Upload
tiago-lopes
View
24
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Apostila da diciplina de logica
Citation preview
1
Raciocnio Lgico
Apresentao
Este material parte integrante da Disciplina Raciocnio Lgico. Voc acessa o ambiente virtual de
aprendizagem: estuda, realiza as atividades, esclarece as dvidas com seu professor-tutor! Aqui, voc
refora o seu estudo, ainda tem a possibilidade de realizar mais atividades, aprimorando, assim, o
seu aprendizado.
Para ajud-lo a consolidar seus conhecimentos, ao longo do material, voc encontrar cones com
funes e objetivos distintos. Observe:
Fique atento: destaca alguma informao importante que no deve ser esquecida por
voc. Tambm pode acrescentar um conhecimento novo ou uma experincia ao tema
tratado.
Dica: traz novos conhecimentos em relao ao tema tratado ou pode indicar alguma fonte
de pesquisa para que voc aprofunde ainda mais seus conhecimentos no futuro.
Leitura complementar: indicao de um artigo com o objetivo de voc se aprofundar no
assunto a ser tratado.
Consolidando a aprendizagem: so listas de perguntas cujo objetivo voc confirmar,
negar ou criar um novo conhecimento ou opinio acerca do assunto que foi tratado no
material.
Objetivos da unidade: informa o que voc precisa aprender em cada unidade..
Aproveite! Voc tem em mo a chance de desenvolver ou aprofundar seus conhecimentos na rea
de Raciocnio Lgico.
Objetivo Geral
Estudar o raciocnio em seus diferentes paradigmas e suas ligaes com o afeto. Analisar o processo
de simbolizao e abstrao, naturalmente realizado por todos, na linguagem e na interpretao da
realidade.
2
3
Sumrio Unidade I - Introduo Razo, princpios da razo e atividade racional .............................................. 5
1.1 A razo ao longo da histria ....................................................................................................... 6
1.2 - Os princpios gerais da razo: identidade, no-contradio, terceiro excludo, causalidade
(razo suficiente) ................................................................................................................................. 8
1.3 - A atividade racional: a intuio e a razo discursiva (induo, deduo, abduo) ................... 9
1.4 - Origens da razo: inatismo ou empirismo? .............................................................................. 16
1.5 - As bases fisiolgicas da razo: sensao, percepo, memria e categorizao ..................... 20
1.6 - Razo e emoo ........................................................................................................................ 20
Unidade II Categorizao e teoria dos conjuntos ................................................................................. 25
2.1 - A necessidade de numerao na humanidade ......................................................................... 26
2.2- Conjuntos numricos ................................................................................................................. 33
2.3 Subconjuntos ............................................................................................................................ 44
2.4 - Operaes com conjuntos ........................................................................................................ 46
2.6 - Diagrama de Venn ..................................................................................................................... 49
Unidade III Teorias da Verdade .......................................................................................................... 55
3.1 - Ignorncia, incerteza, dogma .................................................................................................... 56
3.3 - Dados, raciocnios e concluses / Operaes lgicas ............................................................... 65
Unidade IV - A realidade e seus modelos abstratos e as Teoria das Funes ...................................... 71
4.1 - Conceito de Funo ................................................................................................................... 72
4.2 - Funo Composta ...................................................................................................................... 78
4.3 - Tipos de funo: Funo Constante e Funo Afim .................................................................. 82
4.4 - Funo Quadrtica .................................................................................................................... 87
4.5 - Logaritmos ................................................................................................................................. 93
4
5
Unidade I - Introduo Razo, princpios da razo e atividade racional
Nesta unidade voc ir:
Conceituar juzo e raciocnio.
Definir razo.
Identificar os princpios gerais da razo.
Conceituar atividade racional.
6
1.1 A razo ao longo da histria
1.1.1. Juzo e Raciocnio
Nos dicionrios encontramos o significado de juzo como bom senso, ou como a capacidade
de distinguir o verdadeiro do falso. No entanto, filosoficamente a inteligncia no s a capacidade
de conceber ideias, mas sim de estabelecer relaes, e exatamente isso que chamamos de julgar.
O juzo se encontra em quase todas as operaes cognitivas da mente o que torna difcil determinar
uma definio exata, no entanto Aristteles, diz que juzo o ato do esprito pelo qual este afirma ou
nega uma coisa de outra.
O juzo o ato essencial da inteligncia. Supe a abstrao e a generalizao, uma vez que se
baseia em uma noo comum para estabelecer confrontos entre ideias, e assim estabelecer novas
construes.
A natureza do juzo est ligada diretamente origem do conhecimento, de como alcanada
a relao de convenincia ou no-convenincia entre as ideias, pela sensao e reflexo. E esta
relao est ligada crena.
A crena a persuaso da verdade, o elemento essencial do juzo, ou seja, aquilo que se
traduz na atitude pela reflexo da relao de convenincia ou no-convenincia entre duas ideias,
resultante de uma operao intelectual.
O raciocnio o processo mental que consiste em coordenar dois ou mais juzos
antecedentes, em busca de um juzo novo, denominado concluso. O raciocnio ocorre no ltimo
costumeiro associarmos as prticas religiosas a crenas, esta associao est correta,
mas no nica. Ao observarmos duas cdulas do nosso sistema monetrio, temos outro
exemplo prtico. Compare, por exemplo, uma cdula de cinquenta reais e outra de dois reais, o
que difere as difere? O tipo de tinta que utilizada em ambas o mesmo, o tipo de material que
forma todas as cdulas so iguais, o que realmente faz uma cdula valer mais que outra a
crena estipulada pela sociedade de que aqueles smbolos fazem com que os valores sejam
diferentes.
7
avano da mente, o qual, por meio de reflexes calculadas atinge concluses distantes da ideia
inicial. O raciocnio se aproveita das convenincias (ou conexes) havidas entre os juzos, para dali
calcular concluses, as quais ficam apoiadas na validade das referidas conexes, ou seja, em sua
evidncia que uma verdade e uma certeza.
Para expressarmos um raciocnio necessrio fazer uso de argumentos (verbais ou escritos).
Argumentar expressar verbalmente um raciocnio.
Todo homem um ser racional e Eu sou um homem so exemplos de argumentaes
que justificam a concluso de que Eu sou um ser racional. Ao associarmos estas argumentaes
temos respaldo para uma concluso.
A principal diferena entre a crena e o raciocnio que na primeira no h a necessidade
de prova, uma questo de aceitao ou no; na segunda h necessidade de prova, a aceitao
depende necessariamente da argumentao.
1.1.2. Razo
A ordenao da argumentao, o raciocnio propriamente dito traz sentido para a palavra
razo, mas este no nico. Se fizermos uso de um dicionrio encontraremos razo como: modo de
pensar prprio ao Homem; faculdade de raciocinar ou de estabelecer conceitos e proposies
(argumentos) de modo discursivo (no intuitivo), segundo as regras lgicas do raciocnio; faculdade
dos princpios; faculdade de distinguir o verdadeiro do falso, o bem do mal; bom senso; justia;
dever; retido de esprito; prova por argumento; causa; motivo; ideia justificada.
Estas tantas definies de razo podem ser organizadas em quatro grupos.
1. Quando dizemos: eu tenho certeza, eu estou com a razo, identificamos razo e certeza,
uma vez que a verdade racional.
2. Quando dizemos: ela recuperou a razo, estava fora de si, identificamos razo e lucidez,
considerado o ato de estar ou no so, bom senso.
3. Quando dizemos: Joo tem as suas razes, identificamos razo e motivo, considerando que
nossas atitudes, aes esto sempre pautadas em motivos, nossa vontade racional.
4. Quando dizemos: qual a razo disso?, identificamos razo e causa, uma vez que a
realidade opera segundo as relaes causais.
Todos estes sentidos formam a nossa ideia de razo. A razo no apenas uma capacidade
moral ou intelectual, mas tambm est ligada realidade. A razo ligada capacidade moral ou
8
intelectual dos seres humanos chamada de razo subjetiva, e a razo ligada realidade, sabendo
que a realidade racional em si mesma chamada de razo objetiva.
A razo de modo geral regida por regras, por leis fundamentais. Estas leis fundamentais so
quatro e chamadas de Princpios Racionais. Todos ns obedecemos estes princpios, j que somos
seres racionais.
1.2 - Os princpios gerais da razo: identidade, no-contradio, terceiro excludo,
causalidade (razo suficiente)
1.2.1. Princpio da identidade
Uma coisa, seja qual for, s pode ser conhecida e pensada se for percebida e conservada.
Para entender melhor este princpio pegue duas canetas de marcas distintas. Observe ao mximo a
aparncia delas, mesmo que voc encontre muitas diferenas elas ainda so canetas. Existe algo
mais relevante que cor, marca, escrita, que fez voc reconhec-las como canetas, estas propriedades
so conhecidas, pensadas e percebidas, o ato de conserv-las faz com que reconhea qualquer tipo
de caneta.
Observe o seguinte desenho abaixo.
Nele podemos observar dois retngulos, um tringulo e um paralelogramo. Esta observao
pode ser feita, pois reconhecemos como tringulo, por exemplo, toda linha poligonal fechada
formada por trs lados.
Estas formas nos foram apresentadas em algum momento da vida (conhecidas), ao observ-
las guardamos determinadas propriedades (pensadas, percebidas e conservadas).
O princpio da identidade se refere ao ato de definir determinada coisa ou ideia.
1.2.2. Princpio da no-contradio
impossvel que uma coisa ou uma ideia seja e no seja alguma coisa, ao mesmo tempo.
A blusa toda azul e no toda azul. A segunda frase entra em conflito com a primeira uma
vez que o conectivo e faz com que as duas ideias sejam adicionadas, e estas ideias juntas se
contradizem.
O princpio da no-contradio afirma que uma coisa ou uma ideia que se negam a si mesmas se
autodestroem, desaparecem, deixam de existir.
9
1.2.3. Princpio do Terceiro-Excludo
Ou uma coisa ou ideias possui determinada propriedade ou no possui. Partindo do exemplo
anterior - A blusa toda azul ou a blusa no toda azul.
Ao associarmos o primeiro elemento com o segundo, ou seja, tomando como verdade A
blusa toda azul, necessariamente o terceiro elemento excludo, tomado como falso. Da mesma
forma, ao associarmos o primeiro elemento com o terceiro, tomando como verdade A blusa no
toda azul, necessariamente o segundo elemento tomado como falso.
O princpio do terceiro-excludo complementa o anterior, exige uma escolha entre duas
alternativas, considera uma verdadeira e outra falsa.
1.2.4. Princpio da razo suficiente ou princpio da causalidade
Atravs da razo as conexes entre coisas ou ideias so estabelecidas. Se h um evento, ento
outro acontece.
Pense em um nmero. Se este nmero pensado terminar em 0, 2, 4, 6 ou 8, ento este
nmero par. A concluso dita verdadeira, considerando a ideia inicial como verdadeira.
Os princpios racionais so propriedades universais, fazem parte do nosso cotidiano
considerando que somos seres racionais.
1.3 - A atividade racional: a intuio e a razo discursiva (induo, deduo, abduo)
A Filosofia distingue duas grandes modalidades da atividade racional, realizadas pela razo
subjetiva ou pelo sujeito do conhecimento: a intuio (ou razo intuitiva) e o raciocnio (ou razo
discursiva).
A atividade racional discursiva, como a prpria palavra indica, discorre, percorre uma
realidade ou um objeto para chegar a conhec-lo, isto , realiza vrios atos de conhecimento at
conseguir capt-lo. A razo discursiva ou o pensamento discursivo chega ao objeto passando por
10
etapas sucessivas de conhecimento, realizando esforos sucessivos de aproximao para chegar ao
conceito ou definio do objeto.
A razo intuitiva ou intuio, ao contrrio, consiste num nico ato do esprito, que, de uma s
vez, capta por inteiro e completamente o objeto. Em latim, intuitos significa ver.
A intuio uma viso direta e imediata do objeto do conhecimento, um contato direto e
imediato com ele, sem necessidade de provas ou demonstraes para saber o que conhece.
A intuio uma compreenso global e instantnea de uma verdade, de um objeto, de um
fato. Nela, de uma s vez, a razo capta todas as relaes que constituem a realidade e a verdade da
coisa intuda. um ato intelectual de discernimento e compreenso, como, por exemplo, quando um
mdico faz um diagnstico e apreende de uma s vez a doena, a sua causa e o modo de trat-la. Os
psiclogos se referem intuio usando o termo insight, para referirem-se ao momento em que
temos uma compreenso total, direta e imediata de alguma coisa, ou o momento em que
percebemos, num s lance, um caminho para a soluo de um problema cientfico, filosfico ou vital.
Um exemplo de intuio pode ser encontrado no romance de Guimares Rosa, Grande Serto:
Veredas. Riobaldo e Diadorim so dois jagunos ligados pela mais profunda amizade e lealdade,
companheiros de lutas e cumpridores de uma vingana de sangue contra os assassinos da famlia de
Diadorim. Riobaldo, porm, sente-se cheio de angstia e atormentado, pois seus sentimentos por
Diadorim so confusos, como se entre eles houvesse muito mais do que a amizade. Diadorim
assassinado. Quando o corpo trazido para ser preparado para o funeral, Riobaldo descobre que
Diadorim era mulher. De uma s vez, num s lance, Riobaldo compreende tudo o que sentia, todos
os fatos acontecidos entre eles, todas as conversas que haviam tido, todos os gestos estranhos de
Diadorim e compreende, instantaneamente, a verdade: estivera apaixonado por Diadorim. A razo
intuitiva pode ser de dois tipos: intuio sensvel ou emprica e intuio intelectual.
1. A intuio sensvel ou emprica o conhecimento que temos a todo o momento de nossa vida.
Assim, com um s olhar ou num s ato de viso percebemos uma casa, um homem, uma mulher,
uma flor, uma mesa. Num s ato, por exemplo, capto que isto uma flor: vejo sua cor e suas ptalas,
sinto a maciez de sua textura, aspiro seu perfume, tenho-a por inteiro e de uma s vez diante de
mim.
A intuio emprica o conhecimento direto e imediato das qualidades sensveis do objeto
externo: cores, sabores, odores, paladares, texturas, dimenses, distncias. tambm o
conhecimento direto e imediato de estados internos ou mentais: lembranas, desejos, sentimentos,
imagens.
11
A intuio sensvel ou emprica psicolgica, isto , refere-se aos estados do sujeito do
conhecimento sendo um ser corporal e psquico individual - sensaes, lembranas, imagens,
sentimentos, desejos e percepes so exclusivamente pessoais.
Assim, a marca da intuio emprica sua singularidade: por um lado, est ligada
singularidade do objeto intudo (ao isto oferecido sensao e percepo) e, por outro, est
ligada singularidade do sujeito que intui (aos meus estados psquicos, s minhas experincias).
A intuio emprica no capta o objeto em sua universalidade e a experincia intuitiva no
transfervel para um outro objeto. Riobaldo teve uma intuio emprica.
2. A intuio intelectual difere da sensvel justamente por sua universalidade e necessidade. Quando
penso: uma coisa no pode ser e no ser ao mesmo tempo, sei, sem necessidade de provas ou
demonstraes, que isto verdade. Ou seja, tenho conhecimento intuitivo do princpio da
contradio. Quando digo: o amarelo diferente do azul, sei, sem necessidade de provas e
demonstraes, que h diferenas. Vejo, na intuio sensvel, a cor amarela e a cor azul, mas vejo, na
intuio intelectual, a diferena entre cores. Quando afirmo: o todo maior do que as partes, sei,
sem necessidade de provas e demonstraes, que isto verdade, porque intuo uma forma
necessria de relao entre as coisas.
A intuio intelectual o conhecimento direto e imediato dos princpios da razo
(identidade, contradio, terceiro excludo, razo suficiente), das relaes necessrias entre os seres
ou entre as ideias, da verdade de uma ideia ou de um ser.
Na histria da Filosofia, o exemplo mais clebre de intuio intelectual conhecido como o
cogito cartesiano, isto , a afirmao de Descartes: penso (cogito), logo existo. De fato, quando
penso, sei que estou pensando e no preciso provar ou demonstrar isso, mesmo porque provar e
demonstrar pensar e para demonstrar e provar preciso, primeiro, pensar e saber que se pensa.
Quando digo: penso, logo existo, estou simplesmente afirmando racionalmente que sei
que sou um ser pensante ou que existo pensando, sem necessidade de provas e demonstraes. A
intuio capta, num nico ato intelectual, a verdade do pensamento pensando em si mesmo.
A intuio da essncia a apreenso intelectual imediata e direta de uma significao,
deixando de lado as particularidades dos representantes que indicam empiricamente a significao.
assim que tenho intuio intelectual da essncia ou significao: tringulo, imaginao,
memria, natureza, cor, diferena, Europa, pintura, literatura, tempo, espao,
coisa, quantidade, qualidade etc. Intumos ideias.
Fala-se tambm de uma intuio emotiva ou valorativa. Trata-se daquela intuio na qual,
juntamente com o sentido ou significao de alguma coisa, captamos tambm seu valor, isto , com
12
a ideia intumos tambm se a coisa ou essncia verdadeira ou falsa, bela ou feia, boa ou m, justa
ou injusta, possvel ou impossvel/,/ etc. Ou seja, a intuio intelectual capta a essncia do objeto (o
que ele ) e a intuio emotiva ou valorativa capta essa essncia pelo que o objeto vale.
1.3.1. A razo discursiva: deduo, induo e abduo
A intuio pode ser o ponto de chegada, a concluso de um processo de conhecimento, e
pode tambm ser o ponto de partida de um processo cognitivo.
O processo de conhecimento, seja o que chega a uma intuio, seja o que parte dela,
constitui a razo discursiva ou o raciocnio.
Ao contrrio da intuio, o raciocnio o conhecimento que exige provas e demonstraes e
se realiza igualmente por meio de provas e demonstraes das verdades que esto sendo conhecidas
ou investigadas. No um ato intelectual, mas so vrios atos intelectuais internamente ligados ou
conectados, formando um processo de conhecimento.
Um caador sai pela manh em busca da caa. Entra no mato e v rastros: choveu na vspera
e h pegadas no cho; pequenos galhos rasteiros esto quebrados; o capim est amassado em vrios
pontos; a carcaa de um bicho est mostra, indicando que foi devorado h poucas horas; h um
grande silncio no ar, no h canto de pssaros, no h rudos de pequenos animais.
O caador supe que haja uma ona por perto. Ele pode, ento, tomar duas atitudes. Se, por
todas as experincias anteriores, tiver certeza de que a ona est nas imediaes, pode preparar-se
para enfrent-la: sabe que caminhos evitar, se no estiver em condies de ca-la; sabe que
armadilhas armar, se estiver pronto para captur-la; sabe como atra-la, se quiser conserv-la viva e
preservar a espcie.
O caador pode ainda estar sem muita certeza se h ou no uma ona nos arredores e, nesse
caso, tomar uma srie de atitudes para verificar a presena ou ausncia do felino: pode percorrer
trilhas que sabe serem prprias de onas; pode examinar melhor as pegadas e o tipo de animal que
foi devorado; pode comparar, em sua memria, outras situaes nas quais esteve presente uma
ona etc.
Assim, partindo de indcios, o caador raciocina para chegar a uma concluso e tomar uma
deciso. Temos a um exerccio de raciocnio emprico e prtico (isto , um pensamento que visa a
uma ao) e que se assemelha intuio sensvel ou emprica, isto , caracteriza-se pela
singularidade ou pela individualidade do sujeito e do objeto do conhecimento.
13
Quando, porm, um raciocnio se realiza em condies tais que a individualidade psicolgica
do sujeito e a singularidade do objeto so substitudas por critrios de generalidade e universalidade,
temos a deduo, a induo e a abduo.
1.3.2. A deduo
A deduo e induo so procedimentos racionais que nos levam do j conhecido ao ainda
no conhecido, isto , permitem que adquiramos conhecimentos novos graas a conhecimentos j
adquiridos. Por isso, se costuma dizer que, no raciocnio, o intelecto opera seguindo cadeias de
razes ou os nexos e conexes internos e necessrios entre as ideias ou entre os fatos.
A deduo consiste em partir de uma verdade j conhecida (seja por intuio, seja por uma
demonstrao anterior) e que funciona como um princpio geral ao qual se subordinam todos os
casos que sero demonstrados a partir dela.
Em outras palavras, na deduo parte-se de uma verdade j conhecida para demonstrar que
ela se aplica a todos os casos particulares iguais.
Por isso tambm se diz que a deduo vai do geral ao particular ou do universal ao individual.
O ponto de partida de uma deduo : ou uma ideia verdadeira ou uma teoria verdadeira.
Por exemplo, se definirmos o tringulo como uma figura geomtrica cujos lados somados so
iguais soma de dois ngulos retos, dela deduziremos todas as propriedades de todos os tringulos
possveis. Se tomarmos como ponto de partida as definies geomtricas do ponto, da linha, da
superfcie e da figura, deduziremos todas as figuras geomtricas possveis.
No caso de uma teoria, a deduo permitir que cada caso particular encontrado seja
conhecido, demonstrando que a ele se aplicam todas as leis, regras e verdades da teoria. Por
exemplo, estabelecida a verdade da teoria fsica de Newton, sabemos que:
1. as leis da fsica so relaes dinmicas de tipo mecnico, isto , se referem a relaes de
fora (ao e reao) entre corpos dotados de figura, massa e grandeza;
2. os fenmenos fsicos ocorrem no espao e no tempo;
3. conhecidas as leis iniciais de um conjunto ou de um sistema de fenmenos, poderemos
prever os atos que ocorrero nesse conjunto e nesse sistema.
Assim, se eu quiser conhecer um ato fsico particular - por exemplo, o que acontecer com o
corpo lanado no espao por uma nave espacial, ou qual a velocidade de um projtil lanado de um
submarino para atingir um alvo num tempo determinado, ou qual o tempo e a velocidade para um
certo astro realizar um movimento de rotao em torno de seu eixo -, aplicarei a esses casos
particulares as leis gerais da fsica newtoniana e saberei com certeza a resposta verdadeira.
14
A deduo um procedimento pelo qual um fato ou objeto particulares so conhecidos por
incluso numa teoria geral.
Costuma-se representar a deduo pela seguinte frmula:
todos os x so y (definio ou teoria geral);
A x (caso particular);
Portanto, A y (deduo).
Exemplos
1. Todos os homens (x) so mortais (y); Scrates (A) homem (x); portanto, Scrates (A) mortal (y).
2. Todos os metais (x) so bons condutores de eletricidade (y); o mercrio (A) um metal (x);
portanto, o mercrio (A) bom condutor de eletricidade (y).
A razo oferece regras especiais para realizar uma deduo e, se tais regras no forem
respeitadas, a deduo ser considerada falsa.
1.3.3. A induo
A induo realiza um caminho exatamente contrrio ao da deduo.
Com a induo, partimos de casos particulares iguais ou semelhantes e procuramos a lei
geral, a definio geral ou a teoria geral que explica e subordina todos esses casos particulares.
A definio ou a teoria so obtidas no ponto final do percurso. E a razo tambm oferece um
conjunto de regras precisas para guiar a induo; se tais regras no forem respeitadas, a induo ser
considerada falsa.
Por exemplo, colocamos gua no fogo e observamos que ela ferve e se transforma em vapor;
colocamos leite no fogo e vemos tambm que ele se transforma em vapor; colocamos vrios tipos de
lquidos no fogo e vemos sempre sua transformao em vapor. Induzimos desses casos particulares
que o fogo possui uma propriedade que produz a evaporao dos lquidos. Essa propriedade o
calor.
Verificamos, porm, que os diferentes lquidos no evaporam sempre na mesma velocidade;
cada um deles, portanto, deve ter propriedades especficas que os fazem evaporar em velocidades
diferentes. Descobrimos, porm, que a velocidade da evaporao no o fato a ser observado e sim
quanto de calor cada lquido precisa para comear a evaporar. Se considerarmos a gua nosso
padro de medida, diremos que ela ferve e comea a evaporar a partir de uma certa quantidade de
calor e que essa quantidade de calor que precisa ser conhecida. Podemos, a seguir, verificar um
15
fenmeno diferente. Vemos que gua e outros lquidos, colocados num refrigerador, endurecem e se
congelam, mas que, como no caso do vapor, cada lquido se congela ou se solidifica em velocidades
diferentes.
Procuramos, novamente, a causa dessa diferena de velocidade e descobrimos que depende
tanto de certas propriedades de cada lquido quanto da quantidade de frio que h no refrigerador.
Percebemos, finalmente, que essa quantidade que devemos procurar.
Com essas duas sries de fatos (vapor e congelamento), descobrimos que os estados dos
lquidos variam (evaporao e solidificao) em decorrncia da temperatura ambiente (calor e frio) e
que cada lquido atinge o ponto de evaporao ou de solidificao em temperaturas diferentes. Com
esses dados podemos formular uma teoria da relao entre os estados da matria - slido, lquido e
gasoso - e as variaes de temperatura, estabelecendo uma relao necessria entre o estado de um
corpo e a temperatura ambiente. Chegamos, por induo, a uma teoria.
A deduo e a induo so conhecidas com o nome de inferncia, isto , concluir alguma
coisa a partir de outra j conhecida. Na deduo, dado X, infiro (concluo) a, b, c, d. Na induo, dados
a, b, c, d, infiro (concluo) X.
1.3.4. A abduo
O filsofo ingls Peirce considera que, alm da deduo e da induo, a razo discursiva ou
raciocnio tambm se realiza numa terceira modalidade de inferncia, embora esta no seja
propriamente demonstrativa. Essa terceira modalidade chamada por ele de abduo.
A abduo uma espcie de intuio, mas que no se d de uma s vez, indo passo a passo para
chegar a uma concluso. A abduo a busca de uma concluso pela interpretao racional de
sinais, de indcios, de signos.
O exemplo mais simples oferecido por Peirce para explicar o que seja a abduo so os
contos policiais, o modo como os detetives vo coletando indcios ou sinais e formando uma teoria
para o caso que investigam.
Segundo Peirce, a abduo a forma que a razo possui quando inicia o estudo de um novo
campo cientfico que ainda no havia sido abordado. Ela se aproxima da intuio do artista e da
adivinhao do detetive, que, antes de iniciarem seus trabalhos, s contam com alguns sinais que
indicam pistas a seguir. Os historiadores costumam usar a abduo.
De modo geral, diz-se que a induo e a abduo so procedimentos racionais que
empregamos para a aquisio de conhecimentos, enquanto a deduo o procedimento racional
que empregamos para verificar ou comprovar a verdade de um conhecimento j adquirido.
16
1.3.5. Realismo e idealismo
Vimos anteriormente que muitos filsofos distinguem razo objetiva e razo subjetiva,
considerando a Filosofia o encontro e o acordo entre ambas.
Falar numa razo objetiva significa afirmar que a realidade externa ao nosso pensamento
racional em si e por si mesma e que podemos conhec-la justamente por ser racional. Significa dizer,
por exemplo, que o espao e o tempo existem em si e por si mesmos, que as relaes matemticas e
de causa-efeito existem nas prprias coisas, que o acaso existe na prpria realidade etc.
Chama-se realismo a posio filosfica que afirma a existncia objetiva ou em si da realidade
externa como uma realidade racional em si e por si mesma e, portanto, que afirma a existncia da
razo objetiva.
H filsofos, porm, que estabelecem uma diferena entre a realidade e o conhecimento
racional que dela temos. Dizem eles que, embora a realidade externa exista em si e por si mesma, s
podemos conhec-la tal como nossas ideias a formulam e a organizam e no tal como ela seria em si
mesma. No podemos saber nem dizer se a realidade exterior racional em si, pois s podemos
saber e dizer que ela racional para ns, isto , por meio de nossas ideias.
Essa posio filosfica conhecida com o nome de idealismo e afirma apenas a existncia da
razo subjetiva.
A razo subjetiva possui princpios e modalidades de conhecimento que so universais e
necessrios, isto , vlidos para todos os seres humanos em todos os tempos e lugares. O que
chamamos realidade, portanto, apenas o que podemos conhecer por meio das ideias de nossa
razo.
1.4 - Origens da razo: inatismo ou empirismo?
De onde vieram os princpios racionais (identidade, no-contradio, terceiro-excludo e
razo suficiente)? De onde veio a capacidade para a intuio (razo intuitiva) e para o raciocnio
(razo discursiva)? Nascemos com eles? Ou nos seriam dados pela educao e pelo costume? Seriam
algo prprio dos seres humanos, constituindo a natureza deles, ou seriam adquiridos atravs da
experincia?
Durante sculos, a Filosofia ofereceu duas respostas a essas perguntas. A primeira ficou
conhecida como inatismo e a segunda, como empirismo.
O inatismo afirma que nascemos trazendo em nossa inteligncia no s os princpios
racionais, mas tambm algumas ideias verdadeiras, que, por isso, so ideias inatas.
17
O empirismo, ao contrrio, afirma que a razo, com seus princpios, seus procedimentos e
suas ideias, adquirida por ns atravs da experincia.
Em grego, experincia se diz: empeiria donde, empirismo, conhecimento emprico, isto ,
conhecimento adquirido por meio da experincia.
1.4.1. O inatismo
Vamos falar do inatismo tomando dois filsofos como exemplo: o filsofo grego Plato
(sculo IV a.C.) e o filsofo francs Descartes (sculo XVII).
Inatismo platnico
Plato defende a tese do inatismo da razo ou das ideias verdadeiras em vrias de suas
obras, mas as passagens mais conhecidas se encontram nos dilogos Mnon e A Repblica. Nelas
Plato explicita que as verdades vo surgindo no esprito de um indivduo medida que o Mestre vai
lhe fazendo as perguntas certas e assim raciocinando com ele. Expe que nascemos com a razo e as
ideias verdadeiras, e a Filosofia nada mais faz do que nos relembrar essas ideias.
Inatismo cartesiano
Descartes discute a teoria das ideias inatas em vrias de suas obras, mas as exposies mais
conhecidas encontram-se em duas delas: no Discurso do mtodo e nas Meditaes metafsicas.
Nelas, Descartes mostra que nosso esprito possui trs tipos de ideias que se diferenciam segundo
sua origem e qualidade:
1. ideias adventcias (isto , vindas de fora): so aquelas que se originam de nossas sensaes,
percepes, lembranas; Por exemplo, a ideia de rvore, de pssaro, de instrumentos
musicais etc. So nossas ideias cotidianas e costumeiras, e que podem ser enganosas ou
falsas.
2. ideias fictcias: so aquelas que criamos em nossa fantasia e imaginao, compondo seres
inexistentes com pedaos ou partes de ideias adventcias que esto em nossa memria. Por
exemplo, cavalo-alado, fadas, elfos, duendes, drages, Super-homem etc.
3. ideias inatas: so aquelas que no poderiam vir de nossa experincia sensorial porque no h
objetos sensoriais ou sensveis para elas, nem poderiam vir de nossa fantasia, pois no
tivemos experincia sensorial para comp-las a partir de nossa memria.
4. A tese central dos inatistas a seguinte: se no possuirmos em nosso esprito a razo e a
verdade, nunca teremos como saber se um conhecimento verdadeiro ou falso, isto ,
18
nunca saberemos se uma ideia corresponde ou no realidade a que ela se refere. No
teremos um critrio seguro para avaliar nossos conhecimentos.
1.4.2. O empirismo
Contrariamente aos defensores do inatismo, os defensores do empirismo afirmam que a
razo, a verdade e as ideias racionais so adquiridos por ns atravs da experincia.
Antes da experincia, dizem eles, nossa razo como uma folha em branco, onde nada foi
escrito; uma tbula rasa, onde nada foi gravado. Somos como uma cera sem forma e sem nada
impresso nela, at que a experincia venha escrever na folha, gravar na tbula, dar forma cera.
Os empiristas ingleses
No decorrer da histria da Filosofia muitos filsofos defenderam a tese empirista, mas os
mais famosos e conhecidos so os filsofos ingleses dos sculos XVI ao XVIII, chamados, por isso, de
empiristas ingleses: Francis Bacon, John Locke, George Berkeley e David Hume.
Os empiristas defendem que nossos conhecimentos comeam com a experincia dos
sentidos, isto , com as sensaes. Os objetos exteriores excitam nossos rgos dos sentidos e vemos
cores, sentimos sabores e odores, ouvimos sons, sentimos a diferena entre o spero e o liso, o
quente e o frio etc.
As sensaes se renem e formam uma percepo; ou seja, percebemos uma nica coisa ou
um nico objeto que nos chegou por meio de vrias e diferentes sensaes.
As percepes, por sua vez, se combinam ou se associam. A associao pode dar-se por trs
motivos: por semelhana, por proximidade ou contiguidade espacial e por sucesso temporal. A
causa da associao das percepes a repetio. Ou seja, de tanto algumas sensaes se repetirem
por semelhana, ou de tanto se repetirem no mesmo espao ou prximas umas das outras, ou,
enfim, de tanto se repetirem sucessivamente no tempo, criamos o hbito de associ-las. Essas
associaes so as ideias.
As ideias, trazidas pela experincia so levadas memria e, de l, a razo as apanha para
formar os pensamentos.
A experincia escreve e grava em nosso esprito as ideias, e a razo ir associ-las, combin-
las ou separ-las, formando todos os nossos pensamentos. Segundo Hume a razo o hbito de
associar ideias, seja por semelhana, seja por diferena.
1.4.3. Problemas do inatismo
19
1. A prpria razo pode mudar o contedo de ideias que eram consideradas universais e
verdadeiras.
2. A prpria razo pode provar que ideias racionais tambm podem ser falsas.
Se as ideias so racionais e verdadeiras, porque correspondem realidade. Ora, a realidade
permanece a mesma e, no entanto, as ideias que a explicam perderam a validade. Ou seja, o
inatismo se depara com o problema da mudana das ideias, feita pela prpria razo, e com o
problema da falsidade das ideias, demonstrada pela prpria razo.
1.4.4. Problemas do empirismo
O empirismo, por sua vez, se defronta com um problema insolvel. Se as cincias so apenas
hbitos psicolgicos de associar percepes e ideias por semelhana e diferena, bem como por
contiguidade espacial ou sucesso temporal, ento, as cincias no possuem verdade alguma, no
explicam realidade alguma, no alcanam os objetos e no possuem nenhuma objetividade.
A cincia, mero hbito psicolgico ou subjetivo, torna-se afinal uma iluso, e a realidade tal
como em si jamais poder ser conhecida por nossa razo. Basta, por exemplo, que um belo dia eu
ponha um lquido no fogo e, em lugar de v-lo ferver e aumentar de volume, eu o veja gelar e
diminuir de volume, para que toda a cincia desaparea, j que ela depende da repetio, da
frequncia, do hbito de sempre percebermos uma certa sucesso de fatos qual, tambm por
hbito, demos o nome de princpio da causalidade.
Assim, do lado do empirismo, o problema colocado o da impossibilidade do conhecimento
objetivo da realidade.
Resumindo
Do lado do inatismo, o problema pode ser formulado da seguinte maneira: como so inatos,
as ideias e os princpios da razo so verdades intemporais que nenhuma experincia nova poder
modificar. Ora, a Histria (social, poltica, cientfica e filosfica) mostra que ideias tidas como
verdadeiras e universais no possuam essa validade e foram substitudas por outras. Mas, por
definio, uma ideia inata sempre verdadeira e no pode ser substituda por outra. Se for
substituda, ento no era uma ideia verdadeira e, no sendo uma ideia verdadeira, no era inata.
Do lado do empirismo, o problema pode ser formulado da seguinte maneira: a racionalidade
ocidental s foi possvel porque a Filosofia e as cincias demonstraram que a razo capaz de
20
alcanar a universalidade e a necessidade que governam a prpria realidade, isto , as leis racionais
que governam a Natureza, a sociedade, a moral, a poltica.
Ora, a marca prpria da experincia a de ser sempre individual, particular e subjetiva. Se o
conhecimento racional for apenas a generalizao e a repetio para todos os seres humanos de seus
estados psicolgicos, derivados de suas experincias, ento o que chamamos de Filosofia, de cincia,
de tica etc. so nomes gerais para hbitos psquicos e no um conhecimento racional verdadeiro de
toda a realidade, tanto a realidade natural quanto a humana.
Problemas dessa natureza, frequentes na histria da Filosofia, suscitam, periodicamente, o
aparecimento de uma corrente filosfica conhecida como ceticismo, para o qual a razo humana
incapaz de conhecer a realidade e por isso deve renunciar verdade. O ctico sempre manifesta
explicitamente dvidas toda vez que a razo tenha pretenso ao conhecimento verdadeiro do real.
1.5 - As bases fisiolgicas da razo: sensao, percepo, memria e categorizao
SENSAO: a reao fsica do corpo ao mundo fsico, sendo regida pelas leis da fsica, da
qumica, da biologia etc., que resulta na ativao das reas primrias do crtex do crebro.
PERCEPO: o processo atravs do qual o ser humano conhece o mundo sua volta de
forma total e complexa.
MEMRIA: o processo de reteno de informaes no qual nossas experincias so
arquivadas e recuperadas quando as chamamos.
CATEGORIZAO: o processo pelo qual ideias e objetos so reconhecidos, diferenciados e
classificados. Em linhas gerais, a categorizao consiste em organizar os objetos de um dado
universo em grupos ou categorias, com um propsito especfico.
1.6 - Razo e emoo
A Filosofia se realiza como conhecimento racional da realidade natural e cultural, das coisas e
dos seres humanos. Dissemos que ela confia na razo e que, hoje, ela tambm desconfia da razo.
Mas, at agora, no dissemos o que a razo, apesar de ser ela to antiga quanto a Filosofia.
Em nossa vida cotidiana usamos a palavra razo em muitos sentidos. Dizemos, por exemplo, eu
estou com a razo, ou ele no tem razo, para significar que nos sentimos seguros de alguma
coisa ou que sabemos com certeza alguma coisa.
Tambm dizemos que, num momento de fria ou de desespero, algum perde a razo,
como se a razo fosse alguma coisa que se pode ter ou no ter, possuir e perder, ou recuperar, como
na frase: Agora ela est lcida, recuperou a razo.
21
Assim, usamos razo para nos referirmos a motivos de algum, e tambm para nos
referirmos a causas de alguma coisa, de modo que tanto ns quanto as coisas parecemos dotados
de razo, mas em sentido diferente.
Esses poucos exemplos j nos mostram quantos sentidos diferentes a palavra razo possui:
certeza, lucidez, motivo, causa. E todos esses sentidos encontram-se presentes na Filosofia.
Por identificar razo e certeza, a Filosofia afirma que a verdade racional; por identificar razo e
lucidez (no ficar ou no estar louco), a Filosofia chama nossa razo de luz e luz natural; por
identificar razo e motivo, por considerar que sempre agimos e falamos movidos por motivos, a
Filosofia afirma que somos seres racionais e que nossa vontade racional; por identificar razo e
causa e por julgar que a realidade opera de acordo com relaes causais, a Filosofia afirma que a
realidade racional.
muito conhecida a clebre frase de Pascal, filsofo francs do sculo XVII: O corao tem
razes que a razo desconhece. Nessa frase, as palavras razes e razo no tm o mesmo
significado, indicando coisas diversas. Razes so os motivos do corao, enquanto razo algo
diferente de corao; este o nome que damos para as emoes e paixes, enquanto razo o
nome que damos conscincia intelectual e moral.
Falamos tambm frases como: Se voc me disser suas razes, sou capaz de fazer o que voc
me pede, querendo dizer com isso que queremos ouvir os motivos que algum tem para querer ou
fazer alguma coisa. Fazemos perguntas como: qual a razo disso?, querendo saber qual a causa de
alguma coisa e, nesse caso, a razo parece ser alguma propriedade que as prprias coisas teriam, j
que teriam uma causa.
Assim, usamos razo para nos referirmos a motivos de algum, e tambm para nos
referirmos a causas de alguma coisa, de modo que tanto ns quanto as coisas parecemos dotados
de razo, mas em sentido diferente.
Esses poucos exemplos j nos mostram quantos sentidos diferentes a palavra razo possui:
certeza, lucidez, motivo, causa. E todos esses sentidos encontram-se presentes na Filosofia.
Ao dizer que o corao tem suas prprias razes, Pascal est afirmando que as emoes, os
sentimentos ou as paixes so causas de muito do que fazemos, dizemos, queremos e pensamos. Ao
dizer que a razo desconhece as razes do corao, Pascal est afirmando que a conscincia
intelectual e moral diferente das paixes e dos sentimentos e que ela capaz de uma atividade
prpria no motivada e causada pelas emoes, mas possuindo seus motivos ou suas prprias
razes.
22
Assim, a frase de Pascal pode ser traduzida da seguinte maneira: Nossa vida emocional
possui causas e motivos (as razes do corao), que so as paixes ou os sentimentos, e
diferente de nossa atividade consciente, seja como atividade intelectual, seja como atividade moral.
A conscincia a razo. Corao e razo, paixo e conscincia intelectual ou moral so
diferentes. Se algum perde a razo porque est sendo arrastado pelas razes do corao. Se
algum recupera a razo porque o conhecimento intelectual e a conscincia moral se tornaram
mais fortes do que as paixes. A razo considerada como conscincia moral, a vontade racional
livre que no se deixa dominar pelos impulsos passionais, mas realiza as aes morais como atos de
virtude e de dever, ditados pela inteligncia ou pelo intelecto.
Alm da frase de Pascal, tambm ouvimos outras que elogiam as cincias, dizendo que elas
manifestam o progresso da razo. Aqui, a razo colocada como capacidade puramente
intelectual para conseguir o conhecimento verdadeiro da Natureza, da sociedade, da Histria e isto
considerado algo bom, positivo, um progresso.
Por ser considerado um progresso, o conhecimento cientfico visto como se realizando no
tempo e como dotado de continuidade, de tal modo que a razo concebida como temporal
tambm, isto , como capaz de aumentar seus contedos e suas capacidades atravs dos tempos.
Algumas vezes ouvimos um professor dizer a outro: Fulano trouxe um trabalho irracional;
era um caos, uma confuso. Incompreensvel. J o trabalho de Beltrano era uma beleza: claro,
compreensvel, racional. Aqui, a razo, ou racional, significa clareza das ideias, ordem, resultado de
esforo intelectual ou da inteligncia, seguindo normas e regras de pensamento e de linguagem.
Todos esses sentidos constituem a nossa ideia de razo. Ns a consideramos a conscincia
moral que observa as paixes, orienta a vontade e oferece finalidades ticas para a ao. Ns a
vemos como atividade intelectual de conhecimento da realidade natural, social, psicolgica,
histrica.
Ns a concebemos segundo o ideal da clareza, da ordenao e do rigor e preciso dos
pensamentos e das palavras.
Para muitos filsofos, porm, a razo no apenas a capacidade moral e intelectual dos
seres humanos, mas tambm uma propriedade ou qualidade primordial das prprias coisas,
existindo na prpria realidade. Para esses filsofos, nossa razo pode conhecer a realidade (natureza,
sociedade, histria) porque ela racional em si mesma.
Fala-se, portanto, em razo objetiva (a realidade racional em si mesma) e em razo
subjetiva (a razo uma capacidade intelectual e moral dos seres humanos). A razo objetiva a
afirmao de que o objeto do conhecimento ou a realidade racional; a razo subjetiva a
afirmao de que o sujeito do conhecimento e da ao racional.
23
Para muitos filsofos, a Filosofia o momento do encontro, do acordo e da harmonia entre as duas
razes ou racionalidades.
Leia o artigo Razo e Emoo - O imaginrio humano, suas interligaes e
implicaes nas organizaes sociais da Prof Maria Cludia Tardin Pinheiro - Mestra e
Doutoranda em Psicologia; Professora Assistente do Curso de Administrao da FMJ, cujo link
est disponvel no ambiente virtual de aprendizagem para refletir um pouco mais sobre os
assuntos tratados na Unidade I.
1. O que razo?
2. Quais os sentidos da palavra razo? D exemplos.
3. Quais so os princpios gerais da razo (racionais)?
4. A razo subjetiva divide-se em razo intuitiva e razo discursiva,
qual a diferena entre elas? Exemplifique.
5. Qual a diferena entre deduo e induo?
6. D exemplos de deduo.
7. O que abduo? D um exemplo.
8. O que inatismo?
9. O que empirismo?
24
25
Unidade II - Categorizao e teoria dos conjuntos
Nesta unidade voc ir:
Compreender a necessidade da numerao.
Conceituar conjuntos.
Identificar os diferentes tipos de conjuntos.
Estabelecer as relaes entre conjuntos.
Conhecer as propriedades dos conjuntos.
26
2.1 - A necessidade de numerao na humanidade
Conta a histria que a Matemtica surgiu com a necessidade dos homens de contar. Na
poca em que os agrupamentos humanos retiravam tudo de que necessitavam diretamente da
natureza por meio da caa, da pesca e da coleta no havia necessidade de contar, fato este que se
alterou quando o homem passou a fixar-se em territrios, dedicando-se agricultura, produo de
alimentos, construo de abrigos, domesticao de animais etc.
Datam de cerca de dez mil anos, na regio que hoje leva o nome de Oriente Mdio, as
primeiras formas de agricultura, que passaram a exigir o conhecimento sobre o clima, as estaes, as
fases da Lua, ensejando a criao dos primeiros calendrios.
Um dos primeiros processos de contagem foi aplicado no pastoreio. Os pastores precisavam
conferir seus rebanhos quando do recolhimento, aps a soltura na pastagem. Ento desenvolveram
um mtodo, utilizando uma correspondncia entre pequenas pedras colocadas num saco e cada rs.
Quando do retorno, para cada rs uma pedra era retirada do saco, podendo o pastor constatar se
faltavam cabeas ou se alguma rs de outro rebanho se agregara ao seu. Por isso que a palavra
com a qual designamos operaes matemticas clculo, derivada do latim calculus, que significa
pedrinha. Mas, a correspondncia de unidades no era feita somente por meio de pedras.
Tambm eram utilizados ns em cordas, marcas nas paredes, talhes em ossos, desenhos nas
cavernas e outros tipos de marcao.
Esse embrio primitivo da Matemtica surgido da necessidade humana da contagem pode
ser um ponto de partida para o questionamento que permeia este trabalho. Afinal, a Matemtica, os
nmeros, as contagens, tudo isso e o que mais se seguiu nessa frtil rea do conhecimento,
constituem uma descoberta ou uma criao da humanidade?
Aqueles que se debruaram sobre o tema enfocado chegaram a duas concluses bsicas
divergentes:
para alguns a Matemtica obra da humanidade, uma vez que se assenta na intuio do
homem. Portanto, no passa de uma nossa construo ou inveno. A esse pensamento
tem-se dado os nomes de intuicionismo, construtivismo ou convencionalismo.
para outros a Matemtica um campo objetivo existente por si mesmo. Trata-se de uma
rea infinitamente prenhe de verdades objetivas que no criamos, mas que nos confrontam
objetivamente, podendo ser descobertas. A essa concepo da Matemtica tem-se
conferido a nomenclatura de platonismo.
27
O debate sobre a questo vem tendendo a apresentar as duas concepes acima
mencionadas como antagnicas e inconciliveis. No obstante, Karl Popper apresenta uma
interpretao conciliadora ou ecltica que nos parece bastante adequada.
O autor em destaque aponta, por exemplo, a sequncia infinita dos nmeros naturais. Ela
realmente uma nossa inveno lingustica; nossa conveno; nossa construo. Mas, isso no
inconcilivel com o fato de que ela reflita uma realidade que passou pelo intelecto humano para ser
manifestada. Observe-se que o processo de contagem produto exclusivo humano, mas o
chamado senso numrico, ou seja, a percepo de falta ou acrscimo de elementos em um
conjunto, est presente mesmo entre os chamados seres irracionais, conforme demonstram
fartamente os estudos de etologia.
Assim sendo, os nmeros no so criados sem assento em uma realidade, ou seja, sem
correspondncia com fatos. Tanto isso verdade que no desenvolvimento da Matemtica surgem
inmeros problemas que emergem em um mundo objetivo, sem nem mesmo precisarem do
concurso da vontade humana. Eles no so criados, mas efetivamente descobertos no seio de um
mundo objetivo, que, de fato, inventamos ou criamos, mas que (como toda inveno) se objetiva, se
liberta de seus criadores e se torna independente de sua vontade.
Retomando a srie infinita de nmeros naturais, podemos com Popper constatar que ela
um produto da linguagem e do pensamento humano. Mas, ao mesmo tempo fato que existe um
infinito de nmeros inteiros que supera em muito, muitssimo, aquilo que um dia poderia ser sequer
pronunciado por um homem ou mesmo utilizado atravs dos recursos da informtica mais avanada.
Tambm h um infinito de equaes e relaes verdadeiras e falsas entre esses nmeros e elas so
muito mais do que podemos ou poderemos designar como verdadeiro ou falso. Surgem,
independentemente do concurso da criao humana, problemas novos e inesperados, como, por
exemplo, os problemas sem soluo da Teoria dos Nmeros Primos. So problemas autnomos,
independentes da criao humana, mas descobertos pelos homens. Esses problemas existem ocultos
antes que os matemticos os descubram e podem ser no somente no - solucionados, mas at
mesmo insolveis.
Euclides, por meio de seu conhecido Teorema, demonstrou que existe uma quantidade
infinita de nmeros primos. Por outro lado, a chamada Conjectura de Goldbach permanece no
comprovada, no demonstrada de forma cabal.
28
Em 7 de julho de 1742, Christian Goldbach enviou uma carta ao matemtico suo Leonard
Eler, onde propunha a seguinte questo: qualquer nmero inteiro maior do que seis a soma de
trs nmeros primos? Eler, por seu turno, verificou que tal afirmao deveria ser decomposta em
outras duas: todo nmero par, maior que dois, a soma de dois primos e todo nmero mpar a
soma de trs primos Embora em meados dos anos 1930 Vinogradov tenha conseguido comprovar a
segunda afirmativa para nmeros mpares suficientemente grandes, a primeira segue ainda por
demonstrar.
Outro problema refere-se ao zero, nmero que precede o inteiro positivo um, e todos os
nmeros positivos, e sucessor do um negativo (-1), e todos os nmeros negativos, sendo definido
como a cardinalidade de um conjunto vazio. A descoberta do zero tem sua ancestralidade nos
povos babilnicos, hindus e maias. Sua incorporao na Europa, na Idade Mdia, se deu pela
introduo dos algarismos arbicos, desenvolvidos pelos matemticos rabes.
A descoberta do zero representou o maior avano no sistema de numerao decimal,
mas trazia consigo uma perplexidade, pois era difcil imaginar a quantificao e a representao do
nada, do inexistente.
O melhor resultado at hoje obtido ocorreu em 1995 por Olivier Ramar, que conseguiu
demonstrar que todo nmero par a soma de at 6 nmeros primos. Portanto, a primeira questo,
formulada no decorrer do sculo XVIII, permanece indemonstrada, embora sua procedncia tenha
sido verificada para nmeros da ordem de 4 x 1014. Tambm se indaga se seriam infinitos os nmeros
primos que terminam com o dgito 7 e se h infinitos pares de nmeros chamados primos gmeos,
ou seja, nmeros primos que se distanciam uns dos outros por apenas duas unidades, como, por
exemplo, (3; 5), (71;73) ou (1000000007; 1000000009). Nenhum desses problemas foi solucionado.
29
Ser que isso tornaria o zero mero produto de uma conveno?
Uma criao do gnio humano apartada da realidade, mera abstrao?
Na verdade o zero se imps na Matemtica, assim como o nada no pde passar
despercebido na Filosofia. Como aduz Sartre, citando Hegel, no h nada no cu e na terra que no
contenha em si o ser e o nada.
Mas, o nada tem sido um problema filosfico, chegando a ser negada sua existncia como
uma grande contradio. Dentre os chamados naturalistas ou filsofos da phisis, Parmnides,
por exemplo, afirmava que o ser existe e no pode no ser e o no ser no existe e no pode ser.
Por seu turno o existencialista Sartre concebe o nada em indissolvel conjuno com o ser. Para
ele o nada, no sustentado pelo ser, dissipa-se enquanto nada, e recamos no ser. O nada no pode
nadificar-se a no ser sobre um fundo de ser: se um nada pode existir, no antes ou depois do ser,
mas no bojo do ser, em seu corao, como um verme.
Note-se que por controversa que seja a existncia do nada, assumindo que ele exista, de
qualquer forma a razo assiste afirmao de que o homem o ser pelo qual o nada vem ao
mundo. E vem com ele a sua representao matemtica, o zero, descoberto pelo homem no bojo
do ser da Matemtica.
O fato de que o homem descobre o zero em um ser que em parte produto de sua
formulao lingustica, no torna o nada inexistente e nem o zero um mero smbolo matemtico
sem correspondncia com a realidade.
O homem no um espectador passivo que se deixa levar pelas regras da natureza, apenas
observando-as e compilando-as. Deve-se ter em mente que o homem se apercebe sensorial e
intelectualmente das coisas e suas relaes, impondo a elas uma ordem e uma normatizao de
acordo com o seu prprio entendimento, pois nosso cosmos traz o selo de nosso intelecto.
Se pretendermos considerar como realidade objetiva existente por si mesma somente
aquilo que independa de qualquer interferncia humana, chegaremos concluso de que nada pode
satisfazer a essa condio. No ato do conhecimento o homem fatalmente se apropria da realidade, a
interpreta, a traduz e a molda de acordo com sua percepo.
Por isso Heisenberg alegava que no h nada que se possa, por exemplo, designar como
cincia da natureza. H sim uma cincia do conhecimento do homem sobre a natureza, pois no
vivemos numa realidade, vivemos numa srie de descries de realidade.
O homem descobre a Matemtica, se apropria dela, a traduz e a expressa em sua linguagem
e, nessa medida tambm a cria, mas ela no perde sua caracterstica de autonomia, a qual se
apresenta claramente nos desenvolvimentos subsequentes de novas descobertas de problemas,
solues e de problemas no -solucionados e at mesmo insolveis.
30
2.1.1. Conjuntos como categorias
Conjuntos e elementos
Os conceitos de conjunto, elementos e relao de pertinncia so considerados conceitos
primitivos, isto , no aceitam definio.
Intuitivamente, entendemos por conjunto toda coleo (agrupamento, classe, sistema) bem
definida de objetos.
Cada um dos membros que entra na formao do conjunto denominado elemento do
conjunto.
Vejamos alguns exemplos:
o conjunto dos livros de uma biblioteca.
o conjunto das vogais do alfabeto portugus.
o conjunto dos mltiplos de 2 entre 9 e 21.
Notao dos Conjuntos
Representamos um conjunto por uma letra maiscula do alfabeto, os elementos ficam entre
chaves e separados por vrgulas.
Exemplos:
conjunto das vogais do alfabeto portugus
conjunto dos mltiplos de 2 entre 9 e 21
Relao de Pertinncia
O fato de um elemento fazer parte de um conjunto estabelece uma relao de pertinncia.
Sendo, assim, podemos dizer que a pertence ao conjunto A e que b no pertence ao conjunto A.
Para indicar que um elemento x pertence ao conjunto A escreve-se:
x pertence a A ou x um elemento de A.
y no pertence a A ou y no um elemento de A.
31
2.1.2. Tipos de Conjuntos
Conjunto Universo
Para resolver uma equao, um problema ou desenvolver determinado tema em Matemtica,
devemos retirar os elementos de que necessitamos de um conjunto que os contenha. Esse conjunto
chamado de Conjunto Universo e representado por U.
Conjunto Unitrio
Todo conjunto constitudo de um nico elemento chamado de Conjunto Unitrio.
Exemplo:
Conjunto Vazio
O conjunto que no tem elementos chamado de Conjunto Vazio e representado por { }.
Exemplo: M o conjunto formado pela capital de Braslia. Como no existe a capital de
Braslia, o conjunto vazio.
2.1.3. Determinao de um Conjunto
Diz-se que um conjunto A definido num universo quando se conhece um critrio que
permita sempre saber se h um elemento ou, devendo verificar-se apenas uma destas duas
hipteses.
Um conjunto pode ser definido de duas maneiras:
I Por enumerao
A = {janeiro, fevereiro, maro, ...}
B = {5, 10, 15, 20}
II Por compreenso, isto , atravs de um critrio de pertinncia que satisfeito por todos os
elementos do conjunto e somente por esses elementos.
32
Conjuntos finitos e infinitos
Diz-se que um conjunto A finito e contm n elementos quando existe um nmero natural n
tal que se pode estabelecer uma correspondncia entre os elementos do conjunto A e
Um conjunto no finito diz-se infinito.
O nmero de elementos de um conjunto finito A designa-se por n(A).
Exemplos:
Conjunto finito com 0 elemento
Igualdade de Conjuntos
Dois conjuntos A e B so iguais se e somente se
Notao
Exemplos:
Propriedades
Relao de incluso
Diz-se que um conjunto A est contido num conjunto B se e somente se todo elemento de A
tambm elemento de B.
BxAxxBA AyeByyouBxeAxxBA
1) 5,7,67,6,5 2) b,d,ab,c,a 3) 3,2,02,1,0 4) v,r,t,v,tr,v,t
1) Reflexiva: AA 2) Simtrica: ABBA
3) Transitiva: CACBeBA
Notao: BA : A est contido em B.
ABBA , isto , B contm A.
BA : A no est contido em B.
33
Exemplos:
Propriedades
1) Reflexiva:
2) Transitiva:
3) Antissimtrica
4) O contedo vazio est contido em qualquer conjunto A, isto ,
5) Qualquer que seja o conjunto A num universo U
Exemplos:
2.2- Conjuntos numricos
Os conjuntos numricos so compreendidos como os conjuntos dos nmeros que possuem
caractersticas semelhantes. A concepo dos conjuntos numricos recebeu maior rigor em sua
construo com Georg Cantor, que pesquisou a respeito do nmero infinito. Cantor iniciou diversos
estudos sobre os conjuntos numricos, constituindo, assim, a teoria dos conjuntos.
1) 5,2,12,1 2) b,ab,a 3) 3,2,14,2
A est contido em U, isto , UA,A
Obs.: relao entre elemento e conjunto.
relao entre conjuntos.
3,2,11
3,2,11
AA ,
34
Temos os seguintes conjuntos numricos:
Conjunto dos nmeros Naturais ( );
Conjunto dos nmeros Inteiros ( );
Conjunto dos nmeros Racionais ( );
Conjunto dos nmeros Irracionais ( );
Conjunto dos nmeros Reais ( );
Conjunto dos nmeros Complexos ( );
Conjunto dos Nmeros Naturais ( )
O conjunto numrico mais simples, e o primeiro ao qual temos contato conjunto dos
nmeros naturais, que representado por , existem algumas variaes para esta notao, no
entanto a letra N sempre est presente.
O conjunto dos nmeros naturais constitudo por nmeros inteiros positivos mais o zero.
= {0,1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,...}
Quanto construo do conjunto dos nmeros naturais, temos que:
a) todo nmero natural dado tem um sucessor (nmero que vem logo depois do nmero dado),
considerando tambm o zero. Seja n um nmero natural, o sucessor de n n+1.
Exemplos: o sucessor de
0 1.
1 2.
99 100.
Nas primeiras construes do conjunto dos nmeros Naturais o zero no fazia
parte do conjunto, atualmente para denotarmos a ausncia do elemento zero
neste conjunto adotamos a notao .
= {1,2,3,4,5,6,7,8...}
35
b) se um nmero natural sucessor de outro, ento os dois nmeros juntos so chamados nmeros
consecutivos.
Exemplos:
0 e 1 so nmeros consecutivos.
7 e 8 so nmeros consecutivos.
c) vrios nmeros formam uma coleo de nmeros naturais consecutivos se o segundo sucessor
do primeiro, o terceiro sucessor do segundo, o quarto sucessor do terceiro e assim
sucessivamente.
Exemplos:
1, 2, 3, 4, 5 e 6 so consecutivos.
1, 2 e 3 so consecutivos.
25, 26, 27 e 28 so consecutivos.
d) todo nmero natural dado n, exceto o zero, tem um antecessor (nmero que vem antes do
nmero dado). Seja n um nmero natural diferente de zero, o antecessor de n n-1.
Exemplos:
O antecessor de 2 1.
O antecessor de 6 5.
O antecessor de 1514 1513.
Conjunto dos Nmeros Inteiros ( )
Os nmeros inteiros esto presentes at hoje em diversas situaes do cotidiano da
humanidade, como, por exemplo, para medir temperaturas, contar dinheiro, marcar as horas etc.
O conjunto dos nmeros inteiros constitudo por nmeros inteiros positivos, o zero e
nmeros inteiros negativos. Logo, o conjunto dos nmeros naturais parte do conjunto dos nmeros
inteiros.
= {..., -4, -3, -2, -1 , 0 ,1, 2, 3, 4, 5...}
A notao para o conjunto dos nmeros inteiros sem o zero anloga a do conjunto dos
nmeros Naturais, fazendo uso assim do asterisco.
= {..., -4, -3, -2, -1 ,1, 2, 3, 4, 5...}
36
Tambm h uma notao especfica para o conjunto formado pelos elementos no negativos
(equivalente ao conjunto dos Nmeros Naturais).
= {0,1, 2, 3, 4, 5...}
E de forma anloga, h uma notao para o conjunto formado pelos elementos no
positivos.
= {..., -4, -3, -2, -1, 0}
O conceito de sucessor e consecutivo para o conjunto dos nmeros inteiros so exatamente
equivalentes ao do conjunto dos nmeros naturais. O conceito de antecessor que mais amplo, j
que no conjunto dos nmeros inteiros valido para qualquer elemento pertencente ao conjunto.
Seja n um nmero inteiro, ento dizemos o antecessor de n n-1.
Exemplos:
(a) 3 sucessor de 2 (e) 0 antecessor de 1
(b) 2 antecessor de 3 (f) 1 sucessor de 0
(c) -5 antecessor de -4 (g) -1 sucessor de -2
(d) -4 sucessor de -5 (h) -2 antecessor de -1
Todo nmero inteiro exceto o zero, possui um elemento denominado simtrico ou oposto -n
e ele caracterizado pelo fato geomtrico que tanto n como -n esto mesma distncia da origem
do conjunto que 0.
Exemplos: o oposto de
(a) +3 -3.
(b) -2 +2.
(c) -1 1.
Conceitos como desigualdade e valor absoluto tambm so vlidos para os nmeros inteiros,
no entanto sero abordados mais frente nesta aula.
37
Conjunto dos Nmeros Racionais ( )
Imagine que colocou para ferver um litro de gua que originalmente estava a 30 C, quando a
gua comear a evaporar isso significa que a gua atingiu 100 C, no entanto a temperatura no
subiu abruptamente, e to pouco de 1 em um 1. Se durante o processo de fervura parssemos em
um momento especfico para efetuarmos a medio da temperatura, provavelmente no
encontraramos um nmero inteiro. Desta forma, no nosso cotidiano os nmeros no inteiros
tambm esto presentes.
Nmeros racionais so todos aqueles que podem ser expressos na forma de frao. O
numerador e o denominador desta frao devem pertencer ao conjunto dos nmeros inteiros e
obviamente o denominador no poder ser igual a zero, pois no h diviso por zero.
Observe que o conjunto dos nmeros racionais pode ser representado de formas diferentes.
Decimal Exata:
Dzimas Peridicas:
Nesta dzima peridica dizemos que o perodo igual a 6 (nmero que se repete
infinitamente)
Exemplos: Dzimas peridicas
a)
b)
c)
d)
Uma dzima peridica simples se a parte decimal formada apenas pelo perodo. Alguns
exemplos so:
a)
b)
Uma dzima peridica composta se possui uma parte que no se repete entre a parte
inteira e o perodo. Por exemplo:
a)
b)
38
Uma dzima peridica uma soma infinita de nmeros decimais. Alguns exemplos:
Para representarmos uma frao em um nmero decimal, basta efetuarmos a diviso do
numerador pelo denominador.
Exemplos:
Dado um nmero decimal exato ou uma dzima peridica, podemos representar esse nmero
na forma fracionria. A frao que d origem a uma dzima dita geratriz da dzima peridica.
Nmeros decimais exatos:
(a)
, observe que este nmero possui apenas uma casa decimal, logo sua representao
fracionria o nmero sem a vrgula, sobre 10.
(b)
, observe que este nmero possui duas casas decimais, logo sua representao
fracionria o nmero sem a vrgula, sobre 100.
(c)
, observe que este nmero possui trs casas decimais, logo sua representao
fracionria o nmero sem a vrgula, sobre 1.000.
(d)
, sempre que possvel a frao deve ser simplificada, neste caso foi simplificada por
Dzimas peridicas
No caso das dzimas peridicas, precisamos primeiro identificar o perodo e identificarmos
quantos algarismos formam este perodo e para cada algarismo representarmos no denominador um
nove.
(a)
, observe que o perodo (nmero que se repete infinitamente) igual a 2, e
este nmero formado por um algarismo, logo temos no denominador um nove.
Mas por que devemos usar o nove?
39
Podemos observar que:
Para que o mtodo de converso fique mais claro, veja a seguinte construo:
1) desejamos encontrar a razo entre dois nmeros inteiros, logo queremos encontrar
Desta forma, se , ento
Substituindo por , temos:
Simplifique a frao sempre que possvel.
(b)
, observe que o perodo igual a 14, e este nmero formado por dois
algarismos, logo temos no denominador dois noves.
Observe a seguinte construo:
1) desejamos encontrar a razo entre dois nmeros inteiros, logo queremos encontrar
Desta forma, se , ento
Observe que o perodo neste caso foi alterado e no faz correlao com o perodo original,
no entanto se adotarmos
40
Substituindo por , temos:
Veja mais alguns exemplos.
(c)
(d)
(e)
s vezes algumas manipulaes numricas so necessrias.
Exemplo 1:
, pois
Dessa forma:
(a)
(b)
(c)
(d)
Exemplo 2:
O nmero dito nmero misto, pois possui uma parte exata e outra infinita
(dzima peridica) . Existem algum mtodos que podem converter o decimal
em uma frao, observe um deles:
41
Dessa forma:
(a)
(b)
Conjunto dos Nmeros Irracionais ( )
A primeira descoberta de um nmero irracional geralmente atribuda a Hipaso de
Metaponto, um seguidor de Pitgoras. Ele teria produzido uma demonstrao (provavelmente
geomtrica) de que a raiz de 2 (ou talvez que o nmero de ouro) irracional.
Existem dois tipos de nmeros irracionais:
1. Nmeros reais algbricos irracionais: so razes de polinmios com coeficientes inteiros.
Todo nmero real que pode ser representado atravs de uma quantidade finita de somas,
subtraes, multiplicaes, divises e razes de grau inteiro a partir dos nmeros inteiros
um nmero algbrico.
2. Nmeros reais transcendentes: no so razes de polinmios com coeficientes inteiros.
Vrias constantes matemticas so transcendentes, como e o nmero de Euler (e).
Conjunto dos Nmeros Reais ( )
O conjunto dos nmeros reais surge para designar a unio do conjunto dos nmeros racionais e o
conjunto dos nmeros irracionais.
Os nmeros reais podem ser representados graficamente por pontos sobre uma reta
horizontal chamada eixo numrico ou reto numrico.
Exemplo: 1415926,3;41421,12
42
Vemos que a < b se e somente se o ponto que representa o nmero a est esquerda do
ponto que representa o nmero b.
N conjunto dos nmeros Reais conceitos como antecessor, sucessor e consecutivos, por
exemplo, so desconsiderados, permanecendo conceitos como maior que, menor que e suas
variaes.
Lembrete:
Desigualdades
Uma expresso da forma a < b uma desigualdade
Desigualdades estritas
a > b se, e somente se, a b positivo
a < b se, e somente se, b a positivo
Desigualdades no estritas
se, e somente se, a < b ou a = b
se, e somente se, a > b ou a = b
LEMBRETE: (1) Regra de Sinais
Soma ou Subtrao: o Sinais iguais: soma e repete o sinal; o Sinais diferentes: subtra e d o sinal do maior;
Multiplicao ou Diviso: o Sinais iguais: positivo; o Sinais diferentes: negativos;
(2) Operaes Bsicas com Fraes:
Sejam d c, b, a, :
Soma ou subtrao, onde b 0 e d 0;
bd
cbad
d
c
b
a
Multiplicao, onde b 0 e d 0;
d.b
c.a
d
c.
b
a
Diviso, onde b 0, d 0 e c 0;
c.b
d.a
c
d.
b
a
d
c:
b
a
Obs.: Sempre que possvel simplifique as fraes.
43
Propriedades
1) Se a > b e b > c, ento a > c
2) Se a < b, ento c em IR, a + c < b + c
3) Se a > b e c > d, ento a + c > b + d
4) Se a > b e c > 0, ento a.c > b.c
5) Se a > b e c < 0, ento a.c < b.c
6) Se a > b > 0 e c > d > 0 ento a.c > b.d
Valor Absoluto
Chama-se valor absoluto (mdulo) de um nmero real x ao nmero real no negativo, que satisfaz
as seguintes condies:
Teorema
Intervalos
Intervalo Aberto
Se a < b, o conjunto de todos os nmeros entre a e b chamado intervalo aberto e denotado por
ou
Ou seja,
Intervalo Fechado
Se juntarmos ao intervalo aberto (a, b) os pontos extremos a e b, temos um intervalo
fechado denotado por [a, b].
Ou seja,
.
axouaxax
eaxaaxento0aSe
Exemplo: 55;22
)b,a(
44
Outros intervalos
Semiaberto esquerda:
Semiaberto direita:
Ilimitado fechado esquerda:
Ilimitado aberto esquerda:
Ilimitado fechado direita:
Ilimitado aberto direita:
2.3 Subconjuntos
Todo conjunto A que est contido num conjunto B , diz-se subconjunto ou parte de B.
Se e , ento diz-se que A subconjunto prprio de B.
Exemplos:
1) {1,2,3} subconjunto prprio de {1,2,3,5,7}
2) {x | x = 2k, k } subconjunto N
3) N subconjunto Z
4) Z subconjunto de Q
Teorema: Todo conjunto finito com n elementos tem subconjuntos.
45
Conjunto das partes de um conjunto
Chama-se conjunto das partes de um conjunto E, o conjunto cujos elementos so todas as
partes de C, inclusive a parte cheia E e a parte vazia .
Representao: P(E) = {X | X E
Propriedades
Observao: Se E um conjunto finito com n elementos, ento P(E) tambm um conjunto finito
com elementos.
Exemplos:
P({a}) = {, {a}}
P({a,b}) = {, {a}, {b}, {a,b}}
P () = {}
Complementar de um conjunto
Seja A uma parte (subconjunto) de D.
Chama-se complementar (complemento) de A em relao a D, o conjunto de todos os
elementos de D que no pertencem a A.
Representao:
Num dado universo U, pode-se falar simplesmente em complementar de um conjunto A,
ficando subentendido que se trata do complementar em relao a U, e representa-lo por A ou .
Exemplo: Sejam os conjuntos
46
Propriedades do Complementar
Sejam A e B partes de um conjunto E
Observao: Sejam A e B conjuntos quaisquer num universo U, ento:
2.4 - Operaes com conjuntos
2.4.1. lgebra dos conjuntos
Interseo de dois conjuntos
Chama-se interseo de dois conjuntos A e B ao conjunto de todos os elementos que
pertencem simultaneamente a A e a B.
Representao:
Exemplos:
(a) {1,2,3,4}{2,4,6,8}={2, 4}
Os elementos 2 e 4 pertencem simultaneamente aos conjuntos.
(b) {1,2,3,4}{5,6,7,8,9}={ }=
No h elementos comuns aos conjuntos.
47
Conjuntos disjuntos
Dois conjuntos A e B dizem-se disjuntos se e somente se no tm elementos comuns.
A e B disjuntos
Exemplo:
so disjuntos, porque
Propriedades da Interseo
Sejam A, B, C conjuntos quaisquer num universo U.
Unio de conjunto
Chama-se unio de dois conjuntos A e B ao conjunto de todos os elementos que pertenam a
A ou a B.
Representao:
Exemplos:
Propriedades da Unio
Sejam A, B, C conjuntos quaisquer num universo U.
48
Diferena de dois conjuntos
Chama-se diferena entre dois conjuntos A e B ao conjunto de todos os elementos de A que
no pertencem a B.
Representao:
Se A e B so conjuntos num universo U temos
Exemplos:
Sejam os conjuntos:
Note que
Isto , a diferena no comutativa.
Propriedades da diferena
Sejam A, B, C conjuntos quaisquer num universo U.
49
2.6 - Diagrama de Venn
Os diagramas de Venn que se devem ao filsofo ingls John Venn (1834-
1883) servem para representar conjuntos de maneira grfica mediante desenhos ou diagramas que
podem ser crculos, retngulos, tringulos ou qualquer curva fechada.
O diagrama habitualmente usado para a soluo de problemas que envolvem at trs
conjuntos. Ele ajuda a esmiuar o problema.
Observe os seguintes diagramas:
Todo o retngulo representa o conjunto universo, a regio cinza representa
o conjunto e a regio branca representa (complementar de em
relao ao universo).
A regio cinza com listras horizontais representa o conjunto A. A regio cinza com listras
verticais representa o conjunto B, observe que h uma regio que pertence aos dois conjuntos. Esta
regio a interseo.
Exemplo: Em um conjunto A h 56 elementos em um universo de 100 elementos, neste
universo h mais um outro conjunto B e na interseo entre A e B h 16 elementos. Determine
quantos elementos h no conjunto B, sabendo que h 10 elementos que no pertencem ao
conjuntos A e B:
Se h 56 elementos no conjunto A ento h 44 elementos no complementar de A.
50
Ao inserirmos o conjunto B no diagrama podemos observar que o conjunto A foi dividido em
duas regies: uma dos elementos exclusivos de A e dos elementos que fazem parte da interseo.
Observe que 10 elementos no pertencem aos conjuntos A e B, logo, foram representados
fora desses conjuntos. Apenas uma regio no est com a sua quantidade de elementos
representada, a referente aos elementos exclusivos de B.
No entanto, sabemos que o conjunto universo possui 100 elementos, e para que tal
afirmao seja verdadeira necessrio que a quantidade de elementos exclusivas de B seja igual a
34.
Logo o conjunto B possui 50 elementos.
No caso da unio a simultaneidade no necessria, basta que um elemento
pertena a A ou a B.
Exemplo: Em um universo de 80 elementos, o conjunto A possui 38
elementos, A interseo B possui exatamente 16 elementos, h 12 elementos
que no pertencem aos conjuntos A e B. Quantos elementos fazem parte da unio de A com B? E
quantos elementos so exclusivos de B?
Os 38 elementos pertencentes ao conjunto A foram organizados em duas partes: elementos
que s pertencem a A (22 elementos); elementos pertencentes a A e a B simultaneamente (16
elementos).
51
Para que o universo totalize 80 elementos necessrio que haja 42 elementos pertencentes
exclusivamente a B.
Logo, A unio B possui 68 elementos
No caso da diferena entre dois conjuntos, se refere naquilo que pertence a A e
no pertence A (sendo A B)
Exemplo: Uma pequena cidade do interior possua dois candidatos a
prefeito: Ricardinho, concorrendo pelo PD (partido da direita) e Andr,
concorrendo pelo PE (partido de esquerda). Foi feita uma pesquisa, uma semana antes da eleio,
com 500 eleitores, que deveriam indicar em uma cdula em quem votariam. Os pesquisadores
poderiam votar nos dois candidatos se assim desejassem, em apenas um deles ou ento votar em
branco. No era permitido anular o voto. Os resultados foram os seguintes:
200 eleitores votaram em branco
170 eleitores votaram em PE
320 eleitores no votaram em PE
Determine o nmero de eleitores que votaram exclusivamente em PE e o nmero de
eleitores que votaram em PD e PE simultaneamente:
Observe o diagrama, nosso universo constitudo de 500 eleitores e 200 votaram em branco,
isso significa que 300 votaram em pelo menos um dos candidatos.
Desses 300 eleitores que votaram em pelo menos um dos candidatos, 170 votaram em PE,
logo 130 votaram exclusivamente em PE.
Como 320 eleitores no votaram em PE, temos que 120 eleitores votaram exclusivamente
em PD e 50 eleitores votaram simultaneamente em PE e PD.
52
Dessa forma, 130 votaram exclusivamente em PE e 50 eleitores votaram simultaneamente
em PE e PD.
Exemplo: Uma sala de aula tem 40 alunos, 25 praticam natao e 30 futebol. Quantos alunos
praticam natao e futebol, sabendo que todos os alunos praticam pelo menos uma das
modalidades?
Observe que o objetivo da questo determinar a interseo entre os dois conjuntos. E
inicialmente j podemos afirmar que todos os elementos pertencem a pelo menos um conjunto, j
que todos os alunos praticam pelo menos uma das modalidades.
Dessa forma, x a interseo (o que desejamos definir). Ao somarmos cada regio definida
encontramos o nmero de elementos do conjunto universo. Assim:
25 + + 30 = 40
55 = 40
55 40 =
15 =
= 15
Logo, 15 alunos praticam natao e futebol.
Exemplo que envolve trs conjuntos: Uma populao consome trs marcas de sabo em p:
A, B e C. Feita uma pesquisa do mercado, colheram-se os resultados tabelados abaixo:
Marca A B C A e B B e C A e C A, B e C Nenhuma delas
Consumidores 100 200 150 40 30 50 10 20
Pede-se:
a) Nmero de pessoas consultadas
b) Nmero de pessoas que s consomem a mesma marca
c) Nmero de pessoas que no consomem as marcas A e no consomem a marca C
d) Nmero de pessoas que consomem ao menos duas marcas
53
Para podermos responder s questes, vamos montar um diagrama com trs conjuntos A, B
e C. Observe que o cada conjunto composto por quatro regies (O conjunto A est destacado para
tal observao).
Logo, para a organizao do diagrama iniciaremos pela interseo entre os trs conjuntos, j
que esta determina uma nica regio, assim como o nmero de elementos que no pertencem a
nenhum conjunto.
Observe a seguinte informao A e C equivale a 50 consumidores. A regio destacada a
seguir ilustra esta informao, portanto temos que 40 indivduos consomem A e C e no consomem
B.
Levando esta ideia para cada interseo dois a dois, temos:
O prximo passo est ligado a quantidade total de consumidores de cada marca, o total de
cada conjunto. O conjunto A deve totalizar 100 elementos (consumidores), o conjunto B, 200 e o
conjunto C, 100. Para que tais afirmaes sejam verdadeiras, temos que:
Exclusivo de A => 100 -30 -10 40 = 20
Exclusivo de B => 200 -30 -10 20 = 140
Exclusivo de C => 150 -20 -10 40 = 80
54
Agora que temos o diagrama montado, podemos determinar o que foi solicitado:
Nmero de pessoas consultadas => 20 + 30 + 10 + 40 + 140 +20 + 80 + 20 = 360
Nmero de pessoas que s consomem a mesma marca => 20 + 140 + 80 = 240
Nmero de pessoas que no consomem as marcas A e no consomem a marca C => 140 + 20 = 160
Nmero de pessoas que consomem ao menos duas marcas => 10 + 40 + 20 + 30 = 100
1. Defina conjunto.
2. Defina elemento.
3. O que estabelece uma relao de pertinncia?
4. Quais so os tipos de conjunto?
5. Que nome se d aos nmeros expressos pelas fraes decimais infinitas no
peridicas?
55
Unidade III Teorias da Verdade
Nesta unidade voc ir:
Conhecer os conceitos de ignorncia, verdade e dogma.
Definir incerteza.
Descrever insegurana.
Exemplificar as trs teorias da verdade.
56
3.1 - Ignorncia, incerteza, dogma
3.1.1. Ignorncia e verdade
A verdade como um valor
No se aprende Filosofia, mas a filosofar, j disse Kant. A Filosofia no um conjunto de
ideias e de sistemas que possamos apreender automaticamente, no um passeio turstico pelas
paisagens intelectuais, mas uma deciso ou deliberao orientada por um valor: a verdade. o
desejo do verdadeiro que move a Filosofia e suscita filosofias.
Afirmar que a verdade um valor significa: o verdadeiro confere s coisas, aos seres
humanos, ao mundo um sentido que no teriam se fossem considerados indiferentes verdade e
falsidade.
Ignorncia, incerteza e insegurana
Ignorar no saber alguma coisa. A ignorncia pode ser to profunda que sequer a
percebemos ou a sentimos, isto , no sabemos que no sabemos, no sabemos que ignoramos. Em
geral, o estado de ignorncia se mantm em ns enquanto as crenas e opinies que possumos para
viver e agir no mundo se conservam como eficazes e teis, de modo que no temos nenhum motivo
para duvidar delas, nenhum motivo para desconfiar delas e, consequentemente, achamos que
sabemos tudo o que h para saber.
A incerteza diferente da ignorncia porque, na incerteza, descobrimos que somos
ignorantes, que nossas crenas e opinies parecem no dar conta da realidade, que h falhas naquilo
em que acreditamos e que, durante muito tempo, nos serviu como referncia para pensar e agir.
Na incerteza no sabemos o que pensar, o que dizer ou o que fazer em certas situaes ou
diante de certas coisas, pessoas, fatos etc. Temos dvidas, ficamos cheios de perplexidade e somos
tomados pela insegurana.
Outras vezes, estamos confiantes e seguros e, de repente, vemos ou ouvimos alguma coisa
que nos enche de espanto e de admirao, no sabemos o que pensar ou o que fazer com a
novidade do que vimos ou ouvimos porque as crenas, opinies e ideias que possumos no do
conta do novo. O espanto e a admirao, assim como antes a dvida e a perplexidade, nos fazem
querer saber o que no sabemos, nos fazem querer sair do estado de insegurana ou de
encantamento, nos fazem perceber nossa ignorncia e criam o desejo de superar a incerteza.
Quando isso acontece, estamos na disposio de esprito chamada busca da verdade.
57
O desejo da verdade aparece muito cedo nos seres humanos como desejo de confiar nas
coisas e nas pessoas, isto , de acredi