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Apostila de Direito Internacional para concurso do MPF
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27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 1
Sumrio
Ponto 1.a. Desenvolvimento histrico do Direito Internacional. Terminologia. A sociedade
internacional e suas caractersticas. Soberania e a atuao do Direito nas relaes
internacionais. Princpios que regem as relaes internacionais do Brasil. ................................. 4
Ponto 1.b. Fontes do Direito Internacional Pblico. Costume Internacional. Princpios Gerais.
Jurisprudncia e Doutrina. Atos Unilaterais. Decises de Organizaes Internacionais. Jus
Cogens. Obrigaes erga omnes. Soft Law. .................................................................................. 6
Ponto 1.c. Graves violaes s Convenes de Genebra e crimes de guerra. Imprescritibilidade.
Competncia para processar e Investigao pelo Comit Internacional da Cruz Vermelha. ....... 8
Ponto 2.a. Direito Internacional Privado. Evoluo histrica. Conflito de leis e espcies de
normas. 12
Ponto 2.b. Organizao Internacional. Caractersticas. Evoluo. Espcies e finalidades. Regime
jurdico. Santa S. Prerrogativas e imunidades no Brasil............................................................ 14
Ponto 2.c. Desaparecimento forado como crime internacional. Crime de ius cogens.
Normativa internacional. Imprescritibilidade. ............................................................................ 18
Ponto 3.a. Espaos Globais Comuns. Princpios. Patrimnio Comum da Humanidade. Alto Mar.
Fundos Marinhos. Antrtica. rtico. Espao Sideral. .................................................................. 21
Ponto 3.b. Direito tributrio internacional. Conceito. O fenmeno da bitributao. Acordos de
bitributao................................................................................................................................. 28
Ponto 3.c. Princpio uti possidetis. Descobrimento e ocupao como critrios de aquisio
territorial. .................................................................................................................................... 29
Ponto 4.a. Estados. Autodeterminao dos Povos. Reconhecimento do Estado e Governo.
Direitos e Deveres. Territrio: aquisio e perda. Faixa de Fronteira. Rios Internacionais e
Regimes Fluviais. Domnio Areo................................................................................................ 32
Ponto 4.b. Tratados Internacionais. Reservas. Vcios de Consentimento. Entrada em vigor.
Interpretao. Registro e Publicidade. Efeitos sobre Terceiros. Modalidades de Extino. ...... 36
Ponto 4.c: Interpretao e aplicao do direito estrangeiro. Prova do Direito Estrangeiro.
Ordem Pblica e excees aplicao do direito estrangeiro ................................................... 40
Ponto 5.a. Estrangeiros. Entrada, permanncia e sada regular. Direitos do Estrangeiro. Sada
compulsria: deportao, expulso............................................................................................ 41
Ponto 5.b. Imunidades. Imunidade pessoal e real. Imunidade cognitiva e executria.
Imunidade diplomtica e imunidade consular. Imunidade de Estados. Imunidade de ex-chefes
de Estado. Regime de tropas estacionadas por fora de tratado............................................... 44
Ponto 5.c. Uso da fora no direito internacional: proibio (art. 2, para. 4, da Carta da ONU),
direito de autodefesa ou de legtima defesa (art. 51 da Carta da ONU). Papel do Conselho de
Segurana da ONU na garantia da paz e da segurana internacional. ....................................... 45
Ponto 6.a. Nacionalidade. Originria. Derivada. Apatridia. Polipatria. Perda da nacionalidade.
Estatuto da igualdade: portugueses. Nacionais de pases do Mercado Comum do Sul
(Mercosul). .................................................................................................................................. 47
27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 2
Ponto 6.b. Soberania estatal. Conceito. Tipos: soberania interna e soberania externa. Princpio
da igualdade soberana dos Estados. ........................................................................................... 51
Ponto 6.c: Sucesso de Estados. Direitos e Deveres. Tratados e patrimnio............................. 53
Ponto 7.a. Tratados internacionais. Classificao. Terminologia. Negociao e competncia
negocial. Formas de expresso do consentimento. Conflito entre trados com as demais fontes.
56
Ponto 7.b.Asilo. Refgio. Regime Jurdico. Princpio do non-refoulement. Papel dos rgos
internos. A proteo ao brasileiro no exterior............................................................................ 59
Ponto 7.c. Responsabilidade internacional do Estado. Obrigaes primrias e obrigaes
secundrias. Atribuio de atos a Estados. Reparao: restituio, indenizao e satisfao.
Obrigao de interrupo de ato ilcito continuado. Obrigao de no-repetio de ato ilcito.
Obrigao de perseguir ilcitos penais internacionais................................................................. 65
Ponto 8.a. Soluo pacfica de controvrsias: conceito, natureza e origem. Paradigma da Carta
da ONU na soluo pacfica de controvrsias: funes do Conselho de Segurana, da
Assembleia-Geral, da Corte Internacional de Justia. Arbitragem internacional e gesto
diplomtica.................................................................................................................................. 68
Ponto 8.b. Crimes contra a humanidade ou de lesa humanidade: definio, natureza
consuetudinria, imprescritibilidade. Elementos dos crimes contra a humanidade: ataque
populao civil, extenso, sistematicidade, elemento poltico. ................................................. 72
Ponto 8.c. Processo de formao e incorporao dos tratados internacionais. Hierarquia.
Acordo Executivo......................................................................................................................... 78
Ponto 9.a. Crimes internacionais: conceito e classificao. Dever de perseguir e pretenso
punitiva da comunidade internacional. ...................................................................................... 83
Ponto 9.b. Auxlio direto e juzo de mrito. Competncia da Justia Federal e atribuies do
Ministrio Pblico Federal. Distino da cooperao policial. Meios de auxlio:
videoconferncia, quebra de sigilo, interceptao telefnica. Partilha de ativos ("asset
sharing"). ..................................................................................................................................... 89
Ponto 9.c. Organizao das Naes Unidas. Desenvolvimento e principais rgos. Corte
Internacional de Justia. Organizaes regionais das Amricas. ................................................ 91
Ponto 10.a. Direito Internacional Penal e Direito Penal Internacional: divergncias e
convergncias. Implementao direta e indireta do Direito Internacional Penal. ..................... 98
Ponto 10.b. Relao do Direito Internacional e o Direito Interno. Correntes doutrinrias. Como
o Direito Interno v o Direito Internacional. Como o Direito Internacional v o Direito Interno. A
Constituio brasileira e o Direito Internacional. .................................................................... 99
Ponto 10.c. Conflitos internacionais e conflitos no-internacionais. Art. 3 comum s quatro
Convenes de Genebra. Condies para a aplicao do Protocolo II de 1977. Convergncias
entre as garantias mnimas aplicveis a conflitos no-internacionais e o regime de derrogaes
excepcionais do art. 27 da Conveno Americana de Direitos Humanos e do art. 4 do Pacto
Internacional de Direitos Civis e Polticos. ................................................................................ 101
27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 3
Ponto 11.a. Tribunais internacionais ad hoc e tribunais mistos. Princpio da primazia da
jurisdio penal internacional e suas mitigaes. Dever de cooperar com os tribunais
internacionais............................................................................................................................ 103
Ponto 11.b. Desapropriao e seus reflexos no direito internacional. Proteo de nacionais
desapropriados por Estado estrangeiro. Indenizao devida................................................... 106
Ponto 11.c. Responsabilidade no-penal de indivduos no direito internacional por sua
participao em graves violaes de direitos humanos. .......................................................... 108
Ponto 12.a: Direito internacional humanitrio. Ius in bello e ius ad bellum: convergncias
e divergncias. Direito de Genebra e Direito da Haia. Princpio da distino. Princpio da
proteo. Princpio da necessidade militar. Princpio da proporcionalidade. .......................... 108
Ponto 12.b: Extradio. Entrega. Execuo de Sentenas Cveis e Criminais. Transferncia
de presos. 111
Ponto 12.c: Tortura como crime internacional. Definio do art. 1 da Conveno da ONU
contra a Tortura de 1984 e definio do art. 2 da Conveno Interamericana contra a Tortura:
convergncias e divergncias.................................................................................................... 114
Ponto 13.a. Comit Internacional da Cruz Vermelha. Natureza jurdica. Acordo de sede e
imunidades. Finalidades e funes de acordo com as Convenes de Genebra de 1949 e com
os Protocolos I e II de 1977. ...................................................................................................... 116
Ponto 13.b. Indivduo no Direito Internacional. Subjetividade jurdica controvertida.
Responsabilidade individual penal derivada do Direito Internacional. .................................... 118
Ponto 13.c: Redes internacionais de cooperao judiciria e entre ministrios pblicos.
Cooperao formal e informal. A Iber-Rede. A Associao Ibero-Americana de Ministrios
Pblicos. A Reunio Especializada de Ministrios Pblicos do Mercosul. ................................ 122
PONTO 14.a: Guerra contra o terror. Conceito de terrorismo. Atos de terror. "Combatentes
ilegais". Represso internacional ao financiamento de atividades terroristas......................... 125
Ponto 14.b: Assistncia Jurdica Mtua. Convenes Bilaterais e Multilaterais. ................. 128
Ponto 14.c: Tribunal Penal Internacional: jurisdio ratione personae, ratione loci e ratione
temporis. Princpio da complementaridade. Poderes do Conselho de Segurana da ONU sobre a
jurisdio do Tribunal Penal Internacional............................................................................. 129
Ponto 15.a: Cooperao Jurdica Internacional. Evoluo e fundamentos. Via diplomtica.
Via Autoridade Central. Via do contato direto e cooperao internacional entre Ministrios
Pblicos. 131
Ponto 15.b: Direito de autotutela: sanes, sanes "inteligentes", contra-medidas e
represlias. 134
Ponto 15.c: Responsabilidade internacional objetiva. Responsabilidade penal do Estado:
conceito e controvrsias. Relao entre responsabilidade internacional do Estado e
responsabilidade internacional penal do indivduo. Julgar....................................................... 135
Ponto 16.a. Dvidas estatais e garantia de credores no direito internacional. Doutrina Drago.
Clusula Calvo. Clusula de estabilizao ................................................................................. 137
Ponto 16.b. Princpio da especialidade e dupla incriminao como condio de assistncia
jurdica em matria penal. Exceo de crime poltico. ............................................................. 139
27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 4 Ponto 16.c: Priso preventiva para fins de deportao, expulso e extradio.
Competncia e pressupostos. ................................................................................................... 141
Ponto17.a. Limites aplicao do direito estrangeiro no Brasil. Ordem pblica. Moral e bons
costumes. Garantias fundamentais. ......................................................................................... 143
Ponto 17.b. Princpios da fixao da Jurisdio internacional. Territorialidade e
extraterritorialidade. Jurisdio universal: conceito, limites e controvrsias. ......................... 145
Ponto 17.c. Represso internacional ao trabalho e comrcio escravo: histrico, base normativa
e trabalho escravo contemporneo.......................................................................................... 149
Ponto18 a. Direito Internacional do Meio Ambiente. Princpios. Poluio Atmosfrica. Poluio
Marinha. Recursos marinhos vivos. Biodiversidade, fauna e flora. .......................................... 152
Ponto 18 b. Carta rogatria: juzo delibatrio, medidas cautelares com contraditrio diferido,
atos executrios e atos no-executrios. ................................................................................. 155
Ponto 18 c. Domnio martimo. Mar Territorial. Zona Contgua. Plataforma Continental. Zona
Econmica Exclusiva. Ilhas costeiras e ocenicas. Navios e aeronaves no Direito Internacional.
158
Ponto 19.a: Comunicabilidade do estado civil. Homologao de sentena de divrcio. ......... 162
Ponto 19.b: Prestao de alimentos no estrangeiro. Conveno de Nova York de 1956.
Atribuies do Ministrio Pblico Federal como autoridade central. ...................................... 163
Ponto 19.c: Povos indgenas e comunidades tradicionais em face do Direito Internacional.
Conveno 169 da Organizao Internacional do Trabalho. Declarao da ONU sobre os
Direitos dos Povos Indgenas de 2007. ..................................................................................... 167
Ponto 20.a. Efeitos civis do sequestro de crianas. Competncia da Justia Federal. Atribuies
do Ministrio Pblico Federal e da Advocacia Geral da Unio. Autoridade Administrativa
Central. 171
Ponto 20.b. Genocdio como crime internacional: conceito, natureza e incorporao no
ordenamento jurdico brasileiro. Competncia para seu processo e julgamento.................... 173
Ponto 20.c: Direito da Integrao Regional. Tipologia. Organizao Internacional
Supranacional. Mercado Comum do Sul. Evoluo. Caractersticas. Estrutura. Principais atos
institutivos. Relao com o Direito brasileiro. .......................................................................... 174 Ponto 1.a. Desenvolvimento histrico do Direito Internacional. Terminologia. A
sociedade internacional e suas caractersticas. Soberania e a atuao do Direito nas
relaes internacionais. Princpios que regem as relaes internacionais do Brasil.
Eduardo Luiz Bezerra de Souza
Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26 CPR; PORTELA, Paulo Henrique
Gonalves. Direito Internacional Pblico e Privado, incluindo noes de Direitos Humanos e de
Direito Comunitrio, 4 ed. Editora Jus Podivm; AMARAL JUNIOR, Alberto do. Curso de
Direito Internacional Pblico. 3 ed. Editora Atlas; SHAW, Malcolm N. Direito Internacional,
2010. Martins Editora.
Legislao bsica: CRFB/88, art. 4.
27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 5
Desenvolvimento histrico do Direito Internacional: O Direito Internacional nasceu como
ramo autnomo do Direito pblico na Europa do Sculo XVIII, com o Tratado de Westfalia
(1648), que ps fim Guerra dos 30 anos. Hugo Grotius contribuiu para a sua autonomizao.
O DIP est dividido em basicamente duas fases: na Fase clssica (1648-1918), marcada pelo
Direito Guerra (Jus ad bellum) e colonizao, o DIP se preocupa basicamente com o estudo
das relaes entre os Estados; na Fase moderna ou contempornea (a partir do fim da Segunda
Guerra Mundial), o seu enfoque passa a ser a proteo internacional da pessoa humana -
comeam a aparecer limitaes ao poder soberano dos Estados; o uso da fora no cenrio
internacional passa a ser regulado; a colonizao vedada; e a exaltao do Direito de Guerra
(Jus in bello - Direito de Haia) e do Direito Humanitrio (Direito de Genebra). Ocorre a
especializao do DIP em ramos (ambiental, trabalho, etc.), proliferam-se as Organizaes
Internacionais e o indivduo passa a ser considerado sujeito de Direito Internacional.
Terminologia: A terminologia "Direito Internacional" foi criada em 1780, por Jeremy
Bentham, para distinguir o direito que cuida das relaes entre os Estados do Direito Nacional e
do Direito Municipal. A complementao "Direito Internacional Pblico" surgiu mais tarde na
Frana, para diferenciar o DIP do DIPriv. Outros termos utilizados so "Direito das Gentes" ou "jus
gentium".
A Sociedade internacional e suas caractersticas: Sociedade internacional o "conjunto de
vnculos entre diversas pessoas e entidades interdependentes entre si, que coexistem por
diversos motivos e que estabelecem relaes que reclamam a devida disciplina"
(PORTELA:2012, p. 44-45). A vontade (racional) o elemento decisivo para a aproximao dos
seus membros.
Suas caractersticas so a universalidade (abrange no mundo inteiro, embora o nvel de
integrao varie bastante), a heterogeneidade (os atores que a compem apresentam mudanas
significativas dos pontos de vista social, econmico, poltico, educacional, etc.), a
descentralizao (no h um governo central) e a cooperao (corolrio da descentralizao,
importa na ausncia de subordinao entre os seus atores). Parte da doutrina defende ser a
sociedade internacional interestatal, mas h crticas a esse entendimento a partir do
reconhecimento das organizaes internacionais como sujeitos de Direito Internacional e com a
crescente participao direta das ONGs, dos indivduos e de outros agentes no cenrio
internacional.
Sociedade Internacional no se confunde com comunidade internacional - esta se fundamenta
em vnculos espontneos e de carter subjetivo (culturais, histricos, lingusticos, religiosos,
etc.) e se caracteriza de ausncia de dominao, pela cumplicidade e pela identificao entre
seus membros. A vontade (racional) no constitui elemento decisivo.
Soberania e a atuao do Direito nas relaes internacionais: o conceito de soberania foi
primeiramente desenvolvido pelo filsofo francs Jean Bodin. Classicamente, designa "o poder
de declarar, em ltima instncia, a validade do direito dentro de um certo territrio" (AMARAL
JNIOR:2008 , p.99). Atualmente, entende-se soberania como o alcance de patamares de
desenvolvimento econmico e social que garanta a um Estado a plena independncia das suas
decises polticas, sem a necessidade de auxlios internacionais. Nesse sentido, soberania um
dos elementos constitutivos do Estado, possuindo um aspecto interno (supremacia dentro de um
determinado territrio) e um aspecto internacional (igualdade formal entre os Estados na
sociedade internacional e independncia do ente estatal frente a outros Estados).
27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 6
O Direito, seja o natural ou o positivo, atua nas relaes internacionais como instrumento de
respeito, cortesia, cooperao, relao que sustentam a horizontalidade e a igualdade jurdica
entre os Estados componentes da ordem internacional. Os "Estados precisam do Direito para
buscar atingir certos objetivos, que vo desde o bem-estar econmico at a promoo de uma
ideologia, passando pela segurana ou pela simples sobrevivncia" (SHAW:2010, 38). O
Direito Internacional uma cultura no sentido mais amplo do termo, na medida em que
constitui um mtodo de comunicao de pretenses, expectativas e previses, alm de fornecer
uma estrutura que permite a avaliao e a priorizao dessas demandas (SHAW:2010, 54).
Princpios que regem as relaes internacionais do Brasil: esto previstos no art. 4 da
CRFB/88, sendo eles: I. independncia nacional; II. prevalncia dos direitos humanos; III.
autodeterminao dos povos; IV. no interveno; V. igualdade entre os Estados; VI. defesa da
paz; VII. soluo pacfica dos conflitos; VIII. repdio ao terrorismo e ao racismo; IX.
Cooperao entre os povos para o progresso da humanidade; e X. concesso de asilo poltico.
Alm disso, "a Repblica Federativa do Brasil buscar a integrao econmica, poltica, social e
cultural dos povos da Amrica Latina, visando formao de uma comunidade latino-americana
de naes" (art. 4, pargrafo nico).
Ponto 1.b. Fontes do Direito Internacional Pblico. Costume Internacional.
Princpios Gerais. Jurisprudncia e Doutrina. Atos Unilaterais. Decises de
Organizaes Internacionais. Jus Cogens. Obrigaes erga omnes. Soft Law.
Eduardo Luiz Bezerra de Souza
Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26 CPR; PORTELA, Paulo Henrique
Gonalves. Direito Internacional Pblico e Privado, incluindo noes de Direitos Humanos e de
Direito Comunitrio, 4 ed. Editora Jus Podivm; AMARAL JUNIOR, Alberto do. Curso de
Direito Internacional Pblico. 3 ed. Editora Atlas; SHAW, Malcolm N. Direito Internacional,
2010. Editora Martins Editora; RAMOS, Andr de Carvalho. Responsabilidade Internacional
por Violao de Direitos Humanos, 1 ed. Editora Renovar, 2004.
Legislao bsica: Estatuto da Corte Internacional de Justia; Conveno de Viena sobre o
Direito dos Tratados.
Fontes do DIP: as fontes materiais do DIP so os fatos que demonstram a necessidade e a
importncia da formulao de preceitos jurdicos internacionais, com vistas a regular
determinadas situaes (Ex.: Segunda Guerra Mundial, o aquecimento global, etc.).
As fontes formais so o modo de revelao e exteriorizao das normas jurdicas e dos valores
que ela pretende tutelar. O art. 38 (1) do Estatuto da CIJ traz um rol exemplificativo das
principais fontes formais do Direito Internacional. O referido diploma elencou os tratados, os
costumes e os princpios gerais do Direito como fontes, e fez referncia jurisprudncia
internacional e doutrina como "meios auxiliares na determinao de direito". H quem
classifique as 3 primeiras como fontes primrias, e as duas ltimas como fontes secundrias do
DIP.
No entanto, a doutrina majoritria entende que no h hierarquia entre as fontes do DIP.
27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 7
Costume Internacional: resulta de uma prtica geral aceita como sendo o direito. A parte que o
invoca deve provar sua existncia.
Compe-se de dois elementos: (a) a prtica reiterada de determinados atos (elemento material
ou objetivo), que deve ser justa e estar de acordo com o Direito Internacional; e (b) a "opinio
juris", ou seja, a convico da justia e da obrigatoriedade jurdica dos atos praticados
(elemento subjetivo) - a mera reiterao de atos sem a convico da sua obrigatoriedade no
caracteriza um costume internacional.
A generalidade no se confunde com a unanimidade, bastando que um grupo amplo e
representativo reconhea a sua obrigatoriedade. Tambm no sinnimo de universalidade, pois
h costumes regionais e at mesmo empregados exclusivamente em relaes bilaterais.
O costume extingue-se pelo desuso (perda de um dos dois elementos acima descritos), pelo
aparecimento de um novo costume que substitua outro anterior, ou por sua substituio por
tratado internacional que incorpore as normas costumeiras ("Codificao do Direito
Internacional").
Princpios Gerais: originrios do direito interno dos Estados, ascenderam para o Direito
Internacional. Foram previstos no art. 38 para preencher as lacunas do sistema e evitar o non
liquet (funo interpretativa). Ex. boa f, pacta sunt servanda, coisa julgada e direito adquirido.
Para SHAW (2010, 86), a equidade um princpio aplicvel para a resoluo de conflitos.
Jurisprudncia e Doutrina: segundo o Estatuto da CIJ, so meios auxiliares na determinao
do direito.
A Jurisprudncia formada pelo conjunto de decises reiteradas das Cortes Internacionais
(CIJ, CIDH, TPI) em um mesmo sentido. Segundo SHAW (2010, p. 87), "o grau de respeito
conferido Corte [CIJ] e s suas decises faz com que suas opinies sejam vitais para o
crescimento e o cada vez mais amplo conhecimento do direito internacional". A deciso da CIJ s
ser obrigatria para as partes litigantes e a respeito do caso em questo (art. 59, do estatuto da
CIJ).
A Doutrina, como fonte auxiliar, tem como principal funo "contribuir para a interpretao e
aplicao da norma internacional, bem como para a formulao de novos princpios e regras
jurdicas" (PORTELA:2012, 82). Tem que ser de produzida por juristas internacionalistas, que
publicam textos internacionalmente e que sejam mundialmente reconhecidos. Ex. Hugo Grotius.
Atos Unilaterais: podem produzir importantes consequncias jurdicas na seara internacional,
independente da aceitao ou do envolvimento de outros entes estatais. Ex.: ratificao de
tratados (gera obrigaes na esfera internacional), protesto, notificao, renncia, denncia,
reconhecimento, promessa, ruptura das relaes diplomticas.
Decises de Organizaes Internacionais: Podem ser internas (aplicveis apenas ao
funcionamento da organizao) ou externas (voltados a tutelar direitos e obrigaes de outros
sujeitos de Direito Internacional). Podem ser cogentes (vinculam os sujeitos de Direito
Internacional - Ex.: resolues do CSONU) ou facultativas (no possuem fora jurdica, so
cumpridas voluntariamente pelos Estados por fora moral ou poltica - "Power of shame" - Ex.:
decises do AGONU, OMS, OMC, OIT, etc.).
Jus Cogens: so normas aceites e reconhecidas pela comunidade internacional dos Estados no
seu todo como norma cuja derrogao no permitida e que s pode ser modificada por uma
nova norma de direito internacional geral com a mesma natureza (art. 53 da Conveno de
Viena sobre o Direito dos Tratados - CVDT). Noutros termos, um conjunto de preceitos que
27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 8
resguarda os mais importantes e valiosos interesses da sociedade internacional, como expresso
de uma convico, aceita em todas as partes do globo e que alcana profunda conscincia de
todas as naes, satisfazendo o superior interesse da comunidade internacional como um todo,
como os fundamentos de uma sociedade internacional, sem os quais a inteira estrutura se
romperia. Ex. vedao de tortura, de genocdio, de escravido e de discriminao racial. Em
virtude disso, caracteriza-se pela sua imperatividade e constitui restrio direta da soberania
estatal.
A norma de jus cogens tem efeito erga omnes e o poder de derrogar tratado anterior ao seu
surgimento (art. 64 da CVDT). Por sua vez, nulo todo o tratado que, no momento da sua
concluso, seja incompatvel com o jus cogens (art. 53 da CVDT).
Obrigaes Erga Omnes: so aquelas que criam deveres a serem observados por toda a
comunidade de Estados. Essas obrigaes foram conceituadas, em obiter dictum na sentena do
caso Barcelona Traction (CIJ, 1972), como aquelas em que "tendo em vista a importncia dos
direitos em causa, todos os Estados podem ser considerados como tendo um interesse jurdico
em que esses direitos sejam protegidos". A CIJ j entendeu, em parecer consultivo, que o dever de
respeitar o direito autodeterminao dos povos uma obrigao erga omnes.
H uma ntida relao entre o jus cogens e as obrigaes erga omnes, de modo que toda norma
daquela categoria gera uma obrigao erga omnes. Segundo RAMOS, a obrigao erga omnes
nasce da valorao da obrigao primria, gerando como consequncia o dever de respeito por
todos os Estados (2004, 340). Sua inobservncia gera uma obrigao secundria, que a
legitimidade de todos os Estados da sociedade internacional de buscar a reparao pela violao
perpetrada (RAMOS, 2004: 342).
Soft Law: instituto novo e de contornos ainda imprecisos, so regras cujo valor normativo seria
limitado, seja porque os instrumentos que as contm no seriam juridicamente obrigatrios, seja
porque as disposies em causa, ainda que contidas num instrumento constringente, no
criariam obrigaes de direito positivo ou criariam obrigaes pouco constringentes. So
normas no-imperativas, no-vinculantes, que no tm sano correspondente.
A sano pelo seu descumprimento o embarao internacional (Power of shame ou Power of
embarrassment) e para serem cumpridas dependem da vontade dos Estados. Ex.: acordos de
cavalheiros (gentlemen's agreements), atas de reunies internacionais, cdigos de condutas,
resolues no-vinculantes de organismos internacionais (como a Declarao Universal dos
Direitos Humanos). Ponto 1.c. Graves violaes s Convenes de Genebra e crimes de guerra.
Imprescritibilidade. Competncia para processar e Investigao pelo Comit
Internacional da Cruz Vermelha.
Eduardo Luiz Bezerra de Souza
Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26 CPR; PORTELA, Paulo Henrique
Gonalves. Direito Internacional Pblico e Privado, incluindo noes de Direitos Humanos e de
Direito Comunitrio, 4 ed. Editora Jus Podivm; AMARAL JUNIOR, Alberto do. Curso de
Direito Internacional Pblico. 3 ed. Editora Atlas; SHAW, Malcolm N. Direito Internacional,
2010. Editora Martins Editora; RAMOS, Andr de Carvalho. Responsabilidade Internacional
por Violao de Direitos Humanos, 1 ed. Editora Renovar, 2004.
27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 9
Legislao bsica: Estatuto da Corte Internacional de Justia; Estatuto de Roma (Tribunal Penal
Internacional); Convenes sobre a Resoluo Pacfica de Controvrsias Internacionais de 1899 e
1907 (Conferncias de Haia); Conveno relativa ao Tratamento de Prisioneiros de Guerra (III
Conveno de Genebra de 1949); Conveno relativa Proteo dos Civis em Tempo de
Guerra (IV Conveno de Genebra de 1949); Protocolos Adicionais s Convenes de Genebra
relativo Proteo das Vtimas de Conflitos Armados Internacionais e No- Internacionais
(Protocolos I e II, de 1977); Conveno sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos
Crimes Contra a Humanidade (Conveno de Nova York de 1968); Estatutos
do Comit Internacional da Cruz Vermelha
(http://www.icrc.org/por/resources/documents/misc/icrc-statutes-080503.htm).
Leituras complementares: Conveno para a Melhoria da Sorte dos Feridos e Enfermos dos
Exrcitos em Campanha (I Conveno de Genebra de 1949); Conveno para a Melhoria da
Sorte dos Feridos, Enfermos e Nufragos das Foras Armadas no Mar (II Conveno de
Genebra de 1949); Projeto de Lei n 4.038/2008; Relatrio do XV Encontro Nacional de
Procuradoras e Procuradores dos Direitos do Cidado (2009).
Graves violaes s Convenes de Genebra: Crimes de guerra so atos ilcitos cometidos
contra as normas do Direito de Guerra (Jus in bello - Direito de Haia) e do Direito Humanitrio
(Direito de Genebra) - que, juntos, formam um nico sistema complexo: o Direito Humanitrio
Internacional - CIJ (SHAW, 2010).
As leis de guerra foram sistematizadas nas Convenes sobre a Resoluo Pacfica de
Controvrsias Internacionais (Conferncias de Haia) de 1899 e 1907, nas quais foram
adotadas vrias convenes que tratavam da guerra terrestre e martima. Aps, vieram as quatro
Convenes de Genebra de 1949 ("Convenes da Cruz Vermelha"), todas promulgadas pelo
Brasil pelo Decreto n 42.121/1957:
Conveno para a Melhoria da Sorte dos Feridos e Enfermos dos Exrcitos em Campanha (I Conveno);
Conveno para a Melhoria da Sorte dos Feridos, Enfermos e Nufragos das Foras Armadas no Mar (II Conveno);
Conveno relativa ao Tratamento de Prisioneiros de Guerra (III Conveno); e
Conveno relativa Proteo dos Civis em Tempo de Guerra (IV Conveno). Em virtude do aumento do nmero de guerras revolucionrias de libertao nacional e civis
aps a Segunda Guerra mundial, as Convenes de Genebra foram atualizadas pelo Protocolo
Adicional s Convenes de Genebra relativo Proteo das Vtimas de Conflitos Armados
Internacionais (Protocolo I) e No-Internacionais (Protocolo II), ambos de 1977 e
promulgados no Brasil pelo Decreto n 849/1993.
A III Conveno (prisioneiros de guerra) considera violaes: mutilao fsica, experincia
mdica ou cientfica de qualquer natureza que no seja justificada pelo tratamento mdico do
prisioneiro referido e no seu interesse, atos de violncia ou intimidao, insultos, exposio
curiosidade pblica e medidas de represlia (arts. 13 e 14). Prisioneiros de guerra, aps
capturados, devem ser levados a locais nos quais no estejam expostos a perigos das zonas de
combate, nem devem ser usados para tornar reas imunes a operaes militares (art. 23).
O conceito de civil, para fins de proteo pela IV Conveno, dado por excluso (basicamente,
qualquer indivduo no-combatente - art. 50 do Protocolo I/1977). Em caso de dvida,
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qualquer pessoa deve ser considerada civil. Populao e bens civis no podem ser alvo de
ataque, sendo proibidos atos ou ameaas com objetivo de disseminar terror, ataques
indiscriminados (atingem tanto objetivos militares quanto civis - arts. 51 e 57 do Protocolo I).
O direito das partes de escolher os meios de guerra no ilimitado (art. 22, Conferncia de
Haia/1907), sendo proibido o uso de armas, projteis ou materiais destinados a causar
sofrimento desnecessrio (art. 23). As violaes e os crimes de guerra podem ocorrer em
conflitos armados internos (o art. 3, comum a todas as quatro Convenes de Genebra, fornece,
para os conflitos armados no-internacionais no territrio de uma das partes, garantias mnimas
para proteo dos que no tomaram parte nas hostilidades, bem como enfermos e feridos). Com o
Protocolo II/1977, o citado artigo passou a ser aplicado a todos os conflitos armados no-
internacionais no territrio de Estado-parte entre suas foras armadas e foras armadas
dissidentes/grupos armados organizados (SHAW: 2010).
Crimes de guerra: o art. 6 do Acordo de Londres/1945 (que criou o Tribunal de Nuremberg)
tipificou crimes de guerra, assim como o art. 3 do Estatuto do Tribunal Penal Internacional para a
ex-Iugoslvia (Resoluo CSONU n 827).
Segundo Bassiouni, os crimes de guerra consistem em categoria que envolve 71 instrumentos
relevantes datados de 1854-1998, muitos dos quais corporificam, codificam ou evidenciam o
direito internacional costumeiro - cuja regulao de conflitos armados tambm se aplica. A
maioria de tais instrumentos foi delineada com clareza e especificidade suficientes, o que
evidenciam suas caractersticas penais. Bassiouni menciona que as quatro Convenes de
Genebra de 1949 e seus dois Protocolos adicionais so as codificaes mais abrangentes e com as
caractersticas penais mais especficas e aponta que se trata de jus cogens.
Atualmente, os crimes de guerra se encontram definidos no art. 8 do Estatuto de Roma
(Tribunal Penal Internacional). Integra a definio de tais crimes a circunstncia especial de
serem parte integrante de um plano ou de uma poltica ou de uma prtica em larga escala (art. 8
.1 ) .
Imprescritibilidade: Nem o Estatuto de Nuremberg/Tquio, nem a Conveno sobre o
Genocdio de 1948, nem as quatro Convenes de Genebra/1949 a preveem expressamente.
Apesar disso, o Tribunal da Ex-Iugoslvia (Caso Furundzija) afirmou que "a natureza
imperativa da proibio da tortura produz a imprescritibilidade desta infrao, acrescentando
que os crimes de competncia da Corte no so prescritveis" (estende o campo de aplicao da
imprescritibilidade s violaes graves das Convenes de Genebra de 1949, infrao das leis e
costumes da guerra, ao genocdio e aos crimes contra a humanidade).
Apesar de a Assembleia Geral da ONU ter elaborado a Conveno sobre a Imprescritibilidade
dos Crimes de Guerra e dos Crimes Contra a Humanidade (Conveno de Nova York, 1968),
esta no obteve muitas ratificaes, sendo criticada pela aplicao aos crimes cometidos antes
de sua entrada em vigor (art. 1); por outro lado, a Conveno Europeia sobre a
Imprescritibilidade (Estrasburgo, 1974), que no previa a sua retroatividade, tambm s foi
ratificada pelos Pases Baixos/Romnia - o que evidencia a ento falta de consenso sobre o tema.
OBS: por razes tcnico-jurdicas brasileiras, o Brasil no ratificou a Conveno de Nova York!
Entretanto, tramita na Cmara dos Deputados (janeiro/2012) o Projeto de Lei n 4.038/2008, que
estabelece, entre outras coisas, a imprescritibilidade dos crimes de guerra.
O Estatuto de Roma (TPI) adotou a imprescritibilidade expressa, geral e definitiva (ao penal e
penas - art. 29/duas vertentes: obrigao de fazer com que tais crimes sejam imprescritveis no
27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 11
mbito interno dos Estados ou que os crimes so imprescritveis perante o TPI apenas). Parte da
doutrina considera que tal Estatuto tem efeito apenas declaratrio de regra costumeira prvia;
outros acreditam que a baixa adeso Conveno demonstra a falta de consistncia costumeira
(ausncia de opinio juris); parte da doutrina entende, ainda, que o art. 29 reflete o estado do
direito internacional costumeiro ou configura norma costumeira em formao. OBS: no cabe a
crtica da aplicao retroativa da imprescritibilidade no TPI!
A favor da imprescritibilidade: Relatrio do XV Encontro Nacional de Procuradoras e
Procuradores dos Direitos do Cidado, 2009: "Como se tratam de crimes jus cogens, a
prescritibilidade desses crimes pela inao do Estado no admitida pelo direito costumeiro
internacional. O Brasil no firmou a Conveno da ONU sobre crimes imprescritveis, mas esta
tem efeito declaratrio e no constitutivo, expressa um consenso". No mesmo sentido, Debate
sobre a imprescritibilidade da tortura/ desaparecimento forado, que se aplicam ao tema:
"Marcelo Miller - PRDC/ RJ -(...) O primeiro ponto diz respeito existncia de um costume de
imprescritibilidade com base na Conveno das Naes Unidas, que at a dcada de 30 tinha
poucos Estados partes, no se podendo falar assim de prtica reiterada. Falar de um contedo
declaratrio da Conveno tambm uma dificuldade, porque a conveno estabelece apenas
um dever de se criar imprescritibilidades e no as declara. E esse costume de
imprescritibilidade seria oponvel perante a ordem internacional e no interna. Tambm
quando o TPI fala nos crimes mais graves de violao aos direitos humanos exigem uma
tipificao alm da prevista no Estatuto de Roma. Eugnio Arago - Compreendo suas
ponderaes. O assunto no fechado. Entendo que o Tratado de Roma para obrigar os
Estados a legislarem antes declaram a imprescritibilidade desses crimes".
Competncia para processar: A jurisdio do TPI limita-se a crimes cometidos aps
1/07/2002, atuando de forma complementar aos sistemas nacionais. Tambm possvel a
jurisdio universal por parte dos Estados. Lembrar que o exerccio da jurisdio penal
internacional pelos Estados , em regra, livre, cabendo ao Estado que se ope comprovar o
impedimento: CIJ, Caso Ltus (Imprio Turco x Frana); e Caso Blgica x Congo. A
competncia do TPI est restrita aos crimes de guerra previstos no tratado que o criou (nullum
crimen sine lege). No basta subsuno formal ao art. 8 do Estatuto de Roma, mas tambm
leso efetiva comunidade internacional (art. 17.1.d). Restringe-se aos crimes ocorridos no
territrio de Estado-parte ou ru nacional de Estado-parte (iniciativa do Procurador/Estado-
parte)
Para os crimes anteriores houve a criao de Tribunais "ad hoc" (Iugoslvia, Ruanda, Tquio) -
que, por definio, julgam crimes anteriores sua constituio. No h limitaes territoriais
quando a iniciativa do Conselho de Segurana da ONU (Sudo x Lbia).
Investigao pelo Comit Internacional da Cruz Vermelha: O Comit competente para
cuidar da assistncia pessoa nos conflitos armados/catstrofes/tragdias, naturais ou no.
competente tambm para velar pela aplicao do Direito Humanitrio por parte dos Estados,
para o que tem poderes inclusive para investig-los ou para servir de intermedirio entre entes
estatais em tratativas que envolvam matria humanitria (PORTELA, 2009).
A competncia investigativa pode ser extrada do artigo 4 do Estatuto do CICV: "1. O papel do
CICV ser: c) empreender as tarefas determinadas pela Conveno de Genebra, trabalhar pelo
cumprimento correto do Direito Internacional Humanitrio em casos de conflitos armados e
tomar conhecimento de quaisquer queixas baseadas em supostos casos de desrespeito deste
direito; 2. Na qualidade de instituio neutra, independente e de intermediao, o CICV pode
promover qualquer iniciativa humanitria que tenha relao com o seu papel, e pode examinar
qualquer problema que necessite de anlise por uma instituio deste tipo".
27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 12
IT E M 2
Ponto 2.a. Direito Internacional Privado. Evoluo histrica. Conflito de leis e espcies
de normas.
Paulo Alexandre Rodrigues de Siqueira
Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 26 CPR; PORTELA, P. H. G. Direito
internacional pblico e privado. 3 Edio. Ed. Jus Podivm, 2011. DOLINGER, J. Direito
internacional privado. 4 Edio. Ed. Renovar, 1997. STRENGER, Irineu. Direito
internacional privado, 5 ed. S. Paulo: Ltr, 2003.
Legislao bsica: Cdigo Bustamante (Decreto 18.871/1929) e LINDB (DL 4.657/1942)..
O Direito Internacional Privado regula os conflitos de leis no espao, cuidando, essencialmente,
de estabelecer critrios para determinar qual a norma, nacional ou estrangeira, aplicvel a
relaes privadas com conexo internacional, ou seja, que transcendem os limites nacionais e
sobre as quais incidiria mais de uma ordem jurdica (PORTELA, 2011, p. 58).
Embora consagrada, a expresso "direito internacional privado" costuma ser criticada, pois o
ramo jurdico a que se refere integraria o direito interno e abrangeria, p. ex., questes
processuais, alheias ao direito privado.
De fato, o objeto do direito internacional privado inclui: (1) conflito de leis interespacial ou
interpessoal (possibilidade de aplicao simultnea de mais de um sistema jurdico para
regular determinada situao para DOLINGER (1997, p. 23), podem colidir at mesmo
sistemas pessoais diversos, como os baseados em etnias); (2) conflito de jurisdies; (3)
cooperao jurdica internacional, incluindo o reconhecimento de sentenas estrangeiras.
Na Frana, diversamente do que ocorre nos EUA, parte da doutrina inclui no DIPRI: (1)
nacionalidade, aqui entendida como a caracterizao dos nacionais do Estado; (2) condio
jurdica do estrangeiro no Pas; por outro lado, exclui-se o que "no corresponde ao direito
privado", como, p. ex., extradio. Atualmente, a exemplo de VALLADO, a doutrina
brasileira tende a congregar a opo americana e a francesa, com algumas variaes.
Tomando a antiguidade como ponto de partida, DOLINGER cita FUSTEL DE COULANGES,
em seu clssico "A Cidade Antiga", no qual este autor reala as limitaes e distines impostas
aos estrangeiros, aos quais eram vedados de participar do direito da cidade. Na Grcia e Roma o
estrangeiro no tinha direitos, pois estes derivavam exclusivamente da religio, da qual o
aliengena era excludo. Da porque no podia ser proprietrio, no podia casar, os filhos
nascidos de um cidado e uma estrangeira eram considerados bastardos, no podia contratar,
nem herdar, e dele nada podia ser herdado. Enfim, aos estrangeiros as leis da cidade no
existiam.
Scs. XII e ss.: o comrcio entre cidades do norte da Itlia (Mdena, Florena, Gnova, Veneza,
dentre outras) e provncias francesas cria situaes de conflito de leis no espao. Comeam da a
reduzir a escritos o seu prprio direito consuetudinrio, ocupando-se principalmente das
relaes jurdicas de direito privado, de modo a regular os novos conflitos exsurgentes com o
fluxo crescente de pessoas de diferentes partes, atradas pela perspectiva de ganho.
27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 13
1849: a consolidao cientfica do DIPRI d-se em 1849, em obra de SAVIGNY, que prope
encontrar a sede da relao jurdica para determinar se aplicvel a lei nacional ou estrangeira:
"Abandonando o unilateralismo, a ideia que o legislador s poderia criar normas que se
aplicassem em seu territrio e a seus nacionais, Savigny pregava a igualdade entre direitos e
uma comunidade de direito entre as naes, a permitir o bilateralismo, isto , a aplicao em
p de igualdade da lei nacional ou da lei estrangeira" (MARQUES, 2008, p. 335).
1928: Na Amrica Latina, busca-se de modo pioneiro a codificao do DIPRI, a exemplo do
Cdigo Bustamante. Posteriormente, as cortes norte-americanas criticam a indiferena com o
resultado material na soluo do conflito de leis no mtodo europeu e, nos anos 60, passam a
considerar o resultado material na escolha da norma a ser aplicada especialmente em matria
contratual e de responsabilidade civil (busca da justia substancial no caso concreto - Caso
Babcock/1963: troca da regra de conexo clssica "lex loci delicti" pela flexvel "proper law of
the tort"). Na Europa, atualmente, a evoluo do DIPRI, propulsionada pelas normas
comunitrias, levou ao pluralismo de mtodos (recurso a regras materiais de DIPRI e regras
alternativas) e flexibilizao das normas de conflito (clusulas de exceo e adoo de
princpios como o da proximidade). A evoluo recente do DIPRI na Amrica Latina, foi
provocada pela OEA (CIDIPs), iniciativas do Mercosul e reformas legislativas em alguns
pases. No Brasil, o DIPRI tradicional est incorporado Lei de Introduo s Normas do
Direito Brasileiro (1942), e a evoluo faz-se sentir especialmente nos tratados.
Acerca do conflito de leis, pode-se afirmar que a principal tarefa do direito internacional
privado a de procurar qual a soluo adequada para resolver um conflito de leis no espao.
Este pode ser considerado o objeto bsico do direito internacional privado. Nesse ponto, vale
referir que duas escolas divergem acerca do objeto do direito internacional privado. So elas a
(a) Escola Francesa: diz que o Direito Internacional Privado possui cinco objetos: conflito de
leis, conflito de jurisdio, direitos adquiridos, nacionalidade e condio jurdica do estrangeiro; e
a (b) Escola Anglo-americana: diz que o Direito Internacional Privado s possui um objeto,
que o conflito de leis. Essa a corrente adotada no Brasil.
O conflito surge do contato entre ordens jurdicas diferentes. O Direito Internacional Privado
soluciona o conflito de forma indireta, pois ele apenas indica a norma a ser aplicada de acordo
com cada caso concreto em que se envolva um estrangeiro. Ex: o juiz brasileiro em
determinados casos pode aplicar lei estrangeira aqui no Brasil (vide LINDB, art. 7, 4).
Atualmente, as espcies de normas de direito internacional privado no se limitam a princpios
(tal qual a ordem pblica) e regras de conexo clssicas (ou rgidas). Para alcanar resultados
materialmente equitativos, hoje o direito internacional privado conta tambm com: (1) normas
materiais: regulam a conduta, solucionando diretamente o caso; (2) normas narrativas: sem
regular conduta, ditam diretrizes e fins, para a interpretao de outras normas (soft law); (3)
normas alternativas, como, p. ex., a aplicao da lei favorvel ao consumidor; (4) normas
flexveis: permitem ao juiz ou partes valorar elementos do caso concreto, para determinar a lei
aplicvel, p. ex. aplicando o princpio da proximidade.
27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 14
Ponto 2.b. Organizao Internacional. Caractersticas. Evoluo. Espcies e
finalidades. Regime jurdico. Santa S. Prerrogativas e imunidades no Brasil
Paulo Alexandre Rodrigues de Siqueira
Principais obras consultadas: Resumo do 26 CPR; PORTELA, P. H. G. Direito internacional
pblico e privado. 3 Edio. Ed. Jus Podivm, 2011. REZEK, J. F. Direito internacional pblico.
10 Edio. Ed. Saraiva, 2007. MAZZUOLI, VALRIO. Curso de Direito Internacional
Pblico. 5 Edio, 2011.
Legislao bsica: no indicou.
A sociedade internacional no composta apenas por Estados. Com efeito, outros entes atuam
no mbito das relaes internacionais, dentre os quais entidades criadas e formadas por Estados,
com estrutura e personalidade jurdica prprias e com o objetivo de administrar a cooperao
internacional em temas de interesse comum. Tais sujeitos de Direito Internacional so as
organizaes internacionais, tambm conhecidos como organismos internacionais ou
organizaes intergovernamentais.
Organizao Internacional: entidades compostas por Estados por tratado multilateral
("Carta") de carter especial (natureza convencional e institucional), com aparelho institucional
permanente (rgos/agentes; em geral: rgo plenrio/rgo executivo/secretariado) e
personalidade jurdica prpria de direito internacional (derivada= porque se origina dos Estados)
para cooperao internacional em temas de interesse comum. A personalidade jurdica ou est
no ato constitutivo ou inferida dos poderes/objetivos da organizao e sua prtica (vide "caso
Reparao por ferimentos recebidos a servio das N. Unidas"- CIJ: ONU tem direito
reparao pela morte de seu mediador (Folke Bernadotte) em Jerusalm/1948 e tem
personalidade jurdica internacional objetiva (vale tambm perante Estados no membros)
porque era indispensvel para atingir seus objetivos/princpios. No se confundem com ONGs:
entes privados c/ personalidade jurdica de direito interno que eventualmente atuam no mbito
internacional (PORTELA).
Caractersticas: multilateralidade (mn. 3 membros); permanncia (prazo indeterminado);
institucionalizao (rgos/agentes prprios); voluntariedade da associao; poder normativo
(interno: suas atividades; externo: para demais sujeitos de DIP); princpio majoritrio (Mercosul
por consenso); controle (competncia para supervisionar cumprimento de tratados/normas de seu
mbito); competncia impositiva (impor suas decises/ aplicar sanes).
Evoluo: surgimento com evoluo do Estado moderno e de uma ordem internacional que
demandava cooperao internacional que a diplomacia no satisfazia. Surgiram as conferncias
internacionais: reunies para tratar de problemas entre Estados. Aps Congresso de Viena/1815:
conferncias internacionais regulares que ensejaram surgimento de "instituies internacionais"
(SHAW). Sc. XIX: desenvolvimento de instituies internacionais no governamentais
privadas (Comit Internacional da Cruz Vermelha/Associao de Direito Internacional) e
tambm organizaes internacionais pblicas. Conceitos introduzidos por elas (encontros
regulares/ secretariados permanentes/ deciso maioria/ voto ponderado/ contribuio financeira
proporcional) formam as bases das organizaes internacionais do sc. XX: grande inovao a
abrangncia global (ONU).
Espcies e finalidades: (REZEK): Quanto ao alcance: universal (maior nmero de Estados sem
restries geogrfica/cultural/etc; ONU/Agncias Especializadas da ONU como OIT/UNESCO) e
regional (Estados com vnculo geogrfico/cultural/histrico; Ex: OEA/Liga dos Estados
27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 15
rabes-LEA/Mercosul); Quanto domnio temtico: vocao poltica (principalmente paz e
segurana - ONU/OEA) e vocao especfica (fim econmico/financeiro/cultural/tcnico. Ex:
Agncias Especializadas da ONU/FMI/OMS) (PORTELA): Quanto natureza dos poderes
exercidos: intergovernamentais (relao de coordenao com membros; decises
maioria/consenso) e supranacional (relao de subordinao; decises imediatamente
executveis nos Estados)
Regime jurdico: como so criadas por tratados e estes devem ser interpretados/aplicados por
meio do DIP, este , em regra, o direito aplicvel s organizaes internacionais. A
regulamentao interna da organizao rege relaes de trabalho/criao de rgos/servios
administrativos. Se no h previso, o DIP aplica-se subsidiariamente. O direito interno dos
Estados rege: aquisio/arrendamento de terras, contratos de equipamentos/servios,
responsabilidade civil danos causados pela organizao ou contra ela (SHAW).
Santa S: Cpula governativa da Igreja Catlica, no Estado (embora tenha
territrio/pop./governo; no preenche o critrio teleolgico= fins do Estado e no possui
dimenso pessoal= nacionais); no organizao internacional e sim caso nico de
personalidade internacional anmala (REZEK, 2007, p. 242). Atual configurao: Acordos de
Latro (1929): concordata+tratado poltico+conveno financeira (+ reconhecimento de
propriedade de imveis dispersos/plena soberania nos 44 hectares da colina vaticana = Estado
da Cidade do Vaticano). Celebra concordatas: compromissos sobre as relaes da Igreja com o
Estado. No entendimento de Valrio Muzzuoli (MAZUOLI, 2011, pginas 408-414), "Desde
muito tempo se discute a que categoria jurdica pertencem a chamada Santa S (cpula do
governo da Igreja Catlica) e o Estado da Cidade do Vaticano. Embora a Santa S esteja
intimamente ligada ao Estado do Vaticano (este ltimo resultante dos Tratados de Latro de
1929) e o Papa seja tanto o chefe de uma como do outro, a personalidade jurdica internacional
da Igreja no precisamente a mesma do Estado da Cidade do Vaticano.
Dessa forma, cabe aqui estudar em separado a Santa S e o Estado da Cidade do Vaticano,
analisando suas principais diferenas luz do Direito Internacional Pblico. A Santa S. Como se
sabe, o incio do Direito Internacional coincide, no por acaso, como fim da ideia da repblica
crist chefiada pela Igreja Catlica, quando se passa (desde os tratados de Westflia de 1648) da
Respublica sub deo para sociedade de Estados soberanos e independentes. Em outras palavras,
os Estados nasceram (a partir desse momento histrico) de forma autnoma e independente,
com caractersticas soberanas e sem qualquer subordinao (superiorem non recognoscentes) a
um poder do tipo religioso (ao que se chamou de "sistema estatal europeu", tambm
caracterizado pela diversidade religiosa, fruto da reforma protestante).
Ocorre que mesmo essa nova estruturao da sociedade internacional (formada agora por
Estados soberanos e independentes, desvinculados do poder religioso da Igreja) manteve o
reconhecimento da figura do Papa com a qualidade de Soberano perante as relaes
internacionais, semelhana de qualquer Chefe de Estado. Como consequncia, a expresso de
sua autoridade (chamada de Santa S) foi reconhecida como sujeito do Direito Internacional,
mesmo no sendo tecnicamente um Estado. Tal se deu porque o Direito Internacional aceita a
subjetividade internacional de certos entes que no so Estados, desde que presentes certos
requisitos, como a mantena de relaes internacionais com os demais sujeitos do direito das
gentes, seu reconhecimento por parte de tais sujeitos etc. Sob a tica do Direito Internacional
relevante o fato de que nunca se negou Santa S a capacidade jurdica de agir (isto , de
participar das relaes internacionais) em p de igualdade com as demais potncias soberanas,
ao que se denomina princpio da efetividade nas relaes internacionais. relevante tambm o
fato de que sua personalidade internacional nunca foi posta em dvida mesmo por Estados de
27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 16
populao predominantemente no catlica. Posteriormente, com a criao da Cidade Estado do
Vaticano (a partir de 1929) o Papado passou ento a abranger "duas pessoas internacionais
distintas, uma das quais uma das quais, a prpria Igreja, a condio bsica da existncia da
outra". Da alguns autores terem equiparado essa situao de uma unio real.
A definio de Santa S feita pelo art. 361 do Cdigo de Direito Cannico de 1983 nos
seguintes termos: "Sob a denominao de S Apostlica ou Santa Se, neste cdigo vm no s o
Romario Pontfice, mas tambm) a no ser que pela natureza da coisa ou pelo contexto das
palavras se depreenda o contrrio., a Secretaria de Estado, o Conselho para os negcios pblicos
da Igreja e os demais organismo da Cria Romana".
No obstante ter a Santa S o seu governo sediado na Cidade Estado do Vaticano, ela no se
acha limitada ao territrio deste; alis, ela no se limita a territrio algum. De fato, os seus
membros encontram-se espalhados por todas as partes do planeta e suas normas no encontram
limitao de outra ordem que no as da prpria Igreja. Alis, muito antes da criao da Cidade
Estado do Vaticano (o que ocorreu somente em 1929) a Santa S j firmava tratados e acordos
internacionais e participava das relaes internacionais, de sorte que a sua personalidade
jurdica (e isso no se nega) bem anterior aos Tratados de Latro. Assim, o fato do
reconhecimento da personalidade internacional da Santa S sem dvida, sui generis -
histrico, no tendo sido jamais contestado luz do direito das gentes. Como observou Le Fur,
no porque Constitui um Estado que a Santa S soberana: ", ao contrrio, a criao do
Estado pontifcio que constitui uma consequncia da soberania inerente natureza da Igreja".
preciso compreender a histria para se ter a exata noo da personalidade jurdica
internacional da Santa S, que representa, repita-se, a cpula do governo da Igreja Catlica e
tem como autoridade mxima o Papa.
A primeira parte dessa histria diz respeito ao perodo anterior a 1870, quando o Papa
englobava em sua pessoa o poder espiritual, de chefe da Igreja Catlica, e o poder temporal, de
chefe dos Estados pontifcios." Havia, assim, duas pessoas de Direito Internacional: a Santa S e
os Estados pontifcios, ambas tendo como chefe a figura do Papa. No que tange ao seu poder
temporal, o papa tinha autoridade Similar a de qualquer chefe de Estado: mantinha relaes com
potncias estrangeira e participava das relaes internacionais. Mas como destaca Accioly, esse
poder temporal do Papa "nunca foi seno um acessrio de seu poder espiritual. O primeiro era,
sem dvida, uma garantia para a independncia do segundo. Mas, o certo que, acima de sua
qualidade de soberano temporal, sempre esteve a de soberano espiritual, cuja autoridade
ultrapassava os limites dos Estados pontifcios, tornando-se mundial. E essa qualidade primacial
o que constitui a verdadeira razo de ser do Papado". E conclui: "Em todo caso, a soberania
temporal do Vigrio de cristo bastava para que se no discutisse a situao internacional da
Santa S"'.
A segunda parte da histria ocorre depois de 1870, quando Vittorio Emanuele II se apodera
violentamente de Roma (sede do Papado) e d surgimento chamada "questo romana". O que
ocorreu foi o seguinte: a partir da referida anexao de Roma ao reino da Itlia sob a dinastia da
Casa de Savoia, em 20 de setembro de 1870, o poder temporal do Papa (de chefe dos Estados
pontifcios) desapareceu, pois at ento (internacionalmentee juridicamente) s se considerava
ao Papa o carter de chefe de um Estado. Desaparecendo o Estado (pela anexao de Roma
Itlia), o Papa perderia a sua personalidade internacional. Certamente, esse despojo territorial
geraria um inconformismo em todo o mundo e aos milhares de catlicos espalhados pelas
diversas potncias, os quais obviamente exigiriam uma satisfao do governo italiano por conta
da nova situao instaurada. Em vista desse fato, os estadistas italianos procuraram no
constranger o exerccio do poder espiritual do Papa na sua condio de chefe da Igreja Catlica
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e, para tanto, promulgaram (em 13 de maio de 1871) a chamada Lei das Garantias, segundo a
qual o "Sumo Pontfice conserva a dignidade, a inviolabilidade, e todas as prerrogativas
pessoais de soberano, garantindo-se lhe, com a franquia territorial, a independncia e o livre
exerccio da autoridade especial da Santa S". Com isso, alm de a Itlia ter deixado claro que o
Papa no sdito de ningum, tambm atribuiu personalidade jurdica (em princpio, interna)
Santa S. dizer, atribuiu-se ao Papa soberania internacional, por no depender de nenhum dos
poderes conhecveis do sistema tripartite moderno (Legislativo, Executivo e Judicirio), alm de
inviolabilidade e imunidade jurisdio penal e civil (sem a possibilidade de ser demandado
judicialmente). Apesar das divergncias doutrinrias sobre a juridicidade de tais prerrogativas
papais, uma coisa foi certa: a soberania espiritual (honorfica, religiosa, moral) da Igreja
Catlica tornou-se inconteste pela Lei das Garantias.
Como se percebe, as relaes entre a Santa S e o Vaticano tm natureza absolutamente sui
generis. Foi precisamente nos Tratados de Latro que esses dois atores- a Santa S e a Itlia -
com suas estipulaes recprocas, deram origem a esse novo sujeito: o Estado da Cidade do
Vaticano, que pode ser considerado um Estado instrumental a servio da Santa S. Assim, tem-
se que a soberania do Estado da Cidade do Vaticano originria, porque decorre da prpria
existncia do Estado, mas com sua Representao e seu poder de governo submetidos
autoridade da Santa S, suprema instituio governativa da Igreja Catlica. A Santa S,
portanto, no um elemento acima e fora do Estado, mas dele integrante, sendo o seu poder (ou
chefia) espiritual, formando com o Estado um nico ente jurdico.
Alm do referido acordo poltico, como se falou, foi tambm celebrada (no mbito dos tratados
de Latro de 1929) uma concordata entre a Santa S ea Itlia. Esta, contudo, foi de menor
interesse para o Direito Internacional Pblico (no obstante ter sido de grande interesse para a
Santa S). Entre outras coisas, por meio dela reconheceu-se ao catolicismo a qualidade de
religio oficial do Estado italiano. Ali tambm se previu o respeito s festas religiosas catlicas
(tidas a partir dai como feriados nacionais), a validade civil do casamento religioso e a proibio
da instituio do divrcio.
Em suma, nenhuma outra comunidade religiosa agrupa, no mundo, todo as caractersticas que
tem a Igreja Catlica (universalidade, unidade, autoridade moral etc.) e uma organizao
semelhante sua, o que transfonna a Santa S num caso verdadeiramente nico na arena
internacional. Mas se no se quiser atribuir ao Papa individualmente, a qualidade de sujeito do
Direito Internacional Pblico - qualidade, ao que parece do estudo ora realizado, inconteste-,
no se poder negar ao Estado da Cidade do Vaticano tal prerrogativa, como se ver a seguir."
Prerrogativas e imunidades no Brasil: As imunidades das organizaes internacionais esto
fundadas na necessidade para o efetivo exerccio de suas funes (preservar independncia).
Prerrogativas e imunidades de representantes tambm so abordadas em acordos sobre sedes
entre as organizaes e os Estados (em regra: imunidade de jurisdio interna/ inviolabilidade
de prdios e arquivos/privilgios fiscais e monetrios/liberdade de comunicao). No existem
regras generalizadas e sim acordos especficos. A ONU e suas Agncias Especializadas tm
ampla imunidade prevista em sua Carta e Convenes Gerais de 1947 (SHAW).
No Brasil: STF (RE 578543/MT) cassou deciso do TST que no reconheceu imunidade da
ONU/PNUD em reclamao trabalhista (a relativizao da imunidade de jurisdio dos Estados
estrangeiros baseada na igualdade soberana e reciprocidade, distinguindo-se atos de
imprio/gesto com base em norma costumeira internacional e no se aplica s organizaes
internacionais porque no tm as mesmas caractersticas daqueles). Sua imunidade tem
27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 18
fundamento em tratados (vontade dos Estados). Segundo REZEK, possvel que isso mude por
coerncia e face a interesses sociais relevantes para situao anloga a dos Estados.
Obs.: parecer consultivo da CIJ Imunidade ao processo legal (reconheceu imunidade de
Cumaraswamy, Rel. Especial da Comisso de Dir. Hum. da ONU sobre independncia de juzes e
advogados na Malsia em relao a palavras pronunciadas em entrevista publicada em jornal e
que a Malsia tinha obrigao de informar seus tribunais sobre a deciso do Secretrio Geral da
ONU nesse sentido - SHAW).
QUESTO DE PROVA: O tema foi abordado na questo 60, do CPR 26, a seguir transcrita,
juntamente com a assertiva dada como correta no gabarito definitivo: 60. GOVERNOS
ESTRANGEIROS BEM COMO AS ORGANIZAES DE QUALQUER NATUREZA, QUE
ELES TENHAM CONSTITUDO, DIRIJAM OU HAJAM INVESTIDO DE FUNES
PBLICAS, c) ( ) no podem adquirir no Brasil bens imveis ou suscetveis de desapropriao,
mas podem, os governos estrangeiros, adquirir a propriedade dos prdios necessrios sede
dos representantes diplomticos ou dos agentes consulares.
Ponto 2.c. Desaparecimento forado como crime internacional. Crime de ius cogens.
Normativa internacional. Imprescritibilidade.
Paulo Alexandre Rodrigues de Siqueira
Principais obras consultadas: Resumo do 26 CPR; PORTELA, P. H. G. Direito internacional
pblico e privado. 3 Edio. Ed. Jus Podivm, 2011. REZEK, J. F. Direito internacional pblico.
10 Edio. Ed. Saraiva, 2007. MAZZUOLI, VALRIO. Curso de Direito Internacional
Pblico. 5 Edio, 2011.
Legislao bsica: no indicou.
Desde a dcada de 80 a ONU se debrua sobre o tema do desaparecimento forado, no entanto,
foi apenas em 2006 que a Assembleia Geral aprovou a Conveno para Proteo de Pessoas
Contra o Desaparecimento Forado definindo-o como crime contra a humanidade. Na
Conveno, os Estados comprometem-se a incluir o crime no cdigo penal e garantir
mecanismos para aplicao da lei nos seus territrios.
O art. 7 do Estatuto do TPI tambm criminaliza a prtica do desaparecimento forado como
crime contra a humanidade, sendo que sua competncia est circunscrita aos ataques
generalizados/ou em grande escala contra populao civil, que tenha como autores no apenas o
Estado, mas tambm organizaes polticas e motivaes polticas. Salienta-se que a categoria
de crimes contra a humanidade surgiu ainda na dcada de 50, com o Tribunal de Nuremberg,
sendo reafirmada no Estatuto de Roma.
A normatividade internacional conta tambm com a Conveno Interamericana contra o
Desaparecimento Forado, que entrou em vigor em 1996, sendo considerada precursora na
normativa internacional sobre o tema (HEINTZE, 2009, p. 56).
O crime de desaparecimento forado crime de lesa-humanidade e como tal abarcado pela
Conveno sobre a Imprescritibilidade de Crimes de Guerra e Crimes contra a
Humanidade de 1968, assinada pelo Brasil, que, no entanto, no a ratificou, o que no impede
27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 19
sua aplicao a todos os Estados, conforme relembrou ex-presidente da Corte, A. A. Canado
Trindade, em seu voto separado no Caso Almonacid: que a configurao dos crimes contra a
humanidade uma manifestao mais da conscincia jurdica universal, de sua pronta reao
aos crimes que afetam a humanidade como um todo. Destacou que com o passar do tempo, as
normas que vieram a definir os "crimes contra a humanidade" emanaram, originalmente, do
Direito Internacional consuetudinrio, e desenvolveram-se, conceitualmente, mais tarde, no
mbito do Direito Internacional Humanitrio, e, mais recentemente no domnio do jus cogens,
do direito imperativo (Almonacid, pargrafo 28). Esse entendimento foi um dos fundamentos
para condenao do Brasil, no caso Gomes Lund e outros (Guerrilha do Araguaia) VS. Brasil,
pela Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Crimes contra a humanidade so reconhecidos como normas de jus cogens (conforme esposado
no entendimento da Corte Interamericana), que a norma aceita pela comunidade internacional
de Estados que no permite nenhuma derrogao. Tambm chamada de norma peremptria ou
cogente (ARAGO, 2009:360).
Apreciando o tema, o judicirio argentino (Cmara Federal en lo Criminal y Correccional) j
decidiu que "o desaparecimento forado de pessoas, em cuja definio se inscrevem os fatos
aqui investigados, constitui um crime contra a humanidade, como tal imprescritvel, e essa
caracterstica se impe sobre todas as normas internas que possam estar contidas em
disposies contrrias, independentemente da data de sua consumao"1. Essa deciso possui o
diferencial de ter sido proferida por uma corte local interna, que se mostra alinhada ao
entendimento das cortes supranacionais pela imprescritibilidade dos crimes contra a
humanidade e cogncia da normativa internacional.
Dessas afirmaes decorre a concluso de imprescritibilidade do crime de desaparecimento
forado: 1) regras de ius cogens no esto sujeitas prescrio, 2) da natureza de crime contra a
humanidade, tambm no prescritveis. Ademais, a jurisprudncia Internacional, inclusive da
Corte Interamericana, tambm alude natureza permanente do crime de desaparecimento
forado, que embora no seja em si um fator de imprescritibilidade, impede a contagem do
prazo prescricional, enquanto desaparecida a pessoa, impedindo a alegao da prescrio do
crime pelo Estado infrator.
Obs.: ANISTIA NO BRASIL: Em 29 de abril 2010, o STF, no julgamento da ADPF 153/DF
(rel. Min. Eros Grau), afirmou que a lei da anistia se deu por soluo consensual das partes (em
plena ditadura), que no era aplicvel a jurisprudncia internacional (no seria anistia
'unilateral', mas recproca) e que o cidado tinha direito verdade (mas que eventual 'Comisso de
Verdade' no tinha qualquer finalidade de persecuo penal). Ficaram vencidos apenas o Min.
Lewandowski e o Min. Ayres Britto. Vale transcrever trecho do voto do Min. Rel. Eros
Grau:
"Reconheo que a Corte Interamericana de Direitos Humanos, em diversos julgamentos
- como aqueles proferidos, p. ex., nos casos contra o Peru ("Barrios Altos", em 2001, e
"Loayza Tamayo", em 1998) e contra o Chile ("Almonacid Arellano e outros", em 2006) -,
proclamou a absoluta incompatibilidade, com os princpios consagrados na Conveno
Americana de Direitos Humanos, das leis nacionais que concederam anistia, unicamente,
a agentes estatais, as denominadas "leis de auto-anistia".
A razo dos diversos precedentes firmados pela Corte Interamericana de Direitos
Humanos apoia-se no reconhecimento de que o Pacto de So Jos da Costa Rica no
1
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-64452005000200008&script=sci_arttext#nt09. Acesso em 10/05/2012.
27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 20
tolera o esquecimento penal de violaes aos direitos fundamentais da pessoa humana
nem legitima leis nacionais que amparam e protegem criminosos que ultrajaram, de
modo sistemtico, valores essenciais protegidos pela Conveno Americana de Direitos
Humanos e que perpetraram, covardemente, sombra do Poder e nos pores da
ditadura a que serviram, os mais ominosos e cruis delitos, como o homicdio, o
sequestro, o desaparecimento forado das vtimas, o estupro, a tortura e outros
atentados s pessoas daqueles que se opuseram aos regimes de exceo que vigoraram,
em determinado momento histrico, em inmeros pases da Amrica Latina.
preciso ressaltar, no entanto, como j referido, que a lei de anistia brasileira,
exatamente por seu carter bilateral, no pode ser qualificada como uma lei de auto-
anistia, o que torna inconsistente, para os fins deste julgamento, a invocao dos
mencionados precedentes da Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Com efeito, a Lei n 6.683/79 - que traduz exemplo expressivo de anistia de "mo
dupla" (ou de "dupla via"), pois se estendeu tanto aos opositores do regime militar
quanto aos agentes da represso - no consagrou a denominada anistia em branco,
que busca, unicamente, suprimir a responsabilidade dos agentes do Estado e que
constituiu instrumento utilizado, em seu prprio favor, por ditaduras militares latino-
americanas.
Como anteriormente ressaltado, no se registrou, no caso brasileiro, uma auto-
concedida anistia, pois foram completamente diversas as circunstncias histricas e
polticas que presidiram, no Brasil, com o concurso efetivo e a participao ativa da
sociedade civil e da Oposio militante, a discusso, a elaborao e a edio da Lei de
Anistia, em contexto inteiramente distinto daquele vigente na Argentina, no Chile e no
Uruguai, dentre outros regimes ditatoriais".
Obs.: COMISSO DA VERDADE: Planalto anuncia nomes dos 7 integrantes da Comisso da
Verdade2. O Palcio do Planalto anunciou nesta quinta-feira sete nomes que vo integrar a
Comisso da Verdade, criada para esclarecer violaes de direitos humanos durante a ditadura
militar. Os nomes sero publicados na edio de amanh do Dirio Oficial da Unio. A posse
dos membros da comisso ser realizada no dia 16 de maio, com a presena dos ex-presidentes
Jos Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Incio Lula da Silva. Ainda
no foi escolhido o presidente do grupo. Quem so os sete integrantes: Jos Carlos Dias, ex-
ministro da Justia; Gilson Dipp, ministro do STJ; Rosa Maria Cardoso da Cunha, advogada de
Dilma durante a ditadura; Claudio Fonteles, ex-procurador-geral da Repblica; Paulo Srgio
Pinheiro, diplomata; Maria Rita Kehl, professora e Jos Paulo Cavalcante Filho, jurista. A
Comisso da Verdade ser responsvel por apurar as violaes de direitos ocorridas entre 1946 e
1988 - perodo que compreende os chamados "Anos de chumbo". Os sete integrantes, com ajuda
de 14 auxiliares, tero a misso de ouvir depoimentos em todo o Pas, requisitar e analisar
documentos que ajudem a esclarecer os fatos da represso militar. O prazo para o trabalho de
investigao de dois anos. As atribuies da comisso foram intensamente criticadas pelos
militares, enquanto o assunto foi discutido no Congresso Nacional. O grupo dever ter um perfil
de imparcialidade: seus membros no podem ter cargos executivos em partidos polticos ou
trabalharem em cargos de comisso ou de confiana em qualquer dos trs poderes. A Comisso
da Verdade poder pedir Justia acesso a documentos privados, investigar violaes aos
direitos humanos - com exceo dos crimes polticos, de motivao poltica e eleitorais
abrangidos pela Lei da Anistia -, "promover a reconstruo da histria dos casos de violao de
2
http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5766784-EI7896,00-Planalto+anuncia+nomes+dos+integrantes+
da+Comissao+da+Verdade.html. Acesso em 10/05/2012
27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 21
direitos humanos" e disponibilizar meios e recursos necessrios para a localizao e
identificao dos restos mortais de desaparecidos polticos. O grupo tambm ter poderes de
requisitar informaes pblicas, no importando se protegidas por sigilo, e at convocar
pessoas, incluindo os militares e ex-guerrilheiros. Prevista no projeto que veio do Senado, outra
das polmicas com as Foras Armadas a que classifica como "dever" dos militares colaborar
com a comisso.
Obs.: Tramita no Senado o PROJETO DE LEI DO SENADO, N 245 de 2011, da autoria do
Sen. Vital do Rgo, que busca acrescentar o art. 149-A ao Cdigo Penal, para tipificar o crime
de desaparecimento forado de pessoa. Explicao da ementa: Altera o Decreto-Lei n
2.848/1940 (Cdigo Penal) para incluir o art. 149-A que trata do crime de - Desaparecimento
forado de pessoa -, para tipificar a conduta de apreender, deter ou de qualquer outro modo
privar algum de sua liberdade, ainda que legalmente, em nome do Estado ou de grupo armado
ou paramilitar, ou com a autorizao, apoio ou aquiescncia destes, ocultando o fato ou negando
informao sobre o paradeiro da pessoa privada de liberdade ou de seu cadver, ou deixando a
referida pessoa sem amparo legal por perodo superior a 48 horas; dispe que na mesma pena
incorre quem ordena, encobre os atos ou mantm a pessoa desaparecida sob sua custdia;
majora a pena de metade, se o desaparecimento durar mais de trinta dias ou se a vtima for
criana ou adolescente, portador de necessidade especial, gestante ou tiver diminuda, por
qualquer causa, sua capacidade de resistncia. Data de apresentao: 11/05/2011 Situao
atual: Local: 29/02/2012 - Comisso de Constituio, Justia e Cidadania - PRONTA PARA A
PAUTA NA COMISSO.
QUESTO DE PROVA: A imprescritibilidade dos crimes contra a humanidade foi objeto de
questionamento na prova subjetiva do CPR 26, nos seguintes termos: GRUPO I - Questo 4: A
categoria de crimes contra a humanidade tem aplicabilidade no direito brasileiro?
juridicamente sustentvel, neste, a imprescritibilidade desses crimes? O Estado brasileiro
obrigado a persegui-los incondicionalmente? Considere, na resposta, a hiptese de crimes
alcanados pela lei de anistia - Lei n 6.683/1979.
IT E M 3
Ponto 3.a. Espaos Globais Comuns. Princpios. Patrimnio Comum da
Humanidade. Alto Mar. Fundos Marinhos. Antrtica. rtico. Espao Sideral.
Paulo Alexandre Rodrigues de Siqueira
Principais obras consultadas: Resumo do 26 CPR; Paulo Henrique Gonalves
Portela. Direito Internacional Pblico e Privado. 3 edio. Editora Jus Podivm; J. F.
Rezek. Direito Internacional Pblico. 9 edio. Editora Saraiva; MAZZUOLI,
VALRIO. Curso de Direito Internacional Pblico. 5 Edio, 2011.
Legislao bsica: Conveno de Montego Bay de 1982 (Decreto 1.530/95) / Lei
8617/93 / Decreto 80.978/77 e Decreto 5.753/06 / Tratado da Antrtida (ou Tratado
Antrtico) de 1959 (Decreto 75.963/75) / Conveno das Focas Antrticas (Decreto 66/91) /
Conveno sobre a Conservao dos Recursos Vivos Marinhos Antrticos (Conveno de
Canberra - Decreto 93.935/87) / Protocolo ao Tratado da Antrtida sobre Proteo ao Meio
Ambiente (Protocolo de Madri - Decreto 2.742/98) / Tratado sobre Explorao e Uso do
Espao Csmico (Decreto n 64.362, de 17 de Abril de
27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 22
1969) / Acordo sobre Salvamento de Astronautas e Restituio de Astronautas e de Objetos
Lanados ao Espao Csmico, de 1968 (Decreto 71.989/73) / Conveno sobre
Responsabilidade Internacional por Danos Causados por Objetos Espaciais (Decreto
71.981/73) / Conveno Relativa ao Registro de Objetos Lanados no Espao Csmico
(Decreto 5.906/06).
1. Espaos Globais Comuns (Global Commons). Expresso norte-americana. Para a
doutrina tradicional (Rezek), a expresso sinnimo de "domnio pblico internacional"
ou "bem pblico internacional". So as reas e recursos que no pertencem a nenhum
Estado especfico ou que se revestem de amplo interesse internacional, embora estejam sob
a soberania de um Estado. Tambm conhecidos como "patrimnio comum da humanidade"
(res communnis, diferente de res nullius). Ressalta-se que h determinadas reas que
pertencem ao territrio de um ou de mais Estados e que parecem muito importantes para
boa parcela da humanidade, como a Amaznia, o Saara e a Sibria, que no so
considerados como domnio pblico internacional.
reas de reas de domnio pblico internacional reas de dom ni o dom ni o
pblico
internaciona
l Mar;
Espao
areo;
Zonas
que esto sob a jurisdio total ou parcial
de um estado
Mar territorial (at 12 milhas); Zona
contgua (de 12 a 24 milhas); Zona
econmica exclusiva (12 a 200 milhas);
Plataforma continental (200 milhas a
pblico internacional que
NO esto sob a
jurisdio total ou parcial
de um estado Alto Mar; Zonas polares;
Espao areo subjacente
ao alto mar e s zonas
polares; Espao extra-
polares; partir da linha de base); Espao areo atmosfrico; "rea"
Espao subjacente s reas sob a jurisdio do (fundos marinhos, leito e
extra- Estado (atmosfera terrestre). subsolo do alto mar)
atmosfrico.
2. Princpios Gerais. A impossibilidade de apropriao nacional, liberdade de acesso
pesquisa e explorao e no-militarizao. Assim, o principal princpio que rege no
submet-lo a nenhuma apropriao individual. Desta feita, tem-se como concluso inicial
que eles so considerados res communis, ou seja, coisa comum que, em tese, todos podem
explorar. Havendo risco para a res communis, haver a necessidade da cooperao
internacional para sua preservao, para seu melhor aproveitamento.
3. Patrimnio Comum da Humanidade. So protegidos os patrimnios cultural,
natural e imaterial. Ver: Decreto 80.978/77 e Decreto 5.753/06. Tema passou a ser objeto
de ateno da UNESCO que, atravs de seu comit, administra a cooperao internacional
sobre o tema. Essa cooperao complementar ao estatal que a responsvel em
identificar, delimitar, proteger, conservar, valorizar e transmitir a futuras geraes tais
patrimnios por meio de polticas prprias.
4. Alto Mar. a parte do mar sobre a qual no incide o poder soberano de qualquer
Estado (Montego Bay, arts. 86-115), tendo eles, no entanto, alguns deveres, tais como o de
prestar assistncia, impedir e punir o transporte de escravos, combater a pirataria e reprimir
o trfico ilcito de entorpecentes. 1) Princpios: liberdade de navegao e sobrevoo,
colocao de cabos e dutos submarinos, construo de ilhas artificiais e instalaes
congneres e pesquisa. Passagem inocente (arts. 17/32 da Conveno). 2)
27MPF - GII - Direito Internacional Pblico e Privado 23
Jurisdio: a preservao da ordem se d pelo conceito de nacionalidade do navio e
consequente jurisdio do pas de registro sobre a embarcao em alto mar (princpio da
exclusividade de jurisdio; caso Lotus). 3) Nacionalidade das embarcaes: a
nacionalidade deve ser nica, no pode ser de convenincia - a mas sim efetiva (ligao
genuna) - e o navio deve sempre navegar com a bandeira do Estado de registro hasteada.
O navio no pode mudar de bandeira durante uma viagem ou em porto de escala, a no ser
no caso de transferncia efetiva da propriedade ou de mudana de registro, e uma
embarcao que navegue sob a bandeira de mais de um Estado no pode reivindicar qualquer
dessas nacionalidades perante um terceiro Estado, podendo, ainda, ser considerada sem
nacionalidade (Montego Bay, arts. 90/94). 4) Excees liberdade de uso: inspeo,
pirataria, trfico de escravos, trfico de entorpecentes, transmisses no autorizadas de rdio
e televiso, perseguio (direito regulado pela conveno no art. 111), poluio, colises,
reserva de peixes transzonais e direitos estabelecidos em tratados.
Curiosidade. Em 1982, quando a Conveno de Motego Bay finalmente foi aprovada,
foi criado o conceito de patrimnio comum da humanidade, consistindo no direito de a
humanidade explorar determinados espaos globais comuns em seu prprio benefcio.
Segundo ARC, nasce a uma tentativa de criao de um sujeito de direito internacional
chamado "humanidade" (todos os indivduos do globo) que, no entanto, no deu os frutos
que se imaginava, uma vez que foi considerado como patrimnio comum da humanidade
apenas os fundos marinhos. Assim, a Conveno de Montego Bay no considerou o alto
mar, por exemplo, como patrimnio comum da humanidade. A res communis rege o alto
mar. Apesar disso, ACR diz que no existe mais aquela res communis do tempo do Grcio
(espao terrestre serviria de apropriao, salvo rarssima exceo, como a antrtica, mas o
espao martimo no), j que naquela poca no havia tecnologia suficiente para servir de
suporte apropriao do espao martimo. Hoje a histria outra. Tanto assim que a
prpria Conveno de Montego Bay fala de deveres de preservao. Casos: a Austrlia
processa diuturnamente o Japo no Tribunal Internacional do Mar, por entender que eles
esto extinguindo o atum (pesca predatria - o pais fica at anos pescando, armazenando o
produto em suas embarcaes - frigorfico em alto mar).
5. Fundos Marinhos. 1) Denominao: tambm conhecida como "rea", na forma da
Conv. Montego Bay (arts. 133/155). Os fundos marinhos so definidos por excluso: no
abarca a Zona Econmica Exclusiva nem a Plataforma Continental, absorvendo as reas
subaquticas, o leito marinho e o subsolo. So patrimnio comum da humanidade. 2)
Princpios: a rea e seus recursos so insuscetveis de apropriao, mas os minerais
eventualmente extrados so alienveis; a explorao deve necessariamente reverter em prol
da humanidade em geral (benefcios distribudos equitativamente, independentemente de
sua localizao geogrfica) pela Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos. H um
rgo de soluo de controvrsia chamado de "Cmara de Controvrsias dos Fundos
Marinhos do Tribunal Internacional do Direito do Mar". 3) Regime de Estados em
reciprocidade (estgio inicial): os Estados comearam a promulgar leis internas para
estabelecer uma estrutura provisria de pesquisa e explorao da rea, normalmente com
uma poltica fundada em reciprocidade, i.e., reconhecimento mtuo de licenas de
explorao e de regimes tributrios. 4) Acordo de
1994 sobre a Implementao dos Dispositivos da Conveno de 1982 sobre o Direito do Mar Referente ao Leito Ocenico (estgio atual): iniciativa da ONU para
evitar conflito de regimes estabelecidos autonomamente pelos Estados.