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Atrás da Serenidade à Frente do Ensino: A Otimização para o Ensino e Aprendizagem Relatório de Estágio Profissional Orientador: Doutor Ramiro Rolim Cristiano José de Castro Araújo Porto, setembro de 2015 Relatório de Estágio Profissional apresentado à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto com vista à obtenção do 2º ciclo de Estudos conducente ao grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário (Decreto-lei no 74/2006 de 24 de março e o Decreto-lei no 43/2007 de 22 de fevereiro).

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Atrás da Serenidade à Frente do Ensino:

A Otimização para o Ensino e Aprendizagem

Relatório de Estágio Profissional

Orientador: Doutor Ramiro Rolim

Cristiano José de Castro Araújo

Porto, setembro de 2015

Relatório de Estágio Profissional apresentado à

Faculdade de Desporto da Universidade do Porto com

vista à obtenção do 2º ciclo de Estudos conducente ao

grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos

Ensinos Básico e Secundário (Decreto-lei no 74/2006

de 24 de março e o Decreto-lei no 43/2007 de 22 de

fevereiro).

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II

Ficha de Catalogação

Araújo, C. (2015). Atrás da Serenidade à frente do Ensino: A Otimização para o

Ensino e Aprendizagem. Porto: C. Araújo. Relatório de estágio

profissionalizante para a obtenção do grau de Mestre em Ensino de Educação

Física nos Ensinos Básico e Secundário, apresentado à Faculdade de

Desporto da Universidade do Porto.

PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL, EDUCAÇÃO FÍSICA,

REFLEXÃO, DESCOBERTA GUIADA, ENSINO E APRENDIZAGEM.

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III

Dedicatória

A mim,

Por lutar, por ser capaz de chegar até aqui e continuar de pé!

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V

Agradecimentos

Aos meus pais, por me proporcionarem todas as condições para o meu

percurso académico e por me incutirem espírito de sacrifício.

Aos meus colegas de estágio e amigos Simão e António por todos os

momentos de alegria e aventura, por todo este tempo de companheirismo, de

ajuda mútua e de partilha.

À minha irmã, Carla Araújo, pelas dicas que me deu para a elaboração

deste documento.

Ao Professor Cooperante, mestre Arnaldino Ferreira, por toda a

disponibilidade, pela colaboração, pela aprendizagem e por ser mais do que

um simples professor cooperante ao longo deste ano.

Ao Professor Orientador, doutor Ramiro Rolim, por todo o conhecimento

partilhado e pelo acompanhamento durante o estágio e elaboração deste

relatório.

E por fim, a todos os que de algum modo me apoiaram durante todo o

percurso académico e contribuíram para chegar até aqui.

A todos, o meu MUITO OBRIGADO!

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VII

Índice Geral

Dedicatória .................................................................................................................. III

Agradecimentos ............................................................................................................ V

Resumo ....................................................................................................................... IX

Abstract ....................................................................................................................... XI

Lista de Abreviaturas ................................................................................................. XIII

1. Introdução ............................................................................................................... 1

2. Enquadramento Pessoal ........................................................................................ 5

2.1. Era Uma Vez… .................................................................................................. 5

2.2. Entre a Expectativa e a Realidade...................................................................... 8

3. Enquadramento da Prática Profissional ............................................................. 11

3.1. Entendimento do Estágio Profissional: A Oportunidade .................................... 11

3.2. A Escola como Instituição ................................................................................ 13

3.3. O Teatro das Operações: A Escola Secundária Alberto Sampaio (ESAS) ........ 14

3.4. A Educação Física na Escola: O Cenário Encontrado ...................................... 17

3.5. A Minha Turma: O Maior Desafio ..................................................................... 20

4. Realização da Prática Profissional ...................................................................... 23

4.1. Área 1 – Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem ....................... 23

4.1.1. Conceção................................................................................................... 24

4.1.2. Planeamento .............................................................................................. 29

4.1.3. Realização ................................................................................................. 41

4.1.3.1. Do Global ao Analítico: A Técnica em Função da Tática ..................... 43

4.1.3.2. Os Modelos de Ensino ........................................................................ 45

4.1.3.3. Atrás da Serenidade à frente do Ensino: Gestão da Aula e Controlo da

Turma .............................................................................................................. 47

4.1.3.4. A Autonomia dos Alunos como Conteúdo de Ensino ........................... 51

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VIII

4.1.3.5. Momentos… Momentos de Aprendizagem .......................................... 54

4.1.4. Avaliação ................................................................................................... 64

4.2. Área 2 – Participação na Escola e Relações com a Comunidade .................... 69

4.2.1. Troféu ESAS .............................................................................................. 70

4.2.2. Experiência no Desporto Escolar (DE) ....................................................... 72

4.2.3. O Diretor de Turma (DT) e o Conselho de Turma ...................................... 78

4.3. Área 3 – Desenvolvimento Profissional ............................................................ 81

4.3.1. Estudo de Investigação-Ação: Os Momentos de Instrução: A Otimização

para o Ensino e Aprendizagem ............................................................................ 86

4.3.1.1. Introdução ........................................................................................... 86

4.3.1.2. Revisão da Literatura .......................................................................... 89

4.3.1.3. Metodologia ......................................................................................... 95

4.3.1.4. Protocolos de intervenção e Resultados .............................................. 96

4.3.1.5. Conclusão ........................................................................................... 99

4.3.1.6. Referências Bibliográficas ................................................................. 101

5. Conclusão e Ambições para o Futuro ............................................................... 103

6. Referências Bibliográficas ................................................................................. 105

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IX

Resumo

O Estágio Profissional insere-se no plano de estudos do 2º ano do Mestrado

em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário da Faculdade

de Desporto da Universidade do Porto. O testemunho que aqui dou procura

relatar de forma fidedigna as vivências passadas ao longo do ano letivo. Nesse

sentido, estive responsável por uma turma e pelas decisões relativas ao

planeamento, realização e avaliação de ensino. O relatório encontra-se

organizado em cinco capítulos, dos quais destaco o segundo, denominado

“Enquadramento Pessoal”, que se reporta à minha história de vida, às

vivências que influenciaram esta escolha profissional e às expetativas

relativamente ao estágio. Posteriormente, efetuo uma análise do estágio

profissional a nível institucional, legal e funcional, oferecendo ainda uma

análise do contexto onde decorreu a prática de ensino supervisionada. Já o

quarto capítulo, intitulado “Realização da Prática Profissional”, encontra-se

organizado em áreas de desempenho do professor. Sobre esta temática é feita

uma reflexão sobre todo o processo, nomeadamente as dificuldades, as

estratégias, a avaliação, bem como a participação e integração das atividades

da escola. Por fim, o capítulo “Conclusão e Ambições para o Futuro” apresenta

um balanço das experiências vivenciadas e as perspetivas para o futuro. Neste

relatório é feito ainda referência ao meu projeto de investigação-ação, que

reflete uma problemática encontrada nas aulas, na qual se debruça sobre os

momentos de instrução. Através desta pesquisa e dos protocolos de

intervenção pretendi melhorar a fluidez destes momentos, promovendo assim a

sua otimização. Toda a investigação foi feita sob o ponto de vista de quem

recebe e em que condições a instrução é realizada. Este relatório reflete o

expoente máximo da minha formação, que se classificou como uma

experiência ótima. A referida fase formativa foi assim decisiva para despoletar,

de forma mais vincada, a minha vontade em ser profissional do ensino.

PALAVRAS-CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL, EDUCAÇÃO FÍSICA,

REFLEXÃO, DESCOBERTA GUIADA, ENSINO E APRENDIZAGEM.

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XI

Abstract

The Internship is part of the 2nd year of the Physical Education Teaching in

Primary and Secondary Education of the Sports School of the University of

Porto. The testimony that I give here looking report reliable data on the past

experiences throughout the school year. In this sense, I was responsible for a

class and the decisions relating to planning, conducting and teaching

evaluation. The report is organized into five chapters, of which highlight the

second, called "Framework Personal", which relates to my life story, the

experiences that influenced this career choice and expectations regarding the

internship. Later, I make an analysis of the internship the institutional, legal and

functional level while still offering an analysis of the context ensued supervised

teaching practice. The fourth chapter, entitled "Professional Practice of

Realization", is organized in teacher performance areas. On this subject is

made a reflection on the whole process, particularly the difficulties, strategies,

evaluation and participation and integration in school activities. Finally, the

section "Conclusion and Ambitions for the Future" presents an assessment of

life experiences and perspectives for the future. This report is also made

reference to my project research-action that reflects a problem found in the

classes, which focuses on instructional time. Through this research and

intervention protocols intended to improve the flow of these moments, thus

promoting its optimization. All research was done from the point of view of the

recipient and the conditions under which the statement is made. This report

reflects the pinnacle of my training, who qualified as a great experience. Such

formative stage was thus decisive in triggering, the more strongly, I desire to be

professional education.

KEYWORDS: PROFESSIONAL STAGE, PHYSICAL EDUCATION,

REFLECTION, GUIDED DISCOVERY, TEACHING AND LEARNING

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XIII

Lista de Abreviaturas

AESAS – Agrupamento de Escolas Alberto Sampaio

DE – Desporto Escolar

DEF - Departamento de Educação Física

DT – Diretor de Turma

EF – Educação Física

EP – Estágio Profissional

ESAS – Escola Secundária Alberto Sampaio

EC – Escola Cooperante

FADEUP – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

MEC – Modelo de Estrutura de Conhecimentos

NE – Núcleo de estágio

PC – Professor Cooperante

PEE – Projeto Educativo de Escola

PES – Prática de Ensino Supervisionada

PFI – Projeto de Formação Individual

PNEF – Programa Nacional de Educação Física

PO – Professor Orientador

UD – Unidade Didática

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1. Introdução

O Relatório de Estágio Profissional é realizado no âmbito da unidade

curricular do Estágio Profissional (EP) do 2º ciclo de estudos conducente à

obtenção do grau de mestre em ensino de Educação Física (EF) nos ensinos

básico e secundário. Aqui, assume-se uma narrativa, na primeira pessoa, das

experiências, dos obstáculos, das aprendizagens e das vivências ocorridas ao

longo do EP de um estudante-estagiário em contexto real de ensino. O

propósito do EP é facilitar o processo de inserção do estagiário na comunidade

docente, pelo que esta unidade curricular pretende dotar e capacitar o futuro

professor de EF com ferramentas que o ajudem a desenvolver uma

competência baseada na experiência refletida e com significado (Batista &

Queirós, 2013).

A prática de ensino supervisionada (PES) decorreu numa escola

cooperante (EC), situada em Braga, com um núcleo de estágio (NE) constituído

por mais dois colegas. Em conjunto com o professor cooperante (PC), da

escola, e o professor orientador (PO), da faculdade, procuraram constituírem-

se verdadeiras comunidades de prática em busca da concretização de um

objetivo comum. A conceção de Wenger (1998) de comunidade de prática é

adequada a um retratar do funcionamento de NE. Este autor afirma que o

funcionamento dos grupos de afinidade baseia-se em processos de

participação e partilha: os indivíduos partilham lealdade, acesso e participação

em práticas específicas que fornecem, a cada um dos seus membros, as

experiências necessárias ao seu desenvolvimento pessoal e profissional, que,

em conjunto, promovem o desenvolvimento do próprio grupo ou comunidade.

Sem dúvida, foi o que aconteceu ao longo do meu estágio.

O EP é um prolongamento de toda a formação desenvolvida nesta

instituição, a Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP). O

EP permite aos futuros professores a possibilidade de submergirem na cultura

escolar, desde as suas normas e valores, aos seus hábitos, costumes e

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práticas, que constituem as diversas componentes, que comprometem o sentir,

o pensar e o agir daquela comunidade e contexto em particular (Batista &

Queirós, 2013). Desta forma, a necessidade do EP se desenrolar em espaço

real de exercício é considerada determinante, pois é através deste contacto

que o estudante-estagiário conhece os contornos da profissão, tornando-se,

pouco a pouco, um membro dessa comunidade educativa (Batista et al., 2012).

O EP é também um marco importante na vida do estudante-estagiário, uma vez

que permite ter uma experiência pessoal com os alunos, vivenciando os seus

comportamentos, as suas necessidades, os seus desejos, as suas inter-

relações e os seus conflitos, componentes reais pouco presentes durante o

curso (Falkenbach, 2002).

Durante o ano letivo 2014/2015 foi da minha responsabilidade lecionar as

aulas de EF a uma turma do 10º ano de escolaridade, bem como a uma turma

do 5º ano.

Com o intuito de espelhar as experiências vivenciadas, o presente

documento está estruturado em cinco grandes capítulos. O primeiro, a

Introdução, onde se enuncia o propósito e objetivo deste documento.

O segundo é dedicado ao Enquadramento Pessoal que procura retratar

de forma sucinta a minha história de vida e as principais vivências que, no meu

ponto de vista, influenciaram esta opção profissional. Apresento ainda neste

capítulo as minhas expetativas iniciais e o confronto com a realidade

vivenciada.

No terceiro capítulo procedo ao Enquadramento da Prática Profissional,

no qual menciono o papel da escola na edificação do indivíduo, retrato o EP a

nível institucional, fazendo também uma análise circunstanciada do contexto

onde decorreu o meu EP. Menciono também o meu PC, o meu PO, o grupo de

EF, os colegas do NE e descrevo a turma que me foi atribuída.

O quarto capítulo é direcionado para a Realização da Prática Profissional,

onde descrevo a minha vivência durante este ano de estágio. Simultaneamente

realizo uma reflexão pormenorizada de toda a experiência da prática de ensino

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supervisionada (PES). Na área 1, estão evidenciados os subtemas da

conceção, do planeamento, da realização e da avaliação do ensino, que foram

indispensáveis para a minha prática pedagógica. No entanto, como ser

professor não se baseia apenas na lecionação de aulas, menciono também as

minhas participações e envolvimentos nas diferentes atividades escolares, que

foram fatores importantes para a minha integração na comunidade escolar,

enquadrando-se esta na área 2. Por fim, inserido na área 3, destaco o meu

estudo de investigação. Assente numa dificuldade sentida durante os

momentos de instrução, a elaboração deste estudo teve como principal objetivo

aperfeiçoar a forma como os momentos de instrução eram realizados.

No quinto capítulo, Conclusão e Ambições para o Futuro, recorrendo a um

olhar retrospetivo acerca do EP, são sintetizadas as aprendizagens que fazem

de mim uma pessoa mais completa, sendo também apresentadas as

perspetivas para o futuro.

Como estudante estagiário, revejo-me na seguinte frase de Bento (2008):

“Sei donde venho, mas não sei para onde vou, embora saiba para onde quero

ir. E não sei bem o quê e quem sou.”. Este pensamento reflete assim na

perfeição o sentimento vivenciado por um professor na fase inicial de estágio.

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5

2. Enquadramento Pessoal

2.1. Era Uma Vez…

O imaginário das crianças leva-as para os mais diversos locais, fazendo-

as viver os mais diversos sonhos, as mais diversas fantasias. Enquanto

criança, facilmente influenciável pelas pessoas que me rodeava, eram várias as

profissões que gostaria de ser quando fosse “grande”. Entre todas, a que mais

me entusiasmava era a Engenharia Agrónoma, pois o dia a dia e o passado de

toda a minha família era ligada ao campo. A liberdade de estar num campo,

sem horários para cumprir, o poder andar e conduzir máquinas agrícola

sentindo-me como os mais velhos, era o que mais me cativava. Deste modo,

estando sozinho ou acompanhado, facilmente conseguia brincar sem que

desse pelas horas passar.

Aos 5 anos mudei de casa, fui pela primeira vez para a escola e nunca

mais tive contacto diário com o campo, com a terra e com a liberdade que está

inerente a este meio. Desta forma, nunca mais consegui brincar com as coisas

dos “grandes” e que me faziam sentir “grande” e livre.

Vivendo então noutro tipo de meio onde a industrialização imperava, as

oportunidades de brincar na terra foram diminuindo, Foi necessário reaprender

a brincar, mas agora dentro de um quarto ou de uma sala e com outros

brinquedos. Aquela sensação de correr, suar, sujar-me, aleijar-me já não era

tão comum como inicialmente. Para mim era importante obter de novo essas

sensações de forma a sentir-me realizado.

Inserido numa família em que o desporto e a atividade física não faziam

parte do dia a dia, foi difícil convencer os meus pais a deixar-me integrar num

clube de futebol. A escola era para eles o mais importante e era nisso que me

tinha de concentrar. Ao ver que quase todos os meus colegas de escola

jogavam num clube de futebol, conseguir entrar num clube passou a ser um

objetivo. Era a minha oportunidade de voltar a correr, a sujar-me e poder sentir-

me integrado naquele grupo de amigos.

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Aos 10 anos e depois de tanto “bater o pé” consegui convencer os meus

pais a deixar-me ir. A minha ligação ao Desporto começou assim, com uma

necessidade de me integrar e redescobrir-me.

Com 14 anos, após terminar o 9º ano, tive de tomar uma decisão a pensar

no meu futuro. Ser Engenheiro Agrónomo ainda estava na minha cabeça, mas

não fazia sentido, já não era o meu mundo. Assim sendo, restava o desporto e,

então, decidi frequentar o Curso Tecnológico de Desporto na Escola

Secundária D. Sancho I.

Comparado com o que observava nos meus colegas, não tinha uma

capacidade natural para o desporto. Embora na altura não o considera-se, hoje

tenho a consciência que era um “analfabeto motor”. Senti muita dificuldade em

integrar-me na nova turma e na nova escola, não só porque conhecia pouca

gente, mas também porque as minhas qualidades enquanto desportista não

ajudavam. O meu 10º ano foi muito difícil, pois só no final do ano consegui ser

aceite no novo grupo.

Era desagradável sentir que todos os outros eram mais capazes do que

eu nos vários desportos e a única possibilidade de conseguir evoluir era nas

aulas de EF. Com muito esforço, consegui terminar o secundário sendo um dos

melhores da turma nas várias modalidades.

Um dos pontos mais marcantes da minha vida foi tirar o curso de árbitro

de futebol. Aos 17 anos abandonei a minha carreira de futebolista para ser

árbitro, tendo sido uma das melhores decisões que tomei até então. Existe um

“antes” de ser árbitro e um “agora” como árbitro. A minha forma de ser, de estar

e os meus valores enquanto pessoa mudaram radicalmente. Era uma pessoa

insegura, sem uma personalidade definida e sem uma ocupação que exigisse

algo de mim a cada dia. Por força da atividade em si, hoje sou uma pessoa

confiante com uma personalidade definida. Sei o que quero para mim, tenho

objetivos e faço por atingi-los. A chave para esta evolução foi concluir que: ou

eu entrava em campo e me deixava “vencer” ou então era eu que “vencia” e

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conseguia controlar os jogos. Venceu a segunda hipótese. Uma pergunta que

coloco a mim mesmo é como seria a minha vida se não fosse árbitro.

Devido ao que a EF significou para mim no ensino secundário só fazia

sentido continuar o meu percurso no desporto. Assim, aos 17 anos, ingressei

na licenciatura em Educação Física e Desporto no Instituto Superior da Maia

(ISMAI) já com um objetivo em concreto, ser professor de Educação Física.

Esta foi uma etapa de grandes descobertas, não só a nível académico,

mas também pessoal. Naturalmente, esta formação foi importante para adquirir

o conhecimento base necessário a todas as áreas de desempenho associadas

ao desporto, mas sobretudo para chegar à conclusão que ser professor era

aquilo que realmente me iria fazer sentir feliz.

Confúcio disse um dia: “Escolhe um trabalho de que gostes e não terás

de trabalhar um único dia na tua vida.” Espero um dia poder concordar com

esta afirmação, mas por agora tenho a certeza que trabalhar nesta área seria

uma enorme satisfação.

Terminada a licenciatura faltava o mestrado para conseguir o objetivo de

ser professor de EF. Senti que não tinha os conhecimentos necessários e

então decidi mudar de faculdade.

Com 20 anos fui para a última etapa do meu objetivo e entrei no Mestrado

em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário na Faculdade

de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP).

Os últimos dois anos foram bastante trabalhosos, requerendo em mim

uma grande capacidade de sacrifício para conseguir atingir os objetivos

propostos, mas simultaneamente foram aqueles que me permitiram adquirir

mais conhecimentos para conseguir ser professor.

Hoje tenho 22 anos e uma das coisas de que mais me orgulho no meu

percurso académico foi que nunca reprovei um ano nem nunca fiz nenhuma

interrupção nos estudos.

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2.2. Entre a Expectativa e a Realidade

Segundo Queirós (2008) a ação educativa só pode ser desempenhada

por quem acredite que não se limita a transmitir um conteúdo programático,

mas que contribui para a formação integral de pessoas, de cidadãos.

No atual contexto social, com famílias monoparentais, filhos únicos ou

pais devotados diariamente a exigências profissionais, a escola é o local onde

as crianças passam a maior parte do seu tempo. Em muitos casos, o convívio

com os colegas e, sobretudo, com os professores, suplanta o tempo de

interação com os familiares mais próximos. Desta forma, os professores

assumem um papel preponderante na sua formação não só académica, mas

também humana.

Este é um papel que espero desempenhar na minha vida profissional

enquanto agente educativo. O meu objetivo é formar alunos competentes nas

matérias constituintes da disciplina e com valores relevantes da sociedade

onde estão inseridos.

Neste ano de estágio esperava construir uma base que me permitisse

trabalhar em cima dos objetivos supracitados no futuro. Agora considero que

adquiri “conhecimentos científicos e pedagógicos e as competências

necessárias para enfrentar adequadamente a carreira docente”, mantendo

sempre uma postura e uma “atitude de participação e construção do

conhecimento” (Cunha, 2008).

Nelson Mandela dizia-nos que “A educação é a arma mais poderosa para

se mudar o mundo” e de facto, a educação é uma arma poderosa ao serviço do

ser humano. Os agentes educativos são fundamentais para o uso desta arma

de forma a complementar a educação que é dada pelos encarregados de

educação aos seus educandos.

Inicialmente, tentei não associar qualquer expetativa a cada um dos

constituintes do elenco escolar ou pelo menos não dar grande ênfase a essas

conceções. Devido a algumas circunstâncias ocorridas ao longo da minha curta

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vida, esta é a minha forma de autoproteção perante desilusões que possam

surgir.

Independentemente daquilo que iria encontrar, para mim era importante

tomar decisões em conformidade com cada problema e no final do EP sentir

que dei o meu máximo em todas as situações. Ambicionava explorar todas as

situações de aprendizagem que me iriam surgir de forma a evoluir enquanto

profissional e enquanto pessoa.

Embora tivesse adquirido conhecimentos teóricos importantes durante a

formação inicial, não tinha qualquer experiência em liderar um grupo de

pessoas. Neste sentido, esperava um ambiente de entreajuda e de liberdade

para colocar todas as questões que iriam surgir. Sendo um ano de

experiências, queria colocar em prática as minhas ideias de forma a construir a

minha própria identidade enquanto profissional.

Relativamente ao PO esperava ouvir e refletir acerca das suas sábias

palavras e por sua vez em relação ao PC esperava beber de toda a sua

experiência porque sem dúvida nos momentos de grande angústia seria uma

mais valia. De facto, as visitas do PO à escola revelaram-se importantes devido

às hipóteses alternativas que colocou à nossa prática pedagógica e às

questões cirúrgicas que davam entender a importância de agir com

intencionalidade. Não menos importante, as conversas e as questões guia

carregadas de estratégia do PC deram-me ferramentas necessárias para que

construísse o meu percurso.

Os caminhos de cada estagiário do núcleo já se haviam cruzado há algum

tempo e deste modo não podia desejar que fosse o início de uma boa

caminhada, mas sim que esta fosse ainda melhor.

Existem situações na vida que só passámos por elas uma vez e este EP

considero ser uma delas. Assim sendo, queria desfrutá-lo e aproveitar ao

máximo.

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3. Enquadramento da Prática Profissional

3.1. Entendimento do Estágio Profissional: A Oportunidade

O EP é uma unidade curricular que se encontra inserida no segundo ciclo

de estudos, enquadrando-se no segundo ano do referido ciclo, e que tem por

fim atribuir o grau de Mestre em Ensino da Educação Física nos Ensinos

Básico e Secundário, pela FADEUP. O EP consiste então, na integração no

mundo do trabalho, resultando numa ponte direta entre a formação e a

profissão. Este resulta das orientações legais dispostas no Decreto-lei

nº74/2006 de 24 de Março e o Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de Fevereiro que

esclarecem as condições essenciais à obtenção de habilitação profissional

para a docência num determinado domínio (Matos, 2014).

“O EP entende-se como um projeto de formação do estudante com a

integração do conhecimento proposicional e prático necessário ao professor,

numa interpretação atual da relação teoria prática e contextualizando o

conhecimento no espaço escolar. (…) Um professor reflexivo que analisa,

reflete e sabe justificar o que faz em consonância com os critérios do

profissionalismo docente e o conjunto das funções docentes entre as quais

sobressaem funções letivas, de organização e gestão, investigativas e de

cooperação.” (Matos, 2014, p. 3). Neste sentido, tanto a teoria como a prática

são necessárias à ação do professor, pois ganham significado na sua

coexistência. Tal como diz Bento (1995, p.51) “a teoria é uma prática pensada,

imaginada e refletida, e a prática é uma teoria ou conjunto de conhecimentos à

vista, uma prática culminante no horizonte da teoria”.

O EP é muito mais do que a componente prática pede. São necessárias

muitas horas de trabalho, reflexão e tomadas de decisão até se chegar à ação

educativa em si e outras tantas, analisando como decorreu essa mesma ação

retirando as devidas ilações para começar todo o processo de novo.

Envolvi-me neste processo com motivação, responsabilidade e dedicação

para que, no final deste ano letivo, pudesse afirmar que enriqueci os meus

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conhecimentos e capacidades. Aplicar os conhecimentos adquiridos na

formação inicial e retirar as devidas conclusões é um dos propósitos de um EP

enquanto ser reflexivo.

Entendo o estágio como uma oportunidade mais complexa do que o

“simples” facto de lecionar aulas, é uma oportunidade de aperfeiçoamento de

capacidades, de tomada de decisões e acima de tudo de reflexão constante. É

importante a reflexão e crítica recorrente, pois só assim se pode afigurar uma

melhoria naquilo que somos e a que nos propomos.

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3.2. A Escola como Instituição

Na minha opinião, a instituição escola é um meio que deve garantir a

educação para todos, deve assegurar a formação pessoal, intelectual, cultural,

social, e física de todas as crianças e jovens da nossa sociedade.

A Escola, como instituição, é atualmente um espaço pluridisciplinar de

vital importância para toda a sociedade uma vez que, segundo Mesquita (2011)

a mesma é, hoje, um local de encontro de culturas. Essa realidade torna

necessária uma pedagogia para a diversidade. É nela que as crianças se

tornam Homens e adquirem competências para viver em sociedade. Esta deve

atender às dificuldades de cada um, para que todos possam desfrutar de

aprendizagens plenas e enriquecedoras com igualdade de oportunidades. Se

considerarmos a educação como um processo contínuo que acompanha,

assiste e marca o desenvolvimento do indivíduo, e que envolve a transmissão

da herança cultural, rapidamente se deduz a importância do sistema educativo.

A educação escolar desempenha um papel de sociabilização, contribuindo para

a interiorização pelo indivíduo dos valores da sociedade. É neste sentido que a

escola constitui uma instituição de primeira linha na constituição de valores que

indicam os rumos pelos quais a sociedade trilhará o seu futuro. A escola atual

não é vista apenas como uma instituição que transmite conhecimentos teóricos

e práticos aos alunos. Também lhe é atribuída responsabilidade social.

Segundo Ozório & Leon (2011) a função básica da escola é garantir a

aprendizagem de conhecimentos, habilidades e valores necessários à

socialização do indivíduo.

A educação é um direito de todos e está escrito na Declaração Universal

dos Direitos do Homem.

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3.3. O Teatro das Operações: A Escola Secundária Alberto Sampaio

(ESAS)

A Escola Secundária Alberto Sampaio, localizada no setor nascente da

freguesia de S. Lázaro da cidade de Braga, sofreu recentemente inúmeras

alterações, através do programa de remodelação Parque Escolar,

proporcionando aos alunos um espaço novo com melhores condições.

A escola está dotada de inúmeros espaços com fins diversos entre eles,

salas de aulas, de direção de turma, do aluno, salas de desenho, de oficina de

arte, laboratórios, bar, biblioteca, gabinetes, salas de departamento, sala

museu e salas de reuniões. Deste modo são facultados aos alunos e

professores, bem como todo o pessoal que trabalha na escola, espaços mais

adequados e munidos de mais recursos para estudar e trabalhar.

Devido às obras de reestruturação e melhoramento efetuadas, considero

que a escola possui boas condições de trabalho para o ensino de EF. São

vários os espaços designados para a lecionação das aulas, entre o pavilhão

desportivo (40x20m), dois espaços de ginástica, campos exteriores de andebol,

futsal, basquetebol e voleibol, caixa de areia e pista de atletismo de 200m. No

entanto, cada um deles tem os seus prós e contras devido aos

condicionalismos do espaço e do tamanho da turma. Apesar de não existir a

possibilidade de ensino da natação, destacam-se as instalações específicas

para o ensino da ginástica com um praticável permanentemente montado.

Existe também um projetor preparado e disponível para utilização nas aulas de

EF, situado bem próximo dos espaços desportivos. Considero este

equipamento multimédia uma mais valia para a prática pedagógica, de forma a

demonstrar as várias habilidades a ser utilizadas nas aulas. Assim poderá ser

mais fácil a aquisição de comportamentos desejados através da criação de

imagens mentais.

No que respeita à utilização dos espaços, a sua ocupação é

determinada pelo roulement das instalações, documento de gestão e

designação do espaço de aula para cada professor. Estes deverão preparar as

suas aulas, ajustando o plano de acordo com o espaço que lhes é atribuído. É

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grande a quantidade e qualidade dos espaços embora estejam sempre em

funcionamento cinco turmas ao mesmo tempo.

É fácil reconhecer a ESAS como uma escola que tem as mais variadas

ofertas, agradando ao máximo a todos os alunos. Estas ofertas são vastas, não

por serem muitas, mas por serem diversificadas no que concerne às áreas de

ação/intervenção.

Diariamente, era visível naquela escola o empenho de todos em

demonstrar aquilo que se faz nas atividades de funcionamento da escola,

através de exposições, sessões de teatro, feiras, jogos, torneios, encontros das

mais variadas disciplinas, olimpíadas, entre outras situações variadas. Quase

todas as semanas a imagem da escola era composta de diferentes formas, ora

entrava e estavam a cantar, ora a tocar piano, ora havia uma exposição de

fotografia, ora havia uma feira a acontecer. A diversidade de oferta reflete-se

na variedade cultural que enchia os olhos de quem por lá passava.

De realçar as ofertas e organizações desportivas, nomeadamente a Taça

e o Troféu ESAS, torneios do desporto escolar (DE) e o Sarau ESAS. Os

eventos em questão são administrados e organizados pelo Departamento de

Educação Física (DEF).

Em relação à comunidade educativa, a ESAS capta uma população

estudantil muito diversificada, servindo, fundamentalmente, a zona centro e sul

da cidade, onde pontuam famílias de diferentes estratos sociais. Contudo, nos

últimos anos, tem-se acentuado a tendência para uma maior diversificação,

integrando a escola alunos provenientes de todas as freguesias da cidade.

Desde os funcionários, aos professores e ao diretor da escola, todos nos

receberam com simpatia e agrado, fazendo-nos sentir como parte integrante da

escola. Uma das frases várias vezes proferida foi: “esta é a melhor escola que

vocês podiam escolher para estagiar, aproveitem”. De alguma forma esta frase

marcou-me no início do EP.

Nesta linha de concordância existe uma frase no Projeto Educativo de

Escola (2011, p. 2) que dá significado à afirmação anterior: “A escola continua

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a investir na excelência e na qualidade, (…), no prazer de estar, pertencer...

ser... Escola Secundária de Alberto Sampaio”.

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3.4. A Educação Física na Escola: O Cenário Encontrado

Atualmente a escola afirma-se como um local educativo, onde o aluno

pode adquirir alicerces para a sua construção enquanto pessoa. Ora, e o que é

essa construção senão um leque variado de aprendizagens em todos os

momentos, em todos os espaços, em todas as situações?

Existem vários meios e formas das crianças e adolescentes praticar

exercício físico. A escola é uma dessas possibilidades, pois oferece no

currículo pedagógico e disciplinar a EF aos alunos, sendo um direito e um

dever de todos e para todos.

De facto, as aulas de EF são locais de privilégio para se adquirir um

repertório de ações que encerram aspetos do foro motor, interpessoal e

cognitivo/reflexivo. Na EF também é possível um contributo para a formação

que educa os alunos para os valores e para a saúde. Assim também defende

Rosado (2011) que, a educação física e o desporto desempenham um papel

importante não só no desenvolvimento físico, mas também, na área de

desenvolvimento pessoal, social e moral dos estudantes.

A nossa disciplina, área integrante do currículo escolar, conduz os alunos

a entregarem-se ao esforço e à dedicação para superarem problemas e

dificuldades, o que é possível de ser transferido para a vida real. Tendo como

preocupação o ambiente de ensino e aprendizagem, a disciplina de EF põe à

prova a capacidade de esforço dos alunos na busca pela superação, no

enfrentar das dificuldades encontradas nas mais diversas situações ocasionais.

No percorrer do trajeto escolar vão ultrapassando diferentes etapas, mediadas

por distintos níveis de complexidade, através de estratégias e modelos de

ensino adaptadas aos conteúdos e aos próprios discentes que dão significado

para a criança/jovem na sua construção enquanto ser humano.

Procuramos sempre, ensinar os alunos de forma a proporcionar o

desenvolvimento da competência e da capacidade de ação em atividades e

tarefas que fazem sentido para eles, com o intuito de fomentar hábitos diários

de exercício físico que perdurem ao longo da vida, sempre com interesse e

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justificação pedagógica para o conteúdo. Esta disciplina incentiva ainda a um

“estilo de vida saudável” e procura “esclarecer sobre as possíveis

consequências do sedentarismo” (Dantas, 2005).

A EF nas escolas não se interessa pela forma mais evoluída das

modalidades desportivas, mas sim por todos os valores inerentes à sua

essência. Os saberes específicos de cada de desporto, aliados aos valores e

regras apreendidos na prática, são a essência do ensino aprendizagem da

nossa disciplina.

Atualmente e mais concretamente a partir de 2012, as classificações na

disciplina de EF no ensino secundário deixaram de contar para o cálculo da

média de ingresso no ensino superior. Em consequência, é susceptível que os

alunos deixem de responder com empenho às exigências da matéria de ensino

ou mesmo de participarem nas atividades das aulas de EF.

“Esta aula foi fortemente condicionada por apenas 13 alunos se disponibilizarem

a realizar a aula. (…) Uma vez que na aula seguinte tinham um momento

avaliativo (…). São disciplinas com uma importância na média final totalmente

distinta.” (Reflexão da aula nº 83 e 84).

Como constatei ao longo deste ano letivo, surgiram desculpas duvidosas

para não realizarem as aulas, ou até mesmo recusas de participação em

determinadas atividades da aula.

“Nesta aula registou-se um incidente que não é a primeira vez que acontece.

Durante a formação das equipas um dos alunos manifestou-se dizendo que não

queria participar no jogo. (…) A minha reação foi repentina perguntando porquê

e de forma muito calma apenas continuou dizendo que não queria jogar.”

(Reflexão da aula nº 101 e 102).

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Sinteticamente, foi com este cenário que no meu caso vivi a EF com a

minha turma. Em geral, esta medida trouxe efeitos nefastos para o normal

funcionamento da disciplina e problemas acrescidos inerentes a esta situação

de quem leciona esta disciplina.

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3.5. A Minha Turma: O Maior Desafio

A turma que me foi atribuída pertenceu ao 10º ano de escolaridade, do

Curso Científico Humanístico de Ciências e Tecnologias. A composição da

turma foi-se alterando até ao início do 2º período. Ao todo passaram pela turma

31 alunos, sendo que o número máximo de elementos não ultrapassou os 29

nem baixou dos 26 alunos. Como referência, assumo que a minha turma era

constituída por 27 alunos de nacionalidade Portuguesa, uma vez que foi esse

número que permaneceu pelo menos dois períodos na turma. Quinze (56%)

eram rapazes e doze (44%) eram raparigas. Quanto ao género considero que

era uma turma equilibrada. As idades eram compreendidas entre os 14 e os 17

anos, estando a média situada nos 15 anos, aproximadamente. No ano

anterior, três dos 27 alunos (11%) encontravam-se a repetir o 10º ano, mas

relativamente à disciplina a sua situação era de melhoria de nota. Nenhum

aluno estava identificado como tendo Necessidades Educativas Especiais.

Porém, um aluno apresentou um atestado médico que indicava uma patologia

cervical que o limitava/impossibilitava em atividades que implicassem a

hiperflexão cervical. As consequências desta limitação apenas se fizeram sentir

na modalidade de ginástica, mais concretamente na execução dos rolamentos.

Segundo os dados recolhidos dos vinte e sete alunos, apenas duas

alunas afirmaram não gostar da disciplina. Dos restantes vinte e cinco, para

vinte e um a EF é uma das suas preferidas comparativamente com as

restantes disciplinas.

Enquanto dezoito alunos afirmaram praticar atividade física de forma

regular fora do contexto escolar, nove disseram o contrário. Dos alunos que

não praticam atividade física extra escola, não se evidência a predominância

de qualquer género. Já os alunos que praticam atividade física distribuem-se

da seguinte forma: nove no futebol, três no voleibol, uma no ballet, um no

atletismo, um na natação e três frequentam atividades de ginásio.

Em relação a perspectivas futuras, 25 alunos atestaram a sua aspiração

em ingressar no ensino superior, sendo que um não tinha uma posição definida

e outro não tinha essa intenção.

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No decorrer do ano consegui conhecer melhor os meus alunos e retirar

informações que me ajudaram a lidar com eles no dia a dia. No que respeita

aos comportamentos motores dos alunos, a turma apresentava alguma

heterogeneidade. Embora o empenho dos alunos varia-se conforme o interesse

pela modalidade considero que esta turma se apresentou bastante predisposta

para as aulas de EF.

“Uma vez que são alunos com boa disponibilidade motora, é previsível que no

dia da avaliação executem bem a técnica.” (Reflexão da aula nº 77 e 78).

Era notório o espírito competitivo, onde o espírito de grupo não

sobressaía. Em tarefas de índole competitiva, o individualismo aparecia com

mais evidência. Ao longo do ano letivo, a maioria dos alunos da turma revelou

ser capaz de executar o que se pretendia com qualidade e com desempenhos

regulares de acordo com os objetivos definidos. Foi notável o esforço e

empenho dos alunos, especialmente daqueles que apresentavam maiores

dificuldades motoras, necessitando de um apoio mais próximo e frequente.

No que diz respeito ao comportamento nem sempre foi favorável,

chegando mesmo, em algumas circunstâncias, a ser perturbador, na medida

em que alguns dos alunos da turma demonstraram ter falta de atenção e

consideração para com a aula.

“Sistematicamente tenho chamado à atenção relativamente ao comportamento

de alguns alunos durante as aulas.” (Reflexão da aula nº 35 e 36).

Esta situação não era exclusiva nas minhas aulas. Conforme se

considerou nas reuniões do conselho de turma, este facto acontecia nas aulas

das outras disciplinas em que os comportamentos desviantes surgiam com

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mais frequência e gravidade. No entanto, é importante ressalvar que os

comportamentos desviantes não estavam atribuídos a toda a turma, mas sim a

um determinado grupo de alunos. Também a este nível foi uma turma bastante

heterogénea.

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4. Realização da Prática Profissional

4.1. Área 1 – Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem

Todas as tarefas inerentes a esta área foram executadas por mim com a

colaboração dos meus colegas de estágio e supervisionadas pelo PC. Bento

(2003) defende que o professor é responsável por tarefas que não pode

delegar noutras pessoas nem resolver de outra forma. Não obstante, tive

sempre em conta tudo o que vi e ouvi dos elementos integrantes do NE para

me ajudar a traçar o meu caminho.

“O processo de ensino em Educação Física é sempre um processo

integral, complexo, unitário. (…) Como tal, deve ser sentido e vivido pelos

alunos, para tal deve ser concebido, organizado, realizado e analisado pelo

professor. Este entendimento é de importância decisiva para a realização da

incumbência pedagógica da Educação Física” (Bento, 2003, p. 43).

Nesta área desempenhei como tarefas fundamentais as descritas por

Bento, mas também por Matos (2014), como a conceção, planeamento,

realização e avaliação, de forma a trabalhar em prol dos alunos e da sua

evolução, procurando fazer sempre mais e melhor. O envolvimento nas

diferentes fases da organização e gestão do ensino e da aprendizagem conduz

e possibilita a racionalização do processo ensino e aprendizagem. Por

conseguinte, a busca por melhores resultados para a melhoria e eficácia do

ensino. Os conhecimentos que adquiri oriundos de todo o meu percurso

académico assumiram-se como alavancas para que fosse possível realizar um

planeamento consciente, definisse os objetivos e criasse estratégias no

confronto com o contexto onde decorreu a ação educativa. Nesse sentido, a

revisão dos conhecimentos adquiridos foi fundamental para este caminho, “Até

porque a luta por melhores resultados no ensino requer diariamente do

professor o confronto com problemas teóricos e práticos” (Bento, 2003).

De acordo com Matos (2014, p. 3) é necessário proceder às quatro fases

do ensino para conseguir “construir uma estratégia de intervenção, orientada

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por objetivos pedagógicos, que respeite o conhecimento válido no ensino da

Educação Física e conduza com eficácia pedagógica o processo de educação

e formação do aluno na aula de Educação Física”.

Destaco que as quatro fases que compõem a organização e gestão do

processo ensino e aprendizagem não devem ser encaradas isoladamente, mas

de forma integrada como um todo, aliás, “o processo de ensino é um sistema,

um fenómeno unitário. Todos os aspetos e momentos deste processo estão em

inter-relação, influenciam-se reciprocamente” (Bento, 2003, p. 17). Assim, o

processo em si implica a articulação permanente das quatro fases da atuação,

sendo que nenhuma destas deve estar dissociada da seguinte e da

precedente. Estas quatro fases influenciam-se direta ou indiretamente quer na

prática de ensino onde estão inseridas, quer em práticas de ensino futuras.

Em suma, neste capítulo pretendo transmitir a minha planificação,

participação e intervenção ao longo do EP, focando as questões que achei

serem mais relevantes para a realização deste EP.

4.1.1. Conceção

Como referido anteriormente, para que o professor possa planear as

aulas, tem de obedecer à primeira fase da área 1, a conceção do ensino. Graça

(2001) certifica a importância de responder à primeira fase referindo que “as

conceções que os professores possuem acerca dos conteúdos de ensino e

acerca dos alunos com quem trabalham refletem-se no modo como pensam e

desenvolvem as suas práticas de ensino”.

De acordo com Matos (2014, p. 3) a conceção do ensino significa

“projetar a atividade de ensino no quadro de uma conceção pedagógica

referenciada às condições gerais e locais da educação, às condições imediatas

da relação educativa, à especificidade da EF no currículo do aluno e às

características dos alunos”. Para tal, foi necessária uma recolha de informação

para conhecer com que recursos iria trabalhar durante todo o ano.

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Esse processo começou no dia em que me apresentei na escola e ao PC.

Foi na sua companhia que realizei a primeira tarefa no âmbito desta fase,

descobrir uma escola que até então me era desconhecida. A sua localização e

o meio onde estava inserida, o pessoal docente e não docente, os espaços de

aula e áreas comuns até aos materiais necessários para as aulas foram

algumas das informações que procurei recolher desde logo.

A primeira reunião do NE, após a visita de reconhecimento do espaço

escolar, foi importante para obter as informações acima referidas. Nesta

reunião abordaram-se variadíssimos temas que urgiam ser falados e que era

necessário serem do nosso conhecimento. Começamos por falar um pouco

sobre cada um de nós, nomeadamente o que esperamos e o porquê de termos

escolhido a Alberto Sampaio como escola para o nosso EP, as expectativas

para o estágio e qual o objetivo para o ano que agora findou. De seguida, o PC

falou um pouco acerca da sua visão relativamente ao EP. Nos Apontamentos

das reuniões semanais e conversas, 1º período, registei as inúmeras frases por

si proferidas, mas apenas gostaria de destacar as que de seguida irei referir.

“Temos de vestir a roupa juntos” porque “não nos conseguimos enganar um ano

inteiro”. (Apontamentos das reuniões semanais e conversas, 1º período).

Do referido interpretei que “por mais que sejam as tentativas de esconder

as dificuldades, com o tempo elas irão sobressair. O melhor é expor os

problemas e corrigi-los”.

“Não se esqueçam daquilo que vocês eram e daquilo que vocês são agora”.

(Apontamentos das reuniões semanais e conversas, 1º período).

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Do citado escrevi e interpretei o seguinte: “Antes de ser professor é

necessário ser aluno. Nesse sentido, os professores tem a vantagem de já ter

estado do outro lado para conseguirem perceber algumas atitudes dos

mesmos. Muitas vezes surgem situações que não se consegue perceber

porque é que as mesmas acontecem, mas quando nos colocamos do outro

lado é uma situação normal. É importante ter em atenção esta vantagem e

saber atuar de acordo com a mesma. Nem ser demasiado tolerante nem

demasiado rigoroso.”

Na reunião também foram discutidos outros assuntos, nomeadamente,

como são utilizadas as instalações desportivas e como os espaços eram

distribuídos pelas turmas, quais as modalidades a abordar no 10º ano e, por

último, algumas dúvidas sobre o estágio. As modalidades para o 10º cingiam-

se aos quatro desportos coletivos, ao atletismo, com o salto em altura, o salto

em comprimento, tripo salto, barreiras, estafetas e velocidade, à ginástica, com

solo, acrobática e minitrampolim e a dança através da aeróbica.

A preparação direta do ensino “é complementado e interpretado por uma

série de documentos e materiais auxiliares que ajudam o professor a

concretizar e adaptar as exigências centrais às condições locais e situacionais

da escola” e da turma (Bento, 2003, p. 19). Segundo Matos (2012) esta tarefa

requer a análise dos planos curriculares, nomeadamente as competências

gerais e transversais expressas. No final desta primeira reunião, o professor

sugeriu a leitura do PNEF, os quadros referenciais da escola para cada

modalidade, o regulamento interno, o PEE e o plano anual de atividades. Nos

dias seguintes realizei uma análise a estes documentos de modo a tomar

conhecimento e ficar desde logo enquadrado com a realidade da escola. Dos

documentos referidos gostaria de destacar a existência de quadros referenciais

nesta escola. Estes documentos foram criados pelo DEF, com uma

interpretação em função da realidade da escola. Para além de uma

organização diferente dos conteúdos de ensino (mas em conformidade com os

programas), estes quadros também contemplam uma síntese descritiva e

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critérios de avaliação distribuídos por 5 níveis de desempenho. Desta forma, os

critérios para os alunos atingirem uma determinada classificação não variam de

professor para professor, uma vez que existe uma aproximação nesse sentido.

Estes constituíram-se como um apoio fundamental e frequente durante o

processo de ensino e aprendizagem dada a sua facilidade de consulta. A

análise dos PNEF e mais concretamente dos quadros referenciais assumiram

um papel fundamental permitindo-me adquirir um vasto leque de

conhecimentos de forma a tomar melhores decisões, ao estabelecimento de

objetivos e a procura de estratégias para diferentes formas de intervenção.

Nesta escola, a matéria não era ministrada por blocos, forma de ensino

alternativa que não foi comtemplada no 1º ano e desta forma é algo novo para

mim. Este assunto será alvo de reflexão no ponto 4.1.2 deste relatório.

Os primeiros dias também ficaram marcados pelas reuniões do DEF e

pela reunião de diretores de turma. Estes dois momentos contribuíram para me

integrar na escola, para socializar com os outros professores e perceber tudo

aquilo que a rodeia – a sua realidade de funcionamento, gestão e organização.

“Em suma, foi importante estar presente nesta reunião. Primeiramente do ponto

de vista da integração da escola, de ficar a conhecer os restantes professores da

disciplina e com os quais irei partilhar os espaços escolares. Depois na reunião

em si. Embora a maioria dos assuntos tratados na mesma já não me fosse

desconhecido, estes não passavam de ideias abstratas. Para mim um dos

pontos mais importantes da reunião e aquele em que mais aprendi foia

discussão dos critérios de avaliação, pois irá traduzir-se na classificação dos

alunos e desta forma o peso de cada domínio avaliativo deve estar de forma

coerente.” (Reunião do DEF, 1º período).

Na primeira aula com a turma (aula de apresentação) entreguei os

questionários elaborados pelo meu grupo de estágio, estruturados em

diferentes áreas, onde constaram perguntas que nos permitissem perceber

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quais as preferências e motivações dos alunos. As questões foram de âmbito

pessoal, a nível de dados próprios e familiares, relacionadas com a saúde, com

atividades extracurriculares, com o gosto e preferências na escola, com a

ocupação dos tempos livres, com as suas motivações, expectativas e projetos

futuros e hábitos diários. Além da análise posterior aos questionários, esta

primeira aula serviu desde logo para observar alguns indicadores do possível

comportamento da turma.

“A minha primeira impressão é que a turma é heterogénea em termos de

personalidade. Observei tanto alunos calmos e atentos, como com conversas

paralelas e alguma brincadeira (que gostam de ser engraçados). (…) Estes

mesmos alunos foram os únicos que mostraram interesse sobre a próxima aula,

perguntado qual seria a matéria abordada na aula seguinte, enumerando desde

logo algumas modalidades de acordo com a sua preferência.” (Reflexão da aula

nº 1 e 2).

Concluindo, a partir da análise de cada uma das variáveis acima

referidas, o professor tem condições para elaborar a fase seguinte, relativa ao

planeamento, fundamentado em fatos reais e significativos dentro do contexto

escolar, contribuindo para uma eficaz e significativa construção de

aprendizagens.

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4.1.2. Planeamento

“A realização eficaz das exigências programáticas exige, a par de uma

abordagem profunda e consciente, um planeamento estratégico e

pluridimensional do processo de ensino” (Bento, 2003, p. 30). O ensino não se

resume apenas às aulas que os professores lecionam. Desta forma, para a

ação se desenrolar muito trabalho acontece precocemente. Para isso há a

necessidade de uma preparação e de um enquadramento daquilo que se

pretende atingir, ao que é chamado de planear.

Segundo Bento (2003, p. 15-16) “a planificação é o elo de ligação entre as

pretensões, imanentes ao sistema de ensino e aos programas das respetivas

disciplinas, e a sua realização prática. É uma atividade prospetiva, diretamente

situada e empenhada na realização do ensino, que se consuma na sequência:

elaboração do plano, realização do plano, controlo do plano e confirmação ou

alteração do plano, etc.”

Sobre esta temática, Matos (2014) refere que para planificar o ensino

deve-se ter em conta os objetivos adequados às necessidades e diversidade

dos alunos e contexto do processo de ensino/aprendizagem, recursos,

conteúdos de ensino, tarefas e estratégias adequadas ao processo ensino e

aprendizagem, prever formas de avaliar o processo de ensino e aprendizagem,

momentos e formas e contemplar decisões de ajustamento. Assim sendo, é

essencial tomar decisões tendo em conta todos estes fatores para que o

resultado desse planeamento seja o mais aproximado possível àquilo que foi

previsto inicialmente. Embora a tomada de decisão seja de acordo com os

fatores referidos por Matos (2014), ela é claramente influenciada pelas ideias

pré-concebidas de quem toma essas decisões. A minha afirmação é

comprovada quando comparado o planeamento anual de cada um dos meus

colegas de NE. As variáveis que cada um tinha de ter em conta eram em tudo

semelhantes, no entanto, era possível verificar algumas diferenças.

No seguimento desta análise, o “critério principal de seleção e

operacionalização dos objetivos e das atividades formativas, na elaboração do

planeamento e das tarefas que lhe são associadas, é o aperfeiçoamento

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efetivo dos alunos” (Jacinto et al., 2001, p. 27). Apesar das inúmeras variáveis

tidas em conta, aquando do processo de planeamento nos vários níveis, o

planeamento deve considerar sempre aquilo que é melhor para o

desenvolvimento dos alunos. Esta é uma premissa que, por vezes, pode ser

esquecida, porque enquanto professores estagiários estamos constantemente

a ser avaliados e desta forma existe uma preocupação natural com o resultado

final que iremos obter. Na minha opinião, nesta etapa, é importante não

esquecer o principal motivo de assumirmos o papel de professores numa

escola que é, segundo Jacinto et al. o aperfeiçoamento efetivo dos alunos. Eu

acrescento que esse aperfeiçoamento deve ser tido como um todo, sem

esquecer os conceitos psicossociais que são aceites e relevantes na sociedade

onde estão inseridos.

Quando o processo de planeamento é efetuado com intencionalidade,

atendendo a todas as variáveis possíveis de controlar, o número de alterações

do plano tende a diminuir e as confirmações aumentam. A minha afirmação é

resultado da experiência obtida neste ano de estágio, em que alterações

efetuadas ao planeamento anual aconteceram, maioritariamente, devido às

condições climatéricas. Pessoalmente, acho que o surgimento de situações

imprevisíveis, que impliquem a alteração da dimensão do espaço de aula,

devem ser vistas como uma oportunidade de melhorar a capacidade de

adaptação perante estas situações. Sobre este assunto, na reflexão de aula nº

5 e 6 escrevi o seguinte:

“A aula foi planeada para 1/3 do pavilhão. Devido às condições meteorológicas

foi possível realizar a aula no campo exterior, possibilidade que desde logo me

agradou bastante. Pensei eu que tendo mais espaço e sendo ao ar livre a aula

correria melhor e seria mais agradável. O grande problema é que não soube

adaptar a aula ao novo espaço. Facilmente poderia manter todos os alunos

ativos na aula sem tempo de espera, colocando em simultâneo os exercícios

planeados.”

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Apesar de me reconhecer capacidades de adaptação, naquele momento

não consegui perceber o quão útil me seria aquele espaço porque até então

apenas estava alertado para mudanças do espaço de aula do maior para o

mais pequeno. Foram momentos como este que me ajudaram a melhorar neste

domínio e a escrever na reflexão de aula nº 69 e 70 o seguinte:

“O tamanho do espaço de aula foi-se alterando com o decorrer da aula e como

tal foram sucessivas as adaptações. Em momento algum me senti preocupado,

reagindo desde logo com naturalidade à situação. Isso não teria acontecido na

fase inicial do ano lectivo.”.

Em conversa informal com um professor de EF da escola, este referiu, em

tom de brincadeira, que o investimento na escola foi muito grande e que o

preço por metro quadrado é muito caro. Referiu ainda que por este motivo não

consegue ver um espaço de aula sem ser utilizado. Certo é que este professor

fazia uma rentabilização de todos os espaços disponíveis e por consequência,

conseguia reduzir o tempo em espera dos seus alunos.

O plano anual de turma é um plano de perspetiva global que procura

situar e concretizar o programa no local e nas pessoas envolvidas (Bento,

1987). Por conseguinte, elaborei um plano anual de forma a manter-me

constantemente no caminho que devia ser seguido, sem o risco de me desviar

dele. A sua realização exige um conhecimento prévio, primeiramente, de uma

panóplia de documentos e realidades referias anteriormente na fase da

conceção. Em segundo lugar, era fundamental conhecer as caraterísticas da

turma, procurando verificar onde se encontravam as maiores fragilidades e

quais as modalidades em que se sentiam mais à vontade. A partir daqui,

consegui definir quantas aulas dedicaria a cada modalidade e quando é que

elas iriam acontecer. Por este motivo, o primeiro esboço do plano anual surgiu

já o ano letivo tinha iniciado, uma vez que era de especial importância

conhecer as necessidades dos alunos em cada matéria. Nesta perspetiva,

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segundo Bento (2003) a execução do plano anual estabelece o primeiro passo

do planeamento e preparação do ensino e traduz, essencialmente, uma

compreensão e domínio aprofundado dos objetivos de desenvolvimento da

personalidade, tal como reflexões e noções sobre a organização

correspondente do ensino ao longo de um ano letivo.

De acordo com Jacinto et al. (2001, p. 16) “considera-se que no 10º ano

interessa consolidar e, eventualmente completar a formação diversificada do

ensino básico. (…) Esta «revisão» visa facilitar a adaptação à mudança de

escola e à composição da turma, dando oportunidades acrescentadas de

recuperação, redescoberta e/ou aperfeiçoamento em matérias em que,

anteriormente, os alunos tenham revelado mais dificuldades ou que as escolas

dos 2º e 3º ciclos não tenham podido desenvolver”. Deste modo, as

modalidades delineadas foram: os quatro desportos coletivos (andebol,

basquetebol, futebol e voleibol), atletismo, com o salto em altura, o salto em

comprimento, triplo salto, barreiras, estafetas e velocidade, à ginástica, com

solo, acrobática e mini trampolim e a dança através da aeróbica.

Como já havia referido, o DEF da escola não aborda a matéria por blocos,

mas sim por estímulos ao longo de todo o ano. Tendo em conta esta situação,

fiz um esquema distribuindo as modalidades a serem abordadas, não apenas

por um período letivo, mas para um ano inteiro. Quando comparado com os

planeamentos anuais tradicionais, este tipo de planeamento e de ensino

implica que as decisões a serem tomadas sejam mais complexas, uma vez que

a matéria de ensino não se encontra simplesmente agrupada a um período de

tempo. Esta abordagem por estímulos implica que se reduza o tempo de cada

vez que se aborde uma determinada modalidade para que esta possa ser

alongada por todo o ano letivo. Se pegarmos em 70 minutos efetivos de 10

aulas, com esta abordagem ficamos, por exemplo, com 20 estímulos de 35

minutos. Apesar do contacto dos alunos com uma determinada modalidade ser

menor em cada aula, torna-se duradouro ao longo do tempo. Um dos

problemas associados à evolução dos alunos de ano para ano é a distância

temporal em que uma modalidade é abordada de um ano até ao seguinte.

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Desta forma, o tempo de inatividade relativamente a uma modalidade é

significativamente reduzido.

Inerente ao panorama atual do ensino secundário identifiquei aquela que

terá sido a maior vantagem desta abordagem este ano. Naturalmente, cada

aluno tem preferência por algumas modalidades em detrimento de outras.

Neste sentido, os alunos não conseguiam prever qual a modalidade que eu ia

abordar numa determinada aula e assim não existiu tanta facilidade em

deixarem de fazer aula prática da modalidade menos preferida. Algo que com

esta turma seria facilmente susceptível. Além disso, os alunos não são

“massacrados” com essa modalidade, uma vez que não existiu nenhuma aula

inteira de uma só modalidade e muito menos um bloco inteiro de aulas

consecutivas.

Todavia, esta abordagem tem alguns riscos ligados a possíveis falhas no

processo de planeamento. Essas falhas estão ligadas à distância temporal

entre estímulos. Estímulos de pouca duração e distanciados entre si poderão

levar a que se percam os efeitos obtidos no estímulo anterior. Sobre esta

problemática, na aula nº 79 e 80 refleti o seguinte:

“Tinha passado algum tempo desde a última aula de dança e desta forma é

compreensível que os alunos não se recordassem da sua coreografia. Apesar de

esta ter sido uma das modalidades que achei conveniente concentrar apenas

num período letivo, não impediu que os alunos se esquecessem da sua

coreografia. Deveria ter concentrado mais os estímulos previstos ou aumentado

o seu número.”

Este é um claro exemplo das possíveis falhas de tomada de decisão que

podem ocorrer no processo de planeamento. Esta é uma variável que terá de

ser tida em conta neste processo.

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Foram muitas as dificuldades iniciais na elaboração deste documento

porque era algo totalmente novo para mim. Eram muitas as dúvidas que se

faziam sentir, nomeadamente como “misturar” todo um conjunto de

modalidades a abordar. Nesta perspetiva, o meu PC referiu variadíssimas

vezes que a distribuição dos estímulos deve ser “tão concentrada quanto

necessário e tão dispersa quanto possível”. A frase referida consegue explicar

aquela que considero ser a principal chave de todo este processo. Deste modo,

os quatros desportos coletivos e a ginástica de solo foram as modalidades

distribuídas pelos 3 períodos. A dança, a ginástica acrobática, o salto em

comprimento, o triplo salto e as corridas de barreiras e estafetas ficaram

circunscritas apenas a um período letivo. Por sua vez, o salto em altura e o

mini trampolim ficaram distribuídos por dois períodos.

Não é possível programar todos os aspetos inerentes à realização do

ensino, nomeadamente o trabalho pedagógico do professor na sala de aula.

Nesse sentido o planeamento tem de se constituir como uma previsão, pronto a

ser alterado no momento da realização. Durante o ano letivo, o PC referiu que

“não podemos nem devemos ser escravos do nosso planeamento” porque

“depois de planear o ideal temos de fazer o possível”. De facto, depois de ter

elaborado aquilo que inicialmente seria o ideal de acordo com aquilo que era o

nosso conhecimento naquele momento, não deveríamos ficar “presos” a esse

planeamento porque aquilo que é o ideal hoje pode não ser o de amanhã.

Nesta direção, a previsão inicial serviu para organizar a minha intenção e o

modo de operacionalizá-la, espelhando as opções diante do contexto em que

estava inserida. Para isto, requer uma “reflexão pormenorizada acerca da

direção e do controlo do processo de ensino” (Bento, 2003, p. 8). A procura de

melhores resultados no ensino implica refletir criticamente através do confronto

diário com problemas teóricos e práticos, que se espelha nas alterações ao

nível da planificação.

Esta abordagem por estímulos abre um caminho que permite a

abordagem de modalidades diferentes na mesma aula. Deste modo, foi

necessário perceber que modalidades combinariam entre si ou aquelas que

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pela sua especificidade não poderiam ser abordadas na mesma aula. A

complexidade deste exercício foi ainda maior quando me deparei com os

constrangimentos relativos à especificidade de cada espaço.

“Quando voltar a repetir o exercício nas mesmas condições, pretendo fazer

exatamente com a mesma dinâmica, mas agora em 3x2 com passagem para

3x3 ao invés do 2x1 com passagem para 2x2. Durante a aula cheguei à

conclusão de que este exercício pode ser utilizado também em andebol e futsal”

(Reflexão de aula nº 31 e 32).

No decorrer do 1º período, percebi que existia uma forma de rentabilizar

as minhas aulas e acelerar o processo de evolução dos alunos. Partindo dos

fundamentos da abordagem sistémica, compreendi que através de conteúdos

em comum entre as modalidades poderia transferir as aprendizagens de uma

modalidade para outra. Conforme a passagem transcrita, um dos conteúdos

onde isso foi visível foi na resolução e aproveitamento de situações de

superioridade numérica nas modalidades invasivas como o andebol, o

basquetebol e o futsal. Além disso, frequentemente utilizei a mesma dinâmica

do exercício anterior para o seguinte. Com alguns ajustes, conseguia

rapidamente partir em busca de outro objetivo sem que existisse uma rotura

abrupta na dinâmica da aula. Contudo, isto nem sempre foi conseguido, ora

devido à especificidade de cada modalidade ora devido à falta de

conhecimentos acerca da sua realização prática no momento da elaboração do

planeamento anual.

Para cada modalidade, nomeadamente, futebol, basquetebol, andebol,

voleibol, ginástica, atletismo e dança elaborei um MEC. Este é composto por

módulos e, referencio-me agora ao 4º que serve para determinar a extensão e

sequência dos conteúdos (Vickers, 1990). Estas funções são esplanadas

naquilo a que se chama de unidade didática (UD).

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As UDs correspondem a um nível de planeamento que providencia uma

sequência metodológica dos conteúdos e organiza as atividades, tanto do

professor como dos alunos, de modo a constituir e orientar a ação pedagógica

e tornar favorável o desenvolvimento dos mesmos (Bento, 2003). Em cada uma

das UDs realizadas tentei elaborar uma sequência progressiva e estrutural dos

conteúdos com o fim único de permitir que os alunos consigam realizar as

situações de aprendizagem posteriormente delineadas, e que se repercuta em

evolução.

Por consequência do planeamento desenvolvido, as UDs não foram todas

elaboradas antes do início da respetiva modalidade, dada a quantidade de

documentos que havia para analisar simultaneamente. Em comparação com os

planeamentos comuns esta é uma desvantagem, uma vez que foi dado início à

lecionação de algumas modalidades sem que o respetivo planeamento

estivesse devidamente estruturado. As primeiras aulas não foram totalmente

orientadas para aquilo que eram os objetivos a atingir no final do ano letivo,

mas sim para aquelas que eram as necessidades observadas por mim nos

alunos. Apesar da desvantagem identificada, esta situação poderá ser

analisada de outra forma. Enquanto professor estagiário esta fase inicial serviu

não só para realizar as respetivas avaliações diagnósticas, mas também para

criar rotinas organizacionais e de funcionamento importantes para o decorrer

de todo o aluno letivo. Esta foi uma tarefa que foi facilitada uma vez que não

existiam constrangimentos na elaboração dos planos de aula inerentes à

matéria de ensino. Além disso, foi uma fase importante para ultrapassar

algumas inquietações daquela que é uma posição nova, ser professor.

Inevitavelmente existe uma preocupação acrescida para que tudo corra dentro

da normalidade do ponto de vista organizativo e comportamental da aula.

Paralelamente à turma do 10º ano, durante o 2º período lecionei a UD de

ginástica a uma turma do 5º ano. Na escola onde esta turma estava inserida a

matéria é organizada por blocos de ensino, ou seja, apenas uma modalidade é

abordada de cada vez. Naturalmente senti diferenças características da idade

dos alunos, mas gostaria de destacar as referentes ao tipo de abordagem.

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Enquanto que com o 10º ano tudo era necessário ao mesmo tempo, no 5º ano

o ensino foi muito mais estruturado. Mais concretamente, no 10º ano era

imprescindível fazer constantemente um ponto da situação de cada matéria de

ensino e recuperar aquilo que foi feito da última aula dessa modalidade para a

seguinte. Por sua vez, no 5º ano não registei nenhuma situação que estivesse

fora daquilo que seria esperado e a UD idealizada por cumprida na integra.

Mais relevante do que aquilo que já foi referido, é a constante revisão do

conhecimento da matéria de ensino para cada aula que era necessária com o

10º contrariamente ao 5º ano. Esta é a diferença que, para mim, mais exige do

professor porque o número de variáveis a considerar aumenta

significativamente e a quantidade de conhecimentos requerida

simultaneamente é maior.

Posto isto, a minha interpretação das UDs foi diferente nos diferentes

contextos. Resultante das diferenças de abordagem, no 10º ano olhei para as

UDs como um plano flexível em que mais importante do que o dia que estava

destinado para um determinado conteúdo era a relação da distância do nível

dos alunos para os objetivos inicialmente definidos e a distância para o fim da

UD. Contrariamente, no 5º ano olhei para a UD dando importância ao dia

estipulado para um determinado conteúdo e à sua pertinência nesse momento

em função da resposta dos alunos na aula anterior. No entanto, este nível de

planeamento não deixou de ser visto como descreve Bento (2003): orientador e

regulador da ação pedagógica.

O plano de aula é um guia para o ensino de uma sessão em particular,

referenciado os objetivos da unidade (Rink, 1985), apoiando-se nos

planeamentos de longo prazo e correspondendo a uma imagem mental em que

o professor projeta a realização da aula, tendo em conta decisões tomadas

(Bento, 2003).

O plano de aula, último nível de planeamento, constitui a unidade mais

representativa de planificação, sendo um reflexo de todo o trabalho

desenvolvido anteriormente e proporcionando um bom desempenho. Na

elaboração dos 73 planos de aula tive sempre a preocupação de colocar todas

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as informações necessárias apenas numa página. Esta condição por mim

estabelecida resulta da ideia de que um plano de aula deverá ser claro,

objetivo, de fácil leitura e compreensão. Desta forma, afirmo que sempre que

senti necessidade de consultar o plano de aula foi de forma breve e assim de

acordo com os pressupostos referidos.

Seguindo a ideia de que qualquer sessão de ensino racionalmente

organizada estrutura-se normalmente em três partes: parte preparatória, parte

principal e parte final, com características temporais e conteúdos próprios,

refletindo os objetivos essenciais e estratégias de condução de ensino da aula

(Bento 2003), os planos de aula foram divididos consoante as referidas pelo

autor, nomeadamente, a parte inicial, fundamental e final. A parte inicial era

quase sempre idêntica existindo duas tarefas de aprendizagem, sendo que a

primeira era dedicada ao controlo das presenças dos alunos, bem como do

esclarecimento da estrutura e dos objetivos da aula. A segunda era destinada à

preparação fisiológica dos alunos orientada para as tarefas e conteúdos da

aula. Na parte fundamental eram estruturadas as progressões de

aprendizagem desenvolvidas no MEC, que eram moldadas conforme aquilo

que era pretendido para cada aula e que era oportuno nesse momento. Por fim,

a parte final serviu essencialmente para fazer pequenas reflexões sobre o que

foi realizado na aula, bem como tirar eventuais dúvidas que porventura

tivessem ficado por esclarecer e arrumar o material utilizado na aula.

As principais dificuldades que advieram da construção dos planos de aula

consistiram na seleção dos melhores exercícios que fossem de encontro aos

objetivos da aula e de acordo com os diversos níveis de desempenho da turma,

não dificultando a sua organização nem o meu desempenho. Engendrar

exercícios dirigidos para o conteúdo, mas que ao mesmo tempo fossem

dinâmicos e motivadores para os alunos foi uma das minhas batalhas durante o

ano. Esta motivação não se prendia apenas com a parte principal da aula, mas

sim desde o seu início até ao fim.

Ao longo da elaboração do plano de aula, adaptar a matéria de ensino ao

nível dos alunos e apresentá-la de forma atraente e motivante, utilizando

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formas parciais, jogáveis e dinâmicas que ponderassem a essência da matéria

desportiva a ensinar foram algumas das estratégias utilizadas para conseguir

com que os alunos fizessem o que queria da forma que eles gostam.

“Dificilmente termino um exercício sem saber o que é necessário para o próximo.

Quando termino um exercício já sei tudo o que tenho de fazer e dizer para que a

aula continue. Deste modo evito que os alunos estejam em espera e eu ainda a

pensar naquilo que tenho de fazer. Sempre que o espaço permite, o exercício

anterior ainda não terminou e eu já estou a preparar o próximo. Considero que

relativamente às transições não tenho qualquer dificuldade.” (Reflexão de aula nº

65 e 66).

Depois de conhecer todas as características da minha turma, um dos

cuidados que tinha na preparação das minhas aulas era na seleção dos

exercícios acrescida da máxima redução dos tempos mortos. Esta foi uma das

minhas melhores estratégias para combater os comportamentos desviantes.

“Pensar em todas as questões organizacionais, tais como, o funcionamento dos

exercícios e as transições entre si é um caminho que devo continuar a seguir

para garantir uma boa fluidez da aula. Mantendo os alunos ocupados, o risco de

encontrar comportamentos desviantes é menor.” (Reflexão de aula nº 7 e 8).

“(…) Foi visível o seu empenho no sentido de vencerem a equipa adversária. O

empenho dos alunos foi tal que terminaram a aula muito mais cansados do que

tem sido habitual. Colocar mais competição nas aulas poderá ser uma opção a

considerar mais vezes tendo em conta a atitude de grande parte dos alunos

nesta aula.” (Reflexão de aula nº 81 e 82).

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Dar mais relevo a situações competitivas foi outro estratagema para

conseguir potenciar o empenho dos alunos nas aulas.

“Este tipo de aulas competitivas são muito mais motivantes para os alunos, pois

sentem-se estimulados e a vontade de ganhar faz com que os alunos se

mantenham empenhados na aula. Mais uma vez verificou-se que estas aulas

podem ser uma boa solução para combater os comportamentos desviantes

porque quanto mais tempo tiverem ocupados menos tempo terão para esses

comportamentos.” (Reflexão de aula nº 95 e 96).

A elaboração do plano de aula, assim como da sua reflexão, garante que

o professor pensa na sua ação e tem uma determinada intenção no ensino.

Inúmeras vezes parti para o planeamento da aula seguinte sem formalizar a

reflexão da aula anterior. Na minha situação, a reflexão posterior a cada aula

foi algo que a determinada altura acontecia naturalmente porque já fazia parte

da rotina e era fundamental para ajustar/controlar todo o processo de ensino.

Deste modo, era frequente elaborar primeiro o plano de aula e só depois partir

para a reflexão escrita da aula anterior.

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4.1.3. Realização

Segundo Matos (2014, p. 4), o propósito da realização é: “conduzir com

eficácia a realização da aula, atuando de acordo com as tarefas didáticas e

tendo em conta as diferentes dimensões da intervenção pedagógica”. Durante

a prática enquanto docente procurei recorrer a diversos mecanismos de

intervenção adaptados aos nossos alunos, para, desta forma, promover

aprendizagens significativas.

O ensino real tem naturalmente mais facetas do que aquelas que podem

ser contempladas no seu planeamento e preparação. No processo real do

ensino existe o inesperado, sendo frequentemente necessário uma rápida

reação situacional (Bento, 2003). Planeia-se de uma dada forma com o intuito

de alcançar o objetivo traçado mas, o que acontece por vezes, é que por

situações inesperadas existe a necessidade de adaptar o delineado. Daqui

ressalva a capacidade de reajustamento necessária para atingir o que se

pretende.

Fui sempre um professor reflexivo após a ação, mas também aprendi que

é necessário refletir na própria ação. É uma característica importante que levo

desta experiência. Relato aqui o momento da tomada de consciência desta

ferramenta:

“Estes problemas foram por mim identificados na hora e poderiam ainda ser

corrigidos. Contudo apenas os identifiquei, mas nem sequer me ocorreu em

encontrar uma solução. Durante a própria aula existem momentos com espaço

para poder refletir um pouco e isso será algo que tentarei fazer no futuro.”

(Reflexão de aula nº 5 e 6).

Vários foram os momentos que precisei pensar e agir rapidamente. Não

apenas em circunstâncias de ajustar o que não estava previsto, mas também

de reconhecer se as tarefas que havia destinado aos alunos estavam

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enquadradas e a promover o que desejava. Nem sempre tal aconteceu e as

alterações ocorreram.

“A certa altura, percebi que a sequência de jogo não estava a surtir o efeito que

eu desejava. (…) Decidi realizar com esses alunos jogo reduzido de 3x3 com os

mesmos objetivos da sequência.” (Reflexão de aula nº 37 e 38).

Ou seja, enquadro a nossa prática como sendo fundamentalmente

reflexiva e orientada através da procura de melhorar mais a cada dia, através

da reflexão diária na ação e após essa.

Transpor a teoria para a prática envolveu com muita frequência a revisão

do conhecimento acerca dos conteúdos de ensino. Muito trabalho tive em

planear aulas para determinado conteúdo e, criar situações de aprendizagem,

porque sempre defendi que para o trabalho ser melhor e para ter mais rigor,

todas as decisões devem ser feitas com intencionalidade.

“Obviamente todas as questões organizativas foram por mim edificadas com

fundamento e intencionalidade” (Reflexão de aula nº 79 e 80).

“A convicção e a paixão dos professores, o seu entusiasmo, pode

constituir uma arma negocial poderosa, já que essa energia pode fazer

prevalecer a sua própria agenda, afetando a dos seus alunos.” (Rosado &

Ferreira, 2011, p. 190). Existiu sempre da minha parte uma preocupação em

proporcionar aos alunos aulas agradáveis através do meu entusiasmo pela

realização dos exercícios. É aqui que destaco a importância dos feedbacks

sem valor corretivo. Sempre que entendia necessário alterava o tom de voz

dando palavras de incentivo e transmitindo assim a minha energia aos alunos.

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Um professor motivado pode alcançar mudanças incalculáveis para o

crescimento pessoal e académico dos alunos (Siedentop, 1991).

Enquanto professor estagiário tive a preocupação que fosse visível uma

evolução dos meus alunos a todos os níveis, porque essa seria a melhor prova

que poderia obter do resultado do meu trabalho e a maior gratificação a nível

profissional. Contudo, quando o sucesso do nosso trabalho se torna

dependente de outras pessoas, o risco de não ser bem sucedido torna-se

maior. Neste sentido, a meio de todo o processo senti que deveria redefinir o

modo como conferia o sucesso das minhas ações.

“Não faz muito tempo que centrava o sucesso ou insucesso da minha aula no

desenvolvimento dos alunos, no seu interesse e na resposta que eles davam ao

que tinha planeado. Não deixei de pensar assim nem de me preocupar com eles,

mas comecei a centrar esse resultado mais em mim e na minha forma de

atuação durante as aulas. Assim, o resultado do meu desempenho depende

mais acerca do que deveria ter feito melhor e não fiz do que da atitude e

empenho dos alunos. Não só consigo sentir-me mais protegido, como consigo

avaliar melhor o meu desempenho.” (Reflexão de aula nº 55 e 56).

Esta alteração surgiu depois de inúmeras tentativas de lutar pelos alunos,

de fazer com que pudessem retirar prazer das suas ações durante as aulas,

mas que tardavam em resultar. Como referi anteriormente, esta foi uma forma

de me proteger para que conseguisse levar a turma no trilho do sucesso.

4.1.3.1. Do Global ao Analítico: A Técnica em Função da Tática

Na organização dos processos de aprendizagem e aperfeiçoamento

apliquei o princípio segundo o qual o global e o analítico complementar-se-iam,

jogavam lado a lado de acordo com os problemas identificados na realização

da atividade global. Segundo o PNEF “entende-se por atividade global a

organização da prática do aluno segundo as caraterísticas da atividade

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referente - jogo, concurso, sequência etc. Por atividade analítica entende-se a

exercitação, o aperfeiçoamento de elementos críticos (parciais) das diferentes

competências técnicas ou técnico-táticas, em situações simplificadas ou

fracionadas da atividade referente” (Jacinto et al., 2001, p. 28).

De acordo com Mesquita (2011) o jogo exige elevada complementaridade

entre tática e técnica, pois se por um lado o jogador tem que compreender os

eventos correntes, para tomar decisões acertadas, por outro, tem que possuir

um vasto repertório técnico que só adquire significância e autenticidade quando

aplicado apropriadamente na lógica funcional do jogo. Desta forma, as

habilidades técnicas foram abordadas em função da sua relevância para a

resolução dos problemas de jogo e da capacidade dos alunos entenderem a

sua aplicabilidade em contexto de jogo.

Assim, se o domínio técnico comprometer a aplicação de um nível

razoável de compreensão tática, considero que se devem utilizar exercícios de

caráter mais analítico. Os alunos ao compreenderem a sua pertinência na

forma global da atividade irão exercitar de um modo analítico, considerando a

sua importância para o desenrolar do jogo.

De um modo geral as questões técnicas foram mais direcionadas para os

alunos com muitas dificuldades, onde a baixa qualidade técnica não permitia a

execução tática do jogo. Esta situação foi mais evidente em Voleibol,

modalidade onde o recorte técnico é fundamental para o desenrolar do jogo.

“Para esta aula o meu objetivo era corrigir alguns problemas identificados nas

aulas anteriores de voleibol, nomeadamente o serviço e a receção.

Fundamentalmente, os problemas técnicos são superiores aos táticos.

Conseguem identificar onde devem colocar a bola em cada situação, mas não

conseguem executar devido a problemas na receção, motivo pelo qual muitas

bolas caem no chão. No serviço, ou não tem força ou não conseguem direcionar

a bola para dentro do campo. Deste modo, decidi direcionar a aula para melhorar

estas técnicas de forma a corrigir alguns problemas no jogo.” (Reflexão de aula

nº 13 e 14).

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De acordo com as exigências do jogo, o desenvolvimento da técnica

torna-se fundamental para a aplicação da tática. Contudo, verificámos que um

aluno com limitado domínio das habilidades técnicas pode praticar um jogo

minimamente organizado se tiver um nível razoável de compreensão tática. Isto

foi observável nas modalidades desportivas coletivas de andebol e basquetebol

onde a organização inerente ao jogo pressupõe que a componente tática e a

tomada de decisão sejam consideradas requisitos essenciais para o

desempenho dos alunos. Em suma, a aprendizagem tática é aprender a tomar

decisões e resolver problemas que ocorrem durante o processo, sendo

determinante para cumprir o objetivo do jogo. Este requisito essencial é visível

na medida em que a maioria das ações de jogo ocorre sem o contacto com a

bola.

Considero que esta crença foi importante para a melhoria de todos os

alunos, pelo facto do 10º ano ser dedicado ao reforço e/ou revisão das

matérias, onde as matérias nucleares são muitas. Dessa forma, desenvolver

e/ou melhorar os aspetos técnicos não iria criar alterações significativas ao

nível da atividade global.

A valorização da componente cognitiva, da compreensão tática e/ou

global na aprendizagem das modalidades, contribuiu para o sucesso do

processo ensino e aprendizagem, sempre presente nas modalidades

individuais e coletivas.

4.1.3.2. Os Modelos de Ensino

Existem vários modelos de ensino apesar de, como afirma Mesquita &

Graça (2011), não haver nenhum que seja adequado a todos os envolvimentos

de aprendizagem. A eficácia de ensino deve ser interpretada através do

recurso a modelos de instrução que forneçam uma estrutura global e coerente

para o ensino e treino do desporto.

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Em momento algum me propus a seguir um modelo de ensino em

detrimento de outro em função do contexto encontrado. A minha linha de

atuação centrou-se nas crenças construídas não só pelas experiências vividas,

mas também pelo conhecimento adquirido durante a formação inicial. Assim, a

referência a determinados modelos de ensino neste relatório são resultado da

identificação à posteriori desses modelos com prática de ensino já colocada em

vigor.

Neste seguimento, posso dizer que a minha forma de atuação esteve

centrada essencialmente no Modelo de Ensino do Jogo para a Compreensão

sem esquecer a importância da competição como fator de motivação. Este

modelo pretende passar do ensino da técnica isolada para o desenvolvimento

da capacidade do jogo através da compreensão tática do mesmo. No ambiente

desta forma adaptada de jogo, o foco didático incide sucessiva e ciclicamente

sobre a apreciação dos aspetos constituintes do jogo, sobre a tomada de

consciência dos princípios táticos, sobre a tomada de decisão do que fazer e

como fazer nas diferentes situações do jogo, sobre a exercitação das

habilidades necessárias à melhoria da performance no jogo e, finalmente,

sobre a integração dos aspetos técnicos e táticos necessários à melhoria da

performance no jogo. (Graça & Mesquita, 2011).

A aprendizagem da técnica decorreu do que acontecia no jogo, partindo

para situações simplificadas de exercitação para colmatar os problemas

decorrentes. No entanto, a base da abordagem sempre foi o jogo e, tudo o que

acontecia nas aulas era subordinado ao jogo. O mesmo acontecia nas

modalidades individuais, em que o treino da técnica era subordinado ao

movimento global. O recurso a estimulação da compreensão do movimento foi

sempre uma constante.

Paralelamente, o modelo de instrução direta foi aquele que utilizei em

maior foco durante todo o ano. A sua ênfase é colocada no modo como o

professor estrutura o ensino, com particular destaque para as estratégias

instrucionais que elege e do padrão de envolvimentos dos alunos nas tarefas

de aprendizagem. Neste modelo são privilegiadas estratégias instrucionais de

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caráter explícito e formal em que a monitorização e o controlo estreito das

atividades dos alunos são a nota dominante (Mesquita & Graça, 2011).

Independentemente do que se faça durante o ano, considero que este

modelo é fundamental para o início de um ano letivo, para controlar e gerir

melhor a aula e a turma. No início fui utilizando em todas as aulas e só numa

fase posterior fui flexibilizando conforme aquilo que era possível,

nomeadamente através da autonomia que fui dando aos alunos aula após aula.

Não obstante, a preocupação com a individualidade de cada um foi sempre

uma constante, ajustando sempre os conteúdos à fase de aprendizagem em

que o aluno se encontrava.

4.1.3.3. Atrás da Serenidade à frente do Ensino: Gestão da Aula e

Controlo da Turma

A eficácia da aula pressupõe elevados níveis de empenhamento motor

dos alunos, que por sua vez estão relacionados com a gestão do tempo de

aula do professor e os comportamentos de indisciplina dos alunos (Nunes &

Gomes, 2001).

Januário (1996, p. 107) menciona que “a qualidade e quantidade das

experiências formativas oferecidas aos alunos são influenciadas pela forma

como o tempo educativo é gerido pelo professor”.

Assim, a eficácia do ensino na promoção de ganhos de aprendizagem

depende muito da capacidade do docente em transformar o tempo de aula em

potenciador de aprendizagem, associando o estabelecimento pelo professor de

rotinas de gestão, de regras e de expectativas de papéis para a atividade,

desde os primeiros dias do ano escolar (Januário, 1996).

Bento (2003, p. 107) afirma que “a formação dos alunos deve ser

realizada em todo o tempo de aula, desde o primeiro até ao último minuto.

Sempre que o professor conduz a aula sem objetivos educativos, está a

desperdiçar tempo”.

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Um dos problemas a combater com que me deparei durante aulas foram

os atrasos iniciais dos alunos.

“Nesta aula os alunos continuaram a chegar atrasados e como consequência só

consegui dar início ao aquecimento vinte minutos depois do toque. Após ter

informado os alunos que teriam falta de pontualidade, ficaram descontentes com

a situação.” (Reflexão de aula nº 67 e 68).

Considero ser um aspeto fundamental para o bom desenrolar de toda a

aula, uma vez que estes atrasos faziam com que atrasassem o início da aula

ou perdessem a reflexão inicial. Esta não foi uma questão fácil devido à

infantilidade de alguns alunos, como verificado no seguinte excerto:

“A aula começou desde logo com um atraso, uma vez que passados dez minutos

depois do toque apenas tinha dois alunos. O professor António tomou a iniciativa

de ir até à entrada do balneário para verificar o que se estava a passar. Lá

estavam eles por equipar e à luta uns com os outros. Entretanto foram

chegando, aos poucos, muito agitados e conversadores.” (Reflexão de aula nº58

e 60).

Foram tomadas várias estratégias para corrigir esta situação, tais como a

negociação, a marcação de faltas de pontualidade e até fazer chegar a

situação ao DT.

“Tendo em conta os sucessivos atrasos e comportamento de alguns alunos,

pretendo ir junto do diretor de turma e informá-lo desta situação.” (Reflexão de

aula nº 67 e 68).

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Estas situações não foram de todo resolvidas. Refiro como exemplo um

aluno em que era do conhecimento do encarregado de educação os seus

sucessivos atrasos e que mesmo assim não foi possível solucionar o problema.

Foi, portanto uma situação que não era por mim controlável.

Nesta direção, Januário (1996, p. 107) indica que “a capacidade de

gestão da aula, aproveitando ao máximo o tempo-programa, minimizando os

períodos academicamente não produtivos, maximizando as atividades dos

alunos, integrando e ligando com fluidez os vários momentos e atividades da

aula, são habilidades técnicas de ensino associadas a um ensino eficaz”.

Outra questão que considero pertinente referir e que minimizou os

períodos academicamente não produtivos foi a marcação das presenças dos

alunos fora do tempo útil da aula. Inicialmente era realizada a tradicional

chamada, mas numa fase mais adiantada do ano letivo, quando o

conhecimento dos alunos era melhor, comecei a marcar as faltas

imediatamente no fim de cada aula.

“Para esta aula decidi não realizar a chamada no início da aula como

habitualmente. Até ao momento achei este momento importante de forma a

marcar o início da aula. É importante que os alunos percebam a partir de que

momento devem adotar um comportamento adequado a uma sala de aula.

Contudo, o tempo gasto a fazer a chamada pode ser utilizado em situações não

menos importantes, como por exemplo, aumentar o tempo de atividade motora

dos alunos.” (Reflexão de aula nº 43 e 44).

De igual modo, a estratégia empregada na concretização dos testes

fitnessgram foi selecionada tendo em conta a melhor forma de aproveitar o

tempo de aula, evitando tempos mortos. Os testes foram realizados dois a dois,

enquanto um aluno executava o outro contava o número de repetições que o

colega efetuava.

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Outra estratégia que julgo contribuir para um melhor aproveitamento do

tempo de aula foi através da melhoria da capacidade de antecipação. Na

seleção dos exercícios da aula e da sua dinâmica é possível antecipar que

situações de exercitação são compatíveis com a turma e assim susceptíveis de

ser utilizadas. A este respeito, Siedentop (1991) refere que a gestão em EF

requisita competências no âmbito do planeamento e instrução do professor.

Igualmente, Pieron (1999) afirma que a gestão do tempo de aula tem a ver com

as tarefas de planeamento e ensino. Assim, estas competências encontram-se

também ligadas à capacidade de antecipação.

Após o conhecimento dos alunos é possível realizar tarefas antes da aula

diminuindo os tempos de espera, como é o caso da elaboração de equipas.

Para além disto, considero que deve ser realizada antecipadamente, pois os

elementos de cada equipa têm de ser analisados quando se pretende

concretizar equipas equilibradas ou por divisão de níveis de desempenho, para

que as situações de aprendizagem não se encontrem comprometidas.

De um modo geral, pretendia que na mesma aula a constituição de

equipas fosse a mesma, ou apenas alterava se pretendesse que determinada

situação de aprendizagem fosse realizada com equipas equilibradas ou pela

divisão de níveis. Assim, sem esta preocupação constante de alterar a divisão

dos alunos, fazendo com que as equipas que fossem inicialmente formadas

continuassem com a mesma constituição até ao final da aula, possibilitou

ganhar tempo de exercitação.

No seguinte excerto é visível uma estratégia no que concerne à

organização com implicação na seleção de exercícios, ajustada às

características dos alunos de forma a retirar o melhor aproveitamento possível

das situações de aprendizagem.

“Nesta aula experimentei uma organização diferente. Na segunda metade utilizei

estações com dois exercícios por cada uma. Verifiquei que a aula ficou ainda

mais produtiva porque permite aos alunos concentrarem-se apenas nas

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habilidades dessa estação. Uma vez que os alunos gostam mesmo da ginástica

e querem fazer tudo de forma rápida, esta organização torna-se uma mais valia

porque obriga os alunos a quebrar o ritmo elevado. Por sua vez, a organização

por vagas torna-se mais ajustada para o ensino secundário porque requer que

os alunos aumentem o ritmo de exercitação. É uma excelente forma de quebrar

a monotonia que se instala nas habilidades fechadas.” (Reflexão de aula nº 5 e

6, 5º ano).

Uma questão que considero pertinente referir, a meu ver, sempre que

possível deve-se evitar alterar a estrutura e organização dentro da mesma

aula, tornando-se uma rotina.

O professor deve preocupar-se em proporcionar o tempo e a

oportunidade necessária para aprender, ou seja, para que os alunos possam

consolidar as suas aprendizagens. A gestão do tempo de aula tem grande

importância na maximização das oportunidades para a prática e, por

consequência, para a ocorrência de aprendizagem das habilidades motoras e

desportivas abordadas nas aulas de EF. Sem uma boa gestão do tempo de

aula e um bom controlo dos alunos da turma, dificilmente a meta referida é

alcançada.

4.1.3.4. A Autonomia dos Alunos como Conteúdo de Ensino

Quando falamos em educação, referimo-nos a um fenómeno fundamental

que ajuda a fundar o homem como sujeito e como pessoa para que possa

construir a sua autonomia (Bento, 1995). Por conseguinte, um dos objetivos da

disciplina de EF é que os alunos revelem autonomia na sua aprendizagem. Por

isso, a atividade educativa para além de ser uma ação consciente, organizada

e coerente, deve ser participada.

Nesta direção, Freire (1996) relata que o professor que desrespeita a

curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua

linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe e a sua prosódia; assim como o

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professor que se exime do cumprimento de seu dever de propor limites à

liberdade do aluno, isto é, um professor autoritário, que por isso mesmo afoga

a liberdade do educando, amesquinhando o seu direito de estar sendo curioso

e inquieto, transgride os princípios fundamentalmente éticos de existência

humana.

Neste seguimento o praticante é colocado no centro do processo de

ensino e aprendizagem, e a ênfase é colocada na necessidade de conceder

espaço de problematização ao praticante e de favorecer a emergência de

autonomia decisional (Pereira et al., 2009).

Nesta perspetiva, o educador passa a ser visto como um facilitador do

processo de aprendizagem, que recorre a estratégias instrucionais como o

questionamento e a responsabilização dos praticantes no cumprimento das

tarefas, para fomentar no praticante a emergência do comportamento

prospectivo em detrimento do meramente reativo (Pereira et al., 2009). Deste

modo, pretende-se que o professor impute um papel ativo no aluno no seu

processo de aprendizagem.

Esta autonomia requer a responsabilização dos alunos em todas as

tarefas desenvolvidas sob o risco de se verificarem comportamentos

desviantes, quer a nível disciplinar, quer a nível da alteração dos valores

(Metzler, 2000).

“Até ao momento verifiquei que a turma é muito instável na sua atitude e

comportamento ao longo das aulas. Enquanto numa aula tenho alunos

concentrados e empenhados, é provável que esses mesmos alunos na aula

seguinte tenham um comportamento diferente.” (Reflexão de aula nº 17 e 18).

Desde cedo tentei fomentar o sentido de responsabilidade que os alunos

deveriam ter no ano em que se encontravam, preparando-os para gozarem de

autonomia na realização de algumas tarefas na aula:

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“Aprecio a ideia de lhes conferir autonomia na realização de algumas tarefas da

aula, para que possam sentir o peso dessa responsabilidade.” (Reflexão de aula

nº 11 e 12).

Particularmente na modalidade desportiva de ginástica, para auxiliar o

trabalho em prol dos níveis de desempenho, foram destinadas algumas aulas

para treinarem a “dificuldade”. Assim, cada aluno, consciente dos conteúdos

nos quais tinham mais dificuldade teriam exercitar individualmente essas

habilidades com a colaboração dos colegas e a da minha ajuda.

“Na próxima abordagem à ginástica será melhor utilizar skill cards de forma a

que sempre que tenham dúvidas os possam consultar dando-lhes mais

autonomia.” (Reflexão de aula nº 9 e 10).

“Na ginástica planeei o mesmo tipo de aula da semana anterior, mas o que eu

queria realmente era fazer um tipo de aula mais autónoma com todos os riscos

que isso acarreta. Após pensar sobre os prós e contras, decidi expor

cuidadosamente aos alunos as duas abordagens. Antes de referir a opção de

treinarem a dificuldade, expliquei primeiro o que é que isso implica: autonomia,

responsabilidade e iniciativa própria para exercitarem os elementos. Como era

por mim esperado escolheram treinar a dificuldade. Embora nem todos os alunos

realizaram a tarefa com o mesmo vigor, gostei da forma como grande parte dos

alunos se envolveu, expondo as dificuldades e continuando a tentar após

realizações mal sucedidas.” (Reflexão de aula nº 115 e 116).

Outra forma de promover a autonomia foi atribuir aos alunos a

responsabilidade por certos momentos durante a aula, caso do aquecimento,

como verificado de seguida:

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“O aquecimento que foi realizado durante esta aula será para manter, salvo

algumas exceções. Este será o aquecimento padrão que pretendo implementar,

mas que ainda carece de alguns ajustes. O meu objetivo para esta fase da aula

é futuramente dar-lhes autonomia para que o possam fazer sozinhos. Para tal

será necessário verificar alguns indicadores da sua responsabilidade para fazê-

lo e sem interferir no normal funcionamento da aula.” (Reflexão de aula nº 7 e 8).

Complementando, em todo este processo é conferida uma elevada

autonomia ao aluno, o que exigiu competências de gestão e de organização,

refletidas posteriormente.

4.1.3.5. Momentos… Momentos de Aprendizagem

Neste espaço gostaria de partilhar e recordar alguns momentos que de

certa forma marcaram esta experiência. Momentos de frustração, de angústia,

mas sobretudo de aprendizagem.

“Durante a autoavaliação para o domínio atitudinal, decidi parar num

determinado aluno e fazer um breve comentário ao que se passou durante a

aula. Durante a mesma reparei que mais uma vez estava na aula como

espectador e quando chegou à vez dele perguntei-lhe se queria fazer a roda e aí

disse-me que lhe doía as costas. Até hoje todos os alunos quando tinham algum

impedimento físico para realizar algum exercício falaram comigo. Como não sei

verificar lesões compreendia a situação e esses alunos passavam a não realizar

determinados exercícios. Como não tinha a certeza se lhe doía ou não as costas

não lhe podia dizer que me estava a enganar, mas já começo a conhecer a

personalidade dos alunos e as suas motivações. O mesmo aluno esteve antes

da aula a jogar futebol durante cerca de 1h e iniciou a aula sem qualquer

impedimento. Quando um aluno se lesiona durante uma aula vêm falar com o

professor, mas curiosamente foi sentar-se a conversar com os colegas. Senti

necessidade de lhe dar a entender que não estou a “dormir” durante a aula e

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que percebi que era “manha” dizendo que era preferível que não fizesse aula.

Talvez não tenha sido a melhor forma de abordar a situação, mas acho que

consegui passar-lhe a mensagem.” (Reflexão de aula nº 21 e 22).

Neste mesmo dia um aluno, por estar a sofrer uma má disposição, não

compareceu na aula encontrando-se na parte de fora do pavilhão. Alguns

alunos aperceberam-se da situação e abandonaram a aula sem me dar

qualquer conhecimento.

“Na conversa final da aula achei que tinha ali uma boa oportunidade para

chamar à atenção da forma de estar dos alunos numa aula e perante as demais

pessoas, nomeadamente o professor. O meu objetivo era passar a mensagem

de que estão numa aula com alguém a quem devem respeito e justificações. No

meu entender sair de uma aula sem que se dê justificações ao professor é uma

falta de respeito para com este e para com o seu trabalho. Coloquei em causa os

seus valores enquanto pessoas e membros que estão inseridos numa sociedade

e os seus conceitos acerca do que é estar numa sala de aula. Disse-lhes que foi

uma falta de respeito para comigo e com o meu trabalho pois dou-lhes sempre

100% de mim em todas as tarefas. Concluindo, acho que nunca os tive tão

atentos àquilo que eu alguma vez disse. Talvez tenha conseguido conquistar

alguns alunos.” (Reflexão de aula nº 21 e 22).

No seguimento de uma aula agitada como esta refleti o seguinte:

“Reparei já algumas vezes que quero sempre ter tudo certinho e organizado,

principalmente no que toca ao trabalho com um grupo de pessoas que

momentaneamente esteja a liderar. O mesmo senti durante algumas aulas que

dei no 1º ano de mestrado. Vejo isto como um problema e como uma virtude.

Quando sou exigente com o comportamento, por exemplo, as coisas correm com

melhor organização. Quando sinto que se calhar é melhor alargar um pouco a

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corda sucedem-se algumas coisas inesperadas. O que enquanto aluno

considerava algumas situações normais, agora sou exigente e quero as coisas

certinhas. Dou por mim algumas vezes a chamar à atenção a um aluno, mas

depois penso melhor e talvez isso não tenha sido necessário. Talvez seja melhor

priorizar aquilo que realmente considero fundamental ser exigente de forma a

conseguir ter um bom funcionamento de aula e que ao mesmo tempo os alunos

não se sintam repreendidos muitas vezes” (Reflexão de aula nº 21 e 22).

Partilho agora um alegado mal entendido com um aluno, em que qualquer

atitude que este toma-se nunca reconhecia o seu erro. Apesar de ser

repreendido por situações flagrantes, existia sempre um argumento para

contestar.

“Sistematicamente tenho chamado à atenção relativamente ao comportamento

de alguns alunos durante as aulas. Mais uma vez nesta aula tive de voltar a

fazer o mesmo com o João Pinto. Estando eu de costas para o exercício onde o

João se encontrava (logo também estava de costas para ele), pedi a um grupo

de alunos que rodassem as suas posições, aliás como já tinha feito várias vezes

durante a aula no exercício em questão. Quando dou por mim o aluno estava do

outro lado da aula e embora sem qualquer comportamento negativo, não

demonstrava uma atitude para a continuação de outro exercício noutro local da

aula. Assim sendo, a suposta interpretação que o João alega não tem razão de

ser e portanto não me convence. Como é sabido, pedi-lhe para que se sentasse

porque já o tinha avisado mais do que uma vez e dito que era a última. Tinha

mesmo de o fazer de forma a não desautorizar-me. Neste momento a minha

relação com o aluno não é a melhor e terei de ter cuidado para que não entre em

litígio comigo.” (Reflexão de aula nº 35 e 36).

No seguimento desta e de outras situações semelhantes refleti o

seguinte:

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“Várias vezes o professor referiu que é diferente ser árbitro e professor, ainda

que se consigam encontrar algumas semelhanças. De facto, a distância

emocional que um árbitro tem para um jogador é diferente da que o professor

tem para um aluno. Embora também partilhasse essa opinião, nesta aula mais

do que em todas as outras senti a veracidade dessa ideia. Enquanto árbitro, a

situação com o João seria resolvida com uma expulsão, pois dificilmente me

voltaria a cruzar com ele. Simplesmente não tinha de me preocupar mais. Agora,

como professor poderia fazer o mesmo, mas com a “grande” diferença que ele

tem de continuar a frequentar as minhas aulas. Esse é um problema que tem de

ser enfrentado e não há como contornar essa questão.

O meu percurso recente enquanto aluno e esta nova experiência como professor

diz-me que atualmente a imagem de um professor não é suficientemente forte

para se fazer respeitar. O que acontece hoje em dia é que não recebem uma

educação para que assim seja, tal como eu recebi. Muitas vezes nem mesmo os

pais conseguem ter “mão” nos próprios filhos. Considero que esta é uma das

caraterísticas da sociedade de hoje. No meu percurso enquanto aluno fiz quase

sempre parte de turmas problemáticas e obviamente não era exceção. A grande

diferença é que eu tinha consciência de quando parar, principalmente quando

era repreendido por um professor. A sua imagem era suficientemente forte para

ter efeito em mim.

Começo a ficar sem paciência para que estejam sempre a ter comportamentos

fora da tarefa, tendo eu de chamar à atenção e ainda acharem que têm razão.

Como um simples aviso não é suficiente, parece-me pertinente tomar medidas

práticas como por exemplo, sentar os prevaricadores mais vezes.

Frequentemente tenho de utilizar a estratégia de não falar enquanto estão a

fazer o mesmo, tendo resultado naqueles momentos mais próximos. Contudo,

esta estratégia não teve o efeito esperado a longo prazo.” (Reflexão de aula nº

35 e 36).

Eis a seguinte situação:

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“Alguns alunos saíram prejudicados no tempo que obtiveram na milha. Várias

foram as situações que surgiram durante as provas. Fizeram me perguntas

como: “oh professor, quando eu disser 8 ainda tem de fazer mais uma ou

acaba?”, “oh professor, quanto é que eu tenho de fazer para tirar 20? E 10? E as

raparigas professor?”, “oh professor, quando é que vou fazer os abdominais?”,

“oh professor, ele está a fazer a sexta, faltam duas ou três?”. Nas primeiras

voltas os alunos que ficaram de fora estavam eufóricos, a puxar pelos colegas e

só quando os colegas estavam quase a terminar é que surgiam as dúvidas. No

meio disto tudo, eu ou tirava as dúvidas ou parava o cronómetro para aqueles

que estavam a terminar, sem ter certeza disso mesmo. Nem mesmo os colegas

que estavam a contar sabiam ao certo. Inclusive, um aluno só me avisou que a

colega terminou a prova quando a mesma já ia a meio da curva. Eu acabei por

não parar o cronómetro na altura certa e a colega correu mais do que o previsto.”

(Reflexão de aula nº 49 e 50)

Sobre esta situação refleti o seguinte:

“Ao planear as aulas tenho de prever desde logo que os alunos não vão

colaborar para o bom funcionamento da mesma. Tudo o que requer organização

é destruído pelos alunos. Durante o tempo destinado para milha, os alunos não

cumpriram com nada do que lhes pedi, queria falar para o grupo e nem à minha

beira se dirigiam (acabei por não registar a autoavaliação do domínio atitudinal)

e deste modo considero que a minha aula foi boicotada. Na origem de toda esta

situação está a brincadeira, a infantilidade e a inconsciência da sua atitude e

mesmo assim mantenho a minha opinião que a aula foi boicotada, quer seja de

forma intencional ou não. A certa altura, a minha vontade era terminar a aula,

mas não mandar os alunos embora. Apenas não o fiz porque era do meu

interesse ter registos de todos os alunos em todos os domínios avaliativos.

Espero não ter que terminar outra aula sem ter condições para tal, não tenho

que sair mais da mesma constrangido quando as coisas não correram como

queria e quando sei que dei tudo ou quase tudo.” (Reflexão de aula nº 49 e 50).

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Foi enorme a angústia sentida na situação acima descrita, não só pelo

momento referido, mas pelos sucessivos acontecimentos que iam surgindo. Na

aula seguinte foi tomada uma posição perante a turma.

“ (…) Reconheço que a minha abordagem foi um pouco agressiva, com algumas

palavras minhas que seriam desnecessárias. Contudo, parece-me que o

caminho a seguir é continuar com uma organização rígida e simples sem nunca

dar a entender que estão a ser controlados em demasia. Se há coisa que

aprendi na arbitragem por experiência própria é que nunca se deve ter uma

atitude agressiva/arrogante quando algum interveniente do jogo está enervado

com alguma situação. Raras são as vezes que o problema não se agrava. Com

um aluno funciona mais ou menos igual, se ele está fora de si ou não tem

consciência da sua atitude não é boa ideia agir de forma a agravar mais a

situação. Eu não gostaria que fizessem isso comigo e deste modo tenho de

encontrar um meio termo.” (Reflexão de aula nº 51 e 52).

Mesmo perante os comportamentos desviantes, a “luta” continuou e nem

por isso deixei de trabalhar quer a pensar em mim quer a pensar nos alunos.

“Tinha organizado uma competição de voleibol entre as equipas. A chave do

sucesso desta competição era a colaboração de toda a turma, mas em especial

dos capitães. Após explicar-lhes como tudo se iria processar e qual era a

organização por mim definida, teriam que ter a iniciativa de colocar a competição

em andamento. Além da minha explicação e da minha disponibilidade para tirar

dúvidas, existia um quadro competitivo com informações necessárias ao

desenrolar da competição. Como os capitães não me ouviram com atenção e

posteriormente não passaram a mensagem aos colegas, cada equipa organizou-

se como quis e não como tinha pedido. Decorridos alguns minutos devido à

demora expectável no início dos jogos, verifiquei que não existiam árbitros.

Verifiquei a minha lista e nem se quer as equipas certas estavam a jogar.

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Como também a aula anterior não tinha decorrido como gostaria, decidi terminar

o exercício. Mais uma vez, não estavam reunidas as condições para a aula

continuar. Estando sentados à minha frente, comecei a enunciar como era

possível que depois da minha explicação, não estavam a cumprir com aquilo que

pedi. O que interpretei do comportamento deles é que estava tudo a correr bem

e não sabiam onde estava o problema. Para eles a disciplina de educação física

é fazer uma coisa qualquer desde que tenha movimento, como referiu um aluno

depois de todo o meu discurso: “oh professor dê-nos mas é uma bola para nós

jogar!”. Esta afirmação é reflexa da importância que dão e como pensam que

disciplina funciona. Com a colaboração do professor Dino, foi constante durante

toda a conversa a tentativa de sensibilização dos alunos acerca da urgência em

mudarem a sua atitude.

Como restava pouco tempo para o fim da aula achei que não se justificava

montar o exercício seguinte. Decidi aproveitar a oportunidade e colocá-los a

fazer corrida contínua para trabalhar a resistência aeróbia. No entanto, no

caminho até à pista redefini o objetivo dessa corrida: explicar a diferença entre

os tipos de professores. Existem aqueles que, tal como eu, estão sempre à

procura de promover aulas alternativas e com mais qualidade e depois existem

os outros que não se importam minimamente com os alunos. Esses apenas

mandam correr e dão uma bola para jogar. Com isto, disse-lhes para começar a

correr para que percebam a diferença. Não sei se a mensagem que queria

transmitir foi interiorizada, mas que não gostaram de correr é uma certeza.

No fim da corrida, decidi dar a palavra a quem entendesse pertinente dizer

alguma coisa e a Daniela entreviu pedindo desculpa em nome da turma e para

eu não desistir deles. Fiquei sensibilizado com esta situação, não só pelo

interesse demonstrado, mas também porque existe alguém a tentar inverter a

situação. Nesse sentido, disse que no dia em que me deixar de preocupar com

eles eu vou embora. É uma frase muito agressiva e profunda, mas estou à

vontade porque desistir não faz parte da minha forma de ser. É nestes

momentos que digo que a arbitragem mudou a minha forma de ser e de estar

porque permitiu-me ganhar autoconfiança e “estofo” para este tipo de situações.

Eu próprio não sei como ainda consigo preparar uma aula sabendo que de

seguida irá ser “desmontada”.” (Reflexão de aula nº 61 e 62)

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61

Apesar dos incidentes em cima registados, estes alunos foram excelentes

potenciadores da minha própria aprendizagem, colocando desafios constantes,

fazendo perceber porque é que algumas situações acontecem,

nomeadamente, a baixa exercitação nas aulas de ginástica.

“Nesta aula senti que os alunos fizeram um esforço para fazer os exercícios

propostos, apesar de que persistem aqueles que se escondem no meio do

grupo. A grande maioria fez pelo menos uma vez os exercícios propostos, mas

quando os questionei porque não continuavam a resposta foi: “oh professor mas

nós já fizemos”. Para eles estava tudo bem porque já tinham feito o que pedi. O

que eu não expliquei e que porventura ainda ninguém lhes explicou é que para

conseguir chegar ao produto final é necessário repetir várias vezes os exercícios

simplificados.” (Reflexão de aula nº 57 e 58).

Uma das questões que foram colocadas durante o EP foi «até onde vai a

autonomia dos alunos?». Como demonstra a situação em baixo descrita, é algo

que deve ser trabalhado junto dos alunos como se de um conteúdo se tratasse,

bem como saber avaliá-lo. Também é importante ter em atenção a

compatibilidade das tarefas que são colocadas ao mesmo tempo.

“Esta foi uma aula com organização diferente das restantes até ao momento.

Teve um carácter mais livre dando mais autonomia aos alunos, onde se impunha

mais responsabilidade nas suas ações.

Durante a avaliação dos saltos no mini trampolim, os alunos poderiam treinar

para a avaliação de dança. Na conversa inicial da aula impus algumas condições

de funcionamento, sendo que a coreografia ficou ao critério dos alunos. Sem dar

ênfase de obrigatoriedade, referi que quem quisesse poderia treinar a

coreografia de dança. Mencionei também que não iria chamar os alunos para

serem avaliados e como tal tinham de prestar atenção à sua vez. Este tipo de

aula era para mim o mais conveniente do ponto de vista organizativo, mas

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62

também aquele que promove a autonomia e responsabiliza os alunos pelos seus

atos. Obviamente todas estas questões organizativas foram por mim edificadas

com fundamento e intencionalidade. No entanto não consegui perceber todos os

contras que este tipo de aulas acarreta. Os alunos não exercitaram a coreografia

tal como tinham pedido e deste modo tenho aqui um problema identificado.

Existem duas questões que poderão estar na origem deste problema. Primeiro a

compatibilidade entre a autonomia para exercitarem a coreografia e a exigência

indireta de estarem atentos à sua vez para serem avaliados. De facto, era

complicado estarem atentos às duas situações. Contudo depois de serem

avaliados ficavam apenas com uma preocupação, a coreografia. A segunda

questão prende-se com a mudança drástica do tipo de aula. Não é um ato

espontâneo os alunos utilizarem a autonomia e tomarem a iniciativa de realizar

as tarefas sugeridas como propostas. Fiquei com a sensação de que tinha sido

bem explícito na conversa inicial da aula e assim era incompreensível o facto de

os alunos não aproveitarem aquele momento para treinar, tal como tinham

pedido. Para mim era claro que os alunos ignoraram essa parte da aula, mas

segundo o que escrevi em cima parece-me correto colocar a hipótese de que os

alunos não perceberam que também deveriam treinar a coreografia. Todavia,

dado o meu historial com a turma parece-me legitimo o meu primeiro

pensamento. Os alunos afirmaram no fim da aula que sabiam que tinham de

preencher a ficha coreográfica com os passos a realizar no dia da avaliação e

não o fizeram. Esta situação serviu como indicador para tirar as conclusões

iniciais.” (Reflexão de aula nº 79 e 80).

Por vezes dar liberdade para os alunos decidirem é mesmo a melhor

solução.

“Comparativamente ao 1º período, decidi alterar a forma de organização do teste

de fitnessgram. Enquanto que no período passado fui eu que decidi os pares

para a contagem das várias repetições, agora dei liberdade aos alunos quem

seria o seu par. Na minha opinião, este teste decorreu de melhor forma por duas

razões. Primeiro porque os alunos já tinham conhecimento da dinâmica deste

teste e segundo porque ninguém se esqueceu qual era o seu par. Uma vez que

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tinham liberdade de escolha foi previsível que era uma pessoa com a qual

tinham alguma afinidade. Pretendo repetir este procedimento na realização da

milha.” (Reflexão de aula nº 85 e 86).

A tomada de decisão do professor é uma constante. No caso que de

seguida é referido, continuar normalmente com a aula foi uma decisão que tive

de tomar para que a turma continua-se em atividade. Se tivesse sozinho à

frente da turma, adiar a conversa com o aluno seria mesmo a melhor opção.

“Nesta aula registou-se um incidente que não é a primeira vez que acontece.

Durante a formação das equipas um dos alunos manifestou-se dizendo que não

queria participar no jogo. Como não estava à espera que alguém o fizesse nesta

parte da aula fiquei surpreendido com esta atitude. A minha reação foi repentina

perguntando porquê e de forma muito calma apenas continuou dizendo que não

queria jogar. Como tinha a turma em espera numa situação de transição entre

exercícios decidi prosseguir com a aula, mas nesse momento foi necessário

fazer uma escolha porque também queria falar com o aluno para perceber a sua

atitude. Neste tipo de casos o que tenho feito é expor a situação ao professor

Dino pedindo ajuda para resolver a situação. A PES tem esta vantagem porque

tem mais do que um professor para cada turma e assim torna-se mais fácil

resolver de imediato este tipo de situações. Depois de ter a turma em atividade a

minha primeira reação foi dirigir-me junto do professor Dino e informá-lo do

sucedido, mas depois pensei como é que iria resolver esta situação caso

estivesse sozinho. Agora sei que a única hipótese era conversar com o aluno no

fim da aula, mas não sei se o faria caso estivesse sozinho porque não chegaria a

essa conclusão durante o tempo da aula. Nestes momentos ainda me sinto um

pouco dependente do professor cooperante na resolução destas situações.

Talvez que assim seja porque sinto que está presente como suporte.” (Reflexão

de aula nº 101 e 102).

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4.1.4. Avaliação

A avaliação, no contexto do processo ensino e aprendizagem, assume-se

como uma necessidade à regulação da qualidade do ensino. Neste sentido,

Bento (2003) refere que, juntamente com a planificação e a realização, a

avaliação é uma tarefa central na atividade do professor.

Segundo Metzler (2000), o processo de avaliação tem como objetivos

determinar a quantidade de aprendizagem que aconteceu num determinado

período de instrução, realizar a avaliação da qualidade da aprendizagem

(habitualmente através da classificação), e tomar decisões a partir dessa

informação com o intuito de potenciar a aprendizagem.

Nesse seguimento, no EP temos como objetivo relativo à avaliação, e

segundo Matos (2014), utilizar as diferentes modalidades de avaliação, a

inicial, a intermédia e a final, também designadas por avaliação diagnóstica,

formativa e sumativa, como elementos reguladores e promotores da qualidade

do ensino, da aprendizagem e da avaliação do aluno, refletindo posteriormente

sobre os resultados, visando uma intervenção referenciada ao sucesso.

Relativamente à avaliação contínua não estruturei nenhuma ficha

específica, uma vez que utilizei a própria lista de presenças para anotar as

autoavaliações de cada aluno. Estas autoavaliações diziam respeito ao

domínio atitudinal (30% da nota final) onde no final de cada aula os alunos

autoavaliavam-se numa escala de 1 a 10. Por diversas vezes tive que explicar

no que consistia o domínio atitudinal, pois eles confundiam este com o motor.

Em baixo, relato um momento em que tive que reforçar a ideia do que

representa cada domínio, pormenorizando as suas caraterísticas.

“Durante a autoavaliação percebi que os alunos ainda não entenderam bem os

fatores de ponderação do domínio atitudinal. Surgiu uma aluna que tem grandes

dificuldades em voleibol, mas que manteve uma boa atitude durante a aula e se

auto avaliou com 4. Decidi parar e voltar a explicar o que realmente se

pretende.” (Reflexão de aula nº 7 e 8).

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O objetivo desta autoavaliação era atribuir a responsabilidade da sua

própria avaliação aos alunos convidando-os a fazer parte deste processo. Mais

concretamente, consciencializá-los da sua atitude e daí retirar dividendos em

benefício das aulas. Contudo esta situação não teve os efeitos pretendidos,

como se verifica no seguinte excerto:

“Já há algum tempo que sentia que a autoavaliação do domínio atitudinal não

estava a obter os efeitos que eram pretendidos inicialmente. Devido ao

desrespeito por este momento verificado nesta aula ficou claro para mim o que

tinha vindo concluir. Após expor esta situação ao professor Dino e com o seu

aval decidi não continuar com este processo avaliativo. No entanto, efetuarei o

registo aula a aula da atitude dos alunos. Acredito seriamente nesta ideia e nos

possíveis resultados que dela poderiam ser retirados, mas a sua continuidade

deve ser colocada em causa em turmas onde não se verifiquem resultados. Sem

dúvida que esta medida foi afetada pelo peso atual da disciplina na média dos

alunos. Da mesma forma que alguns alunos não dão importância à sua

classificação no final de cada período, também não dão importância à

autoavaliação do domínio atitudinal.” (Reflexão nº 79 e 80).

Caires (2001) refere que o confronto com o estágio assume-se como uma

tomada de consciência das limitações do estudante estagiário. Este aspeto foi

visível no que se refere à avaliação, visto que se revelou uma tarefa bem mais

complexa que o esperado. Controlar a turma, gerir a aula e simultaneamente

registar o desempenho de cada um dos alunos, tornou-se uma tarefa de

grande dificuldade. Como tal, Caires (2001) analisa a simultaneidade de tarefas

como uma dificuldade inicial do estudante estagiário. Além disso, observar e

avaliar 27 alunos aliada à inexperiência nestes momentos tornou-se uma tarefa

bastante complexa.

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“Senti imensa dificuldade em avaliar, pois existiram alguns alunos que tanto

executavam as habilidades muito bem como em certas situações eram um

desastre. Esperava mais algum tempo para reunir mais indicadores e com mais

dúvidas ficava.” (Reflexão de aula nº 17 e 18).

Uma dos problemas sentidos nas avaliações diagnósticas foi a dificuldade

em identificar os alunos. Foi necessário perguntar, constantemente, o nome de

cada um e deste modo estas avaliações tornaram-se mais lentas. Contudo

essa situação já não se verificou no final do 1º período.

“Em comparação com avaliação diagnóstica senti menos dificuldades em avaliar,

por duas razões por mim identificadas. Primeiro porque tenho um melhor

conhecimento dos alunos e das suas capacidades. Segundo porque os critérios

de êxito definidos foram completamente de encontro com aquilo que pretendia.”

(Reflexão de aula nº 45 e 46).

As grelhas de avaliação não contribuíram para o aumento das

dificuldades porque existiu desde logo a preocupação de elaborar grelhas

exequíveis. As grelhas foram construídas conforme a especificidade de cada

modalidade. Enquanto as grelhas dos jogos desportivos coletivos e da dança

eram constituídas pela caracterização de 5 níveis de desempenho, no atletismo

e na ginástica eram constituídas sob a forma de uma check list.

“Para este tipo de avaliação em situação analítica, a grelha criada sob a forma

de check list revelou-se a mais ajustada” (Reflexão de aula nº45 e 46).

“Conforme o que foi dito na reflexão anterior, é necessário que a caraterização

de cada nível das grelhas avaliativas seja mais centrada no comportamento dos

alunos do que nos conteúdos abordados nas aulas. Deste modo, foi

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relativamente fácil atribuir um nível a cada um dos alunos. Durante a avaliação

senti que a grelha estava ajustada e de fácil compreensão.” (Reflexão de aula nº

49 e 50).

Era consensual dentro do NE que os alunos, nos momentos de avaliação

melhoram a sua atitude e concentração. Como tal, ficam mais predispostos

para absorvem tudo o que é dito pelos professores. Escrevi sobre este assunto

numa reflexão e gostaria de partilhar:

“Foi referido numa conversa no final da aula que o momento da avaliação é uma

boa oportunidade para ensinar, uma vez que grande parte dos alunos se

mostram concentrados e empenhados nesta tarefa. Concordo plenamente com

aquilo que foi dito, pois sinto que facilmente com algum feedback os alunos

poderiam aprender e tirar melhores resultados. Assim como nas disciplinas

teóricas os professores não utilizam o momento da avaliação para ensinar, em

educação física deve ser usando o mesmo procedimento, mesmo tendo em

conta todas as diferenças que as disciplinas acarretam. O mais importante é que

os alunos aprendam a matéria que lhes é ensinada, mas isso já é feito durante

todo o período. Na avaliação o objetivo é avaliar, logo dar feedback durante este

processo seria deturpar o real valor dos alunos. O estudo e a exercitação devem

ser feitos ao longo de todo o período e não nos momentos que precedem à

avaliação. Se lhes fosse dando indicações durante o processo avaliativo, estaria

a dar a entender que não precisavam de se preocupar com as restantes aulas

do período.” (Reflexão de aula nº 45 e 46).

Numa fase mais adiantada do ano letivo voltei a escrever sobre este

assunto, mas com outra perspectiva. Este é de facto um momento em que se

deve retirar o máximo partido dele.

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“Aproximam-se o momento das avaliações e parece-se pertinente colocar de

novo uma questão que surgiu nas avaliações do 1º período. Dar ou não

feedback durante as avaliações. Nesta fase considero que mais do que avaliar é

importante que os alunos adquiram os conhecimentos estipulados. Continuo a

defender que durante a avaliação não se deve dar feedback’s aos alunos,

porque aquilo que deve ser registado é aquilo que aprenderam durante as aulas

fruto de seu empenho. No entanto, parece-me útil aproveitar o momento

seguinte ao registo para ensinar. O aluno estará atento a tudo o que será dito

porque ainda pensa que está a ser avaliado.” (Reflexão de aula nº 77 e 78).

No final de cada avaliação foi registada a autoavaliação de cada aluno.

Nesse sentido torna-se pertinente dar a conhecer aos alunos quais os critérios

de ponderação a ter em conta durante a avaliação. Apesar de no primeiro

momento não ter partilhado esses critérios, nas avaliações seguintes a

situação foi corrigida.

“Na avaliação de voleibol nem tudo correu conforme tinha planeado. Antes de

iniciar a mesma não dei conhecimento aos alunos sobre que aspetos me iria

focar nesta avaliação. Considero importante que os alunos tenham esse

conhecimento, não só para que promovam o comportamento pretendido mais

vezes (caso o dominem), mas também para que os próprios consigam ter uma

perceção mais aproximada do seu valor. Esta é uma das coisas que já tinha

identificado há algum tempo como uma das lacunas de grande parte da minha

formação académica (…).” (Reflexão de aula nº 47 e 48).

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4.2. Área 2 – Participação na Escola e Relações com a Comunidade

Consciente de que a atividade do professor não passa só pela ligação

que estabelece com os seus alunos em contexto de aula, procurei integrar-me

o melhor possível com os restantes elementos que fazem parte da comunidade

escolar. Conhecer, partilhar ideias e manter parte ativa nas vivências da escola

fez parte das minhas pretensões. Além da minha capacidade natural para a

docência a provar e a desenvolver, outras competências se mostraram

igualmente fundamentais, como a flexibilidade, a resolução de problemas, a

criatividade, a colaboração, a empatia, a capacidade de lidar com a

complexidade e o gosto pela aprendizagem (Lima, 2008).

A primeira vez que entrei na ESAS foi no dia 3 de setembro de 2014 para

a primeira reunião com o PC. Entrei na escola juntamente com os meus

colegas estagiários sem saber onde nos deveríamos dirigir. Recordo-me de

uma pessoa mesmo na entrada a olhar em diante e logo percebi que era o

nosso PC. Foi neste momento que enxerguei, que estava a acontecer, que era

real, que o momento para o qual tinha estudado tinha chegado. A

disponibilidade, a forma cordial com que nos tratou e a certeza no seu discurso

fizeram-me antever a possibilidade de um bom ano. Desde o início frisou que

“seríamos tratados como colegas e não como estagiários, não tenho outra

forma de abordar esta questão” (Apontamentos das reuniões semanais e

conversas, 1º período). Em momento algum estas palavras deixaram de fazer

sentido.

As seguintes idas à escola foram com o propósito de reunir, ora com o

grupo de departamento, ora com os diretores de turma da escola, ora com o

conselho de turma. Em todas elas conheci novos professores com quem ainda

não tinha tido oportunidade de me cruzar. Os professores de EF, bem como os

restantes que têm ligações mais próximas deste grupo disciplinar deram-nos as

boas vindas, muito sorridentes, afáveis e bem dispostos. Sem dúvida, uma das

expressões mais ouvidas foi “os estagiários deste ano”. Posto isto, não só é

uma escola habituada a receber estagiários, como também se mostrou

disponível para trabalhar com eles.

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A capacidade de guiar as emoções próprias e as dos outros, de

discriminá-las e utilizar essa informação para pensar e agir (Estrela, 2010)

coloca-nos mais perto do sucesso. Não faz parte da minha personalidade ser

extravagante nas minhas relações sociais, mas também não faz parte passar

despercebido. Gosto de ser reconhecido pela qualidade das minhas ações, ao

invés de uma possível inatividade. Como tal, conquistar o meu lugar no corpo

docente e na comunidade educativa era um objetivo. Porém, imperava a

necessidade de respeitar e manter aquilo que geria e baseava a comunidade

onde estava a ser acolhido (Caires, 2001).

4.2.1. Troféu ESAS

As atividades desportivas escolares para o ano letivo que agora findou já

haviam sido definidas na reunião do departamento realizada no ano anterior.

Ou seja, a aprovação do plano anual de atividades já havia sido feita numa

outra reunião em que não estive presente. Deste modo não foi possível

presenciar de que forma foram selecionadas essas atividades, mas foi

perceptível que existe uma continuidade na sua organização.

Uma das atividades onde eu e o NE estivemos inseridos foi no Troféu

ESAS, prova já realizada há muitos anos na ESAS. Essencialmente, o Troféu

ESAS é uma prova tripartida pelos diferentes períodos letivos. Assim sendo,

em cada período é realizada uma prova que está inserida nas atividades do

troféu e que reverte para a definição do seu vencedor. Vence o Troféu ESAS a

equipa que participar nas três provas e obter as melhores pontuações

comparativamente com as equipas adversárias.

A origem do Troféu ESAS com estas características assentou em duas

ideias fundamentais. Por um lado, tentar resolver o problema da adesão dos

alunos às atividades extracurriculares, que oscilava muito de umas atividades

para as outras. Desta forma, para ganhar esta competição é necessário uma

participação regular. Por outro lado, oferecer aos alunos experiências de

prática desportiva complementar daquelas que decorriam dos PNEF.

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A primeira prova consistiu numa prova de orientação score 100 onde

quem vencia essa prova eram quem conseguisse ficar o mais perto possível

dessa pontuação e no menor tempo possível. A sua realização teve como

objetivos os alunos aprenderem a cooperar em equipa e orientarem-se num

espaço relativamente pequeno, como é o caso da Universidade do Minho. O

responsável pela sua organização foi o nosso PC, o que nos ajudou a perceber

melhor cada passo a ser dado para organizar e gerir uma prova desta

envergadura. Nós, professores estagiários, tínhamos como principal tarefa

perceber a dinâmica necessária para a organização de uma prova com esta

dimensão, tal foi a quantidade de alunos inscritos. Era fundamental reter e

perceber o maior número de questões organizativas possível, uma vez que a

segunda prova seria organizada pelo NE. Adicionalmente também assumimos

algumas tarefas no dia da prova, nomeadamente, controlo das partidas e

chegadas, verificação dos cartões de controlo e recolha das balizas no terreno.

A segunda prova consistiu numa Feira de Aventura. Trata-se de uma

prova em que devem constar diversos jogos onde a originalidade e a

diversificação da oferta devem estar presentes. Essa atividade foi realizada

tanto no pavilhão gimnodesportivo como no seu espaço envolvente e contou

com atividades tais como: tiro com arco, “dá ao serrote rápido”, “serpente

adaptada”, “toca o sino”, entre outras… Dado que a organização deste evento

estava exclusivamente a cargo do NE, era a nossa imagem e a nossa

capacidade de organizar um evento que estava em causa. O trabalho em

equipa e o espírito crítico de cada um foram uma mais valia porque nos

permitiu atender a todos os pressupostos que eram necessários cumprir. Foi

fundamental saber exatamente o que se pretendia com a prova para que fosse

delineado antecipadamente todas as tarefas a cumprir, criar os desafios tendo

em conta os recurso materiais, espaciais e humanos disponíveis e ainda a

distribuição de funções no dia do evento. Por último, foi essencial pensar em

todos os “ses” e antecipar todos os cenários possíveis. Como diria o ditado

“mais vale prevenir do que remediar!”.Com o empenho de todos os professores

durante a prova e com a organização do NE da ESAS, conseguimos que esta

atividade decorresse sem situações inesperadas e com a satisfação de todos

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os envolvidos. Penso que, sendo este o primeiro evento que o NE da ESAS

esteve no comando, após concluída, podemos ter orgulho do produto do nosso

trabalho.

Para terminar o troféu, realizou-se a prova da canoagem, completando a

tríade, tendo como principais objetivos o convívio entre alunos e professores e

o finalizar de um ano letivo em festa, num local de descontração, como é o rio.

A prova consistia num percurso, definido por duas bóias, a ser executado no

menor tempo possível, em que os atletas tinham que remar circulando por fora

delas. Trocando de lugar com outros 2 colegas, tinham de realizar três

percursos no total. Numa atividade sem tarefas de grande complexidade, eu e

o meu NE desempenhámos diversas funções, nomeadamente integrar o

caiaque salva vidas que ativamente estava dentro de água, cronometragem e

registos dos tempo conseguidos por cada equipa e ainda controlar se o

percurso definido era cumprido pelas equipas. Esta foi sem dúvida a prova

mais aguardada pelos alunos, uma vez que podiam aproveitar este dia como

um retiro do período “stressante” das aulas e conviver com os seus colegas e

professores num contexto mais informal.

4.2.2. Experiência no Desporto Escolar (DE)

O DE escolar constitui um instrumento fundamental de elevado valor

educativo enquanto promotor para a formação do carácter dos jovens. O DE

visa especificamente a promoção da saúde e condição física, a aquisição de

hábitos e condutas motoras e o entendimento do desporto como fator de

cultura, estimulando sentimentos de solidariedade, cooperação, autonomia e

criatividade, devendo ser fomentada a sua gestão pelos estudantes praticantes,

salvaguardando-se a orientação por profissionais qualificados (Artigo º 51,

2005).

De todas as experiências pertencentes ao capítulo 4.2 deste relatório, as

vivências no DE foram as que mais significado teve para mim. Aquilo que

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observei ultrapassou tudo o que podia imaginar possível numa escola

relativamente ao DE.

Durante o meu percurso enquanto aluno vivenciei uma oferta pouco

organizada, com pouca dinamização e sem continuidade de ano para ano.

Relembro-me que, no voleibol, o professor responsável pela modalidade dava

preferência a jogadores federados de uma determinada equipa. Quando

coloquei a hipótese de tentar ser integrado nessa equipa, vi essa mesma

possibilidade ser reduzida. Pelos motivos referidos não tinha uma opinião

positiva do DE.

No entanto, devido àquilo que presenciei nesta escola, verifiquei que

existem outras realidades completamente diferentes à qual eu vivi enquanto

aluno. A ESAS é o exemplo de como potenciar o desporto numa escola através

do DE. A ginástica é a modalidade rainha e a imagem de marca da escola. É

enorme a quantidade de alunos que integram o DE nesta escola. É bem visível

que os alunos que integram esta “máquina” têm o respeito e o apoio de toda a

escola, sendo que é com orgulho que estes alunos afirmam pertencer ao grupo

de ginástica. É através destes alunos que a escola se consegue projetar na

comunidade muito para além daquilo que seria esperado. São vários os grupos

de nível existentes por cada faixa etária para que se consiga abranger o maior

número de alunos e é aqui que gostaria de realçar um dado importante.

Obviamente os grupos de nível são definidos através da qualidade dos seus

elementos, mas também é considerado o rendimento escolar de cada

interveniente. É condição para fazer parte do melhor grupo, não só a qualidade

enquanto atleta, mas também é necessário obter um alto rendimento escolar.

A minha área de intervenção centrou-se essencialmente no grupo dos 8

aos 10 anos. Uma vez que o projeto que encontrei já se encontrava em

andamento há algum tempo, a minha entrada teve de ser gradual tal era a

quantidade de informação/novidades que tinha de recolher.

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“A minha primeira tarefa foi reconhecer as dinâmicas de treino. Muita informação

para recolher ao mesmo tempo” (Apontamentos sobre o DE).

Uma das coisas que mais me impressionou foi a capacidade que aquelas

crianças têm em reconhecer as suas dificuldades e perceber onde cometem os

erros.

“Engraçado como miúdos com 8 anos já conseguem entender especificidades de

linguagem e pormenor utilizados pelos professores. Muitas vezes sabem onde

erram.” (Apontamentos sobre o DE).

Isso é consequência da exigência que rodeia estas crianças durante os

treinos. Termos como trabalho e excelência são palavras de ordem, sem nunca

esquecer que são crianças e como a afetividade é importante para o seu

desenvolvimento.

Montar e arrumar o material do treino autonomamente era uma das

rotinas que estavam impostas. Os treinos tinham início às 19h, pelo que,

autonomamente, as crianças tinham de estar alinhadas como se de uma

parede se tratasse. Com todo este panorama, também senti a exigência

existente.

“Sinto uma grande diferença na exigência de um sítio para o outro. De manhã

dei ginástica e não exigia tanto de mim como o DE. É um choque”.

(Apontamentos sobre o DE).

De facto o nível de conhecimento que me era exigido durante as minhas

aulas e no DE era bem diferente.

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A minha participação no DE não teve um fim em si mesmo. Teve um

contributo imediato na minha intervenção durante as aulas, como demonstra o

excerto que de seguida apresento.

“A presença no DE tem sido fundamental para melhorar a qualidade dos meus

feedback’s. Embora ainda o faça quando é necessário, recorro menos ao

feedback de resultado e mais ao de performance. O feedback de resultado

pouco acrescenta à evolução dos alunos porque não lhes diz onde devem

melhorar. Pouco valor informativo acarreta. E nesse aspeto que o DE me tem

ajudado porque se realmente quero ser útil é por aqui que posso ser. Senti isso

mesmo nas aulas de salto em altura e nesta de andebol. A forma como observo

o movimento é mais do foro da eficiência do que da eficácia.” (Reflexão da aula

nº 65 e 66).

Com a ajuda dos professores responsáveis pelo grupo onde estive

inserido tive a oportunidade de desenvolver o meu conhecimento na ginástica e

como tal foram um apoio importante na minha participação neste grupo de

trabalho. Este foi mais um momento em que tive a oportunidade de estreitar

relações com o pessoal docente, tal como consta nas normas orientadoras do

EP 14-15, e porventura aquele que foi para mim o mais importante na área 2.

Sarau ESAS.

O Sarau ESAS é o expoente máximo das atividades não letivas da

escola. Este é talvez o maior evento organizado pelo DEF da ESAS em

conjunto com os professores do DE e do clube “Artigym”. Sendo um espetáculo

que se realiza anualmente, é sem dúvida o culminar de todo um ano de treino e

competição.

O sarau realizou-se no maior auditório da cidade, parque de exposições

de Braga. Apesar de contar com 600 lugares, são necessários dois espetáculos

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para que todas as pessoas ligadas direta ou indiretamente à escola tenham a

oportunidade de assistir ao evento, o que demonstra a sua dimensão. Este ano

foi o XVI Sarau de Ginástica e Dança, mas apenas desde o XIII passou a haver

dois saraus ao invés de um. Enquanto o da tarde foi para os pais e

encarregados de educação dos atletas, o da noite foi dedicado ao resto da

comunidade educativa da escola e população da cidade.

Desde o início do ano que o nosso PC referiu a importância deste evento

para a comunidade escolar e para a imagem da escola na comunidade local.

Como tal, foi necessária uma grande e antecipada preparação para que tudo

decorresse de acordo com as expectativas. O entusiasmo dos alunos era

claramente visível, pois era a maior gratificação ver o empenho e dedicação de

um ano inteiro de treino, reconhecidos por toda a comunidade, pelos colegas e

essencialmente, pelos pais e encarregados de educação. Aliado à

responsabilidade da organização, era também com expectativa que os

professores se encontravam.

Embora não tivesse colaborado diretamente na sua organização, tive a

oportunidade de colaborar na sua realização, contribuindo positivamente para o

seu sucesso e concretização. De destacar que os envolvidos são entendidos

na matéria, dado o número de saraus realizados por este grupo de professores.

Durante a realização, o meu trabalho foi auxiliar os responsáveis pela

segurança. As minhas funções centraram-se no controlo das entradas nas

portas interiores e na verificação da permanência do público na zona de

passagem dos atletas (espaço entre a plateia). Uma vez que o sarau se

realizou num sábado, apenas consegui estar presente na sessão da noite e

desta forma tentei repartir-me entre as tarefas que me estavam destinadas e a

visualização do espetáculo.

Assim, enquanto colaborador na realização do evento tive a oportunidade

de assistir ao sarau quase por completo. Fiquei maravilhado com a valorização

do movimento, do desporto e em específico da ginástica e da dança. Consegui

ver a alegria e a vontade com que os alunos atuavam e conseguiam transmitir

ao público, que através de aplausos contribuía para a espetacularidade do

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evento. Para além da componente técnica também esteve presente uma

componente humorística, tornando assim o evento muito mais atrativo e

divertido quer para quer participa, quer para o público presente.

Como já existe toda uma experiência na organização e inevitavelmente

uma continuação do trabalho desenvolvido de ano para ano, a minha

colaboração na organização prévia do espetáculo não foi direta uma vez que

não contribuí para que o espetáculo decorresse de forma fluida e sem

interrupções durante, aproximadamente, duas horas. Contudo, a ponte que me

ligou à preparação deste espetáculo foi na colaboração no treino de um dos

grupos que atuaram.

A realização deste espetáculo surge no âmbito do trabalho desenvolvido

no DE, e neste sentido só vem confirmar a dimensão do trabalho que é

desenvolvido nesta escola no âmbito do trabalho desenvolvido neste domínio.

Mesmo com as minhas limitações de conhecimento acerca do trabalho

produzido a nível nacional nas escolas na área do DE, arrisco dizer que o DE

desta escola e consequentemente o sarau são um caso de estudo.

Para além daquilo que já foi referido, parece-me importante dar relevância

à participação no sarau, com um número, por parte de antigos alunos da

escola. Foi com estranheza que durante o espetáculo vi pessoas a atuar com

idades que não abrangiam a população alvo da escola. Em conversa com o

PC, percebi que eram ex-alunos da escola e que treinavam uma vez por

semana durante o ano para participarem no sarau. Daqui podemos perceber a

vontade e gosto pela participação no sarau por parte destes ex-alunos, mas

também podemos concluir que um dos objetivos a longo prazo do DE é

cumprido: “Aquisição do gosto pela atividade física e prática desportiva ao

longo da vida”1.

_____________________________

1 In documentos de apoio da unidade curricular Tópicos da Educação Física e Desporto II, inserida no plano de estudos do 2º Ciclo em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, em vigor no ano letivo 2014.2015.

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Esta foi, sem dúvida, mais uma grande experiência que me foi

proporcionada por esta escola, no sentido em que, numa oportunidade futura

neste domínio, terei o dever de tentar desenvolver um trabalho que esteja de

acordo com o nível da experiência vivida.

4.2.3. O Diretor de Turma (DT) e o Conselho de Turma

A profissão do professor também pode passar pelo cargo de DT, sendo

imprescindível o seu acompanhamento e compreensão ao longo do ano de EP.

Assim, como parte integrante das normas orientadoras de EP, a relação com o

DT é sugerida para que o professor estagiário compreenda o seu papel, ao

nível da gestão e organização, assim como, e principalmente, ao nível da

intervenção com os alunos e seus pais e encarregados de educação (Matos,

2014).

O primeiro contacto que tive na escola com esta temática foi na reunião

de diretores de turma no 1º período, onde foi possível perceber o papel do DT

ao longo do ano letivo, toda a dinâmica que deve ser criada e como atuar de

acordo com as funções delegas a este cargo. Alguns dos assuntos que foram

tratados já não eram novos para mim, dado o conhecimento retido no 1º ano do

mestrado, mas agora ganharam outro significado devido à contextualização e

importância que foi dada. Apesar disso, a linguagem utilizada dificultou um

pouco o entendimento acerca daquilo que era falado, nomeadamente quando

se referiam aos deveres do DT verbalizando apenas o número do decreto de

lei. De entre as funções destinadas ao DT aquela que teve direito a mais

destaque na reunião pelo diretor do agrupamento foi o papel do DT na ligação

entre a escola e os EE.

“Nesta reunião foi possível perceber a importância dos DT, após o discurso do

diretor do agrupamento. De facto, os diretores de turma não têm só um papel na

gestão e organização da turma bem como dos seus professores, mas também

na interligação entre a escola e os EE. Deste modo, os DT são o principal rosto

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da escola perante os EE, uma vez que é a estes que os EE abordam para se

manter informados acerca dos seus educandos e resolução de eventuais

assuntos relacionados.” (Reflexão da reunião de DT, 1º período).

Uma das tarefas referidas e consideradas fundamentais foi a preparação

do dossier de turma. Este dossier deve estar devidamente organizado,

atualizado e permanecer na sala da direção de turma, para eventual consulta.

Nele deve constar uma série de informações fundamentais dos alunos da

turma, que vão desde a ficha socioeconómica, a ata referente à eleição do

delegado e subdelegado de turma, as avaliações finais e intermédias de testes

e trabalhos equiparados de todos os docentes da turma, contactos realizados

com os encarregados de educação, atividades realizadas na turma,

informações relativas a comportamentos meritórios e a medidas disciplinares

sancionatórias aplicadas e os seus efeitos, PIT e outros documentos

considerados pertinentes.

A importância que foi atribuída aos DT como imagem da escola perante

os EE tem a sua razão de ser, dada a concorrência existente entre escolas.

Inerente à preocupação com a imagem da escola, na minha opinião, é também

importante, a gestão da relação que o DT faz quer para com os alunos quer

para os EE. Segundo o meu PC, antes de sermos professores, somos

educadores e nesse sentido o DT possui também um papel um papel muito

importante na relação professor/aluno, relacionando-se com os alunos e EE

nas dimensões pessoal e emocional. Nesta perspetiva, é fundamental possuir

boas qualidades humanas, traduzidas na dedicação, capacidade de diálogo, na

capacidade de negociação e na sensibilidade para tratar de assuntos cada vez

mais emergentes na sociedade hoje em dia.

Como gestor de relações humanas o DT deve ser, particularmente, um

professor que detenha uma capacidade de promover um relacionamento com

os alunos, corpo docente e não docente e EE. Deve também, ser tolerante

compreensivo e firme nas suas decisões, sem deixar de usar uma certa

elasticidade. Deste modo, a gestão das relações humanas torna-se

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imprescindível na identificação de conflitos existentes entre alunos da turma, a

implementação de estratégias promotoras de ambientes positivos e a avaliação

dessas mesmas estratégias. Deve também encontrar soluções eficazes, a fim

de resolver problemas que, eventualmente possam surgir, nomeadamente os

de ordem disciplinar. Esta é uma tarefa à qual sou mais sensível dado que

aquilo que vivenciei no meu estágio. A passividade do DT perante o

conhecimento de comportamentos disciplinares gerais pode levar ao efeito

“bola de neve” e surgirem situações mais graves e difíceis de controlar. O DT

não deixa de ser também um orientador, cuja finalidade é facilitar ao aluno uma

aprendizagem que o conduza ao encontro da máxima concordância possível

entre as capacidades, atitudes, valores e interesses como pessoa e as suas

atitudes exigidas pelas diversas opções que o mundo lhe apresenta, de modo a

conseguir a sua autorrealização.

Postic (1984) refere que a atividade dos diretores de turma pode ser

considerada insubstituível. Afirma que lhes compete, muitas vezes, em estreita

aliança com os demais professores da turma, resolver os problemas mais

urgentes, representados por uma panóplia de dificuldades dos alunos. Assim, a

comunicação entre os professores da turma deve ser uma constante para que

se possam adotar estratégias em comum para a turma ou até identificar

necessidades individuais para um determinado aluno. Estas são competências

do conselho de turma em colaboração com o DT. De forma a facilitar a

comunicação “foi dada alguma liberdade à dinâmica que cada conselho de

turma optar, nomeadamente na comunicação entre os seus membros incluindo

o DT. Entre os exemplos dados estiveram a plataforma Inovar que está a

funcionar na escola e uma pasta deixada em sítio a combinar, em que dentro

da mesma seria exposto o assunto a resolver.” (Reflexão da reunião do DT, 1º

período).

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4.3. Área 3 – Desenvolvimento Profissional

“Os professores são os mais afortunados e bem aventurados entre todos

aqueles que trabalham. É-lhes dado o privilégio de fazer renascer a vida em

cada dia, semeando novas perguntas e respostas, novas metas e horizontes.

Constroem edifícios que perdurarão para sempre, porque a sua construção usa

o cimento da entrega, da verdade e do amor.” (Bento, 2008, p. 77).

A última área “engloba atividades e vivências importantes na construção

da competência profissional, numa perspetiva do seu desenvolvimento ao

longo da vida profissional, promovendo o sentido de pertença e identidade

profissionais, a colaboração e a abertura à inovação”. (Matos, 2014, p. 7).

Considero que o EP com todo o seu exercício que envolve, é a melhor

forma de promover o desenvolvimento profissional. São vários os momentos de

formação que estão inerentes a esta “disciplina”, momentos esses que podem

ser de variadíssima ordem. O EP proporcionou investigar a atividade em toda a

sua abrangência, criando hábitos de investigação/reflexão/ação (Matos, 2014),

com o intuito de responder de forma eficaz aos problemas que a prática

levantou. Ao longo do meu EP procurei melhorar a minha competência e

atuação enquanto professo estagiário, numa evolução gradual, investigando

sobre as minhas inquietações e a minha prática quando necessário, refletindo

sobre a ação e tornando a refletir sobre o que já havia sido refletido, como se

de um ciclo se tratasse. Sobre esta temática, Bento (2003) defende que a

reflexão posterior à aula, o controlo e análise do processo de ensino e do

rendimento dos alunos, constituem um domínio no qual se passa em revista a

sua planificação e realização. Desde o princípio desta caminhada que procurei

encarar as minhas dificuldades de forma natural e como um processo ao qual

era necessário passar.

Uma das minhas grandes dificuldades prendia-se com as competências

escritas, nomeadamente ao nível da construção frásica e alguns erros

ortográficos pontuais. Essas dificuldades de construção frásica tornavam-se

mais evidentes quando a quantidade de pormenores que queria ver refletidos

nas minhas palavras era maior. As ideias existiram, porém era necessário

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sintetizá-las, verificando o seu grau de importância para o assunto em questão

ou organizar essas ideias de forma diferente. A construção do PFI, deste

relatório e das inúmeras reflexões escritas serviram como instrumentos para

reduzir esta lacuna e contribuir para o meu desenvolvimento profissional.

Contudo, tenho ainda algum trabalho a fazer neste domínio até atingir o nível

que pretendo, não só para a minha realização pessoal, mas também para não

contribuir para que a imagem do professor de EF seja associada a baixos

níveis de competências escritas.

As reflexões aula após aulas foram como um pilar, no que diz respeito à

minha aprendizagem, em contexto real de docência. A reflexão sobre a ação,

sobre a prática, de todas as funções que exercemos é elementar para garantir

uma evolução progressiva e consequentemente a melhoria na qualidade de

trabalho. Pensar, refletir e detetar possíveis problemas na minha atuação, eram

fatores que me permitiram perceber se os meus métodos e estratégias de

ensino, levadas a cabo no processo de ensino aprendizagem, foram realmente

eficazes e produtivos. Por outras palavras, a reflexão surgiu como uma forma

de dar sentido à minha formação como profissional da docência, pois refletir é

“a capacidade de utilizar o pensamento como atribuidor de sentido” (Alarcão,

1996, p. 175). De acordo com aquilo que vivenciei, considero que os momentos

de reflexão acontecem espontaneamente, decorrentes da prática de ensino,

dado que vários foram os momentos em que a reflexão sob a forma escrita

apenas serviu para formalizar esses momentos.

Um grande contributo para o meu desenvolvimento profissional foram as

conversas durante as aulas dos colegas estagiários e de outros professores.

Apesar da existência das reuniões semanais agendadas com o PC, aqueles

que foram os melhores momentos de formação foram sem dúvida a

observação das aulas na companhia do PC. Devido ao seu carácter formal, as

reuniões semanais não deixaram de ter a sua importância para abordar

algumas questões que à “mesa” são o melhor local para serem tratadas, mas a

observação das aulas constituíram momentos enriquecedores e carregados de

aprendizagem porque existiram trocas e partilhas de informação relativamente

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às estratégias e metodologias a utilizar nas aulas, bem como algumas

discussões acerca da matéria de ensino e outros assuntos emergentes. O mote

para a conversa surgia de forma natural de algo que estivesse a acontecer

naquele momento ou de aulas anteriores. Para mim, o carácter informal dado a

estas conversas permitia alguma abertura para a colocação de questões que

noutros momentos não seriam colocadas. Por este motivo digo que estes foram

bons momentos de aprendizagem. Os inúmeros conselhos sobre a melhor

forma de atuar em diversas situações e pistas de gestão dos alunos e da

própria aula foram, sem dúvida, momentos de aprendizagem. A sua

experiência fez-me crescer como professor e ver muitas situações de outra

perspetiva. Na reflexão das reuniões semanais e conversas do 1º período,

registei a seguinte frase do meu PC:

“… Mais importante do que sancionar é ver e perceber porque é que aquilo

aconteceu...”.

Esta afirmação surgiu duma situação de aula descrita na reflexão de aula

nº 47 e 48:

“Quando iniciei os testes de fitnessgram, pedi aos alunos que estivessem

concentrados para não se enganarem a contar as voltas/repetições dos seus

colegas, com o risco de os prejudicar e não respeitarem o seu esforço. Um aluno

teve uma atitude que considerei uma falta de respeito para com os colegas e de

imediato reagi pedindo que fosse embora da aula. A solução encontrada de

imediato foi tomar uma decisão firme; era importante que todos percebessem

qual é o limite.”.

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Neste caso, a conversa que tive com o PC foi importante para não me

centrar apenas no comportamento do aluno, mas também naquilo que poderá

ter levado o aluno a esse comportamento desviante.

Neste processo de descoberta, reflexão e aprendizagem, a ajuda do PC

foi essencial, através dos feedback’s e comentários que me foi dando, com a

partilha de conhecimentos que tivemos e com os imensos conselhos que me

deu. Sempre nos elucidou, a mim e aos meus colegas para “nunca desprezar

as nossas intuições” por que a vida evolui e o que era ontem pode não ser o de

hoje. Curiosamente esta foi uma frase que serviu de desbloqueador e

facilitador nos momentos de tomada de decisão. Outra frase que ele dizia

muitas vezes era, “o mundo evolui à custa dos insensatos”, transparecendo

sempre a ideia que devia arriscar e propor-me a voos mais altos.

Investigar e procurar outros recursos para além da formação inicial que o

professor tem, faz parte do processo do querer ser competente, do desenvolver

as suas capacidades na profissão que assume. Nesse sentido, participei num

workshop de Corfebol realizada pela EB 2/3 de Nogueira para os professores

do AESAS em colaboração com a Federação Portuguesa de Corfebol. Esta é

uma modalidade prevalecente nos currículos nacionais, pelo que uma

formação nesta área torna-se uma mais valia de forma a proporcionar aos

alunos uma formação eclética.

Com vista ao colmatar de dificuldades e à superação de barreiras

impostas durante a lecionação das aulas, também o PFI e o estudo de

investigação-ação contribuíram para o meu desenvolvimento profissional.

O PFI foi um documento realizado no início do ano letivo, no âmbito da

área 3 das normas orientadoras do EP, que propiciou a construção da

competência profissional. A elaboração deste projeto implicou uma reflexão

sobre a atividade docente a desenvolver ao longo do ano, tendo em

consideração as três áreas envolvidas, tornando-se uma ferramenta essencial

para desenvolver estas competências, potenciando as capacidades e

ultrapassando as dificuldades.

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No âmbito do projeto de investigação ação desenvolvido nesta área,

aprofundei conhecimentos metodológicos de investigação. O estudo contribuiu

para a minha formação profissional, na medida em que forneceu estratégias

para promover um ensino eficaz, sendo imprescindível para o sucesso na

profissão. No entanto, tendo em conta que “cada caso é um caso”, nenhum

estilo de ensino deve ser colocado de lado. Como o meu PC refere, “não se

deve colocar de parte nenhuma estratégia pedagógica”. Neste seguimento,

escrevi nos meus apontamentos o seguinte: deve-se “Estar constantemente a

tentar encontrar as melhores estratégias e depois de encontrar colocá-las em

causa, no sentido de procurar sempre as melhores soluções e os melhores

métodos.” (Apontamentos das reuniões semanais e conversas, 2º período).

O desenvolvimento profissional não se esgota na formação inicial, requer

uma formação contínua e complexa. Este tem que acompanhar a evolução da

sua profissão ao nível da teoria e da prática. Onofre (1996, p. 75) refere que “a

formação de professores pode ser entendida como o processo contínuo e

sistemático de aprendizagem no sentido da inovação e aperfeiçoamento de

atitudes, saberes e saberes-fazer e da reflexão sobre valores que caracterizam

o exercício das funções inerentes à profissão docente”. O ato de aprender e de

educar é contínuo, situando-se no decorrer da vida do indivíduo, daí também

se justificar amplamente o estabelecimento de um sistema de formação

permanente na contribuição para uma nova educação e cultura (Cunha,

2008a).

Deduzindo, julgo ser fundamental acompanhar a evolução da EF e do

ensino, sendo essencial também para o meu desenvolvimento profissional. Não

apenas através das formações, mas também através da investigação e do

trabalho autónomo. Quanto mais invisto na minha formação, sinto que ainda

tenho muito mais para aprender e nesse sentido considero que a formação

profissional é um processo contínuo, permanentemente inacabado.

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4.3.1. Estudo de Investigação-Ação: Os Momentos de Instrução: A

Otimização para o Ensino e Aprendizagem

4.3.1.1. Introdução

No âmbito do estágio profissional referente ao 2º ano do 2º ciclo de

estudos do Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário,

apresento o meu projeto de investigação.

Depois de decorrido um período de aulas muitos eram os temas alvos de

reflexão. Os momentos de diálogo com a turma são aqueles que mais nos

cativavam. As inquietações nestes momentos nunca foram mais do que

aquelas que seriam esperadas para um professor estagiário e deste modo

esses momentos foram sempre encarados com grande abertura e naturalidade.

Existiu sempre algum cuidado na preparação destes momentos,

nomeadamente na sua duração, organização da informação a transmitir e tipo

de linguagem, pelo que, nunca nos foi identificado pelo núcleo de estágio

qualquer problema relativo à instrução utilizada. Apesar disso, é necessário ter

em conta existem desvios entre aquilo que é transmitido e aquilo que se quer

transmitir. Sobre este assunto Rosado e Mesquita (2011) referem que (…)

entre aquilo que o professor ou o treinador pretendem dizer e aquilo que

efetivamente dizem pode haver uma diferença, que aquilo que o praticante

ouve não é, necessariamente aquilo que compreende, e aquilo que

compreende não é, também, muitas vezes, retido ou, finalmente executado (…)

podem existir perdas sucessivas de informação que podem chegar aos 60%,

(…).

Sentíamos que em alguns momentos a forma como a informação era

recebida pelos alunos não era entendida de acordo com aquilo que era

esperado. Por vezes devido à postura inadequada dos alunos e outras vezes

devido à falta de atenção e concentração relativamente ao que era transmitido.

Várias foram as situações em que terminado o momento de instrução, era

necessário repetir todo o processo. A opinião acerca da origem deste problema

era comum ao núcleo de estágio. Neste sentido, havia a necessidade de

reduzir a frequência destes momentos de forma a aumentar os tempos de

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exercitação. Além disso, a ocorrência destas situações quebravam a normal

fluidez da aula.

Posto isto, o problema identificado nas aulas e na qual se debruça este

projeto de investigação-ação é na instrução sob o ponto de vista de quem

recebe a informação e em que condições é feita.

Os objetivos deste estudo foram, numa primeira fase, melhorar a forma

como os momentos de instrução eram realizados de modo a que os alunos se

sintam cativados pela informação a transmitir. Este estudo poderá ser útil para

professores estagiários que tem resolvidos eventuais problemas na instrução e

no feedback e que ainda não conseguiram que a sua instrução tivesse os

efeitos desejados.

Por último, associado a esta problemática, esperamos também encontrar

um estilo que seja orientador da nossa forma de atuação nas diversas fases do

processo ensino aprendizagem. Esse estilo deverá ir de encontro com aquilo

em que nós acreditamos, ou seja, àquela que será a melhor forma de estimular

os alunos e potenciar a sua aprendizagem.

Tratando-se de um estudo de investigação ação, procurámos encontar

um protocolo de atuação de forma a agir sobre o problema identificado, tendo

em vista a sua resolução. Os protocolos de atuação necessários foram

construídos tendo como referência os resultados da pesquisa bibliográfica

realizada e as orientações dos professores orientador e cooperante.

Da bibliografia alvo de pesquisa foi dado especial relevo o espectro de

estilos de ensino de Moston (1986) e mais concretamente ao estilo de ensino

por Descoberta Guiada. Este estilo tem como objetivo conduzir o aluno num

processo de descoberta, através de uma sequência de questões guia, quer

para o grupo, quer de forma individualizada. O professor questiona e controla o

ajustamento das questões.

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Com este trabalho de investigação foi possível concluir que o

posicionamento dos alunos e o tratamento da informação a transmitir são

importantes para que os momentos de instrução sejam otimizados.

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4.3.1.2. Revisão da Literatura

Delgado (1991) afirma que estilo de ensino é uma forma peculiar de

interação com os alunos e que se manifesta tanto nas ações proativas, durante

as ações interativas e nas decisões após a ação. Um estilo de ensino é

segundo Delgado, (1991) o modo ou a forma que se adota para as relações

entre os elementos que constituem o processo de ensino e como se manifesta

precisamente no desenho da instrução quer através da apresentação da

matéria por parte do professor ou como a forma de corrigir, de organizar a

turma e de se relacionar com os alunos.

Na procura do modo de instruir mais adequado e de suprimir as

necessidades sentidas com a turma neste momento da aula refleti acerca da

forma mais ajustada de transmitir aos alunos os conhecimentos, bem como

acerca do modo de transformar os saberes adquiridos na faculdade para que

os alunos percebessem e apreendessem a matéria. Devido a esta inquietação,

a minha pesquisa levou-me até ao espectro de estilos de ensino de Mosston

(1986).

Segundo Mosston (1986), os estilos de ensino baseiam-se na tomada de

decisões, relacionada com as fases de planeamento, atuação e controlo da

aprendizagem. É importante ressalvar que, na prática, muitos estilos de ensino

podem relacionar-se de forma simultânea, sendo difícil encontrar uma

aplicação integral de um dos estilos enfatizados no espectro.

De seguida irei apresentar resumidamente os estilos de ensino

prevalecentes no espectro de estilos de ensino de Mosston.

1. Estilo de ensino por Comando

O seu principal objetivo é que o aluno aprenda a habilidade motora com

rapidez e exatidão com base nas decisões, orientações e reorientações do

professor. Este determina o conteúdo, o local, a ordem das tarefas, o início e o

fim, o intervalo, descreve o exercício, demonstra e informa sobre a qualidade

da resposta (Gozzi, 1994). As situações de aprendizagemsão por ele

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determinadas quer na sua intensidade quer na sua duração. O aluno responde

imediatamente após o estímulo, replica, reproduz o que foi requisitado. A

comunicação é feita de forma global para toda a turma (verbal e visual através

da demonstação) e por consequência os critérios de êxito são identicos para

todos. O feedback é predominantemente corretivo. Este estilo é baseado na

reprodução. Todas as decisões são tomadas pelo professor, desde a fase do

pré-impacto, impacto e pós-impacto. A sua característica básica é o estímulo-

resposta. A relação entre professor e aluno encontra-se com um nível

altamente elevado de formalismo, negando o diálogo.

2. Estilo de ensino por Tarefa

O objetivo deste estilo é criar condições ao início do processo de

individualização. O professor encontra-se no centro do processo selecionando

os objetivos, as estratégias e determinando as formas de organização, mas

algumas decisões são passadas para os alunos, como os padrões de

desempenho (segundo o seu próprio ritmo). A avaliação é realizada de acordo

com os critérios adotados pelos próprios alunos. A comunicação é feita

diretamente do professor para o aluno (utilizando ou não a demonstação) e por

consequência os feedbacks proporcionados pelo professor são de forma

individualizada. Os critérios de êxito variam conforme a

homogeneidade/heterogeneidade da turma. As situações de aprendizagem são

definidas pelo professor, podendo ser mais do que uma simultâneamente e

organizadas por estações. O professor informa e acompanha individualmente a

atividade dos alunos (orienta). Os alunos diferenciam-se nas suas

necessidades motoras e ritmos de aprendizagem. A relação entre professor e

aluno ainda apresenta certo grau de formalismo.

3. Estilo de ensino Recíproco

Também conhecido como “ensinar o colega”. O objetivo deste estilo é

aumentar a taxa de feedbacks e iniciar as relações interindividuais. O aluno

trabalha com um parceiro na aquisição da nova habilidade: ora é executante,

ora é observador. Com bases nos critérios dados pelo professor o parceiro

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observa e orienta o seu colega durante a prática. O professor dirige as

orientações somente ao observador para não diminuir a responsabilidade deste

no processo e desta forma apenas corrige os feedbacks dados pelos alunos

observadores aos alunos executantes. O estilo recíproco diz respeito ao

trabalho em pares ou trios. As situações de aprendizagem são definidas pelo

professor e idênticas, pelo menos para cada grupo dedois alunos. A

comunicação explicita os elementos critérios de forma verbal e/ou escrita. O

exercício de feedback prevalencente eleva o domínio cognitivo da atividade do

aluno. Este estilo de ensino é uma excelente maneira de envolver toda a turma,

enfatizando as correções e promovendo a socialização. A relação entre

professor e aluno é ainda com certo grau de formalismo.

A fase de pré-impacto não é alterada, pois as decisões de organização

são da exclusividade do professor. Na fase de impacto a tarefa do professor é

estabelecer papéis aos alunos: executante e observador. Na fase de pós-

impacto quem fornece a retro-alimentação é o aluno observador.

4. Estilo de ensino por Autoavaliação

Este estilo pressupõe uma autorregulação durante as atividades. É

esperado que o aluno desenvolva uma consciência acerca do seu desempenho

para que possa realizar uma auto-avaliação baseada em critérios

específicosfornecidos pelo professor. O professor observa a atividade dos

alunos e interage com eles auxiliando-os na sua própria observação. As

situações de aprendizagem são definidas pelo professor de forma diferenciada

ou uniforme para toda a turma. Neste estilo, os critérios de êxito são um dado

determinante no controlo da atividade pelo próprio aluno. O aluno confronta-se

diretamente com as suas próprias capacidades e com a consciência de si

mesmo.

5. Estilo de ensino por Inclusão

O objetivo deste estilo é integrar todos os alunos. O professor define

situações de aprendizagem únicas para a turma, mas possibilita diferentes

níveis de consecusão. Desta forma, os critérios de exito são correspondentes

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aos níveis apresentados pelos alunos. O professor incita ao desempenho da

tarefa sem exigir um nível consecusão. A sua comunicação é feita de diferentes

formas para garantir a integração e aceitação de diferentes níveis de

capacidade na turma. O aluno executa, efetua a sua própria avaliação em

função dos critérios que estabelece para si próprio e propõe-se a níveis mais

elevados de desempenho. A aprendizagem é um processo eminentemente

pessoal.

6. Estilo de ensino por Descoberta Guiada

Este estilo tem como objetivo encaminhar o aluno num processo

individual de descoberta. As situações de aprendizagem são propostas pelo

professor através de uma sequência de questões guia, quer para o grupo, quer

de forma individualizada. O professor questiona e controla o ajustamento das

questões. Como tal, a sua comunicação é essencialmente verbal. Os critérios

de êxito explicitam as respostas que o professor antecipadamente valoriza. O

feedback é essencialmente de valor (reforço positivo). Uma questão que

coloque uma dificuldade ou uma dúvida cria a necessidade de procurar a

solução. A relação entre professor e aluno tem uma boa dose de informalismo,

possibilitando uma troca de informações.

7. Estilo de ensino por Descoberta Convergente

Os alunos são desafiados por meio do processo de descoberta a

solucionar corretamente a tarefa de movimento sugerida pelo professor. O

docente pode dar feedbacks e sugestões sem se aproximar da solução

adequada. No entanto deve estar aberto a várias soluções apresentadas pelos

alunos.

8. Estilo de Ensino por Descoberta Divergente

O objetivo deste estilo é envolver o aluno na descoberta e produção de

outras maneiras de responder às solicitações da tarefa. É necessário dar

tempo para os alunos questionarem, explorarem e projetarem soluções. As

situações são definidas pela sua específicidade pelas respostas encontradas

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pelos alunos. A comunicação é feita de forma verbal ou escrita. O professor

coloca problemas e promove a multiplicação das soluções para que o aluno

investigue e solucione de forma diferenciada. A procura dessas soluções em

grupo oferece grandes potencialidades de desenvolvimento das relações

interindividuais. O aluno toma consciência da sua capacidade para além do

conhecimento convencional.

9. Estilo de Ensino por Programa Individual

Este estilo baseia-se no principio do trabalho individualizado. As situações

de aprendizagem são definidas pelo aluno a partir da escolha dos problemas

selecionados entre o tema sugerido pelo professor, ou seja, o professor define

o tema geral e auxilia o aluno na organização dos conteúdos. O aluno propõe-

se à análise e solução de um problema escolhido a partir de uma atividade

proposta pelo Professor. A forma de comunicação é essencialmente verbal.

Este trabalha num ritmo próprio desenvolvendo o senso de responsabilidade e

iniciativa, aprendendo a avaliar-se. A adoção deste estilo permite atender aos

alunos que necessitam de cuidados especiais. A relação entre professor e

aluno é bastante informal.

10. Estilo de ensino por Resolução de Problemas

Este estilo baseia-se no príncipio que aprender é resolver problemas. O

aluno é colocado verdadeiramente no centro do processo educativo passando

a ser elemento ativo, formulando problemas e procurando respostas para as

inquietações formuladas durante a aula. A estratégia parte de uma situação

apresentada pelo professor e/ou aluno, que aguce a curiosidade dos

educandos. Com base nesta situação, são definidos os objetivos e formulados

operacionalmente. A seguir é elaborada uma situação problema cuja situação

implicará precisamente na procura expressa no objetivo. A relação entre

professor e aluno é informal.

“Do Estilo de Ensino por Comando (1) ao Estilo de Ensino Inclusão (5)”

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Os estilos de ensino incluídos nesta faixa do espectro pressupõem, em

maior ou menor grau, um processo ensino-aprendizagem baseado na

transmissão, na fixação e na reprodução dos conhecimentos e habilidades

planeados. Os conhecimentos e os parâmetros das habilidades objetivadas são

definidos e apresentados pelo professor de “forma estritamente acabada”.

Cabe aos alunos reproduzir os modelos explicados e/ou demonstrados pelo

professor de forma direta ou por meio de outros recursos de ensino.

“O Estilo de Ensino por Descoberta Guiada (6) e o Estilo de Ensino por

Descoberta Convergente (7)”

Estes estilos representam os limiares que separam os estilos de ensino (1

a 5), marcadamente identificados com a memorização e a reprodução de

conhecimentos/habilidades planeados, e os estilos de ensino (8 a 10)

estimuladores da produção criativa dos estudantes.

“Do Estilo de Ensino Produção Divergente (8) ao Estilo de Ensino por

Resolução de Problemas (10)”

Os estilos de ensino incluídos nesta faixa do espectro pressupõe uma

perspectiva de produção de “novos” conhecimentos e habilidades e

contemplam processos de raciocínio mais complexos. Estes estilos centram-se

mais no aluno e baseiam-se no primado de que processo de aprendizagem não

é menos importante que o produto dessa mesma aprendizagem.

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4.3.1.3. Metodologia

Caraterização da amostra

A amostra era composta por 27 alunos, 12 do sexo feminino e 15 do sexo

masculino com idades compreendidas entre os 14 e os 17 anos. Os mesmos

frequentavam o 10º ano do ensino secundário (Curso Científico-Humanístico

de Ciências e Tecnologias) da Escola Secundária Alberto Sampaio de Braga.

Procedimento

Este projeto passou por quatro fases. Uma primeira de

observação/identificação do problema; uma segunda fase de análise do

problema e definição de um protocolo de intervenção; uma terceira de

aplicação desse protocolo; e, uma última fase para avaliar ou reavaliar o

processo.

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4.3.1.4. Protocolos de intervenção e Resultados

Em todos os momentos de instrução é necessário chamar à atenção dos

alunos, quer para manterem uma postura adequada quer para se manterem

concentrados àquilo que é transmitido. “Durante a aula senti que a minha

instrução à turma não estava a ser ouvida” (Reflexão da aula nº 9 e 10).

Inicialmente, existia a obrigatoriedade dos alunos permanecerem

sentados no chão nos momentos de instrução, enquanto o professor mantinha-

se em pé. Aqui, não só os alunos se distraíam facilmente, mas também se

deitavam no chão. Frequentemente era necessário repetir aquilo que havia sido

dito, visivelmente porque os alunos não estiveram atentos. Nesse sentido

existiu uma tentativa para resolver imediatamente o problema. Conjuntamente

com os alunos, através de reflexão e negociação, chegámos à conclusão que

eles preferiam permanecer em pé nestes momentos. Ao fim de algumas aulas

verificámos que a situação se mantinha.

Esta situação foi apresentada ao núcleo de estágio e do debate que

surgiu gostaríamos de destacar uma frase do professor cooperante que

despertou a nossa atenção: “… mais importante do que sancionar é ver e

perceber porque é que aquilo aconteceu” (Apontamentos das reuniões

semanais e conversas, 1º período). Neste sentido, começámos a tentar

perceber porque é que a estratégia anterior não tinha surtido efeito. Assim,

chegámos às seguintes conclusões: enquanto na primeira estratégia era

gritante a distância e a diferença de altura entre o emissor e o recetor, na

segunda os alunos eram colocados numa posição que não era muito

confortável. Tendo em conta as causas referidas passámos a colocar os alunos

sentados em bancos suecos. Desta forma, estávamos a eliminar as causas

encontradas para o problema. Com este posicionamento não é possível que os

alunos se coloquem uns à frente dos outros, uma vez que permaneciam

alinhados. “Alterei o meu posicionamento durante a conversa inicial e os

períodos de instrução durante a aula. Sentei os alunos em dois bancos suecos

para que não ficassem mal sentados nem escondidos uns atrás dos outros. Eu

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posicionei-me em pé à frente deles” (Reflexão da aula nº 67 e 68). De facto,

verificámos que existiu uma melhoria na postura dos alunos e na redução das

persistentes conversas. “Nas últimas duas aulas senti uma preocupação dos

alunos em mudar a sua atitude, nomeadamente no período inicial da aula. (…)

Acredito que a mudança de posicionamento dos intervenientes da aula ajudou

nesta evolução…” (Reflexão da aula nº 69 e 70).

Apesar de termos conseguido uma pequena evolução, ainda era

necessário repetir (ainda que de forma menos frequente) a informação

transmitida em cada instrução. Esse problema não estava diretamente ligado

com a instrução do professor, mas sim na predisposição dos alunos para

receberem as informações necessárias à aula e na forma como entendem essa

informação. Uma vez o problema exposto, era com especial atenção que os

elementos observadores de cada aula olhavam para estas situações. Esta era

um opinião que gerava consenso dentro do núcleo de estágio.

Era então necessário partir para uma nova estratégia para solucionar o

problema. Assente na revisão bibliográfica, decidimos alterar a forma como a

instrução era feita. Sem esquecer os resultados conseguidos na estratégia

anterior, agora a melhor opção seria tornar os momentos de instrução mais

dinâmicos. Mais concretamente, a nossa intenção era envolver o aluno nestes

momentos, em vez de o professor ser o único a falar dizendo tudo aquilo que

tinha planeado anteriormente. Com base nas questões guia sugeridas pela

Descoberta Guiada, o nosso objetivo era sempre que possível colocar os

alunos a pensar sobre os conteúdos e a procurar soluções para os problemas

colocados. Como referimos na revisão da literatura, a dificuldade ou a dúvida

cria a necessidade de procurar a solução.

Segundo Pereira (2011) o questionamento é uma técnica para manter o

aluno atento à tarefa e ao que a mesma envolve. Esta podia ser então, a

solução que procurávamos para os momentos de instrução durante a aula.

Além disso, através do uso do questionamento podemos perceber se o aluno

domina os aspetos motores e cognitivos em simultâneo. O professor de

Educação Física, ao colocar questões que envolvam estes domínios, pode

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promover conhecimento, compreensão ou até a aplicação do mesmo logo na

tarefa (Metzler, 1999).

De forma a operacionalizar este estilo torna-se pertinente perceber que

tipo de enquadramento as questões guia devem ter. De várias utilidades, esta

técnica permite “verificar o grau de conhecimento que os alunos têm da

informação transmitida, desenvolver a capacidade de reflexão, solicitar

apreciação, realizar o controlo de aspetos organizativos, aumentar a frequência

de interações entre o professor e o aluno, melhorar a motivação e o clima, a

instrução, a gestão e a disciplina nos diversos contextos educativos” (Mesquita,

2009).

A estratégia utilizada permitiu-nos corrigir o problema identificado

anteriormente, pelo que deixou de ser necessário repetir a informação com a

frequência anteriormente verificada devido à falta de concentração dos alunos.

A diminuição destas situações não coincidiu com nenhum fator externo paralelo

a esta investigação pelo que acreditamos que a solução para o problema teve

uma forte contribuição da estratégia utilizada. De facto, os alunos passaram a

intervir com mais frequência nestes momentos, pelo que a comunicação deixou

de ser unidirecional. Conforme Pereira (2011) refere, o questionamento é uma

técnica para manter o aluno atento à tarefa e ao que a mesma envolve e assim

os alunos assumem um papel ativo nestes momentos.

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4.3.1.5. Conclusão

Face à discussão dos resultados anteriormente apresentada, facilmente

se deduz que os alunos progrediram nos momentos em que eram recetores de

informação. A aplicação das estratégias revelou melhorias significativas quer

na postura dos alunos quer na forma como a instrução era dada. É

principalmente, neste último, ao nível da instrução, que considero ter havido

maiores ganhos, porque apesar de não nos ter sido identificado qualquer

lacuna na qualidade da instrução, esta não era apresentada de forma a que os

alunos se sentissem interessados pela informação a transmitir. Sem dúvida que

foi uma a aprendizagem marcante neste domínio.

A aplicação de diferentes estratégias ao longo das aulas, como por

exemplo, a alteração do posicionamento dos alunos e a modificação na forma

como a instrução era realizada permitiu que os momentos de instrução se

tornassem mais enriquecedores para todos os intervenientes e as aulas

decorressem com maior fluidez. Deste modo, menciono que as estratégias

utilizadas resultantes da discussão dentro do núcleo de estágio e pesquisa

bibliográfica de onde surgiram os estilos de Mosston (1986) foram fulcrais para

a obtenção dos resultados pretendidos.

Acresce ainda que a aplicação da última estratégia (questionamento) teve

uma forte influência nos ganhos da aprendizagem inerentes, uma vez que se

criou uma dinâmica muito mais interativa com os alunos, apelando à

capacidade de expressão e verbalização dos comportamentos que eram

solicitados. Potencializou-se a consciencialização das tarefas que eram

solicitadas no sentido em que se tornou mais fácil fazer com que os alunos

refletissem acerca das tarefas que desempenham na aula.

Posto isto, importa referir que a implementação do questionamento

permitiu alterar o paradigma das nossas aulas, através dos fundamentos da

Descoberta Guiada propostos por Mosston (1986), contribuindo para que a

nossa forma de atuação saísse beneficiada. Esta experiência foi muito benéfica

para a minha formação, na medida em que reconheci as vantagens da

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implementação de estratégias diversificadas para a evolução do meu

desempenho em todo o processo ensino aprendizagem.

Ao longo da execução deste estudo, surgiram algumas dificuldades,

nomeadamente sair de um registo de instrução unidirecional e estar preparado

para as respostas dos alunos. Agir em função da resposta dos alunos revelou-

se um verdadeiro teste aos meus conhecimentos e até que ponto estava bem

preparado para cada aula. A colocação de questões não foi uma tarefa fácil e

muito menos conseguida com a profundidade pretendida, mas ainda assim

bastante satisfatória para um ano recheado de novidades.

Em suma, e fazendo uma análise global, podemos afirmar que foram

encontradas estratégias com vista a solucionar as dificuldades sentidas nos

momentos de instrução, bem como uma forma de enriquecimento da nossa

forma de atuação. No entanto fica em aberto o caminho para futuras

investigações de outros investigadores, visto que as conclusões apresentadas

apenas dizem respeito à amostra em estudo, não podendo ser consideradas

representativas da população.

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101

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5. Conclusão e Ambições para o Futuro

Após o término do ano letivo correspondente ao EP, é com agrado que

confirmo que esta experiência se revelou muito gratificante, contribuindo

amplamente para a minha formação enquanto professor. Depois de percorrer

toda a experiência que o EP me ofereceu, identifico-o como a etapa mais rica e

importante de toda a minha formação inicial.

Para mim, o EP foi um longo caminho percorrido, cheio de obstáculos e

frustrações, mas ainda assim com prazer. Como tal, foi um ano carregado de

dificuldades, com obstáculos mais ou menos difíceis de ultrapassar, mas com

empenho, determinação e entusiasmo tudo se tornou mais fácil na superação

dos problemas. É um momento único que ficará sempre na minha memória,

como um ano repleto de aprendizagens, de experiências, de emoções

arrepiantes e de vivências únicas e inesquecíveis.

Com o passar do tempo, dei por mim a ultrapassar os desafios que iam

surgindo, melhorando aos poucos em tudo aquilo que dependia de mim. A

ansiedade e inquietação iniciais foram transformadas na segurança com que

realizava cada ação.

Neste 2º ciclo de estudos, mas mais concretamente no EP, levo inúmeras

ferramentas fundamentais não só para o exercício da docência, mas também

da vida. O ato reflexivo, a realização de ações com intencionalidade e a

responsabilidade do título de mestre ao qual me candidato são de facto um

grande incremento àquilo que sou enquanto pessoa.

É certo que este ano não foi um processo solitário, resultante da

aquisição de conhecimentos ou experiências, sendo assim importante destacar

a importância do NE neste percurso. A dinâmica do meu NE, no decorrer de

todas as tarefas do estágio, permitiu que este EP fosse uma experiência

enriquecedora e, especialmente, motivante. A interação, baseada no diálogo e

na partilha de conhecimentos e experiências, de preocupações, o

companheirismo, o ambiente de entreajuda, a sinceridade e a união que

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demonstrávamos, foram sem dúvida os fatores chave para o sentimento de

proteção.

Neste documento procurei reproduzir tudo o que é inerente ao EP,

contudo existiram vivências, mistura de emoções e sentimentos que se tornam

difíceis de transcrever devido à sua intensidade.

Por conseguinte, esta etapa final é apenas o início de outra etapa maior,

pois um professor nunca pára de aprender. Além disso, será também uma

aprendizagem a nível pessoal porque a minha maior experiência é ser

estudante e deste modo a partir de agora será o momento de encontrar novas

rotinas e novas formas de viver o dia a dia. Os meses de setembro e junho

nunca mais serão vividos da mesma forma.

Está quase, o momento é vivido com enorme nostalgia porque estou

perto de concretizar um dos meus objetivos de vida. Para mim não foram dois,

mas sim dezassete anos. Dezassete anos a trabalhar para um objetivo, e é

com orgulho que sinto que fui capaz de chegar até aqui!

Não sei como será o meu futuro, mas sei o que quero e encontrarei forças

para lá chegar. O meu destino é o sucesso.

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