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DIREITO PENAL II FESP/UEMG FADIPA 2º Semestre de 2013 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 1. O fato-punível Conceito de crime. Elementos 2 O Injusto Típico 2.1 A ação humana 2.2 Tipicidade 2.3 Ilicitude 2.4 Causas de exclusão da ilicitude 2.5 O estado de necessidade 2.6 A legítima defesa 2.7 Outras causas de exclusão da ilicitude. Estrito cumprimento de dever legal. Exercício regular de direito. Consentimento do ofendido. 3 Culpabilidade 3.1 Noção e evolução da ideia de culpabilidade. Culpabilidade por fato doloso 3.2 Culpabilidade e a problemática do erro. A consciência da ilicitude. Falta de consciência da ilicitude e ignorância da lei. Erro de tipo e erro de proibição. 3.3 A culpa em sentido estrito

Aula Direito Penal II

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DIREITO PENAL II

FESP/UEMG

FADIPA

2º Semestre de 2013

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

1. O fato-punível

Conceito de crime. Elementos

2 O Injusto Típico

2.1 A ação humana

2.2 Tipicidade

2.3 Ilicitude

2.4 Causas de exclusão da ilicitude

2.5 O estado de necessidade

2.6 A legítima defesa

2.7 Outras causas de exclusão da ilicitude. Estrito cumprimento de dever legal.

Exercício regular de direito. Consentimento do ofendido.

3 Culpabilidade

3.1 Noção e evolução da ideia de culpabilidade. Culpabilidade por fato doloso

3.2 Culpabilidade e a problemática do erro. A consciência da ilicitude. Falta de

consciência da ilicitude e ignorância da lei. Erro de tipo e erro de proibição.

3.3 A culpa em sentido estrito

3.4 Causas de exclusão da culpabilidade

4 Concurso de Pessoas

4.1 Introdução

4.2 Teorias sobre o concurso de pessoas

4.3 Causalidade física e psíquica

4.4 Requisitos do concurso de pessoas

4.5 Autoria

4.6 Autoria imediata

4.7 Coautoria

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4.8 Participação em sentido estrito

4.9 Concurso em crime culposo

4.10 Concurso em crimes omissivos

4.11 Autoria colateral

4.12 Participação impunível

4.13 Punibilidade em concurso de pessoas

4.14 Comunicabilidade das circunstâncias, condições e elementares

A presente apostila visa facilitar o estudo dos alunos e é composta por uma síntese de

vários autores somando-se a questões de concursos (Magistratura, MP, Defensoria

Pública etc.) e outros exercícios diversos (para fins de fixação).

Dessa forma, para fins de respeito aos direitos autorais e indicação de obra-autor,

sempre serão apontadas as iniciais do autor no início da parte na qual este foi

empregado (direta ou indiretamente) e a bibliografia completa nos padrões da ABNT

ao final de cada parte. Veja as siglas:

M.I.: Material do IESDE BRASIL S.A.

R.S.C.: Rogério Sanches Cunha.

G.S.N.: Guilherme de Souza Nucci

L.R.P.: Luiz Régis Prado

C.M.: Cleber Masson

R.G.: Rogério Greco (dentre outros que constarão das referências ao final de cada

tópico).

CRIME:

G.S.N.:

O conceito de Crime é artificial (não depende de fatores naturais, constatados por

um juízo de percepção sensorial), visto que não é possível classificar uma conduta,

ontologicamente, como criminosa.

Michel Foucault: “É verdade que é a sociedade que define, em função de seus

interesses próprios, o que deve ser considerado como crime: este, portanto, não é natural”.

Vigiar e punir, p. 87.

Conceitos de Crime:

Conceito Material: é a concepção da sociedade sobre o que pode e deve ser

proibido, por meio da aplicação (cominação) de uma sanção penal. É a

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conduta que ofende um bem juridicamente tutelado, merecedora de pena.

Claus Roxin: “o conceito material de crime é prévio ao Código Penal e

fornece ao legislador um critério político-criminal sobre o que o Direito Penal

deve punir e o que deve deixar impune” (Derecho Penal – Parte general, t. I, p.

51).

Conceito Formal: é a concepção do direito (jurídica) acerca do delito,

constituindo a conduta proibida por lei, sob ameaça de aplicação de pena, em

uma ótica legislativa do fenômeno. É fruto do conceito material, só que

devidamente formalizado.

Verifica-se, assim, o respeito ao Princípio da Legalidade (reserva legal): “não

há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem lei anterior que a

comine”.

Conceito analítico: é a concepção da ciência do direito, que não difere, na

essência, do conceito formal. É o conceito formal separado, cingido em

elementos para possibilitar seu melhor estudo e compreensão.

A corrente majoritária, no Brasil e também no exterior, é a da visão

tripartida que entende ser o crime um fato típico, antijurídico e culpável.

Vejamos brevemente o que é Tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade

(mais adiante aprofundaremos o estudo destes institutos).

a) Tipicidade: Fato real perfeitamente adequado ao tipo. Fato Típico:

Conduta + nexo causal + resultado, amoldados ao modelo legal. Tipicidade

é instrumento de adequação. Fato típico é a conclusão deste processo. Ex:

Art. 121 do CP matar alguém e a sua pena: Subsume-se o fato ao tipo e

tem-se a tipicidade. Curiosidade: Psicanálise e Neurociência sobre

assassinos seriais (constatações científicas) = Progressão Psíquica: 1) Fobia

social/agressividade; 2) urinar na cama (quando já adulto); 3)

maltratar/matar animais (começa por pequenos e vai aumentando o porte

do animal).

b) Antijuridicidade: é a contrariedade de uma conduta com o direito,

causando efetiva lesão a um bem jurídico protegido. 02 aspectos: 1)

formal: contrariedade da conduta com o Direito; 2) material: causando

lesão a um bem jurídico tutelado.

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c) Culpabilidade: é um juízo de reprovação social (valor1), incidente sobre o

fato e seu autor, devendo o agente ser imputável, atuar com consciência

potencial de ilicitude, bem como ter a possibilidade e a exigibilidade de

atuar de outro modo, consoante as regras impostas pelo Direito (Teoria

Normativa Pura, advinda do Finalismo). Para Bustos Ramírez (Obras

completas, v. I, p. 1100) a culpabilidade é um juízo de valoração concreto,

razão que justifica a importância de se ter o fato típico e antijurídico,

indicando qual é o foco de realidade a ser objeto desse juízo de reprovação

social.

]

Correntes (que definem o crime, de acordo com o conceito analítico):

Visão Bipartida

Fato Típico e Antijurídico: a culpabilidade é apenas um pressuposto de

aplicação da pena, situando o dolo e a culpa na tipicidade (só há a linha de

pensamento finalista). Defensores desta corrente: René Ariel Dotti, Damásio

de Jesus, Julio Fabbrini Mirabete, Celso Delmanto, Flávio Augusto Monteiro

de Barros etc.

Fato Típico e Culpável: entendem que a antijuridicidade é ínsita (inerente)

ao próprio tipo, assim como o dolo e a culpa (só há a linha de pensamento

finalista). Principal defensor (no Brasil): Miguel Reale Júnior (entre outros

que defendem a Teoria dos Elementos Negativos do Tipo). Questão: Não

existem fatos reais que são antijurídicos e não são típicos (ex: acidente de

trânsito sem vítimas e apenas com pequeno dano patrimonial)?

]

Visão Quadripartida:

Fato Típico, Antijurídico, Culpável e Punível: Duas linhas de pensamento (ou

correntes): 1) Causalista: Dolo e culpa na culpabilidade; 2) Finalista: dolo e

culpa na tipicidade. Defensores: Basileu Garcia, Muñoz Conde, Hassemer,

Battaglini, Giorgio Marinucci etc.

Visão Tripartida:

1 Neste sentido e para aprofundamento ler Hans Kelsen in: O que é a Justiça? p. 04.

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Fato Típico, Antijurídico e Punível: também conhecida como Teoria

Constitucionalista (pelos seus defensores) = a culpabilidade seria a ponte que

liga o crime à pena. Há autores que afirmam que esta corrente possui uma

forte raiz finalista, pois desloca o dolo e a culpa para a tipicidade. A

culpabilidade seria pressuposto de aplicação da pena. Defensor: Luiz Flávio

Gomes. Confira-se: “A culpabilidade, na verdade, não faz parte da teoria do

delito (do fato punível). É fundamento da pena. De outro lado, jamais existe

delito (no nosso Direito Penal) sem a ameaça de pena (sem punibilidade)”

(Luiz Flávio Gomes. Direito Penal – Parte Geral – Introdução, 2ª Ed., p. 85).

Crítica de Nucci (G.S.N.):

1 – Perda do Juízo de Reprovação social: Quando se assevera que a

culpabilidade não é parte integrante do conceito de crime, mas, sim, somente

fundamento da pena equivale a se distanciar da riqueza fornecida pelo juízo de

reprovação social gerada pela teoria da culpabilidade, em razão do fato de que

não pode haver delito sem reprovação social (valor situado temporal, espacial,

cultural e historicamente2). Neste sentido: Michel Foucault e Roberto Lyra: a

sociedade é que elege os ilícitos mais graves, quando os deseja sancionados com

pena. A sociedade aponta/indica para o legislador os seus valores

(considerando tempo, espaço, cultura e história), esperando deste (legislador) a

criação do tipo penal incriminador o qual, evidentemente, já vem

acompanhado de uma pena em abstrato (preceito sancionador). Exemplo sobre

a necessidade da culpabilidade no conceito analítico de crime: quando um

enfermo mental (alienação, por ex.) mata alguém. Claro que o fato é típico e

antijurídico, porém, o agente é inimputável (não possui discernimento entre a

conduta socialmente considerada aceitável ou inaceitável, “correta” ou

“incorreta”, em uma linguagem mais simples). G.S.N.: “Logo, inexiste crime,

mas somente um injusto penal, cuja sanção nem mesmo é a pena, mas a

medida de segurança” (Manual de Direito Penal, p. 176). Separar o crime e a

pena em lados distintos, unidos apenas pela ponte da culpabilidade pode

permitir (em um futuro próximo) retirar a culpabilidade do princípio da

reserva legal (crivo da legalidade): G.S.N.: “Não há crime – só o típico e

antijurídico? – sem prévia definição legal”. Ou mesmo o surgimento de

critérios de medição da pena que dizem respeito a quem o agente é e não ao

que ele efetivamente fez. Outra situação está na hipótese daquele que praticou

2 Neste sentido Ler: Hans-Georg Gadamer in: Verdade e Método e Lênio L. Streck.

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ilícito (homicídio, por ex.) sob coação moral irresistível: se excluirmos a

culpabilidade do conceito de crime – como faz esta teoria tripartida (de L.F.G.)

e uma das bipartidas (Damásio, J.F.M. e Celso Delmanto) – consideraríamos

apenas o fato (típico e antijurídico) e quanto ao autor desconsideraríamos sua

imputabilidade (caso do doente mental que pratica homicídio, por ex.), sua

consciência potencial da ilicitude (alienado mental), possibilidade e

exigibilidade de atuar de modo diverso (caso da coação moral irresistível).

Outro exemplo: Caso do Gerente de Banco que tem a sua família feita refém,

sendo obrigado a abrir o cofre do banco para os agentes. Dessarte, a

culpabilidade é um juízo de valoração que incide sobre o caso concreto. A

tipicidade e a antijuridicidade apenas indicam o foco de realidade a ser objeto

desse juízo. Se não há reprovação à conduta (coação moral irresistível, por ex.)

não há crime, porém apenas um injusto (penal) que pode ou não dar margem a

uma sanção.

2 – Deslocamento em Erro – Confusão entre Punibilidade e Culpabilidade – A

pena está no tipo e não na punibilidade: Distinção – Punibilidade é a

possibilidade de que o Estado possa fazer valer a sanção penal. A

culpabilidade, por seu turno, é o juízo de reprovação social que incide sobre o

fato e seu autor, devendo este ser imputável. G.S.N.: “A pena em abstrato está

prevista no tipo penal incriminador e não na punibilidade” (p. 177). Tipo penal

sem pena (ainda que tenha o nomen iuris de crime) há de inevitavelmente

tornar-se insignificante na esfera penal, visto ser inaplicável e fugir do conceito

material de crime (que conforme Roxin é prévio ao próprio CP), visto que

“delito é o ilícito que a sociedade almeja ver punido com pena e não com

qualquer outro tipo de sanção” (G.S.N., p. 177).

Concepções Finalista e Causalista:

Concepção Causalista: o causalismo trabalha o conceito de conduta despido

de qualquer valoração, isto é, neutro; a conduta é uma ação ou omissão

voluntária e consciente que exterioriza movimentos corpóreos.

Dolo e culpa situados na culpabilidade.

Em razão de estarem o dolo e a culpa situados na culpabilidade, no

causalismo fica impossível adotar-se o conceito bipartido de crime (apenas

fato típico e antijurídico) (José Frederico Marques).

Concepção Finalista: teve como idealizador Hans Welzel (o qual, inclusive,

em todas as suas obras tratou o crime como um fato típico, antijurídico e

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culpável). Como se trata de um juízo de realidade, e não fictício, o finalismo

entende que a conduta deve ser valorada.

Dolo e culpa deslocados da culpabilidade para o fato típico.

Culpabilidade ficou com a consciência da ilicitude.

Conduta é a ação ou omissão voluntária e consciente, a qual se volta a uma

finalidade.

Última Visão Tripartida

Fato Típico, Antijurídico e Culpável: Corrente Majoritária no Brasil e no

exterior.

Divisão: Esta corrente/teoria tripartida é a mais aceita pelas 03 concepções

existentes. Confira-se:

Finalistas. Defensores: Assis Toledo, Heleno Fragoso, Juarez Tavares, José

Henrique Pierangeli, Eugênio Raúl Zaffaroni, Cezar Roberto Bitencourt,

Luiz Régis Prado, David Teixeira de Azevedo, Rogério Greco, Bustos

Ramírez, Jiménez Martínez etc.

Causalistas . Defensores: Nelson Hungria, Frederico Marques, Magalhães

Noronha, Salgado Martins, Jiménez de Asúa, Baumann, Mezger etc.

Teoria Social da Ação: propõe ser uma tentativa de ajuste, em um mesmo

quadro, dos principais aspectos do causalismo e do finalismo. Defensores:

Jescheck, Wessels, Schmidt, Engisch, Wolff etc.

Diferença entre crime e contravenção

A diferença não é ontológica ou essencial, situando-se apenas na esfera da pena.

Crime (delito): sujeitam os autores (agentes) a penas de reclusão ou detenção.

Penas privativas de liberdade, isolada, alternativa ou cumulativa com multa.

Contravenções (espécie de infração penal): implicam em, no máximo, prisão

simples. Admite-se a possibilidade de fixação apenas de multa (situação que

não ocorre nos crimes) (art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal).

Origem no Brasil: art. 8º do CP de 1890.

Para Antolisei o único método confiável de distinguir o crime da

contravenção é o direito positivo: deve-se observar a qualidade e a quantidade

da pena atribuída à infração penal, isto é, a gravidade que o legislador

atribuiu ao fato (Manuale di Diritto penal – Parte generale, p. 190).

Sujeitos e objetos do crime:

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Sujeito ativo: é quem pratica a conduta descrita no tipo penal. É quem pratica a conduta típica.

Animais ou coisas não podem ser sujeitos ativos de crimes ou mesmo autores de ações, visto que

lhes falta o elemento vontade. Há exceções ao longo da história da humanidade (comentar).

Ponto de Debate:

Pode a Pessoa Jurídica ser sujeito ativo de crime?

02 pontos de vista:

1) Objeções:

a) Pessoa jurídica não tem vontade, suscetível de configurar o dolo e a culpa

(nullum crimem sine culpa).

b) A Constituição não autoriza expressamente a responsabilidade penal da pessoa

jurídica no texto dos arts. 173, § 5º e 225, § 3º, os quais são apenas

declaratórios, cabendo às pessoas jurídicas somente as sanções civis e

administrativas.

c) As penas para as pessoas jurídicas não poderiam ser as privativas de liberdade

que são o centro das punições na esfera penal.

d) As penas são personalíssimas, podendo no caso de pessoas jurídicas atingir

um sócio inocente (que não concordou com a decisão que provocou a conduta

criminosa). Em todas as alíneas supra ver: Juarez Cirino dos Santos (Direito

Penal – parte geral, p. 431/456) e José Antônio Paganella Boschi (Das penas e

seus critérios de aplicação, p. 133).

2) Favoráveis:

a) As pessoas jurídicas têm vontade, porque tem existência real (não sendo um

mito ou mera alegoria) e porque a sua vontade é reconhecida (não no sentido

humano, propriamente) “em um plano pragmático-sociológico, reconhecível

socialmente”. Daí surge o conceito (novo) de “ação delituosa institucional”.

Ver: Sérgio Salomão Shecaira (Responsabilidade penal da pessoa jurídica, p.

94/95 e 148).

b) Mesmo que fosse descartada a tese da vontade própria e seu reconhecimento

por meio do dolo ou da culpa, no Direito Penal existem casos de

responsabilidade objetiva, incluindo aí até mesmo a pessoa física, como na

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hipótese de embriaguez voluntária, mas não preordenada.

c) O Direito Penal não se limita à pena privativa de liberdade, sendo que este

ramo do Direito inclusive está, cada vez mais, procurando evitar tal tipo de

pena para a própria pessoa física, em face de comprovadamente não ser

reeducativa (na imensa maioria dos casos) e prejudicial para a ressocialização.

d) Os artigos Constitucionais 173, § 5º e 225, § 3º (este expresso) autorizam a

responsabilidade penal da pessoa jurídica.

e) Sobre o caráter personalíssimo da pena argumenta-se que a sanção incidirá

sobre a pessoa jurídica e não sobre o sócio, seja ele inocente ou não. Em caso

de prejuízo para o sócio inocente, basta lembrar que quando qualquer cidadão

comete um delito e é condenado a pena privativa de liberdade, toda sua família

também sofre as consequências, ainda que estes parentes não tenham cometido

qualquer infração penal.

É verdade que o art. 173, § 5º ainda depende de edição de Lei especificando a

situação típica da pessoa jurídica nas hipóteses de delitos contra a ordem

econômica e financeira e contra a economia popular.

Já o art. 225, § 3º da CRFB/88 é mais expresso e conta com a regulamentação

típica da Lei 9.605/98 (crimes contra o meio ambiente).

O Tribunal de Nuremberg condenou pessoas físicas e corporações inteiras por

crimes de guerra contra a humanidade (ex: Gestapo, tropas da SS etc.).

Sujeito passivo: é o titular do bem jurídico que o tipo penal incriminador visa proteger e que foi

violado.

a) Sujeito passivo formal (constante): é o Estado, pois este é o titular do interesse jurídico de

punir.

b) Sujeito passivo material (eventual): é o titular do bem jurídico lesado de forma direta pela

conduta do sujeito ativo. Pode ser uma pessoa física, jurídica ou até mesmo o próprio Estado

(aí o Estado é sujeito passivo formal e material ao mesmo tempo).

Situações não aceitas no Direito Penal pátrio :

a) Animais, coisas e mortos como sujeitos passivos (o Estado [seu interesse] é o sujeito passivo

nestes casos).

b) Levando-se em consideração uma única conduta, a confusão, em uma mesma e única pessoa, do

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sujeito ativo e passivo (ex: suicídio: não se pune a pessoa que tentou suicidar, mas quem induziu

ou instigou ou prestou auxílio. Outro ex: o agente que se fere ao praticar conduta criminosa: o

Direito Penal brasileiro não pune a autolesão).

Objeto do crime: é o bem jurídico lesionado. Divide-se em 02:

a) Objeto material: é a coisa, pessoa ou até interesse sobre a qual recai uma conduta

criminosa. Pode ser de natureza corpórea [física] ou incorpórea, [imaterial ou ideal]. Para a

maior parte da doutrina e da jurisprudência (incluindo Nucci) “todo delito possui objeto

material”.

Luiz Régis Prado discorda: “o objeto material não é uma característica comum a qualquer

delito, pois só tem relevância quando a consumação depende de uma alteração da realidade fática

ou do mundo exterior” (Bem jurídico-penal e Constituição, p. 47). No mesmo sentido: David

Teixeira de Azevedo (Dosimetria da pena: causas de aumento e diminuição, p. 33).

b) Objeto jurídico: é o interesse protegido pelo Direito Penal (ex: vida, patrimônio, fé pública

etc.).

Exemplo geral: Furto de veículo:

o Sujeito ativo: o agente (o ser humano) que praticou a conduta de subtrair o veículo.

o Sujeito passivo (material ou eventual): o proprietário do automóvel.

o Sujeito passivo (formal ou constante): o Estado.

o Objeto material: o veículo.

o Objeto jurídico: o patrimônio.

Classificação dos Crimes:

Crimes comuns e próprios:

a) Comuns: podem ser praticados por qualquer pessoa (ex: homicídio, roubo, falsificação,

lesão corporal etc.).

b) Próprios: exigem sujeito ativo com característica especial ou qualificado; só podem ser

praticados por determinadas pessoas.

Qualidades:

b.1) De fato: refere-se à natureza humana ou à inserção social da pessoa (ex: mãe no

infanticídio, mulher no autoaborto, enfermo no perigo de contágio venéreo).

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b.2) De Direito: refere-se à lei (ex: testemunha em falso testemunho, perito na falsa perícia,

funcionário público nos crimes contra a administração pública [Título XI do CP]).

Subdivisão dos crimes próprios:

a) Puros: são as condutas que deixam de ser crime caso não sejam cometidas pelo

sujeito indicado no tipo penal, na hipótese de a conduta se concretizar por ato de outra

pessoa (ex: art. 321 do CP – Advocacia administrativa: só o funcionário público pode

praticar esta conduta; a ação de outra pessoa não constitui infração penal).

b) Impuros: são os crimes se transformam em figuras delituosas distintas quando não

praticados pelo agente indicado no tipo penal incriminador (ex: a mãe que mata o filho

recém-nascido, logo após o parto [sob a influência do estado puerperal], comete o

crime de infanticídio; se um estranho mata o recém-nascido, sem qualquer auxílio ou

participação da mãe, estaremos diante de um homicídio). Neste sentido ver: Nilo

Batista (Concurso de agentes, p. 96).

Crimes de mão própria: Não é subdivisão do crime próprio. O sujeito ativo deve ser qualificado

e deve cometer pessoalmente a conduta típica. Não admitem coautoria ou a autoria mediata,

apenas a participação. Ex: falso testemunho: apenas a testemunha pode de modo direto cometer o

crime quando se apresenta para o juiz para prestar depoimento e falta com a verdade. Outro ex:

Art. 338 do CP – no reingresso de estrangeiro expulso, apenas pode cometer este crime o

estrangeiro que foi expulso, reingressando ilegalmente no território nacional.

Nos crimes de mão própria o fundamental é a existência ativa do agente qualificado cometendo

o crime.

Exceção: Coação moral a testemunha – “A” (Sr. Malcaratildo da Silva) obriga “B”

(Testemunhilda Pereira) (testemunha) a relatar inverdades ao juiz. Vindo os fatos à tona, “A”

poderá ser processado por falso testemunho (situação de exceção, pois se configura a autoria

mediata) e “B”, em razão da coação moral irresistível (art. 22 do CP) não deve sofrer qualquer

sanção. Nucci (Código Penal comentado, nota 5).

Outra hipótese – diferença entre crime de mão própria e crime próprio: Peculato (art. 312,

CP) – “A” (func. Público) obriga “B” (não funcionário) a subtrair bens de uma repartição

pública. “A” poderia subtrair tais bens diretamente, mas coage “B” para tal. “A” é autor mediato

do crime de peculato, podendo ser condenado por tal conduta, pois se trata de crime próprio e

não de mão própria. E “B” pode ser absolvido, invocando a coação moral irresistível.

Page 12: Aula Direito Penal II

Crimes instantâneos e permanentes:

Crimes instantâneos: são os que a consumação se dá com uma única conduta e não produzem

um resultado que se prolonga (protrai, na linguagem de Luiz Régis Prado) no tempo. Ex: homicídio,

furto, roubo etc.

Crimes permanentes: se consumam com uma única conduta, mas a situação antijurídica gerada

é prolongada no tempo enquanto assim quiser o agente. Ex: sequestro ou cárcere privado; extorsão

mediante sequestro, porte ilegal de arma e/ou substância entorpecente etc. No caso do cárcere

privado ou do sequestro ou da extorsão mediante sequestro: A retirada da liberdade da vítima

consuma o crime, mas enquanto esta permanecer por vontade do agente no cativeiro, teremos o

prolongamento do crime.

Regra Geral (não absoluta!): o crime permanente possui duas fases seguidas (consecutivas) –

uma comissiva (ação) e outra omissiva. Claro que também se volta a bens imateriais: liberdade,

saúde pública etc.

Admite a prisão em flagrante enquanto não cessar a sua realização.

Enquanto não cessar a permanência não começa a se contar a prescrição.

Outras situações:

Crimes instantâneos de efeitos permanentes: são crimes instantâneos que tem a aparência de

permanentes em razão de seu método de execução. Ex: bigamia.

Crimes instantâneos de continuidade habitual: consumam-se por meio de uma única conduta

que provoca um resultado instantâneo, exigindo, porém, em seguida, para configurar o tipo, a

reiteração de outras condutas de forma habitual. Ex: art. 228 do CP – Favorecimento à prostituição –

“Induzir ou atrair alguém à prostituição...”. Vejamos: a mera indução (dando a ideia...) é a conduta

do agente, sendo que o resultado não depende de sua vontade, havendo a configuração assim que a

pessoa se prostitua. Como a legislação brasileira não pune o comércio do próprio corpo, apesar do

“resultado instantâneo”, para se configurar o favorecimento à prostituição, no Brasil, é necessária,

para a configuração típica perfeita, a habitualidade. Outros exemplos: arts. 230, 231, 231-A, 247, I

e II todos do CP.

Crime instantâneo de habitualidade preexistente: envolve a prática de uma única conduta

para a concretização da figura típica, entretanto exige o desenvolvimento habitual de outro

Page 13: Aula Direito Penal II

comportamento, que seja preexistente. Ex: Art. 334, § 1º, c, do CP – venda de mercadoria

estrangeira, introduzida clandestinamente no Brasil, no exercício de atividade comercial – não se

configurando a prática anterior de atividade empresarial, não há como se configurar o crime previsto

nesse tipo penal, ainda que seja um crime instantâneo.

Crime eventualmente permanente: é um crime, via de regra, instantâneo, podendo

excepcionalmente realizar-se de maneira a lesionar um bem jurídico permanentemente. Ex: furto de

energia elétrica. O furto (art. 155 do CP) concretiza-se sempre instantaneamente, sem prolongar o

momento de sua consumação; já a energia elétrica foi equiparada, pelo legislador, à coisa móvel (art.

155, § 3º do CP).

Um delito instantâneo pode vir a se transformar em permanente, bastando que a atividade

possa prorrogar-se (protrair-se) no tempo. Isto porque cada fato-crime compõe-se de uma

conduta conforme a vontade do agente e cada conduta tem uma duração (uma dimensão temporal)

que pode ser breve ou prolongar-se no tempo a depender da natureza da atividade delituosa, do bem

lesado e da vontade do agente. Ex: violência sexual. Neste sentido ver: Giovanni Grisolia (Il reato

permanente, p. 4).

Crimes Comissivos e Omissivos:

Crimes comissivos: são os cometidos por meio de uma ação (ex: estupro).

Crimes omissivos: são cometidos por meio de uma abstenção (ex: omissão de socorro).

Modalidades anômalas:

Crimes comissivos por omissão: são os de ação, mas excepcionalmente praticados por omissão

e se restringem às situações de quem tem o dever de impedir o resultado (art. 13, § 2º do CP –

Relação de Causalidade – Teoria da equivalência dos antecedentes causais – ou da

causalidade simples ou da conditio sine qua non – Considera-se causa toda ação ou omissão

sem a qual o resultado não se teria produzido. É causa tudo o que contribui, em concreto, para o

resultado). Método da eliminação hipotética: uma ação é considerada causa do resultado se,

suprimida mentalmente do contexto fático, esse mesmo resultado teria deixado de ocorrer (nas

circunstâncias em que ocorreu).

Crimes omissivos por comissão: são os cometidos, em geral, por meio de uma abstenção, mas

que podem ser, via de exceção, praticados pela ação de alguém (ex: agente que impede outra

pessoa, utilizando-se de força física, de socorrer alguém ferido).

Page 14: Aula Direito Penal II

Crimes de atividade e de resultado:

Crimes de atividade: se contentam com a ação humana esgotando a descrição típica, ocorrendo

ou não um resultado naturalístico. São também conhecidos por crimes formais ou de mera

conduta. Ex: art. 319 do CP – prevaricação. O tipo penal contenta-se em prever punição para o

agente que deixar de praticar ato de ofício para satisfazer interesse pessoal, ainda que nenhum

prejuízo efetivo se materialize (nada no mundo naturalístico).

Ainda que controversa, há distinções dentre os crimes de atividade, vejamos:

Crimes formais: são os crimes de atividade que comportariam a ocorrência de um resultado

naturalístico, contudo não haja exigência desse resultado (Ex: prevaricação).

Crimes de mera conduta: são os de atividade que não comportam a ocorrência de um resultado

naturalístico, contentando-se somente com a punição da conduta do agente (ex: algumas formas de

violação de domicílio e violação de correspondência).

Esta é a situação do Crime Exaurido: para G.S.N. é o crime que continua a produzir

resultado danoso, mesmo depois de estar consumado. É o caso do prevaricador que consumou o

crime apenas com a conduta, mas se ainda conseguir prejudicar a vítima, terá provocado o

exaurimento do delito. O exaurimento pode levar à exasperação da pena. Ex: arts. 317, § 1º e 329,

§ 1º ambos do CP.

Para R.S.C.:

Importante: Consumação é diferente de Exaurimento.

Crime exaurido (ou esgotado plenamente): trata-se dos acontecimentos posteriores ao término do

iter criminis, ou seja, quando o agente vem a alcançar o fim pretendido, além do resultado que

consuma o crime (ex: locupletamento na corrupção passiva – art. 317 CP).

M.I.: Crime exaurido é aquele em que o crime foi além da consumação prevista no tipo penal.

Assim, o iter criminis do crime encerra-se com a consumação do delito. Se, além da consumação

do delito, for o agente ainda mais à frente, estará exaurindo o crime. Exemplos clássicos são os

crimes de corrupção passiva (CP, art. 317), concussão (CP, art. 316), corrupção ativa (CP, art.

333) etc., pois além do oferecimento, da oferta ou da solicitação da oferta, ou da promessa,

quando o agente consegue obtê-la, estará exaurindo a conduta criminosa (com o locupletamento),

já consumada com a simples atividade anterior.

Classificação do crime quanto ao momento consumativo para R.S.C.:

Formal (ou de consumação antecipada): o resultado naturalístico também é descrito, mas não

precisa verificar-se para ocorrer a consumação. O crime consuma-se no momento da ação, sendo

Page 15: Aula Direito Penal II

o resultado material mero exaurimento (ex: extorsão);

Mera conduta: trata-se de delito sem resultado. O tipo legal descreve apenas uma conduta,

consumando-se o crime no momento em que esta é praticada (ex: omissão de socorro, violação de

domicílio).

Crimes de Resultados (ou materiais ou causais): são aqueles que necessariamente possuem

resultado naturalístico, sendo que não ocorrendo o resultado naturalístico o crime é apenas uma

tentativa. Ex: Furto, homicídio etc.

Para R.S.C e Davi Castro Silva:

Crime Material (de resultado ou causal): descreve o tipo da conduta e o resultado naturalístico

(modificação no mundo exterior), cuja produção é indispensável para a sua consumação (ex:

homicídio, furto).

Crimes de dano e de perigo

Crimes de Dano: são os que se consumam com a efetiva lesão a um bem jurídico tutelado. É a

ocorrência de um prejuízo efetivo e perceptível pelos sentidos humanos.

Crimes de Perigo: são os que se contentam com a mera probabilidade de haver um dano. Para

alguns doutrinadores: dirigir embriagado = há uma probabilidade de ocorrência de um dano.

Divisão dos Crimes de Perigo:

a) Perigo Individual: Nas hipóteses em que a probabilidade de dano abrange apenas uma

pessoa ou um grupo determinado de pessoas. Ex: arts. 130 a 137 do CP.

b) Perigo Coletivo: neste, a probabilidade de dano envolve um número indeterminado de

pessoas. Ex: arts. 250 a 259 do CP.

c) Perigo abstrato: quando a probabilidade de ocorrência de dano está presumida no tipo

penal, independentemente de prova do perigo. Ex: no porte ilegal de entorpecente (arts. 28 e

33 da Lei 11.343/206) é presumido o perigo para a saúde pública.

d) Perigo Concreto: é quando a probabilidade de ocorrência de dano necessita ser investigada e

provada. Ex: art. 132 do CP - expor a vida ou a saúde de alguém a perigo.

Crimes Unissubjetivos e Plurissubjetivos:

Crimes Unissubjetivos: são os que podem ser praticados por uma só pessoa. Ex: aborto,

extorsão, epidemia, homicídio, constrangimento ilegal.

Crimes Plurissubjetivos (crimes convergentes, delitos de encontro, crimes de

Page 16: Aula Direito Penal II

concurso necessário, delitos coletivos, crimes multitudinários [lembrar/comparar com o

CPC: litisconsórcio multitudinário] e/ou crimes de autoria múltipla: são os que somente

podem ser cometidos por mais de uma pessoa. Ex: rixa, quadrilha ou bando, bigamia etc.

Crimes Progressivos e Crimes complexos: Ambos integram o fenômeno da

“continência” (quando um tipo engloba outro).

Continência:

a) Explícita: quando um tipo penal expressamente envolve o outro (ou até outros), como nas

hipóteses de crime complexo (art. 101 do CP). Ex: o roubo envolve o furto, a ameaça e/ou a

ofensa envolve a integridade física.

a.1) Complexos em sentido estrito: é a autêntica forma de crime complexo. Um tipo penal

é formado pela junção (combinação) de dois ou mais tipos. Ex: Roubo.

a.2) Complexos em sentido amplo: é a forma anômala. O tipo penal engloba outro tipo

associado a uma conduta lícita qualquer. Ex: estupro – um constrangimento ilegal (crime

previsto no art. 146 do CP) associado à relação sexual (que por si só, é uma conduta lícita).

Parte considerável da doutrina critica a denominação “crime complexo em sentido amplo”;

para estes autores só há crime complexo (nos termos do art. 101 do CP) quando o tipo

penal for constituído de outros crimes.

b) Implícita: quando um tipo penal tacitamente envolve outro, que é o crime progressivo. Ex:

no homicídio (art. 121 do CP), o agente passa necessariamente pelo crime de lesão corporal

(art. 129 do CP), pois este está contido naquele.

Progressão criminosa:

É a evolução na vontade do agente, fazendo-o passar, ainda que em um mesmo contexto,

de um crime a outro, geralmente voltado contra o mesmo bem jurídico protegido.

Progressão criminosa em sentido estrito (ou propriamente dita) [Frederico Marques

– Tratado de Direito Penal, v. II, p. 474): a ocorrência de um crime progressivo cujos atos

apresentam-se, por exceção, desgarrados, temporariamente afastados. Ex: o agente pretende

lesionar a vítima; após certo período delibera matá-la. Será punido apenas pelo fato mais

grave.

Diferença entre Progressão criminosa e Crime progressivo:

a) Na Progressão criminosa a intenção inicial era a lesão, que evoluiu para o

homicídio.

b) No Crime Progressivo o agente delibera matar, mas para que isso ocorra deve

passar, necessariamente pela lesão.

Page 17: Aula Direito Penal II

c) O principal elemento de diferença entre ambos, portanto, é o dolo, a vontade, o

elemento volitivo do agente.

Fato antecedente não punível (na progressão criminosa): um delito serviu de meio para se

atingir outro. Critério da Absorção (consunção) – Art. 334 e 334, § 1º.

Fato posterior não punível (na progressão): é a sucessão de fato menos grave contra objeto

jurídico já atingido por delito mais grave. Não há motivo para dupla punição. Ex: Envenenar água

potável (art. 270) e depois entregar para o consumo (art. 270, § 1º).

Crime habitual:

Crime habitual: é aquele que somente se consuma por meio da prática reiterada e contínua de

várias ações. É um “estilo de vida” indesejado pela lei penal. Uma conduta isoladamente é

atípica, mas a punição é para o conjunto de condutas habitualmente desenvolvidas.

Requisitos:

a) Reiteração de vários fatos.

b) Identidade ou homogeneidade de tais fatos.

c) Nexo de habitualidade entre os fatos (Marino Petrone, Reato abituale, p. 17).

Crime habitual não é crime permanente e vice-versa: o delito permanente consuma-se em

uma única tentativa e o resultado prolonga-se no tempo. O habitual exige a prática de várias

condutas.

Não há no crime habitual:

a) Não admite a tentativa.

b) Não suporta prisão em flagrante (em razão de serem várias condutas a serem analisadas

em conjunto no momento da aplicação da lei penal para se comprovar se houve ou não

habitualidade). Fernando de Almeida Pedroso (Direito penal – parte geral, p. 141). A

flagrância não se dá no crime habitual porque o seu cometimento é dilatado no tempo,

não representando uma surpresa, mas apenas uma constatação. Neste sentido ver:

Mário Petrone (Reato abituale, p. 82-83). Como o flagrante deve ser um retrato fiel da

infração, o auto de prisão retrataria somente um ato e não os demais, isto é, não seria um

retrato de corpo inteiro. Fernando de Almeida Pedroso (Direito penal – parte geral –

doutrina e jurisprudência, p. 141-142.

c) Para RT 415/55: A sindicância prévia constitui um importante elemento para

configurar a habitualidade, porém não é imprescindível, mormente em se tratando de

casa de prostituição.

Crime habitual próprio (autêntico): é a habitualidade constitutiva – somente se

tipifica apurando-se a reiteração de condutas do agente, configurando um estilo

Page 18: Aula Direito Penal II

próprio de vida. Ex: favorecimento à prostituição.

Crime habitual impróprio (habitualidade delitiva): é a reiteração na prática de

crimes instantâneos ou permanentes. Ex: agente que vive do cometimento de furtos

repetidamente realizados.

Habitualidade agravante: quando no tipo penal é inserida a reiteração da prática

criminosa como causa de aumento da pena, ainda que o crime seja instantâneo ou

permanente. Ex: lavagem de dinheiro reiteradamente praticada (art. 1, § 4º da Lei

9.613/98: elevação da pena de um a dois terços).

Crimes unissubsistentes e plurissubsistentes:

Crimes unissubsistentes: são os que admitem a sua prática por meio de um único

ato. Ex: injúria verbal.

Crimes plurissubsistentes: exigem vários atos componentes de uma ação. Ex:

homicídio.

Crimes de forma livre e de forma vinculada:

Crimes de forma livre: aqueles que podem ser praticados de qualquer modo, sendo

que o tipo penal não vincula com o método. Ex: apropriação indébita, infanticídio,

lesão corporal.

Crimes de forma vinculada: apenas podem ser cometidos por meio de métodos ou

fórmulas expressamente previstas no tipo penal. Ex: curandeirismo (art. 284, I, II e III

do CP).

Crimes vagos (multivitimários ou de vítimas difusas):

Crimes vagos (multivitimários ou de vítimas difusas): são aqueles que não possuem

sujeito passivo determinado (coletividade), sem personalidade jurídica. Ex: Art. 209 do

CP – perturbação de cerimônia funerária; art. 210 do CP – violação de sepultura.

É o delito sem vítima. Possui apenas o sujeito passivo formal (que é o Estado), mas

não há sujeito passivo material.

Neste sentido, há também a hipótese de crime sem vítima nos denominados crimes

consensuais: o indivíduo causa mal a si mesmo ou está inconformado de ter de agir

conforme determinado padrão social. Ex: autolesão, tentativa de suicídio. Ver: Ana

Sofia Schmidt de Oliveira (A vítima e do direito penal, p. 83-84).

Crimes remetidos: São tipos penais que expressamente fazem remissão a outros.

Page 19: Aula Direito Penal II

Ex: uso de documento falso (art. 304 do CP) o qual remete aos arts. 297 até 302 do

CP.

Crimes condicionados: dependem de uma condição prevista no tipo ou não.

Quando prevista no tipo = condição interna. Não prevista no tipo – condição

externa. Não admitem a tentativa os crimes condicionados. Ex: Art. 122 do CP –

induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio – depende da ocorrência do suicídio

ou, em caso de tentativa de suicídio, que haja lesões graves para a vítima.

Crimes de atentado (ou de empreendimento): são os que prevêem, no tipo penal,

a forma tentada equiparada à modalidade consumada (G.S.N.). Ex: art. 352:

Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou indivíduo submetido a medida de

segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa.

Outras definições de crime na doutrina:

Crimes mono-ofensivos e pluriofensivos:

Essa divisão é atinente ao número de bens jurídicos atingidos pela conduta criminosa, e

guarda íntima relação com a estrutura do crime (crimes simples ou complexos).

Crimes mono-ofensivos: São aqueles que ofendem um único bem jurídico. É o caso do

furto (CP, art. 155), que viola o patrimônio.

Crimes pluriofensivos: São aqueles que atingem dois ou mais bens jurídicos, tal como no

latrocínio (CP, art. 157, § 3º, parte final), que afronta a vida e o patrimônio.

Crimes principais e acessórios:

Refere-se à existência autônoma ou não do crime.

Page 20: Aula Direito Penal II

Crimes principais: São os que possuem existência autônoma, isto é, independem da prática

de um crime anterior. É o caso do estupro (CP, art.213).

Crimes acessórios, de fusão ou parasitários: Dependem da prática de um crime anterior, tal

como na receptação (CP, art. 180), nos crimes de favorecimento pessoal e real (CP, arts.

348 e 349) e na lavagem de dinheiro (lei 9.613/1998, art. 1º).

Nos termos do art. 108 do Código Penal, a extinção da punibilidade do crime principal não

se estende ao crime acessório.

Crimes transeuntes e não transeuntes:

Essa divisão se relaciona à necessidade ou não da elaboração de exame de corpo de delito

para atuar como prova da existência do crime.

Crimes transeuntes ou de fato transitórios: São aqueles que não deixam vestígios materiais,

como no caso dos crimes praticados verbalmente (ameaça, desacato, injúria, calunia,

difamação etc.[exceto se praticados por meio escrito]).

Crimes não transeuntes ou de fato permanentes: São aqueles que deixam vestígios

materiais, tais como o homicídio (CP, art.121) e as lesões corporais ( CP, art.129)

Nos crimes não transeuntes, a falta de exame de corpo de delito leva à nulidade da ação

penal, enquanto nos delitos transeuntes não se realiza a perícia (CPP, arts. 158 e 564, III,

“b”).

Crimes à distância, plurilocais e em trânsito:

Coaduna-se com o local em que se produz o resultado.

“Crimes à distância:” Também conhecidos como crimes de espaço máximo” , são aqueles

cuja conduta e resultado ocorrem em países diversos.

Page 21: Aula Direito Penal II

Como analisado na parte relativa ao lugar do crime, o art. 6º do Código Penal, acolheu a

teoria mista ou da ubiquidade.

Crimes plurilocais: São aqueles cuja conduta e resultado se desenvolvem em comarcas

diversas, sediadas no mesmo país. No tocante às regras de competência, o art. 70 do CPP,

dispõe que nesse caso, será competente para o processo e julgamento do crime o juízo do

local em que se operou a consumação. Há contudo, exceções.

Crimes em trânsito: São aqueles em que somente uma parte da conduta ocorre em um país,

sem lesionar ou expor a situação de perigo bens jurídicos de pessoas que nele vivem.

Exemplo: ‘’A’’ da Argentina, envia para os Estados Unidos uma missiva com ofensas a

‘’B’’, e essa carta passa pelo território brasileiro.

Crimes independentes e conexos:

A classificação se importa com o vínculo existente entre dois ou mais crimes.

Crimes independentes: São aqueles que não apresentam nenhuma ligação com outros

delitos.

Crimes conexos: São os que estão interligados entre si. Essa conexão pode ser penal ou

processual penal. A conexão material ou penal, que nos interessa, divide-se em:

a) Teleológica ou ideológica: O crime é praticado para assegurar a execução de outro

delito. É o caso de matar o segurança para sequestrar o empresário.

b) Consequencial ou causal: O crime é cometido para assegurar a ocultação,

impunidade ou vantagem de outro delito. Exemplos: matar uma testemunha para manter

impune o delito, e assinar o comparsa para ficar com todo o produto do crime.

Essas duas espécies de conexão têm previsão legal. Funcionam como qualificadoras no

crime de homicídio (CP, art. 121, §2º, V) e como agravantes genéricas nos demais crimes

(CP, art.61, II, alínea’’b’’);

c) Ocasional: O crime é praticado como consequência da ocasião, da oportunidade

proporcionada por outro delito. Exemplo: Um ladrão, após praticar o roubo, decide

estuprar a vítima que estava no interior da loja, assaltada. O agente responde por ambos os

Page 22: Aula Direito Penal II

crimes, em concurso material. Trata-se de criação doutrinária e jurisprudencial, sem

amparo legal.

Crimes condicionados e incondicionados:

O critério reside na liberdade ou não para iniciar a persecução penal contra o responsável

pela prática de um crime.

Crimes condicionados: São aqueles em que a inauguração da persecução penal depende de

uma condição objetiva de procedibilidade. É o caso do crime de ameaça, de ação penal

pública condicionada à representação do ofendido ou de seu representante legal (CP,

art.147). Anote-se que a legislação penal indica expressamente a condição de

procedibilidade, quando necessária, pois a ausência de menção direta acarreta a conclusão

de tratar-se de crime de ação penal pública incondicionada.

Crimes incondicionados: São aqueles em que a instauração da persecução penal é livre.

Constituem a ampla maioria de delitos no Brasil. O Estado pode iniciá-la sem nenhuma

autorização, como ocorre no crime de homicídio, de ação penal pública incondicionada.

Outras classificações:

Crime gratuito:

É o praticado sem motivo conhecido, porque todo crime tem uma motivação. Não se

confunde com o motivo fútil, definido como aquele de menor importância,

desproporcional ao resultado provocado pelo crime.

Com efeito, a ausência de motivo conhecido não deve ser equiparada ao motivo fútil.

Destarte, o desconhecimento acerca do móvel do agente não deve ser colocado no mesmo

nível do motivo de somenos importância. Há todavia, adeptos de posição contrária, os

quais alegam que , se um motivo ínfimo justifica a elevação da pena, com maior razão

deve ser punida mais gravemente a infração penal imotivada.

Page 23: Aula Direito Penal II

Crime de ímpeto:

É cometido sem premeditação, como decorrência de reação emocional repentina, tal como

no homicídio privilegiado, cometido pelo agente sob o domínio de violenta emoção, logo

em seguida injusta provocação da vítima (CP, art.121§ 1º). Esses crimes são,

normalmente, passionais (movidos pela paixão).

Crime de circulação:

É praticado com o emprego de veículo automotor, a título de dolo ou de culpa, com a

incidência do Código Penal ou do Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/1997).

Crime de opinião ou de palavra:

É o cometido pelo excesso abusivo na manifestação do pensamento, seja pela forma

escrita, seja pela forma verbal, tal como ocorre no desacato (CP, art.331)

Crime Internacional:

É aquele que, por tratado ou convenção devidamente incorporado ao ordenamento jurídico

pátrio, o Brasil se comprometeu a evitar e punir, tal como o tráfico internacional de pessoa

para fim de exploração sexual (CP, art.231)

Crime de mera suspeita, sem ação ou de mera posição:

Nesse crime o agente não realiza conduta penal relevante, mas é punido pela suspeita

despertada pelo seu modo de agir. Essa modalidade, idealizada na Itália por Vicenzo

Manzini, não encontrou amparo seguro na doutrina.

No Brasil, ainda que de forma temerária, pode ser apresentada como exemplo a

contravenção penal tipificada pelo art. 25 do Decreto-lei 3.688/1941-Lei das

Contravenções Penais (posse não justificada de instrumento de emprego usual na prática

de furto).

Page 24: Aula Direito Penal II

Crime inominado:

Delineado pelo uruguaio Salvagno Campos, é o que ofende regra ética ou cultural

consagrada pelo Direito Penal, embora não definido em lei como infração penal. Não pode

ser aceito, haja vista que o princípio da reserva legal veda a analogia in malam partem

em âmbito criminal.

Crime habitual (já mencionado antes):

É o que somente se consuma com a prática reiterada e uniforme de vários atos que revelam

um criminoso estilo de vida do agente. Cada ato isoladamente considerado é atípico. Com

efeito, se cada ato fosse típico, restaria configurado o crime continuado. Exemplos:

exercício ilegal da medicina e curandeirismo (CP, arts. 282 e 284, respectivamente).

Crime profissional (parte da doutrina entende que é uma especificação do crime

habitual):

É o crime habitual, quando cometido com finalidade lucrativa. Exemplo: rufianismo (CP,

art. 230).

Quase-crime:

É o nome doutrinário atribuído ao crime impossível (CP, art.17) e à participação impunível

(CP, Art. 31). Na verdade, inexiste crime.

Crime subsidiário:

É o que somente se verifica se o fato não constitui crime mais grave. É o caso do dano

(CP, art. 163), subsidiário em relação ao crime de incêndio (CP, art. 250). Para Nelson

Hungria, o crime subsidiário funciona como “soldado de reserva’’.

Crime hediondo:

Page 25: Aula Direito Penal II

É todo aquele que se enquadra no rol do artigo 1º da lei 8.072/1990, na forma consumada

ou tentada. Adotou-se um critério legal: Crime hediondo é aquele que a lei define

como hediondo.

Crime de expressão:

É o que se caracteriza pela existência de um processo intelectivo interno do autor.

Exemplo: falso testemunho (CP, art.342), no qual a conduta tipificada não se funda na

veracidade ou na falsidade objetiva da informação, mas na desconformidade entre a

informação e a convicção pessoal do seu autor.

Crime de intenção:

É aquele em que o agente quer e persegue um resultado que não necessita ser alcançado

para a consumação, como se dá na extorsão mediante sequestro (CP, art.159).

Crime de tendência ou de atitude pessoal:

É aquele em que a tendência afetiva do autor delimita a ação típica, ou seja, a tipicidade

pode ou não ocorrer em razão da atitude pessoal e interna do agente. Exemplos: toque do

ginecologista na realização de diagnóstico, que pode configurar mero agir profissional ou

então algum crime de natureza sexual, dependendo da tendência (libidinosa ou não), bem

como as palavras dirigidas contra alguém, que podem ou não caracterizar o crime de

injúria em razão da intenção de ofender a honra ou de apenas criticar ou brincar.

Crime mutilado de dois atos ou tipos imperfeitos de dois atos:

É aquele em que o sujeito pratica um delito, com a finalidade de obter um benefício

posterior. Exemplo: falsidade para cometer outro crime.

Nas palavras de Juarez Cirino dos Santos:

Page 26: Aula Direito Penal II

O resultado pretendido exige uma ação complementar (a falsificação do documento e a

circulação do documento no tráfego jurídico). A intenção como característica psíquica

especial do tipo, aparece, geralmente, nas conjunções subordinativas finais para, a fim de,

com o fim de, etc., indicativas de finalidades transcendentes do tipo, como ocorre com a

maioria dos crimes patrimoniais.

Crime de ação violenta:

É o cometido mediante o emprego de violência contra a pessoa ou grave ameaça, como no

caso do roubo (CP, art.157).

Crime de ação astuciosa

É o praticado por meio de fraude, engodo, tal como no estelionato (CP, art.171).

Crime falho

É a denominação doutrinária atribuída à tentativa perfeita ou acabada, ou seja, aquela em

que o agente esgota os meios executórios que tinha à sua disposição e, mesmo assim, o

crime não se consuma por circunstâncias alheias à sua vontade. Exemplo: ‘’a’’ desfere os

seis tiros do revólver contra ‘’b’’, que mesmo ferido consegue fugir e vem a ser

eficazmente socorrido.

Crime putativo, imaginário ou erroneamente suposto:

É aquele em que o agente acredita realmente ter praticado um crime, quando na verdade

cometeu um indiferente penal. Exemplo: ’’a’’ vende um pó branco, acreditando tratar-se

de cocaína. Na verdade era talco.

Trata-se de um não “crime’’, que se divide em três espécies: a) crime putativo por erro de

tipo; b) crime putativo por erro de proibição; e c) crime putativo por obra do agente

provocador.

Page 27: Aula Direito Penal II

Crime remetido (já mencionado antes):

É o que se verifica quando sua definição típica se reporta a outro crime, que passa a

integrá-lo, como no uso de documento falso (“fazer uso de qualquer dos papéis falsificados

ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302’’-CP, art.304).

Crimes de responsabilidade:

Dividem-se em próprios (são na verdade, crimes comuns) e impróprios (infrações político-

administrativas). Esses últimos são apreciados pelo poder legislativo, e a sua prática

redunda na imposição de sanções políticas.

Em sentido amplo:

a) Próprios (em sentido estrito; propriamente ditos) são crimes: Comuns (previstos no

CP, arts. 312 a 326); e Especiais (previstos na legislação especial/Decreto-Lei 201/1967,

Lei 4.898/1965).

b) (Impróprios: não são crimes; são infrações político-administrativas). Lei

1.079/1950 e 7.106/1983.

Crime obstáculo:

É aquele que retrata atos preparatórios tipificados como crime autônomo pelo legislador. É

o caso da quadrilha ou bando (CP, art.288).

Crime progressivo (já mencionado antes):

É aquele que para ser cometido deve o agente violar obrigatoriamente outra lei penal, a

qual tipifica crime menos grave, chamado crime de ação de passagem.

Em síntese, o agente, pretendendo desde o início produzir o resultado mais grave, pratica

sucessivas violações ao bem jurídico. Com a adoção do princípio da consunção para a

solução do conflito aparente de leis penais, o crime mais grave absorve o menos grave.

Exemplo: relação entre homicídio e lesão corporal.

Page 28: Aula Direito Penal II

Progressão criminosa (já mencionado antes):

Quando ocorre mutação no dolo do agente, que inicialmente realiza um crime menos grave

e, após, quando já alcançada a consumação, decide praticar outro delito de maior

gravidade. Há dois crimes, mas o agente responde por apenas um deles, o mais grave, em

face do princípio da consumação.

Exemplo: ‘’a’’ decide lesionar ‘’b’’ com chutes e pontapés. Em seguida, com ‘’b’’ já

bastante ferido, vem a matá-lo. Responde apenas pelo homicídio, pois, uma vez punido

pela morte, será também punido por lesão corporal.

Crimes de impressão:

Segundo Mario O. Folchi são aqueles que provocam determinado estado de ânimo na

vítima. Dividem-se em:

a) Crimes de inteligência: são praticados mediante o engano, como o estelionato (CP,

art. 171).

b) Crimes de vontade: recaem na vontade do agente quanto à sua autodeterminação,

como o sequestro (CP, art.148); e

c) Crimes de sentimento: são os que incidem nas faculdades emocionais, tal como a

injúria (CP, art. 140).

Crimes militares:

São os tipificados pelo Código Penal Militar (Decreto-lei 1001/1969).

Subdividem-se em:

a) Crimes militares próprios (ou puramente militares): são os definidos

exclusivamente pelo Código Penal Militar. Exemplo: deserção (CPM, art.187).

b) Crimes militares impróprios: são os que encontram previsão legislativa tanto no

Código Penal Militar como também o Código Penal comum, tais como furto, roubo,

estupro e homicídio.

Page 29: Aula Direito Penal II

Podem ser ainda crimes militares em tempo de paz (COM, art. 9º) e crimes militares em

tempo de guerra (COM, art.10).

Crimes falimentares:

São os tipificados pela lei de falência (Lei 11.101/2005). Podem ser ante ou pós-

falimentares, conforme sejam praticados antes ou depois da sentença declaratória de

falência; ou ainda próprios ou impróprios, se forem cometidos pelo falido ou por outra

pessoa (exemplo: administrador judicial, contador, etc.).

Crimes funcionais ou delictia in officio:

São aqueles cujo tipo penal exige seja o autor funcionário público.

Dividem-se em próprios e impróprios.

Crimes funcionais próprios: são aqueles em que a condição de funcionário público, no

tocante de sujeito ativo, é indispensável à tipicidade do fato. A ausência dessa condição

conduz atipicidade absoluta, tal como ocorre na corrupção passiva e na prevaricação (CP,

art.317 e 319, respectivamente).

Crimes funcionais impróprios ou mistos: se ausente a qualidade funcional, opera-se a

desclassificação para outro delito. Exemplo: no peculato furto (CP, art.312§ 1º), se

desaparecer a condição de funcionário público no tocante ao autor, subsiste o crime de

furto (CP, art.155).

Crimes parcelares:

São os crimes da mesma espécie que compõem a série de continuidade delitiva, desde que

presente os demais requisitos exigidos pelo art. 71, caput, do Código Penal. Com efeito, o

ordenamento penal brasileiro filiou-se, no campo do crime continuado, à teoria da ficção

jurídica, razão pela qual os diversos delitos (parcelares) são considerados, para fins de

aplicação da pena, como um único crime.

Page 30: Aula Direito Penal II

Crimes de hermenêutica:

São os que resultam unicamente da interpretação dos operadores do Direito, pois na

situação concreta não existem provas, nem sequer indícios consistentes, da prática de um

fato legalmente descrito como criminoso. Esta expressão- “Crimes de hermenêutica”- foi

idealizada por Rui Barbosa. Ex: talvez (remota, acadêmica e hipoteticamente falando) o

caso do Goleiro Bruno.

Crimes de rua:

São os delitos praticados pelas pessoas de classes sócias desfavorecidas, a exemplo de

furtos executados por miseráveis, andarilhos e mendigos. Estes crimes são cometidos aos

olhos da sociedade, em locais supervisionados pelo Estado (parques, praças, favelas etc.), e

por esta razão são frequentemente objeto das instâncias de proteção (Polícia, Ministério

Público e Poder judiciário).

Os crimes de rua se contrapõem aos “crimes do colarinho branco”, cometidos por aqueles

que gozam e abusam da elevada condição econômica e do poder daí decorrente, como é o

caso dos delitos contra o Sistema Financeiro Nacional, disciplinados na Lei 7.492/1986.

Nesses crimes socioeconômicos, surgem as “cifras douradas do Direito Penal” indicativas

da diferença apresentada entre a criminalidade real e a criminalidade conhecida e

enfrentada pelo Estado. Raramente existem registros envolvendo delitos desta natureza,

inviabilizando a persecução penal e acarretando a impunidade das pessoas privilegiadas no

âmbito econômico.

Crime Liliputiano:

Também chamado de “crime anão” ou crime vagabundo, é o nome doutrinário reservado

às contravenções penais.

Na verdade, não há crime (ou delito), em face da regra contida no art. 1º do Decreto-lei

3.914/1941- Lei de Introdução ao Código Penal. “Considera-se crime a infração penal que

a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou

cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina,

Page 31: Aula Direito Penal II

isoladamente, penas de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou

cumulativamente.”

QUESTÕES DE CONCURSO:

1) (Delegado de Polícia/SP-2008) No crime de rixa em que os agentes cometem

condutas contra pessoa, que, por sua vez, comporta-se da mesma maneira e é

também sujeito ativo do delito, fala-se doutrinariamente em:

(A) Crime de condutas paralelas.

(B) Crime de condutas convergentes.

(C) Crime de condutas contrapostas. .

(D) Crime de condutas dependentes.

(E) Crime de condutas monossubjetivas.

2) (Delegado de Polícia/SP-2008) O crime de evasão mediante violência contra a

pessoa (art. 352 do CP, em que a pena da tentativa é a mesma do crime consumado,

sem qualquer redução, recebe em doutrina o nomen iuris de:

(A) Crime de ensaio.

(B) Crime de encontro.

(C) Crime de empreendimento. .

(D) Crime de bipróprio.

(E) Crime de conteúdo variado.

3) (24º Ministério Público da União/MPDFT) Julgue os itens que se seguem.

I- Os crimes falimentares podem ser antifalimentares ou pós-falimentares.

Page 32: Aula Direito Penal II

II- Crimes militares puros ou próprios são aquelas condutas definidas apenas no Código

Penal militar.

III- Crime plurissubjetivo é aquele que, por sua conceituação típica, exige dois ou mais

agentes para a prática da conduta criminosa.

Assinale a opção correta:

(A) Todos os itens estão certos. .

(B) Apenas os itens I e II estão certos.

(C) Apenas os itens I e III estão certos.

(D) Apenas os itens II e III estão certos.

4) (87º MP/SP-2010) Assinale a alternativa correta:

A) Crime putativo por erro de tipo pressupõe a suposição errônea do agente sobre a

existência da norma penal.

B) Relativamente à tentativa, o Código Penal brasileiro adotou a teoria subjetiva.

C) Crimes funcionais impróprios são aqueles que podem revestir-se de parcial

atipicidade.

D) Crimes subsidiários são aqueles para cuja caracterização se faz imprescindível

outra norma definidora de suas elementares.

E) Dá-se a ocorrência de crime falho quando o agente, por interferência externa, não

consegue praticar todos os atos executórios necessários à consumação.

Qual a diferença entre erro de tipo e delito putativo por erro de tipo? - Áurea Maria Ferraz de Sousa.

07/10/2008-10:30 | Autora: Áurea Maria Ferraz de Sousa; Fonte: http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20081001132308905

Antes de expor as diferenças entre os institutos cumpre mencionar o que há em comum entre eles: em

ambos, o agente não sabe o que faz. No mais, não se confundem.

De acordo com Rogério Sanches Cunha é possível encontrar as diferenças no seguinte quadro

comparativo:

ERRO DE TIPODELITO PUTATIVO POR ERRO DE TIPO

Imagina-se agir licitamenteImagina-se agir

ilicitamente

Page 33: Aula Direito Penal II

Ignora-se a presença de uma elementar

Ignora-se ausência de uma elementar

Pratica-se fato típico sem quererPratica-se fato atípico

sem querer

Neste sentido, vale apresentar os seguintes exemplos elucidativos:

1. O agente, em caça, atira na direção de um arbusto, imaginando atingir em animal, mas acaba por

matar uma pessoa. Ou seja, o agente imagina estar agindo licitamente, pois ignora a presença da

elementar "alguém" do tipo penal descrito no artigo 121 do Código Penal, praticando assim fato típico

sem querer. Aplicável ao caso o previsto no artigo 20, CP: O erro sobre elemento constitutivo do tipo

legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.

2. Atira-se em pessoa que já estava morta. Ou seja, o agente, imaginando agir ilicitamente, ignora a

ausência de uma elementar e pratica fato atípico, sem querer. Temos, no caso, um crime impossível

por impropriedade absoluta do objeto, ou seja, um delito putativo por erro de tipo, cuja solução penal

encontra-se no artigo 17 do Código Penal que dispõe: Não se pune a tentativa quando, por ineficácia

absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.

5) (86º MP/SP- VUNESP) Assinale a alternativa correta:

A) Os crimes instantâneos não admitem tentativa.

B) Nos crimes de ação múltipla, a pluralidade de agentes integra o tipo.

C) O crime de exercício arbitrário das próprias razões é crime de mão própria.

.

D) Os crimes unissubjetivos não admitem coautoria.

6) (84º Promotor de Justiça- MP/SP- 2005) Aponte a única alternativa na qual

todas as quatro classificações são apropriadas ao delito definido no art. 269, do CP-

Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é

compulsória.

A) Crime omissivo impróprio, norma penal em branco, crime de perigo e crime que

admite tentativa.

B) Crime omissivo puro, crime que não admite tentativa, crime de consumação

antecipada, crime de ação múltipla.

Page 34: Aula Direito Penal II

C) Crime omissivo puro, crime próprio, norma penal em branco e crime de mera

conduta. .

D) Crime próprio, crime formal, crime de ação única e crime comissivo por omissão.

E) Crime que não admite nenhuma forma de concurso de pessoas, crime que não

admite tentativa, crime permanente e crime formal.

7) (Juiz de Direito- TJ/SP-179º) Assinale a alternativa incorreta:

A) Crimes materiais descrevem a conduta e o resultado naturalístico exigido.

B) Crimes formais descrevem a conduta do agente e o resultado, que não é exigido

para a consumação do tipo penal.

C) Crimes de mera conduta são aqueles sem resultado naturalístico, mas com resultado

jurídico.

D) Crimes de mera conduta são de consumação antecipada.

8) (Juiz de Direito- TJ/SP-179º) Assinale a alternativa incorreta:

A) Crime progressivo e progressão criminosa são a mesma coisa.

B) No crime progressivo, o agente, para alcançar um resultado mais grave, passa por

outro menos grave, havendo continência de condutas.

C) O crime progressivo é espécie do gênero crime complexo lato sensu.

D) A progressão criminosa strictu sensu se realiza quando o crime progressivo se

desvincula na sua realização no tempo, ocorrendo delitos em sequência.

GABARITO:

1) C

2) C

3) A

4) C

5) C

6) C

7) D

8) A

Page 35: Aula Direito Penal II

RELAÇÃO DE CAUSALIDADE:

Art. 13 – O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem

lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria

ocorrido.

Superveniência de causa independente

§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando,

por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os

praticou.

Relevância da omissão

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o

resultado. O dever de agir incumbe a quem:

a) Tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância.

b) De outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado.

c) Com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

R.S.C e D.C.S.:

Page 36: Aula Direito Penal II

No que tange à relação de causalidade o Direito Penal pátrio emprega, via de regra, a

teoria da equivalência dos antecedentes causais (ou da causalidade simples, ou da

conditio sine qua non): é causa toda ação ou omissão sem a qual o resultado não se

teria produzido, ou seja, é causa tudo o que contribui, de modo concreto, para o

resultado.

Método da eliminação hipotética: uma ação é considerada causa do resultado se,

suprimida mentalmente do contexto fático, esse mesmo resultado teria deixado de

ocorrer (nas circunstâncias em que ocorreu).

Regresso ao infinito: a responsabilidade penal exige o dolo (ou a culpa) animando a

conduta do agente, para fins de se evitar o regresso ao infinito.

Filtro de Causalidade Psíquica: “(...) a responsabilidade penal do agente depende da

sua voluntariedade (dolo ou culpa) em relação à provocação do resultado” (R.S.C. e

D.C.S.). Trata-se de uma limitação que objetiva impedir o regresso ao infinito na

causalidade penal. Ex: alguém mata outrem com arma de fogo – se não houvesse essa

limitação poder-se-ia chegar ao absurdo de se responsabilizar, em regresso infinito, a

quem criou ou fabricou a pólvora, o aço do revólver, o revólver, ao fabricante de

armas, ao vendedor (que fez a venda dentro das especificações e limites legais) etc.,

etc.

R.S.C e D.C.S.:

Teoria da imputação objetiva: trata-se de outra teoria que se contrapõe à teoria da

equivalência dos antecedentes causais adotada pelo CP brasileiro.

Os defensores desta outra Teoria entendem que a teoria da equivalência dos

antecedentes é severa e inadequada.

A Teoria da Imputação Objetiva: a proposta é uma seleção das causas juridicamente

relevantes, utilizando-se de critérios de caráter normativo retirados da própria natureza

do Direito Penal que sejam capazes de permitir, em um plano objetivo, delimitar parte

da causalidade natural. Dispensa o recurso à análise do dolo ou da culpa (na

causalidade objetiva, ficando o dolo e a culpa somente na causalidade psíquica),

Page 37: Aula Direito Penal II

limitando o nexo causal objetivo, conferindo-lhe um conteúdo jurídico e não

meramente naturalístico.

Dessarte, mesmo quando se determina a causalidade natural, restaria ainda o tema da

imputação objetiva; a constatação da causalidade natural significaria somente uma

condição mínima, mas ainda insuficiente para a atribuição de um resultado.

No Direito Penal pátrio a imputabilidade objetiva tem lugar em algumas hipóteses

de delitos de trânsito (etc.), conforme jurisprudência que segue nas demais páginas.

Vejamos a tabela abaixo:

TEORIA DA

EQUIVALÊNCIA

DOS

ANTECEDENTES

TEORIA DA

IMPUTAÇÃO

OBJETIVA

CAUSALIDADE

OBJETIVA

- Nexo físico

(relação de causa e

efeito)

- Nexo físico

(relação de causa e

efeito).

- Nexo normativo:

a) criação ou

incremento de risco

não permitido (não

tolerado pela

sociedade);

b) realização do

risco no resultado;

c) abrangência do

tipo.

Page 38: Aula Direito Penal II

CAUSALIDADE

PSÍQUICA

- dolo e culpa - dolo e culpa

RISCO PERMITIDO E TEORIA GERAL DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA:

Risco Permitido : “De acordo com a Teoria Geral da Imputação Objetiva o

resultado não pode ser imputado ao agente quando decorrer da prática de um

risco permitido ou de uma ação que visa a diminuir um risco não permitido; o

risco permitido não realize o resultado concreto; e o resultado se encontre fora da

esfera de proteção da norma. (...) O risco permitido deve ser verificado dentro das

regras do ordenamento social, para o qual existe uma carga de tolerância genérica. É o

risco inerente ao convívio social e, portanto, tolerável.” (REsp 822517/DF, Rel.

Ministro GILSON DIPP, 5ª Turma, julgado em 12/06/2007, DJ 29/06/2007, p. 697).

Análise de Jurisprudência:

CRIMINAL. RESP. DELITO DE TRÂNSITO. RESPONSABILIDADE PENAL.

DELITO CULPOSO. RISCO PERMITIDO. NÃO OCORRÊNCIA.

IMPUTABILIDADE OBJETIVA.

MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA 07/STJ. INCIDÊNCIA. PENA

PECUNIÁRIA SUBSTITUTIVA. AUSÊNCIA DE CORRESPONDÊNCIA COM A

PENA SUBSTITUÍDA. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E DESPROVIDO.

I. De acordo com a Teoria Geral da Imputação Objetiva o resultado não pode ser

imputado ao agente quando decorrer da prática de um risco permitido ou de uma

ação que visa a diminuir um risco não permitido; o risco permitido não realize o

resultado concreto; e o resultado se encontre fora da esfera de proteção da norma.

II. O risco permitido deve ser verificado dentro das regras do ordenamento social,

para o qual existe uma carga de tolerância genérica. É o risco inerente ao convívio

social e, portanto, tolerável.

III. Hipótese em que o agente agiu em desconformidade com as regras de trânsito

(criou um risco não permitido), causando resultado jurídico abrangido pelo fim de

proteção da norma de cuidado - morte da vítima, atraindo a incidência da

imputabilidade objetiva.

IV. As circunstâncias que envolvem o fato em si não podem ser utilizadas para atrair a

incidência da teoria do risco permitido e afastar a imputabilidade objetiva, se as

Page 39: Aula Direito Penal II

condições de sua aplicação encontram-se presentes, isto é, se o agente agiu em

desconformidade com as regras de trânsito, causando resultado jurídico que a norma

visava coibir com sua original previsão.

V. O fato de transitar às 3 horas da madrugada e em via deserta não pode servir de

justificativa à atuação do agente em desconformidade com a legislação de trânsito. Isto não

é risco permitido, mas atuação proibida. (obs.: o agente estava fazendo “roleta-russa”

com os semáforos, em alta velocidade e embriagado).

VI. Impossível se considerar a hipótese de aplicação da teoria do risco permitido com

atribuição do resultado danoso ao acaso, seja pelo fato do agente transitar embriagado e em

velocidade acima da permitida na via, seja pelo que restou entendido pela Corte a quo no

sentido de sua direção descuidada.

VII. A averiguação do nexo causal entre a conduta do réu, assim como da vítima, que não

teria feito uso do cinto de segurança, com o resultado final, escapa à via especial, diante do

óbice da Súmula 07 desta Corte se, nas instâncias ordinárias, ficou demonstrado que, por

sua conduta, o agente, em violação ao Código de Trânsito, causou resultado abrangido pelo

fim de proteção da norma de cuidado.

VIII. Não há simetria entre a pena pecuniária substitutiva e a quantidade da pena

privativa de liberdade substituída.

IX. Recurso parcialmente conhecido e desprovido.

Grifo nosso.

(REsp 822517/DF, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em

12/06/2007, DJ 29/06/2007, p. 697)

Concausas (ou causas concorrentes):

Configura-se na pluralidade de causas concorrendo para o mesmo evento. Dentre as

várias causas concorrentes, uma será a causa efetiva.

Espécies de concausas (quanto ao momento da causa efetiva):

a) Preexistente: a causa efetiva é anterior à causa concorrente.

b) Concomitante: a causa efetiva é simultânea à causa concorrente.

c) Superveniente: a causa efetiva é posterior à causa concorrente.

Espécies de concausas (quanto à sua relação com a causa efetiva):

a) Absolutamente independente: a causa efetiva não se origina, direta ou

indiretamente, das causas concorrentes. Nesta hipótese, não se pode imputar o

Page 40: Aula Direito Penal II

resultado ao agente da causa concorrente, pouco importando se preexistente,

concomitante ou superveniente (aspecto temporal da causa efetiva).

b) Relativamente independente: a causa efetiva se origina, direta ou indiretamente,

das causas concorrentes. Nesta hipótese, será imputado ao agente da causa

concorrente o resultado, independentemente se preexistente ou concomitante. Na

situação de concausa superveniente (de acordo com a teoria da causalidade

adequada [vide abaixo]) apenas haverá imputação do fato caso, na análise do

conjunto das causas, restasse configurada que a conduta do agente, consoante as

regras de experiência comum, foi a mais adequada à produção do resultado

ocorrente (Art. 13, § 1º do CP).

Exemplos: (de R.S.C. e D.C.S.):

CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTES:

PREEXISTENTE:

“A” desfere golpes de faca em “B” o qual anteriormente já havia

sido envenenado (por outrem), morrendo em razão do

envenenamento. “A” responde por tentativa de homicídio.

CONCOMITANTE: Ao mesmo tempo em que “A” envenena “B”, outros agentes

entram no local e disparam contra “B” que falece em virtude dos

tiros das armas de fogo. “A” responde por tentativa de

homicídio.

SUPERVENIENTE: Após “A” envenenar “B”, um lustre despenca na cabeça de “B”,

matando-o por traumatismo craniano. “A” responde por

tentativa de homicídio.

CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES:

PREEXISTENTE “A” atira com a intenção de matar “B” e atinge seu pé. Ocorre que

“B” é hemofílico e falece em virtude da hemorragia. “A”

responderá pelo resultado morte (homicídio consumado).

Page 41: Aula Direito Penal II

Nota: parte da doutrina entende somente ser cabível exigir como

condição da imputação do resultado que “A” tivesse conhecimento

do problema de saúde de “B”, afastando a responsabilidade penal

objetiva.

CONCOMITANTE Em noite extremamente fria, “A” causa ferimento em “B” com a

intenção de matá-lo. Ocorre que “B” falece em virtude de um

processo de congelamento (hipotermia) favorecido pela hemorragia

a qual interferiu em seu mecanismo de resistência (alteração da

pressão sanguínea colaborando com a hipotermia). “A” responde

por homicídio consumado.

SUPERVENIENTE 1) Que

produziu o

resultado por si

só:

Desabamento do hospital para o qual foi

conduzido pessoa ferida por disparo de

arma de fogo. O Agente responderá

por homicídio tentado.

SUPERVENIENTE 2) Que não

produziu o

resultado por

si só:

Erro médico e a infecção hospitalar na

vítima ferida por disparo de arma de

fogo. O Agente responderá por

homicídio consumado.

Teoria da causalidade adequada (Art. 13, § 1º do CP): É adequada a conduta tida

por idônea (necessária + adequada [em sentido estrito]) para ocasionar o efeito.

Dessarte, apenas ocorrerá a imputação do resultado se, no conjunto das causas, a

conduta do agente for, de acordo com as regras de experiência comum (homem médio),

a mais adequada à produção do resultado ocorrente. R.S.C.

Nexo de não impedimento – Crime omissivo impróprio (impuro, comissivo por

omissão ou comissivo-omissivo) – (Art. 13, § 2º do CP): nesta hipótese, o dever de

agir é para evitar um resultado concreto. Trata-se de crime de resultado material o qual

exige um nexo de causalidade entre a ação omitida e o resultado. Ocorre que tal nexo

não é naturalístico (do nada, nada surge). É um vínculo jurídico: o sujeito não deu

causa, mas como não impediu, equipara-se, juridicamente, ao verdadeiro causador do

resultado. Chama-se “nexo de não impedimento”. R.S.C.

A quem incumbe o dever de agir?

Page 42: Aula Direito Penal II

a) A quem tenha, por lei, a obrigação de cuidado, proteção e vigilância. Ex: mãe

que deixa de amamentar recém-nascido ocasionando o falecimento deste por

inanição. Responde por homicídio doloso ou culposo, dependendo da

voluntariedade presente na sua conduta. R.S.C.

b) De outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado. Ex: babá

que não cuida da criança no banho, ocorrendo o óbito por afogamento desta.

Responde por homicídio doloso ou culposo, dependendo da voluntariedade

presente na sua conduta. R.S.C.

c) Com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

Ex: pessoa que joga amigo que não sabe nadar em piscina e nada faz para salvá-lo

do afogamento. Responde por homicídio, doloso ou culposo, dependendo da

voluntariedade presente na sua conduta. R.S.C.

CÓDIGO PENAL ART. 13

QUETÕES DE CONCURSOS

01. (Promotor de Justiça – MP/BA – 2010) No trato de tema de intenso interesse prático,

como é o caso dos crimes omissivos, a doutrina brasileira colaciona o seguinte exemplo: “dois

irmãos, sem qualquer acordo prévio, estão nadando em águas profundas”. Um deles, de repente,

acometido de câimbras, começa a afogar-se. O outro nada faz para ajudá-lo. Ao avaliar um caso

desta natureza, verifica-se que:

I. Seria o irmão sobrevivente responsável pelo resultado morte.

II. O irmão omitente deve ser responsabilizado somente por omissão de socorro.

III. A simples relação de parentesco, nos termos do art. 13, § 2º, torna o agente garantidor.

IV. A relação entre irmãos gera um vínculo social de proteção maior, mas não o torna

garantidor.

V. O irmão omitente cometeu homicídio qualificado.

a) Apenas a alternativa I está correta.

b) As alternativas II e IV estão corretas.

c) Apenas a alternativa V está correta

Page 43: Aula Direito Penal II

d) As alternativas I III e V estão corretas

e) As alternativas II e V estão corretas

02. (Defensor Público – DPE/PA – 2009) Para formação do nexo de causalidade, no sistema

legal brasileiro, a superveniência de causa relativamente independente.

a) exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado, imputando-se os fatos

anteriores a quem o praticou.

b) Exclui a imputação quando em concurso com outra concausa produz o resultado,

atenuando-se a responsabilidade do autor pelo fato anterior.

c) Exclui a imputação quando produz o resultado com restrição da responsabilidade de quem

praticou o fato subjacente ao limite de sua responsabilidade material.

d) Exclui parcialmente a imputação, tornando os autores responsáveis pelo ato subjacente no

limite de suas responsabilidades.

e) Não exclui a imputação do resultado superveniente.

03. (Defensor Público – DPE/MA – 2009 – adp) No trajeto do transporte de dois presos para o

foro criminal por agentes penitenciários um deles saca de um instrumento perfurante e desfere

diversos golpes contra o outro preso. Os agentes da lei presenciaram a ação desde o início e

permaneceram inertes. Na conduta dos agentes, a omissão é penalmente relevante porque a

causalidade é normativa.

04. (Defensor Público – DPE/ES – 2009) Considere a seguinte situação hipotética. Alberto,

pretendendo matar Bruno, desferiu contra este um disparo de arma de fogo, atingindo-o em

região letal. Bruno foi imediatamente socorrido e levado ao hospital. No segundo dia de

internação, Bruno morreu queimado em decorrência de um incêndio que assolou o nosocômio.

Nessa situação, ocorreu uma causa relativamente independente, de forma que Alberto deve

responder somente pelos atos praticados antes do desastre ocorrido, ou seja, lesão corporal.

05. (Magistrado Estadual – TJ/MG – 2009 – adp) No crime omissivo, o dever jurídico de agir

inexiste àquele que apenas criou riscos para a ocorrência do resultado.

Page 44: Aula Direito Penal II

06. (Promotor de Justiça – MP/MG – 2009 – adp) O agente que, na condição de garantidor,

omite-se, ensejando a que o resultado lesivo ocorra, pratica crime omissivo impróprio.

GABARITO ART. 13 - 01-B; 02-A; 03-V; 04-F (homicídio tentado); 05-F; 06-V.

3) CRIME CONSUMADO, CRIME TENTADO, DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E

ARREPENDIMENTO EFICAZ

CRIME CONSUMADO

Art. 14. Diz-se o Crime:

Crime Consumado

I – consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;

Tentativa

II – tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à

vontade do agente.

Pena de Tentativa

Parágrafo único – Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena

correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.

R.S.C.:

Classificação do crime quanto ao momento consumativo:

Material: descreve o tipo da conduta e o resultado naturalístico (modificação no mundo

exterior), cuja produção é indispensável para a sua consumação (ex: homicídio, furto);

Formal (ou de consumação antecipada): o resultado naturalístico também é descrito,

mas não precisa verificar-se para ocorrer a consumação. O crime consuma-se no momento da

Page 45: Aula Direito Penal II

ação, sendo o resultado material mero exaurimento (ex: extorsão);

Mera conduta: trata-se de delito sem resultado. O tipo legal descreve apenas uma

conduta, consumando-se o crime no momento em que esta é praticada (ex: omissão de

socorro, violação de domicílio).

R.S.C.:

Importante: Consumação é diferente de Exaurimento.

Crime exaurido (ou esgotado plenamente): trata-se dos acontecimentos posteriores ao

término do iter criminis , ou seja, quando o agente vem a alcançar o fim pretendido, além do

resultado que consuma o crime (ex: locupletamento na corrupção passiva – art. 317 CP).

M.I.: Crime exaurido é aquele em que o crime foi além da consumação prevista no tipo

penal. Assim, o iter criminis do crime encerra-se com a consumação do delito. Se, além da

consumação do delito, for o agente ainda mais à frente, estará exaurindo o crime. Exemplos

clássicos são os crimes de corrupção passiva (CP, art. 317), concussão (CP, art. 316),

corrupção ativa (CP, art. 333) etc., pois além do oferecimento da oferta, ou da solicitação

da oferta, ou da promessa, quando o agente consegue obtê-la, estará exaurindo a conduta

criminosa (com o locupletamento), já consumada com a simples atividade anterior.

Material abaixo (“parte” da parte teórica extraído do referencial abaixo já mencionado

anteriormente). Parte de exercícios de fontes variadas.

M.I.:

Nos termos do artigo 14 do Código Penal há uma definição legal do que se considera crime

consumado e tentado1, ao contrário de outros institutos.

Grosso modo, considera-se o crime consumado no momento em que se expressa a

conformidade do fato externo causada pelo comportamento humano com a descrição

típica constante da norma jurídica, mas é necessário destacar que o crime consumado

pressupõe um caminho para sua prática, passando por fases até a sua consumação.

A esse fenômeno jurídico dá-se o nome de iter criminis, que nada mais é do que o

“caminho do crime”, ou seja, o transcurso das fases de um fato humano para a prática de um

crime.

O iter criminis é composto pelas seguintes fases: (a) cogitação (cogitatio), (b) atos

preparatórios, (c) atos de execução e (d) consumação.

Cogitação (cogitatio): é pensamento voltado para a prática de um fato típico

criminoso, não sendo punível, pois ainda não se projetou para o mundo exterior. É um ato/fato

interno do agente para a prática do crime, não perceptível, que o agente imagina, que elucubra,

Page 46: Aula Direito Penal II

mas não delibera ao exterior (exteriorizar).

Atos preparatórios: assim como a cogitação, não são ainda puníveis, a menos

que tenhamos algumas exceções, que a própria lei define em tipos penais autônomos como

crimes. Exemplo: se “A” quer matar “B”. A cogitação é a intenção homicida. Quando “A” toma a

posse ou o transporte de uma arma “fria”, sendo surpreendido em flagrante delito, responderá

pelo crime autônomo da posse da arma, que é crime autônomo por si só. Não responderá pela

intenção homicida, eis que esta ainda não se desenvolveu.

Logo, os atos preparatórios são aqueles fatos externos indicativos da intenção de praticar

uma conduta. No entanto, não houve uma agressão a um bem jurídico ainda, por isso não se pode

falar em crime.

Somente será considerada iniciada a execução, e punível, quando o agente, passando as duas

primeiras fases do iter criminis, alcançar a agressão ao bem juridicamente tutelado e

protegido.

São puníveis os atos de execução que são penalmente relevantes, sendo considerados o

início do crime propriamente dito, eis que são os próprios atos exteriores da ocorrência da conduta

(ação ou omissão) tipificados na norma penal, passando a ofender a legislação penal repressiva.

Na execução já há uma ofensa ao bem jurídico, sendo que a conduta será penalmente

relevante, desde que exista um liame psicológico entre esta e o resultado alcançado, embora o

crime não se tenha completado integralmente.

Teorias a respeito da diferenciação entre os atos preparatórios e de execução:

Teoria material-subjetiva: existe o ato executório no momento em que a conduta (ação ou

omissão) do agente ataca o bem jurídico, tutelado pela norma penal.

Teoria formal-objetiva: há ato de execução quando o comportamento do agente dá início à

realização do tipo penal, ou seja, só existe o começo dos atos de execução no momento em

que o sujeito inicia a realização da conduta descrita na lei, ou seja, o verbo que realiza a ação ou

omissão. No verbo “matar” alguém, por exemplo, só existiria ato de execução quando o verbo

estivesse começando a ser preenchido, com a “morte” de alguém. No caso do homicídio, se não

fosse ele atingido, seria atípico. Essa é a teoria aceita pelo Código Penal brasileiro, embora mereça

ressalvas.

Teoria objetiva-subjetiva ou subjetiva-individual: no sentido de que há uma distinção entre

o “começo da execução do crime” e o “começo da execução da ação típica”. No primeiro, o crime

está se iniciando no ataque efetivo ao bem jurídico tutelado (matar, subtrair, estuprar etc. - teoria

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subjetiva-material). Já no “começo da execução da ação típica” há um critério mais amplo,

abrangendo não só a ação, mas todos os atos imediatamente anteriores ao início da execução da

conduta típica. É perfeitamente aceitável o entendimento de que também são atos executórios do

crime aqueles imediatamente anteriores à conduta que se amolda ao verbo do tipo.

A última fase da composição do iter criminis é a consumação do delito, que é a reunião de

todos os elementos do tipo penal infringido pelo agente. A consumação encerra a noção de total

conformidade do fato praticado pelo agente com a hipótese abstratamente desenvolvida pelo

legislador, insculpindo-a na norma penal incriminadora. A isso se chama de crime consumado. Se

o tipo fala “matar alguém”, o crime se consuma com a efetiva morte de uma pessoa. Se a pessoa

não morre, o crime é tentado. Porém, cada crime possui um diferente momento consumativo do

delito. Essa variação decorre da proteção jurídica estabelecida pelo legislador.

Assim, nos crimes materiais de ação e resultado o momento consumativo é o da produção

deste, nesse caso diz-se que houve o preenchimento de todo o tipo penal descrito na norma

jurídica. Ex.: roubo - o momento consumativo do crime é aquele em que a coisa alheia móvel passa

para a posse do agente.

Nos crimes culposos a consumação ocorre com a produção do resultado

naturalístico, não se pesquisando a intenção do agente no momento do

crime. Havendo o resultado exterior, que afeta a relação humana, ocorrerá a

consumação do delito. Nos crimes de lesões corporais e homicídios culposos

quando há a lesão ao bem jurídico tutelado (vida e integridade física).

Nos crimes de mera conduta, em que o tipo não faz menção ao evento, a consumação se

dá com a simples ação. Exemplo típico é o de violação de domicílio, onde o crime se consuma

com a simples entrada do agente ou a sua permanência depois de determinada a saída.

Nos crimes formais a consumação ocorre com a simples atividade, independentemente da

produção do resultado descrito no tipo.

Nos crimes permanentes a consumação se protrai no tempo desde o instante em que se

reúnem os seus elementos até que cesse o comportamento do agente.

Nos crimes omissivos a consumação se dá no momento em que o autor deveria cumprir o

dever jurídico a ele imposto, ou seja, quando ele devesse praticá-lo e não o fez. Esses se

Page 48: Aula Direito Penal II

dividem em próprios e impróprios.

Nos crimes omissivos próprios se dá a consumação do delito com o simples comportamento

negativo (ou ação diversa), não se condicionando à produção de um resultado posterior, mesmo

porque o momento consumativo ocorre no instante da conduta omissiva.

Nos crimes omissivos impróprios, ou comissivos por omissão, há necessidade de um evento

naturalístico posterior, mesmo porque é este evento externo que delimitará a conduta típica e

punível. Exemplo típico é o caso da mãe que deixa de alimentar o filho. Somente com a morte dele

é que se dará o evento típico e a modificação do mundo externo.

Nos crimes qualificados pelo resultado o momento consumativo ocorre no instante da

produção do evento mais gravemente apenado. Quando concorre uma circunstância

qualificadora, que constitui um evento naturalístico, a consumação do crime se considera realizada

no momento e no lugar de sua produção. Exemplo é o artigo 260 do Código Penal, que trata do

“perigo de desastre ferroviário”, sendo que o caput prevê o crime, enquanto que o eventual desastre

é qualificadora do crime (§§ 1.º e 2.º).

R.S.C.:

Tentativa:

O parágrafo único do art. 14 apresenta o modo de fixação da pena do crime tentado.

Para fixação da pena para o crime tentado deve-se considerar a maior ou menor aproximação

do iter da fase de consumação. Quanto mais próximo o crime tiver chegado de sua consumação

menor será o fator de diminuição da pena.

Observação: Os crimes de atentado ou de empreendimento (de evasão = fuga) (art. 352 do

CP) tem a tentativa punida da mesma forma que a consumação (em razão de ter sido adotada para

estes delitos excepcionalmente a teoria subjetiva: basta a exteriorização da vontade [a tentativa,

subjetivamente, está consumada]).

Classificação doutrinária da tentativa:

1) Quanto ao iter criminis percorrido:

a) Tentativa imperfeita (ou inacabada): o agente é impedido de prosseguir no

seu intento, deixando de praticar todos os atos executórios;

b) Tentativa perfeita (ou acabada ou crime falho): o agente, apesar de praticar

todos os atos executórios à sua disposição, não consegue consumar o crime por

Page 49: Aula Direito Penal II

circunstâncias alheias à sua vontade.

Observação: Não confundir.

a) Crime falho = tentativa perfeita

b) Quase crime = crime impossível (CP, art. 17) e à participação impunível (CP, art. 31). A

bem da verdade, inexiste crime (C.M.).

2) Quanto ao resultado produzido na vítima:

a) Tentativa branca: o golpe desferido não atinge o corpo da vítima.

b) Tentativa cruenta (vermelha): quando a vítima é atingida.

3) Quanto à possibilidade de alcançar o resultado:

a) Tentativa idônea: o resultado, apesar de possível de ser alcançado, só não

ocorre por circunstâncias alheias à vontade do agente.

b) Tentativa inidônea: aqui o crime mostra-se impossível na sua consumação

(art. 17 do CP) por absoluta ineficácia do meio empregado ou por absoluta

impropriedade do objeto material – também chamado de crime impossível (ou

quase crime). Ex: tentar cometer homicídio por envenenamento sem utilizar

substância que seja venenosa.

Não admitem tentativa (infrações penais): (R.S.C.)

a) Crimes Culposos (negligência, imperícia, imprudência): como o agente não quer o resultado (não há dolo), não é compatível com a tentativa, com o instituto do conatus (tentativa de crime: a) conatus proximus: (locução substantiva) (Direito) conjunto dos atos da realização efetiva de um crime; b) conatus remotus: (locução substantiva) (Direito) conjunto de atos que servem de preparação para a realização efetiva de um crime; c) conatus (Filosofia) tendência inata de uma “coisa” para continuar a existir e se aprimorar; esta “coisa” pode ser mente, matéria ou uma combinação de ambos.

b) Crimes preterdolosos: como há dolo no antecedente e culpa no

consequente, o agente não quis o resultado (final), sendo-lhe imputado a

título de culpa.

c) Crimes omissivos próprios: o crime consuma-se automaticamente

com a omissão.

d) Contravenções penais: o art. 4º da LCP preceitua ser impunível a

Page 50: Aula Direito Penal II

tentativa de contravenção.

e) Crimes de atentado: Grande parte da doutrina entende não haver a

tentativa. Para Rogério Sanches Cunha, há sim a tentativa, porém,

punida com a mesma pena do delito consumado (o que fica excluído é a

causa de diminuição de pena) (CP para concursos, p. 38).

f) Crimes habituais: tipificando a lei reiteração de atos, não ocorrendo,

o fato será atípico.

g) Crimes unissubsistentes: consuma-se com somente um ato.

Material extraído da fonte abaixo, já relacionada e mencionada no início deste arquivo.

M.I.:

Definição de Tentativa:

Ao contrário da consumação do delito, a tentativa é a não execução completa do

tipo penal.

A tentativa ou conatus é uma ampliação da proibição

das normas penais incriminadoras sobre os fatos que o agente não chega

a concluir, ficando aquém da constituição do tipo penal.

Normas Conjugadas para a formação do Tipo Penal na Tentativa:

A primeira é prevista na Parte Especial do Código Penal, descrevendo o fato

típico.

A segunda é prevista na Parte Geral, que descreve o que é a tentativa de

crime, especialmente o artigo 14, inciso II, do Código Penal.

São elementos da tentativa de crime:

início da execução do crime;

não consumação do crime por circunstâncias alheias à vontade do

agente.

O início da execução do crime se dá com a iniciação da conduta típica de

execução do crime, conforme aceita a teoria objetiva do Código Penal. Os

atos preparatórios são impuníveis, desde que não constituam fatos típicos

Page 51: Aula Direito Penal II

próprios.

O elemento “não consumação do crime por circunstâncias alheias à vontade do

agente” pressupõe que o agente tinha a intenção de cometer o

crime (cogitatio), passou a preparar-se para a prática da conduta criminosa (atos

preparatórios), deu início à execução dos atos tendentes a produzir o evento lesivo

externo (resultado) à sua vontade, iniciando a agressão ao bem

juridicamente tutelado, porém, nesse instante, por forças exteriores ao

desejo do agente, houve a interrupção do crime, houve a paralisação do

ato executório, não por vontade do agente, mas sim por “circunstâncias

alheias à vontade do agente”. Se a ação não se consuma por circunstâncias alheias à

vontade do agente, mas sim porque o agente assim o desejou, poderemos dizer que

houve arrependimento eficaz ou desistência

voluntária.

A tentativa se divide em:

Perfeita;

Imperfeita.

A tentativa é imperfeita ou propriamente dita quando o desenrolar dos atos

executórios do crime são interrompidos por circunstâncias alheias à vontade

do agente. O agente não consegue efetivar a materialidade do crime porque

foi interposto um obstáculo entre a sua intenção e a sua ação. Não tem a possibilidade

material de praticar o crime, sendo interrompido o processo executório da conduta

típica. Exemplo: “A” quer matar “B”, sendo que “A” desfere um primeiro golpe de faca

contra a vítima e, no momento em que vai consolidar os demais, é interrompido por

terceiro, que impede a continuação do ato.

Chama-se tentativa perfeita ou crime falho quando o agente completa

todo o caminho do crime, fazendo tudo aquilo que estava ao seu dispor,

somente não conseguindo completar a conduta típica porque o resultado

não ocorreu. No mesmo exemplo anterior, “A” desfere vários golpes de faca

contra “B”, julgando-o morto, porém, “B” é socorrido e sobrevive.

Trata-se de divisão apenas acadêmica.

Page 52: Aula Direito Penal II

O elemento subjetivo da tentativa é o dolo do delito consumado, eis que o agente

atua conscientemente e intencionalmente para a prática de uma conduta, sendo que a

mesma não veio a se realizar completamente, embora o agente tenha atuado no sentido

de seu cometimento.

Destarte, não existe crime culposo tentado, pois a tentativa é a intenção da prática do

crime doloso, ao passo que o crime culposo decorre de um fato externo, sem a intenção

dirigida para esse fim.

Também não há tentativa no crime preterdoloso tentado. O crime preterdoloso ou

preterintencional é a conjunção de dois tipos penais num único tipo. A intenção do

agente, num primeiro momento, é um crime doloso, com toda a intenção de praticar a

conduta. Porém, num segundo momento, o que caracteriza o resultado não desejado, é

a ocorrência de outro evento totalmente diverso. Nesse segundo resultado, não

desejado, não esperado, agrava-se a pena pelo resultado, por mera culpa do agente.

Como esse resultado ocorreu sem a vontade consciente e dirigida para a prática do

crime, dir-se-á que houve um crime culposo, subsequentemente ao primeiro, portanto,

também não haverá condições de punição para esse tipo híbrido.

Também não são admissíveis as formas tentadas nas contravenções (LCP, art. 4.º),

nos crimes omissivos próprios; nos crimes permanentes; nos crimes continuados; nos

crimes complexos; nos crimes unissubsistentes, pois esses se realizam numa única

conduta, num único ato (ex.: a injúria, a difamação etc.); nos crimes que a lei pune

somente quando ocorre o resultado, como a participação em suicídio (CP, art. 122); nos

crimes habituais.

A pena no caso de tentativa

Diante do crime tentado, o juiz poderá diminuir a pena do crime consumado entre o

grau máximo ou mínimo.

A punição da tentativa é abraçada por duas teorias:

Na teoria subjetiva a vontade do agente é perfeita, a razão da punibilidade da

tentativa. Imperfeito é o crime sob seu aspecto objetivo, pois

não chega a consumar-se, a pena do conatus deve ser a mesma do delito consumado.

Para a teoria objetiva a sua punibilidade deve cingir-se ao perigo a que

é exposto o bem jurídico. Não sendo atingido o resultado final desejado pelo agente,

Page 53: Aula Direito Penal II

deve ser fixada a reprimenda dentro de um critério lógico por aquilo que o agente

efetivamente fez. Aliás, é essa a teoria do

Código Penal, prevista no parágrafo único do artigo 14. Quanto mais

o agente se aproximar da consumação do delito, menor será a diminuição da pena.

Quanto menos o agente se aproximar do crime maior

será a diminuição da pena, estabelecendo o juiz o critério previsto no

artigo 59 do Código Penal.

O Código Penal fala em “salvo disposição em contrário” (art. 14, parágrafo único),

pois em determinadas situações a própria norma penal prevê pena de tentativa idêntica

à do crime consumado, sem qualquer diminuição legal. Exemplo é o artigo 352 do

Código Penal, quando trata da evasão de presos, ou do Código Eleitoral que, no artigo

309 diz “votar, ou tentar votar mais de uma vez, ou em lugar de outrem” etc.

Desistência voluntária

Quando o agente não teve a intenção de prosseguir na ação típica, abandonando-a

por completo, seria injusta a condenação desse agente. Assim,

por razões de “política criminal”, deixa o agente de ser punido. É denomina-

da de tentativa abandonada, pois o agente teria condições de prosseguir na

conduta típica, alcançar o fim proposto, mas assim não o fez, interrompendo

a série de acontecimentos, abandonando por completo a conduta.

A desistência voluntária é uma causa de exclusão da adequação típica, na qual há o

retorno da situação jurídica anteriormente existente, como se não tivesse havido o

crime. Ora, se o status quo ante está preservado, não se poderá dizer que houve um fato

típico, antijurídico e culpável, inexistindo a ação ou a omissão não há que se falar em

crime, motivo pelo qual é uma causa que exclui a adequação típica da conduta.

Porém, é importante observar que a desistência voluntária tem que ser desejada pelo

agente, não podendo a mesma ser coagida ou forçada.

A desistência voluntária é parte integrante do iter criminis, percorrendo o agente o

“caminho do crime”, o transcurso das fases de um fato humano para a prática de um

crime. Podemos situá-la entre as fases da execução do crime e a consumação do delito,

depois de já ultrapassadas as fases da cogitação (cogitatio) e dos atos preparatórios.

Page 54: Aula Direito Penal II

Por sinal, é essa a posição apontada pelo Código Penal, mesmo porque apresenta

outro fenômeno jurídico quando o agente já ultrapassou os atos preparatórios,

praticou alguns atos de execução da conduta típica almejada, porém, ainda não

concluiu o crime. Nos termos do artigo 15, parte final, o agente responderá “pelos atos

já praticados”.

A esses “atos já praticados”, se os mesmos vierem a constituir um crime, de per si,

evidentemente o agente não deixará de ser responsável por eles.

A esse fenômeno jurídico damos o nome de tentativa qualificada, eis que o agente

efetivamente agrediu um bem jurídico tutelado pela norma penal, seja ele em maior ou

menor gravidade que aquele que o agente tinha em mente quando iniciou a execução

do fato típico. Exemplo clássico é o do agente que invade uma residência para subtrair

e não o faz, sendo assim responderá somente pela violação de domicílio.

Não haverá desistência voluntária no caso do agente suspender a ação

criminosa para continuar a praticá-la mais adiante ou posteriormente,

aproveitando-se dos atos já executados. Exemplo típico é o sujeito que primeiramente,

numa noite, corta os arames de uma propriedade rural; no dia

seguinte, desparafusa os canos de irrigação da lavoura; no outro dia sub-

trai os canos e os esconde em um canto da propriedade, empilhando-os, e,

somente no quarto dia, é que efetivamente os leva embora, valendo-se de

uma condução. Se for interrompido o processo de subtração, não poderá o

agente valer-se da desistência voluntária, eis que todos os atos praticados

tinham um único fim e a ação de subtrair foi apenas dividida em pequenas

etapas, a fim de não despertar suspeitas. Por cada dia, haveria a suspensão

da conduta típica, antijurídica e culpável, já iniciada, sendo, pois, punível

cada conduta isoladamente.

Arrependimento eficaz

O arrependimento eficaz está expresso no artigo 15 do Código Penal na

frase “impede que o resultado se produza”, vale dizer, é a vontade do agente que,

tendo se arrependido, efetivamente, da prática da conduta, procura evitar, com

Page 55: Aula Direito Penal II

sucesso, que o resultado provocado por sua ação inicial se produza. Se o iter

criminis é o caminho do crime, o arrependimento eficaz é a contramão do

caminho do crime, no sentido de voltar atrás, evitando que o resultado se

configure.

O arrependimento eficaz é diverso da desistência voluntária, no sentido de que nesta

o agente ainda não alcançou o resultado. Já no arrependimento eficaz, o processo de

execução da conduta típica já está encerrado, sendo que o agente retorna ao caminho do

crime, praticando nova conduta, a fim de evitar que o crime venha a se consumar.

Exemplo clássico de arrependimento eficaz é aquele em que o agente procura matar

a vítima ministrando-lhe veneno, que é ingerido por ela. Ao perceber que sua ação

levará, efetivamente, à prática do crime, arrepende-se e ministra antídoto à vítima,

evitando que a mesma faleça. Logicamente, se a vítima vier a falecer, mesmo depois de

ministrado o antídoto, restará consumado o crime qualificado.

A diferença primordial entre a desistência voluntária e o arrependimento

eficaz reside no fato de que na desistência o agente deixa de atuar, deixa

de agir, pratica um ato negativo. No arrependimento, ao revés, retorna pelo

caminho, recompondo a sua conduta, voltando para deixar as coisas no

mesmo estado em que estavam anteriormente, fazendo a contramão da

ação. Trata-se de ato positivo, voltado para o sucesso de sua ação, evitando

que o resultado aconteça.

Questões para debates

1. Diferencie o arrependimento eficaz da desistência voluntária.

2. Quais teorias existem sobre a pena da tentativa?

3. É possível a tentativa de crime culposo?

Atividade de aplicação

1. (Cespe) Em relação aos pressupostos teóricos da figura da desistência voluntária, assinale

Page 56: Aula Direito Penal II

a opção correta.

a) Para que se possa falar em desistência voluntária, é preciso que o agente já tenha ingressado na

fase dos atos de execução do delito, pois, caso o agente se encontre praticando atos preparatórios, sua

conduta será considerada um indiferente penal.

b) A desistência voluntária, para configurar-se, necessita que o ato criminoso não ocorra em

circunstâncias que dependam diretamente da vontade do autor do delito.

c) A concretização da desistência exige tanto a voluntariedade da conduta

do agente quanto a espontaneidade do ato.

d) Segundo a fórmula de Frank, quando, na análise do fato, se verificar que o agente pode prosseguir

mas não quer, o caso é de crime tentado e quando o agente quer prosseguir, mas não pode, o caso é de

desistência voluntária.

Dica de estudo

Observar que o arrependimento eficaz e a desistência voluntária levam, no

mais das vezes, à ausência de punição, diferentemente da tentativa do crime, que

é punível, eis que o agente chegou a praticar um ato voluntariamente, somente

não o consumando por circunstâncias alheias à sua vontade.

Gabarito - Questões para debates

1. O arrependimento eficaz se diferencia da desistência voluntária, pois no

arrependimento eficaz o iter criminis está concluído, ou seja, o processo de

execução da conduta típica já está encerrado, sendo que o agente re torna ao

caminho do crime, praticando nova conduta, a fim de evitar que o crime venha a

se consumar, ao passo que na desistência voluntária o agente ainda não alcançou o

resultado, encerrando sua atividade criminosa.

2. A punição da tentativa é abraçada pela teoria subjetiva onde a vontade

do agente é perfeita, a razão da punibilidade da tentativa, pois o crime

não chega a se consumar por uma deficiência qualquer de ação, e, ainda,

pela teoria objetiva por conta da exposição de ofensa ao bem jurídico,

embora não atingido o resultado final desejado pelo agente.

3. Não é possível a tentativa de crime culposo, eis que nesse tipo de delito

Page 57: Aula Direito Penal II

não há a vontade do agente na prática de uma conduta, sendo que o

agente apenas praticou um fato que gerou um resultado não desejado

pelo agente. Se não há direcionamento da vontade não há como punir.

Gabarito - Atividade de aplicação

1. A

QUESTÕES PARA CONCURSO – CÓDIGO PENAL – ART. 14

01. (magistrado Trabalhista – TRT1ª – 2010) Acerca dos crimes consumado e tentado,

assinale a opção correta.

a) a tentativa abandonada pressupõe resultado que o agente pretendia produzir dolosamente,

mas de que, posteriormente, desistiu ou se arrependeu, evitando-o; tal instituto é

incompatível com os crimes culposos.

b) Se um indivíduo desferir cinco tiros em direção a seu desafeto, com intenção apenas de o

lesionar, e, no entanto, por má pontaria, nenhum projétil atingir a vítima, ocorrerá a

denominada tentativa cruenta.

c) Em relação à definição do início da execução de uma conduta criminosa, o critério que o

ordenamento jurídico brasileiro adotou foi o subjetivo, cujo enfoque não é a descrição da

conduta típica, mas o momento interno do autor.

d) Em relação à punição da modalidade tentativa de crime, a teoria que o Código Penal

adotou foi a subjetiva, segundo a qual a tentativa deve ser punida da mesma forma que o

crime consumado, com redução da pena.

e) Considere a seguinte situação hipotética. Silas, com intenção homicida, desferiu cinco

tiros de pistola contra Matias, que ficou gravemente ferido. Por sugestão de Laura, Silas

arrependeu-se e levou Matias a um hospital, sendo certo que essa atitude foi decisiva para

salvar-lhe a vida. Nessa situação, como a desistência não foi espontânea, pois decorreu de

sugestão de terceiro, não há que se falar de desistência voluntaria.

Page 58: Aula Direito Penal II

02. (Procurador do Estado – PGE/PA – 2009) Assinale a alternativa CORRETA a respeito de

tentativa e consumação do crime:

a) Pune-se a tentativa com a pena correspondente ao consumado, diminuída de um a dois

terços, portanto a pena do crime tentado é sempre menor que a do crime consumado.

b) Os crimes culposos não admitem tentativa, inclusive na omissão imprópria, assim como

nos crimes unissubsistentes, que são aqueles que se realizam em um único ato.

c) Pode haver tentativa no crime preterdoloso ou preterintencional, porque nesta espécie de

crime há dolo no antecedente e culpa no consequente.

d) A adequação típica de um crime tentado é de subordinação mediata, ampliada ou por

extensão, já que a conduta humana nessa espécie de crime não se enquadra prontamente

na lei penal incriminadora.

03. (Defensor Público – DPE/MT – 2009) O art. 14,§ único, do Código Penal dispõe que

“salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime

consumado, diminuída de um a dois terços.” O percentual de diminuição de pena a ser

considerado levará em conta.

a) o inter criminis percorrido pelo agente

b) a periculosidade do agente

c) a reincidência

d) os antecedentes do agente

e) a intensidade do dolo.

04. (magistrado Estadual – TJ/MT – 2009) com relação à tentativa, analise as seguintes

afirmações:

I. os crimes unissubsistentes, os crimes omissivos próprios e as contravenções penais,

entre outros, não admitem a figura da tentativa:

Page 59: Aula Direito Penal II

II. nosso Código Penal adotou a teoria objetiva como fundamento para a punição do

crime tentado conforme se observa no art. 14, parágrafo único: “pune-se a tentativa

com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços”.

III. O crime de cárcere privado é um exemplo de crime que não admite a tentativa

Está correto o contido em

a) I, somente

b) I e II, somente

c) I e III, somente

d) II e III, somente.

e) I, II e III

05. (Defensor Público –DPE/BA – 2010) Na tentativa perfeita, ou tentativa propriamente

dita, o agente não consegue praticar todos os atos executórios necessários à consumação

do crime, sendo o processo executório interrompido por interferências externas, alheias à

vontade do agente.

06. (magistrado Estadual – TJ/PR – 2010 – adaptado) A pena para o crime tentado é a mesma

aplicada para o crime consumado diminuída de 1/6 a 1/3.

07. (Magistrado Estadual – TJ/PR – 2010 – adaptado) Ocorre tentativa quando, antes de

iniciar a execução, o agente é impedido de levar adiante a idéia de praticar o delito por

circunstâncias alheias à sua vontade.

08. (Promotor de Justiça – MP/SC – 2010 – adaptado) A tentativa imperfeita ocorre quando

iniciada a execução, ocorre a sua interrupção por circunstâncias alheias à vontade do

agente.

09. (Defensor Público – DPE/ES – 2009) A tentativa incruenta não é punível, pois considera-

se que o agente não iniciou a fase executória do iter criminis.

Page 60: Aula Direito Penal II

GABARITO DO ART. 14 – 01-A; 02-D; 03-A; 04-B; 05-F; 06-F; 07-F; 08-V; 09-F.

Referências

FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal - Parte Geral. 10. ed. Rio de Janeiro:

Editora Forense, 1986.

GARCIA, Basileu. Instituições de Direito Penal. Volume 1, Tomo I. 4. ed. São Paulo: Ed.

Max Limonad, 1958.

HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. Volume 1, Tomo I. Rio de Janeiro:

Forense, 1953.

JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal. Volume I, Parte Geral. 31. ed. São Paulo:

Saraiva, 2010.

MAGALHÃES NORONHA, Edgard de. Direito Penal. Volume I. 2. ed. São Paulo:

Saraiva, 1963.

MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito Penal. Campinas: Bookseller,

1997.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 24. ed. São Paulo: Atlas,

2008.

PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Volume I, Parte Geral, arts.

1.º a 120. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de Derecho Penal - Parte General. Buenos Aires:

Ediar, 1977.

Page 61: Aula Direito Penal II

CRIME IMPOSSÍVEL, CRIME DOLOSO E CRIME CULPOSO

Do crime impossível

Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por

absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.

Por definição do artigo 17 do Código Penal1 não será considerado punível o fato

quando, por total ausência de condições do meio usado ou quando o objeto material

do crime for absolutamente inconsistente e ineficaz para que o crime ocorra. É o

chamado crime impossível, também chamado de quase-crime, tentativa

inidônea, tentativa impossível ou tentativa inadequada.

Em todos os casos do artigo 17, o agente se utiliza de meios e condições

tendentes à prática de uma conduta inicialmente típica. Porém, os meios que

utiliza ou a condição que emprega, ou até mesmo o “objeto” do tipo penal, são

absolutamente imprestáveis.

O crime impossível é, na realidade, uma conduta (ação ou omissão) do agente,

que tem a intenção deliberada de praticar um crime qualquer. Não obstante sua

intenção e sua vontade deliberada para a prática do crime faltam-lhe requisitos

Page 62: Aula Direito Penal II

indispensáveis à sua conduta, que é exatamente o resultado desejado.

Por mais que o agente tente, utilize os meios de que dispõe para a consecução

do seu crime, não haverá possibilidade de alcançá-lo porque o objeto material do

crime é impróprio ou o meio que buscou para alcançá-lo é inadequado. Tenta o

agente, mas não há idoneidade em sua conduta. Se houvesse, ou se fosse relativa,

haveria crime.

Exemplo clássico da absoluta ineficácia do meio é aquele em que “A” quer

matar “B”. “A” arma-se de revólver, encontra-se com “B”, saca a arma e dispara.

Porém, percebe que não há qualquer munição (bala) no tambor do revólver.

Não há condições de matar, embora fosse o desejo de “A”.

Exemplo clássico da absoluta impropriedade do objeto é aquele em que “A”

tenciona matar “B”, seu desafeto, e o vê deitado numa cama. “A” desfere

diversas punhaladas em “B”, julgando tê-lo matado. Porém, o laudo de exame

necroscópico realizado provará que “B” já estava morto antes do ataque de “A”

em decorrência de um infarto fulminante. Logo, não é crime matar um morto.

Absolutamente impróprio o objeto material do crime, que é a vida.

É importante lembrar que o texto fala em ineficácia do meio e

impropriedade do objeto, ambos de maneira absoluta, ou seja, se as espécies

mencionadas forem relativas haverá a tentativa punível.

Teorias do crime impossível

Há várias teorias que surgiram para classificar o quase-crime e sua punibilidade,

discutindo-se acerca de sua necessária persecução criminal a fim de que situações,

aparentemente desvinculadas do fato, pudessem ter ligação com o crime. São aceitas

as seguintes:

Teoria sintomática, que diz que dever-se-ia aplicar pena no agente, em razão

de sua periculosidade e indícios fortes e seguros de sua temibilidade penal. Com a

Reforma Penal de 1984 a medida de segurança deixou de existir para os “perigosos”

sendo a mesma aplicada aos inimputáveis, nos termos do artigo 26 do Código Penal.

Teoria subjetiva, considera-se a finalidade buscada pelo agente na

Page 63: Aula Direito Penal II

condução de seu ato, motivo pelo qual deveria ser condenado pela

mesma pena aplicada à tentativa do crime. Não obstante a adoção da

teoria finalista da ação pelo nosso Código Penal torna-se impossível a

aplicação da mesma pena ao agente porque não foi afetado um bem

jurídico. Portanto, não se pode confundir tentativa perfeita ou imperfeita com crime

impossível.

Pela teoria objetiva não haveria necessidade de reprimir a conduta

do agente, mesmo porque não existiram os elementos que compõem

a tentativa e o bem jurídico não corre risco algum.

No Brasil, até 1984, vigorou essa teoria, porém, a teoria objetiva temperada, em

face do anterior regime da medida de segurança. Atualmente, o Brasil adotou a

teoria objetiva pura no sentido de que não é punível a conduta quando houver a

absoluta impropriedade do objeto ou a absoluta ineficácia do meio, pois deixou

de existir a medida de segurança para os agentes reconhecidamente perigosos.

Crime putativo

O crime putativo, também chamado de crime imaginário ou crime de

ensaio, é aquele crime em que o agente imagina que está praticando uma

conduta típica, mas, em verdade, o fato típico só existe na sua imaginação.

Houve um erro de interpretação do agente, que se supõe um delinquente

quando não o é, naquele caso.

Exemplo típico é o caso de “A” imaginar-se praticando um crime de incesto

com sua irmã “B”, maior e capaz. Porém, não existe tal dispositivo em nossa

legislação penal. Há o exemplo do agente que, tendo direito a uma parte da

herança de seu pai, subtrai para si uma quantidade de bens, imaginando-se

larápio. Porém, descobre-se que o mesmo tinha direito exatamente àquela

quantia subtraída. Há a exclusão de ilicitude nos termos do artigo 156, § 2.º,

do Código Penal.

Por todos esses fatos percebe-se que o agente efetivamente praticou uma

conduta, imaginando ser essa conduta criminosa. Ocorre que, em realidade,

havia uma má interpretação das normas legais puníveis, havendo um “erro”. Não

Page 64: Aula Direito Penal II

há dispositivo penal sobre o crime putativo.

Crime putativo provocado ou crime provocado

Chama-se crime provocado ou crime putativo provocado quando o

agente é induzido, carregado, provocado, a praticar uma conduta típica,

mas, em verdade, já existiu uma preparação anterior tornando-se

impossível a realização do resultado esperado pelo agente. Cumpre

diferenciar o crime provocado do crime esperado.

O crime é provocado quando o agente, embora deliberado na prática da

conduta, é induzido e levado a provocar a conduta típica como se fosse real.

Porém, o resultado de sua conduta não se concretiza porque já existia uma

predisposição para que o resultado efetivamente não se configurasse. Exemplo: a

polícia deixa um veículo apreciado pelo gatuno no seu local desejado

e diversos policiais à paisana no derredor do local, apenas esperando o mo-

mento em que o agente vai subtraí-lo. Ao adentrar no veículo, soando um

dispositivo previamente instalado pela polícia, fica o mesmo trancado no

automóvel, sem condições de fugir, sendo autuado em “flagrante”. Flagrante

inexistente. Pela Súmula 145, do Supremo Tribunal Federal, não existe o

crime no caso de preparação do flagrante por parte da polícia.

Já o crime esperado se dá quando a polícia sabe que o agente é

delinquente e está praticando condutas ou na iminência de praticá-las.

Assim, procura aguardar o momento em que o agente irá agir para

prendê-lo. A polícia não teve qualquer outra participação na conduta

criminosa do agente, apenas aguardou o momento oportuno para que o

mesmo praticasse sua deliberada e prévia ação, conseguindo prendê-lo.

Aqui o flagrante é certo.

Não se pode confundir com o crime exaurido, principalmente quando a

vítima ainda quer uma prova maior da corrupção ativa do agente público.

Nesse caso, filma o momento em que entrega o dinheiro ao sujeito. Nesse

caso já existiu a consumação do crime no momento em que o agente pediu

a “propina”, sendo a entrega do dinheiro mero exaurimento do crime que

não interfere na persecução do primeiro crime.

Page 65: Aula Direito Penal II

QUESTÕES PARA CONCURSOS – ART. 15

01. (Analista – TER/MT – 2010 – adaptada) Presentes os pressupostos legais da configuração

do arrependimento eficaz, o efeito será a redução da pena de um terço a dois terços.

02. (Promotor de justiça – MP/SC – 2009 – adaptado) Para que surtam os efeitos previstos no

art. 15 do CP, tanto a desistência voluntária quanto o arrependimento eficaz devem ser

voluntários e espontâneos.

03. (magistratura Estadual – TJ/PR – 2010 – adaptado) na desistência voluntária o agente que

praticou o ato responde por tentativa.

04. (magistrado Estadual – TJ/PR – 2010 – adaptado) o agente que impede a produção dos

efeitos de sua ação faz, agindo assim, com que, o crime não se consume, ocorre desse

modo, o arrependimento eficaz.

05. (magistratura Estadual – TJ/SC – 2009 – adaptado) A desistência voluntária comunica-se

entre autores e partições, de forma que, se apenas um deles desistir voluntariamente de

prosseguir na prática delituosa, todos são beneficiados da causa geral de redução de pena.

06. (Defensor Público – DPE/PI – 2009 – adaptado) O instituto da desistência voluntária

comunica-se entre autores e partícipes, de forma que, se apenas um deles desistir

voluntariamente de prosseguir na prática delituosa, todos são beneficiados da causa geral

de redução de pena.

07. (Defensor Público – DPE/PI – 2009 – adaptado) Se o agente desiste de continuar prática

de um delito por conselho de terceira pessoa, resta descaracterizada a desistência

voluntária.

Page 66: Aula Direito Penal II

08. (Promotor de Justiça – MP/PR – 2009 – adaptado) A desistência voluntária pode se

materializar em hipóteses de tentativa acabada ou de tentativa inacabada.

GABARITO DO ART. 15 – 01-F; 02-F; 03-F; 04-V; 05-V; 06-F; 07-F; 08-F.

QUESTÕES PARA CONCURSOS – ART. 16

01. (Magistrado Estadual – TJ/PR – 2010 – adaptado) O agente que, voluntariamente, desiste

de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza só responde pelos atos já

praticados, ocorrendo assim a hipótese de arrependimento posterior.

02. (Promotor de justiça – MP/SC – 2009 – adaptado) No crime de roubo qualificado pelo

emprego de arma de fogo, reparado o dano ou restituída a coisa até o recebimento da

denúncia ou queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços

nos termos do art. 16 do CP – arrependimento posterior.

03. (Promotor de justiça – MP/PB – 2009 – adaptado) Não se admite aplicação do

arrependimento posterior no crime de furto qualificado pela destruição ou rompimento de

obstáculo, em razão da violência empregada pelo agente na subtração.

04. (Magistrado Estadual – TJ/SC – 2009 – adaptado) O arrependimento posterior, causa

obrigatória de diminuição de pena, ocorre nos crimes cometidos sem violência ou grave

ameaça à pessoa, em que o agente, voluntariamente, repara o dano ou restitui a coisa até o

oferecimento da denúncia ou queixa.

05. (Promotor de justiça – MP/CE – 2009 – adaptado) É admissível o arrependimento

posterior no crime de extorsão.

GABARITO DO ART. 16 – 01-F; 02-F; 03-F; 04-F; 05-F.

Page 67: Aula Direito Penal II

QUESTÕES DE CONCURSOS DO ART. 17

01. (Magistrado Estadual – TJ/SC – 2009 – adaptado) ”Não se pune a tentativa quando, por

ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível

consumar-se o crime.” O excerto transcrito se refere ao crime impossível, causa de isenção

de pena.

02. (Defensor Público – DPE/PI – 2009 – adaptado) A jurisprudência do STJ pacificou-se no

sentido de que a presença de sistema eletrônico de vigilância no estabelecimento comercial

torna o agente completamente incapaz de consumar o furto, a ponto de reconhecer

configurado o crime impossível, pela absoluta ineficácia dos meios empregados.

03. (Defensor Público – DPE/PI – 2009 – adaptado) Em relação à punição do fato que

caracteriza crime impossível, o CP adotou a teoria subjetiva.

04. (Promotor de justiça – MP/PR – 2009 – adaptado) A tentativa inidônea, também conhecida

como crime impossível, pode ocorrer por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta

impropriedade do objeto.

GABARITO DO ART. 17 – 01-F. 02-F; 03-F; 04-V.

Crime doloso e crime culposo

A definição geral de ambos encontra-se nos artigos 18 e 19 do Código

Art. 18. Diz-se o crime:

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;

II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou

Page 68: Aula Direito Penal II

imperícia.

Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato

revisto como crime, senão quando o pratica dolosamente.

Art. 19. Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o

houver causado ao menos culposamente.

Penal Brasileiro, mas que devem ser analisados separadamente2.

Do crime doloso

O conceito de dolo é integrante do elemento subjetivo do tipo penal, adotado pelo Código

Penal. É que, em certos tipos penais não basta apenas que exista o dolo, há necessidade de

se saber a verdadeira carga subjetiva da conduta, a fim de saber a extensão da finalidade

da conduta do agente. Havendo intenção, há o dolo. Diante disso, a conduta passa a ser

dolosa, falando-se, então, em ação ou omissão dolosa.

É o dolo a mais grave forma de culpabilidade, pois se trata da manifestação da vontade do

agente de desejar o resultado ou assumir o risco de produzi-lo. É a constituição do elemento

subjetivo do tipo penal.

Sobre o dolo surgiram diversas teorias destacando-se:

Pela teoria da representação o dolo seria a representação subjetiva da previsão do resultado

danoso, sendo este considerado como possível.

Pela teoria do consentimento (volição) o dolo exigiria um

consentimento prévio tendente a causar um resultado danoso, devendo

este ser considerado, também, como possível. Não há necessidade do

agente querer o resultado, basta que dê sua aquiescência para a realização

do resultado.

Page 69: Aula Direito Penal II

Pela teoria da probabilidade (cognição) o dolo estaria presente na

simples probabilidade de sua ocorrência, não mais na possibilidade de

vir a ocorrer o evento danoso.

Pela teoria da vontade o dolo é a intenção mais ou menos perfeita de

praticar um fato que se conhece contrário à lei. Pela teoria da vontade,

em realidade o dolo é mesmo a intenção dirigida para um determinado

resultado, consciente o agente da natureza do fato e sua vontade

destinada a causá-lo.

O nosso Código Penal adotou a teoria da vontade na primeira parte do artigo

18, inciso I (quis o resultado) e a teoria do assentimento na segunda parte do

mesmo artigo (assumiu o risco de produzi-lo).

Elementos do dolo

São elementos do dolo:

Consciência, que é o conhecimento do fato e que constitui a ação típica,

sendo o elemento cognitivo ou intelectual, ou seja, a consciência da

realização dos elementos objetivos do tipo penal;

Vontade, que é o elemento volitivo, intencional, desejo incondicionado à

realização dos elementos objetivos do tipo penal. É a intenção e a vontade

de praticar a conduta descrita no tipo.

Assim, o dolo é composto de duas fases distintas, sendo a primeira o

objetivo que o agente pretende alcançar, aliado aos meios empregados e às

consequências de sua atuação. Há duas situações nessa primeira fase da

conduta: uma interna - que é o pensamento do agente. Ex.: propor-se a matar

um inimigo (fim). A outra é externa, quando seleciona os meios para realizar

essa finalidade (escolhe uma determinada arma, por exemplo).

A segunda fase é a exteriorização da conduta, ou seja, é a realização da

atividade. Ex.: o agente pensou em liquidar seu desafeto e agora passa a agredi-

lo. Como já escolheu a arma, desfere tiros contra a vítima.

Espécies de dolo

Page 70: Aula Direito Penal II

A doutrina distingue as formas de dolo:

Dolo direto ou determinado, quando estiver presente na ação ou

omissão do agente a intenção, a vontade, o querer o resultado, o

desejar que, de sua ação ou omissão, exista um resultado esperado. É

a intenção que move a conduta. No matar alguém, por exemplo, a

intenção é matar, sendo assim o dolo é determinado, direto.

Dolo indeterminado ou indireto, quando o elemento volitivo da

conduta não se dirige a um resultado certo e esperado.

Dolo será alternativo quando, existindo uma conduta, o agente

pouco se importa com qual dos resultados venha a alcançar. O

exemplo clássico é do agente que se dirige ao seu desafeto e desfere

tiros contra ele, pouco se importando com o resultado alcançado. Para

ele, tanto faz a morte como a lesão corporal. O fim alcançado é o dano

à pessoa de seu desafeto.

Dolo eventual, quando o agente assume o risco de produzir o

resultado, ou seja, sabendo ele que o resultado de sua conduta pode

ocasionar dano, com ele pouco se importa, acabando por,

efetivamente, causá-lo. É uma equiparação legal do artigo 18, II, 2.ª

parte.

Com relação ao dolo eventual prevalece no nosso Direito Penal a

teoria do assentimento, pois o agente tem a consciência exata de

sua conduta, sabe que dela advirá um resultado, mesmo assim,

voluntariamente, prossegue nessa conduta, produzindo

efetivamente o resultado.

Há uma linha divisória tênue entre o dolo eventual e a culpa

consciente, pois enquanto no dolo eventual o agente sabe da

possibilidade da ocorrência de um resultado, preferindo arriscar-

se a produzi-lo, ao invés de renunciar à ação, na culpa consciente, ao

contrário, o agente não admite a existência de resultado, repelindo-

o, embora inconsideradamente, e empreende a ação na esperança

ou persuasão de que este não ocorrerá.

Page 71: Aula Direito Penal II

Dolo de dano é aquele em que o agente deseja atuar para causar

um dano a outrem, podendo esse dano ser eventual ou

diretamente voltado para o resultado. O dano não tem a mesma

significação que prejuízo, frise-se. O dano poderá ser à pessoa ou ao

bem móvel, como é o caso da subtração, como é o caso do estelionato,

ou mesmo do homicídio, onde o agente quer produzir um dano à vida.

Dolo de perigo é diverso, a intenção do agente não se destina ao maior

mal, que é o dano, contentando-se o agente somente com a exposição

ao perigo. É o caso, por exemplo, dos crimes previstos nos artigos 132,

133 etc. Não quer o agente um mal maior, basta a ocorrência do perigo

para que o agente com ele veja encerrada sua conduta, assumindo o

risco da produção de um resultado ou produzindo-o dolosamente.

Dolo genérico é aquele em que o agente simplesmente realiza a

conduta descrita na tipificação penal, sem indagar qualquer outro

elemento

que componha o tipo penal. A vontade do agente encontra-se prevista na

própria conduta, como está previsto na tipificação do homicídio,

“matar alguém”, não especificando a norma qualquer outro elemento

para a composição do tipo. A grande maioria dos tipos penais prevê a

forma genérica de dolo.

Dolo específico, ao contrário, exige, além da conduta, um especial fim

de agir, uma finalidade voltada para a consecução do resultado,

prevista pelo agente no momento da realização do crime. Assim, no crime

de perigo de contágio de moléstia grave, descrito no artigo 131, só

existirá o delito se cometido com o fim de transmitir a doença.

Entretanto, atualmente os doutrinadores afirmam não mais existir esse tipo

de dolo, não obstante descrito nos diversos tipos penais.

Dolo geral ou erro sucessivo é aquele em que o agente pratica nova

ação, após já ter realizado outra conduta, sendo que a primeira

conduta já havia produzido um evento lesivo. Porém, a segunda é que

causou o evento desejado pelo agente. Ex.: “A” imagina ter matado “B”,

em razão de ter desferido golpes de faca. Em seguida, joga “B” num rio,

Page 72: Aula Direito Penal II

sendo que o exame necroscópico irá constatar que o crime de homicídio

deu-se em razão do afogamento, não em razão das facadas.

Do crime culposo

O legislador pátrio não fez uma definição própria da culpa, descrevendo

somente suas modalidades.

Cuidar-se-á da culpa em sentido estrito (strictu sensu). Ao contrário do que existe nos

crimes dolosos, onde se faz o processo de adequação típica da conduta, no delito culposo

não há essa possibilidade, eis que o crime culposo não descreve a conduta. Define-se

somente com o jargão “se o crime é culposo”, sem descrição da intenção do agente ou da

sua vontade. Por isso, se diz que os crimes culposos são tipos penais abertos.

Na aferição do cuidado objetivo, deve-se atentar para o cuidado

comum, do homem com discernimento e prudência, aquele cuidado

que todo o homem comum (homus medium) deve ter.

Chama-se esse cuidado objetivo exigível ao homem médio de

previsibilidade objetiva. Além dessa previsibilidade objetiva, há também

que se considerar a capacitação do agente para a não realização do

resultado. Essa é a previsibilidade subjetiva, que é a capacidade do

agente de poder responder pelo resultado, em razão de suas aptidões

pessoais e, dentro dessa capacitação, a possibilidade de prever o

resultado como possível.

Assim, o crime culposo é a falta de previsibilidade subjetiva do

agente em relação à previsibilidade objetiva do homem médio.

Elementos do tipo culposo

O crime culposo se compõe de cinco elementos:

Conduta humana voluntária, ação ou omissão do agente, não se

questionando a vontade; apenas a conduta é um fator integrante da

forma como o sujeito agiu.

Page 73: Aula Direito Penal II

Não observância do dever de cuidado, que é comum a qualquer

homem, conscientemente sabedor da obrigação de não causar dano a

terceiros. O legislador se contenta com a falta de dever de cuidado

objetivo.

Resultado involuntário, consiste no fato de que o agente não deseja

que o resultado lesivo aconteça, havendo a modificação do mundo

exterior.

Previsibilidade objetiva eis que todo homem mediano sabe da

possibilidade da existência de um perigo com a conduta descuidada,

desde que tenha discernimento suficiente, compreendendo o seu ato.

Tipicidade: é a descrição do fato como infração penal.

Das modalidades da culpa

Chamam-se modalidades de culpa as formas como o crime culposo é

cometido, estando explicitamente declaradas no artigo 18, inciso II, do Código

Penal: imprudência, negligência e imperícia.

A imprudência consiste na ação do agente que atua precipitadamente,

sem consideração, sem cautelas, deixando de usar os poderes que tinha para

inibir a ação.

É, geralmente, uma ação positiva. Por exemplo, o sujeito que continua na

marcha de seu veículo, mesmo vendo uma pessoa saindo à rua para galgar o

passeio público do outro lado. O exemplo típico é o sujeito que resolve limpar

uma arma (municiada / carregada) na proximidade de outras pessoas, vindo a

disparar a arma contra uma delas.

A negligência é inércia psíquica, a falta de cautela necessária exigida para

que o resultado não se realize. É a displicência, a indiferença, a falta de

realização de outra conduta que, se fosse feita, impediria o resultado. É

negativa.

Page 74: Aula Direito Penal II

Exemplos típicos são os do agente que abre uma valeta na rua e deixa de

sinalizá-la, vindo alguém a cair na mesma. Outro exemplo é o do agente que

deixa o veículo estacionado sem acionar o comando de freio adequadamente.

A imperícia é a falta de aptidão ou de conhecimentos técnicos no exercício

de sua profissão ou arte, ou a falta de experiência ou o desleixo na

realização de sua condição profissional, provocando o resultado, quando

o agente se dispõe a fazê-la, mesmo sendo carecedor de conhecimento

técnico, teórico ou prático para tanto, ou, ainda, fazendo-o sem se louvar

desses conhecimentos.

Ex.: o médico que não tem conhecimento apurado

sobre cirurgia e assim mesmo a faz; o motorista profissional que não consegue

manter-se no leito carroçável da pista de rolamento, permitindo que,

por sua imperícia, o veículo saia da pista e capote etc.

Nada impede que, num mesmo tipo culposo, exista a conjugação de

modalidades de culpa, como a imprudência e a negligência, a imprudência e a

imperícia, a imperícia e a negligência, ou todas ao mesmo tempo.

Questões para debates

1. Diferencie os tipos de dolo que existem.

2. Descreva o que é um crime impossível.

3. Quais são as teorias sobre o crime impossível?

4. O que é um crime putativo?

5. Diferencie as modalidades de culpa.

6. Por que se diz que o crime culposo é um tipo penal aberto?

Atividade de aplicação

Page 75: Aula Direito Penal II

1. (FCC) Entre os elementos do crime doloso não se inclui a:

a) consciência do resultado.

b) noção da conduta.

c) imprudência, a imperícia e a negligência.

d) consciência do nexo causal entre conduta e resultado.

e) vontade de praticar a conduta e alcançar o resultado.

Dica de estudo

Sempre procurar recordar das diversas modalidades de dolo e de culpa

existentes no sistema penal. O crime impossível é verdadeiro “balão de

ensaio”.

Referências

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. V. 1. Saraiva. São Paulo.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal comentado. 11ª ed. São Paulo, RT, 2012.

FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal - Parte Geral. 10. ed. Rio

de Janeiro: Editora Forense, 1986.

GARCIA, Basileu. Instituições de Direito Penal. Volume 1, Tomo I. 4. ed. São

Paulo: Ed. Max Limonad, 1958.

GOMES, Luiz Flávio; MOLINA, Antônio García-Pablos de. Direito penal: parte

geral. V. 2. RT. São Paulo.

HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. Volume 1, Tomo I. Rio de

Janeiro: Forense, 1953.

JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal. Volume I, Parte Geral. 31. ed.

São Paulo: Saraiva, 2010.

MAGALHÃES NORONHA, Edgard de. Direito Penal. Volume I. 2. ed. São

Paulo: Saraiva, 1963.

MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito Penal. Campinas: Bookseller,

1997.

Page 76: Aula Direito Penal II

MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 24. ed. São Paulo: Atlas,

2008.

PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Volume I, Parte Geral,

arts. 1.º a 120. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de Derecho Penal - Parte General.

Buenos Aires: Ediar, 1977.

Gabarito - Questões para debates

1. São tipos de dolo os seguintes: dolo direto ou determinado, quando es

tiver presente na ação ou omissão do agente a intenção, a vontade, o

querer o resultado, o desejar que, de sua ação ou omissão, exista um re

sultado esperado. Dolo indeterminado ou indireto é quando o elemento

volitivo da conduta não se dirige a um resultado certo e esperado. Dolo

alternativo é quando, existindo uma conduta, o agente pouco se impor-

ta com qual dos resultados venha a alcançar. Dolo eventual é quando o

agente assume o risco de produzir o resultado, ou seja, sabendo ele que o

resultado de sua conduta pode ocasionar dano, com ele pouco se impor

ta, acabando por, efetivamente, causá-lo. Dolo de dano é aquele em que

o agente deseja atuar para causar um dano a outrem, podendo esse dano

ser eventual ou diretamente voltado para o resultado. Dolo de perigo é

diverso, a intenção do agente não se destina ao maior mal, que é o dano,

contentando-se o agente somente com a exposição ao perigo. Dolo genérico é

aquele em que o agente simplesmente realiza a conduta descrita

na tipificação penal, sem se indagar mais qualquer outro elemento que

componha o tipo penal. Dolo específico, ao revés, exige, além da condu

ta, um especial fim de agir, uma finalidade voltada para a consecução do

resultado, prevista pelo agente no momento da realização do crime. Dolo

geral ou erro sucessivo é aquele em que o agente pratica nova ação, após

já ter realizado outra conduta, sendo que a primeira conduta já havia

produzido um evento lesivo.

2. Crime impossível é o “quase-crime”, “tentativa inidônea”, “tentativa

Page 77: Aula Direito Penal II

impossível” ou “tentativa inadequada”, e se dá quando o agente tem a

intenção deliberada de praticar um crime qualquer, mas lhe faltam

requisitos indispensáveis à conduta, que é exatamente o resultado

desejado. Por mais que o agente tente, utilize os meios de que dispõe

para a consecução do seu crime, não haverá possibilidade de alcançá-lo, ou

porque o objeto material do crime é impróprio ou o meio que buscou para

alcançá-lo é inadequado.

3. As teorias sobre o crime impossível são as seguintes: a) Sintomática no

sentido de que se deveria aplicar pena no agente, em razão de sua

periculosidade e indícios fortes e seguros de sua temibilidade penal. b)

Teoria subjetiva, que se tem em mente a finalidade buscada pelo agen te

na condução de seu ato. c) Teoria objetiva, que diz que não have ria

necessidade de reprimir a conduta do agente, pois não existiram os

elementos que compõem a tentativa e o bem jurídico não corre risco

algum. No Brasil, até 1984, vigorou essa teoria, porém, a teoria objetiva

temperada, em face do anterior regime da medida de segurança,

modificando para a teoria objetiva pura no sentido de que não é punível a

conduta quando houver a absoluta impropriedade do objeto ou a ab

soluta ineficácia do meio, pois deixou de existir a medida de segurança

para os agentes reconhecidamente perigosos.

4. O crime putativo é um “crime imaginário” ou “crime de ensaio”, ou seja,

é aquele crime em que o agente imagina que está praticando uma conduta

típica, mas, em verdade, o fato típico só existe na sua imaginação.

Houve um erro de interpretação do agente, que se supõe um

delinquente quan do não o é, naquele caso.

5. As modalidades de culpa são as seguintes: a) Imprudência consiste na

ação do agente que atua precipitadamente, sem consideração, sem

cautelas, deixando de usar os poderes que tinha para inibir a ação. É,

geralmente, uma ação positiva. b) Negligência é inércia psíquica, a falta de

cau tela necessária exigida para que o resultado não se realize. É a

displicência, a indiferença, a falta de realização de outra conduta que,

Page 78: Aula Direito Penal II

se fosse feita, impediria o resultado. É negativa. c) Imperícia é a falta

de aptidão ou de conhecimentos técnicos no exercício de sua profissão

ou arte, ou a falta de experiência ou o desleixo na realização de sua

condição profissional, provocando o resultado, quando o agente se dispõe a

fazê-la, mesmo sendo carecedor de conhecimento técnico, teórico ou prático

para tanto, ou, ainda, fazendo-o, sendo que o faz sem se louvar desses

conhecimentos.

6. Se diz que o crime culposo é um tipo penal aberto porque depende da

descrição da modalidade da culpa em que o agente tenha ocorrido para

a configuração do delito, não bastando, como no crime doloso, mera des

crição do fato típico. É necessário esclarecer de que forma agiu culposa

mente o agente que se acusa.

Gabarito - Atividade de aplicação

1. C

Page 79: Aula Direito Penal II

Breves Comentários sobre o Art. 18 Código Penal, por Rogério Sanches e Davi Castro Silva.

E questões de concursos.

Art. 18 – Diz-se o crime:

CRIME DOLOSO

I – doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;

CRIME CULPOSO

II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.

Parágrafo único – Salvo os casos expressos em lei ninguém pode ser punido por fato

previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.

1. BREVES COMENTÁRIOS

O dolo é o elemento subjetivo implícito do tipo. Consiste na vontade consciente

dirigida à finalidade de realizar (ou aceitar realizar) a conduta prevista no tipo penal

incriminador.

Logo percebemos os elementos que estruturam o dolo:

Page 80: Aula Direito Penal II

A) Elemento intelectivo <-> consciência

B) Elemento volitivo <-> vontade

O Código Penal, ao definir dolo, adotou duas teorias:

A) Teoria da vontade -> “...quando o agente quis o resultado...”

B) Teoria do assentimento -> “...assumiu o risco de produzi-lo”

A teoria da vontade define o dolo direto:

. O agente prevê o resultado e seleciona meios para vê-lo realizado. Ex: Atirar

para matar.

A teoria do assentimento define o dolo eventual:

. O agente assume o risco de produzir o resultado, apesar de não corresponder

diretamente àquilo que propôs realizar de início. Exemplo: Roleta russa para

testar a sorte dos subordinados, racha etc.

Espécies de dolo:

Dolo direto de primeiro grau – O agente prevê resultado determinado e

seleciona meios para vê-lo realizado. Não existem efeitos colaterais necessários á

consecução da vontade do agente em razão dos meios escolhidos. Exemplo: “A”

quer matar “B”, para tanto, atira contra sua cabeça.

Page 81: Aula Direito Penal II

Dolo direto de segundo grau – O agente prevê resultado determinado e seleciona

meios para vê-lo realizado. A vontade do agente abrange os efeitos colaterais

necessários, em virtude dos meios escolhidos pelo agente, para realizar o fim

almejado. Exemplo: “A” quer matar “B”, que é motorista de ônibus. Para isso,

corta os cabos de freio do veículo em que “B” viajará, deixando-os na iminência

de se romperem. O dolo, quanto a B, é direito de primeiro grau, e quanto aos

demais passageiros que morrerão no acidente, é direito de segundo grau.

Dolo indireto alternativo – O agente prevê pluralidade de resultados, dirigindo

sua conduta para realizar um ou outro, com igual intensidade de vontade. Pode

ser objeto ou subjetivo. Objetivo quando se refere ao evento pretendido (o agente

atira para matar ou ferir “A”). Subjetivo quando se refere á vitima a ser atingida

(o agente atira para matar “A” ou “B”, que estão próximos um do outro).

Dolo indireto eventual – O agente prevê pluralidade de resultados, mas sua

intenção se dirige a realização de um, aceitando, porém, o outro(quero ferir, mas

aceito matar). Não se confunde com dolo direto de segundo grau.

Dolo normativo – Adotado pela teoria neokantista, essa espécie de dolo integra a

culpabilidade, trazendo, a par dos elementos consciência e vontade, também a

consciência atual da ilicitude (elemento normativo).

Dolo natural – Adotado pelo finalismo, compõe a conduta, despido da

consciência e vontade.

Dolo de dano – a vontade do agente é causar efetiva lesão ao bem jurídico

tutelado (ex: art. 121 do CP).

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Dolo de perigo – O agente atua com a intenção de expor a risco o bem jurídico

tutelado (ex: art. 132 do CP).

Dolo genérico – O agente tem vontade de realizar a conduta descrita no tipo

penal, sem um fim específico.

Dolo específico – O agente tem vontade de realizar a conduta, visando um fim

específico.

Dolo geral (erro sucessivo) – Ocorre quando o agente, supondo já ter alcançado

um resultado por ele visado, pratica nova ação que efetivamente o provoca.

Crime culposo (art. 18, inc. II):

O crime culposo consiste numa conduta voluntária que realiza um fato ilícito não

querido pelo agente, mas que foi por ele previsto (culpa consciente) ou lhe era

previsível (culpa inconsciente) e que podia ser evitado se o autor atuasse com o

devido cuidado.

ATENÇÃO: No crime doloso, pune-se a conduta dirigida objetivamente a fim

ilícito; no crime culposo, pune-se a conduta mal dirigida, pó falta de cuidado do

agente.

São elementos estruturais do crime culposo:

Page 83: Aula Direito Penal II

A) Conduta inicial voluntária – ação ou omissão (a vontade limita-se a realização da conduta,

e não a do resultado naturalístico).

B) Violação de um dever de cuidado objetivo, podendo manifestar-se das seguintes formas

(modalidades de culpa):

1) Imprudência – O agente atua com afoiteza, ignorando os cuidados que o caso requer

( ex: a limpeza de arma carregada);

2) Negligência – é a ausência de precaução (deixar remédios ao alcance de uma criança).

3) Imperícia – é a falta de aptidão técnica para o exercício de arte ou profissão (ex:

acidente de trânsito causado por motorista sem habilitação).

C) Resultado naturalístico involuntário – logo todo crime culposo é material, ou seja não

haverá crime sem resultado lesivo a um bem jurídico tutelado.

ATENÇÃO: O art. 38 da lei 11.343/06 (Lei de Drogas), na modalidade “prescrever”,

caracteriza hipótese excepcional de delito culposo que prescinde do resultado

naturalístico, consumando-se com a simples entrega da receita ao paciente.

D) Nexo causal entre conduta e resultado;

E) Previsibilidade – é preciso que o agente tenha possibilidade de conhecer o perigo que a

sua conduta gera para determinado bem jurídico;

F) Tipicidade – salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto

como crime, senão quando o pratica dolosamente (art. 18, parágrafo único).

ESPÉCIES DE CULPA:

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A) Culpa consciente (ou com previsão) – o agente prevê o resultado, mas espera que ele

não ocorra, supondo poder evitá-lo com a sua habilidade ou sorte.

B) Culpa inconsciente (ou sem previsão) – o agente não prevê o resultado, que,

entretanto, lhe era previsível.

C) Culpa Própria – é aquela em que o agente não quer e não assume o risco de produzir o

resultado.

D) Culpa imprópria (culpa por extensão por assimilação, por equiparação) – prevista

no art. 20, parágrafo 1, 2 parte, do CP, nesta espécie de culpa o agente, por erro evitável,

fantasia certa situação de fato, supondo estar agindo acobertado por uma excludente de

ilicitude (descriminante putativa), e, em razão disso, provoca intencionalmente um

resultado ilícito ( exemplo:supondo, erroneamente, que seu desafeto vai agredi-lo, o

agente saca de uma arma atirando ate matar o agressor). Apesar de a ação ser dolosa, o

agente, considerado a evitabilidade do erro, responde por culpa.

ATENÇÃO: A estrutura do crime é dolosa, porém, por razões de política criminal, é

punível como se o culposo fosse. Por esse motivo, há doutrina admitindo tentativa nessa

modalidade de culpa (imprópria).

2. QUESTÕES DE CONCURSOS

01. (Magistrado Trabalhista – TRT¹ - 2010) Com referência ao dolo e á culpa, assinale a

opção correta.

a) Em relação ao dolo, o Código Penal brasileiro adotou a teoria da representação,

segundo a qual a conduta dolosa é o comportamento de quem tem consciência do

fato e de seu significado, e, ao mesmo tempo, a vontade de realizá-lo.

b) A teoria naturalista ou causal da conduta adotava a espécie de dolo denominada

natural, que, em vez de constituir elemento da conduta era considerado requisito da

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culpabilidade, como três elementos: elementos, vontade e consciência da ilicitude

(dolus malus).

c) Considere a seguinte situação hipotética. Um jovem desferiu, com intenção

homicida, golpes de faca em seu vizinho, que caiu desacordado. Acreditando ter

atingido seu objetivo, enterrou o que supunha ser o cadáver no meio da mata. A

perícia constatou, posteriormente, que o homem falecera em razão de asfixia

decorrente da ausência de ar no local em que foi enterrado. Nessa situação, ocorreu

o que a doutrina denomina de aberratio causae, devendo o agente responder pelo

delito de homicídio simples consumado, por ter agido com dolo geral.

d) Considere a seguinte situação hipotética. Paulo, chefe de família, percebeu que

alguém entrou pelos fundos, á noite, em sua residência, em local com altos índices

de violência. Pensando tratar-se de assalto, posicionou-se, com a luz apagada, de

forma dissimulada, e desferiu golpes de faca no suposto meliante, com intenção de

matá-lo, certo de praticar ação perfeitamente lícita, amparada pela legítima

defesa.Verificou-se, posteriormente, que Paulo ceifou a vida de seu filho de doze

anos de idade. N essa situação, Paulo agiu com culpa inconsciente, devendo

responder por homicídio culposo.

e) No ordenamento jurídico brasileiro, de acordo com a doutrina majoritária, a ausência

de previsibilidade subjetiva – a possibilidade de o agente, dadas suas condições

peculiares, prever o resultado – exclui a culpa, uma vez que é seu elemento.

02)( Promotor de justiça – MP/MG – 2010) Sobre a diferenciação entre dolo

eventual e culpa consciente, é INCORRETO afirmar que,

a) De acordo com a teoria intelectiva da representação, não existe culpa consciente,

pois a diferença entre dolo e culpa reside no conhecimento do agente quanto aos

elementos do tipo objetivo.

b) De acordo com a teoria intelectiva do perigo a descoberto, existe dolo eventual

quando a sorte ou o acaso decidem a ocorrência do resultado.

c) De acordo com a teoria volitiva da indiferença, o dolo eventual pode ser visto

como expressão de dolo de perigo resultante de infração a medidas

regulamentares de segurança.

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d) De acordo com a teoria volitiva da assunção, para a configuração do dolo

eventual, basta a previsão ou conhecimento do resultado.

03) (Promotor de justiça – MP/PB – 2010 – Adaptada) No dolo direto de

primeiro grau ou imediato, o resultado típico é uma conseqüência necessária dos

meios eleitos, que devem ser abrangidos pela vontade tanto quanto o fim

colimado, razão pela qual é doutrinariamente reconhecido como dolo de

consequências necessárias.

04) (Promotor de justiça – MP/SC – 2009- Adaptada) Enquanto no dolo

eventual não é suficiente que o agente tenha se conduzido de maneira a assumir o

risco de produzir o resultado, exigindo-se que tenha ele consentido com sua

produção, na culpa consciente, o agente não prevê o resultado, que é previsível.

Já na culpa inconsciente, o agente prevê o resultado, mas espera que ele não

aconteça.

05) (Promotor de justiça – MP/SC – 2009 – Adaptado) O dolo pode ser direto

(ou determinado) ou indireto (ou indeterminado). Nesta última hipótese (dolo

indireto), pode ser eventual (o agente, conscientemente, admite e aceita o risco

de produzir o resultado) ou alternativo (a vontade do agente visa a um ou outro

resultado).

06) (Analista – TER/MT – 2010 – Adaptado) O Código Penal, em sua parte

geral estabelece, como regra, a possibilidade de o sujeito ativo do crime

responder por crime culposo quando a lei não prevê a punição a título doloso,

sem necessidade de previsão expressa do tipo culposo na parte especial.

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07) (Defensor Público – DPE/AL – 2009) São elementos do fato típico culposo:

conduta, resultado involuntário, nexo causal, tipicidade, ausência de previsão,

quebra do dever de cuidado objetivo por meio da imprudência, negligência ou

imperícia e previsibilidade subjetiva.

08) (Magistrado Federal – TRF – Adaptado) Nos crimes culposos, o tipo

penal é aberto, o que decorre da impossibilidade do legislador da antever todas as

formas de realização culposa; assim, o legislador prevê apenas genericamente a

ocorrência da culpa, sem defini-la, e, no caso concreto o aplicador deve

comparar o comportamento do sujeito ativo com o que uma pessoa de prudência

normal teria, na mesma situação.

09) (Promotor de Justiça – MP/PR – 2009 – Adaptada) O autor A faz explodir

eletronicamente bomba previamente instalada no veículo do motorista B, com a

finalidade de matá-lo, e a explosão da bomba produz, também, a morte de C, que

o autor sabia que estava no veículo: a morte de B é atribuível ao autor a título de

dolo direto de primeiro grau, e morte de C, representada como necessária pelo

autor, é atribuível a este a título de dolo direto de segundo grau.

GAB: 1C, 2D, 3F, 4F, 5V, 6F, 7F, 8V, 09V.