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BOLETIM DE GEOPOLÍTICA -CENEGRI

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Publicação trimestral do Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais (CENEGRI), Brasil. ISSN 2357-9455 Nº 1, Maio/Junho/Julho de 2014. Sem fins lucrativos/No profit www.cenegri.org.br

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Page 1: BOLETIM DE GEOPOLÍTICA -CENEGRI
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Nesta Edição

02 Consolidação de uma proposta

03 A contribuição da Geopolítica ao método das Relações

Internacionais

09 A Geopolítica não está morta

16 A Rússia e Great Game

18 A OTAN na Ucrânia é o mesmo que mísseis em Cuba

26 CENEGRI 2004-2014: 10 anos de um trabalho consolidada

28 A Realpolitik dos Estados Unidos de Obama

30 Para quando a África?

32 Livros

BOLETIM DE GEOPOLÍTICA

Editores: Charles Pennaforte e Vitor Stuart de Pieri Editor-assistente: Ricardo Luigi Arte: CENEGRI

Gráfica: Letras & Versos Cartas: [email protected]

O Boletim de Geopolítica (ISSN 2357-9455) é uma publicação trimestral de divulgação

científico-cultural do CENEGRI. Publicação sem fins lucrativos. O Boletim de Geopolítica não endossa nenhuma das opiniões emitidas pelos colaboradores

e/ou articulistas nesta edição. O Boletim utiliza material Copyleft respeitando todos os direitos autorais inerentes à licença.

CENTRO DE ESTUDOS EM GEOPOLÍTICA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS – CENEGRI CNPJ 06.984.983/0001-18

Rua Dois de Dezembro, 38 Grupo 602-603

CEP 22220-040 — Flamengo — Rio de Janeiro Telefone + 55 21 2195-1315 Fax: +55 21 2195-1301

E-mail: [email protected]

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CONSOLIDANDO UMA PROPOSTA

CENEGRI alcança o seu décimo ano de existência demonstrando a pertinência de um trabalho sério e organizado.

Nesse período o CENEGRI consolidou-se como uma das principais instituições de pesquisa do Brasil e com reconhecimento internacional, mesmo sem contar com qualquer tipo de

financiamento externo. Ao mesmo tempo, a revista

Intellector tornou-se uma das principais referências na sua área, alcançando o seu vigésimo número publicado sem nenhuma interrupção em 2014.

A revista Intellector possui classificação B3 no sistema Qualis Capes, demostrando a sua importância no segmento Geopolítico e Relações Internacionais.

Dando prosseguimento a consolidação da proposta de difusão de novos trabalhos na área, foi criado em 2008, o selo Cenegri Edições com o objetivo de proporcionar um novo espaço para autores e temáticas que não

conseguem acesso ao nosso fechado mercado editorial.

Desde então o portfólio vem crescendo e alcançou mais de uma dezena de títulos publicados em parceria com universidade do Brasil e do exterior.

É com grande orgulho que verificamos o sucesso do nosso projeto, principalmente no Brasil, onde as iniciativas originais sofrem

sérios abalos pela falta de incentivos e oportunidades.

Agora o CENEGRI lança o Boletim de Geopolítica com objetivo de oferecer aos leitores uma interpretação crítica e ágil do grandes dilemas contemporâneos.

Neste número de lançamento temos o embate geopolítico entre a Rússia e os EUA, o papel da Geopolítica e uma reflexão sobre a África

O CENEGRI agradece aos amigos e colaboradores pelo apoio nesta primeira década de existência.

O

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A CONTRIBUIÇÃO DA GEOPOLÍTICA AO

MÉTODO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Prof. Dr. Edu Silvestre de Albuquerque*

as primeiras décadas desde a institucionalização das Relações Internacionais enquanto campo de saber

autônomo, os analistas gravitavam em torno das correntes idealista ou realista. O idealismo se apresentava na forma filosófica pelo princípio da paz universal kantiana, e empiricamente na formação da Comunidade

Econômica Europeia (assim como na ainda mais tardia moeda única europeia defendida outrora por Jean Monet) e na proposta wilsoniana da efêmera Liga das Nações e depois da ONU.

Por sua vez, o realismo se alimentava do fato de que as guerras se sucediam na história humana, e na noção de equilíbrio de poder aplicada ao concerto europeu do pós-guerra e na criação do Conselho de Segurança da ONU. A medida em que o impasse da Guerra Fria se cristalizava, mas em desfavor do lado soviético, novos paradigmas nas Relações Internacionais foram propostos: construtivismo, marxismo, neoinstitucionalismo, neorrealismo...

Essa profusão de modelos explicativos indica que a) a realidade do sistema internacional é complexa e contraditória, e b) a

visão dos analistas de Relações

Internacionais é pluralista e não tende à unidade. Assim, nossa proposta neste breve ensaio é de (re)valorização do campo empírico do sistema internacional, este apreendido enquanto fato histórico ou fato geográfico. Aprendendo com a história

O historiador Jean-Baptiste

Duroselle (2000) distingue fenômenos de acontecimentos. O fenômeno é o objeto da ciência em geral, remete aos sentidos (ampliados por meio de máquinas) e independe do tempo, pois

obedece às mesmas regras em qualquer época ou incorpora o tempo matemático (astronomia). O acontecimento é um fenômeno datado, consequentemente, é único (singular), e representa o objeto do historiador. Para ele, os estudiosos do campo das Relações Internacionais devem lidar com os acontecimentos, pois lhes interessa, junto dos diplomatas, o conjunto de possibilidades sempre existentes em cada momento histórico no ato de fazer a política externa.

É quando, prossegue Duroselle, se recorre aos acontecimentos históricos, que torna-se possível

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identificar certas regularidades1 na evolução do sistema internacional, que serão mais genéricas ao se dilatar o intervalo temporal ou mais precisas ao se reduzir o intervalo temporal e a escala. Foram exatamente essas regularidades que o geógrafo Friedrich Ratzel (1844-1904) esperava ter encontrado nos estertores do século XIX, quando afirmou a existência de "leis tendenciais" do movimento dos Estados que explicavam a evolução do sistema

internacional.

Com efeito, a recorrência dos

acontecimentos no processo histórico pode ser melhor identificada com auxílio da geohistória, um ramo da geopolítica necessário para que se extraia os fundamentos geográficos

da razão de Estado, e que aparecem subsumidos em suas políticas de organização do território (política interna) e geoestratégias (política externa).

1 A regularidade remete a uma longa série

de semelhanças que parecem

transcender às épocas. Dentre as várias semelhanças que remetem à própria

natureza do homem, Duroselle cita que toda grande comunidade (unidade

política) procura a eficiência da técnica, e

As regularidades geográficas As leis ratzelianas não são as das ciências naturais ou de certas ciências sociais (como a marxista e a sistêmica que baseiam-se nas determinações da infraestrutura econômica), mas expressam regularidades presentes quando se examina as relações entre geografia e evolução do sistema internacional. Ratzel dizia que a geografia era a mais importante das ciências

auxiliares do homem2, de modo

que o elemento territorial não era

posto em absoluto (apesar de suas qualidades intrínsecas de matéria: forma e extensão), mas em sua relação com os processos econômicos, ideológicos (religiosos, etc.) e políticos (poder). Tão

apreciados por ciências como a economia e as ciências sociais e políticas, respectivamente. Certamente, a oposição entre oceanismo e continentalismo é a mais lembrada dos condicionantes geográficos da história humana,

que todo aperfeiçoamento técnico tende a disseminar-se.

2 Como diria mais tarde também o geógrafo e diplomata britânico Halford

Mackinder (1904), o fator geográfico está presente na história dos povos.

A busca de padrões histórico-espaciais na evolução do sistema internacional aparece como campo promissor para a determinação de sua natureza ou, ao menos, na descoberta de seus traços mais constantes ou regulares, aos quais invariavelmente tentamos abranger sob o rótulo de paradigmas.

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justamente porque diz respeito a formação de grandes espaços ou geoestratégias (PENHA, 2011). Por certo, o comportamento russo na Primeira Guerra Mundial ao aliar-se aos poderes marítimos de Inglaterra e França, em detrimento dos poderes terrestres dos Impérios Alemão e Austro-húngaro, não se encaixa nessa célebre oposição geográfica. E tampouco o comportamento russo na Segunda Guerra Mundial pode ser explicado desta forma. Mas

encontramos uma explicação perfeitamente simples destes dois eventos em Mackinder (1904), quando afirmou que os dois Estado-Pivôs que se destacavam no interior da vasta massa continental eurasiática eram justamente

Alemanha e Rússia, e que o poder naval britânico deveria conter a formação de um poder terrestre nesta área (se temia a formação de um bloco ou império eurasiático o autor não é claro). Em outras palavras, a oposição entre oceanismo e continentalismo é tão importante quanto a vontade política de seus Estados protagonistas de fazerem valer suas potencialidades geográficas (bem como de sabotarem os demais Estados protagonistas competidores)3:

"Do mesmo modo a Grã-Bretanha hoje, graças a uma

frota mercantil com uma

3 Conforme a estratégia de contenção

preconizada por Halford Mackinder, a habilidade do poder naval em semear a

discórdia entre Alemanha e Rússia estava no impedimento à estabilidade necessária

ao desenvolvimento econômico da

capacidade conjunta de nove milhões de toneladas, tira muito maior proveito do desenvolvimento de suas costas e de sua riqueza de portos do que no período de Cromwell quando sua frota mercantil não chegava à centésima parte da frota atual. Assim também a Rússia, que possui 44.000 km de ferrovias, tira hoje (1899) das condições do seu território plano, particularmente favorável a esse meio de comunicação,

um proveito que há 55 anos (1844) quando essas construções eram iniciadas, ainda permanecia como um capital infrutífero sepultado no solo." (RATZEL, 1891 apud MORAES, 1990, p. 71-72).

Friedrich Ratzel destacava que o valor político do território deriva de suas características físicas (extensão, forma, clima, relevo, etc.) e posição geográfica. De outra forma, como explicaríamos o retorno da Grande Rússia depois do colapso soviético?! Como entenderíamos o desenvolvimento da indústria pesqueira peruana sem observar o formato de suas costas projetando-se nas águas frias da Corrente de Humboldt?!

Mackinder (1904) ressaltava que o desenvolvimento das ferrovias possibilitaria aproveitar as vantagens geográficas mesmo das

áreas mais interiores dos

Eurásia - a mais extensa área territorial

do globo. Durante a Guerra Fria, essa mesma estratégia seria utilizada pelos

Estados Unidos para afastar a China da órbita soviética.

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continentes. De fato, obstáculos geográficos de outras épocas foram removidos um a um graças às revoluções dos transportes. O artigo de Granger (2013) demonstra que a política externa brasileira em relação às Guianas evoluiu da estratégia de contenção à estratégia de integração regional, na mesma medida em que o isolamento geográfico do Escudo das Guianas vai sendo contornado pela abertura de rodovias na direção da Venezuela e do Brasil

(Projetos da IIRSA). Mas é preciso ter em mente que

outros obstáculos geográficos ainda persistem, bem como novos surgem: os Andes continuam, senão impedindo, dificultando a abertura de vias interoceânicas na

América do Sul, e a voracidade da indústria chinesa por petróleo leva aquele país a enxergar o Estreito de Málaca como um constrangimento a seu desenvolvimento, cogitando abrir um canal artificial rasgando a Malásia.

Se os sistemas de engenharia não anulam de todo o peso da geografia física, especialmente das distâncias matematizadas nas variáveis econômicas de custos de frete e tempo-meios de circulação, devem ser vistos antes como camadas ou layers que se sobrepõe às condições geográficas naturais. Essa natureza amplamente

geopolítica (geográfica e política) dos sistemas de engenharia pode ser percebida facilmente nos traçados dos oleodutos e gasodutos que partem do Mar Cáspio (Azerbaijão-Geórgia) e Sul da

Rússia. Da mesma forma, pode-se

melhor entender a participação ocidental e árabe na desestabilização da Síria e no isolamento do Irã quando se observa o desenho do projetado Gasoduto Islâmico, que visa transportar o petróleo iraniano até o Mediterrâneo, desembocando exatamente na Síria. As leis de crescimento espacial dos Estados

Em 1895-1996, Ratzel procede

uma minuciosa sistematização da gênese e evolução das formações sócioterritoriais, formulando brilhantes sínteses geográficas expressas no livro As leis de crescimento espacial dos Estados. Ratzel vivenciava ativamente o

processo de unificação da Alemanha, dirigido pela ascendente burguesia prussiana (MORAES, 1990), mas também pela elite política germanófila, e que acontecia tardiamente diante da consumada partilha colonial da África e Ásia pelas potências europeias. Esse acirramento das disputas por mercados e recursos naturais levaria aos europeus a duas guerras fraticidas.

Apesar desse contexto histórico-geográfico específico, as leis tendenciais de crescimento dos Estados se apresentam incrivelmente atuais:

as dimensões do Estado crescem com sua cultura (o bolivarianismo venezuelano como geoideologia; o proselitismo islâmico na África; o acordo de unificação da língua portuguesa

na CPLP estimulado pelo Brasil; a

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indústria cultural hollywoodiana, etc.); o crescimento dos Estados segue outras manifestações do crescimento dos povos e que necessariamente devem precedê-lo (a indústria petrolífera e armamentista

russa); o crescimento do Estado procede da anexação dos membros menores (a história da expansão da formação sócioterritorial estadunidense ou do Brasil com a anexação do Acre à Bolívia; os EUA não apresentam problemas na manutenção das ilhas do Havaí, demograficamente pouco expressivas, ao contrário da França, que não manteve

todas as suas colônias de além-mar por conta do crescimento demográfico destas; as fronteiras são o órgão periférico do Estado, o suporte e a fortificação de seu crescimento (fronteiras fortes sinalizam o interesse e capacidade do Estado em manter

sua integridade territorial, caso do Brasil quando comparado aos vizinhos amazônicos); o Estado em crescimento esforça-se pela delimitação de posições politicamente valiosas (quando Inglaterra e EUA realizaram aquisições e possessões de ilhas e áreas costeiras como logística ao comércio e proteção militar das rotas marítimas; quando os

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Estados Unidos invadem o Iraque e promovem a desestatização da indústria petrolífera local; quando a Rússia anexa a Crimeia, considerando que a base naval de Sebastopol permite acesso ao Mar Negro e Mediterrâneo); a tendência para a anexação e fusão territoriais transmite-se de Estado a Estado e cresce continuamente de intensidade (caso das duas guerras mundiais

que redesenharam o mapa europeu); os primeiros estímulos ao crescimento espacial dos Estados vêm lhes do exterior (diante da pressão demográfica chinesa, a Rússia deve ter uma política de integração da vastidão siberiana; da mesma forma que a pressão da OTAN sobre as fronteiras russas leva Moscou a expandir-se sobre enclaves russos na Geórgia e Ucrânia).

Referências DUROSELLE, Jean-Baptiste. Todo império perecerá. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2000.

GRANGER, Stéphane. As guianas e o brasil da contenção à continentalização, ou perigos e vantagens de uma interface caribenha e europeia. Acta Geográfica, v. 7, n. 15, 2013. MACKINDER, H. J. The Geographical Pivot of History. The Geographical Journal, v. 23, n. 4, April 1904, pp. 421-437.

RATZEL, Friedrich. Antropogeografia (1891). In: MORAES, Antônio Carlos Robert. Ratzel. São Paulo: Ática, 1990. PECEQUILO, Cristina Soreanu. Manual do candidato: política internacional. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2009. PENHA, Eli Alves. Relações Brasil - África e geopolítica do Atlântico Sul. Salvador: EDUFBA, 2011.

* Mestre em Geografia Humana pela USP e Doutor em Geografia pela UFSC. Professor do

Programa de Doutorado em Geografia da UFRN. Contato: [email protected]

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A GEOPOLÍTICA NÃO ESTÁ MORTA*

Prof. Dr. Leonel Itaussú**

u gostaria de pegar a imagem utilizada pelo meu colega e dizer que a

geopolítica não está morta. A geopolítica é uma ciência que, como a fênix da literatura clássica, renasce permanentemente sobre as suas cinzas. Então, nós estamos presenciando, neste momento, o renascimento da geopolítica. Napoleão, que sabia das coisas – porque foi general aos 24 anos de idade, primeiro-cônsul aos 29, imperador aos 34 e senhor da Europa aos 36 anos -, tem uma frase célebre: a política dos Estados está em sua geografia.

Esta é,

sinteticamente, a melhor definição de geopolítica que eu conheço. A política dos Estados está em sua geografia.

Então, vamos começar pelo princípio. Nós habitamos um planeta azul de aproximadamente 500 milhões de km². Desta totalidade, 350 milhões de km² é constituída de mares e oceanos e apenas 50 milhões, de ilhas e continentes. Por tanto, 70% do planeta é constituído de água e 30% de terra. Se nós dividirmos este planeta na linha do Equador, vamos verificar que 80% das terras estão situadas no hemisfério norte

e apenas 20% das terras estão situadas no hemisfério sul. Isto equivale a dizer que 80% do

Produto Nacional Bruto mundial, que 80% da população mundial estão situadas no hemisfério norte e o restante no hemisfério sul, onde se situa o Brasil e a América Latina.

Eu queria dizer o seguinte: se vocês analisarem os centros do poder mundial na atualidade, todos eles estão situados no hemisfério norte (Estados Unidos, União

Europeia, Rússia e China, todos eles situados no hemisfério norte continental) e nenhum centro de poder econômico,

político, militar ou ideológico se encontra localizado aqui no hemisfério sul.

Nós poderíamos, pensando mais,

verificar o seguinte: este planeta é constituído de quase 200 Estados. Portando, ele é politicamente fragmentado, no que diz respeito às relações interestatais, e estas relações interestatais constituem aquilo que nós chamamos de sistema internacional: um sistema interestatal onde as unidades componentes se relacionam num estado de natureza maquiavélico-hobbesiano. E estas relações, segundo uma frase famosa do

e

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Raymond Aron, se desenvolvem à sombra da guerra. Existe, potencialmente, uma possibilidade de guerra de todos contra todos. É só pensar nas guerras greco-pérsicas, nas guerras do império romano contra as invasões germânicas, na guerra dos 30 anos, envolvendo a totalidade dos países europeus, nas guerras da revolução francesa, nas guerras do

império napoleônico e na segunda

guerra dos 30 anos, que vai de 1914 a 1945 – porque nós tivemos uma única guerra e não duas guerras. Muito bem, então nós temos aí um estado de natureza em que existe uma situação de

guerra de todos contra todos. Este é o nosso sistema de

Estados. Além do sistema de Estados, nós temos um mercado mundial que, cada vez mais, tende à unificação. Ou seja, nós temos o

grande fenômeno da nossa época, o mais importante fenômeno da nossa época, que é o processo de globalização. Mas essa globalização não se dá de forma harmônica, mas de forma desigual e

combinada. De um lado, estão os

países que são os “Cavalcantes” e, de outro lado, os países que são os “cavalgados”.

É preciso pensar, portanto, como se entra neste processo de globalização: se se entra por cima, ditando as regras do jogo, ou se se entra por baixo, numa posição de submissão e de busca de uma mera sobrevivência. Se nós olhamos o mundo além da globalização como fenômeno dominante por excelência do século XXI, encontramos o arco de uma

crise internacional que se estende do Egito, passa por Israel e Palestina, atinge também o Líbano e a Síria, se estende para o Iraque e para o Irã e chega até o Paquistão e a Índia. E é neste arco da crise que estão envolvidas,

direta ou indiretamente, todas as potências nucleares do nosso planeta.

Portanto, eu diria que, muito mais do que na época da guerra fria, nós nunca estivemos tão próximos de um desfecho nuclear como aquele que acontece na atualidade, onde o pretexto utilizado para aquilo que poderia ser uma intervenção termonuclear é o fato de que o Irã, dos aiatolás, está procurando produzir uma bomba atômica. E os Estados Unidos e Israel permanentemente ameaçam ao Irã com uma intervenção militar preventiva no sentido de evitar esta

nuclearização do dito país. Mas os Estados Unidos têm, pelo

menos, 6.000 ogivas nucleares, Israel tem 400 ogivas nucleares. Ou seja, quem representa o perigo de uma deflagração atômica não é

o Irã, que busca conseguir uma

A previsão era 2100 e está

perfeitamente claro que, em

2030, a China conseguirá

ultrapassar os Estados Unidos

– não em termos de padrão

de consumo, de padrão de

vida, mas como potência,

como Estado.

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ogiva nuclear em termos de preservar a sua própria existência nacional enquanto Estado. É o que foi feito anteriormente pela Coreia do Norte, que é um país de 150 mil km², de 25 milhões de habitantes, cercado pela Rússia, pela China, pela Coreia do Sul – e pelos Estados Unidos, que têm tropas na Coreia do Sul - e pelo Japão. Ou seja, cercado por todos os lados. O orçamento, o produto bruto da Coreia do Norte é em torno de 30 bilhões de dólares.

Em termos de uma corrida armamentista convencional, a Coreia do Norte jamais poderia encontrar segurança, integridade territorial e independência pressionada pelos Estados Unidos, que

têm despesas militares de 800 bilhões de dólares anuais. Isto é dez vezes mais do que o segundo colocado na lista de despesas militares, que é a China, com 80 bilhões de dólares. Portanto, não haveria possibilidade de sobrevivência, de independência, de integridade territorial para a Coreia do Norte se ela não “cortasse caminho”, desenvolvendo armamentos termonucleares.

Se a Coreia do Norte for atacada, seguramente será varrida do mapa, mas antes disso as suas ogivas nucleares atingirão a Coreia do Sul, as tropas americanas sediadas na Coreia do Sul, o Japão

e provavelmente o Alasca e a

Califórnia. Então, é preciso pensar duas vezes antes de tentar neocolonizar um país como a Coreia do Norte. A mesma coisa é o Irã, em que você tem, no Iraque, tropas americanas estacionadas; em que você tem, no Golfo Pérsico, porta-aviões e a concentração militar marítima dos Estados Unidos. Tem tropas americanas também situadas no Afeganistão. Ou seja, o Irã está literalmente cercado e, se não tomar cuidado, em termos de uma guerra

convencional, o Irã poderia ser absolutamente destruído. A não ser que ele desenvolva armamentos estratégicos e não convencionais, como a produção de um artefato

atômico contra Israel, que tem mais

de 300, e contra os Estados Unidos, que têm mais de 6000. O jogo está armado.

Esta desestabilização que aparece na Síria, atualmente, e que pode se estender para o Líbano, é, de certa forma, limpar e preparar o terreno para uma futura

intervenção americano-israelense no Irã, desencadeando uma grande conflagração regional - porque o Irã tem mais de 2 milhões de km², mais de 80 milhões de habitantes e

uma mobilização ideológica compacta em torno do islamismo xiita.

O Irã, de uma maneira muito fácil, pode bloquear a saída do Golfo Pérsico, no estreito de

Ormuz. E bloqueando a saída do

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Golfo Pérsico, o Japão deixará de receber 60% do petróleo que consome diariamente para manter a sua capacidade industrial.

A Europa deixará de receber 50% do petróleo que necessita diariamente para manter a sua capacidade industrial e os próprios Estados Unidos seriam afetados em, pelo menos, 30% das suas importações de petróleo. Ou seja, isso vai desencadear uma conflagração no subsistema regional do Oriente Médio que terá

repercussões globais, repercussões mundiais. Imaginem o preço do barril de petróleo – 100

dólares, na atualidade – subir em uma semana ou em 15 dias para 300 ou 400 dólares o barril. Ou seja, nós vamos ter uma recessão ou uma depressão em escala mundial cujas consequências serão imprevisíveis.

Dentro deste contexto em que eu falei da globalização como fenômeno por excelência, do arco da crise que se estende do Egito até a Índia e inúmeros países nuclearizados, nós temos ainda um sistema internacional que

desapareceu em 1989 e 1991, com o colapso da União Soviética.

A partir daí, os Estados Unidos emergem, ainda que desgastados, como a hiperpotência mundial. A primeira, a única e,

provavelmente, a última

hiperpotência do planeta. Mas os Estados Unidos, no seu poderio estratégico-militar, é insuperável, como eu disse pra vocês. O orçamento militar de 800 bilhões de dólares, que pode parecer muito, mas que é apenas 5% do PIB americano (12 trilhões de dólares), mas que é mais de 30% do orçamento anual do governo norte-americano. Daí essa crise que os Estados Unidos estão vivendo neste momento. Nenhum país, e a União Soviética foi um

exemplo, aguenta aplicar de 30 a 35% do seu orçamento nas despesas militares sem

implodir, porque não resta recursos para aplicar na economia, na educação, na saúde, no transporte, na energia e o

país é levado, necessariamente, para uma crise.

É o que o Paul Kennedy chama de “stress imperial”. O país se expande de uma tal maneira que os recursos econômicos que ele dispõe não são suficientes para manter a sua supremacia na totalidade do seu império. E os

Estados Unidos é, sem dúvida alguma, um império universal. Nunca, desde o Império Romano até agora, se viu um império tão poderoso quanto o dos Estados Unidos, com capacidade de

intervenção econômica, política e

Dentro deste contexto em que eu

falei da globalização como

fenômeno por excelência, do arco

da crise que se estende do Egito até

a Índia e inúmeros países

nuclearizados, nós temos ainda um

sistema internacional que

desapareceu em 1989 e 1991, com

o colapso da União Soviética.

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militar em todos os cantos do planeta.

Mas isso tem um ônus: manter permanentemente a capacidade militar em prejuízo dos investimentos e de outras áreas vitais para a sociedade americana. De tal maneira que, no plano estratégico-militar, nós temos um mundo unipolarizado: os Estados Unidos em primeiro lugar, não como potência, mas como hiperpotência e, dez graus abaixo, o segundo colocado, que é a China

e que tem um décimo das despesas militares dos Estados Unidos. Isso cria um sistema internacional híbrido. Aquele sistema internacional bipolar, da Guerra Fria, desapareceu em 1989 e 1991.

Agora nós temos uma unidade político-estratégico-militar, uma unipolaridade estratégico-militar, mas que é seguida no mercado mundial por uma multipolaridade econômica e tecnológica. Qual é o outro fenômeno que nós estamos apreciando na nossa época, é a ascensão da Ásia: a ascensão da Índia, a ascensão da China – que já é o segundo produto bruto mundial, logo após dos Estados Unidos e que, no andar da carruagem, nos próximos dez anos vai superar os Estados Unidos. Essa ascensão da Ásia do Pacífico coincide com o declínio da região atlântica do planeta.

É muito importante verificar que a China cresce hoje de 10 a 12% ao ano. O Deng Xiaoping, que já morreu nos anos 90 e que é o cérebro desta política chinesa - e que também era presidente da

juventude comunista -, estava com

93 anos e dizia o seguinte: “nós temos que crescer, daqui pra frente, 12% ao ano para que possamos alcançar os A previsão era 2100 e está perfeitamente claro que, em 2030, a China conseguirá ultrapassar os Estados Unidos – não em termos de padrão de consumo, de padrão de vida, mas como potência, como Estado. Estados Unidos em 2100”.

Portanto, nós podemos caminhar para uma nova situação de bipolaridade, para uma nova

situação de Guerra Fria, na qual a China tem uma frente marítima extensa – coisa que a União Soviética nunca teve, porque era um país mediterrâneo, enclausurado no mar Negro, no mar Báltico e no mar de Okhotsk e

no mar Ártico, ela não tinha saída para o mar da China tem uma frente marítima que lhe dá a possibilidade de sair para os mares quentes e de se projetar no oceano Pacífico, onde poderá disputar a hegemonia com os Estados Unidos como potência naval.

E, por outro lado, em termos terrestres, ela poderá se projetar na área “pivô” da Eurásia, no heartland da Eurásia. E, dominando esta região central, ela poderá se projetar em direção à Europa, em direção ao Oriente Médio e em direção à China – e, por tanto, na direção do oceano Atlântico e do oceano Índico. Ela pode se

transformar numa potência “anfíbia”, que será, ao mesmo tempo, uma potência marítima no oceano Pacífico e no oceano Índico, e uma potência terrestre, projetando-se sobre a Europa, o

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Oriente Médio e o continente indiano.

Isso implicaria, portanto, que os Estados Unidos, aqui no continente americano, estaria submetido a uma “pinça”: uma força se projetando sobre o oceano Atlântico e uma força se projetando do Pacífico em direção aos Estados Unidos, tendo, por tanto, que se preocupar com duas frentes.

A terceira coisa importante é pensarmos em termos de relações multinacionais – não vamos nos

esquecer que a economia mundial hoje é dominada por 500 grandes empresas multinacionais. Existem empresas cujo faturamento é maior que 60% do PIB do planeta, basta falar da Microsoft, por exemplo, e destas empresas de

alta tecnologia. E, destas 500 empresas, a Índia tem 35 multinacionais (vejam bem, a Índia não é a daquela visão que nós tínhamos há trinta anos), uma classe média de 270 milhões de habitantes e um poderio termonuclear reconhecido por todos.

Você tem mais umas 20 multinacionais japonesas, umas 50 europeias e o resto é multinacionais americanas. Ou seja, a economia mundial é controlada por 500 multinacionais, só que esta economia é multipolarizada. Está nos Estados Unidos, Canadá, na União

Europeia, na Rússia, na China, na Índia, no Japão, na África do Sul e no Brasil. Daí se pode dizer que o sistema internacional é unimultipolar: tem uma unipolaridade estratégico-militar,

concentrada nos Estados Unidos,

mas tem uma multipolaridade econômico-científico-tecnológica que se radiou para as diversas regiões do planeta. Além disso, nós temos uma série de problemas que não podem ser solucionados por um único Estado, são problemas supranacionais. Em deles é o crescimento demográfico: 95% do crescimento demográfico nos próximos 50 anos vai se dar nos países do Terceiro Mundo. A Europa vai ter decréscimo demográfico, a Rússia vai ter

decréscimo demográfico, os Estados Unidos só não terá por causa da imigração oriental ou latino-americana e o crescimento vai se dar, portanto, na América Latina, na África e na Ásia.

E, pior do que esse crescimento

demográfico acelerado, será os deslocamentos populacionais que, da América Latina, estarão direcionados para a América do Norte; que da África estarão direcionados para a Europa e que da Ásia do Pacífico estarão se deslocando para o Ocidente, como fizeram os tártaro-mongóis no século XIII.

Este é um problema a resolver. Outro problema é a degradação ambiental, o processo de desertificação - como o que acontece na Amazônia e na Floresta do Congo -, o processo de poluição das águas das bacias hidrográficas e o processo de

destruição do meio-ambiente por este formigueiro que está se multiplicando no Terceiro Mundo. Isto não dá para resolver com bomba atômica, com desembarque de tropas, com esquadras de

guerra. Isto são problemas globais

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que só um consenso mundial poderá tomar medidas no sentido de evitar a poluição da atmosfera, a degradação do meio-ambiente, controlar o crescimento populacional e transformar a Terra em um ecossistema que possa permanecer habitável e com uma economia ultra-sustentável.

Então, o panorama que traço para vocês não é alentador, nós temos vários desafios para o século XXI e são estes desafios que nos colocam o problema de uma

resposta que tanto tem que ser individual, interestatal, global e coletiva.

Como é que nós pretendemos atravessar este século XXI e chegar ao século XXII com este número de desafios? Pra isto, nós

temos que desenvolver toda uma reflexão. Marx dizia que não haveria necessidade de ciência se a aparência e a essência das coisas coincidissem plenamente, se o mundo fosse transparente. Mas quem aqui pode afirmar, de boa-fé, que é por dentro exatamente o que aparenta por fora? Difícil, né? Para isso, nós precisamos de uma coisa, portanto, que é a ciência pura, que vai fornecer elementos para uma ciência aplicada ou uma tecnologia que vai nos permitir enfrentar estes problemas.

E diz Samuel Huntington, em um dos 50 maiores livros do século XX, e que Samuel Huntington escreveu com menos de 30 anos, intitulado O Soldado e o Estado, publicado pela Biblioteca do Exército, Rio de Janeiro, 1996: “compreender exige teoria; teoria exige abstração e abstração exige simplificação e ordenamento da realidade. Teoria alguma pode explicar todos os fatos. Uma das medidas de uma teoria é o grau em que ela abrange e explica os fatos relevantes. Uma

outra, mais importante, é o grau em que ela mais abrange e explica estes fatos do que qualquer outra teoria”.

Portanto, isto significa que nós não estamos aqui em tertúlias, nós não estamos aqui no “blábláblá”,

não estamos em mesa de bar trocando opiniões – porque na mesa de bar, sujeito educado respeita a opinião do outro, embora não concorde. Nós estamos aqui produzindo, através de uma prática teórica, conhecimento. Este conhecimento é o que nos permite organizar e compreender uma realidade que é bruta e é opaca e, ao compreendê-la, utilizar ciência pura na transformação em tecnologia e ciência aplicada que nos ajudará a superar todos estes impasses. Muito obrigado.

* Palestra proferida por ocasião do recebimento do título de Membro Benemérito do CENEGRI. Câmara Municipal de São Paulo - 18 de agosto de 2012.

** 1945-2013. Professor de Ciência Política da USP. Autor de várias obras, entre elas um dos clássicos da Geopolítica Brasileira, “Quem tem medo da Geopolítica?”.

Transcrição de Fabiana Oliveira (mestranda no PROLAM-USP)

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A RÚSSIA E O GREAT GAME

Prof. Dr. Charles Pennaforte*

tentativa da Casa branca em isolar a Rússia geopoliticamente é um velho

sonho desde o fim da URSS. O colapso soviético provocou a desarticulação do bloco ideológico e o fim do Pacto de Varsóvia (aliança militar do bloco socialista). Pela lógica, a Aliança do Tratado do

Atlântico Norte (OTAN), deveria seguir o mesmo caminho. Ou seja: ser desarticulada e finalmente extinta.

Contudo, o que se viu ao longo dos últimos vinte anos foi justamente o contrário. Gradativamente os ex-países do bloco soviético foram sendo cooptados pelas “luzes de néon” da União Europeia em associação com os EUA.

A Federação

Russa, herdeira do que sobrou do “Império Soviético” foi assolada por uma grande crise econômica na transição para o capitalismo. Que foi bastante dolorosa, diga-se de passagem. Os

russos viram como expectadores privilegiados a chegada da OTAN “às portas de Moscou”.

Sem condição de impedir a expansão geopolítica ocidental, a

solução foi resignar-se ao avanço de Washington e da OTAN.

Mas a economia russa conseguiu

se recuperar nos últimos anos, principalmente com as exportações de petróleo, e voltou a ter condições de repensar o seu papel geopolítico e a sua segurança nacional.

O ponto de inflexão no “renascimento geopolítico” russo no século XXI foi a constatação de que a Segurança Nacional do país estava em perigo com a cooptação da Ucrânia pelo Ocidente (leia-se EUA e seus sócios França, Alemanha e Grã-Bretanha).

A entrada da Ucrânia para a União Europeia e certamente para a OTAN logo depois, geraria alguns problemas geopolíticos como, por

exemplo, (1) acabaria com o

acesso da Rússia ao único “mar quente” disponível no inverno: o Mar Negro. Sem este acesso, a Rússia estaria totalmente fragilizada e sua frota naval

praticamente deixaria de existir. Outro aspecto importante seria a

(2) possibilidade por parte do Ocidente de ter acesso e controlar inúmeras fontes de petróleo gás e natural. A (3) instalação de bases

A

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militares na Ucrânia seria equivalente aos mísseis de Cuba para os EUA como comparou o historiador Moniz Bandeira.

O plano dos EUA, via europeus, era quebrar a capacidade de defesa dos russos mediante esta singela participação da Ucrânia na União Europeia.

Sorrateiramente Washington tentou isolar geopoliticamente a Rússia. País que nunca esteve na órbita ocidental mesmo após o fim da URSS. Os russos sempre desconfiaram do Ocidente... talvez

fosse uma herança do período soviético.

O fato é que a política externa dos EUA nunca abandonou a lógica da Guerra Fria. Na verdade Washington sempre manteve a sua

política imperial: moldar o mundo às suas necessidades.

Apesar de ser um hiperpotência com observam alguns analistas, ainda existem os empecilhos a serem “removidos” para facilitar a

expansão do que a Casa Branca denomina de Mundo Livre e Democrático.

Além da China, um parceiro econômico importante e ao mesmo tempo adversário ideológico no que se refere ao seu nacionalismo que impede, entre outras coisas, a anexação do grande mercado consumidor à lógica do consumo liberal por completo, a Rússia também representa um problema.

Mr. Obama pensava que os russos estavam “mortos”. A reação enérgica contra o golpe geopolítico

que o Ocidente estava desferindo deixou à todos estupefatos.

A resposta de Moscou foi clara: o governo está atento e preparado para reagir a qualquer tentativa de fragilizar a Rússia

geopoliticamente. O recado foi dado. Mas ele foi

entendido? Aguardemos os próximos capítulos.

* Doutor em Relações Internacionais pela Universidad Nacional de La Plata (Argentina). Diretor-geral e fundador do CENEGRI. Coordenador do curso de Relações Internacionais da

Universidade Paulista UNIP), Campus Paraíso, São Paulo. [email protected]

Pós-graduação em Geopolítica e Relações Internacionais

Uma parceria entre o CENEGRI e Universidade Paulista (UNIP)

Inscrições abertas!

Maiores informações em

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MONIZ BANDEIRA: OTAN NA UCRÂNIA É O MESMO QUE MÍSSEIS EM CUBA

Por Marco Aurélio Weissheimer, em Carta Maior

"A crise na Ucrânia evidencia e confirma a análise da política internacional, consubstanciada em no meu livro A Segunda Guerra Fria - Geopolítica e dimensões estratégicas dos Estados Unidos (Das rebeliões na Eurásia às África do Norte e ao Oriente Médio). A Rússia não vai tolerar que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) estenda sua máquina de guerra às fronteiras da Rússia, nem que posicione um escudo antimísseis nos territórios da Polônia e da República Tcheca".

A avaliação é do cientista político e historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira, em entrevista à Carta Maior. A presença da OTAN na Ucrânia, comparou o historiador, representa, para a Rússia, a mesma ameaça que os mísseis em Cuba representavam para os EUA em 1962. Carta Maior: Qual a sua avaliação sobre os fatos que se sucederam ao plebiscito na Crimeia que decidiu pela anexação dessa região à Rússia? Moniz Bandeira: Não houve propriamente anexação, mas, de fato

e de direito, uma reincorporação da República Autônoma da Crimeia à Rússia, aprovada por 96,77% dos 83,10% dos votantes, uma participação massiva, no referendum convocado pelo Parlamento regional.

Essa península permaneceu virtualmente sob a soberania da Rússia, desde o Tratado de Küçük Kaynarca, firmado com o Império Otomano, em 1774, durante do reinado da imperatriz Catarina II, a

Grande (1729 –1796). Como lembrou o presidente Vladimir Putin foram os bolcheviques que, após a revolução de 1917, cederam, sem consideração étnica, territórios russos que formam atualmente o

sudeste da Ucrânia, para a qual, em 1954, Nikita Khrushiov, secretário-geral do Partido Comunista da URSS, transferiu, por iniciativa pessoal, a Crimeia, juntamente com Sevastópol. A iniciativa de reintegrar-se à

Federação Russa constituiu uma reação ao golpe perpetrado pelas storm-troopers, grupos treinados, armados e organizados, militarmente, na Lituânia e na Polônia, com fardas da antiga divisão

SS Galitzia (Waffen-Grenadier-Division der SS/galizische SS-Division Nr. 1), formada pelos ucranianos que se aliaram às forças da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. Foram essas milícias

do Setor de Direita (Pravyi Sektor) e do Svoboda do (Partido Liberdade), que, em fevereiro, conquistaram o poder em Kiev. O politólogo húngaro-americano,

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George Friedman, presidente da Stratfor, companhia especializada em global intelligence, embora escrevesse que “não sabe o que ocorreu em Kiev”, referindo-se hipocritamente ao putsch contra o presidente Viktor Yanukovych, reconheceu que “houve certamente muitas organizações financiadas com dinheiro americano e europeu que estavam comprometidas com a reforma do governo” (Geopolitical Weekly - March 18, 2014). Foram essas ONGs que promoveram

as demonstrações - com dois senadores americanos à frente - John McCain (Partido Republicano) e Christopher Murphy (Partido Democrata) – e possibilitaram a captura do poder

pelos neonazistas do Setor de Direita e do Svodoba, discípulos ideológicos de Stepan Andrijowytsch Bandera (1909-1959),

antissemita e anti-russo, aliado de Hitler na Segunda Guerra Mundial. O banqueiro Arseniy “Yats” Yatsenyuk, candidato de Victória Nulands (famosa pela frase “Fuck the EU”), autoproclamou-se primeiro-ministro e colocou os neonazistas em postos chaves do governo. O almirante Ihor Yosypovych

Tenyukh, ministro interino de Defesa da Ucrânia é alto dirigente do Svoboda; Dmytro Yarosh, fundador do Setor de Direito, outro partido neonazista, é o vice-presidente do Conselho de Defesa e Segurança

Nacional. O poder em Kiev está, de fato, nas mãos de Oleh Yaroslavovych Tyahnybok, o líder neonazista do Svoboda, inimigo declarado do que chama de “máfia judaico-russa”. Com esse governo ilegal, sem legitimidade, oriundo de putsch, foi que a União Europeia firmou no dia 21 de março um tratado de livre comércio. CM: Qual sua avaliação sobre o atual estágio da crise na Ucrânia?

Moniz Bandeira: Um conhecido meu, que vive em Kiev, relatou, por e-mail, que esses grupos neonazistas, que deram o golpe de Estado, a pretexto de integração com

a União Europeia,

gritando “democracia” e “liberdade”, continuam a aterrorizar os russos e os e os ucranianos de língua materna russa, bem como os fiéis da Igreja

Ortodoxa Russa. Se o governo de Viktor Yanukovych era ruim, corrupto – disse ele - os neonazistas que assumiram o poder são muito piores. São

lumpens armados, bandidos, terroristas, e a situação em Kiev continua muito perigosa. A cidade está fervilhando, com milhares da gangs nazistas, de

diferentes movimentos locais, absolutamente ensandecidos e estúpidos. E o banditismo e o terror, que atormentam Kiev, atingem quase todas as regiões da Ucrânia. Nas cidades do leste, principalmente

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em Donetsk e Lugansk, onde predominam os russos e pró-Rússia, os conflitos com as gangs neonazistas não cessam porque a maior parte da população não aceita e não reconhece o governo instalado em Kiev. A Crimeia é a única região onde a situação é boa, calma, não há banditismo nem terrorismo, porque está sob o controle das tropas da Federação Russa. CM: Quais as consequências para a Ucrânia e o Ocidente (Estados Unidos e União Europeia) da

reincorporação da Crimeia pela Rússia? Moniz Bandeira: As consequências são várias e complexas e daí a histeria dos Estados Unidos e da

União Europeia. A Crimeia é uma das maiores regiões no Mar Negro para a exploração da gás e petróleo. A produção de gás aumentou, em 2013, cerca de 40%, com a abertura dos campos de Odessa e Stormovoe

na Bacia do Mar Negro. A extração atingiu o nível de 1,5 bcm por ano. Um dos maiores depósitos de óleo e gás está na área do estreito de Kerch, que liga o Mar Negro ao Mar de Azov. O governo da Crimeia logo anunciou a nacionalização dos gasodutos e campos operados pelas companhias estatais da Ucrânia - ChornomorNaftogaz e Ukrtransgaz – incluindo o subsolo, no litoral do Mar Negro, e as grandes companhias petrolíferas - Royal Dutch Shell Plc

(RDSA), Exxon Mobil Corp. (XOM) Shell e Chevron Corp, Eni Span. (ENI) haviam firmado contratos com o governo de Kiev para a prospecção e exploração de petróleo e gás, nessa região.

Ao reintegrar a Crimeia à Rússia, o presidente Vladimir Putin deu notável golpe nas pretensões dos Estados Unidos e da União Europeia. Bloqueou o acesso físico de Kiev às virtuais fontes de energia no Mar Negro e assustou as empresas petrolíferas que lá estavam dispostas a investir. Um consórcio, que incluía a Exxon e Royal Dutch Shell Plc (RDSA) planejava investir US$735 perfurar dois campos - Skifska e Foroska - a 80km no sudoeste do litoral da Crimeia. Mas sem a Crimeia, Kiev não mais tem

jurisdição sobre seu litoral, e também sobre o Mar de Azov, e a Ucrânia perde importante área submarina, cuja produção de petróleo poderia alcançar o montante de 70 milhões de cru por ano, o que

a tornaria menos dependente da Rússia em termos de energia. A Ucrânia consome anualmente cerca 55 bilhões de metros cúbicos (bcm) de gás, dos quais 50 por cento

importa da Rússia. E a estimativa é a de que as reservas de gás, na bacia do Mar Negro, possam conter de 4 trilhões a 13 trilhões de metros cúbicos. Com um investimento de US$ 8 bilhões a US$9 bilhões, a produção poderia alcançar um nível de 9,7 milhões de metros cúbicos por ano por volta de 2030. O controle dessa riqueza, que os Estados Unidos pretendiam ganhar através da adesão da Ucrânia à União Europeia, passou, juntamente com a Crimeia,

para a Rússia. As companhias petrolíferas terão certamente de fazer novas negociações e aí com as autoridades de Simferopol e de Moscou. A

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Gazprom já solicitou permissão às autoridades da Crimeia para explorar as reservas do litoral. E a Ucrânia, com uma economia improdutiva, terá outros grandes prejuízos. Necessita de US$ 25 bilhões, em 2014, para cobrir o enorme déficit da conta corrente e pagar aos credores estrangeira. Somente com Rússia, o débito é de US$16 bilhões, conforme informou ao presidente Putin, o primeiro-ministro Dmitry Medvedev, em reunião do Conselho de Segurança da Rússia. E a dívida com a Gazprom pelo fornecimento de gás

alcançou o valor de US$1,8 bilhão em fevereiro de 2014. Porém, suas reservas monetárias somam apenas US$12 bilhões. A perspectiva é de instabilidade social e

volatilidade política, sobretudo quando o governo de Kiev aplicar as medidas de austeridades impostas pelo FMI, Estados Unidos e União Europeia para conceder algum bailout.

CM: Quais foram os fatores determinantes para o golpe que derrubou o presidente Viktor Yanukovych? Qual foi o peso do recuo na assinatura do acordo de livre comércio com a União Europeia? Moniz Bandeira: Os fatores foram vários e as ONGs, financiadas por entidades dos Estados Unidos e da União Europeia, e os partidos

neonazistas, aproveitaram as péssimas condições domésticas para fomentar as demonstrações na praça Maidan. Porém, um dos principais fatores, foi o fato de que, em 21 de abril de 2010, o presidente Viktor

Yanukovych, após ser eleito presidente da Ucrânia contra Yulia Tymoshenko, anunciou um novo acordo, firmado, em Kharkov, com o então presidente da Rússia, Dmitry Medvedev, estendendo o arrendamento da base naval de Sevastópol, no Mar Negro. O acordo, que devia expirar em 2017, foi prorrogado por mais 25 anos, até 2042, com a possibilidade de ser estendido por mais cinco anos. Em compensação, a Rússia investiria no desenvolvimento econômico e

social de Sevastópol, além de reduzir em 30%, abaixo da cotação do mercado, o preço do gás natural fornecido à Ucrânia, estimado em US$40 bilhões. O acordo de Kharkov previa, como no tempo da União

Soviética, a realização de projetos conjuntos, em setores estratégicos, tais como, inter alia, energia nuclear e aviação, e permitiria a Ucrânia retomar um ritmo sustentável de crescimento. E, outrossim, o acordo

evitava que a Ucrânia aderisse à OTAN, cuja carta impedia que qualquer dos seus membros instalasse bases no seu território, até o fim do arrendamento pela Rússia. A crise, desde então, estava a fermentar, até que a proposta do acordo para a associação da Ucrânia à União Europeia e tratado de livre comércio, por diversos motivos, voltou à agenda em 2013. Esta seria, provavelmente, uma forma de anular o acordo de Kharkov, firmado em

2010. O presidente Vladimir Putin sempre se manifestou disposto a não tolerar que a OTAN estendesse sua máquina de guerra às fronteiras da Rússia,

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ameaçando-lhe a posição estratégica, nem o estacionamento do escudo antimísseis nos territórios da Polônia e da República Tcheca. Ao perceber o objetivo dos Estados Unidos e das demais potências ocidentais, a ameaça implícita nas suas iniciativas militares, visando a assumir o controle do Mediterrâneo e eliminar a influência da Rússia e da China no Oriente Médio e no Magreb, bem como isolar politicamente o Irã, ele restaurou a frota russa, no Atlântico, e expandiu a frota no

Mediterrâneo, que passou a contar, a partir de 2012, com onze vasos de guerra – Aleksandr Shabalin, Almirante Nevelskoy, Peresve, Novocherkassk, Minsk, Nikolay Fylchenkov, ademais de um

grande navio antissubmarino - Almirante Panteleyev – um navio de escolta - Neustrashimy’ - um navio de patrulha – Smetlivy – e um cruzador antimísseis – Moskva.

A ampliação do porto de Tartus, na Síria, como base naval para sua frota no Mar Negro, já havia começado. E o que os Estados Unidos e os países da Europa certamente pretendiam era instalar em Damasco um governo que acabasse com essa base naval, interligada com a base naval de Sevastópol, no Mar Negro, impedindo o acesso da Rússia às águas quentes do Mediterrâneo. Daí que o presidente Vladimir Putin, com grande habilidade, conseguiu impedir

que o presidente Barack Obama cometesse a insensata aventura de bombardear a Síria e forneceu ao governo de Bashar al-Assad os modernos e eficientes sistemas antimísseis - SS-N-26, para a defesa

da costa, e o SA-21 (S-300 PMU2) para defesa aérea – a fim de enfrentar qualquer intervenção estrangeira. A crise, que voltou a eclodir na Ucrânia, está interligada, de um modo ou de outro, com a situação na Síria, onde o presidente Bashar al-Assad está retomando o controle de todo o país. Inserem-se no mesmo contexto da guerra fria, que recomeçou, após um interregno, uma vez que a política de Washington não se desviou, em

nenhum momento, da diretriz traçada pelo general Colin Powell no sentido de impedir a União Europeia de tornar-se uma potência militar, fora da OTAN, e a remilitarização do Japão e da Rússia, e desencorajar

qualquer desafio à sua preponderância ou tentativa de reverter a ordem econômica e política internacionalmente estabelecida. (The Military Strategy of the United

States – 1991-1992). Carta Maior: O que o Brasil tem a ver com essa crise? Qual deve ser, na sua opinião, a posição da política eterna brasileira neste caso? Moniz Bandeira: O Brasil não deve envolver-se na crise da Ucrânia. Seus interesses nacionais e estratégicos não são os mesmos dos Estados Unidos nem da União

Europeia. O Brasil tem negócios com a Ucrânia, o projeto da empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), firmado em 21 de outubro de 2003. Trata-se de um acordo de cooperação a longo prazo entre os

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dois países, para entrar no mercado internacional de lançamentos espaciais. O município de Alcântara, no Maranhão, apenas 2° ao sul da Linha do Equador – onde é maior a velocidade de rotação da Terra – permite um impulso natural para o voo do foguete e possibilita a realização de lançamentos para qualquer direção a partir de um único ponto. A Ucrânia iria fornecer a tecnologia e os equipamentos, que antes fabricava para a União Soviética, nas

indústrias situadas no leste, particularmente em Donetsk e Lugansk. Esse projeto, embora sofresse atraso devido aos problemas financeiros da Ucrânia, que não pôde integralizar o capital,

havida sido ultimamente retomado. Os Estados Unidos, porém, sempre foram contra e, se controlam o governo de Kiev, podem inviabilizá-lo. Por outro, o Brasil não pode

reconhecer uma governo ilegal, sem legitimidade, e manifestar-se contra a Rússia, que não cometeu nenhuma agressão contra a Ucrânia. A Criméia já era uma República Autônoma, dentro da Ucrânia, e seu Parlamento decidiu, legalmente, convocar um referendum e a maioria esmagadora votou pela reunificação com a Rússia, que não a invadiu. Suas tropas já estavam dentro em Sevastópol, na Crimeia, uma República Autônoma, de

conformidade com o acordo de Kharkov. CM: O presidente Putin ganhou mais uma disputa do presidente Obama, como ocorreu no caso da

Síria? A política externa da Rússia está melhor preparada neste momento? Moniz Bandeira: Sim. O presidente Vladimir Putin é o maior estadista da atualidade. Ganhou mais um lance no xadrez da política internacional. A Rússia tem uma larga experiência e é mais pragmática. A diplomacia nos Estados Unidos é conduzida, porém, por amadores, embriagados pela ideologia do “excepcionalismo” da América, como “the indispensable nation”. E, embora haja nos Estados

Unidos notável elite acadêmica e intelectual, com profundo e claro conhecimento dos outros países, a América profunda ignora o resto do mundo. E é essa América profunda, que elege a maioria do Congresso e,

portanto, influi também na política exterior, mais e mais militarizada, com base na crença da invencibilidade do seu poderio militar, conquanto, como reconheceu o próprio ex-presidente Bill Clinton,

os Estados Unidos não tenham vencido nenhuma guerra desde 1945. O fato de que o presidente Barack Obama se afoitou e logo reconheceu o governo instalado em Kiev pelos neonazistas e recebeu na Casa Branca o autoproclamado primeiro-ministro da Ucrânia, o banqueiro Arseniy “Yats” Yatsenyuk, evidenciou sua incapacidade como chefe de governo e de Estado. Esse governo

não é legal, não tem legitimidade e, qualquer que seja a evolução da crise, o status quo na Ucrânia inevitavelmente se manterá. A situação na Ucrânia é extremamente volátil. E o que é doloroso é ver que

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a União Europeia se deixa subordinar pelos Estados Unidos, avassalada por meio da OTAN, convertida em gendarme global, cujos comandantes dão opiniões, fazem ameaças e ditam diretrizes políticas, como se fossem chefes de Estados. As sanções contra a Rússia são inócuas. Não reverterão à Crimeia à Ucrânia. Trata-se de um fato consumado. E, se as sanções forem realmente efetivadas, afetarão, sobretudo, as economias da França e da Alemanha, onde se prevê que a suspensão das encomendas militares da Rússia

levará mais de 350.000 trabalhadores ao desemprego. CM: Parece haver um lobby se constituinte na imprensa brasileira e ocidental contra a

posição da Rússia. Como o senhor vê o comportamento da mídia neste caso? Moniz Bandeira: Um grande amigo meu escreveu-me que “é muito

preocupante notar que a imprensa e TV ocidentais escamoteiam completamente a situação na Ucrânia, que já me fora relatada por outros residentes em Kiev. Esses meios de comunicação, que temos parecem os da Alemanha nazista ou a dos países comunistas! Vivemos como no filme "Fahrenheit 452"...” Esse filme, dirigido e lançado em 1966, por François Truffaut, constituiu uma adaptação da novela de Ray Bradbury, mostrando o futuro

da sociedade americana, onde os livros seriam proibidos e destruídos por autocombustão do papel. No governo do presidente George W. Bush (2001-2009), Donald Rumsfeld, como secretário de Defesa, criou

sigilosamente dentro do Pentágono, o Office of Strategic Influence (OSI), com a tarefa de consistiu em manipular a opinião pública, com falsas informações, e promover psychological operations (PSYOP), o mesmo objetivo do Ministério da Informação Popular e Propaganda do Reich nazista, dirigido por Joseph Goebbels, autor da lição de que “uma mentira deve ser somente muitas vezes repetida e então ela se torna crível” (Eine Lüge muss nur oft genug wiederholt werden. Dann wird

sie geglaubt). O MI6 — Secret Intelligence Service (SIS) — do Reino Unido possui igualmente uma para Information Operations (I/Ops) encarregada de planejar as operações de guerra psicológica,

como antes faziam a Special Political Action (SPA) e o Information Research Department (IRD). Esses órgão têm como função, inter alia, plantar, na imprensa, falsas estórias, rumores e desinformação, por meio

de off-the-record briefing e double-sourcing, i.e., confirmadas por outro agente contratado para essa função. A remuneração era paga a editores, via um offshore bank em acessível paraíso fiscal. Todo esse processo eu demonstro, documentadamente, em meu livro A Segunda Guerra Fria - Geopolítica e Dimensão Estratégica dos Estados Unidos (Das rebeliões na Eurásia à África do Norte e ao Oriente Médio).

CM: Na sua avaliação, há o risco de uma escalada militar nesta crise? Moniz Bandeira: Em uma confrontação militar entre a Rússia e os Estados Unidos há sempre o risco

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de uma escalação da guerra convencional para o uso de armas nucleares. Daí que um confronto militar entre os Estados e a Rússia afigura-me absolutamente impossível, ademais de que, ao que tudo indica, o eleitorado americano não esteja a favor de qualquer envolvimento na Ucrânia. O povo alemão também. De qualquer forma, a instalação de base militar da OTAN na Ucrânia a Rússia não aceitará. A ameaça à segurança da Rússia equivale, na percepção do presidente Vladimir Putin, à mesma que o

estabelecimento de plataformas de mísseis em Cuba representava para os Estados Unidos, em 1962. A Rússia não é nenhuma potência emergente. É uma antiga potência,

que derrotou as forças de Napoleão e de Hitler. Herdou, como sucessora jurídica, vasto arsenal estratégico e não-estratégico (tático) de armas nucleares da extinta União Soviética, mais ou menos cerca de 1.800

ogivas nucleares estratégicas operacionais, reservas de 2.700, contra 1.950 operacionais e 2.500 de reserva dos Estados Unidos. Possui atualmente 558 plataformas estratégicas, com capacidade para carregar 2.500 ogivas nucleares, e disparar novos mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs) – seis variantes, entre os quais R-36M2, UR-100NUTTH, Topol-M e Yars. Também dispõe de novos submarinos nucleares estratégicos,

com mísseis balísticos (SSBN), o projeto 667BDR Kalmar, baseados na frota do Pacífico, em Rybachiy, e seis projetos 667BDRM Delfin, integrando a frota do Nordeste na baía de Yagelnaya. O poderio nuclear da Rússia é mais ou menos igual ao dos Estados Unidos. A União Soviética não foi militarmente derrotada. O que esbarrondou foi um regime socialista estatal, autárquico, dentro de uma economia mundial de mercado. E não creio na possibilidade de

showdown militar da OTAN com a Rússia, nem mesmo com forças convencionais. Cerca de 60% do abastecimento de gás da União Europeia passa pela Ucrânia e seria, necessariamente, destruído. É

provável, entretanto, que ocorram conflitos militares locais. As províncias do leste da Ucrânias, sobretudo, Donetsk e Lugansk tendem fortemente a realizar

plebiscito para reintegrar-se à Rússia com a qual tem estreitos laços não apenas étnicos, mas econômicos. E Moscou pode intervir se o governo de Kiev, que não conta com o apoio de toda a população, e seus partidários intensificarem a repressão contra a os que se manifestam pró-Rússia no leste ou em outras regiões da Ucrânia. De modo geral, a perspectiva não é tranquila em toda a região. É imprevisível.

http://www.cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FInternacional%2FOtan-na-Ucrania-e-o-mesmo-que-misseis-em-Cuba-

diz-Moniz-Bandeira%2F6%2F30582. Todos os direitos reservados à Carta Maior.

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CENEGRI 2004-2014: 10 ANOS DE UM TRABALHO CONSOLIDADO

CENEGRI – Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais

surgiu de uma demanda real que nós detectávamos há quase dez anos: o meio acadêmico era (é) restrito e corporativista. Detectamos também que era possível tentar trazer as discussões

destas temáticas importantes, como a geopolítica e as relações internacionais de uma maneira mais fácil para a comunidade.

O objetivo a partir da ideia de criar o CENEGRI foi exatamente esta: as discussões sobre geopolítica e relações internacionais não

deveriam ficar restritas somente aos acadêmicos catedráticos ou grandes iluminados. Ao mesmo tempo, o Brasil entrou num ciclo de crescimento econômico que foi muito importante. Ao lado do desse crescimento econômico, o Brasil começou a alcançar o reconhecimento internacional que passava a justificar uma maior preocupação com os rumos do

Brasil no cenário internacional. O Brasil ocupa um papel hoje um papel diferente do que ocupava há algumas décadas atrás. Ao lado desta novo papel é fundamental que o Brasil comece a pensar o

mundo de uma maneira à brasileira. Não há mais a necessidade de que o Brasil fique reproduzindo teorias, teses etc., de pensadores oriundos dos países centrais cuja realidade são totalmente diferentes das nossas perspectivas e interesses. São importantes estas teses

clássicas? São. Mas temos que ter a capacidade de elaborar as nossas próprias teorias. Ou seja, nós temos que pensar o

Brasil a partir dos brasileiros. E o CENEGRI nasceu desta perspectiva ambiciosa. Uma nova proposta

editorial: Cenegri Edições Em 2008, o Centro lançou o seu selo editorial com a

finalidade de promover a difusão de novas abordagens e perspectivas da Geopolítica e das Relações Internacionais. O portfólio da Cenegri Edições vem aumentando ano após ano com títulos que oferecem uma

nova opção para pesquisadores e estudiosos. Veja mais informações em www.cenegri.org.br/lojaonline

O

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Reconhecimento da Mídia

Desde a sua criação o CENEGRI vem aumentando a sua participação nos principais órgãos de comunicação do país. Trata-se do reconhecimento alto nível de expertise alcançado por nossos pesquisadores.

Em um período de grandes transformações econômicas e políticas, o CENEGRI colabora com

análises sobre os principais temas da atualidade.

Os pesquisadores do Centro estiveram presentes em programas de grande audiência no Brasil e na mídia internacional.

Ampliando os horizontes O CENEGRI desde a

sua criação vem apoiando inúmeros eventos acadêmicos e patrocinando cursos de extensão e seminários. Ao mesmo tempo, amplia a sua atuação participando e organizando de eventos nacionais e internacionais.

Nos últimos dez anos o

CENEGRI colaborou na discussão dos grandes problemas contemporâneos mundiais.

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A REALPOLITIK DOS ESTADOS UNIDOS DE

OBAMA

Prof. Dr. Vitor Stuart de Pieri*

“Realpolitik” aplicada pelos Estados Unidos de Barack Obama perpassa por uma

geoestratégia muito bem planejada, a favor do status quo da ordem internacional. Por um lado, busca-se o domínio da Bacia do Pacífico através da contenção da integração sul-americana por meio do apoio e implementação da Aliança do Pacífico, da forte pressão contra os movimentos políticos antissistêmicos na região,

da reativação da 4ª frota e da permanente presença atlantista em território subcontinental (via Plano Colômbia, Malvinas e Guiana Francesa), além do esforço pela

limitação da expansão chinesa e russa ao Pacífico, através da efetiva presença militar

da OTAN em determinados países e das 3ª e 7ª frotas navais estadunidenses.

Por outro lado, as enormes fragilidades político-institucionais

nos países do Magreb e Oriente Médio, impulsionadas pela Primavera Árabe e mais recentemente, o golpe no presidente “pró-Rússia” ucraniano Viktor Yanukovich, serviram como

justificativas às ações de coerção e dissuasão contra alguns países da região que não seguiam a ‘cartilha persuasiva’ das potências ocidentais e buscavam novos parceiros geoestratégicos e geoeconômicos, frente a um cenário internacional caracterizado pela ascensão de novos atores (vide os BRICS) e pelo declínio de países do eixo da OTAN (vide os PIIGS, a ZE, e a própria UE).

Eis o cenário que está se

formando, trata-se da busca desesperada de um modelo de reprodução hegemônico, produzido através do apoio à desestabilização

de países não alinhados, das

intervenções e guerras cirúrgicas por meio dos ataques preemptivos e preventivos aos catalogados Estados

Frágeis, da tentativa de contenção de novos atores no cenário

internacional, do enfraquecimento de alguns Estados via dependência do Sistema Financeiro, da

desmoralização midiática de modelos políticos antissistêmicos, enfim, da implementação de uma verdadeira estratégia de contenção por meio do cercamento dos novos atores internacionais – ou seja, um

A

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novo “Rimland” - que se espalha como uma mancha de petróleo aniquiladora aos pequenos países resistentes ao modelo – mas que na verdade, está direcionado a todo o mundo emergente que tem buscado reconstruir as relações de poder em escala internacional.

Neste contexto, qual seria a saída para o “Soft Brasil”? Buscar a institucionalização dos BRICS como opção ao atlantismo liderado pelos EUA ou apostar no meridionalismo proposto pelo grande geopolítico brasileiro André Martin?

Doutor em Geografia pela UNICAMP e Mestre em Relações Internacionais pela Universidade de

Bolonha – Itália. Professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Paulista (UNIP),

Campus Paraíso, São Paulo. Autor de livros no Brasil e no exterior sobre temas de relações

internacionais. Diretor do Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais (CENEGRI).

[email protected]

Cenegri Edições Há seis anos promovendo o conhecimento

www.cenegri.org.br/lojavirtual

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PARA QUANDO A ÁFRICA?

Prof. MSc. Ricardo Luigi*

uerra civil no Sudão do Sul. Atentados terroristas em um shopping no Quênia. Mais de

500 mortos, vítimas de

perseguição religiosa, na República Centro-Africana. Perseguições políticas na Eritréia. Mais de 300 mortos, principalmente eritreus e somalis, naufragados na costa da Itália. Opressão marroquina no

Saara Ocidental. Instabilidade social e política na República Democrática do Congo. Essa é só uma pequena lista de conflitos e mazelas que ainda hoje, em 2014, atormentam a África. E que nos fazem refletir quando se dará uma plena integração africana.

Não se pode dizer mais que a

África esteja isolada do sistema global. A integração africana, entretanto, deu-se (e continua ocorrendo) de forma equivocada, exploratória e predatória. Os investimentos em petróleo e

minérios, principalmente na costa leste da África Subsaariana trouxeram bastante dinamismo econômico a países como Gana, Nigéria, Angola e Gabão. O continente cresce rapidamente,

mas se transforma lentamente. Embora os recursos naturais explorados sejam africanos, os recursos financeiros vêm do

exterior. Sejam em forma de ajuda internacional, perdão da dívida externa ou investimentos no setor primário, perpetuando a lógica do “Estado Rentista”, subordinando a movimentação da economia à

venda de commodities. Hidrocarbonetos, minerais ou produtos agrícolas continuam, em sua maioria, destinados ao exterior, sem promover maior organização da estrutura produtiva interna dos países. Sem a dotação de infraestrutura necessária e sem a criação de um mercado interno, a África não

conseguirá inserir a crescente

população jovem. Dados do Banco Mundial indicam que metade da população da África Subsaariana tem menos de 25 anos de idade, e projeta-se que nos próximos dez anos apenas um em cada quatro

jovens deve conseguir emprego. E os empregos existentes, em sua maioria, estão/ estarão concentrados no setor terciário, em comércio e serviços.

G

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Outro questionamento importante diz respeito à participação da China como principal parceiro comercial em ascensão no continente. Ilustrativo disso, é que a nova sede da União Africana em Adis Abeba é um edifício de 100 metros que custou 200 milhões de dólares, pagos pela China. Avolumam-se exemplos da participação chinesa, de armas a produtos eletrônicos, da construção de estradas a hidrelétricas. A última reunião de cúpula da União Africana, 22ª. Cimeira,

ocorrida entre 21 e 31 de janeiro de 2014 na capital da Etiópia, Adis Abeba, trouxe como um dos principais assuntos a definição de uma nova agenda de desenvolvimento para o continente.

A discutida “Agenda 2063” traz

metas para que os países africanos encontrem o desenvolvimento almejado até o referido ano. É preciso que se aumente a integração econômica entre os países vizinhos, para se criar uma alternativa às intempéries da economia mundial.

Para quando a África? Esse é questionamento que dá título ao livro do historiador burquinense Joseph Ki-Zerbo, que defende que os africanos devam possuir um desenvolvimento endógeno, o que não pode ser tomado como

sinônimo de isolamento. Pois, nas palavras de Ki-Zerbo, o desenvolvimento não é uma corrida olímpica, e prevê uma série de medidas que teme-se que não estejam sendo tomadas.

* Ricardo Luigi, doutorando em geografia pela Unicamp, é professor de relações internacionais da

Universidade Paulista (UNIP) e diretor do Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais (CENEGRI). [email protected]

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LIVROS

Em mais esta grandiosa obra, o renomado professor Moniz

Bandeira analisa e estuda, com base nas mais diversas fontes

de informação, os acontecimentos que desde a dissolução do

Bloco Socialista e a desintegração da União Soviética abalaram

os países da Eurásia e ainda convulsionam o Oriente Médio e a

África do Norte, dado que os Estados Unidos continuam a

implementar a estratégia da dominação de espectro total

contra a presença da Rússia e da China naquelas regiões. Esta

obra, por conseguinte, aprofunda, desdobra e atualiza outra de sua autoria –

Formação do Império Americano (Da guerra contra à Espanha à guerra no

Iraque) – lançada em 2005 pela Editora Civilização Brasileira. A Segunda

Guerra Fria - R$ 80,00.

Classificação Boletim de Geopolítica

Os recursos financeiros para ajuda humanitária cresceram significativamente nos últimos anos – os fundos das Nações Unidas para esse fim, por exemplo, saltaram de US$ 2 bilhões em 2000 para US$ 11 bilhões em 2009. O valor, porém, é irrisório se comparado aos US$ 802,9 bilhões que os Estados Unidos despenderam entre 2003 e 2011 na Guerra do Iraque, provocando a morte de algumas centenas de milhares de iraquianos e transformando em refugiados internos cerca de 5,5% da

população do país (algo em torno de 1,6 milhão de pessoas). Como os pesquisadores brasileiros avaliam esses dados e todo o cenário da Defesa e Segurança nos dias atuais? Que análise eles fazem da trajetória desse campo de estudos no país? Em oito artigos, esta obra traça um panorama

abrangente acerca do tema. Os artigos aqui reunidos tratam de vários outros conceitos e aspectos que floresceram em especial nas últimas duas a três décadas no mundo, como as “guerras preventivas”, a agenda de “segurança hemisférica” dos Estados Unidos, a fusão, nesse país e na Colômbia, das atividades militares e policiais sob o pretexto de combate às drogas, e a situação, em meio à crise europeia,

dos países da Europa Centro-Oriental, secularmente reféns de interesses estrangeiros. Paz e Guerra: Defesa e Segurança entre Nações. R$ 48,00. Classificação Boletim de Geopolítica

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