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IMPACTO DISTRIBUTIVO DAS ISENÇÕES DO IMPOSTO SOBRE O VALOR ACRESCENTADO (IVA) NOS AGREGADOS FAMILIARES EM MOÇAMBIQUE 1998 a 2012 RELATÓRIO FINAL Agosto de 2013 ARMINDO FELICIANO TOMO Consultor [email protected] 84 39 84 402 Moçambique

Armindo Tomo - Estudo Do Impacto Distributivo Das Isenções Do IVA Nas Famílias Em Mocambique 2013

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Sob solicitacao da Action Aid Mozambique realizou-se o presente estudo visando esclarecer o impacto distributive das isencoes do IVA para as famílias em Mocambique

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IMPACTO DISTRIBUTIVO DAS ISENÇÕES DO

IMPOSTO SOBRE O VALOR ACRESCENTADO

(IVA) NOS AGREGADOS FAMILIARES EM

MOÇAMBIQUE – 1998 a 2012

RELATÓRIO FINAL

Agosto de 2013

ARMINDO FELICIANO TOMO

Consultor

[email protected]

84 39 84 402

Moçambique

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Resumo

O objectivo deste trabalho é analisar os impactos distributivos das reformas fiscais traduzidas em

isenções do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) desde a sua criação efectiva em 2008 até

ao ano de 2012. Estes impactos foram medidos através de indicadores localizados1 de

progressividade ou regressividade, dentro de um enfoque de equilíbrio parcial, utilizando os

dados dos Inquéritos aos Agregados Familiares sobre Orçamento Familiar (IAF e IOF) de 2002/3

e 2008/9 produzidos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Os dados destes inquéritos

foram conjugados com as especificações das Leis sobre este imposto em Moçambique, dentre as

quais as mais importantes foram a Lei 15/2002 de 26 de Junho que descreve o IVA dentro do

sistema tributário nacional e a Lei 32/2007 de 31 de Dezembro que aprovou o Código de IVA

actualmente em vigor na República de Moçambique. Os resultados obtidos pelo estudo permitem

concluir que as isenções levadas a cabo em Moçambique durante o período de análise conferiram

progressividade ao IVA numa perspectiva de equidade fiscal vertical e conferiram regressividade

no ponto de vista de equidade fiscal horizontal ao mesmo imposto

Palavras-chave: IVA, impacto distributivo, progressividade, regressividade, isenções

Abstract

The objective of this empirical study is to estimate the distributive impact of fiscal reforms on

the exemptions on Value Added Tax (VAT) since it was created in 1998 until 2012. These

distributive impacts have been measured through localised indicators of progressivity and

regressiveness under a partial equilibrium approach, using dataset from the National Household

Budget Surveys of 1998/9 and 2002/3 published by the National Institute for Statistics (INE).

The information from the surveys was analysed together with the legal specifications on VAT in

Mozambique, given mainly by the Law 15/2002 of November 26 and the Law 32/2007 of

December 31. Based on the results of the study, it was concluded that the exemptions provided

progressivity under vertical fiscal equity. They also provided regressiveness under horizontal

fiscal equity.

Key words: VAT, distributive impact, progressivity, regressiveness, exemptions

1 Chamam-se indicadores localizados porque não comportam uma análise global da regressividade/progressividade,

avaliam-na sob ponto de vista de despesa dos agregados familiares.

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Definição dos conceitos-chave

i. IVA é o Imposto sobre o Valor Acrescentado que incide sobre a despesa ou consumo e

tributa o valor acrescentado das transações efectuadas pelo contribuinte. Em

Moçambique, para que exista incidência de IVA, é necessário que o sujeito que efectua

determinada transmissão de bens ou prestação de serviços seja sujeito passivo de IVA,

nos termos do Artigo 2 do Código do IVA aprovado pela Lei No 32/2007 de 31 de

Dezembro.

ii. Impacto distributivo de um imposto: A estrutura de renda dos agregados familiares

varia, havendo agregados mais pobre e mais ricos. Desta forma a alteração numa medida

fiscal pode afectar de maneira diferente a cada um dos tipos de agregados familiares.

Assim, com impacto distributivo do imposto pretende-se verificar como é que o efeito

deste imposto se manifesta a cada um dos estratos dos agregados ordenados de acordo

com a sua renda.

iii. Progressividade do imposto: Progressivo é um imposto que incide de modo que a sua

taxa efectiva aumenta conforme o montante em que a taxa aplicada aumenta. No caso da

despesa pode entender-se que é progressivo um imposto quando quanto maior for a

despesa do contribuinte maior é a taxa efectiva a ele aplicada. Por exemplo: se os

agregados mais ricos pagam 20% da sua renda para o imposto e os mais pobres pagam

15% da sua renda.

iv. Regressividade do imposto: É oposto de um imposto progressivo, onde a taxa efectiva

de imposto diminui à medida que aumenta a quantia a que a taxa é aplicada. Quer dizer,

as pessoas de renda baixa incide uma taxa efectiva também menor do imposto. Por

exemplo: se os agregados mais ricos pagam 20% da sua renda para o imposto e os mais

pobres pagam 25% da sua renda.

A progressividade e regressividade podem ser vistos do lado de equidade fiscal horizontal e

vertical. A equidade vertical traduz-se na proposição de que as pessoas que têm diferente

capacidade contributiva sejam tributadas de forma desigual. Na equidade horizontal admite-se

que se tributem de forma idêntica as pessoas que têm igual capacidade contributiva

v. Isenções: são as dispensas totais ou parciais feitas aos mecanismos pelos quais as taxas

tributárias são aplicadas. Em Moçambique as isenções ao IVA estão estabelecidos no

capítulo II do Código do IVA aprovado pela Lei No 32/2007 de 31 de Dezembro.

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INTRODUÇÃO

Desde a introdução em Moçambique através da Lei no 3/98 de 08 de Janeiro do Imposto sobre o

Valor Acrescentado (IVA), têm sido realizadas reformas à Lei onde em grande parte se modifica

a lista dos produtos isentos a este imposto. Pelo facto de o IVA ser um imposto sobre a despesa,

a sua carga tributária recai em maior proporção sobre os segmentos da sociedade com baixa

renda, por isso se define como um imposto regressivo (Musgrave, 1992; García e Salvato,

2005)2. Por estas razões, o impacto das isenções do IVA sobre a capacidade de despesa ou poder

de compra das famílias merece especial atenção. Merece também atenção devido as

desigualdades na distribuição da renda que se observam em Moçambique (CIA World Fact book,

20083).

Esta análise é importante na medida em que pode influenciar no desenho de um sistema

tributário mais eficiente e equitativo, e evitar que a autoridade administrativa ou o interesse

político tomem decisões de política fiscal e tributária que prejudiquem ainda mais os sectores

mais pobres da população.

Este trabalho aborda a análise do impacto distributivo das isenções do IVA sob um equilíbrio

parcial, quer dizer, apenas do lado da despesa, e não da renda e da despesa pública social, os

resultados aqui apresentados não esgotam o debate, mas o alimenta. Com impacto distributivo

pretende-se analisar como é que os efeitos das isenções do IVA se manifestam nas despesas dos

diferentes estratos de agregados familiares. Porque os agregados diferem um do outro em termos

de renda, são agrupados em unidades relativamente homogéneas, designadas quintis, tal como

apresentado pelos Inquéritos Nacionais.

Na realização deste estudo assume-se que as mudanças nas taxas dos impostos provocam um

aumento nos preços dos bens e por via disso alterar os padrões de consumo das famílias.

Assume-se também que a carga tributária recai sobre os consumidores, no sentido de que é

proporcional à despesa de bens e serviços incluídos na base tributária.

2 Musgrave, Robert y Musgrave, Peggy (1992).Hacienda Pública Teórica y Aplicada,5ª Edición, McGraw Hill,

España 3 Em “https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/fields/2047.html”

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1. OBJECTIVO GERAL

Analisar o impacto distributivo das reformas nas isenções do IVA desde a sua introdução em

1998 até a última modificação da Lei em 2012.

1.1. Objectivos Específicos

Comparar a estrutura de despesa dos agregados familiares.

Aferir sobre os comportamentos regressivos ou progressivos do IVA renda dos agregados

familiares

2. METODOLOGIA

2.1. Recolha de dados

Este estudo baseou-se em dados primários provenientes do IAF 2002/3, IOF 2008/9 e

legislação sobre o IVA em Moçambique. O quadro que segue descreve os dados que foram

requeridos para o estudo e sua fonte.

Tipo de dados Fonte

Estrutura da despesa por agregado familiar e per capita IAF 2002-3 e IOF 2008-9

Introdução do IVA em Moçambique Lei No 3/98 de 8 de Janeiro

Base Tributável na prestação se serviços de transporte

rodoviário de passageiros (62%)

Decreto No 26/2000 de 10 de

Outubro

Base tributável de Combustíveis e Energia Eléctrica (62%) Decretos 34/99 e 35/99 de 1 de

Junho respectivamente

Base Tributável para fornecimento de água (75%) No 2 do Art. 2 do Decreto 80/99

de 1 de Novembro

Isenções na Saúde, Educação e transmissão de bens

alimentares específicos

Nos

1, 10, 29 e 38 do Decreto

51/98 de 29 de Setembro

Alíquota de IVA aplicável em Moçambique No 1 do Artigo 17 da Lei N

o

32/2007 de 31 de Dezembro

Lista das isenções de bens e serviços Artigo 9 da Lei No 32/2007 de

31 de Dezembro

Base Tributável para fornecimento de energia eléctrica Artigo 15 da Lei No 32/2007 de

31 de Dezembro

Base Tributável para empreitadas de obras públicas, fontes

de abastecimento de água, pontes

Artigo 15 da Lei No 32/2007 de

31 de Dezembro

Base dedutível para gasóleo quando usado em casos

especificados

No 1 do Artigo 20 da Lei N

o

32/2007 de 31 de Dezembro

Isenções na transmissão de bens e serviços na área de

educação e formação profissional assim como para Saúde

No 3 do Artigo 9 da Lei N

o

32/2007 de 31 de Dezembro

Modificação da lista e formulação das isenções constantes

do CIVA aprovado pela Lei No 32/2007 de 31 de Dezembro

Lei No 3/2012 de 23 de Janeiro

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2.2. Períodos representativos da análise

Como o estudo compreende um lapso de tempo de 15 anos (desde 1998 até 2012) é necessário

identificar os intervalos de tempo que servirão de base para as estimações por realizar e, foram

identificados 3 períodos.

O 1º período a ser considerado é de 1998 a 2002. 1998 é o ano da introdução do IVA em

Moçambique que veio substituir os Impostos de Circulação e de Consumo ora em vigor por força

da Lei No 3/87 de 19 de Janeiro. Em volta deste dispositivo seguiram outros introduzindo

alterações nos mecanismos tributários do País como sejam as isenções. A lista dos principais

instrumentos a este respeito está no quadro da secção de recolha de dados deste relatório.

O 2º período a ser considerado começa em 2002 até 2008. Em 2002 realizou-se o IAF-2002/3.

Este inquérito apresenta dentre vários aspectos a situação das despesas dos agregados familiares

em Moçambique, tornando-se desta forma um instrumento para medição do sucesso das medidas

fiscais tomadas nos anos anteriores. Referir que em si o IAF 2002/3 e outros não medem e nem

debruçam-se sobre questões tributárias, sendo portanto necessário efectuar cálculos próprios

utilizando as informações relativas à aplicação do IVA contidas na Leis.

O 3º período começa em 2008 porque neste ano inicia efectivamente um novo Código do IVA

aprovado pela da Lei No 32/2007 de 31 de Dezembro. Refira-se que apesar de a Lei ser de 2007

apenas tornou-se efectiva em 2008 por ter sido aprovada no último dia de 2007. Ainda mais,

2008 tem mérito de ser referência para o estudo porque foi nele que se realizou o III Inquérito

aos Agregados Familiares do País que, oferece medições na despesa e renda para a análise pós

2002. Este período termina em 2012 ano em que o Código do IVA em vigor desde 2007 sofreu

algumas alterações através da Lei No 3/2012 de 23 de Janeiro.

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2.3. Indicadores de análise

A análise dos dados foi basicamente efectuada considerando os indicadores localizados4 da

progressividade ou regressividade de um imposto indirecto, nomeadamente:

i. Estrutura da despesa por agregado familiar entre o IAF 2002/3 e IOF 2008/9. Com este

indicador analisa-se a evolução nos gastos dos agregados familiares dentro de um

determinado período no qual existiram também mudanças na legislação fiscal.

ii. Rácio entre a despesa tributada e isenta do IVA por produto por ano. Este indicador

mostra a proporção da parte da despesa total do agregado familiar que é tributada pelo

IVA e aquela que é isenta do mesmo imposto.

iii. Rácio entre a despesa tributada pelo IVA dos agregados familiares mais pobres (quintil 1)

e daqueles mais ricos (quintil 5) por produto por ano. Neste indicador analisa-se a

diferença da despesa que é tributada pelo IVA entre os agregados mais pobres e os mais

ricos que, estão ordenados em quintis de renda.

iv. Evolução da despesa tributada pelo IVA em relação à evolução da renda familiar e ao

longo do tempo. Este indicador analisa a mesma situação do anterior mas abordando

todos os estratos de agregados familiares ao invés dos extremos. Evolução da despesa

isenta do IVA em relação à evolução da renda familiar e ao longo do tempo.

v. Proporção da despesa isenta do IVA com respeito ao total de acordo com os níveis de

renda dos agregados familiares

vi. Incidência das taxas efectivas do IVA por níveis (quintis) de renda dos agregados

familiares. Estes medem a carga tributária real que recai sobre cada um dos estratos de

agregados familiares e que é distinta da carga nominal do imposto (17% por exemplo).

4

Serrano, A. (2001). Análisis de los efectos redistributivos del IVA español en la última década, Universidad

Autónoma de Barcelona. España.

Leahy, E., Lyons, S. and Tol, R. (2011). The distributional effects of Value Added Tax in Ireland, ESRI. Dublin

Quilez, V. y Puente, J. (2012). Impacto Distributivo de las Reformas del IVA en Venezuela (1993-2011), RCS,

Venezuela

Faridy, N. and Sarker, T. (2011). Who really pays Value Added Tax (VAT) in developing countries? Empirical

evidence from Bangladesh, IPEDR, Singapore

Tamaoka, M. (1994). The Regressivity of a Value Added Tax: Tax Credit Method and Subtraction Method – A

Japanese Case, Institute for Fiscal Studies.

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2.4. RESULTADOS E SUA ANÁLISE

i. Estrutura da despesa por agregado familiar segundo o IAF 2002/3 e IOF 2008/9

Do gráfico 1 constata-se que,

A divisão de alimentos e bebidas não alcoólicas tem o maior peso na distribuição percentual

da despesa final dos agregados familiares com 48 e 51.4% para 2002 e 2008

respectivamente;

A despesa familiar dirigida ao sector de produtos alimentares e bebidas não alcoólicas

aumentou modestamente em 7.1% de 2002 a 2008;

Houve redução em mais que 50% nas despesas destinadas a bebidas alcoólicas;

Redução de cerca de 42% nas despesas para Saúde;

As despesas para comunicações aumentaram em cerca de 67%, provavelmente devido a

participação dos estratos de renda baixa na compra e utilização de telemóveis, e a expansão

da rede de internet nas zonas urbanas.

Fonte: IAF 2002/03 e 2008/9, INE, 2003, Moçambique

Gráfico 1: Estrutura da despesa mensal dos AF por divisão de despesas em 2002/3 e 2008/9

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Então, com este gráfico pode deduzir-se que as mudanças de 2002 a 2008 não tiveram um padrão

regular mas caracterizou-se maioritariamente por reduções nas despesas efectuada pelos

agregados familiares. Porém, o total de despesa efectuada em 2008 é maior que 2003

corroborando com o aumento do Produto Interno Bruto per capita do País a preços constantes

que cresceu na ordem de 34% em relação a 2008 (IOF 2008/9 pg. 40). Embora não seja intenção

deste estudo analisar as razões que levaram às mudanças no comportamento das despesas, pode-

se ainda dizer que tais mudanças reflectem os impactos das variações do Índice do Preço ao

Consumidor por categoria de despesas ao longo do período transcorrido de 2002 a 2008. Este

índice, por sua vez é também influenciado pelas medidas fiscais tomadas no período em causa.

ii. Rácio entre a despesa tributada e isenta do IVA por produto por ano

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Sob uma suposição simplificadora5, na Tabela I, a estrutura de despesa de 2002 foi usada para

1998 e a de 2008 foi usada para 2012. Ou seja, os 2 anos em foram realizados os inquéritos

providenciam informação válida para efeitos de cálculo de âmbito tributário. Nesta tabela, está

indicado para cada despesa dos agregados por divisão de produtos quanto sofreu a tributação

pelo IVA naquele ano. Por exemplo, em 2002 os agregados familiares dedicavam 48% da sua

despesa total ao consumo de produtos alimentares e bebidas não alcoólicas. Deste, 0% era

tributado pelo IVA porquanto esta categoria de bens está isenta de imposto nos termos do

disposto no Decreto 51/98 de 29 de Setembro. Para o caso da habitação, água, electricidade e

combustível, foi calculada a média aritmética entre as bases tributáveis da água, habitação e

electricidade exceptuando combustível porque que pensa-se que muitas vezes o seu preço

manifesta-se maioritariamente nos preços do transporte. Então, para obter as percentagens de

despesa tributada e despesa isenta para a habitação, água e electricidade procede-se:

Dados Média Aplicação da Base Tributável

Base Tributável da habitação = 60%

Base Tributável da água = 75%

Base Tributável da electricidade = 62%

Despesa dedicada a esta rúbrica em

2002 = 22.40%

(60+75+62)/3

= 66%

0.66 * 22.40 = 14.78%

Então, o IVA incidirá sobre 14.78%

da despesa dedicada a estes

produtos e 22.4-14.78=7.62% serão

isentos do imposto

No período em análise, a despesa tributada reduziu em cerca de 7% enquanto a despesa isenta

aumentou em cerca de 5%. É uma variação baixa para ter efeito no bem-estar das pessoas. Mas é

um resultado esperado porque durante o período em análise a alíquota de IVA permaneceu

inalterada, as isenções incidiram maioritariamente nos bens alimentares tais que para os

agregados familiares rurais são obtidos directamente das suas produções. Há de facto uma lista

extensa de isenções mas basicamente para insumos de produção.

iii. Rácio entre a despesa tributada pelo IVA dos AF mais pobres e dos mais ricos

5 Serrano, A. (2001). Análisis de los efectos redistributivos del IVA español en la última década, Universidad

Autónoma de Barcelona. España.

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Ao comparar a estrutura de despesa por divisão de produtos por quintis de renda na Tabela II,

observa-se que a importância relativa do consumo de produtos alimentares e bebidas não

alcoólicas é 1,8 vezes superior para os agregados de baixa renda (quintil 1) quando comparada

com os agregados de renda alta (quintil 5) para 2002 e cerca de 1,6 para 2008.

Ao longo dos anos de análise o quintil de maior renda aumentou a proporção da sua renda

destinada aos produtos alimentares e bebidas não alcoólicas.

Assim, para os agregados de baixa renda, o consumo de produtos alimentares representa mais de

metade da sua renda enquanto para os agregados de renda alta a despesa para esta divisão de

produtos está em volta de 30%.

Com a excepção dos produtos alimentares, em todas as outras divisões de produtos a despesa

tributa é maior para o quintil de maior renda. Este comportamento é também da despesa total

tributada pelo IVA dos quintis em comparação e está em torno de uma proporção de 2:1.

É importante referir que as variáveis aqui estudadas não podem ser tomadas isoladamente para

determinar a progressividade ou regressividade do IVA porque são parte de um sistema

complexo em que, dependendo do ângulo em que se observa podem surgir interpretações

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distintas. Por exemplo, o facto de o quintil 5 ser o que mais paga IVA por divisão de produtos

pode não significar maiores sacrifícios quando comparado com o sacrifício do quintil 1. Para

testar esta hipótese é suficiente calcular com quantos meticais o quintil 1 e 5 ficam deduzidos os

impostos e ver-se-á que o quintil 5, mesmo depois de ter contribuído mais, continua

financeiramente mais robusto.

A despesa tributada do quintil 1 aumentou em 5% nos anos em análise enquanto a do quintil 5

diminuiu em 8%. Quer dizer apesar de o quintil 5 ser o que mais contribui para o IVA, as

reformas fiscais nesta área agem ao seu favor, reduzindo-lhe a carga tributária. Ao mesmo tempo

as referidas reformas desfavorecem o quintil mais pobre.

iv. Evolução da despesa tributada pelo IVA em relação à evolução da renda familiar

Tabela III: Despesa tributada pelo IVA por quintil de renda

2002 2008

Quintil 1

25.61 26.8

Quintil 2

25.42 25.35

Quintil 3

26.06 24.88

Quintil 4

30.46 27.99

Quintil 5 50.39 46.34

Fonte: IAF 2002-3, IAF 2008-9, Leis do IVA e Cálculos do Autor, 2013

Ao observar-se a despesa total tributada por quintil de renda durante o período de análise (Tabela

III), observa-se que à medida que a renda aumenta a proporção da despesa total tributada

também aumenta. A evidência empírica mostra por exemplo que em 2008 a despesa total

tributada ao quintil 5 é cerca de 2 vezes maior que daquela tributada ao quintil 1 no mesmo

período. Assim, neste ponto de vista, pode se dizer que o IVA é progressivo. Mas do outro lado o

quintil de maior renda teve alívio na pressão tributária porquanto o seu encargo tributário reduziu

em 8% contra um aumento de cerca de 5% para o quintil 1, como dito anteriormente.

v. Proporção da despesa isenta do IVA com respeito ao total de acordo com os níveis de

renda dos agregados familiares

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Tabela IV: Despesa isenta pelo IVA por quintil de renda (%)

2002 2008

Quintil 1

74.87 73.86

Quintil 2

75.38 75.63

Quintil 3

74.66 76.32

Quintil 4

70.68 73.85

Quintil 5 54.8 59.46

Fonte: IAF 2002-3, IAF 2008-9, Leis do IVA e Cálculos do Autor, 2013

Observando a proporção da despesa isenta do IVA por quintis de renda (Tabela IV), os estratos

de menor e maior renda recebem igual benefício das isenções ao imposto (a relação é 1.4:1, o

que quer dizer, por cada ponto percentual de despesa isenta dos estratos de maior renda, os

estratos de menor renda beneficiam-se de 1.4 pontos percentuais de despesa isenta. Em termos

práticos não é uma vantagem de peso a considerar para tomar o imposto progressivo. Mas ao

longo do tempo o estrato de maior renda recebe vantagem através do aumento da percentagem da

sua despesas isenta ao IVA, portanto de 54.8% em 2002 para 59.46% em 2008. Neste ponto de

vista o IVA teve comportamento regressivo.

vi. Incidência das taxas efectivas do IVA por níveis de renda dos agregados familiares

A determinação das taxas efectivas é outra variável para determinar a progressividade ou

regressividade do imposto. A tabela V apresenta os resultados do cálculo neste sentido.

Tabela V: Taxas Efectivas de IVA por níveis de renda

Taxa Efectiva (%) com 17% de Taxa Nominal

2002 2008

Quintil 1 3.72 3.89

Quintil 2 3.69 3.68

Quintil 3 3.79 3.62

Quintil 4 4.43 4.07

Quintil 5 7.32 6.73

Fonte: IAF 2002-3, IAF 2008-9, Leis de IVA, Cálculos do Autor, 2013

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A taxa efectiva pode ser calculada através do seguinte ajustamento:

,1

*

jt

jig

jt

jiT

em que Tij é a taxa efectiva ou seja o IVA pago pelo agregado familiar “i” em

troca do bem “j”; tj é a alíquota do IVA (17% em Moçambique) em vigor e gij é a despesa total

paga pelo agregado familiar “i” em troca do bem “j” (pode encontrar-se no IAF).

Então para preencher a tabela V é suficiente usar os valores da despesa tributada por cada quintil

na Tabela III, submeter à fórmula na base da alíquota de 17%.

Em geral os estratos de maior renda apresentam taxas efectivas também elevadas. Porém, ao

analisar-se o comportamento dessas taxas ao longo do período em análise notamos que apenas

para os estratos de menor renda é que as taxas aumentaram. Para os estratos de maior renda as

taxas efectivas diminuíram de 2002 a 2008. Quer dizer apesar de à medida que a renda aumenta

as taxas efectivas também aumentam, o imposto estava representando uma carga mais que

proporcionalmente maior para os estratos de menor renda. Os estratos de maior renda recebiam

pelo contrário um alívio tributário através da redução das suas taxas efectivas.

Em consequência disto, as reformas fiscais levadas a cabo até o período em análise tiveram

impactos mais que proporcionalmente negativos para os estratos de menor poder de aquisição.

Porém, sob ponto de vista de equidade vertical, o IVA teve comportamento progressivo visto que

as taxas efectivas maiores corresponderam aos estratos com a renda elevada.

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3. CONCLUSÕES

Em geral as medidas fiscais realizadas no período de análise estimularam o aumento da

capacidade de despesa das pessoas e famílias juntamente com outros factores que

influenciam esta variável.

Os resultados do estudo demonstraram que sob um enfoque de equilíbrio parcial e à luz

dos indicadores observados, o desenho das isenções do IVA realizadas no período de

análise conferiram progressividade ao IVA sob ponto de vista de equidade fiscal vertical.

Esta é também pretensão declarada na nota introdutória da Lei 15/2002 de 26 de Junho.

Quer dizer, as isenções permitiram que os estratos de maior renda contribuíssem mais

para o IVA e os de baixa renda proporcionalmente menos;

Para cada um dos períodos analisados a proporção da despesa tributada sempre foi

maior para os agregados de renda alta e menor para aqueles de renda baixa;

As taxas efectivas foram também sempre maiores para os agregados de renda alta

e baixas para os agregados de renda baixa.

Sob ponto de vista de equilíbrio fiscal horizontal, as isenções no IVA tiveram efeito

regressivo e desfavorável para os agregados familiares de baixa renda:

Ao longo do tempo os agregados familiares mais ricos beneficiam-se de aumento

da sua despesa isenta do IVA enquanto para o mesmo período a proporção isenta

dos agregados de baixa renda diminui;

Ao longo do tempo as taxas efectivas aumentaram somente para os agregados de

baixa renda e diminuíram para aqueles de renda alta.

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4. RECOMENDAÇÕES

Para minimizar o efeito regressivo do IVA recomenda-se uma distinção rigorosa dos

bens de luxo e bens de necessidade. Assim, ao invés de manter a mesma taxa de IVA

durante muito tempo para todos os bens, deve-se aplicar uma taxa elevada aos bens

de considerados de luxo, embora a diferenciação também acarrete custos

administrativos muitas vezes elevados.

As isenções (taxa zero e isenções parciais) não são suficientes para aliviar os estratos

mais pobres da população. As isenções totais estão concentradas nas matérias-primas

e para alguns bens de consumo. Os bens de consumo isentos do IVA na sua maioria

também são obtidos por vias fora do circuito fiscal e, nesses casos não há benefício

das isenções. Então recomenda-se uma expansão das isenções totais para bens ligados

à construção e transporte. A perda de arrecadação que eventualmente será criada pode

ser compensada através do aumento das taxas directas para os estratos de renda alta.

As organizações da Sociedade Civil devem engajar-se activamente nas questões

fiscais uma vez que são chave para a governação e direitos humanos. Para tal, estas

organizações devem adquirir competências adequadas no domínio de política fiscal,

administração tributária, gestão do orçamento público, para que possam ser capazes

de monitorar o exercício fiscal no seu todo;

Como forma de obter informação mais aprofundada em relação ao impacto do IVA

recomenda-se a realização de estudos para aferir a contribuição dos agregados

familiares de diferentes níveis de renda na arrecadação do IVA; impacto dos

incentivos fiscais; eficiência do sistema de gestão tributária em particular para os

reembolsos do IVA; a incidência da evasão fiscal, dentre outros.