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ISSN 1808-8457 1 XII Encontro de Pós-Graduação e Pesquisa Universidade de Fortaleza 22 à 26 de Outubro de 2012 Toxicidade aguda do corante natural do urucum (Bixa orellana L.) nanoencapsulado em ratos. Nágela Martins Oliveira Aguiar1* (PG) , Raimundo Wilane de Figueiredo2 (PQ) , Karoline Saboia Aragão3 (PG) , Anna Karla Gonçalves e Silva4 (IC), Vannery Cristina de Mesquita Silva4 (IC), Liana de Oliveira Barros4 (IC). 1Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, nível de Mestrado - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza - CE; 2Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-CE; 3Pós-doutoranda do Departamento de Fisiologia e Farmacologia, Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará. Professora adjunta do Centro Universitário Estácio do Ceará - FIC; 4Curso de Nutrição do Centro Universitário Estácio do Ceará - FIC. [email protected] Palavras-chave: Corante. Uucum. Nanoencapsulação. Toxicidade. Resumo São cada vez maiores as exigências dos consumidores por uma alimentação mais saudável, o que tem levado indústria a investir de forma mais persistente no uso de produtos naturais. O corante natural do urucum é obtido através do o extrato da camada resinosa externa das sementes de Bixa orellana L. O principal pigmento encontrado nas sementes de urucum é a bixina, um composto lipossolúvel, que pode ocorrer nas formas cis e trans. O presente estudo avaliou o efeito tóxico do corante natural do urucum, administrando o composto na forma nanoencapsulada por via oral em ratos Wistar, na dosagem de 0,065mg de bixina/kg/dia, durante 14 dias. Ao grupo controle foi fornecido ração normal, para comparação. Os resultados deste estudo mostraram que não houve efeito tóxico agudo associado ao consumo do corante. Introdução A valorização de uma alimentação mais saudável pelo mercado consumidor, fez com que crescesse a utilização dos corantes naturais, dentre os quais, o urucum é o mais usado pela indústria brasileira, sendo empregado em uma infinidade de alimentos e bebidas com o intuito de compensar a perda de cor durante o processamento industrial e estocagem, uniformizar a cor dos alimentos, e finalmente dar cor a alimentos originalmente incolores, tornando-os mais atrativos (TOCCHINI & MERCADANTE, 2001). As sementes do urucuzeiro (Bixa orellana L.) são recobertas por uma resina vermelha que contém o carotenóide bixina, e em menor quantidade o carotenóide norbixina (MERCADANTE & PFANDER, 1998; LIMA et al, 2001). Os pigmentos do urucum são extraídos da camada externa das sementes. A coloração vermelha da semente está diretamente relacionada ao percentual de bixina. Tanto as sementes, quanto os extratos processados são comercializados com base no teor de bixina ou norbixina (OLIVEIRA, 2005). Sabe-se que no urucum estão presentes substâncias capazes de promover uma redução das concentrações séricas de colesterol e triglicerídeos. Além disso, outras atividades farmacológicas são

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ISSN 1808-8457 1

XII Encontro de Pós-Graduação e Pesquisa Universidade de Fortaleza 22 à 26 de Outubro de 2012

Toxicidade aguda do corante natural do urucum (Bixa orellana L.)

nanoencapsulado em ratos.

Nágela Martins Oliveira Aguiar1* (PG) , Raimundo Wilane de Figueiredo2 (PQ) , Karoline Saboia Aragão3 (PG) , Anna Karla Gonçalves e Silva4 (IC), Vannery Cristina de Mesquita Silva4 (IC), Liana de

Oliveira Barros4 (IC).

1Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, nível de Mestrado - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza - CE; 2Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-CE; 3Pós-doutoranda do Departamento de Fisiologia e Farmacologia, Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará. Professora adjunta do Centro Universitário Estácio do Ceará - FIC; 4Curso de Nutrição do Centro Universitário Estácio do Ceará - FIC. [email protected] Palavras-chave: Corante. Uucum. Nanoencapsulação. Toxicidade.

Resumo São cada vez maiores as exigências dos consumidores por uma alimentação mais saudável, o que tem levado indústria a investir de forma mais persistente no uso de produtos naturais. O corante natural do urucum é obtido através do o extrato da camada resinosa externa das sementes de Bixa orellana L. O principal pigmento encontrado nas sementes de urucum é a bixina, um composto lipossolúvel, que pode ocorrer nas formas cis e trans. O presente estudo avaliou o efeito tóxico do corante natural do urucum, administrando o composto na forma nanoencapsulada por via oral em ratos Wistar, na dosagem de 0,065mg de bixina/kg/dia, durante 14 dias. Ao grupo controle foi fornecido ração normal, para comparação. Os resultados deste estudo mostraram que não houve efeito tóxico agudo associado ao consumo do corante.

Introdução

A valorização de uma alimentação mais saudável pelo mercado consumidor, fez com que crescesse

a utilização dos corantes naturais, dentre os quais, o urucum é o mais usado pela indústria brasileira, sendo

empregado em uma infinidade de alimentos e bebidas com o intuito de compensar a perda de cor durante o

processamento industrial e estocagem, uniformizar a cor dos alimentos, e finalmente dar cor a alimentos

originalmente incolores, tornando-os mais atrativos (TOCCHINI & MERCADANTE, 2001).

As sementes do urucuzeiro (Bixa orellana L.) são recobertas por uma resina vermelha que contém o

carotenóide bixina, e em menor quantidade o carotenóide norbixina (MERCADANTE & PFANDER, 1998;

LIMA et al, 2001).

Os pigmentos do urucum são extraídos da camada externa das sementes. A coloração vermelha da

semente está diretamente relacionada ao percentual de bixina. Tanto as sementes, quanto os extratos

processados são comercializados com base no teor de bixina ou norbixina (OLIVEIRA, 2005).

Sabe-se que no urucum estão presentes substâncias capazes de promover uma redução das

concentrações séricas de colesterol e triglicerídeos. Além disso, outras atividades farmacológicas são

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verificadas no urucum tais como antioxidante, antivirais, antimicrobiana, hipotensor e hiperglicemiante (LIMA

et al, 2001; SILVA et al, 2006).

Considerando os benefícios já comprovados dessa substância de origem natural, e a possibilidade

de sua futura aplicação como medicamento, testes toxicológicos fazem-se necessários.

O presente trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar a toxidade aguda do corante natural do

urucum nanoencapsulado, através de sua aplicação por via oral, durante 14 dias, em ratos Wistar.

Metodologia

Para a realização deste experimento foram utilizados seis ratos Wistar (três animais teste e três

animais controle), de ambos os sexos, provenientes do biotério do Centro Universitário Estácio do Ceará –

FIC. Os animais foram colocados em gaiolas individuais, todos com livre acesso a água e suas respectivas

dietas, em temperatura ambiente de 22±2 ºC e controle cíclico de 12 horas luz/escuridão, umidade relativa

de 70 a 80 %.

Para o experimento foi utilizada ração comercial. O corante de urucum nanoencapsulado foi

misturado em solução salina e pincelado na ração no momento do oferecimento aos animais. A quantidade

de corante utilizada foi calculada a partir da concentração de bixina presente no pó nanoencapsulado. Foi

administrado 0,065 mg de bixina/ kg de peso corpóreo/ dia. Ao grupo controle foi fornecida ração comercial

para fins de comparação.

Durante 14 dias, foram realizados os procedimentos de pesagem dos animais, cálculos do ganho de

peso, avaliação clínica (modificações na pele, pêlos, olhos, mucosas, alterações respiratórias, circulatórias

e do sistema nervoso central e periférico) realizada diariamente; avaliação de efeitos gerais, ou seja,

alterações no estado consciente e disposição, no sistema motor, no tônus muscular, no sistema nervoso

central (tremores, convulsão e sedação) e no sistema nervoso autônomo (lacrimejamento, salivação, ptose,

piloereção e respiração).

Antes da primeira administração da substância e após a última dosagem, os animais foram

submetidos a jejum de 12 horas para avaliação da glicemia de jejum.

Ao final do período experimental, foi feita a eutanásia e a necropsia. A avaliação necroscópica

incluiu exames externos do corpo e orifícios e das cavidades toráxica, abdominal e de seus conteúdos.

Durante a necrópsia, fígado, baço, rins, e coração foram excisados e pesados. O peso relativo dos órgãos

foi expresso em percentual de peso corpóreo.

Resultados e Discussão Neste estudo observou-se que os animais teste apresentaram perda de peso, enquanto que os

animais controle mantiveram-se com os pesos constantes, conforme pode ser observado na figura 1.

Lima et al (2001), relatou modificações no metabolismo lipídico de coelhos tratados com bixina,

onde os animais apresentaram redução do colesterol total de 44,03%, além de uma menor redução dos

níveis séricos do HDL-colesterol e a redução de triglicerídeos.

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Figura 1: Pesos dos animais ao longo do tempo.

Durante os 14 dias não foram verificadas alterações na pele, pêlos, olhos, mucosas, alterações

respiratórias, circulatórias e dos sistemas nervosos central e periférico, nem nos efeitos gerais dos animais,

confirmando os resultados de Lima et al (2003) e Bautista et al (2004) que não encontraram efeitos

deletérios relacionados a bixina.

Os dois grupos (teste e controle) apresentaram diminuição dos valores da glicemia de jejum (Figura

2).

Figura 2: Valores de glicemia de jejum médios nos tempos 0 e 14.

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O efeito hipoglicemiante não pode ser atribuído ao corante de urucum, uma vez que foi verificado

também nos animais controle. De acordo com Thompson (1990) a bixina na configuração trans, presente na

fração apolar do extrato de urucum, apresentou efeito hiperglicemiante e demonstrou possuir capacidade

diabetogênica, quando administrada a cães anestesiados.

Nos exames necroscópicos o baço dos animais teste apresentaram em média 0,30% + 0,14 do

peso corporal, os rins 0,85% + 0,6, o fígado 4,18% + 0,42 e o coração 0,48% + 0,7. Já os animais controle

tiveram baço com 0,21% + 0,04, os rins 0,81% + 0,02 o fígado 4,14% + 0,05 e o coração 0,46% + 0,07. Os

animais não revelaram alterações nos órgãos e tecidos examinados.

Em estudos de toxicologia subaguda do urucum em ratos machos e fêmeas, exames

hematológicos, bioquímicos e biópsias não foram detectadas anormalidades, nem nenhum nível de

intoxicação (SILVA, BRAGA e SILVA, 2006).

ConclusãoAtravés deste estudo observou-se que a exposição ao corante de urucum nanoencapsulado, por via

oral, na concentração de 0,065 mg de bixina/kg/dia, por um período de 14 dias, não produziu, em ratos,

alterações clínicas, de efeitos gerais e necroscópicas. Outros estudos ainda serão necessários dentro da

avaliação toxicológica

Referências

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LIMA, L. R. P.; OLIVEIRA, T. T.; NAGEM, T. J.; PINTO, A. S.; STRINGHETA, P. C.; TINOCO, A. L. A.;

SILVA, J. F. Bixina, Norbixina e Quercetina e seus efeitos no metabolismo lipídico de coelhos. Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci. São Paulo, v. 38, n. 4, p. 196-200, 2001.

LIMA, L.R.P.; OLIVEIRA, T.T. ; NAGEM, T.J. ; PINTO , A.S.; LIMA, E.Q.; SILVA, J.F. Toxidade Aguda de

Rutina e Bixina de Bixa orellan. Acta Farm. Bonaerense. Vol 22 (1): 21-6, 2003.

MERCADANTE, A. Z.; PFANDER, H. Carotenoids from annatto: A review. Recent Food Chemistry, v.2, p.

79-91, 1998.

OLIVEIRA, J. S. Caracterização, extração e purificação por cromatografia de compostos de urucum (Bixa

orellana L.). Tese de Doutorado. Departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos.

Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2005, 215 p.

SILVA, C.A.N.; BRAGA, S.F.P. ;SILVA, A.G. Urucum, Bixa orellana L. (Bixaceae) - um agente importante na

regulação de dislipidemias?. Natureza on line 4(2): 72-76, 2006.

SILVA, C.A.N.; BRAGA, S.F.P; SILVA, A.G..; Urucum, Bixa orellana L. (Bixaceae) - um agente importante

na regulação de dislipidemias. Natureza On Line 4(2): 72-76, 2006.

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THOMPSON, H.J. Isolation, purification and identification of the hyperglycaemic principle of the annatto

(Bixa orellana). Kingston 15: 287, 1990.

TOCCHINI, L.; MERCADANTE, A. Z. Extração e determinação, por CLAE, de bixina e norbixina em

coloríficos. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 21, n. 3, p. 310-313, 2001.

AgradecimentosÀ Capes pela concessão de bolsa; À Universidade Federal do Ceará e ao Programa e Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos pelo apoio; Ao Centro Universitário Estácio do Ceará/FIC pela parceria.