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Tardomodernismo Antonio Castelnou

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Tardomodernismo

Antonio Castelnou

Introdução

O ULTRA ou TARDOMODERNISMO é

considerado um prolongamento do pensamento

moderno que, a partir da década de 1960,

respeita a linguagem e as teorias dos seus

predecessores, produzindo uma arquitetura

modernista amaneirada.

Assim, seus expoentes mantêm o compromisso

com uma linguagem unificada e exclusiva – a

Estética da Máquina –, assim como também

falam em funcionalidade e tecnologia industrial.

Enquanto os pós-modernistas

esforçaram-se para chegar aos

diversos usuários de seus

edifícios, utilizando ornamentos

e citações históricas, os

tardomodernistas permanecem

fieis à linguagem restrita e

hermética dos modernos,

inspirada na sociedade industrial,

mecanizada e abstrata.

Oscar Niemeyer (1907-) Palácio do Congresso Nacional (1955/60, Brasília DF)

Sir Richard Rogers (1933-) & Renzo Piano (1937-)

Centre Georges Pompidou) (1975/77, Paris França)

A ARQUITETURA

TARDOMODERNA é pragmática

e tecnocrática na sua ideologia,

levando ao extremo muitas ideias

do modernismo (mecanicidade,

flexibilidade, etc.), de modo a

ressuscitar uma linguagem até

então entorpecida.

A lógica moderna é então

exagerada, distorcida e

transformada em algo belo por

seu extremismo ou mordacidade.

Museu de Arte Contemporânea (1998/2000, Barcelona Esp.)

Richard Meier (1934-)

Os tardomodernistas propõem-se a explorar as novas possibilidades da TECNOLOGIA, prosseguindo a pesquisa moderna de atualização de métodos e

processos, tantos de projeto como execução (materiais experimentais e metodologias computacionais).

Ieoh Ming Pei (1917-)

John Hancock Tower (1968/75, Boston MA)

Pyramide du Louvre (1988/99, Paris, França)

Os arquitetos ultramodernos,

ao invés de negá-lo, dão

continuidade ao

INTERNATIONAL STYLE,

atualizando-o em termos de

materiais e técnicas, mas

respeitando praticamente

todos os seus pressupostos e

tendo nos próprios mestres

modernos suas bases

experimentais.

Santiago Calatrava (1951-) Satolas TGV Station (1993, Lyon, França)

Boston Town Hall (1961/68, Boston MA)

Kallmann, Mc Kinnell & Knowles

Principais Características

Enfoque por demasiado

pragmático, utilizando-se

de um vocabulário mais

abstrato que convencional

(anti-ornamentalismo) e

priorizando questões

ligadas à proteção física,

ao isolamento térmico e

acústico, aos sistemas e

acabamentos, etc.;

Willis Tower (1973/74, Chicago IL)

Skidmore, Owings & Merrill

Lógica radical, ênfase circulatório e mecânico, flexibilidade extrema (utilizável ou não) e uso amaneirado e quase decorativo da tecnologia, através de uma fantasia tecnológica levada ao extremo (funcionalismo e ênfase estrutural);

Sir Norman Foster (1935-) Hong Kong & Shangai Bank

(1979/86, Hong Kong)

State of Illinois Center (1979/83, Chicago IL) Helmut Jahn (1940-)

Arquitetura da perfeição

técnica, da produção

sistemática e da

experimentação

essencialmente prática:

desconsideração da

memória histórica, do

contexto urbano ou do

domínio público

(acontextualidade,

universalismo e anti-

historicismo).

JØrn Ützon (1918-2008) Sydney Opera House (1970/73, Sydney Austrália)

Com o novo quadro sociopolítico mundial no segundo

pós-guerra, surgiu uma infinidade de denominações

para as teorias tardomodernas, sendo consideradas as

seguintes as mais importantes:

1. Estruturalismo

2. Produtivismo

3. Tecnicismo

4. Brutalismo

5. Esculturismo

Habitat’67 (1967, Montreal Canadá) Moshe Safdie (1938-)

Estruturalismo

Corrente tardomoderna

holandesa formada em torno

da Revista Fórum (1959/67) e

liderada pelo arquiteto Aldo

Van Eyck (1918-99), que se

constituiu, já em finais dos

anos 1950, na primeira

tentativa de aplicar sobre a

arquitetura moderna os

conceitos recentes da

LINGUÍSTICA.

Cité Verticale (1953/54, Casablanca Marrocos)

Candilis, Josic & Woods

Os filósofos estruturalistas

concebem o mundo como um

conjunto de SISTEMAS ou

ESTRUTURAS, nas quais cada um

de seus elementos apenas pode

ser definido pelas relações que

mantém com os demais elementos.

Propõem-se assim a desvendar

essas interrelações, já que o todo

somente pode ser compreendido

através de suas partes, que se

combinam e se completam entre si.

Jacques Lacan (1901-81)

Claude Levi-Strauss (1908-2009)

Roland Barthes (1915-80)

Louis Althusser

(1918-90)

Na arquitetura, o resultado

foi a aplicação de MALHAS

e MODULAÇÕES, seja qual

for a escala, especialmente

entre os anos 1950/60, cujas

preocupações voltaram-se

mais para as relações que

unem esses elementos

(unidades ou módulos) do

que propriamente para eles

mesmos, ou seja, o todo se

faz das suas partes. Centraal Beheer Administration

Building (1968/72, Apeldoorn Holanda) Herman Hertzberger (1932-)

Amsterdam Orphanage (1955/60, Holanda)

Aldo Van Eyck (1918-99)

Em 1956, dentro dos CIAM’s, surgiu um grupo de arquitetos nascidos em torno dos anos 1910/20, o TEAM X, que

defendia uma nova orientação ao funcionalismo moderno, iniciando uma crítica sistemática ao International Style.

Sua crítica baseava-se nos

filósofos estruturalistas, que

privilegiavam a TOTALIDADE

em detrimento do particular,

assim como o sincronismo dos

fatos ao invés de sua evolução.

No CIAM de 1959, o TEAM X

decretou o fim do modernismo e

se propôs a encontrar novos

caminhos para o funcionalismo

através da exploração plástica,

da aplicação de modulações e

da multiplicidade das partes.

Louis Kahn (1901-74) Salk Institute for Biological Studies (1959/65, La Jolla CA)

Além de Kahn e Van Eyck,

compunham o TEAM X os

holandeses Johannes Van Den

Broek (1898-1978) e Jacob

Bakema (1914-81); os ingleses

Peter (1923-2003) & Alison

Smithson (1928-93); os franceses

Georges Candilis (1913-95) e

Aléxis Josic (1921-2011), o norte-

americano Shadrach Woods

(1923-73) e o italiano Giancarlo

De Carlo (1919-2005).

Bakema & Van Den Broek Projeto habitacional para competição

(1955, não executado)

Conceito STEM para o projeto de Caen-Herouvi (1961)

Aléxis Josic (1921-2011)

A proposta de ARCHEFORMS criava uma disjunção entre a estrutura volumétrica e a apropriação espacial, ensejando a clareza labiríntica, o que foi o principal ponto de ataque do movimento, que não sobreviveu após a década de 1970.

Wasserburg Reitmehring (1964/65, Berlim Alem.)

Suzanne Demisch (1947-)

Faculdade de Ciências da Educação Universidade Livre de Urbino (1968/76, Urbino It.) Giancarlo De Carlo (1919-2005)

Principais Características

Abordagem voltada para a

personificação e para a

hierarquização dos espaços

internos (ênfase da estrutura

organizativa interna em

detrimento do exterior);

Busca da complexidade

espacial, com valorização

tecnológica; uso de materiais

e técnicas industrializadas; e

indiferença em relação ao

sítio (acontextualidade);

Kingohusene Housing Estate (1958/60, HelsingØr Dinamarca)

JØrn Ützon (1918-2008)

Georges Candilis (1913-95), Aléxis Josic (1921-2011) & Shadrach Woods (1923-73)

L’unité Toulouse Le Mirail

Herman Hertzberger (1932-)

Centraal Beheer Administration

Building (1968/72, Apeldoorn Holanda)

Piet Blom (1934-99) Kubuswoningen Cubic Houses (1984, Roterdam, Holanda)

Aplicação da linguística e da

antropologia estrutural

(privilegia a totalidade sobre as

individualidades e a

interrelação das partes sobre

sua manifestação isolada) e;

Antecipação da estética

brutalista, isto é, da exposição

do conteúdo tecnológico dos

edifícios e aspecto de mau-

acabamento e gregarismo

(Estética da Verdade).

The Economist Building (1959/64, Ryder Street, Londres GB)

Peter (1923-2003) & Alison Smithson (1928-93)

Greenwich Millennium Village – GMV (2000/05, Londres GB) Ralph Erskine (1914-2005)

Moshe Safdie (1938-)

Habitat’67

(1967, Montreal Canadá)

Peter Eisenman (1932-)

Memorial do Holocausto (2005, Berlim, Alemanha)

Neopurismo

Em meados dos anos 1960,

um grupo de arquitetos norte-

americanos autodenominado como

neopurista propôs-se ao uso

amaneirado das formas modernas.

Seu trabalho consistia na releitura

do purismo de LE CORBUSIER

(1887-1965), acrescentando-lhe

maior apuro técnico em materiais e

acabamentos, além de uma

complexificação nos métodos

projetuais. Douglas House (1971/73, Harbour Springs MI) Richard Meier (1934-)

O PURISMO tinha sido um

movimento francês fundado

pelo manifesto Après le

Cubisme (1915), dos pintores

Amédée Ozenfant (1886-

1966) e Charles Edouard

Jeanneret (1887-1965),

segundo o qual as formas

volumétricas puras seriam

as fontes primárias das

sensações estéticas.

Charles Édouard Jeanneret -Le Corbusier (1887-1965)

Nature morte au sifon (1921)

Violino Vermelho (1920)

Pavilion L’Esprit Nouveau

Exposion de Arts Decoratifs (1925, Paris, França)

Em 1969, em uma exposição do Museum of Modern Art – MoMA de Nova York, foi apresentado ao público o grupo

NEW YORK FIVE ARCHITECTS – NY5, que queria superar os limites racionalistas, através de uma abstração

extremizada e “pós-moderna” até o virtuosismo gráfico.

Museum of Modern Art – MoMA (1939, N. York; ref. 2004, por Yoshio Taniguchi)

Edward Durrel Stone & Philip S. Goodwin

Entendendo o

INTERNATIONAL STYLE

como fato do passado, que

deveria seria atualizado por

meio da ambiguidade

espacial, o grupo dos NY5

apresentou uma arquitetura

branca e pura que parecia

mais modelada em cartão

do que construída, o que fez

com que seus componentes

passassem a ser

conhecidos como WHITES.

Michael Graves (1934-) Hanselmann House

(1967, Fort Wayne IN)

Gwathmey House (1965/67, Amagansett NY)

Charles Gwathmey (1938-2009)

O NY5 ARCHITECTS era formado por Richard Meier (1934-),

Peter Eisenman (1932-), Charles Gwathmey (1938-2009),

John Hejduk (1929-2000) e Michael Graves (1934-), sendo

este o primeiro a abandonar o grupo, voltando-se para o

formalismo pós-moderno, ou seja, a arquitetura dos GRISES.

Meier Eisenman Gwathmey Hejduk Graves

O NEOPURISMO foi

chamado de Produtivismo por

defender o uso de sistemas

industrializados (estrutura,

tratamento mural e divisão

interna), o que conferia aos

edifícios um caráter de

“produto industrial”.

As técnicas priorizadas eram:

o structural glazing ou vidro

estrutural (maiores vãos e

montagem rápida) e o

fechamento por painelização

(revestimento liso).

Museum fur Kunsthandwerk

(1979/84, Frankfurt, Alemanha) Richard Meier (1934-)

High Museum of Art (1980/83, Atlanta GO)

Principais Características

Rigor disciplinar e puritano,

expresso através de uma

racionalidade sofisticada e

aristocrática das formas

puristas e neoplásticas dos

anos 1920, especialmente de

Adolf Loos (1870-1933),

Le Corbusier (1887-1965),

Gerrit Rietveld (1888-1964) e

Giuseppe Terragni (1904-42);

Muller House (1929/30, Praga, Rep. Tcheca) Adolf Loos (1870-1933)

Gerrit Rietveld (1888-1964) Schröder House

(1923/24, Utrecht, Holanda)

Incrementação da

complexidade compositiva

através do jogo criativo

dentro da JAULA

CONCEITUAL (grid),

resultado do emprego

de retículas bi e

tridimensionais, recorte

e interpenetração de

volumes, emaranhado

estrutural em angulações e

sugestão de mecanismos;

Diagramas para a House III

Diagramas para a House VI (1972/73) Peter Eisenman (1932-)

Independência da arquitetura da paisagem e da história (acontextualidade e antiornamentalismo), sendo que as plantas e fachadas marcariam transformações internas e aplicação de sistemas coordenadores;

Richard Meier (1934-) Weinstein House (1969/71, Old Westbury N. York, EUA)

Emprego abundante de

superfícies envidraçadas

(vidro estrutural) e de

painelização com chapas

de aço esmaltadas,

recentemente substituídas

por Alumynium Composite

Material (ACM); uma chapa

de alumínio enrijecido com

resina sintética (“luva

produtivista”).

Richard Meier (1934-) The Atheneum (1975/79, New Harmony IN)

Bel Air Residence (2001, California)

Charles Gwatmey (1938-2009)

Maiores Expoentes

Richard Meier

(1934-)

Smith House (1965/67, Darien CT)

Olivetti Training Center (1971, Tarrytown NY)

J. Paul Getty Center (1984/97, Los Angeles CA)

Richard Meier (1934-)

Peter Eisenman (1932-)

Barenholtz Pavilion – House I (1967/68, Princeton NJ)

Falk House – House II (1969/70, Hardwick VM)

Miller House – House III

(1970, Lakeville CT)

Peter Eisenman (1932-)

Frank House – House VI (1973/75, Cornwall CT)

House IV (1971, Falls Village CT)

House X

Haupt House (1977/78,

Amagansett NY)

Charles Gwathmey (1938-2009)

Knoll International Office (1980, Boston MA)

Solomon R. Guggeheim Museum Extension (1992, Nova York EUA)

C. Gwathmey (1938-2009) & Robert Siegel (1939-)

Michael Graves (1934-)

Hanselmann House (1967, Fort Wayne IN)

Benacerraf House Extension (1969, Princeton NJ)

Michael Graves (1938-) Snyderman House

(1972, Fort Wayne IN)

Plocek House (1980/82, Warren NJ)

Bernstein Residence (1966, Mamaroneck NY)

John Hejduk

(1929-2000)

One-Half House

(1966, Projeto)

¾ House

(1970, Projeto)

John Hejduk

(1929-2000)

Wall House (2000/01, Croningen Holanda)

Leitura Complementar APOSTILA – Capítulo 16.

COLIN, S. Pós-modernismo: repensando a

arquitetura. Rio de Janeiro: Uapê, 2004.

DREXLER, A. Transformaciones en la arquitectura

moderna. Barcelona: Gustavo Gili, 1980.

JENCKS, C. Tardomoderno y otros ensayos.

Barcelona: Gustavo Gili, 1995.

JOEDICKE, J. Arquitectura contemporanea:

tendencias y evolucion. Barcelona: Gustavo Gili,

1983.

RAJA, R. Arquitetura pós-industrial. São Paulo:

Perspectiva, 1986.