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ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL DOM BOSCO Mantenedora da Faculdade de Ciências Econômicas, Administração e da Computação Dom Bosco, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Dom Bosco, da Faculdade de Engenharia de Resende e do Colégio de Aplicação de Resende. Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB Av. Cel. Prof. Antonio Esteves, nº 01, Campo de Aviação – Resende-RJ CEP: 27.523-000 Tel./Fax: (24) 3383 -9000 www.aedb.br

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ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL DOM BOSCO Mantenedora da Faculdade de Ciências Econômicas, Administração e da Computação Dom Bosco,

da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Dom Bosco, da Faculdade de Engenharia de Resende e do Colégio de Aplicação de Resende.

Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB

Av. Cel. Prof. Antonio Esteves, nº 01, Campo de Aviação – Resende-RJ

CEP: 27.523-000 Tel./Fax: (24) 3383 -9000

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Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 2

Prezado (a) aluno (a)

Seja bem-vindo a disciplina online de Responsabilidade Social Corporativa no

modelo de EAD (ensino à distância). Espera-se que todos possam construir

conhecimentos e saberes para a excelência de sua formação profissional. O sistema de

educação à distância é uma ferramenta possibilitada graças ao desenvolvimento

tecnológico recente. E por se tratar de uma nova maneira de aprender e ensinar, alguns

problemas e dúvidas podem ocorrer durante as aulas. Não se acanhem busquem os

esclarecimentos necessários e bom estudo. Estarei sempre à disposição para atendê-los.

A mobilidade do capital internacional produz efeitos indesejáveis na sociedade

contemporânea. Ao buscar novas opções produtivas que ofereçam vantagens

competitivas aos negócios, as empresas promovem impactos sociais desequilibrando

sistemas amadurecidos. Alguns destes impactos são benéficos para a sociedade enquanto

que outros geram efeitos malefícios de enormes proporções. A cadeira de

Responsabilidade Social Corporativa estuda exatamente o fenômeno dos problemas

decorridos da transnacional idade capitalista, oferecendo material para análise do corpo

discente e criando debates sobre a situação dos atores sociais.

No decorrer do período letivo serão utilizados textos básicos e de apoio fornecidos pelo

tutor, e como meio de desenvolvimento de pesquisas acadêmicas, serão solicitadas

redações sobre assuntos atuais pertinentes a cadeira de Responsabilidade Social

Corporativa. A utilização de chat será uma ferramenta indispensável para a

sistematização e construção dos conhecimentos. Trabalharemos com amplo espaço de

tempo para os debates e participação de todos.

O objetivo é que o discente, até o final do período letivo, tenha uma posição racional do

momento presente de nossa sociedade, e possa identificar, analisar, e propor soluções

para os conflitos entre o capital e a sociedade.

Abraços,

Rafael Roesler

Professor Tutor

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Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 3

Conteúdo Programático

1.- Gestão Social

1.1.- Fundamentos Teóricos

1.2.- Modernas Concepções das Organizações Sociais

1.3.- Terceiro Setor

1.4.- Empreendedorismo Social no Brasil

2.- Responsabilidade Social Corporativa

2.1.- Conceitos e Principios

2.2.- Tendências teóricas em RSC

2.3.- Indicadores em RSC

2.4.- A importâcia da RSC como fator de diferenciação

3.- RSC nas Diferentes Áreas Organizacionais e seus Impactos

3.1.- Responsabilidade Social numa perspectiva estratégica.

3.2-Responsabilidade Social Corporativa

4.- Responsabilidade Social e Estratégia Empresarial

4.1.- Estratégia Empresarial

4.2.- Marketing Social

4.3.- Desigualdade e Indicadores Sociais

4.4.- Desenvolvimento Sustentável

4.5.- Manual para o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

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1.-GESTÃO SOCIAL

1.- Gestão Social

Pode-se definir Gestão Social como a administração das ações públicas voltadas

para o atendimento das necessidades e demandas da sociedade. São consequências de

agendas políticas e programas de governos quando partem da Administração Pública. A

iniciativa privada pode elaborar também, atividades voltadas para a Gestão Social

através de projetos sociais. Desta forma pode-se concluir que todas ações derivadas do

Estado são públicas, mas nem todas ações públicas originam do Estado.

A verificação da eficácia das ações sociais reside no controle da instituição. A

participação dos atores sociais no acompanhamento do resultado esperado versus

resultado alcançado é determinante na correção dos possíveis desvios. Este

acompanhamento pode ser realizado pelo Estado, com seus meios de fiscalização, e pela

sociedade com o objetivo de elevar o aproveitamento dos recursos empregados.

Volte para seu curso e participe do Fórum "Boas-Vindas" no Bloco Fóruns de

Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa vale ponto.

ANOTAÇÕES:

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1.-GESTÃO SOCIAL

1.1.- Fundamentos Teóricos da Gestão Social

A nova ordem econômica mundial impôs diferentes desafios a Administração

Pública. O deslocamento constante e maciço do capital internacional provoca a

necessidade de novos arranjos sociais. O crescimento econômico de uma localidade pode

ser extremamente positivo se o Estado regulamentar, através de Políticas Públicas, a

distribuição de renda para os atores sociais.

Gestão Social e Políticas Públicas

A elaboração de Políticas Públicas, para amenizar os efeitos negativos gerados

pelo capital internacional nas relações sociais cria um formato diferenciado nas ações do

Poder Público. O crescimento populacional desorganizado, decorrente da procura de

melhor qualidade de vida, gera: falta de espaços habitacionais, ineficiência no

atendimento de saneamento básico, piora no atendimento educacional, deterioração do

sistema de saúde pública e outros serviços sociais.

O mesmo ocorre com o esvaziamento social produzido pelo fechamento de organizações.

A falta de recursos e apoio de empresas deixam um vazio financeiro para a sociedade, e

também para os cofres públicos. A retração da arrecadação fiscal afeta diretamente a

qualidade dos serviços comunitários.

Estas alterações abruptas exigem planejamento complexo para viabilizar soluções. A

Gestão Social, com sua abrangência, pode determinar estudos e experiências para a

retomada da normalidade comunitária.

Os administradores públicos precisam flexibilizar seus conceitos e visões sobre a

diversidade e a criatividade na elaboração de sua agenda política. O Gerente Social

(entenda-se Gestor Social) obrigatoriamente tem que trabalhar de forma conjunta e única

com toda a sociedade, sob pena de não atender todas as camadas sociais, e assim,

promover a exclusão dos atores sociais mais carentes, estes normalmente sem voz ativa

na participação de movimentos populares.

Ao elaborar estratégias e planos de ações para melhorar os indicadores de qualidade de

vida, o Gestor Público está, em outras palavras, desenvolvendo Políticas Públicas. As

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principais ações que podem ser tomadas pelos Gestores Sociais são: redefinir o papel do

Estado, identificar necessidades da comunidade, implementar ações públicas, analisar

resultados em termos de eficiência e eficácia das ações, promover correção de desvios, e

integrar as diferentes correntes sociais.

Estas ações realizadas com todos os segmentos da sociedade promovem no setor público

a sua reconstrução, e flexibilização com vistas a atender todas as camadas sociais. Desta

forma, o que se busca na verdade é a melhor distribuição de renda, via setor público, para

os atores sociais menos favorecidos.

Gestão Social e Desenvolvimento Local

O crescimento econômico de uma determinada região impulsionado pelo

capitalismo internacional necessita de regulamentações legais para que beneficie toda a

estrutura social. Este crescimento sem a divisão justa da riqueza produzida, tem como

consequência o acúmulo financeiro por uma pequena parcela da população, gerando

graves distorções sociais.

O Gestor Social precisa elaborar dispositivos jurídicos para que a riqueza construída seja

transformada em benefícios para todos os atores sociais envolvidos no processo. Estes

dispositivos precisam ser estabelecidos de forma que não sejam onerados os capitais

produtivos e nem sobre taxados os produtos, para se evitar o bloqueio ao crescimento

econômico. Estas medidas necessitam de um amplo debate junto à sociedade.

A Gestão Social tem como foco principal a busca por soluções que potencializem

os investimentos públicos e privados, de maneira a distribuir a riqueza gerada entre todos

os envolvidos. Esta distribuição democrática é a característica básica do desenvolvimento

social e econômico de uma localidade, região ou país. Entre as muitas iniciativas tem-se:

a reforma tributária; o incentivo a formalização profissional; o incentivo

ao investimento produtivo; o incentivo a maior participação do Terceiro Setor em áreas

de difícil atuação eficaz do Estado; a melhoria dos índices educacionais; adequação da

cobertura social; e a eliminação do capital especulativo.

Uma das características do desenvolvimento econômico é a participação dos atores

sociais na elaboração das estratégias, nos processos decisórios e na implementação das

Políticas Públicas ajustadas.

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Verifica-se que a questão social tem caráter relevante no desenvolvimento local,

legando ao segundo plano os investimentos financeiros. As ações do público em geral é

que possuem os valores determinantes para o estabelecimento de Políticas Sociais

eficazes para a valorização do capital humano, social e cultural. Sabe-se que a

maximização das potencialidades, oportunidades e vantagens comparativas de cada

localidade é que determinam o desenvolvimento local. Assim pode-se afirmar que o

efetivo desenvolvimento social e econômico de uma sociedade nasce com a participação

de todos os atores sociais e não apenas de uma elite financeira, sendo que o início de todo

o processo depende diretamente das ações do Gestor Social, estimulando a prática

corporativa social de todos os cidadãos.

Clique no seguinte link e faça uma leitura : Gestão Social: Um Conceito em construção

Volte para seu curso e participe do Fórum "Fundamentos Teóricos da Gestão

Social" no Bloco Fóruns de Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa

vale ponto.

ANOTAÇÕES:

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1.-GESTÃO SOCIAL

1.2.- Modernas Concepções das Organizações Sociais

Diversos trabalhos acadêmicos enfatizam a importância de novas instâncias de

participação e a mobilização da sociedade civil na concretização de um Estado

democrático. Espaços públicos como o orçamento participativo, conselhos gestores,

fóruns temáticos, organizações não-governamentais e movimentos sociais, entre outros,

são preciosos exemplos do avanço da sociedade civil e do Estado.

Conforme definição do Ministério do Planejamento Organização Social é uma

qualificação dada às entidades privadas sem fins lucrativos (associações, fundações ou

sociedades civis), que exercem atividades de interesse público, certificadas pelo Governo

Federal através da Lei número 9.637 de 18/05/1998. Estados e Municípios podem e

devem editar normas especificas sobre suas conveniências para disciplinar esta matéria.

As Organizações de alcance social geralmente são direcionadas para o ensino,

pesquisa científica e tecnológica, cultura, áreas diversas relacionadas à saúde, e a

preservação e educação ambiental. Estas atividades são complementares as realizadas

pelo setor público, porém com destacada melhoria no grau de eficiência. Estas

organizações podem receber repasse dos governos municipais, estaduais e federal desde

que atendam os pressupostos legais de controle orçamentário e resultados, inclusive com

ação direta do Tribunal de Contas sobre os valores recebidos.

Para atender os novos preceitos administrativos, as Organizações Sociais precisam ter

bem definidos os objetivos de seus projetos. A base objetiva do Poder Público para a

implementação e incentivo às atividades voluntárias são:

Econômica – aumento da capacidade de investimento do Estado em áreas

essenciais, e redução do déficit público;

Política – ampliação da participação popular nos processos decisórios; e

Social – melhor atendimento às camadas sociais mais necessitadas.

A expansão dos serviços oferecidos pelas organizações beneficentes e socialmente

organizadas não deve reduzir o Estado a mero gerenciador de entidades não-

governamentais. Quando o atendimento voluntário for ineficiente o Estado tem que

reassumir seu papel assegurando aos atores sociais completa cobertura dos serviços

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essenciais. De qualquer forma, a parceria pública – privada vem colhendo bons frutos

em todas as regiões do Brasil.

Clique no seguinte link e faça uma leitura do texto "Gestão Social: uma visão

introdutória." listado no Volume 2: Gestão Social: O que há de novo?

Volte para seu curso e participe do Fórum "Modernas Concepções das Organizações

Sociais" no Bloco Fóruns de Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa

vale ponto.

ANOTAÇÕES:

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1.-GESTÃO SOCIAL

1.3.- Terceiro Setor

Defini-se Terceiro Setor como o agrupamento de organizações sem vínculos com

o Estado e que desenvolvem atividades geradoras de bens ou serviços públicos. Um ponto

a ser lembrado é que estas atividades não substituem as obrigações governamentais,

apenas a complementam. O Terceiro Setor caracteriza-se por obter recursos de empresas

e organizações não governamentais. Alguns autores supõem que o Terceiro Setor está a

serviço do Capitalismo Internacional e que tem como pano de fundo o afastamento do

Estado de suas funções para que sua minimização seja utilizada para fins lucrativos

empresariais. Esta proposição precisa de uma profunda análise, pois, até o momento

nenhuma iniciativa, no Brasil ou no exterior, esboçaram tal comportamento.

O cenário de surgimento do Terceiro Setor

As décadas de 1960, 1970, 1980, e 1990 trouxeram um cenário de grandes

alterações sociais, principalmente com a construção da nova ordem econômica mundial.

As inovações tecnológicas reduziram drasticamente o número de empregos em todos os

setores econômicos. Este fenômeno debilitou ainda mais as relações trabalhistas e

produziu um fato novo a competição entre os atores sociais por melhor capacitação

profissional.

No Brasil, nas últimas décadas do século XX, os movimentos campesinos, sindicais, e

estudantis se expandiram exigindo do Estado melhor atendimento para as necessidades

públicas. O setor religioso, por sua vez, direcionava e incentivava seus membros para a

criação de organizações beneficentes. Este novo panorama propiciou o surgimento de um

novo tipo de organização conhecida na época como entidades sem fins lucrativos com

aspectos público e privado. A destinação de capital privado para geração de mais capital

privado pertence ao que se denomina por Primeiro Setor. O desenvolvimento de

atividades públicas custeadas pela Administração Pública são pertinentes ao que se

conhece como Segundo Setor. O novo panorama determinou o aparecimento do Terceiro

Setor; uma situação onde o capital privado se ocupa de ações voltadas para o social.

Esta condição reduziu a participação do Poder Público nos investimentos sociais, que se

demonstraram crescentes, uma vez que uma parcela considerável da população se

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deslocava de sua região de origem na procura de melhor qualidade de vida, observou-se

principalmente o esvaziamento do meio rural e o inchaço das áreas urbanas.

A medida em que o Estado negligencia seu papel de suprir das carências sociais e

promotor do bem-estar social , o meio privado se vê obrigado a deslocar recursos para a

melhoria do ambiente social. Com o passar dos anos a iniciativa privada ocupou o espaço

que deveria pertencer ao Estado.

O Terceiro Setor deve ser visto como um agente do ambiente político-econômico,

interferindo de maneira positiva nas relações entre o Estado e o mercado no que se refere

às questões de melhoria social, emprestando seus modelos de gerenciamentos

organizacionais de sucesso para a gestão de entidades direcionadas à filantropia. A

transformação da sociedade impulsionada com a atuação do Terceiro Setor proporciona

o desenvolvimento coletivo melhorando os indicadores sociais e econômicos.

As Políticas Sociais

Os espaços abandonados pelo Poder Público, sejam por sua inoperância ou por

seu desconhecimento, ampliam a importância das intervenções das organizações do

Terceiro Setor. Um dos motivos para o acerto dos investimentos vem da aplicação de

Políticas Sociais adequadas para cada tipo de necessidade. Observa-se nestes casos que

existe um minucioso planejamento antes do investimento de cada recurso, e desta forma

tornando eficiente toda empreitada. A elaboração de projetos contemplando as reais

necessidades de cada comunidade, a previsão de consumo de recursos, e os possíveis

desvios na implantação, minimizam os riscos de erros.

Outro ponto que merece destaque é a inversão do planejamento das necessidades. As

políticas definidas pelo Poder Público partem de gabinetes e tem origem em planilhas,

gráficos, e quadros. Este meio de elaboração de projetos possuem elevado grau de erro

para contemplar todas as carências comunitárias. O contrário ocorre com projetos

elaborados pela iniciativa privada, que inicialmente buscam a participação do público

alvo para depois serem planejados.

Na década de 1980 algumas iniciativas de participação popular na elaboração de

projetos foram realizadas , porém, os problemas burocráticos emperram a máquina

administrativa pública.

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Verifica-se que as Políticas Sociais discutidas, definidas e planejadas em conjunto com

as comunidades possuem alto índice de acertos por identificar as reais necessidades dos

“clientes”.

Desafios do Terceiro Setor

As empresas que patrocinam as iniciativas das entidades do Terceiro Setor exigem

resultados dos seus investimentos, que só podem ser obtidos com a maximização da

eficiência administrativa. Para alcançar este patamar as instituições ligadas a este setor

precisam superar diversas dificuldades entre elas:

a) Sustentabilidade Financeira – Toda organização necessita de formação de

fundos para custear as atividades. Geralmente estes fundos vem de empresas que

precisam observar o projeto para decidir se patrocinam ou não. A elaboração de um

projeto já consome verbas criando assim um dilema “Só financio um projeto se eu ver

(empresa) versus Só elaboro um projeto se tiver recursos (Terceiro Setor).”

b) Reconhecimento Social – Este desafio decorre da necessidade de aceitação por

parte dos atores sociais, que uma instituição vai a partir do nada deslocar recursos para

melhorar as condições de uma comunidade. Para agilizar este processo é necessária a

transparência administrativa com seus associados, colaboradores, e toda comunidade

envolvida. A continuidade das ações depende da eficiência nos resultados, portanto, a

capacitação e profissionalização dos envolvidos é um meio de fortalecer a imagem e o

caráter social e voluntário da instituição.

c) Objetivos Claros – Definir o foco principal das instituições voluntárias é

extremamente importante para o inicio do “negócio”. A administração de uma

organização do Terceiro Setor não pode subestimar as ações da Administração Pública,

menos ainda exigir que os beneficiados acatem perfeitamente as suas determinações.

Muitas vezes os objetivos entre as instituições e seus “clientes” não são coincidentes,

neste caso o melhor é rediscutir o plano de ação e refazer o planejamento.

A burocracia foi um dos mais relevantes problemas da Administração Pública, chegando

ao absurdo de ser criado um Ministério da Desburocratização no governo do Presidente

João Batista de Figueiredo.

Estas iniciativas são conhecidas como orçamento participativo e significaram um

grande avanço social.

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1.3.1 - Empreendedorismo Social

Empreendedorismo social é um conjunto de ações que beneficiam a comunidade

por organizações sociais sem esperar retorno financeiro pelos atos. As principais

características são: criatividade, atividades inovadoras e forte determinação.

Leia os textos abaixo para melhor compreensão do assunto.

Terceiro Setor e Empreendedorismo Social

Numa palestra há alguns anos, o jornalista Joelmir Betting fez uma brilhante

definição de terceiro setor. Enquanto o primeiro setor se caracteriza pelo uso do bem

público para gerar benefícios públicos, o segundo setor se caracteriza pelo uso do bem

privado para gerar benefícios privados. Pelo raciocínio, o terceiro setor seria o uso de

bens privados para gerar benefícios públicos e, porque não dizer, haveria também o

quarto setor, que seria o uso de bens públicos para gerar benefícios privados (o que

explica muitas coisas que temos visto na política ultimamente). Há aproximadamente 5

anos, eu pedi a meus alunos para escreverem, como trabalho final da disciplina de

empreendedorismo, um Plano de Negócios.

Um grupo de alunos resolveu escrever um plano para a recuperação de uma creche

que atendia mães que não tinham recursos para pagar pelos serviços. Na época eu

rechacei o trabalho dizendo que entidades sem fins lucrativos e empresas eram bastante

diferentes e que o plano de negócios tinha que ser escrito de forma totalmente diferente.

A veemência com que defenderam a idéia me fez prestar mais atenção nos modelos de

negócios do terceiro setor desde então. Hoje eu faço uma idéia diferente do que

normalmente chamam de ONG (Organização Não Governamental), um termo, aliás

totalmente inapropriado pois qualquer empresa do setor privado também é não

governamental, assim ONG seriam todas as organizações do segundo e do terceiro

setores. Talvez o termo mais apropriado seja OSFL (Organização Sem Fins Lucrativos).

E é aí que reside a essência deste tipo de organização, a ausência do lucro como

um fim em si mesmo.

Muitas pessoas confundem ‘sem fins lucrativos’ com ‘sem resultados financeiros’

e são dois conceitos bastante distintos. Com o passar do tempo, as OSFL estão se dando

conta que precisam ser administradas de forma profissional, precisam zelar pelo bom uso

dos recursos que lhes são colocados à disposição, e, mais importante, precisam buscar

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Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 14

formas de se desvincular da necessidade da doação voluntária de recursos e serviços.

Estas organizações estão cada vez mais procurando formas de garantir sua auto-

sustentabilidade. Em outras palavras, estão tentando fazer dinheiro para conseguir se

manter. Por outro lado, as empresas com fins lucrativos, passada a onda de se definir

declarações de missão e visão de forma artificial e divulgar por todos os cantos da

empresa, estão finalmente aprendendo que é mais importante entender o significado e o

objetivo de sua missão e visão do que simplesmente decorar a declaração. Neste processo

de amadurecimento, algumas estão descobrindo que o objetivo final da empresa não é

necessariamente gerar valor para o acionista na forma de lucros financeiros. O acionista

agora está sendo visto como uma entidade necessária para prover os recursos a serem

usados para um fim maior da empresa, que acaba resvalando para algum tipo de benefício

para a sociedade.

As novas declarações de missão e visão estão começando a refletir estes novos

valores. Nas relações entre representantes do segundo e do terceiro setores, os objetivos

também estão começando a evoluir. Cada vez menos as empresas estão dispostas a doar

dinheiro para causas sociais apenas para colocar alguma coisa em seus relatórios de

balanços sociais. Elas estão procurando alinhar causas sociais à sua missão e valores. Da

simples doação de recursos, estão aproximando suas competências e seus modelos de

negócio para atender a comunidade a que servem. As empresas que fazem isso com

maior sucesso são aquelas que pouco conseguem diferenciar quais das suas ações são de

negócio e quais são sociais. Vamos falar um pouco sobre a diferença entre dono e

investidor. Quando uma empresa abre o seu capital ela visa, primordialmente, a captação

de recursos externos. Neste ponto, o dono passa a ter sócios investidores,

que são os acionistas.

Apesar de ambos, numa primeira instância, visarem o lucro, enquanto o dono

quer manter o seu negócio no longo prazo, os acionistas são mais volúveis, na primeira

turbulência retiram o seu capital e o levam para outros negócios mais promissores, a

maioria não mantém uma relação de fidelidade. Uma parte dos resultados financeiros é

re-investida na empresa e outra parte é distribuída entre o dono e os acionistas. No

terceiro setor, as organizações também precisam de investidores, que, neste caso, não

visam o lucro e por isso são melhor designados como doadores ou patrocinadores. Não

há nenhum problema se a entidade usar estes recursos para criar negócios que gerem

receita suficiente para ela não mais depender destes doadores. Seria como se os

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Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 15

resultados financeiros fossem, parte re-investidos na empresa e parte distribuída entre os

investidores que por sua vez investiriam na empresa novamente. Se você está entendendo

a minha linha de raciocínio já deve ter percebido que o que quero demonstrar é que a

única diferença entre organizações do segundo e do terceiro setor é o que ambas fazem

com o lucro que geram.

O resto é ou será absolutamente a mesma coisa. Enquanto as empresas privadas

distribuem seus lucros para os acionistas, as OSFL revertem os lucros para a comunidade

na forma de novos investimentos para que aumentem a abrangência dos benefícios

sociais propostos e que garantam sua sustentabilidade no longo prazo. Bem, eu lembrei

de escrever sobre isto porque há uma semana, quando um aluno me perguntou qual a

diferença de escrever um plano de negócios para o terceiro setor, me lembrei daquele

grupo de alunos que reprovei e, fazendo um humilde ‘mea culpa’ aqui publicamente,

afirmo: ‘Não há diferença alguma!!’.

Extraído de: HASHIMOTO, Marcos; De Avó, M. R. e Silva, L. I. Relevance of

intrapreneurship in SMB: the influence of agency conflicts and institutionalized

practices, United States Association of Small Business and Entrepreneurship Annual

Conference Proceedings, San Antonio, TX, EUA, Janeiro, 2008

Volte para seu curso e participe do Fórum "Terceiro Setor" no Bloco Fóruns de

Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa vale ponto.

ANOTAÇÕES:

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1.-GESTÃO SOCIAL

1.4.- Empreendedorismo social no Brasil: atual configuração, perspectivas e desafios

– notas introdutórias.

Resumo:

No presente artigo, procuramos apresentar os principais elementos introdutórios

ao tema empreendedorismo, tomando como exemplo a realidade brasileira. Partimos da

constatação de que o empreendedorismo social emerge no cenário dos anos 1990, ante a

crescente problematização social, a redução dos investimentos públicos no campo social,

o crescimento das organizações do terceiro setor e da participação das empresas

no investimento e nas ações sociais. Atualmente, o empreendedorismo social se

apresenta como um conceito em desenvolvimento, mas com características teóricas,

metodológicas e estratégicas próprias, sinalizando diferenças entre uma gestão social

tradicional e uma empreendedora. É o que procuramos apresentar, mesmo que

sinteticamente e de forma introdutória, a partir dos principais conceitos, nacionais e

internacionais, e de um exemplo típico brasileiro e de impacto global: as sensíveis

diferenças entre empreendedorismo social e outros conceitos, como responsabilidade

social empresarial e empreendedorismo privado. Finalizando, apontamos algumas

características de entendimento do empreendedorismo social no Brasil, bem como alguns

elementos sobre os desafios e possibilidades dessa nova forma e paradigma de gestão

social que se apresenta como emergente e de grande poder de transformação social no

cenário de um Brasil paradoxal, com muitos problemas, mas repleto de possibilidades.

Palavras-chave: empreendedorismo social; gestão social; terceiro setor.

Abstract

The present article aims at showing the entrepeneurism main introductory elements

based on the Brazilian reality. We started by ascertaining that the social entrepeneurism

emerged in the 90s due to social problems, decreased social public investments, third

sector organization growth and company participation in the social sector investments

and actions. Nowadays, the social entrepeneurism is a developing concept with its own

theoretical, methodological and strategic characteristics, showing differences between

traditional and entrepreneur-like social management.

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Based on main international and national concepts and on a typical Brazilian example

with a global impact we attempt to show, even if in a synthetic and introductory way: the

clear differences between social entrepeneurism and other concepts, such as company

social responsibility and private entrepeneurism. Finally, we show some characteristics

of the social entrepeneurism in Brazil, as well as some elements of the challenges and

possibilities of this new form of emerging social management paradigm that has a great

social transformation power in a paradoxical Brazilian scenario full of problems but also

of possibilities.

Key words: social entrepeneurism; social management; third sector.

Introdução

O tema empreendedorismo social é novo em sua atual configuração, mas na sua

essência já existe há muito tempo. Alguns especialistas apontam Luther King, Gandhi,

entre outros, como empreendedores sociais.

Isso foi decorrente de suas capacidades de liderança e inovação quanto às mudanças em

larga escala. Na nossa pesquisa, uma das primeiras constatações foi a pouca bibliografia

sobre o assunto, não somente no Brasil como também no exterior, o que demonstra ser

o tema novo e ainda estar em desenvolvimento. Esse fato gera certo grau de confusão

entre alguns termos que, apesar de parecerem semelhantes no significado, são bem

distintos, como, por exemplo, responsabilidade social e empreendedorismo privado.

Essa confusão, diga-se de passagem, é encontrada, tanto por pesquisadores brasileiros

quanto estrangeiros.

Outra constatação é o fato de, no Brasil, as fontes para embasamento teórico

serem, em muitos casos, de origem estrangeira. Mas, no tocante à prática, já temos alguns

exemplos nacionais com impacto internacional, como é o caso do Comitê de

Democratização da Informática - CDI, de Rodrigo Baggio, no Rio de Janeiro. Tais

constatações nos levam a crer que o Brasil não se diferencia em relação a outros países

quanto à definição do que seja empreendedorismo social. Já temos, inclusive, exemplos

concretos que podem sinalizar um padrão específico que distingue o empreendedorismo

social de outros termos e práticas relativamente similares. Logo, e considerando o espaço

e objetivo deste artigo, apresentamos, em um primeiro momento, os principais conceitos

mais em voga, tanto na visão internacional como na nacional sobre o significado de

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Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 18

empreendedorismo social na atual conjuntura. Em um segundo momento, abordamos o

que consideramos como tênues diferenças entre dois principais termos, que regularmente

apresentam certa similitude e até confusão com o empreendedorismo social:

responsabilidade social empresarial e empreendedorismo privado. Em um terceiro,

tratamos de um dos casos mais exemplares de empreendedorismo social nacional, mas

com impacto e notoriedade internacionais. Em um quarto momento, descrevemos os

principais traços do conceito e caracterização do empreendedorismo social, bem como

uma síntese de seu significado e fundamentação. Em um quinto, apresentamos em linhas

gerais os principais desafios e possibilidades do empreendedorismo social no Brasil,

algumas considerações finais e sugestões quanto ao conhecimento sistematizado em

nossa investigação. Com isso, esperamos contribuir para uma introdução mais

sistematizada e contextualizada sobre o tema e ampliar o debate.

Metodologia

Trata-se do resultado de uma pesquisa qualitativa, multicaso, tipo exploratória.

Foi feito um estudo descritivo de oito organizações consideradas típicas e exemplares

em relação ao conceito e prática do empreendedorismo social, destacando-se entre elas:

Academia Social de Recife-CE, Comitê de Democratização da Informática - CDI do Rio

de Janeiro e Ashoka de São Paulo. Por intermédio da Ashoka, conseguimos contactar

quatro organizações da rede de empreendedores.

Destas, três se submeteram ao preenchimento de um questionário semi-

estruturado. E, dessas três, uma permitiu que realizássemos um estudo de caso em

profundidade. Tais fontes permitiram extrair os principais fundamentos, que

delimitamos em: ontológicos, gnoseológicos, epistemológicos e das estratégias de gestão

dos empreendimentos sociais realmente empreendedores. Os dados foram

sistematizados e, com o auxílio de software de pesquisa, fizemos a análise léxica e

qualitativa dos principais dados. A seguir, apresentamos uma pequena parte desses dados

como introdução à presente temático.

O atual entendimento sobre empreendedorismo social

Em nossa investigação, verificamos que parte da pouca bibliografia sobre o assunto tem

como fontes artigos e trabalhos produzidos por outros países. Ao analisarmos as

organizações e suas propostas, podemos destacar algumas delas que têm influenciado a

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disseminação do conceito e da prática do empreendedorismo social: School Social

Entrepreneurship - SSE, UK - Reino Unido, Canadian Center Social Entrepreneurship -

CCSE, Canadá; Foud Schwab, Suíça; e The Institute Social Entrepreneurs - ISE, Estados

Unidos. No quadro 1, sintetizamos os principais entendimentos sobre empreendedorismo

social.

No que se refere aos conceitos difundidos no Brasil, podemos verificar uma certa

semelhança, que encontramos a partir de fontes diversas, tais como: dissertações, artigos,

livros. Vejamos no quadro 2 uma amostra de algumas citações catalogadas no decorrer

da referida investigação.

QUADRO 1 - CONCEITOS SOBRE EMPREENDEDORISMO SOCIAL - VISÃO

INTERNACIONAL

ORGANIZACAO ENTENDIMENTO

School Social Entrepreneurship

- SSE, Uk-Reino Unido

"É alguém que trabalha de uma maneira empresarial,

mas para um público ou um benefício social, em lugar

de ganhar dinheiro. Empreendedores sociais podem

trabalhar em negócios éticos, órgãos governamentais,

públicos, voluntários e comunitários [...]

Empreendedores sociais nunca dizem 'não pode ser

feito'."

Canadian Center Social

Entrepreneurship - CCSE,

Canadá

"Um empreendedor social vem de qualquer setor, com

as características de empresários tradicionais de visão,

criatividade e determinação, e empregam e focalizam

na inovação social [...] Indivíduos que [...] combinam

seu pragmatismo com habilidades profissionais,

perspicácias."

Foud Schwab, Suíça "São agentes de intercambiação da sociedade por meio

de: proposta de criação de idéias úteis para resolver

problemas sociais, combinando práticas e

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conhecimentos de inovação, criando assim novos

procedimentos e serviços; criação de parcerias e

formas/meios de auto-sustentabilidade dos projetos;

transformação das comunidades graças às associações

estratégicas; utilização de enfoques baseados no

mercado para resolver os problemas sociais;

identificação de novos mercados e oportunidades para

financiar uma missão social. [...] características

comuns aos empreendedores sociais: apontam idéias

inovadoras e vêem oportunidades onde outros

não vêem nada; combinam risco e valor com critério e

sabedoria; estão acostumados a resolver problemas

concretos, são visionários com sentido prático, cuja

motivação é a melhoria de vida das pessoas, e

trabalham 24 horas do dia para conseguir seu objetivo

social."

The Institute Social

Entrepreneurs - ISE, EUA

"Empreendedores sociais são executivos do setor sem

fins lucrativos que prestam maior atenção às forças do

mercado sem perder de vista sua missão (social) e são

orientados por um duplo propósito: empreender

programas que funcionem e estejam disponíveis às

pessoas (o empreendedorismo social é base nas

competências de uma organização), tornando-as

menos dependentes do governo e da caridade."

Ashoka, Estados Unidos "Os empreendedores sociais são indivíduos

visionários que possuem capacidade empreendedora e

criatividade para promover mudanças sociais de longo

alcance em seus campos de atividade. São inovadores

sociais que deixarão sua marca na história."

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Erwing Marion, Kauffman

Foundation

"Empreendimentos sem fins lucrativos são o

reconhecimento de oportunidade de cumprimento de

uma missão para criar e sustentar um valor social, sem

se ater exclusivamente aos recursos."

FONTE: Oliveira (2004)

QUADRO 2 - CONCEITOS SOBRE EMPREENDEDORISMO SOCIAL - VISÃO

NACIONAL

AUTOR CONCEITO

Leite (2002 “O empreendedor social é uma das espécies do gênero dos

empreendedores. [...] São empreendedores com uma missão social,

que é sempre central e explícita.”

Ashoka

Empreendedores

Sociais e

Mackisey e Cia.

INC (2001)

“Os empreendedores sociais possuem características distintas dos

empreendedores de negócios. Eles criam valores sociais pela

inovação, pela força de recursos financeiros em prol do

desenvolvimento social, econômico e comunitário. Alguns dos

fundamentos básicos do empreendedorismo social estão

diretamente ligados ao empreendedor social, destacando-se a

sinceridade, paixão pelo que faz, clareza, confiança pessoal,

valores centralizados, boa vontade de planejamento, capacidade de

sonhar e uma habilidade para o improviso.”

Melo Neto e Froes

(2001)

“Quando falamos de empreendedorismo social, estamos buscando

um novo paradigma.O objetivo não é mais o negócio do negócio

[...] trata-se, sim, do negócio do social, que tem na sociedade civil

o seu principal foco de atuação e na parceria envolvendo

comunidade, governo e setor privado, a sua estratégia.”

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Rao (2002 “Empreendedores sociais, indivíduos que desejam colocar suas

experiências organizacionais e empresariais mais para ajudar os

outros do que para ganhar dinheiro.”

Rouere e Pádua

(2001)

) “Constituem a contribuição efetiva de empreendedores sociais

inovadores cujo protagonismo na área social produz

desenvolvimento sustentável, qualidade de vida e mudança de

paradigma de atuação em benefício de comunidades menos

privilegiadas.”

FONTE: Oliveira (2004)

A partir dessa primeira aproximação, fica nítido que tanto nacional quanto

internacionalmente o conceito está em construção. Apesar disso, essa amostra nos

possibilita perceber que há certa similitude quanto à compreensão da origem e

estreitamento do empreendedorismo social com a lógica empresarial, fator este

influenciado pela crescente participação das empresas no enfrentamento dos problemas

sociais. Essa relação próxima e até histórica tem diferenças significativas, que nos

auxiliam a compreender e melhor definir o que seja empreendedorismo social na

atualidade, se não de forma definitiva, bem mais próxima e específica. A seguir,

apresentamos o que chamamos de diferenças tênues em relação a dois outros conceitos

historicamente próximos – responsabilidade social empresarial e empreendedorismo

empresarial – mas, como mostraremos, distintos.

Tênues diferenças, mas que fazem diferença

Antes de dizermos o que é empreendedorismo social, vamos, inicialmente,

explicar o que não é empreendedorismo social. O empreendedorismo social não é

responsabilidade social empresarial, pois esta supõe um conjunto organizado e

devidamente planejado de ações internas e externas, e uma definição centrada na missão

e atividade da empresa, ante as necessidades da comunidade. Não é uma profissão, pois

não é legalmente constituída, não havendo formação universitária ou técnica, nem

conselho regulador e código de ética profissional legalizado; não é também uma

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organização social que produz e gera receitas, a partir da venda de produtos e serviços,

e muito menos é representado por um empresário que investe no campo social, o que

está (2002, p.40), “[...] a solidariedade que produz ajuda mais próximo da

responsabilidade social empresarial, assistencialista representa fantástico processo de ou,

quando muito, da filantropia e da caridade imbecilização”. Os quadros 3, 4 e 5 fazem

comparativos empresarial, que já se mostraram inadequadas, não entre os principais

pontos que diferem e, ao mesmo somente para os “ajudados”, mas também para os

tempo, apresentam certa semelhança com o negócios e para a sociedade, pois, como

enfatiza Demo empreendedorismo social.

QUADRO 3 - DIFERENÇAS ENTRE EMPREENDEDORISMO EMPRESARIAL

E EMPREENDEDORISMO SOCIAL

EMPREENDEDORISMO EMPRESARIAL EMPREENDEDORISMO SOCIAL

1. É individual 1. É coletivo

2. Produz bens e serviços 2. Produz bens e serviços à comunidade

3. Tem o foco no mercado 3. Tem o foco na busca de soluções para

os

problemas sociais

4. Sua medida de desempenho é o lucro 4. Sua medida de desempenho é o

impacto social

5. Visa a satisfazer necessidades dos clientes

e a ampliar as potencialidades do negócio

5. Visa a respeitar pessoas da situação

de risco social e a promovê-las

FONTE: Adaptado de Melo Neto e Froes (2002, p.11)

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QUADRO 4 - ORGANIZAÇÕES SOCIAIS TRADICIONAIS E

EMPREENDEDORAS

TRADICIONAIS EMPREENDEDORAS

1. Hierarquia 1. Time/trabalho orientado

2. Controle centralizado 2. Descentralização/empowerment

3. Foco no que é melhor para a organização 3. Foco no que é melhor para o cliente

4. Ênfase nos programas 4. Ênfase no centro de competências

5. Dependente de recursos 5. Financeiramente auto-suficiente

6. Tentativa de ser todas as coisas para todas as

pessoas

6. Nicho orientado

FONTE: Adaptado de Thalhuber (2002)

QUADRO 5 - CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL,

RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E EMPREENDEDORISMO

PRIVADO

EMPREENDEDORISMO

PRIVADO

RESPONSABILIDADE

SOCIAL

EMPRESARIAL

EMPREENDEDORISMO

SOCIAL

É individual É individual com possíveis

parcerias

É coletivo e integrado

Produz bens e serviços para

o mercado

Produz bens e serviços para

si e para a comunidade

Produz bens e serviços para a

comunidade, local e global

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Tem o foco no mercado Tem o foco no mercado e

atende à comunidade

conforme sua missão

Tem o foco na busca de

soluções para os problemas

sociais e necessidades da

comunidade

Sua medida de desempenho

é o lucro

Sua medida de

desempenho é o retorno

aos envolvidos no processo

stakeholders

Sua medida de desempenho

são o

impacto e a transformação

social

Visa a satisfazer

necessidades dos clientes e

a ampliar as potencialidades

do negócio

Visa a agregar valor

estratégico ao negócio e a

atender expectativas do

mercado e da

percepção da

sociedade/consumidores

Visa a resgatar pessoas da

situação de risco social e a

promovê-las, e a gerar

capital social, inclusão e

emancipação social

FONTE: Adaptado de Melo Neto e Froes (2002)

A investigação realizada sobre o assunto permitiu fazer esses comparativos e

também captar um entendimento mais específico acerca do significado e formatação do

empreendedorismo social brasileiro, o que pode ficar mais claro a partir da apresentação

de um caso exemplar, que hoje é modelo nacional e internacional e talvez um dos que

melhor explicitam a nova perspectiva do empreendedorismo social.

Essa análise pode ser complementada observando-se o perfil do empreendedor social

(quadro 6).

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QUADRO 6 - PERFIL DO EMPREENDEDOR SOCIAL

CONHECIMENTOS HABILIDADES COMPETÊNCIAS POSTURAS

Saber aproveitar as

oportunidades

Ter competência

gerencial

Ser pragmático e

responsável

Saber trabalhar de

modo

empresarial para

resolver

problemas sociais

Ter visão clara

Ter iniciativa

Ser equilibrado

Ser participativo

Saber trabalhar em

equipe

Saber negociar

Saber pensar e agir

estrategicamente

Ser perceptivo e

atento

aos detalhes

Ser ágil

Ser criativo

Ser crítico

Ser flexível

Ser focado

Ser habilidoso

Ser inovador

Ser inteligente

Ser objetivo

Ser visionário

Ter senso de

responsabilidade

Ter senso de

solidariedade

Ser sensível aos

problemas

sociais

Ser persistente

Ser consciente

Ser competente

Saber usar forças

latentes e

regenerar forças

pouco

usadas

Saber correr riscos

calculados

Saber integrar vários

atores

em torno dos

mesmos

objetivos

Saber interagir com

diversos

segmentos e

interesses dos

diversos setores da

sociedade

Ser inconformado

e

indignado com a

injustiça

e desigualdade

Ser determinado

Ser engajado

Ser comprometido

e leal

Ser ético

Ser profissional

Ser transparente

Ser apaixonado

pelo que

faz (campo social)

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Saber improvisar

Ser líder

FONTE: Oliveira (2004)

Esses dados sobre o perfil do empreendedor social foram elaborados com base na

catalogação das várias fontes de pesquisas, já nomeadas, e na entrevista com

empreendedores sociais brasileiros, que vivenciam, e não só teorizam sobre o assunto.

Os dados podem sinalizar um super-homem, ou uma supermulher, mas de fato, se

refletirmos, os indicadores não são tão excepcionais, pois essas características são

necessárias em qualquer área em que se queira fazer diferença e ir além do trivial. Tais

características do perfil do empreendedor social não ficam tão distantes, quando

podemos verificar que, na prática, já podemos ver esses elementos de forma concreta e

sendo expressas em ações. São numerosos exemplos, que podem ser analisados a partir

da consulta a algumas organizações como a Ashoka (www.ashoka.org.br) ou a Foud

Schwab (www.foudschwab.org). No momento, destacamos o caso do CDI, no Rio de

Janeiro, que hoje está em várias partes do Brasil e do mundo, fato este que o faz ser o

exemplo presente dos futuros empreendimentos na lógica do empreendedorismo social,

como veremos a seguir.

Um exemplo brasileiro de empreendedorismo social

Em 1994, Rodrigo Baggio, um jovem profissional da área de educação em

informática, percebeu que a tecnologia da informação poderia ser uma grande ferramenta

para lutar contra a exclusão social. Primeiramente, criou um link para unir jovens de

todas as classes sociais, o JovemLink. Notou, porém, que só os que tinham computador

acessavam a rede. Verificou que era necessário levar a tecnologia ao “outro lado da

fronteira digital”. Assim, criou a primeira escola de informática na favela de Dona Marta,

no subúrbio do Rio de Janeiro, e deu os primeiros passos para a criação, em 1995, do

Comitê de Democracia da Informática CDI, uma organização não-governamental, cuja

missão é “promover a inclusão social utilizando a tecnologia da informação como um

instrumento para a construção e exercício da cidadania”. Com sede no Rio de Janeiro,

hoje está construída e consolidada uma rede de Escolas de Informática e Cidadania -

EIC, de forma autônoma e auto-sustentável. São cerca de 789 escolas, com atuação em

âmbito nacional, em 38 cidades e 20 estados. Nelas, foram capacitadas 461.440 crianças

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e jovens. Internacionalmente, está distribuída em cerca de 10 países. O CDI mantém uma

vasta rede de parceiros para dinamizar suas atividades, nacionais e internacionais,

destacando-se entre eles: BNDES, Fundação W. K. Kellogg, BID, Banco Mundial,

Xerox, Fundação EDS. Devido aos resultados, esse projeto é considerado pela ONU

como de impacto e de exemplo mundial, pois pode ser aplicado em vários lugares e

alcançar, a um baixo custo, resultados significativos de inclusão não só digital, mas

também social e de exercício da cidadania.

Afinal, o que é empreendedorismo social?

Considerando o que apresentamos até o momento, já é possível destacar algumas

características que nos aproximam da resposta deste item. Primeiramente, é possível

distinguir dois tipos de organizações que, atualmente, disseminam o conceito e a prática

do empreendedorismo social. Uma opera como sustentadora, capacitadora e divulgadora,

como é o caso da Ashoka, no exterior e no Brasil, e da Foud Schwab, na Suíça. Além de

recrutarem e manterem por algum tempo o sustento pessoal e técnico do empreendedor

social, abrem espaços e ações de disseminação teórica, com livros, artigos, sites, cursos,

encontros, rede de contato, entre outros. Atuam, portanto, em um nível estratégico e

tático. Um segundo tipo de organização é o que opera na intervenção local, atual, em um

nível operacional, executando e aprimorando os conhecimentos técnicos de gestão e

inovação no campo social.

O CDI é uma ONG que tem com o missão “promover a inclusão social utilizando a

tecnologia da informação como um instrumento para a construção e exercício da

cidadania”

Não estamos fazendo, com isso, uma divisão entre grupos pensantes e grupos

operantes, muito ao contrário, ambos necessitam um do outro para se alimentar. Essa

característica é típica de projetos de empreendedorismo social que não abrem mão do

teórico, do técnico, mas são, como afirmam Melo Neto e Froes (2001), “pragmáticos

responsáveis”, isto é, não despendem tempo em grandes e infindáveis elucubrações

teorizantes, que servem mais para o prazer e ego acadêmicos do que para serem úteis à

sociedade em si.

Nesse sentido, observamos que se trata, antes de tudo, de uma ação inovadora

voltada para o campo social cujo processo se inicia com a observação de determinada

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situação-problema local, para a qual se procura, em seguida, elaborar uma alternativa de

enfrentamento. Observamos também que essa idéia tem de apresentar algumas

características fundamentais, tais como:

1.º) ser inovadora;

2.º) ser realizável;

3.º) ser auto-sustentável;

4.º) envolver várias pessoas e segmentos da sociedade, principalmente a população

atendida;

5.º) provocar impacto social e permitir que seus resultados possam ser avaliados.

Os passos seguintes são: colocar essa idéia em prática, institucionalizar e gerar um

momento de maturação até que seja possível a sua multiplicação por outras localidades,

criando, assim, um processo de rede de atendimento ou de franquia social, até se tornar

política pública.

No exemplo do CDI, nós encontramos todos esses elementos:

1.º) é uma idéia inovadora, nunca antes realizada;

2.º) é uma idéia agora realizada;

3.º) tornou-se auto-sustentável;

4.º) envolveu várias pessoas e segmentos da sociedade (principalmente a população

atendida);

5.º) provocou impacto social, local e global, e os seus resultados e o retorno do

investimento aplicado podem ser avaliados;

6.º) foi multiplicada e aplicada em outras regiões e até em outros países;

7.º) transformou-se em política pública.

Nesse sentido, e de forma mais específica, o empreendedorismo social pode ser

considerado como:

• Um novo paradigma de intervenção social, pois apresenta um novo olhar e leitura

da relação e integração entre os vários atores e segmentos da sociedade.

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Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 30

• Um processo de gestão social, pois apresenta, como vimos, uma cadeia sucessiva

e ordenada de ações, que pode ser resumida em três fases: a) concepção da idéia; b)

institucionalização e maturação da idéia; c) multiplicação da idéia. O que é semelhante

ao processo da metamorfose da lagarta, que entra no casulo e sai borboleta. Foi a partir

dessa analogia que criamos um projeto de extensão chamado “Casulo Sociotecnológico”.

Esse projeto está em andamento, é um projeto de extensão universitária realizado em

parceria com a Associação Comercial e Industrial de Toledo -Acit e visa a colocar em

prática os princípios e as estratégias do empreendedorismo social.

• Uma arte e uma ciência. Uma arte porque permite a cada empreendedor aplicar

as suas habilidades e aptidões e, por que não, seus dons e talentos, sua intuição e

sensibilidade na elaboração do processo do empreendedorismo social. Uma ciência

porque utiliza meios técnicos e científicos para ler, elaborar/planejar e agir sobre e na

realidade humana e social.

• Uma nova tecnologia social, pois sua capacidade de inovação e de empreender

novas estratégias de ação faz com que sua dinâmica gere outras ações que afetam

profundamente o processo de gestão social, já não mais assistencialista e mantenedor,

mas empreendedor, emancipador e transformador.

• Um indutor de auto-organização social, pois não é uma ação isolada, mas, ao

contrário, necessita da articulação e participação da sociedade para se institucionalizar e

apresentar resultados que atendam às reais necessidades da população, tendo de ser

duradouro e de alto impacto social. Não é privativo, pois a principal característica e a

possível multiplicação da idéia/ação partem de ações locais, mas sua expansão é para o

impacto global. Dessa forma, é um sistema dentro de um maior, que é a sociedade,

gerando mudanças significativas a partir do processo de interação, cooperação e estoque

elevado de capital social. Como ressaltam Melo Neto e Froes (2001, p.31) “O processo

de empreendedorismo social exige, principalmente, o redesenho de relações entre

comunidade, governo e setor privado, que se baseia no modelo de parcerias”, tendo como

principal objetivo (2001, p.11 e 12) “[...] retirar pessoas da situação de risco social e [...]

o foco é nos problemas sociais, e o objetivo a ser alcançado é a solução a curto, médio e

longo prazos destas questões [...] buscando propiciar-lhes plena inclusão social”.

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Perspectivas para o empreendedorismo social no Brasil

Como podemos verificar, o empreendedorismo social não se constitui de um

“passe de mágicas”, mas de uma ação que requer, acima de tudo, a capacidade

coordenada das pessoas, mesmo que isso se inicie, primeiramente, por uma pessoa. Logo,

e como sugestão, podemos sinalizar as perspectivas em duas direções: desafios e

possibilidades.

Quanto aos desafios, seriam dois os principais:

a) criar capital social, que é base para elaboração e sucesso das ações do

empreendedor social.Considerando o histórico de cultura individualista em nossa

sociedade, ou do estilo “o que eu vou ganhar fazendo isso?”, ou da vaidade dos gestores,

das organizações públicas, privadas e do terceiro setor, em que prevalece a cultura do

tipo, “minhas crianças”, “meus pobres”, cremos que gerar capital social é, hoje, um dos

grandes desafios para os empreendimentos sociais;

b) empoderamento dos sujeitos do processo, ou seja, quebrar o discurso do “só

tenho direito e não tenho nada de deveres” e fazer com que as pessoas, principalmente

as excluídas e marginalizadas, tenham uma postura de cidadãs e não de vítimas e

comecem a fazer a sua parte sem esperar um “salvador da pátria”, o que em uma cultura

do “me-dá-me-dá” não é uma tarefa muito fácil. É preciso fortalecer o caminhar juntos,

pois, como ressalta Maturana (1997, p.206), “[...] ser social envolve sempre ir com o

outro, e só se vai livremente com quem se ama”.

Quanto às possibilidades, destacamos as seguintes:

a) gera dinamismo e objetividade;

b) gera resultados sociais de impacto;

c) cria capital social e empoderamento;

d) resgata a auto-estima e a visão e futuro;

e) é dinâmico, cativa e motiva as pessoas ao engajamento cívico;

f) tem ênfase na geração de novos valores e mudança de paradigmas;

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Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 32

g) tem na inovação, na criatividade e na cooperação os pilares de suas ações. No médio

e longo prazos, irá influenciar radicalmente a elaboração e execução de projetos sociais,

que deverão, cada vez mais, apresentar, como nos negócios empresariais, propostas que

demonstrem efetividade, eficiência e eficácia quanto à aplicação dos recursos

solicitados, além de apresentar maneiras de aferir os resultados de forma clara e

transparente.

Considerações finais

Procuramos apresentar dados e informações básicas sobre o empreendedorismo

social no Brasil. O título, apesar de pretensioso, trata-se, antes de tudo, da apresentação

de parte dos resultados de uma pesquisa qualitativa e estudo multicaso sobre

organizações e profissionais que estão vivenciando a construção histórica de um novo

modo de gestão social, que recusa a lógica da filantropia, da caridade e do

assistencialismo, que mais serviram para aplacar a consciência dos “ajudadores”, do que

resolver de fato a vida dos “ajudados”, para incorporar uma lógica empreendedora. Ela

busca a inovação de estilo empresarial na solução de problemas e causas sociais,

impactando ações que geram, na prática, mais do que na teoria, a emancipação social, a

inclusão social e o empoderamento dos cidadãos por meio do estoque de capital social e

ações voltadas para o desenvolvimento integrado e sustentável.

Verificamos que esse processo surge da constatação do crescimento das organizações

do terceiro setor, da diminuição do investimento público na questão social e da

participação crescente das empresas no campo social.

Analisamos também que o empreendedorismo social apresenta certa semelhança

com outros termos, tais como responsabilidade social empresarial e o empreendedorismo

privado. No entanto, e como procuramos mostrar, as diferenças, apesar de tênues, são

substanciais, pois o empreendedorismo social atua mais na geração de ações que causem

o impacto local – não restrito a causas específicas e focadas, como é o caso da

responsabilidade social empresarial – e tem como objetivo o resultado coletivo,

diferentemente do empreendedorismo privado. Também apresenta uma característica

inovadora quanto ao modo de ver (paradigma) de sua metodologia (processo), de sua

aplicação e formatação (ciência e arte), e de suas estratégias e impactos (auto-

organização social). Tais fatores e constatações apontam para um novo momento em que

os problemas sociais deixam de ser simples tema de discursos para políticos, objeto de

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pesquisa para pesquisadores e lamentação para a sociedade e passam a ser uma causa

comum a todos, o que requer novas formas de agir, pensar e abraçar as alternativas postas

em nosso presente tempo. Como bem afirmam Melo

Neto e Froes (2002, p.15): “Intelectuais, políticos, empresários e pesquisadores sociais

apontam distorções, culpam o governo, criticam as políticas públicas e identificam

gestores e instituições corruptas, ineficientes e ineficazes. Muito se fala e pouco se faz

de concreto e efetivo. Muitas vezes, o que se fala esconde a inércia, o conformismo, a

visão banalizada dos problemas, o ceticismo diante das questões sociais “[grifo nosso].

Em outras palavras, devemos deixar do muito falar e, de modo responsável,

praticar ações em prol do bem comum, pois, se assim não o fizermos, estaremos

plantando no presente um futuro sóbrio. A esperança é de que estejamos atentos às

possibilidades de compormos novas sínteses e novos rumos para as nossas vidas. Como

afirma Rubem Alves (1984, p.160), “[...] a diferença entre o homem e os animais deve

ser encontrada no fato de que, enquanto cada espécie animal é prisioneira de sua própria

melodia, o homem tem a capacidade de compor novas”. Que ao tentarmos ampliar o

significado do empreendedorismo social, possamos vislumbrar tais possibilidades.

Recomendações

Dadas a importância e a profundidade do empreendedorismo social e a partir de

nossa vivência na área, fazemos as seguintes e principais sugestões:

a) inclusão do empreendedorismo social na formação profissional universitária e no

ensino médio, a exemplo do que está ocorrendo com o empreendedorismo empresarial;

b) implementação e adoção do empreendedorismo social no campo da gestão social

pública, nos níveis federal, estadual e municipal;

c) implementação e adoção do empreendedorismo social nos Conselhos de Direito das

categorias profissionais;

d) criação de mais espaços de apoio, incentivo, pesquisa e disseminação dos

fundamentos e das estratégias do empreendedorismo social no Brasil, como uma política

nacional de estímulo à inovação de novas tecnologias sociais empreendedoras;

e) potencialização das ações das faculdades e universidades por intermédio de projetos

de extensão na perspectiva do empreendedorismo social.

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Referências

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ASHOKA EMPREENDEDORES SOCIAIS; MACKISEY E CIA. INC.

Empreendimentos sociais sustentáveis. São Paulo: Peirópolis, 2001.

DEMO, Pedro. Solidariedade como efeito de poder. São Paulo: Instituto Paulo Freire,

2002. v.6. (Coleção Prospectiva).

LEITE, Emanual. Incubadora social: a mão visível do fenômeno do empreendedorismo

criando riqueza. In: IV ENCONTRO NACIONAL DE EMPREENDEDORISMO -

ENEMPRE. Anais... Santa Catarina: UFSC/ENE, 2002.

MATURANA, Humberto. A antologia da realidade. Belo Horizonte: UFMG, 1997.

MELO NETO, Francisco Paulo de; FROES, César. Gestão da responsabilidade social

corporativa: o caso brasileiro – da filantropia tradicional à filantropia de alto rendimento

e ao empreendedorismo social. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001.

MELO NETO, Francisco Paulo de; FROES, César. Empreendedorismo social: a

transição para a sociedade sustentável. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002.

OLIVEIRA, Edson Marques. Empreendedorismo social no Brasil: fundamentos e

estratégias. 2004. Tese (Doutorado) Universidade Estadual Paulista - Unesp, Franca,

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RAO, Srikumar. Renasce o imperador da paz. Forbes, v. 162, n. 5, 7 set. 1998.

Disponível em: <www.ashoka.org.br>. Acesso em: 8 set. 2002.

ROUERE, Mônica de; PÁDUA, Suzana Machado. Empreendedores sociais em ação.

São Paulo: Cultura Associados, 2001.

THALHUBER, Jim. The national center social entrepreneurs. Disponível em:

<www.socialentrepreneurs.org>. Acesso em: 22 out. 2002.

Extraído da Revista FAE, vol. 7, n. 2, p. 9 – 18 (julho/dezembro – 2004).autoria de Edson

Marques Oliveira.

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Volte para seu curso e participe do Fórum "Empreendedorismo Social no Brasil" no

Bloco Fóruns de Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa vale ponto.

ANOTAÇÕES:

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2.-RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA

2.- Gêneses

Na Unidade 1 deste livro, ao estudarmos fundamentos da Gestão Social, constatamos

que as iniciativas em Responsabilidade Social e em Terceiro Setor não são novidades.

Novidades são, sim, essas e outras terminologias que utilizamos nesse campo da Ciência

Administrativa.

Uma vez que já tivemos oportunidade de enveredar pela história mapeando fundamentos

da Gestão Social - em termos gerais - vamos, aqui, apenas sistematizar algumas

informações relevantes à compreensão de fundamentos da Responsabilidade Social

Corporativa (também identificada como Responsabilidade Social Empresarial).

Ao final desta Unidade, retorne a este ponto para comparar a idéia que você

apresentou com o conteúdo que você aprendeu.

As ações sociais em prol de segmentos populacionais em situação vulnerável têm origem

em movimentos religiosos assim referidos por Salomon (1997):

no Século VIII, na China, através do budismo, mediante a

organização de atividades voluntárias; e

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alguns séculos mais tarde, pela via do sacerdócio universal dos cristãos na Europa.

Tal movimento está vinculado à Reforma Protestante no Século XVI e demarca a

superação da tradição do dever de ajudar ao próximo retirada das mãos exclusivas das

igrejas e das autoridades eclesiásticas.

Temos, então, que a idéia da Responsabilidade Social apareceu, originalmente, vinculada

a movimentos de trabalho voluntário, no espaço das organizações sociais (igrejas).

Portanto, a idéia não surgiu em empresas. É simples entendermos o porquê desse fato.

Como a miséria é fenômeno que acompanha a humanidade ao longo da história, é factível

imaginarmos que a igreja, uma das instituições mais antigas do mundo, se apresente

como pioneira no enfrentamento do desenvolvimento desigual e da injustiça social.

Por outro lado, o surgimento das organizações empresariais modernas, conforme

constatamos na Unidade 1, ocorre somente em meados do Século XVIII, no Reino

Unido, com a Revolução Industrial.

Logo, faz sentido constatarmos que o ideal da Responsabilidade Social não está,

originalmente, vinculado ao universo das empresas.

Resquícios da Responsabilidade Social, vinculados ao mundo dos negócios, conforme

estudamos no Unidade 1, são encontrados em outro momento histórico. Você é capaz de

se lembrar do fenômeno que estudamos?

Você deve ter se lembrado: foi na Revolução Industrial que apareceram as primeiras

iniciativas empresariais dentro do que hoje convencionamos como Responsabilidade

Social Corporativa. Isso aconteceu durante os séculos XVIII e XIX, quando o mundo,

por um lado, rapidamente se transformava a partir do desenvolvimento tecnológico e,

por outro lado, fazia proliferar intensas demandas sociais que exigiam respostas por parte

do Estado e da burguesia empresarial.

Lembre-se que foi nesse mesmo momento histórico que surgiram importantes nomes do

pensamento social que discutiam a necessidade de uma vida mais humanizada. Como se

chamavam tais pensadores?

Você deve ter se lembrado dos socialistas utópicos, pensadores aos quais, também,

vinculamos os ideais da RSC – o que é fato especialmente no tocante ao empresário

Robert Owen. Aliás, conforme registramos anteriormente, Robert Owen é tomado, com

freqüência, como o pai da Responsabilidade Social Corporativa. Todavia, apesar de

demarcar a origem das intervenções sociais das empresas, o período da Revolução

Industrial não delimita o surgimento do construto Responsabilidade Social Corporativa.

O construto surge, sim, bem mais tarde nos EUA. Kreitlon (2004), em A Ética nas

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Relações entre Empresas e Sociedade: Fundamentos Teóricos da Responsabilidade

Social Empresarial, assim resgata a evolução recente do construto Responsabilidade

Social Corporativa.

De 1900 a 1960

Durante esse período três fatores principais propiciaram preocupações de ordem ética e

social no mundo dos negócios:

a) a desilusão frente às promessas do liberalismo, decorrente da quebra da Bolsa de

Nova Iorque em 1929 e das tristes conseqüências provocadas pela Grande Depressão que

se seguiu;

b) o desejo por parte das empresas de melhorarem a imagem organizacional numa

época em que os lucros exorbitantes de certos monopólios suscitavam a ira da população;

e

c) o desenvolvimento das ciências administrativas e o principio da profissionalização

da atividade gerencial.

Tais fenômenos inspiraram reflexões acerca do papel social e intervenções sociais das

empresas sem, contudo, acarretar a formulação do construto.

De 1960 a 1980

A Década de 1960 demarca um período de amplo crescimento das empresas dentro do

que, conforme estudamos anteriormente, se convencionou chamar de círculo virtuoso do

fordismo. Tal crescimento explicaria tendências (com maior intensidade) a condutas

antiéticas, o que nos leva a afirmar que datam de tempos pretéritos, e não de hoje, os

escândalos financeiros relacionados às megacorporações norte-americanas, o que

explicaria a desconfiança da sociedade com as empresas.

Na outra ponta, dois importantes fenômenos sócio-políticos ocorriam nesse

período nos EUA. Um deles estava fundado em um slogan que se tornou popular em

todo o mundo: paz e amor. Você se lembra do nome desse movimento?

Você deve conhecer o slogan paz e amor que caracterizou o movimento hippie. Sem

dúvidas, este movimento representou uma estratégia de resistência ao modelo de

sociedade centrado no consumo crescente de mercadorias, característico dos EUA não

apenas no presente, mas, também, no passado. O chamado comportamento antisocial do

hippie contemplava não apenas o uso de drogas como estratégia pacífica de contestação

social, mas, especialmente a opção por um estilo simples de vida que, em essência, se

contrapunha ao consumismo, questionando a sociedade de consumo.

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O outro fenômeno tinha forte conotação política: negros e brancos se debatiam em

várias cidades norte-americanas fazendo crescer a tensão em torno da luta por direitos

civis. Em 28 de agosto de 1963, um líder negro, em meio à tensão, realizou um discurso,

em Washington, que se tornou bandeira de luta e é bastante referenciado até hoje.

O autor e o conteúdo do discurso são frequentemente citados quando se tratam de temas

de intolerância entre os seres humanos. Você deve se lembra do autor e do título desse

discurso? Espero que você tenha se lembrado. Trata-se do discurso I have a dream (Eu

tenho um sonho) proferido por Martin Lutter King. Não há dúvidas de que atitudes e

comportamentos de discriminação e intolerância entre seres humanos, naquele período,

incentivaram discussões e tensões, no interior das corporações. No presente, tal conteúdo

compõe o conjunto dos indicadores de RSC, conforme veremos adiante.

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Ocorre ainda, nesse período histórico, uma fase de extraordinária mobilização cívica e

revolucionária, especialmente na América Latina, a partir da Revolução Cubana, aliada

a um considerável progresso científico e tecnológico. Embora a padronização técnica da

produção e o consumo em massa tenham propiciado economia de escala e a formação e

disseminação de mega-corporações, o modo de produção

Tratamos desse modo de produção anteriormente – lembra-se? Qual foi o

paradigma de produção que entrou em crise nesse período e que motivos explicam o seu

declínio?

Resposta: o fordismo, em virtude dos choques do petróleo (em 1973 e 1978) e da

concomitante crise de acumulação do capital.

Com o fim dos anos dourados do fordismo (1945-1973) a economia capitalista volta a

apresentar graves oscilações conjunturais, longas e profundas recessões, queda do ritmo

de crescimento e crescentes taxas de desemprego. A luta de classes recrudesce nas

principais economias do mundo com ocorrência freqüente de greves.

Com a crise no interior do sistema fordista de produção e geração de riqueza, o que

ocorre na seqüência da história econômica mundial? Lembra-se? Registre aqui o seu

palpite:

a) no plano econômico

b) na gestão de empresas

Acredito que você acertou: temos a ascensão de propostas econômicas neoliberais (no

plano econômico) vinculadas à disseminação da automação, ou seja, à emergência do

modo de produção flexível (na gestão de empresas). A esse fenômeno, Kreitlon (2004)

igualmente vincula a evolução da Responsabilidade Social Corporativa. Vejamos!

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Mergulhadas em um cenário geral de contestações e turbulência social, lembra Kreitlon

(2004), as empresas tornam-se alvo de reivindicações cada vez mais numerosas e

variadas. Inúmeros movimentos da sociedade civil passaram a exercer pressão sobre elas,

particularmente no tocante à poluição, ao consumismo, ao (des)emprego, à

discriminação racial e de gênero (aflora a discussão dos direitos da mulher) e até mesmo

em torno dos efeitos nocivos de determinados produtos, a exemplo daqueles

provenientes das indústrias bélica e de cigarros.

As demandas por mudanças tornaram-se relativamente generalizadas com vários

movimentos da chamada contracultura questionando abertamente o dogma consagrado

da maximização de lucros das empresas.

No instante em que o capital financeiro institui uma marcha desenfreada de geração e

acumulação de riqueza, na outra ponta prolifera exclusão social e agressão ambiental,

temas que passam a integrar a agenda de diversos movimentos sociais. Reside aqui a

origem do construto Responsabilidade Social Corporativa.

De 1980 até o presente

As políticas de liberalização do mercado ressurgiram fortemente durante os anos

de 1980, sob orientações como ajuste fiscal, redução dos investimentos sociais por parte

do Estado, privatizações, desregulamentação e flexibilidade das leis trabalhistas e

liberalização do comércio e das taxas de câmbio. Durante a Década de 1990, após a

queda do Muro de Berlim e a desarticulação da União Soviética, um tipo de capitalismo,

extremamente competitivo, difunde-se por praticamente todo o planeta.

A revolução causada pelas novas tecnologias de informação e pela produção automática

impulsiona a globalização e a financeirização da economia. O modo tradicional de

acumulação de capital fordista, centrado em um tipo particular de relação produtor-

consumidor, é substituído por um outro sistema. Com base no que estudamos na Unidade

2, você arriscaria um palpite quanto à mudança ocorrida?

Acreditamos que você se lembrou do fato de que a acumulação de capital no fordismo

(a geração de riqueza a partir da produção de mercadorias) ocorria com base na

fabricação de produtos em massa (larga escala), fato que propiciava, na outra ponta, o

consumo em massa. A relação da empresa com o mercado ocorria na base produtor-

consumidor. Após a crise dos anos de 1970 e a concomitante emergência da produção

flexível (toyotismo ou modelo japonês), ocorre uma certa reversão: a geração de riqueza

e a remuneração do capital na esfera da produção tomam direção inversa, ou seja,

consumidorprodutor (produz-se aquilo que o consumidor demanda).

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Continua o raciocínio Kreitlon (2004), baseada em ALBAN. A acumulação flexível, de

base microeletrônica, tem conseqüências devastadoras para os níveis de emprego, tanto

nos países industrializados como nos periféricos No plano organizacional, os grandes

conglomerados empresariais de origem local dão lugar a redes corporativas

transnacionais de ramificações complexas. Em virtude das novas tecnologias, a produção

torna-se descentralizada e os trabalhadores trocam o estatuto de assalariados pelo de

autônomos, informais ou contratados, sem garantia de trabalho estável ou seguridade

social. O poder dos grandes conglomerados e das multinacionais atinge proporções

inéditas.

Por sua vez, a integração dos mercados financeiros provoca uma drástica mudança no

sistema produtivo, pois, enquanto no capitalismo industrial o horizonte da rentabilidade

situava-se no médio prazo, no capitalismo financeiro a maximização de lucros é meta a

ser alcançada no curtíssimo prazo. O desempenho das empresas passa, assim, a ser

medido por indicadores financeiros, ao passo que a preocupação com o desempenho das

funções marketing ou produção cai para segundo plano. Que conseqüências sociais

temos, então, de tal cenário? Já abordamos o tema anteriormente. Arrisque a sua opinião.

Você deve se lembrar que, com o acirramento da concorrência intercapitalista a

partir da liberalização dos mercados, ocorrem desemprego, a retração de direitos

trabalhistas e previdenciários a partir de reformas, a perda de força dos sindicatos, o

agravamento dos problemas ambientais, e, com isso, a ascensão de movimentos

ambientalistas, e a precarização do trabalho. A propósito, você se lembra o que significa

a expressão precarização do trabalho?

Esse cenário social passou a se fazer presente não apenas nos países periféricos (menos

desenvolvidos), mas, também, nos países centrais (desenvolvidos). É nos dias atuais,

pois, que o tema da RSC se desenvolve sob a forma de um construto teórico, suscitando

uma variedade de intervenções e se institucionalizando – especialmente durante os anos

de 1980 – pela via de três escolas de pensamento:

Business Ethics (Ética Empresarial);

Business & Society (Mercado e Sociedade);

Social Issues Management (Gestão de Questões Sociais).

A autora ressalta que os Estados Unidos ocuparam uma posição hegemônica nesse

campo (e, durante muitos anos, quase solitária), pois o país já ocupava, no final dos anos

de 1960, a incontestável posição de coração do capitalismo – arena por excelência,

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portanto, dos conflitos entre empresas e sociedade que viriam a constituir o foco da ética

empresarial.

Antes de encerrarmos este tópico, veja você que estamos falando da gênese de um

construto, ou seja, de uma formulação conceitual.

Conforme constatamos anteriormente, a intervenção de empresas no espaço social não é

novidade e, para reforçar tal entendimento, é suficiente recordamos as experiências de

Robert Owen em New Lanark a partir de 1799, durante a Revolução Industrial. Lembra-

se da nossa discussão na Unidade 1? Que significados e tendências teóricas, então, nos

trazem as escolas de pensamentos mencionadas pela autora? Veremos adiante. Neste

momento, interessa-nos conceituar Responsabilidade Social Corporativa e conhecer

agências que tratam do tema no mundo dos negócios.

Em resumo, neste tópico estudamos a origem da Responsabilidade Social

Corporativa. Vimos que a idéia da intervenção de organizações em prol do bem-comum

surgiu, preliminarmente, no Século VIII, na China, através do budismo, mediante a

arregimentação de pessoas para o desenvolvimento de trabalho voluntário. Séculos mais

tarde, chegou á Europa pela via do sacerdócio universal dos cristãos, vinculado à

Reforma Protestante no Século XVI.

Recordamos que, no mundo empresarial, a idéia da responsabilidade social apareceu no

período da Revolução Industrial, tendo como principal defensor o empresário britânico

Robert Owen, nome que hoje adotamos como pai da Responsabilidade Social

Corporativa. No mesmo período, entre meados dos Séculos XVIII e XIX, os socialistas

utópicos instigavam a sociedade a questionamentos em torno dos problemas gerados pelo

desenvolvimento tecnológico nas condições gerais da vida da população.

Dividimos a evolução contemporânea do ideal da RSC em três períodos: 1900 a

1960; 1960 a 1980; 1980 aos dias atuais. Constatamos que, especialmente ente 1960 e

1980, turbulências sociais e econômicas precipitaram o surgimento do construto teórico

Responsabilidade Social Corporativa (ou Responsabilidade Social de Empresas) sob três

diferentes correntes: Business Ethics (Ética Empresarial); Business & Society (Mercado

e Sociedade); e Social Issues Management (Gestão de Questões Sociais).

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Bloco Fóruns de Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa vale ponto.

ANOTAÇÕES:

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2.-RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA

2.1.- Conceitos e Princípios

O que é Responsabilidade Social Corporativa (ou de Empresas, ou Empresarial)?

No tópico anterior pedimos para você elaborar uma idéia acerca desse construto. Agora,

vamos ver de que modo a sua idéia se aproximou do que está posto na discussão do tema.

Que referências podemos tomar para conceituar RSC? Uma vez que, neste momento,

estamos pensando focando o conceito no mundo dos negócios – já que se trata de

responsabilidade social de corporações (ou empresas) –, optamos por trazer leituras de

organizações vinculadas ao sistema empresarial brasileiro: o Serviço Nacional do

Comércio (SENAC), o Instituto Ethos e o Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial

(ETCO). É nosso intuito sintetizar interpretações nesse conjunto organizacional visando

à identificação de tendências comuns em RSC, no Brasil, em sintonia com o pensamento

empresarial.

O SENAC

<http://www.pr.senac.br/institucional/ acoes_estrategicas/pets/Conceito_RS.htm

> aborda a Responsabilidade Social como uma nova maneira de conduzir os negócios da

empresa, tornando a parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social, englobando

preocupações com um público maior (acionistas, funcionários, prestadores de serviço,

fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio-ambiente).

A Responsabilidade Social nunca se esgota pois sempre há algo a se fazer, sendo um

processo educativo que evolui com o tempo.

As empresas podem desenvolver projetos em diversas áreas, com diversos

públicos e de diversas maneiras.

A ética é a base da Responsabilidade Social e se expressa através dos princípios e valores

adotados pela organização, sendo importante seguir uma linha de coerência entre ação e

discurso.

Que idéias centrais, então, estão presentes neste conceito?

Vemos que, no conceito acima, aparecem as seguintes idéias:

preocupação com os vários públicos (inclusive os acionistas);

parceria e co-responsabilidade;

processo educativo (aprendizagem organizacional);

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diversidade de conteúdo (há, portanto, um amplo leque de

ações);

Diversidade no modo de atuação (diversas metodologias);

Diversidade do público envolvido;

Ética (princípios e valores); e

Coerência entre ação e discurso.

Vamos, agora, abordar o conceito com base em uma reconhecida organização no tema

da RSC no mundo: o Instituto Ethos, mantido por empresas brasileiras do setor industrial.

<http://www.ethos.org.br/ DesktopDefault.aspx?TabID=3334&Alias=Ethos&Lang=pt-

BR> Para saber mais acerca da atividade do Ethos visite: www.ethos.org.br

Acesse o link Temas e Indicadores em <http://

www.ethos.org.br/docs/conceitos_praticas/indicadores/default.asp> para conhecer uma

importante ferramenta de RSC.

Em

<http://www.ethos.org.br/ DesktopDefault.aspx?TabID=4079&Alias=Ethos&Lang=pt-

BR> o Instituto Ethos declara:

A noção de responsabilidade social empresarial decorre da compreensão de que a ação

das empresas deve, necessariamente, buscar trazer benefícios para a sociedade, propiciar

a realização profissional dos empregados, promover benefícios para os parceiros e para

o meio ambiente e trazer retorno para os investidores. A adoção de uma postura clara e

transparente no que diz respeito aos objetivos e compromissos éticos da empresa

fortalece a legitimidade social de suas atividades, refletindo-se positivamente no

conjunto de suas relações.

O conceito do Instituto Ethos está fortemente vinculado à idéia da geração de benefícios

(para a sociedade, os trabalhadores, os parceiros e o meio ambiente). Além disso, temos:

retorno aos investidores, ou seja, ação social vinculada a resultados econômicos.

Esta sentença remete-nos a algo que já estudamos.

Espero que você tenha se lembrado que tratamos desse assunto na descrição das

experiências de Robert Owen, durante a Revolução Industrial, no início do nosso estudo

– o que foi objeto da auto-avaliação ao final da Unidade 1. Percebemos, assim, que há

sincronia entre passado e presente, quando falamos, hoje, em intervenções sociais de

empresas que privilegiam:

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Transparência dos objetivos organizacionais;

Compromisso ético;

Legitimidade social; e

Relações sociais positivas com os envolvidos.

Quando relacionamos este conceito àquele que vimos anteriormente (do SENAC),

observamos a existência de pontos comuns, concorda? Quais seriam esses pontos?

Pensamos de modo similar? Vejamos! Observe a síntese do conceito que apresentamos

no Quadro 2. Não se preocupe caso tenhamos organizado nossas idéias de modo distinto.

O importante, aqui, é que você tenha identificado convergências nos dois conceitos. Em

termos de divergências, temos dois pontos: o SENAC fala em aprendizagem

organizacional e em diversidade no modo de aplicação (metodologia), o que não

percebemos no Ethos. No mais, há forte coerência entre os dois.

O Ethos desenvolveu um conjunto de indicadores de RSC disposto em sete temas:

Valores, Transparência e Governança;

Público Interno;

Meio Ambiente;

Fornecedores;

Consumidores e Clientes;

Comunidade; e

Governo e Sociedade.

Na descrição que faz dos sete temas, podemos perceber semelhanças entre as

preocupações do Ethos, hoje no Brasil, com aquelas de Robert Owen – pai da

Responsabilidade Social Corporativa – durante a Revolução Industrial, no Reino Unido,

entre o final do Século XVIII e meados do Século XIX. Observe no quadro abaixo um

exercício comparativo entre as duas propostas. Este quadro serve como orientação de

resposta tanto à auto-avaliação do tópico anterior quanto àquela ao final da Unidade 1.

Vejamos, agora, uma idéia de Responsabilidade Social Corporativa elaborada por um

importante empresário do setor industrial brasileiro, Emerson Kapaz (disponível em

<http://www.fae.edu/ publicacoes/pdf/revista_fae_business/n9/01_rs.pdf>), Presidente

do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO):

Responsabilidade Social nas empresas significa uma visão empreendedora mais

preocupada com o entorno social em que a empresa está inserida, ou seja, sem deixar de

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se preocupar com a necessidade de geração de lucro, colocando-o não como um fim em

si mesmo, mas sim como um meio para se atingir um desenvolvimento sustentável e com

mais qualidade de vida.

Ao final deste tópico o conceito acima será retomado na autoavaliação.

A discussão corrente incorpora idéias de responsabilidade social que extrapolam o limite

exclusivo das empresas e alcança outros tipos de organização de natureza pública e

social. Recentemente, ganha força no meio social o termo Responsabilidade

Socioambiental.

Trata-se de um sistema de gestão, adotado por organizações públicas, sociais e privadas,

cujo objetivo é promover inclusão social (Responsabilidade Social) vinculada à

preservação ambiental (Responsabilidade Ambiental).

A Responsabilidade Socioambiental incorpora um conjunto de ações que promovem o

comprometimento das pessoas com o meio ambiente tendo como eixo uma série de temas

como fome, poluição, reciclagem e reaproveitamento de materiais, lazer e qualidade de

vida, entre outros. Como devem, então, atuar as empresas nesse campo?

Vejamos! Do mesmo modo que a RSC, a Responsabilidade Socioambiental contempla

a formação do público interno e dos agentes externos com os quais a organização mantém

relação (clientes, fornecedores, concorrentes, órgãos governamentais, etc).As

organizações devem eleger temas e atuar na disseminação de metodologias de promoção

da qualidade de vida, instituindo redes e parcerias com os diversos atores sociais, sob

clara definição de papéis. E quais são, então, os benefícios para a organização?

Dentre os benefícios podemos listar:

A promoção da imagem organizacional no meio social;

O desenvolvimento sócio-político dos trabalhadores e demais

públicos envolvidos;

O desenvolvimento de uma cultura voltada ao não-desperdício,

Ao reaproveitamento e à reciclagem, o que ocasiona redução de custos dentro da

organização, com reflexos na vida de todos fora dela;

A promoção de redes e parcerias duradouras, centradas no objetivo da promoção

da qualidade da vida humana; e

A contribuição ao desenvolvimento de novas idéias e tecnologias de preservação

ambiental e de promoção da saúde das pessoas.

Desta forma, um programa de Responsabilidade Socioambiental pode ter como eixos

temáticos:

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A minimização de resíduos pela via da reciclagem e do reaproveitamento ou

reutilização de recursos, a exemplo da água e do papel (reciclado);

O estabelecimento de critérios e valores organizacionais de respeito ao meio

ambiente;

A redução da poluição e o concomitante de tecnologias limpas, não-agressoras do

ambiente; e

A otimização do uso da energia.

Reflexão

Na organização onde você trabalha, você identifica processos internos que estão

em sintonia com os princípios da Responsabilidade Socioambiental? De outra forma,

você identifica procedimentos que não estão em sintonia com tais princípios? De que

modo você pode contribuir para uma mudança de hábitos? Tente articular um grupo e

discutir internamente os procedimentos que você considera indevidos.

A amplitude conceitual da RSC inclui, contemporaneamente, até mesmo a

responsabilidade de indivíduos, aqui pensada sob o ponto de vista do engajamento social

e político (exercício de cidadania) em termos do zelo pelo meio ambiente e do

compromisso com o desenvolvimento de pessoas em situação vulnerável de vida e de

trabalho.

Anote

Do modo como vem sendo tratada contemporaneamente, a RSC deixou o âmbito

exclusivo das empresas e vem sendo abordada sob um amplo enfoque que envolve todo

e qualquer tipo de organização além de indivíduos.

Dentro das organizações, a responsabilidade social de indivíduos vem sendo trabalhada

sob a denominação de Voluntariado Empresarial.

O que é isso? Que idéia você tem a respeito desse tema?

Estamos, mais uma vez, diante de uma polêmica. Frente a essa tendência organizacional

de utilização dos trabalhadores em atividades voluntárias, Hedley & Smith (1992)

atentam para as dificuldades em se estabelecer uma nítida distinção entre o trabalho

remunerado e o trabalho voluntário. De fato, quando a ação voluntária envolve

trabalhadores, de organizações públicas ou privadas, pela via programas organizacionais

específicos de intervenção social, em tal situação, ainda que efetivada mediante a

compensação de horas (ou seja, o funcionário que destina tempo à ação voluntária

compensa-o na carga horária do contrato formal de trabalho), o tempo dispensado à ação

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social tem base no trabalho remunerado. Acreditam os autores que em tais programas as

interações entre os dois espaços (trabalho voluntário e trabalho formal) tornam-se

bastante tênues (sob uma relação toma lá dá cá) e isso fragiliza o ideal da doação que

orienta o trabalho voluntário.

Cabe, aqui, o seguinte questionamento: até que ponto, uma intervenção esboçada

sob o formato de programa social em uma empresa pode ser caracterizada como de

adesão espontânea? Qual a sua opinião?

Obviamente que a forma e o conteúdo da ação são, invariavelmente, aspectos de

interpretação subjetiva por parte dos atores envolvidos, o que limita uma interpretação

definitiva no assunto. Todavia, quatro pontos merecem reflexão:

é factível supor que uma vez convocado ao engajamento em programas

voluntários empresariais, o trabalhador-convidado se sinta na obrigação de tomar lugar

na ação prevendo que, caso se negue, sofra algum tipo de represália, dentre as quais,

críticas de colegas, rejeição de superiores e dificuldades de progressão. Não

necessariamente, as represálias no espaço de trabalho aparecerão de forma perceptível e

objetiva, podendo se manifestar, subliminarmente, nos bastidores;

As leituras que trabalhadores e equipes farão são outros importantes componentes.

É possível que uma vez convocados para ações voluntárias pela empresa, o trabalhador

sinta-se explorado, entendendo se tratar de interesse da empresa (e não dele próprio) e,

portanto, uma extensão da carga horária de trabalho, desta vez, sem pagamento;

Por parte da empresa patrocinadora, a promoção de intervenções utilizando mão-

de-obra por ela empregada pode partir da preocupação de gestores com a fixação da

imagem da organização na sociedade e não com o valor e o resultado da ação em si. Essa

perspectiva, uma vez percebida pelos trabalhadores, interferirá negativamente no

desempenho e na motivação da equipe; e

Aliado ao fato anterior, está o grau de responsabilidade social da empresa,

especialmente no tocante à compatibilidade entre o volume dos dispêndios que pretende

realizar e aquele efetivamente demandado pela população assistida. Uma vez

identificadas demandas de comunidades e indivíduos, a equipe voluntária poderá

necessitar de investimentos em recursos mmateriais e físicos não previstos ou não

disponíveis pela empresa, cabendo, aí, outros questionamentos: até que ponto a empresa

está interessada em arcar com tais demandas? Que conseqüências virão para a população

assistida frente às expectativas geradas e não atendidas? Que conseqüências ocorrerão

para a equipe voluntária envolvida? Como ficarão as imagens da empresa e dos

trabalhadores perante a comunidade?

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Não apenas a escassez de recursos para investimentos, mas, também, a descontinuada

das ações de atenção social poderá provocar danos a todos os envolvidos – trabalhadores,

gestores, empresa e comunidade beneficiada – e, portanto, cabe aos idealizadores

considerar, dentre outros, os seguintes desafios:

Prever respostas alternativas frente às demandas, dos beneficiários, a serem

respondidas;

tratar da estabilidade da equipe voluntária em termos dos relacionamentos com a

empresa, com a ação voluntária e com o público beneficiário;

Considerar o volume de horas e o período de tempo necessário à ação frente à

disponibilidade dos voluntários; e

Monitorar e inibir (veementemente) as possíveis situações policialescas de

diretores, gerentes, chefes, supervisores e pares do trabalhador envolvido na ação.

Por envolver relações afetivas e necessidades alheias, o Voluntariado Empresarial não

deve se constituir como ação aventureira, sendo preferível, na maioria das vezes, a

empresa optar por envolver o público interno e unir esforços em atividades voluntárias

já existentes. A empresa, neste caso, seria animadora, e não protagonista da ação. Assim

sendo, a equipe do Voluntariado Empresarial poderá aparecer como parceira de ações

em andamento e não como responsável por toda a articulação. Em tal circunstância,

fracassos e sucessos são compartilhados e assumidos coletivamente e, portanto, a

imagem da empresa e dos seus empregados estará preservada, ou melhor, diluída com os

outros atores.

Por fim, fiquemos com as palavras de alerta de Handy (1988):

Sem uma organização adequada, boa vontade não basta;

Ideais democráticos e de participação não são suficientes;

Trabalho duro não é tudo; e

Grandes idéias, quando não devidamente articuladas, podem terminar em grande

frustração.

Resumindo, neste tópico tivemos a oportunidade de discutir o conceito de

Responsabilidade Social Corporativa a partir de três importantes organizações

vinculadas ao setor empresarial brasileiro: SENAC, Instituto Ethos e Instituto Brasileiro

de Ética Concorrencial (ETCO).

Em síntese, podemos afirmar que, sob o ponto de vista do mundo dos negócios, a RSC é

uma estratégia de gestão que:

Se destina à promoção do bem-estar de indivíduos e coletividades;

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É orientada por princípios e valores éticos no intuito da obtenção de qualidade de

vida e desenvolvimento sustentável; e

Aparece regulada pela garantia do retorno financeiro para acionistas e

investidores.

Por fim, tivemos oportunidade de acompanhar a discussão que vem se dando a partir do

conceito de Responsabilidade Socioambiental e do chamado voluntariado empresarial.

Volte para seu curso e participe do Fórum "Responsabilidade Social Corporativa" no

Bloco Fóruns de Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa vale ponto.

ANOTAÇÕES:

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2.-RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA

2.2.- Tendências teóricas em RSC

Retomemos, neste ponto, o texto de Kreitlon (2004) para tratarmos de tendências

teóricas em RSC. De acordo com a autora, as três escolas de pensamento, anteriormente

mencionadas, partem de campos e princípios distintos acerca do comportamento ético

nas empresas.

A escola da Ética Empresarial (Business Ethics), na condição de ramo da ética aplicada,

propõe um tratamento de cunho filosófico, normativo, centrado em valores e em

julgamentos morais.

Fundamenta- se na idéia de que as atividades empresariais estão sujeitas, como

qualquer outra ação humana, a julgamentos éticos. A empresa precisa agir de modo

socialmente responsável porque, sendo isto o correto, é dever moral fazê-lo. Tal

raciocínio contrapõe-se às teses da mão invisível, defendida por Friedman (é o mercado

livre e competitivo que moraliza o comportamento corporativo) e da mão do governo,

desenvolvida por Galbraith (a regulamentação governamental é que o faz).

A corrente Mercado e Sociedade (Business & Society) adota uma perspectiva

sociopolítica e abordagem contratual dos problemas entre empresas e sociedade. Trata-

se de enfoque sociológico, mais político e voltado para assuntos pragmáticos. A

abordagem contratual apóia-se em três pressupostos teóricos: a) empresa e sociedade

constituem um mesmo sistema e estão em constante interação; b) ambas estão vinculadas

entre si por um contrato social; c) a empresa está sujeita

ao controle por parte da sociedade.

Ao passo que a abordagem normativa recusa as teses econômicas neoclássicas por

defender que elas adotam uma concepção amoral dos negócios (preocupada

exclusivamente com os lucros), a abordagem contratual prefere enfatizar outro ponto,

qual seja, que a separação funcional preconizada por tais teses – entre funções

econômicas, políticas, sociais e religiosas da sociedade – são absolutamente artificiais e

falaciosas. A idéia de contrato social presente na corrente Mercado e Sociedade

pressupõe, então, que pessoas racionais cheguem a acordos em relação a certos

princípios, para além de interesses particulares e imediatos, objetivando o

estabelecimento de um sistema de direitos, obrigações, privilégios e sanções condizentes

com o bemcomum.

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Sintetizando:

A primeira corrente condena as teses neoliberais a partir de um viés moralista, ou

seja, defende que não é moralmente aceitável que uma empresa tenha preocupação

exclusiva com os lucros e a remuneração do capital dos acionistas; e

A segunda corrente condena as teses neoliberais por outro motivo. Qual seria?

Você deve ter registrado que, nesta segunda corrente, as teses neoliberais – de ênfase nos

lucros e na remuneração do capital – são igualmente criticadas, mas, desta vez, pela via

do entendimento de que a realidade social não é fragmentada, ou seja, não há de fato, no

mundo concreto, uma separação visível entre economia, política, demanda social e

religião. Estamos tratando, portanto, de uma leitura integral e sistêmica da realidade

social em que economia e demanda social são variáveis inseparáveis.

Reflexão

Para melhor compreender a interação empresa-sociedade e, portanto, a RSC a

partir dessa corrente de pensamento, assista ao filme Erin Brockovich – uma mulher de

talento, com Julia Roberts. Baseado em fatos reais, o filme retrata o caso da advogada

Erin Brockovich a partir do momento em que ela assume emprego em um escritório de

advocacia e se envolve no caso de uma empresa que polui e causa doenças entre

moradores de uma pequena cidade.

A escola da Gestão de Questões Sociais (Social Issues Management) é de natureza

nitidamente utilitária e trata os problemas sociais como variáveis a serem consideradas

no âmbito da gestão estratégica.

Desta forma, defende ferramentas práticas de gestão capazes de melhorar o desempenho

ético e social da empresa. Tal perspectiva utilitária da RSC – façamos Responsabilidade

Social porque obteremos ganhos – está fundada nas seguintes idéias: o que é bom para a

sociedade é bom para a empresa e, em sentido inverso, o que é bom para a empresa

também o é para a sociedade.

Esta leitura é a mais próxima das teses econômicas neoclássicas. De acordo com Jones,

citado por Kreitlon (2004), as justificativas para a RSC presentes nesta abordagem estão

centradas em três argumentos principais, todos de caráter utilitário:

A empresa pode tirar proveito das oportunidades de mercado, decorrentes de

transformações nos valores sociais, caso se antecipe a elas;

O comportamento socialmente responsável pode garantir à empresa uma

vantagem ompetitiva; e

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uma postura proativa dos gestores permite antever problemas de natureza legal e

evitar problemas no futuro.

Tratamos aqui, também, de uma concepção que integra aspectos políticos e sociais à

empresa. Mas, há diferenças em relação à leitura anterior. Você concorda?

Você deve ter percebido que a corrente anterior adota uma leitura mais sociológica, sob

a crença de que a realidade social é total e integral, portanto, impossível de ser

segmentada. A corrente anterior defende, então, que a realidade social é complexa e não

nos permite segmentações como: isso é assunto político, esse outro é assunto de

empresa, aquele lá é tema social. Em outras palavras, há a defesa deque assuntos

políticos, empresariais, sociais e de outra natureza qualquer, na vida real aparecem,

sempre, vinculados uns aos outros. Por essa razão, as organizações devem zelar pela

ética, a moral e os bons costumes, já que estamos no mesmo barco e interdependentes

uns dos outros.

Reflexão

Vamos ver um exemplo prático, ao nosso redor, acerca dessa interdependência

retratada pela Escola Mercado e Sociedade. Observe e anote o impacto da organização

onde você trabalha no ambiente.

Observe o fluxo de pessoas, o tráfego (motocicletas, bicicletas, automóveis particulares,

transporte público), a geração e a coleta de lixo, o barulho, a qualidade do ar, a

(in)segurança física das pessoas, os sistemas de segurança empregados por pessoas e pela

organização etc.

Agora, imagine a seguinte situação: caso a organização não estivesse localizada

naquela área geográfica, como seria a rotina e a qualidade de vida das pessoas ao redor?

A corrente da Social Issues Management, por sua vez, vê a realidade igualmente

integrada, mas, preocupada com um claro pragmatismo – vamos fazer responsabilidade

social porque a sociedade está nos vendo e precisamos nos cuidar para ganhar.

A discussão teórica acerca das correntes de pensamento da RSC é, ainda, posta

com base em duas vertentes: a escola do pensamento econômico clássico e a escola

socioeconômica (XAVIER; SOUZA, 2004).

A primeira tem como maior representante Milton Friedman, da Escola de Chicago,

Prêmio Nobel de Economia em 1975. Para Friedman, a responsabilidade social da

empresa é gerar lucros aos acionistas, pois, em uma sociedade capitalista, o desempenho

econômico é a principal qualidade da iniciativa privada. Além disso, advoga o autor, a

importância do trabalhador na organização relaciona-se às contribuições que ele traz para

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a riqueza dos acionistas e, desta forma, a melhoria da qualidade de vida dos empregados

está diretamente relacionada ao crescimento dos lucros dos patrões.

De acordo com Kreitlon (2004), Milton Friedman, ao lado de Theodore Leavitt, tornou-

se ferrenho adversário de uma noção de RSC que hoje soa obsoleta:

A responsabilidade social da empresa consiste em aumentar seus próprios lucros (...). A

maior parte daquilo que se debatera a propósito de responsabilidade da empresa não

passa de tolices. Para começar, apenas indivíduos podem ter responsabilidades; uma

organização não pode tê-las. Eis, portanto, a questão que devemos nos colocar: será que

os administradores – desde que permaneçam dentro da lei – possuem outras

responsabilidades no exercício de suas funções além daquela que é aumentar o capital

dos acionistas? Minha resposta é não; eles não têm. (FRIEDMAN, 1970, citado por

KREITLON, 2004, p. 3)

Milton Friedman (1912- 2006)

Reflexão

Você concorda com essa linha de raciocínio?

Antes de passarmos para a outra corrente, é válido registrar que, em algumas situações,

as empresas se utilizam dessa visão utilitarista de RSC financiando ações com base em

legislação – a exemplo do incentivo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) no

Brasil – e, desta forma, tirando proveito de benefícios fiscais. Você acha justo ou não

esse tipo de RSC?

O assunto é polêmico e devemos, tão somente, entender que, ao se beneficiar de

incentivos fiscais, a empresa, de fato, não investe (do próprio bolso) e, sim, tão somente

desconta dos impostos aquilo que empregou, ou seja, bota com uma mão e tira com a

outra.

A segunda corrente, denominada de escola socioeconômica, refere- se à responsabilidade

social como instrumento proativo de intervenção através do qual a empresa adota e

executa ações junto à sociedade, participando da promoção do bem-estar de maneira

concreta e direta. Esta corrente tem como precursor Andrew Carnegie (1835- 1919), que,

em 1899, escreveu O Evangelho da Riqueza. Nessa obra, o autor apresenta dois

princípios para a responsabilidade social das organizações. O primeiro deles, o “princípio

da caridade”, sustenta que os mais afortunados da sociedade devem ajudar aos menos

afortunados, como desempregados, inválidos, doentes e idosos. O segundo, o “princípio

da custódia” é apresentado por Carnegie como sendo aquele em que as empresas e os

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ricos se comportam como guardiões, ou zeladores, guardando dinheiro e direcionando-o

para aqueles objetivos que a sociedade considera legítimo. Era função dos guardiões

multiplicarem a riqueza da sociedade (STONER, 1995).

Andrew Carnegie (1835-1919)

Outro importante pensador da escola socioeconômica é Robert Ackerman. Através da

Teoria da Reatividade, Ackerman difundiu a idéia de que, ao invés da forma proativa, a

responsabilidade social deveria ser compreendida como a capacidade da empresa em

responder aos problemas sociais. Este conceito recebeu o nome de responsividade.

Temos, assim, duas correntes antagônicas de Responsabilidade Social: a primeira é

centrada numa leitura extremamente egoísta conduzindo- nos à falsa impressão de que a

empresa pode, unilateralmente, atuar no espaço social sem prestar contas da ação à

sociedade. Ora, não podemos concordar com tal leitura, por vários motivos. Você é capaz

de arrolar alguns?

Podemos sintetizar alguns motivos com base em nossas próprias observações. As

organizações produtivas, em especial as grandes corporações, ao se instalarem em dado

espaço geográfico costumam causar uma série de transtornos. Façamos uma

investigação.

Reflexão

Nesse item, gostaríamos que você fizesse uma investigação bastante simples.

Trata-se de uma observação. Dirija-se a determinado ponto da sua cidade (onde está

instalado um banco, uma universidade, uma escola, um shopping center, um

supermercado ou hipermercado, uma importante repartição pública, um hospital).

Você deve ter identificado alguns desses problemas: tráfego intenso de automóveis (não

raro dificultando o acesso a áreas de passeio público, tais como calçadas, ciclovias e

parques), fluxo intenso de pessoas, barulho, poluição sonora, poluição visual (faixas,

banners, placas, sinalizadores), fuligem, fumaça, sujeira (papel, lata, garrafa, plástico),

dentre outros. Todos esses componentes apontam para o entendimento de que as

organizações afetam a qualidade de vida das pessoas e, portanto, não podem agir de

maneira unilateral, sem qualquer preocupação com o entorno. Devem, ao contrário,

respeitar regras de convívio e compensar a sociedade com alguma ação social, de modo

a amenizar os efeitos ambientais da sua presença em dado espaço geográfico. Quando

assim não atua, a organização pode se tornar objeto de discórdia e alvo de depredação

por parte da população. Lembra- se do caso do filme Erin Brockovich?

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Em Natal, narrou um estudante de pós-graduação em dada ocasião em sala de aula que

uma grande empresa de transportes (localizada em uma área periférica da cidade) era

alvo constante de depredação dos ônibus. A empresa, preocupada com a situação,

instalou filmadoras, cerca elétrica, alarmes e outros artifícios de segurança no intuito de

intimidar os ataques. O que aconteceu? Você imagina?

Impedidos de penetrar na garagem para rasgar pneus e pichar os automóveis, os

depredadores foram esperar os ônibus no início da rua, lá, com uma outra estratégia:

acertar e quebrar vidros de janelas, párabrisas e faróis. Alguém dirá: isso é coisa de

vândalos! Será? Após uma semana (com várias janelas e pára-brisas quebrados), a

diretoria da empresa resolveu mudar a tática. O que ela fez? Imagine você nesse cenário.

Que resposta você daria ao problema?

Pois bem, vejamos se sua resposta é similar àquela adotada pela empresa. A

empresa resolveu dialogar com a população local. Identificou e convocou a liderança

comunitária do bairro e o cabeça do quebra- quebra para uma conversa (a primeira do

gênero após mais de 20 anos de presença da empresa naquela área). O diretor, então,

perguntou a um jovem: “qual o motivo de tanta revolta com a empresa?”

Resposta: “vocês são ricos, estão aqui por muito tempo e nada fazem por nós. Somos

pobres, não temos trabalho, não temos diversão, não temos moradia, moramos em favela,

não temos escola por aqui. Então, a nossa diversão é quebrar tudo.”

Após essa conversa, a direção da empresa tomou a iniciativa de montar um programa

sócio-educativo para os jovens, com atividade de lazer associada, utilizando espaços

livres da área de garagem. O resultado, desta vez, foi bem diferente: os jovens passaram

a ter aula e lazer na garagem da empresa e, após as atividades, decidiram,

voluntariamente, colaborar com a limpeza e a manutenção dos ônibus. Os investimentos

na ação social, de acordo com a direção da empresa, assumiram valores inferiores aos

gastos mensais com a recuperação de portas, janelas, pára-brisas, pneus, pintura, faróis,

etc.

O que nos traz esse exemplo? Ao que parece, é claro o seguinte entendimento: estamos

todos num mesmo barco e devemos nos preocupar com o próximo, pois, de outra forma,

aquele que está em situação vulnerável irá, em algum momento por algum motivo, se

rebelar.

É esse um dos princípios da ética. A ética parte de um pressuposto sistêmico: cada

indivíduo é uma pequena parte do Universo. Assim, a ação ética destina-se, não à

destruição da variedade, mas ao reconhecimento da unidade na diversidade. Tem

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fundamento na moralidade, entendida como um código de valores que guia as escolhas,

as decisões e as ações dos homens e que, portanto, orienta o propósito e o curso da vida

associada e o zelo de todos pelo meio ambiente.

Em síntese, discutimos neste tópico as várias correntes teóricas da RSC. Numa primeira

categorização, estudamos três correntes: Ética Empresarial, Mercado e Sociedade e

Gestão das Questões Sociais.

Numa outra classificação, estudamos duas correntes: a escola do pensamento econômico

clássico e a escola socioeconômica. Percebemos que, em essência, a discussão teórica

em torno do tema está circunscrita ao seguinte questionamento: a empresa deve ou não

se tornar co-responsável pelo desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida das

pessoas? Percebemos, ao final do tópico, que as organizações devem sim buscar

respostas para as demandas sociais, pois, de certo modo, elas afetam a qualidade de vida

das pessoas pela via de impactos ambientais (poluição sonora, poluição visual, trânsito

intenso, influências no fluxo de pessoas etc).

Vimos que a ética é componente intrinsecamente vinculado à RSC. Por sua vez, o

comportamento ético exige a compreensão de que compartilhamos um mesmo espaço

físico e que, portanto, devemos ter uma visão integrada de mundo, zelando uns pelo bem-

estar dos outros e todos pelo patrimônio ambiental.

Volte para seu curso e participe do Fórum "Responsabilidade Social Corporativa"no

Bloco Fóruns de Discussões – Lembro-lhe que sua participação significativa vale ponto.

ANOTAÇÕES:

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2.-RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA

2.3.- Indicadores em Responsabilidade Social Corporativa

Há uma variedade de indicadores em RSC. Aqui, optamos por apresentar alguns dos

mais comumente referenciados. No Brasil, já tivemos oportunidade de conhecer os

Indicadores Ethos e não mais os incluiremos aqui. Agora, acrescentaremos o Balanço

Social e a NBR 16001. Em termos de indicadores internacionais, apresentaremos a SA

8000 e a ISO 26000, esta em fase de elaboração.

Balanço Social

O Balanço Social é uma ferramenta da RSC que, no Brasil, foi popularizada a

partir do Instituto Brasileiro de Análise Sociais e Econômicas (IBASE), Organização

Não-Governamental articulada pelo sociólogo Herbert de Souza em 1997. Desde 1998,

com o intuito de estimular a participação de um maior número de corporações, o Ibase

lançou o Selo Balanço Social Ibase/ Betinho. O selo é conferido anualmente a todas as

empresas que publicam o balanço social no modelo sugerido pelo Ibase, dentro da

metodologia e dos critérios propostos.

Através deste Selo as empresas podem mostrar – em seus anúncios, embalagens, balanço

social, sites e campanhas publicitárias - que investem em educação, saúde, cultura,

esportes e meio ambiente.

O Balanço Social está disposto em sete títulos, a saber:

1. Base de Cálculo (Receita Líquida, Resultado Operacional, Folha de

Pagamento Bruta):

2. Indicadores sociais internos;

3. Indicadores sociais externos;

4. Indicadores ambientais

5. Indicadores do corpo funcional;

6. Informações relevantes quanto ao exercício da cidadania empresarial;

7. Outras informações relevantes. Trata-se de título flexível que permite à empresa

resposta livre.

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ABNT NBR 16001

A Norma NBR 16001 – Responsabilidade Social – Sistema de Gestão – Requisitos,

produzida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), é definida como

instrumento que:

Estabelece os requisitos mínimos relativos a um sistema de gestão da responsabilidade

social, permitindo à organização formular e implementar uma política e objetivos que

levem em conta os requisitos legais e outros, seus compromissos éticos e sua

preocupação com a: promoção da cidadania; promoção do desenvolvimento sustentável;

e transparência das suas atividades

<http://www.iadb.org/ETICA/Documentos/abn_norma-p.doc, p. 3>.

Trata-se, portanto, de instrumento que tão somente orienta os processos de gestão da

responsabilidade social. Por essa razão, registra a ABNT

<http://www.iadb.org/ETICA/Documentos/abn_normap. doc, p. 2>, O atendimento aos

requisitos da Norma não significa que a organização é socialmente responsável, mas que

possui um sistema da gestão de responsabilidade social. As comunica ações da

organização, tanto internas quanto externas, deverão respeitar este preceito.

Assim, ressalta a ABNT que, duas organizações que desenvolvam atividades

similares, mas que apresentem níveis diferentes de desempenho de responsabilidade

social, podem ambas atender aos requisitos da Norma.

A NBR 16001 segue a metodologia conhecida como PDCA (Plan-Do-Check-Act) que,

em português, traduzimos como planejar, fazer, verificar e atuar. Tal metodologia é

assim descrita brevemente na Norma:

Planejar (Plan): estabelecer objetivos e processos necessários para se produzirem

resultados em conformidade com a política da responsabilidade da organização;

Fazer (Do): implementar processos;

Verificar (Check): monitorar e medir os processos em relação à política de

responsabilidade social e aos objetivos, metas, requisitos legais e outros, e reportar

os resultados; e

Atuar (Act): tomar decisões para melhorar continuamente o desempenho ambiental,

econômico e social do sistema da gestão.

Declara a Norma que objetivos e metas devem contemplar, e não apenas se limitar

a:

a) boas práticas de governança;

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b) combate à pirataria, sonegação e corrupção;

c) práticas leais de concorrência;

d) direitos da criança e do adolescente, incluindo o combate ao trabalho infantil;

direitos do trabalhador, incluindo o de livre associação, de negociação, a remuneração

e) justa e benefícios básicos, bem como o combate ao trabalho forçado;

promoção da diversidade e combate à discriminação (por exemplo: cultural, de gênero,

de raça/etnia, idade, pessoa com deficiência);

g) compromisso com o desenvolvimento profissional;

h) promoção da saúde e segurança;

i) promoção de padrões sustentáveis de desenvolvimento, produção, distribuição

e consumo, contemplando fornecedores, prestadores de serviço, entre outros;

j) proteção ao meio ambiente e aos direitos das gerações futuras; e

k) ações sociais de interesse público.

Para Ursini e Sekiguchi (2005), os pontos relevantes da Norma são:

a aplicabilidade a organizações de todos os tipos e portes;

o entendimento amplo do tema Responsabilidade Social;

a necessidade de comprometimento de trabalhadores e dirigentes de todos os níveis

e funções, especialmente a alta direção;

a definição de requisitos para um sistema de gestão, com objetivos, metas e

programas, que contempla a responsabilidade social e política; e

a incorporação do modelo PDCA (plan, do, check, act), anteriormente utilizado com

êxito nas Normas das séries ISO 9000 e ISO 14000.

São todos, portanto, pontos aplicáveis à atualidade, considerando o fato de que a

Responsabilidade Social não mais é retratada pela ótica da benevolência ou como

modismo, nem tampouco serve de abordagem para a divulgação de imagem

organizacional não condizente com a realidade.

SA 8000

Em 1997, o primeiro passo de normalização e certificação de intervenções de

responsabilidade social empresarial foi dado através da Social Accountability 8000 (AS

8000), criada pela SAI – Social Accountability International, uma organização não-

governamental que tem por missão:

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melhorar as condições de trabalho no mundo;

proporcionar a padronização dos critérios de avaliação das intervenções cidadãs

empresariais em todos os setores de negócios e em todos os países;

trabalhar em parceria com organizações trabalhistas e de direitos humanos do mundo

todo; e

proporcionar incentivos que beneficiem a comunidade empresarial e consumidores

através de uma abordagem equilibrada na qual ambas as partes ganhem com o

desenvolvimento tecnológico.

Um dos principais méritos da Norma é o foco na prevenção e não na ação em si. A SA

8000 está mais interessada, então, em evitar que a organização seja acusada de não

atender a requisitos considerados socialmente éticos e justos. Outra característica de

relevância é que a sua concepção envolveu a reunião de diversos grupos sociais, tais

como sindicatos, empresários, membros da academia, consumidores e empresas

certificadoras, dentre outros, experiência que vem sendo replicada na elaboração da ISO

26000.

A Norma está pautada em nove requisitos – fundamentados na Convenção da

Organização Internacional do Trabalho (OIT), na Convenção das Nações Unidas Sobre

os Direitos da Criança e na Declaração Universal dos Direitos Humanos – e aborda os

seguintes aspectos (XAVIER & SOUZA, 2004):

trabalho infantil – a empresa não deve se envolver ou apoiar a utilização de trabalho

infantil;

trabalho forçado – a empresa não deve se envolver ou apoiar a utilização de trabalho

forçado, nem deve solicitar dos seus colaboradores fazer “depósitos” ou deixar

documentos de identidade quando iniciarem o trabalho com a empresa;

saúde e segurança – a empresa, tendo em vista o conhecimento corrente da indústria

e quaisquer perigos específicos, deve proporcionar um ambiente de trabalho seguro

e saudável e deve tomar as medidas adequadas para prevenir acidentes e danos à

saúde que surjam e estejam associados ou que ocorram no curso do trabalho,

minimizando, tanto quanto seja razoavelmente praticável, as causas de perigos

inerentes

ao ambiente de trabalho;

liberdade de associação e direito à negociação coletiva – a empresa deve respeitar o

direito de todos os colaboradores para constituírem ou se associarem em sindicato

de sua escolha e negociar coletivamente;

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discriminação – a empresa não deve se envolver ou apoiar a discriminação na

contratação, na remuneração, no acesso a treinamento, na promoção, no

encerramento de contrato ou na aposentadoria, com base em raça, classe social,

nacionalidade, religião, deficiência, sexo, orientação sexual, associação a sindicato

ou afiliação política;

práticas disciplinares – a empresa não deve se envolver ou apoiar a utilização de

punição corporal, mental ou coerção física e abuso verbal;

horário de trabalho – a empresa deve cumprir a legislação referente ao horário de

trabalho em todos os casos. Os seus colaboradores não devem ser rotineiramente

solicitados a trabalhar acima de 48 horas por semana e devem ter pelo menos um dia

livre num período de sete dias de trabalho;

remuneração – a empresa deve assegurar que os salários pagos por uma semana

padrão satisfaçam pelo menos os padrões mínimos do negócio e sempre sejam

suficientes para atender às necessidades básicas dos colaboradores e proporcionar

alguma renda extra; e

sistema de gestão – a alta administração deve definir a política da empresa quanto à

responsabilidade social e às condições para assegurar a sua manutenção.

A SA 8000 possui um sistema de auditoria similar às versões ISO 9000 e 14000, todavia

com requisitos orientados em diretrizes de convenções internacionais, o que tem sido

motivo de reconhecimento como sistema de implementação, manutenção e verificação

de condições dignas de trabalho.

Cabe, aqui, um questionamento: você concorda com o fato de o cumprimento, por

parte de uma organização, a normas, tratados e convenções ser abordado como

Responsabilidade Social?

O tema é polêmico. Duas correntes de interpretação estão postas. A primeira defende

que a observância a leis, normas, tratados e convenções é algo compulsório (ou deve ser

considerado como tal) e, portanto, não há mérito algum quando a organização os atende.

No outro ponto, há a defesa de que, não obstante os consideráveis progressos técnicos

da humanidade, os avanços sociais no mundo dos negócios não os têm acompanhado na

mesma velocidade e qualidade.

Por isso, são registradas, cotidianamente, em várias partes do mundo, agressões

de empresas ao ambiente, a clientes, a empregados, à concorrência, à comunidade etc.

Diante deste fato inquestionável, é razoável concordamos que o atendimento a

instrumentos legais (que têm base em valores, costumes, na moral e na ética) pode ser

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considerado ponto de distinção à organização, ainda que possamos, sob tal perspectiva,

entender tal procedimento como etapa preliminar de RSC.

ISO 26000

A International Organization for Standardization (ISO) é uma reconhecida

agência internacional de certificação que, anteriormente, foi responsável pela geração

das normas ISO. A primeira geração tratou dos sistemas de gestão da qualidade (ISO

9000), a segunda de gestão ambiental (ISO 14000) e, agora, prepara a terceira geração,

a ISO 26000, com previsão de lançamento para 2010. Contudo, diferentemente das

anteriores, a ISO 26000 não se constitui norma certificadora e, sim, apenas um guia de

diretrizes. Não é base, portanto, para obtenção de selos e certificados de responsabilidade

socioambiental pelas empresas e outras organizações.

O Brasil, representado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), em

conjunto com o Swedish Standard Institute, da Suécia, é responsável pela condução dos

trabalhos, que vem sendo liderados pelo Grupo de Trabalho de Responsabilidade Social

da ISO (Working Group on Social Responsibility – WG SR), composto por

mais de 430 pessoas de 72 países e 35 organizações

internacionais.<http://www.institutoatkwhh.org.br/compendio/?q=node/104>

A ISO 26000 contemplará três conjuntos de princípios. No primeiro, denominado Gerais,

estão temas relacionados à observância a leis, convenções e declarações internacionais.

Os princípios que fazem parte do segundo conjunto, chamados de Substantivos, são

voltados ao acompanhamento de resultados e avanços das organizações em critérios

internacionalmente reconhecidos nas diversas áreas da responsabilidade social. O

terceiro conjunto, Operacionais, dizem respeito à natureza e à qualidade dos processos

de responsabilidade social, englobando controles, transparência e responsabilidade da

organização, entre outros aspectos. Diferentemente das anteriores, a ISO 26000 não

certificará. Assim, teremos tão somente um guia internacional para o tema da

responsabilidade social. A não concessão de certificado é algo positivo ou negativo?

Qual a sua posição a respeito do tema?

Há muita polêmica em torno das normas de certificação, fato que foi especialmente

alimentado a partir de experiências negativas com as versões anteriores da ISO.

Ocorreram denúncias envolvendo consultorias e auditorias de qualidade e rigor

duvidosos. Maquiagens proliferaram no meio empresarial visando à obtenção da

certificação.

Atendimentos dissimulados e artificiais de conformidade, mais tarde mostravam-se

inconsistentes e colocavam em dúvida a validade do certificado. Em outras palavras,

quando constatavam a incapacidade para atender determinada exigência, algumas

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empresas montaram circo para impressionar os auditores e, assim, conseguiam

convencer (ludibriar) a auditoria e receber o certificado. Dias ou meses depois, quando

o circo era desarmado, a sociedade tomava conhecimento da fraude.

Ao que parece, os guias de orientação são mais saudáveis do que as normas de

certificação. Você concorda? A experiência tem demonstrado que as normas

certificadoras geram um lucrativo mercado para consultores (aqueles que orientam as

empresas no atendimento das exigências) e um outro, não menos lucrativo, para

auditores (os que investigam o atendimento às exigências) e agências certificadoras.

Por outro lado, há aqueles que acreditam ser positiva a experiência da certificação,

pois, ainda que sujeita a desvios – como tudo o mais na vida – a obtenção de um dado

certificado é parâmetro à tomada de decisão de consumidores, fornecedores e

investidores, dentre outros públicos, que interagem com a empresa.

Finalizando, neste tópico estudamos alguns indicadores de Responsabilidade Social

Corporativa. Acrescentamos aos Indicadores Ethos – que já havíamos estudado

anteriormente – o Balanço Social e a NBR 16001 em termos de Brasil. Da referência

internacional, apresentamos a SA 8000 e a ISO 26000.

Uma vez que os indicadores de RSC tratam da obediência a normas, tratados e

convenções, refletimos a respeito do tema com base na seguinte questão: as empresas

que cumprem legislações podem ser consideradas como sendo socialmente

responsáveis? Optamos pelo sim, sob a ressalva de que, nesse caso, devemos entender a

conformidade como etapa preliminar de RSC.

Tratamos, ainda, de uma outra polêmica: se os indicadores devem ou não servir de

instrumento de certificação. Nesse aspecto, vimos que os indicadores podem servir:

à concessão de certificados; e

de guia de orientação à gestão.

Optamos por entender que, na condição de guia de orientação à gestão, os indicadores

são mais saudáveis, pois, na outra forma, tornam- se passíveis de manipulação por parte

de consultores e de auditores credenciados à concessão de certificados.

Elabore uma síntese comparativa de temas/indicadores abordados nas três propostas,

tomando como referência o modelo Ethos. Para facilitar a execução da atividade,

fornecemos um exemplo.

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Caso você identifique temas/indicadores que aparecem em um modelo e não em outro,

liste-os separadamente e elabore justificativas para as diferenças encontradas. Para esse

fim, leia os objetivos de cada instrumento.

Considerando o fato de haver sete temas nos Indicadores Ethos, apresentamos o

quadro com sete linhas. Todavia, é provável que você necessite detalhar variáveis

contidas em um ou outro indicador visando à identificação de similaridades. Nesse caso,

o número de linhas aumentará.

Reflexão Final

Vamos conhecer, agora, alguns desafios que permeiam o tema da Gestão Social

em uma sociedade regulada por relações capitalistas.

O exercício reflexivo que propomos é importante para sinalizar fragilidades conceituais

e cuidados que devemos adotar em intervenções nesse campo do pensamento

administrativo.

As dificuldades que encontramos no tratamento de temas vinculados à Gestão Social

residem no fato de que, em essência, esse campo do conhecimento administrativo se

desenvolve a partir de princípios e valores que, em essência, não se sintonizam

perfeitamente com a dinâmica das relações capitalistas. Afinal, vivemos em uma

sociedade dominada por relações de marcado e comportamento econômico que

privilegiam ganância, competição, concorrência, competência individual e

individualismo, dentre outros elementos do gênero.

Todavia, a agenda que aqui retratamos é mais que pertinente, pois, conforme lembra

Ramos (1981), o comportamento econômico, calculista e interesseiro, ainda que

predominante no meio social, não explica a totalidade das relações humanas, mesmo em

uma sociedade capitalista. Por essa razão, discutimos neste livro princípios e valores

humanos que, aparentemente, estavam esquecidos e que, agora, são retomados como

estratégia de reatamento de elos entre os homens e destes com a natureza. Por essa razão,

tratamos aqui de:

ética e transparência;

solidariedade;

qualidade de vida;

responsabilidade e confiança mútuas;

cooperação;

doação voluntária e vocação;

dependência e compromissos coletivos;

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reciprocidade, harmonia e sintonia.

sustentabilidade ambiental;

tolerância;

diálogo social;

engajamento político e participação.

Não esqueçamos da discussão ideológica que preside esse campo do conhecimento,

exatamente em virtude dos descompassos existentes entre interesses econômicos de

obtenção crescente de lucros, por um lado, mediados por discursos e práticas que buscam

harmonia, solidariedade, ação voluntária e ética, por outro. Entre esses dois universos,

navega a Gestão Social.

Certa vez, em sala de aula, um jovem aluno provocou:

Professor, eu acredito que as organizações sociais, da mesma forma que as

empresas, devem ser eficientes e eficazes acima de tudo, principalmente na aplicação

dos recursos e no alcance dos resultados. Afinal, é bem melhor fazer a 40 do que a 20.

Você concorda com esse raciocínio?

Bom, provavelmente você deve ter concordado com o raciocínio economicista do jovem.

Parece mesmo que a função maior do Administrador é fazer mais com menos; alcançar

os melhores resultados (quantitativos, demonstrados no balanço sob a forma de lucro)

com menos emprego de recursos. Na sala de aula, naquele momento, todos concordaram

com o raciocínio do jovem.

Lembramos a todos, porém, que não é essa a lógica que deve presidir a gestão das

organizações sociais. Ao invés do raciocínio puramente quantitativo (próprio da lógica

de mercado) é mais pertinente à Gestão Social o raciocínio qualitativo, ai sim, mediado

por números.

Desta forma, a provocação foi devolvida:

E se eu disser: é bem melhor para uma organização social fazer a 10 do que a 20,

afinal, assim procedendo ela poderá melhor atender às demandas do público beneficiário

e, portanto, cumprir fielmente a missão maior: promover o bemestar de indivíduos e

coletividades.

Pois bem! Em um cenário dominado por relações de mercado em que prevalece a lógica

do fazer mais com menos visando à obtenção de ganhos crescentes, as iniciativas

solidárias de Responsabilidade Social Corporativa e no Terceiro Setor soam como

tímidas retomadas e conquistas da sociedade, em sintonia com movimentos de

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resistência e de retomada gradativa de consciência do homem em torno das condições

gerais do ambiente e da vida coletiva com o semelhante.

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2.-RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA

2.4.- Clique nos link abaixo e faça uma leitura do artigo FACOM - nº 17 - 1º semestre

de 2007

A importânia da RSC como fator de diferenciação

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3.-RSC NAS DIFERENTES ÁREAS ORGANIZACIONAIS E SEUS IMPACTOS

3.- Clique nos link abaixo e faça uma leitura do artigo retirado do site:

http://empreende.org.br da Autora: Silmara Cimbalista:

Responsabilidade Social: um novo papel na empresa

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3.-RSC NAS DIFERENTES ÁREAS ORGANIZACIONAIS E SEUS IMPACTOS

3.1.- Clique nos link abaixo e faça uma leitura do artigo retirado do site:

http://empreende.org.br da Autora: Alex Guimarães:

Vale Investir em Responsabilidade Social Empresarial?

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3.-RSC NAS DIFERENTES ÁREAS ORGANIZACIONAIS E SEUS IMPACTOS

3.2- Responsabilidade social corporativa: afinal, quem são os interessados?

Para acessar este conteúdo click no link:

http://www.ead.aedb.br/joomla/mat35/images/artigos/rscafinalquemsaoosinteressados.

pdf

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4.-RESPONSABILIDADE SOCIAL E ESTRATÉGIA EMPRESARIAL

4.-Responsabilidade Social E Estratégia Empresarial

http://www.erpnews.com.br/v2/thumbnail.php?file=business_process_148111646.jpg&

size=article_medium

http://cadejr.files.wordpress.com/2011/09/estrategia.jpg

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4.-RESPONSABILIDADE SOCIAL E ESTRATÉGIA EMPRESARIAL

4.1.- Clique nos link abaixo e faça uma leitura do artigo retirado do:

VII Congresso Nacional Em Excelência Em Gestão 12 e 13 de agosto de 2011 ISSN

1984-9354. Autores: Patrícia Asunción, Luciana Sousa, Maria Rosa e Benjamin

Salgado.

RESPONSABILIDADE SOCIAL E ESTRATÉGIA EMPRESARIAL: UM ELO

ENTRE DUAS CORRENTES- O CASO DE UMA INDÚSTRIA DO RAMO

ALIMENTÍCIO NO MUNICÍPIO DE NOVA IGUAÇU

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4.-RESPONSABILIDADE SOCIAL E ESTRATÉGIA EMPRESARIAL

4.2.- Clique nos link abaixo e faça uma leitura do artigo retirado do:

MORCERF, S. O.; ALMEIDA, T. C. S.. Marketing Social – A Estratégia De Mudança

Do Comportamento Social. Cadernos UniFOA , Volta Redonda, ano 1, nº. 1, jul. 2006.

Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/pesquisa/caderno/edicao/01/71.pdf>

Marketing Social - A Estratégia De Mudança Do Comportamento Social

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Núcleo de Educação a Distância – NEAD/AEDB 77

4.-RESPONSABILIDADE SOCIAL E ESTRATÉGIA EMPRESARIAL

4.3.- Clique nos link abaixo e faça uma leitura do artigo retirado do:

Desigualdade e indicadores sociais no Brasil

Francisco Vidal Luna e Herbert S. Klein

Sociólogo e as Políticas públicas: Ensaios em Homenagem a Simon

Schwartzman / Luisa Farah Schwartzman, Isabel Farah Schwartzma

Felipe Farah Schwartzman, Michel Lent Schwartzman, organizadores.—

Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009.Pp 97-116.ISBN 978-85-225-0736-‐8

Desigualdade e indicadores Sociais No Brasil

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4.-RESPONSABILIDADE SOCIAL E ESTRATÉGIA EMPRESARIAL

4.4.- Clique nos link abaixo e faça uma leitura do artigo retirado da:

Revista Eletrônica de Ciência Administrativa (RECADM) - ISSN 1677-7387

Faculdade Cenecista de Campo Largo - Coordenação do Curso de Administração v. 4,

n. 1, maio/2005 - Dísponível em: <http://revistas.facecla.com.br/index.php/recadm>

Contribuição Das Empresas Para o Desenvolvimento Sustentavel.

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4.-RESPONSABILIDADE SOCIAL E ESTRATÉGIA EMPRESARIAL

4.5.- Clique nos link abaixo e faça uma leitura do artigo retirado do:

http://carbonmarketwatch.org/wp-content/uploads/2012/03/CDM_Toolkit_PG.pdf

Manual para o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

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