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Revista da aRquidiocese de vitóRia - es vitória vitória Ano XII Nº 139 Março de 2017 OPINIÃO Justiça com as próprias mãos

Ano XII Nº 139 Março de 2017 - Home - AVESaves.org.br/wp-content/uploads/2017/03/RevistaVitoriaMarco2017site... · não é a desmilitarização da polícia? Ou, pensando na extinção

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  • Revista da aRquidiocese de vitRia - es

    vitriavitriaAno XII N 139 Maro de 2017

    opinio Justia com as prprias mos

  • PAULUS Livraria de Vitria-ESRua Duque de Caxias, 121 Centro CEP: 29010-120Tel.: (27) 3323.0116 / WhatsApp: (27) 98120.0007 / [email protected] paulus.com.br

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    144

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  • arquivix

    @arquivix

    Quase 200 mortos... Este o resultado mensurvel pelos 21 dias de paralisao da Polcia Militar no Esprito Santo. Mas existem outros resultados, ou seriam causas que abafamos continuamente com as notcias divulgadas pela mdia de que est tudo bem? A paralisao da PM deixou aflorar aquilo que, alguns mais e alguns menos, todos experimentamos no dia a dia: medo e insegurana. Teoricamente a sociedade deveria conviver em harmonia mesmo sem polcia, porm no conseguimos. Fechamo-nos em casa, esperamos garantias de que havia policiamento e continuamos a vida. Ser? As dvidas so enormes e no sabemos quem vai pagar a conta, a no ser os cerca de 200 mortos e suas famlias que j pagaram e esto fora das avaliaes do governo e das cobranas da sociedade. Nesta edio, algumas reflexes para pensar. Boa leitura! n

    fale com a gente

    Envie suas opinies e sugestes de pauta para [email protected]

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    editorial

    Maria da Luz Fernandeseditora

    Dvida que ningum quer pagar

  • Arcebispo Metropolitano: Dom Luiz Mancilha Vilela Bispo auxiliar: Dom Rubens Sevilha Editora: Maria da Luz Fernandes / 3098-ES Reprter: Andressa Mian / 0987-ES Conselho Editorial: Albino Portella, Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Marcus Tullius, Warllem Soares e Vander Silva Colaboradores: Pe. Andherson Franklin, Arlindo Vilaschi, Dauri Batisti, Diovani Favoreto, Giovanna Valfr, Fr. Jos Moacyr Cadenassi e Vitor Nunes Rosa Reviso: de texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin Publicidade e Propaganda: [email protected] - (27) 3198-0850Fale com a revista vitria: [email protected] Projeto Grfico e Editorao: Comunicao Impressa - (27) 3319-9062 Ilustrador: Richelmy Lorencini Designer: Albino Portella Impresso: Grfica e Editora GSA - (27) 3232-1266

    vitriavitriaRevista da aRquidiocese de vitRia - es

    Ano XII Edio 139 Maro/2017Publicao da Arquidiocese de Vitria

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    editorialDvida que ningum quer pagar

    opinioJustia com as prprias mos

    economia polticaDose exagerada

    fazer bemMecnico honesto evitou que jovem gastasse 2 mil reais

    ecologiaPara que toda criaotenha vida e vida em plenitude

    comunicaoO selfie e a morte da experincia: o dia em que viramos de costas para o Santo Padre

    reportagemCoragem para mudar

    patrimnio histrico culturalReta da Penha

    ensinamentosModinhas versus jejume abstinncia: prescriese orientaes da Igreja

    20 32

    espiritualidadeAs migalhas

    de Deus

    viver bemOlhar crtico

    para a fofoca

    especialA violncia e a sua sade

    mental

    entrevistaMisso,

    espiritualidade, vida nova

    13 29

    dilogosPequenos gestos no

    Caminho Novo

    mundo litrgicoO louvor da criao

    24

    34

    arquivo e memria35

    05 atualidade

    16 ideias

    21 pensar

    22 caminhos da bblia

    27 sugestes

    42 pergunte a quem sabe

    46 acontece

    capa: Leonardo Quarto

  • Um mosaico dacrise de segurana no

    Esprito Santo

    atualidade

    A redao da Revista Vi-tria, mesmo correndo o risco de fazer desta editoria uma atualidade desa-tualizada, escolheu trazer para este ms algumas reflexes so-bre a crise de segurana que o Estado do Esprito Santo vive. Uma Revista mensal no pode tratar de factualidades, neste caso por duas razes, a primeira por conta de sua prpria na-tureza (Revista da Igreja Ca-tlica); a segunda por razes bvias de tempo (enquanto se apura, escuta especialista na cadeia dos envolvidos o fato j se tornou passado), corre-se o risco de propor a anlise de uma etapa que na hora da publi-cao j foi superada. Por isso, no vamos reportar os fatos, propomos aqui para reflexo daqueles que querem ir alm do senso comum ou do mais do mesmo, alguns pensamentos que coletamos durante estes tempos e jogam luzes sobre o

    caos na segurana. Ocasionalmente, nossa equipe esteve em um dos bairros considerado com alto ndice de violncia e em conversa infor-mal ouviu de alguns moradores: aqui a nossa rotina continuou normal, estamos acostumados a conviver com a falta de segu-

    rana. Sinceramente j vivemos momentos piores. No vamos identificar as pessoas e o bairro, pois o desabafo foi espontneo em meio a outros assuntos. Em outro bairro, tambm de pe-riferia, nos dias em que o co-

    vitriaMaro/2017 5

    Redao

  • [...] Se a imprensa no co-bre como deveria, imagino que deva ser mesmo difcil para al-guns grupos sociais aceitar que o medo, a violncia e a barbrie fazem parte do dia-a-dia do Esp-rito Santo, sobretudo para quem

    mrcio no abriu e os nibus no circularam, a ordem dada pelo comando clandestino foi de que poderiam abrir as portas at s 18h, pois eles (estavam armados) fariam a segurana do bairro. Poder ser este um momento para que as pessoas olhem a realidade saindo dos limites do horizonte em que esto acostumadas? Destacamos algumas opi-nies de Emerson Campos, Vitor De ngelo, Jacqueline Muniz, Leonardo Boff e Maurcio Ab-dalla, publicadas em portais e redes sociais.

    nunca entrou em um bairro de periferia dominado pela disputa do trfico de drogas, onde o esta-do no chega de forma alguma, a no ser fardado (e normalmente em condies no amistosas, para no dizer outra coisa. [...]

    emerson campos

    [...] mais absurda que a prpria situao e aqui no estou discutindo as motivaes ou a legitimidade do movimen-to dos policiais militares, tam-pouco a gravidade dos crimes cometidos nas ruas a acei-tao do discurso (elaborado e amplamente divulgado por toda a mdia) de que a violncia comeou no ltimo sbado (5 de fevereiro) e vai acabar quando a PM voltar. No vai. Para grande parte da classe mdia, a barbrie pode ter tido incio no ltimo sbado (5 de fevereiro). Para a periferia, ela o cotidiano. Os jornais s no mostram isso.

    Jornalista e doutorando no programa de ps-graduao em educao da Universidade Federal do Esprito Santo.

    Publicado em www.domtotal.com

    Existe jornalismo crtico no ES? At quando a cifra vai valer mais que a vida? Ou que o resultado do problema ser mais importante que a causa?

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    possvel se solidarizar com os militares como companheiros da classe trabalhadora (mesmo sabendo das condies precrias do trabalho) quando os mesmos se reafirmam manifestao aps manifestao (de professores, estudantes...), com balas e muita porrada, como pertencentes a uma outra categoria, que vive sob outro conjunto de leis e privilgios?

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    Ser que uma parte da soluo para a violncia que a classe mdia est testemunhando nestes dias (reforando: que existe no cotidiano dos mais pobres) no a desmilitarizao da polcia? Ou, pensando na extino e desarticulao dos grupos criminosos, a legalizao da produo, venda e consumo da maconha?

    2

    Ser que a classe mdia sabe que est experimentando uma amostra pfia do medo que os moradores da periferia vivem diariamente, provocado, inclusive, pela prpria PM? Que os mais afetados pelo movimento so os mais pobres, obrigados a atravessar o fogo cruzado do acerto de contas entre diferentes grupos criminosos?

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    atualidade

    vitria Maro/20176

  • vitor de ngelo

    Jacqueline muniz

    sileira, o governador do Estado, no o coman-dante-geral da PM e nem o chefe da Polcia Civil. Ento, a primeira pergunta a se fazer : cad o plano de contin-gncia? Mesmo que o gover-nador Paulo Hartung es-tivesse operado, h um governador em exerc-cio! Faz-se plano de con-tingncia quando o papa vem visitar, quando Ro-berto Carlos vai cantar em Cachoeiro de Itape-mirim e uma greve te pega de surpresa? Uma secretaria de segurana no sabe planejar uma emergncia? Ento o que mesmo que ela faz?

    Essas coisas no acontecem de um dia para o outro. Se o governador est sabendo que servidores de segurana pbli-ca ameaam entrar em greve, a primeira coisa a fazer - at para viabilizar uma negociao justa sem tornar a populao refm - um plano de emergncia que articule os poderes do Estado, mobilizando os recursos locais e os da Unio.

    Desde o primeiro momen-to, o governo deveria ter soli-citado a mobilizao da Fora Nacional e das Foras Armadas junto ao ministro da Justia e ao ministro da Defesa. Alis, uma das misses da Fora Nacional ser um recurso para garantir minimamente a prestao de servio popu-lao evitando o pnico e as prticas oportunistas que sem-pre ocorrem quando servios essenciais so paralisados. O Corpo de Bombeiros estadual, poderia ir para as ruas orientar a populao e evitar pnico, se for necessrio. Para estar em portas de escolas e em outros pontos estratgicos para que a vida na cidade no pare. A Polcia Civil tambm. preciso tambm dialogar com os municpios para mobili-zar a Guarda Municipal para os pontos de maior circulao de pessoas. A Guarda ostensiva e est cuidando dos munici-pais. Isso competncia dela e ela pode ser mobilizada em emergncias.

    O governo deve ir para a mdia, as redes sociais, para informar a populao sobre a pos-sibilidade de uma parali-sao total ou parcial da

    [. . .] aps a entrevista chapa branca (que esconde a realidade e favorece assuntos com vantagem para o entre-vistado) a Miriam Leito, na Globo News, na quinta noite, a mdia nacional e capixaba, em particular, incorporaram apenas o discurso oficial so-bre os fatos ocorridos no dia de ontem. Pouco ou nenhum espao foi dado ao outro lado dessa mesa de negociaes que est se mostrando farsesca.

    Doutor em Cincias Sociais e professor da Universidade

    de Vila Velha. Publicado em seu perfil no facebook

    BBC Brasil - Como voc avalia a atuao do governo do Esprito Santo nessa situa-o?

    muniz - O governo no pode se colocar como refm, como vti-ma da polcia. preciso lembrar que o coman-dante em chefe das pol-cias estaduais, de acordo com a Constituio bra-

    vitriaMaro/2017 7

  • atualidade

    polcia. Parte do medo reduzido com uma boa comunicao social.

    Era preciso tambm cobrar do movimento grevista o per-centual mnimo de prestao de servios, porque nenhuma categoria de servios essenciais pode parar completamente. Isso tem que ser feito para estabelecer uma oportunida-de de negociao, e no usar o terror como arma de troca, dizendo: Olha quantas mortes, vocs perderam a moral com a populao. Deixar mortes e assaltos acontecerem para ganhar na queda de brao no negociao, acirramento. Ento a pergunta : o go-verno apresentou sociedade o plano de contingncia logo no incio ou quis se beneficiar do pnico coletivo? A impresso que d que o governo apostou no quanto

    porque sabe que perde credibilidade, prestgio, reconhecimento e apoio da populao. E quanto mais esvazia o apoio da populao, menos chan-ces o movimento tem de conseguir implementar sua pauta.

    O movimento grevista pen-sou nesse mnimo necessrio, nos 30% do efetivo policial que deveria estar nas ruas? Eles deveriam ter convoca-do todos os policiais de frias, de licena, da reserva, para con-tribuir no policiamento, porque todos vo se beneficiar das me-lhorias conquistadas. Precisavam esclarecer a populao, fazer informes, mos-trar que os servios essenciais seriam mantidos. Por exemplo, a pronta resposta do 190 no pode parar. As porta-vozes do movi-mento erraram tambm porque

    pior, melhor para ter a popu-lao do seu lado. Isso est na conta do governo, sim. E no estou falando mal desse governo. Seja de esquer-da, direita, centro ou lado, preciso ter um plano de con-tingncia. Isso capacidade de governar. A gente demonstra que capaz de governar na emergncia. BBC Brasil - E o que es-taria na conta do movimento das famlias dos policiais, que deram incio greve?

    muniz - A polcia e o movimento das famlias tambm cometeram er-ros desde o incio. Como todo movimento reivin-dicatrio sabe, ele tem uma curva de ascen-dncia e uma curva de descendncia. Nem o prprio tra-balhador quer f icar eternamente em greve

  • leonardo boff

    maurcio abdalla

    ela e, no peito, para a farda da Polcia Militar que veste, e disse minhas paixes esto aqui.

    Telogo. Publicado em seu perfil no facebook

    Um recado para os poli-ciais militares que muitas vezes se incomodam com minhas cr-ticas duras ao violenta da PM nas manifestaes: a PM no agiu com violncia contra as manifestantes nas portas do quartel, pois l esto familia-res dos policiais. E se algum usar de violncia contra elas, imagino a sua revolta. Pois , nas manifestaes reprimidas com balas de borracha, bom-bas de gs, spray de pimenta e cassetete, estavam minha filha e meus alunos (que so como famlia). D para entender que no se deve usar de violncia contra quem sai em defesa de seus direitos? n

    Professor de Filosofia na UFES. Publicado em seu perfil no facebook

    virtude ou pela paixo exagerada sua causa. Governo, pela auste-ridade a ponto de no compreender que tam-bm o investimento na segurana e na polcia o que justifica ter as contas pblicas equi-libradas; Policiais, em no compreender que a luta justa s vale quando aplicada em prol tam-bm do povo mais so-frido, que sofre e morre ainda mais com ampla paralisao policial.

    [...] Recebi de um amigo um vdeo que se tornar nos prximos dias parte de um do-cumentrio sobre o momen-to pelo qual passa o Estado. O vdeo captou uma conversa entre uma jovem com seu ma-rido policial e uma cena, em especial, me chamou ateno. Num momento espontneo, a mulher, que est separada do marido-policial por um gradil, o indaga vale a pena passar por essa opresso toda? No gesto e na resposta do policial se revelou a cena que considerei mais significante no vdeo. O jovem fixou o olhar na moa e apontou com os dedos para

    precisam de uma pauta clara e factvel. No posso pedir o infinito porque no vou ganhar. Precisam esclarecer para a populao, desde o incio, se o que esto pedindo vivel, possvel. Se o aumento seria aceito dividido em 30 parcelas, por exemplo. No adianta dizer s Eu quero 40% porque no tenho aumento h trs anos. Voc tem que demonstrar para a populao que est dis-posto a negociar. E negociar diferente de fazer pirraa. O grevista no pode parecer um pirracento e o governo no pode parecer que faz beicinho e bate o p, como se fosse um cabo de fora.

    Doutora em Estudos de Polcia, professora do bacharelado em

    Segurana Pblica da Universidade Federal Fluminense e conselheira

    do Frum Brasileiro de Segurana Pblica. Ela deu aulas no curso

    de especializao da PM do Esprito Santo. Publicado em

    www.bbc.com/portuguese

    Governo e policiais pecam pelo rigor na

    vitriaMaro/2017 9

  • Justia com as prprias mos

    A crise na segurana no Estado do Esprito Santo mostrou uma das faces mais perigosas presentes na cultura humana desde os pri-mrdios: a sede de vingana. Era uma espcie de onda popular disseminando dio, intolern-cia e medo. O cenrio nos faz recordar as palavras do filsofo F. Nietzsche presentes na obra Genealogia da Moral: Oh, como eles mesmos esto no fundo dis-postos a fazer pagar, como eles anseiam ser carrascos! Entre eles encontra-se em abundncia os vingativos mascarados de juzes, que permanentemente levam na boca, como baba venenosa, a palavra justia. No cenrio da crise foi pos-svel ver a sede de vingana como forma de justia feita com as prprias mos numa espcie de dente por dente, olho por olho. Circula no senso comum expresses como bandido bom bandido morto ou Direi-tos Humanos para Humanos Direitos. No so expresses banais. Elas revelam o desejo de excluso violenta, do crimino-so como ente no humano, da convivncia social por meio de foras que agem sem princpios, sem leis, sem critrios, para o

    estabelecimento da justia. Como se desencadeia este processo to perigoso para a so-ciedade, muitas vezes sem meios para conter o sangue derramado pelas vtimas? No seio das cul-turas encontramos facilmente descritos os ritos sacrificiais e a escolha de bodes expiatrios, produzindo uma espcie de pu-rificao social. A morte de Jesus Cristo, decidida com o ato de la-var as mos de Pncio Pilatos, e, a escolha de Barrabs para ser liberto ao invs de Jesus, explicita bem esta prtica de escolha de um bode expiatrio de purifica-o social.

    Nos tempos atuais aumen-ta a descrena nas instituies pblicas no julgamento dos con-flitos e na aplicao das pena-lidades. Cresce tambm nesse meio a prtica corruptiva entre agentes e encarcerados. Alm disso, nosso sistema prisional pouco contribui para a recupera-o social das pessoas envolvidas com a criminalidade. O resultado o aumento da barbrie como vimos nas rebelies dos presos das penitencirias do norte e nordeste e de mais injustias ainda. Ento cresce o fenmeno conhecido como vingana pri-vada em que a pessoa ou grupo busca a reparao de um crime ou ofensa com as prprias mos, sem nenhuma medida de pro-porcionalidade. Aqui no Esprito Santo, alm dos casos privados, ficou muito conhecido o grupo organizado de extermnio cha-mado Scuderie Detetive Le Cocq, que se suspeita estar sendo rea-tivada. A humanidade desenvolveu ao longo da histria algumas ins-tituies capazes de conter esta fora instintiva de justia. As religies cumpriram e cumprem ainda um papel decisivo criando interditos, cdigos como Os dez

    opinio

    O crescimento da prtica da justia com as prprias mos no seio da sociedade brasileira vai minando a fora dos valores e das normas garantidoras da paz social. Esta o maior bem para a convivncia humana e sem ela cairemos num caos, numa anarquia, numa anomia

    vitria Maro/201710

  • edebrande cavalieri Doutor em cincias da Religio

    mandamentos no judasmo, e ameaas diversas. Na Bblia, o relato descrito em Gnesis 4 so-bre a morte de Abel, assassinado por seu irmo Caim, muito sig-nificativo em relao questo da vingana. Deus estabeleceu a punio ao assassino, e no era a sua morte como ele o fez com seu irmo. E ameaou qualquer outra pessoa que quisesse se vin-gar do assassinato nos seguintes termos: Portanto, qualquer um que matar a Caim, sete vezes ser castigado. Ou seja, o castigo de Caim no poderia ser a sua morte como era previsto na Pena de Talio do dente por dente, olho por olho. Mas a instituio mais de-cisiva para o controle da onda vingativa o estado. Chegamos tese central de defesa de um esta-do Democrtico de Direitos, pau-tado pelos princpios da justia e pelo Direito, que seja capaz de usar sua jurisdio para resolver os diversos conflitos. Portanto, o papel central do Estado est exatamente na capacidade de estabelecer a justia de modo equilibrado. E o que define este modo de exercer est pautado em princpios e leis, reconheci-dos pela prpria sociedade. No cabe apenas a administrao de

    penalidades, mas a criao de mecanismos capazes de impe-dir o surgimento de conflitos. Portanto, todo seu aparato ins-titucional dever zelar sempre pela responsabilidade social, pela justia social, cuidando princi-palmente dos setores de maior vulnerabilidade. Quando o Estado no cum-pre as responsabilidades reco-nhecidas pela sociedade, surge o sentimento de impunidade que desencadeia a onda de justia com as prprias mos. Imagina-se que uma vez que o Estado no executa, as prprias pessoas decidem executar por conta prpria. So recorrentes as notcias da presena de justiceiros, de milcias de extermnio, e tam-bm de linchamentos pblicos! Pesquisa feita pela USP entre 1980 e 2006 registra a existn-cia de 1.179 linchamentos no Brasil, numa mdia de trs por ms. A crise da segurana pode contribuir fortemente para o crescimento destas prticas no-civas prpria sociedade. Em razo disso, vivemos no Esprito Santo, recentemente, uma onda de terror e medo com inmeros saques, muitos roubos, e mais ainda, muitssimas mortes.

    H que se considerar ou-tro aspecto que tem contribu-do muito para o crescimento da prtica da justia com as prprias mos: o prprio Estado fraco em sua capacidade de agir pela vida; um Estado que mata jamais ser um Estado justo. A crise na segurana do Esprito Santo nun-ca poder ensejar, mesmo que isoladas, prticas de extermnio pela prpria fora policial. pre-ciso ter como lema a luta pelo Direito, onde as vtimas possam se defender. O crescimento da prtica da justia com as prprias mos no seio da sociedade brasileira vai minando a fora dos valores e das normas garantidoras da paz social. Esta o maior bem para a convivncia humana e sem ela cairemos num caos, numa anarquia, numa anomia. Na con-temporaneidade, h uma regres-so nas formas de convivncia social, pois vo enfraquecendo as estruturas normativas que garantiam a ordem social e os limites s condutas. Justia sim, mas praticada por aqueles que foram institudos e reconhecidos num Estado de Direito. n

    vitriaMaro/2017 11

  • Dose exagerada

    Omesmo remdio que cura pode causar s-rias sequelas, diz a sa-bedoria milenar. Tambm na economia poltica se aplica a cautela necessria diante das causas e das circunstncias dos principais males que a podem afetar. O bom funcionamento da economia depende de preos estveis, contas pblicas equili-bradas, crescimento econmico e gerao de emprego. Da a preo-cupao em serem mantidas sob controle indicadores de inflao; equilbrio fiscal; crescimento e emprego, respectivamente. Como so essencialmente fenmeno social, as relaes eco-nmicas so impossveis de se-rem sujeitas a experimentos em laboratrio. Ajustes na inflao, em contas pblicas, no cresci-mento e na gerao de empre-go e em seus desdobramentos negativos tm que ocorrer en-quanto agentes sociais, polticos e econmicos agem segundo seus interesses especficos. A complexidade socioeco-nmica precisa ser levada em considerao quando se decide priorizar um dos males da eco-nomia. A dose equivocada de ateno com o crescimento no perodo JK com seus 50 anos em

    5, por exemplo pode deflagrar processos inflacionrios nocivos sustentabilidade do prprio crescimento. A busca exagerada do equilbrio fiscal pode gerar instabilidade social e econmica que resulte em desequilbrios tanto fiscal quanto na sociedade como um todo. Ajustes promovidos s cus-tas de gastos sociais essenciais como sade, educao, segurana precisam ser evitados, como bem demonstram experincias recentes em pases europeus. No caso brasileiro ajustar as contas pblicas s custas de despesas investimentos! - sociais, equvoco, maior ainda luz de passivos com sua gente, acumu-lados historicamente. O governo do Esprito Santo claramente optou por priorizar o ajuste de suas contas como se emprego e crescimento fos-sem irrelevantes e arrumar as contas pblicas atravs de cortes de gastos sociais. Cortes cujos resultados perversos em servios essenciais j vinham

    sendo alertados por estudiosos da educao, sade e segurana. Alertas desconsiderados por autoridades na saga de tratar do mal que elegeram como maior. Os efeitos nocivos da dosagem exagerada do remdio sobre a educao e sade foram minimi-zados com comunicao social manipuladora. Manipulao insuficiente para encobrir sofrimento huma-no, esgaramento social e perdas econmicas como consequncia do sequestro ao qual est subme-tida a sociedade estadual. Resul-tado de alquimia equivocada que levou indesejada debilidade social e poltica, em estado que se quer, de economia forte. Que o triste experimento ca-pixaba sirva de aprendizado para evitar equvocos sobre equilbrio fiscal e suas nefastas consequn-cias no plano nacional. n

    economia poltica

    arlindo Villaschiprofessor de economia e coordenador do grupo de pesquisa em inovao e Desenvolvimento capixaba da UfeS

    O governo do Esprito Santo claramente optou por priorizar o ajuste de suas contas como se emprego e crescimento fossem irrelevantes e arrumar as contas pblicas atravs de cortes de gastos sociais

    vitria Maro/201712

  • A violncia e a sua sade mentalSegundo dados do Sistema de Informao de Mortalidade do Ministrio da Sade, mais de 1 milho de brasileiros foram assassinados entre 1996 e 2013, ocorrendo a cada ano um aumento dessa modalidade de extermnio. O nmero total anual de mortes por violncia no Brasil tem passado dos 120.000, metade delas de-corrente de assassinatos e a outra metade provocada por acidentes de trnsito. Esse nmero coloca nosso pas como o mais violento do planeta em termos absolutos. Portanto, no era de se estranhar, que tenhamos assistido nas ltimas semanas no Esprito Santo uma exploso da violncia. A violncia interpessoal impe-ra, especialmente contra mulheres, negros, homossexuais, deficientes fsicos, idosos e ndios. Nas famlias, a negligncia e o abuso de toda espcie contra esposas e crianas praticamente a norma em determi-nadas regies do pas. Tal violncia capaz de modificar a memria, de modo que esta no se renova, permanece insistente e paralisante, impactada pelo evento ameaa-dor e que provocou a paralisia da existncia. Assim, o indivduo que

    EspEcialDr. Valber Dias Pinto*

    experimenta uma situao trau-mtica pode ter sua sade mental afetada, vindo a desenvolver trans-tornos mentais como o Transtorno de Estresse Agudo e o Transtorno de Estresse Ps-traumtico. Histo-ricamente essas doenas estavam associadas apenas aos sobreviven-tes de guerra, mas atualmente o conceito mais amplo. A emoo que se torna dis-funcional a ansiedade. Ela til enquanto uma emoo normal e nos permite uma adaptao saud-vel diante das situaes que podem se apresentar. Contudo, ela um problema ao se tornar uma emoo exagerada e que impede uma adap-tao adequada diante dos eventos. Quando crnica e mal adaptada a ansiedade torna-se o estresse e o indivduo pode apresentar vrios sintomas fsicos e psicolgicos. bem verdade que nem toda pessoa exposta a uma situao de

    violncia ir necessariamente adoe-cer. Cada indivduo apresenta uma resilincia distinta que vai deter-minar sua capacidade de retomar algum tipo de desenvolvimento, apesar de traumas ou circunstncias adversas, superando a situao es-tressora. So fatores que melhoram nossa resilincia: otimismo, habili-dade social, capacidade de aceitar ajuda, ter um propsito de vida, valores morais e espiritualidade. Mesmo quem no vivencia uma situao de violncia, mas acuado em casa se percebe amea-ado, pode ser afetado pelo estres-se. Manter um bom padro de sono e alimentao, praticar atividade fsica regularmente e lembrar que nos cabe lidar apenas com o que acontece no presente momento so estratgias para o enfrenta-mento do estresse de maneira ge-ral, em especial em dias difceis como os que se apresentam. n

    *Mdico Psiquiatra e Professor Universitrio CRM-ES: 6408 RQE 7703

    Manter um bom padro de sono e

    alimentao, praticar atividade fsica

    regularmente e lembrar que nos cabe lidar apenas

    com o que acontece no presente momento so

    estratgias para o enfrentamento do estresse

    vitriaMaro/2017 13

  • Uma pesquisa feita em Londres descobriu que dormir mais de 7 horas por noite faz a pessoa perder peso. Os cientistas elencaram que o primeiro motivo que quem dorme pouco, tem mais tempo para comer; o segundo que uma noite de sono interrompido afeta dois hormnios-chave relacionados fome, dizem os pesquisadores. Alm

    Em Delfim Moreira, no sul de Minas Gerais, o engenheiro aposentado Z Claudio montou uma barraca de frutas, verduras e legumes, tudo orgnico, mas nunca est l para atender. As pessoas simplesmente pegam o que querem e deixam o dinheiro no caixa. H ainda uma srie de plaquinhas que explicam como o negcio funciona: Pague e leve, eu confio na sua honestidade, obrigado por ser honesto.

    Com um bilhete no banheiro do avio, a comissria de bordo Shelia Frederick ajudou a salvar uma jovem vtima de trfico humano que seguia viagem entre Seattle e So Francisco, nos Estados Unidos. A comissria passou a suspeitar que algo estava errado ao reparar a tenso entre uma jovem de 15 anos e um senhor mais velho e bem vestido que a acompanhava. A jovem, entre 14 e 15 anos, estava em estado deplorvel e totalmente em silncio. Depois de algum tempo observando os dois, a comissria decidiu pr um plano em prtica: deixar um bilhete no banheiro e, aos sussurros, dizer jovem para ir at l. Em resposta, a moa, que estava sendo sequestrada, escreveu que precisava de ajuda. A comissria informou ao piloto que, imediatamente, notificou a polcia. O homem foi preso assim que o avio pousou. O caso aconteceu em 2011, mas s foi narrado recentemente pela comissria que ainda se emociona ao lembrar o fato.

    Pesquisa aponta que dormir mais emagrece

    Barraca de produtos orgnicos sem vendedor

    Comissria de bordo salva jovem vtima de trfico humano em voo nos EUA

    fazer bem

    disso, alguns estudos sugerem que, quando somos expostos comida em um estado de privao do sono, h uma ativao maior em reas do crebro associadas com recompensa. Isso pode fazer com que escolhamos alimentos com maior teor de acar e gordura, ao invs de outras opes mais saudveis.

    vitria Maro/201714

  • Um escritrio de arquitetura australiano desenvolveu uma casa pr-fabricada capaz de produzir mais energia do que consome. Um dos segredos desta casa o sistema usado para o is olamento trmic o, que p ermite grande eficincia energtica. Para refrigerar a estrutura, so usados tubos subterrneos que puxam o ar frio da terra e transferem a

    Rapaz, esse seria o compressor mais caro da sua vida, disse o mecnico ao empresrio Omar Monteiro Junior, de 27 anos, quando procurou uma terceira oficina para descobrir um problema no seu carro. O mecnico descobriu que no havia nada quebrado. Era s um fio solto: o cabo do ar condicionado estava desplugado. O mecnico fez o servio e no cobrou nada. O empresrio ficou to feliz com a honestidade, que fez um post no Facebook contando o que aconteceu e indicando a oficina para os seus seguidores.

    Casa pr-fabricada sustentvelgera mais energia do que consome

    Mecnico honesto evitou que jovem gastasse 2 mil reais

    refrigerao para o interior da casa. A energia produzida a partir de placas fotovoltaicas. Temos cinco quilowatts de energia solar no telhado, explica McCorkell , um dos arquitetos responsveis. Os vidros aproveitam o aquecimento e luminosidade naturais e os moradores tambm contam com um jardim c omestvel, instalado dentro da prpria casa. Dessa forma, a casa consegue produzir mais energia do que o necessrio para o seu abastecimento.

  • Quantas guerras terei que vencer por um

    Fazer um caminho todo de dificuldades no se faz seno numa forte e bonita opo pela vida. Ningum se lanar aos comba-tes da vida seno em funo de um futuro bom para as novas geraes. prprio da luta exigir o desligamento do prprio eu. Ir sem importar-se tanto consigo mesmo. O que move um corpo na luta o sonho de vida. E a vida sempre extrapolar o prprio ego e o prprio corpo. A semente tem que morrer. Ah, preciso que os sonhos nos apontem possibilidades para o amanh mesmo que isso parea uma impossibilidade. Sim, isso preciso, mesmo quando a realidade dura nos ameace e tente nos impedir essas vises. Ningum razoavelmente responsvel seguiria com Moiss pelos desconsolos do deserto se no sonhasse na longa e sofrida jornada uma possvel sada. No me importa saber se

    terrvel demais, quantas guerras terei que vencer por um pouco de paz, e amanh, se esse cho que eu beijei for meu leito e perdo, vou saber que valeu delirar e morrer de paixo. E assim, seja l como for vai ter fim a infinita aflio. E o mundo vai ver uma flor brotar do

    impossvel cho. (Chico Buarque) Que sadas h no deserto? Por todos os lados os horizontes se assemelham em empecilhos. Que sadas h no deserto se ali mui-tos sucumbem s tentaes, porque se ali esto os mandamentos

    pouco de paz?

    ideias

    Queremos segurana e paz, mas esse

    nosso querer est eivado de egosmo

    porque no foi capaz de escolher o

    mesmo para os outros

    vitria Maro/201716

  • que nos guardaro, ali tambm esto as mais poderosas tentaes, aquelas que nos iludem com poder. No por acaso no meio do deserto que se tem a oportunidade mais singular e especial de se retomar as opes fundamentais a favor da vida. No por acaso os man-damentos foram paridos no meio do caminho, no meio do deserto. Ali, com Moiss, eles tiveram a oportunidade de retomar as escolhas felizes que haviam feito: Vida melhor para os filhos. No necessariamente vida melhor para si mesmo. No por acaso isso exige uma escolha. Se quiseres... Diante de ti esto muitos horizontes e rumos: egosmo e generosidade, preguia e nimo, medo e destemor, covardia e brio... para o que quiseres podes estender as mos, podes dirigir teus passos (conforme Eclo15,17). O que vivemos hoje, diria o budis-mo em suas ternas lies, veio at ns por nosso prprio convite. O que vive-mos hoje de um modo ou de outro foi

    construdo por todos. Somos ardorosos reivindicadores de paz, mas desleixados na lavoura onde mais e melhor poderia florescer a justia. H uma relao entre o que vivemos e acreditamos com os acontecimentos que se deram com a chamada greve da PM-ES . E o ocorrido talvez fale de nossa mudez e incoerncias: queremos segu-rana e paz, mas esse nosso querer est eivado de egosmo porque no foi capaz de escolher o mesmo para os outros. Que nome daramos a isso? Precisamos admitir nossa participao no mundo que a est erguido. Ns o levantamos e o mantemos. Estamos no meio de um caminho todo feito de dificuldades. H muita estrada pela frente. O acontecimento que nos envolve e nos desafia oferece-nos a lembrana dos sonhos de vida que sempre tivemos. hora de retomar a vida, e retomar com vigor a opo pela vida de todos. E no vamos negar nossa hipocrisia, primeiro passo para super-la, as tentaes nos fizeram su-cumbir. Vivamos debochadamente a iluso de que a paz pode ser desfrutada sem escolher a justia e a repartio dos bens do mundo entre todos. Bem dizia Paulo VI: Examinai a direo de vossos passos, estais talvez de novo errando o caminho. Detende-vos e refleti. A paz o primeiro e sumo bem de uma sociedade que supe a justia. n

    pouco de paz?

    Dauri Batisti

    vitriaMaro/2017 17

  • As migalhas de Deus

    Toda criatura, mormente o ser humano, tem sede de Deus. Todos ns fomos criados por Deus para realizar a viagem desta vida fazendo o bem e, aps a nossa morte, festejar eternamente na Cidade Celeste. Simples assim! Infelizmente nossa falta de f faz com que compliquemos a maravilhosa arte do bem viver. Falta-nos humildade e sobra orgulho. Temos dificuldade em aceitar nossa pequenez e limita-es e, na nossa comum mania de grandeza queremos competir, no somente entre ns, para ver quem ser o maior, mas, compe-timos at com Deus. Ao longo da histria, desde Ado e Eva, ns queremos impor

    nossa vontade embora repita-mos com frequncia: Seja feita a vossa vontade assim na terra como no cu. No fcil aceitar as prprias fraquezas e limitaes. No fcil no ter o controle de todas as situaes da nossa vida, sobretudo quando enfrentamos problemas maiores do que ns e no conseguimos achar sada ou explicao para os aconteci-mentos que nos angustiam. Tambm do ponto de vis-ta espiritual no fcil sentir certa ausncia ou silncio ou de-mora de Deus. Encantou a Jesus a f daquela Cananeia que na sua pequenez, contentou-se com as migalhas que caiam da mesa de Deus. De fato, creio que na maior parte da nossa vida temos que

    nos contentar com as migalhas de Deus. Nossa inteligncia deve humildemente aceitar as miga-lhas teolgicas que caem da mesa divina. Nossas atividades pasto-rais, s vezes, so literalmente migalhas diante de to grandes e complexas necessidades do nosso povo. Aqui est o milagre da mul-tiplicao das migalhas com as quais Jesus continua alimentando e transformando a realidade. A construo do Reino feita com migalhas divinas e tambm com as migalhas humanas divinizadas pela fora de Deus. Quando a sbia e realista Cananeia acolheu com amor e simplicidade as migalhas que Jesus lhe ofereceu, as coisas se transformaram: Mulher, gran-de a tua f! Seja feito como queres! E a partir daquele mo-mento sua filha ficou curada (Mat. 15,28). n

    espiritualidade

    a construo do reino feita com

    divinizadas pela fora de deus

    Dom Rubens Sevilha, ocdBispo auxiliar da arquidiocese de Vitria

    migalhas divinas e tambm com as migalhas humanas

    vitria Maro/201720

  • pensar

    Foto

    : Mar

    cus T

    ulliu

    s

  • Chamados comunho no seguimento de Cristo

    se ao de Deus ao criar o homem, o autor do texto revela o cuidado divino comparvel ao de um arteso que se debrua sobre sua tarefa de criar uma obra prima, partindo de um material to frgil quanto a argila. De fato, o homem foi criado por meio do amor de Deus que lhe ofereceu de si mesmo, seu hlito de vida, seu esprito. Tudo isso, a fim de que o boneco de barro se tornasse um homem vivente, chamado comunho e intimidade com o seu Criador. O pecado do homem um rompimento com a comunho com Deus, a qual ele chamado por vocao. Como consequncia, o homem lanado na terra seguindo a sua prpria sorte devido s suas prprias escolhas. A proposta de comunho e vida de Deus para o homem desvirtuada pelo discurso da serpente, que perverte o que o amor divino props, a fim de que o homem se afastasse daquele que lhe conferiu a vida. A serpente era um animal que representava os ritos de fertilidade pagos, com os quais Israel sempre teve que lidar, muitas vezes sucumbindo tentao de se dirigir a tais

    J no incio da Quaresma, a liturgia pro-pe uma parte do livro do Gnesis que traz o relato da criao da humanidade. O texto no tem o intuito de oferecer res-postas histricas e nem mesmo cientficas sobre a criao do universo e do prprio homem. Todavia, deseja apresentar algu-mas das questes fundamentais que dizem respeito ao sentido da vida, qual a origem do homem, qual o seu propsito de estar aqui. O homem procura as suas prprias razes e nessa busca contnua, comete erros e acertos nesse seu caminho de encontro consigo e com Deus. Diferentemente de todos os mitos que circulavam ao redor dos autores do livro, na poca em que fora escrito em terras babilnicas, os escritores sagrados relatam a criao do homem da argila, exaltando o fato de que o mesmo ganha vida com o sopro que sai da boca de Deus. O homem foi criado frgil, pequeno, inconsistente, mas com a dignidade e a be-leza de ser imagem e semelhana de Deus, chamado comunho com ele. Ao utilizar o verbo plasmar para referir-

    caminhos da bblia

    vitria Maro/201722

  • Chamados comunho no seguimento de Cristo

    espaos para l oferecer os seus sacrifcios. Pela boca desse animal vem apresentada ao homem uma exegese enganosa da Palavra de Deus, algo que seduz o corao do ho-mem que acaba por preferir a voz do dolo aquela de seu Criador. Sendo assim, a inti-midade e comunho, originrias da relao da humanidade com Deus, que por amor criou o homem e a mulher sua imagem e semelhana, do lugar vergonha e fuga. O homem foge e se esconde de Deus por perceber que rompeu com ele a comunho que lhe garantia a intimidade e a bno. Na postura de Ado percebe-se o afas-tamento de Deus e a escolha da voz do dolo, representado pela serpente. Na longa estra-da de Israel em seu caminho pelo deserto, a escolha no foi diversa, pois o povo prefere se dirigir aos dolos e abandona a confian-a na providncia divina. Nos dois casos a busca da proteo e segurana, mesmo que infundadas, levaram a humanidade a se afastar daquele que lhe podia garantir a vida. Jesus, por sua vez, no sucumbe ao diabo, ao divisor, aquele que separa e distancia, ao

    contrrio, no se afasta do projeto de Deus que de comunho e de grande confiana. Ele sai vitorioso onde Ado e todo o Israel se perderam, ao depositar a sua total confiana em Deus ele vence a tentao e abre espao para que os seus discpulos sigam o mesmo caminho. O prprio Jesus indica um caminho possvel para os seus discpulos, no qual devem trilhar para viverem, no deserto de suas prprias vidas, em comunho com Deus. Enquanto Ado se afastou de Deus e o de-sobedeceu, perdendo assim a comunho e a graa, Cristo, de forma inversa, buscou o Pai e na intimidade com Ele se fortaleceu e saiu vitorioso sobre as tentaes. Desse modo, a estrada aberta e indicada pelo Senhor uma via para todos os que desejam trilhar o caminho do discipulado missionrio, isto , viver na comunho com o Senhor que ga-rante a graa e a fora de serem obedientes e fiis ao projeto de amor de Deus. n

    Pe. andherson Franklinprofessor de Sagrada escritura no iftaV e doutor em Sagrada escritura

    vitriaMaro/2017 23

  • vitria Maro/201724

    DilogoS Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc. Arcebispo de Vitria ES

    Muitos cristos no perodo quaresmal fazem ques-to de assumir um gesto que expresse o seu compromisso pessoal neste perodo especial de preparao para a Festa da Pscoa. Crianas, jovens e adultos, esco-lhem algo que os levem a abster-se de algo que muito lhes agrada. Ora algum deixa de tomar refrigerante durante toda a quaresma, ora al-gum deixa de consumir bebidas alcolicas, ora algum deixa de co-mer carne durante todo o perodo quaresmal. Por que esta abstinncia? Por que este Jejum? Por que esta pe-nitncia, s vezes radical, como a de no comer carne num perodo de quarenta dias? H uma razo profunda que movida pela f. A Festa da Pscoa o ponto maior da f crist. Celebramos o Mistrio da Paixo, Morte e Ressurreio de Nosso Senhor Jesus Cristo que se revelou para ns como Palavra de Deus que se fez humanidade. A mesma Palavra eficaz e Criadora de Deus Pai Misericordioso. Esta Palavra Criadora veio revelando-se paulatinamente na histria da humanidade para dar uma nova

    Pequenos gestos no Caminho Novo

    chance s criaturas de se arre-penderem do rompimento que fizeram no princpio, escolhendo erradamente e caindo nas trevas do egosmo e no isolamento. A Pa-lavra Criadora veio para recriar a humanidade dar-lhe chance para uma nova opo, a opo funda-mental, desta vez, para o Amor Eterno. A Palavra se Revelou Deus Amor, Caridade! Jesus a Palavra que assumiu sobre si as conse-quncias dos nossos pecados e ensinou-nos a escolher e seguir um Caminho Novo, o Caminho da Caridade, Caminho Pascal! Na quaresma estamos prepa-rando-nos para a celebrao deste Caminho Novo, pela fora do Esp-rito, a Palavra Redentora implantou no corao da humanidade o Amor Eterno, uma Aliana indestrutvel que culminar na comunho com a Santssima Trindade para sempre. deste Lugar, do Alto, que vem a inspirao e fora para os peque-nos gestos dos cristos no tempo da quaresma, tempo do carinho e ternura de Deus correspondido por aqueles que creem no Amor e procuram ser amorosos e caridosos no caminho da Pscoa! n

    vitria Maro/201724

  • vitriaMaro/2017 25

  • A Campanha da Fraterni-dade 2017 traz o tema Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida e tem como lema Cultivar e guardar a Criao. Os Biomas so ecossistemas especficos ca-racterizados pelo conjunto das comunidades vivas (peixes, ps-saros, mamferos) e elementos no-vivos fundamentais para a vida (oxignio, gua, temperatu-ra). No Brasil existem 6 Biomas: Amaznia, Cerrado, Caatinga, Pantanal, Pampa e Mata Atln-tica. Mesmo com um pas to biodiverso, o estado do Esprito Santo composto majoritaria-mente pela mata atlntica (93% do estado j foi coberto pelo bio-ma). Esse bioma caracterizado pela presena de uma intensa vegetao arbrea com rvores de grande e mdio porte com folhas largas. A mata atlntica o bioma

    Para que toda criao tenha vida e vida em plenitude

    com maior biodiversidade do mundo, ou seja, nosso bioma caracterizado por ter o maior nmero de espcies diferentes. Por ser uma floresta que vive na fronteira com o oceano atlntico (por isso o nome mata atlntica), boa parte da umidade vem para o continente e pela presena das inmeras cadeias montanhosas, grande parte da gua das nu-vens fica retida no nosso bioma fazendo com que haja um den-so ciclo hidrolgico responsvel pelo aparecimento e manuteno das nossas belas nascentes, rios, lagos e diversos corpos dgua que saciam 70% da populao brasileira. Mesmo portando boa parte do patrimnio hdrico do pas e com maior biodiversidade do planeta a mata atlntica his-toricamente sofreu muitas dores desde o descobrimento. O pro-cesso de colonizao do Estado, o ciclo do pau Brasil, o ciclo do caf (em que o Estado foi desta-que), o ciclo da minerao e at mesmo processos desordenados recentes de urbanizao fizeram com que a mata atlntica fosse suprimida, restando-se apenas 8% de sua cobertura vegetal no Pas, cerca de 5,5% esto no ES, agrupados em 7 fragmentos que a duras penas esto sendo pre-servados junto aos rgos pbli-

    cos e a coletividade com a ajuda do Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC), criado em 2010 que visa identificar e proteger a integridade dos nos-sos biomas. As unidades mais famosas no ES so: O Parque Na-cional do Capara, a Estao Bio-lgica Santa Lcia, o Monumento Natural dos Pontes Capixabas, as Reserva Biolgicas de Augusto Ruschi, Sooretama e Duas Bocas, os Parques Estaduais de Itanas, Paulo Csar Vinha, Forno Grande e Pedra Azul e os Parques Muni-cipais da Fonte Grande e Gruta da Ona entre outros. Muitos so os nossos desafios atuais. Mesmo com o auxlio das recentes pol-ticas pblicas, a perversidade do modelo de desenvolvimento se destaca frente luta pela defesa dos nossos Biomas. Prova disso a BR-101 no seu quilmetro 25, que corta a reserva de Sooreta-ma, dados dirios de atropela-mentos mostram que cerca de 20 mil animais silvestres morrem atropelados por ano neste trecho. Em meio aos desafios cotidianos da criao, resta-nos a reflexo: Ser que a criao est vivendo abundantemente? n

    ecologia

    Gustavo Silvaprofessor extensionista de ecologia e pesquisador na rea da educao na UfeS

    vitria Maro/201726

  • Um livro muito interessante, que li recentemente, foi o romance A livraria mgica de Paris, da alem Nina George. A histria uma verdadeira ode leitura! Trata-s e das aventuras de Jean Perdu (nome sugestivo, pois perdu significa perdido em francs), pacato livreiro de Paris, que comanda um barco-livraria, a Farmcia Literria. L, no o autor

    Um dos melhores lbuns desta dcada Zaz, de 2010. Para quem no conhece, Zaz o lbum homnimo de uma das mais sensacionais cantoras da atual cena francesa. Nascida como Isabelle Geffroy, Zaz anda revolucionando o pop daquele pas, trazendo em suas composies elementos do jazz, msica cigana e do tradicional parisiense. Um feito e tanto para uma cantora de lngua francesa, num mundo que tende a consumir preferencialmente o pop anglfono. Sua voz impressionante, soando, s vezes, idntica a um trompete. Por essas e outras faanhas, Zaz tem sido comparada at clebre dith Piaf. Se voc ainda no ouviu nada da cantora, comece com a deliciosa Je veux. Msica irresistvel!

    livro

    filme

    disco

    por anaXimanDRo amoRimescritor e membro da academia esprito-Santense de letras

    sugestes

    Adorei assistir ao filme Chocolate (Frana, 2016), de Roschdy Zem. Trata-se de uma histria verdica. No incio do sculo XX, Raphal Padilla foge do Cuba e imigra para a Espanha. De l, ele vai se radicar na Frana, tornando-se o primeiro palhao negro do pas, sendo conhecido por Chocolate. O filme protagonizado pelo maravilhoso Omar Sy, ator que ficou muito famoso por interpretar o criado Driss, do grande sucesso Intocveis. A histria linda e comovente. No final, fica a impresso de que, mesmo aqueles que tm tanto talento para nos fazer rir, escondem tristezas em seus coraes.

    que compra o livro que quer, mas o que Perdu receita, como remdio da alma. Apesar do olho clnico, o livreiro tambm esconde seus sofrimentos. Sua vida muda quando ele resolve descer pelo rio Sena, aps receber uma carta de sua grande amada, buscando se reconciliar com seu passado e conhecendo lugares e autores dos mais interessantes.

    vitriaMaro/2017 27

  • Uns ou outros podem at contestar, mas preci-samos admitir que, via de regra, sair para jantar com a pessoa querida ou conhecer uma nova cidade j no parece ter a mesma magia sem um ce-lular carregado e com acesso internet. Isso porque, viciados em imagens, acreditamos cega-mente que preciso registrar e compartilhar cada momento para garantir sua validade. O resul-tado disso? Estamos matando a experincia com selfies. Sei que a tese supracitada pode parecer desconcertante, mas permitam-me explicar. En-quanto contemporneos s redes sociais online, nossa existncia se d em uma sociedade marcada pela supersaturao dos nossos sentidos a partir de uma mul-tiplicao exponencial de ima-gens que superam de maneira imensurvel nossa capacidade de consumi-las. O resultado de tal frenesi, conforme analisa o fil-sofo Christoph Trcke, que ex-perimentamos um descolamento no sentido fisiolgico daquilo que anteriormente significou sensa-o: hoje a imagem sensacional parece valer mais que o sentir. E assim, na busca de alimen-

    Permitam-me ilustrar com um breve relato. No ltimo janei-ro estive com minha famlia na audincia com o Papa Francisco, no Vaticano. Haviam aproxima-damente cinco mil presentes. O objetivo de todos era ver o Santo Padre e ouvir sua mensagem, cor-reto? Errado. Em sua maioria, os fiis buscavam o melhor ngulo, a melhor foto. Ao invs de expe-renciar a presena do Sucessor de Pedro, a maioria preferiu de-dicar os esforos produo de imagens que permitissem, em um momento posterior, verificar se tinham conseguido estar ou no com o Papa. Teve quem virasse de costas em sua passagem para tentar um selfie. Por isso, por mais dura que a tese neste artigo possa parecer, preciso destacar que mais de-vastadoras so as consequncias da vitria do selfie sobre a ex-perincia. E no h uma grande soluo a ser proposta, a no ser: na prxima viagem, deixe o celular o maior tempo possvel desligado. A lembrana do mo-mento ser muito mais rica que qualquer imagem. n

    comunicao

    O selfie e a morte da experincia: o dia em que viramos de costas para o Santo Padre

    tar o corpo com sensaes imag-ticas, inventamos, sem perceber, novo sentido semntico para o verbo existir. Tal como ocorreu com Gregor Samsa, personagem kafkaniano metamorfoseado em um gigantesco inseto, testemu-nhamos a famosa citao de Ren Descartes (1596-1650) ressurgir com uma assustadora e cascuda reinaugurao terminolgica: posto, logo existo. Trocando em midos: voc e seus amigos se reencontram aps anos e, ao invs de conversar, tratam logo de passar a noite tentando o selfie perfeito; ou o pnalti decisivo para o seu time marcado e, mesmo no estdio, voc assiste cobrana pela tela do celular enquanto filma. Esta-riam as imagens vencendo o real? Muitos filsofos contempo-rneos defendero que a vir-tualizao do real. Eu no diria isto. Acredito sim que falamos da dura vitria da vivncia rasteira (Erlebnis) sobre a experincia verdadeira (Erfahrung), como j constatava o filsofo Walter Ben-jamin (1892-1940) sua poca. Ou, talvez, da postergao da ex-perincia autntica para uma experincia forjada a ser vivida em outro momento na tela.

    emerson camposJornalista profissional e professor de Jornalismo

    vitria Maro/201728

  • o projeto de ressocializao reeducao do imaginrio, aplicado pelo juiz mrcio umberto bragaglia, titular da vara criminal de Joaaba, em santa catarina, mostra que o problema do sistema carcerrio no brasil pode ter soluo. em uma entrevista por telefone o juiz conta como funciona o projeto e prope ideias para que a atual situao carcerria do pas possa ser resolvida.

    andressa mian

    Misso, espiritualidade, vida nova

    vitria - O senhor coordena um projeto de ressocializa-o com presos fazendo uso da literatura como instru-mento de transformao. No que consiste o projeto, como ele aplicado e como ele sur-giu, ou seja, de onde veio a ideia, a inspirao?mrcio - O projeto surgiu no ano de 2012 quando, inspirado pelas aulas que tive com o pro-fessor Olavo de Carvalho, fil-sofo brasileiro, resolvi aplicar a leitura de obras edificantes mo-ral e espiritualmente a presos que quisessem participar, em troca da diminuio da pena. O professor recomendava a leitura de grandes clssicos da literatura que lidassem com exemplos de vida e implicaes das decises morais. O projeto consiste nas leituras de obras clssicas, de valor reconhe-cido pela histria, avaliadas previamente pelo juiz e por uma equipe. As obras escolhi-das tratam de fenmenos da responsabilidade pessoal, da ideia de certo e errado, de justo

    e injusto e das consequncias dos atos. O objetivo focar sem-pre na melhora da personali-dade dos presos, na ideia de que eles podem compreender melhor seus prprios erros e

    as consequncias de seus atos criminosos na vida das pessoas inocentes e arrepender-se de uma forma mais profunda. Des-sa forma, o projeto visa tentar diminuir a reincidncia crimi-nosa.

    entrevista

    vitriaMaro/2017 29

  • vitria - Que retorno, com relao s atitudes dos presos, o senhor j observou com esse projeto? Existe uma adeso grande por parte deles? mrcio - Conquistamos o interes-se do preso em participar desse projeto com o fenmeno jurdico da remisso, que um instituto que a lei de execuo penal prev. Ento, como ningum quer ficar preso, obvio que diminuir a pena em troca de algo, via-de-regra, interesse dos presos. Os que aderem tomam gosto pela leitura, tanto que, alguns que saem em regime aberto, s vezes, pedem para levar livros, ou pedem orientaes sobre como continuar a leitura depois. Vemos que muitas vezes os presos gostam de livros especficos e comentam com bas-

    tante paixo, nas entrevistas, a leitura de algumas peas de Sha-kespeare como Otelo, Macbeth, ou mesmo Grandes Esperanas, de Charles Dickens. Tem tpicos nesses livros que lidam com crime, com cumprimento de pena e isso os tocam. Vemos a melhora na capa-cidade de expresso, na comuni-cao por escrito, na capacidade de expressar ideias de forma or-denada. Percebemos tambm nas entrevistas, depoimentos sinceros no sentido do arrependimento, at confisses que no havia nos processos. Isso demonstra uma melhora na capacidade de discer-nimento moral dos presos. O outro fato aparece na dimi-nuio drstica das reincidncias criminosas da nossa regio, talvez uma das mais baixas do Brasil. Na minha tica o projeto colabora para que os presos tenham um arrependimento mais profundo das consequncias dos seus atos.

    vitria - A atual situao do sistema prisional brasileiro sempre foi motivo de preocupa-o da Igreja e de entidades que defendem os direitos humanos. Como o senhor avalia o sistema prisional no Brasil, e em sua viso, o que necessrio ser feito para que a situao seja melhorada ou resolvida?mrcio - No h dvida nenhuma que o sistema carcerrio do Brasil bastante falido, defasado com relao ao resto do planeta. En-

    tretanto, no podemos confundir dois fenmenos; o sistema precisa de uma reforma e uma mudana estrutural gigantesca e o fenme-no que as pessoas tm sim que permanecer presas para cumprir pena por conta dos crimes graves que praticaram. Ento, na minha tica, sem dvida nenhuma no a soltura de pessoas ou a aplicao de penas alternativas a criminosos peri-gosos que resolver o problema. Acompanhamos umas medidas da Justia para tentar resolver o problema. Algumas so muito po-sitivas como a construo de novos presdios, por exemplo, o que uma obviedade. Mas eu sou contra a construo de super presdios, com milhares de vagas. Na minha tica, em cada cidade onde h uma comarca pelo menos, para poder administrar a situao, deveria ter o seu presdio. Ns temos que ter milhares de presdios pequenos e bem organizados e com rigor e dis-ciplina no cumprimento das penas e no alguns presdios gigantescos onde reinam a desordem e o des-controle. Em pequenos presdios possvel, com uma estrutura mais concisa, menos agentes, estruturas tecnolgicas eficientes, como as que temos aqui em Joaaba, para bloquear telefone celular, impe-dindo fomento do crime organi-zado. possvel manter as celas sempre limpas e organizadas. Aqui no presidio, embora tenhamos mais gente do que vagas, como

    entrevista

    vitria Maro/201730

  • acontece em todo o pas, temos um cuidado mximo para que as condies de sade, higiene e de vida dentro unidade sejam dignas, mas sem que isso implique em qualquer direito especial que a lei no prev para o preso. Por outro lado, necessrio manter alguns presdios grandes para os criminosos de extrema periculosidade, que no podem se misturar aos demais, pois conta-minam o sistema com a ideia do crime organizado.

    vitria - Na Unidade Prisional de Senador Guiomard, no Acre, presos tiveram a oportunidade de fazer um curso de Horticul-tor Urbano. Eles receberam di-ploma e fizeram uma horta no presdio. Foi dado a eles uma oportunidade, assim como ocor-re no projeto coordenado pelo

    senhor. A resoluo do proble-ma est nesse caminho, oferecer oportunidades? mrcio - Parece-nos que sim. Existe a ideia preconceituosa de que o preso, em geral, um va-gabundo que no quer trabalhar. Claro, pode haver um ou outro com a personalidade muito difcil, mas a regra , se o preso tem qualidade aceitvel dentro do cumprimento da pena, tem seus direitos respei-tados, tem o rigor da disciplina que um presdio tem que ter, ele vai querer trabalhar. Aqui tambm temos horta, toda alimentao preparada por eles mesmos, claro que com super-viso de toda a equipe carcerria. Existem empresas conveniadas que oferecem a eles servios de fabricao de lajes, costura de sapatos, recuperao de mquinas e at trabalhos externos para al-guns, dentro do regime semiaber-to com fiscalizao. Ento sempre que houver trabalho melhor, pois isso ocupa a mente do pre-so. Se h a condio de trabalhar de forma fiscalizada, a ordem do presdio ser mantida com mais facilidade e os presos ficaro mais contentes. Mas quem est preso est ali para pagar uma pena, no pode haver ali um parquinho, um lugar de diverso. Tem que ha-ver ordem, disciplina e restrio ao direito de liberdade para que no valha a pena cometer outros crimes.

    vitria - O senhor acredita que

    todo preso tem recuperao?mrcio - Essa uma questo ex-tremamente complexa, de fundo filosfico e espiritual. Como es-tamos falando com uma revista da Igreja Catlica, eu posso ficar mais confortvel para falar desse assunto. Eu sou um catlico, ento eu entendo que diante da Graa Divina tudo possvel, inclusive a converso dos pecadores mais terrveis e mais inveterados que existem. Se acho que isso na prtica 100% possvel, evidente que no. Depende de muitos fatores, entre eles da graa divina, da vontade, da intercesso do Esprito Santo sobre a pessoa, mas temos que trabalhar cada caso, tentando re-cuperar. Se for possvel recuperar um ou dois em cem. Ento, a con-verso pode acontecer at na hora da morte. Quantos so os casos na humanidade que isso aconteceu... Isso no invalida por outro lado a ideia de que a pena tem que ser extremamente rigorosa. Veja, at a pena de morte, que uma pena extremamente polmica, nem isso impede que se viabilize a discus-so da recuperao definitiva de algum. Porque no ltimo segun-do, mesmo algum condenado morte pode se converter e ter sua alma salva. A recuperao depende de uma srie de fatores, depende da tomada de conscincia, mas tambm de cada uma das oportu-nidades que so dadas para isso, e principalmente da resposta graa divina. n

    O objetivo focar

    sempre na melhora

    da personalidade

    dos presos, na ideia

    de que eles podem

    compreender

    melhor seus

    prprios erros

    vitriaMaro/2017 31

  • Voc conhece algum fo-foqueiro? Aquela pessoa que sabe da vida de todo mundo e gosta de fazer esta in-formao circular? Muitas vezes a figura do fofoqueiro retrata-da na literatura, no cinema ou mesmo nas novelas de maneira bem ldica. No nosso dia a dia nos deparamos com uma srie de pessoas assim, s que no to engraadas quanto as da fico. Muita gente se esquece de que uma fofoca pode prejudicar muito a vida de algum. Muitos jovens sofrem nas escolas com histrias que so passadas pelos colegas que, muitas vezes, no condizem com a verdade. Isto acontece nas empresas, fam-lias, crculos de amizade e por a vai.

    Na histria da comunicao podemos considerar a fofoca como o meio de comunicao de massa mais antigo da humani-dade. Muito antes da escrita as pessoas trocavam informaes atravs do boca a boca e muitas vezes era um verdadeiro telefo-ne sem fio j que no decorrer do ouvi dizer as histrias iam so-frendo pequenas modificaes. O problema mais srio quando estas fofocas ajudam a propagar boatos. Pode pare-cer a mesma coisa, mas o boa-to uma difamao disfarada de comentrio inocente que, muitas vezes, motivada pela inteno de prejudicar algum. Hoje por conta dos avanos da tecnologia estes boatos se propagam a distncias enormes

    Olhar crtico para a

    e com uma velocidade incrvel, principalmente nas redes so-ciais e absurdamente atravs da prpria imprensa. O que no falta nos dias de hoje so mensagens enganosas e mesmo levianas que recebe-mos pelo WhatsApp, Facebook e email, alm de jornais, rdios ou televiso. Muita gente por conta deste tipo de informao pode ter medo, julgar errado, bater panelas ou at mesmo difamar um inocente. No pense que voc no faz parte disto por s repassar a informao. Assim voc pode estar ajudando a perpetuar uma mentira. Infelizmente, no caso da manifestao das mulheres e

    Vander Silvaviver bem

    vitria Maro/201732

  • familiares de policiais militares, no incio de fevereiro passado, no faltaram informaes de-sencontradas e vindas inclu-sive da prpria imprensa. Se a situao por si s j era um caos, com os boatos ficou mais difcil. Depois no adianta o secretrio de segurana do estado mandar perguntar ao Bonner. O estrago j est feito. Mas, como evitar ficar no meio desta enxurrada de infor-maes confusas sem se perder e sem propagar mentiras? Em primeiro lugar no acredite em tudo que ler, ouvir e ver. Mesmo da imprensa, pois muitas emissoras possuem in-

    teresse prprios e bem especficos. Se o assunto lhe chamar mesmo a ateno, procure in-formaes em outras fontes e procure saber se quem lhe passou a notcia verificou ou s est repassan-do. No repasse a notcia sem saber realmente se verdade. Use seu senso crtico. Ele um excelente aliado para no cair nestas armadilhas. E lembre-se, quem cuida da prpria vida mais feliz. n

  • AIgreja no Brasil, ao in-tegrar na caminhada de converso quaresmal a motivao sempre oportuna e comprometedora da Campanha da Fraternidade, escolheu para este ano de 2017 o tema Biomas brasileiros e defesa da vida, com o lema Cultivar e guardar a cria-o Gn 2,15. O cuidado com a criao e a casa comum em terras brasileiras, na diversidade dos seus biomas, a concretizao do compromisso evanglico de fraternidade uni-versal. a partir da conscincia e sensibilizao em relao totali-dade da criao que o ser humano encontrar o seu equilbrio na comunho csmica. A Palavra de Deus destaca os elementos da natureza como tambm participantes da histria da salvao, os quais expressam, em testemunho, o louvor pela

    benfeitoria do Criador na face da terra, com sua ao vivificante e transformadora: Os cus exal-tam tuas maravilhas, Senhor, e tua fidelidade, na assembleia dos santos. (Sl 89(88),6); Louvai o Senhor, os da terra; cetceos e profundezas todas; fogo e gra-nizo, neve e neblina; vento de tempestade, dcil sua palavra; montanhas e todas as colinas, rvores frutferas e todos os ce-dros; feras e todos os animais domsticos, rpteis e aves que voam (Sl 148,7-10). O Salmo 104(103), procla-mado com exultao, particu-larmente, na Viglia Pascal e no Domingo de Pentecostes, bem expressa, pelo reconhecimento do orante, a integrao e a unidade da obra criada: Quo numero-sas, Senhor, so vossas obras, e que sabedoria em todas elas! Encheu-se a terra com as vossas criaturas! Bendize, minha alma, ao Senhor! (Sl 104(103), 24.35b). Nas aes litrgicas sempre so trazidos vrios elementos da natureza como sinais ou indica-tivos do Mistrio celebrado, a comear do elemento gua, que abre ritualmente o caminho do cristo, pela liturgia batismal. Os leos das unes remontam ao reino vegetal. O po e o vinho,

    produzidos pela participao do trabalho humano, so elementos que provm dos frutos da terra. O fogo, o qual acende o Crio Pascal e as velas utilizadas nas vrias celebraes, a rpida oxidao de um material combustvel li-berando calor e luz. As flores, beleza e perfume que anunciam a ao vivificante do Esprito do Ressuscitado na vida da Igreja e do mundo. Em suma, quantos outros ele-mentos naturais a recordar, pre-sentes nas celebraes litrgicas, em consonncia com o mistrio de f, celebrado na vida das comuni-dades crists. Na relao com os sentidos humanos, os elementos naturais despertam o louvor. Que esta Campanha da Fraternidade seja a oportuna e urgente conscincia de que a criao inteira geme e sofre as dores de parto at o presente (Rm 8,22), no desejo profundo da redeno, como plenificao do ser. Valorizar, cuidar, preservar e se relacionar com tudo o que Deus criou, so exerccios de crescer no afeto e na comunho csmica, em sinal de vida abundante para todos! n

    O louvor da criao

    mundo litrgico

    Fr. Jos Moacyr cadenassi, OFMcap

    vitria Maro/201734

  • giovanna Valfrcoordenao do cedoc

    arquivo e memria

    Missa presidida por Dom Joo Batista da Mota e Albuquerque, no incio

    da dcada de 1960, no Ptio do Quartel da Polcia Militar do Esprito Santo,

    concelebrada por Monsenhor Raimundo Pereira de Barros.

  • A escolha da profisso sem dvida uma das de-cises mais complexas na vida das pessoas. Muitos do prioridade ao retorno financei-ro, outros fazem sua escolha

    de forma errada por no terem maturidade suficiente para a escolha certa. Existem ainda os que escolhem a carreira por influncias dos pais. Fato que grande parte de pessoas igno-

    ram o fator mais importante, a felicidade em fazer o que se gosta, em fazer o que se tem talento, optando por arquivar seus sonhos. Entretanto, uma parcela dos que optam pela busca de uma carreira profissional sem levar em conta o que diz o co-rao, ainda que consigam um lugar de destaque no concorrido mercado de trabalho, em deter-minada fase da vida resolvem buscar o sonho arquivado. Os motivos para essa bus-ca so variados: filhos, famlia, qualidade de vida, insatisfao pessoal, mas todos so unni-mes em afirmar que preciso coragem. Para o ex-publicitrio Emerson Tononi, necessrio ter coragem diariamente, pois para ele existe a possibilida-de de, no meio do processo de mudana, a pessoa ser tomada por um sentimento de medo e voltar atrs. Com a carreira concretizada h mais de 10 anos, Emerson resolveu investir na carreira de coach de vida e se tornou um profissional que ajuda as pes-soas em seus relacionamentos afetivos. Trabalhei em grandes agncias de propaganda do

    Andressa Mian Maria da Luz Fernandes

    Coragem para mudar

    reportagem

    A coragem foi algo que trabalhei dentro de

    mim, pois se por um lado eu tinha uma vida

    financeira tranquila e podia proporcionar

    conforto para minha famlia, por outro eu

    no conseguia participar da vida dos meus

    filhos e isso no me fazia feliz

    Ana Cludia

    vitria Maro/201736

  • estado, fui professor de ps-graduao em marketing, tinha uma vida financeira estabilizada e nome no mercado, mas chegou um momento em que no estava satisfeito e queria mudar. No foi uma mudana im-pensada, pesquisei, me informei e me preparei para enfrentar o desafio. Entretanto, foi preciso uma boa dose de coragem para deixar algo que eu dominava e me arriscar em algo em que eu seria um recm-chegado. Tive medo, mas no deixei que ele me paralisasse. Ter coragem no no ter medo. Ter coragem seguir apesar do medo. O medo ajuda a gente a ser prudente, afirmou. Emerson se considera muito mais feliz hoje no incio da nova carreira e acredita que as chances de conseguir atingir o mesmo padro financeiro que tinha na antiga carreira ou at mesmo super-lo, so grandes. A psicloga e consultora de Recursos Humanos Jaciara Pinheiro, afirma que a mudan-a no fcil, que preciso es-tar consciente desse desejo e planej-lo. No deve ser uma atitude tomada por impulso. preciso calma, conhecimento sobre a nova carreira, criar re-laes e fazer contatos e, princi-

    palmente, fazer um planejamento financeiro at que a nova carreira proporcione estabilidade. Se no houver toda essa construo, a possibilidade de dar errado muito grande, frisou. Essa preparao defendida pela psicloga fez parte do pro-cesso de mudana profissional da personal organizer Ana Cludia Jacob, que encerrou sua carreira como engenheira civil em uma renomada empresa capixaba. Eu me preparei, fui pes-quisando sobre a profisso de personal organizer, acompa-

    nhando o mercado e abri uma empresa, a Impacto Solues em Organizao. Mesmo consciente da minha escolha, tive que reunir foras para pedir demisso. Mas a coragem foi algo que trabalhei dentro de mim, pois se por um lado eu tinha uma vida financeira tranquila e podia proporcionar conforto para minha famlia, por outro eu no conseguia participar da vida dos meus filhos e isso no me fazia feliz, ponderou. Para a coach Maria Helena Magalhes, alm dessa prepara-o para enfrentar os desafios

    Coragem para mudar

    A coragem de deixar minha profisso como

    administradora de empresas surgiu da ne-

    cessidade de cuidar da minha filha. [...] Hoje

    nosso padro de vida um pouco abaixo do

    que tnhamos antes, mas me sinto feliz em

    poder estar presente na vida dela

    Kelly Santana

    vitriaMaro/2017 37

  • do mercado na nova carreira, necessrio autoconhecimento, necessrio entrar em contato consigo e descobrir seus reais valores. preciso reabrir o arquivo de sonhos, se permitir correr riscos para realizar a mudana e aceitar a responsabilidade que isso exige, afirmou. Maria Helena contou que procura estimular em seus clientes a busca de suas apti-des e talentos, pois em sua viso quando no batalhamos pelos nossos sonhos, nos colo-camos a servio dos sonhos dos outros, e a somos candidatos demisso.

    reconhecida como o primeiro cappuccino em creme do Brasil. Coragem no faltou em-presria que iniciou o negcio com apenas R$ 20,00 empres-tados pelo marido. Com o di-nheiro ela comprou o material necessrio para fazer a receita, desenvolvida por ela, e comeou a oferecer o produto pelo Face-book. As encomendas foram au-mentando e percebi logo que o produto tinha potencial, ento fui buscar informaes. Estudei legislao de alimentos, fiz cur-so de barista para entender mais sobre caf e tambm cursos de Gesto no Sebae ES, Senai e IEL. Estudei sobre franquias e desenvolvi um projeto de dis-

    reportagem

    As encomendas foram aumentan-

    do e percebi logo que o produto

    tinha potencial, ento fui buscar

    informaes

    Eu queria mudar, mas ainda

    no sabia o que fazer. Mesmo

    tendo muitos benefcios na em-

    presa , pe di demisso e s egui

    meu corao

    Cristina Pascoli Tongo

    Cris Simoura

    Quando descobrimos nos-so dom, nosso melhor, entramos em sintonia com Deus porque Ele nos criou para sermos feli-zes. Quando Deus coloca uma semente em nosso corao, Ele nos d condies para fazer com que ela germine e d frutos. A vida tem que ser permeada de sonho e f, disse. Foi a descoberta do talento artstico que assegura artes Kelly Santana a possibilidade de trabalhar em casa com a

    criao de peas infantis, dando a ela a oportunidade de participar da vida e da educao da filha de oito anos. A coragem de deixar minha pro-fisso como admi-

    nistradora de empresas surgiu da necessidade de cuidar da minha filha. Foi uma deciso difcil, mas apoiada pelo meu marido. Hoje nosso padro de vida um pouco abaixo do que tnhamos antes, mas me sinto feliz em poder estar presente na vida dela, assegurou. Tambm foi a descoberta do dom culinrio e o ta-lento como em-preendedora que levou a empres-ria Cristina Pas-coli Tongo a criar a empresa Caf Caramelo, marca

    vitria Maro/201738

  • tribuidoras para meu produto. Atualmente j so 49 franquias no Estado e no ano passado comeamos a exportar o Caf Caramelo para a China, Coreia, Estados Unidos e Europa, con-tou. Cristina afirma que a co-ragem vem da fora que busca em Deus diariamente. Hoje eu me sinto responsvel por cada famlia que vive do trabalho do meu produto, Isso muito s-rio. Todas as vezes que enfrento um obstculo eu converso com Deus, para que Ele renove mi-nhas foras. Maria Helena explica que a palavra coragem uma as-sociao entre a palavra latina cor, que tem como um dos sig-nificados a palavra corao, e o sufixo latino aticum, que usado para indicar ao. Ter coragem agir com o corao, mesmo que a razo esteja dizendo no. deixar a zona de conforto, trocar o certo pelo duvidoso e s vezes o processo espinhoso, mas necessrio. Vivemos em uma cultura que estimula a acomo-dao, o conformismo, mas acho que isso vem mudando e muito positivo. As novas geraes no se fixam muito em empregos, avaliou. Foi exatamente por agir com corao e no querer fazer carreira na mineradora na qual trabalhou por oito anos que o empresrio Vitor Andreo, 29

    anos, formado em sistemas de informao, pediu demisso. Ele e a esposa so proprie-trios do cerimonial infantil Ilha Kids, de um buffet externo e do cerimonial Grand Royal, projeta-do para atender um pblico que busca qualidade nos mnimos detalhes D um frio na barriga por-que at o negcio que a gente sonha sair do contexto da ideia e ser exe-cutado com suces-so, leva um tempo. Mas valeu a pena, optei pelo que eu acreditava e a gen-te tem que correr atrs do que gosta, do que a gente acredita. O importante a gente ser feliz no caminho. Ainda estou no caminho, mas estou feliz, relatou. Felicidade tambm o sen-timento que a artista plstica Cris Simoura leva no corao. Ela no estava feliz com a pro-fisso na rea da metalurgia e mudanas em sua escala de trabalho a desmotivaram ainda mais. Eu queria mudar, mas ain-da no sabia o que fazer. Mes-mo tendo muitos benefcios na empresa, pedi demisso e segui meu corao. Muitos questio-naram minha atitude, mas eu sabia que aquela carreira no me fazia feliz. Prestei vestibular para artes plsticas e descobri

    na fotografia, profisso do meu marido, meu grande talento, contou. A escolha inicial na rea de metalurgia aconteceu, segundo Cris, por ser um curso que no precisaria de investimento dos pais. De famlia simples, ela se viu na situao de ter que optar pelo curso para que seus estu-dos no pesassem no oramento da famlia. A fotografia me trouxe muitas coisas boas e a mudana que eu fiz na vida precisou de muita coragem. Pensei muito, pesei as consequncias, mas a fora interior da mudana foi maior que o medo. O importante ser feliz. As portas se abrem quando a gente est feliz, fina-lizou. n

    D um frio na barriga porque at o

    negcio que a gente sonha sair do

    contexto da ideia e ser executado

    com sucesso, leva um tempo

    Vitor Andreo

    vitriaMaro/2017 39

  • Corria o ano de 1895 e, naquela poca, o gover-nador do Esprito Santo contratou vrios projetos para transformar a cidade de Vitria em uma capital urbanizada e prspera. O ento governador, Mu-niz Freire, buscava transformar a cidade num grande atrativo para os comerciantes, imigran-tes e fazendeiros de caf que aos poucos ganhavam estabilidade econmica e social e se muda-vam do interior para Vitria. Mas a cidade mais parecia um aglomerado de casas coloniais em torno do Centro e Cidade Alta. A ideia de Muniz Freire era

    aumentar o espao da Capital com a urbanizao do que cha-mou de Novo Arrabalde, ou seja, os arredores ou imediaes do Centro foram urbanizados e surgiram os bairros da Praia do Canto, Bento Ferreira, Praia do Su. E o engenheiro contratado, Saturnino de Britto, planejou avenidas largas (ainda no sculo XIX) que pudessem abrigar o transporte por bonde, carroas e, posteriormente, automveis. No planejamento de Satur-nino de Britto foi desenhada a Avenida Ordem e Progresso (depois conhecida como Leito da Silva) e, como eixo central, a Avenida Nossa Senhora da

    Penha, mais conhecida pelos capixabas como Reta da Penha. O desenho escolhido pelo engenheiro, numa extenso de 2.498 metros, dava viso com-pleta para o Convento da Penha de qualquer ponta da Avenida. De onde se olhasse o Convento poderia ser avistado. Hoje, a Avenida est cer-cada de prdios altos e a viso da Penha j no se mostra mais to exuberante, como era h um sculo. Mas, o Convento da Penha ainda o carto postal do Espri-to Santo e a Reta demostra toda a majestade do Convento Fran-ciscano construdo em 1558. n

    Reta da Penha

    patrimnio histrico cultural

    Diovani Favoreto - Historiadora

    vitriaMaro/2017 41

  • Tem dvidas? Ento pergunte para quem sabe. Envie sua pergunta para [email protected]

    Elissa FelipePsicanalista

    Victor Nunes ToscanoPresidente do Corecon-ES

    tributao

    educao

    onde aplicado o ir no brasil? Independente do imposto recolhido pelo governo, seu recolhimento no est vinculado a nenhuma despesa especfica, com exceo dos repasses

    obrigatrios previstos em lei. Isso significa que o governo que define onde

    ser aplicado o dinheiro do Imposto de Renda atravs dos seus instrumentos

    de planejamento. O mesmo vale para os demais impostos de competncia

    estadual e municipal, como o IPVA ( Imposto sobre a Propriedade de Ve-

    culos Automotores) e o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano).

    como lidar com crianas pirracentas? Educar filhos uma tarefa difcil e requer dedicao. Recomendo aos pais que faam exer-

    ccios dirios de reflexo, porque as crianas

    vo test-los, o tempo todo. aos poucos que

    elas introjetam normas e leis sociais. E o que

    fazem at aprender? Testam estes limites nos

    pais para ver o quanto conseguem ser firmes

    ou no, com elas. Sabem que, em pblico, vocs,

    pais, ficam constrangidos e tendem a ceder s

    suas chantagens. Como se fosse um jogo, elas

    vo sentindo as reaes de vocs. Quanto maior

    a firmeza e segurana que tiverem ao impor as

    regras para seus filhos, maior ser a proteo

    por eles sentida. Se perguntem onde esto suas

    prprias dificuldades em impor limites. Vocs

    precisam refletir, sobre situaes em que no

    conseguem passar segurana do que fazem e

    analisar situaes em que deixam as crianas os

    vencerem pelo cansao ou por constrangimento

    para ento acharem suas respostas, individuais e

    pessoais. Assim, podero se posicionar de outras

    formas com seus filhos. Esta postura de questio-

    namento e de reflexo das condutas de pais em

    relao aos filhos faz parte de uma viso mais

    ampla da educao das crianas. um processo

    de erros e de acertos em que vocs, pais, vo

    descartando posturas que no lhes servem mais

    e adquirindo novas formas de ver e agir com

    seus filhos. Porm, enquanto este processo no

    se consolida podem acontecer situaes espe-

    cficas, em pblico, onde crianas esperneiam,

    gritam e choram, exigindo algo dos pais e estes

    momentos se configuram em angstias extremas.

    O que fazer nesta hora? No ceder ao capricho

    de seus filhos. Retir-los do local. Lev-los a um

    canto onde possam conversar. Sejam firmes na

    ao e nas palavras! Expliquem s crianas que se

    trata de comportamento inadequado e que elas

    no vo conseguir o que querem desta forma, e

    sim, se comunicando com palavras. Escutem as

    crianas e o que elas tm a dizer. Desta forma

    elas vo aprender que, na vida em comunidade,

    atravs do dilogo que interagimos com os outros.

    pergunte a quem sabe

    vitria Maro/201742

  • Pe. Jocemar Zagotto Vigrio da Parquia Nossa Senhora da Vitria - Catedralreligio

    para onde vamos depois da morte? seria essa uma pergunta apenas do interesse dos cristos? Trata-se de uma pergunta complexa,

    como tambm a sua resposta! Ou seria simples,

    aquela que respondemos de imediato depois de

    indagados. Depois que morremos vamos para

    o cu.

    Sinto que a resposta vai ao encontro de uma

    outra e bem forte indagao que nos ajudaria,

    sem pretenso diante da grande interpelao.

    Na verdade, quando perguntamos para onde

    vamos porque nos resta ainda uma certa

    incerteza de nossa origem, nos deparando com

    uma antiga pergunta to antiga quanto. De onde

    viemos? Porque aqui estamos e ocupamos um

    lugar no tempo e no espao.

    Partindo ento da realidade tempo e

    espao, ascendo para uma reflexo: ontem ,

    hoje, amanh, que horas, minutos e segundos

    de nossa existncia . No voltamos ao passado

    e nem sabemos do amanh . Mas o presente

    pode ser a grande chave, o cdigo, o login, a

    senha que ajuda no desenrolar desse embate

    do alm morte.

    Eu penso que ns cristos encontramos

    uma passagem para tumba do Fara, aquele que

    morreu na grande expectativa de viver para

    sempre e que, amando muito tudo nessa vida,

    pediu que colocassem junto com sua mortalha

    todos os seus bens, os que lhe eram temporais e

    perecveis e at fez com que se visualizasse todo

    o percurso de sua vida em forma de afrescos,

    pinturas, retratando tudo o que fez. Isso tudo

    porque acreditava na continuidade, e no eterno.

    O qu e ro s a l i e n t a r c o m e s s a f a l a

    representativa que ns cristos encontramos

    a passagem secreta e j faz um bom tempo que

    estamos tentando dizer: eu encontrei o caminho,

    abertura, a porta! A aluso da tumba faz pensar

    que o caminho percorrido, o que somos e

    levamos nos d uma certeza da vida futura e

    a garantia de poder afirmar com veemncia que

    a vida na eternidade o encontro da realidade

    atemporal com a temporal.

    A resposta crist fantstica uma vez que

    acreditamos no fato histrico da passagem de

    Deus em nosso meio. Assim somos e podemos

    ser audaciosos em afirmar: nossa vida tem

    futuro! Pense na reflexo Paulina: na certeza

    daquilo que ainda se espera, a demonstrao

    de realidades que no se veem (Hb 11,1).

    Novamente retorno figurao da tumba, o

    que vivemos com antecipao uma realidade

    de imagens e experincia de f, j vivemos a

    vida futura, podemos cham-la de um j e ainda

    no. Reparem bem no texto do evangelho de

    Lucas, o da transfigurao ( Lc , 9, 28b 36), em

    que Jesus se transfigura e transfigura toda

    realidade temporal. O evangelista no deixa

    escapar em sua narrativa do fato, aparece na

    cena, o que foi, o que e o que est por vir.

    O uso desse texto da transfigurao

    descortina o panorama da morte, que foge aos

    critrios e conceitos humanos, e que se encerra

    na pessoa de Deus feito homem, Jesus de Nazar

    que nos d a plena garantia: morrendo que

    se vive para a vida eterna.

    vitriaMaro/2017 43

  • Modinhas versus jejum e abstinncia: prescries e orientaes da Igreja

    H uma forte tendncia na sociedade contem-pornea para afrouxar ou relativizar os valores con-forme as convenincias e criar modinhas aes de curta durao para satisfazer desejos imediatos. Como dizia Zygmunt Bauman, um dos brilhantes pensadores da atualidade fa-lecido em janeiro de 2017, so princpios e caractersticas da sociedade lquido-moderna. Essa onda lquido-moderna afeta inclusive as prticas rela-cionadas comunidade crist. No raro identificar propostas de modinhas quanto ao jejum e abstinncia sobretudo na Quaresma. Para alcanar a conscin-cia tranquila do cristo cum-

    pridor de suas obrigaes, so oferecidas as frmulas mgi-cas de autoajuda prprias da liquidez moderna do deixe de comer chocolate ou beber re-frigerante, por exemplo. E no raras vezes, encontramos pes-soas que levam essa proposta quaresmal extremamente mnima e simplista como se fosse expresso de um pro-fundo processo de converso e desejo radical de uma vida de santidade. As prescries e orienta-es da Igreja esto muito alm dessas prticas simplistas. O Cdigo de Direito Ca-nnico vigente (cnones 1249 a 1253) em obedincia ao Quarto Mandamento da Igreja prescreve a prtica do jejum

    ensinamentos

    vitria Maro/201744

  • Vitor nunes Rosaprofessor de filosofia na faesa

    e da abstinncia, inserida no contexto da observncia da pe-nitncia, a qual requer tambm dedicao especial orao, fazer obras de piedade e carida-de e renncia de si mesmo. Os dias e tempos penitenciais so todas as sextas-feiras do ano (nas quais deve ser observada a abstinncia de carne ou de outro alimento, a no ser que coincidam com uma solenida-de) e o tempo da Quaresma. O jejum e a abstinncia devem ser observados tambm na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira da Paixo e Morte de Nosso Se-nhor Jesus Cristo. O Catecismo da Igreja Ca-tlica (ns 1438, 1439 e 2043) ensina que o jejum (privar-se de uma refeio num determinado

    dia, por exemplo) e a abstinn-cia (deixar de comer carne, por exemplo, num determinado dia) fortalecem o nosso combate espiritual, pois contribuem para nos fazer adquirir o do-mnio sobre nossos instintos e a liberdade de corao, re-nunciamos nossas vontades e desejos pessoais colocando-nos nas mos de Deus para que seja feita a vontade Dele. O jejum, a abstinncia e a esmola so privaes voluntrias renun-ciar s prprias vontades que nos levam submisso a Deus, numa dinmica de converso e penitncia apoiada na miseri-crdia divina. n

    vitriaMaro/2017 45

  • ACESSE escute .com.bramerica

    e faa seu cadastro.

    Em comemorao aos 25 anos da visita do Papa Joo Paulo II

    ao Esprito Santo, comemorados em outubro do ano passado, a

    Arquidiocese de Vitria encomendou uma esttua de bronze

    em tamanho natural do santo. A inaugurao ser no dia

    18 de maro s 8 horas. A esttua obra do artista plstico

    Eduardo Santos, de Piracicaba, So Paulo, e ser colocada na

    subida da Ponta Formosa, ponto estratgico para que abenoe

    todos os fieis que entram e saem da Ilha de Vitria. O local foi

    escolhido por ser onde o So Joo Paulo II ficou hospedado

    durante sua permanncia no estado. Durante a visita, em 1991,

    200 mil fiis estiveram na praa do Papa para participar da

    missa celebrada por ele e muitos o receberam no bairro So

    Pedro, ento o mais carente de Vitria.

    Esttua em fase de produo

    Inaugurao da esttua de So Joo Paulo II

    acontece

  • Rua Baro de Itapemirim, 216 29010-060 Vitria-ES Tel./Fax: (27) 3223-1318 | [email protected] | www.paulinas.com.br

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    2017

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