Arthur C. Clarke - 2010 Uma Odisséia No Espaço II

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    2010: UMA ODISSIA2010: UMA ODISSIA

    NO ESPAO IINO ESPAO II

    Arthur C. Clarke

    Ttulo original: 2010: Odissey TwoTraduo de: Jos Eduardo Ribeiro Moretzon

    2! EdioEditora "o#a $ronteira

    %igitalizado& re#isado e 'or(atado )or *usana+a)

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    Nota do Autor

    O romance 2001: uma odissia no espao foi

    escrito durante os anos de 1964 a 1968 e publicadoem julho de 1968, logo depois do lanamento do filme.Segundo narrei em Os mundos perdidos de 2001, osdois projetos se processaram simultaneamente,alimentando-se das duas fontes. assei, assim, muitas!e"es, pela estranha e#peri$ncia de re!er omanuscrito depois de assistir a copi%es baseados em

    !ers&o anterior da est'ria ( uma maneiraestimulante, mas muito custosa, de se escre!er umromance.

    or conseguinte, e#iste, entre o li!ro e o filme,um paralelo bem mais pr'#imo do )ue o )ue costumae#istir, embora e#istam diferenas de peso. *oromance, o destino da espaona!e Discovery era

    +apetus, a mais enigmtica das muitas luas deSaturno. O sistema saturnino foi alcanado via +pitero Discovery apro#imou-se bastante do planetagigante, !alendo-se de seu enorme campogra!itacional para produ"ir um efeito //estilingue0 epara aceler-lo ao longo da segunda !olta do trajeto.s sondagens espaciais do Voyager, em 1929, ao

    fa"erem o primeiro reconhecimento detalhado dosgigantes mais afastados, usaram e#atamente a mes-ma manobra.

    *o filme, entretanto, Stanle3 ubric5 sabiamentee!itou confus&o ao colocar o terceiro confronto doomem com o monolito entre as duas luas de +piter.Saturno ficou inteiramente de fora no roteiro, embora

    7ouglas rumbull tenha usado a percia ent&o ad)ui-rida para filmar o planeta anelado em sua pr'pria pro-du&o, Silent running.

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    *ingu:m teria imaginado, remontando aos mea-dos da d:cada de 196;, )ue a e#plora&o das luas de+piter fosse situar-se, n&o no s:culo seguinte, massomente quine anos depois. *em algu:m jamaissonhou com as mara!ilhas )ue nelas seriam

    encontradas ( temos certe"a )uase absoluta,entretanto, de )ue as descobertas dos Voyagerg$meos ser&o um dia ultrapassadas por achados aindamais inesperados. uropa,?animedes e @alisto eram meros alfinetes de lu"mesmo no telesc'pio mais poderosoA hoje s&omundos, cada um nico, e um deles, =o, : o corpo

    !ulcanicamente mais ati!o no Sistema Solar.Besmo assim, considerando-se tudo isso, tanto o

    filme )uanto o li!ro, C lu" destas descobertas,resistem ra"oa!elmente bem, e : fascinante secompararem as se)D$ncias de +piter, no filme, comas filmagens reais das cEmeras do Voyager. Bas, :claro, tudo o )ue for escrito hoje tem )ue incorporaros resultados das e#plora%es de 1929 as luas de+piter j n&o s&o mais territ'rio n&o-cartografado.

    > h um outro fator psicol'gico, mais sutil, a serle!ado em conta. 2001 foi escrito numa era )ue esthoje al:m de uma das ?randes 7i!is%es na hist'riahumanaA n's nos separamos dela para sempre no ins-

    tante em )ue *eil rmstrong pFs o p: na Gua. O diaH; de julho de 1969 ainda se situa!a meia d:cada nofuturo )uando Stanle3 ubric5 e eu comeamos a pen-sar no 0pro!erbialssimo filme de fic&o cientfica0 Ifra-se deleJ. oje, hist'ria e fic&o est&oine#trica!elmente entrelaadas.

    Os astronautas da polo j ha!iam !isto o filme

    )uando partiram para a Gua. Os tripulantes da polo 8,)ue, no *atal de 1968, !ieram a ser os primeiroshomens a pFr olhos na Kace Oculta da Gua, contaram-

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    me )ue ficaram tentados a mandar de l uma mensa-gem informando a descoberta de um imenso monolitonegro... )ue pena, a discri&o pre!aleceu.

    > hou!e, depois, casos )uase misteriosos em )ue

    a nature"a imita a arte. 7e todos, o mais estranho foia saga da!polo 1" em 192;.

    + como uma boa abertura, o B'dulo de@omando, )ue abriga a tripula&o, fora bati"adoOdissia. ouco antes da e#plos&o do tan)ue deo#ig$nio, )ue fe" abortar a miss&o, os tripulantesou!iam o tema de #aratustra, de Lichard Strauss, hoje

    uni!ersalmente identificado com o filme. Gogo emseguida C perda de fora, +ac5 SMigert mandoumensagem ao @ontrole da Biss&o 0ouston, ti!emosum problema0. s pala!ras )ue G utili"ou dirigindo-se ao astronauta Kran5 oole, em ocasi&o semelhante,foram 07esculpe interromper as festi!idades, masestamos com um problema0.

    #atamente como !oc$ disse )ue iria acon-tecer, rthur0. Sensa&o muito estranha ainda se apo-dera de mim )uando contemplo toda essa s:rie deacontecimentos ( )uase como se, de fato, pesasse

    sobre mim uma certa responsabilidade. uma outra repercuss&o menos s:ria, por:m

    igualmente contundente. Nma das se)D$ncias maisbrilhantes, no plano t:cnico, no filme foi a)uela )uemostra Kran5 oole correndo em !olta da pista circularda centrfuga gigante, cujo giro, produ"indo a0gra!idade artificial0, mantinha-a no lugar.

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    os projetistas lhes ha!iam proporcionado geometriasemelhante o anel de armrios de arma"enagemforma!a uma fai#a circular, uniforme, C !olta dointerior da esta&o espacial. O S$yla%, entretanto, n&ogira!a, o )ue n&o dete!e, por:m, seus engenhosos

    ocupantes. 7escobriram eles )ue poderiam correr em!olta da pista, feito camundongos numa jaula dees)uilos, produ"indo um resultado !isualmenteindistingu!el do e#ibido no 2001. > para a erratele!isaram todo o e#erccio Ipreciso dar o nome damsica de acompanhamentoJ com o comentrio0Stanle3 ubric5 de!eria !er isso.0 @omo o !iu na

    ocasi&o de!ida, pois mandei-lhe uma gra!a&o emtelecine. I*&o a recebi de !oltaA Stanle3 usa, parasistema de ar)ui!amento, um Puraco *egrodomesticado.J

    inda, outro elo entre filme e realidade : a pintu-ra 0erto da lua0, do @omandante da polo ( So3u",@osmonauta le#ei Geono!. Qi-a pela primeira !e" em1968, )uando 2001 foi apresentado C @onfer$ncia das*a%es Nnidas sobre Nsos acficos do >spao >#terior.Gogo ap's a proje&o, le#ei mostrou-me )ue seu con-ceito IC pgina RH do li!ro de Geono! e So5olo!,!sestrelas est'o ( nossa espera, Boscou, 1962J e#ibeprecisamente a mesma disposi&o )ue a da aberturado filme a erra ele!ando-se por trs da Gua, e o Sol

    ele!ando-se por trs de ambos. O esboo autografadoest hoje na parede de meu escrit'rioA para maioresdetalhes, !er @aptulo 1H.

    al!e" seja esta a hora apropriada de identificarum outro nome, n&o t&o conhecido, )ue aparecenestas pginas, o de sue-shen sien. >m 19R6, comos grandes heodore !on arman e Kran5 +. Ballina, o7r. sien fundou o Gaborat'rio eronutico?uggenheim do =nstituto de ecnologia da @alif'rniaI?G@=J, ancestral imediato do famoso Gaborat'rio de

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    ropuls&o a +ato, de asadena. Koi tamb:m o primeiro@atedrtico 0?oddard0 em @altetch, e, durante odec$nio de 194;, muito contribuiu para a pes)uisa demsseis norte-americanos. Bais tarde, num dosepis'dios mais infeli"es do perodo macarthista, sob

    alegadas acusa%es contra a segurana, foi preso)uando )uis regressar ao pas natal. em sido, duranteos dois ltimos dec$nios, um dos lderes do programade msseis chin$s.

    , por fim, o estranho caso do 0Olho de +apetus0( @aptulo R do 2001. li narro a descoberta doastronauta PoMman, na lua de Saturno, de uma coisacuriosa 0uma o!al branca, brilhante, de cerca deseiscentos e cin)Denta )uilFmetros de comprimento etre"entos e !inte )uilFmetros de largura...perfeitamente sim:trica... e de borda t&o ntida )ue)uase parecia... pintada sobre a face da pe)uena lua0.o apro#imar-se, PoMman con!enceu-se de )ue 0aelipse brilhosa, impressa no fundo escuro do sat:lite,era um olho enorme e oco )ue o fita!a C medida )ueele se apro#ima!a...0 Bais tarde, notou 0a manchinhape)uenina bem no centro0, )ue !em a ser o BonolitoIou um de seus a!ataresJ.

    Pem, )uando o Voyager 1 transmitiu as primeirasfotografias de +apetus, e!idenciou-se nelas de fato

    uma o!al branca, grande, bem definida, com uma pe-)uenina mancha preta no centro. 7o Gaborat'rio deropuls&o a +ato, @arl Sagan logo mandou-me umac'pia, com o comentrio crptico 0ensando em!oc$...0 *&o sei se me sinto ali!iado ou desapontado)ue o Voyager 2 tenha dei#ado a )uest&o ainda emaberto.

    =ne!ita!elmente, portanto, a est'ria )ue !oc$sest&o em !ias de ler : algo bem mais comple#o )ueuma continua&o direta do romance anterior ( ou do

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    filme. *os pontos onde os dois diferem, segui a !ers&ocinematogrficaA preocupei-me mais, entretanto,em tornar este li!ro conse)Dente, e o mais acuradoposs!el C lu" do conhecimento atual.

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    defeito.

    ( >nt&o foi por isso )ue !oc$ me tirou daconfer$nciaT *&o )ue eu me importeA j ou!i o @arltantas !e"es fa"er a)uela palestra sobre o S>= )ue

    sei repeti-la eu mesmo. > a !ista : mesmo fantsticaAsabe, das !e"es em )ue !im a recibo, nunca esti!ea)ui na alimenta&o da antena.

    ( gostamos do fato de !oc$ agora dei#ar )ue todos

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    e#aminem a coisa... o )ue, : claro, !oc$ de!eriater feito em primeiro lugar. *&o )ue tenha tido algumautilidade...

    ou!e um sil$ncio desalentador en)uanto os dois

    contemplaram o enigma negro l no alto, na Gua, ain-da desafiando, sobranceiro, todas as armas )ue aengenhosidade humana seria capa" de usar contra ele.>m seguida, continuou o cientista russo

    ( Pem, seja o )ue for o monolito de 3cho, halgo mais importante l em +piter. Koi para l )ue elemandou sinais, afinal. > foi l )ue seu pessoal se

    meteu em apuros. Sinto por isso, alis... embora Kran5oole fosse o nico )ue eu conhecesse pessoalmente.>u o conheci no @ongresso de 1998 da K=... mepareceu um bom homem.

    ( ObrigadoA todos eram bons. >u gostaria desaber o )ue aconteceu a eles.

    ( Seja o )ue for, agora !oc$ tem )ue admitir )ue: uma preocupa&o de toda a raa humana, e n&o s'dos >stados Nnidos. Qoc$ j n&o pode mais usar o seuconhecimento para benefcio meramente nacional.

    ( 7imitri, !oc$ sabe muito bem )ue o seu ladoteria feito e#atamente a mesma coisa. > com suaajuda.

    ( Qoc$ tem toda ra"&o. Bas isso : hist'ria antiga,assim como o : a)uele seu go!erno rec:m-sado,respons!el por toda a confus&o. @om um no!oresidente, tal!e" pre!aleam conselhos mais sbios.

    ( V poss!el. Qoc$ tem sugest&o a fa"er, e seriamoficiais ou simples esperanas pessoais

    ( udo e+traoficial no momento. V o )ue ospolticos sanguinrios chamam con!ersas desondagem. > )ue eu negarei, terminantemente, )ue

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    tenham ocorrido.

    ( V justo. @ontinue.

    ( Pem, : essa a situa&o. Qoc$s est&o montandoo Discovery -- com toda a pressa poss!el, na 'rbita do

    estacionamento, mas n&o t$m esperanas decomplet-lo em menos de tr$s anos, o )ue significa)ue ir&o perder o pr'#imo corredor de lanamento...

    ( *&o nego, nem confirmo. Gembre-se de )ue eun&o passo de um humilde reitor de uni!ersidade, ooutro lado do mundo perante o @onselho de stronu-tica.

    ( > a sua ltima !iagem a Uashington n&o pas-sou de um feriado"inho, acho eu, para !er !elhosamigos. @ontinuando o nosso pr'prio!le+ei eonov...

    & ensei )ue !oc$s fossem cham-lo de/*erman itov.

    & >rrado, eitor. !elha @= os derrubou deno!o. V eonov, at: janeiro era. > n&o diga a ningu:m)ue eu lhe contei )ue ele !ai chegar a +piter no mni-mo com um ano de dianteira sobre o Discovery.

    ( > )ue ningu:m saiba )ue eu lhe contei )ueestamos com medo disso. Bas, !amos, prossiga.

    ( Beus chefes s&o t&o imbecis e mopes )uanto

    os seus, e por isso )uerem fa"er a coisa so"inhos. O)ue significa )ue o )ue )uer )ue saia de errado comvocs pode acontecer conosco, e n's estaremos de!olta C estaca "ero... ou pior.

    ( O )ue voc julga )ue tenha sado errado>stamos t&o frustrados )uanto !oc$s. > n&o me diga)ue !oc$s n&o t$m todas as transmiss%es de 7a!e

    PoMman.( @laro )ue temos. t: a ltima 0Beu 7eus, est

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    cheio de estrelasT0 @hegamos mesmo a fa"er, do com-portamento da !o" dele, uma anlise de intensidade.*&o cremos )ue ele esti!esse com alucina%esA eletenta!a era narrar o )ue realmente !ia.

    ( > )uanto ao des!io 7oppler !erificado, o )ue!oc$ depreende

    ( =nteiramente imposs!el, : claro. stou apenas !erificando, por minha conta, assuas dedu%es. 7ali em diante, tanto )uanto !oc$s,estamos no escuro. Se : )ue !oc$s est&o mesmo noescuroT

    ( S' estamos jogando com muitas adi!inha%es,t&o malucas )ue eu teria at: !ergonha de cont-las a!oc$. Bas, mesmo assim, eu desconfio )ue a !erdade

    ainda ser bem mais maluca do )ue )ual)uer umadelas.

    >m pe)uenas e#plos%es, cor carmim, as lu"es dealerta aos na!egantes pisca!am ao redor dos dois, eas tr$s torres delgadas, )ue suporta!am o comple#oda antena, comearam a refulgir, como b'ias desinali"a&o, contra o c:u escuro. O ltimo estilhao!ermelho do sol es!aiu-se por trs das colinascircunjacentesA e3Mood Klo3d esperou pelo @lar&oQerde, )ue nunca !ira. Bais uma !e", ficou

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    desapontado.

    ( Pem, 7imitri ( disse ele (, !amos ao pontoprincipal. Onde : )ue !oc$ )uer chegar

    ( 7e!e ha!er uma )uantidade enorme de

    informa%es inestim!eis arma"enadas nos bancos dedados do Discovery3 e : de se presumir )ue aindaestejam sendo acumuladas, mesmo )ue a na!e tenhainterrompido suas transmiss%es. ?ostaramos deter acesso a elas.

    ( Buito justo. Bas, )uando !oc$s esti!erem lem cima, e o eonov estabelecer o contato, o )ue osimpede de abordar o Discovery e copiar tudo o )ue)uiserem

    ( *unca pensei )ue eu ti!esse de lembrar-lhe)ue o Discovery : territ'rio dos >stados Nnidos, e )ueo ingresso n&o autori"ado seria pirataria.

    ( Sal!o no caso de uma emerg$ncia de !ida ou

    morte, o )ue n&o seria difcil de arranjar. Seria difcilpara n's, afinal, fiscali"armos as suas inten%es da)ui,a um bilh&o de )uilFmetros de distEncia.

    ( gradeo a sugest&o. 7as mais interessantesA!ou pass-la adiante. Bas, mesmo )ue fFssemos abordo, le!aramos semanas para aprender todos osseus sistemas e ler todos os seus bancos de mem'ria.

    O )ue eu proponho : coopera&o. >stou con!encido de)ue : essa a melhor id:ia... mas creio )ue teremosmuito trabalho para !end$-la aos nossos respecti!oschefes.

    ( Qoc$ )uer )ue um de nossos astronautas !iajecom o eonov4

    &

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    na!e de !olta.

    ( @omo foi )ue !oc$ soube disso4

    ( Beu 7eus, Uood3T Saiu no !ideote#to doSeman5rio da !via'oj, no mnimo, h mais de um

    m$s.( 6u perdi o contato. *ingu:m me conta o )ue

    foi dispensado do sigilo.

    ( O )ue : moti!o ainda melhor para se passaruma temporada em Uashington. Qoc$ !ai me apoiar

    ( =nteiramente. @oncordo cem por cento com

    !oc$, mas...( Bas o )u$

    ( *'s dois !amos ter )ue lidar com dinossauros)ue t$m o c:rebro na cauda. lguns dos meus !&oargumentar dei#em )ue os russos arris)uem opescoo, correndo para chegar a +piter. *'s, de

    )ual)uer maneira, chegaremos l uns dois anosdepois. >, afinal, por )ue a pressa

    or um instante hou!e sil$ncio na base da antena,n&o fosse por um le!e rangido dos imensos cabos desustenta&o )ue a mantinham suspensa a cem metrosnos c:us. 7epois, t&o bai#inho )ue Klo3d te!e )ue seesforar para ou!i-lo, Boise!itch prosseguiu

    ( lgu:m !erificou a 'rbita do Discoveryultimamente

    ( *a !erdade, n&o sei, mas creio )ue sim. 7e umjeito ou de outro, por )ue se incomodar V uma 'rbitaperfeitamente est!el.

    ( V mesmo. >nt&o, com todo o tato, de!o lem-

    br-lo de um incidente constrangedor, dos !elhos diasda *S a sua primeira esta&o espacial, o S$yla%,)ue de!eria ficar l em cima no mnimo uma d:cada.

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    Bas !oc$s n&o fi"eram os clculos certos,subestimaram em muito a resist$ncia do ar naionosfera, e ele caiu alguns anos antes do pra"o.enho certe"a de )ue !oc$ se lembra desse percalo,embora na :poca !oc$ ainda fosse um menino.

    ( Koi no ano em )ue me formei, e !oc$ sabedisso. Bas o Discovery nunca se apro#ima de +pi-ter. Besmo no perigeu... )uer di"er, no perijo!e, eleest muito alto para ser afetado pela resist$ncia do ar.

    ( >u j disse o bastante para me e#ilarem deno!o para o meu dac*a3 e da pr'#ima !e" !oc$ tal!e"

    n&o obtenha permiss&o para ir me !isitar. ortantotrate de pedir ao seu pessoal do rastreamento paratrabalhar com cuidado, est bem > lembre a eles )ue+piter tem a maior magnetosfera do Sistema Solar.

    ( @ompreendo aonde !oc$ )uer chegar. Obriga-do. Bais alguma coisa antes de descermos >stoucomeando a ficar congelado.

    ( *&o se preocupe, amigo !elho. ssim )ue !oc$dei#ar isto !a"ar em Uashington... espere uma sema-na para me resguardar... as coisas !&o es)uentar, emuito.

    2. A Casa dos Golfinhos

    Os golfinhos entra!am nadando, todas as tardes,na sala de jantar, imediatamente antes do pFr-do-sol.Somente por uma !e", desde )ue Klo3d !eio ocupar aresid$ncia do Leitor, )uebraram a rotina. Koi no dia dotsunami de H;;, )ue, feli"mente, perdera )uase todaa fora antes de alcanar ilo. 7a pr'#ima !e" )ue os

    amigos n&o chegassem na hora, Klo3d jogaria a famliano carro e rumaria para terras altas na dire&ogen:rica de Bauna i.

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    >mbora encantadores, ele tinha )ue admitir )uea)uele espalhafato era Cs !e"es um aborrecimento.Bolhar-se n&o incomoda!a o ge'logo marinho )ueprojetara a casa, pois ele usa!a cal%es... ou menos.ou!e, por:m, uma ocasi&o ines)uec!el, )uando todo

    o *> >>SSOG0, e, em seguida, as linhas de impress&ofluorescente se desenrolarem numa mensagem )uerapidamente ardeu-lhe no esprito S>*=BOS=*KOLBL KOBOS *O=K=@7OS QXO 4H GO*7L>S-US=*?O* @=N LYZ=BO *>UKON*7-G*7.NLB 7> SO@OLLO LNB GO@G BS >B> *[O

    Q>L SOPL>Q=Q>*>S.

    *&o fosse um acidente do destino, ele estariana)uele !Fo. or alguns dias, )uase se ressentiuda)uele assunto da dministra&o >spacial >urop:ia)ue o reti!era em arisA a)uela discuss&o sobre acarga til do Solaris lhe sal!ara a !ida.

    > agora, tinha no!o emprego, casa no!a... e no!aesposa. )ui tamb:m o destino desempenhara papel

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    irFnico. Besmo )ue as recrimina%es, os in)u:ritos so-bre a miss&o +piter, lhe hou!essem destrudo acarreira em Uashington, um homem com suacapacidade n&o fica!a desempregado por muitotempo. cad$ncia da !ida uni!ersitria, t&o mais

    la"erosa, sempre o apetecera, e )uando combinada auma das mais belas loca%es do mundo, mostrara serirresist!el. mulher )ue !iria ser sua segundaesposa, encontrara-a apenas um m$s depois de sernomeado, )uando olha!a as fontes de fogo do ilaueacom um grupo de turistas.

    @om @aroline ele encontrara o contentamento, t&oimportante )uanto a felicidade, e mais duradouro. >rauma boa madrasta para as duas filhas de Barion, e aele dera @hristopher. pesar da diferena de !inteanos entre eles, ela lhe compreendia os estados deesprito e conseguia le!ant-lo das e!entuaisdepress%es. ?raas a ela, ele agora conseguiacontemplar sem dor a mem'ria de Barion, n&o sem,por:m, uma triste"a nostlgica )ue com ele ficariapara o resto da !ida.

    @aroline atira!a pei#es para o golfinho maior ( oenorme macho ao )ual chama!am Scarbac5 ( )uandoum le!e comich&o no pulso de Klo3d anunciou umachamada e#terna. @om um le!e tapinha na fita de

    metal, fina, ele calou o alarma silencioso, para e!itar oaud!el, e em seguida caminhou at: a mesa de comu-nica&o mais pr'#ima, dentre as espalhadas pela sala.

    ( )ui : o Leitor.

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    nica !e" tentara contat-lo desde sua sada deUashington. 7epois !eio a curiosidade o )ue teriameles )ue con!ersar >m seguida uma determina&oobstinada de ser o menos prestati!o poss!el, emseguida a !ergonha de sua pr'pria infantilidade, e, por

    fim, uma onda de al!oroo. O moti!o por )ue QitorBillson o chama!a s' poderia ser um.

    *a !o" mais neutra )ue conseguiu encontrar,Klo3d respondeu

    ( *&o posso me )uei#ar, Qitor. sse circuito : !edado( *&o, graas a 7eus. >u n&o preciso mais

    disso.

    ( h... bem, ent&o !ejamos !oc$ se lembra doltimo projeto )ue !oc$ administrou

    ( V impro!!el )ue eu me es)uea,principalmente por)ue o Subcomit$ de stronuticame chamou de no!o h apenas um m$s paraapresentar pro!as adicionais.

    ( @laro, claro. >u na !erdade tenho )ue dar umjeito de ler a sua declara&o, assim )ue ti!er uma fol-ga. Bas tenho andado muito ocupado com o

    acompanhamento, e esse : o problema.( ensei )ue tudo esti!esse em dia com a

    programa&o.

    ( >st... infeli"mente. *&o h nada )ue possa-mos fa"er para adiant-laA mesmo num es)uema dealtssima prioridade, a diferena seria apenas de umaspoucas semanas. 6 isso signi7ica que nos atrasaremos

    demais.& *&o compreendo ( Klo3d disse, ingenuamente.

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    ( Besmo )ue n&o )ueiramos, : claro, desperdiartempo, n&o h pra"o fi#ado.

    ( gora h. > doisT

    ( Qoc$ est me assustando.

    Se Qitor percebeu )ual)uer ironia, ignorou-a.

    ( V, s&o dois pra"os um )ue n's estipulamos, ooutro n&o. caba )ue j n&o seremos os primeiros a!oltar C... )uer di"er, C cena da a&o. *ossos !elhosri!ais !&o nos derrotar por no mnimo um ano.

    ( V uma pena.

    ( > isso n&o : o pior. Besmo )ue n&o hou!esseconcorr$ncia, chegaramos tarde demais. *&o ha!erianada por l )uando chegssemos.

    ( =sso : bobagem. >u com certe"a saberia se o@ongresso por acaso ti!esse rejeitado a lei dagra!ita&o.

    ( >stou falando s:rio. situa&o n&o : est!el...agora n&o posso dar detalhes. Qoc$ !ai ficar em casa oresto da noite

    ( Qou ( respondeu Klo3d, constatando, comum certo pra"er, )ue na)uele momento, em Uashing-ton, j passa!a da meia-noite.

    ( Ytimo. 7entro de uma hora lhe mando umdossi$. Be telefone de !olta assim )ue terminar deestud-lo.

    ( Bas n&o !ai ficar muito tarde

    ( Qai, !ai sim, mas j desperdiamos muitotempo. *&o )uero desperdiar mais.

    Billson cumpriu a pala!ra. Nma hora depois,e#atamente, um en!elope grande, lacrado, eraentregue a ele por nada menos )ue um coronel da

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    Kora :rea, )ue se sentou, paciente, con!ersandocom @aroline en)uanto Klo3d lia o contedo.

    ( Leceio )ue tenha )ue le!-lo de !olta )uando osenhor terminar ( disse, desculpando-se, o mensa-

    geiro de alta patente.( V bom saber disso ( respondeu Klo3d,

    acomodando-se em sua rede de leitura predileta.

    a!ia dois documentos. O primeiro bem curtoAe#ibia o carimbo S=?=GO PSOGNO, embora oPSOGNO esti!esse riscado, e a modifica&o,endossada por tr$s assinaturas, todas absolutamenteileg!eis. >#trato, ob!iamente, de um relat'rio muitomaior, esta!a bastante censurado e cheio de lacunas,o )ue o torna!a muito incFmodo de se ler. sconclus%es, feli"mente, poderiam ser resumidas emuma frase os russos chegariam ao Discovery bemantes )ue seus proprietrios de direito pudessem fa"$-lo. @omo Klo3d j soubesse disso, passou rapidamente

    ao segundo documento, n&o sem antes reparar,por:m, com satisfa&o, )ue desta !e" ha!iam acertadoo nome. @omo de costume, 7imitri fora absolutamentepreciso. pr'#ima e#pedi&o tripulada a +piter!iajaria a bordo da espaona!e 8osmonauta !le+eieonov.

    O segundo documento era muito maior, emeramente 0confidencial0A esta!a, na !erdade, naforma de uma minuta de carta C re!ista Science,aguardando apro!a&o final antes de ser publicada, eo ttulo, oportuno, era 0Qeculo >spacial Discovery:@omportamento Orbital nFmalo0.

    Seguiam-se, depois, umas do"e tbuas matemti-

    cas e astronFmicas. Klo3d folheou-as, tirando a letrada msica, e tentando detectar alguma nota dedesculpa ou mesmo de constrangimento. *ingu:m

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    poderia adi!inhar )ue as esta%es de rastreamento eos calculadores

    de efem:rides tinham sido tomados de surpresa,e )ue uma cobertura fren:tica esta!a em processo.

    @abeas rolariam, sem d!ida, e ele sabia )ue QtorBillson teria pra"er em fa"$-las rolar ( isto se a delen&o fosse a primeira. Bas, fa"endo-se justia a ele,)uando o @ongresso cortara as !erbas para a rede derastreamento, Qitor reclamara, e isto, tal!e", lhee!itasse a degola.

    ( Obrigado, @oronel ( disse Klo3d, ao terminar

    de folhear os documentos. ( arece os !elhos tempos,ter )ue ler documentos sigilosos. Se e#iste uma coisada )ual eu n'o sinto saudades, : disso.

    O @oronel, com cuidado, colocou o en!elope de!olta na pasta, e ati!ou os cadeados.

    ( O 7r. Billson gostaria )ue o senhor lhe

    telefonasse de !olta o mais bre!e poss!el.( >u sei, mas meu circuito n&o : !edado, e da)uia pouco eu !ou receber umas !isitas, e n&o !ou ser eu)ue !ou pegar o carro e ir at: o seu escrit'rio em ilos' para di"er )ue li dois documentos. 7iga a ele )ueeu os estudei meticulosamente e espero com interesse)ual)uer comunica&o adicional.

    areceu, por um instante, )ue o @oronel iadiscutir. ensando melhor, por:m, com uma despedidaformal, partiu irritado, noite adentro.

    (

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    @oronel prestar contas.

    ( >nt&o temos )ue desligar o !deo e fa"er unsrudos de festa. Bas, para ser franco, eu por en)uanton&o tenho mesmo nada a di"er.

    ( respeito de qu, se : )ue tenho permiss&o deperguntar.

    ( Sinto muito, meu bem. arece )ue o Discoveryest nos pregando umas peas. *'s pens!amos )uea na!e esta!a numa 'rbita est!el, mas ela tal!e"esteja C beira de uma colis&o.

    ( @om +piter( *&o, n&o. =sso : )uase imposs!el. PoMman

    dei#ou-a estacionada no ponto Gagrange interno, nalinha entre +piter e =o. > ela de!eria ter permanecidol, mais ou menos, mesmo )ue as perturba%es dasluas e#ternas a fi"essem !agar para frente e para trs.Bas o )ue est acontecendo agora : algo muito

    estranho, para o )ue n&o temos e#plica%escompletas. O Discovery est desli"ando com rapide"cada !e" maior na dire&o de =o, Cs !e"es acelerando,: !erdade, Cs !e"es at: mesmo andando de marcha Cr:. Se isso perdurar, !ai colidir dentro de dois ou tr$sanos.

    ( ensei )ue isso n&o pudesse ocorrer em

    astronomia. *&o acham )ue a mecEnica celeste : umaci$ncia e#ata V o )ue sempre nos di"iam, a n's,infeli"es bi'logos.

    ( uma ci$ncia e#ata, )uando tudo :considerado. Bas h coisas muito estranhasacontecendo em =o. Sem contar os !ulc%es, hdescargas el:tricas tremendas... e o campo magn:ticode +piter gira a cada de" horas. ortanto n&o : agra!ita&o a nica fora agindo contra oDiscovery3 de!amos ter pensado nisso antes...

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    muito antes.

    ( Pem, mas isso n&o : mais seu problema, e!oc$ de!eria agradecer por isso.

    0Seu problema0, a mesma e#press&o )ue 7imitri

    usara. > 7imitri ( !elha raposa espertaT ( o conheciah muito mais tempo )ue @aroline.

    al!e" n&o fosse seu problema, mas ainda era suaresponsabilidade. >mbora muita gente esti!esseen!ol!ida, no fim das contas fora ele )uem apro!araos planos para a Biss&o +piter, cuja e#ecu&osuper!isionara.

    Besmo na :poca, ti!era apreens%esA seus pontosde !ista de cientista ha!iam-se chocado com seusde!eres de burocrata. >le poderia ter faladoabertamente, e se oposto Cs diretri"es tacanhas daantiga administra&o, embora ainda n&o se ti!essecerte"a sobre at: )ue ponto elas teriam contribudo

    para o desastre.al!e" melhor fosse encerrar esse captulo de sua!ida, e centrar todos os seus pensamentos e energiasna no!a carreira. *o seu ntimo, por:m, sabia )ue istoera imposs!elA mesmo )ue 7imitri n&o ti!esse feitore!i!erem !elhas culpas, elas teriam !indo C tona porconta pr'pria.

    le tinhasangue nas m&os, e n&o sabia como limp-las.

    3. SAL 9000

    O 7r. Si!asubramanian @handrasegarampillai,@ate-drtico de @i$ncia dos @omputadores naNni!ersidade de =llinois, Nrbana, tamb:m carrega!a

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    uma sensa&o permanente de culpa, muito diferente,por:m, da de e3Mood Klo3d. + a)ueles alunos ecolegas )ue amide se punham a pensar se a)uelecientista bai#inho era mesmo humano n&o sesurpreenderiam em saber )ue ele jamais pensa!a nos

    astronautas mortos. O 7r. @handra lamenta!a apenasa perda do filho, o G 9;;;.

    Besmo depois de todos esses anos, de todas asinfind!eis re!is%es dos dados transmitidos peloDiscovery, ele n&o tinha certe"a do )ue sara errado.oderia somente formular teoriasA os dados de )ueprecisa!a esta!am congelados nos circuitos de al, lem cima entre +piter e =o.

    se)D$ncia de acontecimentos fora claramenteestabelecida, at: o momento da trag:diaA dali emdiante o @omandante PoMman preenchera algunsdetalhes a mais nas rpidas ocasi%es em )uerestabelecera contato. Saber, por:m, o que aconteceu,

    n&o e#plica!a o porqu.O primeiro sinal de apuro ocorrera em estgio

    a!anado da miss&o, )uando al informara a falhaiminente da unidade )ue mantinha a antena principaldo Discovery alinhada com a erra. Se a)uela fai#adirecional, de meio bilh&o de )uilFmetros, perdesse oal!o, a na!e ficaria cega, surda e muda.

    O pr'prio PoMman sara para restabelecer aunidade sob suspeita, )ue, )uando testada, para sur-presa geral, apresentou-se em perfeitas condi%es. Oscircuitos automticos de !erifica&o n&o conseguiramdescobrir nada de errado com ela. ampouco oconseguiu o g$meo de al, o SG 9;;;, a)ui na erra,)uando a informa&o foi transmitida para Nrbana.

    > al insistira na precis&o de seu diagn'stico, fa-"endo obser!a%es insistentes sobre 0erro humano0. >

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    fora de opini&o )ue a unidade de controle fosserecolocada na antena at: )ue finalmente apresentassedefeito, de modo a permitir a perfeita locali"a&o dafalha. *&o hou!e )uem le!antasse obje%es, pois aunidade, caso pifasse, poderia ser substituda em

    )uest&o de minutos.PoMman e oole, entretanto, n&o foram feli"esA os

    dois sentiam )ue algo esta!a errado, embora nem umnem outro conseguissem apontar o erro. 7urante me-ses, aceitaram al como o terceiro membro da)uelepe)ueno mundo, e dele conheciam todos os estadosde esprito. 7e repente, a bordo da na!e, a atmosferasofrer uma altera&o sutilA pairou no ar umasensa&o de tens&o.

    Sentindo-se um tanto traidores ( segundo infor-mou, mais tarde, ao @ontrole da Biss&o, um PoMmanperturbado (, os dois teros humanos da tripula&oha!iam discutido o )ue fa"er caso o colega esti!esse

    de fato com defeito. *a pior das hip'teses al teria)ue ser liberado de todas as suas responsabilidadesmaiores o )ue importaria o desligamento,e)ui!alente, para um computador, C morte.

    pesar das d!idas, le!aram adiante o programacombinado. oole sara do Discovery, numa daspe)ueninas cpsulas espaciais )ue ser!iam de

    transporte e de oficinas m'!eis durante as ati!idadese#tra!eiculares. + )ue o trabalho, algo intrincado, deremo!er a unidade da antena n&o poderia serreali"ado pelos manipuladores da cpsula, oolecomeara a reali"-lo ele mesmo.

    O )ue aconteceu ent&o as cEmeras e#ternas n&ocaptaram, um pormenor por si s' suspeitoso. O

    primeiro sinal de desastre foi, para PoMman, o grito deoole... depois, o sil$ncio. Nm instante depois, ele !iuoole girando de ponta-cabea, afastando-se no es-

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    pao. pr'pria cpsula o atropelara, e tamb:m sedesloca!a, afastando-se, incontrol!el.

    Segundo PoMman admitira posteriormente, elecometera, na)uele momento, erros s:rios... de todos,

    apenas um justific!el. *a esperana de sal!ar oole,caso ainda esti!esse !i!o, lanara-se ao espao emoutra cpsula espacial, dei#ando al com o controletotal da na!e.

    sada foi em !&oA )uando PoMman o alcanou,oole esta!a morto. >ntorpecido de desespero, le!ou ocorpo de !olta C na!e... s' )ue al recusara-lhe a

    entrada.al, por:m, subestimara a engenhosidade e

    determina&o humanas. >mbora tenha dei#ado ocapacete na na!e, e ti!esse assim )ue arriscar-se auma e#posi&o direta ao espao, PoMman forou apassagem por uma escotilha fora do controle docomputador. >m seguida, comeou a lobotomi"ar al,

    desligando nele, um a um, os m'dulos cerebrais.o recuperar o controle da na!e, PoMman

    descobrira algo aterrador. 7urante sua aus$ncia, aldesligara os sistemas de prote&o !ital dos tr$sastronautas em hiberna&o. PoMman esta!a s', comojamais outro homem, em toda a hist'ria humana,esti!era.

    Outros se teriam abandonado ao desespero,impotentes, mas PoMman, na ocasi&o, pro!ara )ue os)ue o ha!iam escolhido o ha!iam escolhido bem. >leconseguira manter o Discovery em funcionamento, eat: mesmo restabelecera um contato intermitente como @ontrole da Biss&o, orientando toda a na!e de modo

    a )ue a antena, emperrada, continuasse apontandopara a erra.

    O Discovery, continuando a trajet'ria pre!iamente

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    traada, chegara enfim a +piter, onde PoMmanencontrou, em 'rbita, entre as luas do planetagigante, uma placa negra e#atamente da mesmaforma )ue o monolito esca!ado na cratera lunar3cho... por:m centenas de !e"es maior. > numa

    cpsula espacial, sara para in!estigar, e desaparecera,dei#ando a)uela mensagem derradeira,desconcertante 0Beu 7eus, est cheio de estrelasT0

    @om aquele mist:rio, outros )ue sepreocupassemA a in)uieta&o a!assaladora do 7r.@handra era para com al. Se ha!ia alguma coisa )uesua mente n&o-emocional detesta!a, era a incerte"a.+amais se satisfaria antes de conhecer a causa docomportamento de al. Lecusa!a-se, mesmo agora, acham-la de defeitoA era, no m#imo, uma 0anomalia0.

    O pe)ueno cubculo )ue usa!a como aposentopri!ado, ntimo, esta!a e)uipado apenas com umacadeira girat'ria, um console de escri!aninha e um

    )uadro-negro flan)ueado por duas fotografias. 7entreo pblico em geral, poucos seriam os capa"es deidentificar os retratosA os )ue tinham permiss&o,entretanto, para tamanha apro#ima&o os teriamreconhecido imediatamente como +ohn !on *eumanne lan uring, os deuses g$meos do pante&o doscomputadores.

    *&o ha!ia li!ros, nem mesmo papel e lpis sobrea escri!aninha. odos os !olumes de todas asbibliotecas do mundo logo estariam, ao simples to)uedos seus dedos, C disposi&o de @handraA o !isor lheser!ia de caderno de esboos e de blocos deanota%es. t: mesmo o )uadro-negro era usadosomente para os !isitantesA sobre ele, o ltimo grupo

    de diagramas, meio apagado, esta!a datado de tr$ssemanas no passado.

    7r. @handra acendeu um dos charutos pestilentos

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    )ue importa!a de Badrasta, os )uais, di"ia a crenageral, e correta, eram seu nico !cio. O consolejamais era desligadoA depois de !er )ue nenhumamensagem lampeja!a importante na tela, 7r. @handrafalou ao microfone

    ( Pom dia, Sal. stados Nnidos )uanto emsua pr'pria terra natal. O sota)ue de Sal n&o eraassim no incio, mas, com o correr dos anos, pegaramuitas das entona%es de @handra.

    @om um ligeiro to)ue, o cientista acionou umc'digo no teclado, ligando as entradas da mem'ria deSal num n!el de segurana absoluta. *ingu:m sabia

    )ue ele con!ersa!a com o computador neste circuito,como jamais o conseguiria com )ual)uer ser humano.*&o importa )ue Sal na !erdade n&o entendesse al:mde uma fra&o do )ue ele di"iaA Sal tinha respostas t&ocon!incentes )ue at: mesmo seu criador Cs !e"es seiludia. ois assim ele )ueria )ue fosse estascomunica%es secretas ajuda!am a preser!ar-lhe oe)uilbrio mental... tal!e" at: mesmo a sanidade.

    ( Qoc$ sempre me disse, Sal, )ue n's n&o !amosconseguir resol!er o problema do comportamentoanFmalo de al sem maiores informa%es. Bas, comoconseguir estas informa%es

    ( =sso : 'b!io. lgu:m tem )ue !oltar aoDiscovery.

    ( >#atamente. > isso agora parece )ue !aiacontecer, mais cedo do )ue esper!amos.

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    ( Kolgo em sab$-lo.

    ( >u sabia )ue sim ( respondeu @handra, comsinceridade. muito ele cortara rela%es com a)uelegrupo definhante de fil'sofos )ue argumenta!a )ue os

    computadores na !erdade n&o sentiam emo%es, )ueapenas fingiam senti-las.

    I( Se o senhor me pro!ar )ue n'o est5 fingindoestar aborrecido ( rebatera ele certa !e", com sarcas-mo, a um desses crticos, ( eu o le!o a s:rio. (\)uela altura, o oponente !estira uma imita&o derai!a, das mais con!incentes.J

    ( gora eu )uero e#plorar uma outrapossibilidade ( continuou @handra. ( O diagn'stico :apenas o primeiro passo. O processo est incompletose n&o condu"ir C cura.

    ( O senhor acredita )ue o funcionamento normalde al pode ser restaurado

    ( 6spero )ue sim. *&o sei. V poss!el )ue tenhaha!ido dano irre!ers!el, e com certe"a uma perdaconsider!el de mem'ria.

    ensati!o, fe" uma pausa, tirou !rias baforadas,depois e#alou um hbil anel de fumaa, um tiro cer-teiro na lente grande angular de Sal, gesto )ue ne-nhum ser humano teria considerado amistoso mais

    uma das muitas !antagens dos computadores.( reciso de sua coopera&o, Sal.

    ( @laro, 7r. @handra.

    ( al!e" haja alguns riscos.

    ( @omo assim

    ( O )ue eu proponho : desligar alguns circuitosseus, principalmente os )ue t$m a !er com as suasfun%es maiores. =sto o incomoda

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    ( *&o posso responder sem informa%es maisespecficas.

    ( Buito bem. Qamos ficar assim !oc$ temoperado continuamente, n&o :, desde )ue foi ligado

    pela primeira !e"( >st correto.

    ( Bas !oc$ sabe )ue n's seres humanos n&o oconseguimos. *'s precisamos de sono... umainterrup&o )uase completa no nosso funcionamentomental, ao menos no n!el consciente.

    ( Sei disso, mas n&o compreendo.( Pem, tal!e" !oc$ esteja em !ias de e#perimen-

    tar algo parecido com o sono. O )ue pro!a!elmente!ai acontecer : )ue o tempo !ai passar sem !oc$saber.

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    respondeu

    ( >#istem !inte e cinco refer$ncias na enciclop:-dia corrente.

    ( ssa eu n&o conhecia. enteoutra.

    ( Nm pssaro fabuloso, renascido das cin"as desua !ida anterior.

    ( >#celente. Qoc$ compreende agora por )ueescolhi esse nome

    ( or)ue o senhor espera )ue al possa serreati!ado.

    ( =sso... e com a sua assist$ncia. Qoc$ estpronto

    ( inda n&o. >u gostaria de fa"er uma pergunta.( u !ou sonhar

    ( @laro )ue !ai. odas as criaturas inteligentessonham... mas ningu:m sabe por )u$. ( @handra,por um instante, fe" uma pausa, e#alou outro anel de

    fumaa do charuto, e acrescentou algo )ue, peranteum ser humano, jamais admitiria ( al!e" sonhecom al, como costuma acontecer comigo.

    4. erfil da !iss"o

    Verso Inglesa

    ara @apit& an3a Orlo!, @omandante, >spaona!e

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    @osmonauta le#ei Geono! ILegistro @O>*N ;8^R4HJ

    7e @onselho *acional de stronutica, enns3l!ania!enue, Uashington

    @omiss&o do >spao >#terior, cademia de @i$ncias da

    NLSS, rospeto orol3e!, Boscou

    Objetivos da Misso

    Os objeti!os de sua miss&o s&o, em ordem deprioridade

    1. Seguir para o sistema jo!iano e chegar C>spaona!e 7isco!er3, dos >stados Nnidos I@O>*N;1^H8RJ.

    H. bordar esta espaona!e, e obter toda informa&oposs!el relacionada com sua miss&o anterior.

    R. Leati!ar os sistemas de bordo da >spaona!e

    7isco!er3 e, caso os esto)ues para propuls&o sejamsuficientes, introdu"ir a na!e numa trajet'ria deretorno C erra.

    4. Gocali"ar o artefato estranho encontrado pelo7isco!er3, e in!estig-lo ao m#imo poss!el pormeio de sensores remotos.

    . @aso parea aconselh!el, e o @ontrole da Biss&oconcorde, ir ao encontro deste objeto para inspe&omais minuciosa.

    6. 7esen!ol!er uma pes)uisa de +piter e seussat:lites, se isto for compat!el com os objeti!osacima.

    >st claro )ue circunstEncias impre!is!eis tal!e"re)ueiram uma mudana de prioridades, ou tal!e" at:

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    mesmo impossibilitem a consecu&o de alguns destesobjeti!os. 7e!e ser entendido, com clare"a, )ue oencontro com a >spaona!e 7isco!er3 : para oprop'sito e#presso de obter informa&o sobre oartefatoA isto de!e ter preced$ncia sobre todos os

    outros objeti!os, inclusi!e sobre as tentati!as desal!amento.

    Tripulao

    tripula&o da >spaona!e le#ei Geono! consistirem

    @apit& an3a Orlo! I>ngenharia de ropuls&oJ 7r.Qasili Orlo! Istronomia de *a!ega&oJ 7r. Ba#imPrailo!s5i I>ngenharia de >struturasJ 7r. le#andero!ale! I>ngenharia de @omunica%esJ 7r. *i5olaierno!s5i I>ngenharia de @ontrole de

    SistemasJ B:dica-@omandante aterina Luden5oIrote&o

    B:dica QitalJ 7ra. =rina Wa5unin I*utricionistaJ

    l:m destes, o @onselho *acional de stronuticados >stados Nnidos fornecer os tr$s especialistas

    seguintes ...

    O 7r. e3Mood Klo3d dei#ou cair o memorando erecostou-se na cadeira. >sta!a tudo pro!idenciadoA oponto sem retorno fora ultrapassado. Besmo )uedesejasse fa"$-lo, n&o ha!ia meios de atrasar o

    rel'gio.7o outro lado, fitou @aroline, sentada com @hris,

    de dois anos, na beira da piscina. O guri sentia-se

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    muito mais C !ontade n/gua do )ue em terraA econseguia permanecer submerso por perodos )uefre)Dentemente aterrori"a!am as !isitas. > emboraainda n&o falasse muito o humano, j parecia fluenteem golfinho.

    Nm dos amigos de @hristopher acabara de chegar,nadando, do acfico, e agora apresenta!a as costaspara serem acariciadas. Qoc$ tamb:m : um!agamundos, pensou Klo3d, num oceano !asto e sempistasA mas como parece pe)uenino o seu acficodiante da imensid&o com )ue me deparoT

    @aroline percebeu o olhar, e le!antou-se. Kitou-osoturna, mas sem rai!aA toda a ira j fora )ueimadanos ltimos dias. pro#imando-se, ainda deu umsorriso ansiado.

    ( >ncontrei a)uele poema )ue eu esta!aprocurando ( disse ela. ( @omea assim

    0O )ue : a mulher )ue abandonais,

    > a lareira, as terras de !ossa casa,

    ara trilhardes o !elho Qiu!eiro cin"ento0

    I0Uhat is a Moman that 3ou forsa5e her,

    nd the hearth-fire and the home acre,

    o go Mith the old gre3 UidoM-ma5er0J

    ( Sinto muito, mas n&o compreendi bem.

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    Klo3d segurou a m&o da esposaA ela n&ocorrespondeu, mas tampouco resistiu.

    ( Pem, n&o me sinto em nada parecido comum !i5ing. *&o estou procurando despojos e a ltima

    coisa )ue )uero : a!entura.( >nt&opor que... n&o, n&o )uero comear outra

    briga. Bas iria ajudar-nos a ambos se !oc$ conhecessee#atamente os seus moti!os.

    ( >u gostaria de poder oferecer-lhe um bommoti!o. Bas tenho !rios, e todos menores, e )ue sesomam numa resposta definiti!a )ue n&o consigocontrariar... acredite-me.

    ( 6u acredito em !oc$, mas !oc$ tem certe"a de)ue n&o est enganando a si mesmo

    ( Se eu esti!er me enganando, ent&o muitagente tamb:m est. =nclusi!e, de!o lembrar-lhe, oresidente dos >stados Nnidos.

    ( V impro!!el )ue eu me es)uea disso. Bassuponha... s' por suposi&o... )ue ele n&o o tivessepedido a !oc$. Qoc$ teria se oferecido como!oluntrio

    ( =sso eu posso responder com fran)ue"a n&o.+amais me ocorreria fa"$-lo. O telefonema do resi-

    dente Bordecai foi o maior susto da minha !ida. Bas,)uando refleti, percebi )ue ele tinha toda ra"&o. Qoc$sabe )ue eu n&o sou de falsa mod:stia. Sou o maisapto para esta tarefa,... )uando !ier a apro!a&o finaldos m:dicos espaciais. Qoc$ de!eria saber )ue euainda estou em 'tima forma.

    )uilo trou#e o sorriso )ue ele procura!a.

    ( \s !e"es eu fico pensando se n&o foi !oc$mesmo )uem se insinuou.

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    O pensamento de fato ocorrera a eleAmesmo assim, respondeu com fran)ue"a

    ( >u n&o o teria feito sem consult-la.

    ( > fe" bem em n&o me consultar. >u n&o sei o

    )ue eu teria dito.( >u ainda posso desistir.

    ( Ora, agora !oc$ est falando bobagens, e sabedisso. Se desistisse, me odiaria para o resto da !ida, ejamais se perdoaria. O seu sentido do de!er : muitoforte, e tal!e" seja esse um dos moti!os por )ue me

    casei com !oc$.7e!erT @laro, era essa a pala!ra-cha!e, e )ue

    profus&o continha. >le tinha um de!er para consigomesmo, com a famlia, a Nni!ersidade, o antigoemprego Iembora o ti!esse dei#ado num climanebulosoJ, o pas... e a raa humana. *&o era fcilestabelecer as prioridades, )ue Cs !e"es se choca!am

    umas com as outras.a!ia moti!os perfeitamente l'gicos para ele

    seguir na miss&o ( e moti!os tamb:m l'gicos,segundo j ha!iam apontado muitos de seus colegas,para n&o ir. al!e", no fim das contas, por:m, ocora&o, e n&o o c:rebro, tenha feito a escolha. >mesmo ent&o a emo&o o lanara em duas dire%es

    opostas. curiosidade, a culpa, a determina&o de

    terminar uma tarefa mal concluda ( todos secombinaram para impulsion-lo rumo a +piter e ao)ue )uer )ue l esti!esse esperando por ele. 7e outrolado, o medo ( ele era bastante franco para admiti-lo( uniu-se ao amor pela famlia para mant$-lo naerra. Bas em momento algum ele fora tomado pord!idas concretasA a decis&o, tomara-a )uaseinstantaneamente, e dobrara todos os argumentos de

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    @aroline com a maior brandura poss!el.

    > ha!ia um outro pensamento reconfortante )ueele ainda n&o arriscara compartilhar com a esposa.>mbora ele fosse ficar fora dois anos e meio, todos os

    dias, e#ceto os cin)Denta dias em +piter, ele ospassaria em hiberna&o atemporal. le teria sacrificado o presente para )ue os doispudessem go"ar um futuro mais longo juntos.

    #. Leonov

    Os meses contraram-se em semanas, assemanas minguaram em dias, os dias definharam emhoras, e e3Mood Klo3d esta!a de no!o, de repente,no @abo, rumo ao espao, pela primeira !e" desde

    a)uela !iagem C Pase @la!ius e ao monolito de yc*o,h tantos anos.

    7esta !e", por:m, n&o esta!a s', e n&o ha!iasigilo sobre a miss&o. lguns assentos C frente !iaja!ao 7r. @handra, j engajado em um dilogo com seucomputador-!alise, e bastante ausente dascircunjac$ncias.

    Nma das di!ers%es secretas de Klo3d. )ue jamaisconfidenciara a algu:m, era identificar semelhanasentre os seres humanos e os animais, semelhanasmais fre)Dentemente lisonjeiras )ue insultuosasA umpassatempo inocente )ue ser!ia ainda de au#lio til Cmem'ria.

    7r. @handra foi fcil o adjeti!o 0passarinhesco0logo saltou-lhe C menteA era pe)ueno, delicado, e osmo!imentos eram l:pidos e precisos. Bas )ue

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    pssaro Nm pssaro, ob!iamente, muito inteligente.?ralha Buito empertigada e rapace. @oruja *&o,muito lenta no andar. al!e"pardal casse bem.

    Ualter @urnoM, o especialista de sistemas cuja

    rdua tarefa seria a de colocar o Discovery de no!o emfuncionamento, era )uest&o mais difcil. >ra um ho-mem grande, corpulento, com certe"a nada passari-nhesco, e para )uem, normalmente, se poderiaencontrar um e)ui!alente nalgum ponto do !astoespectro dos c&es. Bas nenhum canino pareciaajustar-se, pois @urnoM, claroT, era um ursoA n&o dog$nero mal-encarado, perigoso, mas sim do tipo d'cile amistoso, e )ue !inha a calhar, pois lembra!a aKlo3d dos colegas russos aos )uais em bre!e iriajuntar-se, e )ue j h dias, engajados nas !erifica%esfinais, esta!am em 'rbita.

    V este o grande momento de minha !ida, Klo3ddisse consigo mesmo. arto agora numa miss&o )ue

    tal!e" determine o futuro da raa *umana. Sem sentir,por:m, )ual)uer sentimento de e#ulta&o, tudo o )ueele conseguia pensar, nos ltimos minutos dacontagem regressi!a, eram as pala!ras )ue sussurrarapouco antes de sair de casa 0deus, meu )ueridofilhinhoA !oc$ !ai se lembrar de mim )uando eu!oltar0 > ainda se sentia magoado com @aroline, por

    ela n&o ter acordado o filho, adormecido, para umltimo beijoA mas ele sabia, apesar disso, )ue ela agiracom sabedoria, e )ue fora melhor assim.

    )uele estado de esprito, abalou-o umagargalhada e#plosi!a e sbita. O 7r. @urnoMcompartilha!a uma piada com os companheiros, bemcomo uma garrafa enorme )ue manusea!a com a

    mesma delicade"a de!ida a uma massa de plutFnio)uando abai#o do ponto crtico.

    ( >i, e3Mood ( chamou ele (, est&o me

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    di"endo )ue a 8apita Orlo! guardou todas as bebidas,portanto esta : a sua ltima chance. @hEteau hierr3199. n)uanto sor!ia a champanha, realmente

    soberba, Klo3d descobriu-se mentalmente acuado s'em pensar na gargalhada de @urnoM re!erberando portoda a tra!essia do Sistema Solar. or mais )ueadmirasse a capacidade do engenheiro, @urnoM, comocompanheiro de !iagem, tal!e" se compro!asse umcerto incFmodo. elo menos o 7r. @handra n&oapresentaria tais problemasA Klo3d mal conseguiaimagin-lo sorrindo, muito menos rindo. >, : claro, elerecusara a champanha com um arrepio )uaseimpercept!el. @urnoM te!e a educa&o, ou a alegriade n&o insistir.

    O engenheiro, ao )ue parecia, esta!a decidido aser o corpo e a alma da festa. rodu"iu, minutos de-pois, um teclado eletrFnico, de duas oita!as, e

    ofereceu rpidas apresenta%es de 0Qoc$ conhece +ohneel0, imitando interpreta%es sucessi!as de piano,trombone, !iolino, flauta e 'rg&o, comacompanhamento !ocal. >le toca!a bem, e Klo3d logopercebeu-se cantando com os demais. Bas tamb:mn&o seria nada mau, pensou, )ue @urnoM passasse amaior parte da !iagem em silenciosa hiberna&o.

    msica feneceu com uma dissonEncia sbita,desesperadora, )uando os motores foram ligados e ana!e lanou-se aos c:us. Klo3d foi tomado de umaalegria sua conhecida, mas sempre no!a a sensa&ode poder ilimitado, le!ando-o para o alto, para longedos cuidados e dos de!eres da erra. Os homensesta!am mais certos do )ue pensa!am )uando

    imaginaram a moradia dos deuses fora do alcance dagra!idade. >le agora !oa!a rumo C)uele domnio deaus$ncia de pesoA por ora ignoraria o fato de )ue l

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    fora n&o esta!a a liberdade, mas a maiorresponsabilidade de sua carreira.

    @om o aumento do empu#o, sentiu sobre osombros o peso dos mundosA mas acolheu-o de bom

    grado, )ual um tlas ainda n&o cansado de seu fardo.*&o tentou pensarA esta!a, sim, contente em saboreara e#peri$ncia. Besmo )ue esti!esse dei#ando a errapela ltima !e", di"endo adeus a todos )ue sempreamara, n&o sentia triste"a. O rugido )ue o circunda!aera um pe& de triunfo, le!ando embora todas asemo%es menores.

    @essado o rudo, )uase entristeceu, masauspicioso acolheu a respira&o mais le!e e a sensa&osbita de liberdade. maior parte dos passageiroscomeou a soltar os cintos de segurana, preparando-se para go"ar os trinta minutos de gra!idade "ero na'rbita de transfer$nciaA os poucos, por:m, )ueob!iamente fa"iam a !iagem pela primeira !e"

    permaneceram nos assentos, procurando ansiosos, aoredor, os assistentes da cabine.

    ( Kala a 8apita. >stamos agora a uma altitude detre"entos )uilFmetros, nos apro#imando da costaocidental da _frica. Qoc$s n&o !&o !er muita coisa,pois : noite l embai#o... a)uele brilho ali adiante :Sierra Geone... e h uma forte tempestade tropical de-

    sabando sobre o ?olfo de ?uin:. Olhem os relEmpa-gosT... >m )uin"e minutos teremos o nascente.>n)uanto isso !ou manobrando a na!e para !oc$spoderem !er bem o cintur&o e)uatorial de sat:lites. Omais brilhante, praticamente em cima de n's, : oosto de ntenas tlantic-1, do =ntelsat. 7epois, aoeste, o =ntercosmos-H... a)uela estrela mais apagada

    : +piter. > embai#o dela, )uem olhar !er uma lu"intermitente, mo!endo-se contra o fundo estrelado :a no!a esta&o espacial chinesa. assaremos a cem

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    )uilFmetros dela, uma pro#imidade )ue n&o nospermite !er )ual)uer coisa a olho nu...

    O )ue pretendiam eles, pensou Klo3d, indolente.>le e#aminara os closes da)uela estrutura cilndrica

    achaparrada, com a)ueles curiosos bojos de prote&o,e n&o !ira moti!os para acreditar nos boatosalarmistas de )ue se trata!a de uma fortale"ae)uipada com laser. Bas j )ue a cademia de@i$ncias de Peijing ignora!a os insistentes pedidos da@omiss&o >spacial das *a%es Nnidas para uma !isitade inspe&o, os chineses eram os nicos culpados poressa propaganda hostil.

    O 8osmonauta !le+ei eonov n&o era uma peade bele"aA mas poucas na!es espaciais o eram. Nm diatal!e" a raa *umana desen!ol!esse uma no!aest:ticaA tal!e" nascessem gera%es de artistas cujosideais n&o se baseassem nas formas naturais da erra,

    moldadas pelo !ento e pela gua. O espao era, por sis', um domnio de uma bele"a amide irresist!el, como )ual, infeli"mente, as ferramentas do omem aindan&o con!i!iam.

    Sem contar os )uatro tan)ues de propuls&o,imensos, )ue seriam ejetados assim )ue se alcanassea 'rbita de transfer$ncia, o eonov erasurpreendentemente pe)ueno. 7esde a couraaanticalor at: as unidades de propuls&o ha!ia menos decin)Denta metrosA era difcil de se acreditar )ue!eculo t&o modesto, menor )ue muitas aerona!escomerciais, fosse capa" de transportar de" homens emulheres at: o meio do Sistema Solar.

    gra!idade "ero, por:m, )ue fa"ia paredes, tetoe soalho permutarem-se entre si, reescre!ia todas asleis da !ida. a!ia muito espao a bordo do eonov

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    mesmo )uando esta!am acordados ao mesmo tempo,com certe"a o caso no momento. > a lota&o normalda na!e esta!a no mnimo duplicada, na !erdade, comos mais !ariados homens de imprensa, comengenheiros fa"endo ajustes finais e funcionrios

    ansiosos.ssim )ue a na!e atracou, Klo3d tentou encontrar

    a cabine )ue iria compartilhar ( da a um ano, )uandoacordasse ( com @urnoM e @handra. u sou Ba#

    Prailo!s5i, engenheiro-assistente.O jo!em russo fala!a a)uele ingl$s lento e

    cuidadoso de um aluno )ue ti!era muito mais aulascom um

    preceptor eletrFnico do )ue com um professorhumano. o trocarem um aperto de m&os, Klo3didentificou a)uele rosto, a)uele nome, com o conjunto,)ue j estudara, das biografias dos tripulantes Ba#imndrei Prailo!s5i, trinta e um anos de idade, nascidoem Geningrado, especiali"ando-se em estruturasApassatempos esgrima, asa delta, #adre".

    ( >stou contente em conhec$-lo ( disse Klo3d.( @omo consigo entrar a

    ( *&o se preocupe ( disse Ba#, alentador. (udo isso j n&o estar mais a )uando !oc$ acordar.S&o... como : )ue !oc$s di"em... para consumo.

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    mbora lesse russo muitomelhor do )ue o falasse, Klo3d apreciou o gestoA jreparara )ue todos os a!isos na na!e eram bilngDes.

    @om a batida de Ba#, uma lu" !erde piscou,acendendo, e Klo3d desli"ou, entrando, com toda agraciosidade )ue conseguiu. >mbora j ti!esse

    con!ersado com a @apit& Orlo! di!ersas !e"es, jamaisha!iam sido apresentados um ao outro. e!e,portanto, duas surpresas.

    =mposs!el julgar o tamanho real de uma pessoaatra!:s do fone !isualA a cEmera, de algum modo,con!ertia todos C mesma escala. @apita Orlo!, de p:( da melhor maneira )ue algu:m consegue ficar de p:

    na gra!idade "ero (, mal chega!a aos ombros deKlo3d. O fone !isual tamb:m n&o conseguiu de modoalgum transmitir a )ualidade penetrante da)ueles

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    olhos a"uis, ofuscantes, a caracterstica mais marcanteda)uele rosto )ue, no momento, )uanto ao aspectobele"a, n&o poderia ser julgado com justia.

    ( Ol, an3a ( falou Klo3d. ( : um pra"er t$-lo a bordo, e3MoodT (respondeu a capit&, num ingl$s, ao contrrio do dePrailo!s5i, bem fluente, embora com forte sota)ue. (V, eu senti muito perd$-losA mas cabelos s&o umincFmodo em miss%es longas, e eu )uero me afastar om#imo poss!el dos barbeiros locais. > peodesculpas por sua cabineA como Ba# j de!e tere#plicado, n's descobrimos subitamente )ueprecis!amos de mais uns de" metros cbicos paraarma"enagem. Qasili e eu n&o !amos passar muitotempo a)ui nas pr'#imas horasA por fa!or sinta-se C

    !ontade, use os nossos aposentos.( Obrigado. > )uanto a @urnoM e @handra

    ( omei pro!id$ncias semelhantes junto Ctripula&o. ode parecer )ue estamos tratando !oc$scomo bagagem...

    ( 7esnecessria durante a !iagem.

    ( @omo

    ( V um r'tulo )ue costuma!am colocar nabagagem, nos !elhos dias das !iagens oceEnicas.

    an3a sorriu

    ( ois parece isso mesmo. Bas !oc$s ser&o

    necessrios sem d!ida, no fim da !iagem. *'s jestamos planejando sua festa de renascimento.

    ( =sso me parece religioso demais. @hame-a...

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    n&o, ressurrei&o seria muito piorT... chame-a festa dodespertar. Bas estou !endo )ue !oc$ est muitoocupadaA !ou dei#ar minhas coisas a)ui e continuarminha e#curs&o.

    ( Ba# !ai lhe mostrar as instala%es... le!e o7r. Klo3d ao encontro de Qasili, est bem >le est naunidade de propuls&o.

    o dei#arem, desli"ando, os aposentos da capit&,Klo3d, mentalmente, atribuiu boas notas C comiss&ode sele&o da tripula&o. Se an3a Orlo! j eraimpressionante no papel, em carne e osso )uase

    intimida!a, apesar do charme. Kico a pensar comoser ela, Klo3d perguntou a si mesmo, )uando perde acalma. Seria fogo Seria gelo *o geral, melhor n&o)uerer descobrir.

    Klo3d ia, com rapide", con)uistando suas pernasespaciaisA )uando encontraram Qasili Orlo!, jmanobra!a )uase com a mesma confiana )ue seu

    guia. O cientista-chefe saudou Klo3d com o mesmocalor com )ue o fi"era a esposa.

    ( Pem-!indo a bordo, e3Mood. @omo !oc$ estse sentindo

    ( Pem, s' )ue estou morrendo aos poucos defome.

    or um instante, Orlo! pareceu intrigado, mas orosto, em seguida, fendeu-se num sorriso largo.

    ( h, eu ha!ia me es)uecido. Pem, n&o ser pormuito tempo. 7a)ui a de" meses, !oc$ !ai podercomer o )uanto )uiser.

    @om uma semana de anteced$ncia, )uem fosse

    hibernar se submetia a uma dieta de bai#os resduosAnas ltimas !inte e )uatro horas, s' toma!am l)uidos.Klo3d comea!a a imaginar o )uanto da le!e"a )ue

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    sentia na cabea era de!ido C fome, C champanha de@urnoM e C gra!idade "ero.

    ara concentrar a mente, es)uadrinhou a massamulticor do encanamento circunjacente.

    ( >nt&o esta : a famosa ropuls&o Sa5haro!. V aprimeira !e" )ue !ejo uma unidade completa.

    ( > : s' a )uarta unidade j construda.

    ( >spero )ue funcione.

    ( V melhor )ue funcione mesmo. Sen&o, a@Emara de ?or5i !ai mais uma !e" mudar o nome da

    raa Sa5haro!.Sinal dos tempos um russo pilheriar, mesmo )ue

    indiretamente, sobre o tratamento )ue o pas conce-dera ao seu maior cientista. Klo3d mais uma !e" lem-brou-se do elo)Dente discurso de Sa5haro! perante academia )uando foi, t&o tardiamente, declarado e-r'i da Nni&o So!i:tica. pris&o e o e#lio, ele disseraaos ou!intes, eram espl$ndidos au#lios C criati!idadeAn&o foram poucas as obras-primas nascidas entreparedes de celas, fora do alcance das distra%esmundanas. lis, a maior con)uista indi!idual dointelecto humano, os pr'prios ;rincipia, foi um produtodo e#lio auto-imposto por *eMton para fugir deGondres, tomada de epidemias.

    compara&o n&o era imodestaA da)ueles anosem ?or5i ha!iam surgido no!os !islumbres sobre aestrutura da mat:ria e a origem do Nni!erso, etamb:m sobre os conceitos de controle de plasma )uecondu"iram C energia termonuclear prtica. propuls&o em si, embora o resultado mais conhecido emais di!ulgado da)uele trabalho, n&o passou de umsubproduto de uma surpreendente e#plos&ointelectual. trag:dia era )ue tais a!anos ha!iamsido detonados pela injustiaA )uem sabe um dia a

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    humanidade n&o descobriria meios mais ci!ili"ados degerir suas )uest%es

    nt&o, ei-lo finalmente, 7r. Klo3d (disse uma !o" feminina, autoritria, interrompendo a

    e#plica&o entusiasmada de Qasili sobre aalimenta&o magneto-hidrodinEmica. ( or )ue osenhor n&o se apresentou a mim

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    Klo3d, de!agar, girou sobre seu ei#o, contorcendo-se sua!emente com o au#lio de uma das m&os. Qiuuma figura macia, maternal, trajando um curiosouniforme adornado com de"enas de bolsos ealgibeirasA o efeito n&o era dessemelhante ao de um

    soldado cossaco colgado com cartucheiras.( ra"er em re!$-la, 7outora. inda estou

    sondando... espero )ue a senhora tenha recebido meurelat'rio m:dico de ouston.

    ( Ora, na)ueles !eterinrios do eague eu n&oconfiaria nem para identificar uma febre aftosaT

    Klo3d conhecia muito bem o respeito mtuo entreaterina Luden5o e o @entro B:dico Olin eague,mesmo )ue o sorriso largo n&o lhe ti!esse descontadoas pala!ras. >la !iu nele o olhar de franca curiosidade,e com orgulho dedilhou a malha ao redor da !astacintura.

    ( sacolinha preta con!encional n&o : muitoprtica na gra!idade "eroA ela dei#a escapar osobjetos, )ue saem flutuando, e, )uando !oc$ precisadeles, n&o est&o no lugar. >u mesma desenhei isto. Vuma minicirurgia completa. @om isso posso e#trair umap$ndice, ou fa"er um parto.

    ( >u espero )ue esse ltimo problema n&o

    acontea por a)ui.( Ora, um bom m:dico tem )ue estar preparado

    para tudo.

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    )uadro. *&o se iluda com isso, Klo3d disse consigomesmo. Koi essa mulher )ue sal!ou no mnimo umasde" !idas durante o acidente de atraca&o dole n&o )uis tir-loA alis,para falar a !erdade, ele : muito tmido... n&o )uistirar nada.

    Klo3d n&o pFde conter o sorrisoA era fcil imaginaras rea%es da)uele modesto indiano a essa senhora

    bastante a!assaladora.( V um linga.

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    ( Nm )u$

    ( ! sen*ora a m:dica, de!eria reconhec$-lo osmbolo da fertilidade masculina.

    ( @laro... como sou bobaT >`e : um hindu

    praticante V um pouco tarde para nos pedir )uearrumemos uma dieta !egetariana rigorosa.

    ( *&o se preocupe. *&o faramos isso com asenhora sem a justa anteced$ncia. >mbora ele n&oto)ue em lcool, @handra n&o : fantico por nada,e#ceto por computadores. @erta !e" ele me disse )ueo pai era sacerdote em Penares, e deu a ele o tallinga... j fa" gera%es )ue est com a famlia.

    > Klo3d surpreendeu-se, pois a 7ra. Luden5o n&ote!e a rea&o negati!a )ue ele espera!aA a e#press&otornou-se, de maneira nada caracterstica, nostlgica.

    ( >u compreendo esse sentimentoA minha a!'me deu um belssimo cone... do s:culo ZQ=. >u )ueria

    tra"$-lo... mas ele pesa cinco )uilos. doutora, retomando abruptamente o aspecto

    profissional, aplicou em Klo3d uma inje&o indolor,subcutEnea, com uma pistola a gs, e disse a ele )ue!oltasse assim )ue se sentisse sonolento. O )ue,assegurou ela, aconteceria em menos de duas horas.

    ( >n)uanto isso, rela#e completamente (ordenou. ( uma escotilha de obser!a&o nestaplataforma, a >sta&o 7-6. or )ue o senhor n&o !aiat: l

    id:ia pareceu boa, e Klo3d saiu, desli"ando comtal docilidade )ue seus amigos se teriam surpreendido. 7ra. Luden5o olhou o rel'gio, ditou um aponta-

    mento para a secretria automtica, e nela ajustou oalarme para trinta minutos depois.

    o chegar ao mirante 7-6, Klo3d encontrou

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    @handra e @urnoM. Os dois fitaram-no sem )ual)uerdemonstra&o de reconhecimento, e !iraram-se deno!o para o medonho espetculo e#posto l fora.Ocorreu a Klo3d, e ele congratulou-se pela brilhanteobser!a&o, )ue @handra n&o poderia estar gostando

    da)uela !ista, pois tinha os olhos fechados, apertados.li fora esta!a um planeta inteiramente

    desconhecido, relu"indo em a"uis gloriosos e brancosofuscantes.

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    Qo"es murmura!am, brandas demais para )uecompreendesse o )ue di"iam. >le!ando-se agora,mesmo assim n&o conseguiu identific-las.

    ( @laro ( disse ele, em sbito espanto (, eu

    n&o posso estar sonhando em russo.( *&o, e3Mood ( respondeu uma !o" feminina.

    ( Qoc$ n&o est sonhando. V hora de se le!antar.

    O ador!el clar&o des!aneceuA ele abriu os olhose notou a lu" ene!oada de uma lanterna des!iar-se deseu rosto. >sta!a deitado num di!&, preso a ele poruma fai#a elsticaA ao redor, ha!ia figuras de p:,inidentific!eis de t&o fora de foco.

    7edos sua!es cerraram-lhe as plpebras e massa-gearam-lhe a testa.

    ( *&o se me#a. Lespire fundo... mais uma !e"...assim... como se sente agora

    ( *&o sei... estranho... com a cabea le!e... e7aminto.

    ( Pom sinal. Qoc$ sabe onde est gora podeabrir os olhos.

    s figuras entraram em focoA primeiro a 7ra.Luden5o, depois a @apita Orlo!. Bas algo acontecera aan3a desde )ue a !ira, h apenas uma hora atrs.

    spero )ue !oc$ ache )ue ficou melhor assim.+ eu n&o posso di"er o mesmo de sua barba.

    Klo3d le!ou a m&o ao rosto, e descobriu )ue, para

    planejar cada estgio do mo!imento, era forado a umesforo consciente. O )uei#o esta!a coberto de p$losespetados, rentes... barba de dois ou tr$s dias. Os

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    cabelos, durante a hiberna&o, cresciam a apenas umd:cimo da ta#a normal.

    ( st tudo em ordem com a na!e, e est tudo correndonormalmente. V )ue os seus amigos em Uashingtonnos pediram para acord-lo antes. conteceu algumacoisa muito inesperada. >stamos numa corrida rumoao Discovery, e eu receio )ue !amos perder.

    ). $sien

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    acreditarA chega, por um lado, a nem fa"er sentido. Vimposs?vel )ue eles tenham combust!el suficientepara regressar em segurana C erraA nem sabemosde )ue maneira !&o fa"er a abordagem... >mmomento algum n's os !imos, : claro. Besmo no

    ponto mais pr'#imo, o sien esta!a a mais decin)Denta milh%es de )uilFmetros de distEncia.i!eram tempo suficiente para, se )uisessem,responder aos nossos sinais, mas nos ignoraraminteiramente. gora de!em estar muito ocupados paratra!ar )ual)uer bate-papo amistoso. >m poucas horas!&o chegar C atmosfera de +piter, e ent&o !eremos se

    o sistema de aerofreamento deles funciona. Sefuncionar, ser bom para o nosso moral, mas, sefalhar... bem, : melhor nem falar nisso... Os russos,le!ando em conta a situa&o, est&o suportando muitobem a coisa. >st&o, : claro, "angados edecepcionados, mas tenho escutado e#press%es defranca admira&o. Koi um tru)ue brilhante, com

    certe"a, construir a)uela na!e C !ista de todos edei#ar )ue todos pensassem )ue fosse uma esta&oespacial at: encai#arem os propulsores... Pem, n&o hnada )ue possamos fa"er, a n&o ser obser!ar. >, CdistEncia )ue estamos, nossa !is&o n&o ser muitomelhor do )ue os melhores telesc'pios da. =mposs!eln&o desejar )ue tenham sorte, embora, : claro, eu

    espere )ue dei#em o Discovery em pa". V propriedadenossa, e aposto )ue o 7epartamento de >stado, acada hora )ue passa, n&o pra de lembr-los disso...Os !entos est&o desfa!or!eisA se os nossos amigoschineses n&o nos ti!essem apontado a arma, !oc$ s'teria notcias minhas da)ui a um m$s. Bas agora )uea 7ra. Luden5o me acordou, !ou falar com !oc$ a

    cada dois dias... 7epois do cho)ue inicial, estou meadaptando bem, conhecendo a na!e, a tripula&o,con)uistando minhas pernas espaciais. > aprimorando

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    o russo bem ruim )ue falo, embora n&o tenha muitaoportunidade de us-loA todos insistem em falaringl$s. *'s norte-americanos somos mesmo unslingDistas horr!eisT \s !e"es sinto !ergonha do nossochau!inismo, ou de nossa preguia... O n!el do ingl$s

    de bordo !aria do perfeito absoluto ( o >ngenheiro-@hefe, Sacha o!ale! poderia ganhar a !ida comolocutor da PP@ ( C)uela !ariedade do tipo 0falandobem depressa os erros n&o importam0. O nico )uen&o fala fluentemente : enia Bartchen5o, )uesubstituiu =rina Wa5unin C ltima hora. Kicou contente,alis, em saber )ue =rina se recuperou. 7e!e ter sido

    uma grande decep&o. Ser )ue ela ainda !ai )uerercontinuar !oando com a)uelas asas ... >, por falar emacidentes, : 'b!io )ue o de enia de!e ter sidotamb:m muito gra!e. Os cirurgi%es plsticos fi"eramum trabalho not!el, mas pode-se perceber )ue ela jeste!e bastante )ueimada. >la : a caula datripula&o, e todos a tratam, eu ia di"er com pena,

    mas n&o. ena : muito condescendenteA digamos, comuma generosidade especial... al!e" !oc$ estejapensando como estou me dando com a @apit& an3a.Pem, gosto muito dela, mas se a irritar !ou mearrepender. *&o resta )ual)uer d!ida sobre )uemcomanda esta na!e... > )uanto C B:dica-@omandanteLuden5o, !oc$ a conheceu h dois anos, na @on!en&o

    eroespacial de onolulu, e tenho certe"a de )ue !oc$jamais !ai se es)uecer da)uela ltima festa, e !aicompreender por )ue a chamamos de @atarina a?randeA por trs, : claro... Bas chega de brincadeiras.Se eu ultrapassar meu tempo, n&o !ou gostar nada dasobreta#a. >, alis, essas chamadas pessoais, sup%e-se, s&o absolutamente particulares. Bas como h mui-

    tos elos na cadeia de comunica%es, n&o sesurpreenda se receber mensagens de, )uer di"er, deoutra rota... Kico esperando notcias suasA diga Cs

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    meninas )ue con!erso com elas depois. Saudades de!oc$s todos. Buitas saudades de !oc$ e @hris. >)uando eu !oltar, prometo nunca mais !iajar de no!o.

    ou!e uma pausa curta, sibilada, e, depois, uma

    !o" manifestamente sint:tica disse 0=sto encerra aransmiss&o spaona!e eonov@. sta!a cheia, em tr$s)uartos, mas ningu:m olha!a o disco iluminadoA todosos olhos focali"a!am o crescente de escurid&o na

    borda. li, na face escura do planeta, a na!e chinesaesta!a prestes a encontrar seu momento de !erdade.

    =sto : absurdo, pensou Klo3d. V imposs!el !er-se)ual)uer coisa a )uarenta milh%es de )uilFmetros. >,n&o importa, o rdio nos dir tudo o )ue )uisermossaber.

    O sien cerrara, h duas horas atrs, os circuitos

    de !o", de !deo e de dados, )uando as antenas delongo alcance recolheram-se C sombra protetora doescudo de calor. Somente o radiofarol, multidirecional,

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    ainda transmitia, assinalando com precis&o a posi&oda na!e chinesa C medida )ue ela mergulha!a rumoC)uele oceano de nu!ens de dimens%es continentais.O %ip... %ip... %ip agudo era o nico som na sala decontrole do eonov. +piter fica!a dois minutos mais

    pr'#imo a cada batida dessas, cuja fonte, a essaaltura, tal!e" j fosse uma nu!em de gsincandescente, dispersando-se na estratosfera jo!iana.

    O sinal se apaga!a, en!olto em rudo. Os %ipsdistorciam-seA alguns desapareciam completamente, eem seguida a se)D$ncia retoma!a. Nm en!olt'rio deplasma crescia em torno do sien, e em bre!e cortariatodas as comunica%es at: )ue a na!e reemergisse.Se reemergisse.

    ( ;osmotri> ( e#clamou Ba#. ( G est eleT

    princpio Klo3d n&o !iu nada. 7epois, bem aolado da ponta do disco iluminado, descortinou umaestrela pe)uenina, relu"indo onde seria imposs!el

    e#istir )ual)uer estrela, contra a face escura de+piter.

    arecia )uase im'!el, embora Klo3d soubesse )uede!eria estar mo!endo-se a cem )uilFmetros porsegundo. >m brilho, crescia lentamente. > em seguidaj n&o era um ponto sem dimens%esA alonga!a-se. Nmcometa, feito pelo homem, risca!a o c:u noturno de+piter, dei#ando uma cauda de incandesc$ncia demilhares de )uilFmetros de comprimento.

    Nm ltimo %ip, bastante distorcido, ecuriosamente discernido, ressoou do radiofarol derastreamento, e em seguida apenas o sibilo semsignificado da pr'pria radia&o de +piter, uma

    da)uelas muitas !o"es c'smicas )ue nada tinha a !ercom o omem ou com suas obras.

    O sien esta!a inaud!el, mas j n&o mais in!is-

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    !el. ois todos !iam )ue a)uela fagulha pe)uenina,alongada, afasta!a-se em muito da face ensolarada doplaneta e em bre!e desapareceria no lado noturno.\)uela altura, se tudo corresse dentro dos planos,+piter iria capturar a na!e, neutrali"ando-lhe o

    e#cesso de !elocidade.

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    repreendia, por n&o terem acreditado em seusclculos, )uando o conhecido %ip... %ip... %ip doradiofarol de rastreamento do sien e#plodiu nos alto-falantes.

    Qasili pareceu perple#o, mortificado, mas logoaderiu C roda espontEnea de aplausosA Klo3d n&o !iu)uem bateu palmas primeiro. Besmo )ue fossem ri-!ais, eram todos, no conjunto, astronautas, t&o distan-tes de casa )uanto )ual)uer homem j !iajara os0>mbai#adores da umanidade0, no di"er nobre doratado >spacial das *a%es Nnidas. Besmo )ue n&odesejassem o $#ito dos chineses, tampouco )ueriam)ue se deparassem com o desastre.

    a!ia tamb:m um forte elemento de interessepr'prio, Klo3d n&o pFde dei#ar de pensar. gora aschances a fa!or do eonov ha!iam aumentadosignificati!amenteA o sien demonstrara )ue amanobra de aero-freamento era na !erdade poss!el.

    Os dados sobre +piter esta!am corretosA a atmosferaali n&o continha surpresas inesperadas, tal!e" fatais.

    ( Pem ( disse an3a (, acho )ue de!emoslhes mandar uma mensagem de congratula%es. Bas,mesmo )ue a mandssemos, eles n&o tomariamconhecimento dela.

    lguns colegas ainda pilheria!am com Qasili, )ueencara!a os resultados do computador em descr:ditoabsoluto.

    ( >u n&o entendo ( ele e#clama!a. ( >les aindade!eriam estar atrs de +piterT Sacha, me faa umaleitura de !elocidade do radiofarolT

    Outro dilogo silencioso passou-se com o

    computadorA Qasili, em seguida, asso!iou longo ebai#inho.

    ( lguma coisa est errada. >les est&o em

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    'rbita de captura, est certoA mas essa 'rbita n&o !aipermitir a eles a abordagem do Discovery. 'rbitaem )ue est&o agora ir le!-los para al:m de =o. ereidados mais precisos depois de rastre-los por maisuns cinco minutos.

    ( Seja como for ( disse an3a (, eles de!emestar numa 'rbita segura. s corre%es, podem fa"$-las depois.

    ( al!e". Bas isso poderia custar dias, mesmo)ue ti!essem o combust!el. O )ue eu du!ido.

    (

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    ( Qoc$ tem ra"&o, claroA mas tal!e" seja difcile#plicar isso aos no!enta e no!e por cento da raahumana )ue n&o entendem de mecEnica orbital. >de!amos comear a pensar em algumas dasimplica%es polticasA ficaria mal, para todos n's, se

    n&o pudermos ajudar. Qasili, me d$ a ltima 'rbitadeles, assim )ue a calcular. Qou para a minha cabinefa"er uns de!eres de casa.

    cabine de Klo3d, ou melhor, um tero de cabine,ainda esta!a em parte repleta de embalagens, muitasempilhadas nos leitos a serem ocupados por @handra e@urnoM )uando emergissem da longa inati!idade. >ledera um jeito de abrir um pe)ueno espao de trabalho,para fins pessoais, e recebera a promessa de contarcom o lu#o de dois metros cbicos adicionais, assim)ue algu:m sobrasse para ajudar na retirada damoblia.

    Klo3d abriu sua pe)uena mesa de comunica%es,

    apertou as teclas de decriptografia, solicitando asinforma%es sobre o sien )ue lhe ha!iam sidotransmitidas de Uashington. > pFs-se a pensar se seusanfitri%es teriam conseguido decodific-lasA a cifra sebasea!a no produto de nmeros primos de du"entosdgitos, cuja )ualidade a g$ncia de Segurana*acional garantia alegando )ue nem mesmo o

    computador mais rpido conseguiria descobri-la antesdo ?rande >sfarelamento do fim do Nni!erso. Nmaalega&o )ue jamais poderia ser pro!ada, oudesmentida.

    Kitou mais uma !e", concentrado, as e#celentesfotografias da na!e chinesa, tiradas )uando ainda e#i-bia suas cores reais, e pouco antes de dei#ar a 'rbita

    da erra. a!ia fotos posteriores ( n&o t&o ntidas,pois na ocasi&o a na!e j se distanciara das cEmerasindiscretas ( do estgio final, )uando "unia rumo a

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    +piter. >ram estas as )ue mais lhe interessa!amAmais teis ainda eram os desenhos em corte e asestimati!as de desempenho.

    dmitidas as hip'teses mais otimistas, era difcil

    prognosticar o )ue os chineses conta!am fa"er. +de!iam ter )ueimado no mnimo no!enta por cento dopropelente na)uela in!estida louca atra!:s do SistemaSolar. menos )ue se tratasse literalmente de umamiss&o suicida ( coisa perfeitamente poss!el (,somente um plano )ue compreendesse hiberna&o eposterior sal!amento faria algum sentido. > o Ser!iode =ntelig$ncia n&o acredita!a )ue a tecnologiachinesa de hiberna&o esti!esse t&o a!anada a pontode !iabili"ar a op&o.

    Bas o Ser!io de =ntelig$ncia costuma!a errarcom fre)D$ncia, e com maior fre)D$ncia aindaconfundir-se com a )uantidade de fatos )ue tinha )uea!aliar o 0rudo0 nos circuitos de informa&o. *o )ue

    di"ia respeito ao sien, fi"era um 'timo trabalho,considerando-se a escasse" de tempo, mas Klo3ddeseja!a )ue o material )ue lhe fora remetido ti!essesido filtrado com mais cuidado. arte erae!identemente li#o, sem )ual)uer cone#&o poss!elcom a miss&o.

    >ntretanto, )uando n&o se sabe o que se procura,

    : importante e!itarem-se os preconceitos e pr:-julgamentosA algo )ue C primeira !ista poderia parecerdespropositado, ou mesmo sem sentido, poderia !ir aser uma pista !ital.

    Klo3d, com um suspiro, comeou mais uma !e"a folhear as )uinhentas pginas de dados, dei#ando amente o mais !a"ia, o mais recepti!a poss!el

    en)uanto os diagramas, grficos, as fotografias (algumas t&o borradas )ue poderiam representar )uasetudo (, os noticirios, as listas de delegados Cs

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    confer$ncias cientficas, os ttulos das publica%est:cnicas e at: mesmo os documentos comerciaisdesenrola!am-se rapidamente correndo pela tela dealta resolu&o. Ob!iamente, todo um sistema deespionagem industrial ti!era muito trabalhoA )uem

    teria imaginado )ue as pegadas de tantos m'dulosjaponeses de holomem'ria, tantos microcontroladoressuos de fluidos gasosos, tantos detectores alem&esde radia&o, seriam acompanhados at: o leito seco deum lago em Gop *or, o primeiro passo no caminho de+piter

    lguns itens de!em ter sido includoscasualmenteA n&o poderiam relacionar-se com amiss&o. Se os chineses fi"eram um pedido secreto demil sensores infra!ermelhos, por meio de umaempresa-fantasma em @ingapura, isto erapreocupa&o e#clusi!a dos militaresA parecia bastanteimpro!!el )ue o sien esperasse ser caado pormsseis de persegui&o ao calor. > esse era mesmoengraado e)uipamento especiali"ado de prospec&oe pes)uisa, da >mpresa ?lacier ?eoph3sics, denchorage, lasca.

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    ( Qasili ( disse (, !oc$ j calculou a 'rbita

    deles

    ( + ( respondeu o na!egador, numa !o"cuidadosamente contida. Klo3d soube, imediatamente,

    )ue algo acontecera. rriscou um palpite ousado.( >les !&o descer no >uropa, n&o !&o

    ou!e uma arfada e#plosi!a, na outrae#tremidade, de incredulidade.

    ( 8*yort voBmi> @omo foi )ue !oc$ soube

    ( >u n&o sabia... eu acabei de adi!inhar.( *&o pode ha!er engano... eu !erifi)uei osclculos para seis locais. manobra de freamentoaconteceu e+atamente conforme pretendiam. >lesest&o bem no curso do >uropaA n&o pode teracontecido por acaso. @hegar&o l em de"essetehoras.

    ( > !&o entrar em 'rbita.( al!e", n&o precisariam de muito combust!el.

    Bas )ue sentido faria

    ( Qou arriscar mais uma adi!inha&o. Q&o fa"eruma sondagem rpida... e ent&o !&o aterrissar.

    ( Qoc$ est louco... ou ser )ue !oc$ sabe algu-

    ma coisa )ue n&o sabemos( *&o... : uma )uest&o de simples dedu&o.

    Qoc$s !&o comear a dar cabeadas na parede por dei-#arem escapar o 'b!io.

    ( >st bem, Sherloc5, por )ue algu:m iria )uereraterrissar no >uropa O )ue h ali, pelo amor de

    7eusKlo3d saborea!a a)uele bre!e momento de triun-

    fo. >le poderia, : claro, estar redondamente errado.

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    ( O )ue h no >uropa substEncia mais !aliosano Nni!erso, s' isso.

    Kalara demais. Qasili n&o era bobo, e tomou-lhe aresposta dos lbios

    ( @laro... guaT( >#atamente. Pilh%es e bilh%es de toneladas, o

    bastante para encher os tan)ues de propuls&o, !iajar atodos os sat:lites, e ainda sobrar muito para abordar oDiscovery e para a !iagem de regresso. 7etesto di"$-lo, Qasili, mas nossos amigos chineses foram de no!omais espertos )ue n's.

    ( dmitindo-se sempre, : claro, )ue d$ certo.

    9. & Gelo do Grande Canal

    *&o fosse o c:u escuro feito breu, a foto bem

    poderia ter sido tirada em )ual)uer ponto das regi%espolares da erraA nada ha!ia de estranho, por mnimo)ue fosse, no mar de gelo enrugado )ue se estendiaat: o fundo do hori"onte. Somente as cinco figuras!estidas em trajes espaciais, no primeiro plano,proclama!am )ue a)uele panorama era de outromundo.

    Besmo C)uela altura os sigilosos chineses n&oha!iam ainda liberado os nomes dos tripulantes. OsanFnimos intrusos da)uela paisagem congelada do>uropa eram simplesmente o cientista-chefe, ocomandante, o na!egador, o primeiro engenheiro, osegundo engenheiro. >ra tamb:m irFnico, Klo3d n&opFde conter a refle#&o, )ue todos na erra j ti!essem

    !isto a hist'rica fotografia uma hora antes de elachegar ao eonov, t&o mais pr'#imo da cena. Bas astransmiss%es do sien eram lanadas em fei#es t&o

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    estreitos )ue era )uase imposs!el intercept-lasA oeonov dele conseguia receber apenas o radiofarol,)ue transmitia imparcialmente em todas as dire%es. >at: mesmo o radiofarol era inaud!el em mais dametade do tempo, nas !e"es em )ue a rota&o do

    >uropa o afasta!a da !ista, e em )ue o sat:lite em siera eclipsado pela corpul$ncia monstruosa de +piter.odas as minguadas notcias da miss&o chinesa tinham)ue ser retransmitidas da erra.

    na!e descera, ap's a sondagem inicial, em umadas poucas ilhas de rocha s'lida protuberando atra!:sda crosta de gelo )ue cobria, por assim di"er, toda alua. O gelo era chapado, de p'lo a p'loA n&o ha!iaintemp:ries )ue o moldassem sob formas estranhas,n&o ha!ia desli"amento de ne!e )ue se edificasse emcamadas, formando colinas )ue se mo!essem aospoucos. al!e" meteoritos cassem sobre o >uropa semar, mas jamais um floco de ne!e. s nicas foras )uelhe molda!am a superfcie eram o empu#&o constanteda gra!idade, redu"indo todas as ele!a%es a umplano uniforme, e os tremores incessantes causadospelos demais sat:lites ao passarem e repassarem, nasrespecti!as 'rbitas, pelo >uropa. O pr'prio +piter, adespeito de sua massa muito maior, tinha influ$nciamuito menor. s mar:s jo!ianas, h e%es atrs,tinham encerrado o trabalho, assegurando )ue o

    >uropa ficasse, para sempre, trancado com uma face!oltada na dire&o de seu gigantesco senhor.

    udo isso j se sabia desde as miss%es dereconhecimento do Voyager, da d:cada de 192;,desde as sondagens do /alileu, da d:cada de 198;, eas aterrissagens do mpoucas horas, por:m, os chineses aprenderam maissobre o >uropa do )ue todas as miss%es anterioresjuntas. >ste conhecimento eles o !inham guardandopara si mesmosA tal!e" algu:m se aborrecesse com

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    isso, mas poucos negariam )ue eles ha!iamcon)uistado o direito de fa"$-lo.

    O )ue se nega!a, com rigor cada !e" maior, era odireito de ane#ar o sat:lite. ela primeira !e" na hist'-

    ria, uma na&o rei!indica!a um outro mundo, e todosos meios noticiosos da erra debatiam o aspecto jur-dico. >mbora os chineses salientassem, em proli#idadeentediante, )ue n&o ha!iam assinado o ratado >spa-cial das *a%es Nnidas de H;;H, e n&o esta!am, por-tanto, sujeitos ao )ue este dispunha, isto em nadaser!iu para debelar os furiosos protestos.

    7e repente, o >uropa era a maior notcia no Sis-tema Solar. > o rep'rter no local Ipelo menos o maispr'#imo dentre de alguns milh%es de )uilFmetrosJ eramuito solicitado.

    ( )ui : e3Mood Klo3d, a bordo do 8osmonauta!le+ei eonov, em curso para +piter. @omo !oc$spodem bem imaginar, por:m, todos os nossos

    pensamentos agora se !oltam para o >uropa... *estee#ato instante !ejo-o no telesc'pio mais poderoso dana!eA nesta amplia&o, : de" !e"es maior do )ue aGua, do )ue o tamanho com )ue !oc$s a !$em a olhonu. > : uma !ista bastante esquisita... superfcie :um cor-de-rosa uniforme, com uns poucos, epe)uenos, remendos marrons. V coberta por uma rede

    intrincada de linhas estreitas, )ue se costuram eencaracolam em todas as dire%es. arece-se muito,de fato, com uma fotografia dos li!ros de medicina,apresentando um modelo de !eias e art:rias... lgunstraos, poucos, t$m centenas, ou mesmo milhares de)uilFmetros de e#tens&o, e muito se parecem com oscanais imaginrios )ue erci!al GoMell e outros

    astrFnomos do incio do s:culo ZZ pensaram ter !istoem