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 UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA MARIA MADALENA VIEIRA AS CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL PARA O ASSEDIADO NO AMBIENTE DAS ORGANIZAÇÕES DE TRABALHO Palhoça 2007

AS CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL PARA O ASSEDIADO NO AMBIENTE DE TRABALHO

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    UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

    MARIA MADALENA VIEIRA

    AS CONSEQUNCIAS DO ASSDIO MORAL PARA O ASSEDIADO NO AMBIENTE

    DAS ORGANIZAES DE TRABALHO

    Palhoa

    2007

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    MARIA MADALENA VIEIRA

    AS CONSEQUNCIAS DO ASSDIO MORAL PARA O ASSEDIADO NO AMBIENTE

    DAS ORGANIZAES DE TRABALHO

    Trabalho de Concluso de Curso II apresentado comorequisito parcial para a obteno do ttulo de Psiclogapela Universidade do Sul de Santa Catarina.

    Orientadora: Msc. Juliane Viecili

    Palhoa

    2007

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    MARIA MADALENA VIEIRA

    AS CONSEQUNCIAS DO ASSDIO MORAL PARA O ASSEDIADO NO AMBIENTE

    DAS ORGANIZAES DE TRABALHO

    Este trabalho de concluso de curso foi julgadoadequado obteno do ttulo de Psicloga e aprovadoem sua forma final pelo Curso de Psicologia, daUniversidade do Sul de Santa Catarina.

    Palhoa, 16 de maio de 2007.

    _____________________________________

    Professora e orientadora Juliane Viecili, Msc.

    Universidade do Sul de Santa Catarina

    _____________________________________

    Professora Lgia Tumolo, Msc.

    Universidade do Sul de Santa Catarina

    _____________________________________

    Professora Regina Ingrid Bragagnolo, Msc.

    Universidade do Sul de Santa Catarina

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    Dedico este trabalho aos meus queridos filhos,

    aos meus pais, minha famlia e ao meu

    companheiro Fernando com quem tenho

    dividido todos os momentos de minha vida e os

    meus planos para o futuro.

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    AGRADECIMENTOS

    Ao concluir este trabalho, muitas pessoas so lembradas porque estiveram presentes

    durante o processo de sua construo e de alguma forma contriburam para que ele pudesse ter

    sido concretizado. De modo especial e com todo carinho, agradeo:

    - Professora Juliane, minha orientadora nesta pesquisa, por toda ajuda e ateno que

    soube dar;

    - professora Maria do Rosrio, pelo incentivo e pela ajuda para que este trabalho

    chegasse ao seu final, e professora Tnia, por todo apoio fornecido no momento mais crtico da

    constituio deste trabalho;

    - aos meus queridos e amados filhos, Brbara e Joo Victor, pela grandiosidade de

    saberem dividir todo o tempo necessrio com a construo deste trabalho;

    - aos meus pais, rica e Gumercindo, pelo carinho e pela ateno dispensados;

    - minha famlia, presentes nos momentos mais difceis e decisivos deste trabalho;

    - ao meu companheiro, Fernando, por todo apoio e fora dispensados sempre

    importantes; e

    - a Deus e a Nossa Senhora, a quem tantas vezes recorri, obrigada.

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    O futuro tem muitos nomes. Para os fracos, o inatingvel. Para os temerosos, o

    desconhecido. Para os valentes, a oportunidade (Victor Hugo).

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    RESUMO

    O objetivo deste trabalho avaliar as conseqncias do assdio moral para o assediado em

    organizaes de trabalho. A partir da identificao da existncia do assdio moral no ambiente

    das organizaes, surge a necessidade de abordar esse fenmeno com mais detalhamento.

    Produto das relaes de poder que se deterioram diante do desenvolvimento econmico e das

    exigncias postuladas pelo mercado so aspectos que podem ter influenciado o assdio moral a

    tomar um lugar de destaque no mundo do trabalho. Para tanto, na presente pesquisa buscou-se

    estudar qual a implicao desse fenmeno na sade do sujeito assediado. Utilizando a abordagem

    qualitativa nesta pesquisa, foi realizada anlise bibliogrfica a fim de se poder compreender a

    problemtica levantada. As categorias de anlise e das informaes extradas das bibliografias

    foram criadas aps o levantamento realizado, posteriormente seleo das bibliografias. Foi

    possvel conceituar o assdio assim como identificar as principais decorrncias para a sade do

    trabalhador, dentre as quais se destacam a depresso e o estresse, podendo inclusive levar o

    sujeito assediado ao suicdio, fato que se caracteriza como uma violncia psicolgica. A partir da

    viso dos autores, constatou-se que se faz necessria a ateno das autoridades competentes com

    a proposio de uma lei que ampare legalmente a prtica do assdio moral no ambiente de

    trabalho, alm de uma maior conscientizao por todos que compem a organizao do trabalho

    para inviabilizarem a produo e a proliferao do fenmeno nos ambientes organizacionais.

    Palavras-chaves: Assdio Moral. Sade do Trabalhador. Sofrimento Psquico.

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    ABTRACT

    This works purpose is to evaluate the consequences of moral harassment for the harassed

    individual in work organizations. Identified the existence of moral harassment in the

    organizations environment, a need for a more detailed approach of this phenomenon arises.

    Being a result of economic development and market demands, moral harassment becomes an

    important issue in the work world. The present research analyzes the implication of this

    phenomenon in the harassed individuals health. Using a qualitative approach, a bibliographic

    analysis was made in order to comprehend the problem in question. Based on this analysis and on

    the information extracted from these references, categories were created, after the bibliography

    selection. Then, it was possible to form a concept of harassment and identify the main outcomes

    on the workers health. Among them, there is specially depression and stress, even leading the

    worker to commit suicide. From the authors' vision, attention from the competent authorities is

    necessary in order to propose a law that sustains moral harassment in the work environment

    legally. Also, it's important for all people from the organization to become conscious of this

    phenomenon and make its production and proliferation nonviable in the organizations'

    environment.

    Keywords: Moral Harassment. Worker Health. Psychic Suffer.

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    SUMRIO

    1 INTRODUO .......................................................................................................................... 91.1 CONTEXTUALIZAO DO TEMA E DO PROBLEMA ................................................... 101.2 JUSTIFICATIVA.................................................................................................................... 121.3 OBJETIVOS............................................................................................................................ 131.3.1 Objetivo geral...................................................................................................................... 131.3.2 Objetivos especficos........................................................................................................... 132 FUNDAMENTAO TERICA........................................................................................... 142.1 UMA INTRODUO AO ASSDIO MORAL .................................................................... 14

    2.1.1 Definies do termo Assdio moral no trabalho.......................................................... 182.1.2 O assdio moral sob a tica organizacional ..................................................................... 193 MTODO.................................................................................................................................. 243.1 CARACTERIZAO DA PESQUISA.................................................................................. 243.2 FONTES DE INFORMAO................................................................................................ 243.3 SITUAO E AMBIENTE.................................................................................................... 243.4 INSTRUMENTOS DE COLETA E REGISTRO DE DADOS .............................................. 253.5 ESCOLHA DAS FONTES DE INFORMAO ................................................................... 253.6 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ................................................................... 273.7 PROCEDIMENTO DE ORGANIZAO, TRATAMENTO E ANLISE DE DADOS..... 28

    4 RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................................................. 464.1 CARACTERSTICAS DO ASSDIO MORAL E OS COMPORTAMENTOS DOSSUJEITOS ENVOLVIDOS .......................................................................................................... 464.2 ADOECIMENTO EM DECORRNCIA DO ASSDIO MORAL E A RELAO COMALGUMAS PATOLOGIAS ......................................................................................................... 544.3 O ASSDIO MORAL E A ORGANIZAO DE TRABALHO.......................................... 57

    5 CONSIDERAES FINAIS................................................................................................... 62REFERNCIAS .......................................................................................................................... 66

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    1 INTRODUO

    Este trabalho tem o objetivo de estudar as conseqncias do assdio moral para o

    sujeito assediado e perceber como funcionam as relaes de empregador/empregado no ambiente

    de trabalho, caracterizando as implicaes do assdio moral para a pessoa assediada.

    O assdio moral vem sendo percebido e estudado por psiclogos, mdicos,

    socilogos, advogados, em vrios nveis no mbito da convivncia entre pessoas nas

    organizaes. Para tanto, cabe discutir sobre o assunto detalhadamente, dando a ele um status

    necessrio dentro do ambiente organizacional. O assdio moral aparece provavelmente como

    uma tendncia que vem aumentando consideravelmente com o passar dos anos, podendo ser,

    entre outros aspectos, fruto da desestabilizao econmica dos indivduos diante da flexibilizao

    do trabalho.

    De acordo com o siteAssdio Moral (ASSDIO MORAL NO TRABALHO, 2006),

    no Brasil, o tema ganhou maior nfase de estudo depois da divulgao da pesquisa realizada por

    meio do livro da Dra. Margarida Barreto, em 2000, Uma jornada de humilhaes", e ainda, no

    mesmo ano, a publicao do livro de Marie-France Hirigoyen, com o ttulo Assdio moral: aviolncia perversa no cotidiano. A partir da publicao dessas obras, as pessoas assediadas, que

    sofriam em silncio, passaram a externar suas angstias ousam agora se expressar e denunciar as

    prticas abusivas de que so vtimas (HIRIGOYEN, 2005, p. 9).

    O objetivo principal deste trabalho avaliar as conseqncias psquicas do assdio

    moral no ambiente das organizaes de trabalho para os assediados por meio de anlises dos

    comportamentos caracterizados como assdio moral, bem como analisar o impacto do assdio

    moral na sade dos sujeitos marcados por tal ato. Alm disso, realizou-se este estudo com o

    propsito de promover uma reflexo acerca do assunto, que se apresenta no s no ambiente

    organizacional (enfoque deste estudo) mas tambm em escolas, famlias e relaes sociais.

    Um dos desafios desta pesquisa, entre outros, foi caracterizar as implicaes das

    estratgias do agressor (assediador) no comportamento do assediado, alm de identificar as

    implicaes do assdio moral para a pessoa assediada, que podero ser caracterizadas como

    constituintes na composio do assdio moral. Nesse sentido, h necessidade de explicar

    sociedade as diferentes formas de assdio moral, da mesma forma, buscar divulgar qual o

    posicionamento de ambos os sujeitos envolvidos direta ou indiretamente nessa ao.

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    Em funo do que foi descrito, o presente estudo apresenta a seguinte questo como

    problema de pesquisa: Quais as conseqncias do assdio moral para o assediado no ambientedas organizaes de trabalho?.

    O trabalho foi dividido em captulos, sendo este da introduo no qual so

    especificados tema e problema, justificativa e objetivos. O Captulo 2 apresenta a fundamentao

    terica na qual foi baseada o trabalho; no Captulo 3 exibido o mtodo utilizado na pesquisa,

    sendo explicitados a caracterizao, as fontes de informao, os instrumentos de coleta e registro

    de dados, e o procedimento seguido para organizao, tratamento e anlise de dados. O Captulo

    4 trata dos resultados; e o Captulo 5 apresenta as consideraes finais acerca da pesquisa. Ao

    final encontram-se as referncias bibliogrficas do estudo.

    1.1 CONTEXTUALIZAO DO TEMA E DO PROBLEMA

    Para Hirigoyen (2005), o estudo sobre o assdio moral originou-se na Sucia,

    estendendo-se pela Frana a partir da histria de um homem aposentado que, ao perceber-se

    assediado moralmente, relatou o fato esposa e, juntamente com ela, fora buscar respaldo

    jurdico para o seu problema, o que no encontrou. Logo, a vtima suicidou-se e deixou um

    bilhete justificando a sua atitude no qual afirmava haver tido um problema com o seu chefe, no

    relato a vtima descreve as aes do chefe. Em seguida, foi checada a informao e confirmada a

    sua declarao, ficando constatada a prtica de assdio moral. A partir desse episdio, foi

    instituda uma lei na Frana para atender s necessidades e s peculiaridades desse problema.

    Margarida Barreto (2000) considera que a violncia moral no trabalho to antigaquanto o trabalho, porm o problema vem aumentando na dcada de 1990. Corroborando o que

    afirma a autora, os dados do Ministrio do Trabalho e Emprego (BRASIL, 2006a) revelam que

    em 2003 o Ncleo de Promoo da Igualdade de Oportunidade e de Combate Discriminao no

    Trabalho da DRT/SP atendeu a 192 trabalhadores da regio metropolitana de So Paulo

    violentados moralmente; em 2004, foram 229; em 2005, o nmero aumentou para 248; e at o

    primeiro semestre de 2006 174 pessoas j haviam sido atendidas. Segundo o Ministrio do

    Trabalho e Emprego (BRASIL, 2006a), 90% das denncias recebidas pelo ncleo constituem-se

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    assdio moral.

    De acordo ainda com o Ministrio do Trabalho e Emprego (BRASIL, 2006a), oassdio moral continua sendo o principal motivo da maioria das denncias feitas no Ncleo de

    Apoio a Programas Especiais (NAPE) da Delegacia Regional do Trabalho (DRT/PR), que tem

    como funo ajudar o combate discriminao e ao abuso de poder no local de trabalho. Do total

    de atendimentos realizados pelo NAPE, em 2005, foram registradas 143 denncias, sendo 49,6%

    de assdio moral. A maioria dessas denncias est relacionada agresso verbal e

    discriminao com gestantes devido s ausncias no trabalho, quando essas tinham consultas

    mdicas ou gozavam de licena-maternidade. Cria-se, portanto, muitas vezes, um ambiente

    desagradvel no trabalho, o que leva o prprio empregado a pedir demisso, desmotivado pelo

    excesso de constrangimento e humilhaes. A atitude mais usual dos assediados costuma ser a

    fuga, j que os possveis mediadores de conflito no vivenciam o problema de perto e

    desconhecem a realidade dos locais de produo.

    As origens do assdio, para Hirigoyen (2005), resumem-se s novas relaes de

    emprego. No mundo do trabalho, os dirigentes e os executivos no levam, suficientemente, a

    srio as dificuldades relacionais, ou seja, os conflitos, os relacionamentos interpessoais mal

    estabelecidos, assim como todo tipo de problema oriundo das relaes interpessoais, a no ser

    que isso acarrete, de fato, algum prejuzo evidente para a empresa. Alm disso, somam-se as

    presses por produtividade por parte dos dirigentes e a reduo de custos pelas empresas

    capitalistas, que aumentam a competitividade, desumanizando e dificultando o ambiente de

    trabalho para que o clima de cooperao e de solidariedade surja entre os trabalhadores, de

    acordo com Hirigoyen (2005).

    Ainda sob o ponto de vista organizacional, de acordo com Guedes (2004), so fatores

    como a competitividade acirrada, a busca por parte das empresas do aperfeioamento constantede seus empregados e o foco na produtividade os maiores precursores para o esfriamento nas

    relaes humanas e, conseqentemente, o incio do terror psicolgico que, silenciosamente,

    destroem as vtimas.

    No sculo XX e XXI, devido s presses impostas pelo modelo capitalista de

    produo, muito se tem estudado sobre o fenmeno do assdio moral no mbito das organizaes

    de trabalho com o argumento de que a existncia do fenmeno to prejudicial para o indivduo

    como tambm para a organizao, e que a forma com que vinha sendo tratado o assunto j no

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    serve mais aos propsitos da sociedade. Sendo assim, o estudo do tema pode vir a ajudar a

    percepo de novas formas de relaes para o trabalho, a partir de novos arranjosorganizacionais, privilegiando as dimenses humanas.

    1.2 JUSTIFICATIVA

    A escolha do tema assdio moral deu-se por ser um fato que merece considervel

    ateno nas relaes organizacionais, embora no seja um fenmeno novo, pois j estudado h

    pelo menos duas dcadas (1990 e 2000) por alguns autores em vrios pases. No Brasil comeou

    a ser discutido com os estudos de Margarida Barreto, embasando-se nas pesquisas realizadas na

    Sucia por Marie-France Hirigoyen, em 2000. O crescimento da discusso sobre o processo de

    flexibilizao do trabalho e competitividade que intensifica e generaliza o problema nos

    ambientes de trabalho acabou por fortalecer assim os estudos sobre essa temtica.

    O mrito e a relevncia de estudar um fenmeno como o assdio moral a

    abrangncia de uma definio que pode reunir uma srie de comportamentos de suas vtimas,

    geralmente, trabalhadores de empresas de mdio e grande porte, os quais notavam algo errado,

    mas que, pela falta de uma categoria especfica para esse assdio, muitas vezes, submetiam-se e

    tornavam-se coniventes em tais prticas perversas. Prticas essas que implicam em um ato de

    terrorismo psicolgico, afetando a sade mental e fsica do trabalhador assediado, acarretando

    doenas como depresso e estresse, que em alguns casos podem levar at ao suicdio

    (NASCIMENTO, 2006).

    Este trabalho no tem a inteno de esgotar o tema e sim de mostrar o crescenteinteresse de diversas reas profissionais como reas da medicina do trabalho, jurdica e

    sociolgica, e principalmente a reflexo sobre os aspectos psicolgicos resultantes desse

    fenmeno. A humanidade convive, silenciosamente, com o abuso de poder nas relaes

    interpessoais, portanto, a investigao deste tema se justifica pelos benefcios conhecidos a partir

    dos conhecimentos trazidos no desenvolvimento deste trabalho. Conhecer as conseqncias do

    assdio moral para o assediado faz-se necessrio, pois, a partir desse conhecimento, possvel

    conduzir melhor as situaes que supostamente podero desenvolver esse fenmeno dentro das

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    organizaes. Evitando dessa forma, futuras conseqncias danosas na sade do assediado,

    implicando em melhores condies de trabalho assim como melhores condies de vida para otrabalhador.

    O presente trabalho oferece a oportunidade de reflexo e de sistematizao dos

    conhecimentos adquiridos no Curso de Psicologia, abrangendo a vivncia de um estudo que

    contribuir para um melhor entendimento em relao ao tema assdio moral para a sociedade.

    Logo, faz-se necessrio este estudo tendo em vista os benefcios para a sociedade dentro de uma

    perspectiva de conhecimento no que tange identificao dos aspectos envolvidos no assdio a

    fim de evitar o desenvolvimento desse fenmeno. Sendo assim, torna-se social e cientificamente

    relevante produzir conhecimento acerca do tema.

    1.3 OBJETIVOS

    1.3.1 Objetivo geral

    Analisar as conseqncias do assdio moral para o assediado em organizaes de

    trabalho.

    1.3.2 Objetivos especficos

    Caracterizar quais os comportamentos constituintes do assdio moral.

    Caracterizar o impacto do assdio moral na sade dos sujeitos.

    Caracterizar as conseqncias psicossomticas para o assediado.

    Caracterizar as conseqncias financeiras para o assediado.

    Caracterizar as conseqncias nos relacionamentos interpessoais dos assediados.

    Caracterizar as conseqncias ao abalo na integridade moral e fsica do assediado.

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    2 FUNDAMENTAO TERICA

    O assdio moral est implicitamente ligado s relaes humanas que ocorrem nos

    ambientes de trabalho, tendo em vista que todo o sucesso de uma relao, assim como de uma

    organizao, depende de como se estabelecem as relaes humanas. Nesse contexto, as relaes

    entre colegas de trabalho (com diferentes posies hierrquicas) nem sempre se configuram como

    relaes saudveis, podendo acarretar diferentes graus de sofrimento psquico para os

    trabalhadores. O assdio moral caracteriza um tipo de relao que gera sofrimento aos

    trabalhadores pelo tipo de relao estabelecida entre aquele que submete o outro a situaes

    constrangedoras, humilhantes, de exposio, entre outras.

    2.1 UMA INTRODUO AO ASSDIO MORAL

    A expresso Relaes Humanas tem sido utilizada de forma histrica em nossasociedade em diversos sentidos, mas comumente tem sido aplicada para significar o estado de

    nimo do agrupamento humano de determinada organizao. Seu uso tambm se refere

    determinao da atitude e do comportamento de um grupo de dirigentes para com os seus

    dirigidos.

    As Relaes Humanas, no trabalho, podem ser entendidas como a rede de relaes

    mantidas entre as pessoas e os grupos no ambiente organizacional. Nesse contexto, a noo de

    rede de contatos remete a relaes humanas como eventos sociais originrios desde a

    antigidade, podendo-se citar quando os homens saam juntos para apanhar frutos e plantas,

    acentuando-se quando caavam ou pescavam em grupos e intensificando-se ainda mais com o

    aparecimento da agricultura, chegando-se ao pice durante a atividade industrial (CROZIER,

    1981).

    O grande crescimento das relaes humanas no trabalho e o avano das cincias

    sociais foram importantes impulsores para o advento das tcnicas de Relaes Humanas no

    trabalho. As cincias como Filosofia, Sociologia e Psicologia passaram a estudar as relaes

    humanas no trabalho como um aspecto importante nas relaes sociais de maneira geral.

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    As Relaes Humanas, invariavelmente, so regidas por exerccios de poder e

    desempenhos de papis de liderana, logo, entender esses fenmenos inerentes s relaeshumanas faz-se necessrio para uma melhor compreenso acerca do papel do lder. Nesse

    contexto, reconhecido no s o real papel da figura de um lder como tambm a necessidade de

    ele obter o mnimo conhecimento no que diz respeito a relaes humanas. Cabe dessa forma

    ressaltar que a rigidez assim como a centralizao so oponentes da postura adequada de um

    lder, e acabam sendo as ferramentas utilizadas pelos lideres como forma de manter a

    estabilizao do poder. Sendo assim, mudar esse modelo de gesto implica em correr riscos, os

    quais no so muito favorveis a quem deseja manter-se no poder com soberania, como cita

    Crozier (1981).

    A rigidez com a qual so definidos o contedo das tarefas e as relaes entre essastarefas e a rede de relaes humanas necessrias para o seu cumprimento tornam difceisas comunicaes entre os grupos e com o meio ambiente, as dificuldades resultantes, emlugar de impor uma mudana radical do modelo, so utilizados pelos indivduos e pelosgrupos para melhorar suas posies na luta pelo poder no seio da organizao, e essescomportamentos suscitam novas presses em favor da impersonalidade e dacentralizao, j que, dentro desse sistema, a impersonalidade e a centralizao oferecema nica soluo possvel para acabar com os privilgios abusivos, adquiridos pelosindivduos e pelos grupos (CROZIER, 1981, p. 283).

    Fica registrada a importncia da ressignificao das reaes passivas dos sujeitos no

    ambiente das relaes organizacionais, a partir da autonomia que lhe cabido. Segundo as

    anlises de Crozier (1981), entende-se que o comportamento humano movido por questes de

    ordem afetiva, sendo que os membros de uma organizao atuam tambm como agentes

    autnomos, de acordo com sua prpria estratgia (p. 267). Assim, Crozier (1981, p. 283)

    argumenta que o seu esquema de interpretao do sistema burocrtico no est mais baseado

    sobre reaes passivas do fator humano, mas no reconhecimento da natureza afetiva do agentehumano que procura, de todas as maneiras e em todas as circunstncias, tirar o melhor partido

    possvel de todos os meios a sua disposio.

    Essas observaes de Crozier sobre o comportamento humano dentro das

    organizaes dizem respeito aos valores que passaram a imperar na sociedade. A busca pelo auto-

    interesse e o abandono da razo coletiva, prpria da pessoa preocupada com o bem comum, esto

    refletidos na estrutura das organizaes e no comportamento dos indivduos, o que acaba por

    reforar as bases valorativas dessa sociedade.

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    O sistema de cooperao entre todos os nveis hierrquicos de uma organizao o

    fator que impulsiona para um ambiente de trabalho mais humano. O que de fato pode-se criar,segundo Caete (2006), um ambiente de trabalho mais cooperativo em vez de competitivo, em

    que seja reconhecida e estimulada a conduta solidria; um lugar onde as pessoas aprendam a

    ouvir e a desenvolver a empatia, respeitando as regras para bom convvio social e que dizem

    respeito inclusive sade coletiva, tais como no impor prticas insalubres s equipes com

    excesso de horas extras, no permitir o abuso de poder, um ambiente mal iluminado, mal

    ventilado e ergonomicamente inadequado, no admitir chantagens nem ausncia de avaliao de

    desempenho justa, no tolerar assdio moral e sexual.

    A flexibilizao da modalidade de atuao do novo mercado de trabalho propicia a

    formao de algumas patologias consideradas tambm responsveis pela constituio do assdio

    moral no ambiente de trabalho. Para Tatto (2001), as presses constantes sofridas pelos

    empregados no que tange ao aumento da carga horria propiciam o desenvolvimento de um

    crculo de medo, de terror e de competio. Alm disso, so percebidas aes de desprezo, de

    provocao, de inveja e de perseguio, corroborando assim o clima de terror desse contexto.

    Como conseqncia surgem novas formas de patologias ligadas a problemas oriundos da

    flexibilizao: doenas ocasionadas por esforos repetitivos, estresse, falta de auto-estima etc.

    cujos efeitos, segundo a psicoterapeuta francesa Marie-France Hirigoyen (2005), podem ser um

    "novo" fenmeno nocivo sade do trabalhador denominado assdio moral.

    A partir da necessidade de impedir a proliferao do assdio moral no ambiente

    organizacional, a adoo de limites legais passou a ser a tnica como forma de coibir o seu

    desenvolvimento. Hirigoyen (2005) diz que o assdio moral tornou-se, a partir de 2000, uma forte

    preocupao social. Diante de um cenrio repleto de humilhaes, fez-se necessria a adoo de

    limites legais que preservassem a integridade fsica e mental dos trabalhadores, sob pena de quefosse perpetuada uma "guerra invisvel" de difcil diagnstico e, s vezes, travestida de puro jogo

    de poder nas relaes de trabalho.

    As tcnicas de coero utilizadas pelos assediadores so as mais variadas possveis e

    acontecem de forma pouco visveis ou mesmo imperceptveis, evidenciando uma forma de

    violncia psicolgica. De acordo com Hirigoyen (apud NAVARRO, 2000), os assediadores se

    utilizam de vrias tcnicas com o objetivo de desestabilizar a vtima, fazendo uso de aes que as

    levem desvalorizao, humilhao, a aluses maldosas, mentira. Tais aes so feitas de

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    forma tal que os companheiros de trabalho no percebam atitudes to mesquinhas por parte do

    assediador, e como conseqncia tem-se vtima mais vulnervel. conveniente ressaltar que osassediadores, tambm chamados de socialkillers,retornam situao simulando-se vtimas. Alm

    disso, Navarro (2000) complementa que com palavras aparentemente andinas, ou seja, com

    mensagens subliminares possvel desestabilizar uma pessoa, isol-la e at destru-la, sem que as

    pessoas volta possam intervir.

    Depois da exposio das opinies de alguns especialistas nesse assunto, cabe o

    questionamento: como saber quando se trata ou no de assdio moral? Para Hirigoyen (apud

    NAVARRO, 2000), as fronteiras entre assdio, estresse, parania e hipersensibilidade so pouco

    precisas, sendo todos os elementos, que entram na definio de assdio moral, usados

    pontualmente por qualquer pessoa, seja em que quadro de trabalho for. De acordo com a autora, o

    que caracteriza o assdio moral, tornando-o destruidor, a freqncia e a repetio no tempo.

    Conforme Navarro (2000), nas organizaes o assdio moral transforma-se em

    assdio cnico, ou seja, despretensioso, cujo objetivo de transformar o empregado em um

    fantasma, retirar responsabilidades de trabalho do empregado, dar-lhe menos tarefas ou tarefas

    menos interessantes, faz-lo se sentir intil, submetendo-o, ao mesmo tempo, a todas as presses

    j descritas. A desmoralizao neste caso pretende forar o empregado a cometer faltas

    profissionais que possam justificar o seu desligamento da organizao. J em outros casos esse

    mesmo processo pode levar pessoas visadas ao suicdio. Sabe-se que no h uma soluo

    definitiva para o problema, pois a realidade que o sistema de trabalho, hoje, propicia esse tipo

    de comportamento ao tratar o trabalhador como um objeto descartvel, mas quando h a

    existncia do problema, torna-se necessria a criao de condies mais harmnicas nas

    reparties em que essas anomalias se fazem presentes para que a sade do trabalhador seja

    resguardada.

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    2.1.1 Definies do termo Assdio moral no trabalho

    O termo assdio moral tambm conhecido como hostilizao no trabalho ou

    assdio psicolgico no trabalho, conhecido no mundo como psicoterror, mobbing, bullying,

    harclement moral ou ijime, expresses oriundas respectivamente do Brasil, dos Estados Unidos,

    da Inglaterra, da Frana e do Japo (HIRIGOYEN, 2005, p. 76-85). Sobre o assunto, Glckner

    (2004, p. 17) acrescenta que o conceito francs o que mais se aproxima da realidade brasileira.

    Hirigoyen (apud NAVARRO, 2000) conceitua o termo assdio moral como todo

    tipo de ao, gesto ou palavra que atinja, pela repetio, a auto-estima e a segurana de um

    indivduo, fazendo-o duvidar de si e de sua competncia, implicando em dano ao ambiente de

    trabalho, evoluo da carreira profissional ou estabilidade do vnculo empregatcio do

    funcionrio, tais como marcar tarefas com prazos impossveis, passar algum de uma rea de

    responsabilidade para funes triviais, tomar crdito de idias de outros, ignorar ou excluir um

    funcionrio s se dirigindo a ele por meio de terceiros, sonegar informaes de forma insistente,

    espalhar rumores maliciosos, criticar com persistncia e subestimar esforos. Nesse contexto, o

    que efetivamente pode ser considerado assdio moral no trabalho? Glckner (2004, p. 17) afirma

    que assdio moral refere-se ao conhecido fenmeno de exposio dos trabalhadores, em geral, a

    situaes humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas, durante a jornada de trabalho

    e no exerccio de suas funes.

    Para Barreto (apud TARCITANO; GUIMARES, 2004), o assdio moral

    caracteriza-se por atos e comportamentos agressivos, os quais objetivam a desqualificao e

    desmoralizao profissional e a desestabilizao emocional e moral do(s) assediado(s), o que

    passa para o ambiente de trabalho um ar desagradvel, insuportvel e hostil. O autor procuraressaltar ainda que todos esses atos, para caracterizarem-se como assdio moral, necessitam

    acontecer com uma maior freqncia.

    Existem, de fato, vrias definies para o termo assdio moral que podem ser

    analisados, por exemplo, na rea da medicina, da psicologia e jurdica. Como esse trabalho

    concentra-se na rea de gesto de pessoas, procurou-se restringir definies e estudos no mbito

    da psicologia.

    Dos conceitos expostos anteriormente, pode-se perceber que o elemento comum,

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    alm da finalidade de excluso, a modalidade da conduta, a qual sempre se verifica agressiva e

    vexatria, capaz de constranger a vtima, incutindo nela sentimentos de humilhao,inferiorizao, afetando essencialmente a auto-estima do assediado, assim como sua integridade

    fsica e psicolgica.

    A partir desse resgate terico do que alguns autores consideram essencial quando se

    fala de assdio moral, foi possvel perceber que o assdio traz severos danos para o sujeito

    assediado. Dessa forma, a partir do momento em que as organizaes passam a aderir cuidados

    ou programas de preveno de combate ao assdio moral contribuem para a sua extino.

    2.1.2 O assdio moral sob a tica organizacional

    O assdio moral pouco observado no ambiente organizacional, seu reconhecimento

    no muito perceptvel pelos trabalhadores. Ainda assim, a Legislao brasileira possibilita

    identificar diversas aes que implicam o assdio moral a fim de regulament-lo. De acordo com

    o site da Associao Nacional dos Magistrados da Justia do Trabalho (2006), a justia prev

    acusao penal desse tipo de delito em alguns Estados e Municpios, sendo amparada pela: a) Lei

    n 13.218, de 2002, da Cmara Municipal de So Paulo, que dispe sobre a aplicao de

    penalidades prtica de assdio moral nas dependncias da Administrao Pblica Municipal; b)

    Lei n 511, de 4 de abril de 2003, da Cmara Municipal de So Gabriel do Oeste/MS, que dispe

    sobre a aplicao de penalidade prtica de assdio moral no mbito da Administrao Pblica

    de So Gabriel do Oeste; c) Lei n 11.409, de 4 de novembro de 2002, da Cmara Municipal de

    Campinas/SP, que veda o assdio moral no mbito da administrao Pblica Municipal; e d) Lein 3.671, de 7 de julho de 2002, da Prefeitura Municipal de Americana/SP, que dispe sobre a

    aplicao de penalidades prtica de assdio moral nas dependncias da Administrao Pblica

    Municipal Direta e Indireta, dentre outras.

    Porm, de acordo com o mesmo sitee tendo em vista que o assdio moral no ocupa

    o campo das Leis em algumas regies, poder ganhar corpo no campo da tica. Um sofrimento

    moral, uma perda material ou uma injria grave a seus direitos fundamentais, embora ainda no

    sejam constituintes de uma violao da Legislao Penal Nacional, representam violaes de

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    normas internacionais reconhecidas sem matria de direitos humanos. Cabe informar ainda que

    diversas entidades do Pas iniciaram uma campanha pedindo a aprovao em carter de urgnciado Projeto de Lei n 2.369, de 2003, lanado no dia 28 de abril, que dispe sobre o assdio moral

    nas relaes de trabalho. Para tanto, o terror psicolgico no trabalho atinge direito de interesses

    de todos os trabalhadores envolvidos na organizao, em que o sujeito perverso (assediador) atua.

    Acredita-se, entretanto, que em situao de assdio moral no trabalho existem interesses

    homogneos em jogo e o grupo vitimizado pode legitimamente invocar reparao de danos, nos

    moldes descritos na Lei n 8.078, de 11 de setembro de 1990, art. 81, III, de interesse individual

    homogneo. Essa lei dispe sobre possibilidade de reparao de danos referentes proteo do

    consumidor, logo, poder-se- fazer uso dela tambm para reparar o dano causado pelo assdio

    moral.

    De acordo com as autoras Hirigoyen (2005) e Guedes (2004), os trabalhadores

    encontram-se desprotegidos por uma lei que torne o assdio moral uma prtica que ampara

    legalmente a vtima, permitindo, assim, sua proteo e supostamente a punio do assediador. No

    Brasil, ainda est em votao, no congresso, a Lei que legitima a prtica de assdio moral. At

    ento, os trabalhadores sofrem em silncio, estando as vtimas sem condies de denunciar.

    Sendo assim, no Brasil, profissionais de diversas reas esto se mobilizando a fim de ajudar a

    vtima e esclarecer o empresariado demonstrando que esse tipo de violncia poder lhe causar

    grandes prejuzos financeiros, alm de exigir das autoridades competentes, como no caso do

    Congresso, por exemplo, a aprovao com a maior brevidade possvel da Lei que tramita para

    votao (informao verbal)1.

    H poucos trabalhos de assdio moral em ambientes organizacionais desenvolvidos

    no Brasil. Glckner (2004) constata o pequeno nmero de publicaes de trabalhos cientficos no

    Brasil que retratam com maior profundidade o tema, em especial na rea jurdica na qual no seencontra literatura. Na rea da medicina do trabalho, Barreto (2003) investigou o tema do assdio

    moral em sua dissertao de mestrado indicando que 36% da populao brasileira

    economicamente ativa passa por algum tipo de assdio.

    Glckner (2004) expe que h vrios mtodos de se hostilizar e se desestabilizar o

    trabalhador em seu ambiente de trabalho, sendo tal prtica recorrente de tal forma que o agressor

    tivesse algum tipo de vantagem sobre isso para caracterizar o assdio. Neste sentido, a

    1Extrada de debate televisivo com especialistas na rea na TVCOM em 16 de out. 2006.

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    persistncia das aes transformar o ato em assdio moral, pois, de outra forma, no seria

    possvel consider-lo como constituinte de assdio.Nesse contexto, cabe questionar: a partir de que condies o assdio moral se

    estabelece em organizaes de trabalho? Glckner (2004, p. 18) expe que Lydia Guevara

    Ramires, secretria da Diretoria Nacional da Sociedade Cubana de Direito do Trabalho e

    Seguridade Social, afirma que, em geral, a pessoa assediada escolhida:

    Porque tem caractersticas pessoais que perturbam os interesses do elemento assediador,como ganncia de poder, dinheiro ou outro atributo ao qual lhe resulta inconveniente otrabalhador ou trabalhadora, por suas habilidades, destrezas, conhecimento, desempenho

    e exemplo, ou simplesmente, quando estamos em presena de um desajustado sexual oupsquico.

    O assdio moral tem caractersticas muito peculiares, capazes de confundir quem est

    diretamente envolvido no problema. Sob essa tica, Glckner (2004) ainda afirma que se faz

    necessrio registrar que nem todo assdio moral dito como tal pode assim ser considerado. Logo,

    fundamental ter certos cuidados para no se generalizarem todos os fenmenos que surgem no

    ambiente de trabalho, bem como o estresse, os conflitos velados ou a prpria presso no trabalho

    como sendo assdio moral. No se pode considerar estresse como assdio, decorrente dasobrecarga e de ms condies de trabalho, tendo em vista que o organismo reage ao do

    agente estressante. A diferena principal, segundo o autor, consiste em diferenciar assdio moral

    da humilhao normal e intencional do trabalhador. Cabe, portanto, ressaltar uma outra diferena

    apontada por Glckner (apud HIRIGOYEN, 2005, p. 22).

    Com os estressados, o repouso reparador, melhores condies de trabalho permitemrecomear. Com uma vtima de assdio, a vergonha e a humilhao persistem por um

    longo tempo, mesmo que o quadro possa se alterar um pouco em funo dapersonalidade dos indivduos. O atentado contra a dignidade tem uma conotaosubjetiva, que no pode ser analisada seno caso a caso.

    Glckner (2004, p. 23), ao fazer um paralelo entre as posies de Leymann e

    Hirigoyen, identificou que nas consideraes feitas por Leymann: o mobbing tem origem em um

    conflito profissional mal resolvido, j Marie-France Hirigoyen (apud GLCKNER, 2004, p. 23)

    discorda dessa afirmao dizendo:

    De minha parte, penso que, se existe assdio moral, justamente porque nenhum

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    conflito pode ser estabelecido. Em um conflito, as recriminaes so faladas (a guerra aberta, de alguma maneira). Ao contrrio, por trs de todo procedimento de assdio,

    existe o no falado e o escondido.

    O conflito no pode ser confundido com assdio moral, tendo em vista que o conflito

    explcito, e o assdio moral velado. Glckner (2004) conclui que, apesar da existncia do

    conflito, caracteriz-lo como assdio moral descabido. Pois, segundo o autor, os conflitos

    constituem momentos em que pode mudar e levar em conta o outro, ou seja, momento de

    enriquecimento, enquanto o assdio moral uma maneira de vedar qualquer mudana. Sendo

    assim, necessrio observar sob que condies esse conflito est sendo travado de forma que os

    envolvidos tenham condies de defenderem as posies das quais se fazem partcipes, evitando-

    se aliados de ambas as partes e impedindo a formao de grupos rivais no ambiente de trabalho.

    Diante desse cenrio e sob o ponto de vista da psicopatologia psicanaltica,

    Dalgalarrondo (2000, p. 29) afirma que:

    A psicanlise d grande importncia aos afetos, que segundo ela, dominam o psiquismo;o homem racional, autocontrolado, senhor de si e se deus desejos, para ela, umaenorme iluso. Na viso psicanaltica os sintomas e as sndromes mentais soconsiderados formas de expresso de conflitos, predominantemente inconscientes, de

    desejos que no podem ser realizados, de temores a que o indivduo no tem acesso.

    O que pode se concluir em relao idia de Dalgalarrondo que o indivduo

    movido por emoes que ultrapassam sua conscincia e o tornam verdadeiramente vulnervel,

    inclusive consigo. Com isso, no tem o indivduo o controle necessrio para a harmonizao de

    suas relaes. O indivduo acaba por incorrer-se em confuses mentais, conflituosas, capazes de

    invadir a privacidade do outro, sem pedir licena, instituindo dessa forma o conflito. Nesse

    sentido, para alguns indivduos, o conflito fonte de sabedoria, j para outro pode ser a fonte que

    alimenta as suas fantasias.

    O conflito um fenmeno que necessita ser mediado de forma a no se tornar um

    problema para a organizao. Quando uma organizao no est disposta a mediar o conflito,

    assim como no se predispe a estar atenta prtica de assdio moral em seu ambiente de

    trabalho, corre um grande risco de tornar-se uma empresa no muito considerada pela sociedade,

    tendo em vista que em sua rotina, quando da existncia do fenmeno do assdio moral, possvel

    identificar uma elevada taxa de rotatividade assim como absentesmo, principalmente

    ocasionados por problemas de sade. Essa organizao est fadada futuramente

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    improdutividade e a gastos elevados em decorrncia desses problemas, comprometendo, assim, a

    sua produtividade e, logo, a sua prpria existncia.Apesar de haver poucos estudos sobre o tema e no haver uma lei que legitime o

    assdio moral, principalmente como prtica freqente no ambiente das organizaes, e ainda em

    virtude da desinformao por parte dos envolvidos quanto ao prprio conceito e s caractersticas

    do assdio, percebe-se um movimento crescente por parte da sociedade em combat-lo. H que se

    perceber que essa mesma sociedade est tentando resgatar valores que haviam sido perdidos e

    recuperar o que ainda possvel.

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    3 MTODO

    3.1 CARACTERIZAO DA PESQUISA

    Entre os diversos mtodos para se desenvolver uma pesquisa, este estudo refere-se a

    uma pesquisa bibliogrfica. Alm disso, qualitativa, porque, segundo Gil (1999), no requer uso

    de mtodos e tcnicas estatsticas, descritiva.

    Segundo Lakatos e Marconi (1991), a pesquisa bibliogrfica abrange todas as fontes

    de informao j tornadas pblicas em relao ao tema de estudo, desde publicaes avulsas,

    boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas e monografias, at meios de comunicao oral como

    rdio, gravaes e audiovisuais. Sua finalidade colocar o pesquisador em contato direto com

    tudo o que foi visto, escrito ou falado sobre o determinado assunto.

    3.2 FONTES DE INFORMAO

    Foram utilizados como fontes de informaes para a efetivao da pesquisa livros,

    artigos cientficos, teses, dissertaes, monografias e sites.

    3.3 SITUAO E AMBIENTE

    Todo o desenvolvimento do trabalho ocorreu em uma sala com iluminao adequada,

    livre de interferncia de qualquer tipo de rudo, porm com pequenas interrupes de pessoas.

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    3.4 INSTRUMENTOS DE COLETA E REGISTRO DE DADOS

    Foi utilizada observao dos materiais bibliogrficos encontrados sobre assdio

    moral. Para registro das informaes, foi utilizado um protocolo de registro das observaes das

    informaes encontradas na literatura. No protocolo de registro foram descritas as citaes

    encontradas na literatura e as categorias de anlise dessas citaes. O Quadro 1 apresenta o

    protocolo utilizado para extrair e organizar as informaes encontradas na literatura.

    CATEGORIAS DESCRIO DA LITERATURA

    Quadro 1 - Protocolo de registro das informaes extradas da literatura.Fonte: Elaborao do autor, 2007.

    3.5 ESCOLHA DAS FONTES DE INFORMAO

    Foram selecionadas todas as fontes de informaes identificadas a partir de um

    levantamento bibliogrfico acerca dos objetivos geral e especficos propostos no trabalho,

    priorizando autores que abordassem exclusiva e detalhadamente o tema e aos quais foi possvel o

    acesso. A alguns materiais identificados como fonte de informao no foi possvel o acesso em

    decorrncia de eles estarem esgotados, portanto no disponveis comercializao e no

    constaram no acervo de bibliotecas consultadas. O Quadro 2 apresenta as obras consultadas.

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    AUTOR OBRA ANO TIPO DE FONTE

    BARRETO, M. M. S. Uma jornada de humilhaes 2000 Dissertao de Mestradoem Psicologia Social

    BALLONE, G. J. Sndrome de Burnout 2006 Livro

    DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologiados Transtornos Mentais

    2000 Livro

    DEJOURS, C. A loucura do trabalho 1994a Livro

    GLCKNER, C. L. P. Assdio Moral no Trabalho 2004 Livro

    GUEDES, M.N. Terror Psicolgico noTrabalho

    2004 Livro

    HIRIGOYEN, M. Mal-estar no trabalho:redefinindo o assdio moral

    2005 Livro

    MEZAN, R. A inveja. In: NOVAES,Adalto (Coord.). Os sentidosda paixo

    1987 Livro

    NAVARRO, A. Quando a Empresa Destri 2000 Livro

    NASCIMENTO, A. C. M. Assdio Moral no Ambientede Trabalho

    2006 Livro

    CONFEDERAONACIONAL DOSTRABALHADORES NAINDSTRIA

    2006 Site

    ASSDIO MORAL NOTRABALHO

    2006 Site

    TARCITANO, J. S.;GUIMARES, C. D.

    Assdio Moral no Ambientede Trabalho

    2004 Trabalho de Conclusode Curso de Tecnologiaem Gesto de RecursosHumanos

    TATTO, A. O assdio moral no trabalho 2001 Livro

    Quadro 2 - Apresentao das bibliografias consultadas para extrao das informaes.

    Fonte: Elaborao do autor, 2007.

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    3.6 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

    Para a realizao deste estudo, procuraram-se informaes publicadas em diferentes

    veculos de comunicao. As informaes, obtidas a partir da bibliografia, so consideradas

    dados primrios. Cabe ressaltar que as fontes deste trabalho foram extradas de bibliotecas,

    acervo pessoal e sitesetc., todos selecionados conforme critrios estabelecidos por categorias, de

    acordo com a relao de especificidade com o tema assdio moral no ambiente organizacional.

    As fontes de informaes foram identificadas e selecionadas por meio de pesquisas

    on-line e tradicionais da maneira descrita a seguir.

    Foram acessadas bases de procura em bibliotecas com palavra-chave assdio moral

    e tambm outras nomenclaturas entendidas como assdio moral em outros pases a partir das

    palavras localizadas e entendidas como assdio: psicoterror, no Brasil; mobbing, nos Estados

    Unidos; bullying, na Inglaterra; harcelement moral; na Frana; e ijime, no Japo. A partir da

    identificao das fontes de informaes, o material foi lido e dele foram extradas as informaes

    referentes s categorias de anlise sobre as conseqncias do assdio moral para o sujeito

    assediado.

    Para iniciar o trabalho de coleta de dados, foram identificadas na literatura

    informaes que se referiam s seguintes categorias: problemas psicossomticos; fsicos;

    financeiros; de relacionamento; abalo na integridade do carter; conceituao de assdio moral; e

    comportamento do assediador. Alm dessas categorias previamente estabelecidas, outras mais

    foram elaboradas a partir da natureza das informaes encontradas na literatura.

    Da identificao das fontes de informao, foram extradas as informaes que

    embasaram o trabalho. medida que a leitura das fontes de informao foi sendo feita, foramsendo extradas as citaes dos autores das obras a fim de propiciar a discusso sobre o tema. As

    citaes foram retiradas das obras consultadas de forma direta ou indireta. Neste ltimo caso,

    foram realizadas snteses das idias do autor.

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    3.7 PROCEDIMENTO DE ORGANIZAO, TRATAMENTO E ANLISE DE DADOS

    A descrio dos dados foi feita mediante anlise de contedo, que busca o sentido de

    um texto classificando frases em categorias de contedo, relacionando as informaes para se

    produzirem inferncias.

    As citaes dos autores retiradas das fontes de informao foram organizadas e

    extradas em conjuntos de temas comuns, formando as categorias. As categorias avaliadas foram:

    1. conceituao do assdio moral;

    2. caracterizao do assdio moral;

    3. caracterizao do assdio moral quanto a tipos;

    4. caracterizao do assdio moral quanto a fases;

    5. comportamento do assediado;

    6. comportamento do assediador;

    7. comportamento do espectador;

    8. caractersticas do assediado;

    9. conseqncias para a sade do assediado;

    10. conseqncias para a integridade moral do assediado;

    11. conseqncias para a integridade fsica do assediado;

    12. conseqncias nos relacionamentos interpessoais do assediado;

    13. conseqncias financeiras para o assediado;

    14. relao do assdio moral com o sofrimento psquico;

    15. relao do assdio moral com outras patologias;

    16. relao do assdio moral e o ato de invejar;17. relao do assdio moral e o nexo causal;

    18. relao do assdio moral e a produtividade;

    19. diferena entre assdio moral e humilhao normal e intencional do trabalhador,

    entre outros;

    20. diferena de comportamento entre homens e mulheres assediados moralmente;

    21. fatores desencadeadores do assdio moral; e

    22. preveno que a empresa deve tomar em relao ao assdio moral.

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    Para cada categoria avaliada foram descritas as informaes extradas da literatura. OQuadro 3 apresenta as categorias com as respectivas citaes dos autores referentes a cada uma

    delas, possibilitando fazer o confronto a partir das citaes diretas e indiretas expostas.

    CATEGORIA DESCRIO DA LITERATURA

    01.Conceituao doassdio moral

    - O assdio moral todo tipo de ao, gesto ou palavra que atinja, pela

    repetio, a auto-estima e a segurana de um indivduo, fazendo-o duvidar

    de si e de sua competncia, implicando em dano ao ambiente de trabalho,

    evoluo da carreira profissional ou estabilidade do vnculo empregatcio

    do funcionrio (HIRIGOYEN apud NAVARRO, 2000).

    - Trata-se do j conhecido fenmeno de exposio dos trabalhadores em

    geral a situaes humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas

    durante a jornada de trabalho e no exerccio de suas funes

    (GLCKNER, 2004, p. 17).

    - O assdio moral pode reunir uma srie de comportamentos que suas

    vtimas, geralmente, trabalhadores de empresas de mdio e grande porte,

    notavam como sendo algo errado, mas que, pela falta de uma categoria

    especfica para esse assdio, muitas vezes, submetiam-se e tornavam-se

    coniventes de tais prticas perversas (NASCIMENTO, 2006).

    02. Caracterizaodo assdio moral

    - O que caracteriza o assdio moral tornando-o destruidor a freqncia e a

    repetio no tempo (HIRIGOYEN apud NAVARRO, 2000).

    - Com palavras aparentemente andinas, ou seja, com mensagenssubliminares, possvel desestabilizar uma pessoa, isol-la e at destru-la,

    sem que as pessoas volta intervenham (NAVARRO, 2000).

    - O assdio moral necessariamente precisaria ser recorrente de forma a

    apresentar vantagens para o agressor. A pessoa assediada escolhida,

    afirma ainda Glckner (2004).

    - O assdio moral caracteriza-se por atos e comportamentos agressivos que

    visam desqualificao e desmoralizao profissional e desestabilizao

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    emocional e moral do(s) assediado(s), tornando o ambiente de trabalho

    desagradvel, insuportvel e hostil, e necessita acontecer com uma certafreqncia (BARRETO apud TARCITANO; GUIMARES, 2004).

    - Os principais fatores responsveis por esse tipo de perverso moral so: a

    inveja, a competio, a preferncia pessoal do chefe porventura gozada pela

    vtima, o racismo e os motivos polticos (GUEDES, 2004, p.37-41).

    - Algumas atitudes individualistas so percebidas por aes de desprezo,

    provocaes, inveja, perseguies e clima de terror (TATTO, 2001).

    03. Caracterizaodo assdio moralquanto a tipos

    - H trs tipos de assdio moral: o vertical estratgico, o horizontal e o

    ascendente, os quais so perpetrados por um superior hierrquico. O

    superior hierrquico pode contar com a cumplicidade dos colegas da vtima

    para por meio deles desencadear a violncia. Geralmente o grupo tende a se

    alinhar ao perverso, culpando a vtima pelos maus-tratos. O tipo horizontal

    aquele no qual a violncia psicolgica desencadeada pelos prprios

    colegas de idntico grau na escala hierrquica. Nesse tipo de assdio a

    vtima pode ser atingida tanto de modo individual como coletivo. E, por

    fim, no caso do assdio ascendente, a violncia moral vem de baixo, sendo

    uma espcie bem mais rara, mas que tambm ocorre no mundo do trabalho

    (GUEDES, 2004, p. 37-41).

    04. Caracterizaodo assdio moralquanto a fases

    - Marie-France Hirigoyen separou didaticamente o assdio moral em quatro

    fases:

    A primeira fase diz respeito :

    - deteriorao proposital das condies de trabalho.

    A segunda fase diz respeito ao:- isolamento e recusa de comunicao.

    A terceira fase diz respeito ao:

    - atentado contra a dignidade.

    A quarta fase diz respeito :

    - violncia verbal, fsica ou sexual (HIRIGOYEN apud GLCKNER,

    2004, p. 19).

    - O estudioso Harald Ege fez uma adaptao s fases descritas por

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    Leymann que condizem mais com a realidade do Brasil. A autora achou

    fundamental dividi-las em seis, configurando uma evoluo da prtica doassdio moral:

    a) fase um: caracteriza-se pela escolha da vtima, ou seja, do sujeito sobre o

    qual sero dirigidas as humilhaes do ambiente de trabalho. Nesta fase o

    fenmeno assdio ainda no apareceu com clareza e no ainda possvel

    compreender se chegar a se concretizar;

    b) fase dois: quando se afirma a vontade consciente de atingir a vtima, a

    qual, embora perceba a aspereza do tratamento recebido, ainda no

    apresenta sintomas de doenas de tipo psicossomtico;

    c) fase trs: a vtima comea a sentir os primeiros sintomas

    psicossomticos;

    d) fase quatro: o fenmeno se torna pblico e objeto de avaliao da

    administrao de pessoal;

    e) fase cinco: registra-se um srio agravamento nas condies de sade da

    vtima; e

    f) fase seis: acontece a excluso da vtima do mundo do trabalho, seja pelo

    pedido de demisso ou de despedida. Alm dos aspectos trabalhistas, esta

    fase tambm comporta conseqncias penais, como o homicdio do agente

    ativo pelo passivo ou o suicdio deste (GUEDES, 2004, p. 56).

    05. Comportamentodo assediado

    - No item c da classificao do assdio moral por fases, apresentam com

    comportamento do assediado sensao de insegurana, nsia, insnia,

    distrbios digestivos (GUEDES, 2004, p. 56).

    - A vtima foi enredada e encontra-se atada ao jogo perverso e, seja porno acreditar que tudo aquilo um jogo para destru-la, seja por vergonha

    a vergonha paralisa -, no consegue desvencilhar-se sozinha da agresso.

    As vtimas dos perversos no so masoquistas como aparentemente se

    poderia pensar (GLCKNER, 2004, p. 70).

    - A perda de responsabilidade, atitudes passivo-agressivas com os outros e

    perda da motivao (BALLONE, 2006).

    - A atitude mais usual dos assediados costuma ser a fuga, j que os

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    possveis mediadores de conflito no vivenciam o problema de perto e

    desconhecem a realidade dos locais de produo, seja ele em que posto for(HIRIGOYEN, 2005).

    06. Comportamentodo assediador

    - Ao recorrer a tcnicas de desestabilizao habituais nas atitudes dos

    perversos, que se utilizam de subentendidos, desvalorizao, aluses

    maldosas, mentira, humilhaes, possvel proceder a uma manipulao

    maldosa por parte dos agressores, que voltam situao para parecerem

    vtimas (HIRIGOYEN apud NAVARRO, 2000).

    - Marcar tarefas com prazos impossveis, passar algum de uma rea de

    responsabilidade para funes triviais, tomar crdito de idias de outros,

    ignorar ou excluir um funcionrio s se dirigindo a ele atravs de terceiros,

    sonegar informaes de forma insistente, espalhar rumores maliciosos,

    criticar com persistncia e subestimar esforos (HIRIGOYEN apud

    NAVARRO, 2000).

    - Caracteriza-se o comportamento do assediador em quatro fases que so:

    1 - retirar da vtima a autonomia. No transmitir-lhe mais as informaes

    teis para a realizao das tarefas. Contestar sistematicamente todas as suas

    decises. Criticar o seu trabalho de forma injusta ou exagerada. Priv-lo de

    acesso aos instrumentos de trabalho: telefone, fax, computador etc. Retirar

    o trabalho que normalmente lhe compete. Dar-lhe proposital e

    sistematicamente tarefas superiores s suas competncias. Pression-lo para

    que no faa valer de seus direitos (frias, horrios, prmios). Agir de modo

    a impedir que obtenha promoo. Atribuir vtima tarefas incompatveis

    com sua sade. Causar danos em seu local de trabalho. Dar-lhedeliberadamente instrues impossveis de executar. No levar em conta

    recomendaes de ordem mdica indicada pelo mdico do trabalho. Induzir

    a vtima ao erro;

    2 - a vtima interrompida constantemente. Superiores hierrquicos ou

    colegas no dialogam com a vtima. A comunicao com ela unicamente

    por escrito. Recusam todo o contato com ela, mesmo o visual. posta

    separada dos outros. Ignoram sua presena, dirigindo-se apenas aos outros.

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    Probem os colegas de falarem com ela. No a deixam falar com ningum.

    A direo recusa qualquer pedido de entrevista;3 - utilizam insinuaes desdenhosas para quantific-la. Fazem gestos de

    desprezo diante dela (suspiros, olhares desdenhosos, levantar os ombros,

    etc.). desacreditada diante dos colegas, superiores ou subordinados.

    Espalham rumores ao seu respeito. Atribuem-lhe problemas psicolgicos

    (dizem que doente mental). Zombam de suas deficincias fsicas ou de

    seu aspecto fsico; imitada e caricaturada. Criticam sua vida privada.

    Zombam de suas origens ou de sua nacionalidade. Implicam com suas

    crenas religiosas ou convices polticas. Atribuem-lhe tarefas

    humilhantes. injuriada com termos obscenos ou degradantes; e

    4 - ameaas de violncia fsica. Agridem-na fisicamente, mesmo que de

    leve. empurrada, fecham-lhe as portas na cara. Falam com ela aos gritos.

    Invadem sua vida privada com ligaes telefnicas ou cartas. Seguem-na na

    rua, espionada diante do domiclio. Fazem estragos em seu automvel.

    assediada ou agredida sexualmente (gestos e propostas). No levam em

    conta os seus problemas de sade. (HIRIGOYEN apud GLCKNER, 2004,

    p. 19).

    - O perverso toda-via vai explorar as fragilidades da vtima, seu lado

    depressivo e masoquista, o que de resto existe em todos ns

    (GLCKNER, 2004, p. 70).

    - Quando um sujeito perverso est decidido a destruir a vtima, retira-lhe o

    direito de conviver com os demais colegas. A vtima afastada do local

    onde normalmente desempenha suas funes, colocada para trabalhar emoutro local e em condio inferior, e obrigada a desempenhar tarefas sem

    importncia, incompatveis com sua qualificao tcnica profissional ou

    exposta ociosidade. O agressor pode ocultar-se nos atos da diretoria da

    empresa estrategicamente (GUEDES, 2004).

    - Na organizao o objetivo de transformar o empregado em um fantasma,

    retirar-lhe responsabilidades de trabalho, dar-lhe menos tarefas, menos

    interessantes, torn-lo intil, submetendo-o ao mesmo tempo a todas as

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    presses j descritas (NAVARRO, 2000).

    07. Comportamentodo espectador - Os outros no vm ou no querem ver por medo de perderem o empregoou por simples complacncia (HIRIGOYEN apud NAVARRO, 2000).

    - Os espectadores so todas as pessoas que, querendo ou no, participam

    ou esto envolvidas direta ou indiretamente na violncia psicolgica contra

    a vtima. So colegas de trabalho, superiores hierrquicos e patres, que

    nada fazem e, na maioria das vezes, nem podem fazer para deter a violncia

    desencadeada pelo sujeito perverso, favorecendo assim a ao do agressor.

    (GUEDES, 2004, p. 62-63).

    Os espectadores dividem-se em dois grupos:

    a) os medrosos que obedecem por medo; e

    b) os colaboradores voluntrios da empresa que vestem a camisa e

    compartilham com as perversidades do grupo, mesmo as mais absurdas,

    sem se questionarem sobre suas atitudes, na esperana de serem protegidos,

    ajustando-se, ou mais manipulveis que os outros, antecipando-se

    conformidade esperada (p. 271). Os espectadores por esprito de obedincia

    ou de medo afastam-se da vtima, isolando-a e, tambm, complementando o

    processo de assdio (HIRIGOYEN, 2005).

    08. Caractersticasdo assediado

    - A pessoa assediada escolhida porque tem caractersticas pessoais que

    perturbam os interesses do elemento assediador, como ganncia de poder,

    dinheiro ou outro atributo ao qual lhe resulta inconveniente o trabalhador

    ou trabalhadora, por suas habilidades, destrezas, conhecimento,

    desempenho e exemplo, ou simplesmente, quando estamos em presena de

    um desajustado sexual ou psquico (GLCKNER, 2004, p. 18).- A vtima aquela que se sente como tal. Com efeito, quando se fala de

    uma pessoa psicologicamente destruda e depressiva, o que nos afigura

    imediatamente a vtima do psicoterror e no um agressor. Segundo Harald

    Ege, a melhor maneira de definir a vtima de v-la como o ator do

    processo de assdio moral que resulta o mais prejudicado, aquele que, como

    num drama clssico, perde inexorvel e completamente (LEYMAN apud

    GLCKNER, 2004, p. 70).

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    - A vtima uma pessoa que mostra sintomas de doenas, debilita-se e se

    ausenta do trabalho por esta razo. golpeada pelo estresse psquico ousintomas psicossomticos, sofre de depresso e pensa no suicdio. Define

    seu papel em termos passivos (no me deixam participar). Se por um lado

    est convencida de no ter culpa, do outro lado se cr uma trapalhona.

    Demonstra falta de confiana em si, indeciso e um sentido de

    desorientao geral. Recusa qualquer responsabilidade pela situao ou se

    acusa destrutivamente (HENRY WALTER apud GLCKNER, 2004, p.

    70).

    - As vtimas geralmente so pessoas bem educadas, possuidoras de valiosas

    qualidades profissionais e morais. So ingnuas porque acreditam nos

    outros e naquilo que fazem, procurando sempre executar suas tarefas da

    melhor maneira possvel. A vtima escolhida justamente por ter algo a

    mais, e esse algo mais que o agressor busca para si prprio (GUEDES,

    2004).

    - H quatro tipos de pessoas que correm maior risco de tornaram-se vtima

    de assdio moral:

    a) uma pessoa sozinha:como, por exemplo, uma nica mulher em um local

    que predomina o gnero masculino;

    b) uma pessoa estranha: algum que se sobressai e que no se confunde

    com a maioria, muitas vezes pelo simples fato de se vestir ou de falar bem,

    despertando a inveja e o dio dos outros;

    c) uma pessoa que faz sucesso: algum que recebe elogios de seus

    superiores, de clientes ou de seus colegas, despertando o cime e a inveja,e, assim, desencadeando uma cascata de piadas, indiretas e sabotagens; e

    d) uma pessoa nova: algum s vezes mais jovem, mais qualificado ou que

    venha a ocupar um cargo que era ocupado por algum muito popular

    (GUEDES, 2004, p. 71).

    09. Conseqnciaspara a sade doassediado

    - No item ena classificao de assdio moral, o sujeito assediado comea a

    fazer uso depsicotrpicose terapias, no obtendo quase nenhum resultado

    e comeando a sofrer de depresso (GUEDES, 2004, p. 56).

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    - No item f na mesma classificao de assdio moral, acontece o

    afastamento para tratamento de sade (GUEDES, 2004, p. 56).- Subjetivamente, o doente sente dificuldade para pensar, para evocar

    (distrbios de memria) e fadiga psquica (BATELLO et al., 2006).

    - Dependendo do perfil do empregado assediado, este pode se tornar

    absentesta psicologicamente, improdutivo, doente (GUEDES, 2004).

    - De qualquer forma, devemos observar a importncia dos distrbios

    somticos: cefalias, dores diversas, sensaes de asfixia, palpitaes

    cardacas, dores vertebrais ou articulares, distrbios digestivos, constipao

    etc. possvel que esses distrbios assumam uma tal importncia que o

    estado depressivo seja camuflado pelas queixas somticas (BATELLO et

    al., 2006).

    - A depresso outro sintoma do assdio moral, mas que se prolonga por

    mais tempo (HIRIGOYEN, 2005).

    - As sndromes depressivas so, atualmente, reconhecidas como um

    problema prioritrio se sade pblica. So consideradas, segundo a OMS,

    a primeira causa de incapacidade dentre os problemas de sade, j que

    cerca de 50 milhes de pessoas so afetadas por esse distrbio em todo o

    mundo. Dos seus principais sintomas esto: tristeza, choro fcil e freqente,

    irritabilidade aumentada, angstia, ansiedade, apatia, desesperana e

    desespero (DALGALARRONDO, 2000, p. 190).

    - O assdio moral considerado como prticas que implicam em um

    terrorismo psicolgico, afetando a sade mental e fsica do trabalhador

    assediado, implicando em doenas como depresso e estresse, que emalguns casos podem levar at ao suicdio (NASCIMENTO, 2006).

    10. Conseqnciaspara a integridademoral do assediado

    - As conseqncias do assdio moral deixam seqelas marcantes que

    podem evoluir de um estresse ps-traumtico at a sensao de vergonha

    para se expressar, perda do sentido, bem como alteraes de personalidade

    (HIRIGOYEN, 2005).

    - Os danos atingem, portanto, a esfera familiar e social da vtima,

    desencadeando crises existenciais, de relacionamento e econmica

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    (GUEDES, 2004).

    - Subjetivamente, o doente sente lassido moral (BATELLO et al., 2006).- O empregado pode tornar-se acomodado numa situao constrangedora,

    suportada pela necessidade de se manter no emprego ou, ento, no se

    sujeita a tal situao, preferindo retirar-se da empresa e postular a reparao

    do dano na via judicial (GUEDES, 2004).

    - A auto-acusao e a dor moral pertenceriam, pois, a uma sintomatologia

    secundria da depresso (BATELLO et al., 2006).

    - Neste caso, o assediado se encontra aptico, com complexo de culpa, triste

    e sem interesse pelos prprios valores, e a soma desses sintomas pode

    transform-los em distrbios psicossomticos (HIRIGOYEN, 2005).

    11. Conseqnciaspara a integridadefsica do assediado

    - Os efeitos do assdio moral no organismo no se limitam ao aspecto

    psquico, atingem o corpo fsico, fazendo com que todo o organismo se

    ressinta das agresses, podendo recair sobre o aparelho digestivo e

    respiratrio, sobre as articulaes, o crebro, o corao e, ainda, o sistema

    imunolgico, abrindo portas para diversos tipos de infeces e viroses

    (GUEDES, 2004).

    - Quando as capacidades de conteno so transbordadas, essa energia

    recua para o corpo, desencadeando tradues somticas como palpitaes,

    hipertenso arterial, tremores, suores, cimbras, desidratao das mucosas,

    hiperglicemia, aumento do cortisol sanguneo, entre outras manifestaes

    (DEJOURS, 1994a).

    - Dependendo do perfil do empregado assediado, este pode se tornar

    absentesta fisicamente (GUEDES, 2004).- A fadiga, que contribui para a diminuio da versatilidade do aparelho

    mental, o sistema frustrao-agressividade-reativa, que deixa sem sada

    uma parte da energia pulsional, a organizao do trabalho, como correia de

    transmisso de uma vontade externa que se ope aos investimentos das

    pulses e sublimaes. So componentes como esses que criam efeitos

    favorveis ao aparecimento das descompensaes psiconeurticas

    (DEJOURS, 1994a).

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    12. Conseqnciasnos relacionamentosinterpessoais doassediado

    - As conseqncias, o impacto dos procedimentos, sero mais fortes se

    partirem de um grupo aliado contra uma s pessoa do que se vier de umnico indivduo, bem como o assdio de um superior hierrquico mais

    grave do que o de um colega, pois a vtima tem o sentimento, na maioria

    justificado, de que existem menos recursos possveis e que existe muitas

    vezes uma chantagem implcita na ao (HIRIGOYEN, 2005).

    - Os prejuzos causados pelo assdio moral, que supostamente acabam por

    se evidenciar aps a constituio do ato, podendo este prejudicar ainda a

    sade social das vtimas, fazendo, por exemplo, com que amigos e

    colegas de trabalho se afastem dela e que os casamentos fracassem

    (GUEDES, 2004).

    - A inibio um tipo de freio dos processos psquicos que reduz o campo

    da conscincia e o interesse, fechando o indivduo em si mesmo e levando-

    o a fugir dos outros, evitando relacionar-se (BATELLO et al., 2006).

    - O assdio moral se instala quando o dilogo impossvel e a palavra

    daquele que agredido no consegue fazer-se ouvir, da a importncia da

    instituio de um programa de preveno com a primazia do dilogo e da

    instalao de canais de comunicao (HIRIGOYEN, 2005).

    13. Conseqnciasfinanceiras para oassediado

    - Despesas com psiclogos, exames e medicamentos se tornam constantes;

    bens patrimoniais se perdem para custear o tratamento (GUEDES, 2004).

    - Trata-se de um conjunto de condutas negativas, como, por exemplo, a

    deteriorao do rendimento. As conseqncias ocorrem tanto do ponto de

    vista pessoal como do ponto de vista institucional, como o caso do

    absentesmo, da diminuio do nvel de satisfao profissional, do aumentodas condutas de risco, da inconstncia de empregos e das repercusses na

    esfera familiar (BALLONE, 2006).

    14. Relao doassdio moral com osofrimento psquico

    - O sofrimento inicia-se quando o rearranjo da organizao do trabalho no

    mais possvel, quando a relao do trabalhador com a organizao do

    trabalho bloqueada. Quando o sujeito encontra-se em situao muito

    complexa, correndo desta forma o risco ao fracasso ou, ao contrrio,

    quando se encontra em situao de subemprego de suas capacidades. Neste

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    caso, a energia no aproveitada no exerccio do trabalho se acumula no

    aparelho psquico, ocasionando um sentimento de tenso e desprazer(DEJOURS, 1994a).

    - O sofrimento moral demonstra-se por uma autodepreciao que pode

    encaminhar-se muito rapidamente para uma auto-acusao, autopunio ou

    um sentimento de culpa (BATELLO et al., 2006).

    15. Relao doassdio moral comoutras patologias

    - As fronteiras entre assdio, estresse, parania e hipersensibilidade so

    pouco precisas (HIRIGOYEN apud NAVARRO, 2000).

    - Contrariamente ao que se pode imaginar, essa explorao no cria

    doenas mentais especficas, mas existem situaes que podem favorecer o

    surgimento de uma descompensao (DEJOURS, 1994a).

    - Os primeiros anos da carreira profissional costumam ser mais vulnerveis

    ao desenvolvimento da sndrome de Burnout, que geralmente predomina

    nas mulheres, provavelmente pela dupla carga de trabalho que concilia a

    prtica profissional e a tarefa familiar. No que diz respeito ao estado civil,

    essa sndrome est mais associada a pessoas sem parceiro estvel, ficando a

    mulher mais exposta a possveis demandas de assdio por em alguns

    momentos sentir-se desprotegida (BALLONE, 2006).

    - Este tipo de estresse consome fsica e emocionalmente a vtima, passando

    esta a apresentar um comportamento agressivo e irritadio. A sndrome de

    Burnout uma resposta ao estresse ocupacional crnico e caracterizada

    pela desmotivao, ou pelo desinteresse, por mal-estar interno ou por

    insatisfao ocupacional que parece afetar, em maior ou menor grau,

    alguma categoria ou grupo profissional (BALLONE, 2006).- Subjetivamente, o doente paralelamente sente astenia psquica e

    lentificao da atividade motora que se associam a doenas somticas

    diversas, relacionadas com perturbaes neurovegetativas sempre

    perceptveis (BATELLO et al., 2006).

    - No incio os sintomas so parecidos com os do estresse, porm, alm dos

    distrbios de sono, enxaqueca, nervosismo, cansao, acrescenta-se ainda o

    sentimento de impotncia e humilhao (HIRIGOYEN, 2005, p. 157).

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    16. Relao doassdio moral e oato de invejar

    - Inveja 1- Desgosto, dio ou pesar por prosperidade ou alegria de

    outrem. 2 - Desejo de possuir ou gozar algum bem que outrem possui oudesfruta (MICHAELIS, 2003).

    - O essencial da inveja exatamente isso: arrebatar do outro a coisa

    invejada importa mais do que procurar obter a posse de um objeto anlogo

    (o que estaria mais prximo da admirao) (MEZAN, 1987, p. 121).

    - O bem em questo sempre imaginado como o nico em seu gnero,

    portanto incompartilhvel: se de outro, no pode ser meu, e se no meu,

    porque pertence a outro, o que no deveria acontecer (MEZAN, 1987, p.

    122).

    - O fato que, se o algo invejado impossvel de ser alcanado, provoca

    uma situao psquica sentida ou imaginada como aterrorizadora (MEZAN,

    1987, p. 134).

    17. Relao deassdio moral e onexo causal

    - muito difcil a vtima de assdio moral fazer a prova do nexo etiolgico

    entre o dano e a conduta do sujeito perverso, tendo em vista que o dano do

    terror psicolgico constitui-se de um conjunto de comportamentos de

    pequena dimenso no espao e no tempo, porm de gravidade inimaginvel

    se apreciados sob a tica da continuidade, de atos programados em srie e

    por isso idneos para caracterizar a conduta repetida de assdio moral

    (CONFEDERAO NACIONAL DO TRABALHADORES NA

    INDSTRIA, 2006).

    - So poucos os casos de assdio moral que so objeto de ao judicial.

    Perante a Justia, em ao de indenizao, em especial quando envolve

    danos materiais, h necessidade de prov-lo entre as atividadesempresariais e os danos ao trabalhador (CONFEDERAO NACIONAL

    DOS TRABALHADORES NA INDSTRIA, 2006).

    - Porm, graas jurisprudncia progressista dos tribunais, amparada na

    lio de Clvis Bevilqua, se construiu a teoria da Presuno de culpa

    livrando a vtima da prova da culpa concorrente ou in vigilando do

    empregador. Assim, provado o dano e nexo de causalidade entre este e o

    fato do agente, a pessoa jurdica obrigada reparao. Mais tarde

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    uniformizou-se a jurisprudncia pelo Enunciado do STF verbete 341:

    presumida a culpa do patro ou comitente pelo ato culposo do empregadoou preposto (ASSDIO MORAL NO TRABALHO, 2006).

    - Outra importante inovao trazida pelo Novo Cdigo Civil quanto

    aplicao da teoria do risco, ao dispor no nico do art. 927 o seguinte:

    Haver obrigao de reparar o dano, independentemente de culpa, nos

    casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente

    desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, riscos para os

    direitos de outrem (BRASIL, 2006a).

    18. Relao doassdio moral e aprodutividade

    - A desmoralizao pretende forar o empregado a cometer faltas

    profissionais, que possam justificar seu desligamento da organizao. J em

    outros casos esse mesmo processo leva pessoas visadas ao suicdio. A

    instabilidade gera insegurana, tornando o indivduo descartvel

    (NAVARRO, 2000).

    - Sob o ponto de vista do ambiente da organizao, no entanto, a primeira

    conseqncia perceptvel em nvel do grupo a queda da produtividade e

    eficcia, a acentuada crtica aos trabalhadores, seguida pela reduo da

    qualidade do servio, ambas geradas pela instabilidade que o empregado

    sente no posto de trabalho (GUEDES, 2004).

    19. Diferena entreassdio moral ehumilhao normale intencional dotrabalhador, entreoutros

    - Com os estressados, o repouso reparador, melhores condies de

    trabalho permitem recomear. Com uma vtima de assdio, a vergonha e a

    humilhao persistem por um longo tempo, mesmo que o quadro possa se

    alterar um pouco em funo da personalidade dos indivduos. O atentado

    contra a dignidade tem uma conotao subjetiva, que no pode seranalisada seno caso a caso (GLCKNER apud HIRIGOYEN, 2004, p.

    22).

    - Se faz necessrio frisar que nem todo assdio moral dito como tal pode ser

    considerado. Portanto, importante tomar cuidados para no

    generalizarmos todos os fenmenos oriundos do ambiente de trabalho,

    assim como estresse, conflitos velados ou a prpria presso no trabalho

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    como sendo assdio moral. No podemos considerar estresse como assdio,

    decorrente da sobrecarga e de ms condies de trabalho, tendo em vista oorganismo reagir ao do agente estressante (GLCKNER, 2004, p. 22).

    - De minha parte, penso que se existe assdio moral, justamente porque

    nenhum conflito pode ser estabelecido. Em um conflito, as recriminaes

    so faladas (a guerra aberta, de alguma maneira). Ao contrrio, por trs de

    todo procedimento de assdio, existe o no falado e o escondido

    (HIRIGOYEN apud GLCKNER, 2004, p. 23).

    20. Diferena decomportamentoentre homens emulheres assediadosmoralmente

    - As mulheres e os homens reagem diferentemente violncia moral. Nas

    mulheres predominam as emoes tristes: mgoas, ressentimentos, vontade

    de chorar, isolamento, angstia, ansiedade, alteraes do sono e insnia,

    sonhos freqentes com o agressor, alteraes da memria, distrbios

    digestivos e nuseas, diminuio da libido, cefalia, dores generalizadas,

    palpitaes, hipertenso arterial, tremores e medo ao avistar o agressor,

    ingesto de bebida alcolica para esquecer a agresso, pensamentos

    repetitivos. J os homens tm dificuldades em verbalizar a agresso sofrida

    e ficam em silncio com sua dor, pois predomina o sentimento de fracasso.

    Sentem-se confusos, sobressaindo os pensamentos repetitivos, espelho

    das agresses vividas. Envergonhados, isolam-se evitando comentar o

    acontecido com a famlia ou os amigos mais prximos. Sentem-se trados e

    tm desejos de vingana. Aumenta o uso das drogas, principalmente o

    lcool. Sobressai o sentimento de culpa, o homem se imagina um intil,

    um ningum, um lixo, um zero, um fracassado (BARRETO,

    2003).- A partir de entrevistas realizadas entre 1996 e 1998 com 870 homens e

    mulheres vtimas de opresso no ambiente profissional, revela-se como

    cada sexo reage a essa situao (em porcentagem). A seguir apresentado o

    resultado no quadro (BARRETO, 2000):

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    Fonte: BARRETO, 2000.

    21. Fatoresdesencadeantes doassdio moral

    - Este tipo de violncia geralmente acontece quando um colega

    promovido sem a consulta dos demais colegas de chefia cujas funes os

    subordinados supem que o promovido no possui para desempenhar(GUEDES, 2004, p.37-41).

    - As origens do assdio resumem-se s novas relaes de emprego. De

    modo geral, no mundo do trabalho, os dirigentes e executivos no levam,

    suficientemente, a srio as dificuldades relacionais, a no ser que isso

    acarrete, de fato, algum prejuzo evidente para a empresa (HIRIGOYEN,

    2005).

    - Alm disso, somam-se as presses por produtividade por parte dos

    dirigentes e a reduo de custos, na economia capitalista, que aumentam a

    competitividade, desumanizando e dificultando o ambiente de trabalho para

    que o clima de cooperao e de solidariedade surja entre os trabalhadores,

    de acordo com Hirigoyen (2005).

    - So fatores como a competitividade acirrada, a busca por parte das

    empresas do aperfeioamento constante de seus empregados e o foco na

    produtividade os maiores precursores para o esfriamento nas relaes

    Sintomas Mulheres HomensCrises de choro 100 -Dores generalizadas 80 80Palpitaes, tremores 80 40Sentimento de inutilidade 72 40Insnia ou sonolncia excessiva 69,6 63,6Depresso 60 70Diminuio da libido 60 15Sede de vingana 50 100Aumento da presso arterial 40 51,6Dor de cabea 40 33,2Distrbios digestivos 40 15

    Tonturas 22,3 3,2Idia de suicdio 16,2 100Falta de apetite 13,6 2,1Falta de ar 10 30Passa a beber 5 63Tentativa de suicdio - 18,3

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    humanas e, conseqentemente, o incio do terror psicolgico que destri

    as vtimas silenciosamente (GUEDES, 2004, p. 17).- Os empregados tm sofrido cada vez mais a presso da flexibilidade, a

    possibilidade do desemprego e o aumento da carga horria a cada dia mais

    intensamente, em um crculo de medo, competio e terror. Nesse contexto,

    surgem novas formas de patologias ligadas a problemas oriundos da

    flexibilizao: doenas ocasionadas por esforos repetitivos, estresse, falta

    de auto-estima, etc., cujos efeitos, segundo Marie-France Hirigoyen, podem

    ser um "novo" fenmeno nocivo sade do trabalhador, denominado

    assdio moral (TATTO, 2001).

    - As diferenas na organizao do trabalho, a informao interna e a

    gesto, assim como os problemas de organizao prolongados e no

    resolvidos, que so um extravio para os grupos de trabalho e podem

    desembocar em uma busca de bodes expiatrios (ASSDIO MORAL NO

    TRABALHO, 2006).

    22. Preveno que a

    empresa deve tomarem relao aoassdio moral

    - Os dirigentes j no podem ignorar mais o problema. necessria a

    prtica de um programa de preveno em todos os escales da empresa

    (HIRIGOYEN, 2005, p. 313).

    - Torna-se necessria a presena de um porta-voz dentro da empresa que

    seja desvinculado da hierarquia. Sua funo apoi-los e esclarec-los

    sobre os procedimentos e at mesmo acompanh-los (HIRIGOYEN, 2005).

    - As etapas podem ser articuladas pela empresa da seguinte forma:

    1 etapa: informao e sensibilizao de todos os empregados sobre a

    realidade do assdio moral;2 etapa: formao de especialistas internos: equipe de medicina social,

    representantes sindicais ou pessoas de boa vontade para trabalhar como

    pessoas de confiana;

    3 etapa: treinamento de funcionrios do Departamento de Recursos

    Humanos quanto s providncias a serem adotadas para prevenir o assdio

    moral, detect-lo ou administrar os casos j existentes; e

    4 etapa: redao de uma agenda social para discutir os diferentes tipos de

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    assdio e a discriminao, e distribu-la nominalmente a cada empregado.

    uma ocasio para a empresa lembrar os seus valores e deixar claras assanes previstas para os transgressores (HIRIGOYEN, 2005, p. 325-326).

    Quadro 3 - Apresentao das categorias de anlise e das informaes extradas a partir da literatura.Fonte: Elaborao do autor, 2007.

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    4 RESULTADOS E DISCUSSO

    Neste captulo sero apresentados os contedos da coleta de dados, nos quais se

    encontram os resultados apresentados a partir da