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Aula 15 pg. 144 Fundamentos da Alfabetização Métodos Sintéticos: da Soletração à Consciência Fonológica A Carta do ABC (sem indicação de autor ou data): o livrinho apresenta primeiro os alfabetos de letras maiúsculas e minúsculas de imprensa e de letras cursivas. A idéia é ensinar os três tipos mais comuns de sílabas existentes em português, como consoante- vogal (ba, na, ma), vogal-consoante (al, ar, na), consoante-consoante-vogal (fla, bla, tra). O objetivo maior da soletração é ensinar a combinatória de letras e sons, partindo de unidades simples, as letras, o professor tenta mostrar que essas, quando se juntam, representam sons, as sílabas, que por sua vez formam palavras. O método baseia-se na associação de estímulos visuais e auditivos, valendo-se apenas da memorização como recurso didático – o nome da letra é associado à forma visual, as sílabas são aprendidas de cor, e com elas se formam palavras isoladas fora do contexto. Juntando as letras: soletração onde me sentava, nas mãos a Carta do ABC, a cartilha de soletrar, separar vogais e consoantes. Repassar folha por folha, gaguejando as lições num aprendizado demorado e tardio. Afinal vencer e mudar de livro. Excerto do poema Voltei de Cora Coralina (2001), poeta goiana, nascida em 1889. O método tem os mesmos defeitos da soletração: ênfase excessiva nos mecanis- mos de codificação e decodificação, apelo excessivo à memória e não à compreensão, pouca capacidade de motivar os alunos para a leitura e a escrita. Ba-be-bi-bo-bu: silabação

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Apostila da disciplina de fundamentos da alfabetização

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Aula 15 pg. 144

Fundamentos da Alfabetização

Métodos Sintéticos: da Soletração à Consciência Fonológica

A Carta do ABC (sem indicação de autor ou data): o livrinho apresenta primeiro os alfabetos de letras maiúsculas e minúsculas de imprensa e de letras cursivas. A idéia é ensinar os três tipos mais comuns de sílabas existentes em português, como consoante-vogal (ba, na, ma), vogal-consoante (al, ar, na), consoante-consoante-vogal (fla, bla, tra).

O objetivo maior da soletração é ensinar a combinatória de letras e sons, partindo de unidades simples, as letras, o professor tenta mostrar que essas, quando se juntam, representam sons, as sílabas, que por sua vez formam palavras. O método baseia-se na associação de estímulos visuais e auditivos, valendo-se apenas da memorização como recurso didático – o nome da letra é associado à forma visual, as sílabas são aprendidas de cor, e com elas se formam palavras isoladas fora do contexto.

Juntando as letras: soletração

onde me sentava, nas mãos a Carta do ABC, acartilha de soletrar, separar vogais e consoantes.

Repassar folha por folha, gaguejando as liçõesnum aprendizado demorado e tardio. Afinal

vencer e mudar de livro.

Excerto do poema Voltei de Cora Coralina (2001), poeta goiana, nascida em 1889.

O método tem os mesmos defeitos da soletração: ênfase excessiva nos mecanis-mos de codificação e decodificação, apelo excessivo à memória e não à compreensão, pouca capacidade de motivar os alunos para a leitura e a escrita.

Ba-be-bi-bo-bu: silabação

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Cartilha da Infância (Thomaz Galhardo, 1979): depois de mostrar as vogais e os ditongos, apresenta as sílabas va-ve-vi-vo-vu, embaralhando-as nas duas linhas se-guintes. Seguem-se palavras formadas de três letras (vai-viu-vou) e finalmente onze vo-cábulos contendo as sílabas estudadas; cada lição se completa com algumas frases sem ligação entre si, escritas sem a maiúscula na palavra inicial e sem pontuação: “vo-vó viu a a-ve”, “a a-ve vi-ve e vo-a”, “vo-vô vê o o-vo” e outras do gênero.

A ordem de apresentação: primeiro, as cinco letras que representam as vogais, de-pois os ditongos, em seguida as sílabas formadas com as letras v, p, b, f, d, t, l, j, m, n. As chamadas “dificuldades ortográficas” aparecem do meio para o fim da cartilha, incluindo os dígrafos, as sílabas travadas (terminadas por consoantes), as letras g, c, z, s, e x.

Ensina-se o aluno a produzir oralmente os sons representados pelas letras e a uni-los para formar as palavras. Parte-se de palavras curtas, formadas por apenas dois sons representados por duas letras, para depois estudar de três letras ou mais. A ênfase é en-sinar a decodificar os sons da língua, na leitura, e a codificá-la, na escrita.

Atualmente, os métodos fônicos tendem a apresentar pequenas frases, a partir da 2ª ou 3ª folha, para que os alunos desenvolvam gradativamente habilidades de leitura mais complexas. Este recurso visa a habituar o aluno a extrair o conteúdo significativo da palavra lida e superar uma deficiência ainda comum no método (Rizzo apud Carvalho, 2005: 25).

Método da Abelhinha (Alzira S. Brasil, Lúcia Marques Pinheiro e Risoleta Ferreira Cardoso criaram o método em 1965): apresenta o método misto do tipo fonético.

Os sons são apresentados como “barulhos” que ocorrem, o mesmo acontecendo com a reunião de dois sons em sílabas. Da reunião de dois sons, a criança passa a três, e vai lendo palavras cada vez mais extensas; depois expressões, sentenças e historinhas.

Duas recomendações das autoras: não dizer o nome das letras, pois seria cair na soletração; e não fazer a união de fonemas com todas as vogais, pois seria a silabação, prejudicando a leitura mais tarde.

A personagem abelhinha, que dá nome ao método, tem o corpo em forma de um a (em letra cursiva) e apresenta o som /aaaaaaa/ (a vogal é prolongada para facilitar o

Métodos fônicos

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reconhecimento); a letra i é representada pelo tronco de um índio, outro personagem de histórias e assim por diante. Os personagens são desenhados para sugerir o todo ou partes das formas estilizadas das letras. Há portanto uma associação de três elementos – personagem – forma da letra – som da letra (fonema). A alfabetização se faz por síntese ou fusão dos sons para formar a palavra.

A Casinha Feliz (criado pela pedagoga Iracema Meireles na década de 1950): acre-dita na aprendizagem por meio do jogo, propondo que a sala de aula fosse um espaço para a criatividade e a livre expressão das crianças.

Método: associar a forma da letra a um personagem, o qual, por sua vez, repre-sentava determinado som. O essencial é que conduza à figura-fonema capaz de fazer sempre, se for consoante, o imprescindível barulhinho. Tudo mais é jogo, é dramatização, atividade criadora.

Os dois métodos apresentados propõem associações visuais e auditivas com a for-ma e os sons das letras e têm o mérito de recomendar a utilização e recursos expressivos de voz, gesticulação, desenho, teatro, etc. para despertar o interesse infantil.

Ambos giram em torno de histórias contadas oralmente e o material escrito é rigoro-samente controlado para apresentar apenas as palavras cuja decodificação já foi, ou está sendo, ensinada.

Um aspecto discutível dos métodos é que as histórias dos manuais, criadas com o objetivo de apresentar as relações letra-som numa determinada seqüência, são muito artificiais.

É preciso professores experientes, com bons recursos narrativos, para dar vida a histórias didáticas, em que os sons ora são associados à forma das letras, ora aos nomes dos personagens, ora a um “barulhinho” produzido por eles.

Na aplicação dos métodos fônicos, a maior dificuldade técnica é tentar articular os sons das consoantes isoladas, pois de fato elas só ganham sons quando estão acompa-

Cuidados a considerar na aplicação dos métodos fônicos

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nhadas de uma vogal. Existem algumas consoantes, como o /f/ e o /v/, que podem ser prolongadas com certa facilidade, dando a impressão que se fundem com as vogais que as acompanham. Mas não é o caso da maioria das outras que só são ouvidas claramente quando acompanhadas das vogais.

Consciência fonológica: é a capacidade de distinguir e manipular os sons consti-tutivos da língua e consiste na capacidade para focalizar os sons da fala, independente-mente do sentido. Para reconhecer o grau de consciência fonológica da criança, alguns indicadores são a habilidade de identificar o número de sílabas das palavras e de reconhe-cer rimas e aliterações (sílabas que se repetem no início de uma série de palavras). Cada palavra falada é formada por uma série de fonemas, representados na escrita pelas letras do alfabeto e a percepção destes é desenvolvida no processo de alfabetização.

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Fundamentos da Alfabetização

CARVALHO, Marlene. Alfabetizar e Letrar: um diálogo entre a teoria e a prática. Petrópo-lis: Vozes, 2005.

Referências

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