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vitória vitória Revista da aRquidiocese de vitóRia - es Ano XI Nº 129 Maio de 2016 Especial Entrevista Não invocarás o nome de Deus em vão Nada derruba a gratidão do gari em ver a cidade limpa Famosos e anônimos. Bastam 15 minutos

Ano XI Maio de 2016 vitória - aves.org.br · cação feita e identificá-la como legitimamente um instrumento de convencimento em vista de um fim que também seja correto, claro

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vitóriavitóriaRevista da aRquidiocese de vitóRia - es

Ano XI • Nº 129 • Maio de 2016

Especial

Entrevista

Não invocarás o nome de Deus em vão

Nada derruba a gratidão do gari em ver a cidade limpa

Famosos e anônimos. Bastam 15 minutos

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arquivix

@arquivix

Espiritualidade, religião e fé são palavras que entraram no vocabulário comum e, de certa forma, afastaram-se de seus sentidos originais. Aquilo que era restrito a

espaços religiosos ou aplicados a situações que envolviam fé, hoje espalha-se por outros espaços algumas vezes ali-mentando a fé e sustentando a espiritualidade, outras com sentidos distantes e interesses muito variados. Os símbolos religiosos invadiram as prateleiras do comércio e misturam-se a outros produtos dando a sensa-ção que fé e religião podem ser comprados nos shoppings, supermercados e outros centros de comércio. Os interesses diferentes podem modificar a mensagem, mas a simplificação da mensagem pode ajudar a divulgá-la e torná-la mais acessível. Algumas matérias desta edição abordam essa questão e sugerem reflexões e argumentos para ajudar a entender esse fenômeno atual. Boa leitura! n

Sociedade de Deus e do dinheiro

editorial

fale com a gente

Envie suas opiniões e sugestões de pauta para [email protected]

anuncieAssocie a marca de sua empresa ao projeto desta Revista e seja visto pelas lideranças das comunidades. Ligue para (27) 3198-0850 ou [email protected]

aSSinaTuRaFaça a assinatura anual da Revista e receba com toda tranquilidade. Ligue para (27) 3198-0850

mitraaves

www.aves.org.br

maria da luz fernandeseditora

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vitóriavitóriaRevista da aRquidiocese de vitóRia - es

Ano XI – Edição 129 – Maio/2016Publicação da Arquidiocese de Vitória

Arcebispo Metropolitano: Dom Luiz Mancilha Vilela • Bispo auxiliar: Dom Rubens Sevilha • Editora: Maria da Luz Fernandes / 3098-ES • Repórter: Letícia Bazet / 3032-ES • Conselho Editorial: Albino Portella, Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Marcus Tullius, Vander Silva • Colaboradores: Pe. Andherson Franklin, Arlindo Vilaschi, Dauri Batisti, Diovani Favoreto, Giovanna Valfré, Fr. José Moacyr Cadenassi e Vitor Nunes Rosa • Revisão: de texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin • Publicidade e Propaganda: [email protected] - (27) 3198-0850Fale com a revista vitória: [email protected] • Projeto Gráfico e Editoração: Comunicação Impressa - (27) 3319-9062 Ilustrador: Richelmy Lorencini • Designer: Paulo V. Rocha /Albino Portella • Impressão: Gráfica e Editora GSA - (27) 3232-1266

12 ideias

15 economia Política

16 esPiritualidade

17 Pensar

20 documentos da igreja

28 asPas

39 arquivo e memória

40 Pergunte a quem sabe

05

11

22

27

33

atualidadeÉtica na comunicação e o agrado ao público

esPecialNão invocarás o nome de Deus em vão

viver bemNo aconchego doabraço de mãe

comunicaçãoQuinze minutos de fama ouquinze segundos para destruí-la?

eleiçãoVoto branco ou nulo: qual a diferença? E você cristão, faz a diferença?

caminhoS Da bíbliaFormados e enviados pela Palavra

19

DiálogoSMaria, Mãe da

Igreja, um Título que se distribui

em mil

24

entreviStaValorizado ou humilhado, nada derruba a gratidão de ver a cidade limpa

29mercaDo Da féA fé em cartaz e na vitrine

34cultura capixabaPonte Florentino Avidos

45

eDitorialSociedade de

Deus e do dinheiro

enSinamentoSDiaconia: servir a Igreja na prática

da caridade

micronotíciaSAplicativo

para cultivarhorta em casa

aconteceIII Encontro

Estadual do Terço dos Homens

03

42

21 38

08

46

SujeStõeS munDo litúrgico

Lágrimas do Rio Doce

a Palavra, guia da igreja

celebrante

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atualidade

Quem se comunica para agradar faz marketing, uma forma de comunicação que recebe, nos dias atuais, enorme inves-timento acadêmico e financeiro. O marketing, no entanto,

invadiu o espaço editorial dos jornais e revistas há muito tempo. O pessimista Carlo Collodi, jornalista e escritor italiano do século XIX, criador do boneco Pinóquio, dizia que o jornalismo, na verdade, era apenas e tão somente, o que se publicava em algumas páginas para dar suporte ao comércio que precisava da publicidade. Talvez esteja exatamente nisso a raiz da comunicação que tende a agradar: a lei do lucro exige que se venda, para vender é preciso agradar, para

A relação atual entre a essência, a raiz da

comunicação e a veiculação daquilo que o público

deseja ver.

e o agrado ao públicoÉtica na comunicação

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atualidade

agradar é necessário saber o que o público quer ler, ver e ouvir. Considerando esse ponto de partida, é preciso verificar tam-bém que existe uma modalidade de comunicação que pretende alcançar sucesso junto ao públi-co, algo que vai além do lucro. Esse tipo de comunicação só tem eficiência se adular, assustar,

trazer para seu grupo religioso o ouvinte, o telespectador ou leitor por meio de mensagens açucaradas ou, com o mesmo objetivo, quem toma pelo pes-coço os medrosos e culpados com afirmações arrepiantes so-bre destino daqueles que não lhe der trela.

proporcionais meios Eugenio Bucci é jornalista e Doutor em Comunicação. Ele atuou, longos anos, como crítico de cultura e televisão nos prin-cipais jornais e revistas do País. Foi chefe da antiga Radiobras no primeiro governo Lula. Num artigo publicado recentemente no qual abordava a situação atual da imprensa no Brasil, ele foi ao centro da questão ética para quem comunica: “uma imprensa que não sabe ouvir e identificar em falas divergentes um núcleo de razão legítima está a um pas-so de desistir de si mesma. Só há imprensa quando existe o propósito de proporcionar à so-ciedade os meios pelos quais ela possa dialogar consigo mesma”. O que Bucci fala especifica-mente para a ética na imprensa serve, perfeitamente, para toda a comunicação. Ser ético é ser honesto. Esse exercício não permite a queda na armadilha do agrado a qualquer

Existe ainda, um elemento mais complexo: o proselitismo. A comunicação que quer con-vencer. Muitas vezes, a qualquer custo. Para isso, são construí-dos discursos que balançam entre dois polos: o conforto e a ameaça. Nos dois casos, se produz comunicação que agrada porque o medo é apenas uma es-tratégia para a conquista. A co-municação religiosa está sempre sob o risco dessa modalidade de comunicação. Há quem queira

despertar o lado masoquista das pessoas que se encantam com o grotesco, com a violência ou os assuntos mórbidos. Nessa mes-ma esteira estão os mecanismos que precisam ser acionados para agradar bisbilhoteiros e voyeu-ristas com muito exibicionismo principalmente de linguagens e de imagens que privilegiam o sexo e a sede da fama. A cul-tura da celebridade, portanto, tem sido pano de fundo para a elaboração da comunicação que pretende agradar.

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Pe. Rafael Vieira, cSsRJornalista profissional e assessor da comissão episcopal para a comunicação da cnBB

custo. Comunica-se a verdade, dizem os documentos da Igreja. Comunica-se a melhor versão da verdade, dizem os mais prag-máticos e realistas leitores dos códigos de deontologia profis-sional dos comunicadores. Co-munica-se com ética, na linha da ponderação de Bucci, quando se oferece ao público um “núcleo de razão legítima”. Esse núcleo é formado pelos fatos, opiniões plurais, atenuantes e agravantes circunstanciais. E é isso. Um passo adiante disso já é tendên-cia, partidarismo. Ou ainda: é comunicação ética quando se proporciona ao público os meios que ele precisa para formar sua própria opinião sobre os temas apresentados. No exercício da comunica-ção, no campo ético, agradar e desagradar são fenômenos equi-valentes. Tanto quem faz uma coisa ou como a outra, de forma proposital, pode estar tomando distância da essência da comu-nicação ética e livre. Pode estar apenas construindo veículos de marketing para alcançar o suces-so próprio ou para arregimen-

tar seguidores fiéis. A ética da comunicação chama a atenção para os velhos e bons critérios de distância, de crítica, de apuração junto as partes e da manutenção, permanente, de um passo atrás para dar margem a revisão, a correção e a reelaboração dos discursos. Na verdade, a ética garante a abertura e a constante busca da verdade dos fatos e a livre expressão da opinião das pessoas.

marketing da adulação Há que se fazer uma ressal-va: o marketing que se faz para agradar pode ser ético. Claro, quando é praticado sem o en-volvimento promiscuo com a comunicação que pretende ser imparcial e objetiva. E quando não se confunde com o suborno e o puxa-saquismo. Apesar do marketing conviver com a crí-tica, a desconfiança e a dúvida quanto à validade ética de seus princípios e práticas, é preciso reconhecer que se pode promo-ver comunicação para agradar sem que isso seja necessaria-mente uma distorção. Para isso,

é necessário, no mínimo, reco-nhecer a natureza da comuni-cação feita e identificá-la como legitimamente um instrumento de convencimento em vista de um fim que também seja correto, claro. Para a admissão desse tipo de comunicação, basta que se faça, sempre, a distinção entre o repasse de ideias e de fatos e a ficção que serve ao con-vencimento para a venda ou a conquista de quem recebe a mensagem da comunicada. Trata-se do firme e corajoso dever de declarar qual é o pon-to do qual se parte e qual é a direção pretendida. Ninguém é enganado, ao menos com sã consciência, quando é possível perceber qual é o propósito de uma determinada mensagem. Faz-se comunicação sob o domínio ético mesmo quando agrada, se essas condições são devidamente respeitadas e as-sumidas. n

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micronotícias

escola pública usa energia solar para economizar na conta e instruir alunos Economia de 70% na conta de energia é o resultado da iniciativa da escola municipal Pro-fessor Milton de Magalhães Porto na cidade de Uberlândia, Minas Gerais que passou a gerar energia com a colocação de placas solares no telhado. Em um ano, desde que as placas foram instaladas, a economia foi de R$ 15 mil. Os pro-fessores estão aproveitando a energia solar como instrumento de ensino em diversas disciplinas. Segundo a direção da escola, o valor economizado será aplicado na própria escola, com melhorias na estrutura e passeios educativos.

agricultura 100% orgânica é lei na Dinamarca

Duplicar a quantidade atual de terra cultivada organicamente até 2020 e aumentar o investimento em

agricultura biológica são metas do governo dinamarquês para tornar sua agricultura totalmente sustentável. No país existem leis protegendo a natureza, a água, o uso de defensivos e outros produtos agrícolas há 25 anos

e a população já está habituada com este cuidado. Atingir a meta significa oferecer às escolas, cantinas e hospitais, até 60% de alimentos

de origem orgânica.

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aplicativo para cultivar horta em casa

lama do desastre de mariana transformadaem tijolos

Para quem deseja cultivar a sua horta em casa, mas não tem noções de plantio e colheita, foi criado o aplicativo Plantit, que ensina como, quando e onde plantar e colher, ao menos, 28 variedades de cultivos. A ferramenta oferece informações e dicas práti-cas para semear produtos como alho, salsa, cenoura, morango, berinjela, tomate, cebola e muitas outras possibilidades. O aplicativo está disponível para os sistemas iOS e Android e é gratuito.

o jovem norte-americano ian burkhart, paraplégico con-seguiu mover a mão direita, o pulso e os dedos graças a uma equipe de cientistas que programou o chip para ativar os nervos que perderam o movimento. no experimento, os pesquisadores utilizaram sinais neurais para ativar os músculos de acordo com os próprios comandos. o jovem conseguiu tocar uma guitarra de videogame, passar um cartão de crédito na máquina leitora e colocar água em uma jarra. Por meio de algoritmos criados por um computador com inteligência artificial, o estudo de-codificou a atividade cerebral.

chip ajuda jovem tetraplégico a mover mão e jogar videogame

Tijolos de Mariana é o projeto desenvolvido em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais que produz tijolos de maneira artesanal com a lama que devastou a cidade mineira em novembro de 2015. Em três meses foram produ-zidos 1200 tijolos e o desafio agora é montar uma fábrica com produção em escala industrial, para gerar empregos diretos e indiretos à comunidade. Uma campanha colaborativa foi criada com o objetivo arrecadar R$ 400 mil para financiar o projeto.

“Ao final de cada ano, mais de 1 bilhão de quilos de lama terão sido retirados do meio ambiente, produzindo uma quantidade de tijolos suficientes para reconstruir mais de 1.200 casas populares, hospitais e escolas da região”, diz o texto publicado na plataforma de financiamento colaborativo que não aponta riscos na utilização do produto.

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PAULUS Livraria de Vitória – ESRua Duque de Caxias, 121, CentroCEP.: 29010-120 | Tel.: (27) 3323.0116 [email protected]

MARIA DE NAZARÉBreve tratado de mariologia

Daniela del Gaudio

Nos passos de MariaLuiz Alexandre Solano Rossi

No mês de Maria, cabe a nós refl etir: em meu lugar, o que Nossa Senhora faria? Entre os muitos sons que escutamos no decorrer do dia, é preciso reservar um tempo para ouvir a voz de Maria. Este livro será o seu companheiro diário nesse processo. Você poderá lê-lo antes de iniciar suas atividades e, assim, sentir-se revigorado para mais um dia de vida.

MariaTão plena de Deus e tão nossaKathleen Coyle

A história não tem registro de Maria de Nazaré, exceto pelos documentos de fé, e o relato a seu respeito nesses documentos é breve. Como essa lacuna coexiste com o crescimento do culto a Maria no decorrer dos séculos? Para descobrir, a autora Kathleen Coyle resolveu pesquisar a fundo a história dessa mulher, cujo culto acalenta milhares de cristãos.

Caminhar com Maria para seguir JesusJosé Adriano Gonçalves

Maria viveu como a maioria de nós: no anonimato. Pertencia ao universo dos pobres e excluídos. O livro Caminhar com Maria para seguir Jesus propõe refl exões acerca da vida e da missão dessa mulher, que foi gente como a gente. Maria é o caminho e o modelo a se seguir para encontrar Jesus e andar lado a lado com Ele.

72 p

ágin

as

184

pági

nas

244

pági

nas

144

pági

nas

paulus.com.br

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edebrande cavalieridoutor em ciências da religião e professor da ufes

não invocarás o nome de Deus em vão

especial

Na sessão da Câmara dos Deputados quan-do ocorreu a votação

a respeito da admissibilidade do impeachment da Presidente Dilma chamou muito atenção a quantidade de Excelências que invocavam o nome de Deus na hora da sua declaração de voto. Alguém até comentou que nunca vira tantas vezes o uso do nome de Deus em vão. Entre os Dez Mandamen-tos da Lei de Deus está o im-perativo: “Não invocarás o Santo Nome de Deus em vão”, que vem logo em seguida do “Amarás a Deus sobre todas as coisas”. Os demais manda-mentos se referem às relações dos homens com Deus e entre si. Jesus Cristo, ao ensinar os discípulos a rezar, assim orien-ta: “Pai Nosso, que estás nos céus, santificado seja o vosso Nome”. Daí a grandeza desta prece rezada pelos cristãos. Deus não pode ser banaliza-do e misturado aos interesses pessoais, pois o Senhor “não deixará impune aquele que pronunciar seu Nome em vão” (Ex 20,7). Ao mesmo tempo, olhan-

do para a moeda do Real en-contramos a expressão “Deus seja louvado”. Com estas mo-edas os homens compram sexo impuro, votos em eleições, financiam o crime organizado e investem em guerras e seus artefatos. É o Nome de Deus usado da forma mais vil, mais vergonhosa! Quando eu era pequeno minha mãe dizia que quando se pega em dinheiro é preciso depois lavar as mãos para poder pegar em comi-da. Como inserir ali o Nome de Deus? Também os norte--americanos inscreveram em suas cédulas de dólar “In God we trust”. “Cremos em Deus” e com esta moeda impuseram domínio ao mundo. Tem crescido a cultura pentecostal cristã, em grande parte, responsável por esta inserção no cotidiano da vida política e profissional. Como é possível invocar o nome de Deus no início de uma ses-são parlamentar se daí alguns minutos serão os interesses pessoais que estarão acima de todas as coisas? Como foi clara a narrativa da votação invocando “meu Deus, minha

família, minha cidade... só coi-sa minha e meu”. Isso é pecado contra o segundo mandamento, pois Deus não está acima de todas as coisas. Muitas pessoas analisam o momento atual dizendo que é preciso investir na formação política do povo. Mas também é preciso investir na formação religiosa deste mesmo povo. A luta pelo Reino de Deus não é compatível com esta prática. É preciso retirar Deus des-te teatro, desta encenação, que incorpora o discurso religioso à prática política de defesa dos interesses pessoais. As razões teístas dos “nobres” deputados são expressões da hipocrisia farisaica. Enfraquecer o Esta-do Laico é caminhar para o fim da Democracia. É bom nunca esquecer isso. Invocar a Deus para balizar condutas impró-prias à moralidade pública é infringir a Lei do próprio Deus a quem se invoca. Um amigo meu dizia: “Que nenhum Deus seja necessário para balizar nossas mazelas”. n

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ideias

pacientemente noPescar luz poço das sombras

Os tempos são difíceis, e os tempos assim têm o poder de nos tirar das nossas capacidades de enxergar, de

nossas habilidades de analisar, de nossos dons de discernir os eventos e as realidades. Tempos difíceis comprimem nossas veias, travam os músculos do sorriso, agitam-nos e sequestram-nos de nós mesmos. Tempos difíceis podem ser também tempos esquisitos, que é o caso atual. Mais do que estranhos. Sim, esdrúxulos. Em que a visão da realidade guia-se por uma lógica estapafúrdia, onde a coerência ética passa a ser desprezada, e os impulsos (instintos)

ganham notoriedade. Predomina o absur-do, o nonsense. Estes modos ganham o abraço dos “bons”, movimentam as turbas, e reforçam os propósitos interesseiros da-queles que querem tirar vantagem sempre e de tudo. Ao final, e perturbados todos, facilmente são conduzidos. Ah, manter-se sereno, lúcido, amoroso é um desafio quase que impossível de ser encarado nestes tempos. Quase. Pois deles, como de poço sombrio, é que haveremos de tirar a água que aguardamos. Outro dia aqui na rede - este mundo

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dauri Batisti

maravilhoso, luminoso, assombroso, de muitas conexões - me dispus a ouvir a fala de um rabino, vídeo que por acaso caiu diante dos meus olhos. Resumidamente o que ele dizia era que Deus criou o mundo, e que tudo no mundo é uma extensão de Deus. Deus não fez do mundo algo estranho a si mesmo, mas o mundo criado é tão somente, também, Deus. Todo o mundo e tudo o que nele se dá e acontece é Deus. E que se algo acontece é porque Deus participa, faz, está naquele acontecimento. Assim, segundo o seu raciocínio, as reações contra pessoas, fatos e acontecimentos são reações contra Deus. E ele argumentava para contrapor-se ao cultivo da raiva e outros sentimentos ruins que se levantam do coração de tan-tos nestes tempos. Se com raiva respondo a algo é contra Deus que respondo com aquele sentimento. Não que não sejamos chamados a agir, mas que a nossa ação não seja eivada de ódio, intolerância, ig-norância, carência de lucidez. Tudo isso dirigido contra Deus não nos proverá de felicidade, decerto. Bem - pensamos nós que de Jesus procuramos os passos - ter o amor como resposta para tudo é, de fato, a melhor alternativa. Enfim, os tempos esquisitos estão ques-tionando a todos. Muitas são as tentativas de respostas. Certo, no entanto, é que de cada um se exige a busca de outros modos

de vida. Entre outras coisas importa não se deixar levar pelo senso comum, pelas soluções fáceis e perturbadas, pelas orien-tações dos veículos de comunicação que se impõem sobre as mentes desprotegidas... Resistir. Quem vai pela turba perturba-se indiscutivelmente, e facilmente abre mão da realidade, da lógica, do senso de res-ponsabilidade, da empatia, da compaixão. Troca-se assim, facilmente, o justo pelo injusto. E assim se faz por não se enxergar a troca que é feita. Assustados e tristes vamos. É preciso seguir. Vamos nos exercitando em tentati-vas (nem sempre exitosas) de manter-nos em dialogo com a realidade, com o único tempo que nos habita, este de agora, aqui neste Brasil. Assombram-nos os aconteci-mentos, quase recuamos de medo, mas não desistimos de recolher um pouco de luz, colhida, pacientemente - como diria Pablo Neruda - na fonte das sombras. “Há que sentar-se na beira/do poço da sombra/e pescar luz caída/com paciência”.(Mas é preciso desligar a TV para dar-se a essas pescarias). n

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Tá sabendo? O mundo das celebridades e as novelas em destaque

Conta aí As notícias do dia a dia,

de maneira rápida e objetiva

Esporte Os destaques de

todos os esportes

Alô Central! A informação a qualquer momento,

direto da redação.

Minuto MulherSaúde, vida melhor,

dicas de beleza e muito mais

InboxReflexões sobre a vida

em sociedade

TrânsitoInformações sobre as condições de tráfego

nas avenidas e rodovias da região

Cine Líder O que rola nas telonas

e nas telinhas pelo mundo.

Muita música, diversão e interatividade

Moderna e conectada

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economia política

Passado um ano e meio das eleições presidenciais, o Brasil ainda vive o clima

de descontentamento daqueles que tiveram menos votos. Con-testados em diversas instâncias os resultados – e recusados os pedidos – a mais recente tenta-tiva de eleição antes de 2018 é o processo de impedi-mento em tramitação no Congresso. Dividida no início de 2015 entre buscar a anulação das eleições e ‘sangrar o governo’ (no dizer do Sen. Alui-sio Nunes – PSDB/SP), os perdedores acabaram levando o País à parali-sia política – que requer diálogo entre diferentes - o que resultou no engessamento do governo eleito. Como a economia necessita de regras estáveis para poder funcionar e de sinalização de po-líticas públicas, paralisia política e inação governamental serviram de combustível para o agrava-mento da situação econômica em tempos de crise internacio-nal. Reverter esse quadro exige ingredientes bastante escassos neste abril de 2016. A passagem do processo de impedimento pela Câmara

dos Deputados foi um lametável episódio de colocar na posição de julgadores, deputados com reconhecida ficha suja. É mais do que necessário que ele seja parado no Senado. Feito isso, com a maior brevidade possível, é desejável que o governo eleito em 2014 passe a conduzir uma

agenda positiva para o País. Por um lado, para que a economia volte a crescer, gerar empregos e distribuir rendas. É preciso o retorno à pró-atividade dos bancos públicos no incentivo à produção. O crédito necessá-rio para o crescimento deve ser canalizado para atividades nos diversos segmentos, principal-mente naqueles onde as micro, pequenas e médias empresas nacionais já demonstraram ca-pacidade de inovar e competir. Por outro lado, o Brasil

arlindo Vilaschiprofessor de economia e coordenador do grupo de pesquisa em inovação e desenvolvimento capixaba da ufes

compromisso maiorprecisa voltar ao efetivo pro-tagonismo internacional. É só-cio fundador do BRICS e seus mais recentes desmembramentos - banco de desenvolvimento e fundo de reserva. São instru-mentos que podem contribuir para melhor inserir empresas brasileiras no mercado mundial;

e criar mecanismos de salvaguardas diante da voltatilidade da es-peculação financeira mundializada. O Brasil pode se beneficiar dessa parceria política em ini-ciativas de cooperação sócio-cultural-científi-ca-tecnológica. O País tem muito a ganhar li-derando vínculos consis-tentes dentro do bloco.

Convergindo os dois lados, a agenda de mudanças climáticas e de sustentabilidade precisa ser retomada internamente para que o Brasil avance em seu posicio-namento nessas áreas em foruns internacionais. Que o impeachment seja rechaçado pelo Senado e que a disputa entre partidos políticos seja canalizada para uma agenda positiva para o Brasil. n

“O BrAsil PrEcisA vOltAr AO

EfEtivO PrOtAgONismO iNtErNAciONAl.

É sóciO fuNdAdOr dO Brics E sEus

mAis rEcENtEs dEsmEmBrAmENtOs -

BANcO dE dEsENvOlvimENtO E fuNdO

dE rEsErvA. sãO iNstrumENtOs QuE

POdEm cONtriBuir PArA mElhOr iNsErir

EmPrEsAs BrAsilEirAs NO mErcAdO

muNdiAl”

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espiritualidade

Dom Rubens Sevilha, ocdBispo auxiliar da arquidiocese de Vitória

Desatadora de nósoriginal. Também nós, os filhos de Maria, somente poderemos desatar os nós da nossa existên-cia e do nosso mundo através da obediência ao Pai. A Mãe de Jesus, denominada por São Paulo como nova Eva, fez exatamente o contrário da antiga Eva. Aquela desobedeceu, esta foi obediente ao Pai até o fim; Eva arrancou o fruto da árvore para si; Maria, a nova Eva, teve o fruto do seu ventre pregado na árvore, na árvore da Cruz. Diante de tal Mãe, quero re-petir os sentimentos da oração de um santo bispo brasileiro: Mãe, não quero nada. Vim apenas te ver... Em nome de todos os ho-mens que vivem te suplicando, em nome de todos os irmãos que já se aproximam de ti de mãos estendidas, deixa que eu esqueça

Em Augsburgo, na Alema-nha, tem um quadro que foi pintado em 1700 pelo artis-

ta Johann Schmidtner, retratando a Imaculada Conceição, mas, com algumas peculiaridades inspiradas no pensamento de Santo Irineu: “Eva por sua desobediência, atou o nó da desgraça para o gênero humano; Maria por sua obediên-cia, o desatou”. No quadro temos ainda anjos que entregam a Maria uma fita com nós grandes e peque-nos, alguns nós apertados e outros mais folgados. A fita simboliza o pecado original que provocou tantos nós para a humanidade. Nossa Senhora com sua obediên-cia desatou o nó da desobediência

um momento o vale de lágrimas, a terra das tristezas, nossa miséria de mendigos, nossa pobreza de criaturas, nossa tristeza de pe-cadores, para saudar-te, Rainha nossa e Virgem Mãe de Deus! Bendito seja o Criador de teu olhar boníssimo que tem o dom de acender a esperança nas almas desalentadas, nos corações em desespero à beira do abismo, do irremediável, do fim! Bendito seja o Criador de tuas mãos sem mancha, por onde passa toda luz que tomba sobre a escu-ridão dos homens! Bendito seja o Criador de tua sombra suavís-sima, pois, já notei, Mãe querida, que bastam a tua lembrança, o teu perfume, para encher a solidão da vida, a solidão do homem. Mãe, não quero nada. Vim apenas te ver... (Oração de D. Helder Câmara). n

Também nós, os filhos de Maria, somente poderemos desatar os nós da nossa existência e do nosso mundo através da obediência ao Pai

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pensar

Foto

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cus T

ulliu

s

ordenação presbiteral de alessandro chagas23 de abril de 2016

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caminhos da BíBlia

Formados e enviados pela PalavraNo relato do Evangelho de Lucas, nosso olhar se depara com a cena

de Jesus, juntamente com seus discípulos e uma grande multidão num lugar deserto. O dia já declinava e a multidão precisava comer,

o que faz com que os discípulos, com receio de que a multidão permanecesse no local e passasse fome, peçam a Jesus que a despedisse. Neste contexto é que Jesus lhes dá uma direção: “Dá-lhes vós mesmos de comer”. Uma afirmação que contém um comando e uma missão, algo que num primeiro momento lhes pareceu impossível de ser assumido e cumprido, devido

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Formados e enviados pela Palavra

Pe. andherson Franklin professor de sagrada escritura no iftaV e doutor em sagrada escritura

aos poucos recursos que tinham naquele local. Onde encontrar o necessário para alimentar tamanho número de pessoas? Como fazer como que todos comessem se possuíam somente cinco pães e dois peixes? O relato do Evangelho nos

mostra o quanto Jesus sabia o que tinha pedido e, ao mesmo tempo, o que Ele mesmo faria. Ao tomar nas mãos os poucos recursos que os seus discípu-los foram capazes de recolher, reconhece o esforço dos seus e apresenta tudo isso ao Pai dando-Lhe graças. Jesus realiza um gesto eucarístico ao tomar os pães e os peixes e distribuí--los aos seus discípulos a fim de que distribuíssem à multidão. Não somente todos comeram e ficaram saciados, mas também foram recolhidos doze cestos com tudo o que sobrou. Tal passagem do Evangelho de Lucas está unida diretamen-te ao que está apresentado em Lucas 5,5, quando Pedro, depois de ter escutado o Senhor, toma a palavra e confirma a sua con-fiança na Palavra do Mestre. No relato, Jesus, depois de ter ensinado às multidões, convida aos discípulos a lançarem as redes em águas mais profundas, para além do que tinham ido durante toda a noite. Seguindo o comando do Senhor, acabam por fazer uma enorme pesca e reconhecem, com o ocorrido, Jesus em sua divindade, como o Santo de Deus. Em ambos os textos, foi exatamente na Pa-lavra do Senhor que nasceu a

confiança dos discípulos, já que Nela eles depositam a sua fé. No momento do envio do Senhor, seja no primeiro texto: “Dá-lhes vós mesmos de comer”, quanto no segundo, os discípulos reco-nhecem que o Senhor jamais os desampararia. Chamados e enviados a pregar a Palavra e a curar os enfermos, no texto lido, são convidados a alimentar os homens e mulheres, no intuito de confirmar a sua fé. Sendo assim, fica muito clara a relação direta entre a Palavra acolhida e o envio para a missão, já que, sem ser formado pela Palavra o discípulo jamais seria capaz de reconhecer que é o Senhor quem multiplica os seus esforços. A cena dos pães e da grande pesca são sinais claros que indicam a força da Palavra acolhida no coração dos discípulos e os frutos que a mesma pode produzir. Desde a confiança total no Mestre até o enfrentamento das dificuldades que se apresentam no caminho, na certeza de que o envio recebido está baseado na força da Palavra. n

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AMORIS LAETITIA: um olhar atento, carinhoso e otimista sobre a família

documentos da igreJa

Frei Gustavo Wayand Medella, OFMprovíncia franciscana da imaculada conceição do Brasil

que abordava questões delicadas em torno da situação das famílias em nosso tempo. Segundo elemento a ser destacado é que se trata de um documento com abordagem predo-minantemente pastoral, marcado por uma profunda preocupação de ir ao encontro de situações e pessoas concretas, sempre numa postura de escuta, misericórdia e acolhida, na esperança de abrir a todos o caminho da Salvação e do encontro com Jesus Cristo. “É uma exortação sobre o amor, não sobre a doutrina do matrimônio”, explica o Padre Spadaro. Sendo assim, uma das palavras-chaves é discer-nimento, levando-se em conta a consciência e a historicidade, ou seja, pressupondo-se o chão da realidade, a experiência concreta, os sofrimentos e as vitórias de cada pessoa. Para além de insistir em questões doutrinais, bioéticas e morais, o Papa sonha que a Igreja apresente o matrimônio como um caminho dinâmico de crescimento e realização, deixando espaço à

imediatamente após a divul-gação da Exortação Apostó-lica AmorisLaetitia (A Ale-

gria do Amor), o padre jesuíta e teólogo AntonioSpadaro, SJ, diretor da Revista La Civiltà-Cattolica, publicou uma análi-se muito pertinente e perspicaz sobre o documento, a partir da qual proponho esta breve reflexão. Como primeira observação, cabe ressaltar o contexto que deu origem ao documento. A Exorta-ção é fruto de um processo sino-dal, no qual a Igreja - através da reunião de seus pastores, devida-mente assessorados por peritos e outros convidados - se debruça sobre um tema relevante da atuali-dade. Em relação à família, foram dois sínodos: um extraordinário, com o tema “Os desafios pastorais em torno da família no contexto da Evangelização” (05-19/10/2014), e outro ordinário, “Jesus Cristo revela o mistério e a vocação da família” (04-25/10/2015). Este segundo contando com a assesso-ria direta de Frei Antonio Moser, OFM, confrade de saudosa me-mória morto tragicamente numa tentativa de assalto no dia 09 de março. Merece também menção o documento preparatório, com-posto por um amplo questionário enviado às Igrejas particulares e

consciência dos fiéis (Cf. AL 36). No Capítulo VIII, no qual convida à misericórdia e ao discernimento pastoral diante das situações que não respondem plenamente à pro-posta do Senhor, Francisco destaca três verbos que devem nortear a postural eclesial: acompanhar, discernir e integrar. A terceira e última observa-ção diz respeito ao tom positivo e propositivo do Papa Francisco. Mais uma vez ele convida a Igreja a sair de si e erguer a cabeça para, junto com os homens e as mulhe-res da atualidade, contemplar um caminho de esperança, percebendo na família e na vocação matrimo-nial uma opção realizadora e cheia de sentido, um caminho seguro para o encontro com o Deus de Jesus Cristo. É um documento lon-go (9 capítulos e 325 parágrafos), mas merece ser lido e estudado com paciência, carinho e atenção por nossas comunidades. n

Encontro de situações e pessoas concretas, sempre numa postura de escuta, misericórdia e acolhida, na esperança de abrir a todos o caminho da Salvação e do encontro com Jesus Cristo

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múSica

sugestões

passagem da tocha olímpicaDvD

180 graus missionário

Shalom

Santa jazz

lágrimas do rio Doce

laZer

feStival

expo

SiÇÃ

o

O Missionário Shalom, grupo musical ligado à Comunidade Shalom, lançou seu dvd “180 Graus – ao vivo no Hal-leluya” gravado em For-taleza, edição de 2015. O repertório de 19 músicas conta com cinco canções inéditas e regravação de sucessos do grupo como, ‘Estrangeiro Aqui’ e ‘Ma-las Prontas’. O DVD está à venda no site da Canção Nova e nas lojas e livra-rias católicas.

Exposição fotográfica Lágrimas do Rio Doce no Café Bamboo, Praia do Canto vai até 30 de maio. Os visitantes poderão interagir com as fotografias do fotógrafo Leonardo Merçon e conferir como o Rio Doce era antes da tragédia do rompimento da barragem da empresa Samarco, na cidade de Mariana/MG, e como está agora. As ima-gens da Exposição serão vendidas. Toda a renda arrecadada será destinada à realização do projeto também nomeado de “Lágrimas do Rio Doce”. A iniciativa é do Instituto Últimos Refúgios.

Santa Jazz é o Festival Internacional de Jazz & Bossa que acontece na cidade de Santa Teresa, entre os dias 20 e 22 de

maio. Dentre as atividades que agitam a cidade localizada na região serrana do estado, estão as apresentações de Rosa Passos, Mauro Senize e Gilson Peran-zzetta, além da banda norteamericana Shawn Holt and The Teardrops. Mais informações na fanpage do evento www.facebook.com/FestivalSantaJazz ou pelo site www.santajazz.com.br

A tocha olímpica passará por nove cidades do Espírito Santo, com o objetivo de mobilizar para as Olimpíadas de julho. A chegada na capital será no

dia 17 de maio e vai percorrer 32km em cerca de quatro horas de percurso. As outras cidades a serem visitadas são: Cachoeiro

de Itapemirim, Guarapari, Vila Velha, Serra, Aracruz, Colatina, Linhares e São Mateus.

local: café bamboorua afonso cláudio, 254Praia do canto – vitória/esdata: até 30 de maioHorário de funcionamento: 10h às 21h

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ViVer BemVander silva

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No aconchego do abraço de mãeExiste um abraço que cura

quase tudo. Acredito que todos sabem muito bem

qual é. O abraço de mãe. Este abraço vem em tantos momentos distintos e, muitas vezes, não o valorizamos. Quando nascemos e somos apresentados a um mundo de luz, ruído e frio, onde buscamos calor e aconchego que acalma o nosso choro e nos faz sentirmos bem-vindos? Este abraço parece mágico quando ganhamos nossos pri-meiros machucadinhos. Quando não é o suficiente, a dona dele usa de artilharia pesada: aquele beijo que não tem choro que resista. Durante toda a infância corremos atrás deste abraço e ele é nosso, só nosso. Coitado de quem se atrever a aproveitar dele um pouquinho que seja. Muitas vezes este abraço conforta mais ela do que a gente. Que mãe não abraça forte sua

poucos este abraço vai voltando em momentos de alegria, de tris-teza, de reencontro, de despedida e em outros momentos mil em que nos sentimos bem-vindos como da primeira vez em que fomos abraçados. Chega o dia em que este abraço muda. Somos nós que queremos proteger e dizer para a nossa mãe que ela é bem-vinda e que a presença dela ainda é e sempre será muito importante para a gente. Vai chegar o dia em que não poderemos mais sentir este abraço. Podemos senti-lo somen-te em nossa memória e feliz é quem tem muitos destes abraços armazenados na lembrança. O melhor a se fazer é criar repertório. Seja por telefone, seja através de uma mensagem, seja naquele contato maravilhoso, abrace. Assim você vai construir sua felicidade tendo como base o carinho. n

criança enferma como se quises-se transferir para o próprio corpo o que atinge o filho dela? Tem também a mãe que busca abraçar um filho com necessidades espe-ciais como se assim conseguisse protegê-lo de qualquer maldade que exista no mundo. Não podemos nos esque-cer do abraço de vó. Mãe duas vezes, que neste abraço procura aproveitar o que muitas vezes a vida não deixou viver com os próprios filhos. E chega o momento em que não queremos mais estes abraços: “não na frente da esco-la”; “não na presença dos meus colegas”. Ou temos vergonha, afinal “não somos mais crianças” ou estamos com raiva por algo que nem lembramos, mas nos afastamos. Nos fechamos para o abraço. A mãe ali ao lado compreen-de, aceita, mas sofre pela falta do carinho. O tempo vai passando e aos

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diálogos Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc. • Arcebispo de Vitória ES

maria, mãe da igreja, um título que se distribui em mil

Estamos em pleno Ano da Misericórdia e, quem nos revela em sua Pessoa o

que significa “misericórdia” e quem é a Misericórdia é Jesus, pois, Ele mesmo diz: “Eu e o Pai somos Um”. É o mesmo Jesus que nos deixa como testamento a sua Mãe, quando diz já pregado na cruz:” Eis aí a tua Mãe” dirigin-do-se ao discípulo João, único representante dos apóstolos no momento de sua morte. A Igreja sempre interpretou este diálogo entre Jesus, Maria sua Mãe e João, como diálogo representativo, isto é, João nos representava a todos naquele momento crucial. Ganhávamos uma Mãe juntamente com a nova filiação, filhos adotivos e irmãos de Jesus. Esta realidade tornou-se mais forte e mais explícita por ocasião da vinda do Espírito San-to sobre a Comunidade Apostó-lica, quando nascia a Igreja de Jesus Cristo. Entre os apóstolos estava também Maria, a Mãe de Jesus. Nascia a Igreja pela força do Espírito Santo e com ela movida, também pelo Espírito Santo, Mãe da Igreja. Desde então a Comunidade Eclesial, movida pelo Espírito vem descobrindo o lugar e a im-portância de Maria na sua cami-nhada de fé, esperança e caridade.

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A Mãe de Jesus e Mãe da Igreja é venerada e amada, como modelo de discípula, mestra de espiritualidade. E essa admiração tornou-se tão grande na vida da Igreja que esta chama-a, por ela ser a Mãe do Verbo Encarnado de Deus, de Mãe de Deus. Teo-tókos, como a chamam os irmãos do Oriente e Mãe de Deus para nós do Ocidente! A realidade teológica, cris-tológica e eclesiológica do título de “Mãe da Igreja” não ficou somente nas esferas dos teólogos, da hierarquia da Igreja. O título de “Mãe” é também profunda-mente afetivo. A piedade popular vem cultivando esta relação filial com a Mãe da Igreja e Mãe de Deus. Ora, o filho quer proteção, o filho quer e precisa de amparo. Nada mais correto do que diante de uma piedade pascal pe-rante o Redentor, que a piedade Mariana participe dos sofrimen-tos do Filho Amado e o acolha em seus braços, Senhora da Pie-dade! Daqui surge uma piedade eclesial na relação com a Mãe, piedade pessoal e piedade comu-nitária, eclesial. Aprendemos, pessoalmente, a dirigirmo-nos à Mãe que ampara; Mãe que con-sola e afaga o coração dos filhos sofridos. Aprendemos eclesial-mente a relacionarmo-nos com a Mãe de nossa pequena família eclesial, a família domestica;

aprendemos a relacionarmo-nos com a Mãe de nossa comunidade eclesial, paroquial, diocesana, como Mãe da Igreja, Particular e Universal. Atrevemo-nos, até, a venerá-la como padroeira de municípios, de nosso Estado do Espírito Santo, sob o Titulo de Nossa Senhora da Penha, a Se-nhora das Alegrias, como tam-bém do Brasil, sob o título de Nossa Senhora Aparecida. Mãe da Igreja! Santa Maria Mãe de Deus! Hoje, no Estado do Espírito Santo Maria ocupa um lugar pri-mordial entre os católicos que a veneram e aclamam como “Nos-sa Senhora da Penha” a “Senhora das Alegrias” . E, que linda festa os Capixabas realizam em louvor da Mãe da Igreja, sob o Titulo de Nossa Senhora da Penha. Uma festa que deveria ser divulgada pela mídia para todo o Brasil por todas as emissoras. Infelizmente, elas ainda não perceberam que seriam mais valorizadas se as-

sumissem esta missão de fazer com que a maioria do povo bra-sileiro pudesse acompanhar com fé a Romaria dos Homens, num trajeto de 14kms (dizem os en-tendidos em estatísticas que este ano percorreram este trajeto mais de seiscentas mil pessoas) saindo da Catedral metropolitana até aos pés do Convento da Penha! A Romaria das Mulheres que ultrapassa cem mil fiéis e outros tantos e inúmeros devotos que se mobilizam durante o Oitavário e o dia da Grande Festa Capixaba. Hoje também a piedade po-pular dos capixabas católicos é vibrante porque a mesma Mãe da Igreja e de “Deus Encarnado” está visitando todas as paróquias da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo, sob o titulo de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil. É o afeto profundo que a nossa gente que-rida expressa diante da Mãe da. Igreja e Mãe de Deus.. Quantas lágrimas!... Quan-tas graças recebidas, através da Mãe da Igreja!..., Mãe querida, Nossa Senhora Aparecida!!! É a piedade popular e ecle-sial que a Mãe de Jesus provoca em nossa gente. É a certeza de que Jesus não nos deixou ór-fãos. Deu-nos Sua Mãe como Companheira de travessia para a eternidade, Mãe da Igreja e Senhora de mil títulos! n

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comunicação

Quinze minutos de fama ou quinze segundos para destruí-la?

Moisés Sbardelotto Jornalista e doutor em comunicação. É autor de “e o Verbo se fez bit” (editora santuário)

Nos anos 1960, o artis-ta estadunidense Andy Warhol (1928-1987)

fazia um ensaio fotográfico ao ar livre para o lançamento de um de seus livros. Sua presença em um lugar público acabou reunindo uma multidão. As pessoas não queriam apenas acompanhar as fotos, mas também aproveitar para aparecer nelas. Vendo tal fe-nômeno, Warhol – famoso pelos seus quadros que retratam garra-fas de Coca-Cola ou ícones pop como Marilyn Monroe – cunhou uma das frases mais famosas: “No futuro, todo mundo será famoso por 15 minutos”. Décadas depois, vemos que diversos elementos dessa sua pro-fecia sobre os “eternos” 15 minu-tos de fama permanecem válidos. Ou até foram reforçados com o passar do tempo, tornando cada vez mais atual aquele “futuro” sonhado pelo artista. Dos papara-zzi – que invadem a privacidade alheia – aos “big brothers” – que expõem voluntariamente a pró-pria privacidade –, vemos que o desejo de “aparecer por aparecer” tornou-se quase um objetivo de vida. Aparecer é sinônimo de

estar vivo. A sensação é de que ser famoso não está apenas ao alcance de “qualquer um”, mas sim de “todos”, muitas vezes até mesmo quando não se quer. Surgem, assim, as chama-das “celebridades instantâneas”, criadas e destruídas sob medida para agradar o grande público (ou ser esquecido por ele). Durante o tempo de sua validade, são oni-presentes nas conversas de bar, na escola e na família. Ascendem ao palco regional, nacional ou internacional e lá permanecem enquanto durar o interesse dos fãs e dos patrocinadores – também instantâneos. Em tempos de internet e de uma comunicação global extre-mamente veloz, a efemeridade daqueles 15 minutos pode ser ainda maior, mas o alcance dessa fama ficou muito mais fácil: qual-quer um pode aparecer ao mundo com um mero clicar de botões. Se conseguir se diferenciar por suas qualidades ou defeitos – ou pelo exagero radical de ambos –, meio caminho estará trilhado. Na internet, como diz o ditado, todo mundo pode ser famoso para 15 pessoas. Contudo, cada uma

dessas 15 pessoas está conecta-da com outras 15, e aí as redes facilitam a “multiplicação das efemeridades”. Muitas vezes, porém, essa fama instantânea pode perdu-rar, surpreendentemente, dando seus frutos positivos, em diversos âmbitos. Temos diversos casos de subcelebridades que, aprimo-rando suas qualidades pessoais ou suas especialidades artísti-cas, mantiveram a fama por mais tempo; ou ainda ampliaram o seu alcance em relação a públicos mais vastos; ou mesmo aproveita-ram a fama inicial como impulso para se destacar em outras áreas – chegando até, em alguns casos, ao Congresso nacional. O problema mesmo é quando chegamos a um processo inver-so e muito mais problemático no longo prazo: deputados e de-putadas que, em 15 segundos, desfazem toda e qualquer fama, reputação e relevância política. Esse fenômeno, sim, é muito mais grave e preocupante. n

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o malandro

aspas

O malandro/Na durezaSenta à mesa/Do caféBebe um gole/De cachaçaAcha graça/E dá no pé

O garçom/No prejuízoSem sorriso/Sem freguêsDe passagem/Pela caixaDá uma baixa/No português

O galego/Acha estranhoQue o seu ganho/Tá um horrorPega o lápis/Soma os canosPassa os danos/Pro distribuidor

Mas o frete/Vê que ao todoHá engodo/Nos papéisE pra cima/Do alambiqueDá um trambique/De cem mil réis

O usineiro/Nessa lutaGrita (ponte que partiu)Não é idiota/Trunca a notaLesa o Banco/Do Brasil

Nosso banco/Tá cotadoNo mercado/ExteriorEntão taxa/A cachaçaA um preço/Assustador

Mas os ianques/Com seus tanquesTêm bem mais o/Que fazerE proíbem/Os soldadosAliados/De beber

A cachaça/Tá paradaRejeitada/No barrilO alambique/Tem chiliqueContra o Banco/Do Brasil

O usineiro/Faz barulhoCom orgulho/De produtorMas a sua/Raiva cegaDescarrega/No carregador

Este chega/Pro galegoNega arrego/Cobra maisA cachaça/Tá de graçaMas o frete/Como é que faz?

O galego/Tá apertadoPro seu lado/Não tá bomEntão deixa/CongeladaA mesada/Do garçon

O garçon vê/Um malandroSai gritando/Pega ladrãoE o malandro/AutuadoÉ julgado e condenado culpadoPela situação

Chico Buarque

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valorizado ou humilhado, nada derruba a gratidão de ver a cidade limpa39 anos e dando o primeiro passo para concretizar um sonho edson Soares de Souza foi gari durante dez anos e fala do amor e das tristezas que experimentou na profissão enquanto sonha em ser advogado.

entreVista maria da luz fernandes

vitória - Qual era o seu sentimento quando você era gari?Edson - Era um trabalho honrado e que me ensinou muito. Foi nesse trabalho que aprendi a respeitar o limite da natureza e o limite do homem e me fez entender que nós seres humanos precisamos cuidar melhor da nossa cidade.

vitória - Depois que deixou de ser gari como olha para a cidade?Edson - Eu sinto-me muito honrado. Vejo que a cidade evoluiu bastante. Vitória e o Estado do Espírito Santo foram considerados bem cuidados em termos de limpeza pública e principalmente pela proteção da natureza e eu tenho orgulho de ter contribuído para isso. Fico feliz porque participei com meu trabalho.

vitória - Quando olha para a rua hoje você procura sujeira? Edson - Realmente eu me preocupo muito. Quando eu ando pela cidade eu sinto orgulho do trabalho que realizei e prestei à minha cidade, mas tem alguns locais que não são bem tratados, não porque o trabalho não seja executado, mas pelas pessoas que não respeitam o ambiente onde estão, o ambiente onde vivem, jogam lixo em qualquer lugar, não respeitam a natureza e, sinceramente

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quero sempre que a minha cidade seja primeiro lugar e me senti bem fazendo.

vitória - E os coletores eles bus-cam limpar a cidade, têm essa preocupação?Edson - Fui coletor durante 10 anos, gari, varredor de rua, e limpeza em mutirão, limpando morros e bairros e como coletor de morro que é um trabalho bem complicado e bem cansativo, mas é gratificante, depois que eu passei por estas profissões eu fiquei diretamente em coletor de caminhão e posso dizer com toda a sinceridade e com toda a segurança, os coletores de caminhão de lixo, de resíduo público fazem o seu trabalho certo, sim. Eles fazem sim, não só pela condição financeira, mas também creio por uma questão de amor pela sua cidade. Eu creio que quando o coletor está atrás do caminhão ele deseja ver sua cidade em primeiro lugar na limpeza, ser admirada pelos turistas. Então eu acredito que os coletores fazem isso por amor e para garantir a sua renda financeira.

vitória - O trabalho do cole-tor de lixo é reconhecido pelas pessoas?Edson - As pessoas que têm cons-ciência e reconhecem o trabalho do coletor, da manutenção da limpeza, sabem que é necessário e por isso valorizam as pessoas que cuidam da sua cidade, mas eu vou ser bem sincero, existem pessoas que não

reconhecem, que rejeitam o nosso trabalho, rejeitam tanto o nosso tra-balho quanto a gente como pessoas. Fomos muito visados, muito critica-dos, muito humilhados, mas enfim nada que possa derrubar a gratidão de ver a nossa cidade limpa, bonita e em primeiro lugar.

vitória - Você já fez coleta de lixo aqui na minha rua e passado um bom tempo minha amiga reco-nheceu você. Isso o deixou feliz?Edson - Me deixou feliz porque é um reconhecimento. O coletor roda a cidade de Vitória toda, então a gente conhece pessoas magníficas, pesso-as interessantes, pessoas amáveis como essa senhora, a Dona Luciana, que me reconheceu. Eu fiquei muito satisfeito porque ela viu que eu fui um colaborador, fui uma pessoa que cuidei da rua dela, então foi gratificante ela ter me reconhecido e eu fico feliz, isso é muito bom.

vitória - E quando você estava limpando e as pessoas passavam e nem olhavam?Edson - Eu sentia uma rejeição. In-felizmente a gente não pode mudar a mente das pessoas, isso já vem do caráter da pessoa, da personalidade da pessoa. Realmente eu ficava triste porque a gente está tão amorosa-mente fazendo aquele trabalho para trazer mais saúde para as pessoas que estão morando naquele ambien-te e as pessoas não dão a mínima, não estão nem aí, pisam, muitas vezes humilham o trabalhador. Mas

entreVista

eu fico um pouco triste. As pessoas podiam cuidar melhor da sua cidade em todos os aspectos.

vitória - Às vezes tem umas sujeiras por aí. Quando você en-contra lixo jogado na rua reage contra as pessoas?Edson - Eu não chamo a atenção porque eu acho que o ser humano tem que entender que onde ele vive ele tem que cuidar. Então ele não precisa ser chamado a atenção por causa daquela atitude, ele tem que se conscientizar que é ali que ele mora, é ali onde ele vai criar seus filhos e o principal de tudo é que é a cidade que proporciona a saúde para a convivência.

vitória - No seu caso que já cuidou da limpeza pública não dá vontade de chamar a atenção?Edson - Dá, mas eu não sou de cha-mar a atenção de pessoas que não es-tão conscientes do que estão fazendo.

vitória - Nessas horas você lem-bra de quando encontrava lixo jogado em lugares errados?Edson - Lembro. Tanto que faz pou-co tempo eu passando num deter-minado lugar no Centro da cidade me incomodei porque vi tanto lixo amontoado nos pés dos postes. Parece até mania de coletor eu já peguei o lixo e voluntariamente botei no devido lugar mesmo depois de ter saído da empresa que eu era coletor. Eu fiz porque eu quero a minha cidade limpa, saudável e

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eu quero frisar e lembrar uma coisa: quando a cidade está parada e não tem essa manutenção, as pessoas lembram do trabalhador, do gari, do coletor.

vitória - Agora que você deixou de ser gari, está fazendo outro tipo de trabalho?Edson - Na verdade, a minha profis-são, antes de entrar na empresa Vital Ambiental, era pintor de parede. Mas eu precisava de ter uma renda fixa. Depois que eu saí da Vital voltei a mexer com pintura de parede.

vitória - Você consegue fazer o salário que tinha como gari?Edson - Estamos passando por uma crise muito pesada. Por isso eu não tenho tirado o salário que eu tinha fixo, mas eu entendo e a gente vai levando a vida como Deus quer.

vitória - E qual a sua opção neste momento? Vai continuar como pintor ou está procurando um trabalho fixo de novo?Edson - No momento vou continuar como pintor porque é um trabalho

que eu faço por mim, mas eu tenho disponibilizado alguns currículos em algumas empresas e também estou fazendo alguns cursos, voltei a estudar, pretendo terminar os meus estudos e a gente vai levando. E aí se alguma dessas empresas que eu botei currículo me chamar eu vou porque é bom.

vitória - Em que áreas você está procurando emprego?Edson - Estou procurando na área de vigilância porque eu já fiz o curso e fiz também de porteiro de con-domínio de luxo. Estou esperando.

vitória - Vigilante, porteiro, pintor, limpeza pública... qual a sua preferência?Edson - A minha preferência é vigi-lante, mas como essa profissão não está tendo êxito, está meio restrita, como porteiro também está restrito eu vou continuar de pintor.

vitória - Você pinta com amor, como fazia a limpeza pública?Edson - A profissão de pintor foi a primeira que eu aprendi e foi ela

que me ensinou a trabalhar então quando eu faço é com amor.

vitória - O que você está estu-dando?Edson - Minha família era muito humilde, tive que trabalhar cedo, a minha vida passou pelo Orfanato Cristo Rei, por isso a senhora vê que a minha família, a minha raiz é hu-milde e quando eu voltei para dentro da minha casa com treze anos tive que trabalhar. Minha mãe trabalhava sozinha e os padrastos que minha mãe arranjava não colaboravam com os filhos dela, então eu tive que me virar sozinho. Saí de casa muito cedo por isso não terminei meus estudos, mas agora votei a estudar, vou em frente e vou terminar meus estudos, estou no ensino fundamental. Eu vou realizar o meu sonho, um sonho que está dentro de mim há muitos anos e eu vou realizar.

vitória - Qual é o seu sonho?Edson - Eu tenho um sonho de me formar em Direito e eu vou realizar esse sonho.

vitória - É casado?Edson - Sou casado, tenho quatro filhos e uma esposa trabalhadeira, amável, cuidadosa, dona de casa. As bênçãos que o Senhor me deu. Minha filha mais velha tem 12 anos já está no sexto ano, a mais nova está no terceiro ano, uma de cinco anos que está na creche e o mais novo de oito meses e eu moro com eles no Bairro Santo André em Vitória. n

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qual a diferença? e você cristão, faz a diferença?

Neste ano cumpriremos nosso papel republica-no, e diante das urnas,

votaremos para prefeito e ve-reador. O direito de votar foi con-quistado há pouco tempo, se analisarmos o longo período da história. É fruto de lutas, que se estabeleceram num cenário de violações e privações suportadas pelo povo. É uma conquista. No Brasil, o voto é obrigató-rio brasileiros alfabetizados maio-res de 18 e menores de 70 anos. O eleitor é livre para escolher o seu candidato ou não escolher candidato algum. O cidadão é obrigado a comparecer ao local de votação, ou a justificar sua au-sência, mas pode optar por votar em branco ou anular o seu voto. De acordo com o Glossário do Tribunal Superior Eleitoral, “o voto em branco é aquele em que o eleitor não manifesta preferência por nenhum dos candidatos”. Para votar em branco é necessá-rio que o eleitor pressione a tecla “branco” na urna e, em seguida, a tecla “confirma”. Nulo é o voto em que o eleitor manifesta sua opção de anular sua escolha. Para votar nulo, o eleitor precisa di-gitar um número de candidato inexistente, confirmando, em seguida, a operação.

Verônica Bezerraadvogada, membro do centro de apoio dos direitos humanos, presidente da comissão de direitos humanos da oaB/es

Voto branco ou nulo:

Antigamente como o voto branco era considerado válido (isto é, era contabilizado e dado para o candidato vencedor), ele era tido como um voto de confor-mismo em que o eleitor se mos-trava satisfeito com o candidato que vencesse as eleições. O voto nulo (inválido) era um voto de protesto contra os candidatos ou contra a classe política em geral. Atualmente, vigora o princí-pio da maioria absoluta de votos válidos, conforme a Constituição e a Lei das Eleições. Conside-ram-se apenas os votos válidos, que são os votos nominais e os de legenda; e se desconsideram os votos brancos e nulos. A contagem dos votos de uma eleição está prevista na Cons-tituição Federal que dá por “ eleito o candidato que obtiver a maioria dos votos válidos, excluídos os brancos e os nulos”. Os votos brancos e nulos não são contados. Por isso, mesmo se mais da meta-de dos votos forem anulados, não é possível cancelar uma eleição.

Os votos nulos e brancos acabam constituindo apenas um direito de manifestação de des-contentamento do eleitor, sem mais serventias para o pleito eleitoral. Assim, cabe ao cidadão, principalmente o cristão, cum-prindo seu dever de anúncio e denúncia, analisar e escolher o melhor candidato para o repre-sentar. É preciso conhecer o can-didato e suas idéias, estudar as propostas, dialogar com a co-munidade, votar e monitorar o trabalho do candidato depois de eleito. Somos todos responsáveis e precisamos estar atentos àqueles que trazem sofrimento ao povo, quando governam ou legislam com interesses que não são os da coletividade. O católico cristão deve votar à luz do Evangelho. n

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Opropósito do Conselho de Pauta da Revista Vitória era fazer a reportagem do mês de maio sobre a fé na vitrine, querendo, com isso, falar de fé e religião em exposição no cinema, jóias e

bijuterias, CD’s, espetáculos, etc. Seria uma reportagem fundamentada em artigos publicados, em opiniões de especialistas e até pesquisas se as houvesse. Os pressupostos eram que a fé e a religião estão na vitrine ou porque se colocaram ou porque foram colocadas. Durante a pesquisa encontramos uma entrevista feita em 2010 pelo Instituto Humanitas Unisinos ao professor Luiz Vadico, Mestre e Doutor em Multimeios na Universidade Anhembi Morumbi em São Paulo, que aborda o assunto referindo-se ao cinema com temáticas religiosas, o que poderia ser intitulado de “a fé em cartaz”. Suas ideias, porém, podem servir para outros ambientes nos quais “a fé esteja na vitrine”. Por que o mercado incluiu a fé e a religião nos espaços comerciais e se apossou de produtos dando-lhes espaço e visibilidade? Quais as vantagens e os prejuízos dessa exposição? Professor Vadico responde.

mercado da fÉmaria da luz fernandesmarcus tullius

A fé em cartaz e na vitrine

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a fé em cartaz

IHU - Como o cinema lida com a questão religiosa e o sagrado?Luiz Vadico - Isso é assunto para um livro inteiro. E logo lançaremos esse livro sobre o Campo do Filme Religioso. Esse campo é formado pelo conjunto de produções que tratam temas ou assuntos reli-giosos e conta com uma grande massa de produções midiáticas. Ele se formou desde o início da história do cinema e se es-tendeu pelo desenvolvimento midiático em geral. Mas uma das suas características marcan-tes é que ele não é um campo independente e tranquilo. Ele se organiza sobre outros dois campos distintos: o Campo do Religioso (instituições re-ligiosas e adeptos) e o Campo Fílmico (produtores em geral). Todas as produções importan-tes conhecidas necessitaram buscar um equilíbrio entre esses dois campos: o Campo do Reli-gioso, cioso dos seus assuntos e de suas responsabilidades, e o Campo Fílmico, desejoso de conseguir lucrar com o público daquele. O que tivemos ao longo da história do cinema foi uma

confrontação constante, e os fil-mes que foram produzidos são o resultado dessa conflagração de forças sociais e religiosas, o que não é ruim, pois levou os religiosos a repensarem seus caminhos, e os produtores, a limitarem excessos. Listar grandes obras da relação cinema versus religião me parece algo bem subjeti-vo. Pessoalmente, acho mais tocantes, no que respeita ao cinema massivo, filmes como: “The King of Kings” ; “A Can-ção de Bernadette” ; “Marce-lino Pão e Vinho; “Uma Cruz à Beira do Abismo; “Roma Cidade Aberta”. Chamou-me muito a aten-ção o trabalho do brasileiro Marcelo Masagão em “Nós que aqui estamos por vós es-peramos” (1998). O aspecto da finitude humana é realmente algo que emociona e nos faz refletir. Gosto de ver nele uma relação com o sagrado cristão, talvez porque remeta ao “tu és pó e ao pó retornarás”. IHU - Como você analisa essa “saída” dos temas e figuras religiosos do domínio e do con-trole das religiões para a (re)criação livre por meio da arte, especialmente do cinema?

Luiz Vadico - Desde o surgi-mento do cinema, os religio-sos – aqui o termo é usado em sentido amplo – buscaram se apropriar do novo meio, e, in-versamente, o novo meio bus-cou se apropriar dos assuntos religiosos para atrair determi-nado público para as salas de entretenimento. Um desejava usar como meio catequético e pedagógico, e o outro, como fonte de lucro através do en-tretenimento saudável. Em estudo recente, pude-mos perceber que esse emba-te foi extremamente positivo. Nem sempre foi um diálogo, mas sempre que possível este se estabeleceu. De um lado, tivemos religiosos e institui-ções religiosas que acabaram se tornando mais flexíveis, e, se tivermos em vista o século XIX, este acabou sendo um efeito bastante positivo, pois o produto midiático acabou por levar informações e op-ções visuais e teológicas às vezes mais próximas, às ve-zes mais distanciadas do saber tradicional, o que possibilitou nos diversos momentos uma discussão pública e massiva de temas que poderiam estar “estagnados” no interior dos templos e igrejas. [...]

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Ora, esses temas e assuntos, entrando para o domínio público, permitiram um maior diálogo da sociedade, uma maior opção de escolhas, maior diversidade de ideias, o que para nós sempre é positivo. [...] O efeito disso é teologia. Como diz o teólogo Clive Marsh, basta falar sobre Deus e estamos fazendo teologia. Mesmo que isso não esteja na intenção do diretor ou produtor, vivemos numa sociedade de maioria cris-tã, fomos criados com esta ou aquela versão teológica, e não nos livramos dela, vivemos com ela e com pessoas que nela foram educadas. Então, um produto midiático qualquer que tenha assunto religioso sempre possui uma mensagem teológica, seja ela bem ou mal definida, ela sempre está lá. Esse é o construto final. A consequência dessa pro-

dução de teologia pelo cinema é que ela altera sutilmente a teo-logia tradicional. Mas isso não chega a ser um fenômeno nega-tivo, pois produtoras de origem religiosa também produziram filmes e séries nos quais novas imagens cristológicas foram de-senvolvidas, caso de “O Cristo Vivo”, da produtora Cathedral, de 1953. [...]

IHU - Por outro lado, no Bra-sil, mesmo que indiretamente, a religiosidade sempre permeia as obras cinematográficas. Como você percebe a mani-festação da religiosidade no cinema brasileiro?Luiz Vadico - Em geral, o ci-nema brasileiro fica longe das questões religiosas. Isso sempre me causou estranheza, já que a religiosidade neste país borbulha por todos os lados. Elementos

religiosos diversos abundam nos filmes brasileiros, mas sempre como referência fragmentária e mal desenvolvida e, em ge-ral, sem a pretensão mesmo de serem desenvolvidos. Apare-cem como elementos de pano de fundo ou fazem parte efetiva das histórias contadas, mas não são o assunto. Normalmente, são apenas manifestações estereoti-padas que pouco ou nada têm a dever às religiões que acabam citando. Acho que a forma como as religiões afro-brasileiras são mostradas nos filmes nacionais são um exemplo gritante disso. Algumas vezes mostradas de forma preconceituosa, como nos anos 50 até o anos 70, outras vezes apenas de forma estereoti-pada, como se fizessem parte de algum mistério ou guardassem traços de um filme de horror. No que toca ao cristianismo, geralmente é a estereotipação clássica: aparecem personagens carolas, padres levianos ou ex-cessivamente moralistas. As produções brasileiras de assunto religioso são recentes. E, acredito que razoavelmente bem sucedidas, como é o caso de “Maria, Mãe do Filho de Deus”, com a participação do Padre Marcelo Rossi, de 2003, e de “Irmãos de Fé”, sobre Paulo de Tarso, de 2004, também com

mercado da fÉ

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a participação do religioso. A imagem de Jesus resultante do filme era brasileira. Um Jesus sorridente, afável, de gestos ex-pansivos, claramente amigo dos amigos. Um Jesus que tocava as pessoas fisicamente e que era tocado por elas, e isso é muito nosso, botar a mão no outro, chegar perto. Nenhuma outra produção em nenhum lugar do mundo tem isso. Outro filme marcante e que não teve a pretensão de ser reli-gioso mas levou eficazmente a religiosidade brasileira para as telas foi o filme dosTrapalhões, “O Auto da Compadecida”, de 1987, em minha opinião, infi-nitamente superior à versão de Guel Arraes. O Jesus negro re-presentado por Mussum é anto-lógico, possui toda graça, leveza e seriedade que Jesus parece nos suscitar. E, novamente, isso é nosso, autenticamente nosso. Onde mais um Jesus Cristo num sorriso à provocação do prota-gonista do filme confessaria que era “crente”? Nosso Deus parece estar distante das ameaças e carran-cas do Deus de outros países, ele não desperta reflexão. Nos dois casos, ele denota exemplo e emoção. Coisa bem diferente das produções hollywoodianas e autorais.

A “fé em cartaz” analisada por Vadico questionando a produção e os interesses das produtoras e das religiões e Igrejas oferece dicas para olharmos de maneira ampla a fé e a religião como produto. Assim é possível interpretar o sucesso expressivo e recente da novela “Os dez mandamentos” que ganhou uma versão adaptada para o cinema e agradou ao público em geral. Mas, como diz Dom Leomar Brustolin “a linguagem religiosa muitas vezes assume a linguagem do espetáculo. Manipulam-se símbolos, pessoas e realidades religiosas de acordo com a expectativa do público. Na relação com o mercado, o espetáculo é acentuado em detrimento da ética e dos Princípios religiosos”. n

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mundo litúrgico

fr. José moacyr cadenassi, ofmcap

a palavra, guia da igreja celebrante

A vida cristã, ritualmente celebrada nas ações litúrgicas, tem a sua

amplitude na contemplação, assimilação e vivência da Palavra de Deus. Desde a prática da “lectio divina” (leitura orante, como oração pessoal) até a proclamação pública da Palavra, particularmente nas celebrações eucarísticas (ou somente nas celebrações da Palavra), a Igreja encontra o seu referencial e identidade na relação íntima (cf. DV 25) com o Verbo encarnado. É Cristo mesmo que fala quando a Palavra é proclamada nas assembleias litúrgicas (cf.

SC 7), promovendo o confronto do Mistério com a realidade histórica do povo celebrante, iluminando as obscuridades do tempo presente e fomentando a experiência pascal nas inúmeras realidades humanas. Portanto, liturgia da Palavra e liturgia eucarística formam um só ato de culto (cf. SC 56). Quem exerce a função ministerial de proclamar a Palavra necessita fazer, anterior à proclamação, a leitura orante da passagem bíblica, com as seguintes etapas: pedir a luz do Espírito para compreendê-la; ler; silenciar; ruminar; situar o trecho em seu contexto histórico e teológico, concluindo com uma atualização para a vida presente. A finalidade está na qualidade da proclamação, que ultrapassa uma simples leitura corrente: quem proclama expressa a veracidade, a urgência e a eficácia da Palavra de Deus, segundo a dinâmica cristã da conversão. Ela é elemento certeiro e eficaz de transformação pessoal, comunitária, social e universal, sendo um sinal de vida plena para todos. A verdadeira introdução e acolhida da Palavra está na proclamação e na escuta, e não em entradas coreográficas e performáticas trazendo o lecionário ou, ainda,

a Bíblia. A atitude de proclamar os conteúdos bíblicos deve despertar naqueles que escutam a atualidade da Boa Notícia de Cristo, promovendo o encontro, a meditação, o confronto e a decisão de fazer valer, em gestos concretos, o conteúdo salvador e vivificador da Palavra. Outro aspecto a ser observado e cuidado é o lugar fixo da proclamação da Palavra: a mesa da Palavra. Considerar e promover a adequação do espaço celebrativo conforme as orientações litúrgicas da Igreja, segundo o espírito do Concílio Vaticano II, é algo a ser mais aprofundado e concretizado pelas comunidades, paróquias, casas religiosas e casas de formação seminarística. É da mesa da Palavra que se proclamam os textos bíblicos, canta-se o salmo de resposta, entoa-se solenemente o Evangelho, faz-se a homilia (que poderá alternativamente ser feita na sédia – assento da presidência) e reza-se as preces dos fiéis. Ainda, valorizar a proclamação a partir dos Lecionários e do Evangeliário, não utilizando folhetos litúrgicos para tal. n

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arquiVo e memóriagiovanna Valfrécoordenação do cedoc

No folheto acima estão a oração da mãe e a oração dos filhos escritas por Dom João Batista da Mota e Albuquerque. Esse folheto foi confeccionado pela Igreja Matriz da Glória no Rio de Janeiro, para ser entregue no dia das mães do ano de 1959 quando Dom João já era Arcebispo de Vitória.

orações compostas por Dom joão batista

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pergunte a quem saBe

Marcela Corrêa Bastos Especialista em Psicologia Esportiva

Tem dúvidas? Então pergunte para quem sabe. Envie sua pergunta para [email protected]

EsportE

para crianças começarem uma atividade física, é melhor um esporte individual ou coletivo? O esporte abre a porta para a sociabilidade, contribuindo para a educação, além de exercitar a coordenação motora, resistência, desenvolver habilidades cognitivas, disciplina e a relação com o outro. Esporte coletivo é importante pois além de exercitar, os pequenos aprendem a respeitar o próximo, se integram mais aos grupos de ami-zades, desenvolvem o sentido de cooperação, desenvolvem a autonomia e estimulam também a criatividade, além de trabalharem o condi-cionamento físico, que previne problemas com a obesidade e outras doenças. A modalidade coletiva ajuda no processo de crescimento e formação cidadã da criança.

Prof. Gilberto SudréSegurança da Informação e

Computação Forense

tEc

nolo

gia

Quando as crianças aprendem algo novo, elas desenvolvem habilidades cognitivas, apren-dem a respeitar o corpo, aumenta a autoestima, trabalha o equilíbrio emocional (força de von-tade, autocontrole, autoconfiança), reconhece o outro e aprende a saber compartilhar, trabalhar em grupo, desenvolver autonomia e estimular a criatividade. Aprender a enfrentar adversidades e tirar lições delas talvez seja um dos maiores benefí-cios que o esporte coletivo pode proporcionar a um indivíduo, especialmente em sua infância e adolescência. A diferença que o coletivo faz nesse aspecto é o fato de que, em um momen-to de adversidade, a criança sabe que sempre encontrará conforto dentro do grupo. Outro aspecto fundamental do esporte co-letivo entre as crianças é a oportunidade que elas têm em exercitar liderança e comunicação. Seja numa quadra de basquete ou num campo de futebol, crianças aprendem o valor do trabalho em equipe e praticam sua indivi-dualidade, pois o grupo necessita do apoio e rendimento pessoal de cada um para conseguir o objetivo final da atividade.

o celular precisa de antivírus? Todo o celular precisa de antivírus. Mesmo nos aparelhos iPhone da Apple é necessário a instalação de um antivírus.

Quando não há necessidade dele? Para os telefones atuais todos precisam de antivírus.

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Pe Eduardo RodriguesParóquia Nossa Senhora da GlóriaVila Velha

por que fazemos a coroação de nossa Senhora? Toda e qualquer devoção a Nossa Senhora tem como escopo reconhecer que o Todo Poderoso fez maravilhas em seu favor, mas somente devido a sua divina maternidade. E a coroação faz parte desse reconhecimento que todos nós cristãos católicos temos em relação

Juliana AndradeNutricionista

saúdE

rEl

igiã

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existem benefícios no consumo de ener-gético? Comercializado sem restrição, com a fi-nalidade de estimular o metabolismo, forne-cendo mais energia ao organismo, o energético aumenta o estado de alerta, tanto para a mente quanto para o corpo. Apesar de conter vitami-nas B2, B3, B5, B6 e B12, além de poderosos antioxidantes, sua base é composta de taurina, cafeína e inositol, nas quais potencializam a resposta do cérebro aos estímulos, deixando o corpo mais ativo ou acelerado. Entretanto, sua grande quantidade de esti-mulantes e açúcar, podem desencadear efeitos colaterais quando consumidos em excesso, como insônia, a aceleração ou irregularidade dos batimentos cardíacos, irritabilidade e agita-ção. Além disso, por ser uma bebida diurética, o energético não auxilia na hidratação corporal, podendo levar ao processo de desidratação. Outro cuidado é em relação ao seu con-sumo em jejum, pois além de potencializar os efeitos da bebida, o mesmo pode comprometer as funções do estômago e de todo o aparelho digestivo.

Vale deixar claro que o consumo esporá-dico de energético, em situação de saúde, não trará maiores prejuízos, podendo ser utilizado em prol de uma situação que demande maior energia! o que pode substituí-los? Uma refeição natural e balanceada, além de não prejudicar a saúde, oferece energia necessária para o dia-a-dia de cada indivíduo! Entretanto, existem alimentos que possuem um poder energético intensificado que é o caso do atum, sardinha, tofu, couve, pepino, vagem, rabanete, abóbora, repolho, batata doce, berinjela, laranja, cenoura, tomate, morango, frango, melão, mamão, abacaxi, gengibre, ca-nela, café, entre outros! O consumo diário da combinação desses alimentos, em quantidades equilibradas, fornecerá disposição na medida certa para a correria da rotina diária!

a Nossa Senhora por ter sido escolhida como corredentora da humanidade, sendo preservada da mácula do pecado original. Entretanto vale ressaltar o caráter demasiado faustoso de muitas de nossas coroações, o que, por conseguinte vem ofuscar a humildade e a singeleza da vida de Maria que nada teve de ostentação como muitas coroações podem nos induzir a pensar. Temos que resgatar não somente o Espírito da Coroação de Nossa Senhora, mas também de nossas Celebrações Eucarísticas que devem ter como centralidade Jesus Cristo, sacerdote, altar e cordeiro e não o próprio presidente da celebração, pois esse tem como missão primária introduzir os fiéis no mistério eucarístico.

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ensinamentos

Diaconia: servir a Igreja na prática da caridade

com a frequente participação dos Diáconos permanentes nas ativida-des das Paróquias da Arquidiocese

de Vitória, as pessoas vão se acostumando a essa nova realidade. Mas ficam algumas dúvidas, por que o que antes era visto sendo feito pelo Presbítero (Padre) agora é realizado pelo Diácono? O que eles têm em comum e o que é específico de cada um? Tanto o Padre quanto o Diácono rece-bem o Sacramento da Ordem, por meio do

qual são constituídos ministros sagrados, para que, personificando Cristo Cabeça da Igreja, desempenhem a missão de ensinar, santificar e governar o Povo de Deus, cada um no respectivo grau da Ordem. Convém lembrar que o Sacramento da Ordem comporta três graus: Diaconato, Presbiterado e Episcopado (Bispo). Ao Diácono lhe são impostas as mãos para o ministério, não para o sacerdócio. Os Presbíteros estão unidos ao Bis-

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Vitor nunes Rosaprofessor de filosofia na faesa

po na dignidade sacerdotal e, ao mesmo tempo, dependem dele no exercício de suas funções pasto-rais. Por força do Sacramento da Ordem recebido, presidem o Sa-cramento da Eucaristia, celebram os Sacramentos do Batismo, da Unção dos Enfermos, da Penitên-cia e Reconciliação, as Exéquias, e assistem ao Matrimônio; na Vi-gília Pascal, podem administrar o Sacramento da Confirmação para os adultos que forem receber os Sacramentos da Iniciação Cris-tã ou em outras situações com autorização do Bispo. Exercem também funções administrativas de Paróquias ou outros encargos atribuídos pelo Bispo. Quanto aos Diáconos é impor-tante esclarecer que há o Diaconato permanente e o Diaconato tempo-rário. O Diácono está diretamente

ligado ao Bispo, desde a Igreja Antiga, constituído para o serviço à Palavra, à Liturgia e à Caridade. Os seminaristas são ordena-dos Diáconos antes da Ordenação Presbiteral; é o chamado Diacona-to temporário. Nesse caso, exer-cem o ministério diaconal por um período durante o processo de formação, com o acompanha-mento do Bispo e da equipe de formação do Seminário. Mas, há também o Diacona-to permanente, restaurado pelo Concílio Vaticano II, por meio da Constituição Dogmática Lumen Gentium, que pode ser conferido a homens de idade mais madura, mesmo casados, ou a homens solteiros, para os quais continua valendo a lei do celibato. Os Diáconos podem exercer funções administrativas em uma

Paróquia, conservar e distribuir a Eucaristia, presidir as Celebra-ções da Palavra e as Exéquias, celebrar o Sacramento do Ba-tismo e assistir ao Matrimônio. Mas, na Arquidiocese de Vitória os Diáconos Permanentes foram ordenados para exercer, principal-mente, o serviço da Caridade. Na Celebração Eucarística, procla-mam o Evangelho e auxiliam o Bispo ou o Presbítero no serviço ao Altar. Podem também presi-dir a Adoração ao Santíssimo Sacramento e dar a Bênção. É importante frisar que o Diácono não preside a Celebração Euca-rística. Então, não cabe dizer que “Como não tinha Padre, a Missa foi presidida pelo Diácono”. n

Diaconia: servir a Igreja na prática da caridade

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ponte florentino avidos

cultura capixaBa

construída no governo de Florentino Avidos (1924-1928) a Ponte, que recebeu o nome desse mesmo governador, liga a ilha de Vitória

à cidade de Vila Velha. Originalmente pensada para conectar o porto de Vitória à Estrada de Ferro Vitória-Minas, e assim fazer com que os trens de minério chegassem à ilha, as Cinco Pontes (como é tradicionalmente conhecida) tem um traçado, que passa pela Ilha do Príncipe e Vila Rubim, ligando a ilha ao continente com a ajuda de um sexto vão - hoje Ponte Seca. Seu material foi inteiramente fabricado na Alema-nha e transportado em navios para a Baia de Vitória, onde foi montada sobre flutuadores e depois colocada sobre os pilares, construídos no local. Recentemente restaurada, a Ponte Florentino Avidos é reconhecida como patrimônio arquitetônico dos capixabas, desde abril de 1986, quando foi tom-bada pelo Conselho Estadual de Cultura do Estado do Espírito Santo. n

diovani favoreto - historiadoraVista geral da ilha do príncipe e ponte florentino avidos

primeiro vão metálico da ponte florentino avidos

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acontece

iii encontro estadual do terço dos homens Pelo terceiro ano consecutivo acontece no Con-vento da Penha o Encontro Estadual do Terço dos Homens. O terceiro é no dia 21 de maio com concen-tração marcada para 10h na Prainha de Vila Velha. Os grupos subirão a pé até ao Campinho onde haverá palestra com o tema “Porque rezar o terço”, reza do terço, sorteio de prêmios, consagração a Nossa Senhora e Santa Missa. O palestrante é o coordenador nacional do Terço dos Homens, Ir. Viveiros do Santuário de Aparecida. No Estado já existem cerca 500 grupos em funcio-namento e outros em fase de organização. A comissão estadual propõe-se incentivar a criação de grupos em todas as comunidades e para isso realiza visitas às comunidades para motivar e ajudar a organizar.

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