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NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO | PARTE ESPECÍFICA VITAMINAS HIDRO E LIPOSSOLÚVEIS Entre os 40 nutrientes que a dieta deve fornecer ao organismo animal estão as vitaminas. Embora pertençam a diversos agrupamentos químicos elas possuem propriedades comuns: 1- São substâncias orgânicas.; 2- Devem ser fornecidas em quantidades mínimas na dieta porque não podem se sintetizadas pelo organismo ou a velocidade de síntese é insuficiente para prover as suas necessidades. Os aminoácidos essenciais também devem ser fornecidos pela dieta e são substâncias orgânicas, mas devem ser fornecidos em grandes quantidades Os minerais traços embora também devam ser fornecidos em quantidades mínimas, mas são nutrientes inorgânicos. O termo vitamina somente deve ser usado para as substâncias orgânicas requeridas para a nutrição dos mamíferos; as substâncias usadas somente pelos microorganismos e células em culturas, embora preencham algumas das propriedades das vitaminas, devem ser chamadas fatores de crescimento. Existem autores que chamam de vitamers os componentes vitamínicos que aparecem com mais de uma forma química, como a piridoxina, a piridoxamina e o piridoxal ou como um precursor da vitamina, como o caroteno e a vitamina A, o que, acho que somente tem valor acadêmico. Classicamente as vitaminas são divididas em solúveis na água (as 11 vitaminas do complexo B e a vitamina C), com capacidade mínima de ser estocadas e, portanto, necessitando do consumo constante para manter a saturação dos tecidos e solúveis na gordura (vitaminas A, D, E e K), estocadas maciçamente, o que, confere a elas o poder de provocar sérias intoxicações se consumidas em grandes quantidades. Prestem atenção, amigos criadores de pássaros: poder de provocar sérias intoxicações se consumidas em grandes quantidades. Trecho auto-explicativo que serve para aqueles que usam complexos vitamínicos fabricados para o uso humano nos pobres e indefesos pássaros. Interessante é que há vitaminas que não são ativas na maneira em que são consumidas, necessitando ser processadas em vivo, como acontece com a tiamina, a riboflavina e a piridoxina que devem ser fosforiladas, e com a ligação do ácido nicotínico e da riboflavina aos nucleotídeos purina ou piridina. Praticamente todas as vitaminas agem como co-fatores para enzimas específicas, a não ser as vitaminas A e D que são consideradas verdadeiros hormônios que possuem receptores intracelulares nos seus tecidos alvos. O uso das vitaminas implica três questões básicas e que envolvem milhões e milhões de dólares em gastos desnecessários, em gastos necessários, estudos e regulamentações: 1- Afinal, quais são as reais necessidades que os organismos animais, principalmente os pássaros, têm das vitaminas? Há justificativas para o uso das vitaminas sem prescrições feitas por profissionais habilitados? Todos os profissionais qualificados têm conhecimentos para indicar as vitaminas quando elas são realmente necessárias? Mistérios, mistérios, mistérios... BOLETIM DO CRIADOURO CAMPO DAS CAVIÚNAS Julho de 2005 | nº 17 Redator: Dr. José Carlos Pereira Rua Joaquim do Prado, 49. Cruzeiro/SP. Tel/Fax 0xx12 31443590 [email protected]

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NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO | PARTE ESPECÍFICA

VITAMINAS HIDRO E LIPOSSOLÚVEIS

Entre os 40 nutrientes que a dieta deve fornecer ao organismo animal estão as vitaminas.

Embora pertençam a diversos agrupamentos químicos elas possuem propriedades comuns:

1- São substâncias orgânicas.;

2- Devem ser fornecidas em quantidades mínimas na dieta porque não podem se sintetizadas pelo organismo ou a velocidade de síntese é insuficiente para prover as suas necessidades. Os aminoácidos essenciais também devem ser fornecidos pela dieta e são substâncias orgânicas, mas devem ser fornecidos em grandes quantidades Os minerais traços embora também devam ser fornecidos em quantidades mínimas, mas são nutrientes inorgânicos.

O termo vitamina somente deve ser usado para as substâncias orgânicas requeridas para a nutrição dos mamíferos; as substâncias usadas somente pelos microorganismos e células em culturas, embora preencham algumas das propriedades das vitaminas, devem ser chamadas fatores de crescimento. Existem autores que chamam de vitamers os componentes vitamínicos que aparecem com mais de uma forma química, como a piridoxina, a piridoxamina e o piridoxal ou como um precursor da vitamina, como o caroteno e a vitamina A, o que, acho que somente tem valor acadêmico.

Classicamente as vitaminas são divididas em solúveis na água (as 11 vitaminas do complexo B e a vitamina C), com capacidade mínima de ser estocadas e, portanto, necessitando do consumo constante para manter a saturação dos tecidos e solúveis na gordura (vitaminas A, D, E e K), estocadas maciçamente, o que, confere a elas o poder de provocar sérias intoxicações se consumidas em grandes quantidades. Prestem atenção, amigos criadores de pássaros: poder de provocar sérias intoxicações se consumidas em grandes quantidades. Trecho auto-explicativo que serve para aqueles que usam complexos vitamínicos fabricados para o uso humano nos pobres e indefesos pássaros.

Interessante é que há vitaminas que não são ativas na maneira em que são consumidas, necessitando ser processadas em vivo, como acontece com a tiamina, a riboflavina e a piridoxina que devem ser fosforiladas, e com a ligação do ácido nicotínico e da riboflavina aos nucleotídeos purina ou piridina.

Praticamente todas as vitaminas agem como co-fatores para enzimas específicas, a não ser as vitaminas A e D que são consideradas verdadeiros hormônios que possuem receptores intracelulares nos seus tecidos alvos.

O uso das vitaminas implica três questões básicas e que envolvem milhões e milhões de dólares em gastos desnecessários, em gastos necessários, estudos e regulamentações: 1- Afinal, quais são as reais necessidades que os organismos animais, principalmente os pássaros, têm das vitaminas? Há justificativas para o uso das vitaminas sem prescrições feitas por profissionais habilitados? Todos os profissionais qualificados têm conhecimentos para indicar as vitaminas quando elas são realmente necessárias? Mistérios, mistérios, mistérios...

BOLETIM DO CRIADOURO CAMPO DAS CAVIÚNAS

Julho de 2005 | nº 17 Redator: Dr. José Carlos Pereira Rua Joaquim do Prado, 49. Cruzeiro/SP. Tel/Fax 0xx12 31443590 [email protected]

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Nos países mais interessados com a saúde das suas populações e com o seu rico dinheirinho há comissões científicas dedicadas ao estudo e à preconização das necessidades de nutrientes dos seus habitantes. Nos Estados Unidos o Food and Nutrition Board, parte do Institute of Medicine da National Academy of Sciences, tem entre as suas atribuições “encorajar padrões de consumo de alimentos capazes de manter e promover a saúde”. Desde 1941 o FNB publica recomendações, contidas no famoso Recommended Dietary Allowance (RDA), que é periodicamente revisado para conter novos conhecimentos. Dentro do RDA encontram-se as recomendações para as necessidades vitamínicas diárias. As recomendações do RDA são constantemente revisadas e atualizadas. Na última foram incluídas recomendações para duas vitaminas hidrossolúveis, a biotina e o ácido pantotênico e para alguns elementos-traços (cobre, cromo, fluoreto, manganês e molibdênio). Existem alguns nutrientes ainda em estudo, como o ácido paraminobenzóico, o ácido pimélico e a carnitina, que atuam como fatores de crescimento para as formas inferiores de vida; a apregoada vitamina rutina, com possíveis ações antihemorrágicas, mas ainda carecendo de estudos mais conclusivos; o ácido pangâmico (erradamente chamado vitamina B15) e a laetrile (precipitadamente chamada vitamina b17) que são comercializados sem comprovações científicas finais. E há algumas substâncias que têm ação no crescimento de muitos animais, mas ainda carecendo de mais provas de ação no homem, como o vanádio, o silício e o níquel.

Ainda nos States, o United States Food and Drug Administration, calcado no Federal Food, Drug, and Cosmetic Act exerce algum controle sobre o uso de vitaminas em crianças abaixo dos 12 anos de idade, gestantes e lactantes. O controle para outras situações foi vetado pelo Congresso, com toda certeza defendendo a liberdade do indivíduo até para se danar. Democracia é isso, obrigações e direitos exercidos responsavelmente na busca da cidadania. No Brasil carecemos ainda de um órgão regulador, isento de dependências políticas e econômicas, e do reconhecimento dos direitos e deveres, principalmente direitos, do cidadão. E, se assim não for, continuaremos a ter a urina mais vitaminada do mundo. Isso para não falar dos animais ditos de estimação, inclusive os pássaros, sujeitos, sem direito a defesa, das agressões das gotas vitamínicas ditas miraculosas e apregoadas por virtudes que elas próprias não sabem que têm.

De acordo com a sua solubilidade as vitaminas são divididas em: 1- Hidrossolúveis, compreendendo todo o chamado complexo B e a vitamina C e 2- Lipossolúveis, compreendendo as vitaminas A, D, E e K.

1. VITAMINAS HIDROSSOLÚVEIS:

1.1- Complexo B

Embora sejam catalogadas sob um mesmo complexo porque foram isoladas originariamente das mesmas fontes, notadamente do fígado e das leveduras, compreendem um grande número de compostos bastante diferentes nas ações biológicas e nas estruturas químicas. Basicamente os autores determinam 11 componentes do grupo: tiamina, riboflavina, ácido nicotínico, piridoxina, ácido pantotênico, biotina, ácido fólico, cianocobalamina, colina, inositol e ácido paraminobenzóico. O ácido paraminobenzóico, na realidade, não é uma vitamina para qualquer espécie de mamíferos e sim um fator de crescimento para organismos inferiores, como certas bactérias, atuando como precursor da síntese do ácido fólico. A carnitina, embora seja considerada uma estranha no ninho, faz parte do grupo, tanto por sua afinidade biossintética com a colina como pela publicação mais recente de trabalhos mostrando quadros clínicos determinados pela sua deficiência. Portanto, para alguns, sai o ácido paraminobenzóico e entra a carnitina, permanecendo o total de 11.

1.1.1- Tiamina

Foi a primeira do grupo a ser identificada. Lá pelo ano de 1911, Casimir Funk, bioquímico norte-americano nascido em 1886, acho que um dos mais injustiçados pela história da medicina, com toda a

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certeza encucado pelas observações do almirante japonês Takaki que, em 1880, notou que adição de peixe, carne, cevada e vegetais à dieta dos marinheiros da armada japonesa acabou com o beriberi (no cingalês beri quer dizer fraco, dada a fraqueza muscular ocasionada pelo polineurite. Os japoneses o designavam de kakke) entre eles, isolou de alimentos um fator anti-beriberi que chamou de vitamina B1. Pois é, amigos, erro histórico perfeitamente compreensível porque nem toda amina da vida é na realidade uma amina. Diz-se que o erro realmente partiu de outro pesquisador, Drummond, responsável pela divulgação do termo.

Em 1897, o holandês Eijkman, médico que trabalhava em Java, correlacionou o beriberi com o consumo de arroz polido e mostrou que a adição de extrato da casca do arroz à dieta curava o problema. O fator ativo, posteriormente chamado vitamina B1, foi isolado, em 1936, por Jansen e Donath e, dez anos depois, Williams determinou a sua fórmula. Não me pegaram, não: Funk isolou um fator, mas Jansen determinou qual era esse fator anti-beriberi

Nada mais é do que moléculas de pirimidina e tiazol ligadas por uma ponte metileno. É sintetizada por muitass plantas e microorganismos, como alguns da flora intestinal, mas não comumente pelos animais. A ação da tiamina no organismo é determinada pela forma de coenzima tiamina pirofosfatase (TPP), convertida da tiamina pela enzima tiamina difosfoquinase usando o adenosina trifosfato (ATP) como doador do pirofosfato. Alguns fatores inibem a ação da tiamina difosfoquinase, principalmente o neopiritiamina e o oxithiamine, levando à deficiência da tiamina.

A tiaminase, enzima capaz de desintegrar a tiamina, pode ser encontrada em peixes crus e algumas bactérias. Os ácidos cafeico, tânico e clorogênico, encontrados nas fruas muito pigmentadas, no blueberry, na beterraba, no café e no chá, também são antagonistas da tiamina, combinando-se com ela e impedindo a sua absorção. A tiamina também pode ser destruída pelos sulfitos usados como preservativos de alimentos.

No barato, a tiamina funciona como uma coenzima, isso é, uma enzima auxiliar ou ativadora de enzima, fermento que altera a velocidade de uma reação química mas não faz parte do produto final. Sabe aquele indivíduo que faz uma arte e se afasta com a maior cara de pau como se nada tivesse com o acontecido? Pois é, não passa de um enzimão... Interessante que a tiamina é destituída de ações farmacodinâmicas quando usada em doses terapêuticas e mesmo em grandes doses. A forma ativa da tiamina atua em diversas etapas do metabolismo dos carboidratos, principalmente na decarboxilação, partindo as ligações carbono-carbono dos alfa cetoácidos como o piruvato e o alfa cetoglutarato, além dos ceto análogos da valina, da isoleucina e da leucina; tem ação também na utilização da pentose no shunt do hexose monofosfato. Parece também ter ação sobre os neurônios, pois, a estimulação elétrica do nervo afeta a hidrólise e liberação do tri e do difosfato de tiamina.

Os primeiros sintomas da sua deficiência são a falta de apetite, náuseas, desconforto abdominal, depressão, sonolência, apatia, fadiga, diminuição da concentração mental que evoluem progressivamente para os quadros mais graves. As duas formas clássicas do beriberi são o beriberi seco, com as manifestações nervosas da neurite periférica, com distúrbios sensoriais (hiperestesia, anestesia, formigamentos, queimações), perda progressiva da força muscular, depressão, distúrbios da personalidade, falta de iniciativa, perda da memória que, nos graus extremos, caracteizam os síndromes da encefalopatia de Wernicke e da psicose de Korsakoff; e o beriberi úmido no qual predominam os sinais da insuficiência cardíaca com as inchações generalizadas. A rouquidão e a afonia, pela lesão do nervo laríngeo, são chamativas. A lesão do nervo óptico provoca ptose (queda) palpebral. Há grupos especiais mais sujeitos à falta da tiamina como os alcoólatras, nos quais, o consumo de tiamina é baixo pela pouca ingestão alimentar, pela queda da capacidade de absorção, pela a acelerada destruição do difosfato de tiamina e pela grande quantidade calórica fornecida pelo álcool. Como nem todo alcoólatra é atingido, acha-se que haja um fator genético de suscetibilidade; as crianças submetidas a dietas predominantemente de arroz e amamentadas ao seio por mães com baixo consumo da tiamina, com começo de falta de apetite, vômitos, fezes esverdeadas evoluindo com rapidez para os sinais neurológicos e cardíacos que podem levar à morte e as gestantes que, desnutridas, não conseguem suprir as necessidades aumentadas da vitamina e apresentam a clássica neurite gestacional.

Numa extrapolação bem lógica, todo cuidado devemos ter com as fêmeas durante todo o período de

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reprodução. As aves jovens e insetívoras, como o sabiá e o corrupião, são mais sensíveis à falta da tiamina, sendo os sinas principais a perda de apetite e de peso,dificuldade de portar o rabo elevado também pela fraqueza dos seus músculos, dificuldade para se locomoverem por paralisia da musculatura das pernas, pescoço e asas e penas arrepiadas.

A absorção intestinal da tiamina é dependente de transporte ativo do sódio; a difusão passiva somente acontece quando há alta concentração da tiamina no intestino. Como os tecidos degradam 1 mg de tiamina por dia, considera-se essa a dose mínima diária necessária no humano. As necessidades aumentam durante os períodos febris, no pós-operatório, na gravidez, na lactação, nas tireotoxicoses, nos quadros diarreicos e nos estresses. Há uma associação direta entre a falta de folato na dieta e a desnutrição com a queda na absorção da tiamina. Não adianta ficar fornecendo altíssimas doses de tiamina, como acontece com muitos alquimistas passarinheiros, porque a capacidade de absorção intestinal é limitada (5 mg/dia no humano); no máximo terão os passarinhos com as fezes mais vitaminadas do planeta. Os humanos têm estocados em torno de 25 mg, 80% como difosfato de tiamina, 10% como trifosfato de tiamina e o restante como monofosfato de tiamina. Os estudos mostraram grandes quantidades no coração, no fígado, no cérebro, nos rins e nos músculos esqueléticos. Nas dietas contendo doses de tiamina próximas de 1 mg/dia ela não é encontrada na urina; altas doses propiciam o aparecimento da tiamina ou do seu produto de degradação, a pirimidina, na urina. Portanto, conseguir esse mínimo não é tão difícil numa dieta que contenha leite, vegetais, cereais, frutas e ovos. Na realidade, a tiamina está distribuída por um grande número de alimentos, somente estando ausente nos óleos, gorduras e no açúcar refinado. Está presente em quantidade suficiente na casca dos cereais. Enquanto nos vegetais a vitamina é predominantemente encontrada na forma de tiamina, nos tecidos animais a forma mais encontrada é a de éster fosfatado.

A tiamina é destruída pelo calor em meio alcalino ou neutro e fica na água do cozimento quando feito a mais de 100ºC. Portanto, é esperado que seja destruída em processos industriais como a extrusão e deve ser acrescentada ao produto final. É inativada por enzima (tiaminase) existente em alguns peixes, no camarão, ostras, mexilhões e algumas carnes cruas de animais.

É encontrada na urina como tiamina e outros metabólitos acetilados, além de derivados do acetato de tiazol e do carboxilato de pirimidina. A tiamina, o piruvato, alfacetoglutarato, o glicoxilato e o lactato podem ser mensurados no sangue dando idéia se há falta da vitamina, o que, também pode ser detectado pela dosagem da tiamina e seus metabolitos na urina. Mas, a prova definitiva da carência da tiamina é a pesquisa da atividade da enzima transcetolase no sangue total ou nos eritrócitos. O diagnóstico pode ser feito pela resposta clínica, muitas vezes dramática, à administração da tiamina. Existem, como devem existir nos pássaros, erros congênitos do metabolismo que respondem ao tratamento com tiamina, como é o caso da anemia megaloblástica sensível à tiamina.

1.1.2 Riboflavina

Lá por 1879, vários pesquisadores isolaram pigmentos amarelos e fluorescentes, denominados flavinas, de várias fontes: leite (lactoflavina), do tecido hepático (hepatoflavina) e do ovo (ovoflavina). Xeretando descobriram que todos eles tinham a mesma composição química. E o pessoal que continuava fissurado nos estudos das vitaminas, observou que havia um fator com labilidade ao calor e anti-beriberi, o fator B1, e outro fator, amarelo, com estabilidade ao calor e aos ácidos, mas destruído pelos álcalis e pela luz, que denominaram de vitamina B2. Durante a primeira grande guerra mundial (com minúsculas mesmo) isolaram, do levedo, uma enzima respiratória amarela e notaram que a porção amarela da enzima nada mais era do que a vitamina B2. Como havia o carboidrato na fórmula, a vitamina foi chamada riboflavina. Sua ação orgânica se dá como duas coenzimas: o fosfato de riboflavina, o popular mononucleotídeo de flavina (FMN) e o adenina nucleotídeo de flavina (FAD), as quais, participam de muitas reações de oxi-redução. As flavinas, ligadas por covalência, são essenciais para a estrutura de enzimas como a monoamino oxidade (a famosa MAO) e a desidrogenase succinato.

A MAO é uma das três catecolaminas secretadas pela medula da glândula adrenal, a partir do aminoácido tirosina, com atividade de neurotransmissores; os neurotransmissores estão na gênese de

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importanetes patologias cardiovasculares, de patologias do movimento, como o mal de Parkinson e da esquizofrenia.

As duas, FMN e FAD, têm papel vital no metabolismo orgânico atuando como coenzimas para uma grande variedade de flavoproteínas respiratórias, inclusive algumas contendo metais.

A riboflavina é essencial para o crescimento e a respiração dos tecidos, além de ter importância na adaptação à luz e na conversão da piridoxina em fosfato de piridoxal. Os primeiros sinais da falta de riboflavina sãos as ulcerações na mucosa da garganta e a estomatite das comissuras labiais, prosseguindo com a vermelhidão e descamação da língua (glossite) que fica lisa por perda das papilas, secura, vermelhidão e descamação esbranquiçada dos lábios com maceração do epitélio e fissuras (queilose ou perlèche), dermatite seborreica (escamas gordurosas associadas a áreas de vermelhidão, algumas vezes com fissuras e umidade) facial, dermatites das extremidades e do tronco, seguindo-se a neuropatia e a anemia por queda dos reticulocitos ou por distúrbio no metabolismo do ácido fólico; em alguns casos há conjuntivite, fotofobia (aversão à luz), a córnea inflama-se (ceratite), vascularização da córnea e catarata (opacificação do cristalino). Nos pássaros também podem ser encontrados o atraso no crescimento dos filhotes recém-nascidos, embriões muito pesados e inchados, aumento da mortalidade no meio do período de incubação e a paralisia dos dedos curvados. Os sinais clínicos da falta da riboflavina, principalmente os dermatológicos, confundem-se com os encontrados nas deficiências de outras vitaminas, o que, torna o diagnóstico específico mais difícil e amplia a necessidade do esquema de tratamento. As necessidades diárias de uma pessoa adulta gira entre 1.2 a 1.6 mg. A deficiência da riboflavina se dá geralmente pela ingestão deficiente, embora possa ser encontrada, mesmo com ingestão suficiente, nos portadores de hepatites, de atresia das vias biliares, nos hemodialisados ou sob diálise peritonial, nas pessoas em uso de certos medicamentos como a fenotiazina, o probenecid e o anticoncepcionais orais, além daqueles bebês submetidos à fototerapia. A deficiência também pode ser o resultado da administração de antagonistas da riboflavina, como a galactoflavina.

A riboflavina é encontrada em grande quantidade no leite, nos queijos, nos miúdos, nos ovos, no fígado e nos rins, no levedo de cerveja, nos vegetais de folhas verdes e nos grãos integrais. O leite de vaca contém mais de 5 vezes a vitamina B2 do que o leite humano. A riboflavina encontrada nos vegetais, pelos complexos que forma, tem menor digestibilidade do que a encontrada nos produtos de origem animal. As sementes usadas na nutrição dos pássaros geralmente têm a riboflavina, principalmente se germinadas.

A absorção se dá nas porções intestinais mais altas por processo que envolve a fosforilização da vitamina em FMN, sob a ação da flavoquinase, reação que é sensível ao hormônio da tireóide (o hormônio da tireóide e os esteróis adrenais aumentam a síntese da FAD e do FMN) e inibida por medicamentos como os antidepressivos tricíclicos, a clorpromazina e pela quinacrina usada como antimalárico. Muito pouca riboflavina é estocada nos tecidos, principalmente no coração, no fígado e rins, o que, exige o consumo diário. Um dado interessante: o ovo, diferentemente de outros tecidos, contém riboflavina predominantemente na forma livre e as aves, durante o período de postura, possuem proteínas específicas, produzidas no fígado sob o efeito do estrogênios, e capazes de ligação com a riboflavina no plasma, acreditando-se que sejam as responsáveis pela passagem da riboflavina livre para o ovo.

É excretada pela urina. Nos humanos, a excreção urinária abaixo de 30 microgramas de roboflavina/24 horas pode ser sinal de deficiência. A dosagem da enzima redutase glutionina eritrocitária, uma flavoproteína, pode refletir o estoque de riboflavina. A riboflavina encontrada nas fezes provavelmente seja sintetizada pela flora bacteriana intestinal do cólon. É bom saber que ainda não existem provas conclusivas de que a riboflavina sintetizada no cólon por ação bacteriana seja absorvida.

1.1.3 Ácido nicotínico (niacina)

Do italiano pelle agra, pele áspera, veio o termo pelagra para designar uma patologia caracterizada por dermatose que acometia povos assumidamente grandes consumidores de milho, como os italianos e os norte-americanos. Mais uma vez foi Funk que ligou o problema a uma deficiência alimentar que poderia ser evitado com o consumo de leite, ovos e carne. Goldberger, outro grande estudioso das vitaminas

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conseguiu, usando dietas deficientes, provocar a chamada língua negra em cães, somente pecando por achar que a deficiência seria de aminoácidos. Mais tarde foi sabido que a pelagra poderia ser prevenida com o uso de preparações de vitamina B solúvel na água contendo um fator resistente ao calor. Lá por 1935 foi que Warburg isolou a amida do ácido nicotínico (nicotinamida) de coenzimas das hemácias do cavalo. Dois anos após, Elvehjem mostrou que a nicotinamida contida no fígado era eficaz no tratamento da pelagra e da língua negra. Goldberger, com grande perspicácia, mostrou que o triptofano podia curar a pelagra humana por ser convertido pelo organismo em ácido nicotínico. A pá de cal no assunto foi colocada por Goldshmidt, já em 1958, quando provocou pelagra experimentalmente em humanos alimentados com dieta pobre em ácido nicotínico e triptofano. Como pode ser sintetizada a partir do aminoácido essencial triptofano (cada 60 mg de triptofano fornecido pela dieta dá origem a 1 mg de niacina), alguns autores não consideram a niacina uma verdadeira vitamina. A pelagra já foi endêmica na América do Sul e outras partes do mundo, o que, era determinado pelo alto consumo do milho. Mas, nem tudo está bem explicado porque há povos que consomem muito milho como principal fonte proteica e não têm pelagra. E, embora o milho tenha pouca niacina, há outros cereais com conteúdo semelhante que não são associados à pelagra. A doença seria mais por um balanceamento inadequado de aminoácidos na dieta ou um problema de complexidade muito maior? Mistério, diria o nosso pároco numa introspectiva homilia. A moagem do milho prejudica a bioavaliabilidade da niacina. Pergunto, e os canários-da-terra mantidos com dieta predominante de fubá? Respondo: como esses criadores usam dar ovo, verduras e misturas de semente, a deficiência vitamínica não aparece ou o faz de maneira não muito florida. Os bandos soltos que tenho visto no sul de Minas Gerais, são mantidos perto das residências com fubá grosso colocado em garrafas plásticas, presas de cabeça para baixo sobre um prato; alguns furos na garrafa permite a saída progressiva do fubá num autêntico comedouro automático caipira. Algumas pessoas, cujas casas somente servem para finais de semana ou de mês, colocam vários comedouros para manter os pássaros alimentados durante as ausências. Observando, vi que os canários somente se alimentam nos comedouros de manhãzinha e ao entardecer, mantendo o seu ciclo alimentar natural. No restante do dia, passam voando de lá para cá na cata de outros alimentos nas árvores (vi vários se deliciando nas laranjeiras), nas hortas e pastando pelo chão, o que, torna a alimentação variada e evita as deficiências vitamínicas.

O ácido nicotínico somente exerce as suas funções orgânicas ao ser convertido em nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD) ou nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (NADP), que servem como coenzima para uma série de proteínas que catalizam uma série de reações de oxi-redução essenciais para a respiração dos tecidos. O termo niacina engloba o ácido nicotínico, a NAD e a NADP.

Os sinais de intoxicação pelo ácido nicotínico (ácido piridino 3 carboxílico) são o prurido (coceira), o rubor da pele, intoxicação hepática (pelo amor de Deus não venham me falar dos tais hepatoprotetores), ativação de úlcera péptica e alterações gastrintestinais.

O sinais da dermatose simétrica provocada pela pelagra lembram os da queimadura solar e surgem no dorso da mão (pode evoluir como lesão em luva, a luva pelagrosa), testa, pescoço (colar de Casal)e pés, muitas vezes como uma bota (bota pelagrosa); como vê-se, aparece nas regiões expostas aos raios solares e parece ser devida a fotossensibilização (para outros autores, os raios solares seriam apenas fatores irritantes que piorariam a dermatose) e termina em descamação e formação de cicatrizes (algumas vezes predominam as bolhas e as vesículas, o tipo úmido). Apresenta a pelagra também sinais digestivos, como estomatite, glossite (primeiramente aparecem as lesões vermelhas e inchadas na ponta e nas margens laterais, evoluindo para atingir toda a língua. Podem haver ulcerações), muitas vezes associadas a vaginite, enterite e diarréia, náuseas e vômitos, e sinais neurológicos como insônia, depressão, fadiga, apatia, perda da memória, desorientação, halucinações, demência, além de distúrbios sensoriais e motores dos nervos periféricos (acha-se que a polineurite periférica seja devida à ausência de outras vitaminas). É a síndrome dos três D (diarréia, demência, dermatite). Medicina tem desses macetes mnemônicos para se guardar as coisas; são clássicos os Ps do diabetes mellitus (polidipsia, perda de peso, poliúria, prurido...). Os sinais mentais talvez surjam pela queda na conversão do triptofano em serotonina, o chamado hormônio do prazer. Nos pássaros a deficiência da niacina provoca inflamações a língua, no papo e no esôfago, empenamento inadequado com penas quebradiças e diarréia. Agora, pássaro demente ainda não vi.

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As fontes principais do ácido nicotínico são as carnes de gado, a carne magra de porco, o fígado, o frango, o peixe (o salmão é muito rico), os grãos integrais, os cereais enriquecidos, os legumes e as nozes. O triptofano, aminoácido essencial (vejam o capítulo das proteínas), é fornecido principalmente pelas proteínas animais. O leite e o ovo contêm pouca niacina, mas são ricos em triptofano, o que, lhes confere papel importante na profilaxia da pelagra. Nunca é demais lembrar que as proteínas do leite e do ovo são as únicas da dieta comum que são completas, isso é, possuem todos os aminoácidos essenciais. Parte da niacina contida em alguns alimentos, como certos cereais, está na forma conjugada e não pode ser disponibilizada do ponto de vista nutricional. Por ser estável, os níveis de niacina pouco são afetados pelo cozimento ou a fervura dos alimentos.

Tanto o ácido nicotínico como a nicotinamida são absorvidos por todo o trato intestinal, por vias passiva e ativa, numa média entre 3 a 4g/dia num adulto humano, e distribuem-se por todos os tecidos. Um quinto é transformado em ácido nicotinúrico e o restante é eliminado na urina principalmente como carboxamida metil piridona e metilnicotinamida.

As necessidades humanas diárias variam de 5 mg/dia na infância até 20 mg/dia nas mulheres em lactação. Ao contrário de outras vitaminas, as necessidades parecem não aumentar durante a gravidez. As necessidades aumentam em quadros em que o triptofano é altamente catabolizado, como a síndrome carcinóide, ou pobremente absorvido como na doença de Hartnup (herdada, autossômica recessiva, com deficiência do transporte de aminoácidos e que, entre os sinais clínicos, apresenta dermatose semelhante à pelagra). Lembrar que altas doses de niacina (10 vezes maior do que as doses recomendadas nos pássaros) podem provocar flushing, sensação de calor e de queimação e, nos casos mais graves, evoluir para hepatoxiidade, colestase (retenção biliar) e icterícia (amarelão da pele e mucosas determinado pela bilirrubina).

Um dado terapêutico interessante: embora a pelagra responda bem ao ácido nicotínico ou seus congêneres, a neurite periférica não responde a eles e sim à tiamina. Alguns autores aconselham acrescentar a riboflavina e a piridoxina nos casos de pelagra mais resistente. A evolução da pelagra é longa e progressiva, às vezes durante anos, e a morte acontece normalmente por complicações secundárias. Volto a lembrar que a deficiência geralmente não se restringe a uma só vitamina do complexo B, o que, determina que um grupo delas deve sempre entrar no raciocínio de quem traça um esquema profilático e terapêutico.

1.1.4 Piridoxina

No primeiro quarto dos anos 1900, notaram o aparecimento de dermatite em ratos alimentados com dieta deficiente em vitamina B2. Sempre os ratos dando a vida pela humanidade e sendo execrados por ela. Alguns anos depois P. György descobriu que a dermatite era determinada por um fator hidrossolúvel isolado da preparação da vitamina B2 ao qual deu o nome de vitamina B6. Na realidade a vitamina B6 é representada por três substâncias com estruturas diferentes: a piridoxina, um álcool primário, o seu correspondente aldeído, o piridoxal e a piridoxamina, do grupo aminoetil. No organismo dos animais, pare serem aproveitados, todos os tês devem ser convertidos, no fígado, à forma ativa da vitamina, o fosfato de piridoxal.

A deoxipiridoxina é um inibidor competitivo de várias enzimas dependentes do fosfato de piridoxal e pode ocasionar a sua deficiência. A isoniazida, medicamento usado no tratamento da tuberculose, inibe a formação da forma de coenzima da vitamina e também tem efeito anti-vitamina B6. A gravidez e outros medicamentos como a penicilamina, a cicloserina, os anticoncepcionais hormonais e a hidralazida também aumentam as necessidades da B6. Apesar de ter baixa toxicidade aguda, a vitamina B6 usada por tempo prolongado, mesmo em doses não muito altas, pode provocar neurotoxicidade e sinais de dependência.

Dietas ricas em proteínas devem ser enriquecidas com vitamina B6. Então, amigos passarinheiros, muito cuidado com farinhadas muito ricas em nutrientes proteicos.

Antes que me esqueça: não é raro vermos passarinheiros usando nas suas pobres aves produtos vitamínicos apresentados para humanos. Geralmente a crença geral é que as vitaminas “se não fizerem bem,

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mal também não farão”. Vejam que até as aparentemente inofensivas vitaminas do complexo B podem ter alta toxicidade. Imaginem vitaminas de depósito como a A e a D... E como dosar para pássaros substâncias cujas doses diárias são variáveis, num produto formulado para animais com peso médio de 70 kg, portanto, 3500 vezes maior do que o peso médio de um canário-da-terra adulto? Verdadeiro medicamentocídio, ou seria terapeutocídio? A sorte de muitos bichinhos é que, espertamente, somente dão algumas bitocadas na água esverdeada ou amarelada de cheiro intenso. E os efeitos apregoados, verdadeiros milagres do século 21 conseguidos em poucos dias, quando não algumas horas?

Vamos em frente que atrás vem gente. Como outras vitaminas do complexo B, a atuação da B6 é como coenzima numa grande série de reações metabólicas, como transformações de aminoácidos, sendo muito importante no metabolismo do triptofano. O fosfato de piridoxal atua como co-fator, no caso uma coenzima essencial para a ação de enzimas envolvidas no metabolismo dos aminoácidos, como as transaminases, as sintetazes e as hidroxilases; a vitamina tem importância especial no metabolismo da glicina, da serina, do triptofano, do glutamato e dos aminoácidos sulfurados (contendo enxofre na fórmula). Atua na descarboxilação do 5-hidroxitiptofano, portanto, na síntese do neurotransmissor serotonina que entre outras ações, está associada com a atenção, com a energia e com a motivação. Não poderia deixar de citar o outro neurotransmissor, a noradrenalidana, que influencia a impulsividade, a libido e o apetite. Olha aí, amigo Taddei, libido e comportamentos impulsivos, energia e motivação interligados. Poderíamos falar em canários-da-terra serotonínicos e/ou noradrenalínicos numa abstração chutométrica? Não à-toa, sabendo-se que nas depressões os níveis de serotonina estão diminuídos, assim como o de outro neurotransmissor, a noradrenalina, os medicamentos usados para a correção são popularmente conhecidos como “pílulas da felicidade”. Será? A vitamina B6 ainda atua no metabolismo dos ácidos graxos e do glicogênio. O fosfato de piridoxal é coenzima para duas enzimas importantes para o metabolismo cerebral, a transaminase ácida gama-aminobutírica e a adecarboxilase glutâmica. O fosfato de piridoxal também atua como quelato de metais, participa da síntese do ácido aracdônico (a partir do ácido linoleico) que, entre outras ações, atua decisivamente nos processos inflamatórios e participa no transporte ativo de aminoácidos através das membranas celulares. O fosfato de piridoxal é essencial para a síntese do ácido gama-aminolevulínico, precursor do heme (o heme é uma porfirina que contém ferro e que, unido à globina, forma a hemoglobina; o heme também faz parte de vários pigmentos respiratórios de muita células, tanto vegetais como animais); embora ainda seja nebuloso, o fosfato de piridoxal parece ter parte na excitabilidade dos neurônios, possivelmente por sua ação no metabolismo do ácido gama-aminobutírico (GABA).

Os sinais da deficiência são: A- Pele: lesões seborreicas acima dos olhos, boca e nariz, inflamação da língua (glossite) e estomatite; b- Sistema nervoso: convulsão (como aquelas em bebês desde o nascimento até os seis meses por dependência da B6, geralmente pelas mães terem ingeridos grandes quantidades da vitamina durante a gestação), neurite periférica, irritabilidade e c- Sangue: anemia microcítica (com hemácias pequenas). Há outros sinais atribuídos à falta da vitamina B6, como os cálculos urinários de oxalatos, a hiperglicemia e a diminuição da síntese de anticorpos.

Há uma séie de doenças genéticas devidas a anormalidades no metabolismo da vitamina B6; algumas crianças desenvolvem convulsões e apresentam danos cerebrais pela incapacidade genética de sintetizar quantidades suficientes de GABA, inibidor fisiológico da neurotransmissão, e, outras, apresentam anemia por mutação numa sintetase especial. Os pássaros também podem apresentar retardo do crescimento e perda rápida de peso.

Os homens adultos necessitam 2 mg de piridoxina por dia e as mulheres 1.6 mg. As crianças necessitam de 0.5 a 1.5 mg/dia. Há aumento das necessidades durante a gravidez e naquelas pessoas em uso de hormônios estrogênicos, os quais, parecem inibir a ação da vitamina no metabolismo do triptofano. Dietas ricas em proteínas e os hemodialisados crônicos exigem maiores quantidades de piridoxal. O acetoaldeído, metabolito do etanol, libera o fosfato de piridoxal das proteínas aumentando a sua degradação.

As principais fontes da B6 são as carnes, o fígado, a soja, os vegetais e os grãos integrais.

A piridoxina, o piridoxal e a piridoxamina são prontamente absorvidos após a hidrólise do seus derivados fosforilados. Uma grande parte do estoque corporal está na enzima fosforilase muscular, onde

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exerce mais ação de estabilizador da enzima do que qualquer papel catalítico (modificação na velocidade de uma reação química). Mais da metade da vitamina B6 circulante está sob a forma de piridoxal.

1.1.5 Ácido pantotênico

Corria o ano de 1933 quando Williams conseguiu identificar uma substância importante para o crescimento das leveduras. Como essa substância existia em muitos alimentos e tinha características ácidas, recebeu, em 1939, o nome de ácido pantotênico (pan ou panto é um prefixo grego que significa tudo ou todos. Assim, Panacea, filha de Asclepios, era a deusa que curava todos os males. Dizem as más línguas que, inclusive, os dos amores. E panaca é o indivíduo idiota, em todos os sentidos, no linguajar adolescente. Tipo assim, sabem tudo esses adolescentes); também era conhecido como fator anti-dermatite dos pintos devido as lesões da pele, com sinais neurológicos e acometimento das fibras dos nervos espinhais, que aparecia nesses filhotes da galinha quando a dieta era pobre nessa substância e que era curada com o uso de extratos hepáticos. Uma pelagra dos pintos, mas não curada pelo ácido nicotínico. Mas, somente mais de dez anos após caiu a ficha quando Lippmann mostrou que a acetilação da sulfanilamida necessitava de um co-fator que continha o ácido pantotênico. Alguns trabalhos mostraram que, ratos recebendo dieta deficiente de ácido pantotênico, apresentavam pelagem branca; a ligação veio rápida, mas não foi provado que o encanecimento humano tenha alguma coisa a ver com o ácido pantotênico e, os mais vaidosos ou vaidosas, devem continuar com as suas tinturas capilares ou aceitar o peso da idade. O pantotenato vem da união do ácido pantóico com a beta alanina; é transformado no organismo em 4-fosfopanteteina pela fosforização e união com acisteamina, a qual, faz parte tanto da fórmula da coenzima A como das proteínas acil transportadoras que são as formas funcionais da vitamina.

A coenzima A atua como co-fator para muitas reações catalizadas por enzimas envolvendo as transferências de grupos acetil (dois carbonos), importantes no metabolismo oxidativo dos carboidratos, na gliconeogênese, na degradação dos ácidos graxos e na síntese da porfirinas, dos esteróides e dos hormônios esteróides, como os hormônios sexuais. A coenzima A também atua em modificações das proteínas que atuam tanto na sua estabilidade como nas suas atividades. Como componente das proteínas acil transportadoras, o pantotenato tem ação mais limitada na síntese de ácidos graxos.

Os sinais clínicos da deficiência do ácido pantotênico são devidos ao acometimeno do sistema nervoso e muscular e da cortical da glândula supra-renal: dor de cabeça, distúrbios do sono, cólicas abdominais, fadiga, flatulência, náuseas, vômitos, cãibras musculares, incoordenação motora e parestesias (sensações diferentes como formigamento, picadas ou queimaduras).

Nas aves são descritas lesões palpebrais, no bico e nos pés.

Embora não seja preciso, admite-se que os humanos adultos necessitem 4 a 7 mg de ácido pantotênico por dia.

O ácido pantotênico tem como fontes principais a carne muscular, os miúdos e a gema do ovo. Ele é destruído rapidamente pelo calor e pelos álcalis. É absorvido rapidamente pelo intestino e encontra-se nos tecidos em concentrações variando de 2 até 45 microgramas/g. Mais de 70% da vitamina absorvida é eliminada pelos rins. Embora não haja usos definidos para o ácido pantotênico isoladamente, ele é incluído nos complexos vitamínicos e nos produtos para alimentação enteral e parenteral.

1.1.6 Biotina

Entre 1915 e 1916 constatou-se que ratos alimentados tendo como fonte única de proteínas a clara crua de ovo apresentavam perda de pêlo, dermatite grave e sinais de acometimento neuromuscular. Estes sinais não se apresentavam quando se cozinhava a clara ou se acrescentava levedura, fígado ou seu extrato à dieta. Notem que há, nos primeiros trabalhos de pesquisa sobre as vitaminas do complexo B, uma certa uniformidade: sinais dermatológicos, atingindo a pele e seus anexos, e neurológicos que desapareciam com correção alimentar, como a adição de fígado e leveduras às dietas. Vinte anos depois, foi isolado da gema do ovo um fator cristalino essencial para o crescimento do levedo (fungo com propriedades de fermentação

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usado na fabricação de bebidas não fermentadas -vai uma tenébria aí, xará Zeca- e de produtos de padaria); esse fator foi chamado de biotina. Já por volta de 1940, György, sempre ele, provou que a biotina era o mesmo fator que protegia contra a toxicidade da clara comida crua e, em 1942, ela foi sintetizada por Vigneaud. Paralelamente outros trabalhos mostraram que o antagonista da biotina, encontrado na clara do ovo, era uma glicoproteína, denominada avidina, que se liga fortemente à biotina impedindo a sua absorção. Além da biotina livre, há mais duas formas ativas, o sulfóxido de biotina e a biocitina, as quais, promovem o crescimento de microorganismos, mas há dúvidas sobre as suas validades como substitutos da biotina nos humanos.

A biotina age, como co-fator, na carboxilação (a carboxila, -COOH, é o grupamento funcional dos ácidos carboxílicos) enzimática de quatro substratos: a propionil coenzima A, a betametilcrotonil coenzima A, o piruvato e a acetil coenzima A (a famosa CoA); em outras palavras, a biotina atua como co-fator em todas as carboxilases existentes no organismo: a piruvato carboxilase, a propionl CoA carboxilase, a 3-metilcrotonil CoA e a acetil CoA carboxilase. A metilcrotonil CoA carboxilase e a propionil CoA carboxilase fazem parte do ciclo metabólico da valina, da leucina e da isoleucina.

A biotina da dieta está ligada a proteínas sob a forma de carboxilases; no intestino, por ação da hidrólise proporcionada pela biotinase pancreática, a biotina é liberada e absorvida, talvez por processo de transporte ativo.

A biotina livre forma peptídeos ligando-se a apoproteína das carboxilases citadas para torná-las ativas; esta ligação é catalisada pela enzima holocarboxilase sintetase, enzima cuja falta (assim como a da biotinase) leva ao mau funcionamento das carboxilases e quadros de acidemias orgânicas. Há uma série de enfermidades ocasionadas por erros congênitos na geração deficiente dessa gama de enzimas e nem penso em entrar nesse intrincado e difícil assunto para não ser, eu que também sou JC, crucificado por vocês. Amigos passarinheiros, num grande mamífero, com metabolismo mais baixo, as acidificações constituem problemas graves, imaginem num pequeno pássaro pesando uns 20 a 30 g e cujo metabolismo é altíssimo.

Portanto, a biotina tem importância fundamental em algumas fases do metabolismo das gorduras e dos carboidratos. Embora não haja nada conclusivo, admite-se que, para haver deficiência da biotina, sejam necessários a eliminação das bactérias intestinais responsáveis pela sua síntese, a ingestão predominante da clara de ovo ou a administração de antimetabólitos da biotina; alimentação parenteral sem biotina, os quadros desnutricionais proteico/calóricos graves (seria o caso do peito seco?) e as deficiências genéticas múltiplas das carboxilases são outras causas da manifestação clínica da deficiência da biotina. Raramente os sinais de deficiência da biotina aparecem em bebês cujas mães têm deficiência da mesma.

A deficiência se manifesta por anemia, geralmente leve, glossite atrófica (atrofia das papilas linguais, formações onde terminam filetes dos nervos gustativos. Nos grandes carnívoros, a língua apresenta grandes papilas responsáveis pela retirada de partículas da carne dos ossos), alopécia (ausência de pêlos ou cabelos), dermatite (importante na região perioral), dores musculares, prostração, falta de apetite, conjuntivite, ataxia (ausência de coordenação dos movimentos voluntários), as clássicas hiperestesias (sensibilidade excessiva a vários estímulos), halucinações e, algumas vezes, alterações no eletrocardiograma; portanto, sinais comuns às deficiências de vários componentes do complexo B. Acometendo crianças ou filhotes, pode atrasar o desenvolvimento. Para alguns autores, o quadro clínico da deficiência da biotina pode ser confundido com o quadro clínico determinado pela deficiência de ácidos graxos essenciais. Pode haver queda do estado imunitário, predispondo o organismo a outras doenças. Vejam como os quadros clínicos se confundem, nem sempre são floridos como os expostos nos livros ou revistas. Nos pássaros também descrevem-se dermatite nos pés e bico, deformações ósseas, bicos tortos, problemas na muda, cistos das penas, etc. Medicina, seja humana ou veterinária, é como o amor, nem sempre e nem jamais, cheia de meandros e armadilhas, onde o que parece ser nem sempre é. Assim, fico arrepiado quando algumas pessoas simplificam tudo, apontam resultados sem qualquer comprovação estatística, colocam-se à frente de milagres que até os santos desconfiam, sugerem ações de medicamentos que até o fabricante desconhece e, o pior, causam males a humanos e animais, inclusive às indefesas aves, com as suas indicações dignas de um “besteirol” sem limites.

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O CDA estima entre 100 a 200 microgramas as necessidades diárias dos adultos, quantidades que podem ser retiradas facilmente de uma dieta rica em gema de ovo, leite, miúdos, peixes e nozes.

Embora seja estável à cocção, a biotina é sensível aos alcalinos. A eliminação urinária de grandes quantidades de ácidos orgânicos, principalmente do ácido propiônico e dos ácidos hidroxílicos de cadeia curta, pode sugerir a deficiência de biotina.

Não há casos de toxicidade provocados pela biotina em humanos, mesmo quando usada em altas doses e por vários meses.

1.1.7 Colina

Na realidade a colina não preenche os critérios estabelecidos para as vitaminas, mas historicamente situa-se no grupo do complexo B. No início dos anos 30 Best observou que, retirando o pâncreas de cães, eles apresentavam fígado gorduroso (esteatose hepática). Esse Frederick G. Banting, um cirurgião canadense muito jovem na época, juntamente com um jovem estudante de medicina, Charles H. Best, provocaram uma das maiores revoluções da medicina em todos os tempos ao publicarem, no Canadian Medicine Association Journal, o trabalho Pancreactic extracts in the treatment of diabetes mellitus lançando luzes sobre a existência da insulina. Como é comum na história, três outros pesquisadores e autores do trabalho, J. B. Collip, W.R. Campbell e A. A. Fletcher caíram no esquecimento. E Collip, amigos, era um das maiores autoridades mundiais na extração da adrenalina. A história da descoberta da insulina gerou vários quiproquós (neologismo que quer dizer confusão). Os suecos entornaram o caldo quando concederam o Nobel de Medicina e Fisiologia a Banting e Macleod, professor da faculdade de medicina de Toronto e envolvido nos trabalhos; o clamor foi geral e Banting e Macleod decidiram dividir os louros (não sei se o dinheiro também) com Best e Collip.

A colina tem uma série de ações orgânicas: a- Ação lipotrópica, remoção ou mobilização das gorduras do fígado, a qual, é dividida com outros lipotrópicos como o inositol, a vitamina B12, o ácido fólico e a metionina. Um dos mecanismos dessa ação seria a intensificação da formação da parte lipídica dos lipoproteínas, o que, facilitaria o transporte dos gorduras do fígado. Podem tirar o cavalo da chuva porque não foi provada a ação da colina, ou de outros lipotrópicos, no tratamento dos fígados gordos ou cirróticos. Portanto, ficar dando aos pobres pássaros carradas desses produtos com finalidades “desintoxicantes” é jogar dinheiro fora e agredir as pobres aves sem necessidade; b- Doação de radicais metílicos, para a síntese de outos compostos, como acontece com a metilação da homocisteína para origina a metionina; c- Constituinte dos fosfolipídeos, como alguns encontrados nas mitocôndrias, a esfingomielina, importantíssima para o cérebro e a lecitina, a raínha dos fosfolipídeos. Assim, a colina é essencial para a estrutura das membranas celulares e importante para a constituição das lipoproteínas plasmáticas que tanto azucrinam a humanidade; d- Formação do importantíssimo neurotransmissor acetilcolina, sintetizado a partir da colina e da acetil coenzima A (acetil CoA). Falar da acetil colina exigiria muitas páginas e fugiria da intenção do boletim. Outra varada n’água: foi frustrante o uso de altas doses de colina em doenças em que havia queda da produção da acetilcolina, como a coréia de Huntington e a doença de Alzheimer, mostrando que o buraco é mais embaixo infelizmente e e- Síntese do fator ativador das plaquetas (PAF), o 1-O-alquil-2-acetil-sn-glicero-3-fosfocolina, um verdadeiro fosfolipídeo sintetizado pelas plaquetas, neutrófilos mast cells, eosinófilos, monócitos, pelas células da medula renal, pelo endotélio vascular e pelas células renais mesangiais. O PAF é um autacóide (diferentemente dos hormônios e neurotransmissores, têm curto tempo de vida e atuam proximamente dos locais onde são sintetizados. São também autacóides a histamina, a bradicinina, as prostaglandinas) com variadas ações no organismo, desde o envolvimento na ovulação, implantação do ovo e na parturição, passando pela ação nos sistema cardiovascular até ações importantes nos processos alérgicos e inflamatórios. Vários sinais são imputados à deficiência da colina: incoordenação motora, cirrose, acúmulo de gordura no fígado, carcinoma hepatocelular, lesões renais hemorrágicas, mas nenhum foi identificado nos humanos. As necessidades orgânicas de colina são providas pela alimentação e pelas vias metabólicas; a sua biossíntese requer uma série de reação que exigem a presença da metionina e também de co-fatores, como a vitamina B12 e o ácido fólico. A colina pode ser encontrada principalmente no fígado, nozes, gema de ovo, geralmente na forma de lecitina. É absorvida da dieta como colina mesmo

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ou como lecitina. A lecitina é transformada pelas células da mucosa intestinal em glicerolfosforil de colina, o qual, chegando ao fígado libera colina ou chega aos tecidos pela via linfática. Quando se usa grandes quantidades de colina, ela não é absorvida totalmente e a sobra é transformada pela flora intestinal em trimetilamina, a qual, dá às fezes odor horrível de peixe podre.

1.1.7 Inositol

Já conhecido há mais de século, foi somente a partir do meado dos anos 40 que o inositol foi reconhecido como agente lipotrópico nos nossos detestados amiguinhos ratos, os terrores de alguns criadouros de pássaros. Vejam que nem tudo à terra e nem tudo ao céu. Logo descobriu-se que o uso de inositol era capaz de curar algumas alopécias (ausência de cabelos ou pêlos) de camundongos e ratos.

O inositol é quimicamente o hexahidroxiciclohexano, um isômero (molécula que contém os mesmos átomos e o mesmo número deles do que outra, mas com estrutura diferente dela) da glicose. Embora existam sete formas opticamente inativas (moléculas cujo posicionamento estereoisomérico não interfere com os raios luminosos) e duas formas opticamente ativas, somente a forma inativa mio-inositol tem valor nutricional.

As suas ações lembram muito as da colina, sendo encontrado nas membranas celulares e nas lipoproteínas do plasma sob a forma de fosfatidilinositol; há outra forma do inositol que age como segundo mensageiro (vou dar um exemplo aleatório para simplificar: um hormônio chega a uma célula determinada geneticamente para produzir uma substância X. O hormônio fixa-se à parede celular por um receptor apropriado. A mensagem hormonal é transferida para um segundo mensageiro, já situado no interior celular, que a levará ao corpúsculo celular responsável pela síntese da substância X. Determinismo genético puro, caros amigos) estimulando a liberação do cálcio dos estoques intracelulares. Como trifosfato de inositol (o famoso IP3), tem ação essencial no metabolismo das plaquetas.

Até hoje, nos humano, não foi demonstrada cabalmente a necessidade diária do inositol; presume-se que essa necessidade possa perfeitamente ser preenchida pela dieta adequada, pela produção pelas bactérias da flora intestinal e pela síntese ocorrida em vários órgãos. As principais fontes do inositol são as hortaliças e as frutas, embora possa ser encontrado em níveis satisfatórios nos grãos integrais de cereais como ácido fítico, forma que pode ser absorvida em parte após sofrer hidrólise, e até em produtos animais. É absorvido rapidamente pelo trato gastrintestinal e metabolizado até glicose. O inositol pode ser encontrado no plasma e em concentrações altas nos músculos esqueléticos, no músculo cardíaco e no cérebro. Encontrado em pequenas quantidades na urina, aumentando muito nos diabéticos animais e humanos. Como a colina, o seu efeito como mobilizador de gorduras não foi comprovado na prática clínica. Como os nervos periféricos dos diabéticos é pobre em mio-inositol, surgiu a hipótese, infelizmente não comprovada, de que a sua administração poderia ter efeito benéfico na temível neuropatia diabética.

1.1.8 Carnitina

A carnitina (sal de amônio quaternário, sendo que a forma levógira é a única capaz de ser sintetizada pelos tecidos e de ter alguma atividade biológica) é uma dessas substâncias que, de vez em quando, cai no gosto do povo, inclusive dos passarinheiros, sendo incriminada muitas vezes por milagres que realmente não faz. Foi descoberta, lá pelo início do século XX, como um constituinte nitrogenado dos músculos. Nos anos 50( lembram-se da final da Copa do Mundo no Maraca contra os uruguaios do Obdúlio? Nem é bom lembrar) trabalhos mostraram que atuava como fator de crescimento para as larvas do Tenebrio molitor e foi chamada vitamina T. Como o mundo é pequeno, né? Na realidade a carnitina não é tradicional participante do grupo do complexo B; somente é estudada no grupo pela estreita relação com a colina e pela descrição de estados clínicos determinados pela sua deficiência. Uns dez anos depois foi descoberta a grande função da carnitina: transporte de ácidos graxos de cadeia longa para o interior das mitocôndrias e importante papel na oxidação dos ácidos graxos.

Age também estimulando a oxidação do cetoácido resultante de aminoácidos de cadeia ramificada para a produção de energia e facilitando o metabolismo aeróbico dos carboidratos aumentando a velocidade da

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fosforilização oxidativa. Portanto, a carnitina tem papel relevante na cadeia metabólica dos lipídios e o seu uso é mandatário nos indivíduos com sua deficiência genética. Postula-se também que a carnitina tenha ação no controle do amoníaco do sangue e na neurotransmissão, além de outras atividades fisiológicas. Na pediatria é usada por alguns para estimular o apetite e já houve passarinheiro que a usou para emagrecer aves obesas; pô, perguntaria a netona filósofa Marcela, é engordativa ou emagrecedativa? Na realidade, o uso terapêutico da carnitina somente faz sentido nas reposições nas várias deficiências primárias, um grupo raro de doenças hereditárias, e em casos de deficiências secundárias a patologias, como as insuficiências renais, e nos hemodialisados. No mais, amigo passarinheiro, guarde o seu suado dinheirinho para gastos mais compensatórios, pois, afinal, jacaré já está nadando de costas.

1.1.9 Vitamina B12 e ácido fólico

Há a necessidade de um pequeno preâmbulo antes de se falar do ácido fólico e da vitamina B12. Dos bancos escolares sabemos que o sangue é um tecido conjuntivo especializado formado por elementos celulares, os glóbulos vermelhos, hemátias ou eritrócitos, os glóbulos brancos (neutrófilos, eosinófilos, basófilos, monócitos e linfócitos) e pelas plaquetas (fragmentos celulares originadas dos megacariócitos) suspensos num fluido, a matriz extracelular conhecida por plasma. As células sangüíneas possuem vida muito curta e necessitam de renovação contínua; em resposta a agravos, como anemia, hipóxia e infecções, as exigências dessas células crescem enormemente. Nos anos de 1950, Jacobsen e Ford mostraram a importância do baço e da medula óssea (o tutano, amigos) na restauração dos tecidos hematopoiéticos quando estudavam camundongos irradiados. Em 1961, os estudos de Till e McCulloch levaram ao conceito das colônias formadas por células-tronco, as quais, são “pluripotenciais” por serem capazes de produzir tanto glóbulos vermelhos, como glóbulos brancos e megacariócitos. Portanto, amigos, as famosas células-tronco atualmente muito na moda já eram conhecidas há quase meio século!

Em 1966, vários pesquisadores, entre eles Metcalf e Bradley, chegaram aos vários fatores capazes de estimular a hematopoiese (hematopoese), geração e desenvolvimento das células sangüíneas; entre esses fatores podem ser citados a eritropoietina, a trombopoietina, os estimuladores das células pluripotenciais, algumas interleucinas, etc. A hamatopoiese requer ainda minerais (ferro e cobre), e algumas vitaminas (vitamina B12, ácido fólico, vitamina C, piridoxina e riboflavina).

Os autores citam os estudos de quase 180 anos que propiciaram a descoberta do ácido fólico e da vitamina B12 como um dos capítulos mais espetaculares da medicina, dando o Nobel a Dorothy Hodkin, que determinou a estrutura de cristal da vitamina B12 pela difração do raio X e a Murphy e Minot, pelo trabalho que provou a reversão da anemia perniciosa por dieta contendo fígado.

Apesar de tudo esse movimento, somente há poucos anos ficou comprovado que, tanto a vitamina B12 como o ácido fólico purificados de alimentos, não são as formas ativas; durante a extração, essas formas lábeis são convertidas aos seus congêneres estáveis, cianocobalamina e ácido pteroilglutâmico respectivamente. Para tornarem-se verdadeiramente ativos, esses congêneres sofrem modificações no organismo.

Tanto a vitamina B12 como o ácido fólico são essenciais nas dietas. As suas deficiências provocam alterações na síntese do DNA em qualquer célula do organismo que, no momento, esteja sofrendo processo de divisão ou replicação comossômica. Como já foi dito, as células do tecido hemopoiético têm processo de renovação muito rápido e, portanto, as consequências da falta dessas vitaminas são dramáticas.

No interior das células a vitamina B12 encontra-se sob as formas de deoxyadenosylcobalamina e metilcobalamina, duas coenzimas muito ativas. A deoxyadenosylcobalamina é cofator da enzima mutase mitocondrial, muito importante no metabolismo dos carboidratos e dos lipídios. A metilcobalamina é básica para a enzima metionina sintetase, essencial para o metabolismo dos folatos; aí está, essa inter-relação cobalamina-folato é importantíssima para a síntese normal das pirimidinas e purinas e, logicamente, do DNA (ver o boletim sobre genética).

O principal congênere dos folatos é o metiltetraidrofolato. Havendo deficiência da vitamina B12,

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por mecanismo compensatório, a enzima metileno tetrahidrofolate redutase aumenta a sua atividade direcionando os folatos intracelulares para o depósito de metiltetrahidrofolato; como não há suficiente vitamina B12 para captar o radical metila e dar continuidade ao metabolismo dos folatos, que requer o tetrahidrofolato, a conseqüência é o surgimento da anemia chamada megaloblástica. Essa anemia surge tanto por falta da vitamina B12 como do ácido fólico. Devido à grande inter-relação entre o metabolismo do ácido fólico e da vitamina B12, as anemias megaloblásticas determinadas por um ou pelo outro não podem ser distinguidas. As anemias megaloblásticas são determinadass basicamente pela queda na síntese do DNA. As células mais afetadas são aqueles que possuem alto turnover (no caso, são produzidas e destruídas rapidamente), como as do sistema hemopoiético e as do epitélio gastrintestinal. Como a divisão celular torna-se lenta e o desenvolvimento citoplasmático continua normal, as células tendem a tornar-se grandes. Os eritrócitos megaloblásticos são destruídos dentro da própria medula. As plaquetas também tornam-se grandes.

Há um número enorme de causas da anemia megaloblástica, desde a falta na dieta até um bom número de medicamentos. De prático para o passarinheiro é saber que a trimetoprima, presente num grande número de marcas comerciais associada ao sulfameoxazol, inibe a redutase dihidrofolato e pode provocar a anemia.

O outro quadro clínico-patológico determinado pela deficiência da vitamina B12, o neurológico, tem a sua origem pouco conhecida (talvez seja a falta da enzima metionina sintetase e o conseqüente bloqueio da conversão da metionina em S-adenosilmethionina) e nunca ou muito raramente é determinado pela deficiência do ácido fólico.

1.1.9.1- Vitamina B12.

As suas formas mais importantes são a cianocobalamina, a hidroxocobalamina e as coenzimas ativas metilcobalamina e a 5-deoxiadenosil cobalamina. Como os animais, inclusive o homem, não são capazes de produzir a vitamina B12, ficam totalmente dependentes das fontes exógenas. Basicamente, na natureza, ela é sintetizada por microorganismos que vivem na água, no solo, nos esgotos e na luz do intestino. Não me venham com o papo que, estando na luz intestinal, está no organismo; se pensarem bem, tudo que está na luz do cano que vai da boca ao ânus situa-se realmente fora do organismo. Ao contrário do que muita gente pensa, os vegetais não possuem vitamina B12, a não ser que estejam contaminados pelos microorganismos citados (como algumas das lavouras de hortaliças usam água contaminada, inclusive por dejetos fecais, é bem possível que sejam ricas em vitamina B12. Favor não achar que estou aconselhando comer hortaliças sujas para combater a anemia megaloblástica... Para o consumo humano, e dos pássaros, as hortaliças devem ser rigorosamente limpas e a vitamina B12 conseguida de outras fontes). Assim, como devemos consumir somente água rigorosamente tratada e hortaliças muito limpas, ficamos restritos à vitamina B12 sintetizada pelos microorganismos do intestino e/ou fornecida pelos produtos animais.

Para o humano, 3 a 5 microgramas de Vitamina B12 por dia são suficientes e podem ser retiradas dos produtos de origem animal. Na saliva a vitamina B12 liga-se a uma proteína, ligação que é quebrada por ação da acidez gástrica e das proteases pancreáticas, liberando novamente a vitamina B12 que, então, ainda no estômago, liga-se a uma glicoproteína chamada fator intrínseco (há autores que citam essa ligação como sendo realizada no duodeno. Na verdade o fator intrínseco, uma glicoproteína, a 50-kDa, é produzida pelas células parietais do estômago e atua como uma proteína transportadora direcionada para determinadas células, como a transferrina para o ferro) e as R proteínas, glicoproteínas ainda sem função definida presentes no leite, na saliva, na bile e no suco gátrico; no duodeno o complexo livra-se das proteínas R e, já no íleo, o complexo formado pela vitamina B12/fator intrínseco é captado por receptor da mucosa e chega à circulação. Esse transporte através da mucosa ileal é dependente do bicarbonato de sódio, da bile e do próprio fator ileal. Quando há disponíveis grandes doses de vitamina B12 pode haver difusão passiva através da mucosa da boca e do intestino. No plasma, mais de 80% da vitamina B12 liga-se à transcobalamina (TCII), o seu transporte fisiológico mais importante, e também à TCI e TCIII. O complexo vitamina B12/TCII entra nas células pela endocitose, mediada por receptor próprio, e transforma-se nas suas formas ativas importantes para a síntese do DNA e como fontes de radicais metila. Notem como a bioquímica é, ao

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mesmo tempo, fácil e complicada: o radical metila (CH3) contém somente um átomo de carbono e é capaz de todas essas transformações no metabolismo orgânico. Mistério, diria novamente o nosso eficiente pároco da matriz de Nossa Senhora da Imaculada Conceição.

E aí chegamos ao seguinte: a anemia perniciosa dos adultos, como a clássica anemia perniciosa de Addison, é provocada não por deficiência alimentar e sim pela deficiência funcional das células parietais e pela baixa produção do fator intrínseco, também conhecido nos trabalhos mais antigos como fator de Castle.

No sangue, a vitamina B12 liga-se a uma beta-globulina, a transcobalamina II, que a transporta rapidamente até os tecidos, principalmente o hepático. Quase toda a vitamina B12 presente no organismo está estocada no fígado, como coenzima ativa, de onde é distribuída aos outros tecidos conforme as suas necessidades.

A vitamina B12 é extremamente ativa e somente 1 micrograma atinge o mínimo exigido por uma pessoa. Como 3 microgramas são eliminados pela bile todos os dias, dos quais até 60% não são reabsorvidos, qualquer dificuldade na absorção da vitamina, por ingestão pobre ou problemas no funcionamento da mucosa, pode levar a deficiências significativas. Na realidade, por estar presentes em muitos alimentos, os sinais da deficiência alimentar de vitamina B12 é rara, mesmo nos casos extremos de desnutrição como o kwashiorkor ou o marasmo; pode ser encontrada nos vegetarianos mais radicais, os famosos vegans dos autores anglo-saxões. Entre os passarinhos não sei. Na natureza, com variadas fontes alimentares (não conheço pássaro vegan), inclusive os seus insetos, larvas e minhocas, além dos vegetais contaminados pelas bactérias sintetizadoras da vitamina B12, porque passarinho não lava verduras para comer, a deficiência deve ser rara; agora, nos pássaros de gaiolas ou do ambiente doméstico, sujeitos aos tremeliques dietéticos dos seus donos, é bem provável que possam surgir alguns casos.

Há muitas causas de deficiência da vitamina B12 além da alimentar, mas fogem do interesse desse boletim.

Nas aves foram encontrados, além da anemia e dos sinais neurológicos, a erosão dos ventrículos cardíacos, problemas nas penas e acúmulo de gordura nos rins, no fígado e no coração.

1.1.9.2 Ácido fólico

As principais ações da forma ativa, o ácido pteroilglutâmico, são: a- Conversão da homocisteína em metionina; b- Conversão da serina em glicina; c- Síntese do timedilato, importante na síntese do DNA; d- Metabolismo da histidina; e- Síntese das purinas, origem da adenina e da guanina, presentes nos ácidos nucleicos e f- Geração ou utilização do folato.

Os folatos são encontrados principalmente no fígado e nos rins, nos vegetais de folhas verdes e frescas, em algumas frutas e nas leveduras (não é motivo para aumentar o consumo da cerveja). Os pteroipoliglutamatos encontrados na couve, no repolho, na alface e alguns outros vegetais são absorvidos menos eficientemente do que o pteroilmonoglutamato (ácido fólico), que também pode se encontrados nesses vegetais citados. Além do mais, a enzima pteroli-poliglutamato hidrolase da borda em escova das células da mucosa intestinal transforma o poliglutamato em monoglutamato. O cozimento por longo tempo pode destruir mais de 90% dos folatos existentes no alimento. Normalmente um adulto vive bem com o mínimo de 50 microgramas por dia, mas mulheres grávidas e lactantes podem exigir 100, 200 ou mais microgramas por dia. Uma dieta normal propicia uns 50 a 500 microramas de folatos por dia, mas os amantes de muita carne e vegetais podem chegar a 2 mg/dia.

O organismo humano possui 5 a 20 mg de ácido fólico distribuídos por vários órgãos de estoque, a metade no fígado. Praticamente todo os folatos dos alimentos ingeridos estão sob a forma reduzida de poliglutamatos; para a sua absorção necessita de transporte ativo, da presença da enzima pteroil-alfa glutamil carboxipeptidase e a riqueza da mucosa do duodeno e da região proximal do jejuno na enzima dihidrofolato redutase e, portanto, capaz de metilar praticamente todo folato reduzido que é absorvido.

Absorvido, o folato é transportado rapidamente para os tecidos como metiltetrahidrofolato, um

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monoglutamato. No plasma uma boa parte dos folatos, principalmente os não metilados, são transportados unidos à proteína fixadora de folatos. Nas células, o grupo metil é removido, numa reação que exige a cobalamina, e o folato é reconvertido em poliglutamato.

Nos humanos, a deficiência do ácido fólico durante a gestação pode ocasionar problemas no fechamento do tubo neural; acontecerá o mesmo com os pássaros? Ignoro solenemente. As aves com deficiência do ácido fólico podem apresentar problemas para a criação pela falta da hipertrofia do oviduto determinada pelo estrogênio. Cita-se que, em algumas espécies de aves, a falta do zinco pode diminuir o aproveitamento do ácido fólico da dieta.

Há uma série de inibidores da enzima da mucosa intestinal que atua na síntese da forma absorvível do ácido fólico em alimentos como a laranja, feijão, couve, repolho, ervilha e levedo de cerveja; esses inibidores são destruídos pelo calor durante o preparo dos alimentos.

1.2.0 Ácido paraminobenzóico (PABA).

Na realidade o PABA não preenche os requisitos para ser uma verdadeira vitamina para qualquer espécie animal. Ele é importante fator de crescimento para algumas bactérias como precursor da síntese do ácido fólico. Creio que logo sairá do grupo do Complexo B.

Faz-se necessário alguns dados históricos para a melhor compreensão do PABA. Há uns 70 anos, no I.G. Farbenindustrie, Alemanha, Mietsch e Klarer fizeram estudos que terminaram com o registro da patente dos chamados “azo dyes”, mais ou menos corantes azotados, isso é, que contêm nitrogênio na fórmula; como acontece muito na ciência, foi a argúcia do diretor de estudos da mesma indústria, G. Domagk, ao publicar o trabalho Beitrag zur Chemotherapie der Bakteriellen Infektionen, já em 1935, que descobriu a ação dessas substâncias contra as bactérias do grupo dos estreptococos e abiscoitou o prêmio Nobel. Estavam descobertas e indicadas as sulfonamidas, derivados da para-aminobenzenesulfonamide, a conhecida sulfanilamida dos nossos avós. Pois bem, pelo menos quimicamente, o PABA está incluído entre os seis componentes do grupo das sulfonamidas. Na realidade, foram os ingleses que mais se interessaram pelo uso médico das sulfonamidas e, talvez isso, tenha sido um dos fatores decisivos nas grandes guerras. E alguns passarinheiros ainda metem a ficha nas sulfas para tratar os coccídeos como se elas fossem novidade!

Embora tenha parecença estrutural com as sulfonamidas, o PABA pode ter um antagonismo competidor com elas. Como muitas bactérias usam o PABA para a síntese do ácido fólico, essencial para as suas vidas, a inibição competitiva das sulfonamidas sobre a enzima dihidrofolato sintetase (enzima que essas bactérias usam para incorporar o PABA ao ácido dihidropteróico, o precursor imediato do ácido fólico) ocasiona dificuldades para o aproveitamento do PABA e, conseqüentemente, ficam sem o ácido fólico necessário para sobreviverem. Os organismos sensíveis às sulfas, logicamente, são aqueles que precisam sintetizar o seu próprio ácido fólico; aqueles que podem usar folatos pré-formados são resistentes às mesmas. As células dos mamíferos são sofrem a ação dos sulfamídicos porque não são capazes de sintetizar o ácido fólico. E aí mora o perigo: os estafilococos resistentes aos sulfamídicos produzem quantidade 60 vezes mais de PABA do que os estafilos sensíveis.

2. Vitamina C (ácido ascórbico)

O pessoal do tempo das cruzadas, incursões militares/religiosas que, durante a Idade Média, a das trevas, dava o maior pau naqueles que julgavam hereges ou infiéis, já conhecia o escorbuto; e, no norte da Europa, onde se comia muito pouco vegetais e frutas frescas, ele grassou até o século XVII quando a introdução da batata diminuiu drasticamente a sua incidência. Não à-toa, até hoje a batata continua sendo um dos carros-chefes da gastronomia; na Finlândia a batata está presente desde a primeira refeição até a última, segundo informações de sobrinhos que andaram curtindo o frio por lá durante alguns meses. Os índios canadenses já sabiam que a decocção das folhas do abeto (pinácea) curava o escorbuto, o mesmo acontecendo com os marinheiros em relação ao suco de limão.

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Uns duzentos anos depois um médico da famosa British Royal Navy, Lind, fez estudos mais consistentes usando várias beberagens tendo como base a cidra, o vitríolo, a água do mar, o inare (não achei o que é isso), as laranjas e os limões, o alho e a mostarda, mostrando que os melhores resultados foram produzidos pelas frutas cítricas; daí já viu, né, os marines ingleses varavam os mares até então conhecidos tomando suco de limão. Dizem que o famoso capitão Cook, durante a famosa viagem de três anos, atribuiu ao uso de cerveja não fermentada e chucrute na dieta como o responsável de não ter tido nenhuma morte por escorbuto entre os seus marinheiros. Durante o primeiro inverno rigoroso dos peregrinos do My Flower na colônia estabelecida na Baía de Massachusetts o escorbuto foi a principal causa das mortes havidas. Entre os esquimós, o escorbuto somente se manifesta quando deixam da sua dieta nativa, da qual constam as vísceras e os musgos, e adotam as dietas do homem branco.

Iniciavam-se os anos 1900 quando foi produzido escorbuto em laboratório, alimentando porquinhos da Guiné com farelo e aveia. Suspeitou-se também que muitos mamíferos eram capazes de sintetizar o ácido ascórbico, sendo exceções os humanos, os primatas não humanos, os morcegos frugívoros indianos e os porquinhos da Guiné, os quais, não possuem uma enzima hepática (L-gluconolactona oxidase)necessária para uma das últimas etapas da síntese da vitamina, a conversão da L-gluconogamalactona em ácido L-ascórbico; a deficiência dessa enzima em nós humanos seria por mutação que ocasionaria um erro inato do metabolismo dos carboidratos.

A vitamina C parece não ser nutriente essencial na dieta da maioria das espécies de aves, sendo exceções algumas espécies frugívoras situadas no alto da escala evolutiva. Elas possuem a enzima L-gluconolactona oxidase e, assim, são capazes de gerar o ácido ascórbico a partir de substrato gerado pela glicose; interessante é que esse processo, segundo alguns autores,ocorre nos rins dos psitacídeos enquanto nos pássaros ocorre no fígado e pode ser inibido pela falta da biotina, da vitamina E ou da A. Mesmo assim, há autores que preconizam o suplemento, principalmente através de alimentos ricos em vitamina C, nos períodos de estresses como filhotes nos primeiros dias de vida, pássaros submetidos a grandes variações de temperaturas, nas dietas pobres em ferro, selênio, vitamina E, durante doenças infecciosas, etc.

Há trabalhos mostrando que o suplemento de vitamina C provavelmente aumente a espermatogênese em perus e diminua a mortalidade embrionária. Continuo com a minha opinião simplista: em vez de ficar procurando milagres, o criador de pássaros deve se preocupar com a alimentação adequada, com as boas condições higiênicas dos utensílios e do ambiente e com um conhecimento básico da genética; o resto será conseqüência.

Vários estudiosos, inclusive o genial Szent-Györgyi, que isolou um fator redutor da couve e da glândula adrenal, chegaram á descoberta do ácido ascórbico, cuja falta determinava o escorbuto. O termo vitamina C foi criado para determinar todos os compostos capazes de exibir as atividades biológicas qualitativas do ácido ascórbico. O ácido ascórbico possui seis carbonos, numa fórmula bastante parecida com a da glicose e outras hexoses; é oxidado, de maneira reversível, formando o ácido dehidroascórbico, que possui todo o complexo de atividade da vitamina C. Toda a atividade anti-escorbuto do ácido ascórbico está contida somente no isômero L. A facilidade de oxidação do ácido ascórbico é a responsável pela sua rápida destruição quando exposto ao ar, principalmente se o meio for alcalino e houver a catálise (em geral o aumento da velocidade de uma reação química determinada por uma substância que não se altera durante o processo) do cobre.

Sem dúvida, a ação principal da vitamina C é na síntese do colágeno (modernamente sabe-se que age diretamente estimulando a síntese do peptídeo do colágeno), dos proteoglicanos e outros constituintes da matriz intercelular em todos os tecidos do organismo, como o osso, o dente, e o endotélio (revestimento interno) capilar. Algumas vezes, a deficiente síntese dos proteoglicanos e do colágenos nas deficiências da vitamina C pode ser devida a inibição do insulin-like growth factor I. É bom lembrar que o colágeno, o componente maior da pele e do tecido conjuntivo, é a proteína isolada mais abundante no organismo, sendo essencial para a integridade e a estrutura de todas as células.

O escorbuto é a conseqüência de defeito na síntese do colágeno que torna-se aparente sob a forma defeitos na formação dos dentes, dificuldades de cicatrização das feridas e na rotura dos capilares

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levando às petéquias (pequenos pontos de sangramento agrupados) e às equimoses (manchas provocada pelo sangramento no tecido subcutâneo). As gengivas ficam roxas e inchadas. O rosário, ocasionado pelas alterações das junções costocondrais com uma fiada de nódulos (determinados pelo afundamento do esterno tornando as inserções das costelas mais salientes), lembra o clássico rosário raquítico. O sangramento subperiósteo dos ossos longos leva a dores intensas. As dores nos membros inferiores podem levar a uma falsa paralisia ( parecida com a pseudoparalisia de Parrot encontrada em alguns casos de sífilis congênita), adotando a criança a posição de sapo, com semiflexão do quadril e dos joelhos e rotação externa dos pés. Os ossos tornam-se quebradiços e sofrem fraturas com facilidade. Os sangramentos podem se manifestar na urina, nas fezes, nos olhos (órbita), nos leitos ungueais, nas articulações, nos músculos e no espaço subdural. Os quadros graves apresentam no período terminal icterícia, hemorragias nas regiões centrais do cérebro, convulsões, hipotensão.

A vitamina C também tem importância na ativação de uma enzima que age na síntese de alguns hormônios peptídicos, como o hormônio anti-diurético e a oxitocina. Por sua ação na redução da forma férrica do ferro à forma ferrosa, no estômago, aumenta a absorção intestinal do ferro. Embora pouco conhecido, a vitamina C tem efeito na esteroidogênese provocada pelas glândulas adrenais. Facilita a conversão do ácido fólico em ácido folínico, portanto, é um dos fatores importantes para evitar a anemia megaloblástica. Atua no metabolismo da tirosina e da fenilalanina. Aumenta a atividade de enzimas como a desidrogenase succínica e fosfatase sérica em crianças. O aminoácido tirosina, obtido da dieta e sintetizado no organismo a partir da fenialanina, é usado na síntese proteica e é precursor da epinefrina, da norepinefrina, da dopamina, da melanina e da tiroxina; quando esse metabolismo é alterado, tendo como conseqüência o excesso de tirosina no plasma, surgem uma série de enfermidades: a deficiência hereditária de enzimas específicas causa a tirosemia do tipo I e a do tipo II; a tirosemia transitória do recém-nascido, acometendo principalmente alguns bebês prematuros nas primeira duas semanas de vida pelo atraso da maturação da enzima dioxigenase; 4- hidroxifenilpiruvato (que necessita da vitamina C para a sua atividade normal) e a deficiência genética da mesma enzima ocasionando a hawkinsinuria. Como a vitamina C é necessária para o bom funcionamento da enzima, ela faz parte tanto do esquema de tratamento da tirosemina transitória do recém-nascido como da hawkinsinuria.

A absorção da vitamina C pelo intestino é feita por processo ativo dependente de energia. Esse processo de absorção é saturável e dose dependente. Nos pássaros capazes de sintetizar a vitamina C fala-se num processo passivo de absorção. A dose diária recomendada para um adulto em condições normais pelo RDA, 60 mg, é capaz de manter de manter concentração plasmática de 0.8 mg/dl e um estoque de 1500 mg, bem acima dos 0.15 mg/dl capazes de provocar sinais de escorbuto. Nos fumantes, consumidoras de contraceptivos orais e em algumas doenças infecciosas as doses diárias devem ser aumentadas para 100 mg. Uma pessoa adulta possui 1.5 a 3.0 g de vitamina C no seu organismo; nas dietas deficientes, há perda de até 4% desse total por dia, o que, leva ao escorbuto em uns dois ou três meses ou até menos.

As principais fontes da vitamina C são as frutas cítricas, o melão, a acerola, os tomates, as batatas, os morangos e folhas da couve e de outros vegetais bem verdes (o brócolis na liderança), mas não nas sementes. O fígado, os rins, o leite e os peixes também contêm vitamina C. O leite humano chega a ter 55 mg de vitamina C por litro, na dependência do bom consumo pela mãe. O calor, os álcalis e os oxidantes destroem a vitamina C. Li trabalhos que falam na destruição da vitamina C de horti/fruti não processados estocados por longo tempo e na conservação da mesma (metade ou até mais) nos processamentos como cozimentos, vapor, cozimento a pressão, compotas e geléias, congelamentos, desidratações e conservas. Assim, as necessidades diárias são preenchidas com pequenas quantidades de horti/frutis. Dando uma olhada em algumas gaiolas de trincas, veremos que jamais terão escorbuto.

A vitamina C é um potentíssimo agente redutor (processo em que ocorre a diminuição do número de oxidação de um átomo, ou do número de cargas positivas de um íon – Aurélio. Reação química consistindo na subtração de oxigênio ou adição de hidrogênio a uma substância, ou simplesmente ganho de cargas negativas ou perda de cargas positivas). Como anti-oxidante, a vitamina C também é usada para a conservação do sabor e da cor nos produtos industrializados tendo como base os derivados lácteos, frutas e vegetais.

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As ações anti-oxidantes (ah!, o combate aos temíveis radicais livres) da vitamina C vislumbram futuro promissor no tratamento ou profilaxia de muitas enfermidades. Já há estudos mostrando possíveis efeitos na proteção contra o surgimento da catarata determinada pela idade e da degeneração macular, mas ainda faltam dados para a sua recomendação clínica nesses casos. É interessante notar que o cristalino, juntamente com as glândulas adrenais, possuem as maiores concentrações de vitamina C do organismo. A eficácia da vitamina C em megadoses na prevenção do câncer e mesmo do simples resfriado não é conclusiva. Enfim, como acontece com toda vitamina, há muito folclore e verdadeiras mágicas sobre os seus efeitos. Como dizia um professor: há efeitos apregoados às vitaminas que elas mesmas não sabem que têm...

O ácido ascórbico pode ser dosado no plasma pela cromatografia líquida de alta pressão e na camada branca (buffy layer) formada pelas plaquetas no sangue centrifugado, mas nem sempre os resultados são satisfatórios.

2 VITAMINAS LIPOSSOLÚVEIS

Fazem parte desse grupo as vitaminas A, D, E e K. Nos anos finais do século passado, o estudo dessas vitaminas, ricas em história, foi marcado por descobertas ao mesmo tempo promissoras e intrigantes. Foram descobertos os receptores RXR, importantes para a ação tissular do calcitriol, do ácido retinóico e do hormônio tieroidiano e o provável papel anti-oxidante das vitaminas A, C e E como proteção contra doenças cardiovasculares e as doenças malignas.

2.1 Vitamina A

Há mais de 3500 anos, os egípcios construíam pirâmides e já conheciam a cegueira noturna e, embora não a ligassem à deficiência alimentar, faziam o seu tratamento tópico com fígado grelhado. Embora a ligação da cegueira noturna com alguma deficiência alimentar somente tenha sido feita em 1800, Hipócrates, o chamado pai da medicina, grande cabeça observadora e prática, aconselhava comer o fígado para tratar a doença. Por esses tempos foi descrito um surto da doença entre católicos russos ortodoxos determinado pelo costume religioso do jejum durante a Quaresma (os quarenta dias entre a quarta-feira de cinzas, aquela depois do carnaval na qual o pessoal aparece na igreja dos capuchinhos com a maior cara de santo do mundo, até o domingo de Páscoa, comemoração da primavera, a saída dos hebreus do Egito, enfim, a ressurreição de Cristo).

Embora tenha sido inicialmente usado para designar o retinol e os seus ésteres, o termo vitamina A atualmente engloba todos os compostos que tenham as propriedades biológicas do retinol. O termo retinóide refere-se ao retinol como entidade química e os seus derivados naturais, incluindo-se os análogos sintéticos. Em 1919, Steenbock, numa observação simples, mas reveladora, mostrou que a quantidade de vitamina A nos vegetais variava proporcionalmente ao grau de pigmentação dos mesmos, abrindo o caminho para o descobrimento do pigmento caroteno (provitamina A) como potente fonte da vitamina.

Há autores que empregam o termo vitamina A para todos os derivados beta-ionones que não os carotenóides pro-vitamina A: a-Retinol (forma alcoólica da vitamina A); b- retinil (a forma de éster da vitamina A); c-retinal (forma de aldeído da vitamina A) e d- Ácido retinóico (forma ácida da vitamina A). São chamados de caroteinóides pró-vitamina A todos os carotenóides com atividade biológica do beta-caroteno.

O retinol, também conhecido por vitamina A1, é um álcool de alto peso molecular encontrado na sua forma esterificada (éster é o resultado da condensação de um ácido orgânico com um álcool) nos tecidos dos animais e nos peixes de água salgada, principalmente nos seus fígados (óleo de fígado de bacalhau, aquele do homem com enorme peixe nas costas muito usado pelos nossos pais e avós); um seu análogo próximo, o 3-dehidroretinol, a vitamina A2, é encontrado misturado ao retinol nos tecidos de peixes de águas salgadas.

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Convencionalmente 1 micrograma de retinol é igual a 3.3 UI (unidade internacional) de vitamina A. Existe uma série de isômeros (molécula da mesma espécie e o mesmo número de átomos que uma outra, diferindo dela na estrutura. Certos compostos que estando formados pelos mesmos elementos e nas mesmas proporções, têm propriedades físicas e químicas diferentes devido às posições relativas dos átomos na molécula) do retinol devido as possibilidades das configurações cis-trans (não me peçam para explicar porque complicará de vez). A estrutura em anel do retinol (beta-ionone) é essencial para a sua atividade. Os éteres (constituídos por dois grupamentos hidrocarbônicos ligados a um mesmo átomo de oxigênio) e ésteres derivados do retinol (éster retinil ou éster da vitamina A) também possuem atividade in vivo.

A vitamina A(retinol) pode ser ingerida ou sintetizado pelo organismo a partir dos carotenos, principalmente o beta caroteno, contidos nos vegetais.

O ácido retinóico (ácido da vitamina A), que faz a alegria da mulherada (e de muitos homens também) nos peelings e outras artes para encobrir o envelhecimento, oriundo da oxidação do retinol, não possui algumas ações deste, como na restauração visual ou reprodutiva em certas espécies animais, mas é um eficiente promotor do crescimento e da manutenção, além do controle da diferenciação, do epitélio. As formas trans do ácido retinóico (tretinoina) parecem ser as formas ativas da vitamina A em todos os tecidos, menos na retina, e chegam a ser cem vezes mais potentes do que o retinol. Isomerizando-se a tretinoina obtém-se a isotretinoina, tão potente como aquela, mas com menores possibilidades de provocar intoxicações pelo excesso.

Além de todos esse compostos, existem ao retinóides sintéticos em várias gerações evolutivas: o etretinato e a acitretina são representantes dos retinóides de segunda geração e os arotinóides (os retinóides aromáticos, ou seja, com anéis benzeno, antraceno, naftaleno, etc. nas fórmulas) já constituem a terceira geração.

Ações da vitamina A: a- Visão. A recepção da luz é determinada por dois tipos de células especializadas existentes na retina, os cones e os bastonetes. Os bastonetes são especialmente sensíveis aos raios luminosos de baixa intensidade e os cones aos de alta intensidade e são os responsáveis pela visão das cores. O primeiro passo é a recepção da luz por um cromóforo ligado a um receptor proteico; o cromóforo, tanto nos cones como nos bastonetes á o 11-cis-retinal que, ligado à proteína opsina, forma o holorreceptor rodopsina. Os três tipos de cones (verde, azul e vermelho) possuem proteínas fotorreceptoras específicas que respondem a diferentes comprimentos de ondas luminosas. A energia luminosa provoca alterações químicas no 11/cis-retinal gerando energia que é transmitida pelo nervo óptico ao cérebro determinando a sensação visual. Quando em dietas deficientes em vitamina A, os bastonetes são mais afetados do que os cones e o indivíduo vai perdendo progressivamente a capacidade de se adaptar a escuridão (cegueira noturna ou nictalopia). A adaptação da visão dos pássaros ao anoitecer é essencial para a sobrevivência, pois, nesse período, providencia a última refeição dos seus ninhegos (eta palavrinha horrível), acomoda-se nos ninhos e sofre o início da ação dos predadores noturnos. Sem falar nas aves de hábitos noturnos, nas quais a visão noturna é básica para a sua sobrevivência; b- Combinando-se com receptores nucleares o retinol e, principalmente o ácido retinóico, influencia a expressão de certos genes que agem na reprodução, estruturação e na diferenciação funcional das células epiteliais. Esses receptores, na verdade uma família deles, incluem também aqueles para os hormônios esteróides e da tireóide e o calcitriol (metabólito da vitamina D3 indicado principalmente para os portadores de insuficiência renal crônica que fazem uso da hemodiálise), o que, dá à vitamina A grande importância para a manutenção da vida; c- Como a vitamina A regula a diferenciação e proliferação das células epiteliais, aventou-se a hipótese dela poder controlar ou mesmo evitar a descontrolada proliferação e diferenciação das células malignas. Os estudos evoluem, o futuro poderá ser promissor, mas ainda faltam dados mais conclusivos. Como o seguro morreu de velho, não custa aumentar o seu consumo de hortaliças e frutas, prezado passarinheiro e c-Há fortes evidências de que a vitamina A aumenta a resistência imunitária às infecções por parasitas, por vírus e por bactérias. Os estudos com resultados mais consistentes foram obtidos, sem dúvidas, foi a queda da mortalidade e da morbilidade em crianças portadoras de sarampo que receberam suplementação de vitamina A.

O substrato básico da deficiência da vitamina A é a diferenciação celular provocando aumento da

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queratina nas regiões já queratinizadas e o seu aparecimento em locais normalmente não queratinizados. A queratina é uma proteína insolúvel encontrada na pele, nos cabelos, nas unhas e em outros tegumentos animais. Entre as células da pele são encontrados os queratinócitos que, na evolução, perdem o núcleo e o citoplasma que são substituídos por queratina. Essas células sem núcleo e ricas em queratina constituem a camada mais superficial da pele e conferem a ela proteção contra os atritos e a impermeabilização à água. A queratina pode ser facilmente notada na sola dos pés. A falta da vitamina A provoca: a-Excesso de queratinização da pele, com alterações dos folículos pilo-sebáceos formando pápulas (pequenas elevações circunscritas da pele); b-Nos olhos a córnea torna-se seca (xerose), amolecida por necrose (ceratomalacea) e pode ulcerar, perfurar e levar a cegueira. São clássicas as pequenas placas cinza-prateadas, brilhantes e tringulares encontradas na conjuntiva ressecada, as manchas de Bitot, formadas por restos de epitélio seco, microorganismos, etc. Nos pássaros são também encontradas aderências das pálpebras, perda de penas ao redor do bico e dos olhos provocando prurido (coceira) e sangramentos, além das ulcerações nas mucosas dos pulmões, do papo, do esôfago e, as mais visíveis, da boca. Esses sinais sucedem a cegueira noturna; c-A queratinização do epitélio das vias respiratórias favorecendo o surgimento de infecções e a diminuição da elasticidade pulmonar. Há queda na produção do muco e ele torna-se mais espesso; d-As glândulas de suor também são atingidas pela queratinização e tornam-se secas; e-As alterações do epitélio das vias urinárias favorecem o aparecimento dos cálculos e as dos aparelhos reprodutivos levam à degeneração dos testículos, queda da espermatogênese, às reabsorções fetais, desenvolvimento anômalo da placenta, algumas más-formações e até abortos; f- A diarréia é determinada por alterações do epitélio intestinal, mas não há queratinização do mesmo; g- Os ossos também sofrem alterações, o paladar e o olfato são afetados e as alterações no epitélio que revestem as cavidades do sistema nervoso central podem levar a quadros como a hidrocefalia e o aumento da pressão intracraniana. É descrita nos pássaros mortalidade precoce por alterações no desenvolvimento do sistema circulatório.

A vitamina A é solúvel na gordura, resistente ao calor, mas é destruída pela oxidação e pelo ressecamento. Não há grande perda da vitamina nos cozimentos, nos processamentos para envasilhamento e congelamento.

As principais fontes da vitamina A pré-formada são o leite integral e os seus derivados, a gema do ovo, o fígado (lembram-se do óleo de fígado de bacalhau, de sabor horrível e com o homem carregando um peixe nas costas?) e os rins, nos quais se apresenta em apreciável quantidade sob a forma de ésteres de ácidos graxos (principalmente o retinil palmitato). Em torno de 90% do retinol da dieta encontra-se na forma de ésteres, especialmente o retinil palmitato. Esses ésteres são hidrolizados durante a digestão, absorvidos na forma livre, reesterificados com os ácidos graxos (principalmente o palmítico) dentro da mucosa intestinal e ganham a circulação linfática incorporados aos quilomicrons. A captação do retinol pelas células da mucosa intestinal se faz usando uma proteína transportadora, a famosa CRBPII(cellular retinol-binding protein). Existem similares dessa proteína em muitas células de diversos órgãos e que conhecidas por CRBP. Uma apreciável quantidade de retinol é absorvida diretamente na circulação, encontrando-se ligada a retinol-binding protein (RBP) no plasma. O beta caroteno pode ser absorvido intacto ou desdobrado no intestino em duas moléculas de retinaldeído, o qual, pela ação da enzima aldeído redutase, é reduzido a retinol.

O retinol das diversas fontes é estocado como retinil ésteres (retinil palmitato) no fígado (o pool de retinol no organismo do humano varia normalmente de 300 a 900 mg). O fígado capta esses ésteres usando um receptor que permite a entrada dos quilomicrons nas suas células; quando necessário, os retinil ésteres são hidrolisados e o retinol resultante liga-se a uma proteína fixadora do retinol (RBP) para chegar aos diversos tecidos; quase todo o retinol (95%) liberado pelo fígado circula ligado à RBP, o que, o protege do metabolismo e da excreção renal facilitando a chegada das quantidades necessárias aos diversos órgãos. O complexo retinol-RBP é captado em locais específicos das membranas das células onde irá exercer a sua ação; o retinol é então ligado a uma CRBP e transformado em retinil éster. A CRBP atua como reservatório para o retinol celular e libera-o para locais específicos para a conversão nos compostos ativos, como acontece na conversão o 11-cis-retinal que é incorporado à rodopsina. O retinol é eliminado do organismo igualmente pelos rins e pela bile.

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O excesso de vitamina A, geralmente por abusos no uso de medicamentos, gera quadros de intoxicações agudas nas ingestões de doses únicas maciças, com náuseas, vômitos, dor abdominal, tonteiras, dor de cabeça, edema de papila, abaulamento da fontanela nas crianças menores seguidos por descamação generalizada da pele; os quadros de intoxicação crônica, após a ingestão diária de doses acima de 25 000 UI/dia, provoca queda dos cabelos (e das penas), dores ósseas, lábios secos e fissurados, aumento da pressão intacraniana, falta de apetite, febre, coceiras, aumento do fígado e do baço e perda de peso.

Agora, amigos passarinheiros, uma conversinha amiga ao pé do ouvido: você acha lógico e justo tentar dosar um medicamento contendo altas doses de vitamina A, geralmente associadas a altas doses da vitamina D, formulado para o uso em humanos cujos adultos pesam, em média, 70 kg, para um pobre pássaro pesando entre os 15 e os 30g quando adultos e com metabolismo diferente do nosso?

Naturalmente existem mais de seis centenas de carotenóides, mas somente uns quarenta são fornecidos pela dieta e um número muito pequeno, seis, pode ser encontrado no soro dos humanos. Somente o alfa e o beta-caroteno, além da criptoxantina, podem ser transformados em vitamina A; o licopeno e a luteína não são passíveis dessa transformação. Diferentemente da intensiva absorção do retinol, somente em torno de um terço do beta ou outros carotenóides é absorvido pelo intestino dos humanos. A absorção dos carotenos não tem uma característica específica e depende da presença de gorduras absorvíveis e da bile no intestino. O caroteno pode ser transformado em retinal que é oxidado até ácido retinóico, do qual, um terço sofre redução a retinol que faz o mesmo caminho metabólico do retinol já visto. Uma parte do beta-caroteno é absorvida como tal, ganha o linfático, circula ligada a uma lipoproteína e pode ser transformada em vitamina A em muitos tecidos. Os carotenóides podem ser metabolizados até retinóides ou atuar como anti-oxidantes; eles têm sido exaustivamente estudados para ver se teriam ação preventiva contra alguns tipos de câncer e contra doenças esquêmicas cardíacas. Se uma grande quantidade de carotenóides for ingerida, alcançando altas concentrações sangüíneas, a hipercarotenemia, pode haver a pigmentação amarela da pele. Esse é o macete das belas pigmentações vermelhas das penas dos rollers geneticamente propensos (fator vermelho vindo do pintassilgo da Venezuela); ou aquele avermelhado-alaranjado das penas dos canários-da-terra que consomem grande quantidade de pimentões vermelhos ou cenoura.

Nos humanos os carotenóides não são tóxicos, mas, em grandes quantidades na dieta podem provocar pigmentação amarelada da pele. É comum a ponta do nariz amarelada (nariz de palhaço) naqueles bebês recebendo grandes quantidades de cenoura na sopinha. Diferentemente da icterícia, na carotenemia não há pigmentação amarela da esclerótica. Para a felicidade dos pássaros, a sua alimentação à base de sementes, hortaliças e frutas fornece a vitamina A em forma de caroteno; há um limite para a transformação do caroteno em vitamina A, o que, impede a intoxicação. O problema, como visto acima, são as formulações medicamentosas, principalmente aquelas feitas para os humanos.

2.2 Vitamina D

Dá-se o nome de vitamina D a duas substâncias solúveis nas gorduras, o colecalciferol e o ergo calciferol, ambos capazes de curar ou prevenir o raquitismo. O raquitismo, doença devida a deficiência da vitamina D em crianças cujas manifestações características são as deformidades ósseas, é conhecido desde tempos imemoriais acometendo crianças das regiões de climas temperados; naquele tempo já se preconizava que era devido à falta dos raios solares e do ar fresco. Em muita pinturas renascentistas as crianças aparecem com os membros inferiores cambaios do raquitismo, o que, pela sua freqüência era tido como normal. No início do século XX Huldschinsky e Mellanby, em estudos independentes, mostraram que as duas afirmações estavam corretas; foram além, mostrando que a exposição aos raios solares e a adição do óleo de fígado de bacalhau à dieta eram medidas preventivas ou curativas da doença. A bem da verdade, é preciso deixar claro que foram os holandeses os precursores no uso do óleo de fígado de bacalhau. Tiro de morte na doença e a diminuição drástica das criancinhas cambaias. Como não podiam explicar o mecanismo de ação do óleo de fígado de bacalhau, e já existiam os São Tomé, ele caiu no desuso até a Primeira Grande Guerra Mundial. Logo depois, com a liderança de Steenbock e Hess, descobriu-se que a irradiação com raios ultravioletas das rações, ou do próprio animal, tinha efeito curativo surpreendente sobre o raquitismo,

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sendo uma passo para a descoberta da estrutura do ergo e do colecalciferol e, eureka, que essas substâncias necessitavam alterações metabólicas para tornarem-se ativas. Somente em 1935 a vitamina D cristalina pura, o calciferol, foi isolada.

Na verdade a vitamina D é um hormônio e, nos humanos, havendo exposição adequada aos raios, solares não há a necessidade da sua presença na dieta. Nos pássaros soltos é bem provável que aconteça o mesmo, mas, nos mantidos em gaiolas, creio haver a necessidade da sua presença na dieta, a não ser que o mantenedor propicie ao pássaro alguns minutos diários de exposição direta aos raios do sol da manhã.

Foram identificados uns dez produtos com ação de vitamina D, sendo os dois mais importantes o ergocalciferol (vitamina D2), derivado da provitamina ergosterol, encontrado nas plantas, e o colecalciferol (vitamina D3), derivado da provitamina 7-dehidrocolesterol, encontrado na pele dos animais. Há um intermediário na conversão 7-dehidrocolesterol a colecalciferol, a previtamina D3 ou isômero 6,7-cis que acumula-se ne pele após a irradiação ultravioleta; como esse isômero converte-se espontaneamente e vagarosamente em vitamina D3, constitui uma fonte sustentada de vitamina D3 durante algum tempo.

E a vitamina D1?, devem estar perguntando alguns passarinheiros mais atentos; o material com essa denominação nada mais era do que uma mistura de substâncias anti-raquíticas e, hoje, somente tem valor histórico.

Em muitas espécies de animais há diferenças de potência de ação entre o ergocalciferol e o colecalciferol, mas nos humanos elas praticamente não existem.

Tanto a vitamina D da dieta como aquela vinda da irradiação da pele necessitam ser ativadas para tornarem-se biologicamente ativas; e isso é conseguido com sucessivas hidroxilações (hidoxila é o radical monovalente OH, originário da água pela retirada de um átomo de hidrogênio) no fígado e nos rins. Quando a pele é submetida aos raios solares ou a certas luzes artificiais (comprimento de onda entre 290 a 315 nm) o 7-dehidrocolesterol (precursor imediato do colesterol) é transformado em 9,10 secosterol, previtamina D, biologicamente inerte, que sofre um rearranjo da molécula dependente da temperatura, dando origem ao 9,10 secosterol termoetável, a vitamina D3. À temperatura corporal humana, em 24 horas a previtamina D3 converte-se completamente em vitamina D3. Tanto a competição da melanina pelos raios ultravioletas como a transformação da previtamina D3 e da vitamina D3 em produtos inativos evitam o excesso da vitamina D3.

Alguns fatores diminuem o aproveitamento dos raios solares pela pele: idade, altitude e longitude, uso de protetores solares, poluição atmosférica, hora do dia, uso excessivo de roupas. Aqui um ponto interessante: durante a muda, estando a pele do pássaro mais exposta pela queda das penas, os banhos de sol teriam um efeito muito maior sobre a síntese da vitamina D.

Entrando na circulação a vitamina D, tanto a sintetizada na pele como a absorvida da dieta, é transportada ao fígado ligada a uma alfa globulina específica, a vitamina D-binding protein. Chegando ao fígado a vitamina D (D2 e D3) sofre o primeiro passo da ativação sendo sintetizado, por ação de enzimas microssomiais e mitocondriais que requerem NADPH e oxigênio molelcular como co-fatores, o 25-hidroxicolecalciferol (25-OHD), também conhecido por calcifediol, um dos principais metabolitos circulantes e com vida média de 21 dias. No sangue humano, a concentração do calcifediol é de 8 a 80 ng/ml, dependendo da quantidade de sol recebida pela pele do indivíduo. Do fígado a 25-OHD ganha a circulação e chega aos rins ligada a uma globulina (vitamina D-binding globulin) onde sofre nova hidroxilação promovida pela enzima mitocondrial 25-OHD-1alfa hidroxilase ( essa enzima tem na sua composição o Citocromo P450 e a ferredoxin e como co-fatores o oxigênio molecular e a NADPH, o nicotinamide adenine dinucleotide phospate) gerando a 1,25-dihidroxivitamina D3, também conhecido por calcitriol, a forma realmente ativa da vitamina D. A hipocalcemia não controla diretamente essa hidroxilação sofrida nos rins, mas aumenta a secreção do PTH, o qual, aumenta a síntese do 1,25 (OH)2D. O 25(OH)D também pode ser metabolizado a 24,25(OH)2D que, por ação da 25OHD-1alfa-hidroxilase, converte-se em 1alfa, 24R,25-trihidroxivitamina D que é metabolizada até uma substância biologicamente inativa, o ácido calcitroico; essa é outra válvula de escape que evita o excesso de produção do calcitriol quando há oferta

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excessiva do substrato. Embora os rins sejam a grande fonte do calcitriol, ele também pode ser sintetizado pelos macrófagos, pela placenta e pela decídua ( como é conhecido o endométrio, revestimento uterino, após a implantação do blastocisto e que é eliminado após o parto).

O controle da atividade da 25-OHD-a alfa hidroxilase, aumentando ou diminuindo a secreção do calcitriol, é um dos mecanismos mais importantes para a homeostase (estabilidade) do cálcio. A atividade da enzima aumenta quando a dieta é pobre em vitamina D, fosfato ou cálcio, quando há estímulo do hormônio da paratireóide (PTH) e, ainda dependendo de certeza quanto ao mecanismo, pela prolactina e pelo estrogênio e, pelo contrário, diminui quando a dieta é rica em vitamina D, fosfato e/ou cálcio. O calcitriol exerce um efeito negativo sobre a síntese da enzima (feedback negativo), tanto pela ação direta sobre os rins como pela inibição da produção do PTH. É meio complicadinho, mas é fascinante a mais não poder...

A ação da vitamina D na homeostase do cálcio (a ação sobre o metabolismo do fosfato é paralela à do cálcio) se faz das seguintes maneiras: a- Aceleração da absorção intestinal do cálcio. Embora conhecida em estudos em ratos há meio século, ainda não está bem esclarecida. As duas hipóteses mais aceitas hoje são a indução da ligação do cálcio e uma proteína transportadora, a calbindina, ou a endocitose em vesículas fundidas aos lisossomos, os quais, fariam o cálcio atravessar as células da parede intestinal; b- Mobilização do mineral do osso. Embora não aja nos osteoclastos maduros (células que promovem a reabssorção óssea) porque eles não têm receptores específicos, o calcitriol mobiliza as células precursoras dos osteoclastos para os locais de reabsorção. É bom lembrar que osso, embora não pareça, está em constante atividade metabólica promovendo tanto a mineralização (osteoblastos) como a reabsorção (osteoclastos), havendo fatores que atuam em uma ou em outra atividade. Daqui a algum tempo iremos publicar um boletim sobre o osso, publicado inicialmente para os cachorreiros, mas sendo adaptado para os pássaros; é assunto apaixonante e complexo. Os osteoblastos, as células responsáveis pela formação óssea, também possuem receptores para o calcitriol e, sob o seu efeito, produzem proteínas como a osteocalcina e c- Retenção renal do cálcio e do fosfato. Ainda pouco conhecido quanto a sua importância. O calcitriol aumenta a retenção de maneira independente do cálcio e do fosfato e, provavelmente, aumenta a reabsorção dos mesmos nos túbulos proximais.

Além dessas clássicas ações, o calcitriol apresenta outras que são focos de muitos estudos pelo alcance e importância do seu uso em diversas patologias importantíssimas. Os seus receptores estão espalhados por células de todo o organismo, o que, faz vislumbrar um futuro promissor no campo do tratamento e profilaxia de muitas moléstias: 1-Efeito sobre a diferenciação e a maturação das células mononucleares e a produção da citocina (secretada pelas células do sistema linfático e que modulam a resposta imunitária do organismo), levando à possibilidade do seu uso nas doenças que afetam o sistema imunitário; 2- Inibição da proliferação e da diferenciação de células tumorais, o que, o credenciaria ao tratamento e profilaxia de vários tipos de canceres; 3- Inibição da proliferação das células epidérmicas e promoção da sua diferenciação, abrindo luzes para o seu uso no tratamento do psoriasis vulgaris e 4- Ação sobre as funções do músculo esquelético, também um campo muito promissor.

Tanto a vitamina D3 como a D2 são absorvidas pelo intestino delgado (sendo a D3 melhor absorvida do que a D2), sendo a bile, principalmente o seu componente ácido deoxicólico, essencial para o processo. A bile também é a sua principal rota de excreção.

A deficiente exposição aos raios solares, as dietas pobres em vitamina D e as diversas enfermidades, tanto adquiridas como herdadas geneticamente, que impedem a absorção, o transporte, as suas diversas etapas metabólicas e o seu aproveitamento pelas células geram os dois quadros clínicos clássicos da deficiência da vitamina D: o raquitismo e a osteomalácia.

O raquitismo surge quando a deficiência atinge a criança (ou o filhote) impedindo o desenvolvimento normal da mineralização, tanto do osso como da matriz cartilaginosa da placa de crescimento. A osteomalácia acomete o adulto, no qual, a placa de crescimento já está fechada.

No quadro clínico do raquitismo a criança(filhote) torna-se apático, indiferente, irritadiça com fraqueza muscular e hipotonia. Nos quadros mais graves, a queda do cálcio provoca tetania que pode se acompanhar

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por espasmo do laringe e convulsões. Aos poucos a criança vai tendo dificuldade para andar sem apoio; da mesma maneira os pássaros têm dificuldades para se sustentarem nos poleiros. A fraqueza dos músculos responsáveis pelo canto provoca alterações no timbre das cantadas, a sua diminuição ou mesmo a parada. Os ossos parietais tornam-se achatados ou deprimidos e a bossa do frontal caracteriza a fronte olímpica dos autores mais antigos; a abóbada craniana torna-se amolecida dando à pressão a sensação de bola de pingue-pongue (craniotabes) e as suturas (moleiras) ficam alargadas. As junções costocondrais encontram-se salientes caracterizando o rosário raquítico; o aspecto denteado (causando depressão) determinado nos pontos em que há ligação entre o diafragma e as últimas costelas é conhecido por ranhura de Harrison. O esterno e as cartilagens proximais projetam-se para a frente determinando o chamado tórax de pombo. Com o progredir do quadro sem o tratamento adequado, há o arqueamento da tíbia, fêmur, rádio e da ulna conhecido popularmente por cambaio, cambeta, acambetado, cambado, cambo, cambota ou cambuta. Há desenvolvimento insatisfatório da altura, defeitos no esmalte dentário, atraso na erupção dos dentes e as fraturas são freqüentes. São comuns os ovos com casca mole ou muito fina.

A osteomalácia é mais insidiosa, sem sinais muito gritantes; dores ósseas, fraqueza muscular dificultando a marcha e as fraturas podem aparecer aos mínimos traumas. O colapso das vértebras podem determinar diminuição da altura e o envolvimento das costelas leva a alterações torácicas apreciáveis. Também são descritas nas aves a queda da eclosão dos ovos e o mau empenamento.

A ingestão, acidental ou não, de altas doses da vitamina D provoca sinais semelhantes aos encontrados na hipercalcemia: falta de apetite, irritabilidade, prisão de ventre, hipotonia, poliúria (aumento do volume de urina), polidipsia (sede excessiva), palidez, podendo chegar ao extremo da estenose da válvula aórtica, hipertensão, opacificação da córnea e conjuntiva, vômitos e retinopatia. Como muitas vezes a vitamina D está associada à vitamina A nos medicamentos, como nas altas doses das duas encontradas em ampôlas, pode haver concomitância das intoxicações; os quadros podem ser mais freqüentes nos pássaros pela mania de alguns criadores de usar nas suas aves medicamentos fabricados para humanos.

2.3 Vitamina E

A musa das vitaminas entre os passarinheiros, a mais amada por eles. Como todos os amantes, atribuem a ela qualidades que nem ela sabe que tem. Sobre essa vitamina, continuo com a mesma idéia expressada por um catedrático de clínica médica há uns quarenta anos: “Uma vitamina em busca de uma doença”. Mas, vamos lá.

Lá pelos idos de 1921/1922 já era percebida a existência dessa vitamina por H. M. Evans e K.S. Bishop quando publicaram o pioneiro trabalho On the relationship betwen fertility and nutrition, mostrando que ratas necessitavam de determinado princípio na dieta para manter normalmente a gravidez; com dietas deficientes no princípio as ratas ovulavam e concebiam normalmente, mas os fetos morriam e era reabsorvidos. Em 1936, o mesmo Evans, agora com O.H. Emerson e G.A. Emerson, publicou The isolation from wheat germ oil of na alcohol, alfa-tocoferol, having properties of vitamin E. Pronto, quando foram mostradas lesões testiculares em animais mantidos em dietas deficientes na vitamina, correram logo para chamá-la de vitamina anti-esterilidade.

Os tocoferóis são álcoois fenólicos derivados do cromano (C9H10O). Há oito formas naturais: alfa, beta, gama e delta tocoferol, sendo os outro quatro, na realidade, tocotrienóis, todas com propriedades da vitamina E; a forma alfa é biologicamente a mais ativa e a mais encontrada (90% de todos os tocoferóis) nos tecidos dos animais. A mais importante propriedade química do alfa tocoferol, pelo menos até o que conhecemos atualmente, é a de ser agente redutor (provoca diminuição do número de oxidação de um átomo, ou do número de cargas positivas de um íon), portanto, um potente anti-oxidante que perde lentamente a sua função quando exposto ao ar ou aos raios ultravioletas. A oxidação dos ácidos graxos polinsaturados até os hidroperóxidos gera os chamados radicais livres que são extremamente prejudiciais às células; eles atacam os ácidos graxos polinsaturados das membranas, produzindo mais radicais livres numa cadeia de reações que continuam até que os ácidos graxos polinsaturados das membranas sejam oxidados. A vitamina E atuaria fazendo uma varredura desses radicais, como se fosse um antivírus dos PCs, tanto intra

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como extra celular, evitando o início ou o prosseguimento da peroxidação e mantendo a integridade celular. Essa ação também é exercida pelas metaloenzimas, como a peroxidase glutation (GSHp, que mantém estreita relação com a vitamina E), enzimas que possuem metais como o manganês, o zinco, ferro, o selênio ou o cobre como componentes ativos das suas fórmulas e que bloqueiam a peroxidação na fase aquosa da célula. E, como precursores da GSHp, os aminoácidos sulfurados têm também estreita ligação com a atuação da vitamina E. A vitamina E também parece ser importante para outros sistemas metabólicos: a- Co-fator na síntese do ácido ascórbico (vitamina C); b-Metabolismo dos aminoácidos sulfurados; c- Respiração celular; d- Reações de fosforilização, como o metabolismo do ATP e e- Favorece a absorção intestinal da vitamina A e aumenta a sua concentração no fígado e outras células, além de proteger contra vários sinais da hipervitaminose A. Por estimular a fagocitose e a produção de anticorpos, apregoa-se que a vitamina E tenha importância no sistema imunitário (de defesa).

Na realidade, as funções fisiológicas e farmacológicas da vitamina E ainda são incógnitas, caracterizando a literatura por mais dúvidas do que certezas. Baseadas nos resultados promissores obtidos em animais, principalmente nos ratos (é, amigos, eles têm outras serventias positivas e não só vivem azucrinando com as invasões aos criadouros), os resultados terapêuticos obtidos nos humanos são discrepantes. Poderíamos falar que, atualmente, é mais uma vitamina da teoria do que da prática?

Muitos estudos mostram a sua essencialidade para a reprodução de diversos mamíferos, mas não existem evidências dos seus benefícios na esterilidade, na toxemia da gravidez e nos abortos recorrentes em humanos. Principalmente nos ratos as alterações dos axônios das células nervosas do cordão posterior da medula e de alguns núcleos centrais determinados pela deficiência da vitamina E provocam distúrbios da marcha, diminuição dos reflexos e da sensibilidade, oftalmoplegia (paralisia de músculos oculares) e diminuição da visão por retinopatia pigmentar. Em várias espécies animais, inclusive o homem, dietas pobres em vitamina E podem provocar miopatia necrotizante que melhora, cura ou é evitada com o uso da vitamina; as mesmas lesões foram encontradas na musculatura cardíaca, mas estudos não mostraram qualquer benefício com o uso a vitamina E. Ainda há muitas controvérsias sobre os efeitos da vitamina E sobre o comportamento dos tumores cancerígenos; estudos mostram, em modelos animais, que dietas pobres em vitamina E aumentam o risco de malignizações, mas doses farmacológicas dos chamados nutrientes anti-oxidantes podem ser inertes ou mesmo ser perigosas.

Nos humanos, em vários estudos, a vitamina E não foi capaz de proteger mulheres contra o câncer de mama. A teoria de que a oxidação da lipoproteína de baixa densidade (LDL) estaria envolvida na gênese da aterogênese porque a LDL oxidado realmente tem efeitos deletérios sobre o endotélio dos vasos, além de ser efeito vasoconstritor, levou à possibilidade do uso da vitamina E para evitar a oxidação do LDL; aqui, creio, há estudos mais conclusivos sobre os efeitos da vitamina E. Também carece de mais estudos o papel da vitamina E sobre o sistema hematopoiético. A vitamina E está sendo usada em crianças prematuras submetidas a altas concentrações de oxigênio com a finalidade de prevenir a fibroplasia retrolental.

Assim, embora as teorias sobre as ações fisiopatológicas da deficiência da vitamina E sobre muitos órgãos sejam muito engenhosas, tendo algumas efeitos práticos alvissareiros em estudos em animais, especialmente os ratos, o uso concreto e definitivo da vitamina E na terapia ou na profilaxia de muitas enfermidades ainda tem algum caminho para percorrer. Portanto, cabe aos passarinheiros não ficarem tão crentes nos efeitos milagrosos atribuídos a ela, o que, não os impede de usar alimentos ricos nesse nutriente para a alimentação das suas aves.

A vitamina E é absorvida pelo trato gastrintestinal por mecanismo muito provavelmente igual àquele observado com as outras vitaminas lipossolúveis e tendo a bile um papel importante. Suas formas esterificadas são hidrolisadas pelas células da parede intestinal, ganham a bile, associam-se aos quilomicrons e chegam à circulação sangüínea; no fígado é captada dos restos dos quilomicrons, secretada fazendo parte das lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) e logo associa-se a lipoproteínas plasmáticas sendo distribuída a todos os tecidos. Os estoques, principalmente do fígado e do tecido gorduroso, constituem fontes por longo tempo da vitamina E. Na sua atuação como antioxidante a vitamina E acaba sendo oxidada também, podendo ser regenerada por outro antioxidantes como a vitamina C e o glutation.

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As principais fontes da vitamina E são os vegetais, principalmente aqueles ricos em óleos e nos folhosos; nos cereais está concentrada no germe.

2.4 Vitamina K

Em 1935, H. Dam e colaboradores publicaram, na Nature, o trabalho The antihaemorrhagic vitamina of the chick, mostrando o que já desconfiavam desde 1929: um princípio existente na dieta capaz de evitar os sangramentos espontâneos em frangos submetidos a uma ração contendo quantidades adequadas de proteínas, minerais e todas as vitaminas até então conhecidas, provavelmente determinados pelos baixos teores de protrombina no sangue. Em 1936, já sabendo da existência de uma substância solúvel nas gorduras, à qual haviam dado o nome de vitamina K (koagulation vitamin), os mesmos autores publicaram o definitivo Studies on the mode of action of vitamina K. A bem da verdade, e para não cometer injustiça, no mesmo período J.J. Almquist e C.L.R Stokstad chegaram às mesmas conclusões e publicaram, em 1935, o trabalho Hemorrhagic chick disease of dietary origin. Nesses mesmos anos muitos pesquisadores estavam grilados com as possíveis causas dos sangramentos, muita vezes mortais, sofridos por pacientes acometidos por doenças hepáticas com icterícia de origem obstrutiva; chegaram à conclusão de que o problema era ocasionado pela queda dos níveis de protrombina (proteína plasmática que atua no processo de coagulação do sangue) no sangue. Em 1938/39, alguns psquisadores, como H.R. Butt e colaboradores (The use of vitamin K and bile in treatment of hemorrhagic diathesis in cases of jaundice) mostraram, não só a eficácia da vitamina K associada aos sais biliares nas hemorragias havidas em casos de icterícia, como a ligação entre a vitamina K, os mecanismo fisiológicos e o funcionamento normal do fígado no processo da formação normal do coágulo sangüíneo. Bonito, diria o nosso eficiente pároco.

Na realidade são algumas substâncias do grupo das naftoquinonas (quinonas derivadas do naftaleno, hidrocarboneto aromático extraído da destilação do carvão da hulha) que têm atividades biológicas de vitamina K. São solúveis nas gorduras, lábeis aos agentes oxidantes, aos ácidos fortes, aos álcalis e à luz e estáveis ao calor e aos agentes redutores.

Há, pelo menos, duas substâncias naturais capazes de exercer atividades da vitamina K: a- A fitonadiona, ou vitamina K1, presente nas plantas e a única vitamina K natural existente nos medicamentos e b- Menaquinonas, na realidade uma série de substâncias conhecidas como vitamina K2; uma grande quantidade de menaquinonas é sintetizada por bactérias gram positivas, sendo que a maioria da vitamina K encontrada nas fezes de mamíferos é devida à sua síntese pelas bactérias da flora intestinal. Nos animais a menaquinona 4 pode ser sintetizada a partir de um precursor, a menadiona. A menadiona é formada no intestino pela remoção da cadeia lateral da vitamina pelas bactérias e, após ser absorvida, é convertida pelo organismo na ativa menaquinona. A menadiona existe na forma sintética, a chamada vitamina K3.

Simplificadamente pode-se afirmar que a vitamina K age promovendo a biossíntese do fator II (protrombina), do fator VII (pró-convertina), do fator IX (componente tromboplastina plasmático ou fator Christmas) e do fator X (fator Stuart-Power), todos fazendo parte da cascata de reações que terminam com a formação do coágulo sangüíneo; sem a vitamina K, esses fatores não passam de proteínas precursoras inativas no fígado. A vitamina K seria um co-fator para uma enzima do sistema microssômico responsável pela conversão de vários resíduos do ácido glutâmico em resíduos do ácido gama carboxiglutâmico da proteína completa; o ácido gama carboxiglutâmico permite à proteína ligar-se ao íon cálcio (Ca2+) e a uma superfície fosfolipídica, ambos necessários aos eventos da cascata que termina com a formação do coágulo.

O carboxiglutamato também pode ser encontrado em diversas outras proteínas, como na osteocalcina encontrada nos ossos e secretada pelos osteoblastos por ação do calcitriol (forma ativa da vitamina D), que atua no metabolismo do cálcio e em interações fosfolípidicas da coagulação; na proteína S e na proteína C do sangue, ambas com papel anticoagulante por inativação dos fatores VIII e V e nas proteínas Z e M que estimulam a atividade das plaquetas, também envolvidas na coagulação sangüínea.

As necessidades diárias da vitamina K ainda não estão bem claras, admitindo-se, para humanos, em torno de 1 micrograma/kg, o que, pode plenamente ser satisfeito por uma dieta variada e pela síntese promovida pelas bactéria intestinais. Tanto a menaquinona como a fitonadiona não são tóxicas para os animais, mesmo em doses altas.

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Nos humanos foram descritos dores no tórax, vermelhidão facial, falta de ar, colapso cardiovascular e, raramente, a morte com o uso venoso da fitonadiona, havendo dúvida se provocados pela própria vitamina ou por substâncias usadas na sua preparação; a menadiona, além de ser irritante para a pele e vias respiratórias, pode provocar icterícia, anemia e aumento da bilirrubina no sangue, principalmente em bebês prematuros.

A vitamina K é encontrada em muitos alimentos e em doses maiores no fígado, principalmente o de porco, na soja, na alfafa, em vegetais folhosos verdes, no trigo, na aveia e, em menor quantidade, no leite.

A absorção intestinal depende da solubilidade. A menadiona, que é solúvel na água, não depende da bile e entra diretamente na corrente sangüínea; já a fitonadiona e as menaquinonas, solúveis nas gorduras, dependem dos sais biliares para a absorção e são absorvidas quase inteiramente através da linfa (98% da vitamina K é absorvida dessa maneira). Também as maneiras de absorção são diferentes: a menaquinona e a menadiona são absorvidas por simples difusão nas porções finais do intestino delgado e no cólon, enquanto a fitonadiona é absorvida por mecanismo saturável e dependente de energia para ser absorvida pela porções proximais do intestino delgado. Presume-se que o estoque de vitamina K no organismo seja muito baixo, o que, faz prever uma necessidade constante da mesma. O uso de antibióticos de largo espectro (agem num grande número de bactérias, tanto gram positivas como gram negativas), que podem destruir ou diminuir a flora intestinal, inclusive as bactérias capazes de sintetizar a vitamina K, pode provocar conseqüências imprevisíveis, principalmente se houver previamente deficiência dietética desse nutriente, doenças que impeçam a sua absorção ou mesmo patologias de origem genética. Imaginem, amigos passarinheiros, a situação das pobres aves com diarréia, que diminui a absorção da vitamina e provoca falta de apetite, quando recebem doses, muitas vezes enormes, do antibiótico de largo espectro usado, aleatoriamente, para tratar uma colibacilose que, na maioria das vezes, somente existe na cabeça dos seus donos.

Claro está que os principais sinais da deficiência da vitamina K são os sangramentos: equimoses (manchas roxas na pele), gastrintestinais, urinários, nasais e o perigoso sangramento intracraniano.