As Abelhas e Você - Apostila USP 2009

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  • 7/28/2019 As Abelhas e Voc - Apostila USP 2009

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    AS ABELHAS E VOC

    AUTORES:

    Ademilson Espencer Egea Soares

    Geusa Simone de Freitas

    Ivan Paulo Akatsu

    Weyder Cristiano Santana

  • 7/28/2019 As Abelhas e Voc - Apostila USP 2009

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    EQUIPE DIDTICA:

    ADEMILSON ESPENCER EGEA SOARES (Prof. Dr. Depto. deGentica das FMRP-USP)

    Alunos do Programa de Ps-Graduao em Gentica da FMRP-

    USP:

    ALINE SIMONETI FONSECA (mestrado)

    AMANDA FREIRE DE ASSIS (mestrado)CAMILA CALIXTO MOREIRA DIAS (mestrado)

    Alunos do Programa de Ps-Graduao em Entomologia da

    FFCLRP-USP:

    ANA RITA TAVARES OLIVEIRA BAPTISTELA (doutorado)

    GEUSA SIMONE DE FREITAS (ps-doutorado)

    IVAN CASTRO (mestrado)

    IVAN PAULO AKATSU (doutorado)

    MAURO PRATO (mestrado)

    PAULO EMLIO FERREIRA ALVARENGA (doutorado)

    JAIRO DE SOUZA (Tcnico)

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    1.1.1.1. ORIGEM DAS ABELHASORIGEM DAS ABELHASORIGEM DAS ABELHASORIGEM DAS ABELHAS

    De acordo com os trabalhos de MICHENER (1974, 1990), MICHENER &

    GRIMALDI (1988), ROUBIK (1992), CAMARGO & PEDRO (1992), SILVEIRA et

    al (2002), as abelhas, juntamente com as formigas e vespas, pertencem

    ordem Hymenoptera. Acredita-se que as vespas (Vespoidea, Sphecoidea) e as

    abelhas descendem de um ancestral parasita. Uma das evidncias desta

    origem dos himenpteros aculeados (vespas, formigas e abelhas) a ausncia

    de conexo entre a poro mediana do intestino com sua poro final,

    impossibilitando a defecao da larva at sua maturidade. Alm disso, fcil

    encontrarmos no grupo parasita indivduos com caractersticas existentes no

    grupo Aculeata, por exemplo, presena de glndula de veneno associada ao

    ovipositor. Este ovipositor e o veneno associado a ele podem ser usados como

    um ferropara defesa, alm de possibilitar a paralisao do hospedeiro para a

    oviposio.

    Apesar de muitos aculeados e parasitas usarem outros artrpodes como

    alimento larval, os adultosse alimentam nas flores, basicamente de nctar, ou

    ento, de lquidos dos corpos de suas presas. O contato dos aculeados com as

    flores pode ter "direcionado" a evoluo desses grupos tornando o complexo

    labiomaxilar bem adaptado para sugar ou lamber nctar de flores pouco

    profundas.Desde que flores contenham uma rica protena (plen) em adio ao

    nctar, no de surpreender se algumas vespas que alcanaram o estgio

    predatrio abandonassem a predao e passassem a aprovisionar suas clulas

    de cria e posteriormente a isso estocassem plen como alimento larval. Um

    exemplo que mostra que o ltimo caso possvel visto nas vespas das

    superfamlias Vespoidea e Sphecoidea cujo ancestral, provavelmente, deuorigem s abelhas.

    As abelhas, provavelmente, so um grupo monofiltico originado de

    vespas esfecdeas. Um grupo que surgiu por ter uma nova situao adaptativa:

    plen das Angiospermas para servir de alimento protico para as larvas. As

    abelhas so inteiramente dependentes das flores para se alimentarem,

    podendo no ter se originado antes do aparecimento das Angiospermas, as

    quais eram predominantes no Cretceo (135 - 65 milhes de anos atrs,Tabela 1). As evidncias atuais indicam que o grupo das abelhas se originou

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    h mais ou menos 125 milhes de anos atrs, aps o surgimento das

    angiospermas (plantas com flores) que se deu h cerca de 130 90 milhes de

    anos atrs.

    Os fsseis de abelhas conhecidos, datados do Eoceno (40 milhes de

    anos atrs) indicam que para essa poca as abelhas j eram especializadas e

    a maioria dos grupos de abelhas conhecidos hoje j existiam. Um fssil de

    meliponneo, Cretotrigona prisca de + ou - 65 milhes de anos (Cretceo)

    encontrado em mbar na Amrica do Norte (New Jersey) indica que as abelhas

    devem ter surgido h pelo menos 120 milhes de anos; evidncias de que

    plantas eram polinizadas por abelhas esto datadas do incio do Tercirio, o

    que refora a idia sobre o tempo de surgimento das abelhas. Outro fssil de

    abelha encontrado no ano de 2006 em uma mina no Hukawng Valley de

    Myanmar (Burma) suporta a teoria de que as abelhas tenham evoludo a partir

    das vespas, pois tal fssil compartilha caractersticas com as vespas; datado

    de 100 milhes de anos e considerado o fssil de abelha mais antigo (figura

    1).

    Figura 1:Melittosphex burmensis o mais antigo fssil de abelha.

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    Tabela 1 Eras e perodos geolgicos com as principais transformaes que ocorreram naterra

    Era Perodo poca Idade Caractersticas

    Cenozico

    Quaternrio

    Holoceno 10.000

    Idade do Homem". Ohomem torna-se a formade vida dominante sobre aTerra. Estabilizao doclima

    Pleistoceno 1.750.000

    Glaciaes mais recentes.Domnio dos mamferos degrande porte. Evoluo dohomo sapiens

    Tercirio

    Plioceno 5.300.000

    Avano das geleiras. Avegetao dominadapelos campose savanas.Aparecimento demamferos ruminantes

    Mioceno 23.500.000

    Formao de grandescampos. Mudanasclimticas levam aformao da calota polarAntrtica

    Oligoceno 34.000.000Aparecimento de elefantese cavalos. Aparecimento devrios tipos de gramneas

    Eoceno 53.000.000Surgimentos da maiorparte das ordens demamferos

    Paleoceno 65.000.000Domnio dos mamferos deporte pequeno a mdio

    Mesozico

    Cretceo 135.000.000

    Angiospermas (plantas comflores) aparecem e tornam-se abundantes, gruposmodernos de insetos,pssaros e mamferos

    Jurssico 205.000.000Pterossauros e primeirospssaros. Dinossaurosvagueiam pela Terra

    Trissico 250.000.000Primeira apario dosdinossauros

    Paleozico

    Permiano 295.000.000

    Primeiro grande evento deextino em massa.Formao dosupercontinente Pangea

    Carbonfero 355.000.000Formao de grandesflorestas

    Devoniano 410.000.000 Primeiros peixes

    Siluriano 435.000.000

    Estabilizao do clima.Derretimento do geloglacial, elevao dos nveisdos oceanos. Evoluo dospeixes

    Ordoviciano 500.000.000Surgimentos dosinvertebrados marinhos eplantas

    Cambriano 540.000.000Aparecimento dosprincipais grupos animais

    Proterozico 2.500.000.000

    Predomnio de bactrias.Primeiras evidncias deatmosfera rica em oxignio.Ao final do Proterozoicosurgimento de formasmulticelulares e dosprimeiros animais

    Arqueano 3.600.000.000

    Aparecimento de vida naTerra. Fsseis mais antigoscom 3.5 bilhes de anos

    (bactrias micro-fsseis

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    2.2.2.2. ABELHAS E O HOMEMABELHAS E O HOMEMABELHAS E O HOMEMABELHAS E O HOMEM

    As abelhas esto presentes em toda a histria da humanidade. Ao longo

    da evoluo humana encontramos vrios registros do uso das abelhas pelohomem. Exemplo disso so os desenhos encontrados em cavernas da

    Espanha, onde um homem est colhendo mel de um enxame, usando uma

    escada de cordas presa ao topo de um barranco (figura 2a). H registros sobre

    o uso do mel pelos hindus h 6000 a.C. e pelos sumrios h 5000 a.C.

    Contudo, racionalmente, mas de forma rudimentar, as abelhas comearam a

    ser exploradas h cerca de 2400 a.C. pelos egpcios; prtica que est

    imortalizada em desenhos nas pirmides (figura 2b).

    Figura 2: a)Coleta de mel na pr-histria. b)Criao de abelhas em potes de barro (pintura notmulo do Fara Pa-Bu-Sa - 630 a.C).

    Nos papiros de Smith, 1700 a.C. esto descritos 48 casos de

    tratamentos em que se utilizam carne fresca sobre suturas e uma mistura de

    graxa e mel sobre cortes abertos; o uso de incensos e mel sobre feridas e

    lceras. Os egpcios usavam uma soluo de prpolis com mel e ervas namumificao dos faras. Os teutes, 200 a.C., usavam uma bebida base de

    mel, hidromel, para comemorar a cerimnia do casamento. Alm disso, podem

    ser encontradas vrias citaes na Bblia sobre o uso do mel como alimento.

    Em vrias outras culturas existem registros sobre as abelhas. Na Grcia

    eram valorizadas no comrcio e na literatura. As antigas moedas gregas, numa

    das faces, estampavam uma abelha como smbolo de riqueza. Os romanos

    veneravam-nas como smbolo de admirao e de defesa de seu territrio. Por

    muito tempo, na Frana, constitua grande honra receber uma medalha de ouro

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    estampando uma colmia povoada de abelhas. Lus XII, muitas vezes, usava

    seu pomposo manto real todo bordado de abelhas douradas como sinal de

    mansido e bondade.

    Os egpcios e gregos desenvolveram as primeiras tcnicas de manejo,

    as quais mais tarde foram aperfeioadas por apicultores como Lorenzo

    Langstroth, no final do sculo XVIII.

    Quanto s abelhas sem ferro, sabe-se que no Brasil, antes de 1840, s

    eram cultivados meliponneos; no sul, as mandaaias, mandaguaris, tuiuvas,

    jatais, manduris e guarupus; no nordeste, a uru, a jandara e a canudo; no

    norte a uru, a jandara, a uru-boca-de-renda e algumas outras.

    Na Amrica Central, os maias cultivavam espcies de abelhas sem

    ferro, principalmente do gnero Melipona, das quais utilizavam o mel e outros

    produtos na sua cultura. Os Maias valorizavam tanto as abelhas que h um

    deus para proteger a sua criao (figura 3).

    Ojesuta Jos de Anchieta foi o primeiro a falar da abundncia do mel

    e das espcies de abelhas existentes no Brasil, Encontram-se quase vinte

    espcies diversas de abelhas, das quais umas fabricam o mel nos troncos das

    rvores, outras em cortios construdos entre os ramos, outras debaixo da

    terra, donde sucede que haja grande abundncia de cera. Usamos do mel para

    curar feridas, que saram facilmente pela proteo divina. A cera usada

    unicamente na fabricao de velas.

    Figura 3: Ilustrao retirada de um cdice maia. Esto representadas trs colnias de abelhassem ferro e os Deuses que possuem os segredos do seu manejo. A terceira rainha(acima da colnia) no tem cabea, o que indica que a colnia est rf (Cdex 103,Museu Amrica - Madri - Espanha. Pesquisa de J.P. Cappas e Sousa).

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    Como as abelhas foram importantes desde os primrdios da

    humanidade, sendo smbolo de defesa, riqueza e tema de escritos do sbio

    Aristteles, tambm hoje as abelhas continuam sendo produtoras de alimentos

    naturais riqussimos, to essenciais para esta humanidade que a cada dia sofre

    de fome crescente. Alm disso, as abelhas nos ensinam muito sobre o trabalho

    em cooperao.

    3. CLASSIFICAO BIOLGICA

    O mundo vivo constitudo por uma enorme variedade de organismos.

    Para estudar e compreender tamanha variedade, foi necessrio agrupar osorganismos de acordo com as suas caractersticas comuns, ou seja, classific-

    los. A expresso classificao biolgica designa o modo como os bilogos

    agrupam e categorizam os seres vivos, extintos e atuais. Para os cientistas, a

    classificao uma linguagem necessria para exprimir a organizao do

    mundo vivo, escolhendo em funo dos seus interesses a classificao mais

    prtica ou til para a sua investigao. Deste modo, a classificao um meio

    de tornar inteligvel a complexidade do mundo vivo, agrupando os organismos

    em categorias, segundo critrios preestabelecidos, tornando o conhecimento

    unificado e universal. Vale a

    pena lembrar que existem

    vrios sistemas de classificao

    e que todos foram construdos

    pelo homem, a razo dessa

    diversidade que nenhum

    sistema realmente

    satisfatrio, so apenas

    critrios diferentes utilizadospara finalidades diferentes.

    A necessidade de

    classificar os seres vivos

    muito antiga, entretanto, no

    significa que seja um assunto

    simples. Geralmente se

    classifica os organismos vivos

    com base em semelhanas,sejam elas morfolgicas, de modo de vida, de utilidade prtica, periculosidade

    Fi ura 4: Classifica o em cinco

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    para o homem, etc. O sistema mais antigo de classificao de seres vivos que

    se conhece deve-se ao filsofo grego Aristteles, que classificou todos os

    organismos vivos ento conhecidos em plantas e animais. Os animais eram

    organismos que se moviam, comiam coisas, respiravam; seus corpos cresciam

    at certo ponto e depois paravam de crescer, as plantas eram organismos queno se moviam, nem comiam, nem respiravam e que cresciam

    indefinidamente. Os fungos, as algas e as bactrias eram agrupados com as

    plantas; os protozorios, organismos unicelulares que comiam e se moviam

    eram classificados como animais. No sculo XX, comearam a surgir

    problemas, foram descobertas algumas diferenas importantes,

    conseqentemente, aumentou o nmero de grupos reconhecidos como reinos

    diferentes. As classificaes mais recentes propem cinco reinos: Monera

    (bactrias), Protista (protozorios), Fungi (fungos), Plantae (plantas), Animalia(animais) (ver figura 4).

    A classificao biolgica moderna tem as suas razes no sistema criado

    por Carl von Line (figura 5), um mdico e naturalista sueco, que agrupou as

    espcies de acordo com as caractersticas morfolgicas por elas partilhadas.

    Enquanto Lineu classificava as espcies de seres vivos tendo como objetivo

    principal facilitar a identificao e criar uma forma de arquivo nos herbrios e

    nas colees zoolgicas que permitisse localizar facilmente um exemplar, nos

    modernos sistemas de classificao dos seres vivos procura-se relacionar os

    grupos de acordo com suas histrias evolutivas, isto significa que se pretende

    relacionar as espcies pela sua proximidade de parentesco.

    Partindo do princpio de que a vida surgiu uma nica vez na Terra por

    uma simples combinao ao acaso de molculas simples, e que a partir deste

    primeiro organismo vivo, ao longo do tempo, evoluram todas as formas vivas

    que conhecemos hoje, podemos dizer que todos os seres vivos possuem

    algum grau de parentesco e que a histria da vida na Terra trilhou um caminho

    nico, o qual ns, seres humanos, que fazemos parte desta histria,

    provavelmente nunca saberemos exatamente como aconteceu, mas podemosespecular e inferir sobre partes deste caminho baseado na diversidade que

    conhecemos atualmente e tambm na diversidade que existiu, atravs dos

    fsseis.

    Devido existncia de tantos guias para classificao e identificao de

    seres vivos, tentador pensar que todo organismo vivente no mundo

    conhecido, entretanto, se fssemos comparar livros diferentes, veramos

    maneiras variadas de se fazer isso. Estas diferenas podem ser, alm do uso

    de sistemas diferentes de classificao, o reflexo de incertezas com relao ao

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    parentesco, de forma que pode ser difcil chegar classificao mais

    apropriada.

    O processo de modificao dos seres vivos ao longo do tempo ns

    conhecemos como evoluo biolgica, e a tentativa de elucidao da histria

    evolutiva dos seres vivos, conhecemos como filogenia. Taxonomia trata-se dotrabalho bsico de reconhecimento, descrio, nomeao e classificao de

    seres vivos, enquanto o estudo dos tipos e diversidade de organismos e suas

    inter-relaes ns chamamos de sistemtica.

    3.1- O sistema classificatrio de Lineu

    No sistema classificatrio de Lineu os seres vivos so agrupados em

    categorias hierrquicas: as espcies so agrupadas em gneros que so

    agrupados em famlias, as famlias em ordens,

    as ordens em classes, as classes em filos e os

    filos em reinos (figura 6). Essas categorias

    podem ser subdivididas ou agregadas em vrias

    outras menos importantes, como os subgneros

    e as superfamlias. Assim, as espcies esto

    contidas em grupos progressivamente mais

    amplos, formando uma hierarquia: medida que

    progride do nvel mais baixo (espcie) para onvel mais elevado (reino) ocorre aumento da

    diversidade de seres vivos, formando, portanto

    grupos mais generalistas, ou seja, caminha do

    mais especfico para o mais geral. Assim

    podemos considerar, por exemplo, que

    indivduos pertencentes ao mesmo gnero so

    mais aparentados entre si do que com outros indivduos da mesma famlia, ou

    ainda, que indivduos pertencentes mesma ordem so mais aparentadosentre si do que com outros indivduos da mesma classe e assim por diante. Por

    exemplo, o co (Canis familiaris) mais aparentado com o lobo (Canis lupus),

    pois so do mesmo gnero, do que com o homem (Homo sapiens) com o qual

    divide a mesma classe (Mammalia / mamferos).

    Figura 5: Lineu (1707-1778).Seu nome pode ser escritodiferentemente conforme alngua: Carl Von Line (sueco),Carl Linnaeus (ingls), CarolusLinnaeus (latim) ou Carlos Lineu(portugus).

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    3.2- A nomenclatura binomial de Lineu

    Com objetivo de facilitar a comunicao cientfica, Lineu props

    universalizar a linguagem cientfica para a nomeao dos seres vivos da

    seguinte maneira:

    Os nomes utilizados para designarem espcies, gneros e as outras

    categorias mais abrangentes devem ser escritos em latim ou latinizados.

    Uma espcie sempre possui dois nomes, como se fosse nome e

    sobrenome, o primeiro nome relativo ao gnero ao qual aquela

    espcie pertence.

    O primeiro nome (relativo ao gnero) sempre comea com letra

    maiscula e o segundo nome sempre com letra minscula.

    Os nomes de gneros e espcies devem ser escritos em itlico ou

    sublinhados, enquanto o nome das famlias, ordens, classes e outras

    categorias no o so, embora tenham a letra maiscula inicial.

    O nome de uma espcie nico e nunca deve se repetir.

    Maisgeral

    Figura 6: Sistema de classificao biolgica hierarquizada em categorias inventado por Lineu.

    Maises ecfico

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    Exemplo: O co cujo nome cientfico Canis familiarisest amplamente

    distribudo... ou

    O co cujo nome cientfico Canis familiaris est amplamentedistribudo...

    4. OS INSETOS E A CLASSIFICAO BIOLGICA

    A Superclasse Hexapoda (hexa- seis, poda- ps) contm todos os

    artrpodes de seis pernas e dentro desta se encontra a Classe Insecta, ou

    simplesmente insetos. Isto significa que existem alguns artrpodes que

    possuem seis pernas, porm no so necessariamente insetos, mas se tratam

    de grupos pequenos como Colmbolos e Dipluros. Tradicionalmente, os

    parentes mais prximos dos hexpodes so os Miripodes (centopias,

    piolhos-de-cobra, lacracias) (figura 7). Dentre os insetos, existem algumas

    ordens cujos representantes no possuem asas, porm a vasta maioria possui

    asas sendo capaz de explorar o ambiente areo.

    Canis familiaris

    Gnero - primeironome (comea com

    maiscula

    Conjunto (1+2nome) designa a

    es cie

    Segundo nome(comea com

    minscula

    Canis familiaris(co)Canis lupus(lobo)

    Canis latrans(raposa)

    So todos do mesmognero (Canis), porm o

    nome da espcie semprenico.

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    Figura 7: Cladograma mostrando as relaes de prentesco (filogenticas) entre osHexa oda.

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    4.1- Como diferenciar um Arthropoda dentro do reino animal?

    Podemos diferenciar um animal do Filo Arthropoda dos outros animais

    de acordo com trs caractersticas que eles possuem:1) Exoesqueleto (esqueleto externo) de quitina, como uma casquinha dura

    (carapaa) que reveste externamente o animal, por exemplo, a casquinha dura

    dos besouros.

    2) Corpo segmentado (dividido) em partes diferentes e articuladas.

    3) Apndices (pernas, asas, antenas, peas bucais) articulados.

    4.2- Como diferenciar um inseto dentro dos Arthropoda?

    Todos os insetos possuem:1) Corpo dividido em cabea + trax + abdome

    2) Seis pernas (trs pares de pernas)

    3) Duas antenas (um par de antenas)

    Aranha um inseto? E o escorpio, um inseto?

    A resposta no, as aranhas e os escorpies so artrpodes, porm

    no so insetos, pois esto dentro da Classe dos Aracndeos e no dentro daClasse Insecta. Veja abaixo algumas diferenas entre insetos e aracndeos

    (figura 8).

    Figura 8: Diferenas na morfologia entre Insetos e Aracndeos.

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    4.3- Reconhecendo as principais ordens de insetos

    Ordem Odonata (odonata=dentes; indica os dentes das mandbulas).

    Exemplo: as liblulas. Sofrem metamorfose incompleta(hemimetbolos). Quando menores permanecem na gua e quando

    adultos elas se tornam predadores.

    Ordem Blattodea (blatta=barata). Exemplo: as baratas. Sofrem

    metamorfose incompleta (hemimetbolos); as asas anteriores so

    resistentes, seu corpo achatado.

    Ordem Isoptera (iso=igual; ptera=asas ; pelo fato das asas anteriores e

    posteriores serem bastante parecidas). Exemplo: os cupins. Sofrem

    metamorfose incompleta (hemimetbolos). Ordem Orthoptera (ortho=retas; ptera=asas). Exemplo: gafanhotos e

    grilos. Sofrem metamorfose incompleta (hemimetbolos); as asas

    posteriores, muitas vezes so menores.

    Ordem Hemptera (hemi= meio, metade; ptera=asas). Exemplo:

    percevejos, barbeiros, cigarras, pulges, marias-fedidas. As asas

    anteriores so bastante resistentes, coriceas. Sofrem metamorfose

    incompleta (hemimetbolos).

    Ordem Coleoptera (coleo=estojo; ptera=asas). Exemplo: os

    besouros, joaninhas e carunchos. Sofrem metamorfose completa

    (holometbolos).

    Ordem Dptera (di=duas; ptera=asas). Exemplo: so as moscas e

    mosquitos. Sofrem metamorfose completa (holometbolos).

    Ordem Lepidptera (lepidos= escama; ptera=asas). Exemplo: so as

    borboletas e mariposas. Sofrem metamorfose completa (holometbolos),

    possuem quatro asas membranosas recobertas por minsculas

    escamas (pzinho da asa).

    Ordem Hymenoptera (hymen=membrana; ptera=asas). Exemplo: so

    as abelhas, formigas e vespas. Sofrem metamorfose completa

    (holometbolos), as asas anteriores so maiores e unidas com as

    posteriores.

    Os insetos so os animais mais abundantes na Terra, veja o diagrama na

    figura 9.

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    5. METAMORFOSE NOS INSETOS

    5.1- Insetos Ametbolos: o prefixo a, designa negao. Portanto, so aqueles

    que ao sarem do ovo j so muito

    semelhantes ao adulto. No passam por

    estgio larval nem sofrem metamorfose,

    somente um crescimento gradual sem

    muitas transformaes. As traas de livro, por exemplo, so assim.

    5.2- Insetos Hemimetbolos: (hemi=metade) quando o ovo eclode, nascem

    diferentes do adulto, mas sofrem

    transformaes graduais na forma e

    fisiologia. Essa passagem para a vida adulta

    chamada de metamorfose incompleta. As

    formas jovens so chamadas de ninfas, e

    medida que sofem muda ficam cada vez mais parecidas com os adultos.

    Figura 9: Diagrama da abundncia relativa de espcies conhecidas de seres vivos.

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    5.3- Insetos Holometbolos:

    (holos=todo, inteiro) so insetos

    que passam por transformaes

    muito mais significativas, durante

    algumas fases da vida. Quem jcomparou uma larva de borboleta (lagarta) com o adulto da mesma espcie

    pode perceber como as transformaes so radicais. Quando o ovo eclode

    nasce uma larva, que se alimenta com grande apetite durante alguns dias e

    cresce bastante, depois, ao se imobilizar adquire um revestimento mais escuro

    e espesso, assumindo a forma caracterstica de pupa que geralmente constri

    um casulo dentro do qual permanece imvel durante algum tempo.

    exatamente neste perodo que ocorrem as principais transformaes, pois os

    tecidos da larva so digeridos e novos tecidos e rgos se formam originandoo adulto, processo conhecido por metamorfose completa.

    6. ABELHAS

    Pelo fato de serem nativas da Amrica, as abelhas sem ferro se

    diversificaram enormemente aqui, compondo hoje um nmero muito grande de

    espcies com comportamento, forma e reproduo diferenciados, dentre elas

    encontram-se a abelha jata, irapu ou arapu, tubi, canudo, boca-de-sapo,

    etc. Lembrando que estes so os nomes populares. Como podemos notar noquadro a seguir, segundo a classificao de Lineu, tudo o que conhecemos

    como abelhas est dentro da superfamlia Apoidea, porm como j foi

    discutido anteriormente as abelhas fazem parte de grupos mais amplos, junto

    com outros animais, como por exemplo, da ordem Hymenoptera onde esto

    juntas com as vespas e formigas. Assim, muito comum confundirmos abelhas

    com vespas ou at mesmo com outros insetos, por isso, logo a seguir (Tabela

    2) voc aprender algumas caractersticas diagnsticas para conseguir

    diferenciar estes grupos.

    Tabela 2 Classificao biolgica de alguns artrpodes

    Abelha Vespa Formiga Cupim Besouro Aranha

    Reino Animal Animal Animal Animal Animal Animal

    Filo Arthropoda Arthropoda Arthropoda Arthropoda Arthropoda Arthropoda

    Classe Insecta Insecta Insecta Insecta Insecta Arachnida

    OrdemHymenopt

    eraHymenoptera Hymenoptera Isoptera Coleoptera Araneae

    Subordem Apocrita Apocrita Apocrita Araneomorphae

    Superfamlia Apoidea Vespoidea Formicoidea

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    Lembrando que para os animais, algumas categorias taxonmicas de Lineu

    podem ser identificadas pela terminao (sufixo) dos nomes dados como indica

    o quadro abaixo:

    6.1- Abelhas e classificao

    As abelhas pertencem ordem Hymenoptera como j vimosanteriormente. A ordem Hymenoptera est dividida em duas subordens que

    so a Subordem Symphyta (vespas-da-madeira) cujos indivduos possuem um

    trax trisegmentado convencional, e a Subordem Apocrita (formigas, abelhas e

    vespas) o primeiro segmento do abdome (propdeo) est incorporado ao trax,

    e ainda o segundo segmento abdominal forma uma constrio ou pecolo

    (figura 10). As fmeas de Apocrita possuem ovipositor no abdome, porm na

    Infraordem Aculeata este ovipositor das fmeas modificado em ferro,

    associado glndula de veneno. Dentro da Infraordem Aculeata exitem trs

    superfamlias: Chrysidoidea, Vespoidea e Apoidea. A Superfamlia

    Chrysidoidea est composta somente por vespas, a Superfamlia Vespoidea

    est composta por vespas e contm tambm a Famlia Formicidae na qual

    esto includas todas as espcies de formigas. Enquanto a Superfamlia

    Apoidea contm apenas abelhas.

    Infraorde

    Subordem Subordem

    Infraorde

    Su erfamli

    Propdeo

    Pecolo ou cintura

    Ovipositor modificado em

    Figura 10: Caracterizao dos Apocrita e dosAculeados.

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    Dentro da Superfamlia Apoidea, o nmero de famlias pode variar de

    acordo com a classifcao, mas dentre estas famlias encontra-se a famlia

    Apidae que rene todas as abelhas que possuem corbculas (expanso da tbia

    do terceiro par de pernas que as abelhas utilizam para transportar plen).

    Ainda, apenas a famlia Apidae possui espcies sociais (que constremcolnias). Atualmente temos dois sistemas de classificao muito utilizados no

    mundo cientfico para os grupos de abelhas:

    Sistema segundo MICHENER

    (2000): as abelhas (Apoidea

    apiformes) esto divididas em 6

    famlias (Andrenidae, Apidae,

    Colletidae, Halictidae,

    Megachilidae e Stenotritidae). AFamlia Apidae, por sua vez est

    dividida em trs subfamlias

    (Apinae, Nomadinae e

    Xylocopinae). Cada subfamlia

    est dividida em tribos, por

    exemplo, a tribo Apini que contm

    um nico gnero (Apis) que so

    as abelhas que conhecemos

    como abelhas europias,

    africanas ou africanizadas. Na Tribo Bombini, por exemplo,

    encontramos a mamangava Bombus que poliniza o maracuj.

    J a Tribo Meliponini rene todas as abelhas sem ferro, que so

    o objeto de estudo deste curso. As nicas tribos que possuem

    espcies sociais so Apini e Meliponini.

    Sistema segundo MELO &

    GONALVES (2005): aqui

    todas as abelhas estoreunidas dentro da Famlia

    Apidae, ento tudo o que

    era considerado famlia na

    classificao anterior

    passou a ser subfamlia

    segundo esta nova

    proposta, por exemplo, ao

    invs de termos Famlia

    Abelhassem

    ferro

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    Andrenidae, temos agora Famlia Apidae e Subfamlia

    Andreninae. As tribos continuam as mesmas, porm aqui, as

    tribos Bombini, Euglossini, Apini e Meliponini segundo a

    classificao anterior, passam a ser subtribos pertencentes

    Tribo Apini e recebem nomes com terminaes diferentes:Bombina, Euglossina, Apina e Meliponina.

    6.2- Como diferenciar abelhas de vespas?

    Pelo fato de abelhas e vespas pertencerem mesma subordem

    (Apocrita) e possurem adultos com asas permanentes, podemos confundi-las

    quando olhamos, porm possvel notar algumas diferenas como as

    apresentadas na tabela 3 e figura 11.

    Tabela 3 - Diferenas bsicas entre abelhas e vespas

    Abelhas Vespas

    Corpo

    Piloso

    Robusto (gordinho)

    Pecolo no aparente

    Sem pelos

    Afilado (longo e fino)

    Pecolo entre trax e abdome

    Estrutura auxiliar para a

    coleta de plenPresente (corbcula ou escopa) Ausente

    Asas Superpostas quando emrepouso

    Dobradas longitudinalmentequando em repouso

    Alimentao Adultos e cria: mel e plenAdulto: mel e plen

    Cria: insetos triturados

    Material de construo

    dos ninhos

    Cera

    Resina vegetal

    Barro

    Celulose

    Barro

    Figura 11: Comparao entre morfologia externa de abelhas (esquerda) e vespas (direita).

    Corbcula

    Pecolo

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    6.3- Como diferenciar Apina de Meliponina?

    Como vimos anteriormente, as subtribos Apina e Meliponina renem

    todas as espcies de abelhas sociais (que constroem colnias), porm Apina

    so as abelhas que ferroam, conhecidas como abelha europia, africana ou

    africanizada, que foram introduzidas no Brasil, enquanto Meliponina rene asabelhas sem ferro que so nossas abelhas nativas, sendo por isso o foco

    deste nosso curso. A primeira idia que temos ao tentar separ-las seria

    morfologicamente, j que uma tem ferro ativo e a outra possui ferro

    atrofiado, e tambm pelo padro de colorao, mas este mtodo no muito

    seguro, visto que voc pode levar uma ferroada por engano e tambm porque

    algumas abelhas sem ferro como as melponas, podem ser muito parecidas

    em tamanho e colorao com uma Apis. Partiremos ento para o lugar onde

    elas vivem, vamos observar a estrutura dos ninhos (colnias) que elasconstrem. Enquanto os Apina constroem ninhos com favos posicionados

    verticalmente as clulas do favo so todas do mesmo tamanho, tanto as que

    armazenam alimento (mel e plen) quanto as que possuem cria, os

    meliponneos, em sua maioria constroem favos na posio horizontal sendo

    que as clulas que abrigam a cria possuem tamanho diferente dos potes que

    armazenam alimento (mel e plen), lembrando que algumas espcies

    constroem os favos na forma de cachos. Mas mesmo assim seria muito

    arriscado precisar abrir o ninho para observar todas estas caractersticas. por

    isso que o melhor mtodo para saber diferencia-los atravs da observao

    da porta de entrada dos ninhos, pois as Apis grande parte das vezes

    constroem ninhos externos e quando constroem em ocos, no ornamentam a

    entrada do ninho, sendo portanto, apenas um buraco. J os meliponneos

    possuem as mais belas e variadas formas de ornamentao da entrada dos

    ninhos, que vai desde canudos de cera como o da jata at lindssimos portais

    de formato raiado feitos de barro, em algumas melponas.

    Existem hoje cerca de 20.000 espcies de abelhas descritas pela

    cincia. Em meio a tantas espcies de abelhas existentes encontramos trstipos diferentes de vida: social, solitria e parasita. De todas as espcies

    calcula-se que apenas 5% possuam algum grau de socialidade. Embora

    existam mais espcies de abelhas solitrias, ns conhecemos melhor as

    sociais, pois elas so mais fceis de serem encontradas, uma vez que vivem

    em colnias com milhares de indivduos e nos interessam economicamente

    devido aos produtos que extramos do ninho, como mel, prpolis, cera etc.

    6.4. Morfologia de abelhas

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    - Integumento (cutcula) a camada externa do corpo das abelhas como em

    todos os artrpodes, constituida de escleritos (placas rgidas) fundidas umas s

    outras ou conectadas por reas membranosas que do elasticidade e

    flexibilidade ao corpo. A superfcie externa do integumento pode ter

    caractersticas bem variadas preto ou colorido, brilhante ou fosco, com brilhometlico ou no, liso ou com diferentes padres de pontuao, reticulado,

    rugoso ou estriado.

    - Tagmatizao: So as divises do corpo da abelha - cabea, trax e

    abdome. A cabea formada por pelo menos quatro segmentos; o trax por

    trs e o abdome por 10. Nas abelhas (como nas formigas e vespas) o

    primeiro segmento do abdome fundido ao trax e denominado propdeo.

    A estrutura originada desta fuso chamada mesossoma e a poro

    restante do abdome designada metassoma.Cabea: Externamente contm dois olhos compostos laterais, trs ocelos

    dorsais, um par de antenas, uma par de mandbulas e o aparelho bucal.

    Mesossoma: composto por quatro segmentos propdeo, protrax,

    mesotrax e tatrax. Na parte dorsal os trs ltimos segmentos so

    chamados de pronoto, mesonoto e metanoto. Um par de asas (anterior) est

    inserido no mesotrax e o outro menor (posterior) no metatrax; este ltimo

    possui pequenos ganchos (hmulos) em sua margem anterior. Trs pares de

    pernas originam-se na superfcie ventral do trax um em cada segmento.

    Metassoma: formado pelos ltimos nove dos 10 segmentos abdominais

    da fmea (no macho pelos 10 ltimos dos 11 segmentos). O primeiro

    segmento do metassoma possui uma constrio anterior que forma o pecolo

    e que d flexibilidade de movimento.

    Figura 12: Morfologia externa de uma

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    7.7.7.7. BIOLOGIA DAS ABELHASBIOLOGIA DAS ABELHASBIOLOGIA DAS ABELHASBIOLOGIA DAS ABELHAS

    7.1 Tipo de vida das abelhas

    Entre as abelhas existem diferentes graus de socialidade, ou seja, arelao entre os indivduos (ou parentes) de uma mesma espcie de abelhas e

    o comportamento de nidificao so variados desde espcies que vivem

    sozinhas at aquelas que formam grupos de milhares de indivduos.

    As abelhas solitrias

    A maioria das pessoas ao ouvir a palavra abelha imediatamente faz

    analogia a uma colmia e produo de mel, muito mais relacionada a abelhamelfera ou europia (Apis mellifera) do que s abelhas indgenas sem ferro

    [Meliponina, por exemplo, Mandaaia (Melipona quadrisfasciata), Jata

    (Tetragonisca angustula). O comportamento solitrio caracterizado pela

    independncia das fmeas na construo e aprovisionamento de seus ninhos.

    No h cooperao, ou diviso de trabalho, entre as fmeas de uma mesma

    gerao, ou entre me e filhas. Na maioria das vezes, a me morre antes de

    sua prole emergir, sem haver relaes entre geraes diferentes.H uma grande diversificao de hbitos de nidificao entre as abelhas

    solitrias. Vrias espcies da famlia Megachilidae, Anthophoridae e Apidae

    nidificam em ramos, ocos de plantas ou orifcios preexistentes em madeira.

    Outras nidificam em cavidades no cho ou em barrancos ou em locais

    protegidos e poucas constroem ninhos expostos. O ninho aprovisionado com

    nctar e plen, algumas espcies utilizam tambm leo coletado em flores (por

    exemplo, nas plantas da famlia Malpighiaceae, por exemplo, a acerola). A

    forma e disposio das clulas de cria variada, podendo ser uma nica clula

    no final de um canal, um aglomerado em um local protegido ou uma sequncia

    linear de clulas, o nmero tambm varia, podendo ir de uma a mais de dez

    clulas por ninho.

    O material de construo utilizado pode ser barro ou areia agregada

    com alguma substncia (por exemplo, leo ou resina vegetal), folhas de

    plantas cuidadosamente cortadas e unidas com resina e, ou barro, resina pura,

    ou o local de construo do ninho recebe apenas uma camada

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    impermeabilizante (de natureza glandular) que evita que a umidade chegue s

    crias. Tambm existem espcies que no revestem o local de nidificao,

    permanecendo, os imaturos, em contato direto com as paredes do ninho.

    No h produo de mel por essas abelhas, pois a fmea busca nas

    flores o nctar (fonte de energia) que necessita para ela e para o

    aprovisionamento do ninho. Vrias espcies so sazonais, isto , ocorrem

    apenas em determinada poca do ano, quando h disponibilidade de alimento

    e condies favorveis nidificao.

    A reproduo de vrias espcies vegetais depende diretamente da visita

    de abelhas solitrias suas flores. Assim, algumas espcies dessas abelhas

    so utilizadas pelo homem para esse fim. Por exemplo, no Brasil, utilizam-se

    espcies de Xylocopa(Anthophoridae) para a polinizao do maracuj, so as

    chamadas mamangabas, mangabas, ou mamangavas, havendo outras

    denominaes dependendo da regio; contudo, esse nome freqentemente

    dado a qualquer abelha de colorao escura e tamanho moderado. Outro

    exemplo o uso de Megachile rotundada (Megachilidae) para polinizao da

    alfafa nos EUA.

    Abelhas parasitas

    So abelhas que se utilizam apenas do trabalho e do alimento que o

    hospedeiro (outra abelha) armazenou. Na maioria dos casos, a abelha parasita

    invade os ninhos, coloca seus ovos nas clulas j prontas e aprovisionadas

    pelo hospedeiro e deixa que sua cria se desenvolva aos cuidados desse. Em

    alguns casos, a abelha parasita passa a conviver com o hospedeiro e pode, at

    mesmo, desenvolver algum tipo de trabalho em conjunto.

    Um outro tipo de parasitismo interessante encontrado num gnero deabelhas indgenas sem ferro (Lestrimelitta, conhecida popularmente por

    abelha-limo) socialmente bem evoludas. As espcies deste grupo constroem

    seus prprios ninhos, porm, o material de construo roubado de outros

    ninhos de espcies afins, como marmelada, jata, abelha-canudo, etc. Essas

    abelhas saem em grande nmero - pois suas colnias chegam a ter milhares

    de indivduos - invadem o ninho das outras e a levam o material que

    necessitam. Esses ataques duram, s vezes, vrios dias e acabam morrendomuitas delas.

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    Outro aspecto que essas parasitas passam a defender o ninho

    conquistado contra pilhagens ou parasitas secundrios enquanto levam o

    material roubado. As abelhas-limo so to bem adaptadas a este tipo de

    comportamento que possuem as corbculas atrofiadas (rgo situado no ltimo

    par de pernas destinado a coleta de plen).

    Abelhas sociais

    O comportamento social em abelhas envolve basicamente duas

    caractersticas: 1) Uma fmea que viva o tempo suficiente para proteger seus

    ovos e alimentar suas larvas. 2) Duas ou mais fmeas compartilhando um

    ninho e cooperando no trabalho de cuidar da cria. Isto significa que as abelhas

    sociais vivem em grupos nos quais existe ntida distribuio dos trabalhos e

    responsabilidade entre os indivduos; todos contribuindo para um fim comum: a

    sobrevivncia do grupo.

    As abelhas com comportamento social possuem niveis intermedirios de

    socialidade, os quais ocorrem em trs famlias: Halictidae, Anthophoridae e

    Apidae. Entretanto, somente na famlia Apidae que h grupos totalmente

    sociais. A caracterstica comum de Apidae uma estrutura especial para

    transporte de plen, a corbcula (semelhante a um cesto), localizada na tbia

    do terceiro par de pernas. O plen transportado nessa estrutura em

    associao com nctar (MICHENER, 1990).

    Dentro da tribo Apini ocorrem quatro subtribos: Apina, Meliponina,

    Bombina e Euglossina (MELO & GONALVES, 2005). Nas quais h espcies

    eusociais primitivos (Bombina), eusociais e altamente eusociais (Apina e

    Meliponina) e solitrias (Euglossina) (MICHENER, 1974). Estas subtribos

    possuem representantes distribudos em todo mundo.A subtribo Meliponina, qual pertencem todas as abelhas indgenas,

    constitui um grupo de abelhas sem ferro amplamente distribudas nas regies

    Neotropicais (ROUBIK, 1989), ocorrendo principalmente no continente

    americano desde o Mxico at o estado do Rio Grande do Sul, no Brasil

    (KERR, 1969; NOGUEIRA-NETO, 1997). Aproximadamente 300 das 400

    espcies descritas ocorrem na Amrica do Sul (VELTHUIS et al., 1997). Sendo

    o gnero Melipona (subtribo Meliponina) exclusivamente Neotropical (vivemnos trpicos das Amricas).

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    Comportamento Social

    Trs caractersticas comuns aos insetos sociais so: (1) cooperao no

    cuidado da cria; (2) sobreposio de no mnimo duas geraes capazes de

    contribuir com a diviso do trabalho; (3) diviso do trabalho reprodutivo

    principalmente ou completamente com casta operria estril e casta

    reprodutiva (rainha); e machos (MICHENER, 1974).

    Tipos de sociedade

    As diferentes espcies de abelhas e vespas apresentam os mais

    diversos comportamentos que podem se modificar ao longo do seu

    desenvolvimento, ou que podem ser tpicos de determinadas espcies durante

    toda a vida. Com o intuito de se conhecer e entender melhor como vivem e se

    relacionam esses indivduos entre si e com o meio, foram criados vrios nveis

    de socialidade levando em considerao: o nmero de fmeas que fundam um

    ninho, grau de desenvolvimento dos ovrios, como feita a construo e o

    aprovisionamento das clulas, se h diviso de trabalho, a tolerncia entre os

    indivduos, mecanismos de defesa, quantas geraes adultas convivem no

    ninho e assim por diante.

    Esses nveis sociais, entretanto, podem se alterar para uma mesma

    espcie e at para um mesmo ninho dependendo da situao e do estgio de

    desenvolvimento em que se encontra.

    Agrupamentos para dormir

    Segundo MICHENER (1974), so comumente encontrados

    agrupamentos de machos de abelhas ou vespas que se formam em um

    determinado local para passar a noite, os quais no podem ser consideradascolnias, pois no formam um ninho. Alguns agrupamentos chegam a ter

    centenas de machos (raramente algumas fmeas), que podem ser de uma s

    espcie ou mais de uma, juntas. Eles podem tambm fazer buracos no cho ou

    utilizar folhas enroladas.

    Agregados

    So formados quando vrios ninhos so fundados bem prximos maspor abelhas independentes e solitrias. Esses agregados so facultativos, mas

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    para algumas espcies so bastante caractersticos. Ocorrem mais comumente

    em espcies que nidificam no solo; podendo tambm ocorrer em espcies que

    nidificam em madeira e em espcies que constroem clulas expostas.

    Ninhos parasociais

    So formados por colnias pequenas, constitudas por abelhas de uma

    nica gerao que tm uma entrada comum para os ninhos. Podem ser de trs

    tipos:

    Ninhos comunais

    Em algumas espcies, eventualmente, as fmeas tm uma parte da

    entrada dos ninhos em comum, contudo cada abelha tem o seu prprio ninho,

    ou seja, o seu conjunto individual de clulas dentro do ninho. Entre estas

    abelhas no existe cooperao, somente uma entrada comum para os ninhos.

    Osmia rufa pode formar associaes comunais, enquanto algumas espcies

    como Andrena bucephala e Andrena ferox tm este comportamento

    estabelecido (OTOOLE & RAW, 1991).

    Abelhas quase-sociais

    Neste tipo de associao existe uma entrada nica para os ninhos,

    como nas comunais, porm j acontece algum tipo de colaborao entre estas

    fmeas, como, por exemplo, quando uma comea um trabalho de construo

    ou aprovisionamento de uma clula e outra pode terminar ou quando algumas

    fmeas, cooperativamente, constroem e aprovisionam uma clula (a postura,

    entretanto, realizada apenas por uma fmea). Algumas espcies encontradas

    na ndia do gnero Nomiae espcies de Exomalopsisque ocorrem no novomundo e nos Estados Unidos so exemplos de abelhas quase-sociais.

    Abelhas semi-sociais

    Nestas abelhas h uma ou mais fmeas fecundadas que pem ovos e

    outras fmeas com ovrios no desenvolvidos e no fertilizados. Uma

    caracterstica tpica de colnias semi-sociais, alm da diviso de trabalho,

    que, ao se abrir um ninho, encontra-se apenas uma clula sendo construda eaprovisionada, embora vrias abelhas estejam coletando provises. Abelhas

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    da espcie Augocloropsis sparsilis e do gnero Pseudaugocloropsis, ambas

    dos neotrpicos, so exemplos de abelhas semi-sociais.

    Abelhas Subsociais

    As colnias subsociais so fundadas por uma nica fmea que constri,

    aprovisiona, realiza postura em suas prprias clulas e alimenta as larvas

    progressivamente. Tipicamente a me morre quando a prole torna-se adulta,

    ou seja, existe algum cuidado maternal com a prole diferentemente de abelhas

    parasociais, nas quais a fmea morre antes da prole emergir das clulas.

    Exemplos de abelhas subsociais esto nas tribos Ceratinini e Allodapini

    (Anthophoridae) (OTOOLE & RAW, 1991).

    Abelhas Eussociais

    So compostas, geralmente, por duas geraes adultas; uma fmea

    fecundada (rainha), que somente realiza postura e um grupo de fmeas no

    fecundadas que realizam diversos trabalhos como construo de clulas,

    aprovisionamento e coleta de plen e nctar. Dividem-se em: primitivamente

    eussociais e altamente eussociais.

    As colnias primitivamente eussociais caracterizam-se por possurem

    rainhas e operrias que se distinguem apenas fisiologicamente e

    comportamentalmente. Uma rainha jovem, neste caso, capaz de fundar um

    ninho sozinha, realizando todas as funes at que nasam as operrias.

    Depois, a fmea que fundou o ninho passa a ser dominante e a realizar

    somente a postura, enquanto as outras abelhas fazem as outras atividades da

    colnia. O melhor exemplo de abelha primitivamente eusocial so as espcies

    do gnero Bombus e depois as abelhas lambedoras de suor da famliaHalictidae, principalmente os gneros Lasioglossume Halictus.

    Nas colnias altamente eussociais, as rainhas se distinguem das

    operrias tambm pelo tamanho (tendo o abdome bem maior) e no so

    capazes de realizar qualquer tarefa, alm de por ovos. Quando uma rainha

    nova vai fundar um ninho, isso acontece por enxameagem, ela leva consigo um

    grupo de operrias do antigo ninho.

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    A questo fundamental no caso de insetos sociais de quem reproduz e

    quem desiste de reproduzir por si prprio e, ao invs disto, ajuda a criar a prole

    de outra fmea na colmia. Esta diviso de trabalho na reproduo dentro de

    colmias depende da capacidade de uma (ou poucas) fmea(s) de

    monopolizar a reproduo e "convencer" as fmeas companheiras a aceitar o

    papel de operria.

    7.2 NIDIFICAO

    A construo dos ninhos das abelhas extremamente importante, visto

    que ali passaro a maior parte da vida, a rainha realizar postura e as abelhas

    cuidaram da cria imatura. Os processos de construo variam na medida emque consideramos nveis de sociabilidade mais distantes evolutivamente.

    Das espcies solitrias as subsociais no encontramos diferenas

    marcantes nos hbitos de nidificao. A escolha do local para a construo do

    ninho vai depender de um substrato adequado, fontes de plen, nctar e gua

    e algumas vezes de certos tipos de plantas para fornecer folhas, fibras ou

    resina.

    As abelhas solitrias geralmente nidificam no solo, algumas espcies

    escavam canais em gravetos e ramos ou na madeira slida. Podem tambm

    utilizar buracos ou frestas e ninhos abandonados por outras abelhas ou

    vespas.

    A parte principal do ninho (muitas vezes o prprio ninho) a clula onde

    a abelha dever se desenvolver. Ela tem geralmente formato ovalado e pode

    ser impermeabilizada em seu interior com secrees glandulares da sua

    construtora antes de receber as provises e o ovo.

    O nmero de clulas e varivel; elas apresentam-se interligadas por um

    canal que conduz at a sada do ninho.

    Na famlia Apidae, a subtribo Euglossina tambm apresenta

    comportamento solitrio ou parassocial. As clulas, porm, podem apresentar-

    se em agregado.

    A subtribo Bombina, primitivamente eussocial, j apresenta em seus

    ninhos estruturas para a estocagem de alimento consumido pelos adultos do

    ninho. Faz seus ninhos em buracos prximos a superfcie do solo. Uma

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    caracterstica diferenciada o fato de em apenas uma clula vrios ovos serem

    postos juntos. medida que as larvas eclodem e vo crescendo, as operrias

    vo aumentando o tamanho da clula, at que cada larva tea seu prprio

    casulo.

    Os ninhos mais complexos esto nas subtribos Apina e Meliponina que

    so altamente eussociais, cuja estrutura, locais de nidificao so bastante

    variados.

    7.3 ESTRUTURA DOS NINHOS

    Os locais procurados pelas abelhas para construrem seus ninhos so

    geralmente ocos de troncos ou ramos de rvores, moires de cercas, esteiosetc, enfim, cavidades fechadas. Algumas, porm, como Trigona spinipes e

    outras espcies de Trigona(Irapu, abelhas-cachorro) constroem seus ninhos

    completamente expostos. Em espcies de Partamona os ninhos so semi-

    expostos, podendo ser construdos em cavidades amplas, moitas de

    samambaias ou ainda em ninhos de pssaros abandonados. Existem tambm

    os ninhos subterrneos das mulatinhas-do-cho (Schwarziana quadripunctata),

    mirim-do-cho (Paratrigona spp), Mandaaia-do-cho (Meliponaquinquefasciata) e mombuca (Geotrigonaspp) que podem ser construdos em

    formigueiros abandonados ou cavidades existentes entre razes de plantas

    (figura 13). As Jatas (Tetragonisca angustula), Iras (Nanotrigona

    testaceicornis) e algumas mirins (Plebeiaspp), que nidificam preferencialmente

    em troncos, podem ser encontradas tambm em muros de concreto, cavidades

    de barranco, construes, etc. Outras que tambm nidificam em troncos como

    mandaaia (Melipona quadrifasciata), p-de-pau (Melipona bicolor) e mesmo a

    Jata tem sido encontradas em cupinzeiros.

    Para construir os favos, potes de alimentos, o invlucro, a maioria das

    espcies utiliza cera e resina vegetal (cermem); algumas como Mosquito

    (Leurotrigona muelleri) e Trigonisca sp utilizam cera pura. Aquelas que

    constrem ninhos expostos como Trigona spinipes utilizam freqentemente

    materiais vegetais macerados e resina; e as de ninhos semi-expostos como

    Partamona, utilizam barro e fezes.

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    O ninho apresenta uma entrada de cera ou barro que tem um papel

    importante na orientao das abelhas. seguida por um canal de prpolis que

    leva aos potes de alimento. Em Partamona, entre a entrada e o ninho

    propriamente dito, h um falso ninho, chamado de vestbulo, que tem funo

    de defesa, desorientando predadores e parasitas. Em meliponneos potes de

    alimento so geralmente ovalados e quando o ninho contm muito alimento os

    potes so muitos, lembrando um cacho de uvas (figura 14 e 15).

    A moa-branca (Frieseomelita varia) constri seus potes de plen

    alongados, como cones, e os de mel ovalados. Em Apis mellifera, o alimento

    armazenado em favos idnticos aos da cria. Os favos de cria podem ser

    verticais, como em Apis melifera em um nico meliponneo, Dactylurina

    staudingeri. As demais espcies apresentam favos horizontais como Jata,

    Partamona, Ira, etc, ou em cacho como em moa-branca, mocinha-preta

    (Frieseomellita silvestrii), mosquito (Leurotrigona muelleri). Existem tambm

    favos que apresentam uma transio entre horizontais e em cachos, s vezes

    espiralados, como em mirim-preguia (Friesella schrotckyi). Pilares de

    cermem mantm os favos suspensos, sem contato com o cho do ninho.

    Algumas espcies apresentam um invlucro de cermem formado por vrias

    lamelas, que tem funo termorreguladora, como em Partamona, Jata, etc

    (figura 16).

    Figura 13 Estrutura de ninho subterrneo.

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    Figura 14 Entradas de ninhos de mandaaia, irai e jata da terra.

    Figura 15 Entradas de ninhos arapu, mirim, jata.

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    Figura 16 Estrutura geral do ninho de meliponneo.

    7.4 MECANISMO DE DETERMINAO DE CASTAS

    As castas em insetos sociais so caracterizadas por diferenas

    morfolgicas, fisiolgicas e comportamentais entre fmeas que vivem juntas

    em uma mesma colnia (semisocial, eussocial primitivo, altamente eussocial).Nas abelhas altamente eussociais (Apina e Meliponina), as diferenas

    morfolgicas, fisiolgicas e comportamentais so marcantes, existindo uma

    forte simbiose entre as castas, que apresentam um alto grau de especializao

    entre as mesmas, uma depende da outra e vice-versa (MICHENER, 1974).

    O desenvolvimento das castas nos insetos sociais, em geral, est

    relacionado com o amplo fenmeno de polimorfismo (vrias formas) nos

    insetos (figura 17). Em abelhas, o polimorfismo de castas envolve basicamentea populao feminina. Tal populao dividida entre rainhas e operrias:

    Operrias: so as fmeas estreis ou semi-estreis, responsveis pela

    alimentao da cria e da rainha, coleta de alimento, limpeza, construo de

    alvolos e demais partes do ninho, defesa e, em alguns casos, pela postura de

    ovos que daro origem a machos ou ovos que serviro de alimento rainha

    (ovos trficos, como ocorre em Meliponae Trigona).

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    Rainha: fmea frtil; a principal produtora de ovos; nas abelhas

    eusociais avanadas, a interdependncia entre as castas bem estreita, sendo

    a rainha incapaz de cuidar da cria ou de fundar sozinha, uma nova colnia; do

    mesmo modo, as operrias no sobrevivem sem a presena da rainha

    (MICHENER, 1974).

    Nos Hymenoptera sociais em geral e nas abelhas em particular, a

    quantidade de alimento um fator muito importante no processo de

    determinao das castas (WILDE & BEETSMA, 1982). A seguir so

    apresentados alguns mecanismos indutores de castas (MICHENER, 1974):

    a) Comportamental: neste caso no h, entre as fmeas,

    diferenas morfolgicas ou genticas; o que ocorre, por

    exemplo em Lasioglossum zephyrum, onde uma fmea

    torna-se dominante com relao s demais devido a seu

    tamanho.

    b) Trofognico: neste caso h diferenas morfolgicas entre

    as fmeas, mas tanto operrias como rainhas originam-se de

    ovos com a mesma constituio gentica; o que ocorre,

    por exemplo, em Apina e Meliponina exceto gnero

    Melipona; sendo a quantidade de alimento ingerido pela

    larva de rainha, maior que a quantidade de alimento ingerido

    pela larva de operria.

    c) Gentico-alimentar: neste caso, ovos que apresentam

    diferena na constituio gentica associada quantidade

    suficiente de alimento do origem a rainhas. Estemecanismo proposto para abelhas do gnero Melipona,

    (KERR 1946, 1948).

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    Figura 17- Fases do desenvolvimento de meliponneos e Apis

    7.4.1 MECANISMO DE DETERMINAO DE CASTAS EM ABELHAS DASSUBTRIBO APINA E MELIPONINA

    O mecanismo bsico de determinao das castas em Apis mellifera

    regulado pela quantidade e pela qualidade do alimento (BEETSMA, 1979).

    Alm destas diferenas na quantidade e na qualidade do alimento, oferecido slarvas de rainha e operria, as duas castas das abelhas melferas tambm se

    desenvolvem em clulas diferentes. O processo de alimentao das larvas

    conhecido como progressivo em virtude do fato de as abelhas nutrizes

    depositarem o alimento larval nas clulas, durante visitas peridicas

    (MICHENER, 1974).

    Segundo WIRTZ & BEETSMA (1972), toda larva fmea com menos de

    trs dias de idade pode se desenvolver em operria, ou rainha, dependendo daalimentao, fornecida pelas abelhas nutrizes (figura 18).

    Favovertical de Apis mellifera com: a) ovo,b) larva jovem, c) larva velha, d) pr-pupa, e) pupa

    aa

    b

    c

    d

    e

    Clulas de cria com alimento larval e ovo

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    Figura 19 Operrias aprovisionando clula de cria (a e b) e vista lateral de uma clula fechadacom alimento larval (seta).

    7.4.3 MECANISMO DE DETERMINAO DE CASTAS NO GNERO

    Melipona

    No gnero Melipona a determinao das castas ocorre por meio de

    mecanismo gentico alimentar (KERR, 1946, 1948, 1969; KERR & NIELSEN,

    1966; KERR et al., 1966). Durante a metamorfose (mudana de larva para

    adulto), s sero rainhas as abelhas que apresentarem este fator gentico e

    receberem uma quantidade de alimento suficiente durante a fase de larva. Asdemais abelhas pouco alimentadas com ou sem este fator gentico daro

    origem a operrias, sendo que a proporo mxima 1 rainha para 3 operrias

    (figura 20 e 21).

    Figura 20 Favo de Meliponacom clulas de rainhas

    a b c

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    Figura 21 Produo constante de rainhas em Melipona (A) e mecanismo gentico dedeterminao da casta (B).

    7.4.4 MECANISMO DE DETERMINAO DE CASTAS NOS OUTROS

    GNEROS EXCETO Melipona

    Nos outros gneros de Meliponina (Trigona, Frieseomelitta,

    Tetragonisca, Scaptotrigona, Nannotrigona, e outros) no h diferenas

    genticas relacionadas com o processo de diferenciao das castas entre as

    larvas que originaro operrias e as que originaro rainhas. A quantidade de

    alimento recebida pela larva o fator responsvel pela diferenciao das

    castas. As rainhas emergem de clulas maiores (chamadas usualmente de

    realeiras) e recebem mais alimento que as operrias (figura 22) (KERR, 1948;

    DARCHEN & DELAGE-DARCHEN, 1971; CAMARGO, 1972; SILVA, 1973).

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    Figura 22: Realeira de jata Tetragonisca angustula

    7.5 DIVISO DE TRABALHO EM ABELHAS SOCIAIS

    Castas e diviso de trabalho esto no mago da organizao social em

    insetos sociais. Uma das principais caractersticas que diferenciam insetos

    sociais dos demais a sua organizao social, existe uma diferenciao de

    membros em castas, sendo esta um critrio essencial da sociabilidade, a

    diviso de trabalho baseada nas castas e a coordenao e integrao das

    atividades que produzem um modelo total do comportamento alm de

    estender-se a uma simples agregao dos indivduos (OSTER & WILSON,

    1978).

    Operrias de Apis apresentam 4 estgios progressivos durante 4-7

    semanas de vida aps a emergncia, iniciando a limpeza das clulas, seguido

    de alimentao e cuidado com a rainha, armazenamento de alimento e

    finalmente, forrageamento (ROBINSON, 1987 e ROBINSON, 1992). Seguindo

    a seqncia de vida na colmia nas primeiras 3 semanas, o subseqente

    forrageamento, impe uma mudana no comportamento nas operrias que

    normalmente no so reversveis (ROBINSON, 1987).

    As fmeas em abelhas eusociais esto acompanhadas por uma

    aparente associao de um hormnio (hormnio juvenil) na regulao da

    diviso de trabalho e polietismo etrio (ROBINSON & VARGO, 1997). Para que

    uma operria desempenhe uma tarefa so necessrios 2 fatores: (a) a

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    magnitude da tarefa que afeta o incio da exposio operria; e (b) a resposta

    ao limiar do estmulo associado com a tarefa, por exemplo, a probabilidade de

    resposta a uma dada exposio ou situao (ROBINSON, 1992).

    Dentro da organizao social de abelhas sem ferro observada a

    atividade de postura de operrias na presena de rainha fisogstrica, bem

    como a diviso de trabalho (tabela 4) baseada na idade semelhante ao

    observado em Apis(tabela 5) (SOMMEIJER & BRUIJN, 1994).

    Tabela 4 - Diviso de trabalho em colnia de Melipona quadrifasciata(mandaaia).

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    Tabela 5 - Tempo de vida das operrias e as respectivas atividades executadas em Apis

    mellifera.

    8. ECOLOGIA DAS ABELHAS

    Vrios so os motivos para preservamos as abelhas, especialmente as

    abelhas sociais nativas, os meliponneos. Segundo KERR (1997) os

    desmatamentos, as grandes queimadas, a ao dos meleiros, o uso de

    madeiras por serrarias, o uso de inseticidas e a fome que leva a populao a

    destruir os ninhos para se alimentar so os principais fatores para a reduo

    dos meliponneos.

    Em contrapartida, citando KERR (1997) h vrias razes para se

    conservar os meliponneos, dentre as quais pode-se destacar:

    1) Realizam a polinizao de 40% a 90% da flora nativa;

    2) a presena de meliponneos em uma rea indica condies de sobrevivncia

    para outras espcies;3) a anlise do plen coletado pelas abelhas um forte indicativo das espcies

    vegetais remanescentes em seu habitat e que dependem de sua polinizao, o

    que auxiliar diretamente nos programas de reflorestamento;

    4) sendo sem ferro podero ser utilizadas, at por crianas, na polinizao de

    vrias espcies teis ao homem;

    5) essas abelhas produzem o melhor mel que se conhece com apenas 70% de

    acar, perfume concentrado de flor e levemente cido, o que no o tornaenjoativo;

    Tempo de vida Atividades Exercidas

    1 a 3 dias Fazem a limpeza e reforma polindo os alvolos

    3 a 7 dias Alimentam com mel e plen as larvas com mais de trsdias

    7 a 14 dias

    Alimentam as larvas com idade inferior a trs dias com

    gelia real. Tambm neste perodo, algumas cuidam da

    rainha

    12 a 18 dias Fazem limpeza no lixo da colmia

    14 a 20 dias Segregam a cera e constrem os favos

    18 a 20 diasDefendem a colmia contra inimigos e contra o apicultor

    desprevenido21 dias em diante Trazem nctar, plen, gua e prpolis, at a morte

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    6) quando criadas racionalmente representam uma fonte de renda para o

    pequeno produtor;

    7) falta, ainda, muito estudo sobre os seus produtos (mel, geoprpolis, cera,

    plen, bactrias dos alimentos, lquido alimentar) que so usados por ndios e

    sitiantes h muito tempo.

    A fragmentao de habitas que afeta diretamente as populaes de

    abelhas sociais nativas, e tem como consequncia a diminuio de suas

    populaes devido a ocorrncia de endogamia, o que pode tambm acarretar a

    extino das espcies. Como foi observado por KERR & VENCOSVKY (1982),

    ao estudar a influncia do nmero de colnias na eliminao de colnias de

    Melipona quadrifasciata, necessrio um nmero mnimo de 44 colnias para

    evitar a endogamia e manter a populao estvel com 6 alelos XO. Portanto,

    somente conhecendo as espcies de uma determinada rea que se pode

    traar metas para a sua preservao, considerando a rea mnima para a

    sobrevivncia da espcie que tenha o menor nmero de colnias.

    8.1 Polinizao

    Do ponto de vista biolgico, as abelhas so extremamente importantes

    na fecundao das plantas. Durante as visitas que as abelhas fazem s flores,

    para a coleta de nctar, plen ou leos, elas conseqentemente realizam a

    polinizao, assegurando a perpetuao das espcies vegetais (figura 37).

    Cada grupo de espcies visita uma pequena variao de plantas adaptadas

    sua morfologia e comportamento. Com a ocorrncia de mais de 7000 espcies

    de abelhas na regio neotropical (O'TOOLE & RAW, 1991) compreende-se que

    elas abrangem um grande grupo de visitantes florais e por isso deve-sedestacar a sua funo na biologia reprodutiva das plantas de uma regio.

    O que polinizao? o processo que envolve o transporte dos gros

    de plen desde a antera (parte masculina) onde so produzidos at o estigma

    (parte feminina), geralmente de outra flor. Este processo geralmente exige um

    agente de transporte que pode ser a gua, o vento, animais e at o prprio

    homem. Dentre os animais, as abelhas so consideradas polinizadores

    altamente eficientes.

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    Figura 23: Esquema mostrando como a abelha realiza a polinizao de uma flor

    As abelhas por constituirem o principal grupo de agentes polinizadores

    das plantas florferas tm grande importncia nas comunidades biticas e a

    conservao de sua fauna tem sido considerada um fator importante na

    preservao das espcies vegetais. Alm disso, os frutos e sementes que as

    abelhas ajudam a produzir so, tambm, fontes de alimento para aves emamferos nativos.

    As abelhas so importantes polinizadores de muitas plantas,

    especialmente de espcies de Papilionaceae, Compositae e Labiatae. A

    presena das abelhas essencial para a boa produo de sementes em

    grande nmero de culturas e rvores em florestas. Dois exemplos notveis so

    a polinizao das orqudeas por machos de Euglossina os quais coletam

    cheiros nas flores (DODSON et al, 1969; DRESSLER, 1982) e a polinizao de

    flores de Malpighiaceae por fmeas de abelhas Anthophoridae as quais

    coletam leo no lugar de nctar (BUCHMANN, 1987).

    Vrias espcies vegetais esto relacionadas especificamente a

    determinadas espcies de abelhas e na ausncia destas o processo de

    polinizao no acontece; ou seja, se uma determinada espcie de abelha

    responsvel pela polinizao de determinada espcie vegetal (polinizador

    exclusivo) deixa de existir em um local, esta planta no ser polinizada e,

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    conseqentemente, no produzir frutos e nem sementes. Com o passar do

    tempo, esta espcie vegetal pode, tambm, desaparecer.

    Plantas polinizadas por abelhas produzem frutos de melhor qualidade e

    em maior quantidade. Este fato est comprovado tanto para plantas silvestres

    quanto para plantas cultivadas. Um exemplo a polinizao de cafeeiro por

    abelhas Apis mellifera, nos quais j foi constatado um aumento de 39% na

    produo.

    A utilizao da jata em culturas de morango um exemplo de que a

    presena de polinizadores naturais pode ser essencial para que se alcance o

    potencial mximo de produtividade. O estudo realizado em Atibaia -- municpio

    produtor de morango no estado de So Paulo -- mostra que a jata se adapta

    bem s condies das culturas e aumenta significativamente a quantidade de

    frutos adequados comercializao. As abelhas diminuem de 85 para 5% a

    percentagem de frutos deformados (MALAGODI-BRAGA & KLEINERT, 2004).

    Em trabalho realizado com a produo de pepinos verificou-se que a

    maior produo foi encontrada nas casas de vegetao onde a polinizao foi

    realizada por abelhas Nannotrigonatestaceicornise Scaptotrigonaaff. depilis

    ; houve maior quantidade de frutos perfeitos, cerca de 90% (SANTOS et al.,

    2008). Os frutos oriundos de flores polinizadas por abelhas desenvolvem-se

    com baixo grau de deformidade, com maior peso e maior nmero de sementes,

    quando comparados a frutos desenvolvidos a partir da autopolinizao

    A polinizao que as abelhas realizam contribui para a agricultura

    mundial, porque pode haver um acrscimo entre 5 a 500% na produo,

    dependendo da espcie, variedade e condies de cultivo (DE JONG, 2000).

    Os servios de polinizao para todo o mundo foi estimado em 1997 no valor

    de of $120 bilhes representando uma estimativa global dos servios doecossistema comparados com o sistema econmico (FAO, 2008).

    Nas ltimas dcadas tem sido observado um "declnio dos polinizadores",

    tanto de abelhas domsticas quanto de abelhas nativas em todo o mundo

    (ORTH & MATOS, 2000). As populaes de abelhas nativas tm sido

    reduzidas pela ocupao intensiva da terra para agricultura, urbanizao, pela

    destruio de suas fontes de alimentos e de locais para nidificao e, nos

    ltimos anos, pela intoxicao com pesticidas. As abelhas, ao visitarem asflores podem ser afetadas pelos defensivos agrcolas por contato, ingesto de

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    alimentos contaminados e/ou pela absoro desses produtos atravs dos

    espirculos por ocasio dos tratamentos fitossanitrios, principalmente na

    poca de florescimento das culturas. Nas espcies sociais isto pode reduzir

    drasticamente a populao da colnia e, desta forma, diminuir a produo que

    pode representar valor bastante significativo na economia de uma regio

    (MALASPINA & STORT, 1980).

    Alm do trabalho de polinizao, as abelhas fornecem dentre os seus

    produtos o mel, cujas propriedades permitem seu uso na dieta alimentar, na

    indstria de cosmticos e em tratamentos teraputicos; o prpolis, que possui

    ao antibitica, anti-sptica e cicatrizante; e o plen que rico em protenas,

    vitaminas e minerais e por isso utilizado como alimento. Por todas estas

    razes, a partir do conhecimento das espcies sociais nativas que ocorrem na

    regio poder-se- estimular os agricultores a criar racionalmente algumas

    espcies visando a preservao, os servios ambientais e em contrapartida

    podero produzir mel de espcies nativas para a comercializao. Um exemplo

    o mel da abelha jata, espcie que ocorre em todo o pas, cujo mel utilizado

    no tratamento de catarata e que difcil de ser encontrado no comrcio. Os

    mis das espcies sociais nativas, abelhas sem ferro, por ter produo

    pequena quando comparada produo de Apis mellifera, considerado mel

    extico e alcana um valor comercial vrias vezes superior ao mel das abelhas

    melferas.

    As populaes de abelhas, principalmente abelhas sociais, tm

    diminudo com a destruio das reas de vegetao nativa porque muitas

    espcies nidificam em ocos em troncos de rvores. Atualmente, as reas de

    vegetao nativa que existem esto reduzidas a pequenos fragmentos,

    acentuando a urgncia em mant-los como refgios de vida silvestre e aurgncia em aumentar o nmero destes, executando trabalhos de

    reflorestamento, na tentativa de recompor a vegetao o mais parecida

    possvel com a vegetao original.

    Outra questo que afeta diretamente a populao de abelhas, a qual

    deve ser evitada, a ao de meleiros, porque na tentativa de retirar o mel

    eles destroem a colnia. Uma soluo possvel nestes casos levar at estas

    comunidades as tcnicas de criao racional de meliponneos. Exemplo disso o trabalho que vem sendo desenvolvido no Amazonas, com populaes

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    ribeirinhas, por Kerr e colaboradores desde 1999. Estas comunidades, aps

    aprenderem o manejo adequado para as espcies realizam um trabalho auto-

    sustentvel e formam cooperativas. Atividades que agregam valores a estas

    comunidades.

    Um cuidado que se deve ter na seleo das espcies a serem criadas diz

    respeito prioridade de manter nos meliponrios espcies tpicas da regio, ou

    seja, deve-se evitar criar espcies de outras regies do pas, pois estas

    espcies no esto adaptadas s condies climticas locais, nem

    vegetao local, o que pode acarretar em perda de colnias ou, se esta

    espcie se adaptar s novas condies pode reproduzir rapidamente e

    competir com as espcies nativas.

    A criao de abelhas importante do ponto de vista ecolgico porque

    durante as visitas de flor em flor, para a coleta de nctar e plen, elas realizam

    a polinizao (fecundao das flores) assegurando a perpetuao de milhares

    de plantas nativas e cultivadas.

    9. Referncias Bibliogrficas

    BEETSMA, J. 1979. The process of queen-worker differentiation in the honeybee. BeeWorld, 60 (1): 24-39.

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