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41 ARTIGO ORIGINAL Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 41-55, jan/mar 2020 Adolescência & Saúde RESUMO Objetivo: O presente estudo teve como objetivo investigar a composição corporal de adolescentes com idade entre 15 e 17 anos das redes de ensino pública e privada de Araras e região de São Paulo, e verificar o nível de concordância entre dois métodos (IMC x IAC). Métodos: Foram analisadas 838 fichas de avaliação contendo dados antropométricos de escolares nos anos de 2014, 2015 e 2016. Comparou-se os resultados obtidos nas fichas de avaliação feita com os adolescentes e a partir disto se classificou como aceitável ou não, de acordo com o índice indicado como saudável por essas variáveis. Ao final foi realizada uma tabulação cruzada entre os resultados de IMC e IAC, classificando estes adolescentes como "sem excesso de peso" e "com excesso de peso" e em seguida, realizou-se uma análise avaliando assim a concordância entre os métodos de diagnóstico de obesidade. Resultados: Os resultados mostraram uma diferença significativa entre os gêneros para o IAC (p <0,0001) sendo maior entre as meninas do que entre os meninos. Entre as instituições de ensino (pública e privada) de acordo os sexos não houve diferença significativa (p = 0,6477 para as meninas e p = 0,2430 para os meninos). Comparando o percentual de gordura, a maioria dos adolescentes se encontram com excesso de peso. A concordância entre os métodos (IMC x IAC) revelaram um coeficiente fraco tanto para a amostra em geral, quanto para as meninas e para os meninos. Conclusão: Os achados do estudo mostram uma população fora dos padrões considerados saudáveis. PALAVRAS-CHAVE Adolescente; Saúde; Antropometria. ABSTRACT Objective: The present study aimed to investigate the body composition of adolescents aged 15 to 17 years of the public and private schools of Araras and São Paulo region, and to verify the level of agreement between two methods (BMI x BAI). Methods: We analyzed 838 evaluation records containing anthropometric data of schoolchildren in the years 2014, 2015 and 2016. The results obtained in the assessment sheets made with the adolescents were compared and were classified as acceptable or not, according to the index indicated by these variables. At the end, a cross-tabulation was performed between the results of BMI and IAC, classifying these adolescents as "not overweight" and "overweight" and then we performed an analysis evaluating the concordance between the methods of diagnosis of obesity. Results: The results showed a significant difference between the genders for BAI (p <0.0001) being higher between girls than boys. Among educational institutions (public and private) according to gender, there was no significant difference (p = 0.6477 for girls and p = 0.2430 for boys). Comparing the fat percentage, most adolescents are overweight. The comparison between the methods (BMI x BAI) showed a weak coefficient both in general, as for girls and boys. Conclusion: The results of the study showed a population far from the rates considered healthy. KEY WORDS Adolescent; Health; Anthropometry. Comparação do perfil antropométrico de adolescentes das redes pública e privada da cidade de Araras/SP e região Comparison of the anthropometric profile of adolescentes from the public and private networks of the city of Araras/SP and region Bianca do Prado Alves 1 Rodrigo Martins Pereira 2 Leonardo Breda 3 Raphael dos Santos Canciglieri 2 Paulo Henrique Canciglieri 3 Bianca do Prado Alves ([email protected]) – Centro Universitário Hermínio Ometto de Araras (UNIARARAS), Fundação Hermínio Ometto (UFO). Rua Maximiliano Baruto, 500, Jardim Universitário, Araras. São Paulo, SP, Brasil. CEP: 13607-339. Submetido em 18/02/2019 - Aprovado em 01/04/2019 1 Centro Universitário Hermínio Ometto de Araras (FHO - UNIARARAS). Araras, SP, Brasil 2 Faculdade de Ciências Aplicadas, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Limeira, SP, Brasil. 3 Fundação Hermínio Ometto (FHO - UNIARARAS). Araras, SP, Brasil. > > > >

Bianca do Prado Alves Comparação do perfil antropométrico ......O Índice de Massa Corporal (IMC) foi obtido mediante a divisão do peso em quilogramas (Kg) pelo quadrado da altura

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41ARTIGO ORIGINAL

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 41-55, jan/mar 2020Adolescência & Saúde

RESUMOObjetivo: O presente estudo teve como objetivo investigar a composição corporal de adolescentes com idade entre 15 e 17 anos das redes de ensino pública e privada de Araras e região de São Paulo, e verificar o nível de concordância entre dois métodos (IMC x IAC). Métodos: Foram analisadas 838 fichas de avaliação contendo dados antropométricos de escolares nos anos de 2014, 2015 e 2016. Comparou-se os resultados obtidos nas fichas de avaliação feita com os adolescentes e a partir disto se classificou como aceitável ou não, de acordo com o índice indicado como saudável por essas variáveis. Ao final foi realizada uma tabulação cruzada entre os resultados de IMC e IAC, classificando estes adolescentes como "sem excesso de peso" e "com excesso de peso" e em seguida, realizou-se uma análise avaliando assim a concordância entre os métodos de diagnóstico de obesidade. Resultados: Os resultados mostraram uma diferença significativa entre os gêneros para o IAC (p <0,0001) sendo maior entre as meninas do que entre os meninos. Entre as instituições de ensino (pública e privada) de acordo os sexos não houve diferença significativa (p = 0,6477 para as meninas e p = 0,2430 para os meninos). Comparando o percentual de gordura, a maioria dos adolescentes se encontram com excesso de peso. A concordância entre os métodos (IMC x IAC) revelaram um coeficiente fraco tanto para a amostra em geral, quanto para as meninas e para os meninos. Conclusão: Os achados do estudo mostram uma população fora dos padrões considerados saudáveis.

PALAVRAS-CHAVEAdolescente; Saúde; Antropometria.

ABSTRACTObjective: The present study aimed to investigate the body composition of adolescents aged 15 to 17 years of the public and private schools of Araras and São Paulo region, and to verify the level of agreement between two methods (BMI x BAI). Methods: We analyzed 838 evaluation records containing anthropometric data of schoolchildren in the years 2014, 2015 and 2016. The results obtained in the assessment sheets made with the adolescents were compared and were classified as acceptable or not, according to the index indicated by these variables. At the end, a cross-tabulation was performed between the results of BMI and IAC, classifying these adolescents as "not overweight" and "overweight" and then we performed an analysis evaluating the concordance between the methods of diagnosis of obesity. Results: The results showed a significant difference between the genders for BAI (p <0.0001) being higher between girls than boys. Among educational institutions (public and private) according to gender, there was no significant difference (p = 0.6477 for girls and p = 0.2430 for boys). Comparing the fat percentage, most adolescents are overweight. The comparison between the methods (BMI x BAI) showed a weak coefficient both in general, as for girls and boys. Conclusion: The results of the study showed a population far from the rates considered healthy.

KEY WORDSAdolescent; Health; Anthropometry.

Comparação do perfil antropométrico de adolescentes das redes pública e privada da cidade de Araras/SP e regiãoComparison of the anthropometric profile of adolescentes from the public and private networks of the city of Araras/SP and region

Bianca do Prado Alves1

Rodrigo Martins Pereira2

Leonardo Breda3

Raphael dos Santos Canciglieri2

Paulo Henrique Canciglieri3

Bianca do Prado Alves ([email protected]) – Centro Universitário Hermínio Ometto de Araras (UNIARARAS), Fundação Hermínio Ometto (UFO). Rua Maximiliano Baruto, 500, Jardim Universitário, Araras. São Paulo, SP, Brasil. CEP: 13607-339.Submetido em 18/02/2019 - Aprovado em 01/04/2019

1Centro Universitário Hermínio Ometto de Araras (FHO - UNIARARAS). Araras, SP, Brasil2Faculdade de Ciências Aplicadas, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Limeira, SP, Brasil.3Fundação Hermínio Ometto (FHO - UNIARARAS). Araras, SP, Brasil.

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42 Alves et al.COMPARAÇÃO DO PERFIL ANTROPOMÉTRICO DE ADOLESCENTES DAS REDES PÚBLICA E PRIVADA DA CIDADE DE ARARAS/SP E REGIÃO

Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 41-55, jan/mar 2020

na idade adulta7. Associada não somente com fatores genéticos

e ambientais, a obesidade tem como consequência o estilo de vida inadequado dessa população, rela-cionados aos hábitos alimentares poucos saudáveis e a falta de atividade física regular, provocando um aumento das morbidades associadas a este distúrbio, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e outros componentes do risco cardiometabólico8. Algumas alterações posturais inadequadas, como hipercifose torácica, escoliose toráco-lombar e a hiperlordose lombar, são devi-dos a uma relação dinâmica entre os segmentos corporais, determinada pela ação dos músculos esqueléticos que se adaptam aos estímulos re-cebidos9.

Para o diagnóstico de sobrepeso e obesida-de, a OMS aconselha o uso do Índice de Massa Corporal (IMC)4. Este é utilizado para avaliação do perfil antropométrico-nutricional da população, como um indicador que não determina de forma definitiva se uma pessoa está ou não acima do peso10. A OMS11 diferencia sobrepeso e obesidade pelo IMC, onde os valores de 25 a 29,9 Kg/m² são classificados como sobrepeso, e os iguais ou maiores que 30 Kg/m² como obesidade. Estes podem ser identificados por meio de Avaliações Antropométricas dos indivíduos12.

Porém, desde 2011 outro índice vem sendo usado, o Índice de Adiposidade Corporal (IAC) que surgiu como uma nova proposta para a men-suração do percentual de gordura corporal. Esse método (IAC) apresenta uma forte correlação com o método de Absortometria Radiológica de Dupla Energia (DEXA), podendo assim ser uma alternativa ao IMC13.

Devido ao baixo custo operacional e à fácil aplicação, que utiliza medidas de massa, estatura, perímetros, diâmetros ósseos e espessura de do-bras cutâneas, os métodos antropométricos são na maioria das vezes aplicados na mensuração de dados a respeito da composição corporal de grandes massas14.

Pressupõe-se que grande parte dos adoles-centes se encontre fora dos parâmetros conside-rados saudáveis. Neste sentido, o presente estudo

INTRODUÇÃO

Considerada uma doença crônica, a obe-sidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo no organismo, que tem causa multifatorial e depende da interação de fatores genéticos, metabólicos, sociais, comportamen-tais e culturais1. Estes comportamentos de risco à saúde têm aumentado a incidência desta doença em adolescentes2, tornando-se uma epidemia mundial que atinge não só essa faixa etária, mas também milhões de crianças e adultos em países desenvolvidos e em desenvolvimento, revelando-se como um grande problema de saúde pública3.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 2,8 milhões de mortes no mundo estão relacionados ao excesso de peso e até o ano de 2015, 1,5 bilhões de pessoas apresentarão sobrepeso4. Estimativas do Censo Demográfico do IBGE5 mostram que a população brasileira de crianças e adolescentes de 0 a 18 anos era de 59.657.340 milhões (aproximadamente 31% da população total), e que deste total, 29.368.259 milhões de crianças e adolescentes eram do sexo feminino e 30.289.081 milhões do sexo masculino. Essa estimativa para adolescentes de 15 a 17 anos (amostra do presente estudo) foi de 10.357.847 milhões de pessoas. Dados mostram que a inci-dência de excesso de peso nessa população tem aumentado de forma alarmante, passando de 4% para 30% (17.897.202 milhões de pessoas) em 20104.

A comparação de dois estudos representativos da população de adolescentes brasileiros (Endef, 1974-1975 e PPV, 1996-1997), mostra que em apenas duas décadas, o excesso de peso mais do que triplicou entre os meninos (de 2,6% para 11,8%) e é mais do que o dobro entre as meni-nas (de 5,8% para 15,3%). Dados mais recentes (2002-2003), obtidos a partir da Pesquisa Nacio-nal de Orçamentos Familiares (POF), mostram que o excesso de peso já atinge 17,9% e 15,4% dos adolescentes brasileiros de sexo masculino e feminino, respectivamente6. Essa incidência é preocupante devido ao risco maior de crianças e adolescentes obesos permanecerem neste estado

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43Alves et al. COMPARAÇÃO DO PERFIL ANTROPOMÉTRICO DE ADOLESCENTES DAS REDES PÚBLICA E PRIVADA DA CIDADE

DE ARARAS/SP E REGIÃO

Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 41-55, jan/mar 2020Adolescência & Saúde

tem como objetivo investigar a composição cor-poral de escolares com idade de 15 a 17 anos das redes públicas e privadas da região de Araras, no interior de São Paulo, Brasil, por meio dos métodos do IMC e IAC. Investigamos também o grau de concordância entre os dois métodos, trazendo assim mais evidências de que o IAC pode ser con-siderado como importante e confiável ferramenta para o diagnóstico de excesso de gordura corporal, quando utilizado com grandes populações de adolescentes.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo de natureza qualitativa e quantitativa de corte transversal, observacional, comparativo e documental, onde os materiais uti-lizados ainda não receberam nenhum tratamento analítico, ou ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa15.

Os arquivos utilizados foram fichas de avalia-ção contendo dados antropométricos de escolares das redes públicas e privadas de Araras e região, com idade entre 15 e 17 anos, que visitaram o estande do curso de Educação Física na Feira das Profissões do Centro Universitário Hermínio Ometto (UNIARARAS) no período de setembro dos anos de 2014, 2015 e 2016. Por se tratarem de menores de idade, tentou-se contato por três vezes com cada participante, para obter consen-timento dos pais, assim como um termo para a utilização dos dados.

Todos os procedimentos obedeceram aos princípios do Comitê de Ética para pesquisa com seres humanos Comitê de Ética e Mérito Cien-tífico do Centro Universitário Hermínio Ometto (UNIARARAS), sob o protocolo CAAE número 64156017.1.0000.5385 datado de 13/02/2017. Por envolver menores de idade, os pais e/ou responsá-veis assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido concordando com a coleta dos dados, assim como todos os participantes concordaram em participar do estudo.

Optou-se pela utilização da ficha mais re-cente de cada indivíduo, portanto as fichas dos

mesmos dos anos anteriores foram descartadas. Neste sentido chegou-se a um total amostral com 838 pessoas, sendo 517 do gênero feminino (458 estudantes de escolas públicas e 59 de escolas pri-vadas) e 321 do gênero masculino (284 estudantes de escolas públicas e 37 de escolas privadas).

O Índice de Massa Corporal (IMC) foi obtido mediante a divisão do peso em quilogramas (Kg) pelo quadrado da altura em metros (Kg/m²)10 e a classificação dos resultados encontrados foi de acordo com a divisão utilizada pela OMS11. O cálculo do IAC, proposto por Bergman et al.13, foi utilizado para aferir o percentual de gordura e considera a razão da circunferência de quadril pelo produto da multiplicação da estatura por sua raiz quadrada, subtraindo 18 ao resultado final. Para a classificação destes dados, adotou-se os valores para idade, sexo e os respectivos pontos de corte propostos por Deurenberg et al.16.

O tratamento dos dados foi realizado segundo Thomas & Nelson17, pois os resultados obtidos nas avaliações são analisados por meio de fórmulas estatísticas e cálculos, com foco na análise, sepa-rando e examinando os componentes de um fe-nômeno. Na análise dessas variáveis quantitativas, foi utilizado a estatística descritiva básica: média, desvio-padrão e percentual, com a tabulação dos dados obtida pelo programa Excel 2007.

Foi realizada uma comparação com os resul-tados obtidos nas fichas de avaliação feita com os adolescentes e a partir disto classificado como aceitável ou não, de acordo com o índice indicado saudável por essas variáveis. Foi feito uma análise estatística desses dados através do Teste T, onde anteriormente foi analisado por meio de estatística descritiva, a normalidade da amostra através do Teste de Lilliefors e para realizar a comparação entre os grupos da amostra foi utilizado o Teste de U-Mann Whitney para duas amostras indepen-dentes pelo programa Graph Pad Prism5.

Ao final foi realizada uma tabulação cruzada entre os resultados de IMC e IAC, construindo assim uma tabela de contingência 2x2, com a frequência absoluta de meninos e meninas das redes públicas e privadas classificados como “sem excesso de peso” e “com excesso de peso”. Em

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seguida, utilizou-se o índice Kappa obtido pelo Biostat, avaliando assim a concordância entre os métodos de diagnóstico de obesidade.

RESULTADOS

O teste de Lilliefors de normalidade demons-trou que a distribuição da amostra de 838 indiví-duos (517 do sexo feminino e 321 do sexo mas-culino) não é normal, ou seja, é não paramétrico. O teste de U-Mann Whitney mostrou diferenças significativas entre os gêneros para o IAC (p < 0,0001), onde as meninas apresentaram maior adiposidade corporal que os meninos (Tabela 1). No entanto, o IAC entre os estudantes de escolas públicas e privadas (p= 0,7028), entre as meninas (p= 0,6477) e entre os meninos (p= 0,2430) mos-tram que não houve diferença significativa entre as amostras (Tabela 2).

Com relação a classificação do percentual de gordura, quando comparado os resultados entre escolas públicas e privadas, foram encontrados valores muito próximos, 22% dos estudantes de escolas públicas e 21% dos de escolas privadas estão com o percentual de gordura adequado. Mas, 23% dos estudantes de escolas públicas e 26% dos de escolas privadas estão com o percen-tual de gordura alto (Figura 1).

Usando a mesma classificação, mas compa-rando meninas e meninos, temos que a maioria dos adolescentes se encontram com excesso de peso moderadamente alta (50% meninas e 56% meninos). O restante se divide entre adequada (26% meninas e 16% meninos) e alta (22% me-ninas e 26% meninos) e uma pequena parte em excessivamente alta (2% para ambos os sexos) (Figura 2).

A comparação feita por sexo e instituição de ensino também mostra que a diferença dos resultados do percentual de gordura é quase ine-xistente, onde ambos os sexos apresentam valores muito próximos estando a maioria dos estudantes com percentual moderadamente alto (50% para

as meninas de escolas pública e 47% de escolas privadas e para os meninos 56% e 57% respecti-vamente) (Figura 3 e 4).

A relação dos dados brutos do IMC e IAC foi classificada como saudáveis (até 25 para as meninas e até 20 para os meninos no IAC e até 24,5 para ambos os sexos no IMC) e não saudáveis (acima de 25 para as meninas e acima de 20 para os meninos no IAC e acima de 24,5 para ambos os sexos no IMC) de acordo com o sexo e a ins-tituição de ensino (Tabelas 3 e 4). O IMC revelou que 83,55% das meninas e 79,43% dos meninos estão saudáveis e 16,44% e 20,55% estão em estado não saudável, respectivamente. Para o IAC, 26,29% das meninas e 16,81% dos meninos foram considerados saudáveis e 73,69% e 83,17% foram considerados não saudáveis, respectivamente.

As figuras abaixo apresentam a relevância de cada método (IMC e IAC) por meio da classificação dos indivíduos em saudáveis e não saudáveis de acordo com o sexo e a rede institucional (pública e privada). É possível notar que não houve cor-relação significativa entre o IMC de meninas de 15, 16 e 17 anos de idade (Figura 5) e IAC para as meninas da mesma idade (Figura 6), tanto para os grupos saudáveis como para os não saudáveis das redes públicas e privadas. A figura de IMC (Figura 7) e IAC (Figura 8) dos meninos da mesma faixa etária que as meninas, também revelaram uma correlação não significativa para as mesmas comparações.

O cruzamento entre os resultados de IMC e IAC transcritos em uma tabela de contingência 2x2 estão apresentados na Tabela 5. Os resultados obtidos evidenciaram uma concordância para o total da amostra de 41% (336), para os meninos de 36% (117) e para as meninas de 42% (219) e uma discordância de 59% (502), 64% (204) e 58% (298) respectivamente, revelando um coefi-ciente kappa de fraca concordância entre os dois métodos propostos, tanto para o total da amostra (0,1112), quanto para os meninos (0,0836) e para as meninas (0,1254).

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Figura 1. Classificação do percentual de gordura das amostras do estudo de acordo com a instituição de ensino.

Figura 2. Classificação do percentual de gordura das amostras do estudo de acordo com o sexo.

Figura 3. Classificação do percentual de gordura das amostras do estudo de acordo com o sexo feminino e instituição de ensino.

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> Figura 4. Classificação do percentual de gordura das amostras do estudo de acordo com o sexo masculino e instituição de ensino.

Figura 5. Gráfico de relevância do Índice de Massa Corporal (IMC) para as meninas de acordo com a idade, classificadas em saudáveis e não saudáveis considerando a instituição de ensino.

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Figura 6. Gráfico de relevância do Índice de Adiposidade Corporal (IAC) para as meninas de acordo com a idade, classificadas em saudáveis e não saudáveis considerando a instituição de ensino.

Figura 7. Gráfico de relevância do Índice de Massa Corporal (IMC) para os meninos de acordo com a idade, classificados em saudáveis e não saudáveis considerando a instituição de ensino.

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> DISCUSSÃO

Assim como Oliveira18, outros estudos diver-sos estimam que 50% das crianças obesas aos 7 anos de idade serão adultos obesos e que 80% dos adolescentes obesos serão adultos obesos.

Cataneo et al.19 relacionam a obesidade a fatores psicológicos como o controle, a percepção de si, a ansiedade e o desenvolvimento emocional de crianças e adolescentes. Indivíduos obesos na infância apresentam sentimentos negativos sobre seu corpo, muitas vezes por conta da depreciação dos próprios pais e amigos. Além dos fatores psico-lógicos, a doença se associa também com grande frequência a condições como dislipidemias, dia-betes, hipertensão arterial e síndrome metabólica que favorecem eventos cardiovasculares, os quais são a principal causa de mortes no nosso país. Um estudo mostra que a relação dessa patologia com a morte por doenças cardiovasculares é mais evi-dente em pacientes com obesidade abdominal20.

A inatividade física ou sedentarismo pre-dispõe o surgimento ou agravamento dos riscos cardiovasculares. Esse comportamento sedentário

desde a infância tende a persistir na vida adulta. Um estudo realizado em Maceió com crianças e adolescentes de ambos os gêneros, matriculados em escolas da rede pública e privada, revelou que 93,5% dos investigados não praticam atividade física de moderada a intensa, 65% utilizam mais que o tempo diário recomendado para atividades sedentárias e 60% não praticam atividade física na escola21.

Gomes et al.20, relataram que o acúmulo de gordura na região mesentérica, chamada obesida-de do tipo visceral, é associada ao excesso de peso e está ligada a uma maior mortalidade que a obe-sidade periférica. Essa diferença é devido ao fato que o tecido adiposo visceral é metabolicamente mais ativo que o subcutâneo, ocasionando na maior produção de glicose e como consequência, causa diabetes mellitus do tipo 2 e hiperinsulismo, resultando ainda em hipertensão arterial sistêmica, que caracterizam a síndrome metabólica.

São vários fatores importantes na gênese da obesidade, como os genéticos, os fisiológicos e os metabólicos. Porém, os que poderiam explicar este crescente aumento do número de indivíduos

Figura 8. Gráfico de relevância do Índice de Adiposidade Corporal (IAC) para os meninos de acordo com a idade, classificados em saudáveis e não saudáveis considerando a instituição de ensino.

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obesos está relacionado às mudanças no estilo de vida e aos hábitos alimentares, como o alto consumo de alimentos ricos em açúcares simples e gordura que tem alta densidade energética, e também com a diminuição da prática de exercícios físicos, revelando os principais fatores relacionados ao meio ambiente22.

No presente estudo as meninas apresenta-ram maior adiposidade corporal comparadas aos meninos (Tabela 1), devido à liberação dos hor-mônios sexuais em idades próximas à puberdade.

Isso torna o corpo feminino suscetível ao acúmulo de gordura, além de serem menos ativas que os meninos na adolescência23.

Quando comparada a variável IAC entre as escolas públicas e privadas e entre as meninas e os meninos (Tabela 2), o resultado foi o mesmo apresentado no estudo de Castilho & Nucci24, onde o excesso de peso corporal foi encontrado em ambas as classes, independente da diferença socioeconômica entre os estudantes de escolas públicas e privadas.

Tabela 1. Índice de Adiposidade Corporal (IAC) das amostras do estudo de acordo com o sexo. Valores expressos em média e desvio padrão.

n IAC Significância (p)

Meninas 517 27,83 ± 4,0 < 0,0001*

Meninos 321 23,51 ± 3,6*Diferença estatisticamente significativa para o teste U-Mann Whitney

Tabela 2. Índice de Adiposidade Corporal (IAC) das amostras do estudo de acordo com o sexo e instituição de ensino. Valores expressos em média e desvio padrão.

Escola Pública Escola Particular p(valor)

n (total) n IAC N IAC

Total 838 742 26,15 ± 4,4 96 26,38 ± 3,7 0,7028

Meninas 517 458 27,85 ± 4,1 59 27,69 ± 3,3 0,6477

Meninos 321 284 23,41 ± 3,6 37 24,29 ± 3,4 0,2430

Tabela 3. Classificação em porcentagem do Índice de Massa Corporal (IMC) e Índice de Adiposidade Corporal (IAC) em saudáveis e não saudáveis de acordo com o sexo feminino e a instituição de ensino.

MENINAS

Saudáveis Escola

Pública

Não Saudáveis

Escola Pública

Saudáveis Escola

Privada

Não Saudáveis

Escola Privada

IMC 73,30% (379) 15,28% (79) 10,25% (53) 1,16% (6)

IAC 23,01% (119) 65,57% (339) 3,28% (17) 8,12% (42)

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50 Alves et al.COMPARAÇÃO DO PERFIL ANTROPOMÉTRICO DE ADOLESCENTES DAS REDES PÚBLICA E PRIVADA DA CIDADE DE ARARAS/SP E REGIÃO

Adolescência & SaúdeAdolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 41-55, jan/mar 2020

O percentual de gordura entre as diferentes redes escolares foram muitos próximos (Figura 1). Silva et al.25 comparam em seu estudo a preva-lência de sobrepeso e obesidade em escolares de diferentes condições socioeconômicas na cidade de Recife. Um de grupo crianças e adolescentes com baixa condição socioeconômica de uma es-cola da rede pública e outro grupo de crianças e adolescentes com boa condição socioeconômica de uma escola da rede privada. O sobrepeso foi mais frequente em indivíduos com boa condição,

tendo uma diferença significativa (p<0,01) quando comparados aos de baixa condição socioeconô-mica (p<0,001). A obesidade também teve pre-valência maior nos indivíduos de boa (p<0,005), do que com baixa condição (p<0,01), revelando uma diferença significativa.

Souza et al.26 encontraram em seu estudo uma prevalência de 15,8% de obesidade em 387 escolares de Salvador, mostrando ser significati-vamente maior nas escolas particulares (30%) em relação às públicas (8,2%). Outros dados muito

Tabela 4. Classificação em porcentagem do Índice de Massa Corporal (IMC) e Índice de Adiposidade Corporal (IAC) em saudáveis e não saudáveis de acordo com o sexo masculino e a instituição de ensino.

MENINOS

Saudáveis Escola

Pública

Não Saudáveis

Escola Pública

Saudáveis Escola

Privada

Não Saudáveis

Escola Privada

IMC 70,71% (227) 17,75% (57) 8,72% (28) 2,8% (9)

IAC 15,88% (51) 72,58% (233) 0,93% (3) 10,59% (34)

Tabela 5. Tabela de contingência 2x2 com a frequência de adolescentes classificados como “sem excesso de peso” e “com excesso de peso” pelo Índice de Massa Corporal (IMC) e pelo Índice de Adiposidade Corporal (IAC).

Índice de Massa Corporal (IMC)

Sem excesso de peso Com excesso de peso Total

Índi

ce d

e Ad

ipos

idad

e C

orpo

ral (

IAC

)

Toda amostra

Sem excesso de peso 188 3 191

Com excesso de peso 499 148 647

Total 687 151 838

Índice kappa: 0,1112

Meninos

Sem excesso de peso 53 2 55

Com excesso de peso 202 64 266

Total 255 66 321

Índice kappa: 0,0836

Meninas

Sem excesso de peso 135 1 136

Com excesso de peso 297 84 381

Total 432 85 517

Índice kappa: 0,1254

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semelhantes podem ser verificados em um estudo realizado na cidade de Santos (SP), com toda a população (10.821) de escolares da rede pública e privada, de 7 a 10 anos de idade, em que 15,7% e 18% apresentavam sobrepeso e obesidade, respec-tivamente, sendo os maiores índices de escolares de instituições privadas27.

Oliveira et al.28 verificaram que a obesidade foi inversamente relacionada com a prática da atividade física sistemática (presença de TV, com-putador e videogame nas residências) e o baixo consumo de verduras, confirmando a influência do meio ambiente sobre o desenvolvimento do excesso de peso. Outro fato importante foi o do indivíduo estudar em escola privada e ser unigê-nita, sendo estes os principais fatores preditivos na determinação do ganho excessivo de peso. Isso demonstra que o fator socioeconômico e do mi-cro-ambiente familiar tem uma grande influência, pois o fácil acesso aos alimentos ricos em gorduras e açúcares simples, como também aos avanços tecnológicos, como computadores e videogames, podem explicar de certa forma a maior prevalência da obesidade encontrada na rede escolar privada.

Comparando o percentual de gordura en-tre meninas e meninos (Figura 2), observou-se que a maioria se encontra com excesso de peso moderadamente alto e outra boa parte em exces-so de peso alto, sendo este valor maior para os meninos do que para as meninas. Já um estudo feito em 2000, com 170 adolescentes de 13 a 18 anos do ensino médio, na Escola Técnica Federal de Santa Catarina, revelou que os indicadores de adiposidade corporal quando comparados entre os gêneros, apresentaram resultados mais elevados para o gênero feminino (p<0,05), apresentando um índice de adiposidade acima do ideal de 44,7% e para o gênero masculino esse índice foi de 24,5% acima do ideal29.

Outro estudo que verificou a prevalência de sobrepeso e obesidade em indivíduos de 7 a 17 anos de idade de ambos os sexos, de escolas da rede pública estadual do município de Londrina (PR), revelou diferença entre os sexos e na faixa etária dos 16 – 17 anos, onde essas duas variáveis apresentaram um aumento acentuado, mostrando

que as meninas foram mais atingidas pelo excesso de gordura e de peso corporal que os meninos, apresentando valores que caracterizam o estado de obesidade30.

O presente estudo revelou poucas diferenças entre as variáveis sexo e instituição. Porém, segun-do um estudo realizado em Presidente Prudente – SP com indivíduos de 10 a 17 anos matriculados em escolas da rede privada revelou maior prevalên-cia de sobrepeso e obesidade no sexo masculino do que no sexo feminino. O grupo etário de 14, 15 e 16 anos quando somados, apontam maior prevalência no sexo masculino comparado aos dados das regiões Nordeste (9,6%) e Sudeste do Brasil (21%)31.

Abrantes et al.32 analisaram os dados de sobre-peso e obesidade das regiões Nordeste e Sudeste do Brasil, encontrando para o sexo masculino (10 a 19 anos) 8,6% de sobrepeso e 1,6% de obesi-dade. Valores inferiores ao de Fernandes et al.31, onde a prevalência de sobrepeso foi quase três vezes superior (24,2%) e a obesidade foi sete vezes maior (11,4%). Esse mesmo fato acontece com o sexo feminino, onde a prevalência de sobrepeso (11,3%) e obesidade (1,9%) foram inferiores aos achados nesse estudo (16,3% sobrepeso e 3,8% obesidade).

Os resultados revelados neste estudo nos fazem pensar sobre o quão seguro e confiável é o IMC, sendo que estudos mostraram resultados divergentes, uma vez que o percentual de gordura pode ser utilizado como uma forma indireta para predizer o excesso de peso33,23. O estudo de Chia-relli et al.33 demonstrou resultados divergentes com relação a classificação do IMC e IAC, onde sujei-tos classificados como baixo peso apresentavam quantidade de gordura corporal adequada. Foi investigado a correlação entre o IMC e o IAC com o percentual de gordura obtido pela absortometria de dupla energia de raios X (DEXA), encontrando valores muito mais favoráveis para o IAC do que para o IMC34. Segundo Ellis et al.35, o IAC pode ser utilizado como uma ferramenta de avaliação específica, pois o IMC apresenta um valor bruto para a gordura corporal sem diferenciar o sexo e a fase puberal, podendo assim induzir ao erro de

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classificação. Alguns dados do estudo apresentados nas tabelas 3 e 4 também se mostram divergentes, pois os dois métodos revelaram resultados opostos, onde para o IMC a maioria se mostrou saudável, enquanto para o IAC praticamente os mesmos valores se apresentaram como não saudáveis.

Um estudo realizado com 14 mulheres prati-cantes de treinamento resistido, teve como objetivo verificar a relação entre o IMC e IAC. Os resulta-dos encontrados apresentaram uma correlação inexistente entre os métodos36. Já os achados de Sulino et al.37 apresentaram uma alta correlação entre o IAC e o IMC, o que viabiliza a utilização do IAC para o diagnóstico da adiposidade corporal.

Um outro estudo avaliou 4.686 adolescentes de ambos os sexos de escolas públicas e privadas do estado de São Paulo, onde os meninos apre-sentaram valores significantemente menores de IMC e IAC quando comparados as meninas. Além disso, os resultados apresentaram uma elevada concordância entre IAC e IMC para ambos os sexos enquanto para o sexo masculino e feminino, os resultados revelaram um certo limite de concor-dância entre os métodos38.

Outro estudo investigou a correlação entre IMC, %GC e estatura com medidas de localização de gordura corporal em uma amostra com 113 adolescentes do sexo feminino de escolas públicas com diferentes níveis de adiposidade. Os resultados mostraram que o aumento de gordura central e periférico foi proporcional ao aumento do IMC e da gordura corporal. As adolescentes eutróficas e com excesso de gordura corporal (grupo 1) apresentaram maior proporção de gordura central comparadas as eutróficas com gordura corporal adequada (grupo 2). Ou seja, mesmo as adoles-centes estando eutróficas pelo IMC apresentam excesso de gordura corporal total, refletido no aumento da gordura corporal centralizada39.

Apesar de ser uma das variáveis antropo-métricas mais utilizadas na avaliação do estado nutricional de grandes populações, o IMC apre-senta muitas limitações com relação ao seu uso, não sendo capaz de fornecer informações sobre a composição corporal e a distribuição da gordura corporal, tornando sua utilização bastante incon-

veniente principalmente quando a população a ser avaliada apresenta um padrão de atividade física mais intenso. Pessoas com uma quantidade de massa muscular elevada podem apresentar elevado IMC mesmo que a gordura corporal não seja excessiva40,41.

Depois do estudo de validação de Bergman et al.13, o IAC passou a ser visto como um mecanismo bom e útil para a avaliação da saúde, podendo substituir o próprio IMC. López et al.42 mostram que o IAC pode ser uma ferramenta muito fide-digna para a mensuração da adiposidade quanto os equipamentos elétricos ou complexos sistemas mecânicos, corroborando com o estudo de John-son et al.34 que relatam que o IAC fornece um melhor indicador da adiposidade do que o IMC.

CONCLUSÃO

De acordo com os achados do presente estu-do pode-se perceber que a quantidade de gordura corporal dos adolescentes analisados encontra-se fora dos padrões considerados normais, prevale-cendo com mais evidência entre as meninas e com todos os adolescentes independente da instituição de ensino. Assim, para evitar maiores problemas de saúde na idade adulta, os adolescentes devem ser conscientizados sobre essa realidade através de programas de promoção da saúde, que visem à aquisição de hábitos alimentares saudáveis e práticas de atividades físicas regulares.

Com relação aos métodos utilizados, nota-se que o IMC realizado isoladamente pode não ser um método de total segurança para identificar o verdadeiro estado nutricional do indivíduo. As-sim, além de ser de fácil aplicação e baixo custo para verificar a composição corporal, o IAC pode ser uma alternativa mais segura quando se trata de grandes populações, se apresentando como método mais fiel na investigação superando os limites encontrados no IMC, apesar da necessi-dade de mais estudos que demonstrem essa sua maior eficiência.

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