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DIREITO PENAL II Aulas do 2º Semestre A Teoria Geral da Infracção As várias escolas de pensamento, neo-clássica, finalística, e outras, tiveram uma grande importância na definição e análise do crime típico, ilícito, culposo e punível acabando, cada uma delas, a assumir uma opção interpretativa, nomeadamente, quanto ao conceito de acção. A função sistemática do conceito de acção é a articulação entre os elementos do conceito de crime e, simultaneamente, a especificação destes . No âmbito dos significados, procura-se aquilo que os crimes têm de comum entre si. Daqui se retira a conveniência em ter um conceito geral de crime. O que os une é a responsabilidade criminal, i.e., o que permite aplicar de igual maneira ao crime é a responsabilidade. Isto foi, na verdade, não um pressuposto mas uma conquista e uma evolução do desenvolvimento sistemático. Na opinião da Professora Regente, foi levado até ao ponto do exagero, pois os conceitos emanados provinham, não de uma verdadeira necessidade penal, mas de uma necessidade da técnica de conceptualização do crime. Esse movimento assumiu a função de unificação da diversidade, o comum. O Conceito de Acção Hans Welzel (1904-1977) com quem a Professora Regente concorda defendia que a base do conceito geral de crime residia no conceito de acção. Com isto cumpre averiguar qual o quid a qualificar o significado comunicativo da acção humana. Quem preconizou as teorias causalistas, defendia um conceito minimalista e limitador da acção, relevando para efeitos de responsabilidade a tipicidade e a ilicitude, e portanto aquilo a que se pode chamar de parte objectiva do conceito aquilo que é proibido. Crítica : Esvazia o conceito de culpa. Já pelas teorias finalísticas, foi formulado um conceito extenso de acção, o que lhe dava, mais que uma conotação subjectiva, um conteúdo. O conceito de acção tem uma certa substância e uma forte função sistemática, que radia para a tipicidade, ilicitude e culpa o desvalor da acção ou do resultado. Estas teorias apresentaram a seguinte solução para proibir acções desvalorativas devem ser proibidas apenas aquelas acções finais (que compreendem a vontade e a controlabilidade), pois não se pode proibir o que é acidental assente, para a Professora Regente, no critério da previsibilidade. Para si, não faz sentido uma responsabilidade objectiva para efeitos de prevenção geral, pois esta apenas releva para efeitos de reparação posterior. Isto porque para existir responsabilidade objectiva, é necessário que haja alguma coisa provida de um certo significado que permita controlar pela vontade aquilo que é proibido, além de que existem outros critérios na odem jurídica para a fixação da responsabilidade pessoal. O Professor Figueiredo Dias resume a função do conceito de acção à sua função limitativa enquanto para a Professora Regente a função primordial é a sistemática mediante uma construção teleológico-funcional e racional do conceito de facto punível. Defende ainda que a acção para efeitos jurídico-penais é a acção típica, fixada pelo legislador. Este autor recusa a função basilar do conceito de acção porque considera-a uma pré-valoração de situações que se justificam pelo tipo. A Professora Regente tem reservas, pois o Direito não pode proibir decisões, modos de vida, e os comportamentos (comunicativos e objectivos) com

Aulas Direito Penal II

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  • DIREITO PENAL II

    Aulas do 2 Semestre

    A Teoria Geral da Infraco

    As vrias escolas de pensamento, neo-clssica, finalstica, e outras, tiveram uma

    grande importncia na definio e anlise do crime tpico, ilcito, culposo e punvel

    acabando, cada uma delas, a assumir uma opo interpretativa, nomeadamente, quanto ao

    conceito de aco. A funo sistemtica do conceito de aco a articulao entre os

    elementos do conceito de crime e, simultaneamente, a especificao destes. No mbito dos

    significados, procura-se aquilo que os crimes tm de comum entre si. Daqui se retira a

    convenincia em ter um conceito geral de crime. O que os une a responsabilidade criminal,

    i.e., o que permite aplicar de igual maneira ao crime a responsabilidade. Isto foi, na verdade,

    no um pressuposto mas uma conquista e uma evoluo do desenvolvimento sistemtico. Na

    opinio da Professora Regente, foi levado at ao ponto do exagero, pois os conceitos

    emanados provinham, no de uma verdadeira necessidade penal, mas de uma necessidade da

    tcnica de conceptualizao do crime. Esse movimento assumiu a funo de unificao da

    diversidade, o comum.

    O Conceito de Aco

    Hans Welzel (1904-1977) com quem a Professora Regente concorda defendia que a

    base do conceito geral de crime residia no conceito de aco. Com isto cumpre averiguar qual

    o quid a qualificar o significado comunicativo da aco humana. Quem preconizou as teorias

    causalistas, defendia um conceito minimalista e limitador da aco, relevando para efeitos de

    responsabilidade a tipicidade e a ilicitude, e portanto aquilo a que se pode chamar de parte

    objectiva do conceito aquilo que proibido. Crtica: Esvazia o conceito de culpa. J pelas

    teorias finalsticas, foi formulado um conceito extenso de aco, o que lhe dava, mais que uma

    conotao subjectiva, um contedo. O conceito de aco tem uma certa substncia e uma

    forte funo sistemtica, que radia para a tipicidade, ilicitude e culpa o desvalor da aco ou

    do resultado. Estas teorias apresentaram a seguinte soluo para proibir aces

    desvalorativas devem ser proibidas apenas aquelas aces finais (que compreendem a vontade

    e a controlabilidade), pois no se pode proibir o que acidental assente, para a Professora

    Regente, no critrio da previsibilidade. Para si, no faz sentido uma responsabilidade objectiva

    para efeitos de preveno geral, pois esta apenas releva para efeitos de reparao posterior.

    Isto porque para existir responsabilidade objectiva, necessrio que haja alguma coisa provida

    de um certo significado que permita controlar pela vontade aquilo que proibido, alm de que

    existem outros critrios na odem jurdica para a fixao da responsabilidade pessoal.

    O Professor Figueiredo Dias resume a funo do conceito de aco sua funo

    limitativa enquanto para a Professora Regente a funo primordial a sistemtica

    mediante uma construo teleolgico-funcional e racional do conceito de facto punvel.

    Defende ainda que a aco para efeitos jurdico-penais a aco tpica, fixada pelo legislador.

    Este autor recusa a funo basilar do conceito de aco porque considera-a uma pr-valorao

    de situaes que se justificam pelo tipo. A Professora Regente tem reservas, pois o Direito no

    pode proibir decises, modos de vida, e os comportamentos (comunicativos e objectivos) com

  • os outros. A realidade (com liberdade e segurana) pode no ser ontolgica no mundo dos

    factos, mas indispensvel que o seja no mundo das significaes.

    A aco tem trs funes dentro da funo primordial de sistematizao: a funo de

    classificao; a funo de delimitao; e a funo de ligao. Os vrios degraus na definio

    geral de crime funcionam como filtros. Para saber se um facto criminoso, importa, antes de

    mais averiguar se o facto jurdico-penalmente relevante, ou seja, se o facto uma aco, ou

    uma omisso equiparada. S depois averigua-se se o facto tpico, depois ilcito, de seguida

    culposo, e s ento se punvel. O pensamento nunca lesa um bem jurdico, motivo pelo qual

    no penalmente relevante. Ainda, devido proteco da dignidade humana num E.D.D., os

    actos praticados sob coao fsica ficam tambm de fora daqueles penalmente relevantes,

    pelo facto de a pessoa no poder ter agido de outra maneira. No releva a coao moral para

    efeitos de excluso do mbito do conceito de aco. Por fim, tambm os automatismos e os

    actos reflexos no relevam.

    Quanto aos automatismos, diz o Professor Figueiredo Dias que no h comportamento

    penalmente relevante pois no h o mnimo de voluntariedade. Assim no para Roxin, que

    considera uma aco a manifestao da personalidade do agente. Assim j no seria, para este

    ltimo autor, quanto os actos reflexos, pois so actos sem influncia psquica. Para a

    Professora Regente, no existe o elemento psicolgico, mas to s a leitura que se pode fazer

    do comportamento da outra pessoa. Ora, as respostas a estmulos imprevisveis no podero

    ser lidos como condutas voluntrias. Nos casos de incapacidade acidental (alcoolismo) a

    maioria da doutrina no exclui do conceito de aco voluntria. J se, por exemplo, uma

    pessoa alcoolizada receber um empurro e por isso derrubar outra pessoa, enquanto para

    Roxin esse comportamento continua a ter relevncia jurdico-penal, para outros no. Quanto

    aos casos de sonambulismo, tanto a Professora Regente como Roxin defendem que no haver

    uma aco jurdico-penalmente relevante. J no que toca quelas situaes de hipnose,

    enquanto a Professora Regente coloca-os na esfera de excluso da aco, Roxin atribui-lhe

    relevncia pois existir uma barreira do carcter nos actos praticados sob hipnose que

    justificam a atribuio de responsabilidade aos agentes.

    Coloca-se a questo de saber se a omisso uma aco. A Professora Regente defende

    que no, pois o conceito de sociedade passaria a ser diferente daquele que temos. Embora o

    Cdigo Penal parea fazer esta equiparao no artigo 10, atribuindo-lhe o mesmo quid da

    aco a que se acrescentam as outras valoraes (tipicidade, ilicitude, etc.), o nmero 2 do

    mesmo preceito limita o mbito omisso relevante e o nmero 3 determina a atenuao da

    sua pena, quando aplicvel. Isto explica-se pelo Estado de Direito Democrtico, que pretende

    ser garante da liberdade da pessoa e da sua auto-limitao. As figuras distinguem-se pois

    enquanto a aco constitui uma intromisso activa, na omisso o agente deixa de preservar a

    esfera de outro, mas nem por isso se intromete na mesma.

    [FIGUEIREDO DIAS] O elemento que constitui o ilcito-tpico do crime omissivo a aco

    positiva omitida e juridicamente imposta, devida ou esperada. O critrio decisivo do ilcito

    juridicamente fundado e s por isso tambm socialmente relevante. Logo, a aco esperada s

    o atravs de uma imposio jurdica de aco que nasce do tipo.

  • Para saber se se deve equiparar a omisso aco se o quid do primeiro equiparar-se

    ao do segundo. Tem duas expresses, causal controlo pela vontade de uma consequncia e

    de si mesmo o significado pessoal. Embora a omisso, intuitivamente, seja normalmente tida

    pelo no fazer nada, pode, na verdade, ser muitas vezes uma aco a omisso pelo fazer.

    Ex.: Ter de tomar conta e, em vez disso, ir embora. Embora a omisso tenha o quid da aco

    nas duas expresses anteriores, s simbolicamente ou por analogia pode equiparar-se ao

    processo causal da aco, i.e., o emprego de energias numa certa direco. Isto porque, como

    dizia Kauffman, o fazer nada nunca pode ser causal pois nada faz nada. Para a delimitao

    entre a aco e a omisso, tenha-se o exemplo de um condutor que no para ao sinal

    vermelho se acelera, h uma aco, mas se simplesmente continua, h uma inrcia. Nesta

    ltima opo, no h uma pura passividade, o agente parece omitir. Para a Professora

    Regente, a distino no tem sentido, equivalente o comportamento nas duas situaes, j

    que o agente invade a esfera jurdica do peo em ambos os cenrios extravasando a esfera

    jurdica prpria. Nos casos em que no se faz a distino, no aplicvel o nmero 1 do artigo

    10.

    [ROXIN] No 1 grupo de casos de omisso por fazer, a omisso nunca ser causal, s a

    aco poder ser causa de um facto jurdico. No 2 grupo de casos do dever de agir, tal como

    se tem uma actio liberere causa, em que algum se embriaga de propsito para cometer o

    crime em estado de inimputabilidade, tem-se tambm a omissio liberere causa, pela qual

    algum embriaga-se de propsito para no conseguir agir num estado de inimputabilidade.

    Para haver omisso, tem de existir um dever de agir, pelo qual pende sobre o agente a

    imposio de fazer algo para impedir certo resultado. Ora, pela mesma linha de raciocnio,

    existe pela mesma via uma proibio do agente colocar-se numa estado ou situao em que

    no consiga agir. No 3 grupo de casos, pende sobre algum um dever de agir, e embora o

    agente tenha comeado por cumprir, interrompe o processo causal. O mbito da omisso por

    fazer vai at onde o salvamento interferir numa esfera alheia, i.e., at a vtima conseguir

    salvar-se sozinha. At l, tudo o que fizer quem tem uma posio de garante, equiparado

    aco e crime. O critrio de Roxin muito influenciado pelas suas ideias de poltica criminal.

    Por delimitaes casusticas, uma coisa impedir o socorro alheio (aco), naqueles casos de

    ingerncia em que o agente impede um terceiro de auxiliar, em que conduz esforos para que

    o terceiro fique impedido de auxiliar, o que um crime comissivo. O que pretende com essa

    actuao no releva para efeitos de punibilidade; outra o no colaborar no salvamento

    (omisso). Roxin defende que, por exemplo, o desligar da mquina por um mdico uma

    omisso por fazer, dado o sentido social do comportamento. A Professora Regente discorda.

    [JAKOBS] Desenvolveu a teoria da condio mnima de juridicidade, que se traduz no dever

    mnimo negativo de no lesar os outros. Nisto consiste a relao negativa entre os membros

    da comunidade. Este dever tem, porm, um fundamento positivo, pelo qua a distino entre

    omisso e aco perde parte da sua importncia, pois o que importa se houve a violao do

    dever negativo. A responsabilidade penal cabe a quem tenha a competncia para organizar a

    prpria liberdade. A posio de garante tem por fonte a assuno de deveres de proteco,

    ainda no mbito do dever negativo, no pela assuno por si mesma, mas na medida em que

    signifique a diminuio do mbito de proteco do bem jurdico. A ingerncia refere-se aos

    deveres especiais. J os deveres positivos pertencem a quem para tal tenha estatuto. Ex.: A

    comunidade tem, em relao s crianas, um dever negativo de no lhes fazer mal, mas, se

  • forem pais, tm tambm um dever positivo, no por assuno, mas porque lhes foi confiado,

    pela prpria comunidade em geral, que confia na instituio da famlia. A responsabilizao de

    um terceiro no seria feita por ter um dever positivo, pois no tem estatuto, mas porque

    violou o seu dever negativo. O Professor Assistente considera ser esta a grande fragilidade do

    pensamento deste autor.

    Existindo uma posio de garante, o omitente punido, resolve-se o problema, no

    pelo regime da omisso, mas ao nvel da culpa. A no haver, no o ser. O problema radica na

    lgica do sistema, no princpio da liberdade, e na responsabilidade. So fontes das posies de

    garante a lei e o contrato, devido ao princpio da legalidade e segurana e previsibilidade. O

    fundamento da posio de garante no vem da formalidade do contrato (pode ser um apoio,

    mas no determinante), mas da materialidade do mesmo. Ex.: Quando por via de um

    contrato, uma pessoa constitui-se em responsabilidade ao assumir um dever. Colocam-se, a

    este nvel, problemas quanto aos casos-limite, quando, por exemplo, ainda no existia

    contrato. Outras fontes surgiram pois as duas tradicionais no resolviam muitos problemas. O

    desenvolvimento da doutrina no sentido das posies de garante deu-se no domnio das

    fontes de perigo, que do a incumbncia de proteco. Este um ponto de vista que leva a um

    enorme alargamento do mbito da omisso. Ex.: Uma situao de comunho de vida pontual

    dos excursistas, em relao ao companheiro de quarto, atribui um dever de vigilncia na

    aflio ou em situaes anlogas. Crtica: A Professora Regente diverge neste ponto do

    desenvolvimento da doutrina, acusando-a de no ter ncora num princpio jurdico (de

    responsabilidade, igualdade, ou o que seja), nem numa ideia jurdica fixa. Aceita, em geral, as

    diversas posies sobre a matria, mas defende no poder existir uma auto-vinculao

    implcita a menos que visvel.

    Dentro daqueles casos em que as posies de garante advm da lei, tem-se as relaes

    familiares. No existe um dever jurdico completamente delineado, antes deveres de

    assistncia, auxlio, de alimentos, etc. O Tribunal da Relao de Alcobaa j decidiu pela

    existncia de, mais que um dever jurdico, um dever moral proveniente das relaes familiares

    como fonte legal de posio de garante. A Professora Regente reserva srias dvidas quanto a

    esta soluo. Ainda no mbito da lei, tm-se como fonte de posio de garante o dever de

    vigilncia.

    Uma outra fonte de posio de garante , para o Professor Figueiredo Dias, o

    monoplio acidental, i.e., a responsabilidade pelo bem jurdico alheio quando uma pessoa

    encontra outra em situao de necessidade de auxlio, que se converte em posio de garante.

    Corresponde relao momentnea, de facilidade ou perigo iminente. O artigo 200 quando

    se refere a perigo iminente, refere-se ao bem jurdico vida. Para apurar a facilidade, deve

    observar-se a desproporo entre o esforo mnimo e o bem jurdico em causa, alm de que

    no represente para o agente nenhum dano ou perigo.

    Ainda, os casos de ingerncia so fonte semi-formal de posies de garante.

    Latamente, quando por se ter feito algo, passa-se a estar obrigado a evitar as consequncias. O

    artigo 200, no seu nmero 1, refere-se ingerncia como agravante da pena pelo crime. Para

    o Professor Figueiredo Dias, esta uma norma subsidiria, ou seja, supe-se que haja outro

    tipo de responsabilidade. Quando o agente tenha ingerido na esfera jurdica alheia e no tenha

  • podido agir de acordo com o dever moral, continuar a haver ingerncia e esta ser uma

    agravante, o que no impede, para este autor, que hajam outras situaes em que a

    ingerncia fonte de posio de garante. O fundamento ser que no pode haver uma tal

    liberdade de aco que uma pessoa no possa ser compensada por quem interferiu na sua

    esfera de aco. O critrio de igualdade num Estado de Direito Democrtico no pode ser

    assim concebido.

    Importa ainda a distino de Roxin entre a omisso pura e impura. A omisso pura

    reside na pura no realizao, e a ela que se referem os artigos 200 e 284. A omisso

    impura compreende o dever de evitar o resultado, e s para estas importam as posies de

    garante.

    Para o Professor Figueiredo Dias, a fonte de posio de garante a relao fctica,

    independentemente da norma substantiva, que a proximidade e dependncia de uma

    criana em relao aos pais ou a confiana entre cnjuges. tratada no mbito do ilcito, no

    da tipicidade. Divide as posies de garante em dois grandes grupos. Para si, influenciado pelo

    existencialismo, a ideia geral a da solidariedade. Grupo 1 Guarda e proteco de um bem

    jurdico: 1.1. Relao de proteco familiar e relaes anlogas; 1.2. Relaes fcticas;

    1.3.Relaes de comunidade e de perigo (um membro pode contar com outro membro, ter

    confiana). Grupo 2 Fonte de perigo pelo qual responsvel. Ainda, para este autor, os casos

    de ingerncia tm como critrio a criao de um risco proibido, e a ingerncia s ser funo

    da posio de garante mediante alguns requisitos. Se o agente provocou ilicitamente um

    perigo, tem o dever de zelar para que este no se concretize no resultado. este perigo

    proibido que permite a imputao objectiva. Se a actuao do agente foi lcita, a ingerncia

    no posio de garante a menos que haja estado de necessidade.

    Para o Professor Taipa de Carvalho, fonte de posio de garante a ingerncia ilcita

    ou quando a actuao no seja nem lcita, nem ilcita.

    No havendo posio de garante, no se aplicam os artigos 10 e 131 conjuntamente.

    Havendo, nunca se aplica o artigo 200. Ainda assim, poder aplicar-se os artigos 284 e 285

    se tiver havido dolo do agente.

    A Imputao Objectiva

    A causalidade, que evoluiu para a imputao objectiva, insere-se no mbito da

    tipicidade. A primeira era um problema lgico ou emprico, consoante os casos. A segunda, a

    imputao de factos ao agente, mediante critrios normativos. A questo surgiu a propsito

    dos crimes de resultado, mas no se cingiu a isso, pois hoje estende-se a todos os tipos de

    crime.

    Evoluo Histrica: (1) Teoria da condio sine quod non: Para aferir a causalidade,

    suspende-se a aco e pergunta-se se sem essa aco, o resultado se verificava na mesma.

    Preconiza a ligao lgica dos acontecimentos. Crtica: Do ponto de vista da atribuio do facto

    ao agente, peca por excesso, pois no considera as situaes de interrupo do nexo de

  • causalidade e de causalidade virtual1, e porque seria exagerado que, por exemplo, A

    arranhando B e vindo este a morrer por ser hemoflico, fosse responsabilizado por essa morte.

    Peca ainda por defeito pois esquece-se da omisso, j que sem ela, o resultado seria o mesmo.

    (2) Reformulao da 1 Teoria: A causalidade seria estabelecida por um juzo emprico e quase

    pericial, de modo que o problema seria quase processual. Primeiro averiguava-se,

    naturalisticamente, se algo seria causa de outra coisa, e depois realizava-se uma aferio

    cientfica das causas possveis. Preconiza a ligao emprica dos acontecimentos. Crtica: No

    existem certezas por via cientfica de que algo foi causa de outra coisa2. Os juzos de

    probabilidade tm de ser elevados para superar o in dbia pro reu.

    (3) Teoria da causalidade adequada: No causal aquilo que, suprido, impede todo e

    qualquer resultado, mas aquelas aces que previsivelmente causariam certo resultado. Isto

    a imputabilidade objectiva por critrios normativos, que preconiza a ligao normativa entre

    acontecimentos. Crtica 1: Um conjunto de autores veio a defender, mediante estudos

    empricos, a partir da anlise das situaes de jurados norte-americanos, que predominam

    juzos de prognose, feitos a partir de conceitos cognitivos retrospectivo. Isto quer dizer que,

    como hoje temos toda a informao, tendemos a considerar que, como certa situao

    ocorreu, a mesma era previsvel. Crtica 2: Os autores finalistas de novo levantaram a questo

    do exemplo do homem hemoflico, cuja morte era, para o agente, imprevisvel. Encontram

    tambm uma confuso teleolgica entre os elementos objectivo e subjectivo, logo, deveria

    resolver-se o problema pelo dolo. Resposta crtica 1: legtimo caracterizar o matar como

    uma aco subjectiva, i.e., se quem mata conhece certos elementos que os outros no

    conhecem, deve haver uma leitura subjectiva, e por isso o uso do conhecimento como critrio

    para selecionar segmentos, o que objectivo. Resposta crtica 2: possvel caracterizar o

    dolo sem elementos subjectivos, pois no preciso que o agente diga o que fez para se saber

    que houve, por exemplo, dolo directo. Ex.: A oferece um pacote de viagens ao seu Tio B pois

    sabe que aquela companhia sofre acidentes vrias vezes, e ele est interessado na fortuna

    deixada em herana do seu Tio B. Para Roxin, esta soluo precisa do abandono das teorias da

    causalidade. Antes uma imputao mediante juzos jurdico-normativos, ainda que impliquem

    a verificao das causas.

    (4) Teoria do risco: necessrio distinguir a imputao da causalidade, pois poder haver um

    sem existir o outro. Em 1940, Honing defendia que o Direito serve para orientar os

    comportamentos humanos, que estes seriam motivveis por normas. O que seria relevante na

    atribuio do facto ao agente era o acontecimento jurdico ser previsvel, e este ter a

    capacidade de domnio ou controlo sobre o processo causal. S em 1970 esta ideia viria a ser

    recuperada, nomeadamente por Roxin. A criao do risco, o agravamento ou a no atenuao

    (omisso), fundamento suficiente, sem o resultado ter de ser (4.1) a concretizao do risco

    criado pelo agente e (4.2) a violao de uma norma jurdica. Isto pode servir para todo o tipo

    de crime, em especial, para os crimes de resultado. Esta teoria herda um bocadinho de cada

    uma das teorias anteriores. Sofreu posteriormente o desenvolvimento de Frisch, que a

    associou a dois elementos pr-identificados pela doutrina o juzo pericial (o desvalor da

    1 Quando, suprimindo a aco do agente, o resultado verificava-se na mesma por outra causa que no

    essa aco.

    2 Alis, pelo princpio de incerteza de Heisenberg.

  • aco) e o desvalor do resultado sendo que, para cada caso, teria apenas de subsistir o

    elemento do desvalor da aco. Haveria desvalor da aco, mas j no haveria crime de

    resultado, se, por exemplo, a vtima no morreu do risco criado pelo agente, pelo que a

    punio seria pela tentativa. No havendo sequer desvalor da aco, o facto no era

    susceptvel de punibilidade. Ficava, assim, indissoluvelmente o desvalor da aco ligado ao

    conceito material de crime. Restava apenas colocar a questo de saber se o risco perigoso.

    Para esta teoria, a imputao objectiva matria de tipicidade, elemento do conceito de

    crime e da descrio normativa, fazendo a comparao entre esta e o facto, mediante um juzo

    de ilicitude. Para a teoria do risco, a questo no a causalidade. Importa se o comportamento

    alm do risco permitido era proibido, i.e., se o aumento do risco violou a norma. Crtica: As

    situaes de causalidade restringem estes critrios.

    (5) Teorias moderadas Teoria da condictio: O nexo causal assenta na resposta questo O

    resultado verificar-se-ia ou no? em que ainda releva a causalidade. A exigncia de prova ser

    decorrente do princpio da legalidade.

    A Professora Regente considera que a teoria do risco, a concretizao do risco num

    resultado, tem o papel de delimitao da causalidade. Perante um comportamento licto

    alternativo, existe uma grande incerteza para a imputao objectiva, j que a norma jurdica

    no consegue evitar o resultado. Para Roxin, quando o perigo podia ter sido evitado, h

    imputao objectiva. No ser assim para o Professor Figueiredo Dias, para a Professora

    Regente e para outros. Outro tipo de casos insere-se no princpio da confiana, que levanta um

    especial problema em saber se na concretizao do risco houve causas cumulativas, pois

    perante uma situao de comportamentos imputveis conjuntos, que produzem um resultado,

    necessrio saber se pode haver uma responsabilizao individual. Uma resposta naturalstica

    causal dir que existe uma condio sine quod non, e que portanto depende daquilo que se

    esteja a analisar.

    [NOTAS sobre o afastamento da imputao objectiva] Afasta-se a imputao objectiva quando

    a vtima estiver esclarecida e consciente dos riscos que est a fazer-se correr; Quando o agente

    aumente o risco, mas no de tal maneira que pudesse continuar a sustentar a imputao

    objectiva entre a causa de um acidente e o resultado, afasta-se a imputao objectiva porque

    o resultado foge aos riscos proibidos pelas normas.

    A Imputao Subjectiva

    O nmero 1 do artigo 16, de excluso do dolo, comporta dois elementos, descritivos

    de facto e normativos de direito, particularizados pela doutrina, que dependem de uma

    valorao jurdica paralela emprica. O Cdigo Penal s se refere aos elementos normativos e

    s condies de Direito. necessrio que o agente represente todos os elementos de crime, de

    forma actualizada ter o conhecimento, e t-lo no momento do crime ainda que no de

    forma reflectida (no necessria a reflexo para preencher o tipo de crime. Para o Professor

    Figueiredo Dias, nas situaes do nmero 1, o dolo no chega sequer a formar-se. Nestes

    casos, o agente ignora o elemento essencial do facto tpico, mas pode represent-lo com

    inteno, concretizado na figura da tentativa impossvel, que consiste num erro de suposio,

    regulado no artigo 23/3 do C.P. Para no haver dolo, basta que o agente no represente

    todos os elementos necessrios, pois o artigo 16 assenta sobre o pressuposto de que o

  • agente tem de saber todos os elementos para poder orientar a sua actuao. Existem dois

    erros preconizados no artigo 16/1. O primeiro para o Professor Figueiredo Dias um erro

    intelectual. Para a Professora Regente um erro do conhecimento interpretativo, no

    valorativo. O segundo erro sobre a existncia de crime: sobre a sua valorao, proibio ou

    ilicitude. Nos casos de violao, por exemplo, a conduta de tal modo axiologicamente

    relevante que o agente no precisa de conhecer a proibio, basta que saiba o que est a

    fazer. A ilicitude a valorao ulterior que pondera se o facto tido como tpico viola a ordem

    jurdica, i.e., se h uma efectiva coliso. J a tipicidade a verificao no caso concreto do

    facto previsto na norma. O artigo 17 refere-se queles erros de subsuno. Incide sobre

    aquelas condutas axiologicamente pouco relevantes. No exclui o dolo, mas a culpa.

    Ex. 1: O caador A quer matar a pessoa B, mas dispara, com erro, sobre uma lebre.

    Ex. 2: A, vizinho de B, quer matar o seu co, por ladrar toda a noite. Assim, dispara para dentro

    da casota deste, pois presume que seja o co que l est, mas afinal era uma criana, vindo,

    por isso mat-la. Aqui tem-se tanto o erro do artigo 16/1 como o do artigo 23/3. H, por isso,

    um concurso ideal (o concurso ideal s fectivo quando ambos os crimes tiverem sido

    efectivamente cometidos).

    Ex. 3: A quer matar B, mas convencido que C B, dispara sobre ele. Aqui existe um erro sobre

    a identidade do objecto. No cabe esta situao no artigo 16/1 o objecto tipicamente

    idntico (hiptese 1) o agente punido na mesma por homicdio, e no por concurso ideal,

    pois basta que este queira, e represente, a morte de uma pessoa; (hiptese 2) A Professora

    Regente pensa que nestes casos, o agente deve ser punido por concurso, pois h duas pessoas

    em risco, perante as quais, quanto a uma tem dolo e quanto outra tem negligncia. Existem

    duas aces, uma finalisticamente orientada (a tentativa) mas que no se concretiza (aco

    negligente). Subhiptese: Numa lgica de causas de justificao, A querendo matar B e se este,

    para se defender, dispara, mas sem querer acerta em C, haveria quanto a B, em relao a A, a

    justificao da legtima defesa, e portanto uma tentativa com causa de justificao, mas em

    relao a C, j ser crime por homicdio consumado negligente, pois os actos de legtima

    defesa s valem quanto ao agressor. No entanto, tendo o dolo sido motivado pela legtima

    defesa, o problema ter de resolver-se mediante concurso ideal. O agente no ser punido

    pela tentativa pois quanto a essa tem uma causa de justificao, mas pelo homicdio

    negligente. Nos casos em que haja causa de justificao, dizer que existiu erro sobre a

    identidade do objecto levanta problemas do ponto de vista da soluo, por isso ser melhor

    dizer que houve erro sobre os motivos.

    Ex. 4: A quer matar B, mas sem querer acerta em C que estava ao lado de B. Aqui h um erro

    de execuo, no cognitivo porque o agente representa a realidade. Subhiptese: Sendo B

    uma pessoa, mas C um co, a maioria da doutrina acorda pela punibilidade do agente em

    concurso ideal efectivo entre tentativa de homicdio e crime de dano negligente. Neste caso, a

    Professora Regente defende que o agente dever ser punido pela tentativa.

    Ex. 5: A quer matar B, e para tanto faz um bolo envenenado, enviando-o por CTT a B. O

    carteiro engana-se e entrega o bolo a C. Tambm aqui existe um erro sobre a identidade do

    objecto. Propor como soluo a punio do agente por um nico crime doloso traz algumas

    dificuldades, embora, para a Professora Regente, seja esta a soluo correcta. Existem trs

    hipteses possveis de soluo: (1) H tentativa em relao a um e negligncia em relao ao

    outro; (2) H tentativa em relao a um e dolo eventual em relao ao outro; (3) H tentativa

    em relao a um e homicdio consumado em relao a outro. Certos processos causais so

  • punidos porque h um leque de situaes que o agente deve prever, i.e., o agente no

    controla todos os passos do processo causal, por isso deve contar com os vrios cenrios

    possveis. Os desvios no imprevisveis so irrelevantes para efeitos de dolo. Crtica: O dolo

    no previsibilidade, uma previso efectiva, no releva uma imputao subjectiva, mas

    objectiva. O agente representa uma realidade e um processo causal, mas ele conhece a

    alternatividade dos processos causais, por isso dever ser punido pelo crime doloso. Roxin

    defende que, se o agente tem a inteno dolosa, mas h um incidente no processo causal, o

    dolo no se altera. O Professor Figueiredo Dias defende que se o agente se arrepende ainda na

    fase da tentativa, mas o resultado vier a produzir-se, tal j no do plano do agente. O

    Professor Assistente considera esta soluo obstrusa.

    Ex. 6: A lana B ao rio para que este morra afogado, mas B acaba por morrer devido a um

    embate da cabea contra uma pedra. Existe aqui um erro sobre o processo causal. Este um

    erro irrelevante apenas para aqueles crimes ditos de forma livre. Subhiptese: A pedra estava

    envenenada. A no pode ser punido qualificadamente por envenenamento, pois essa uma

    qualificao do meio.

    Quando o objecto efectivamente atingido muito prximo ao objecto pretendido,

    coloca-se a questo de saber se est em causa o dolo eventual ou dolo alternativo. O agente

    quer matar ou aquela ou uma outra pessoa, ou at preferencialmente uma delas, mas se

    acabar por matar a outra, para o agente um resultado que tambm serve. Isto o dolo

    alternativo. Na opinio da Professora Regente, o agente deve ser punido pela tentativa dolosa

    de homicdio e por homicdio consumado, embora em Portugal esta seja uma soluo

    controversa. A sua opinio isolada. No sistema alemo, h um concurso ideal para estas

    situaes, sendo que o agente ser punido pelo crime mais grave dos dois que cometeu. O

    Professor Duarte de Almeida prope que se aplique as regras do crime continuado pelo crime

    mais grave, mas coloca-se a questo de saber se tal no violar o princpio da culpa. Para a

    Professora Helena Mouro, existe um s dolo com um objecto alternativo. Para o Professor

    Figueiredo Dias, o agente s dever ser punido pelo crime que efectivamente cometeu. Isto

    levanta muitos problemas, pois numa situao em que A queira matar ou o cavalo ou o

    cavaleiro, e por acaso apenas acerte no cavalo, isso significa que, de acordo com esta tese, s

    ser punido pelo crime de dano. Traria um benefcio inexplicvel para o agente, mas a

    fundamentao baseia-se na suposio que, sendo assim, o agente vai sentir-se motivado para

    no consumar o crime mais grave, pois ir ser por esse punido. O concurso , para este autor,

    aparente (moldura penal). Para o Professor Silva Dias, nesta situao o agente dever ser

    punido por tentativa de homicdio.

    Notas muito importantes: No existem tentativas negligentes. Todas as tentativas so

    dolosas. O erro diz respeito ao elemento intelectual do dolo, no ao elemento volitivo.

    O nmero 2 do artigo 16 no exclui o dolo, aqui no do tipo mas da culpa! (Difere

    aqui do direito de necessidade, artigo 34.) O facto persiste como ilcito, podendo subsistir a

    negligncia se o agente considerava existir certo pressuposto de facto que no se reflectiu na

    realidade. Havendo negligncia, o agente no deve ser punido como doloso, mas como

    culposo. Esta a teoria da culpa moderada.

  • O nmero 3 do artigo 16 determina a punio por negligncia quando sejam

    preenchidos os dois pressupostos de (1) estar prevista a punio da forma negligente e (2)

    poder-se afirmar que houve violao de um dever jurdico de cuidado.

    O dolo sempre dolo do tipo de crime, e compreende tanto o conhecimento como a

    vontade da realizao de um tipo. Tem subjacente o princpio da congruncia entre o

    elemento de tipo objectivo e o de tipo subjectivo. Quando o desconhecimento seja doloso, e

    esteja presente o elemento cognitivo, existe um crime especfico prprio. Na imputao

    subjectiva, os elementos cognitivo e volitivo so cumulativos. Atenta nos casos de conscincia

    concomitante, em que o agente no precisa de estar a pensar que tem o conhecimento no

    preciso momento do crime para que seja punido, pelo seu estatuto, por exemplo, de

    funcionrio (isto releva, por exemplo, para crimes de corrupo passiva, artigo 373 C.P.). O

    Professor Figueiredo Dias considera esta especial relevncia da conduta para quem trabalha na

    rea uma injustia.

    Na distino entre dolo eventual e negligncia consciente, a teoria da probabilidade

    no aceite pela Professora Regente pois estar-se-ia a atribuir uma posio subjectiva ao

    agente atravs de um mero juzo normativo. Aceita antes a teoria da aceitao, que o

    Professor Figueiredo Dias considera estar demasiado ligada ideia do resultado desejado ou

    indesejado. Existem outros elementos subjectivos alm do dolo, como sejam os crimes

    putativos, mas que no so punidos em nenhuma ordem jurdica. O dolo geral (dolo generale)

    compreende um dolo anterior que no releva para determinar o dolo da conduta, e um dolo

    posterior que sim. Existe um momento em que, por exemplo, o agente pensa que no est a

    matar a vtima, mas na verdade est, e um segundo momento em quepensa que est, mas no

    est porque a vtima morreu no primeiro momento. Para estas situaes releva saber aquilo

    que tentativa e aquilo eu so actos preparatrios.

    Nos casos de interrupo do processo causal, embora havendo imputao objectiva,

    antigamente resolvia-se o problema atribuindo ao agente a posio de erro sobre o processo

    causal. Hoje exclui-se a imputao subjectiva.

    No havendo imputao subjectiva, mas existindo imputao subjectiva, pune-se o

    agente pela tentativa. Para haver dolo, basta que haja desvalor da aco, mas para haver

    negligncia tem de haver tanto desvalor da aco como do resultado! Pois se no houer

    desvalor da aco mas to-s do resultado, o agente no punido, pois o nosso sistema penal

    no um sistema do risco nem das consequncias, mas do facto.

    As Causas de Justificao

    Evoluo histrica da figura da legtima defesa: (1) Ideia cannica; (2) ideia liberal; (3)

    ideia germnica, pela qual existiria um investimento na autoridade pblica para a defesa da

    ordem (segurana). A ideia germnica influenciou muito o sistema portugus. A Professora

    Regente defende a subsidiariedade da figura, pois existe uma necessidade de defesa por si

    mesma, do meio escolhido alternativo menos grave. Tanto para Jakobs como para o Professor

    Figueiredo Dias, existe uma ideia preventiva na figura da legtima defesa, associada a esta ideia

    de defesa, e a ideia de que a ordem tem um valor em si mesma.

  • A Professora Regente considera que a ordem num Estado de Direito Democrtico no

    alheia aos direitos, bens jurdicos, etc. O valor da ordem o valor de uma ordem jurdica de

    bens fundamentais. A simples agresso no torna o valor da ordem superior ao valor dos

    direitos. H um conjunto destes que no podem ser limitados por agresses. No pode o

    Direito fazer juzos de proporcionalidade. A legtima defesa ilimitada quando atinja o ncleo

    de direitos fundamentais da vtima, isto o princpio da insuportabilidade da no defesa, em

    casos at de bens no pessoais, mas ligados a valores essenciais. Quando trate bens no

    pessoais, e fora do ncleo essencial da vtima, a legtima defesa dever no ser

    desproporcional. Quando se protege um determinado bem, no pode haver uma

    desproporcionalidade em relao ao bem lesado, no s em termos quantitativos, mas

    tambm qualitativos.

    As causas de justificao podem ser avaliadas pelos seus pressupostos condies de

    existncia da causa de justificao - e pelos seus requisitos. O critrio a necessidade do meio

    empregado (requisito) para repelir a agresso actual e ilcita (pressuposto). A distino entre o

    pressuposto e o requisito importante para as consequncias, pois diferente quando no

    existe pressuposto ou quando violado o requisito. A Professora Regente preconiza uma

    soluo igual para todas as causas de justificao.

    O nmero 1 do artigo 33 refere-se aos casos de intensificao do meio empregue, o

    excesso da causa de justificao, em que um dos requisitos ultrapassado e a no h causa

    de justificao. o no havia necessidade. O nmero 2 do mesmo preceito elenca as

    modalidades do excesso. O excesso pode ser extensivo (artigo 33 por analogia, o Professor

    Figueiredo Dias discorda com esta soluo) ou intensivo (artigo 33). Se o excesso tiver sido

    motivo por uma situao astnica, i.e., por medo, perturbao ou susto, atenua-se ou exclui-

    se a culpa. Os casos histricos (ira, clera, etc.) no excluem a culpa. Quando haja

    simultaneamente erro e excesso, ie., o agente acha que existe o pressuposto quando na

    verdade no existe, e ultrapassa o requisito da necessidade. Ex.: Algum dispara mal v um

    bbado a gesticular e a vir na sua direco, desarmado. Ora esta pessoa no pode ser mais

    beneficiada que quem s cometeu excesso, logo, s analogicamente ser tratada como esta

    ltima. Na legtima defesa putativa, o agente est em erro de suposio do estado das coisas

    (artigo 16/2), h o elemento subjectivo o agente representa o tipo mas no h o elemento

    objectivo.

    Ateno! No se pode dizer no teste que se exclui o dolo e depois dizer que a pena

    atenuada!

    A Professora Regente faz a ressalva de, quando a vtima no saiba que est a defender-

    se legitimamente (pois pretendia cometer um crime), dever aplicar-se analogicamente, in

    bonum parte, o nmero 4 do artigo 38.

    (NO PERCEBO SE SE REFERE AOS CASOS EM QUE H ERRO, EXCESSO OU AMBOS! ) Teorias

    sobre as causas de justificao: (1) Teorias do dolo: as causas de justificao so elementos

    negativos do tipo; (2) Teoria da culpa estrita: exclui-se a culpa, mas no essa a soluo do

    artigo 16/2 pois o preceito exclui apenas o dolo; (3) Teoria da culpa limitada: Se bem que em

    termos puros as causas de justificao no excluem o dolo, esta excluso -lhes concedida por

    analogia, pois o agente no pode ser julgado com dolo pela sua vontade estar virada para um

  • tipo permitido pela ordem jurdica. Os Professores Taipa de Carvalho e Augusto Silva Dias

    defendem que o artigo 16/2 exclui as solues das duas primeiras teorias. O Professor

    Figueiredo Dias pensa que nos casos de culpa putativa, o agente no consegue orientar o seu

    sentido de licitude porque est em erro. Por isto, exclui-se o dolo. Juntamente cm a Professora

    Regente, defendem que a segunda teoria tem razo quando diz que o agente representou o

    tipo, com conhecimento e vontade, o que no exclui o dolo do tipo, mas o dolo da culpa,

    mantendo-se a possibilidade de puni-lo por negligncia, j que a conduta continua a ser ilcita

    e dolosa.

    A aco directa do artigo 336 do Cdigo Civil no causa de justificao no Cdigo

    Penal, mas vale como se fosse devido subsidiariedade do Direito Penal.

    O regime do excesso consome o regime do erro quando estejam ambos presentes

    numa situao, se o excesso no provm do erro, mas vai alm dele. A Professora Regente tem

    uma posio isolada quanto a este ponto, pois defende que num caso de aplicao do artigo

    33 por analogia, ainda se aplica, ou ainda se pode aplicar, o artigo 16/3.

    Existe a soluo do nmero 4 do artigo 38 porque se algum tenta praticar um crime

    e no consegue, h desvalor da aco, mas no do resultado. Os Professores Figueiredo Dias e

    Regente defendem a aplicao analgica deste preceito para as causas de justificao, mas s

    far sentido punir pela tentativa quando esta esteja prevista, artigo 23/2. O restante corpo do

    preceito precisa que o interesse seja livremente disponvel e que no ofenda os bons costumes

    (o que no significa haver moralidade). A vida um bem indisponvel. J a integridade fsica

    um bem disponvel. O bem jurdico lesado, mas o Direito d preferncia vontade do titular

    do bem jurdico protegido. O consentimento pode estar viciado por erro sobre os motivos, o

    que afasta a eficcia desse consentimento. Para Roxin, tambm no relevar o consentimento

    que esteja em erro sobre a finalidade altrusta do facto. Se algum est em erro por achar que

    tem o consentimento e afinal no tem, uma situao que no cabe no artigo 16/2, pois o

    erro no do agente, mas de quem o deu. O fundamento para esta ser uma causa de

    justificao , para os Professores Figueiredo Dias e Roxin, o ter de haver consentimento para

    justificar a conduta, e por isso -lhe dada eficcia. Pode haver consentimento presumido, mas

    caso no corresponda realidade, cabe no tipo de crime contra a liberdade. O acordo exclui o

    tipo, diferente do consentimento.

    Os pressupostos da legtima defesa provm, para o Professor Figueiredo Dias, da

    necessidade de defesa. Para outros, implica limitaes tico-sociais.

    Quanto legtima defesa provocada, (hiptese 1, Professor Assistente) a vtima no

    pode alegar essa causa de justificao pois a provocao uma actuao ilcita (ainda que civil)

    e premeditada. (Hiptese 2, Weiser e Ichek) Quando a agresso provocada seja grave, o

    Direito no pode permitir que a vtima se veja numa situao estilo beco sem sada. (Hiptese

    3, Roxin) O que os autores anteriores afirmam no verdade. Tal s ser assim se a resposta

    da pessoa provocada for muito superior expectada por quem provocou. Deve poder

    beneficiar da legtima defesa com certas restries. Nomeadamente, quando haja um curto

    espao de tempo entre a provocao e a agresso, a vtima deve suportar leves leses e

    recorrer s autoridades antes de usar um meio mais gravoso.

  • O direito de necessidade tem fundamento numa ideia de solidariedade entre os

    membros da comunidade, de utilidade social, de defesa de interesses superiores.

    Para existir um perigo actual nos termos do direito de necessidade, este tem de ser

    duradouro e de previso certa. O interesse juridicamente protegido tem de ser prprio ou de

    terceiro. As trs alneas do artigo 34 so cumulativas! A nica excepo alnea a) do

    preceito, em que se exclui o direito de necessidade, aquela situao em que algum lesa, ou

    cria perigo premeditadamente, bens prprios com o intuito de lesar interesses de terceiro.

    Para classificar um interesse jurdico como superior, o valor do bem jurdico em abstracto s

    um dos factores a ter em conta, no determinante. O bem jurdico vida nunca pode ser

    preterido a favor de outro interesse, este o princpio da imponderabilidade, qualitativa ou

    quantitativa, do bem vida.

    Para o Professor Figueiredo Dias, nunca poder haver justificao para matar algum

    com vista salvao de outros, pois o agente estaria a escolher quem vive e quem morre. J se

    o sacrifcio de uma vida estava condenada, um terceiro pode simplesmente acelerar o

    processo de morte para proteger outra (exemplo dos alpinistas). J Roxin no aceita esta

    soluo em nenhum caso.

    Quanto aos casos de estado de necessidade defensiva, no se poder opor a legtima

    defesa nem o direito de necessidade pessoa pois ela no apresenta uma agresso (uma

    conduta ilcita) e h equivalncia dos valores. Para os Professores Figueiredo Dias e Roxin

    nestes casos h uma causa de justificao supra legal porque a pessoa em perigo tem de poder

    defender-se contra quem provocou o perigo. Para a Professora Regente h parecena com a

    legtima defesa pois no h uma desvalorizao, mas o direito de necessidade no pode custar

    uma vida, logo, tambm preconiza esta soluo supra legal com aplicao super restrita. No

    entanto, quem provocou o perigo no ilicitamente tambm tem direito defesa, e por isso,

    haver uma causa de justificao contra outra causa de justificao.

    Para aqueles casos de transfuso sangunea, em que se exige o consentimento do

    lesado, os Professores Figueiredo Dias, Taipa de Carvalho e Roxin defendem que razovel

    impor que este seja obrigado a dar sangue para salvar a vida de outra pessoa, se (requisito 1)

    no implicar dano para o lesado e (requisito 2) for o nico dador disponvel. A restante

    doutrina, nomeadamente para a Professora Regente, s em casos de epidemia h causa de

    justificao do crime de coaco em relao ao lesado ao obriga-lo a dar sangue, por este

    tambm ir beneficiar desse facto.

    Para uma situao caber no artigo 36 (conflito entre deveres), tm de existir dois

    deveres de agir, nunca um dever de agir e outro dever de omitir. Ainda, necessrio que o

    agente no possa cumprir ambos. Para apurar, no mbito do conflito de deveres, se estes tm

    igual valor ou se um superior ao outro, apuram-se os pressupostos do artigo 34 por

    analogia, a isto se referem os factores de ponderao.

    NOTA: No me responsabilizo por provveis erros desta redaco.