciclo já vem sendo considerado no Estudo
de Impacto Ambiental – EIA quando é feita a distinção entre as fases de
planejamento, implantação e operação do empreendimento.
Quanto ao sistema de combate à
contaminação de áreas, no Estado de São Paulo, a CETESB tem buscado o
aperfeiçoamento da tentativa de minimizar os riscos e danos efetivos, contudo,
o sistema de gerenciamento de áreas contaminadas é ainda bastante precário.
Mesmo assim, é dividido em três partes, quais sejam: Avaliação, Avaliação de
risco e Remediação.
Na avaliação, também chamada de
avaliação preliminar, são verificadas as evidências físicas de possível
contaminação, sendo que a Lei Estadual de São Paulo nº 13.577/09, em seu
artigo 3º, inciso VIII, estipula que a também chamada de avaliação preliminar é:
“avaliação inicial, realizada com base nas informações disponíveis, visando
fundamentar a suspeita de contaminação de uma área”.
Há, também a avaliação de risco que é
uma fase mais detalhada, em que se busca delimitar a extensão e a
intensidade da contaminação, é uma fase bem mais complicada, sendo certo
que o inciso VII da referida Lei determina que: “avaliação de risco: é o processo
pelo qual são identificados, avaliados e quantificados os riscos à saúde
humana, ao meio ambiente a outros bens a proteger.”
Já o inciso I do art. 6º da Resolução
CONAMA nº 420, define área de risco como sendo o “processo pelo qual são
identificados, avaliados e quantificados os riscos á saúde humana ou a bem de
24
relevante interesse ambiental a ser protegido”.
A remediação exige um aprofundamento
em níveis tecnológicos e científicos e de custo quase sempre muito elevado,
sendo que o processo muitas vezes se torna insuficiente para a efetiva e
necessária recuperação, entretanto, trata-se de aplicações de técnicas visando
e remoção ou contenção de contaminantes presentes, visando a reutilização da
área, deixando-a com limites toleráveis ao meio ambiente e à saúde humana.
Legalmente a remediação é definida
como: “adoção de medidas para a eliminação ou redução dos riscos em níveis
aceitáveis para o uso declarado” (Art. 3º, XVIII da Lei Estadual nº 13.577/09),
ou conforme determina a Resolução do CONAMA nº 420: “uma das ações de
intervenção para reabilitação de área contaminada, que consiste em aplicação
de técnicas, visando a remoção, contenção ou redução das concentrações de
contaminantes”.
Concernente a dados concreto,
verificamos que de acordo com o levantamento realizado pela Companhia de
Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) iniciado em maio de 2002,
foram constatadas 255 áreas contaminada, após várias atualizações14, sendo a
ultima em novembro de 2008, o número de áreas contaminadas já totalizava
2.514, sendo que 57% (cinqüenta e sete por cento) eram áreas contaminadas
sob investigação, 36% (trinta e seis por cento) contaminada, sendo que apenas
4% (quatro por cento) estavam em processo de monitoramento para
reabilitação e 3% (três por cento) eram reabilitadas15.
Tais dados demonstram a precariedade
do sistema de reabilitação de áreas no Brasil, o que se justifica pela ausência
de recursos, mas não só, haja vista que também podemos destacar o baixo
14 outubro de 2003, novembro de 2004, maio de 2005, novembro de 2005, maio de 2006, novembro de 2006, novembro de 2007 e novembro de 2008. 15 http://www.cetesb.sp.gov.br/Solo/areas_contaminadas/texto_areas_cont_nov_08.pdf. Acesso em 20.02.2010.
25
avanço tecnológico, deficiência muito grande dos próprios profissionais das
agências ambientais em alguns Estados brasileiros, falta de fiscalização
efetiva, dentre outros fatores.
Entretanto, temos que não obstante a
Cetesb ser uma agência estadual paulista, a mesma toma proporção Federal
vez que indiscutivelmente encontra-se dotada de capacidade diante dos
problemas a que lhe são apresentados, realidade esta bem diferente dos
outros Estados nacionais, que lamentavelmente contam com grandes
deficiências, principalmente no que concerne ao investimento em capacitação
de seus profissionais.
Um ponto a ser analisado quando à
contaminação ambiental do solo é a extensão e a complexidade do dano, uma
vez que podemos ter uma pequena área com contaminação complexa, cuja
solução será economicamente de valor excessivo, ou poder ser que seja
contaminada uma grande extensão com baixa contaminação e custo baixo.
Apontamentos também existem quanto às
dificuldades serem ainda maiores quando se tratar de áreas públicas, uma vez
que as licitações, por muitas vezes acabam por não acontecerem, serem
canceladas, suspensas, etc.
Outrossim, as indústrias ou particulares
parecem procurar a remediação com mais freqüência, contudo, somente ocorre
o acionamento do degradador quando efetivamente surge algum dano à
pessoa, tal fato acontece, muitas vezes devido à escassez de recursos e
pessoal do próprio Estado.
Ademais, outro aspecto que dificulta é o
fato de que o estudo acerca da contaminação do solo é matéria pouco
explorada, sendo ainda um grande desafio que sem dúvida merece melhor
atenção, até porque, não se desconhece a dificuldade de serem detectadas as
26
causas diretas de um dano ambiental ao solo .
Tal problemática se instala ainda com
mais vigor ao passo que, em se tratando de dano ao solo, muitas vezes
deparamo-nos com o período de latência entre o fato causador do dano e a
manifestação do mesmo, sendo certo que não são raros os casos em que
muito tempo se passa entre o ato e o descobrimento do dano ambiental ao
solo.
Assim, uma melhor atuação seria a
análise da atividade e conseqüente possibilidade de dano sob vários aspectos,
o que Annelise Monteiro Steigleder16 chama de “abordagem multidisciplinar”
conforme citamos:
“No campo da reparação de danos ambientais, as incongruências entre as linguagens científicas e jurídicas se verificam especialmente no que diz respeito à prova do dano ambiental. Para os cientistas, nem sempre todas as dimensões do dano ambiental estão desde logo reveladas. Há desdobramentos da lesão que somente serão perceptíveis a longo prazo, tais como os efeitos carcigênicos de uma determinada contaminação do lençol freático gerada por um aterro de resíduos sólidos industriais. Exige-se, ademais, uma abordagem mutidisciplinar, capaz de identificar todas as nuances do impacto.”
Destacamos ainda as contaminações
ocorridas ao solo por postos de gasolina, sendo certo que na maioria das vezes
a atividade era tida como correta e autorizada pelos órgãos competentes da
maneira como era exercida, contudo, com o passar do tempo, verificou-se, em
muitos casos a ocorrência de danos justamente pela forma que a atividade era
realizada, aqui devendo ser destacada a importância do principio da
precaução, nesses casos a atividade deve ser imediatamente suspensa e
serem avaliados os danos e sua extensão.
16 STEIGLEDER. Annelise Monteiro. Responsabilidade Civil Ambiental. As dimensões do Dano Ambiental no Direito Brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2004, p. 24.
27
O aumento de contaminação do solo 17
por postos de gasolina no Estado de São Paulo, fez com que a CETESB
desenvolvesse um criterioso programa de licenciamento que se iniciou em
2001, com a publicação da Resolução CONAMA No 273 de 2000, sendo certo
que dentre outras ações, exige-se a realização de investigação confirmatória,
com o objetivo de verificar a situação ambiental do empreendimento a ser
licenciado, bem como a realização da troca dos equipamentos com mais de 15
anos de operação18.
Assim, conforme verificamos, o problema
da contaminação do solo é um tanto quanto complexo, em especial pela
questão do dano à saúde pública e ao meio ambiente, motivo pelo qual o
estudo de novas técnicas para se evitar novas contaminações e para se
promover a descontaminação, bem como aperfeiçoamentos legais e jurídicos,
são medidas que se faz necessária.
17 Os principais grupos de contaminantes encontrados nas áreas contaminadas foram: solventes aromáticos, combustíveis líquidos, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAHs), metais e solventes halogenados. 18 http://www.cetesb.sp.gov.br/Solo/areas_contaminadas/texto_areas_cont_nov_08.pdf. Acesso em 10.02.2010.
28
2. A RESPONSABILIZAÇÃO PELO DANO AMBIENTAL: UMA VIS ÃO
GERAL
No tópico destacamos como principal
ponto da responsabilização por danos causados ao meio ambiente, o fato de
que esta é, sem sobra de dúvida vista sob a ótica da tríplice penalização19, ou
seja, aquele que causar um dano ao meio ambiente poderá ser
responsabilizado nas esferas penal, administrativa e civil, isto por força do
disposto no §3º do artigo 225 da Constituição Federal, verbis:
“As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”.
Assim, restou prevista a tríplice
responsabilização por danos ambientais, sendo certo que a doutrina de
Danielle Mastelari Levorato20, se manifesta no sentido de expressar a diferença
entre a responsabilidade civil e penal:
“está em que as conseqüências do dano na esfera civil, obriga a necessidade de requerer sua reparação judicial que pode traduzir-se em perdas e danos ou em encargo específico da obrigação. Na responsabilidade penal as conseqüências do dano se assentam na esfera pública, pela lesão de um interesse social. Somente em alguns casos a vítima terá o direito de representar ou não contra o acusado; em regra, havendo infração penal, nasce automaticamente o jus puniendi e o jus persequendi para o Estado, independentemente da vontade da vítima, sendo funções exclusivas suas, já que ele, por meio da sua autoridade soberana, proíbe o exercício arbitrário das próprias razões”.
Paulo de Bessa Antunes21 entende que as
19 “a sanção penal, por conta da chamada responsabilidade penal, a sanção administrativa, em decorrência da denominada responsabilidade administrativa, e a sanção civil, em razão da responsabilidade civil”. (FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 42). 20 Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica nos Crimes Ambientais. São Paulo: Revista dos tribunais, 2006, p. 33 21 Ob. cit. p. 234.
29
sanções penais e administrativas têm características de “castigo”, enquanto
que a responsabilização civil, ou reparação do dano, “reveste-se de um caráter
diverso, pois através dela busca-se uma recomposição daquilo que foi
destruído, quando possível”.
Nem há que se falar em bis in idem, pois
como bem pondera Celso Antonio Pacheco Fiorillo22: “O elemento identificador
da sanção (se é de natureza administrativa, penal ou civil) é o objeto precípuo
de tutela....as sanções penais, civil e administrativa, além de protegerem
objetos distintos, estão sujeitas a regimes jurídicos diversos”.
Colorário maior da triplicidade da
responsabilidade por dano ambiental encontra-se previsão no §3º do Art. 225
da Constituição Federal, vejamos: “As condutas e atividade consideradas
lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas,
a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de
reparar os danos causados”.
Mesmo não sendo intuito deste trabalho a
análise das esferas penal e administrativa, temos como relevante permear suas
principais características e diferenças, até porque tal tarefa irá ajudar no
esclarecimento e delimitação da responsabilidade civil que aqui se enfoca uma
vez que diante de um dano ambiental o operador do direito poderá ter que lidar
com as três esferas jurídicas.
Ademais, é certo que as esferas são
independentes e deverão analisar cada qual a situação sob sua ótica, neste
sentido, Marcos Alberto de Almeida elucida:
“Frente ao referido mandamento constitucional, surgiu a necessidade do operador do direito, ao ter em mãos uma demanda ambiental, saber lidar concomitantemente com essas três disciplinas jurídicas, que irão regê-la segundo suas próprias referências.
22 Ob. cit. p. 43.
30
E esse manejo, já adiantamos, não é tarefa fácil, pois amiúde a abordagem jurídica que o direito penal realiza para fins de responsabilização é totalmente discrepante da efetivada pelo direito administrativo, que por sua vez também difere da conferida pelo direito civil.23”
Contudo, referido autor também chama a
atenção para casos em que a resolução do caso em uma esfera coopera em
outra, haja vista que apresenta a possibilidade de que ao ser realizada e
devidamente cumprida uma transação penal, esta poderá por fim à
responsabilidade penal (por obvio), civil e abrandar a responsabilidade
administrativa.
Tal possibilidade deverá ser analisada
caso a caso sendo certo que se deve buscar a forma mais razoável à solução
da situação concreta, sendo certo que há casos, portanto que a
responsabilização em determinada esfera pode ajudar a outra, é o caso, por
exemplo
E ainda, Marcos Alberto de Almeida24
enfatiza a responsabilidade penal e administrativa no sentido de que:
“Se a reparação do dano ambiental pode ser obtida nos âmbitos administrativo e penal, não há razão para o acionamento conjunto da instância civil, exceto quando as particularidades do caso concreto exijam”.
Assim, conforme já explicitado, antes de
adentrarmos, no tópico da responsabilidade civil, temos como necessário trazer
algumas peculiaridades das responsabilidades penal e administrativa como
forma de melhor delinear a própria competência civil acerca do dano ambiental.
No tópico deve ser ainda considerado que
23 ALMEIDA, Marcos Alberto de. Reparação do Dano em face da tríplice Responsabilidade Ambiental: Administrativa, Penal e Civil. 2005.191 f. Dissertação (Mestrado em Direito). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. São Paulo. 2005. 24 Ob. cit. p.129.
31
diante da ocorrência de um dano ambiental podemos estar diante de um
“passivo ambiental”, que é o conjunto de obrigações e responsabilidades,
consideradas no âmbito social, ambiental, econômico e jurídico, sendo certo
que a contaminação do solo é um dos mais graves passivos ambientais, haja
vista que podem causar sérios riscos à saúde pública, além de diminuir
significativamente o valor da área contaminada.
Sabemos que muitas vezes o preço da
remediação é maior que o preço da própria área, até porque antigamente, para
a avaliação de terrenos urbanos era considerado apenas a localização do
mesmo, enquanto que para terrenos rurais, levava-se em conta também a
fertilidade natural da terra, contudo, atualmente a avaliação do valor das áreas
deve ser realizada levando-se em conta a contaminação do solo, acaso
existente, ou ainda a possível contaminação decorrente da atividade
anteriormente exercida na área.
Aliás, não podem ser considerados
passivos ambientais somente fatores de uma área em processo de poluição,
até porque, se toda atividade causa danos, devem ser adotadas medidas a
ensejarem o ativo ambiental de uma empresa.
O passivo ambiental pode decorrer da
própria atividade, da falta de informação, de interesses financeiros sem
comprometimento, da miopia ambiental, dentre outros fatores.
O ativo ambiental, por outro lado, são os
bens e direitos que uma empresa possui, conquista-se, também através de
investimentos e aplicações de recursos cujo objetivo pode ser a prevenção,
recuperação ou reparação ambiental, busca-se, na verdade, em um primeiro
momento, a minimização de riscos, podendo ser citado como exemplo a
implementação de equipamentos de contenção ou eliminação de poluição,
dentre outros.
32
2.1 A responsabilidade penal ambiental
No que tange à responsabilidade penal,
consignamos que poderão ser responsabilizados todos aqueles que
enquadrados pelos crimes tipificados no Código Penal e outras legislações
esparsas, podendo, inclusive, sofrer responsabilização pelos chamados crimes
funcionais25.
Assim, enfoquemos as previsões da Lei
de Crimes Ambientais (Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998).
Referido diploma legal encontra-se
dividido em oito capítulos contendo os seguintes temas: disposições gerais,
aplicação da pena, apreensão do produto e do instrumento de infração
administrativa ou de crime, ação e processo penal, crimes contra o meio
ambiente, infração administrativa, cooperação internacional para a preservação
do meio ambiente, e disposições finais.
Segundo Paulo de Bessa Antunes26,
“a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, surgiu como uma esperança de que a situação denunciada pudesse progredir favoravelmente para a proteção do meio ambiente e, por conseqüência, para a perfeita realização da justiça ambiental”.
Destacamos a previsão da
responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes ambientais, até porque,
conforme elucida a doutrina27: “A pessoa jurídica evoluiu, passou a ser
considerada uma realidade jurídica, embora não possua inteligência e vontade
25 “A expressão ‘crimes de responsabilidade’ é hoje usual e reconhecida em texto de lei...Refere-se ela, no entanto, à responsabilidade criminal dos Prefeitos, do qual a responsabilidade civil, e mesmo a político-administrativa, podem vir a ser conseqüência, não obstante independentes umas de outras” (COSTA, Tito. Responsabilidade de Prefeitos e Vereadores. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 40). 26 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 792. 27 LEVORATO, Danielle Mastelari. Responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes ambientais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 57.
33
própria”.
Assim, é certo que a preocupação das
indústrias e demais pessoas jurídicas ganhou maior destaque com a
possibilidade da responsabilização da pessoa jurídica sobre si e seus
representantes, regramento este previsto na Lei de Crimes Ambientais,
podendo, ainda ser desconsiderada a pessoa jurídica 28.
A matéria foi disciplinada primeiramente
pelo § 3º do artigo 225 da Constituição Federal, verbis:
“As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”.
Posteriormente, a matéria foi
regulamentada pelo artigo 3º da Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de
1998:
“As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de sua entidade. Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.”
No que concerne ao texto legal acima
explicitado, temos que para que haja responsabilização penal da pessoa
jurídica ante à pratica de fato típico, dois requisitos ainda precisam estar
presentes: 1) a infração tenha sido cometida por decisão de seu representante
legal ou contratual ou ainda de seu colegiado; e 2) que a ação (omissiva ou
comissiva) tenha trazido qualquer benefício direta ou indiretamente à própria
pessoa física, caso contrário, a pessoa jurídica não poderá ser
responsabilizada, uma vez que o próprio artigo da Lei de Crimes Ambientais
28 “Art. 4º - Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente”.
34
trouxe necessariamente tais exigências expressas.
Nas lições de José Roberto Marques29:
“E, ao falar em responsabilidade penal da pessoa jurídica, reacendeu vozes
que já tinham se insurgido contra a norma constitucional. Agora, ainda mais,
porque o dispositivo passava a estar regulamentado e podia ser aplicado
plenamente”.
Quanto à previsão do parágrafo único,
note-se que plenamente possível a responsabilização da pessoa jurídica por
ato de seu representante legal e ainda do próprio representante legal pelo ato
determinado, haja vista se tratar de duas pessoas distintas e ainda
considerando a existência de penalidade específicas trazidas para a pessoa
jurídica.
A responsabilização penal derivada de
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente encontra, ainda, previsão no
artigo 2º da referida Lei, verbis:
“Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, com como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la”.
Não iremos, nesta seara analisar os
crimes propriamente dito trazidos pela Lei Federal nº 9.605/98, mas tão
somente as principais características da possibilidade de responsabilização na
esfera penal, sendo certo que segundo a doutrina30:
29 Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. Revista de Direito Ambiental. São Paulo, n.22, p. 100-113, abr-jun. 2001. 30 RIBAS, Lídia Maria Lopes. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. Revista de Direito Ambiental, n. 25, p. 100, jan-mar. 2002.
35
“O legislador infraconstitucional editou a Lei 9.605/98, que sistematiza a tutela administrativa e penal ambiental, contemplando aspectos do ambiente natural, artificial e cultural, com aplicabilidade na tutela da vida e da saúde do ambiente de trabalho e também realiza uma adequação das penas à pessoa jurídica em seu art. 2º, quais sejam: multa; restritivas de direitos e prestação de serviços à comunidade”.
O Artigo 2º também deixa claro que, todo
aquele que de qualquer forma concorrer para a prática, motivo pelo qual extrai-
se que o Agente Público que concorreu para a prática do delito, quer seja
comissivamente, quer seja omissivamente, deverá ser responsabilizado
criminalmente diante de uma atividade lesiva ao meio ambiente.
Aqui, exige-se a lesão ao meio ambiente,
e ainda que esta seja tipificada penalmente, lesão esta que pode ser advinda
da ação ou omissão do causador do dano, caso contrário não poderá ser
responsabilizado nesta esfera.
Note-se que a ação penal deverá ser
ajuizada em face à todos que concorrerem para a prática dos delitos
ambientais, sendo certo que cada um deles responderão na medida de sua
culpabilidade, como também disposto pelo artigo 2º da referida Lei.
Temos que as sanções contidas na Lei nº
9.605/98 somente poderão ser aplicadas nas hipóteses previstas naquele
diploma legal, sendo certo que nem sempre, para a configuração das hipóteses
de aplicação de sanções administrativas será necessária a lesão ao meio
ambiente.
Num primeiro momento, ao interpretar a
própria ementa da Lei de Crimes Ambientais podemos chegar a concluir que a
lesão ao meio ambiente deverá estar presente. Tal conclusão, se extrai
principalmente de uma interpretação sistemática da Lei de Crimes Ambientais,
eis que a própria ementa “Dispõe sobre as sanções penais e administrativas
36
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências”.
Notadamente quanto a poluição o artigo
54 da Lei determina que:
“Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou destruição significativa da flora: Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa”
Se o crime for culposo a pena é de
reclusão de seis meses a um ano, e multa - § 1º do artigo 54 da Lei 9.605/98,
podendo a pena ser aumentada de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se:
“I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana; II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população. III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade;IV - dificultar ou impedir o uso público das praias; V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos”.
Desta forma, concluímos que a Lei de
crimes ambientais veio fazer com que o direito se adeque melhor à realidade
social, adaptando-se para propiciar satisfação e garantias sociais, até porque, a
sociedade clamava por maior proteção ao meio ambiente, motivo pelo qual,
inclusive, justifica-se a responsabilização penal da pessoa jurídica até mesmo
na esfera penal31.
31 SANTOS, Marcos André Couto. Responsabilidade penal das pessoas jurídicas de direito público por dano ambiental . Revista de Direito Ambiental. São Paulo, n.24, p.141, out-dez. 2001.
37
2.2 A responsabilidade administrativa ambiental
Já quanto a responsabilidade
administrativa, destaquemos sobretudo, as previsões expressas na Lei Federal
nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, bem como o recente Decreto Federal nº
6.514, de 22 de julho de 2008, que conta com 154 (cento e cinqüenta e quatro)
artigos, sendo certo que ambos trazem previsões acerca da responsabilidade
administrativa, tendo o Decreto a intenção de dispor sobre as infrações e
sanções administrativa ao meio ambiente e estabelecer o processo
administrativo federal para apuração das infrações.
Trazemos também desde já algumas
previsões contidas na recente Lei Estadual Paulista nº 13.577, de 8 de julho de
2009 - Lei de Proteção a qualidade do solo e gerenciamento de áreas
contaminadas – que aborda principalmente no artigo 41 as seguintes
peculiaridades da infração administrativa, verbis: “Artigo 41 – Toda ação ou
omissão contrária às disposições desta lei e seu regulamento será considerada
infração administrativa ambiental classificada em leve, grave ou gravíssima...”
Referido artigo destaca, ainda, que serão
levados em conta para a classificação da infração: “I – a intensidade do dano,
efetivo ou potencial; II – as circunstancias atenuantes ou agravantes; III – os
antecedentes do infrator”.
O artigo 42, traz a penalidades que
poderão ser impostas ao infrator, sendo elas: advertência, multa, embargo,
demolição e suspensão de financiamento e benefícios fiscais.
Note-se que os parágrafos 1º e 2º do
mencionado artigo determina quando deverá ser aplicada pena de advertência
(§1º) e de multa (§2º), elucidando que:
“§ 1º - A penalidade de advertência será imposta quando se tratar de primeira infração pelo descumprimento das exigências técnicas
38
formuladas pelo órgão ambiental competente, em qualquer fase do processo de remediação. § 2º - A penalidade de multa será imposta ao responsável pela área classificada como contaminada, conforme disposto no artigo 13 desta lei, observando o limite de 4 (quatro) a 4.000.000 (quatro milhões) vezes o valor da Unidade Fiscal do Estado de São Paulo – UFESP, desde que não ultrapasse o limite estabelecido no artigo 75 da Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998”.
Ressalte-se que nos casos de
reincidência, de infração de mesma natureza e gravidade, a multa será
aplicada em dobro da anteriormente imposta - §5º do Artigo 42 da Lei nº
13.577/09.
Todas as infrações serão apuradas em
processo administrativo próprio, observando-se o direito de ampla defesa e
contraditório, devendo, ainda, ser lavrado auto de infração pela autoridade
competente, esta é a previsão do artigo 43 da Lei acima descrita.
O § 1º do artigo 43 estipula que serão
responsabilizados pela infração “quem por qualquer modo a cometer, concorrer
para sua prática ou dela se beneficiar”.
Deverá, também, o Poder Público agir de
imediato naqueles casos de área contaminada que acarrete perigo iminente
para a saúde e segurança da população, independentemente de garantia de
defesa prévia e contraditório, estando tal regra expressamente prevista no § 2º
do artigo 43, da Lei 13.577/09.
O princípio do duplo grau de jurisdição
encontra-se garantido no artigo 44 da mesma Lei, sendo certo que o prazo
estipulado é de 20 (vinte) dias, contados da data do auto de infração, podendo
haver reconsideração da decisão.
Há de ser notado que o agente público
poderá sofrer penalidades Administrativas sempre que faltar com as
39
observâncias aos preceitos inerentes à Administração Pública.
Ainda quanto a responsabilidade do
agente público ressalta-se que nada impede que o funcionário responda a um
processo administrativo disciplinar e a ele eventualmente seja aplicada uma
das penalidades do regramento que regula tal ato, contudo, para que seja
configurada a hipótese de aplicação da previsão do artigo 68, a conduta do
agente tem que se relacionar com o elemento - relevante interesse ambiental.
Marcos Alberto de Almeida32, assevera
que: “a ação administrativa deve ser mesmo a primeira a intervir, já que o
Estado contra com diversos recursos e poderes para coibir a prática de danos
ao meio ambiente”.
E apresenta crítica construtiva no sentido
de que devem ser evitadas situações em que haja acionamento da esfera
penal quando o caso ensejaria uma primeira reação administrativa, verbis:
“o que se verifica é um completo desajuste nessa ordem de intervenções. A repressão penal, que em regra deveria ser excepcional, é amiúde a primeira a ser efetivada. Casos em que a repressão administrativa poderia solucionar o problema sem maiores percalços, necessitando apenas da retaguarda do direito penal, invariavelmente ensejam prisões em flagrante, e a reação estatal frente ao dano ambiental acaba por inicial numa Delegacia de Polícia.”33
Conforme já explicitado, temos que a
esfera penal deve ser acionada desde que a ação praticada pelo causador do
dano seja tipificada pela Lei Penal, assim, nestes casos, mesmo tendo sido
tomadas providências administrativas visando cessar o dano, deverá o autor do
dano responder criminalmente.
É o caso, também da responsabilização
32 Ob. cit. p. 129. 33 Ob. Cit. p. 130.
40
civil, que somente deve ser acionada acaso tenha havido danos ao meio
ambiente e ou a terceiros.
Na verdade, observamos que a esfera
civil intervem na ação administrativa do Poder Público toda vez que se
demonstra necessário para a reparação do dano ambiental, sendo certo que a
tríplice responsabilização deve coexistir na medida que configuradas ações que
as justifiquem e ainda cada qual deve analisar a ação sob sua ótica (penal, civil
e administrativa).
2.3 A responsabilidade civil ambiental
Devemos ressaltar desde já, que a
responsabilidade civil decorre da própria desarmonia da vida social e em
conseqüência da necessidade de regulamentá-la, porém, não são todos os
dissabores que geram responsabilização civil, mas apenas e tão somente
aqueles que fazem emergir um prejuízo ou um dano, sendo certo que o direito
tem o papel de identificar a ocorrência da lesão, o seu causador e a vítima,
proporcionando, assim, a possibilidade de reparação34.
No que concerne à responsabilidade civil
ambiental, tanto a parte final do §3º do artigo 225 da Constituição Federal,
quanto o parágrafo 1º do artigo 14 da Lei da Política Nacional do Meio
Ambiente trazem a previsão de que o poluidor é obrigado, independentemente
da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio
ambiente, sendo que uma vez degradado o meio ambiente, a reparação civil
ambiental é uma das saída para os degradadores que não apresentam
propostas serias e eficazes para a solução dos problemas de contaminação
ambiental.
Contudo, temos que, para haver a
34 Reparação aqui entendida no sentido latu sensu.
41
responsabilização civil, necessária a prova do dano causado pela
contaminação da área, eis a primeira dificuldade em determinados casos, pois
há danos que se verificam de plano, contudo, outros, especialmente os danos
causados no solo poderão não ser percebidos de imediato, devendo ser
lembrada, ainda, a já mencionada dificuldade da identificação do nexo de
causalidade que pode ser alcançada através de uma Ação Civil, cujos
legitimados encontram-se arrolados na Lei Federal n° 7.347/85 – Lei da Ação
Civil Pública.
Assim, diante da relevância da matéria,
em especial dentro do tema tratado, verificaremos adiantes peculiaridades da
responsabilidade civil e seus reflexos nas contaminações de áreas.
42
3. PECULIARIDADES DA RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL DO DAN O
AMBIENTAL
A responsabilidade civil ambiental guarda
suas peculiaridades, sendo certo que até por isso se mostra ainda mais
atrativa, motivo pelo qual temos como proposta, no tópico ressaltá-las, como
forma de colaborar ainda mais com a demonstração de sua relevância.
É certo que devemos tratar a
responsabilidade civil ambiental como algo assemelhado, porém diferenciado
da responsabilidade civil comum, porém, necessário se faz a abordagem de
algumas características desta, para depois passarmos a uma análise daquela.
Pois bem, no início a responsabilidade
civil era considerada como o direito à vingança, assim, referido “direito” era
exercido pelo próprio lesado, sem qualquer participação do Estado, sendo certo
que a responsabilidade no campo civil se efetiva com o cumprimento de uma
obrigação de fazer ou não fazer e no pagamento de condenação em dinheiro.
Consignamos, ainda, algumas
características acerca da responsabilidade civil nos moldes como empregado
atualmente teve como grande marco propulsor o Código Napoleão ou Código
Civil dos Franceses, de 1804, notadamente em decorrência da previsão
expressa contida na primeira parte do Art. 1384, verbis: “Toda pessoa é
responsável não somente pelo dano que causou pro ato se próprio, mas ainda
por aquêle que foi causado por ato de pessoa pela qual devia responder, ou
por coisas que estão sob a sua guarda”
Referido texto encontra-se inserido no
Capítulo II (Dos Delitos e Dos Quase-Delitos) do Título IV (Dos compromissos
que se formam sem convenção), do Livro III (Dos diferentes modos pelos quais
se adquire a propriedade) do Código Napoleão.
43
É certo que o instituto da responsabilidade
civil sofreu considerável evolução e aperfeiçoamento, neste sentido, referimo-
nos ao crescente movimento em prol da segurança social, que inclusive
alicerça a responsabilidade objetiva tema este que será ainda abordado.
Assim verificamos a busca pela garantia
do ressarcimento do dano ao lesado, o que é garantido pela legislação no
sentido de gerar a necessária indenização.
A palavra “responsabilidade” tem sua
origem do latim respondere, que significa responder (por algo), sendo que nas
lições de Plácido e Silva35 a responsabilidade: “revela o dever jurídico, em que
coloca a pessoa, seja em virtude de um contrato, seja em face de fato ou
omissão, que lhe seja imputado, para satisfazer a prestação convencionada ou
para suportar as sanções legais, que lhes são impostas”.
Já segundo Rui Stoco36:
“O termo responsabilidade, segundo Paul Duez, se não for cuidadosamente conceituado, poderá prestar-se a ambigüidades, em razão da probreza, sob muitos aspectos, do vocábulo jurídico. Observou Zanobini, não haver dúvida, no entanto, de que o termo “responsabilidade” serve para qualquer título, deva arcar com as conseqüências de um fato danoso”.
Ademais, em citação a Aguiar Dias Rui
Stoco37 assevera que:
“...toda manifestação da atividade humana traz em si o problema da responsabilidade. Isso talvez dificulte o problema de fixar o seu conceito, que varia tanto como os aspectos que pode abranger, conforme as teorias filosófico-jurídicas. Várias são, pois, as significações. Os que se fundam na doutrina do livre-arbítrio, pondera o eminente Pontes de Miranda, sustentam uma acepção que repugna à ciência. Outros se baseiam na distinção, aliás bem vaga e imprecisa, entre psicologia
35 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 1993, v.4, p. 124. 36 Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994, p. 37. 37 Ob.cit. p.38.
44
normal e patológica. Resta, rigorosamente sociológica, a noção da responsabilidade como aspecto da realidade social. Decorre dos fatos sociais, é o fato social. Os julgamentos de responsabilidade (por exemplo: a condenação do assassino ou do ladrão, do membro da família que a desonrou) são “reflexos individuais, psicológicos, do fato exterior social, objetivo, que é a relação de responsabilidade. Das relações de responsabilidade, a investigação científica chega ao conceito de personalidade. Com efeito, não se concebem nem a sanção, nem a indenização. nem a recompensa, sem o indivíduo que as deva receber, como seu ponto de aplicação, ou seja, o sujeito passivo ou paciente”.
No Direito Brasileiro, a responsabilidade
civil teve sua primeira previsão no artigo 159 do Código Civil de 1916, sendo
conseqüente, conforme já ressaltamos do Código Napoleão, em especial pelo
regramento contigo no artigo 1834.
Na verdade é um instituto que mereceu
pouca atenção no Código Civil de 1916, devendo ser destacada, aqui, a
relevância da jurisprudência para o aperfeiçoamento da responsabilização civil,
tanto que a matéria foi regulada no referido dispositivo através de 01 (um)
artigo, qual seja 159, que explicitava: “aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a
outrem, fica obrigado a reparar o dano”.
Contudo, não é de se desconsiderar as
previsões através de leis esparsas que contribuíram em muito para o
crescimento do instituto, dentre elas destacamos a Lei da Política Nacional do
Meio Ambiente – Lei Federal n° 6.938, de 31 de agos to de 1981 que
regulamentam a responsabilidade civil por dano ambiental.
Ademais, conforme elucida Rui Stoco38:
“a sociedade evolui e sofre profundas mutações. O Direito deve acompanhar essas mudanças e amoldar-se a elas. Quando isso não acontece, os julgadores surgem com a missão importantíssima de suprir essa falha e interpretar e adequar a lei de modo que possa subsumir-se às novas situações concretas que
38 Ob. cit. p. 8.
45
surgem. Foi o que ocorreu ao longo do tempo. A jurisprudência, em tema de responsabilidade civil, assumiu relevo muito maior do que com relação a outras ciências. Coube-lhe, em grande parte, construir os dogmas e estabelecer os verdadeiros conceitos.”
Atualmente a responsabilidade civil
encontra-se disposta no atual Código Civil, notadamente na Parte Especial, no
Livro I (Do Direito das Obrigações), Título IX (Da Responsabilidade Civil),
Capítulos I (Da Obrigação de Indenizar) e II (Da Indenização), arts. 927 a 954.
Em assim sendo, destaca-se a relevância
deste instituto que poderá ser aplicado toda vez que um direito ou obrigação for
lesado ou descumprido, nesta esteira a responsabilidade civil é o “amparo”39
dos direitos e obrigações.
Podemos crer que é a coercibilidade dos
regramentos legais que ampara o direito, sendo certo que poderá ser aplicada,
indiscutivelmente pelo descumprimento de obrigação de qualquer ramo do
direito, quer seja, tributário, administrativo, penal ou outro.
Entendemos que o importante é delimitar
qual ou quais os efeitos decorrentes deste instituto, afinal como ensina José de
Oliveira Ascenção40: “Todo o direito serve objectivos práticos... a mesma
função substancial pode ser desempenhada pela ordem jurídica através de
meios técnicos diversos”.
Ademais, considerando que o instituto da
responsabilidade civil foi inserido dentro do “Livro das Obrigações”, sub-ramo
do direito civil brasileiro, eis a primeira característica que se passa a abordar41.
39 No sentido de proteção. 40 Direito Civil Reais. Coimbra: Coimbra Editora, 2000, p. 13/14. 41 Giorgio Giorgi considera marcantemente a ligação do credor ao devedor através de uma obrigação, chegando a utilizar-se da expressão “escravidão” para melhor elucidar suas considerações. Assim, temos que os sujeitos da obrigação estão intimamente ligados pela
46
obrigação contratada, sendo certo que, somente se desvencilharão acaso esta seja cumprida ou resolvida. O Direito Obrigacional é um direito relativo com caráter marcantemente patrimonial41, podendo ainda ser considerado como uma momentânea limitação de liberdade.No que concerne ao objeto dos direitos obrigacionais, destacamos que, este se constitui de condutas comissivas ou omissivas daqueles que estão nos pólos da relação jurídica, motivo pelo qual pode ser contratada obrigação no sentido de positivo ou negativo. “La parola obbligazione, se guardianmo allá sua etimologia, contiene chiarissima l´ Idea di legame. E veramente si può dire, Che l´obbligazione lega il debitore, costringendolo a esercitare parte della sua attività in vantaggio del creditore. Però in tutti i tempi, e nelle scuole e nelle leggi, e negli scritti dei giureconsulti romani, e nelle istituzioni di Giustiniano, e nelle opere dei moderni scrittori, e nel Códice civile italiano l`obbligazione è stata considerata come um vincolo giuridico”. (Teoria Delle obbligazioni nel Diritto Moderno Italiano. Firenze: Casa Editrice Libraria “Fratelli Cammelli”, 1894, vol. I, p. 13). Já no que se refere à relação jurídica contraída, esta é caracterizada pelas pessoas vinculadas à obrigação, e demonstra-se através da formação do pólo ativo (credor) e pólo passivo (devedor), até porque, uma relação obrigacional demanda necessariamente um credor e um devedor. O direito das Obrigações tem por objeto imediato atos ou prestações de pessoas determinadas, sendo que nas lições da doutrina, temos ainda que o Direito das Obrigações disciplina três coisas, as relações de intercâmbio de bens entre as pessoas e de prestação de serviços, a reparação de danos que umas pessoas causem a outras e a devolução de benefícios indevidamente auferidos ao respectivo titular.Temos que a reparação de danos (responsabilidade civil) é uma conseqüência do descumprimento de uma obrigação caracterizada justamente pelo “perigo de perder um bem”. Outro ponto marcante do direito das obrigações, e conseqüentemente da responsabilidade civil, é a presença do caráter transitório, sendo certo que tão logo ocorra o cumprimento da obrigação, esta se faz cessar. Relembrando as duas acepções do Direito Obrigacional, trazemos a lume as considerações de Jorge Leite Areias Ribeiro de Faria (Direito das Obrigações. Coimbra: Almedina, 1990, p. 2-3):“O direito das obrigações pode ser tomado, desde logo, numa dupla acepção. Por direito das obrigações pode entender-se, por um lado, um ramo de direito objectivo com o escopo da regulação dos direitos de crédito. Neste sentido pode dizer-se que o direito das obrigações (Schuldrecht) é parte do direito privado que regula ou que trata (behandelt) das relações obrigacionais ou de crédito (BROX, Allgemeines Schuldrecht (1980) 1). E por relação de crédito deve entender-se toda a relação jurídica em que uma pessoa (o credor) está legitimada a exigir de outra (o devedor) uma prestação. Portanto, da relação de crédito fazem parte, de uma forma incindível, um direito do credor (Recht, Anspruch Forderung) e um dever do devedor. Como se dirá adiante, está nisto mesmo a distinção dos direitos de crédito não só dos chamados direitos absolutos (erga omnes) como dos direitos potestativos.Mas, por direito das obrigações, também se pode entender, por outro lado, uma disciplina jurídica, que tem precisamente por objetivo dispor de modo sistemático, em termos de ciência, os elementos que são “facultados pelas normas reguladoras das relações de crédito” No que tange ao conceito e pressupostos das obrigações destacamos os ensinamentos de Paulo Luiz Netto Lobo (Teoria Geral das Obrigações. São Paulo: Editora Saraiva, 2005, p.49/53): “O direito das obrigações, na atualidade do sistema jurídico brasileiro, compreende as relações jurídicas de direito privado, de caráter pessoal, nas quais o titular do direito (credor) possa exigir o cumprimento do dever correlato de prestar, respondendo o sujeito do dever (devedor) com seu patrimônio. O direito das obrigações é o ramo do direito que regula a relação jurídica de dívida de prestação entre pessoas determinadas ou determináveis, sendo este o núcleo que o identifica. É direito relativo, a que corresponde o dever relativo. As relações negociais
47
É bem verdade que a edição do Código
Civil de 2002, deu nova vida aos regramentos nele contidos, e principalmente,
imprimiu o caráter social nas obrigações em geral, quer seja naquelas já
contidas no diploma civil, quer seja naquelas transportadas do Código
Comercial que, aliás, também carecia de socialidade, passando com isso a
disciplinar mais adequadamente a realidade nacional, proporcionando aos
cidadãos uma melhor resposta a suas expectativas, refletindo assim, numa
maior segurança.
O surgimento da responsabilidade civil
ambiental se seu deu com a crescente preocupação em decorrência do
aumento de danos ambientais, tendo em vista a crise desencadeada pela
Revolução Industrial no século XIX e o próprio desenvolvimento econômico.
Segundo Jorge Alberto de Oliveira
e a responsabilidade pelos danos imputáveis são as principais causas das obrigações, ainda que não as únicas...Obrigação é a relação jurídica entre duas (ou mais) pessoas, em que uma delas (o credor) pode exigir da outra (o devedor) uma prestação”. Fernando Noronha (Direito das obrigações: fundamentos do direito das obrigações: introdução à responsabilidade civil. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 1, p.272), acrescenta que: “O direito de crédito (ou obrigação) consiste num vínculo entre duas ou mais pessoas, por virtude do qual uma delas pode exigir da outra uma determinada prestação. Segundo Paulo Luiz Netto Lobo (Ob. cit. p. 16/17): “As obrigações constituem as operações jurídicas mais freqüentes entre os indivíduos e os instrumentos necessários de toda vida econômica...No Código Civil de 2002, o direito das obrigações abrange uma parte voltada à teoria geral e outra parte destinada às espécies de obrigações...No sentido estrito, o direito das obrigações restringe-se à parte geral ou teoria geral das obrigações, disciplinada nos arts. 233 a 420. Às normas jurídicas gerais de direito das obrigações aplicam-se não apenas às espécies de obrigações previstas no Código Civil, mas a todas as relações jurídicas regidas pela legislação especial conexa”. Já o Código Chileno define obrigações como:“Artículo 1437. Las obligaciones nacen, ya Del concurso real de las voluntades de dos o más personas, como en los contratos o convenciones; ya de un hecho voluntário de la persona que se obliga, como en la aceptación de una herencia o legado y en todos los cuasicontratratos; ya a consecuencia de un hecho que ha inferido injuria o dano a outra persona, como en los delitos y cuasidelitos; ya por disposición de la ley, como entre los padres y los hijos sujeitos a patria potestad.” Outras duas características da responsabilidade civil nacional é a adoção pela subjetividade em detrimento da objetividade, sendo certo que esta somente vigora em casos específicos determinados e excepcionalmente, conforme verificaremos. Assim, necessário se faz a abordagem da culpa do direito civil brasileiro, sem prejuízo da análise do também relevante ato ilícito, motivo pelo qual se passa a delimitá-lo.
48
Marum42:
“No Brasil, normas esparsas destinadas a proteger o meio ambiente foram herdadas do colonizador e timidamente introduzidas nos diplomas codificados após a independência, todavia, como é sabido, o desenvolvimento do país, desde os seus primórdios, se deu à custa da exploração predatória de seus recursos naturais. Até a décadas de 60, lembra Herman Benjamin, o país experimentou ‘a fase da exploração degradada ou do laissez-faire ambiental, onde a conquista de novas fronteiras (agrícolas, pecuárias e minerarias) era tudo que importava na relação homem-natureza. Tinha na omissão legislativa seu traço preponderante, relegando-se eventuais conflitos de cunho ambiental quando muito ao sabor do tratamento pulverizado, assistemático e privatístico dos direitos de vizinhança”.
Desta feita, a responsabilidade civil já não
era mais suficiente no combate ao dano ambiental, até porque necessária a
intimidação do agente causador do dano, papel este que a responsabilização,
por si só, não estava sendo capaz de realizar.
Ao se tratar de dano ambiental a
identificação da culpa e do agente é papel difícil de se conquistar, assim, foi
necessária a estipulação da responsabilidade objetiva e solidária.
As funções preventivas também passaram
a ter relevo quanto ao dano ambiental, pois a idéia de que o bem ambiental era
inesgotável começou a se demonstrar equivocada e com isso houve a
evolução para as previsões contidas na Lei da Política Nacional do Meio
Ambiente em 1981 e o artigo 225, §3º da Constituição Federal de 1988, assim,
destacamos a previsão contida na primeira parte do §1º do artigo 14 da Lei nº
6.938/81:
“Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou preparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade”.
42 Meio Ambiente e Direitos Humanos. Revista de Direito Ambiental, São Paulo, n. 28, p. 117-137, out-dez, 2002.
49
Assim, responsabilidade civil ambiental
apresentou novos contornos, calcados na própria necessidade humana da
preservação e conservação do meio ambiente, inclusive para sua subsistência.
Quanto à legislação brasileira de proteção
ao meio ambiente, destacamos o posicionamento de José Rubens Morato
Leite43 no sentido de que:
“O aparato legislativo brasileiro de controle ambiental pode ser considerado avançado, posto que já fazem parte dele instrumentos preventivos, como estudo prévio de impacto ambiental, auditoria ambiental, zoneamento ambiental e muitos outros”.
Contudo, mesmo assim, conforme
continua mencionado autor, “o poder público brasileiro não tem sido eficaz, e
muitas vezes há omissão na implementação dos mesmos, e os danos
ambientais proliferam assustadoramente, sem que haja uma visível limitação
destes”44, sendo certo que assim a responsabilidade civil por dano ambiental
vai mais além do que a própria equidade exigida na responsabilidade civil
comum que tem como pressuposto que “todo aquele que causa dano a outrem
deve indenizar”.
Neste sentido, trazemos a baila o
posicionamento de Lucas Abreu Barroso45,
“o fundamento da obrigação de indenizar não pode ficar adstrito à equidade, pois não estão em condições de igualdade o agente causador do dano e a coletividade em geral, sobretudo em se tratando das gerações futuras”. (...) É mister compreender a obrigação de indenizar não mais como medida de restabelecer o equilíbrio patrimonial entre agentes e vítimas, principalmente em razão da pluralidade destas e da
43 Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. São Paulo. Revista dos Tribunais, 2003. p. 207. 44 Ob.cit. p. 207. 45 BARROSO, Lucas Abreu de. A Obrigação de Indenizar e a Determinação da Responsabilidade Civil por Dano Ambiental: Fundamento e Critério de Valoração na pós-modernidade e no Estado Democrático de Direito. 2005. 120 f. Tese (Doutorado em Direito). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. São Paulo. 2005, p. 89.
50
natureza difusa dos bens ambientais, mas com caráter punitivo e preventivo aos atos atentatórios contra a sociedade e o meio ambiente. Indenizações mais severas e abrangentes são necessárias, visando coibir comportamentos desidiosos e intencionais, afastando definitivamente a idéia de tarifação da responsabilidade”.
Destacamos, desde já a necessidade da
exigência da efetiva ocorrência do dano ambiental para a caracterização da
responsabilização civil, bem como chamamos atenção para as peculiaridades
inerentes ao nexo de causalidade no dano ambiental, haja vista que não
haverá o que se falar em responsabilidade civil se não houve comprovação do
dano.
Acerca da importância da identificação do
nexo de causalidade lembra Luciana Stocco Betiol46 em sua recente obra:
“O sucesso de qualquer demanda tem como um dos pressupostos a demonstração de que a conduta do demandado tenha sido a causa, ou pelo menos uma das causas, para a produção do resultado danoso, sob pena de se atribuir a uma pessoa o dano causado por outra ou pela coisa de outra”.
No que tange, ainda à responsabilidade
civil ambiental, há de ser consignada, desde já, a existência de diferenças entre
a responsabilidade civil e a responsabilidade civil por dano ambiental, sendo
certo que a primeira delas repousa no fato de que esta independe de culpa do
autor do dano, ou seja, basta que seja identificado o causador da conduta
comissiva ou omissiva, o dano ambiental e o nexo causal entre a ação ou
omissão e o dano.
Salientamos que a função reparatória da
responsabilidade civil, notadamente aquela incidente em dano ambiental,
deverá estar intimamente ligada à função preventiva de danos, além é claro da
função punitiva e reparatória que desenvolverá seu importantíssimo papel. 46 Responsabilidade Civil e Proteção ao Meio Ambiente. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 173.
51
Neste sentido, a responsabilização por
dano ambiental também atua de forma pedagógica visando evitar a
reincidência em condutas lesivas ao meio ambiente, assim, reforce-se que não
desconsideramos a função reparadora e punitiva da responsabilidade civil,
contudo, a função preventiva deverá ser relevada no tópico.
No que se refere especificamente à
responsabilidade civil ambiental a preocupação primeira encontra-se inserida
na Constituição Federal, de maneira que se encontra prevista no Artigo 225,
§3º, verbis: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados”.
Reforce-se que a legislação brasileira
ambiental pode ser considerada bastante avança, até porque admite um
regime de responsabilização civil objetivo e solidário, conforme se verificará.
Outro ponto que consideramos desde o
início do tópico é o fato de que o critério de reparabilidade do dano é definido
pelo ordenamento jurídico. Tal fato é importante uma vez que toda atividade
humana gera um dano ambiental.
O cerne está em verificar qual dano é ou
pode ser tolerados pela humanidade, sendo certo que tal tarefa é atribuída ao
princípio do desenvolvimento sustentável já abordado, e ainda variam de
acordo com condicionantes histórico, geológicos, climáticos, culturais,
econômicos e sociais, dentre outros, vez que afirmar o contrário, implicaria em
considerar que toda atividade seria passível de gerar responsabilizações
indevidas, o que comprometeria o desenvolvimento econômico e a própria
sobrevivência humana.
Tarefa árdua é, portanto, definir o que
52
deverá ser reparável, até porque tênue a linha da tolerabilidade do dano pelo
meio, que influenciará diretamente na definição do bem reparável, ao ponto
que quanto mais se pender para o antropocentrismo menor será a tendência de
reparação, uma vez que se entende que toda a natureza existe para a
satisfação do homem.
Outros fatores tais como o modelo de
desenvolvimento e a distribuição de riquezas também influenciam diretamente
na reparabilidade do dano ambiental.47
É certo que a regra da responsabilidade
civil brasileira é a responsabilidade subjetiva, contudo, no que concerne à
responsabilidade civil ambiental, decorre de lei que a mesma é objetiva.
Mas isso por si só não basta para a
aplicação da responsabilização do dano ambiental, sendo certo que outros
fatores devem ser analisados para a aplicação da responsabilização civil por
danos ambientais, devendo ser lembrado que é importante, por exemplo,
sabermos identificar se o dano decorrente de ato licito poderá ser
responsabilizado, motivo pelo qual, passamos a analisar tal aspecto.
No campo do direito civil, destacamos a
previsão contida no parágrafo único do artigo 927 do Código Civil brasileiro48,
eis que determina a responsabilização independentemente de culpa nos casos
especificados em lei ou quando decorrente da própria atividade desenvolvida
pelo causador do dano, temos, portanto, a previsão de responsabilidade
objetiva no Código Civil.
Contudo, no que tange ao dano
ambiental, além de a responsabilidade decorrer do próprio risco da atividade,
podemos contar, ainda, com a previsão contida no artigo 14, §1° da Lei 47 Annelise, ob. cit. p. 15. 48 “Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”
53
6.938/81, que determina: “Sem obstar a aplicação das penalidades previstas
neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa,
a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros,
afetados por sua atividade...”
Tal regra implantou a responsabilidade
objetiva por danos causados ao meio ambiente, que foi, inclusive,
recepcionada pela Constituição Federal de 1988.
Pois bem, ao verificarmos o texto legal em
menção, podemos perceber que o legislador não distinguiu se a
responsabilidade será decorrente somente diante de ato ilícito49, motivo pelo
qual nos leva a entender que deverá ser responsabilizado também o dano
decorrente de abuso de direito ou até mesmo de ato lícito, sendo certo que,
poderemos estar diante de uma atividade plenamente autorizada pelo órgão
competente, e mesmo que desenvolvida com todas as estipulações, mesmo
assim, uma vez que não absorvidos os impactos da atividade pelo meio, estará
configurado um dano ambiental, que deverá necessariamente ser reparado.
Acerca do ato lícito, maiores discussões
não há, haja vista que todo aquele que esteja de acordo com a lei, já o ato
ilícito é todo aquele que transgride os limites objetivos determinados pela lei,
enquanto que o abuso de direito são obedecidos os limites objetivos
estipulados pela lei, contudo, fere a destinação ou a finalidade da própria
norma.
49 Como característica da responsabilidade civil brasileira enfatizamos no tópico, desde já, a necessidade, da presença de ato ilícito, sendo certo que conforme verificaremos se trata de uma das diferenças da responsabilidade civil decorrente de um dano ambiental. É mister destacar que o caput do artigo 927 determina que: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. Os arts. 186 e 187 definem o que vem a ser ato ilícito. Referidos dispositivos determinam que: “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Assim, o ato ilícito pressupõe três bases, quais sejam: 1). uma ação ou omissão voluntária, 2). violação de um direito e 3). a presença de dano a outrem.“Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
54
Assim, podemos responsabilizar o
causador do dano por ato ilícito ou abuso de direito utilizando-se da própria
regra contida no caput artigo 927 do Código Civil, considerando que a
reparação deverá ser a mais ampla possível, já na reparação de dano
decorrente de ato lícito deverá ser aplicado o parágrafo único do mesmo
dispositivo legal50, sem prejuízo da legislação ambiental.
Com isso, mesmo que estivermos diante
de uma atividade plenamente lícita, autorizada pelo órgão competente, porém
que causou um dano ambiental, o mesmo deverá ser reparado. Tal situação é
analisada pela teoria do risco da atividade, o que afasta a possibilidade de
alegação de excludentes de responsabilidade.
Sempre que houver um dano ambiental,
decorrente de atividade lícita, ilícita ou abuso de direito, o mesmo dever ser
ressarcido independentemente de sua origem, haja vista que no primeiro caso
deverá ser aplicado o disposto no § único do artigo 927 do Código Civil, uma
vez que decorre do próprio risco da atividade desenvolvida pelo degradador, e
nos outros dois podemos aplicar o caput do mesmo artigo, justificando-se ainda
mais pelo rigor da legislação ambiental, notadamente das previsões contidas
na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente.
Ademais, basta restar devidamente
comprovada a relação do agente com o dano (fato praticado e lesão) através
de um nexo de causalidade para que estejam configurados os pressupostos da
responsabilidade civil ambiental, lembrando que mesmo nas situações
abarcadas pelo caso fortuito ou força maior, deve restar efetivamente provado
que era impossível evitar ou impedir os efeitos do fato alegado (terremoto,
enchente, raio, etc), haja vista que se trata de responsabilidade civil objetiva,
por força do disposto no art. 14, §1º da Lei 6.938/81, sob pena de
responsabilização. 50 “Art. 927. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para o direito de outrem”
55
Por fim, mas não menos importante
devemos consignar que temos observado no direito civil a crescente
preocupação com o fenômeno da socialidade, sendo certo que em matéria
ambiental já se tem proposto que a responsabilidade civil deve atender à
função social, devendo a responsabilidade civil deve conter fatores de tal
dimensão.
Ademais, a função social da
responsabilidade civil decorre da própria massificação social até porque mitiga
o individualismo proporcionando, assim, a prática da própria cidadania e justiça
socioambientais.
Há casos em que, por exemplo, o
proprietário de uma área em que ocorreu um dano ambiental poderá ser
responsabilizado, tal assertiva decorre da própria função socioambiental do
proprietário e ocorre nas situações em que foi-lhe exigida algum
comportamento no sentido de minimizar os danos causados e este não o fez51.
3.1 Considerações acerca do dano ambiental
A palavra “dano” é a abreviação da
expressão dos romanos “damnum iniuria datum” e significa causar prejuízo a
coisa alheia52, assim, é certo que a ocorrência do dano ambiental, bem como
sua identificação é imprescindíveis para a sua reparação, entretanto,
estabelecer a dimensão do dano é tarefa pode se tornar difícil ou muitas vezes
até impossível, sendo certo que no tópico faremos uma introdução acerca de
alguns principais aspectos acerca do assunto para posteriormente em uma
abordagem mais específica analisarmos as formas de reparação.
51 LEMOS, Patrícia Faga Iglecias. Meio Ambiente e Responsabilidade Civil do Proprietário. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 112. 52 FREITAS, Vladimir Passos de. A Constituição Federal e a Efetividade das Normas Ambientais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 168.
56
Quanto à dificuldade de se verificar a
extensão do dano, Luciana Stocco Bettiol53, considera que:
“No caso específico de lides envolvendo demandas ambientais,
é possível identificar algumas hipóteses para a configuração in concreto da relação de causalidade. “Um dos pontos mais importantes é o limite ainda existente quanto à identificação da dimensão que determinados danos causam ao meio ambiente. Esse limite esbarra na ausência de tecnologia suficiente para a identificação da amplitude do dano ou advém do custo excessivo para a pesquisa de sua real conseqüência, essencial para a construção da prova pericial, explicitando a disparidade de potencial econômico entre a vítima e o lesante, normalmente empresas, o que leva a inviabilização do pedido petitório”.
Assim, é tido pela doutrina que “o dano é
elemento essencial à pretensão de uma indenização”54, ou ainda que : “o dano
é o prejuízo causado a alguém por um terceiro que se vê obrigado pelo
ressarcimento”55, motivo pelo qual podemos considerar que dano é o prejuízo
causado pelo agente decorrente de uma ação ou omissão, sendo certo que
poderá ser patrimonial ou extrapatrimonial.
Quanto ao dano ambiental, importante
consignar que este é concebido como uma lesão ao interesse difuso e não ao
bem propriamente dito, podendo também configurar lesão ao interesse privado,
devendo este igualmente ser ressarcido, sendo certo que o dano ao interesse
privado decorrente de um dano ambiental é tido pela doutrina como “dano
reflexo” ou “dano ricochete”.
Assim, o dano ambiental pode estar
configurado toda vez que há qualquer alteração do meio ambiente e desde que
seja intolerável. A lei federal nº 6.938/81, mais especificamente em seu artigo
3º, II, entende como degradação da qualidade ambiental: “a alteração adversa
das características do meio ambiente”.
53 Ob. cit, p. 181. 54 LEITE, José Rubens Morato. Dano ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 98. 55 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006, p. 230.
57
Contudo, não podemos deixar de chamar
a atenção para o fato de que toda atividade humana, ou até mesmo a vida
causa de uma forma ou de outra “degradação da qualidade ambiental”,
entretanto, não é toda alteração que será considerada um dano ambiental, mas
sim aquela que foge dos padrões tolerável pela sociedade.
Marcelo Abelha Rodrigues56 considera
que o dano ambiental existe a partir da configuração de lesão ao “equilíbrio
ecológico decorrente de afetação adversa dos componentes ambientais”,
sendo que tal lesão, uma vez ocorrida gera um desequilíbrio ao próprio
ecossistema social ou natural.
Paulo de Bessa Antunes57 ainda traz que:
“Dano ambiental é dano ao meio ambiente. Para que se possa caracterizar o dano ambiental, é necessário que se caracterize, preliminarmente, o próprio conceito de meio ambiente e a sua natureza jurídica (...) O conceito de meio ambiente é, evidentemente, cultural. É a ação criativa do ser humano que vai determinar aquilo que deve e o que não deve ser entendido como meio ambiente. (...) Meio ambiente é, portanto, uma res communes omnium. Uma coisa comum a todos, que pode ser composta por bens pertencentes ao domínio público ou ao domínio privado”.
Entretanto, Heraldo Garcia Vitta58 entende
que para que esteja configura um dano ecológico, não basta a existência de
prejuízo significativo ao meio ambiente, mas é necessário que este decorra de
uma ação ou omissão. Assim, segundo referido autor, é imprescindível a ação
ou omissão ensejadora de dano ambiental para a que o mesmo seja passível
de indenização.
Elemento importante é a verificação do
56 Elementos de Direito Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, P.300. 57 Ob. cit. p.231. 58 O Meio Ambiente e a Ação Popular. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 23.
58
chamado “limite de tolerabilidade” do meio ambiente. A Resolução CONAMA n°
001/86 determina em seu art. 1° traz que podemos co nsiderar como impacto
ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas
do meio ambiente que direta ou indiretamente afetam a saúde, a segurança e o
bem estar da população, as atividades sociais e econômicas, a biota, as
condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e a qualidade dos recursos
ambientais.
Assim, podemos verificar que toda
atividade, até mesmo a própria existência do ser humano causa impacto
ambiental, porém nem todo impacto ambiental deve ser indenizável, motivo
pelo qual, podemos considerar que estará configurado um dano ambiental
somente se ultrapassado o limite de tolerabilidade, pouco importando, ainda,
se o mesmo decorreu de ato lícito, ilícito ou abuso de direito, conforme
verificaremos, bastando apenas a verificação da ocorrência ou não da
absorção do dano pelo próprio meio.
É certo que o meio ambiente tolera, por si
só impactos ambientais, o cerne da questão está em verificar o limite desta
tolerância, sendo certo que a partir deste “limite”, estaremos diante de um dano
ambiental que deverá ser motivo de responsabilização. Referido limite guarda
pontos em comum com o princípio do desenvolvimento sustentável, eis que
deverá haver o equilíbrio entre as atividades desenvolvidas pelo homem e o
próprio meio, respeitando-se as leis naturais e os valores culturais.
Note-se que o limite de tolerabilidade não
é algo certo e imutável, muito pelo contrário, varia consideravelmente no tempo
e lugar, pois determinada emissão de gases, por exemplo, em uma área pode
ser tolerada àquele meio, mas pode não ser a outro, haja vista que fatores
externos como clima, vegetação, cultura, dentre outros influenciam
sobremaneira neste limite.
Ressalte-se que mesmo que cumpridas
59
as exigência de determinado órgão, desde que seja constatado que a atividade
causou um dano, o mesmo deve reparado, motivo pelo qual nem mesmo a
legalidade afasta o dever de indenizar, até porque a autoridade competente
apenas fixa parâmetros que devem ser cumpridos na tentativa de se evitar um
dano, mas não garante que este não irá ocorrer, trabalhe-se preventivamente,
porém nem todas as vezes se previne realmente e satisfatoriamente.
De igual forma, mesmo que o ato esteja
abraçado pela licitude, diante de um dano ambiental, o mesmo deve ser
reparado, ponto crucial é a identificação da absorção ou não do impacto pelo
meio, uma vez constatado positivamente não estaremos diante de uma
situação apta a ensejar reparação.
Outro ponto importante quanto ao dano
ambiental e que justifica sua reparação mesmo diante de uma postura lícita é a
necessidade premente e vital de preservação dos bens ambientais, devendo
haver uma igualdade de acesso à eles entre esta e as futuras gerações, é a
chamada “equidade intergeracional”.
Desta maneira, podemos estar diante de
um dano intergeracional, que é aquele que atinge também as próximas
gerações, motivo pelo qual se torna ainda mais relevante a necessidade de ser
efetivamente evitado. É o caso, por exemplo, da extinção de uma espécie
vegetal ou animal, sendo certo que as próximas gerações estarão cerceadas
do convívio da espécie extinta.
Ademais, não podemos perder de vista
que tal cuidado é imposto pela própria Constituição Federal, que prescreve
especificamente no caput do artigo 225, o dever de preservar o meio ambiente
para as futuras gerações, o que se justifica diante da possibilidade de extinção
de espécies ou modificação do meio de maneira a não propiciar uma melhor
qualidade de vida, dever também imposto pela Carta Magna.
60
No que tange ainda ao dano ambiental
devemos salientar que é permitida a reparação do dano material e moral,
também conhecidos como dano patrimonial e extrapatrimonial,
respectivamente.
Importante destacar, desde já a relevância
da informação e dever de participação de todos imposto pela Constituição
Federal, uma vez que, sempre que possível devemos contribuir para que haja
mudanças na cultura brasileira no sentido de entender que uma vez ocorrido
um dano ambiental, não é somente aquela área, região ou comunidade que é
afetada, mas sim que os efeitos daquele dano atingem a todos, haja vista que o
bem ambiental é difuso e afeta, mesmo que indiretamente, todo o sistema.
Já vimos que todo dano implica em uma
reparação e que quanto ao dano ambiental esta deve ser de maneira integral,
sendo colorário no direito brasileiro que todo aquele que causa um dano tem a
obrigação de repará-lo, devendo sempre ser primada a prevenção do dano,
idéia esta também destacada na Convenção da Basiléia sobre o Controle de
Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu Depósito, em 1989,
que trouxe em seu Preâmbulo:
“As partes da presente Convenção...atentas também ao fato de que a maneira mais eficaz de proteger a saúde humana e o meio ambiente dos perigos que esses resíduos representam é a redução ao mínimo de sua geração em termos de quantidade e/ou potencial de seus riscos...e determinadas a proteger, por meio de um controle rigoroso, a saúde humana e o meio ambiente contra os efeitos adversos que podem resultar da geração e administração de resíduos perigosos e outros resíduos”.
O dano ambiental extrapatrimonial, ou
moral, pode ser subdividido em objetivo, que atinge interesse ambiental difuso,
ou subjetivo, que atinge reflexamente um interesse individual, é o chamado
dano reflexo ou ricochete, sendo certo que ambos, desde que configurados,
devem ser reparados.
61
O dano moral ambiental objetivo visa
proteger o próprio meio ambiente como bem difuso, e vem sendo aceito pelos
nossos tribunais até porque uma vez ocorrido tal dano, toda a coletividade é
atingida, e muitas vezes de forma indiscriminada, além do que prejudica o
direito de um meio ambiente equilibrado e de uma melhor qualidade de vida,
valores estes de difícil quantificação.
Contudo, a esfera de valoração e
quantificação do dano moral ambiental possui seus contornos próprios, haja
vista que o dano moral individual leva em consideração a dor sofrida pela
vítima, já a coletividade sofre com os reflexos desta dor, até porque se analisa
a perda da qualidade de vida da sociedade.
Entretanto, não podemos concluir que se
todo dano ambiental ofende a sociedade, então sempre devem ser analisados
sob o prisma da reparação moral, na verdade, somente os danos ambientais
mais consideráveis devem ser passiveis de indenização moral, sendo que tal
avaliação conta sim com certa subjetividade que deve ficar a cargo do Poder
Judiciário,dependendo de cada caso concreto.
É certo que a quantificação do dano moral
é tarefa dotada de subjetivismo, que também deverá contar com o bom senso
dos membros do Poder Judiciário, sendo certo que deverá ler levado em conta
a perda da qualidade ambiental da coletividade como um todo, o que
desencadeia em uma perda da qualidade de vida, garantida pela Constituição
Federal e direito de todos.
Como fator considerável da quantificação
do dano moral ambiental podemos citar o lapso temporal decorrido entre o
dano e a reparação, haja vista que se avalia o prejuízo sofrido pela sociedade
que foi privada do ambiente suprimido, sendo certo que tal valor será destinado
ao Fundo para Recuperação de Bens Lesados.
62
3.1.1 O nexo de causalidade no dano ambiental
No que se refere ao nexo de causalidade
temos que este é pressuposto fundamental para a reparação do dano
ambiental, contudo, é certo que a identificação do mesmo é conta com
dificuldades peculiares, em especial diante de um dano ambiental, pois é certo
que muitos deles somente são constatados após o decorrer de longo período
ou ainda é fruto da junção de vários fatores, que a princípio e vistos
isoladamente não causariam dano algum, porém, na medida em que são
analisados conjuntamente e cumulativamente, podem ser identificados como
causadores de danos ambientais.
Assim, verificamos que a identificação do
nexo de causalidade, não é tão fácil quanto possa parecer, eis que conforme
lembra Marcos Destefenni59 “A questão do nexo causal ainda é um dos
maiores problemas da ciência jurídica, embora seja estudado há muito tempo,
com profundidade, tanto pelo direito penal quanto pelo direito civil”.
Temos, porém consciência da não rara
dificuldade para a identificação do nexo de causalidade, ou seja, a ligação
entre o dano e a fonte poluidora, naqueles casos em que haja pluralidade de
autores do dano, haja vista que existem casos, em especial aqueles que
ocorrem nas áreas dos distritos industriais, em que há uma grande dificuldade
ou até mesmo não há como delimitar o causador do dano, eis que poderá ser
advindo de sua série de atos de diversos poluidores.
Nestes casos, conforme elucida Paulo
Affonso Leme Machado60, a vítima poderá acionar um ou alguns deles apenas,
não havendo necessidade de serem acionados todos, vejamos:
59 DESTEFENNI, Marcos. A Responsabilidade Civil Ambiental e as Formas de Reparação do Dano Ambiental: Aspectos Teóricos e Práticos. 2004. 282 f. Dissertação (Mestrado em Direito), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. São Paulo. 2004, p. 174. 60 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 358.
63
“Num distrito industrial ou num conglomerado de indústrias pode ser difícil apontarem-se todas as fontes poluidoras que tenham causado prejuízo. A vitima não estão obrigada a processar conjuntamente todos os poluidores, podendo escolher aquele que lhe convier, chamar a responsabilidade, por exemplo, optando por um poluidor solvente e não pelo insolvente. Na produção do prejuízo não é preciso que um produto poluente cause por si só uma determinada doença, como por exemplo a asma ou a bronquite. Hão de ser considerados os efeitos sinergéticos das emissões, concorrendo conjuntamente para a eclosão da moléstia”.
Ressalte-se que o dano poderá ter sido
ainda autorizado pelo órgão público competente, que à época julgou como
possível determinada atividade, contudo, após verificou-se que o dano desta
mesma atividade não é mais suportável pela sociedade.
Diante desta situação temos que a
autorização para a atividade deverá ser imediatamente cassada ou suspensa e
caso a caso deverá ser resolvido, devendo o poluidor, nestes casos - e mesmo
que tenha agido de acordo com sua autorização - ser responsabilizado
civilmente, sem prejuízo de adequar-se às exigências administrativas diante da
nova realidade.
Merece destaque o fato de acreditarmos
que mesmo diante da aplicação do princípio da solidariedade e de se tratar de
responsabilidade objetiva, não são as empresas de recente instalação no local
que devem pagar a descontaminação necessária pelos danos causados pelo
empreendimento antigo, apesar de que sabemos que se trata de passivo
ambiental que deve ser considerado na valoração da empresa poluidora.
Contudo, sabemos também das
dificuldades de identificação e muitas vezes de localização do real poluidor,
motivo pelo qual, nestes casos e somente após comprovadamente terem se
esgotadas todas as possibilidades de localização e identificação do mesmo, o
atual proprietário, possuidor ou qualquer daqueles elencados na legislação
própria deverão ser acionados e responsabilizados.
64
É o caso, conforme já elucidado de áreas
com grande concentração de desenvolvimento de atividades econômicas,
como por exemplo os distritos industriais que quanto da análise de cada
atividade isolada, não de verifica desencadeamento de dano ambiental,
entretanto, ao ser analisada em conjunto, atividades antes toleráveis passam a
desequilibrar o desenvolvimento sustentável.
Assim, como ressalta Marcos Destefenni,
há uma tendência entre os autores pela atenuação do ônus probandi do nexo
de causalidade, sendo que o princípio da proporcionalidade ganha destaque na
referida atenuação, conforme lembra referido autor61:
“Sendo assim, é lícito concluir que o princípio da proporcionalidade também tem como conseqüência a atenuação do onus probandi do nexo de causalidade, de tal forma que pode ser considerado provado o nexo em situações em que o juiz, ponderando os elementos de prova, estiver convencido de que a existência do fato é mais provável do que a inexistência”.
Daí decorre a já explicada teoria do risco
integral, em que o nexo deve ser estabelecido entre a atividade do lesante e o
dano e não entre conduta e resultado como é comumente na responsabilidade
civil objetiva, sendo que teremos então uma presunção de causalidade descrita
pela atividade do lesante e o dano.
Aliás, no que se refere a teorias do nexo
de causalidade, encontramos a grande dificuldade na aplicação das mesmas,
sendo certo que podemos citar a teoria da equivalência ou generalizadora,
teorias individualizadoras e ainda teorias mais modernas.
A teoria da equivalência entende que
todas as disposições são igualmente necessárias para o resultado, sendo que
se uma delas é suprimida o efeito desaparece. Por exemplo, se verificado que
61 Ob. cit. p. 180.
65
mesmo que não houvesse a conduta de alguém, ainda assim o evento
ocorreria, tal conduta não é entendida como causa necessária para o dano,
não está presente, portanto o nexo de causalidade entre tal conduta e o
resultado.
Já as teorias individualizadoras destacam
um antecedente do resultado que é considerado como “causa”, sendo que é
necessário que esta tenha contribuído para o evento danoso.
Temos, ainda, teorias que consideram
não somente o antecedente, mas exigem que este tenha sido adequado para o
acontecimento do evento, sendo que o evento deve ser uma conseqüência do
antecedente, somente assim estará presente o necessário nexo de causalidade
capaz de gerar responsabilização.
3.2 A responsabilidade objetiva e subjetiva ambien tal
A previsão da responsabilidade objetiva
surgiu em meados do século XIX, com a socialização do direito em detrimento
do individualismo até então existente nas instituições, sendo que se verificou
que a culpa não era suficiente, por si só, para delimitar o dever indenizar, desta
forma, significa que todo aquele que danificar o meio ambiente tem o dever
jurídico de repará-lo, assim, todo o dano implica (ou deve implicar) em uma
reparação não importando os motivos da degradação para que haja o dever de
reparar.
Paulo Affonso Leme Machado62 destaca
duas funções da responsabilidade civil objetiva: a função preventiva e a função
reparadora, sendo certo que a primeira evita o dano e a segunda tenta
reconstituir e ou indenizar os prejuízos sofridos.
62 Ob. cit. p. 355.
66
Ponto se justifica a responsabilidade
objetiva em decorrência do dano ambiental, é o fato de que o meio ambiente é
um bem difuso e uma vez atingido por um particular, o interesse desse não
pode prevalecer sobre aquele.
No Brasil vigia-se predominantemente a
responsabilidade subjetiva em decorrência de previsões contidas no Código
Civil de 1916, notadamente no artigo 159 que determinava: “Aquele que, por
ação ou omissão voluntária, negligencia ou imprudência, violar direito ou
causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano...”
Assim, a responsabilidade objetiva se fez
necessária por uma exigência da própria evolução social, sendo que
inicialmente aceitou-se a responsabilização dos proprietários pelos danos
provocados por seus bens ou pelo risco da atividade que exerce.
O fenômeno da industrialização fez com
que tais fatos fossem realmente inseridos no convívio social e em decorrência
dos proprietários ou patrões se beneficiarem ou terem vantagens das
atividades desenvolvidas, foi-se justificando que estes se responsabilizassem
pelos danos decorrentes das situações, nascia, então, o chamado “risco
proveito63”.
A Constituição Federal de 1967, em
decorrência da Emenda Constitucional nº 1/69, previu em seu artigo 107 a
responsabilidade objetiva, verbis:
“Art. 107. Às pessoas jurídicas de direito público responderão pelos danos que seus funcionários, nessa qualidade, causarem a terceiros”, sendo certo que referida regra foi repetida no art. 37, § 6º da atual Constituição que determina: “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa
63 Pela teoria do risco-proveito a responsabilidade incide sobre aquele que obtém algum proveito da atividade danosa, havendo a necessidade da vítima provar a vantagem pelo autor do dano.
67
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”.
Há de ser lembrado, ainda, a previsão
expressa de responsabilização sem culpa contida no artigo 933 do Código
Civil,64 quando utiliza a expressão “ainda que não haja culpa de sua parte”.
Destacamos, por conseguinte, o
posicionamento de Arnaldo Rizzardo65 que ao manifestar-se no sentido de que
a responsabilidade objetiva deriva da evolução social e que há uma forte
tendência a dar destaque ao instituto da reparação.
Os ensinamentos de Rui Stoco66 também
não destoam do alegado eis que assim elucida que:
“hoje a tendência na responsabilização por danos é no sentido de apartar-se do conceito de culpa e aproximar-se cada vez mais do conceito de socialização dos encargos, independentemente de culpa, como ocorre na América do Norte, onde a questão da responsabilidade civil recrudesceu, obrigando a que se socializa através do mecanismo do seguro67”.
Assim, o Código Civil de 2002 manteve a
postura em adotar a aplicação da responsabilidade subjetiva como regra,
Contudo tal previsão conta com exceção expressa no parágrafo único do artigo
927, uma vez que esclarece a aplicação da responsabilização
independentemente de culpa em duas hipóteses:
a). em casos especificados em lei ou;
b). quando a atividade normalmente
64 “Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.” 65 Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2005, p. 34. 66 Ob. cit. p. 8. 67 A questão do seguro será abordada em tópico apropriado, mas desde já adiantamos nosso posicionamento de cautela na utilização deste instrumento.
68
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.
Conceitualmente, quanto à regra geral da
responsabilidade subjetiva devemos destacar o posicionamento de Arnaldo
Rizzardo68, no sentido de que:
“A culpa constitui um dos elementos da responsabilidade civil subjetiva...no entanto, nos últimos tempos adquiriu realce a responsabilidade objetiva, decorrente do fato em si, em especial nas situações que envolvem atividades de risco”. “Pela teoria da responsabilidade subjetiva, só é imputável, a título de culpa, aquele que praticou o fato culposo possível de ser evitado. Não há responsabilidade quando o agente não pretendeu e nem podia prever, tendo agido com a necessária cautela. Não se pode, de maneira alguma, ir além do ato ilícito para firmar a responsabilidade subjetiva, contrariamente ao que alguns pretendem, com superficialidade, a ponto de ver em tudo o que acontece a obrigação de indenizar, sustentando que, verificado o dano, nasce tal obrigação, sem indagar da culpa do lesado, e impondo, como único pressuposto, o nexo causal entre o fato e o dano”.
Já Miguel Reale descrito por Carlos
Roberto Gonçalves69 manifesta-se acerca da responsabilização civil subjetiva e
objetiva no sentido de que:
“Na realidade, as duas formas de responsabilidade se conjugam e dinamizam. Deve ser reconhecida, penso eu, a responsabilidade subjetiva como norma, pois o indivíduo dever ser responsabilizado, em princípio, por sua ação ou omissão, culposa ou dolosa. Mas isto não exclui que, atendendo à estrutura dos negócios, se leve em conta a responsabilidade objetiva. Este é um ponto fundamental”.
Assim, temos como regra do direito civil a
responsabilidade subjetiva, contudo, à toda atividade de risco é imposta a
obrigação de reparar o dano independentemente de culpa, caso em que que
teremos a responsabilidade objetiva, prevista atualmente no parágrafo único do
68 Direito das obrigações. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 27. 69 Responsabilidade Civil. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 24.
69
artigo 927 do Código Civil.
Segundo Marcelo Abelha Rodrigues70, a
responsabilidade objetiva é constitucional. Não obstante referida regra estar
expressa na Lei Ordinária Federal da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei
nº 6.938/81), a regra foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988,
notadamente em seu §3º do art. 225 já descrito em especial pela expressão:
“independentemente da existência de culpa”.
A responsabilidade civil ambiental é,
portanto, objetiva, ou seja, independe de culpa e tem como pressuposto a
conduta (atividade), o dano e o nexo causal, neste sentido a doutrina71 expõe
que:
“a culpa, de grande estrela dos códigos civis modernos, esta, a cada dia que passa, constituindo-se em uma categoria jurídica que não mais impressiona. A diminuição da importância da culpa é um fenômeno que se verifica em todo o mundo industrializado, como conseqüência da própria industrialização. O estado moderno, diante das repercussões da industrialização, fez algumas opções políticas, visando mitigar-lhe os efeitos sociais”.
Acerca da responsabilidade objetiva por
dano ambiental Lucas Abreu Barroso lembra que no início a responsabilidade
era coletiva, objetiva e penal em que o ofensor ou seu grupo era
responsabilizado independentemente de culpa.
Desta forma, referido autor elucida no
sentido de que:
“a responsabilidade objetiva, verificada desde os primórdios do Direito Romana, somente expandiu-se e veio a se consolidar no Direito da atualidade, destacando-se, ainda, que enquanto a responsabilidade subjetiva tem geral, aquela somente é prevista em lei para alguns casos específicos, v.g. meio ambiente, acidentes do trabalho, entre outros”
70 Ob. cit. p. 204 71 Paulo de Bessa Antunes, Ob. cit. , p. 152.
70
Assim, temos que por previsão legal, a
responsabilidade civil por danos ambientais é fundada na ocorrência do dano e
no nexo de causalidade entre o causador e o próprio dano.
Outro ponto que merece destaque até
pela ausência de pacificidade, é a teoria do risco integral, na responsabilização
civil por dano ambiental.
Lucas Abreu Barroso72, assevera:
“Decorrendo do princípio da responsabilidade, está intimamente atrelado ao princípio do poluidor pagador. Pode-se depreender, ainda, a partir de uma interpretação do transcrito pelo dispositivo constitucional, que está alicerçado na teoria do risco integral”. “(...) “A teoria objetiva fundada na teoria do risco integral confere maior efetividade ao princípio do alterum non laedere, porquanto não é dado lesar outrem em qualquer circunstância”. “A responsabilidade objetiva por dano ambiental tem como pressupostos o ‘dano ou risco de dano e o nexo de causalidade entre a atividade e o resultado, efetivo ou potencial’, configurando o agente, principal responsável pela reparação, o poluidor”.
Acerca da teoria do risco, Marcos
Destefenni73 destaca que:
“a responsabilidade objetiva tem como critério a idéia de risco. Inicialmente falava-se em ‘risco proveito’, tendo em vista o preceito ‘ubi emolumentum, ibi onus’ Como tal critério demonstrou-se insuficiente e difícil de ser sustentado, sobretudo pela dificuldade da vítima em provar o proveito e pela falta de precisão da natureza desse proveito, a responsabilidade objetiva passou a ser fundamentada unicamente na idéia de ‘risco’ sem designações”.
Invoquemos, ainda, o posicionamento de
Heraldo Garcia Vitta74 acerca do assunto:
72 Ob. cit. p. 66. 73 Ob. cit. p. 152. 74 O Meio Ambiente e a Ação Popular. São Paulo: Editora Saraiva, 2000, p. 27.
71
“Trata-se de responsabilidade objetiva e solidária de todos os que concorreram para o resultado, ressalvada, entre eles, a via regressiva. A dicção do art. 225, §3º, da Constituição Federal permite esse entendimento. A responsabilidade é de todos os infratores, ou seja, os que cometeram danos ao ambiente. Se o meio ambiente ecologicamente equilibrado é bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo, evidentemente a responsabilização deverá ser solidária: pessoas físicas, jurídicas, particulares e Estado”.
Note-se aquele que será responsabilizado
deve ter concorrido para o resultado danoso, quer omissivamente, quer
comissivamente, caso contrário não é por força da responsabilidade objetiva
(em que não se analisa a vontade – dolo e culpa) nem por força da
solidariedade que o mesmo será responsabilizado, necessário que tenha,
mesmo que singelamente concorrido para a prática do ato.
Já no que concerne a responsabilização
do Poder Público, tal ato como não poderia deixar de ser, tem premissa a
previsão contida na Constituição Federal no Artigo 37, §6º que estipula:
“As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra os responsáveis no caso de dolo e culpa”.
Responsabilizar o Estado por atos de
seus Agentes Públicos é na lição de Nelson de Freitas Porfírio Junior75:
“premissa básica e fundamental do Estado Democrático de Direito, que não
pode verdadeiramente existir quando não há a submissão do Poder Público
aos ditames do Direito”
Contudo, tal responsabilidade não poderia
ser, em última análise sempre suportada pelo Estado, e ou sempre suportada
75Responsabilidade do Estado em face do dano ambiental. São Paulo: Malheiros Editores. 2002, p. 15.
72
pelo Agente, devendo ser analisado caso a caso.
Existem determinadas atividades, que em
ocorrendo um dano ambiental, o próprio Estado deverá ser o responsável, por
exemplo, quando o Estado armazena produtos radioativos e venha a ocorrer
um dano ambiental, assim, em acontecendo um dano ambiental em
decorrência da omissão de determinado Agente deverá este ser
responsabilizado, mas desta vez a responsabilidade deverá ser subjetiva, por
conta da necessidade de se demonstrar dos motivos ensejadores da conduta.
Pode ser que este não tinha sequer condições para praticar a conduta que lhe
era exigida, daí pelo menos este Agente não poderá ser responsabilizado.
No que concerne a ocorrência do dano
ambiental ensejado pelo Poder público, deve este responder objetivamente e
promover ação regressiva com responsabilidade subjetiva, em que será
analisada a culpa ou dolo do Agente Público (responsabilidade subjetiva), para
que, se o caso este venha a ressarcir o ente.
Há quem afirme que nem mesmo a
responsabilidade objetiva satisfaz a necessária prevenção e reparação de
danos ambientais, sendo certo que neste sentido, destacamos o
posicionamento otimista de Lucas Abreu Barroso76:
“Contudo, a dinâmica econômica e social da pós-modernidade faz-nos vislumbrar diversas situações para as quais a aplicação da responsabilidade objetiva não mais satisfaz plenamente enquanto instrumento jurídico de uma efetiva prevenção e reparação dos danos ambientais” “(...) “Não obstante, pensamos que a responsabilidade civil, no atual estágio da teoria jurídica, ainda seja o instrumento de larga aplicação, relativamente aos danos ambientais. Pelo menos até que um novo sistema, apto a regular de forma abrangente e eficaz a matéria, seja engendrado, não podemos prescindir da responsabilidade civil, mesmo conhecendo que esta não consegue ‘contemplar toda a complexidade do tema’”.
76 Ob. cit. p. 95.
73
3.3 A responsabilidade solidária ambiental
O inciso IV, do art. 3º da Lei nº 6.938/81
considera poluidor: “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
responsável direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação
ambiental”.
Diante de tal previsão deparamo-nos com
o princípio da solidariedade também aplicado à responsabilidade civil
ambiental, que deve ser aplicado na sua melhor extensão aos danos
ambientais, até porque referido princípio possui duas noções bases: a
solidariedade social e o valor ético da alteridade77.
Com a idéia de solidariedade social a
responsabilidade civil aumenta não só a preocupação com reparação atual dos
danos, mas também com o futuro, fazendo com que sua dimensão analítica se
projete para probabilidades e cuidados com as gerações futuras.
Desta forma, a responsabilidade não
transparece somente sua função punitiva ou repressiva, até porque tais idéias
já não mais são suficientes para se evitar o dano ambiental, de maneira que,
conforme já elucidado, responsabilizar somente não basta, ainda mais em se
tratando de meio ambiente, necessário á própria sobrevivência humana.
Ademais, o princípio da solidariedade com
o futuro deriva da previsão contida no caput do art. 225 da Constituição Federal
em que impõe ao Poder Público e à coletividade o dever de defender e
preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações.
A preocupação com as futuras gerações é
uma inovação constitucional devendo a atual Constituição Federal ser louvada 77 “Estado ou qualidade do que é outro, distinto, diferente”. (MUNIZ, Elisabete Lins; CASTRO, Hermínia Maria Totti de. Dicionário Barsa da língua portuguesa.São Paulo: Barsa Planeta, 2005, p. 46).
74
por seu relevante avanço.
Já sob a ótica do valor ético da alteridade,
refere-se ao respeito pelas diferenças e peculiaridades do outro, assim, o
homem, o ambiente e todos os seres vivos devem estar integrados em
constante relação e harmonia, respeitando-se no intuito de melhor servirem-se.
O princípio da solidariedade com o futuro
foi previsto em um primeiro momento no preâmbulo da Declaração de
Estocolmo em 1972, ao prever que o homem deveria ser “portador solene da
obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente, para as gerações
presentes e futuras”, foi também exposto no caput do artigo 225 da nossa
Constituição Federal, sendo certo que deve haver uma preocupação com a
presente e futura geração e ainda com o próprio sistema, sendo certo que a
garantia das gerações depende em muito deste.
Patrícia Faga Iglecias Lemos78 lembra que
a regra geral da transmissão das obrigações propter rem não é aplicada à
responsabilidade civil por danos ao meio ambiente, assim, não isente o anterior
proprietário de uma área da responsabilidade pelo dano ocorrido, gerando-se,
assim uma obrigação solidária entre o anterior e o posterior proprietário,
atribuindo-se tal característica ao próprio nexo de causalidade.
Tal assertiva tem também como
fundamento o direito à informação ambiental, que envolve, no caso o dever que
o posterior proprietário possui de ser informado da utilização do bem em
situações potencialmente de risco que poderão ocasional dano à área
adquirida.
Segundo Gianpaolo Poggio Smanio79: “Há
também o princípio da responsabilidade solidária entre os causadores do dano 78 LEMOS, Patrícia Faga Iglecias. Meio Ambiente e Responsabilidade Civil do Proprietário. Análise do nexo causal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 113. 79 Interesses Difusos e Coletivos. São Paulo: Editora Atlas S.A, 2004, p. 96.
75
ambiental. Os co-responsáveis, depois da indenização, poderão discutir na via
regressiva a distribuição de responsabilidade”.
Acerca da responsabilidade solidária por
danos ambientais e com fulcro na previsão expressa no inciso IV, do art. 3° da
Lei n° 6.938/81, Annelise 80 assevera que:
“Conhecendo-se a identidade das fontes geradores da contaminação, aplicam-se a elas o regime de responsabilização civil objetivo e o princípio da solidariedade entre os co-poluidores, apreendido mediante interpretação dos arts. 258, 259, 275 e 942 do novo Código Civil. Tais normas visualizam a degradação ambiental como um fato danoso único e indivisível, pressupondo que, em conseqüência da impossibilidade de fragmentação do dano, o nexo causal é comum”.
Destacamos, ainda, a Lei do Estado de
São Paulo nº 13.577, de 8 de julho de 2009, que em seu artigo 13 trouxe a
previsão de que: “São considerados responsáveis legais e solidários pela
prevenção, identificação e remediação de uma área contaminada:”
Em decorrência da previsão expressa de
responsabilização solidária por dano ambiental, a reparação poderá ser exigida
integralmente de qualquer causador do dano ambiental, e ou daqueles
previstos nos inciso do artigo 13 da referida lei paulista, vez que são solidários.
Acerca do assunto, o extinto 1º Tribunal
de Alçada Civil de São Paulo lançou julgado no sentido de que:
“A indenização por danos causados a imóvel vizinho em decorrência de poluição industrial não é afastada ou diminuída pela existência de outras fontes poluidoras na localidade, pois há solidariedade entre os co-autores do dano, podendo a vítima acionar isoladamente cada um deles, exigindo do escolhido o total da indenização” (RT 628/138).
80 Ob. cit. p. 217.
76
Outrossim, a solidariedade deve ser
incidente e toma relevo nos casos em que não é possível estabelecer com a
necessária precisão a contribuição de cada um dos co-responsáveis, devendo
tal situação ser indenizada e posteriormente deve-se tentar tal apuração em
sede de ação regressiva, cuja responsabilidade deverá ser subjetiva de cada
um dos contribuintes ao dano ambiental.
Ademais, os regramentos contidos no
Código Civil Brasileiro são aplicados subsidiariamente à legislação específica
no que tange à responsabilização civil por dano ambiental, sendo certo que
segundo a doutrina81:
“O novo Código Civil, por meio da disciplina do art.927, parágrafo único, agrega mais dois instrumentos normativos de proteção ao bem ambiental de titularidade do indivíduo, facilitando a obtenção da prova da responsabilidade, ao não exigir a intenção, a imprudência e a negligencia do agente poluidor ou degradador, bem como possibilitando a aplicação de todos o sistema da responsabilização às atividades lícitas potencialmente causadoras de risco “Os dois novos instrumentos concedidos pelo novel ordenamento civil – quais sejam, a teoria da responsabilidade objetiva e a teoria do risco – devem ser conjulgados com uma adequada interpretação das funções que o instituto da responsabilidade civil deve exercer na busca pela proteção ao bem ambiental. Para tanto, faz-se necessário o estudo dessas funções, tanto as que estão tranqüilamente consagradas na doutrina, quanto as que vem emergindo dos mais recentes estudos de direito privado”.
Desta feita, concluímos acerca da
responsabilidade civil objetiva e solidária por danos ambientais que existindo
nexo de causalidade entre a conduta (omissiva ou comissiva) pessoal dos
causadores do dano, possível a responsabilização, resguardado o direito de
regresso que será respaldada na responsabilidade civil subjetiva.
Detalhe importante é que em se tratando
de responsabilidade indireta (inexistindo o nexo de causalidade direito entre o
dano ambiental e a atividade estatal), por exemplo, na falta de serviço público,
81 Luciana Stocco Betiol., ob. cit. P. 116.
77
a responsabilidade seria subjetiva82.
Diverge deste posicionamento Álvaro
Lazzarini83, que defende que em ocorrendo dano em decorrência da omissão
do Agente Público o Poder Público pode ser responsabilizado a indenizar o
prejuízo sofrido, ainda que a responsabilidade por dano ambiental não fosse
solidária, pois decorreria da própria culpa in omitendo, ou in vigilando.
Contudo, note-se que conforme elucida
referido doutrinador84 o dano deve ter como causa a culpa in omitendo do
representante do Estado, caso contrário nem o Agente nem o Poder Público
deverá ser responsabilizado.
A responsabilidade, mesmo que objetiva,
exige a presença da ação, do resultado e ainda do nexo da causalidade entre a
ação (ou omissão) e o resultado, se não existe nexo de causalidade entre a
omissão do Agente e o resultado danoso, não há que se falar em
responsabilidade do mesmo.
Diante de todo o exposto, importante
consignar que a responsabilidade civil é objetiva e solidária quando se tratar de
responsabilização ao meio ambiente. Contudo, acaso a mesma atividade gere
danos a terceiros, a responsabilização civil será e dever ser sempre subjetiva,
direcionada pelos regramentos do Código Civil.
82 Annelise. Ob. cit. p. 220, citando doutrinadores e decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. 83 Estudos de Direito Administrativo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999, p. 428. 84 Ob. cit. p. 429.
78
4. A RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL POR CONTAMINAÇÃO DO SO LO
No tópico, importante destacar duas
recentes previsões sobre áreas contaminadas: a Lei Paulista nº 13.577, de 8
de julho de 2009, que dispõe sobre diretrizes e procedimentos para a proteção
da qualidade do solo e gerenciamento de áreas contaminadas; e a Resolução
CONAMA nº 420, de 28 de dezembro de 2009, que trata dos critérios e valores
orientadores de qualidade do solo quanto à presença de substâncias químicas
e ainda estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas
contaminadas em decorrência de atividades antrópicas, as quais passamos a
discorrer separadamente com o intuito de destacar as principais previsões
sobre o tema ora proposto, bem como consonâncias e divergências.
Ademais, há de ser consignado que a
responsabilização civil pela contaminação do solo segue as mesmas regras da
responsabilidade civil por dano ambiental como um todo, em especial aquelas
contidas na Constituição Federal, na Lei da Política Nacional do Meio
Ambiente, bem como em outros regramentos esparsos que já existam ou
venha a existir, sem prejuízo das previsões aplicáveis contidas no Código Civil.
4.1 Aspectos relevantes acerca da Resolução CONAMA nº 420
Editada em 28 de dezembro de 2009, sob
a presidência de Carlos Minc, a Resolução do Conselho Nacional do Meio
Ambiente – CONAMA, conta com 41 (quarenta e um) artigos, estando
dispostos em 05 (cinco) capítulos, quais sejam: Disposições Gerais (capítulo I),
Dos Critérios e Valores Orientadores de Qualidade do Solo (capítulo II), Da
Prevenção e Controle da Qualidade do Solo (capítulo III), Das Diretrizes para o
Gerenciamento de Áreas Contaminadas (capítulo IV) e Das Disposições Finais
e Transitórias (capítulo V).
Consta em sua ementa que: “Dispõe
79
sobre critérios e valores orientadores de qualidade do solo quanto à presença
de substâncias químicas e estabelece diretrizes para o gerenciamento
ambiental de áreas contaminadas por essas substâncias em decorrência de
atividades antrópicas”.
Inicialmente devemos destacar que a
Resolução em apreço justificou-se pela previsão contida no disposto do inciso
VII do Artigo 8º da Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, vez que veio
apenas e tão somente “estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao
controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente”, restringindo-se às
questões atinentes à existência de áreas contaminadas considerando a
necessidade de se estabelecer critérios para definições de valores orientadores
para a prevenção de contaminações dos solos e ainda de gerenciamento das
áreas já contaminadas, sendo certo que a proteção do solo deve ser realizada
primeiramente de maneira preventiva, a fim de garantir a manutenção de suas
funções, ou se não for possível deverá ser feita de maneira corretiva, visando
restaurar ou recuperar sua qualidade para os usos previstos85.
Logo de início, no artigo 2º, a Resolução
se exclui da aplicação a áreas e solos submersos no meio aquático marinho e
estuarino86, abrangendo o solo e o subsolo, com seus componentes sólidos,
líquidos e gasosos87, excluindo-se ainda, no artigo 39 a contaminação por
substâncias radioativas88 o que deixa clara a não aplica da referido ato
normativo à alguns casos.
No artigo 3º encontramos o destaque das
principais funções do solo, sendo elas: servir como meio básico para a
85 Artigo 3º da Resolução nº 420/09. 86 “Estuário é a parte terminal de um rio ou lagoa que se encontra em contato com o mar, sofrendo influência das marés e descargas de água doce de terra, possuindo água com mais sais dissolvidos que a água doce e em menor quantidade de sais que a água do mar”. (http://www.infoaqua.com.br/revista/edicao01_estuario.html). Acessado em 04/03/10. 87 Artigo 2º da Resolução 420/09. 88 Sendo que nos casos de suspeitas ou evidencias de contaminação por tais substancias o órgão ambiental deverá notificar a Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN (artigo 40 da Resolução CONAMA nº 420).
80
sustentação da vida e de habitat para pessoas, animais, plantas e outros
organismos vivos; manter o ciclo da água e dos nutrientes; servir como meio
para a produção de alimentos e outros bens primários de consumo; agir como
filtro natural, tampão e meio de adsorção, degradação e transformação de
substâncias químicas e organismos; proteger as águas superficiais e
subterrâneas; servir como fonte de informação quanto ao patrimônio natural,
histórico e cultural; constituir fonte de recursos minerais; e servir como meio
básico para a ocupação territorial, práticas recreacionais e propiciar outros
usos públicos e econômicos.
O artigo 6º traz diversos termos e
definições, o que contribui para o entendimento das disposições contidas na
Resolução, são eles: Avaliação de Risco; Avaliação Preliminar; Bens a
proteger; Cenário de exposição padronizado; Contaminação; Fase livre;
Ingresso diário tolerável; Investigação confirmatória; Investigação detalhada;
Limite de Detecção do Método – LDM; Limite de Quantificação Praticável –
LQP; Limite de Quantificação da Amostra – LQA; Monitoramento; Nível
Tolerável de Risco à Saúde Humana, para Substancias Carcinogênicas; Nível
Tolerável de Risco à Saúde Humana, para Substancias não Carcinogênicas;
Perigo; Remediação; Reabilitação; Regional; risco; Valores Orientadores;
Valores de Referencia de Qualidade – VRQ; Valor de Prevenção – VP; e Valor
de Investigação – VI.
Destaquemos, desde já, que para a
Resolução em apreço, contaminação é a: “presença de substância (s) química
(s) no ar, água ou solo, decorrentes de atividades antrópicas, em
concentrações tais que restrinjam a utilização desse recurso ambiental para os
usos atual ou pretendido, definidas com base em avaliação de risco à saúde
humana, assim como aos bens a proteger, em cenário de exposição
padronizado ou específico”
O Capítulo II, tratou dos Critérios e
Valores Orientadores de Qualidade do Solo, tendo especificado diversas
81
orientações para a avaliação de qualidade do solo que deverá ser efetuada
com base em Valores Orientadores de Referência de Qualidade, de Prevenção
e de Investigação, tendo ainda o artigo 13 trazido a classificação do solo em 4
classes:
- Classe 1 - Solos que apresentam
concentrações de substâncias químicas menores ou iguais ao Valor de
Referência de Qualidade;
- Classe 2 - Solos que apresentam
concentrações de pelo menos uma substância química maior do que o Valor de
Referência de Qualidade e menor ou igual ao Valor de Prevenção;
- Classe 3 - Solos que apresentam
concentrações de pelo menos uma substância química maior que o Valor de
Prevenção e menor ou igual ao Valor de Investigação; e
- Classe 4 - Solos que apresentam
concentrações de pelo menos uma substância química maior que o Valor de
Investigação.
No artigo 14, inicio do Capítulo III que
trata da Prevenção e Controle da Qualidade do Solo, são trazidas duas
obrigações diferenciadas aos empreendimentos que desenvolvem atividades
com potencial de contaminação dos solos, assim, deverão implantar programas
de monitoramento de qualidade do solo na área do empreendimento e
apresentar relatório técnico conclusivo sobre a qualidade do solo a cada
renovação de licença e ou quando pretenderem o encerramento das
atividades.
Na avaliação das concentrações de
substâncias químicas e controle da qualidade do solo deverão ser observados
os procedimentos de avaliação através da realização de amostragens e
82
ensaios de campo ou laboratoriais, classificação da qualidade do solo e adoção
de outras medidas que se fizerem necessárias.
O artigo 17 da Resolução em apreço traz
algumas diretrizes que deverão ser observadas para a realização de
amostragens, análise e controle de qualidade para caracterização e
monitoramento do solo, dentre elas destacamos a adoção de procedimentos de
coleta, manuseio, preservação de acordo com normas nacionais e
internacionais, devendo ser respeitados os prazos de validade, utilização de
metodologias para análises físicas, químicas, físico-químicas e biológicas de
acordo com normas reconhecidas internacionalmente, coleta de material em
áreas submetidas a aplicação de produtos agrotóxicos em período de carência,
a coleta no caso de aplicação de fertilizantes deverá ser realizadas no
momento da colheita do produto.
Acerca das análises, estas deverão ser
realizadas por laboratórios acreditados pelo Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial – INMETRO89, devendo ainda serem os
resultados das análises reportados em laudos analíticos, cujos requisitos
mínimos estão definidos nos incisos do artigo 18 da Resolução, sendo certo
que após as necessárias análises e classificação serão ou não requeridas
providências, de acordo com as classes seguindo o disposto nos incisos do
artigo 20, quais sejam:
“I – Classe 1 – não requer ações; II – Classe 2 – poderá requerer uma avaliação do órgão ambiental, incluindo a verificação da possibilidade de ocorrência natural da substância ou da existência de fontes de poluição, com indicativos de ações preventivas de controle, quando couber, não envolvendo necessariamente investigação; III – Classe 3 – requer identificação da fonte potencial de contaminação, avaliação da ocorrência natural da substância, controle das fontes de contaminação e monitoramento da qualidade do solo e da água subterrânea; e
89 Previsão contida no artigo 19 da Resolução 420.
83
IV – Classe 4 – requer as ações estabelecidas no capítulo IV”90.
As Diretrizes para o Gerenciamento de
Áreas Contaminadas estão previstas nos artigos 21 a 38, dentro do Capítulo IV,
sendo este, por sinal, o maior capítulo da Resolução 420.
Para que ocorra o gerenciamento de
áreas contaminadas a Resolução traz os princípios básicos dispostos no artigo
21, devendo ser destacados: a geração e disponibilização de informações, a
articulação, cooperação e integração entre os órgãos da União, Estados,
Distrito Federal, Municípios, proprietários, usuários e demais beneficiados ou
afetados pela contaminação, a responsabilização do causador do dano, a
comunicação de risco, dentre outras.
São ainda objetivos do gerenciamento de
áreas contaminadas: eliminar o perigo ou reduzir o risco à saúde humana;
eliminar ou minimizar os riscos ao meio ambiente; evitar danos aos demais
bens a proteger; evitar danos ao bem estar público durante a execução de
ações para reabilitação; e possibilitar o uso declarado ou futuro da área,
observando o planejamento de uso e ocupação do solo91.
O artigo 23, estabelece os procedimentos
e ações de investigação e de gestão para o gerenciamento de áreas
contaminadas, contendo as etapas de: Identificação, Diagnóstico e
Intervenção.
A etapa de Identificação é aquela em que,
após avaliação preliminar, serão identificadas áreas suspeitas de contaminação
ou houver indícios de contaminação, sendo certo que, neste caso, deverá ser
realizada uma investigação confirmatória a ser custeada pelo responsável pela
área.
90 Para o gerenciamento da área contaminada. 91 Artigo 22 da Resolução.
84
A etapa que inclui uma investigação
detalhada e avaliação de risco, é chamada de Diagnóstico, nela busca-se o
objetivo de subsidiar a etapa de intervenção, após a investigação confirmatória
em que tenha sido identificadas substâncias químicas em concentrações acima
do valor de investigação.
A última etapa para os procedimentos e
ações de investigação e gestão para o gerenciamento de áreas contaminadas
é a Intervenção, que envolve a execução de ações de controle para a
eliminação do perigo ou a redução dos riscos identificados na etapa de
diagnóstico, devendo chegar a níveis toleráveis de acordo com normas
técnicas, bem como o monitoramento da eficácia das ações executadas, aqui
deverão ser considerados o uso atual e futuro da área.
Os artigos 24 a 27 definem as áreas,
podendo ser consideradas como sendo Área Suspeita de Contaminação – AS,
aquelas que apresentaram, após uma análise preliminar, indícios de
contaminação ou que foram identificadas condições que possam representar
perigo
As Áreas Contaminadas sob Investigação
– AI, são aquelas em que foram constatadas, mediante uma investigação
confirmatória a contaminação com concentrações de substâncias acima dos
valores de investigação, salvo se a substância for reconhecida de ocorrência
natural, o que apenas serão implementadas pelo Poder Público ações para a
proteção à saúde humana.
Já as Áreas Contaminadas sob
Intervenção – ACI, são aquelas em que após e realização de investigação
detalhada e avaliação de risco, for constatada a presença de substância
química em fase livre ou for comprovada a existência de risco à saúde humana.
Por fim, é considerada Área em Processo
85
de Monitoramento para Reabilitação – AMR, aquela em que o risco for
considerado tolerável após a execução de avaliação de risco.
Em qualquer das etapas do
gerenciamento, sendo identificadas condições de perigo, deverão ser tomadas
ações emergenciais compatíveis para a eliminação desta e a continuidade da
investigação e do gerenciamento.
As ações tomadas pelo órgão ambiental
competente deverão levar em consideração a população potencialmente
exposta, a proteção dos recursos hídricos e a presença de áreas de interesse
ambiental92, devendo o órgão ainda: definir ações emergenciais em casos de
identificação de condições de perigo e os procedimentos de identificação e
diagnóstico; avaliar o diagnóstico ambiental, as propostas de intervenção da
área e a eficácia das ações de intervenção; promover a comunicação de risco
após a declaração da área como contaminada sob intervenção e dar ampla
publicidade e comunicar a situação da área ao proprietário, ao possuidor, ao
Cartório de Registro de Imóveis da Comarca e ao Cadastro Imobiliário
Municipal ou do Distrito Federal93.
A Resolução prevê em seu artigo 33, que
para fins de reabilitação da área contaminada deverá o proprietário informar o
uso pretendido à autoridade competente, devendo o responsável pela
contaminação da área apresentar, ainda, proposta para ação de intervenção
que será executada sob sua responsabilidade, devendo ser considerado nesta
os requisitos contido nos incisos do artigo 34.
Após a eliminação do risco ou a sua
redução a níveis toleráveis a área será declarada em Processo de
Monitoramento para Reabilitação – AMR, sendo que após tal período,
confirmada a eliminação do perigo ou a redução mencionada, somente assim a
92 Artigo 30 da Resolução. 93 Artigo 32 da Resolução.
86
área será declarada como Reabilitada para o Uso Declarado – AR, estando tais
regras contidas nos artigos 35 e 36 da Resolução 420.
Encontra-se previsto no artigo 37 da
Resolução em comento que em sendo constatada uma área contaminada ou
reabilitada para o uso declarado deverão os órgãos ambientais comunicar
formalmente: ao responsável pela contaminação; ao proprietário ou ao
possuidor da área contaminada ou reabilitada; aos órgãos federais, estaduais,
distritais e municipais de saúde, meio ambiente e de recursos hídricos; ao
poder público municipal, à concessionária local de abastecimento público de
água; ao Cartório de Registro de Imóveis da Comarca em que estiver
localizada a área contaminada ou reabilitada e ao cadastro imobiliário das
Prefeituras e do Distrito Federal.
É ainda obrigação dos órgãos ambientais
competentes darem publicidade às informações sobre as áreas contaminadas
identificadas, detalhando suas principais características na forma de relatório
que deverá contar com no mínimo:
“I – a identificação da área com dados relativos à toponímia e georreferenciamento, características hidrogeológicas, hidrológicas e fisiografia; II – a (s) atividade (s) poluidora (s) ativa (s) e inativa (s), fonte poluidora primária e secundária ou potencial, extensão da área afetada, causa da contaminação (acidentes, vazamentos, disposição inapropriada do produto químico ou perigoso, dentre outros); III – as características das fontes poluidoras no que se refere à disposição de resíduos, armazenamento de produtos químicos e perigosos, produção industrial, vias de contaminação e impermeabilização da área; IV – a classificação da área em AI, ACI,AMR e AR; V – o uso atual do solo da área e seu entorno, ação em curso e pretérita; VI – os meios afetados e concentrações de contaminantes; VII – a descrição dos bens a proteger e distância da fonte poluidora; VIII – os cenários de risco e rotas de exposição; IX – as formas de intervenção; e X – as áreas contaminadas críticas”94.
94 Art. 38 da Resolução CONAMA 420
87
Por fim, prevê o artigo 40 o dever de
serem revistas as estipulações contidas na mencionada Resolução, sendo esta
talvez uma maneira de procurar a adequação da norma à realidade concreta,
entretanto a Resolução em apreço já se encontra em vigor desde a data de sua
publicação, motivo pelo qual deve ser buscado seu entendimento e a melhor
forma de aplicabilidade.
4.2 Aspectos relevantes acerca da Lei Paulista nº 1 3.577/2009
A lei Paulista publicada em 08 de julho de
2009 sob o nº 13.577, promulgada pelo Governador em exercício Sr. Alberto
Goldman95 que “dispõe sobre diretrizes e procedimentos para a proteção da
qualidade do solo e gerenciamento de áreas contaminadas, e dá outras
providencias correlatas” de iniciativa pelo Poder Executivo96, foi encaminhada
à Câmara dos Deputados em 06 de junho de 2005, através da mensagem nº
62, pelo então governador do Estado de São Paulo, Sr. Geraldo Alckmin, cujo
Projeto de Lei recebeu o nº 368/2005.
Referido diploma legal é composto por 51
(cinqüenta e um) artigos estruturalmente divididos em 06 Capítulos, sendo:
Capítulo I - Das disposições gerais; Capítulo II - Da Prevenção e do Controle
da Contaminação do Solo; Capítulo III - Das Áreas Contaminadas; Capítulo IV -
Dos Instrumentos Econômicos; Capítulo V - Das Infrações e Penalidades; e
Capítulo VI -Das Disposições Finais.
O artigo 1º da referida Lei estabelece que
a mesma tem como finalidade tratar da proteção do solo contra alterações
nocivas por contaminação, definir responsabilidades, identificar e cadastrar
áreas contaminadas e remediá-las, se o caso, tudo visando seu uso atual e
95 Atual vice-governador de São Paulo pelo PSDB na chapa de José Serra, tomou posse em 01 de janeiro de 2007,com mandato previsto até a mesma data de 2011. 96 Encaminhada ao Sr. Governador pelo então Secretário de Estado do Meio Ambiente, Prof. José Goldemberg, através do Oficio da SMA nº 204/05 em 12 de maio de 2005.
88
futuro.
Traz como objetivo a garantia do uso
sustentável do solo, na medida em que o protege contra contaminações e
previne alterações de suas características, estando, ainda, estipulados os
meios nos incisos do artigo 2º da referida legislação97.
O artigo 3º apresenta diversas definições
como forma de melhor elucidar as previsões contidas na Lei, devendo ser
destacada aquela contida no Inciso II: “Área Contaminada: área, terreno, local,
instalação, em condições que causem ou possam causar danos à saúde
humana, ao meio ambiente ou a outro bem a proteger”.
A Seção IV do Capítulo I elucida os
instrumentos para a implantação do sistema de proteção da qualidade do solo
e para o gerenciamento de áreas contaminadas, sendo certo que em no artigo
4º elenca como tais: o cadastro de áreas contaminadas (I); a disponibilização
de informações (II); a declaração de informação voluntária (III); o licenciamento
e a fiscalização (IV); o plano de desativação do empreendimento (V); o plano
diretor e legislação de uso e ocupação do solo (VI); o plano de remediação
(VII); os incentivos fiscais, tributários e creditícios (VIII); as garantias bancárias
(IX); o seguro ambiental (X); as auditorias ambientais (XI); os critérios de
qualidade para solo e águas subterrâneas (XII); a compensação ambiental
(XIII); os fundos financeiros (XIV) e a educação ambiental (XV) .
Referida Seção ainda determina como
97 “Artigo 2º - Constitui objetivo desta lei garantir o uso sustentável do solo, protegendo-o de contaminações e prevenindo alterações nas suas características e funções, por meio de: I – medidas para proteção da qualidade do solo e das águas subterrâneas; II – medidas preventivas à geração de áreas contaminadas; III – procedimentos para identificação de áreas contaminadas; IV – garantia à saúde e à segurança da população exposta à contaminação; V – promoção de remediação de áreas contaminadas e das águas subterrâneas por elas afetadas; VI – incentivo à reutilização de áreas remediadas; VII – promoção da articulação entre as instituições; VIII – garantia à informação e à participação da população afetada nas decisões relacionadas com as áreas contaminadas.”
89
serão os cadastros das áreas contaminadas no artigo 5º, definindo as classes
em seu parágrafo 2º como sendo: Área Contaminada sob Investigação (AI),
Área Contaminada (AC) e Área Remediada para Uso Declarado (AR).
Ponto marcante na legislação em apreço
é a atribuição de responsabilidades à qualquer pessoa, ao poluente e ao Poder
Público, sendo que quanto aos primeiros destacamos o disposto no Artigo 6º
que dispõe que qualquer pessoa (física ou jurídica) que possa contaminar o
solo, por ação ou omissão, deve adotar as providências necessárias para se
evitarem que ocorram alterações significativas e prejudiciais às funções do
solo98, incidindo marcantemente neste regramento os princípios da prevenção
e precaução.
O artigo 7º estabelece que o Poder
Público, nos limites de suas respectivas competências, deve atuar de forma
preventiva e corretiva com a finalidade de evitar alterações significativas das
funções do solo, sendo certo que, para tanto a Lei Paulista determinou diversas
obrigações ao mesmo.
Referido artigo ainda emanou a
determinação no sentido de que o Sistema Estadual de Administração da
Qualidade Ambiental, Proteção, Controle e Desenvolvimento do Meio Ambiente
e Uso Adequado dos Recursos Naturais – SEAQUA, deverá ter como
parâmetros os Valores de Referência de Qualidade99, os Valores de
Prevenção100 e os Valores de Intervenção101, estabelecidos pelo órgão
ambiental estadual.
98 De acordo com o Parágrafo Único do Artigo 6º da Lei Paulista nº 13.577/09, são funções do solo: sustentação da vida e do “habitat” para pessoas, animais, plantas e organismos do solo, manutenção do ciclo da água e dos nutrientes, proteção da água subterrânea, manutenção do patrimônio histórico, natural e cultural, conservação das reservas minerais e de matéria-prima, produção de alimentos e meios para a manutenção da atividade socioeconômica. 99 Utilizados para orientar a política de prevenção e controle das funções do solo (art. 9º). 100 Os valores de prevenção são utilizados para disciplinar a introdução de substancias no solo (art. 10). 101 Utilizados para impedir a continuidade da introdução de cargas poluentes no solo (art. 11).
90
Outro ponto fortemente marcado na Lei
em apreço é o dever imposto ao Poder Público em tornar disponíveis todas a
informações sobre a qualidade do solo, estipulação esta contida no parágrafo
único do art. 9º da Lei Estadual Paulista 13.577/09, o que vem de encontro ao
relevante “Princípio da Informação”.
Já o tema concernente à responsabilidade
das áreas contaminadas foi tratado especificamente no Capítulo III, Seção I, da
Lei 13.577/2009, sob o título “Das Áreas Contaminadas” “Das
Responsabilidades”.
O artigo 13 trouxe a previsão expressa de
que tal responsabilização é solidária ao determinar que: “Art. 13 – São
considerados responsáveis legais e solidários pela prevenção, identificação e
remediação de uma área contaminada”, tendo sido elencados:
“I – o causador da contaminação e seus sucessores; II – o proprietário da área; III – o superficiário; IV – o detentor da posse efetiva; V – quem dela se beneficiar direta ou indiretamente”
Desta feita podemos considerar que
temos definidos quais os responsáveis legais pelo dano a uma área
contaminada, sendo certo que foi reforçada, ainda a presença da solidariedade
na referida responsabilização.
Note-se que a responsabilidade solidária
por danos ambientais já se encontrava prevista ao passo que o Artigo 3º,
inciso IV, da Lei nº 6.938/81 traz a expressão “responsável, direta ou
indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”, autorizando,
portanto, a responsabilização de todo aquele que mesmo indiretamente se
beneficiou do dano.
91
Entendemos que a opção legislativa
expressa pela solidariedade foi muito bem vinda, tendo em vista as possíveis
dificuldades de identificação do causador do dano.
Assim, temos que o rol trazido pelo artigo
13 da Lei nº 13.577/2009 é bastante abrangente, tendo elencado que são
responsáveis legais e solidários pela prevenção, identificação e remediação de
uma área contaminada: o causador da contaminação e seus sucessores, o
proprietário da área, o superficiário, o detentor da posse efetiva e ainda todo
aquele que se beneficiar direta ou indiretamente da contaminação.
Outrossim, o parágrafo único do artigo
13102 previu expressamente a possibilidade de desconsiderar a pessoa jurídica
nos casos em que a mesma for obstáculo para a identificação e a remediação
da área contaminada, regramento este também nada inovador na legislação
pátria, haja vista que o artigo 4º da Lei Federal 9.605, de 12 de fevereiro de
1998103 – Lei de Crimes Ambientais, já trazia tal previsão.
Outra obrigação trazida pela Lei Paulista
nº 13.577/09 ao responsável legal em relação a uma área contaminada é o
dever de comunicar imediatamente o fato aos órgãos ambientais e de saúde
quando forem detectados indícios ou suspeitas de que uma área esteja
contaminada está imposto pelo artigo 15 da Lei nº 13.577/09.
Tal obrigação também é imposta ao
responsável legal quando houver perigo à vida ou à saúde da população,
devendo, ainda, adotar prontamente todas as providências necessárias para
eliminar o perigo104, sendo certo que o §1º descreve algumas ocorrências
102 “Parágrafo único – Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica quando sua personalidade for obstáculo para a identificação e a remediação da área contaminada.” 103 “Art. 4º - Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente”. 104 “Artigo 14 – Havendo perigo à vida ou à saúde da população, em decorrência da contaminação de uma área, o responsável legal deverá comunicar imediatamente tal fato aos órgãos ambientais e de saúde e adotar prontamente as providencias necessárias para elidir o perigo”.
92
consideradas como sendo de perigo à vida ou à saúde da população105.
Há ainda de ser salientado que a
obrigação de promover a imediata remoção do perigo poderá ainda ser
transferida ao Poder Público acaso o responsável legal não a cumpra, isso por
força da subsidiariedade prevista no §2º do artigo 14 da referida Lei, sendo-lhe
garantido o direito de ressarcimento dos custos efetivamente gastos pela
Administração Pública.
O órgão ambiental poderá, ainda, exigir
do responsável legal por áreas com fontes potenciais de contaminação do solo
a manutenção de programa de monitoramento da área e de seu entorno,
conforme disposto no artigo 12 da Lei Paulista em apreço.
O artigo 16 do diploma legal em comento
trata da classificação da área contaminada sob investigação, trazendo as
possíveis constatações para tal, tendo elencado a presença de: (I) –
contaminantes no solo ou na água subterrânea em concentrações acima dos
valores de intervenção; (II) – produto em fase livre, proveniente da área; e (III)
– substâncias, condições ou situações que, de acordo com parâmetros
específicos, possam representar perigo.
Já os artigos 17 a 19 elucidam os
procedimentos para a identificação de uma área contaminada, lembrando que
conforme estipula o artigo 23, será considerada área contaminada toda vez que
105 “Art. 14, §1º - Para fins deste artigo, consideram-se perigo à vida ou à saúde, dentre outras, as seguintes ocorrências: 1 – incêndios; 2 – explosões; 3 – episódios de exposição aguda a agentes tóxicos, reativos e corrosivos; 4 – episódios de exposição a agentes patogênicos, mutagênicos e cancerígenos; 5 – migração de gases voláteis para ambientes confinados e semiconfinados, cujas concentrações excedam os valores estabelecidos em regulamento; 6 – comprometimento de estruturas de edificação em geral; 7 – contaminação das águas superficiais ou subterrâneas utilizadas para abastecimento público e dessedentação de animais; 8 – contaminação de alimentos”.
93
os valores definidos para risco aceitável à vida, à saúde humana e ao meio
ambiente forem ultrapassados, sendo certo que ao ser constatada uma área
contaminada deverão ser adotadas as providências elencadas no artigo 24 da
Lei, quais sejam: incluir a área no cadastro de áreas contaminadas; quando
houver risco à saúde humana, deverá ser informado o órgão de saúde
competente; determinar ao responsável legal pela área contaminada que
proceda a averbação da informação da contaminação da respectiva matrícula
imobiliária; notificado os órgãos públicos estaduais envolvidos, as Prefeituras
Municipais e os demais interessados; notificado o órgão responsável pela
outorga de direito de uso de águas subterrâneas na área sob influencia da área
contaminada, para que o mesmo promova o cancelamento ou ajustes nos atos
de outorga; iniciar os procedimentos para remediação da área contaminada em
sintonia com as ações emergenciais já em curso; e exigir do responsável legal
pela área a apresentação de Plano de Remediação.
A Lei em apreço ainda dá a possibilidade
de o órgão ambiental competente oficiar o Cartório de Registro de Imóveis para
que seja divulgada a contaminação da área, bem como demais informações
referentes na matrícula do bem, acaso não seja identificado ou localizado o
responsável legal ou ainda se este se manter inerte106.
Outra obrigação imposta ao responsável
legal pela área contaminada é a apresentação do Plano de Remediação,
devidamente aprovado pelo órgão ambiental competente, e sob a
responsabilidade de profissional habilitado conforme Conselho Profissional107,
contendo um cronograma das fases e respectivos prazos para a sua
implementação108, sendo certo que a implementação de tal plano será
acompanhada pelo Poder Público, devendo ainda o responsável legal
apresentar uma garantia bancária ou um seguro ambiental visando assegurar a
implantação total do Plano de Remediação aprovado, bem como dentro do
prazo estabelecido, no valor mínimo de 125% (cento e vinte e cinco por cento) 106 Parágrafo único do artigo 24 da Lei 13.577/09. 107 §5º do Artigo 25 da Lei 13.577/09. 108 Artigo 25 da Lei 13.577/09.
94
do valor estimado do Plano.
Destaquemos ainda a possibilidade do
Plano de Remediação ser alterado, mas desde que com a aprovação do órgão
ambiental, sendo que acaso o Plano original ou alterado não seja cumprido,
caberá ao órgão a execução das garantias dadas, visando custear a
complementação das medidas de remediação apresentadas e aprovada no
Projeto.
Outrossim, a área contaminada poderá
ser classificada como “Área Remediada para o Uso Declarado” quando forem
estabelecidos os níveis de risco aceitável para o uso em que for declarado,
sendo certo que deverão ser observados e seguidos os critérios estabelecidos
na legislação de uso e ocupação do solo.
Em sendo declarada uma área como
remediada para o uso declarado, algumas providencias são impostas pela Lei
Paulista, estando elas descritas no artigo 27 do referido diploma legal:
“I – cadastrar a área no Cadastro de Áreas Contaminadas como Área Remediada para o Uso Declarado; II – determinar ao responsável legal pela área contaminada que proceda, no prazo de até 5 (cinco) dias, à averbação na respectiva matrícula imobiliária, da informação quanto à contaminação da área; III – notificar os órgãos públicos envolvidos, as Prefeituras Municipais, os Conselhos Municipais de Meio Ambiente respectivos e os demais interessados.”
Além do mais, conforme preceitua o §1º
do artigo 27 da Lei 13.577/09, todos os registros e informações referentes à
Área Remediada para o Uso Declarado deverão indicar expressamente o uso
para o qual ela foi remediada, sendo certo que acaso haja alteração do uso
anteriormente estipulado deverá ser realizada nova avaliação de risco para o
uso a que se pretende e novamente submetida ao órgão ambiental
95
competente109, sendo ainda incidentes todas as regras e determinações
estipuladas para a declaração do uso anteriormente pretendida.
Acaso haja intenção pela desativação ou
desocupação do empreendimento implantado deverá ser promovida a
comunicação, pelo responsável legal, aos órgãos do SEAQUA, devendo tal ato
ser acompanhado do necessário Planto de Desativação contemplando a real
situação ambiental existente, notadamente acerca da possibilidade da área
estar contaminada e se o caso plano de implementação de medidas de
remediação das áreas que serão desativadas ou desocupadas, sendo que
órgão ambiental somente emitirá a Declaração de Encerramento da Atividade
após a recuperação da qualidade ambiental da área.
A Lei Paulista 13.577/09 criou ainda o
Fundo Estadual para Prevenção e Remediação de Áreas Contaminadas –
FEPRAC, que está vinculado à Secretaria do Meio Ambiente e destina-se a
proteger o solo contra alterações prejudiciais às suas funções, identificação e
remediação de áreas contaminadas, sendo que tal criação está disposta em
seu artigo 30.
A receita do FEPRAC é composta por
várias fontes, dentre elas dotações ou créditos do Estado, transferência de
outros fundos com finalidade vinculada disposta no inciso II do Artigo 31 da lei
em referência, transferência da União, dos Estados e Municípios, recursos
advindos de ajuda e cooperação internacional e de acordos
intergovernamentais, doação de pessoas naturais ou jurídicas, públicas ou
privadas, porcentagem de multas arrecadadas pelos órgãos estaduais de
controle de poluição, recursos provenientes do ressarcimento de despesas,
dentre outras.
O FEPRAC tem um conselho de
orientação composto por representantes do Estado, Municípios e Sociedade
109 Artigo 28 da Lei 13.577/09.
96
Civil com 8 (oito) membros titulares e 8 (oito) suplentes de cada segmento, cuja
competência encontra-se disposta no artigo 34, bem como outras
peculiaridades definidas pelos artigos 35 a 40, todos da Lei 13.577.
O capítulo V tratou das infrações e
penalidades, tendo sido dispostas nos artigos 41 a 44, sendo certo que apenas
e tão somente disciplina infrações e penalidades administrativas tal como os
artigos 70 a 76 da Lei Federal nº 9.605/98.
Na verdade o artigo 41 contém
basicamente o mesmo regramento do artigo 70 da Lei de Crimes Ambientais,
contudo, naquela a disposição é específica e direcionada para toda ação ou
omissão contrárias à própria Lei Estadual 13.577, enquanto que o disposto na
Lei Federal nº 9.605 se refere a ação ou omissão que “viole as regras jurídicas
de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente” de uma
forma geral.
É previsto, ainda no artigo 41, que a
infração administrativa será classificada como leve, grave ou gravíssima,
devendo ser considerada a intensidade do dano, efetivo ou potencial; as
circunstâncias atenuantes ou agravantes e os antecedentes do infrator, sendo
que para o descumprimento da Lei Estadual serão impostas penalidades
administrativas de advertência, multa, embargo, demolição e suspensão de
financiamento e benefícios fiscais – artigo 42, estando estipulados os
procedimentos para a imposição das referidas penalidade nos parágrafos 1º a
5º do mesmo artigo.
O artigo 43 da Lei de proteção do solo
basicamente repetiu o disposto no §3º do artigo 70 da Lei de Crimes
Ambientais110, estipulando que: “As infrações administrativas ambientais serão
objeto de auto de infração a ser lavrado pela autoridade competente, e serão
110 “Art. 70, §4º - As infrações ambientais são apuradas em processo administrativo próprio, assegurado o direito de ampla defesa e o contraditório, observadas as disposições desta lei”
97
apuradas em processo administrativo próprio, assegurado o direito de ampla
defesa e o contraditório, observadas as disposições desta lei e seu
regulamento”.
Ponto interessante trazido pela recente
Lei Estadual é a possibilidade de atuação imediata por parte do Poder Público,
sem a necessidade de respeito aos princípios da ampla defesa e contraditório,
acaso a contaminação acarrete perigo iminente, o que data venia até se
justifica em casos que efetivamente esteja em perigo iminente, entretanto este
deverá ser efetivamente demonstrado.
Fica facultado no artigo 45, dentro do
Capítulo VI – Das Disposições Finais - ao SEAQUA o estabelecimento de
procedimentos diferenciados para a identificação e remediação das áreas
contaminadas, devendo serem respeitados os princípios estabelecidos na
legislação em apreço.
Além do mais, para se obter o
licenciamento de novo empreendimento em área que anteriormente abrigou
atividade com potencial de contaminação, deverá haver a apresentação do
necessário estudo de passivo ambiental, que será submetido ao órgão
ambiental competente111.
O artigo 48 estabelece que os Planos
Diretores Municipais e a legislação de uso e ocupação do solo deverão
considerar as áreas com potencial ou suspeita de contaminação e as áreas
contaminadas.
Conforme pudemos perceber a Lei
Paulista nº 13.577/09 represente grande avanço no cenário da contaminação
do solo, eis que disciplina vários pontos importantes, norteando os técnicos e
operadores do direito, motivo pelo qual digna de louvor.
111 Artigo 47 da Lei Estadual Paulista nº 13.577/09.
98
4.3 A questão da competência e principais divergênc ias entre a
Resolução CONAMA nº 420 e a Lei Paulista nº 13.577.
Pois bem, verificamos então nos dois
itens antecedentes os principais pontos disciplinados pela Resolução Federal
do Conselho Nacional do Meio Ambiente nº 420, de 28 de dezembro de 2009 e
da Lei do Estado de São Paulo nº 13.577, de 8 de julho de 2009.
A primeira dispôs sobre os critérios e
valores orientadores de qualidade do solo quanto à presença de substâncias
químicas e estabeleceu diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas
contaminadas por mencionadas substâncias quando for decorrente de
atividades do próprio homem, enquanto que a segunda – Lei Paulista, dispôs
acerca de diretrizes e procedimentos para a proteção da qualidade do solo e
sobre o gerenciamento de áreas contaminadas.
Desde já podemos declinar que a Lei
Paulista é mais genérica, uma vez que trata das diretrizes e procedimentos
para a proteção da qualidade do solo como um todo, enquanto que a
Resolução Federal traz de igual forma critérios e valores orientadores para a
qualidade do solo, porém somente quanto à presença de substâncias químicas
e ainda decorrentes de atividades antrópicas.
Ponto que reforça tal argumentação são
os próprios conceitos trazidos pelos regramentos normativos em comento, vez
que para os efeitos da Lei 13.577 considera-se área contaminada: “área,
terreno, local, instalação, edificação ou benfeitoria que contenha quantidades
ou concentrações de matéria em condições que causem ou possam causar
danos à saúde humana, ao meio ambiente ou a outro bem a proteger”, já a
Resolução 420, traz como contaminação: “presença de substância (s) química
(s) no ar, na água ou solo, decorrentes de atividades antrópicas, em
concentrações tais que restrinjam a utilização desse recurso ambiental para os
usos atual ou pretendido, definidas com base em avaliação de risco à saúde
99
humana, assim como aos bens a proteger, em cenário de exposição
padronizado ou específico”.
Desta forma, percebemos que para a Lei
a contaminação ocorrerá pela quantidade ou concentrações de qualquer
“matéria” em condições que causem ou possam causar danos, enquanto que
para a Resolução acontecerá somente pela presença de “substância química”
em concentrações que restrinjam a utilização de recursos ambientais e ainda
em decorrência de atividade humana, sendo esta portanto, bem mais
específica que aquela.
Diante de tal raciocínio consideramos que
a Lei Paulista é aplicável à toda e qualquer contaminação do solo por
matéria112, quer seja, química, física, biológica em estado sólido, líquido ou
gasoso, enquanto que a Resolução Federal é aplicada tão somente por
contaminação química e ainda decorrente de atividade humana.
Segundo Nelson Nefussi:
“A poluição do solo é causada principalmente pelo lançamento de resíduos sólidos ou líquidos na superfície do solo ou no sub-solo. A inadequada disposição dos excretos humano favorece o espalhamento de certas doenças paraditárias e bacterianas. O solo é também poluído por substâncias biodegradáveis como os resíduos da mineração, os produtos de petróleo, os pesticidas usados na agricultura e os resíduos radioativos”
Chamamos a atenção, para as
contaminações biológicas ou “biological contamination” que ocorrem através do
processo de introdução e adaptação de espécies que não fazem parte
naturalmente de um dado ecossistema, mas que se naturalizam e passam a
provocar mudanças em seu funcionamento. Também é denominada de ou
poluição biológica (biological pollution), a introdução pode ser realizada
112 excluindo-se a contaminação por energia ou radioativa.
100
intencional ou acidentalmente, por vias humanas ou não113.
Elucidamos, ainda, o regramento contido
no parágrafo único do artigo 1º da Resolução nº 420, que confirma a não
aplicabilidade das disposições nela contidas a situações diversas daquela
estipulada na ementa, qual seja, contaminação por substâncias químicas
decorrentes de atividade humana. Assim, na ocorrência comprovada de
concentrações naturais de substâncias químicas, que possam causar riscos à
saúde humana, decorrentes de causas naturais (que não de atividade
humana), os órgãos competentes deverão desenvolver ações específicas para
a proteção da população, não sendo, portanto, aplicada tal Resolução.
Entretanto, mesmo contendo capítulos
distintos e sendo a Lei Paulista mais abrangente do que a Resolução, podemos
verificar pontos em comum entre os dois regramentos, é o caso, por exemplo,
tanto o parágrafo único do artigo 3º da Resolução do CONAMA, quanto o
Parágrafo único do artigo 6º da Lei Paulista definem as funções do solo, sendo
certo que esta última acrescenta a expressão “para os efeitos desta Lei”.
Outro exemplo de ponto em comum entre
os dois regramentos é o disposto no artigo 6º da Resolução e o artigo 3º da Lei,
sendo certo que ambos trazem definições que não raras vezes dispõem sobre
a mesma matéria, o que data venia, desnecessário, contudo, não foquemos
este como o maior problema existente entre os dois regramentos, não obstante
entendermos que não é papel de regramento definir conceitos, sendo certo que
tal tarefa cabe à doutrina.
Entretanto, trataremos adiante de
algumas questões inerentes à aplicabilidade da Lei Paulista e da Resolução
Federal, sob a ótica das competências, ainda mais porque a Constituição
Federal disciplina critérios diferentes para a competência para administrar e
113 http://www.institutohorus.org.br/download/artigos/invbiologsziller2000.pdf
101
para legislar.
Nesta linha, verificamos que a previsão
contida no artigo 23 da Constituição Federal acerca da competência comum
entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, se refere à
competência para proteger o meio ambiente (VI), enquanto que a competência
concorrente expressa no artigo 24 da Constituição Federal se refere à
competência para legislar sobre os assuntos elencados, dentre eles a defesa
do solo (VI).
Assim, é de “competência comum da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: VI – proteger o meio
ambiente...”114, enquanto que: “Compete à União, Estados e Distrito Federal
legislar concorrentemente sobre: VI - florestas, caça, pesca, fauna,
conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do
meio ambiente e controle da poluição”115.
São portanto, duas situações de
competência distintas: aquela contida no artigo 23 da Constituição Federal que
expõe a competência para administrar; e a outra expressa no artigo 24 que se
refere à competência para legislar, devendo ser destacado o posicionamento
do Paulo Affonso Leme Machado no sentido de que: “A Constituição Federal de
1988 inovou na técnica legislativa, tratando em artigos diferentes a
competência para legislar e a competência para administrar116”.
Note-se que a competência para legislar,
expressa no artigo 24 da Constituição Federal deve ser entendida de maneira a
não englobar somente leis, mas também decretos, portarias, resoluções, e
outros atos normativos, conforme elucida a doutrina117: “A competência
concorrente poderá exercer-se não só quanto à elaboração de leis, mas de
114 Artigo 23 da Constituição Federal. 115 Artigo 24 da Constituição Federal. 116 Ob. cit. p. 115. 117 Paulo Affonso Leme Machado, ob. cit, p. 115.
102
decreto, resoluções e portarias”.
Desta forma, o legislador constituinte
repartiu as atribuições administrativa relacionadas ao meio ambiente entre a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, estabelecendo
competência comum a referidos entes para articularem políticas públicas
ambientais e exercerem sua competência administrativa quanto à proteção do
meio ambiente.
Ademais, no que tange à competência
para administrar, é certo que os entre os entes federados não há hierarquia, eis
que conforme lembra referido autor: “A Administração Pública Federal
ambiental não estão num plano hierárquico superior ao da Administração
Pública Estadual, nem esta situa-se em plano superior ao da Administração
Pública ambiental municipal”
Já quanto à competência para legislar
sobre matéria ambiental, o legislador optou pela competência concorrente118
entre a União, o Distrito Federal e os Estados, deixando de fora os Municípios,
não podendo este, desta forma, legislar quanto a proteção ambiental, salvo
quando estiver envolvido interesse local, conforme previsto no artigo 30, I da
Constituição Federal.
Destaquemos ainda, o fato de que o
controle da aplicação das normas gerais federais somente pode ser feito pela
União, através de ação judicial, visando anular o ato legislativo estadual por
invasão de competência ou descumprimento de norma geral federal.
Pois bem, superadas as questões
inerentes à diferença da competência para legislar e para administrar
118 “A competência concorrente enseja a possibilidade de iniciativa na área da legislação ambiental para os Estados e para o Distrito Federal, se a União se mantiver inerte.” (Paulo Affonso Leme Machado, ob. cit. p. 115.)
103
expressas respectivamente nos artigos 24 e 23 da Constituição Federal,
levantamos, então uma dúvida quanto à competência concorrente para legislar
sobre as matérias explicitadas na Lei Paulista 13.577/09 e o conteúdo da
Resolução CONAMA 420.
Primeiramente, temos que o Estado de
São Paulo atuou de forma plena ao legislar acerca da matéria explicitada na
Lei Estadual nº 13.577/09, isto porque estava diante da ausência de previsão
legal federal e, agiu de acordo com a permissão constitucional expressa no §3º
do artigo 24 da Constituição Federal, até porque a competência concorrente
mencionada no artigo 24 da Constituição Federal, enseja a possibilidade de
iniciativa legislativa por parte dos Estados e Distrito Federal, acaso a União se
mantenha inerte quanto à matéria legislada.
Apenas para melhor elucidar e
proporcionar raciocínio conclusivo lógico, lembremos que o Estado ao legislar
diante da ausência de norma geral federal, exerce a chamada competência
legislativa plena. Contudo, acaso surja lei federal superveniente, a lei estadual
deverá à ela se adequar, por força do disposto no §4º do artigo 24 da CF,
verbis: “A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a
eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário”.
Diferentemente ocorre quando já houver
norma federal acerca do assunto, neste caso conforme elucida Paulo Affonso
ainda “A competência dos Estados para legislar, quando a União já editou uma
norma geral, pressupõe uma obediência à norma federal, se editada de acordo
com a Constituição Federal”, trata-se de assunto inerente à hierarquia das
normas.
Desta forma, podemos verificar então, que
o Estado de São Paulo legislou através da Lei nº 13.577, de 8 de julho de
2009, quanto ao problema das áreas contaminadas, utilizando-se da chamada
competência legislativa plena nos termos o §3º do artigo 24 da Constituição
104
Federal119, em especial acerca das diretrizes e procedimentos para proteção da
qualidade do solo e gerenciamento de áreas contaminadas, eis que até dado
momento a União não havia editado qualquer lei federal quanto ao assunto,
motivo pelo qual a Lei de São Paulo é constitucional quanto à sua iniciativa,
entretanto, jamais podemos desconsiderar que tal assertiva deve ser entendida
fora das regras de competência dos atos, nos limites de cada um dos três
Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário).
Desta forma entendemos que não pode a
União, através do seu Poder Executivo, simplesmente editar uma Resolução
acerca de matéria reservada a competência legislativa, sob pena de burlar as
próprias determinações constitucionais, além de criar uma situação de
insegurança jurídica.
Entretanto, com a edição da Resolução nº
420, em 28 de dezembro de 2009, uma polêmica foi instaurada no que se
refere à eficácia da Lei Estadual em apreço, motivo pelo qual a situação
passou a ser considerada um pouco mais complicada e que merece destaque
neste momento.
O primeiro ponto que insurge é o fato de
que o CONAMA – parte do Poder Executivo – editou Resolução sobre a
matéria, agindo, pois, dentro da competência administrativa que lhe é conferida
pelo Artigo 23 da Constituição Federal, bem como artigo 8º da Lei 6.938/81.
Para enfrentar a questão, importante
elucidarmos que o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) é um
órgão integrante do SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente), conforme
disposto no inciso II do Artigo 6º da Lei Federal nº 6.938/81, e tem competência
para dispor acerca das matérias contidas no artigo 8º da mesma Lei, sendo
certo que para o caso em tela destacamos a previsão do inciso VII, verbis: “Art.
119 “CF, Art. 24, §3º - Inexistindo Lei Federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atende a suas peculiaridade”.
105
8º - Compete ao CONAMA: VII – estabelecer normas, critérios e padrões
relativos ao controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vista
ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos”.
No que tange a tal previsão, lembramos
que se trata de competência administrativa, derivada da previsão estipulada no
artigo 23 da Constituição Federal, tendo, portanto o CONAMA, que é órgão do
Poder Executivo, tem competência técnica para dispor administrativamente,
não estando inserida em sua competência o ato de legislar, que é competência
do Poder Legislativo120.
São, portanto, conforme já verificamos,
coisas distintas a competência para Legislar (que o CONAMA não detém) e
para Administrar, que estão inseridas dentro da competência do CONAMA.
No momento, necessário se faz tal
abordagem, tendo em vista que não se desconhece a existência de polêmicas
acerca da competência do CONAMA quando da edição de suas resoluções
quando muitas vezes, na verdade a matéria deveria ter sido tratada por uma
lei. Ora se realmente isso for constatado, deverão ser tomadas as medidas
próprias para coibir o ato, o que não se pode admitir é que uma matéria que
deveria ser submetida ao Processo Legislativo, que diga-se de passagem é
rigoroso, venha a ser disciplinada por uma Resolução.
Assim, se a matéria deve ser tratada por
Lei, é por tal ato, e somente por este que deve ser admitida. Nesta esteira,
entretanto, no caso em apreço entendemos que a Resolução do CONAMA nº
420 traz apenas critérios e diretrizes de ordem administrativa, derivada do
Poder Executivo Federal, motivo pelo qual de acordo com a competência do
órgão, deverá ser aplicada a todo o território nacional aos casos de
contaminação do solo por substâncias químicas e ainda decorrentes de
120 não se nega que o Poder Executivo também possui competência para legislar e julgar, contudo, somente quanto a questões de ordem interna, o que não é o caso.
106
atividade antrópicas, não havendo o que se falar em conflito com a Lei Paulista
nº 13.577/09, eis que são regramentos distintos, de competência igualmente
distintas e aplicadas a casos diferentes.
Desta forma, temos que devemos tratar
uma Resolução como tal, e a ela atribuir os efeitos desta, pois se admitirmos
que a mesma aborda matérias que deveriam ser tratadas por Lei estaremos
concordando com a própria inconstitucionalidade. Àqueles que eventualmente
entendem que a matéria tratada na resolução em apreço deveria ser
disciplinada por lei, cabe a tomada de providências, pois aceitar que uma
Resolução contenha matéria que deveria ser tratada por lei seria admitir uma
aberração jurídica.
Assim, não é ao presente caso aplicado o
disposto no § 4º do artigo 24 da Constituição Federal, eis que referido
dispositivo traz expressamente que a “Lei” Federal superveniente sobre normas
gerais suspende a eficácia da Lei Estadual no que for contrário, portanto,
considerando que estamos diante de uma Resolução Federal, temos que esta
não tem o condão de suspender a eficácia de uma Lei Estadual.
Outrossim já dissemos que a Lei Estadual
é mais ampla do que a Resolução Federal em apreço, já que esta deverá ser
aplicada somente em casos de contaminação química do solo e ainda
decorrente de atividade humana, sendo que aquela se aplica a todas as
modalidades de contaminação e mesmo que não decorrente de atividade
humana.
Em assim sendo, aos casos de
contaminação química, decorrente de atividade humana, no Estado de São
Paulo, a Resolução Federal deverá ser aplicada em consonância com a Lei
Estadual, de maneira a obtermos uma harmonia entre os sistemas, até porque
a Resolução traz critérios e diretrizes que se aplicam também no Estado de
São Paulo, entretanto, caso surja partes contrárias ou divergentes, deverá
107
prevalecer a Lei Paulista, uma vez que é hierarquicamente superior à
resolução.
Mesmo que entendamos que a Resolução
CONAMA é uma norma geral, tendo em vista que deverá ser aplicada a todo o
território nacional, uma vez que não traz matéria especificada a uma situação
aplicada reservadamente a qualquer Estado-membro, a conclusão não seria
diversa, tendo em vista que não podemos perder de foco que se trata de uma
norma geral advinda de uma Resolução do CONAMA que é órgão pertencente
ao Poder Executivo, e somente dentro de tal âmbito e com seus peculiares
efeitos deverá agir, assim, entendemos que referido ato emanado do
Executivo apenas e tão somente estabelece critérios e valores, vinculando o
ato de administrar na Federação.
Paulo Luiz Neto Lobo121, acerca das
normas gerais elucida que: “as normas gerais estabelecem princípios
fundamentais. Não podem especificar situações que, por sua natureza, são
campo reservado aos Estados-membros. Estão contidas pela finalidade de
coordenação e uniformização”.
Sobre normas gerais destacamos,
portanto que são aquelas aplicáveis a todos os setores da atividade, no caso
em todo o território nacional, contendo determinação de parâmetros gerais,
preceitos endereçados, pois, então, ao legislador ordinário das três esferas:
União, Estados e Municípios e ainda que trata de regras que referenciam e
guardam princípios jurídicos fundamentais, sendo certo que segundo Paulo
Affonso Leme Machado122:
“A Constituição Federal não conceitua norma geral. Resta à doutrina e à jurisprudência essa tarefa. A norma geral visa à aplicação de mesma regra em um determinado espaço territorial. A norma geral federal ambiental, ou em outra matéria de competência concorrente, não precisa necessariamente abranger
121 Competência legislativa concorrente dos Estados-membros na Constituição de 1988. Revista de Informação Legislativa, vol. 101, p.98. 122 Direito Ambiental Brasileiro, 2009, p. 116
108
todo o território brasileiro. Uma norma geral ambiental federal poderá dispor, por exemplo, sobre as áreas previstas no art. 225,§ 4º - Floresta Amazônica Brasileira, Serra do Mar, Mata Atlântica, Pantanal e Zona Costeira. A norma geral pode abranger somente um ecossistema, uma bacia hidrográfica ou somente uma espécie vegetal ou animal”.
Entretanto, mesmo diante de tais
problemáticas, entendemos que devemos sempre buscar pela harmonia do
ordenamento jurídico do qual fazem parte a Lei do Estado de São Paulo e a
Resolução Federal do CONAMA, neste sentido citamos o posicionamento da
doutrina de Fábio Ulhoa Coelho123 no sentido de que: “O ordenamento jurídico
é composto de normas produzidas por uma imensa gama de pessoas (algumas
delas já falecidas) e interpretadas e aplicadas por outras tantas pessoas. É, por
isso, inevitável que apresente incongruências. O conflito entre normas
(antinomias) deve ser superado, para que o direito aparente ostentar a
segurança que dele se espera”.
Destacamos, também, o posicionamento
de Carlos Maximiliano124, do qual comungamos no sentido de que:
“Contradições absolutas não se presumem. É dever do aplicador comparar e
procurar conciliar as disposições várias sobre o mesmo objeto, e do conjunto,
assim harmonizado, deduzir o sentido e alcance de cada uma. Só em caso de
resistirem as incompatibilidades, vitoriosamente, a todo esforço de
aproximação, é que se opina em sentido eliminatório da regra mais antiga, ou
de parte da mesma, pois que ainda será possível concluir pela existência de
antinomia irredutível, porém parcial, de modo que afete apenas a perpetuidade
de uma fração do dispositivo anterior, contrariada, de frente, pelo posterior.
“(...). Em suma: a incompatibilidade
implícita entre duas expressões de direito não se presume; na dúvida, se
123 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil. São Paulo: Editora Saraiva, 2003, vol. I , p. 71. 124 Hermenêutica e Aplicação do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 1996, p. 356.
109
considerará uma norma conciliável com a outra. O jurisconsulto Paulo ensinara
que – as leis posteriores se ligam às anteriores, se lhes não são contrárias; e
esta última circunstância precisa ser provada com argumentos sólidos”.
Desta forma, entendemos que, por se
tratar de Resolução editada pelo Poder Executivo e mesmo que a
consideremos como norma geral, referido ato deverá ser tratado com os efeitos
que lhe são peculiares, não podendo ser estendidos a ponto de suspender a
eficácia de uma Lei Estadual, sob pena de burlar a hierarquia das normas e até
mesmo o sistema federativo, sendo certo que devemos, sempre que possível
tentar compatibilizar os regramentos de forma a integrá-los e aproveitá-los em
prol do meio ambiente.
4.4 Alguns princípios informativos da responsabilid ade civil por dano
ambiental destacados na contaminação do solo
É certo que alguns princípios norteiam o
Direito Ambiental, sendo certo que possuem a finalidade de melhor delinear a
responsabilização civil ambiental, devendo ser observado por todo o aparato
legislativo, doutrinário e jurisprudencial.
É certo que o Direito Ambiental nasceu
como ramo do Direito a partir do momento em que foram definidos seus
princípios, sendo que neste sentido destacamos as considerações de Celso
Antonio Pacheco Fiorillo125:
“O direito ambiental é uma ciência nova, porém autônoma. Essa independência lhe é garantida porque o direito ambiental possui os seus próprios princípios diretores, presentes no art. 225 da Constituição Federal”.
Referido autor pondera, ainda, a 125 Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Editora Saraiva, 2006, p. 26.
110
importância da definição dos princípios como forma de se obter uma “ecologia
equilibrada”, sendo relevantes também para a adequação do caminho no
sentido de se atingir a proteção ambiental, “em conformidade com a realidade
social e os valores culturais de cada Estado”126.
Desta feita, diante da constante
necessidade de preservar o meio ambiente, e considerando a redução da
qualidade de vida em decorrência da exploração dos recursos naturais,
iniciaram-se movimentos não governamentais no sentido da real necessidade
da preservação do meio ambiente.
Posteriormente, com o agravamento da
situação e a já iniciada conscientização população, alguns países se uniram
em 1972, na cidade de Estocolmo na Suécia com a finalidade de definirem
alguns princípios que norteariam o Direito Ambiental.
Diante da realidade e da necessidade de
serem criados novos princípios e aprimorados os então existentes outros
eventos ocorreram, no qual podemos destacar a ECO 92, o protocolo de Kyoto,
dentre outros.
No que tange aos princípios de Direito
Ambiental propriamente dito, é certo que não há um consenso entre os
doutrinadores acerca do número e ou da nomenclatura dos mesmos.
Conforme elucida Paulo de Bessa
Antunes127:
“o recurso aos princípios jurídicos é uma tarefa que está longe de ser simples e tranqüila, pois não há um consenso doutrinário acerca dos princípios reconhecidos do Direito Ambiental e, ao mesmo tempo, existem divergências profundas sobre o significado concreto de cada um dos princípios.”
126 Ob. cit. p. 26. 127 Ob. cit. p. 24.
111
Para José Joaquim Gomes Canotilho e
José Rubens Morato Leite128: “A utilização da expressão princípios
estruturantes deve-se ao fato de se referirem a princípios constitutivos do
núcleo essencial do direito do ambiente, garantindo certa base e
caracterização”.
Toshio Mukay129 ressalta que o direito
ambiental carece de uma principiologia, uma vez que elucida o seguinte:
“O direito ambiental brasileiro ressente-se de estudos que visem a sua sistematização. Foi ele sendo estruturado, principalmente, por via legislativa. Há estudos doutrinários já, mas setoriais ou de conjunto, porém sem uma preocupação de perquirição dos princípios deste Direito, que dominariam e informariam toda a disciplina”.
Os princípios não são algo pronto e
acabado, e ainda podem ser explícitos ou implícitos e devem ser buscados no
ordenamento jurídico como um todo (Constituição Federal, Leis, Resoluções,
etc) e ainda nos fundamentos éticos que delineiam a conduta humana.
De qualquer forma, destacaremos alguns
princípios tidos como estruturantes do Direito Ambiental, a critério
exemplificativo, que a doutrina é assente em discorrer e que elegemos como
relevantes diante do tema do presente trabalho.
Assim, destacamos alguns princípios que
ganham maior relevo no tema ora proposto, podemos citar: o princípio do
desenvolvimento sustentável, do poluidor pagador, da prevenção, precaução e
da informação, o qual passa-se a discorrer.
O princípio do Desenvolvimento
128 Direito Constitucional Ambiental Brasileiro. São Paulo: Editora Saraiva, 2007, p. 155. 129 MUKAI, Toshio. Direito Ambiental Sistematizado. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005, p.22.
112
sustentável, uma vez que é bem verdade que nas últimas décadas referido
princípio ganhou grande vulto, principalmente na imprensa falada, muito se
houve falar acerca dele, porém pouco se explica popularmente.
A concretização do Princípio do
Desenvolvimento Sustentável nasceu em 1972 quando na Conferência de
Estocolmo referida nomenclatura foi mencionada, inclusive, em diversos
conceitos de outros princípios.
Trata de um princípio constitucional,
expresso no Art. 225 da Constituição Federal, e até por isso sentimos que
deveria ser mais bem explorado e propagado de maneira correta, uma vez que
não basta emplacar como algo essencial, sem que seja demonstrada sua
essencialidade, importância, relevância, finalidade e, principalmente as
conseqüências da ausência de sua aplicação.
Encontramos sua configuração na
expressão: “impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-
lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”, contida no caput do art.
225 da Constituição Federal, sendo certo que anteriormente se desconhecia
que os recursos naturais eram esgotáveis, porém com a verificação da
possibilidade de serem esgotados, passou-se a se atentar quanto a este fato
quando do desenvolvimento das atividades, não se permitindo que esta fosse a
qualquer custo.
A preservação ou conservação do meio
ambiente passou a ser uma necessidade contemporânea e diante disso, o
desenvolvimento obtido pelas atividades passou a ser analisado também sob a
ótica da sustentabilidade do meio ambiente, de maneira a garantir a
manutenção deste mesmo que permitindo o desenvolvimento de atividades
produtivas e também necessárias ao homem.
Constatou-se, inclusive que a degradação
113
ambiental diminuiria a capacidade produtiva, o que influenciaria também na
ordem econômica do País. Com isso, preservar o meio ambiente diante das
atividades econômicas passou a ser questão da própria mantença e
crescimento da economia.
A livre-iniciativa da economia já não podia
ser tão livre assim, passou a ser restrita pela preservação do meio ambiente.
Tanto é verdade que o próprio artigo 170 da Constituição Federal prevê a
defesa do meio ambiente como princípio da ordem econômica, verbis:
“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: “ (...) “ VI – defesa do meio ambiente”
Com isso não se quer impor que nenhuma
atividade que degrade o meio ambiente poderá se instalar, até porque toda
atividade causa uma maior ou menor degradação do meio ambiente. Porém tal
ocorrência deverá ocorrer da menor forma possível e de acordo com cada
realidade. Aliás, é este o papel dos órgãos ambientais quando da expedição de
alvarás e licenças, analisar a atividade de acordo com a situação local e
através de vários critérios.
Outro princípio que destacamos é o do
Poluidor-Pagador, sendo certo que o mesmo não traz a idéia de “poluo, mas
pago”, ou “posso pagar então posso poluir”, tendo a finalidade justamente
contrária, uma vez que traz em si o escopo de evitar a ocorrência do dano
ambiental, e, em ocorrendo, deverá haver a reparação, sua previsão é
constitucional e encontra-se expressa no §3º do Art. 225 na medida em que
preceitua que:“As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções
penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados”
114
E ainda na Lei da Política Nacional do
Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81):
“Art. 4º. “(...) “VII – à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais” “Art. 14, §3º. Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade”.
Aqui traz a idéia de internalização das
externalidades ambientais negativas, que nada mais é do que “impor para as
fontes poluidoras as obrigações de incorporar em seus processos produtivos os
custos com prevenção, controle e reparação de impactos ambientais,
impedindo a socialização destes riscos”130.
Luciane Gonçalves Tessler131 relata que:
“a expressão poluidor-pagador surgiu nas manifestações estudantis dos anos 60. Em 1987, a ser aditado pelo Ato Único Europeu ao Tratado de Roma, ganhou autoridade de princípio. Surge oficialmente em maio de 1972, mediante a recomendação C(72) 128 da OCDE sobre política do ambiente na Europa132”.
Não se deve perder de vista que a função
primordial do princípio do poluidor pagador, como dos demais, é a prevenção
do dano ambiental, entretanto, não se podendo evitar o dano, por obvio, a
130 Annelise, ob. cit. p. 192. 131 Tutelas jurisdicionais do meio ambiente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, v. 9, p. 108. 132 “O princípio que se usa para afetar os custos das medidas de prevenção e controle da poluição, para estimular a utilização racional dos recursos ambientais escassos e para evitar distorções ao comércio e ao investimento internacionais, é o designado ‘princípio do poluidor-pagador’. Este princípio significa que o poluidor deve suportar os custos do desenvolvimento das medidas acima mencionadas decididas pelas autoridades públicas para assegurar que o ambiente esteja num estado aceitável. Por outras palavras, o custo destas medidas deveria refletir- no preço dos bens e serviços que causam poluição na produção ou no consumo. Tais medidas não deveriam ser acompanhadas de subsídios que criam distorções significativas ao comércio e investimento internacionais”.(Recomendação C(72) 128 da OCDE.
115
reparação e a repressão também encontram amparo no princípio do poluidor-
pagador, alias, deste princípio decorreram duas características da
responsabilidade civil por dano ambiental que serão analisadas no decorrer do
presente trabalho, quais sejam: objetiva e solidária.
No que concerne ao princípio da
prevenção Schmindt, citado por Toshio Mukai133, este nada mais é do que
“evitar atentados ao meio ambiente”, sendo que temos que o princípio da
prevenção é um dos mais importantes no ramo do Direito Ambiental, dadas às
situações em que podem ensejar a irreparabilidade do dano.
A Administração Pública, bem como seus
agentes têm o dever de preservação do meio ambiente atribuído pela
Constituição Federal ao Poder Público:
“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do poço e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever ce defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Em analogia às lições de Fiorillo134 quanto
a aplicação do princípio da prevenção por parte da Administração temos que
Agente Público exerce o “princípio da prevenção por intermédio das licenças,
das sanções administrativas, da fiscalização e das autorizações , entre outros
tantos atos do Poder Público, determinantes da sua função ambiental de tutela
do meio ambiente”.
Nelson de Freitas Porfírio Junior135 elucida
que:
“expande-se a responsabilidade do Estado a um ponto em que a Administração é chamada a atuar de forma preventiva para evitar a
133 Ob. cit. p. 37. 134 Ob. cit. p. 37. 135 Ob. cit. p. 23.
116
ocorrência de danos, cujas reparações ou indenizações seriam inviáveis ou demasiadamente custosas. Essa nova vertente da responsabilidade do Estado é particularmente importante quando se cuida da questão ambiental”.
O mesmo autor ainda ensina136:
“Considerando-se a predominante irreparabilidade do dano ambiental, examinaram-se os diversos gêneros de instrumentos voltados à ação preventiva do Estado, os quais devem ser preferencialmente utilizados em conjunto e estar integrados em uma política ambiental abrangente”.
Já o princípio da precaução, também
conhecido como “princípio da cautela” guarda relação intima com a avaliação
prévia das atividades humanas e ainda é sem dúvida um dos princípios que
mais causa polêmicas em debates estruturais, talvez pelo fato de que se
encontre intimamente ligado com incertezas científicas e, por conseqüência
com o dano, sendo, portanto, imprescindível a utilização de procedimentos de
prévia avaliação.
Luciane Gonçalves Tessler137 assevera que: “o princípio da precaução consiste no grande sustentáculo do direito ambiental para o exercício da ação inibitória. A grande maioria das lesões ao meio ambiente é de difícil (quando não impossível) reparação. A atuação preventiva em matéria ambiental é imprescindível. O princípio da precaução trabalha com os elementos risco e perigo”.
O princípio da precaução não se confunde
com o da prevenção. Segundo Marcelo Abelha Rodrigues138:
“o princípio da precaução não é a mesma coisa que o princípio da prevenção. Se a diferença semântica não parece ser muito clara, o mesmo não se dá quando a comparação recai na natureza e teleologia desses princípios. Há uma diferença fundamental entre o que se pretende por intermédio da precaução e o que se quer pela
136 Ob. cit. p. 116. 137 Ob. cit. p. 108. 138 Ob. cit. p. 149.
117
prevenção. O princípio da precaução (Vorsorgeprinzip) recebeu especial atenção na Alemanha, onde foi colocado como ponto direcionador central do direito ambiental, devendo ser visto como um princípio que antecede a prevenção, qual seja, sua preocupação não é evitar o dano ambiental, senão porque, antes disso, pretende evitar os riscos ambientais”.
E ainda:
“tal princípio (precaução) é de alcance protetivo muito maior do que a prevenção, e não é por acaso que vem deisando de ser aplicado como sub-princípio ou como princípio de direito ambiental que esteja em pé de igualdade com a prevenção, desenvolvimento sustentado, etc., para ocupar um lugar anterior, qual seja, o de postulado fundamental do direito ambiental, justamente porque, em última análise, a precaução não admite sequer a negociação dos riscos”.
No tópico, trazemos ainda, o destaque d o
Primeiro Princípio definido na Conferência das Nações Unidas, realizada em
1972, em Estocolmo:
“O Homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequada em um meio cuja qualidade lhe permite levar uma vida digna e gozar de bem estar e tem a solene obrigação de proteger e melhorar esse meio para as gerações presentes e futuras”
O princípio da precaução traz a idéia de
ponderação das preocupações ambientais e cautela diante de perigos ainda
desconhecidos, porém prováveis. Deve-se haver estudos e atenções no
desempenho da atividade sob análise, sendo certo que num primeiro momento,
o dano poderá ser de plano identificado.
Ganha relevo com o Estudo Prévio de
Impacto Ambiental (EIA) que se encontra previsto no inciso IV do §1º do art.
225 da Constituição Federal, no art. 9º, III, da Lei nº 6.938/81 e ainda na
Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente CONAMA nº 01/86.
118
No EIA são analisados todos os riscos
inerentes e a determinada atividade, obtendo-se informações que deverão ser
utilizadas na minimização dos possíveis danos, mitigando-se, assim, o impacto
ambiental e sendo dada ênfase ao principio da precaução e prevenção já
mencionados, e fazemos questão de relembrar o 15º Princípio definido em
Estocolmo, verbis:
“De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades, quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”.
Outrossim, enquanto o princípio da
prevenção traz a idéia de “agir antecipadamente” ao que já se conhece, e,
portanto, exige a tomada de medidas contra riscos já identificados, o princípio
da precaução chama a atenção para a necessidade de agir contra a
emergência de riscos ainda não existentes e cuja dimensão ainda não foi
demonstrada.
Segundo Annelise139, os princípios da
precaução e prevenção:
“informam a responsabilidade civil pelo dano ambiental proporcionando a alteração do modus operandi que determinou a degradação, pelo que atuam diretamente na fase anterior à produção do dano, e conduzem para a responsabilização ex ante, viabilizada por meio do licenciamento ambiental e do compromisso de ajustamento de conduta a ser celebrado pelos órgãos executores da política nacional do meio ambiente e pelo Ministério Público”.
Os princípios da prevenção e precaução
ganham maior relevo no direito ambiental, eis que a ocorrência de um dano
poderá, como geralmente ocorre, tornar a situação irreversível, ou ainda, as
medidas de remediação poderão ser muito mais dispendiosas do que a
139 Ob. cit. p. 188.
119
prevenção do dano.
Além do mais, deve-se preservar o meio
ambiente para que sua potencialidade alcance as futuras gerações, uma vez
que fragilizadas, com certeza não atingirão o futuro com a mesma intensidade.
Durante a elaboração de um Estudo
Prévio de Impacto Ambiental, são consideradas todas as lesões que
determinada atividade vai ocasionar ao meio ambiente.
Ocorre que, diante de qualquer incerteza,
o princípio da precaução ganha vulto, sendo certo que na duvida, deverá
sempre optar-se pelo principio do in dubio pro ambiente.
Referido princípio é aplicado,
especialmente quando não se tem certeza da dimensão das lesões que
poderão ser ocasionadas com o desenvolvimento de determinada atividade.
Outro ponto que se deve destacar é o fato
de que o ônus de provar a ausência de dano é do próprio empreendedor,
sendo certo que tal previsão consta expressamente na Resolução CONAMA nº
01/86, em especial no artigo 8º e no artigo 11 da Resolução CONAMA nº
237/97.
Já no que concerne ao princípio da
informação, temos a consignar que este se faz extremamente importante para
a própria vida em sociedade. Assim, temos ouvido muito falar que estamos
vivenciando a “era da informação” ou “era da comunicação”, e considerando
que esta decorre daquela, temos que ambas tornaram-se imprescindíveis para
a vida contemporânea, sendo certo que informar significa: dar forma, delinear,
fazer saber, conceber idéias.
120
É certo que realmente estamos
presenciando um momento de muitas transformações, motivo pelo qual não há
como negar a importância da informação, além do mais destacamos o quanto
são dinâmicas as informações e comunicações dos dias atuais, sendo certo
que ainda observamos uma crescente valorização do conhecimento que é
adquirido através da informação.
O princípio da informação pode ser
encontrado expressamente no artigo 9º da Lei Federal nº 6.938/81,
notadamente em seu inciso XI que prevê: “a garantia da prestação de
informações relativas ao meio ambiente, obrigando-se o Poder Público a
produzi-las, quando inexistentes”.
Paulo Affonso Leme Machado140 lembra
que: “A informação serve para o processo de educação de cada pessoa e da
comunidade. Mas a informação visa, também, a dar chance à pessoa
informada de tomar posição ou pronunciar-se sobre a matéria informada”.
Assim, cada pessoa tem o direito de acesso às informações que lhes
interessam e principalmente acerca de condições ambientais para que com
isso possa saber, planejar, ter atitudes ou não com o meio em que está sendo
submetida.
Quanto à interdependência dos princípios
de Direito Ambiental, temos que o Princípio da Informação está intimamente
ligado aos demais pois a viabilização da implementação da precaução e
prevenção para a defesa do meio ambiente e do próprio ser humano somente é
possível pela prática dos princípios da informação e da participação ininterrupta
das pessoas e organizações sociais no processo das decisões dos aparelhos
burocráticos.
Note-se que sem informação organizada
não há como haver a prevenção do dano, motivo pelo qual, destacamos o a
140 Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 90.
121
previsão do Princípio 10 da Declaração do Rio de Janeiro em 1992 – ECO 92
que afirma: “no nível nacional, cada individuo deve ter acesso adequado a
informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades
públicas, inclusive informações sobre materiais e atividades perigosas em suas
comunidades”.
Já a Convenção sobre o Acesso à
Informação, a Participação do Público no Processo Decisório e o Acesso à
Justiça em Matéria de Meio Ambiente trouxe em seu artigo 2º, item 3 que:
“A expressão ‘informações sobre meio ambiente’ designa toda informação disponível sob forma escrita, visual, oral ou eletrônica ou sob qualquer outra forma material, sobre: a) o estado do meio ambiente, tais como o ar e a atmosfera, as águas, o solo, as terras, a paisagem e os sítios naturais, a diversidade biológica e seus componentes, compreendidos os OGMS, e a interação desses elementos; b) fatores tais como as substancias, a energia, o ruído e as radiações e atividades ou medidas, compreendidas as medidas administrativas, acordos relativos ao meio ambiente, políticas, leis, planos e programas que tenham, ou possam ter, incidência sobre os elementos do meio ambiente concernentes à alínea a, supramencionada, e a análise custo/benefício e outras análises e hipóteses econômicas utilizadas no processo decisório em matéria de meio ambiente; c) o estado de saúde do homem, sua segurança e suas condições de vida, assim como o estado dos sítios culturais e das construções na medida onde são , ou possam ser, alterados pelo estado dos elementos do meio ambiente ou, através desses elementos, pelos fatores e medidas visadas na alínea b, supramencionada”
4.5 Formas de reparação da contaminação do solo
As formas de reparação da contaminação
do solo seguem as mesmas estipulações dos danos ambientais em geral,
sendo certo que os danos causados ao meio ambiente são, em sua grande
maioria, de grande dificuldade de reparação, ou até mesmo irreversíveis,
mesmo porque temos um cenário em que são atingidas a própria saúde do
homem e a sobrevivência das espécies da fauna e flora, motivo pelo qual todo
e qualquer dano deve ser prevenido, ganhando destaque a responsabilidade
122
preventiva141.
O Princípio 13 da Declaração do Rio de
Janeiro ocorrida em 1993, a ECO 92, que elucida que:
“Os Estados deverão desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e à indenização das vítimas da poluição e outros danos ambientais. Os Estados deverão cooperar, da mesma forma, de maneira rápida e mais decidida, na elaboração de novas normas internacionais sobre responsabilidade e indenização por efeitos adversos advindos dos danos ambientais causados por atividades realizadas dentro de sua jurisdição ou sob seu controle, em zonas situadas fora de sua jurisdição”.
Ademais, conforme elucida a doutrina142,
a expressão “reparação” implica em responsabilidade sem culpa, isto porque a
idéia de “responsável”, que deriva do termo “respondere” era aquele que teria
assumido a “responsabilidade” sobre “culpa” na relação, assim, ao se afirmar
que é devida a reparação, desnecessário seria afirmar que esta independe de
culpa.
Desta forma, podemos asseverar que a
utilização da expressão “reparação”, poderia implicar diretamente em
considerar que se trata de responsabilidade objetiva, contudo, tendo o direito
pátrio adotado a regra geral da responsabilidade subjetiva e considerando que
esta exige a presença da culpa, melhor anunciar quando se trata de
responsabilidade objetiva (sem culpa), senão vejamos:
“Nota-se, nesse sentido, que o art. 21, XXIII, alínea c, da CF, emprega a expressão responsabilidade civil, ao passo que o art. 225, §3º, da Carta Magna usa a expressão obrigação de reparar os danos, que, como vimos, têm conotação diversa. Não obstante, como responsabilidade leva à idéia de culpa, para se evitar esse efeito há de se acrescentar à expressão ‘independentemente da existência de culpa’, enquanto a expressão reparação, como vimos acima, indica a responsabilidade civil objetiva”.
141 Paulo Affonso Leme Machado. Ob. cit. p. 355. 142 LANFREDI, Geraldo Ferreira. Política Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002,p. 209.
123
A reparação do dano ambiental visa
recuperar o meio ambiente lesado e promover a educação ambiental como
forma de evitar que outros danos venham a ocorrer, isto acontece através da
educação ambiental.
Note-se que uma vez lesado, o meio
ambiente, na maioria das vezes se torna insuscetível de retornar-se ao status
quo ante, sendo certo que diante disto, fica justificada a relevante preocupação
com a prevenção e educação ambiental.
Ademais, mesmo diante de um dano
ambiental, prima-se pelo princípio da plena reparação do dano ambiental, até
porque temos que diante de qualquer dano ambiental, a reparação deverá ser
integral, completa, total de maneira a buscar cenário parecido com o
anteriormente degradado.
Paulo Affonso Leme Machado143 elucida
que:
“Não se aprecia subjetivamente a conduta do poluidor, mas a ocorrência do resultado prejudicial ao homem e seu ambiente. A atividade poluente acaba sendo uma apropriação pelo poluidor dos direitos de outrem, pois na realidade a emissão poluente representa um confisco do direito de alguém em respirar ar puro, beber água saudável e viver com tranqüilidade. Por isso, é imperioso que se analisem oportunamente as modalidades de reparação do dano ecológico, pois muitas vezes não basta indenizar, mas fazer cessar a causa do mal, pois um carrinho de dinheiro não substitui o sono recuperador, a saúde dos brônquios, ou a boa formação do feto”.
Destaque-se a relevância do princípio do
poluidor pagador no tópico, haja vista que o poluidor deve agregar todos os
custos desde a prevenção até a reparação de um dano, além do mais o dever
de reparar integralmente ou princípio da restitutio in integrum, decorre da
própria objetividade da responsabilidade, eis que o risco é inerente a própria
atividade e deve, portanto, ser cobrado. 143 Ob. cit. p. 351.
124
Como forma de reparação no direito
ambiental destacamos, portanto:
- Restauração natural ou in natura;
- Compensação; e
- Indenização.
Desde já anunciamos que a escolha pela
forma de reparação não é discricionária, devendo o poluidor obedecer a escala
na ordem das formas acima demonstrada, ademais, o poluidor poderá ser
condenado a uma obrigação de não fazer, de fazer e ou a pagar uma
indenização.
No que concerne a obrigação de não
fazer, poderá esta ser no sentido de determinar que apenas faça cessar a
conduta que está a causar o dano, como por exemplo, que cesse o lançamento
de resíduos ao solo que está sendo contaminado.
Já a condenação em uma obrigação de
fazer, deverá ser aquela em que é imposta alguma ação por parte do poluente,
podendo ser citado o caso em que é o mesmo seja condenado a promover a
retirada de material poluente do solo, podendo ser na forma de restauração ou
recuperação do meio ambiente que foi poluído.
Quanto ao pagamento de indenização,
este poderá ser determinado somente nos casos em que a restauração e ou
recuperação não seja possível,devendo o valor ser equivalente ao dano.
Os pedidos poderão, dependendo do
caso, serem cumulativos, podendo haver, por exemplo, pedido de condenação
em obrigações de fazer e de indenização, sendo certo que não caracteriza bis
125
in idem, isto porque o fundamento para cada um é diverso.
Há casos que poderá haver o pedido de
condenação da obrigação de reparação integral e ainda tenha havido dano
extrapatrimonial, caso este que comporta a condenação em ambos.
4.5.1 A reparação integral
O dever de restauração integral é
confirmado no inciso VIII do artigo 2º da Lei da Política Nacional do Meio
Ambiente, ao dispor como princípio a recuperação de áreas degradadas.
E ainda o artigo 4º da LPNMA em que
determina que será visada
“a preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas a sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida” e “a imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados, e ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos”.
Segundo a doutrina144:
“Confirmada a responsabilidade civil pela prática de um dano ambiental, impõe-se a sua reparação integral, que deve ser a mais abrangente possível de acordo com o grau de desenvolvimento da ciência e da técnica, levando-se em conta os fatores da singularidade dos bens ambientais atingidos, da impossibilidade de se quantificar o preço da vida, e, sobretudo, que a responsabilidade ambiental deve ter um sentido pedagógico tanto para o poluidor como para a própria sociedade, de forma que todos possam aprender a respeitar o meio ambiente” – grifos nossos.
Quando se trata de meio ambiente, tal
preocupação ganha ainda mais atenção, isso acontece em respeito ao
144 Annelise. Ob. cit. p. 235.
126
princípio da plena reparação do dano ambiental ou ampla indenização e ainda
face ao interesse público violado.
Segundo Annelise Monteiro Steigleder:145
“O critério de reparabilidade do dano não significa que este se limite ao patrimônio da vítima, proprietária dos recursos ambientais lesados, ou se reduza á perspectiva meramente material, com desconsideração dos aspectos éticos, extrapatrimoniais, tais como o valor da biodiversidade perdida com a devastação de uma floresta, por exemplo. Significa, tão-somente, uma análise do dano ambiental a partir do que o ordenamento jurídico entende por reparável, traduzindo a opção axiológica feita a partir da base em que o ser humano se relacional com o seu habitat, em um dado momento histórico e de acordo com específicas determinantes culturais”
Eis portanto, a uma grande preocupação
que deve haver diante de um dano ambiental, verificar a possibilidade de
haver a reparação integral, sendo que tal verificação é realizada através do
desenvolvimento de projeto de recuperação ambiental, de forma a proporcionar
os benefícios funcionais do ecossistema anteriormente existente.
A reparação decorre não somente do
Direito Positivo, mas também de princípios do Direito Natural, eis que a
ninguém é dado o direito de prejudicar os outros,motivo pelo qual a
responsabilidade objetiva, que será abordada, veio facilitar a responsabilização
do degradador.
4.5.1.1 Restauração natural ou in natura
Diante de um dano ambiental a
restauração natural ou in natura deve ser a primeira opção a ser cogitada para
a reparação, até porque consiste procurar restituir ao máximo possível o
ambiente danificado.
145 Ob. cit. p. 14.
127
A reparação in natura é efetivada através
da imposição de uma obrigação de fazer ao causador do dano. Referida
obrigação poderá ocorrer da forma mais variada possível, podendo determinar
a realização de obras, plantios, restituição de habitats, dentre outras que se
fizerem necessárias para garantir que o meio ambiente seja reparado.
Elucidamos que somente a obrigação de
fazer busca a reparação do dano, sendo certo que a imposição da obrigação
de não fazer ou de abstenção, busca, na verdade apenas cessar a atividade
danosa.
É certo que a reparação, em
determinados casos não vai retornar, exatamente o estado status quo ante
existente, até porque dependendo do meio danificado, jamais terá suas
funções como anteriormente. Contudo, se busca com a reparação in natura a
forma de proporcionar o mais perto possível do cenário destruído ou
degradado.
Ademais, a prioridade pela reparação in
natura torna-se indispensável à reparação do prejuízo sofrido pelo próprio meio
ambiente, mesmo porque, muitas vezes estaremos diante de um dano que não
tem valor econômico direto.
Assim, considera-se reparado o ambiente
que retornar a ter a capacidade funcional que tinha antes da degradação. É
extremamente importante a manutenção do equilíbrio do ecossistema.
Note-se que somente deverá haver a
compensação ou a indenização acaso a recuperação in natura não seja
possível, sendo esta a interpretação sistemática que se extrai, ainda mais se
considerarmos o disposto no art. 84,§ 1º do Código de Defesa do Consumidor,
também aplicado a tutela do meio ambiente, que determina: “A conversão da
obrigação em perdas e danos somente será admissível se por elas optar o
128
autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático
correspondente.”
Neste sentido, Marcos Destefenni146:
“Não sendo possível a restauração ecológica, ou sendo inviável, pode-se pensar em uma compensação ecológica. Por fim, em último caso pode-se determinar apenas uma indenização que reverta aos fundos públicos.” (...) Portanto, é de se estabelecer uma importante conclusão: a reparação específica é imperativa, só devendo ser substituída por indenização ou por compensação se houver fundamento para tanto, lembrando que o único fundamento aceitável é a impossibilidade técnica de restauração ou sua absoluta inviabilidade”.
Acerca das técnicas de remediação,
Thomas Stier147, faz uma abordagem um tanto quanto crítica, no sentido de
que:
“A cada ano aparece uma tecnologia de remediação ‘da moda’, e o mercado se interessa por essa tecnologia inovadora acreditando que ela resolverá todos os problemas de um determinado conjunto de contaminantes. Este foi o caso de tecnologias com Air Sparging, Barreiras Reativas in situ ou Oxidação in situ, por exemplo. Mas recentemente, a Atenuação Natural, a Atenuação Natural Intensificada, a Limalha de ferro ou a Injeção de Melaço”
No que tange mais especificamente aos
danos pela contaminação do solo, temos a considerar que a recuperação pode
ser efetivada através da restauração ou da reabilitação, que por sua vez
poderá ser também uma revitalização quando se tratar de área com instalação
industrial ou comercial abandonada contaminada ou possível de contaminação.
Nesta esteira a busca pela recuperação de uma área pode ser através da
restauração que é o retorno do sitio degradado à situação idêntica ou quase
146 Ob. cit. p. 199. 147 Seguindo as tendências das tecnologias de remediação. Será que às vezes não escolhemos a abordagem errada? In: II Seminário Internacional sobre Remediação In-Situ de Sites Contaminados, 2004, São Paulo, Remediação e Revitalização de Áreas Contaminadas. São Paulo: Signus Editora, 2004, p.3-15.
129
idêntica daquela que precedeu a degradação; ou da reabilitação que consiste
em transformar a área degradas em outra com a finalidade totalmente diversa
daquela anterior, sendo certo que a revitalização é a reabilitação de um
brownfields.
Entretanto a revitalização de áreas
degradadas e contaminadas é uma das principais ferramentas para o
necessário e tão almejado desenvolvimento sustentável, e revitalizar não se
restringe à busca pela eliminação dos riscos ambientais, mas dentro de uma
visão global e sustentável deve envolver também, um bom planejamento
urbano abordando questões ambientais, sociais e urbanas.
Segundo Luis Enrique Sánchez148:
“Revitalizar significa reinserir essa áreas (brownfields) no tecido urbano de
modo que sua reutilização possa ser um instrumento de requalificação urbana”,
devendo ainda ser lembrado que revitalizar não é o mesmo que remediar, a
revitalização é a reabilitação de um brownfields, que como já dissemos é uma
área que contém instalações industriais e comerciais abandonadas, vagas e
subutilizadas e que possui problemas reais ou possíveis de contaminação.
Outrossim, elucidamos que os brownfields
são as instalações industriais e comerciais abandonadas, vagas e subutilizadas
cuja reutilização é dificultada por problemas reais ou percebidos de
contaminação ambiental, assim, os brownfields não são apenas áreas
efetivamente contaminadas, mas sim toda área onde possa ter havido ou seja,
suspeita de ocorrência de alguma contaminação, desta forma, basta uma
suspeita de contaminação para a dificuldade em sua reutilização149.
4.5.1.2 Compensação
148 SÁNCHEZ, Luis Enrique. Revitalização de Áreas Contaminadas. In: II Seminário Internacional sobre Remediação In-Situ de Sites Contaminados, 2004, São Paulo, Remediação e Revitalização de Áreas Contaminadas. São Paulo: Signus Editora, 2004, p. 79-90. 149 Abordaremos o assunto no qual abordaremos no capítulo 4.
130
Trata-se de uma solução subsidiária,
devendo somente ser utilizada em casos que não seja possível a reparação
natural ou in natura, sendo certo que deve ser realizada de maneira a
proporcionar a recuperação equivalente ao ambiente danificado.
Para que seja realizada a compensação,
inicialmente há de ser analisado se a mesma é absolutamente necessária, e
ainda deverá ser efetivamente constatado que não é possível a realização da
reparação específica.
Outrossim, deverá ser feita na medida
equivalente à importância ecológica do meio danificado e dentro do mesmo
ecossistema em que ocorreu o dano ambiental, sendo certo que deverão ainda,
serem observados critérios técnicos, com ciência a previa aprovação e
autorização por parte do órgão ou órgãos públicos competentes.
Tais critérios devem ser observados sob
pena de descaracterizar a compensação e transformar-se em indenização,
além do mais, toda compensação deve ser específica, ou seja, realizada dentro
do mesmo meio danificado, como por exemplo, se houve um dano no meio
ambiente natural, dentro de determinado ecossistema, a compensação deverá
ocorrer dentro deste mesmo ecossistema, “deve-se compensar natureza com
natureza e não com vantagens pecuniárias”150.
Assim, deve-se sempre procurar a
compensação de maneira a aproximar-se mais e mais ao cenário e condições
existentes anteriormente ao dano.
A compensação tem como objetivo: a)
restabelecer tanto quanto possível o meio danificado e; b) permitir àquelas
pessoas que sofreram com o dano ambiental que usufruam de seus benefícios.
150 Marcos Destefenni. Ob. cit. p 203.
131
José Rubens Morato Leite151 traz uma
classificação na compensação ecológica como: compensação ecológica
jurisdicional, extrajudicial, pré-estabelecida ou normativa e fundos autônomos,
sendo certo que a compensação ecológica jurisdicional é aquela que deriva de
uma lide ambiental e é estabelecida por uma sentença judicial transitada em
julgado que pode, por exemplo, determinar que o causador do dano substitua o
bem lesado por um equivalente.
A compensação ecológica extrajudicial
ocorre dentro de um Termo de Ajustamento de Conduta – TAC, previsto no art.
5º, §5º da Lei da Ação Civil Pública – Lei nº 7.347, de 1985, que é firmado
entre os órgãos públicos legitimados e os prováveis causadores do dano que
se obrigam a atender certas exigências,visando a compensação do mesmo.
Já a compensação pré-estabelecida é
aquela formulada pelo próprio legislador (latu sensu), independentemente de
imputações jurisdicionais, deriva do próprio risco da atividade, pode estar
prevista em portarias, determinações e outros atos.
A última classificação apresentada é a
dos fundos autônomos de compensação ecológica, também conhecidos como
formas alternativas de solução de indenizar o bem ambiental, sendo que a
responsabilidade civil é custeada pelos próprios agentes causadores dos
danos, sendo certo que os valores são revertidos em prol do próprio meio
ambiente.
4.5.1.3 Indenização
Não obstante à indenização ser uma
forma clássica de reparação do dano sofrido, em se tratando de dano
ambiental, a mesma deve ser a última opção da reparação do dano ambiental,
151 Ob. cit. p. 212.
132
sendo certo que somente deverá ser utilizada acaso não caiba mais as formas
de restauração natural ou in natura ou a compensação.
Visa, em um primeiro momento atingir
uma compensação financeira pelo dano sofrido.
À luz do §1º, do artigo 84 do Código de
Defesa do Consumidor: “A conversão da obrigação em perdas e danos
somente será admissível se por elas optar o autor ou se impossível a tutela
específica ou a obtenção do resultado prático correspondente”.
Ressalte-se que não poderá o degradador
optar pela forma de reparação do dano ambiental, até porque se trata de
interesses coletivos, cujo titular é a coletividade.
Por se tratar de leões a bens difusos, os
valores definidos a título de indenização deverão ser recolhidos aos fundos
criados para tanto.
Contudo, há de ser destacado que o
dinheiro encaminhado ao fundo, não são aplicados diretamente ao meio
danificado, sendo certo que se trata de fundo único que recebe valores
indenizatórios por danos ao meio ambiente de uma forma geral, sem
descriminar se advindos de danos a qual meio ambiente, se artificial, natural
ou do trabalho.
Marcelo Abelha Rodrigues152 destaca que:
“A reparação em pecúnia (ressarcimento) é exceção no sistema da
responsabilização ambiental e só deverá ser feita quando se mostrar
impossível, total ou parcialmente, a reparação específica”.
Repise-se que as modalidades de
152 Instituições de direito ambiental. Ob. cit. p. 206.
133
reparação por dano ambiental já elucidadas não podem ser escolhidas
aleatoriamente, sendo certo que se deve sempre primar pela ordem proposta,
qual seja: restauração in natura, compensação e somente caso não sejam
possíveis utilizar-se-á da forma indenizatória.
134
5. RELATOS DE CASOS CONCRETOS
Há caso causaram grande dano ao meio
ambiente ao longo dos tempos, dentre eles destacamos o ocorrido nos Estados
Unidos, mais especificamente na fronteira com o Canadá a indústria Hooker
Chemical Plastics, depositou 20 mil toneladas de mais de duzentos tipos de
resíduos químicos perigosos no leito seco de um canal abandonado que ficou
sendo conhecido como “Love Canal”.
Pouco tempo após, a área contaminada
começou a ser urbanizada, sendo, inclusive vendida pela Hooker, em 1953, ao
Conselho Escolar para construção de escolas, sendo que em 1958 resíduos
começaram a aflorar no próprio playgroud da escola construída, e ainda
migraram para residências, aparecendo em porões e nos quintais das casas.
Como conseqüência, crianças passaram a
apresentar erupções cutâneas dolorosas, houve aumento de abortamentos,
nascimento de crianças abaixo do peso e alterações hepáticas.
Para se ter uma noção da gravidade dos
acontecimentos destacados na Turquia sementes de grãos de trigo que eram
tratados com fungicidas e possuíam a substancia química hexaclorobenzeno
(HCB), foram utilizados como alimentos e servidos a 4 mil pessoas, dando
inicio a uma epidemia que ficou conhecida como “Porfiria Turca”.
A conseqüência foi que todas as crianças
menores de dois anos, contaminadas através da placenta da mãe ou do leite
materno apresentaram lesões graves e morreram elevando sobremaneira o
índice de mortalidade da população, sendo que restaram ainda à população
lesões hepáticas, manchas cutâneas, artrites e cólicas.
Na Itália, em 1976, foi instalada a
135
ICMESA que se destinava a fabricar o produto químico triclorofenol, sendo
certo após a ocorrência de uma explosão do reator de referido produto foi
liberada grande quantidade de dioxina no ar que se espalhou e atingiu casas e
campos, sendo que 157 operários sofreram diretamente o impacto e 37 mil
residentes na região sofreram tal exposição.
Com isso, milhares de animais morreram,
houve morte por câncer no pâncreas que continha altos teores de dioxina,
foram constatadas alterações nos fetos o que obrigou o Vaticano a autorizar
mais de 2 mil abortos, houve a condenação em toda a produção agrícola e
animais da época.
Já na Índia, na madrugada de 03 de
novembro de 1984, em decorrência de um vazamento na Union Carbide Íncia,
fabricante de pesticidas houve a liberação de 40 toneladas de gases mortais
sobre a população de Bhopal, tendo provocado a morte de mais de 5 mil
pessoas e ferimentos em mais de 200 mil, deixando, ainda, milhares de
indianos com doenças permanentes, problemas respiratórios, oculares e
mentais, tendo ainda ocorridos vários abortos e nascimento de crianças com
deformidades.
Outro caso que podemos destacar
ocorreu no Vietnã entre 1962 a 1970, sendo que o Exercito americano
despejou 72 milhões de litros de herbicidas sobre o país, destruindo mais de 1
milhão e 700 mil hectares de floresta, sendo que dentre os componentes do
produto destacou-se a dioxina, que ficou conhecida com “agente laranja”.
Foram relatadas deformidades brutais em
crianças nascidas no período, sendo que foi calculado que dos mais de 2
milhões e 800 mil soldados que lutaram no Vietnã, 40 mil provavelmente foram
contaminados por produtos químicos tóxicos e especialmente pelas dioxinas.
Estimou-se, ainda que alem de doenças e mortes de crianças, foram geradas
mais de 2 mil crianças com deformações, além da ocorrência de danos
136
hepáticos, distúrbios neurológicos e diversas outras lesões graves causadas
em toda a população.
Estes foram alguns casos ocorridos no
mundo, que optamos por destacar, sendo certo que em todos eles tanto os
operários que trabalharam nos processos de produção com a utilização dos
produtos químicos tóxicos quanto a população estavam completamente
desinformadas dos riscos e da letalidade dos produtos e das matérias primas
utilizadas.
Acrescentamos, ainda que as indústrias
citadas sabiam dos riscos a que expunham os trabalhadores e do dano que
causava ao meio ambiente, entretanto, além de não informarem aos operários
e à sociedade dos riscos a que estavam expostas, não cessaram as atividades
danosas.
No Brasil, podemos lembrar os danos
causados no Brasil pela Rhodia, que se iniciou com a instalação do pólo
petroquímico e siderúrgico em Cubatão desde 1965 na Baixada Santista, pela
Clorogil S/A – Indústria química francesa constituída em 1965, formada pela
Progil – Socyeté Anonyme de Paris e a indústria brasileira Carbocloro S/A, e
ainda na Turquia de 1954 a 1959, nos Estados Unidos de 1940 a 1950, Itália
em julho de 1976 e na guerra do Vietnã de 1962 a 1970.
Houve também a contaminação de solo
ocorrida no rio de Janeiro, da antiga fábrica de BHC do Ministério da Saúde; na
Bahia, mas precisamente na cidade de Santo Amaro da Purificação, em que
uma metalúrgica de chumbo que esteve ativa de 1961 a 1993 depositou a
escória da fundição de concentrado de minério de chumbo na própria área
industrial, tendo também sido utilizado tal material na pavimentação de
estradas e encascalhamento de ruas, entretanto, tratava-se de material
extremamente perigoso por conter chumbo e cádmio.
137
Mais recentemente, a partir de 2001, no
Estado de São Paulo, também podemos destacar os casos do condomínio de
edifícios residenciais “Barão de Mauá”, ocorrido no município de Mauá, em que
referido prédio foi construído sobre uma antiga área de disposição de areias
de fundição; o caso dos “Recanto dos Pássaros”, ocorrido em Paulínia numa
área de chácaras e sítios vizinha a uma antiga indústria química desativada
pertencente à Shell; o caso da ”Vila Carioca” onde um condomínio de
apartamentos foi construído em área vizinha a uma base de armazenamento
de combustíveis também da Shell e que utilizava água subterrânea
contaminada; e ainda a industria de baterias automotivas “Ajax”, no município
de Bauru, próxima a um bairro residencial.
Todos estes casos nacionais possuem
suas peculiaridade e causaram grandes danos à saúde pública e ao meio
ambiente, contudo enfocaremos, agora, mais especificamente alguns aspectos
acerca da contaminação do solo no caso concreto causado pela empresa
Rhodia, ocorrido no Brasil, haja vista que pode ser considerado como um dos
maiores danos ambientais do mundo, uma vez que foi estimado pela própria
CETESB nos autos da Ação Civil Pública que trata do caso de terem sidos
despejadas 12 mil toneladas de resíduos químicos poluidores no meio
ambiente.
Ressalte-se que no que se refere ao dano
em apreço, houveram vários desdobramento com contaminação que partiu do
solo, principalmente quando da formação dos “lixões”, passando-se ao lençol
freático e ao ar.
No que tange aos lixões, destacamos a
formação do lixão químico pelo descarte de resíduos na baixada santista
decorrente da produção de solvente e fungicida clorados pela Clorogil, que a
princípio (1965) apenas depositava os resíduos industriais perigosos de forma
inadequada e criminosa na área da própria fábrica, sendo que a partir de 1977,
passou-se a dispor dos produtos em outras áreas, criando-se, então, os lixões.
138
Há ainda, ocorrências de contaminações
em areia dos rios Branco e Mariana, em São Vicente e do rio Cubatão, sendo
que tal material foi utilizado na construção civil, e em playgroud de parques
infantis, que certamente expuseram crianças diretamente ao material
contaminado, sendo certo que devidos às contaminações, somente em 1993 a
extração e comercialização de areias da margens do rio Cubatão foi proibida.
Dentre os lixões encontrados os de
maiores riscos são aqueles localizados na área continental de São Vicente, em
Samaritá e no Quarentenário, haja vista a quantidade de resíduos
contaminados depositados em suas áreas, somente em Samaritá foram
encontradas mais de 100 mil toneladas, além do mais constatou-se um
crescimento populacional em larga escala no período o que aproximou a
população às áreas contaminadas, agravando-se mais a situação.
Além do mais, o acúmulo de resíduos nos
“lixões” provoca infiltração permanente no solo, levando a contaminação ao
lençol freático, sendo certo que os ventos também cooperam para a
proliferação do lixo levando a poeira tóxica para áreas até então não
contaminadas, deixando assim, áreas impróprias para a agricultura, indústria e
moradia, ou seja, sem condições de ser habitado.
Em 1990 foi identificado pela CETESB um
novo depósito de resíduos da Rhodia, que se localizava em um sitio de um
morados no Km 9 da estrada do Rio Preto, o Coca, que teria recebido o
material em 1978 para ser utilizado como adubo para plantações no sítio,
assim, a operação de remoção iniciou-se em janeiro de 1992, momento em que
foram retiradas 165 toneladas da área, sendo que em outubro do mesmo ano
foram removidas mais 780 toneladas de materiais contaminados
Como se não bastasse o dano ambiental
diretamente ao solo, tais resíduos químicos também contaminavam a água e o
ar, devendo ser destacado quanto a este a agressão à camada de ozônio.
139
Assim lembramos a produção, em 1974 da “nova fábrica” da Clorogil/Rhodia de
tetracloreto de carbono e percloroetileno, cuja capacidade era de 18 mil
toneladas por ano, sendo que o tetracloreto de carbono é utilizado na
fabricação do gás freon, um dos maiores agressores clorados da camada de
ozônio.
Em 1984 e 1985 foram denunciados pela
população os últimos lixões de Cubatão deixados pela Clorogil e herdados pela
Rhodia, que somente reconheceu-os em 1992 e 1993, dentre eles destacamos
o do “Sítios dos Pilões” que possui característica peculiar, pois além de
resíduos químicos ainda foram encontrados diversos metais pesados e
cancerígenos, como: o alumínio, bário, arsênio, chumbo cobre, ferro,
manganês, prata, zinco e mercúrio.
Tais características decorrem do fato de
que várias industrias utilizaram o lixão para descarte, atitude esta que
permaneceu até 1985, sendo que existia desde 1979, sendo, inclusive
considerado como “lixão municipal”
No caso da Rhodia, ficou determinado
que a mesma removesse os resíduos industriais perigosos para a denominada
“Estação de Espera” que se localizava no quilômetro 67 da rodovia Padre
Manoel da Nóbrega, sendo que posteriormente tais resíduos deveriam ser
incinerados, contudo, tais medidas não foram adequadamente tomadas, e o
que pretendia minimizar os danos acabou por aumenta-los.
Inicialmente, quando do processo de
transporte, já na movimentação do entulho, na escavação e no revolvimento
dos aterros a céu aberto, houve a ampliação da área contaminada. Outro fator
que influenciou nesta ocorrência foi o erro na previsão do volume de lixo
químico, haja vista que em um primeiro momento estimava-se 12 mil toneladas,
passando-se a estimar 33 mil, ou seja, quase o triplo, sem prejuízo do tempo a
que se estimava ficar o lixo no local que era de 30 meses e continua até hoje.
140
Quanto à incineração, esta também
produziu efeito inverso do pretendido, sendo que em maio de 1988 começou a
operar o equipamento importado da França, contudo, novamente se verificou
outra fonte poluidora, uma vez que o material sólido contaminado era colocado
no equipamento como sólido e saia como fumaça e ainda produzia cinzas
contaminadas.
Note-se que o incinerador foi instalado e
funcionou durante 5 anos sem o EIA – Estudo de Impacto Ambiental, e
conseqüentemente não foi realizado o Relatório de Impacto ao Meio Ambiente
– RIMA, isso ocorreu tendo em vista que a CETESB (Companhia de
Tecnologia de Saneamento Ambiental) não possuía condições de fiscalização
para monitoramento de dioxinas (substancia biocumulativa, cancerígena e
mutagênica).
Assim, a fábrica da Rhodia foi interditada
por providencias tomadas pelo Ministério Público, que requereu à CETESB
vistoria no sentido de analisar amostras do solo, sendo certo que foram
encontrados índices assustadores de agentes químicos letais (pentaclorofenol
e hexaclorobenzeno), tornando a fábrica em local incompatível com a vida
humana.
Quanto ao processo judicial ajuizado em
face à Rhodia em decorrência da contaminação pela Empresa Clorogil,
Processo n° 683/86, movido pela Promotoria Pública de São Vicente, sobreveio
sentença em 1° de setembro de 1995, após quase 10 a nos de tramitação, no
sentido de condenar a empresa poluidora à penas cumuladas153 na:
a). Obrigação de fazer, consistente em
prover por seus próprios meios o sistema de contenção dos poluentes descritos
no laudo juntado aos autos, sendo certo que houve fixação do prazo inicial em
153 Plenamente possível de acordo com a jurisprudência, devendo ser os ensinamentos declinados no Resp. n° 605323/MG, Rel. Min. José De lgado, 1ª turma, DJ. 17.10.2005.
141
30 (trinta) dias a partir do transito em julgado da mesma, com multa por dia de
atraso;
b). Obrigação de se abster de utilizar as
áreas afetadas de sua propriedade, para qualquer atividade comercial,
industrial ou que implique em ocupação humana, permitida apenas pesquisa
cientifica, com a devida proteção aos operadores;
c). Obrigação de fazer, consistente em
exercer guarda sobre as áreas afetadas, não permitindo ocupação humana, até
que os níveis de poluentes permitam a vida sem risco;
d). Obrigação de tolerar, consistente na
permissão de que as autoridades constituídas, mormente ligadas ao Sistema
de Proteção ao Meio Ambiente, utilizem das áreas afetadas para pesquisas
científicas;
e). Obrigação de dar, consistente no
pagamento ao Fundo de Reparação Ambiental de que trata o art.13 da Lei
7.347/85 na importância de R$ 8.777.743,00 (oito milhões setecentos e setenta
e sete mil setecentos e quarenta e três reais), de uma só vez e devidamente
corrigido;
f). Obrigação de fazer, no sentido de
colocar à disposição da comunidade local, água potável em quantidade
suficiente para atender à densidade demográfica já existente, e a que vier a
existir em até cinco anos do inicio dos trabalhos de contenção.
Aos trabalhadores da fábrica restaram
vários comprometimentos e lesões ao organismo, principalmente ao fígado e
órgãos abdominais, reações inflamatórias, diminuição da defesa imunológica,
ocorrências neurotóxicas, dentre outras constatadas e ainda desconhecidas.
142
Inúmeras outras ações judiciais foram
ajuizadas, dentre elas destacamos aquelas em que foram pleiteadas
indenizações154 pelos funcionários das empresas e aposentadorias por
invalidez.
Houve também grande dificuldade diante
do Poder Judiciário, sendo certo que muitas ações foram julgadas
improcedentes155 sob a argumentação de que a culpa da empregadora
(Rhodia), bem como o necessário nexo de causalidade, não se encontravam
devidamente comprovados, algumas decisões foram reformadas nos Tribunais,
porém muita irresignação lamentavelmente restou perpetuada na alma dos
trabalhadores e de seus familiares.
154 TJSP nº 231.745.4/4-00, Min. Rel. Marcio Antonio Boscaro, TST. RR nº 644/2007-2005-02-40.0, dentre outras. 155 a título de exemplo citemos: TJSP. Apelação com Revisão nº 992.04.017906-0 (843.018-0/8), Min. Rel. Luis de Carvalho, DJ. 16/12/2009; 2º TACSP (extinto) Apelação com Revisão nº 841.472-0/2, Min. Rel. Julio Vidal, 28º Câmara, j. 13.11.07.
143
CONCLUSÃO
Com a industrialização a degradação
ambiental tomou dimensões jamais esperada e preocupante, sendo certo que
em decorrência, temos experimentado conseqüências jamais esperadas de
danos ambientais, motivo pelo qual atualmente muito se discute acerca de
referidos danos, principalmente sobre as formas de reparação, haja vista o
intuito e a necessidade de preservar o meio ambiente.
Mais do que uma expressão louvável, a
preservação do meio ambiente para a presente e futuras gerações é condição
de sobrevivência e vida e neste sentido responsabilizar o degradante passa a
ser mais do que exercer o direito, passa a ser a essência na busca por uma
melhor qualidade de vida ou senão pela própria vida, sendo que até por isso a
tutela ao meio ambiente se traduz à proteção do direito à vida, à sobrevivência
das espécies e garante a subsistência da humanidade.
Assim, temos que são vários os fatores de
contribuição para a busca da mitigação da ocorrência de danos ambientais,
como os investimentos em medidas preventivas, educação ambiental,
licenciamentos mais rigorosos para empreendimentos, fiscalizações mais
efetivas, planos governamentais, incentivos empresariais, dentre outros, sendo
que sem sombra de dúvidas a responsabilização civil é uma grande aliada a tal
pretensão.
A responsabilidade civil por danos
ambientais guarda suas relevantes peculiaridades, sempre na busca
incessante pela diminuição do dano, sendo certo que sua principal
característica encontra-se na disposição da responsabilidade objetiva e
solidária e mesmo que a lesão ao meio ambiente decorra de atividade lícita, a
responsabilização civil deve ocorrer, desde que configurada nos limites dos
pressupostos da responsabilidade civil ambiental, quais sejam: conduta, dano e
o nexo de causalidade.
144
A responsabilização pela contaminação
do solo é medida que se impõe diante do dano ambiental, contudo, é
necessário que haja uma crescente adoção de técnicas ou ações preventivas
integradas aos processos de produção e destinação de produtos, devendo-se
priorizar a eliminação ou mitigação de quantidade de resíduos e substâncias
tóxicas que são diariamente depositadas no meio ambiente.
No que concerne aos regramentos
aplicáveis à contaminação do solo, tivemos a oportunidade de verificar alguns
aspectos da Resolução nº 420, de 28 de dezembro de 2009, editada pelo
Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, sendo certo que como
pudemos perceber se tratam de vários procedimentos detalhados e
relativamente complexos, em especial pela criação de diversas obrigações aos
órgãos ambientais competentes, que muitas vezes, na realidade nacional,
sofrem com a falta de estrutura mínima. Assim, temos que, a intenção do
Conselho Nacional do Meio Ambiente é louvável, porém fica a preocupação da
possível efetivação quanto ao cumprimento do regramento proposto, tendo em
visa a real situação estrutural que se encontra em todo o território nacional.
O estado de São Paulo conta ainda com a
previsão da Lei nº 13.577/09, que trata das diretrizes e procedimentos para a
proteção da qualidade do solo e o gerenciamento de áreas contaminadas,
regramento este que visa garantir o uso sustentável do solo, trazendo, ainda a
questão da responsabilização tendo elencado quais os responsáveis solidários.
Ademais, o regramento do CONAMA foi
emanado dentro dos limites de administrar decorrente da competência que lhe
é dada no artigo 23 da Constituição Federal, bem como pelo Artigo 8º da Lei da
Política Nacional do Meio Ambiente – Lei Federal nº 6.938/81, já a Lei do
Estado de São Paulo, foi editada dentro da competência legislativa plena, eis
que a matéria é de competência concorrente entre a União e o Estado e
ausente previsão Federal, assim o Estado de São Paulo agiu de acordo com o
que lhe é autorizado, devendo ser lembrado que não contamos ainda com
145
previsão legal federal no mesmo sentido, motivo pelo qual a Lei Paulista
encontra-se totalmente em vigor não havendo o que se falar que a Resolução
poderia suspender seus efeitos naquilo que lhe for contrário, isso em respeito à
hierarquia de normas e divisão dos três poderes a que estamos submetidos.
Mesmo que admitamos que a resolução
federal seja norma geral, ainda assim o cenário não é alterado, haja vista que
não podemos admitir que uma regra (mesmo que geral) advinda de uma
resolução de um órgão do executivo, que tem competência para administrar,
venha suspender os efeitos de uma lei que passou por todo um processo
legislativo. Além do mais o §3º do artigo 24 dispõe que a superveniência de
uma “lei federal” suspende a eficácia de uma lei estadual.
Ademais, no campo jurídico cabe aos
operadores do direito de uma maneira geral tratar a contaminação do solo
como um problema sério e que precisa contar com a prevenção e em um
segundo plano com a reparação, estando esta compreendida na restauração,
compensação e indenização, devendo ser priorizada a restauração e somente
caso não seja esta possível é que se deverá buscar a compensação e
finalmente a indenização.
A restauração do solo deve ainda ser
considerada além da restauração a possibilidade de reabilitação da área no
sentido de que na restauração é a busca pelo retorno à situação idêntica à
anterior, enquanto que na reabilitação será dada finalidade diversa daquela
anteriormente verificada, contudo, diante de tal procedimento deverá ser
declarado o uso para tal.
Assim, considerando que ainda temos a
oportunidade de levantar os nossos olhos sobre o mundo e ver o que está
acontecendo à nossa volta156 procuramos abordar peculiaridades da
156“Levantem os olhos sobre o mundo e vejam o que está acontecendo à nossa volta para que amanhã não sejamos acusados de omissão se o homem, num futuro próximo, solitário e
146
responsabilidade civil ao meio ambiente, na expectativa de colaborar com a
prevenção e reparação de danos ambientais notadamente no que concerne à
contaminação do solo, diante do trabalho intitulado como: A responsabilidade
civil por danos ambiental: um estudo a partir da contaminação do solo.
nostálgico de poesia, encontrar-se sentado no meio de um parque forrado com grama plástica, ouvindo o cantar de um sabiá eletrônico, pousado no galho de uma árvore de cimento armado” (PIMENTEL, Manoel Pedro. In Revista do Direito Penal, v. 24, p. 91).
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Sites Contaminados, 2004, São Paulo, Remediação e Revitalização de Áreas
Contaminadas. São Paulo: Signus Editora, 2004, p. 17-26.
YOSHIDA, Consuelo Yatsuda Moromizato. Tutela dos Interesses Difusos e
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160
PUC/SP. São Paulo: Método , 2001.
LEI Nº 13.577, DE 8 DE JULHO DE 2009
Dispõe sobre diretrizes e procedimentos para a proteção da qualidade do solo e gerenciamento de áreas contaminadas, e dá outras providências correlatas
O VICE-GOVERNADOR, EM EXERCÍCIO NO CARGO DE GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:
Faço saber que a Assembleia Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte lei:
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Seção I
Do Objeto Artigo 1º - Esta lei trata da proteção da qualidade do solo contra alterações nocivas por contaminação, da definição de responsabilidades, da identificação e do cadastramento de áreas contaminadas e da remediação dessas áreas de forma a tornar seguros seus usos atual e futuro.
Seção II
Dos Objetivos Artigo 2º - Constitui objetivo desta lei garantir o uso sustentável do solo, protegendo-o de contaminações e prevenindo alterações nas suas características e funções, por meio de:
I - medidas para proteção da qualidade do solo e das águas subterrâneas;
II - medidas preventivas à geração de áreas contaminadas;
III - procedimentos para identificação de áreas contaminadas;
IV - garantia à saúde e à segurança da população exposta à contaminação;
V - promoção da remediação de áreas contaminadas e das águas subterrâneas por elas afetadas;
VI - incentivo à reutilização de áreas remediadas; VII - promoção da articulação entre as instituições; VIII - garantia à informação e à participação da população afetada nas decisões relacionadas com as áreas contaminadas.
Seção III
Das Definições Artigo 3º - Para efeitos desta lei, são adotadas as seguintes definições: I - água subterrânea: água de ocorrência natural na zona saturada do subsolo;
II - Área Contaminada: área, terreno, local, instalação, edificação ou benfeitoria que contenha quantidades ou concentrações de matéria em condições que causem ou possam causar danos à saúde humana, ao meio ambiente ou a outro bem a proteger;
III - Área Contaminada sob Investigação: área contaminada na qual estão sendo realizados procedimentos para determinar a extensão da contaminação e os receptores afetados;
IV - Área com Potencial de Contaminação: área, terreno, local, instalação, edificação ou benfeitoria onde são ou foram desenvolvidas atividades que, por suas características, possam acumular quantidades ou concentrações de matéria em condições que a tornem contaminada;
V - Área Remediada para o Uso Declarado: área, terreno, local, instalação, edificação ou benfeitoria anteriormente contaminada que, depois de submetida à remediação, tem restabelecido o nível de risco aceitável à saúde humana, considerado o uso declarado;
VI - Área Suspeita de Contaminação: área, terreno, local, instalação, edificação ou benfeitoria com indícios de ser uma área contaminada;
VII - avaliação de risco: é o processo pelo qual são identificados, avaliados e quantificados os riscos à saúde humana, ao meio ambiente e a outros bens a proteger;
VIII - avaliação preliminar: avaliação inicial, realizada com base nas informações disponíveis, visando fundamentar a suspeita de contaminação de uma área;
IX - Cadastro de Áreas Contaminadas: conjunto de informações referentes aos empreendimentos e atividades que apresentam potencial de contaminação e às áreas suspeitas de contaminação e contaminadas, distribuídas em classes de acordo com a etapa do processo de identificação e remediação da contaminação em que se encontram;
X - cenário de exposição: conjunto de variáveis sobre o meio físico e a saúde humana estabelecidas para avaliar os riscos associados à exposição dos indivíduos a determinadas condições e em determinado período de tempo; XI - classificação de área: ato administrativo por meio do qual o órgão ambiental classifica determinada área durante o processo de identificação e remediação da contaminação;
XII - declaração de encerramento de atividade: ato administrativo pelo qual o órgão ambiental atesta o cumprimento das condicionantes estabelecidas pelo Plano de Desativação do Empreendimento e pela legislação pertinente;
XIII - fase livre: ocorrência de substância ou produto em fase separada e imiscível quando em contato com a água ou o ar do solo;
XIV - intervenção: ação que objetive afastar o perigo advindo de uma área contaminada;
XV - investigação confirmatória: investigação que visa comprovar a existência de uma área contaminada;
XVI - investigação detalhada: processo de aquisição e interpretação de dados de campo que permite o entendimento da dinâmica das plumas de contaminação em cada um dos meios físicos afetados;
XVII - órgão ambiental: órgãos ou entidades da administração direta, indireta e fundacional do Estado e dos Municípios, instituídos pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, administração de recursos naturais e manutenção e recuperação da qualidade de vida;
XVIII - remediação de área contaminada: adoção de medidas para a eliminação ou redução dos riscos em níveis aceitáveis para o uso declarado; XIX - risco: probabilidade de ocorrência de um efeito adverso em um receptor sensível;
XX - solo: camada superior da crosta terrestre constituída por minerais, matéria orgânica, água, ar e organismos vivos;
XXI - superficiário: detentor do direito de superfície de um terreno, por tempo determinado ou indeterminado, mediante escritura pública registrada no Cartório de Registro de Imóveis, nos termos da Lei federal nº 10.257, de 9 de julho de 2001;
XXII - Valor de Intervenção: concentração de determinada substância no solo e na água subterrânea acima da qual existem riscos potenciais diretos e indiretos à saúde humana, considerado um cenário de exposição genérico;
XXIII - Valor de Prevenção: concentração de determinada substância acima da qual podem ocorrer alterações prejudiciais à qualidade do solo e da água subterrânea;
XXIV - Valor de Referência de Qualidade: concentração de determinada substância no solo e na água subterrânea que define um solo como limpo ou a qualidade natural da água subterrânea.
Seção IV
Dos Instrumentos
Artigo 4º - São instrumentos, dentre outros, para a implantação do sistema de proteção da qualidade do solo e para o gerenciamento de áreas contaminadas:
I - Cadastro de Áreas Contaminadas;
II - disponibilização de informações;
III - declaração de informação voluntária;
IV - licenciamento e fiscalização;
V - Plano de Desativação do Empreendimento;
VI - Plano Diretor e legislação de uso e ocupação do solo;
VII - Plano de Remediação;
VIII - incentivos fiscais, tributários e creditícios;
IX - garantias bancárias;
X - seguro ambiental;
XI - auditorias ambientais;
XII - critérios de qualidade para solo e águas subterrâneas;
XIII - compensação ambiental;
XIV - fundos financeiros;
XV - educação ambiental.
Artigo 5º - O Cadastro de Áreas Contaminadas será constituído por informações detalhadas sobre todos os empreendimentos e atividades que:
I - sejam potencialmente poluidores;
II - no passado abrigaram atividades passíveis de provocar qualquer tipo de contaminação do solo;
III - estejam sob suspeita de estarem contaminados;
IV - demais casos pertinentes à contaminação do solo.
§ 1º - Para efeito da elaboração do Cadastro a que se refere o “caput” deste artigo, as áreas serão separadas em classes distintas, em conformidade com o processo de identificação e remediação da contaminação constatada ou sob suspeita.
§ 2º - Para cumprimento do disposto no § 1º deste artigo, ficam estabelecidas as seguintes classes:
1 - Classe AI - Área Contaminada sob Investigação;
2 - Classe AC - Área Contaminada;
3 - Classe AR - Área Remediada para Uso Declarado.
§ 3º - O Cadastro de Áreas Contaminadas será composto por informações registradas nos órgãos públicos estaduais e municipais e será publicado no Diário Oficial do Estado e na página da internet da Secretaria do Meio Ambiente.
CAPÍTULO II
Da Prevenção e do Controle da Contaminação do Solo
Artigo 6º - Qualquer pessoa física ou jurídica que, por ação ou omissão, possa contaminar o solo deve adotar as providências necessárias para que não ocorram alterações significativas e prejudiciais às funções do solo.
Parágrafo único - Para os efeitos desta lei, são consideradas funções do solo:
1 - sustentação da vida e do “habitat” para pessoas, animais, plantas e organismos do solo;
2 - manutenção do ciclo da água e dos nutrientes;
3 - proteção da água subterrânea;
4 - manutenção do patrimônio histórico, natural e cultural; 5 - conservação das reservas minerais e de matéria-prima;
6 - produção de alimentos;
7 - meios para manutenção da atividade socioeconômica.
Artigo 7º - Os órgãos do Sistema Estadual de Administração da Qualidade Ambiental, Proteção, Controle e Desenvolvimento do Meio Ambiente e Uso Adequado dos Recursos Naturais - SEAQUA, instituído pela Lei nº 9.509, de 20 de março de 1997, bem como os demais órgãos ou entidades da Administração Pública direta ou indireta, no exercício das atividades de licenciamento e controle, deverão atuar de forma preventiva e corretiva com o objetivo de evitar alterações significativas das funções do solo, nos limites de suas respectivas competências.
Artigo 8º - A atuação dos órgãos do SEAQUA, no que se refere à proteção da qualidade do solo e ao gerenciamento de áreas contaminadas, terá como parâmetros os Valores de Referência de Qualidade, os Valores de Prevenção e os Valores de Intervenção, estabelecidos pelo órgão ambiental estadual.
Artigo 9º - Os Valores de Referência de Qualidade serão utilizados para orientar a política de prevenção e controle das funções do solo.
Parágrafo único - Para os efeitos desta lei, o Poder Público deverá tornar disponíveis informações sobre a qualidade do solo e das águas subterrâneas.
Artigo 10 - Os Valores de Prevenção serão utilizados para disciplinar a introdução de substâncias no solo.
Parágrafo único - Na hipótese de os Valores de Prevenção serem ultrapassados, a continuidade da atividade será submetida a nova avaliação do órgão ambiental, devendo os responsáveis legais pela introdução no solo de cargas poluentes proceder ao monitoramento dos impactos decorrentes.
Artigo 11 - Os Valores de Intervenção serão utilizados para impedir a continuidade da introdução de cargas poluentes no solo.
Artigo 12 - O órgão ambiental competente poderá exigir do responsável legal por área com fontes potenciais de contaminação do solo e das águas subterrâneas a manutenção de programa de monitoramento da área e de seu entorno.
CAPÍTULO III
Das Áreas Contaminadas
Seção I
Das Responsabilidades
Artigo 13 - São considerados responsáveis legais e solidários pela prevenção, identificação e remediação de uma área contaminada: I - o causador da contaminação e seus sucessores;
II - o proprietário da área;
III - o superficiário;
IV - o detentor da posse efetiva;
V - quem dela se beneficiar direta ou indiretamente.
Parágrafo único - Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica quando sua personalidade for obstáculo para a identificação e a remediação da área contaminada.
Artigo 14 - Havendo perigo à vida ou à saúde da população, em decorrência da contaminação de uma área, o responsável legal deverá comunicar imediatamente tal fato aos órgãos ambientais e de saúde e adotar prontamente as providências necessárias para elidir o perigo.
§ 1º - Para fins deste artigo, consideram-se perigo à vida ou à saúde, dentre outras, as seguintes ocorrências:
1 - incêndios;
2 - explosões;
3 - episódios de exposição aguda a agentes tóxicos, reativos e corrosivos;
4 - episódios de exposição a agentes patogênicos, mutagênicos e cancerígenos;
5 - migração de gases voláteis para ambientes confinados e semiconfinados, cujas concentrações excedam os valores estabelecidos em regulamento;
6 - comprometimento de estruturas de edificação em geral;
7 - contaminação das águas superficiais ou subterrâneas utilizadas para abastecimento público e dessedentação de animais;
8 - contaminação de alimentos.
§ 2º - Na hipótese de o responsável legal não promover a imediata remoção do perigo, tal providência poderá ser adotada subsidiariamente pelo Poder Público, garantido o direito de ressarcimento dos custos efetivamente despendidos pela Administração Pública, devidamente apurados mediante apresentação de planilha fundamentada que comprove que os valores gastos na remoção do perigo são compatíveis com o valor do mercado.
Seção II
Da Identificação
Artigo 15 - O responsável legal, ao detectar indícios ou suspeitas de que uma área esteja contaminada, deverá imediatamente comunicar tal fato aos órgãos ambiental e de saúde competentes.
Artigo 16 - A área será classificada como Área Contaminada sob Investigação quando houver constatação da presença de:
I - contaminantes no solo ou na água subterrânea em concentrações acima dos Valores de Intervenção;
II - produto em fase livre, proveniente da área;
III - substâncias, condições ou situações que, de acordo com parâmetros específicos, possam representar perigo.
Artigo 17 - O órgão ambiental competente deverá adotar os seguintes procedimentos para identificação de áreas contaminadas:
I - manter informações sobre as áreas com potencial de contaminação;
II - realizar avaliação preliminar da área onde haja indícios de contaminação, ou solicitar, do responsável legal, a adoção de providências, conforme as prioridades estabelecidas em regulamento;
III - exigir do responsável legal a realização de investigação confirmatória na área, uma vez detectadas alterações prejudiciais significativas às funções do solo;
IV - propor sua classificação como Área Contaminada sob Investigação, quando configurada uma das hipóteses previstas no artigo 16.
Artigo 18 - Classificada a área como Área Contaminada sob Investigação, caberá ao órgão ambiental competente:
I - providenciar a inclusão da área no cadastro de Áreas Contaminadas;
II - notificar os órgãos públicos estaduais envolvidos, em especial o órgão responsável pela outorga do direito de uso de águas subterrâneas, as Prefeituras Municipais, os Conselhos Municipais de Meio Ambiente respectivos e os demais interessados;
III - determinar ao responsável legal pela área contaminada que inicie os procedimentos para ações emergenciais.
Artigo 19 - Classificada a área como Área Contaminada sob Investigação, os órgãos ambientais e de saúde deverão implementar programa que garanta à
população afetada, por meio de seus representantes, o acesso às informações disponíveis e a participação no processo de avaliação e remediação da área.
Seção III
Da Remediação
Artigo 20 - O responsável legal pela área classificada como Área Contaminada sob Investigação deverá realizar investigação detalhada para conhecimento da extensão total da contaminação e identificação de todos os receptores de risco.
Parágrafo único - Nos casos em que houver comprometimento de uma fonte de abastecimento de água, o responsável pela contaminação deverá fornecer fonte alternativa de água potável para abastecimento da população afetada.
Artigo 21 - A tomada de decisão, pelo órgão ambiental, sobre a intervenção em uma Área Contaminada sob Investigação será subsidiada por avaliação de risco para fins de remediação, a ser executada pelo responsável legal.
Artigo 22 - A Área Contaminada sob Investigação não pode ter seu uso alterado até a conclusão das etapas de investigação detalhada e da avaliação de risco.
Artigo 23 - Quando os valores definidos para risco aceitável à vida, à saúde humana e ao meio ambiente forem ultrapassados, a área será classificada como Área Contaminada, devendo ser promovida sua remediação.
Parágrafo único - Os valores a que se refere o “caput” deste artigo serão definidos em conjunto entre a Secretaria do Meio Ambiente e a Secretaria da Saúde, por meio de ato específico, ouvido o Conselho Estadual de Meio Ambiente - CONSEMA.
Artigo 24 - Classificada a área como Área Contaminada, o órgão ambiental competente adotará as seguintes providências:
I - cadastrar a área no Cadastro de Áreas Contaminadas como uma Área Contaminada;
II - informar os órgãos de saúde, quando houver riscos à saúde humana;
III - determinar ao responsável legal pela área contaminada que proceda, no prazo de até 5 (cinco) dias, à averbação da informação da contaminação da área na respectiva matrícula imobiliária;
IV - notificar os órgãos públicos estaduais envolvidos, as Prefeituras Municipais e os demais interessados;
V - notificar o órgão responsável por outorgas de direito de uso de águas subterrâneas na área sob influência da área contaminada, para que promova o cancelamento ou ajustes nos atos de outorga;
VI - iniciar os procedimentos para remediação da área contaminada em sintonia com as ações emergenciais já em curso;
VII - exigir do responsável legal pela área a apresentação de Plano de Remediação.
Parágrafo único - Na impossibilidade de identificação ou localização do responsável legal pela área contaminada, ou em sua omissão, deverá o órgão ambiental competente oficiar ao Cartório de Registro de Imóveis com vistas a que seja divulgada, conjuntamente com as demais informações referentes à matrícula do imóvel, a contaminação da área.
Artigo 25 - O responsável legal pela área contaminada deverá apresentar Plano de Remediação que contenha um cronograma das fases e respectivos prazos para a sua implementação, devendo submetê-lo à aprovação do órgão ambiental competente.
§ 1º - A implementação do Plano de Remediação será acompanhada pelo Poder Público.
§ 2º - O responsável legal pela área contaminada deverá apresentar uma das garantias previstas nos incisos IX e X do artigo 4º desta lei, a fim de assegurar que o Plano de Remediação aprovado seja implantado em sua totalidade e nos prazos estabelecidos, no valor mínimo de 125% (cento e vinte e cinco por cento) do custo estimado do Plano de Remediação.
§ 3º - No descumprimento, por quaisquer motivos, do Plano de Remediação
aprovado, o órgão ambiental executará as garantias a que se refere o § 2º deste artigo, visando custear a complementação das medidas de remediação, além de adotar as medidas atinentes ao poder de polícia administrativa. § 4º - O Plano de Remediação poderá ser alterado, com aprovação do órgão ambiental, em função dos resultados parciais de sua implementação. § 5º - O responsável legal deverá apresentar projeto técnico sob a responsabilidade de profissional habilitado, conforme Conselho Profissional, cabendo ao autor do projeto e/ou responsável técnico a responsabilização de todas as etapas executivas indicadas nos projetos, não podendo ser transferida ao leigo qualquer responsabilidade.
Artigo 26 - A área contaminada será classificada como Área Remediada para o Uso Declarado quando for restabelecido nível de risco aceitável para o uso declarado.
Parágrafo único - Na classificação a que se refere o “caput” deste artigo, deverá sempre ser respeitada a legislação de uso e ocupação do solo.
Artigo 27 - Classificada a área como Área Remediada para o Uso Declarado, o órgão ambiental competente deverá:
I - cadastrar a área no Cadastro de Áreas Contaminadas como Área Remediada para o Uso Declarado;
II - determinar ao responsável legal pela área contaminada que proceda, no prazo de até 5 (cinco) dias, à averbação, na respectiva matrícula imobiliária, da informação quanto à contaminação da área;
III - notificar os órgãos públicos envolvidos, as Prefeituras Municipais, os Conselhos Municipais de Meio Ambiente respectivos e os demais interessados.
§ 1º - Os registros e as informações referentes à Área Remediada para o Uso Declarado devem indicar expressamente o uso para o qual ela foi remediada, que não poderá ser distinto dos usos autorizados pela legislação de uso e ocupação do solo.
§ 2º - Na impossibilidade de identificação ou localização do responsável legal pela área contaminada, deverá o órgão ambiental competente oficiar ao Cartório de Registro de Imóveis com vistas a que seja divulgada, conjuntamente com as demais informações referentes à matrícula do imóvel, a contaminação da área.
Artigo 28 - Para a alteração do uso ou ocupação de uma Área Remediada para o Uso Declarado, deverá ser efetuada pelo responsável nova avaliação de risco para o uso pretendido, a qual será submetida à aprovação do órgão ambiental competente.
Parágrafo único - O novo uso autorizado para a área remediada deverá atender à legislação de uso e ocupação do solo e será averbado pelo Cartório de Registro de Imóveis, mediante notificação do órgão ambiental competente.
Artigo 29 - Os responsáveis legais por empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental e potenciais geradores de contaminação, a serem total ou parcialmente desativados ou desocupados, deverão comunicar a suspensão ou o encerramento das atividades aos órgãos do SEAQUA.
§ 1º - A comunicação a que se refere o “caput” deste artigo deverá ser acompanhada de Plano de Desativação do Empreendimento que contemple a situação ambiental existente, em especial quanto à possibilidade de a área estar contaminada, devendo conter, ainda, quando for o caso, informações quanto à implementação das medidas de remediação das áreas que serão desativadas ou desocupadas.
§ 2º - O órgão ambiental competente deverá analisar o Plano de Desativação do Empreendimento, verificando a adequação das propostas apresentadas.
§ 3º - Após a recuperação da qualidade ambiental da área, o órgão ambiental competente emitirá Declaração de Encerramento da Atividade.
CAPÍTULO IV
Dos Instrumentos Econômicos
Artigo 30 - Fica criado o Fundo Estadual para Prevenção e Remediação de Áreas Contaminadas - FEPRAC, fundo de investimento vinculado à Secretaria do Meio Ambiente e destinado à proteção do solo contra alterações prejudiciais às suas funções, bem como à identificação e à remediação de áreas contaminadas.
Artigo 31 - Constituem receitas do FEPRAC:
I - dotações ou créditos específicos, consignados no orçamento do Estado;
II - transferências de outros fundos estaduais ou de suas subcontas, cujos recursos se destinem à execução de projetos, planos, programas, atividades e ações relacionados com a prevenção e o controle da poluição, de interesse comum;
III - transferência da União, dos Estados e dos Municípios para a execução de planos, programas, atividades e ações de interesse do controle, preservação e melhoria das condições do meio ambiente do Estado;
IV - recursos provenientes de ajuda e cooperação internacional e de acordos intergovernamentais;
V - retorno de operações de crédito contratadas com órgãos ou entidades da administração direta ou indireta, consórcios intermunicipais, concessionários de serviços públicos e empresas privadas;
VI - produto de operações de crédito e rendas provenientes da aplicação de seus recursos;
VII - doações de pessoas naturais ou jurídicas, públicas ou privadas, nacionais, estrangeiras ou multinacionais;
VIII - compensações ambientais provenientes de atividades potencialmente causadoras de contaminação;
IX - 30% (trinta por cento) do montante arrecadado com as multas aplicadas pelos órgãos estaduais de controle da poluição ambiental por infrações às disposições desta lei;
X - recursos provenientes do ressarcimento de despesas efetuadas nos termos dos §§ 1º e 2º do artigo 32 desta lei.
Artigo 32 - Os recursos de que trata o artigo 31, serão aplicados em operações financeiras destinadas a apoiar e a incentivar a execução de ações relacionadas com a identificação e remediação de áreas contaminadas.
§ 1º - Os recursos do FEPRAC poderão ser aplicados a fundo perdido, quando o
tomador for o Estado e os recursos forem utilizados visando à intervenção em área contaminada, para remoção de perigo iminente à saúde pública.
§ 2º - O Estado deverá ser ressarcido, pelo responsável legal pela área contaminada das despesas decorrentes da identificação e remediação de áreas contaminadas de acordo com o estabelecido no § 1º deste artigo.
§ 3º - O Estado, uma vez ressarcido das despesas previstas nos §§ 1º e 2º deste artigo, destinará o montante recebido diretamente ao FEPRAC.
Artigo 33 - O FEPRAC terá Conselho de Orientação composto paritariamente por representantes do Estado, Municípios e Sociedade Civil, com 8 (oito) membros titulares e 8 (oito) membros suplentes de cada um dos segmentos.
§ 1º - As funções de Conselheiro não serão remuneradas, devendo ser consideradas de interesse público relevante.
§ 2º - O Conselho poderá solicitar a órgãos e entidades públicos e privados pareceres de mérito sobre a viabilidade técnica dos planos, programas e projetos apresentados.
Artigo 34 - Compete ao Conselho de Orientação do FEPRAC:
I - orientar e aprovar a captação e a aplicação dos recursos do Fundo;
II - aprovar normas, critérios, prioridades e programas para a aplicação dos recursos do Fundo, fixando seus respectivos limites;
III - aprovar os critérios para verificação da viabilidade técnica, econômica e financeira dos projetos;
IV - aprovar o orçamento de aplicação dos recursos do Fundo;
V - elaborar o seu regimento interno;
VI - exercer outras atribuições que lhe forem conferidas por regulamento;
VII - aprovar programas, ações e medidas preventivas à geração de áreas contaminadas, bem como de garantia à informação e à participação da população afetada nas decisões relacionadas com as áreas contaminadas.
Artigo 35 - A CETESB - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo exercerá as funções de agente técnico e de secretaria executiva do FEPRAC, disponibilizando todo o suporte técnico-administrativo necessário ao seu funcionamento, mediante solicitação do Conselho de Orientação, sem prejuízo do exercício das demais atribuições previstas em lei.
Artigo 36 - O Banco Nossa Caixa S.A. será o Agente Financeiro do FEPRAC e atuará como mandatário do Estado, em conformidade com o estabelecido nas normas legais e nas deliberações do Conselho de Orientação.
Artigo 37 - O FEPRAC reger-se-á pelas normas do Decreto-lei Complementar nº 18, de 17 de abril de 1970, e alterações posteriores.
Artigo 38 - O dirigente da Unidade de Despesa à qual se encontra vinculado o Fundo submeterá, anualmente, à apreciação do Secretário do Meio Ambiente e do CONSEMA, o relatório das atividades desenvolvidas.
Parágrafo único - O relatório das atividades de que trata este artigo deverá ser encaminhado às Comissões de Fiscalização e Controle e de Defesa do Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Estado.
Artigo 39 - Deverá ser publicado, trimestralmente, no Diário Oficial do Estado, o relatório financeiro do Fundo.
Artigo 40 - Para atender às despesas decorrentes da aplicação desta lei, fica o Poder Executivo autorizado a:
I - efetuar as transferências a que se refere o artigo 31, inciso II, desta lei;
II - abrir créditos adicionais especiais até o limite de R$ 100,00 (cem reais),
incluindo as classificações orçamentárias que se fizerem necessárias.
CAPÍTULO V
Das Infrações e Penalidades Artigo 41 - Toda ação ou omissão contrária às disposições desta lei e seu regulamento será considerada infração administrativa ambiental classificada em leve, grave ou gravíssima, levando-se em conta:
I - a intensidade do dano, efetivo ou potencial;
II - as circunstâncias atenuantes ou agravantes;
III - os antecedentes do infrator.
Artigo 42 - As infrações administrativas ambientais de que trata o artigo 41 serão punidas com as seguintes penalidades:
I - advertência;
II - multa;
III - embargo;
IV - demolição;
V - suspensão de financiamento e benefícios fiscais.
§ 1º - A penalidade de advertência será imposta quando se tratar de primeira infração pelo descumprimento das exigências técnicas formuladas pelo órgão ambiental competente, em qualquer fase do processo de remediação.
§ 2º - A penalidade de multa será imposta ao responsável pela área classificada como contaminada, conforme disposto no artigo 13 desta lei, observado o limite de 4 (quatro) a 4.000.000 (quatro milhões) vezes o valor da Unidade Fiscal do Estado de São Paulo - UFESP, desde que não ultrapasse o limite estabelecido no artigo 75 da Lei federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998.
§ 3º - A multa será recolhida com base no valor da UFESP do dia de seu efetivo
pagamento.
§ 4º - Ocorrendo a extinção da UFESP, adotar-se-á, para efeitos desta lei, o índice que a substituir.
§ 5º - Nos casos de reincidência, caracterizada pelo cometimento de nova infração da mesma natureza e gravidade, a multa corresponderá ao dobro da anteriormente imposta.
Artigo 43 - As infrações administrativas ambientais serão objeto de auto de infração a ser lavrado pela autoridade competente, e serão apuradas em processo administrativo próprio, assegurado o direito de ampla defesa e o contraditório, observadas as disposições desta lei e seu regulamento.
§ 1º - Responderá pela infração quem por qualquer modo a cometer, concorrer para sua prática ou dela se beneficiar.
§ 2º - Tratando-se de área contaminada que acarrete perigo iminente para a saúde e segurança da população, a atuação imediata do Poder Público independerá de garantia de defesa prévia e contraditório.
Artigo 44 - Da aplicação das penalidades administrativas previstas nesta lei caberá recurso à autoridade imediatamente superior, no prazo de 20 (vinte) dias contados da data do auto de infração, ouvida a autoridade recorrida, que poderá reconsiderar sua decisão, justificando-a.
CAPÍTULO VI
Das Disposições Finais
Artigo 45 - O órgão competente do SEAQUA poderá estabelecer procedimentos diferenciados para a identificação e remediação das áreas contaminadas, aglutinando etapas, em função das peculiaridades da atividade ou do empreendimento ou da extensão da contaminação, desde que garantidos os princípios e finalidades estabelecidos nesta lei. Artigo 46 - vetado.
Parágrafo único - vetado. Artigo 47 - O licenciamento de empreendimentos em áreas que anteriormente abrigaram atividades com potencial de contaminação, ou suspeitas de estarem contaminadas, deverá ser precedido de estudo de passivo ambiental, submetido previamente ao órgão ambiental competente. Artigo 48 - Os Planos Diretores Municipais e respectiva legislação de uso e ocupação do solo sempre deverão levar em conta as áreas com potencial ou suspeita de contaminação e as áreas contaminadas. Artigo 49 - A aprovação de projetos de parcelamento do solo e de edificação, pelo Poder Público, deverá garantir o uso seguro das áreas com potencial ou suspeita de contaminação e das áreas contaminadas. Artigo 50 - A Secretaria do Meio Ambiente e a Secretaria da Saúde deverão estabelecer procedimentos e rotinas comuns para ações conjuntas visando prevenir a formação de áreas contaminadas, bem como identificar e remediar as já existentes. Parágrafo único - Fica estabelecido como documento de referência para a definição de prioridades de ações integradas entre a Secretaria do Meio Ambiente e a Secretaria da Saúde o Cadastro de Áreas Contaminadas, previsto no artigo 4º, inciso I, desta lei. Artigo 51 - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Palácio dos Bandeirantes, 8 de julho de 2009 ALBERTO GOLDMAN Francisco Graziano Neto Secretário do Meio Ambiente Dilma Seli Pena Secretária de Saneamento e Energia Geraldo Alckmin Secretário de Desenvolvimento Mauro Ricardo Machado Costa Secretário da Fazenda
Francisco Vidal Luna Secretário de Economia e Planejamento Aloysio Nunes Ferreira Filho Secretário-Chefe da Casa Civil Publicada na Assessoria Técnico-Legislativa, aos 8 de julho de 2009.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE
RESOLUÇÃO 420, de 28 de dezembro de 2009
Dispõe sobre critérios e valores orientadores de qualidade do solo quanto à
presença de substâncias químicas e estabelece diretrizes para o gerenciamento
ambiental de áreas contaminadas por essas substâncias em decorrência de
atividades antrópicas.
O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE, no uso das atribuições e
competências que lhe são conferidas pelo art. 8o, inciso VII, da Lei 6.938, de 31
de agosto de 1981, tendo em vista o disposto em seu Regimento Interno, e
Considerando a necessidade de prevenção da contaminação do solo visando à
manutenção de sua funcionalidade e a proteção da qualidade das águas
superficiais e subterrâneas;
Considerando que a existência de áreas contaminadas pode configurar sério risco
à saúde pública e ao meio ambiente;
Considerando a necessidade de prevenir a contaminação do subsolo e das águas
subterrâneas que são bens públicos e reservas estratégicas para o abastecimento
público e o desenvolvimento ambientalmente sustentável;
Considerando a necessidade de estabelecer critérios para definição de valores
orientadores para a prevenção da contaminação dos solos e de definir diretrizes
para o gerenciamento de áreas contaminadas;
Considerando que a Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a
Política Nacional do Meio Ambiente, impõe ao poluidor e ao degradador a
obrigação de recuperar e/ou indenizar danos causados;
Considerando que a Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002, determina, em seu art.
1.228, § 1o, que o direito de propriedade deve ser exercido de modo que sejam
preservados a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o
patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas; e
Considerando a necessidade de estabelecimento de procedimentos e critérios
integrados entre os órgãos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios em conjunto com a sociedade civil organizada, para o uso sustentável
do solo, de maneira a prevenir alterações prejudiciais que possam resultar em
perda de sua funcionalidade, resolve:
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1º Esta resolução dispõe sobre critérios e valores orientadores de qualidade
do solo quanto à presença de substâncias químicas e estabelece diretrizes para o
gerenciamento ambiental de áreas contaminadas por essas substâncias em
decorrência de atividades antrópicas.
Parágrafo único. Na ocorrência comprovada de concentrações naturais de
substâncias químicas que possam causar risco à saúde humana, os órgãos
competentes deverão desenvolver ações específicas para a proteção da
população exposta.
Art. 2º Esta Resolução não se aplica em áreas e solos submersos no meio
aquático marinho e estuarino.
Art. 3º A proteção do solo deve ser realizada de maneira preventiva, a fim de
garantir a manutenção da sua funcionalidade ou, de maneira corretiva, visando
restaurar sua qualidade ou recuperá-la de forma compatível com os usos
previstos.
Parágrafo único. São funções principais do solo:
I - servir como meio básico para a sustentação da vida e de habitat para pessoas,
animais, plantas e outros organismos vivos;
II - manter o ciclo da água e dos nutrientes;
III - servir como meio para a produção de alimentos e outros bens primários de
consumo;
IV - agir como filtro natural, tampão e meio de adsorção, degradação e
transformação de substâncias químicas e organismos;
V - proteger as águas superficiais e subterrâneas;
VI - servir como fonte de informação quanto ao patrimônio natural, histórico e
cultural;
VII - constituir fonte de recursos minerais; e
VIII - servir como meio básico para a ocupação territorial, práticas recreacionais e
propiciar outros usos públicos e econômicos.
Art. 4º As diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas contaminadas
abrangem o solo e o subsolo, com todos seus componentes sólidos, líquidos e
gasosos.
Art. 5º Os critérios para prevenção, proteção e controle da qualidade das águas
subterrâneas observarão a legislação específica.
Art. 6º Para efeito desta Resolução são adotados os seguintes termos e
definições:
I - Avaliação de risco: processo pelo qual são identificados, avaliados e
quantificados os riscos à saúde humana ou a bem de relevante interesse
ambiental a ser protegido;
II - Avaliação preliminar: avaliação inicial, realizada com base nas informações
históricas disponíveis e inspeção do local, com o objetivo principal de encontrar
evidências, indícios ou fatos que permitam suspeitar da existência de
contaminação na área;
III - Bens a proteger: a saúde e o bem-estar da população; a fauna e a flora; a
qualidade do solo, das águas e do ar; os interesses de proteção à
natureza/paisagem; a infra-estrutura da ordenação territorial e planejamento
regional e urbano; a segurança e ordem pública;
IV - Cenário de exposição padronizado: padronização do conjunto de variáveis
relativas à liberação das substâncias químicas de interesse, a partir de uma fonte
primária ou secundária de contaminação; aos caminhos de exposição e às vias de
ingresso no receptor considerado, para derivar os valores de investigação, em
função dos diferentes usos do solo;
V - Contaminação: presença de substância(s) química(s) no ar, água ou solo,
decorrentes de atividades antrópicas, em concentrações tais que restrinjam a
utilização desse recurso ambiental para os usos atual ou pretendido, definidas
com base em avaliação de risco à saúde humana, assim como aos bens a
proteger, em cenário de exposição padronizado ou específico;
VI - Fase livre: ocorrência de substância ou produto imiscível, em fase separada
da água;
VII - Ingresso diário tolerável: é o aporte diário tolerável a seres humanos de uma
substância presente no ar, na água, no solo ou em alimentos ao longo da vida,
sem efeito deletério comprovado à saúde humana;
VIII - Investigação confirmatória: etapa do processo de identificação de áreas
contaminadas que tem como objetivo principal confirmar ou não a existência de
substâncias de origem antrópica nas áreas suspeitas, no solo ou nas águas
subterrâneas, em concentrações acima dos valores de investigação;
IX - Investigação detalhada: etapa do processo de gerenciamento de áreas
contaminadas, que consiste na aquisição e interpretação de dados em área
contaminada sob investigação, a fim de entender a dinâmica da contaminação nos
meios físicos afetados e a identificação dos cenários específicos de uso e
ocupação do solo, dos receptores de risco existentes, dos caminhos de exposição
e das vias
de ingresso;
X - Limite de Detecção do Método-LDM - menor concentração de uma substância
que pode ser detectada, mas não necessariamente quantificada, pelo método
utilizado;
XI - Limite de Quantificação Praticável-LQP - menor concentração de uma
substância que pode ser determinada quantitativamente, com precisão e exatidão,
pelo método utilizado;
XII - Limite de Quantificação da Amostra-LQA - LQP ajustado para as
características específicas da amostra analisada;
XIII - Monitoramento: medição ou verificação, que pode ser contínua ou periódica,
para acompanhamento da condição de qualidade de um meio ou das suas
características;
XIV - Nível Tolerável de Risco à Saúde Humana, para Substâncias
Carcinogênicas: probabilidade de ocorrência de um caso adicional de câncer em
uma população exposta de 100.000 indivíduos;
XV - Nível Tolerável de Risco à Saúde Humana, para Substâncias Não
Carcinogênicas: aquele associado ao ingresso diário de contaminantes que seja
igual ou inferior ao ingresso diário tolerável a que uma pessoa possa estar exposta
por toda a sua vida;
XVI - Perigo: Situação em que estejam ameaçadas a vida humana, o meio
ambiente ou o patrimônio público e privado, em razão da presença de agentes
tóxicos, patogênicos, reativos, corrosivos ou inflamáveis no solo ou em águas
subterrâneas ou em instalações, equipamentos e construções abandonadas, em
desuso ou não controladas;
XVII - Remediação: uma das ações de intervenção para reabilitação de área
contaminada, que consiste em aplicação de técnicas, visando a remoção,
contenção ou redução das concentrações de contaminantes;
XVIII - Reabilitação: ações de intervenção realizadas em uma área contaminada
visando atingir um risco tolerável, para o uso declarado ou futuro da área;
XIX - Regional: toda ocorrência que envolva dois ou mais estados;
XX - Risco: é a probabilidade de ocorrência de efeito(s) adverso(s) em receptores
expostos a contaminantes;
XXI - Valores Orientadores: são concentrações de substâncias químicas que
fornecem orientação sobre a qualidade e as alterações do solo e da água
subterrânea;
XXII - Valor de Referência de Qualidade-VRQ: é a concentração de determinada
substância que define a qualidade natural do solo, sendo determinado com base
em interpretação estatística de análises físico-químicas de amostras de diversos
tipos de solos;
XXIII - Valor de Prevenção-VP: é a concentração de valor limite de determinada
substância no solo, tal que ele seja capaz de sustentar as suas funções principais
de acordo com o art. 3º. .
XXIV - Valor de Investigação-VI: é a concentração de determinada substância no
solo ou na água subterrânea acima da qual existem riscos potenciais, diretos ou
indiretos, à saúde humana, considerando um cenário de exposição padronizado.
CAPÍTULO II
DOS CRITÉRIOS E VALORES ORIENTADORES DE QUALIDADE D O SOLO
Art. 7º A avaliação da qualidade de solo, quanto à presença de substâncias
químicas, deve ser efetuada com base em Valores Orientadores de Referência de
Qualidade, de Prevenção e de Investigação.
Art. 8º Os VRQs do solo para substâncias químicas naturalmente presentes
serão estabelecidos pelos órgãos ambientais competentes dos Estados e do
Distrito Federal, em até 04 anos após a publicação desta Resolução, de acordo
com o procedimento estabelecido no Anexo I.
§ 1º Nas regiões limítrofes entre unidades federativas, cujos solos tenham
características semelhantes, os respectivos órgãos ambientais deverão
estabelecer VRQs comuns.
§ 2º Os órgãos ambientais, a seu critério e quando tecnicamente justificado,
poderão estabelecer VRQs para substâncias orgânicas naturalmente presentes,
listadas ou não no Anexo II.
Art. 9º Serão adotados como VPs os valores apresentados no Anexo II, os quais
foram estabelecidos com base em ensaios de fitotoxicidade ou em avaliação de
risco ecológico.
Art. 10. Serão adotados como VIs, os valores apresentados no Anexo II, os quais
foram derivados com base em avaliação de risco à saúde humana, em função de
cenários de exposição padronizados para diferentes usos e ocupação do solo.
Art. 11. A requerimento dos órgãos ambientais competentes, quando
tecnicamente justificado e aprovado pelo CONAMA, poderão ser revistos os VPs e
VIs estabelecidos nesta Resolução, bem como serem estabelecidos VPs e VIs
estaduais ou regionais para substâncias químicas listadas ou não no Anexo II,
com base na mesma metodologia e garantindo o mesmo nível de risco.
Art. 12. As substâncias não listadas no Anexo II, quando necessária sua
investigação, terão seus valores orientadores definidos pelo órgão ambiental
competente.
Art. 13. Ficam estabelecidas as seguintes classes de qualidade dos solos,
segundo a concentração de substâncias químicas:
I - Classe 1 - Solos que apresentam concentrações de substâncias químicas
menores ou iguais ao VRQ;
II - Classe 2 - Solos que apresentam concentrações de pelo menos uma
substância química maior do que o VRQ e menor ou igual ao VP;
III - Classe 3 - Solos que apresentam concentrações de pelo menos uma
substância química maior que o VP e menor ou igual ao VI; e
IV - Classe 4 - Solos que apresentam concentrações de pelo menos uma
substância química maior que o VI.
CAPÍTULO III
DA PREVENÇÃO E CONTROLE DA QUALIDADE DO SOLO
Art. 14. Com vista à prevenção e controle da qualidade do solo, os
empreendimentos que desenvolvem atividades com potencial de contaminação
dos solos e águas subterrâneas deverão, a critério do órgão ambiental
competente:
I - implantar programa de monitoramento de qualidade do solo e das águas
subterrâneas na área do empreendimento e, quando necessário, na sua área de
influência direta e nas águas superficiais; e
II - apresentar relatório técnico conclusivo sobre a qualidade do solo e das águas
subterrâneas, a cada solicitação de renovação de licença e previamente ao
encerramento das atividades.
§ 1o Os órgãos ambientais competentes publicarão a relação das atividades com
potencial de contaminação dos solos e das águas subterrâneas, com fins de
orientação das ações de prevenção e controle da qualidade do solo, com base nas
atividades previstas na Lei 10.165, de 27 de dezembro de 2000.
§ 2o O programa de monitoramento para as águas subterrâneas, bem como o
relatório técnico, mencionados nos incisos I e II, deverão ser estabelecidos
observadas as ações implementadas no âmbito do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos- SINGREH.
Art. 15. As concentrações de substâncias químicas no solo resultantes da
aplicação ou disposição de resíduos e efluentes, observada a legislação em vigor,
não poderão ultrapassar os respectivos VPs.
Art. 16. São procedimentos para avaliação das concentrações de substâncias
químicas e controle da qualidade do solo, dentre outros:
I - realização de amostragens e ensaios de campo ou laboratoriais, de acordo com
os artigos 16, 17 e 18;
II - classificação da qualidade do solo conforme artigo 12; e
III - adoção das ações requeridas conforme estabelecido no artigo 19.
Art. 17. Para atendimento desta Resolução nas amostragens, análises e controle
de qualidade para caracterização e monitoramento do solo e das águas
subterrâneas deverão ser observadas, no mínimo, as seguintes diretrizes:
I - adotar procedimentos de coleta, manuseio, preservação, acondicionamento e
transporte de amostras de acordo com normas nacionais e internacionais,
respeitando-se os prazos de validade;
II - realizar as análises físicas, químicas, físico-químicas e biológicas, utilizando-se
metodologias que atendam às especificações descritas em normas reconhecidas
internacionalmente;
III - no caso do limite de quantificação da amostra - LQA ser maior do que o LQP,
o LQA será aceito para atendimento desta resolução, desde que tecnicamente
justificado;
IV - caso a substância seja identificada na amostra em concentração entre o limite
de detecção do método - LDM e o LQA, o fato deverá ser reportado no laudo
analítico com a nota de que a concentração não pode ser determinada com
confiabilidade;
V - no caso de áreas submetidas à aplicação de produtos agrotóxicos, o momento
da coleta deve ter correspondência com o período de carência dos mesmos; e
VI - no caso de aplicação de fertilizantes, o momento da coleta da amostra deverá
estar correlacionado à colheita do produto, quando houver.
Art. 18. Os resultados das análises devem ser reportados em laudos analíticos
contendo, no mínimo:
I - identificação do local da amostragem, data e horário de coleta e entrada da
amostra no laboratório, anexando a cadeia de custódia;
II - indicação do método de análise utilizado para cada parâmetro analisado;
III - os LQAs, para cada parâmetro analisado;
IV - os resultados dos brancos do método e rastreadores (”surrogates”);
V - as incertezas de medição para cada parâmetro; e
VI - ensaios de adição e recuperação dos analitos na matriz (”spike”).
Parágrafo único. Outros documentos, tais como cartas-controle, cromatogramas,
resultados obtidos em ensaios de proficiência e em amostras certificadas, podem
ser solicitados a qualquer tempo pelo órgão ambiental competente.
Art. 19. As análises para caracterização e monitoramento da qualidade do solo e
da água subterrânea deverão ser realizadas em laboratórios acreditados pelo
Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial-INMETRO
para os parâmetros de interesse.
Parágrafo único. Por um prazo de cinco anos serão admitidas análises realizadas
por instituição aceita pelos órgãos ambientais ou de recursos hídricos, para os
respectivos parâmetros de interesse.
Art. 20. Após a classificação do solo deverão ser observados os seguintes
procedimentos de prevenção e controle da qualidade do solo:
I - Classe 1: não requer ações;
II - Classe 2: poderá requerer uma avaliação do órgão ambiental, incluindo a
verificação da possibilidade de ocorrência natural da substância ou da existência
de fontes de poluição, com indicativos de ações preventivas de controle, quando
couber, não envolvendo necessariamente investigação;
III - Classe 3: requer identificação da fonte potencial de contaminação, avaliação
da ocorrência natural da substância, controle das fontes de contaminação e
monitoramento da qualidade do solo e da água subterrânea; e
IV - Classe 4: requer as ações estabelecidas no Capítulo IV.
CAPÍTULO IV
DAS DIRETRIZES PARA O GERENCIAMENTO DE ÁREAS CONTAM INADAS
Art. 21. São princípios básicos para o gerenciamento de áreas contaminadas:
I - a geração e a disponibilização de informações;
II - a articulação, a cooperação e integração interinstitucional entre os órgãos da
União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, os proprietários, os
usuários e demais beneficiados ou afetados;
III - a gradualidade na fixação de metas ambientais, como subsídio à definição de
ações a serem cumpridas;
IV - a racionalidade e otimização de ações e custos;
V - a responsabilização do causador pelo dano e suas conseqüências; e,
VI - a comunicação de risco.
Art. 22. O gerenciamento de áreas contaminadas deverá conter procedimentos e
ações voltadas ao atendimento dos seguintes objetivos:
I - eliminar o perigo ou reduzir o risco à saúde humana;
II - eliminar ou minimizar os riscos ao meio ambiente;
III - evitar danos aos demais bens a proteger;
IV - evitar danos ao bem estar público durante a execução de ações para
reabilitação; e
V - possibilitar o uso declarado ou futuro da área, observando o planejamento de
uso e ocupação do solo.
Art. 23. Para o gerenciamento de áreas contaminadas, o órgão ambiental
competente deverá instituir procedimentos e ações de investigação e de gestão,
que contemplem as seguintes etapas, conforme ilustrado no Anexo III:
I - Identificação: etapa em que serão identificadas áreas suspeitas de
contaminação com base em avaliação preliminar, e, para aquelas em que houver
indícios de contaminação, deve ser realizada uma investigação confirmatória, as
expensas do responsável, segundo as normas técnicas ou procedimentos
vigentes.
II - Diagnóstico: etapa que inclui a investigação detalhada e avaliação de risco, as
expensas do responsável, segundo as normas técnicas ou procedimentos
vigentes, com objetivo de subsidiar a etapa de intervenção, após a investigação
confirmatória que tenha identificado substâncias químicas em concentrações
acima do valor de
investigação.
III - Intervenção: etapa de execução de ações de controle para a eliminação do
perigo ou redução, a níveis toleráveis, dos riscos identificados na etapa de
diagnóstico, bem como o monitoramento da eficácia das ações executadas,
considerando o uso atual e futuro da área, segundo as normas técnicas ou
procedimentos vigentes.
Art. 24. Será considerada Área Suspeita de Contaminação - AS, pelo órgão
ambiental competente, aquela em que, após a realização de uma avaliação
preliminar, forem observados indícios da presença de contaminação ou
identificadas condições que possam representar perigo.
Art. 25. Será declarada Área Contaminada sob Investigação - AI, pelo órgão
ambiental competente, aquela em que comprovadamente for constatada,
mediante investigação confirmatória, a contaminação com concentrações de
substâncias no solo ou nas águas subterrâneas acima dos valores de
investigação.
Parágrafo único. Quando a concentração de uma substância for reconhecida pelo
órgão ambiental competente como de ocorrência natural, a área não será
considerada contaminada sob investigação, entretanto será necessária à
implementação de ações específicas de proteção à saúde humana pelo poder
público competente.
Art. 26. Será declarada Área Contaminada sob Intervenção-ACI, pelo órgão
ambiental competente, aquela em que for constatada a presença de substâncias
químicas em fase livre ou for comprovada, após investigação detalhada e
avaliação de risco, a existência de risco à saúde humana.
Art. 27. Será declarada Área em Processo de Monitoramento para Reabilitação-
AMR, pelo órgão ambiental competente, aquela em que o risco for considerado
tolerável, após a execução de avaliação de risco.
§ 1o Nas situações em que a existência de determinada AI ou ACI possa implicar
em impactos significativos aos recursos ambientais, o gerenciamento do risco
poderá se basear nos resultados de uma avaliação de risco ecológico, a critério do
órgão ambiental competente.
§ 2o Na impossibilidade de execução de uma avaliação de risco ecológico, em
uma determinada área, o órgão ambiental competente deverá estabelecer valores
específicos e metas para subsidiar a reabilitação da área utilizando-se de
metodologia tecnicamente justificada.
§ 3o Em caso de identificação de fase livre, a avaliação de risco deverá ser
efetuada após a sua eliminação ou redução a níveis mínimos estabelecidos a
critério do órgão ambiental competente, com base nos recursos tecnológicos
disponíveis, sem prejuízo à implementação das etapas de gerenciamento das
outras fontes de contaminação da área.
Art. 28. No caso da identificação de condição de perigo, em qualquer etapa do
gerenciamento, deverão ser tomadas ações emergenciais compatíveis para a
eliminação desta condição e a continuidade da investigação e do gerenciamento.
Art. 29. Após a declaração de AI ou ACI, o órgão ambiental competente, em
conjunto com os demais órgãos envolvidos, deverá adotar medidas cabíveis para
resguardar os receptores do risco já identificados nestas etapas.
Art. 30. Os órgãos ambientais competentes devem planejar suas ações,
observando, para a priorização, os seguintes aspectos:
I - população potencialmente exposta;
II - proteção dos recursos hídricos; e
III - presença de áreas de interesse ambiental.
Art. 31. Para o gerenciamento de áreas contaminadas, os Vis para água
subterrânea são os listados no Anexo II, definidos com base em risco à saúde
humana.
§ 1o Para substâncias não listadas e nas áreas onde as condições naturais
apresentem valores anômalos para as substâncias químicas, o órgão ambiental
competente, em conjunto com órgão gestor de recursos hídricos, deverá definir
ações específicas para cada caso.
§ 2o Na hipótese da revisão da legislação específica que define os padrões de
potabilidade para risco à saúde humana, os valores previstos no Anexo II ficam
automaticamente alterados.
Art. 32. Para o cumprimento dos procedimentos e ações no gerenciamento de
áreas contaminadas, o órgão ambiental competente deverá:
I - definir, em conjunto com outros órgãos, ações emergenciais em casos de
identificação de condições de perigo;
II - definir os procedimentos de identificação e diagnóstico;
III - avaliar o diagnóstico ambiental;
IV - promover a comunicação de risco após a declaração da área como
contaminada sob intervenção;
V - avaliar, em conjunto com outros órgãos, as propostas de intervenção da área;
VI - acompanhar, em conjunto com outros órgãos, as ações emergenciais, de
intervenção e de monitoramento;
VII - avaliar a eficácia das ações de intervenção; e
VIII - dar ampla publicidade e comunicar a situação da área ao proprietário, ao
possuidor, ao Cartório de Registro de Imóveis da Comarca onde se insere o
imóvel, bem como ao cadastro imobiliário das prefeituras e do Distrito Federal.
Parágrafo único. No desenvolvimento das ações deverão ser observados os usos
preponderantes, o enquadramento e os planos de recursos hídricos.
Art. 33. Para fins de reabilitação da área contaminada, o proprietário informará o
uso pretendido à autoridade competente que decidirá sobre sua viabilidade
ambiental, com fundamento na legislação vigente, no diagnóstico da área, na
avaliação de risco, nas ações de intervenção propostas e no zoneamento do uso
do solo.
Art. 34. Os responsáveis pela contaminação da área devem submeter ao órgão
ambiental competente proposta para a ação de intervenção a ser executada sob
sua responsabilidade, devendo a mesma, obrigatoriamente, considerar:
I - o controle ou eliminação das fontes de contaminação;
II - o uso atual e futuro do solo da área objeto e sua circunvizinhança;
III - a avaliação de risco à saúde humana;
IV - as alternativas de intervenção consideradas técnica e economicamente
viáveis e suas consequências;
V - o programa de monitoramento da eficácia das ações executadas; e
VI - os custos e os prazos envolvidos na implementação das alternativas de
intervenção propostas para atingir as metas estabelecidas.
Parágrafo único. As alternativas de intervenção para reabilitação de áreas
contaminadas poderão contemplar, de forma não excludente, as seguintes ações:
I - eliminação de perigo ou redução a níveis toleráveis dos riscos à segurança
pública, à saúde humana e ao meio ambiente;
II - zoneamento e restrição dos usos e ocupação do solo e das águas superficiais
e subterrâneas;
III - aplicação de técnicas de remediação; e
IV - monitoramento.
Art. 35. Após a eliminação dos riscos ou a sua redução a níveis toleráveis, a área
será declarada, pelo órgão ambiental competente, como área em processo de
monitoramento para reabilitação - AMR.
Art. 36. Após período de monitoramento, definido pelo órgão ambiental
competente, que confirme a eliminação do perigo ou a redução dos riscos a níveis
toleráveis, a área será declarada pelo órgão ambiental competente como
reabilitada para o uso declarado - AR.
Art. 37. Os órgãos ambientais competentes, quando da constatação da existência
de uma área contaminada ou reabilitada para o uso declarado, comunicarão
formalmente:
I - ao responsável pela contaminação;
II - ao proprietário ou ao possuidor da área contaminada ou reabilitada;
III - aos órgãos federais, estaduais, distrital e municipais de saúde, meio ambiente
e de recursos hídricos;
IV- ao poder público municipal;
V - à concessionária local de abastecimento público de água;
e
VI - ao Cartório de Registro de Imóveis da Comarca onde se insere determinada
área, bem como ao cadastro imobiliário das prefeituras e do Distrito Federal.
Parágrafo único. Deverão ser criados pelo Poder Público mecanismos para
comunicação de riscos à população adequados aos diferentes públicos
envolvidos, propiciando a fácil compreensão e o acesso à informação aos grupos
social e ambientalmente vulneráveis.
Art. 38. Os órgãos ambientais competentes, observando o sigilo necessário,
previsto em lei, deverão dar publicidade principalmente em seus portais
institucionais na rede mundial de computadores, às informações sobre áreas
contaminadas identificadas e suas principais características, na forma de um
relatório que deverá conter no mínimo:
I - a identificação da área com dados relativos à toponímia e georreferenciamento,
características hidrogeológicas, hidrológicas e fisiografia;
II - a(s) atividade(s) poluidora(s) ativa(s) e inativa(s), fonte poluidora primária e
secundária ou potencial, extensão da área afe tada, causa da contaminação
(acidentes, vazamentos, disposição inapropriada do produto químico ou perigoso,
dentre outros);
III - as características das fontes poluidoras no que se refere à disposição de
resíduos, armazenamento de produtos químicos e perigosos, produção industrial,
vias de contaminação e impermeabilização da área;
IV - a classificação da área em AI, ACI, AMR e AR;
V - o uso atual do solo da área e seu entorno, ação em curso e pretérita;
VI - os meios afetados e concentrações de contaminantes;
VII - a descrição dos bens a proteger e distância da fonte poluidora;
VIII - os cenários de risco e rotas de exposição;
IX - as formas de intervenção; e
X - as áreas contaminadas críticas
§ 1o As informações previstas no caput deverão ser tornadas disponíveis pelos
órgãos estaduais de meio ambiente ao IBAMA, o qual definirá e divulgará, em seu
portal institucional, forma de apresentação e organização sistematizada das
informações.
§ 2o O IBAMA implementará módulo no sistema de informação institucional, que
tornará públicas as informações enviadas pelos órgãos estaduais de meio
ambiente, na forma organizada e sistematizada necessária.
§ 3o As informações constantes do relatório mencionado no caput constituirão o
Banco de Dados Nacional sobre Áreas Contaminadas.
CAPÍTULO V
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 39. Os critérios e procedimentos estabelecidos nesta Resolução não se
aplicam a substâncias radioativas.
Parágrafo único. No caso de suspeitas ou evidências de contaminação por
substâncias radioativas o órgão ambiental notificará a Comissão Nacional de
Energia Nuclear-CNEN.
Art. 40. Esta Resolução deverá ser revista após 5 (cinco) anos contados a partir
da sua publicação.
Art. 41. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
CARLOS MINC
Presidente do Conselho