Upload
vokhuong
View
219
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DIRETORIA DE PESQUIS A E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
FÁBIO CLAVISSO FERNANDES
AS ENGRENAGENS DE MANHATTAN: UTILIZANDO WATCHMEN PARA O ENSINO DE FÍSICA COM ENFOQUE CTS
DISSERTAÇÃO
PONTA GROSSA 2017
FÁBIO CLAVISSO FERNANDES
AS ENGRENAGENS DE MANHATTAN: UTILIZANDO WATCHMEN
PARA O ENSINO DE FÍSICA COM ENFOQUE CTS
Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciência e Tecnologia.
Orientador: Prof. Dr. Awdry Feisser Miquelin
Coorientador: Prof. Dr. Marcos Cesar Danhoni Neves
PONTA GROSSA 2017
Ficha catalográfica elaborada pelo Departamento de Biblioteca da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Câmpus Ponta Grossa n.73/17
Elson Heraldo Ribeiro Junior. CRB-9/1413. 18/12/2017.
F363 Fernandes, Fábio Clavisso
As engrenagens de Manhattan: utilizando Watchmen para o ensino de física com enfoque CTS. / Fábio Clavisso Fernandes. 2017.
115 f.; il. 30 cm Orientador: Prof. Dr. Awdry Feisser Miquelin Coorientador: Prof. Dr. Marcos Cesar Danhoni Neves Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciência e Tecnologia) - Programa de Pós-
Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Ponta Grossa, 2017.
1. Histórias em quadrinhos. 2. Radiação. 3. Física - Estudo e ensino. 4. Ciência -
Aspectos sociais. 5. Tecnologia - Aspectos sociais. I. Miquelin, Awdry Feisser. II. Neves, Marcos Cesar Danhoni. III. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. IV. Título.
CDD 507
FOLHA DE APROVAÇÃO
Título da Dissertação Nº 133/2017
AS ENGRENAGENS DE MANHATTAN: UTILIZANDO WATCHMEN PARA O ENSINO DE FÍSICA COM ENFOQUE CTS
por
Fábio Clavisso Fernandes
Esta dissertação foi apresentada às 09 horas do dia 20 de Outubro de 2017, como requisito
parcial para a obtenção do título de MESTRE EM ENSINO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA,
com área de concentração em Ciência, Tecnologia e Ensino, do Programa de Pós-Graduação
em Ensino de Ciência e Tecnologia. O candidato foi argüido pela Banca Examinadora
composta pelos professores abaixo citados. Após deliberação, a Banca Examinadora
considerou o trabalho aprovado.
Prof. Dr. Ronei Clecio Mocellin (UFPR) Profª. Drª. Josie Agatha Parrilha da Silva (UEPG/UTFPR)
Prof. Dr. Marcos Cesar Danhoni Neves (UEM/UTFPR)
Prof. Dr. Awdry Feisser Miquelin (UTFPR) - Orientador
Profª. Drª. Eloiza Aparecida Silva Avila de
Matos (UTFPR) Coordenador do PPGECT
A FOLHA DE APROVAÇÃO ASSINADA ENCONTRA-SE NO DEPARTAMENTO DE
REGISTROS ACADÊMICOS DA UTFPR – CÂMPUS PONTA GROSSA
RESUMO FERNANDES, Fábio Clavisso. As engrenagens de Manhattan: utilizando Watchmen para o ensino de física com enfoque CTS. 2017. 115 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciência e Tecnologia) - Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Ponta Grossa, 2017. Esta pesquisa utiliza as histórias em quadrinhos das séries “Watchmen” e “Before Watchmen – Dr. Manhattan” como base para ensinar física com enfoque CTS, levando em consideração a interdisciplinaridade da linguagem da arte sequencial. As revistas selecionadas inter-relacionam conteúdos referentes a física, história, sociologia, filosofia e arte em uma narrativa que gira em torno da física atômica, fazendo assim com que possam ser utilizadas como ferramenta para fazer um primeiro contato entre alunos e conteúdo e assim aumentar o engajamento. Esta pesquisa objetiva buscar informações para a elaboração de um material didático na forma de histórias em quadrinhos para o ensino de física, para isso utiliza-se de textos de diversos autores como Kakalios e Will Eisner, além de questionários e da matriz dialógica problematizadora. Palavras-chave: Histórias em quadrinhos; Watchmen; Física com enfoque CTS; Radiação.
ABSTRACT FERNANDES, Fábio Clavisso. Manhattan's gears: using Watchmen to teach physics with an enphasis on STS. 2017. 115 p. Dissertation (Master Degree in Teaching of Science and Technology) - Federal University of Technology - Paraná, Ponta Grossa, 2017. This research uses the comics from the series “Watchmen” and “Before Watchmen – Dr. Manhattan” as a base to teach physics with and enphasis on STS, considering the interdisciplinarity of the sequential arts, which on the selected comics interrelates subjects referring to physics, history, sociology, philosophy and art in a narrative that revolves around atomic physics, making it possible to use it as a tool for a first contact between the students and the subject as a way to increase the students engagement when studying physics with an enphasis on STS, specially on subjects concerning modern physcis. This research presents an history of the uses of comic books in teaching, historic reports concerning the dangers that a lack of information and the scarcity of a education focused on STS can cause when populations interact with radioactive technological artifacts. Keywords: Comic books. Watchmen. Physics with an enphasis on STS. Radiation.
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Manual ilustrado por Will Eisner, utilizado para ensinar soldados a
desemperrar suas armas........................................................................................... 17
Figura 2 - Before Watchmen - Dr. Manhattan, pg. 83. ............................................... 18
Figura 3 - Before Watchmen - Dr. Manhattan, pg 4. .................................................. 44
Figura 4 - Before Watchmen - Dr. Manhattan, recorte da pg. 33. .............................. 46
Figura 5 - Before Watchmen - Dr. Manhattan 36/37. ................................................. 47
Figura 6 - Before Watchmen - Dr. Manhattan, pg 50. ................................................ 49
Figura 7 - Reator nuclear da McMaster University, no Canadá. ................................ 50
Figura 8 - Uma das capas alternativas de Before Watchmen - Dr. Manhattan. ......... 51
Figura 9 - Before Watchmen - Dr. Manhattan, pg 11, quadro 1. ................................ 60
Figura 10 - Before Watchmen - Dr. Manhattan, pg 67. .............................................. 64
Figura 11 - Anúncio de água radioativa - início do século XX. ................................... 68
Figura 12 - Anúncio de pasta de dente a base de tório, um elemento radioativo -
início do século XX. ................................................................................................... 70
Figura 13 - Registro de uma das garotas afetadas pela tinta de Rádio. .................... 71
Figura 14 - Manchete de jornal sobre o caso das "radium girls". .............................. 71
Figura 15 - Manchete de jornal referente a vitória judicial do caso das garotas
radioativas. ................................................................................................................ 72
Figura 16 - Capa alternativa da revista "Before Watchmen - Dr. Manhattan vol.3".... 94
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Questão 2.1 ............................................................................................. 79
Gráfico 2 - Questão 3.1 ............................................................................................. 80
Gráfico 3 - Questão 6.1 ............................................................................................. 81
Gráfico 4 - Questão 7.1 ............................................................................................. 82
Gráfico 5 - Questão 8.1 ............................................................................................. 82
Gráfico 6 - Questão 9.1 ............................................................................................. 83
Gráfico 7 - Questão 10.1 ........................................................................................... 84
Gráfico 8 - Questão 2.2 ............................................................................................. 86
Gráfico 9 - Questão 6.2 ............................................................................................. 87
Gráfico 10 - Questão 7.2 ........................................................................................... 88
Gráfico 11 - Questão 8.2 ........................................................................................... 89
Gráfico 12 - Questão 9.2 ........................................................................................... 90
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9
1 OS HOMENS-MINUTO .......................................................................................... 14
1.1 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E ENSINO ...................................................... 15
1.2 A ARTE NA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA ............................................................ 23
1.3 SOBRE OS AUTORES ....................................................................................... 28
1.3.1 Alan Moore ...................................................................................................... 28
1.3.2 Dave Gibbons .................................................................................................. 29
1.4 SOBRE OS OUTROS AUTORES ...................................................................... 30
1.4.1 J. Michael Straczynski ..................................................................................... 31
1.4.2 Adam Hughes .................................................................................................. 31
2 ESSA NOITE, UM COMEDIANTE MORREU EM NOVA YORK ........................... 33
2.1 O CONTEXTO ..................................................................................................... 35
2.2 DR. MANHATTAN ............................................................................................... 40
3 UM RELÓGIO SEM UM RELOJOEIRO ................................................................ 43
3.1 A FÍSICA EM WATCHMEN .................................................................................. 44
3.2 UMA BREVE HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES. ...................................................... 52
4 DOIS MINUTOS PARA A MEIA NOITE ................................................................ 56
4.1 EDUCAÇÃO CTS ................................................................................................ 56
4.2 AS DISCUSSÕES CTS PRESENTES EM WATCHMEN E BEFORE WATCHMEN .............................................................................................................. 60
5 METODOLOGIA DE PESQUISA E APLICAÇÃO DO MATERIAL ........................ 74
5.1 ANÁLISE DE QUESTIONÁRIO PRELIMINAR .................................................... 78
5.2 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO SUBSEQUENTE ............................................... 84
5.3 MATRIZ DIALÓGICA PROBLEMATIZADORA .................................................... 91
5.3.1 Watchmen Pode Ser Percebida Como Mais do que uma Obra de Entretenimento? ........................................................................................................ 92
5.3.2 A Narrativa de “Watchmen” éÉ Suficiente para Demonstrar a Importância do Enfoque CTS? ...................................................................................................... 92
5.3.3 A Ciência Apresentada em Watchmen é de Fácil Compreensão? .................... 93
5.3.4 Apresentar Um Conteúdo Usando A HQ Watchmen Contribui Positivamente Para O Ensino? ......................................................................................................... 93
5.3.5 Quais São Os Tópicos Envolvendo CTS Presentes Em Watchmen?............... 95
5.3.6 Qual A Relevância Do Enfoque CTS Na Educação? ........................................ 96
5.3.7 É Possível Compreender O Enfoque CTS Sem Um Amplo Conhecimento Científico? ................................................................................................................. 97
5.3.8 O Enfoque CTS Deve Provocar Adaptações No Ensino? ................................ 97
5.3.9 Quais Dos Fatos Científicos Em Watchmen São Pautados Na Realidade? ..... 98
5.3.10 Conhecimento Científico É O Suficiente Para Que Os Alunos Pensem No CTS? ......................................................................................................................... 98
5.3.11 O Público Em Geral Se Interessa Pelos Aspectos Científicos De Uma Obra? ........................................................................................................................ 99
5.3.12 Existem Maneiras Mais Eficientes De Abordar Ciência No Ensino? ............... 99
5.3.13 O Que É Possível Ensinar Utilizando Watchmen Como Exemplo? .............. 100
5.3.14 O Ensino Tradicional Aborda O Enfoque CTS O Suficiente? ....................... 100
5.3.15 O Ensino De Ciência É De Fácil Compreensão Para Os Alunos? Se Não, Por Quê? ................................................................................................................. 100
5.3.16 Os Métodos Comumente Utilizados No Ensino São Eficientes? .................. 100
5.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE A APLICAÇÃO ..................................................... 101
6 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 102
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 104
ANEXO I.................................................................................................................. 107
ANEXO II ................................................................................................................. 113
ANEXO III ................................................................................................................ 114
9
INTRODUÇÃO
As histórias em quadrinhos têm ganho cada vez mais espaço e visibilidade
entre o público de todas as idades, cada vez mais pessoas estão se interessando
pelas revistas e indo atrás de conhecer diversos títulos e selos. Este fenômeno é
uma consequência da popularização dos filmes inspirados em histórias em
quadrinhos, ou HQs. Estes filmes na maioria das vezes exibem personagens com
habilidades sobre-humanas que desafiam alguma forma de mal em prol de proteger
as pessoas inocentes.
Com a popularização destes filmes e consequentemente das HQs, fica claro
que esta não é uma mídia que deveria ser ignorada ou banalizada pela academia,
algo que acontece com alguma frequência, como destaca a teórica de histórias em
quadrinho Denise Guimarães(2012). Uma vez que se passa a dar alguma atenção
às HQs, não é difícil notar que assim como no cinema ou em outros meios, existe
muito material que pode ser utilizado com propósitos educativos, que são úteis para
divulgação científica ou para discutir elementos históricos, filosóficos ou sociais. Em
resumo: nem toda história em quadrinhos é feita para crianças. Estas obras com teor
mais sério e adulto permeiam assuntos que podem ser aproveitados em discussões
acadêmicas sobre história, geografia, sociologia, filosofia, ciências, entre outros.
Basta saber qual história selecionar e como trabalhar a mesma com os alunos.
Esta pesquisa busca tratar isso em uma escala reduzida, não trabalhar uma
visão geral sobre as histórias em quadrinhos, mas sim focar em um universo fictício
específico. Este trabalho busca explorar as revistas Watchmen (1986 – 1987) de
Alan Moore de Dave Gibbons e Before Watchmen – Dr. Manhattan (2012) de J.
Michael Straczynski e Adam Hughes, para discutir física com enfoque CTS. Ao longo
do trabalho serão exploradas algumas possibilidades de aproveitar estas revistas
para trabalhar com alunos de ensino médio regular ou ensino para jovens e adultos.
Ao longo das revistas existem vários momentos nos quais a leitura de texto e de
imagem servem para ilustrar ou servir como ponto de partida para estas discussões,
por mais que seja um meio que não agrade a todos os alunos, agradar a todos seria
extremamente difícil, pode ser atraente para muitos destes por se tratar de uma
leitura ficcional. Ao conseguir fazer com que um aluno goste de ler algo que gere
uma discussão ao longo das aulas é mais provável que esse aluno fique pré-
10
disposto a aprender, partindo da ideia de que é muito difícil ensinar para quem não
tenta aprender. O ensino antes de ser técnico tem que ser atraente, para fazer com
que o aluno estude porque quer estudar.
A ideia para a criação de um material guia para que professores
trabalhem física utilizando Watchmen como material de apoio surgiu enquanto lia
Before Watchmen: Dr. Manhattan (2012), foi quando me deparei com trechos da
narrativa em que pude notar conceitos famosos da física ilustrados algumas vezes
de forma bem subjetiva e exigindo um pouco mais de atenção do que se espera de
uma leitura casual, outras vezes como corpo do texto e parte da história. Isto me
chamou a atenção pelos motivos descritos nos parágrafos a seguir.
Acredito que muitas mídias que são por vezes ignoradas e sofrem algum
preconceito de parte da comunidade acadêmica, podem colaborar com o ensino de
diversas disciplinas contanto que usadas da forma correta. Entre estas mídias as
que mais me chamam a atenção são as histórias em quadrinhos, o cinema, os
desenhos animados e os jogos eletrônicos, que por muitas vezes na minha vida me
auxiliaram na aprendizagem de algum conteúdo, que em alguns casos a escola não
foi tão efetiva, e em outros a escola ainda não tivesse tido tempo de ensinar (por
exemplo o fato de eu ter uma noção intermediária de inglês desde os 7 anos de
idade graças ao jogo Warcraft II e dois anos depois ao jogo Chrono Cross, o que fez
com que as aulas de inglês tenham se tornado uma frustrante repetição do verbo to
be onde eu não aprendia nada novo. Mas isso não vem ao caso). Com o auxílio de
jogos de videogame e quadrinhos aprendi conteúdos referentes a história, ciências,
mitologia e filosofia.
O segundo motivo foi por perceber que um leitor atento não precisa ter
conhecimento aprofundado em determinado conteúdo para perceber a relação entre
este e a narrativa. A forma com a qual percebi isso foi por mesmo eu não sendo
graduado em física ou ciências, mas sendo licenciado em Artes Visuais, pude
perceber uma série de momentos em que Before Watchmen menciona física ou
entra em discussões éticas e filosóficas acerca da prática científica, de como a
humanidade utiliza os recursos que a ciência oferece e como isso afeta a sociedade
como um todo. Watchmen me fez pensar sobre muitos conceitos da ciência,
principalmente sobre a bomba atômica, energia nuclear e radiação.
O terceiro motivo une os dois anteriores: nas minhas experiências em sala
de aula pude perceber que o rendimento dos alunos, mesmo os bons alunos, cai
11
quando eles precisam aprender um conteúdo que não lhes seja interessante, em
diversas vezes tentei buscar formas mais atraentes de dar minhas aulas, utilizando
atividades diferenciadas, filmes ou trabalhos em equipe e – na maioria das turmas –
o resultado foi positivo, porém, vale ressaltar que cada aluno tem seu perfil e cada
turma é uma sociedade à parte. Trabalhar os conteúdos tentando envolver os alunos
com atividades diferenciadas funcionou na maioria das turmas que trabalhei, porém
houveram três turmas nas quais seguir com o modelo tradicional de aula expositiva
dialogada se mostrou mais eficiente.
Tendo como estopim os três motivos anteriores, resolvi tentar levar isto
adiante e fazer uma pesquisa de mestrado com base nisto. Nesta pesquisa quis
englobar além de Before Watchmen: Dr. Manhattan a série de revistas original,
Watchmen (1986) do britânico Alan Moore.
Ao longo destas revistas é perceptível que Watchmen e Before Watchmen –
Dr. Manhattan tem vários exemplos para discutir física moderna com enfoque CTS.
Apesar desta notável relação com a ciência os autores da revista não as escreveram
já pensando no ensino ou se o fizeram não deixaram isso claro, por isso o problema
desta pesquisa é: Como a série de revistas Watchmen e a série Before Watchmen –
Dr. Manhattan podem ser utilizadas no ensino de física com enfoque CTS?
Responder esta pergunta vai servir não só para suprir esta pesquisa como
para criar um material didático digital que utiliza trechos destas revistas aliados a
textos que servem para guiar e explicar alguns conceitos, fazendo assim com que o
aluno possa ler e estudar por conta própria em casa e posteriormente levar a
discussão pra sala, por isso o objetivo não é que este seja um material didático, mas
sim que seja um material paradidático, ou seja, que seja um material para ser usado
em casa paralelamente, como uma espécie de “dever de casa”, para então discutir
com professor e alunos, com algumas exceções. Em alguns casos o professor pode
julgar que a turma não esteja pronta para identificar os conceitos presentes na obra
ou para pensar criticamente sobre eles, quando for o caso cabe a ele elucidar alguns
dos conceitos antes de indicar o material para os alunos, para assim fazer com que
a atividade tenha o efeito desejado.
Devido a esta pergunta e ao produto que se procura alcançar o objetivo
geral desta pesquisa é criar material que possibilite utilizar fragmentos de Watchmen
e Before Watchmen – Dr. Manhattan para auxiliar no ensino de física com enfoque
CTS.
12
Para que este objetivo geral seja alcançado alguns objetivos específicos
precisam ser alcançados, sendo estes:
Analisar as diferentes técnicas de representação gráfica utilizadas em
Watchmen e Before Watchmen – Dr. Manhattan tendo como ênfase as formas como
estes podem ser utilizados no ensino de física com enfoque CTS.
Fazer um levantamento teórico sobre os conceitos de física moderna com
enfoque CTS presente nas revistas.
Esquematizar ilustrações e selecionar fragmentos das revistas para elaborar
material paradidático para o ensino de física com enfoque CTS.
Para que este material possa alcançar quem quer que queira utilizá-lo em
aula será estudada a possibilidade de uma publicação impressa, mas mesmo que
isto se mostre inviável isto será publicado em meios digitais nas extensões .jpg e
.pdf.
Tendo em visto este objetivo este trabalho está dividido em cinco capítulos,
cada qual servindo a uma parte da pesquisa como um todo, os capítulos se
organizam da seguinte forma:
1 – Os homens-minuto: Este capítulo discute a importância das histórias em
quadrinho como mídia e a possibilidade de utilizá-las em um contexto educativo.
Neste capítulo também são utilizados exemplos nos quais as artes em geral
serviram para auxiliar a divulgação científica e por fim o capítulo traz um breve
resumo da biografia dos autores e ilustradores de Watchmen e Before Watchmen –
Dr. Manhattan.
2 – Hoje à noite, um Comediante morreu em Nova York: Este capítulo tem
como objetivo contextualizar o leitor deste trabalho que não tenha tido acesso a
Watchmen e Before Watchmen – Dr. Manhattan, para isso são discutidos vários
elementos destas revistas como o universo no qual a história é ambientada, o
contexto histórico, os elementos derivados da realidade e os elementos fantásticos e
por último a figura do Dr. Manhattan, personagem que está profundamente envolvido
em quase todos os fragmentos que discutem alguma coisa relacionada a ciência.
3 – Um relógio sem relojoeiro: Os conceitos da física em destaque nas
revistas, este capítulo é articulado com a visão de diversos autores, inclusive de
Kakalios, autor que defende o uso das histórias em quadrinho na divulgação
científica.
13
4 – Dois minutos para a meia noite: Este capítulo discute o enfoque CTS e
porquê isto deve estar presente na educação, além de trazer fragmentos da revista
onde esta discussão é levantada, sempre procurando fazer diálogos com diversos
autores, dando destaque novamente para Kakalios.
5 – Metodologia de pesquisa e aplicação de material: Capítulo destinado a
metodologia de pesquisa, aplicação de material com uma turma de licenciatura em
ciências e resultados.
Os nomes dos primeiros quatro capítulos foram escolhidos com base em
referências a frases ou capítulos das revistas, sendo escolhidos da seguinte forma:
"Os Homens-minuto" é na revista uma referência aos primeiros heróis, por isso
pareceu apropriado para falar sobre os autores das revistas. "Hoje à noite, um
Comediante morreu em Nova York" é referência ao início de Watchmen, onde a
morte de um vigilante chamado Comediante está sendo investigada por outro
vigilante, o início do enredo foi utilizado para o capítulo que contextualiza o leitor
sobre o enredo. "Um relógio sem relojoeiro" é retirado de uma das frases do Dr.
Manhattan ao se referir ao universo, por isso foi utilizado no capítulo que fala sobre
física. "Dois minutos para a meia noite" é referência ao relógio do juízo final e por
isso foi utilizado no capítulo referente ao enfoque CTS.
14
1 OS HOMENS-MINUTO
Apesar de ser relativamente comum que digam que as histórias em
quadrinhos são um meio entretenimento direcionado ao público infanto-juvenil as
histórias em quadrinho direcionadas a adultos conquistaram seu espaço no
mercado. Estas revistas costumam abordar assuntos que são inapropriados ou
complexos e por isso não indicados para o público jovem.
Estas revistas para adultos, conhecidas como Graphic Novels ou narrativas
gráficas, termo cunhado por Will Eisner (1985), utilizam o espaço da história em
quadrinho para difundir narrativas que tratam de diferentes assuntos, desde o
cotidiano e a efemeridade da vida (assunto trabalhado pelos quadrinistas brasileiros
Fábio Moon e Gabriel Bá em sua revista Daytripper), ocultismo (tema de Hellblazer,
de Alan Moore) ou, no caso de Watchmen, guerra fria e física moderna, fazendo com
que um leitor que dedique um pouco mais de atenção a este tipo de leitura não se
depare apenas com entretenimento, mas frequentemente ele é levado a refletir a
respeito de algo mais.
É claro que alegar que é possível obter algo mais de uma história em
quadrinho do que simples entretenimento não é uma afirmação muito
surpreendente, este meio já foi utilizado para outros propósitos e já é estudado por
teóricos, alguns dos quais são também quadrinistas. Ao longo deste capítulo alguns
destes teóricos serão mencionados à medida que se discute sobre as histórias em
quadrinho aliadas ao ensino, principalmente os teóricos Will Eisner, referência
quando se estuda histórias em quadrinho, além de responsável pelos termos
Graphic Novel e Arte Sequencial, e também o teórico ScottMcCloud, que estuda a
estética e semiótica das HQs.
Posteriormente, a arte de modo geral sendo utilizada na divulgação científica
será abordada, falando ainda, principalmente, das histórias em quadrinhos, mas
tendo algumas menções a outros meios.
Por último, neste capítulo haverá uma breve biografia dos autores e
ilustradores de Watchmen e Before Watchmen – Dr. Manhattan, revistas utilizadas
na elaboração desta pesquisa. Watchmen foi escrita por Alan Moore e ilustrada por
Dave Gibbons e Before Watchmen – Dr. Manhattan foi escrita por J. Michael
Straczynski e ilustrada por Adam Hughes.
15
1.1 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E ENSINO
As histórias em quadrinhospossuem a capacidade de transmitir informações
e contar histórias, espera-se que qualquer pessoa saiba disso, porém, para muitos
as HQs são vistas apenas como uma espécie de brinquedo, um produto destinado a
crianças e que serve apenas para divertir. Porém quem entende de quadrinhos ou
trabalha na área sabe que esta é uma concepção pobre e pejorativa. Se
direcionadas corretamente, as histórias em quadrinhos podem se tornar uma
importante ferramenta de ensino.
As histórias em quadrinhos já foram utilizadas para esta finalidade inclusive
pelo autor Will Eisner, uma das maiores referências quando o assunto é histórias em
quadrinhos. Eisner é considerado o pai do romance gráfico, com uma carreira que
durou décadas, nenhum autor dos quadrinhos teve tamanha importância para a
evolução e divulgação deste gênero. O autor foi o criador do termo Graphic Novel
para definir as histórias em quadrinhos escritas para um público mais adulto, sério e
buscando qualidade narrativa e literária, foi também conhecido por usar as histórias
em quadrinhos para escrever manuais de manutenção de equipamentos para
soldados norte-americanos e, além disso, tudo foi o primeiro grande teórico das
histórias em quadrinhos. Em seu livro Quadrinhos e Arte Sequêncial (1985) Eisner defende que as
imagens eram utilizadas para complementar os textos e a partir das graphicnovels
os textos passaram a servir as imagens e ser parte delas, não apenas como texto
separado por um balão de fala, mas como letras estilizadas e redesenhadas para se
encaixar em uma determinada sensação buscada pelo autor, fazendo com que esta
tipografia não só sirva para transmitir uma mensagem para o leitor, mas também
seja uma estilização da forma como o autor quer que o público leia a mensagem, a
fazendo soar mais melancólica, agressiva, pacífica, formal, ou seja qual for a
sensação que ele quis transmitir ao leitor. Esta codependência entre imagem e texto
contribui muito para criar a ambientação das revistas, ou seja, criar o “clima” que se
espera que o leitor vivencie à medida que lê.
Para ser capaz de atingir este efeito é importante que os autores conheçam
o público para o qual estão escrevendo, de forma a utilizar tipografias, estruturas de
páginas, jogo de cores e outros elementos visuais de forma eficiente, fazendo com
16
que os elementos façam com que o leitor identifique outros elementos (mesmo que
inconscientemente) e assim acabe sentindo uma certa imersão na obra.
Nas Graphic Novels da série Before Watchmen esta preocupação com a
linguagem visual da revista como um todo, é perceptível. Na revista, várias páginas
podem ser consideradas uma imagem como um todo e não uma página fracionada
em quadros. Os famosos ‘quadrinhos’ ainda estão presentes, porém a linguagem
visual presente nos quadros em conjunto com a dos balões de texto criam uma
unidade que contribui muito para causar impacto e imersão no leitor.
O formato da revista em quadrinhos apresenta uma montagem de ambos palavra e imagem, e o leitor então precisa exercitar tanto a interpretação visual quanto verbal. Os regimes da arte (perspectiva, simetria, pinceladas) e os regimes da literatura (gramática, enredo, sintaxe) tornam-se superimpostos um sobre o outro. A leitura de uma revista em quadrinhos é um ato de percepção estética e busca intelectual. (EISNER, 1985, pg 8).
Deve ser levado em consideração que, se o objetivo de uma história em
quadrinho é que esta seja aplicada ao ensino, ela seja objetiva, sucinta e adequada
à faixa etária dos estudantes aos quais ela é direcionada. Algumas revistas criadas
como obras de entretenimento podem ser aplicadas ao estudo, porém, diferente dos
famosos quadrinhos de Will Eisner direcionados ao exército norte-americano
(imagem abaixo), as revistas em quadrinho que não foram criadas com o intuito de
ensinar algo irão frequentemente precisar de um direcionamento, o aluno precisa ter
uma noção do que está procurando na revista, porém, quando olhamos para a
ilustração de Eisner vemos em detalhes o que um soldado precisa fazer para
desobstruir um rifle que emperrou, a tira é simples, detalhada, possui uma sequência
lógica de passo a passo e instruções precisas. A tira de Eisner foi criada para ser um
manual, para indicar a um soldado um determinado curso de ação em uma
determinada situação adversa. Quando lemos uma revista em quadrinho como
Watchmen e queremos discutir com alunos a respeito da guerra fria ou física a
mensagem não estará “mastigada” para o aluno, ou seja, diferente do manual de
Eisner a Graphic Novel comercial foi feita com o intuito de narrar uma história e é
isto que ela faz, os conteúdos inseridos no meio da revista estão lá como parte desta
narrativa e para que um leitor consiga ter uma reflexão a partir deles não basta que
ele saiba ler, porém ele saiba interpretar o que está lendo. Ainda assim, segundo
17
Eisner, revistas de entretenimento de tempos em tempos podem exibir informações
instrucionais como uma necessidade de narrativa.
Em termos gerais podemos dividir as funções da arte sequencial em duas aplicações amplas; instrução e entretenimento. Revistas periódicas, graphic novels, manuais de instruções e storyboards são os meios mais comuns. Normalmente, revistas periódicas e graphic novels são destinadas ao entretenimento enquanto manuais e storyboards são utilizados para ensinar ou vender produtos. Mas há uma sobreposição pois a arte sequencial tende a ser expositiva. Por exemplo, revistas em quadrinhos, que normalmente se limitam a histórias designadas exclusivamente ao entretenimento, frequentemente empregam técnicas instrucionais que apoiam a narrativa exagerada e realçam o entretenimento. Em um trabalho de arte em quadrinhos destinado puramente ao entretenimento, alguma exposição técnica de certa natureza acontece com frequencia. Exemplos comuns são procedimentos como a abertura de um cofre em uma história de detetive ou a montagem de partes em uma aventura espacial. Essa passagem técnica é na realidade um conjunto de imagens com uma mensagem instrucional incorporada em uma história de 'entretenimento'. (EISNER, 1986, pg 139)
Figura 1 Manual ilustrado por Will Eisner, utilizado para ensinar soldados a desemperrar suas armas.
Fonte: Comics with Problems. http://www.ep.tc/problems/25/
18
Para aprender com uma Graphic Novel é necessário que o leitor saiba
interpretar texto e imagem, de forma que a obra como um todo fale ao leitor.
Interpretar uma Graphic Novel pode ser tão trabalhoso quanto interpretar um livro ou
até mais difícil no caso de um leitor não habituado, afinal, ele precisa ser capaz de
compreender o conteúdo escrito, o conteúdo ilustrado e a sequência lógica das
páginas que costuma ser linear, porém alguns ilustradores escolhem criar páginas
com quadros que fogem a sequência lógica e que precisam de alguma leitura a mais
por parte do leitor, como é o caso da página a seguir de Before Watchmen – Dr.
Manhattan.
Figura 2 Before Watchmen - Dr. Manhattan, pg. 83.
Fonte: Straczynski; Hughes, 2012. Volume único.
19
Aqui o ilustrador escolheu deixar o segundo quadro de cabeça para baixo
com o intuito de demonstrar a diferença nas linhas de pensamento e forma de
raciocínio dos dois personagens, qualquer um dos dois pode ser o segundo quadro,
isto não altera a compreensão da história. Em diversos momentos em Before
Watchmen – Dr. Manhattan este e outros recursos semelhantes são utilizados, estas
escolhas por parte do ilustrador fazem com que o próprio layout da página se
destaque e passa a fazer parte da narrativa.
Este tipo de escolha fora do padrão convencional das histórias em
quadrinhos é um exemplo de algo discutido pelo quadrinista e teórico Scott McCloud
(1993) que argumenta que alguns artistas utilizam as imagens de formas criativas e
inovadoras para transmitir em pouco espaço alguma mensagem que na forma de
texto seria muito extensa e cansativa, o próprio Scott faz isso em seu livro
Desvendando os Quadrinhos, um livro teórico sobre a semiótica e a construção
narrativa das histórias em quadrinhos escrito no formato de uma história em
quadrinho, portanto em vez de ficar tentando fazer o leitor visualizar as situações e
exemplos que o autor precisa falar a respeito ele simplesmente as mostra na forma
de desenho e completa com falas na forma de balão, tornando a leitura muito mais
simples e direta, mesmo para leitores não acostumados com o formato.
McCloud defende que o potencial para difundir informações das HQs é
ilimitado, sendo que as escolhas visuais na revista podem influenciar não só na
compreensão, mas também no ritmo do leitor, porém mesmo com tanto potencial a
utilização das HQs no ensino encontra um grande problema que é o preconceito por
parte da academia e de alunos, enquanto as histórias em quadrinhos forem tratadas
como uma mídia pobre e infantil, elas não podem atingir o seu potencial máximo.
Por causa da importância de desconstruir o preconceito que atrapalha as histórias
em quadrinhos McCloud defende que elas devem passar a ser tratadas não
simplesmente como histórias em quadrinhos, mas principalmente como Arte
Sequencial, ou seja, uma sequência de desenhos, símbolos e letras que servem
para transmitir uma ou mais informações. Enxergar as histórias em quadrinhos como
obra literária é o primeiro passo para perceber todo o potencial destas histórias e
como elas podem ser aplicadas em todos os níveis da educação.
Porém ao falarmos sobre a utilização de materiais alternativos na educação
é válido perguntar o porquê de utilizar este ou aquele material, então, por que utilizar
histórias em quadrinhos? Existe uma grande variedade de materiais produzidos em
20
diversos formatos, cabe ao professor escolher quais devem ser utilizados para
alcançar os seus objetivos, ou seja, quais se encaixam melhor em cada conteúdo a
ser trabalhado e principalmente quais atraem a atenção dos alunos. Ao longo desta
dissertação será falado sobre “atrair a atenção” ou “despertar interesse” dos alunos
em diversos momentos, tendo como base a ideia de que uma grande barreira ao
aprendizado é a indisposição a aprender/ensinar, ou seja, cabe ao aluno estar
disposto a aprender, um aluno que não quer prestar atenção a uma aula e não quer
fazer as atividades propostas pelo professor dificilmente vai aprender
significativamente um conteúdo, e um professor que não tenta adaptar sua aula ao
perfil de seus alunos dificilmente vai conseguir que estes estejam dispostos.
Ao defender a necessidade da predisposição dos alunos me baseio nos
textos de Joseph D. Novak e em experiências pessoais, e por isto este trecho será
escrito em primeira pessoa do singular. Durante minha atuação como professor na
rede pública do Estado do Paraná no ano de 2015 lecionei na disciplina de Arte para
duas turmas do nono ano do ensino médio em uma escola rural nos arredores do
município de Ponta Grossa. De todas as turmas que tive ao longo de 2015 estes
nonos anos eram as que demonstravam melhores resultados, porém os perfis das
turmas eram muito diferentes, pois uma das turmas era muito dedicada aos estudos
e os alunos possuíam o hábito da leitura enquanto a outra era muito participativa e
dedicada aos trabalhos práticos.
Enquanto estávamos no início do ano letivo as mesmas aulas eram
aplicadas para ambas as turmas, pois eu ainda não estava ciente do perfil das
mesmas. Quando trabalhava com textos e atividades teóricas uma das turmas, que
é a turma extrovertida não gostava das atividades e, portanto, se desinteressava
rapidamente, tinha rendimento entre baixo e médio e até mesmo alguns focos de
indisciplina na sala, enquanto a outra turma possuía foco e rendimento alto. Quando
trabalhava com produções artísticas ou debates a turma que tinha rendimento baixo
nas atividades puramente teóricas possuía alta participação, alto rendimento e
raramente alguma indisciplina, enquanto a turma que se destacava nas atividades
teóricas era mais fechada e difícil de trabalhar em atividades que demandem
criatividade e participação. Após perceber isto passei uma boa parte do primeiro
bimestre tentando achar um campo em comum, onde conseguiria dar atividades
semelhantes para ambas as turmas e conseguir um rendimento satisfatório, até que
21
desisti e a partir do segundo bimestre passei a preparar aulas diferentes para
trabalhar os mesmos conteúdos em ambas as turmas.
Com esta experiência pude notar que não importa o quão bem preparada
esteja a aula e o quanto o professor estude o conteúdo, se a abordagem não cativar
os alunos de alguma forma o rendimento dificilmente será satisfatório, mesmo no
caso de duas turmas que se destacavam em relação as outras.
Com exemplos como este se nota a importância de levar em consideração o
aluno, seus gostos e suas capacidades, quando se estuda a respeito da história em
quadrinho ou outras mídias aplicadas ao ensino é fácil se deparar com diversos
artigos e relatos positivos sobre a utilização destes meios em sala de aula. Silva
(2011) destaca que a interação entre visual e verbal contribui na compreensão,
autonomia e senso crítico do aluno como leitor deste material.
Em todo meio educacional, a HQ se torna eficiente, como recurso didático, quando representa graficamente uma disciplina com detalhes visuais pertinentes àquela abordagem, aumentando ou diminuindo o número de informações visuais de acordo com as necessidades pedagógicas do processo ensino-aprendizagem em prática (ARAÚJO; COSTA; COSTA, 2008). Na Biologia, por exemplo, considerando-se uma aula sobre meio ambiente, pode-se utilizar, em uma HQ referente a tal conteúdo, imagens que dizem respeito a um ecossistema, ilustrando os animais e as plantas nativos de uma região, representando a ação do homem sobre tal nicho, desenhando os recursos minerais e a hidrografia próprios do local, enfim, caracterizando um espaço geográfico por meio de um panorama gráfico objetivo e enriquecedor sobre o tema. (SILVA, 2011, pg 79).
Vale ressaltar que quando o meio é a história em quadrinhos nem sempre se
fala de material impresso, é cada vez mais comum que as pessoas leiam em
aparelhos eletrônicos como notebooks, tablets e celulares, sobre isso Silva
menciona alguns projetos de ensino a distância em Santa Catarina que obtiveram
êxito no uso de HQs no ensino, porém que os alunos responderam de forma
diferente aos materiais impressos e digitais, segundo o autor, de modo geral as HQs
impressas são mais agradáveis aos alunos, por serem fáceis de carregar para
qualquer lugar e possibilitar uma leitura fracionada, conforme o tempo permitir, já a
HQ digital em teoria também possibilita as duas coisas, mas incomodava os alunos
ter que tirar um tempo para ler a HQ enquanto estão utilizando o computador ou
celular, porém a HQ digital possui maior acessibilidade pelo potencial de difusão da
internet. Vale lembrar que o meio escolhido também tem influência na prática da
22
leitura, tanto é que é comum ouvir de leitores que ler a versão digital de livros e
revistas é desagradável, por diversas questões, além disso uma revista como Before
Watchmen – Dr.Manhattan que em vários momentos exige que o leitor fique
modificando a sequência de leitura e em alguns momentos gire a revista para isso, é
muito mais fácil e confortável fazer isto usando a versão impressa.
Também é prudente pensar que nem todos os alunos tem acesso a
computadores e celulares, em um cenário otimista onde todos os alunos de uma
turma possuem acesso a estes recursos o material digital seria mais barato e,
portanto, mais acessível.
Não devemos apenas considerar acessível aquilo que é barato ou facilmente
difundido, mas também um material cuja compreensão seja simplificada e capaz de
atingir um público amplo, por isso a história não deve se adaptar a uma determinada
idade apenas por ser violenta ou ter algum dos outros indicativos para ser
contraindicada para menores, mas também no tipo de linguagem escolhida, temas
abordados, complexidade de modo geral, é por isso que uma revista como
Watchmen deveria ser trabalhada apenas no ensino médio e isso com uma
abordagem tanto prévia quanto posterior por parte do professor.
Segundo Novak(1984) os alunos precisam ter organizadores prévios para
que possam ter uma aprendizagem significativa, ou seja, antes que aprendam a ligar
novos conceitos adquiridos com outros conceitos previamente conhecidos, os
organizadores prévios, uma vez que eles aprendam a fazer estas ligações eles terão
aprendido algo significativamente. As histórias em quadrinhos podem servir para
criar estes organizadores prévios ou para fazer com que os alunos liguem conceitos,
no caso de uma história como Watchmen, por exemplo, seria interessante que os
alunos já soubessem alguma coisa a respeito da guerra fria e da bomba atômica,
caso eles não conheçam cabe a um professor fornecer estes indicadores. Grande
parte desta pesquisa se baseia no livro do Novak Aprender a Aprender (1984), este,
por sua vez, baseia muito do que escreve nas pesquisas de David Ausubel.
Segundo Novak:
O conceito principal da teoria de Ausubel é o de aprendizagem significativa, em oposição ao de aprendizagem memorística. Para aprender significativamente, o indivíduo deve optar por relacionar os novos conhecimentos com as proposições e conceitos relevantes que já conhece. Pelo contrário, na aprendizagem memorística, o novo conhecimento pode adquirir-se simplesmente mediante a memorização verbal e pode
23
incorporar-se arbitrariamente na estrutura de conhecimentos de uma pessoa, sem interagir com o que já lá existe.(NOVAK, pg 23, 1984)
O modelo de educação defendido por Novak (e Ausubel) utiliza
conhecimentos já enraizados na mente do aluno (os organizadores prévios) para
ensinar através da ligação de conceitos, porém, para que isso aconteça de forma
eficiente muitas vezes é preciso uma combinação da aprendizagem significativa e da
aprendizagem memorística. Utiliza-se a aprendizagem memorística para fornecer
conceitos e organizadores prévios para que os alunos possuam uma base, para a
partir dali construir novas ligações de conceitos.
A utilização de histórias em quadrinhos no ensino já demonstrou alguns
resultados positivos, lembrando que o enfoque sempre deve ser uma preparação por
parte do professor para abordar os conteúdos a serem trabalhados, no caso das
ciências elas andaram lado a lado com as artes por muito tempo e mesmo na
contemporaneidade que se difundiu a ideia de que as artes e as ciências não
possuem campos em comum, o primeiro contato de muitas pessoas com as ciências
costuma ser a partir dos quadrinhos, do cinema, dos jogos eletrônicos ou de outras
mídias artísticas, mostrando que as artes tem o poder de aproximar o público do
cientista. Já existem autores que defendem a importância dos quadrinhos no ensino
de ciências, entre eles o destaque é o Dr. James Kakalios.
Segundo Kakalios(2005), Watchmen é de extrema importância para o ensino
utilizando histórias em quadrinhos, pois é uma narrativa complexa e envolvente na
qual temas relevantes a várias áreas da ciência e grandes reflexões históricas,
sociais e filosóficas são abordadas.
A próxima parte deste capítulo vai ter como enfoque justamente esta
colaboração entre as artes e a ciência, com uma breve discussão a respeito de
outros períodos históricos, mas principalmente discutir esta ligação na
contemporaneidade.
1.2 A ARTE NA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
Em alguns períodos históricos a arte e a ciência eram tão próximas uma da
outra que o artista e o cientista frequentemente eram as mesmas pessoas. Sendo
24
que o período mais famoso por isso é o Renascimento, período notório por artistas
como Leonardo da Vinci, conhecido principalmente pela famosa pintura da Monalisa,
mas que também deixou estudos sobre mecânica, física, anatomia e botânica.
No final do século XIX e início do século XX houve uma reestruturação nas
artes, provocada pela popularização da fotografia. Devido a esta tecnologia alguns
artistas cujo principal trabalho era a venda de retratos se viram confrontados por
uma tecnologia que capta a imagem de uma pessoa com maior riqueza de detalhes,
além de no período ser uma novidade que se tornou tendência: todo mundo queria
uma fotografia, mas poucos uma pintura a óleo. Confrontados com a concorrência
dos fotógrafos os pintores precisaram pensar em uma forma de reinventar a arte
para que esta volte a chamar a atenção, a solução foi investir naquilo que a
fotografia ainda não tinha: cores.
Alguns artistas, dos quais o principal destaque foi Claude Monet, passaram a
estudar a influência da luz nas cores que enxergamos e a fazer pinturas com as
cores o mais próximo o possível da realidade, utilizando pinceladas marcadas e
rápidas para retratar principalmente paisagens antes que a luz natural mude por
causa da posição do sol, assim surgiu um gênero artístico que procurava retratar as
coisas com as cores reais, criar imagens onde a linha não esteja demarcada, pois
não vemos os contornos dos objetos no mundo real e onde a sombra não seja
necessariamente preta, como era comum que os artistas pintassem. Este movimento
eventualmente recebeu de um crítico debochado o nome de Impressionismo e foi o
primeiro movimento artístico do modernismo.
O impressionismo ainda foi um movimento com algumas características
tradicionais das belas artes, apesar de ter sofrido muita rejeição em seu início,
porém uma vez que passou a ser aceito pela sociedade ele abriu o caminho para
muitos outros movimentos artísticos inovadores surgirem, as chamadas vanguardas
modernistas. Havia movimentos que retratavam a angústia do período entre primeira
e segunda guerra mundial, movimentos que procuravam trabalhar a geometrização
da forma, movimentos que procuravam representar o subconsciente, inspirados
pelos estudos de Sigmund Freud e até mesmo movimentos que apenas existiram
em prol da falta de sentido. A questão do modernismo é que ele criou esta
concepção de que a arte deve existir pela arte, e mesmo que do período modernista
até os dias de hoje ainda existam alguns artistas que se preocupem com valores
matemáticos, proporções ou que entendam e trabalhem com ciência, isto é uma
25
opção destes artistas, não sendo mais uma regra. Desde o modernismo é comum
que os leigos taxem a arte apenas como estranha, sem sentido ou escandalosa, e
que estas pessoas vejam uma clara distinção entre o racional e o belo e aquilo que
as artes representam, graças a esta distinção é cada vez mais comum que as
pessoas não pensem nas artes como algo que possa se aproximar e colaborar com
a ciência.
Esta alcunha de algo estranho e de pouco valor é muito difundida pelo
público especialmente ao se tratar da arte contemporânea, mesmo que alguns
artistas claramente utilizem de conceitos científicos para a produção de suas obras
de arte. Quando se busca aliar ciência à arte não é preciso sair da cultura pop,
existem vários exemplos de obras de arte para comercialização em massa sendo
utilizadas no ensino de ciência, história ou outras disciplinas, não só falando de
história em quadrinhos.
Krakhecke(2009) alega ter tido resultados satisfatórios utilizando a série de
filmes Mad Max para discutir com os alunos as possíveis consequências de uma
guerra nuclear, além disto ele também tem relatos de Watchmen e Batman utilizados
para falar a respeito da guerra fria.
Utilizar obras ficcionais para ensinar e discutir com alunos assuntos
complexos como estes pode garantir que os alunos terão um organizador prévio
onde nem sempre teriam, no caso de Krakhecke os alunos que discutiam sobre as
consequências de Mad Max, por exemplo, não teriam meios de ter uma vivência
capaz de suprir a informação trabalhada pelo autor: as consequências de uma
guerra nuclear. No momento que a obra ficcional ela entra em jogo ela cria
possibilidades para se iniciar uma discussão, esta obra não precisa existir como uma
verdade absoluta e incontestável, até porque é uma obra ficcional, porém ela pode
servir como ponto de partida para que os alunos concordem ou discordem com a
mesma e assim passem a desenvolver discussões sobre o tema em questão.
As vezes um mesmo trabalho ficcional poderia ser adaptado a mais de uma
disciplina, no caso de Watchmen é possível trabalhar física, história, sociologia,
filosofia e em vários destes assuntos dar um enfoque CTS, que nada mais é do que
discutir a interação entre ciência, tecnologia e sociedade. A obra continua sendo
apenas uma narrativa, porém com uma leitura cuidadosa da mesma, diversos
assuntos podem se destacar e abrir possibilidades para um uso didático.
26
Watchmen possui uma riqueza de assuntos abordados, que foram
incrementados graças a série expandida Before Watchmen. Estas revistas podem
contribuir no ensino pois podem ser mais compreensíveis do que uma leitura técnica
e acadêmica, Zappone, Nascimento e Mello (2014) apontam que cerca de 74% dos
brasileiros não possuem letramento para compreender textos técnicos, então será
que é certo que professores trabalhem assuntos como o enfoque CTS a partir de
artigos e textos acadêmicos sendo que usar um texto ficcional em um primeiro
momento pode ser mais acessível aos alunos? O texto ficcional pode exigir algumas
orientações por parte do professor e exigir alguma interpretação, mas dificilmente
exige tantos organizadores prévios quanto os textos acadêmicos.
Em seu artigo, os autores discutem a importância da leitura ficcional para
crianças e adolescentes ao argumentar que este é o primeiro contato que o público
infanto juvenil costuma ter com a literatura. Ao discutir sobre a leitura:
Sendo a leitura uma atividade que se dissemina socialmente por meio de diversas práticas e que não são homogêneas, mas, ao contrário, demarcadas por condições históricas e sociais particulares e específicas, pode-se inferir que os sujeitos podem realizar diferentes apropriações de um mesmo texto e mesmo investir os objetos/textos de leitura de diferentes valores. (ZAPPONE; NASCIMENTO; MELLO; 2014, p. 61)
Ainda segundo os autores, a leitura ficcional é uma etapa necessária na
formação de uma pessoa alfabetizada, pois um leitor não habituado tem dificuldade
de compreensão para ler um texto técnico, a leitura ficcional acaba servindo como
um preparo para ler e escrever melhor no futuro e até para criar o hábito de ler.
Mesmo quando a leitura ficcional não ensina diretamente, ela serve como uma
espécie de ensaio.
Os autores argumentam que a leitura é uma prática social que não só prevê
diversos tipos de textos, mas também de leitores, o que faz com que um autor leve
em consideração que a sua mensagem vai ser compreendida de formas diferentes
por diferentes leitores, além de estar sujeita a não compreensão por parte de alguns.
Fazendo com que tanto Zappone, Nascimento e Melo quanto Will Eisner tenham um
ponto em comum: defendem que a obra seja planejada também para o tipo de leitor
que se espera dela. Isto é válido para todo o tipo de material, existem livros para
criança e livros para adultos, quadrinhos para crianças e quadrinhos para adultos, no
fim cabe ao autor direcionar sua obra para o público certo.
27
Lembrando que um leitor de uma história em quadrinhos deve ser capaz de
ler efetivamente tanto seu texto quanto sua imagem, ambas possuem grande
importância e são necessárias na transmissão efetiva da mensagem da história em
quadrinho, além disso, a combinação de imagens e textos podem contribuir para
transmitir informações efetivamente. Onde um autor que trabalhe apenas com
imagens precisa de um gestual e símbolos muito bons e compreensíveis para
transmitir uma mensagem, um que só trabalhe com textos precisa de explicações
longas e elaboradas para ilustrar um cenário, e uma história em quadrinhos
consegue utilizar o melhor das duas linguagens, resolvendo ambos os problemas
simultaneamente. Citando algo que ouvi pessoalmente em Curitiba no lançamento
de um livro da teórica sobre histórias em quadrinhos Denise Guimarães (2012):
“Ignorar as histórias em quadrinhos como uma mídia relevante, que é algo que
muitos teóricos fazem, é uma mistura de preconceito e cegueira, e a academia está
cheia de gente cega e preconceituosa”.
Na verdade, ignorar o potencial de transmissão de mensagens de qualquer
mídia ou estilo artístico da cultura pop é uma atitude tola. Os meios midiáticos da
cultura popular podem contribuir muito para a divulgação científica, assim como as
artes já contribuíram em vários momentos, seja através das mãos de artistas que
também são cientistas ou de artistas que apenas estavam representando o trabalho
de outras pessoas. Isto acontece tanto devido ao potencial das artes de atrair a
atenção das pessoas, quanto da facilidade de acesso dos meios tecnológicos, afinal
é cada vez mais comum que as pessoas possuam aparelhos portáteis que tem a
função primária de um celular mas que, em menor escala, façam também aquilo que
um computador faz, até mesmo em sala de aula enquanto eu lecionava para o
ensino fundamental, já lecionei em turmas onde cerca de 75% dos alunos levavam
celulares para o colégio, isto em uma comunidade de baixa renda, estes aparatos
tecnológicos normalmente são vistos como um grande empecilho para a educação,
sendo considerados um grande problema por muitos professores, porém possuem
um imenso potencial educacional se direcionados para isso.
Lembrando que um dos principais meios utilizados pelos estudantes para
terem acesso a arte, mesmo que as vezes não saibam disso. São os meios
tecnológicos, a partir de filmes, jogos, reprodutores de músicas e outros meios
semelhantes, estes podem ser apenas novas formas de entretenimento ou ser
utilizado de forma consciente e planejada pela educação. Miquelin (2009) ressalta
28
que o computador e suas tecnologias tem aberto possibilidades para o ensino,
porém falta uma reflexão a respeito disso, o problema é que já estamos na segunda
década do século XXI e ainda existem professores que acreditam que a única forma
de lecionar é com quadro negro, giz e livro didático, não que os meios tradicionais
não devam ser utilizados, porém ignorar o potencial didático e paradidático de toda
esta tecnologia que permeia nossa vida pode significar a diferença entre conseguir
uma aula cada vez mais dinâmica e interessante do ponto de vista do aluno ou ter
uma aula imutável e cada vez mais ultrapassada e monótona, afinal, os meios
tecnológicos não são a única forma de trabalhar, porém abrem possibilidades que a
aula tradicional não possui.
1.3 SOBRE OS AUTORES
Watchmen foi uma série de 12 volumes lançada originalmente entre 1986 e
1987, porém, hoje em dia Watchmen é um ícone das histórias em quadrinhos e é
comumente vendida em volume único. A história foi criada por Alan Moore e ilustrada
por Dave Gibbons, é verdade que é comum que as pessoas falem sobre as histórias
sem mencionar os ilustradores, porém se tratando desta pesquisa isso seria um erro
grosseiro, tendo em vista que grande parte das informações contidas em Watchmen
estão presentes na ilustração (e nem sempre no texto).
1.3.1 Alan Moore
Apesar da importância do visual, o grande responsável por Watchmen é Alan
Moore, segundo o site sobre cultura pop Omelete (https://omelete.uol.com.br/alan-
moore/), Moore é um autor renomado, nascido na Inglaterra em 18 de Novembro de
1953, Moore é conhecido por histórias repletas de simbologia, subjetividade e por
obras polêmicas e com características de protesto ou misticismo, entre suas obras
mais icônicas estão Watchmen e V de Vingança, ambas obras que deram origem à
filmes renomados e que passaram a influenciar amplamente a cultura pop (inclusive
fazendo com que a máscara de Guy Fawkes utilizada pelo protagonista de V de
Vingança tenha se tornado símbolo mundial de protesto e luta contra sistemas
opressores).
29
Moore é originário de família uma família pobre e em sua adolescência foi
expulso de uma escola conservadora, o que fez com que todas as suas tentativas
subsequentes de se matricular em alguma escola de destaque fossem recusadas.
Com 18 anos estava desempregado e sem uma formação profissional, porém junto
com alguns amigos passou a trabalhar na revista Embryo. Posteriormente foi
cartunista em outra revista, a semanal Music Sounds. Observando o próprio trabalho
Moore constatou que é um péssimo ilustrador, e passou a se dedicar a escrita.
Como escritor trabalhou na empresa britânica Warrior, onde escreveu V de Vingança
e Marvelman, as duas séries deram a Moore o título de melhor escritor britânico de
quadrinhos em 1982 e 1983, o que chamou a atenção do mercado estadunidense.
Graças ao renome obtido Moore pôde trabalhar na DC Comics, onde
assumiu a revista já em andamento Monstro do Pântano. Com seu trabalho na DC,
Alan Moore passou a ter visibilidade e destaque mundial. Também na DC Comics,
Moore pôde escrever a publicar Watchmen, que baseou em uma frase retirada da
Sátira VI do filósofo Juvenal (127 – 60 AC): quis custodiet ipsos custodes(Quem vigia
os vigilantes?), transpondo a crítica original contra a sociedade romana a um
universo onde combatentes do crime mascarados despertam a ira da população civil
que tenta proteger.
Dos anos 90 em diante, Moore passa a se dedicar a projetos diversos para
várias editoras, não só para a DC Comics.
1.3.2 Dave Gibbons
Nascido na Inglaterra em 14 de Abril de 1949, Dave Gibbons é ilustrador e
escritor de quadrinhos, seus trabalhos mais conhecidos são colaborações com Alan
Moore, especialmente a série de revistas Watchmen. Gibbons é um artista
autodidata e a primeira empresa na qual trabalhou foi a Underground Comics, as
informações presentes neste subcapítulo foram retiradas do website da DC Comics,.
O trabalho de Gibbons em Watchmen se destaca pelo uso de um estilo de
layout de página e ilustração típico das histórias em quadrinhos clássicas aliados a
uma ilustração densa de elementos simbólicos, por isso muitas das informações
presentes em Watchmen não estão presentes no texto mas podem ser claramente
lidas através de uma análise da ilustração, fazendo com que o leitor se beneficie
muito da leitura de imagem.
30
Além da simbologia empregada, quando Gibbon começou a ilustrar
Watchmen seu objetivo foi fazer personagens que tivessem um estilo visual que
fosse uma mistura do estilo dos primeiros heróis de quadrinhos com algo de
incomum e estranho, utilizando referências de egípcias (perceptíveis no Coruja e
principalmente no Ozymandias), da cultura norte americana e de histórias noir.
Dos anos 90 em diante Gibbons passou a se dedicar a diversos projetos,
não apenas ilustrando, mas também trabalhando como arte finalista em algumas
obras, e diversificando as empresas pra qual trabalhou, tendo colaborado até
mesmo com o icônico autor da Marvel, Stan Lee.
1.4 SOBRE OS OUTROS AUTORES
Before Watchmen é uma série de revistas que tenta colaborar com o
universo criado por Moore e Gibbons criando novas narrativas que se passam
anteriormente aos eventos presentes em Watchmen. A série foi publicada ao longo
de 2012 e é escrita e ilustrada por muitos artistas, porém iremos focar nas quatro
edições referentes ao Dr. Manhattan (que no Brasil foi publicada como edição única).
Before Watchmen – Dr. Manhattan foi escrita por J. Michael Straczynski e
ilustrada por Adam Hughes, a revista explora a história do Dr. Manhattan de um
ponto de vista não linear e em vários momentos fazendo referência ao icônico gato
de Schrodinger, por oferecer diversas linhas do tempo e possibilidades de leitura
(por possibilidades de leitura, entenda que o leitor recebe a oportunidade de
escolher por onde ler a página, sem precisar utilizar a sequência comumente
utilizada nas histórias em quadrinhos).
A escrita de J. Michael contribui para aprofundar a história do Dr. Manhattan
e dos elementos por ele desencadeado, porém o destaque vai para o ilustrador, que
faz um trabalho que de uma maneira inovadora e atraente leva o leitor a
compreender um pouco melhor a forma com a qual o Dr. Manhattan enxerga o
mundo. Um leitor de Before Watchmen – Dr. Manhattan recebe inúmeras
informações visuais que fazem referência a física moderna aliadas à história e
sociologia, porém diferente de Watchmen, Before Watchmen – Dr. Manhattan exige
um pouco mais de conhecimento por parte do leitor para absorver a totalidade das
referências apresentadas na revista.
31
1.4.1 J. Michael Straczynski
Nascido em 17 de Julho de 1954 nos Estados Unidos, J. Michael Straczynski
é formado em psicologia, sociologia e se destaca como roteirista não só de
quadrinhos, mas também de séries televisivas e filmes, sendo que sua série de
maior destaque foi Babylon 5. Apesar de seu destaque ser na indústria televisiva,
Michael também tem várias publicações no mundo dos quadrinhos, tendo atuado
como roteirista em Homem-Aranha, Quarteto Fantástico e é claro, Before
Watchmen. (http://www.dccomics.com/talent/j-michael-straczynski)
Straczynski é conhecido pelo contato direto que gosta de ter com os fãs,
sendo que ele é uma presença constante em fóruns online referentes a seu trabalho
e já deixou o público influenciar em suas produções televisivas.
Atualmente JMS possui sua própria produtora, inaugurada em 2012 e
atualmente responsável pela produção da série Sense8.
1.4.2 Adam Hughes
Adam Hughes nasceu em 3 de Maio de 1967 nos Estados Unidos e é um
artista já consagrado nos quadrinhos. Pode-se dizer que Adam foi uma escolha
surpreende para Before Watchmen – Dr. Manhattan, pois segundo seu website
oficial (http://www.justsayah.com/) Hughes é consagrado por seu trabalho ilustrando
mulheres sensuais, sejam estas heroínas, princesas em apuros, vilãs ou o que quer
que seja, Adam define seu próprio trabalho não como realista, mas como naturalista.
Seus trabalhos mais famosos são como ilustrador de capas para Mulher Maravilha e
Mulher Gato.
Em Before Watchmen – Dr. Manhattan, Hughes tem um trabalho
espetacular, não só por seu domínio técnico, mas também por seu uso criativo e
eficiente do layout de páginas e da ilustração. Ao ler Dr. Manhattan é possível
compreender um pouco da mente do protagonista e da forma como este enxerga o
universo (além de ser possível identificar conceitos da física moderna) através de
uma combinação inteligente e elegante das ilustrações de Hughes e da disposição
de quadros da revista, que em vários momentos não são dispostos de maneira
tradicional. Isto leva o leitor de Dr. Manhattan a ter uma experiência de leitura única,
32
intrigante e interessante, que pode ser confusa para um leitor desabituado a ler
imagens, porém que enriquece muito a narrativa para um leitor experiente.
33
2 ESSA NOITE, UM COMEDIANTE MORREU EM NOVA YORK
Com certeza existem muitas obras ficcionais com narrativa e elementos que
podem ser analisados para contribuir com o ensino de uma ou mais disciplinas. Nem
sempre estas obras foram estruturadas com este objetivo, sendo que
frequentemente o autor pode ter criado simplesmente uma obra de entretenimento,
porém, se analisadas de um ponto de vista acadêmico e didático, acabam
contribuindo para um ou mais conteúdo.
Mesmo no conteúdo a ser trabalho nesta tese (física com enfoque CTS)
existem muitas obras ficcionais de muitos meios midiáticos com contribuições
memoráveis. Estas obras tem o poder de provocar reações e lembranças daqueles
conteúdos da aula de física que uma pessoa viu e – talvez por desinteresse, talvez
por sobrecarga de conteúdos – acabou esquecendo e guardando naquele cantinho
cheio de poeira na sua mente. Além de provocar estas ligações as obras ficcionais
podem fazer algo ainda mais incrível e memorável: fazer com que alguém crie um
interesse por ciência e seus conceitos pela primeira vez, graças aos conteúdos
expostos na obra. Isto pode parecer bobagem para o leitor que está habituado a
leitura acadêmica e não costuma buscar muito de seu entretenimento em obras
ficcionais, porém aos leitores que já dedicaram seu tempo livre às páginas dos gibis,
aos jogos eletrônicos ou a tantas outras mídis de entretenimento, é improvável que
em nenhum momento algo assim tenha acontecido.
Sobre isto escreve o autor James Kakalios, em seu livro The Physics of
Superheroes (2005), onde relata a importância dos quadrinhos de heróis na
divulgação científica, porém inicia o assunto contando ao leitor como na primeira vez
que parou pra pensar em como a gravidade funciona, James era um garoto que se
intrigou enquanto assistia Papaléguas e Coyote, pois o vilão cartunesco continuava
andar em puro ar após acabar o chão de um precipício, e só despencava em queda
livre no momento que percebesse que o chão estava distante de seus pés. Assistir o
Willie Coyote em queda livre não fez com que James acreditasse que ele também
poderia andar em uma ponte de ar contanto que não percebesse que não estava
encostando em matéria sólida, o que o Cartoon fez foi provocar um momento de
reflexão em uma criança ao perceber que aquilo não deveria acontecer.
34
Quando se trabalha com obras ficcionais o objetivo não é buscar aquilo que
seja cientificamente preciso e realista, afinal o autor de ficção pode se dar ao direito
de tomar liberdades poéticas e criar seu próprio universo com as suas leis, o que
deve ser enfatizado é como estas histórias podem contribuir para fazer com que o
espectador pense a respeito de ciência. Kakalios cita como exemplo o fato de que
um professor pode utilizar o Homem-Aranha para levar seus alunos a discutir o
conceito físico de momento ou a gravidade, assim como é possível utilizar outros
personagens para discutir outros conceitos das ciências, sejam exatas, humanas ou
biológicas.
Em Homem-Aranha, Kakalios discute o conceito de momento em uma cena
trágica da revista, quando a personagem Gwen Stacy está caindo da ponte do
Brooklyn em direção a água, quando ao ser atingida por uma teia que tinha como
objetivo salvar a sua vida, morre. Kakalios começa calculando a velocidade da
queda da personagem:
To determine the forces that acted upon Gwen Stacy, we first need to know how fast she was falling when the webbing stopped her. In our previous discussion of the velocity required for Superman to leap a tall building in a single bound, we calculated that the necessary initial velocity v was related to the final height h (where his speed is zero) by the expression v=2gh where g is the acceleration due to gravity. The process of falling from a height h with initial velocity v=0, speeding up due to the constant attractive force of gravity, is the mirror image of the leaping processes that got him to the height h in the first place. (KAKALIOS, 2005, pg 63)1
Após determinar a velocidade da queda e discutir sobre o efeito da
resistência do ar em um objeto que seja arremessado para cima ou que esteja em
queda, o Dr. Kakalios destaca o seguinte:
1 Para determinar as forças que atuaram em Gwen Stacy, primeiro precisamos saber quão
rápido ela estava caindo quando a teia fez com que ela parasse. Em nossa discussão prévia sobre a velocidade requerida para que o Super-Homem pulasse sobre um prédio, nós calculamos que a velocidade inicial v estava relacionada com a altura final h (onde a velocidade é zero) pela fórmula
v=2gh onde g é a aceleração devido a gravidade. O processo de cair de uma altura h com velocidade
inicial v=0, acelerando devido a atração constante da força gravitacional, é o movimento espelhado
dos processos do salto que fizeram com que ele alcançasse aquela altura em primeiro lugar.
(Tradução do autor)
35
The upshot is that we can employ the expression v=2gh to calculate Gwen Stacy’s speed right before she is caught in Spider-Man’s webbing. Assuming that Spidey’s webbing catches her after she has fallen approximately 300 feet, Gwen’s velocity turns out to be nearly 95 mph. Again, air resistance will slow her down somewhat, but as indicated in fig. 6, she is falling in a fairly streamlined trajectory. As we are about to discuss, the danger for Gwen is not the speed but the sudden stopping that the river would provide. (KAKALIOS, 2005, pg 63).2
Após isso o Dr. Kakalios destaca que a morte da personagem na revista
possa ser devido a uma redução brusca de sua velocidade, onde ao invés dela ir
gradualmente de 152,8km/h para 0, ela faz esta transição em uma fração de
segundo, o que é o suficiente para fraturar o pescoço da personagem.
O foco desta pesquisa não é falar do Homem-Aranha nem do Willie E.
Coyote, apesar das histórias do Homem-Aranha em diversos momentos citar uma
das palavras chave desta tese, a radioatividade. As histórias ficcionais escolhidas
neste trabalho são Watchmen (1986), obra escrita por Alan Moore e ilustrada por
Dave Gibbons e a prequel Before Watchmen: Dr. Manhattan (2012), escrita por J.
Michael Straczynski e ilustrada por Adam Hughes.
2.1 O CONTEXTO
Watchmen traz ao leitor a oportunidade de observar um mundo com heróis
diferentes daquilo que costuma ser exibido nas páginas das outras revistas da DC
Comics ou de sua rival Marvel. Nas histórias de Moore existem sim os heróis, mas
eles não são moralmente idealizados como é comum em personagens icônicos
como o Capitão América, e a maioria deles não possui poderes sobre-humanos
como é tão comum nas páginas das histórias em quadrinhos. Em Watchmen houve
uma época em que criminosos resolveram usar máscaras e codinomes para praticar
2 A conclusão é que podemos empregar a fórmula v=2gh para calcular a velocidade de Gwen Stacy antes dela ser parada pela teia do Homem-Aranha. Assumindo que a teia do Aranha a pegue após ela cair aproximadamente 300 pés (90 metros), a velocidade de Gwen é de aproximadamente 95 mph (152,8 km/h). Novamente, a resistência do ar vai reduzir a sua velocidade um pouco, mas como discutido na figura 6, ela está caindo em uma trajetória quase em linha reta. Como estou prestes a discutir, o perigo para Gwen não é a velocidade mas a parada brusca que seria proporcionada pelo rio (Tradução do autor).
36
crimes, assim não seriam reconhecidos e poderiam caminhar incógnitos entre as
pessoas até resolverem atacar novamente. Como nem sempre a polícia era capaz
de enquadrar e encarcerar estes criminosos eles não precisavam se esconder por
muito tempo, com sua identidade oculta poderiam voltar as ruas em pouco tempo.
A medida que esta prática se popularizava entre os criminosos e a polícia se
frustrava com a reincidência de crimes e com o fato de ser mais difícil agir contra
sujeitos violentos quando não se pode atirar para matar, alguns cidadãos
(normalmente vinculados a polícia ou ao exército) resolveram copiar a ideia: se
fantasiaram, colocaram máscaras, e resolveram lutar contra o crime. Enquanto
protegessem suas identidades poderiam fazer o que a polícia não podia: ir até as
últimas consequências contra estes criminosos, se preciso até matar para tirá-los
das ruas de uma vez. Estes foram os Minutemen, fundados em 1939 para lutar
contra os vilões que o sistema tinha dificuldades para derrotar.
A medida que os anos se passaram os Minutemen foram saindo da ativa,
alguns por quê morreram, outros por problemas de saúde e alguns apenas se
aposentaram, até que por fim apenas sobrou um dos Minutemen, cuja alcunha era O
Comediante, um homem truculento, afiliado ao exército e ao governo norte-
americano.
Em 1966 com os Estados Unidos passando por todo tipo de crise, um dos
heróis aposentados dos Minutemen que utilizava a alcunha Capitão Metrópolis
resolve reunir um novo time de heróis, os únicos convocados para a reunião que
tinha como objetivo criar os Crimebusters(nome da nova equipe) que fizeram parte
dos Minutemen foram ele próprio e o Comediante. Além deles convocaram os heróis
Rorschach, Silk Specter, Coruja (também houve um Coruja nos Minutemen, porém
ambos são personagens diferentes que utilizam o mesmo pseudônimo), Ozymandias
e o único personagem com superpoderes em Watchmen, o Dr. Manhattan.
Uma vez reunidos os Crimebusters (que haviam sido separados em duplas)
eles voltaram a lutar contra o crime em Nova York. Com o tempo a popularidade dos
Crimebusters despencou com o público graças a algumas afirmações racistas e
xenofóbicas por parte do Capitão Metrópolis (antes que este morresse em 1975) e
com o governo graças ao excesso de violência utilizada por um dos Crimebusters
(Rorschach), que deixava rastros de sangue cada vez que investigava um crime,
frequentemente nem sobrando bandidos para serem julgados. Em 1977 graças a
queda em popularidade o governo norte-americano aprova uma lei chamada The
37
Keene Act, que autoriza os mascarados a se registrarem como funcionários às
ordens do governo ou a se aposentarem com anistia por seus crimes, aqueles que
continuarem atuando como heróis mascarados sem a filiação governamental seriam
considerados criminosos. Quando isso acontece o Comediante, o Dr. Manhattan e a
Silk Specter se afiliam ao governo, o Coruja se aposenta mas mantém a identidade
em segredo, o Ozymandias se aposenta mas revela sua identidade e aproveita sua
fama conquistada para ganhar milhões com produtos que utilizam seu alter ego
heroico como símbolo e o Rorschach é o único que segue lutando contra o crime,
mesmo que isso faça com que ele entre para a lista de procurados da polícia.
A história de Watchmen se passa em 1985, na década final da guerra fria,
em uma América do Norte que vive sob a sombra agourenta do relógio do juízo final3
e aterrorizado com a possibilidade de um conflito entre um Estados Unidos e uma
União Soviética que possuem bombas atômicas em quantidade o suficiente pra
extinguir a vida humana no planeta, ainda mais com Richard Nixon como presidente
dos Estados Unidos (em Watchmen os repórteres que revelaram os escândalos de
Watergate são assassinados, o que faz com que Nixon nunca seja exposto e seja
reeleito repetidas vezes). Leia abaixo um resumo da trama de Watchmen, segundo
sua versão cinematográfica, na versão impressa o final é levemente diferente, porém
possui a mesma essência/objetivo.
A trama se desenrola quando Rorschach vai investigar um assassinato em
Nova York e descobre que o homem que morreu era Eddie Blake, o Comediante,
após fazer esta descoberta Rorschach resolve investigar o caso a fundo e cria uma
teoria de que há um assassino de mascarados a solta, isto faz com que o vigilante
vá atrás de seus antigos aliados com o propósito de alertá-los e descobrir se algum
deles possui informações que possam levar ao assassino.
A medida que Rorschach faz suas visitas para alertar seus ex-aliados
primeiro Rorschach visita o Coruja, seu antigo parceiro de vigilância (os crimebusters
3 O relógio o juízo final é um relógio simbólico mantido desde 1947 pelo comitê de diretores da Bulletin of the Atomic Scientist da Universidade de Chicago. Quando o relógio foi inaugurado ele foi definido em 7 minutos para a meia noite. Como é de se esperar por seu nome, o relógio do juízo final marca a distância entre a humanidade e uma catástrofe global com potêncial para extinguir a humanidade, quando ele foi construído a maior preocupação era uma guerra núclear. O mais próximo que o relógio já foi ajustado foi 2 minutos para a meia noite em 1953 (no mundo real), enquanto no universo ficcional de Watchmen ele alcança 1 minuto para a meia noite. O relógio existe até hoje e no momento marca 3 mínutos para a meia noite, não levando em consideração apenas a probabilidade de uma guerra núclear, mas também catástrofes ambientais e epidemias. A checagem do relógio pode ser feita em http://thebulletin.org/.
38
trabalhavam em duplas), que acha que Rorschach está sendo paranoico. Após
alertar o Coruja, Rorschach invade uma instituição militar que agora é a cada de Dr.
Manhattan e Silk Specter. Nesta primeira aparição do Dr. Manhattan nos deparamos
com uma figura colossal, azul brilhante e que possui um corpo tão idealizado que é
digno de esculturas gregas. Dr. Manhattan é o único personagem com poderes na
história de Watchmen, tendo seus poderes relação com física atômica e
frequentemente sendo comparado dentro da narrativa com o Super-homem ou com
Deus. No momento em que Rorschach vai falar com Manhattan este é Colossal pois
escolheu ser assim, sua estrutura física é reflexo de sua consciência e por isso ele
pode escolher sua estatura. Mas este é um assunto posterior.
Após falar com Dr. Manhattan e, Silk Specter se surpreende por saber da
morte do Comediante, algo que não chama a atenção do Manhattan, mas eles não
acreditam na teoria do assassino de mascarados. Rorschach tenta discutir e é
teletransportado (outro dos poderes do Dr. Manhattan) para o lado de fora do muro
da instituição.
Após isso Coruja vai visitar o único dos Crimebusters que ainda não foi
alertado: Adrian Veidt, o Ozymandias. Ozymandias é um visionário, ele é o único dos
Crimebusters cuja identidade foi revelada após o ato Keene, ele aproveitou a
exposição instantânea para fazer fortuna vendendo livros e action figures sobre sua
atuação como Ozymandias, além disso, veidt é considerado na narrativa o homem
mais inteligente e mais rápido do planeta, sendo que ele possui uma aliança
permanente com Manhattan para tentar resolver alguns problemas da humanidade.
Quando o Coruja se aproxima de Veidt este esnoba a teoria do assassino de
mascarados, acusando Rorschach de ser paranoico.
Pouco depois Manhattan e Silk Specter tem uma briga e ela diz não
aguentar mais a responsabilidade de ser o que o Dr. Manhattan diz ser ‘seu único
elo para com a humanidade’. Após a briga ele dá uma entrevista para uma emissora
norte americana, porém um repórter passa a incriminar o personagem de causar
câncer nas pessoas a sua volta devido a sua natureza incomum. Ao longo desta
entrevista Manhattan se irrita e se transporta para outro planeta.Ao longo do
desenrolar da história Rorschach cai em uma emboscada cujo objetivo era fazer
com que ele fosse encurralado pela polícia. Sua prisão e uma série de outros
acontecimentos levam o Coruja e a Silk Specter a voltarem a ativa, que soltam
Rorschach da cadeia. Pouco depois Manhattan retorna e chama Silk Specter para
39
conversar com ele em outro lugar. Enquanto conversam uma explosão ocorre no
centro de Nova York (e em diversas outras grandes cidades), a explosão possui um
tipo de energia semelhante à energia gerada pelo Dr. Manhattan, fazendo com que o
mundo acredite que ele é o culpado.
Enquanto isso o Coruja e Rorschach vão atrás de Ozymandias para
investigar uma pista que possuem sobre o ‘assassino de mascarados’, não o
encontram e passam a vasculhar o prédio de sua empresa, quando isso acontece
encontram pistas que o ligam ao assassinato do Manhattan e à incriminação do Dr.
Manhattan, e vão atrás dele em outra instalação de sua empresa, na Antártica.
Pouco depois o Dr. Manhattan retorna pra terra e vê a destruição provocada pela
sua assinatura energética e imediatamente sabe que apenas Ozymandias possui
tecnologia para isso.
Quando coruja e Manhattan alcançam a instalação na Antártica também
chegam o Dr. Manhattan e a Silk Specter, Adrian Veidt já estava esperando que
aparecessem. Lá Ozymandias revela seu plano, em que pretendeu criar um inimigo
muito poderoso para que a terra se una contra um oponente comum e encontre a
paz entre si, ele aprendeu a copiar a assinatura energética de Manhattan em
projetos que ambos trabalharam em conjunto e utilizou isso para incriminar o Dr.
Manhattan, que com seus poderes sobre-humanos seria um inimigo que provocaria
temor o suficiente para unir todas as nações.
Todos concordam que isso deve acontecer, com exceção de Rorschach, que
em sua convicção de revelar a verdade e fazer justiça acaba sendo morto pelo
próprio Dr. Manhattan. Todos os outros envolvidos acreditam que o plano de
Ozymandias teve êxito e que a humanidade passará por um período de paz mundial,
porém a última ação de Rorschach antes de confrontar Ozymandias foi deixar um
diário com toda a sua investigação (e pistas incriminando Adrian Veidt) na caixa de
correio de um jornal. Deixando um final em aberto onde aparentemente esta paz na
terra não tenha durado tanto tempo quanto se esperava.
Na versão impressa o final da trama é diferente, onde em vez de incriminar o
Dr. Manhattan, Adrian Veidt paga uma equipe de cientistas para criar um monstro
que é então solto no centro de Nova York e faz questão que o monstro tenha
características que o liguem ao próprio Ozymandias, fazendo assim com que ele
próprio se torne o antagonista da humanidade e seja a causa da paz mundial, o fim
onde Rorschach é morto e a parte sobre o diário de investigações é o mesmo.
40
2.2 DR. MANHATTAN
Ao longo da narrativa a figura do Dr. Manhattan é a que mais tem destaque,
tanto por seus poderes quanto por sua natureza enigmática. O Dr. Manhattan foi um
físico chamado John Osterman. Filho de relojoeiro e de origem judaica, John e seu
pai fugiram da Europa durante a Segunda Guerra Mundial, sua mãe também tentou
fugir mas se sacrificou atraindo para si a atenção de soldados que estavam prestes
a descobrir seu filho escondido, e assim foi morta. Quando já viviam nos EUA, John
e seu pai ficaram sabendo do fim da Segunda Guerra Mundial e das bombas de
Hiroshima e Nagasaki, o que fez seu pai repensar o mundo em que viviam e dizer
que seu filho deveria estudar física nuclear. Foi o que John fez.
Como físico John participava de um projeto que estudava o campo
eletromagnético das moléculas. Um dos aparelhos do local fazia testes onde o
objetivo era criar uma carga elétrica tão grande que desregula este campo, fazendo
com que as coisas se desintegrem. John esquece um relógio que vinha tentando
consertar dentro da máquina, quando volta para buscar não dá tempo de sair, a
máquina trava e John fica preso ali dentro, segundos antes do próximo teste. Não há
nada que possa ser feito para parar o aparelho.
John é desintegrado, fazem um funeral simbólico para ele, o caixão está
vazio, não sobrou corpo para enterrar. Algum tempo depois surgem boatos de que
sua alma assombra o laboratório, gritos são ouvidos no corredor, um dia um zelador
vê um sistema nervoso com olhos brilhando no ar, segundos depois a aparição
desaparece. Outro dia alguém vê um esqueleto com alguns músculos aparecer
agonizando em dor, isto se segue por algumas semanas.
Um dia os funcionários do laboratório estão almoçando e uma força
eletromagnética muito intensa começa a agir no refeitório, fazendo com que pratos e
talheres se movam e liberem eletricidade, então com um clarão no meio do refeitório
surge a figura de um homem pairando no ar, este homem está nu, tem uma estrutura
anatômica perfeita, quase idealizada e emite um brilho azulado. É John Osterman,
em sua nova forma.
A ideia por traz dos poderes de John é que ele seja capaz de alterar seu
próprio campo eletromagnético, é como na câmara seu corpo tenha se desintegrado,
porém sua mente não. Quando percebeu que era capaz de manipular os campos
eletromagnéticos em um nível atômico ele percebeu que podia voltar a vida, John
41
era filho de relojoeiro, tudo que precisava fazer era colocar as peças de volta na
ordem certa. As aparições que “assombravam” o laboratório eram John aprendendo
a controlar seus poderes e tentando reestruturar seu próprio corpo.
A partir daí John Osterman se torna um símbolo, o departamento de defesa
do governo dos Estados Unidos resolve dar para ele um nome e um símbolo
(tentando fazer com que ele vista as cores da bandeira norte americana). Ele aceita
o nome Dr. Manhattan (que faz alusão ao projeto Manhattan), porém ele recusa o
símbolo, invés disso usa um símbolo cujo poder ele verdadeiramente admira e
respeita, o átomo de hidrogênio.
Entre os poderes de John estão – como mencionado anteriormente – a
habilidade de modificar as moléculas de si ou de outros através do campo
eletromagnético, isto também permite que John altere seu tamanho, levite,
desintegre ou transporte a matéria de outros, levite objetos ou leia a mente de
alguém acessando os sinais elétricos do cérebro. Além disso John não envelhece, é
capaz de dividir a própria consciência em vários corpos e percebe seu passado,
presente e futuro simultaneamente, o que faz com que ele pareça onisciente (porém
ele só é capaz de ver aquilo que tiver de alguma forma relação com sua própria
existência). Esta última habilidade proporciona em muitos momentos oportunidades
para que o leitor reflita a respeito do princípio de incerteza de Heisenberg ou sobre o
famoso Gato de Schrodinger.
Ao longo da narrativa a figura do Dr. Manhattan é indispensável para
levantar a discussão do enfoque CTS, afinal ele não é apenas um personagem de
história em quadrinho, mas sim uma metáfora para a tecnologia nuclear e suas
consequências em um período de grandes tensões internacionais, a Guerra Fria,
além de em alguns momentos da revista ser tratado mais como um conceito do que
uma pessoa.
Watchmen é uma história que pode ser abordada por diversos ângulos,
sendo que aqueles que aparecem em destaque são o ponto de vista histórico, social,
geográfico, científico e filosófico, sendo que já existem diversas análises espalhadas
pela internet ou pelas bancas. Esta pesquisa tem como enfoque a discussão
científica, envolvendo a energia atômica, a radiação, a física moderna e o enfoque
CTS. Estas características serão discutidas posteriormente nos capítulos quatro e
cinco, sendo que o quarto capítulo tem como enfoque a física presente em
42
Watchmen e o quinto foca na problematização CTS presente nas páginas das
revistas e nas cenas do filme.
43
3 UM RELÓGIO SEM UM RELOJOEIRO
Existem muitos tipos de leitura. O leitor que folheia uma revista no
consultório de um dentista enquanto espera ser atendido raramente dedica a mesma
atenção que um leitor que está lendo um livro de receitas, por exemplo. O problema
é que para o leitor distraído muita coisa relevante acaba passando desapercebida, e
isso é comum na leitura de histórias em quadrinhos.
Algumas histórias são apenas um aglomerado de falas ameaçadoras e
trocadilhos engraçados intercalados por onomatopeias e cenas de ação, e mesmo
estas histórias tem detalhes enriquecedores que servem para recompensar o olho
atento. Quando se trata de uma Graphic Novel (história em quadrinho para um
público mais maduro) a atenção pode significar a compreensão ou não do enredo
como um todo ou a percepção de pequenos detalhes que acabam esclarecendo
aquelas pequenas gafes na história, ou criando novos mistérios. Nas Graphic Novels
de Alan Moore a ilustração e o texto não podem ser classificados como se um fosse
mais importante que o outro, ambos têm igual valor e exigem atenção por parte do
leitor. Moore utiliza um texto complexo e repleto de referências, muitas vezes
relacionadas a coisas de fora da revista, ao mesmo tempo que as ilustrações de
suas revistas são repletas de pistas e simbologia para recompensar o leitor que não
folheia a revista casualmente.
Pode também ser dito que em Before Watchmen – Dr Manhattan,
Straczynski e Hughes conseguiram fazer jus a uma história derivada de um texto de
Moore e Gibbons, com a mesma riqueza de detalhes, com um texto rico e inspirador,
com ilustrações e layout inovadores e criativos, e até me atrevo a dizer que
superaram os autores originais neste último detalhe, e principalmente: com muita,
muita ciência.
Este capítulo é dedicado aos conceitos científicos e referências presentes
nas revistas, que em alguns casos são uma parte importante da história, em outros
são um belo presente, uma recompensa para o leitor. Seja como for, estes conceitos
estão presentes e precisam de alguma atenção do leitor para não passar
desapercebidos. Devido a necessidade de atenção é necessário que um professor
que utilize estas HQs para ensinar ciência auxilie os alunos fornecendo as
44
informações necessárias para uma compreensão profunda de alguns destes
conceitos.
3.1 A FÍSICA EM WATCHMEN
Dentre os conceitos apresentados frequentemente, um que aparece com
frequência é a teoria de muitos mundos da mecânica quântica, baseada na
interpretação de Copenhague e muito bem ilustrada pelo experimento mental do
gato de Schrodinger, experimento este que se popularizou graças a cultura pop,
especialmente à série The Big Bang Theory.
Figura 3 Before Watchmen - Dr. Manhattan, pg 4.
Fonte: Straczynski; Hughes, 2012. Volúme único.
45
A revista ilustra isso do ponto de vista do observador, explicando que quando
existem n possibilidades para algo, até que este algo aconteça todas as
possibilidades são reais, isto é ilustrado na revista utilizando uma caixa de presente
fechada, até que o observador esteja olhando para o conteúdo da caixa ela pode ter
qualquer coisa que caiba em seu volume.
A famosa caixa de Schrodinger é um experimento mental que ilustra isso,
neste experimento as pessoas são convidadas a imaginar uma caixa contendo um
gato, um pouco de veneno e um mecanismo que pode ou não liberar o veneno
dentro da caixa. Se o veneno for liberado o gato morrerá, se o veneno não for
liberado ele ficará vivo, quando se pensa neste experimento a ideia é que o
observador perceba que enquanto a caixa estiver fechada o gato pode estar tanto
vivo quanto morto, para o observador as duas possibilidades são igualmente
prováveis, fazendo com que o observador entenda que do ponto de vista da física
quântica o estado do gato só se torna evidente para quem o observa, observar o seu
invólucro apenas abre duas possibilidades. No exemplo que vemos acima, retirada
de Before Watchmen – Dr. Manhattan temos muito mais que duas possibilidades,
temos uma caixa fechada na qual o observador só sabe que dentro dela tem um
presente para um garoto, dentro das dimensões físicas da caixa pode ser qualquer
coisa: como ilustra a imagem, enquanto a caixa estiver fechada ela contém um gato,
um urso ou uma luva e bola de basebol. Enquanto a caixa está fechada ela também
contém um boneco de ação, um estilingue, um par de patins ou tantas outras coisas.
Esta ideia se encaixa no princípio da incerteza de Werner Heisenberg, que
tem como referência determinar a posição e velocidade de um determinado elétron
de um átomo. Este princípio evidência que é possível determinar com precisão
qualquer uma das duas características (velocidade ou posição), mas ao definir uma
a outra fica aberta a inúmeras possibilidades.
Halliday e Walker (1995, p.187) explicam que: «é preciso, porém, que se entenda que nenhuma imagem mental concreta, envolvendo simultaneamente onda e partícula é possível no mundo quântico». E a continuação citam a Paul Davis, físico e escritor de ciência, quem escreveu:«É impossível visualizar uma onda-partícula, portanto, não tente».
Heisenberg mostrou como a pergunta determina a resposta, em relação ao caráter dual das micropartículas. Niels Bohr (1995) discute o seu princípio da Complementaridade para acomodar o caráter dual: onda-partícula, as manifestações reveladas segundo o experimento, o último interpretado segundo o referencial teórico disponível: «modelo de onda» e «modelo de
46
partículas». O paradoxo dos experimentos clássico derivado do princípio de Complementariedade mostra o caráter contraditório do comportamento da matéria, segundo os modelos, na medida que eles são levados para outro contexto (o micromundo). As categorias partícula e onda são abstrações, modelos. A contradição é apenas em relação ao sentido que ditas noções têm na interpretação dos resultados das experiências, a contradição surge na aplicação de ditas noções a um contexto, no qual precisam ser resignificadas em relação a sua origem.(NUÑES, et al., 2003, pg 3)
Isto acontece porquê é muito simples definir a posição e velocidade de
objetos grandes, como um avião ou uma pessoa correndo, porém quando algo é
muito pequeno, como um átomo, os próprios instrumentos de medição não são
capazes de medir ambas as características com precisão, por isso são criadas estimativas onde existem n possibilidades. Durante este período de incertezas, do
ponto de vista de um observador é como se todas elas fossem reais até que haja
uma realidade definida.
Esta ideia é apresentada inúmeras vezes ao longo de Before Watchmen –
Dr. Manhattan, o fragmento anterior exemplifica isso utilizando o exemplo da caixa
como um objeto contendo muitas possibilidades, mas a teoria de muitos mundos é
ilustrada em outros momentos da revista de formas bem diferentes.
Figura 4 Before Watchmen - Dr. Manhattan, recorte da pg. 33.
Fonte: Straczynski; Hughes, 2012. Volúme único.
47
O fragmento acima é um de muitos nos quais o autor nos apresenta
diferentes mundos com pequenas diferenças, onde o fator determinante para que
uma série de acontecimentos desencadeasse nestes mundos é simplesmente a
escolha do observador – O Dr. Manhattan – em algum momento de sua existência.
As revistas trabalham o tempo como algo não linear, e por isto o fator que determina
estas ações pode tanto ser algo que já foi como algo que vai vir a ser, no fragmento
da ilustração 4 temos uma ruptura no fim da página, representada pelo quadro
rasgando. Após estas páginas há uma sequência de acontecimentos mais sérios e
dramáticos desencadeados pelos mesmos.
Figura 5 Before Watchmen - Dr. Manhattan 36/37.
Fonte: Straczynski; Hughes, 2012. Volúme único.
Ambos os lados são acontecimentos em realidades paralelas que tomaram
rumos diferentes a partir de algum ponto comum, cada quadro de ambas as imagens
equivale a um mesmo tempo em uma diferente série de eventos, onde o que
48
desencadeou cada realidade pode ter sido algo que pareça insignificante, como
quando John precisa decidir entre seguir para esquerda ou para direita.
Segundo Ostermann (2005), a teoria dos muitos mundos gira em torno da
ideia de que todos os valores possíveis de uma propriedade medida “acontecem”
simultaneamente, fazendo com que ocorram simultaneamente em universos
diferentes. Em Watchmen isto é ilustrado como as diversas linhas temporais
apresentadas na revista. Conforme o resultado de alguma decisão do Dr. Manhattan,
ele, no caráter de observador quântico é capaz de observar todas as possibilidades,
fazendo com que a revista possa nos apresentar este conceito a partir do ponto de
vista do protagonista. Esta teoria foi proposta por Hugh Everett III em 1957, esta
linha de pensamento originou-se entre grupos da área da teoria quântica da
relatividade geral.
Isto pode ser melhor exemplificado quando a revista nos traz uma separação
entre John Osterman e Dr. Manhattan, entre um mundo em que exista um ser capaz
de moldar a matéria de tal forma que haveria uma revolução científica drástica
derivada de sua existência ou um mundo onde no lugar de tal entidade existe um
físico brilhante, mas que não deixa de ser humano e se traz qualquer revolução, isto
acontece a partir de meios e no tempo que um humano o faria.
A interpretação de Copenhague faz uma distinção clara entre observador e ente observado: quando não há observador, o sistema evolui deterministicamente, segundo a Equação de Schrödinger, mas na presença do observador, a função de onda sofre um colapso – o ato de observar o sistema, muda o sistema. Na interpretação dos Muitos Mundos, observador e ente observado são modelados conjuntamente, não há colapso da função de onda e a MQ continua, portanto, sendo determinística, sem recorrer às variáveis ocultas. Isso foi uma clara tentativa de resgatar o determinismo. No entanto, a grande dificuldade da interpretação dos muitos mundos está no fato de que estes mundos formam um conjunto de subsistemas complexos, causalmente conectados, que não interferem uns com os outros. Em termos de autoestados, e uma das componentes da superposição Ψ, uma das “notas do sistema”, que representa um dos macroestados possíveis. (OSTERMANN, 2005, pg 8)
É claro que a medida que estas diferenças são apresentadas esta narrativa
é tratada a partir do ponto de vista do observador quântico, da entidade quase divina
que John Osterman veio a ser, e que em sua capacidade de observar diferentes
linhas temporais e universos tenta entender um mundo onde ele não existisse, um
mundo onde tivesse tido tempo para buscar o relógio e, em vez de se preocupar em
49
reconstruir as engrenagens do corpo humano tivesse que se preocupar apenas em
reorganizar as engrenagens do relógio.
Ao longo de suas observações o Manhattan presencia um John Osterman
capaz de viver uma vida normal, onde, ironicamente, nunca consegue consertar o
relógio, como se fosse um lembrete constante de uma realidade que devia ter
acontecido, mesmo que John não saiba disso.
Figura 6 Before Watchmen - Dr. Manhattan, pg 50.
Fonte: Straczynski; Hughes, 2012. Volúme único.
O princípio de incerteza é só uma das características de John que fazem
menção aos estudos científicos de átomos e moléculas, a própria coloração do
personagem remete dos princípios da radiação de Cherenkov, algo que pode ser
observado em reatores nucleares. Quando partículas muito rápidas ou dotadas de
muita energia atravessam um meio transparente, fazem com que uma luz azulada
seja emitida. Uma pequena fração da energia perdida pelas partículas em colisões suaves pode
ocorrer por emissão de radiação de Cherenkov (trata-se da emissão de luz, com λ
predominantemente na faixa azul do espectro, que ocorre quando uma partícula
atravessa um meio com velocidade maior que a velocidade da luz naquele meio,
50
que vale c/n, onde n é o índice de refração da luz no meio. A luz azul que se vê na
piscina do reator nuclear nas proximidades do combustível nuclear é a radiação de
Cherenkov).(OKUNO; YOSHIMURA, 2010)
No caso de reatores nucleares a água utilizada para o resfriamento acaba
contribuindo para a emissão desta luz. No caso do Dr. Manhattan acredita-se que a
coloração dele seja azul por que suas moléculas estão em constante movimento, por
isso ele está constantemente emitindo luz e energia. Isto é evidenciado ao longo das
revistas em inúmeros momentos, como quando a personagem Silk Specter
menciona que beijar o Dr. Manhattan é como beijar uma pilha, o que deixa claro que
ele não possui a pele como um humano, é como se ela fosse composta de energia,
ou quando ele aparece para dar entrevista a um jornal, que o repórter reclama que
ele é muito claro para a televisão e não dá tempo de maquiá-lo, e então após alguns
segundos de concentração o Dr. Manhattan reduz a sua emissão de luz.
A única razão pela qual na mitologia da HQ o Dr. Manhattan tem um corpo é
pela sua capacidade de manipular as moléculas utilizando campos eletromagnéticos,
o movimento destas moléculas acaba gerando energia e luz, quando John reduz a
velocidade destas moléculas sua forma se torna menos brilhante, assim como ele é
capaz de dispersá-las e reuni-las novamente, assim se teletransportando.
Figura 7 Reator nuclear da McMaster University, no Canadá.
Fonte: McMaster Nuclear Reactor Official Website. https://mnr.mcmaster.ca
Apesar dos artifícios fantásticos comuns as histórias em quadrinhos há na
narrativa de Moore sempre algum elemento que faça menção ou referência aos
conceitos científicos ligados a determinado assunto, no caso do Dr. Manhattan.
51
Em Watchmen o personagem é um símbolo do poder atômico norte
americano, sendo em inúmeros momentos comparado a Deus ou ao Super-homem.
A presença do personagem provoca no universo paralelo de Watchmen um forte
avanço nas tecnologias e um aumento drástico da influência norte americana em
relação aos outros países, alterando até mesmo o resultado da guerra do Vietnam.
Porém ao mesmo tempo que o Dr. Manhattan é um símbolo do poder atômico,
também é perceptível que de certa forma ele simboliza o descontrole do homem
sobre a ciência e a tecnologia. Na narrativa o Dr. Manhattan tem poucos laços para
com a humanidade, sendo que o maior deles é a Laurie (Silk Specter) por quem ele
é apaixonado, à medida que ele se afasta da personagem ele se afasta cada vez
mais de toda a raça humana e passa a ver menos sentido na vida das pessoas. Uma
cena icônica em relação a isso é durante a cena da entrevista, quando pouco depois
de ter uma grande briga com Laurie, John é questionado sobre o fato de muitas
pessoas próximas a ele terem desenvolvido câncer, a resposta de John é que se
alguém tem câncer ou não, não importa, afinal o corpo doente e o corpo saudável
possuem essencialmente a mesma quantidade de moléculas.
Figura 8 Uma das capas alternativas de Before Watchmen - Dr. Manhattan.
Fonte: Sienkiewicz, 2012. Capa alternativa de Before Watchmen - Dr. Manhattan.
Ao longo das revistas há um enfoque em três aspectos da utilização de
elementos radiativos pela humanidade, sendo estes:
52
1 – Os armamentos nucleares, tendo como marco histórico maior as
explosões em Hiroshima e Nagazaki na segunda guerra mundial.
2 – A geração de energia em larga escala, sem depender de petróleo e
carvão.
3 – Os efeitos nocivos da radioatividade no ser-humano e o frequente
desconhecimento disso por parte da população afetada.
Além disso também deve ser lembrado que existem outras utilizações da
radiação para melhorar a qualidade de vida das populações, como sua utilização na
indústria alimentícia, na indústria de telecomunicação e na medicina (como a
radioterapia onde utiliza-se radiação de forma controlada para destruir ou impedir o
aumento das células de tumor). A utilização de radiações nas mais diversas áreas é
algo que pertence a contemporaneidade, tendo em vista que as radiações passaram
a ser compreendidas pelo ser humano a relativamente pouco tempo.
3.2 UMA BREVE HISTÓRIA DAS RADIAÇÕES.
Este tópico é um resumo da história das radiações segundo Sousa (2009),
retirado da dissertação Física das Radiações: uma proposta para o Ensino Médio.
A descoberta das radiações começa em 1895 com o físico holandês Wilhelm
Conrad Röntgen, que descobriu acidentalmente os Raios-X. Röntgen estava fazendo
experimentos sobre luminescência utilizando descargas elétricas, ele tinha uma tela
tratada com platino cianeto de bário (um elemento radioativo) e em determinado
momento percebeu a tela emitir luz sem que o experimento estivesse acontecendo,
Wilhelm acreditou que algo estivesse afetando a tela e começou a interferir no
ambiente, mudar coisas de lugar, por objetos entre a tela e possíveis emissões, e o
brilho não cessava, em certo momento colocou sua mão perto da placa e pôde
enxergar seus ossos. A princípio o cientista ficou tão perplexo com sua descoberta
que passou semanas fazendo novos experimentos antes de ter coragem de divulgar
para alguém. Em 1 de janeiro de 1896 ele enviou relatórios com anexos de fotos das
suas mãos com os ossos visíveis para a comunidade científica, que imediatamente
percebeu as aplicações destas emissões na medicina. Ainda assim Röntgen pôde
detectar o fenômeno sem entender a natureza do mesmo, por isso o nome raios-X,
pois o X na matemática representa um valor desconhecido.
53
Tendo tomado conhecimento da descoberta de Röntgen, um físico francês
chamado Antoine Henri Becquerel se perguntou se havia relação entre os raios-X e
a fluorescência, ou seja, se substancias fluorescentes emitiam raios-X. Becquerel
descobriu que muitos elementos não produziam efeito e passou a usar materiais
fosforescentes, ou seja, que brilham no escuro. Experimentou com sulfato de
potássio e sal de urânio, para isso cobriu uma chapa fotográfica com folhas de papel
escuro grosso, se certificou de que o papel era tão espesso que a chapa não
mancharia nem se ficasse o dia todo exposta ao sol. Após certificar-se disso colocou
sobre o papel uma camada da substância fosforescentes e expos tudo ao sol por
várias horas. Com a revelação da chapa percebeu a silhueta da substância no
negativo, concluindo assim que esta substância emitia radiações que podiam
atravessar a folha de papel, era como se o sal de urânio emitisse raios X.
Após isso Becquerel quis repetir a experiência, porém o clima piorou e ele
não pôde expor a substância ao sol, na véspera de revelar suas descobertas para a
Academia de Ciências de Paris resolveu revelar a chapa mesmo assim, como não
houve exposição ao sol esperava encontrar o negativo em branco, para sua
surpresa não foi o que aconteceu. Assim Becquerel concluiu que o sal de urânio
emitia raios capazes de atravessar o papel mesmo que não fosse exposto ao sol, ou
seja, era um tipo diferente de emissão. Essas emissões foram chamadas de raios de
becquerel. Pouco depois descobrira que além de escurecer as chapas fotográficas
esta emissão ionizava gazes, tornando-os condutores de eletricidade. Isso fez com
que fosse possível medir a atividade de uma amostra a partir da ionização
produzida.
Nesta época um casal de cientistas parisienses havia constatado que as
propriedades que segundo Becquerel estavam presentes no urânio eram reais,
sendo assim a cientista Marie Sklodowska Curie (1867-1934) e seu marido Pierre
Curie (1859-1906) decidiram examinar também todos os elementos conhecidos.
Chegaram a conclusão de que o tório tinha características semelhantes ao urânio.
Após esta descoberta Marie decidiu analisar os outros minérios naturais e descobriu
um mineral de urânio chamado uranita que era três a quatro vezes mais radioativo
do que se esperava, assim concluiu que deveria haver alguma impureza na uranita
que fosse outro elemento mais radioativo. Em 1898 Marie e Pierre conseguiram
isolar a impureza, assim descobrindo um novo elemento que batizaram de polônio.
No mesmo ano descobriram um novo elemento altamente radioativo que deram o
54
nome de rádio. Devido a isso Marie propôs que este fenômeno fosse chamado
Radioatividade. Estes estudos renderam dois prêmios Nobel para Marie (química e
física), ela foi a primeira mulher a ganhar o prêmio, a primeira pessoa a ganhar dois
e uma das poucas pessoas até hoje a ganhar dois prêmios em diferentes áreas do
conhecimento.
Uma vez que foram descobertos os Raios X e a radioatividade, um cientista
chamado Ernest Rutherford (1871-1937) passou a medir a ionização dos gazes
provocada pelos raios X e radiações de urânio, os experimentos de Rutherford
deram importantes contribuições para a compreensão da natureza das substâncias
radioativas. O cientista percebeu em 1898 a existência de dois tipos diferentes de
radiações emitidas pelo urânio devido à diferenças de penetração na matéria. Os
raios menos penetrantes ele nomeou raios alfa α enquanto os mais penetrantes de
raios beta β. Além disso Rutherford pôde concluir que os raios tinham cargas
elétricas opostas, pois quando passavam com uma região com um campo magnético
ou elétrico eles eram defletidos para regiões opostas. Além dos raios alfa e beta uma
terceira forma de radiação foi descoberta pelo cientista Paul Ulrich Villard na França,
esta forma de radiação não era afetada pelos campos magnéticos e era muito mais
penetrante. O nome dado a este tipo de radiação foi raios gama γ.
Posteriormente a isso Rutherford percebeu que isolando a parte radioativa
do sal de Urânio, com o passar do tempo ele perdia a radiação, porém a solução que
havia retirado o elemento radioativo recuperava a radioatividade inicial. Trabalhando
com o químico Frederick Soddy (1877-1966), Rutherford chegou a conclusão de que
acontecia uma transmutação entre elementos. Ao fim de seus estudos Rutherford
chegou a conclusão de que a transmutação acontecia da seguinte forma: os átomos
radioativos emitem radiações alfa e beta, quando fazem isso suas propriedades
químicas sofrem alterações e eles se transformam em outros elementos. Em seus
experimentos Rutherford e Soddy conseguiram transmutar o elemento tório-232 em
rádio-228.
Esta série de eventos que foram o primórdio do conhecimento científico
referente ao estudo das radiações abriram o caminho para que os elementos
radioativos fossem aplicados em um grande leque de aparatos tecnológicos, sendo
notoriamente utilizados como matéria-prima em armas de destruição em massa, mas
também podendo contribuir na conservação de alimentos, no diagnóstico e
55
tratamento de doenças e em muitas outras coisas, dependendo do tratamento dado
a estas tecnologias.
No próximo capítulo é discutida a importância de uma educação com
enfoque CTS e como isso pode contribuir para uma sociedade responsável, que
utiliza seus recursos naturais e tecnológicos de forma a contribuir para a qualidade
de vida da sociedade, e não de forma a destruir de maneira irresponsável seja
propositalmente como no caso das bombas atômicas ou acidentalmente como no
caso do acidente radioativo de Goiânia.
56
4 DOIS MINUTOS PARA A MEIA NOITE
Por muito tempo as pessoas trataram a ciência como uma dádiva, como esta
força transformadora que vai facilitar todas as nossas vidas e resolver os nossos
problemas. Na verdade, mesmo no século XXI não é incomum ouvir pessoas se
referirem à ciência desta maneira ou tratarem o conhecimento científico como algo
superior e inquestionável. O problema é que com grande poder vem grande
responsabilidade, a ciência modificou a vida das pessoas de maneiras que muitos
nunca haviam imaginado e trouxeram todo tipo de benefício e conforto, porém é
graças ao avanço científico que muitas tragédias vieram também a acontecer.
O movimento CTS procura criticar a visão de que ciência gera tecnologia
que gera bem estar que gera riqueza, o que pode ser verdade em alguns casos,
porém, alguns avanços científicos podem ter nenhum impacto ou muitos impactos
negativos na vida das pessoas influenciadas por isso, mesmo que indiretamente ou
a longo prazo, o que contribui para que esta influência passe desapercebida
4.1 EDUCAÇÃO CTS
Com o surgimento do movimento CTS e uma crescente preocupação com o
meio ambiente e a qualidade de vida das pessoas tem sido cada vez mais comum a
educação com enfoque CTS, ou seja, uma prática educacional que procura levar
alunos a pensarem de forma crítica e racional às consequências da interação entre
ciência, tecnologia e sociedade.
O propósito da educação com enfoque CTS é fazer com que os alunos
pensem de uma forma crítica e responsável não só sobre a ciência em grande
escala, afinal, não vale de muito falar para um aluno sobre os riscos de uma bomba
atômica e não fazer com que ele pense sobre o que acontece com a pilha que ele
joga fora em um aterro ou com o óleo que ele despeja no ralo da cozinha. O enfoque
CTS procura criar um cidadão responsável, que questiona as consequências das
suas ações e busca ajudar a trabalhar em prol de um mundo melhor.
O enfoque CTS é uma necessidade criada por diversos fatores e
principalmente pela globalização, conforme defende Monteiro et al. (2012), segundo
57
os autores, existe hoje uma necessidade de desmistificar a ciência como algo
sempre positivo e fazer com que as pessoas pensem nas implicações sociais da
mesma, isto a partir de sólidas bases morais e sociais. Ainda segundo os autores,
esta é uma discussão cada vez mais em pauta e que tem sido foco da educação de
diversos países. A informação rápida e acessível faz com que uma visão crítica
sobre diversos assuntos sejam necessários para que um cidadão possa ter uma
compreensão e opinião ética e plena sobre as informações que recebe em seu dia a
dia.
Esta preocupação em levantar discussões a respeito de CTS surgiu após a
segunda guerra mundial quando as potencias internacionais se deram conta que o
desenvolvimento cientifico tem um potencial destrutivo muito grande, em
contraponto ao potencial benéfico, isso faz com que um pensamento crítico e
responsável a respeito da ciência, da tecnologia e da sociedade seja necessário.
Ribeiro e Baiardi (2014) debatem os esforços que passaram a ser feitos por diversos
governos para estabelecer este debate e inclusive para a troca de conhecimento
cientifico, apesar de ainda existirem barreiras nesta troca pelo fato de ir contra
interesses governamentais, pois hoje o poderio cientifico está diretamente ligado ao
poder e relevância de uma nação. Apesar desta resistência existe o esforço para o
desenvolvimento de uma ciência responsável e inclusive parcerias internacionais em
projetos científicos em prol de um desenvolvimento da sociedade como um todo.
Vasconcellos (2008) ressalta isso e que o ensino de CTS tem sido cada vez
mais presente em currículos no mundo todo como consequência de diversos
eventos históricos modernos e contemporâneos, tendo como marco maior a
destruição provocada pela bomba atômica.
Em sua dissertação Vasconcellos ressalta a necessidade que se faz na
formação do cidadão contemporâneo fazer com que ele seja capaz de compreender
a relação entre ciência, tecnologia e sociedade. Vasconcellos nos lembra como a
menos de um século a ciência e a tecnologia eram tratadas como algum tipo de
divindade, onde a humanidade depositava seus desejos e esperança no avanço
científico sem levar em consideração que a ação transformadora deste avanço pode
também ser negativa.
Por isso a autora conta como em meados das décadas de 60 e 70 começa a
surgir a preocupação com a educação com enfoque CTS que procura refletir
criticamente os avanços da ciência, tendo como principal preocupação a criação de
58
pessoas capazes de tomar decisões críticas em assuntos que envolvam ciência e
tecnologia e educar as pessoas a respeito do que é a ciência e qual é a função da
mesma na sociedade.
A autora aponta também que o Brasil está começando a se dedicar ao
ensino com enfoque CTS, algo que não é novidade no país, mas só agora está
sendo considerado uma prioridade.
Porém se o objetivo é criar um cidadão crítico e questionador é necessário
que os estudantes se interessem de verdade pelo assunto, por isso estratégias
inovadoras de ensino se tornam necessárias para a abordagem CTS. Segundo
Silva et al. (2014) é necessária a construção de uma consciência crítica a respeito
dos efeitos positivos e negativos da ciência e tecnologia em relação a sociedade
para possibilitar que o indivíduo busque soluções para os problemas encontrados. A
escola frequentemente se mostra como um palco viável para esta discussão,
cabendo aos professores conseguirem encontrar em seus conteúdos um motivo
para levantar discussões a respeito de ciência, tecnologia e sociedade. Vale
ressaltar que o conteúdo com enfoque CTS tem que levar o estudante a observar,
refletir e questionar, caso contrário ele não vai alcançar seu principal objetivo: criar
pessoas capazes de ter uma visão crítica sobre ciência, tecnologia e sociedade,
capazes de fazer escolhas conscientes e buscar soluções coerentes.
Portanto cabe aos professores analisarem a sua grade curricular e ver em
quais conteúdos a discussão CTS pode ser trabalhada e como discutir isso com
seus alunos. O mais importante é desconstruir a ideia de que a solução de todos os
problemas se encontra na ciência e mostrar para eles de que a ciência nos dá
muitas ferramentas e possibilidades novas para interagir com o mundo, porém que
uma utilização irresponsável disso pode trazer terríveis consequências.
Trabalhar o enfoque CTS na educação abre também possibilidades para um
ensino pleno e interdisciplinar, fazendo com que os alunos precisem pensar em
conteúdos de diferentes disciplinas e também possibilitando que uma equipe
engajada de professores possam fazer projetos interdependentes. Esta
interdisciplinaridade intrínseca aos conteúdos CTS se dá exatamente pelo objetivo
do movimento CTS de não abordar a ciência de forma isolada, mas de levar em
consideração o fator humano envolvido no meio cientifico e também influenciado por
este.
59
Porém é fato que ensinar uma disciplina que busca um pensamento crítico
nos alunos exige algum tipo de abordagem que a torne atraente e interessante aos
alunos. No caso do enfoque CTS é necessário despertar neles uma vontade de
perceber as relações entre ciência, tecnologia e sociedade no dia a dia, não apenas
nas coisas mencionadas por seu professor, porém, discutir o enfoque CTS pode se
mostrar um desafio, especialmente quando esta discussão ocorre com um público
que tenha tido pouco ou nenhum conhecimento anterior sobre o assunto, o que
reafirma a necessidade da busca de meios alternativos para desenvolver a
discussão CTS com os alunos.
O enfoque CTS procura criar um cidadão crítico e construir uma sociedade
consciente no futuro, aulas que despertem o interesse legítimo dos alunos não são
apenas uma sugestão, são uma necessidade. Um cidadão que compreende as
relações CTS é um cidadão mais crítico e democrático, pois possui condições para
expressar opiniões e tomar decisões bem fundamentadas, pautadas em uma
compreensão crítica da influência que a ciência e a tecnologia exercem em sua vida
e na sociedade em que vive. Palacios et al. (2003) ressaltam que se espera que um
cidadão alfabetizado com enfoque em CTS e que compreenda o assunto o suficiente
para exercer um pensamento crítico sobre o mesmo vá buscar informações
adicionais referentes a ciência e tecnologia na contemporaneidade, partindo da ideia
de que o que afasta as pessoas da busca de conhecimento é com frequência a
dificuldade na sua compreensão, porém uma vez que um indivíduo possui uma base
necessária para a compreensão de determinados assuntos ele pode buscar novas
informações relacionadas com facilidade sempre que tiver alguma necessidade.
Dominguini et al. (2012) ressalta que um dos desafios atuais para o ensino
de disciplinas relacionadas a ciências é o fato das informações que os alunos
recebem em casa e no mundo externo são muito mais atraentes do que uma aula
expositiva, e por isso existe um bloqueio para despertar o interesse inicial do
estudante, talvez tal bloqueio se deva ao fácil dos alunos considerem certas
disciplinas como mais difíceis que as outras, algo muito comum nas disciplinas
relacionadas as ciências exatas, e por essa dificuldade acabarem se desmotivando
deste problema, por este motivo, esta pesquisa sugere a criação de um material de
estudo e revisão que leva em consideração o uso de organizadores prévios no
ensino de física com enfoque CTS.
60
4.2 AS DISCUSSÕES CTS PRESENTES EM WATCHMEN E BEFORE WATCHMEN
Como uma tentativa de unir a necessidade de criar organizadores prévios, a
necessidade de testar o conteúdo aprendido e o objetivo de tornar o conteúdo
atraente aos alunos, optou-se por utilizar Watchmen, que é um produto de
entretenimento que discute o enfoque CTS a partir de uma história fictícia utilizando
como ambiente uma sociedade fragilizada pelo medo da bomba atômica e de uma
terceira guerra mundial onde os heróis e vilões se popularizaram, apesar de só um
destes heróis ser ‘super’.
Ao longo da história um dos temas que aparece frequentemente ainda é um
assunto relevante no século XXI, a crise dos combustíveis fósseis e a necessidade
de encontrar formas de gerar energia barata e renovável. Como a história se passa
na segunda metade do século XX, a narrativa traz a ideia de que as pessoas
esperam que esta energia renovável seja obtida através de uma maior compreensão
e de “domar” a energia atômica. No fim das contas a energia atômica é sempre o
tema principal das histórias, sendo tratada como um símbolo de poder e destruição,
mas que pode ser utilizada de uma forma não agressiva e não destrutiva.
Figura 9 Before Watchmen - Dr. Manhattan, pg 11, quadro 1.
Fonte: Straczynski; Hughes, 2012. Volúme único.
As discussões CTS são uma presença constante na história, as vezes
subjetiva e as vezes explicita, porém, as discussões que podem ser utilizadas para
discutir as relações entre ciência, tecnologia e sociedade se intensificam nos
momentos nos quais participam os personagens Dr. Manhattan e Ozymandias,
61
Nesta cena de Before Watchmen vemos a grande preocupação discutida em
Watchmen, já mencionada anteriormente aqui: a crise enérgica provocada pela
natureza finita dos combustíveis fósseis. A revista trabalha com uma ideia de que o
grande estopim dos conflitos armados é uma busca por se apoderar de território que
possa suprir combustível, ou seja, segundo a visão que Moore demonstra nas
revistas a causadora de muitas guerras é a necessidade da obtenção de
combustíveis fósseis.
A verdade é que desde o século XVIII na primeira revolução industrial, gerar
energia significa poder político e econômico. Nos séculos XVIII e XIX isto era feito
utilizando o carvão. No século XX já graças à segunda revolução industrial o
material necessário para impulsionar a indústria através da produção energética era
o petróleo, a história de Watchmen se passa na segunda metade do século XX,
durante a guerra fria, quando o petróleo ainda era a fonte de energia predominante
porém alguns países, inclusive os Estados Unidos e o Brasil, investiam em fontes de
energia alternativas para tentar se desvencilhar ou reduzir a dependência de
combustíveis fósseis. Os EUA investiram muito em energia nuclear, enquanto no
Brasil o investimento foi em energia hidroelétrica.
Refletindo a ideia de que um dos estopins de muitas guerras é a
necessidade de combustíveis, há uma fala do personagem Ozymandias,
personagem frequentemente tratado como o homem mais inteligente do mundo, que
é a seguinte: “Eu não precisava ser um gênio para ver que o muno tem problemas...
Se houvesse energia renovável o suficiente pra suprir o mundo, não haveriam estas
guerras”.
O problema na fala de Ozymandias é que ela não leva em consideração
guerras causadas por outros motivos, como questões ideológicas. Esta preocupação
surge na conclusão da história de Watchmen, quando Ozymandias tenta incriminar o
Dr. Manhattan por uma explosão de grande porte no centro de Nova York (e em
outras localizações ao redor do mundo, esta sendo apenas a primeira), fazendo
assim com que todas as noções se unam contra um inimigo que acreditem não
poder derrotar, criando um inimigo em comum que demanda toda a ajuda possível,
para assim alcançar a paz mundial, de uma forma não muito diferente da paz
armada, obtida na guerra fria, ou seja, uma paz que tem como alicerce o medo do
poder militar do inimigo.
62
Apesar de todos os estudos e investimentos a dependência de combustíveis
fósseis ainda existe. Vários países estão reduzindo esta dependência mas ainda não
existe uma nação que tenha conseguido se desvencilhar por completo, na época em
que se passa Watchmen esta tentativa era feita principalmente com a energia
nuclear, que se mostrou perigosa inúmeras vezes, mas apesar do perigo
representado pela energia nuclear há um fragmento da revista que ainda trata a
energia nuclear (em sua forma mais perigosa, a bomba atômica) como algo divino e
que irá trazer a solução para todos os problemas, reforçando a falácia da ciência
como um bem incontestável.
O fragmento abaixo mostra o momento no qual o pai de John Osterman (Dr.
Manhattan) descobre sobre o fim da segunda guerra mundial e sobre a bomba de
Hiroshima. Para compreender o impacto desta cena é importante saber que ambos
fugiram da Europa durante a segunda guerra e a mãe de John foi morta no trajeto
enquanto tentava distrair os soldados para que eles não o encontrassem e o
matassem. Quando seu pai descobre o fim da guerra ele fica abismado com o fato
de uma bomba provocar tanto estrago. Então ele fala duas coisas particularmente
marcantes: primeiro que, se houvessem usado as bombas antes, talvez a guerra
tivesse acabado e ele não perdesse a esposa; segundo que seu filho deveria deixar
de tentar se tornar um relojoeiro, o mundo não precisava mias de relojoeiros,
precisava de cientistas atômicos.
A fala do pai de John neste fragmento reforça a falácia da ciência como
solução de todos os problemas. Afinal ele acredita que a bomba poderia ter salvo a
vida de sua esposa e alega que o mundo precisa de mais cientistas atômicos, onde
tudo o que ele tem em mente são as explosões em Hiroshima e Nagasaki. É como
se o personagem ignorasse totalmente a destruição provocada pelas bombas e
apenas olhasse para elas como uma parte do futuro, mal sabendo que as bombas
núcleares seriam sim uma grande parte do futuro, sendo o principal motivo pelo qual
os EUA e a URSS estariam em paz em anos seguintes, devido a famosa paz
armada, quando nenhuma das duas potências iniciava um conflito por temer as
consequencias de uma guerra nuclear, isto durante uma intensa corrida
armamentista.
Ao trabalhar com Watchmen para discutir a ciência com enfoque CTS este
tipo de detalhe tem que ser levado em consideração, os trechos das revistas que
tratam sobre a questão dos heróis mascarados em si são divertidos, mas para o
63
ensino de física com enfoque CTS a atenção tem que ser voltada para as
discussões sobre: radioatividade, política internacional, poder atômico, a sociedade
transformada pela existência do Dr. Manhattan, tecnologia, física quântica e a teoria
de muitos mundos. Sendo que um trecho particularmente impactante é o momento
em que acusam o Dr. Manhattan (um ser radioativo) de estar causando câncer a
uma série de pessoas que conviveram frequentemente com o mesmo.
É comum que radiações ou emissões (até mesmo de sinais de celular)
sejam acusados de afetar os organismos e aumentar o risco de câncer, sendo que o
principal destes é a radiação provocada por materiais radioativos ionizados como
césio-137, lembrando que se tratando destes materiais não é uma acusação, o auto
risco de câncer é comprovado.
...quando a radiação passa através do corpo humano, quatro tipos de eventos poem ocorrer:
- a radiação passa próximo ou através da célula sem produzir dano;
- a radiação danifica a célula, mas ela é reparada adequadamente;
- a radiação mata a célula ou a torna incapaz de se reproduzir;
- o núcleo da célula é lesado, sem, no entanto, provocar morte celular. A célula sobrevive e se reproduz na sua forma modificada, podendo-se diagnosticar, anos mais tarde, células malignas nesse local.(OKUNO, p. 45)
Devido a estas características das radiações ionizantes elas podem ser
apropriadas de forma benéfica para uma série de coisas como o tratamento de
câncer através da radioterapia ou a conservação de produtos orgânicos através da
pasteurização fria, que consiste na utilização de pequenas quantidades de radiação
para matar insetos e micro-organismos do alimento ao mesmo tempo que
aumentando sua vida útil(especialistas alegam que a pasteurização fria não torna os
alimentos perigosos, porém reduz drasticamente seu valor nutricional). Mas fora de
um ambiente controlado os elementos radioativos apresentam sérios riscos à
população.
64
Figura 10 Before Watchmen - Dr. Manhattan, pg 67.
Fonte: Straczynski; Hughes, 2012. Volúme único.
Existem uma série de relatos sobre materiais radioativos e acidentes
provocados pelos mesmos, uma educação com enfoque CTS poderia evitar que
uma pessoa que se deparasse com uma situação dessa tomasse alguma atitude
imprudente e impensada, assim reduzindo os danos ao mínimo possível.
Uma das histórias se passou no Brasil
(http://g1.globo.com/goias/noticia/2013/09/maior-acidente-radiologico-do-mundo-
65
cesio-137-completa-26-anos.html), em Goiânia, no estado de Goiás: dois catadores
de lixo estavam vasculhando uma construção que antes era uma instalação do
Instituto Goiano de Radioterapia e encontraram um aparelho abandonado. Levaram
este aparelho e venderam as partes para um ferro velho. O dono do ferro velho,
Devair Alves Ferreira, continuou a desmontar o aparelho junto com um funcionário
até que se deparou com uma capsula difícil de abrir, porém, eventualmente
conseguiram revelar o conteúdo da capsula, um misterioso pó, parecido com sal,
que no escuro emite um brilho de coloração azul.
Encantados pelo pó brilhante, passaram a mostrar e até distribuir o material
para amigos e familiares, expondo mais pessoas ao perigo de manusear o material.
Horas após o início da contaminação as pessoas passaram a exibir os sintomas de
náuseas, vômito, diarréia e tonturas. Os hospitais da região não sabiam do que se
tratava, porém pelo grande número de pacientes surgindo simultaneamente
imaginaram se tratar de alguma doença contagiosa. Dias se passaram até que
suspeitassem de contaminação por radiação.
No dia 29 de Setembro de 1987, quando a esposa do dono do ferro velho
levou a capsula para a sede da vigilância sanitária foi confirmado a suspeita de
radiação, porém mesmo o transporte da capsula aumentou a exposição de pessoas
ao material, pois o mesmo foi feito utilizando a rede municipal de ônibus. Os médicos que receberam o equipamento solicitaram a presença de um físico nuclear para avaliar o acidente. Foi então que o físico Valter Mendes, de Goiânia, constatou que havia índices de radiação na Rua 57, do Setor Aeroporto, bem como nas suas imediações. Diante de tais evidências e do perigo que elas representavam, ele acionou imediatamente a Comissão Nacional Nuclear (CNEN). O ocorrido foi informado ao chefe do Departamento de Instalações Nucleares, José Júlio Rosenthal, que se dirigiu no mesmo dia para Goiânia. No dia seguinte a equipe foi reforçada pela presença do médico Alexandre Rodrigues de Oliveira, da Nuclebrás (atualmente, Indústrias Nucleares do Brasil) e do médico Carlos Brandão da CNEN. Foi quando a Secretaria de Saúde do estado começou a realizar a triagem dos suspeitos de contaminação em um estádio de futebol da capital.(SOUZA)
Após a chegada dos especialistas a substância foi identificada como Césio-
137 e medidas para descontaminação foram tomadas, as roupas das pessoas foram
lavadas para descontaminação externa, enquanto as pessoas receberam um
quelante chamado azul da prússia, que faria com que as substâncias radioativas
fossem eliminadas pelas fezes e urinas, além disso mais de 6.000 toneladas de lixo
radioativo (materiais altamente contaminados) foi retirado da cidade e está
66
armazenado na cidade de Abadia de Goiás, dentro de contêineres revestidos de
concreto e aço, este lixo vai estar descontaminado daqui aproximadamente 180
anos, devido a meia-vida do material radioativo.
No acidente de Goiânia cerca de 250 pessoas foram contaminadas e apesar
das medidas para reverter os efeitos da contaminação quatro pessoas vieram a
óbito, os sobreviventes apresentaram diversos tipos de efeitos colaterais. Este é um
exemplo da importância de haver uma educação com enfoque CTS, afinal devido a
uma série de irresponsabilidades e desinformações 250 pessoas sofreram os efeitos
do material radioativo. Com uma educação com enfoque CTS e um maior preparo
para as pessoas envolvidas o acidente provavelmente nem teria acontecido: a
empresa não teria tido a atitude irresponsável de abandonar um equipamento tão
perigoso, ou as primeiras pessoas que abriram a capsula teriam acionado as
autoridades imediatamente, reduzindo drasticamente a quantidade de pessoa
contaminadas.
Uma educação CTS pode contribuir para evitar que catástrofes como esta
ou tantas outras ocorrem por desinformação das pessoas envolvidas, porém quando
se tem uma educação com enfoque CTS, cabe as escolas se certificar de que isso
ocorra de uma forma crítica e ressaltando o peso de cada uma das palavras que
compõe a sigla. Segundo Bazzo, Pereira e Linsingen:
As escolas, no afã de proporcionar esse tipo de reflexão vêm se descuidando dos verdadeiros propósitos do enfoque CTS. O mal-entendido daí resultante incorporado a conceitos não bem sedimentados, pode ainda ser mais nocivo que abordagens que apenas coloquem o social palavra de ordem nos conteúdos técnicso, que hão de resolver o problema. Soluções eficazes devem partir de compreensões epistemológicas por parte dos professores, para que eles próprios passem a encarar conscientemente C&T como onstruções histórico-sociais. Essa ressalva precisa ser feita para não sucumbirmos ao “canto da sereia”, que apregoa processos mágicos e certeiros para mudar a forma como a educação clássica é alterada de uma hora para outra. (BAZZO, et al, p. 66. 2014)
A educação CTS tem que trabalhar com os alunos o conceito de ciência e
tecnologia de forma que eles aprendam a desmistificar estes conceitos e
compreender o que significam em sua essência, contribuindo assim para uma
desmistificação da ciência como solução de todos os problemas. Segundo Neil
Postman, em sua essência a ciência é: O que podemos chamar de ciência é a busca para descobrir as leis imutáveis e universais que governam os processos, supondo-se que haja relações de causa e efeito entre esses processos. Deduz-se que a busca para compreender o
67
comportamento e o sentimento humanos não pode ser chamada de ciência, exceto no sentido mais trivial. Pode-se, claro, apontar para o fato de que tanto os estudantes das leis naturais como os de comportamento quantificam, com frequência, suas observações e, com essa base comum, classificam-nas juntos. Uma analogia justa seria argumentar que como um pintor de parede e um artista usam tinta, os dois estão engajados no mesmo empreendimento com a mesma finalidade. (POSTMAN, pg 155. 1992)
A definição de Postman acerca de ciência traz alguns pontos que merecem
destaque. Quando o autor fala que ciência é “a busca para descobrir as leis
imutáveis e universais que governam os processos, supondo-se que haja relações
de causa e efeito entre esses processos”, destaca-se aí a importancia de haver um
questionamento das pesquisas científicas, pois a ciência busca sim leis imutáveis e
universais que governam os processos, e exatamente por isso estas devem ser
colocadas a prova por outros pesquisadores, a fim de ampliar sua credibilidade.
Além disso Postman compara as ciências como a física, a química e a
matemática com as ciências que buscam estudar o comportamento humano,
exaltando o primeiro conjunto e diminuindo o segundo. O primeiro grupo é composto
pelas ciências que buscam métodos e expressões quantitativas como expressão de
conhecimento, estas são conhecidas como ciências exatas ou hard sciences. As
hard sciences não retiram o mérito das soft sciences como as ciências humanas,
porém possuem métodos mais rigorosos devido a característica objetiva de seus
estudos, enquanto quando se estuda o comportamento humano a subjetividade e as
interpretações são presenças constantes, causando esta diferenciação em relação
as ciências exatas.
O problema é que devido a esta ‘busca por leis imutáveis e universais’ a
ciência frequentemente é tratada como inquestionável, absoluta e uma fonte de
salvação, criando ao redor da ciência (e da tecnologia também) uma espécie de fé
cega que ignora todos os danos que a ciência pode causar. Como Postman destaca
em vários momentos em seu livro Tecnopólio: A ciência e a tecnologia não podem
ser tratadas como uma benção nem como uma maldição. Os avanços científicos e
tecnológicos possuem potencial benéfico e maléfico, sendo que em alguns casos os
danos nem são conhecidos por parte das pessoas que fazem uso destes avanços
até que as consequências se tornem graves.
Outro acidente envolvendo a radioatividade segue esta ideia, diferente do
acidente de Goiânia não foi apenas uma situação de negligência por parte de uma
68
empresa, mas também uma desinformação das pessoas a respeito de substâncias
cujos riscos ainda eram em grande parte desconhecidos.
Na década de 1920 o minério rádio ainda era uma novidade, além de ser uma
substância amplamente incompreendida. As pessoas sabiam que a substância era
radioativa mas não entendiam ao certo os efeitos da radioatividade, o que fez com
que diversas falácias a respeito disso se espalhassem e de repente as pessoas
passassem a ver a radioatividade como uma promessa de vida melhor, o que
possibilitou coisas como o cartaz abaixo:
Figura 11 Anúncio de água radioativa - início do século XX.
Fonte: Crezo. Mentalfloss, 2012. http://mentalfloss.com/article/12732/9-ways-people-used-radium-we-understood-risks.
O cartaz é uma propaganda para venda de água radioativa com o propósito
de aumentar a saúde do consumidor. Além da água a radioatividade foi utilizada em
diversos tipos de produtos e até na fabricação de vitaminas e suplementos
alimentares. Entre os produtos que utilizaram rádio em sua fabricação estão os
relógios.
69
Esta história se passou em vários locais, mas a tendência começou em
pequenas cidades do estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos. Esta história é
conhecida como ‘as garotas radioativas’:
Nesta região havia uma fábrica que vendia relógios luminosos, para que os
ponteiros brilhassem no escuro a fábrica usava uma tinta que entre seus compostos
possuía radio. Em sua força de trabalho a fábrica contratou praticamente só
mulheres jovens, pois possuíam salários drasticamente inferiores aos de homens ou
mulheres com experiência de trabalho.
As garotas recebiam 0,27 dólares para cada relógio pintado, e para possuir
precisão nas pinturas precisavam de pincéis finos, por isso lambiam a ponta dos
pincéis entre um relógio e outro para alinhar as cerdas, ingerindo assim pequenas
doses de radioatividade a cada relógio, estas garotas pintavam cerca de 250
relógios por dia e isto acumulava radioatividade ao longo de seu tempo de trabalho
na empresa e provocavam doenças nas garotas e em suas pessoas próximas.
Em 1927 a autópsia de mais de 50 destas mulheres (que possuíam uma
vida relativamente curta em relação a outras pessoas), revelou corrosão nos ossos.
Isto não foi o suficiente para parar com este processo de fabricação pois ainda não
havia uma confirmação de que a radioatividade era a causa disso. Dr. Von Sochocky,
inventor da tinta luminosa também morreu contaminado pela radiação, em 1928.
A medida que os relógios brilhantes se popularizavam a ideia passou a se
espalhar para outras fábricas, fazendo com que gente em outras áreas dos EUA e
no Canadá usassem a tinta à base de rádio para fabricar lanternas, interruptores,
ponteiros de carros e todo outro tipo de objeto, além de é claro, relógios. O número
de funcionárias espalhadas pelos dois países foi em torno de 4.000 mulheres, estas
mulheres tiveram vidas relativamente curta e pessoas contaminadas por
radioatividade também emitem radiação, tornando-as um perigo para aqueles que
convivem, dizem que estas mulheres acumularam tanta radioatividade em seus
corpos que se um Geiger counter for levado para os cemitérios onde foram
enterradas, ainda hoje (cerca de 80 anos depois) ele aponta altos níveis de radiação
em suas lápides.
A radiação era tão incompreendida no período com sua promessa de cura
tudo que era utilizada até em remédios, cosméticos, produtos para bebês e produtos
alimentícios, inclusive existem relatos de empresas que depois foi comprovado não
ter usado nenhuma substância radioativa, porém anunciavam fazer uso destas
70
substâncias em sua divulgação para não ser impopular no mercado, como é o caso
da marca francesa de cosmético abaixo, que anunciava fazer uso de Tório,
substância que pode ser utilizada em alternativa ao urânio para gerar energia
nuclear:
Figura 12 Anúncio de pasta de dente a base de tório, um elemento radioativo - início do século XX.
Fonte: Crezo. Mentalfloss, 2012. http://mentalfloss.com/article/12732/9-ways-people-used-radium-we-understood-risks.
O problema é que enquanto a sociedade não fazia ideia dos perigos das
radiação, as pessoas responsáveis pela fabricação de tais substâncias já estavam
cientes dos danos, porém mantinham a população ignorante do que estava fazendo,
os proprietários e químicos da UNDARK e da US Radium, respectivamente a
empresa que fabricava a tinta luminosa e uma das principais distribuidoras de
materiais radioativos para diversos fins, trabalhavam com roupas especiais e
paredes de chumbo para proteção, e ainda assim faziam mulheres da linha de
produção molhar os lábios centenas de vezes por dia com o mesmo material, além
de expor os clientes aos perigos.
Na época alguns cientistas tentaram alertar a população do perigo que
estavam expostas, porém o poder e influência das empresas era grande demais e
estes contratavam a mídia e todo tipo de funcionário necessário para esconder os
71
danos provocados, inclusive médicos para emitirem laudos falsos a respeito da
saúde das funcionárias, que frequentemente exibiam queda de dentes, inchaço ou
deformação na mandíbula e deterioração dos ossos do rosto.
Figura 13 Registro de uma das garotas afetadas pela tinta de Rádio.
Fonte: Moore. The forgotten factory girls killed by radioactive poisoning. The Telegraph, 2016.
As empresas passaram a ser expostas quando uma das garotas chamada
Grace Fryer tentou abrir um processo contra a US Radium, no início
nenhumadvogado aceitava o caso, porém dois anos depois ela conseguiu um
advogado e outras cinco garotas se uniram ao processo. O processo se arrastou
mas lentamente foi recebendo a atenção da mídia. Os meios de comunicação as
apelidaram de Radium Girls.
Figura 14 Manchete de jornal sobre o caso das "radium girls".
Fonte: Moore. The forgotten factory girls killed by radioactive poisoning. The Telegraph, 2016
72
Na primeira sessão do tribunal elas já estavam tão fracas que mal
conseguiam levantar os braços. Na segunda elas estavam tão doentes que a sessão
precisou ser adiada. Quando finalmente o processo chegou ao fim a empresa
precisou pagar a cada uma o equivalente a 100.000 dólares atualmente, além de
pagar todas as despesas médicas delas pelo resto da vida e pagar uma indenização
de 600 dólares por ano pelo resto da vida, porém a saúde das mesmas estava tão
fraca que a garota que viveu por mais tempo após isso morreu dois anos depois do
fim das audiências.
Figura 15 Manchete de jornal referente a vitória judicial do caso das garotas radioativas.
Fonte: Moore. The forgotten factory girls killed by radioactive poisoning. The Telegraph, 2016.
Este caso representou um marco nas leis norte americanas sobre direitos de
segurança no trabalho, a US Radium continuou a fabricação dos relógios até a
metade da década de 60, porém após o caso das garotas radioativas a fábrica
precisou introduzir medidas de segurança e não houve mais relatos de nenhum
funcionário sendo contaminado por radiação na empresa. Em 1980 a fábrica já
abandonada foi considerada pelo governo de Nova Jersey como uma área hiper
contaminada e passou a ter o acesso à região proibido para toda a população.
Quando se ouve falar de acidentes com radiação normalmente se pensa em
casos como Chernobyl: algo provocado por falhas técnicas em uma usina. Mas os
casos de Goiânia e Nova Jersey são exemplos do risco de ter uma população alheia
aos riscos dos materiais radioativos, ou a outras substâncias e tecnologias. Não foi
fruto de uma catástrofe de grandes proporções imediata e imprevisível, mas sim de
um conjunto de negligência e desinformação. Mesmo no caso de Nova Jersey, onde
73
houve uma clara exploração por parte dos responsáveis, uma população informada
poderia questionar o que estava acontecendo, aumentando as chances de expor a
administração de má fé e negligente da empresa responsável.
74
5 METODOLOGIA DE PESQUISA E APLICAÇÃO DO MATERIAL
Para realizar esta pesquisa foi optado pelo método da Tabla Aristotélica de
Invencion, que também é conhecida como Matriz Dialógica. Esta Matriz consiste em
criar uma matriz com as possíveis palavras chaves relacionadas à pesquisa em
andamento, onde cada uma das mesmas esteja presente nas células da coluna e da
linha. Sempre que duas palavras se cruzam deve ser elaborada uma pergunta sobre
a relação entre as duas coisas. Normalmente uma matriz dialógica gera dezesseis
perguntas que servem para guiar o trabalho. Segundo Peres (2014) a Matriz
Dialógica serve para aprofundar o estudo sobre um tema.
a Tabla Aristotélica de invención vista em Kemmis e McTaggart (1988), que se trata de uma estrutura cujo objetivo é examinar e discutir um tema de uma forma mais profunda e detalhada. Para a pesquisa a estrutura pode ser montada de modo que relacione aspectos envolvidos no processo ensino aprendizagem. (PERES, 2014, p16)
Ainda segundo Peres há uma forte relação com o conceito de investigação-
ação, pois permite um aprofundamento na teoria que acaba refletindo nas
aplicações. Além disso, a Tabla Aristotélica permite perceber relações dentro da
pesquisa que poderiam passar despercebidas, permitindo uma abrangência muito
maior na aplicação. Isso se deve pelo fato de ao perceber mais relações entre os
temas envolvidos na pesquisa seja possível utilizar esta descoberta dentro do tema.
Segundo Cordenonsi, Muller e Bastos (2008), a Matriz Dialógica é uma
ferramenta para um professor refletir sobre uma prática educativa afim de construir
uma relação entre professor, aluno, objeto de estudo e ambiente. A reflexão e
preenchimento pode ocorrer durante a prática pedagógica ou posteriormente, sendo
que as questões podem vir a ser alteradas, a matriz dialógica é um recurso
dinâmico.
Peres (2014) ressalta que este recurso exige uma intensa reflexão sobre o tema para que a matriz seja preenchida, e as informações obtidas frequentemente podem gerar melhores resultados para a pesquisa ou até um eventual trabalho que dê sequência à pesquisa. Falando sobre sua própria experiência com a Tabla Aristotélica:
Com os dados coletados através da prática foi possível responder algumas perguntas, no entanto é importante salientar que este trabalho tem o compromisso de responder o maior número de itens, embora alguns fiquem sem uma resposta mais contundente. (PERES, 2014, p18)
75
A matriz leva o pesquisador a refletir seu problema por múltiplos ângulos e
adaptar às necessidades ou conclusões inesperadas, sendo assim uma metodologia
flexível, onde pesquisa e preparo de aulas estão atrelaçados, conforme dizem
Cordenonsi, Muller e Bastos (2008):
A MDP orienta o componente investigativo da Investigação-Ação Educacional. Sua finalidade é guiar a programação das aulas, colaborações e aulas, estabelecendo objetivos de pesquisa para cada ato educativo, ajudando professores a definirem os seus problemas acerca das orientações metodológicas. Desta forma, não só as aulas são preparadas com antecedência, mas a própria investigação (pesquisa) é construída a partir de um plano de observações previamente estabelecido. Para cada ato educativo, são escolhidas as questões da matriz que podem, sob o ponto de vista do professor, ser respondidas, mesmo que parcialmente, com aquela ação específica. Dois pontos cruciais devem ser citados: a preparação de objetivos de pesquisa está no cerne de qualquer metodologia científica e a IAE, com seu pressuposto investigativo, não pode prescindir desta técnica [Koche 2006]; o estabelecimento de uma determinada pergunta (objetivo) para um ato educativo não deve ser considerado como estanque, ou seja, é possível que os objetivos sejam alterados dinamicamente, sempre que o professor considerar necessário. (CORDENONSI, et al. 2008)
Falhar em responder todas as perguntas geradas pela matriz dialógica não
deve ser visto como um problema, contanto que as questões respondidas sejam o
suficiente para suprir as informações necessárias na conclusão desta pesquisa. As
questões que ficarem em aberto podem ser utilizadas na elaboração de trabalhos
futuros ou de uma possível sequência deste. O fato da matriz ter mais questões
serve para fazer com que a pergunta da pesquisa seja pensada de diversos ângulos,
o que pode provocar conclusões inusitadas, que normalmente não seriam obtidas.
Tabela 1 Matriz Dialógica Problematizadora
Watchmen CTS Ciência Ensino Watchmen Watchmen
pode ser percebida como mais do que uma obra de entretenimento?
Quais são os tópicos envolvendo o enfoque CTS presentes em Watchmen?
Quais dos fatos científicos em Watchmen são pautados na realidade?
O que é possível ensinar utilizando Watchmen como exemplo?
CTS A narrativa de Watchmen é suficiente pra demonstrar a importância
Qual a relevância do enfoque CTS na educação?
Conhecimento científico é o suficiente para que os alunos
O ensino tradicional aborda o enfoque CTS o suficiente?
76
do enfoque CTS?
pensem na relação CTS
Ciência A ciência apresentada em Watchmen é de fácil compreensão?
É possível compreender o enfoque CTS sem um amplo conhecimento científico?
O público em geral se interessa pelos aspectos científicos de uma obra?
O ensino de ciência é de fácil compreensão aos alunos? Se não, por quê?
Ensino Apresentar um conteúdo utilizando a HQ Watchmen contribui positivamente para o ensino?
O enfoque CTS deve provocar adaptações no ensino?
Existem maneiras mais eficientes de abordar a ciência no ensino?
Os métodos comumente utilizados no ensino são eficientes?
Além da matriz dialógica esta pesquisa utiliza diversos outros instrumentos de
coleta de dados, fazendo com que esta seja uma pesquisa qualitativa interpretativa.
Os dados coletados não serão apenas a base de uma estatística, mas também
serão analisados, categorizados e interpretados para que sirvam para definir um
rumo na elaboração do produto e conclusão da pesquisa. Vai ser com base nestes
dados que será decidido o layout final do produto ou qual será a abordagem do
mesmo, além de estes dados poderem gerar outros textos e matrizes esquemáticas.
GIL (2002) diferencia a pesquisa qualitativa da quantitativa da seguinte forma:
Nas pesquisas quantitativas, as categorias são freqüentemente estabelecidas apriori, o que simplifica sobremaneira o trabalho analítico. Já nas pesquisas qualitativas, o conjunto inicial de categorias em geral é reexaminado e modificado sucessivamente, com vista em obter ideais mais abrangentes e significativos. Por outro lado, nessas pesquisas os dados costumam ser organizados em tabelas, enquanto, nas pesquisas qualitativas, necessita-se valer de textos narrativos, matrizes, esquemas etc. (GIL, 2008, p. 134)
Esta é também uma pesquisa interpretativa, pois pretende utilizar os dados
levantados em ligação com outros conhecimentos já obtidos com o objetivo de
conferir um significado mais amplo a leitura, ressaltando que certos cuidados
precisam ser tomados, segundo Gil:
O que tende a ocorrer com pesquisadores pouco experientes é a interpretação ser feita com base em posições pessoais, conferindo ao trabalho caráter subjetivo, terminando por comprometer sua validade científica. Para que isso não ocorra, é necessário que a interpretação se faça pela ligação dos dados com conhecimentos 80 COMO ELABORAR PROJETOS DE PESQUISA
77
significativos, originados de pesquisas empíricas ou de teorias comprovadas. (GIL, 2008, p. 79)
Ao tratar desta pesquisa, os objetos a serem estudados a fundo são as
revistas mencionadas anteriormente e as diretrizes curriculares do ensino médio,
tendo como foco os métodos de elaboração das imagens nas páginas que
representam conceitos científicos, o estudo dos próprios conceitos por elas
apresentados, e o debate sobre os impactos provocados pela ciência e pela
tecnologia na sociedade pelas revistas apresentado; outro objeto é as diretrizes
curriculares do ensino médio tendo como propósito fazer uma seleção dos possíveis
conteúdos a utilizar na elaboração de um material paradidático em arte sequencial,
aplicação de questionários para professores de física no ensino médio da rede
pública e alunos destes professores. Esperava-se aplicar estes questionários para 4
professores de diferentes escolas e para alunos de duas turmas de cada um destes
professores, porém posteriormente foi decidido que seria melhor fazer a aplicação
com uma turma dos anos iniciais de uma graduação de licenciatura em ciências
naturais.. As questões do questionário são a respeito do ensino de enfoque CTS,
visando coletar informação que posteriormente levou a elaboração do material
paradidático.
Uma vez que as análises das revistas e das diretrizes foram concluídas,
foram aplicados questionários, a aplicação destes questionários teve por objetivo
ajudar, junto com as diretrizes, a definir os conteúdos a serem trabalhados com o
enfoque CTS, e a elaborar uma forma diferenciada de abordar estes conteúdos.
Estes questionários foram aplicados em alunos do primeiro ano de
graduação na área de ensino de ciências, o objetivo do questionário tem relação ao
conhecimento prévio do graduando sobre determinados conteúdos, se ele já teve
contato com histórias em quadrinhos, quais e o que fez com que ele gostasse ou
não destas histórias, além de questões sobre o conhecimento prévio do graduando
sobre a relação entre ciência, tecnologia e sociedade.
Os acadêmicos envolvidos nos questionários e na aplicação em sala de aula
assinaram um termo de consentimento concordando em participar da resposta dos
questionários e de aulas referentes aos conteúdos e métodos de ensino abordados
nos questionários, a turma possuía alunos de idades variadas (sendo que os mais
jovens possuíam 17 anos), todos foram receptivos quanto a participar das
abordagens, porém houve uma descrença inicial de vários alunos em relação ao uso
78
de histórias em quadrinhos no ensino, esta descrença detectada no primeiro contato
com a turma quando a pesquisa foi explicada, pois alguns consideravam histórias
em quadrinhos como coisa de criança.
A penúltima parte desta pesquisa é uma análise e registro das informações
obtidas a partir de todas as etapas anteriores, levando em consideração informações
obtidas tanto de alunos quanto de professores, procurando responder o máximo de
perguntas possível das geradas na Tabla Aristotélica e cumprir o objetivo de fazer
um material paradidático para os alunos, mas que não deixe de ser uma ferramenta
a mais para os professores.
A etapa final é a elaboração do material paradidático, tendo como objetivo
criar materiais e estratégias para o desenvolvimento de discussões com o enfoque
em ciência, tecnologia e sociedade dentro dos conteúdos de física presentes nas
DCE do Ensino médio, o material terá fragmentos das revistas utilizadas como
objeto de estudo, algumas páginas de ilustrações também na forma de histórias em
quadrinhos elaboradas exclusivamente para este material, dicas para o professor e
questões para o aluno. O objetivo é servir como um ponto de partida para a
discussão, introduzindo os alunos ao conteúdo a ser trabalhado a partir da narrativa
gráfica, seguido de questões gerais sobre o tema e questões mais aprofundadas
que serão selecionadas com base no resultado dos questionários.
5.1 ANÁLISE DE QUESTIONÁRIO PRELIMINAR
O primeiro dos questionários teve como objetivo analisar o conhecimento
prévio dos acadêmicos selecionados em relação ao enfoque CTS, além de saber
opiniões dos mesmos relacionadas ao uso de histórias em quadrinhos ou outras
mídias no ensino. O questionário está no ANEXO II no final desta pesquisa para que
possa ser lido na íntegra, mas cada questão será abordada abaixo com as respostas
mais comuns dos 21 graduandos que participaram.
A primeira questão é “Você consome histórias em quadrinhos? Se sim com
que frequência e se não porquê não”, esta questão teve como objetivo verificar
quantos dos alunos já possuem o hábito de ler histórias em quadrinhos, lembrando
que para uma leitura adequada desta mídia é necessário que uma pessoa possua a
79
habilidade de interpretar texto e imagem, em uma turma com poucos alunos que
possuam este hábito torna-se necessário uma intervenção maior por parte do
professor. 8 dos alunos que responderam o questionário I responderam sim nesta
questão, com frequências de leitura variando entre várias vezes na semana e uma
vez no mês, já entre os que responderam não as respostas mais comuns foram “por
falta de tempo” ou “por falta de costume”, com um acadêmico respondendo que não
gosta.
A segunda questão foi “você acredita que as histórias em quadrinhos tem
potencial educativo?”, sendo que esta além de permitir que seja respondido “sim” ou
“não” também possui uma terceira alternativa que é “sim, mas só quando feita para
isso”. 16 das 21 pessoas que responderam o questionário responderam que “sim”,
ou seja, a maioria acredita que uma história em quadrinho tem potencial educativo
mesmo que não tenha sido feita com este intuito, bastando que ela possa ser
encaixada em um conteúdo a ser trabalhado; 4 das 21 pessoas que responderam o
questionário acreditam que histórias em quadrinhos tem potencial educativo, mas só
se tiverem sido feitas para isso; 1 das 21 pessoas não acredita que histórias em
quadrinhos tem potencial educativo.
SIM
NÃO
SÓ SE FEITA PARA ISSO
Gráfico 1- Questão 2.1
A questão seguinte é parecida com a segunda, a terceira questão é “Você
acredita que uma história ficcional pode ser utilizada no ensino? Justifique”. Vale
80
ressaltar que a principal diferença entre as duas questões é o fato de a questão dois
focar na mídia (histórias em quadrinhos) e não especificar o tipo de história,
enquanto a questão três foca no uso de histórias ficcionais, independente de mídia.
Esta questão só possui as alternativas “sim” e “não” e trouxe os seguintes
resultados: 19 responderam sim enquanto apenas 2 responderam não. As respostas
daqueles que responderam sim possuem argumentos voltado para o fato de a
história ficcional ter o potencial de ilustrar uma situação que é muito abstrata na
teoria, outros alegam que a história ficcional pode abordar valores morais e temas
científicos de forma lúdica, dois responderam que depende do conteúdo abordado
da história e um ressaltou que a história ficcional só pode ser utilizada no ensino se
for feita para este fim e deixar claro quais elementos da narrativa são conceitos ou
fatos reais e o que foi inventado para a história; os dois acadêmicos que
responderam “não” não justificaram.
SIM
NÃO
Gráfico 2- Questão 3.1
A questão quatro é “Você é familiarizado com a série de histórias em
quadrinhos ou o filme “Watchmen”?” e tem como objetivo saber quais dos alunos
conhecem os personagens e eventos abordados em Watchmen, o que foi utilizado
no preparo de aulas ministradas na turma após a aplicação do primeiro questionário.
Nesta questão 17 acadêmicos responderam que não são familiarizados com
Watchmen, enquanto dois responderam que são familiarizados só com o filme e dois
responderam que conhecem tanto o filme quanto o quadrinho, devido ao fato da
81
maioria das respostas serem negativas a primeira aula possuiu uma parte dedicada
a contextualizar os alunos sobre os universo da narrativa e os conceitos presentes
em Watchmen.
A questão 5 é “Você é familiarizado com a série de histórias em quadrinhos
“Before Watchmen” ?” e teve o mesmo objetivo da questão 4, sendo que nesta
questão apenas 1 de 21 acadêmicos respondeu sim.
A questão 6 é “Você sabe o que é enfoque CTS?”, nesta questão 7 dos 21
acadêmicos respondeu não.
SIM
NÃO
Gráfico 3– Questão 6.1
A questão 7 é “Você acha que o enfoque CTS é importante no ensino?
Justifique”. 2 dos graduandos responderam que não acham importante, outros 2
deixaram esta questão sem resposta e 17 responderam sim, mesmo alguns que
responderam “não” na questão anterior. Todos os alunos que responderam “não” na
questão 6 e “sim” na questão 7 justificaram que todo tipo de conhecimento é
importante para um cidadão em formação; as justificativas daqueles que
responderam “sim” tanto na questão 6 quanto na 7 tiveram justificativas apontando
que o enfoque CTS é importante para criar cidadãos críticos; que o enfoque CTS
pode ser utilizado na realidade do aluno; que o ensino com enfoque CTS gera
inclusão social e uma pessoa respondem que o enfoque CTS tem um grande
potencial interdisciplinar e por isso realça o ensino de diversas disciplinas.
82
SIM
NÃO
SEM RESPOSTA
Gráfico 4– Questão 7.1
A questão 8 é “você acha que o enfoque CTS é abordado no ensino?”, nesta
questão existem três alternativas possíveis, sendo estas “sim”, “não” e “sim, mas
pouco ou de forma ineficaz”. Ao responder a questão 8 nenhuma das pessoas
respondeu “sim”, 7 pessoas responderam “não” e 14 pessoas responderam “sim,
mas pouco ou de forma ineficaz”.
SIM
NÃO
POUCO OU DE FORMA INEFICAZ
Gráfico 5 – Questão 8.1
A questão 9 é “Em Watchmen e Before Watchmen – Dr. Manhattan um
assunto frequente é: os usos de materiais radioativos e os efeitos destes materiais.
Você acha que este é um assunto abordado de forma eficaz no ensino?”. Nesta
questão 3 acadêmicos responderam que sim enquanto 18 responderam não, o que
mostra em conjunto com a questão 8 um certo descontentamento destes
acadêmicos em relação à educação básica.
83
SIM
NÃO
Gráfico 6 – Questão 9.1
A questão 10 é “Você acredita que este seja um assunto importante para um
cidadão, mesmo que este cidadão não trabalhe em algo diretamente relacionado a
isso? Justifique.”. Apenas 2 dos acadêmicos que responderam os questionários
responderam “não” para a questão 10 do questionário preliminar, fazendo com que a
alternativa “sim” tenha recebido 19 respostas, os comentários daqueles que
responderam “sim” focam principalmente na importância de um cidadão aprender
uma grande gama de conhecimentos e buscar entender vários fenômenos, mesmo
que não vá usar.; uma pessoa respondeu que entender sobre radioatividade pode vir
a ser útil na vida de qualquer cidadão um dia; uma pessoa respondeu que o
conhecimento científico faz com que o cidadão desenvolva pensamento crítico e
portanto qualquer conteúdo contribui para a inclusão social. Apenas uma das
pessoas que responderam “não” comentaram, comentando que este assunto não é
importante para um cidadão que não trabalhe em algo relacionado a isso porque não
vai afetar diretamente a sua vida.
84
SIM
NÃO
Gráfico 7 – Questão 10.1
A questão 11 é apenas um pedido de autorização para que os acadêmicos
participem de aulas relacionadas ao ensino de radioatividade com enfoque CTS
utilizando histórias em quadrinhos, nessa questão todos responderam que sim. Além
disso outros quatro alunos participaram das aulas e responderam ao segundo
questionário, estes aceitaram participar contanto que seus nomes não fossem
divulgados, uma condição que já estaria sendo cumprida para todas as pessoas que
responderam os questionários.
Após a aplicação do primeiro questionário foram aplicadas algumas aulas
referentes à física das radiações com enfoque CTS, utilizando como recurso trechos
de Watchmen e Before Watchmen, vídeos com relatos sobre dois grandes acidentes
radioativos e aula expositiva dialogada, após esta intervenção todos responderam
um seguinte questionário que possui algumas questões em comum com o primeiro e
algumas questões diferentes. A análise do segundo questionário está no próximo
tópico.
5.2 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO SUBSEQUENTE
O segundo questionário tem como objetivo servir como comparativo em
relação ao primeiro, sendo que algumas questões são repetidas e as outras também
procuram contribuir para a compreensão do desenvolvimento dos acadêmicos em
85
relação aos assuntos abordados e à opinião sobre o uso de histórias em quadrinhos
no ensino. Assim como o questionário I, o questionário II pode ser verificado na
íntegra nos anexos, sendo este o ANEXO III e cada questão será citada no corpo do
texto ao longo da análise. Na segunda parte do questionário 8 dos alunos iniciais
faltaram, porém outros 4 compareceram, fazendo com que hajam 17 alunos
respondendo as questões.
A primeira questão do segundo questionário é “você acha que receber parte
do conteúdo na forma de histórias em quadrinhos foi benéfico para a aula?
Justifique”. Todos os 17 alunos responderam que “sim”, nas justificativas um grande
número de alunos alegam que receber o conteúdo na forma de quadrinhos torna a
aula mais prazerosa o que acaba facilitando manter a atenção; um acadêmico
alegou que se surpreendeu pois não acreditava que usar mídias alternativas
pudesse contribuir com a aula e uma acadêmica alegou que o uso de histórias em
quadrinhos é positivo pois aquele aluno que tem dificuldade em compreender o
conteúdo de formas tradicionais tem uma outra alternativa para aprender.
A segunda questão é igual à questão de mesmo número do questionário I,
“você acredita que as histórias em quadrinhos têm potencial educativo?”, tendo as
mesmas alternativas: “sim, “não” e “sim, mas só se for feita para este fim”. 16 dos
acadêmicos responderam “sim” e um dos acadêmicos respondeu “sim, mas só se for
feita para este fim”, sendo que dois acadêmicos que responderam sim haviam
respondido que as histórias em quadrinhos apenas têm potencial educativo caso
tenham sido feitas com isto em mente e o único acadêmico que havia respondido
“não” mudou sua resposta para “sim”.
86
SIM
NÃO
SÓ SE FEITA PARA ISSO
Gráfico 8 – Questão 2.2
A questão 3 também é idêntica a questão de mesmo número do primeiro
questionário, sendo esta “você acredita que uma história ficcional pode ser utilizada
no ensino? Justifique.”, nesta questão 16 dos 17 acadêmicos responderam que
“sim”, enquanto um não marcou alternativa, mas deixou um comentário. As
justificativas mais comuns dos que responderam “sim” são voltadas para o
argumento de que a história ficcional pode criar situações palpáveis para um aluno
que não tem contato com determinado conteúdo em seu dia a dia; dois dos alunos
que responderam sim escreveram que depende do assunto e que o professor
precisa esclarecer o que é ficcional e o que é real; o acadêmico que deixou a
questão em branco comentou que “depende da história”, dando a entender que o
mesmo não respondeu por existirem apenas as alternativas “sim” e “não”.
A questão 4 é “antes desta aula, você conhecia o caso das garotas
radioativas de Nova Jersey? E o caso dos produtos 'enriquecidos' com radiação do
início do século XX?”, ambos os assuntos foram abordados nas aulas que os alunos
receberam após responder o primeiro questionário e antes de responder o segundo.
Houveram 14 respostas negativas, duas respostas dizendo que só conheciam o
caso dos produtos radioativos e uma resposta dizendo que só conhecia o caso das
garotas de Nova Jersey.
A questão 5 é semelhante a anterior e também é referente a conteúdos
abordados na aula, sendo a questão “antes desta aula, você conhecia o caso do
acidente com césio-137 em Goiânia?”. Para esta questão dois alunos responderam
que não, seis alunos responderam que sim e nove alunos que sim, mas não
87
conheciam detalhes, o provável motivo para as respostas mais positivas do que as
da questão quatro é por este caso ser mais recente e ter acontecido no Brasil.
A questão 6 é “você acredita que se as pessoas envolvidas nos casos das
questões 4 e 5 tivessem uma educação com enfoque CTS, estas catástrofes
poderiam ter sido evitadas? Justifique.”, nesta questão 16 pessoas responderam que
sim, uma respondeu que não. As justificativas foram no sentido de que se as
pessoas tivessem tido uma educação com enfoque CTS estas tragédias seriam
evitadas ou ainda aconteceriam porém em proporção muito menores pois as
medidas cabíveis seriam tomadas o quanto antes; algumas pessoas ressaltaram a
importância de esse conhecimento ser espalhado também para a comunidade nos
arredores das escolas e não só no ambiente escolar; o acadêmico que respondeu
“não” comentou que ainda assim, se as pessoas tivessem uma educação com
enfoque CTS as catástrofes teriam sido minimizadas devido à atitude diferenciada.
SIM
NÃO
Gráfico 9 – Questão 6.2
A questão 7 é “você acha que radioatividade é um assunto importante para
ensinar à um cidadão, mesmo que este não trabalhe com algo relacionado a isso?
Justifique.”, mesma questão que a questão 10 do questionário I. Todos os
acadêmicos responderam que “sim”, inclusive um dos que responderam “não” no
questionário anterior. As principais justificativas defendem que um cidadão com
conhecimentos básicos sobre radioatividade conseguiria reduzir o tamanho de
catástrofes como a de Goiânia pois a dimensão deste acidente aumentou muito
devido a ignorância e irresponsabilidade de pessoas envolvidas; uma das pessoas
88
também apontou que uma pessoa que possui um conhecimento pode replicar este
conhecimento e ensinar para outros, mesmo que isso não seja uma garantia; além
disso três pessoas lembraram que radiações estão em toda parte e nem sempre são
algo nocivo, porém nestes casos todo o cuidado é necessário.
SIM
NÃO
Gráfico 10 – Questão 7.2
A questão 8 é “você acha que o enfoque CTS precisa ser mais presente nas
disciplinas escolares do Brasil? Justifique.”, nesta questão além das alternativas
“sim” e “não” há uma terceira alternativa que é “a partir da seguinte faixa etária:” com
espaço para o acadêmico preencher, além disso há espaço para comentários. Nesta
questão todos os 17 acadêmicos acreditam que sim, sendo que apenas um definiu
uma faixa etária específica para o ensino com enfoque CTS, sendo esta a partir dos
13 anos, o acadêmico que definiu esta faixa etária justificou que acredita que antes
dos 13 anos os alunos tenham dificuldade para absorver conteúdos com enfoque
CTS; as justificativas dos outros alunos usam argumentos como o fato de ser
importante que um cidadão entenda as possibilidades, riscos e benefícios na ciência
e na tecnologia, em contrapartida ao cidadão que tem aversão à ciência ou que vê a
ciência como solução para todos os males; dois acadêmicos argumentaram que o
enfoque CTS deveria estar presente em todas as etapas do ensino não só para
desenvolver a criticidade e a interdisciplinaridade, mas também para aumentar as
chances do aluno replicar este conhecimento para a comunidade; um dos
comentários argumentou que com o ensino com enfoque CTS há maior
envolvimento e compreensão da ciência por parte do cidadão.
89
SIM
NÃO
SÓ A PARTIR DE UMA CERTA IDADE
Gráfico 11 – Questão 8.2
A questão 9 é “Você acha que o uso de materiais didáticos diferenciados
representa uma melhora ou piora do ensino? Justifique.”, sendo que esta questão
possui quatro alternativas e espaço para complementação de uma das quatro, as
alternativas são: “melhora”, “piora”, “não faz diferença” e “apenas em certos
conteúdos e idades (cite exemplos)”, obviamente o espaço para comentários
complementares é destinado à quarta alternativa. Todos os dezessete acadêmicos
responderam “melhora”, sendo que treze utilizaram o espaço que seria destinado
para a quarta alternativa para fazer comentários complementares, sendo que a
maioria dos comentários (11 dos 13) utilizaram o mesmo argumento: acreditam que
o uso de conteúdos alternativos ajudam a cativar a atenção do aluno, evitando a
dispersão e aumentando o engajamento e a curiosidade dos alunos; um dos
argumentos é de que alunos aprendem de formas diferentes, enquanto alguns
alunos conseguem acompanhar uma aula tradicional outros precisam de suportes
adicionais e o uso de materiais diferenciados proporciona mais uma chance de
conseguir atingir este objetivo; um dos comentários defende que o professor deve
utilizar materiais didáticos diferenciados para tentar acompanhar o avanço
tecnológico dos alunos, caso contrário a linguagem do professor se torna
desinteressante aos alunos.
90
MELHORA
PIORA
NÃO FAZ DIFERENÇA
APENAS EM CERTOS CONTEÚDOS OU IDADES
Gráfico 12 – Questão 9.2
A questão 10 é “Você tem alguma sugestão ou crítica para a forma como a
aula foi ministrada?”, esta questão é voltada para buscar uma melhora em relação à
aplicação para os acadêmicos. Esta pesquisa foi aplicada em aulas que combinam o
uso de imagens, histórias em quadrinhos, vídeos e aula expositiva dialogada. A
questão 10 não possui alternativas, tendo o espaço da resposta inteiro destinado à
respostas escritas pelos acadêmicos, a questão foi feita desta forma para dar mais
liberdade na resposta, 15 dos 17 comentários responderam que não possuem
sugestões ou críticas; um dos comentários elogiou o andamento das aulas mas
sugeriu que além dos recursos mencionados anteriormente fossem utilizadas
músicas sobre o assunto trabalhado (radioatividade); um dos comentários apontou
que a introdução da aula fosse mais detalhada e minuciosa, a introdução foi
destinada a dar uma visão geral baseada no senso comum sobre radioatividade e à
apresentar as obras “Watchmen” e “Before Watchmen” para os alunos para que uma
relação entre ambas e o conteúdo pudesse ser feita.
A questão 11 é semelhante a 10 e também não possui alternativas
delimitadas, mas apenas um espaço de comentário, a questão sendo “Você tem
alguma sugestão ou crítica para a abordagem desta pesquisa?”, nesta questão 16
dos 17 acadêmicos responderam que não possuem sugestões ou críticas, porém um
dos acadêmicos defendeu que histórias mais simples em relação ao conteúdo
poderiam ser mais efetivas, pois considerou a narrativa das histórias em quadrinho
escolhidas muito complexa.
91
5.3 MATRIZ DIALÓGICA PROBLEMATIZADORA
Com a conclusão da aplicação dos questionários e de sua respectiva análise
torna-se possível responder partes da matriz dialógica problematizadora. As
respostas da matriz são baseadas nos autores referenciados na pesquisa, nas
respostas dos questionários, na prática diária como professor de ensino fundamental
e médio do pesquisador responsável e nas revistas em quadrinho analisadas. Vale
ressaltar que é comum que a matriz dialógica não seja integralmente preenchida,
contanto que ela possa gerar clareza o suficiente para responder as questões
necessárias à pesquisa. Abaixo está a matriz dialógica exatamente como está no
início do capítulo, esta duplicata está presente nesta fração do capítulo para facilitar
a leitura como um todo, mas diferente da anterior está colorida. aquilo que está
verde foi respondido positivamente, o vermelho foi respondido negativamente, o
amarelo está no meio termo, o cinza não teve resposta obtida e o branco a resposta
é mais complexa do que isso..
Tabela 2
Watchmen CTS Ciência Ensino Watchmen Watchmen
pode ser percebida como mais do que uma obra de entretenimento?
Quais são os tópicos envolvendo o enfoque CTS presentes em Watchmen?
Quais dos fatos científicos em Watchmen são pautados na realidade?
O que é possível ensinar utilizando Watchmen como exemplo?
CTS A narrativa de Watchmen é suficiente pra demonstrar a importância do enfoque CTS?
Qual a relevância do enfoque CTS na educação?
Conhecimento científico é o suficiente para que os alunos pensem na relação CTS
O ensino tradicional aborda o enfoque CTS o suficiente?
Ciência A ciência apresentada em Watchmen é de fácil compreensão?
É possível compreender o enfoque CTS sem um amplo conhecimento científico?
O público em geral se interessa pelos aspectos científicos de uma obra?
O ensino de ciência é de fácil compreensão aos alunos? Se não, por quê?
Ensino Apresentar um conteúdo
O enfoque CTS deve
Existem maneiras
Os métodos comumente
92
utilizando a HQ Watchmen contribui positivamente para o ensino?
provocar adaptações no ensino?
mais eficientes de abordar a ciência no ensino?
utilizados no ensino são eficientes?
5.3.1 Watchmen Pode Ser Percebida Como Mais Do Que Uma Obra De
Entretenimento?
Apesar de sabermos que a HQ foi feita com o intuito de ser um produto
destinado a um nicho de consumidores na sociedade de consumo é evidente que os
autores da narrativa quiseram abordar temas relevantes e contextualizados para
apelar para uma audiência com certa maturidade e instrução, isto não retira o status
de “obra de entretenimento” da revista, mas possibilita leituras diferenciadas do
material. Os acadêmicos que responderam os questionários foram majoritariamente
favoráveis ao uso de histórias em quadrinhos como materiais educativos e ao
potencial de ensino das histórias ficcionais, um professor pode utilizar Watchmen e
Before Watchmen de diversos pontos de vista para ensinar não só conteúdos
relacionados a ciência, mas também conteúdos de outras áreas do ensino; além de
material de ensino Watchmen e Before Watchmen em vários momentos pode ser
visto como crítica ou sátira aos governos norte-americanos ou aos valores pregados
pela indústria cultural nos EUA.
5.3.2 A Narrativa De “Watchmen” É Suficiente Para Demonstrar A Importância Do
Enfoque CTS?
Afirmar que a narrativa presente nas revistas é o suficiente para demonstrar
ao leitor a importância do enfoque CTS seria uma afirmação arriscada, um leitor
atencioso poderia sim absorver das revistas a ideia de que é necessário pensar
criticamente sobre a ciência, a tecnologia e sua relação com a sociedade porém o
que as aulas ministradas entre os questionários demonstraram é que para muitas
pessoas é importante uma contextualização prévia sobre os conceitos de enfoque
CTS além de um direcionamento a respeito do que o leitor deve procurar na revista
93
também se fazer necessário, afinal, afirmar que algumas pessoas podem obter o
resultado esperado seria o equivalente a afirmar que a loteria é uma forma eficiente
de obter enriquecimento financeiro, não é porquê uma pequena parte do público
adquire um resultado positivo que todos vão obter.
Um leitor treinado, acostumado com a linguagem visual (e não só com a
linguagem escrita), com conhecimentos relacionados a ciência ou ao menos
relacionados à necessidade de energias renováveis poderia sim captar a importância
do enfoque CTS em “Watchmen” e “Before Watchmen”, porém confiar que todos os
leitores serão assim é contra didático, o que os questionários revelaram é que uma
minoria dos acadêmicos envolvidos estava habituada a leitura de histórias em
quadrinhos, menos ainda com a leitura de histórias destinadas a leitores maduros.
5.3.3 A Ciência Apresentada Em Watchmen É De Fácil Compreensão?
As revistas flertam com vários conceitos ditos como científicos que vão desde
conhecimentos científicos reais até algo que poderia facilmente ser chamado de
fantasia científica. Dentre as informações científicas pautadas em conhecimento
científico real há conceitos que vão desde algo conhecido pelo público geral (mesmo
que de forma imprecisa) como a radiação até conceitos avançados como a
mecânica quântica, portanto grande parte do conhecimento científico presente em
Watchmen demanda algum conhecimento prévio para que seja compreendido ou até
identificado, como é o caso da radiação de Cherenkov que é citada no capítulo 3
desta dissertação e ilustrada na cor do personagem Dr. Manhattan.
Devido a isso pode ser dito que a ciência apresentada em Watchmen é muitas
vezes de difícil compreensão, porém com o acompanhamento de um professor pode
ser utilizada como ponto de partida para uma aula que aborda um grande leque de
conceitos científicos, sendo que os conceitos científicos de mais fácil identificação
na revista são a radiação e a fissão nuclear.
5.3.4 Apresentar Um Conteúdo Usando A HQ Watchmen Contribui Positivamente
Para O Ensino?
94
A intervenção realizada com os alunos focou no tema radiação e foi pautada
em grande parte em “Watchmen” e “Before Watchmen”, ou mais especificamente na
figura do Dr. Manhattan. Ao longo das aulas os alunos foram expostos à diversas
capaz das revistas e à alguns fragmentos da narrativa. Foi perceptível que alguns
dos conceitos presentes na revista foram complexos para alguns alunos e
precisaram ser explicados e complementados pelo pesquisador, porém
discussõespositivas com base no conhecimento prévio dos acadêmicos puderam se
desenvolver com base na capa abaixo.
Figura 16 Capa alternativa da revista "Before Watchmen - Dr. Manhattan vol.3".
Fonte: Straczynski; Hughes, 2012. Volúme único.
Os alunos expuseram seus conhecimentos prévios envolvendo o contexto
histórico da explosão das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, além de
95
discutir a respeito de seus conhecimentos científicos relacionados ao assunto, esta
foi uma das discussões mais proveitosas da intervenção.
Outro fragmento positivo das aplicações utilizando Watchmen foi um
momento de Watchmen na qual o personagem Dr. Manhattan é acusado de estar
causando câncer nas pessoas que convivem com o mesmo, este fragmento levou os
acadêmicos a discutirem inicialmente os efeitos da radiação ionizante em seres
humanos, relembrando o caso de Goiânia com o césio-137 (o caso já havia sido
mencionado na aula anteriormente), após isso o pesquisador utilizou a discussão
iniciada para discutir outros tipos de radiação e suas aplicações nas tecnologias
como na esterilização, na conservação de alimentos, nas radiografias e nos
tratamentos de câncer.
Com isto foi perceptível que a revista contribuiu positivamente para o ensino,
porém alguns recortes da narrativa são mais proveitosos e rendem discussões mais
ricas do que outros, o que ressalta o quão importante é para um professor que
trabalhe com mídias alternativas que este selecione meticulosamente o conteúdo a
ser trabalhado e prepare seus alunos antecipadamente para conteúdos mais
complexos.
5.3.5 Quais São Os Tópicos Envolvendo CTS Presentes Em Watchmen?
As revistas abrangem vários conceitos científicos, alguns que podem
facilmente ser encaixados no enfoque CTS e outros que não podem ser trabalhados
com este enfoque facilmente.
Um dos temas mais relevantes abordados pela revista e já levantado nesta
pesquisa anteriormente no capítulo 4 é a geração de energia limpa e renovável, um
desafio para cientistas até a atualidade. Watchmen trabalha a ideia de que com os
avanços tecnológicos trazidos ao universo ficcional da revista pelo personagem Dr.
Manhattan seria possível criar uma forma de energia nuclear limpa, uma
contrapartida para a energia nuclear existente na atualidade que gera uma grande
quantidade de resíduos nucleares e cujo destino é um desafio para diversos países
até a atualidade. Segundo o Nuclear Energy Institute (instituto de energia nuclear)
que fica localizado em Washington DC, capital dos Estados Unidos uma usina
nuclear gera em torno de 20 toneladas de resíduos nucleares por ano, para gerar a
mesma quantidade de energia com painéis solares seriam necessários
96
aproximadamente 243km² de painéis e com turbinas eólicas cerca de 600% mais
área que a solar enquanto a nuclear ocupa cerca de 1,5km², portanto fica claro que
países com altas demandas energéticas também precisariam de uma área
gigantesca para acomodar instalações de energia limpa além de altos custos de
instalação, o que acaba criando o dilema para a geração de energia em países
altamente industrializados ou com terreno e clima desfavoráveis para o uso de eólica
e solar.
Ainda assim, a geração de energia com usina nuclear gera resíduos
radioativos que precisam ser armazenado por um longo período (estimado entre 50
e 300 anos), geram calor e significam o risco de um vazamento radioativo, fazendo
com que a escolha entre as usinas também seja entre a energia limpa (renovável),
que demanda muito espaço, a nuclear que demanda tempo e os combustíveis
fósseis que emitem grandes quantidades de poluição.
Além da produção energética a revista aborda outro tema que pode ser
facilmente trabalhado com enfoque CTS e que já foi abordado nesta pesquisa (e
neste capítulo) várias vezes: radiação, tema este que pode ser facilmente abordado
em sala de aula utilizando exemplos da história recente.
5.3.6 Qual A Relevância Do Enfoque CTS Na Educação?
Por mais relevante que o enfoque CTS possa parecer para os pesquisadores
e educadores que conhecem o assunto é visível que é um assunto que ainda é
desconhecido por muitos mesmo dentro das universidades. Nos questionários
iniciais desta pesquisa 33% dos acadêmicos alegaram não saber o que é o enfoque
CTS, lembrando que são alunos do segundo semestre de um curso de licenciatura
em ciências, porém após a aplicação das aulas(nas quais eles foram apresentados
ao conceito de enfoque CTS) todos os alunos responderam que acreditam que o
enfoque CTS precisa ser mais presente nas disciplinas escolares do Brasil,
argumentando principalmente que o conhecimento da relação CTS ajuda um
cidadão a ter pensamento crítico a respeito da ciência.
O enfoque CTS é em sua essência interdisciplinar, como também foi
defendido por um dos acadêmicos que respondeu ao segundo questionário, portanto
o ensino com enfoque CTS pode contribuir para uma formação mais completa e com
saberes integrados por parte dos alunos, diferente de casos comuns nos quais o
97
ensino prepara o aluno para pensar em cada disciplina em separado, com pouca ou
nenhuma relação.
5.3.7 É Possível Compreender O Enfoque CTS Sem Um Amplo Conhecimento
Científico?
Existem várias possíveis abordagens do ensino com enfoque CTS e em
cada uma delas o papel da ciência pode ser mais ou menos importante, uma das
vertentes do CTS aplicada se chama CTS puro e é uma adaptação de um programa
de ensino universitário britânico para o ensino secundário, segundo Palacios et al.
(2003) o CTS puro deixa a ciência em um papel secundário, onde muitas vezes os
conceitos científicos não são explicados a fundo e o objetivo é ensinar para um
aluno o que é o enfoque CTS e como foi abordado no passado, para isso há um
ênfase na história da ciência, da sociologia da ciência e sociologia da tecnologia
para mostrar as ações tomadas e suas consequências.
O CTS puro costuma ser utilizado em ensinos voltados para indivíduos que
não tenham muito aprofundamento ou necessidade de se aproveitar nos aspectos
técnicos da ciência, portanto a resposta para a questão proposta na matriz dialógica
é: sim, é possível compreender o enfoque CTS sem um amplo conhecimento
científico.
Além do CTS puro Palácios menciona o “enxerto CTS” e a “ciência e
tecnologia através de CTS” que exigem maior conhecimento científico por parte dos
estudantes.
5.3.8 O Enfoque CTS Deve Provocar Adaptações No Ensino?
Durante a aplicação dos questionários foi percebido como muitos entram no
ensino superior sem saber o que é o enfoque CTS e como uma vez que o
entenderam o que é a relação CTS os acadêmicos e futuros professores ressaltaram
a importância do enfoque CTS no ensino.
O ensino nas escolas brasileiras é muitas vezes carente de relações CTS e
no lugar de trabalhar de forma interdisciplinar e interligada, cada tópico é trabalhado
isoladamente. Um professor dedicado a trabalhar com seus alunos com enfoque
98
CTS precisa deixar de lado este modo de ensino centralizado e ampliar os
conteúdos, explorando com seus alunos as relações existentes em cada fenômeno
abordado e teria a interdisciplinaridade como uma consequência inevitável, portanto,
o enfoque CTS necessita que o ensino seja adequado às suas necessidades.
5.3.9 Quais Dos Fatos Científicos Em Watchmen São Pautados Na Realidade?
Durante as abordagens que as revistas em quadrinho Watchmen e Before
Watchmen fazem em relação a conceitos científicos a maioria daquilo que é
explorado é pautado em conceitos científicos reais ou é uma adaptação fantasiosa
de conceitos reais enxergadas do ponto de vista de uma criatura onipotente, ainda
assim há na revista acontecimentos que não possuem qualquer embasamento por
parte da ciência.
A revista aborda radiação, a teoria de muitos mundos e até traz páginas
ilustrando o experimento mental do gato de Schrödinger, mas há também certos
recortes da narrativa que envolvem o personagem Dr. Manhattan que são totalmente
pautados na fantasia: o personagem é capaz de voltar e avançar no tempo, criar
diversos corpos ligados pela mesma consciência, modificar seu tamanho e até
mesmo desintegrar pessoas inteiras sem esforço algum.
Portanto pode-se dizer que as partes relacionados à radiações, à fissão ou
fusão nuclear, à teoria de muitos mundos e à mecânica quântica são pautadas na
realidade ou em teorias existentes, mas grande parte dos feitos do personagem são
fantasiosos.
5.3.10 Conhecimento Científico É O Suficiente Para Que Os Alunos Pensem No CTS?
O enfoque CTS precisa ser introduzido aos conteúdos trabalhados por um
aluno durante sua educação, afinal mesmo na academia há uma visão de ciência
como solução para todos os problemas.
A concepção clássica das relações entre a ciência e a tecnologia com a sociedade é uma concepção essencialista e triunfalista, que pode resumir-se em uma simples equação, o chamado “modelo linear de desenvolvimento”: +ciência =+tecnologia =+riqueza =+bem-estar social.
99
Tal concepção com frequência está presente em diversos espaços do mundo acadêmico e nos meios de divulgação. Em sua fundamentação acadêmica encontramos a visão clássica do positivismo acerca da natureza da ciência e sua mudança temporal, cuja formulação canônica procede do Positivismo Lógico, filosofia da ciência que surgiu durante os anos 20 e 30 do século 20 das mãos de autores como Rudolf Carnap, em aliança com as aproximações funcionalistas em sociologia da ciência que se desenvolvem desde os anos 40... (PALACIOS, et al. p.116, 2003)
O recorte do livro “introdução aos estudos CTS” elucida a linha de
pensamento de que ciência apenas traz benefícios, esta linha de pensamento é
frequente entre pessoas com pouco conhecimento científico, porém como Palacios
ressalta mesmo no meio acadêmico é comum que hajam pessoas que pensem isso,
portanto conhecimento científico sem direcionamento não faz com que os alunos
pensem nas relações CTS.
5.3.11 O Público Em Geral Se Interessa Pelos Aspectos Científicos De Uma Obra?
Nem toda narrativa trabalha com ênfase em conceitos científicos, por mais
que haja um público interessado na ciência abordada pela ficção – o que é melhor
exemplificado pelo gênero de narrativa: ficção científico – existem histórias que
abordam temas cotidianos, fantasiosos, misteriosos ou tantos outros sem em
momento algum abordar a ciência, portanto é possível deduzir que o público geral
nem sempre se interessa pelos aspectos científicos de uma obra, porém esta
questão pode vir a ser estudada de forma mais detalhada em artigos ou pesquisas
futuras.
5.3.12 Existem Maneiras Mais Eficientes De Abordar Ciência No Ensino?
Durante a intervenção realizada pelo pesquisador a ciência foi abordada
com o auxílio de vídeos e histórias em quadrinhos, esta abordagem diferenciada
despertou interesse por parte dos acadêmicos e os mesmos defenderam o uso de
mídias diferenciadas no ensino, além disso um professor de ciências pode trabalhar
com experimentos práticos, observação, relatos, simulações, há várias
possibilidades além da aula expositiva dialogada. Quanto à eficiência de trabalhar
ciência de outras maneiras podemos lembrar o que foi defendido por uma das
pessoas na questão 9 do segundo questionário: pessoas aprendem de maneiras
100
diferentes, alguns alunos podem ter facilidade para empreender com uma aula
expositiva dialogada, porém trazer outras alternativas pode ajudar a preencher as
lacunas que podem estar impedindo parte dos alunos de aprender.
5.3.13 O Que É Possível Ensinar Utilizando Watchmen Como Exemplo?
As revistas das séries Watchmen e Before Watchmen abordam conceitos
científicos mas também abordam a guerra do Vietnã, a guerra fria, o assassinato do
presidente norte americano John F. Kennedy, a segunda guerra mundial, alguns
conceitos filosóficos, a indústria cultural, a pop-art. Watchmen é o tipo de história
que aborda assuntos que estão em pontos opostos do conhecimento e cabe ao leitor
ter a bagagem necessária para captar estes conteúdos e utilizar em sala de aula.
5.3.14 O Ensino Tradicional Aborda O Enfoque CTS O Suficiente?
Segundo as pessoas que responderam os questionários o enfoque CTS é
importante para o ensino e é pouco trabalhado, conforme já discutido anteriormente
nesta pesquisa o enfoque CTS é muitas vezes deixado de lado no ensino regular e
os conteúdos são trabalhados isoladamente deixando de lado a interdisciplinaridade
e as relações CTS.
5.3.15 O Ensino De Ciência É De Fácil Compreensão Para Os Alunos? Se Não, Por
Quê?
É de senso comum que alguns conteúdos relacionados à ciência são de
difícil compreensão para muitos alunos, porém esta questão não foi suficientemente
abordada na pesquisa e por isso fica em aberto para abordagens futuras.
5.3.16 Os Métodos Comumente Utilizados No Ensino São Eficientes?
Existem diversas formas de trabalhar o conteúdo e a abordagem com a aula
expositiva dialogada ou com os livros didáticos não é necessariamente ineficiente,
porém existem outras maneiras de cativar o interesse dos alunos e de exemplificar o
101
conteúdo, não é porquê um método é tradicional e até certo ponto eficiente que não
se deva buscar um método melhor.
Vale também ressaltar que o perfil do indivíduo e do grupo também afetam o
resultado do trabalho do professor, certos alunos aprendem melhor ouvindo uma
explicação, outros lendo, outros observando, o mesmo vale para turmas, cabe ao
professor conhecer seu grupo e se adaptar, porém os materiais didáticos
diferenciados são outra chance de cativar e interessar justamente os alunos que
tendem a se dispersar durante uma aula expositiva tradicional.
5.5 CONSIDERAÇÕES SOBRE A APLICAÇÃO
Durante a aplicação dos questionários e as intervenções foi possível captar
diferentes impressões vinda dos acadêmicos, enquanto mais de 50% estavam
curiosos e abertos a essa abordagem diferenciada – mais interessados pela
metodologia apresentada do que pelas HQs selecionadas – alguns dos acadêmicos
aparentavam ter resistência à abordagem justamente pela utilização de histórias em
quadrinhos como material. Há um preconceito perceptível na acadêmica seja no
âmbito do estudo de artes seja do ensino quanto ao estudo de histórias em
quadrinhos ou a abordagens utilizando esta mídia, porém isto não se mostrou como
um obstáculo uma vez que ao longo das aplicações os alunos se mostraram
interessados e abertos.
Durante a comparação dos questionários foi possível constatar que alguns
acadêmicos que haviam demonstrado resistência haviam mudado de opinião
durante à abordagem, além disso as discussões levantadas ao longo das aulas
foram proveitosas e o uso de histórias em quadrinhos e outras mídias foi proveitoso
do ponto de vista dos alunos.
102
6 CONCLUSÃO
Durante o percurso da produção desta dissertação ficou evidente que as
histórias em quadrinhos podem sim ser utilizadas como material didático de forma
eficiente e atrativa aos estudantes, ainda assim é possível que haja resistência por
parte dos alunos com os quais o material é aplicado, como foi perceptível pelo
questionário.
Apesar da possível resistência o uso de histórias em quadrinhos como
materiais didáticos deveria ser incentivado pela possibilidade de elucidar um ponto
que poderia ser complexo ou abstrato se trabalhado de outras formas; como
defendido por Scott McCloud(1993) o quadrinho é uma colaboração entre o autor e o
leitor onde muitas vezes o leitor precisa preencher as lacunas ou seguir um certo
ritmo para captar a mensagem presente na obra, isto poderia facilmente ser visto
como uma falha neste meio mas torna a interação entre autor e público mais
democrática e imersiva.
Ao longo desta pesquisa as revistas Watchmen e Before Watchmen – Dr.
Manhattan foram analisadas como possível material de apoio para o ensino de física
com enfoque CTS, ao longo da análise das revistas e da intervenção com os
acadêmicos ficou perceptível o potencial das obras de Alan Moore e J. Michael
Straczynski para o ensino voltado para alunos que já possuam maturidade para lidar
com a linguagem e os temas presentes na revista, contanto que haja uma
intervenção por parte do professor focada principalmente em elucidar detalhes dos
temas trabalhados partindo do pressuposto de que nem todos os alunos envolvidos
possuem a leitura visual bem desenvolvida ou o conhecimento prévio necessário à
compreensão dos temas presentes nas revistas, no fim das contas a revista em
quadrinho age como um ótimo complemento ao conteúdo, abrangendo aos alunos
que possuem dificuldade em aprender da maneira convencional.
Com o auxílio das respostas providas pelos acadêmicos que toparam
responder os comentários e participar das aulas foi possível responder a maioria das
questões propostas na elaboração da matriz dialógica, tanto questionários quanto
matriz, em conjunto com as revistas serviram como base para a elaboração do
produto referente a esta dissertação: um material paradidático ilustrado na forma de
histórias em quadrinhos que utiliza trechos das revistas estudadas para o ensino de
103
física com enfoque CTS, o material possui desenhos de autoria do pesquisador e
recortes de artigos, notícias e das histórias em quadrinhos em questão, com o intuito
de ampliar o público atingido e fazer com que o material seja de fácil compreensão
tanto para quem conhece Watchmen e sua história derivativa e para quem não
conhece nenhuma das histórias em questão, partindo dos comentários dos
questionários que destacavam a necessidade de haver uma contextualização mais
detalhada e cuidadosa para os alunos não afeiçoados às mídias escolhidas.
Portanto ao longo desta dissertação foi possível responder à pesquisa proposta no início desta produção: Como a série de revistas Watchmen e a série Before Watchmen – Dr. Manhattan podem ser utilizadas no ensino de física com enfoque CTS?
A resposta da forma mais direta o possível é: Com trechos selecionados
previamente que possam levantar informações ou discussões relacionadas ao
conteúdo a ser trabalhado em conjunto com menções a casos reais, citação de
autores da área e contextualização e simplificação dos temas de forma à
democratizar o acesso à informação exposta.
Esta pesquisa tenta fazer isso a partir do produto que foi elaborado ao longo
desta dissertação, seguindo o objetivo geral: "criar material que possibilite utilizar fragmentos de Watchmen e Before Watchmen – Dr. Manhattan para auxiliar no ensino de física com enfoque CTS.". O produto gerado é uma história
em quadrinhos de 9 páginas que busca falar para um público geral sobre os riscos e
os benefícios de tecnologias que utilizam elementos radioativos ou radiações em
geral, o produto possui o título "Entendendo a radioatividade - com a ajuda de
Watchmen" e mistura um estilo ilustrativo simples e cartunizado combinado com
recortes de Watchmen e Before Watchmen, fazendo com que o trabalho elaborado
ao longo desta dissertação tenha dado frutos com esta pequena história em
quadrinhos, fazendo com que todo o trabalho tenha valido a pena.
104
REFERÊNCIAS BAZZO, Walter Antonio; et al. Educação Tecnológica: enfoques para o ensino de engenharia. Florianópolis: EDUFSC, 2008. CORDENONSI, Andre Zanki; et al. A matriz dialógica prometizadora como uma estrutura para o exame e a discussão temática de uma disciplina de graduação mediada por tecnologia. UFSM. Santa Maria, 2008. DOMINGUINI, Lucas; et al. O ensino de ciências em escolas da rede pública: limites e possibilidades. Caderno de Pesquisa em Educação – PPGE/UFES, vol. 18, nº36. Vitória, 2012. DC COMICS. Dave Gibbons, Disponível em: http://www.dccomics.com/talent/dave-gibbons. Acesso em 10 de Julho de 2016. DC COMICS. J Michael Straczynski. Disponível em: http://www.dccomics.com/talent/j-michael-straczynski. Acesso em 10 de Julho de 2016. EISNER, Will. Quadrinhos e arte sequencial. 1ª edição brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 1989. GUIMARÃES, Denise. Histórias em quadrinhoss e cinema: adaptações de Frank Miller e Alan Moore. Curitiba: Autores Paranaenses, 2012. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. JUSTSAYAH. Biography. Disponível em: http://www.justsayah.com/. Acesso em 10 de Julho de 2016. KAKALIOS, James. The physics of superheros. Electronic Edition: September 2005. Gotham Books, 2005. KRAKHECKE, Carlos André. Representações da Guerra Fria nas Histórias em quadrinhoss Batman – O Cavaleiro das Trevas e Watchmen (1979 – 1987). Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas: Porto Alegre, 2009. MCCLOUD, Scott. Desvendando os quadrinhos. São Paulo: Makron Books, 1995. MIQUELIN, Awdry Feisser. Contribuições dos Meios Tecnológicos Comunicativos para o Ensino de Física na Escola Básica. UFSC, 2009. MOORE, Alan; GIBHONS, Dave. Watchmen. 1ª Edição. Vertigo, 1986. NOVAK, Joseph D. Aprender a aprender. 1 ª Edição. Lisboa: Gabinete Técnico da Plâtano Editora, 1996.
105
NUCLEAR ENERGY INSTITUTE. Land needs for wind, solar, dwarf nuclear plant's footprint. Disponível em: https://www.nei.org/News-Media/News/News-Archives/Nuclear-Power-Plants-Are-Compact,-Efficient-and-Re. Acesso em 10 de Agosto de 2017. NÚÑEZ, Isauro Béltran; et al. Uma reflexão em relação ao estudo da mecânica quântica: o caso do principio da incerteza. Revista Ibero-Americana de Educação. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2009. OKUNO, Emico; YOSHIMURA, Elisabeth. Física das radiações. Oficina de textos: São Paulo, 2010. OMELETE. Temas: Alan Moore. Disponível em: https://omelete.uol.com.br/alan-moore/. Acesso em 10 de Julho de 2016. OSTERMANN, Fernanda; PRADO, Sandra Denise. Interpretações da mecânica quântica em um interferômetro virtual de Mach Zehder. Revista Brasileira do Ensino de Física, vol. 27. Porto Alegre: Brasil, 2005. PALACIOS, Eduardo Marino García; et al. Introdução aos estudos CTS (Ciência, tecnologia e sociedade). Cadernos de Ibero-América. 2003. PERES, Marcos Vinicius. Utilização da história em quadrinhos Watchmen, em uma aula de equivalência massa-energia no ensino médio. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2014. POSTMAN, Neil. Tecnopólio: a rendição da cultura à tecnologia. São Paulo: Nobel, 1994. RIBEIRO, Maria Clotilde Meirelles; BAIARDI, Amilcar. Cooperação internacional em ciência e tecnologia: Refletindo conceitos e questões contemporâneas. Contexto Internacional, vol.36, nº 2. Rio de Janeiro, 2014. SILVA, Allyson Ewerton Vila Nova. Um estudo sociolinguístico das histórias em quadrinhoss na educação a distância. Universidade Católica de Pernambuco. Recife, 2011. SILVA, Vinícius Costa e; et al. A influência das tecnologias na sociedade – o debate realizado em uma escola pública do município de Anápolis, Goiás – Brasil. Colabor@ - Revista Digital da CVA, vol. 8, nº 31. 2014. SOUZA, Líria Alves de. "Acidente com césio-137"; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/quimica/acidente-cesio137.htm>. Acesso em 15 de Maio de 2016. STRACZYNSKI, J. Michael. HUGHES, Adam. Before Watchmen – Dr. Manhattan. Edição brasileira. Vertigo, 2012.
106
VASCONCELLOS, Erlete Sathler de. Abordagem de questões socioambientais por meio de tema CTS: Análise prática pedagógica no ensino médio de química e proposição de atividades. Universidade de Brasília. Brasília, 2008. ZAPONNE, Mirian Hisae Yaegashi; et al. Leitura ficcional feita por adolescentes: compasso e descompasso entre escola e vida social. Universidade Federal da Grande Dourados: Raído, MS, v.8 n.17. Dourados, 2014.
107
ANEXO I
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) e TERMO DE CONSENTIMENTO PARA USO DE IMAGEM E SOM DE VOZ
(TCUISV) PARA OS RESPONSÁVEIS Título da pesquisa: As engrenagens de Manhattan : Utilizando Watchmen para o ensino de física com enfoque CTS. Pesquisador: Fábio Clavisso Fernandes Rua Júlia Vanderlei, n° 896 - Centro CEP: 84010-170 - Ponta Grossa - Paraná Tel: (42) 99810-4199 Orientador: Prof. Dr. Awdry Feisser Miquelin Local de realização da pesquisa: Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Endereço, telefone do local: Av. Monteiro Lobato s/n – km 04. Ponta Grossa – PR. Tel: (42) 3220-4800 A) INFORMAÇÕES AO PARTICIPANTE 1. Apresentação da pesquisa A presente pesquisa pretende investigar as discussões com teor científico e enfoque CTS presentes nas revistas da série Watchmen de Alan Moore e posteriormente de J. Michael Straczynski. Além disso esta revista procura analisar e discutir a eficiência das histórias em quadrinho como material didático com o objetivo de elaborar um material neste formato. 2. Objetivos da pesquisa O principal objetivo desta pesquisa é investigar os conceitos da física presentes nas revistas da série Watchmen e discutir como este e outros materiais podem ser utilizados para ensinar física com enfoque CTS. 3. Participação na pesquisa Para o desenvolvimento do estudo, participarão alunos matriculados no 1º ano do curso de licenciatura interdisciplinar em ciências naturais, os quais poderão
108
participar ativa e passivamente da pesquisa, primeiramente atuando como alunos e posteriormente podem fazer sugestões e observações para o material final. O pesquisador coloca-se à disposição para qualquer esclarecimento decorrente da pesquisa e em caso de problemas relacionados a esta haverá garantia de assistência pedagógica, de modo a garantir a efetivação dos processos de ensino dos alunos envolvidos nesta pesquisa. 4. Confidencialidade As informações desta pesquisa serão confidenciais e serão divulgadas na dissertação de mestrado da pesquisadora, congressos, eventos científicos, palestras ou periódicos científicos, sem que haja identificação dos participantes, sendo assegurado total sigilo e confidencialidade dos dados pesquisados.
5. Desconfortos, Riscos e Benefícios 5a) Desconfortos e ou Riscos: Os participantes da pesquisa poderão sofrer, mesmo que minimamente, o risco de não adequação à abordagem metodológica de ensino proposta pelos estudos, desconforto ou constrangimento na emissão de suas opiniões e experiências ao responderem o questionário sobre práticas de ensino destinado aos professores e participação nas atividades propostas. O pesquisador assumirá a responsabilidade por quaisquer situações não previstas anteriormente e que sejam decorrentes da participação no Projeto. 5b) Benefícios: Os benefícios da presente pesquisa poderão ser observados no avanço conceitual da aprendizagem dos acadêmicos participantes, bem como na possibilidade de utilização de uma abordagem metodológica diferenciada para o ensino de Ciências. 6. Critérios de inclusão e exclusão 6a) Inclusão: Serão incluídos na amostra de pesquisa alunos com idades a partir de 17 anos, matriculados no 1° ano do curso de licenciatura interdisciplinar em ciências naturais da instituição supracitada, bem como professores da instituição de ensino pesquisada. 6b) Exclusão: Serão excluídos desta amostra acadêmicos e docentes que não desejarem participar desta pesquisa. 7. Direito de sair da pesquisa e a esclarecimentos durante o processo A pesquisa tem caráter voluntário e garantirá aos participantes o direito de retirar-se da pesquisa a qualquer momento sem aplicação de pena ou punição, com garantia de preservação da identidade e dos dados pesquisados. 8. Ressarcimento ou indenização Não haverá nenhum tipo de ônus ou bônus decorrente da participação nesta pesquisa. Para os casos em que haja necessidade, a indenização será de acordo com o previsto em lei pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.
109
B) CONSENTIMENTO Eu, responsável legal pelo(a) aluno(a) matriculado no 1° ano do curso de licenciatura interdisciplinar em ciências naturais da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, declaro ter conhecimento das informações contidas neste documento e ter recebido respostas claras às minhas questões a propósito da participação de meu filho e/ou dependente legal na pesquisa e, adicionalmente, declaro ter compreendido o objetivo, a natureza, os riscos e benefícios deste estudo. Autorizo a participação voluntária de meu dependente legal, permitindo que os pesquisadores relacionados neste documento obtenham fotografia, filmagem ou gravação de voz para fins de pesquisa científica/educacional. As fotografias, vídeos e gravações ficarão sob a propriedade do grupo de pesquisadores pertinentes ao estudo e sob sua guarda. Concordo que o material e as informações obtidas relacionadas possam ser publicados em aulas, congressos, eventos científicos, palestras ou periódicos científicos. Porém, sem que haja identificação por nome ou qualquer outra forma. Estou consciente de que posso interromper a participação de meu responsável legal nesta pesquisa, a qualquer momento, sem nenhum prejuízo ou punição, tendo os dados preservados e mantidos em sigilo pela pesquisadora. Nome completo do responsável: ________________________________________ RG:_____________________ Data de Nascimento:___/___/______ Telefone:__________________ Nome completo do aluno ou dependente:_________________________________ Endereço:_________________________________________________________________________CEP:___________________Cidade:____________________ Estado: ________________________
Assinatura:
________________________________
Data: ___/___/______
Eu declaro ter apresentado o estudo, explicado seus objetivos, natureza, riscos e benefícios e ter respondido da melhor forma possível às questões formuladas. Assinatura do pesquisador: _______________ (ou seu representante)
Data: ___/___/______
Nome completo:________________________________________________ Para todas as questões relativas ao estudo ou para se retirar do mesmo, poderão se comunicar com Fábio Clavisso Fernandes, via e-mail: [email protected] ou telefone (42) 99810-4199. OBS: Este documento deve conter duas vias iguais, sendo uma pertencente ao pesquisador e outra ao sujeito de pesquisa.
110
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE) e TERMO DE CONSENTIMENTO PARA USO DE IMAGEM E SOM DE VOZ
(TCUISV) PARA OS ALUNOS
Título da pesquisa: As engrenagens de Manhattan : Utilizando Watchmen para o ensino de física com enfoque CTS. Pesquisador: Fábio Clavisso Fernandes Rua Júlia Vanderlei, n° 896 - Centro CEP: 84010-170 - Ponta Grossa - Paraná Tel: (42) 99810-4199 Orientador: Prof. Dr. Awdry Feisser Miquelin Local de realização da pesquisa: Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Endereço, telefone do local: Av. Monteiro Lobato s/n – km 04. Ponta Grossa – PR. Tel: (42) 3220-4800 C) INFORMAÇÕES AO PARTICIPANTE 1. Apresentação da pesquisa A presente pesquisa pretende investigar as discussões com teor científico e enfoque CTS presentes nas revistas da série Watchmen de Alan Moore e posteriormente de J. Michael Straczynski. Além disso esta revista procura analisar e discutir a eficiência das histórias em quadrinho como material didático com o objetivo de elaborar um material neste formato. 2. Objetivos da pesquisa O principal objetivo desta pesquisa é investigar os conceitos da física presentes nas revistas da série Watchmen e discutir como este e outros materiais podem ser utilizados para ensinar física com enfoque CTS. 3. Participação na pesquisa Para o desenvolvimento do estudo, participarão alunos matriculados no 1º ano do curso de licenciatura interdisciplinar em ciências naturais, os quais poderão participar ativa e passivamente da pesquisa, primeiramente atuando como alunos e posteriormente podem fazer sugestões e observações para o material final.
111
O pesquisador coloca-se à disposição para qualquer esclarecimento decorrente da pesquisa e em caso de problemas relacionados a esta haverá garantia de assistência pedagógica, de modo a garantir a efetivação dos processos de ensino dos alunos envolvidos nesta pesquisa. 4. Confidencialidade As informações desta pesquisa serão confidenciais e serão divulgadas na dissertação de mestrado da pesquisadora, congressos, eventos científicos, palestras ou periódicos científicos, sem que haja identificação dos participantes, sendo assegurado total sigilo e confidencialidade dos dados pesquisados. 5. Desconfortos, Riscos e Benefícios 5a) Desconfortos e ou Riscos: Os participantes da pesquisa poderão sofrer, mesmo que minimamente, o risco de não adequação à abordagem metodológica de ensino proposta pelos estudos, desconforto ou constrangimento na emissão de suas opiniões e experiências ao responderem o questionário sobre práticas de ensino destinado aos professores e participação nas atividades propostas. O pesquisador assumirá a responsabilidade por quaisquer situações não previstas anteriormente e que sejam decorrentes da participação no Projeto. 5b) Benefícios: Os benefícios da presente pesquisa poderão ser observados no avanço conceitual da aprendizagem dos acadêmicos participantes, bem como na possibilidade de utilização de uma abordagem metodológica diferenciada para o ensino de Ciências. 6. Critérios de inclusão e exclusão 6a) Inclusão: Serão incluídos na amostra de pesquisa alunos com idades a partir de 17 anos, matriculados no 1° ano do curso de licenciatura interdisciplinar em ciências naturais da instituição supracitada, bem como professores da instituição de ensino pesquisada. 6b) Exclusão: Serão excluídos desta amostra acadêmicos e docentes que não desejarem participar desta pesquisa. 7. Direito de sair da pesquisa e a esclarecimentos durante o processo A pesquisa tem caráter voluntário e garantirá aos participantes o direito de retirar-se da pesquisa a qualquer momento sem aplicação de pena ou punição, com garantia de preservação da identidade e dos dados pesquisados. 8. Ressarcimento ou indenização Não haverá nenhum tipo de ônus ou bônus decorrente da participação nesta pesquisa. Para os casos em que haja necessidade, a indenização será de acordo com o previsto em lei pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.
A) CONSENTIMENTO
112
Eu declaro ter conhecimento das informações contidas neste documento e ter recebido respostas claras às minhas questões a propósito da minha participação direta (ou indireta) na pesquisa e, adicionalmente, declaro ter compreendido o objetivo, a natureza, os riscos e benefícios deste estudo. Após reflexão e um tempo razoável, eu decidi, livre e voluntariamente, participar deste estudo, permitindo que os pesquisadores relacionados neste documento obtenham fotografia, filmagem ou gravação de voz de minha pessoa para fins de pesquisa científica/educacional. Concordo que o material e as informações obtidas relacionadas à minha pessoa possam ser publicados em aulas, congressos, eventos científicos, palestras ou periódicos científicos. Porém, não devo ser identificado por nome ou qualquer outra forma. As fotografias, vídeos e gravações ficarão sob a propriedade do grupo de pesquisadores pertinentes ao estudo e sob sua guarda. Estou consciente de que posso deixar o projeto a qualquer momento, sem nenhum prejuízo ou punição, tendo meus dados preservados e mantidos em sigilo pela pesquisadora. Nome completo:_____________________________________________________ RG:_____________________ Data de Nascimento:___/___/______ Telefone:__________________ Endereço:_________________________________________________________________________CEP:______________Cidade:______________Estado: ______
________________________________
Assinatura:
Data: ___/___/______
Eu declaro ter apresentado o estudo, explicado seus objetivos, natureza, riscos e benefícios e ter respondido da melhor forma possível às questões formuladas. Assinatura do pesquisador: ________________ (ou seu representante)
Data: ___/___/______
Nome completo:____________________________________________________ Para todas as questões relativas ao estudo ou para se retirar do mesmo, poderão se comunicar com Fábio Clavisso Fernandes, via e-mail: [email protected] ou telefone (42) 99810-4199. OBS: Este documento deve conter duas vias iguais, sendo uma pertencente ao pesquisador e outra ao sujeito de pesquisa.
113
ANEXO II Nome: Formação acadêmica: Data: *O nome das pessoas envolvidas nesta pesquisa não será divulgado, mas sim substituído por um código numérico. 1 – Você consome histórias em quadrinhos? Se sim, com qual frequência? Se não, por que não? [ ] Sim [ ] Não ________________________________________________________________________________ 2 – Você acredita que as histórias em quadrinhos tem potencial educativo? [ ] Sim [ ] Sim, mas só se for feita para este fim [ ] Não 3 – Você acredita que uma história ficcional pode ser utilizada no ensino? Justifique. [ ] Sim [ ] Não ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4 – Você é familiarizado com a série de histórias em quadrinhos ou o filme “Watchmen”? [ ] Sim, com ambos. [ ] Sim, só com ____________. [ ] Não. 5 – Você é familiarizado com a série de histórias em quadrinhos “Before Watchmen”? [ ] Sim [ ] Não 6 – Você sabe o que é enfoque CTS? [ ] Sim [ ] Não 7 – Você acha que o enfoque CTS é importante no ensino? Por favor, justifique. [ ] Sim [ ] Não ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8 – Você acha que o enfoque CTS é abordado no ensino? [ ] Sim, o suficiente [ ] Sim, mas pouco ou de forma ineficaz [ ] Não 9 – Em Watchmen e Before Watchmen – Dr. Manhattan um assunto frequente é: os usos de materiais radioativos e o efeito destes materiais. Você acha que este é um assunto abordado de forma eficaz no ensino? [ ] Sim [ ] Não 10 – Você acredita que este seja um assunto importante para um cidadão, mesmo que este cidadão não trabalhe em algo diretamente relacionado a isso? Justifique. [ ] Sim [ ] Não ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 11 – Você concorda em participar de uma aula de física com enfoque CTS que utiliza histórias em quadrinho para falar sobre Radioatividade? [ ] Sim [ ] Não
114
ANEXO III Nome: Formação acadêmica: Data:
*O nome das pessoas envolvidas nesta pesquisa não será divulgado, mas sim
substituído por um código numérico. 1 – Você acha que receber parte do conteúdo na forma de histórias em quadrinho foi benéfico para a aula? Justifique. [ ] Sim [ ] Não
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
__________________________ 2 – Você acredita que as histórias em quadrinhos tem potencial educativo? [ ] Sim [ ] Sim, mas só se for feita para este fim [ ]
Não 3 – Você acredita que uma história ficcional pode ser utilizada no ensino? Justifique. [ ] Sim [ ] Não ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4 – Antes desta aula, você conhecia o caso das Garotas Radioativas de Nova Jersey? E o caso dos produtos 'enriquecidos' com radiação no início do século XX?
[ ] Sim, ambos [ ] Sim, só um: ____________________________ [ ]
Não 5 – Antes desta aula, você conhecia o caso do acidente com Césio-137 em Goiânia? [ ] Sim [ ] Sim, mas não em detalhes [ ] Não 6 – Você acredita que se as pessoas envolvidas nos casos das questões 4 e 5 tivessem uma educação com enfoque CTS, estas catástrofes poderiam ter sido evitadas? Justifique. [ ] Sim [ ] Não
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
__________________________
115
7 – Você acha que Radioatividade é um assunto importante para se ensinar a um cidadão, mesmo que este não trabalhe com algo diretamente relacionado a isso? Justifique. [ ] Sim [ ] Não
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
__________________________ 8 – Você acha que o enfoque CTS precisa ser mais presente nas disciplinas escolares do Brasil? Justifique. [ ] Sim [ ] Não [ ] Só a partir desta faixa etária:
______
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
__________________________ 9 – Você acha que o uso de materiais didáticos diferenciados representam uma melhora ou piora do ensino? Justifique. [ ] Melhora [ ] Piora [ ] Não faz diferença [ ] Apenas em certos
conteúdos e idades (cite exemplos)
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
__________________________ 10 – Você tem alguma sugestão ou crítica para a forma como a aula foi ministrada? ___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
_______________________________________ 11 – Você tem alguma sugestão ou crítica para a abordagem desta pesquisa?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
_______________________________________