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ATIVIDADES DE PRODUÇÃO DE TEXTOS EM LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA Wisla Madaleni Alves Cabral Ferreira * Leandra Batista Antunes * * RESUMO ESTE TRABALHO TEM POR OBJETIVO ANALISAR QUALITATIVAMENTE ALGUMAS ATIVIDADES DE PRODUÇÃO DE TEXTO EM DOIS LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA (DORAVANTE LDLP) ADOTADOS EM ESCOLAS DE MARIANA / MG. PARTINDO DE MUDANÇAS QUE VÊM OCORRENDO NOS CONCEITOS DE LINGUAGEM, TEXTO, DISCURSO, PRETENDEU-SE ANALISAR ATIVIDADES DE PRODUÇÃO DE TEXTOS NOS LDLP, A FIM DE CONSTATAR SE AS NOVAS REFLEXÕES TEÓRICAS TÊM SIDO INCORPORADAS NO QUE OS LIVROS APRESENTAM PARA O ENSINO DE PRODUÇÃO DE TEXTOS OU NAS ATIVIDADES PROPOSTAS COM ESSE FIM. FUNDAMENTANDO-SE, PORTANTO, EM ESTUDOS E DISCUSSÕES TEÓRICAS RECENTES (CF. DIONÍSIO & BEZERRA, 2005), DELIMITAMOS ESSAS ATIVIDADES E FIZEMOS DELAS UMA ANÁLISE A PARTIR DE CRITÉRIOS PRÁTICOS PARA A REFLEXÃO SOBRE COMO TRABALHAR AS ATIVIDADES DE PRODUÇÃO DE TEXTOS DE MANEIRA MAIS EFICAZ E FUNCIONAL PARA O APRENDIZADO DO ALUNO. PALAVRAS-CHAVE: Gênero Textual. Livro Didático de Língua Portuguesa. Produção de Texto. 1 Considerações Iniciais Os Livros Didáticos de Língua Portuguesa (doravante LDLP), a partir da implantação, pelo MEC, do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático), passaram a ser objeto de estudo crescente por parte de teóricos da área, que refletem sobre sua estrutura, organização, metodologia educacional e fundamentação para o efetivo ensino da Língua Portuguesa. Principalmente nas últimas três décadas, as discussões teóricas feitas nos campos da Lingüística Textual, da Pragmática e dos Estudos Discursivos proporcionaram novos pontos de vista sobre a linguagem, seu uso em textos e sua materialização em gêneros textuais. Conceitos como o de textualidade (COSTA VAL, 1999; KOCH & TRAVAGLIA, 2001; * Graduanda em Letras na Universidade Federal de Ouro Preto(UFOP); bolsista de iniciação científica do Programa de Iniciação à Pesquisa (PIP) da UFOP, 2009-2010. * * Professora Adjunta de Língua Portuguesa da Universidade Federal de Ouro Preto; orientadora do trabalho de pesquisa aqui apresentado.

Atividades de Produção de Textos Em Livros Didáticos de Lingua Portuguesa

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Atividades

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  • ATIVIDADES DE PRODUO DE TEXTOS EM LIVROS DIDTICOS DE LNGUA PORTUGUESA

    Wisla Madaleni Alves Cabral Ferreira Leandra Batista Antunes

    RESUMO

    ESTE TRABALHO TEM POR OBJETIVO ANALISAR QUALITATIVAMENTE ALGUMAS ATIVIDADES DE PRODUO DE TEXTO EM DOIS LIVROS DIDTICOS DE LNGUA PORTUGUESA (DORAVANTE LDLP) ADOTADOS EM ESCOLAS DE MARIANA / MG. PARTINDO DE MUDANAS QUE VM OCORRENDO NOS CONCEITOS DE LINGUAGEM, TEXTO, DISCURSO, PRETENDEU-SE ANALISAR ATIVIDADES DE PRODUO DE TEXTOS NOS LDLP, A FIM DE CONSTATAR SE AS NOVAS REFLEXES TERICAS TM SIDO INCORPORADAS NO QUE OS LIVROS APRESENTAM PARA O ENSINO DE PRODUO DE TEXTOS OU NAS ATIVIDADES PROPOSTAS COM ESSE FIM. FUNDAMENTANDO-SE, PORTANTO, EM ESTUDOS E DISCUSSES TERICAS RECENTES (CF. DIONSIO & BEZERRA, 2005), DELIMITAMOS ESSAS ATIVIDADES E FIZEMOS DELAS UMA ANLISE A PARTIR DE CRITRIOS PRTICOS PARA A REFLEXO SOBRE COMO TRABALHAR AS ATIVIDADES DE PRODUO DE TEXTOS DE MANEIRA MAIS EFICAZ E FUNCIONAL PARA O APRENDIZADO DO ALUNO. PALAVRAS-CHAVE: Gnero Textual. Livro Didtico de Lngua Portuguesa. Produo de Texto.

    1 Consideraes Iniciais

    Os Livros Didticos de Lngua Portuguesa (doravante LDLP), a partir da implantao, pelo MEC, do PNLD (Programa Nacional do Livro Didtico), passaram a ser objeto de estudo crescente por parte de tericos da rea, que refletem sobre sua estrutura, organizao, metodologia educacional e fundamentao para o efetivo ensino da Lngua Portuguesa.

    Principalmente nas ltimas trs dcadas, as discusses tericas feitas nos campos da Lingstica Textual, da Pragmtica e dos Estudos Discursivos proporcionaram novos pontos de vista sobre a linguagem, seu uso em textos e sua materializao em gneros textuais. Conceitos como o de textualidade (COSTA VAL, 1999; KOCH & TRAVAGLIA, 2001;

    Graduanda em Letras na Universidade Federal de Ouro Preto(UFOP); bolsista de iniciao cientfica do

    Programa de Iniciao Pesquisa (PIP) da UFOP, 2009-2010.

    Professora Adjunta de Lngua Portuguesa da Universidade Federal de Ouro Preto; orientadora do trabalho de pesquisa aqui apresentado.

  • KOCH, 2001) e o de gneros textuais (MARCUSCHI, 2002), aliados a uma viso sociointeracionista da linguagem, trouxeram uma modificao nas posturas oficiais sobre o ensino. Os Parmetros Curriculares Nacionais (doravante PCNs, 1998) incorporaram grande parte desses novos conceitos, propondo novos tipos de trabalho na disciplina de Lngua Portuguesa, incluindo-se, a, a Produo de Textos.

    Deste quadro de modificaes tericas e tambm dessa avaliao feita aos livros didticos atravs do PNLD, decorreu uma mudana nos LDLP, que buscaram incorporar novos conceitos lingsticos e novas propostas oficiais. Podemos citar como exemplo o fato de gneros textuais at ento pouco vistos nos LDLP, como horscopo, tirinha, entre outros,

    ganharem espao nos livros mais novos (cf. BEZERRA, 2005). Os livros didticos mais recentes tentam levar ainda em considerao questes voltadas para novas reflexes pedaggicas, tais como ver o aluno como sujeito no processo ensino/aprendizagem, capaz de atuar sobre tal processo.

    Os novos LDLP, mais coloridos, com maior variedade de textos, tm sido questionados ultimamente em relao correta explorao desses recursos. O que se v na literatura da rea (e muitos so os trabalhos que tm como foco a anlise de LDLP cf. Dionsio & Bezerra, 2005) que os livros tentaram incorporar as novas propostas tericas/ oficiais, mas no o fizeram de forma satisfatria.

    No que tange especificamente Produo de Textos, conceitos como o de textualidade e o de gneros textuais ainda so pouco ou mal explorados nos LDLP (ANTUNES, 2003; REINALDO, 2005). No que pese a importncia de uma melhor discusso de tais concepes e de uma utilizao satisfatria delas na Produo de Textos, possvel ver que a abordagem feita pelos LDLP ainda , de um modo geral, insuficiente. Isso propicia o desenvolvimento de novos trabalhos para anlise de LDLP, a fim de observar a realidade das propostas de Produo de Textos.

    Dadas essas inmeras concepes acerca do tratamento dado Produo de Texto nos LDLP, partimos para uma anlise de alguns livros, a fim de verificar como vm sendo desenvolvidas as atividades de Produo de Textos em dois Livros Didticos de Lngua Portuguesa

  • utilizados nas escolas de Mariana / MG, um usado em escola pblica e um em escola privada (ambos do 6ano 5 srie).

    Fundamentando-se, portanto, em estudos e discusses tericas recentes (DIONSIO & BEZERRA, 2005), esse trabalho tem por objetivo especfico verificar se as atividades de Produo de Textos propostas nos LDLP contemplam: i) o que dizem os Parmetros Curriculares Nacionais (doravante PCNs, 1998) a respeito da Produo de Textos; ii) os gneros / tipos textuais a serem produzidos, de maneira clara, trazendo instrues sobres estes e variando-os; iii) a prtica da escrita como atividade scio-comunicativa / scio-interacional da linguagem; iv) etapas previstas para planejamento, escrita e reviso de textos.

    Este trabalho se justifica porque o livro didtico , muitas vezes, o nico material de que o professor dispe na sala de aula ou at fora dela, para preparar seus cursos, exerccios, provas (RANGEL, 2005), o que torna o fato de o LDLP no ser adequado ainda mais grave. Alm do mais, muitos alunos (talvez a grande maioria) s possuem o LDLP como material de leitura e estudo, tornando o papel do livro ainda mais importante para um bom desempenho no processo ensino/aprendizagem do uso efetivo da Lngua Portuguesa. Isso leva ao questionamento sobre a qualidade das propostas de Produo de Texto abordadas nos LDLP.

    Especificamente no que se refere Produo de Textos, necessrio saber por que o aluno tem tanta dificuldade em produzir quaisquer gneros textuais, mesmo os mais utilizados e relevantes no uso social da lngua. Este trabalho pauta-se, portanto, na importncia e necessidade de uma anlise mais ampla da produo textual, servindo como estmulo para esse estudo, uma vez que a Produo de Texto, s vezes, ocupa um patamar secundrio em relao a outras reas de ensino da lngua, quando deveria ser to importante quanto a leitura ou a reflexo acerca da linguagem (estudos gramaticais).

    2 Quadro Terico

    Os estudos atuais acerca do texto so fundamentais para o entendimento dos gneros textuais como fonte de ensino nas escolas. Para entendermos o trabalho proposto pelos PCNs com a diversidade de gneros textuais no ensino de Lngua Portuguesa, retomamos conceitos fundamentais no quadro terico aqui apresentado.

  • 2.1 Texto e textualidade

    O conceito de texto j foi discutido de diferentes formas em tempos diferentes. Antes do crescimento da Lingustica Textual, era comum que a unidade mxima de estudo na Lngua Portuguesa fosse a frase. Quando, no entanto os estudos do texto comearam a ganhar fora, percebeu-se que no uso lingustico no falamos frases uns com os outros, ou no escrevemos ou lemos frases isoladas, mas sim textos. A partir dessa discusso, comea a haver uma exigncia de que o espao do texto seja cada vez mais ampliado no ensino de Lngua Portuguesa, culminando com a determinao, nos PCNs, de que o texto deve ser a unidade de ensino da Lngua Portuguesa (cf. PCNs, 1998, p. 23 e seguintes).

    Dentro dos PCNs o texto entendido como

    O produto da atividade discursiva oral ou escrita que forma um todo significativo, qualquer que seja sua extenso [...], uma seqncia verbal constituda por um conjunto de relaes que se estabelecem a partir da coeso e da coerncia. Em outras palavras, um texto s um texto quando pode ser compreendido como unidade significativa global. (PCNs, 1998, p. 21)

    Bem parecida com a definio apresentada nos PCNs a que encontramos em Costa Val (1999, p. 3): ocorrncia lingustica falada ou escrita, de qualquer extenso, dotada de unidade sociocomunicativa, semntica e formal. Ao lado dessa definio, Costa Val apresenta o conceito de textualidade, que a autora conceitua como o conjunto de caractersticas que fazem de um texto um texto, e no um amontoado de frases. So caractersticas que a autora apresenta como constituintes da textualidade a coerncia, a coeso, a intencionalidade, a aceitabilidade, a situacionalidade, a informatividade e a intertextualidade.

    A partir desses conceitos, podemos perceber a importncia de reconhecer a unidade significativa que o texto , estando inseridas em tais conceitos propriedades formais (como a coeso, que diz respeito ao modo como os elementos textuais se ligam na superfcie do texto, atravs de que mecanismos lingusticos), propriedades semnticas (como a coerncia, abordando como as ideias e relaes subjacentes esto relacionadas no texto) e propriedades pragmticas ou sociocomunicativas (a inteno do produtor do texto, a percepo dessa

  • inteno por parte do receptor, a situao na qual o texto se insere, as informaes que o texto traz e o dilogo entre os mais diversos textos).

    2.2 Gneros Textuais

    A discusso acerca do conceito de gnero textual tem-se apresentado, na atualidade, como fundamental para o ensino de Produo de Textos, Leitura ou qualquer outra rea dentro da Lngua Portuguesa.

    O termo gnero, aplicado a textos, no recente, mas tem sido conceituado, recentemente, de uma maneira particular. Quando falamos em gnero textual ou gnero discursivo, estamos definindo realizaes empricas de texto telefonema, oficio, carta, bilhete etc (MARCUSCHI, 2002); ao mesmo tempo, estamos nos referindo aos tipos relativamente estveis de enunciados, marcados pela especificidade de uma esfera comunicativa (BAKTHIN, 1997).

    Cada gnero textual conceituado atravs de sua funo social (Marcuschi, 2002), apresentando padres sociocomunicativos caractersticos, sendo definidos por composies funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integrao de foras histricas, sociais, institucionais e tcnicas. (MARCUSCHI, 2008, p. 155); sendo importantes, para caracterizar um gnero qualquer, seu contedo temtico, sua construo composicional, e seu estilo lingustico. (PCNs, 1998, p. 21)

    necessrio, como apontado por Marcuschi (2002, 2008) no confundir gnero textual (textos empiricamente realizados) com tipo textual (construto terico, definido apenas por suas caractersticas lingusticas e suas relaes lgicas). Retomamos aqui esse aspecto porque, no que tange aos LDLP, muitas vezes encontramos, nas propostas de Produo Textual, o pedido de que se produza um determinado tipo textual (narrao, dissertao, descrio) em detrimento de gneros textuais em que esses tipos ocorram (uma notcia de jornal, um artigo de opinio ou um relatrio, por exemplo).

    importante ressaltar, pois, que a anlise das propostas de Produo de Texto, objeto do estudo desse artigo, levar em conta os aspectos aqui discutidos, uma vez que os PCNs

  • direcionam o ensino de Lngua Portuguesa atravs dos gneros textuais, para atingir a expanso da capacidade sociocomunicativa do aluno e um letramento cada vez maior, propondo o uso reflexo uso como eixo de trabalho com os gneros, buscando expandir o uso da linguagem.

    3 Metodologia:

    A fim de verificar se as propostas de Produo de Textos tm levado em considerao os aspectos anteriormente apresentados, foram analisadas atividades propostas em dois LDLP utilizados em Mariana.

    A escolha dos livros seguiu um critrio simples: livros efetivamente utilizados em escolas pblicas ou privadas de Mariana / MG e escolha dos mais recorrentemente usados. A partir disso, foram selecionados os seguintes LDLP:

    1- Tudo linguagem, de Ana Borgatto, Terezinha Bertin e Vera Marchezi, da Editora tica, utilizado na rede pblica estadual em Mariana; 2- Sistema Positivo de Ensino, de Alexsandra Cibelly Finkler, da Editora Positivo, utilizado na rede privada de ensino em Mariana1.

    Concluda a seleo, escolhemos trs atividades de Produo de Texto em cada livro, seguindo os critrios de recorrncia de gneros nos dois livros e diversidade de gneros em cada livro. Portanto, foram selecionadas as seguintes atividades: trs que pediam a produo de conto, uma de bilhete, uma de publicidade e uma de carta. Como o primeiro critrio de seleo de atividades foi a recorrncia nos dois livros analisados, selecionamos uma atividade de produo de conto em cada um dos livros. Essa foi a nica atividade recorrente nos dois volumes analisados. Observando o segundo critrio, diversidade de gneros em cada livro, houve um problema: no primeiro livro analisado, somente uma proposta, que era da produo de carta argumentativa, no pedia a produo de contos. Por isso, nesse primeiro livro, foram selecionadas duas propostas de produo de contos e uma de carta. Para o segundo livro, alm da produo de conto, selecionamos a produo de uma publicidade e de um bilhete, totalizando, pois, as seis produes a serem analisadas.

    1 Faz-se necessrio ressaltar que o primeiro livro analisado aprovado pelo PNLD (2008), enquanto o segundo,

    por se tratar de produo independente (feito exclusivamente para a rede de ensino privada no qual utilizado), no fez parte da anlise desse programa.

  • Para direcionar os critrios de anlise dos livros, delimitamos os seguintes parmetros: i) As propostas de atividade de Produo de Texto contemplam gnero e tipo, bem como suas variedades? ii) A proposta de produo de texto motivada, alm de contextualizada? iii) H relao entre a proposta de produo de texto e os temas centrais das outras atividades trabalhadas no livro didtico? iv) As propostas encontram-se vinculadas a um contexto real de comunicao? v) So expostos critrios de reviso para a produo de texto?

    Cada proposta escolhida foi, portanto, estudada de acordo com esses parmetros. Apresentamos, a seguir, o que conclumos a partir dessa anlise.

    4 Resultados

    A fim de facilitar a apresentao dos resultados, apresentamos uma anlise feita por gnero textual pedido, independente do livro do qual ela foi retirada. Essa primeira anlise tem por objetivo destacar aspectos gerais observados nas atividades.

    CONTO: em linhas gerais as atividades acerca desse gnero textual so superficiais, baseadas na estrutura do conto e no em sua funo determinante; no h um aprofundamento sobre o gnero tratado como prtica sociocomunicativa, levando a situaes fantasiosas para a produo dos textos. As trs propostas sobre conto analisadas prevem etapas de planejamento bem delimitadas, porm no delimitam critrios para correo dos textos. Vale ressaltar que as propostas so contextualizadas aos textos base de cada unidade dos LDLP analisados.

    CARTA ARGUMENTATIVA: essa atividade inserida num contexto que reflete sobre a argumentao, dando prioridade, portanto, as questes tipolgicas e excluindo os aspectos relevantes para formao da competncia discursiva do aluno no que tange ao gnero textual carta. Um ponto importante dessa atividade que ela prope uma etapa de envio das cartas produzidas, aproximando-a de uma situao real de produo.

  • PUBLICIDADE: h uma contextualizao e motivao atravs de outros textos do gnero, atentando-se para sua funo social e esferas de circulao e enfocando as tipologias textuais utilizadas para dar caracterizao ao gnero proposto, porm pede-se, na proposta, a criao artstica de uma propaganda, incluindo slogan, logotipo e ilustraes, prejudicando assim o propsito funcional da atividade.

    Atividade selecionada: Voc analisou textos publicitrios que informam e anunciam servios de telefonia apresentando as vantagens que eles oferecem, alm da criatividade e da intencionalidade na escolha das cores e das imagens. Use o que voc aprendeu e, em seu caderno, crie uma propaganda para ser veiculada em uma revista para o pblico jovem. Voc pode inventar um modelo de telefone celular e um nome criativo. Atribua a ele algumas vantagens que os outros no tenham, como um alarme contra ladres ou um sensor de voz para o cliente poder encontr-lo no escuro. No se esquea do desenho, do logotipo, do slogan, de um telefone 0800 para o cliente entrar em contato com a empresa que distribui o aparelho e de todas as outras caractersticas dos textos publicitrios que voc leu e analisou.

    (FINKLER, v. 2, p. 35)

    BILHETE: essa proposta contextualizada, motivada. A atividade promove, ainda, interao social, criando situaes reais e comunicao. Mesmo sem critrios explcitos, est prevista a etapa de reviso do texto. Contudo, ao final da atividade, pede-se a exposio dos bilhetes, quebrando a dimenso funcional do gnero, pois o bilhete no serve para ser exposto, como se fosse um cartaz.

    Para o trabalho com os gneros, percebemos que os livros didticos se propem a realizar o planejamento proposto pelos PCNs (1998), mas isso nem sempre feito de forma adequada, o que pode prejudicar a aprendizagem da produo escrita, leitura e identificao dos gneros textuais.

    Partindo dos critrios propostos em nossa metodologia, apresentamos o quadro comparativo a seguir, em que cada aspecto avaliado para o conjunto das produes analisadas, ressaltando aspectos semelhantes ou diferentes nas produes vistas. Cabe lembrar que, em relao ao primeiro critrio de anlise, se os gneros so contemplados, percebemos que sim, cada

  • atividade proposta tem a denominao do gnero a ser produzido; no entanto, nem sempre a essa denominao presente corresponde um tratamento mais voltado para o gnero textual em questo, como por exemplo, na carta, em que os aspectos tipolgicos (tipo textual argumentativo) foram priorizados, em vez de a proposta centrar-se na funcionalidade do gnero.

    Quadro 1 Anlise e comparao das atividades de Produo de Textos estudadas nesse artigo

    5 Concluses

    A anlise dessas atividades vem ratificar a reflexo de BEZERRA, 2005, p. 42:

    [...] percebemos a preocupao dos autores de livros didticos em favorecer ao aluno contato com um nmero diversificado de textos que circulam na sociedade, o que positivo, mas sem um estudo aprofundado, de modo que se distinga tipo de gnero e se considerem os usos efetivos de cada gnero.

    Levando em considerao as questes de anlise propostas nesse artigo podemos concluir que os manuais didticos, utilizados nessas duas escolas de Mariana / MG, carecem de reviso no que tange Produo Textual e aos conceitos nela envolvidos textualidade, gnero textual, tipo textual. Seria necessrio, tambm, ampliar tais propostas de Produo, para que, sendo mais completas, contemplassem os aspectos de planejamento, escrita e reviso textual. No aspecto de planejamento, seria imprescindvel abordar os gneros em suas caractersticas mais relevantes, como forma de suscitar, nos alunos, a funcionalidade comunicativa do texto que viriam a produzir; na escrita, fazia-se importante ressaltar que o texto deve ser trabalhado,

    CRITRIOS DE ANLISE PRODUO PROPOSTA motivada e

    contextualizada?

    H relao com os temas centrais

    da unidade do LDLP?

    Est vinculada a um contexto real de comunicao?

    So expostos critrios de reviso?

    BILHETE Sim Sim Sim Sim

    CARTA ARGU-MENTATIVA No Sim No No

    CONTO No Sim No No

    PUBLICIDADE Sim Sim No No

  • mais de uma vez, em sua produo, incluindo, para tal, o aspecto da reviso, que, com critrios determinados, faria os alunos voltarem a suas produes, reescrevendo-as e relendo para revisar o que produziram, repetindo esse processo mais de uma vez, se necessrio, para chegar forma final do texto.

    Com isso observamos que, por mais que os autores se esforassem para apresentar textos de gneros variados, pautando-se em discusses tericas, ainda so superficiais as abordagens didticas dos gneros textuais nas atividades aqui analisadas.

    Referncias

    ANTUNES, Irand. Aula de portugus. So Paulo: Parbola, 2003.

    BEZERRA, Maria Auxiliadora. Textos: seleo variada e atual. In: DIONSIO, ngela P. & BEZERRA, Maria A. O livro didtico de Portugus: mltiplos olhares. 3. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. p. 35-47.

    BORGATTO, Ana Maria Trinconi; BERTIN, Terezinha Costa Hashimoto & MARCHEZI, Vera Lcia de Carvalho. Tudo Linguagem. So Paulo: tica, 2008.

    BRASIL. Secretaria de Educao Fundamental. Parmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: Lngua Portuguesa. Braslia: MEC/SEF, 1998.

    COSTA VAL, Maria da Graa. Redao e Textualidade. 2. ed. So Paulo: Martins Fontes, 1999.

    DIONSIO, ngela P. & BEZERRA, Maria A. O livro didtico de Portugus: mltiplos olhares. 3. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

    FINKLER, Alexsandra Cibelly. Ensino Fundamental: 5. Srie. Curitiba: Positivo, 2007.

    KOCH, Ingedore G. V & TRAVAGLIA, Luiz C. A coerncia textual. 11. ed. So Paulo: Contexto, 2001.

    KOCH, Ingedore G. V. A coeso textual. 15. ed. So Paulo: Contexto, 2001.

    MARCUSCHI, Luiz A. Gneros textuais: definio e funcionalidade. In: DIONISIO, A. P.; MACHADO, A. R. & BEZERRA, M. A. Gneros textuais e ensino. 2. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 19-36.

    MARCUSCHI, Luis A. Produo Textual, anlise de gneros e compreenso. So Paulo: Parbola Editorial, 2008.

  • RANGEL, Egon. Livro didtico de Lngua Portuguesa: o retorno do recalcado. In: DIONSIO, ngela P. & BEZERRA, Maria A. O livro didtico de Portugus: mltiplos olhares. 3. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. p. 13-20.

    REINALDO, Maria A. G. de M. A orientao para produo de texto. In: DIONSIO, ngela P. & BEZERRA, Maria A. O livro didtico de Portugus: mltiplos olhares. 3. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. p. 89-101.