5
Itapevi, 01 de Julho de 2015. Escola Municipal Livre de Teatro. Disciplina: História do Teatro I Horário: 17h40 às 18h40. Professor: Daniel Bernardes Pinto. Caderno de questões 1) O historiador Jean-Pierre Vernant analisa os conceitos de mito e tragédia na Grécia Antiga esclarecendo alguns equívocos comuns. Leia as citações abaixo e depois responda: “As tragédias, bem entendido, não são mitos. Pode-se afirmar, ao contrário, que o gênero surgiu no fim do século VI a.C. quando a linguagem do mito deixa de apreender a realidade política da cidade. (...)O Édipo Rei de Sófocles não é uma versão, entre muitas outras, do mito de Édipo. (...)a decodificação de um mito, a princípio, segue as articulações do discurso, (...) A narrativa [mítica], que é o ponto de partida, (...) com o mesmo sistema de código cujas chaves se quer descobrir. (...)O problema (...) é compreender como se articulam e se combinam para construir um fato humano único, uma mesma invenção que, na história, aparece sob três faces: como realidade social com a instituição dos concursos trágicos, como criação estética com o advento de um novo gênero literário, como mutação psicológica com o surgimento de uma consciência e de um homem trágicos...” 1 “...a máscara sublinharia o parentesco da tragédia com as mascaradas rituais. Mas, por sua natureza, por sua função, a máscara trágica é bem diferente de um transvestimento religioso. (...) Seu papel é estético, não mais ritual. (...)a máscara integra a personagem trágica numa categoria social e religiosa bem definida: a dos heróis” 2 “(...) [Para os gregos] há como que degraus de direito. Num polo, o direito se apoia na autoridade do fato, na coerção; no outro, põe em jogo potências sagradas: a ordem do mundo, a justiça de Zeus. (...)O que a tragédia mostra (...) é um direito que não está fixado, que se desloca e se transforma em seu contrário. A tragédia, bem entendido, é algo muito diferente de um debate jurídico. Toma como objeto o homem que em si próprio, vive esse debate, que é coagido a fazer uma escolha definitiva, a orientar sua ação num universo de valores ambíguos onde jamais algo é estável e unívoco.” 3 1 VERNANT, J-P. Mito e tragédia na Grécia antiga. São Paulo: Perspectiva, 2014, p. XXII-XXIII. 2 (idem : 1-2, 2014). 3 (idem : 3, 2014).

Avaliação de História I 2015

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Avaliação de História I 2015

Citation preview

Page 1: Avaliação de História I 2015

Itapevi, 01 de Julho de 2015.Escola Municipal Livre de Teatro.Disciplina: História do Teatro I Horário: 17h40 às 18h40. Professor: Daniel Bernardes Pinto.

Caderno de questões

1) O historiador Jean-Pierre Vernant analisa os conceitos de mito e tragédia na Grécia Antiga esclarecendo alguns equívocos comuns. Leia as citações abaixo e depois responda:

“As tragédias, bem entendido, não são mitos. Pode-se afirmar, ao contrário, que o gênero surgiu no fim do século VI a.C. quando a linguagem do mito deixa de apreender a realidade política da cidade.

(...)O Édipo Rei de Sófocles não é uma versão, entre muitas outras, do mito de Édipo.

(...)a decodificação de um mito, a princípio, segue as articulações do discurso, (...) A narrativa [mítica], que é o ponto de partida, (...) com o mesmo sistema de código cujas chaves se quer descobrir.

(...)O problema (...) é compreender como se articulam e se combinam para construir um fato humano único, uma mesma invenção que, na história, aparece sob três faces: como realidade social com a instituição dos concursos trágicos, como criação estética com o advento de um novo gênero literário, como mutação psicológica com o surgimento de uma consciência e de um homem trágicos...”1

“...a máscara sublinharia o parentesco da tragédia com as mascaradas rituais. Mas, por sua natureza, por sua função, a máscara trágica é bem diferente de um transvestimento religioso. (...) Seu papel é estético, não mais ritual.

(...)a máscara integra a personagem trágica numa categoria social e religiosa bem definida: a dos heróis”2

“(...) [Para os gregos] há como que degraus de direito. Num polo, o direito se apoia na autoridade do fato, na coerção; no outro, põe em jogo potências sagradas: a ordem do mundo, a justiça de Zeus.(...)O que a tragédia mostra (...) é um direito que não está fixado, que se desloca e se transforma em seu contrário. A tragédia, bem entendido, é algo muito diferente de um debate jurídico. Toma como objeto o homem que em si próprio, vive esse debate, que é coagido a fazer uma escolha definitiva, a orientar sua ação num universo de valores ambíguos onde jamais algo é estável e unívoco.”3

O que é mito? O que é diálogo? O que é conflito? Explique sucintamente como se deu a evolução dos ritos dos Mistérios de Dioniso em Festivais de Teatro das Grandes e Pequenas Dionisíacas.

2) Leia e responda. (Texto extraído da tese: O Circo Teatro – Um Estudo De Caso: O Pavilhão Arethuzza”)

“Desde os seus primórdios o circo, fazendo jus a origem do nome, partiu da forma circular para apresentar suas atrações. O homem das cavernas em suas conversas ao redor da fogueira, fonte central de calor e de irradiação de energia. O ser humano, mesmo que não perceba, está intimamente ligado ao movimento circular em todos os momentos de sua existência. Desenvolvem o mesmo circuito o processo circulatório e o respiratório, assim como obedecem a um programa circular as etapas de desenvolvimento do homem, desde seu nascimento até a inevitável morte.”

“Circo e teatro sempre foram duas coisas bem diferentes. As raízes do teatro estão fincadas em celebrações ritualísticas das mais diversas culturas. Quanto ao circo, muitos dos números de habilidades corporais ou destreza física tiveram seu nascedouro nos treinamentos militares.”

1 VERNANT, J-P. Mito e tragédia na Grécia antiga. São Paulo: Perspectiva, 2014, p. XXII-XXIII.2 (idem : 1-2, 2014).3 (idem : 3, 2014).

Page 2: Avaliação de História I 2015

Qual a civilização antiga que está mais relacionada com o nascedouro do circo ocidental? Cite as características culturais que explicam o motivo pelo qual as atrações circenses se desenvolveram nesta civilização.

3) “Foi entre os romanos que os combates entre gladiadores se popularizaram, tendo seu auge por volta do século II a.C. e V d.C. Todavia, os combates homem a homem eram bem mais antigos do que se pensa. Foram os etruscos, povo que habitou o norte da península Itálica, que costumizaram a luta entre servo e escravo como um ritual fúnebre com a finalidade de homenagear o morto. É bem certo dizer que os etruscos acabariam por influenciar a cultura romana.

Seria em 264 a.C. realizado o primeiro combate público quando os irmãos Décimo Bruto e Marcus promoveram um combate com três duplas para homenagear o pai falecido. Um século se passou e, também para homenagear a morte de seu pai, o general Tito Flavio promoveu um torneio com 74 gladiadores que duraram três dias.

Os romanos conheceram a República e os jogos perderam seu caráter fúnebre. Agora o Estado romano financiava os combates. 105 a.C. os Cônsules Rutilo Rufo e Caio Mamilo, realizaram os primeiros jogos sob a tutela do Estado. À população os jogos agradaram e os espectadores cresceram a cada evento. Em 44 a.C. Julio César

organizou evento com 300 pares de lutadores. No Império, Trajano colocaria frente a frente 5 mil gladiadores em um evento que durou 117 dias sob os olhos e a ovacionação de espectadores que lotavam as arenas.

Os jogos foram proibidos por Constantino (306-337), todavia a relatos de combates até o governo do imperador Honório (395-423). O fato é que o público existia e era fanático por aquilo, alguns historiadores comparam o fanatismo pelo futebol na atualidade ao fanatismo pela luta entre gladiadores em Roma.”

Os Gladiadores hoje

“O MMA [Mixed Martial Arts (mistura de artes marciais)] é um dos esportes que mais cresce em todo mundo. Uma contradição em meio a uma sociedade ocidental pautada pela ética cristã que condena a violência. Os gladiadores de hoje, bem como os de ontem, tem fama e prestigio sendo ovacionados por multidões quando entram nas arenas octogonais cercadas por arame. No passado as lutas tinham uma função política, fazendo parte do "panis et circenses" e acabavam, geralmente, com a morte do perdedor; os gladiadores lutavam por suas vidas, pela liberdade. Os combates de hoje estão inseridos na ótica capitalista de lucrar; não se luta pela liberdade ou pela vida, se luta por dinheiro e o evento é formidavelmente lucrativo e felizmente não mais acaba em mortes. É a

história que se repete ou o passado que teima em não passar?”4

a) Sabemos que os teatros romanos raramente foram utilizados exclusivamente para apresentações teatrais. Ao invés disso, que eventos aconteciam nestes espaços espetaculares? Caracterize também o espaço físico para estas atrações.

b) O que é a indústria do entretenimento e como ela atua nos dias de hoje?

4) Durante a idade Média a Igreja projetou sua autoridade para além da Casa de Deus, às cidades e aldeias, diante do portal para o pátio e à praça do mercado, ganhando as cores e originalidade da vida cotidiana. Lieux e mansions inspiraram os pageants (palcos simultâneos) e pageants aux wagons (carros-palcos) das Paixões de Cristo, festas de Corpus Christi e, posteriormente dos carnavais de rua. A partir daí começou um processo de laicização, com um acabamento realista, desenvolvimento da técnica e ascensão da cultura burguesa que determinou as festas populares, dando origem ao teatro humanista. No entanto, dentro do drama litúrgico, a evolução para o burlesco e para a obscenidade atinge uma tal repercussão, que levaria a Igreja a proibi-la em 1548. Contudo, isso não significou o fim dos mistérios, que fazem hoje parte das tradições do povo e continuam a ser representados.

4 Do site: http://dougnahistoria.blogspot.com.br/2011/01/gladiadores-de-ontem-e-de-hoje.html

Page 3: Avaliação de História I 2015

Teatro Olímpico Vicenza (período humanista)

Caracterize em sua essência a cultura medieval. Que influências esta cultura exerce sobre o teatro? E quais os gêneros teatrais desenvolvidos nesta época?

5) Compare Teatro Primitivo e Teatro Antigo, respondendo as perguntas:

a) O que define teatro primitivo?b) Cite os motivos principais que deram origem a esta teatralidade na humanidade?c) Qual a relação entre teatro e imitação?d) Quais os primeiros indícios de teatro/teatralidade no mundo?

6) Leia o texto abaixo sobre o significado da cultura popular e depois responda.

“Teatro popular, diz-se de um gênero de teatro destinado às camadas menos elitistas da nação. Um teatro feito em circos, praças e espaços públicos, por artistas mambembes, e sobretudo voltado para o gosto ingênuo do povo.

Muito em voga durante o século XX em todo o mundo ocidental, representado por grupos de atores pequeno-burgueses que tinham por ideal um teatro acessível ao povo e transformador da sociedade para uma sociedade popular e socialista. Para tais grupos, o dramaturgo e diretor alemão Bertold Brecht foi o grande autor e inspirador.”5

Na sua opinião crítica o que diferencia teoricamente as expressões “ator popular” e “ator famoso”

7) Leia e responda.

“Brecht escreveu seu ensaio sobre o teatro clássico chinês em 1935, depois de ter visto uma representação do grande artista chinês – o ator da Ópera de Pequim Mei Lanfang.

(...) A aguda capacidade de observação de Brecht merece nosso respeito. Ele descobriu, numa primeira olhada, que o teatro chinês tinha um rico tesouro, ou seja a qualidade teatral que ele estava procurando. Ele chamou, mais tarde, esta qualidade de verfremdungseffekt, o efeito de estranhamento.

(...) Vamos começar examinando a observação de Brecht que o tradicional teatro chinês não tem “quarta parede”, que a performance é claramente dirigida aos espectadores. Assim esta forma de representação se distingue da estética do moderno teatro ocidental realista, a qual tenta criar uma ilusão da vida cotidiana no palco. (...) O teatro chinês tradicional reconhece completamente a natureza assumida do palco, e francamente admite que nós estamos atuando.”6

Quais diferenças e quais influências do teatro oriental na cultura mundial do teatro?

5 Teatro Popular, site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Teatro_popular (acessado 16/12/2014 as 12:31)6 ZUOLIN, Huang. Um acréscimo ao texto de Brecht: “o efeito de estranhamento na interpretação do teatro chinês”. Publicado em Tatlow, A. Brecht and East Asian Theatre. The proceedings of a Conference on Brecht in East Asian Theatre. Hong Kong University Press. 1982. pg. 96-110. Tradução: Robson Corrêa de Camargo apostila para o curso de Direção Teatral/UFG 2008.

Palcos Simultâneos da Paixão de Cristo

Page 4: Avaliação de História I 2015

8) (FUVEST-1982) Escreveram peças para teatro, durante o "Século de Péricles" (séc.V a.C.):

a) Homero, Tucídides, Heródoto e Xenofonteb) Ésquilo, Sófocles, Eurípedes e Aristófanesc) Sócrates, Protágoras, Platão e Aristótelesd) Eratóstenes, Arquimedes, Euclides e Pitágorase) Píndaro, Alceu, Safo e Hesíodo

Boa prova!!!