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XL ENCONTRO NACI ONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. Análise de repositórios utilizados pela comunidade maker mundial para auxílio no combate à COVID-19 Larissa Oliveira dos Santos (UFSCar) [email protected] Esdras Paravizo (UFSCar) [email protected] Renato Luvizoto (UFTM) [email protected] Daniel Braatz (UFSCar) [email protected] A crise de saúde pública enfrentada em escala global tem sua origem na doença causada pelo vírus SARS-CoV-2. Com alta transmissibilidade, taxa de mortalidade expressiva e grande impacto sobre outras dimensões além da saúde pública, as consequências da COVID-19 têm desafiado os gestores públicos a buscarem soluções em um cenário de muita incerteza. Em situações de crise pandêmica, o abastecimento de EPIs pode ser dificultada, já que diversos países aumentam suas demandas destes equipamentos, tornando a produção usual insuficiente para atender toda a demanda. É nesse cenário que surgem notícias de grupos makers atuando e colaborando no enfrentamento à COVID-19. Frente a isso, o objetivo deste artigo é entender como os repositórios já comumente utilizados pela comunidade maker mundial auxiliaram na disponibilização de modelos 3D que pudessem ser impressos de forma descentralizada e independente das cadeias tradicionais de produção. Este estudo é de natureza qualitativa comparativa, analisando os principais repositórios de modelos 3D existentes na internet. Os principais resultados indicam que houve um aumento expressivo, nos últimos 6 meses, do número de acessos aos repositórios em geral. Os criadores são, em sua maioria, dos Estados Unidos, Europa e China, sendo que as máscaras semi faciais são as mais procuradas (apresentam o maior número de reações). As principais limitações dizem respeito a dinâmica dos resultados no tempo e a inexistência de padronização das informações nos sites. Sugere-se que pesquisas futuras analisem os modelos/arquivos em termos de tempo de impressão, quantidade necessária de filamento, necessidade de suporte e configurações especiais de impressão. Palavras-chave: impressão 3D, COVID-19, coronavírus, SARS-CoV-2, maker.

Análise de repositórios utilizados pela comunidade maker

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XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO 

“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” 

Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. 

 

 

 

 

Análise de repositórios utilizados pela comunidade maker mundial para auxílio no

combate à COVID-19 Larissa Oliveira dos Santos (UFSCar)

[email protected]

Esdras Paravizo (UFSCar) [email protected]

Renato Luvizoto (UFTM) [email protected]

Daniel Braatz (UFSCar) [email protected]

A crise de saúde pública enfrentada em escala global tem sua origem na doença causada pelo vírus SARS-CoV-2. Com alta transmissibilidade, taxa de mortalidade expressiva e grande impacto sobre outras dimensões além da saúde pública, as consequências da COVID-19 têm desafiado os gestores públicos a buscarem soluções em um cenário de muita incerteza. Em situações de crise pandêmica, o abastecimento de EPIs pode ser dificultada, já que diversos países aumentam suas demandas destes equipamentos, tornando a produção usual insuficiente para atender toda a demanda. É nesse cenário que surgem notícias de grupos makers atuando e colaborando no enfrentamento à COVID-19. Frente a isso, o objetivo deste artigo é entender como os repositórios já comumente utilizados pela comunidade maker mundial auxiliaram na disponibilização de modelos 3D que pudessem ser impressos de forma descentralizada e independente das cadeias tradicionais de produção. Este estudo é de natureza qualitativa comparativa, analisando os principais repositórios de modelos 3D existentes na internet. Os principais resultados indicam que houve um aumento expressivo, nos últimos 6 meses, do número de acessos aos repositórios em geral. Os criadores são, em sua maioria, dos Estados Unidos, Europa e China, sendo que as máscaras semi faciais são as mais procuradas (apresentam o maior número de reações). As principais limitações dizem respeito a dinâmica dos resultados no tempo e a inexistência de padronização das informações nos sites. Sugere-se que pesquisas futuras analisem os modelos/arquivos em termos de tempo de impressão, quantidade necessária de filamento, necessidade de suporte e configurações especiais de impressão.

Palavras-chave: impressão 3D, COVID-19, coronavírus, SARS-CoV-2, maker.

 

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1. Introdução A crise de saúde pública enfrentada em escala global tem sua origem na doença causada pelo

vírus SARS-CoV-2. Com alta transmissibilidade, taxa de mortalidade expressiva e grande

impacto sobre outras dimensões além da saúde pública (OMS, 2020), as consequências da

COVID-19 têm desafiado os gestores públicos a buscarem soluções em um cenário de muita

incerteza. A Organização Mundial da Saúde tem como uma das principais orientações, o

isolamento social como forma de diminuir a quantidade de contaminações em um

determinado período. Tal orientação se respalda na busca por um achatamento da curva de

infectados, possibilitando que não haja uma infecção em massa, o que sobrecarregaria os

sistemas de saúde. Situação que ocorreu na Itália e Estados Unidos e que busca ser evitada

pelo Ministério da Saúde do Brasil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020).

Se no nível estratégico e macro, do combate à transmissão generalizada, o desafio imposto

remete a uma necessidade de dados confiáveis, articulação entre poderes e suporte rápido aos

surtos locais, no nível operacional, o principal desafio remete ao atendimento das pessoas com

e sem suspeitas de estarem infectadas pelo SARS-CoV-2. Caso se confirme a infecção e

evolução da doença, é necessário ainda o isolamento do sujeito e, se for um prognóstico

reservado, o encaminhamento para um centro de tratamento intensivo. Todo esse atendimento

demanda uma infraestrutura (leitos comuns, leitos de UTI, entre outros) que possibilite o

tratamento dos enfermos sem tornar os próprios focos de transmissão; e, ainda, sem ocorrer a

transmissão do vírus entre paciente e agentes de saúde.

Se analisarmos a crise pandêmica com o foco maior na situação dos profissionais de saúde do

nível operacional (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, técnico de enfermagem, entre

outros), é imperativo que sejam garantidas as condições mínimas de saúde e segurança

previstas nas normas regulamentadoras brasileiras e em orientações da Organização Mundial

do Trabalho e da Organização Mundial de Saúde.

Face a esse contexto, é importante ressaltar que já é apontado na literatura a exposição aos

riscos, por parte dos profissionais de saúde, devido a, entre outros fatores, uma falta de

equipamentos individuais de segurança (NEVES et al., 2011). Em situações como a crise

pandêmica propiciada pelo vírus SARS-CoV-2, o abastecimento de EPIs pode ainda ser

dificultada, já que diversos países aumentam suas demandas destes equipamentos, tornando a

produção usual insuficiente para atender toda a demanda. Torna-se comum, portanto, os

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relatos de profissionais de saúde trabalhando nesta crise de saúde pública sem determinados

equipamentos de proteção individual e utilizando improvisações. Esses relatos motivaram

iniciativas como a do Conselho Federal de Medicina que disponibilizou um formulário online

para que os médicos pudessem apontar deficiências relacionadas às condições de trabalho e à

infraestrutura do local (CFM, 2020).

É nesse cenário que surgem notícias de grupos makers atuando e colaborando no

enfrentamento à COVID-19. Os primeiros relatos foram na Itália e posteriormente foram

observados em diversos locais do mundo, como na Malásia e nos EUA , por exemplo, assim

como no Brasil, que possui relatos de iniciativas de produção de protetores faciais (face

shields) em diferentes cidades.

Com um possível início entre 2005 e 2006, o movimento maker pode ser considerado como

um fenômeno recente que mobiliza pessoas de diferentes formações - engenheiros,

programadores, artistas e até pessoas sem uma formação específica - com um duplo objetivo:

explorar o processo de criação tornando o mesmo prazeroso e construir resultados úteis

(MARTIN, 2015). Nesse processo criação, o compartilhamento de produtos e processos é

uma marca do movimento maker (SHERIDAN et al., 2014), esse compartilhamento pode se

dar por meio de plataformas digitais que facilitam a interação entre os usuários ou em espaços

makers pensados para essas finalidades (HATCH, 2014). Para Mark Hatch, autor do

Manifesto do Movimento Maker, são nove as ideias principais que definem o movimento:

fazer, compartilhar, dar, aprender, instrumentalizar, brincar, participar, dar suporte/apoio e

transformar (HATCH, 2014).

O potencial do Movimento Maker para a aprendizagem tem sido alvo de discussões como a

realizada por Sheridan et al. (2014), no caso dos autores o interesse estava associado aos

makerspaces como um local que auxilia na identificação de problemas, construção de

modelos, aprendizagem e aplicação de habilidades. Já em Braatz et al. (2019), o interesse se

deu nas contribuições do movimento maker para o desenvolvimento do ensino no contexto da

Engenharia de Produção de acordo com as novas diretrizes curriculares para o ensino de

Engenharia aprovadas em 2019.

Nota-se, portanto, que a interação entre os usuários, seja de forma direta ou indireta, é um

fator importante no movimento maker. Essa interação se dá no sentido de suporte, de

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desenvolvimento colaborativo e de compartilhamento de projetos. Os repositórios de modelos

online ganham um destaque nesse movimento, pois funcionam como espaços virtuais em que

os usuários podem divulgar e compartilhar seus desenvolvimentos, bem como contribuir com

outros desenvolvimentos.

Considerando os aspectos citados acima, e tomando o potencial de colaboração e

compartilhamento de projetos do movimento maker, o objetivo deste artigo é, no contexto do

combate à COVID-19, entender como os repositórios já comumente utilizados pela

comunidade maker mundial auxiliaram na disponibilização de modelos 3D que pudessem ser

impressos e utilizados de forma descentralizada e independente das cadeias tradicionais de

produção.

2. Método

Este estudo é de natureza qualitativa comparativa, analisando os principais repositórios de

modelos 3D existentes na internet. O foco da análise é comparar os repositórios e os

principais modelos 3D que fazem referência a atual pandemia da COVID-19.

A pesquisa ocorreu em duas diferentes etapas. Inicialmente foram levantados e analisados os

repositórios de forma global para selecionar aqueles que seriam buscados para compreensão

dos modelos tridimensionais existentes.

Para a etapa inicial de definição dos repositórios de interesse foi realizada um primeiro

levantamento dos repositórios e marketplaces de modelos 3D através de pesquisa genérica em

site de busca. A partir desta pesquisa foram identificados 45 sites distintos, entre repositórios

e marketplaces, que foram então analisados para subsequente definição dos repositórios de

interesse.

A primeira etapa após a identificação dos possíveis sites de interesse, foi a remoção daqueles

que não abriam ou apresentavam erros, restando um total de 38 sites. Em seguida, uma análise

prévia foi realizada para identificar os sites cujo foco é a disponibilização de modelos 3D para

impressão 3D em geral. Assim, sites de nicho (e.g. modelos 3D para miniaturas de jogo) ou

de modelos 3D em geral (e.g. jogos e animações computacionais) foram removidos (n=21),

restando um total de 17 sites de possível interesse. A etapa seguinte de análise detalhada dos

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sites levantou o número de acesso aos sites , o modo de disponibilização dos modelos 1

(gratuitamente ou mediante a pagamento), número total de arquivos e número de arquivos de

interesse. Nessa etapa, 12 sites foram removidos, restando 5 repositórios de interesse cujos

modelos relacionados à COVID-19 foram analisados. Destaca-se aqui que os 4 sites com

maior número de acessos no mês de março do ano de 2020 (Thingiverse, Cults3D,

PrusaPrinters e Pinshape) foram incluídos, além do site NIH 3D Print Exchange que foi

incluído por ser um repositório mantido pelo National Institutes of Health, centro de pesquisa

da área de saúde vinculado ao governo dos EUA que apresentava uma curadoria dos modelos

3D disponíveis (apesar de não ter número de acessos similar aos demais). A sistemática de

análise dos repositórios seguiu o processo delineado na Figura 1.

Figura 1 - Processo de seleção dos sites a serem analisados

Fonte: Autores

1 Para o levantamento do número de acessos foi utilizado o site www.similarweb.com que disponibiliza tais informações.

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Concluída a primeira etapa da pesquisa, iniciou-se a segunda que teve como objetivo analisar

os modelos tridimensionais presentes nos repositórios selecionados e que tinham relação com

as palavras-chave: “covid”, “covid 19”, “covid-19” e “coronavirus”.

Para cada repositório foram analisados os vinte modelos mais relevantes conforme diferentes

critérios de cada site. Importante destacar que não foi possível ter um critério único nesta

etapa visto que os sites não disponibilizam as mesmas informações e categorizações dos

modelos. Assim, para alguns sites o critério empregado foi número de downloads enquanto

que para outros foi o número de “likes” (pessoas que registraram uma reação positiva ao

modelo) ou ainda o número de “makes” (quantas vezes o modelo foi baixado e impresso).

A partir de uma primeira análise dos cem modelos escolhidos foram definidas 7 categorias

que melhor caracterizavam o objetivo de cada modelo, sendo estas:

1. Máscaras semi faciais;

2. Protetor facial (tipo escudo ou faceshield);

3. Respirador;

4. Itens para melhorar o conforto (destaque para Regulador de máscara);

5. Válvulas em geral;

6. Adaptadores em geral;

7. Acessórios para o dia-a-dia.

Com as categorias definidas, cada um dos cem modelos foi classificado em uma destas

categorias e então, foram levantadas as seguintes informações (quando disponíveis):

A. Nome do criador/desenvolvedor;

B. País do criador/desenvolvedor;

C. Número de visualizações;

D. Número de “likes”;

E. Número de downloads;

F. Tags definidas;

G. Descrição do modelo;

H. Orientações para a impressão 3D.

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Com base nas informações coletadas tornou-se possível a realização de análises de cunho

qualitativo, considerando em especial as informações incluídas pelos designers nas descrições

dos modelos. Essas análises complementam os levantamentos quantitativos descritivos e são

explicitadas na seção seguinte.

3. Resultados e Discussão

Nessa seção os resultados e discussões são apresentados, primeiramente, em termos dos

repositórios analisados e, em seguida, com enfoque nas análises dos modelos 3D encontrados.

3.1. Análise dos repositórios

Os 45 sites inicialmente identificados (que inclui os 5 repositórios de interesse) estão listados

no Anexo 1. Os repositórios selecionados através do processo apresentado anteriormente

possuem, conjuntamente, mais de 22 milhões de acessos no período analisado (março de

2020). O número total de arquivos existentes em cada repositório, em geral, não é

disponibilizado de forma sistemática/evidente. Para uma caracterização inicial, o Thingiverse

indica que possui mais de 1,7 milhões de arquivos enquanto o site da PrusaPrinters contém

aproximadamente 17 mil modelos.

De forma similar, não foi possível obter o número exato de modelos identificados após busca

pelas palavras-chaves relacionadas à COVID-19 em todos repositórios. No entanto, foi

possível apurar que para o Thingiverse e Cults3D a quantidade de arquivos de interesse estava

na casa dos milhares, enquanto para os outros sites esse número variava entre 59 e 377

arquivos.

Durante o levantamento dos repositórios e dos modelos analisados, foi verificado que alguns

sites criaram páginas específicas com modelos, desafios e compilações de arquivos

relacionados ao combate à COVID-19. Nesse âmbito destacam-se o Thingiverse que possui

páginas de desafio à comunidade para criação de modelos 3D com objetivo diversos (e.g.

desenvolvimento de máscaras/suportes a coberturas faciais, similares à respiradores) e o NIH

3D Print Exchange. Esse último, por ser ligado ao Instituto Nacional de Saúde dos EUA

possui uma curadoria ativa por diversos órgão de saúde governamentais norte americanos que

criou coleções específicas de arquivos indicados para uso clínico e para uso cotidiano pela

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comunidade, incluindo recomendações de uso e higienização, nesse contexto de combate à

COVID-19.

Finalmente, torna-se evidente que, nos últimos dois meses, houve um aumento no número de

acessos aos repositórios em geral, com destaque para o site PrusaPrinters que teve um

aumento no número de acessos de 240%. Tal aumento é, em grande parte, devido aos

modelos de protetores faciais desenvolvidos pela própria equipe do site e disponibilizados na

segunda quinzena de março. A Figura 2 apresenta a evolução do número de acessos a cada

repositório, nos últimos 6 meses.

Figura 2 - Evolução de Acessos nos Repositórios de modelos 3D nos últimos 6 meses

Fonte: elaborado pelos autores com base em dados de número de acessos obtidos em www.similarweb.com

3.2. Análise dos modelos 3D

A partir dos 5 repositórios selecionados foi possível a seleção de 20 modelos 3D de maior

destaque de cada site, totalizando 100 modelos que foram analisados com um maior

aprofundamento. A primeira constatação foi a quantidade de criadores por país (Figura 3) e, a

partir disso, foi identificado que os principais criadores são dos Estado Unidos (17; 17%),

Espanha (5; 5%), República Tcheca (6; 6%) e China (6; 6%). Algumas hipóteses podem ser

levantadas: o número de arquivos com origem nos Estados Unidos é significativamente maior

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ao da China e da República Tcheca, o que pode ser explicado pelos acontecimentos anteriores

ao período de análise dos sites; isso porque a partir de 26 de março de 2020 os Estados

Unidos se tornou o novo epicentro global da COVID-19 (LABS, 2020). Além disso, é

importante analisar que a República Tcheca e a Espanha têm, respectivamente, o segundo e

terceiro maior número de criadores, o que pode ser explicado por serem países da Europa,

continente com o maior número de mortos pela doença, até o momento de escrita desse artigo

(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020a). A China tem o segundo maior número de

criadores, o que pode ser justificado pela doença ter originado no país (MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2020).

Analisando a distribuição dos criadores por continentes (Figura 4) é constatado que 35 (35%)

são da Europa, 22 (22%) da América, 10 (10%) da Ásia, 1 (1%) da Oceania, 0 da África e 32

(32%) não foram identificados. Esses dados refletem a situação de cada continente, já

discutida anteriormente nesta seção. Por fim, nota-se que não foi possível identificar a

localização de muitos criadores, 38 (34%), visto que tal informação não é obrigatória nos

sites.

Figura 3 – Localização dos criadores por país

Fonte: Autores

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Figura 4 – Localização dos criadores por continente

Fonte: Autores

Há grande diversidade de criadores elencadas neste estudo, de forma que, dos 100 modelos

analisados, existem 90 diferentes criadores e o criador com maior destaque disponibilizou

apenas 3 diferentes arquivos.

Verificou-se ainda que em alguns casos o criador disponibiliza um mesmo arquivo em sites

diferentes, como é possível verificar no Quadro 1, em que quatro autores disponibilizaram o

mesmo modelo em sites distintos. Mas em geral (81% dos dados analisados), o autor

disponibiliza apenas uma criação no site.

Quadro 1 – Disponibilidade de criações em diferentes sites

Nome do modelo 3D Repositório Criador

Respirator breathing mask with hepa filter Cults3d 3D-mon

Respirator breathing mask with hepa filter Thingiverse 3D-mon

Savegrabber - open door without touching the handle, press knobs

without touching - additional barrier for the coronavirus and other

germs

Prusaprinters Coolioiglesias

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Savegrabber - open door without touching the handle, press knobs

withoud touching - additional barrier for the coronavirus and other

germs

Thingiverse Coolioiglesias

Covid-19 mask (easy-to-print, no support, filter required) Cults3d Lafactoria3d

Covid-19 mask v2 (fast print, no support, filter required) Thingiverse Lafactoria3d

Covid-19 mask/respirator Cults3d Locofrodo

Covid-19 mask/respirator Prusaprinters Locofrodo

Fonte: Autores

Os sites analisados não apresentam um padrão quanto às informações disponíveis; de forma que não

foi possível verificar com precisão qual o número de downloads dos arquivos. Assim, foram

considerados outros itens para estudar se as criações estão sendo utilizadas por outros usuários, como o

número de downloads e impressão 3D. Neste sentido, a Figura 5 informa o número de reações, por

categoria, dos arquivos. Fica claro que a categoria de máscaras semi faciais foi a com maior número

de reações, cerca de 58%, ou seja, estima-se que haja uma procura significativamente maior pelas

máscaras. Esse dado pode ser explicado pelas orientações da OMS quanto ao uso das máscaras semi

faciais pela população, isso porque existem evidências científicas de que o uso de máscaras faciais não

médicas são recomendadas como um meio de controle da propagação da doença por pessoas

sintomáticas (ECDC, 2020; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2020b).

A segunda categoria com maior número de reações foi a protetor facial, com 18% do total de reações.

O protetor facial é mais uma medida para evitar que gotículas que são ejetadas ao falar, tossir ou

espirrar, contaminem outras pessoas.

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Figura 5 - Número total de reações por categoria

Fonte: Autores

Dos cem arquivos analisados, 42 (42%) correspondem a categoria das máscaras semi faciais,

seguida pela categoria protetor facial com 34 arquivos (34%), como apresentado na Figura 6.

Figura 6 - Quantidade de arquivos analisados por categoria

Fonte: Autores.

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Outra característica analisada foi o grau de descrição dos arquivos disponibilizados ao público, visto

que a quantidade e qualidade de informação facilita o entendimento e corrobora para a utilização dos

arquivos. A Figura 7 apresenta tanto a análise dos arquivos quanto ao grau de detalhamento da

descrição – dos quais 67 (67%) apresentam um grau detalhado de descrição, 26 (26%) apresentam uma

breve descrição, e 7 (7%) nenhuma descrição – quanto a orientação para a impressão 3D do arquivo.

Neste quesito, verificou-se que um número significativo de autores não disponibilizaram essa

informação, visto que 35% dos arquivos não apresentavam nenhuma orientação para impressão, 21%

uma breve orientação e 44% apresentaram grau detalhado de orientação.

Figura 7 - Grau de detalhamento da descrição e Orientações para impressão 3D

Fonte: Autores.

Destaca-se que as orientações são fundamentais para que a impressão seja feita de uma forma

eficiente, especialmente por usuários com pouca ou nenhuma experiência com manufatura

aditiva. Tais orientações incluem o material indicado a ser utilizado, número de camadas,

porcentagem de preenchimento, temperaturas, entre outras características que podem ser

definidas antes da impressão 3D.

4. Conclusão

O objetivo deste artigo foi entender como os repositórios auxiliaram na disponibilização de

modelos 3D que pudessem ser impressos e utilizados de forma descentralizada e independente

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das cadeias tradicionais de produção. Diante de um cenário onde os equipamentos de proteção

individual são escassos e a prioridade é atender os profissionais de saúde, torna-se

fundamental ter modelos 3D disponíveis para atender a demanda da população e assim

amenizar os impactos da doença na sociedade. Por meio da presente pesquisa foi constatado

que há uma grande disponibilidade de arquivos tridimensionais gratuitos.

No entanto, os modelos analisados não dispõe de validação quanto a sua eficácia no combate

à COVID-19, e não apresentam organização e padronização na disposição das informações

nos sites; esses são pontos a serem melhorados, mas a distância entre os makers pode ser um

fator limitante e pode inviabilizar a organização de certificação, pesquisa e normatização. O

site NIH 3D Print Exchange, um repositório com vínculo governamental, é um bom exemplo

em termos de normatização e pesquisa, visto que os modelos disponíveis no repositório

contam com informações relevantes e orientações claras quanto à impressão, e em sua

maioria, os modelos acompanham manuais digitais para auxiliar o usuário.

Destaca-se também que presente estudo apresenta limitações. Primeiro, a busca simplificada

de repositórios e a definição dos critérios de inclusão destes para análises, o que pode ter

deixado de exibir resultados importantes para a pesquisa. Segundo, os resultados são

dinâmicos no tempo. Terceiro, a inexistência de padronização das informações nos sites

impossibilitou a ideia inicial que era uma análise comparativa objetiva. Quarto, a quantidade

de modelos analisada representa pouco a totalidade de modelos que apresentam relação com a

pandemia da COVID-19. Sugere-se que pesquisas futuras analisem os modelos/arquivos em

termos de tempo de impressão, quantidade necessária de filamento, necessidade de suporte

ou configurações especiais de impressão.

REFERÊNCIAS

BRAATZ, D. et al. Contribuições da cultura Maker para o ensino de Engenharia de Produção no contexto das

Novas Diretrizes Curriculares. Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e

Operações. Anais...Santos: ABEPRO, 2019

CFM. Combate à COVID-19 - Formulário para fiscalização de unidades de saúde. Disponível em:

<https://sistemas.cfm.org.br/fiscalizacaocovid/>. Acesso em: 10 abr. 2020.

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2020a. Disponível em:

<https://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/situation-reports/20200501-covid-19-sitrep.pdf?sfvrsn=

742f4a18_2>. Acesso em: 05 maio 2020.

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XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO 

“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” 

Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. 

   

   

Anexo 1 - Levantamento dos sites de repositório de modelos 3D;

Repositórios de interesse (n=5) marcados em negrito.

Nome do Site Foco Impressão 3D Geral?

Maior parte Gratuita?

Número de Acessos

(março/2020)

Número Total Arquivos

Número Arquivos de Interesse

Thingiverse Sim Sim 17,87 milhões + de 1,7 milhões + de 1 mil

Cults3D Sim Sim 2,57 milhões N/D + de 4,5mil

Pinshape Sim Sim 581,95 mil N/D 59

PrusaPrinters Sim Sim 1,52 milhões + de 17 mil 377

YouMagine Sim Sim 238,94 mil + de 16 mil 23

NIH 3D Print Exchange Sim Sim 135,6 mil + de 9 mil 148

XYZprinting 3D Gallery Sim Sim 129,38 mil N/D N/D

Threeding Sim Não N/D N/D 0

Redpah Sim Não N/D N/D 0

Zortrax Library Sim Sim 59,63 mil N/D 3

Repables Sim Sim N/D N/D 0

3Dagogo Sim Não N/D N/D 0

Libre3D Sim Sim N/D N/D 0

Fab365 Sim Não N/D N/D 34

Polar Cloud Sim N/D <50 mil N/D 16

Rinkak Sim Não N/D N/D 0

Shapetizer Sim Não N/D N/D 0

Kraftwürxs Sim - - - -

CG Trader Não - - - -

My Mini Factory Não - - - -

Turbo Squid Não - - - -

3D Export Não - - - -

Free3D Não - - - -

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XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO 

“Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” 

Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. 

   

   

GrabCAD Library Não - - - -

NASA Não - - - -

Instructables Não - - - -

Dremel Lesson Plans Não - - - -

3DKitBash Não - - - -

Wevolver Não - - - -

3D Content Central Não - - - -

I.Materialise Não - - - -

Sketchup 3D Warehouse Não - - - -

Tinkercad Não - - - -

Embodi3D Não - - - -

Make Printable Não - - - -

Ponoko Não - - - -

SketchFab Não - - - -

Smithsonian 3D Digitization Não - - - -

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