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Autoria Mosaica Do Pentateuco

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Page 1: Autoria Mosaica Do Pentateuco

JORGE LUIZ STEIN LAMAS

AUTORIA MOSAICA DO PENTATEUCO: UMA QUETÃO TOTAL OU PARCIAL?

Trabalho apresentado ao Seminário Teológico Betesda, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Teologia da disciplina introdução ao antigo testamento.

SERRA2009

Page 2: Autoria Mosaica Do Pentateuco

SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO .....................................................................................................02

2 - A NEGAÇÃO DA AUTORIA MOSAICA................................................................022.1 - Origens do desenvolvimento da Teoria

Documentaria............................02 2.2 - Muitos documentos - um livro..................................................................03

2.3 - Características dos documentos JEDP...................................................03

3 - PRINCIPAIS SOFISMAS GERADOS PELOS DOCUMENTOS JEDP.................043.1- Os nomes de Deus...................................................................................053.2 - Linguagem e estilo...................................................................................053.3 - As narrações em duplicado.....................................................................053.4 - A discordância acerca de disposições legais..........................................063.5 - Sacerdotes e levitas................................................................................06

4 - Argumentos ateístas.............................................................................................064.1 - Corrente evolucionista.............................................................................074.2 - Religiões comparadas.............................................................................074.3 – Naturalismo.............................................................................................074.4 - Negação da existência de Moisés...........................................................07

5 - ARGUMENTOS FAVORÁVEIS À AUTORIA MOSAICA.......................................085.1 - A Bíblia confirma a autoria mosaica........................................................08

5.1.1 - Evidências internas....................................................................085.1.2 - Evidências externas no AT........................................................095.1.3 - Evidências do NT.......................................................................09

5.2 - Moisés era qualificado para escrever o Pentateuco................................095.2.1 - Moisés foi um personagem histórico.........................................095.2.2 - Moisés tinha preparo intelectual................................................095.2.3 - Moisés conhecia o local do ponto de vita egípicio......................05.2.4 - A insperação divina...................................................................10

5.3 - Unidade literária/textual...........................................................................105.3.1 - Unidade histórica.......................................................................10

            5.3.2 - Unidade temática.......................................................................105.4 - Historicidade de Moisés...........................................................................11

6 - Conclusão.............................................................................................................11

7 - Glossário...............................................................................................................12

8 - Bibliografia.............................................................................................................12

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1- IntroduçãoO objetivo desse trabalho não é dar uma conclusão ou fechar de forma

definitiva a questão da autoria mosaica do Pentateuco. A questão é muito ampla, logo, arrogar ser o possuidor do definitivo esclarecimento sobre o assunto seria apenas pretensão, porém, acreditamos poder contribuir para o fortalecimento da fé e da manutenção da firmeza ortodoxa que tem sido deixada de lado pela igreja cristã em nossa época.

Ter uma opinião firmada sobre determinado assunto é claramente uma boa forma para abordar qualquer tema e pode dar partida a uma discussão produtiva onde os pontos de vista sejam respeitados.

Partindo desse pressuposto, tentaremos mostrar a viabilidade da autoria mosaica para os livros do Pentateuco contrapondo as opiniões da crítica literária, da teologia bíblica liberal e mesmo do pensamento ateu acerca do assunto.

Muitos têm exposto suas opiniões, que invariavelmente circulam por dois extremos, a autoria completa dos “cinco quintos da lei” por Moisés ou então a totalidade de sua autoria por sacerdotes e profetas do período anterior até o retorno do exílio babilônico/persa da nação de Israel.

Vejamos, pois, como são colocadas essas teorias e como cada uma se encaixa ou diverge do texto bíblico. No fim fica a cada um o cargo de definir-se por um lado, visto que não é bem quista biblicamente a tática de pender entre dois lados.

2 - A Negação da Autoria MosaicaExistem algumas correntes básicas que tentam negar a autoria mosaica do

Pentateuco, podendo ser reconhecidas em três movimentos distintos:- Movimentos cristãos liberais: Crêem que a Bíblia não possui infalibilidade e

pode ser considerada, especialmente o antigo testamento, como um conjunto de normas religiosas e de alegorias que tentam explicar a origem do cristianismo. Vivem o cristianismo como uma filosofia de vida que não requer o comprometimento de suas idéias pessoais pelas regras bíblicas.

- Movimentos neo-ortodoxos: Basicamente uma vertente menos radical de liberalismo que considera que a Bíblia é parcialmente inspirada, mas que tenta usar a explicação alegórica para certas passagens de difícil aceitação ou explicação científica, como o livro de Jonas ou o relato da criação.

- Movimento Ateísta: Busca várias formas de descredenciar a Bíblia, tendo assim, munição para comprovar a sua “fé na inexistência” de Deus.

Mesmo divergindo em vários aspectos todos acabam utilizando basicamente as mesmas ferramentas em seu trabalho: A alta crítica1 literária (teoria documentaria) e supostas evidências científicas.

2.1 - Origens do desenvolvimento da Teoria DocumentariaAlguns movimentos como o Deísmo2 e Racionalismo3 forneceram o cenário, e

contribuíram para o surgimento da Teoria Documentária. Estas duas correntes de pensamento, embora diferentes, concordam numa coisa: a negação de uma relação sobrenatural de Deus com o homem.

Thomas Hobbes em sua obra Leviathan (1651) afirmou que o Pentateuco havia sido editado por Esdras a partir de fontes antigas.

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Benedicto Spinoza declarou em Tractatus Theologico-Politicus (1670) que Esdras havia editado o Pentateuco com interpolação de Deuteronômio, questionando a autoria mosaica.

O alemão Julius Wellhausen deu expressão a esta teoria quando propôs que o Pentateuco foi uma compilação de quatro documentos escrito por autores diferentes e independentes durante um período de cerca de 400 anos sendo finalmente redigido em sua forma básica por volta do quinto século a.C, ou seja, cerca de mil anos depois dos acontecimentos descritos. Wellhausen, considerava as histórias bíblicas como tradições populares que funcionavam como um espelho para transmitir eventos históricos posteriores. Por exemplo, a luta entre Jacó e Esaú nada mais era do que um reflexo da inimizade entre as nações de Israel e Edom, assim como as histórias de Sodoma e Gomorra, o Êxodo e até mesmo o rei Davi.

Críticos eruditos modernos, acompanhando Julius Wellhausen (século XIX), afirmam que os cinco primeiros livros do AT foram escritos por pessoas de correntes de pensamento e épocas diferentes, identificadas como J (Javista), E (Eloista), S (sacerdotal) e D (deuteronomista), dependendo de quais seções refletem a característica peculiar de tais supostos autores.

2.2 - Muitos documentos - um livro   Segundo essa teoria, o documento chamado “J” (Javista) foi escrito muitos séculos depois dos eventos que descreve. Um século ou dois mais tarde, outro documento, mais ou menos paralelo ao documento “J”, foi escrito. Depois de circular separadamente por algum tempo, alguém os reuniu, inserindo várias porções do documento mais novo “Ë” (Eloista) no documento “J”, em lugares apropriados. Muitos séculos passaram e então o documento “D” (Deuteronômista) foi composto, pretendendo conter o discurso da despedida de Moisés. Eventualmente este último foi inserido na parte final do documento combinado “JE”. Aproximadamente no tempo do exílio, um grupo de sacerdotes compôs ainda outro documento, o chamado documento “P” (“Priestly”- Sacerdotal), muito paralelo à matéria já coberta pelos documentos “J” e Ë”. Eventualmente esse foi cortado em grandes e pequenas seções, entre as quais seções similares de outros documentos foram introduzidas.

Como resultado, diz-se que o Pentatêuco, como conhecemos atualmente, está composto de partes entrelaçadas desses documentos, de modo que lemos freqüentemente uma seção de cada documento, seguida por uma seção de outro; depois talvez um versículo ou dois do primeiro; então dois ou três versículos do segundo; em seguida, talvez, a metade de um versículo do primeiro novamente; logo uma porção do terceiro; depois mais do segundo, e assim por diante, num arranjo complicado de uma obra de retalhos.

De acordo com muitos críticos, o mosaico literário assim produzido inclui não somente os livros que conhecemos hoje, como Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, mas também o livro de Josué.

Assim, de acordo com as correntes que consideram a teoria documentarista como forma e fonte confiável para determinar a formação do pentateuco, esse nada teria de Moisés, senão, apenas o nome que daria a esses a credibilidade junto ao povo. O Pentateuco seria não uma obra literária única, mas um emaranhado de várias obras de data e autores diversos que foram aderidas de modo a formar um códice religioso que fundamentasse as práticas religiosas de Israel.

2.3 - Características dos documentos JEDP

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            Segue abaixo um resumo sobre as características principais dos supostos documentos que compõe o Pentateuco, segundo os adeptos da teoria documentaria: 

a) Documento J (Jeová, Javista ou Jeovista) Data: 950 ou 850 a.C.

Local escrita: Judá Autoria: é atribuído a um historiador desconhecido, do reino do Sul Conteúdo: começa com a criação e vai até o fim do reino de Davi (Gn 2 a Nm 22-24). Natureza: uma coleção de literatura épica, demonstrando forte sentimento nacionalista. Contém dramatização vívida, apresentações antropomórficas de Deus, em que Deus é descrito em termos humanos. Prefere usar o nome Yahweh para Deus. Ressalta a continuidade do propósito de Deus desde a criação, passando pelos patriarcas, até o papel de Israel como seu povo. Essa continuidade leva ao estabelecimento da monarquia com Davi.

 b) Documento E (Elohista) Data: 850 ou 750 a.C. Autoria: um sacerdote desconhecido de Betel (Reino do Norte), ou um

profeta, sob a influência de Elias. Local escrita: Efraim Conteúdo: começa com Abraão e termina com Josué Natureza: Usa-se a história na forma épica. Este documento possui uma

variedade de detalhes, grande interesse no ritual e uma teologia mais abstrata, que evita antropomorfismo e usa visões e anjos como meios de revelação. É a narrativa da tradição de Israel (reino do Norte) em paralelo com documento J. Prefere Elohim como nome de Deus até a revelação de seu nome Yahweh a Moisés (Êx 3), depois disso passa a empregar ambos os nomes de Deus. 

c) Documento D (Deuteronomista) Data: 650 a.C.

Autoria: atribuída a um sacerdote desconhecido. Local escrita: Jerusalém

Conteúdo: é o material núcleo do livro de Deuteronômio Natureza: tem interesse teológico pelo Templo de Jerusalém, e forte

oposição contra a idolatria. O estilo literário é prosaico, prolixo, paranético (repleto de exortações ou conselhos). Seria o tal livro descoberto no reinado do rei Josias no ano 621 a.C. 

d) Documento P (do inglês Priestly[Sacerdotal]) Data: 525 ou 450 a.C. Local escrita: provavelmente em Jerusalém Autoria: desconhecida (alguns sugerem Esdras) Conteúdo: composto de tradições mosaicas antigas depois do Exílio.

3 - Principais sofismas4 gerados pelos documentos JEDPBaseados nos estudos documentais foi possível criar uma gama de sofismas

que os fundamentam e ao mesmo tempo desarticulam a forma tradicional de pensar sobre a autoria do Pentateuco por Moisés. Seguem abaixo alguns desses:

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3.1- Os nomes de DeusLogo de início se reparou na variedade dos nomes atribuídos a Deus. Daí o

falar-se em fontes "javístas" e "eloístas" conforme Deus é denominado Jeová (Javé) ou ’ Elohim. Mas temos observado que o Corão dos muçulmanos apresenta um caso idêntico. Uns textos falam de "Allah" (Elohim) e outros de "Rab" (Yahweh = Senhor).

Quanto à reunião dos dois termos Yahweh-Elohim, que só aparece no Gênesis (Gn 2.4-3.24) e no Êxodo (Êx 9.30), não é caso para supor tratar-se dum autor diferente, porém, os partidários desta teoria sustentam a infalibilidade dos seus argumentos, baseando-se apenas nos diferentes nomes de Deus.

3.2 - Linguagem e estiloFala-se ainda em diferenças de linguagem, estilo e até do aspecto teológico,

se bem que tais maneiras de pensar, sendo meramente subjetivas, não são de grande importância.

É de notar, que um dos defensores da "teoria dos documentos", após um exame rigoroso, chegou à conclusão de que são pequeníssimas as diferenças lingüísticas das várias fontes e acabou por admitir que se trata de ligeiras diferenças, meramente acidentais.

3.3 - As narrações em duplicadoDe maior importância é o fato de o mesmo acontecimento ser, por vezes,

narrado de duas maneiras. Seria o caso da criação, do dilúvio, da esposa de Abraão, da ida de José para o Egito, das dez pragas, e ainda da rebelião de Coré, Datã e Abirão.

Não raro as descrições são apresentadas em separado (por exemplo, a história da criação); noutros casos afirma-se que as descrições foram habilmente reunidas numa só história por um redator (por exemplo, a história de José).

Quanto à história da criação, convém distinguir entre a revelação da obra criadora de Deus no primeiro capítulo do Gênesis e a história do mundo criado do capítulo imediato.

Quanto ao dilúvio, que é um dos casos mais discutidos, é uso afirmar-se, que primeiramente Noé foi incumbido de introduzir na arca um casal de cada espécie de animais e, mais tarde, sete de cada espécie "pura" e dois de cada espécie "impura". Mas, por que considerar este exemplo um caso de contradição? O fato de ser aconselhado a tomar um casal de cada espécie, o que não passava duma regra geral, porventura poderá impedir que se sigam outras instruções relativas aos animais "impuros"?

No caso da esposa de Abraão, a quem o marido negou, não parece tratar-se duma narração em duplicado do mesmo acontecimento (ou até em triplicado, se considerarmos a intervenção de Isaque no Gn 26.6-11), mas sim de vários acontecimentos. Quanto à resposta de Abraão em Gn 20.13 é possível que se trate dum ardil empregado, não só por Abraão, mas também por Isaque.

É freqüente imaginar-se, também, duas versões diferentes da narração relativa à ida de José para o Egito. Segundo uma, José foi vendido pelos irmãos a uma caravana de ismaelitas; segundo outra, eram midianitas os que o levaram para o Egito, mas é apenas uma questão de interpretação do texto bíblico.

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No que respeita à história das dez pragas do Egito, os partidários da "teoria documentária" também não deixam de encontrar vestígios de descrições em duplicado bem vincadas por uma série de diferenças sistemáticas, mas que, na realidade, não passam de ligeiras variantes de linguagem, se atendermos, sobretudo, aos traços característicos que se encontram tão intimamente ligados.

No caso da rebelião de Coré, duas novas versões se apresentam: uma, referente à oposição dos leigos contra a autoridade civil de Moisés, chefiada por Datã e Abirão; a outra, aludindo à discórdia que surgiu entre a tribo de Levi e as outras tribos, sob o comando de Coré. Trata-se, todavia, duma suposição totalmente contrária ao texto, pois não só encontramos os três conspiradores atuando em conjunto em Nm 16.1-3, onde se diz que se opuseram à autoridade de Moisés e de Arão, mas também os vemos juntos nos versículos Nm 16.24,27.

3.4 - A discordância acerca de disposições legaisComo explicar, por exemplo, que Nm 35.13 e segs. se refira a seis cidades de

refúgio, enquanto em Dt 19.2,7 não vão além de três? Assim interrogam, não vendo que no primeiro caso as cidades se situam, três

na terra de Canaã, e três na Transjordânia. E como Moisés já tinha indicado três cidades na Transjordânia (Dt 4.41-43), não admira que ordenasse a separação de outras três na terra de Canaã. É certo, que em face de Dt 19.8 e segs., podem supor-se outras três cidades nas fronteiras de Canaã, mas isto em nada afeta o nosso caso, admitir a manifesta discordância de textos.

E o caso das leis relativas às grandes festas? Em conformidade com Êx 23.14 e segs.; Êx 34.22 e segs.; Dt 16.16 eram três as grandes festas de Israel: a dos pães asmos, a das semanas e a das colheitas. Mas o Lv 23.27 e segs. menciona ainda o dia da expiação, o que leva a supor que o código levítico é de data posterior.

Simplesmente se trata dum argumento sem consistência, se lembrarmos que as leis do Êxodo e do Deuteronômio apenas lembram a obrigação de todo o israelita do sexo masculino aparecer diante do Senhor três vezes por ano. A nada é obrigado, porém, no dia da expiação. E são estas as ligeiras diferenças.

3.5 - Sacerdotes e levitasDe maior importância a diferença nítida entre o Deuteronômio e o chamado

"Código Sacerdotal" no que se relaciona com os sacerdotes e os levitas. Quem segue a "teoria dos documentos" afirma que o Deuteronômio não faz qualquer distinção entre estas duas categorias, distinção essa que só mais tarde se verificou.

Não é, contudo, o que se deduz de Dt 18.3-5, pois, fala do "direito dos sacerdotes a receber do povo", e em Dt 18.6-8 continua: "e quando vier um levita dalguma das tuas portas...".

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4 - Argumentos ateístasAlém dos argumentos documentais da crítica literária, que são aceitos por

muitos que professam uma fé cristã, temos ainda argumentos ateístas, que não só negam a autoria mosaica, como todo e qualquer fundamento de fé do pentateuco e seus relatos, em especial sobre a criação.

Para agravar o fato, muitos teólogos de linha liberal tentam agregar os conceitos de ordem secular às narrativas bíblicas, gerando ainda mais dúvida. Na realidade, esses têm dado mais munição aos ateus, que não raramente fazem uso da teoria documentaria para afirmar suas posições contrarias à revelação divina das escrituras.

4.1 - Corrente evolucionistaO evolucionismo como o conhecemos atualmente, foi concebido, como se

sabe, pelo naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882). Na concepção darwinista, a origem do homem não foi um ato divino, mas um

processo de adaptação dos seres vivos ao ambiente natural radicalmente modificado durante milhões de anos. Os conceitos darwinistas opunham-se aos princípios fundamentais da Criação, segundo ensinado pela Escrituras. Os teólogos modernistas, procuraram conformar-se a nova teoria em razão de sua ampla aceitação nos círculos acadêmicos. Interpretaram as narrativas da criação, do homem e da queda, como mitos religiosos desprovidos de qualquer fundamentação científica.

4.2 - Religiões comparadasSegundo os estudos de religião comparada dos filósofos e sociólogos e do

liberalismo teológico, as tradições religiosas de Israel foram construídas a partir de suas relações com os povos pagãos primitivos. Não existe, na verdade, uma eleição divina tal qual afirma a Bíblia, mas a religião de Israel foi evoluindo do animismo, politeísmo até chegar ao conceito do monoteísmo.

Nesta perspectiva, consideram a narração da criação, do dilúvio entre muitas outras, não como fato veraz, mas como reminiscências das tradições pagãs da mesopotâmia e egípcia. A adoração a Yahweh evoluiu, segundo ele, do deus tribal do Sinai, à categoria de Deus dos deuses, e assim sucessivamente.

4.3 - NaturalismoO naturalismo do período iluminista acreditava na uniformidade das leis

físicas. Isto significava para eles que as leis que governam a natureza são universais e, portanto, é impossível que o extraordinário intervenha nestas leis.

Segundo este conceito, não é possível admitir o conceito de milagres, sendo assim, impossível crer nos relatos de gênesis, como a abertura do mar vermelho ou as pragas no Egito.

4.4 - Negação da existência de MoisésMoisés foi um caracter ficcional criado como um herói lendário para as

pessoas admirarem, o intermediário que trouxe aquilo que era alegadamente a palavra de Deus para Israel, pois a apresentação da mesma por meros homens comuns, contemporâneos, não teria sido convincente. Esta suspeita seria apoiada

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não só pela ausência de confirmação histórica para a existência de Moisés, mas também, pelos detalhes biográficos aparentemente tomados de empréstimo de outras lendas anteriores. Ser colocado num cesto selado com alcatrão e colocado ao sabor da corrente num rio seria a história de Sargão da Acádia, o primeiro conquistador regional, que tinha vivido mais de mil anos antes de Moisés. A história de como ele foi colocado num cesto ao sabor da corrente, no rio Eufrates, foi inscrita numa Estela (ou coluna) Acádica :

‘’Sargão, o grande rei de Acádia, sou eu. Do meu pai, só sei o nome... De resto, nada sei acerca dele. O irmão do meu pai viveu nas montanhas. A minha mãe foi uma sacerdotisa que nenhum homem devia conhecer. Ela trouxe-me ao mundo secretamente... Ela tomou um cesto de canas, colocou-me dentro dele, cobriu-o com alcatrão e colocou-me no rio Eufrates. E o rio, sem o qual a terra não pode viver, levou-me através de parte do meu futuro reino. O rio não se levantou sobre mim, mas levou-me para Akki, que produzia água para irrigar os campos. Akki fez de mim um jardineiro. No jardim em que eu cultivava, Inanna (a grande deusa) viu-me. Ela levou-me para Kish para a corte do Rei Urzabala. Ali eu chamei a mim próprio Sargão, isto é, o rei justo’’.

Além do relato de Sargão, esta história da criança abandonada que se tornou num grande líder aparece por todo o lado na mitologia. Estas coincidências, tal como as discrepâncias acima mencionadas, abalariam a credulidade histórica de Moisés.

5 - Argumentos favoráveis à autoria mosaica É claro que qualquer um que queira firmar ou fortalecer um ponto de vista vai

procurar e desenvolcerá uma série de argumentos para legitimar suas alegações.O que foi exposto até agora corrobora para a aceitação de que Moisés não

poderia ter escrito o pentateuco, ou por não haver concordância com costumes, geografia, forma literária... ou mesmo pela inexistência do homem Moisés.

Nada do que foi colocado aqui (até mesmo como previamente refutado em alguns itens do tópico 3 – Principais sofismas gerados pelos documentos JEDP) fica sem refutação plausível e bem fundamentada, às quais passamos agora.

Não há no Pentateuco uma declaração objetiva de que Moisés tenha escrito de próprio punho o Pentateuco. Todavia, há um testemunho suficiente, que apóia a sua autoria.            A ausência do nome do autor harmoniza-se com a prática do AT em particular, e com as obras literárias antigas em geral. No antigo Oriente Médio, o “autor” era basicamente um preservador do passado, limitando-se ao uso de material e metodologia tradicionais.

5.1 - A Bíblia confirma a autoria mosaicaÉ norma da hermenêutica sadia considerar que a bíblia deve interpretar a

própria Bíblia. Sendo assim, citamos como evidências bíblicas:

5.1.1 - Evidências internasa) Êx 17:14 indica que Moisés estava em condições de escrever.b) Êx 24:4-8 refere ao “Livro da Aliança” (Êx 21:2-23,33).c) Êx 34:27 pela segunda vez a ordem de escrever. Refere-se a Êx 34:10-26,

o 2º Decálogo.d) Nm 33:1-2 Moisés anotou a lista das paradas desde o Egito até Moabe

(caminhada pelo deserto).e) Dt 31:9,24 referência aos 4 livros anteriores do Pentateuco.

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f) Dt 31:22 refere-se a Dt 32 (o cântico de Moisés).g) Narra detalhes de uma testemunha ocular. O número de fontes e palmeiras

(Êx 15:27), a aparência e paladar do maná (Nm 11:7-8).h) Em Gn e Êx, o autor exprime um detalhado conhecimento do Egito, e do

percurso do êxodo. i) Conhecimento de palavras e nomes egípcios. O autor possuí uma noção

estrangeira da Palestina. Os termos usados para as estações, tempo, fauna, flora são egípcios, não palestinos. O autor estava familiarizado com a geografia egípcia e sinaítica. Menciona quase nada sobre a geografia palestina, o que evidencia seu pouco conhecimento da região.

5.1.2 - Evidências externas no ATa) Livro de Josué repleto de referências a Moisés como autor do Pentateuco

Js 1:7-8; 8:31; 22:9; 23:6; etc.b) Jz 3:4 declara “...por intermédio de Moisés.”c) Expressões frequentes nos livros históricos: “lei de Moisés”, “livro da lei de

Moisés”, “livro de Moisés”, etc. 1 Rs 2:3; 2 Rs 14:6; 21:8; Ed 6:18; Ne 13:1; etc.

5.1.3 - Evidências do NTa) Cristo menciona passagens do Pentateuco como sendo de Moisés. Mt 19:8;

Mc 10:4-5.b) O texto sobre a circuncisão (Gn 17:12) mencionado no NT (Jo 7:23) como

fazendo parte da Lei de Moisés. c) Restante do NT em harmonia com Cristo. At 3:22-23, 13:38-39, 15:5,21,

26:22; 28:23, Rm 10:5,19, 1 Co 9:9, 2 Co 3:15, Ap 15:3.

5.2 - Moisés era qualificado para escrever o PentateucoApesar da negação de Moisés e de questionarem se ele seria mesmo capaz

de escrever uma obra como o Pentateuco podemos citar os seguintes argumentos à favor:

5.2.1 - Moisés foi um personagem históricoAlguns críticos questionam não somente a autoria de Moisés, mas até mesmo

a sua historicidade. Acham inconcebível como tamanhos desastres puderam atingir um povo tão desenvolvido e organizado, como eram os egípcios e ainda assim não existir nenhum registro desses fatos. Respondemos mencionando a contribuição do arqueólogo Alan Millard (1999, p.80) que declara:

“os faraós, e isso não é surpresa, não apresentam descrições das derrotas sofridas diante dos seus vassalos ou sucessores. Se os monumentos reais não podem ajudar, os distúrbios vividos pelo Egito com as pragas e a perda da mão-de-obra poderiam ter gerado mudanças administrativas. Como qualquer estado centralizado, o governo do Egito consumia grandes quantidades de papel (papiro), e boa parte da documentação era arquivada para consulta. Mas isso também não ajuda, pois, como já vimos, praticamente todos os documentos pereceram, e a probabilidade de recuperar algum que mencione Moisés ou as atividades dos israelitas no Egito é risível”           

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5.2.2 - Moisés tinha preparo intelectualMoisés era reconhecido como o homem erudito na antigüidade bíblica. Nos

dias de Moisés o Egito era a maior civilização do mundo, tanto em domínio, construções e conhecimento. Moisés teve a oportunidade de ter sido educado na corte real egípcia, recebendo a instrução de disciplinas acadêmicas que no Egito já eram tão desenvolvidas. Incluindo a arte da escrita, que há muito tempo era usada, de comum uso dos egípcios, inclusive entre os próprios escravos.

Como historiador, soube coletar as informações da rica tradição oral de seu povo. Mas além da tradição oral, Moisés dispôs, enquanto esteve no palácio real egípcio, do seu acervo literário.

5.2.3 - Moisés conhecia o local do ponto de vita egípicioSegundo Archer (2003 – p.508) Moisés era possuidor de um vasto e detalhado

conhecimento geográfico. O clima, vegetação, a topografia, o deserto tanto do Egito como do Sinai, e os povos circunvizinhos lhe eram familiares. O modo como o autor do Pentateuco descreve os eventos e lugares, indica que ele não era palestino. Alguns fatos contribuem para esta conclusão:

a) conhecia lugares pelos nomes egípcios b) usa porcentagem maior de palavras egípcias do qualquer outra parte do AT c) as estações e tempo que se mencionam nas narrativas são geralmente egípcias e não palestinasd) flora e a fauna descritas são egípciase) os usos e costumes relatados que o autor conhecia e eram comuns em seus dias.

5.2.4 – A inspiração divinaEle mesmo reivindicou escrever sob orientação de Deus (Êx 17:14; 34:27; Dt

31:9, 24). Nenhum outro autor da antiguidade foi assim identificado.

5.3 - Unidade literária/textualPequenas adições e mudanças no Pentateuco podem ser admitidas sem que

se negue a unidade literária, e autoria mosaica da obra.Não há nenhuma evidência história ou manuscritológica de que vários

redatores tenham “costurado” os livros do Pentateuco. Não existe nenhuma evidência de que em algum período da história, o Pentateuco tenha circulado como “pedaços” (fontes JEDP) e que algum redator, ou redatores, tenha compilado e dado sua formação final, como propõe a teoria documentária. Os rabinos judeus desconhecem tal coisa.

Dessa forma uma forte evidência da autoria mosaica é a unidade do Pentateuco (chamado de hamisâ humtse hatôrah – ou cinco quintos da lei) ou seja, uma única obra em cinco volumes.  5.3.1 - Unidade histórica            O Pentateuco possui uma linha histórica que se desenvolve. A ligação cronológica entre os cinco livros, transmite-nos a idéia de que, é somente um livro de cinco capítulos. Podemos resumir a história de Israel registrada no Pentateuco da seguinte forma:

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a) Deus é o criador de toda a raça humana, e dela formou para si um povo.b) Deus escolheu Abraão e seus descendentes, e lhes prometeu dar a terra de

Canaã.c) Israel foi para o Egito, e caiu na escravidão, da qual o Senhor os livrou.d) Deus conduziu Israel a Canaã conforme prometeu.

 5.3.2 - Unidade temática

a) Em Gn vemos a origem do universo e a aliança com Israel.b) Em Êx vemos a escravidão e libertação de Israel.c) Em Lv vemos a santificação de Israel.d) Em Nm vemos a recontagem do povo de Israel.e) Em Dt vemos a renovação da aliança com a nova geração de Israel

5.4 - Historicidade de MoisésRecentemente foi laçado um documentário sobre a arca da aliança e o êxodo

de Israel. De autoria dos produtores Simcha Jacobovici e James Cameron (exterminador do futuro e Titanic), Exodus decoded (Êxodo decodificado – History Channel, 2005) narra a descoberta de indícios muito fortes e fatos reveladores sobre a arca da aliança e os acontecimentos narrados na Bíblia.

Longe de ser uma obra de cunho cristão, esse documentario desvenda muitos fatos que os críticos não conseguem aceitar, como a realidade do cativeiro, a libertação e a poderosa atuação de Deus no meio do Egito.

Além desse documentário, outras descobertas recentes têm revelado nações que se diziam inexistentes, como a Assíria e comprovam não só a historicidade de Moisés, como de sua narrativa.

Interessante também é o documentario Exodus Revealed de Led Allen e James w. Adams que mostra uma nova rota para o êxodo, além de descobertas desconcertantes e documentadas sobre a realidade da travessia do mar Vermelho.

6 - ConclusãoReconhecidamente a análise e a crítica literária são fundamentais para a boa

compreensão da Bíblia. Aceitamos qualquer crítica e as vemos como fator para crescimento e maior necessidade de entendimento e compreenção, porém, o que se pode observar ao estudarmos a questão da autoria mosaica é que essa é uma questão chave e deve ser compreendida do âmbito central da fé cristã: Que “toda escritura é inspirada por Deus...”

A Bíblia é a única regra de fé e prática do cristão. Pôr dúvida sobre a autenticidade de qualquer de seus escritos ou sobre a inspiração de qualquer um é por em dúvida todo o conjunto. Assim, acreditamos que a autoria mosaica é um fato e, com exceção de pequenas adições explicativas e detalhes escritos por seus escribas ou amanuenses, deve ser entendida como totalmente mosaica.

Para explanar nossa posição pressupomos que Autoria Mosaica compreenda os seguintes fatores:

a) Não significa que Moisés tenha pessoalmente escrito originalmente cada palavra do Pentateuco. Certamente ele lançou mão da “tradição oral”;

b) É possível que ele tenha empregado porções de documentos previamente existentes;

c)Talvez, tenha usado escribas ou amanuenses para escrever;

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d) Moisés foi o autor fundamental ou real do Pentateuco;e) Sob a orientação divina, talvez, tenha havido pequenas adições

secundárias posteriores, ou mesmo revisões (Dt 34);f) Substancial e essencialmente o Pentateuco é obra de Moisés. Moisés foi

seu autor real, ainda que talvez tenha sido revisado e editado por redatores posteriores, adições essas tão inspiradas e tão verazes como o restante.

7 -Glossário:1 - Alta Crítica - Método literário de interpretação das Sagradas Escrituras, que tem por objetivo determinar a autoria, data e circunstância em que foram compostos os santos livros. A teoria documentaria e a expressão mais radical desse método.

2 - Deísmo: crê em Deus, mas não aceita religião, certos dogmas e a revelação. Rousseau era um deísta. O deísta é “primo” do agnóstico, que aceita Deus, mas considerando-O um ser inacessível para nós.

3 - Racionalismo: Doutrina que afirma que tudo que existe tem uma causa inteligível, mesmo que não possa ser demonstrada de fato, como a origem do Universo. É a corrente central no pensamento liberal que se ocupa em procurar, estabelecer e propor caminhos para alcançar determinados fins.

4 - Sofisma: Forte argumento contrário a alguém ou a alguma teoria.

8 - Bibliografia:

Bíblia de Estudo de Genebra, 1ª edição, São Paulo, SP, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

Enciclopédia eletrônica Ilúmina, versão 2.5p, São Paulo, SP, Visual books prodution e Sociedade Bíblica do Brasil, 2007.

http://www.ipcb.org.br/arquivosword/altacritica.doc

http://www.monergismo.com/textos/at/pentateuco.htm#_ftn15

http://oprotesto1.blogspot.com/2008/12/julius-wellhausen.html, Atualizado em 10 de Dezembro de 2008

http://www.fatecc.com.br/biblioteca/LIVROS%20BIBLIOTECA/Pentateuco.doc

Millard, Alan , Descobertas dos Tempos Bíblicos, São Paulo, Ed. Vida, 1999, 354p.

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Archer Jr. Gleason L., Merece Confiança o Antigo Testamento? São Paulo, Ed. Vida nova, 2002, 520p.

Geisler, Norman e Howe, Thomas, Manual popular de dúvidas, enigmas e “contradições” da Bíblia, São Paulo, Ed. Mundo Cristão, 1999, 580p.

Hoff, Paul, O pentateuco, Belo Horizonte, Ed.Betânia, 1995, 113p.

Almeida, Paulo Roberto b. de, Antigo testamento 1, Apostila não publicada.

Stephen Van Eck, o pentateuco e a suposta autoria de moisés, artigo publicado na Web.

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