Bioarquitetura Na Área Urbana - Thiago Delgado Petillo

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    1/144

    UNIVERSIDADE DA CIDADE DE SO PAULO

    PS-GRADUAO EM CONSTRUES SUSTENTVEIS

    CAPA

    THIAGO DELGADO PETILLO

    BIOARQUITETURA NA REA URBANA

    CAMPO GRANDE

    MS2014

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    2/144

    THIAGO DELGADO PETILLO

    FOLHA DE ROSTO

    BIOARQUITETURA NA REA URBANA

    Monografia apresentada ao MBA emConstrues Sustentveis, Universidade daCidade de So Paulo, como requisito parcial paraobteno do ttulo de Especialista.

    CAMPO GRANDE MS

    2014

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    3/144

    THIAGO DELGADO PETILLO

    BIOARQUITETURA NA REA URBANA

    Monografia apresentada na concluso do MBAem Construes Sustentveis, Universidade daCidade de So Paulo, como requisito parcial paraobteno do ttulo de Especialista.

    rea de concentrao:

    Data da defesa:

    Resultado:______________________

    BANCA EXAMINADORA:

    Prof. Me. Antnio Macedo FilhoUniversidade Cidade de So Paulo ______________________________________

    Prof. Esp. Marcos CasadoUniversidade Cidade de So Paulo ______________________________________

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    4/144

    DEDICATRIA

    Dedico este trabalho minha esposa e

    companheira de todas as horas, Vanessa

    Quadros Cardoso, que sempre me ajuda e me

    apoia em todas as situaes de minha vida.

    Dedico tambm aos meus filhos, Joo Luca e

    Miguel, que tiveram que suportar minha

    ausncia e privaes em diversos momentos,

    para que este trabalho fosse realizado.

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    5/144

    AGRADECIMENTOS

    Neste momento uma imensa gratido e satisfao brotam de meu interior. Muitosso os que proporcionaram a possibilidade e deram a oportunidade para que este trabalho

    fosse realizado. Uns contriburam com palavras, discusses e reflexes acerca do tema, outros

    com a indicao de bibliografias, com a amizade, carinho, compreenso, pacincia e apoio. A

    prpria existncia me presenteou com circunstancias que me possibilitando participar desta

    especializao me proporcionando ter um olhar inquieto e profundo em relao vida,

    contribuindo para a concretizao desse sonho. A todos que me acompanharam nessa jornada,

    nesse caminho, deixando um pouquinho de si registrado nas linhas que se seguem, muitoobrigado.

    Em especial agradeo, a minha me por ter dado tudo que esteve ao seu alcance

    para que eu fosse melhor.

    Agradeo imensa e profundamente minha esposa e companheira Vanessa, por

    acumular muitas das minhas responsabilidades em suas mos, pelas privaes e pelas

    dificuldades enfrentadas nestes ltimos tempos me retribuindo, nesta fase de nossas vidas,

    com muita compreenso e pacincia. Seu precioso e incansvel apoio foi fundamental para arealizao deste trabalho.

    Aos meus filhos Joo Luca e Miguel pelas demonstraes de carinho, afeto e

    espontaneidade requisitando minha presena atravs de seus abraos e sorrisos calorosos em

    meio s turbulncias de nossa vida cotidiana. Agradeo por existirem, me estimulando a

    buscar, persistir e completar todas as etapas desse trabalho.

    A meu amigo Jlio por seu companheirismo e disponibilidade em me representar

    em atividades de minha responsabilidade e s quais me ausentei para concluir esta fase demeus estudos. Tambm minha tia e amiga Ercy por me apoiar incondicionalmente em vrias

    etapas de minha vida, e pela ajuda inestimvel na reviso e finalizao deste.

    Aos colegas da Ps-Graduao pela convivncia e apoio mtuos, e a todos os

    professores que lecionaram, sem exceo alguma, pois cada um deles contribuiu para a minha

    formao me fazendo acreditar em um mundo melhor atravs da arquitetura; e ao INBEC e a

    todos seus colaboradores pela possibilidade de concesso da Bolsa de estudos atravs da

    indicao de colegas para fazer o curso. Sem isso provavelmente no seria possvel minhaparticipao no mesmo.

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    6/144

    EPGRAFE

    A sociedade em que vivemos nos impe

    algumas questes que no podem mais ser

    negligenciadas, a fim de que a cincia no

    cometa o maior dos pecados: produzir o

    avano tecnolgico, mas no disp-lo

    melhoria da qualidade de vida em todos os

    seus aspectos.

    Vera Lcia dos Santos

    No sinal de sade estar bem adaptado a

    uma sociedade doente.

    A verdade no pode ser trazida para baixo;

    o individuo que deve fazer o esforo de

    ascender at ela.Jiddu Krishnamurti

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    7/144

    RESUMO

    O objetivo do trabalho analisar conceitualmente as caractersticas e importncia de se adotar

    os princpios da bioarquitetura e do bioclimatismo. Para alcanar o referido objetivo, optou-sepela pesquisa bibliogrfica exploratria de um conjunto de dados e temas das mais diversasreas do conhecimento, concatenando pensamentos, pesquisas e referncias para um estudoabrangente. Ultimamente o termo construo sustentvel tem sido bastante difundido comosoluo para acabar com a degradao do meio ambiente e isso, sem sombra de dvidas, umsinal bastante favorvel. Aponta, entre outras coisas, reviso de valores e atitudes por parteda sociedade, especialmente da classe aristocrata, sobre a relao entre o homem e o meio.

    Neste ponto, relembrar o surgimento das cidades e seu desenvolvimento salientando os ideaisdo homem foram essenciais para compreender a urbanizao desordenada e o estilo de vidainsustentvel da sociedade moderna, elencando valores perdidos, ignorados ou malcompreendidos, avaliando se o que praticado em relao sustentabilidade seria um

    aperfeioamento, um ajuste, ou um desejo ntimo de negao, de superao dos equvocospraticados em nome do desenvolvimento. Entendendo estes preceitos, a bioarquitetura abordada no s pela profundidade e a multidisciplinaridade que alcana, mas pelos princpiose objetivos fundamentais que visam primordialmente o equilbrio, a restaurao e a valorizaoda vida de forma ntegra, a conscincia, a independncia do indivduo e a construo devnculos com a natureza e com os seres que subsistem nela, propondo alguns mtodoscomumente difundidos pelo desenvolvimento sustentvel e outros ainda emergentespara aconstruo de ambientes urbanos amplamente mais saudveis a todos, e no somente aos sereshumanos. Conclui-se pretendendo contribuir para ampliao do campo do conhecimento e paraa reflexo dos processos de formulao e execuo de planos e projetos que interfiram no meionatural, extraindo desta maneira, solues e diretrizes relevantes passveis de aplicao demodo que o meio urbano se reconcilie com a natureza.

    Palavras-chave: bioarquitetura, cidade, rea urbana, sustentabi lidade , natureza,vida, conscincia.

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    8/144

    ABSTRACT / RESUMEN

    The objective is conceptually analyze the characteristics and importance of adopting the

    principles of bioarchitecture and bioclimatism. In pursuit of this goal, we opted for thebibliographical research of a set of data and issues from various fields of knowledge,concatenating thoughts, research and referrals to a comprehensive study. Lately sustainableconstruction term has been widespread as a solution to stop the degradation of the environmentand that, without a doubt, is a very favorable sign. Points out, among other things, the revisionof values and attitudes by society, especially the aristocratic class, on the relationship betweenman and the environment. At this point, recall the appearance of cities and their developmentemphasizing the ideals of man were essential to understand the unplanned urbanization andlifestyle unsustainable of modern society, listing values lost, ignored or misunderstood byassessing whether what is practiced in relation to sustainability would be an improvement, anadjustment or an intimate desire to denial, to overcome the mistakes committed in the name of

    development. Understanding these precepts, the bioarchitecture is addressed not only by thedepth and multidisciplinary reaching, but the fundamental principles and objectives that

    primarily aim to balance, restoration and enhancement full form of life, consciousness, theindividual independence and the building links with nature and the beings that exist in it,

    proposing some methods commonly disseminated by sustainable development and others stillemerging to build widely healthier urban environments for all, not only to humans. Theconclusion is intending to contribute to expanding the field of knowledge and reflection of theformulation and implementation of plans and projects that interfere with the naturalenvironment, drawing in this way, solutions and relevant guidelines could be applied so thatthe urban environment be reconciled with nature.

    Keyword/ Resumen: bioarchitecture, city, urban area, sustainability, nature, life,consciousness.

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    9/144

    SUMRIO

    1. INTRODUO _______________________________________________________ 100

    1.1 - Objetivo _____________________________________________________________ 121.1.1 - Geral ______________________________________________________________ 121.1.2 - Especf ico __________________________________________________________ 121.2 - Justificativa __________________________________________________________ 131.3 - Metodologia _________________________________________________________ 14

    2. SOCIEDADE MODERNA________________________________________________ 15

    2.1 - Surgimento das Cidades________________________________________________ 152.2 - A Insustentvel Utopia do Desenvolvimento Moderno_______________________ 28

    3. CONSTRUO CIVIL E A ARQUITETURA _______________________________ 36

    3.1 - Indstria da Construo Civil ___________________________________________ 363.2 - A Arquitetura e suas tendncias _________________________________________ 37

    4. BIOARQUITETURA NA REA URBANA _________________________________ 47

    4.1 - Bioconscincia, arquitetura alm da forma fsica _________________________ 474.2 - Bioarquitetura na rea urbana __________________________________________ 594.3 - Metodologia para implantao da bioarquitetura na rea urbana _____________ 804.3.1 -Escolha da localizao e aval iao do meio ambiental ______________________ 814.3.2 -Gesto da energi a (estudo e avaliao de tcnicas passivas voltadas para a aplicaodos pr incpios biocl imticos)_________________________________________________ 824.3.3 -Formas harmoniosas e a relao da construo com meio ambiente (f ormasharmnicas, integrao com a paisagem, arqui tetura local etc.).____________________ 844.3.4 -Escolha i ntegrada dos sistemas e materiais de construo ___________________ 934.3.5 -Sistemas construti vos e canteiros de obras de baixo impacto__________________ 954.3.6 -Gesto dos resduos de at ividades _______________________________________ 984.3.7 -Conservao e manuteno___________________________________________ 1004.3.8 -Confor to higrotrmi co (calefao, cl imati zao, isolamento e etc.) .___________ 1014.3.9 -Conforto acstico ___________________________________________________ 104

    4.3.10 -Conforto visual ____________________________________________________ 1064.3.11 -Conforto Olf ativo __________________________________________________ 1094.3.12 -Condies Sanitrias e instalaes eltr icas_____________________________ 1114.3.13 -Qual idade do ar ___________________________________________________ 1134.3.14 -Gesto e qual idade da gua __________________________________________ 1174.4 - O despertar ecolgico (Bioconscincia)___________________________________ 123

    5. CONCLUSO _________________________________________________________ 136

    REFERNCIAS _________________________________________________________ 138

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    10/144

    I

    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 - Venus de Willendorf vista de frente ........................................................................ 16

    Figura 2 - Planta de Mileto (sc. V a.C.) .................................................................................. 19Figura 3 - Desenvolvimento Sustentvel (Trip da Sustentabilidade) ..................................... 41

    Figura 4 - Trnsito na ndia ...................................................................................................... 53

    Figura 5 - Sand Babel (Proposta de construo de edifcio no deserto impresso em 3Dutilizando a areia local)............................................................................................................. 61

    Figura 6 - Comendo lixo ........................................................................................................... 61

    Figura 7 - Casa de lixo .............................................................................................................. 62

    Figura 8 - Cidade x Natureza .................................................................................................... 65

    Figura 9 - The City Blue-Green Garden ................................................................................... 66Figura10 - The City Blue-Green Garden .................................................................................. 67

    Figura 11 - Parque Wetland ...................................................................................................... 68

    Figura 12 - Parque Wetland ...................................................................................................... 69

    Figura 13 - Lyce Jean Moulin em Revin na Frana ................................................................ 70

    Figura 14 - Pirmide ecolgica de biomassa para compreenso dos ecossistemas .................. 71

    Figura 15 - Representao de uma Teia Alimentar .................................................................. 72

    Figura 16 - A Mensagem da gua............................................................................................ 77

    Figura 17 - Couves em campo com a utilizao da magnetocultura com rendimento trs vezesmaior ao das tcnicas convencionais ........................................................................................ 78

    LISTA DE TABELAS

    Grfico 1 - Demanda de Consumo X Capacidade de Regenerao do Ecossistema ............... 33

    Grfico 2 - Demanda de Recursos e Servios x Ecossistema................................................... 34

    Grfico 3 - Mercado da Construo Sustentvel ...................................................................... 43

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Principais tendncias socioeconmicas .................................................................. 31

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    11/144

    10

    1. INTRODUO

    A sociedade moderna vive momentos de aflio impulsionada pela ideologia do Ter

    para Ser e por um mecanicismo inumano que v a vida como um objeto a mais para

    satisfazer suas ambies materialistas desenfreadas, parece possuir um ideal que no contribui,

    absolutamente, nem para a felicidade, nem para o significado da vida(SANTOS, 2005, p. 1).

    O emprego bastante generalizado da expresso desenvolvimento sustentvel

    constitui, sem dvida, um sinal bastante auspicioso. Indica, entre outras coisas, a extenso da

    tomada de conscincia sobre a problemtica dos limites naturais. Comea a penetrar a ideia de

    que no se deve perseguir o desenvolvimento tout court, mas que ele deve ser qualificado:

    precisa ser ecologicamente sustentvel (VEIGA, 1993, p. 149-169).Por mais vontade que se tenha de compartilhar uma atitude to confiante, necessrio

    que algumas questes sejam abordadas, aqui, com o inevitvel pessimismo da razo,

    principalmente porque a maioria dos partidrios do otimismo transmitido [...] parecem

    enxergar os problemas ambientais como meros defeitos na alocao de recursos que poderiam

    ser corrigidos atravs de taxaes especficas. Acreditam que, uma vez restabelecida a

    igualdade entre os custos privados da firma e os custos que sua atividade inflige sociedade,

    voltaria a haver coincidncia entre o timo individual e o timo coletivo. Assim, a procura dolucro continuaria a ser a melhor alavanca do bem estar social e a lgica do mercado

    permaneceria s e salva (VEIGA, 1993, p. 149-169).

    H muito que questionar sobre esse pressuposto, sobretudo quando este colocado em

    um altar e adorado como princpio absoluto e supremo, assim como tambm sobre o que

    ensinado como primordial na vida, a razo da existncia, princpio fundamental

    indiscutivelmente inseparvel de qualquer apontamento ou colocao dentro do campo

    prtico-cientfico.A vida a essncia do ser, e, se no a nica, uma das principais razes de ser o que se

    , por esta estar incontestavelmente presente em cada forma animada que tenha recebido o

    sopro de vida, portanto, no se pode jamais separar qualquer aspecto envolvente nesta das

    intervenes humanas independentemente do quo profundo eles cheguem, pois assim como

    uma vrgula pode alterar o contexto de uma frase de forma negativa, um aspecto ignorado ou

    culturalmente considerado irrelevante pode ser catastrfico para o equilbrio natural da vida.

    Diante do exposto, olhar nas entrelinhas do passado e do presente atravs de uma

    perspectiva mais ampla e profunda se livrando de dogmas cientficos ou religiosos crucial

    para a tomada de decises mais precisas e adequadas diante dos momentos angustiosos e

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    12/144

    11

    alarmantes vividos, muitas vezes, provocado por atitudes equivocadas que colocam em risco a

    vida presente no planeta terra. Estas atitudes no prejudicam somente os aspectos fsicos do

    planeta, prejudicam tambm o homem, provocando neste, doenas e distrbios psquicos que

    se dissipam por toda a sociedade atravs dos indivduos que a compem, formando assim uma

    sociedade doente e desequilibrada. por esse e por outros motivos que este trabalho aborda a

    bioarquitetura como uma soluo urbana necessria para restaurar o equilbrio natural da vida

    perdido, ou seja, a arquitetura que trata a vida em todos seus aspectos como um princpio

    fundamental indivisvel do partido arquitetnico e de suas repercusses construtivas.

    Analisar a evoluo da sociedade moderna e sua relao com o meio, atravs da

    histria, ajuda a compreender as crises vivenciadas nos dias atuais entendendo-as mais

    profundamente a partir do prisma das cidades, isto contribui para identificar fatores culturaisprecedentes e determinantes ao desequilbrio. Seja com uma abordagem material ou imaterial,

    todos procuram entender os avanos alcanados e os novos rumos a serem tomados

    (SANTOS, 2005, p. 1).

    Para que a sociedade possa retomar as rdeas de sua existncia atravs de uma tica

    profunda que envolva todos os seres, necessrio que tome conscincia do que se , do que se

    est fazendo e de onde se encontra com o objetivo de saber o que precisa ser de fato, ou seja,

    unir o conhecimento objetivo prtica objetiva longe de fantasias, dogmas e teorias que nadaresolvem e tudo complicam. preciso estar consciente, atento e desperto, estando sempre

    aberto ao potencial existente no novo, despojado dos apegos e dos ideais meramente

    reformadores que buscam remendar seus trapos continuando muitas vezes com sua velha,

    desajustada e inadequada roupagem.

    Ao longo do desenvolvimento social, cientfico e tecnolgico, nunca se debateu tantosobre a necessidade de novas formas de desenvolvimento. Conceitos como

    sustentabilidade, biodiversidade, comunidades locais, tomam posio de destaque naspautas de reunies, quer sejam cientficas, quer sejam de governos e instituies.Qual o motivo? Um deles evidente: vivemos em um momento paradoxal. Graas aoavano cientfico e tecnolgico nunca, em sua histria, a sociedade disps de tantosmeios para alcanar seus fins, ou seja, teoricamente possui condies para estarrealizada quando o assunto acmulo de bens, o aumento do PIB, da renda per capitae o controle sobre os diversos acontecimentos, inclusive os de ordem fsico-ambiental, como, por exemplo, prever furaces, terremotos e outros cataclismos que

    podem assolar vidas humanas. ( (SANTOS, 2005, p. 19).

    A cincia hoje j possui um vasto conhecimento com capacidade comprobatria que

    pode abarcar inmeros campos do conhecimento com uma unidade multidisciplinar intrnseca,

    podendo explorar a rvore do conhecimento desde as razes s folhas, desde suas propriedades

    fsicas s suas propriedades metafsicas empregando-as a favor da vida a partir de

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    13/144

    12

    determinadas reas do conhecimento como o da arquitetura. Com estes avanos e com uma

    viso mais profunda, refinada e humanista sobre o homem, seus recnditos tambm passam a

    ser explorados a fim de despertar seus valores ticos inerentes mais sublimes, incluindo a

    construo de vnculos com a natureza atravs das mltiplas reas do conhecimento, abarcando

    em seu contexto a organizao espacial do meio onde este vive. Com o passar do tempo novas

    pesquisas e significativas descobertas so apresentadas trazendo grandes contribuies que

    demonstram a importncia acerca deste assunto para o avano da arquitetura.

    Este trabalho se desenvolve em trs captulos. a) No primeiro explana-se sobre a

    trajetria humana do mundo natural at os dias atuais enfatizando em determinados momentos

    as consequncias de suas crenas e ideologias no processo de construo do habitat e cidades;

    b) segundo, so expostas as implicaes e repercusses da construo civil no meio ambientede forma mais especfica, e posteriormente, os conceitos arquitetnicos mais atuais com suas

    tendncias e repostas para a situao atual; c) no terceiro so abordados temas relevantes que

    devem ser considerados para aplicao da bioarquitetura dentro dos espaos urbanos com

    alguns apontamentos explanados pelo conceito de arquitetura sustentvel atual e outros

    conceitos importantes ignorados pela ideologia moderna predominante.

    1.1 - Objetivo

    1.1.1 - Geral

    Propor conceitos e prticas que visem a restaurao, a regenerao e a inverso do

    impacto ambiental gerado pelo homem, buscando propostas que promovam a reconexo ou

    religao deste e da cidade de forma harmoniosa atravs de diversas reas do conhecimento

    com nfase na sustentabilidade, no aumento da qualidade de vida, na ampliao da conscinciado individuo incentivando uma arquitetura passiva, que nasa do meio ambiente natural

    respeitando a vida em todas as formas e expresses possveis.

    1.1.2 -Especficos

    Propor aplicao da bioarquitetura neste contexto como uma forma de atender no s s

    necessidades humanas, mas tambm as necessidades da natureza como um todo de maneira

    mais harmoniosa e integra, ressaltando a importncia de se respeitar e zelar pela vida em

    todos os desdobramentos possveis;

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    14/144

    13

    Contribuir para ampliar o campo de conhecimento e a reflexo do processo de formulao e

    implementao de planos e projetos visando reconciliao e a reconexo do homem e do

    meio urbano com meio natural atravs de medidas que preservem e restaurem o meio

    ambiente, do macro ao micro de maneira multidisciplinar e multidimensional;

    Apresentar ideias e conceitos que visem a transformao das relaes entre o homem e a

    natureza devido urgncia da mudana de postura requisitada pelas circunstncias atuais,

    ressaltando a necessidade da inverso do impacto ambiental ao invs de s o reduzir.

    1.2 - Justificativa

    A crise ambiental instalada no planeta demonstrada de maneira assustadora pela perda

    massiva da biodiversidade e dos recursos naturais alm de sua capacidade de regenerao

    promovida principalmente pelo modo de vida do homem, tm exigido deste uma drstica

    mudana de postura e reviso de valores para que se possa garantir at mesmo sua prpria

    subsistncia. Tal reviso, nas circunstncias atuais, podem exigir, inclusive, uma profunda

    reflexo sobre a arquitetura denominada sustentvel com o seu famoso e usual trip

    (econmico, social e ambiental) absorvido e sua sugerida tecnologia que pode no chegar aos

    confins do planeta para atender s populaes que mais precisam, por no interessar aoinvestidor particular explorar reas que no possibilitam um retorno financeiro.

    V-se que parte da tica com a natureza vem se perdendo e parte dos ideais e interesses

    do homem em preservar o meio ainda seguem fortes impulsos econmicos que enxergam a

    natureza como um mero produto a ser utilizado para satisfazer os insaciveis prazeres

    humanos. Neste ponto, vem em memria a civilizao pr-histrica e as demais subsequentes

    que enxergavam a natureza como me, como deusa, como geradora de vida, no qual suas

    crenas foram fortemente lembradas na modernidade levando em conta os fatores externos desua cultura, no qual fica marcado tambm o atraso tecnolgico.

    Excluindo a defesa de uma viso retrograda e dogmtica, buscando extrair a essncia

    dos contextos apresentados, a bioarquitetura surge como uma forma e uma palavra

    etimologicamente profunda que acolhe diversos campos do conhecimento de forma

    multidimensional, capaz de trazer resultados e repostas mais eficazes aos problemas da

    degenerao e degradao da natureza como um todo. A inteno demonstrar os benefcios

    da bioarquitetura para o homem, para sua a qualidade de vida e para a natureza, quando este

    mantinha uma relao mais prxima com a mesma, atestando que os impactos ambientais,

    sociais e os custos das construes tambm podero ser bastante reduzidos com sua aplicao.

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    15/144

    14

    Dessa forma, sero apresentados conceitos, definies e ferramentas necessrios para a

    aplicao desse modelo de construo nas reas urbanas, revelando tambm a importncia de

    se resgatar o contato do homem com a natureza quase inexistente nesses locais.

    1.3 - Metodologia

    Pesquisa bibliogrfica descritiva e analtica, visando a compreenso das variveis e

    fenmenos que envolvem o tema, verificando mtodos e dados, utilizando os conceitos e

    abordagens mais adequados com o intuito de apontar solues e diretrizes relacionadas

    proposta do trabalho. Para alcanar esses propsitos, algumas etapas sero percorridas, a

    saber: Reconhecimento da matria objeto de estudo, com a seleo e leitura de reconhecimento e

    seletiva de livros, artigos, revistas na rea da arquitetura, bioarquitetura, sustentabilidade,

    como tambm consultas Internet;

    Leitura crtica e interpretativa, com fichamento do material bibliogrfico e documental

    encontrado;

    Problematizao e redao do texto com citao das fontes pesquisadas;

    Fazer apontamentos sobre importncia da autossuficincia, do resgate do convvio com anatureza (qualidade de vida, convvio social e integrao), do resgate e aprimoramento das

    tcnicas construtivas locais, do melhor aproveitamento dos recursos naturais (tcnicas

    passivas etc.) e reuso, do incentivo ao uso de energias renovveis de baixo impacto

    ambiental, da independncia do homem em relao ao sistema econmico vigente, do

    aumento da biodiversidade e recuperao dos ecossistemas, da produo local de materiais

    e de alimentos de baixo custo, da ampliao da conscincia, do despertar ecolgico e

    demais consideraes visando a convivncia pacfica entre o homem e a natureza.

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    16/144

    15

    2. SOCIEDADE MODERNA

    2.1 - Surgimento das Cidades

    A volta ao passado essencial para compreenso da cidade nos dias atuais, fazendo dos

    fragmentos deixados ao longo da histria peas fundamentais para apontar possveis acertos e

    equvocos na evoluo poltica, social, econmica e cultural do homem na formao urbana

    presente e futura.

    Durante a era glacial, Perodo Paleoltico (5.000.000 a.C. a 8.000 a.C.), as baixas

    temperaturas da terra obrigavam os grupos humanos a viverem em abrigos improvisados em

    cavernas e vos de pedra. Devido escassez de alimentos, falta de tcnicas de criao deanimais e de cultivos agrcolas, os homindeos restringiram suas atividades de subsistncia

    caa, pesca e coleta de frutos, conduzindo-os a deslocamentos constantes e, por vezes,

    construo de moradias rsticas feitas com peles de animais, rochas e gravetos, trazendo nesta

    poca uma das mais significativas descobertas: o domnio sobre o fogo.

    Para abater animais de grande porte, e garantir a sobrevivncia da espcie, os homens

    organizaram-se em grupos, estabelecendo laos de cooperao e solidariedade entre si,

    desenvolvendo com o passar do tempo invenes de diversas armadilhas para a captura dessesseres. A permanncia dentro das cavernas passou a ser mais constante, permitindo condies

    favorveis para o desenvolvimento de produes artsticas, que deixaram vestgios, como as

    conhecidas pinturas rupestres, estampadas nas rochas dessas grutas.

    Nessa poca, pareceu existir no ser humano um instinto de procura da divindade, assim

    como uma obra de arte no assinada parece estar, eternamente, procura de seu realizador.

    Alguns historiadores afirmam que nesse perodo comea o despertar da sobrenaturalidade no

    homem, dando origem religio primitiva baseada no culto mulher (figura 1), aos princpiosfemininos de uma forma mais abstrata, geralmente sem uma definio facial, enaltecendo

    caractersticas maternas como ventre e vulva volumosos, evidenciando a capacidade de gestar

    e gerar a vida, denotando a fertilidade, alm de seios fartos, interpretados como smbolo da

    amamentao. importante ressaltar que a natureza conhecida em nosso planeta

    independentemente de sua complexidade e multiplicidade, muitas vezes desconhecida, possui

    caractersticas imutveis, atributos que no se alteram em qualquer regio, clima ou bioma em

    que se encontre, que a capacidade de ser engendrada, de gestar, de gerar e de alimentar a sua

    prole. O contato direto e permanente com a natureza possibilitou a esse homem situar-se e

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    17/144

    16

    reconhecer essa me natureza adorando-a como uma grande provedora, indispensvel para

    sua prpria subsistncia.

    Figura 1 - Venus de Willendorf vista de frente

    Fonte: Matthias Kabel

    O Mestre e Doutor em Teologia e Psicologia Educacional, Merval Rosa (ROSA, 1979,

    p. 43), cita o termo Mana a esta forma de crena, uma palavra polinsia que significa fora

    vaga, impessoal e mecnica que controla os destinos do universo. Sinalizando similaridadedesta expresso como um princpio bsico e universal adotado por todas as culturas conhecidas

    que expressam uma forma de comportamento religioso.

    De acordo com Rainer Sousa (SOUSA, s/ data), Mestre em Histria, o perodo

    Paleoltico a parcela de tempo que compreende desde as origens do homem at 8.000 a.C.

    Dentro desse perodo ainda existem duas subdivises: o Paleoltico Inferior (5.000.000

    30.000 a.C.) e o Paleoltico Superior (30.000 8.000 a.C.). Em ambos os perodos, a falta de

    uma ampla documentao dificulta a obteno de informaes mais especficas sobre osprimeiros grupos humanos que ocuparam o globo terrestre.

    No Perodo Mesoltico (10.000 a.C.), a temperatura em algumas partes do planeta ficou

    mais amena e o homem passou a se instalar perto de rios com habitaes feitas de madeira,

    fibras vegetais, barro e pedra, se alimentando de peixes, moluscos e ovos de pssaros.

    O avano constante destes grupos possibilitou ao homem o desenvolvimento da

    agricultura e a domesticao de animais com tcnicas rudimentares que serviam como

    complementao da alimentao, permitindo cada vez mais um modo de vida sedentrio quedeixa como legado a condio necessria para o surgimento dos primeiros aldeamentos.

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    18/144

    17

    A ultima era pr-histrica, chamada Perodo Neoltico (de 8.000 a.C. at 4.000 a.C.) foi

    marcada pelo aumento populacional, a consolidao dos primeiros aldeamentos, formados

    prximos a terras frteis e ao longo de rios, quando se estabeleceram melhores oportunidades

    de sobrevivncia aos indivduos atravs da compreenso dos processos de germinao das

    plantas, cultivo, fecundidade e alimentao, onde o homem deixa de ser somente coletor para

    passar a ser produtor.

    Deste perodo em diante, as sedentarizaes (fixao em um s lugar) formadas pelas

    aldeias comearam a introduzir a noo de territrio, de propriedade coletiva do solo e do

    sentido de solidariedade criado pela vizinhana.

    Os aldeamentos surgidos neste perodo geraram as circunstncias necessrias para a

    origem das primeiras cidades e os excedentes alimentcios produzidos, possibilitaram oaparecimento de aglomerados fora das reas de produo, contribuindo para o

    desenvolvimento da comunicao e a interdependncia entre os grupos, surgindo a diviso do

    trabalho e a diferenciao social.

    A semelhana entre os aldeamentos e as primeiras cidades to prxima que

    necessrio distingui-las fora das zonas produtivas geradas pelo acmulo de produo que

    garantiram o sustento e a estabilidade das classes sociais voltadas administrao e defesa.

    Essa etapa marcada pelo adensamento populacional, aperfeioamento dos processos, divisesespaciais e separaes das produes sociais entre agricultores e pastores, destacando-se o

    avano no desenvolvimento do artesanato e de utenslios, que possibilitaram a criao de novas

    tcnicas de construes habitacionais, transporte e trabalho atravs da fora animal, produo

    de cermicas, tecelagem e etc.

    A gerao dos excedentes de produo e o aprimoramento do transporte ensejaram o

    nascimento do comrcio atravs da troca de produtos alimentcios e utenslios com outros

    aglomerados, que com o aumento populacional e a multiplicidade produtiva deram prviosindcios de uma ciso social de classes juntamente com a de ofcios especializados. Por vezes

    aconteciam disputas e guerras por melhores territrios para a produo, sendo criadas

    fortificaes, instrumentos para o corte de pedras e armas mais aprimoradas que, inclusive,

    serviriam para defesa ou ataque.

    importante ressaltar que para implantao dos aglomerados nessa poca no era

    levada somente em considerao as caractersticas fsicas locais, como por exemplo, a

    fertilidade da terra, mas tambm fatores religiosos e sagrados.

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    19/144

    18

    Em Catal Huyuk, um grande assentamento neoltico na Anatlia, Turquia, a deusame apresentava tambm feies jovem, gerando filho ou um touro, uma anciacompanhada por uma ave de rapina. As divindades masculinas j aparecem demaneira coadjuvante com aspectos de adulto com barba as vezes montado sobre otouro ou um de adolescente filho ou amante da deusa. (BEZERRA, 2011)

    Os cultos Deusa Terra-Me, natureza, aos astros, fertilidade ganharam maiores

    propores e o surgimento de metais, a partir do cobre (8.000 a.C.), possibilitou o

    desenvolvimento, em sua fase inicial, das primeiras construes em pedras com estruturas

    megalticas caracterizadas por menires (colunas rudimentares) cilndricos ou cnicos

    associados forma flica, persistindo na ideia da manifestao de um ritual ligado vitalidade

    e fertilidade da terra. Com os dlmens ou antas (construes rudimentares), se faziam

    sepultamentos e cultos ligados morte, podendo formar os cromeleques (agrupamentos demenires ou dlmens) dispostos alinhados, ou em crculo, sinalizando a ideia de lugares

    sagrados, ou lugar de culto, tambm relacionados com estudos astronmicos ou fenmenos

    celestes.

    Nesta poca os materiais mais utilizados nas habitaes estavam In-natura, ou seja,

    disponveis no meio ambiente de maneira natural, e dentre alguns deles esto as pedras que

    foram talhadas com ferramentas de metais, a madeira, as fibras vegetais, as peles e a gordura

    dos animais, assim como o barro. Todos esses elementos colaboram ampla e

    consideravelmente em suas construes.

    A institucionalizao das relaes sociais foi sendo formalizada e com ela a

    cristalizao das cidades de forma que assegurassem a transferncia de produtos s mesmas. A

    partir deste momento iniciou-se a Antiguidade, perodo que perdura desde a inveno da

    escrita (de 4.000 a.C. a 3.500 a.C.) at a queda do Imprio Romano do Ocidente (476 d.C.).

    Com maior abrangncia, as cidades desta poca j contavam com grandes estruturas de

    irrigao, de estoque de alimentos, de canais, templos religiosos, que devido a essa

    complexidade demandou a criao de estados, sistemas governamentais para consolidao

    defesa militar, elaborao de leis para regulao das relaes comerciais e prestao de

    servios essenciais. As localizaes das cidades ainda estavam paralelamente ligadas s

    caractersticas naturais, situadas principalmente prximas ao mar, ou ao longo de rios, o que

    colaborou para o desenvolvimento de tcnicas peculiares s caractersticas regionais.

    As religies neste perodo se apresentavam de maneiras distintas, com grande riqueza e

    diversidade cultural, demonstrando em sua maioria ainda repousar sobre os alicerces das

    crenas primitivas da adorao de princpios relacionados ao cosmo, aos astros e natureza,

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    20/144

    19

    revestidas de formas adaptadas s linguagens culturais de cada povo e aos elementos palpveis

    presentes de cada regio.

    As relaes urbanas passaram a se intensificar reunindo uma demanda de consumo

    cada vez maior, repercutindo na coletivizao especializada das tarefas produtivas, destacando-

    se a Mesopotmia, que propagou a urbanizao atravs de suas conquistas territoriais.

    O arranjo das reas de convvio era, em sua maioria, essencialmente moldado visando

    defesa (de cunho militar) e crenas espirituais, colocando em destaque os edifcios com fins

    religiosos.

    A primeira mudana significativa para essa distribuio foi proposta por Hipdamo de

    Mileto (considerado fundador do urbanismo) que considerava o acolhimento dos edifcios por

    meio de um traado urbano que os integrasse aos espaos pblicos atravs da plantahipodmica (figura 2), onde a cidade era definida por linhas paralelas e perpendiculares

    formando uma malha regular.

    Figura 2 - Planta de Mileto (sc. V a.C.)

    Fonte: Revista Lusfona de Arquitetura e Educao

    A densidade populacional conduziu as cidades a novos desafios envolvendo

    saneamento bsico, coleta de lixo e abastecimento de gua, contribuindo para o aparecimentode doenas relacionadas ao manejo inadequado dos restos e dejetos.

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    21/144

    20

    Em algumas cidades ou regies foram desenvolvidos complexos sistemas hidrulicos,

    redes de esgoto, de drenagem, construo de diques, barragens e reservatrios capazes de

    coletar gua da chuva.

    A evoluo desta arquitetura apresentou maior preocupao com os espaos internos,

    funcionalidade e esttica em relao ao perodo neoltico, apresentando avanos nas tcnicas e

    nos materiais principalmente nas edificaes. Verificou-se no Egito (4.000. a.C. A 30 a.C.) a

    utilizao de tijolos no cozidos, l e esteiras de junco, tijolos de lamas com palha e areia,

    secos ao sol, com funes termoclimticas, blocos de pedra, pesando grandes toneladas, com

    encaixes precisos, argamassas areas (compostas por aglomerante areo, cal ou gesso).

    Na Mesopotmia (4.000 a.C. a 300 a.C.) empregaram tijolos de barro seco ao sol

    maleveis e pouco resistentes que mais tarde passaram a ser cozidos; argila com baixo pontode fuso para obter a cermica vidrada, azulejos para revestir fachadas e vestbulos,

    argamassas areas, blocos de pedra para pirmides de faces escalonadas, surgindo a primeira

    industrializao de vidro (foscos por serem moldados sobre a areia), encontrados tambm na

    Sria, Palestina e entre os chineses.

    A Grcia (700 a.C. a 400 a.C.) apresentou a utilizao de adobe para as paredes e

    madeira para as colunas que posteriormente foram substitudas por pedra, coberturas com

    telhas de barro e estruturas em madeira, blocos de pedra precisamente talhadas, justapostos esobrepostos sem aplicao de argamassa. Em alguns lugares verificam-se templos baixos e

    macios, com a utilizao de argamassas areas e tambm do concreto denominado Concreto

    Antigo(5.000 a.C.100 a.C.).

    Os romanos faziam rebanhos de ovelhas pastarem durante longos perodos nosterrenos onde se pensava em fundar uma cidade. Atravs do sacrifcio dos animais,estudavam seu fgado, cujo estado lhes oferecia informaes sobre a qualidade doterreno. Desse modo, decidiam pela implantao definitiva ou o deslocamento a outro

    local mais favorvel. (BUENO, 1995, p. 20)

    Em Roma (200 a.C. a 300 d.C.) somado ao uso habitual da pedra, madeira, barro,

    metais etc. estava uma nova mistura, feita de areia vulcnica, calcrio, e restos de tijolos, o

    que se poderia definir como um tipo de cimento, denominado opus caementicium, que era

    aplicado de forma semelhante ao concreto armado possibilitando construir grandes estruturas,

    como cpulas, sem pilares de sustentao. Inovaram tambm com o uso de um tijolo de alta

    resistncia chamado opus latericium, combinando o uso de mrmores para dar leveza e

    versatilidade s construes, que somados ao cimento viabilizava edificao de obras

    monumentais. Usaram tambm o opus caementicium no interior de pedras e tijolos,

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    22/144

    21

    aprimorando a tcnica de alvenaria em juntas secas, e, alm disso, produziram concreto leve

    com agregados utilizando pedra pomes.

    Na Mesoamrica (1000 a.C. a 900 d.C.) as cidades maias aparentavam em sua maioria

    pouco planejamento, sendo estabelecidas de acordo com a topografia, algumas aproveitam os

    declives e aclives naturais para elevar torres e templos a grandes alturas, enquanto que outras

    se estendiam extensamente ao longo de plancies. Em Teotihuacan o planejamento urbano foi

    mais cuidadoso, organizando-se por zonas e eixos principais que cortavam a cidade com

    arruamentos orientados pelos pontos cardeais em malha ortogonal que cobriam toda a cidade.

    Era dividido por bairros e centros religiosos que absorviam templos e pirmides, palcios e

    edifcios administrativos, no possuindo desenho com caractersticas militares. A populao

    vivia em grandes compostos padronizados de apartamentos multifamiliares, com ptios etemplos no centro, com capacidade para comportar cerca de 60 a 100 pessoas por edifcio,

    totalizando aproximadamente duas mil edificaes. Governantes e aristocratas viviam

    separados da populao por uma muralha e, no centro de algumas cidades, edifcios

    governamentais e religiosos envolviam imensas praas.

    A arquitetura maia acolhia diversos aspectos naturais em sua composio, usavam

    pedras calcrias queimadas e modas para a fabricao de uma espcie de argamassa (espcie

    de cimento), aplicando-a em revestimentos, tetos, janelas e portas, acabamentos, assentamentode pedras, estruturas, regularizao de imperfeies, elaborao de alto-relevo, entalhes e

    dintis em fachadas. Em algumas edificaes usavam estruturas de madeira, paredes de

    adobe, pedra calcria, coberturas de palha e ladrilhos de barro cozidos, provavelmente

    utilizados para contornar a escassez de pedras de boa qualidade, sendo encontrados tambm,

    pisos de mica (material birrefringente com alta resistncia dieltrica) e pavimentao com

    rocha vulcnica tezontle. Pedras eram amplamente utilizadas, desde estruturas a acabamentos,

    sinalizando a extrao nas proximidades locais.Nas construes os aspectos externos eram privilegiados esteticamente, templos eram

    colocados em posio de destaque em cima das pirmides e os palcios eram repletos de

    murais com pinturas relacionadas sua mitologia. Era comum a reconstruo e modificaes

    de estruturas antigas, no sendo encontrados indcios do uso de ferramentas de metal, polias,

    ou veculos com rodas para a execuo dessas e de outras obras.

    As cidades cresciam conectando grandes praas a plataformas dos edifcios, atravs de

    caladas, e ainda que algumas vezes a natureza determinasse seu arranjo, os templos e

    observatrios eram minuciosamente construdos de acordo com a compreenso maia das

    rbitas estelares. Com o desenvolvimento da cidade, as residncias de madeira e palha deram

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    23/144

    22

    lugar a edifcios de pedra, e por no se tratar de uma sociedade militarista, a expanso dos

    territrios se deu pela sbia aplicao do comrcio e da religio.

    No que tange ao fim da Idade Antiga, grande parte dos historiadores toma como

    referncia as civilizaes desenvolvidas na Europa e parte do Oriente lindeiro referindo-se,

    sem um consenso comum, sobre sua periodizao e caractersticas ao fim do Imprio Romano,

    com crises que vo desde as invases inimigas com fragmentao e perda territorial,

    limitao do crescimento em decorrncia da escravatura, e a inocorrncia de conflitos de classe

    entre escravos e possuidores que impedia a criao de novos sistemas produtivos, limitando e

    deteriorando o prprio modo de produo. De um modo geral, neste perodo predominou a

    cidade poltica que administrava, exercia domnio, planejava, defendia, explorando terras,

    camponeses e cidados, chegando a acontecer a gesto de alguns desses centros sem a presenado capitalismo e do trabalho proletariado, dominando dessa maneira, extensas terras sem a

    utilizao de fora fsica ou guerra, baseando-se somente nas trocas puras e no comrcio.

    A Idade Mdia, perodo que se estende do sculo V ao XV, foi marcada pelo declnio

    do Imprio Romano com transformaes econmicas e sociais que mudaram os sistemas de

    posses territoriais e de produo, levando a sociedade a se concentrar nos locais de produo e

    de trocas, mantidas por um sistema monetrio. As extenses territoriais reduzidas, dominadas

    pelos nobres que se apoiavam nestes campos, revelaram um novo sistema socioeconmico epoltico denominado Feudalismo, com propriedades contendo fortalezas e castelos utilizados

    como refugio pela populao que trabalhava como serva para o Senhor Feudal recebendo

    proteo e parte da produo. As reas que envolviam os feudos eram predominantemente

    caracterizadas pela produo agropastoril, autossuficincia econmica e pouca circulao

    monetria.

    Nas construes desta poca as igrejas e catedrais mosteiros eram destacadas, sendo

    disseminadas a partir do sculo X por toda a Europa, com certa rivalidade arquitetnica entreas comunidades, o que impulsionou a construo de edifcios monumentais. Praticamente

    todas as construes e fortalezas utilizaram argamassa, terra, ferro e madeira em sua

    composio construtiva, com ressalva para os monumentos considerados de extrema

    relevncia. Com o passar do tempo a madeira foi substituda pela pedra, demandando o

    transporte desse material aos locais de construo e o uso de mo de obra mais especializada,

    como mestres-obreiros (os arquitetos de fato), que pudessem aproveitar ao mximo todo o

    potencial desse material utilizando tcnicas construtivas mais sofisticadas, que primassem pela

    esttica e sustentabilidade das catedrais.

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    24/144

    23

    Surgiram inmeros estilos apoiados em partidos arquitetnicos produzidos por

    conceitos religiosos sob pontos de vistas diferentes, dentre alguns deles esto a Arquitetura

    Romnica com construes rgidas e robustas, de paredes espessas e janelas acanhadas,

    receosas e preparadas para resistir s investidas inimigas, sendo consideradas verdadeiras

    fortalezas sagradas. Utilizavam para estas construes, materiais como pedras, tijolos,

    argamassas, vidros, madeira etc.

    Nas catedrais da Arquitetura Gtica as abbadas passaram a ser mais elevadas e

    maiores apoiando-se sobre pilastras ou feixes de colunas, ao invs das paredes compactas e

    muros, excluindo a necessidade das paredes muito grossas, abrindo espao para a captao da

    iluminao natural em seu interior com rosceas e vitrais. As abbodas de pedras substituram

    as coberturas de madeira e a utilizao desses materiais passou a se misturar com o metal, quedesempenhou uma funo de extrema importncia nos tirantes. Fizeram uso de argamassas

    areas e reabilitaram o concreto na construo (conhecido por concreto medieval), aplicando-o

    em estruturas e fundaes. Nos edifcios comuns persistiam as tcnicas de construes

    tradicionais.

    A Cristandade expunha a viso de que a vontade humana era submetida vontade

    divina, almejando que o indivduo despertasse esse anelo com divino. Devido a limitaes

    tcnicas dos espaos arquitetnicos nos templos, eram dirigidos ao centro atravs de umaperspectiva que induzia um trajeto, e mais tarde, com a arquitetura gtica, esta perspectiva

    passou a apontar para o alto, induzindo os indivduos a buscaros cus.

    As inovaes tcnicas no sistema fundirio contriburam para gerao de excedentes

    produtivos, que somadas ao rompimento do isolamento dos feudos, atravs das Cruzadas,

    instigou e reascendeu o comercio e a circulao monetria, contribuindo para a sua expanso

    at as cidades, gerando novas oportunidades nesses sistemas urbanos, que passaram a dispor

    das indstrias em seu setor econmico; assim, muitas cidades se tornaram livres das relaesservis que tinham com os nobres, levando o Feudalismo ao declnio.

    A Idade Moderna aconteceu entre os sculos XV at XVIII, produzindo uma nova

    viso de mundo e inmeras transformaes que ainda se apresentam nos dias atuais.

    Diminuram-se as distncias, expandiram-se as cidades, aflorou uma nova classe social

    chamada burguesia, que se aliou monarquia. Desbravaram mares e continentes antes

    desconhecidos, exploraram a natureza de uma nova forma, despertaram o capitalismo, e assim

    os servos se tornaram trabalhadores assalariados. Foram estas, dentre tantas outras, as

    realizaes que definem esse perodo histrico.

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    25/144

    24

    A conquista das Amricas, somadas s novas rotas comerciais que ligavam a Europa

    com a frica e sia propiciou a concentrao de capital necessrio consolidao do

    capitalismo, custando a vida de milhes de seres humanos nativos das Amricas e de africanos

    escravizados. No que diz respeito religio, a hegemonia da igreja catlica foi perdendo fora

    atravs da Reforma Protestante, que condenava a venda de indulgncias pela igreja, o

    rebaixamento moral do clero, e defendia a f e o arrependimento sincero como elementos

    fundamentais para a salvao.

    De acordo com Ross (2005), citado por Magrini (2009, p. 19), a intensificao

    comercial fez surgir a ideologia da concentrao de riquezas atravs do ganho pela troca de

    mercadorias e moedas entre diferentes sociedades humanas, impulsionando a criao de novas

    tcnicas que agilizassem e gerassem maior produo para a comercializao. Este sistema deproduo denominado Capitalismo Industrial, em conjunto com a Reforma Protestante,

    provocou muitas mudanas tecnolgicas, econmicas e sociais. Com a tecnologia na indstria,

    esta passou a produzir com mais agilidade e com menores custos, tirando parcialmente das

    mos dos arteses o controle sobre os processos produtivos, e eles passaram a trabalhar nas

    fabricas financiadas pelos burgueses. No campo, os avanos tecnolgicos reduziram a

    demanda por trabalhos manuais, levando inmeros camponeses a migrarem para as cidades em

    busca de uma melhor oportunidade de vida, o que deu incio a um grande xodo rural,provocando profundos desordenamentos urbanos.

    As construes Renascentistas, inspiradas na antiguidade clssica, (sculos XIV a XVI)

    introduziram novos componentes, inventando diversas mquinas para solucionar as

    dificuldades apresentadas ao longo do caminho. Desenvolveram sistemas estruturais, recursos

    tecnolgicos e tcnicas construtivas, envolvendo a arquitetura e o urbanismo, fazendo uso de

    materiais como a pedra, o ferro, o concreto, a argamassa, as tintas, a madeira, revestimentos de

    pisos em ladrilhos. Esta por sua vez cedeu lugar ao Barroco (XVI a XVIII), caracterizado pelasdimenses monumentais, riqueza das formas, contrastes e excesso de ornamentao, herdando

    as formas de aplicaes dos materiais do perodo anterior com argamassa hidrulica, azulejos,

    vidros de melhor qualidade. Introduziram tambm matria prima regional e de fcil acesso

    com maiores propores.

    Devido ao fcil acesso, feito pelo mar, a Portugal, cidades litorneas do Brasil traziam

    profissionais, plantas, materiais ornamentais, elementos arquitetnicos, pedras cortadas e

    outros. Na regio sul do pas as edificaes so feitas com alvenaria de pedra e barro,

    sustentadas por esteios de madeira, usando pedra-grs, basalto, granito, conforme a

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    26/144

    25

    disponibilidade local. Devido escassez da cal, as pedras foram unidas com argamassa de

    argila comum, ou tabatinga, que tambm servia como revestimento de parede.

    No inicio da Revoluo Industrial, Londres e Paris (as principais cidades da poca)foram profundamente reformadas; o plano Nash em Londres e o de Haussmann emParis tiveram dois objetivos fundamentais: abrir as cidades para a circulao de

    pessoas e mercadorias em volumes sem precedentes at ento e introduzir a higienepara que a populao pudesse viver as altas densidades necessrias indstria detransformao. Tal o caso de Paris que, com sua reforma, d nascimento aourbanismo moderno. (MASCAR, 2010, p. 20)

    Durante a Revoluo Industrial se estabeleceu a transio para novos processos de

    manufatura, que no fim do sculo XVIII e incio do XIX, permitiu a fabricao de novos

    produtos qumicos, a criao de novos processos para a produo de ferro, o desenvolvimentode mquinas a vapor, com a utilizao crescente desta energia, a gerao de energia eficiente

    atravs da gua, a substituio da madeira e de outros combustveis pelo carvo, o surgimento

    das indstrias txteis etc., avanando e alterando os padres tcnicos, econmicos, sociais e

    espaciais da sociedade que experimentou crescimentos sem precedentes e teve influncia em

    quase todos os aspectos da vida cotidiana.

    Na segunda fase desta revoluo (1870 at 1970), mais pases aderiram a este processo,

    aprimorando tcnicas e avanando em novas reas, como a indstria qumica (surgimento dosplsticos), e petroqumica, setores da metalurgia e siderurgia, com processos de fabricao do

    ao, permitindo sua utilizao na construo de pontes, edifcios, mquinas, trilhos,

    ferramentas e outros. Desenvolveram os meios de transporte, criando barcos a vapor, navios,

    avies, automveis, locomotivas. Criaram tcnicas de produo de energia eltrica, inventaram

    a lmpada incandescente, os meios de comunicao (telgrafo, telefone, televiso e cinema) e

    descobriram o uso de antibiticos, vacinas e novas tcnicas de cirurgia para tratamento de

    doenas, sendo essas as principais inovaes desse perodo.

    Nesse perodo, aflorava o neoclassicismo, surgindo novos materiais que possibilitavam

    a substituio parcial da madeira e da pedra na construo, como o concreto simples, armado,

    associado ao ao (barras e cabos), que deram maior resistncia e leveza, permitindo a abertura

    de grandes vos nas edificaes. Pisos e azulejos ainda faziam parte do processo construtivo e

    foram aliados a argamassas com introduo de aditivos, vidro float, o uso de polmeros nas

    instalaes, entre outros. Em meados do sculo XX foi se apresentando a Terceira Revoluo

    Industrial, marcada pelos avanos tecnolgicos e cientficos das indstrias, dos meios de

    transporte, na informtica, telecomunicaes, robtica, automao, produo da energia

    atmica para abastecimento eltrico, armas e equipamentos mdicos. Tais avanos permitiram

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    27/144

    26

    a inveno de novas ligas metlicas no setor metalrgico, o que revolucionaria as tcnicas de

    construes.

    Por volta de 1910 e 1950, os processos foram sendo mudados, e na Arquitetura

    Moderna, e de acordo com Andrade e Afonso (2009, p. 8), o processo construtivo no

    necessariamente est relacionado a modismos, mas a ofertas de novas tecnologias. Os avanos

    se devem utilizao de uma gama muito grande de produtos, segundo as autoras, o que

    propicia o desenvolvimento de outras tcnicas, possibilitando vencer novos desafios. Passaram

    gradativamente a utilizar o concreto protendido, concreto com agregados reciclados, agregados

    leves, concreto de alto desempenho, lajes de concreto armado, estruturas de ao associadas a

    alvenaria, entre outras. A indstria da construo avanou continuamente, aprimorando vidros,

    plsticos, alumnio, tintas com composio polmera, argamassas, revestimentos de pisos eparedes dentre outros, que foram sendo integrados nas construes de maneira intensiva. Nos

    dias atuais se torna um pouco difcil acompanhar o ritmo e os saltos que do as novas

    evolues tecnolgicas e explana-las de maneira satisfatria demanda muita ateno aos

    processos de mudana, mas, dentre algumas, se encontram: a utilizao de nano partculas para

    a construo de estruturas (materiais resultantes da manipulao da matria em escala atmica

    e molecular), que geram inmeras possibilidades como a criao de um material que absorve

    mais de 99,9% de toda a radiao solar que recebe, podendo colocar a gerao de energiaeltrica a patamares elevadssimos; criao de plstico to forte quanto o ao, porm mais leve

    e transparente. So inmeras as invenes e descobertas que definitivamente e influencia a

    arquitetura de todas as maneiras. Um bom exemplo disso so os supercomputadores e robs

    da IBM, capazes de fazer descobertas cientficas; lmpadas de LED que aumentam a

    produtividade das hortalias; biofbrica, que transforma microalgas em operrias, que

    promovem a peletizao (recobrimento) de sementes de plantas nativas do cerrado; a biomassa

    algal, que poder ser utilizada em reflorestamentos, aproveitando melhor a gua da chuva; teletransporte quntico entre luz e matria, tele transporte de tomos com preciso. Essas e outras

    invenes podem auxiliar muito a arquitetura e o urbanismo no perodo atual, em aspectos que

    vo da esttica funcionalidade. Influenciam os fatores econmico, social, ambiental, cultural,

    entre outros. Hoje as instalaes so os centros nervosos das construes, onde, energia

    eltrica, gs combustvel, ar condicionado, cabeamento estruturado, rede hidrossanitria entre

    outras, fazem parte do viver e trabalhar, segundo Andrade e Afonso (2009, p. 8).

    Para Magrini (2009, p. 20) a Revoluo Industrial significou a consolidao e

    mundializao do Capitalismo, sistema socioeconmico hoje dominante no espao mundial. O

    progresso desse sistema provocou imensas concentraes humanas e, consequentemente,

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    28/144

    27

    numerosos problemas ambientais. Uma das principais caractersticas do Capitalismo que esse

    sistema econmico voltado para a produo e o acmulo constante de riquezas.

    Uma das caractersticas das reas metropolitanas correspondentes ao perodo deglobalizao a tendncia sub-urbanizao e/ou periurbanizao a partir dosncleos urbanos originais, em um processo em que a mancha metropolitana seexpande de forma incessante, ocupando as reas rurais que encontra em seucaminho, desbordando os limites urbanos definidos no momento anterior. Estamodalidade de expanso urbana no pode ser considerada como um fenmenointegramente novo, mas como a acentuao de um rasgo inerente urbanizaocapitalista que j tinha comeado a se perfilar no perodo desenvolvista. [...].(MASCAR, 2010, p. 21)

    Para Brumes (2001, p. 53) as funes da cidade esto a cada momento assumindo

    outros rumos.A diminuio das distancias pelos meios de transportes, das telecomunicaes,etc., provocam choques culturais que possibilitam renovar e produzir novos conhecimentos,

    mas que tambm podem gerar grupos socioculturais mais homogneos promovendo o

    enfraquecimento da identidade individual e coletiva, atravs da insero de novos valores,

    como valores de consumo, criando assim uma identidade de consumo. Segundo Luart

    (VIDIGUEIRA, 2006), o prestigio da mdia baseia-se no poder que tem para dominar os

    telespectadores, a quem o entendimento entorpece, mas tambm fascina. Segundo o autor,

    fenmenos tais como a imitao, a sugesto, a impregnao so aspectos a ter em conta

    quando pretendemos estudar a interao entre os meios de comunicao social e as pessoas.

    A mecnica gerada por esses processos hoje unidos s necessidades sociais, culturais e

    econmicas do homem, o levou a uma intensa busca de centros urbanos, dificultando seu

    planejamento, restando ampliao de sua base territorial e multiplicao desses espaos atravs

    da verticalizao das construes. Mascar (2010, p. 21) afirma que esta forma de expanso se

    traduz no uso intensivo de certos produtos associados ao novo paradigma tecnolgico, como

    o transporte automotor, as novas tecnologias associadas informtica, s comunicaes e televiso, que contribuem fortemente para esse fenmeno de fronteiras difusas em contnua

    expanso. Acrescenta tambm que o fascinante espao de encontro, recreao, negociao,

    fluxos e movimento hoje tambm o espao dos sem teto, do comercio ambulante, da

    prostituio, da violncia, da marginalidade e da tristeza, como lgica resultante do mesmo

    processo. Carlos (1992), citado por Brumes (2001, p. 53), tambm certifica que a origem da

    cidade vincula-se existncia de uma ou mais funes urbanas, que podem ser industriais

    comerciais, culturais, entre outras. Ela nasce de uma necessidade humana que deseja organizar

    determinados espaos para se integrar, sendo muitos os autores que vm acompanhando o

    desenvolvimento da cidade como forma e como conceito.

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    29/144

    28

    Segundo Ross (2005), o avano do conhecimento tcnico-cientfico dos sculos XVIII,

    XIX e XX colocou definitivamente os interesses das sociedades humanas de um lado e a

    preservao da natureza de outro. E Magrini (2009) afirma que o ser humano passa a dominar

    a natureza de maneira agressiva para defender seus interesses imediatos (MAGRINI, 2009, p.

    20).

    Brumes (2001, p. 53) diz que a cidade sempre foi analisada tomando-se como

    referncia fatos ocorridos apenas em seu exterior, e por isto as anlises da mesma ficavam

    apenas na aparncia. Elenca que a cidade atual concentra em seu interior uma gama de

    possibilidades, sendo nelas encontradas o capital, a mo de obra, os meios de produo, a

    prpria produo e a populao com seus bens de consumo coletivos ou privados. E por

    concentrar tal grau de possibilidades, funes e complexidades que, em alguns casos, chamam-na de metrpole. Brumes aponta tambm as mudanas do prprio homem e de suas relaes

    como fator de transformao da cidade, produzida atravs do trabalho humano que poder

    mudar a prpria vida, ou seja, a cidade poder passar por um processo de metamorfose quando

    as prprias relaes entre os homens tambm mudarem.

    2.2-A Insustentvel Utopia do Desenvolvimento Moderno

    Talvez tudo comece a partir da Segunda Guerra Mundial, quando inicia-se ofenmeno da globalizao, quando uma das naes se torna uma nao hegemnicano mundo, quando a lngua inglesa vai desbancando todas as outras lnguas para setornar uma lngua universal para todos. O mundo fica cada vez mais globalizado,cada vez mais submetido a expanso de um capitalismo, cada vez mais dentro deuma ordem capitalista que manda consumir, uma vida altamente utilitria e umatirania do mercado. Claramente o que ns assistimos nesse momento. O mercado quem determina, o consumo que determina, a posse, o patrimnio sofundamentais. E aqueles que praticam a clnica, podem diariamente assistir esse tipode fenmeno. (CHALUB, 2005, p. 27)

    O sistema capitalista atual, na maneira como dirigido, implica na fixao de preos a

    tudo que se toca, incluindo as pessoas, e a natureza. O acmulo infindvel de capital que

    favorece o bem privado atravs da produo de mercadorias explora o meio ambiente,

    ignorando a capacidade de regenerao desses recursos. Fora isso, grandes corporaes do

    primeiro mundo implantam indstrias nos pases subdesenvolvidos visando explorar os

    recursos e a mo de obra barata.

    Veiga (1993, p. 5-6) rebate o suposto consenso dos economistas que dizem que a

    melhor maneira de enfrentar a problemtica natural tendo a garantia que o preo de todos osrecursos naturais devam incorporar em sua composio sua escassez de longo prazo, alm dos

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    30/144

    29

    efeitos imediatos provocados por seu uso, levantando dvida sobre virtudes reguladoras dos

    preos para a preservao ambiental feitas por Passet.

    [...]. Qual poderia ser o preo do oznio em rarefao ou o preo de uma funocomo a da regulao trmica do planeta? [...]. Mesmo supondo que tais preostenham algum sentido, no se pode ignorar a irreversibilidade dos processosnaturais. Se esperarmos pela escassez que transformar bens livres e gratuitosem

    bens econmicos, com preos, muito provvel que j seja tarde demais. Poroutro lado, reduzir os desgastes ambientais a simples custos de reposio ou tentarestim-los atravs dos preos que lhes atribuem os indivduos, deixar de lado oessencial, diz Passet. Trata-se de estragos nos mecanismos que asseguram areproduo da biosfera: o fim de uma floresta ou de uma espcie no apenas odesaparecimento de um valor mercantil, mas tambm de determinadas funes emum meio. (VEIGA, 1993, p. 6)

    A sociedade vem sendo bombardeada desde sua formao pela mdia incentivadora do

    consumismo e, dentro deste sistema criado, impregnam culturalmente as pessoas, atravs dos

    meios de comunicao em massa, criando um ciclo de consumo dependente e insustentvel.

    Vieira (2011) diz que o sistema capitalista precisa de pessoas que estejam dispostas a se atirar

    no consumismo para que as fbricas possam continuar crescendo, no bastando atender s

    pessoas que ainda no possuem determinado bem, mas tambm que aqueles que possuam

    produtos em perfeito funcionamento se desfaam dos mesmos por puro modismo, fazendo

    com que as pessoas paream desatualizadas (obsolescncia percebida), o tempo todo, e noparem de comprar. Mas as estratgias de consumo no param por a. Cita tambm a

    obsolescncia programada, ou planejada, como uma estratgia que confunde-se com a histria

    da indstria no sculo XX consistindo em encurtaro ciclo de vida dos produtos visando a

    sua substituio por novos, fazendo girar a roda da sociedade de consumo, ou seja, a

    existncia de uma lgica da descartabilidade programada desde a concepo dos produtos,

    fazendo estes desde sua concepo durarem pouco. J Magrini (2009, p. 24), reafirma dizendo

    que o consumo o motor desse sistema, sendo to importante que virou prioridade para oEstado e as corporaes, com frequentes alteraes na tecnologia que obrigam a comprar

    produtos atualizados. Fala tambm em outros termos sobre a obsolescncia planejada, da

    pouca durabilidade das mercadorias sendo feitas para no diminuir o ritmo de crescimento

    econmico, fazendo automveis, habitaes, roupas e vrios outros produtos possurem

    durao muito menor que as do passado. Magrini cita tambm Annie Leonard, que afirma que

    quase 99% das coisas que percorrem o sistema se tornam lixo em menos de seis meses.

    Todo sistema ecolgico estvel fechado, regenerando os recursos que consome.Com a tecnologia atual, as cidades tem um sistema ecolgico aberto, transferindo

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    31/144

    30

    sua contaminao para um espao fsico muito maior do que ela ocupa. [...].(MASCAR, 2010, p. 21)

    Reconhecendo a finitude e a concepo cclica de todos os recursos naturais, pode se

    afirmar que a explorao linear contnua atualmente baseada na extrao, produo,

    distribuio, consumo e tratamento de lixo, romper a capacidade de regenerao destas

    cadeias ecossistmicas desencadeando muitas vezes em perdas irreversveis que no ficam

    somente limitadas s fronteiras. A biodiversidade natural vem sendo comprometida pela vasta

    explorao de monoculturas, juntamente com transgenias, e a exploso populacional que

    demanda mais e mais recursos, com mais e mais consumo. O Greenpeace (s/ data),

    organizao global, cuja misso proteger o meio ambiente, relata que a introduo de

    transgnicos na natureza expe nossa biodiversidade a srios riscos, como a perda ou

    alterao do patrimnio gentico de nossas plantas e sementes e o aumento dramtico no uso

    de agrotxicos. Alm disso, ela torna a agricultura e os agricultores refns de poucas

    empresas que detm a tecnologia, e pe em risco a sade de agricultores e consumidores.

    Leis (2004, p. 13) apresenta um quadro com algumas reflexes e comentrios sobre as

    principais tendncias socioeconmicas do presente e suas mais provveis consequncias

    ambientais de acordo com as bibliografias disponveis em seu livro, mostrando um elevado

    consenso de que as tendncias e consequncias registradas a seguir so as mais marcantes denossa poca.

    O quadro 1, Leis (2004, p. 13) lista tendncias e consequncias sem pretender

    estabelecer relaes diretas de causa-efeito, ressaltando a importncia das tendncias no

    serem julgadas como negativas ou positivas, apontando o fato de todas apresentarem lados

    positivos dependendo de suas circunstncias, como no caso de pases subdesenvolvidos que

    necessitam da industrializao e/ou urbanizao para aliviar a pobreza existente. Leis aponta

    que esta uma viso excessivamente simplificada que no leva em conta os precriosequilbrios ecossistmicos afetados pela ao humana, nem as dificuldades para governar e/ou

    gerir as complexas interaes que se estabelecem entre as vrias tendncias. As indstrias

    manejadas de maneira sustentvel podem trazer muita qualidade de vida levando em

    considerao que diminuem descomunalmente a destruio e podem promover o uso e a

    regenerao dos recursos naturais, sem interferir agressivamente no meio ambiente.

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    32/144

    31

    Quadro 1 - Principais tendncias socioeconmicas

    e suas consequncias ambientais

    Fonte: A Modernidade Insustentvel

    Mascar (2010, p. 19) afirma que por fora da realidade se associa a cidade

    contaminao. Cita que as cidades contribuem com a emisso de pelo menos 50% dos gases

    efeito estufa do planeta, sendo que 75% dessas emisses so provenientes de automveis,

    sendo a outra parte de responsabilidade das fbricas, queimadas e transporte rodovirio.

    Para atender s necessidades e demandas atuais necessrio produzir imensas

    quantidades de energia parceladas e divididas entre as necessidades de trabalhar, morar e

    consumir, sendo esta ltima a pupila dos olhos das grandes corporaes que, visando abarcar

    esses possveis lucros antes dos concorrentes, muitas vezes buscam medidas imediatas e

    irresponsveis, agregando resduos qumicos txicos na produo das mercadorias sem avaliar

    seu impacto na sade e no meio ambiente. Tais produes chegam ao consumidor, sendo

    descartadas, aps seu uso, de maneira inadequada, contaminado o meio ambiente. Segundo

    Magrini (2009, p. 24) esse ritmo de consumo gera uma produo de lixo impressionante e

    todo ele despejado em aterros ou incinerado, poluindo o solo, o ar, a gua, influenciando a

    alterao do clima. A incinerao libera para a atmosfera todos aqueles resduos txicos

    utilizados na fase de produo e, o pior, produz produtos txicos novos mais perigosos.

    Tambm relata que durante a etapa de extrao, ecossistemas so destrudos e materiais so

    retirados de maneira abusiva.

    Acontece que, hoje em dia, essa tica est caducando. Deixou de ser verdade que, para

    produzir mais, necessrio trabalhar mais. Foi-se o tempo em que produzir mais significava,

    quase sempre, viver melhor. No Primeiro Mundo rompeu-se essa ligao entre mais e melhor.

    As necessidades bsicas dessas populaes esto fartamente atendidas; e muitas das

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    33/144

    32

    necessidades ainda insatisfeitas no exigem que se produza mais, mas sim que se produza de

    outra maneira, outra coisa, ou, at, que se produza menos. particularmente o caso do ar, da

    gua, do espao, do silncio, da beleza, do tempo, dos contatos humanos (VEIGA, 1993, p.

    3).

    A reciclagem pode ajudar ao diminuir a necessidade de extrao de recursos e aproduo de lixo, mas nunca ser suficiente, pois a raiz do problema est na relaoentre o consumo e a produo. Grande parte do lixo no pode ser reciclado, ou

    porque contm muitas substncias txicas ou porque criado de incio para no serreciclvel. A indstria gera cada vez mais tipos de lixo que a natureza por si s noconsegue assimilar. Segundo Legan (2008, p. 57), apenas os bens durveiseletrnicos descartam aproximadamente 65 mil toneladas de lixo perigoso por ano.(MAGRINI, 2009, p. 25)

    Para alguns pesquisadores o nvel atual de consumo j excedeu a rea disponvel

    ecologicamente produtiva, necessitando neste momento, de um planeta maior para suprir os

    padres de consumo desta sociedade sem extinguir os recursos naturais.

    De acordo com a Global Footprint Network (2014), organizao internacional pela

    sustentabilidade, parceira global da Rede WWF, a Terra est operando com sobrecarga sendo

    ultrapassado o limite de uso de seus recursos naturais gerados pelo planeta no ano. O clculo

    feito anualmente pela organizao (GFN) e mostra que desde 2000, a data surge cada vez

    mais cedo: no ano 2000, foi em 1 de outubro. Pelo resto do ano 2004 o dficit ecolgico tem

    se mantido e aumentado ainda mais a quantidade de CO2 produzidos na atmosfera. Hoje, 85%

    da populao mundial vive em pases que demandam mais da natureza do que os seus

    ecossistemas podem renovar (grfico 1 e 2).

    Ns estamos bem alm do nosso oramento, e nossa dvida est se multiplicando. uma dvida ecolgica, e estamos pagando juros que estamos devido a este montante(escassez de alimentos, eroso do solo, acmulo de CO2 na nossa atmosfera). Todosestes trazem custos humanos e monetrios devastadores. (GLOBAL FOOTPRINT

    NETWORK, 2014)

    A concentrao humana nas cidades alcanou nveis elevadssimos, causando

    inmeros problemas de ordem social, ambiental e econmica. As pessoas agora vivem o ideal

    de viver para trabalhar, para consumir, para adquirir e para ter, deixando de lado o trabalhar

    para viver e para ser, a natureza se tornou um produto para o homem e este se esqueceu de

    que produto dela, passou a viver iludido com o sonho do capital, se submetendo a uma vida

    miservel, muitas vezes nos subrbios da cidade, se tornou dependente de um sistema

    insustentvel, achando que est seguro e amparado pelo o que esses centros lhe oferecem, semimaginar que um simples colapso prolongado nas redes eltricas ou uma crise hdrica podem

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    34/144

    33

    causar catstrofes incalculveis; vive dentro de uma catica convulso urbana, com

    engarrafamentos, rudos estridentes, comendo e respirando toxinas, no sabendo mais o que

    um canto de pssaro, pois animais e plantas so ignorados, ou simplesmente tratados como

    objetos; crregos e rios que rasgam as cidades so canalizados, considerados estorvos,

    sinnimos de mau cheiro, de enchentes, de descarte de lixo, de poluio; a natureza

    dizimada, os biomas so oprimidos e exclusos como se nunca tivessem existido; milhares e

    milhares de pessoas e animais morrem no transito e isso se torna apenas mais uma fatalidade

    do acaso; as pessoas j nascem doentes, crescem e vivem doentes, morrem doentes por causa

    do meio, e assim continuam adormecidos, embriagados, iludidos, adaptados comum

    anormalidade, que se tornam normais, dentro da moda, dos modos, como se a dor e as

    doenas fossem inerentes vida.

    Grfico 1 - Demanda de Consumo X Capacidade de Regenerao do Ecossistema

    Fonte:http://www.footprintnetwork.org/pt/index.php/GFN/page/earth_overshoot_day/

    http://www.footprintnetwork.org/pt/index.php/GFN/page/earth_overshoot_day/http://www.footprintnetwork.org/pt/index.php/GFN/page/earth_overshoot_day/
  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    35/144

    34

    Grfico 2 - Demanda de Recursos e Servios x Ecossistema

    Fonte:http://www.footprintnetwork.org/pt/index.php/GFN/page/earth_overshoot_day/

    Diante dessas e de outras exposies se pode mostrar a insustentvel utopia do

    desenvolvimento moderno que mascara ideias particulares atravs de um ideal social,

    mobilizando inmeras pessoas utilizando o slogam do ter para ser, explorando-as com

    salrios mnimos ao longo desse caminho para que os produtos tenham baixos preos, e o

    lucro seja maior, fechando assim a cadeia de consumo a servio de poucos. Para Magrini

    (2009, p. 24), no s recursos so desperdiados ao longo desse sistema, mas tambm pessoas

    e comunidades inteiras so desfeitas.

    A soluo para o caos atual no implica necessariamente na inverso do sistema

    econmico, ou seja, a troca do Capital Privado pelo Capital de Estado, com socialismos que

    acabam com o direito ao mesmo capital, livre iniciativa e liberdade poltica, atrofiando a

    inteligncia do homem. Fazer isso trocar a relao de amos e servos pela relao de tiranos e

    http://www.footprintnetwork.org/pt/index.php/GFN/page/earth_overshoot_day/http://www.footprintnetwork.org/pt/index.php/GFN/page/earth_overshoot_day/
  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    36/144

    35

    submissos. Talvez parte da soluo esteja em reavaliar as relaes culturais, sociais e

    econmicas existentes baseadas no consumismo, no ter, na distribuio desigual de renda,

    no favorecimento do capital nas mos de poucos, na viso do capital como um fim soberano e

    no mais como um meio, ou mais uma das formas que podem levar a uma vida melhor.

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    37/144

    36

    3. CONSTRUO CIVIL E A ARQUITETURA

    3.1 - Indstria da Construo Civil

    A necessidade de morar, trabalhar, de ter sade, cultura e lazer, nos dias de hoje,

    indiscutvel, e para atender a todas essas necessidades o homem cada vez mais cria inmeras

    estruturas fsicas que possam abrigar esses princpios atravs de infraestruturas e edificaes

    que comportem a dinmica da vida como sociedade. Essas demandas, somadas ao comercio e

    ao aumento populacional, criaram determinadas necessidades, e para atend-las foi preciso

    inventar meios para produzir materiais e tcnicas que pudessem agilizar a entrega dessas

    demandas, dando assim o pontap inicial para a criao e consolidao da indstria daconstruo civil. De um modo geral, os processos de industrializao levaram somente em

    considerao o atendimento as essas demandas, sem se importar com as consequncias do

    processo, que gerou, e gera, grandes problemas para o meio ambiente e para a sociedade.

    Devido a esse e outros fatores, a indstria da construo civil tem se tornado assunto de muitos

    debates quanto necessidade de se buscar o desenvolvimento sustentvel, pois sempre foi

    grande consumidora e degradadora dos recursos naturais, poluidora do meio ambiente e

    geradora de imensas quantidades de resduos.Segundo Soares (2008), a indstria da construo civil responsvel pelo maior

    consumo dos recursos naturais do planeta. Os principais recursos utilizados (cimento e ferro)

    so limitados e geram muita degradao ambiental. Para se ter uma ideia, so endereados s

    construes aproximadamente 40% dos materiais e dos recursos gastos por ano no mundo,

    fomentando assim a economia global insustentvel (MAGRINI, 2009, p. 24).

    A fase de fabricao de materiais de construo tambm provoca impactos negativos.

    Como exemplo, toma-se a indstria cimenteira, que no Brasil (2007) responsvel pelagerao de mais de 6% do total de CO2 gerado (ROTH e GARCIAS, 2009, p. 118).

    Tambm na execuo das obras de construo civil vrios impactos so provocados,

    como os consequentes da perda de materiais, os referentes interferncia no entorno da obra e

    nos meios bitico, fsico e antrpico do local da edificao (CARDOSO; ARAJO, 2004)1.

    De acordo com informaes reveladas pelo Globo News, o setor de construo civil usa

    25% da madeira extrada, 70% da energia consumida e 12% da gua potvel. Essa atividade

    gera 65% dos resduos e emite 40% dos gases estufa (CIDADES E SOLUES, 2008)2.

    1Apud ROTH; GARCIAS, 2009, p. 118.( (ROTH e GARCIAS, 2009, p. 118)2009, p. 118)2Apud MAGRINI, 2009, p. 28.( (MAGRINI, 2009, p. 28)

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    38/144

    37

    Conforme Soares (2008), citado por Magrini (2009, p. 28) nos ltimos 100 anos o nvel

    de dixido de carbono na atmosfera aumentou 27%, sendo que 25% proveniente da queima

    de combustveis fsseis, usados para fornecer energia s construes. Esses nmeros assustam

    ainda mais quando lembramos que somente 2 bilhes de pessoas, das 6 bilhes que somos no

    planeta, vivem em construes modernas que entram na conta acima. A projeo para os

    prximos 50 anos que os nmeros quadrupliquem.

    De acordo com Roth e Garcias (2009, p. 126), para evitar esses problemas preciso

    que a construo civil se aproxime mais da construo sustentvel, adotando formas de

    explorao de matrias-primas mais conscientes e alternativas, utilizando materiais e processos

    construtivos que objetivem a harmonia entre o homem e o meio, sendo eles produzidos com

    tecnologias limpas, observando os ciclos de vida e dando uma destinao apropriada aosresduos.

    Estamos destramando os fios de uma complexa rede de segurana ecolgica; a maiorparte dos seres humanos ainda no reconhece o valor dessa rede. Ou construmosuma economia que respeite os limites da terra ou continuamos com o que est a ato seu declnio e nos envolvemos numa tragdia evolutiva. Reconhecemos os limitesnaturais da Terra e ajustamos nossa economia ou prosseguimos ampliando cada vezmais nossos impactos at que seja tarde demais? (DIAS, 2002)3

    O mau planejamento ou ausncia deste, somado a m administrao dos recursos,

    juntamente com a ignorncia e falta de conscincia dos envolvidos, se tornam os protagonistas

    dos inmeros impactos socioambientais hoje existentes, pois demandam bens de consumo sem

    o conhecimento de todos os processos que envolvem as atividades da construo civil.

    3.2 - A Arquitetura e suas tendncias

    Arquitetura antes de mais nada construo, mas, construo concebida com o

    propsito primordial de ordenar e organizar o espao para determinada finalidade evisando a determinada inteno. E nesse processo fundamental de ordenar eexpressar-se ela se revela igualmente arte plstica, porquanto nos inumerveis

    problemas com que se defronta o arquiteto desde a germinao do projeto at aconcluso efetiva da obra, h sempre, para cada caso especfico, certa margem finalde opo entre os limites - mximo e mnimo - determinados pelo clculo,

    preconizados pela tcnica, condicionados pelo meio, reclamados pela funo ouimpostos pelo programa, - cabendo ento ao sentimento individual do arquiteto, noque ele tem de artista, portanto, escolher na escala dos valores contidos entre doisvalores extremos, a forma plstica apropriada a cada pormenor em funo daunidade ltima da obra idealizada. (COSTA, 1940)4

    3Apud MAGRINI, 2009, p. 107(MAGRINI, 2009, p. 107)4Apud IAB SP, s/ data.(IAB SP, s/ data)

  • 7/25/2019 Bioarquitetura Na rea Urbana - Thiago Delgado Petillo

    39/144

    38

    Passados aproximadamente 2.041 anos, Marcus Vitruvius Pollio (Vitrvio), arquiteto

    romano que viveu no sculo I a.C ainda parece inspirar as atuais geraes com seu tratado

    denominado De Architectura em que diversos textos tratam sobre Arquitetura e

    Urbanismo, Hidrulica e Engenharia, que inspiraram fortemente o Renascimento. A sntese de

    sua obra, descrita por diversas fontes, trata de padres, propores e princpios conceituais,

    que se referem a utilitas (utilidade), venustas (beleza) e firmitas (solidez). Segundo

    Manenti (2010, p. 8), dessa forma, a adoo de um partido, em detrimento de outro, deve estar

    fundamentado no correto uso dos materiais, observando seus limites de resistncia e

    durabilidade; na adequao da edificao ao seu uso, e no correto dimensionamento dos

    elementos, assim como na adequao do status da edificao, retomando o conceito de

    decoro; e na beleza, que ser assegurada, segundo Vitrvio (1906) 5, quando a aparncia daobra agradvel e de bom gosto, e quando os seus membros estiverem na devida proporo

    de acordo com os corretos princpios da simetria.

    Apesar de estilos arquitetnicos praticados anteriormente persistirem de maneira

    isolada, a dos ltimos tempos, em um amplo sentido, tem se caracterizado atravs de reaes

    s propostas modernistas, onde, de um lado, se encontram os que preferem fazer a sua

    releitura, e, do outro, os que querem quebrar seus paradigmas com ideias inovadoras. De um

    modo geral as correntes arquitetnicas contemporneas podem ser classificadas dentro de trsa cinco grandes correntes, mas que de fato no se encaixam sistematicamente dentro de uma

    linha de raciocnio com caractersticas especificas por apresentar inmeras transdisciplinares

    variveis, aplicadas cotidianamente, ao redor de todo o mundo. Dentre algumas correntes

    encontramos a Historicista, a Regionalista, a Desconstrutivista, High-Tech etc. Neste perodo,

    [...] o pleno desenvolvimento em pesquisas de novos materiais e aprimoramentos de tcnicas

    construtivas exigidas pelas necessidades de cada vez mais vencer desafios [...] um desafio

    dirio enfrentados nos centros de pesquisas e no canteiro de obra (ANDRADE e AFONSO,2009, p. 8-9).

    Os conceitos abordados por Vitrvio de uma maneira ou de outra, querendo ou no,

    ainda fazem parte da tomada de decises adotadas atravs do partido arquitetnico, possuindo

    aplicabilidade relativa profundidade do conhecimento que se tem adquirido, ou seja, se a

    compreenso do indivduo muito limitada, sua aplicao ser muito superficial. Quando se

    reflete sobre a aplicao destes conceitos analisando a interveno do homem no meio natural,

    pode-se afirmar que quanto maior a ignorncia, maior ser a possibilidade de de