BIOTECNOLOGIA_04

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    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    Curso de

    Biotecnologia

    MDULO IV

    Ateno:O material deste mdulo est disponvel apenas como parmetro de estudos paraeste Programa de Educao Continuada. proibida qualquer forma de comercializao domesmo. Os crditos do contedo aqui contido so dados aos seus respectivos autoresdescritos nas Referncias Bibliogrficas.

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    MDULO IV

    Aplicaes da Biotecnologia

    5. Introduo

    A tecnologia do DNA recombinante forneceu as ferramentas que permitiram

    desvendar a molcula de DNA. A principal aplicao desta descoberta foi o

    sequenciamento de genomas. Com estas sequncias, o passo seguinte consiste emrevelar a funo de cada uma, o que tem aplicaes diretas em diversas reas do

    conhecimento, como a de sade e a ambiental. Este mdulo tem por objetivo

    fornecer uma viso geral a respeito dos diversos empregos que a biotecnologia pode

    trazer em benefcio da sociedade.

    5.1 Projeto Genoma

    Biotecnologia e genoma so termos inter-relacionados. Enquanto o primeiro

    significa a aplicao dos conhecimentos, o segundo representa a descoberta e o

    entendimento necessrios para implantar os benefcios. A sequncia e a ordenao

    dos nucleotdeos que compe o genoma contm a diversidade de informaes

    necessrias para gerar todas as formas de vida existentes no planeta. Deste modo,

    o sequenciamento dos genes permite a leitura, a compreenso e a utilizao destes

    dados, caractersticas que impulsionam, ento, o desenvolvimento de projetos

    genoma.

    O primeiro genoma sequenciado de um organismo vivo diferente de vrus foi

    o da bactria Hemophilus influenzae. Este tipo de projeto tambm prosseguiu para

    outros organismos e espcies. Em 1990, uma associao internacional entre

    pesquisadores de diferentes pases iniciou o projeto Genoma Humano. Em 2000, o

    Brasil finalizou o sequenciamento do genoma da bactria Xylella fastidiosa, o que foi

    realizado por pesquisadores do estado de So Paulo. Atualmente, diversos grupos

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    de pesquisa investem esforos considerveis no sequenciamento de todo o material

    gentico de diferentes micro-organismos, principalmente. S no Brasil, esto emandamento mais de 10 projetos para desvendar a sequncia de nucleotdeos de

    bactrias e fungos. Estas tecnologias esto avanadas de tal maneira que este tipo

    de estudo pode ser finalizado em apenas poucos dias.

    O grande interesse manifestado por pesquisadores quanto ao

    desenvolvimento de projetos genoma se deve s grandes aplicaes que suas

    informaes podem proporcionar. O pleno conhecimento das informaes genticas

    de diferentes organismos possibilitar um melhor entendimento da diversidadegentica, o que permitir desvendar muitas questes, como a relao parasita-

    hospedeiro. O desenvolvimento de vacinas e de testes diagnsticos, finalmente,

    guiar a produo de novas drogas e terapias efetivas para o tratamento de diversas

    doenas.

    Um equvoco das pessoas em relao aos projetos genoma se refere sua

    associao de resoluo e cura de doenas. Na verdade, o que este tipo de projeto

    fornece so informaes sobre as coordenadas iniciais de onde se localiza um

    determinado defeito gentico. Por exemplo, atualmente j se tem conhecimento de

    onde buscar a informao gentica que predispe para a Doena de Alzheimer e do

    cncer de reto. Apesar disto, no h garantias de que a cura destas doenas ser

    descoberta. Os projetos genoma constituem, portanto, o conhecimento bsico que

    dar suporte, no futuro, a uma aplicabilidade das informaes por ele geradas.

    As pesquisas sobre o genoma constituem o ponto de partida para a era ps-

    genmica. Os cientistas acreditam que, por exemplo, compreendendo a fundo o que

    acontece de errado quando uma doena aparece, a medicina entrar em uma nova

    era, como o estabelecimento de terapias mais eficientes. Uma delas a terapia

    gnica.

    5.2 Terapia Gnica

    Entende-se como terapia gnica a transferncia de material gentico para as

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    clulas de um indivduo, resultando em substituio ou mesmo na complementao

    dos genes defeituosos. Este conceito atualmente mais amplo e abrange otratamento de doenas degenerativas, infecciosas e do cncer. A terapia gnica

    constitui uma esperana para o tratamento de diversas doenas que atualmente no

    apresentam um tratamento adequado. Cerca de quatro mil doenas genticas so

    conhecidas, sendo, portanto, alvos potenciais da terapia gnica.

    Outras aplicaes sugeridas para esta tecnologia tambm incluem a

    liberao de protenas que permitam controlar os nveis hormonais ou estimular o

    sistema imunolgico. O primeiro exemplo de aplicao da terapia gnica foirealizado em uma criana de quatro anos que sofria de uma desordem no sistema

    imunolgico, nos Estados Unidos. Desde ento, aproximadamente dez anos de

    pesquisa tm sido conduzidos na rea. Um deles apresentou um resultado

    significativo que foi a reverso dos efeitos da doena hereditria da imunodeficincia

    ligada ao cromossomo X. Apesar deste resultado promissor, a maioria deste tipo de

    terapia no tem apresentado tanto sucesso. Novas pesquisas devem ser concludas

    de forma a aperfeioar este tipo de tratamento.

    A terapia gnica constitui uma estratgia promissora para o tratamento de

    diversas doenas infecciosas. Entretanto, frente a tratamentos ainda ineficazes, a

    biotecnologia tambm revolucionou a rea da medicina preventiva, como o

    desenvolvimento de novas vacinas.

    5.3 Novas Vacinas

    Diversos tipos de vacinas esto disponveis ou em desenvolvimento, cada

    qual apresentando diferentes vantagens e desvantagens. As que utilizam micro-

    organismos vivos atenuados ou mortos tm a vantagem de apresentarem mltiplos

    epitopos para reconhecimento pelo sistema imunolgico, sendo que seu custo e

    produo dependem basicamente do fornecimento de material contendo os micro-

    organismos em questo. Contudo, sua segurana questionvel. A instabilidade da

    vacina atenuada torna difcil a sua distribuio, particularmente em pases em

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    desenvolvimento. Alm disso, as vacinas que utilizam todo o micro-organismo

    podem apresentar reaes cruzadas com outros antgenos, o que interfere com ostestes sorolgicos. No caso de vacinas mortas, apesar de serem mais seguras,

    frequentemente necessitam de mltiplas inoculaes associadas a adjuvantes, o

    que pode induzir efeitos colaterais indesejados. Dentro destes aspectos, percebe-se

    a necessidade do desenvolvimento de vacinas mais seguras e eficazes.

    A tecnologia do DNA recombinante tem sido utilizada no aprimoramento de

    vacinas. Na era dos omas, as anlises de genomas, transcriptomas e proteomas

    permitem um melhor atendimento das vias moleculares relacionadas biologia dopatgeno e das interaes parasita-hospedeiro. A partir destas informaes,

    protenas alvos tm sido obtidas a partir da expresso em vetores de expresso

    procariotos e eucariotos, constituindo as vacinas de subunidades proteicas.

    As vacinas de subunidade tm sido muito utilizadas para a preveno de

    doenas. Mesmo que sejam necessrios vrios antgenos para a estimulao da

    resposta imunolgica adequada, ela ainda possui vantagens sobre a utilizao de

    drogas como tratamento ou como mtodo preventivo de doenas. Por exemplo, o

    controle de parasitas geralmente utiliza drogas em um sistema de rotao, o que

    pode induzir a resistncia aos medicamentos utilizados. Alm disso, outro ponto

    atualmente muito discutido se refere contaminao ambiental pelo uso excessivo e

    descontrolado destas drogas.

    Outras apresentaes vacinais esto sob contnuo aprimoramento. Uma das

    mais recentes a vacina de DNA. O antgeno destas vacinas expresso pela

    prpria clula do hospedeiro, sendo capazes de induzir uma potente resposta

    imunolgica, principalmente em nvel de linfcitos citotxicos. Esta caracterstica a

    torna uma estratgia promissora no combate de parasitas intracelulares.

    A tecnologia do DNA recombinante ainda auxilia no desenvolvimento de

    novas formas para a apresentao de antgenos, como o uso de lipossomas,

    nanopartculas, ou mesmo o uso de vrus e bactrias carreadoras. Esta ltima opo

    tem grande interesse, principalmente no desenvolvimento de vacinas veterinrias,

    pois apresenta a oportunidade de induzir a imunidade de mucosa. A maioria das

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    doenas infecciosas de animais adquirida por via oral ou por inalao, o que

    facilitado pelas condies de criao a que os animais esto submetidos. Assim,vias que gerem a imunidade de mucosa poderiam ser a via de imunizao mais

    eficaz para determinadas doenas de animais.

    A biotecnologia ainda pode ser utilizada para resolver um problema

    decorrente da vacinao: a distino entre indivduos vacinados e infectados. Para

    que isto seja possvel, uma estratgia a identificao de antgenos que induzam

    uma intensa resposta humoral (por anticorpos) durante a infeco e que no sejam

    essenciais para a imunidade induzida ou para a sobrevivncia da bactria. Estainformao pode ser utilizada na construo de uma linhagem mutante para o gene

    em questo.

    Assim, animais infectados podem ser identificados pela resposta humoral

    contra o antgeno que foi deletado da linhagem vacinal; por outro lado, os animais

    vacinados e no infectados no reagiram no mesmo teste. Estudos nessa rea

    esto recebendo intensos investimentos e os resultados experimentais j obtidos

    demonstram-se promissores. A biotecnologia tem um profundo aproveitamento na

    rea da sade. Alm do desenvolvimento de terapias e de vacinas, ela ainda pode

    ser utilizada na gerao de novos produtos e kits de diagnstico.

    5.4 Novos Produtos

    Muitos produtos de interesse comercial e de sade pblica j so obtidos

    atualmente por meio de tcnicas biotecnolgicas. Exemplos como a insulina

    humana, o hormnio de crescimento bovino, suno e equino e substncias beta-

    agonistas, foram conseguidos com sucesso. Frequentemente, a tecnologia envolvida

    em sua gerao a expresso em sistemas procariotos e eucariotos. Contudo, o

    mesmo objetivo pode ser alcanado utilizando animais transgnicos como

    biofbricas.

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    5.5 Novos Kits de Diagnst ico

    O mtodo de diagnstico mais utilizado na clnica mdica e veterinria o

    microbiolgico. Contudo, o isolamento e a caracterizao dos diversos micro-

    organismos possuem limitaes, principalmente no caso de linhagens em que o

    cultivo in vitrono to eficiente. A necessidade de meios de cultura especficos

    para cada patgeno, o tempo de crescimento in vitro, que pode variar de semanas a

    meses, e a presena de contaminantes so fatores limitantes quanto utilizao do

    mtodo em questo. Portanto, h a necessidade de mtodos diagnsticos capazesde obter um resultado de alta sensibilidade e especificidade em menor tempo, sendo

    o diagnstico molecular uma alternativa promissora.

    O diagnstico molecular utiliza como base a identificao de sequncias de

    DNA especficas e caractersticas de cada patgeno. A tcnica de eleio para este

    fim a reao em cadeia da amplificao de cidos nucleicos (PCR). Vrios grupos

    de pesquisa desenvolvem este tipo de teste, comparando a sua vantagem frente a

    mtodos de diagnstico tradicionais. Dentro deste contexto, um trabalho comparou a

    sensibilidade entre a microscopia ptica, a imunofluorescncia indireta e o PCR para

    a deteco de Brucella equiem equinos cronicamente infectados.

    O ensaio mostrou que 38,8%, 50% e 78% dos animais formam positivos

    utilizando as tcnicas anteriormente citadas, respectivamente. Ainda foi relatado o

    fato de o PCR ter detectado o agente etiolgico at mesmo em baixos nveis de

    parasitemia. Estes resultados demonstram que o PCR uma tcnica bastante

    eficiente quanto ao diagnstico de doenas infecciosas.

    As provas de diagnstico molecular so amplamente trabalhadas, o que se

    deve a sua alta sensibilidade e especificidade. O PCR uma tcnica capaz de

    amplificar uma sequncia de interesse a partir de picogramas do DNA da amostra, o

    que caracteriza sua alta sensibilidade. A alta especificidade das tcnicas

    moleculares est relacionada com a amplificao de somente uma sequncia de

    DNA especfica de cada patgeno, evitando respostas cruzadas com outros agentes

    que possuam caractersticas similares. Isto constitui uma vantagem em relao ao

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    diagnstico por testes sorolgicos, uma vez que o mesmo pode identificar

    caractersticas compartilhadas por outros agentes etiolgicos.A escolha por um mtodo de diagnstico molecular baseado no PCR deve

    ser analisada com cautela. Apesar da alta sensibilidade e especificidade, os testes

    moleculares tambm apresentam limitaes e problemas frequentes. A reao pode

    gerar desde um falso-positivo, devido presena de contaminantes, ou mesmo um

    falso negativo, pela presena de inibidores da reao na amostra clnica.

    Alm destes problemas, outra questo se refere falta de controles internos

    na reao, dificultando diferenciar entre um diagnstico negativo verdadeiro e umafalha da tcnica. Portanto, o aprimoramento da tcnica e dos mtodos de anlise

    padro constitui passo fundamental para a implantao do diagnstico molecular.

    Uma opo ao diagnstico por PCR a utilizao de uma de suas variantes,

    o PCR multiplex. Esta tcnica se baseia na incluso, em uma mesma reao de

    PCR, de pares de iniciadores capazes de amplificar diferentes sequncias de um

    determinado agente etiolgico, incluindo uma que ser amplificada com certeza em

    qualquer amostra clnica. Este tipo de controle interno diferenciar se o resultado

    realmente negativo ou se decorre de um problema que tenha inibido a reao.

    O PCR multiplex, apesar de ser uma variante com vantagens considerveis

    sobre o PCR convencional, tambm possui suas limitaes. Dependendo dos

    agentes que se queira identificar, o nmero de pares de iniciadores a serem

    adicionados em uma mesma reao tambm um fator limitante para uma

    amplificao adequada. Quando muitos so adicionados, observa-se uma

    diminuio, at mesmo expressiva, da sensibilidade do teste. Mesmo sendo possvel

    a manipulao em alguns casos, a soluo para este problema pode exigir o uso de

    outra tcnica, como a hibridizao reversa.

    A hibridizao reversa consiste de uma reao de PCR que utiliza um primer

    universal capaz de amplificar sequncias conservadas entre os agentes etiolgicos a

    serem diagnosticados. Apesar de a regio de anelamento dos iniciadores ser

    conservada, a poro interna da mesma deve conter sequncias variveis e

    singulares a cada patgeno. A diferenciao entre eles feita com o auxlio da

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    hibridizao. Para isso, utiliza-se um aparato especial que permite que vrias

    amostras de PCR sejam analisadas ao mesmo tempo, em relao a diferentesagentes. Alm disso, essa tcnica a de eleio em casos em que o objetivo seja o

    de diagnosticar infeces mltiplas, sendo ainda uma tcnica de maior sensibilidade

    que o PCR.

    Diante do exposto, a escolha do teste de diagnstico a ser utilizado depende

    dos objetivos do pesquisador e das condies limitantes. Para diferentes situaes

    so exigidas adaptaes distintas. Por isso, novas tcnicas esto sendo

    desenvolvidas, como:I. O PCR em tempo real, que permite a quantificao do material

    referente aos possveis alvos. Sua vantagem est na possibilidade de diferenciar

    entre a presena de uma sequncia de DNA e a sua expresso ativa;

    II. A tecnologia do microarray, o qual pode ser utilizado na identificao

    de espcies, sorotipos, marcadores de virulncia e resistncia a antibiticos;

    III. O sequenciamento de genes derivados dos micro-organismos.

    A biotecnologia tem mltiplas aplicaes em diversas reas do

    conhecimento. Alm da rea da sade, como o desenvolvimento da medicina

    teraputica e preventiva, as tcnicas derivadas da engenharia gentica podem trazer

    benefcios para a agropecuria. Exemplos so a seleo assistida por testes de

    DNA e a clonagem.

    5.6 Seleo Assistida com Testes de DNA e Clonagem

    A tecnologia do DNA recombinante permite ainda fornecer instrumentos para

    o melhoramento animal. A produo agropecuria exerce um importante patamar na

    economia e comrcio internacional brasileiro. Assim, a pesquisa busca mtodos

    eficientes para aperfeioar o potencial gentico dos animais, resultando em uma

    produo mais rentvel, com elevada produtividade e/ou agregao ao valor do

    produto.

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    Uma alternativa utilizada no melhoramento de animais utiliza a gentica

    clssica de Mendel. Durante sculos este modelo tem sido empregado com sucessopara a seleo artificial de caractersticas benficas. Contudo, esta metodologia

    apresenta desvantagens relevantes. Vrios cruzamentos so necessrios, tendo

    ainda que levar em considerao o tempo de amadurecimento sexual e do intervalo

    entre partos dos animais. Estas afirmaes demonstram que se leva muito tempo

    at alcanar a caracterstica desejada.

    Alm disso, os resultados obtidos podem ser insatisfatrios, pois pode

    ocorrer de outros genes ligados ao de interesse, que codificam caractersticasindesejadas, sejam repassados tambm. Diante destes fatos, percebe-se a

    necessidade de implantar estratgias que permitam trabalhar o melhoramento

    gentico em um menor tempo de geraes para o surgimento da caracterstica

    desejada. Uma destas estratgias por meio das tcnicas derivadas da

    biotecnologia molecular.

    O melhoramento gentico tem sido beneficiado por estudos com a

    genmica. Esta cincia envolve uma verdadeira anatomia molecular, como o

    mapeamento de cromossomos, iniciativas de estudos de transcriptomas em tecidos

    e rgos, ou mesmo em fases da evoluo embrionria. Contudo, estas informaes

    so muito amplas e ainda restritas sobre a sua funcionalidade, dificultando a sua

    aplicao no melhoramento de animais. Um dos mtodos mais promissores para a

    produo animal o estudo de polimorfismos genticos.

    Os polimorfismos genticos so variaes nos alelos de um gene, o que

    resulta em diferentes gentipos. Esses marcadores moleculares podem estar ligados

    s caractersticas de interesse, como a taxa de ovulao, de crescimento e de

    composio corporal, da qualidade e funo do sistema imunolgico e, at mesmo,

    com a eficincia reprodutiva. Nestes casos, eles so pontos de partida para avaliar e

    escolher gentipos que devam ser propagados at alcanar a caracterstica de

    interesse.

    Os polimorfismos se aplicam, inicialmente, em estudos populacionais. As

    variaes em alelos podem ser documentadas em estudos genealgicos, permitindo

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    a montagem da estrutura da populao. As vantagens da genmica para a anlise

    de pedigrees na gentica quantitativa se traduzem em uma maior acurcia, tendo-seque inferir menos a respeito das observaes feitas a partir da prole obtida.

    Estudos de pedigrees foram realizados na identificao de caractersticas de

    interesse e, consequentemente, para a seleo animal. Um exemplo foi o estudo

    sobre a deficincia do fator XI em gado, patologia que pode ser assintomtica.

    Contudo, esta anomalia pleiotrpica, afetando outras caractersticas de interesse

    econmico, como a reproduo e o estado imunolgico dos animais. Sugere-se que

    o gado deficiente no fator XI, incluindo tanto os homozigotos quanto osheterozigotos, d menor nmero de bezerros, alm de serem mais susceptveis s

    doenas infecciosas.

    Diante do impacto econmico que a deficincia do fator XI tem sobre a

    produo animal, foram realizados estudos sobre a sua transmisso. Para isso,

    utilizou-se a anlise de pedigree, que mostrou tratar-se de uma deficincia

    autossmica recessiva. Perante este fato, um trabalho de genotipagem de gado foi

    desenvolvido com o objetivo de avaliar a frequncia da mutao gnica na

    populao.

    A deficincia se deve insero que acrescenta aproximadamente 76b de

    uma espcie de cauda poliA. A diferenciao entre homozigotos e heterozigotos

    pode ser feita aps a amplificao das sequncias allicas p PCR, sendo que o

    resultado pode ser visualizado aps a eletroforese dos amplicons. Os animais

    homozigotos apresentam uma nica banda, sendo que a de maior peso molecular

    indica que os animais so homozigotos recessivos.

    Diferentemente, os indivduos heterozigotos so distinguidos dos demais

    pela visualizao de duas bandas distintas no gel aps a eletroforese da amostra.

    Testes de genotipagem j vm sendo realizados nos programas de melhoramento

    gentico e nas centrais de inseminao artificial, permitindo o descarte de

    caractersticas indesejadas e as de baixa herdabilidade. Um exemplo o teste para

    a susceptibilidade sndrome do estresse suno, o qual j se encontra disponvel

    comercialmente. Outros testes disponveis incluem os que permitem a anlise de

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    crescimento, reproduo e outros que afetam a qualidade dos produtos animais.

    O estudo de pedigree vem sendo tambm utilizado na reproduo animalpara a seleo de reprodutores. A anlise preliminar de alguns grupos ancestrais

    visa utilizar, de maneira mais racional, a variabilidade gentica existente nos

    plantis, ordenando quais seriam os melhores pares para o acasalamento. Esse tipo

    de anlise vem sendo feito na Amaznia para a seleo de avestruzes. O mesmo

    estudo de polimorfismo utilizado para este fim.

    O potencial da biotecnologia para a reproduo tambm tem sido aplicado

    em processos de sexagem de espermatozoides e de embries. Estas tcnicas sode grande interesse, principalmente para gado de leite, podendo selecionar somente

    os espermatozoides ou embries que deem origem a fmeas. Isto evitaria o

    descarte de bezerros machos.

    Outra tecnologia que foi testada ainda dentro do tema reproduo a

    clonagem de animais. O primeiro animal clonado foi a ovelha Dolly, sendo que no

    Brasil foi a bezerra Vitria. Um dos ideais da clonagem consiste em aumentar a

    produo animal. Contudo, o custo envolvido com esta tecnologia a torna

    inacessvel para esta finalidade. Outros aspectos so: a falta de conhecimento a

    respeito do funcionamento do genoma, alm das questes ticas. Por isso, centros

    de pesquisas que trabalham na rea esto investigando o comportamento fisiolgico

    dos clones, para averiguar a viabilidade do processo.

    O melhoramento gentico de animais, com a introduo de uma

    caracterstica de interesse em menor tempo, tem um grande interesse comercial.

    Alm de inferir com mais acurcia os animais a serem cruzados, a biotecnologia

    ainda vem testando uma maneira mais rpida para obter a qualidade almejada,

    como o uso de animais transgnicos. Alm desta aplicao, estes animais

    geneticamente modificados apresentam ainda outras aplicaes extremamente

    interessantes.

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    5.7 Animais Transgnicos

    A transgenia animal a criao de indivduos contendo genes heterlogos

    de interesse, sem a necessidade de intercruzamento. Este objetivo alcanado

    aps a transfeco celular, o que permite que a sequncia exgena seja inserida no

    material gentico do hospedeiro. Sua justificativa consiste no estabelecimento, em

    curto prazo e a um custo menor, de caractersticas no alcanadas facilmente por

    outros meios, como a obteno da conformao correta de protenas de interesse.

    A aplicao de animais transgnicos ampla e inclui estudos bsicos, como:I. Pesquisas mdicas, como modelos de enfermidades humanas para a

    identificao e estudo de fatores envolvidos em sistemas homeostticos;

    II. Em toxicologia, como organismos destinados a testes biolgicos;

    III. Na produo industrial, para obter protenas especficas;

    IV. Na agricultura e zootecnia, para o melhoramento da carne e de outros

    produtos de origem animal; e

    V. Na gerao de animais resistentes a doenas.

    Novos modelos de animais vm sendo utilizados tambm para avaliar

    mecanismos patognicos, procedimentos teraputicos e de diagnstico, nutrio e

    doena metablica, alm de eficcia de novas drogas desenvolvidas. Contudo, esta

    apostila ir destacar somente algumas destas aplicaes.

    5.7.1 Animais Resistentes a Doenas

    Uma grande preocupao na produo agropecuria inclui os gastos

    relacionados com o controle e o tratamento de doenas infecciosas, o que tem sido

    estimado em cerca de 10-20% dos custos de produo total. Alm disso, uma das

    caractersticas da criao de animais consiste na aglomerao dos mesmos, o que

    permite a rpida disseminao dos patgenos. Animais transgnicos gerados para

    serem mais resistentes a uma determinada doena constituem ento uma alternativa

    interessante para o problema.

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    Vrios genes esto sendo testados para a gerao de transgnicos

    resistentes s patologias. Estudos iniciais foram realizados em camundongos. Umdos testes nesta espcie foi o de obter animais com menor propenso a desenvolver

    mastite. Com este objetivo, clulas de camundongos foram transfectadas com o

    gene da lisostafina. Esta protena possui potente atividade contra Staphylococcus

    sp, um dos agentes etiolgicos frequentemente envolvidos em casos de mastite. Os

    animais transgnicos foram testados contra o desafio por esta bactria.

    Os camundongos, cujas clulas da glndula mamria eram capazes de

    secretar protenas antibacterianas, mostraram-se mais resistentes infeco emcomparao com aqueles que no tinham essa capacidade. Isto demonstra o

    potencial da transgenia na criao de animais resistentes. Caso contrrio, o uso

    desse tipo de antibacterianos por via oral ou outra forma de administrao no

    utilizada, pois perde sua atividade aps destruio na via digestiva ou h uma

    resposta imune mediada contra ela. No animal transgnico, esta protena no ser

    reconhecida como exgena.

    Camundongos transgnicos ainda foram testados quanto ao seu potencial

    em resistir a infeces virais. Para isto, clulas destes animais foram transfectadas

    com os alelos do gene MXl. Este gene codifica uma protena que interfere na

    replicao do vrus de influenza, prevenindo o crescimento, tanto in vitro como in

    vivo. Esta protena ainda tem a mesma ao contra vrus de RNA fita simples, como

    outros da famlia Orthomixoviridae.

    A metodologia utilizada para prevenir a infeco pelo vrus da Influenza

    consistiu na observao de que a citocina interferon beta tem seus nveis de

    expresso aumentados aps a infeco. Esta protena estimula o sistema

    imunolgico de forma a polarizar a resposta contra o ataque viral. A associao

    desta informao com as caractersticas da ao antiviral da protena MXI foi a

    responsvel pela metodologia adotada na construo gentica para a criao de

    animais resistentes. Colocando-se o gene MXI sob o comando de um promotor

    induzido por interferon, o gene ativado somente no local de infeco, impedindo

    assim a propagao do vrus. Este processo, denominado de imunizao

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    intracelular, aliado transfeco de uma linhagem germinativa, gerou camundongos

    transgnicos que expressavam a protena MXI. A introduo deste gene emcamundongos susceptveis os tornou resistentes ao ataque viral.

    A resistncia contra doenas infecciosas extremamente importante para os

    animais de produo e, por isso, testes de transgenia em espcies alvos tambm

    tm sido realizados. Em aves, a expresso da capa viral do vrus da Leucose em

    alguns de seus receptores protegeu esses animais do desafio com o vrus em

    questo, sugerindo a possibilidade de se conseguir a resistncia viral nesta espcie

    animal. Gado transgnico tambm foi testado quanto sua susceptibilidade aoataque viral. Para isso, utilizaram-se mtodos que permitiram atingir altos nveis de

    expresso do interferon beta e a expresso de anticorpos contra um determinado

    agente etiolgico. Estas metodologias demonstraram resultados promissores.

    Em sunos, a metodologia utilizada para criar animais resistentes ao ataque

    viral foi a mesma da adotada em camundongos. A expresso da protena MXI

    induzida pelo interferon teve sucesso em duas linhagens transgnicas. Apesar disso,

    este modelo adotado tambm um bom exemplo dos problemas enfrentados na

    produo de animais transgnicos resistentes a doenas. A introduo de um nico

    gene pode no ser totalmente eficaz. No caso da protena MXI, sua ao

    diferenciada de acordo com o estgio celular, resultando em uma eficcia diferente

    na proteo das clulas alvo. Alm disso, a expresso dessa protena suprimida

    aps meses, processo cuja causa ainda no foi esclarecido.

    Outro problema discutido a respeito da produo de animais transgnicos se

    refere s determinadas construes genticas utilizadas para este propsito. Em

    sunas, houve rearranjo das sequncias que aboliram a sntese proteica. O uso de

    determinados elementos genticos podem ser prejudiciais, como um promotor

    constitutivo de humano que se mostrou deletrio para a espcie em questo.

    Portanto, percebe-se a necessidade de obter mais conhecimentos de cada via

    envolvida no processo, alm da genmica funcional para melhorar os sistemas

    genticos a serem utilizados na criao de animais transgnicos.

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    5.7.2 Animais Transgnicos como Biorreatores

    Um grande interesse industrial e da rea da sade a produo de

    protenas recombinantes, como enzimas, hormnios e fatores de crescimento. As

    protenas recombinantes, como discutido no mdulo III, podem ser obtidas a partir

    de sistemas de expresso procariotos ou eucariotos. Os procariotos so teis, pois

    crescem facilmente; contudo, so limitados em suas habilidades quanto s

    modificaes ps-traducionais. Este problema pode ser solucionado pela expresso

    em sistemas eucariotos, como as leveduras.As desvantagens deste incluem a falta de identidade nas modificaes ps-

    traducionais, afetando a imunogenicidade e a atividade da protena gerada. As

    clulas mamferas so as hospedeiras que produzem com maior eficincia protenas

    eucariotas. Apesar disso, sua produo no satisfatria em escala industrial,

    exigindo um alto custo de manuteno. Uma opo para driblar estas desvantagens

    o uso de animais transgnicos como biorreatores.

    Animais transgnicos so considerados como biofbricas alternativas para a

    produo de protenas. Este sistema apresenta vantagens relevantes sobre a cultura

    de clulas. Em primeiro lugar, as protenas recombinantes so expressas em clulas

    de mamferos e, por isso, as macromolculas so submetidas a todas as

    modificaes ps-traducionais necessrias para que a protena tenha a conformao

    e a atividade biolgica adequadas. Em segundo lugar, estes animais podem ser

    considerados como fermentadores de larga escala. Aliado a este fato, a alta

    produo da protena de interesse obtida a um baixo custo.

    As vantagens do uso de animais transgnicos como biorreatores incluem um

    aspecto relevante para a comercializao de produtos humanos. Alm de preservar

    a conformao proteica, outro ponto inclui a reduo da contaminao do material

    com algo patognico, como o HIV e o vrus da hepatite, se comparado aos produtos

    isolados do sangue humano, por exemplo.

    Alguns modelos j foram testados quanto possibilidade de produo em

    animais transgnicos. Este sistema utiliza como ferramenta gentica a expresso

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    regulada por promotores tecido-especfico. Um exemplo so as protenas expressas

    no leite atravs da expresso dirigida na glndula mamria. Outro exemplo o fatorVIII, cuja deficincia est relacionada com o desenvolvimento da hemofilia. Esta

    macromolcula pode ser obtida aps a purificao do sangue de humanos.

    Entretanto, o custo envolvido neste processo extremamente alto, inviabilizando-o.

    Outra desvantagem a possibilidade de contaminao do produto purificado por

    outros compostos de origem humana.

    Estes aspectos restringem o uso do fator VIII na profilaxia e terapia dos

    pacientes afetados. Alm das vantagens j relatadas da produo de protenas deinteresse em animais transgnicos, neste caso especfico se destaca a alta

    produo deste fator no leite de vacas, que foi de 35 a 200 vezes maior se

    comparado ao obtido a partir do plasma sanguneo humano.

    A expresso de protenas recombinantes em animais transgnicos tambm

    tem sido obtida em outras espcies alvo, como as cabras. Um exemplo do uso deste

    sistema a produo da antitrombina III em leite de cabras, processo que se

    encontra na fase III de teste clnico. Este ltimo fato demonstra o potencial do uso de

    animais transgnicos como biorreatores na produo de protenas de interesse.

    As protenas podem ainda ser expressas em diferentes localizaes, alm

    da glndula mamria. Outros fluidos, como espao extracelular, urina, plasma

    seminal, leite e sangue, so alternativas potenciais. Estas opes so extremamente

    vantajosas, uma vez que constituem fluidos de fcil acesso e que so produzidos

    constantemente.

    A escolha do tipo de animal transgnico a ser utilizado depende da

    finalidade do estudo. Fatores como produo anual e com que velocidade ela

    alcanada devem ser vistas para a escolha do sistema de animais transgnicos mais

    apropriados. As regras seriam:

    I. Gado, para produo em toneladas;

    II. Caprinos e ovinos, para produo em centenas de kilogramas;

    III. Coelhos, para produo em kilograma.

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    Modelos de estudos em aves tambm vm sendo realizados. As vantagens

    da produo em ovos em relao a outros sistemas so bem mais interessantes. Asprotenas expressas por esta espcie apresentam modificaes ps-traducionais

    corretas, alm de ser um procedimento de baixo custo em relao cultura de

    clulas e a outros animais transgnicos. Alm disso, considerando que a produo

    derivada destes animais se d em um perodo relativamente rpido, os produtos so

    obtidos em um menor tempo.

    A produo de protenas recombinantes em aves ainda apresenta outras

    peculiaridades que as tornam bons veculos de produo. Alguns dosoligossacardeos adicionados aos peptdeos das aves tm grandes similaridades

    com o de humanos em relao a outros mamferos. Aves no produzem 1,3-Gal,

    reduzindo risco potencial de uma resposta imunolgica adversa a protenas

    farmacuticas produzidas no ovo. Aliado a este fato, a produo no ovo poderia ser

    o mtodo de escolha para protenas txicas a mamferos. Ainda, o ovo um veculo

    atrativo de recuperao das protenas, j que o seu contedo relativamente estril

    e as protenas em ovos brancos so estveis, sugerindo que as protenas

    teraputicas poderiam ter uma meia-vida maior neste produto de aves.

    5.7.3 Animais Transgnicos e as Caractersticas de Interesse Econmico

    A obteno de caractersticas de interesse, sem a necessidade de

    intercruzamentos seguidos de outras selees para o melhoramento animal, pode

    ser obtida com o auxlio da tecnologia do DNA recombinante. Este melhoramento

    gentico visa introduzir de maneira rpida uma modificao da anatomia e fisiologia

    do animal, propiciando o aparecimento de caractersticas como a maior produo de

    carne e leite, melhora no desempenho reprodutivo, melhora na converso alimentar

    e da composio da carcaa.

    Diversas espcies de animais foram submetidas ao melhoramento gentico

    por meio de tcnicas biotecnolgicas. Sunos transgnicos apresentaram maior taxa

    de crescimento com uma qualidade de carne superior, o que se deve melhora na

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    converso alimentar. Ovelhas transgnicas demonstraram maior produo de l,

    sem a necessidade de suplementar a dieta com aminocidos. Salmes transgnicosapresentaram uma maior taxa de crescimento (de 30% a 60%) quando comparado

    aos controles. Estes mesmos animais ainda esto sendo analisados quanto

    possibilidade de criar uma gerao que expresse uma protena anticongelamento,

    permitindo a sobrevivncia dessa espcie em baixas temperaturas. Estes exemplos

    suportam a afirmao de que a biotecnologia uma ferramenta potencial para o

    melhoramento gentico de animais em menor tempo.

    5.7.4 Animais Transgnicos na Pesquisa Biomdica e de Xenotransplante

    O objetivo da pesquisa biomdica que utiliza modelos animais conciliar

    fenmeno biolgico entre as espcies, onde o conhecimento adquirido de uma

    possa ser extrapolado para outra. Apesar dos principais modelos atualmente

    utilizados (camundongos e cobaias, por exemplo), serem bem caracterizados e de

    custo mais acessvel para tal finalidade, animais domsticos tambm vm sendo

    testados para este fim. Isto se deve s similaridades anatmicas e fisiolgicas que

    estas espcies apresentam em relao aos humanos. Isto justifica o crescimento de

    pesquisas biomdicas para xenotransplantes com animais domsticos, o que tem

    sido caracterizado em um aumento de 10-20% por ano.

    Modelos animais transgnicos tm sido utilizados com a finalidade de

    compreenso das causas, progresso, estgios e sintomas de uma determinada

    doena. Acredita-se que eles desempenhem um papel fundamental na pesquisa

    teraputica das patologias, constituindo fontes para novas formas de tratamento,

    desenvolvimento de testes de diagnsticos, agentes teraputicos mais eficazes e

    baratos, alm de teste para a terapia gnica.

    Para isto, os animais a serem utilizados na pesquisa devem apresentar uma

    alta similaridade a humanos. Este fato est baseado na observao de que os genes

    humanos tm uma verso equivalente em outros animais, aumentando a

    probabilidade de elucidar determinados processos e reaes do organismo, e,

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    consequentemente, a patognese de enfermidades at a sua progresso e

    resoluo.As reas de pesquisa nos estudos biomdicos incluem: fisiologia,

    farmacologia, toxicologia, radiologia, cirurgia e transplantes de rgos,

    traumatologia, patologia, embriologia, gastroenterologia, nefrologia e pediatria,

    sendo intensivamente estudados na rea de cardiovascular (dietas com alto

    colesterol apresentam leses arteroesclerticas histologicamente similares a de

    humanos). Exemplos de patologias em que os animais transgnicos servem como

    modelo o diabetes mellitus (at mesmo com o processo de catarata), ahipercolesterolemia (onde a elucidao do processo poderia prover um modelo para

    terapia gnica) e o modelo de estudo da obesidade humana, j que um lcus

    mapeado no cromossomo quatro dos sunos similar a outro presente no

    cromossomo 1q humano.

    Geralmente, os sunos so os animais de eleio para os estudos de

    xenotransplantes. Isto se deve s grandes similaridades anatmicas e fisiolgicas

    desta espcie em relao aos humanos. Por isso, muitas pesquisas tm sido

    desenvolvidas na rea, como a utilidade e aplicao de rgos de sunos em

    transplantes, alm de sua aplicao em cirurgias plsticas e reconstitutivas.

    O principal objetivo dos xenotransplantes se refere possibilidade de

    fornecimento ilimitado de rgos para uso em transplantes humanos. A espcie

    suna e a sua miniatura (pequeno o suficiente na maturidade e facilmente

    manipulado em condies de laboratrio, mantendo a similaridade anatmica e

    fisiolgica quanto aos humanos) esto sendo muito estudadas. Um dos principais

    estudos a respeito dos xenotransplantes inclui as pesquisas com as ilhotas

    pancreticas. Contudo, os sunos apresentam um epitopo de galactose em suas

    glicoprotenas e glicolipdeos, o qual reconhecido pelo sistema imunolgico

    humano. Por isso, esta sequncia responsabilizada pelo fenmeno de rejeio

    aguda dos xenotransplantes.

    Alternativas para que o xenotransplante suno se torne efetivo incluem o

    knockout ou a inativao da sequncia codificadora de um gene, como forma

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    imunorreguladora para permitir a tolerncia aos rgos transplantados. Outra

    consiste na gerao de sunos transgnicos contendo o gene da fucosiltransfease.Esta enzima est envolvida com a apresentao dos epitopos H na superfcie das

    clulas, os quais so universalmente tolerados.

    Argumentos contra o uso de animais para a pesquisa biomdica e de

    xenotransplantes tm sido debatidos. O primeiro ponto consiste na presena de

    retroviroses de animais que podem ser expressas aps o transplante. Para

    solucionar este problema, o uso de RNAi (RNA de interferncia) para suprimir a

    expresso de retrovrus sunos foi testado.Esta estratgia se baseia no anelamento ao RNAm complementar,

    inativando a expresso do produto neste codificado. Esta soluo demonstrou ser

    efetiva contra a expresso de retroviroses sunas. Alm da questo moral, muitas

    inferncias a respeito da progresso e, principalmente, do tratamento a partir desses

    modelos animais devem ser analisados com cautela. As respostas geradas diferem

    entre as espcies, interferindo com a anlise e a associao dos fenmenos

    observados. As aplicaes da biotecnologia na agropecuria vo alm de testes em

    animais. Vrias plantas transgnicas tm sido obtidas, sendo que os alimentos

    geneticamente modificados merecem ateno especial.

    5.8 Alimentos Geneticamente Modificados

    Os estudos iniciais sobre as aplicaes da biotecnologia nos produtos

    agrcolas se iniciaram entre 1986 e 1995. A transferncia de tecnologia para esta

    rea se deve demanda de melhorar a produo e a distribuio de gneros

    alimentcios para a populao mundial crescente, ao mesmo tempo em que so

    reduzidos os impactos ambientais.

    A tecnologia dos transgnicos tem sido utilizada para produzir as

    caractersticas preferidas pelo mercado, tendo uma grande aplicao tanto na

    alimentao como no vesturio. Entre as mais pesquisadas, esto a tolerncia a

    herbicidas, resistncia a insetos, qualidade do produto e a resistncia a vrus. No

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    entanto, as caractersticas que visam aumentar a qualidade nutricional dos alimentos

    vm se tornando progressivamente mais importante e devero prevalecer nasprximas geraes de produtos transgnicos.

    Diversos exemplos de produtos agrcolas modificados pela tecnologia do

    DNA recombinante esto em testes, sendo que alguns j foram disponibilizados ao

    mercado. Dentre eles, podem ser utilizados como exemplo:

    I. Plantas resistentes aos ataques virais, como o arroz transgnico

    resistentes ao vrus Mottle Amarelo do arroz (RYMV), que devasta os arrozais

    africanos. Outro exemplo a papaia resistente ao vrus Ringspot e que tem sidocomercializada e plantada no Hava desde 1996. Este exemplo demonstra a

    eficincia da modificao gentica em vegetais, visando obter maior resistncia a

    uma praga especfica;

    II. Plantaes transgnicas persistentes aos insetos do Bacillus

    thuringiensis e o algodo transgnico, o qual possui o gene de resistncia a

    infestao por larvas. Um dos benefcios deste tipo de plantas a reduo

    significativa no uso de inseticidas. Alm disso, a alta resistncia do algodo

    transgnico aumenta consequentemente, a sua produo, beneficiando a indstria

    de vesturios;

    III. Alimentos de alto rendimento, como o trigo semiano. Esta planta

    modificada mais baixa, mais forte e aumenta o rendimento da safra diretamente,

    uma vez que se reduz o alongamento das clulas na parte vegetativa. Desta forma,

    a planta desenvolve mais sua parte reprodutiva (comestvel);

    IV. Transgnicos cujo cultivo possa ser feito em terras marginalizadas. Um

    exemplo o tomate resistente ao excesso de sal. Este transgnico contm um gene

    capaz de crescer e se desenvolver em um ambiente com excedente de sal nas

    plantaes;

    V. Benefcios nutricionais, como a maior produo de beta caroteno,

    precursor da vitamina A, cuja deficincia nos animais causa cegueira. Outro caso o

    arroz transgnico, que apresenta elevados nveis de ferro, de forma a combater a

    anemia.

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    A aplicao da tecnologia do DNA recombinante na gerao de alimentos

    transgnicos no apenas um campo de pesquisa em desenvolvimento. Na dcadade 90, os EUA aprovaram dezenas de produtos geneticamente modificados e outra

    grande quantidade apareceu tambm no mercado europeu. No Brasil, muitos

    alimentos transgnicos importados j so comercializados e o pas planeja importar

    trs milhes de toneladas de milho da Argentina e dos EUA, onde as lavouras

    transgnicas so liberadas oficialmente.

    Hoje h sementes manipuladas sendo cultivadas no mundo em uma rea de

    30 milhes de hectares e seu mercado dever movimentar cerca de US$ 3 bilhes.Alm disso, o ritmo atual de liberao de Organismos Geneticamente Modificados

    indica que uma centena de produtos geneticamente modificados nas prateleiras dos

    supermercados chegar casa de milhares de pessoas em algumas dcadas.

    Alimentos produzidos atravs de modificao gentica possuem diversas

    vantagens que devem ser consideradas para a sua liberao. Eles podem ser mais

    nutritivos e estveis quando armazenados. Aliado a este fato, podem, em princpio,

    trazer benefcios, promovendo sade aos consumidores, seja em naes

    industrializadas ou em desenvolvimento. Esforos organizados devem ser feitos

    para investigar os efeitos potenciais no meio ambiente (positivos ou negativos) dos

    vegetais transgnicos em suas aplicaes especficas. Eles devem ser avaliados

    tomando-se como referncia os efeitos de tecnologias convencionais da agricultura,

    que estejam atualmente em uso.

    Assim como comentado no pargrafo anterior, uma das grandes

    preocupaes da populao atual so os problemas ambientais. O crescimento

    industrial e populacional desordenado utilizou fontes naturais como matria-prima,

    sem considerar o seu tempo de reposio na natureza. Alm disso, a falta de

    saneamento bsico e os acidentes industriais so frequentemente noticiados na

    mdia como contaminantes severos do meio ambiente. Considerando estes fatos, a

    tecnologia do DNA recombinante tambm pode ser aplicada para solucionar esta

    questo. Um dos exemplos que vem recebendo pesquisas contnuas a

    biorremediao.

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    5.9 Biorremediao

    Acidentes que resultam em despejo de substncias inadequadas ao

    ambiente so responsveis pela contaminao dos solos, guas superficiais e

    subterrneas e do ar. Diversos casos de contaminao ambiental esto sempre

    sendo notcias de destaque nos meios de comunicao, como os que envolvem os

    navios petroleiros e o descarte de dejetos industriais em rios e lagos. O isolamento

    dos agentes contaminantes e o tratamento de recursos naturais representam perdas

    financeiras significativas.A estimativa mundial de gastos com a despoluio ambiental gira em torno

    de 25 a 30 bilhes de dlares, o que demonstra a necessidade de alternativas para

    solucionar o problema. Entre elas, uma opo de baixo custo a biorremediao.

    Consiste na eliminao de contaminantes ambientais com o uso de micro-

    organismos vivos. As vantagens deste mtodo incluem o uso de agentes naturais,

    que perturbam menos o ambiente e uma alternativa de baixo custo. Para a

    implantao deste processo, preconiza-se que os contaminantes sejam susceptveis

    ao ataque pelos micro-organismos e que os compostos produzidos por este

    procedimento no devam ter efeitos adversos ao meio ambiente. medida que os

    conhecimentos a este respeito aumentam, esta estratgia se torna bastante

    promissora.

    Inicialmente, um dos pontos que devem ser satisfeitos para a implantao da

    biorremediao ter grandes conhecimentos sobre a gentica de cada micro-

    organismo em particular. Isto permitir conhecer quais deles so capazes de

    biotransformar um determinado contaminante ambiental. Dentro deste aspecto, a

    biotecnologia pode ser aplicada, uma vez que o genoma sequenciado informa a

    funo de um determinado gene. Outro aspecto envolve o conhecimento das

    condies presentes nas quais o micro-organismo ser utilizado e se estas

    favorecem a atividade microbiana. Entre os parmetros que devem ser observados

    esto: teor de nutrientes, oxigenao, temperatura e pH.

    A tecnologia do DNA recombinante ainda pode beneficiar a biorremediao

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    Este material deve ser utilizado apenas como parmetro de estudo deste Programa. Os crditos deste contedo so dados aos seus respectivos autores.

    de outra maneira. As bactrias de interesse adaptadas ao ambiente que se deseja

    tratar so transformadas com um vetor de expresso. Neste estar clonado o geneque codifica o produto responsvel por solucionar um determinado problema

    ambiental. Em outras palavras, a clonagem molecular pode fornecer uma

    caracterstica til para a biorremediao, transformando um determinado micro-

    organismo capaz de se proliferar nas condies impostas em ambientes

    contaminados.

    ---------------- FIM DO MDULO IV ----------------

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