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DORIVAL MENEGAZ NANDI
ESTUDO DE FUNCIONALIDADE E SEGURANA PARA ACELERADORES LINEARES UTILIZADOS
EM RADIOTERAPIA UMA CONTRIBUIO PARA A GESTO DE TECNOLOGIA MDICO-
HOSPITALAR
FLORIANPOLIS 2004
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA ELTRICA
ESTUDO DE FUNCIONALIDADE E SEGURANA PARA ACELERADORES LINEARES UTILIZADOS
EM RADIOTERAPIA UMA CONTRIBUIO PARA A GESTO DE TECNOLOGIA MDICO-
HOSPITALAR
Dissertao submetida
Universidade Federal de Santa Catarina
como parte dos requisitos para a
obteno do grau de Mestre em Engenharia Eltrica.
DORIVAL MENEGAZ NANDI
Florianpolis, Maio de 2004.
ESTUDO DE FUNCIONALIDADE E SEGURANA PARA ACELERADORES LINEARES UTILIZADOS EM
RADIOTERAPIA UMA CONTRIBUIO PARA A GESTO DE TECNOLOGIA MDICO-HOSPITALAR
DORIVAL MENEGAZ NANDI
Esta Dissertao foi julgada adequada para a obteno do Ttulo de Mestre em
Engenharia Eltrica, rea de Concentrao em Engenharia Biomdica, e aprovada em sua forma final pelo Programa de Ps-Graduao em Engenharia
Eltrica da Universidade Federal de Santa Catarina.
_______________________________________ Prof. Renato Garcia Ojeda, Dr.
Orientador
__________________________________________ Prof. Jefferson Luiz Brum Marques, Ph.D.
Coordenador do Programa de Ps-Graduao em Engenharia Eltrica
Banca Examinadora:
____________________________________
Prof. Renato Garcia Ojeda, Dr.
Presidente
____________________________________
Prof. Fernando Mendes de Azevedo, Dr.
____________________________________
Prof. Jefferson Luiz Brum Marques, Ph.D.
____________________________________
Prof. Walter Celso de Lima, Dr.
ii
Irene, minha me, (in memorian).
Filipe, Juliana, Thiago, Gabriela
e Sarita, minha famlia.
iii
Agradecimentos
IEB, ... oportunidade
Renato Garcia,
... orientao
Nicanor, ... fsica mdica
Servios de Radioterapia do Estado de Santa Catarina,
Dr. Ernani Lange S. Thiago Dr. Ivanir Luiz Perin
Dr. Omar Sullivan Ruzza Dr. Renato Ruzza Doneda
Dr. Ricardo Polli
Centro Federal de Educao Tecnolgica de Santa Catarina, ...apoio
Elisabete, Fabiano, Flvio, Laurete, Rita, Rosane, Walria, Wollinger ... amigos do NTC
iv
Resumo da Dissertao apresentada UFSC como parte dos requisitos necessrios obteno do grau de Mestre em Engenharia Eltrica.
ESTUDO DE FUNCIONALIDADE E SEGURANA PARA ACELERADORES LINEARES UTILIZADOS EM
RADIOTERAPIA UMA CONTRIBUIO PARA A GESTO DE TECNOLOGIA MDICO-HOSPITALAR
Dorival Menegaz Nandi
Maio de 2003
Orientador: Professor Renato Garcia Ojeda, EE, Dr. rea de Concentrao: Engenharia Biomdica Palavras-chaves: engenharia clnica, radioterapia, aceleradores lineares, programa de funcionalidade e segurana, gerenciamento de tecnologia mdico-hospitalar. Nmero de pginas: 123
RESUMO: O crescimento da Engenharia Clnica, das estruturas de sade e sua complexidade, levou os profissionais da rea realizar estudos para desenvolver e implementar programas de gerenciamento das tecnologias de sade. Assim, Engenheiros Clnicos integrando equipes do sistema de sade tem contribudo para viabilizar tecnologias que ofeream maior confiabilidade, segurana, funcionalidade e disponibilidade. A rea de radioterapia, com o aumento da incidncia de casos novos de cncer e das tecnologias de radioterapia, somados ao contingenciamento dos recursos financeiros para sade, alto custo e complexidade dos equipamentos, motivam estudos para o seu adequado gerenciamento. O presente trabalho, em sua reviso bibliogrfica, aborda os conceitos fundamentais da fsica das radiaes, os principais tratamentos e as tecnologias aplicadas no tratamento radioterpico, em particular o acelerador linear. Identifica e rene a legislao vigente relativa aplicao das radiaes ionizantes, os requisitos para instalaes e funcionamento de um servio de radioterapia, os profissionais envolvidos e os equipamentos de medida utilizados no monitoramento das radiaes produzidas. Apresenta ainda, o resultado do levantamento realizado no Estado de Santa Catarina, identificando as tecnologias utilizadas no tratamento radioterpico, distribuio dos servios no Estado, tempo de uso dessas tecnologias e o nmero de atendimentos a pacientes. Fundamentado nessa realidade e no estudo realizado, apresenta uma proposta de programa de controle de funcionalidade e segurana para aceleradores lineares constituindo-se numa contribuio para o sistema de sade e para a Engenharia Clnica na Gesto de Tecnologia Mdico-Hospitalar (GTMH).
v
Abstract of Dissertation presented to UFSC as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master in Electrical Engineering.
STUDY OF FUNCTIONALITY AND SAFETY FOR LINEAR ACCELERATORS IN RADIOTHERAPY A
CONTRIBUTION FOR MEDICAL TECHNOLOGY MANAGEMENT
Dorival Menegaz Nandi
May 2004
Advisor: Renato Garcia Ojeda, EE, Dr. Area of Concentration: Biomedical Engineering Keywords: clinical engineering, radiotherapy, linear accelerators, safety program, medical technology management. Number of Pages: 123
ABSTRACT: The development of the Clinical Engineering area, associated to the increase of healthcare facilities and its complexity, led the Clinical Engineer to research, develop and implement management programs to medical technologies. Hence, Clinical Engineers belonging to healthcare teams have been making contributions to offer more reliability, security, functionality and accessibility to new technologies. The population growth, incidence of new cancer cases and radiotherapy technologies, associated to a limited healthcare budget, high costs and complexity of these technologies, motivated this study in the radiotherapy field. This work, in its literature review, presents the fundamental concepts of radiation physics, major treatments and applied technologies in radiotherapy, particularly, linear accelerators. This research aims to identify and study concerning legislations of ionizing radiation application, radiotherapy facilities, requirements regarding structure and organization, involved professionals and measurement equipments used to radiation monitoring. This work was carried out in the radiotherapy centers of the Santa Catarina State Brazil. The results show a survey of the radiotherapy used technologies, the geographical facilities distribution, time of use and patient attendance totals. Based on the actual situation of the radiotherapy services in Santa Catarina State and the present study, a safety and functionality control management program is proposed to linear accelerators becoming a contribution to the healthcare and clinical engineering dealing with the medical technology management.
vi
SUMRIO
LISTA DE FIGURAS ...............................................................................................xi
LISTA DE QUADROS ...........................................................................................xiv
LISTA DE TABELAS ..............................................................................................xv
LISTA DE ABREVIATURAS..................................................................................xvi
1 INTRODUO..................................................................................................... 1
1.1 A Radioterapia no Brasil........................................................................................... 1 1.2 Proposta de Trabalho ............................................................................................... 3
1.2.1 Objetivos ....................................................................................................... 4 1.2.2 Justificativa.................................................................................................... 4 1.2.3 Metodologia................................................................................................... 6
1.3 Estrutura do Trabalho............................................................................................... 7
2 FSICA DA RADIOTERAPIA - FUNDAMENTOS ................................................. 8
2.1 A Descoberta das Radiaes ................................................................................... 8 2.2 Aplicaes das Radiaes ....................................................................................... 9 2.3 Formas de Energia Radiante.................................................................................. 10 2.4 Origem das Radiaes ........................................................................................... 10 2.5 Radioatividade........................................................................................................ 11
2.5.1 Atividade de uma amostra (A) ..................................................................... 11 2.5.2 Meia - Vida do Radioistopo (T).................................................................. 12 2.5.3 Vida - Mdia do Radioistopo ( ) .............................................................. 12
2.6 Caractersticas da energia radiante........................................................................ 12 2.7 Radiao ionizante e no-ionizante ....................................................................... 14 2.8 Interaes com a matria ....................................................................................... 15
2.8.1 Interaes dos ftons com a matria .......................................................... 16 2.8.2 Interaes dos eltrons com a matria ....................................................... 20 2.8.3 Interaes dos nutrons com a matria ...................................................... 21
2.9 Grandezas e Unidades........................................................................................... 21 2.9.1 Exposio (roentgen) .................................................................................. 21 2.9.2 Dose Absorvida (rad, gray).......................................................................... 22 2.9.3 Equivalente de Dose (rem, sievert) ............................................................. 22
2.10 Kerma................................................................................................................ 23 2.11 LET.................................................................................................................... 24 2.12 Regio de Build-up e regio de equilbrio eletrnico ...................................... 25
vii
2.13 Efeito Biolgico.................................................................................................. 26 2.14 Cartas de Isodose ............................................................................................. 28 2.15 Radioproteo Blindagens ............................................................................. 29
2.15.1 Blindagens para nutrons ...................................................................... 29 2.15.2 Blindagem para partculas carregadas .................................................. 29 2.15.3 Blindagem para ftons ........................................................................... 30 2.15.4 Camada Semirredutora (HVL) e Camada Decirredutora (TVL)............. 30
3 TECNOLOGIAS PARA TRATAMENTO RADIOTERPICO .............................. 32
3.1 O Cncer ................................................................................................................ 32 3.2 Tratamentos com Radioterapia .............................................................................. 34 3.3 Processo Radioterpico ......................................................................................... 36 3.4 Tratamento com braquiterapia ............................................................................... 37 3.5 Aparelhos e Fontes utilizados em braquiterapia .................................................... 39 3.6 Tratamento com teleterapia.................................................................................... 41 3.7 Equipamentos de Teleterapia................................................................................. 41
3.7.1 Aparelhos de RX ......................................................................................... 41 3.7.2 Aparelhos de Telecobalto............................................................................ 43 3.7.3 Aceleradores Lineares ................................................................................ 44 3.7.4 Aceleradores Lineares com Feixe de Intensidade Modulada (IMRT) ......... 47
3.8 Equipamentos para Medidas de Radiao............................................................. 48 3.8.1 Dosmetro Termoluminescente ................................................................... 49 3.8.2 Detectores a gs ......................................................................................... 49 3.8.3 Contador Geiger-Mller ............................................................................... 50 3.8.4 Cmara de Ionizao Padro...................................................................... 51 3.8.5 Cmara de Ionizao Dedal ........................................................................ 52 3.8.6 Eletrmetro.................................................................................................. 52 3.8.7 Cmara Capacitiva...................................................................................... 53 3.8.8 Cmara Tipo Farmer ................................................................................... 54 3.8.9 Cmara de Placas Paralelas....................................................................... 54
3.9 Radiometria e Dosimetria ....................................................................................... 55
4 ACELERADORES LINEARES PARA RADIOTERAPIA .................................... 56
4.1 Princpio de Funcionamento - Diagrama de Blocos ............................................... 56 4.2 Componentes de um Acelerador Linear Utilizado em Radioterapia....................... 59
4.2.1 Sistema de Vcuo ....................................................................................... 60 4.2.2 Sistema de Resfriamento ............................................................................ 60 4.2.3 Klystron ....................................................................................................... 60
viii
4.2.4 Magnetron ................................................................................................... 61 4.2.5 Estrutura Aceleradora ................................................................................. 63 4.2.6 Canho eletrnico ....................................................................................... 64 4.2.7 Pr Agrupador ............................................................................................. 64 4.2.8 Agrupador.................................................................................................... 66 4.2.9 Estrutura Aceleradora de Ondas Progressivas ........................................... 66 4.2.10 Estrutura aceleradora de ondas estacionrias ...................................... 67 4.2.11 Cabeote de Tratamento ....................................................................... 68 4.2.12 Magneto ................................................................................................. 69 4.2.13 Alvo........................................................................................................ 69 4.2.14 Colimadores Primrios........................................................................... 70 4.2.15 Filtro Aplanador...................................................................................... 70 4.2.16 Lminas Espalhadoras de eltrons........................................................ 71 4.2.17 Cmara Monitora ................................................................................... 71 4.2.18 Colimadores Secundrios...................................................................... 72 4.2.19 Sistema ptico....................................................................................... 73 4.2.20 Acessrios ............................................................................................. 73
4.3 Dispositivos de segurana...................................................................................... 74 4.3.1 Proteo na sala de tratamento .................................................................. 74 4.3.2 Proteo contra erro do operador ............................................................... 75 4.3.3 Proteo contra radiaes parasitas ........................................................... 75 4.3.4 Proteo contra irradiao na borda do volume de tratamento .................. 76 4.3.5 Dispositivos de Segurana nos aceleradores lineares................................ 76
4.4 Normas ................................................................................................................... 77 4.4.1 Normas da Comisso Nacional de Energia Nuclear (CNEN)...................... 77 4.4.2 Portarias do Ministrio da Sade ................................................................ 77 4.4.3 Recomendaes do National Council on Radiation Protection and
Measurements (NCRP-EUA)....................................................................... 78 4.4.4 Documentos de Orientao......................................................................... 79 4.4.5 Protocolos de Dosimetria (TRS Technical Report Series) ....................... 79 4.4.6 Normas NBR IEC ........................................................................................ 79
5 ESTRUTURA DOS SERVIOS DE RADIOTERAPIA - LEVANTAMENTO REALIZADO EM SANTA CATARINA ................................................................ 81
5.1 Estrutura dos Servios de Radioterapia ................................................................. 81 5.1.1 Estrutura de Pessoal ................................................................................... 81 5.1.2 Estrutura Fsica ........................................................................................... 83 5.1.3 Equipamentos ............................................................................................. 84
ix
5.2 Licenciamento para instalao de um servio de Radioterapia ............................. 85 5.3 Funcionalidade e Segurana do Acelerador Linear ............................................... 86
5.3.1 Aceitao..................................................................................................... 87 5.3.2 Comissionamento........................................................................................ 87 5.3.3 Garantia da Qualidade ................................................................................ 87
5.4 Responsabilidades ................................................................................................. 89 5.5 SERVIOS DE RADIOTERAPIA EM SANTA CATARINA..................................... 89
5.5.1 Metodologia da Pesquisa ............................................................................ 89 5.5.2 Apresentao e Anlise da Pesquisa.......................................................... 90
5.6 A Engenharia Clnica na Radioterapia ................................................................... 95
6 PROPOSTA DE PROGRAMA DE CONTROLE DE FUNCIONALIDADE E SEGURANA NOS SERVIOS DE RADIOTERAPIA ACELERADORES LINEARES ......................................................................................................... 98
6.1 Etapa I - Identificao e registro............................................................................. 99 6.1.1 Identificao do Servio .............................................................................. 99 6.1.2 Identificao do Equipamento Acelerador Linear..................................... 99 6.1.3 Identificao dos Equipamentos de Radiometria e Dosimetria ................. 100 6.1.4 Identificao da Estrutura.......................................................................... 100
6.2 ETAPA II Identificao dos testes ou verificaes ............................................ 102 6.3 ETAPA III Aplicao dos Testes ou Verificaes e Registro dos Resultados... 104 6.4 Auditoria da CNEN ............................................................................................... 105 6.5 Verificao dos Servios em Santa Catarina ....................................................... 106 6.6 Proposta de Implantao do Programa de Controle para AL............................... 107
7 CONCLUSES................................................................................................ 109
7.1 Sugestes para outros trabalhos.......................................................................... 112
ANEXOS ............................................................................................................. 113
ANEXO 1 - Valores de HVL e TVL ...................................................................... 114
ANEXO 2 Caractersticas dos Aceleradores Lineares ..................................... 115
ANEXO 3 - Servio de Radioterapia - Planta ..................................................... 116
ANEXO 4 Formulrios da Pesquisa ................................................................. 117
ANEXO 5 Infra-estrutura para o Acelerador Linear .......................................... 120
8 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................. 121
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 - Classificao das radiaes ionizantes.............................................. 10
Figura 2.2 Curva de decaimento de um radioistopo e seus principais parmetros (TAUHATA, 2001)........................................................................... 12
Figura 2.3 tomo, Camadas e Emisso do Fton.............................................. 14
Figura 2.4 Comportamento dos ftons ao atravessar um material atenuador (A) (GALIANO, 2001) e curva de atenuao (B) (adaptado de TAUHATA, 2001).................................................................................................................. 16
Figura 2.5 Efeito Fotoeltrico - Fton incidente e fotoeltron emergente (SOARES, 2003)................................................................................................ 17
Figura 2.6 Fton e eltron do espalhamento Compton, (adaptado de SOARES, 2003)................................................................................................. 18
Figura 2.7 Espalhamento Rayleigh - fton de baixa energia interagindo com eltron preso fortemente ao tomo, (adaptado de SOARES, 2003). ................. 18
Figura 2.8 Espalhamento Thomson - fton de baixa energia interagindo com eltrons mais livres do tomo (adaptado de SOARES, 2003). .......................... 19
Figura 2.9 Produo de Pares - Ftons de alta energia transformam-se em duas partculas pela interao com o campo eltrico do ncleo do tomo (SOARES, 2003)................................................................................................ 19
Figura 2.10 - Formas de interao dos eltrons com a matria. (A) Coliso elstica; (B) Coliso inelstica; (C) Freamento ou Bremsstrahlung (adaptado de GALIANO, 2001)........................................................................................... 21
Figura 2.11 - Regio de build up e regio de equilbrio eletrnico (BIRAL, 2002). 25
Figura 2.12 - Estrutura do DNA. Normal (A); Quebra simples (B); Dupla quebra (C) (adaptado de BIRAL, 2002) ......................................................................... 27
Figura 2.13 Cartas de isodose para energia de 6 MV, distncia foco superfcie de 100 cm e campo de irradiao 5x5 cm em (A) e 10 x 10 cm em (B) (SCAFF, 1997). ............................................................................................ 28
Figura 2.14 Atenuao da radiao (adaptado de TAUHATA, 2001)................. 29
Figura 3.1 Etapas do processo radioterpico (adaptado de GALIANO, 2001). .. 37
Figura 3.2 Aplicadores para tratamento ginecolgico. ....................................... 38
Figura 3.3 Formato de fontes utilizadas em braquiterapia: tubo (A), agulha (B) e fios (C, D, E) (adaptado de SCAFF, 1997)................................................ 40
Figura 3.4 Tratamento com braquiterapia de alta taxa de dose (adaptado de SCAFF, 1997) (A), e foto do aparelho de HDR com monitorao por cmara de ionizao (B) ................................................................................................. 40
xi
Figura 3.5 Equipamento de raios-X para uso em radioterapia; no detalhe a bomba e o reservatrio de leo para refrigerao. ............................................ 42
Figura 3.6 Aparelho de telecobalto. Diagrama do cabeote (INCA, 2000b) (A); foto do equipamento (B).............................................................................. 43
Figura 3.7 Esquema do acelerador linear com mesa de tratamento (A) e indicaes dos movimentos possveis com esquema de um simulador (B). ..... 45
Figura 3.8 - Regies de operao de um detector a gs (adaptado de TAUHATA, 2001). .............................................................................................. 50
Figura 3.9 Esquema e foto do Contador Geiger-Mller (SCAFF, 1997;TAUHATA, 2001). ..................................................................................... 51
Figura 3.10 - Esquema de uma cmara de ionizao (BOMFORD, 1993). .......... 51
Figura 3.11. Esquema da cmara de ionizao tipo dedal (SCAFF, 1997)........... 52
Figura 3.12 Esquema eltrico do eletrmetro tipo integrador (A) e tipo rate-meter (B) (SCAFF, 1997) ................................................................................... 53
Figura 3.13 Esquema de uma cmara capacitiva (SCAFF, 1997). .................... 54
Figura 3.14 Esquema da cmara de ionizao tipo Farmer (A) e Eletrmetro com cmara tipo Farmer (SCAFF, 1997). .......................................................... 54
Figura 4.1 - Princpio do acelerador linear. ........................................................... 57
Figura 4.2 - Diagrama de Blocos do Acelerador Linear (adaptado de KARZMARK, 1981). ........................................................................................... 57
Figura 4.3 Componentes do acelerador linear para uso em radioterapia (SCAFF, 1997)................................................................................................... 59
Figura 4.4 Seco transversal de uma vlvula klystron de duas cavidades (KARZMARK, 1981)........................................................................................... 61
Figura 4.5 Seo em Corte da vlvula magnetron. Longitudinal em (A); Transversal em (B), (adaptado de KARZMARK, 1981; GALIANO, 2001).......... 62
Figura 4.6 Estrutura aceleradora e produo dos eltrons (DI PRINZIO, 1984).................................................................................................................. 63
Figura 4.7 Esquema da fonte de eltrons por aquecimento direto. .................... 64
Figura 4.8 - Processo de agrupamento dos eltrons (adaptado de BOMFORD, 1993).................................................................................................................. 65
Figura 4.9 Anis de cobre e montagem do tubo acelerador (KARZMARK, 1981).................................................................................................................. 66
Figura 4.10 - Campo eltrico na estrutura aceleradora de onda progressiva (adaptado de KARZMARK, 1981; DI PRINZIO, 1984)....................................... 67
xii
Figura 4.11 Comportamento das microondas na estrutura aceleradora de onda estacionria (adaptado de KARZMARK, 1981; DI PRINZIO, 1984).......... 68
Figura 4.12 - Detalhes do cabeote do acelerador linear (SCAFF, 1997)............. 68
Figura 4.13 Deflexo do feixe de eltrons pelo magneto e focalizao no alvo. Em (A) deflexo de 90, em (B) deflexo de 270 (DI PRNZIO, 1984)...... 69
Figura 4.14 Detalhes da produo de feixe de ftons (A) e feixe de eltrons (B) (adaptado de KARZMARK, 1981). ............................................................... 70
Figura 4.15 Efeito do filtro aplanador sobre o feixe de ftons (GALIANO, 2001).................................................................................................................. 71
Figura 4.16 Disposio das cmaras de Ionizao para monitorao do feixe de radiao no acelerador linear (GALIANO, 2001). ......................................... 72
Figura 4.17 Colimadores secundrios (SCAFF, 1997). ...................................... 72
Figura 4.18 - Colimador multi-lminas (A), lminas do colimador em detalhe (B) (adaptado de SCAFF, 1997). ............................................................................. 73
Figura 4.19 Bandeja para fixao dos blocos delimitadores de rea (a), (SCAFF, 1997) e blocos de chumbo para delimitao da rea irradiada (b). .... 74
Figura 5.1 - Distribuio dos servios de Radioterapia no Estado de Santa Catarina. ............................................................................................................ 91
Figura 5.2 - Atendimento de pacientes/ano nas mesorregies de Santa Catarina. ............................................................................................................ 91
Figura 5.3 - Pacientes atendidos/ano por equipamento ou conjunto de fontes radioativas.......................................................................................................... 92
Figura 5.4 - Dcada de aquisio dos equipamentos ou fontes de radioterapia. .. 92
Figura 5.5 (A) Sistema de planejamento, (B) Simulador de tratamento de radioterapia em Santa Catarina. ....................................................................... 93
Figura 6.1 - Etapas do programa de funcionalidade e segurana para aceleradores lineares......................................................................................... 99
Figura 6.2 Verificaes dirias nos servios com acelerador linear. ................ 106
Figura 6.3 Verificaes mensais nos servios com acelerador linear. ............. 107
Figura 6.4 Verificaes anuais nos servios com acelerador linear. ................ 107
Figura 6.5 Proposta de implantao do programa de controle para aceleradores lineares....................................................................................... 108
xiii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1.1 Fatos histricos da radioterapia no Brasil (PINTO, 2000; GUIZZARDI, 2000; FENELON, 2003).................................................................. 1
Quadro 2.1 Fatos histricos da descoberta das radiaes ionizantes. ................ 8
Quadro 2.2 Mecanismo de interao da energia com a matria e seus efeitos, compilado de (SCAFF, 1997). ............................................................... 15
Quadro 3.1 Tumores malignos mais comuns em homens e mulheres de acordo com a ordem de freqncia (SABBI, 2000)............................................ 33
Quadro 3.2 - Resumo das principais tcnicas radioterpicas e tratamentos (Fonte: LCCC - Setor de Fsica Mdica, 2003). ................................................. 35
Quadro 3.3 Modelos e fabricantes de raios-X para radioterapia (INCA, 2000b)................................................................................................................ 43
Quadro 3.4 Modelos e fabricantes de Telecobalto (INCA, 2000b). .................... 44
Quadro 5.1 Listagem do equipamento mnimo recomendado para implementao de um programa de controle da qualidade em equipamentos de teleterapia (INCA, 2000a). ............................................................................ 88
Quadro 5.2 - Servios de radioterapia no Estado de Santa Catarina.................... 90
Quadro 5.3 - Nmero de profissionais para um servio de Radioterapia (PINTO, 2000).................................................................................................... 94
Quadro 6.1 Relao de verificaes dirias. .................................................... 102
Quadro 6.2 - Relao de verificaes mensais. .................................................. 103
Quadro 6.3 - Relao de verificaes anuais...................................................... 104
xiv
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 - Caractersticas da energia conforme a freqncia e comprimento de onda, (adaptado de GALIANO, 2001). .......................................................... 13
Tabela 2.2 Efeito predominante no tecido de acordo com a energia (BIRAL, 2002).................................................................................................................. 20
Tabela 2.3 - Fator de qualidade para os diferentes tipos de radiao (fonte: ICRP 26 (1977) e norma NE 3.01 CNEN).......................................................... 23
Tabela 2.4 - LET de alguns tipos de energia (BIRAL, 2002) ................................. 24
Tabela 2.5 - Profundidade da regio de build-up (adaptado de BIRAL, 2002). ..... 26
Tabela 3.1 Fontes de radiao utilizadas em braquiterapia (adaptado do CBR,1995). ........................................................................................................ 39
Tabela 3.2 Formato das fontes de radiao para braquiterapia (compilado de SCAFF, 1997). ................................................................................................... 39
Tabela 3.3 Caractersticas dos equipamentos de raios-X em radioterapia (compilado de SCAFF, 1997)............................................................................. 42
Tabela 3.4 Capacidade de penetrao dos feixes de diferentes energias a 10 cm de profundidade (adaptado do INCA, 2000b)............................................... 45
Tabela 3.5 - Parmetros bsicos de alguns aceleradores lineares de uso em radioterapia (adaptado de MACISZEWSKI, 2003)............................................. 46
Tabela 5.1 Listagem e custo dos equipamentos de radioterapia para um servio de menor complexidade (Fonte: Setor de Fsica Mdica da LCCC)...... 84
Tabela 5.2 Listagem e custo dos equipamentos de radioterapia para um servio de maior complexidade (Fonte: Setor de Fsica Mdica da LCCC)....... 84
Tabela 5.3 Relao e custo dos equipamentos de radiometria e dosimetria para um servio de radioterapia (Fonte: Departamento de Fsica Mdica da LCCC). ............................................................................................................... 85
Tabela 5.4 - Tecnologias disponveis em Santa Catarina ..................................... 91
Tabela 5.5 - Equipamentos de radiometria / dosimetria ........................................ 93
Tabela 5.6 - Profissionais de radioterapia em Santa Catarina .............................. 94
Tabela 5.7 - Estimativa de casos novos de neoplasias malignas para o Estado de Santa Catarina (INCA, 2004). ....................................................................... 95
Tabela 5.8 - Populao de Santa Catarina (Fonte: IBGE, Censo 2000). .............. 95
Tabela 6.1 Relao de parmetros verificados bianualmente pela CNEN (INCA, 2000a) .................................................................................................. 105
xv
LISTA DE ABREVIATURAS
ABFM Associao Brasileira de Fsica Mdica AIEA Agncia Internacional de Energia Atmica AL Acelerador linear CJDSMTR Conjunto para dosimetria CNEN Comisso Nacional de Energia Nuclear CORAD Coordenao de Instalaes Radioativas DFI Distncia Fonte-Isocentro DFS Distncia Fonte-Superfcie (SSD)
DIRAC Directory of Radiotherapy Centres Centro de Registros de
Radioterapia
EMH Equipamento Mdico-Hospitalar FAP Fundao Antnio Prudente GQ Garantia da Qualidade gTMH Gerenciamento de Tecnologia Mdico-Hospitalar GTMH Gesto de Tecnologia Mdico-Hospitalar HDR High dose rate Alta taxa de dose HVL Half Value Layer Camada semirredutora
ICRP International Comission on Radiological Protection Comisso
Internacional de Prodeo Radiolgica
ICRU International Commission on Radiation Units and Measurements
Comisso Internaciontal de Medidas e Unidades de Radiao
IEC International Electrotechnical Commission Comisso Internacional de
Eletrotcnica
INCA Instituto Nacional de Cncer IRD Instituto de Radioproteo e Dosimetria LCCC Liga Catarinense de Combate ao Cncer LDR Low dose rate Baixa taxa de dose MS Ministrio da Sade
NCRP National Council on Radiation Protection and Measurements
Conselho Nacional de Proteo Radiolgica e Medidas - EUA
PDD ou %DD
Percentual Depth Dose Percentual de Dose em Profundidade
RF Radiofreqncia
xvi
RFAS Relatrio Final de Anlise de Segurana RPAS Relatrio Preliminar de Anlise de Segurana SCRA Solicitao de Concesso de Registros e Autorizaes SI Sistema Internacional de Unidades SSD Source Skin Distance Distncia Fonte Pele TBI Total Body Irradiation Irradiao de Corpo Inteiro TG Task Group Grupo de Trabalho TLD Thermolumenescent Dosimeter Dosmetro Termoluminescente TMR Tissue Maximum Ratio Razo mxima tecido ar TPR Tissue Phanton Ratio Razo tecido fantoma TRS Technical Report Series Srie Relatrios Tcnicos TVL Tenth Value Layer Camada decirredutora UM Unidade Monitor
xvii
1 INTRODUO
Conhecido desde o incio da histria da medicina, o cncer responsvel por 13
a 15% dos bitos no Brasil. Mesmo com as campanhas de preveno para combater
essa doena, um alto percentual da populao atingida todos os anos e cerca de uma
em cada cinco pessoas desenvolver algum tipo de cncer durante a sua vida. Por outro
lado, 75% dos casos so controlveis e se descoberto precocemente podem ser curados
(SABBI, 2000).
De modo geral, o tratamento do cncer, atualmente, realizado por meio de
cirurgia, radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia e imunoterapia. Essas formas de
tratamento, definidas pela equipe mdica aps criteriosa avaliao, podem ser aplicadas
de forma isolada ou combinada. Contudo, a Engenharia Gentica est proporcionando
novas possibilidades como a correo nos genes como forma de diminuir ou eliminar a
predisposio ao cncer.
Desde o incio dos tratamentos de cncer com radioterapia, relatados por
Jonhson e Merril em 1900 (EISENBERG, 1992), as tcnicas e os equipamentos
empregados passaram por grande evoluo. As atuais tecnologias aplicadas no
tratamento radioterpico so sofisticadas e de alto custo.
1.1 A Radioterapia no Brasil
Muitos fatos marcaram a evoluo da radioterapia no pas, na busca da cura do
cncer. Por meio de uma linha do tempo, o Quadro 1.1 relaciona os principais
acontecimentos que construram a histria da radioterapia no Brasil, permitindo
compreender a evoluo das tecnologias aplicadas e dos centros de tratamento de
cncer com radioterapia.
Quadro 1.1 Fatos histricos da radioterapia no Brasil (PINTO, 2000; GUIZZARDI, 2000; FENELON, 2003).
DATA FATO
1920 Instituto do Cncer Dr. Arnaldo, a primeira instituio brasileira destinada ao estudo e tratamento do cncer, criada por Dr. Arnaldo Augusto Vieira de Carvalho, diretor da Faculdade de Medicina da Santa Casa de So Paulo.
1923 Em Belo Horizonte, o Instituto do Radium inicia suas atividades como centro destinado ao estudo dos raios-X e do elemento rdio na busca da cura do cncer.
1926 Marie Curie e sua filha Irne (prmio Nobel de Qumica) estiveram no Brasil (Rio de Janeiro e Belo Horizonte). Em Belo Horizonte visitaram o Instituto do Radium. Em 1950 o Instituto passou a denominar-se Hospital Borges da Costa.
1936 Foi oficializada em So Paulo a Associao Paulista de Combate ao Cncer (APCC) que, mais tarde, 1946, iniciou o atendimento efetivo por meio do Hospital Santa Cruz.
1938 Foi fundado o Centro de Cancerologia, no Hospital Estcio de S, no Rio de Janeiro que contava com um aparelho de radioterapia e um de radiodiagnstico. 1941 Criado o Servio Nacional de Cncer que passou a funcionar no mesmo local do Centro de Cancerologia, no Rio de Janeiro.
2
... continuao do Quadro 1.1.
1944 Criado no Rio de Janeiro o Instituto do Cncer e em 1946 transferido, junto com o Servio Nacional de Cncer, para o Hospital Gafre e Guinle.
1953 O Hospital Antnio Cndido de Camargo (Hospital A. C. Camargo), So Paulo, iniciou as atividades de radioterapia com dois equipamentos convencionais (Maximar-250 da GE), um equipamento de radioterapia superficial (Maximar-100 da GE) e um conjunto de tubos e agulhas de rdio-226.
1956 Foi instalado no A. C. Camargo, um aparelho de radioterapia convencional (Stabilipan - Siemens) e um RX superficial de contato (Schoul-Siemens).
1957
O Instituto do Cncer passou a contar com quatro aparelhos de roentgenterapia profunda, dois de roentgenterapia superficial e duas unidades de cobalto (Theratron 60), alm de rdio na forma de tubos e agulhas e equipamentos de dosimetria e uma oficina de radiomoldagem. No Hospital A. C. Camargo, foi instalada a primeira unidade de cobalto (Gammatron I da Siemens). Naquela poca tambm era utilizada uma bomba com 05 gramas de rdio-226, que operava entre 05 e 10 cm de distncia foco-pele, para tratamento de leses superficiais e semiprofundas.
1961 O Instituto do Cncer passou a denominar-se Instituto Nacional do Cncer (INCA), uma das instituies de referncia no pas.
1968 Foi instalado, no Hospital A C Camargo a unidade de teleterapia de csio-137 e a segunda bomba de cobalto, denominao para o equipamento de Cobaltoterapia (Gammatron II).
1970 Incio dos tratamentos radioterpicos em Santa Catarina com implementao do Servio de Radioterapia do Hospital de Caridade.
1972 Em So Paulo, no Hospital Alemo Oswaldo Cruz foi instalado o primeiro acelerador linear para ftons e eltrons, para fins mdicos do pas, no Hospital Srio-Libans e, em seguida, no Hospital A C Camargo, foi instalado um outro acelerador linear (Clinac 4 Varian).
1973 Associao Paulista de Combate ao Cncer (APCC) transformou-se na Fundao Antnio Prudente (FAP).
1974 O INCA adquiriu novos aparelhos: acelerador linear de alta energia com feixe de eltrons (Saturne 20), duas unidades de cobalto-60 (Eldorado 78 esttica e Theratron 780 cintica) e um simulador de radioterapia.
1976
No Hospital A C Camargo, os tubos de rdio foram substitudos por tubos e agulhas de csio-137. O Servio de Radioterapia da FAP foi reequipado com a aquisio de uma Unidade de Cobalto-60 (Gammatron S Siemens) e um aparelho de raios X (Stabilipan II - Siemens).
1977 Instalao do primeiro acelerador linear em Santa Catarina no Servio de Radioterapia do Hospital de Caridade. 1986 A FAP adquiriu e disponibilizou um equipamento para planejamento computadorizado (Theraplan) e um simulador para planejamento (Therazin). 1992 O Hospital A. C. Camargo adquiriu a braquiterapia de Alta Taxa de Dose - HDR que utiliza fonte de irdio-192.
1998 Entrou em funcionamento, no INCA, o segundo Acelerador Linear (600C Varian). O Servio de radioterapia possua tambm istopos radioativos para tratamento com baixa taxa de dose como sementes de ouro-198 e placas de cobalto-60.
2000
O INCA passou a contar com trs simuladores para tratamento, um tomgrafo computadorizado, dois aceleradores lineares, um acelerador linear com feixes de ftons de baixa energia, duas unidades de cobalto, dois aparelhos de braquiterapia de baixa taxa de dose e um aparelho de braquiterapia de alta taxa de dose com fonte de irdio-192.
Segundo o relatrio de radioterapia da ABFM (Associao Brasileira de Fsica
Mdica), em 2001, o Brasil possua cerca de 140 instalaes de radioterapia.
As tecnologias utilizadas no Brasil esto sendo alteradas, seguindo uma
tendncia mundial, com a substituio dos equipamentos de telecobaltoterapia por
3
aceleradores lineares, fontes de braquiterapia convencional (Cs137) de baixa taxa de dose
por equipamentos de alta taxa de dose (Ir192) e com o aumento dos implantes de fontes
(I125). Em 1999 e 2000 os servios de radioterapia operaram com 2.942 fontes radioativas
de braquiterapia (sementes, tubos e agulhas), 110 equipamentos de Co60 e 78
aceleradores lineares (TAUHATA, 2001).
Atualmente, os trs centros de radioterapia mais importantes, como centro de
estudos e treinamento de pessoal (mdicos radioterapeutas, fsicos mdicos e tcnicos
em radioterapia), so: o Hospital A. C. Camargo e o Hospital Israelita Albert Einstein, em
So Paulo e o Instituto Nacional do Cncer INCA no Rio de Janeiro. Este ltimo com
trs unidades hospitalares.
O Estado de Santa Catarina, que j possua cinco servios, a partir de 2002 vem
recebendo o incremento de trs novos servios de radioterapia que faro uso das novas
e complexas tecnologias.
1.2 Proposta de Trabalho
A insero de tecnologias aplicadas sade para melhorar e agilizar o
atendimento originou tambm, atividades mais complexas quais sejam: especificao,
compra, recebimento e instalao de equipamentos, treinamento, manuteno e
substituio de tecnologias, caracterizando as atividades de gTMH - gerenciamento de
tecnologia mdico-hospitalar. A Engenharia Clnica que, no Brasil, desempenhou
atividades restritas manuteno corretiva, nas instituies de sade, durante um longo
perodo, passou a desempenhar essas atividades mais complexas (BESKOW, 2001).
Levantamentos e estudos das tecnologias em sade tm sido realizados por
profissionais da engenharia clnica identificando a realidade brasileira para propor
solues de gerenciamento. O crescimento dessas atividades, gerando grande volume
de informaes, conduziu a aes mais amplas de gerenciamento caracterizando a
Gesto de Tecnologia Mdico-Hospitalar (GTMH) (GLOWACKI, 2003).
Com o propsito de identificar as estruturas utilizadas no tratamento
radioterpico e as condies de funcionalidade e segurana das tecnologias aplicadas,
este trabalho busca por meio de um estudo bibliogrfico e um levantamento no Estado
Santa Catarina, contribuir com uma proposta de controle de funcionalidade e segurana
destas tecnologias, com foco no acelerador linear. Visa-se, dessa forma, contribuir com a
melhoria da qualidade dos servios prestados na rea, disponibilizando informaes e
propondo programas de gerenciamento para estruturas de engenharia clnica na gesto
da tecnologia mdico-hospitalar (GTMH).
4
1.2.1 Objetivos
Com base nas consideraes acima, este trabalho est delineado pelos
objetivos:
a) Gerais
Realizar um estudo de funcionalidade e segurana das tecnologias aplicadas radioterapia, visando propor programas para seu gerenciamento, de modo a
contribuir com a melhoria dos servios de sade;
Contribuir com os servios de Engenharia Clnica para o gerenciamento das tecnologias utilizadas em radioterapia.
b) Especficos
Identificar e relacionar as normas tcnicas aplicveis; Realizar levantamento nos servios de radioterapia do Estado de Santa
Catarina;
Identificar as atividades de controle e fiscalizao exercidas pelos rgos responsveis;
Elaborar uma proposta de programa para controle de funcionalidade e segurana dos aceleradores lineares utilizados em radioterapia.
1.2.2 Justificativa
A pesquisa aplicada, especialmente na rea de tecnologia em sade, ainda
bastante incipiente no Brasil devido escassez de investimentos. Um razovel percentual
de equipamentos mdicos encontra-se fora de operao devido ao gerenciamento
inadequado dessa tecnologia que abrange desde uma compra mal dimensionada at a
ausncia de um programa eficiente de manuteno.
, portanto, evidente a necessidade de controlar e gerenciar de forma adequada
essas tecnologias proporcionando melhorias da qualidade para suporte vidas. A
Engenharia Clnica, ainda em desenvolvimento no Brasil, vem realizando trabalhos de
pesquisa e gerenciamento na rea da sade, elevando a qualidade dos servios e
possibilitando disponibilizar com qualidade essas tecnologias durante o maior tempo
possvel.
Em Santa Catarina, o trabalho realizado pela Engenharia Clnica do Instituto de
Engenharia Biomdica da UFSC vem adquirindo, cada vez mais, a adeso das
instituies de sade pela credibilidade que adquire na formao de profissionais e pela
sua atuao nas unidades de sade. Este fato comprova que o correto gerenciamento
resulta em melhoria no funcionamento dos equipamentos, economia em manuteno,
possibilidade de ampliao dos servios e conseqente melhoria da qualidade do
5
atendimento populao.
A partir da dcada de 40, com a publicao de vrios resultados de observaes
clnicas, relacionando o efeito das radiaes sobre os tecidos e com os progressos da
fsica e da engenharia nuclear, desenvolveram-se materiais radioativos e, especialmente,
equipamentos cada vez mais complexos para a emisso de radiaes de forma
controlada. Os aceleradores lineares, equipamentos de alta complexidade, constituem
atualmente a tecnologia mais avanada para aplicao em radioterapia. Por meio dessa
tecnologia possvel irradiar tecidos ou rgos neoplsicos com preciso (tanto na
localizao quanto na intensidade do feixe) de forma que os tecidos sadios em sua volta
possam ser preservados. O aumento do nmero de casos de cncer previstos para os
prximos anos e a poltica de ampliao do atendimento populao e dos servios, no
pas e especialmente no Estado de Santa Catarina, justificam ateno especial das
instituies de pesquisa e gesto para as tecnologias de uso radioterpico.
Segundo o relatrio do Instituto Nacional do Cncer (INCA, 2001), o nmero
estimado de casos novos de cncer/ano para os prximos vinte anos deve passar de:
305.330 casos no ano 2001, para 572.490 no ano 2020.
De acordo com documento do Instituto Nacional de Cncer (Estimativa de
Incidncia e Mortalidade por Cncer no Brasil, 1998 e do Programa de Controle e
Avaliao em Oncologia, 1994 - 1997), 60% dos pacientes com cncer faro tratamento
com radioterapia; logo, o nmero de pacientes que far tratamento com radioterapia est
projetado com a seguinte estimativa: de 183.198 casos em 2001 para 343.494 em 2020.
A portaria 3535/GM/MS, no final do seu anexo II, recomenda a implantao de
um equipamento de radioterapia para cada 500 casos novos anuais.Assim sendo,
desejvel um razovel nmero de novas mquinas, ou seja: de 366 no ano 2001 para
686 em 2020. Considerando os atuais servios de radioterapia no Brasil,
aproximadamente 140, segundo o Relatrio Radioterapia 2000, da Associao
Brasileira de Fsica Mdica (ABFM), tm-se atualmente 1,2 mquinas/milho de
habitantes. Ressalte-se ainda que nos EUA este nmero atinge 12 mquinas/milho de
habitantes (DIRAC 2000 IAEA).
Os dados apresentados nos relatrios citados mostram a preocupao com uma
poltica governamental de melhoria da oferta e da qualidade dos servios de radioterapia.
Com a expedio da portaria 3535/GM/MS percebe-se a necessidade de identificar e
desenvolver estudos que possam resultar em material referencial para melhor aplicao e
gerenciamento das tecnologias aplicadas nessa rea.
importante destacar a instalao de trs novos servios de radioterapia no
Estado de Santa Catarina, somados aos cinco anteriormente existentes. Esse fato
comprova a implementao de uma poltica com a implantao e distribuio de servios
6
de alta complexidade nas macrorregies com conseqente descentralizao, a fim de
tornar mais acessvel e eficiente o atendimento populao.
Finalmente, a dificuldade de encontrar e acessar informaes na rea de
radioterapia relacionadas s normas de segurana, funcionalidade e gerenciamento dos
equipamentos de radioterapia, motivou tambm este trabalho que pretende constituir-se
em uma contribuio para melhoria dos servios de radioterapia.
1.2.3 Metodologia
Este trabalho iniciou com um levantamento do material bibliogrfico, legislao,
consultas na rede Internet, nos sites de instituies referncia como Instituto Nacional do
Cncer, Hospital A. C. Camargo e Ministrio da Sade.
A participao em cursos de capacitao realizados na UNICAMP (Universidade
de Campinas), no IRD (Instituto de Radioproteo e Dosimetria), a implementao da
disciplina de radioterapia para tcnicos em radiologia, do CEFET/SC (Centro Federal de
Educao Tecnolgica de Santa Catarina) e a participao nos Congressos Brasileiros
de Fsica Mdica em 2001 e 2003, contriburam para compreenso dos principais
conceitos da fsica da radioterapia e suas tecnologias.
As visitas s instituies referncia na rea tais como o IPEN/USP (Instituto de
Pesquisas Energticas e Nucleares) em So Paulo, o IRD/CNEN (Instituto de
Radioproteo e Dosimetria/Comisso Nacional de Energia Nuclear) no Rio de Janeiro, e
os servios de radiologia, medicina nuclear e radioterapia do Hospital Israelita Albert
Einstein em So Paulo, proporcionaram subsdios para elaborao deste trabalho.
O acompanhamento da construo do servio de radioterapia do Complexo
Hospitalar Vilson Kleinubing (Florianpolis) e a visita ao servio de radioterapia em
construo, do Hospital So Jos (Cricima), contriburam para melhor compreenso da
realidade atual na radioterapia de Santa Catarina.
O levantamento realizado em todos os servios de radioterapia do Estado de
Santa Catarina possibilitou identificar as tecnologias de radioterapia e seu uso no
tratamento oncolgico. Os dados coletados in loco permitiram conhecer as instalaes e
os profissionais envolvidos facilitando o acesso s informaes desejadas.
A anlise dos documentos reunidos na pesquisa e as informaes obtidas a
partir do levantamento possibilitaram a formulao da proposta de um programa controle
de funcionalidade e segurana para aceleradores lineares utilizados em radioterapia,
destacando a contribuio que a Engenharia Clnica pode oferecer aos servios de
radioterapia. Posteriormente retornou-se aos servios que utilizam aceleradores lineares
para identificar os controles realizados, de acordo com a proposta.
7
1.3 Estrutura do Trabalho
Este trabalho, situado na subrea de engenharia clnica, est estruturado em
sete captulos, incluindo este captulo de apresentao.
O Captulo 2 aborda tpicos da fsica das radiaes, como fundamento para a
compreenso da aplicao das radiaes ionizantes e das tecnologias envolvidas no
tratamento radioterpico.
O Captulo 3 relaciona os principais tratamentos radioterpicos com as
tecnologias aplicadas e descreve o princpio de funcionamento dos equipamentos e
fontes de radiao utilizadas, bem como os equipamentos de medidas de radiao para
atender aos princpios de radioproteo para pacientes e trabalhadores da rea.
O Captulo 4 descreve o equipamento foco deste trabalho, o acelerador linear,
seu funcionamento, principais caractersticas e fabricantes. Esse captulo aborda tambm
a legislao, normas e orientaes que regem o uso das radiaes ionizantes no
tratamento radioterpico.
O Captulo 5 descreve a estrutura fsica e de pessoal de um servio de
radioterapia e os equipamentos mnimos necessrios; descreve os trmites para
implementao de um servio de radioterapia e relata o levantamento realizado nos
servios de radioterapia do Estado de Santa Catarina, identificando a distribuio
geogrfica dos servios, as tecnologias em uso e equipes de trabalho. Esse captulo
aborda, ainda, a contribuio da Engenharia Clnica para radioterapia.
O Captulo 6 apresenta uma proposta de programa de controle de funcionalidade
e segurana para aceleradores lineares de radioterapia como contribuio da Engenharia
Clnica melhoria dos servios de sade.
O Captulo 7 finaliza o estudo, apresentando as concluses e sugestes para
outros trabalhos na rea de radioterapia.
2 FSICA DA RADIOTERAPIA - FUNDAMENTOS
2.1 A Descoberta das Radiaes
A descoberta e aplicaes das radiaes ionizantes foram marcadas por fatos
relevantes ao longo do tempo os quais desafiaram a comunidade cientfica a investig-
los. As pesquisas e descobertas feitas levaram aos conhecimentos cientficos e
tecnologias atuais. O Quadro 2.1 lista os principais fatos histricos resultantes desta
descoberta.
Quadro 2.1 Fatos histricos da descoberta das radiaes ionizantes.
poca Fato
1895
Wilhelm Konrad Roentgen descobre a existncia e a produo da radiao X quando, na Universidade de Wzbug, Alemanha, ao repetir o experimento de outro cientista, Philipp Lenard, observou que raios catdicos, escapando por uma estreita janela de alumnio, de um tubo com vcuo, produziam uma luminescncia em sais fluorescentes e um escurecimento em chapas fotogrficas (EISENBERG, 1992).
1896/jan. Roentgen realizou a primeira radiografia em pblico na Sociedade de Fsica Mdica de Wzburg (EISENBERG, 1992).
1986/mar O cientista francs Becquerel constata a atividade radioativa dos sais de Urnio (EISENBERG, 1992).
1896/abr. Um relatrio mdico apresentado no Medical Record descreve um caso no qual um carcinoma gstrico teve uma surpreendente resposta quando irradiado com raios-X (EISENBERG, 1992).
1898
O casal Curie (Pierre e Marie Curie) anunciou, na Academia de Cincias de Paris, a descoberta do rdio. Naquela mesma poca, Madame Curie demonstrava que as radiaes, descobertas por Becquerel poderiam ser medidas usando tcnicas baseadas no efeito da ionizao (origem do eletrmetro de Curie) (EISENBERG, 1992).
1900 Wallace Johnson e Walter Merril publicaram um artigo descrevendo os resultados positivos obtidos em cncer de pele pela aplicao de raios-X (EISENBERG, 1992).
1920 Iniciaram-se os estudos relativos aplicao dos raios-X na inspeo de materiais dando origem radiologia industrial (OKUNO, 1982).
1934 Irene e Frderic Joliot Curie descobrem a radioatividade em elementos artificiais e acontece um impulso nas aplicaes mdicas com a obteno de istopos radioativos (EISENBERG, 1992).
1940 (final da dcada)
Surgiu a idia de usar a tenso alternada para acelerar partculas carregadas originando, mais tarde, o acelerador de partculas (KARZMARK,1981).
1950 (meados
da dcada)
Construdo um LINAC (Linear Acelerator) com a finalidade de tratar tumores profundos, pelo Stanford Microwave Laboratory, sendo instalado no Stanford Hospital, localizado em So Francisco EUA (KARZMARK,1981).
1972 Sir Godfrey Newbold Hounsfield inventou a tomografia computadorizada (EISENBERG, 1992).
9
2.2 Aplicaes das Radiaes
A partir da descoberta dos raios-X, mdicos trabalharam intensivamente na
identificao de fraturas de ossos valendo-se da nova descoberta. A descoberta dos
radioistopos1, por volta de 1932, tornou possvel a sua utilizao como marcadores ou
traadores para localizao e identificao de doenas no organismo humano (medicina
nuclear). Esses radioistopos so utilizados como fontes de energia ocasionando
quebras de molculas e destruio dos tecidos cancerosos na radioterapia (EISENBERG,
1992 e OKUNO, 1982).
Na indstria, de forma geral e com auxlio das radiografias (utilizando raios-X) ou
gamagrafias (utilizando radiao gama), possvel analisar desde folhas vegetais finas
at aos de 25 cm de espessura, identificando descontinuidades ou heterogeneidades
nos materiais, utilizando a metodologia dos ensaios no destrutivos. Adicionando
pequenas quantidades de um radioistopo ao fluxo lquido ou gasoso, possvel a
verificao de vazamentos. Na indstria de alimentos, possvel aumentar o tempo de
consumo de alimentos perecveis e, na agricultura, a criao de novas variedades e
melhoria da produo de alimentos (OKUNO, 1982).
Na indstria mdica, especificamente, a radiao utilizada na esterilizao de
materiais hospitalares. Na medicina, a radiao tem sua mais importante aplicao
denominada genericamente de radiologia, que compreende a radioterapia, a radiologia
diagnstica e a medicina nuclear.
Na radioterapia, a radiao ionizante destri os tecidos neoplsicos. Para isso,
utilizam-se radiaes dos elementos radioativos (Csio-137, Cobalto-60, Irdio-192, e
Estrncio-90) e radiaes produzidas por equipamentos de raios-X e aceleradores de
partculas, como os aceleradores lineares. Utiliza-se fundamentalmente duas tcnicas de
aplicao das radiaes, denominadas teleterapia e braquiterapia. Na teleterapia, a
aplicao da radiao ionizante nos tecidos neoplsicos feita por uma fonte radioativa
situada distante do paciente, normalmente de 80 a 100 cm. Nessa tcnica so utilizados
equipamentos como o Telecobalto-60, equipamentos de raios-X com energias at 300 kV
e aceleradores de partculas com energias at 25 MeV. Na braquiterapia, os tecidos
neoplsicos so expostos radiao ionizante utilizando-se uma ou mais fontes de
radiao em contato com o tecido ou muito prximo dele. A braquiterapia utiliza fontes de
Csio-137, Estrncio-90, Irdio-192 e outras (OKUNO, 1992; SCAFF, 1997).
1 tomos, ou nucldeos instveis que emitem radiao e so denominados radioistopos ou radionucldeos, por ex: csio, rdio, cobalto.
10
2.3 Formas de Energia Radiante
Segundo Albert Einstein, A matria energia em estado de condensao e a
energia a matria em estado radiante. Ao se utilizar o termo radiao, faz-se referncia
a uma forma de transporte de energia, a qual ocorre fundamentalmente de dois modos:
com transporte de matria - radiao corpuscular, ou sem o transporte de matria
radiao eletromagntica (OKUNO, 1982).
2.4 Origem das Radiaes
Com base nos modelos atmicos estabelecidos, quando um tomo est em
equilbrio seu ncleo e seus eltrons esto em orbitais estacionrios. Com incidncia de
energia, esse equilbrio perdido, levando o tomo a um estado de desequilbrio
(excitado). A tendncia em voltar condio de equilbrio provoca a liberao de energia
radiante.
A radiao pode ser produzida por processos de ajustes de estabilizao do
ncleo dos tomos, das suas camadas eletrnicas, ou mesmo pela interao das
radiaes com partculas do tomo, com o ncleo ou com o prprio tomo. Assim, pela
estabilizao ou ajuste do ncleo do tomo, acontece a produo da radiao alfa, beta
ou gama; pela estabilizao ou ajuste na eletrosfera ou ainda a interao de partculas
com o campo eletromagntico do ncleo ou dos eltrons, acontece a produo da
radiao eletromagntica (raios-X, luz, infravermelho).
De acordo com caractersticas tais como, a intensidade da energia, a presena
ou no de partculas e os tipos de interaes, a energia recebe diferentes denominaes
e pode ser classificada conforme o esquema da figura 2.1.
Figura 2.1 - Classificao das radiaes ionizantes.
A radiao alfa, ou partcula alfa, resultante do processo de estabilizao de
um ncleo. No processo de converso do Urnio em Trio, por exemplo, processo
denominado decaimento, tem-se a emisso de radiao alfa.
A radiao beta, ou partcula beta, outra forma de estabilizao do ncleo do
tomo. Acontece quando h um excesso de nutrons em relao aos prtons, com a
11
emisso de uma partcula negativa (eltron, ou simplesmente partcula beta) pela
converso de nutrons em prtons. A radiao beta tambm pode acontecer quando o
processo de estabilizao d-se devido ao excesso de prtons em relao aos nutrons,
com a emisso de uma partcula positiva (psitron) pela converso de prtons em
nutrons.
A radiao gama produzida quando o ncleo, aps ter emitido radiao alfa ou
beta, libera o excesso de energia sob a forma de radiao eletromagntica (origem
nuclear). Os raios-X so produzidos na eletrosfera do tomo pelo freamento de partculas
carregadas (origem eletrnica) no campo eletromagntico do ncleo do tomo ou dos
eltrons (TAUHATA, 2001).
2.5 Radioatividade
Elementos instveis realizam transformaes para se estabilizarem. Os
processos de ajustes na busca da estabilidade podem liberar energia na forma de
partculas alfa (radiao alfa), partculas beta (radiao beta) ou radiao eletromagntica
(radiao gama). Em cada emisso de radiao, o tomo transforma-se ou transmuta-se
em um elemento qumico com novas propriedades qumicas e fsicas. Esse processo de
transformao e ajuste denominado decaimento radioativo. As transformaes no
ocorrem simultaneamente, mas de modo aleatrio, contudo numa grande quantidade de
tomos, a probabilidade do nmero de transformaes uma constante, denominada
constante de decaimento (TAUHATA, 2001).
2.5.1 Atividade de uma amostra (A)
A atividade de uma amostra radioativa avaliada pela taxa de transformaes
que ocorrem com os tomos de uma substncia radioativa, conforme a relao:
(2.1) teAtA .0)(
=
onde o nmero de tomos instveis na amostra num determinado instante
inicial, a probabilidade de decaimento por tomo por segundo e t o tempo considerado.
0A
As unidades so:
1 Bq (Bequerel), no Sistema Internacional que corresponde a uma desintegrao
por segundo ou 1 Ci (Curie) = 3,7 x 1010 Bq, correspondente ao nmero de
transformaes em 1 grama de Rdio226..
12
2.5.2 Meia - Vida do Radioistopo (T)
O intervalo de tempo, contado a partir de um determinado instante, para que a
atividade de um elemento radioativo (radioistopo) seja reduzida metade denominado
meia-vida (T1/2). A relao entre a meia vida e a constante de decaimento :
693,0
21 =T (2.2)
2.5.3 Vida - Mdia do Radioistopo ( ) A vida - mdia uma outra forma de avaliar a atividade dos radionucldeos. o
tempo necessrio para que a atividade decresa de um fator 1/e, sendo e a base do
logaritmo neperiano.
1=
(2.3)
A figura 2.2 mostra a curva de decaimento de um elemento radioativo e relaciona
meia vida e vida mdia.
Figura 2.2 Curva de decaimento de um radioistopo e seus principais parmetros (TAUHATA, 2001).
2.6 Caractersticas da energia radiante
Partculas como eltrons, prtons, nutrons e alfas possuem massa e, com uma
velocidade V, apresentam uma energia (E) definida pela relao:
2
21 mVE =
(2.4) onde: m a soma das massas das partculas e V a velocidade da partcula.
A tabela 2.1 mostra as diferentes aplicaes da energia radiante, de acordo com
o comprimento de onda ou freqncia.
13
Tabela 2.1 - Caractersticas da energia conforme a freqncia e comprimento de onda, (adaptado de GALIANO, 2001).
Freqncia (Hz)
Comprimento de onda
Energia do fton Propriedades
1,0 x 105
a
3,0 x 1010
3 km
a
1 cm
413 peV
a
124 eV
Ondas de rdio. Desde as ondas longas at as ondas ultra-curtas de radar. So produzidas atravs de oscilaes eltricas e detectadas por equipamentos eletrnicos (antenas). Passam atravs de isolantes e so refletidas por condutores eltricos.
3,0 x 1012
a
3,0 x 1014
100 m
a
1 m
12,4 meV
a
11,24 eV
Radiao infravermelha. So produzidas pelas vibraes moleculares e por excitaes dos eltrons das camadas mais externas dos tomos. So detectadas com dispositivos de calor e filmes. A maior parte dos slidos opaca a essa radiao.
4,3 x 1014
a
7,5 x 1014
700 nm
a
400 nm
1,77 eV
a
3,1 eV
Luz visvel desde o vermelho at o violeta. Produzida pelos eltrons das camadas mais externas dos tomos. Gerada por lmpadas e descargas eltricas em tubos de gs. Detectada por filmes, clulas fotoeltricas e pelo olho.
7,5 x 1014
a
3,0 x 1016
400 nm
a
10 nm
3,1 eV
a
124 eV
Luz ultravioleta. Produzida pelos eltrons mais externos da eletrosfera. Detectada por filmes, contadores Geiger e cmaras de ionizao. Produzem eritema na pele, mata microorganismos e um agente na produo de vitamina D.
3,0 x 1016
a 3,0 x 1018
10 nm
a
100 pm
124 eV
a
12,4 keV
Raios-X moles. Produzidos por eltrons internos do tomo. Detectados por filmes, contadores Geiger e cmaras de ionizao. No utilizados na radiologia pelo fraco poder de penetrao.
3,0 x 1018a
3,0 x 1019
100 pm a
10 pm
12,4 keVa
124 keV Raios-X de diagnstico e terapia superficial.
3,0 x 1019 a
3,0 x 1020
10 pma
1 pm
124 keVa
1,24 MeV
Raios-X de terapia profunda e Raios-gama de processos radioativos.
3,0 x 1021 100 fm 112,4 MeV Radiao de aceleradores lineares ou betatrons pequenos,
3,0 x 1022 10 fm 124 MeV Radiao de acelerador linear de grande porte (utilizado para estudos).
3,0 x 1023 1 fm 1,24 GeV Radiao produzida por sncrotons de prtons ou grandes aceleradores lineares ou pelo sol (raios csmicos)
A radiao eletromagntica caracteriza-se por oscilaes eltricas e magnticas.
O transporte de energia acontece numa mesma velocidade, para o vcuo diferindo
apenas no comprimento de onda para as diferentes energias cuja quantificao est
fundamentada na teoria dos quanta de Max Planck em 1901. Ele denominou de ftons os
pacotes ou quanta de energia. A energia (E) de um fton proporcional freqncia da
radiao.
14
= hE (2.5) onde: h a constante de Planck (6,63 x 10-34 J . s ou 4,14 x 10-15 eV) e a
freqncia da radiao.
Independentemente da sua natureza, as ondas caracterizam-se pelo seu
comprimento e pela sua freqncia. Do mesmo modo, o movimento de uma partcula
caracteriza-se pela sua energia cintica e quantidade de movimento. Assim, quando faz-
se referncia radiao eletromagntica, utilizam-se ambos os conjuntos de magnitudes
(OKUNO, 1982).
2.7 Radiao ionizante e no-ionizante
A base do presente estudo o Modelo atmico criado por Rutherford-Bohr
(sistema planetrio) em que o tomo formado por uma regio central ou ncleo na qual
esto os prtons, nutrons e outras sub-partculas e uma regio em torno do ncleo onde
giram os eltrons (eletrosfera). Os eltrons, que possuem carga eltrica negativa,
gravitam em rbitas bem definidas por nveis de energia, em torno do ncleo,
denominadas camadas (K, L, M, N...). Os eltrons mais prximos do ncleo (K, L) esto
mais fortemente ligados a este e tendem a ocupar as camadas mais prximas. Se, por
algum motivo, os eltrons passam do seu nvel fundamental para camadas mais
afastadas, considera-se que o tomo encontra-se em estado excitado. Nessa situao,
os tomos no so estveis e apresentam uma tendncia de voltar a seu estado
fundamental. Isso equivale dizer que os eltrons tendem a cair para as camadas mais
prximas do ncleo. Esse processo pode gerar a emisso de ftons de energia igual
diferena entre as camadas do salto, figura 2.3.
fton
Figura 2.3 tomo, Camadas e Emisso do Fton.
Pelo fato de existirem muitas camadas, os ftons emitidos podem ser de
diferentes energias. Fornecendo energia suficiente ao eltron, ele poder escapar do
ncleo deixando o tomo carregado positivamente. Esse processo conhecido como
ionizao.
Quando a interao das ondas eletromagnticas de alta energia desencadeia
ionizaes de partculas da matria, denominada radiao ionizante. Os ftons
15
associados a essa radiao transferiro parte de sua energia para os eltrons que sero
postos em movimento. Esses eltrons, por sua vez, iro transferir sua energia aos
tomos e molculas no seu caminho, o que provocar novas ionizaes. Assim, os
efeitos biolgicos associados a essa radiao sero de maior ou menor intensidade,
dependendo do tipo de tecido ou organismo exposto a esse tipo de energia.
As ionizaes podero ser provocadas por ondas eletromagnticas e tambm
por partculas. Os eltrons produzidos artificialmente (como na teleterapia), partculas
alfa, partculas beta, partculas subatmicas como prtons, nutrons, pons e mons
tambm podem ser radiaes ionizantes.
As radiaes podem ser classificadas como diretamente ou indiretamente
ionizantes. Quando a transferncia de energia para a matria realizada por partculas
que possuem carga eltrica tais como partculas alfa, beta e eltrons e interagem com
muitos tomos, dita diretamente ionizante. Radiaes indiretamente ionizantes so as
que no possuem carga tais como nutrons e radiao eletromagntica (raios-X e gama).
Interagem individualmente transferindo sua energia para os eltrons que iro provocar
novas ionizaes. De modo inverso, quando radiaes eletromagnticas tal como a luz
visvel, no conseguem provocar ionizaes, so denominadas de radiaes no-
ionizantes (BIRAL, 2002).
2.8 Interaes com a matria
Quando a radiao incide num material, produzem-se diferentes resultados que
dependem do tipo de radiao (ftons, eltrons, nutrons, etc.), da intensidade da
radiao, do tipo de material e do seu estado (densidade e estado fsico).
Se a energia da radiao suficientemente elevada, produzir ionizao no
material, isto , arrancar eltrons dos tomos, que por sua vez, seguiro ionizando
outros tomos. A radiao incidente denominada radiao primria e os eltrons
arrancados, radiao secundria. Grande parte da radiao ionizante (ionizao,
excitao e dissociao de molculas) deve-se radiao secundria. As possibilidades
de interao dos ftons com a matria e seus efeitos esto sintetizados no Quadro 2.2.
Quadro 2.2 Mecanismo de interao da energia com a matria e seus efeitos, compilado de (SCAFF, 1997).
Possibilidades de interao Efeitos da interao a) Interaes com eltrons dos tomos Absoro total b) Interao com ncleos Espalhamento elstico (coerente) c) Interao com o campo coulombiano dos ncleos ou dos eltrons Espalhamento inelstico (incoerente)
d) No haver interao Transmisso sem nada acontecer Em a e c existe absoro de energia; em b e c h espalhamento e em a, b e c h
uma contribuio para atenuao da energia incidente.
16
2.8.1 Interaes dos ftons com a matria
Os ftons, ao atravessar a matria, interagem tanto com eltrons quanto com os
ncleos atmicos havendo uma disperso e atenuao, Figura 2.4 (A). Os ftons
incidentes sero atenuados segundo uma exponencial figura 2.4 (B). Essa atenuao
depende da energia do fton e do tipo de material a ser, por ele, atravessado, dentre
eles: peso atmico, densidade eletrnica e densidade do material.
Figura 2.4 Comportamento dos ftons ao atravessar um material atenuador (A) (GALIANO, 2001) e curva de atenuao (B) (adaptado de TAUHATA, 2001).
Dependendo do material e da energia os ftons incidentes tendero a produzir
efeitos diversos, raios-X ou raios-, os quais possuem propriedades ora de onda, ora de partcula. As ondas eletromagnticas interagem com estruturas que so semelhantes, em
tamanho, ao seu comprimento de onda. Para os raios-X, cujo comprimento de onda est
entre 10-9 e 10-11 metros, esses valores correspondem a energias entre 1 keV e 100 keV,
de acordo com a equao 2.5. Os processos de interao mais comuns, de acordo com o
interesse deste trabalho so cinco (SCAFF, 1997), conforme segue:
a ) Efeito fotoeltrico
Quando o resultado da interao do fton a liberao de um eltron fortemente
ligado ao ncleo do tomo, com a conseqente ionizao desse tomo, diz-se que houve
um efeito fotoeltrico, Figura 2.5. Nesse processo o fton incidente desaparece, um on
formado e o eltron livre colocado em movimento com a energia do fton menos a sua
energia de ligao com o tomo definido pela relao:
ecBhE =
(2.6) onde h a constante de Planck, f a freqncia da radiao e Be a energia de
ligao do eltron.
Assim, para tomos com baixo nmero atmico, a energia de ligao dos
eltrons da camada K baixa e o fotoeltron liberado tem energia aproximadamente
17
igual a do fton incidente. O Carbono um exemplo, cuja energia de, aproximadamente
0,284 keV. Para os tomos com alto nmero atmico, como o Brio, a energia de ligao
para os eltrons da camada K de 37,4 keV e do fotoeltron proporcionalmente menor.
Figura 2.5 Efeito Fotoeltrico - Fton incidente e fotoeltron emergente (SOARES, 2003).
A probabilidade de ocorrncia do efeito fotoeltrico maior para baixas energias
e para elementos qumicos com elevado nmero atmico (Z). Esse efeito aumenta com o
aumento da densidade do meio e do nmero atmico dos elementos constituintes do
meio em (Z)4 e, diminui com o aumento da energia do fton (BIRAL, 2002 e TAUHATA,
2001).
b ) Efeito Compton
O efeito Compton ocorre quando um fton interage com um eltron perifrico do
tomo. O fton e o eltron so espalhados e o eltron recebe parte da energia do fton
incidente tendo o fton resultante menor energia do que ele, Figura 2.6. Esse fton
resultante poder seguir e provocar outras interaes semelhantes. A probabilidade de
interao por espalhamento Compton inversamente proporcional energia do fton
(1/E). Ftons de maior energia, entretanto, tm maior probabilidade de transferir toda sua
energia para o eltron atingido.
A principal caracterstica do espalhamento Compton est na relao entre os
ngulos do espalhamento do fton e do eltron. O ngulo do fton espalhado poder ser
de at 180 enquanto o eltron poder ter aproximadamente a mesma direo do fton
incidente havendo, nesse caso, uma grande transferncia de energia para o eltron. A
equao abaixo descreve a energia dos ftons espalhados aps a coliso:
( )
+
=cos11
'
2cmhv
hvhv
o
(2.7)
onde a energia do fton incidente, ' a energia do fton espalhado e mhv hv oc2 a energia de repouso do eltron (SCAFF, 1997).
fton incidente
E fotoeltron
18
eltron secundrio
Figura 2.6 Fton e eltron do espalhamento Compton, (adaptado de SOARES, 2003).
c ) Espalhamento Clssico, Espalhamento Rayleigh, Efeito Thomson
Apesar das diversas denominaes, a interao por espalhamento, descrito por
J. J. Thomson, acontece quando a interao de um f e baixa energia (inferior a 10
KeV) resulta na em mesma energia, espalhamento coerente2, isto , sem
perdas. No espalham
sua vez, libera esse
ionizao do tomo.
Quando a in
comprimento de ond
espalhamento clssic
Figura 2.7 Espalhpreso
No espalham
camadas externas do
2 Conceito tambm utilizinterferncia.
fton incidente fton
E2E1
espalhado
E1 > E2
isso da ento clssico, o fton incidente
excesso de energia sob a form
terao ou choque acontece com
a igual ou algumas vezes m
o denominado espalhamento R
amento Rayleigh - fton de baixafortemente ao tomo, (adaptado
ento Thomson, a interao acon
tomo e do meio absorvedor, F
ados na ptica quando a luz no so
E1
fton incidente
E2 ton dd
a
a
a
d
i
fr
E
feixa o tomo excitado e este, por
de fton disperso, no havendo
tomo por inteiro, e nesse caso o
ior que o tamanho do tomo, o
yleigh, Figura 2.7.
energia interagindo com eltron e SOARES, 2003).
tece com eltrons mais livres das
gura 2.8. Em todos, os ftons so
e atenuao ou seja, no sofre
1 = E2
ton espalhado
19
espalhados em pequenos ngulos e com energia igual do fton incidente ou seja com a
mesma freqncia (SOARES, 2003).
fton incidente
Figura 2.8 Espalhamento Thomson - fton de baixa energia interagindo com eltrons mais livres do tomo (adaptado de SOARES, 2003).
d ) Produo de Pares
Os processos de produo de pares descrevem a interao da alta energia com
a matria sendo de particular interesse na radioterapia. Segundo (SCAFF, 1997), as
perdas de energia pela interao com a matria o processo mais importante.
A produo de pares ocorre quando ftons com energia maior ou igual a 1,022
MeV passam prximos a ncleos de nmero atmico elevado. A radiao incidente
interage com o ncleo transformando-se em duas partculas, o par eltron-psitron,
Figura 2.9.
Figura 2.9 Produo de Pares - Ftons de alta energia transformam-se em duas partculas pela interao com o campo eltrico do ncleo do tomo (SOARES, 2003).
De acordo com a teoria de Einstein, a energia equivalente massa do eltron
0,511 MeV. Como no processo so gerados 2 eltrons, a energia do fton incidente de,
pelo menos, 1,022 MeV. A equao que descreve esse processo :
(2.8) cEee ++= +
onde a energia incidente, e- e e+ so o par eltron psitron e Energia Cintica transferida ao meio pelas partculas (TAUHATA, 2003).
cE
O psitron, aps ser criado, perde sua energia no meio e finalmente, aps
interao com algum eltron desencadeia a aniquilao de ambos, originando radiao
gama.
fton incidente
eltron
psitron
fton espalhado
E1 E2
E1 =E2
20
e ) Fotodesintegrao
Na fotodesintegrao o fton de altssima energia (superior a 10 MeV) escapa da
interao com os eltrons e absorvido pelo ncleo que se desestabiliza e ejeta um
nutron, um prton ou uma partcula alfa, ou mesmo um grupo de partculas. Nesse caso
haver uma mudana do tomo que interagiu com essa alta energia pela mudana do
seu nmero de prtons ou nutrons (SOARES, 2003).
A tabela 2.2 relaciona os diferentes nveis de energia e o efeito predominante no
tecido humano dos processos acima descritos.
Tabela 2.2 Efeito predominante no tecido de acordo com a energia (BIRAL, 2002).
Faixa de energia dos ftons Processo de atenuao predominante (em tecido humano) At 50 keV Fotoeltrico 60 90 keV Fotoeltrico + Compton
200 keV a 2 MeV Compton 5 Mev a 10 MeV Compton + Produo de par
Acima de 50 MeV Produo de Par
2.8.2 Interaes dos eltrons com a matria
Os eltrons, pelo fato de possurem massa e carga eltrica, interagem com
maior intensidade, em relao aos ftons, por meio de interaes coulombianas, com
outros eltrons e com os ncleos dos tomos. Fundamentalmente essas interaes
podem ser:
c) colises elsticas em que h um desvio da trajetria do eltron incidente e
uma pequena transferncia de energia, Figura 2.10 (A).
d) colises inelsticas quando o eltron incidente cede parte ou toda sua energia
para arrancar um outro eltron da camada provocando uma ionizao. Tanto
o eltron incidente quanto eltron deslocado podero seguir ionizando e
excitando outros tomos, figura 2.10 (B). Pode ocorrer que esta interao
no seja suficiente para produzir uma ionizao, porm apenas uma
excitao. Neste caso o tomo voltar ao estado anterior.
e) coliso radiativa acontece quando o eltron passa muito perto de outro
eltron da camada ou do ncleo havendo uma grande perda de energia
cintica que emitida sob a forma de energia eletromagntica (ftons). Essa
denominada radiao de freamento ou Bremsstrahlung, Figura 2.10 (C)
(GALIANO, 2001).
21
Figura 2.10 - Formas de interao dos eltrons com a matria. (A) Coliso elstica; (B) Coliso inelstica; (C) Freamento ou Bremsstrahlung (adaptado de GALIANO, 2001).
2.8.3 Interaes dos nutrons com a matria
Os nutrons possuem massa muito maior do que os eltrons, aproximadamente
1840 vezes maior e no possuem carga eltrica. Por esse fato, percorrem grandes
distncias antes de interagir possuindo, portanto, semelhante aos ftons, grande poder
de penetrao. Eles tm a propriedade de interagir fortemente com os prtons e nutrons
do ncleo. Isso torna as substncias irradiadas com nutrons tambm radioativas, pela
desestabilizao do ncleo (GALIANO, 2001).
2.9 Grandezas e Unidades
As radiaes produzidas em um servio de radioterapia devem atender s
normas da CNEN (Comisso Nacional de Energia Nuclear). As medidas so realizadas
de forma indireta, ou seja, avalia-se o efeito causado pela radiao, como por exemplo, a
ionizao do ar. As principais grandezas que quantificam a energia entregue ao tecido
neoplsico (energia desejada) e a energia indesejada, que dever ser bloqueada, esto
descritas a seguir.
2.9.1 Exposio (roentgen)
Estabelecida aps os primeiros encontros da ICRU (International Comission on
Radiation Units and Measurements) e a ICRP (International Comission on Radiological
Protection), em 1928, a grandeza exposio, usualmente representada por X, definida
como a quantidade de radiao absorvida pelo ar. Realizar essa avaliao medir a
quantidade de cargas/ons (dq) produzidas em uma quantidade de massa (dm) de ar
seco (na temperatura 0 oC e presso de 1 atm) incidindo radiao X ou gama. A relao
que define :
dmdqX = (2.9)
eltron
tomo on
eltron secundrio ftons
(A) (B)
N
(C)eltron
primrioeltron
22
A unidade no SI : kgC
Essa medida pode ser obtida com a coleta de cargas eltricas entre duas placas
metlicas sob uma diferena de potencial (capacitor). uma grandeza integrada no
tempo pelo fato de que o nmero de cargas eltricas produzidas depende do tempo de
irradiao. A escolha do ar seco d-se pela semelhana, na capacidade de ionizao,
com o tecido humano e em uma faixa de energia que vai de 10 keV a 10 MeV (BIRAL,
2002). A unidade de exposio utilizada, segundo o SI, o roentgen (R) cuja definio :
ramaquicoulombroentgen
log1058,21 4= (2.10)
2.9.2 Dose Absorvida (rad, gray)
A definio da grandeza dose absorvida veio da necessidade de quantificar no
somente a energia depositada atravs dos efeitos produzidos pela interao dos raios X
e gama com a matria, mas tambm a energia depositada pelos feixes de eltrons de
alta energia, partculas alfa e partculas beta, (BIRAL, 2002).
A relao que define dose absorvida :
dmdeD =
(2.11) onde de a energia e dm a unidade massa considerada.
Esto associadas as seguintes unidades:
gergs / ; no sistema CGS ou kgJoule no sistema internacional.
Ainda utilizada a unidade rad (radiation absorved dose) onde:
gergrad 1001 =
No sistema internacional utilizada a unidade Gray (Gy), onde:
kgJGy =1 ou ou radGy 1001 = radcGy 11 =
2.9.3 Equivalente de Dose (rem, sievert)
Segundo (TAUHATA, 2001),