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BALBÚRDIA No Português
É um projeto de extensão com atividades teórico-culturais que oportuniza aos participantes contato com saberes advindos de diversas áreas do conhecimento. Também sensibiliza o público para o discurso artístico, via referência à música, à literatura, ao teatro, à imagem e ao cinema.
Cada Balbúrdia tem uma dinâmica e um tema dife-rentes, mas são comuns aos vários Balbúrdias os se-guintes recursos: vídeos curtos, leitura de fragmentos de textos teóricos ou literários, músicas, dinâmicas de inte-gração, encenações, experiências sensoriais.
Os encontros ocorrem quinzenalmente, às sextas-feiras, às 18h ou às 19h, na Unipampa ou na Casa de Cultura. O Balbúrdia, sob coordenação dos professores Renata Silva e Sandro Mendes, do Curso de Letras da Unipampa, é um dos projetos de extensão do Núcleo de Estudos Linguísticos e Pedagógicos do Português, o NELPP.
É um projeto de ensino que coloca a “mão na mas-sa” e sugere maneiras de tratar as temáticas e algumas
atividades do Balbúrdia nas aulas de língua portugue-
sa.
O Balbúrdia no Português é um informativo que
une duas temáticas do Balbúrdia. Quer ser um “jornal
de ideias” para que seus produtores e leitores descu-
bram estratégias de ensino.
Neste primeiro informativo, trataremos do
“humor”, tema de nosso quarto Balbúrdia, e do
“Politicamente Correto”, tema do sexto Balbúrdia.
Este informativo resulta do empenho de uma equi-
pe formada por sete acadêmicos de Letras, sob orien-
tação da Profa. Dra. Renata Silva.
Boa leitura!
Para conhecer mais:
Visite nosso blog: nelpp-unipampa.blogspot.com
Visite nosso perfil no Facebook: Nelpp Unipampa
Informativo 1 UNIPAMPA— Curso de Letras
Retirando ideias do Balbúrdia Humor
Música: Sugerimos começar a aula de língua portuguesa sobre humor com “Ievan Polka”
de Loituma, um jovem quarteto que combina uma série de sons de Katele (harpa) com a tradi-
ção finlandesa. No vídeo, aparece apenas o quarteto cantando, mas é um grupo engraçado
pelos sons que faz, estranhos à nossa cultura.
Encenações:
Que tal entrar no site do “Jornal Sensacionalista: um jornal isento de verdade” e copiar algumas
notícias bizarras que podem ser encenadas pelos alunos, sendo âncoras de um telejornal? Outra op-
ção é encontrar vídeos do Programa Sensacionalista, transmitido pela Multishow e às vezes dispo-
nibilizado no youtube. Link:http://www.sensacionalista.com.br/about/
Depois dessa atividade, podemos pedir que os alunos observem os jornais jaguarenses e tentem produzir
notícias cômicas. É uma forma de perceberem quais elementos transformam um texto em humorístico.
O que é o Balbúrdia no Português?
O que é o Balbúrdia?
Link: http://www.youtube.com/watch?v=mcrcx1abm2M
Videoclipes:
Uma boa é assistir “O contador de piadas”, gravação da presença de Bruno Mazeo no Programa do Jô Soares.
Link: http://www.youtube.com/watch?v=3cTI8pC4Ktw&feature=results_main&playnext=1&list=PLC9B0DC01111B2858
Dinâmicas
Envelope surpresa de piadas: A cada pausa, o participante que ficou com o envelope na mão deverá ler uma pia-da.
Técnicas do riso: todos simulam que estão lavando o próprio rosto enquanto dizem “sou lindo”; todos se olham e fazem caretas; todos se olham e tentam não rir.
PEREIRA JUNIOR, Luiz Costa. O humor na informação: a atual safra de jor-
nais populares imprime mais humor e menos sensacionalismo à sua linguagem.
Revista Língua Portuguesa. São Paulo: Segmento, n. 40, fev. 2009.
Link: http://revistalingua.uol.com.br/textos/40/artigo248523-1.asp
O site do Jornal Sensacionalista oferece um rico material para análise de recursos que imprimem humor no
jornalismo.
2
Humor nos sons Humor no jornalismo
E a relação com a língua portuguesa?
Trava-línguas são frases de difícil pronúncia que
devem ser repetidas várias vezes, o mais rápido pos-
sível. Viraram quadro de humor da Rádio MIX FM,
em São Paulo, quando artistas são convidados a brin-carem com as difíceis pronúncias (REVISTA LÍN-
GUA PORTUGUESA, 2007).
Os trava-línguas se caracterizam por rimas, troca-dilhos, aliterações (repetição do mesmo fonema, em
geral, consoante).
Na sala de aula, podem ajudar na dificuldade de expressão ou timidez, além de serem passatempo e
diversão. O trocadilho também melhora a dicção e
atenta ao sentido de novas palavras.
Disseram que na minha rua tem paralelepípedo feito de pa-ralelogramos. Seis paralelogra-mos têm um paralelepípedo. Mil paralelepípedos têm uma paralelepípedovia. Uma parale-lepípedovia tem mil paralelo-gramos. Então uma paralelepí-pedovia é uma paralelogramo-
Trava-língua infantil: A aranha arranha a jarra, a jarra arranha a aranha; nem a aranha ar-ranha a jarra nem a jarra arranha a aranha.
Conforme a reportagem A atual safra de jornais po-pulares imprime mais humor e menos sensacionalismo
à sua linguagem, publicada na revista Língua Portu-
guesa (2009), a prática de transmitir informação usan-
do o humor é antiga e atualmente ganha do sensacio-nalismo. Isso ocorre porque o leitor se interessa cada
vez menos por fatos inventados, recursos grotescos,
notícias com exagero, apelo emocional e repetição. A tendência é usar o humor para criar familiarida-
de com o leitor e atenuar tragédias. É a língua que pos-
sibilita informações engraçadinhas e é o humor que chama a atenção para os recursos da língua. Um se
vale do outro.
Exemplo de humor na mídia: trocadilho
Quando a saltadora Maureen Maggi ganhou o
Olímpico em Pequim, uma das manchetes do Jornal
Meia hora foi: “Maggi não dá sopa para as rivais e voa para o ouro”.
Outra fonte de humor é o programa 220 volts, da Multishow.
Link: multishow.globo.com/_220-Volts
BA LBÚ RDIA
Humor nas referências
Quando falamos, estabelecemos um objeto de discurso e nos referimos a ele várias vezes no texto. Devemos ter cuidado ao fazer as referências, porque a referência a “x” pode ser compreendida pelo inter-locutor como referência a “y”, o que provocaria falhas na interação. Mas essas falhas é que podem ser exploradas para fazer rir:
nós = eu + você/vocês; ou nós = eu + ele/eles.
Na piada, a primeira cobra usa o “nós= eu + você, mas a segunda cobra não se insere nesse “nós”.
BRYAN, Guilherme. Trava-língua pop: diversão de crianças vira tema
de quadro de humor radiofônico em São Paulo. Revista Língua Portugue-
sa. São Paulo: Segmento, n. 25, nov. 2007.
Link: http://revistalingua.uol.com.br/textos/25/artigo248279-1.asp
É crocogrilo? É crocodrilo? É co-crodilo? É cocodilho? É corcodi-lho? É crocrodilo? É crocodilho?
É corcrodilo? É cocordilo? É jaca-ré? Será que ninguém acerta o no-
me do crocodilo maré?
Trava-línguas: que tal trabalhar a oralidade?
Os alunos poderiam pedir que professores e funcionários da escola repetissem os trava-línguas. As gravações virariam um programa de rádio. Seria uma oportunidade para os estu-dantes terem mais intimidade com gêneros ra-diofônicos.
Humor nas predicações
O texto Na base da piada. Como uma simples anedota pode ajudar a reflexão sobre a linguagem, publicado na
Revista Língua Portuguesa (2006), traz reflexões da
linguista Maria Helena de Moura Neves. A estudiosa
afirma que as piadas requerem reflexão, por isso são um bom recurso para o ensino da língua nas escolas. Com a
piada vem o riso, do riso, a alegria e da alegria, o inte-
resse pelo modo como foi construído o efeito de humor. Moura Neves cita o processo de predicação, necessá-
rio para a formação de orações. Ao falarmos, usamos
verbos e ao redor colocamos participantes do evento. Em torno do centro da predicação, o verbo, falamos so-
bre algo ou alguém. Na frase “João foi receber sua mãe
lá na porta”, temos uma ação, o João é o agente, em ter-
mos semânticos, e é o sujeito, em termos sintáticos. E o verbo, neste caso, significa acolher. Se o verbo receber
não for usado para indicar ação, não haverá alguém que
acolhe, nem alguém que seja acolhido. Em “João recebe seu salário”, não há sujeito, nem agente, apenas benefi-
ciário. A brincadeira com essas duas possibilidades de
utilização do verbo aparece nesta piada:
Na piada a seguir, há uma falta de ajuste entre o conhecimento de mundo do falante e o do ouvinte, gerando enganos e distrações:
Concluindo com as palavras de Neves: “Com as piadas se vai com facilidade ao léxico e à gramáti-ca, aos participantes da interação, à situação de comunicação, ou seja, a tudo que compõe a signifi-cação. Com ela se reflete sobre linguagem e com bom humor. E tais ingredientes são mais do que bem-vindos na escola.”
NEVES, Maria Helena de Moura. Na base da piada: como uma
simples anedota pode ajudar a reflexão sobre a linguagem.
Revista Língua Portuguesa. São Paulo: Segmento, n. 12, out.
2006.
Link: http://revistalingua.uol.com.br/textos/12/artigo248052-
1.asp
Humor na interação
Trava-línguas com aliterações:
3
- Sua mãe tá aí. Você não vai receber?
- Receber por quê? Por acaso ela me deve alguma coisa?
Escuta, Godói! Não é melhor a gente tomar um táxi?
- Não, obrigado. Hoje eu não quero misturar mais
Duas "cobras" olhando o céu, numa noite estrelada:
- Como nós somos insignificantes. - Você e quem? (L.F.Veríssimo)
A garotinha visita a tia. Ouve o priminho choran-do e pergunta:
- O que é que ele tem? - Seus primeiros dentes estão nascendo.
- E ele não quer eles?
Ambiguidade semântica
Como trabalhas humor nas aulas de língua portuguesa?
- A partir de textos presentes no material utilizado na escola.
Utilizas técnicas específicas para trabalhar humor em sala de aula?
- Não utilizo.
Quais materiais são utilizados ao trabalhar esse tema?
- Charges e Cartuns.
Que atividades são feitas com base nesse tema?
- Leitura, interpretação e produção textual.
Quais dificuldades são encontradas ao trabalhar essa temática?
- Nem sempre o que para um é considerado humor, também é para outro. Tam-
bém há mais dificuldades em interpretar charges e cartuns do que os demais tex-
tos, pelos implícitos neles encontrados.
4
Profª. Josiane Cabaldi
Graduada em Letras pela Unipampa. Leciona portu-guês e espanhol no Colé-gio Nelson Wortmann. Faz pós-graduação na Unipampa. Na área de Letras, prefere dar aulas de português e espanhol com ênfase em textos.
Piada: “O ponto mata”
Três velhinhos trabalhavam há muito tempo juntos. Um deles morre. A polícia chegou para saber o que tinha
acontecido. E Nelito, o mais falante, explica:
- Ele pegou aquele livro azul e começou a ler. Empalideceu. Suou. Ficou avermelhado, depois roxo e morreu.
Dois dias depois outro do trio deu adeus à vida. A polícia voltou a local. E Nelito contou:
- Aconteceu a mesma coisa que da outra vez. Ele pegou aquele livro azul e abriu, começou a ler. Empalideceu. Su-
ou. Ficou avermelhado, depois roxo e morreu.
O delegado, impaciente, ordenou a Nelito:
- Apanhe o livro e leia.
Ele seguiu a ordem. Empalideceu. Suou frio. Ficou avermelhado. Quando o roxo se anunciou, tiraram a obra
da mão do coitado, fizeram-lhe massagem no coração e perguntaram:
- O que tem esse livro?
- Ah, doutor, o problema não é ter. É não ter.
- Como assim?
-O livro não tem nem uma vírgula, nem um ponto, nem um travessão, nem um parêntese. Conclusão: a ausência de
pontos, vírgulas & Cia. mata mais que pneumonia.
Fala Professor! Entrevista feita pela Acadêmica Millaine Carvalho
Retirando ideias do Balbúrdia Politicamente (in) correto
Videoclipes: O filósofo e professor Luiz Felipe Pondé trata da origem do politica-
mente correto e suas tendências ideológicas.
Link: http://www.youtube.com/watch?v=p7TYiWNF6Wc
Um dos episódios do Programa 220 volts tratou de preconceito
de forma engraçada.
Link: http://www.youtube.com/watch?v=aW-6HMHL1e0
Dinâmica para sentir a censura na linguagem:
Duplas: um pergunta e o outro responde fazendo pergunta e assim sucessivamente até que alguém res-
ponda de forma afirmativa ou fique em silêncio.
Duplas: um pergunta e o outro não pode dizer “sim” ou “não”, depois, os papeis se invertem.
E a relação do politicamente (in)correto com a língua portuguesa?
Sabemos que a língua portuguesa não está entre as disciplinas favoritas dos alunos, pelo
contrário, é classificada pela maioria como
uma das disciplinas mais chatas da formação
básica. Mas o que o professor pode fazer para tornar as aulas mais interessantes e atrair a atenção dos alunos para os estudos de língua portuguesa? Uma boa
alternativa é trabalhar textos humorísticos em sala de aula. Além de tornar a aula divertida, os textos humorísti-
cos provocam ótimas reflexões sobre o mundo e sobre a língua, conforme podemos verificar nas palavras de Neves, apresentadas na página 3.
O texto abaixo foi retirado do site “Sensacionalista”, um jornal Web que publica sátiras de notícias que estão
em voga na Grande Mídia. Após, segue uma proposta de como explorar este texto em sala de aula.
5
Dicas para tratar do humor e do politicamente (in)correto na aula de português
Por Virgínia Caetano (Acadêmica de Letras)
Gordos pedem o fim do politicamente correto: “hoje em dia só podem fazer piadas com a gente” Otileno Junior
Um grupo de gordos está lançando um movimento nacional contra o politicamente correto. A Organização Benefi-
cente Emancipada Social Anti-bullying (Obesa) afirma que, com a onda politicamente correta
que tomou conta do país, só os gordos podem ser vítimas de gozação.
O presidente da Obesa, Walter Jorge, conhecido como Waltinho Baleia, diz que a situação para
eles está cada vez mais difícil. “Determinados grupos conseguiram o direito de não serem mais o
alvo. Não vou dizer nem quais são porque posso ser processado. O fato é que hoje os humoristas
só podem sacanear os gordos. É preciso acabar com isso”, disse Baleia.
Baleia afirma que as redes sociais, em vez de libertarem as pessoas, as tornaram mais caretas.
“Ninguém passa para frente coisas politicamente incorretas. Quem faz piada assim corre o risco de ser linchado em praça pública. As pessoas ficaram mais caretas e têm medo de serem vistas como párias por causa de
uma simples piada”, diz ele. Walter afirma que apelidos como rolha de poço ficaram para trás. “Eles estão mais criati-
vos. Outro dia me chamaram de bambolê de baleia. Outra vez fui dar meu endereço e a pessoa perguntou se eu tinha um
CEP só para mim”.
Ele diz que está em entendimentos com o sindicato das louras, outra categoria que ainda é vítima, mas que a união é
complicada. “Louras não gostam de gordos. Só se forem ricos. Ah, por favor, não escreve isso, senão as louras vão me
processar.
Link: http://www.sensacionalista.com.br/2011/10/11/gordos-pedem-o-fim-do-politicamente-correto-hoje-em-dia-so-podem-fazer-piadas-com-a-gente/
Utilizando o texto da p. 5, propomos as seguintes atividades didáticas:
1. Após um esclarecimento em sala de aula sobre o que é o movimento “politicamente correto” e qual sua reper-
cussão no Brasil, seria interessante o seguinte trabalho de interpretação:
a. O texto reforça os ideais do movimento “politicamente correto” ou pode ser considerado uma forma de crítica ao movimento? Justificar com fragmentos texto:
b. Identificar no texto alguns recursos linguísticos utilizados para causar o efeito de humor:
c. No texto, há algumas expressões não adequadas de acordo com o movimento “politicamente correto”. Rees-crever a notícia, buscando substituir essas expressões por formas mais adequadas:
d. Tendo como base o texto que tu escreveste, responder: A troca de expressões consideradas pejorativas por
eufemismos suaviza ou apenas reforça o preconceito? Por quê?
2. Outra possível atividade aproveitando a temática seria dividir a turma em dois grupos, de um lado os que são
a favor do “politicamente correto” e, de outro lado, os que são contra, e promover um debate entre os grupos. É
uma ótima oportunidade para trabalhar a capacidade de argumentação dos alunos.
Politicamente correto: o que é? será que resolve?
Acadêmicos do Curso de Letras:
Jonas dos Santos, Leonardo Messias, Francine Araújo e Santiago Bretanha
A acadêmica Francine Araújo resgata do artigo É correto ser politicamente correto?, de Aldo Bizzocchi,
publicado na Revista Língua Portuguesa (2008), uma explicação: O politicamente correto foi criado para
minimizar ou acabar com preconceitos existentes na maneira de nos comunicar, agir perante os outros, ou
seja, para enunciarmos “sob um manto de boas intenções”.
O linguista exalta que a língua não é somente um meio utilizado para nos comunicar. Através da interação, procuramos
indireta ou diretamente manipular nosso interlocutor, pois, quando falamos temos sempre nossa ideologia.
Em 2005, a Secretaria Especial de Direitos Humanos criou uma cartilha (Cartilha do Politicamente Cor-
reto & Direitos Humanos), que pretendia induzir o falante a usar expressões menos discriminatórias. Ilustra
essa orientação a troca de “faxineiro” por “profissional de limpeza”.
Leonardo Messias e Jonas dos Santos opinam sobre o assunto, lembrando que a língua continuadamente
se ressignifica. Então, o sentido de para cada palavra depende de uma convenção social e
do fato de todos os sujeitos terem suas ideologias, logo, não há como uma Cartilha esque-
cer desses aspectos da linguagem e indicar as nomeações “corretas”. O fato é que todos os
falantes aumentam os significados das palavras. “Dizer se está certo ou errado é algo que
as cartilhas não conseguirão fazer! Enfim, nós (professores) devemos nos contrapor e pensar como ensinar
os diferentes contextos sociais e o poder que carregamos com uma simples palavra”, comentam
os futuros educadores. 6
Dicas de leitura sobre humor:
BERGSON, H. O Riso. Ensaio sobre a significação do cômico. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.
LARAIA, R B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
LE BRETON, D. As Paixões Ordinárias: Antropologia das Emoções. Petrópolis: Vozes, 2009.
MINOIS, G. História do riso e do escárnio. São Paulo: Editora UNESP, 2003.
ORLANDI, E. Destruição e construção do sentido: um estudo da ironia. Campinas: UNICAMP, 1983.
Trabalho apresentado no colóquio do Dep. de Linguística do IEL.
Complementa esta discussão o artigo A selva do politicamente correto, de Sírio Possenti, publicado na Revista Lín-
gua Portuguesa (2008). No texto, o linguista Possenti reporta-se a um dos ensaios de Jean-Jacques Courtine no livro
Metamorfoses do Discurso Político: Derivas da Fala Pública (2006).
Possenti evidencia através das reflexões de Courtine que o discurso é perpassado pela ideologia do locutor. O que se
torna evidente é que jamais o discurso será neutro e inexiste a possibilidade de uma língua livre de preconceitos. Dessa
luta contra a manifestação ideológica e preconceituosa na língua(gem) surge o “politicamente Correto” (PC), que pro-
cura isentar o discurso de expressões ou palavras que possuam valor social, histórico e/ou etimológico pejorativos.
Uma das teses defendidas por Courtine é a de que esta posição politicamente correta teria surgido em
certos cuidados relativos à edição de livros escolares.
O acadêmico Santiago Bretanha destacou do artigo em pauta que esta ação “politicamente correta”
saiu do ambiente escolar e fez parte de movimentos e grupos sociais com “boas intenções políticas”.
O movimento politicamente correto se dispersou por toda a sociedade e está presente em todos os
núcleos sociais. Courtine comenta que esse movimento não é institucionalizado e não há como asso-
ciá-lo a um agente específico, responsável por sua disseminação.
Francine Araújo, embasada na leitura do texto de Bizzocchi, comenta: existem orientações criadas a fim de serem
politicamente corretas, mas que se contradizem a todo o momento cometendo um equívoco maior ainda. Então será
que o politicamente correto ao tentar ser correto não está exagerando e sendo mais incorreto ainda? O que é realmente
ser politicamente
correto?
Resta a polêmi-
ca!
7
Politicamente correto e o sexismo
Por: Virgínia Lucena Caetano
A acadêmica Virgínia Lucena Caetano encontrou no artigo Mitos da militância politicamente
correta, de Baronas (2011), nossa temática associada às questões de gênero. No texto consulta-
do, Baronas comenta que alguns especialistas percebem a língua como espelho das estruturas
sociais e culturais, assim, se a sociedade é preconceituosa, esse preconceito se reflete na língua.
Partindo deste princípio, surgiu o movimento “politicamente correto”, que embora tenha méritos
políticos relevantes, comete equívocos banais em relação à linguagem. Um deles, ressalta o estu-
dioso, é confundir gênero gramatical com aspectos ou opções sexuais dos indivíduos.
Em 2000, foi elaborada a Carta da Terra de Mato Grosso, redigida em uma linguagem “não sexista”. No docu-
mento, todos os termos que remeteriam a uma pessoa do sexo masculino foram trocados pelo símbolo “@”
(pel@s, profess@res, d@s mesm@s) tentando evitar, assim, a linguagem sexista.
Roberto Baronas destaca que todos os nomes da língua portuguesa possuem gênero gramatical, porém, apenas
alguns significam seres que possuem gênero sexual. Portanto, é equivocada a interpretação de que no sistema lin-
guístico, por haver uma preponderância maior do sexo masculino, haja indícios de discriminação do sexo femini-
no.
O autor acredita ser ingenuidade do movimento politicamente correto pensar que a simples substituição de pa-
lavras marcadas ideologicamente por outras acabará com o preconceito. Substituir o termo “prostituta” por
“profissional do sexo” não mudará em nada a forma como a sociedade condena esse tipo de atividade. Provavel-
mente, em pouco tempo, a nova expressão vinculará os mesmos valores negativos que as formas condenadas vin-
culam hoje. Isso ocorre porque é a existência do preconceito que atribui valores pejorativos às palavras e não o
contrário.
BARONAS, Roberto Leiser. Mitos da militância politicamente correta. Revista Língua Portuguesa. São Paulo: Segmento, n. 64, fev. 2011.
Link: http://revistalingua.uol.com.br/textos/64/artigo249036-1.asp
BIZZOCCHI, Aldo. É correto ser politicamente correto? Revista Língua Portuguesa. São Paulo: Segmento, n. 30, abr.
2008. Link: http://revistalingua.uol.com.br/textos/30/artigo248342-1.asp
POSSENTI, Sírio. A selva do politicamente correto. Revista Língua Portuguesa. São Paulo: Segmento, n. 36, out. 2008.
Link: http://revistalingua.uol.com.br/textos/36/artigo248458-1.asp
COURTINE, J.-J. Metamorfoses do discurso político: derivas da fala pública. São Carlos: Claraluz, 2006.
Nathalia Madeira Araujo
O texto Tempos de eufemismo: manipulação da linguagem que diminui o impacto da realidade
virou mania social em épocas de crise, de Luiz Costa Pereira Junior, publicado na Revista Lín-
gua Portuguesa (2009), fala sobre a utilização de eufemismos como instrumento de suavização da
linguagem, de forma a não chocar o ouvinte ou o leitor ao transmitir uma notícia. Logo no início, o autor cita
alguns exemplos, como: a declaração que os EUA fizeram para a imprensa afirmando terem salvo mais uma
instituição da crise, ao invés de se referir diretamente à estatização, assim como o fato de o presidente Lula ter
se manifestado afirmando que a crise nos EUA é como um tsunami e aqui no Brasil uma marola.
Segundo o linguista Dino Preti, da PUC-SP, a declaração do presidente a respeito da
crise mostra que a fala política é, em sua maioria, eufêmica. Ele ainda afirma que esse pro-
cesso de eufemismo da linguagem surge como salvador da imagem do governo e tranquili-
zador da voz pública.
Dentre outras ideias, o texto ainda enfatiza o uso de eufemismos para amenizar falas, em
vez de dizer “aleijado”, “negro”, fala-se “portadores de necessidades especiais”,
“afrodescendente”. Enfatiza também o eufemismo para disfarçar, esconder o horror da Guerra. Como exemplo o
autor cita expressões militares lançadas pela mídia no advento da guerra no Iraque, expressões essas reproduzi-
das aqui no Brasil. São elas: "fogo amigo" (ser atingido pelo próprio exército), "dano colateral" (vítimas civis
quando o alvo é militar), "ataque cirúrgico" (com precisão), "baixas" (mortes).
PEREIRA JUNIOR, Luiz Costa. Tempos de eufemismo. Revista Língua Portuguesa. São Paulo: Segmento, n. 39, dez. 2009. Link: <http://
revistalingua.uol.com.br/textos/39/artigo248505-1.asp>
Millaine Carvalho
Em entrevista à Revista Língua Portuguesa, Peter Hunt, professor de inglês na British Uni-
versity e autor de Step off the Path (1985), critica o discurso politicamente correto na literatura infan-
til. Hunt diz ser contra o discurso politicamente correto, nesse tipo de literatura, pois grande parte da
produção de livros infantis atualmente visa influenciar o pensamento das crianças, sem permitir que
pensem por si mesmas, mas sim do modo que os adultos querem, sendo que, em sua opinião, o corre-
to seria dá-las a chance de se tornarem adultos que pensam de forma livre.
MURANO, Edgard. A infância sem clichês. Revista Língua Portuguesa. São Paulo: Segmento, n. 62, dez. 2010. Link: <http://
revistalingua.uol.com.br/textos/62/artigo248984-1.asp>
Politicamente correto e infância
Eufemismos na mídia
Ler trechos da canção “A Barata” (CD Galinha Pintadinha) e pensar se é politicamente correta:
A barata diz que tem Sete saias de filó É mentira da barata Ela tem é uma só Há, há, há, hó, hó, hó Ela tem é uma só Há, há, há, hó, hó, hó
Ela tem é uma só
A barata diz que tem
Um anel de formatura É mentira da barata Ela tem a casca dura
Há, há, há, hó, hó, hó Ela tem é a casca dura Há, há, há, hó, hó, hó
Ela tem é a casca dura
A barata diz que tem
Um sapato de fivela É mentira da barata O sapato é da mãe dela
Há, há, há, hó, hó, hó O sapato é da mãe dela Há, há, há, hó, hó, hó
O sapato é da mãe dela
A barata diz que tem
Uma saia de cetim É mentira da barata Ela tem é de capim
Há, há, há, hó, hó, hó Ela tem é de capim Há, há, há, hó, hó, hó
Ela tem é de capim
A barata diz que tem
Um sapato de veludo É mentira da barata Ela tem o pé peludo
Há, há, há, hó, hó, hó Ela tem o pé peludo Há, há, há, hó, hó, hó
Ela tem o pé peludo
8
Da literatura à música infantil
Caro leitor, imagine se as músicas fossem
“ajustadas” ao movimento politicamente
correto? Algumas canções clássicas seriam
proibidas:
O CRAVO E A ROSA O Cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada.
O Cravo ficou ferido E a Rosa despedaçada.
O Cravo ficou doente
(A Rosa foi visitar). O Cravo teve um desmaio,
(A Rosa pôs-se a chorar).
Versão antiga:
Atirei o pau no gato tô tô
Mas o gato tô tô
Não morreu reu reu
Dona Chica cá
Admirou-se se
Do berro, do berro que o gato
deu Miau !!!!!!
Será que essa cantiga poderia ser acusada de incentivar a violência doméstica?
Versão nova:
Não atire o pau no gato (to-to)
Porque isso (sso-sso)
Não se faz (faz-faz)
Ô gatinho (nho-nho)
É nosso amigo (go)
Não devemos maltratar
Os Animais Miau!!!
Atirei o pau no gato ganhou uma versão menos violenta.
“Modo de falar” politicamente correto
9 Fonte:http://adalbertopiotto.wordpress.com/2008/12/20/crise-de-eufemismo/
Fonte: http://talktohimselfshow.zip.net/arch2011-05-01_2011-05-31.html http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http%3A%2F%2Fwww.sul21.com.br%2Fblogs%2Fmiltonribeiro%2Ffiles%2F2011%2F10%2Fquinho.jpg&imgrefurl=http%3A%2F%2Fwww.sul21.com.br%2Fblogs%2Fmiltonribeiro%2Ftag%2Fpoliticamente corre-to%2F&h=310&w=400&sz=50&tbnid=uqHAtd5Mnfg4oM%3A&tbnh=90&tbnw=116&zoom=1&usg=__s4yEFVWQQ
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.rodrigovianna.com.br/wp-content/uploads/2011/09/laerte1.jpg&imgrefurl=http://www.rodrigovianna.com.br/foto-de-capa/9625.html&usg=__Ee9C4kEDpxCyzQoZ4PFrXyp-6FU=&h=330&w=358&sz=34&hl=pt-BR&start=2&zoom=1&tbnid=nhPFNfVRkmA9FM:&tbnh=112&tbnw=121&ei=OqwtUO75KObg0QGNu4HgAg&um=
Redação:
Renata Silveira da Silva
Francine Araújo Farias
Jonas dos Santos
Leonardo Terra Messias
Millaine de Souza Carvalho
Nathalia Madeira Araújo
Santiago Bretanha Feijó
Virginia Lucena Caetano
Colaboração:
Profa. Josiane Cabaldi
Contato:
Blog: http://nelpp-unipampa.blogspot.com/
Face: https://www.facebook.com/nelpp.unipampa
E-mail: [email protected]
Revisão
Renata Silva
Leonardo Messias
Adriana Lopes
10
Pichador - Artista plástico perito em mensagens abstratas Ladrão - Ilusionista expert em desaparecimento de objetos valiosos
Cachaceiro - Degustador de bebidas populares Vagabundo - Auto excluído
do mercado de trabalho Perna-de-pau - Futebolista dominical inimigo da bola Fofoqueira - Divulgadora instantânea de boatos
Morte - Cessação das atividades vitais Favela - Comunidade
Alguns eufemismos
politicamente corretos:
O último show de Stand up -
Maurício Ricardo.
Charge animada
http://charges.uol.com.br/2012/0
1/09/cotidiano-o-ultimo-show-
de-stand-up/
Diagramação:
Renata Silveira da Silva
Jonas dos Santos
Leonardo Terra Messias
Coordenação:
Profa. Dra. Renata Silva