Armanda Duarte, Sopro Frio, Visao, 28 Janeiro 1999

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/28/2019 Armanda Duarte, Sopro Frio, Visao, 28 Janeiro 1999

    1/1

    'SOPRO FRIO NAS ORELHAS'fornece uma pina para que o espectador desatento possa pisar e destruir as obras expostas

    efmeras, as obras de Armanda Duarteas expectativas do visitante

    apresenaI \ .

    aausenclaROSENGARTEN

    o ttulo, Sopro Frio nas Orelhas, introz a nota dominante desta mostra, patenno Museu de Histria Natural, em Lis-um sussurro suave e fresco que

    s soprado, a dar-nos um breve arrena espinha: tnue, fugaz e, no entana provocar em ns uma ressonncia so-Arrnanda Duarte tem vindo, desde h al-ns anos, a trabalhar com materiais tradialmente identificados como pertencena reas do feminino: l, fio, farinha ... Es-materiais remetem, por sua vez, para traes frequentemente relegadas pauma autoria annima: coser, bordar, fa-r bolos. Ela borda estes materiaisde uma perspectiva feminista agressie terica - posio, digamos, cona classificao, o nomear, a feitura de ob-tos monolfticos que a teoria feminisidentifica geralmente com o patriarca-

    do -, mas com uma sensibilidade apurada e, percebe-se, intilltiva. Os seus objectos, frequentemente instalados in situ, limi-tam-se a existir apenas l onde esto: pairam algures entre a presena e a ausncia.o JOGO DAS PEAS

    A farinha, a que foi dada a forma de coraes numa prateleira de madeira, for-ma provocadoramente O Jogo da Bran.ca de Neve; dedais empilhados e enfiados at 190 centmetros de altura constituem a Pequena Tone sem Fim, enquanto Grande Corao de Canela , na realidade, a toalha rendilhada feita no cho, o tecido em xadrez composto por gros de arroz.A artista fornece uma pina para que o espectador desatento possa- na esperana de encontrar 'obras' de arte com um aspecto mais familiar - pisar e destruir as obras da exposio. (Durante a inaugurao, aconteceram muitos acidentes deste tipo.) Tenho-te na Pe-

    le uma srie de lenos coloridos transparentes cortados no centro, ficando apenas a bainha como contorno frgil des-ses quadrados no cho.Encantatria tambm a obra Iniciao B, um conjunto de pingos de tin-ta de leo secosretirados de mesas e cavaletes de pintura durante as aulas que Ar-manda Duarte d no Arco. Cuidadosamente colocados sobre lamelas de vidro, como as utilizadas nos laboratrios de sangue, destacam-se contra a parede branca. Estes espcimes minsculos - despojos da actividade pictrica - lanam refle-xos delicados do vidro para a parede, tornando-se eles prprios numa pintura de sombra e luz.De maneira desconcertante, este conjunto de obras de presena to frgil e tnue ac-tiva o espao enonne da Sala do Vea-do, no Museu de Histria Natural, em Lis-boa - patente at 31 de Janeiro - ,de uma forma que poucas (e mais agressivas) mostras o fizeram at agora: o visitante convidado a reparar nas mais pequenas fendas existentes no cho e nas paredes no seu cuidado para no pisar os trabalhos.A obra de Armanda Duarte encerra um paradoxo raro: totalmente efmera - com a beleza de uma asa da borboleta que ameaa passar a todo o momento para a inexistncia -, provoca no visitante uma postura de ateno pouco. habitual, perturbando as expectativas de durabilidade e coisidade com que habitualmente investimos as obras de arte. _

    VISO 28 de Janeiro de 1999