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Rev Bras Med Esporte _ Vol. 12, Nº 1 – Jan/Fev, 2006 1 1. Laboratório de Fisiologia do Exercício – Faculdade de Educação Física – Universidade FMU, São Paulo, SP, Brasil. 2. Programa de Pós-Graduação Lato-Sensu em Fisiologia do Exercício – Universidade Gama Filho, RJ. 3. Instituto de Ciências Biomédicas – USP, SP, Brasil. 4. Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo, SP, Brasil. 5. UNIFIEO, Osasco, SP, Brasil. Recebido em 28/5/05. Versão final recebida em 7/9/05. Aceito em 14/9/05. Endereço para correspondência: UniFMU – Faculdade de Educação Fí- sica, Laboratório de Fisiologia do Exercício, Prof. Dr. Marcelo Saldanha Aoki, Prof. Dr. Reury Frank P. Bacurau, Rua Galvão Bueno, 707 – 01506- 000 – São Paulo, SP. E-mail: [email protected]; [email protected] Efeito de diferentes protocolos de treinamento de força sobre parâmetros morfofuncionais, hormonais e imunológicos Marco Carlos Uchida 1,3,4,5 , Marcelo Saldanha Aoki 1,2,3 , Francisco Navarro 1,2 , Vitor Daniel Tessutti 4 e Reury Frank Pereira Bacurau 1,2 ARTIGO ORIGINAL Palavras-chave: Treinamento de força. 1-RM. Testosterona. Cortisol. Glutamina. IgG. Keywords: Endurance training. 1-MR. Testosterone. Cortisol. Glutamine. IgC. Palabras-clave: Entrenamiento de fuerza. 1-RM. Testosterona. Cortisol. Glutamina. IgG. RESUMO O objetivo do estudo foi examinar a influência de dois diferen- tes protocolos de treinamento de força sobre parâmetros antro- pométricos (peso, IMC, massa gorda), funcionais (teste de 1-RM e teste de repetições máximas) e relacionados ao sistema endó- crino (concentração de testosterona e de cortisol) e ao sistema imunológico (concentração de glutamina e de IgG). Participaram do estudo 12 homens treinados (27,4 ± 4,8 anos). Esses indiví- duos foram aleatoriamente divididos em dois grupos, que poste- riormente foram submetidos a dois protocolos de treinamento dis- tintos: Múltiplas séries (MS) e Tri-set (TS). Amostras de sangue foram coletadas antes e depois de uma sessão de exercício de força, no início e no final do período de oito semanas de treina- mento. Não foram observadas alterações nos parâmetros morfo- funcionais (com exceção do teste de repetições máximas para o agachamento). Com relação aos parâmetros endócrinos, foi ob- servado que o TS provocou aumento significativo do cortisol, ime- diatamente após a sessão de treino, tanto no início como no final das oito semanas (p < 0,05). Ao observar o comportamento da relação testosterona para cortisol (T:C), pode-se notar um marcan- te aumento no grupo submetido ao protocolo MS após oito sema- nas de treinamento (p < 0,05). Com relação aos parâmetros imu- nológicos, não foi observada alteração na concentração de imunoglobulina G. A concentração de glutamina sofreu decrésci- mo após oito semanas em ambos os grupos. Esse decréscimo foi mais acentuado no grupo TS (p < 0,05). Os resultados obtidos sugerem que o método TS impôs maior estresse ao organismo. Além disso, os dados também indicam que o protocolo MS pro- move um ambiente mais propício ao anabolismo, após oito sema- nas de treinamento. Entretanto, ambos os métodos falharam em promover alterações significativas nos parâmetros morfofuncio- nais. ABSTRACT Effects of different endurance training protocols over the mor- phofunctional, hormonal and immunological parameters The purpose of this study was to assess the influence of two different endurance training protocols on the anthropometric (weight, BMI, fat mass), functional parameters (1-MR test, and maximal repetition test) and the parameters related to the endo- crine system (testosterone and cortisol concentrations), as well as to the immunological system (glutamine and IgC concentra- tions). The study was composed by twelve trained men (27.4 ± 4.8 years), who were randomly divided in two groups that later were submitted to two different training protocols: the Multiple Series (MS), and Tri-set (TS). Blood samplings were collected be- fore and after an endurance training session in the beginning and the end of the 8 weeks training period. It was observed no alter- ations in the morphofunctional parameters (except as to the max- imal repetition test for the squat). As to the endocrine parame- ters, it was observed that the TS caused a significant increase in the cortisol immediately after the training session both in the be- ginning and in the end of the eight weeks (p < 0.05) period. Upon the observation of the testosterone vs. cortisol ratio (T:C) behav- ior, it can be observed a noticeable increase in the group submit- ted to the MS protocol after the 8 weeks training period (p < 0.05). As to the immunological parameters, it was observed no alter- ations in the concentration of the immunoglobulin G. The concen- tration of the glutamine suffered a decrease after 8 weeks in both groups. That decrease had a higher accentuation in the TS group (p < 0.05). Results attained suggest that the TS method imposed a higher stress to the body. Furthermore, these data also indicate that the MS protocol promotes a more propitious environment to the anabolism after the 8 weeks training period. However, both methods did not succeed in promoting significant changes in the morphofunctional parameters. RESUMEN Efecto de protocolos diferentes en el entrenamiento de la fuer- za en los parámetros morfo-funcional, hormonal e inmunoló- gico El objetivo del estudio fué examinar la influencia de 2 protoco- los diferentes de entrenamiento de fuerza sobre parámetros an- tropométricos (peso, IMC, masa grasa), funcionales (prueba de 1- RM y prueba de repeticiones máximas) y los parámetros relacionados al sistema endocrino (concentraciones de testoste-

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  • Rev Bras Med Esporte _ Vol. 12, N 1 Jan/Fev, 2006 1

    1. Laboratrio de Fisiologia do Exerccio Faculdade de Educao Fsica Universidade FMU, So Paulo, SP, Brasil.

    2. Programa de Ps-Graduao Lato-Sensu em Fisiologia do Exerccio Universidade Gama Filho, RJ.

    3. Instituto de Cincias Biomdicas USP, SP, Brasil.4. Colgio Marista Arquidiocesano de So Paulo, SP, Brasil.5. UNIFIEO, Osasco, SP, Brasil.Recebido em 28/5/05. Verso final recebida em 7/9/05. Aceito em 14/9/05.Endereo para correspondncia: UniFMU Faculdade de Educao F-sica, Laboratrio de Fisiologia do Exerccio, Prof. Dr. Marcelo SaldanhaAoki, Prof. Dr. Reury Frank P. Bacurau, Rua Galvo Bueno, 707 01506-000 So Paulo, SP. E-mail: [email protected]; [email protected]

    Efeito de diferentes protocolos de treinamentode fora sobre parmetros morfofuncionais,hormonais e imunolgicosMarco Carlos Uchida1,3,4,5, Marcelo Saldanha Aoki1,2,3, Francisco Navarro1,2,Vitor Daniel Tessutti4 e Reury Frank Pereira Bacurau1,2

    ARTIGO ORIGINAL

    Palavras-chave: Treinamento de fora. 1-RM. Testosterona. Cortisol. Glutamina. IgG.

    Keywords: Endurance training. 1-MR. Testosterone. Cortisol. Glutamine. IgC.

    Palabras-clave: Entrenamiento de fuerza. 1-RM. Testosterona. Cortisol. Glutamina.IgG.

    RESUMO

    O objetivo do estudo foi examinar a influncia de dois diferen-tes protocolos de treinamento de fora sobre parmetros antro-pomtricos (peso, IMC, massa gorda), funcionais (teste de 1-RMe teste de repeties mximas) e relacionados ao sistema end-crino (concentrao de testosterona e de cortisol) e ao sistemaimunolgico (concentrao de glutamina e de IgG). Participaramdo estudo 12 homens treinados (27,4 4,8 anos). Esses indiv-duos foram aleatoriamente divididos em dois grupos, que poste-riormente foram submetidos a dois protocolos de treinamento dis-tintos: Mltiplas sries (MS) e Tri-set (TS). Amostras de sangueforam coletadas antes e depois de uma sesso de exerccio defora, no incio e no final do perodo de oito semanas de treina-mento. No foram observadas alteraes nos parmetros morfo-funcionais (com exceo do teste de repeties mximas para oagachamento). Com relao aos parmetros endcrinos, foi ob-servado que o TS provocou aumento significativo do cortisol, ime-diatamente aps a sesso de treino, tanto no incio como no finaldas oito semanas (p < 0,05). Ao observar o comportamento darelao testosterona para cortisol (T:C), pode-se notar um marcan-te aumento no grupo submetido ao protocolo MS aps oito sema-nas de treinamento (p < 0,05). Com relao aos parmetros imu-nolgicos, no foi observada alterao na concentrao deimunoglobulina G. A concentrao de glutamina sofreu decrsci-mo aps oito semanas em ambos os grupos. Esse decrscimo foimais acentuado no grupo TS (p < 0,05). Os resultados obtidossugerem que o mtodo TS imps maior estresse ao organismo.Alm disso, os dados tambm indicam que o protocolo MS pro-move um ambiente mais propcio ao anabolismo, aps oito sema-nas de treinamento. Entretanto, ambos os mtodos falharam empromover alteraes significativas nos parmetros morfofuncio-nais.

    ABSTRACT

    Effects of different endurance training protocols over the mor-phofunctional, hormonal and immunological parameters

    The purpose of this study was to assess the influence of twodifferent endurance training protocols on the anthropometric(weight, BMI, fat mass), functional parameters (1-MR test, andmaximal repetition test) and the parameters related to the endo-crine system (testosterone and cortisol concentrations), as wellas to the immunological system (glutamine and IgC concentra-tions). The study was composed by twelve trained men (27.4 4.8 years), who were randomly divided in two groups that laterwere submitted to two different training protocols: the MultipleSeries (MS), and Tri-set (TS). Blood samplings were collected be-fore and after an endurance training session in the beginning andthe end of the 8 weeks training period. It was observed no alter-ations in the morphofunctional parameters (except as to the max-imal repetition test for the squat). As to the endocrine parame-ters, it was observed that the TS caused a significant increase inthe cortisol immediately after the training session both in the be-ginning and in the end of the eight weeks (p < 0.05) period. Uponthe observation of the testosterone vs. cortisol ratio (T:C) behav-ior, it can be observed a noticeable increase in the group submit-ted to the MS protocol after the 8 weeks training period (p < 0.05).As to the immunological parameters, it was observed no alter-ations in the concentration of the immunoglobulin G. The concen-tration of the glutamine suffered a decrease after 8 weeks in bothgroups. That decrease had a higher accentuation in the TS group(p < 0.05). Results attained suggest that the TS method imposeda higher stress to the body. Furthermore, these data also indicatethat the MS protocol promotes a more propitious environment tothe anabolism after the 8 weeks training period. However, bothmethods did not succeed in promoting significant changes in themorphofunctional parameters.

    RESUMEN

    Efecto de protocolos diferentes en el entrenamiento de la fuer-za en los parmetros morfo-funcional, hormonal e inmunol-gico

    El objetivo del estudio fu examinar la influencia de 2 protoco-los diferentes de entrenamiento de fuerza sobre parmetros an-tropomtricos (peso, IMC, masa grasa), funcionales (prueba de 1-RM y prueba de repeticiones mximas) y los parmetrosrelacionados al sistema endocrino (concentraciones de testoste-

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    rona y de cortisol) y al sistema inmunolgico (la concentracin delglutamina y de IgG). Participaron en el estudio 12 hombres entre-nados (27,4 4,8 aos). Estos individuos fueron aleatoriamentedivididos en 2 grupos que despus se sometieron a 2 protocolosde entrenamiento en dos series diferentes, Mltiple (MS) y Tri-juego (TS). Las muestras de sangre eran reunidos antes y des-pus de una sesin de ejercicio de fuerza, al principio y en el findel perodo de 8 semanas de entrenar. No se observaron altera-ciones en los parmetros morfo-funcionales (salvo la prueba derepeticiones mximas para el agachamiento). Con respecto a losparmetros endcrinos, se observ que TS provoc un aumentosignificante del cortisol, inmediatamente despus de la sesin deentrenamiento, al principio y en el fin de las 8 semanas (p < 0,05).Al observar la conducta de la testosterona en relacin con el corti-sol (T:C), puede notarse un aumento excelente en el grupo some-tido al MS protocolar despus de 8 semanas de entrenar (p < 0,05).Con respecto a los parmetros inmunolgicos, no se observ alte-racin en la concentracin de la imunoglobulina G; la concentra-cin del glutamina sufri una disminucin despus de 8 semanasen ambos grupos. Esta disminucin se acentu ms en el TS degrupo (p < 0,05). Los resultados obtenidos sugieren que el mto-do TS impuso una tensin ms grande al organismo. Adems, losdatos tambin indican que el MS protocolar promueve una atms-fera ms favorable al anabolismo, despus de 8 semanas de en-trenar. Sin embargo, ambos mtodos fallaron promoviendo las al-teraciones significantes en los parmetros morfo-funcionales.

    INTRODUO

    A hipertrofia muscular um dos objetivos mais desejados en-tre os praticantes do treinamento de fora. Atualmente, existemdiferentes mtodos ou sistemas de treinamento para se atingiressa meta, o que gera muita polmica sobre a superioridade deum mtodo em relao ao outro(1). A diferena entre esses mto-dos est na forma como as variveis agudas do treinamento (in-tensidade, volume, perodo de descanso entre sries e exercciose a ordem dos exerccios) so dispostas(1).

    Dentre os mtodos de treinamento de fora mais popularespodem-se destacar: o mtodo Mltiplas sries (MS) e o mtodoTri-set (TS). O mtodo MS o mais difundido entre os praticantesdo treinamento de fora, podendo ser utilizado pelo indivduo se-dentrio e at pelo atleta de alto nvel, para qualquer objetivo, des-de que se ajuste o nmero de sries e repeties. Esse mtodose caracteriza pela realizao de mais de uma srie por exerc-cio(1). J o mtodo TS consiste em utilizar trs exerccios diferen-tes para a mesma parte do corpo, com o mnimo ou mesmo semintervalo entre as sries, e usualmente com trs sries para cadaexerccio(1). O TS utilizado geralmente por indivduos bem treina-dos, que tm como objetivo a hipertrofia muscular, j que o pe-queno intervalo entre as sries induz uma significativa sobrecargametablica(1).

    A distino entre os prs e contras dos diferentes mtodos detreinamento mais complicada em indivduos treinados. Pois, nes-ses indivduos imperativa a utilizao de sobrecargas crescen-tes, a fim de promover as adaptaes desejadas. No entanto, esseaumento no nvel de estresse aplicado (sobrecarga) no deve in-duzir efeitos deletrios no organismo do praticante. Embora bas-tante difundida, essa questo tem sido pouco explorada.

    Com o intuito de atender a demanda energtica imposta peloexerccio, mecanismos celulares, neurais e hormonais so ativa-dos a fim de regular-controlar o metabolismo(2). Durante o exerc-cio, as alteraes na concentrao de hormnios aumentam a dis-ponibilidade de substratos energticos, prevalecendo o catabolis-mo. J na fase de recuperao, esse balano entre hormniosanablicos e catablicos, com prevalncia dos hormnios anabli-cos, ser responsvel pela ampliao da sntese protica adaptati-va(3).

    Essas alteraes hormonais, aparentemente, constituem umparmetro adequado para a verificao dos efeitos agudos e cr-nicos do treinamento fsico(4). Por exemplo, a resposta hormonalao treino de fora (ex.: aumento da concentrao de testosteronaem relao de cortisol) est correlacionada com a hipertrofia e afora muscular(5).

    Alm do sistema endcrino, a anlise dos efeitos do treinamen-to fsico sobre outros sistemas, como o nervoso e o imunolgico,pode fornecer informaes mais abrangentes de como esse est-mulo afeta a fisiologia do organismo(2,6,7), uma vez que estes siste-mas tambm so determinantes para a adaptao ao estresse(3).A modificao na concentrao de hormnios, principalmente oaumento do cortisol, tambm capaz de alterar parmetros imu-nolgicos. Reconhecidamente, o cortisol exerce efeito deletriosobre a funcionalidade do sistema imunolgico(6-9).

    Considerando que as respostas neurais, hormonais e imunol-gicas responsveis pelas adaptaes ao treinamento fsico depen-dem das caractersticas do mesmo, de esperar que diferentessistemas de treinamento tambm provoquem respostas orgni-cas diferentes. Assim, o objetivo do presente estudo foi examinara influncia de dois protocolos de treinamento de fora, conheci-dos como Mltiplas sries (MS) e Tri-set (TS), sobre parmetrosrelacionados ao sistema endcrino e ao sistema imunolgico. Acomposio corporal, a contrao voluntria mxima e a resistn-cia muscular localizada tambm foram avaliadas para determinaro efeito das alteraes hormonais e imunolgicas sobre parme-tros morfofuncionais.

    MTODOS

    Sujeitos: Foram selecionados 12 praticantes de treinamento defora, com experincia superior a 12 meses (67 2,3kg; 172 5cm; 27,4 4,8 anos). Os indivduos foram divididos aleatoriamen-te e, posteriormente, submetidos a dois protocolos de treinamentodistintos: Mltiplas sries (MS) (n = 6) e Tri-set (TS) (n = 6). Reali-zou-se a coleta dos dados no incio e aps oito semanas de treina-mento. Seguindo a resoluo especfica do Conselho Nacional deSade (no 196/96), os participantes foram informados detalhada-mente sobre os procedimentos utilizados e concordaram em parti-cipar de maneira voluntria do estudo, assinando um termo de con-sentimento informado e proteo da privacidade. O experimentofoi aprovado pela Comisso de tica para Humanos do Instituto deCincias Biomdicas da Universidade de So Paulo (Parecer no 72/00). Todos os sujeitos foram submetidos anlise da urina (incio,quatro semanas e aps as oito semanas) para averiguar a presenade anabolizantes esterides. Essa anlise foi realizada no Laborat-rio de Anlises Toxicolgicas da Faculdade de Cincias Farmacuti-cas da USP, sendo o resultado negativo para todos os sujeitos.

    Teste para determinao do valor de 1-RM e teste de repe-ties mximas: Aps um breve alongamento e aquecimento, afora muscular mxima, atravs do teste de uma repetio mxi-ma (1-RM), foi determinada por quatro tentativas de uma repeti-o, com intervalo de trs minutos, nos respectivos exerccios: osupino, o agachamento e a rosca direta(1), utilizando amplitudenatural do movimento, com exceo do exerccio agachamento,em que se realizou a fase excntrica at que a coxa do sujeitoexperimental ficasse paralela ao solo. Aps sete dias desse, exe-cutou-se outro teste, o de resistncia muscular, repeties mxi-mas, no qual o peso utilizado foi equivalente a 50% do valor de 1-RM (50%-1RM) para a execuo at a exausto ou incapacidadede manter o padro do movimento(1), sendo que a velocidade deexecuo desses respeitava a seguinte condio: dois segundosaproximadamente, tanto na fase concntrica quanto na excntri-ca do movimento.

    Descrio do protocolo de treinamento de fora: Duranteoito semanas, os sujeitos treinaram quatro vezes por semana (se-gundas, teras, quintas e sextas-feiras), sendo s segundas e quin-

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    tas, o treino A, no qual eram trabalhados peito, costas e ombros; enas teras e sextas, nas quais se realizava o treino B, que consis-tia em exerccios para coxas e braos. A intensidade foi diferen-ciada para cada dia, segundas e teras, 100% do peso das 10repeties mximas (10RM), e quintas e sextas-feiras, 90% dopeso das 10 repeties mximas (90% de 10RM), sendo que onmero mximo de repeties nos exerccios foi determinadodurante o prprio treinamento e ajustado a cada duas semanaspara que realmente estivessem trabalhando com a carga prevista.O treinamento de endurance foi restrito a um mximo de 20 minu-tos, duas vezes por semana, separado por pelo menos oito horasdas sesses de fora. O mtodo Mltiplas sries (MS) consistiuem dois exerccios para cada grupamento muscular com exceodos msculos da coxa, que foram trs exerccios, em quatro s-ries de 10 repeties para cada exerccio, com intervalo entre assries de 90 segundos. Os exerccios utilizados foram: treino A,supino, supino inclinado com halteres, remada baixa, puxada pelafrente, elevao lateral, desenvolvimento com halteres, treino B:leg press, mesa extensora, mesa flexora, rosca direta com barraW, rosca alternada, trceps na polia alta, trceps francs. J o m-todo Tri-set (TS) consistiu na realizao de trs exerccios diferen-tes para o mesmo grupamento muscular sem intervalo, trs s-ries de 10 repeties; aps a finalizao no terceiro exerccio haviaum intervalo de 90 segundos, para reiniciar a seqncia. Os exer-ccios utilizados foram: treino A, supino, supino inclinado comhalteres, crucifixo, remada baixa, puxada pela frente, remada alta,elevao lateral, desenvolvimento com halteres, elevao fron-tal; treino B: leg press, mesa extensora, mesa flexora, roscadireta com barra W, rosca alternada, rosca simultnea com bancoinclinado, trceps na polia alta, trceps francs, supino compegada fechada. Os dois protocolos foram previamente equaliza-dos quanto ao volume total de treinamento (tonelagem), por meiode teste-piloto, ou seja, a quantidade total de peso levantado pe-los dois grupos foi muito semelhante. Para isso, foi utilizada a fr-mula, volume total = sries x repeties x peso (kg)(1).

    Avaliao da composio corporal: A composio corporal foiavaliada por meio da utilizao de compasso de dobra cutnea, marcaLange, o protocolo utilizado foi Jackson e Pollock(10) para homens.

    Determinaes plasmticas: Aps cinco horas de jejum, o san-gue foi coletado antes (~19:00h) e logo aps o trmino da sessode treinamento (~20:00h); essas coletas foram feitas no incio dotreinamento e ao final de oito semanas de experimento. Para ava-liar a concentrao plasmtica de testosterona e de cortisol foramutilizados kits para radioimunoensaio COAT-A-COUNT, DPC. Osparticipantes foram instrudos a seguir um cardpio padro, comhorrios estabelecidos, 24 horas antes das coletas de sangue(11).Com o intuito de diminuir a variabilidade interensaio, todas as amos-tras foram avaliadas de uma s vez, ao final do experimento (varia-o analtica foi menor que 10,5% e 9%, respectivamente para tes-tosterona e cortisol, conforme proposto por Tremblay e Chu(12)). Aconcentrao de glutamina foi determinada segundo mtodo des-crito por Windmueller e Spaeth(13), que utiliza as enzimas asparagi-nase e glutamato-desidrogenase (GDh). A imunoglobulina G (IgG)foi dosada por ELISA (double antibody, enzyme-linked immunosor-bent assay) em placa de Well de 96 poos marca DPC.

    Anlise estatstica: Para a comparao entre antes e depoisda sesso de treino e pr e ps-treinamento foi utilizado o teste tde Student pareado. Para a comparao entre os mtodos foi apli-cado o teste t de Student no pareado. Foi estipulado o nvel mni-mo de significncia de p < 0,05.

    RESULTADOS

    Com relao composio corporal (peso, IMC e massa gorda)no foram observadas diferenas significativas em ambas as inter-venes de treinamento (MS e TS) em relao ao valor inicial (ta-bela 1).

    TABELA 1Composio corporal de indivduos submetidos aos

    mtodos de treinamento Tri-set (TS) e Mltiplas sries (MS)

    MS TS

    Peso corporal (kg)

    Inicial 8 sem Inicial 8 sem72,6 6,5 73,0 6,9 67,0 6,6 67,4 6,6

    ndice de massa corporal

    Inicial 8 sem Inicial 8 sem23,2 0,6 23,4 0,5 22,8 1,1 22,9 1,1

    Massa gorda (%)

    Inicial 8 sem Inicial 8 sem12,6 3,8 11,1 3,1 12,8 2,4 12,2 3,0

    Valores expressos em mdia desvio-padro. As medidas foram realizadas no incio e ao final deoito semanas de treinamento.

    O valor da contrao voluntria mxima aferida pelo teste de 1-RM nos exerccios de supino, de agachamento e de rosca diretatambm no apresentou diferena significativa em comparaocom o incio do treinamento em ambos os protocolos. Em relaoao valor inicial, a capacidade de repetio mxima aumentou ape-nas no agachamento. Esse aumento foi observado em ambos osprotocolos (MS ~56% e TS ~66%; p < 0,05) (tabelas 2 e 3).

    TABELA 2Determinao do valor de 1-RM em indivduos submetidos aos

    mtodos de treinamento Tri-set (TS) e Mltiplas sries (MS)

    1-RM (kg)

    MS TS

    Supino

    Inicial 8 sem Inicial 8 sem70,1 11,1 84,8 9,1 67,1 9,2 76,0 8,4

    Agachamento

    Inicial 8 sem Inicial 8 sem100,9 11,6 119,6 5,8 90,4 9,9 104,9 12,9

    Rosca direta

    Inicial 8 sem Inicial 8 sem44,2 7,1 49,1 8,3 37,4 2,1 40,2 4,1

    Valores expressos em mdia desvio-padro. Os testes foram realizados no incio e ao final deoito semanas de treinamento.

    TABELA 3Determinao das repeties mximas executadas a 50%

    de 1-RM em indivduos submetidos aos mtodos detreinamento Tri-set (TS) e Mltiplas sries (MS)

    Repeties mximas a 50% de 1-RM

    MS TS

    Supino

    Inicial 8 sem Inicial 8 sem31,2 4,4 26,6 4,4 30,5 3,3 27,7 5,6

    Agachamento

    Inicial 8 sem Inicial 8 sem27,2 10,2 42,2 11,3a 21,5 5,2 35,7 7,6a

    Rosca direta

    Inicial 8 sem Inicial 8 sem21,6 3,3 23,40 3,7 25,2 4,9 27,5 4,3

    Valores expressos em mdia desvio-padro. Os testes foram realizados no incio e ao final deoito semanas de treinamento. a diferena estatstica em relao ao momento antes do exerc-cio.

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    Quanto aos parmetros plasmticos, no foi observada altera-o na concentrao plasmtica de testosterona em nenhum dosprotocolos, seja antes ou depois da sesso de treino, no incio oufinal de oito semanas. No incio do treinamento, foi observado au-mento da concentrao de cortisol no momento ps-treino emambos os protocolos (MS ~38% e TS ~250%; p < 0,05). No en-tanto, a magnitude desse aumento foi mais evidente no TS emrelao ao MS (p < 0,05). Aps oito semanas de treinamento, ape-nas o grupo submetido ao TS apresentou aumento (~38%; p