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O Direito no Brasil: Nascimento da Tradição Jurídica Brasileira Universidade Veiga de Almeida Curso: Direito Disciplina: História do Direito

Aula 8 - O Direito No Brasil

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  • O Direito no Brasil: Nascimento da Tradio Jurdica BrasileiraUniversidade Veiga de AlmeidaCurso: DireitoDisciplina: Histria do Direito

  • A tradio jurdica portuguesa e o Brasil colonialOrdenaes Filipinas 1603Obra do rei Felipe II da Espanha, na poca da Unio Ibrica1580-1640 unio dinstica Portugal e EspanhaSimples atualizao das Ordenaes Manuelinas e Afonsinas1643: Portugal confirma sua vigncia aps o rompimento com a EspanhaJ se mostravam antiquadas no incio do XVIIIncompletude diante das novas e numerosas situaes jurdicasAtraso em relao s mudanas causadas pelos iluministas e pela burguesia em ascenso

  • Tais ordenaes fixavam o uso do direito romano para resolver eventuais lacunas e o direito cannico para solucionar questes consideradas pecado.Adequaes que permitiram a longevidade da aplicao das Ordenaes FilipinasLei da Boa Razo 1769Editada pelo Marqus de PombalUm dos marcos do despotismo esclarecido portugusBuscava impor novos critrios de interpretao e integrao das lacunas na leiReprimir o uso vulgarizado do direito romano; substituir por disposies encontradas nas prprias Ordenaes, nos usos do reino ou nas leis ptrias.

  • O Brasil independente e a formao do Direito nacionalIndependncia do Brasil 1822Monarquia Constitucional com traos autoritrios (poder Moderador)O novo governo imperial estabeleceu que as Ordenaes Filipinas continuariam em vigorAssim como as leis, regimentos, alvars, decretos e resolues promulgadas pelos reis de Portugal at 25 de abril de 1821.O rompimento com a velha legislao portuguesa ocorreu de modo lento, gradual e persistente.1824 Primeira Constituio do ImprioArt. 179: necessidade de se organizar, quanto antes, um cdigo civil e um criminal, fundado em slidas bases de Justia e Equidade.

  • 1830: promulgado o cdigo criminal1850: promulgado o cdigo comercialO cdigo civil ficou pronto apenas em 1916, no sculo XX, j sob a vigncia da Repblica.Ou seja, a legislao civil, de um modo geral, ficou ancorada nas Ordenaes Filipinas at a promulgao deste cdigo.Fato que atesta uma continuidade em relao tradio jurdica portuguesa herdada dos tempos coloniais. Ressalva: a Lei da Boa Razo (1769) promoveu certa atualizao na antiga legislao portuguesa.

  • O novo Estado brasiliero passou a buscar, pela primeira vez, a regulamentao de uma legislao autctone, sobretudo no mbito das relaes privadasSeparao da tradio jurdica portuguesa- a partir de 1822, Portugal sofreu forte influncia do pensamento liberal e do cdigo civil napolenico de 1804.- o Brasil continuaria por um bom tempo a aplicar a antiga legislao colonial, sem grandes rupturas, adaptando-a s tradies especficas dos brasileiros, cultura jurdica em formao e aos interesses econmicos das elites agrrias brasileiras.Exemplo: permanncia da escravido implantada no perodo colonial.

  • () renitncia de estruturas arcaicas nas prprias instituies poltico-jurdicas, que se somaram, a cada passo das transformaes institucionais brasileiras, com uma forma muito peculiar de adaptao dos princpios liberais advindos sobretudo da Frana e dos Estados Unidos, sempre adequados aos interesses das elites.

    FONSECA, Ricardo M., p. 66

  • Monarquia Constitucional & escravidoLimites da cidadaniaEscravido & liberdades individuaisInspirao da Constituio Francesa de 1791 perodo revolucionrio Marcas da tradio jurdica imperial brasileira:Flexibilidade convenienteAdaptabilidade oportunaPrevaleceram os interesses escravocratas

  • 1850: primeira tentativa de codificao civil no BrasilAugusto Teixeira de Freitas jurista escolhido pelo governo imperialRazes do fracasso:- tentativa de promover a unificao do direito privado para resolver o labirinto legislativo existente (manipulao por parte das elites agrrias)- contrrio ao estabelecimento de uma disciplina jurdica para a escravidoFiel aos princpios liberaisMesmo sem concluir a obra, seu Esboo do cdigo civil foi inspirao para cdificaes oitocentistas na Amrica Latina.Por sua sistematicidade e organizao, serviu como guia da legislao civil brasileira.Referncia quase obrigatria a ser seguida pelos tribunais e juristas do Brasil.A mera sistematizao da legislao existente promoveu a permanncia de um direito antigo, conservador.

  • Cultura jurdica brasileira e codificaoFatores que explicam a adoo tardia da codificao da legislao civilAusncia de uma cultura jurdica aps a IndependnciaAusncia, no perodo colonial, do estabelecimento de universidadesNo Brasil, s foi permitido escolas superiores a partir de 1808At ento, os filhos das elites brasileiras se formavam no exteriorCursos jurdicos no Brasil:- 1827: Olinda/Recife e So Paulo

  • Cultura jurdica brasileira Primeira metade do XIX: filhos das elites se formavam na Universidade de Coimbra; aps a dcada de 1830: formados nos cursos de direito em Recife e So Paulo.Escola do Recife: Tobias Barreto, Silvio Romero e Clvis Bevilqua (autor do projeto do cdigo de 1916); orientao cultural alem.

    Segunda metade do XIX: influncia da cultura jurdica alem, mais acentuada do que a francesaSobre a influncia alem ver: A influncia do Cdigo Civil alemo de 1900, por Otvio Luiz Rodrigues Junior (advogado da Unio, professor de Direito Civil da USP, doutor em Direito Civil). Site: www.conjur.com.brFora do mbito jurdico a influncia da cultura francesa mostrou-se predominante no Brasil.

  • A opo pela codificao passava mais pela necessidade das elites proclamarem princpios jurdicos modernos, ou ento para demarcar os limites jurdicos do exerccio do direito de propriedade.

    Inexistncia no Brasil de um verdadeiro padro de cidadania ausncia de uma relao de identificao entre as garantias jurdicas e o atendimento das necessidades do povo.

  • Oposio das elites agrrias brasileiras ideia de um sistema jurdico coerente, harmnico e plenamente inspirado nos ideiais liberais que nortearam as revolues burguesas.No Brasil: liberalismo adaptado estrutura autoritria e escravista; eficiente nas questes da defesa de propriedade.Escravo = propriedade; ideia que antecedia o princpio de igualdade e liberdade.

    Dificuldade do Estado em atuar na esfera privada patriarcalismo, escravismo, defesa da propriedade.

  • () na estrutura social agrria, maciamente rural, predominantemente analfabeta, patriarcal e com significativa presena escrava, no se pode supor que a maior parte dos conflitos viessem a ser resolvidos pela legislao oficial do Imprio. Evidentemente que h inmeros casos de demandas judiciais populares fundamentadas na legislao oficial e veiculadas perante os rgos judicantes estatais (inclusive de escravos) ao longo de todo esse perodo. Mas a presena de um grande pluralismo jurdico, onde se fazem sentir as presenas preponderantes da ordem local, familiar, religiosa etc., em detrimento de um direito estatal que ao povo parecia distante e alheio, no pode ser absolutamente desprezado.

    FONSECA, Ricardo M. p. 72.

  • A escravido e a LeiA ideia de mudana lenta e gradualManuteno dos interesses escravocratasProcesso abolicionista entendido como concesses do Estado, culminando com a doao da liberdade pelo Estado, representado pela princesa Isabel.

    O processo abolicionista se deu pela participao, em diversos nveis e esferas, das camadas populares e da prpria populao escrava.

  • O Iluminismo do sculo XVIII: Todos os seres humanos nascem iguais e so portadores de direitos naturais;as desigualdades so criadas pelo prprio ser humano no processo de formao social.

    Os interesses econmicos: A escravido para acmulo de capital no servia mais.

    Argumentos dos escravocratas: O fim da escravido levaria o Brasil falncia;surgimento de conflitos sociais incalculveis.

  • Primeiras medidas abolicionistas no mundo1772 O julgamento do escravo fugitivo Somersett, abre precedente para que a Justia britnica no mais apie a escravido.

    1794 Primeiro pas a proibir a escravido, o Haiti tem sua legislao abolicionista revogada por Napoleo em 1802.1804: Independncia do Haiti e abolio definitiva influncia da Revoluo Francesa

    1807 O Parlamento britnico aprova o Abolition Act, que proibia o trfico de escravos na Inglaterra.

    1823 aprovada a lei que probe a escravido no Chile.

  • 1829 Durante o governo de Vicente Guerrero, decretada a abolio da escravatura no Mxico.

    1833 sancionada no Parlamento a extino da escravatura, que estendida a todo o Imprio britnico.

    1845 Slave Trade Suppression Act (Bill Aberdeen). Lei britnica que proibia o comrcio de escravos entre a frica e a Amrica.lei que autorizava os ingleses a aprisionar qualquer navio suspeito de transportar escravos no oceano atlntico.

    1848 Em 1794, a conveno republicana francesa votou pela abolio nas suas colnias, mas somente em 1848 os escravos so emancipados.

  • 1854 decretado o fim da escravido na Venezuela e no Peru.

    1865 Com o fim da Guerra de Secesso nos Estados Unidos (1861-1865), o presidente Lincoln declara extinta a escravido em todo o territrio norte-americano.

    1869 Portugal torna ilegal a escravido, mas j havia decretado a liberdade dos escravos em seus territrios desde 1854.

    1874 Os escravos so emancipados na Costa do Ouro (atual Gana) aps a conquista do reino de Axante pelos ingleses.

    1886 O trfico foi oficialmente extinto em Cuba, que passou a receber mo-de-obra chinesa para trabalhar no plantio de cana-de-acar.

  • Medidas abolicionistas no Brasil1810 Tratado de Aliana e Amizade entre Portugal e Inglaterra - estabelece a abolio gradual da escravido e delimita as possesses portuguesas na frica como as nicas que poderiam continuar o trfico.

    1823 Jos Bonifcio, na Assemblia Constituinte, apresenta uma representao sobre a abolio da escravatura e a emancipao gradual dos escravos.

    1826 A Inglaterra impe ao governo brasileiro o compromisso de decretar a abolio do trfico em trs anos.

  • 1880 Joaquim Nabuco (deputado de Pernambuco) apresenta Cmara um projeto de lei propondo a abolio da escravido com indenizao at 1890.

    Fundao da Sociedade Brasileira contra a Escravido e de seu jornal, O Abolicionista.

    1883 Publicao de O Abolicionismo, de Joaquim NabucoCriao da Confederao Abolicionista / panfleto de Andr Rebouas, Abolio imediata e sem indenizao.

    1887 Fundado por Jos do Patrocnio o jornal abolicionista Cidade do Rio.

  • As Leis1831 Lei Feij. probe o trfico e considera livres todos os africanos introduzidos no Brasil a partir desta data. A lei foi ignorada e chamada popularmente de lei para ingls ver.

    1850 Lei Eusbio de Queirz. Probe o comrcio de escravos para o Brasil.

    1854 Lei Nabuco de Arajo. Previa sanes para as autoridades que encobrissem o contrabando de escravos.

    1871 Lei do Ventre Livre. Concede liberdade aos filhos de escravos nascidos a partir dessa data, mas os mantm sob a tutela dos seus senhores at atingirem a idade de 21 anos.

  • Aspectos negativos da lei

    O senhor era tutor at os 8 anos, e poderia ficar com o filho da escrava at os 21 anos. Aspectos positivos da leiA Criao de um fundo estatal de emancipao para a compra da liberdade de escravos

    Interveno do Estado na vida privada.O que antes era atribudo generosidade dos senhores passou a ser um direito garantido pelo EstadoNOVAES, Carlos Eduardo & LOBO, Csar. Histria do Brasil para principiantes de Cabral a Cardoso, 500 anos de novela. So Paulo: tica. p.187).

  • 1884 Extino da escravido no Cear.

    1885 Lei dos Sexagenrios (Saraiva-Cotegipe), que concede liberdade aos escravos com mais de 60 anos.

    1888 Lei urea. Extinguiu definitivamente a escravido no Brasil.

  • Os escravos: Revoltas nas fazendasFugas coletivasFormao de quilombos abolicionistasDenncia de maus tratosManifestaes pblicas contra a escravido

  • Parlamentares, intelectuais, jornalistas, profissionais liberais, setores mdios, militares, trabalhadores pobres, imigrantes, ex-escravos e escravos.-Frente ampla contra a escravido, bastante heterognea;surgimento de jornais exaltados. Ex: O homem de cor, O Brasileiro Pardo e O Mulato

    O crescimento da presso nos tribunais: A atuao do Estado contra a escravido, refletindo as presses das ruas-Nas ltimas dcadas da escravido, a esfera jurdica tornou-se, mais do que nunca, uma arena de luta pela liberdade unindo escravos e abolicionistas.

  • Art. 1. declarada extinta desde a data desta lei a escravido no Brasil.

    Art. 2. Revogam-se as disposies em contrrio. Manda portanto a todas as autoridades que o conhecimento e execuo da referida lei pertencer que a cumpram e faam cumprir e guardar to inteiramente como nela se contem.

    Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1888, 67 da Independncia e do Imprio.

  • Comemoraes durante o ms de maio de 1888, evidenciam a amplitude que adquiriu a luta pela abolio naquele momento.

  • Referncias bibliogrficas

    FONSECA, Ricardo M. A cultura jurdica brasileira e a questo da codificao civil no sculo XIX. 2. Congresso Brasileiro de Histria do Direito, UFF, 2004/2005. Professor e pesquisador (CNPq) do curso de Direito da Universidade Federal do Paran.JUNIOR, Otavio Luiz Rodrigues. A influncia do Cdigo Civil alemo de 1900. (partes 1 a 4). In: Consultor Jurdico. Site: www.conjur.com.brAdvogado da Unio, professor de Direito Civil da USP, doutor em Direito Civil.CASTRO, Flvia Lages de. Histria do Direito Geral e do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2011.