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ESCOLA DE CINEMA DARCY RIBEIRO. DIREITOS RESERVADOS CADERNOS DE TEXTOS DA ESCOLA DE CINEMA DARCY RIBEIRO TEXTOS PARA USO EM SALA DE AULA PELOS ALUNOS DO PRIMEIRO MÓDULO DOS NÚCLEOS DE ROTEIRO, MONTAGEM E DIREÇÃO As vanguardas cinematográficas Adriana Cursino Introdução: Na Europa, no final da década de 1910 e com mais intensidade nos anos 1920, desenvolveu-se, principalmente na França e na Alemanha, um diálogo estreito entre pintores, artistas plásticos, escritores e cineastas que resultou no chamado movimento de van- guarda. [O termo “vanguarda” foi usado no contexto mili- tar no século XII, tornou-se político no século XIX e depois foi transposto para o campo cultural. A noção de arte de vanguarda foi muito atuante no início do século XX para qualificar formas de ex- perimentação figurativa e representativa, sobretudo nas artes plásticas.] O primeiro movimento de vanguarda que mudou a arte européia, no início do século XX foi o Fauvismo, carac- terizado pelo no uso intenso de cores brilhantes, puras e sem matizes. O nome “Fauves” (feras, selvagens) foi aplicado aos artistas que utilizavam as cores sem um propósito descritivo. Suas composições eram, em geral, frenéticas e com cores vivas que muitas vezes saíam di- retamente dos tubos de tinta. A idéia por trás desta prá- tica era empregar livremente cor e dar forma de acordo com o instinto e a emoção do pintor. Deste modo, o fau- vismo rompe com a pintura acadêmica tradicional. Nas obras destes pintores, as figuras são apenas sugeri- das e representadas de modo subjetivo e abstrato. O Fau- vismo atingiu o seu apogeu em 1905, sob influência de Van Gogh (1853 – 1890) e Paul Gauguin (1848-1903). O grupo dos Fauves era composto por Henri Matisse (1869 - 1954), Maurice Vlamink (1876 - 1958) e André Derain (1880 - 1954), entre outros. O futurismo, o cubismo, o expressionismo, o dadaísmo e o surrealismo são denominações de movimentos artís- ticos pós-impressionistas que eclodiram em toda Europa no início do século XX, com maior aderência às artes plásticas. Esses movimentos afirmavam uma nova atitude peran- te a vida rompendo com a arte do passado através de uma nova abordagem da representação da realidade. Os pós-impressionistas propunham “o mundo da não-repre-

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CADERNOS DE TEXTOS DA ESCOLA DE CINEMA DARCY RIBEIROTEXTOS PARA USO EM SALA DE AULA PELOS ALUNOS DO PRIMEIRO MÓDULO DOS NÚCLEOS DE ROTEIRO, MONTAGEM E DIREÇÃO

As vanguardas cinematográficas

Adriana Cursino

Introdução: Na Europa, no final da década de 1910 e com mais intensidade nos anos 1920, desenvolveu-se, principalmente na França e na Alemanha, um diálogo estreito entre pintores, artistas plásticos, escritores e cineastas que resultou no chamado movimento de van-guarda.

[O termo “vanguarda” foi usado no contexto mili-tar no século XII, tornou-se político no século XIX e depois foi transposto para o campo cultural. A noção de arte de vanguarda foi muito atuante no início do século XX para qualificar formas de ex-perimentação figurativa e representativa, sobretudo nas artes plásticas.]

O primeiro movimento de vanguarda que mudou a arte européia, no início do século XX foi o Fauvismo, carac-terizado pelo no uso intenso de cores brilhantes, puras

e sem matizes. O nome “Fauves” (feras, selvagens) foi aplicado aos artistas que utilizavam as cores sem um propósito descritivo. Suas composições eram, em geral, frenéticas e com cores vivas que muitas vezes saíam di-retamente dos tubos de tinta. A idéia por trás desta prá-tica era empregar livremente cor e dar forma de acordo com o instinto e a emoção do pintor. Deste modo, o fau-vismo rompe com a pintura acadêmica tradicional.Nas obras destes pintores, as figuras são apenas sugeri-das e representadas de modo subjetivo e abstrato. O Fau-vismo atingiu o seu apogeu em 1905, sob influência de Van Gogh (1853 – 1890) e Paul Gauguin (1848-1903). O grupo dos Fauves era composto por Henri Matisse (1869 - 1954), Maurice Vlamink (1876 - 1958) e André Derain (1880 - 1954), entre outros.O futurismo, o cubismo, o expressionismo, o dadaísmo e o surrealismo são denominações de movimentos artís-ticos pós-impressionistas que eclodiram em toda Europa no início do século XX, com maior aderência às artes plásticas. Esses movimentos afirmavam uma nova atitude peran-te a vida rompendo com a arte do passado através de uma nova abordagem da representação da realidade. Os pós-impressionistas propunham “o mundo da não-repre-

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sentação”. Estes movimentos serviram como estímulo e referência aos cineastas da vanguarda. Abaixo, veremos alguns exemplos de vanguardas cinematográficas.Construtivismo russo: O construtivismo russo no cine-ma tinha como objetivo guiar os processos mentais dos espectadores de modo que o efeito do filme alcançasse uma consciência de revolução. O meio dos filmes alcan-çarem os objetivos revolucionários era através da mon-tagem que ganhava novos conceitos. Os filmes deveriam afetar não somente pelas suas imagens, mas principal-mente pelo modo como eram combinadas. A Revolução de Outubro de 1917 influi diretamente na vanguarda soviética e define o construtivismo russo que

entendia que as artes deveriam estar a serviço do Estado. Neste contexto, o cinema soviético passa a existir como um instrumento de difusão dos ideais revolucionários. Vladimir Lênin (1870 - 1924) foi o primeiro estadista a reconhecer o poder do cinema junto às massas e a for-necer estúdios, câmeras, película e outros recursos aos jovens grupos de vanguarda. Seu objetivo era, através do cinema, difundir e ensinar os ideais e valores comu-nistas para a grande massa. A dimensão estética do filme como experiência cine -matográfica aparece pela primeira vez ordenada pelos cineastas russos Vsevolod Pudovkin, Serguei Eisenstein e Dziga Vertov.Todos estes experimentos introduziram no campo do ci-nema um interesse pelos modos sensoriais e pelas rela-ções do espectador com a imagem. Nesse sentido, a rela-ção com um tipo de narrativa linear e imagens objetivas das cenas passam a não ser fundamentais.

Lev Kulechov (1899-1970): fundador da escola de cinema de Moscou e do primeiro curso de direção cinematográfica em 1920. Seu curso consistia na pesquisa das leis específicas do cinema a partir das investigações sobre a expressividade cinematográ-fica. Kulechov desenvolveu uma concepção do ci-nema como instrumento poderoso de ação sobre o seu espectador.

O construtivismo russo tinha como característica a ad-miração pelas máquinas que simbolizavam o progresso;

Henri Matisse

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da no Exército Vermelho, torna-se caricaturista e, a partir de 1921, trabalha como cenógrafo no tea-tro moscovita. No cinema, sua teoria da montagem (duas imagens sucessivas provocam uma significa-ção) já está presente em seu primeiro filme, Greve, de 1924. Ganha força com a utilização simbólica do ritmo e de planos longos em O encouraçado Potemkin, de 1925, sua obra-prima, em homena-gem à Revolução Russa. Outubro (1927) e Ivan, o terrível (1945) também são reconhecidos como marcos do cinema mundial.

a valorização da tecnologia moderna em oposição ao sentimentalismo pós-romântico; a autenticidade do fato e o compromisso de representar uma nova sociedade. O cineasta Sergei Eisenstein (1898-1948) criou um mé-todo cinematográfico onde as cenas ficariam inseridas num conjunto de imagens que combinadas, estimula-riam a produção de efeitos emocionais e os impactos ne-cessários para tornar claro as significações e os valores propostos pelos espetáculos. Essa busca de Eisenstein pelos estímulos corretos e precisos que operassem no espectador as reações desejadas está na origem dos seus estudos teóricos sobre a montagem.Eisenstein criou para o cinema um sistema em que todos os elementos seriam iguais e comensuráveis: ilumina-ção, composição, história, interpretação e até mesmo as legendas deveriam estar inter-relacionadas. Eisenstein transforma a montagem de atrações em método para produção de um cinema proletário. Seu filme Outubro (1927) é o resultado da aplicação do novo método de montagem chamado “montagem intelectual”. A montagem intelectual ou ideológica é uma operação com um objetivo descritivo que consiste na aproxima-ção de planos a fim de comunicar um ponto de vista, um sentimento ou um conteúdo ideológico ao espectador.

Serguei Eisenstein (1898-1948), diretor russo de grande expressão mundial, é considerado o grande inovador da montagem cinematográfica. Estudou engenharia e prestou serviço militar em 1917. Ain- O encouraçado Potemkin, 1925, Sergei Eisenstein

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Diferente de Eisenstein, Pudovkin utilizava um único personagem para produzir catarse em seu público acom-panhando passo a passo sua consciência psicológica. Pudovkin determinou que o cineasta poderia, através da história e da psicologia do personagem, criar uma sua-ve sucessão de imagens que levariam o espectador em direção a um completo evento narrativo, isto é, a um sentido do mundo que poderia ser ampliado e liberado pela montagem meticulosa.

Vsevolod Pudóvquim (1893-1953) realizou algu-mas importantes obras como: A mãe, (1926) e O Fim de São Petersburgo (1927). Pudóvquim deu grande relevo à figura dos heróis, distinguindo-se de Eisenstein, que pretendia ver na massa seu único herói.

Dziga Vertov (1898-1954) sempre esteve ligado à po-esia e à música. Durante a adolescência experimentou o som, investigações que se manteriam ativas em suas criações cinematográficas. Durante a Revolução de Ou-tubro e suas agitações culturais, decidiu apresentar-se ao comitê e passou a trabalhar no cine-jornal semanal mon-tando filmes “agtiks” curtos de propaganda destinados aos “trens de propaganda” que percorriam as províncias e visitavam o front onde estavam camponeses e solda-dos do exército. Os filmes curtos de propaganda tinham grande importância na guerra que estava em curso como estímulo e propaganda da nova sociedade comunista.Vertov fazia nos seus filmes uma profunda análise da re-alidade e acreditava no cinema como um meio poderoso

de reconstruir o mundo suplantando suas imperfeições. O filme que sintetiza suas concepções cinematográficas é O homem com a câmera (1929). Em 1921, Vertov fundou o grupo Kinoglaz (cinema-olho) onde realizou documentários do cotidiano soviético sem a presença de atores ou de estúdios, com filmagens ao ar livre e um cuidadoso trabalho de montagem. Vertov deu prossegui-mento às suas experiências formulando o conceito de “montagem criadora”.

[Dziga Vertov criou as teorias do Kinopravda (ci-nema-verdade) em 1922. Para Vertov, o cinema era um meio de comunicação infalível. Nascia a idéia de que a câmera de filmar mostraria melhor o mun-

O homem com a câmera, 1929, Dziga Vertov.

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do do que o olho humano poderia ver. O que o cine-asta teria que fazer era compor as imagens e sons a fim de conseguir compor um mundo ideal para ser visto como real. No final de 1922, Vertov constitui o “Conselho dos três”, um manifesto que defende a idéia de filmar tudo o que o olho vê, e montar o que é necessário eliminando o que não era essencial.]Dziga Vertov (1896-1954): Nasceu na Polônia quando ainda era uma província ligada a Rússia czarista. Com a 1ª guerra mundial, Vertov mudou-se com sua família para Moscou. Estudou medicina e deu continuidade às suas pesquisas sobre capta-ção de som. Suas investigações tinham proximida-de com o futurismo. Tornou-se chefe do 1º jornal cinematográfico em 1918. Chamava seus filmes de kino-pravda (cine verdade). Em 1929, realizou seu trabalho mais experimental, O homem com a câ-mera onde mostrou o cinema livre das influências da literatura e do teatro, um marco para o desenvol-vimento da linguagem cinematográfica.

Avant-garde francesa: Na França, a vanguarda cine-matográfica desenvolveu-se entre os anos 1921 e 1931. Os filmes expressavam sentimentos e idéias criando uma nova dimensão narrativa. Os filmes usavam artifícios técnicos de enquadramento, montagem e ritmo, com te-máticas baseadas em fatos comuns com uma abordagem poética.A luminosidade e a plasticidade da pintura impressio-nista inspirou os cineastas a compor uma forma estética

com um tratamento poético. O que importava para os vanguardistas era o nível abstrato do cinema. As idéias do escritor André Breton, que veremos a seguir, foram fundamentais para a vanguarda francesa que também serviu de base para o movimento surrealista.Os cineastas mais representativos deste período são Louis Delluc (1890 – 1924), Abel Gance (1899 – 1981), Jean Epstein (1897 – 1953), Marcel L’Herbier (1890 – 1979), Germaine Dulac (1882 – 1942), René Clair (1898 – 1981) e o norte-americano Man Ray (1890 – 1976). O cinema de Man Ray e René Clair é diretamente influen-ciado pelo dadaísmo e pelo cubismo.

A desumana, 1924, Marcel L´Herbier.

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Surrealismo: O movimento surrealista surgiu a partir do manifesto de André Breton e do rompimento com Tristan Tzara (1896 – 1963), fundador do movimento Dadaísta. Foi a principal corrente artística moderna da representação do irracional e do subconsciente.André Breton (1896-1966), escritor francês, poeta e te-órico do surrealismo. Estudou medicina por exigência da família. Publica o Primeiro Manifesto Surrealista em 1924.

Trecho do manifesto de André Breton: “Os artis-tas e escritores devem expressar o pensamento de maneira livre, espontânea e irracional, externando os impulsos da vida interior, sem controle de or-dem estética, racional ou moral” (1924).

Reunindo artistas anteriormente ligados ao movimento Dadá, Breton fortemente influenciado pelas teorias psi-canalíticas de Sigmund Freud (1856-1939), enfatizou o papel do inconsciente na atividade criativa, defendendo que a arte deveria libertar-se das exigências da lógica e da razão para expressar o inconsciente e os sonhos na sua essência sem preocupações morais. A nova arte de-veria afirmar a recusa aos valores sociais vigentes, em suma, a nova arte deveria construir “um homem novo numa sociedade nova”.O movimento surrealista significava uma reação direta ao regime narrativo clássico, fosse ele expresso no ci-nema, na literatura ou mesmo na pintura. O movimento surrealista almejava subverter a realidade “falsa” apre-

sentada pela lógica e moral vigentes, visando alcançar uma realidade superior. Para isto o subconsciente deve-ria emergir. Sonhos e desejos eram os principais temas do surrealismo. O filme que marca a expressão cinema-tográfica do surrealismo é Um cão andaluz (1928), de Luis Buñuel, escrito em parceria com Salvador Dali. O Surrealismo na Espanha criou um paralelo entre a visão fílmica e os mecanismos do inconsciente. Seu principal expoente foi Luis Buñuel. Em 1930, Buñuel realiza A idade do ouro, outro filme marco do movimento surrealista. Os filmes não revelam preocupação com enredos ou histórias lineares, mas ex-pressam desejos não racionalizados e o desprezo pela ordem burguesa. São filmes que permanecem potentes e atuais, sobretudo nas suas críticas.

Luis Buñuel (1900-1983) nasce na Espanha, em uma família católica, estuda com jesuítas e fre-qüenta a Universidade de Madri. Em 1920, funda o primeiro cineclube da Espanha. Muda-se para Paris em 1925, onde envolve-se com o movimento van-guardista. Realiza O cão andaluz (1928) e A idade de Ouro (1930). Em 1947, no México, dá conti-nuidade a sua produção cinematográfica. Mesmo com a dificuldade da surdez, produz obras-primas do cinema contemporâneo, como Os esquecidos (1950), O alucinado (1953), Viridiana (1961), A bela da tarde (1967), O discreto charme da bur-guesia (1972), O fantasma da liberdade (1974) e Esse obscuro objeto de desejo (1977).

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Um cão andaluz, 1928, Luis Buñuel.

Expressionismo Alemão: O expressionismo foi um fe-nômeno hegemônico cultural na Alemanha, presente nas artes gráficas, na pintura, na escultura, na literatura, no teatro, na música, na dança e no cinema. Assumindo for-mas mais radicais, o expressionismo valoriza a expres-são do sentimento mais que a razão. O filme inaugural é O gabinete do Dr. Caligari (1920), de Robert Wiene.Para compreendermos o que foi o expressionismo no cinema alemão é preciso verificar o clima reinante na Europa, especialmente na Alemanha depois da Primeira Guerra Mundial. O clima era de pessimismo. A expe-riência de uma guerra de proporções devastadoras sig-nificou um abalo na confiança de toda a sociedade. As certezas foram substituídas pelas dúvidas. O indivíduo

representado na arte expressionista é cheio de dúvidas e pessimista. A pintura O grito de Edvard Munch (1863-1944) é um exemplo síntese do indivíduo retratado pelo do expressionismo alemão.Os filmes expressionistas foram capazes de revelar ao mundo uma concepção sombria da realidade por meio de cenários tortuosos e violentos contrastes de luz e som-bra. A realidade deforma-se para expressar os conflitos interiores dos personagens. O cinema expressionista é o resultado da articulação entre a proposta do movimen-to e o indivíduo por ele retratado. Suas características ganham significados simbólicos o que faz com que esta forma de cinema permaneça vigorosa e fascinante.Antes mesmo de Robert Wiene realizar O gabinete do Dr. Caligari, o filme O estudante de Praga (1913), de Paul Wegener surgiu como o embrião temático do ex-pressionismo apresentando uma história que influenciou tanto o cinema alemão quanto o cinema americano. Este filme estava ligado ao romantismo e aos contos de Edgar Allan Poe e contava a história do estudante Baldwin, que vendeu ao demônio seu reflexo no espelho passando a ser perseguido pelo seu duplo. Outros filmes expressionistas marcantes foram Nosfera-tu (1922) de Friedrich W. Murnau e Metrópolis (1927) de Fritz Lang ambos traduzem as angústias e frustrações da sociedade em um país derrotado e em profunda cri-se econômica e social. Metropolis representa um marco político-ideológico da Alemanha naquele período.

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Fritz Lang (1890-1976) nasce em Viena, de ascen-dência judaica. Filho de arquiteto estuda pintura em Munique e Paris. Luta na Primeira Guerra Mundial e, ferido, começa a escrever roteiros. Estréia na di-reção em 1919 e consagra-se como uma das figu-ras mais importantes do expressionismo com o fil-me Metrópolis (1926). Perseguido pelos nazistas, emigra em 1934 para os Estados Unidos, chegando a filmar também em Paris. Entre seus filmes estão ainda Dr. Marbuse, o jogador (1922), Os Nibelun-gos (1923) e M, o vampiro de Dusseldorf (1931), este um dos primeiros grandes filmes do cinema falado.Friedrich Wilhelm Murnau (1889-1931) é con-siderado, ao lado de Fritz Lang, o maior nome do cinema mudo alemão. Formado em história da arte, estuda também literatura, música e filosofia. Estréia no cinema em 1919, com O menino azul. Seus fil-mes mais importantes abrem, dentro do expres-sionismo, a escola do “kammerspiel” (cinema de câmera), de caráter psicológico e intimista, retra-tando a crise social dos anos pré-nazistas. Dirigiu Nosferatu (1922), A última gargalhada (1924), Tartufo (1925), Fausto (1926) e Aurora (1927), entre outros.

Conclusão: Cada país buscava naqueles anos 1920 atra-vés da arte, formas de conscientizar e expressar a neces-sidade de transformação. O mundo pedia mudanças e os artistas vanguardistas criavam uma nova arte proferindo

suas queixas, revitalizando a linguagem cinematográfi-ca e servindo de inspiração e referência a cineastas em outros momentos na história do cinema e ao surgimento de outros gêneros cinematográficos como o terror, o noir o policial.

Metropolis, 1926, Fritz Lang

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Sugestão de leituras:Jacques Aumont e Michel Marie, Dicionário teó-rico de cinema. São Paulo: Papirus Editora, 2003.Antônio Houaiss, Dicionário de sinônimos e an-tônimos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003.Arnold Hauser, História social da arte e da litera-tura. São Paulo: Martins Fontes, 2000.François Albera, Eisenstein e o construtivismo russo. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.