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APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS Maio 2015 O que ensinam os Engenheiros do grupo Calculistas

Aprendendo Com Erros Dos Outros 5a Ed

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Erros Estruturais - Prof Palmeira

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  • APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    Maio 2015

    O que ensinam os Engenheiros do grupo Calculistas

  • ii

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    S U M R I O

    CASO 1: FISSURAO DE TUBOS DE UMA ADUTORA ........................................................................................ 1

    CASO 2: TRINCAS EM PAREDES DIVISRIAS DE ALVENARIA .............................................................................. 4

    CASO 3: VAZAMENTO DE UM RESERVATRIO ELEVADO ................................................................................... 9

    CASO 4: CORROSO EM PILARES DE FACHADA ............................................................................................... 13

    CASO 5: FISSURAS EM LAJES DE FORRO ........................................................................................................... 17

    CASO 6: COLAPSO DE UM RESERVATRIO ....................................................................................................... 20

    CASO 7: TRINCAS EM LAJES .............................................................................................................................. 23

    CASO 8: O PROJETO ESTRUTURAL UM S ..................................................................................................... 27

    CASO 9: EFEITOS DINMICOS EM MONOPOLO DE TELECOMUNICAES ...................................................... 29

    CASO 10: TRINCAS EM ALVENARIAS................................................................................................................. 32

    CASO 11: EFEITOS TRMICOS EM EMPENAS .................................................................................................... 33

    CASO 12: CONCRETO COM ACAR ................................................................................................................ 34

    CASO 13: EFEITOS DINMICOS EM PISOS DE CONCRETO ................................................................................ 35

    CASO 14: A PONTE SOBRE O RIO SO JOS ABAIXO ........................................................................................ 36

    CASO 15: UM PROBLEMA DE ESTABILIDADE GLOBAL ...................................................................................... 41

    CASO 16: UM MURO DE CONTENO QUE NO ESTAVA CERTO .................................................................... 44

    CASO 17: VAZAMENTOS NA CHAMIN DE EQUILBRIO DA ADUTORA DO JOANES II ...................................... 45

    5 edio ampliada e melhorada: 27/05/2015

    4 edio ampliada: 16/05/2015

    3 edio ampliada: 13/05/2015

    2 edio ampliada: 10/05/2015

    1 edio: 04/05/2015

  • 1

    Aprendendo com erros dos outros

    CASO 1: FISSURAO DE TUBOS DE UMA ADUTORA

    O caso

    Esse caso trata da fissurao dos tubos de concreto armado da adutora de gua tratada

    da barragem do rio Joanes, que abastece Salvador. Um velho caso, mas de interesse

    sempre atual.

    Os tubos de concreto armado dessa adutora, com 1500 mm de dimetro interno, 150

    mm de espessura, moldados in-loco, diretamente apoiados no solo, em trechos isolados

    de comprimentos de 30 a 33 m, apresentaram, sistematicamente, nas primeiras idades,

    fissuras localizadas, transversais, a meio comprimento ou a um tero do seu

    comprimento, com aberturas mximas acima de 0,5 mm. As fissuras j podiam ser

    identificadas na retirada das formas laterais.

    As fotos que se seguem so dessa adutora na fase de construo.

    Foto 1.1 - Vista parcial das formas da segunda fase de moldagem de um dos tubos (1964).

  • 2

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    Foto 1.2 - Vista parcial de um dos tubos, aps removidas as formas da segunda fase, e durante a aplicao do agente de cura ANTISOL da SIKA. O tubo j est fissurado.

    Foto 1.3 - Vista de uma das fissuras nos tubos da adutora do Joanes.

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    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    As causas

    A empresa vencedora da concorrncia dessa obra convenceu o Governo do Estado a

    substituir os tubos pr-fabricados de menor comprimento, previstos no Edital da

    concorrncia, por esses acima descritos, moldados in-loco. Essa moldagem tinha lugar

    em duas fases, conforme ilustra a figura da seo transversal dos tubos, abaixo. Na

    primeira fase, a parte inferior do tubo era moldada de encontro ao solo de fundao,

    revestido por concreto de regularizao. Na segunda fase, a parte superior restante era

    concretada sobre escoramento e formas apoiados na parte j executada, esta j com

    cerca de 30 dias de idade.

    Figura 1.1 - Seo transversal dos tubos. As fases de concretagem dos tubos da adutora do Joanes.

    A dissipao do calor de hidratao do cimento, aps a concretagem da segunda fase,

    tinha sobre esse concreto ainda pouco endurecido o efeito equivalente a um

    abaixamento da temperatura ambiente, gerando, consequentemente, no material, uma

    natural reduo de volume.

    Impedido o concreto da segunda fase de se encurtar ao longo de seu comprimento -

    seja pela ligao rgida com o concreto j endurecido da primeira etapa, seja pelo

    contato com as formas desenvolveram-se foras de trao no tubo, cumulativas a

    partir de suas extremidades, que vieram a provocar as fissuras localizadas que foram

    acima descritas. medida que evolua essa retrao nos cinco primeiros dias, mais o

    concreto da segunda fase se encurtava e mais aberta se tornava a fissura. No confundir

    essa retrao, dita trmica, com a outra retrao, dita hidrulica, que est associada

    lenta evaporao da gua de amassamento e que se prolonga por alguns anos.

    Essa fissura permanecia localizada, isolada, sem se redistribuir por outras

    subsequentes, vizinhas, em virtude da pequena quantidade de armadura longitudinal,

    j em escoamento, na seo fissurada, constituda apenas de 6,3 c/55 cm na face

    externa, e de 6,3 c/35 cm na face interna do tubo.

    Como na poca no haviam ainda os recursos de injeo com resinas elsticas de

    polipropileno, a recuperao tornou-se difcil, com insucessos sucessivos, vazando a

  • 4

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    adutora, em grande parte de sua extenso, por anos a fio, onerando o custo da gua

    tratada, paga pelos seus usurios, em Salvador e adjacncias. Hoje, o problema j foi

    sanado, alm de que o abastecimento de gua de Salvador hoje feito, em sua maior

    parte pela Adutora da Pedra do Cavalo.

    Como evitar

    Essa uma situao que ocorre com frequncia em casos semelhantes, como o de

    muros extensos e paredes de reservatrios apoiados no solo, concretados em duas fases,

    de forma semelhante dos tubos acima.

    A nossa Norma ABNT NBR 6118:2014 prescreve, em sua subseo 17.3.5.2.2,

    armadura mnima e convenientemente disposta para controlar essa fissurao, de tal

    modo que, em vez de poucas fissuras muito abertas, induza-se a formao de muitas

    fissuras com aberturas inferiores a um valor predefinido. Essa armadura mnima dada

    pela expresso:

    AS,min = k kc fct,ef Act/s

    No caso dos tubos dessa adutora com 15 cm de espessura, em que se pretende

    estanqueidade, limitando a abertura caracterstica das fissuras em 0,15 mm, nas

    primeiras idades, fazer, nessa expresso:

    k= 0,8; kc=1,0; ,

    fct,ef= 0,5.fctm (aos 28 dias), em MPa;

    s= 735/ , sendo em mm e s em MPa.

    Supondo que o concreto desses tubos apresentava, na poca, fck= 25 MPa, tem-se

    fctm=0,3.252/3= 2,6 MPa e que se queira usar barras CA-50 10, tem-se s= 232 MPa e

    a armadura mnima por face:

    As,min= 0,8.1,0.2,6.100.(15/2)/232= 6,7 cm/m/face (9 10/m/face)

    Essa a armadura mnima, bem maior do que a utilizada, a qual no chega a 2

    cm/m/face.

    Outras medidas complementares de segurana podem ser adotadas para reduzir essa

    fissurao trmica, como, por exemplo, evitar moldagens de comprimentos superiores

    a 5 metros, impondo sempre, juntas frias de construo, com mata juntas.

    Colaborao: Antonio Carlos Reis Laranjeiras, Salvador, BA, R0 maio/2002; R01 -

    abril/2015.

  • 5

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    CASO 2: TRINCAS EM PAREDES DIVISRIAS DE ALVENARIA

    O caso

    As paredes divisrias de alvenaria de tijolos cermicos do pavimento superior do

    Frum da cidade de Juazeiro, BA, inaugurado em fins de 1984, j apresentavam

    pronunciadas trincas, aps um ano dessa inaugurao. Segundo depoimentos de

    funcionrios do Frum, o fenmeno estava ainda em evoluo, o que se evidenciava

    pelo crescimento das trincas existentes e surgimento de novas.

    A configurao dessas trincas est esquematizada nas duas figuras que se seguem,

    sendo que, na primeira figura, as paredes frontais foram omitidas do desenho a fim de

    permitir melhor visualizao das paredes internas.

    Figura 2.1 - Trincas nas paredes divisrias internas do Frum de Juazeiro. As paredes frontais onde esto as portas foram omitidas, para melhor visualizao.

  • 6

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    Figura 2.2 - Trincas nas paredes frontais do pavimento superior do Frum de Juazeiro, BA.

    As causas

    Todas as trincas observadas resultam das deformaes do piso que as sustenta. De fato,

    conforme se demonstra mais adiante, o piso, constitudo de uma laje nervurada em uma

    s direo, com 22 cm de altura e 6,80 m de vo, com a seo transversal da Figura 3

    excessivamente deformvel para as paredes que suporta.

    Figura 2.3 - Seo transversal da laje nervurada do piso, com enchimento de tijolos cermicos. Concreto fck

    = 18 MPa. Armao de 1 16 + 112.5, por nervura.

  • 7

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    Realmente, as paredes, com cerca de 3 m de altura, portanto muito rgidas flexo, no

    conseguem acompanhar as deflexes da laje sem se dividir em partes, fissurando-se.

    Observe-se que a configurao das trincas nas paredes reflete a deformao, com um

    traado inclinado dos pontos de menor para os de maior deformao (Figura 1), e com

    um traado horizontal, ao longo dos pontos de igual deformao (Figura 2).

    As deformaes do piso so de fato progressivas com o tempo, o que converge com o

    depoimento dos funcionrios do Frum de que o fenmeno ainda est evoluindo.

    Uma avaliao numrica das flechas a meio vo da laje pelo procedimento da Norma

    ABNT NBR 6118:2014 ITEM 17.3.2.1 indicou para a flecha que se integraliza aps

    um ano da elevao das paredes o valor de 41 mm. Segundo essa mesma Norma, o

    valor admissvel da flecha, nesse caso, de (6800/500 =) ~14 mm. Apesar do clculo

    numrico de flechas ser cercado de muitas incertezas e grande disperso (20% para

    mais ou para menos), h um indicativo forte na comparao entre esses valores que as

    deformaes do piso so exageradas para as paredes e podem ser a causa de suas

    trincas.

    Segundo os clculos tericos, h ainda uma expectativa de aumento de flecha da ordem

    de 15 mm (23% da flecha final), com agravamento do cenrio ento observado.

    A verificao da segurana ruptura da laje apresenta no entanto resultados favorveis.

    De fato, o momento fletor capaz da seo a meio vo da laje nervurada cerca de 36%

    maior do que o valor de clculo (Md) do momento fletor solicitante, demonstrando pois

    suficiente segurana ruptura por flexo.

    Como evitar

    A lio aprendida a da importncia do controle das deformaes dos pisos e danos

    delas decorrentes sobre as paredes divisrias que devem suportar, notadamente quando

    as lajes tm vos iguais ou maiores do que 5 m, sejam armadas em uma direo ou nas

    duas, macias ou nervuradas. No basta ter segurana ruptura, os pisos necessitam

    ser rgidos nesses casos, pois as alvenarias so muito sensveis s deformaes.

    Lajes em balano que suportam panos inteiros de paredes so inimigas do engenheiro

    de estruturas. Um vo em balano equivale em efeito a um vo simplesmente apoiado

    2,4 vezes maior, pelo menos. Quem diz que projetou balanos com paredes sem

    fissuras possivelmente no visitou de novo a construo com mais de um ano de idade.

    Quanto mais tempo o reescoramento for mantido, tanto menores sero as deformaes

    finais do piso.

  • 8

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    Uma forma de evitar deformaes em lajes de piso que possam causar danos nas

    paredes avaliar numericamente essas deformaes pelo procedimento do item

    17.3.2.1 da nossa Norma ABNT NBR 6118:2014 e comparar seus valores calculados

    com os respectivos valores limites da Tabela 13.2 dessa mesma Norma.

    Colaborao: Antonio Carlos Reis Laranjeiras, Salvador, BA, R0 - maio 2002; R01 -

    abril 2015.

  • 9

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    CASO 3: VAZAMENTO DE UM RESERVATRIO ELEVADO

    O caso

    Esse caso refere-se ao enorme reservatrio elevado do sistema de abastecimento de

    gua da cidade de Feira de Santana, BA, situado s margens do anel virio dessa cidade.

    As dimenses dessa caixa d'gua so to grandes que os que trabalhavam em sua

    construo (junho, 1985) a alcunhavam de ET, numa referncia a um grande disco

    voador Extraterrestre. Ver Figura 1.

    Figura 3.1 - Vista idealizada da caixa d'gua do sistema de abastecimento de gua de Feira de Santana, BA.

  • 10

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    A Fiscalizao das obras, ainda durante a construo, levantou dvidas quanto

    homogeneidade do concreto usado na moldagem da grande cuba, com base no fato de

    que suas paredes, ao serem molhadas em processo de cura, aos dois dias de idade,

    permitiam, em alguns locais, a passagem da gua de um lado para o outro das mesmas.

    Temia a Fiscalizao que essa falta de homogeneidade viesse a comprometer no s a

    estanqueidade do reservatrio, mas tambm a resistncia do material sob os esforos

    de protenso a serem ainda aplicados.

    Fui chamado com urgncia para opinar se aquela imensa cuba j concretada deveria

    ser rejeitada como desejava a Fiscalizao ou se, ao contrrio, os servios deveriam

    prosseguir normalmente. Essa opinio deveria estar, naturalmente, fundamentada em

    justificativa convincente.

    Quando cheguei ao canteiro, decorridos j cinco dias da concretagem da cuba,

    encontrei a mesma com a parte cnica inferior j moldada e ainda sobre escoramentos.

    S aps a moldagem de toda a cuba que esta seria protendida e elevada at o topo da

    torre cilndrica e fixada em posio. A figura abaixo um desenho da seo transversal

    da caixa d'gua como se encontrava por ocasio dessa minha visita.

    Figura 3.2 - Seo transversal da caixa d'gua em construo por ocasio da inspeo

  • 11

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    As causas

    Afasto-me do relato tcnico ao dar ao mesmo uma conotao pessoal, para melhor

    retratar as injunes emocionais, quase dramticas, que pesaram sobre um trabalho que

    seria meramente tcnico e impessoal de consultoria.

    Quando cheguei, o ambiente no canteiro estava carregado. As tenses existentes entre

    Fiscalizao e Empreiteiro refletiam-se no semblante carregado dos envolvidos.

    Esperavam-me muitos engenheiros, que evitavam emitir qualquer opinio sobre o

    vazamento. No meu passeio de inspeo em volta da cuba, vi-me acompanhado, em

    silncio significativo, por oito engenheiros. A atmosfera passava-me uma carga pesada

    de responsabilidade, como se as minhas palavras finais fossem influenciar na

    condenao ou redeno daquele servio j realizado, e consequente perda ou salvao

    de muitos recursos j aplicados. Alm disso, desfazer um servio j feito um

    desencanto e desestmulo para uma equipe de trabalho, e uma mancha no bom nome

    da empresa. No havia portanto absolutamente espao para leviandades ou opinies

    ambguas.

    A causa parecia-me evidente, bem s claras, mas no bastava saber, tinha de convencer

    os que aguardavam a minha opinio Pedi que se molhasse o concreto exatamente como

    tinha sido feito antes e nos mesmos cinco locais em que se identificaram vazamentos.

    A informao que nesses locais no haviam sinais visveis de defeitos de

    concretagem, como bexigas, nichos, vazios ou segregao entre argamassa e agregados

    grados. Nem foram identificadas, nesses locais, fissuras, trincas ou rachaduras. Em

    suma, no haviam sinais nem denncias de negligncia nos servios de concretagem,

    pelo contrrio, concordava a prpria Fiscalizao que os cuidados na concretagem da

    parede de 25 cm de espessura no mereciam reparos.

    O procedimento de molhar o concreto foi repetido, com a gua lanada com auxlio de

    mangueiras. Para surpresa de alguns, dessa vez, o local considerado o mais crtico no

    mais vazava. Em dois outros locais, os vazamentos continuavam a ocorrer, mas, na

    avaliao de todas as testemunhas, a intensidade dos mesmos era bem menor do que

    antes.

    No havia mais dvidas; os vazamentos observados estavam associados pouca idade

    do concreto, o que permitia supor que o simples amadurecimento do mesmo com a

    idade era capaz de faz-los cessar.

    A literatura tcnica registra que o concreto ainda jovem pode apresentar elevada

    permeabilidade gua, mas que, se mantido sob cura mida, sua impermeabilidade se

    eleva sensivelmente com a idade do mesmo. Otto Graf, por exemplo, registra em seu

  • 12

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    livro "As Propriedade do Concreto, p.233, ensaios de laboratrio em que um concreto,

    submetido a presses baixas de gua (0,5 atmosfera) apresentou, a um dia de idade,

    permeabilidade 6 vezes maior do que a medida aos 5 dias de idade.

    Outro aspecto a destacar que concreto com aditivos que tm ao de retardo como os

    plastificantes usados na cuba, pode apresentar, nas primeiras idades, locais com

    menores graus de hidratao e amadurecimento do que outros, em virtude da eventual

    presena mais concentrada desses aditivos nesses locais.

    Do exposto conclui-se portanto que era prematuro avaliar, aos dois dias de idade do

    concreto, sua homogeneidade, estanqueidade e resistncia, pois, se mantida a cura

    mida, os vazamentos observados nessa idade poderiam simplesmente deixar de

    existir.

    E foi, felizmente, o que aconteceu com o ET de Feira, que permanece l, em bom

    estado, para quem o quiser ver.

    Colaborao: Antonio Carlos Reis Laranjeiras, Salvador, BA, R0 - maio/2002; R01 -

    maio/2015.

  • 13

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    CASO 4: CORROSO EM PILARES DE FACHADA

    O caso

    Esse caso tem muito a ver com a precria durabilidade dos nossos edifcios situados

    prximos orla martima. Na realidade, so dois casos, to semelhantes entre si, que

    parecem guardar as mesmas relaes entre causa e efeito. Casos como esses que se

    repetem de forma to assemelhada constituem-se no s uma denncia de erros que

    reclamam anlise e correo, mas tambm uma ameaa ao prestgio social de nossa

    profisso.

    Tratam-se de dois conjuntos residenciais de classe mdia, situados em locais distintos

    de Salvador: um no bairro do Chame-Chame e outro no bairro do Itaigara, bem

    distantes um do outro. Vencida essa diferena, aparecem as incontveis semelhanas.

    Ambos so constitudos de dois blocos ou torres de apartamentos, cada bloco com 13

    andares, unidos por um mesmo playground e por subsolos comuns de garagens.

    Os revestimentos dos pilares das fachadas desses blocos, com cerca de apenas 10 anos

    de construdos, apresentaram trincas verticais pronunciadas. Uma vez removido o

    revestimento, constatou-se que essas trincas resultavam da corroso avanada das

    barras longitudinais desses pilares. De fato, o produto da corroso, por ocupar um

    volume maior do que o de seus elementos de origem, exerce sobre o concreto que o

    envolve foras de expanso que o fazem fendilhar na forma observada.

    Identificou-se, em ambos conjuntos, que:

    a) S os pilares das fachadas apresentavam danos;

    b) As fachadas deterioradas eram, exclusivamente, as voltadas na direo do mar;

    c) Nos pilares danificados, s as barras dispostas na face da fachada apresentavam

    corroso, permanecendo as demais em perfeito estado de conservao.

    de interesse destacar que ambos os conjuntos no se situam exatamente em frente ao

    mar, mas sim afastados deste, estando o conjunto Chame-Chame a cerca de 700 metros,

    enquanto o do Itaigara a aproximadamente 1.500 m.

    Outro fato que chamou a ateno que esses pilares de fachada eram, em ambos os

    conjuntos, revestidos por pastilhas cermicas, assentadas sobre camada de argamassa

    com espessuras variveis, de valores at 7 cm (digitei certo, 7 cm !).

  • 14

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    As fotos abaixo ilustram a descrio acima.

    Foto 4.1 - Um pilar de fachada deteriorado por corroso das armaes.

    Foto 4.2 - Os revestimentos de pastilhas cermicas so assentados sobre espessa camada de argamassa.

  • 15

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    As causas

    A causa da corroso das armaduras a presena de cloretos provenientes da gua do

    mar na superfcie das barras danificadas. Os sais de cloro chegaram a trazidos por

    diversos mecanismos de transporte. Inicialmente, pelo vento, que os transportou do

    mar at superfcie da fachada; uma vez a depositados, foram transportados pela gua

    de chuva, para dentro do pilar, at o contato com as barras, por um processo fsico de

    difuso.

    No importa muito qual a quantidade de cloreto necessria para causar dano, pois o

    cloreto se regenera aps a fase qumica da corroso, possibilitando assim que, mesmo

    em pequenas quantidades, causem danos extremos e desproporcionais. O que importa

    que o cloreto chegou l, na superfcie das barras, e deflagrou a corroso do ao,

    identificada pelas trincas acima descritas.

    Como evitar

    Uma anlise mais detida desses casos pode extrair muitas lies e sublinhar muitos

    conhecimentos importantes sobre o problema da durabilidade das estruturas de

    concreto armado em ambientes agressivos, como os prximos orla martima. Assim,

    por exemplo:

    a) Se o ambiente em volta dos edifcios igualmente agressivo, pois depende apenas

    da concentrao de sais de cloro existente no ar, em um dado instante, por que s as

    fachadas voltadas para o mar sofreram danos? A resposta simples. Porque s nessa

    fachada que se juntaram desfavoravelmente os fatores necessrios deteriorao: a

    presena de sais de cloro na superfcie da pea e a presena, em quantidade prpria, da

    gua de chuva que transportou por difuso esses sais at superfcie das barras.

    b) Pode-se concluir desse fato que definir medidas de proteo apenas em funo da

    agressividade ambiental constitui-se um critrio inadequado? Sim, pois, como

    demonstram esses casos, o problema no de macro ambiente, mas sim de micro

    ambiente!

    c) Nesse particular, oportuno que se acentue que a permeabilidade, no caso,

    favorecida no s pela intercomunicao entre poros (materiais porosos), mas,

    principalmente, pela fissurao (micro ou macro) que se instale no material. Um

    cobrimento de concreto compacto e sem fissuras pode ser mais eficiente que outro mais

    espesso que no tenha essas boas qualidades.

  • 16

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    d) A vulnerabilidade dos concretos fissurao pela corroso das armaduras

    constitui-se um risco difcil de superar, no caso desses pilares de fachada ou em outros,

    semelhantes. Cabe-nos, nesse caso, identificar as superfcies de risco, como aquelas

    em que o sal depositado tenha boas possibilidades de transporte para o interior da pea,

    e adotar medidas especiais de proteo que impeam esse transporte. No depositar

    exagerada confiana em grandezas de cobrimentos, nem na qualidade do concreto, nem

    na qualidade do adensamento, nem da cura, e dispor sobre essas superfcies de risco (e

    s nelas) mantas ou pelculas de impermeabilizao comprovadamente eficazes.

    No podemos continuar aceitando que nossos edifcios situados prximos orla

    martima exijam reparos custosos com vinte anos de idade ou menos, por

    incompetncia da Engenharia. At parece que quem est necessitando de reparos

    urgentes a prpria Engenharia, notadamente, a de Estruturas.

    Colaborao: Antonio Carlos Reis Laranjeiras, Salvador, BA, R0 - maio/2002; R01 -

    maio/2015.

  • 17

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    CASO 5: FISSURAS EM LAJES DE FORRO

    O caso

    Esse caso relata a fissurao de lajes de forro por efeitos trmicos. No se trata, na

    realidade, de um s caso, mas sim de dois com a mesma relao de causa e efeito. Isso

    bom, pois um parece ser a prova e o outro a contraprova. Alm disso, sua repetio

    chama a ateno para o fato de que no se trata de um dano de ocorrncia singular, ou

    rara.

    Tratam-se das lajes de forro de duas pequenas edificaes: a primeira, a agncia do

    Banco do Brasil na cidade de Ipir, BA, com dois pavimentos, e a segunda, o Servio

    Mdico da fbrica da Nitrocarbono, Camaari, BA. Ambas as lajes tinham

    comprimentos semelhantes 25 m e 23 m, respectivamente e larguras de 17 m e 13

    m, respectivamente.

    Em ambos os casos, identificava-se uma trinca pronunciada nas lajes, a partir dos

    bordos e a meio comprimento do lado maior, prolongando-se em direo ao centro das

    mesmas. As figuras que se seguem servem para ilustrar a descrio acima, observando

    que as linhas mais grossas representam as trincas.

    .

    Figura 5.1 Laje de forro da Nitrocarbono.

  • 18

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    Figura 5.2 Laje de forro da agncia do Banco do Brasil de Ipir.

    As causas

    Identifica-se nas figuras acima que ambas as lajes de forro tm uma rea coberta e

    outra, lateral, descoberta. A dilatao das partes expostas ao aquecimento pelo sol -

    que deve chegar a +60C gera tenses de trao nas partes cobertas, que a fazem

    fissurar.

    As trincas concentram-se, nos dois casos, na regio central pela ausncia de armao

    adequada para controlar esse tipo de fissurao. De fato, as lajes foram armadas apenas

    para os momentos fletores provocados pelas cargas gravitacionais, do que resultaram

  • 19

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    pequenas taxas de armao, apenas em uma das faces das lajes, inferior ou superior, a

    depender se o momento no local era positivo ou negativo, respectivamente.

    O esforo de trao praticamente axial devido ao efeito trmico acima descrito gerou

    a primeira fissura na regio de maior concentrao de tenses, isto , a meio

    comprimento, pois as tenses so cumulativas a partir das extremidades. A pequena

    quantidade de armao, ao receber a fora de trao que lhe foi transferida,

    integralmente, pela seo de concreto ao fissurar, entrou em escoamento, permitindo

    assim que a fissura ficasse concentrada, localizada, na seo fissurada a meio

    comprimento, sem redistribuir-se por outras sees, com o que as aberturas seriam

    menores.

    Como evitar

    Inicialmente, necessrio que estejamos atentos para situaes como essas, afim de

    controlar devidamente os efeitos trmicos. Na fase de projeto, possvel controlar essa

    fissurao, dispondo pelo menos uma armadura mnima, nas duas faces da laje, na

    direo do maior comprimento, dimensionada de tal modo que no entre em

    escoamento com a fissurao da seo. curioso notar que, enquanto a armadura de

    flexo , nesses casos, da ordem de 0,15% a 0,20%, em uma s face, a armadura

    mnima para esse controle varia de 0,6% a 1,0%, distribuda nas duas faces, havendo

    pois uma grande diferena entre as duas.

    importante que as barras dessa armao tenham boa qualidade de aderncia, ou seja,

    sejam nervuradas, ou, para ser ainda mais explcito, sejam de ao CA-50 e no de ao

    CA-60, que so fios trefilados, lisos ou quase lisos. A Norma ABNT NBR-6118:2014,

    em seu item 17.3.5.2.2, apresenta procedimento para dimensionar essa armadura

    mnima para controle dessa fissurao (sob deformaes impostas).

    No caso, as estruturas j estavam prontas, o que no deixou outra sada, seno a de

    recomendar a impermeabilizao trmica das partes descobertas, e a consolidao das

    trincas com injeo de resinas elsticas (base poliuretano).

    Colaborao: Antonio Carlos Reis Laranjeiras, Salvador, BA, R0 - maio/2002; R01 -

    maio/2015.

  • 20

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    CASO 6: COLAPSO DE UM RESERVATRIO

    O caso

    A importncia desse caso reside no fato raro de um colapso total de uma estrutura de

    concreto armado.

    Na madrugada do dia 13 de maro de 1986, ao fim de uma noite de chuvas intensas e

    fortes ventos, um reservatrio elevado, componente do Sistema de Abastecimento de

    gua da cidade de Santo Antnio de Jesus, BA, desabou, inopinadamente.

    Era uma caixa dgua de concreto armado, com 360 m de capacidade, 14 m de

    dimetro e 4 m de altura, apoiada sobre pilares e cintas, elevando-se, em seu ponto

    mais alto, a 24,5 m acima do solo. Os 4 pilares (50x50 cm) apoiavam-se em fundaes

    diretas rasas, constitudas por 4 sapatas de 3x3 m. Ao desabar, a estrutura tinha

    completado 30 anos de idade.

    Quatro anos antes do acidente, em setembro de 1982, o reservatrio foi submetido a

    amplos servios de restaurao das armaes e do concreto dos pilares e das cintas, por

    firma idnea e sob fiscalizao do rgo do governo do estado.

    A figura que se segue uma reconstituio do reservatrio e de sua estrutura.

    Figura 6.1 Reservatrio elevado do SAA de S. Antonio de Jesus, BA

  • 21

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    O reservatrio estava cheio por ocasio do colapso, e a sua queda teve pequeno desvio

    da vertical. Uma parte da cuba caiu diretamente sobre os pilares e cintas, enquanto a

    parte restante incidiu diretamente sobre o solo, provocando neste uma grande

    depresso. As evidncias so que a caixa dgua atingiu o cho ainda cheia, implodindo

    ento sob efeito desse impacto contra o solo. A figura que se segue uma reconstituio

    desse desabamento.

    Figura 6.2 Idealizao do colapso do reservatrio de S. Antonio de Jesus, BA

    As causas

    A queda aproximadamente vertical indica que no houve tombamento da estrutura, ou

    seja, ela no desabou por ter girado em torno de suas fundaes, mas sim por colapso

    de seus pilares de sustentao, de forma rpida e progressiva. Portanto, no foram os

    ventos mais fortes que os usuais na regio que fizeram o tanque cair, pois se assim

    fosse, teria tombado lateralmente, afastando-se de sua vertical.

    O fato da cuba ter cado ainda cheia indica que o colapso no se iniciou por esta, mas

    sim pelos seus pilares ou pelas suas fundaes. Esse mesmo fato refora a evidncia

    que a ruptura se estendeu de forma progressiva pelos pilares.

    As evidncias sugerem que as guas da chuva incidindo diretamente no solo natural,

    j que o mesmo no estava revestido, provocou a eroso do mesmo sob as sapatas

    superficiais, descalando um ou dois pilares, com o que os outros, sobrecarregados,

    no foram capazes de resistir sozinhos ao peso da caixa dgua cheia, rompendo-se de

    forma brusca e progressiva.

  • 22

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    Essa hiptese encontra respaldo em um Relatrio de inspeo do prprio rgo do

    governo (EMBASA), datado de 1980, onde se encontram registros de recalques de

    fundao, nesse reservatrio. Por outro lado, a hiptese da causa primria ter tido lugar

    nos pilares fica afastada, pois os mesmos tinham sido recentemente restaurados.

    Como evitar

    A grande lio aprendida nesse lamentvel incidente o da fundamental importncia

    da proteo das fundaes superficiais contra a eroso do solo de fundao pela

    presena de gua no solo. De fato, apesar do tanque apoiar-se sobre sapatas rasas, no

    havia revestimento, nem drenagem adequada que garantissem o escoamento superficial

    das guas pluviais, evitando assim a eroso do solo de fundao.

    Essas importantes medidas de proteo da estabilidade e segurana das fundaes

    sempre foram omitidas e despercebidas pelos engenheiros que estiveram no local antes

    do acidente. At mesmo nas obras de restaurao da estrutura, executadas quatro anos

    antes do desabamento, nenhuma ateno foi dedicada a esse fundamental aspecto, no

    havendo, nem nos Relatrios de inspeo, nem no Relatrio dos servios de

    recuperao executados, qualquer meno necessidade de drenagem superficial como

    forma de proteo das fundaes rasas contra a eroso do solo de fundao.

    Colaborao: Antonio Carlos Reis Laranjeiras, Salvador, BA, R0 - maio/2002; R01 -

    maio/2015.

  • 23

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    CASO 7: TRINCAS EM LAJES

    O caso

    Esse caso toca no assunto de transferncia de atribuies, que vem acontecendo em

    nossa atividade de projeto. Trata-se da situao em que parte das decises de projeto

    so transferidas para terceiros, como no caso de uso de lajes pr- fabricadas, do tipo

    treliadas, alveolares protendidas, etc., em que os respectivos fornecedores oferecem

    seus produtos j dimensionados para as cargas e vos do projeto.

    As lajes de concreto armado do tipo laje treliada do pavimento superior de uma

    instituio de ensino superior, em uma cidade do interior baiano, construdas em

    fevereiro de 2001, apresentaram fissuras exageradas. Trata-se de uma edificao com

    dois pavimentos, um trreo e outro superior, com dimenses em planta de 12 m x 42

    m, e mais um apndice de rea e rampas de acesso.

    Os painis de laje do pavimento superior que se situam em ambas extremidades do

    edifcio, com 6 m de vo, apresentavam visveis fissuras, com abertura medida de 1,6

    mm (!), ao longo do seu contorno de apoio, conforme se ilustra na figura a seguir. A

    inspeo visual no identificou fissuras nas faces inferiores em nenhum dos painis de

    laje.

    Figura 7.1- Planta de formas do piso com identificao das fissuras ou trincas existentes

    As fotos que se seguem mostram vistas parciais da laje ainda na fase de construo e

    das trincas observadas na laje j em uso. As trincas foram acentuadas com marcador

    para sua melhor visualizao na foto.

  • 24

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    Foto 7.1 Vista parcial da laje de piso ainda na fase de construo.

    Foto 7.2 Trincas na face superior de uma laje. As trincas foram acentuadas na foto com marcador para facilitar sua visualizao.

  • 25

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    As causas

    As lajes afetadas so constitudas de vigotas treliadas, com larguras de 12 cm e

    espaadas entre eixos de 42 cm, formando uma laje nervurada com altura total de 14

    cm, sendo 7 cm de capeamento de concreto. As vigotas, conforme inspeo feita por

    corte do concreto local, dispem como armadura de trao, em sua face inferior, apenas

    as duas barras de 4.2 mm, de ao CA-60, que servem de ferros guia aos estribos. Falta

    s nervuras a armao longitudinal de trao, a ser dimensionada em funo do vo e

    das cargas, conforme esclarece o fornecedor em seus folhetos. O programa para

    dimensionamento dessa armao, fornecido gratuitamente pelo fornecedor, indicou,

    para esse caso, 2 8 + 1 12,5, por nervura. O concreto especificado em projeto da

    classe C15.

    Identifica-se que as trincas observadas resultam de rotaes excessivas que os painis

    de laje tm sobre suas vigas de apoio, em razo de sua esbeltez - definida pela relao

    entre seu vo e sua espessura - e da deficiente armadura de continuidade em sua face

    superior, na regio de apoio.

    Uma verificao numrica demonstrou que os painis no tinham capacidade resistente

    para suportar com segurana as cargas de utilizao previstas, necessitando ser

    reforadas. Projetou-se um reforo com vigas metlicas, executadas com sucesso.

    Como evitar

    O projeto estrutural omitia os detalhes das lajes. Quando consultado, o projetista

    esclareceu que o construtor deveria procurar o fornecedor local das lajes pr-

    fabricadas. Este, por sua vez, no acrescentou as armaes que deveria e deu no que

    acabamos de relatar.

    A transferncia informal de atribuies do projetista para os fornecedores de lajes pr-

    fabricadas - prtica que vem se tornando comum - dissipou as responsabilidades, com

    prejuzos financeiros e morais para todos. Mais do que todos foi sobretudo atingida a

    Engenharia como profisso, pelo desprestgio que ela sofre decorrente de insucessos

    como esse.

    Quando atribuio e responsabilidade do projeto de uma laje de piso so transferidas

    para outrem, o projetista deve registrar esse fato nos documentos do projeto e em sua

    respectiva ART. Caso o projetista no faa essa transferncia explcita de atribuio e

    responsabilidade tcnica, deve subordinar, contratualmente, que o projeto dessa laje de

    piso seja submetido sua aprovao, antes de sua execuo. Se isso no fizer, estar

  • 26

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    assumindo, ingenuamente, a responsabilidade tcnica por decises de projeto adotadas

    por terceiros.

    Colaborao: Antonio Carlos Reis Laranjeiras, Salvador, BA, R0 - fevereiro/2003;

    R01- maio/2015.

  • 27

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    CASO 8: O PROJETO ESTRUTURAL UM S

    O caso

    Hoje em dia, muito comum encontrarmos engenheiros calculistas especialistas

    apenas em projetos de estruturas de concreto (a grande maioria) ou de metlica. Assim,

    em algumas obras onde h utilizao concomitante de ao e concreto como materiais

    estruturais, comumente contratam-se dois escritrios de projeto distintos.

    Essa separao de escopo no projeto estrutural exige que o calculista se atente em

    particular a uma srie de itens que impactam no outro projeto estrutural: cargas

    aplicadas, consideraes sobre travamentos e, em especial, as ligaes.

    O caso em questo retrata a impossibilidade de se colocar um inserto para fixao de

    uma viga metlica em balano em funo da elevada densidade de ferros da estrutura

    de concreto, como evidenciam as Fotos 1 e 2.

    Foto 8.1 Insertos de uma estrutura metlica

  • 28

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    Figura 8.2 A falta de espao para assentamento dos insertos da viga metlica evidencia a inconsistncia entre os projetos da estrutura de concreto e da estrutura metlica.

    Como evitar

    Projetistas de estruturas devem estar atentos s interferncias entre projetos

    complementares e no apenas arquitetura. No caso de obras com mais de uma

    empresa responsvel pelo projeto estrutural, as partes devem trabalhar em perfeita

    sintonia e em constante dilogo, estudando alternativas que sejam boas para ambas e

    avaliando as implicaes de cada deciso, evitando que problemas de compatibilizao

    sejam detectados apenas na fase de execuo.

    Colaborao: Jairo Fruchtengarten, So Paulo, SP, R0 - maio/2015.

  • 29

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    CASO 9: EFEITOS DINMICOS EM MONOPOLO DE TELECOMUNICAES

    O caso

    Este caso trata de um monopolo auto-suportado, a ser utilizado em telecomunicaes,

    com 25 m de altura total, com seco transversal poligonal c/ 16 lados. No topo estava

    colocado um radome, em fibra de vidro, troco-cnico c/ 1,6 m de dimetro na base e

    2,20 m no topo, e 7 m de altura, e que serve sobretudo para proteco das antenas. Na

    figura anexa, e para melhor entendimento, tento representar, e tendo como base um

    outro monopolo semelhante, a geometria deste com uma ilustrao do radome no topo.

    O vdeo que despoletou o caso mostra a estrutura, em fase final de construo, em

    excitao aleatria induzida pela aco do vento, acrescente-se, um vento frequente.

    At parece que a estrutura ganhou vida. A troca de correspondncia dos diversos

    intervenientes demonstra que todos eles realizaram os clculos e que no encontraram

    algo que comprometesse a segurana da estrutura. Ainda assim, um dos Engenheiros,

    do lado do dono-de-obra, avana com uma causa provvel, mas sem grandes detalhes

    e/ou sem apontar a origem do problema: vortex shedding, ou no nosso portugus,

    desprendimento de vrtices. Aps essa troca de correspondncia, a estrutura acabou

    por ser substituda.

    Foto 9.1 Ilustrao de um monopolo de geometria semelhante ao do caso em anlise

  • 30

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    A causa

    Aps a anlise dos elementos de projecto verifiquei que no foi realizada qualquer

    anlise dinmica. Todos os clculos esto muito focados na resistncia da estrutura e

    pouco do lado da resposta da estrutura. De referir que este ltimo ponto algo que tem

    merecido o nosso interesse de investigao, mas no me irei focar nisso agora.

    Efectivamente a causa provvel ser o vortex shedding, e como principal responsvel

    o dito radome colocado no topo. Ora vejamos: as vibraes devido ao desprendimento

    de vrtices surgem devido aos escoamentos do ar que ocorrem de forma alternada em

    lados opostos da estrutura, i.e. h um aumento das velocidades de vento de forma

    alternada de cada lado da estrutura, reduzindo assim a presso, tambm de forma

    alternada. Como resultado, surge uma fora flutuante que perpendicular direco

    do vento. Percebe-se, portanto, que grandes vibraes so provveis de ocorrer, na

    direco transversal da aco do vento, isto se a frequncia associada ao vrtice igualar

    uma das frequncias da estrutura, em particular as mais susceptveis. Exposto isto, pode

    ser definida a velocidade crtica, dada por: vcrit = ne x d / St, em que vcrit = velocidade

    crtica; ne = frequncia natural; d = largura de referncia, e St = nmero de Strouhal; a

    expresso anterior surge da expresso que define a frequncia da fora lateral,

    designada de ns, referida anteriormente, e dada por: ns = St x v / d, e igualando ns com

    ne. O nmero de Strouhal para cilindros da ordem dos 0.2; apenas analisei o primeiro

    modo, faltaria portanto analisar modos superiores, mas obtendo frequncias da ordem

    dos 0.75Hz a 0.85Hz, valores estimados e considerando, no caso do valor mais baixo,

    o efeito das ligaes e a interaco solo-estrutura, e pelo que no caso em apreo

    seriamos conduzidos a velocidades crticas entre os 7.5m/s a 8.5m/s, i.e. 27km/h a

    31km/h. Os colegas que esto mais afastados deste tema podero se questionar: e se

    no existisse o radome? Ou seja, neste caso, o dimetro (largura) seria mais reduzido

    e, consequentemente seriamos conduzidos a valores mais reduzidos para a velocidade

    crtica, atravs da expresso que apresentei acima. De facto, verdade: usualmente os

    troos superiores so da ordem dos 0.4m a 0.5m de dimetro, pelo que seriamos

    conduzidos a velocidades crticas muito baixas. A grande diferena do primeiro para o

    segundo caso que a velocidade do vento suficientemente elevada para conter

    energia suficiente para proporcionar uma resposta significativa, algo que no acontece

    no segundo caso.

  • 31

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    Como evitar

    Neste caso concreto, irei separar em dois pontos distintos: i) este caso particular, e ii)

    lio aprendida para casos gerais. Neste caso concreto haveria duas solues possveis:

    claro, eliminar o radome (em Portugal p.ex. no so utilizados), ou a considerao

    implcita de foras laterais e que podem ser facilmente deduzidas atravs das foras de

    inrcia por unidade de comprimento. Na lio aprendida para casos gerais sublinharia

    dois aspectos que me parecem mais pertinentes: i) parece haver uma tendncia de

    complicar o simples e simplificar o complexo; a aparente simplicidade deste tipo de

    estruturas esconde muito dos problemas mais complexos ou mesmo as falhas do

    conhecimento neste domnio; ii) parece haver igualmente uma tendncia de andar

    somente atrelado em normas; coloco isto no como um ataque s normas, mas como

    que um lembrete que as normas esto sempre um passo atrs do conhecimento actual.

    Alis, no raras excepes, as normas remetem para bibliografia da especialidade.

    Neste caso concreto foram seguidas as normas, mas no foi consultada bibliografia da

    especialidade, algo que decerto evitaria o ocorrido.

    Colaborao: Rui Travanca, Lisboa, Portugal, R0 - maio/2015.

  • 32

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    CASO 10: TRINCAS EM ALVENARIAS

    O caso

    Prdio comercial com planta Tipo de cerca de 15 m X 70 m, em laje lisa. Armao de

    lajes e vigas considerando o comprimento relativamente extenso do Tipo para fins de

    deformaes.

    Aps a ocupao, crticas dos usurios sobre inmeras trincas em alvenarias e em

    outros elementos de acabamento, bem abertas na extremidade da edificao e apenas

    no ltimo pavimento.

    A causa

    Variao de temperatura da Cobertura. A laje da Cobertura, ao dilatar, arrasta as

    alvenarias imediatamente abaixo.

    Como evitar

    O Construtor no havia feito isolamento trmico da laje e relutou muito em admitir que

    seria essa a causa do problema. Ao ser pressionado, resolveu fazer um isolamento

    trmico sumrio, apenas a ttulo de observao: colocou sobre a laje uma camada de

    folhas de isopor justapostas, sem qualquer ligao com a laje. Para evitar que as folhas

    voassem colocou um corpo de prova em cada ponta das mesmas (!). Somente essa

    providncia, to expedita e grosseira fez cessar totalmente a patologia constatada, alm

    de proporcionar enorme conforto aos usurios da Cobertura. Presume-se que,

    posteriormente, tenha feito um isolamento formal.

    Colaborao: Justino Artur Ferraz Vieira, Rio de Janeiro, RJ, R0 - maio/2015.

  • 33

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    CASO 11: EFEITOS TRMICOS EM EMPENAS

    O caso

    Prdio esbelto (~9,00 X 30,00 m) com cerca de oito pavimentos. esquerda, prdio

    antigo, aproximadamente da mesma altura, e, direita, prdio bem mais alto com a

    empena cega, bem alta, confrontando com a do prdio em questo. O executante da

    obra notou que, por diversas vezes, o rufo de argamassa entre o prdio em construo

    e o prdio alto, rompia. A firma que havia executado a fundao - extremamente sria

    e tradicional - temeu que estivesse havendo algum recalque e providenciou medida, ao

    nvel da Cobertura, da posio relativa dos dois prdios.

    A causa

    Aps inmeras medidas realizadas em diferentes ocasies, algumas constatando, de

    fato, deslocamento entre as estruturas, verificou-se que a enorme empena adjacente ao

    prdio, sob forte insolao, dilatava-se expressivamente, o que no ocorria com o

    prdio em construo, "defendido" pelo vizinho aproximadamente da mesma altura.

    Como evitar

    Colocao de rufo metlico em folha de cobre, fixado em ambas as edificaes, e com

    flexibilidade suficiente para acompanhar o deslocamento relativo.

    Colaborao: Justino Artur Ferraz Vieira, Rio de Janeiro, RJ, R0 - maio/2015.

  • 34

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    CASO 12: CONCRETO COM ACAR

    O caso

    No mesmo prdio do caso anterior, havia uma pequena marquise, cujo concreto no

    endurecia minimamente, mesmo aps um bom tempo.

    A causa

    Por ser muito pequena, a marquise foi deixada para ser concretada ao fim da obra, uma

    vez que atrapalhava a retirada de entulho pelos caminhes. Ao ser concretada, o

    engenheiro se deu conta de que precisaria acionar a firma de impermeabilizao apenas

    para impermeabilizar a marquise, uma rea to pequena, pois todo demais servio j

    fora realizado. O Mestre, bem mais experiente que o Engenheiro, lembrou-lhe que

    "colocar acar na argamassa de cobertura um excelente impermeabilizante". O

    Engenheiro, empolgado pela sugesto, resolveu aprimorar o processo e colocou farta

    quantidade de acar diretamente no concreto....

    A soluo

    Discreta demolio noite.

    Colaborao: Justino Artur Ferraz Vieira, Rio de Janeiro, RJ, R0 - maio/2015.

  • 35

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    CASO 13: EFEITOS DINMICOS EM PISOS DE CONCRETO

    O caso

    Prdio comercial onde, no ltimo pavimento, havia uma Academia de Ginstica.

    Embora no tenha sido feita uma verificao formal das aes dinmicas na Academia,

    as vigas e lajes eram notoriamente robustas para evitar vibraes indesejveis e, de

    fato, a Academia funcionou durante cerca de seis meses sem qualquer problema. Certo

    dia - um dia muito peculiar: o 11 de Setembro do atentado de NY - foi constatada uma

    clara vibrao na Cobertura.

    A causa

    Aps uma srie de investigaes, constatou-se que a vibrao ocorrera nos dias (voltara

    a acontecer) em que a Academia usava um pacote especfico de exerccios para fazer

    propaganda da Academia e conseguir novos alunos. Novas investigaes constataram

    que, curiosamente, isso s ocorria no primeiro exerccio do pacote, enquanto nos

    demais, que envolviam muito dispndio de energia por parte da turma, no havia

    qualquer vibrao. Aps mais algumas observaes, constatou-se que o primeiro

    exerccio da srie consistia em que a turma toda (modestos 15 alunos!) pulava para a

    frente e para traz, travando o movimento com o atrito do tnis no cho. Para esse

    esforo ritmado no sentido horizontal, a estrutura era sensvel.

    A soluo

    A srie de exerccios passou a ser executada a partir do segundo exerccio...

    Colaborao: Justino Artur Ferraz Vieira, Rio de Janeiro, RJ, R0 - maio/2015.

  • 36

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    CASO 14: A PONTE SOBRE O RIO SO JOS ABAIXO

    A ideia que deu certo

    O caso

    Uma ponte de concreto armado, com 27,00m de extenso, estrutura principal em duas

    vigas isostticas, com vo central de 20,00m e balanos nas extremidades de 3,50m,

    foi projetada para ser construda no sistema convencional, ou seja, com toda a estrutura

    moldada in loco.

    Entretanto, sendo o local sujeito a enchentes, era temerrio o uso de cimbramentos no

    leito do rio e a estrada existente no permitia o acesso de um guindaste com a

    capacidade necessria para o iamento e lanamento das vigas com seo transversal

    de 0,40 m x 1,70 m, com peso de 45,90 tf (~459 kN), como ilustra a Figura 14.1.

    Ressalta-se tambm que, em se tratando de obra pblica, os custos eram apertados.

    Figura 14.1 A ponte de madeira existente no local.

  • 37

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    A soluo

    Com a devida autorizao do projetista e consultoria do Prof. Dr. Roberto Chust

    Carvalho, utilizando-se da tcnica brainstorm, vrias ideias foram sendo elencadas

    at que de repente aparece uma soluo, de incio maluca, mas que veio a se

    constituir na alternativa vivel.

    As vigas foram concretadas parcialmente, com seo transversal de concreto de 0,40

    m x 0,70 m e comprimento de 20,00 m. Com esta configurao o peso de cada viga

    caiu para aproximadamente 16,50 tf (~165 kN), computando-se todas as armaduras

    passivas que haviam sido calculadas para a viga originalmente projetada, exceto as

    armaduras dos balanos, que foram deixados apenas os arranques.

    Estas vigas parciais foram protendidas com quatro cordoalhas engraxadas em cada uma

    delas e posteriormente lanadas com um guindaste de menor porte para a sua posio

    definitiva, onde seriam concretadas at completar-se a seo originalmente projetada,

    sem a utilizao de qualquer cimbramento no vo central, a no ser nos balanos.

    As cordoalhas protendidas foram utilizadas apenas para a fase construtiva, mas como

    permaneceram no interior das vigas, contriburam para a fissurao e

    consequentemente na flecha do vo central.

    A seguir, a laje do tabuleiro foi concretada com a utilizao de lajes pr-moldadas,

    apoiada sobre as vigas longarinas. As fotos que se seguem ilustram o procedimento

    construtivo utilizado.

    Figura 14.2 Assentamento das cordoalhas engraxadas.

  • 38

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    Figura 14.3 Cordoalhas e protenso das vigas.

    Figura 14.4 Travessa e vigas prontas para lanamento.

    Figura 14.5 Ponte de madeira existente escorada para passagem do guindaste de 220 t.

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    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    Figura 14.6 Lanamento das vigas.

    Figura 14.7 Vigas lanadas j em posio.

    Figura 14.8 Complemento das vigas e tabuleiro.

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    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    Figura 14.9 A obra concluda.

    Colaborao: Carlos Roberto Santini Itapeva-SP, R0 - junho 2011, R01 - maio 2015.

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    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    CASO 15: UM PROBLEMA DE ESTABILIDADE GLOBAL

    O caso

    Este fato ocorreu h mais de 20 anos, no disponho de fotos:

    Fomos convidados para dar prosseguimento a uma obra que estava paralisada no 2

    teto tipo, tendo a mesma 16 pavimentos tipo. Comeamos a tocar a estrutura com

    uma laje por cada 10 dias e logo depois uma por semana! Obra rpida. Eu estacionava

    o carro na calada em frente (bairro de Santa Rosa - Niteri - Rio de Janeiro) e olha a

    estrutura j pronta com trs pavimentos de garagem um piso e teto do PUC, alm dos

    tipos executados. Achei a transio dos quatro pilares da fachada bem bonita e at

    arrojada! Eu nada tinha com a estrutura j pronta, meu trabalho era executar os tipos

    restantes o mais rpido possvel. Mas, como engenheiro e curioso, simplesmente

    olhava os pilares e o console que fazia a transio no teto do PUC, ver Figura 15.1.

    Figura 15.1 Pilares com console de transio

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    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    Um belo dia acordei com um pesadelo! Suava muito e tinha sonhado com a queda de

    uma obra... Voltei para dormir e, para minha surpresa comentei com um amigo que eu

    achava que tinha algo errado com a obra que estava executando, etc... Incrvel como a

    mente humana trabalha dormindo: fiz um desenho do que via e fui at o engenheiro da

    obra pedir as plantas (j arquivadas) da transio, o que ele no gostou muito e

    perguntou:

    - Pra que voc quer essas plantas? No tem nada a ver com os seus servios

    contratados...

    - uma curiosidade, achei bonita a soluo do calculista!

    O rapaz no entendeu, mas cedeu as plantas. Fui at o pavimento para olhar os pilares

    quando vi uma enorme trinca ~ 1 m de altura da base do pilar. Levei um susto enorme,

    pois a bicha era grande ~ 2 mm e corria toda a face interna do pilar penetrando uns

    15 cm at fechar completamente: o pilar estava recebendo um baita momento fletor

    no previsto no projeto! Corri para o escritrio do grande amigo Carlos Alberto Fragelli

    e fui prontamente recebido:

    - Roberto Solano, que prazer te ver por aqui! Como vai seu Pai? (grande amizade

    tinham os dois).

    - Fragelli estou com um problema cabeludo... Tens uns 5 minutinhos?

    Claro que fui muito bem atendido por ele. Eu j tinha feito minhas contas, analisado

    as cargas do peso prprio, etc.

    - Roberto, em que teto vocs esto trabalhando?

    - Estamos concretando o 8 teto...

    - Vai cair no 12 teto! Mande parar imediatamente a obra!

    Sa de l mais branco do que entrei e fui falar com o calculista (no o conhecia) da

    construtora, j com uma soluo rabiscada pelo mestre. Marcamos um encontro e o

    jovem projetista quase caiu da cadeira ao se deparar com um problema de estabilidade

    global! Foi feito o reforo com grandes vigas de equilbrio para transferir o momento

    fletor para um outro plano e aliviar o momento no pilar.

    Concluso

    Estava tudo certo com o dente, MAS o momento era transferido para o pilar na

    direo de baixa inrcia (pilar com 30 cm de espessura)... Coisas da engenharia... O

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    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    construtor ainda ficou com raiva de mim, pois no comuniquei o fato para ele e atrasei

    o andamento da obra! Coisas da engenharia...

    Colaborao: Roberto Solano Rio de Janeiro, RJ, - maio 2015.

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    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    CASO 16: UM MURO DE CONTENO QUE NO ESTAVA CERTO

    O caso

    Estava fazendo uma estrutura em alvenaria estrutural quando passei por um muro

    (engastado na base e apoiado lateralmente pela laje do teto da garagem), com cerca de

    4 metros de altura. O curioso aqui notou que as sadas das barras eram de ferro 8 mm

    a cada 20 cm! Achei, a princpio, muito pouco... Chamei o jovem engenheiro que

    apresentou o projeto detalhando as armaes executadas. Fiz algumas consultas e

    confirmei o erro de projeto, voltei ao engenheiro da obra e fizemos o seguinte dilogo:

    - Prezado, essa armao deficiente, at consultei colegas com mais experincia...

    - Voc foi contratado para a superestrutura, e no entende de blocos armados!

    - Amigo, faa um contato com seu projetista, certo?

    Os cabelos brancos servem para alguma coisa, ele voltou.

    - Falei com o calculista!

    - Sim, o que ele disse?

    - Que est certo!

    Bem, eu lavei minhas mos, sem antes dar um tiro de misericrdia:

    - Eu afirmo que est ERRADO! Refaa seu contato ou d-me a liberdade de falar com

    ele.

    - Est ERRADO, mas est CERTO! Deixa eu trabalhar! No se meta nisso!

    Sa feito cachorro que caiu da mudana, triste... Meses depois soube da notcia do

    acidente: o muro caiu por cima de vrios carros no ato do reaterro na face externa do

    muro! Ento descobri que a juventude alegre, feliz e sem compromisso com a

    realidade dos mais velhos! Est errado ou est certo? Est errado, mas est certo s

    nas DITADURAS !!! E sempre vai dar MERDA!

    Colaborao: Roberto Solano Rio de Janeiro, RJ - maio 2015.

  • 45

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    CASO 17: VAZAMENTOS NA CHAMIN DE EQUILBRIO DA ADUTORA

    DO JOANES II

    O caso

    A Chamin de Equilbrio do Joanes II parte de uma adutora que transporta gua da

    barragem do mesmo nome para a ETA Principal de Salvador. Sua estrutura

    constituda por um cilindro circular, com 52,00 m de altura a partir da base, 5,00m de

    dimetro interno, 30 cm de espessura de parede, protendida radialmente em toda a sua

    altura e com dois montantes de ancoragem dos cabos diametralmente opostos.

    A obra foi inaugurada em 2002 e j nos primeiros meses de operao apresentou

    problemas de vazamentos. Foi feita, na poca, uma recuperao constituda de

    tratamento de fissuras e impermeabilizao das reas atingidas.

    Em 2006, notou-se o aparecimento de novos pequenos vazamentos que foram

    progredindo at atingir, em 2007, a situao mostrada nas fotos abaixo.

    Figura 17.1 Vazamentos na chamin da adutora do Joanes II

  • 46

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    No relatrio de anlise do problema, feito para a EMBASA, foi feita a descrio a

    seguir:

    distncia, pode-se ver duas rachaduras verticais, a maior com cerca de 3,00 m de

    extenso, situadas entre 10,00 e 15,00 m de altura, por onde h jorro de gua.

    Uma rachadura est localizada prxima a um dos montantes de ancoragem dos cabos

    e a outra junto escada de acesso. No lado oposto, nota-se umedecimento do concreto,

    mas nenhum vazamento significativo.

    AS CAUSAS

    O projeto previa protenso radial em toda a altura da chamin por 57 pares de cabos

    CP 190-RB 7 12.5, com espaamento variando de 65 cm a 120 cm (de baixo para

    cima).

    Em seo, os cabos so posicionados conforme mostra a figura abaixo e foram ps-

    protendidos pelas duas extremidades.

    Figura 17.2 Seo transversal da chamin da adutora Joanes II

    O concreto foi especificado com resistncia caracterstica compresso fck 25 MPa

    e os cabos esticados com uma fora inicial de 100 tf (1000 kN), pelas duas

    extremidades.

  • 47

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    Na anlise feita poca, verificou-se que, aps as perdas imediatas, a fora de

    protenso inicial ao longo do cabo seria a representada na Figura 17.3.

    Figura 17.3 Diagrama da fora de protenso inicial ao longo do cabo de protenso

    E, aps as perdas progressivas, a fora de protenso final ao longo do cabo seria a

    representada na Figura 17.4.

    Figura 17.4 Diagrama da fora de protenso final, aps as perdas, ao longo do cabo de protenso.

    Dos grficos pode-se ver claramente que as foras de protenso ao longo dos cabos no

    so uniformes. Desse modo, as deformaes radiais, em um determinado anel, tambm

    no so uniformes, acarretando o aparecimento de esforos de flexo.

  • 48

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    Para mostrar esse efeito, foi feita uma simulao da estrutura no programa SAP2000,

    discretizando-a em elementos de casca. O anel foi dividido em 36 setores e a altura nas

    posies de cada par de cabos (ver Figura 17.5).

    Para simplificar os clculos, a chamin foi considerada como engastada na sua base.

    Figura 17.5 O modelo da chamin da adutora Joanes II gerado no SAP 2000.

    Foram analisados dois casos de carregamento:

    CHAMIN VAZIA aes de peso prprio e da protenso inicial;

    CHAMIN CHEIA aes de peso prprio, protenso final e presso interna da gua.

    As deformaes de um anel intermedirio so mostradas abaixo (no caso, altura de

    12m):

  • 49

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    Figura 17.6 Deformadas do anel a meia altura da chamin para os casos de carregamento vazio e cheio.

    Os esforos solicitantes so mostrados a seguir (Figura 17.7), em forma de diagramas.

    Deles, verifica-se que as mximas foras circunferenciais de trao se situam entre 1,00

    m e 16,00 m de altura. Os momentos mximos de flexo do anel, entre 9,00 m e 22,00

    m de altura.

    FORAS CIRCUNFERENCIAIS MOMENTOS HORIZONTAIS

    Figura 17.7 Diagramas das foras mximas circunferenciais de trao ( esquerda) e dos momentos mximos de flexo do anel ( direita).

  • 50

    APRENDENDO COM ERROS DOS OUTROS

    Para os pares de valores M e N mostrados nas figuras, a armadura (no-protendida ou

    frouxa) necessria seria de 13,2 cm/m (par superior) e 13,8 cm/m (par inferior), para

    fck=25 MPa e cobrimento de 3 cm.

    A armadura existente era 10 cada 15 cm (5,33 cm/m), em cada face.

    COMO EVITAR

    O caso mostra um erro de concepo de projeto. O modelo terico desenvolvido

    confirma que o problema foi decorrente do sistema de protenso projetado, que

    provoca esforos no previstos em projeto.

    O correto projetar com quatro montantes e dois pares de cabos defasados, conforme

    a Figura 17.8, protendidos alternadamente ao longo da altura, de modo que os esforos

    de compresso radiais na parede fiquem com um valor mdio uniforme em todo o

    permetro.

    Figura 17.8 Disposio correta dos cabos de protenso na chamin da adutora do Joanes II.

    Colaborao: Z Carlos Pereira Salvador, BA - maio 2015.