Autogestao Claudio Nascimento

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Sumrio

Experimentao autogestionria: autogesto da pedagogia/pedagogia da autogesto Questionrio Momentos e Ideias Decisivas para uma histria da autogesto Polticas e teorias da autogesto Economia Solidria Poder Comunal e Popular Educao e Cultura As trocas diretas e solidarias da Economia dos Quilombolas O Programa da Comuna de Paris

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Sobre o Autor:

Claudio Araujo Nascimento, Historiador e Educador Popular.Ensaios sobre autogesto, economia solidria, socialismo e sindicalismo A Autogesto no Movimento Social da Polnia, 1983. Da Comuna de Paris a Comuna de Gdansk, 1986. Rosa Luxemburgo e o Solidariedade. 1986. Autogesto e Economia Solidria. 2002. Socialismo autogestionrio. 2003. Transformao no mundo do trabalho. 2001. O Programa da Comuna de Paris. 2001. Termo de Referencia de Economia Solidria. Ministrio do Trabalho e Emprego. 2004. Maritegui: Autogesto nos Andes. 2006. Mario Pedrosa: Autogesto no Brasil. 2008. Autogesto na Europa Oriental (Polnia, Hungria, Checoslovquia. 2007 Autogesto e socialismo ( luta pela autogesto em vrios pases). 2008. Atividades de trabalho popular e educao sindical CEDI, 1975 a 1978; CEDAC, 1979 a 1988. CUT e Economia Solidria Atividades Educacionais com a Secretaria Nacional de Educao da CUT, 1988 to 1991. Coordenador Geral do INCA (Instituto Cajamar/So Paulo), 1992 a 1995. Coordenador Educacional do Programa Integrar da CUT/Confederao Nacional dos Metalrgicos; 1996 a 1997. Coordenador do Programa Nacional de Formao de Educadores da Escola Sindical da CUT (Sul), 1998 a 1999. ADS-CUT: Educao sobre autogesto e economia solidria na Escola Sindical da CUT (Sul). Coordenador do Cantera Trabalho e Autogesto para Aliana por um Mundo Plural e Solidrio (com PACS) 2001. Coordenador (Aliana para um Mundo Plural e Solidrio) do Seminrio Internacional de Economia Solidria - Florianpolis (Brasil). 2001. Atividades Governamentais Coordenao de Poltica educacional do Programa de Economia Popular e Solidria. Governo Olvio Dutra (Partido dos Trabalhadores), 2002. Conselheiro no processo de elaborao do Plano Nacional de Qualificao (PNQ) Ministrio do Trabalho e Emprego. Governo Federal, 2003. Coordenador Educacional de Economia Solidria da SENAES (Secretria Nacional de Economia Solidria)/Ministrio do Trabalho e Emprego Governo Federal. Coordenao Pedaggica do RECID (Rede de Educao Cidad) 2008 a 2010.

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Captulo IExperimentao autogestionria: autogesto da pedagogia/pedagogia da autogesto

Claudio Nascimento

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Experimentao autogestionria: Autogesto da pedagogia/pedagogia da autogestoClaudio Nascimento* A autogesto a pedagogia do socialismo e de si mesma (Michel Raptis) Esse ensaio foi elaborado como contribuio do autor construo do Projeto Politico Pedaggico da Rede dos CFES (Centro de Formao em Economia Solidria) . uma forma de sistematizao da assessoria dada as aes de 2009 ao CFES Nacional e aos Regionais. Paul Singer, com esprito luxemburguiano, afirma que A Economia Solidria um ato pedaggico em si mesma, na medida em que prope uma nova prtica social e um entendimento dessa prtica. A nica maneira de aprender a construir a economia solidria praticando. Trazendo esta reflexo para o campo da autogesto, nos apoiamos em Maria Clara Bueno Fischer e Lia Tiriba ao dizerem que: As experincias histricas de autogesto* revelam que, no embate contra a explorao e a degradao do trabalho, no suficiente que os trabalhadores apropriem-se dos meios de produo. Estas prticas indicam haver a necessidade de articulao dos saberes do trabalho fragmentados pelo capital e de apropriao dos instrumentos terico-metodolgicos que lhes permitiram compreender os sentidos do trabalho e prosseguir na construo de uma nova cultura do trabalho e de uma sociedade de tipo novo. E, com Gramsci, concluem: Em seus escritos sobre o movimento operrio ocorrido em Turim, entre 1919 e 1921, Gramsci analisa os conselhos de fbrica, afirmando que as experincias nas quais os trabalhadores tm o controle sobre a produo representam uma escola7

maravilhosa de formao de experincia poltica e administrativa. E que, Na escola do trabalho e, em especial nas vivncias de trabalho associado, as pessoas atribuem sentidos ao vivido ou realizado; assim, de forma mais abrangente, fundamental que transformem suas vivncias pregressas e atuais em experincias propriamente formadoras. Aqui, est sintetizada a dialtica da experimentao autogestionria, a pedagogia da autogesto e a autogesto da pedagogia. A experimentao no campo pedaggico dever articular estes dois elementos: o espontneo e a vontade-direo. Nesta perspectiva, a experimentao deve ser considerada como um procedimento prprio dinmica da autogesto, como diz Moth: O esprito de experimentao consistir em considerar que um certo nmero de ideias pertencem s hipteses e podem ser postas em dvida ou rejeitadas no curso da experimentao. Portanto, aceitar a incerteza da deciso coletiva e da anlise da experincia implica um estado de esprito militante totalmente diferente daquele no qual somos habituados socialdemocracia, o stalinismo e suas variantes esquerdistas. Assim, defini-se o papel do educador: O militante deve ser mais o mediador que permite aos grupos experimentar; aquele que em qualquer situao experimenta os valores da experimentao. o mediador que ajuda, reenvia aos grupos suas prprias anlises como sendo as anlises e no certezas, interpretaes entre outras. Estes educadores e militantes tm um grande papel na valorizao do saber acumulado pelos prprios trabalhadores em seus locais de trabalho. Para Moth, a valorizao do vivido de cada um no pode se fazer unicamente atravs da ajuda do discurso, mas atravs de seu prprio saber e tambm atravs da valorizao de sua prpria vida. Como esta experimentao, com o papel destes militantes animadores, em lugar de militantes profetas e/ou militantes soldados, poderiam fazer avanar as experincias de economia solidria no sentido do que Bernardo chama de aes coletivas e ativas? O papel da formao, da educao popular, neste campo, fundamental, desde que provida destes instrumentos da autogesto.8

Pedagogia autogestionria , de inicio, pelas mos e pelo corao que se forja a autogesto (Jef Ulburghs) Para seguir, vamos recorrer obra do pedagogo autogestionrio belga Jef Ulburghs. Um pioneiro na construo da pedagogia da autogesto. Jef Ulburghs desenvolveu um intenso trabalho de animao de base numa perspectiva autogestionria. Vejamos suas ideias, que so importantes para a ideia de uma pedagogia da autogesto. Ulburghs fez parte do MAB* e suas ideias foram apresentadas em seu livro Pour une Pedagogie de lAutogestion (1980). Como diz na apresentao: Este livro nasceu de uma longa experincia. Anos de luta fizeram amadurecer um mtodo e construir uma pedagogia para uma mudana social nova na perspectiva autogestionria. Chamo esse mtodo de indutivo. Sua obra porta inspirao em trs pedagogos: Paulo Freire, Oskar Negt, educador e socilogo da Escola de Frankfurt, e Joseph Cardjin, fundador da JOC. Jef diz que muito se escreveu sobre a autogesto, mas muito pouco sobre sua pedagogia: O movimento autogestionrio, ao mesmo tempo, pedaggico e poltico, portador de uma dinmica permanente, de um processo constante de evoluo em que o pensamento e a ao permitem o aprofundamento do contedo ideolgico. O que revolucionrio no o resultado, mas o processo para autogesto. A experincia de autogesto na educao, para Ulburghs, parte da ideia de que A autogesto se parece a um canteiro de construo onde os operrios tm o direito de experimentar. A construo de um movimento pela autogesto requer animadoreseducadores de base muito bem formados. Na Blgica, desta necessidade surgiu uma Universidade Operria com o objetivo de formar militantes de base prontos a se tornarem animadores na perspectiva de um socialismo autogestionrio. Neste campo, situa-se a tomada de conscincia da base (a9

conscientizao, segundo Paulo Freire),como uma etapa importante de um novo tipo de sociedade democrtica: a autogesto. Os dois pilares desta tomada de conscincia so: uma organizao autnoma e a formao permanente. Ulburghs fala de uma cultura operria original relacionada a uma cultura indutiva: sua linguagem concreta e direta rica em smbolos... sua luta inspira tambm a poesia, a cano, a literatura, a religio popular, a filosofia e a poltica. Ela permite que uma nova forma de vida e de pensamento possa se desenvolver. A aprendizagem, o modo de adquirir uma cultura, seja por transferncia (deduo), seja por autolibertao (induo) determinante para seu contedo. Deste modo, Ulburghs parte de trs mestres do pensamento indutivo: Cardjin, fundador da JOC; Paulo Freire, com seu mtodo da conscientizao atravs da qual o oprimido cria sua prpria linguagem, e esta linguagem um meio de dar um nome ao futuro e permite ao oprimido de tomar em mos sua prpria vida. Ulburghs esteve algumas vezes com Paulo Freire em Genebra, quando este estava exilado. E Oskar Negt, educador sindical na Alemanha. Tambm, podemos encontrar em Ulburghs, ideias de Gramsci, no sentido e que as formas de luta de base constituem uma luta cultural. Qual a concepo de Ulburghs deste tipo de socialismo: o atrativo da autogesto est no fato que a base mesma pode gerir coletivamente sua prpria vida. Claro, os comits de base em todos os setores e em todos os nveis da sociedade devem ser criados. A produo assim gerida pelos comits de trabalhadores eleitos por um tempo determinado e para uma funo delimitada: os critrios de opo so a competncia e a honestidade; estes comits so regularmente controlados, so revogveis e substituveis. Eles representam os diversos ateliers, as varias categorias de idade e cada tipo de trabalho. Os comits de fbrica estudam a repartio do trabalho, controlam a formao dos trabalhadores, assim como as grandes opes da produo. Regularmente, convocam assembleias para prestar contas de suas aes. Para Ulburghs, no setor da re-produo, a populao dever se organizar em comits nos setores da sade, do bairro, dos esportes, da10

formao. Alm dos vrios setores, dever haver uma intercomunicao entre os diferentes tipos de atividades sociais: um delegado do meio ambiente visitar um comit de fbrica e vice-versa. A autogesto coerente e digna desse nome compreender de inicio um primeiro escalo, os comits de base nos diferentes setores de produo e de re-produo. Em segundo lugar, os comits se interarticulam de uma forma horizontal e intersetorial. Em terceiro lugar, eles se organizam nos diferentes nveis da sociedade:regional,nacional e internacional. Entre as condies da autogesto, Ulburghs coloca uma educao permanente: O grande perigo da autogesto a possibilidade de concorrncia, por exemplo, entre unidades de produo... A tentao corporativa pode opor os setores fortes aos setores fracos. Para evitar este risco necessrio combinar a autogesto com uma formao permanente. ao passo que a durao do trabalho diminui e que as tarefas duras so repartidas ou feitas pelas maquinas, o tempo assim ganho pode ser utilizado para a formao dos trabalhadores. Desta ideia , extramos o que chamamos de greve pedaggica,ou parada pedaggica,.os atores diretos do trabalho associado tm a possibilidade de utilizarem o tempo de trabalho que controlam para rodas de conversas (Paulo Freire) no prprio local de trabalho,pois dominam a tecnologia,experimentando deste modo a formao permanente. Esta abrange uma formao ao alcance de todos (facilitada pela computao), uma qualificao tcnica pluriforme (para evitar o trabalho nico e mecnico), anlises polticas (para situar o objetivo da produo), e a formao moral (para favorecer a solidariedade). Portanto, conclui Ulburghs: A autogesto , assim, impossvel sem uma formao permanente que ponha o conhecimento disposio de todos...Esta formao supe uma dimenso poltica solidria e global. As experimentaes de autogesto mobilizam os trabalhadores para uma tarefa concreta e, assim, adquirem no processo e de modo indutivo uma formao para autogesto. Vejamos a sntese da proposta pedaggica11

de Ulburghs, e faamos uma relao com as ideias autogesto Yugoslava, Kardelj.

do terico da

Ulburghs sintetiza sua proposta: uma formao permanente 1. formao tcnica: autogesto comea pelas mos; 2. formao social e politica: analises da sociedade; 3. solidariedade. A proposta educativa de Ulburghs vai de encontro a linha estratgica de Maritegui, que apresenta acima, ou seja , os 3 eixos de uma proposta socialista de autogesto: 1. a socializao dos meios de produo; 2. a socializao poltica; solidariedade, um 3. as relaes intersubjetivas,afirmao reencantamento da vida. da formao cultural e moral:educao para

O terico yugoslavo, Edvard Kardejl falava de um sistema de autogesto que abrangia: - o homem autogestor no trabalho; - o homem autogestor na cultura; - o homem autogestor na vida social em geral. Finalmente, um movimento autogestionrio de base requer trs elementos: 1. um movimento de base com um numero grande de grupos de base com ao em diversos setores da sociedade; 2. um campo de formao de animadores de base: tipo Universidade Operaria;12

3. um movimento de animao poltica que conscientiza a base, coordena as lutas e inspira a autogesto por suas ideias, seus mtodos, sua estratgia e seu estilo de vida. A rede Internacional do MAB articulava seminrios internacionais para troca de experincias que mostravam exemplos concretos de autogesto que inspiravam, motivavam e formavam diretamente os trabalhadores. A ideia de experimentao social foi tratada por Pierre Naville em sua obra intitulada Le temps, La technique, lautogestion (1980), matria de uma entrevista para a Revista Critique Socialiste (1979). Para Naville, o que experimental o que no natural, espontneo. Cabe a ns descobrir as formas de experimentao que possam ser conduzidas de forma cientifica, pelo mtodo de ensaios e erros; isto , que possamos corrigir, ou abandonar, ou melhorar. Desta forma, a experimentao pode torna-se democrtica. Um poder socialista experimental deve ser democrtico, traar hipteses e buscar verific-las. Experimentar muito diferente de criar o caos. Devemos buscar os modos de experimentao diferentes segundo os setores em jogo, buscar os domnios prioritrios. Para mim,os socialistas devem comear pelos setores da produo, do trabalho. A experimentao social no pode nem deve suprimir os conflitos sociais, as lutas entre classes e grupos. Experimentar significa primeiro colocar um problema corretamente, de tal forma que se possa ter uma soluo. E, para isto, precisamos de mtodo, e justamente um mtodo experimental. Autogesto significa um princpio, no uma regra, uma instituio ou uma soluo. Significa que um objeto social deve se determinar a si mesmo. Para determinar as formas da autogesto segundo certos nveis, ou conjuntos, deve-se justamente realizar experimentaes sociais. Por exemplo, o acontecimento LIP e numerosos conflitos nas empresas produtivas hoje so tipos de experincias sociais que abriram as vias uma reflexo sobre a autogesto.

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E conclui Naville: O campo educativo e escolar foi sempre um terreno de experimentao, de inovao, de contestao; um dos campos principais em que a experimentao para autogesto deve se exercer. Para concluir, enfim, vejamos, ento, como Daniel Moth aborda a questo da experimentao autogestionria. Experimentao autogestionria, segundo Moth A vida experincia , o que significa improvisao,utilizao das ocorrncias: ela tentativa em todos os sentidos ( G.Canguilhem).

Moth traa como objetivo central ver como os locais de competncia dos atores podem se tornar locais de aprendizagem da gesto coletiva. Inicialmente esclarece que O conceito de aprendizagem mais amplo que o profissional... tratando-se de aprendizagens mltiplas. As aprendizagens dos trabalhadores dependem da natureza da funo e da tecnologia de uma parte, e da estrutura de organizao, de outra parte. Mas, alm destas aprendizagens, os trabalhadores tm um campo de aprendizagem mais rico, que decorre de aprendizagens de comportamentos sociais, que lhes permitem recusar, combater e ou aceitar as estruturas de organizao. H uma grande diferena se so estruturas hierrquicas autoritrias ou estruturas democrticas, formadas por grupos autnomos que discutem, analisam, decidem,etc. As aprendizagens so baseadas essencialmente sobre prticas que pem os operrios em situaes concretas e que lhes incitam a buscar respostas a estas situaes. Assim, A aprendizagem uma atividade que se efetua no nvel do fazer, conclui Moth. E que, desta forma, a autogesto depende de que os trabalhadores estejam em organizaes as mais participativas. Moth cita Rosa Luxemburgo: Para parafrasear Rosa Luxembourg, diremos que funcionando coletivamente que as massas aprendem a se autogerir; no h outro meio de aprender a cincia. Sua educao se faz quando elas passam ao.14

Apenas en passant, nos referimos a outra questo fundamental na pedagogia da autogesto, discutida nos CFES, e tambm abordada por Moth. Moth traas algumas linhas sobre a relao militncia e pesquisa: Os pesquisadores no devem testemunhar sua afeio ao mundo do trabalho pela apologia sistemtica da luta militante problemas dos sindicalistas - mas por uma anlise crtica das experincias sindicais. A aprendizagem pelo lado sindical deveria se efetuar por uma ocupao sistemtica do terreno da experimentao de modo a que essa enriquea seu ponto de vista e possa se inserir em sua estratgia (...). Deste modo, poderamos achar um terreno favorvel de colaborao entre pesquisadores, sindicalistas, educadores e tambm trabalhadores que participam destas aes. Participando,de certo modo, do campo cultural em que surgiu a ideia da Ergologia, Moth em suas ideias de experimentao autogestionria, intuiu o que Yves Schwartz , por sua vez, a partir da epistemologia de G.Canguilhem e da sociologia do trabalho francesa (G.Friedman, P.Naville), chama de Dispositivo de 3 Polos, entre ns, pesquisado-experimentado na UNISINOS pelo grupo de Educao e Trabalho coordenado por Maria Clara B. Fischer, e na UFMG, por Deise Cunha. Voltaremos a esse ponto. A partir da experincia francesa, Moth defende equipes formadas por universitrios, sindicalistas, operrios, pesquisadores, educadores, ergnomos, que j experimentaram este caminho, o da pesquisa-ao nas empresas. Este ponto fundamental no que diz respeito a relao intrnseca entre sistematizao e pesquisa-ao, elementos que podemos considerar estruturantes da pedagogia da autogesto. A sistematizao das experincias foi um tema central dos debates nos CFES. Por fim, D.Moth entra no campo das empresas de autogesto: Se relacionamos os procedimentos experimentais s empresas de autogesto, a experimentao autogestionria consiste em enriquecer seu patrimnio de fatos, de prticas, a partir dos quais o mundo sindical e cientifico15

possam refletir, modificar seus procedimentos, afirmar suas dinmicas e constituir deste modo todo um arsenal de tcnicas autogestionrias que lhes so prprias. A experimentao dever ser considerada como um procedimento prprio ao funcionamento autogestionrio; os procedimentos experimentais nas empresas consistem a por em movimento temporariamente novas organizaes, novas tcnicas, novas divises de tarefas, novas relaes interpessoais. O novo funcionamento dever verificar ou INFORMAR as expectativas, as hipteses e as esperanas que foram formuladas pelos autogestionrios. Trata-se, assim, de utilizar novos procedimentos que contenham uma certa parte de incertezas, mas que sero auto-controlados durante seu desenvolvimento. No se trata de quaisquer tipos de experincia efetuada por profissionais da experimentao. Mas, no campo da autogesto de experincias em que os experimentadores, em particular os atores, objetos eles mesmos da experincia, participem no controle e na dinmica da experincia. A experimentao permitir ir alm da simulao ao proceder por passos sucessivos, por ensaios e erros, atravs do estabelecimento de um dilogo em que o conjunto dos atores ter a possibilidade concreta de participar, porque veremos os efeitos concretos no terreno da ao. Como afirmamos acima, as ideias de D. Mothe fazem parte de um campo terico construdo na experincia francesa da autogesto. Desde as ideias de G. Canguilhem, a partir de suas reflexes sobre a sociologia do trabalho desenvolvida por G.Friedmann, e sistematizadas pelo grupo de Y. Schwart no campo da ergologia. Canguilhem estudou a obra de Friedmann (Problems Humains Du machinisme industriel - 1947), tirando consequncias fundamentais, que expressou em seu ensaio Milleux et Normes de lHomme au travail - 1947. G.Canguilhem,medico e filosofo, em sua obra La Connaissance de La vie, afirma que A experincia de inicio a funo geral de todo ser vivo, isto , seu debate com o meio. E que, essencial conserva na definio da experimentao, mesmo para o sujeito humano, seu carter de16

questo posta sem premeditao de converter a resposta sem servio imediato, seus sentidos de gesto intencional e deliberado sem presso das circunstancias. Para Canguilhem, O problema da experimentao humana no mais um simples problema de tcnica, um problema de valor. Partindo das pesquisas biolgicas de Claude Durand, Canguilhem nos aporta ideia fundamental: A vida criao, o conhecimento da vida deve se realizar por dilogos imprevisveis, se esforando de apreender um devenir em que o sentido no se revela jamais claramente a nosso entendimento a no ser quando ele nos desconcerta. Por sua vez, Schwart extraiu ideias importantes deste campo de troca e produo de saberes'. Entre as experincias humanas,a experincia industriosa paradigmtica aos olhos de Canguilhem, possvel de ser acessada pelo conceito? Deixa em estado trpido' o que ela porta de possveis, no seria empobrecer o patrimnio de nossa errncia'? Schwartz pe a questo que nos serve de base ao processo e as tarefas da sistematizao: como engravidam, na experincia industriosa, os diversos possveis?. Desta dialtica do conceito e da vida, devemos tirar consequncias praticas. G.Canguilhem comenta a resistncia dos operrios ao lema no lhe pedimos para pensar de Taylor. H sempre pensamento operrio, pensamento industrioso, e mesmo na mais severa das presses produtivas. Mas temos que passar esse pensamento na penumbra, este pensamento em subverso, este pensamento engravidado, ao simbolismo e a linguagem. Esse , sem duvidas, o que Clara Fischer e Tiriba denominam em seu ensaio de conhecimento encarnado no trabalho associado e autogesto. Um conhecimento portador de saberes dos povos originrios, saberes de pocas pr-capital e pr-industrial, um saber industrioso'.

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o que temos chamado, nas atividades dos CFES, de Espao Pblico epistemolgico e tico, a partir de ideias formuladas por Maria Clara Bueno Fischer, partindo das pesquisas do Grupo Francs de ergologia, animado por Yves Schwartz, grupo que o prprio Moth cita em seu livro Autogestion et Conditions de Travail (1976), o LEST (Laboratoire dconomie et de sociologie du travail, de Aix-en-Provence). Trata-se do Dispositivo de 3 Polos.* Seguindo com Moth, A experimentao coletiva deve ser vista como um instrumento, uma tcnica necessria ao funcionamento autogestionrio. Os obstculos a esta forma de experimentao, o sabemos, vm de vrios lugares e, em primeiro lugar, dos poderes estabelecidos. Aqui, Moth faz referncia aos aparatos dos sindicatos e dos partidos. Sobre a Frana, Moth diz de forma antecipatria de vrias experincias que iriam surgir nos anos 90 (sua obra data de dezembro 1980): As experimentaes nas empresas so difceis de realizar porque o patro que detm o poder e no os sindicatos. Mas porque no experimentar estes funcionamentos coletivos no interior de instituies perifricas controladas pelos sindicatos, nos organismos em que as Comisses de Empresa se tornaram patres: as cantinas, os rgos de esportes, de lazer, os centros culturais, etc.; em todas as municipalidades conquistadas pela esquerda e nos servios municipais que ela controla?, pergunta-se D. Moth. O que diria, e nos disse, ao nos visitar no Frum das Cidades e participar do Frum de Economia Solidria de SP, das possibilidades abertas pelas aes no campo da economia Solidria, das empresas recuperadas para autogesto? Portanto, as experimentaes so o campo estratgico. Contudo, somente se constituem um aprendizado prtico de novas relaes de trabalho, articuladas com outros campos de lutas do sujeito plural, que Mszros chama de produtores livremente associados. Como disse Marx: Hic Rhodus, hic salta ! Aqui est a rosa, aqui temos que danar18

E, retomando a Rosa: As massas devem aprender a usar o poder usando o poder, no h outro modo. Sua educao se faz quando elas passam ao!

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QuestionrioBloco I: 1) Qual a relao entre trabalho e educao ? 2) Que diferenas podemos estabelecer entre educao e trabalho associado ? 3) Quais mutaes podemos assinalar entre ser ator da relao trabalho-educao no trabalho assalariado e no trabalho associado ? Bloco II: 1) Que entendemos como Pedagogia da autogestopedagogia do trabalho associado? 2) Que significa autogesto da pedagogia ? Bloco III: 1) Enfim,qual a relao entre educao e economia Solidria enquanto estrategia de desenvolvimento,ou projeto de Sociedade-poder popular ?

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Captulo IIMomentos e Ideias Decisivas para uma histria da autogesto

Claudio Nascimento

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Momentos e Ideias Decisivas para uma histria da autogestoClaudio Nascimento A autogesto uma estratgia-movimento social e um ideal-teoria social. Nesse sentido, O estudo da Historia da Autogesto implica uma abordagem de longa durao,tanto para seu polo das experincias histricas, das lutas autogestionarias abrangendo vrios sculos (desde a Revoluo Francesa,passando pela Comuna de Paris, ate as experiencias Comunais em Nuestra Amrica deste sculo em curso), quanto das formulaes tericas de muitos pensadores socialistas neste longo perodo. Este arco histrico pode ser remetido outras temporalidades de mais longa durao, incorporam,por exemplo, experiencias como a Comuna de Zumbi dos Palmares.Ou, muitas formas de luta e organizao plebeia ,como tantas assinaladas por E. P. Thompson em sua rica obra sobre a Formao da classe operaria na Inglaterra. Por exiguidade de espao nesse ensaio, vamos nos limitar a assinalar uma cronologia qualificada em ciclos histricos das lutas e experincias da Autogesto, acompanhada de uma indicao de obras relativas cada experincia histrica. J em relao s teorias, tambm assinalar uma pequena bibliografia de alguns tericos que se debruaram sobre temas relacionados Autogesto e ao socialismo autogestionrio. As diversas tentativas dos trabalhadores de assalto ao Cu , na verdade, significam ensaios de construo dos ' rgos de poder comunalpopular' , em muitas vezes, antagnicos ao ncleo fundamental do metabolismo do Modo de produo capitalista e tambm ps-capitalista, isto , ao Estado, ao Capital e ao Trabalho assalariado. (Mszros). So os casos de revolues ativas de massas ,e de revoltas e rebelies. Em ambos casos, os trabalhadores fundam rgos de Autogesto Socialista, que so,na verdade, rgos de carter Comunal.25

Nas ondas ou ciclos recentes de revoltas, rebelies, iniciados em 1980 na Polnia, indo ate 1992 na Rssia; depois, na dcada de 1990 e nos anos 2000, na Nuestra Amrica, de Chiapas, Venezuela e Bolvia, at a mais recente onda nos pases rabes, podemos visualizar diversas formas, potencializadas ou atualizadas de poder comunal, atravs de diversos rgos como conselhos, comits, comisses, assembleias, etc. As mobilizaes de 2011, em forma de acampamentos dos jovens na Espanha e Paris, podero tomar esses princpios de poder comunalpopular. E se fala em Comuna da Espanha! Ou as mobilizaes nas praas de vrios pases rabes, tambm em 2011, trazem afinidades em alguns aspectos com o Poder comunal. E, das assembleias nas praas de Buenos Aires, em 2001, algum chamou de A Comuna de Buenos Aires! (Maria Moreno, 2011). Estes rgos podemos busc-los desde as experiencias dos 'comits revolucionrios' nos 48 bairros de Paris, no curso da Revoluo francesa de 1789, nos anos 1893-94, em que os sans-culote criaram seus rgos revolucionrios de poder, inaugurando, digamos assim, a luta de classes em torno da questo dos salrios. Mais a frente, temos a experiencia da 'Comuna de Paris, em 1871, quando as fabricas passaram a ser geridas pelos prprios trabalhadores; Comuna influenciou todas as lutas revolucionarias que a sucederam, como o Soviet de Petrogrado em 1905 e, sobretudo, a revoluo de 1917, em que a palavra de ordem central foi de Todo o Poder aos Sovietes, isso , aos 'rgos de gesto popular' surgidos em todos os espaos da sociedade russa; nas fabricas, bairros, parlamento, campo, estudantes, etc. de fundamental importncia para Amrica latina a Revoluo mexicana de 1910. Na regio de Morelos, o zapatismo institua a chamada Comuna de Morelos. A revoluo espanhola,1936-39, foi outro momento significativo de tentativas de poder popular em territrios liberados, em alguns casos abolindo a forma mercantil, a moeda, e o aparelho estatal.

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Na dcada de 70, o Chile da poca de Allende tambm foi marcado pelos rgos de poder popular: os Cordes Industriais, redes que articulavam fabricas geridas pelos operrios, e Juntas de bairros. Inclusive se prenunciando uma assembleia Popular, que se reuniu em Assuncin. Na dcada de 1980, na Polnia, dando sequencia a uma onda larga de revoltas, rebelies e revolues no campo das sociedades pscapitalistas do Leste europeu, surgiu o movimento autogestionrio que controlava as 3.000 maiores empresas do pais, articulado ao Sindicato livre Solidariedade. Em seu Congresso, que durou 2 semanas, os trabalhadores eregiram como Programa mximo, A Republica Autogestionaria da Polnia. Com as lutas na Polnia, possivelmente, se encerrou o ciclo sob hegemonia da velha classe operaria centrada nos grandes centros industriais. Nas ideias do boliviano Garcia Linera, da Forma Sindicato. A velha Toupeira iria mudar de espao geogrfico nos anos subsequentes e, assumir a Forma Comunidade. Uma certa volta, em 1994, ao Zapatismo de Chiapas. Aps um perodo de hibernao, a Velha Toupeira veio tona no final do sculo passado e inicio desse novo Sculo. E, veio tona nos Andes, com milhares de ndios, atravs de insurreies diversas e outras formas de luta, organizaes e poder popular, com carter comunal. Esse longo ciclo de lutas pela emancipao do trabalho e um fenmeno de tamanha profundidade que, sem duvidas, demanda estudos no campo da filosofia, precisamente da ontologia do ser social. Se, por um lado, essa longa historia de experincias de emancipao vem marcada por derrotas, por outro lado, essa utopia concreta no se extingui, no morre, est sempre presente no longo processo histrico. E, tambm sem dvidas, seu campo existencial o do Trabalho, em seu sentido mais amplo, filosfico. So muitas as questes: Como em diversas conjunturas radicais, o fenmeno Trabalho se transforma em Movimento de emancipao de seus agentes, dos que vivem do trabalho ? Pe em pauta a utopia concreta da sociedade de produtores livremente27

associados (Marx) ? como um fio condutor, como a velha topeira, sempre marcando e sempre vindo a tona nos momentos histricos de virada de onda. Por isso, sua fundamentao de algo permanente na sociedade, no ser social. Anton Pannekoek, que estudou esse fenmeno e que chamou de Conselhos Operrios, mas que, na verdade, so Formas Comunais de Poder Popular, dizia que: Conselhos Operrios, isso no distingui uma forma de organizao fixa, elaborada de uma vez para todas e em que s ficaria a tarefa de corrigir, aperfeioando detalhes; trata-se de um principio,o principio da autogesto operria das fbricas e da produo. (...) Trata-se unicamente de um Fio Condutor para uma longa e dura luta de emancipao que a classe operria tem ainda diante dela. (A.Pannekoek.Ls Conseils Ouvriers). Trata-se, como disse A. Pannekoek, do Princpio da autogesto, operria ou no, na produo ou no territrio da reproduo. Acompanha as metamorfoses dos mundos do trabalho e seus impactos na composio e perfil dos que vivem do trabalho. E, historicamente, sua forma primeira e mais delineada, surgiu com a Comuna de Paris, a forma enfim encontrada de emancipao econmica (MARX). Em Joo Bernardo, tambm podemos encontrar esse mesmo Princpio ontolgico: O proletariado enquanto classe, nunca inculto, pois pela sua situao social edifica as bases institucionais de um futuro possvel. O gnio do proletariado no reside tanto na sua produo ideolgica, mas sobretudo na produo institucional e igualitria (MARX critico de Marx, v. 1-31). Como podemos perceber, o que Bernardo chama de O Gnio do proletariado no um mito ou uma ideia solta no ar, mas um elemento do campo ontolgico do ser social dessa classe, que se expressa historicamente em diversas conjunturas especificas como produo institucional comunitria e igualitria.

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Assim, podemos falar de Principio do poder comunal, que pode tomar muitas e diversas formas: conselho operrio, campons, bairro, e como prxis revolucionaria de muitos e plurais sujeitos histricos, operrios, camponeses, homens e mulheres, jovens e adultos, estudantes, soldados, ndios e quilombolas. Nesse sentido, poderamos refazer o titulo da obra de A. Pannekoek, em vez de Conselho Operrio, poderamos chamar de potncia operria, e aqui, pensamos na obra de A. G. Linera, o boliviano, cujo principal livro chama-se A Potecia Plebeia. Joo Bernardo em sua obra Economia dos conflitos sociais (escrita nos anos 1987-89 e publicada em 1991), elaborou uma cronologia na qual podemos situar o arco temporal que nos facilita a contextualizao. Bernardo, fazendo uso de uma conceituao prpria, nos fala de Ciclos longos da mais-valia relativa em contraposio aos ciclos curtos de mais-valia relativa. Estes ltimos se caracterizam pela cotidiana assimilao das reivindicaes e presses dos trabalhadores, e, a degenerescncia das formas de organizao da luta autnoma. J os ciclos longos se caracterizam pela ascenso de formas autnomas de luta dos trabalhadores. Bernardo caracteriza: a fase de ascenso de formas autnomas de luta marca o incio de um ciclo longo de mais-valia relativa. Os repetidos colapsos constituem, por si mesmos, o quadro em que essas formas degeneram-se e so assimiladas pelo capitalismo, criando-se progressivamente mecanismos que permitem a assimilao cada vez mais fcil e rpida das lutas do mesmo tipo que venham a desencadear-se. Esta a segunda fase. Quanto mais solidamente a fase de assimilao parece estar implantada, mais comeam, porm, a difundir-se novos tipos de luta autnoma, cuja recuperao invivel no interior dos mecanismos j constitudos. A generalizao29

destes novos tipos de luta marca o incio da primeira fase do ciclo seguinte. Bernardo acrescenta: Em termos muito genricos, a fase que considero de ascenso de um dado tipo de luta autnoma corresponde s fases de recesso e depresso, sobrepondo-se fase de assimilao plena s fases de recuperao e prosperidade. Na cronologia que proponho, deixo numa data incerta da abertura do primeiro ciclo, comeando a fase de assimilao em torno do ano de 1848, para se esgotar nos meados da dcada de 1860, quando se passou ao segundo ciclo longo. Neste, a ascenso de novos tipos de luta autnoma processou-se at o princpio da dcada de 1870, iniciando-se a sua assimilao desde os meados dessa dcada at 1916 ou 1917. De 1917 at meados da dcada de 30, teve lugar um surto ascensional de lutas autnomas, que foi plenamente assimilado desde ento at os anos iniciais da dcada de 60. Com o comeo dessa dcada inaugurou-se o quarto dos ciclos longos, cuja fase de ascenso das formas autnomas de luta julgo ter em geral ocorrido at meados da dcada de 70, por vezes, mesmo tocando os anos iniciais da dcada de 80, parecendo-me que entrou j na fase de assimilao plena. Portanto, resumidamente: 1. Abertura do primeiro ciclo: possivelmente 1830 Fase de assimilao: 1848 at 1864 2. Abertura segundo ciclo: 1870 Fase de assimilao: 1875 at 1916-1917 3. Abertura terceiro ciclo: 1917 Fase de Assimilao: 1930 at 1960

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4. Abertura quarto ciclo: 1960 at 1975 e, mesmo 1980 at 1981 Fase de assimilao: 1982 at ..... A esta cronologia de Bernardo, acrescemos o ciclo em curso, iniciado no campo das estruturas de governo, com a insurreio militar de Chavez, em 1991 na Venezuela, mas principalmente, e no campo dos movimentos sociais, com a Rebelio zapatista, em 1994 em Chiapas/Mxico, e se potencializando nas revoltas e rebelies comunais nos Andes de Nuestra Amrica. Esse processo estabeleceu uma dialtica de Estado-Movimentos que trouxe novos desafios para as esquerdas de nosso Continente. Bernardo caracteriza o movimento Solidarnosc dos trabalhadores na Polnia, dentro deste contexto: desde meados de 1980 at o final de 1981 agitou a totalidade da classe trabalhadora na Polnia e que coroou esta fase de ascenso como sendo a fase de ascenso da autonomia, ao mesmo tempo que parece ter constitudo por agora (1989), o seu ltimo perodo. Bernardo especifica os ciclos e caracteriza as lutas exatamente do perodo que cobre os anos 60 e 70. Segundo ele, Cada segunda fase de um ciclo longo, pelas mesmas razes por que constitui a assimilao das formas autnomas ocorridas na fase anterior, inaugura um novo quadro de conflitos. Assim,

A partir dos incios da dcada de 60, generalizaram-se greves sugestivamente apelidadas de selvagens, quer dizer, exteriores aos sindicatos oficiais, alheias aos mecanismos institudos de recuperao dos conflitos. Com este movimento, inaugurou-se a primeira fase do quarto ciclo longo. J na dcada de 50, vinham realizando-se greves, tanto na esfera norte-americana como na sovitica, em que as burocracias sindicais eram completamente ultrapassadas, mas foi apenas a partir dos primeiros anos da dcada seguinte (60) que assumiram31

dimenses tais e uma to ampla difuso que permitem defini-las como integrando um novo ciclo. Este movimento obedeceu a um crescimento at conhecer, na FRANA, em princpios de 1967, uma etapa nova, com a ocupao de uma empresa por mais de dez mil trabalhadores. Pouco mais de um ano depois, cerca de dez milhes de grevistas paralisavam o capitalismo na FRANA, muito para alm de quaisquer palavras de ordem das centrais sindicais, e cerca de cem empresas foram ento ocupadas. A partir do final de 1968, porm, esboaram-se na ITLIA ocupaes que incluam formas de organizao da produo e a partir de 1973 este tipo de movimento atingiu um estgio superior, com clebres experincias na FRANA e, mais generalizadamente, em Portugal de 1974 a 1975. Como assinalamos acima, um novo ciclo foi iniciado com o levante zapatista mexicano, em 1994; ciclo que ainda est se desenvolvendo ,sobretudo,nas experincias de Poder Comunal na Amrica Latina e Central. Os Ciclos Longos das Lutas Autogestionrias. 1) Cooperativismo e Autogesto - Sculo 19 = A rebelio dos Teceles na Silsia - Franz Mehring. Storia della Socialdemocrazia 1.editori Riuniti.1974 = A Cooperativa de Rochdale (Manchester) - G.J.Holyoake. Historia de los Pioners de Rochdale. FACC.Buenos Aires.1944 = A Revolta dos Canuts - F. Rude. Les revoltes ds canuts 1831-1834. pcmaspero. Paris.1982

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Captulo IIIPolticas e teorias da autogesto

Claudio Nascimento

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Politicas e teorias da autogestoClaudio Nascimento

Nesse ensaio vamos desenvolver trs blocos contendo algumas ideias de Istvan Mszros sobre a Autogesto Social. A autogesto na obra de Istvan Mszros: O filosofo hngaro,procedente da chamada escola Lukacsiana de Budapeste, Istvan Mszros um dos poucos pensadores socialistas contemporneos a por na ordem do dia a questo da estratgia socialista, como forma antagnica ao Capital,e no apenas a sua forma histrica atual, o sistema capitalista. Em duas obras fundamentais ,O Poder da Ideologia (1989) e,sobretudo,em Para Alm do Capital(1996), Mszros tratou do tema do socialismo na perspectiva de uma sociedade constituda por produtores livremente associados,ou seja,da autogesto socialista. Esta temtica, vem de O Poder da Ideologia e foi retomada no livro de ensaios intitulado O Desafio e o Fardo do Tempo Histrico(2006). Mszros parte da ideia da crise estrutural do capital como marca fundante desta nova poca, que alguns chamam de globalizao.E, por varias razes, nos mostra que a nica alternativa a barbrie do capital uma hegemonia radical socialista antagnica ao Capital. Esta hegemonia tem por objetivo a construo de um novo tipo de sociedade,que Mszros sempre chama em suas vrias obras, de Livre associao dos produtores, ou seja, o que na cultura socialista significa Autogesto Social. As lutas dos trabalhadores nos sculos XIX e XX , na perspectiva da autogesto social, portam a radicalidade antagnica contra os trs eixos do ncleo central do metabolismo social: o Capital, o Trabalho Assalariado e o Estado.

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Na parte conclusiva deste nosso trabalho, vamos aprofundar esta questo: o carter e a natureza das lutas autogestionarias como experincias radicais contra o Capital, ou seja, para alm do capital. Sem dvidas, por isto, tenham sido massacradas a ferro e fogo pelas personificaes histricas do Capital, isto , em ciclos distintos do capitalismo. Estes ciclos de lutas autnomas e autogestionrias foi sistematizado por Joo Bernardo, em sua obra intitulada A Economia dos Conflitos Sociais. Bernardo qualifica tanto em termos de forma quanto de contedo estas lutas pela autogesto. Seu trabalho mostra claramente o que so lutas antagnicas ao Capital, para alm do Capital. Neste sentido, a obra de Mszros fundamental . Em relao autogesto, Mszros j em O Poder da Ideologia (1989), traou elementos muito importantes, e tambm pondo questes sobre a transio socialista que aprofundaria em Para Alm do Capital(1995). No Poder da Ideologia h um ensaio em que analisa a viso otimista de Marx sobre a Comuna de Paris, intitulado Revoluo Social e diviso do trabalho; aqui, Mszros afirma que Uma revoluo da classe trabalhadora como Marx via a Comuna - s em uma escala histrica de longo prazo tambm, isso fato, uma revoluo contra o prprio Estado. Em seguida, seguindo as definies de Marx, em Guerra civil na Frana, Mszros define a natureza da tarefa: realizar a emancipao econmica do trabalho mediante a forma politica finalmente descoberta, para que o trabalho livre e associado assuma a forma de sociedades cooperativas unidas a fim de regulamentar a produo nacional segundo um plano comum. Noutro ensaio, Ideologia e Autonomia, Mszros fala abertamente em autogesto: ...Os socialistas afirmam que a nica autoridade capacitada para a tarefa de administrao dos seres humanos como os recursos vitais do progresso social e econmico a autoridade autoconstituda dos produtores associados. A autogesto por eles considerada no apenas praticamente vivel, mas tambm historicamente necessria, tendo em vista as crescentes contradies internas do sistema reprodutivo socialista e a crise52

de autoridade agora abertamente admitida at por seus defensores mais agressivos. Analisando o capitalismo em relao a fbrica e ao mercado, Mszros busca suas alternativas: A segunda alternativa ao sistema de despotismo prevalecente no local de trabalho e anarquia na diviso do trabalho voltada para o mercado na sociedade em geral ainda menos compatvel com o modo de controle capitalista que a primeira. Ela exige a total eliminao do capital, tanto nas microestruturas em cujo interior as praticas produtivas e distributivas da sociedade so realizadas,quanto do modo como esto articuladas em um todo crescente. Sem isto, a AUTOATIVIDADE CONSCIENTEMENTE PLANEJADA dos produtores associados no plano de seus intercmbios abrangentes se tornaria impossvel, o que por sua vez prejudicaria inevitavelmente seus esforos para instituir a AUTOGESTO AUTONOMA da atividade produtiva do local de trabalho. Prossegue Mszros: Esta radical eliminao do capital pelos indivduos auto-emancipados de sua presente dominao do metabolismo social O EXATO CONTEDO DO PROJETO SOCIALISTA (grifo nosso). Em oposio ao modo como se exerce o domnio do capital sobre a sociedade, a concepo socialista vislumbra, nas palavras de Marx, UM PLANO GERAL DE INDIVIDUOS LIVREMENTE ASSOCIADOS... o que se quer dizer com a proposta de TRANSFORMAO DO TRABALHO EM AUTO-ATIVIDADE. Transformar esta viso em realidade pressupe obstculos imensos. Para Mszros, Permanece a questo, como antes, de como romper as cadeias do capital l onde so forjadas, substituindo-as em um sentido positivo pelos LAOS COOPERATIVOS conscientemente adotados que ligam e fortalecem a todos, concedendo e determinando a cada um direitos e deveres - mediante os quais possam ser implementadas as necessrias alteraes pelos produtores associados. Mais adiante, Mszros volta a mesma questo; A concepo socialista da atividade produtiva como no apenas um meio de vida, mas a principal necessidade da vida(...) compatvel to somente com a forma de autoridade correspondente, isto , com a AUTORIDADE DIRETORA

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LIVREMENTE AUTOCONSTITUIDA dos prprios produtores associados. E,categoricamente, reafirma, a atualidade do projeto de autogesto, na perspectiva de Marx: Neste sentido, o programa marxiano de transferncia do controle do metabolismo social para os produtores associados no perdeu nada de sua validade desde a poca de sua formulao. Ao contrario, surgiu de novo, mais forte do que nunca,na agenda histrica de nossos dias,visto que somente os produtores associados podem elaborar,por si prprios,as modalidades praticas com as quais pode ser resolvida a dupla crise,hoje omnipresente, da autoridade e do desenvolvimento. Na mesma obra,no ensaio A constituio da solidariedade, Mszros analisando o que chama de a tragdia de Rosa Luxemburgo, j tinha dito o mesmo que em relao Marx: Assim sendo, em todas as questes de importncia vital para o movimento, Rosa Luxemburgo apresentou um conjunto de ideias coerente, profundamente dialtico e, apesar das complexidades, exposto com notvel clareza; conjunto de ideias que, com relao s PERSPECTIVAS A LONGO PRAZO da transformao socialista vindoura, ainda no foi superado. Enfim, no por acaso, Mszros, de forma inspirada, cita Rosa no inicio do capitulo Ideologia e Emancipao: O socialismo no pode ser e no ser inaugurado por decreto; no pode ser estabelecido por qualquer governo, ainda que admiravelmente socialista. O socialismo deve ser criado pelas massas, deve ser realizado por todo proletrio. Onde as cadeias do capitalismo so forjadas, ai existem cadeias a ser rompidas. Somente isto socialismo, e s assim ele pode nascer. As massas devem aprender a usar o poder usando o poder. No h outro modo. Alm, da obra de Mszros, tentaremos construir o que podemos chamar de iderio da autogesto, atravs de vrios pensadores que foram atrados pelo projeto socialista autogestionrio. Atravs de suas ideias, poderemos construir as bases e/ou princpios de um marco terico da autogesto.54

Em seguida, ento, mergulharemos nas experincias autogestionarias, ocorridas em vrios pases. Nelas, atravs de suas formas Istvan Mszros, autor de obras como Alm do Capital, um dos raros pensadores socialistas contemporneos a por na ordem do dia a questo da estratgia socialista, de forma inovadora, ao tom-la como forma antagnica ao Capital, e no apenas a sua forma histrica atual, o sistema capitalista. 2) Poltica da Autogesto Vamos, ento, retomar algumas ideias de Mszros, e, acrescentar outras que sero importantes para a viso estratgica da autogesto. Ricardo Antunes sintetizou, de forma brilhante, as 3 teses mais originais do pensamento de Mszros: 1) Mszros diferencia capital e capitalismo. O primeiro antecede ao capitalismo e a ele tambm posterior. O capitalismo uma das formas de realizao do capital, a forma dominante nos ltimos trs sculos. Mas, assim como existia capital antes do capitalismo, h capital aps o capitalismo (o capital ps-capitalista), vigente na URSS e demais pases do Leste Europeu, durante varias dcadas do sculo XX. Estes pases,embora ps-capitalistas,foram incapazes de romper com o domnio do capital. Para Mszros, o sistema de metabolismo social do capital tem seu ncleo central formado pelo trip capital, trabalho assalariado e Estado. So trs dimenses fundamentais e interrelacionadas, sendo impossvel superar o capital sem a eliminao do conjunto dos elementos que compreendem este sistema. 2) sendo um sistema que no tem limites para a sua expanso, o capital acaba por tornar-se incontrolvel e essencialmente destrutivo. 3) qualquer tentativa de superar esse sistema de metabolismo social que se restrinja esfera institucional e parlamentar esta fadada derrota. S um vasto movimento de massas, radical e extraparlamentar, pode ser capaz de destruir o sistema de domnio social do capital e sua lgica destrutiva.

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Mszros parte da ideia da crise estrutural do capital como marca fundante desta nova poca, que alguns chamam de globalizao. E, por varias razes, nos mostra que a nica alternativa a barbrie do capital uma hegemonia radical socialista antagnica ao Capital. Esta hegemonia tem por objetivo a construo de um novo tipo de sociedade, que Mszros sempre chama em suas varias obras, de Livre associao dos produtores, ou seja, o que na cultura socialista significa Autogesto Social. Como vimos nas experincias histricas, as principais lutas dos trabalhadores nos sculos XIX e XX ,na perspectiva da autogesto social, portam a radicalidade antagnica contra os trs eixos do ncleo central do metabolismo social:o Capital, o Trabalho Assalariado e o Estado. Este carter e a natureza das lutas autogestionarias como experincias radicais contra o Capital, ou seja, para Alm do Capital, explicam o porque tenham sido massacradas a ferro e fogo pelas personificaes histricas do Capital, em ciclos distintos do capitalismo. Estes ciclos de lutas autnomas e autogestionrias foi sistematizado por Joo Bernardo, em sua obra intitulada A Economia dos Conflitos Sociais. Bernardo qualifica tanto em termos de forma quanto de contedo estas lutas pela autogesto. Seu trabalho mostra claramente o que so lutas antagnicas ao Capital, para Alm do Capital. Neste sentido, aproximar as ideias de Bernardo com a obra de Mszros fundamental . A relao da Autogesto com a Economia Solidria outro desafio deste ensaio. claro que, a Ecosol porta princpios da autogesto, contudo, como veremos, suas formas de luta e de organizao no portam (pelo menos na conjuntura atual) a radicalidade e o antagonismo das lutas histricas da autogesto em relao ao Capital. Suas lutas so de resistncia dentro do capitalismo. As experincias histricas de lutas autogestionarias mostram que estas comeam nos locais de trabalho,nas empresas heterogeridas, de submisso do trabalho assalariado ao Capital, e vo assumindo formas radicais de organizao e programas em relao a organizao capitalista do Trabalho, e , em relao ao Estado (forma poltica articulada de expresso do Capital)56

J a Ecosol tem suas experincias mais articuladas no territrio, nas cidades, e, h um segmento especial: o das Empresas recuperadas, mais prximo das experincias de controle operrio. As lutas pela autogesto ocorreram em conjunturas e ciclos pr ou mesmo revolucionrios. Por sua vez, com poucas excees, as experincias da Ecosol ocorrem em conjunturas de baixa intensidade de lutas sociais, perodos de poucas convulses sociais. Em momento de crise das lutas nas empresas,nos locais de trabalho, a Ecosol a nica forma de expresso da autogesto na poca atual do Capital Define, em si mesma,uma alternativa ao atual modo de produo e mesmo ao prprio metabolismo social do Capital ? Que articulaes seriam necessrias entre as lutas e formas de organizao das experincias da ecosol e as do movimento operrio nas empresas, atravs de formas associadas de organizao (sees sindicais, comisses de fabrica, conselhos operrios,etc.) ? Seria, ento, a Ecosol um novo reformismo? Ainda cabe nesta poca do Capital, a distino entre reforma e revoluo? Neste ponto, vamos recorrer as analises de Mszros, quando remarca que a linha de menor resistncia ao Capital est definitivamente sepultada nesta nova poca. Ou, ser que teremos, nesta poca do Capital, novos ciclos revolucionrios de lutas autogestionarias? A nova caracterstica de crise estrutural do Capital no determinar, tambm, nova poca para as lutas sociais? Tal qual, no se prev mais ciclos econmicos do Capital, no seria esta a nova lgica das lutas envolvendo Capital x Trabalho, em suas formas de existncia atualmente. Poder a Ecosol desenvolver a radicalidade e o antagonismo ao Capital presentes nas lutas histricas pela autogesto e pelo socialismo? Ela porta de forma intrnseca este potencial? 3) I. Mszros: A Ideia do Fenecimento do Estado

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As lutas radicais contra o Capital e com base na autogesto,igualitarismo ,coletivismo,e de carter ativo, conduzem a um antagonismo frente ao Estado. Mszros aprofunda esta questo. Mszros , em seu ensaio sobre O Socialismo do Sculo XXI, analisa a postura de Marx frente Questo do Estado; Marx era explicito em sua defesa inflexvel do Fenecimento do Estado com todos os seus corolrios. Somete a conduo inexorvel realizao de uma sociedade de igualdade substantiva pode fornecer o contedo social exigido ao conceito de democracia socialista.um conceito que no pode definir-se apenas em termos polticos, porque deve ir alm da prpria poltica tal como herdada do passado. Assim a igualdade substantiva tambm o principio orientador fundamental da politica de transio em direo ordem social alternativa. Quer seja explicitamente reconhecido ou no, a principal ao da poltica de transio colocar-se fora de ao pela transferncia progressiva dos poderes de deciso aos produtores associados, capacitando-os, desse modo, a se tornarem produtores LIVREMENTE associados (grifo nosso). Mszros, mais adiante aprofunda esta questo,atravs da ideia de unificao das esferas da reproduo material e da poltica. Em varias experincias histricas da autogesto,vamos encontrar essa ideia no Programa dos Conselhos Operrios. Ao expor as condies para libertar o movimento socialista da camisa de fora do parlamentarismo (democracia representativa), pondo a primeira condio como sendo a participao real, Mszros retoma a questo do Estado: H tambm uma outra dimenso, que concerne ao desafio muito mais amplo e fundamentalmente to inevitvel a que se normalmente se refere na literatura socialista como o fenecimento do Estado.As dificuldade aparentemente proibitivas desse projeto marxiano vital se aplicam com a mesma relevncia e peso tanto a participao como a autoadministrao plenamente autnoma de sua sociedade pelo produtores livremente associados em todos os domnios,muito alm das restries mediadoras (por algum tempo necessrias) do Estado poltico moderno

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quanto ao modo duradouro de unificao das\esferas de reproduo material e poltica como alternativa radical visada ao parlamentarismo. Com efeito, prossegue Mszros, quando consideramos a tarefa histrica de tornar real o fenecimento do Estado, a autoadministrao por meio da plena participao e a superao permanentemente sustentvel do parlamentarismo por uma forma positiva de deciso substantiva em oposio formal/jurdica politicamente limitada so inseparveis. Neste sentido, Mszros assinala as experincias dos ltimos 15 anos ocorridas na Venezuela e na Bolvia,em que,as tentativas de grandes mudanas sociais foram acompanhadas de uma critica substancial do sistema parlamentar e pelo restabelecimento de assembleias constitucionais. Como veremos adiante, as experincias dos Governos Alvarado, no Peru; do Governo Torres, na Bolvia, e, Allende, no Chile, alm das mais recentes de Chaves e Morales, trouxeram esta marca de critica radical democracia representativa e parlamentar. Na verdade,uma retomada contempornea da ideia da Comuna Popular. Mszros tambm aborda esta ideia to cara Grande Revoluo Francesa: Ao criticar deturpao tendenciosa das ideias de Rosseau, Mszros diz que Contudo, a verdade do problema que, por um lado, o poder de deciso fundamental no deveria jamais ser separado das massas populares. Ao mesmo tempo,por outro lado, o cumprimento das funes administrativas e executivas especificas em todos os domnios do processo socioreprodutivo pode, com efeito, ser delegado por um determinado perodo de tempo aos membros de dada comunidade, contanto que isso se faa sob regras estabelecidas de modo autnomo, pelos produtores livremente associados e por eles controladas em todos os estgios do processo substantivo de deciso. Mszros situa a questo central; Pois o desafio inevitvel nesse sentido requer a soluo de um problema extremamente desnorteador:a saber,que o capital uma fora extraparlamentar por excelncia de nossa ordem social e,contudo,ao mesmo tempo domina completamente o parlamento de fora,embora pretenda ser simplesmente uma o parte dele,professando operar em

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relao com as foras polticas alternativas do movimento da classe trabalhadora de um modo plenamente igualitrio. Para o pensador hngaro, Em uma ordem socialista, o processo legislativo teria de se fundir com o prprio processo de produo de tal modo que a necessria diviso horizontal do trabalho fosse complementada de maneira apropriada por um sistema de coordenao autodeterminada do trabalho, dos nveis locais ao global essa relao est em agudo contraste com a perniciosa diviso vertical do trabalho do capital, complementada pela separao de poderes em um sistema poltico democrtico alienado e inalteravelmente imposto sobre as massas trabalhadoras. Em outro momento, Mszros afirma categoricamente: por isso que a reconstituio radical historicamente vivel da unidade indissolvel da esfera poltica e de reproduo material em uma base permanente , e permanece , a exigncia essencial do modo socialista de controle sacarometablico. Para Mszros,ou a sociedade de produtores associados aprende a controlar a riqueza alienada e reificada,com foras produtivas emergentes do trabalho social autodeterminado de seus membros individuais- porm no mais isolados. Seguindo Marx, Mszros diz que as condies objetivas de trabalho no aparecem subsumidas ao trabalhador; antes, este aparece subsumido a elas. Capital emprega trabalho. Mesmo essa relao em sua simplicidade uma personificao das coisas e uma reificao das pessoas O capital a fora extraparlamentar por excelncia cujo poder de controle sociometablico no pode de maneira alguma ser restringido pelo parlamento. por essa razo que o nico modo de representao poltica compatvel com o modo de funcionamento do capital aquele que efetivamente nega a possibilidade de contestar seu poder material. Assim, o nico desafio que poderia afetar de maneira sustentvel o poder do capital seria aquele que tivesse simultaneamente o objetivo de assumir as funes produtivas chave do sistema e adquirir o controle sobre os processo polticos de deciso correspondentes em todas as esferas, em60

lugar de restringir-se de modo incorrigvel pela limitao circular da ao poltica institucionalmente legitimada de legislao parlamentar. Faamos longa citao, em que Mszros retoma o problema do fenecimento do Estado, concluindo seus pensamento: Nesse sentido, em vista da questo inevitvel que emerge do desafio das determinaes sistmicas,com relao tanto reproduo socioeconmica quanto ao Estado,a necessidade de uma transformao politica abrangente em estreita conjuno com o exerccio significativo das funes produtivas vitais da sociedade sem o qual uma mudana politica duradoura e de longo alcance inconcebvel torna-se inseparvel do problema caracterizado como fenecimento do Estado. Em seguida, Mszros, define o contedo, sem duvidas, de autogesto, desse processo: Por conseguinte, na tarefa histrica de realizao do fenecimento do Estado, a auto-administrao pela plena participao e a superao permanentemente sustentvel do parlamentarismo ou uma forma positiva de deciso substantiva so inseparveis... Essa uma preocupao vital, e no uma fidelidade romntica ao sonho irrealizvel de Marx, como algumas pessoas a procuram desabonar e descartar. Na verdade,o fenecimento do Estado no se refere a algo misterioso ou remoto, mas a um processo perfeitamente tangvel que deve iniciar-se j em nosso prprio tempo histrico. Isso significa em uma linguagem franca, a reaquisio progressiva dos poderes alienados de deciso pelos indivduos sem eu empreendimento de mover-se em direo a uma sociedade socialista genuna. E, remarca que: Sem a reaquisio desses poderes (...) no possvel conceber nem o novo modo de controle poltico da sociedade como um todo por seus indivduos,nem tampouco a operao cotidiana no-conflitual/adversa e, portanto, coesiva/planejvel das unidades produtivas e distributivas particulares pelos produtores livremente associados e auto-administrados. Enfim,que: A suplantao radical da conflitualidade/adversidade e a consequente seguridade do fundamento material e objetivo do

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planejamento global vivel () so sinnimos do fenecimento do Estado como um empreendimento histrico continuo. Mszros avana na definio do sujeito revolucionrio altura dessa tarefa histrica. Obviamente, uma transformao dessa magnitude no pode realizar-se sem a dedicao consciente de um movimento revolucionrio mais desafiadora tarefa histrica,capaz de sustentar-se contra toda a adversidade,j que seu engajamento tende a despertar a hostilidade feroz de todas as maiores foras do sistema do capital. Vimos esta barbrie das foras do Capital contra os trabalhadores,por exemplo,na Comuna de Paris e,quase um sculo depois,no Chile de Allende. Por essa razo, o movimento em questo no pode ser simplesmente um partido poltico orientado a fim de assegurar concesses parlamentares, que em via de regra acabam por anular-se mais cedo ou mais tarde pelos interesses extraparlamentares autovantajosos da ordem estabelecida vigente tambm no parlamento. O movimento socialista no pode obter xito diante da hostilidade dessas foras a menos que seja rearticulado como um movimento revolucionrio de massa conscientemente ativo em todas as formas de luta social e poltica: local, nacional e global/internacional, utilizando plenamente as oportunidades parlamentares quando disponveis, por mais limitadas que possam ser, sobretudo sem se esquivar de asseverar as demandas necessrias da desafiadora ao extraparlamentar. Mszros aponta elementos da estrategia: Assim, em relao a ambos os domnios de reproduo material e poltico,a constituio de um movimento socialista extraparlamentar de massa estrategicamente vivel em conjuno com as formas tradicionais de organizaes polticas do trabalho, ora irremediavelmente desencaminhadas, que precisam com urgncia da presso e do apoio radicalizantes de tais foras extraparlamentares uma precondio vital pra a contraposio ao poder extraparlamentar macio do capital. Adiante, em no mesmo ensaio sobre O Socialismo no sculo XXI, Mszros afirma que O sujeito social capaz de regular o processo de trabalho com base no tempo disponvel s pode ser a fora62

conscientemente combinada da multiplicidade de indivduos sociais: os produtores livremente associados, como so habitualmente denominados. Para cumprimento destas tarefas de atualizao da proposta socialista, Mszros pe algumas questes de mtodo: A constituio urgentemente necessria da alternativa radical ao modo de produo do metabolismo social do capital no ocorrer sem um reexame critico do passado. necessrio examinar o fracasso da esquerda histrica em concretizar as expectativas otimistas expressas por Marx quando ele postulou, em 1847, a associao sindical e o consequente desenvolvimento poltico da classe trabalhadora paralelamente ao desenvolvimento industrial de vrios pases capitalistas. Desde que o Capital controla realmente todos os aspectos vitais do metabolismo social, o capital capaz de definir separadamente a esfera constituda da legitimao poltica como uma questo estritamente formal, excluindo a priori a possibilidade de qualquer contestao legitima em sua esfera substantiva de operao reprodutiva socioeconmica, para Mszros; A reconstituio da unidade da esfera material reprodutiva e poltica a caracterstica essencial definidora do modo socialista de controle do metabolismo social. E, neste sentido, a experincia histrica ps-capitalista um relato triste e premonitrio, conclui Mszros. Faltou a instituio de um controle democrtico substantivo. Se, o capital nada sem o trabalho, e de sua explorao permanente; se a relao entre capital trabalho ser no-simtrica;isto quer dizer: enquanto o capital depende absolutamente do trabalho, a dependncia do trabalho em relao ao capital relativa, historicamente criada e historicamente supervel. Esta relao entre capital e trabalho, conduz Mszros a considerar a possibilidade e apenas a possibilidade- de uma evoluo positiva dos acontecimentos que conduz a uma importante mudana histrica na confrontao entre capital e trabalho,e traz consigo a necessidade de buscar uma nova forma de afirmar os interesses vitais dos produtores livremente associados. E, portanto, do Socialismo com base na Autogesto Social !

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Captulo IVEconomia Solidria Poder Comunal e Popular

Claudio Nascimento

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Economia Solidria Poder Comunal e PopularClaudio Nascimento Poder Autogestionrio e Comunal na Amrica Latina e Central Aps uma breve viagem a Venezuela para participar da Primeira Conferencia Global do PROUT*, intitulada Construyendo uma Economia Solidria baseada em La tica y La Ecologia (07 a 09 Julio 2011), esbocei estes elementos sobre a questo do Poder Popular. claro que estas reflexes se baseiam em estudos sobre as experincias em curso na Bolvia, Nicargua e Venezuela, alm de Chiapas no Mxico. Contudo, a visita a Venezuela,desde os debates na Conferencia Internacional sobre Socialismo,passando pelas visitas ao Consejos Comunales e as Comunas , nos deram mais consistncia tericas. A visita e a roda de conversa com homens e mulheres da Parroquia de CARICUAO e com a Misin madres del barrio Josefa Joaquina Snchez nos fortaleceram as ideias. Na Venezuela todos os Ministrios se definem como instrumentos do Poder Popular. Na comemorao do bicentenrio, na Plaza Simon Bolvar estavam inmeras bancas representando os Ministrios e Misiones do poder popular. A Ley Orgnica de Las Comunas da Venezuela uma conquista histrica na cultura autogestionria:

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Articulo 1. La presente Ley tiene por objeto desarrollar y fortalecer El Poder Popular, estabeleciendo ls normas que regulan La constitucin, conformacin, organizacin y funcionamento de La Comuna, como entidad local donde los ciudadanos y ciudadanas em El ejercicio Del poder Popular ejercen El pleno derecho de La soberania y desarrollan La participacin protagonica mediante formas de autogobierno para La edificacin Del ESTADO COMUNAL grifo nosso-, en el marco del Estado democrtico y social de derechos y justicia. Em suas definies, no Articulo 4.10. Estado Comunal: Forma de organizacin poltico-social fundada em el Estado democrtico y social de derecho y de justicia establecido em La Constituicin de La Republica, em La cual el poder ES ejercido por el pueblo, atravs de los autogobiernos comunales, com um modelo econmico de propriedad social y um desarrollo endgeno y sustentable,que permita alcanzar La suprema felicidad social de los venezuelanos y venezuelanas em La sociedad socialista.La clula fundamental de conformacin Del estado comunal ES La Comuna. Independentemente das contradies e impasses do processo venezuelano, o povo bolivariano marcou um ponto fundamental em seu processo de emancipao. As mltiplas formas que a Economia Solidria e Popular tem assumido na Amrica Latina e Central fazem parte do campo que podemos denominar de construo do Poder Comunal e Popular,com base nas experincias de Autogesto.

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Nas experincias atuais, o Poder Popular - comunal Potncia que traz em si a Utopia Concreta, o Indito Vivel (Paulo Freire) e o ainda-no-ser (E.Bloch). Nossa leitura aporta elementos do campo metodolgico das cincias sociais da Amrica Latina, que buscam refletir as experincias em curso e, sem dvidas, muitas das ideias em desenvolvimento em nosso Continente. Em um olhar na linha de uma onda de longa durao, ou memria longa, vemos que as diversas tentativas dos trabalhadores de assalto ao Cu, na verdade, significam ensaios de construo dos rgos de poder popular, muitas vezes antagnico ao ncleo fundamental do metabolismo do Modo de Produo Capitalista. So os casos de revolues ativas de massas, e tambm de revoltas e rebelies. Nestes momentos, os trabalhadores fundam rgos de autogesto que so, na verdade, rgos de carter Comunal. Se, no campo da memria curta, tomamos a experincia da Polnia, de 1980-81, como ponto de chegada, de um longo ciclo iniciado no ps-guerra, um novo ciclo se iniciou nos anos de 1990 e 2000, na Amrica Latina: possivelmente, com a rebelio indgena em Chiapas, em 1994, retomando os ideais do Zapatismo da Revoluo Mexicana, de 191011. . Por um lado, de uma forma em que o Potncial est se tornando Realidade de forma m