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ASPECTOS NUTRICIONAIS QUE INTERFEREM NA QUALIDADE DO LEITE INTRODUC;Ao Paulo R, F, Muhlbach Harold Ospina Enio R, Prates Julio 0, J, Barcellos 1 A qualidade do leite como alimento e materia prima para a industria de laticinios depende da sua composiyao nutritiva. 0 pagamento do leite pela qualidade microbiol6gica e composiyao nutricional e comum nos paises de pecmiria leiteira desenvolvida, devendo esse criterio, tambem, ser adotado de modo gradativo em nosso meio. Alem dos fatores relacionados a alimentayao e utri ao, varios outros aspectos como o- fator-raciai(Tabela 1) , 0 estagio da I actayao , a temperatura ambiental e as condiyoes de estresse do animal, a perda excessiva de condiyao corporal, a estayao do ano, a con tag em de celulas somaticas, a mastite e a saMe geral da vaca, a manifestayao de cio, a e a tecnica de ordenha, bern como 0 avanyo genetico no sentido de maior volume de produyao na lactayao, exercem urn maior ou menor efeito sobre a composiyao do leite. LOs fatores nutricionais sao os que podem ser control ados de modo mais direto e em prazo relativamente curto, mas deman- dam urn conhecimento mais aprofundado, ja que afetam nao s9mente a ferrnentayao no rumen como tambem 0 metabolismo geral do animal e a secreyao de leite no ubere Assim, 0 monitoramento da composiyao do leite permite identificar eventu- ais disfunyoes digestivas e/ou metab6licas que estejam ocorrendo I Professores do Departamento de Zootecnia da Faculdade de Agronomia da UFRGS e membros do Nucleo de Pesquisa em Nutric,;ao de Ruminantes da UFRGS. 73

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ASPECTOS NUTRICIONAIS QUE INTERFEREM NA QUALIDADE DO LEITE

INTRODUC;Ao

Paulo R, F, Muhlbach Harold Ospina Enio R, Prates

Julio 0, J, Barcellos1

A qualidade do leite como alimento e materia prima para a industria de laticinios depende da sua composiyao nutritiva. 0 pagamento do leite pela qualidade microbiol6gica e composiyao nutricional e comum nos paises de pecmiria leiteira desenvolvida, devendo esse criterio, tambem, ser adotado de modo gradativo em nosso meio. Alem dos fatores relacionados a alimentayao e

utri ao, varios outros aspectos como o- fator- raciai(Tabela 1), 0

estagio da I actayao , a temperatura ambiental e as condiyoes de estresse do animal, a perda excessiva de condiyao corporal , a estayao do ano, a con tag em de celulas somaticas, a mastite e a saMe geral da vaca, a manifestayao de cio, a freqiH~ncia e a tecnica de ordenha, bern como 0 avanyo genetico no sentido de maior volume de produyao na lactayao, exercem urn maior ou menor efeito sobre a composiyao do leite.

LOs fatores nutricionais sao os que podem ser control ados de modo mais direto e em prazo relativamente curto, mas deman­dam urn conhecimento mais aprofundado, ja que afetam nao s9mente a ferrnentayao no rumen como tambem 0 metabolismo geral do animal e a secreyao de leite no ubere Assim, 0

monitoramento da composiyao do leite permite identificar eventu­ais disfunyoes digestivas e/ou metab6licas que estejam ocorrendo

I Professores do Departamento de Zootecnia da Faculdade de Agronomia da UFRGS e membros do Nucleo de Pesquisa em Nutric,;ao de Ruminantes da UFRGS.

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Novos desafios para a produ9iio leiteira do Rio Grande do Sui

com as vacas em lactac;:ao, bern como detenninar a eficiencia com que os alimentos estao sendo aproveitados pelo animal. Dos componentes do leite 0 teor de gordura e 0 que mais pode variar em func;:ao da alimentac;:ao, de modo geral, diminuindo com 0

aumento no volume de produc;:ao. Alterac;:oes no teor de gordura podem infonnar sobre a fennentac;:ao no rumen, as condi90es de saude da vaca e funcionamento do manejo alimentar-L 0 teor de proteina tambem pode ser afetado, porem em menor grau, en­quanto que 0 teor de lactose e 0 menos intluenciado. Todavia, em situac;:ao extrema de subnutric;:ao cr6nica 0 teor de lactose pode ser reduzido (Sutton, 1989), afetando tambem 0 teor de minerais do leite e do seu ponto de congelamento (Ponce, 1999). 0 extrato seco total do leite e em torno de 12,5% e que inclui alem da lactose, proteina e gordura, 0,7% de materia mineral.

A relac;:ao proteina: gordura tam bern serve para verificar eventuais anonnalidades na produc;:ao de leite; para a rac;:a Holan­des, toda a vez que a relac;:ao for menor que 0,80 significa haver urn teor excessivamente baixo de proteina; sendo a relac;:ao maior que 1,0 deve-se considerar como muito baixo 0 teor de gordura.

Os principais componentes do leite, a lactose, as prote­inas e a gordura sao sintetizados nas celulas que formam os alveolos da gHindula mamaria, a partir de substancias extraidas do sangue. A gordura do leite e form ada a partir dos precursores, acidos acetico e butirico, produzidos no rumen e a partir dos

TABELA 1. Composi9iio do leite de ra9as leiteiras

Raya Lactayao Gordura P rote ina Relayao Lactose

(kg) (%) (%) proteina/gordura (%)

Holandes 7.073 3,70 3, 11 0,84 4,61

Ayrshire 5.247 3,99 3,34 0,84 4,63

Jersey 4.444 5,13 3,80 0,74 4,70

Guernsey 4 .809 4,87 3,62 0,74 4,78

Pardo-Suiyo 5.8 12 4,16 3,53 0,85 4,80

Adaptado de Wilcox et aI. , in : Gibson (1989)

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Aspectos Ilutriciollais que interferem na qualidade do leite

/' ac1dos graxos com malS ae \6 caI'mm.m, ab'i>\)\'I\d\)'i> ~\) \~test\~o ~ \) ml)b'\'"L'c\~I)'1, dQ.'i, ,(~'1,~!X~Q.'i, "I) ,m~ .. ~ A.. \lI()teln'c\ UO \el'te 'tern - --- -sua origem 'Qri~c\:Qa\ ~\)'i> mll\oaddos a~\)'i> ~() \~test\~o, provenientes por sua vez, ern maior parte, da protein a microbia­na form ada no rumen e da protein a da dieta nao degradada no

' rumen, disponivel no intestino. A lactose e 0 ar;:ucar do leite que e sintetizado a partir da glicose produzida no figado pelo aprovei­tamento do acido propionico absorvido no rumen e pela transfor­mar;:ao de certos aminoacidos. Conforme 0 esquema apresentado na Figura 1 pode-se verificar que as transformar;:oes que ocorrem _no rumen, e_que dependem da composir;:ao da dieta, sao de gran­de importancia na produr;:ao e composir;:ao do leite. Alem disso, 0

processo de absoryao nos intestinos, 0 metabolismo no figado e a mobilizar;:ao das reservas corporais participam do fomecimento de nutrientes e de precursores, atraves do sangue, para a sintese do leite na glandula mamaria.

RUMEN

C, = acido .cetico; C, = 'cido propionico; C, = ,;cido butirico

GORDURA CORPORAL FiGADO

FIGURA 1. Precursores para a sintese do leite no ruminante (Schmidt & Van Vleck, 1974)

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Novas desafios para a produr;:iio leiteira do Rio Grande do Sui

COMPOSI<;Ao DA DIETA DA VACA LEITEIRA

Considerando-se OS componentes s61idos dos alimentos, a chamada materia sec a (MS), verifica-se que dietas para vacas em lacta<;:ao podem conter: - 65 a 75% de carboidratos - 14 a 19% de proteina bruta (PB) - 3 a 8% de gordura bruta (GB) - 4 a 5% de materia mineral (MM)

Os carboidratos, ou glicidios, podem ser divididos em fi­brosos (ou estruturais) e nao-estruturais (ou nao fibrosos) e sao a principal fonte de energia para a produ<;:ao de leite . Os carboidratos fibrosos, presentes principalmente nos alimentos volumosos (pastos, silagens, fenos) , podem ser determinados pela amilise da fibra em detergente neutro (FDN) sendo cons­tituidos pel a celulose, hemicelulose e lignina, que representam os componentes de lenta digestao ou indigestiveis no rumen do ani­mal. Os carboidratos nao-estruturais, presentes principal mente nos alimentos concentrados (graos, fare los) sao de nlpida diges­tao (glicidios de nlpida fermenta<;:ao no rumen - GRF) e incluem o amido, os a<;:ucares e a pectina dos alimentos.

Os GRF podem ser estimados pela formula : GRF = 100 - (FDN + PB + GB -I- MM)

Parte da proteina bruta da dieta e degradada pelos mi­crorganismos do rumen a peptideos, aminoacidos e am6nia, e a chamada PDR (proteina degradavel no rumen) e parte nao sofre degrada<;:ao no rumen, e a PNDR (proteina nao degrada­vel no rumen) que passa para 0 intestino, chamando-se, tam­bern, de proteina escape, ou "by-pass", ou sobrepassante. Por exemplo, a ureia e nitrogenio nao proteico que tern uma degradabilidade de 100% no rumen, enquanto que a farinha de sangue e proteina cuja degradabilidade no rumen e de 20%, ou seja, 80% dessa proteina nao e fermentada no rumen e passa para 0 intestino. A proteina do farelo de soja tern uma de grad a­bilidade de 65%, ou seja, 35% dessa proteina passa pelo rumen sem sofrer fermenta<;:ao . Pela a<;:ao dos microrganismos no rumen

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Aspectos nutricionais que interferem na qualidade do leite

a maior parte da .fDR e transfonnada em proteina microbiana, e esta, juntamente com a proteina escape (PNDR), fomece a glan­dula mamaria os aminoacidos necessarlos para a sintese da pro­teina do leite. Uma porc;;ao da PDR, geralmente parte da amonia, pode nao ser aproveitada para produzir proteina microbiana, sen­do dai transfonnada em ureia no figado e perdida na urina. Essa perda se da, ou devido a um excesso de proteina na dieta (tanto da PDR quanta da PNDR), ou devido a falta de energia sufici­ente (na fonna de GRF) para transfonnar amenia proveniente da PDR em proteina microbiana. Quando 0 usa da proteina da dieta for ineficiente e houver perdas pela urina esta situac;;ao pode ser monitorada pelo teor de nitrogenio ureico do leite, 0 MUN (do ingles "milk urea nitrogen") cujo nivel maior no leite esta relaci­onado com perdas de ureia pela urina. Quanto maior 0 MUN do leite, tanto menor 0 seu teor de caseina. Assim, 0 MUN interessa nao so ao produtor de leite como tambem a industria. J

Portanto, para uma al imentac;;ao correta, toma-se neces­sario conhecer, alem dos teores de proteina, a degradabilidade das diferentes fontes proteicas, juntamente com os teores de FDN e dos demais componentes dos alimentos, para a estimativa dos GRF.

COMPOSIC;Ao DO LEITE RECEBIDO PELA INDUSTRIA

A industria procura, cada vez mais, aumentar a eficiencia e 0 rendimento no processamento do leite, buscando materia prima com maior concentrac;;ao de solidos totais. Por exemplo, 0

rendimento em ueijo de ende do teor de caseina do leite, 0 que nfc>Tsinenimo do seu teor de proteina bruta, pois a caseina pode apresentar urn teor variavel , inversamente proporcional aos componentes nitrogenados restantes (Tabela 7).

o programa de pagamento do leite por qualidade da Elege Alimentos vem demonstrando que, desde que foi instituido, em maio de 97, ate dezembro de 99, na media geral, 0 Indice maximo nunca foi a\canc;;ado, mantendo-se em tomo de 50% (Figura 2).

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Novos desafios para a produqQo leiteira do Rio Grande do Sui

o indiee de qualidade, ah~m de eonsiderar a erioseopia (-0,536 0c), a temperatura, a reayao ao teste do alizarol, a auseneia de fraudes e de inibidores no leite, estabeleee urn nivel maximo de 500.000 eelulas somatieas por ml e teores minimos de 3,1 % e de 2,85%, respeetivamente, para a gordura e pro­teina do leite. Os valores desses eomponentes nutrieionais, re­laeionados com urn extrato seeD total de 11,5%, sao bastante modestos, quando comparados aos teo res medios que a Tabela 1 demonstra para as diferentes rayas, com produtividades rela­tivamente elevadas.

De aeordo com informayoes da Elege Alimentos, as que­das verifieadas no indiee em dezembro de 97 e de 98 seriam devidas a diminuiyao no teor de extrato seeD total do leite, refle­tindo, possivelmente, uma deficiente alimentayao do rebanho, 0

que e duplamente preocupante, ja que os teores minimos de gor­dura e proteina estabeleeidos no indiee podem ser considerados como baixos.

100

90

80

70

60 iii 0

50 i5 ~

40

30

20

10

0

FIGURA 2. Program a de Pagamento do leite por Qualidade. (Elege Ali­mentos, DPPL)

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Aspectos nlltricionais que interferem na qualidade do Leite

FATORES NUTRICIONAIS QUE AFETAM 0 TEOR DE GORDURA DO LEITE

A produyao de leite em quanti dade e qualidade depende principalmente do aporte adequado de protein a e energia na dieta da vaca em lactayao. A energia necessaria para 0 metabolismo dos animais ruminantes pro vern basicamente dos acidos graxos volateis (acetico, propionico e butirico) produzidos no rumen pela fermentayao dos diferentes alimentos (Figura 1) e, dependendo da composi~ao da dieta, ocorrera uma variayao entre a propor- ' yao dos acidos graxos acetico e butirico, que sao os precursores

. da gordura do leite e 0 acido propionico, que e 0 precursor da --lactose do leite e 0 responsave\ pelo volume de leite. Assim, os efeitos do aporte de energia na dieta podem ser variaveis, ora afetando 0 teor de gordura, ora influenciando a quanti dade de leite. De modo geral, a subnutriyao energetico-proteica reduz tanto a quanti dade de leite quanto 0 teor de gordura. Quando, nesse caso, 0 animal apresentar perda de peso, mobilizando reser­vas de gordura para sustentar a produyao de leite, 0 que e mais visivel em animais de melhor genetica, podera surgir urn quadro de cetose. Os corpos cetonicos (acidos aceto-acetico e beta­hidr6xi-butirico) aumentam sua concentra<;ao no sangue e urina, como tambem no leite, podendo dai serem erroneamente medidos como "gordura" do leite.

Uma deficiencia proteica na dieta pode ter efeito variavel sobre 0 teor de gordura do leite; se 0 teor de gordura anterior a deficiencia proteica for normal, de acordo com 0 padrao racial da vaca, tendera a haver uma redw;ao, especialmente se isso ocor­rer nas primeiras semanas da lacta<;ao; caso 0 teor de gordura ja estiver inferior a 3% a deficiencia proteica nao surtira maior efeito depressivo sobre 0 mesmo (Kirchgessner et aI. , 1965).

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Novos desafios para a produr;iio leileira do Rio Grande do Sui

ALTERA<;6ES NA FERMENTA<;Ao DO RUMEN QUE TENDEM A BAIXAR 0 TEOR DE GORDURA

Relogoo volumoso : concentrodo do dieto

Existe uma regra fundamental na alimentayao da vaca leiteira: a quanti dade de concentrado nao pode exceder a metade do total de MS consumida pelo animal, ou seja, a relacao yolumo­so: concentrado deye ser de, no minimo, 50:50. 0 atendimento dessa regra possibilita 0 funcionamento normal do rumen, pois essa quantidade minima de volumoso (fibra vegetal) e necessaria ~ara manter a ruminayao do animal. De modo geral , a vaca

leiteira deve ruminar pelo menos 8 horas por dia, em varios pe­dodos apos as refeiyoes, pois a ruminayao aumenta a produyao de saliva, que ajuda a regular as condiyoes de fermentayao no rumen, isto e, controlar 0 pH. Urn valor de pH acima de 6,0 favorece a fermentayao da fibra do volumoso, que e 0 alimento mais barato da dieta, e quanto melhor a fermentayao da fibra no rumen, tanto mais volumoso (e concentrado) 0 animal podera ingerir, e, em decorrencia, tanto melhor podera ser a produyao de leite. Ao mesmo tempo, 0 consumo adequado de volumoso tam­bern garante urn teor normal de gordura no leite, pois com a fermentayao da fibra no rumen sao produzidos os acidos acetico e butirico, dos quais e formada no ubere 50% da gordura do leite. Na medida em que se aumenta 0 fomecimento de concentrado na dieta ocorrem alterayoes da fermentayao no rumen, com aumento na produyao de acido propionico e, proporcionalmente, uma dimi­nuiyao dos acidos acetico e butirico. 0 efeito de diferentes pro­poryoes entre 0 volumoso e concentrado na MS ingerida, sobre o teor de FDN da dieta, sobre a atividade de mastigayao (rumi­nayao), 0 pH no rumen e a proporyao entre os acidos acetico e propionico e apresentado na Tabela 2.

Quanto mais acido propionico e absorvido do rumen, maior e a produyao de leite, pois esse acido e utilizado pelo organismo do animal para produzir a lactose do leite, e quanto mais lactose, tanto maior a produyao de leite.

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Aspectos nutricionais que interferem na qualidade do leite

TABELA 2. Efeito da propon;:ao volumoso : concentrado sobre a fer-mentac;:ao no rumen

------------% da MS------------ Mastiga9iio pH -----% molar---- -

Volurnoso Concentrado FDN FDA (min/dia) rUmen Acetico PropiOnico

100 0 65 41 960 7,Oa 70 18

80 20 55 34 940 6,6a 67 20

60 40 45 27 900 6,2a 64 22

40 60 34 20 820 5,8 58 28

20 80 24 13 660 5,4 48 34

0 100 14 6 340 5,0 36 45

a faixa de pH adequada para a fermentac;:ao da celulose b relac;:ao molar que causa queda da % de gordura do leite Adaptado de Davis et al. in : Bachman (\992)

Re1a9iio

molar

3,9

3,4

2,9

2,lb

1,4b

0,8b

Na pnitica observa-se que, com 0 aumento no fomeci­mento de concentrado, aumenta a produyao de leite, com queda no teor de gordura. Dentro do nivel aceitavel de ate 50% de concentrado na MS total ingerida, ou seja, 12 a 15 kg de cone en­trado para altas produyoes de leite, apesar da diminuiyao na percentagem de gordura, nao ha necessariamente diminuiyao da prodUl;ao de gordura (litros de leite multiplicados pelo teor de gordura). Contudo, na situayao de excesso de concentrado, 0

teor de gordura cai excessivamente (abaixo de 2,8%), alem de diminuir 0 consumo de alimento e a produyao de leite.

Quantidades de concentrado, acima de 50% na MS da dieta, causam uma fermentayao intensa no rumen que resulta num aumento da produyao de acidos (queda muito forte do pH, acidose subclinica), e, eventualmente, ate na produyao e acumulo de acido l<itico no rumen, que e urn acido forte e po de levar a uma situayao de acidose aguda, quando 0 animal simplesmente para de comer. No caso de acidose subclinica 0 pH do rumen esta grande parte do tempo abaixo de 6,0, 0 que retard a a fer­mentayao do alimento volumoso, prejudica a biossintese de pro­teina bacteriana e, para garantir a produyao almejada de leite, 0

consumo maximo de alimento nao e alcanyado. Sao situayoes que

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Novos desafios para a produ{:iio leiteira do Rio Grande do Sui

causam considenivel prejuizo, pois 0 concentrado, 0 insumo mais caro na prodw;:ao de leite, e mal utilizado, com a agravante de nao haver resposta positiva em termos de prodw;:ao de leite.

Na pnitica, a situayao a seguir e das mais comuns nas condiyoes de produyao do RS: a vaca tern potencial genetico, mas a dieta esta mal balanceada, pois 0 produtor nao dispoe de volu­moso de boa quaJidade, que e aquele com teor de FDN inferior a 55%. Se 0 volumoso e de baixa quaJidade (teor de FDN acima de 60%), sua fermentayao no rumen e muito lenta e seu consumo e baixo, 0 que Iimita tambem 0 consumo total de MS. (Ospina et aI., 2000). Na tentativa de compensar a baixa qualidade de volu­moso, muitos produtores aumentam 0 fornecimento de concentra­do, excedendo-se, assim, seu limite de 50% na MS. Em conse­qiiencia, cria-se uma situayao totalmente desfavonivel, pois 0 ex­cesso de concentrado (em relayao ao baixo consumo do volumo­so) e nocivo a saude do rumen (acidose), resulta numa queda do teor de gordura, sem urn retorno economico em produyao de leite (Tabela 3).

Segundo pesquisa recente, a queda do teor de gordura leite seria devida a presenya de duas condiyoes no rumen: nao somente uma fermentayao anormal, com diminuiyao do pH e relayao acetico: propionico inferior a 3, devido ao excesso de concentrado, mas tambem conseqiiencia da presenya de gordura insaturada na dieta, conforme e apresentado na Tabela 3 (Griinari et aI., 1998). Nesta pesquisa, alem do excesso de concentrado, foi adicionado 4% de oleo de milho (gordura insaturada) na MS total da dieta, em comparayao com urn produto a base de gordura saturada.

Tipo de energia no concentrado

Gordura - a adiyao de quanti dade controlada de oleo vegetal (gordura insaturada) pode baixar 0 teor de gordura em ate uma unidade percentual, no entanto, a produyao de gordura (Iitros de leite multiplicados pelo teor de gordura) po de permanecer igual ou ate aumentar (Bachman, 1992). Quantidade excessiva de oleo na dieta e toxica as bacterias celuloliticas do rumen, que produ-

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Aspectos nutriciollais que interferem na qualidade do Leite

TABELA 3. Efeito da relayao volumoso : concentrado da dieta e do tipo de gordura suplementada, na fermentayao do rumen, consumo e na produyao e composiyao do leite.

DLETAS

50% volumoso : 50% cone. 20% volumoso : 80% cone.

Gordura sat. 6 1eo de milho Gordura sal. 6leo de milho

Relayao acetico/propiOnico 3,17a 3,08a 1,87b 1,66b

Conswm de MS (kgldia) 23,Oa 23,8a 19,9b 19,5b

Concentrado (kgldia) 11 ,5 11 ,9 15,9 15 ,6

Prodll9ao de leite (kgldia) 29,3a 31 ,7a 26,5b 26,3b

kg leite/kg de concentrado 2,55 2,66 1,67 1,68

Gordura do leite

% 3,58a 3,36b 3,33b 2,49c

kgldia 1,05a 1,06a 0,87b 0,68c

Proteina do leite

% 3,01 3,07 3,10 3,24

kgldia 0,87 0,97 0,82 0,85

a,b,c diferenc;a significativa Adaptado de Griinari et al. (1998)

zem 0 acido acetico a partir da fermentayao da fibra; assim, M reduyao da fermentayaO da fibra, e, em conseqiiencia, queda no teor de gordura do leite. Na pnitica, 0 fornecimento de gordura extra deve ser gradual, de modo a nao inibir 0 apetite da vaca, especialmente no periodo de consumo mais critico, que acontece logo no pos-parto.

Amido - quantidades controladas (de 35 a 40% da MS) de carboidratos nao fibrosos (amido de graos, farelos , farinhas, fuba, residuos amilaceos da industria, si lagem de grao umido, etc.), os tambem chamados glicidios de nipida fermenta~ao (ORP) sao importantes porque ao serem fermentados produzem rapidamente a energia necessaria para os microrganismos do rumen se multiplicarem. Essa pronta liberayao de energia permite a transformayao da PDR (amonia) em proteina microbiana que e

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Novos desafios para a produr;ao leiteira do Rio Grande do Sui

a principal fonte de aminoacidos para a produ<;ao da protein a do leite. Os GRF tambem fomecem parte da energia necessaria para aumentar 0 volume de leite produzido. Os amidos dos dife­rentes graos sao fermentados no rumen de modo distinto. Nao somente tern os varios graos usados como concentrado distintos teores de amido, como e diferente a velocidade com que 0 amido de cada tipo de grao e fermentado no rumen. Alem disso, 0

processamento ou nao do grao, amassamento, moagem grosseira ou fina, tratamento termico (como a gelatiniza<;ao do amido de milho, milho tlocado), etc. afetam a taxa de fermenta<;ao no rumen. Por exemplo, a silagem de grao umido de milho apre­senta uma fermenta<;ao muito mais rapida no rumen do que 0

grao seco. Os amidos de mandioca, trigo e cevada, fermentam mais intensamente e completamente do que os amidos de sorgo e de milho. A Figura 3 apresenta, esquematicamente, a varia<;ao na fermenta<;ao, de acordo com a fonte de amido e 0 tipo de processamento.

Portanto, quantidades controladas de amidos rapidamente fermentaveis podem ser favoraveis a produ<;ao de proteina microbiana no rumen, mas qualquer excesso pode levar sub ita­mente a uma situa<;ao de acidose subclinica ou ate aguda no rumen e, posteriormente, a problemas de casco (laminite) e ab­cessos de figado, quando nao ocorrer tor<;ao de abomaso. Antes

FONTE

Trigo

Cevada

Aveia

Milho

Sorgo

Fermenta<;ao rapida

Fermentayao lenta

PROCESSAMENTO

Floea9aO a vapor

Alta umidade

Moagem a seeD

Amassamento a seeD

Grao inteiro

FIGURA 3. Variayao na fennentayao, de acordo com a fonte de amido e 0 tipo de processamento. (Allen, 1991)

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Aspectos nutricionais que interferem na qualidade do leite

TABELA 4. Dietas e caracteristicas de composic;:ao, antes e ap6s 0/ ajuste de ingredientes

A' . ;) lngredientes

Antes do ajuste pos 0 aJuste (kg MS/dia) (kg MS/dia)

Silagem de milho 6,43 6,83

Silagem de alfufu 4,75 4,75

Feno de graminea 0,50 0,41

Silagem de espiga de milho (unido I) 3,20 0,00.

Fubci de milho 1,81 4,53

Casquinha de soja 0,90 1,58

Mistura proteina+gordura+mineral 5,25 4,80

Bicarbonato de s6dio 0,23 0,25

Total 23,10 23,10

Composi9iio na MS (%)

Volumoso 50,60 52,60

FDN 34,30 33,40

FDN estruturado 2) 25,10 25,10

Amido 27,20 28,10

Arnido rermentavel no rUmen 77,00 73,00

I) 22% de FDN, 65% MS 2) Estimulo a ruminac;:ao: FDN do volumoso = 100%; FDN da silagem de

espiga = 25% Stone (1999)

desse tipo de reac;ao mais grave, cairao sensivelmente 0 teor de gordura de leite e a quanti dade de leite produzida. Assim, em casos desse tipo, a queda no teor de gordura pode servir de alerta para a prevenyao de problemas maiores, atraves do ajuste dos ingredientes da dieta. ~ A Tabela 4 apresenta duas dietas, antes e ap6s urn ajuste

de ingredientes, e os efeitos desse ajuste sobre 0 pH no rumen, produc;ao e composic;ao do leite, podem ser visualizados, respec­tivamente, nas Figuras 4, 5 e 6 (Stone, 1999). 0 ajuste consistiu na retirada da silagem de espiga de milho e aumento das quan­tidades de fuba de milho e de casquinha de soja, sem afetar 0

consumo total de MS. De acordo com 0 autor, 0 caso em questao

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Novos desafios para a prodw;iio leiteira do Rio Grande do Sui

envolveu 500 vacas em lactayao que com a dieta anterior ao ajuste apresentavam baixos teores de gordura e de proteina no leite, produyao de leite abaixo da esperada e sinais iniciais de problemas nos cascos (laminite). Em algumas das vacas foram obtidas amostras de Hquido de rumen, antes e apos 0 ajuste na dieta. Antes do ajuste, apesar de nao haver manifestayao de diarreia, nem falta de ruminayao, os valores de pH foram consi­derados como muito baixos, todos abaixo de 6,0, 0 que e indicativo de acidose subclinica, e 0 que explica os baixos teores de gordura e de proteina no leite e a produyao abaixo do espe­rado. Com 0 ajuste ficou comprovado, que no caso especifico, houve urn excesso de amido rapidamente fermentavel no rumen, na forma da silagem de espiga de milho, 0 que levou os animais a acidose subcHnica. Sanado 0 problema, houve uma pronta resposta dos animais, com aumento dos teo res de gordura e proteina e aumento da produyao de leite.

IonOforos - sao aditivos antibioticos como a monensina e a lasalocida que misturados a dieta e fomecidos na dose correta alteram a fermental;ao no rumen, diminuindo a proporyao de acido acetico e aumentando a de acido propionico. Especialmente em vacas de alto potencial genetico isto diminui 0 problema da cetose no inicio da lactayao 0 que po de resultar num aumento da produyao de leite. Em algumas das pesquisas mais recentes, onde foram constatados aumentos na produyao de leite com 0 uso da monensina (Rumensin), houve reduyao do teor de gordura do leite (Van der Werf et aI., 1998; Ramanzin et aI., 1997); em outras nao houve efeito sobre 0 teor de gordura (Duffield et aI., 1999; Beckett et aI., 1998).

Milheto - Literatura mais antiga dos EUA da conta que vacas em pastagem de milheto podem apresentar sensivel redu­yao no teor de gordura (Bucholtz et aI., 1969), 0 que seria devido a presenya de certos a1caloides nesse tipo de forrageira (perlolina, perlolidina) que afetariam a fermentayao e a produyao dos acidos graxos volateis no rumen.

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Aspectos Ilutriciollais que illterJerem Ila qualidade do leite

6,8 • 6,6 -

6,4 • 6,2 • :I: 6 • Q. 5,8 • 5,6 • 5,4 • • 5,2 t 5 I D i as

Ajuste da dieta

FIGURA 4. Medidas do pH no rumen antes e ap6s 0 ajuste da dieta (Stone, 1999)

~38 ~""""""""""""""""""""""""" ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••.•..••••••.••••.•••••••••••••••••••••• .. •..••••••••• _ .••••••••••••.••••••.•••.•••. ,

ca ~ 36

~ 34 ~

Ajuste da dleta D i a s

FIGURA 5. Produyao de leite (l/dia) antes e ap6s 0 ajuste da dieta (Stone, 1999)

FATORES QUE TENDEM A NORMALIZAR 0 TEOR DE GORDURA

Aditivos

Nas dietas com mais de 50% de concentrado na MS, dietas com grandes quantidades de silagem de milho, sem urn minimo de silagem p're-secada que ajude a estimular a ruminac;ao, bern como em situac;oes com grandes quantidades de alimentos muito umidos (dietas com menos de 50% de MS) e fermentados

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Novas desafios para a produr;iio leiteira do Rio Grande do Sui

3,8

3,6

3,4

~ 0 3,2

3 -

2,8

2,6

Dias Ajuste da dieta

FIGURA 6. Efeito do ajuste da dieta sobre a % de gordura e % de protein a do leite (Stone, 1999)

(residuo de cervejaria) e/ou de uso de alimentos ricos em GRF, excessivamente picados, sem adequada estrutura fisica (cana de ayucar moida), recomenda-se 0 uso do bicarbonato de s6dio ou de suplementos minerais tamponantes para normalizar 0 teor de gordura do leite. 0 bicarbonato de s6dio, fornecido na quan­tidade diliria de 100 a 250 g para vacas em lactayao (1,5% do concentrado) funciona como urn tampao, elevando 0 pH do rumen no curto prazo, ou seja, e de ayao nipida, mas limitada .

. Sua ayao tamponante compensa a diminuiyao de ruminayao que ocorre nesses tipos de dieta. Outros autores creditam 0 efeito positivo dos sais tamponantes ao aumento no fluxo de passagem dos alimentos concentrados (GRF) pelo rumen, pois para manter a osmolaridade do liquido ruminal, ha urn aumento da ingestao de agua pelo animal (Russel & Chow, 1993).

Ha tambem recomendayoes no sentido de combinar 0

bicarbonato com 0 6xido de magnesio, que nas quantidades de 50 a 90 g/vaca/dia, funciona de modo complementar, como urn alcalinizante no rumen.

Como 0 bicarbonato de s6dio e de curta ayao no rumen, aditivos probi6ticos, como cepas especificas de leveduras vi­vas (Saccharomyces cerevisiae) vern sendo utilizadas como complemento aos sais tamponantes. Face a sua ayao metab6lica mais prolongada no rumen a levedura ajuda a manter 0 ambiente

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Asp ectos nutricionais que interferem na qualidade do Leite

ruminal mais favonlvel a digestao da celulose, aumentando as populac;oes de bacterias celuloliticas e de bacterias que fermen­tam 0 acido lactico.

Alimentos especiais

Dietas para altas produc;oes de leite, onde 0 nivel de concentrado ja esta no limite maximo, podem ser viabilizadas atraves do uso de alimentos especiais. A aplicac;ao de gordura saturada (sebo bovino) pulverizada sobre 0 concentrado, em quantidades controladas (ate 2% da MS da dieta), possibilita aumentar a densidade energetic a da dieta, sem resultar em disfunc;ao no rumen. Outra altemativa e 0 usa, tambem controla­do; de caro~o de algodao ou de grao tostado de soja (ambos ate urn maximo de 12% da MS total ingerida) que sao alimentos energeticos onde 0 oleo vegetal e liberado lentamente no rumen, sem causar queda no teor de gordura do leite. Produc;oes de leite excepcionais (> 60 litros/dia) podem requerer, alem do uso dos ingredientes especiais acima, 0 emprego suplementar de gordura "by-pass", os chamados saboes de dlcio (tipo Megalac), fazen­do 0 teor de GB da dieta chegar ate cerca de 8% da MS. 0 uso desses produtos deve ser criterioso, visando suprir urn eventual deficit energetico agudo no pos-parto.

Residuos da agroindustria, como farelo de gluten de milho, casquinha de soja e polpa citrica tambem sao alimentos especiais que ajudam a manter urn teor de gordura normal no leite (Tabela 4) . Sao ingredientes que fermentam rapidamente no rumen, liberando energia para a biossintese microbiana, sem bai­xar 0 pH do rumen (Figura 4), podendo, assim, substituir ate 50% do grao nas dietas com alto nivel de concentrado.

MODIFICA<;OES NA COMPOSI<;Ao DA GORDURA DO LEITE

Pesquisas vern demonstrando que a introduc;ao de certas gorduras do tipo "by-pass" (protegidas da fermentac;ao no rumen)

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Novos desafios para a produr;iio leiteira do Rio Grande do Sui

na dieta da vaca em lactayao possibilita aumentar a proporyao de certos acidos graxos na gordura do leite, como os acidos omega para reduzir 0 colesterol nos consumidores, ou como 0 acido linoleico de ligayoes duplas conjugadas, que alem de baixar 0

colesterol teria ayao anti-carcinogenica em relayao a diversos tipos de cancer (melanoma, cancer de mama, cancer colo-retal) o que sugere urn grande potencial de mercado para 0 leite e derivados com tais propriedades (Kennelly et aI.,1999).

EFEllOS SOBRE 0 lEOR DE PROlEINA DO LEITE E A PRODUC;Ao DE PROlE INA

o teor de protein a bruta do leite e determinado a partir da analise do teor de N multiplicado pelo fator 6,38. A caseina, que e a proteina que interessa na fabricayao de queijo, pode chegar a 79% da protein a bruta, 17% corresponde as protein as do soro e 4% compoe 0 nitrogenio nao proteico, do qual 48% e ureia (De Peters & Cant, 1992).

Protelno do dieto

o teor de protein a do leite somente e afetado pelo teor de protein a da dieta quando 0 mesmo estiver abaixo do minimo re­comendado. Assim, em dietas com niveis de proteina bruta acima de 15% na MS, praticamente nao ha resposta a suplementayao proteica, em termos de aumento no teor e na produyao de pro­teina do leite, conforme mostram os dados da Tabela 5 (Broderick et aI., 1974).

o usa da proteina, 0 nutriente mais caro, deve ser criterioso, considerando-se nao somente sua quanti dade na dieta, como tambem a sua degradabilidade no rumen.

o estudo de Roseler et a1.(1993) testou nao s6 os efeitos dos teores de proteina da dieta, como tambem dos tipos de pro­teina de degradabilidades diferentes, sobre a produyao de leite e as concentrayoes de nitrogenio ureico do leite (MUN) e do plas­ma sangiiineo (PUN) (Tabela 6).

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Aspectos nutricionais que interferem na qualidade do leite

TABELA 5. Efeito de teores de proteina na dieta sobre a produ<;:iio e composis:iio do leite

% de proteina bruta na MS

9,0 11,2 13,5 15 ,7 18,0

Leite (kWdia) 20,4 22,1 24,7 26,8 25,7

Gordura do 1eite (%) 3,78 3,64 3,64 3,52 3,38

Proteina do 1eite (%) 2,98 3,04 3,14 3,17 3,15

Proteina do Jeite (Wdia) 608 672 775 850 809

Adaptado de Broderick et al. (1974)

Como pode ser visto, tanto a deficiencia de proteina (dieta A) quanto os excessos de PNDR e/ou PDR (dietas C, 0 e E) trazem desvantagens em relac;ao a dieta ajustada as exigencias do NRC (1989), que recomenda uma proporc;ao de 35 a 40% da pro­teina bruta total, como nao degradavel no rumen. 0 trabalho tambem mostra que duas dietas com 0 mesmo teor de protein a, mas de degradabilidades diferentes (dietas B e C) dao resultados diferentes, nao somente em termos de produc;ao de leite, como tambem em relac;ao ao teor de MUN e NNP, ou seja, afetando 0 teor de caseina do leite (rendimento em queijo). A determinac;ao de nitrogenio ureico do leite (MUN) e uma analise relativamente simples e vern sendo usada como ferramenta importante para monitorar a eficiencia com que a proteina da dieta e aproveitada pelo animal. Portanto, niveis de MUN muito abaixo de 10 mg/dl (media de rebanho) refietem, ou uma deficiencia de proteina na dieta, ou uma alta eficiencia no aproveita­mento da proteina degradavel no rumen, com pleno aproveitamento da am6nia disponivel as bacterias. Todavia, essa ultima possibilidade ainda e urn tanto remota nas condic;oes de produc;ao mais vigentes no nosso meio.

Por outro lado, niveis de MUN com medias de rebanho muito acima de 15 mg/dl podem indicar: a) excesso de proteina degradavel na dieta (acima de 60 a 65%

da proteina total) 0 que nas nossas condic;oes seria de se es­perar com 0 uso de ureia em dietas para produc;oes acima de 25 litros/dia, sem ajustar com uma fonte adequada de GRF (p. ex.: triguilho)

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Novas desafios para a prodUt;Qo leiteira do Rio Grande do Sui

TABELA 6. FormulayllO de dietas e efeitos no nitrogenio ureico plasmatico (PUN), nitrogenio ureico do leite (MUN), NNP (nitrogenio nllO protei co ) do leite e prodUyllO de leite.

DIETAS

A B C D E

PB (%) 12,2 15,2 15,5 16,4 17,6

PNDRI 80 100 120 100 120

PDR2 80 100 80 120 120

Leite (kgldia) 23 ,6 26,4 24,4 25 ,2 26,0

PUN (mgldQ 8,2d 14,8c 16,5b 17,8b 20,7a

MUN (mgldl) 5,6d 11 ,6c 13 ,4b 14,4b 17,8a

NNP do leite 28,7c 33,9b 35,6b 36,8b 39,8a

(gi l OOg N totaQ

I Proteina nllo degradavel no rumen (% da recomendayllO do NRC, 1989) 2 Protein a degradavel no rumen (% da recomendayllO do NRC, 1989) a,b,c,d (P<O,05)

\.1 <:: r.:;A':-£, Roseler et al. (1993) )1 ...

b) deficit de GRF no rumen, 0 que vale dizer, excesso de FDN na dieta.

De acordo com as recomendac;;oes mais atualizadas, para altas produc;;oes de leite (> 35 IIdia), sugere-se que a PNDR nao exceda 35 a 38% da protein a bruta total da dieta, pois tambem o excesso de PNDR pode diminuir 0 teor de proteina do leite e o volume de leite produzido, em func;;ao de prejudicar a sintese de protein a microbiana no rumen (falta de urn minimo de am6nia para as bacterias).

o uso de proteina menos degradavel no rumen pode au­mentar 0 teor de proteina do leite, a produc;;ao de leite e a produc;;ao de proteina, como tambem aumentar 0 nitrogenio nao proteico do leite (NNP), as custas do teor de caseina e/ou da proteina do soro do leite (Tabela 7, adaptada de Khorasani et aI. , 1994).

Assim, na pratica, ao se usar na dieta uma das fontes tipicas de PNDR e recomendado controlar as quantidades fome­cidas: farinha de sangue (0,5 kg/dia), farinha de peixe (0,5 kg/dia), grao tostado de soja (3 -4 kg/dia) .

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Aspectos nutl'icionais que interferem na qualidade do leite

TABELA 7. Efeitos do tipo de grao e do tipo de proteina sobre a produc;:ao e composic;:ao de leite e produc;:ao e composic;:ao da proteina do leite.

D1ETAS

kgde MS/dia Cevada Cevada Milho Milho

F. soja/canola F. peixe/came F. soja/canola F. peixe/came

Cevada 7,32 9,03

Trigo 0,6 0,64 0,67 0,66

MiIho 7,90 9,04

Farelo de canola 1,61 1,89 0,29

Farelo de soja 1,62 1,91

Farinha de peixe 0,84 0,86

Farinha de came 0,55 0,58

Farinha de glUten de 0,85 0,88

milho

Mela90 0,35 0,38 0,39 0,39

Concentrado (total) I 12,Ob 12,67b 13,3a 13,la

Feno 9,1 9,6 9,4 8,1

PB do concentrado

% degradavel no rUmen 53,2 35,0 56,2 39,1

Prod~ao

kg Ieite corrigido 22,61b 22,81b 23,65a 23,83a

(4% gord.)

Lactose (%) 4,96 4,99 4,95 4,96

Gordura (%) 2,80 2,49 2,73 2,70

Proteina (%) 3,03b 3,09a 3,07ab 3,03b

Compo proteina Ieite (% da PB)

Caseina 75,23a 75,09a 73,47b 73 , 14b

Proteina do soro do Ieite 17,83 17,29 20,44 18,67

Nitrogenio nao proteico 6,67b 8,16a 6,09b 8,19a

Concentrado inc1ui suplemento mineral/vi taminico tampon ado a.b diferenc;:a significativa Adaptado de Khorasani et a1. (1994)

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Novos desafios para a prodU/:;iio ieiteira do Rio Grande do Sui

Os resultados da pesquisa na Tabela 7 tambem mostram outros efeitos: a) 0 baixo teor de gordura do leite, devido ao exces­so de concentrado (58,5% na MS total); b) 0 maior consumo de MS nas dietas com milho, 0 que resultou no aumento da prodU(;:ao de leite e c) ~ior teor de caseinai!.o leite nas dietas com cev~ onde 0 amido e mais rapidamente fermentavel no rumen.

Energio do dieto

o fomecimento de concentrado no limite maximo (50% da MS) tende a aumentar 0 teor de protein a do leite, pois estimula a sintese de proteina microbiana no rumen, mas essa medida deve ser evitada ja que, a medio prazo, compromete a saude do rumen (acidose) e da vaca. Tambem 0 tipo de concentrado, de fermen­tar;ao mais ou menos rapida no rumen, po de afetar a composir;ao da proteina do leite, como mostra a Tabela 7, on de 0 leite produ­zido com as dietas com cevada, quando comparado ao leite das dietas com grao de milho, apresenta urn maior teor de caseina.

Por outro lado, nas nossas condir;6es atuais a campo, as deficiencias nutricionais, tanto de energia, quanto de protein a, sao a questao mais comum. A Figura 6, adaptada do trabalho de Gordon (1977), demonstra muito bern que a porcentagem de pro­teina do leite aumenta na medida em que 0 aporte, tanto de proteina, quanto de energia, atende as exigencias para a produr;ao de leite. Atendidas as exigencias, a resposta ao aumento da pro­teina e minima, enquanto que em relar;ao ao aumento no aporte energetico ainda pode haver resposta.

Suplemento~60 com gorduro no dieto

Altas lactar;6es (acima de 10.000 I) vern demandando a suplementar;ao com alimentos energeticos, e os niveis antes co­muns de, apenas, 3 a 4% de GB na MS vern sendo dobrados com o uso controlado de gordura vegetal e/ou animal e de produtos especiais, como a chamada gordura inerte no rumen, ou "by­pass" (sabOes de caleio).

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Aspectos nutricionais que interferem na qualidade do Leite

3,5

3,4 .,.

...•.. 3,3

~ 3,2 -

0 3,1

3 .' 2,9 -

2,8 80 90 100 110 120 130

Aporte em % das exigemcias

FIGURA 7. Efeito dos aportes de energia e protein a no teor de proteina (%) do leite (Gordon, 1977)

De acordo com Kennelly et al. (1999), a suplementayao com gordura geralmente tern urn efeito negativo sobre a percen­tagem de proteina do leite, embora em certos estudos tenham sido encontrados ate aumentos na produI;3o de protein a, face ao aumento da produyao de leite

CAUSAS DA REDUC;Ao NO TEOR DE LACTOSE DO LEITE

Ha grande unanimidade na literatura em relayao ao fato de que a lactose e 0 componente do leite menos afetado pela alimentayao. Sob condiyoes normais, 0 teor de lactose e um pouco menor no inicio e ao fim da lactayao, acompanhando a curva de produyao. A lactose e considerada como 0 "marca­pas so" da produyao de leite, ou seja, quanta mais acido propionico estiver disponivel para a sintese de lactose no ubere, tanto mais leite e secretado. Isto e assim porque a lactose e 0 potassio no leite da vaca sem mastite mantem 0 equilibrio osm6tico entre 0

leite e 0 sangue, atraves da retirada de agua dos fluidos extra- e intra-celulares. Assim, quanto mais lactose e secretada, tanto mais agua e necessaria para formar 0 leite (87,5% de agua). Todavia, em situayoes de subnutriyao energetic a (cetose), princi-

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Novos desafios para a produr;iio leiteira do Rio Grande do Sui

palmente no pre- ou logo no pos-parto, em que nao M "pi co" de lactac;ao, ha diminuic;ao no teor de lactose (Thomas & Rook, 1983).

Sfndrome do leite anormal

A experiencia da produyao de leite em Cuba, a base de cana de a~ucar moida como principal volumoso, com consumo deficiente de MS e aporte energetico na ordem de 70 a 75% das necessidades, teve como resultado a produc;ao de leite anormal, com teor de lactose inferior a 4,6%, proporc;ao de casein a inferior a 76% da protein a total (normal = 79%) e com reac;ao positiva a prova do alizarol, sem ser urn leite acido (Ponce, 1999). De acordo com 0 autor essa situac;ao e mais manifesta em rebanhos com rac;as mais especializadas (Holandes), durante a epoca de seca. 0 ajuste na alimentac;ao, reduzindo 0 fomecimento de cana de ac;ucar e aumentando a forragem verde, 0 usa na dieta de protein a nao degradavel no rumen, e 0 emprego de aditivos regu­ladores do ambiente ruminal e suplementac;ao mineral adequada, produziram uma recuperac;ao entre 7 e 21 dias.

Altera900 do ponto de congelamento do leite

Em situac;oes de alimentac;ao deficiente, especialmente na falta de suplementac;ao adequada com concentrados e minerais, quando 0 leite apresenta uma diminuic;ao no teor de lactose, ocor­re uma reduc;ao no peso especifico do leite e no seu ponto de congelamento, produzindo efeitos semelhantes a fraude pela adi­c;ao de agua.

Aspectos de manejo alimentar tambem podem afetar 0

ponto de congelamento do leite. 0 acesso limitado ao alimento concentrado e a ingestao de agua nos interval os entre ordenhas, quando compensados pelo livre acesso logo antes da ordenha, podem ser causas da diminuic;ao do ponto de congelamento do leite, conforme revisao de Kirchgessner et al. (1965) sobre 0

assunto.

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Aspectos nutricionais que interferem na qualidade do leite

MANEJO ALiMENTAR

Alem dos fatores acima, envolvendo ingredientes da dieta que afetam a composi9ao do leite, outros aspectos de manejo alimentar relacionados ao modo de fomecer 0 alimento ao animal, devem ser considerados. Pelo exposto anteriormente, pode-se conC\uir que quando a fermentayao no rumen estiver dentro de limites considerados normais, a produ9ao de leite estani otimiza­da, pelo menos no que se refere a qualidade. Os problemas di­gestivos e metab6licos da vaca leiteira que afetam a produ9ao e a composi9ao do leite se originam da dificuldade de conciliar potencial genetico de produ9ao (altas exigencias nutricionais para o ubere) com os limites impostos pela capacidade de ingestao (tamanho de rumen) e pela qualidade nutritiva do alimento volu­moso (velocidade de fermenta9ao no rumen). Dai a necessidade de se usar racionalmente os alimentos concentrados, ajustando-se a quanti dade a fomecer ao iiivel de produ9ao e aumentando-se a freqiiencia de refei~oes, ou seja, evitando-se fomecer acima de 4 kg por refei9ao. Os efeitos positivos do maior numero de refei-90es sobre a melhor regula9ao da fermenta9ao no rumen e 0

aumento no consumo de MS sao amplamente conhecidos, haven­do tam bern urn efeito positivo sobre 0 teor de gordura do leite, conforme os dados da Tabela 8 (Kaufmann, et aI., 1979).

Outro aspecto de manejo de efeito positivo sobre a pro­dU9ao e composi9ao do leite, e 0 fomecimento da dieta total­mente misturada, onde em cada bocado a vaca ingere 0 volu­moso em mistura com os concentrados (energetico, protei co, mi­neral-vitaminico) evitando-se oscila90es na fermenta9ao ruminal e manuten9ao do pH mais elevado e estavel, com todas as suas vantagens decorrentes.

o estimulo it rumina~ao e fundamental a saude do rumen, como ja visto acima, e principal mente em dietas com silagem de milho que sofreu picagem a urn tamanho medio de particula de 1 a 2 cm, recomenda-se fomecer uma quanti dade minima (2 a 3 kg de MS) de feno ou silagem pre-secada de boa qualidade. A regra pratica para garantir 0 minimo de fibra efe-

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Novas desafios para a produr;Go ieiteira do Rio Grande do Sui

TABELA 8. Efeito do numero de refei<;:oes com concentrado sobre 0 teor de gordura do leite

Experimento 1 Experimento 2

Nfunero de Refeic;;6es 2x 6x 2x 6x

Produ<;iio de 1eite (k~d) 23,6 23,4 16,9 17,8

Teor de gordura (%) 3,69 4,04 3,24 3,79

Kaufmann et al. 1979

tiva na dieta recomenda que 75% da FDN consumida pelo animal provenha de volumoso suficientemente estruturado.

CONSIDERA<;OES FINAlS

Em resumo, pode-se concluir que a composi<;ao do leite pode ser grandemente afetada pela nutri<;ao da vaca leiteira. A composi<;ao da dieta influi na fermenta<;ao do rumen e os produ­tos dessa fermenta<;ao nao somente proveem 0 animal com a energia necessaria para 0 seu metabolismo, como tambem dispo­nibilizam os principais precursores para a sintese da gordura, da proteina e da lactose do leite.

o teor de gordura do leite tende a baixar nao somente quando hi uma situa<;ao de carencia alimentar, mas tambem quan­do hi urn desequilibrio alimentar, com excesso de concentrado e/ ou gordura insaturada na dieta, afetando 0 pH do rumen, a fermen­ta<;ao da fibra vegetal e a propor<;ao entre os acidos acetico e butirico, precursores da gordura, em rela<;ao ao acido propionico, precursor da lactose. A alimenta<;ao da vaca leiteira com volumoso de boa qualidade (FDN < 55%) otimiza a fermenta<;ao no rumen e propicia maior consumo de MS e do concentrado.

A queda do teor de gordura pode servir de alerta para eventuais disfun<;oes no rumen, especial mente quando, para aten­der as exigencias de altas produ<;oes de leite, sao usadas grandes quantidades de concentrados rapidamente fermentaveis no rumen, ou quando, erroneamente, se busca compensar a baixa qualidade do alimento volumoso oferecendo mais concentrado. Nessas condi<;oes deverao ser usados aditivos reguladores do pH

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Aspectos nutricionais que interferem na qualidade do leite

no rumen e da fermenta9ao da fibra (suplementos minerais tamponantes, levedura) e alimentos especiais. A gordura satura­da, grao tostado de soja, car090 de algodao e gordura "by-pass aumentam a concentra9ao de energia na dieta; 0 farelo de gluten de milho, casquinha de soja e polpa citrica propiciam uma adequa­da fermenta9ao no rumen, sem prejudicar 0 pH.

A caseina e 0 componente protei co economicamente mais importante e, como foi demonstrado, seu teor po de sofrer varia90es de acordo com a alimenta9ao da vaca em lacta9ao. Tanto a deficiencia, quanto 0 excesso de proteina na dieta levam a perdas, respectivamente devidas, ou a menor produ9ao de leite com baixo teor de proteina, ou ao baixo aproveitamento da pro­teina da dieta (0 nutriente mais caro). Para altas produ90es e recomendado usar fontes proteicas de menor degradabilidade, proven do cerca de 35 a 40% de proteina nao degradavel no rumen, em rela9ao a proteina bruta total. Em situa90es de defi­ciencia alimentar 0 teor de proteina do leite podeni depender mais do aporte de energia na dieta, ja que a produ9ao de proteina microbiana no rumen, a principal fonte proteica para 0 organismo animal, nao estara sendo otimizada.

o gerenciamento da alimenta9ao, racionalizando-a de acordo com 0 nivel de produ9ao de leite, bern como as praticas de fomecimento dos alimentos afetam tambem a composi9ao do leite, pois contribuem para 0 melhor funcionamento da fermenta-9ao no rumen. Situa90es de deficiencia alimentar aguda com restri9ao ao consumo normal de agua e emprego de alimentos inadequados (cana de a<;ucar) poderao levar a redu<;:ao do teor de lactose do leite e altera9ao do ponto de congelamento do leite.

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Novos desafios para a produt;iio leiteira do Rio Grande do Sui

Resumo dos efeitos do manejo alimentar e nutricional sobre os teores de gordura e de proteina do leite

MANEJO TEOR DE GORDURA TEOR DE PROTEIN A

ESTIMULO AO AUMENTA 2 A3

CON SUMO (VOLUMOSO AUMENTA DEcLMOS

DE FDN<60%)

CONCENTRADO EM AUMENTA 2 A 3 PODE AUMENTAR UM

MAlOR NUMERO DE DEcIMOS POUCO

REFEI<;:OES

DEFICrENCLA DE EFEITO REDUZIDO

DIMINUI DE I A 4 ENERGLA DECIMOS

MUlTO GRF (>45%) DIMINUl EM I PONTO AUMENTA I A2

PERCENTUAL DECIMOS

VOLUMOSO DIMLNUl EM I PONTO AUMENTA 2 A 3

FINAMENTE PIC ADO PERCENTUAL DECIMOS

«1 CM)

ELEVA<;:AO DO TEOR DE SEM EFEITO

AUMENTA SE DIETA ERA PROTEINA DEFICIENTE

REDU<;:AO DO TEOR DE SEM EFEITO

DIMINUl COM DIETA PROTEIN A DEFICIENTE

AUMENTA SE DlETA PNDR (35 A 40 % DA PS) SEM EFEITO PREVLA ERA

DEFICIENTE

SUPLEMENTA<;:AO COM GORDURA EFEITO VARIA VEL DIMlNUl I A 2 DECTMOS

(ATE 7-8% DE GS)

Adaptado de Grant (1998)

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Agradecimento : ao mestrando EngO AgrO Thiago Stella de Freitas, pelo auxilio na elaborayiio dos gnificos e tabelas.

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