103
Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia Inmetro Natália Cristina da Costa Andrade ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE HEMODIÁLISE ATRAVÉS DE MÉTODOS DEPENDENTES E INDEPENDENTES DE CULTIVO Duque de Caxias - RJ 2016

ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – Inmetro

Natália Cristina da Costa Andrade

ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS

DE ÁGUA DE HEMODIÁLISE ATRAVÉS DE MÉTODOS

DEPENDENTES E INDEPENDENTES DE CULTIVO

Duque de Caxias - RJ

2016

Page 2: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

Natália Cristina da Costa Andrade

ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS

DE ÁGUA DE HEMODIÁLISE ATRAVÉS DE MÉTODOS

DEPENDENTES E INDEPENDENTES DE CULTIVO

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em

Biotecnologia do Instituto Nacional de

Metrologia, Qualidade e Tecnologia,

como parte dos requisitos para obtenção

do título de Mestre em Ciências.

Juliana Lopes Martins

Orientadora

Janaina Japiassu de Vasconcelos Cavalcante

Coorientadora

Duque de Caxias - RJ

2016

Page 3: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

Catalogação na fonte elaborada pelo serviço de documentação e informação do Inmetro

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ANDRADE, Natália Cristina da Costa. Análise da comunidade bacteriana em sistemas de

água de hemodiálise através de métodos dependentes e independentes de cultivo. 2016.

103f. Trabalho de Conclusão do Curso do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia –

Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia, Duque de Caxias, 2016.

CESSÃO DE DIREITOS

NOME DO AUTOR: Natália Cristina da Costa Andrade

TÍTULO DO TRABALHO: Análise da comunidade bacteriana em sistemas de água de

hemodiálise através de métodos dependentes e independentes de cultivo.

TIPO DO TRABALHO: Trabalho de conclusão do Curso do Programa de Pós-Graduação em

Biotecnologia / 2016

É concedida ao Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia a permissão para

reproduzir e emprestar cópias desta dissertação ou tese somente para propósitos acadêmicos e

científicos. O autor reserva outros direitos de publicação.

_____________________________________________

Natália Cristina da Costa Andrade

Av. Nossa Senhora das Graças, 50 – Xerém – Duque de Caxias – RJ

Laboratório de Microbiologia – Prédio 27

A553a Andrade, Natália Cristina da Costa

Análise da comunidade bacteriana em sistemas de água de

hemodiálise através de métodos dependentes e independentes de

cultivo / Natália Cristina da Costa Andrade. Duque de Caxias:

Inmetro,2016.

103f.

Orientadoras: Juliana Lopes Martins e Janaína Japiassu de

Vasconcelos Cavalcante.

Dissertação (Mestrado em Ciências) – Instituto Nacional de

Metrologia, Qualidade e Tecnologia, 2016.

1.Hemodiálise. 2. Bactéria. 3. Metodologia de cultivo.I. Martins,

Juliana Lopes.II. Cavalcante, JanaínaJapiassu de Vasconcelos.

III. Instituto Nacional de Metrologia, Qualidadee Tecnologia.

IV. Título.

CDD: 617.461059

Page 4: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

Natália Cristina da Costa Andrade

ANALYSIS OF THE BACTERIAL COMMUNITY IN

HEMODIALYSIS SYSTEMS THROUGH CULTURE –

DEPENDENT AND -INDEPENDENT METHODS

Master dissertation submitted in partial

fulfillment of the requirements for the

Degree of Master of Science in the

Graduate Program in Biotechnology of the

National Institute of Metrology, Quality

and Technology.

Juliana Lopes Martins

Advisor

Janaína Japiassu de Vasconcelos Cavalcante

Co-advisor

Duque de Caxias

2016

Page 5: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

Natália Cristina da Costa Andrade

ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE

ÁGUA DE HEMODIÁLISE ATRAVÉS DE MÉTODOS DEPENDENTES

E INDEPENDENTES DE CULTIVO

A presente Dissertação, apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Biotecnologia do Instituto Nacional

de Metrologia, Qualidade e Tecnologia, como parte dos

requisitos para obtenção do título de Mestre em

Ciências, foi aprovada pela seguinte Banca

Examinadora:

Page 6: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Cristina e Carlos, pelo amor, carinho, educação, paciência e todo o suporte

que recebi durante a minha vida.

Ao meu noivo Felipe, pelo carinho, compreensão, ajuda, força e motivação nos momentos

mais difíceis.

Ao meu irmão Lipe, pelos conselhos, conversas e momentos de descontração.

À minha orientadora Juliana, pela amizade, oportunidade de aprendizado, pelos ensinamentos,

compreensão, paciência (muita!) e confiança.

À minha co-orientadora Janaina, pelo apoio, orientação e “caronas para a UERJ” sempre que

precisei.

Aos meus amigos da equipe da Micro: Vanessa, Raquel Soares, Renato (sim, você é da

Micro), Raquel Correia, pelos nossos almoços super felizes, pela ajuda em diversos

momentos e pela compreensão; Danic, pela amizade, apoio e também pela compreensão;

Mari, pela amizade e ajuda em vários momentos.

A todos os meus amigos do Labio, em especial: Júlio, pela amizade, ensinamentos e ajuda

sempre; Rafa, pelo apoio e momentos de descontração; Celso, pelos conselhos e apoio sempre

que precisei; Davi, pela ajuda em vários momentos e motivação; Luanda, pela amizade,

compreensão e apoio. Aos demais colegas do Labio, que de alguma forma também

contribuíram para que eu conseguisse terminar o trabalho.

Ao professor Rodolpho Albano da Uerj, pelos ensinamentos e enorme ajuda na parte

metagenômica do projeto.

Ao Fábio, da Vigilância Sanitária do Município do Rio de Janeiro, pelo suporte nas coletas de

amostras nas clínicas de hemodiálise.

Ao Ministério da Saúde pelo apoio financeiro.

Page 7: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

RESUMO

No Brasil, mais de cem mil pessoas apresentam insuficiência renal crônica e são submetidas a

sessões de hemodiálise. Esse processo consiste na filtração do sangue para remoção de

substâncias tóxicas, água e sais minerais do organismo e ocorre através de uma membrana

semi-permeável, que constitui a única barreira entre o sangue do paciente e o grande volume

de líquido ao qual o paciente é exposto. A água utilizada no preparo do dialisato passa por

diferentes processos de filtração e desmineralização, mas continua susceptível à contaminação

por micro-organismos, o que constitui um grave problema para a terapia por hemodiálise.

Nesse estudo, foram avaliados parâmetros microbiológicos preconizados pela RDC ANVISA

Nº11/2014 em amostras de água potável, água tratada para hemodiálise e dialisato e as

comunidades bacterianas presentes nesses pontos foram analisadas através de uma abordagem

dependente e outra independente de cultivo, esta última baseada na análise metagenômica da

região V4 do rDNA 16S através da plataforma Miseq-Illumina. As coletas foram realizadas

em quatro unidades de diálise em parceria com a Vigilância Sanitária do Município do Rio de

Janeiro. As amostras de água foram analisadas quanto à presença de coliformes totais e

Escherichia coli através do método do substrato definido (Colilert®) e não foi detectado

nenhum desses bioindicadores nas amostras. As amostras foram submetidas à contagem de

bactérias heterotróficas e 91,7% mostraram resultados inferiores aos limites preconizados pela

legislação vigente. A maioria das bactérias encontradas pelas duas abordagens pertencia ao

filo Proteobacteria e Firmicutes. Foi observada uma diferença considerável entre as

comunidades bacterianas encontradas pelas metodologias dependente e independente de

cultivo, coincidindo apenas os gêneros Halomonas, Pseudomonas, Burkholderia e

Staphylococcus, que foram encontrados por ambas as metodologias nas mesmas amostras.

Alguns gêneros somente foram detectados em determinadas amostras através do cultivo,

como Micrococcus, Cupriavidus, Ralstonia, dentre outros. Entretanto, um número bastante

superior de bactérias foi identificado somente pelo método independente de cultivo, como

Sphingomonas, Paracoccus, Methylobacterium etc. Grande parte dos gêneros encontrados já

foram descritos como causadores de infecções em pacientes imunocomprometidos, como

Pseudomonas, Burkholderia e Ralstonia, servindo como alerta sobre a presença de micro-

organismos potencialmente patogênicos em amostras que apresentam conformidade com a

legislação brasileira.

Palavras-chave: hemodiálise; água; cultivo; metagenômica; bactérias.

Page 8: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

ABSTRACT

In Brazil, more than a hundred thousand people have chronic kidney disease and are

submitted to dialysis sessions. This process involves blood filtration to remove toxic

substances, water and minerals from the body and occurs through a semi-permeable

membrane, which is the only barrier between the patient's blood and the large volume of

liquid to which the patient is exposed. The water used to prepare dialysate goes through

different filtration and demineralization processes, but remains susceptible to contamination

by microorganisms, which constitutes a serious problem for hemodialysis therapy. In this

study, the microbiological parameters established by RDC ANVISA 11/2014 were evaluated

in samples of potable water, treated water for hemodialysis and dialysate and the bacterial

communities present in those points were analyzed using a cultivation-dependent and a

cultivation-independent method, which were based on metagenomic analysis of the V4 region

of the 16S rRNA gene by Miseq-Illumina platform. Samples were collected in four dialysis

units in partnership with the Health Surveillance of the Municipality of Rio de Janeiro. Water

samples were analyzed for the presence of total coliforms and Escherichia coli by the

substrate-defined method (Colilert®) and none of these bioindicators were detected in the

samples. The samples were submitted to heterotrophic plate count and 91.7% showed results

below the limits prescribed by the current resolution. Most bacteria found by the two

approaches belonged to the phylum Proteobacteria and Firmicutes. There was a great

difference between the bacterial communities found by the cultivation-dependent and

cultivation-independent methodologies. Only the genera Halomonas, Pseudomonas,

Burkholderia and Staphylococcuswere found by both methods in the same samples. Some

genera were only detected in certain samples through cultivation, such as Micrococcus,

Cupriavidus andRalstonia. However, a much higher number of bacteria were identified only

by the cultivation-independent method, as Sphingomonas, Paracoccus, Methylobacterium etc.

Many genera found have been reported to cause infections in immunocompromised patients,

such as Pseudomonas, Burkholderia and Ralstonia, serving as a warning about the presence

of potentially pathogenic microorganisms in samples showing conformity with Brazilian law.

Keywords: hemodialysis; water; cultivation; metagenomics; bacteria.

Page 9: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AAMI Association for the Advancement of Medical Instrumentation

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

BLAST Basic Local Alignment Search Tool

BLASTn Nucleotide Basic Local Alignment Search Tool

[CG] Oligonucleotídeos não metilados citosina-guanina

CPHD Concentrado polieletrolítico para hemodiálise

DNA Ácido desoxirribonucléico

DP Diálise peritoneal

DRC Doença renal crônica

EDTA Ácido etilenodiamino tetra-acético

EU Unidade de endotoxina

FFR Falência funcional renal

FG Filtração glomerular

HD Hemodiálise

IL Interleucina

Inmetro Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia

Min Minuto

MS Ministério da Saúde

MUG Metilumbeliferil- -D-glicuronídeo

NCBI National Center for Biotechnology Information

nM Nanomolar

ONPG o-nitrofenil- -D-galactopiranosídeo

OTU Unidade Taxonômica Operacional

pb Pares de bases

PCR Reação em cadeia da polimerase

pH Potencial Hidrogeniônico

PVDF Fluoreto de polivinidileno

PTFE Politetrafluoroetileno

R2A Reasoner´s 2 Agar

RDC Resolução da Diretoria Colegiada

rDNA 16S Gene codificador do RNA ribossomal 16S

RDP Ribossomal Database Project

rRNA Ácido ribonucléico ribossomal

rRNA 16S RNA ribossomal 16S

Page 10: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

rpm Rotações por minuto

SBN Sociedade Brasileira de Nefrologia

SDS Dodecil sulfato de sódio

TAE Tampão tris/borato/EDTA

TLR Receptor Toll like

TNF- Fator de Necrose Tumoral– alfa

TSA Tryptic soy agar

TSB Tryptic soy broth

UE Unidades de endotoxina

UFC

Unidade formadora de colônia

Page 11: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 13

1.1 A DOENÇA RENAL CRÔNICA (DRC) .................................................................. 13

1.2 O TRATAMENTO DA DRC .................................................................................... 15

1.3 UM BREVE HISTÓRICO DA HEMODIÁLISE ..................................................... 18

1.4 A IMPORTÂNCIA DO TRATAMENTO DA ÁGUA PARA HEMODIÁLISE ..... 20

1.5 SISTEMAS DE TRATAMENTO DA ÁGUA PARA HEMODIÁLISE .................. 23

1.6 PADRÕES DE QUALIDADE DA ÁGUA PARA HEMODIÁLISE ....................... 24

1.7 IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA PARA

HEMODIÁLISE ................................................................................................................... 27

1.8 METODOLOGIAS PARA DETECÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DE BACTÉRIAS . 29

2. JUSTIFICATIVA ........................................................................................................... 36

3. OBJETIVOS ................................................................................................................... 38

3.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................................. 38

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................... 38

4. MATERIAIS E MÉTODOS .......................................................................................... 39

4.1 COLETA DAS AMOSTRAS .................................................................................... 39

4.2 AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS MICROBIOLÓGICOS PRECONIZADOS

PELA RDC ANVISA Nº 11/2014 ........................................................................................ 41

4.2.1 Verificação da presença/ausência de coliformes totais e Escherichia coli ........ 41

4.2.2 Contagem de bactérias heterotróficas ................................................................. 41

4.3 ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO BACTERIANA POR METODOLOGIA

DEPENDENTE DE CULTIVO ........................................................................................... 42

4.3.1 Filtração e concentração das amostras................................................................ 42

4.3.2 Plaqueamento e isolamento ................................................................................ 42

4.3.3 Extração de DNA................................................................................................ 43

4.3.4 Amplificação parcial do gene rRNA 16S ........................................................... 43

Page 12: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

4.4 ANÁLISE METAGENÔMICA UTILIZANDO O GENE rDNA 16S ..................... 44

4.4.1 Filtração das amostras ........................................................................................ 44

4.4.2 Extração de DNA dos filtros .............................................................................. 45

4.4.3 Amplificação da região V4 do gene rDNA 16S ................................................. 45

4.4.4 Sequenciamento utilizando a plataforma MiSeq- Illumina ................................ 48

4.4.5 Análise das sequências geradas utilizando ferramentas de bioinformática ........ 48

4.4.6 Controle de qualidade das análises realizadas .................................................... 49

5. RESULTADOS ............................................................................................................... 51

5.1 AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS MICROBIOLÓGICOS PRECONIZADOS

PELA RDC ANVISA Nº 11/2014 ........................................................................................ 51

5.1.1 Verificação da presença/ausência de coliformes totais e E. coli ........................ 51

5.1.2 Contagem de bactérias heterotróficas ................................................................. 52

5.2 ANÁLISE DAS COMUNIDADES BACTERIANAS ATRAVÉS DE

METODOLOGIA DEPENDENTE DE CULTIVO ............................................................. 53

5.2.1 Identificação das bactérias isoladas das amostras de água e dialisato dos

sistemas de hemodiálise ................................................................................................... 53

5.3 ANÁLISE DAS COMUNIDADES BACTERIANAS ATRAVÉS DE

METODOLOGIA INDEPENDENTE DE CULTIVO......................................................... 57

5.3.1 Extração de DNA................................................................................................ 57

5.3.2 Amplificação da região V4 do gene rDNA 16S ................................................. 57

5.3.3 Análises de diversidade, riqueza e rarefação baseadas em OTUs ...................... 59

5.3.4 Estrutura e composição taxonômica das comunidades bacterianas encontradas

nas amostras analisadas .................................................................................................... 63

5.3.5 Comparação entre as comunidades bacterianas encontradas pela metodologia

dependente de cultivo e independente de cultivo ............................................................. 69

6. DISCUSSÃO ................................................................................................................... 73

7. CONCLUSÃO ................................................................................................................. 88

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 89

Page 13: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

13

1. INTRODUÇÃO

1.1 A DOENÇA RENAL CRÔNICA (DRC)

A DRC é a perda progressiva e irreversível da função renal (TRETINI, 2004) e

constitui, atualmente, um importante problema médico e de saúde pública (JUNIOR, 2004).

No Brasil, de acordo com o Censo Brasileiro de Diálise 2013, estima-se que mais de 100.000

pacientes com insuficiência renal crônica realizem tratamento dialítico. Conforme pode ser

visto na figura 1, esse número vem crescendo a cada ano (SOCIEDADE BRASILEIRA DE

NEFROLOGIA, 2013).No mundo, o número de pacientes com insuficiência renal crônica

terminal tratados com terapias renais substitutivas cresce a uma taxa aproximada de 7% ao

ano, a qual excede a taxa de crescimento da população (SZUSTER et al., 2012). Além disso, o

envelhecimento populacional e o aumento da prevalência de doenças que contribuem para a

incidência de DRC, como hipertensão e diabetes, sugerem que a DRC é um problema de

saúde pública que tende a crescer ainda mais no futuro (NATIONAL KIDNEY

FOUNDATION, 2002).

Figura 1. Total estimado de pacientes em tratamento dialítico por ano no Brasil (SOCIEDADE BRASILEIRA

DE NEFROLOGIA, 2013).

Os rins são os órgãos responsáveis pela manutenção do volume e da composição do

fluido extracelular do indivíduo dentro dos limites fisiológicos compatíveis com a vida. Cada

rim possui um córtex externo, uma medula interna e uma pelve renal, que desemboca no

ureter, conforme mostra a figura 2. A unidade funcional do rim é o néfron, do qual há

Page 14: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

14

aproximadamente 1,4 x 106 em cada rim, variando consideravelmente entre indivíduos e com

um declínio relacionado à idade (RANG & DALE, 2007).

Figura 2. Anatomia renal (Modificado de A.D.A.M. consumer Health).

Na ausência de patologia, cada um dos quase 2 milhões de néfrons presentes nos rins

atuam na filtração, reabsorção e excreção de diversos solutos e água. O rim é o principal

regulador de sódio e água assim como da homeostase ácido-base do organismo. Além disso, é

responsável pela produção de hormônios que estimulam a síntese de hemácias e a homeostase

do cálcio. A falha na função renal é usualmente chamada de insuficiência renal, a qual é

dividida em duas categorias: aguda – perda temporária da função, podendo durar dias ou até

semanas; e crônica – definida como uma perda de função progressiva que ocorre ao longo de

meses ou anos e é caracterizada pela substituição gradual da arquitetura renal normal por

tecido fibroso(JOY et al., 2008).

A doença do parênquima renal é o resultado de diversas complicações agudas e

crônicas que podem levar à perda de néfrons e, em consequência disso, pode ocorrer uma

hiperfiltração adaptativa pelos néfrons remanescentes. Essa hiperfiltração pode gerar danos

glomerulares a longo prazo, o que leva à proteinúria e à perda progressiva da função renal.

Contudo, a diminuição inicial da função renal é assintomática, de forma que só ocorrem

manifestações clínicas tardiamente (HIMMELFARB & SAYEGH, 2010).

As complicações desencadeadas pela DRC podem ser consequências diretas da perda

da função renal, como: sobrecarga de volume, hipercalemia (níveis de potássio acima do

normal), hiperfosfatemia (níveis de fosfato acima do normal), acidose metabólica,

hiperparatireoidismo secundário, anemia e hipertensão. Outras complicações podem também

Page 15: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

15

se dar como resultado do tratamento da causa da DRC, como é o caso da quimioterapia para

tratar a glomerulonefrite (HIMMELFARB & SAYEGH, 2010).A detecção precoce da DRC e

as condutas terapêuticas apropriadas para retardar a sua progressão são importantes para

reduzir o sofrimento dos pacientes e os custos associados à DRC (JUNIOR, 2004).

1.2 O TRATAMENTO DA DRC

Para o tratamento da doença renal crônica, existem três alternativas: o transplante

renal, a hemodiálise (HD) e a diálise peritoneal (DP).Esses tratamentos substituem

parcialmente a função renal, aliviam os sintomas da doença e preservam a vida do paciente

(THOMÉ et al., 1999).

Estudos mostram que o transplante renal apresenta vantagens em relação à

sobrevivência quando comparado com a diálise e preferencialmente deve ser feito

preventivamente, ou seja, antes que a diálise seja necessária (SAKHUJAet al., 2014).

Contudo, devido ao crescente aumento no tempo de espera para órgãos provenientes

de cadáveres e às baixas taxas de transplante para a população idosa com insuficiência renal

crônica, a diálise continua sendo o principal tratamento para doença renal terminal (THAMER

et al., 2000).

De acordo com o inquérito da Sociedade Brasileira de Nefrologia realizado em 2013,

no Brasil, 90,8% dos pacientes dialíticos utilizam o método da hemodiálise, enquanto 9,2%, o

método da diálise peritoneal (SESSO et al., 2014).

As duas modalidades de diálise diferem bastante no que se refere à autonomia e

independência do paciente, grau de interação com o sistema de saúde e estilo de vida

(THAMER et al., 2000). Dessa forma, vários fatores devem ser levados em consideração na

escolha da modalidade da diálise, como as características individuais e clínicas do paciente,

suas preferências assim como a dos médicos, a localização geográfica e fatores econômicos

(SZUSTER et al., 2012).

Existem diversos trabalhos que realizaram a comparação da taxa de mortalidade de

pacientes submetidos à hemodiálise versus à diálise peritoneal. Contudo, não existe um

consenso sobre os resultados encontrados (FOOTE & MANLEY, 2008). Alguns trabalhos

mostram que não há diferença na mortalidade nos primeiros anos de tratamento, mas que após

certo período, a taxa de mortalidade nos pacientes tratados por diálise peritoneal é maior que

nos tratados por hemodiálise (TERMORSHUIZEN et al., 2003; JAAR et al., 2005). O

principal problema dos estudos sobre mortalidade e morbidade destes pacientes é que eles não

Page 16: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

16

são prospectivos e randomizados, o que faz com que os resultados possam se dar devido a

outros fatores, como por exemplo o estado de saúde dos pacientes antes de iniciar o

tratamento (FOOTE & MANLEY, 2008).

Na diálise peritoneal, realiza-se a infusão de um líquido contendo glicose e sais na

cavidade abdominal. Em seguida, o líquido é retirado dessa cavidade e descartado. Esta

modalidade de diálise pode ser realizada na própria residência ou local de trabalho do

paciente(figura 3) (FOOTE & MANLEY, 2008).

Figura 3. Cateter de diálise peritoneal.Colocaçãode um cateter de diálise peritoneal através da parede abdominal

dentro da cavidade peritoneal (Modificado de FOOTE & MANLEY, 2008).

A DP costuma ser indicada com maior frequência para pacientes que optam pela

independência do autocuidado, com bons hábitos de higiene, com acesso vascular complicado

ou pobremente tolerantes à hemodiálise (USRDS, 1991).

A hemodiálise é o tratamento mais comum para pacientes com insuficiência renal

crônica. Nesse processo, a depuração das substâncias tóxicas e a remoção de líquido são

realizadas por dois processos físicos: a difusão e a ultrafiltração. No transporte por difusão, é

estabelecido um gradiente de concentração de um soluto através de uma membrana

semipermeável; assim, o soluto se difunde pela membrana do lado mais concentrado para o

lado menos concentrado. Esse é o mecanismo primário para remoção de toxinas pela

hemodiálise. Na ultrafiltração, a remoção de fluidos é feita por meio da aplicação de um

gradiente de pressão hidrostática ou osmótica através da membrana; dessa forma, o fluido

atravessa a membrana do local de maior pressão para o de menor (SOARES, OCHIRO&

SANNOMYTA, 2001).

Cateter Músculo

abdominal Cuffs

Gordura

subcutânea Epiderme

Peritôneo parietal

Alças intestinais Omento

Page 17: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

17

Conforme mostra a figura 4, durante uma sessão de hemodiálise, o sangue é bombeado

para fora do corpo do paciente, a uma taxa de 300 a 600mL/min, por um circuito vascular

externo através de uma bomba mecânica até o dialisador, que consiste em uma membrana

semipermeável em cujo lado oposto circula uma solução contendo água purificada e

eletrólitos, chamada de dialisato. Essa solução é preparada através da diluição de um

concentrado polieletrolítico para uso em hemodiálise (CPHD) em água. O dialisato é

bombeado através do dialisador em contracorrente com o fluxo de sangue no outro lado da

membrana semi-permeável. Após passagem pelo dialisador, o sangue retorna ao paciente.

Dessa forma, ocorre a passagem de diversas substâncias como água, uréia, creatinina, toxinas

urêmicas e fármacos do sangue para o dialisato. Na maioria das vezes, a hemodiálise é

prescrita três vezes por semana, em sessões que duram de 3 a 5 horas (FOOTE& MANLEY,

2008).

Figura 4. Representação esquemática do processo de hemodiálise(Modificado de FOOTE & MANLEY, 2008).

O início da diálise deve ocorrer com base em uma decisão conjunta do médico com o

paciente e deve levar em conta a indicação clínica. Além disso, existem recomendações que

se baseiam na taxa de filtração glomerular (FG) para início da diálise; as diretrizes publicadas

pela Kidney Disease Outcome Quality(KDOQI) em conjunto com a National Kidney

Foundation apontam que o início da diálise deve-se dar quando a taxa de FG se aproxima de

15mL/min/1,73m2 (NATIONAL KIDNEY FOUNDATION, 2002). Isso se baseia no

pressuposto de que a taxa de FG reflete adequadamente a função renal global e que os

Detector

de ar

Monitor de

pressão venosa

Dialisador

Ultrafiltrado e

dialisato

Bomba do

dialisato

Anticoagulante

Monitor de

pressão arterial Bomba de

sangue

Sangue

saindo do

paciente

Acesso vascular

Sangue retornando

do paciente

Page 18: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

18

sintomas urêmicos geralmente se manifestam em uma taxa de FG menor que

15mL/min/1,73m2. Alguns especialistas afirmam que o início da diálise quando a taxa de FG

ainda é alta pode não ser benéfico aos pacientes, podendo estar associado a uma maior

morbidade e mortalidade devido ao processo de diálise (HIMMELFARB & SAYEGH, 2010).

1.3 UM BREVE HISTÓRICO DA HEMODIÁLISE

O termo “diálise” foi utilizado pela primeira vez pelo químico escocês Thomas

Graham (1805-1869) para descrever o fenômeno de separação de substâncias coloidais e

cristaloides através de uma membrana semipermeável constituída de material vegetal

(RIELLA, 2010).

O primeiro relato de hemodiálise encontrado na literatura é o de ABELet al.(1913),

que realizou o procedimento em animais. Nessa ocasião, foram utilizados tubos cilíndricos de

colódio como membrana e hirudina como anticoagulante.

Em humanos, a primeira hemodiálise foi realizada por George Haas, em 1924, que

também utilizou, inicialmente, tubos de colódio e hirudina. Em 1927, Haas substituiu a

hirudina pela heparina, a fim de evitar reações alérgicas à primeira (WIZEMANN et al., 1998;

EKNOYAN, 2009).

Somente 20 anos depois, em 1943, o holandês Willem Kolff, considerado por alguns o

“pai da hemodiálise”, desenvolveu um “rim artificial” e utilizou tubos de celofane como

membrana de diálise e heparina como anticoagulante e mostrou ser possível o tratamento de

pacientes com insuficiência renal aguda. O rim de Kolff removia eficazmente as toxinas do

sangue, mas como trabalhava com baixa pressão, não removia o líquido em excesso do

sangue do paciente(BLAGG et al., 2004).

Em 1960, SCRIBNERet al. começaram experimentos que tornaram possível o

tratamento da insuficiência renal crônica por hemodiálise, através do desenvolvimento de um

pequeno tubo de politetrafluoroetileno (PTFE ou Teflon) que conectava as cânulas venosas e

arteriais. A vantagem disso era a redução das inserções cirúrgicas de cânulas arteriais e

venosas. Esse aparato ficou conhecido com o shunt de Scribner. Devido às propriedades

antiaderentes do PTFE e sua relativa biocompatibilidade, houve redução dos eventos

trombóticos, possibilitando a realização de várias sessões de hemodiálise antes da falência do

shunt (QUINTON et al., 1960).

Inicialmente, eram realizadas sessões de diálise a cada 5-7 dias; com o tempo, foi visto

que os pacientes continuavam a desenvolver sintomas urêmicos, sendo necessário diminuir o

Page 19: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

19

intervalo entre as sessões. Assim, estas passaram a ser realizadas duas vezes por semana.

Contudo, os problemas de hipertensão, neuropatia periférica e hipervolemia somente foram

sanados após ser instaurado o regime de três vezes por semana, utilizado até os dias de hoje

(BLAGG et al., 2004).

Em 1966, BRESCIA et al. (1966) desenvolveram a fístula arteriovenosa subcutânea,

que consiste em uma pequena comunicação entre uma veia e uma artéria, tornando possível a

realização de sessões de hemodiálise por períodos mais longos, sem que houvesse falência do

acesso vascular e com um menor número de complicações quando comparado com o shunt de

Scribner(KOLF et al., 1997).

Nos dias de hoje, a fístula arteriovenosa ainda é bastante utilizada, apresentando baixo

risco de complicações, como infecção e trombose e está relacionada com maiores taxas de

sobrevivência e menores taxas de hospitalização (figura 5).

Figura 5. Fístula arteriovenosa. O acesso vascular é criado pela anastomose cirúrgica da veia cefálica com a

arterial radial. O fluxo de sangue do sistema arterial de alta pressão resulta na hipertrofia da veia (Modificado de

FOOTE & MANLEY, 2008).

No Brasil, a primeira hemodiálise foi realizada em 1949 no hospital das Clínicas em

São Paulo, pelo Dr. Tito de Almeida (1913-1998), que utilizou um rim artificial totalmente

artesanal. Em 1972, a empresa multinacional norte-americana Baxter iniciou suas atividades

comerciais no Brasil, no setor de equipamentos de hemodiálise, favorecendo a difusão do

tratamento no país (FARIA, 2011).

A hemodiálise se tornou popular graças a avanços tecnológicos que incluem o

aprimoramento de máquinas e a fabricação de dialisadores mais eficientes e seguros, além do

Veia basílica

Veia cefálica

Veia da fossa antecubetal

Artéria braquial

Artéria ulnar Sítio geralmente

usado para instalação

da primeira fístula

Artéria radial

Page 20: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

20

desenvolvimento de técnicas cirúrgicas de confecção de acessos vasculares permanentes

(LUGON, 2003).

1.4 A IMPORTÂNCIA DO TRATAMENTO DA ÁGUA PARA HEMODIÁLISE

Os pacientes que realizam tratamento por hemodiálise são expostos a volumes de

fluido de diálise que variam entre 18.000 a 36.000 litros por ano (SILVA et al., 1996). Ao

redor do mundo, a produção desse fluido gira em torno de 25.000.000.000 litros, o que torna

este um dos produtos de maior volume utilizados na medicina. Este fluido, chamado dialisato,

consiste em até 99% de água, que é misturada com ácidos, sais e bicarbonato (NYSTRAND,

2008).

O monitoramento da qualidade das águas é um dos instrumentos de verificação e

avaliação dos riscos que elas podem representar para a saúde humana. Os vários usos da água

possuem diferentes requisitos de qualidade. As águas com maior qualidade permitem usos

mais exigentes, como o consumo humano, enquanto águas com pior qualidade permitem usos

menos exigentes, por exemplo, navegação. No Brasil, adota-se o enquadramento por classes

de qualidade, que faz com que os padrões de qualidade estabelecidos para cada uma sejam

formados pelos critérios mais restritivos dentre todos os usos contemplados naquela classe

(CONAMA, 2005).

Os órgãos competentes para a definição dos parâmetros da qualidade das águas, pela

vigilância e fiscalização desses padrões estão bem determinados nas legislações e variam de

acordo com a utilização dessas águas. O Ministério da Saúde é o órgão com competência para

definir os padrões adotados para a qualidade de águas para consumo humano, enquanto a

ANVISA estabelece os requisitos da água para hemodiálise, conforme será explicitado na

página 25(BRASIL, 2011; ANVISA, 2014).

Até a década de 1970, acreditava-se que poderia ser utilizada a água potável para a

hemodiálise (SILVA et al., 1996). A hipótese se baseava na ideia de que se essa água poderia

ser usada para beber também seria segura para hemodiálise (TONG et al., 2001). Com o

tempo, o número de pacientes em tratamento foi crescendo e foi possível observar correlação

entre os contaminantes da água e os efeitos adversos observados nos pacientes (SILVA et al.,

1996).

A “síndrome da água dura” foi um dos primeiros eventos relacionados com a

qualidade da água. Durante as sessões de diálise, alguns pacientes apresentavam náuseas,

vômitos, letargia, fraqueza muscular intensa e hipertensão arterial. Descobriu-se que tais

Page 21: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

21

sintomas estavam diretamente associados à presença de grandes quantidades de cálcio e

magnésio na água. Para remover estes minerais, começaram a ser utilizados equipamentos

chamados abrandadores, e os sintomas e sinais começaram a desaparecer (SILVA et al.,

1996).

Como os poros das membranas de diálise possibilitam a passagem de solutos de até

certo tamanho, todas as substâncias de pequeno peso molecular presentes no dialisato podem

ter acesso à corrente sanguínea do paciente, levando ao aparecimento de efeitos adversos, que

podem, muitas vezes, ser letais (RAMIREZ, 2009). Além disso, como o processo de diálise

utiliza grandes quantidades de água, até mesmo uma pequena quantidade de contaminantes

pode ser perigosa (TONG et al., 2001).

Nas águas de superfície, os contaminantes mais frequentemente encontrados são

materiais orgânicos, minerais e bactérias (SILVA et al., 1996).A presença de algumas

substâncias na água potável é normal, mas na água para hemodiálise, as mesmas podem

oferecersérios riscos à saúde do paciente,conforme pode ser observado natabela 1(TONG et

al., 2001).

Tabela 1. Efeitos de contaminantes químicos nos pacientes em diálise (Adaptado de TONG et al., 2001)

Sinais e sintomas Contaminantes possíveis

Anemia Alumínio, cloraminas, cobre, zinco, formaldeído,

nitratos

Doença óssea Alumínio, fluoreto

Hipertensão Cálcio, sódio

Hipotensão Bactérias, endotoxinas, nitratos

Acidose metabólica Baixo pH, sulfatos

Fraqueza muscular Cálcio, magnésio

Náuseas e vômitos Bactéria, cálcio, cobre, endotoxinas, baixo pH,

magnésio, nitratos, sulfatos, zinco

Deterioração neurológica e

encefalopatia Alumínio

Hemólise Cloraminas, cobre, nitratos, formaldeído

Outro fator que aumenta o risco de se usar a água potável na hemodiálise é que os

recursos utilizados pelos sistemas públicos de tratamento a fim de tornar a água própria para o

consumo humano são tóxicos para pacientes em tratamento por hemodiálise. Como exemplo,

tem-se a adição de sulfato de alumínio, cloro e flúor (RIELLA, 2010).

Page 22: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

22

Diversos trabalhos já foram publicados relatando surtos em clínicas de hemodiálise

pelo mundo, devido tanto à presença de contaminantes químicos quanto microbiológicos em

águas para hemodiálise. BURWEN et al. (1995) relataram um caso de intoxicação de

pacientes pela presença de alumínio no dialisato que levou a episódios de convulsões nesses

pacientes. Outro caso de exposição a contaminantes químicos foi descrito por TIPPLE et al.

(1991): 41 pacientes foram expostos a dialisato contaminado com cloro e precisaram ser

submetidos a transfusões sanguíneas para tratar a anemia hemolítica que adquiriram. Também

foram relatados casos de anemia hemolítica por intoxicação por cobre (MANZLER &

SCHREINER, 1970). Casos de contaminação pela presença de fluoreto no dialisato também

já foram descritos por ARNOW et al. (1964), em que 12 pacientes ficaram doentes. Os casos

relatados constituem apenas uma parcela dos diversos surtos de intoxicação por contaminação

química do dialisato que podem ser encontrados na literatura (SELENIC et al., 2004;

ORRINGER & MATTERN, 1976; GORDON et al., 1990).

Vários casos de contaminação da água para diálise e dialisato por micro-organismos

também já foram reportados, a maioria associada com desinfecção inadequada dos sistemas

de água. Reações pirogênicas foram observadas por GORDON et al. (1988) em 16 pacientes,

sendo associadas com a presença de endotoxinas provenientes de dialisadores reutilizados.

Bacteremias também foram relatadas em seis pacientes renais crônicos por dialisato

contaminado por Klebsiella pneumoniae (WELBEL et al., 1995). BECK-SAGUE et al.

(1990) relataram nove reações pirogênicas e cinco bacteremias por bactérias gram-negativas

em pacientes em tratamento por hemodiálise. Além desses, outros trabalhos também mostram

a importância do controle microbiológico da água para hemodiálise (ARVANITIDOU et al.,

2003; BORGES et al., 2007; MONTANARI et al., 2009; OIE et al., 2003; BUGNO et al.,

2007).

No Brasil, o caso mais conhecido de contaminação em água para hemodiálise ocorreu

em fevereiro de 1996 no Instituto de Doenças Renais (IDR) em Caruaru, PE. Esse acidente

ocasionou a morte de 72 pessoas por intoxicação por microcistina, e motivou a publicação da

primeira normatização do Ministério da Saúde sobre o tema, transformando a história e a

prática clínica da hemodiálise no Brasil (COELHO, 1998).

Page 23: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

23

1.5 SISTEMAS DE TRATAMENTO DA ÁGUA PARA HEMODIÁLISE

A eficiência de um sistema de tratamento de água para hemodiálise é influenciada por

alguns fatores, como a natureza da água a ser tratada, os componentes do equipamento e as

variações sazonais (SILVA et al., 1996). Um típico sistema de tratamento de água para

hemodiálise está representado na figura 6.

Figura 6. Esquema de um sistema de tratamento de água para hemodiálise (RIELLA, 2010). Os asteriscos

indicam os pontos de coleta de amostras utilizados neste trabalho, sendo: * Ponto 1: Água potável, proveniente

da rede de abastecimento; ** Ponto 2: Água potável após passar pelo sistema de tratamento, tornando-se água

tratada para diálise; *** Ponto 3: Dialisato, solução composta pela água para hemodiálise e CPHD.

Primeiramente, a água potável passa por um pré-tratamento, composto por filtros de

areia, carvão ativado e resina de troca iônica ou abrandador. O filtro de areia é importante

para a remoção das partículas em suspensão. Já os filtros de carvão ativado adsorvem

cloretos, cloraminas e substâncias orgânicas, além de eliminar odores presentes na água. Nos

abrandadores, ocorre a remoção de cálcio, magnésio e outros cátions polivalentes, o que é de

suma importância não só por controlar a dureza da água mas também por proteger as

membranas do sistema de osmose reversa (SILVA et al., 1996).

Após essa etapa inicial, a água pré-tratada atravessa as membranas do sistema de

osmose reversa. Esse tratamento apresenta índices de retenção de contaminantes químicos

Areia Carvão 1 Carvão 2 Resina de

troca

iônica

Osmose reversa

Rejeito

Produto

bomba Filtro de

membrana Máquina de

diálise

Estoque

de água

tratada

*

**

***

Page 24: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

24

entre 95 e 99% e retém grande parte das bactérias, fungos, algas e vírus, além de reter

pirogênios e materiais proteicos de alto peso molecular (SILVA et al., 1996).No passado,

grande parte das clínicas utilizava deionizadores como sistema de purificação. Com o passar

do tempo, o uso da osmose reversa, que é comprovadamente mais eficiente, vem tomando o

lugar dos deionizadores, sendo encontrada em aproximadamente 95% das unidades de

hemodiálise brasileiras (SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA, 2008).

A água segue então para um tanque hermeticamente fechado que possui fundo cônico,

sendo posteriormente distribuída para as máquinas de hemodiálise. A água não utilizada

retorna para o tanque de armazenamento – isso somente é possível graças ao sistema de

canalização, que deve ser em circuito fechado (looping) sem zonas mortas. Recomenda-se que

a água não deixe de circular a fim de evitar a proliferação bacteriana e a possível formação de

biofilmes (SILVA et al., 1996).

1.6 PADRÕES DE QUALIDADE DA ÁGUA PARA HEMODIÁLISE

O reconhecimento do risco que a ausência de um tratamento específico da água

destinada para hemodiálise representava motivou a criação de diversos órgãos e comissões

pelo mundo, com o objetivo de estabelecer critérios para a composição adequada da água para

diálise. Mundialmente, as normas mais conhecidas são as sugeridas pela Association for the

Advancement of Medical Instrumentation (AAMI) e as seguidas pela Comunidade Européia

(SILVA et al., 1996).

Em outubro de 1996, motivado pelo caso da contaminação por microcistina em

Caruaru,o Ministério da Saúde publicou a Portaria MS nº 2042/1996 (BRASIL, 1996) com o

objetivo de estabelecer os parâmetros da qualidade da água para hemodiálise. Essa portaria foi

substituída pela Portaria MS nº 82/2000 (BRASIL, 2000), posteriormente pela RDC ANVISA

nº 154/2004 (ANVISA, 2004) e atualmente se encontra em vigor a RDC 11/2014 (ANVISA,

2014), que estabelece os requisitos de boas práticas de funcionamento para os serviços de

diálise e dá outras providências(SIMÕES et al., 2005).

Outras normas compõem a legislação acerca da hemodiálise no Brasil. São elas: RDC

ANVISA nº 33/2008 (ANVISA, 2008), que dispõe sobre o Regulamento Técnico para

planejamento, programação, elaboração, avaliação e aprovação dos sistemas de tratamento e

distribuição de água para hemodiálise no Sistema Nacional de Vigilância Sanitária; RDC

ANVISA nº 8/2001 (ANVISA, 2001), instrumento normativo que aprova o regulamento

técnico que institui as boas práticas de fabricação do CPHDe, por último, a Portaria MS nº

Page 25: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

25

2.914/2011 (BRASIL, 2011), que dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância

da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade.

Segundo a RDC ANVISA Nº 11/2014, aágua de abastecimento do serviço de diálise

deve ter o seu padrão de potabilidade em conformidade com o que estabelece aPortaria MS Nº

2.914/2011 (ANVISA, 2014; BRASIL, 2011). A qualidade da água de abastecimentoprecisa

ser monitorada e registrada diariamente pelo técnico responsável, e devem ser observadas as

condições presentes na tabela 2 (ANVISA, 2014).

Tabela 2. Características físicas e organolépticas da água potável(Adaptado de ANVISA, 2014)

Característica Parâmetro aceitável Frequência de

verificação

Cor aparente Incolor Diária

Turvação Ausente Diária

Sabor Insípido Diária

Odor Inodoro Diária

Cloro residual livre Água da rede pública: maior que 0,2 mg/L; água de

fonte alternativa: maior que 0,5 mg/L

Diária

pH 6,0 a 9,5 Diária

Com relação à água para hemodiálise, que é gerada após a água potável passar por um

sistema de tratamento conforme exemplificado na figura 6, as análises devem contemplar e

respeitar os componentes, o valor máximo e a frequência de análise dispostos na tabela 3.

Tabela 3. Padrão de qualidade da água para hemodiálise (ANVISA, 2014)

Componentes Valor máximo permitido Frequência

de análise

Coliforme total Ausência em 100mL Mensal

Contagem de bactérias heterotróficas 100 UFC/mL Mensal

Endotoxinas 0,25 EU/mL Mensal

Alumínio 0,01 mg/L Semestral

Antimônio 0,006 mg/L Semestral

Arsênico 0,005 mg/L Semestral

Bário 0,1 mg/L Semestral

Page 26: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

26

Berílio 0,0004 mg/L Semestral

Cádmio 0,001 mg/L Semestral

Cálcio 2 mg/L Semestral

Chumbo 0,005 mg/L Semestral

Cloro total 0,1 mg/L Semestral

Cobre 0,1 mg/L Semestral

Cromo 0,014 mg/L Semestral

Fluoreto 0,2 mg/L Semestral

Magnésio 4 mg/L Semestral

Mercúrio 0,0002 mg/L Semestral

Nitrato (N) 2 mg/L Semestral

Potássio 8 mg/L Semestral

Prata 0,005 mg/L Semestral

Selênio 0,09 mg/L Semestral

Sódio 70 mg/L Semestral

Sulfato 100 mg/L Semestral

Tálio 0,002 mg/L Semestral

Zinco 0,1 mg/L Semestral

Conforme mostra a tabela acima, os parâmetros microbiológicos acessados na água

para hemodiálise são: avaliação de coliformes totais, contagem de bactérias heterotróficas e

dosagem de endotoxinas. Os dois primeiros parâmetros, acrescidos da avaliação da presença

de E. coli são também requisitos de potabilidade preconizados pela Portaria MS Nº

2.914/2011 (BRASIL, 2011).

A Resolução também determina que a qualidade bacteriológica da água para

hemodiálise deve ser verificada sempre que ocorrerem manifestações pirogênicas, bacteremia

ou suspeitas de septicemia nos pacientes (ANVISA, 2014).

Além das análises na água tratada para hemodiálise, deve-se executar análise

microbiológica mensal de uma amostra de dialisato, imediatamente antes do dialisador, no

final da sessão. Deve ser realizada contagem de bactérias heterotróficas e o valor máximo

permitido é de 200UFC/mL.

A qualidade microbiológica do dialisato não depende apenas do controle da água, mas

também do controle da qualidade do CPHD, cuja fabricação deve seguir a RDC ANVISA Nº

08/2001 (ANVISA, 2001), que impõe padrões estritos de qualidade. Segundo essa resolução,

Page 27: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

27

as matérias-primas empregadas na sua fabricação devem ser especificadas quanto à pureza

física e química, teor do princípio ativo e pureza microbiológica que garanta no máximo 100

UFC/mL ou gno produto final.Ao término da produção, o CPHD diluído com a água

purificada empregada na preparação deve ser submetido a determinados controles, como: (i)

teste de condutividade, devendo estar entre 11 mS.cm-1 e 15 mS.cm-1, (ii) medição de pH,

que deve estar entre 6,8 e 7,5, (iii) contagem de bactérias heterotróficas (até 100 UFC/mL),

(iv) endotoxinas, com valor máximo de 0,5 EU/mL e (v) medição dos teores dos

componentes, que precisam estar entre +2,5% para o sódio e + 5% para os demais sais em

relação ao declarado no rótulo do produto (ANVISA, 2001). Dessa forma, nota-se que, por ser

um produto farmacêutico, sua fabricação ocorre de acordo com elevados padrões de controle

de qualidade química e microbiológica.

1.7 IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA PARA

HEMODIÁLISE

No processo de hemodiálise, como o sangue do paciente e o dialisato são separados

apenas por uma membrana semipermeável, a qualidade microbiológica deste fluido é

extremamente importante. A presença de micro-organismos na água pode liberar endotoxinas,

fragmentos de endotoxinas, exotoxinas, fragmentos de DNA e polissacarídeos que podem

passar através da membrana de diálise, devido ao seu tamanho (0,5-200kDa). Os efeitos dessa

passagem podem se dar na forma de reações pirogênicas imediatas ou através da indução de

produção de citocinas pelos monócitos devido a ativação dos receptores Toll-like pelos

fragmentos bacterianos, levando a uma resposta inflamatória. A exposição por longos

períodos está relacionada com a desnutrição, amiloidose e aterosclerose e é importante

também na resposta do paciente à eritropoetina (HOENICH et al., 2006).

Os pacientes urêmicos apresentam um estado microinflamatório crônico caracterizado

por níveis elevados de proteínas reativas de fase aguda, como a proteína-C-reativa, e elevação

de citocinas pró-inflamatórias, como por exemplo, as interleucinas 1 e 6 (IL-1 e IL-6) e o

fator de necrose tumoral- (TNF- ).A proteína-C-reativa tem sido constantemente associada

à mortalidade cardiovascular em pacientes submetidos à hemodiálise e é considerada um

marcador de inflamação em casos de uremia (THOMÉ et al., 2005).

Em 1983, HENDERSON et al.propuseram que nos pacientes em hemodiálise, os

monócitos eram ativados pelo contato com a membrana celulósica do dialisador e produziam

IL-1, o que levava à febre e redução da pressão arterial. Mais tarde, foi visto que outras

Page 28: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

28

citocinas, além da IL-1, também eram produzidas pelos monócitos e isso ocorria não só pelo

contato do sangue com a membrana de diálise, mas também devido à presença de

contaminantes no dialisato (HENDERSON et al., 1983; TAKEMOTO, NAGANUMA &

YOSHIMURA, 2011).

Mais tarde, SCHIFFLet al. (2001) mostraram que trocando-se o dialisato convencional

pelo ultrapuro, os níveis de IL-6 e proteína-C-reativa foram reduzidos significativamente e

resultaram em aumento na massa corpórea seca estimada do paciente e concentração de

albumina sérica, após um período de doze meses. Enquanto isso, os pacientes que mantiveram

o uso do dialisato convencional não apresentaram alterações significativas nesses marcadores.

Assim, como a presença de endotoxinas no dialisato pode estimular a liberação de

citocinas, a pureza do mesmo se tornou tão importante quanto o material da membrana em se

tratando de biocompatibilidade na hemodiálise (TAKEMOTO, NAGANUMA &

YOSHIMURA, 2011).

No entanto, de acordo com MERINOet al. (2008), mesmo quando se utiliza um

dialisato ultrapuro, ocorre ativação de monócitos, e com isso, uma resposta inflamatória. Isso

provavelmente se deve à presença de fragmentos de DNA bacterianos, que continuam

presentes no dialisato até mesmo se a contaminação bacteriológica já tiver sido eliminada.

O DNA bacteriano contém sequências oligonucleotídicas imunoestimulatórias de 15 a

20 pares de bases com dinucleotídeos citosina-guanina não metilados (CpG). Esses

dinucleotídeos CpG podem atravessar as membranas de diálise por retrofiltração e podem se

ligar ao receptor toll-like 9 (TLR-9) de células imunocompetentes, disparando uma cascata de

ativação de proteínas cinases (MERINO et al., 2008).

Além das reações inflamatórias geradas pela presença dos produtos bacterianos, existe

também a possibilidade de bacteremia, que é uma das principais causas de morbidade e

mortalidade em pacientes de hemodiálise. Teoricamente, uma membrana de diálise intacta

deve impedir a passagem de bactérias a partir do fluido de diálise para a corrente sanguínea

do paciente. Contudo, pode ocorrer bacteremia se houver defeitos na integridade da

membrana, se o nível de contaminação no dialisato for alto o suficiente a ponto de permitir

que os micro-organismos cresçam através da membrana ou caso haja contaminação extrínseca

durante o reprocessamento do dialisador (ROTH & JARVIS, 2000).

Diversos surtos de contaminação bacteriana em unidades de hemodiálise já foram

descritos. Dentre as bactérias encontradas com frequência nas amostras de água e dialisato

contaminados, se encontram espécies dos gêneros Pseudomonas, Moraxella, Klebsiella,

Xanthomonas, Flavobacterium, Acinetobacter, Burkholderia, Alcaligenes, Achromobacter,

Page 29: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

29

Serratia e Stenotrophomonas (BUGNO et al., 2007; SILVA et al., 1996; ROTH & JARVIS,

2000).

1.8 METODOLOGIAS PARA DETECÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DE BACTÉRIAS

Métodos baseados no cultivo de amostras em meios de cultura específicos são simples,

convenientes e permitem comparações rápidas de múltiplas amostras empregando poucos

equipamentos laboratoriais simples. Contudo, é um equívoco comum pensar que os micro-

organismos isolados em cultura pura de determinado meio representam as espécies

numericamente dominantes deste ambiente. Na realidade, micro-organismos isolados a partir

de métodos de cultivo padrão raramente se encontram em maioria nas comunidades de onde

foram retirados: em vez disso, eles são isolados graças à sua capacidade de crescer

rapidamente em meios de cultivo ricos em nutrientes, normalmente sob condições aeróbicas, a

temperaturas moderadas (HUGENHOLTZ, 2002). De fato, estima-se que, em muitos

ambientes, somente 1% dos micro-organismos podem ser detectados em placas com meios de

cultura tradicionais. Isso pode ser explicado pela necessidade de condições de crescimento

mais específicas, pela interdependência de diferentes organismos com outros ou por estarem

em um estado viável, mas não cultivável (GOMILA et al., 2005; SCHMIDT, 2006).

A caracterização de comunidades bacterianas na água de hemodiálise é geralmente

limitada à contagem ou à detecção de micro-organismos indicadores ou grupos específicos de

bactérias utilizando abordagens dependentes de cultivo. Devido às limitações dos métodos

que se baseiam em cultivo, para acessar a complexidade das comunidades microbianas de um

ambiente, esses métodos podem ser complementados com as informações obtidas por análises

independentes de cultivo (GOMILA et al., 2005).

O emprego de técnicas moleculares baseadas na análise do DNA de micro-organismos

retirado diretamente dos ambientes naturais sem a necessidade de multiplicação prévia das

células, conhecidas como técnicas metagenômicas, tornou-se possível graças aos estudos de

pioneiros em amostras de água e sedimentos de lagoas costeiras com o objetivo de analisar

comunidades microbianas utilizando as informações da sequência de nucleotídeos do DNA

ribossômico (BENLLOCH, RODRÍGUEZ-VALERA & MARTÍNEZ-MURCIA, 1995).

O termo “metagenômica” foi publicado pela primeira vez em 1998 em um estudo de

clonagem de DNA ambiental de micro-organismos do solo (HANDELSMAN, 1998). A

metagenômica é um tipo de abordagem independente de cultivo que analisa DNA genômico

de uma mistura de populações microbianas diretamente na amostra, enquanto a genômica se

Page 30: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

30

trata da análise da mesma molécula, com a diferença de esta ser proveniente de uma célula ou

organismo isolado (GILBERT & DUPONT, 2011).

Atualmente, as aplicações dos estudos de metagenômica são bastante vastas, variando

desde estudos básicos em diversidade e ecologia até a obtenção de produtos de interesse

biotecnológico. Nesse contexto, diversos trabalhos já a utilizaram para caracterizar a

diversidade biológica em diversos ambientes (BEARDSLEY, 2006; PIGANEAU &

MOREAU, 2007; HUGENHOLTZ & TYSON, 2008). Outros utilizaram a técnica para

encontrar genes envolvidos em reações de interesse biotecnológico, como degradação de

biomassa (HESS, 2011), xilanases (HU, 2008) assim como outras enzimas e biosurfactantes

(KENNEDY et al., 2011).

Dentre as diversas aplicações da metagenômica, as que utilizam o gene que codifica o

RNA ribossomal 16S para análise da diversidade bacteriana em diferentes ambientes vem

ganhando bastante importância.

Os RNAs ribossomais estão entre as macromoléculas mais conservadas em todos os

seres vivos. Nas bactérias, os genes de RNA ribossomal são transcritos a partir de uma única

unidade de transcrição ou operon, que contém os genes de rRNA 5S,16S e 23S. O tamanho do

operon, as sequências nucleotídicas e as estruturas secundárias dos três genes de rRNAsão

conservados dentro de uma espécie bacteriana (RAJENDHRAN & GUNASEKARAN, 2011).

No final dos anos 1960, o rRNA 5S foi largamente empregado para análise de

sequências, por ser relativamente pequeno (~120 nucleotídeos) e consequentemente, mais

fácil de sequenciar utilizando a tecnologia disponível na época. Contudo, a escassez de

regiões variáveis limitou seu uso (OLSEN, 1986; PACE, 2012). Tanto o gene que codifica o

rRNA 23S quanto o que codifica o 16S possuem um número suficiente de regiões

informativas filogeneticamente para caracterizar muitos procariotos. No entanto, poucos

estudos taxonômicos utilizam o 23S, já que o rRNA 16S é o mais conservado dentro de uma

espécie bacteriana (KOLBERT & PERSING, 1999; WOESE, 1987).

Tradicionalmente, os organismos eram classificados em procariotos e eucariotos e,

dentro desses grupos, encaixados dentro de reinos, filos, classes, ordens, famílias, gêneros e

espécies de acordo com as suas características fenotípicas. Entretanto, a classificação

taxonômica através desses métodos pode ser difícil devido a variações nessas características.

Há aproximadamente três décadas, WOESE et al. (1990) começaram a analisar sequências de

rDNA 16S de várias bactérias.Com base nessas análises, foi sugerida uma nova classificação

para os seres vivos, não mais baseada na morfologia, mas na sequência estrutural do rDNA.

Assim,a vida na Terra foi dividida em 3 domínios: Bacteria, Archaea e Eucarya. Cada

Page 31: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

31

domínio foi subdividido em no mínimo dois reinos através de análises genotípicas e

fenotípicas (WOO et al., 2008; WOESE et al., 1990).

Com o passar dos anos, observou-se que árvores filogenéticas construídas a partir de

sequências de RNA ribossomal procarióticas não coincidem necessariamente com a

caracterização baseada em métodos taxonômicos clássicos, como morfologia e utilização de

fonte de carbono. Enquanto as classificações genotípicas são baseadas em alvos moleculares

uniformes e relativamente estáveis, sabe-se que classificações fenotípicas podem estar sujeitas

a variações na morfologia, status metabólico e interpretações individuais (KOLBERT &

PERSING, 1999).

A sequência nucleotídica do rDNA 16S possui aproximadamente 1550 pares de bases

e é composta por regiões conservadas e hipervariáveis intercaladas (figura 7). Esse gene, que

ocorre em pelo menos uma cópia em cada genoma de procarioto, pode ser comparado não só

entre as bactérias, mas também com o gene que codifica o rRNA 16S das arquéias assim

como com o 18S de eucariotos (CLARRIDGE, 2004). Assim, podem ser utilizados

iniciadores universais complementares às regiões conservadas para que as regiões

hipervariáveis sejam usadas para distinguir as espécies ou gêneros (MIZRAHI-MAN,

DAVENPORT & GILAD, 2013). Após o sequenciamento, alvos homólogos são alinhados

para análise taxonômica e filogenética (KOLBERT & PERSING, 1999).

Figura 7. Representação do gene que codifica o rRNA 16S com base na sequência de E. coli (BROSIUS et

al.,1981). Em azul: regiões variáveis entre gêneros ou espécies bacterianas. Em branco: sequência conservada no

Domínio Bacteria.

Embora a taxa absoluta de alterações na sequência do gene rRNA 16S não seja

conhecida, as diferenças marcam a distância evolutiva e a relação entre os organismos

(CLARRIDGE, 2004).

A abordagem metagenômica utilizando o rDNA 16S para analisar diversidade

bacteriana geralmente envolve a extração do DNA total da amostra, amplificação pela reação

em cadeia da polimerase (PCR) seguidos do sequenciamento de nova geração e análise das

sequências geradas.

O primeiro passo no isolamento de ácidos nucléicos de amostras de água é a

concentração das mesmas, que pode ser realizada por centrifugação, filtração ou combinação

Page 32: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

32

de ambas a fim de se obter quantidade de biomassa suficiente para análise metagenômica

(FELCZYKOWSKA et al., 2015). O segundo passo é o isolamento do DNA, cuja eficácia

depende do método de extração empregado visto que existem grandes diferenças na parede e

estruturas das membranas bacterianas. Muitos protocolos de extração de DNA já se

mostraram eficientes em amostras de água (FUHRMA et al., 1988; SOMERVILLE et al.,

1989; SCHMIDT et al., 1991; BOCCUZZI et al., 1998), assim como kits comerciais

específicos, como PowerWater® SterivexTM

DNA Isolation kit(MOBIO, USA)ou kits

inicialmente empregados para outras matrizes mas que foram adaptados para amostras de

água, como o PowerSoil® DNA Isolation kit (MOBIO, USA) (BAI et al., 2013).

A reação em cadeia da polimerase é frequentemente usada na análise filogenética de

comunidades microbianas e para várias outras abordagens moleculares de estudos ecológicos.

Ela permite amplificar regiões do DNA de forma seletiva através do emprego de primers

específicos a partir de pequenas quantidades de material genético extraído das amostras de

interesse (ROLING & HEAD, 2005).

Os estudos iniciais de análise da diversidade bacteriana usualmente empregavam

amplificação e sequenciamento do gene que codifica o rRNA 16S por completo, mas havia

certa dificuldade em se conseguir explorar toda a diversidade da amostra pois havia uma

limitação na profundidade do sequenciamento.Com o advento das novas tecnologias de

sequenciamento que geram sequências mais curtas, o conceito passou a ser amplificar e

sequenciar uma das regiões hipervariáveis do rDNA 16S, mas obtendo-se uma profundidade

maior (MIZRAHI-MAN, DAVENPORT & GILAD, 2013).

A análise metagenômica ganhou bastante força com o advento das tecnologias de

sequenciamento de nova geração, que geram milhões de fragmentos de DNA de uma única

amostra de uma só vez (GRADA & WEINBRECHY, 2013).

O sequenciamento de ácidos nucleicos é um método que tem como objetivo

determinar a ordem exata dos nucleotídeos presentes em uma molécula de DNA ou RNA. O

sequenciamento de primeira geração foi desenvolvido por Edward Sanger, em 1975

(SANGER et al., 1977; GRADA & WEINBRECHY, 2013). O método de Sanger, como ficou

conhecido, foi a técnica “padrão-ouro” durante aproximadamente 30 anos após sua

publicação, em 1977.

O conceito químico do método permanece basicamente o mesmo até os dias de hoje,

com a vantagem de ter sido adaptado para sistemas automatizados de sequenciamento,

simplificando o processo de separação dos fragmentos e permitindo o aumento do tamanho

das leituras (MADABHUSHI, 1998). Os sequenciadores passaram a processar um número

Page 33: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

33

maior de amostras, aumentando, assim, o rendimento e diminuindo os custos associados.

Atualmente, dispõe-se de equipamentos capazes de 96 a 384 sequenciamentos paralelos que

podem produzir leituras da ordem de 1000 bases (PETERSON et al., 2009).

O método de Sanger, apesar de sua robustez, possui algumas desvantagens, como a

necessidade da preparação de bibliotecas de clones, que é um processo caro e demorado.

Após o término do primeiro sequenciamento do genoma humano, que foi realizado através do

método em questão, foi crescendo cada vez mais a demanda por técnicas de sequenciamento

mais baratas e rápidas. Isso impulsionou o desenvolvimento de novas tecnologias de

sequenciamento, conhecidas como de “nova geração”, “próxima geração” ou “segunda

geração”, que realizam sequenciamento paralelo em massa (GRADA & WEINBRECHY,

2013).

Cada tecnologia de sequenciamento de nova geração utiliza uma estratégia diferente,

mas as etapas que constituem o processo são comuns a todos os sequenciadores, como o

preparo da amostra, a amplificação da biblioteca e o sequenciamento em si. A etapa inicial, de

preparação das amostras, consiste na geração de bibliotecas de fragmentos formadas pela

ligação de pequenas moléculas de DNA sintéticas, também chamadas de adaptadores, às

extremidades de cada fragmento de DNA da amostra a ser sequenciada. A amplificação das

bibliotecas geradas ocorre em suportes sólidos, como uma placa de vidro ou uma nanoesfera,

através de uma reação que envolve a atividade da enzima polimerase, gerando diversas cópias

das bibliotecas formadas. A fixação das moléculas de DNA a estes suportes ocorre graças aos

adaptadores. As reações de sequenciamento ocorrem como uma série de ciclos repetidos, de

nucleotídeo em nucleotídeo, e não através da separação e detecção distintas dos produtos já

sequenciados, como acontece no método de Sanger (RIBEIRO, 2012).

Os representantes dessas novas tecnologias que mais se sobressaíram foram a empresa

454 Life Sciences, e um pouco mais tarde, as empresas Solexa e Agencourt. Todas as

tecnologias das três empresas fundadoras foram, mais tarde, adquiridas por outras

corporações: a Agencourt passou a fazer parte da Applied Biosystems/Life Technologies; a 454

foi comprada pela Roche Applied Science e a Illumina adquiriu a Solexa (RIBEIRO, 2012).

A plataforma 454, primeira tecnologia de segunda geração a ser comercializada, utiliza

como método de amplificação a PCR em emulsão, em que os fragmentos de DNA são

imobilizados em beads e multiplicados por PCR.A técnica de sequenciamento empregada é o

pirosequenciamento, que se baseia na detecção da liberação de um grupamento pirofosfato a

cada incorporação de nucleotídeo (RONAGHI, 2001). Das tecnologias de sequenciamento de

segunda geração existentes, o pirosequenciamento em larga escala foi, por um bom tempo, a

Page 34: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

34

plataforma de primeira escolha de grande parte dos pesquisadores, visto que gera sequências

longasquando comparadas com as demais plataformas.

Recentemente, as plataformasIlluminaMiSeq e HiSeqtêm se tornado mais atrativas

para estudos microbianos devido ao menor custo e a maior geração de sequências (MIZRAHI-

MAN, DAVENPORT & GILAD, 2013).

O sequenciamento na plataforma Illumina é realizado por síntese e utiliza DNA

polimerase e nucleotídeos terminadores marcados com diferentes fluoróforos. O preparo da

biblioteca envolve a ligação das moléculas de DNA a adaptadores em ambas as extremidades,

seguida de ligação a um suporte sólido, chamado flow cell, onde estão aderidos

oligonucleotídeos complementares aos adaptadores. A partir de então, realiza-se uma

amplificação em ponte que gera clusters de moléculas idênticas usadas como molde. Para

obter as sequências de ácidos nucléicos a partir das bibliotecas amplificadas, nucleotídeos

marcados com fluorescência são disponibilizados em ciclos, competindo entre si para se

ligarem ao alvo. Após cada ciclo de síntese, os fluorocromos são excitados por um laser, o

que permite a identificação da base adicionada. Em seguida, ocorre uma etapa de lavagem

para remoção dos reagentes excedentes, do grupo terminal bloqueador 3´ e do fluoróforo do

nucleotídeo incorporado no ciclo anterior para que a reação de sequenciamento prossiga. A

leitura das bases é feita através da análise em sequência das imagens capturadas em cada ciclo

de sequenciamento (GRADA & WEINBRECHT, 2013; CARVALHO & SILVA, 2010).

Váriosaspectos devem ser levados em consideração ao selecionar uma plataforma para

sequenciar ogene rDNA 16S. Em primeiro lugar, a qualidade das sequências, visto que

estudos baseados em dados não confiáveis são suspeitos (SCHLOSS, GEVERS,

WESTCOTT, 2011). Um segundo aspecto importante é o número de sequências geradas que

podem ser obtidas por corrida e o custo de cada uma. O terceiro aspecto é o tamanho das

sequências geradas, já que sequências mais longas são mais fáceis de serem classificadas

dentro de um grupo taxonômico (WANG et al., 2007, KOZICH et al., 2013).

Atualmente, a tecnologia Illumina é a que apresenta o melhor custo benefício, pois

gera uma maior quantidade de dados a um custo menor. O Hiseq é mais empregado em

análises metagenômicas do tipo shotgun, enquanto o Miseq possui maior potencial para

análises de sequências do gene rRNA 16S, pelo menor custo por corrida e por gerar

sequências maiores. O número de ciclos alcançados no Hiseq pode ser de até 300 e no MiSeq

até 500. Com relação ao throughput, com o Miseq é possível se obter 17 milhões de pares de

bases (KOZICH et al., 2013).

Page 35: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

35

Até pouco tempo atrás, o problema mais significativo com as plataformas Illumina era

a habilidade em sequenciar amostras com baixa diversidade genética, o que é encontrado

comumente nos amplicons do gene rDNA 16S. Contudo, esse problema pode ser facilmente

solucionado aumentando artificialmente a diversidade genética através da mistura do DNA

com uma biblioteca do fago PhiX (KOZICH et al., 2013).

As aplicações do sequenciamento de nova geração parecem ser infinitas, permitindo

rápidos avanços em muitos campos do conhecimento. Contudo, diversas etapas de análise dos

dados gerados pelos sequenciadores são necessárias a fim de se concluir algo a partir do

estudo realizado.

Várias ferramentas podem ser utilizadas para a análise das sequências hipervariáveis

do rDNA 16S, como QIIME (CAPORASO et al., 2010), mothur (SCHLOSS et al., 2009),

SILVA ngs (QUAST et al., 2013), MEGAN (HUSON et al., 2007), dentre outras. Omothur

(criado a partir da combinação de softwares já existentes, como DOTUR, SONS e

TREECLIMBER) e o QIIME se destacam por funcionarem em múltiplos sistemas

operacionais (Mac OSX, Windows e Linux), por oferecerem tutoriais online que tornam seu

uso possível até mesmo por usuários sem expertise em bioinformática e por serem capazes de

realizar diversas etapas do processamento das sequências através da incorporação de outros

programas, como alinhamento, remoção de quimeras, classificação em OTUs, realização de

análises de diversidade alfa e beta, confecção de gráficos, muitas vezes eliminando a

necessidade de realizar buscas em bases externas ou empregar ferramentas adicionais

(OULAS et al., 2015). A escolha do algoritmo a ser empregado vai depender da preferência

do usuário.

Page 36: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

36

2. JUSTIFICATIVA

Pacientes portadores de doença renal crônica em tratamento por hemodiálise são de

alto risco para o desenvolvimento de infecções por várias razões, que incluem o estado de

imunocomprometimento intrínseco à fase final da DRC, a alta prevalência de diabetes, a

hospitalização frequente e a exposição a outros pacientes durante as sessões de HD,

possibilitando a transmissão cruzada de agentes infecciosos. Além disso, a invasividade

requerida pelo processo de diálise, utilizando-se o acesso vascular por período prolongado e

expondo o sangue do paciente a grandes volumes de dialisato em um circuito extra-corpóreo

três vezes por semana aumenta ainda mais a vulnerabilidade em adquirir infecções.

Com o intuito de garantir a qualidade em relação ao aspecto microbiológico da água

para hemodiálise e dialisato, a RDC ANVISA nº 11 de 2014 utiliza os parâmetros contagem

de bactérias heterotróficas inferior a 100 UFC/mL, ausência de coliformes totais em 100 mL

de água e dosagem de endotoxinas inferior a 0,25 EU/mL como indicadores (ANVISA,

2014). Contudo, o atendimento a esses requisitos não garante a ausência de possíveis

patógenos ou micro-organismos originalmente sem importância médico-sanitária, mas que

podem ser patógenos oportunistas e letais a pacientes imunocomprometidos. Além disso,

reações imunes podem ser disparadas nos pacientes em resposta a outros componentes

bacterianos além das endotoxinas, como peptidoglicanos, glicoesfingolipídeos e fragmentos

de DNA, que podem elicitar reações imunes mais fortes ou mais fracas dependendo do gênero

ou espécie bacteriana de que se originam.

Dessa forma, considerando a relevância da água e do dialisato para pacientes em

tratamento dialítico, a análise das comunidades bacterianas de sistemas de água de

hemodiálise desde a água potável proveniente da rede de abastecimento, passando pela água

tratada até o dialisato se mostra importante para elucidar fontes de contaminação e os riscos

associados com a exposição dos pacientes. Diversos estudos já foram realizados com esse

objetivo em diferentes países (ARVANITIDOU et al., 2003; MONTANARI et al., 2009; OIE

et al., 2003; BORGES et al., 2007; GOMILA et al., 2006), mas a maioria empregou

metodologias baseadas em cultivo, que possuem algumas limitações, comotempo de

incubação,interferência de organismos antagonistas e baixa sensibilidade. Ademais, após

exposição prolongada à água, as bactérias podem entrar em um estágio viável, mas não

cultivável embora mantenham seu potencial infeccioso. Nesse contexto, os métodos

Page 37: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

37

independentes de cultivo se destacam por ter um maior potencial em estimar a diversidade das

comunidades microbianas.

Nesse trabalho, amostras de água e dialisato provenientes de sistemas de água de

hemodiálise foram analisadas através de abordagem dependente e independente de cultivo e

examinadas com relação a parâmetros microbiológicos preconizados pela legislação vigente.

Os dados obtidos podem gerar conhecimento sobre micro-organismos presentes que não são

comumente encontrados pelos métodos dependentes de cultivo e trazer melhorias ao controle

de qualidade da água e dialisato, por exemplo através da sugestão de outros potenciais

bioindicadores.

Page 38: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

38

3. OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Verificar a presença e analisar as comunidades bacterianas nas águas e fluido de

hemodiálise em clínicas pertencentes ao Município do Rio de Janeiro conveniadas ao SUS,

utilizando uma metodologia dependente e outra independente de cultivo, a fim de avaliar a

eficácia dos tratamentos aos quais estas águas são submetidas e de obter conhecimento sobre

micro-organismos não previstos nas normas regulamentadoras vigentes.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Verificar se as amostras coletadas atendem aos parâmetros microbiológicos de

verificação de presença/ausência de coliformes e Escherichia coli e contagem de bactérias

heterotróficaspreconizados pela RDC ANVISA Nº 11/2014;

Promover o isolamento e identificação das bactérias presentes nas amostras coletadas

através de metodologia dependente de cultivo;

Determinar a composição da comunidade bacteriana presente nas amostras coletadas

através de análise metagenômica utilizando a região V4 do rDNA 16S;

Analisar e comparar os resultados obtidos com as duas metodologias;

Avaliar os parâmetros atualmente utilizados para o controle microbiológico da água de

hemodiálise.

Page 39: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

39

4. MATERIAIS E MÉTODOS

Os experimentos descritos neste trabalho foram realizados no Laboratório de

Biotecnologia – Diretoria de Metrologia Aplicada às Ciências da Vida (Dimav) – Instituto

Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e no Laboratório de Genoma do

Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomesna Universidade Estadual do Rio de Janeiro

(UERJ) em colaboração com o Professor Rodolpho Albano.

4.1 COLETA DAS AMOSTRAS

Para acessar as clínicas de hemodiálise, foi estabelecido um convênio com a

Vigilância Sanitária do Município do Rio de Janeiro, que realiza inspeções semanais nas

clínicas de hemodiálise vinculadas ao SUS,pertencentes ao município. Dessa forma, foi

possível acompanhar as inspeções e executar as coletas de amostras para o presente estudo.

As amostras foram coletadasem três pontos (denominados ponto 1, 2 e 3) dos sistemas

de purificação de água existentesnas quatroclínicas visitadas, denominadas A, B, C e D, por

questões de sigilo. O ponto 1 corresponde à água potável, fornecida pela rede pública de

abastecimento, antes de passar pelo sistema de tratamento da unidade. O ponto 2 corresponde

à água tratada para diálise, que é a água potável após passar pelos processos de filtração e

osmose reversa. O ponto 3 é o dialisato, coletado na máquina de hemodiálise, que consiste na

água tratada acrescida do CPHD (tabela 4 e figura 6).

Tabela 4. Pontos de coleta e identificação das amostras coletadas nas clínicas de hemodiálise visitadas.

Locais de coleta Clínica A Clínica B Clínica C Clínica D

Ponto 1 – Água potável

Torneira comum A1 B1 C1 D1

Ponto 2 – Água tratada para diálise

Torneira após osmose

reversa A2 B2 C2 D2

Ponto 3 – Dialisato

Máquina de hemodiálise A3 B3 C3 D3

Número total de amostras = 12

Page 40: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

40

Foram coletados 10 litros de amostra nos pontos 1 e 2, em frascos de polipropileno

estéreis (Nalgene), sendo que para o ponto 1 o frasco continha 10 mL de solução de

tiossulfato de sódio (CinéticaProdutos Químicos) a 10%, a fim de neutralizar qualquer resíduo

de cloro existente. Os frascos utilizados para os pontos 2 e 3 não foram acrescidos de

tiossulfato de sódio pois o cloro é removido da água ao passar pelos filtros de carvão. Para o

ponto 3, foram coletados 500 mL em frascos de borosilicato previamente esterilizados. As

amostras de dialisato foram coletadas diretamente das máquinas durante a hemodiálise de um

paciente, interrompendo momentaneamente seu tratamento. Dessa forma, para que os

pacientes não tivessem seus tratamentos interrompidos por um período demasiadamente

longo, somente foi possível coletar amostras de 500 mL.

Todas as coletas foram realizadas após desinfecção das torneiras utilizando etanol

70% e depois de a água escorrer por 3 a 5 minutos, posicionando o frasco de forma que não

entrasse em contato com a torneira para evitar possíveis contaminações. Os frascos foram

imediatamente fechados e mantidos refrigerados a uma temperatura entre 2 e 8ºC em

recipiente térmico até o momento do processamento no laboratório, que ocorreu em até 8

horas após todas as coletas.A execução de todas as coletas foi supervisionada por um técnico

da Vigilância Sanitária do Município do Rio de Janeiro.

O processamento das amostras se deu de acordo com o fluxograma apresentado a

seguir (figura 8):

Figura 8. Fluxograma das análises realizadas com as amostras de água e dialisato coletadas.

Amostras de água e dialisato coletadas nas clínicas

Presença/ausência de

coliformes (item 4.2.1) e

contagem de bactérias

heterotróficas (item

4.2.2)

Extração de

DNA (item 4.3.3)

Identificação por

PCR 16S e

sequenciamento

(item 4.3.4)

PCR V4 rDNA 16S

(item 4.4.3)

Sequenciamento de

nova geração e análise

das sequências

geradas (itens 4.4.4 e

4.4.5)

Incubação e

isolamento em meios

de cultura (itens 4.3.1

e 4.3.2)

Filtração das amostras e

extração de DNA

genômico (itens 4.4.1 e

4.4.2)

Page 41: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

41

4.2 AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS MICROBIOLÓGICOS PRECONIZADOS

PELA RDC ANVISA Nº 11/2014

4.2.1 Verificação da presença/ausência de coliformes totais e Escherichia coli

A detecção de coliformes e E. coli se deu através do método normalizado do substrato

definido(Colilert®, IDEXX), publicado na seção 9223 doStandard Methods for Examination

of Water and Wastewater(APHA, 2012), seguindo as orientações do fabricante. Nesse

método, as bactérias coliformes produzem coloração amarela por meio da ação da sua

enzima -galactosidase sobre osubstrato ortonitrofenil- -D-galactopiranosídeo (ONPG),

enquanto a E. coli é definida como uma bactéria coliforme que apresenta fluorescência azul

sob luz ultravioleta (UV) devido à ação da sua enzima -glicuronidase sobre o substrato 4-

metilumbeliferil- -D-glicuronídeo (MUG) (IDEXX, 2008).

Para esse ensaio, foram utilizados 100 mL de cada amostra de água para cada ampola

do kit utilizada. O ensaio também foi realizado com suspensões de Pseudomonas aeruginosa,

Enterobacter cloacea e Escherichia coli, que foram utilizadas como controle negativo,

controle positivo para coliformes totais e controle positivo para E. coli, respectivamente.

4.2.2 Contagem de bactérias heterotróficas

O procedimento foi realizado através do método do plaqueamento em superfície ou

spread plate utilizando dois meios diferentes, um rico em nutrientes, agar triptona de soja

(tsa) (himedia) e outro oligotrófico, reasoner´s 2a (r2a) (sigma-aldrich®). Um volume de 0,1

ml de cada amostra, em duplicata, foi semeado nos meios descritos acima. As amostras

plaqueadas no meio tsa foram incubadas a uma temperatura de35ºc por 48 horas enquanto as

que foram plaqueadas no meio r2a foram incubadas a 20ºc por 7 dias. Após esses períodos,

foi realizada a contagem das unidades formadoras de colônia (ufcs) em todas as placas e foi

calculada a média e o desvio padrão das duplicatas. O método spread plate, o uso do meio de

cultivo r2a e as respectivas condições de incubação para a contagem de bactérias

heterotróficas estão descritos no standard methods for the examination of water and

wastewater (apha, 2012). Já o uso do meio tsa e a incubação a 35ºc foram realizados de

acordo com os procedimentos descritos pela farmacopeia americana (usp 38- nf 33, 2016).

Page 42: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

42

4.3 ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO BACTERIANA POR METODOLOGIA

DEPENDENTE DE CULTIVO

4.3.1 Filtração e concentração das amostras

Com o intuito de concentrar os micro-organismos cultiváveis presentes nas amostras,

2L de cada amostra coletada (no caso do ponto 3, 200mL) foram filtrados através de um filtro

de fluoreto de polivinidileno (PVDF) de 0,22 m (Millipore®SterivexTM

GV), utilizando um

sistema com uma bomba peristáltica (Millipore® - easy load)com fluxo de 100mL por

minuto, como pode ser visualizado na figura 9. Posteriormente, os cartuchos das unidades

filtrantes foram quebrados para que fosse possível o acesso à membrana. Em seguida, as

membranas foram retiradas com o auxílio de pinça previamente flambada e resfriadae

divididas em duas partes: uma parte foi inoculada em 100 mL de caldo TSB (Himedia) e a

outra metade, em 100 mL de caldo R2A (0,25 g/L de caseína ácida hidrolisada, 0,5 g/L de

glicose, 0,3 g/L de fosfato de dipotássio, 0,024 g/L de sulfato de magnésio, 0,5 g/L de

peptona, 0,3 g/L de piruvato de sódio, 0,5 g/L de amido solúvel, 0,5 g/L de extrato de

levedura e água q.s.p 1L). As membranas inoculadas no TSB foram incubadas a35ºC

enquanto as inoculadas em R2A, a 20ºC, ambas por 24 horas sob agitação a 150 rpm.

Figura 9. Filtração das amostras coletadas em frascos de polipropileno de 10 L através de filtro de PVDF de

0,22 m (Millipore®SterivexTM

GV) utilizando bomba peristáltica (Millipore®easy load).

4.3.2 Plaqueamento e isolamento

Após o período de incubação, foram realizadas diluições seriadas das culturas em água

destilada estéril até 10-3

e 0,1 mL de cada uma das diluições foram plaqueados em duplicata,

através da técnica spread plate. No caso das culturas que cresceram no caldo TSB, o

Page 43: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

43

plaqueamento foi realizado no ágar TSA (Himedia), enquanto as que cresceram no caldo

R2A, no agar R2A (Sigma-Aldrich®).As placas de TSA foram incubadas a 35ºC por 24 - 48

horas e as de R2A a 20ºC por 5 - 7 dias. Após os respectivos períodos de incubação, as

colônias que cresceram foram diferenciadas morfologicamente, com base nos aspectos

visuais, como cor da colônia, diâmetro, borda, superfície (rugosa ou brilhosa) e outras

características especiais, como tendência a espalhar. Os morfotipos representantes foram

plaqueados nos mesmos meios em que foi observado seu crescimento, a fim de se obter uma

cultura pura.

Os isolados foram criopreservados em TSB com glicerol (Merck) a 20% e estocados à

-80ºC.

4.3.3 Extração de DNA

Os micro-organismos criopreservados foram crescidos em TSB ou caldo R2A,

dependendo do meio em que foram isolados, por 24 horas sob agitação e submetidos à

extração de DNA genômico através do kit comercial GenElute Bacterial Genomic DNA

(Sigma-Aldrich®),seguindo as recomendações do fabricante. Foi realizada eletroforese em

gel de agarose (Uniscience) 0,8% em TAE 1X (Tris Acetato EDTA) para observação do DNA

extraído.Foram aplicados 5 L de amostra, adicionados de 1 L de tampão de corrida (0,25%

de azul de bromofenol,0,25% de xileno cianol e 50% de glicerol) e 1 L do corante

GelRedTM

(Biotium). A corrida foi realizada a 80V por 30 minutos e as bandas foram

visualizadas em luz ultravioleta.Os DNAs obtidos foram analisados quanto à pureza e tiveram

suas concentrações determinadas pelo NanoDropTM

2000 (Thermo ScientificTM

).

4.3.4 Amplificação parcial do gene rRNA 16S

Os DNAs extraídos foram amplificados através de reação de PCR com os

oligonucleotídeos iniciadores para o gene rRNA 16S 27F e 907R descritos na tabela 5:

Tabela 5. Sequências dos primers utilizados para amplificação do gene rRNA 16S

Primers Sequência (5´> 3´) Referência

27F AGAGTTTGATCMTGGCTCAG LANE et al., 1991

907R CCGTCAATTCMTTTRAGTTT WEISBURG et al., 1991

Page 44: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

44

As amplificações foram realizadas no termocicladorThermal Cycler C1000 (Bio-Rad).

As reações foram feitas nas seguintescondições: aproximadamente 40ngDNA extraído, 1U de

Taq PCRx DNA Polymerase(Thermo Fisher Scientific), 0,1 M dos primers 27F e

907R,2mM de MgCl2 (Thermo Fisher Scientific),0,1mM de cada DNTP (ThermoFisher

Scientific)e água Milli-Q autoclavada(q.s.p.25 L). O programa de PCR foi iniciado com

desnaturação inicial a 95ºC por 10 minutos, seguidos de 34 ciclos de 1 minuto a 95ºC, 1

minuto a 55ºC e 1 minuto e 30 segundos a 72ºC. Após os ciclos, foi realizada uma extensão

final a 72ºC por 10 minutos. A fim de verificar se a reação ocorreu de forma eficiente, foi

realizada eletroforese em gel de agarose 2% em TAE 1X a 60V por 90 minutos. Foram

aplicados 5 L de amostra, adicionados de 1 L de tampão de corrida (0,25% de azul de

bromofenol,0,25% de xileno cianol e 50% de glicerol) e 1 L do corante

GelRedTM

(Biotium).Em seguida, o gel foi exposto à luz ultravioleta e fotodocumentado.

Os produtos de PCR foram encaminhados para a plataforma de sequenciamento do

Inmetro para serem sequenciados utilizando os mesmos primers.

As sequências Forward e Reverse obtidas de cada amostra foram alinhadas utilizando

a ferramentaClustalWno programa BioEdit v7.2.5(HALL, 1999)e as bases divergentes foram

corrigidas manualmente através de observação dos eletroferogramas no mesmo programa. Em

seguida, foram geradas as sequências consenso, que, após serem convertidas para o formato

FASTA, foram comparadas com as sequências depositadas no GenBank - National Center for

Biotechnology Information(NCBI), utilizando o algoritmo Nucleotide Basic Local Alignment

Search Tool(BLASTn), com o objetivo de identificar os micro-organismos isolados.

4.4 ANÁLISE METAGENÔMICA UTILIZANDO O GENE rDNA 16S

4.4.1 Filtração das amostras

Para as análises independentes de cultivo, foi realizada a filtração de 8L das amostras

coletadas (exceto no caso das amostras de dialisato, quando foramfiltrados aproximadamente

200mL)utilizando filtro de PVDF de 0,22 m (Sterivex GV Millipore®), através de um

sistema com bomba peristáltica conforme descrito no item 4.3.1. Os filtros foram mantidos a -

20ºC até o momento da extração.

Page 45: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

45

4.4.2 Extração de DNA dos filtros

A lise celular foi realizada através de adição de 50 L de lisozima (10mg/mL) (Sigma-

Aldrich®, nº de catálogo 62970) ao filtro contendo 1,8 mL de SET Buffer (Sacarose, 50mM

ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA), 50 mM Tris-HCl (pH 7,6). Os filtros foram

incubados a 37ºC (sob agitação) por 45 minutos. Em seguida, foram adicionados 50 L de

proteinase K (0,2 mg/mL) (Sigma-Aldrich®, nº de catálogo P2308) e 200 L de dodecil

sulfato de sódio (SDS) (Sigma-Aldrich®) a 10% e os filtros foram incubados a 55ºC por 1

hora. Os lisados foram retirados e os filtros foram rinsados com 1 mL de SET Buffer.

O DNA do lisado foi extraído duas vezes com fenol-clorofórmio-álcool isoamílico

(25:24:1) e outra vez com clorofórmio-álcool isoamílico (24:1). Os ácidos nucleicos da fase

aquosa foram precipitados com 2 volumes de etanol absoluto e 3M de acetato de sódio, em

seguida centrifugados, lavados com 70% de etanol, secos e então ressuspensos em 50 L de

água Milli-Q estéril (SOMERVILLE et al., 1989).

O DNA extraído das amostras foi quantificado através do kit comercial Quant-iTTM

dsDNA HS Assay (ThermoFisher Scientific) no fluorímetroQubit® (ThermoFisher

Scientific)seguindo as recomendações do fabricante. O DNA foi mantido a -20ºC até a etapa

de amplificação.

4.4.3 Amplificação da região V4 do gene rDNA 16S

Para realizar o sequenciamento na plataforma MiSeq - Illumina, algumas abordagens

podem ser utilizadas. Nesse trabalho, foi utilizada a abordagem descrita por KOZICH et al.

(2013), em que são utilizados primers específicos para a região V4 do gene rDNA16S

(Integrated DNA Technologies - IDT) que consistem de uma sequência adaptadora para anelar

os amplicons à flowcell, uma sequência indexadora de 8 nucleotídeos, uma sequência

espaçadorade 10 nucleotídeos, uma sequência de ligação de 2 nucleotídeos e a sequência do

iniciador específico para a região do gene em questão, conforme pode ser visto na tabela 6.

Page 46: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

46

Tabela 6. Estrutura dos primers utilizados para amplificar a região V4 do gene rDNA 16S (KOZICH et al.,

2013)

Sequência adaptadora –

forward

Index i5* Espaçador Ligação Sequência específica -

V4 FW

AATGATACGGCGACCAC

CGAGATCTACAC

XXXXX

XXX

TATGGTA

ATT

GT GTGCCAGCMGCCGC

GGTAA

Sequência adaptadora –

reverse

Index i7* Espaçador Ligação Sequência específica -

V4 RV

CAAGCAGAAGACGGCAT

ACGAGAT

XXXXX

XXX

AGTCAGT

CAG

CC GGACTACHVGGGT

WTCTAAT

* As sequências indexadoras, formadas por oito nucleotídeos que estão representados pela letra X, foram

combinadas de tal forma que cada amostra recebeu uma combinação de i5 + i7 diferente, para que as sequências

geradas para cada amostra pudessem ser rastreadas posteriormente. Os oito nucleotídeos que constituem as

sequências indexadoras para cada amostra estão descritos na tabela 7.

Além de cada amostra ter recebido uma combinação única de i5+i7, as sequências

indexadoras quando combinadas, deveriam excitar ambos os canais de laser a cada ciclo

(quando uma base A ou C é sequenciada, o canal de laser vermelho é excitado; quando uma

base G ou T é identificada, o canal de laser verde é excitado). Como as amostras desse

trabalho foram sequenciadas junto com mais 40 amostras provenientes de outros estudos, não

foi difícil combinar as sequências indexadoras de forma a excitar ambos os canais a cada

ciclo. As sequências indexadoras(index) utilizadas para as amostras coletadas para realização

desse trabalho estão esquematizadas na tabela 7 a seguir.

Tabela 7. Combinações das sequências indexadoras utilizadas para as amostras analisadas

Amostras Index i5 Index i7

Controle negativo (1) SA701 AACTCTCG SB501 CTACTATA

Controle negativo (2) SA701 AACTCTCG SB502 CGTTACTA

Controle negativo (3) SA701 AACTCTCG SB503 AGAGTCAC

Clínica A – ponto 1 (A1) SA701 AACTCTCG SB504 TACGAGAC

Clínica A – ponto 2 (A2) SA701 AACTCTCG SB505 ACGTCTCG

Clínica A – ponto 3 (A3) SA701 AACTCTCG SB506 TCGACGAG

Clínica B – ponto 1 (B1) SA701 AACTCTCG SB507 GATCGTGT

Clínica B – ponto 2 (B2) SA702 ACTATGTC SB501 CTACTATA

Clínica B – ponto 3 (B3) SA702 ACTATGTC SB502 CGTTACTA

Clínica C – ponto 1 (C1) SA702 ACTATGTC SB503 AGAGTCAC

Page 47: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

47

Clínica C – ponto 2 (C2) SA702 ACTATGTC SB504 TACGAGAC

Clínica C – ponto 3 (C3) SA702 ACTATGTC SB505 ACGTCTCG

Clínica D – ponto 1 (D1) SA702 ACTATGTC SB506 TCGACGAG

Clínica D – ponto 2 (D2) SA702 ACTATGTC SB507 GATCGTGT

Clínica D – ponto 3 (D3) SA703 AGTAGCGT SB501 CTACTATA

Dessa forma, o tamanho total dos primers ficou entre 63 e 68 pb. A amplificação das

amostras foi realizada no equipamento termociclador Thermal Cycler 1000 (Biorad), nas

seguintes condições: desnaturação inicial a 94ºC por 5 minutos, 40 ciclos de 45 segundos a

94ºC, 1 minuto a 50ºC e 1 minuto e 90 segundos a 72ºC. Após os ciclos, foi realizada uma

extensão final a 72ºC por 10 minutos. A mistura reacional com volume final de 25 L

continha 200 nM de cada primer, 18 L de AccuPrime Pfx Supermix(ThermoFisher

Scientific) e um volume de 6 L de cada amostra.

Para visualização dos produtos amplificados, alíquotas de 3 L dos produtos da reação

somados com 1 L de tampão de corrida (mesmo descrito no item 4.3.3) e 1 L do GelRedTM

(Biotium) foram submetidos à eletroforese em gel de agarose (Uniscience) a 2% em TAE 1X

a 60V por 90 minutos.Foi adicionado à corrida eletroforética o padrão de peso molecular

100bp molecular ruler (Bio-Rad). Controles negativos também foram aplicados no gel a fim

de confirmar ausência de contaminação proveniente do protocolo de extração ou dos

reagentes empregados.

Foram realizadas três reações de amplificação semelhantes e os seus produtos foram

agrupados em pools para cada amostra.

Os pools dos produtos amplificados foram purificados pelo kit comercial de

purificação de amplicons Agencourt AMPure XP (Beckman Coulter®) conforme as

recomendações do fabricante. Com o intuito de verificar a eficiência da purificação e se houve

perda de amostra, os amplicons purificados foram submetidos à eletroforese em gel de

agarose (Uniscience) a 2% nas mesmas condições da anterior.

As amostras foram quantificadas através do kit comercial Quant-iTTM

dsDNA HS Assay

Kit (ThermoFisher Scientific)no Qubit®(ThermoFisher Scientific)seguindo as recomendações

do fabricante. Algumas amostras foram diluídas de modo que todas atingissem concentrações

equimolares de 2nM. A seguir, os pools de amplicons com concentrações equimolares foram

unificados e o DNA contido no pool resultante foi quantificado pelo mesmo método

fluorimétrico descrito acima.

Page 48: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

48

4.4.4 Sequenciamento utilizando a plataforma MiSeq- Illumina

O preparo da amostra para a reação de sequenciamento, assim como a reação em si, foi

realizado no Laboratório de Genoma do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes –

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com a colaboração do professor Rodolpho

Albano.

Antes das bibliotecas serem encaminhadas aoMiSeq, elas passaram por uma etapa de

desnaturação com NaOH e foram combinadas com 5% de uma biblioteca genômica do fago

PhiX 174. A biblioteca do vírus PhiX é sempre utilizada nos seqüenciamentos realizados nos

equipamentos da Illumina como um padrão interno de qualidade e para aumentar a

diversidade genética de amostras pouco diversas como, por exemplo, amplicons gerados a

partir de genes marcadores como o rDNA 16S. Assim, foram transferidos 5 L da biblioteca a

2 nM para um microtubo de 1,5 mL e adicionados 5 L de 0,2 N NaOH. A outro microtubo

semelhante, foram adicionados 2 L da biblioteca de DNA genômico do fago PhiX a 20 nM,

3 mL de água Milli-Q e 5 mL de 0,2N NaOH. Os tubos foram vortexados, centrifugados por 1

minuto a 400 x g e incubados por 5 minutos a temperatura ambiente.

Tanto a biblioteca quanto o PhiX foram diluídos com HT1 (tampão de hibridização)

de modo que a biblioteca chegasse à concentração final de 10 pM e o PhiX à concentração de

12 pM. Foram então combinados570 L da solução de 10 pM da biblioteca e 30 L do PhiX

em um novo tubo e vortexados. Estes 600 L foram utilizados para o sequenciamento no

MiSeq(KOZICH et al., 2013).

4.4.5 Análise das sequências geradas utilizando ferramentas de bioinformática

As sequências geradas pelo Illumina foram analisadas utilizando o software mothur

v.1.36.1 seguindo as etapas descritas no MiSeqSOP

(http://www.mothur.org/wiki/Miseq_SOP) (KOZICH et al., 2013) com algumas

modificações.

O primeiro passo foi a montagem dos contigs a partir das sequências forward e

reverseem formato FastQgeradas pelo Illumina. Os contigs maiores que 275 pb e/ou que

continham bases ambíguas (ex. “N”) foram removidos. Em seguida, as sequências idênticas

foram agrupadas e posteriormente alinhadas contra o banco de dados de genes rDNA 16S

SILVA (QUAST et al., 2013). Os artefatos quiméricos, produtos de PCR originados durante a

Page 49: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

49

amplificação por mais de uma fita de DNA molde, foram detectados e removidos através da

ferramenta UCHIME (EDGAR et al., 2011) ainda dentro do software mothur. As sequências

foram classificadas em diferentes níveis taxonômicos através do método Baiesiano utilizado

pelo mothur contra o RDP 16S rRNAgene Training set (version 9) (COLE et al., 2007;

WANG et al., 2007).

Tanto as sequências que não puderam ser classificadas a nível de reino quanto as

classificadas como Archaea, Eukaryota, cloroplastos ou mitocôndrias foram removidas. As

sequências foram agrupadas em OTUs, considerando uma dissimilaridade de 3%, que

corresponde ao nível taxonômico de espécie. Posteriormente, o número de sequências foi

normalizado para 6.855, que foi o menor número de sequências encontrado dentro das

amostras que apresentaram amplificação, através do comando sub.sample no mothur, para

realizar as análises de diversidade alfa e beta.

Foram construídas curvas de rarefação para as amostras considerando a distância

genética de 3 e 5%. A análise da diversidade das amostras foi calculada pelos índices de

Shannon e invSimpson (recíproca de Simpson). Foram também calculados os índices de Ace

e Chao1, que estimam a riqueza das amostras. Também foram construídos diagramas de Venn

que permitiram melhor visualização da quantidade de OTUs exclusivas e compartilhadas

entre os pontos das clínicas analisadas.

Para que os dados taxonômicos das amostras gerados pelo programa mothur pudessem

ser visualizados em outros programas, os dados foram convertidos para o formato Biological

Observation Matrix (Biom). Este arquivo foi aberto no programa MEGAN 5 (HUSON et al.,

2007), onde foram construídos gráficos de distribuição taxonômica aos níveis de filo e gênero.

4.4.6 Controle de qualidade das análises realizadas

4.4.6.1 Análise das comunidades bacterianas por metodologia dependente de cultivo

A fim de assegurar a confiabilidade das análises microbiológicas, todos os meios de

culturarecém preparados foram submetidos à incubação a 37+/- 1°C e a 26 +/- 1°C por sete

dias. Somente foram utilizados os meios que não apresentaram crescimento microbiano após

o período de incubação.

Ademais, como controle de que as cabines de segurança biológica forneciam um

ambiente livre de contaminação bacteriana durante a manipulação das amostras, uma placa de

petri contendo meio de cultivo TSA foi mantida aberta em todos os procedimentos realizados

Page 50: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

50

dentro das cabines. Não foi observado crescimento bacteriano em nenhuma das placas

analisadas.

4.4.6.2 Análise das comunidades bacterianas por abordagem metagenômica utilizando

o gene rDNA 16S

Para essa análise, foram utilizados 3 controles negativos: (i) da reação de PCR; (ii) do

processo de extração de DNAe (iii) do processo de concentração das amostras no Vacufuge. O

primeiro controle foi obtido a partir da reação de PCR de uma amostra contendo apenas a

mistura de reagentes da reação, sem nenhuma amostra. O segundo controle foi obtido através

da filtração de uma amostra de água Milli-Q previamente autoclavada através de um filtro de

fluoreto de PVDF de 0,22 m (Millipore®SterivexTM

GV), seguida da extração de DNA

diretamente do filtro, conforme procedimento descrito nos itens 4.4.1 e 4.4.2. O terceiro

controle foi realizado submetendo-se microtubos contendo apenas água Milli-Q previamente

autoclavada ao processo de concentração no Vacufuge, com o objetivo de assegurar que essa

etapa não introduziu contaminação bacteriana. Todos os controles foram amplificados e

sequenciados conforme os procedimentos descritos nos itens 4.4.3 e 4.4.4 seguidos da análise

das sequências no mothur, conforme item 4.4.5.

Page 51: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

51

5. RESULTADOS

5.1 AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS MICROBIOLÓGICOS PRECONIZADOS

PELA RDC ANVISA Nº 11/2014

5.1.1 Verificação da presença/ausência de coliformes totais e E. coli

A análise de presença/ausência de coliformes e E. coli em 100 mL de amostra é

preconizada pela Portaria MS Nº 2914 de 2011 para a água potável, assim como pela RDC

ANVISA Nº 11 de 2014 para água tratada para hemodiálise (BRASIL, 2011; ANVISA,

2014). Decorridas 24 horas de incubação, nenhuma das amostras analisadas pelo método do

substrato definido apresentou coloração amarela ou fluorescência, quando observadas sob luz

ultravioleta. Isso indica ausência tanto de bactérias pertencentes ao grupo dos coliformes

totais quanto de bactérias da espécie E. coli.

A figura 10 mostra o resultado da ausência de coliformes na clínica A. Acoloração

amarela só foi observada nas amostras incubadas com suspensões de Enterobacter cloacea e

Escherichia coli, usadas como controles positivos de coliformes totais e E. coli,

respectivamente (figura 10 – A). A observação de fluorescência somente foi possível no

frasco que continha suspensão de E. coli (figura 10-B). Esse resultado também foi observado

nas demais clínicas visitadas.

Figura 10. Verificação da presença/ausência de coliformes totais e E. colinas amostras da clínica A. No método

do substrato definido empregado, a presença de coliformes totais torna a solução amarela (A)enquanto a

presença de E. coli é evidenciada pelo aparecimento de fluorescência quando é incidida luz ultravioleta (B). Em

(A): (1) Ponto 1; (2) Ponto 2; (3) Pseudomonas aeruginosa(controle negativo para ambos os parâmetros); (4)

Enterobacter cloacea(controle positivo para coliformes totais); (5) Escherichia coli(controle positivo para E.

coli). Em (B): (1) Ponto I; (2) Ponto II; (3) Escherichia coli.

1 2 3

1 2 3 4 5

(B)

(A)

Page 52: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

52

5.1.2 Contagem de bactérias heterotróficas

A RDC ANVISA Nº11/2014 preconiza que as amostras de água potável devem

atender o disposto na Portaria MS Nº 2914/2011, que limita a contagem de bactérias

heterotróficas em 500 UFC/mL (BRASIL, 2011). Jáas amostras de água tratada para diálise

devem apresentar contagem de bactérias heterotróficas inferior a 100 UFC/mL e as de

dialisato, inferior a 200 UFC/mL (ANVISA, 2014). Para avaliar esse parâmetro, as amostras

foram semeadas através da técnica de spread plate nos meios de cultura TSA e R2A,

conforme os procedimentos descritos pela farmacopéia americana (USP 38 – NF 33, 2016) e

pelo Standard Methods for the examination of water and wastewater (APHA, 2012).

Nas amostras provenientes do ponto 1 de todas as clínicas analisadas, que corresponde

à água potável proveniente da rede de abastecimento, não foi observado crescimento de

nenhuma UFC em nenhum dos dois meios de cultura empregados. Portanto, todas as amostras

de água potável (100%) mostraram conformidadecom relação à legislação vigente,

apresentando contagem inferior a 500 UFC/mL.

No ponto 2, a clínica A apresentou contagem média de 80 UFC/mL no meio de cultura

R2A e não foi observado crescimento quando essa mesma amostra foi plaqueada no meio

TSA. Ainda a respeito desse ponto de coleta, foi observada uma contagem média de 90

UFC/mL quando a amostra coletada na Clínica C foi incubada no meio TSA e, da mesma

forma, não foi observado crescimento no meio R2A. As amostras das clínicas B e D

correspondentes ao ponto 2 (C2 e D2) não apresentaram crescimento em nenhum dos meios

de cultivo empregados. Dessa forma, todas as amostras (100%) foram consideradas

satisfatórias, atendendo às exigências da RDC ANVISA Nº 11 DE 2014 (ANVISA, 2014).

Nas amostras de dialisato (ponto 3), foi observado crescimento de 10 UFC/mL na

clínica A, quando foi utilizado o meio TSA e nenhum crescimento quando foi empregado o

meio R2A. Na clínica D, as médias dos valores encontrados, 1840 e 2480, observados nos

meios TSA e R2A, respectivamente, foram bastante elevadas, ultrapassando o limite de 200

UFC/mL, preconizado pela legislação vigente para o dialisato.Dessa forma, verificou-se que

75% (3/4) do total das amostras de dialisato das quatro clínicas atenderam aos limites

determinados pela legislação brasileira. Considerando o total de amostras analisadas, o

percentual foi de 91,7% de conformidade com a legislação (tabela 8).

Page 53: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

53

Tabela 8. Contagem de bactérias heterotróficas (UFC/mL) nas amostras coletadas dos pontos 1, 2 e 3 das

clínicas A, B, C e D

Pontos Ponto 1

(UFC/mL ± DP)

Ponto 2

(UFC/mL ± DP)

Ponto 3

(UFC/mL ± DP)

Clínicas

TSA

48h/30-

35ºC

R2A

7 dias/20ºC

TSA

48h/30-

35ºC

R2A

7 dias/20ºC

TSA

48h/30-35ºC

R2A

7 dias/20ºC

A <10 <10 <10 80± 14 10± 0 <10

B <10 <10 <10 <10 <10 <10

C <10 <10 90± 0 <10 <10 <10

D <10 <10 <10 <10 1840± 127 2480± 162

* DP – Desvio padrão das duplicatas.

** <10 – Placas em que não foi observado crescimento de colônias (APHA, 2012).

Além dos valores de bactérias heterotróficas máximos de 100 UFC/mL e 200 UFC/mL

para a água tratada para diálise e o dialisato, respectivamente, a RDC ANVISA nº 11/2014

também determina um nível de ação de 50 UFC/mL. Dessa forma, as amostras A2 e C2

atingiram o nível de ação, pelo menos em um dos meios de cultura empregados. Quando isso

ocorre, se faz necessária a adoção de providências para identificação do foco de contaminação

e intervenção preventiva a fim de eliminá-lo e impedir que haja aumento da contaminação e

posterior não conformidade com a legislação, apresentando maiores riscos à saúde dos

pacientes.

5.2 ANÁLISE DAS COMUNIDADES BACTERIANAS ATRAVÉS DE

METODOLOGIA DEPENDENTE DE CULTIVO

5.2.1 Identificação das bactérias isoladas das amostras de água e dialisato dos sistemas

de hemodiálise

A partir das amostras de água e dialisato concentradas por filtração, inoculadas nos

caldos R2A e TSB e posteriormente semeadas em placas de petri contendo a versão sólida dos

mesmos meios, as colônias obtidas foram analisadas morfologicamente e os morfotipos

representantes resultaram em 32 isolados nos pontos de coleta analisados, sendo 9

provenientes da clínica A (ponto 1=1, ponto 2=7 e ponto 3=1), 2 da clínica B (ponto 1=1 e

Page 54: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

54

ponto 2=1), 8 da clínica C (ponto 1=1, ponto 2=4 e ponto 3=3) e 12 da clínica D (ponto 1=1,

ponto 1=2 e ponto 3=9). Dos 32 isolados, 28 (87,5%) puderam ser identificados até o nível de

gênero e 12 (37,5%) até o nível de espécie, através do sequenciamento parcial do gene que

codifica o rRNA 16S. A figura 11 mostra alguns isolados da Clínica D.

Figura 11. Aspectos de diferentes isolados provenientes da Clínica D nos meios de cultivo TSA e R2A.

Na Clínica A, foram encontrados diferentes micro-organismos ao longo do sistema de

água de hemodiálise. No ponto 1, o único isolado obtido foi classificado como Bacillus sp. No

segundo ponto, foram isolados Herbaspirillum frisingense, Cupriavidus sp e Micrococcussp

e, por último, na amostra de dialisato somente foi possível o isolamento da espécie

Staphylococcus epidermidis, não havendo isolados compartilhados entre os diferentes pontos

de coleta.

Na Clínica B, bactérias foram isoladas somente nos pontos 1 e 2. No ponto 1, foi

encontrado o gênero Pseudomonas e no ponto 2, um isolado pertencente à família

Burkholderiaceae, que não pôde ser identificado a nível de gênero ou espécie.

A clínica C apresentou a espécie Streptococcus salivarius no ponto 1. No ponto 2,

Bacillus sp e Ralstonia sp enquanto no ponto 3, foram identificados isolados pertencentes à

espécie Halomonasmeridiana, Halomonas sp e Burkholderia sp.

Na Clínica D, o ponto 1 apresentou a espécie Bacillus subtilis, cujo gênero também foi

observado no ponto 1 da Clínica A. No ponto 2, os gêneros Rhizobium e Burkholderia foram

encontrados, mostrando mais uma semelhança com outra clínica, a B, na qual também foi

encontrado um membro da família Burkholderiaceae nas amostras de água tratada. No

dialisato da Clínica D foram observados Pseudomonas stutzeri, Microbacterium sp e

Page 55: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

55

Rhizobiumsp, este último também presente na água para diálise desta mesma clínica (tabela

9).

Tabela 9. Identificação por sequenciamento parcial do gene rDNA 16S das bactérias isoladas por metodologia

de cultivo

Isolados Clínica

Ponto

de

coleta

Meio de

cultura de

isolamento

Sequenciamento rDNA 16S (%identidade)

A1-1 A 1 TSA Bacillus sp (99%)

A2-1 A 2 TSA Herbaspirillum frisingense (98%)

A2-2 A 2 TSA Cupriavidus sp (99%)

A2-3 A 2 R2A *

A2-4 A 2 R2A Micrococcus(98%)

A2-5 A 2 R2A Herbaspirillum frisingense (99%)

A2-6 A 2 R2A Herbaspirillum frisingense (99%)

A2-7 A 2 R2A Herbaspirillum frisingense (99%)

A3-1 A 3 TSA Staphylococcus epidermidis (99%)

B1-1 B 1 TSA Pseudomonas sp (96%)

B2-1 B 2 TSA ** Família Burkholderiaceae

C1-1 C 1 TSA Streptococcus salivarius (96%)

C1-2 C 1 R2A Caulobacter vibrioides (90%)

C2-1 C 2 R2A Bacillus sp (86%)

C2-2 C 2 R2A Ralstonia sp (97%)

C2-3 C 2 R2A Ralstonia sp (96%)

C2-4 C 2 R2A Ralstonia sp (91%)

C3-1 C 3 TSA Halomonas meridiana (97%)

C3-2 C 3 TSA Halomonas sp (97%)

C3-3 C 3 R2A Burkholderia sp (96%)

D1-1 D 1 R2A Bacillus subtilis (97%)

D2-1 D 2 TSA Burkholderia sp (93%)

D2-2 D 2 R2A Rhizobium sp (95%)

D3-1 D 3 TSA Pseudomonas stutzeri (96%)

D3-2 D 3 TSA Pseudomonas stutzeri (96%)

D3-3 D 3 TSA Microbacterium sp (97%)

D3-4 D 3 TSA *

Page 56: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

56

D3-5 D 3 TSA Microbacterium sp (99%)

D3-6 D 3 R2A Pseudomonas stutzeri (97%)

D3-7 D 3 R2A Microbacterium sp (94%)

D3-8 D 3 R2A Rhizobium sp (96%)

D3-9 D 3 R2A Microbacterium sp (97%)

* Organismo não identificado

** Organismo identificado até o nível taxonômico de família

Assim, os gêneros mais encontrados pelos diferentes pontos de coleta foram: Bacillus

(A1, C2 e D1), Pseudomonas (B1 e D3), Burkholderia (C3 e D2) e Rhizobium (D2 e D3).

Dois isolados, A2-3 e D3-4, não puderam ser identificados pelo sequenciamento

parcial do rDNA 16S, pois não foram encontrados micro-organismos com alto percentual de

identidade quando suas sequências foram comparadas com as contidas no GenBank (figura

12). O isolado B2-1 também não pôde ser identificado a nível de gênero, mas foi possível

atribuí-lo à família Burkholderiaceae.

Figura 12. Comparação das sequências FASTA de parte do gene rDNA 16S amplificada pelos primers 27F e

907R (A) do isolado A2-3 e (B) D3-4 com as sequências depositadas no GenBank.

Page 57: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

57

5.3 ANÁLISE DAS COMUNIDADES BACTERIANAS ATRAVÉS DE

METODOLOGIA INDEPENDENTE DE CULTIVO

5.3.1 Extração de DNA

Os DNAs extraídos diretamente dos filtros de PVDF de 0,22 m se mostraram

límpidos.Foi feita a quantificação de DNA nessas amostras com o objetivo de verificar a

eficiência da extração. Foi observada uma baixa concentração de DNA em todas as amostras,

sendo a D3 a que apresentou a maior concentração (4,17 ng/ L) (tabela 10).

Tabela 10. Quantificação do DNA extraído das amostras coletadas nas clínicas A, B, C e D e concentradas em

filtro de 0,22 m (Sterivex GV Millipore®) utilizando o kit Quant-iTTM

dsDNA HS Assay Kit no fluorímetro

Qubit®

Amostras Concentração de DNA

Controle negativo (Água Milli-Q estéril) < 0,5ng/mL**

A1 0,148 ng/ L (2,80 x 10-3

)*

A2 < 0,5ng/mL**

A3 < 0,5ng/mL**

B1 0,319 ng/ L (4,20 x 10-3

)*

B2 < 0,5ng/mL**

B3 < 0,5ng/mL**

C1 0,243 ng/ L (1,40 x 10-3

)*

C2 0,285 ng/ L (0)

C3 0,154 ng/ L (2,80 x 10-3

)*

D1 0,258 ng/ L (1,10 x 10-3

)*

D2 < 0,5ng/mL**

D3 4,17 ng/ L (0)

* Os valores apresentados constituem a média de 2 medições e o valor entre parênteses o desvio padrão.

** A quantificação do DNA presente em concentrações muito baixas (inferiores a 0,5 ng/mL) não foi possível

devido ao limite de quantificação do método utilizado, não sendo possível, dessa forma, o cálculo da média e

desvio padrão entre as medições.

5.3.2 Amplificação da região V4 do gene rDNA 16S

Os DNAs extraídos foram submetidos à reação de PCR com osprimers específicos

descritos no item 4.4.3visando à obtenção de fragmentos já contendo as sequências

Page 58: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

58

adaptadoras, para o sequenciamento no Illumina. Como as concentrações de DNA obtidas

foram baixas, três estratégias foram utilizadas com o intuito de aumentar as chances de

amplificação pela reação de PCR: (i) as amostras foram concentradas através do Vacufuge

(Eppendorf) por 30 minutos, (ii) o número de ciclos da reação de PCR foi alterado de 35

(CAPORASO et al., 2011) para 40 e (iii) o volume de DNA moldeutilizado na reaçãofoi

alterado de 2 L para 6 L. Com essas alterações, algumas amostras que não haviam

mostrado amplificação, foram amplificadas, gerando um fragmento de aproximadamente

400pb. Entretanto, mesmo após as modificações descritas, as amostras A1, A3, B1, B2, C1,

C2 e D1não puderam ser amplificadas por não terem quantidade de DNA suficiente. A figura

13 mostra os produtos das três reações de PCR que foram agrupados em pools, antes (13-A) e

depois do processo de purificação (13-B), respectivamente. Conforme pode ser observado,

todas as bandas de restos e dímeros de primersforam removidas após o processo de

purificação.

Figura 13. Géis de agarose a 2% em TAE após eletroforese (60V/90min) dos pools dos produtos de 3 reações de

PCR, antes da purificação (A) e após (B). A numeração das amostras corresponde a: 1= controle negativo da

reação de PCR; 2= controle negativo da extração de DNA; 3= controle negativo do processo de concentração das

amostras no Vacufuge; 4= A1; 5= A2; 6= A3; 7= B1; 8= B2; 9= B3; 10= C1; 11= C2; 12= C3; 13= D1; 14= D2;

15= D3.

M 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

M 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

400 pb

100 pb

400 pb

100 pb

(A

)

(B

)

Page 59: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

59

5.3.3 Análises de diversidade, riqueza e rarefação baseadas em OTUs

Após corrida no MiSeq - Illumina,filtração por tamanho (até 275 pb) e qualidade dos

contigsforam geradas 136.052 sequências válidas, sendo observada bastante variação no

número de sequências obtidas em cada amostra (A1=38, A2=17.879, A3=6.855, B1=26,

B2=41, B3=18.550, C1=25, C2=12, C3=38.027, D1=21, D2=22.295, D3=26.995). Devido a

essa grande oscilação no número de sequências obtidas, as amostras A1, B1, B2, C1, C2 e D1

foram excluídas das análises subsequentes, por terem gerado um número muito baixo de

sequências, que foram interpretadas como ruído.

As sequências foram agrupadas em 1.161 OTUs, considerando uma similaridade de

97%,sendo: A2 (n=337), A3 (n=257), B3 (n=224), C3 (n=152), D2 (n=286) e D3 (n=134).

Previamente à construção das curvas de rarefação, recorreu-se ao comando sub.sample

no mothur, que selecionou de forma randomizada 6.855sequências (menor número de

sequências encontrado dentro das amostras que permaneceram sendo estudadas). As curvas de

rarefação (figura 14-A e B) obtidas plotando-se o número de OTUs observadas em relação ao

número de sequências mostraram perfis parecidos nas amostras agrupadas a 97% (espécie) e

95% (gênero) de similaridade, sendo observada uma maior tendência de estabilidade nesta

última. O perfil das curvas de rarefação sugere que a diversidade foi amostrada de modo

satisfatório como um todo. As curvas de rarefação indicam que as amostras C3 e D3, ambas

provenientes de dialisato apresentaram menor diversidade que as outras, mostrando maior

tendência a atingir um platô. Por outro lado, as amostras A2 e A3, ambas provenientes da

mesma clínica, apresentaram uma maior diversidade quando comparadas com as demais

amostras analisadas.

Page 60: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

60

Figura 14. Curvas de rarefação indicando o número estimado de OTUs em relação ao número de sequências

analisadas construídas no mothur(A) considerando uma distância genética de 3% e (B) uma distância genética de

5%.

Foram calculados os índices estimadores de riqueza ACE e Chao1 e de diversidade

Shannon e Inverse Simpson (Recíproca de Simpson) assim como os valores de cobertura

alcançados para cada amostra. Os resultados mostram que o número de sequências analisadas

permitiu atingir uma cobertura satisfatória das OTUs presentes em todas amostras, visto que

os valores de cobertura observados foram superiores a 98% para todas.

(A)

(B)

Page 61: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

61

Analisando as estimativas de riqueza calculadas pelos índices ACE e Chao1,

considerando o intervalo de confiança a 95% de probabilidade, observou-se pouca diferença

entre as amostras analisadas. Os valores obtidos por ambos os métodos não paramétricos

sugerem uma maior riqueza nas amostras coletadas na clínica A (A2 e A3), não sendo

observada diferença significativa entre os dois pontos. Os valores obtidos revelaram ainda

que, de um modo geral, as amostras C3 e D3 apresentaram uma riqueza inferior ao restante

das amostras.

Os resultados demonstraram que para as amostras A3 e B3 a diversidade foi maior que

a observada nas demais amostras, de acordo com os índices de Shannon e recíproca de

Simpson, que apresentaram a mesma tendência. Além disso, os valores obtidos com esses

estimadores também revelaram menor diversidade de OTUs nas amostras C3 e D3, assim

como havia sido observado em relação à riqueza, conforme pode ser verificado na tabela 11 a

seguir.

Page 62: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

62

Tabela 11. Número de OTUs, cobertura, índices de riqueza (Ace e Chao1) e diversidade (Shannon e Recíproca de Simpson) calculados pelo software mothur v. 1.36.1 das

amostras que apresentaram número de sequências igual ousuperior a 6.855 utilizando um cutoff de 97%.

Amostras Nº de OTUs

observadas

Cobertura Riqueza Diversidade

ACE Chao1 Recíproca de Simpson Shannon

A2 207,461±7,414 0,985±0,001 564,975 ±79,460

(487,067-664,731)

429,329 ± 62,071

(334,682-594,566)

6,076 ± 0,102 (5,829-

6,343)

2,657 ± 0,018

(2,614-2,700)

A3 257 ± 0 0,985 ± 0 469,868 ± 0 (418,318-

537,893)

396,216 ± 0 (339,721-

491,295)

8,653 ± 0 (8,252-

9,095)

3,181 ± 0

(3,136-3,226)

B3 152,141± 5,493 0,992 ± 0,001 294,677±45,199

(252,227-355,441)

263,028 ± 43,868

(204,192-388,686)

17,444 ± 0,220

(16,918-18,003)

3,381 ±0,014

(3,349-3,414)

C3 70,133 ± 4,574 0,996 ± 0,001 216,555 ± 71,652

(166,940-292,717)

131,124 ± 35,336

(93,431-230,423)

4,810 ± 0,072 (4,663-

4,966)

2,109 ±0,016

(2,076-2,143)

D2 163,847 ± 6,492 0,988 ± 0,001 399,071 ± 71,221

(338,254-481,583)

303,324 ± 43,216

(239,330-421,713)

6,958 ± 0,098 (6,739-

7,192)

2,576 ± 0,017

(2,538-2,615)

D3 67,192 ± 4,565 0,995 ± 0,001 193,029 ± 57,612

(149,110-261,713)

134,567 ± 35,992

(93,519-240,128)

1,767 ± 0,019 (1,724-

1,812)

1,113 ± 0,017

(1,075-1,150)

Valores entre parênteses representam o intervalo com 95% de confiança.

Page 63: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

63

5.3.4 Estrutura e composição taxonômica das comunidades bacterianas encontradas nas

amostras analisadas

As interseções das OTUs agrupadas a 97% de similaridadeobservadas entre as

amostras de dialisato das quatro clínicas analisadas (amostras A3, B3, C3 e D3) assim como

as OTUs compartilhadas entre as amostras de água tratada e dialisato das clínicas A e D –

únicas que apresentaram mais de um ponto passível de estudo – foram verificadas por meio

dos diagramas de Venn gerados pelo mothur (figura 15).A partir desses dados, observou-se

que mais de 70% das OTUs observadas na amostra A3 não foram compartilhadas com as

outras clínicas, assim como aproximadamente 56% das OTUs da amostra B3, 45% da amostra

C3 e em torno de 65% das OTUs encontradas na amostra D3 não foram comuns a outras

clínicas, mostrando uma grande variedade bacteriana entre diferentes clínicas. Foram

compartilhadas 9 OTUs entre as 4 amostras de dialisato comparadas, que representam 1,98%

do número total de OTUs que foram obtidas. As OTUs compartilhadas correspondem aos

seguintes gêneros: Pseudomonas (2 OTUs), Sphingomonas (1 OTU), Paracoccus (1 OTU) e

Burkholderia (1 OTU). As outras 4 OTUs foram identificadas como unclassified, sendo

possível apenas chegar à conclusão de que 3 correspondiam ao filo Proteobacteria e 1, ao

Firmicutes. Dos gêneros observados, Burkholderia e Pseudomonas também haviam sido

identificados pela abordagem dependente de cultivo nas amostras de dialisato das clínicas C e

D, respectivamente. No diagrama de Venn entre as duas amostras da clínica A, foi observado

compartilhamento de 68 OTUso que representa 17% do total de OTUs observadas nos dois

pontos examinados. A outra análise comparativa entre água tratada para diálise e dialisato, na

clínica D, resultou no compartilhamento de 21 OTUs (8,5%). Através dessa análise foi

possível observar também uma diferença considerável entre as comunidades bacterianas

presentes na água tratada para hemodiálise e no dialisato de uma mesma clínica, corroborando

os resultados obtidos nos ensaios dependentes de cultivo.

Page 64: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

64

Figura 15. Diagramas de Venn gerados pelo mothur com OTUs agrupadas a 97% de similaridade mostrando o

compartilhamento destas para as comunidades bacterianas entre as amostras (A) A3, B3, C3 e D3, (B) A2 e A3 e

(C) D2 e D3.

A distribuição taxonômica das sequências provenientes da região V4 do gene rDNA

16S que foram geradas pela plataforma MiSeq-Illumina foi determinada por meio do

programa MEGAN 5.0, no qual foi aberto o arquivo no formato Biom gerado pelo mothur.

Foram identificados 10 filos distintos no grupo de amostras analisado, sendo que os micro-

organismos pertencentes a cinco delesrepresentam 99,6% do total encontrado. São eles:

Proteobacteria, Firmicutes, Actinobacteria, Bacteroidetes e Fusobacteria. Proteobacteria foi o

filo mais abundante em todas as amostras analisadas, com 82% das sequências analisadas

atribuídas a ele, mesma tendência observada através da metodologia dependente de cultivo.

Para as amostras A2, A3 e B3, o filo Firmicutes foi o segundo mais frequente, enquanto que

para as amostras C3 e D3 Actinobacteria foi mais abundante e para D2, o filo Bacteroidetes

apareceu na segunda posição. Os cinco filos predominantes estão representados na figura 16.

A2 A3 D2 D3

150 68 189 162 21 63

D3

B3

C3

A3

93

4

12

44

2

9

2

1

3

4

55

8

34

3

180

(A)

(B) (C)

A2 D2

186 32 151

(D)

Page 65: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

65

Figura 16. Distribuição taxonômica dos filos bacterianos que compreendem 99,6% das bactérias encontradas.

Sequências obtidas através do sequenciamento da região V4 do rDNA 16S na plataforma MiSeq -Illuminanas

amostras A2, A3, B3, C3, D2 e D3.

Na figura 17, é possível analisar mais detalhadamente a composição de cada amostra.

De um modo geral, o perfil das comunidades bacterianasnas amostras em relação ao filo não

variou muito. Na amostra A2, observou-se uma predominância do filo Proteobacteria

(93,4%), seguido dos filos Firmicutes (3,29%), Bacteroidetes (1,65%) e Actinobacteria

(1,15%). Na amostra A3, os filos Proteobacteria (74,3%), e Firmicutes (16,7%) também

foram os mais abundantes, mas Actinobacteria (6,53%) foi encontrado com maior frequência

do que Bacteroidetes (1,27%). Na amostra B3, um padrão um pouco diferente foi observado.

Os filos Proteobacteria e Firmicutes foram encontrados em uma proporção parecida, 48% e

40,8%, respectivamente. Esses filos foram seguidos por Bacteroidetes (5,76%),

Actinobacteria (2,86%) e Fusobacteria (1,86%). As amostras de dialisato C3 e D3

apresentaram uma distribuição de filos muito similar, predominando o filo Proteobacteria

(92,2% e 91,3%), seguido de Firmicutes (0,5% e 0,73%), Bacteroidetes (0,4% e 0,4%) e

Actinobacteria (6,84% e 7,60%). Na amostra D2, o filo Proteobacteria também predominou

(93,7%), mas a ocorrência do filo Bacteroidetes (4,64%) foi consideravelmente maior que

Actinobacteria, que representou menos de 1% das sequências analisadas. Os filos

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Proteobacteria Firmicutes Actinobacteria Bacteroidetes Fusobacteria

Seq

uên

cias

an

alis

adas

(%

)

A2 A3 B3 C3 D2 D3

Page 66: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

66

quesomados, totalizam 0,38% do total estão agrupados como “raros” e compreendem

Acidobacteria, Planctomycetes, Chlamydiae,Tenericutes e Deinococcus-Thermus.

Figura 17. Diferenças na composição das comunidades bacterianas a nível de filo nas amostras A2, A3, B3, C3,

D2 e D3.

A nível de gênero, os 10 mais abundantes foram: Halomonas, Pseudomonas,

Sphingomonas, Paracoccus, Methylobacterium, Bradyrhizobium, Streptococcus,

Caulobacter, Burkholderia e gêneros pertencentes ao filo Actinobacteria, que não puderam

ser classificados a esse nível taxonômico. Esses gêneros compreendem 80% do total de OTUs

encontradas. Destes, os gêneros Pseudomonas, Caulobacter, Burkholderia, Halomonas e

Streptococcus também foram observados pela metodologia dependente de cultivo.

Halomonas se mostrou o gênero mais frequente (24%) - quando se considera o

número total de gêneros encontrados em todas as amostras analisadas, seguido de

Pseudomonas(21,5%), que esteve presente em todos os pontos avaliados. Outro gênero que

também foi encontrado em todas as amostras foi Sphingomonas, em geral menos abundante

Page 67: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

67

que Pseudomonas, com exceção da amostra D2, em que o primeiro foi mais abundante (figura

18).

Figura 18. Distribuição taxonômica dos 10 gêneros bacterianos mais frequentes, que correspondem a

aproximadamente 80% do total dos gêneros encontrados. Sequências obtidas através do sequenciamento da

região V4 do rDNA 16S na plataforma MiSeq - Illumina nas amostras A2, A3, B3, C3, D2 e D3. As bactérias

pertencentes ao filo Actinobacteria não puderam ser classificadas a nível de gênero, por isso são representadas

pelo filo.

Na amostra A2, 3 gêneros predominaram: Bradyrhizobium (27,8%), Pseudomonas

(27,4%) e Sphingomonas (22,4%). Já a amostra A3 teve o gênero Pseudomonas como

predominante (58,8%), Methylobacterium como segundo gênero mais abundante (10,5%),

seguidos de outros gêneros menos frequentemente encontrados. Os gêneros compartilhados

entre esses dois pontos analisadosna Clínica A foram: Pseudomonas, Sphingomonase

Yersinia, o qual foi identificado apenas nessas duas amostras.

A amostra B3 apresentou uma comunidade bacteriana distribuída em uma quantidade

maior de gêneros que as demais amostras, considerando os gêneros que apresentaram

frequência acima de 1%, corroborando o que haviam apontado os índices de diversidade

Shannon e recíproca de Simpson. Os gêneros mais abundantes foram Pseudomonas (29,9%),

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

Seq

uên

cias

an

alis

adas

(%

)

A2 A3 B3 C3 D2 D3

Page 68: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

68

Streptococcus (16,9%), Halomonas (13,1%), Veillonella (10,1%) seguidos de outros com

distribuição parecida.

O gênero Halomonas apareceu como mais frequente na amostra C3 (35,6%), seguido

de Sphingomonas (16,5%), Paracoccus (11,9%), gêneros pertencentes ao filo Actinobacteria

(11,65%), Idiomarina (8,55%) e Pseudomonas (6,56%). Outros gêneros como Burkholderia,

Caulobacter, Phenylobacter e Methylobacter também foram observados.

Em relação aos pontos 2 e 3 coletados na Clínica D, houve uma grande diferença entre

as comunidades bacterianas, sendo compartilhados por ambos os pontos apenas os gêneros

Pseudomonas e Sphingomonas, também presentes nas demais amostras. Na amostra D2, o

gênero Sphingomonas foi o mais frequentemente observado (45,5%), seguido de Caulobacter

(13,8%), Pseudomonas (12,7%), Burkholderia (9,8%) e outros menos abundantes. A amostra

D3 apresentou uma baixa diversidade ao nível de gênero quando comparada às demais

amostras, sendo observados apenas Halomonas (70%), Paracoccus (12,6%), gêneros

pertencentes ao filo Actinobacteria (7,9%) Pseudomonas (5,1%) e Sphingomonas (2,6%),

além dos gêneros considerados como raros por estarem presentes em uma frequência inferior

a 1%.

Dessa forma, foi visto que o gênero Bradyrhizobium foi observado somente em

amostras de água para hemodiálise, não sendo detectado em nenhum dos dialisatos

investigados. Já os gêneros Paracoccus e Staphylococcus foram detectados apenas nas

amostras de dialisato, estando presentes em 3/4 (75%) e 2/4 (50%) amostras, respectivamente.

O total dos gêneros reportados para cada amostra, desconsiderando os que foram

encontrados com frequência inferior a 1% em cada uma, são apresentados na figura 19.

Page 69: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

69

Figura 19. Diferenças na composição das comunidades bacterianas a nível de gênero das amostras A2, A3, B3,

C3, D2 e D3. O grupo Raros é representado pelos gêneros que correspondem a menos de 1% do total de OTUs

encontradas e classificadas a nível de gênero.

5.3.5 Comparação entre as comunidades bacterianas encontradas pela metodologia

dependente de cultivo e independente de cultivo

Conforme resultados expostos acima, Proteobacteria foi o filo mais acessado, tanto de

forma dependente, em que 61% dos isolados pertenciam a esse filo, quanto independente de

cultivo, em que representou 82% das sequências analisadas.

Page 70: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

70

Os gêneros Halomonas, Pseudomonas, Streptococcus, Caulobacter, Burkholderia,

Staphylococcus e os pertencentes ao filo Actinobacteria foram obtidos por ambas as

metodologias, mas nem todos nas mesmas amostras. Os gêneros que puderam ser

identificados por ambos os métodos nas mesmas amostras foram: Halomonas (C3),

Pseudomonas (D3), Burkholderia (C3 e D2) e Staphylococcus (A3).

Todas as amostras que puderam ser analisadas tanto pela metodologia dependente de

cultivo quanto pela independente apresentaram uma comunidade bacteriana mais rica através

do último método (tabela 12). Diversos gêneros puderam ser acessados apenas pela análise

independente de cultivo: Sphingomonas, Paracoccus, Methylobacterium, Bradyrhizobium,

Yersinia, Novosphingobium, Weissella, Phenylobacterium, Idiomarina, Pasteurellaceae,

Prevotella, Veillonella, Acidominococcus, Sporolactobacillus, Telmatospirilum,

Hyphomicrobium,Acinetobacter, além dos filos encontrados com uma frequência de até 1%

em cada amostra, que foram desconsiderados dessas análises.

Entretanto, as amostras A1, B1, B2, C1, C2 e D1 somente foram analisadas pela

metodologia dependente de cultivo, o que pode ter sido causado pela pouca quantidade de

DNA obtida para amplificação da região V4 do gene que codifica o rRNA 16S.Desse grupo

de amostras, 67% corresponde a amostras de água potável, antes de passar pelos sistemas de

tratamento. Assim, nenhuma amostra de água potável foi analisada pela metodologia

independente de cultivo. Além disso, alguns gêneros somente foram detectados através do

método de cultivo, como Micrococcus, Microbacterium, Rhizobium e Cupriavidus.

Page 71: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

71

Tabela 12. Comparação entre os gêneros bacterianos isolados através de cultivo e os gêneros acessados de forma independente de cultivo

Gêneros Amostras

A1 A2 A3 B1 B2 B3 C1 C2 C3 D1 D2 D3

D I D I D I D I D I D I D I D I D I D I D I D I

Halomonas - - - + - - - - - - - + - - - - + + - - - - - +

Pseudomonas - - - + - + + - - - - + - - - - - + - - - + + +

Sphingomonas - - - + - + - - - - - - - - - - - + - - - + - +

Actinobacteria* - - - + - + - - - - - + - - - - - + - - - - - +

Micrococcus** - - + - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Paracoccus - - - - - - - - - - - - - - - - - + - - - - - +

Methylobacterium - - - - - + - - - - - + - - - - - + - - - + - -

Bradyrhizobium - - - + - - - - - - - - - - - - - - - - - + - -

Streptococcus - - - - - - - - - - - + + - - - - - - - - - - -

Caulobacter - - - + - - - - - - - - + - - - - + - - - + - -

Burkholderiacaea*** - - - - - - - - + - - - - - - - - - - - - - - -

Burkholderia - - - - - - - - - - - - - - - - + + - - + + - -

Bacillus + - - - - - - - - - - - - - + - - - + - - - - -

Herbaspirilum - - + - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Cupriavidus - - + - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Ralstonia - - - - - - - - - - - - - - + - - - - - - - - -

Staphylococcus - - - - + + - - - - - + - - - - - - - - - - - -

Rhizobium - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - + - + -

Page 72: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

72

Microbacterium - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - + -

Yersinia - - - + - + - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Novosphingobium - - - + - - - - - - - - - - - - - - - - - + - -

Weissella - - - - - + - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Phenylobacterium - - - - - - - - - - - - - - - - - + - - - + - -

Idiomarina - - - - - - - - - - - - - - - - - + - - - - - -

Pasteurellaceae - - - + - - - - - - - + - - - - - - - - - - - -

Prevotella - - - - - - - - - - - + - - - - - - - - - - - -

Veillonella - - - - - - - - - - - + - - - - - - - - - - - -

Acidominococcus - - - - - - - - - - - + - - - - - - - - - - - -

Sporolactobacillus - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Telmatospirilum - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - + - -

Hyphomicrobium - - - + - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Acinetobacter - - - - - + - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Fusobacteria**** - - - - - - - - - - - + - - - - - - - - - - - -

D – Metodologia dependente de cultivo; I – Metodologia independente de cultivo; “ +”: gênero acessado pela metodologia em questão; “-“ gênero não acessado pela

metodologia em questão.

* Organismos pertencentes ao Filo Actinobacteria não puderam ser classificados até o nível de gênero pela metodologia independente de cultivo.

** Micrococcus pertence ao Filo Actinobacteria mas foi isolado e identificado pela metodologia dependente de cultivo.

*** Organismo identificado até o nível taxonômico de família.

**** Organismos pertencentes ao Filo Fusobacteria não puderam ser classificados até o nível de gênero pela metodologia independente de cultivo.

Page 73: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

73

6. DISCUSSÃO

A água potável, para ser utilizada na hemodiálise, passa por um processo de

tratamento que inclui filtros de carvão e areia, abrandadores e osmose reversa. Esse processo

soluciona diversos problemas gerados pela contaminação química da água, como a hemólise,

que pode ser causada pela presença de cloro e cloraminas. Contudo, a passagem da água pelo

sistema de tratamento pode introduzir complicações relacionadas à contaminação

microbiológica, devido à remoção do cloro, que pode fazer com que micro-organismos

voltem a ser detectados assim como pela presença dos filtros, resinas dos abrandadores e

carvão ativado, que oferecem grandes superfícies nas quais bactérias e outros micro-

organismos poderiam crescer (FARIA, 2011). Além disso, após o tratamento, a água passa

por diversas tubulações para ser distribuída para as máquinas. O diâmetro e comprimento

dessas tubulações, que costumam ser grandes, podem reduzir a velocidade do fluxo de água, o

que permite a multiplicação de bactérias, que podem aderir às superfícies dessas tubulações e

formar biofilmes, que constituem uma fonte de contaminação bacteriana constante e de difícil

remoção (ROTH & JARVIS, 2000).

Para evitar a formação de biofilmes, as concentrações bacterianas e de seus produtos

devem ser mantidas baixas. A exposição de pacientes a elevadas concentrações microbianas

está associada tanto com complicações de curto-prazo como febre, desconforto e náuseas

quanto com consequências de longo-prazo, como amiloidose e desnutrição. Além disso, a

possibilidade de infecção existe, caso a membrana do dialisador não esteja íntegra, podendo

permitir a passagem de micro-organismos (ALMODOVAR, PEREIRA & BUGNO, 2009).

Dessa forma, como os micro-organismos encontrados na água para hemodiálise

podem representar um risco à saúde dos pacientes, por serem produtores de doenças invasivas

ou atuarem como indutores de respostas imunológicas nesses pacientes, nesse

trabalhoinvestigamos a comunidade bacteriana em amostras provenientes de unidades de

hemodiálise vinculadas ao SUS, localizadas no município do Rio de Janeiro. As coletas foram

realizadas em quatro clínicas visitadas, ao longo dos sistemas de tratamento de água para

hemodiálise nos seguintes pontos: água potável proveniente da rede de abastecimento antes de

passar pelo processo de tratamento da clínica, água tratada para hemodiálise e dialisato.

Foram realizadas contagens de bactérias heterotróficas, ensaios para detecção de coliformes

totais e E. coli e identificação das comunidades bacterianas presentes por metodologia

dependente e independente de cultivo.

Page 74: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

74

A detecção de coliformes totais e E. colié extensivamente utilizada no monitoramento

da qualidade de águas (ALM et al., 2013; NOGUEIRA et al., 2003; LEBARON et al., 2005).

Os coliformes totais são bastonetes gram-negativos, compostos por bactérias da família

Enterobacteriaceae, capazes de fermentar a lactose com produção de ácido e gás, quando

incubados a 35-37ºC por 48 horas. As bactérias pertencentes a esse grupo,

predominantemente formado pelos gêneros Escherichia, Enterobacter, Citrobacter e

Klebsiella, são abundantes nas fezes de animais de sangue quente, mas também podem ser

encontradas no solo e vegetais. Destes, apenas a espécie Escherichia colié de origem quase

que exclusivamente fecal, sendo por isso considerada um indicador mais específico de

contaminação fecal (HACHICH et al., 2012).

Para esse parâmetro, uma amostra é considerada satisfatória quando há ausência de

coliformes totais e E. coli em 100 mL de água potável e de coliformes totais em 100 mL de

água tratada para hemodiálise (BRASIL, 2011; ANVISA, 2014).Tanto bactérias pertencentes

ao grupo dos coliformes totais quanto à espécie E. coli estiveram ausentes em 100% das

amostras através do método empregado.BORGES et al. (2007) encontraramresultados

similares quando analisaram 72 amostras de águas e dialisato em uma clínica de hemodiálise

localizada no Estado do Paraná. Assim como FIGEL, DALZOTO & PIMENTEL (2015)

quando avaliaram amostras de água em seis clínicas de hemodiálise em Curitiba-PR.

Contudo, outros grupos já encontraram coliformes em amostras de água para hemodiálise,

como ARVANITIDOU et al. (1998), que examinaram 85 centros de hemodiálise na Grécia e

encontraram coliformes em 12,3% das amostras de água e EL-KORAIE et al. (2007), que

observaram bactérias do grupo coliforme em 4% das amostras de água analisadas em duas

unidades de diálise na cidade de Alexandria, no Egito.

Apesar de a espécie E. coli não ter sido detectada em nenhuma das clínicas, sabe-se

que é um indicador mais específico do que o grupo dos coliformes totais para detectar

contaminação fecal. Conforme já mencionado, enquanto a Portaria MS Nº 2.914/2011 usa

tanto o grupo dos coliformes quanto a E. coli como indicadores, a RDC ANVISA Nº 11/2014

somente preconiza a detecção do grupo dos coliformes totais. A legislação Europeia que trata

dos parâmetros para avaliação da qualidade de águas próprias para banho substituiu a

avaliação da presença de coliformes pela E. coli e, segundo FIGUERAS & BORRECO

(2010), a tendência é que o grupo dos coliformes também seja substituído nas próximas

revisões da legislação Europeia que trata da água considerada própria para beber. Isso mostra

que a RDC ANVISA Nº 11/2014, apesar de ter sido revisada recentemente, parece caminhar

na contramão de outras legislações existentes.

Page 75: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

75

A contagem de bactérias heterotróficas também é um parâmetro empregado com

frequência em análises de amostras de água. Seu resultado gera informações a respeito do

número total de bactérias aeróbias organotróficas e uma indicação da composição orgânica

total do meio analisado (APHA, 2012). Apesar de não estar diretamente relacionada à

presença de patógenos, pode ser utilizada como indicativo de deficiências na sanitização ou

falha nos processos de tratamento. Para análise desse parâmetro, foi empregada a técnica de

espalhamento em superfície nos meios TSA e R2A, sob condições diferentes de incubação.

No presente estudo, verificou-se que 100% das amostras de água potável (4/4) e tratada para

diálise (4/4) e 75% das amostras de dialisato (3/4) estiveram de acordo com os limites

preconizados pela legislação brasileira, que é de 500 UFC/mL para a água potável (BRASIL,

2011), 100 UFC/mL para a água tratada para diálise e 200 UFC/mL para o dialisato

(ANVISA, 2014). Entretanto, foram observadas algumas divergências entre as contagens

realizadas nos dois meios de cultivo empregados em quatro amostras analisadas (A2, A3, C2

e D3).

A legislação brasileira, através da Portaria e RDC supracitadas, estabelece o número

máximo de UFCs que a água potável, água tratada para diálise e dialisato devem conter, mas

não normatiza as técnicas de cultivo a serem utilizadas. Diferentes métodos para contagem de

bactérias heterotróficas em amostras de água são recomendados por diversos órgãos e

associações, como a American Public Health Association (APHA), a AAMI e a farmacopéia

americana (USP), que podem variar na técnica de semeadura (membrana filtrante, spread

plate ou pour plate), nos meios de cultura (pobres ou ricos nutricionalmente) e nas condições

de incubação (temperaturas baixas ou elevadas por um período de incubação curto ou longo)

(APHA, 2012; ANSI/AAMI, 2014; USP 38 – NF33, 2016).

Existem duas abordagens principais utilizadas para essas análises microbiológicas em

amostras de água: uma delas emprega meios de cultura com alto conteúdo nutricional, como

TSA e Agar padrão para contagem (PCA), tendo sido vastamente utilizada no passado; a outra

utiliza meios pouco nutritivos, como o R2A, que são importantes na detecção de bactérias

oligotróficas de crescimento lento e/ou que tenham o metabolismo adaptado a ambientes

aquáticos, que são pouco nutritivos na maior parte das vezes (ALMODOVAR, PEREIRA &

BUGNO, 2009).

GOMILA et al. (2005) analisaram amostras de água de hemodiálise e dialisato e

utilizaram os meios Agar sangue, Mueller Hinton e R2A para a contagem de bactérias

heterotróficas. As contagens nos dois primeiros meios foram entre 3 e 10 vezes inferior à

contagem obtida no meio R2A. LINDE et al. (1999) compararam os resultados de contagens

Page 76: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

76

de bactérias hetetrotróficas, também em amostras de água de hemodiálise e dialisato, nos

meios TSA e R2A e concluíram que o meio R2A recuperou um maior número de UFCs que o

TSA. ALMODOVAR, PEREIRA & BUGNO (2009) encontraram contagens

significativamente maiores no agar R2A em relação ao PCA.

Dessa forma, nesse trabalho foram utilizadas as duas abordagens: foi empregado o

meio TSA, a uma temperatura de 35ºC através da técnica de spread plate(USP 38-NF33,

2016), a qual possui algumas vantagens em relação aos demais métodos, como por exemplo

ausência de choque térmico para os micro-organismos – que pode ocorrer natécnica de pour

plate – e melhor definição das colônias por estarem na superfície, sendo facilmente

distinguidas de bolhas do meio e partículas; e o meio R2A, a uma temperatura mais baixa,

20ºC por um período de incubação de 7 dias (APHA, 2012), também por spread plate, usando

como base os trabalhos descritos anteriormente.

Como resultado, foi verificada uma variação na contagem de algumas amostras em

cada uma das condições de cultivo empregadas, sem haver uma tendência em relação a qual

técnica recuperou uma maior quantidade de bactérias, visto que na amostra A2 o meio R2A

apresentou maior contagem, na A3 e C2 o TSA recuperou maior quantidade de micro-

organismos e na D3, foi o R2A que mostrou maior crescimento de bactérias.

Nesse estudo, as diferenças nas contagens não resultaram em divergência na

aceitabilidade das amostras em relação aos limites máximos previstos na legislação, mas no

tocante ao nível de ação, que é de 50 UFC/mL houve diferença no enquadramento das

amostras A2 e C2, que atingiram o nível somente quando foi empregado um dos meios de

cultivo. Assim, nota-se que o uso de diferentes técnicas de cultivo pode influenciar na

enumeração dos micro-organismos, podendo levar a resultados diferentes quanto à

conformidade ou não de amostras em alguns casos. Não existindo uma padronização, os

laboratórios podem empregar protocolos variados, o que torna difícil a comparação entre os

resultados gerados por cada laboratório para esse parâmetro. Isso mostra a necessidade de

estudos específicos que tenham como objetivo gerar uma normatização a respeito desse tema.

BORGES et al. (2007) isolaram 160 bactérias gram-negativas de amostras coletadas

em uma unidade de hemodiálise, sendo que apenas um desses isolados foi detectado na água

potável, sendo 79 provenientes dos diferentes pontos de água tratada selecionados e 80 das

amostras de dialisato coletadas. No presente estudo, as análises das amostras de água potável

através das contagens de bactérias heterotróficas e da abordagem independente de cultivo

também sugerem que esse ponto de coleta apresentou uma concentração microbiana muito

baixa, visto que nenhuma bactéria viável foi recuperada através da metodologia de contagem

Page 77: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

77

empregada e que não foi obtida quantidade de DNA suficiente para a análise independente de

cultivo em nenhuma das clínicas examinadas.

Esses resultados podem ser explicados pela presença de cloro na água potável, que de

acordo com a Portaria MS Nº 2914/2011, pode conter até 2 mg/L de cloro residual livre

(BRASIL, 2011). Para inativar esse cloro residual e permitir o crescimento das bactérias

eventualmente presentes, recomenda-se a adição de tiossulfato de sódio, que foi adicionado

aos frascos empregados nessas coletas. Entretanto, somente foi observado crescimento

bacteriano quando 2L dessas amostras foram submetidos à filtração para concentração dos

micro-organismos em membranas e incubação das mesmas sob agitação em meio de cultivo

líquido, estratégia que melhora as condições para o crescimento de micro-organismos,

corroborando a hipótese de que a concentração de bactérias aparentementeera muito baixa

nessas amostras.

Conforme já mencionado, algumas características dos sistemas de tratamento de água

para hemodiálise podem favorecer o crescimento de bactérias, como os filtros, resinas, carvão

ativado e tubulações. Esse crescimento tende a ser maior no dialisato, que por ser uma solução

balanceada de sais, poderia ser comparado a um meio de crescimento quase tão fértil quanto

um caldo nutriente (ARVANITIDOU et al., 1998). Essa pode ser uma das explicações para o

fato deque, em contraste com as amostras de água potável, 2/4 amostras de água tratada e

todas as de dialisato analisadas (4/4) apresentaram quantidade suficiente de DNA bacteriano,

possibilitando sua análise pela metagenômica empregando o gene rDNA 16S.

A identificação das bactérias através de uma metodologia dependente e outra

independente de cultivo revelou uma diversa comunidade bacteriana. A maior parte das

bactérias encontradas pelas duas abordagens pertenciam ao filo Proteobacteria, seguido de

Firmicutes, Actinobacteria, Bacteroidetes e Fusobacteria. O filo Proteobacteria compreende a

maioria das bactérias gram-negativas conhecidas até o momento e consiste em uma das

maiores divisões dentro dos procariotos, englobando mais de 200 gêneros. Esse grupo possui

grande importância biológica por incluir um grande número de patógenos de plantas, animais

e humanos (GUPTA, 2000).As sequências correspondendo ao filo Proteobacteria foram

assinaladas a diversos gêneros, como Pseudomonas, Halomonas, Sphingomonas, Paracoccus,

Burkholderia, Cupriavidus, Methylobacterium, dentre outros. As bactérias classificadas como

Firmicutes, segundo filo mais abundante, incluíram os gêneros Streptococcus, Bacillus,

Staphylococcus e outros menos frequentemente encontrados.

Apesar de os filos bacterianos predominantemente encontrados através das duas

abordagens terem apresentado pouca variação, ao nível de gênero houve uma

Page 78: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

78

diferençaconsiderável entre as comunidades bacterianas observadas atravésdas metodologias

dependente e independente de cultivo, coincidindo apenas Halomonas, Pseudomonas,

Burkholderia eStaphylococcus, que foram encontrados por ambas as abordagens nas mesmas

amostras. Alguns gêneros foram detectados por ambas as metodologias, mas em amostras

diferentes, como Caulobacter e três dos gêneros citados acima, que foram encontrados tanto

nas mesmas amostras por ambas as metodologias quanto em amostras diferentes por uma das

abordagens apenas, sendo elesHalomonas, Pseudomonas e Staphylococcus. Alguns gêneros

bacterianosforam detectados em determinadas amostras apenas através do cultivo, como

Micrococcus, Cupriavidus, Ralstonia, Rhizobium, dentre outros. Entretanto, um número

bastante superior de procariotos foi identificado somente pelo método independente de

cultivo, como Sphingomonas, Paracoccus, Methylobacterium, Yersinia, Novosphingobium,

Weissella, Prevotella, Hyphomicrobium etc.

As análises dos diagramas de Venn demonstraram grande variação das OTUs

identificadas entre as amostras de dialisato das diferentes clínicas assim como entre as

amostras de água tratada e dialisato de uma mesma clínica, visto que um baixo percentual de

OTUs foram compartilhadas entre os diferentes pontos. Dos gêneros compartilhados entre os

dialisatos das quatro clínicas visitadas, que foram Pseudomonas, Burkholderia,

Sphingomonas e Paracoccus, somente os dois primeiros haviam sido detectados pela

metodologia dependente de cultivo e apenas em 1 de 4 amostras em que foram identificados

pela abordagem molecular. Nesse estudo não foi possível observar gêneros compartilhados

entre as amostras de dialisato estudadas através do cultivo. Esses resultados sugerem que

diferentes comunidades são recuperadas por cada metodologia, e que a abordagem molecular

utilizada foi capaz de recuperar uma maior diversidade bacteriana nas amostras de dialisato.

Das amostras de água potável, analisadas apenas pela metodologia dependente de

cultivo, foram isolados Bacillus sp (A1), Pseudomonas sp (B1), Streptococcus salivarius

(C1), Caulobacter vibrioides (C1) e Bacillus subtilis (D1). Os gêneros Pseudomonas e

Bacillus, inclusive a espécie B. subtilis também foram isolados por MONTANARI et al.

(2009) em amostras de água potável coletadas de um centro de hemodiálise localizado em São

Paulo.

A espécie B. subtilis é conhecida por seus esporos altamente resistentes a biocidas, o

que pode ter permitido resistir ao cloro presente na água e quando este foi inativado com

tiossulfato, pode ter ocorrido a desesporulação e o crescimento desses micro-organismos.

Além disso, sabe-se que os esporos são comumente resistentes a agentes líticos, ou seja, que

promovem a lise celular, o que também poderia explicar o fato de não terem sido detectados

Page 79: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

79

pela abordagem independente de cultivo (RUSSEL, 1999; FELCZYKOWSKA et al., 2015).

Já a espécie S. salivarius trata-se de um membro da flora microbiana da cavidade oral

(BURTON et al., 2006), podendo ter sido fruto de contaminação em alguma etapa da coleta

ou manipulação da amostra.

O gênero Caulobactercompreende espécies gram-negativas aeróbias que crescem a

uma temperatura ótima de 25 a 30ºC e pode requerer nutrientes específicos para seu

crescimento. Sua presença já foi observada em diferentes tipos de água: potável, destilada,

envasada e tratada para hemodiálise e já esteve envolvido em um caso de peritonite em um

paciente que realizava diálise peritoneal, que resultou em bacteremia (JUSTESEN et al.,

2007; GOMILA et al., 2005).Nesse trabalho, a espécie C. vibrioides foi identificada na

amostra C1 pela metodologia dependente de cultivo e o respectivo gênero na amostra de água

tratada da clínica D e no dialisato da clínica C, através do método independente de cultivo,

reforçando a ideia de que é capaz de crescer em diferentes tipos de amostras de água.

O gênero Pseudomonas, além da amostra B1, também foi encontrado no dialisato da

Clínica D pela metodologia dependente de cultivo. Nessa amostra de dialisato, foi possível a

identificação através de comparação com as sequências presentes no GenBank até o nível de

espécie, sendo classificada como Pseudomonas stutzeri. O gênero Pseudomonas também foi

detectado nas amostras A2, A3, B3, C3 e D2 pela metodologia independente de cultivo,

estando presente, portanto, em todas as amostras que puderam ser analisadas por esse método.

GOETZ et al. (1983) reportaram 6 casos de bacteremia por P. stutzeri envolvendo

pacientes em tratamento por hemodiálise, causando febre, calafrios, náuseas e vômitos. A

origem da contaminação foi investigada e bactérias dessa espécie foram encontradas no

sistema de tratamento da água para hemodiálise e no dialisato, eliminando outras

possibilidades de contaminação frequentes em pacientes, como através do cateter ou

provenientes de infecções já existentes.

Algumas espécies de Pseudomonas sintetizam uma cápsula de exopolissacarídeos que

pode ajudar na adesão celular, podendo culminar na formação de biofilmes, que as protege da

ação de agentes desinfetantes e biocidas (GONZÁLEZ, MELIÁN & ALONSO, 2014).

Dentro desse gênero, a espécie mais conhecida por produzir infecções em humanos,

especialmente imunocomprometidos, é a P. aeruginosa. Apesar de não ter sido identificada

nesse estudo, é possível que ela seja uma das espécies do gênero Pseudomonas detectado em

várias amostras pela metodologia independente de cultivo, visto que P. aeruginosaé uma das

espécies mais observadas em sistemas de água de diálise, tendo sido encontrada por PISANI

Page 80: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

80

et al. (2000), OIE et al. (2003), ARVANITIDOU et al.(2003), FERREIRA(2009), dentre

outros.

Dentre o total de bactérias encontradas, a maior parte são gram-negativas, que são

descritas como as principais causadoras de infecções nos pacientes em terapia por

hemodiálise (ARVANITIDOU et al., 2003). Além disso, sua parede celular é rica em LPS,

conhecido por atravessar as membranas de diálise e estimular o sistema imune inato dos

pacientes, através de reconhecimento por receptores Toll like(TLR)e liberação de citocinas,

gerando uma reação pirogênica. Entretanto, outras moléculas derivadas de bactérias também

podem induzir resposta imune nos pacientes, como peptidoglicano, exotoxinas, fragmentos de

DNA e glicoesfingolipídeos.

Foi demonstrado que o potencial imunoestimulatório do DNA varia de acordo com a

abundância dos oligonucleotídeos não metilados citosina-guanina (CG) e os DNAs

dosvariados gêneros bacterianos existentes possuem diferenças na sua frequência. Os gêneros

Pseudomonas e Burkholderia são conhecidos por terem um alto conteúdoCG e por isso têm

um alto potencial imunoestimulatório, disparando uma resposta imune agressiva nos pacientes

que entram em contato com seus fragmentos de DNA, o que contribui para o estado

microinflamatório crônico desses pacientes (DAPKE et al., 2006).

OgêneroBurkholderia, também observado nesse estudo, compreende mais de 40

espécies, as quais já foram classificadas como pertencentes ao gênero Pseudomonas (DINIZ

et al., 2008; GONZÁLEZ, MELIÁN & ALONSO, 2014).Bactérias desse gênero foram

encontradas tanto pela metodologia dependente quanto pela independente de cultivo em uma

amostra de água tratada (D2) e em uma amostra de dialisato (C3), em clínicas diferentes.

Através da primeira abordagem, foi possível chegar à espécie B. contaminans, pertencente ao

complexo Burkholderia cepacia, que abrange espécies gram-negativas e inclui patógenos de

plantas, animais e humanos. As bactérias contidas nesse complexo exibem grande

versatilidade metabólica, o que as permite adaptação a diferentes ambientes, incluindo

desinfetantes e antissépticos (SOUSA, RAMOS & LEITÃO, 2011;BORGES et al., 2007). Em

humanos, os membros desse complexosão conhecidos por causar infecções pulmonares em

pacientes com fibrose cística, que constitui a causa mais comum de óbito nesses pacientes.

Em hospitais, esses micro-organismos já foram detectados em amostras de água da torneira e

destilada, máquinas de hemodiálise, cateteres, soluções, fluidos intravenosos, dentre outros

(MARIONI et al., 2006). Bactérias desse complexo também já estiveram envolvidas em

surtos de bacteremia em pacientes dialíticos devido à contaminação da água para diálise

(SOUZA et al., 2004).

Page 81: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

81

A abordagem metagenômica empregada também permitiu a detecção do gênero

Methylobacterium em 3/4 amostras de dialisato (A3, B3 e C3) e em uma amostra de água para

hemodiálise (D2). As bactérias desse gênero não foram observadas através da metodologia

dependente de cultivo utilizada em nenhuma amostra, o que poderia ser explicado pelo fato de

as espécies desse gênero serem fastidiosas e de crescimento lento. Sãogram-negativas e

podem ser encontradas no solo, folhas e esgoto (SANDERS et al., 2000). Mais de vinte

espécies são conhecidas, sendo que algumas delas já foram isoladas de sítios estéreis, como

sangue, medula óssea, líquido peritoneal, dentre outros, causando infecções em pacientes

imunocomprometidos. As espécies mais comumente reportadas em amostras clínicas são M.

mesophilicum e M. zatmanii(LAI et al., 2011; FERNANDEZ et al., 1997; HORNEI et al.,

1999; KAYE, MACONE & KAZANJIAN, 1992; KORVICK et al., 1989). Outra

característica desse gênero é a resistência ao cloro, já tendo sido encontrado em amostras de

água potável (REASONER et al., 1989) e água de hemodiálise (GOMILA et al., 2005;

GOMILA et al., 2006).

Nesse trabalho, o gênero Sphingomonas foi encontrado em quase todas as amostras

analisadas pela metodologia independente de cultivo, estando presente nas amostras A2, A3,

C3, D2 e D3, não sendo observado apenas na amostra B3. Esse gênero compreende mais de

30 espécies de bactérias aeróbias gram-negativas, que já foram reportadas em amostras de

água do mar, de rio, mineral, sistemas de distribuição de água, nebulizadores em hospitais,

água destilada, dialisato etc (RYAN& ADLEY, 2010; LIN et al., 2010). Até o momento, 3

espécies já foram descritas como importantes clinicamente: S. paucimobilis, S. mucosíssima e

S. adesiva, sendo a primeira considerada a principal espécie patogênica desse gênero (ROH et

al., 2009), já tendo sido associada com uma variedade de infecções em humanos, como

bacteremia, pneumonia, infecções relacionadas a cateter, meningite, peritonite, osteomielite,

artrite séptica, enfisema pulmonar, infecções do trato urinário e outras (LIN et al., 2010). As

espécies pertencentes a esse gênero, apesar de definidas como gram-negativas, não possuem

lipopolissacarídeo (LPS) em sua parede celular, e sim glicoesfingolipídeos, que possuem

composição química um pouco diferente do LPS. Contudo, em contato com o sangue do

paciente, os glicoesfingolipídeos também podem ativar o sistema imune, mas através de um

mecanismo diferente do observado na presença de LPS, envolvendo as células T Natural

Killer (NKT) e rápida produção de citocinas pró-inflamatórias, como TNF- , IL-6 e IL-1.

Um outro gênero encontrado nesse trabalho foiStaphylococcus, observado em duas

amostras de dialisato, A3 e B3, não tendo sido observado nas amostras de água potável

tampouco nas de água tratada para diálise. Na amostra A3, por sua vez, os dados das duas

Page 82: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

82

metodologias empregadas coincidiram, sendo que pelo método dependente de cultivo foi

possível identificar a espécie S. epidermidis. Esse micro-organismo é um membro conhecido

da microflora da pele humana e pode ser transmitido para a superfície de dispositivos médicos

quando estes são manipulados (KAPLAN et al., 2004), constituindo um dos principais micro-

organismos envolvidos em infecções relacionadas a cateteres intravasculares, cateteres usados

na diálise peritoneal, lentes intraoculares, marcapassos cardíacos etc (HUEBNER&

GOLDMAN, 1999). S. epidermidis é capaz de formar biofilmes, o que o torna menos

susceptível a antibióticos e defesas do hospedeiro, podendo levar à sepse aguda, osteomielite

ou até mesmo à morte, particularmente em pacientes imunocomprometidos (VUONG &

OTTO, 2002).Não é comum encontrar essa espécie em águas naturais ou puras, devido às

suas características ecológicas (GOMILA et al., 2006). Além disso, ela não foi observada em

nenhuma das amostras de água, somente nas de dialisato. Desse modo, a presença dessa

espéciepode ser devida à manipulação no preparo do dialisato ou no reprocessamento dos

dialisadores em caso de reuso dos mesmos. Além disso, esse achado pode sugerir também a

presença de biofilmes, visto que esses organismos são conhecidos produtores dessas

estruturas.

O gênero Yersinia somente foi encontrado nas amostras de água tratada e dialisato da

Clínica A, pelo método independente de cultivo. Não é frequente encontrar na literatura

registros de contaminação de água para hemodiálise ou dialisato por Yersinia, contudo, já

foram reportados casos de pacientes em tratamento por hemodiálise que foram acometidos

por infecção sistêmica pela espécie Yersinia enterocolitica, sem que tenha sido investigada a

origem da infecção (FAKIR et al., 1992; MERGENHAGEN & TELESZ, 2011). A presença

desse gênero é um achado crítico, visto que os casos de septicemia que envolvem a espécie Y.

enterocolitica podem resultar em taxas de mortalidade de até 50% dos casos e o tratamento

com antibióticos é complicado devido a vários fatores de resistência (MERGENHAGEN &

TELESZ, 2011). Além disso, pacientes em hemodiálise recebem suplementação com ferro,

tanto devido à anemia que ocorre graças à deficiência de eritropoietina, que é produzida pelos

rins quanto pela perda de sangue que ocorre com as sessões de diálise e já foi visto que a

sobrecarga de ferro é um fator de risco para a infecção de Yersinia, pois elevadas

concentrações desse metal dificultam a atividade fagocítica dos neutrófilos e aumentam,

portanto, a virulência das espécies de Yersinia(IOANNIDIS et al., 2014).

É possível que a pouca quantidade de relatos da presença de Yersinia em sistemas de

hemodiálise na literatura se deva à escassez de estudos que empregaram ferramentas

moleculares além dos métodos tradicionais de cultivo para analisar esses sistemas. Espécies

Page 83: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

83

pertencentes a esse gênero, especialmente a Y. enterocolitica, apresentam crescimento lento

em meios de cultivo tradicionais, assim, em amostras contendo outras bactérias de

crescimento mais rápido, a detecção é difícil (HUSSEIN, FENWICK & LUMSDEN, 2001).

O gênero Halomonas compreende 77 espécies, que foram descritas como gram-

negativas, aeróbias, quimio-organotróficas e halofílicas (POLI et al., 2013). Estudos

mostraram que algumas espécies são capazes de produzir exopolissacarídeos, que poderiam

levar à formação de biofilmes. STEVENSet al. (2009) isolaram três espécies de Halomonas

em dois pacientes com bacteremia em um centro de diálise nos Estados Unidos.Nesse estudo,

os autores sugerem que a contaminação tenha sido originada no bicarbonato utilizado para

preparar a solução de diálise. No presente trabalho, esse gênero foi encontrado em uma

amostra de água tratada para hemodiálise (A2) pela metodologia independente de cultivo e em

três amostras de dialisato: C3 (por ambos os métodos), B3 e D3 (somente pela metodologia

independente de cultivo).Na amostra D3, existe grande possibilidade de a origem da

contaminação ser também o bicarbonato, visto que Halomonas é um gênero que geralmente

compreende espécies isoladas de ambientes com elevadas concentrações salinas (STEVENS

et al., 2013),não foi encontrado na amostra D2, que foi analisada por ambas as metodologias e

apareceu como gênero predominante no dialisato dessa clínica, correspondendo a 70%. Não

se deve descartar essa possível origem de contaminação nas outras amostras em que esse

gênero foi encontrado (B3 e C3), porém torna-se um pouco mais complicado de inferir isso, já

que as amostras de água tratada provenientes dessas clínicas(B2 e C2)apenas foram analisadas

pela metodologia dependente de cultivo, que somente foi capaz de detectar esse gênero em

1/3 amostras nas quais a abordagem independente de cultivo identificou Halomonas.Apesar

de a origem da contaminação ser difícil de precisar, a presença deHalomonas nas amostras de

dialisato é um achado importante dado que esse gênero já esteve envolvido em surtos de

bacteremia em unidades de diálise.

A água de hemodiálise é um habitat altamente oligotrófico e as bactérias ali presentes

adaptaram suas propriedades metabólicas a esse meio pouco nutritivo. O uso de uma

variedade de meios e condições de cultivo é importante para o isolamento de uma faixa maior

de micro-organismos. Nesse trabalho, a escolha dos meios e condições de incubação foi

baseada em resultados publicados na literatura, que apontam o meio R2A como o mais

indicado para recuperar bactérias viáveis desse ambiente oligotrófico (GOMILA et al., 2005).

Como estratégia adicional, o meio TSA foi empregado por promover um ambiente rico em

nutrientes, favorecendo a detecção de um outro grupo de bactérias.Contudo, é possível que o

emprego de meios de cultura adicionais e diferentes condições de incubação resultassem no

Page 84: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

84

isolamento de um número maior de gêneros ou espécies, visto que alguns dos micro-

organismos encontrados nesse trabalho somente através da abordagem metagenômica já

haviam sido isolados por outros autores através de metodologias dependentes de cultivo,

como por exemplo os gêneros Methylobacterium, Paracoccus, Novosphingobium,

Sphingomonas e Acinetobacter (GOMILA et al., 2005; BORGES et al., 2007).

Entretanto, mesmo utilizando estratégias de cultivo adicionais, é bastante provável que

nem toda a comunidade bacteriana presente fosse acessada, pois existem diversos micro-

organismos que exigem condições de cultivo muito específicas para crescimento em meios de

cultura, assim como outros poderiam estar em um estado viável, porém não cultivável.

Como mais de 90% das bactérias podem estar nesse estado viável mas não cultivável,

as abordagens independentes de cultivo empregando o gene rDNA 16S têm contribuído

enormemente para a ciência, garantindo o acesso a uma vasta gama de micro-organismos.

Entretanto, o uso dessa metodologia inclui diversas etapas até a obtenção das sequências,

quepodem introduzir erros que eventualmente acarretam em resultados imprecisos. São elas:

(i) concentração dos micro-organismos, lise celular e extração de ácidos nucleicos das

bactérias presentes na amostra em análise, (ii) reação de amplificação por PCR e (iii)

sequenciamento de nova geração.

A composição do DNA total obtido depende da técnica usada para lise celular, visto

que existem células mais difíceis de serem rompidas do que outras, como as bactérias gram-

positivas e as formadoras de esporos. Dessa forma, dependendo da metodologia empregada,

pode haver lise somente das bactérias gram-negativas ou o método pode ser capaz de lisar

todas as bactérias gram-positivas mas gerar degradação no material genético de alguns

organismos. Deve haver, portanto, um balanceamento entre a necessidade da lise completa

das células e a qualidade do DNA (TRINGE & RUBIN, 2005). Nesse trabalho, foi realizada

concentração das amostras através da filtração em SterivexTM

e lise celular no interior do

mesmo seguido por extração de DNA empregando fenol-clorofórmio. Esse método foi

originalmente proposto por SOMERVILLE et al. (1989) e já foi usado em diversos trabalhos

com algumas modificações (BRUCE et al., 2012; SALLOTO et al., 2012). Apesar de alguns

estudosterem mostrado a superioridade do método fenol-clorofórmio para extração de DNA

em amostras de água, (URAKAWA, MARTENS-HABBENA & STAHL, 2010; HWANG et

al., 2012) o uso de apenas uma metodologia de lise e extraçãopode ter favorecido alguns

micro-organismos em detrimento de outros, pois o métodoescolhido pode ser mais eficiente

para extração de DNA de determinadas bactérias e menos para outras.

Page 85: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

85

A reação de PCR também introduz algumas fontes de erros. A contaminação dos

reagentes usados na reação, como a própria enzima Taq polimerase, com DNA bacteriano

poderia levar a resultados falso positivos, devido à amplificação de moléculas de DNA não

correspondentes à sequência alvo. Outro problema em potencial é a amplificação de DNA

proveniente de templates bacterianos misturados, podendo resultar na formação de artefatos

moleculares que não representam verdadeiramente nenhum organismo. Além disso, existem

substâncias possivelmente presentes na amostra que podem inibir a reação de PCR, como o

EDTA e ácidos húmicos (KOLBERT & PERSING, 1999). A amplificação preferencial de

sequências dominantes numericamente também pode ser observada durante a reação de PCR

(KOZDRÓJ & VAN ELSAS, 2001).

Além disso, apesar de a análise da sequência do rDNA 16S ser vantajosa para a

identificação de muitos micro-organismos, alguns estudos mostraram que a resolução

taxonômica desse alvo molecular pode ser limitada quando se trata de agentes muito

similares, particularmente aqueles com homologia de sequências em torno de 97% ou mais

(KOLBERT & PERSING, 1999). Nesse contexto, uma questão importante é a definição da

região hipervariável do rDNA 16S a ser sequenciada. Existem diferenças no poder de

discriminação filogenética entre as diferentes regiões e nenhuma região sozinha é capaz de

distinguir todas as bactérias.NELSON et al. (2014) realizaram uma comparação entre os

resultados de diversidade alfa e beta provenientes do sequenciamento de bibliotecas das

regiões hipervariáveis V4 e V4-V5 realizado pelo Roche 454 Life Sciences e pelo Illumina -

MiSeq e uma das conclusões a que chegaram foi que a escolha da região hipervariável teve

um efeito maior na variação da diversidade beta do que a escolha da tecnologia de

sequenciamento. MIZRAHI-MAN, DAVENPORT & GILAD (2013) realizaram comparações

entre as diferentes regiões V1, V3, V4, V5, V6, V7 e V9 e chegaram à conclusão de que tanto

a região V3 quanto a V4 foram as melhores para a pesquisa das comunidades bacterianas.

GHYSELINCK et al. (2013) compararam a cobertura de cinco primers universais que tinham

como alvo diferentes regiões conservadas entre as regiões hipervariáveis V1 e V9 e os

resultados mostraram que as sequências geradas pelos iniciadores que flanqueavam a região

V4 foram mais informativas, quando comparadas com as sequências geradas pelos demais

primers. Outro estudo que reforça a região V4 como promissora foi o realizado por KOZICH

et al. (2013), em que as análises com as sequências geradas com os amplicons da porção V4

apresentaram melhores resultados do que com os amplicons das regiões V3-V4 e V4-V5.

Portanto, nota-se que a região V4 do rDNA 16S, utilizada nesse trabalho, é bastante

empregada em estudos de diversidade, especialmente os que utilizam a plataforma Illumina-

Page 86: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

86

Miseq, que atualmente gera sequências de aproximadamente 2 x 300 pb (no caso de

sequenciamento do tipo paired-end), enquanto a região V4 contém aproximadamente 250 pb,

o que permite um overlap completo das sequências Forward e Reverse, aumentando

consideravelmente a qualidade das sequências consenso geradas.Contudo, para se distinguir

as bactérias a nível de espécie, seria necessário analisar uma região maior do rDNA 16S, visto

que a estratégia utilizada foi capaz de distinguir as bactérias até o nível de gênero apenas.

Assim, os resultados obtidos com esse trabalho reforçam a ideia de que cada uma das

metodologias empregadas favorece a detecção de determinados grupos de bactérias. Desse

modo, para acessar a complexidade das comunidades bacterianas presentes em determinado

ambiente, as abordagens dependentes e independentes de cultivo devem ser utilizadas em

conjunto, já que seus resultados se complementam (McLELLAN et al., 2010; GOMILA et al.,

2006).

Apesar de a legislação vigente utilizar apenas o grupo dos coliformes,a contagem de

bactérias heterotróficas e a dosagem de endotoxinas como indicadores da qualidade

microbiológica da água de hemodiálise e do dialisato, sem exigir a identificação dos micro-

organismos ali presentes, a identificação dos mesmos nos diferentes pontos de purificação da

água possui grande relevância por alguns motivos: (i) auxiliar no estabelecimento da origem

da contaminação, (ii) avaliar os efeitos dos desinfetantes no tratamento da água e(iii) acessar o

risco associado com a presença de determinadas bactérias. Foi visto que a liberação de

citocinas e outros mediadores inflamatórios no sangue dos pacientes pode ser estimulada por

diversas moléculas além das endotoxinas, que podem estar presentes em determinados

gêneros ou espécies, como é o caso dos glicoesfingolipídeos, presentes nos gêneros

Sphingomonas e Novosphingobium, observados nesse estudo. Outra característica que varia

entre os micro-organismos é o conteúdo CG do DNA, que quanto mais elevado, mais ativa a

resposta imunológica do paciente.

Nesse trabalho, foi visto que, apesar das análises microbiológicas da maior parte das

amostras (91,7%) estarem dentro dos limites preconizados pela legislação brasileira no que

diz respeito à presença/ausência de coliformes e contagem de bactérias heterotróficas, foram

identificados micro-organismos potencialmente patogênicos em várias amostras. Isso mostra a

limitação dos indicadores adotados pela legislação vigente para avaliar a qualidade

microbiológica da solução empregada na hemodiálise, que é separada do sangue dos pacientes

apenas por uma membrana semi-permeável.

Através desse estudo, foi possível observar a presença de uma comunidade bacteriana

diversa, englobando muitas bactérias gram-negativas que já estiveram envolvidas em surtos

Page 87: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

87

de bacteremias e endotoxemias em clínicas de hemodiálise. Dos gêneros encontrados,

Pseudomonas foi o que esteve presente em um maior número de amostras, sendo detectado

por ambas as metodologias em alguns casos.Dentre as espécies conhecidas pertencentes a esse

gênero, Pseudomonas aeruginosa possui uma importância médica notável por estar

frequentemente associada a infecções em pacientes hospitalizados e/ou imunodeprimidos. Por

esse motivo, associado ao fato de ser uma das espécies mais frequentemente isoladas em

unidades de hemodiálise, alguns países, como Estados Unidos – cuja farmacopéia constitui

um dos compêndios mais reconhecidos mundialmente – e Cuba, adotaram a ausência de P.

aeruginosacomo um dos parâmetros de qualidade para a água de hemodiálise (USP 38-NF 33,

2016; GONZÁLEZ et al., 2014). Além disso,o reconhecimento do risco para os pacientes

também levou à exigência da sua ausência em medicamentos não estéreis dispostos em

preparações de uso tópico (oromucosa, nasal, gengival, cutâneo, auricular), inalatório,

preparação vaginal e dispositivos transdérmicos (ANVISA, 2010).

Portanto, os resultados obtidos nesse trabalhomostram a necessidade de que

osparâmetros microbiológicos adotados pela legislação brasileira vigente para água de

hemodiálise e dialisato sejam revistos. A adoção da espécie P. aeruginosa como parâmetro

adicional poderia agregar maior qualidade e confiabilidade a essas águas.

Page 88: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

88

7. CONCLUSÃO

Os resultados obtidos nesse trabalho demonstraram que 100% das amostras coletadas

em diferentes pontos de sistemas de hemodiálise pertencentes à 4 clínicas vinculadas ao

SUSapresentaram conformidade com a legislação vigente em relação à ausência de coliformes

totais e 91,7% em relação aos valores limites de bactérias heterotróficas. As análises

dependentes e independentes de cultivo proporcionaram a identificação de uma diversa

comunidade bacteriana nos diferentes pontos analisados e mostraram ser complementares,

visto que alguns micro-organismos isolados e identificados pelo cultivo não puderam ser

identificados pela abordagem molecular e um número expressivo de bactérias foi identificado

pela abordagem independente de cultivo sem que estas tenham sido apontadas pela

metodologia de cultivo. A identificação de diversas bactérias gram-negativas, especialmente

os gêneros Pseudomonas, Burkholderia e Yersinia, serve como alerta sobre a presença de

micro-organismos potencialmente patogênicos em amostras que apresentam conformidade

com a legislação brasileira.

Dessa forma, para que haja melhoria na qualidade microbiológica da água para

hemodiálise e do dialisato, além do papel das unidades de diálise em realizar um

monitoramento microbiológico frequente e uma desinfecção eficiente dos equipamentos de

diálise, é importante que seja realizada uma revisão da legislação vigente por parte dos órgãos

reguladores e fiscalizadores visando à padronização de metodologias para os ensaios, à

definição de um método mais específico para investigar a existência de contaminação de

origem fecal nessas águas, e à inclusão de parâmetros bioindicadores adicionais, como a

Pseudomonas aeruginosa, que oferece risco aos pacientes renais crônicos e é altamente

prevalente nesses sistemas.

Page 89: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

89

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABEL, J.J.; ROWNTREE, L.G.; TURNER, B.B. On the removal of diffusible substances

from the circulating blood by means of dialysis. Trans Assoc Am Physicians, v.58, p. 51-

54, 1913.

ADAMconsumer health. Kidney anatomy.Disponível em:

http://www.adamimages.com/Kidney-anatomy-Illustration/PI294/F4. Acesso em: 05/10/2015.

ALBERTS, B.; JOHNSON, A.; LEWIS, J.; RAFF, M.; ROBERTS, K.; WALTER, P.

Molecular biology of the cell. 5ª edição. New York (USA): Garland Science, Taylor &

Francis Group. 1601p., 2008.

ALM, E.W.; BURKE, J.; SPAIN, A. Fecal indicator bacteria are abundant in wet

sand at freshwater beaches. Wat. Res. v. 37, p. 3978-3982, 2003.

ALMODOVAR, A.A.B.; PEREIRA, T.C.; BUGNO, A. The efficiency of Reasoner´2 Agar

for counting heterotrophic bacteria isolated from water for dialysis. Rev Inst Adolfo

Lutz, v. 68, n.2, p.232-236, 2009.

AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard Methods For The

Examination of Water and Wastewater. 22 ed. Washington: APHA, 2012.

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA).Dispõe sobre os

Requisitos de Boas Práticas de Funcionamento para os Serviços de Diálise e dá outras

providências. Resolução da Diretoria Colegiada(RDC) nº 11, de 13 de março de 2014.

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Estabelece o

regulamento técnico para o funcionamento dos serviços de diálise. Resolução da Diretoria

Colegiada (RDC) nº 154, de 15 de junho de 2004.

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Dispõe sobre o

regulamento técnico para planejamento, programação, elaboração, avaliação e

aprovação dos sistemas de tratamento e distribuição de água para hemodiálise no

Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 33,

de 3 de junho de 2008.

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Aprova o

regulamento técnico que institui as boas práticas de fabricação do concentrado

polieletrolítico para hemodiálise – CPHD. Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 8,

de 2 de janeiro de 2001.

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA).Farmacopéia

Brasileira, volume 1. Brasília:5ª Edição, 2010.

ARNOW, P.M.; BLAND, L.A.; GARCIA-HOUCHINS, S.; FRIDKIN, S.; FELLNER, S.K.

An outbreak of fatal fluoride intoxication in a long-term hemodialysis unit. Ann Intern

Med, v. 121, n. 5, p. 339-344, 1994.

Page 90: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

90

ARVANITIDOU, M.; SPAIA, S.; KATSINAS, C.; PANGIDIS, P.; CONSTANTINIDIS, T.;

KATSOUYANNOPOULOS, V.; VAYONAS, G. Microbiological quality of water and

dialysate in all haemodialysis centres of Greece. Nephrol Dial Transplant, v. 13, p. 949-

954, 1998.

ARVANITIDOU, M.; VAYONA, A.; SPANAKIS, N.; TSAKRIS, A. Occurrence and

antimicrobial resistance of gram negative bactéria isolated in hemodialysis water and

dialysate of renal units: results of a greek multicentre study.Journal of Applied

Microbiology, v. 95, p. 180-185, 2003.

BASTOS, M. G.; BREGMAN, R.; KIRSZTAJN, G.M. Doença renal crônica: freqüente e

grave, mas também prevenível e tratável. Ver AssocMedBras, v.56, n. 2, p.248-53, 2010.

BASTOS, M.G.& KIRSZTAJN, G.M. Doença renal crônica: importância do diagnóstico

precoce, encaminhamento imediato e abordagem interdisciplinar estruturada para

melhora do desfecho em pacientes ainda não submetidos à diálise. J BrasNefrol, v. 33, n.

1, p. 93-108, 2011.

BAI, Y.; LIU, R.; LIANG, J.; QU, J. Integrated metagenomic and physiochemical

analyses to evaluate the potential role of microbes in the sand filter of a drinking water

treatment system. PLoS One, v. 8, n.4, p. 1-9, 2013.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria Nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011. Dispõe sobre

os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo

humano e seu padrão de potabilidade.

BRASIL. Ministério da Saúde.Portaria MS nº 2.042, de 11 de outubro de 1996. Estabelece o

regulamento técnico para funcionamento dos serviços de terapia renal substitutiva – que

disciplina as exigências mínimas para o funcionamento das Unidades de Diálise e

Unidades de Transplante Renal, assim como as normas para cadastramento dos

referidos serviços junto ao Sistema Único de Saúde, partes integrantes dessa Portaria e

respectivos anexos.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria MS nº 82, de 03 de janeiro de 2000. Estabelece o

regulamento técnico para o funcionamento dos serviçoes de diálise e as normas para

cadastramento destes junto ao Sistema Único de Saúde.

BEARDSLEY, T.M. Metagenomics reveals microbial diversity. BioScience, v. 56, n. 3,

p.192-196, 2006.

BENLLOCH, S.; RODRÍGUES-VALERA, F.; MARTÍNEZ-MURCIA, A.J. Bacterial

diversity in two coastal lagoons deduced from 16S rDNA PCR amplification and partial

sequencing. FEMS Microbiology Ecology, v.18, p.267-280, 1995.

BLAGG, C.R.; ING, T.S.; BERRY, D.; KJELLSTRAND, C.M. The history and rationale

of daily and nightly hemodialysis. Contrib Nephrol., v. 145, p. 1-9, 2004.

BOCCUZZI, V.M.; STRAUBE, W.L.; RAVEL, J.; COLWELL, R.R.; HILLA,

R.T.Preparation of DNA extracted from environmental water samples for PCR

amplification. J Microbiol Methods, v. 31, p. 193–199, 1998.

Page 91: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

91

BORGES, C.R.M.; LASCOWSKI, K.M.S.; FILHO, N.R.; PELAYO, J.S. Microbiological

quality of water and dialysate in a haemodialysis unit in Ponta Grossa-PR, Brazil.

Journal of Applied Microbiology, v. 103, p. 1791–1797, 2007.

BRESCIA, M.J.; CIMINO, J.E.; APPEL, K.; HURWICH, B.J. Chronic hemodialysis using

venipuncture and a surgically created arteriovenous fistula. N Engl J Med, v. 275,

p.1089-1092, 1966.

BROSIUS, J.; DULL, T.J.; SLEETER, D.D.; NOLLER, H.F. Gene organization and

primary structure of a ribosomal RNA operon from Escherichia coli. Journal of

Molecular Biology, v. 148, n.2, p. 107-127, 1981.

BRUCE, T.; MEIRELLES, P.M.; GARCIA, G.; PARANHOS, R.; REZENDE, C.E.; DE

MOURA, R.L.; FILHO, R.F.; CONI, E.O.C.; VASCONCELOS, A.T.; FILHO, G.A.;

HATAY, M.; SCHMIEDER, R.; EDWARDS, R.; DINSDALE, E.; THOMPSON, F.L.

Abrolhos bank reef health evaluated by means of water quality, microbial diversity,

benthic cover, and fish biomass data. Plos One, v. 7, issue 6, e36687, 2012.

BURTON, J.P.; EWSCOMBE, P.A.; MOORE, C.J.; CHILCOTT, C.N.; TAGG, J.R. Safety

assessment of the oral cavity probiotic Streptococcus salivarius K12. Appl Environ

Microbiol., v.72, n. 4, p. 3050–3053, 2006.

BURWEN, D.R.; OLSEN, S.M.; BLAND, L.A.; ARDUINO, M.J.; REID, M.H.; JARVIS,

W.R. Epidemic aluminum intoxication in hemodialysis patients traced to use of an

aluminum pump.Kidney Int., v. 48, n. 2, p. 469-74, 1995.

CAPORASO, J.G.; KUCZYNSKI, J.; STOMBAUGH, J. et al. QIIME allows analysis of

high-throughput community sequencing data. Nat Methods., v. 7, n. 5, p. 335-336, 2010.

CAPORASO, J.G.; LAUBER, C.L.; WALTERS, W.A.; BERG-LYONS,D.; LOZUPONE,

C.A.; TURNBAUGH, P.J.; FIERER, N.; KNIGHT, R. Global patterns of 16S rRNA

diversity at a depth of millions of sequences per sample. PNAS, v. 108, p. 4516-4522.

Suplemento 1.

CARVALHO, M.C.C.G. & SILVA, D.C.G. Sequenciamento de DNA de nova geração e

suas aplicações na genômica de plantas. Ciência Rural, v. 40, n.3, p. 735-744, 2010.

CLARRIDGE, J.E. Impact of 16S rRNA gene sequence analysis for identification of

bacteria on clinical microbiology and infectious diseases.Clinical Microbiology reviews,

v.17, n. 4, p.840-862, 2004.

COELHO, S.N. A água de Caruaru. Revista Medicina On line, v.1, n.3, 1998.

COLE, J.R.; CHAI, B.; FARRIS, R.J. et al. The ribosomal database Project (RDP-II):

introducing myRDP space and quality controlled public data. Nucleic Acids Res.,

35(Database issue), p. D169-172, 2007.

COLE, J.R.; WANG, Q.; CARDENAS, E. et al. The ribosomal database Project: improved

alignments and new tools for rRNA analysis. Nucleic Acids Res., 37 (Database issue),

p.D141-145, 2009.

Page 92: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

92

DAPKE, A.; FRANK, J.; PETER, M.; HEEG, K. Activation of Toll-like receptor 9 by DNA

from different bacterial species. Infection and Immunity, v.74, n. 2, p. 940-946, 2006.

DeSANTIS, T.Z.; HUGENHOLTZ, P.; LARSEN, N.; et al. Greengenes, a chimera-checked

16S rRNA gene database and workbench compatible with ARB.Appl Environ Microbiol.,

v. 72, n. 7, p. 5069-5072,2006.

DINIZ, M.C.; FARIAS, K.M.; PACHECO, A.C.L.P.; VIANA, D.A.; ARAÚJO-FILHO, R.;

LIMA, A.P.S; COSTA, R.B.; OLIVEIRA, D.M. Análise genômica de Burkholderia mallei e

Burkholderia pseudomallei: dois patógenos de primeira grandeza e de genomas

surpreendentemente complexos. Revista Brasileira de Higiene e Sanidade Animal, v.2, n.1,

p.1 – 33, 2008.

DUCKI, S.; FRANCINI, N.; BLECH, MF. Circuit de traitement d’eau pour hémodialyse:

mais ou se cachê Le Bacille pyocyanique?Nephrologie & Thérapeutique, v. 1, p. 126-130,

2005.

EDGAR R.C.; HAAS B.J.; CLEMENTE J.C.; QUINCE C.; KNIGHT R. UCHIME

improves sensitivity and speed of chimera detection. Bioinformatics, v. 27, p. 2194-2200,

2011.

EKNOYAN, G. The wonderful apparatus of John Jacob Abel called the “artificial

kidney”. Semin Dial., v. 22, n.3, p. 287-296, 2009.

EL-KORAIE, A.F.; HAZZAH, W.A.; ABBAS, A.A.; EL-SHAZLY, S.A. Bacteriological

monitoring of dialysis fluid in 2 hemodialysis units in Alexandria, Egypt. Saudi Med J, v.

28, n. 8, p. 1234-1238, 2007.

FADROSH, D.W.; MA, B.; GAJER, P.; SENGAMALAY, N.; OTT, S.; BROTMAN, R.M.;

RAVEL, J. An improved dual-indexing approach for multiplexed 16S rRNA gene

sequencing on the Illumina MiSeq platform. Microbiome, v.2, n. 6, p. 1-7, 2014.

FAKIR, M.; SAISON, C.; WONG, T.; MATTA, B.; HARDIN, J.M. Septicemia due to

Yersinia enterocolitica in a hemodialyzed, iron-depleted patient receiving omeprazole

and oral iron supplementation.American Journal of Kidney Diseases, v. XIX, n. 3,p. 282-

284, 1992.

FARIA, P.G.S. Alternativas para reaproveitamento do rejeito do tratamento de água em

clinica de hemodiálise. 2011. 97f. Trabalho de conclusão de curso. Faculdade de Engenharia

de Produção Civil, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Paraná, 2011.

FELCZYKOWSKA, A.; KRAJEWSKA, A.; ZIELINSKA, S.; LOS, J.M. Sampling,

metadata and DNA extraction – importants steps in metagenomic studies. Acta Biochim

Pol., v. 62, n. 1, p. 151-160, 2015.

FERNANDEZ, M.; DREYER, Z.; HOCKENBERRY-EATON, M.; BAKER, C.J.

Methylobacterium mesophilica as a cause of persistent bacteremia in a child with

lymphoma. Pediatr. Infect. Dis. J., v. 16, n. 10, p.1007–1008, 1997.

Page 93: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

93

FERREIRA, J. A. B. Diversidade genética, perfil de resistência aos antimicrobianos e

produção de biofilme de amostras de Pseudomonas aeruginosa isoladas da água utilizada

em unidades de terapia renal substitutiva. 63 f. Dissertação de Mestrado. Vigilância

Sanitária - Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde,

Rio de Janeiro, 2009.

FIGUERAS, M.J.; BORREGO, J.J. New perspectives in monitoring drinking water

microbial quality. Int. J. Environ. Res. Public Health, v. 7, n. 12, p. 4179-4202, 2010.

FOOTE, E.F. & MANLEY, H.J. Hemodialysis and peritoneal dialysis. In: DIPIRO, J.T.et

al. Pharmacotherapy: a pathophysiologic approach. McGraw-Hill Medical,2008, 7th

edition, p. O103-O117.

FUHRMA, J.A.; COMEAU, D.E.; HAGSTROM, A.; CHAN, A.M.Extraction from Natural

Planktonic Microorganisms of DNA Suitable for Molecular Biological Studies. Appl

Environ Microb, v. 54, n. 6, p. 1426–1429, 1988.

GHYSELINCK, J.; PFEIFFER, S.; HEYLEN K.; SESSITSCH, A.; DE VOS, P. The effect of

primer choice and short read sequences on the outcome of 16S rRNA gene based

diversity studies. PLoS ONE, v.8, n.8, 2013.

GILBERT, J. A.; DUPONT, C. L. Microbial Metagenomics: Beyond the Genome. Annual

Review of Marine Science, v.3, n.1 p. 347-371, 2011.

GLOOR, G.B.; HUMMELEN, R.; MACKLAIM, J.M.; DICKSON, R.J.; FERNANDES,

A.D.; MACPHEE, R.; REID, G. Microbiome profiling by Illumina sequencing of

combinatiorial sequence-tagged PCR products. PLoS ONE, v.5, n.10, 2010.

GOETZ, A.; YU, V.L.; HANCHETT, J.E.; RIHS, J.D. Pseudomonas stutzeri bacteremia

associated with hemodialysis. Arch Intern Med., v. 143, n. 10, p. 1909-1912, 1983.

GOMILA, M.; GASCÓ, J.; BUSQUETS, A.; GIL, J.; BERNABEU, R.; BUADES, J.;

LALUCAT, J. Identification of culturable bacteria present in haemodialysis water and

fluid. FEMS Microbiology Ecology, 52, p. 101-114, 2005.

GONZÁLEZ, M.I.G.; MELIÁN, M.G.; ALONSO, M. A.M. Health importance of

Pseudomonas aeruginosa in hemodialysis water and its disinfection. Revista Cubana de

Salud Pública, v. 40, n. 2, p. 201-214, 2014.

GORDON,S.M.; DRACHMAN, J.; BLAND, L.A.; REID, M.H.; FAVERO, M.; JARVIS,

W.R. Epidemic hypotension in a dialysis center caused by sodium azide. Kidney Int.,v.

37, n. 1, p. 110–115, 1990.

GORDON, S.M.; TIPPLE, M.; BLAND, L.A.; JARVIS, W.R. Pyrogenic reactions

associated with the reuse of disposable hollow-fiber hemodialyzers. JAMA, v. 260, n. 14,

p. 2077-2081, 1988.

GORDON, U.; VAN NOORWIJK, J.; JONES, E.S. The first successful haemodialysis. J R

Soc Med., v. 93, n. 5, p. 266-268, 2000.

Page 94: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

94

GRADA, A.; WEINBRECHT, K. Next-generation sequencing: methodology and

application. Journal of investigative dermatology, v. 133, n. 8: e11, pp. 1-4, 2013.

GRIFFITHS, A.J.F.; WESSLER, S.R.; CARROLL, S.B.; DOEBLEY, J. Introduction to

genetic analysis. 10. Ed. New York: W. H. Freeman and Company; 2012.

GUPTA, R.S. The phylogeny of proteobacteria: relationships to other eubacterial phyla and

eukaryotes. FEMS Microbiology Reviews, v. 24, p. 367-402, 2000.

HACHICH, E.M.; BARO, M.D.; CHRIST, A.P.G.; LAMPARELLI, C.C.; RAMOS, S.S.;

SATO, M.I. Comparison of thermotolerant coliforms and Escherichia coli densities in

freshwater bodies. Brazilian Journal of Microbiology, v. 43, n.2, p. 675-681, 2012.

HALL, T.A. BioEdit:a user-friendly biological sequence alignment editor and analysis

program for windows 95/98/NT. Nucl Acids Symp Ser, v.41, p.95-98, 1999.

HANDELSMAN, J.; RONDON, M.R.; BRADY, S.F.; CLARDY, J.; GOODMAN, R.M.

Molecular biological access to the chemistry of unknown soil microbes: a new frontier

for natural products. Chem. Biol., v.5, n. 10, p. 245-249, 1998.

HENDERSON, L.W.; CHENOWETH, D.E.; CHEUNG, A.K. Anaphylatoxin formation

during hemodialysis: effects of different dialyzer membranes. Kidney Int., v. 24, n. 6, p.

764-769, 1983.

HESS, M.; SCZYRBA, A.; EGAN, R.; KIM, T-W.; CHOKHAWALA, H.; SCHROTH, G.;

LUO, S.; CLARK, D.S.; CHEN, F.; ZHANG, T. Metagenomic discovery of biomass-

degrading genes and genomes from cow rumen. Science, v.331, n. 6016, p. 463-467, 2011.

HIMMELFARB, J. & SAYEGH, M. Chronic kidney disease, dialysis and transplantation.

3rd

Edition, Saunders, 2010.

HIRAISHI,A.; FURUHATA, K.; MATSUMOTO,A.; KOIKE,K.A.; FUKUYAMA, M.

TABUCHI, K. Phenotypic and genetic diversity of chlorine-resistant Methylobacterium

strains isolated from various environments. Appl. Environ. Microbiol. v. 61, n. 6, p. 2099–

2107, 1995.

HOENICH, N.A.; RONCO, C.; LEVIN, R.The importance of water quality and

haemodialysis fluid composition.Blood purify, v.24, n.1, p. 11-18, 2006.

HU, Y.; ZHANG, G.; LI, A.; CHEN, J.; MA, L. Cloning and enzymatic characterization of

a xylanase gene from a soil-derived metagenomic library with an efficient approach. Applied Microbiology and Biotechnology, v.80, n. 5, p. 823-830, 2008.

HUEBNER, J.; GOLDMAN, D.A. Coagulase-negative staphylococci:role as pathogens.

Annu. Rev. Med. v. 50, p. 223–236, 1999.

HUGENHOLTZ, P. Exploring prokaryotic diversity in the genomic era. Review. Genome

Biology, v. 3, n. 2, 2002, 3(2), 2002.

HUSON, D.H.; AUCH, A.F.; QI, J.; SCHUSTER, S.C. MEGAN analysis of metagenomic

data. Genome Res., v. 17, n. 3, p. 377-386, 2007.

Page 95: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

95

HUSSEIN, H.M.; FENWICK, S.G.; LUMSDEN, J.S. A rapid and sensitive method for the

detection of Yersinia enterocolitica strains from clinical samples. Letters in Applied

Microiology, v. 33, n. 6, p. 445-449, 2001.

HWANG, C.; LING, F.; ANDERSEN, G.L.; LECHEVALLIER, M.W.; LIU, W.T.

Evaluation of methods for the extraction of DNA from drinking water distribution

system biofilms. Microbes Environ., v. 27, n. 1, p. 9-18, 2012.

IDEXX LABORATORIES. Validação do método Colilert-18/Quanti-Tray para contagem

de E. coli e bactérias coliformes em água. Idexx, janeiro de 2008. Disponível em:

https://www.idexx.com/pdf/en_us/water/6406300l.pdf. Acesso em 25/01/2016.

ILLUMINA. 16S Metagenomic Sequencing Library Preparation. Disponível em:

https://www.illumina.com/content/dam/illumina-

support/documents/documentation/chemistry_documentation/16s/16s-metagenomic-library-

prep-guide-15044223-b.pdf. Acesso em: 10/01/2016.

IOANNIDIS, A.; KYRATSA, A.; IOANNIDOU, V.; BERSIMIS, S.;

CHATZIPANAGIOTOU, S. Detection of biofilm production of Yersinia enterocolitica

strains isolated from infected children and comparative antimicrobial susceptibility of

biofilm versus planktonic forms. Mol Diagn Ther., v. 18, n. 3, p. 309-314, 2014.

JAAR, B.G.; CORESH, J.; PLANTINGA, L.C. et al. Comparing the risk for death with

peritoneal dialysis and hemodialysis in a national cohort of patients with

chronic kidney disease. Ann Intern Med., v. 143, n. 3, p. 174–183, 2005.

JOY, M.S.; KSHIRSAGAR, A.; PAPARELLO, J. Chronic kidney disease: progression-

modifying therapies. In: DIPIRO, J.T.et al. Pharmacotherapy: a pathophysiologic

approach. McGraw-Hill Medical ,6th edition,2008, p. 799-820.

JUNIOR, J.E.R. Doença renal crônica: definição, epidemiologia e classificação. J

BrasNefrol v. XXVI, n. 3(1), p.1-3, 2004.

JUSTESEN, U.K.; HOLT, H.M.; THIESSON, H.C.; BLOM, J.; NIELSEN, X.C.; DARGIS,

R.; KEMP, M.; CHRISTENSEN, J.J. Report of the first human case of Caulobacter sp.

Infection.Journal of Clinical Microbiology, v. 45, n. 4, p. 1366–1369, 2007.

KAPLAN, J.B.; RAGUNATH, C.; VELLIYAGOUNDER, K.; FINE, D.H.; RAMASUBBU,

N. Enzymatic detachment of Staphylococcus epidermidis biofilms. Antimicrobial Agents

and Chemotherapy, v. 48, n. 7, p. 2633–2636, 2004.

KENNEDY, J.; O´LEARY, N. D.; KIRAN, G. S.; MORRISSEY, J. P.; O´GARA, F.;

SELVIN, J.; DOBSON, A.D.W. Functional metagenomic strategies for the discovery of

novel enzymes and biosurfactants with biotechnological applications from marine

ecosystems. Journal of Applied Microbiology, v.111, n.4, p. 787-799, 2011.

KERR, D.N.S. Can renal bone disease be presented? Proc EDTA., v. 10, p. 109-111, 1973.

Page 96: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

96

KOLBERT, C.P. & PERSING, D.H. Ribosomal DNA sequencing as a tool for

identification of bacterial pathogens. Current Opinion in Microbiology, v. 2, n. 3, p. 2999 –

3305, 1999.

KOLF, W.J.; BERK, H.T.; TER WELLE, M.; VAN DER LEY, A.J.; VAN DIJK, E.C.; VAN

NOORWIJK, J. The artificial kidney: a dialyser with a great area. J Am Soc Nephrol., v. 8,

n. 12, p. 1959-1965, 1944.

KOZDRÓJ, K. & VAN ELSAS, J.D. Structural diversity of microorganisms in chemically

perturbed soil assessed by molecular and cytochemical approaches. J. Microbiol. Meth. v.

43, p. 197-212, 2001.

KOZICH, J.J.; WESCOTT, S.L.; BAXTER, N.T.; HIGHLANDER, S.K.; SCHLOSS, P.D.

Development of a dual-index sequencing strategy and curation pipeline for analyzing

amplicon sequence data on the MiSeq Illumina sequencing platform. Appl Environ

Microbiol., v. 79, n. 17, p. 5112-5120, 2013.

LANE, D.J. 16S/23S rRNA sequencing. In: Stackebrandt E., Goodfellow M (eds). Nucleic

Acid Techniques in Bacterial Systematics. Wiley: New York, 1991, pp. 115-175.

LEBARON, P.; HENRY, A.; LEPEUPLE, A.S.; PENA, G.; SERVAIS, P. An

operational method for the real-time monitoring of E. coli numbers in bathing waters.

Mar. Poll. Bull. v.50, p.652- 659, 2005.

LEVEY, A.S. & CORESH, J. Chronic Kidney disease.Lancet, n. 379, p. 165-80, 2012.

LILES, M.R.; MANSKE, B.F.; BINTRIM, S.B.; HANDELSMAN, J.; GOODMAN, R.M.A

census of rRNA genes and linked genomic sequences within a soil metagenomics library.

Applied and environmental microbiology, v.69, n.5, p.2684-2691, 2003.

LIMA, J.R.O.; MARQUES, S.G.; GONÇALVES, A.G.; FILHO, N.S.; NUNES, P.C.;

SILVA, H.S.; MONTEIRO, S.G.; COSTA, J.M.L. Microbiological analysis of water from

hemodialysis services in São Luís, Maranhão, Brazil. Brazilian Journal of Microbiology, v.

36, n. 2, p. 103-108, 2005.

LIN, J.N.; LAI, C.H.; CHEN, Y.H.; LIN, H.L.; HUANG, C.K., CHEN, W.F.; WANG, J.L.;

CHUNG, H.C.; LIANG, S.H.; LIN, H.H. Sphingomonas paucimobilis bacteremia in

humans: 16 case reports and a literature review. J Microbiol Immunol Infect., v. 43, n.1, p.

35-42, 2010.

LINDE, K.V.D.; LIM, B.T.; RONDEEL, J.M.M.; ANOTNISSEN, L.P.M.T.; JONG, G.M.T.

Improved bacteriological surveillance of haemodialysis fluids: a comparison between

Tryptic Soy agar and Reasoner´s 2A media. Nephrol Dial Transplant, v. 14, p. 2433-2437,

1999.

LUGON, J. R.; STROGOFF, J. P.; WARRAK, E. A. Hemodiálise. In: RIEELA, M. C.

Princípios de Nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos.Rio de Janeiro: Editora Guanabara

Koogan, 2003, p.869-890.

Page 97: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

97

MADABHUSHI, R.S. Separation of 4-color DNA sequencing extension products in

noncovalently coated capillaries using low viscosity polymer solutions. Electrophoresis, v.

19, p. 224-30, 1998.

MAIDAK, B.L.; OLSEN, G.J.; LARSEN, N.; OVERBEEK, R.; MCCAUGHEY, M.J.;

WOESES, C.R. The ribosomal database Project (RDP).Nucleic Acids Res., v. 24, n. 1, p.

82-85, 1996.

MANZLER, A.D.; SCHREINER, A.W. Copper-induced acute hemolytic anemia: anew

complication of hemodialysis. Ann Intern Med., v. 73, n. 3, p. 409-412, 1970.

MERGENHAGEN, K.; TELESZ, A.M. Yersinia enterocolitica bacteremia in a chronic,

mildly iron-overloaded dialysis patient. The annals of pharmacotherapy, v.45, n.2, 2011.

MERINO, A.; NOGUERAS, S.; GARCÍA-MACEIRA, T.; RODRÍGUEZ, M.; MARTIN-

MALO A.; RAMIREZ, R.; CARRACEDO, J.; ALJAMA, P. Bacterial DNA and endotelial

damage in haemodialysis patients. Nephrol Dial Transplant, v. 23, p. 3635-3642, 2008.

MIZRAHI-MAN, O.; DAVENPORT, E.R.; GILAD, Y. Taxonomic classification of

bacterial 16S rRNA genes using short sequencing reads: evaluation of effective study

designs.Plos One, v.8, i.1, p. 1-14, 2013.

MONTANARI, L.B.; SAROTRI, F.G.; CARDOSO, M.J.O.; VARO, S.D.; PIRES, R.H.;

LEITE, C.Q.F.; PRINCE, K.; MARTINS, C.H.G. Microbiological contamination of a

hemodialysis center water distribution system. Ver. Inst. Med. Trop. S. Paulo, v. 51, n. 1,

p.37-43, 2009.

NATIONAL KIDNEY FOUNDATION.K/DOQI clinical practice guidelines for chronic

kidney disease: evaluation, classification and stratification. Am J KidneyDis., v. 39,(suppl

1), p. S1-S266,2002.

NELSON, M.C.; MORRISON, H.G.; BENJAMINO, J.; GRIM, S.L.; GRAF, J. Analysis,

Optimization and verification of Illumina-generated 16S rRNA gene amplicon surveys.

Plos one, v.9, n.4, p. 1-14, 2014.

NOGUEIRA, G.; NAKAMURA, C.V.; TOGNIM, M.C.B.; FILHO, B.A.A.; DIAS, B.P.F.

Qualidade microbiológica de água potável de comunidades urbanas e rurais, Paraná.

Rev. Saúde Pública. v. 37, n. 2, p.232-236, 2003.

O´BRIEN, T.F.; BAXTER, C.R.; TESCHAN, P.E. Prophylactic daily hemodialysis. Trans

Am Soc Artif Intern Organs., v. 5, p. 77-80, 1959.

OIE, S.; KAMIYA, A.; YONEDA, I.; UCHIYAMA, K.; TSUCHIDA, M.; TAKAI, K.;

NAITO, K. Microbial contamination of dialysate and its prevention in haemodialysis

units. Journal of Hospital Infection, v. 54, p. 115-119, 2003.

OLSEN, G. J; LANE, D.J.; GIOVANNONI, S.J.; PACE, N.R.; STAHL, D.A.Microbial

ecology and evolution: a ribosomal RNA approach. Annual review of microbiology, v.40,

p. 337-365, 1986.

Page 98: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

98

ORRINGER, E.P.; MATTERN, W.D.Formaldehyde-induced hemolysis during chronic

hemodialysis. N Engl J Med., v. 294, p.1416–1420, 1976.

OULAS, A.; PAVLOUDI, C.; POLYMENAKOU, P.; PAVLOPOULOS, G.A.;

PAPANIKOLAOU, N.; KOTOULAS, G.; ARVANITIDIS, C.; ILIOPOULOS, I.

Metagenomics: Tools and insights for analyzing next-generation sequencing data

derived from biodiversity studies. Bioinformatics and Biology Insights, v.9, p. 75-88, 2015.

PACE, N.R.; SAPP, J.; GOLDENFELD, N. Phylogeny and beyond: scientific, historical,

and conceptual significance of the first tree of life. Proc Natl Acad Sci U S A., v. 109, n. 4,

p. 1011-1018, 2012.

PACE, N.R.; STAHL, D.A.; LANE, D.J.; OLSEN, G.J. The analysis of natural microbial

populations by ribosomal RNA sequences. Adv. Microb. Ecol., v.9, p. 1-55, 1986.

PETERSSON, E.; LUNDEBERG, J.; AHMADIAN, A. Generations of sequencing

technologies.Genomics, v.93, n.2, p. 105-111, 2009.

PISANI, B.; SIMÕES, M.; PRANDI, A.G.; ROCHA, M.M.M.; GONÇALVES, C.R.; VAZ,

T.M.I.; IRINO, K. Surto de bacteriemia por Pseudomonas aeruginosa na unidade de

hemodiálise de um hospital de Campinas, São Paulo, Brasil.Revista do Instituto Adolfo

Lutz, v. 59, p. 51-56, 2000.

POLI, A.; NICOLAUS, B.; DENIZCI, A.A.; YAVUZTURK, B.; KAZAN, D. Halomonas

smyrnensis sp. nov., a moderately halophilic, exopolysaccharide-producing

bacterium.International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, v. 63, p. 10-

18, 2013.

PRUESSE, E.; QUAST, C.; KNITTEL, K. et al. SILVA: a comprehensive online resource

for quality checked and aligned ribosomal RNA sequence data compatible with ARB.

Nucleic Acids Res., v. 35, n. 21, p. 7188-7196, 2007.

QUAST, C.; PRUESSE, E.; YILMAZ, P.; et al. The SILVA ribosomal RNA gene database

Project: improved data processing and web-based tools. Nucleic Acids Res., v. 41,

(Database issue):D590-6, 2013.

QUINCE, C.; LANZEN, A.; DAVENPORT, R.J.; TURNBAUGH, P.J. Removing noise

from pyrosequenced amplicons. BMC bioinformatics., v.12, n.38, p. 1-18, 2011.

QUINTON, W.; DILLARD, D.; SCRIBNER, B.H. Cannulation of blood vessels for

prolonged hemodialysis.Trans Am Soc Artif Intern Organs., v. 6, p. 104-113, 1960.

RAJENDHRAN, J.; GUNASEKARAN, P. Microbial phylogeny and diversity: small

subunit ribosomal RNA sequence analysis and beyond.Microbiological Research, v.166,

n.2, p. 99-110, 2011.

RAMIREZ, S.S. Avaliação do impacto da qualidade da água em parâmetros

laboratoriais indicativos de bem estar clínico de pacientes submetidos à hemodiálise no

Estado do Rio de Janeiro. 2011. 74f. Dissertação de mestrado do Programa de Pós-

Page 99: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

99

Graduação de Vigilância Sanitária – Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde –

Fundação Oswaldo Cruz.

RANG, H.P.; DALE, M.M. Farmacologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, p. 368 –

369.

REASONER, D. J.; BLANNON, J.C.; GELDREICH, E.E.; BARNICK, J.Nonphotosynthetic

pigmented bacteria in a potable water treatment and distribution system.Appl. Environ.

Microbiol., v. 55, n.4, p. 912–921, 1989.

RIBEIRO, A.C.B. LAZLO@GALAXY –Um protótipo de serviço de montagem de

genomas a partir de dados de sequenciamento de próxima geração (NGS).2012. 245f.

Dissertação de mestrado do curso Biologia Computacional e Sistemas. Instituto Oswaldo

Cruz.

RIELLA, M. C.Princípios de Nefrologia e Distúrbios hidroeletrolíticos. 5. ed. Rio de

Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.

ROH, S.W.; KIM, K.H.; NAM, Y.D.; CHANG, H.W.; KIM, M.S.; OH, H.M., BAE,

J.W.Sphingomoas aestuarii sp. Nov., isolated from tidal flat sediment., v. 59, p. 1359-

1363, 2009.

ROLING, W.F.M.; HEAD, I.M. Prokaryotic systematics: PCR and sequence analysis of

amplified 16S rRNA genes. In: OSBORN, A.M.; SMITH, C.J. (editors). Molecular

microbial ecology. New York: Taylor & Francis Group, 2005.Chapter 2, 2005. 381p.

RONAGHI, M. Pyrosequencing sheds light on DNA sequencing. Genome Res., v. 11, n.1,

p. 3-11, 2001.

ROSCH, C.; EILMUS, S.; BOTHE, H. Approaches to assess the biodiversity of bacteria in

natural habitats. Biochemical Society Transactions, v.34, p. 169-173, 2006.

ROTH, V.R.; JARVIS, W.R. Outbreaks of infection and/or pyrogenic reactions in dialysis

patients. Seminars in Dialysis, v.13, n.2, P. 92-96, 2000.

RUSSEL, A.D.Bacterial resistance to disinfectants: present knowledge and future

problems.J Hosp Infect., v.43, Suppl:S57-68, 1999.

RYAN, M.P.; ADLEY, C.C. Sphingomonas paucimobilis: a persistent Gram-negative

nosocomial infectious organism.Journal of Hospital Infection, v. 75, n.3, p. 153-157, 2010.

SAKHUJA. Managing advanced chronic kidney disease: A primary care guide.

Cleveland clinic jornal of medicine, v. 81, n.5, p. 289-299, 2014.

SALLOTO, G.R.B.; CARDOSO, A.M.; COUTINHO, F.H.; PINTO, L.H.; VIEIRA, R.P.;

CHAIA, C.; LIMA, J.L.; ALBANO, R.M.; MARTINS, O.B.; CLEMENTINO, M.M.

Pollution impacts on bacterioplankton diversity in a tropical urban coastal lagoon

system. Plos One, v. 7, n. 11, p. 1-12, 2012.

Page 100: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

100

SANDERS, J.W.; MARTIN, J.W.; HOOKE, M.; HOOKE, J. Methylobacterium

mesophilicum infection: case report and literature review of na unusual opportunistic

pathogen. Clin Infect Dis., v. 30, n. 6, p. 936-938, 2000.

SANGER, F.; NICKLEN, S.; COULSON, A.R. DNA sequencing with chain-terminating

inhibitors. Proc Natl Acad Sci USA, v. 74, n. 12, p. 5463-5467, 1977.

SCHIFFL, H.; LANG, S.M.; STRATAKIS, D.; FISHER, R.: Effects of ultrapure dialysis

fluid on nutricional status and inflammatory parameters. Nephrol Dial Transplant., v.16,

n. 9, p. 1863-1869, 2001.

SCHLOSS, P.D.; HANDELSMAN, J. Introducing DOTUR, a computer program for

definingoperational taxonomic units and estimating species richness. Appl Environ

Microbiol., v. 71, n. 3, p. 1501-1506, 2005.

SCHLOSS, P.D.; HANDELSMAN, J. Introducing SONS, a tool for operational taxonomic

unit-based comparisons of microbial community memberships and structures. Appl

Environ Microbiol., v. 72, n. 10, p. 6773-6779, 2006.

SCHLOSS, P.D.; HANDELSMAN, J. Introducing TreeClimber, a test to compare

microbial community structures. Appl Environ Microbiol., v. 72, n. 4, p. 2379-2379, 2006.

SCHLOSS, P.D.; WESTCOTT, S.L.; RYABIN, T.; HALL, J.R.; HARTMANN, M.;

HOLLISTER, E.B.; LESNIEWSKI, R.A.; OAKLEY, B.B.; PARKS, D.H.; ROBINSON, C.J.;

SAHL, J.W.; STRES, B.; THALLINGER, G.G.; HORN, D.; WEBER, C.F. Introducing

mothur: open-source, platform-independent, community-supported software for

describing and comparing microbial communities. Applied and environmental

microbiology, v.75, n.23, p.7537-7541, 2009.

SCHLOSS, P.D.; GEVERS, D.; WESTCOTT, S.L. Reducing the effects of PCR

amplification and sequencing artifactson 16S rRNA-based studies. PLoS One, v.6, n.12,

2011.

SCHMIDT, M.; DELONG, E.F.; PACE, N.R.Analysis of a marine picoplankton

community by 16S rRNA gene cloning and sequencing. J Bacteriol., v. 173, n.14, p. 4371–

4378, 1991.

SELENIC, D.; ALVARADO-RAMY, F.; ARDUINO, M.; HOLT, S.; CARDINALI, F.;

BLOUNT, B.; JARRETT, J.; SMITH, F.; ALTMAN, N.; STAHL, C.; PANLILIO, A.;

PEARSON, M.; TOKARS, J. Epidemic parenteral exposure to volatile sulfur-containing

compounds at a hemodialysis center.Infect Control Hosp Epidemiol, v. 25, p. 256–261,

2004.

SESSO, R.C.; LOPES, A. A.; THOMÉ F. S.; LUGON, J.R.; SANTOS, D.R.Inquérito

brasileiro de diálise crônica 2013 – análise das tendências entre 2011 e 2013.J

BrasNefrol., v. 35, n. 4, p.476-481, 2014.

SHAUFI, M.A.M.; SIEO, C.C.; CHONG, C.W.; GAN, H.M.; HO, Y.W. Deciphering

chicken gut microbial dynamics based on high-throughput 16S rRNA metagenomics

analyses. Gut Pathogens, v.7, n.4, p. 1-12, 2015.

Page 101: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

101

SHMIDT, T.M. The maturing of microbial ecology. International Microbiology, v.9, p.

217-223, 2006.

SILVA, A.M.M.; MARTINS, C.T.B.; FERRABOLI, R., JORGETTI, V.; JUNIOR,

J.E.R.Revisão/atualização em diálise: água para hemodiálise. J BrasNefrol., v.18, n.2, p.

180-188, 1996,

SIMÕES, M.; BRÍGIDO, B.M.; MAZON, E.M.A.; PIRES, M.F.C. Água de diálise:

parâmetros físico-químicos na avaliação do desempenho das membranas de osmose

reversa. Ver. Inst. Adolfo Lutz, v.64, n.2, p. 173-178, 2005.

SOARES, C. B.; OCHIRO, E. Y.;& SANNOMIYA, T. N. Relação da temperatura da

solução de diálise e a hipotensão arterial sintomática observada durante sessões de

hemodiálise em pacientes com insuficiência renal crônica. Rev. esc. enferm. USP, v.35,

n.4, p. 346-353, 2001.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA. Censo da SBN 2008. Disponível em:

http://arquivos.sbn.org.br/pdf/censos/censos_anteriores/censo_2008.pdf. Acesso em

02/01/2016.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA. Censo da SBN 2013. Disponível em:

arquivos.sbn.org.br/pdf/censo_2013-14-05.pdf. Acesso em: 02/01/2016.

SOMERVILLE, C.C.; KNIGHT, I.T.; STRAUBE, W.L. COLWELL, R.R. Simple, rapid

method for direct isolation of nucleic acids from aquatic environments. Applied and

environmental microbiology, v. 55, n.3, p. 548-554, 1989.

SOUSA, S.; RAMOS, C; LEITÃO, J. Burkholderia cepacia complex: emerging multihost

pathogens equipped with a wide range of virulence factors and determinants. International Journal of Microbiology, v. 2011, p. 1-9, 2010.

SOUZA, A.V.; MOREIRA, C.R.; PASTERNAK, J.; HIRATA, M.L.; SALTINI, D.A.;

CAETANO, V.C.; CIOSAK, S.; AZEVEDO, F.M.; SEVERINO, P.; VANDAMME, P.;

MAGALHÃES, V.D. Characterizing uncommon Burkholderia cepacia complex isolates

from an outbreak in a hemodialysis unit. Journal of Medical Microbiology, v. 53, p. 999-

1005, 2004.

STEVENS, D.A.; HAMILTON, J.R.; JOHNSON, N.; KIM, K.K.; LEE, J.S. Halomonas, a

newly recognized human pathogen causing infections and contamination in a dialysis

center: three new species. Medicine (Baltimore), v. 88, n.4, p. 244-249, 2009.

STEVENS, D.A.; KIM, K.K.; JOHNSON, N.; LEE, J.S.; HAMILTON, J.R. Halomonas

johnsoniae: Review of a medically underappreciated genus of growing human

importance. The American Journal of the Medical Sciences., v. 345, n.5,p. 335-338,2013.

STURSA, P.; UHLIK, O.; KURZAWOVÁ, V.; KOUBEK, J.; IONESCU, M.; STROHALM,

M.; LOVECKÁ, P.; MACEK, T.; MACKOVÁ, M. Approaches for diversity analysis of

cultivable and non-cultivable bacteria in real soil.Plant Soil Environment, v.55, n.9, p.389-

396, 2009.

Page 102: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

102

SZUSTER, D.A.C.; CAIAFFA, W.T.; ANDRADE, E.I.G.; ACURCIO, F.A.;

CHERCHIGLIA, M.L.Sobrevida de pacientes em diálise no SUS no Brasil.Cad. Saúde

Pública, v. 28, n.3, p.415-424, 2012.

TAKEMOTO, Y., NAGANUMA T., YOSHIMURA, R. Biocompatibility of the dialysis

membrane. Contrib Nephrol., v. 168, p. 139-145, 2011.

TERMORSHUIZEN, F.; KOREVAAR, J.C.; DEKKER, F.W.; VAN MANEN, J.G.;

BOESCHOTEN, E.W.; KREDIET, R.T. Hemodialysis and peritoneal dialysis:

Comparisonof adjusted mortality rates according to the duration of dialysis:Analysis of

The Netherlands Cooperative Study on the Adequacy ofDialysis 2. J Am SocNephrol.,

v.14, n.11, p. 2851-2860, 2003.

THAMER,M.; HWANG, W.; FINK, N.E.; SADLER, J.H.; WILLS, S.; LEVIN, N.W.; BASS,

E.B.; LEVEY, A.S.; BROOKMEYER, R.; POWE, N.R. US Nephrologists’

Recommendation of Dialysis Modality: Results of a National Survey. American Journal of

Kidney Diseases, v.36, n.6, p.1155-1165, 2000.

THOMÉ, F. S.;KAROHL, C.; GONÇALVES, L. F. S.; MANFRO, R. C. Métodos dialíticos.

In: Nefrologia Rotinas, Diagnóstico e Tratamento. São Paulo: Editora Artes Médicas Sul,

1999, p. 441-459.

TIPPLE, M.A.; SHUSTERMAN, N.; BLAND, L.A.; MCCARTHY M.A.; FAVERO, M.S.;

ARDUINO, M.J.; REID, M.H.; JARVIS, W.R. Illness in hemodialysis patients after

exposure to chloramine contaminated dialysate. ASAIO Trans., v. 37, n. 4, p. 588-591,

1991.

TONG, M.K.; WANG, W.; KWAN ,T.; CHAN, L.; AU, T. Water treatment for

hemodialysis. Hong Kong JournalofNephrology, v. 3, n.1, p. 7-14, 2001.

TRETINI,M. et al. Qualidade de vida de pessoas dependentes de hemodiálise

considerando alguns aspectos físicos, sociais e emocionais. Texto e contexto Enfermagem,

Florianópolis-SC, v.13, n.1. p. 72-82, 2012.

TRINGE , S.G.; RUBIN, E.M. Metagenomics: DNA sequencing of environmental

samples.Nature reviews, v.6, p. 805-814, 2005.

UNITED STATES PHARMACOPEIAL CONVENTION (USP 38 – NF 33). The United

States Phamacopeia: General Chapters, Microbiological Examination of Nonsterile

products: microbial enumeration tests, p. 106-112, 2016.

URAKAWA, H,; MARTENS-HABBENA, W.; STAHL, D.A. High abundance of

ammonia-oxidizing Archaea in coastal waters, determined using a modified DNA

extraction method. Applied and Environmental Microbiology, v.76, n. 7, p. 2119-2135,

2010.

USRDS Annual Data Report IV1991. Methods of ESRD Treatment. Am. J. of Kidney Dis.,

v. XVIII, n. 5, Suppl 2, p. 38-48, 1991.

Page 103: ANÁLISE DA COMUNIDADE BACTERIANA EM SISTEMAS DE ÁGUA DE …

103

VUONG, C.; OTTO, M. Staphylococcus epidermidis infections. Microbes Infect., v.4, p.

481–489, 2002.

WANG, Q; GARRITY, G.M.; TIEDJE, J.M.; COLE, J.R. Naïve Bayesian classifier for

rapid assignment of rRNA sequences into the new bacterial taxonomy. Appl. Environ.

Microbiol., v. 73, n. 16, p. 5261-5267, 2007.

WELBEL, S.F.; SCHOENDORF, K.; BLAND LA, ARDUINO MJ, GROVES C, SCHABLE

B, O'HARA CM, TENOVER FC, JARVIS WR. An outbreak of gram-negative

bloodstream infections in chronic hemodialysis patients. Am J Nephrol., v.15, n.1, p. 1 –

4,1995.

WIZEMANN, V.; RITZ, E. Georg Haas: a forgotten pioneer of hemodialysis.

Nephrology,v.4, issue 4, p. 229-234, 1998.

WOESE, C.R. Bacterial Evolution. Microbiological Reviews, v.51, n.2: 221-271, 1987.

WOESE, C.R.; KANDLER, O.; WHEELIS, M.L.Towards a natural system of organisms:

proposal for the domains Archaea, Bacteria, and Eucarya. Proc Natl Acad Sci., v. 87,

n.12, p. 4576 – 4579, 1990.

WOO, P.C.Y.; LAU, S.K.P.; TENG, J.L.L.; TSE, H.; YUEN, K.Y. Then and now: use of

16S rDNA gene sequencing for bacterial identification and Discovery of novel bacteria

in clinical microbiology laboratories. Clin Microbiol Infect., v.14, n.10, p. 908 – 934, 2008.