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– 1 UMA INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA 1. Introdução Intelectuais, desde a Antiguidade, desenvolveram reflexões sobre a vida em sociedade, particularmente através da filosofia, contudo, a elaboração científica de um pensamento social é muito recente e, portanto, podemos afirmar que a Sociologia é uma ciência moderna. É difícil precisar o nascimento dessa ciência, mas sabe-se que o termo sociologia começa a ser utilizado aproximadamente por volta de 1830. É preciso compreender que a Sociologia não nasceu da vontade ou genialidade intelectual de um ou alguns poucos pensadores, mas da necessidade de se buscar explicações e respostas para um período de grandes transformações sociais, culturais e históricas desenca- deadas principalmente pela Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX). A Revolução Industrial foi palco histórico do nascimento da Sociologia. A ciência em questão nascera numa sociedade, especificamente europeia, marcada por grandes transformações no processo de produção, em que se formava a massa de trabalhadores e com ela, uma condição precária e diferente de existência. Ocorria então rápida urbanização, que expunha uma nova forma de miséria, de conflitos, doenças proliferavam facilmente, um aumento do alcoolismo, do suicídio, da prostituição; mas também, assistia-se a um desenvolvimento tec- nológico nunca visto antes, nasciam novos hábitos de consumo e movimentos artísticos que expressavam todo esse tecido social, formado por relações de solidariedade e de muitas tensões. Ao lado disso, soma-se a importância histórica, na organização de uma nova sociedade e cultura, das revoluções burguesas, a construção do Estado-nação e a secularização que separava a atmosfera religiosa até então imantada nos elementos da cultura e das instituições. Surgiam nesse mundo o mito do progresso e a fé nos benefícios seguros propiciados pelas descobertas científicas da época, supostamente capazes de oferecer conforto e escla- recimento suficiente. 2. A Ciência Social Os primeiros cientistas sociais pretendiam elaborar uma ciência que explicasse os fenômenos sociais com o mesmo rigor utilizado nas chamadas ciências naturais, como a Biologia ou a Física. Buscavam leis universais que dessem conta de compreender racionalmente processos que, na verdade, como foi colocado posteriormente, precisavam de métodos e categorias próprias do pensamento social. Enquanto ciência, o novo pensa- mento social pretendia-se, e ainda deve ser assim, exercício intelectual de observação e de experimentação. Fatos se acumulavam e tornavam-se, pela repetição dos fenômenos, fatos sociais, ou seja, passíveis de observação científica. Por essa época, as ciências naturais davam importantes passos em seu desenvolvimento. Há mais de um século, Galileu, Copérnico e Newton deixaram legados e estudos que abalaram conceitos clássicos que já não bastavam para explicar os fenômenos e mudaram o paradigma, ou seja, o referencial teórico dos homens. O heliocentrismo, por exemplo, de Nicolau Copérnico, deslocava a Terra do centro do Universo e mostrava o equívoco teórico inevitável de uma humanidade que até então não produzira a investigação científica. A ciência, portanto, não nasceu como uma forma entre outras de saber, mas como a única competente e capaz de expressar a verdade, e por isso pode-se afirmar que existiu, e muitos ainda creem nisso, o mito da ciência. Essa mentalidade foi chamada de cientificismo e corresponde a uma escola do pensamento conhecida como Positivismo. Se de um lado, a Sociologia descendia da filosofia social elaborada pelos antigos gregos ou pelos iluministas do século XVIII, por outro lado, ela exigia uma metodologia distinta e propriamente científica. SOCIOLOGIA MÓDULO 1 Uma introdução à Sociologia e Positivismo

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UMA INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA

1. Introdução

Intelectuais, desde a Antiguidade, desenvolveramreflexões sobre a vida em sociedade, particularmenteatravés da filosofia, contudo, a elaboração científica deum pensamento social é muito recente e, portanto,podemos afirmar que a Sociologia é uma ciênciamoderna. É difícil precisar o nascimento dessa ciência,mas sabe-se que o termo sociologia começa a serutilizado aproximadamente por volta de 1830. É precisocompreender que a Sociologia não nasceu da vontade ougenialidade intelectual de um ou alguns poucospensadores, mas da necessidade de se buscarexplicações e respostas para um período de grandestransformações sociais, culturais e históricas desenca -deadas principalmente pela Revolução Industrial

(séculos XVIII e XIX).

A Revolução Industrial foi palco histórico do nascimento da Sociologia.

A ciência em questão nascera numa sociedade,especificamente europeia, marcada por grandestransformações no processo de produção, em que seformava a massa de trabalhadores e com ela, umacondição precária e diferente de existência. Ocorria entãorápida urbanização, que expunha uma nova forma demiséria, de conflitos, doenças proliferavam facilmente,um aumento do alcoolismo, do suicídio, da prostituição;mas também, assistia-se a um desenvolvimento tec -nológico nunca visto antes, nasciam novos hábitos deconsumo e movimentos artísticos que expressavam todo

esse tecido social, formado por relações de solidarie dadee de muitas tensões. Ao lado disso, soma-se aimportância histórica, na organização de uma novasociedade e cultura, das revoluções burguesas, aconstrução do Estado-nação e a secularização queseparava a atmosfera religiosa até então imantada noselementos da cultura e das instituições. Surgiam nessemundo o mito do progresso e a fé nos benefícios segurospropiciados pelas descobertas científicas da época,supostamente capazes de oferecer conforto e escla -recimento suficiente.

2. A Ciência Social

Os primeiros cientistas sociais pretendiam elaboraruma ciência que explicasse os fenômenos sociais com omesmo rigor utilizado nas chamadas ciências naturais,como a Biologia ou a Física. Buscavam leis universais quedessem conta de compreender racionalmente pro ces sosque, na verdade, como foi colocado posterior mente,precisavam de métodos e categorias próprias dopensamento social. Enquanto ciência, o novo pensa -mento social pretendia-se, e ainda deve ser assim,exercício intelectual de observação e de experi men tação.Fatos se acumulavam e tornavam-se, pela repe tição dosfenômenos, fatos sociais, ou seja, passíveis deobservação científica. Por essa época, as ciências naturaisdavam importantes passos em seu desenvol vimento. Hámais de um século, Galileu, Copérnico e Newtondeixaram legados e estudos que abalaram conceitosclássicos que já não bastavam para explicar os fenômenose mudaram o paradigma, ou seja, o referencial teórico doshomens. O heliocentrismo, por exemplo, de NicolauCopérnico, deslocava a Terra do centro do Universo emostrava o equívoco teórico inevitável de umahumanidade que até então não produzira a investigaçãocientífica. A ciência, portanto, não nasceu como umaforma entre outras de saber, mas como a únicacompetente e capaz de expressar a verdade, e por issopode-se afirmar que existiu, e muitos ainda creem nisso,o mito da ciência. Essa mentalidade foi chamada decientificismo e corresponde a uma escola dopensamento conhecida como Positivismo. Se de umlado, a Sociologia descendia da filosofia social elaboradapelos antigos gregos ou pelos iluministas do século XVIII,por outro lado, ela exigia uma metodologia distinta epropriamente científica.

SOCIOLOGIA

MÓDULO 1 Uma introdução à Sociologia e Positivismo

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3. Objeto da Sociologia

Não é possível definir o objeto da Sociologia empoucas linhas. Os próprios clássicos não compartilham asmesmas noções de sociedade e têm diferentesconcepções de um objeto da Sociologia. Cada pensadortende a construir ou a se apropriar de categorias cien -tíficas distintas. Tais divergências não empobrecem essaárea do conhecimento, ao contrário, tornam-na maisinteressante e complexa.

Como vimos na aula anterior, a Sociologia tem ocompromisso de elaborar abordagens científicas dasociedade. Assim, tais abordagens não podem partir deespeculações livres de gabinete, tampouco podem contarcom observações casuais de fenômenos sociais isolados.Enquanto ciência, o pensamento sociológico se expressacomo um sistema coerente de categorias construídassobre a realidade observada e interpretada, criandoproposições e teorias. Em princípio, a ciência social emquestão pode tomar por objeto qualquer fenômeno social,visto como processo, ou ainda, em seu própriodinamismo e historicidade. São objetos de observação eestudo os processos sociais, movimentos sociais, asrelações de classe, conflitos, instituições, fenômenosmúltiplos em que as ações dos homens levem emconsideração a existência dos outros. A realidade social jánão é percebida então como processo da natureza ouobra do acaso, mas como resultado de inúmeras varianteshistóricas, políticas e culturais, que envolvem questõesde poder, status e significações.

Foto: Jesus Carlos. Movimento social no Brasil.

O clássico Max Weber definiu Sociologia como: “uma

ciência que pretende compreender interpretativamente aação social e assim explicá-la causalmente em seu cursoe seus efeitos”. (Weber, Max. Economia e Socie dade:Fundamentos de uma Sociologia Compreen siva. EditoraUniversidade de Brasília, 1991)

4. Uma Ciência da Sociedade

Os primeiros sociólogos pretendiam uma ciênciasemelhante às ciências naturais, porém, hoje diríamosque a ciência da sociedade não tem a função de descobrirleis gerais e naturais da sociedade, mas a de formulargeneralizações sobre a realidade social. Não cabe aosociólogo estudar fatos isolados, o que é feito pelohistoriador, mas fatos marcados pela repetição dofenômeno. Em outros termos, para que seja detectadoum fenômeno de interesse sociológico, tal fenômenodeve apresentar alguma regularidade. Não interessa aosociólogo o suicídio de alguma autoridade política, porexemplo, mas pode interessar o aumento verificado nonúmero estatístico de suicídios em uma determinadasociedade, e levará em consideração o contexto históricoem que se verificou o fenômeno repetido.

É preciso salientar além disso que teorias socio lógicasnão são doutrinas sociais, pois essas últimas não resultamde um trabalho científico de observações. Assim como, aSociologia também não é uma mera técnica de controlesocial. Contudo, as doutrinas sociais e as técnicas decontrole podem ser objeto de estudo do sociólogo e osconhecimentos acumulados ou des velados pela Sociologiapodem contribuir para a prática política de administraçãoda sociedade.

Existe ainda uma distinção entre problema socio lógicoe problema social. É um equívoco e um lugar-comumconfundir os dois conceitos. Pensa-se que o objeto daSociologia seja o conjunto dos problemas sociais e quesua única função é a de propor soluções. O sociólogo devesaber, ao propor uma pesquisa, problematizar o fenômenosocial, que pode ser um problema social, ou não. Naverdade, é um problema sociológico toda questão socialpassível de ser teorizada e estudada. A função social deum ritual ou de uma festa popular, por exemplo, pode serum problema sociológico, e não deve se supor que aciência social nasceu para solucionar problemas sociais,como a violência ou o desemprego, embora possacontribuir nesse sentido.

A quem interessa a Sociologia? O conhecimentosociológico não se restringe aos interesses dos cientistassociais. Hoje, integra o saber do cidadão comum e fazparte do cotidiano. Tornou-se difícil acompanhar osnoticiários e comentários registrados pela mídia, quandose está totalmente desprovido de noções de teoria social. Uma pessoa pode viver sem qualquer conhecimento degramática e se comunicar sem grandes problemas, porém,o domínio mínimo da gramática pode auxiliar e aperfeiçoara capacidade de comunicação de um indivíduo. Da mesmaforma ocorre com a Sociologia. É certo que se pode viversem ela, mas é notável como certa intimidade com ascategorias e teorias sociológicas propicia maior fluidez ecoerência nas reflexões que um indivíduo possa expressar.A ciência, portanto, assim como a Filosofia, deve trabalhartranscendendo o senso comum.

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Carnaval suíço. Foto: Alexander Thoele. A Sociologia tem como objetotodo evento social carente de interpretação.

5. Subdivisões da Sociologia e Rela ções com Outros

Saberes

A Sociologia é uma entre outras ciências sociais(Antropologia Cultural, Ciência Política, Economia etc.).Ela pode – e deve – dialogar com outras ciências e outrasformas de conhecimento, como a filosofia e a arte. Aprodução sociológica não pode pretender responder aqualquer questão, mormente quando estiver fora de seudomínio de estudo. Não cabe ao cientista, por exemplo,buscar respostas para o sentido da existência humana, oque é feito pela Filosofia, pelas tradições religiosas ou pelaTeologia. Nesse sentido, dizemos que a Sociologia nãodeve ser uma ciência solitária, mas sim solidária, ou seja,deve oferecer suas contribuições para os saberesacumulados pela humanidade.

A Sociologia pode ser subdividida em algumas áreasde estudo e interesses específicos. Por isso, ouvimosfalar de uma sociologia da educação, das artes, doconhecimento, da religião, da linguagem ou ainda de umasociologia ambiental, rural ou urbana. Contudo, apesardessa possibilidade de abordagens específicas eespecializações, o sociólogo não deve abandonar umavisão panorâmica das ciências sociais e da sociedade. Umsaber esfarelado corre o risco de enxergar a realidade deforma mutilada. O sociólogo não necessita e nãoconsegue estudar tudo de uma sociedade, mas não podedesconsiderar o todo, pois cada elemento ou aspecto,aparentemente isolado do tecido social, está imantadopela totalidade do sistema social. Assim, o estudo de umaspecto como a família revelará que tal instituição traz emsi outras tantas dimensões do tecido social, como areligião, as relações de produção, noção de autoridade emuito mais.

Glossário

Antropologia Cultural: Ciência que estuda o homemcomo ser produtor de cultura.

Empírico: Que se apoia na observação e experimen taçãoda realidade concreta.

Heliocentrismo: Doutrina do Sistema Solar tendo o Solcomo o centro.

Secularização: Perda do caráter religioso. Abandono doEstado eclesiástico.

Sistema social: A sociedade vista como sistema implicauma interação entre os elementos e instituições, de talforma que a mudança de um elemento compro mete ouinfluencia todo o tecido social.

O POSITIVISMO

6. Introdução

O Positivismo foi um movimento intelectual represen -tado principalmente pelo francês Auguste Comte,caracterizando-se como afirmação social da experimen -tação científica. Em 1966, o antropólogo estruturalistaEdmund Leach definiu o positivismo como a visão de quea pesquisa científica social não deveria procurar causasúltimas que derivem de alguma fonte externa, mas simconfinar-se ao estudo de relações existentes entre osfatos que são diretamente acessíveis pela observação.Em outros termos, para o positivista, o cientista temacesso direto à realidade que é o seu objeto de estudo edeve descobrir as leis gerais que seriam a base daregulamentação da vida em sociedade. Assim, o Positivis -mo é marcado por forte carga de cientificismo e essacarga é o seu próprio alvo de crítica hoje.

O termo positivo indica a possibilidade de um saberseguro e comprovado, que já não admite dúvidas. AugusteComte afirmara que assim como não há liberdade deconsciência na Matemática ou na Astronomia, não podehaver também em matéria de Sociologia. Pretendia comisso dizer que cabe ao sociólogo encontrar as leisuniversais e imutáveis que regulam a vida social. Ora, essepensamento, hoje, é considerado ultrapassado, senão, porque existiriam tantas escolas divergentes e pensadorescom visões até opostas acerca de uma mesma realidadeobservada? Sabe-se que o conhecimento é sempre umaredução e interpretação do mundo real e a teoria científicaé elaborada sobre hipóteses.

7. O Pensamento de Auguste Comte (1789-1857)

Auguste Comte nasceu em Montpellier, sudoestefrancês, e desde cedo revelou avançada capacidadeintelectual e de memória. Aos dezesseis anos de idade,ingressou na Escola Politécnica de Paris, foi secretário dofilósofo Henri de Saint-Simon com quem rompeu relaçõesde trabalho em razão das divergências de pensamento.Trabalhou principalmente para desenvolver o que chamoude uma filosofia positiva.

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Auguste Comte foi o principal expoente do Positivismo.

Para Comte, o progresso econômico que se veri ficavaem sua época, resultante do processo industrial, acabariacom os conflitos sociais. A Sociologia, para ele, deveriabuscar os acontecimentos constantes e repe titivos danatureza e alcançar tal conhecimento seria então umcaminho para reconciliar ordem e progresso social.Definiu a Sociologia como a ciência positiva da sociedade.

Acreditava estar vivendo uma época de transição deuma cultura teológica para uma científica e de umaorganização social militar para uma industrial, e via nessatransição um caminho natural para o estabelecimento daordem. Afirmava que os cientistas substituiriam ossacerdotes e que a reforma da sociedade teria comocondição fundamental a reforma intelectual. Para opensador em questão, a ciência era a grande e únicasalvadora, capaz de dissolver as sombras da ignorânciaatormentadora da humanidade.

Segundo Comte, o compromisso da Sociologia era ode compreender e acelerar o motor natural da históriarumo à ordem. Para fazer conhecer esse caminho,desenvolveu a lei dos três estados, associando-os a trêsidades da humanidade:

a) A idade teológica, em que o homem explica osfenômenos atribuindo-os a seres ou forças que seequivalem aos próprios homens. Trata-se dainfância da humanidade, marcada pelo pensa mentomágico e pela fantasia.

b) A idade metafísica, em que o homem invocaentidades abstratas como a natureza. Trata-se deum avanço, pois as ideias substituem os deuses edesenvolve-se a abstração filosófica.

c) A idade positiva, em que o homem renuncia adescobrir as causas dos fatos e se satisfaz em buscaras leis que os governam, sendo a etapa definitiva.

Vê-se nessa exposição uma clara concepçãoevolucionista, típica da época. Tomava, portanto, a his tóriaespecificamente europeia como a história universal. Omodelo único de sociedade e de história era aquele vistona sociedade industrial e cientificista da Europa Ocidental.Consequentemente, para Comte, havia uma vocaçãonatural e universal para o desen volvimento científico e ahistória da humanidade era o desenvol vimento da natu -reza humana, rumo à instauração da ordem. Conside rava-se, nesse sentido, um anunciador, um profeta de umanova religião positiva, sem revelações, sem osobrenatural, mas baseada na busca de uma unidademoral do homem.

A inscrição “Ordem e Progresso” na Bandeira Nacional é um lema positivista.

8. O Positivismo no Brasil.

O Brasil teve importantes representantes do po -sitivismo, como o coronel Benjamim Constant, o marechalCândido Rondon, Nísia Floresta Augusta (discípula diretade Auguste Comte), Miguel Lemos, Euclides da Cunha,Júlio de Castilhos e o sociólogo e antropólogo Roquette-Pinto. O Positivismo, no País, formou o pensamento depro fessores, médicos, engenheiros, advogados, milita res,políticos, juízes e artistas.

A própria Bandeira Nacional, composta por RaimundoTeixeira Mendes, está repleta de simbologia positivista,como a forma geométrica que indica avanço e a inscriçãoOrdem e Progresso, termos que melhor expressam opensamento positivista.

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O movimento surgiu no País durante o SegundoReinado, com os estudantes que viajavam para a França,e teve influência na Proclamação da República. Muitasinstituições nascidas da República do País trazem a marcada corrente desse pensamento: as Constituições, aliberdade religiosa, a independência do Estado em relaçãoà esfera religiosa, o espírito de solidariedade continental,os princípios das Forças Armadas, a liber dade deimprensa e de cátedra.

No Brasil, houve dois movimentos positivistas: umprimeiro, liderado por Pierre Laffitte, chamado Positi -

vismo Ortodoxo, de inspiração mais religiosa e quecontou com grande participação de militares; e umsegundo, liderado por Émile Littre, conhecido comoPositivismo Heterodoxo, mais concentrado no Nordeste(Recife) e que seguia uma orientação mais científica. Osdois movimentos correspondem a dois períodos dotrabalho de Comte: o ortodoxo, no período mais final e oheterodoxo, relacionado com os primeiros estudos deComte, datando do surgimento da Sociologia.

Coronel Benjamim Constant: um positivista no Brasil.

A Proclamação da República do Brasil foi uma realização política deinspiração positivista.

TEXTO: INVASÃO POSITIVISTA

QUIROGA, Consuelo. Invasão Positivista no Marxismo:manifestações no ensino da metodologia no Serviço Social. São

Paulo: Cortez, 1991, pág. 49-52

Ao equiparar o estudo da sociedade ao estudo danatureza, toma como modelo a ciência natural e, maisespecificamente, a Biologia. Desta, advém muitos dosconceitos que marcam a Física social, ou a Sociologia,como os de hierarquia, consenso, órgão, função, estática,dinâmica, enfim, as ideia de fenômenos inter dependentesdentro de um sistema funcional, organi camente composto.

Essa identificação do estudo da sociedade ao estudoda natureza, que leva a primeira à busca de leis sociaisanálogas às leis da Física (entende-se aqui umainterpretação estática desta ciência), elimina o papel daprática social como elemento gerador de mudanças nasociedade. “A prática social, especialmente no que serefere à transformação do sistema social, fora assimsuprimida pela fatalidade. A sociedade era concebida porleis racionais que funcionavam com necessidade natural.”(Marcuse)

A sociedade tem uma ordem natural que não muda eà qual o homem deve submeter-se. Essa posição desubmissão aos princípios das leis invariáveis da sociedadeleva a uma posição de resignação grande mente enfatizadana obra de Comte. Para Comte, “o espírito positivo tendea consolidar a ordem pelo desenvolvimento racional deuma sábia resignação diante dos males políticosincuráveis” (Morais Filho, Auguste Comte: sociologia. SãoPaulo: Ática, 1983, p. 31). A pregação da resignação facilitaa aceitação de leis naturais que consolidam a ordemvigente, justifi cadora da autoridade reinante e facilitadorada proteção dos interesses – riqueza e poder –hegemônicos naquele momento histórico.

Os fenômenos econômicos são muitas vezesapontados por Comte como expressão dessas leis sociaisnaturais invariáveis, por coincidência, referindo-se,principalmente, ao caso da concentração de capital.

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Com o objetivo de fortalecimento da ordem socialcombate-se qualquer doutrina revolucionária e todas asforças se concentram numa renovação moral da socie -dade. A mudança da sociedade passa fundamental mentepor um refazer dos costumes, uma reforma intelectual dohomem, e menos pela transformação de suas instituições.A sociedade se modifica através da visão de PROGRESSOcomo um mecanismo da própria ORDEM, sem destruiçãoda ordenação vigente, num processo evolutivo. Comoafirma Marcuse: “o positivismo está, pois, interessado emajudar a ‘transformar a agitação política em uma cruzadafilosófica’ que suprimiria tendências radicais que eramafinal de contas incompatíveis com qualquer sadiaconcepção da história”. O citado autor continua, buscandomostrar que o progresso é, em si, ordem – não érevolução, mas evolução.

A ideia de ORDEM e PROGRESSO (lema de nossabandeira), em Comte, vem de sua visão dos fenômenosda sociedade. Para ele, todo ser vivo pode ser estudadosob uma dimensão estática e uma dinâmica, queapreciaram a sociedade em repouso e em movimento.Relaciona essas duas dimensões à anatomia e à fisiologia.

A visão de ordem tem sua origem na noção deESTÁTICA, que estuda a existência, suas condições e aestrutura que a gera. Corresponde à compreensão daexistência naquilo que ela oferece de fixo, de estrutural.

A Sociologia dinâmica se preocupa com oentendimento do movimento, do desenvolvimento, daatividade da vida coletiva, correspondendo à noção dePROGRESSO. Essa dimensão da dinâmica social é o quevai distinguir, marcadamente, a Sociologia da Biologia, ouseja, “a ideia-mãe do progresso contínuo ou, antes, dodesenvolvimento gradual da humanidade”. (Morais Filho,p. 134). Em última instância, torna-se necessário melhoraras condições de vida das classes menos favorecidas, semincomodar a ordem econômico-política da sociedade. Odesenvolvimento histórico dá-se, portanto, pela evoluçãoorganizada, regida por leis naturais, ou seja, PROGRESSOHISTÓRICO É ORDEM.

A lei dos três estados de Comte demonstra essa visãodo desenvolvimento histórico da sociedade. Para ele, essagrande lei explica o “desenvolvimento total da inteligênciahumana em suas diversas esferas de atividade”,destacando que essa e todos os conhe cimentos passamsucessivamente por três estados históricos distintos: oteológico, o metafísico, ou abstrato, e o científico, oupositivo. Esses três estados se expres sam não apenas nasformas por que, sucessivamente, toda investigação passa,como também pela própria evolução da humanidade.Assim se expressa Comte: “(...) ora, cada um de nóscontemplando sua própria história, não se lembra de quefoi sucessivamente, no que concerne às noções maisimportantes, teólogo em sua infância, metafísico em suajuventude e físico na sua virilidade”.

No estado teológico, predominam as criaçõesespontâneas, não sujeitas à prova; no metafísico, adominância é das abstrações e de princípios racionais e, nopositivo, o alicerce está numa apreciação firme da realidadeexterna, enunciando-se as relações entre os fenômenos.

Assim, tanto a determinação das leis naturais eeternas como agora, a visão de evolução da sociedade eda história sob a ótica positivista aniquilam a prática socialdos homens, transformadora da sociedade.

Esta ideia dos três estágios combinada com atransposição de teses do Darwinismo para a sociedadeoriginou o que ficou conhecido como Darwinismo social.

No campo da Biologia, Darwin afirmava que asdiversas espécies de seres vivos se transformamcontinuamente com a finalidade de se aperfeiçoar paragarantir a sobrevivência. Em consequência, os orga -nismos tendem a se adaptar cada vez melhor aoambiente, criando formas mais complexas e avançadasde existência, que possibilitam, pela competição natural,a sobrevivência dos seres mais aptos e evoluídos.

Tais ideias, transpostas para a análise da sociedade,resultaram no DARWINISMO SOCIAL, isto é, o princípiode que as sociedades se modificam e se desenvolvemnum mesmo sentido e que tais transformações repre -sentariam sempre a passagem de um estágio inferior paraoutro superior, em que o organismo social se mostrariamais evoluído, mais adaptado e mais com plexo. Esse tipode mudança garantiria a sobrevivência dos organismos –sociedades e indivíduos – mais fortes e mais evoluídos.

Estava criado assim o suporte teórico para justificarno século XIX o domínio colonialista de nações europeiassobre povos da América, da África, da Oceania e da Ásia.

Os principais cientistas sociais positivistas, combi -nando as concepções organicistas e evolucionistasinspiradas na perspectiva de Darwin, entendiam que associedades tradicionais encontradas nos continentescitados acima não eram senão “fósseis vivos”, exem -plares de estágios anteriores, “primitivos”, do passado dahumanidade. Assim, as sociedades mais simples e detecnologia menos avançada deveriam evoluir em direçãoa níveis de maior complexidade e progresso na escala daevolução social, até atingir o “topo”: a sociedade industrialeuropeia. Porém essa explicação aparentemen te “cientí -fica” para justificar a intervenção europeia nessescontinen tes era, por sua vez, incapaz de explicar o queocorria na própria Europa. Lá, os frutos do progresso nãoeram igualmente distribuídos, nem todos participavamigualmente das conquistas da civi lização. Como opositivismo explicava essa distorção?

Glossário

Heterodoxo: Que faz oposição a uma doutrina, posturaou opinião tradicional.

Ortodoxo: Que está conforme a uma doutrina definida etradicional.

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A Questão do Método em Ciência Social História e Positivismo

A QUESTÃO DO MÉTODO EM CIÊNCIA SOCIAL

José Maurício F. Mazzucco

A ciência social, como toda ciência, conta, emprincípio, com um método distinto daquele próprio datradição e reflexão filosófica. Foram filósofos quedesenvolveram a noção de método em produção deconhecimento. Dois modelos mais importantes sedestacam: o método indutivo e o dedutivo.

Durante o Renascimento, Francis Bacon (1561-1626) foi o maior representante do modelo da indução.Segundo este, o conhecimento resultaria daexperimentação empírica, em que a observaçãosistemática de casos particulares para então chegar àformação de generalizações sobre os objetos estudados.O método indutivo é o modelo priorizado pela produçãocientífica. Já o método dedutivo teve como maiorrepresentante o filósofo René Descartes (1596-1650),para quem o conhecimento era baseado noencadeamento lógico de hipóteses racionais, em outrostermos, o saber parte da formulação de generalizaçõesque devem ser válidas e aplicadas aos casos particulares.A Sociologia faz uso principalmente do método indutivo;enquanto a Filosofia Social se apropria mais do dedutivo.Isso não significa que ambos os métodos não sejamaplicados pela ciência ou pela filosofia, trata-se de umaquestão de prioridade.

Dizer que todos os homens nascem iguais, porexemplo, pode ser uma verdade para a expressão de umfilósofo ou de um teólogo, mas provavelmente, não teráteor empírico para uma abordagem científica, uma vezque o homem nasce em um mundo social marcado pelasdesigualdades. Contudo, isso não invalida, na fala de umpensamento dedutivo, a afirmação de que os homensnascem iguais e o sociólogo o sabe. Isso tambémsignifica que o sociólogo poderá afirmar que os homensnascem iguais, mas não estará professando o seutrabalho como cientista, mas expressando um juízo devalor filosófico do qual tem direito. Isso não éinteressante?

HISTÓRIA E POSITIVISMO

Alberto Lins CaldasProfessor de Teoria da História – UFRO

Centro de Hermenêutica do Presente – UFRO

O Positivismo em História se restringe, hoje, àchamada “História Oficial”, à “História de Segundo Grau”,a alguns historiadores regionais, a certa men talidade, masnão gerou uma tendência coerente e forte, não gerou umaHistória, mas tão somente desvios. Sua aplicabilidade seriaestranha a todas as concepções de História.

O “Positivismo clássico” esconde por traz dos“dados objetivos” a sua matriz ideológica, o seu fazer.Sua concepção geral é a de que a sociedade é reguladapor leis naturais que são imutáveis e não dependem doarbítrio; a consequência lógico-epistemológica é a de queos métodos e técnicas aplicados no estudo da sociedadedevem ser os mesmos das Ciências Naturais, oconhecimento objetivo que estabelece o que é Ciência,científico, metodológico, possível e impossível, real eirreal; a metodologia da História não apenas seria amesma das Ciências Naturais como também deveriaestudar seu “objeto” da mesma maneira, sem “juízos devalor”, com a esperada neutralidade (o passado já passou,nada temos que nos inserir nele), dissecando os “fatos”como se fossem objetos; a separação entre Juízos deValor e Fatos é imprescindível; sem implica ções políticas,a finalidade da Ciência (da História) é constatar, descrevere prever. A descritividade descom promissada, reproduzin -do a realidade, torna-se o estilo preferido e necessário.Com isso o sujeito encontra o objeto, desencava, escavae o traz a luz. A separação entre o cientista e seu “objetode estudo” é condição inescapável.

O positivismo não se encontra em estado puro emnenhuma concepção de História, nem mesmo no séculoXIX. Esse segmento lógico arruinaria completamentequalquer pretensão historiográfica e até mesmo umprojeto científico que tivesse a “sociedade” e suasvirtualidades contraditórias e dispersivas como objeto.Mas fragmentos dela estão como não dito em muitas“Escolas de História”, escondidos como generalidades,universalidades, naturalizações, esquecimentos, ade sões,procedimentos.

Com algumas clivagens positivistas dentro da Históriacremos de que a função básica do historiador é recons -truir os fatos. Esses fatos não se relacionam com ohistoriador. Sua posição é neutra, ou científica, separan do

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ele mesmo e o sistema imaginário do seu tempo daquiloque passou. Sujeito e objeto mantêm uma relação“naturalizante”, de compreensão causa-efeito, comoduas entidades, como se os “objetos” não fossemcriação viva de uma “comunidade”, de indivíduos, nãofossem expressões do próprio sujeito, como duasentidades separadas, não fossem ficcionais.

Outra postura é que a história é o real, sociedade,existência, sistema de fenômenos existentes em suaglobalidade, os homens em movimento a humanidade eseu trajeto. Essa existência deixa documentos do seumovimento, que serão recompostos (a história está nosdocumentos: os fatos estão nos documentos) pelaHistória. O historiador é o cientista que extrairá a históriaconden sada, escondida, espalhada nos documentos.

Uma terceira postura é que a Filosofia e toda reflexãodeve ser afastada da operação, pois afetaria a “matériarefinada”, que é “o que aconteceu”, onde não estavamnem o presente nem o historiador.

A transformação de tudo em “objeto da ciência” damentalidade positiva esconde a transformação de tudoem objeto. Sem o histórico processo de objetificação,sem objetificar, o pensamento científico fica inoperante,

principalmente porque suas razões são funcionais. Sualógica é “industrial”. As operações que lhe cabem sãosomente aquelas que permitem a construção, a utilizaçãosocial do conhecimento visivelmente como poder. Suaeficácia (verdade, objetividade, aplicabi lidade) provémexatamente dessa objetificação.

A História, que poderia ser a antítese dessaconcepção científica do mundo, luta desesperadamentepela glória inútil de ser considerada Ciência. Uma Históriacientífica seria ridícula e seu exercício, além de matá-la,anularia qualquer possibilidade de compreen são dessefenômeno perverso e contraditório que é o ser social. Ométodo da História, coerente com seu pretenso “objetode estudo”, não poderá jamais ser científica em qualquerdos seus momentos, o que não exclui nem o rigor nem acapacidade de compreensão e consciência das dimen -sões fundamentais do existir.

Essa “História Positivista” não será aquela que serádesmoralizada e dissolvida pelos Annales, uma Históriamais séria, científica, mas sem os limites desse tipo deHistória que se tornou “saber oficial” e ainda hoje é aforma concentrada das “Histórias do Segundo Grau

1. Sobre a história do nascimento da sociologia, é possível afirmar:a) Os primeiros sociólogos estavam cientes de que não era possível

elaborar uma ciência semelhante às ciências naturais e que, portanto,era necessário criar um método próprio da sociologia.

b) A função única da sociologia é buscar soluções para os problemassociais impostos pela ascensão do capitalismo.

c) A Revolução Industrial foi o contexto histórico em que nasceu asociologia, determinando inclusive a necessidade do aparecimentode intelectuais que compreendessem as grandes transformaçõesque com ela ocorriam na sociedade da época.

d) Ela nasceu do interesse específico e do esforço de um intelectualque acreditou ser necessário elaborar uma filosofia social, já quenunca o ser humano havia, até então, teorizado o tecido social.

e) A Revolução Industrial não pode, por si só, justificar o surgimentoda sociologia, pois ela propiciou bem-estar material para associedades europeias, solucionando, de fato, muitos dos problemassociais que havia antes.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

2. A sociologia nasceu em um determinado período histórico doocidente. Podemos, assim, lembrar quea) a II Guerra Mundial foi o grande ensejo para o surgimento da

sociologia, que sempre teve um compromisso político com as idéiassocialistas.

b) desde o seu surgimento, a produção sociológica não teve posicio -namento político algum, pois, enquanto ciência, a sociologia mantémrigorosa neutralidade.

c) a Revolução Industrial promoveu grandes transformações nasociedade, como a urbanização e o aparecimento da classe operária,incitando um grupo de intelectuais a se preocupar com o estudo dasociedade.

d) a sociologia nasceu na Antiga Grécia, com Platão e Sócrates.e) essa ciência se estabeleceu com o positivismo que relativiza o

conhecimento científico, reconhecendo os limites dessa nova formade saber.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

3. A ciência, portanto, não nasceu como uma forma entre outras desaber, mas como a única competente e capaz de expressar a verdade,e por isso pode-se afirmar que existiu, e muitos ainda creem nisso, omito da ciência.Representa bem essa posição intelectual:a) a sociologia moderna.b) o positivismo.c) a sociologia da Grécia Antiga.d) o pensamento metafísico e religioso.e) a sociologia marxista e as ideias acerca do socialismo científico.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

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4. Sobre o estudo da sociologia, julgue as afirmativas abaixo:I. Teorias sociológicas não são doutrinas sociais, pois essas não

resultam de um trabalho científico de observações.II. A sociologia é definida como uma técnica de controle social, sempre

a serviço do Estado, que procura promover o bem-estar social eexercer o poder político.

III. As doutrinas sociais e as técnicas de controle podem ser objeto deestudo do sociólogo e os conhecimentos acumulados oudesvelados pela sociologia podem contribuir para a prática política deadministração da sociedade.

São verdadeiras apenas:a) I e II b) I e III c) II e III d) II e) III

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

5. Os discursos ou as teorias científicas são desenvolvidos por umconjunto de técnicas e de experimentos no intuito de compreender ouresolver um problema anteriormente apresentado. A sociologia, porexemplo, possui entre as suas diferentes missões o objetivo deinvestigar os problemas sociais que vivenciamos durante o nossocotidiano. Levando isso em consideração, qual das respostas abaixo éa correta?a) O senso comum corresponde à popularização e à massificação das

descobertas científicas após uma ampla divulgação.b) O senso comum corresponde aos conhecimentos produzidos

individualmente e que ainda não passaram por uma validaçãocientífica.

c) O senso comum pode ser considerado um sinônimo da ignorância dapopulação e uma justificativa para o atraso econômico.

d) O senso comum corresponde a um conhecimento não científicoutilizado como solução para os problemas cotidianos; geralmente eleé pouco elaborado e sem um conhecimento profundo.

e) O senso comum e o conhecimento científico correspondem a duasformas de entendimento excludentes e possuidoras de fronteirasintransponíveis.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

6. Leia o texto:“Estudar a sociedade é estudar as relações sociais, e as relações

sociais não constituem uma realidade física imediatamente perceptível.Podemos ver as ações, o comportamento dos homens, mas nãopodemos ver as relações sociais”. Assinale a alternativa que melhor complementa a ideia do pequenotexto.a) Portanto é impossível fazer sociologia com objetividade científica.b) Pode até mesmo acontecer que as ações humanas, em vez de

revelar, ocultem as relações entre indivíduos, grupos e categoriassociais.

c) Ao sociólogo convém, portanto, uma qualificação em Psicologia, sema qual não poderá garantir rigor científico.

d) Torna-se absurda a ideia de neutralidade científica, pois o pesquisadorprocurará sempre o seu objeto de estudo com uma intencionalidadeevidente.

e) Cabe ao sociólogo a tarefa de buscar soluções para os problemassociais, partindo de ideias universais e valores humanitários.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

7. Se a lei da gravidade ou a da inércia são leis da natureza – não sepode questioná-las, não se pode mudá-las, e só resta conhecê-las paramelhor viver – , do mesmo modo, a sociedade, a vida coletiva, deve tersuas leis próprias, independentes da vontade humana, que precisam serconhecidas. A física newtoniana descobriu as leis da gravidade e dainércia dos corpos. Cabe à sociologia, na visão de Durkheim, descobriras leis da vida social.

(RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da Educação, RJ: DP&A, 2000, p.21).

A visão sociológica de Durkheim, apresentada pelo autor do texto acima,tem como fundamento a concepçãoa) sociointeracionista. b) materialista-histórica.c) positivista. d) construtivista.e) estruturalista.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

8. Leia e assinale a única alternativa falsa sobre a concepção positivistade Comte.a) Comte tomava a história especificamente europeia como a história

universal O modelo único de sociedade e de história era aquele vistona sociedade industrial e cientificista da Europa Ocidental.

b) Para Comte, havia uma vocação natural e universal para o desen -volvimento científico e a história da humanidade era o desenvol -vimento da natureza humana, rumo à instauração da ordem.

c) Comte considerava-se um anunciador, um profeta de uma novareligião positiva, baseada em revelações sobrenaturais e místicas.

d) Comte acreditava estar vivendo uma época de transição de umacultura teológica para uma científica e de uma organização socialmilitar para uma industrial, e via nessa transição um caminho naturalpara o estabelecimento da ordem.

e) Comte afirmava que os cientistas substituiriam os sacerdotes e quea reforma da sociedade teria como condição fundamental a reformaintelectual.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

9. Ao equiparar o estudo da sociedade ao estudo da natureza, tomacomo modelo a ciência natural e, mais especificamente, a Biologia.Desta, advem muitos dos conceitos que marcam a Física social, ou aSociologia, como os de hierarquia, consenso, órgão, função, estática,dinâmica, enfim, as ideias de fenômenos interdependentes dentro deum sistema funcional, organicamente composto. Assim, Comte não rei -vin dicou um método próprio para as ciências sociais. Isso significa queI. essa identificação do estudo da sociedade ao estudo da natureza

leva a primeira à busca de leis sociais análogas às leis da Física.II. Comte percebe o aspecto sempre dinâmico da sociedade, consi -

derando-a a partir de seus elementos em constante transformação. III. os fenômenos econômicos são muitas vezes apontados por Comte

como expressão de leis sociais naturais invariáveis, por coinci dência,referindo-se, principalmente, ao caso da concentração de capital.

São verdadeiras:a) Todas b) Apenas I e II c) Apenas II e III d) Apenas I e III e) Apenas I

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

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1. Sobre o surgimento da Sociologia, analise as proposições abaixo.I. Os primeiros sociólogos pretendiam uma ciência semelhante às

ciências naturais, por isso mesmo, a característica mais clara daSociologia nascente era a preocupação com a cientificidade.

II. A Sociologia nasceu da vontade ou genialidade intelectual de doisintelectuais e sem o esforço deles, essa forma de conhecimento nãoexistiria.

III. A Sociologia nasceu num momento histórico específico, repleto deconflitos e contradições sociais. Trata-se da Revolução Industrial quetrouxe grandes mudanças na história da civilização ocidental.

IV. Desde o seu nascimento até os dias atuais, a Sociologia tem o únicopapel de propor soluções para os problemas sociais e, portanto,problema social e problema sociológico possuem o mesmo conceito.

São coerentesa) apenas I e II. b) apenas I e III.c) apenas II e III. d) apenas III e IV.e) apenas II.

2. Não é possível definir o objeto da Sociologia em poucas linhas. Ospróprios clássicos não compartilham as mesmas noções de sociedadee têm diferentes concepções de um objeto da Sociologia. Cadapensador tende a construir ou a se apropriar de categorias científicasdistintas. Tais divergências a) não empobrecem essa área do conhecimento, ao contrário, tornam-

na mais interessante e complexa, pois as ciências sociais trabalhamcom múltiplas interpretações e contribuições.

b) impossibilitaram o desenvolvimento de uma ciência de verdade,pois as divergências dificultaram o estabelecimento de um discursocoerente, sem o qual não existe o conteúdo científico.

c) provocaram conflitos e guerras principalmente entre os sociólogosque defendiam o sistema capitalista e os que acreditavam nosocialismo.

d) transformaram a Sociologia em um mero discurso ideológico, ouseja, irrefletido e dogmático.

e) promoveram o surgimento de outras ciências, como a Psicologia ea Antropologia, cada qual com um entendimento diferente einconciliável.

3. As abordagens sociológicas não podem partir de especulações livresde gabinete, tampouco podem contar com observações casuais defenômenos sociais isolados. Isso significa quea) a sociologia não depende da observação propriamente científica

como ocorre com as chamadas ciências naturais.b) o conteúdo teórico é necessário e é o suficiente para a elaboração

de uma pesquisa sociológica.c) a ciência se distingue da filosofia quanto ao método, sendo na

primeira, mais rigoroso em relação à observação dos fatos eexperimentação.

d) somente a abordagem científica tem valor, devendo-se descartarqualquer especulação e observação casual. Assim, não se deveconfiar em outras formas de conhecimento.

e) a observação casual dos fenômenos isolados é mais confiável queas especulações de gabinete.

4. Não cabe ao sociólogo estudar fatos isolados, o que é feito pelo

historiador, mas fatos marcados pela repetição do fenômeno. Em outros

termos, para que seja detectado um fenômeno de interesse sociológico

a) tal fenômeno deve apresentar alguma regularidade.

b) dados estatísticos se tornam inúteis para a Sociologia.

c) é preciso observar a veracidade do fato isolado ocorrido.

d) faz-se necessário colocá-lo sob a análise correspondente às ciências

naturais.

e) deve-se ignorar fatos históricos.

5. “Observar a realidade social; adotar ou elaborar categorias e

conceitos e produzir teorias e proposições”. Essa sequência de ações

pode ser intitulada:

a) Método indutivo.

b) Como trabalha o sociólogo.

c) Filosofia do Positivismo.

d) Grandes temas da Sociologia.

e) Objeto de estudo da Sociologia.

6. A Sociologia nasceu, não da vontade de um filósofo ou pensador

isolado, mas de um determinado período histórico e num panorama

social e cultural em transformação. Comente o quadro histórico que

propiciou o surgimento da Sociologia.

7. O que se entende por cientificismo?

8. O que estuda a Sociologia?

9. Que consequências advém, segundo o texto de Consuelo Quiroga,

da adoção do modelo das ciências naturais pelo estudo dos fenômenos

sociais conforme faz o Positivismo?

10.Que relação o texto estabelece entre o Positivismo e o Darwinismo?

11.Que crítica o texto faz ao conceito positivista de progresso e

civilização como auge da evolução social?

12.A ciência, portanto, não nasceu como uma forma entre outras de

saber, mas como a única competente e capaz de expressar a verdade,

e por isso pode-se afirmar que existiu, e muitos ainda creem nisso, o

mito da ciência.

Representa bem essa posição intelectual:

a) A Sociologia moderna.

b) O Positivismo.

c) A Sociologia da Grécia Antiga.

d) o pensamento metafísico e religioso.

e) A Sociologia marxista e as ideias acerca do socialismo científico.

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13.A ciência, portanto, não nasceu como uma forma entre outras de

saber, mas como a única competente e capaz de expressar a verdade,

e por isso pode-se afirmar que existiu, e muitos ainda creem nisso, o

mito da ciência.

O termo mito empregado no texto

a) confirma a colocação da primeira parte da frase.

b) revela que a ciência é a única forma confiável de saber.c) revela o cientificismo próprio das ideias positivistas dominantes pela

ocasião do nascimento da Sociologia. d) expressa ser impossível confiar no conhecimento científico.e) mostra que a ciência social nascente era fundamentada nos antigos

mitos, a exemplo dos gregos, que acreditavam em explicaçõesdogmáticas como explicações dos fenômenos naturais.

14.Uma colocação teórica do Positivismo (movimento cultural do séculoXIX) era:a) A ordem social militar e religiosa era mais evoluída do que a ordem

social industrial e científica.b) O progresso e o esclarecimento científico trariam a ordem social e a

solução da desarmonia entre os homens.c) A ciência não é a única, tampouco a melhor forma de conhecimento

produzido pelos homens.d) A sociedade industrial produziria uma classe de excluídos,

aumentando as tensões sociais.e) O desenvolvimento científico é insuficiente para estabelecer a ordem

social.

15.Os primeiros sociólogos pretendiam descobrir as leis gerais dasociedade, e hoje, menos pretensiosamente, a Sociologia quer formulargeneralizações sobre a realidade.Isso significa quea) descobrir leis universais é melhor do que generalizar.b) houve uma involução da Sociologia.c) não se devem elaborar teorias sociais, mas descobrir que princípios

regem a sociedade.d) a teoria científica não se aplica aos estudos da sociedade.e) a teoria social não é realidade social, mas uma interpretação da

realidade social.

16.Para o pensamento positivista, qual seria o papel da Sociologia?

17.Comte acreditou ter fundado uma nova religião. Comente como eraessa nova religião.

18.Elabore um breve comentário sobre a presença do Positivismo noBrasil.

19.Qual é o tema central do texto de Consuelo Quiroga? (Vide texto nas páginas 5 e 6)

20.Segundo Comte, o compromisso da sociologia era o de com preender

e acelerar o motor natural da história rumo à ordem. Para fazer conhecer

esse caminho, desenvolveu a lei dos três estados, associando-os a três

idades da humanidade:

A – A idade ___________, em que o homem explica os fenômenos

atribuindo-os a seres ou forças que se equivalem aos próprios

homens. Trata-se da infância da humanidade, marcada pelo

pensamento mágico e fantasia.

B – A idade ____________, em que o homem invoca entidades abstratas

como a natureza. Trata-se de um avanço, pois as ideias substituem

os deuses e desenvolve-se a abstração filosófica.

C – A idade _____________, em que o homem renuncia a descobrir as

causas dos fatos e se satisfaz em buscar as leis que os governam,

sendo a etapa definitiva.

A alternativa que expõe em ordem correta as idades do homem segundoa filosofia de Comte é:a) positiva, metafísica e religiosa.b) mística, positiva e religiosa.c) teológica, metafísica e positiva.d) religiosa, científica e positiva.e) filosófica, mítica e científica.

21.Assinale a única alternativa que não corresponde a uma ideiadefendida pelo pensador Auguste Comte.a) O pensar científico e a cultura industrial serão substituídos pelo

pensar teológico e pela sociedade militar e estas propiciarão a ordemsocial.

b) Assim como não há liberdade de consciência na Matemática ou naAstronomia, não pode haver também em matéria de Sociologia.

c) A história da humanidade é o desenvolvimento da natureza humana.d) A Sociologia é a ciência positiva da sociedade.e) A Sociologia parte de leis mais gerais, das leis fundamentais da

evolução humana.

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1) B 2) A 3) C 4) A 5) B

6) A sociologia nasceu da necessidade de interpretação de um

conjunto de transformações culturais e sociais advindas de

um período de revoluções nos séculos XVIII e XIX como a

Industrial, as revoluções burguesas, a Revolução Francesa e

rápida urbanização.

7) Filosofia que desacredita em qualquer elaboração de saber

que não seja pela via do pensamento científico e do método

indutivo.

8) A Sociologia estuda os processos sociais, os fenômenos sociais,

os movi mentos, os conflitos, as instituições e as ações dos

homens que levem em consi deração a existência dos outros.

9) Elimina o papel da prática social como elemento gerador de

mudanças na sociedade. A sociedade passa a ter uma ordem

natural que não muda e à qual o homem deve submeter-se.

Essa posição de submissão aos princípios das leis invariáveis

da sociedade leva a uma posição de resignação. Perde-se a

visão da sociedade como realidade dinâmica.

10) Comte acreditava que havia uma evolução dos homens em

três estágios. Essa concepção teria sido inspirada pelas ideias

do evolucionismo biológico de Charles Darwin e foi chamado

de darwinismo social.

11) A autora comenta que os frutos do progresso não eram igual -

mente distribuídos, nem todos participavam igualmente das

conquistas da civilização.

12) B 13)C 14)B 15)E

16) O papel de encontrar leis gerais e universais que seriam a base

de regulamentação da vida em sociedade. Para Comte, a

Sociologia deveria buscar os acontecimentos constantes e

repetitivos da natureza.

17) Uma religião não metafísica, sem revelações e sem o conceito

do sobrenatural. Seria uma religião positiva, pregando a busca

do homem total sobre uma base unicamente moral.

18) O movimento surgiu no País durante o Segundo Reinado, com

os estudantes que viajavam para a França e teve influência na

Proclamação da República. Muitas instituições nascidas da

República do País trazem a marca da corrente desse pensa -

mento: as Constituições, a liberdade religiosa, o espírito de

solidariedade continental, os princípios das Forças Armadas,

a liberdade de imprensa e de cátedra. Alguns nomes entre os

positivistas no Brasil são: coronel Benjamim Constant,

marechal Cândido Rondon, Nísia Floresta Augusta, Miguel

Lemos, Euclides da Cunha, Júlio de Castilhos e Roquette-

Pinto.

19) O texto elabora uma crítica ao positivismo, principalmente

pelo método semelhante adotado pelas ciências naturais.

20) C 21)A

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MÓDULO 2 A Sociologia de Émile Durkheim

1. Introdução

Durkheim (1858-1917) nasceu em Epinal, na Alsáciae descendia de uma família de rabinos. Estudou Filosofiana Escola Superior de Paris, terminando seus estudos naAlemanha. Lecionou na Sorbonne, onde reuniu um grupode cientistas, incluindo o seu secretário e sobrinho, oantropólogo Marcel Mauss. Tal grupo ficou conhecidocomo Escola Sociológica Francesa. Suas principais obrasforam As Regras do Método Sociológico, Da Divisão doTrabalho Social e O Suicídio. Durkheim destacou-setambém na sociologia da educação e da religião. A França,que em sua época já era um Estado constituído, fora palcode uma revolução burguesa (Revolução Francesa) quepossibilitara um acúmulo de reflexões acerca de seusefeitos. Foi na França, ainda, que Auguste Comte divulgouseus estudos e este teve a mais clara influência sobreDurkheim.

Émile Durkheim.

2. O Conceito de Sociedade

Durante muito tempo, filósofos escreveram sobre ocontrato social, supondo que os homens viviam numpassado remoto originalmente em estado de natureza eteriam renunciado à liberdade para viver em sociedade.Os sociólogos, em geral, não concordam com essa visão.Émile Durkheim defendeu o primado da sociedade sobreo indivíduo. Em outros termos, não há homem semsociedade, pois o homem é essencialmente um sersocial.

Para Durkheim, a sociedade não era a simples somade indivíduos. Entendia-a como uma realidade ex terior

ao indivíduo, dotada de um poder de coerção. Asociedade seria, então, uma individualidade psíquica,resultante da combinação de consciências individuais,mas que se constituía numa entidade distinta: a cons -

ciência coletiva. A isso se chama de exterioridade doser social. Adiante, veremos que poucos compar tilhamdessa ótica. Para o clássico Max Weber, por exem plo, asociedade seria um processo interno ao homem.

Segundo Durkheim, o tecido social só se organizariaatravés de uma consciência coletiva e por isso nãobastava falar em uma simples soma de pessoas. Via asociedade como um sistema formado pela associação eque representava uma realidade específica, comcaracteres próprios. Esse aspecto de exterioridade éfundamental para compreender a categoria durkhei mianade fato social.

3. O caráter impositivo do Fato Social

Para conhecer um pouco do pensamento deDurkheim, é imprescindível expor um conceito que estápresente em toda a sua obra. Em 1895, ele publica AsRegras do Método Sociológico, e nessa importante obradefiniu o objeto de estudo da Sociologia: o fato social.

Para o indivíduo, o fato social se apresentaria comouma realidade preexistente, independente e exterior. Oprimeiro caráter de um fato social seria o poder de

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coerção, não necessariamente percebido como coerçãopelos membros da sociedade. O indivíduo, explicaDurkheim, ao nascer, não escolherá o idioma ou asnormas de comportamento, pois tudo isso já está definidode acordo com a sociedade em que venha a nascer. Emtais circunstâncias de existência social, o homem prova,então, da força de coerção da sociedade. Esse poder de coerção levará a sociedade a fazer uso desanções que podem ser legais ou espontâneas. Nessesentido, a punição para os que se rebelarem contra asnormas ou se comportarem questionando-as, portanto,poderá aparecer em forma de lei penal juridicamenteestabelecida (legal) ou pela simples reprovação, em queo infrator, por exemplo, se sentirá alvo de risos(espontânea).

Durkheim trazia forte influência dos positivistas eacreditava na objetividade do fato social. O pesqui sador,portanto, para cumprir a exigência de rigor científico,deveria tomar uma distância e manter neutrali dade de seuobjeto de estudo (fato social) e conservar a objetividadede sua análise sociológica. Verifica-se que para o pensadorem questão o fato social é um fenômeno passível deobservação. Em outros termos, assim como umdeterminado ser vivo é um objeto de estudo exterior epalpável para um biólogo, tendo esse ser diante de si, ofato social se ofereceria com a mesma objetividade parao sociólogo. Como o próprio Durkheim dizia, “os fatos

sociais são coisas”.

4. Solidariedade Mecânica e Orgânica

Vimos que, para Durkheim, a sociedade era mais queuma soma de indivíduos e apresentava, portanto, umcaráter de sistema. Tal sistema consistia em um tecidosolidário e o sociólogo francês via nos conflitos apenasuma anomalia da solidariedade.

As sociedades teriam conhecido duas formas desolidariedade: a mecânica e a orgânica.

A primeira (a mecânica), segundo Durkheim, seriauma solidariedade por semelhança, em que os membrosde uma coletividade compartilham os mesmos senti -mentos e reconhecem os mesmos valores como sagra -dos. Nessas sociedades, os indivíduos não se dis- tin guem muito uns dos outros e as consciências indi -viduais se assemelham muito à consciência coletiva. Aoutra forma de solidariedade é a orgânica, em que osmembros se diferenciam em consciência e o consensoaparece como uma unidade coerente, mas construídosobre as diferenciações. Nas sociedades de solidarie dadeorgânica, os homens se expressam com maior liberdadede crença, com maior autonomia de ação; enquanto naanterior (a mecânica), a consciência cole tiva abrange amaior parte das consciências individuais.

Para Durkheim, a organização da solidariedade

mecânica precede historicamente à orgânica e aquiencontramos um elemento importante na sociologiadurkheimiana: o indivíduo não vem historicamente emprimeiro lugar. O que isso significa? Que a sociedade nãoresulta, como pensavam os filósofos, de um contratosocial, em que os indivíduos precisaram, por conve niência,renunciar a um suposto estado de liberdade. Ao contrário,a teoria de Durkheim prova que não há homem semsociedade. O primado da sociedade sobre o indivíduoocupa posição central na sociologia de Durkheim e provaque o indivíduo nasce da sociedade e não a sociedade dosindivíduos. Concluindo, o homem é um ser social.

5. O Suicídio

Segundo Durkheim, o suicídio interessa ao sociólogode forma não psicológica, mas de forma social. Procurapadrões do fenômeno em diversas sociedades e adotaum método comparativo. Segundo Durkheim, há quatrotipos de suicídio:

O suicídio egoísta: resulta de uma individualiza çãoexcessiva cujo grau de integração do indivíduo nasociedade não se apresenta suficientemente forte.

O suicídio altruísta: o suicídio altruísta, ao contrário,resulta de uma individualização insuficiente. É o caso doritual do sepuku do samurai no antigo Japão; ou dasmulheres que na antiga Índia eram enterradas com osmaridos. Um exemplo atual seria o suicídio dos homens-bombas terroristas, como ocorre em alguns conflitos doOriente Médio.

O suicídio anômico: o suicídio anômico é o que maisinteressa a Durkheim. Essa forma de suicídio se relacionacom uma situação de desregramento, típica dos períodosde crise, que impede o indivíduo de encontrar umasolução bem definida para os seus problemas, situaçãoque favorece um sucessivo acumular de fracassos edecepções propícias ao suicídio.

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O suicídio fatalista: o último tipo de suicídio é osuicídio fatalista. Embora Durkheim o visse como de poucarelevância contemporânea, ele acreditava que isso acontecequando um indivíduo é regulado demais pela sociedade. Aopressão do indivíduo resulta em um sentimento deimpotência diante do destino ou da sociedade.

Durkheim analisou as condições sociais propícias aosuicídio. Pela observação de estatísticas, ele concluiu queo suicídio era mais frequente nas comunidadesprotestantes que nas comunidades católicas, fenômenoque explicou através da noção de integração religiosa. Verificou também que o suicídio ocorria menos entre osindivíduos casados que entre solteiros situação que,segundo ele, se explicaria através da noção de integraçãofamiliar. Além disso, notou que a taxa de suicídiosdiminuía em períodos de grandes aconte cimentospolíticos, em que aumentava a coesão so ciopo lítica emtorno da ideia de nacionalidade. Is so não quer dizer que osuicídio seja ontologicamente um fato social, ele o éenquanto a Sociologia o encara da maneira pautada peloexposto pelo sociólogo. Torna-se um fato social a partirdo momento em que se pode enquadrá-lo nos termos doobjeto típico da Sociologia. Se gun do Durkheim, mesmoque os homens se percebam como indivíduos comliberdade de escolha, seus comporta mentos sãofrequentemente padronizados e moldados socialmente.

Glossário

Anomalia: Aquilo que desvia da norma, irregularidade.

Coerção: Repressão, ato de coagir, exercer força sobre.

Solidariedade: Interdependência humana, sentimentoque leva a auxiliar o outro.

O sepuku é, para Durkheim, um exemplo de suicídio altruísta esocialmente aceito.

A relação Educação e Sociedade

A Relação Educação e Sociedade

Alberto Noé

(...)Para Durkheim, o objeto da sociologia é o fato social,

e a educação é considerada como o fato social, isto é, seimpõe, coercitivamente, como uma norma jurídica oucomo uma lei. Desta maneira a ação educativa permitiráuma maior integração do indivíduo e também permitiráuma forte identificação com o sistema social. Durkheim rejeita a posição psicologista. Para ele, osconteúdos da educação são independentes das vontadesindividuais, são as normas e os valores desenvolvidos poruma sociedade o [sic] grupo social em determinados

momentos históricos, que adquirem certa generalidade ecom isso uma natureza própria, tornando-se assim coisasexteriores aos indivíduos. A criança só pode conhecer odever através de seus pais e mestres. É preciso que estessejam para ela a encarnação e a personificação do dever.Isto é, que a autoridade moral seja a qualidadefundamental do educador. A autoridade não é violenta, elaconsiste em certa ascendência moral. Liberdade eautoridade não são termos excludentes, eles se implicam.A liberdade é filha da autoridade bem compreendida. Pois,ser livre não consiste em fazer aquilo que se tem vontade,e sim em se ser dono de si próprio, em saber agirsegundo a razão e cumprir com o dever. E justamente aautoridade de mestre deve ser empregada em dotar acriança desse domínio sobre si mesma (...)

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1. Identifique a proposição que expressa claramente a sociologia deÉmile Durkheim.a) A sociologia deve considerar a intersubjetividade. Os códigos

culturais estão registrados em indivíduos e são compartilhados.Portanto, a sociedade é um processo e não passível de observação.

b) “Na produção social da sua existência, os homens travam relaçõesdeterminadas, necessárias, independentes de sua vontade; essasrelações de produção correspondem a um determinado grau dedesenvolvimento das suas forças produtivas materiais”. Funda-se,portanto, a dialética materialista.

c) “... a ação social significa uma ação que, quanto ao sentido visadopelo agente ou os agentes, se refere ao comportamento de outros,orientando-se por este em seu curso”. Temos aí o método dasociologia compreensiva.

d) O núcleo teórico desse pensamento sociológico está no conceito deprocesso social. Estudar a sociedade significa analisar a interação, aassimilação, a acomodação, a competição e o conflito. Assim, poucaimportância dá-se à abordagem macroestrutural. As sociedadescomplexas constituem como que conchas de retalhos compostasde uma multiplicidade de mundos sociais: o das categoriasprofissionais, desocupados de ruas, boêmios da noite, moradoresde cortiços, por exemplo.

e) “... a sociedade não é a simples soma de indivíduos, e sim sistemaformado pela associação, que representa uma realidade específicacom seus caracteres próprios... Agregando-se, penetrando-se,fundindo-se, as almas individuais dão nascimento a um ser, psíquicose quisermos, mas que constitui individualidade psíquica de novogênero”. Assim a sociedade é uma realidade dada e externa aoindivíduo.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

2. (FGV) – Em seu estudo sobre a divisão do trabalho social, Durkheiminvestiga a função da divisão do trabalho no mundo moderno. É corretoafirmar que um dos principais objetivos do autor nessa obra foiinvestigar:a) como a divisão do trabalho proporciona o desenvolvimento

econômico na sociedade moderna.b) o efeito moral da divisão do trabalho na sociedade moderna.c) as consequências negativas da divisão de gênero provocada pela

divisão do trabalho na sociedade moderna.d) o enfraquecimento da divisão do trabalho na sociedade moderna.e) como a divisão do trabalho contribui para a igualdade de condições

entre os indivíduos na sociedade moderna.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

3. (FGV-adaptada) – Em sua obra O Suicídio, Émile Durkheim afirmaque há um tipo de suicídio no qual "se o homem se mata não é porquereivindique esse direito, mas é porque tem esse dever". Seriamexemplos desse tipo de suicídio os japoneses camicases e os váriostipos de homens-bomba. Qual é esse tipo de suicídio?a) O suicídio egoísta.b) O suicídio altruísta.c) O suicídio fatalista.d) O suicídio anômico.e) suicídio anônimo.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

4. Fato social difere de fato histórico porquea) não tem teor científico.b) é marcado pela repetição e regularidade do fenômeno.c) a Sociologia não se distingue da História.d) o fato social é um fenômeno isolado.e) o fato social não tem o mesmo grau de veracidade e autenticidade

do fato histórico.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

5. Para Durkheim, a organização da solidariedade mecânica precedehistoricamente à orgânica e isso mostra que o indivíduo não vemhistoricamente em primeiro lugar. Isso significa quea) pode haver homens sem sociedade.b) a sociedade resulta da origem histórica de um contrato social.c) a sociedade tem o primado sobre o indivíduo.d) a sociedade nasce do indivíduo.e) homens nem sempre viveram em sociedade.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

6. Leia as colocações abaixo e assinale a alternativa que agrupa ascoerentes com a sociologia durkheimiana.I. A sociedade é um tecido formado por relações de solidariedade que

pode ser mecânica ou orgânica.II. Nas sociedades de solidariedade mecânica, os indivíduos revelam

diferenças e constroem consensos resultantes do exercíciodemocrático.

III. O indivíduo precede a sociedade e em tal primado (do indivíduo)sustenta-se a teoria dos contratos sociais.

a) I e II apenas. b) I e III apenas. c) II apenas. d) I apenas. e) III apenas.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

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1. Para Durkheim, a sociedade: I. É dotada de um poder de coerção.II. É uma realidade interior ao homem.III. Resulta de um original contrato social.IV. Forma uma consciência coletiva exterior aos indivíduos.São verdadeiras apenasa) I e II. b) I e III. c) II e III. d) II e IV. e) I e IV.

2. O indivíduo, explica Durkheim, ao nascer, não escolherá o idioma ouas normas de comportamento, pois que tudo isso já está definido deacordo com a sociedade em que venha a nascer. Nesse sentido, paraDurkheim:a) O indivíduo é dotado de grande autonomia diante do ser social.b) A sociedade é caminho para transcender a condição de liberdade.c) O indivíduo é dotado de exterioridade. d) A sociedade é dotada de coerção.e) Os fatos sociais são sempre normas.

3. Assim como um determinado ser vivo é um objeto de estudoexterior e palpável para um biólogo, tendo esse ser diante de si, segundoDurkheim, o fato social se ofereceria com a mesma objetividade para osociólogo. Isso sugere:a) A subjetividade do trabalho sociológico.b) A ruptura que Durkheim estabeleceu com o Positivismo.c) A preocupação cientificista de Durkheim.d) A prioridade que Durkheim deu ao método dedutivo.e) O conceito de interioridade da consciência coletiva.

4. Na vertente contra os filósofos contratualistas, os sociólogos, emgeral, acreditam que:I. A vida em sociedade tem um fim em si mesmo.II. Não há homens sem sociedade.III. Os indivíduos constituem uma realidade independente da sociedade.São verdadeirasa) apenas I e II. b) apenas I e III. c) apenas I. d) apenas II e III. e) apenas III.

5. Durante muito tempo, filósofos estudaram a questão da sociabilidadehumana, supondo que os homens viviam num passado remotooriginalmente em estado de natureza e teriam renunciado à liberdadepara viver em sociedade. Esses filósofos foram conhecidos como:a) Contratualistas, como Hobbes.b) Racionalistas, como Descartes.c) Empiricistas, como Locke.d) Sofistas, como Protágoras.e) Metafísicos, como Agostinho.

6. O primado da sociedade sobre o indivíduo significa quea) as primeiras sociedades foram organizadas por indivíduos que

renunciaram a viver em estado de natureza e liberdade.b) os indivíduos existiam antes da formação social.c) os homens se organizaram em sociedade para alcançar vantagens,

como a segurança da propriedade privada.d) os indivíduos nascem da sociedade e não a sociedade dos indivíduos.e) a sociedade é uma realidade subjetiva e histórica.

7. Sobre a sociologia de Durkheim, podemos afirmar:I. Elaborou importantes conceitos como classe social e estudou as

relações de exploração.II. Limitou-se a copiar seu professor Auguste Comte e, portanto, não

avançou quase nada no desenvolvimento da Sociologia.III. Acreditou que o papel da Sociologia fosse o de descobrir as leis

gerais da sociedade.IV. A Sociologia deveria ser objetiva e trabalhar com a objetividade do

fato social. São coerentes apenas:a) I e II. b) II e III. c) I e III. d) III e IV. e) II e IV.

8. Segundo Durkheim, a sociedade de solidariedade mecânicaI. veio depois historicamente da orgânica.II. é constituída por indivíduos relacionados por grande semelhança.III. é formada por indivíduos com formas diversas de sentir e de pensar.

É (são) verdadeira(s) apenasa) I e II. b) II e III. c) II. d) III. e) I e III.

9. Segundo Durkheim, a sociedade de solidariedade orgânica:I. Coincide com as sociedades tribais.II. É constituída por pessoas com formas semelhantes de pensar e de

sentir.III. Tem o consenso construído sobre as diferenças.

É (são) verdadeira(s) apenasa) I e II. b) III. c) II e III.d) II. e) I e III.

10. Explique a objetividade do fato social para Durkheim.

11. O que prova o primado da sociedade sobre o indivíduo paraDurkheim e o que isso significa?

12.O sociólogo é, sobretudoa) um solucionador dos problemas sociais.b) um funcionário do poder público.c) um cientista.d) um técnico.e) um agente político e questionador das relações humanas.

13.Segundo Durkheim, fato social é:a) O mesmo que fato histórico.b) Marcado pela exterioridade (ao indivíduo) e pela objetividade.c) O mesmo que ação social.d) Uma realidade subjetiva e interior ao homem.e) O objeto da Sociologia, porém de difícil apreensão devido ao aspecto

subjetivo da sociedade.

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1) E 2) D 3) C 4) A

5) A 6) D 7) D 8) C 9) B

10) Durkheim acreditava na objetividade do fato social. O

pesquisador devia tomar uma distância e neutralidade de seu

objeto de estudo (fato social) e conservar a objetividade de sua

análise sociológica. O fato social seria um fenômeno passível de

observação. Como o próprio Durkheim dizia, os fatos sociais são

coisas.

11) Para Durkheim, a organização da solidariedade mecânica

precede historicamente à orgânica e isso mostra que o indivíduo

não vem historicamente em primeiro lugar. Isso significa que não

há homem sem sociedade. Significa também que o indivíduo nasce

da sociedade e não a sociedade dos indivíduos.

12) C 13) B

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1. Introdução

Karl Marx (1818-1883) nasceu em Treves, Alemanha.Estudou na Universidade de Berlim e doutorou-se emFilosofia em Iena. Em 1842, mudou-se para Paris, ondeconheceu Friedrich Engels, seu parceiro de textos eideias. Foi expulso da França e morou em Bruxelas,participando da Liga dos Comunistas. Em 1848 escreveuO Manifesto do Partido Comunista, obra de cunho maispolítico que científico, mas de grande importânciahistórica e que teria originado o chamado marxismo. Suaobra mostrou uma preocupação em lançar as basescientíficas para o pensamento socialista, e politicamente,defendeu a causa operária, marca que acompanharátoda e qualquer tendência ou postura que se tenhaintitulado de marxista. Malogrado o projeto de revoluçãosocial, em 1848, mudou-se para Londres. Com isso,podemos perceber que conhecia de perto boa eimportante parcela da sociedade industrial europeia. Entreseus livros, destacam-se A Ideologia Alemã, Miséria daFilosofia, Para a Crítica da Economia Política e O Capital.

Marx viveu numa Europa próspera e conturbada.Percebeu e estudou as contradições do desenvol -vimento do capitalismo e sua obra apontava para umapossibilidade de superação dos conflitos e contradiçõesdesse modo de produção que acumulava e concentravariqueza nas mãos de poucos. Marx teve e ainda tem umagrande quantidade de seguidores na intelectualidade eentre políticos em todo o mundo.

Karl Marx deixou enormes influências nas sucessivas gerações deintelectuais.

Friedrich Engels foi o principal colaborador e companheiro intelectualde Marx.

2. Relações de Produção e Classe social

Para Marx, a sociedade não era um tecido solidáriocomo queria Durkheim, mas uma organização baseadanas relações de produção. Na produção social da suaexistência, dizia Marx, os homens travam relaçõesdeterminadas, necessárias e independentes de suavontade. Tais relações de produção correspondem a umgrau de desenvolvimento das forças produtivas. Essedesenvolvimento seria, então, o movimento próprio dahistória. O motor da história, portanto, é a contradição,pois cada modo de produção – que Marx entendia comoetapas evolutivas (modo de produção asiático, antigo,feudal e burguês) – trazia em si um princípio contraditórioe por isso o pensamento marxista é um pensar dialético.Chamou essa teoria de materialismo dialético ouhistórico. Para Marx, a história não era um processoconduzido pela vontade dos homens, mas determinada,sobretudo pela forma como os homens produzem ereproduzem sua riqueza material. Percebia nessa ordemdas coisas, as relações de conflito, princi palmente entreas classes sociais, que apresen tavam posições einteresses diferentes. Para Marx, existiam duas classes

MÓDULO 3 O Pensamento de Karl Marx

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sociais: a classe dominante e a dominada. Nasociedade de produção capitalista, a classe dominanteestá representada pela burguesia que detém os meios deprodução (donos de fábricas, por exemplo) e a classedominada, pelo proletariado (a classe operária ecamponesa) que, nada possuindo, vende a sua força detrabalho como se fosse uma mercadoria.

As classes sociais são opostas e interdependentes.Só existem proprietários que acumulam riqueza porquehá uma massa de despossuídos.

Para Marx e Engels, a sociedade, portanto, seria umtecido repleto de nós, ou melhor, de relações de conflitoe luta de classes. Ao contrário de Durkheim, para elesnão bastava a constatação de uma consciência coletiva.Na ótica marxista, não é a consciência dos homens quedetermina a sua existência, mas, ao contrário, a exis tênciasocial é que determina a sua consciência. Além disso, nãopode haver uma única e externa consciên cia coletiva,como pensava Durkheim, porque, segundo Marx, aconsciência é no mínimo, consciência de classe. Emoutros termos, a consciência de um indivíduo da classedominante será diferente da consciência daquelepertencente à classe dominada.

Concluindo, os valores de uma sociedade, ossentimentos, a forma de pensar e de interpretar o mundo,seja pela arte, pelo senso comum ou pela filosofia, aforma de agir em sociedade são reflexos das relações deprodução.

Convém colocar que o método de Marx teve influên -cia da dialética do filósofo George Hegel (1770-1831), paraquem a história era um todo coeso, um processo dedesenvolvimento, cuja dinâmica se dava por forçasantagônicas (contrárias) do conhecimento e do espíritohumano, às quais chamou de tese e antítese. Da relaçãode conflito das duas surgia, então, uma síntese que seconstituía, por sua vez, em uma nova tese. Marx criticouHegel por julgá-lo idealista, ou seja, o que Marxreformulou ou corrigiu na dialética hegeliana, a seu ver,nessa teoria foi a ideia de que o embate das forças deoposição ocorreria na esfera da realidade material, ouseja, na forma de produção.

O Marxismo percebe as contradições sociais e focaliza a luta declasses.

3. Teoria da Alienação

Para Marx, a classe dominada vivencia uma comple -xa experiência de alienação. A indústria, a condição deassalariado e a propriedade privada condenam a classeoperária a uma situação de alienação, pois ela estáseparada do fruto do seu trabalho que é o bem por elaproduzido e que pertence ao patrão. A consciênciatambém se encontra alienada, pois os operários nãonecessariamente se apercebem dessa condição deexploração.

Politicamente, também ocorre uma experiênciaalienante. O princípio da representatividade pressupõeum Estado imparcial e que represente o conjunto de todaa sociedade. Para Marx, isso não acontece no capitalismo,já que o Estado, na verdade, representa diretamente osinteresses da classe dominante.

Enquanto para Durkheim, a divisão social do trabalhogerava uma solidariedade, para Marx, tal divisão implicaoutra situação de conflito e alienação: uma classeprivilegiada tem acesso ao conhecimento filosófico eesse pensar parcial e classista torna-se o pensamentodominante e a visão geral da sociedade como um todo.Assim, a própria ciência, ou a própria sociologia, pode serum saber que produz alienação.

Segundo o pensamento marxista, o primeiro passopara tirar o homem da condição de alienação e deexploração é fazer a crítica radical ao modo de produçãovigente e daí trabalhar no sentido de acelerar o adventode uma nova sociedade sem classes. Esse advento,segundo Marx, já está inscrito na contradição do sistemacapitalista.

A imagem de Laurent Courau evoca a relação entre mídia e alienação.

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4. O Capital

Para conhecer melhor o pensamento de Marx, faz-seimprescindível um contato com a sua obra O Capital(1867). Essa obra compreende três livros, o primeiro forapublicado em vida e os volumes II e III são publicaçõespóstumas, inacabados e compilados por Engels.

N’ O Capital, Marx analisa a essência do capitalismoque é a lógica do lucro e da propriedade privada. A obrainicia expondo dois tipos de troca: um primeiro em que amercadoria é trocada por mercadoria, sendo uma trocaimediatamente inteligível e humana; um segundo tipo queé a troca que vai do dinheiro para o dinheiro, passandopela mercadoria, sendo que no fim da troca, espera-se terconseguido mais dinheiro do que aquele inicial.Denotando a produção de um lucro. Essa segunda formade troca é a marca do capitalismo. A grande questão deMarx é descobrir como ocorre esse processo, ou ainda,como é possível produtores e comerciantes lucrarem?Outra maneira de formular o problema da obra: qual é afonte do lucro? Marx acredita ter encontrado a resposta,desenvolvendo a teoria da mais-valia.

5. A mais-valia

Através da teoria da mais-valia, Marx demonstra quetudo é trocado pelo seu valor e, no entanto, existe umafonte de lucro. Para chegar a explicar a mais-valia,precisamos expor três proposições.

Proposição primeira: o valor de qualquer merca do -ria é proporcional a uma quantidade de valor de trabalhosocial nela embutido. Trata-se da teoria do valor-trabalho.Para Marx o único valor quantificável é a quantidade devalor-trabalho e por isso sabemos que um determinadoobjeto tem efetivamente mais valor que outro.

Proposição segunda: o valor-trabalho pode sermedido como valor de mercadoria. Já vimos que ooperário assalariado é o que vende a sua força de trabalhocomo se ela fosse uma mercadoria, isso quer dizer que osalário pago ao trabalhador deve equivaler ao valor detrabalho social embutido na mercadoria, de acordo com aproposição primeira. Porém, em se tratando de trocassociais, o salário deve corresponder à quantia que garantaa sobrevivência do trabalhador e de sua família.

Proposição terceira: o tempo de trabalho necessáriopara o operário produzir um valor igual ao que recebe soba forma de salário é inferior à duração de seu trabalho defato. Assim, um operário precisará, por suposição, dequatro horas de trabalho para receber o valor que garantaa sua sobrevivência, que corresponde ao seu salário, masele, na verdade, trabalha nove horas. Uma parte dotempo, ele trabalha para si e a outra, para o patrão. Amais-valia é exatamente a quantidade de valor produzidopelo operário além do trabalho neces sário correspondente

ao valor do trabalho que recebe em forma de salário. Emoutros termos, o valor produzido durante o sobretrabalhoé mais-valia. O trabalho, portanto, rende um valor extraao dono da empresa, e esse, de certa forma, apropria-sede um valor excedente que em princípio é do trabalhador.Fica evidente que o aumento da produtividade, peloavanço tecnológico, por exemplo, promove uma evoluçãoda mais-valia.

Marx estudou o modo de produção capitalista e suas contradições.

6. Concluindo

O Capital (primeiro volume) é publicado em 1867, osegundo volume, em 1885 e o terceiro, só em 1889. Apósa morte do pensador, Engels continuou velando pela obra.O terceiro volume não completa a sua obra, ao menos,não o plano original. Marx pretendia escrever um quartovolume, no qual queria expor suas ideias sobre umamecânica mistificadora dos movimentos econô micos.

Depois de Marx, o socialismo adquiriu consistênciacientífica. Encontramos em seu pensamento umaprofunda compreensão do processo econômico e dainfluência sobre a vida dos homens, colocando de lado,hoje, o determinismo econômico de sua obra, princi -palmente em razão da época em que viveu, não maisaceito inclusive por muitos marxistas.

Trata-se de um autor polêmico, criticado de formalegítima e irônica, essa última, perigosa porque expõe osabusos da especulação intelectual. Marx via no socialismouma necessidade histórica. Após sua morte, foi implatadono Leste Europeu sem sucesso, assim como em outrospaíses. O resultado das experiências socialistas, em geral,foi um fracasso. O socialismo foi um sonho de inspiraçãohumanista e iluminista que malogrou. Marx elaborou umpensamento universal e sustentou uma visão de homemuniversal e muitos cientistas sociais e filósofos valorizamessa face de sua produção intelectual. O fim dosocialismo real na URSS e na Europa Oriental nãosignificou, para alguns, o fim do pensamento socialista;ou para outros, o fim da sua ameaça.

Faz-se necessário compreender hoje que a histórianão se conclui em qualquer manifestação particular, nem

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em uma sociedade socialista, tampouco em umacapitalista. Como pensa, em geral, o marxismo, o esforçopara reproduzir um modo de produção econômicoacarreta alterações nas forças em oposição. Faz-se,portanto, necessário continuar a desenvolver a crítica dosmodelos sociais e econômicos que os homensestabelecem, por sua vontade ou não, procurandopropostas de superação das mazelas sociais.

Glossário

Alienação: Perda da razão, loucura, submissão cega avalores e instituições com inconsciência da realidade.Produto da ação humana que torna o homem estranho asi próprio.

Dialética: Argumentação habilidosa (Platão), pensamentoou método filosófico e científico que leva em considera -ção as contradições da realidade.

Definir claramente o sentido de Socialismo, hoje em dia,não constitui tarefa das mais simples. Essa dificuldade podeser creditada à utilização ampla e diversificada deste termo,que acabou por gerar um terreno bastante propício aconfusões. Constantemente encontramos afirmações de queos comunistas lutam pelo socialismo, assim como também ofazem os anarquistas, os anarcossindicalistas, os social-democratas e até mesmo os próprios socialistas. A leitura dejornais vai nos informar que os governos cubano, vietnamita,alemão, austríaco, inglês, francês, sueco entre outros, procla -mam-se socialistas. Caberia então perguntar o que é vem a sereste conceito, tão vasto, que consegue englobar coisas tãodíspares.

A História das Ideias Socialistas possui alguns cortes deimportância. O primeiro deles é entre os socialistas utópicos eos socialistas científicos, marcado pela introdução das ideiasde Marx e Engels no universo das propostas de construção danova sociedade. O avanço das ideias marxistas consegue darmaior homogeneidade ao movimento socialista internacional. Pela primeira vez, de países diferentes, quando pensavam emsocialismo, estavam pensando numa mesma sociedade –aquela preconizada por Marx – e numa mesma maneira dechegar ao poder.

As ideias de Karl Marx e Friedrich Engels

As teses apresentadas por Marx e Engels levaram a umatotal modificação do caminho que vinha sendo percorrido pelasideias socialistas e constituíram a base do socialismo moderno.Apesar de obras anteriores, é o Manifesto do Partido Comunistaque inova definitivamente o ideário socialista. A partir de suapublicação em 1848, tanto Marx quanto Engels aprofundaram edetalharam, em suas demais obras, suas concepções sobre anova sociedade e sobre a História da humanidade.

Antes de qualquer coisa, devemos fugir à ideia de queanteriormente a Marx existissem apenas trevas. O que há degenial no trabalho de Marx é sua aguçada visão da História edos movimentos sociais e a utilização de instrumentos deanálise que ele próprio criou. Marx se serve de três principaiscorrentes do pensamento que se vinham desenvolvendo, naEuropa, no século passado, coloca-as em relação umas comas outras e as completa em suas obras. Sem a inspiração nestas

três correntes, admite o próprio Marx, a elaboração de suasideias teria sido impossível. São elas: a dialética, a economiapolítica inglesa e o socialismo. Para Marx o movimento dialéticonão possui por base algo espiritual, mas sim algo material. Omaterialismo dialético é o conceito central da filosofia marxista,mas Marx não se contentou em introduzir esta importantemodificação apenas no terreno da Filosofia. Ele adentrou noterreno da História e ali desenvolveu uma teoria científica: Omaterialismo histórico. O materialismo histórico, a concepçãomaterialista da história desen volvida por Marx e Engels, é umaruptura à História como vinha sendo estudada até então. Ahistória idealista que dominava até aquela época chamava-sede História da Humanidade ou História da Civilização a algo quenão passava de mera sequência ordenada de fatos históricosrelativos às religiões, impérios, reinados, imperadores, reis etc.

Para Marx as coisas não funcionavam desta maneira. Emprimeiro lugar, como materialista, interessava-lhe descobrir abase material daquelas sociedades, religiões, impérios etc. Aele importava saber qual era a base econômica que sustentavaestas sociedades: quem produzia, como produzia, com queproduzia, para quem produzia e assim por diante. Foi visandoisto que ele se lançou ao estudo da Economia Política, tomandocomo ponto de partida a escola inglesa cujos expoentesmáximos eram Adam Smith e David Ricardo. Em segundo lugaruma vez que a base filosófica de todo o pensamento marxista(e, portanto, também de sua visão de história) era omaterialismo dialético, Marx queria mostrar o movimento dahistória das civilizações enquanto movimento dialético.

A teoria de História de Marx e Engels foi elaborada a partirde uma questão bastante simples. Examinando o desenvol -vimento histórico da humanidade, pode-se facilmente notar quea filosofia, a religião, a moral, o direito, a indústria, o comércioetc., bem como as instituições onde estes valores são repre -sentados, não são sempre entendidos pelos homens damesma maneira. Este fato é evidente: A religião na Grécia nãoé vista da mesma maneira que a religião em nossos dias, assimcomo a moral existente durante o Império Romano não é amesma moral existente durante a Idade Média.

O texto acima foi (adaptado) de: O que é Socialismo. Escrito porArnaldo Spindel. Editora Brasiliense, 4.a edição

Conceitos básicos do Marxismo

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Comunismo

Amanda Coelho Sanches

As ideias básicas de Karl Marx estão expressasprincipalmente no livro O Capital e n’O Manifesto Comunista,obra que escreveu com Friedrich Engels, economista alemão.Marx acreditava que a única forma de alcançar uma sociedadefeliz e harmoniosa seria com os trabalhadores no poder. Emparte, suas ideias eram uma reação às duras condições de vidados trabalhadores no século XIX, na França, na Inglaterra e naAlemanha. Os trabalhadores das fábricas e das minas eram malpagos e tinham de trabalhar muitas horas sob condiçõesdesumanas. Marx estava convencido que a vitória docomunismo era inevitável. Afirmava que a história segue certasleis imutáveis, à medida que avança de um estágio a outro. Cadaestágio caracteriza-se por lutas que conduzem a um estágiosuperior de desenvolvimento. O comunismo, segundo Marx, éo último e mais alto estágio de desenvolvi mento. Para Marx, achave para a compreensão dos estágios do desenvolvimento éa relação entre as diferentes classes de indivíduos na produçãode bens. Afirmava que o dono da riqueza é a classe dirigenteporque usa o poder econômico e político para impor sua vontadeao povo. Para ele, a luta de classes é o meio pelo qual a históriaprogride. Marx achava que a classe dirigente jamais iria abrirmão do poder por livre e espontânea vontade e que, assim, aluta e a violência eram inevitáveis.

O futuro incerto do comunismo

Em sucessivas eleições, o Partido Comunista Francês teveum desempenho abaixo de seus patamares históricos. Essadecadência aparentemente inexorável de seu potencialmilitante e de seu apelo político é questionada por três livroslançados recentemente

(Le Monde Diplomatique)

Em sucessivas eleições, o Partido Comunista Francês (PCF)atingiu patamares historicamente baixos. Seu potencial militantenão é mais o que era. Teria perdido toda a oportunidade de serecuperar? Ao contrário das opiniões correntes, ospesquisadores Marie-Claire Lavabre e François Platone1

insistem nos trunfos comunistas: um número de militantescertamente em baixa constante, mas sem equivalente emoutras formações políticas e com perfil em sintonia com aevolução do assalariado na sociedade francesa (ascensão dosfuncionários e executivos, em detrimento dos operáriostradicionais); uma implantação local que provoca ciúmes entreos Verdes e os da extrema esquerda. Os pesquisadoresdestacam igualmente a nova imagem do PCF na opinião públicadepois da ruptura com o modelo soviético, desde o findar dos

anos 70, que atingiu seu ponto máximo na “mutação” do últimoperíodo. Resta saber se o PCF está à altura para investir em umespaço político que no momento lhe escapa.

Alguns acreditam nisso, como o historiador Roger Marteli,membro ativo do PCF, que escreve um livro com títuloiconoclasta: Le communisme est um bon parti, dites-lui oui 2 (Ocomunismo é um bom partido. Diga sim, para ele.) Marteli édaqueles que refletem há muito tempo sobre o inexoráveldeclínio do comunismo na ausência de uma renovação à alturado desafio. Aliás, ele consagra grande parte de sua obra a umenfoque histórico-político da questão, inseparável da crise domodelo tal como foi aplicado no Leste e como se expressou nocenário nacional. Ele aponta a especificidade própria domovimento operário francês, que nunca foi uma simples cópiado sistema soviético.

Um comunismo reconstruído

Esta lembrança permite ao autor ressaltar que o declínio doPCF vem de muito longe. Segundo ele, para resolver a criseestrutural seria necessário uma mudança completa para chegarao que ele denomina “ um comunismo político da novageração”. Martelli imagina uma revolução na revolução,passagem obrigatória para desenvolver um projeto novo parasua teoria, suas práticas, sua organização, seu simbolismo.Amplo programa, sedutor em seu enunciado, mas quenecessitaria ser definido em seu conteúdo. Se ele é umdaqueles que permanecem céticos sobre a atual evolução doPCF, Martelli não deixa de apostar em um “comunismoreconstruído”, definitivamente despido das ilusões do passado.

Um outro historiador, Alain Ruscio, conhecido por seustrabalhos sobre o colonialismo, confronta-se de uma forma maispessoal à realidade do comunismo3. Ele foi membro do PCF.Não é mais, mas permanece visceralmente anticapitalista. Elerelata sua trajetória pessoal, a de um homem que cruzou comespíritos generosos, a de um militante que se chocou com alógica do aparelho partidário, a de um revoltado que conservaintactas suas iras da juventude. A sua maneira, original, o autorpropõe um testemunho que interessará a todos aqueles querecusam ver no capitalismo o fim da História.

(Trad.: Celeste Marcondes)

1 - O que resta do PCF ? Revista Autrement, Paris, 2003.

2 - O comunismo é um bom partido. Diga sim, para ele. LaDispute, Paris, 2003.

3 - Nós e eu, grandeza e servidão comunista. EdiçãoTirésias.Paris, 2003.

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1. “... Não é a consciência dos homens que determina a sua existência,é, pelo contrário, a sua existência que determina a sua consciência”. Areflexão acima pode ser considerada expressão do método:a) Materialismo dialético.b) Sociologia compreensiva. c) Método dedutivo.d) Positivismo.e) Funcionalismo.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

2. Leia as colocações abaixo:I. Anunciar a autodestruição do capitalismo e incitar os homens a

contribuirem para a realização desse destino já traçado.II. O motor do movimento histórico é a contradição e esta se encontra

no desenvolvimento das forças produtivas.III. A consciência dos homens não é resultante da realidade objetiva,

mas, ao contrário, o mundo material e objetivamente dado e frutoda consciência.

São colocações coerentes com o pensamento dialético de Karl Marx:a) I, II e III. b) Apenas I e II. c) Apenas II e III. d) Apenas I e III. e) Apenas II.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

3. Leia as proposições abaixo e assinale a alternativa que agrupa ascoerentes com o pensamento de Karl Marx.I. O homem tornou-se alienado politicamente, pois o Estado não é um

órgão político imparcial, como se supõe. Na sociedade capitalista, oEstado representa apenas os interesses da classe dominada, ou seja,o proletariado.

II. A indústria, a propriedade privada e o assalariamento alienavam ouseparavam o operário dos meios de produção (ferramentas, matéria-prima e terra).

III. A sociedade capitalista é dividida em duas classes: a dominada quevende a sua força de trabalho, entendida como mercadoria; e adominante, que possui os meios de produção.

IV. A divisão social do trabalho, no capitalismo, fez com que opensamento filosófico e o conhecimento fossem acessíveis a todosos grupos sociais.

a) Apenas I e II. b) Apenas I e III. c) Apenas III e IV. d) Apenas II e III. e) Apenas II e IV.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

4. Na sociedade de produção capitalista, a classe dominante estárepresentada pela burguesia que detém os meios de produção (donosde fábricas, por exemplo) e a classe dominada, pelo proletariado (aclasse operária e camponesa) que, nada possuindo, vende a sua forçade trabalho como se fosse uma mercadoria. Tal concepção teórica é doclássico: a) Max Weber. b) Émile Durkheim.c) Karl Marx. d) Auguste Comte.e) Émile Rousseau.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

5. (UFPB - adaptada) – Leia o texto abaixo:“[...] o primeiro pressuposto de toda a existência humana e, portanto,de toda a História, é que os homens devem estar em condições deviver para poder ‘fazer história’. Mas, para viver, é preciso antes de tudocomer, beber, ter habitação, vestir-se e algumas coisas mais. O primeiroato histórico é, portanto, a produção dos meios que permitam asatisfação destas necessidades, a produção da própria vida material, ede fato este é um ato histórico, uma condição fundamental de todahistória, que ainda hoje, como há milhares de anos, deve ser cumpridotodos os dias e todas as horas, simplesmente para manter os homensvivos.”

(MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. Rio de Janeiro:Paz e Terra, 1987, p. 39.)

As análises históricas de Marx (1818-1883), pensador alemão, exer -ceram e ainda exercem grande influência nas ciências humanas esociais, entre elas, a História. Sobre a concepção marxista de História,assinale a alternativa verdadeira.a) A concepção da luta de classes como motor da História foi atribuída

indevidamente ao marxismo, para o qual as transformaçõeshistóricas decorrem apenas das ações dos indivíduos.

b) O marxismo defende, teoricamente, uma postura neutra dohistoriador diante da sociedade e do conhecimento produzido sobreela, assim, nega validade prática a sua própria concepção.

c) As sociedades, para Marx, não podem ser compreendidas sem umestudo pormenorizado de sua base econômica, e esse entendimentosignifica a análise da sua organização material para a produção dasobrevivência humana.

d) Os marxistas são ardorosos defensores do fim da história, pois essatese representa a culminância do desenvolvimento humano, com aglorificação da sociedade de mercado e da democracia liberal.

e) A História, para Marx, não é feita por todos, tampouco pelostrabalhadores, e essa concepção estava de acordo com a idéia,bastante comum no século XIX, de uma História feita apenas pelos“grandes homens”.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

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6. (UEL) – Analise a figura a seguir.

(NOVAES, Carlos Eduardo. Capitalismo para principiantes. São Paulo:Ática, 1995. p.123.)

A figura ilustra, por meio da ironia, parte da crítica que a perspectivasociológica baseada nas reflexões teóricas de Karl Marx (1818-1883) fazao caráter ideológico de certas noções de Estado. Sobre a relação entreEstado e sociedade segundo Karl Marx, é correto afirmar:a) A finalidade do Estado é o exercício da justiça entre os homens e, é

um bem indispensável à sociedade.b) O Estado é um instrumento de dominação e representa, priori -

tariamente, os interesses dos setores hegemônicos das classesdominantes.

c) O Estado tem por finalidade assegurar a felicidade dos cidadãos egarantir, também, a liberdade individual dos homens.

d) O Estado visa atender, por meio da legislação, a vontade geral doscidadãos, assegurando, assim, a harmonia social.

e) Os regimes totalitários são condição essencial para que o Estadorepresente, igualmente, os interesses das diversas classes sociais.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

7. A sociologia do conhecimento ganhou força a partir das obras deMarx. Pode-se afirmar que essa área da sociologia tende a sera) dogmática.b) vulnerável.c) sintética.d) crítica.e) pouco analítica.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

1. Sobre Karl Marx, analise as proposições abaixo:

I. Foi o fundador do socialismo científico, e acreditava estar dando um

caráter teórico mais consistente às propostas socialistas.

II. Ele defendeu a causa burguesa e operária; escreveu O Capital,defendendo um capitalismo mais justo e igualitário.

III. Marx percebeu as contradições do sistema econômico e apontava

para uma superação.

É (são) verdadeira(s) apenas

a) I e II. b) II. c) I e III.

d) II e III. e) III.

2. “Pobreza não é uma escolha do indivíduo nem uma condenação

divina, é o resultado de forças sociais”. (Hebert Gans)

Sobre a frase é possível afirmar:

a) Está fundamentada no senso comum, como um ditado popular

destituído de rigor e coerência.

b) É coerente e está fazendo referência às causas históricas da pobreza.

c) É uma afirmação baseada somente no ateísmo.

d) É uma colocação que se preocupa em enraizar adequadamente as

causas da exclusão social.

São verdadeiras apenas:

a) I e II. b) II e III. c) I e III.

d) III e IV. e) II e IV.

3. Para Marx, a consciência social seria necessariamente fragmentada.

Por quê?

a) Porque “cada um é cada um” e a interpretação do mundo é em

grande parte pessoal.

b) Porque é, no mínimo, consciência de classe.

c) Porque a consciência depende da cultura e do país em que se nasce

e se vive.

d) Porque a existência humana resulta de reflexões individuais, de

acordo com as experiências pessoais.

e) Porque a consciência coletiva se transforma com as condições

históricas.

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4. A consciência de um indivíduo da classe dominante será diferente da

consciência daquele pertencente à classe dominada. Portanto, para

Marx, o conceito de consciência

a) se assemelha ao conceito de Durkheim, pois trata-se de consciência

social e coletiva.

b) se assemelha ao conceito de Durkheim, uma vez que para os dois

pensadores, a consciência é sempre de classe.

c) diverge do conceito de Durkheim, pois para o primeiro, a consciên -

cia é um todo uniforme.

d) diverge do conceito de Durkheim pois para o primeiro a consciência

é fragmentada.

e) está fundamentado na concepção positivista, com base na ideia de

solidariedade social.

5. Para Marx, a história não era um processo conduzido pela vontade

dos homens, mas determinada, sobretudo pela forma como os homens

produzem e reproduzem sua riqueza material. Assim, para esse autor

clássico:

a) O ser humano é o sujeito e autor da história.

b) O ser humano não tem possibilidades de interferir no processo

histórico.

c) A história é conduzida por grandes homens.

d) O motor da história é a vontade dos homens.

e) O desenvolvimento das forças produtivas é o motor da história.

6. Só existem proprietários que acumulam riqueza porque há uma

massa de despossuídos. Esse pensamento marxista implica a ideia

contida na alternativa:

a) Para a formação de uma sociedade os pobres são necessários.

b) Sempre houve e sempre haverá pessoas pobres.

c) É da natureza humana o sentimento de ambição.

d) O capitalismo se baseia na exploração do homem pelo homem.

e) A exploração do trabalho humano é condição natural das relações

humanas.

7. A condição de assalariado e a propriedade privada condenam o

operário a uma situação de alienação. Sobre isso leia e julgue as

assertivas abaixo:

I. O trabalhador está separado do fruto do seu trabalho que é o bem

por ele produzido e que pertence ao patrão.

II. Na sociedade de economia planejada, o trabalhador não possui o

fruto do seu trabalho, pois tudo pertence ao governo que também é

uma forma de propriedade privada.

III. Para Marx, a socialização dos meios de produção é o caminho para

acabar com a alienação.

É (são) verdadeira(s) apenas

a) I e II. b) I e III. c) I.

d) II. e) III.

8. O princípio da representatividade pressupõe um Estado imparcial eque represente o conjunto de toda a sociedade. Para Marx, isso nãoacontece no capitalismo,

a) pois o Estado, na verdade, representa diretamente os interesses da

classe dominante.

b) pois o Estado representa os interesses da classe dominada.

c) pois a população não se envolve em processos políticos.

d) pois o Estado burguês é marcado pelo autoritarismo político.

e) pois a burguesia representa os interesses do Estado e os operários

não se interessam por política.

9. Para Durkheim, a consciência coletiva constituiria uma realidade

homogênea e indiferenciada. Para Marx, a consciência social seria

necessariamente fragmentada. Por quê? Comente, tecendo uma

relação com o pensamento dialético marxista.

10.Explique a teoria da alienação segundo Marx.

11.Que relação existe entre o desenvolvimento tecnológico e a mais-

valia?

12. O fim do socialismo soviético e do Leste Europeu representa o fim

das ideias socialistas? Comente.

13.Defina o conceito marxista de mais-valia.

14.(UNESP) –TEXTO 1

Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme dissemos,se é senhor absoluto da sua própria pessoa e posses, […] por que abriráele mão dessa liberdade, por que […] sujeitar-se-á ao domínio e con -trole de qualquer outro poder? Ao que é óbvio responder que, emborano estado de natureza tenha tal direito, a fruição […] da propriedadeque possui nesse estado é muito insegura, muito arriscada. […] não ésem razão que procura de boa vontade juntar-se em sociedade comoutros […], para a mútua conservação da vida, da liberdade e dos bensa que chamo de “propriedade”.

(John Locke. O segundo tratado sobre o governo.)

TEXTO 2

Horrorizai-vos porque queremos abolir a propriedade privada. Mas,em nossa sociedade, a propriedade privada já foi abolida para novedécimos da população; se ela existe para alguns poucos é precisamenteporque não existe para esses nove décimos. Acusai-nos, portanto, dequerer abolir uma forma de propriedade cuja condição de existência éa abolição de qualquer propriedade para a imensa maioria da sociedade.Em suma, acusai-nos de abolir a vossa propriedade. Pois bem, éexatamente isso o que temos em mente.

(Karl Marx e Friedrich Engels. O manifesto comunista.)

Os textos citados indicam visões opostas e conflitantes sobre aorganização da vida política e social. Responda quais foram os sistemaspolíticos originados pelos dois textos e discorra brevemente sobre suasdivergências.

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1) C 2) E 3) B 4) D

5) E 6) D 7) B 8) A

9) Para Marx, a consciência dos homens é consciência de classe,

ou seja, a consciência de um indivíduo da classe dominante

será diferente daquele da classe dominada. Convém lembrar

que, para Marx, a consciência é passível de alienação.

10) A indústria, a condição de assalariado e a propriedade privada

condenam a classe operária a uma situação de alienação, pois

ela está separada do fruto do seu trabalho que é o bem por

ela produzido e que pertence ao patrão. A consciência

também se encontra alienada, pois os operários não

necessaria mente se apercebem dessa condição de exploração.

Além disso, o princípio da representatividade pressupõe um

Estado imparcial e que represente o conjunto de toda a

sociedade. Para Marx, isso não acontece no capitalismo, já que

o Estado representa diretamente os interesses da classe

dominante.

11) O aumento da produtividade, pelo avanço tecnológico, por

exemplo, promove uma evolução da mais-valia.

12) Não. As ideias ou ideais socialistas e o método marxista per ma -

necem vivos. Muitos afirmam que a experiência implantada nos

países que foram socialistas não foi a proposta colocada por Marx.

13) A mais-valia é a quantidade de valor produzido pelo operário

além do trabalho necessário correspondente ao valor do

trabalho que recebe em forma de salário. É o valor produzido

durante o sobretrabalho. O trabalho, portanto, rende um valor

extra ao dono da empresa, e esse se apropria de um valor

excedente que em princípio é do trabalhador.

14) John Locke representa o pensamento liberal que deu estrutura

ideológica ao desenvolvimento do capita lismo, baseado na

economia de mercado e na pro priedade privada. Para Locke, a

propriedade privada é um direito natural, assim como a

própria vida e liberdade, e deve ser assegurada pelo contrato

social na consolidação do Estado.

Karl Marx, por sua vez, contesta a ideia liberal de que a

propriedade privada seja um direito natural, mas seria,

outrossim, um elemento enraizado na história e que

possibilitou a ascensão da burguesia como classe social

dominante no capitalismo. Portanto, para Marx, a lógica do

acúmulo do capital gera a exclusão social, o que levou esse

pensador a acreditar, como solução dessa contradição, no

advento natural e inevitável do socialismo.

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1. Introdução

Max Weber (1864-1920) nasceu em Erfurt, naAlemanha. Filho de burgueses liberais, Weber teve amplainstrução e larga formação, sendo considerado umerudito. Conhecia com profundidade a ciência do direito,a arte, filosofia, história e sociologia. Foi professor emBerlim, e catedrático na Universidade de Heidelberg. Eraum liberal e parlamentarista na esfera política, tendoparticipado da comissão redatora da Constituição daRepública de Weimar. Qualificou-se em sociologia dareligião com a sua tese A Ética Protestante e o Espírito doCapitalismo. Escreveu também Economia e sociedade,História Geral da Economia, entre outros. Diferente deDurkheim, que trabalhou num país constituído (a França),Weber estudou e pensou a questão da nação alemã empleno processo de formação de um Estado alemão. Talvezpor isso não entendesse a sociedade como algo dado,externo e evidente e, nesse sentido, discordava deDurkheim.

Max Weber desenvolveu a sociologia compreensiva.

2. O Conceito de Ação Social

Já vimos que, para Durkheim, a sociedade era umelemento externo aos indivíduos, dado inclusive o seucaráter coercitivo. Para Max Weber, ao contrário, nãoexiste uma oposição entre sociedade e indivíduo e elesequer desenvolveu uma teoria geral da sociedade. Nãoacreditava em um conceito abstrato de sociedade, comoalgo em si, mas estudava as particularidades sociais e,

nesse sentido, foi um historicista. Para fazer sociologia,ele descartou a noção de fato social, uma vez que nãoaceitava uma objetividade do ser social. A sociedade,pensava Weber, emerge na subjetividade da ação social

dos homens. Uma ação é social quando se leva emconsideração a existência dos outros e, portanto, nemtoda ação humana é necessariamente social. Assim, porexemplo, o choque de dois ciclistas não passa de umfenômeno natural, mas torna-se uma ação social atentativa de se desviar da bicicleta, pois, nesse caso,levou-se em conta o outro. Não necessariamente osoutros precisam estar presentes. Um homem educado,por exemplo, não jogará lixo ou papéis no chão de umasala, mesmo que se encontre só no ambiente, pois sabeque, mais tarde, esse lugar estará ocupado por outros eentão o abster-se de jogar um papel no chão é uma açãosocial. Weber não reconhece um caráter coercitivo da sociedade,como pensava Durkheim, pois as normas sociais seencontram no indivíduo, sob a forma de motivação.Assim, toda ação social carrega um significado que lhe éatribuído pelos indivíduos e o papel do sociólogo éexatamente o de compreender o sentido da ação. Asociologia é “uma ciência que pretende compreenderinterpretativamente a ação social e assim explicá-lacausalmente em seu curso e seus efeitos”. (Max Weber,Economia e Sociedade)

Weber queria compreender o sentido da ação social. (Taleban –Afeganistão)

3. O Método Compreensivo

Para Weber, toda ação social é uma ação comsentido. Cada indivíduo age motivado por algo que podeser uma tradição, um interesse racional ou por umaemoção e é o motivo da ação que revela o seu sentido.

MÓDULO 4 A Sociologia de Max Weber

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Compete ao sociólogo compreender o sentido da açãoque lhe interessa. A ação social se decompõe revelandoo seu nexo, que pode ser de ordem política, religiosa oueconômica. A sociedade, para o sociólogo aqui estudado,se revela apenas aí, nos agentes da ação, que seexpressam por motivos internos e pessoais.

Mas tal tarefa encontra dificuldades, pois o cientistatambém age com suas motivações e participa dasociedade, que lhe pode aparecer como um objetoexterno. O sociólogo, pois, está impregnado do seuobjeto de estudo (já que pertence à sociedade estudada)e, assim, uma imparcialidade objetiva se torna poucoprovável. Por isso, Weber preocupou-se em defender omáximo de neutralidade científica possível, ou seja, ocientista não pode permitir que sua pesquisa sejaperturbada pela defesa das ideias políticas, pessoais oupelas crenças do próprio cientista.

4. O Poder e Tipologia Weberiana (o tipo ideal)

Se para Durkheim, a sociedade era um tecidosolidário e para Marx, um campo de lutas e espaço decontradições, para Weber, a sociedade seria um proces -so de tensões. Além da categoria de ação social, Weberelaborou seu pensamento social com base no conceitode poder. Ele teorizou que o poder perpassa todos osníveis de uma sociedade, pois a sociedade se constitui apartir de uma relação de hierarquia. Não se entende aqui,porém, poder no sentido estritamente econômico oupolítico. Poder também não é sinônimo de autoridade,mesmo porque nem sempre o poder é um exercícioaceito pela sociedade. Quando o poder é aceito comolegítimo, então ele coincide com a autoridade. Para queseja legítima, a autoridade se sustenta em três tipos: aautoridade tradicional, fundamentada no costume; aautoridade carismática, baseada na crença de que oindivíduo que exerce tal poder seja portador de qualidadesexcepcionais e a autoridade legal-racional,fundamentada na atribuição formal.

Percebe-se aqui que Weber usou uma tipologia paraexplicar a autoridade. Para estudar as ações sociais,Weber utilizou a construção, como método científico, detipos ideais. Trata-se de construções teóricas e abstratas,feitas a partir da realidade, mas acentuando ascaracterísticas de distinção. O tipo ideal não é um modelooriginal e perfeito, não representa rigidamente o real, masé o estereótipo que ajuda a classificar formas diferentesem que aparecem os fenômenos estudados. Nesse caso,uma autoridade, como um Papa, pode ter poder portradição, carisma e até “por vias legais”, pois passou porum processo legal antes de ser o escolhido para ainstituição: o papado.

Weber estudou e tipificou o conceito de autoridade.

5. Sociologia da Religião

Segundo Max Weber, é preciso conhecer aconcepção global de existência de um agente paracompreender suas atitudes. Esse é o método weberianopara uma sociologia da religião. Para entender ocomportamento de um homem, faz-se necessárioconhecer seus dogmas, sua visão de mundo, incluindosuas crenças e interpretações da existência. Recordemoso pensamento marxista. Segundo o materialismohistórico, as relações entre os homens, as consciências,assim como toda produção cultural, seriam determinadaspelas relações de produção. É o que se costuma chamarde determinismo econômico. Max Weber, ao contrário,tentou mostrar que a concepção religiosa é umdeterminante da conduta econômica e que podepromover transformações na economia em dadassociedades.

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6. Capitalismo para Weber

Para Weber, assim como não se pode falar em umasociedade, como algo abstrato, pois o que existe sãosociedades, também não há um único capitalismo. Todasociedade capitalista apresenta singularidades, e, então,há vários capitalismos. Já vimos que Weber era umhistoricista, e, portanto ele diria que o capitalismo japo -nês, por exemplo, possui particularidades históricas eestruturais absolutamente próprias. Se alguém usasse otermo a sociedade capitalista, Weber perguntaria: “Deque sociedade e de que capitalismo você está falando?”Por isso, ele aplicou o método da construção do tipo-ideal,estudado na aula anterior, para definir o capi talismo.

Visto, então, sob um modelo ideal, com certascaracterísticas acentuadas, o capitalismo aos olhos deWeber seria marcado pela organização empresarial, peloobjetivo de produzir o máximo de lucro e pela disciplina

racional. Assim, uma empresa capitalista atinge seusobjetivos (de acumular lucro) por meio da organização

burocrática. A burocracia, por sua vez, é definida comoa organização de muitas pessoas que trabalham emcooperação, de forma anônima, impessoal, ou seja, depessoas que exercem profissões separadas ou afastadasde suas famílias e de suas individualidades. Para Weber,a racionalização burocrática é a grande característica docapitalismo.

Ilustração: Renato Alarcão.

7. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo

Uma obra muito importante de Max Weber é A ÉticaProtestante e o Espírito do Capitalismo, em que elepropõe a hipótese de que a concepção de existência dosprotestantes gerou motivações que favoreceram odesenvolvimento do capitalismo.

A religião associa-se ao corpo social não pelasinstituições, mas pelos valores que o indivíduo carrega etransforma em motivações da ação social. Segundo essaobra, a ética puritana protestante é motivada pelo trabalho

experimentado como vocação. Ou seja, não se trabalhasimplesmente para se acumular capital, pois essa seriauma motivação insuficiente. Trabalha-se porque o trabalhoé bom, portando um valor em si mesmo. Weber analisa,assim, a vocação, a virtude e a ascese do protestante emostra como tal ethos contribuiu para que ocorresse oacúmulo de capital. A ascese consiste em uma renúnciaaos prazeres mundanos, condenados pela religião; assim,o protestante poupa e se autodisciplina para o trabalho. Aética e a concepção de mundo protestante foramhistoricamente mais adequadas para apoiar odesenvolvimento de um racionalismo econômico do queo catolicismo. Ocorreu, portanto, uma afinidade entreuma determinada visão de mundo sugerida pelocalvinismo e um determinado estilo de ação econômica.

Weber lembra que o protestantismo inaugura certodesencantamento do mundo, uma postura religiosaantimágica e antirritualista, que indiretamente apoia ainvestigação científica. O sociólogo também afirma que omundo em que vive o homem capitalista é marcado pelodesencanto, em que o espaço sagrado que envolvia omundo desapareceu. As coisas estão desencantadas e àdisposição dos homens que produzem, consomem edescartam.

Ao estudar esta obra, é interessante opor, mais umavez, Weber a Marx. Para este último, a estrutura dasrelações de produção tem um papel determinante dacultura; já para Weber existe uma multicausalidade

(muitas causas, que se combinam para produzir deter -minado efeito). A instância religiosa não é unilateralmenteo reflexo da superestrutura econômica, mas podeinclusive ser um dos determinantes daquela. Vê-se, nocaso do calvinismo, uma realidade cultural contribuindopara o sucesso da implantação de um novo modelo deação econômica: o capitalista.

Calvino.

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JOÃO CALVINO

O Calvinismo cristalizou a Reforma. Lutero e Zuíngliotinham modificado radicalmente a antiga religião, mas, paraalém do vigoroso realce dado à Palavra de Deus, as crençasreformadas careciam duma autoridade precisa, dumadireção organizada e duma filosofia lógica. João Calvinodeu-lhes tudo isso e mais ainda. Ele foi um da que les raroscaracteres em que o pensamento e a ação se conjugam eque, se chegam a deixar marca, gravam-na profundamentena História. A influência que ele exer ceu desde a cidade deGenebra, que praticamente governou a partir de 1541 atéa sua morte, em 1564, espalhou-se pela Europa inteira emais tarde pela América.

Calvino nasceu na França, a 10 de julho de 1509, emNoiyon, onde seu pai era notário apostólico e delegadofiscal. O pai era um respeitável membro da classe média,que esperava que o seu segundo filho, João, seguisse acarreira eclesiástica; mas os seus antepassados maisremotos tinham sido barqueiros em Pont-l’Evêque, no rioOise. João Calvino estudou Teologia, e depois Direito, nasUniversidades de Paris, Orleães e Bourges.

É incerto quando e como tenha Calvino abandonadoa fé dos seus maiores. Mais tarde ele escreveu: “Deussujeitou-me o coração à docilidade através duma conver -são repentina”. Sem dúvida que os seus interesses seforam desviando dos clássicos e das leis para o estudodos Pais da Igreja e das Escrituras. As influênciasprimordiais foram provavelmente as do Novo Testamentogrego de Erasmo e dos sermões de Lutero. O Testamen -to grego revelou-lhe até que ponto a doutrina da Igreja setinha afastado da narração evangélica. Os escritos deLutero faziam realçar aquela ideia que germinava agorana sua própria mente e que iria influenciar dali por diantetudo o que ele fez, a de que o homem, carregado deculpas, apresentando-se coberto de pecados perante oDeus perfeitamente bom, somente pode salvar-se pelasua fé absoluta e sem restrições na misericórdia divina.

Calvino passou a escrever a obra que veio a ser o livrotexto da Reforma Protestante, a sua Instituição daReligião Cristã, que continha as ideias fundamentais emque assentava o calvinismo. Ao cabo de 23 anos da suaprimeira publicação – 1536 – os seus seis capítulosoriginais tinham aumentado para oitenta, mas as ideiasnão tinham sofrido modificações sensíveis. Talvez quenenhum livro publicado no século XVI tenha produzidoefeitos de tão largo alcance.

Quais eram os fundamentos da sua crença? Tal comoLutero e Zuínglio, a Bíblia, a inspirada Palavra de Deus,constitui a base final de todas as suas ideias. “Tal como

sucede com os velhos, e os que sofrem de oftalmias, etodos os que têm má visão, que, se lhes pusermos diantenem que seja o mais belo livro, embora eles reconheçamque ali está escrita alguma coisa, mal conseguem juntarduas palavras, mas, se forem ajuda dos mediante ainterposição de óculos, começarão a ler indistintamente,assim também a Escritura, reunindo todo o conhecimentode Deus na nossa mente, doutro modo confusa, dispersaas trevas e mostra-nos clara mente o verdadeiro Deus.”Embora Calvino admitisse que a Escritura era totalmenteisenta de erro humano, salientou que “as Escrituras sãoa escola do Espírito Santo, onde nada é omitido que sejanecessário e útil conhecer, e nada é ensinado, excetoaquilo que seja vantajoso saber”; e sustentou que oAntigo Testamento era tão valioso quanto o Novo.“Ninguém pode receber sequer a mínima parcela de retae sã doutrina se não passar a ser um discípulo dasEscrituras e não as interpretar guiado pelo Espírito Santo.”

É óbvio que a Igreja e o Estado devem ambos derivara sua autoridade da Escritura. Calvino distinguia, comooutros fizeram, entre a Igreja visível e a invisível. Asegunda era formada por todos os que estavam predesti -nados à salvação. Afirmamos, escreveu ele na Instituição,que por decreto eterno e imutável Deus já determinou deuma vez por todas quem Ele admitirá à salvação e quemEle admitirá à destruição. Confirmamos que esse decreto,pelo que respeita aos eleitos, fundamenta-se no Seudecreto desinteressado, totalmen te independente dosméritos humanos; mas para aqueles que ele destina àcondenação as portas da vida ficam fechadas por umjulgamento justo e perfeito. A teoria da predestinação deCalvino nasceu da sua crença na presciência absoluta deDeus, e da firme convicção, robustecida pelas suas leiturasde São Paulo e Santo Agostinho, de que o homem éincapaz de se salvar pelas suas próprias ações; somentepode ser salvo pela imerecida graça de Deus, livrementeconcedida. Mas, se a Igreja é o grêmio dos predes tinadosou eleitos, ela deve necessitar de alguma expressãovisível, ainda mesmo que imperfeita.

A autoridade da Igreja é puramente religiosa, assimcomo a autoridade do Estado é puramente política.Calvino atribuiu uma autoridade de origem divina echamou aos magistrados os ministros da justiça divina.Enquanto a Igreja lida com a vida da alma ou do homeminterior, os magistrados ocupam-se em estabelecer ajustiça, civil e exterior, da moralidade. Idealmente, oEstado não deve interferir na Igreja, embora deva fazertudo aquilo que puder para ajudá-la, mas Igreja tambémnão deve interferir no Estado.

Os Regulamentos Eclesiásticos de Calvino estabe -

João Calvino. Max contra Marx

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leciam como devia ser governada e Igreja. Esta tinha duasinstituições dirigentes, o Venerável Ministério e oConsistório. O primeiro, formado pelos pastores,examinava os que se sentiam vocacionados para aordenação, apresentando depois ao Conselho para aaprovação aqueles a quem tinha escolhido; escutava ossermões sobre a doutrina, e agia como censor moral. OConsistório, um conselho de seis ministros e dozeanciãos escolhidos entre os membros dos três conselhosgovernativos, era de todos os instrumentos de governode Calvino o de maior significado. Em teoria era umtribunal da moral, mas a moralidade em Genebra não tinhalimites; o Consistório tomava conhecimento de todas asformas de atividade, lidando com os vícios mais graves ecom as infrações mais banais. A sua disciplina era severae mantida por meio da excomunhão; as sentenças queproferia eram muitas vezes rigorosas, mas não o eraminvariavelmente. O adultério, o jogo, as pragas, a bebida,o dormir na altura dos sermões e todas as práticassuscetíveis de poderem ser consideradas católicas, tudoisso caía sob a sua alçada.

Genebra tornou-se a central do mundo protestante.Refugiados protestantes de toda a Europa encontraramrefrigério e ensino adentro das suas fronteiras, dandorapidamente uma feição acentuadamente cosmopolita àcidade. O ensino calvinista floresceu na sua universidadee na Academia fundada por Calvino em 1559. A literaturaimpressa em Genebra inundou a Europa, quer através domercado livre, quer vendida por colporteurs clandestinos;os livros e folhetos eram de formato especial para sepoderem transportar sem serem descobertos.

Quando em 1564 Calvino morreu, pôde no mínimorepousar com o seguro conhecimento de ter criado umdos mais importantes movimentos religiosos e políticosda história mundial.

Texto Retirado da Segunda Edição do Livro Renascimento e

Reforma, de V.H.H. Green. Publicações Dom Quixote, Portugal.

Max contra Marx

Clássico de Max Weber que defende a religião comopremissa para o surgimento do capitalismo, “A ÉticaProtestante e o Espírito do Capitalismo”, que faz cemanos, se sustenta hoje como análise da relação entrecultura e modernidade.

(Folha de São Paulo – Caderno Mais, 27.03.2005)

Neste ano se comemora o centésimo aniversário domais famoso tratado sociológico já escrito, “A ÉticaProtestante e o Espírito do Capitalismo”, de Max Weber[1864-1920]. Foi um livro que deixou Karl Marx de ponta-cabeça.

A religião, segundo Weber, não era uma ideologiaproduzida por interesses econômicos (o ópio das massas,como havia colocado Marx); era sobretudo o que haviapossibilitado o mundo capitalista moderno.

Na década atual, quando as culturas parecem estar

se chocando e a religião frequentemente é respon sa -bilizada pelos fracassos da modernização e da demo craciano mundo muçulmano, o livro e as ideias de Webermerecem um novo olhar.

O argumento de Weber se concentrou no protes -tantismo ascético. Ele disse que a doutrina calvinista dapredestinação levava os crentes a tentar demonstrar suasituação de eleitos, o que faziam dedicando-se aocomércio e ao acúmulo material.

Dessa maneira, o protestantismo criou uma ética dotrabalho – isto é, a valorização do próprio trabalho, maisque seus resultados – e demoliu a antiga doutrinaaristotélico-católica de que uma pessoa só deveria obterriqueza suficiente para viver bem. Além disso, oprotestantismo advertiu seus fiéis para comportarem-semoralmente fora dos limites da família, o que foi vital paracriar um sistema de confiança social.

A tese de Max Weber causou polêmica desde omomento de sua publicação. Vários estudiosos afirma ramque estava empiricamente errada sobre o desempenhoeconômico superior dos protestantes em relação ao doscatólicos; que as sociedades católicas tinham começadoa desenvolver o capitalismo moderno muito antes daReforma; e que foi a Contrarreforma, mais que ocatolicismo, que provocou o retrocesso econô mico. Oeconomista alemão Werner Sombart afirmou terdescoberto o equivalente funcional da ética protestanteno judaísmo; Robert Bellah o descobriu no budismotokugawa do Japão.

É seguro dizer que a maioria dos economistascontemporâneos não leva a sério a hipótese de Weber ouqualquer outra teoria culturalista do crescimentoeconômico. Muitos afirmam que a cultura é uma cate goriaresidual em que os cientistas sociais preguiçosos serefugiam quando não conseguem desenvolver uma teoriamais rigorosa.

Realmente, há motivos para ser cauteloso quanto ausar a cultura para explicar evoluções econômicas epolíticas. Os próprios textos de Weber sobre as outrasgrandes religiões do mundo e seu impacto na moderni -zação servem como advertência.

Seu livro “A Religião da China – Confucionismo eTaoísmo” (1916) dá uma visão muito pálida dasperspectivas de desenvolvimento econômico na Chinaconfucionista, cuja cultura, ele comenta, constitui umobstáculo apenas ligeiramente menor do que a japonesapara o surgimento do capitalismo moderno.

O que manteve a China e o Japão atrasados, hojecompreendemos, não foi a cultura, mas as instituiçõessufocantes, uma política ruim e diretrizes erradas. Quandoisso foi solucionado, ambas as sociedades avançaram. Acultura é apenas um de muitos fatores que determinamo sucesso de uma sociedade.

Isso é algo que devemos lembrar quando escutamosalegações de que a religião do Islã explica o terrorismo, afalta de democracia ou outros fenômenos no OrienteMédio.

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1. “... a ação social significa uma ação que, quanto ao sentido visadopelo agente ou os agentes, se refere ao comportamento de outros,orientando-se por este em seu curso”. A frase acima deve ser atribuídaa:a) Karl Marx b) Max Weber c) Émile Durkheim d) Augusto Comte e) Friedrich Engels

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

2. São colocações corretas sobre a sociologia de Max Weber.I. O cientista social é exterior ao seu objeto de estudo, no caso, o fato

social.II. O objeto da sociologia, na verdade, é o acontecimento e o cientista

deve desvendar as suas causas, daí a necessidade de se aplicar ométodo compreensivo.

III. A sociedade de classes está condenada à extinção e uma sociali -zação dos meios de produção a substituirá.

IV. O tipo ideal é uma construção sociológica testada, depois aplicadaa diferentes situações em que dado fenômeno pode ter ocorrido.

a) Apenas II e IV. b) Apenas I e III. c) Apenas II e III. d) Apenas I e IV. e) Apenas III e IV.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

3. (UEL) – Leia o texto a seguir, escrito por Max Weber (1864-1920),que reflete sobre a relação entre ciência social e verdade:“[...] nos é também impossível abraçar inteiramente a sequência detodos os eventos físicos e mentais no espaço e no tempo, assim comoesgotar integralmente o mínimo elemento do real. De um lado, nossoconhecimento não é uma reprodução do real, porque ele pode somentetranspô-lo, reconstruí-lo com a ajuda de conceitos, de outra parte,nenhum conceito e nem também a totalidade dos conceitos sãoperfeitamente adequados ao objeto ou ao mundo que eles se esforçamem explicar e compreender. Entre conceito e realidade existe um hiatointransponível. Disso resulta que todo conhecimento, inclusive a ciência,implica uma seleção, seguindo a orientação de nossa curiosidade e asignificação que damos a isto que tentamos apreender”.

(Traduzido de: FREUND, Julien. Max Weber. Paris: PUF, 1969. p. 33.)

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmarque, para Weber,a) a ciência social, por tratar de um objeto cujas causas são infinitas, ao

invés de buscar compreendê-lo, deve limitar-se a descrever suaaparência.

b) a ciência social revela que a infinitude das variáveis envolvidas nageração dos fatos sociais permite a elaboração teórica totalizante aseu respeito.

c) o conhecimento nas ciências sociais pode estabelecer parcialmenteas conexões internas de um objeto, portanto, é limitado para abordá-lo em sua plenitude.

d) alguns fenômenos sociais podem ser analisados cientificamente nasua totalidade porque são menos complexos do que outros nasconexões internas de suas causas.

e) o obstáculo para a ciência social estabelecer um conhecimentototalizante do objeto é o fato de desconsiderar contribuições de áreascomo a biologia e a psicologia, que tratam dos eventos físicos ementais.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

4. (UFMA) – Assinale a opção que contenha as categorias básicas dasociologia de Max Weber.a) função social, tipo ideal, mais-valiab) expropriação, compreensão, fato patológicoc) ação social, materialismo, idealismod) vontade de poder, julgamento de valor, solidariedade mecânicae) ação social , relação social, tipo ideal

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

5. Para Weber, o sociólogo está impregnado do seu objeto de estudo(pois pertence à sociedade estudada) e, assim, uma imparcialidadeobjetiva se torna pouco provável. Por isso, Webera) preocupou-se em defender o máximo de neutralidade científica

possível.b) mostrou a impossibilidade de buscar qualquer neutralidade política

durante o exercício científico.c) defendeu o comprometimento político do sociólogo.d) elaborou conscientemente uma sociologia ideológica.e) defendeu uma posição pró-capitalismo e politicamente conser -

vadora.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

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Glossário

Ascese: Prática ou postura religiosa que nega os prazeresdo mundo para garantir conforto e bem-aventurançaespiritual. Segue o sentido de ascender, como subir.

Ethos: (grego) Conjunto de hábitos, crenças e costumesfundamentais. Atmosfera moral de uma sociedade ouclasse. De ethos origina-se a palavra ética.

Historicista: é o que busca o processo dedesenvolvimento histórico e entende como processo apartir de uma origem o fenômeno cultural. Não aceita,portanto, explicações naturalizantes.

Subjetividade: caráter daquilo que está dentro dohomem, em oposição ao objetivamente dado.

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6. (UNESP-2013) – “Religião sempre foi um negócio lucrativo.”Assim começa uma reportagem da revista americana Forbes sobre osmilionários bispos fundadores das maiores igrejas evangélicas do Brasil.A revista fez um ranking com os líderes mais ricos. No topo da lista,está o bispo Edir Macedo, que tem uma fortuna estimada em R$ 2 bi -lhões, segundo a revista. Em seguida, vem Valdemiro Santiago, comR$ 400 milhões; Silas Malafaia, com R$ 300 milhões; R. R. Soares, comR$ 250 milhões, e Estevan Hernandes Filho e a bispa Sônia, com R$ 120 milhões juntos. A Forbes também destaca o crescimento dosevangélicos no Brasil – de 15,4% para 22,2% da população na últimadécada –, em detrimento dos católicos. Hoje, os católicos romanossomam 64,6% da população, ou 123 milhões de brasileiros. Osevangélicos, por sua vez, já somam 42 milhões, em uma populaçãototal de 191 milhões de pessoas.

(Forbes lista os seis líderes milionários evangélicos no Brasil. uol.com.br,

19.01.2013. Adaptado.)

Os fatos descritos na reportagem são compatíveis filoso ficamente comuma concepçãoa) teológico-protestante, baseada na valorização do sacrifício pessoal

e da prosperidade material.

b) kantiana, que preconiza a possibilidade de se atingir a maioridadeintelectual.

c) cartesiana, que pressupõe a existência de Deus como condiçãoessencial para o conhecimento racional.

d) dialético-materialista, baseada na necessidade de superação dotrabalho alienado.

e) teológico-católica, defensora da caridade e idealizadora de virtudesassociadas à pobreza.

RESOLUÇÃO:

A concepção protestante prega o trabalho como uma virtude

agradável a Deus, e o êxito econômico como resultado e evidência

da presença da graça divina. Max Weber, em sua obra A Ética

Protestante e o Espírito do Capitalismo, por exemplo, indica como

a moral puritana favoreceu o acúmulo de capital nos EUA, em que

o trabalho era experienciado como vocação espiritual. Vê-se, hoje,

no mundo marcado por um paradigma de mercado, a ascensão das

chamadas teologias da prosperidade econômica.

Resposta: A

34 –

1. Identifique as correntes do pensamento sociológico, com base nouso das categorias e assinale a alternativa que expõe corretamente asequência os seus autores, respectivamente.

Texto A

“... a sociedade não é a simples soma de indivíduos, e sim um sistemaformado pela associação, que representa uma realidade específica comseus caracteres próprios... Agregando-se, penetrando-se, fundindo-se,as almas individuais dão nascimento a um ser, psíquico se quisermos,mas que constitui individualidade psíquica de novo gênero”.

Texto B

“Na produção social da sua existência, os homens travam relaçõesdeterminadas, necessárias, independentes de sua vontade; essasrelações de produção correspondem a um determinado grau dedesenvolvimento das suas forças produtivas materiais”.

Texto C

“... a ação social significa uma ação que, quanto ao sentido visado peloagente ou os agentes, se refere ao comportamento de outros,orientando-se por este em seu curso”.

a) A – Max Weber; B – Karl Marx e C – Émile Durkheim.b) A – Karl Marx; B – Max Weber e C – Émile Durkheim.c) A – Émile Durkheim; B – Max Weber e C – Karl Marx.d) A – Émile Durkheim; B – Karl Marx e C – Max Weber.e) A – Karl Marx; B – Émile Durkheim e C – Max Weber.2. Para Weber, toda ação social é uma ação com sentido. Assim, leia ejulgue as assertivas abaixo. I. Cada indivíduo age motivado por algo que pode ser uma tradição,

um interesse racional ou por uma emoção e é o motivo da ação querevela o seu sentido. Compete ao sociólogo compreender o sentidoda ação que lhe interessa.

II. A ação social se decompõe revelando o seu nexo que pode ser daordem política, religiosa ou econômica. A sociedade, para osociólogo aqui estudado, se revela apenas aí: nos agentes da açãoque se expressam por motivos internos e pessoais.

III. Mas tal tarefa encontra dificuldades, pois o cientista também agecom suas motivações e participa da sociedade que lhe pode apare -cer como um objeto externo. O sociólogo, pois, está impregnadodo seu objeto de estudo (já que pertence à sociedade estudada) e,assim, uma imparcialidade objetiva se torna pouco provável.

IV. Weber não acreditava em neutralidade científica, pois o cientistadeve permitir que sua pesquisa seja portadora e orientada por ideiaspolíticas, pessoais ou pelas crenças do próprio cientista.

São verdadeiras apenas:a) I e II b) II, III e IV c) I, II e III d) I, III e IV e) I e IV

3. “A sociologia é uma ciência que pretende compreender interpre -tativamente a ação social e assim explicá-la causalmente em seuscursos e efeitos”. (Max Weber)O autor pretendeu afirmar que:a) o sociólogo quer produzir um sistema explicativo que se adeque a

qualquer realidade social estudada. b) o sociólogo deve ser um agente habilitado a trazer soluções para os

problemas sociais.c) o sociólogo deve produzir um conhecimento crítico, capaz de

enxergar as contradições da sociedade.d) o sociólogo quer compreender a causa e a motivação da ação social.e) a sociologia expõe um conhecimento politicamente comprometido.

4. Para Weber, assim como não se pode falar em uma sociedade comoalgo abstrato, pois o que existe são sociedades, também não há umúnico capitalismo. Toda sociedade capitalista apresenta singularidades,e, então, há vários capitalismos. Dessa forma, é possível afirmar queWeber:a) foi um historicista.b) foi um pensador que valorizou as sínteses.c) não compreendeu bem o fenômeno do capitalismo, como será

colocado pelos teóricos marxistas.d) valorizou formas outras de sociedade, como as socialistas.e) defendeu a universalidade das instituições.

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5. Os teóricos da sociologia trazem em suas análises contribuiçõesdiferentes e pontos de divergências. Sobre Weber e Marx, leia e julgueas proposições abaixo. I. Ao estudar a obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo,

é interessante opor, mais uma vez, Weber a Marx. Para este último,a estrutura das relações de produção tem um papel determinante dacultura; já para Weber existe uma multicausalidade (muitas causas,que se combinam para produzir determinado efeito).

II. A instância religiosa não é unilateralmente o reflexo dasuperestrutura econômica, como queria Weber, mas, diria Marx,pode inclusive ser um dos determinantes daquela.

III. Vê-se, no caso do calvinismo, uma realidade cultural contribuindopara o sucesso da implantação de um novo modelo de açãoeconômica: o capitalista.

São verdadeiras:a) Todas. b) I e II, apenas. c) II e III, apenas.d) I e III, apenas. e) Apenas I.

6. Uma obra muito importante de Max Weber é A Ética Protestante eo Espírito do Capitalismo, em que ele propõe a hipótese de que aconcepção de existência dos protestantes gerou motivações quefavoreceram o desenvolvimento do capitalismo. Nesse sentido, leia asalternativas abaixo e assinale a única falsa. a) A religião associa-se ao corpo social não pelas instituições, mas pelos

valores que o indivíduo carrega e transforma em motivações da açãosocial.

b) Segundo essa obra, a ética puritana protestante é motivada pelotrabalho experimentado como vocação. Ou seja, não se trabalhasimplesmente para acumular capital, pois essa seria uma motivaçãoinsuficiente.

c) Trabalha-se, segundo o livro, porque o trabalho é bom, portando umvalor em si mesmo.

d) Weber analisa, assim, a vocação, a virtude e a ascese do protestantee mostra como tal ethos contribuiu para que ocorresse o acúmulo decapital. A ascese consiste em uma renúncia aos prazeres mundanos,condenados pela religião; assim, o protestante poupa e se auto -disciplina para o trabalho.

e) A ética e a concepção de mundo católico foram historicamente maisadequadas para apoiar o desenvolvimento de um racionalismoeconômico do que o protestantismo. Ocorreu, portanto, umaafinidade entre uma determinada visão de mundo sugerida pelaantiga teologia e um determinado estilo de ação econômica.

7. Quais são as três formas de autoridade tipificadas por Max Weber?Explique.

8. Que relação existe entre a ética protestante e o capitalismo?

9. Que oposição é possível fazer entre Marx e Weber com a publicaçãode A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo?

10.Para Durkheim, a sociedade é uma realidade objetiva e externa.Weber concorda com esse conceito? Comente.

11.Como Weber define o capitalismo?

– 35

1) D 2) C 3) D 4) A 5) D 6) E

7) A autoridade tradicional, fundamentada no costume; a

autoridade carismática, baseada na crença de que o indivíduo

que exerce tal poder é portador de qualidades excepcionais e

a autoridade legal-racional, fundamentada na atribuição

formal.

8) Weber analisa como a vocação, a virtude e a ascese do

protestante contribuíram para que ocorresse o acúmulo de

capital. A ascese consiste em uma renúncia aos prazeres

mundanos, condenados pela religião; assim, o protestante

poupa e se autodisciplina para o trabalho. A ética e a

concepção de mundo protestante foram historicamente mais

adequadas para apoiar o desenvolvimento de um racionalismo

econômico do que o catolicismo.

9) Segundo o pensamento marxista, as relações entre os

homens, as consciências, assim como toda produção cultural,

seriam determinadas pelas relações de produção. Max Weber,

ao contrário, tentou mostrar que a concepção religiosa é um

determinante da conduta econômica e que pode promover

transformações econômicas. Para Marx, a estrutura das

relações de produção tem um papel determinante da cultura;

já para Weber existe uma multicausalidade, vários fatores que

se combinam para produzir determinado efeito.

10) Não. Para Max Weber não existe uma oposição entre

sociedade e indivíduo e ele não chegou a desenvolver uma

teoria geral da sociedade. Não acreditava em um conceito

abstrato de socie dade, como algo em si, mas estudava as

particularidades sociais. A sociedade emergia na subjetividade

da ação social dos homens.

11) Para Weber, não há um único capitalismo. Toda sociedade

capitalista apresenta singularidades, havendo vários capitalis -

mos. Cada sociedade capitalista possui particularidades

históricas e estruturais absolutamente próprias. O capitalismo

tipificado seria marcado pela organização empresarial, pelo

objetivo de produzir o máximo de lucro e pela disciplina

racional. Assim, uma empresa capitalista atinge seus objetivos

por meio da organização burocrática. Para ele, a racionalização

burocrática é a principal característica do capitalismo.

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1. Introdução

No senso comum, diz-se que um homem é culto seapresentar uma formação intelectual refinada, com bomgrau de instrução ou se tiver um domínio sobre duas oumais línguas. Assim, ao identificarmos um tipo culto depessoa, seria fácil reconhecer outro tipo, oposto àquele,classificado como inculto. Costuma-se, nesse caso, usaro conceito de cultura como erudição, mas não é esse oconceito antropológico de cultura.

Entendemos aqui por cultura o universo da constru -ção humana: conjunto de hábitos, normas, visão demundo, linguagens, ritos, artefatos, símbolos, produçãoartística e manifestação religiosa. A cultura de umdeterminado povo indígena, portanto, não é inferior ousuperior à nossa, mas diferente.

Arte do povo maori da Nova Zelândia. O homem é produtor de cultura.

2. Produtor de símbolos

O homem, diferentemente dos outros animais,relaciona-se com o mundo e com a natureza através desímbolos e signos. A capacidade de simbolizar sedesenvolveu diante da necessidade ou vontadeespecificamente humana de interpretar o mundo,atribuindo-lhe sentidos que aparentemente não possui.

Para viver em sociedade – lembrando que a vida socialé essencial e inevitável – o homem também faz uso designos e símbolos. A própria língua que utiliza para secomunicar e que é ensinada encontra-se estruturada todapor signos. A palavra, portanto, não passa de um signo dacultura, pois ela significa algo, e uma dada palavra e seussentidos podem revelar muito dos aspec tos da sociedade(e da cultura) que a criou e que a utiliza.

Cultura seria, portanto, o complexo conjunto desímbolos construído por um povo de determinado tempoe espaço. Por conta da enorme possibilidade desimbolizar, as culturas são múltiplas e diferentes.

Caligrafia chinesa. A escrita é um código cultural de comunicação humana.

3. A cultura condiciona a visão de homem.

Cultura, um conceito antropológicoPor Roque de Barros Laraia.

Ruth Benedict escreveu em seu livro O Crisântemo ea Espada que a cultura é como uma lente através da qualo homem vê o mundo. Homens de culturas diferentesusam lentes diversas e, portanto, têm visõesdesencontradas das coisas (...)

A nossa herança cultural, desenvolvida através deinúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagirdepreciativamente em relação ao comportamentodaqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioriada comunidade. Por isso discriminamos ocomportamento desviante (...)

O modo de ver o mundo, as apreciações de ordemmoral e valorativa, os diferentes comportamentos sociaise mesmo as posturas corporais são assim produtos deuma herança cultural, ou seja, o resultado da operaçãode uma determinada cultura.

Fracas ao que foi dito acima, podemos entender ofato de que indivíduos de culturas diferentes podem serfacilmente identificados por uma série de características,tais como o modo de agir, vestir, caminhar, comer, semmencionar evidências das diferenças linguísticas, o fatode mais imediata observação empírica.

Mesmo o exercício de atividades consideradas comoparte da fisiologia humana pode refletir diferenças decultura. Tomemos, por exemplo, o riso. Rir é umapropriedade do homem e dos primatas superiores. O risose expressa, primeiramente, através da contração dedeterminados músculos da face e da emissão de umdeterminado som vocal. O riso exprime quase sempreum estado de alegria. Todos os homens riem, mas ofazem de maneira diferente por motivos diversos (...)

MÓDULO 5 Conceito de Cultura

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Resumindo, todos os homens são dotados domesmo equipamento anatômico, mas a utilização domesmo, ao invés de ser determinada geneticamente,depende de um aprendizado e este consiste na cópia depadrões que fazem parte da herança cultural do grupo (...)

As pessoas se chocam, apenas, porque as outrascomem coisas diferentes, mas também pela maneira queagem à mesa (...)

Em algumas sociedades o ato de comer pode serpúblico, em outras, uma atividade privada. Alguns rituaisde boas maneiras exigem um forte arroto, após arefeição, como sinal de agrado da mesma. Tal fato, entrenós, seria considerado, no mínimo, como indicador de máeducação. Entre os latinos, o ato de comer é um

verdadeiro rito social, segundo o qual, em horasdeterminadas, a família deve toda sentar-se à mesa (...)

O fato de que o homem vê o mundo através de suacultura tem como consequência a propensão emconsiderar o seu modo de vida como o mais correto emais natural. Tal tendência, denominada de etnocen -

trismo, é responsável em seus casos extremos pelaocorrência de numerosos conflitos sociais.

Glossário:

Erudição: instrução vasta e variada adquiridaprincipalmente pelo hábito da leitura.Signo: sinal, marca, uma coisa que evoca outra.

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Bei YiMoisés Braga Ribeiro

Um dos aspectos mais importantes da mente humana é a linguagem que emprega para entender o mundo,comumente chamada de língua quando associada a uma comunidade linguística particular. A linguagem humana éfundamentalmente diferente da linguagem animal, pois envolve a representação simbólica de conceitos e diversostipos de relações entre eles, possibilitando um número infinito de enunciados a partir de um número finito de símbolos.

A linguagem e o pensamento se misturam à medida que a capacidade de comunicação simbólica se desenvolve.Uma criança começa a usar a linguagem para se comunicar com cerca de dois anos de idade. Seu conhecimento sobreo mundo, antes baseado em experiências sensoriais e motoras, torna-se lentamente mais e mais simbólico.

A partir de então a criança não precisa mais aprender tudo através de suas próprias experiências – ela pode aprenderatravés da linguagem.

1. O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa,os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporaissão produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operaçãode uma determinada cultura. (...) podemos entender o fato de que indivíduos de culturas diferentespodem ser facilmente identificados por uma série de características, taiscomo o modo de agir, vestir, caminhar, comer, sem mencionarevidências das diferenças linguísticas, o fato de mais imediataobservação empírica.

Mesmo o exercício de atividades consideradas como parte da fisio -logia humana pode refletir diferenças de cultura. Tomemos, por exemplo,o riso. Rir é uma propriedade do homem e dos primatas superiores. Oriso se expressa, primeiramente, através da contração de determinadosmúsculos da face e da emissão de um determinado som vocal. O risoexprime quase sempre um estado de alegria. Todos os homens riem,mas o fazem de maneira diferente por motivos diversos (...)

Resumindo, todos os homens são dotados do mesmo equipamentoanatômico, mas a utilização deste, ao invés de ser determinadageneticamente, depende de um aprendizado e este consiste na cópia depadrões que fazem parte da herança cultural do grupo (...). (Laraia)

Sobre o texto de Roque Laraia, podemos afirmar que o seu tema central éa) o riso nas diversas culturas.b) o choque cultural.c) a diversidade cultural e o olhar humano.d) as diferentes maneiras de se comportar à mesa.e) a tolerância cultural.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

A Linguagem Humana

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2. “O alemão Franz Boaz foi o primeiro a ressaltar a importância doestudo das diversas culturas em seu próprio contexto, a partir das suaspeculiaridades. Boaz ressaltava não haver cultura superior ou inferior.Para ele, deveriam ser considerados os fatores históricos, naturais elinguísticos que influenciavam o desenvolvimento de cada cultura emparticular.”

(LUCCI, Elian A. e outros. Território e sociedade no mundoglobalizado: geografia geral e do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2010.

Adaptado) A abordagem apresentada no texto foi desenvolvida a partir do início doséculo XX e originou uma nova perspectiva das ciências sociais emrelação ao estudo das culturas.Essa perspectiva é denominadaa) relativismo. b) materialismo.c) evolucionismo. d) etnocentrismo.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

3. (UFU) – O panorama cultural do Ocidente nas últimas décadas temsido marcado, entre outros aspectos, pela presença mais acentuada demúltiplos grupos identitários, o que se relaciona com as críticas aoprojeto da modernidade.

Sobre esse fenômeno, é correto afirmar:a) o surgimento de uma diversidade cultural mais ampla é um fenô -

meno social que reforça a validade das explicações científicas emtorno do determinismo biológico e do determinismo geográfico, osquais embasam as interpretações sobre as variações de costumesentre diferentes grupos.

b) a modernidade ocidental se caracteriza por um projeto político,filosófico e científico de unificação das identidades sociais, prin cí -pios estes que são reforçados a partir da segunda metade do séculoXX em decorrência das mudanças sociais em direção ao multicultu -ralismo.

c) a valorização da diversidade cultural é uma mudança recente ocorridano Ocidente, que se destaca pela ênfase na homogeneidade cultural,pela defesa dos direitos individuais e pelo combate às políticas deidentidade, por entendê-las como forma de naturali zação doscostumes.

d) os princípios da diversidade cultural e da valorização das dife renças,com base na multiplicidade de identidades constituídas pormarcadores sociais − como, por exemplo, raça/etnia, gênero, sexua -lidade, faixa etária, e outros − estão presentes nacontemporaneidade.

e) a defesa da diversidade cultural implica modificação de compor -tamentos, aumento dos preconceitos e da violência cultural contra asculturas hegemônicas.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

4. Sobre o conceito de cultura, julgue as proposições abaixo.I – No senso comum, diz-se que um homem é culto se apresentar

uma formação intelectual refinada, com bom grau de instrução.Esse é o conceito antropológico de cultura.

II – Costuma-se usar o conceito de cultura como erudição, que sig ni -fica o alto grau de instrução e domínio da cultura em que se vive.

III – O conceito antropológico entende cultura como o universo daconstrução humana: conjunto de hábitos, normas, visão de mundo,linguagens, ritos, artefatos, símbolos, produção artística emanifestação religiosa.

IV – A cultura de um determinado povo indígena é inferior ou superiorà nossa, por ser diferente.

São corretas apenas: a) I e II b) II e III c) II e IV d) I e III e) III e IV

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

5. O complexo conjunto de símbolos construído por um povo emdeterminado tempo e espaço, formando códigos que tecem oscomportamentos humanos. Aqui se definiu:a) sociedade humana. b) constituição.c) código Civil. d) cultura.e) natureza e essência humana.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

6. “Não vemos o mundo como ele é, mas como nós somos”. (Anais Nin)Com essa frase, é possível afirmar:a) Jamais produzimos conhecimento que se aproxime da realidade.b) A cultura em que nascemos influencia a nossa visão de mundo.c) O mundo tem as cores de nossa cultura.d) O mundo em si não existe e resulta apenas de nossas percepções

culturais.e) A cultura e o mundo são tecidos pelo nosso olhar e jamais isso

corresponde à realidade.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

7. Facilmente identificamos o portador de uma cultura diferente. Umelemento cultural de imediata percepção poderia sera) noção de autoridade e lógica.b) papéis dos sexos e experiências de afeto.c) produção estética e vestimentas.d) concepção mítica e valores morais.e) relações políticas e valores éticos.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

38 –

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8. (ENEM-2013) – No final do século XIX, as Grandes Sociedadescarnavalescas alcançaram ampla popularidade entre os foliões cariocas.Tais sociedades cultivavam um pretensioso objetivo em relação àcomemoração carnavalesca em si mesma: com seus desfiles de carrosenfeitados pelas principais ruas da cidade, pretendiam abolir o entrudo(brincadeira que consistia em jogar água nos foliões) e outras práticasdifundidas entre a população desde os tempos coloniais, substituindo-os por formas de diversão que consideravam mais civilizadas, inspiradasnos carnavais de Veneza. Contudo, ninguém parecia disposto a abrirmão de suas diversões para assistir ao carnaval das sociedades. Oentrudo, na visão dos seus animados praticantes, poderia coexistirperfeitamente com os desfiles.

PEREIRA, C.S. Os senhores da alegria: a presença das mulheres nas Grandes

Sociedades carnavalescas cariocas em fins do século XIX. In: CUNHA, M.C.P.

Carnavais e outras festas: ensaios de história social da cultura. Campinas:

Unicamp; Cecult, 2002 (adaptado).

Manifestações culturais como o carnaval também têm sua própriahistória, sendo constantemente reinventadas ao longo do tempo. Aatuação das Grandes Sociedades, descrita no texto, mostra que ocarnaval representava um momento em que asa) distinções sociais eram deixadas de lado em nome da celebração.b) aspirações cosmopolitas da elite impediam a realização da festa fora

dos clubes.c) liberdades individuais eram extintas pelas regras das autoridades

públicas.d) tradições populares se transformavam em matéria de disputas

sociais.e) perseguições policiais tinham caráter xenófobo por repudiarem

tradições estrangeiras.

RESOLUÇÃO:

No texto, fala-se justamente de uma tradição carna va lesca popular

do século XIX que se tentou abolir pelas Grandes Sociedades

inspiradas no modelo veneziano de se festejar o carnaval.

Resposta: D

9. (UNESP-2013) – Segundo Franz Boas, as pessoas diferem porquesuas culturas diferem. De fato, é assim que deveríamos nos referir aelas: a cultura esquimó ou a cultura judaica, e não a raça esquimó ou araça judaica. Apesar de toda a ênfase que deu à cultura, Boas não eraum relativista que acreditava que todas as culturas eram equivalentes,nem um empirista que acreditava na tábula rasa. Ele con siderava acivilização europeia superior às culturas tribais, insistindo apenas emque todos os povos eram capazes de atingi-la. Não negava que deviaexistir uma natureza humana universal ou que poderia haver diferençasentre as pessoas de um mesmo grupo étnico. O que importava paraele era a ideia de que todos os grupos étnicos são dotados das mesmascapacidades mentais básicas.

(Steven Pinker. Tábula rasa: a negação contemporânea da natureza humana,

2004. Adaptado.)

Considerando o texto, é correto afirmar que, de acordo com oantropólogo Franz Boas,a) os critérios para comparação entre as culturas são intei ramente

relativos.b) a vida em estado de natureza é superior à vida civilizada.c) as diferenças culturais podem ser avaliadas por critérios

universalistas.d) as diferenças entre as culturas são biologicamente condicionadas.e) o progresso cultural é uma ilusão etnocêntrica europeia.

RESOLUÇÃO:

Franz Boas foi um antropólogo culturalista, mas herdou influências

dos evolucionistas, pois, como destaca o texto no enunciado, ele

considerava a civilização europeia superior às culturas tribais. Além

disso, o texto nos lembra que Boas não era relativista, o que o

coloca entre pensadores universalistas; em outras palavras, as

culturas são avaliadas, para esse antropólogo, a partir de

referências universais.

Resposta: C

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1. Comente a seguinte colocação.

“A coerência de um hábito cultural somente pode ser analisada a

partir do sistema a que pertence”. (Roque B. de Laraia)

2. Julgue as seguintes proposições:

I. A participação do indivíduo em sua cultura é ilimitada, pois participa

de todos os aspectos e elementos dela.II. Nenhum sistema de socialização é perfeito e existem indivíduos

mais ou menos socializados.III. Cada cultura elaborou seus próprios elementos e explicações do

mundo, sem qualquer influência de outras culturas, o que tornaimpossível a compreensão de uma cultura que não a própria.

São coerentes:a) I e II b) II e III c) I e III d) Todas e) apenas II

3. Sabemos que a cultura condiciona a visão que temos do mundo.Sobre isso, julgue as colocações abaixo.I. A cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo.

Homens de culturas diferentes usam as mesmas lentes, assim, ahumanidade constitui uma unidade cultural.

II. Nossa herança cultural sempre nos condicionou a reagir deprecia -tivamente em relação ao comportamento daqueles que agem forados padrões aceitos pela maioria.

III. O modo de andar, de sentar, de rir ou comer pode refletir o universoda cultura de um indivíduo.

IV. A história da humanidade comprovou que determinada culturaresulta do nível de evolução em que se encontra o grupo social quea abraça.

São coerentes:a) I e II b) I e III c) II e III d) III e IV e) I e IV

4. Julgue as seguintes proposições:I. A participação do indivíduo em sua cultura é ilimitada, pois participa

de todos os aspectos e elementos dela.II. Nenhum sistema de socialização é perfeito e existem indivíduos

mais ou menos socializados.III. Cada cultura elaborou seus próprios elementos e explicações do

mundo, sem qualquer influência de outras culturas, o que tornaimpossível a compreensão de uma cultura que não a própria.

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São coerentes:a) I e II. b) II e III. c) I e III. d) Todas. e) apenas II.

5. Um dos aspectos mais importantes da mente humana é a linguagemque emprega para entender o mundo, comumente chamada de línguaquando associada a uma comunidade linguística particular. A lin gua gemhumana é fundamentalmente diferente da linguagem animal, pois:a) Envolve a representação simbólica de conceitos e diversos tipos de

relações entre eles, possibilitando um número infinito de enuncia -dos a partir de um número finito de símbolos.

b) O animal não é portador dos códigos de linguagem e somente ohomem domina essa possibilidade de comunicação.

c) Trata-se de um código único e universal em que toda a humanidadese compreende.

d) Obedece ao código genético e natural herdado pelos genitores.e) Teve origem no hebraico, do qual surgiram todas as demais variações

de línguas faladas pelos homens.

6. O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura temcomo consequência a propensão para considerar o seu modo de vidacomo o mais correto e mais natural. Tal tendência é mais bemdenominada de:a) aculturação. b) xenofobia. c) preconceito.d) etnocentrismo. e) intolerância.

7. As pessoas se chocam, apenas, porque as outras comem coisas

diferentes, mas também pela maneira que agem à mesa (...)

Em algumas sociedades o ato de comer pode ser público, em outras,

uma atividade privada. Alguns rituais de boas maneiras exigem um forte

arroto, após a refeição, como sinal de agrado da mesma. Tal fato, entre

nós, seria considerado, no mínimo como indicador de má educação.

Entre os latinos, o ato de comer é um verdadeiro rito social, segundo o

qual, em horas determinadas, a família deve toda sentar-se à mesa (...).

Sobre isso, julgue as colocações abaixo.

I. O choque resulta do contato com uma cultura inferior, em razão dos

rudimentos comportamentais dos indivíduos.

II. A humanidade é marcada pela homogeneidade cultural e a aparente

diversidade dá-se em função dos diferentes estágios evolutivos em

que as sociedades se encontram.

III. Em geral, os homens sofrem de uma cegueira comportamental,

porque naturalizam seus costumes e não compreendem os

costumes de outra cultura.

IV. Padrões de comportamento, crenças e hábitos são historicamente

constituídos.

São verdadeiras apenas:

a) I e II. b) I e III. c) II e III.

d) I e IV. e) III e IV.

8. Sabemos que a cultura condiciona a visão que temos do mundo.

Sobre isso, julgue as colocações abaixo.

I. A cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo.

Homens de culturas diferentes usam as mesmas lentes, assim, a

humanidade constitui uma unidade cultural.

II. Nossa herança cultural sempre nos condicionou a reagir

depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que

agem fora dos padrões aceitos pela maioria.

III. O modo de andar, de sentar, de rir ou comer pode refletir o universo

da cultura de um indivíduo.

IV. A história da humanidade comprovou que determinada cultura

resulta do nível de evolução em que se encontra o grupo social que

a abraça.

São coerentes:

a) apenas I e II b) apenas I e III c) apenas II e III

d) apenas III e IV e) apenas I e IV

9. Para a antropologia cultural, o ponto fundamental de referência é:

a) a dimensão filosófica do homem.

b) o elemento natural e universal das culturas.

c) o grupo, e não a humanidade.

d) a evolução da História humana.

e) a produção do mito, que não passa de uma elaboração pré-lógica do

pensamento.

40 –

1) Os elementos de uma cultura fazem parte de um sistema cultural específico e só podem ser compreendidos na lógica própria daquele

sistema. Assim, um gesto ou uma crença totalmente incoerente para a nossa cultura fará absoluto sentido em outra.

2) E 3) C 4) E 5) A 6) D 7) E 8) C 9) C

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CONSCIÊNCIA E ALIENAÇÃO

1. Introdução

Uma questão presente na história do pensamentosociológico é a que aborda a formação da consciênciahumana. Para alguns a consciência social forma um todoindivisível e externo ao indivíduo; para outros, ela éfragmentada e não confiável.

Ligada ao tema da consciência, emerge o problemada alienação, estudado principalmente pelos marxistas.Não há como pensar a relação entre indivíduo e socie dadesem estudar um pouco sobre esses temas, e veremos queos sociólogos não compartilham a mesma opinião.

Laurent Courau. A mídia contribui para a formação da consciênciahumana.

2. Os clássicos

Vimos no módulo 2 que para Durkheim a sociedadenão era a simples soma de indivíduos, mas uma realidadeexterior ao indivíduo e dotada de um poder de coerção.Vista como uma entidade psíquica exterior ao homem, asociedade resultaria da combinação de consciênciasindividuais, formando a consciência coletiva, sobre a qualse forma o tecido social. Já para Marx, não bastava aconstatação de uma consciência coletiva. Na óticamarxista, não é a consciência dos homens que determinaa sua existência, mas, ao contrário, a existência social éque determina a sua consciência. Além disso, não podehaver uma única e externa consciência coletiva, comopensava Durkheim, porque, segundo Marx, a consciênciaé, no mínimo, consciência de classe, e por isso,fragmentada. Em outros termos, a consciência de um

indivíduo da classe dominante será diferente daconsciência daquele pertencente à classe dominada.

Para Marx, a história não era um processo conduzidopela vontade dos homens, mas determinada, sobretudo,pela forma como os homens produzem e reproduzem suariqueza material. Percebia nessa ordem das coisas, asrelações de conflito, principalmente entre as classessociais, que apresentavam posições e interesses dife -rentes. Segundo esse pensador, existiam duas classessociais: a classe dominante e a dominada. Na sociedadede produção capitalista, a classe dominante está repre -sentada pela burguesia, que detém os meios de produção(donos de fábricas, por exemplo), e a classe dominada,pelo proletariado (a classe operária e camponesa) que,nada possuindo, vende a sua força de trabalho como sefosse uma mercadoria. As classes sociais são opostas einterdependentes. Só existem proprietários queacumulam riqueza porque há uma massa dedespossuídos. A isso chamamos de pensa mento dialéticomarxista.

O Brasil e os conflitos de classe estão representados na charge.

3. Teoria da Alienação

Para Marx, a classe dominada vivencia uma com plexaexperiência de alienação. A indústria, a condição deassalariado e a propriedade privada condenam o operárioa uma situação de alienação, pois ela está separada dofruto do seu trabalho, que é o bem por ela produzido eque pertence ao patrão. A consciência também seencontra alienada, pois os operários não necessariamentese apercebem dessa condição de exploração.

Politicamente, também ocorre uma experiênciaalienante. O princípio da representatividade pressupõe umEstado imparcial e que represente o conjunto de toda asociedade. Para Marx, isso não acontece no capitalismo,já que o Estado, na verdade, representa diretamente osinteresses da classe dominante.

Enquanto para Durkheim a divisão social do trabalhogerava uma solidariedade, para Marx tal divisão implicavaoutra situação de conflito e alienação: uma classeprivilegiada tem acesso ao conhecimento filo sófico e esse

MÓDULO 6 Consciência, Alienação e Ideologia

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pensar parcial e classista torna-se o pensamentodominante e a visão geral da sociedade como um todo.Assim, a própria ciência, ou a própria sociologia, pode serum saber que produz alienação.

Segundo o pensamento marxista, o primeiro passopara tirar o homem da condição de alienação e deexploração é fazer a crítica radical ao modo de produçãovigente e daí trabalhar no sentido de acelerar o advento deuma nova sociedade sem classes. Esse advento,segundo Marx, já está inscrito na contradição do sistemacapitalista.

4. Texto: As três formas da alienação social

Podemos falar em três grandes formas de alienaçãoexistentes nas sociedades modernas ou capitalistas:

1. A alienação social, na qual os humanos não sereconhecem como produtores das instituições sociopo -líticas e oscilam entre duas atitudes: ou aceitam pas -sivamente tudo o que existe, por ser tido como natural,divino ou racional, ou se rebelam individualmente,julgando que, por sua própria vontade e inteligência,podem mais do que a realidade que os condiciona. Nosdois casos, a sociedade é o outro (alienus), algo externoa nós, separado de nós, diferente de nós e com podertotal ou nenhum poder sobre nós.

2. A alienação econômica, na qual os produtores nãose reconhecem como produtores, nem se reco nhecemnos objetos produzidos por seu trabalho. Em nossassociedades modernas, a alienação econômica é dupla:

– Em primeiro lugar, os trabalhadores, como classesocial, vendem sua força de trabalho aos proprie tários docapital (donos das terras, das indústrias, do comércio, dosbancos, das escolas, dos hospitais, das frotas deautomóveis, de ônibus ou de aviões etc.). Vendendo suaforça de trabalho no mercado da compra e venda detrabalho, os traba lhadores são mercadorias e, como todamerca doria, recebem um preço, isto é, o salário. Entre -tanto, os trabalhadores não percebem que foramreduzidos à condição de coisas que produ zem coisas; nãopercebem que foram desuma nizados e coisificados.

– Em segundo lugar, os trabalhadores produzemalimentos (pelo cultivo da terra e dos animais), objetos deconsumo (pela indústria), instrumentos para a produçãode outros trabalhos (máquinas), condições para arealização de outros trabalhos (transporte de matérias-primas, de produtos e de trabalhadores). A mercadoria-trabalhador produz mercadorias. Estas, ao deixarem asfazendas, as usinas, as fábricas, os escri tórios e entraremnas lojas, nas feiras, nos supermercados, nos shoppingscenters parecem ali estar porque lá foram coloca das (nãopensamos no trabalho humano que nelas está cristalizadoe não pensamos no trabalho hu mano realizado para quechegassem até nós) e, como o trabalhador, elas tambémrecebem um preço.

O trabalhador olha os preços e sabe que não poderáadquirir quase nada do que está exposto no comércio,mas não lhe passa pela cabeça que foi ele, não enquantoindivíduo e sim como classe social, quem produziu tudoaquilo com seu trabalho e que não pode ter os produtosporque o preço deles é muito mais alto do que o preçodele, trabalhador, isto é, o seu salário.

Apesar disso, o trabalhador pode, cheio de orgulho,mostrar aos outros as coisas que ele fabrica, ou, secomerciário, que ele vende, aceitando não possuí-las,como se isso fosse muito justo e natural. As mercadoriasdeixam de ser percebidas como produtos do trabalho epassam a ser vistas como bens em si e por si mesmas(como a propaganda as mostra e oferece). Na primeiraforma de alienação econômica, o trabalhador estáseparado de seu trabalho - este é alguma coisa que temum preço; é um outro (alienus), que não o trabalhador.

Na segunda forma da alienação econômica, asmercadorias não permitem que o trabalhador sereconheça nelas. Estão separadas dele, são exteriores aele e podem mais do que ele. As mercadorias são umigualmente um outro, que não o trabalhador.

3. A alienação intelectual, resultante da separaçãosocial entre trabalho material (que produz mercadorias) etrabalho intelectual (que produz ideias). A divisão socialentre as duas modalidades de trabalho leva a crer que otrabalho material é uma tarefa que não exige conheci -mentos, mas apenas habilidades manuais, enquanto otrabalho intelectual é responsável exclusivo pelosconhecimentos. Vivendo numa sociedade alienada, osintelectuais também se alienam. Sua alienação é tripla:

– Primeiro, esquecem ou ignoram que suas ideiasestão ligadas às opiniões e pontos de vista da classe aque pertencem, isto é, a classe dominante, e imaginam,ao contrário, que são ideias universais, válidas para todos,em todos os tempos e lugares.

– Segundo, esquecem ou ignoram que as ideias sãoproduzidas por eles para explicar a realidade, passam acrer que elas se encontram gravadas na própria realidadee que eles apenas as descobrem e descrevem sob aforma de teorias gerais.

– Terceiro, esquecendo ou ignorando a origem socialdas ideias e seu próprio trabalho para criá-las, acreditamque as ideias existem em si e por si mesmas, criam arealidade e a controlam, dirigem e dominam. Pouco apouco, passam a acreditar que as ideias se produzem umasas outras, são causas e efeitos umas das outras e quesomos apenas receptáculos delas ou instrumentos delas.As ideias se tornam separadas de seus autores, externasa eles, transcendentes a eles: tornam-se um outro.

As três grandes formas da alienação (social, eco -nômica e intelectual) são a causa do surgimento, daimplantação e do fortalecimento da ideologia.

(CHAUÍ, Marilena. O Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.)

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Glossário

Alienação: Perda da razão, loucura, submissão cega avalores e instituições com inconsciência da realidade.Produto da ação humana que torna o homem estranho asi próprio. Dialética: Argumentação habilidosa (Platão), pensa mentoou método filosófico e científico que leva emconsideração as contradições da realidade.

Alienation,RickyRomain. Oquadrorepresenta acondiçãoalienada desereshumanos.

IDEOLOGIA

5. Introdução

O termo “ideologia” adquiriu diferentes sentidos nahistória das Ciências Humanas. No sentido mais amplo emuito empregado pelo senso comum, significa umconjunto de ideias. Para alguns pensadores, ideologia éuma forma perversa de exercício de poder, adquirindo umsentido pejorativo. Ideologia pode ser entendida comouma espécie de cimento cultural apropriado por umdeterminado grupo de pessoas.

No conceito marxista, por exemplo, o termo ideologiaestá vinculado à ideia de alienação da consciência, poisse trata de um instrumento nas mãos da classedominante para escamotear a realidade.

A imagem sugere a manipulação de homens. Aideologia pode ser vista como uma forma deescamotear a verdade pelo que ela tem de irrefletida.

6. O Problema com a Ideologia

Áreas diversas do conhecimento, como a sociologia,a filosofia e a educação esbarram com o problema daideologia. Muitos pensadores identificam na ideologia oato de distorcer a visão da realidade com o objetivo dereproduzir uma relação de dominação (econômica oupolítica). A ideologia, nesse sentido, seria uma visãofechada e irrefletida, e por isso mesmo, geralmenteapresenta-se como um pensamento rígido, doutrinário einstrumental. Uma ideologia é vista aqui como fórmuladogmática, pronta, no sentido de fabricada e que tudoexplica e esgota.

Em geral, podemos dizer que, no sentido aquiempregado, uma ideologia visa à estrutura inconsciente,tal qual ocorre com as propagandas que incitam oindivíduo ao consumismo.

Para outros autores, a ideologia representa apenasum referencial teórico. Uma espécie de coerência, capazde dar consistência e conteúdo ao discurso ou à reflexão.

Ao ler um texto, portanto, cujo autor utiliza o conceitoideologia, é preciso perceber em que sentido ele empregao termo.

No Brasil, a filósofa Marilena Chauí teorizou bem oproblema da ideologia e transcrevemos abaixo o seupensamento acerca do tema.

7. Texto: A ideologia

A alienação social se exprime numa “teoria” doconhecimento espontânea, formando o senso comum dasociedade. Por seu intermédio, são imaginadas explica -ções e justificativas para a realidade tal como édiretamente percebida e vivida.

Um exemplo desse senso comum aparece no casoda “explicação da pobreza, em que o pobre é pobre porsua própria culpa (preguiça, ignorância) ou por vontadedivina ou por inferioridade natural. Esse senso comumsocial, na verdade, é o resultado de uma elaboraçãointelectual sobre a realidade, feita pelos pensadores ouintelectuais da sociedade – sacerdotes, filósofos, cien -tistas, professores, escritores, jornalistas, artistas –, quedescrevem e explicam o mundo a partir do ponto de vistada classe a que pertencem e que é a classe dominante desua sociedade. Essa elaboração intelectual incor poradapelo senso comum social é a ideologia. Por meio dela, oponto de vista, as opiniões e as ideias de uma das classessociais – a dominante e dirigente – tornam-se o ponto devista e a opinião de todas as classes e de toda asociedade.

A função principal da ideologia é ocultar e dissimularas divisões sociais e políticas, dar-lhes a aparência deindivisão e de diferenças naturais entre os sereshumanos. Indivisão: apesar da divisão social das classes,somos levados a crer que somos todos iguais porque

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participamos da ideia de “humanidade”, ou da ideia de“nação” e “pátria”, ou da ideia de “raça” etc. Diferençasnaturais: somos levados a crer que as desigualdadessociais, econômicas e políticas não são produzidas peladivisão social das classes, mas por diferenças individuaisdos talentos e das capacidades, da inteligência, da forçade vontade maior ou menor etc.

A produção ideológica da ilusão social tem comofinalidade fazer com que todas as classes sociais aceitemas condições em que vivem, julgando-as naturais,normais, corretas, justas, sem pretender transformá-lasou conhecê-las realmente, sem levar em conta que háuma contradição profunda entre as condições reais emque vivemos e as ideias.

Por exemplo, a ideologia afirma que somos todoscidadãos e, portanto, temos todos os mesmos direitossociais, econômicos, políticos e culturais. No entanto,sabemos que isso não acontece de fato: as crianças derua não têm direitos; os idosos não têm direitos; osdireitos culturais das crianças nas escolas públicas sãoinferiores aos das crianças que estão em escolasparticulares, pois o ensino não é de mesma qualidade emambas; os negros e índios são discriminados comoinferiores; os homossexuais são perseguidos comopervertidos etc.

A maioria, porém, acredita que o fato de ser eleitor,pagar as dívidas e contribuir com os impostos já nos fazcidadãos, sem considerar as condições concretas quefazem alguns serem mais cidadãos do que outros. Afunção da ideologia é impedir-nos de pensar nessascoisas.

Os procedimentos da ideologia

Como procede a ideologia para obter esse fantásticoresultado? Em primeiro lugar, opera por inversão, isto é,coloca os efeitos no lugar das causas e transforma estasúltimas em efeitos. Ela opera como o inconsciente: estefabrica imagens e sintomas; aquela fabrica ideias e falsascausalidades.

Por exemplo, o senso comum social afirma que amulher é um ser frágil, sensitivo, intuitivo, feito para asdoçuras do lar e da maternidade e que, por isso, foidestinada, por natureza, para a vida doméstica, o cuidadodo marido e da família. Assim o “ser feminino” é colocadocomo causa da “função social feminina”.

Ora, historicamente, o que ocorreu foi exatamente ocontrário: na divisão sexual-social do trabalho e na divisãodos poderes no interior da família, atribuiu-se à mulherum lugar levando-se em conta o lugar masculino: comoeste era o lugar do domínio, da autoridade e do poder,deu-se à mulher o lugar subordinado e auxiliar, a funçãocomplementar e, visto que o número de braços para otrabalho e para a guerra aumentava o poderio do chefe da

família e chefe militar, a função reprodutora da mulhertornou-se imprescindível, trazendo como conse quênciasua designação prioritária para a maternidade.

Estabelecidas essas condições sociais, era precisopersuadir as mulheres de que seu lugar e sua função nãoprovinham do modo de organização social, mas daNatureza, e eram excelentes e desejáveis. Para isso,montou-se a ideologia do “ser feminino” e da “funçãofeminina” como naturais e não como históricos e sociais.Como se observa, uma vez implantada uma ideologia,passamos a tomar os efeitos pelas causas.

A segunda maneira de operar da ideologia é aprodução do imaginário social, através da imaginaçãoreprodutora. Recolhendo as imagens diretas e imediatasda experiência social (isto é, do modo como vivemos asrelações sociais), a ideologia as reproduz, mastransformando-as num conjunto coerente, lógico esistemático de ideias que funcionam em dois registros:como representações da realidade (sistema explicativo outeórico) e como normas e regras de conduta ecomportamento (sistema prescritivo de normas evalores). Representações, normas e valores formam umtecido de imagens que explicam toda a realidade eprescrevem para toda a sociedade o que ela deve e comodeve pensar, falar, sentir e agir. A ideologia assegura, atodos, modos de entender a realidade e de se comportarnela ou diante dela, eliminando dúvidas, ansiedades,angústias, admirações, ocultando as contradições da vidasocial, bem como as contradições entre esta e as ideiasque supostamente a explicam e controlam.

Enfim, uma terceira maneira de operação da ideologiaé o silêncio. Um imaginário social se parece com umafrase onde nem tudo é dito, nem pode ser dito, porque,se tudo fosse dito, a frase perderia a coerência, tornar-se-ia incoerente e contraditória e ninguém acreditaria nela.A coerência e a unidade do imaginário social ou ideologiavêm, portanto, do que é silenciado (e, sob esse aspecto,a ideologia opera exatamente como o inconscientedescrito pela psicanálise).

Por exemplo, a ideologia afirma que o adultério écrime (tanto assim que homens que matam suas esposase os amantes delas são considerados inocentes porquepraticaram um ato em nome da honra), que a virgindadefeminina é preciosa e que o homossexualismo é umaperversão e uma doença grave (tão grave que, paraalguns, Deus resolveu punir os homossexuais enviandoa peste, isto é, a Aids).

Glossário

Escamotear: promover uma ilusão, esconder a verdade.

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1. “... Não é a consciência dos homens que determina a sua existência,é, pelo contrário, a sua existência que determina a sua consciência”. Areflexão acima pode ser considerada expressão do métodoa) Materialismo dialético. b) Sociologia compreensiva. c) Método dedutivo. d) Positivismo. e) Funcionalismo.

RESOLUÇÃO: Resposta: A

2. Para Marilena Chauí, a alienação intelectual é formada:a) Pela venda da força de trabalho.b) Pela divisão entre o trabalho intelectual e o trabalho material.c) Pela ignorância de que as ideias têm origem natural.d) Pela impossibilidade de consumo por parte da classe operária.e) Por que os trabalhadores percebem que foram reduzidos a coisas.

RESOLUÇÃO: Resposta: B

3. “Crianças de alta renda herdam saberes, cuja rentabilidade escolaré tanto maior quanto mais frequentemente esses imponderáveis deatitude são atribuídos ao dom natural”. (P. Bourdieu) Isso acontece devido:a) a uma estratégia ideológica.b) ao processo de aculturação.c) à aquisição de capital social.d) à incorporação lenta de capital cultural.e) ao fato de se ter nascido com uma inteligência privilegiada.

RESOLUÇÃO: Resposta: A

4. São frases coerentes com o texto de M. Chauí:I. A ideologia obstrui a reflexão e a percepção da realidade.II. O silêncio é o melhor antídoto contra os males da ideologia.III. O imaginário social e o senso comum são espaços em que operam

as ideologias.IV. Questões morais não apresentam jamais qualquer ligação com

questões ideológicas. São coerentes: a) apenas I e III. b) apenas II e III. c) apenas I e IV. d) apenas II e IV. e) apenas I e II.

RESOLUÇÃO: Resposta: A

5. O Super-Homem ganha poderes pelos efeitos dos raios solares, mastem uma fraqueza: o minério criptonita. O Homem-Aranha adquirehabilidades depois da picada de um aracnídeo. O Quarteto-Fantásticonasce dos efeitos de uma tempestade cósmica. Um a um, os elementosda natureza tornam-se importantes para o nascimento de vários super-heróis. Porém, mais do que superpoderosos, esses heróis de Históriasem Quadrinhos (HQ) também “escondem um segredo”:I. Reforçam a ideologia de uma nação soberana, a estadunidense,

protegida dos inimigos, o que a credenciaria como mantenedora daliberdade mundial.

II. Veiculam subliminarmente a crença da supremacia dos brancos,enquanto suposta raça mais forte e inteligente em face dos demaisgrupos étnicos do planeta.

III. Defendem a ideologia da igualdade necessária entre as classes, sema qual o mundo não poderia viver em paz e em harmonia.

IV. Reconhecem que os verdadeiros super-heróis não precisam desuperpoderes, desde que sejam pessoas boas e altruístas.

Assinale a alternativa correta.a) Somente as afirmativas I e II são corretas.b) Somente as afirmativas I e III são corretas.c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.RESOLUÇÃO: Resposta: A

6. Em uma aula de Filosofia, o professor trabalha com os textosapresentados a seguir.

"Não podemos esquecer que toda prática social tem como ponto departida a ideologia. Ela impregna tudo, até a própria ciência. Por isso épreciso cuidado ao filosofar, porque, sem o percebermos, podemosestar sendo governados pela ideologia, ideias que, a priori, já estão emnossas mentes". TELES, Maria Luiza S. Filosofia para jovens, Petrópolis:Vozes, 1996, p. 70.

(http://www.escolainterativa.com.br)

"Meu partidoÉ um coração partidoE as ilusõesEstão todas perdidas(...)Meus heróisMorreram de overdoseMeus inimigosEstão no poderIdeologia!Eu quero uma prá viver".

Cazuza e Roberto Frejat. (CD "O poeta está vivo")

O professor pede a três estudantes uma definição do tema central daaula e recebe as seguintes respostas:Ana – Ideologia é um sistema de ideias para explicar a realidade, e todosnós precisamos de uma.Rodrigo – A ideologia governa, como um partido, o nosso pensamentoe a nossa ação. A filosofia pode revelar esta forma de comando.Carlos – Ideologia é uma maneira de conhecer a verdade e a falsidadedas coisas, que pode ser verdadeira ou falsa, boa ou negativa.

Dos textos apresentados e das respostas obtidas, conclui-se quea) Carlos define a temática de maneira coerente e justificada.b) Rodrigo foi o único a definir a proposta temática do professor.c) Ana não articula, em sua definição, os dois textos propostos em aula.d) Ana e Carlos não definem a temática central da aula.e) Ana e Rodrigo definem, com coerência, a proposta temática da aula.

RESOLUÇÃO: Resposta: B

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1. Para Marx, a consciência social seria necessariamente fragmentada.Por quê?a) Porque “cada um é cada um” e a interpretação do mundo é em

grande parte pessoal.b) Porque é, no mínimo, consciência de classe.c) Porque a consciência depende da cultura e do país em que se nasce

e se vive.d) Porque a existência humana resulta de reflexões individuais, de

acordo com as experiências pessoais.e) Porque a consciência coletiva se transforma com as condições

históricas.

2. “... esquecendo ou ignorando a origem social das ideias e seu própriotrabalho para criá-las, acreditam que as ideias existem em si e por simesmas, criam a realidade e a controlam, dirigem e dominam. Pouco apouco, passam a acreditar que as ideias se produzem umas as outras,são causas e efeitos umas das outras e que somos apenas receptáculosdelas ou instrumentos delas. As ideias se tornam separadas de seusautores, externas a eles, transcendentes a eles: tornam-se um outro”.(M. Chauí) Analise as assertivas e assinale a alternativa que agrupa as coerentescom o pensamento da filósofa.I. O texto refere-se a uma forma de alienação intelectual. II. Naturaliza-se o mundo das ideias, ou seja, passa-se a aceitá-las sem

questionamento, porque, presume-se, são naturais, ignorando a suaorigem histórica e social.

III. Com esse processo, adquire-se autonomia de pensamento. São corretas (apenas):a) Todas. b) I e III. c) II e III. d) I. e) I e II.

3. A consciência de um indivíduo da classe dominante será diferente daconsciência daquele pertencente à classe dominada. Portanto, paraMarx, o conceito de consciência:a) se assemelha ao conceito de Durkheim, pois trata-se de consciência

social e coletiva.b) se assemelha ao conceito de Durkheim, uma vez que, para os dois

pensadores, a consciência é sempre de classe.c) diverge do conceito durkheimiano, pois, para o primeiro, a

consciência é um todo uniforme. d) diverge do conceito de Durkheim pois para o primeiro a consciência

é fragmentada. e) está fundamentado na concepção positivista, com base na ideia de

solidariedade social.

4. Na sociedade de produção capitalista, a classe dominante estárepresentada pela burguesia, que detém os meios de produção (donosde fábricas, por exemplo), e a classe dominada, pelo proletariado (aclasse operária e camponesa) que, nada possuindo, vende a sua forçade trabalho como se fosse uma mercadoria. Tal concepção teórica é doclássico: a) Max Weber. b) Émile Durkheim.c) Karl Marx. d) Augusto Comte.e) Émile Rousseau.

5. Para Marx, a história não era um processo conduzido pela vontadedos homens, mas determinada, sobretudo, pela forma como os homensproduzem e reproduzem sua riqueza material. Assim, para esse autorclássico:

a) O ser humano é o sujeito e autor da história.b) O ser humano não tem possibilidades de interferir no processo

histórico.c) A história é conduzida por grandes homens.d) O motor da história é a vontade dos homens.e) O desenvolvimento das forças produtivas é o motor da história.

6. Só existem proprietários que acumulam riqueza porque há umamassa de despossuídos. Esse pensamento marxista implica a ideiacontida na alternativa:a) Para a formação de uma sociedade, os pobres são necessários.b) Sempre houve e sempre haverá pessoas pobres.c) É da natureza humana o sentimento de ambição.d) O capitalismo se baseia na exploração do homem pelo homem.e) A exploração do trabalho humano é condição natural das relações

humanas.

7. A condição de assalariado e a propriedade privada condenam ooperário a uma situação de alienação. Sobre isso leia e julgue asassertivas abaixo: I. O trabalhador está separado do fruto do seu trabalho, que é o bem

por ele produzido e que pertence ao patrão. II. Na sociedade de economia planejada, o trabalhador não possui o

fruto do seu trabalho, pois tudo pertence ao governo que tambémé uma forma de propriedade privada.

III. Para Marx, a socialização dos meios de produção é o caminho paraacabar com a alienação.

São verdadeiras (é verdadeira) apenas: a) I e II. b) I e III. c) I. d) II. e) III.

8. O princípio da representatividade pressupõe um Estado imparcial eque represente o conjunto de toda a sociedade. Para Marx, isso nãoacontece no capitalismo:a) Pois o Estado, na verdade, representa diretamente os interesses da

classe dominante. b) Pois o Estado representa os interesses da classe dominada.c) Pois a população não se envolve em processos políticos.d) Pois o Estado burguês é marcado pelo autoritarismo político.e) Pois a burguesia representa os interesses do Estado e os operários

não se interessam por política.

9. Para Durkheim, a consciência coletiva constituiria uma realidadehomogênea e indiferenciada. Para Marx, a consciência social serianecessariamente fragmentada. Por quê? Comente, tecendo uma relaçãocom o pensamento dialético marxista.

10.Comente a colocação abaixo:“...esquecendo ou ignorando a origem social das ideias e seu própriotrabalho para criá-las, acreditam que as ideias existem em si e por simesmas, criam a realidade e a controlam, dirigem e dominam. Pouco apouco, passam a acreditar que as ideias se produzem umas as outras,são causas e efeitos umas das outras e que somos apenas receptáculosdelas ou instrumentos delas. As ideias se tornam separadas de seusautores, externas a eles, transcendentes a eles: tornam-se um outro”.

(M. Chauí)

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11.Ao ler o texto de M. Chauí, percebe-se que, para essa autora,naturalizar é fazer uso de ideologia. Comente.

12.Para Marilena Chauí, ideologia e realidade não coincidem, pois:a) A realidade é inapreensível.b) A realidade está sempre camuflada de ideologia.c) A ideologia é um conhecimento espontâneo do senso comum.d) A ideologia é um conjunto de ideias e as ideias jamais conseguem

representar a realidade.e) Ideologia é elaborada pelo intelecto, enquanto a realidade é

apreendida pelo senso comum.

13.As ideologias são explicações e justificativas imaginadas da realidadee, portanto:a) Legitimam a realidade, reproduzindo-a.b) Elucidam a verdade acerca dos fenômenos naturais e culturais.c) Retratam a realidade de forma coerente e sem outrasconsequências.d) São explicações inofensivas do senso comum, elaboradas pelo

imaginário popular.e) São criadas espontaneamente sem qualquer interferência da

inteligência humana.

14.A ideologia tem por finalidade fazer com que as classes sociaisaceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais, normais,corretas, justas, sem pretender transformá-las ou conhecê-lasrealmente, sem questioná-las, sem levar em conta que há umacontradição profunda entre as condições reais em que vivemos e asideias. Ao invés de naturalizar os fatos sociais, seria necessário umentendimento das circunstâncias históricas que os originaram. Nessesentido, podemos dizer que:a) A ideologia é o processo de desnaturalizar a realidade.b) A ideologia funciona como uma luz que mostra a verdade natural dos

fenômenos sociais.c) Naturalizar é fazer uso da ideologia.d) É um equívoco supor que a realidade independe da ideologia.e) O conhecimento deve abarcar ideologicamente a realidade para

perceber a coerência e naturalidade dos processos sociais.

15.Sobre a relação entre ideologia e realidade, leia e julgue asproposições abaixo.I. A ideologia obstrui a reflexão e a percepção da realidade.II. O silêncio é o melhor antídoto contra os males da ideologia.III. O imaginário social e o senso comum são espaços em que operam

as ideologias.IV. Questões morais não apresentam jamais qualquer ligação com

questões ideológicas. São coerentes: a) apenas I e III. b) apenas II e III. c) apenas I e IV. d) apenas II e IV. e) apenas I e II.

16.Há pessoas que explicam a pobreza atribuindo culpa própria(preguiça ou e ignorância), vontade divina ou inferioridade natural. Sobreisso, julgue as assertivas abaixo.I. Atribuir à culpa pessoal é coerente, pois, de fato, a riqueza sempre

resulta de méritos e esforços pessoais.II. Nos três casos está-se fazendo uso de ideologia, pois ignora-se as

raízes sociais e históricas da pobreza.III. Falar em inferioridade natural é um equívoco, pois trata-se, na

verdade, de inferioridade de intelecto, cultural e social.IV. Para entender a pobreza é preciso enraizar o problema, ou seja,

entendê-lo no seu percurso histórico.V. Sempre houve e sempre haverá pobres, pois é da natureza humana

a ambição de acumular riqueza. São verdadeiras e coerentes com uma visão sociológica moderna(apenas):a) I e II. b) I e III. c) III e IV. d) II e IV. e) I e IV.

17.O termo ideologia está vinculado à ideia de alienação da consciência,pois:a) Trata-se de um instrumento nas mãos da classe dominante para

escamotear a realidade. b) Trata-se de um conjunto coerente de ideias.c) Trata-se de uma operação intelectual inofensiva do senso comum.d) Trata-se de uma interpretação marxista da realidade.e) Trata-se de uma manifestação intelectual elaborada por classes

subalternas.

18.Observe a figura e assinale a alternativa que a interpreta melhor.

a) A imagem sugere a manipulação que a classe dominada exercesobre a dominante.

b) A imagem sugere a manipulação de homens. A ideologia pode servista como uma forma de escamotear a verdade pelo que ela tem deirrefletida.

c) A imagem sugere a influência que a mídia exerce sobre o comporta -mento, dando-lhes mais informação e autonomia de conhecimento.

d) A imagem reflete os movimentos autônomos que expressam certaliberdade por parte daqueles que se deixam conduzir por ideologias.

e) A imagem revela que as relações humanas são sempre frutos demanipulações do poder.

19.A ideologia tem um papel conservador porque:a) Reproduz a ordem necessária para assegurar uma sociedade sem

conflitos.b) Conserva as relações sociais estáveis, sem grandes alterações

indesejáveis do ponto de vista da ordem e justiça.c) É contra os modismos da modernidade. d) Reproduz estruturas sociais tradicionais, valorizando aspectos da

cultura que podem se esgotar com o avanço do progresso.e) É a elaboração intelectual da classe dominante que reproduz o poder

quando é incorporada pelo senso comum.

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20.Sobre a questão da ideologia, leia e julgue as assertivas abaixo.I. A função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões

sociais e políticas, dar-lhes a aparência de indivisão e de diferençasnaturais.

II. A indivisão significa que, apesar da divisão de classes, somoslevados a crer que somos todos iguais.

III. A produção ideológica da ilusão social tem como finalidade fazercom que todas as classes sociais percebam as condições em quevivem, julgando-as injustas.

São verdadeiras (é) apenas:a) I e II. b) II e III. c) I e III. d) II. e) III.

21. O problema da ideologia esbarra com a questão do tabu. Assinale aalternativa que expressa melhor essa afirmação.a) A ideologia escamoteia a realidade. b) O discurso ideológico não resulta da reflexão filosófica.c) A ideologia pode ser acompanhada da reflexão social e coerente da

realidade.d) A sociologia pode fazer uso da ideologia política. e) Acredita-se que certos assuntos não devem ser questionados.

22. Cite exemplos em que pode estar operando uma ideologia.

48 –

1) B 2) E 3) D 4) C

5) E 6) D 7) B 8) A

9) Para Marx, a consciência dos homens é consciência de classe,

ou seja, a consciência de um indivíduo da classe dominante

será diferente daquele da classe dominada. Convém lembrar

que para Marx a consciência é passível de alienação.

10) O texto refere-se a uma forma de alienação intelectual.

Naturaliza-se o mundo das ideias, ou seja, passa-se a aceitá-

las sem questionamento, porque, presume-se, são naturais,

ignorando a sua origem histórica e social. Perde-se o conceito

de autonomia de pensamento.

11) A ideologia tem por finalidade fazer com que as classes sociais

aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais,

normais, corretas, justas, sem pretender transformá-las ou

conhecê-las realmente, sem questioná-las, sem levar em conta

que há uma contradição profunda entre as condições reais em

que vivemos e as ideias. Ao invés de naturalizar oe fatos

sociais, seria necessário um entendimento das circustâncias

históricas que os originaram.

12) C 13) A 14) C 15) A

16) D 17) A 18) B 19) E

20) A 21) E

22) (sugestão) Dizer que o dinheiro não traz felicidade, embora de

certa forma seja verdade, parece soar como estímulo para um

contentamento com a situação de pobreza.

O racismo, outro exemplo, é uma construção histórica, mas

acreditar na inferioridade natural de uma raça é fazer uso de

ideologia que objetiva a dominação de um grupo sobre outro.

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1. Introdução

Para melhor articular a ciência social, torna-senecessário o domínio de categorias científicas próprias.Nesse capítulo estão colocados alguns conceitos básicosda sociologia e todos foram colhidos do livro Introdução àSociologia, de Sebastião Vila Nova, com algumasadequações de linguagem e de exemplo.

Note-se que alguns conceitos adquirem um sentidomais amplo e diferente de quando usados pelo sensocomum. O termo status, por exemplo, é comumenteidentificado com a ideia de privilégio social ou posição dedestaque na sociedade. Em sociologia, veremos quetodos os indivíduos possuem status.

2. Status Social

Toda sociedade é formado por um sistema de status

ou posições. Status é a localização do indivíduo nahierarquia social, de acordo com a sua participação nadistribuição desigual de riqueza, de prestígio e poder.Onde quer que exista desigualdade de status, tende ahaver alguma forma de manifestação de poder.

É próprio da condição social do homem ocuparposições com direitos e deveres preestabelecidosindependentemente dos indivíduos. Onde quer que estejao indivíduo na sociedade, ele estará ocupando algumaposição. O homem, portanto, é um animal que ocupaposições. É comum, na linguagem cotidiana, o empregodo termo status mais ou menos como sinônimo deprestígio; contudo, todas as pessoas ocupam inevita -velmente posições na sociedade, quer sejam superioresou inferiores. Ter status, portanto, não significa ter muitoprestígio ou poder, mas possuir uma posição específicana hierarquia social.

Um indivíduo pode ocupar várias posições. Dentro dogrupo familiar, terá um determinado status; na empresa,outro. É possível que um homem seja o último nahierarquia da empresa em que trabalha, mas que sejauma autoridade importante na comunidade religiosa quefrequenta, por exemplo.

Os status são ocupados pelos indivíduos, mas sãofatos que independem deles. Em outros termos, osindivíduos não são os seus status. Isso torna compreen -sível que uma autoridade política, por exemplo, afirme nãoser o presidente, mas estar presidente.

Convém aqui distinguir prestígio de estima. Oprestígio de um médico é determinado pelo seu status, jáa sua estima depende do desempenho pessoal enquantomédico.

Todos na sociedade ocupam um status. Foto: Mariana Cavalcanti

3. Papel Social

A cada status ocupado pelo indivíduo correspondeum papel social. Papel é o conjunto de expectativas decomportamento padronizado em relação a cada uma dasposições existentes em uma sociedade. Em outrostermos, papel é o comportamento esperado dos indiví -duos em determinados status. O papel é, portanto, aexpressão comportamental do status, a sua concre tizaçãoem ações.

Dizer que uma pessoa desempenha um ou maispapéis sociais implica dizer que ele é um ator social. Issonão significa que o indivíduo que assume um papel sejaum hipócrita, ou ainda, que o comportamento social sejainautêntico. Trata-se de uma metáfora: o papel é repre -sentado de acordo com as expectativas da sociedade.Que comportamento se espera de um professor em salade aula? Poderá uma autoridade militar usar a mesmaseveridade exigida na hierarquia militar em suas relaçõesde família? Claro que a vida social exige constanterepresentação e o comportamento humano tende a variarde acordo com o ambiente, objetivos, status e papel quese esteja representando. O modo pessoal e o perfilpsicológico de cada indivíduo não são objetos espe cíficosde estudo da sociologia, pois a esta interessam osfenômenos que se repetem e são previsíveis.

4. Estratificação Social

Estratificação social é o processo ou o estado delocalização hierárquica dos indivíduos em setoresrelativamente homogêneos da população quanto aosinteresses, ao estilo de vida e às oportunidades, segundo

MÓDULO 7 Status, Papel e Mobilidade Social

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a sua participação na desigual distribuição de recom -pensas socialmente valorizadas (riqueza, poder eprestígio).

A sociedade de classes é um tipo de estratificação.Na Índia, em que existe o sistema de castas (divisãobaseada nas profissões), e na Europa medieval encon -tramos sociedades estamentais. São modelos em quenão existe a mobilidade social.

Não se pode afirmar que todas as sociedadesconheçam a estratificação social. Todas as sociedadesconhecem algum tipo de desigualdade, mas nem todasconhecem a estratificação. Desigualdade de direitos e dedeveres e diferenciação de posições não implicamestratificação. Esta é apenas um tipo complexo dedesigualdade. Nas sociedades tribais, a estratificação émuito rara.

A estratificação social só existe quando surgemamplos setores da população detentores de interesses,formas de participação na produção de bens econômicos,qualidade e volume de consumo, estilo de vida eoportunidades de vida, relativamente homo gê neos, demodo a formarem unidades sociais identi fi cáveis comotais e dispostas em uma hierarquia cultu ralmenteconvencionada. Nas sociedades tribais, em geral,encontramos uma distribuição igualitária de benseconômicos e por isso não são sociedades estratificadas.

5. Mobilidade Social

Mobilidade social é a locomoção dos indivíduos nosistema de posições da sua sociedade. A mobilidadepode ser horizontal ou vertical. Horizontal, quando oindivíduo muda o status, mas permanece na mesmacamada social; vertical, quando a mudança de statusimplica em mudança de camada, podendo serascendente ou descendente. Mudar de emprego nãonecessariamente implica mudança de oportunidade,porém, por vezes, as oportunidades de vida podemaumentar ou diminuir.

As oportunidades de mudança de status variam desociedade para sociedade. Nas sociedades tradicionaisaristocráticas, essas possibilidades são muito reduzidas.Já as sociedades secularizadas, isto é, de organizaçãosocial predominantemente racional, utilitária e nas quais atradição é de menor importância, tendem a dar maisoportunidades de mudança de status aos seus membros.

De qualquer forma, em nossa sociedade moderna,classista, a possibilidade de mudança pode criar a ilusãode uma sociedade de fato economicamente democrá tica,quando, na verdade, sabe-se que as oportunidades demudança na estratificação são raras e difíceis.

50 –

Ao contrário do que muitos imaginam, o Brasil, conhecidopor seus altos índices de desigualdade, é também a terra dasoportunidades, o que lhe permite ser o campeão mundial damobilidade social, diz professor da USP.

ANDRÉ CHAVES DE MELO

Apesar de ser um dos campeões mundiais no quesitodesigualdade, paradoxalmente o Brasil é o país que apresenta,ao mesmo tempo, o mais alto índice de mobilidade social. Essaé uma das principais conclusões obtidas pelo sociólogo JoséPastore, professor da Faculdade de Economia, Administração eContabilidade (FEA) da USP, especialista em relações do trabalhoe desenvolvimento, que tem se dedicado ao tema por mais detrês décadas, tendo, inclusive, em 1999, publicado um livrosobre a questão em que são apresentados os resultados desuas pesquisas, em parceria com Nelson do Valle Silva,intitulado Mobilidade social no Brasil (Makron Books). Aoconcentrar, em um de seus trabalhos, seu olhar sobre a camadamais rica da população, formada por 5% dos brasileiros – commaior renda e melhor nível educacional –, Pastore descobriudados surpreendentes, como o fato de que apenas 18% dosque formam o topo da sociedade possuem antepassados que já

faziam parte da elite, o que significa que os outros 82%ascenderam recentemente, no intervalo de apenas umageração, por mérito ou esforço próprio. Desse total, cerca de20% são filhos de agricultores – na maioria, analfabetos –,enquanto 16% são membros de famílias em que o pai eratrabalhador da construção civil (serventes e pedreiros). Mas, deuma maneira geral, mais da metade dos membros da elitebrasileira atual são descendentes de trabalhadores braçais oumanuais. “A mobilidade social brasileira é tão grande queimpressiona meus colegas sociólogos do mundo todo”, afirmaPastore. (...)

Mobilidade coletiva – Existem diferentes conceitos demobilidade social. O utilizado por Pastore considera amovimentação das pessoas pelas classes sociais, enquanto háoutro que prioriza o impacto dos benefícios coletivos ao longodos anos na melhoria da qualidade de vida de uma sociedade,tais como as iniciativas nas áreas da educação e da saúde,também conhecido como mobilidade coletiva. Partindo dessaconcepção, recentemente a Organização das Nações Unidas(ONU) divulgou uma pesquisa em que o Brasil aparece como opaís onde, coletivamente, as pessoas mais melhoraram de vidanos últimos 28 anos. Para chegar a esse resultado, a pesquisa

O país das surpresas

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levou em consideração a taxa de analfabetismo, a taxa dematrícula no Ensino Fundamental, a longevidade da população,o Produto Interno Bruto (PIB) e a renda per capita dos países.Ambos os estudos são complementares, pois enquanto Pastoreanalisa as chances de alguém progredir contornando aslimitações sociais impostas pela renda familiar, pela escolaridadedos pais e pelas condições macroeco nômicas, a ONU analisase o conjunto de habitantes de cada país está vivendo emcondições mais dignas.

Para Naércio Menezes Filho, também professor da FEA, oBrasil cresceu muito em termos econômicos nas décadas de60, 70 e 80, o que permitiu aos ricos ficarem mais ricos e aospobres melhorarem de vida. “O que acontece é que a elitebrasileira cresceu, incorporando pessoas de origem humilde epreservando seus integrantes mais antigos”, afirma. “As proba -bilidades de uma pessoa com pais ricos e bem-educados nãoconseguir se manter na mesma situação são pequenas,enquanto as chances de alguém de origem modesta ascendertambém são menores, apesar de existirem.”

Segundo Menezes, se considerarmos que mobili dade socialinclui a troca de posições de cima para baixo e vice-versa, amobilidade social no Brasil é pequena. Mas, se a metodologia depesquisa levar em conta o movimento de baixo para cima, amobilidade social brasileira aparecerá como um fenômeno socialgrande. “O conceito de mobilidade social varia conforme ametodologia empregada nos estudos.” Apesar de os mais ricosdificilmente perderem sua posição social, o estudo de Pastore eSilva e o da ONU apontam que a sociedade brasileira produziu,pelos menos nas últimas três décadas, portas de acesso para osmais pobres poderem atingir melhores condições de vida. Entreesses mecanismos, a educação, principalmente a de nívelsuperior, aparece em lugar de destaque. Levantamento feito porPastore mostra que 95% dos ocupantes dos cargos do primeiroescalão do governo federal vêm de famílias cujos pais possuem

baixo grau de escolaridade e que a maioria conseguiu obter odiploma universitário.

Educação e posição social – De acordo com Menezes, ogrande desafio para o aumento da mobilidade social a partir daeducação é a ampliação das vagas de nível superior. “Asuniversidades públicas ainda podem aumentar suas vagas, mashá limites nesse processo”, afirma. “Uma das melhoressoluções é a ampliação do financiamento dos estudos dosjovens de baixa renda por meio do crédito educativo, em queos estudantes podem pagar, após se formarem e conseguirememprego, um empréstimo concedido a juros bem baixos, usadopara pagar as mensalidades do curso e para seu sustento nesseperíodo”, defende. “Nos últimos anos houve ampliação dasvagas nas universi dades e no Ensino Médio de maneiraproporcional, o que levou à preservação do gargalo, ou seja, dasituação em que não há vagas em quantidade suficiente parasuprir a demanda gerada pelos alunos que obtêm o diploma doEnsino Médio. É uma solução para essa equação queprecisamos conseguir.” (...)

Outra característica que chama a atenção na mobilidadesocial brasileira é que, aqui, muitas vezes a pessoa parte de umponto muito baixo da pirâmide social e consegue chegar até otopo, enquanto em outros países, principalmente nos ricos, aspessoas normalmente partem de uma situação um poucomelhor, do meio do caminho. A cultura do consumo tambémestá relacionada. Pesquisas mostram que o consumismo dapopulação norte-americana aquece a economia, gerandooportunidades para novos empreendedores, tendência que,consideradas as devidas proporções, existe em outros paísesnovos, notadamente nos do continente americano, do qual oBrasil faz parte. No caso dos países da Europa Ocidental, emrazão da menor propensão ao consumo e da excelentedistribuição de renda, a mobilidade social acaba sendoextremamente baixa.

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1. Observando os conceitos de status e papéis sociais é possívelchegar à ideia a respeito das relações sociais, que, por sua vez, pode serexplicada como: a) noção de individualidade desenvolvida em cada pessoa. b) comunicação entre membros de uma sociedade. c) reflexão filosófica e social a respeito da essência de um sistema

social. d) as formas de relacionamentos insertas nas atividades industriais das

sociedades modernas. e) as possíveis ocorrências de segregação étnica existentes nas diversas

sociedades.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

2. Sobre a ideia de papel e status sociais, marque a alternativa incorreta: a) Chamamos de papéis sociais as regras de condutas ou normas que

são esperadas pela sociedade em relação as posições ocupadaspelas pessoas dentro dos diversos momentos de convivência.

b) Os papéis sociais são explicados como o conjunto de expectativasassociadas a um determinado status social.

c) O status de um indivíduo pode ser notado em razão da sua profissãoou do seu lugar na hierarquia familiar.

d) O “status” seria a posição de uma pessoa em um sistema, enquantoo “papel” seria a dinâmica do espaço.

e) O status social seria toda e qualquer conduta estabelecida pelasnormas de um sistema social em relação aos diversos papéis, ou seja, posições que ocupamos nos diversos espaços existentes.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

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3. O Termo “relações sociais” está ligado a) ao processo de interação entre diversos atores sociais em

determinados papeis sociais. b) somente à comunicação das pessoas. c) a questões profissionais dos atores sociais. d) a um entendimento dos homens em sociedade a respeito da

produção de riquezas.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

4. Sobre o conceito de status, julgue as assertivas abaixo e assinale aalternativa que agrupa somente as verdadeiras.I – Toda sociedade é formado por um sistema de status ou posições. II – Status é a localização do indivíduo na hierarquia social, de acordo

com a sua participação na distribuição desigual de riqueza, deprestígio e poder.

III – Onde quer que exista igualdade de status, tende a haver algumaforma de manifestação de poder.

IV – Status define uma posição perene (permanente e definitiva),inseparável e própria que cada indivíduo possui ao nascer numadeterminada sociedade.

a) I e III b) I e II c) II e IV d) III e IV e) I e IV

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

5. O modo pessoal e o perfil psicológico de cada indivíduo, analisandoa forma como cada um desempenha seus papéis, não são objetosespecíficos de estudo da sociologia, poisa) a psicologia e a sociologia divergem e não chegam a um acordo

teórico.b) a esta cabem apenas os fenômenos isolados e singulares. c) a esta interessam os fenômenos que se repetem e previsíveis.d) a esta cabem apenas os estudos dos problemas sociais, como a

violência e a fome. e) esta ciência é muito recente e ainda não possui critérios confiáveis

de análise nesse caso.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

6. Prestígio e estima são conceitosa) semelhantes. São conceitos iguais que definem o status de uma

pessoa.b) diferentes, o prestígio de uma pessoa é determinado pelo seu status,

já a sua estima, depende do seu desempenho pessoal.c) diferentes. O prestígio é meramente econômico e a estima está

restrita aos círculos familiares.d) diferentes, pois a estima é a atenção pública que um indivíduo

consegue reter e prestígio depende exclusivamente da sua posiçãoeconômica e de poder aquisitivo.

e) são conceitos contrários e não complementares.

RESOLUÇÃO: Resposta: B

7. No conceito sociológico, ter status éa) possuir bens. b) possuir prestígio.c) possuir estima pessoal. d) possuir poder.e) ocupar uma posição hierárquica.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

8. (ENEM-2013)

TEXTO IEla acorda tarde depois de ter ido ao teatro e à dança; ela lê romances,além de desperdiçar o tempo a olhar para a rua da sua janela ou da suavaranda; passa horas no toucador a arrumar o seu complicado penteado;um número igual de horas praticando piano e mais outras na sua aula defrancês ou de dança.

Comentário do Padre Lopes da Gama acerca dos costumes femininos (1839)

apud SILVA, T. V. Z. Mulheres, cultura e literatura brasileira. Ipotasi –

Revista de Estudos Literários. Juiz de Fora, v. 2. n. 2, 1998.

TEXTO IIAs janelas e portas gradeadas com treliças não eram cadeias confessas,positivas; mas eram, pelo aspecto e pelo seu destino, grandes gaiolas,onde os pais e maridos zelavam, sonegadas à sociedade, as filhas e asesposas.

MACEDO, J. M. Memórias da Rua do Ouvidor (1878). Disponível em:

www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 20 maio 2013 (adaptado).

A representação social do feminino comum aos dois textos é o(a)a) submissão de gênero, apoiada pela concepção patriarcal de família.b) acesso aos produtos de beleza, decorrência da abertura dos portos.c) ampliação do espaço de entretenimento, voltado às distintas classes

sociais.d) proteção da honra, mediada pela disputa masculina em relação às

damas da corte.e) valorização do casamento cristão, respaldado pelos interesses

vinculados à herança.

RESOLUÇÃO:

Os textos enfatizam aspectos comportamentais do papel da

mulher em sociedades tradicionais: no texto I, a visão construída

de mulher ideal, educada e arrumada, porém controlada e

sonegada à sociedade, o que é enfatizada no texto II.

Resposta: A

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1. Sobre o conceito sociológico de status social, é correto afirmar que:a) Todo indivíduo ocupa um único status na sociedade em que vive.b) Um indivíduo ocupa permanentemente o seu status.c) Status significa possuir elevado padrão de vida e consumo.d) Desigualdade de status tende a gerar relações de dominação ou poder.e) Nem todos os indivíduos possuem status na sociedade.

2. Existem diferentes conceitos de mobilidade social. O utilizado porPastore considera a movimentação das pessoas pelas classes sociais,enquanto há outro que prioriza o impacto dos benefícios coletivos ao longodos anos na melhoria da qualidade de vida de uma sociedade, tais comoas iniciativas nas áreas da educação e da saúde, também conhecido comomobilidade coletiva. Partindo dessa concepção, recentemente aOrganização das Nações Unidas (ONU) divulgou uma pesquisa em que oBrasil aparece como o país onde, coletivamente, as pessoas maismelhoraram de vida nos últimos 28 anos. Para chegar a esse resultado, apesquisa levou em consideração a taxa de analfabetismo, a taxa dematrícula no ensino fundamental, a longevidade da população, o ProdutoInterno Bruto (PIB) e a renda per capita dos países. Assim, o melhor índicepara se chegar a essa conclusão seria:a) O PIB per capita.b) O Produto Nacional Bruto.c) O Índice de Desenvolvimento Humano.d) O padrão de consumo da classe dominante.e) A balança comercial do país.

3. “As probabilidades de uma pessoa com pais ricos e bem-educadosnão conseguir se manter na mesma situação são pequenas, enquantoas chances de alguém de origem modesta ascender também sãomenores, apesar de existirem.” (Naércio Menezes Filho)A partir do texto é possível afirmar que:a) Vivemos uma meritocracia, ou seja, cada cidadão possui o que de

fato merece pelo seu desempenho e esforço pessoal.b) Vivemos numa sociedade estamental, ou seja, em que não ocorre a

mobilidade social.c) O capitalismo é um sistema que facilita a mobilidade social.d) As relações sociais do sistema capitalista são democráticas à medida

que se vê coesão entre classes e intensa mobilidade social.e) Apesar de a mobilidade social existir, ela é dificultada pela estrutura

econômica, que tende a reproduzir o sistema desigual.

4. A desigualdade é um conceito mais amplo. Em muitas sociedades,por exemplo, existem desigualdades de prestígio de acordo com a idadeou o gênero. Porém, a estratificação refere-se a um tipo de desigualdadeespecificamente de condição econômica. Uma sociedade está estratifi -cada quando apresenta grupos de pessoas que ocupam mais ou menosa mesma condição de poder aquisitivo e privilégios econômicos,estabelecendo diferentes classes. A partir da leitura do texto, julgue asassertivas abaixo:I. O conceito de desigualdade e estratificação são similares. II. A desigualdade implica sempre diferenças econômicas.III. A estratificação implica diferenças de poder aquisitivo.IV. Quando o texto fala de grupos de pessoas que ocupam mais ou

menos a mesma condição de poder econômico, está se referindo àsociedade de classes.

São verdadeiras apenas:a) I e II. b) I e III. c) II e IV. d) III e IV. e) I e IV.

5. Que comportamento se espera de um professor em sala de aula?Poderá uma autoridade militar usar a mesma severidade exigida nahierarquia militar em suas relações de família? Dessa questão conclui-se quea) o papel é representado de acordo com as expectativas da sociedade.b) a sociedade, para funcionar, exige uma estrutura social hierar quizada

e estratificada.c) o conceito de desigualdade de status revela as relações de classe da

sociedade capitalista.d) a sociedade moderna vive uma crise da noção de autoridade e papel

social.e) numa sociedade moderna, as relações de autoridade são diluídas e

a estratificação social diminui com o advento da tecnologia e progresso.

6. Os status são ocupados pelos indivíduos, mas são fatos que inde -pen dem deles. Isso significa que:a) Os indivíduos já nascem com o status social. b) O status é único e o indivíduo o carrega para sempre.c) O status é definido pelos bens que se possui.d) Os indivíduos não são os seus status. e) O homem é definido pelo que tem e não pelo que é.

7. Estratificação social é o processo, ou o estado de localização hierár -quica dos indivíduos em setores relativamente homogêneos da popu -lação quanto aos interesses, ao estilo de vida e às oportunidades,segun do a sua participação na desigual distribuição de recompensassocialmente valorizadas (riqueza, poder e prestígio). Partindo dessacolocação, julgue as assertivas abaixo e assinale a alternativa que agrupaas verdadeiras.I. A sociedade de classes é um tipo de estratificação. II. Na Índia, em que existe o sistema de castas (divisão baseada nas

pro fi ssões), e na Europa medieval encontramos sociedades esta -men tais. São modelos em que a mobilidade social é intensa.

III. Todas as sociedades conhecem a estratificação social. IV. Todas as sociedades conhecem algum tipo de desigualdade, mas

nem todas conhecem a estratificação. V. Desigualdade de direitos e de deveres e diferenciação de posições

não implicam estratificação.a) I, II e III. b) II e IV. c) I, IV e V. d) II, III e V. e) III, IV e V.

8. “Ao contrário do que muitos imaginam, o Brasil, conhecido por seusaltos índices de desigualdade, é também a terra das oportunidades, oque lhe permite ser o campeão mundial da mobilidade social, dizprofessor da USP”.Assim, pode-se dizer que o Brasil;a) é uma autêntica democracia econômica.b) é o país que mais cresceu economicamente nas últimas décadas.c) é um país de paradoxos e contradições.d) é um país socialmente igualitário.e) é um país equitativo, ou seja, que oferece chances iguais para todos.

9. Em nossa sociedade moderna, classista, a possibilidade de mudançapode criar a ilusão de uma sociedade de fato economicamentedemocrática, quando, na verdade, sabe-se que as oportunidades demudança na estratificação são raras e difíceis.

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Leia e julgue as duas proposições abaixo com base no texto.I. A sociedade de classes raramente possui um sistema justo, já que

as chances de projeção econômica de indivíduo são muito desiguais.II. Nas sociedades tradicionais aristocráticas, as possibilidades de

mobilização social são muito reduzidas. Já as sociedades secula -rizadas, isto é, de organização social predominantemente racional,utilitária e nas quais a tradição é de menor importância, tendem adar mais oportunidades de mudança de status aos seus membros.

Assinale a alternativa:a) Se a primeira for falsa e a segunda verdadeira.b) Se a primeira for verdadeira e a segunda, falsa.c) Se as duas forem falsas. d) Se as duas forem verdadeiras, porém contraditórias.e) Se as duas forem verdadeiras e a primeira estiver relativizando a

segunda.

10. Leia as definições abaixo.I. É a localização do indivíduo na hierarquia social, de acordo com a sua

participação na distribuição desigual de riqueza, de prestígio e poder.II. É o conjunto de expectativas de comportamento padronizado em

relação a cada uma das posições existentes em uma sociedade. Os conceitos definidos em I e II são, respectivamente:a) Papel e status. b) Status e papel.c) Estratificação e mobilidade. d) Prestígio e estima.e) Estima e prestígio.

11.Explique a diferença do conceito de status e papel social.

12.Todas as pessoas têm status? Explique.

13.Diferencie o conceito desigualdade e estratificação.

14.Em que sociedades as condições de mobilidade social são maisdifíceis?

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1) D 2) C 3) E 4) D 5) A

6) D 7) C 8) C 9) E 10) B

11) Status é a localização do indivíduo na hierarquia social, de

acordo com a sua participação na distribuição desigual de

riqueza, de prestígio e poder. A cada status ocupado pelo

indivíduo corresponde um papel social. Papel é o conjunto de

expectativas de comportamento padronizado em relação a

cada uma das posições existentes em uma sociedade.

12) Sim. É comum, na linguagem cotidiana, o emprego do termo

status como sinônimo de prestígio, mas, em sociologia, o

conceito é mais amplo. Todas as pessoas ocupam

inevitavelmente posições na sociedade, quer sejam superiores

ou inferiores. Ter status, portanto, não significa ter muito

prestígio ou poder, mas possuir uma posição específica na

hierarquia social.

13) A desigualdade é um conceito mais amplo. Em muitas socie -

dades, por exemplo, existem desigualdades de prestígio de

acordo com a idade ou o gênero. Porém, a estratificação

refere-se a um tipo de desigualdade especificamente de

condição econômica. Uma sociedade está estratificada

quando apresenta grupos de pessoas que ocupam mais ou

menos a mesma condição de poder aquisitivo e privilégios

econômicos, estabelecendo diferentes classes.

14) Nas sociedades tradicionais aristocráticas.

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ESTIGMA, PRECONCEITO E MINORIA SOCIAL

1. Introdução

A questão do preconceito sempre foi muito polêmica,mas esse debate tornou-se obrigatório e o silêncio sobreo assunto pode ser uma forma de se reproduzir posturaspreconceituosas que emergem constantemente nasrelações sociais.

A Constituição Federal do Brasil, de 1988, tornoucriminosa qualquer postura de preconceito racial e gruposde construção de identidade têm-se fortalecido na lutacontra toda expressão de discriminação.

Vivemos em um mundo cada vez mais marcado peladiversidade, pelo multiculturalismo e pela convivênciaentre grupos étnicos diferentes. A construção de umasociedade mais justa conta com o trabalho de segre gaçãoe superação das posturas preconcei tuosas. Assim,políticas de inclusão social contam, sobretudo, com adissolução dos nós da discriminação que têm origemhistórica.

2. Desnaturalizar

O senso comum comete o erro de naturalizarcomportamentos e aspectos da cultura que, na verdade,são resultantes de processos históricos. Em outrostermos, a ideologia e o senso comum naturalizam arealidade, escondendo a sua origem temporal e espa cial.Desta forma, acredita-se, ser natural a existência de ricose pobres, ou justifica-se o racismo com base nas própriasdiferenças de cor e aspectos físicos dos seres humanos.

É um lugar-comum dizer que todos os homens sãoambiciosos, tornando a ambição uma verdade universal -mente válida, e aí se deixa escapar a construção culturaldos sentimentos humanos, como a ambição, o ciúme ouo amor romântico.

Desnaturalizar a realidade social significa recusarargumentos que justificam injustiças e isso se faz atravésdo resgate dos conteúdos históricos pertinentes.

3. Três categorias fundamentais

Minoria, em Sociologia, é todo grupo social, racial,cultural ou de nacionalidade, autoconsciente, em busca demelhor status compartilhando do mesmo habitat,economia, ordem política e social com outro grupo (racial,cultural ou de nacionalidade), que é dominante (ecológica,econômica, política ou socialmente) e que não aceita osmembros do primeiro em igualdade de condições.

Preconceito é a atitude social que surge emcondições de conflito com a finalidade de auxiliar amanutenção do status ameaçado.

Estigma é um termo recorrente na Medicina eBiologia, pois se trata de marcas e sinais físicos aparentesque restaram de uma doença ou deficiência. EmSociologia, o termo adquire uma dimensão maiscomplexa. Uma pessoa carrega um estigma quando, poralgum motivo, é portador, em sua história pessoal, de algoque o pode tornar alvo de preconceito.

A diversidade torna-se motivo de discriminação.

4. Texto

A violência do estigma e do preconceito à luz da

representação social

Por Mary Rangel

(Texto adaptado)

“A representação social é uma forma de conheci men -to prático, de senso comum, que circula na sociedade.Esse conhecimento é constituído de conceitos e imagenssobre pessoas, papéis, fenômenos do cotidiano.

As pessoas constroem suas representações nos seusgrupos sociais, através das conversas, das visões, dascrenças que veiculam.

Assim, os conceitos e imagens vão sendo aceitos,naturalizados, considerados verdadeiros, embora sejamapenas representações. Muitos dos preconceitos, dosestigmas, das exclusões de pessoas, decorreram desseprocesso e dos equívocos que podem gerar.O confronto das representações com a realidade, quandosubmetido a uma análise crítica e fundamentada, podedemonstrar esses equívocos.

MÓDULO 8 Estigma, preconceito, minoria social, raça, etnia e racismo

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Quando se discute violência, como fator de ameaça àvida, não se pode omitir ou dispensar a discussão deconceitos que podem gerá-la. Esse, sem dúvida, é o casodos conceitos de estigma, exclusão, ironia, indiferença,preconceito.

A construção, aceitação e divulgação do preconceitoe do estigma já são, em si, formas de violência, que ge -ram mais violência. Essa construção é realizada por ho -mens, seres pensantes, capazes de raciocínio e deintenções.

É preciso, portanto, compreender melhor o estigma eo preconceito. O estigma é uma marca, um rótulo que seatribui a pessoas com certos atributos que se incluem emdeterminadas classes ou categorias diversas, porémcomuns na perspectiva de desqualificação social. Osrótulos dos estigmas decorrem de preconceitos, ou seja,de ideias preconcebidas, cristalizadas, consolidadas nopensamento, crenças, expectativas socioindividuais.

Assim, percorrendo vários campos das ações erelações sociais, os estigmas alcançam tanto os pobres eos meninos de rua, como os portadores de HIV, os queapresentam necessidades especiais (físicas, mentais,psicológicas) e os homossexuais. E os conceitos préviosou previamente estabelecidos antecedem os atributos oucaracterísticas pessoais a que se referem.

Desse modo, os atributos ou características quejustificam o estigma são previamente avaliados, compouca ou nenhuma oportunidade de análise crítica econsciente, que os associe às circunstâncias reais da vidae das relações humanas, sociais. Consequente men te, opreconceito é inflexível, rígido, imóvel, prejudicial àdiscussão, ao exame fundamentado e à revisão do queestá preconcebido.

Os que constroem ou aceitam preconceitos, cons -troem e aceitam estigmas. Ambos – preconceitos eestigmas – promovem e naturalizam palavras ou açõesviolentas. Por conseguinte, essa construção pode ser aorigem e o início da violência.

Sabe-se que a violência não se define somente noplano físico; apenas a sua visibilidade pode ser maiornesse plano. Essa observação se justifica quando seconstata que violências como a ironia, a omissão eindiferença não recebem, no meio social, os mesmoslimites, restrições ou punições que os atos físicos deviolência. Entretanto, essas ‘armas’ de repercussãopsicológica e emocional são de efeito tão ou maisprofundo que o das armas que atingem e ferem o corpo,porque as ‘armas brancas’ da ironia ferem um valorprecioso do ser humano: a autoestima.

A luta e o remédio contra o preconceito e o estigmaencontram-se nas análises críticas e situadas queencaminham novos significados, ou seja, que argumen -tam e apoiam ressignificações. Dessas ressignificaçõespodem surgir novos conceitos, mais reais, mais consis -

ten tes, mais abertos e flexíveis e, portanto maishumanos. Encontros como o da ‘Sociedade Viva’ (OMinistério da Saúde promoveu, durante o ano de 2003,uma série de encontros para a discussão da violência eda saúde no Centro Cultural de Saúde, sediado no Rio deJaneiro. A questão da violência a partir de estigmas epreconceitos foi um dos temas desses encontros.) sãoopor tuni dades expres sivas, relevantes, para as ressignifi -cações que se fazem necessárias, prementes, para osavanços da vida, da convivência e da consciência social.

As novas ressignificações por uma vida, umaconvivência e uma consciência social mais inclusivasrequerem, sobretudo, atitudes que assumam um dosvalores mais expressivos dos tempos contemporâneos: aaceitação da pluralidade e, portanto, das diferenças, dasespecificidades, das singularidades.

Mais uma vez recorrendo à análise crítica efundamentada, que aproxima visões e consciências dascircunstâncias reais da vida, observa-se que cadaindivíduo é singular, é diferente, é único em suascaracterísticas; respeitá-lo, qualificá-lo, acolhê-lo, não éuma concessão, mas sim um direito; esse direito é social,é político, é de cidadania.”

RAÇA, ETNIA E RACISMO

A criatividade só pode ter origem na diferença.

(Yiehudi Menuhin – um dos maiores violinistas da história)

5. Introdução

A ideia de raça surgiu aproximadamente no séculoXVIII, antecedida por vagas noções de descendênciaformuladas na Bíblia. Raça, portanto, é uma categoriaconstruída há pouco tempo e não tem muita relação coma natureza humana, mas com interpretações acerca dadiversidade. No século XIX, o referencial teórico doshomens era baseado no conceito de progresso, evolu çãoe civilização e acreditava-se que esses conceitos fossemverdades universais e naturais. Assim, a desigualdadehumana também deveria ter uma origem natural e anoção de raça tornou-se uma explicação biológica para adiversidade cultural e humana.

A sociedade brasileira, fortemente miscigenada, temcaracterísticas de uma sociedade “racializada”, ou seja,em que a questão das raças ainda está muito presente ecolocá-la em debate é tarefa necessária, sem a qual nãose constituirá um país mais justo e melhor. Vê-se, noBrasil e no mundo, que o cotidiano está repleto deatitudes preconceituosas e racistas e que, muitas vezes,são encaradas com certa naturalidade.

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A diversidade étnica e cultural enriquece a existência humana.

Considerando que o nosso país traz uma herançaescravocrata em sua história recente, os números aseguir revelam que a questão racial não está solucionadae escondê-la significa compactuar com a situação econtribuir para reproduzi-la.

Os negros e pardos, no Brasil, são menos da metadeda população, mas 64% dos pobres e 69% dos indigentessão negros. Com o mesmo nível de formação de umbranco, o trabalhador negro ganha 53,99% a menos. Amulher negra recebe um salário 49,47% menor que o deuma branca. Vinte e sete por cento dos estudantes dapopulação negra, entre 11 e 14 anos, estão entre o 6.º e9.º ano, enquanto entre os brancos, o índice é de 44%. Ataxa de analfabetismo é três vezes maior entre os negros.

Uma visão científica e rigorosa não permite natura -lizar tais dados, ou seja, faz-se necessário perceber que talsituação resulta de um processo histórico e que urge aadoção de políticas e posturas capazes de alterar essequadro.

6. Conceito de Etnia e Cultura Brasileira

Por Roque de Barros Laraia (antropólogo)

(Texto adaptado)“Falar em etnia brasileira é uma forma de simplifi -

cação, pois o Brasil foi historicamente constituído a partirda fusão de muitas etnias. Mas o que é uma etnia? Emprimeiro lugar, o conceito de etnia é diferente do conceitode raça. Enquanto o que caracteriza a etnia são fatoresculturais, como tradição, língua e identidade, o quedistingue raça são fatores biológicos como a cor da pele,o formato da cabeça, o tipo de cabelo etc. Assim, osmembros de uma etnia compartilham de valores culturaispróprios e se comunicam por meio de uma língua que étambém própria. As pessoas que consti tuem essapopulação se identificam, e são reconhecidas pelosoutros como membros da etnia.

Faz parte de nosso jargão histórico dizer que o Brasilfoi formado por três raças, omitindo muitas vezes o fatode ser ele um país pluriétnico. Esta multiplicidade étnicajá existia muito antes da chegada de Cabral. As popu -lações indígenas, de origem asiática, eram constituídasde centenas de etnias, o que significava uma enormediversidade linguística e cultural, basta dizer que aindahoje existem mais de duzentas etnias indígenas.

Por outro lado, sabe-se que as populações de origemafricana que vieram para o Brasil pertenciam a inúmerasetnias portadoras de costumes, crenças e idio masdiferentes que muito contribuíram para a forma ção dacultura brasileira. No entanto, hoje, é muito difícil falar emuma etnia afro, tendo em vista que o intenso processo deaculturação praticamente extinguiu as línguas de ori gemafricana – embora muitas de suas palavras incorpo raram-se ao idioma nacional – e também fez desaparecer asidentidades étnicas originais.

Finalmente, a população branca também não éoriginária de uma mesma etnia. Os primeiros coloniza do -res vieram de Portugal, mas a partir da segunda metadedo século XIX, o País foi palco de um grande processoimigratório, sendo que muitos dos imigrantes europeusque aqui chegaram se identificavam muito mais por meiode suas identidades étnicas do que nacionais. Bastalembrar, como exemplo, que quando a imigração italianase iniciou no Brasil, a Itália mal tinha completado a suaunificação como Estado-nação. A partir do início do séculoXX, um novo contingente de etnias asiáticas chegou aoBrasil.

Esta grande diversidade étnica que constituiu o País,longe de ser um problema, resultou em uma riquezacultural que se expressa por intermédio das artes – damúsica principalmente –, da culinária, das crenças, dopróprio modo de ser dos brasileiros etc. O mais importan -te fator de unidade nacional foi a língua, este portuguêsfalado no Brasil, diferente do de Portugal porque foiformado pela adição de palavras originárias das muitasetnias que formam o País.”

O Brasil é um país marcado pela miscigenação.

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1. Assinale a alternativa que melhor define o conceito de raça.

(http://humanascom.blogspot.com.br/2010/10/questoes-sociologia-etnia-e-raca.html - adaptados)

a) características físicas e genéticas.b) afinidades linguísticas e culturais.c) cor da pele, tipo de cabelo e gênero.d) a classificação de grupos sociais em superior e inferior.e) o desejo de um povo dominar outro povo.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

2. Podemos afirmar que o conceito de etniaa) é discriminatório.b) define diferenças culturais e genéticas.c) envolve afinidades culturais e linguísticas.d) classifica pessoas segundo traços genéticos.e) iguala os povos.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

7. Texto: Racismo

Por Ana Sofia Ribeiro Durão

(Texto adaptado)

“O racismo é a tendência do pensamento, ou domodo de pensar em que se dá grande importância ànoção da existência de raças humanas distintas esuperiores umas às outras. Onde existe a convicção deque alguns indivíduos e sua relação entre característicasfísicas hereditárias, e determinados traços de caráter einteligência ou manifestações culturais, são superiores aoutros.

O racismo não é uma teoria científica, mas umconjunto de opiniões preconcebidas onde a principalfunção é valorizar as diferenças biológicas entre os sereshumanos, em que alguns acreditam ser superiores aosoutros de acordo com sua matriz racial. A crença daexistência de raças superiores e inferiores foi utilizadamuitas vezes para justificar a escravidão, o domínio dedeterminados povos por outros, e os genocídios queocorreram durante toda a história da humanidade.

Os racistas definem uma raça como sendo um grupode pessoas que têm a mesma ascendência. Diferenciamas raças com base em características físicas como a corde pele e o aspecto do cabelo. Investigações recentesprovam que a ‘raça’ é um conceito inventado. A noção de‘raça’ não possui qualquer fundamento biológico. Apalavra ‘racismo’ é igualmente usada para descrever umcomportamento abusivo ou agressivo para com osmembros de uma ‘raça inferior’.

O racismo reveste-se de várias formas nos diversospaíses, consoante a sua história, cultura e outros fatoressociais. Uma forma relativamente recente de racismo, porvezes denominada ‘diferenciação étnica ou cultural’,defende que todas as raças e culturas são iguais, mas nãodeveriam se misturar, de maneira a conservar a suaoriginalidade. Não há nenhuma prova científica daexistência de raças diferentes. A biologia só identificouuma raça: a raça humana.

A importância que o homem dá à cor da pele do seusemelhante é deveras preocupante. Na realidade, em

muitos casos a diferença da cor da pele é uma barreiramuito mais determinante para a comunicação entre aspessoas do que a própria diferença linguística, isto podeser considerado um fenômeno antinatural, uma vez quenão vemos na natureza os animais preocupados com asdiferenças de pelagem ou penas.

A diferença de cor entre as pessoas tem uma expli ca -ção científica para a qual o homem não contribui mini -mamen te: a maior ou menor concentração de melanina dapele, que torna a pele da pessoa mais o menos escura.”

"O racismo começa quando a diferença, real ouimaginária, é usada para justificar uma agressão. Umaagressão que assenta na incapacidade para compreen -der o outro, para aceitar as diferenças e para seempenhar no diálogo".

Mário Soares, ex-presidente de Portugal

O conceito de raça não é natural, mas ao contrário, trata-se de umaconstrução humana.

Legislação que proíbe as descriminações no exercício dedireitos, por motivos baseados na raça, cor nacio na lidadeou origem étnica: Lei n.º 134/99, de 28 de Agosto de 1999;Decreto-Lei n.º 111/2000, de 4 de Julho de 2000.

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3. Sobre os conceitos de etnia e raça, podemos afirmar que a) serviram para justificar a dominação de uns povos por outros.b) defendem a harmonia entre os povos de diferentes culturas.c) o primeiro valoriza a cultura e o segundo discrimina.d) são diferentes e opostos em seus objetivos.e) são iguais.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

4. A segregação raciala) foi exemplificada pelo apartheid na África do Sul.b) contribuiu para a democracia entre os povos.c) valoriza as diferenças étnicas.d) diminui as diferenças.e) é de caráter pacífico.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

5. O racismo (preconceito de cor) no Brasila) tem relação direta com o preconceito contra os homossexuais.b) termina com a promulgação da Constituição de 1988.c) tem origem com a escravidão do negro africano.d) surge no século XIX, com o apartheid.e) está crescendo cada dia mais.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

6. O etnocentrismo está relacionado, mais especificamente, comopreconceito a) cultural. b) sexual. c) regional.d) físico. e) de cor.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

7. Classifique os casos seguintes em(E) ETNOCENTRISMO(S) SEGREGAÇÃO(R) RACISMO( ) Era assim há alguns anos: havia banheiros para brancos e banheiros

para negros; a praia era dividida da mesma forma; jamais um negropensaria em casar-se com um branco. Estávamos separados.

( ) A Igreja dizia no século XVI que os negros africanos eramdescendentes de Caim, em quem Deus teria colocado uma marca.Ou então, eram descendentes de Cam, filho de Noé, em quem esteteria lançado uma maldição para ser escravo de seus irmãos. Porisso e tudo mais, os negros foram considerados inferiores, dignosde trabalhos forçados.

( ) Os europeus diziam: somos civilizados e temos a obrigação de levara nossa cultura aos povos atrasados. Estavam falando da África eda Ásia – era o neocolonialismo ou imperialismo do século XIX.

( ) Quando os europeus chegaram à América e mantiveram osprimeiros contatos com os nativos, entenderam que precisavamcatequizá-los (ensinar a religião) e ensinar seu modo de vida, poisjulgaram a cultura deles inferior. Daí veio sofrimento, dor e morte.

RESOLUÇÃO:

Resposta: S, R, E, E

8. (UNESP-2013) – Hoje, a melhor ciência informa que as etnias sãovariações cosméticas do núcleo genético humano, incapazes so zinhasde determinar a superioridade de um indivíduo ou grupo sobre outros.Segundo o médico Sérgio Pena, não somos todos iguais, somosigualmente diferentes. É uma beleza, do ponto de vista da antropologiagenética, esperar que, um dia, ela ajude a desvendar o enigma clássicoda condição humana que é a eterna desconfiança do outro, do diferente,do estrangeiro. O DNA nada sabe desse sentimento. No seu coraçãogenético, a espécie humana é tão mais forte e sadia quanto maisvariações apresenta.

(Fábio Altman. Unidos pelo futebol … e pelo DNA.

Veja, 09.06.2010. Adaptado.)

Esta reportagem aborda o tema das diferenças entre as etnias humanassob um ponto de vista contrastante em relação a outras abordagensvigentes ao longo da história. Em termos éticos, trata-se de umaabordagem promissora, poisa) opõe-se às teorias antropológicas que criticaram o etnocentrismo

ocidental em seu papel de justificação ideológica do colonialismo.b) apresenta argumentos científicos que provam o caráter prejudicial

da miscigenação para o progresso da humanidade.c) fornece uma fundamentação científica para justificar estereótipos

racistas presentes no pensamento coti diano e no senso comum.d) permite um questionamento radical dos ideais univer salistas

inspiradores de políticas de preservação dos direitos humanos.e) estabelece uma ruptura com teorias eugenistas que defenderam a

purificação racial como meio de aper feiçoamento da humanidade.

RESOLUÇÃO:

A abordagem científica apresentada afirma que as etnias são

incapazes de determinar a superioridade genética e que quanto

mais diversa a espécie humana, mais saudável ela será. Isso

estabelece uma ruptura com as teorias eugenistas que pregavam

a superio ridade de um grupo sobre outros.

Resposta: E

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9. (UNESP-2013) – A República Islâmica do Irã abençoa e incentivaoperações de troca de sexo, em nome de uma política que consideratodo cidadão não heterossexual como espírito nascido no corpo errado.Com ao menos 50 cirurgias por ano, o país é recordista mundial emmudança de sexo, após a Tailândia. Oficialmente, gays não existem nopaís. Ficou famosa a frase do presidente Mahmoud Ahmadinejad dita auma plateia de estudantes nos EUA em 2007, de que “não háhomossexuais no Irã”. A homossexualidade nem consta da lei. Massodomia é passível de execução. […] Uma transexual operadaconfidenciou um sentimento amplamente compartilhado em silêncio:“Não teria mutilado meu corpo se a sociedade tivesse me aceitado dojeito que eu nasci”.

(Samy Adghirny. Operação antigay. Folha de S.Paulo,13.01.2013.)

O incentivo a cirurgias de troca de sexo no Irã é motivado pora) tabus sexuais decorrentes do fundamentalismo re li gio so

hegemônico naquele país.b) critérios de natureza científica que definem o que é uma

“sexualidade normal”.c) uma política governamental fundamentada em prin cípios liberais de

cidadania.d) influências ocidentais ocasionadas pelo processo de globalização

cultural pela internet.e) pressões exercidas pelos movimentos sociais homosse xuais pelo

direito à cirurgia.

RESOLUÇÃO:

O grande número de cirurgias para mudança de sexo no Irã não

resulta de uma tolerância em relação à opção sexual do indivíduo,

mas pela explicação religiosa de que espíritos nasceram em corpos

errados. Assim, as cirurgias de mudança de sexo permitem

reproduzir a suposição de que não há homossexuais no país.

Resposta: A

10. (ENEM-2013) – Tenho 44 anos e presenciei uma transformaçãoimpressionante na condição de homens e mulheres gays nos EstadosUnidos. Quando nasci, relações homossexuais eram ilegais em todos osEstados Unidos, menos Illinois. Gays e lésbicas não podiam trabalharno governo federal. Não havia nenhum político abertamente gay. Algunshomossexuais não assumidos ocupavam posições de poder, mas atendência era eles tormarem as coisas ainda piores para seussemelhantes.

ROSS, A. Na máquina do tempo. Época, ed. 766, 28 jan. 2013.

A dimensão política da transformação sugerida no texto teve comocondição necessária aa) ampliação da noção de cidadania.b) reformulação de concepções religiosas.c) manutenção de ideologias conservadoras.d) implantação de cotas nas listas partidárias.e) alteração da composição étnica da população.

RESOLUÇÃO:

O texto refere-se a uma transformação que ocorreu na sociedade

estadunidense, em que a opção sexual dos cidadãos passa a ser

respeitada e deixa de ser obstá culo ao exercício político.

Resposta: A

11. (UNESP) – O hormônio testosterona está ligado ao egoísmo,segundo uma pesquisa inglesa. Em testes feitos por cientistas daUniversity College London, na Grã-Bretanha, mulheres que tomaramdoses do hormônio masculino mostraram comportamento egocêntricoquando tinham de lidar com problemas em pares.Quando os pesquisadores ministraram placebo às voluntárias antes dostestes, elas cooperaram entre si. O estudo ajuda a explicar como oshormônios moldam o comportamento humano.

(Testosterona pode induzir comportamento egoísta. Veja, 01.02.2012.)

O pressuposto fundamental assumido pela pesquisa citada para explicaro comportamento humano pode ser identificado coma) as diferenças sociais de gênero.b) o determinismo biológico.c) os fatores de natureza histórica.d) os determinismos materiais da sociedade.e) a autonomia ética do indivíduo.

RESOLUÇÃO:

O hormônio masculino, na pesquisa, apareceu como determinação

biológica às inclinações egocêntricas.

Resposta: B

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1. “A construção de uma sociedade mais justa conta com o trabalho dedessegregação e superação das posturas preconceituosas”. O sentido do termo dessegregar aqui empregado é:a) Desagregar. b) Dividir.c) Agregar. d) Acabar com a segregação.e) Afastar.

2. Assinale a alternativa que completa corretamente a frase seguinte:“Assim, políticas de inclusão social contam, sobretudo, com adissolução dos nós da discriminação que tem _________________.”a) origem natural b) origem geográfica c) origem étnica d) origem histórica e) origem física e racial

3. Em entrevista a Caio Caramico Soares, José de Souza Martinsdeclara: "A minha crítica da concepção de exclusão e da ideologia quedela decorre é para proclamar que nelas se oculta o verdadeiro problemaa ser debatido e a ser resolvido: as formas perversas de inclusão socialque decorrem de um modelo de reprodução ampliada do capital, que, nolimite, produz escravidão, desenraizamentos, pobreza e também ilusõesde inserção social. Não há propriamente exclusão, e sim formasanômalas e injustas de inclusão."

(Folha de S. Paulo, 15/09/2002)

Segundo a declaração do sociólogo brasileiro José de Souza Martins,podemos afirmar que:I. Quando fala em desenraizamento, está fazendo referência à

naturalização, que não percebe as raízes históricas dos fenômenos. II. Não existe e nunca houve a inserção social, trata-se de uma ilusão. III. A ideologia faz parecer o sistema econômico mais justo do que é. IV. A inclusão social é perversa e não deve ocorrer.

São verdadeiras e coerentes apenas:a) I e II. b) II e III. c) IIII e IV. d) I e III. e) I e IV.

4. “Desnaturalizar a realidade social significa recusar argumentos quejustificam injustiças, e isso se faz através do resgate dos conteúdoshistóricos pertinentes.” Podemos, assim, dizer que o olhar sociológico adequado é dea) naturalização. b) preconceito.c) ideologia. d) alienação.e) enraizamento.

5. “Todo grupo social, racial, cultural ou de nacionalidade, autocons -ciente, em procura de melhor status compartilhado do mesmo habitat,economia, ordem política e social com outro grupo (racial, cultural ou denacionalidade), que é dominante (ecológica, econômica, política ousocialmente) e que não aceita os membros do primeiro em igualdade decondições.” Tal conceito define o termo:a) Cultura.b) Minoria social.c) Preconceito e discriminação.d) Etnia.e) Raça.

6. Leia as proposições abaixo e assinale as verdadeiras. Em seguida,assinale a alternativa que agrupa as verdadeiras.I. Preconceito é atitude social que surge em condições de conflito com

a finalidade de auxiliar a manutenção do status ameaçado. II. Estigma é um termo recorrente na Medicina e Biologia, pois se trata

de marcas e sinais físicos aparentes que restaram de uma doença oudeficiência.

III. Em Sociologia, o termo estigma adquire uma dimensão maiscomplexa. Uma pessoa carrega um estigma quando, por algummotivo, é portador, em sua história pessoal, de algo que o podetornar alvo de preconceito.

IV. Os conceitos e imagens vão sendo construídos, aceitos, natura -lizados, considerados verdadeiros, e de fato são represen tações fiéisda realidade. Muitos dos preconceitos, dos estigmas, das exclusõesde pessoas, decorreram desse processo e merecem certo crédito,pois são construídos sobre relações e experiências reais.

V. Quando se discute temas como a violência, como fator de ameaçaà vida, deve-se omitir ou dispensar a discussão de conceitos quepodem gerá-la, para evitar o uso de preconceitos.

São verdadeiras apenas: a) I, II e IV. b) I, III e V. c) I, II e III.d) II, IV e V. e) III, IV e V.

7. “A construção, aceitação e divulgação do preconceito e do estigmajá são, em si, processos violentos, que geram violência. Essa construçãoé realizada por homens, seres pensantes, capazes de raciocínio e deintenções.” A colocação acima pretende:a) Imputar responsabilidade aos homens que reproduzem preconceitos.b) Mostrar que os homens que usam olhares preconceituosos são

vítimas de violência.c) Indicar que aceitar o preconceito é uma atitude de homens

inteligentes.d) Lembrar que seres pensantes e de intenções constroem

naturalmente preconceitos.e) Indicar que a divulgação de violência é uma forma de preconceito.

8. Por que a autora (Rangel) afirma que o preconceito é inflexível?

9. O que a autora pretende afirmar ao empregar a palavra ressigni -ficações?

10. Segundo o texto de Ana S. Durão, existe uma tendência hojeafirmando que todas as raças são iguais, mas que não deveriam semisturar, para permitir a preservação das raças originais. O que a autorapensa sobre tal tendência? Justifique.

11. Elabore uma reflexão pessoal relacionando a ideia de diferenças eigualdade.

12.O homem vê mundo através da sua cultura e considera o seu modode vida como o mais correto e natural. Trata-se de um fenômenouniversal denominado:a) etnocentrismo. b) antropocentrismo. c) padrão de comportamento. d) apatia cultural.e) aculturação.

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13.Os membros compartilham valores culturais próprios e secomunicam por meio de uma língua que é também própria. As pessoasque constituem essa população se identificam, e são reconhecidas pelosoutros. Os membros, dessa forma, fazem parte dea) uma raça. b) uma mesma origem física.c) uma etnia. d) uma condição existencial idêntica.e) um país ou Estado.

14.“Os negros e pardos, no Brasil, são menos da metade da população,mas 64% dos pobres e 69% dos indigentes são negros. Com o mesmonível de formação de um branco, o trabalhador negro ganha 53,99% amenos. A mulher negra recebe um salário 49,47% menor que o de umabranca. Vinte e sete por cento dos estudantes da população negra, entre11 e 14 anos, estão entre o 6.º e 9.º ano, enquanto entre os brancos, oíndice é de 44%. A taxa de analfabetismo é três vezes maior entre osnegros.”

Os dados acima sugerem:a) Os povos descendentes da tropicalidade climática, como índios e

afrodescendentes possuem uma inabilidade constitutiva para odesenvolvimento econômico.

b) Os negros, no Brasil, herdaram historicamente uma condição socialdesfavorável, o que justifica as diferenças verificadas nos dadosacima, e, portanto, não há muito o que se possa fazer de imediatopara reverter a situação.

c) A geografia moderna já não aceita a explicação climática comojustificativa para o subdesenvolvimento, e, portanto, as razões paraexplicar os dados acima devem ser encontrados nos argumentos dediferença racial.

d) As reais causas que podem explicar e justificar as diferençasverificadas nos dados acima estão nas produções culturais dos povosnegros e africanos, e não nas questões raciais.

e) Uma visão científica e rigorosa não permite naturalizar tais dados, ouseja, faz-se necessário perceber que tal situação resulta de umprocesso histórico e que urge a adoção de políticas e posturascapazes de alterar esse quadro.

15.Sobre a questão de raça e etnia, julgue as assertivas abaixo eassinale a alternativa que agrupa as verdadeiras. I. Falar em etnia brasileira é uma forma de simplificação, pois o Brasil

foi historicamente constituído a partir da fusão de muitas etnias. II. O conceito de etnia é diferente do conceito de raça. Enquanto o que

caracteriza a etnia são fatores culturais, como tradição, língua eidentidade, o que distingue raça são fatores biológicos como a cor dapele, o formato da cabeça, o tipo de cabelo etc.

III. Assim, os membros de uma raça compartilham de valores culturaispróprios e se comunicam por meio de uma língua que é tambémprópria.

IV. As pessoas que constituem essa população se identificam, e sãoreconhecidas pelos outros como membros de certa raça.

a) apenas I e II. b) apenas I e III. c) apenas II e IV. d) apenas III e IV. e) apenas I e IV.

16.“Faz parte de nosso jargão histórico dizer que o Brasil foi formado portrês raças, omitindo muitas vezes o fato de ser ele um país pluriétnico.Esta multiplicidade étnica já existia muito antes da chegada de Cabral.”O texto refere-sea) aos imigrantes que habitam o país há séculos.b) aos invasores holandeses e franceses.

c) aos povos negros que formavam o povo autóctone (originário)dessas terras.

d) às diversas etnias indígenas dessas terras.e) à composição das raças negras, brancas, índias e amarelas.

17.“As populações indígenas, de origem asiática, eram constituídas de

centenas de etnias, o que significava uma enorme diversidade linguís -

tica e cultural basta dizer que ainda hoje existem mais de duzentas

etnias indígenas.

Por outro lado, sabe-se que as populações de origem africana que

vieram para o Brasil pertenciam a inúmeras etnias portadoras de

costumes, crenças e idiomas diferentes que muito contribuíram para a

formação da cultura brasileira. No entanto, hoje, é muito difícil falar em

uma etnia afro, tendo em vista que o intenso processo de aculturação

praticamente extinguiu as línguas de origem africana – embora muitas

de suas palavras incorporaram-se ao idioma nacional – e também fez

desaparecer as identidades étnicas originais.

Finalmente, a população branca também não é originária de uma

mesma etnia. Os primeiros colonizadores vieram de Portugal, mas a

partir da segunda metade do século XIX, o País foi palco de um grande

processo imigratório, sendo que muitos dos imigrantes europeus que

aqui chegaram se identificavam muito mais por meio de suas

identidades étnicas do que nacionais. Basta lembrar, como exemplo,

que quando a imigração italiana se iniciou no Brasil, a Itália mal tinha

completado a sua unificação como Estado-nação. A partir do início do

século XX, um novo contingente de etnias asiáticas chegou ao Brasil.”

A partir do texto, é possível concluir que:a) O Brasil é economicamente inviável, em parte, devido à falta de

identidade nacional homogênea.b) O Brasil é um país pluriétnico.c) As diversas raças que formam o Brasil originaram a formação de um

povo miscigenado e sem identidade.d) As diversas raças que formam o país são responsáveis pela

heterogeneidade conflituosa, apesar do corrente discurso a respeitode uma suposta democracia racial brasileira. Prova disso é a restritamiscigenação que ocorre no País.

e) Há, no Brasil, forte miscigenação e ampla democracia racial.

18.Sobre a questão da formação étnica nacional, julgue as assertivasabaixo.I. O Brasil é constituído de grande diversidade étnica e racial, o que

contribui para a formação de uma cultura amorfa, sem tradições.II. Esta grande diversidade étnica que constituiu o País, longe de ser

um problema, resultou em uma riqueza cultural que se expressa porintermédio das artes – da música principalmente –, da culinária, dascrenças, do próprio modo de ser dos brasileiros etc.

III. O Brasil possui alguns cadinhos culturais muito raros e ricos, comona Bahia e no Maranhão.

IV. A presença de europeus ajudou a escapar da pobreza culturalherdada das demais etnias.

Assinale a alternativa que agrupa corretamente as verdadeiras.a) I e II apenas. b) I e III apenas c) II e III apenas. d) II e IV apenas.e) III e IV apenas.

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19. É a tendência do pensamento, ou do modo de pensar em que se dágrande importância à noção da existência de raças humanas distintas esuperiores umas às outras. Trata-se do:a) Etnocentrismo. b) Evolucionismo.c) Estigma. d) Racismo.e) Fascismo e Nazismo.

20. Leia o texto abaixo e relacione-o com o item 2 da aula, intituladoDesnaturalizar. “Assim, os conceitos e imagens vão sendo aceitos, naturalizados,considerados verdadeiros, embora sejam apenas representações.Muitos dos preconceitos, dos estigmas, das exclusões de pessoas,decorreram desse processo e dos equívocos que podem gerar”.

(M. Rangel)

21.Sobre o texto de M. Rangel, julgue as afirmativas abaixo, colocandoV para as verdadeiras e F para as falsas.

22.Com base nas leituras desta aula, julgue as proposições abaixo,colocando V para as verdadeiras e F para as falsas.

23.Afirma-se que o Brasil é um país formado por três raças, massegundo o professor Roque Laraia, o Brasil é um país pluriétnico antesmesmo do seu descobrimento. Comente com base no texto de Laraia.

I. Representação social é o contrário de senso comum. ( )

II. O preconceito é uma expressão de violência. ( )

III. A ironia, omissão e indiferença são armas derepercussão emocional com efeitos mais suaves secomparados com aqueles provocados por armas queferem o corpo.

( )

IV. O preconceito corrói a autoestima do sujeito, o quepode promover um efeito desastroso para a sua históriapessoal.

( )

I. Raça e etnia são sinônimas e fazem referência àdiversidade das espécies humanas.

( )

II. Raça é uma categoria consistente e científica paraexplicar a natureza humana.

( )

III. Segundo muitos biólogos, há uma única raça: a raçahumana.

( )

IV. O Brasil possui índices sociais que revelam que osafrodescendentes são portadores de um estigma social.

( )

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1) D 2) D 3) D

4) E 5) B 6) C 7) A

8) Porque os atributos ou características que justificam o

estigma são previamente avaliados, com pouca ou nenhuma

oportunidade de análise crítica e consciente, que os associe

às circunstâncias reais da vida e das relações humanas,

sociais.

9) Das ressignificações podem surgir novos conceitos, mais reais,

consistentes, abertos e flexíveis e, portanto, mais humanos.

Novas ressignificações, por uma vida e uma consciência social

mais inclusivas, requerem atitudes que assumam a aceitação

da pluralidade e, portanto, das diferenças, das especificidades

e das singularidades.

10) Segundo a autora, a proposta é incoerente, pois não existe

nenhuma prova científica que sustenta a categoria de raça

original ou raça pura.

11) Espera-se que o aluno compreenda que a construção de uma

sociedade mais justa, marcada pela equidade, saiba incorporar

as diferenças culturais, biológicas e existenciais, por exemplo.

12) A 13)C 14)E 15)A 16)D

17) B 18)C 19)D

20) A ideologia e o senso comum naturalizam a realidade, escon -

dendo sua origem histórica e cultural. Assim, desnatu ralizar

a realidade social significa recusar argumentos que justificam

as injustiças, e isso se faz através do resgate dos conteúdos

históricos pertinentes.

21) Resposta: F V F V

22) Resposta: F F V V

23) O autor não leva em consideração a categoria raça, mas a de

etnia, que faz referência à cultura e não aos aspectos

biológicos. Os grupos indígenas brasileiros são de diversas

etnias, assim como os brancos e negros. Para Laraia, a

diversidade étnica do nosso país resultou numa grande

riqueza do tecido cultural, particularmente na formação da

língua nacional.

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1. Introdução

O cidadão e as instituições em geral possuemdeveres e obrigações para com a sociedade. Nos últimosanos, tem crescido a consciência e o trabalho em torno daresponsabilidade social por parte das empresas de capitalprivado.

O desenvolvimento da ciência ecológica contribuiupara aumentar a preocupação com o meio ambiente.Certas atividades industriais ou a implantação de umafábrica pode provocar um impacto sobre atividadeseconômicas das populações locais. Assim, seria umexemplo de responsabilidade social se a fábrica criasseum projeto para minimizar tais impactos, desenvolvendoalternativas de sobrevivência das pessoas que viviam etrabalhavam no local antes das instalações fabris e seesforçasse para estabelecer um novo cenário no local.

Mãos Terra, EUVI Marketing. Sustentabilidade é a conciliação entreprogresso e proteção ambiental.

A empresa passaria a se preocupar com os impactossociais e naturais, desenvolvendo projetos para compen -sar os prejuízos. Assim, podemos afirmar que o chamadodesenvolvimento sustentável é um aspecto daresponsa bilidade social.

Uma empresa poderá patrocinar e desenvolverprogramas de inclusão social, de educação, qualifica ção,incentivar um esporte ou outra área cultural. Responsabilidade Social Empresarial é a forma de gestãoética que tem a organização de suas partes interessadas,com o objetivo de minimizar impactos negativos no meioambiente e na comunidade local. A ideia é estabelecerum canal de diálogo entre as partes interessadas eenvolvidas, com a percepção clara de que todos ganham,inclusive os empresários, investindo recursos empreocupações sociais e ambientais.

2. Sociologia da empresa e responsabilidade social

das empresas

Por Ana Maria Kirschner (socióloga)(Texto adaptado)

“Até os anos 1980 as ciências sociais não seaproxima vam muito das empresas, seja para tomá-lascomo objeto de estudo, seja para tentar intervir sobre omundo social das empresas. A partir de meados da dé ca -da de 1980, esta situação se reverte. A sociedade passaa interpelar a empresa, que aparece mais na mídia, agorade forma mais favorável, não mais apontada apenas comoo lócus onde se dá a exploração do traba lho pelo capital.Nos anos 1990, associações e fórum em pre sa riais, assimcomo empresários isolada men te dis cu tem a função socialda empresa e a sua respon sabili dade social.

A noção de responsabilidade social da empresa estána moda na linguagem empresarial e da administração,porém ainda não tem um substrato conceitual dandomargem, portanto a muitos equívocos. Esta imprecisão étão mais séria porque estamos vivendo uma época emque a sociedade interpela as empresas e simultanea -mente os empresários sentem necessidade de melhorarsua imagem pública promovendo debates sobre açõessociais e intervindo de fato no social. (...)

As empresas têm um triplo projeto: realizar umproduto, obter lucro e assegurar a coerência dosindivíduos que a compõem. Se a empresa falhar em umdestes pontos, sua existência fica comprometida.Segundo o sociólogo Michel Liu, a empresa deve serconsiderada como um sistema aberto, pois conjuga asnoções de autonomia e dependência em relação aosambientes em que se insere. As trocas com o meio sãonecessárias e contínuas. Liu utiliza o conceito de fronteiraseletiva para analisar a relação empresa/sociedade: se porum lado, a empresa sofre diferentes tipos deconstrangimentos do meio em que atua – econômicos,técnicos, políticos, culturais, entre outros – ela devolve àsociedade algo diferente daquilo que recebe. Seusfuncionários são pessoas que trazem as mais distintasculturas e formações e que juntas, devem dar sua partepara que a empresa realize seu triplo projeto. Ou seja, osmembros de uma empresa formam um coletivo queapresentam uma identidade e uma cultura próprias. Istoporque a empresa é criadora do social, no sentido daquiloque une os indivíduos e constitui uma sociedade.Atualmente já dispomos de instrumento para conhecer aforça e a coesão das estruturas sociais. É o modelo SIC,desen volvido pelo sociólogo de empresa RenaudSainsaulieu, a partir da observação de milhares de empre - sas estudadas. Este modelo permite conhecer asregulações sociais observadas entre estruturas, interaçãoe cultura. O modelo da sociologia de empresa – SIC –possibilita a identificação dos atores e das situações queeles estão vivendo e conhecer as relações entre os atores.

MÓDULO 9 Responsabilidade Social e Políticas de Inclusão

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Pela ótica da Sociologia, as empresas são constru -ções sociais no sentido clássico do termo, e que questõescomo eficiência, competitividade e qualidade podem servistas a partir do papel social que cabe às empresasassumir em tempos de globalização e reformas para omercado.

A empresa contemporânea não se limita a gerir emanter recursos econômicos, técnicos e humanos, comofoi o caso até alguns anos atrás. Hoje, a invenção edesenvolvimento de novos recursos se impõem comoexigência de sobrevivência econômica. Uma das chavespara resolver este problema é a qualidade da estruturasocial das relações humanas de trabalho, pois esta é umadas fontes cruciais de criatividade.

Ao contrário do que sugeriria uma abordagem quevisse na empresa um agente passivo ante a sociedadeem que está inserida, não se trata de uma adaptaçãomecânica da empresa às imposições econômicas etécnicas que vêm de fora: os atores no seio da organiza -ção têm sempre escolhas possíveis; eles constroem umaorganização cujo resultado é sancionado pelo exterior. (...)

As práticas econômicas devem levar em consideração o aspectosocioambiental.

A Sociologia da Empresa vai além dos modelos quedefinem o espaço fabril como espaço de relaçõesantagônicas de classe. A empresa tem uma funçãoidentificadora na sociedade e constitui, portanto, verda -deira instituição social: ela instaura um conjunto derelações sociais e culturais e produz, assim, identidadesnovas. Nela se desenvolvem relações de oposições e dealianças e o ator vivencia as relações de trabalho de formainterativa e estratégica.

A Sociologia da Empresa rompe com os modelos queinterpretam as estratégias dos atores apenas em termosdas oportunidades de poder, que omitem da análise a

função dos valores e lógicas coletivas que permeiam aspráticas sociais.

A mobilização dos recursos humanos para finseconômicos depende não só das capacidades profis -sionais, mas também das regulações das relações sociaisde produção de forma a suscitar a complemen taridadedas ações coletivas, a solidariedade, a comuni cação e acriatividade no seio do sistema social.”

POLÍTICAS DE INCLUSÃO SOCIAL

1. Introdução

Políticas de inclusão social consistem em açõespositivas de combate à exclusão social e econômica depessoas muito pobres, de baixo grau de instrução,portadoras de deficiências físicas ou ainda perten centesa alguma minoria social. Assim, espera-se poder oferecercondições dignas de vida e maiores possibili dades departicipação social a todos.

Para realizar tal empresa humanitária, foram elabo -radas leis, políticas e programas voltados ao atendimentoimediato de excluídos, contando com a participação dosetor público, privado e da sociedade civil.

Nos últimos anos, por exemplo, no Brasil, foramcriadas leis que facilitam a vida da terceira idade e dedeficientes físicos. Até recentemente, não se via acirculação de coletivos em condições de transportarcadeiras de rodas, ou banheiros especiais para deficien tesfísicos. Hoje, são criados e exigidos mecanismos queadaptem os deficientes aos sistemas socias, facilitandosua frequência a instituições comuns e, quando neces -sário ou aconse lhável, são criados sistemas especiaisseparados.

Há uma preocupação e esforço no sentido de inserircidadãos, antes excluídos, naturalmente, desenvolvendohabilidades de circulação, programas de educação, siste -mas de acesso à cultura, lazer e atividades profissionais.

Além disso, a legislação condena qualquer forma dediscriminação e segregação.

No Brasil, a Lei Federal n.° 7853, de 24 de outubro de1989, assegura os direitos básicos dos portadores dedeficiência. Em seu artigo 8.° constitui como crime punívelcom reclusão (prisão) de 1 a 4 anos e multa, quem:1. Recusar, suspender, cancelar ou fazer cessar, sem

justa causa, a inscrição de aluno em estabele cimentode ensino de qualquer curso ou grau, público ouprivado, porque é portador de deficiência.

2. Impedir o acesso a qualquer cargo público porque éportador de deficiência.

3. Negar trabalho ou emprego, porque é portador dedeficiência.

4. Recusar, retardar ou dificultar a internação hospitalarou deixar de prestar assistência médico-hospitalar ouambulatória, quando possível, à pessoa portadora dedeficiência. A inclusão social consiste, portanto, na construção de

uma sociedade nova, alterando a mentalidade de todasas pessoas. O Brasil é considerado um dos países com

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mais avançada legislação nesse esforço. O destaque estána acessibilidade por parte de pessoas com deficiências.A chamada lei de acessibilidade está no Decreto Federal5296/2004. Porém, muitas pessoas desconhecem as leise outras vivem ainda à margem das políticas de inclusãosocial.

Coreografia de inclusão: programa desenvolvido pela UniversidadeParanaense.

2. Texto 1:

Ações afirmativas e políticas públicas de inclusão

social

Por João do Nascimento

“Karl Marx, historiador alemão (1818 – 1883), um dosteóricos do socialismo científico, afirmou durante suavida: ‘A sociedade capitalista é antes de tudo umasociedade de classes’ e ‘A história do homem é a próprialuta de classes’. Sendo assim, o conflito social interclas -ses gera a apropriação dos bens e oportuni dades sociaispor alguns segmentos; é a partir da análise dopensamento de Marx e dos propósitos capitalistas quevigoram no Brasil a mais de 400 anos, que se insere aexploração do povo afrodescendente como meraferramenta de utilidade material, força de trabalho e bemcomercializável; sem o devido reconhe cimento dodesmantelamento de centenas de milhares de etnias quecompunham o território do continente africano e que se

dispersaram por todo o mundo ocidental na constituiçãodo capitalismo, em suas múltiplas contradições sociais.

Para tentar superar as mazelas sociais e promover ainclusão e a justiça, a partir dos anos 1990, o Brasil temsido alvo em potencial dos programas de açõesafirmativas que visam a reconhecer e corrigir situaçõesde direitos negados socialmente ao longo da história.

As ações afirmativas vêm sofrendo críticas por umapequena parcela da sociedade brasileira (a elite), que hámuito tempo vêm acumulando riquezas e oportunidades.O que o negro e os outros segmentos excluídos daparticipação e usufruto dos bens, riquezas e oportuni da -des querem é o direito à cidadania, à cultura, à educação,ao trabalho digno e à participação das políticas públicas decaráter social. Os programas de ações afirmativas são, naverdade, políticas de correção de desigualdades sociais eformas de efetivação de direitos. Portanto, defender asações afirmativas é de fato se posicionar contra o mito dademocracia racial e da exclusão social existente no Brasil.

É preciso agir a partir da raiz do problema paraerradicar a situação de exclusão social. O programa decotas para negros e afrodescendentes é uma das açõesafirmativas de caráter radical, pois mexe com privilégiosestabelecidos por determinados segmentos da socie dadebrasileira.

‘Ações afirmativas são medidas especiais e tempo -rárias, tomadas pelo Estado e/ou pela iniciativa privada,espontânea ou compulsoriamente, com o objetivo deeliminar desigualdades historicamente acumuladas,garantindo a igualdade de oportunidade e tratamento,bem como compensar perdas provocadas peladiscriminação e marginalização, por motivos raciais,étnicos, religiosos, de gênero e outros.’

(Ministério da Justiça, 1996, GTI População Negra).

As políticas afirmativas visam a reconhecer asdiversidades entre a população negra e não negra, nosentido de direcionar os esforços para minimizar e,gradativamente, diminuir as distâncias socioeconômicasque permeiam a vida social brasileira...”

3. Texto 2:

Sobre exclusão social e política de inclusão.

Por Henrique Rattner

“Os programas oficiais e das ONGs encaram oproblema da exclusão de modo parcial, privilegiando oraa geração de renda (bolsa de escola, cesta básica etc.),ora a questão de emprego via frentes de trabalho,particularmente no Nordeste flagelado pelas secasrecorrentes. Nenhum desses programas atinge o objetivode inclusão social, no sentido mais lato e profundo dapalavra, por omitir a dimensão central do fenômeno – aperda de autoestima e de identidade de pertencer a umgrupo social organizado.

A inclusão torna-se viável somente quando, atravésda participação em ações coletivas, os excluídos sãocapazes de recuperar sua dignidade e conseguem – alémde emprego e renda – acesso à moradia decente,

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facilidades culturais e serviços sociais, como educação esaúde.

Esta tarefa ultrapassa o âmbito estreito dos progra -mas de filantropia desenvolvidos por ONGs e exige oengajamento contínuo do poder público através depolíticas proativas e preventivas, sobretudo na áreaeconômica, em nível federal, que permeiem as ações dosgovernos estaduais e municipais.

As políticas ao nível macro, executadas pelas diver -sas instâncias do poder público, não devem ser concebi -das como competitivas ou substitutivas dos programas eprojetos realizados pelas ONGs e outras entidades dasociedade civil. Ambos são necessários e complemen ta -res à condição de que não haja cooptação ou aprovei -tamento dos programas desenvolvidos para finspolítico-partidários.

Em retrospectiva, nas últimas décadas percebe-se oavanço gradual da sociedade civil nas disputas sobre sua

admissão nas esferas de decisão, inclusive com aalocação de recursos dos orçamentos governamentais.

Assim, é possível prever um longo período de poderdual em que as autoridades e instituições tradicionaisprocurem manter o status quo na defesa dos interessesdas classes proprietárias e da tecnocracia a elas aliada.Por outro lado, as múltiplas organizações da sociedadecivil, adquirindo saber e experiência no manejo e nadefesa das causas públicas, conquistam maior autono miae autoconfiança na sua capacidade de gerir o própriodestino no processo de transformação social e política(...)”

Glossário

Desenvolvimento sustentável: Conceito quepropõe uma conciliação entre desenvolvimento econômi -co e proteção ambiental.

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1. “Ao contrário do que sugeriria uma abordagem que visse naempresa um agente passivo ante a sociedade em que está inserta, nãose trata de uma adaptação mecânica da empresa às imposiçõeseconômicas e técnicas que vêm de fora...”

(A. M. Kirschner) A conclusão desse argumento está na alternativa:a) Os atores no seio de uma empresa competem e se destacam pelas

habilidades conquistadas ao longo da história pessoal de cadaagente. Assim, tal competitividade promove um avanço das forçashumanas de produção.

b) Os atores no seio da organização empresarial têm sempre escolhaspossíveis, pois eles constroem uma organização cujo resultado ésancionado pelo exterior. Assim, a empresa instaura um conjunto derelações sociais e culturais e produz, assim, identidades novas. Nelase desenvolvem relações de oposições e de alianças e o atorvivencia as relações de trabalho de forma interativa e estratégica.

c) A organização empresarial estabelece relações humanas queindependem das vontades pessoais dos indivíduos, estando à mercêdas necessidades de se acumular lucros e de sobrevivência.

d) As empresas geram relações de solidariedade, e isso ao contráriodo que se imagina, pois estabelece princípios fortes de interdepen -dên cia social, sem a sombra dos interesses mesquinhos queameaçam o progresso de todo o organismo.

e) Os atores e agentes que compõem uma organização empresarialestabelecem relações de solidariedade nos sindicatos livres, em quea presença dos senhores detentores dos meios de produção não sefaz sentir.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

2. A maior franquia de perfumaria e cosméticos do mundo escolheuuma forma sustentável para festejar o aniversário. A proposta doBoticário é incentivar os mais de 900 franqueados e cerca de 15 milfuncionários a deixar seus automóveis na garagem e usar transportesalternativos durante o dia 22 de março, data em que a empresacomemora 33 anos de atividades.

A iniciativa, realizada em parceria com o Instituto Ruaviva, prevê oenvio de SMS para o celular dos franqueados, alertando para a chegadada data. As mensagens são repassadas para as consultoras que, por suavez, mobilizam também os consumidores. A ferramenta eletrônica decomunicação foi escolhida para não gerar papel durante a mobilização.“A ideia é pulverizar o movimento e incentivar a sociedade a adotartransportes alternativos, como a caminhada, a bicicleta ou a caronasolidária. É cada um fazendo a sua parte para diminuir os impactos noplaneta, deixando-o ainda mais belo”, diz Malu Nunes, gerente deResponsabilidade Social Corporativa da empresa.

O “Dia Sem Carro” faz parte da ação “O Mundo Mais Belo” de 2010– uma iniciativa da marca, criada no ano anterior, para tratar e discutirassuntos relacionados à Educação Ambiental. A ação do Boticário estáalinhada ao movimento mundial Dia Sem Carro, criado na França há 12anos e que chegou ao Brasil em 2001.

Refletindo um pouco sobre a notícia, julgue as assertivas abaixo:I. As questões ambientais são relativamente novas e já estão

presentes nos programas de partidos políticos, empresas, entidadesreligiosas e ONGs.

II. A iniciativa conta anualmente com a ampla participação de todos oscidadãos, de todas as classes no Brasil.

III. O “dia sem carro” proposto pela empresa em questão é a soluçãopronta para o enorme volume dos problemas ambientais queocorrem hoje nas cidades grandes.

IV. O projeto possui naturalmente um papel divulgador da marca, porémpoderia ter o efeito incentivador, projetando um modelo de cultura decontenção previstos para o futuro.

São verdadeiras:a) I e II b) I e III c) II e IV d) III e IV e) I e IV

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

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3. Leia as notícias e assinale a alternativa correta:I. O programa Minas sem lixões divulga nesta semana os vencedores

do prêmio Sustentabilidade e Gestão Ambiental Municipal de Resí -duos Sólidos Urbanos. Entre as iniciativas, está o Projeto Carrocei -ros, realizado em Belo Horizonte. No total, foram enviadas 12pro pos tas, com foco na inclusão social e na não geração de resíduos,reuso e reciclagem.

II. Ainda sob a sombra da crise financeira internacional, o Instituto CarlosRoberto Hansen optou por manter uma estrutura enxuta e ampliar ovolume de recursos destinados às ações de responsabili dade socialem 2009. A iniciativa ousada teve como resultado a expansão de 40%do número de beneficiados pelas ações da entidade.

a) Ambas propõem programas de sustentabilidade especificamente depreocupação ambiental.

b) A notícia II usa o termo “iniciativa ousada” devido à conscienteimpraticabilidade da proposta.

c) O Instituto Carlos Roberto Hansen destinará 40% dos seusfaturamentos e lucros aos programas de responsabilidade social.

d) As propostas adotam uma visão sistêmica, ou seja, a preocupaçãosócioambiental implica uma percepção do sistema social e ambientalcomo estruturas de partes solidárias e interdependentes.

e) A notícia I está inserta na ideia de desenvolvimento insustentável,único capaz de propor soluções imediatas e definitivas para osproblemas ambientais.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

4. As transformações socioeconômicas dos últimos 20 anos têmafetado profundamente o comportamento de empresas até entãoacostumadas à pura e exclusiva maximização do lucro. Se por um ladoo setor privado tem cada vez mais lugar de destaque na criação deriqueza; por outro lado, é bem sabido que com grande poder, vemgrande responsabilidade. Em função da capacidade criativa já existente,e dos recursos financeiros e humanos já disponíveis, empresas têmuma intrínseca responsabilidade social. Portanto, podemos afirmar:a) A responsabilidade da empresa é inversamente proporcional à

importância de seu desempenho no mercado.b) Nos últimos 20 anos, as empresas só tem trabalhado com a

preocupação de maximizar seus lucros.c) Os recursos humanos e financeiros disponíveis nas empresas

aumentam e viabilizam a prática da responsabilidade social.d) A responsabilidade social das empresas dificulta o bom desempe -

nho de seus lucros e, por isso, muitas empresas não desenvol vemprojetos dessa ordem.

e) O setor privado é o único responsável pelo acúmulo de capital e oúnico setor capaz de assumir responsabilidades diante das questõessociais.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

5. Se a proteção ambiental está ligada à preservação do ambiente edos recursos naturais, e a sustentabilidade econômica está ligada àprocura de soluções duradoiras e sustentáveis para o desenvolvimentoeconômico, então a esfera sociopolítica poderá ser representada comoo “elemento humano” na equação do desenvolvimento sustentável.O desenvolvimento social e a sustentabilidade sociopolítica sãoconceitos relacionados, mas não são completamente intercambiáveis.É importante perceber a relação interdependente entre ambos e o seuimpacto no conceito geral do desenvolvimento sustentável.A maioria de nós está familiarizada com o conceito de desenvol vimentosocial, nas suas múltiplas vertentes. No seio de qualquer sociedade,existem oportunidades de “melhorar” as suas partes consti tuintes, dediversas maneiras. É importante conseguir harmonizar as relações entreesses elementos sociais, muitas vezes em oposição.

Essa proposta pode ser mais bem denominada dea) sustentabilidade social.b) desenvolvimento pleno.c) desenvolvimento sustentável.d) ecodesenvolvimento.e) questão ambiental.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

6. As políticas afirmativas visama) ignorar as diferenças étnicas, desvalorizando os discursos que de -

fen dem a sobrevivência das tradições culturais que nos diferenciam.b) reconhecer as diversidades entre a população negra e não negra, no

sentido de direcionar os esforços para minimizar e gradativamentediminuir as distâncias socioeconômicas que permeiam a vida socialbrasileira.

c) construir uma sociedade igualitária, em que não se reconheçam enão sejam respeitadas as diferenças.

d) esconder os preconceitos que de fato existem na sociedade, eportanto, tais políticas são inúteis e infrutíferas.

e) acentuar as diferenças e desigualdades, de forma que todas as raçastenham seus espaços exclusivos de circulação e expressão.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

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1. “A falta de conhecimento da sociedade, em geral, faz com que adeficiência seja considerada uma doença crônica, um peso ou umproblema. O estigma da deficiência é grave: transformando as pessoascegas, surdas e com deficiências mentais ou físicas em seres incapazes,indefesos, sem direitos, sempre deixados para o segundo lugar naordem das coisas. É necessário muito esforço para superar este estigma.”

(Maria Regina Cazzaniga Maciel).

Comente o sentido do texto acima.

2. Certa empresa passa a se preocupar com os impactos sociais enaturais, desenvolvendo projetos para compensar os prejuízos. Assim,podemos afirmar que: I. O chamado desenvolvimento sustentável é um aspecto da

responsabilidade social. II. O desenvolvimento da ciência ecológica contribuiu para diminuir a

preocupação com o meio ambiente.III. A preocupação com questões sociais e ambientais por parte das

empresas resulta de uma postura hipócrita, pois sempre haveráinteresses econômicos por trás dos projetos de responsabilidadesocial.

IV. A ideia é estabelecer um canal de diálogo entre as partes interes -sadas e envolvidas, com a percepção clara de que todos ganham,inclusive os empresários, investindo recursos com preocupaçõessociais e ambientais.

São verdadeiras apenas:a) I e II. b) I e III. c) II e IV. d) III e IV. e) I e IV.

3. Responsabilidade Social Empresarial é a forma de gestão ética quetem a organização com suas partes interessadas, com o objetivo de:a) aumentar a margem de lucro, tendo em vista que o mercado e o

cliente aprovam tais forma de gestão.b) atender às exigência legais de gestão ambiental.c) minimizar impactos negativos no meio ambiente e na comunidade

local.d) evitar desperdícios dos recursos adquiridos como capital pela

empresa.e) maximizar os fins, minimizando os meios, ou seja, buscar ampliar a

margem dos lucros, diminuindo ao máximo os investimentos.

4. Até os anos 1980 as ciências sociais não se aproximavam muito dasempresas, seja para tomá-las como objeto de estudo, seja para tentarintervir sobre o mundo social das empresas. A partir de meados dadécada de 1980, esta situação se reverte. A sociedade passa a interpelara empresa e isso significa que a) a empresa aparece mais na mídia como o lócus onde se dá a

exploração do trabalho pelo capital.b) a empresa aparece mais na mídia através das propagandas que

vendem a imagem de seus produtos ao consumidor.c) a empresa é abordada pelos setores civil e público com a

preocupação de fiscalizar suas funções comerciais e de produção.d) a partir dos anos 1990, a empresa passou a ser vista como a vilã das

mazelas sociais e ambientais do mundo capitalista.e) a sociedade passa a interpelar a empresa, que aparece mais na

mídia, agora de forma mais favorável, assim, coloca-se em questãoa função social da empresa e suas possibilidades.

5. “A Sociologia da Empresa vai além dos modelos que definem oespaço fabril como espaço de relações antagônicas de classe. Aempresa tem uma função identificadora na sociedade e constitui,portanto, verdadeira instituição social: ela instaura um conjunto derelações sociais e culturais e produz, assim, identidades novas. Nela sedesenvolvem relações de oposições e de alianças e o ator vivencia asrelações de trabalho de forma interativa e estratégica. A Sociologia daEmpresa rompe com os modelos que interpretam as estratégias dosatores apenas em termos das oportunidades de poder, que omitem daanálise a função dos valores e lógicas coletivas que permeiam aspráticas sociais.”

Na lógica do texto, podemos concluir quea) a Sociologia deve sempre ressaltar as relações de classe que

definem o espaço social de uma empresa.b) a empresa deve incentivar o desenvolvimento da Sociologia dentro

do seu espaço físico e humano.c) a gestão dos recursos humanos numa empresa deve incluir a

solidariedade, a criatividade e a comunicação.d) a competitividade deve ser incentivada a fim de que se alcance

maiores resultados positivos nas relações de produção.e) a empresa pode criar um sistema de gestão que valorize o seu capital

objetivado.

6. Sobre as políticas de inclusão social, leia e julgue as assertivasabaixo.I. Políticas de inclusão social consistem em ações positivas de

combate à exclusão social e econômica de pessoas muito pobres, debaixo grau de instrução, portadoras de deficiências físicas ou aindapertencentes a alguma minoria social. Assim, espera-se poderoferecer condições dignas de vida e maiores possibilidades departicipação social a todos.

II. Para realizar tal empresa humanitária, não se faz necessária aelaboração de leis que acabariam apenas por burocratizar e dificultaro desenvolvimento espontâneo de tais políticas, suficientementebaseadas em princípios humanitários.

III. Nos últimos anos, no Brasil, foram criadas leis que facilitam a vida daterceira idade e de deficientes físicos. Até recentemente, não se viaa circulação de coletivos em condições de transportar cadeiras derodas, ou banheiros especiais para deficientes físicos.

IV. Hoje, são criados e exigidos mecanismos que adaptem osdeficientes aos sistemas socias, facilitando a frequência deinstituições comuns e, quando necessário ou aconselhável, sãocriados sistemas especiais separados.

São verdadeiras:a) Todas. b) Apenas I e II. c) Apenas II, III e IV. d) Apenas I, III e IV. e) Apenas III e IV.

7. No Brasil, a Lei Federal n.° 7853, de 24 de outubro de 1989,assegura os direitos básicos dos portadores de deficiência. Em seuartigo 8.º constitui como crime punível com reclusão (prisão) de 1 a4 anos e multa, quem:1. Recusar, suspender, cancelar ou fazer cessar, sem justa causa, a

inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer cursoou grau, público ou privado, porque é portador de deficiência.

2. Impedir o acesso a qualquer cargo público porque é portador de

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deficiência. 3. Negar trabalho ou emprego, porque é portador de deficiência. 4. Recusar, retardar ou dificultar a internação hospitalar ou deixar de

prestar assistência médico-hospitalar ou ambulatória, quandopossível, a pessoa portadora de deficiência.

5. Não estiver diretamente envolvido na colaboração ativa comprojetos de políticas de inclusão social.

Assinale a alternativa que aponta entre as cinco acima, única condiçãofalsa e que não consta na Lei 7 853.a) 1 b) 2 c) 3 d) 4 e) 5

8. Sobre as políticas de inclusão no Brasil, é correto afirmar que:a) A inclusão social consiste na reconstrução de uma sociedade antiga,

pois houve época em que deficientes eram respeitados e possuíamgrandes chances de projeção social.

b) O Brasil é considerado um dos países mais atrasados no que dizrespeito à legislação de políticas de inclusão.

c) No Brasil, muitas pessoas desconhecem as leis e outras vivem aindaà margem das políticas de inclusão social.

d) Segundo as leis brasileiras, a sociedade civil não deve intervirdiretamente em questões de inclusão, pois tais políticas cabem aosórgão públicos competentes e que contam com profissionaisqualificados.

e) No Brasil, ainda não há uma real preocupação com as políticas deinclusão social.

9. “O conceito de inclusão nos ensina não a tolerar, respeitar ouentender a deficiência, mas sim a legitimá-la, como condição inerente ao‘conjunto humanidade’...”

(Cláudia Werneck)

Por que a autora afirma que inclusão social não nos ensina a tolerar? a) O termo tolerar é de fato ambíguo. Pode significar aceitar ou

aguentar. A autora sugere com a frase acima que a política deinclusão vai além da simples compreensão de uma supostainfelicidade do outro. A deficiência passa a ser vista com uma dasmuitas condições humanas dentro da diversidade e múltiplaspossibilidades de existência autenticamente humana.

b) A compeensão da condição humana implica convivência eintolerância. É um equívoco julgar que as relações humanas estejam,por qualquer momento, isoladas da experiência da intolerância. Aautora, portanto, se revela realista.

c) A intolerância tece as relações entre os homens e pode sertransformada em convivência se soubermos, não tolerar, mas aceitara condição do outro.

d) Na verdade, a autora quis expressar a ideia de que não devemostolerar o preconceito em relação aos portadores de deficiências, aquem devemos respeito e entendimento.

e) Tolerar já é por si próprio uma política suficiente no trato com o outro,com o diferente e com a deficiência que o outro possa trazer, pordesventura.

70 –

1) Ocorre que o potencial e as habilidades de pessoas com

deficiências são pouco valorizados nas suas comunidades de

origem, que, obviamente, possuem pouco esclarecimento a

respeito de tais deficiências.

2) E 3) C 4) E 5) C

6) D 7) E 8) C 9) A

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1. Introdução

Globalização é a interligação do mundo, ou o processode aprofundamento da integração mundial, particula -rmente econômica, com repercussões no plano social,cultural e político.

No final do século XX, surgiram novas tecnologias,que aceleraram o processo de produção, de informação ecomercial. Um exemplo desse fenômeno histórico seria ainternet.

Trata-se de uma nova fase de produção capitalista ede sua expansão baseada na formação de uma “aldeiaglobal”. Ocorre a invasão de mercadorias, informação,pessoas, serviços e tecnologias de várias partes domundo em diversos lugares e vice-versa.

Pode-se dizer que o mundo está em processo deglobalização desde o início da história. As viagens, asguerras, a expansão marítima estão inseridas numprocesso de mundialização. Porém, o fenômeno a quehoje chamamos de globalização é um processo maisrecente e muito específico. O colapso do mundosocialista e o fim da Guerra Fria inauguram uma novaordem mundial.

Vê-se um processo de homogeneização dos centrosurbanos, a expansão das corporações, o fortalecimentodas organizações supranacionais e a reorganização dasestruturas sociais e culturais.

Manuel Esteves. O mundo na era global.

Uma característica da globalização é a insaciabi lidadede acúmulo de capital a baixos custos e no prazo detempo mais curto possível. Aqui entra a ação dos agentesespeculativos, conhecidos como smart money ou hotmoney (respectivamente, dinheiro esperto e dinheiroquente). Os fluxos de capitais internacionais crescem

significativamente e redesenham o palco em que sedisputam poderes e influências.

Essa nova fase do capitalismo define-se por ummundo ordenado de forma multipolar, com a atuaçãomarcante das transnacionais e formação de blocoseconômicos.

Texto

O lado perverso da globalização na socie da de dainformação

Por Maria Elza Miranda Ataíde

(Texto adaptado)INTRODUÇÃO

“Passados alguns anos da entrada do Brasil na era daglobalização podemos constatar a mudança deparadigmas econômicos, políticos e sociais.

O objetivo do desenvolvimento econômico é oaumento contínuo do bem estar do povo, proporcionan doa satisfação de necessidades básicas e minimizandodesigualdades de acesso a bens e serviços.

A globalização prometia abertura de mercado eigualdade de oportunidades para todos. Isto significariaque todos os indivíduos fariam ou poderiam fazer partede um mesmo mundo, de uma mesma realidade. A de -mo cracia pressupõe uma sociedade livre, com igualdadede direitos e deveres ou, no mínimo, sem grandesdesigualdades entre os cidadãos. A globali zação estariapermitindo as mesmas oportunidades para todos? Ouestaria privilegiando pequenos grupos? Em um rápidobalanço de final de século, que conclusões podemoselencar?

Alguns resultados do processo de globalização

O Programa das Nações Unidas para o Desenvol -vimento (PNUD) divulgou um relatório sobre o desenvol -vi mento humano no qual revela um quadro bastantenegativo no período de 1990 a 1995, período este quepodemos relacionar com os primeiros resultados doprocesso de globalização. Segundo este relatório, o nívelde pobreza aumentou no mundo. Antes concentrava-sena América Latina, no sul da Ásia e na África. Hoje,sabemos que os países da Europa Oriental e os da antigaUnião Soviética engrossam a lista dos excluídos. Até ospaíses ricos viram o índice de pobreza subir de formaalarmante.

O desemprego alcançou níveis iguais aos dos anos30, e a desigualdade de renda cresceu ainda mais. Omercado tornou-se mais agressivo com a globalização daeconomia. O capital estrangeiro entrou no Brasil. Omonopólio agoniza. O governo brasileiro lança uma

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MÓDULO 10 Globalização, Sociedade e Cultura

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política de privatização. As privatizações, sob a alegaçãode reduzir o tamanho dos Estados, desejam mesmo époupá-los de realizar cortes de pessoal. Portanto, aglobalização e a informati za ção significam a privatizaçãodo máximo de empresas estatais para promover oenxugamento do Estado e gerar o enfraquecimento dostrabalhadores pelo terror do desemprego.

As empresas brasileiras, para se tornarem competi ti -vas e sobreviver nesta economia globalizada, tiveram deintroduzir modificações em suas estratégias decompetição e crescimento. Muitas desapareceram, ouestão fechando suas portas. O desemprego aumenta acada dia.”

A globalização pode estar acentuando as desigual da des sociais no mundo.

Os Perigos da Globalização

Por Vanderlei de Barros Rosas (professor)(Texto adaptado)

I. O perigo da construção de uma sociedade hedonista.O prazer pelo prazer. Sexo, drogas e música(antigamente era Rock, agora é Funk) são objetivosprioritários para nossa juventude. Fico assustadoquando ouço nos meios de comunicação de massasmúsicas com apologias ao crime organi zado, drogase a prática de sexo livre em grupo. Tais músicasfazem sucesso porque encontram guarita em ummundo globalizado, onde o ser humano temprocurado satisfazer suas necessidades básicasatravés de suas realizações de prazer. Creio que atéFreud ficaria assustado com tanto libido social.

II. O perigo da construção de uma sociedade niilista. Aausência total de referencial. Deleuze, filósofofrancês, apontou uma crítica que Nietzsche fez àfilosofia de Schopenhauer. Para Schopenhauer existeum nada de Vontade, enquanto para Nietzsche existea vontade do Nada. Hoje estamos vivemos mais umnegativismo schopenhauerano do que o niilismoproposto por Nietzsche, que apropriou-se desteconceito da religião budista. Nossa sociedade

caminha para uma ausência total de desejo, pois osvelhos paradigmas estão sendo quebrados, porémnão estamos construindo outros no lugar. Há umatotal ausência de ícones na sociedade pós-moderna.

III. O perigo da construção de uma sociedade alienada.Nas grandes empresas fala-se muito sobre a questãoda transversalidade, associada à questão da qualidadetotal (a velha reengenharia , lembra-se?). Este modeloneoliberal imperialista, seria melhor definível como“Transversalidade Ideológica”. Missão, declaração depropósito, lema da empresa, seja qualquer que for otítulo que se emprega a esta modalidade, nada maisé do que a tentativa de desviar o homem dos temascentrais, reais e necessários à sua sobrevivência,senão alienar, principalmente os países do terceiromundo, para os temas centrais que interessam tãosomente aos imperialistas.

IV. O perigo da construção de uma sociedade de con su -mo adicto. O vício do consumismo. O importante é oter e o consumir e não o ser e existir. O direito docidadão virou direito do consumidor. Tudo agora estágirando pela questão do patrocinador (...)

V. O perigo da construção de uma sociedadeindividualista. A relação de competição é tão grande,que fica difícil identificar sociologicamente onde háconflito e competição. Estamos evoluindo para lei daselva. Meu pai falava sobre a lei do MURICI: Cada umcuida de si. Quando era criança não entendia muito oque ele queria dizer com isto, e ainda não sei seentendi plenamente, mas seja o que for estamosvivendo momentos em que as relações humanas nãotem valor algum, a não ser na base de troca. Apergunta básica é: O que eu vou ganhar com isso?Este individualismo acerbado tem trazido terríveisdanos à nossa sociedade. Precisamos resgatarvalores como cooperação, amizade, companheirismo,reciprocidade etc.

VI. O perigo da construção de uma sociedade tecnolo gi -cêntrica. Desde Descartes passamos a dotar o falsomito da racionalidade humana como veículo dedomínio da explicação do mundo. Isto tomou forçacom o racionalismo Kantiano, onde a razão passa,através do turbilhão a ser o instrumento da visão eentendimento do mundo. O Iluminismo, permeadodesta tão grande razão, perpetuou tais conceitos,culminando com Augusto Comte através de suafilosofia positivista, quando coloca o estágio tecnoló -gico como sendo o final do processo evoluti vo dohomem (Mito-Filosia-Ciência). O tecni cis mo e o cien -tifi cismo em que estamos mergulha dos tende a umprocesso de desumaniza ção das relações humanas.Estamos nos relacionando mais com má qui nas doque com seres humanos. A máquina é o fim, ohomem o meio. Devemos usar a máquina e amar oser humano, inverter esta ordem causa problemas.

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VII. O perigo da construção de uma sociedade amoral.Diante das recentes descobertas científicas, prin cipal -mente na área biogenética, o homem precisa, maisdo que nunca, estabelecer referenciais, condutas eposturas éticas para que não venhamos a procedercontra a própria natureza humana (se é que existeuma natureza humana no homem). A clonagem, asinformações do mapeamento genético, ostransgênicos, e outras novas descobertas colocam ohomem na crucial questão: Qual é o limite dohomem? Numa sociedade onde o capitalismoinstaurou-se com único modelo econômico, onde oimperialismo oprime os mais fracos, onde o prazerestá pelo prazer, onde a pornografia (principalmente apedofilia) tem crescido assustadoramente e onde ocomércio de narcóticos é o mais rentável, o quedevemos esperar desta sociedade?

VIII.O perigo da construção de uma sociedade com perdade identidade cultural. O imperialismo do PrimeiroMundo ocorre principalmente através do processo deglobalização. Tal domínio começa a se estabeleceratravés da linguagem, onde aportugue samos váriasexpressões importadas: Deletar, scanear etc. Não souxenófobo, aquele que tem aversão ao que éestrangeiro, mas acredito na valorização daquilo queé nosso culturalmente, até como princípio depreservação de nossa identidade cultural. Tambémnão sou tão radical, pois se formos considerar acultura brasileira como sendo nossa identidadecultural, precisamos resgatar o tupi-guarani nasescolas e reavaliarmos a cultura afro-europeia.

Concluo, se é que podemos concluir um assunto destanatureza, com uma pequena comparação: Um certohomem decidiu derrubar sua velha casa onde foi criadodesde sua infância, e de um dia para outro demoliu tudo,porém não planejou a sua nova morada, ficando aorelento. Assim estamos vivendo nesta era da pós-modernidade, com terríveis consequências deste mundoglobalizado, onde estamos perdendo não somente nossamorada, mas principalmente nossa identidade. O que serádo futuro ? Só o futuro dirá.”

Globalização e Cultura

Introdução

É evidente que a globalização registra profundasmarcas sobre a cultura. É observável a mudança einovação de padrões de comportamentos, assim comouma exposição às influências culturais externas em cadacultura nacional e local. Tornou-se, inclusive, um lugar-comum afirmar que a globalização homogeneizará asculturas, extinguindo as tradições e as localidades. Por

isso fala-se em processos de destradicionalização e dedesterritorialização. O professor e sociólogo Renato Ortiz(Mundialização e Cultura, Brasiliense 1998) que utiliza ostermos acima, não acredita, porém, numa homogenei za - ção, mas em processos de reinterpretação das culturase tradições. Ortiz fala em novos estilos de vida, marcadaspela aceleração do tempo e da redução do espaçogeográfico. Assim, a nova ordem inaugura uma culturafast food, que não significa uma americanização da culturaglobal. Não há, portanto, segundo o autor citado, ummovimento de unicidade cultural.

Apresentação de música étnica (world music) na Holanda, emMaastricht.

Texto

Efeitos culturais da globalização

Por Antonio Inácio Andrioli

(doutorando em Ciências Sociais na Universidade deOsnabrück – Alemanha)

“ ‘Nós vivemos na era da globalização, tudo con ver -ge, os limites vão desaparecendo’. Quem não ouviu, nomínimo, uma destas expressões nos últimos anos? Aglobalização é um chavão de nosso tempo, umadiscussão que está na moda, onde opiniões fatalistasconflitam com afirmações críticas, e o temor de umahomogeneização está no centro do debate. Suposiçõesde uma sociedade mundial, de uma paz mundial ou,simplesmente, de uma economia mundial, surgem segui -da mente, cujas consequências levariam a proces sos deunificação e adaptação, aos mesmos modelos deconsumo e a uma massificação cultural. Mas há que seperguntar: trata-se apenas de conceitos em disputa ou háalgo que aponte, de fato, nesta direção? Quais são, afinal,os efeitos culturais da globalização?

O processo de constituição de uma economia decaráter mundial não é nada novo. Já no Período Colonialhouve tentativas de integrar espaços intercontinentaisnum único império, quando a ideia de ‘dominar o mundo’ficou cada vez mais próxima. Por outro lado, a integraçãodas diferentes culturas e povos como ‘um mundo’ já foidesejada há muito tempo e continua como meta paramuitas gerações. Sob esta ótica, o conceito de globaliza -ção poderia ter um duplo sentido, se ele não fosse tãomarcado pelo desenvolvimento neoliberal da políticainternacional.

Conforme o sociólogo alemão Ulrich Beck, com otermo globalização são identificados processos que têmpor consequência a subjugação e a ligação transversal dosEstados nacionais e sua soberania através de atorestransnacionais, suas oportunidades de mercado,orientações, identidades e redes. Por isso, ouvimos falar

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de defensores da globalização e de críticos à globali zação,num conflito pelo qual diferentes organizações se tornamcada vez mais conhecidas. Neste sentido, não se trata deum conflito stricto sensu sobre a globalização, mas sobrea prepotência e a mundialização do capital. Esseprocesso, da forma como ele atualmente vemacontecendo, não deveria sequer ser chamado deglobalização, já que atinge o globo de forma diferen ciadae exclui a sua maior parte – se observarmos a circulaçãomundial de capital, podemos constatar que a maioria dapopulação mundial (na Ásia, na África e na América Latina)permanece excluída.

Essa forma de globalização significa a predominân ciada economia de mercado e do livre mercado, umasituação em que o máximo possível é mercantilizado eprivatizado, com o agravante do desmonte social.Concretamente, isso leva ao domínio mundial do sistemafinanceiro, à redução do espaço de ação para os gover -nos – os países são obrigados a aderir ao neoliberalismo– ao aprofundamento da divisão internacional do trabalhoe da concorrência e, não por último, à crise de endivi -damento dos Estados nacionais. Condições para que essaglobalização pudesse se desenvolver foram ainterconexão mundial dos meios de comunicação e aequiparação da oferta de mercadorias, das moedasnacionais e das línguas, o que se deu de forma progres -siva nas últimas décadas. A concentração do capital e ocrescente abismo entre ricos e pobres (48 empresáriospossuem a mesma renda de 600 milhões de outraspessoas em conjunto) e o crescimento do desemprego(1,2 bilhões de pessoas no mundo) e da pobreza (800milhões de pessoas passam fome) são os principaisproblemas sociais da globalização neoliberal e que vêmganhando cada vez mais significado.

É evidente que essa situação tem efeitos sobre acultura da humanidade, especialmente nos países pobres,onde os contrastes sociais são ainda mais perceptíveis.Em primeiro lugar, podemos falar de uma espécie deconformidade e adaptação. Em função da exigência decompetitividade, cada um se vê como adversário dosoutros e pretende lutar pela manutenção de seu lugar detrabalho. Os excluídos são taxados de incompetentes eos pobres tendem a ser responsa bilizados pela suaprópria pobreza. Paralelamente a isso, surge nos paísesindustrializados uma nova forma de extremismo dedireita, de forma que a xenofobia e a violência aparecementrelaçadas com a luta por espaços de trabalho. É claroque a violência surge também como reação dosexcluídos, e a lógica do sistema, baseada na compe tição,desenvolve uma crescente ‘cultura da violência’ nasociedade. Também não podemos esque cer que o própriocrime organizado oferece oportu nidades de trabalho esegurança aos excluídos.

Embora tenham sido desenvolvidos e disponibili zadosmais meios de comunicação, presenciamos um crescenteisolamento dos indivíduos, de forma que as alternativasde socialização têm sido, paradoxalmente, reduzidas. A

exclusão de muitos grupos na sociedade e a separaçãoentre camadas sociais têm contribuído para que a tãopropalada integração entre diferentes povos não seefetive; pelo contrário, isso tem levado a um processo deatomização da sociedade. O valor está no fragmento, demodo que o engajamento político da maioria ocorre deforma isolada como, por exemplo, o feminismo, omovimento ambientalista, movimentos contra adiscriminação ética e sexual etc. Tudo isso sem que seperceba um fio condutor que possa unificar as lutasisoladas num projeto coletivo de sociedade. Nessaperspectiva fala-se de um ‘fim das utopias’, que secombina com uma nova forma de relativismo: ‘a verdadeem si não existe; a maioria a define’.

No que se refere à educação, cresce a sobrevalori -zação do pragmatismo, da eficiência meramente técnicae do conformismo. O mais importante é a formaçãoprofissional, concebida como único meio de acesso aomercado de trabalho. A ideia é a de que, com uma me lhorqualificação técnica, se tenha maiores possibili dades deconseguir um emprego num mercado de trabalho emdeclínio. Em consequência a isso, a reflexão sobre osproblemas da sociedade assume cada vez menosimportância; e valores como engajamento, mobili zaçãosocial, solidariedade e comunidade perdem seussignificados. Importante é o luxo, o lucro, o egocen trismo,a ‘liberdade do indivíduo’ e um lugar no ‘bem-estar dospoucos’. Esses valores são difundidos pelos grandesmeios de comunicação e os jovens são, nisto, os maisatingidos. A diminuição do sujeito/indivíduo sur ge comodecorrência, pois o ser humano é cada vez mais encara -do como coisa e estimulado a satisfazer prazeressupérfluos. Os excluídos são descartados sem perspec ti -va e encontram cada vez menos espaço na sociedadeque, afinal de contas, está voltada aos consu midores,enquanto o acesso público é continua mente reduzido.

Por outro lado, há reações que se desenvolveminternacionalmente contra essa tendência. A ampliaçãodas possibilidades de comunicação tem contribuído paraque protestos isolados pudessem se encontrar e cons ti -tuir redes. O lema: ‘pensar globalmente e agir lo cal men -te’ pôde ser superado, de forma que uma ação global setornou possível, o que alterou a visão de mundo e os limi -tes de tempo e espaço. Para além das diferen ças étni cas,religiosas e linguísticas dos povos, podemos falar de umanova divisão do mundo: de um lado, uma minoria que ébeneficiada pela globalização neoliberal e, de outro, amaioria que é prejudicada com a ampliação do livremercado. Esse conflito está no centro do debate atual dahumanidade, cujos efeitos caracterizam o espírito donosso tempo e influenciarão a cultura da humanidadefutura. Se a imagem das futuras gerações será fragmen -tada ou mais homogeneizada ainda não se sabe, mas apossibilidade de uma crescente desuma nização é muitogrande.”

Glossário

Paradigma: referencial teórico.

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1. São características do mundo globalizado ou da nova ordem mundial:I. Fortalecimento do conceito de soberania do Estado.II. Formação de uma ordem multipolar marcada pela disputa econômica

e de mercados.III. Formação de blocos militares como a OTAN.IV. Democratização econômica e de informação, diminuindo a distância

entre ricos e pobres.

São coerentes (apenas): a) Todas. b) I e III. c) II. d) IV. e) III e IV.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

2. “Para existir enquanto língua mundial, o inglês deve nativizar-se,adaptando-se aos padrões das culturas específicas. A diversidade deusos determina estilos e registros particulares.”

(Renato Ortiz, Mundialização e Cultura)

Disso decorrea) que a globalização implica padronização.b) a perda total das identidades e culturas nacionais.c) que a mundialização não se identifica com a uniformidade.d) a homogeneidade e a pasteurização das culturas locais.e) a americanização do estilo de vida.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

3. “Essa forma de globalização significa a predominância da economiade mercado e do livre mercado, uma situação em que o máximopossível é mercantilizado e privatizado, com o agravante do desmontesocial. Concretamente, isso leva ao domínio mundial do sistemafinanceiro, à redução do espaço de ação para os governos – os paísessão obrigados a aderir ao neoliberalismo – ao aprofundamento da divisãointernacional do trabalho e da concorrência e, não por último, à crise deendividamento dos Estados nacionais“.

(Antonio Andrioli)

Segundo o texto, é possível afirmar quea) o processo causará uma concentração de capital e crescente abismo

entre ricos e pobres.b) o processo causará a formação de Estados nacionais totalitários e

endividados.c) o processo levará a uma perda do espaço privado, diante da

valorização crescente do espaço público.d) o processo causará um maior entrosamento entre todas as

economias nacionais, caracterizando efetivamente a globalização.e) o processo trará maior acesso à informação, permitindo maior

competitividade social, definindo uma verdadeira meritocracia social.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

4. (UERJ-Adaptada) – No admirável mundo novo das oportunidadesfugazes e das seguranças frágeis, a sabedoria popular foi rápida emperceber os novos requisitos. Em 1994, um cartaz espalhado pelas ruasde Berlim ridicularizava a lealdade a estruturas que não eram maiscapazes de conter as realidades do mundo: “Seu Cristo é judeu. Seucarro é japonês. Sua pizza é italiana. Sua democracia, grega. Seu café,brasileiro. Seu feriado, turco. Seus algarismos, arábicos. Suas letras,latinas. Só o seu vizinho é estrangeiro”.

Zygmunt Bauman. Adaptado de Identidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

A alteração de valores culturais em diversas sociedades é um dosefeitos da globalização da economia.O cartaz citado no texto ironiza uma referência cultural que pode serassociada ao conceito dea) localismo.b) nacionalismo.c) regionalismo.d) eurocentrismo.e) globalização.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

5. (UEMA) – Observe a charge.

www.conexãoambiental.zip.net/arch.

De acordo com o observado, assinale a alternativa que contenha,respectivamente, a abrangência e o principal fator gerador da criseeconômica atual.a) Regional, provocada pelo fordismo.b) Global, ocasionada pela internacionalização do capitalismo financeiro.c) Local, provocada pela dinamização da economia urbana.d) Global , provocada pela falta de matérias-primas e mão de obra

especializada.e) Global, provocada pela crise do petróleo.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

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6. (UFRN/RN) – A globalização faz parte do processo de expansão docapitalismo, que atinge as diversas esferas da sociedade, em escalaplanetária.Sobre a globalização, é correto afirmar que se trata de um processoa) o qual, embora apresente tendência à homogeneização do espaço

mundial, é seletivo e excludente.b) o qual, embora apresente tendência à fragmentação do espaço

mundial, tem reduzido as desigualdades socioeconômicas.c) o qual eleva a produção da riqueza e conduz à distribuição equitativa

de renda entre os países do mundo.d) o qual reduz a competitividade entre os países e ameniza os conflitos

nacionalistas.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

7. As novas tecnologias digitais de comunicação e informaçãopossibilitam uma integração econômica mundial de características ealcance sem precedentes. Porém, esse processo é acompanhado porprofundos sentimentos de desconexão, insegurança e segregação. Poroutro lado, as tecnologias não favorecem somente os interesses dogrande mercado, inclusive o cultural. Elas também proporcionam novosfluxos de experimentação artística e oportunidades de valorização detradições culturais específicas, combinada ao uso criativo dos maisrecentes recursos científicos e tecnológicos. Nesse sentido, o PNC(Plano Nacional de Cultura) busca contemplar as dinâmicas emergentesno mundo contemporâneo, sem deixar de atender às manifestaçõeshistóricas e consolidadas. Essa ideia e o texto a) vão contra a ideia de reinterpretação das culturas como marca da

mundialização.b) vão de encontro à ideia de homogeneização da cultura.c) fortalecem a ideia de uma americanização e pasteurização da cultura.d) vão contra a ideia de pobreza cultural como consequência da

globalização.e) vão de encontro a um perigoso nacionalismo intolerante em relação

à globalização.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

8. ... Esta temática articula-se com outra igualmente central no âmbitoda globalização cultural: o de saber até que ponto a globalização acarretaa homogeneização. Se para alguns autores a especificidade das culturaslocais e nacionais está em risco, para outros, a globalização tanto produzhomogeneização como diversidade.No domínio cultural, o consenso neoliberal é muito seletivo. Osfenômenos culturais só lhe interessam na medida em que se tornammercadorias que como tal devem seguir o trilho da globalizaçãoeconômica.

Segundo o texto:a) A globalização tende apenas a homogeneizar as culturas.b) A globalização gera apenas diversidade.c) A cultura se submete à lógica do mercado.d) A cultura pouco é afetada pela globalização.e) A globalização tende a uniformizar padrões de comportamento.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

9. A afirmação de identidades é o outro lado da moeda do carátereconômico da globalização. A globalização pressupõe a ideia dedesterritorialização e desinstitucionalização, em um movimento emdireção a um mundo sem fronteiras. A falta destas, no entanto, implicaa perda das referências. São elas que tornam o sujeito, ao mesmotempo, igual entre iguais e diferentes entre todos, já que a pertinênciaa um território significa pertinência a um elo de identificação e apertinência a uma instituição – seja ela política, social ou,especificamente, cultural – significa compartilhamento de crenças,convicções ou ideais.

Assinale a alternativa que revela o conteúdo central do pequeno textoacima.a) Desterritorialização das culturas.b) Identidade e globalização.c) A perda de referências globais.d) Caráter econômico da globalização.e) Desinstitucionalização dos mercados globais.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

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1. Quais as consequências que a globalização está imprimindo no

tempo, no espaço e nas culturas?

2. Os termos destradicionalização e desterritorialização, utilizados pelo

sociólogo brasileiro Renato Ortiz dizem respeito

a) às tendências de homogeneização das culturas resultantes da

globalização.

b) às tendências de desagregação total das tradições e importação de

modelos culturais norte-americanos.

c) respectivamente à perda do território como referência geográfica e

à desagregação dos elementos culturais.

d) aos efeitos e impactos da mundialização sobre as culturas locais.

e) aos movimentos de resistências antiglobalização das sociedades

locais.

3. Segundo o professor Renato Ortiz e conforme as tendências verifi -

cadas, a globalização está promovendo qual efeito sobre a cultura?

a) Reinterpretação das tradições.

b) Homogeneização cultural.

c) Diminuição do consumo dos bens culturais.

d) Desvalorização das culturas oriundas das regiões pobres.

e) Total desagregação das tradições.

4. Leia e selecione a alternativa que agrupa corretamente os itens que

representam impactos e transformações nos hábitos e nas culturas

causadas pela globalização.

I. Desaceleração do tempo, com maior tempo livre para o consumo.

II. Expansão do espaço geográfico, com maior distanciamento entre as

diversas localidades do mundo, promovida pelo desenvolvimento

dos meios de transporte.

III. Criação de novos hábitos de consumo, além do surgimento dos

espaços virtuais de compra.

IV. Unicidade cultural.

V. Novos estilos de vida e de comunicação, com relações sociais

menos estáveis e menos duradouras.

a) I, II, III e V. b) II, IV e V. c) III e V.

d) I, II e III. e) II e IV.

5. Até recentemente, por exemplo, a imagem do cowboy era associada

especificamente ao Texas americano; o samurai, à história passada do

Japão, mas hoje é possível ver essas “tradições” em qualquer parte do

mundo. Tornou-se possível provar comida em sistema de fast food

oriunda de qualquer parte do mundo e em várias localidades do mundo.

Esse processo pode melhor ser definido pela categoria de

a) desterritorialização das culturas.

b) destradicionalização.

c) americanização.

d) desagregação cultural.

e) imperialismo cultural.

6. A globalização é um chavão de nosso tempo, uma discussão que

está na moda, onde opiniões fatalistas conflitam com afirmações

críticas, e o temor de uma homogeneização está no centro do debate.

A frase acima:

a) Definiu perfeitamente o fenômeno da globalização.

b) Propôs uma abordagem científica e imparcial da globalização.

c) É alarmante e não faz qualquer referência à realidade.

d) Elabora uma abordagem histórica sobre o mundo do pós-Guerra Fria.

e) Apenas introduz o tema complexo da globalização e seu conceito.

7. “Na China, após a flexibilização de sua economia comunista

centralmente planejada para uma nova economia socialista de mercado,

e uma relativa abertura de alguns de seus mercados, a porcentagem de

pessoas vivendo com menos de US$2 caiu 50,1%, contra um aumento

de 2,2% na África subsaariana. Na América Latina, houve redução de

22% das pessoas vivendo em pobreza extrema de 1981 até 2002.”

O termo flexibilização, empregado no texto em referência à China,

significa

a) a adoção de características econômicas de capitalismo, apesar do

comando socialista.

b) a adoção de características de socialização dos meios de produção

num país que já implantara a economia de mercado em 1949.

c) a adoção de uma política de controle de natalidade mais flexível para

garantir uma mão de obra abundante e muito barata.

d) a adoção de um modelo político mais democrático.

e) a adoção de um sistema pluripartidário com sindicalização dos

trabalhadores como medida de atração de capital externo.

8. Como as legislações trabalhistas dos países em desenvolvimento,

em geral, dão menos proteção social, geram precárias condições de

trabalho e as empresas pagam salários muito baixos a seus

trabalhadores, o custo de produção nesses países é relativamente

menor, reduzindo a competitividade das empresas localizadas nos

países desenvolvidos. Um possível resultado disso é

a) a transferência de tecnologia dos países emergentes para os mais

ricos.

b) o deslocamento das empresas para esses países e o aumento da

taxa de desemprego nos países desenvolvidos.

c) a alteração na forma de produzir, diminuindo a preocupação em

agregar valor ou reduzir custos.

d) deslocamento de empresas e migrantes dos países ricos para os

pobres.

e) a centralização geográfica dos centros de produção e financeiros.

9. É verdade que a realidade se nos apresenta preocupante: altas taxas

de desemprego, presença do desemprego estrutural, intensificação do

ritmo de trabalho, crescimento do trabalho temporário e de tempo

parcial, polarização em termos de qualificação e para os que

permanecem no emprego a chamada "síndrome dos sobreviventes",

angústia e medo, sentimentos que acompanham os não demitidos.

Entretanto, as novas tecnologias podem ser exploradas em suas

dimensões positivas como na eliminação das funções rotineiras,

repetitivas e degradantes, fonte de doenças e de insatisfação, tanto na

esfera do trabalho fabril quanto na esfera dos serviços; ou como na

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realização de um trabalho polivalente, multifuncional, favorecendo a

utilização do pensamento abstrato, permitindo uma maior interação do

trabalhador com a máquina, já que o trabalho informático supõe essa

interação. Sobretudo, haveria a possibilidade de reduzir ainda mais o

tempo de trabalho necessário ao ganho para sobrevivência.

O título mais adequado para o texto acima é:

a) O desemprego nos países emergentes.

b) A síndrome dos sobreviventes num mundo globalizado.

c) Aspectos negativos e positivos dos avanços tecnológicos de

produção.

d) Redução na jornada de trabalho.

e) Globalização e exclusão social.

10.Abertura de mercados ao comércio internacional, migração de

capitais, uniformização e expansão tecnológica, tudo isso, capitaneado

por uma frenética expansão dos meios de comunicação, parecem ser

forças incontroláveis a mudar hábitos e conceitos, procedimentos e

instituições. Nosso mundo aparenta estar cada vez menor, mais restrito,

com todos os seus cantos explorados e expostos à curiosidade e à ação

humana. É a globalização em seu sentido mais amplo, cujos reflexos se

fazem sentir nos aspectos mais diversos de nossa vida.

Sobre esse tema, leia e julgue as proposições abaixo.

I. As circunstâncias atuais parecem indicar que a globalização da

economia, com todas as suas consequências sociais e culturais, é

um fenômeno que irá durar pouco tempo, devido às rápidas

transformações do mundo atual. O fim da bipolaridade ideológica no

cenário internacional, a saturação dos mercados dos países mais

ricos e a ação dos meios de comunicação, aliados a um crescente

fortalecimento do poder das corporações e inversa redução do poder

estatal (pelo menos nos países que não constituem potências de

primeira ordem) são apenas alguns dos fatores que permitem esse

prognóstico. O meio ambiente, em todos os seus componentes,

pouco tem sido afetado pelo processo de globalização da economia.

II. Os impactos da globalização da economia sobre o meio ambiente

decorrem principalmente de seus efeitos sobre os sistemas

produtivos e sobre os hábitos de consumo das populações. Todos os

efeitos da globalização são negativos.

III. Está havendo claramente uma redistribuição das funções econômi -cas no mundo. Um mesmo produto final é feito com materiais, peçase componentes produzidos em várias partes do planeta. Produzem-se os componentes onde os custos são mais adequados. E osfatores que implicam os custos de produção incluem as exigênciasambientais do país em que está instalada a fábrica. Este fato temprovocado em muitos casos um processo de "migração" industrial.Indústrias são rapidamente montadas em locais onde fatores comodisponibilidade de mão de obra, salários, impostos, facilidades detransporte e exigências ambientais, entre outros, permitem aotimização de custos. Como a produção de componen tes é feita emescala global, alimentando indústrias de montagem em várias partesdo mundo, pequenas variações de custos produzem, no final,notáveis resultados financeiros.

IV. A medida mais eficaz para evitar ou minimizar os efeitos deletériosdessas e de outras consequências da globalização sobre o meioambiente seria a adoção, por todos os países, de legislaçõesambientais com níveis equivalentes de exigências. O fortalecimentodas instituições de meio ambiente, principalmente dos órgãosencarregados de implementar e manter o cumprimento das leis, éigualmente fundamental. Para isto, seriam necessárias, além deações dos governos dos países em desenvolvimento, assistênciaeconômica e técnica das nações mais ricas.

São verdadeiras: a) I e II apenas. b) II e III apenas. c) I e IV apenas. d) III e IV apenas. e) II e IV apenas.

11.A globalização pode ser descrita como um processo de difusão deideias e valores, de formas de produção e de trocas comerciais queatravessam e rompem as fronteiras nacionais. As opções abaixoapresentam exemplos da teia global, à exceção

a) da intensa velocidade de propagação de ideias e da instantaneidadena transmissão dos acontecimentos mundiais.

b) da ampliação dos fluxos de bens e de informações que circulam einteragem em escala mundial.

c) da retração do controle territorial do Estado-nação devido aoalargamento da ação das grandes corporações.

d) da simetria dos circuitos da mídia e da informação eletrônica comuma recíproca fertilização cultural e democratização do capital.

e) do aumento da velocidade e da eficiência dos sistemas multimodaisde transportes e comunicações.

78 –

1) Ocorre uma redução do espaço geográfico e uma aceleração

do tempo, pelo desenvolvimento dos transportes e meios de

comunicação. Alguns autores, como o sociólogo Renato Ortiz,

afirmam estar acontecendo um processo de

desterritorialização dos elementos culturais, isto é, a perda da

definição de um espaço geográfico específico de um

determinado elemento cultural. Assim, por exemplo, a

imagem do cowboy já não se refere somente ao Texas

americano, mas a uma cultura rural globalizada.

2) D 3) A 4) C 5) A

6) E 7) A 8) B 9) C

10) D 11)D

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1. Introdução

Chamamos de modernidade a atmosfera cultural quepermeou o desenvolvimento do capitalismo na sua fasede acúmulo de capital e de ascensão da burguesia. Algunsautores marcam o início da modernidade na expansãomarítima ocorrida na Revolução Comercial; outros noadvento do racionalismo filosófico do século XVII ou noIluminismo. Os pilares da modernidade são: a crença no

conceito de progresso; na noção do sujeito e na

racionalidade humana. O tempo era percebido comoum todo, pois a noção de progresso dava uma estruturaà história e, sobretudo, o homem era visto como umprojeto para a emancipação, no sentido que o progressoacabaria resolvendo as mazelas sociais e existenciais dahumanidade.

Enquanto projeto cultural, a modernidade apresentaambiguidades, pois, se trouxe bem-estar material,conforto para muitas pessoas, não resolveu muitosproblemas fundamentais da humanidade. O avançotecnológico e as revoluções industriais colaboraram paradesenhar um tecido social repleto de nós: como asdesigualdades, a intolerância e os impactos ambientais.Assim, é evidente que tal quadro exigia um novo olharsobre o mundo e sobre a condição humana. Por outrolado, as constantes mudanças no modo de produçãocapitalista redefiniram contextos culturais e estilos devida. Muitos autores passaram a chamar de pós-modernidade essas mudanças comportamentais, teóri -cas e estéticas que marcam a atual fase do capitalismo.

A arte pós-modernavaloriza a forma, sem conteúdo. A imagem sugere umculto ao consumismo:característica da pós-modernidade.

2. O que é a pós-modernidade

Pós-modernidade é a condição sociocultural e estéticado capitalismo contemporâneo, também deno mi na do pós-industrial ou financeiro. Alguns autores se opõem ao uso daexpressão, pois afirmam não perceber efetivas rupturascom a modernidade, por isso o filósofo francês GillesLipovetsky prefere o termo hipermodernidade.

Para François Lyotard, “condição pós-moderna”caracteriza-se pelo fim das metanarrativas. Os grandesesquemas explicativos teriam caído em descrédito e nãohaveria mais garantias, pois nem mesmo a ciência podehoje ser considerada como a fonte da verdade e certezas.O sociólogo polonês Zygmunt Bauman prefere usar aexpressão modernidade líquida: uma realidade ambígua,multiforme, na qual, como escerveu Marx, tudo o que ésólido se desmancha no ar. Já o filósofo alemão JurgenHabermas afirma que a pós-Modernidade traz tendênciaspolíticas e culturais neoconservadoras, determinadas acombater os ideais iluministas.

As principais características da pós-modernidade são:o fim da crença no conceito de progresso e da visão totalda história, portanto, a chamada fragmentação do tempo,em que os fatos são vistos apenas como episó diosisolados; a valorização do efêmero, o individualismo; oconsumismo e a ética hedonista. No plano estético e daprodução artísitca – geralmente emprega-se o termo pós-modernismo – ocorre a valorização da forma semconteúdo.

3. Texto

O lugar do coletivo na pós-modernidade

Por Nete Benevides (mestra em Artes Cênicas, arte-educadora, atriz e diretora teatral)

“Por que será que apesar de todas as facilidades davida moderna o homem contemporâneo não consegueestabelecer laços afetivos que lhe produzam satisfaçãopessoal? Por que será que mesmo diante de tantosavanços científicos e tecnológicos ele ainda se achaangustiado?

Na obra O mal-estar da pós-modernidade, o soció logopolonês Zygmunt Bauman, argumenta que, issoacontece, sobretudo, porque corresponde à caracterís ticada pós-modernidade, uma sociedade marcada pelocapitalismo pós-industrial, consumo exacerbado, movi -men to constante, efemeridade e fragilidade dos laçosafetivos entre as pessoas. O impacto desses fenômenosnos relacionamentos afetivos interfere nas relaçõestransformando-as ‘em amores líquidos’, reflete Bauman,

MÓDULO 11 Modernidade, Pós-Modernidade e Multiculturalismo

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que amparado nas ideias dos pensadores francesesJacques Derrida e Emmanuel Lévinas, vai chamar atençãopara a baixa cotação da alteridade dos indiví duos quevivem este tempo, para o irreconhe ci mento do outro emtodas as relações de um modo geral, permi tin do, dessaforma, o ‘bloqueio’ de um exercício cotidiano que envolvaquestões éticas como, tolerância, respeito, solidariedade,etc.

Assim, substitui-se o ‘investimento’ no amor e nooutro pela prática das ‘redes de relações’, uma vez que,conforme afirma o sociólogo Michel Maffesoli em suaobra A Contemplação do Mundo, as cidades contempo -râneas desta sociedade são povoadas por tribos.Maffesoli defende que na sua pluralidade de origens ecompor tamentos, as sociedades não nascem da reduçãoda diversidade até chegar a um elemento centralizadorúnico, mas da conjunção de elementos díspares, queformam uma grande ‘colcha de retalhos’.

Se na sociedade pós-moderna destaca-se funda men -talmente o movimento cotidiano de entrar e sair das‘redes de relações’, esta prática não permite que asrelações humanas possam amadurecer e nem exigir dosindivíduos um ‘investimento afetivo’. Tudo isso provoca:a incapacidade de se manter laços duradouros, asubstituição da durabilidade pela transitoriedade e pelanovidade, o encurtamento do período de tempo entre odesejo de sua realização e a utilidade e desejabilidade dasposses de sua inutilidade e rejeição.

Neste cenário, Zygmunt Bauman observa que, a‘síndrome do consumismo’ nos conduz à presença dereciprocidade entre velocidade de aquisição e lixo, tudo oque vem a ser descartado. Porém, a pós-modernidade‘não se fundamenta em distinções precisas e simples,mas em uma complexidade que integra tudo e seucontrário’ destaca Maffesoli, naquela obra, acrescen tandoque o estilo de um homem ou de um determinado gruponada mais é que a cristalização da época em que estehomem vive, o que lhe permite servir de revelador dacomplexidade social deste quadro geral que exprime,sincronicamente, a vida social.

Esse estilo funciona como uma linguagem comum enos remete à compreensão do social como interação ecomo vivência de momentos em que é partilhado oconvívio entre as pessoas e onde se estabelece laços euniões que se criam e permanecem presentes na memóriadas pessoas. Essa ideia compreende as atitudes emo cio -nais, as formas de pensar e agir e nos fazem en ten der,nesse quadro social, a relação que se estabelece entresubjetividade, intersubjetividade e intrassubjet ividade.

A vida social, de acordo com Michel Maffesoli, é umasequência de copresença, ou como disse Rimbaud: ‘Eué um outro’, pois é preciso partir da alteridade, que seacha no âmago do eu, para compreender a sociedade pós-moderna, sobretudo porque apesar do pensamentoracional ainda nortear o comportamento e as atitudes doshomens que têm o poder de dizer e fazer, esta socie dadetraz na essência de sua caminhada características que lheassocia a temática de Dionísio, deus grego daversatilidade, do jogo, do trágico e do desperdício de si

mesmo. Assim, como no domínio desse mito reina aambiguidade, a narrativa fragmentada e a magia comometáfora, a pós-modernidade, em sua particularidade,também, deve aliar contrários fazendo-os entrar emsinergia e permitindo uma originalidade ao seu tempohistórico. Desse modo, as culturas se interpenetram esuas diversas temporalidades conta minam as formas deser e pensar e, neste sentido, a história registra umamitologia plural e diversificada.

A socialidade maffesoliana se remete a um senti men -to de comunidade que é marcada, predomi nantemente,pelo corpo coletivo sobre o individual. No estilo pós-moderno o particular se apaga para dar lugar ao típico,podendo se observar nesse cenário, por exemplo, o ‘tipomusical’, ‘tipo político’, ‘tipo guru’ etc. O viver social comoestilo de um tempo, está permeado por imagens esimbolismos que constituem a vida em uma grande oubanal aventura, aonde coexistem emoção e razão;tornando mais próximas as experiências vividas-em-comum. Este processo ético-estético coloca em jogo uma‘paixão operante’ cuja vitalidade constitui a base de toda‘socialidade’ ou solidariedade de base.

A solidariedade de base reafirma o ethos do vivercomum, aglutinando os indivíduos pela vontade de‘ligação’ instaurada pelo simples fato de estar junto,envolvidos pela ‘banalidade’ da vida cotidiana. Estesentimento de agregação, este compartilhar, acentua,conforme Maffesoli, o caráter ético da emoção estética;ele faz com que o pertencimento aos grupos, ou as‘tribos’, se transformem no ‘cimento’ que sustenta a vidasocial. Portanto, esta ‘argamassa’ que fundamenta acomunidade também está apoiada por elementos‘objetos’ e concretos, são eles: a ação militante, osgrandes eventos culturais, a moda, a caridade, a açãovoluntária etc. Todavia, esses elementos devem serreconhecidos como pretextos cuja função é possibilitar elegitimar a relação de alguém por outrem.

Além disso, essa estruturação de base, ou sociali da -de de base, está igualmente vinculada aos ‘palcos’ ondese desenrolam as cenas da vida cotidiana: os shoppings,eventos esportivos e culturais, mega-eventos religiosos,a vida nos condomínios e as relações de vizinhança detoda a ordem. São esses ‘cenários’ que ajudam a comporas formas que caracterizam a vida social, lembrando queformas e conteúdos são uma e mesma coisa.

É preciso concordar com Michel Maffesoli quandoafirma a ligação existente entre a emoção estética e asocialidade (ou solidariedade de base), porque é esta relaçãoque possibilita a emergência de um viver ético-estético-afetivo, que surge da ambiência comunitária e se fortalecepelos princípios de simpatia social. Trata-se mesmo deempatia porque tal sentimento pode ser com par tilhadoatravés da generosidade de espírito, da proxi midade e dacorrespondência mútua entre as pessoas.

A noção de empatia ressalta a emoção comunitária;isto é, um movimento em direção ao outro que assinala adisponibilidade de compartilhar experiências que brotamdas razões e das sensações do ‘pluralismo societal’.

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Portanto, esta orientação em direção ao outro, estacorrespondência social, é acentuada pela ideia de empatiae se constitui em característica exemplar do ‘estetismo’,ou estilo-estético-afetivo.

O estilo-estético-afetivo exalta a ideia de umsentimento de religare aos sentidos sociais, ou ainda, de‘religação’ ao outro; por isso permite pensar uma ética-estética nascida da vida de todo dia, isto é, dossignificados dos vivenciados-comum na qual ética é umcompromisso ‘sem obrigação nem sanção’, nenhumaoutra obrigação que não seja aquela de se agregar, ‘de sermembro do corpo coletivo’ e neste sentido, conformeMaffesoli, o estilo estético: ‘ao se tornar atento àglobalidade das coisas, à reversibilidade dos diversoselementos dessa globalidade, e à conjunção do materialcom o imaterial, tende a favorecer um estar-junto que nãobusca um objetivo a ser atingido, não está voltado para odevir, mas empenha-se, simplesmente, em usufruir dosbens deste mundo, em cultivar aquilo que MichelFoucoult chamava de ‘cuidado de si’ ou ‘uso dosprazeres’, em buscar, no quadro reduzido das tribos,encontrar o outro e partilhar com ele algumas emoções esentimentos comuns. No balanço cíclico dos valoressociais, assiste-se ao retorno do ideal comunitário, emdetrimento do ideal societário. Uma tal pulsão comunitáriaé encontrada no que chamei de tribalismo pós-moderno,cujos efeitos se fazem sentir tanto nas efervescênciasjuvenis, quanto na multiplicação das agregações queforam elaboradas a partir dos gostos sexuais, culturais,religiosos ou até mesmo políticos. Agregações que nãomais se devem a uma programação racional, mas, aoinvés disso, repousam sobre o desejo de estar com osemelhante, com o risco de excluir o diferente. É a‘homossocia lidade’, que predomina em todos osdomínios e que não deixa nada indene: a política torna-seuma história de clãs, a universidade ou a imprensafragmentam-se em igrejinhas concorrentes e opostas, asinstituições, sejam elas quais forem, dividem-se emgrupos, mais ou menos hostis, com muita frequência emluta entre si.’

(Maffesoli, 1995, p.54.)

Então, qual é mesmo o lugar do coletivo na pós-modernidade? Do mesmo modo que na Idade Médiaobservamos o ‘estilo teológico’ e durante a modernidadeverificamos o ‘estilo econômico’, na pós-modernidadevem sendo elaborado o ‘estilo estético’ e uma novaordem se esboça. É a partir dessa ordem que se devebuscar, conforme Nietzsche, ‘a profundidade na superfíciedas coisas’. Para isso, é necessário olhar novamente paraas coisas e, nesse novo olhar buscar uma identificação(que é um conceito mais ‘móvel’ que a identidade) com asvárias culturas e ‘tribos’, apreendendo e apreciando cadacoisa a partir da nossa coerência interna e não a partir deum julgamento exterior que dita o que ela deve ser, como

se fosse possível estabelecer a supremacia de um código,principalmente, quando compreendemos que a ideiacentral da trajetória do ‘aprender a viver’ possui a mesmadimensão filosófica de se ‘aprender a morrer’ – angústiamaior do homem.”

Glossário

Ética hedonista: doutrina moral que considera sero prazer a finalidade da vida: há pessoas que profes samnaturalmente o hedonismo. — O termo hedonismo vemda palavra grega hedoné que significa prazer.

A articulação social da diferença, da perspectiva daminoria, é uma negociação complexa, em andamento,que procura conferir autoridade aos hibridismos culturaisque emergem em momentos de transformação histórica.

(Homi Bhabha)

MULTICULTURALISMO

4. INTRODUÇÃO

Já vimos que a globalização imprime profundasmudanças nas relações sociais e sobre a cultura. Asconstantes migrações intercontinentais e internacionaiscolocam em convivência pessoas de culturas diversas ea política atual orienta-nos a um comportamento detolerância e entendimento mútuo. Multiculturalismo é umtermo que revela a coexistência de múltiplas culturas nummesmo lugar, isto é, descreve uma sociedade feita depessoas de “mundos” diferentes. O multicultura lismo,portanto, implica um trabalho de assimilação das minorias,em que seus agentes representantes sejampublicamente reconhecidos, combatendo formas dediscriminação.

O Canadá e a Austrália são exemplos comuns demulticulturalismo. Já o Brasil é uma sociedade marcadapela forte miscigenação étnica e sincretismo doselementos culturais.

O multiculturalismo está em oposição ao etnocen tris -mo e ao monoculturalismo, típico das sociedades naciona -listas e com forte sentimento de solidariedade fechada.

Há um movimento multicultural de resistência àhomogeneidade cultural, daí a preocupação em defen dera sobrevivência das tradições culturais diversas.

Trata-se de um projeto de enriquecimento e aberturade novas e diversas possibilidades, como confirmam osociólogo Michel Wieviorka e o historiador SergeGruzinski, ao demonstrarem que o hibridismo e a malea -bi lidade das culturas são fatores positivos de inovação.Charles Taylor, autor de Multiculturalismo, diferença edemocracia atesta que toda a política identitária nãodeveria ultrapassar a liberdade individual. Indivíduos sãoúnicos e não poderiam ser categorizados. Taylor definiu a

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democracia como a política do reconhecimento do outro,ou seja, da diversidade. De fato, não há democra cia semo direito e o respeito às diferenças.

Alguns grupos sociais contestam o multiculturalismo,pois enxergam nele mais um mal da globalização. Porém,na atualidade, a convivência com a diversidade éinevitável e faz-se necessária uma postura política bemorientada.

5. Texto

Multiculturalismo, Enciclopédia Itaú Cultural(Adaptado)

“Definição: Hibridismo, diversida de étnica e racial,novas identida des políticas e culturais: estes são termosdiretamente relacionados ao rótulo multiculturalismo. Sea diversidade cultural acompanha a história dahumanidade, o acento político nas diferenças culturaisdata da intensificação dos processos de globalizaçãoeconômica que anunciam, segundo os analistas, uma novafase do capitalismo, denominada por autores como ErnestMandel de ‘capitalismo tardio’ e por outros, como DanielBell, de ‘sociedade pós-industrial’. A despeito dasquerelas acer ca das origens dessa nova fase, o fato é queas discussões acerca do multicultu ra lismo acompanhamos debates sobre o pós-modernismo e sobre os efeitos dapós-colonização na cena contemporânea, o que se verificade forma mais evidente a partir dos anos 1970, sobretudonos Estados Unidos. A globalização do capital e acirculação intensificada de informações, com a ajuda denovas tecnologias, longe de uniformizar o planeta (comopropalado por certas interpretações fatalistas), trazemconsigo a afirmação de identidades locais e regionais,assim como a formação de sujeitos políticos quereivindicam, a partir das garantias igualitárias, o direito àdiferença. Mulheres, negros (ou afro-america nos),

homossexuais, populações latino-americanas (‘hispa nos’ou chicanos) e migrantes em geral se fazem presentescomo atores políticos a partir da marcação de diferençasde gênero, culturais e étnicas. A cultura torna-seinstrumento de definição de políticas de inclusão social –as ‘políticas compensa tórias’ ou as ‘ações afirmativas’ –que tomam os mais diversos setores da vida social. Cotasparas minorias, educação bilingue, programas de apoioaos grupos marginalizados, ações antirracistas eantidiscriminatórias são experimentadas em toda a parte.

No campo das artes, o multiculturalismo assumeformas muito variadas, ainda que possua sempre caráterengajado e intervencionista, definido em função daexperiência social do artista: sua origem, pertencimentode classe, opção sexual etc. Arte e vida, imbricadas desdepelo menos as vanguardas históricas – no dadaísmo, porexemplo – tornam-se agora termos inseparáveis: a vida éque dita os contornos da arte, que pode ser negra, gay,feminista, chicana etc. Os artistas falam de um lugar, queé o dos não WASP (white anglo-saxon protestant/anglo-saxão branco protestante); as mulheres falam a partir dacondição feminina, assim como os afro-descendentes, oshispânicos, os índios etc. Nos Estados Unidos – onde omulticulturalismo é definido e teorizado por intelectuaisde origem terceiro-mundista, atuantes nas universidadesnorte-americanas –, as relações entre produção artística epolítica se estreitam na década de 1970, basta lembrar acriação, em 1969, do Art Workers Coalition – AWC[Coalizão dos Trabalhadores de Arte], em Nova York, e dosimpósio organizado pela revista Artforum, ‘O artista e apolítica’. Protestos contra a Guerra do Vietnã, defesa dosdireitos civis e do direito do artista em relação ao modo deexibição dos seus trabalhos são tópicos de uma pautamais extensa formulada pelo AWC. Uma das exigênciasdos membros da coalizão – entre eles, a crítica LucyPippard e os artistas Takis (1925), Hans Haacke (1935) eCarl Andre (1935) – é a presença de um porto-riquenhono conselho de qualquer museu e galeria que exiba arteporto-riquenha.

Esse cenário sofrerá reconfigurações significativassob o impacto do movimento feminista, que redesenhaos contornos de parte da produção artística e da crítica dearte. A Women Artists in Revolution – WAR, formado apartir do AWC, o Conselho de Artistas Mulheres de LosAngeles (1971), a defesa de uma crítica feminista dahistória da arte, entre outros, introduzem novas questõesnos debates sobre arte, que influenciam novasproduções. A instalação O jantar (1974-1979), de JudyChicago (1939), por exemplo, tenta recuperar ‘umahistória simbólica das realizações e lutas das mulheres’.Tentativas de tematizar as necessidades e desejos dasmulheres, por sua vez, aparecem em obras como Deusdando à luz (1968) de Monica Sjoo (1942). Críticas àsortodoxias de críticos, curadores, museus e galerias se

A imagem expressa a aversão que alguns gruposdevotam contra o multiculturalismo,afirmando que o mundo não é um supermercado de culturas.

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fazem visíveis em trabalhos como A morte do patriarcado/A lição de anatomia de A.I.R. (1976), de Mary BethEdelson, também autora da série Grandes deusas (1975).O cruzamento das identidades feminino e negro éexplorado em diversas obras. Nas performances deAdrian Piper (1948), por exemplo, a artista adota umaidentidade andrógina e culturalmente ambígua (Eu sou alocalização #2, 1975), inspirada nas discussões levadas acabo pelo feminismo e pelo movimento negro, estetambém muito presente na arte contemporânea,sobretudo na literatura (Toni Morrison e Cornel West, porexemplo) e na música (o hip-hop e o rap). No campo dasartes visuais, o grafite surge como meio privilegiado deexpressão dos jovens pobres, em geral negros, dasperiferias de Nova York. Se boa parte dessa produção nãopossui autoria definida, alguns nomes se notabilizam nogênero, por exemplo, o de Jean-Michel Basquiat (1960-1988). Original de uma família haitiana, Basquiat enraízasua arte na experiência da exclusão social, no universodos migrantes e no repertório cultural dos afro-americanos. Sua arte enfatiza as ligações do grafite como hip-hop e com o mundo underground dos pichadores.

O Movimento Chicano (1965-1975), originário da lutacontra a discriminação dos imigrantes mexicanos nosEstados Unidos, deve ser lembrado em função de seuativismo artístico, revelando novos artistas e promovendoa criação de centros culturais ‘mexicanos-americanos’ ehispânicos. Diversos artistas – norte-americanos deorigem hispânica ou migrantes radicados nos EstadosUnidos – trazem os debates sobre a diversidade culturale produção de identidades para as obras que realizam. Achamada arte gay conhece maior notoriedade em funçãodo impacto da AIDS no mundo artístico de Nova York eda atuação de grupos como o Act-up e o Gran Fury, nasdécadas de 1980 e 1990.

Os efeitos dos debates sobre o multiculturalismo noBrasil mereceriam uma discussão à parte, dada a sua

complexidade. País de raízes mestiças, e que nãoconstitui historicamente minorias que se organizam comocomunidades apartadas do conjunto – os migrantesacabaram assimilados à sociedade nacional –, o Brasilparece ficar à margem dessas discussões até a décadade 1980, quando do fortalecimento e visibilidade daschamadas minorias étnicas, raciais e culturais. A pressãodos novos atores sociais reverbera diretamente no textoda Constituição de 1988, considerada um marco emtermos da admissão do nosso pluralismo étnico. Osefeitos dessas formas renovadas de engajamento podemser observados no campo da produção artística,sobretudo da literatura (fala-se uma ‘escrita feminina’, em‘vozes negras’, em uma literatura de tom homoeróticoetc.). Na música jovem, das periferias urbanas, define-seo espaço de uma cultura negra: o funk, o rap, o hip- hop.O campo das artes visuais sofre o impacto dessasproblemáticas – a experiência das minorias aparecetematizada em um ou outro artista –, ainda que pareçadifícil localizar aí uma produção de cunho multiculturalcom contornos definidos.”

O multiculturalismo implica convivência e respeito às diferenças.

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1. São elementos da cultura contemporânea que acusam, segundoalguns autores, o advento da pós-modernidade:

I. História como entidade unitária.II. Colapso da ideia de progresso.III. Morte dos meios de comunicação de massa.IV. Suposta ou possível crise das ideologias.V. Valorização do conceito de sujeito histórico.VI. Esvaziamento de sentido da busca da verdade e do justo.

São coerentes apenasa) I, II, III e IV. b) II, III e IV. c) III, IV e V. d) II, IV e VI. e) I, III e V.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

2. Leia o texto:“Se na sociedade pós-moderna destaca-se fundamentalmente o

movimento cotidiano de entrar e sair das ‘redes de relações’, estaprática não permite que as relações humanas possam amadurecer enem exigir dos indivíduos um ‘investimento afetivo’.”

(Nete Benevides) Disso advém a) a incapacidade de se manter laços duradouros.b) a formação de uma rede social solidária.c) uma cultura baseada no consumismo e no coletivismo.d) a crença na noção de temporalidade total.e) a coesão das relações humanas baseada num “cimento” racional.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

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3. “Blade Runner é uma parábola de ficção científica em que temaspós-modernos situados num contexto de acumulação flexível (...) sãoexplorados com todo o poder de imaginação que o cinema podemobilizar. O conflito ocorre entre pessoas que vivem em escalas detempo distintas e que, como resultado, veem e vivem o mundo demaneira bem diferente."

(Harvey, David. A Condição Pós-Moderna. São Paulo: Loyola, 1999).

Sobre a pós-modernidade, é correto afirmar: a) Pós-modernidade se refere às condições socioeconômicas e cultu -

rais do capitalismo pós-industrial, que acentuam o individua lismo, oconsumismo e promovem a compressão do espaço e do tempo.

b) Enquanto movimento estético, o termo denota um compromisso deresgate do pensamento iluminista e de princípios funcionais rígidossobre o uso do tempo.

c) Pós-modernidade se refere à era da produção fordista, queaumentou a velocidade da produção das mercadorias, graças àimplantação da linha de montagem, produção em série e doconsumo de massa.

d) A pós-modernidade chega ao Brasil no esteio da política deindustrialização baseada na substituição de importações, redirecio -nando a concepção tradicional do sistema produtivo e do uso dotempo.

e) O movimento que dá início à pós-modernidade se apóia na defesados princípios tayloristas de produção, baseados no planejamento ena divisão flexível do trabalho.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

4. O termo Big Brother, um reality show que atualmente dá nome aum programa de televisão exibido em vários países, refere-se a(o) a) obra do escritor Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo, que traz a

proposição de uma sociedade na qual, apesar dos conflitos, aspessoas poderiam constituir comunidades baseadas em uma utopiafraternal.

b) obra do escritor inglês George Orwell, que revela a preocupação como controle crescente da sociedade pelo Estado.

c) obra de George Orwell, cuja preocupação central é desmistificar a“era das celebridades”, como um tipo de controle social da esferaprivada, especialmente da vida íntima.

d) obra do escritor Aldous Huxley que aborda a privatização da esferapública.

e) livro intitulado Admirável Mundo Novo, uma utopia às avessas, queaponta os riscos de uma sociedade em que predominam“celebridades” e tudo se reduz ao “espetáculo”.

RESOLUÇÃO

Resposta: B

5. Sobre a questão multicultural e o Brasil, julgue as proposições abaixo,assinalando as coerentes com a realidade. I. A miscigenação cultural e racial no País diluiu as minorias e hoje elas

inexistem. II. A Constituição de 1988 é um marco no processo de formação de

uma sociedade plural. III. No Brasil, a pluralidade costuma aparecer em expressões artísticas,

em que se fundem elementos das culturas populares, étnicas e dastribos da periferia urbana.

São coerentes:a) II e III. b) I e III. c) Todas. d) I e II e) apenas I

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

6. O multiculturalismo está em oposição ao etnocentrismo e aomonoculturalismo típico das sociedades a) globalizadas e insertas na chamada aldeia global.b) cosmopolitas e modernas.c) nacionalistas e com forte sentimento de solidariedade fechada.d) capitalistas, em que ocorre a exploração do trabalho.e) socialistas.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

7. Sobre o multiculturalismo, leia as proposições abaixo.I. Há opositores ao multiculturalismo que veem nele uma fonte de

conflitos e uma consequência da globalização.II. Movimentos artísticos, como o dadaísmo , contribuem para o

advento do multiculturalismo, pois questionam tradições estéticase abrem novas possibilidades de expressão.

III. O mundo multicultural dificulta o fenômeno do hibridismo cultural.

São verdadeiras:a) Todas. b) I e II. c) I e III. d) II e III. e) apenas I.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

8. O hibridismo cultural significaa) a convivência pacífica de pessoas portadoras de diferentes tradições

religiosas.b) o advento de uma sociedade pós-moderna, repleta de tribos em

conflito.c) a formação de um novo tecido cultural com múltiplas influências.d) a formação de um espaço de diálogo intercultural com o objetivo de

diminuir os conflitos políticos ou religiosos.e) o contrário de multiculturalismo.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

84 –

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1. “A sociedade urbana pós-moderna seria constituída por tribos queagrupam pessoas de comportamentos e estéticas afins, em que seestabelecem redes de relações efêmeras e instáveis. A sociedade pós-moderna se assemelha mais a uma complexa ‘colcha de retalhos’ doque a um ‘tecido único’.”

(Nete Benevides)Assim, podemos afirmar que a) as relações se estabelecem mais por uma pulsão de comunitarismo

do que por um ideal de sociedade. b) recupera-se o ideal de solidariedade humana.c) a pós modernidade gera uma saída dos constrangimentos e dos

interesses do mercado, estabelecendo as tribos humanas, quemantém redes de relações afetivas duradouras.

d) as tribos urbanas se tornaram uma opção de ideal para as sociedadedo futuro.

e) as tribos urbanas são isentas de corpos ideológicos e expressõesartísticas ou estéticas.

2. A crença no sujeito como ser destinado à emancipação, na noçãode progresso e na razão humana são

a) características da pós-modernidade.b) marcas culturais da sociedade plural contemporânea.c) pilares da modernidade.d) crenças que questionam o projeto cultural da modernidade.e) características do multiculturalismo.

3. Assinale a alternativa que expõe o período histórico mais adequadopara marcar o início da modernidade, enquanto projeto cultural.a) Pós-II Guerra.b) Início da Globalização.c) O Iluminismo.d) A Terceira Revolução Industrial.e) A publicação dos livos de Nietzsche.

4. O tempo era percebido como um todo, pois a noção de progressodava uma estrutura à história e, sobretudo, o homem era visto comoum projeto para a emancipação, no sentido que o progresso acabariaresolvendo as mazelas sociais e existenciais da humanidade. Sobre isso,leia e julgue as assertivas abaixo. Essa concepção I. é típica da pós-modernidade.

9. (UNESP) – A modernidade não pertence a cultura nenhuma, massurge sempre CONTRA uma cultura particular, como uma fenda, umafissura no tecido desta. Assim, na Europa, a modernidade não surgecomo um desenvolvimento da cultura cristã, mas como uma crítica aesta, feita por indivíduos como Copérnico, Montaigne, Bruno, Descartes,indivíduos que, na medida em que a criticavam, já dela se separavam,já dela se desenraizavam. A crítica faz parte da razão que, nãopertencendo a cultura particular nenhuma, está em princípio disponívela todos os seres humanos e culturas. Entendida desse modo, amoderni dade não consiste numa etapa da história da Europa ou domundo, mas numa postura crítica ante a cultura, postura que é capaz desurgir em diferentes momentos e regiões do mundo, como na Atenasde Péricles, na Índia do imperador Ashoka ou no Brasil de hoje.

(Antonio Cícero. Resenha sobre o livro “O Roubo da História”.

Folha de S. Paulo, 01.11.2008. Adaptado)

Com a leitura do texto, a modernidade pode ser entendida comoa) uma tendência filosófica especificamente europeia e ocidental de

crítica cultural e religiosa.b) uma tendência oposta a diversas formas de desenvolvi mento da

autonomia individual. c) um conjunto de princípios morais absolutos, dotados de

fundamentação teológica e cristã.d) um movimento amplo de propagação da crítica racional a diversas

formas de preconceito.e) um movimento filosófico desconectado dos princípios racionais do

iluminismo europeu.

RESOLUÇÃO:

O autor não associa a modernidade a um único contexto histórico,

especificamente europeu mas a uma tendência intelectual crítica,

racional e autônoma que surge em diversos momentos da história

ou em qualquer lugar do mundo para contestar padrões culturais

tradicionais fundamentados em preconceitos.

Resposta: D

10. (UNESP) – O marketing religioso objetiva identificar as necessidadesde espírito e de conhecimento dos adeptos de uma determinada religião,oferecendo uma linha de produtos e serviços específicos paradeterminado segmento religioso e linguagem inerente ao tipo depregação veiculada. A pessoa que se sente vazia num mundo capitalistae individualista busca refúgio através de uma religião. Identificar o públicoque mais frequenta o templo e o bairro onde o mesmo está situado, onível de escolaridade, renda, hábitos, demais dados dos perfisdemográficos e psicográficos são considerados num planejamento demarketing de uma linha de produtos religiosos.

(Fernando Rebouças. Marketing religioso.www.infoescola.com, 04.01.2010. Adaptado.)

O fenômeno descrito pode ser explicado por tendências dea) instrumentalização e mercantilização da fé religiosa.b) crítica religiosa à massificação de produtos de consumo.c) recuperação das práticas religiosas tradicionais.d) indiferença das igrejas e religiões frente às demandas de mercado.e) rejeição de ferramentas administrativas no âmbito religioso.

RESOLUÇÃO:

Na sociedade de consumo se estabelece em termos de padrão

cultural o paradigma de mercado, em que todos os valores e

práticas humanas parecem se inserir na lógica do mercado. Nesse

sentido, assiste-se a uma expansão das chamadas teologias da

prosperidade, em que, não só o fiel é identificado como portador da

graça pelo desempenho enquanto consumidor, mas também as

próprias instituições fazem uso das técni cas típicas do mercado

para atrair fiéis e frequentadores.

Resposta: A

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II. representa o fim das metanarrativas.III. expressa o projeto cultural da modernidade.IV. foi a estrutura cultural que acompanhou o desenvolvimento da

sociedade capitalista. São verdadeiras:a) I e II. b) II e III. c) III e IV. d) II e IV. e) I e III.

5. Para François Lyotard, a condição pós-moderna caracteriza-se pelofim das metanarrativas. Isso significa que:I. Os grandes esquemas explicativos teriam caído em descrédito e não

haveria mais garantias, pois nem mesmo a ciência pode hoje serconsiderada como a fonte da verdade e certezas.

II. A noção de progresso adquiriu grande crédito.III. A pós-modernidade tende a fragmentar o tempo, em que os fatos

são vistos apenas como episódios isolados. IV. Ocorre a desvalorização do efêmero, do individualismo; do

consumismo e da ética hedonista.São verdadeiras apenas:a) I e II. b) II e III. c) III e IV. d) II e IV. e) I e III.

6. A atmosfera cultural que permeou o desenvolvimento do capitalis -mo, na sua fase de acúmulo de capital e de ascensão da burguesia. a) Pós-modernidade. b) Multiculturalismo. c) Globalização.d) Modernidade. e) Mercantilismo.

7. São concepções da modernidade, exceto

a) o tempo como um todo.b) o progresso dava uma estrutura à história. c) o homem como um projeto para a emancipação. d) o culto ao efêmero.e) o acúmulo de capital.

8. O avanço tecnológico e as revoluções industriais colaboraram paradesenhar um tecido social repleto de nós: as desigualdades, aintolerância e os impactos ambientais, por exemplo. Assim, é evidenteque tal quadro exigia um novo olhar sobre o mundo e sobre a condiçãohumana. Por outro lado, as constantes mudanças no modo de produçãocapitalista redefiniram contextos culturais e estilos de vida. Leia e julgueas proposições abaixo.I. O quadro acima tenta mostrar o advento da pós-modernidade.II. O texto revela contradições do projeto cultural da modernidade.III. A pós-modernidade é uma ruptura total e consciente com a

modernidade, tentando corrigir suas contradições e fracassos.É (são) coerente (s):a) Apenas II e III. b) Apenas I e III. c) Todas. d) Apenas I e II. e) Apenas I.

9. A globalização do capital e a circulação intensificada de informa ções,com a ajuda de novas tecnologias, longe de uniformizar o planeta,trazem consigo a afirmação de identidades locais e regionais, assimcomo a formação de sujeitos políticos que reivindicam, a partir dasgarantias igualitárias, o direito à diferença. Mulheres, negros (ou afro-americanos), homossexuais e migrantes em geral se fazem presentescomo atores políticos a partir da marcação de diferenças de gênero,culturais e étnicas.Leia e julgue as proposições.I. O texto mostra a relação existente entre globalização e identidade

cultural.II. A criação das identidades emergiu como necessidade humana

apenas com o advento da globalização, pois essa tende a homoge -nei zar as culturas.

III. A afirmação das identidades pode ser analisada como resultado dastendências da globalização, particularmente como tentativa deestabelecer princípios de igualdade.

IV. O texto acima faz referência ao conceito numérico ou matemático deminoria.

São coerentes apenas:a) II e III. b) I e III. c) Todas. d) I e II. e) I e IV.

10.A afirmação de identidades é o outro lado da moeda do carátereconômico da globalização. A globalização pressupõe a ideia dedesterritorialização e desinstitucionalização, em um movimento emdireção a um mundo sem fronteiras. A falta dessas, no entanto, implicana perda das referências. São elas que tornam o sujeito, ao mesmotempo, igual entre iguais e diferentes entre todos, já que a pertinênciaa um território significa pertinência a um elo de identificação e apertinência a uma instituição – seja ela política social ou, especifi -camente, cultural – significa compartilhamento de crenças, convicçõesou ideais.Assinale a alternativa que revela o conteúdo central do pequeno textoacima.a) Desterritorialização das culturas.b) Identidade e globalização.c) A perda de referências globais.d) Caráter econômico da globalização.e) Desinstitucionalização dos mercados globais.

11.No senso comum, a globalização está associada à uniformização atodos os níveis (na música, na arte, na televisão e no cinema, noscomportamentos etc.), num processo a que poderíamos, com algumapropriedade, chamar de “Mc-Donaldização” (uma vez que osrestaurantes McDonald’s são semelhantes em todo o mundo).No entanto, é justo dizer que esta visão não é inteiramente correta, jáque, ao mesmo tempo, produz-se maior diversidade de conteúdos.Hoje, o consumidor comum tem ao dispor igualmente mais restaurantesitalianos, franceses, chineses, indianos, brasileiros, africanos. . . , talcomo o espectador tem mais telenovelas portuguesas do que antes, emais livros e discos de autores nacionais. O processo de globalizaçãocultural é contraditório e é duvidoso dizer que haja uma tendência paraa uniformidade se instalar, pelo menos sem que possa ser desafiada.Assim, podemos dizer que estaria ocorrendo a) uma homogeneização das culturas.b) uma desconcentração geográfica da cultura americana.c) uma divulgação global das culturas locais e a comercialização desses

elementos.d) uma perda definitiva das tradições.e) uma pasteurização dos estilos de vida.

12.Os movimentos sociais contemporâneos são complexos, porconfrontarem a estrutura social vigente. Por isso, necessitam comporforças organizando-se em rede. Nesse contexto, a rede atua como a) instrumento de solidariedade política entre grupos que questionam

as desigualdades da globalização.b) elemento de análise dos grupos que sugere os caminhos para atingir

as mudanças.c) meio de fortalecer uma ação questionadora organizada para formar

uma consciência de cidadania.d) forma de criação de parcerias internacionais para potencializar a

intervenção política.e) mecanismo de suporte financeiro de organizações que controlam as

políticas dos lugares.

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13.É evidente que essa situação tem efeitos sobre a cultura da humani -dade, especialmente nos países pobres, onde os contrastes sociais sãoainda mais perceptíveis. Sobre isso, analise e julgue as assertivas abaixo.I. Em primeiro lugar, podemos falar de uma espécie de conformidade

e adaptação. Em função da exigência de competitividade, cada umse vê como adversário dos outros e pretende lutar pela manutençãode seu lugar de trabalho.

II. Os excluídos não são percebidos como responsáveis e o sistematende a ser responsabilizados pela pobreza.

III. Paralelamente a isso, surge nos países industrializados uma novaforma de extremismo de direita, de forma que a xenofobia e aviolência aparecem entrelaçadas com a luta por espaços de trabalho.É claro que a violência surge também como reação dos excluídos, ea lógica do sistema, baseada na competição, desenvolve umacrescente “cultura da violência” na sociedade.

IV. Também não podemos esquecer que o próprio crime organizadooferece oportunidades de trabalho e segurança aos excluídos. Deforma que esse fenômeno não deve ser criticado, mas compreen -dido como solução justa para os que não tiveram oportunidade deinserção no sistema competitivo convencional.

São verdadeiras apenas: a) I e II. b) II e III. c) I e III. d) III e IV. e) II e IV.

14.O multiculturalismo e a transculturalidade são as perspectivas paraabordarmos os novos contextos. Apesar de sermos forçados a constatara presença do fundamentalismo como ator dos novos confrontos(ideológicos, políticos, militares...), identificamos, por contraposição, ocosmopolitismo (a abertura ao outro, a visão abrangente do mundo) e orelativismo (a ausência de preconceitos a priori para olhar o outro). Sobreesses temas, julgue as proposições abaixo.I. O multiculturalismo é uma experiência inexistente em um país como

os EUA que impõe sua forma de interpretar o mundo e a produçãocultural.

II. O multiculturalismo só existe em países em que houve intensoprocesso de miscigenação entre as raças, como o Brasil.

III. A globalização tende a aumentar o fenômeno do cosmopolitismo eda transculturalidade.

IV. O mundo moderno e globalizado tende a gerar reações de resistên -cia que podem se manifestar sob a forma do fundamentalismo, donacionalismo e da intolerância.

São verdadeiras apenas a) I e II. b) II e III. c) I e IV. d) III e IV. e) II e IV

15.As novas tecnologias digitais de comunicação e informaçãopossibilitam uma integração econômica mundial de características ealcance sem precedentes. Porém, este processo é acompanhado porprofundos sentimentos de desconexão, insegurança e segregação. Poroutro lado, as tecnologias não favorecem somente os interesses dogrande mercado, inclusive o cultural. Elas também proporcionam novosfluxos de experimentação artística e oportunidades de valorização detradições culturais específicas, combinada ao uso criativo dos maisrecentes recursos científicos e tecnológicos. Neste sentido, o PNC(Plano Nacional de Cultura) busca contemplar as dinâmicas emergentesno mundo contemporâneo, sem deixar de atender às manifestaçõeshistóricas e consolidadas. Essa ideia e o texto a) vão contra a ideia de reinterpretação das culturas como marca da

mundialização.b) vão ao encontro da ideia de homogeneização da cultura.c) fortalecem a ideia de uma americanização e pasteurização da cultura.d) vão contra a ideia de pobreza cultural como consequência da

globalização.e) vão de encontro a um perigoso nacionalismo intolerante em relação

à globalização.

16.A coexistência de múltiplas culturas num mesmo lugar descreveuma sociedade feita de por pessoas de “mundos” diferentes. Trata-sedo conceito de:

a) Multiculturalsimo. b) Globalização.c) Homogeinização cultural. d) Pós-modernidade.e) Modernidade.

17.O multiculturalismo implica um trabalho de assimilação das minorias,e isso significaa) um aumento da população absoluta.b) um combate às formas de discriminação. c) a instauração de um tecido social feito de conflitos.d) o estabelecimento de uma estrutura social de classes.e) o advento definitivo da globalização.

18. Que consequências a pós-modernidade imprime sobre o tecidosocial segundo a autora Nete Benevides?

19. Segundo o texto dessa aula, que relação existe entre globalização eidentidade cultural?

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1) A 2) C 3) C 4) C

5) E 6) D 7) D 8) D

9) B 10) B 11) C 12) A

13) C 14) D 15) D 16) A

17) B

18) A sociedade urbana pós-moderna seria constituída por tribos

que agrupam pessoas de comportamentos e estéticas afins, em

que se estabelecem redes de relações efêmeras e instáveis.

A sociedade pós-moderna se assemelha mais a uma complexa

“colcha de retalhos” do que a um “tecido único”. Assim, as

relações se estabelecem mais por uma pulsão de

comunitarismo do que por um ideal de sociedade.

19) A globalização do capital e a circulação intensificada de

informações, com a ajuda de novas tecnologias, longe de

uniformizar o planeta, trazem consigo a afirmação de

identidades locais e regionais, assim como a formação de

sujeitos políticos que reivindicam, a partir das garantias

igualitárias, o direito à diferença. Mulheres, negros (ou afro-

americanos), homossexuais e migrantes em geral se fazem

presentes como atores políticos a partir da marcação de

diferenças de gênero, culturais e étnicas.

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1. Introdução

A Sociologia da Violência e da Criminalidade estudaos fenômenos da violência e da criminalidade a partir deum foco sociológico, considerando-os, portanto, emrelação com o todo, ou seja, com as estruturas sociais eculturais, e não como fenômenos isolados. A sociologiadeve, assim, transcender o senso comum, sobretudoporque são temas do cotidiano e sobre os quais aspessoas formulam opiniões e pensamentos.

Violência e criminalidade são fenômenos distintos.Existem crimes que não são violentos e atos violentosque não são necessariamente criminosos, ao menos aosolhos das leis específicas de um determinado Estado.Consideremos, por exemplo, uma guerra ou revoluçãoconsiderada legítima pela maioria das pessoaspertencentes ao grupo que as originou, ou ainda o usolegítimo da coerção que o Estado detém, segundo osociólogo Max Weber, para manter a ordem social. Outroexemplo de violência socialmente aceita é aquela que sevê em alguns esportes como as lutas de boxe e as lutasmarciais do oriente. Portanto violência e criminali dade,embora possam e costumem estar associadas, sãofenômenos diferentes.

Interessa à sociologia os fenômenos de vanda lis mo,homicídios, suicídios, teorias do Direito, de crimino logia,guerras e conflitos sociais. A análise científica, porém, épriorizada, colocando temporaria mente de lado juízos devalor ou sentimentos de indignação. O olhar sociológico,por outro lado, percebe como violência os fenômenos daexclusão, preconceito e pobreza.

Jessicabrandao.files – A violência está no cotidiano das sociedadesmodernas e complexas.

2. Texto

Por Luiz Otavio O. Amaral (Advogado, professor deDireito da Universidade Católica de Brasília, autor de obrase ensaios jurídicos.)

“É de se fugir do lugar-comum e não menos verdadeirode que a violência (inclusive a institucional) marcaindelevelmente nossa formação social. O mesmo se diga

quanto à seletividade de nosso sistema penal que alcançamelhor e mais depressa pobres, negros e nordestinos(migrantes depauperados) e quanto à arrogância e descasode boa parte de nossas elites e governantes para com osdireitos em geral e especial men te os direitos humanos dasclasses subalternas. Os nossos negros, nordestinos(sobretudo fora do Nordeste), índios, homossexuais,população de rua, estão, todos, de fato (e não de direito, éclaro) à margem da cidadania e sofrem a violência dadiscriminação social, mais ou menos ostensiva, que vaidesde a mera suspeita até julgamentos/conde -nações/execuções penais bastante influenciadas porpreconceitos e injustiças sociais. As cidades faveladas,quilombadas ou mocambadas que hoje se defrontam comnossas ‘cidades europeias’ (em potencial guerrilha urbana)é realidade gêmea daquela outra que tem relegado, não éde agora, a segurança pública, em todo País, a uma atuaçãoautofágica (porque pobre em prevenção e seriedadepolítica, mas rica em autodestruição) e, portanto,socialmente explosiva (porque ao descomprometer até omero soldado PM, profissionalmente subutilizado, sub-remunerado, com pro me te com o crime novoscontingentes de excluí dos e exploradores...).

A violência e o crime (violência reprimida formal men -te pela lei), todavia, são comportamentos sociais ineren -tes à natureza humana; cada sociedade estabe lece atéque ponto há de tolerar a violência. Assim o limite àviolência não é apenas legal, mas, sobretudo social. Aexistência do crime é fato social normal (Durkheim),embora sempre abominável e logo punível seu autor;anormal e patologia social é o crime em taxas altas. Ocrime para a sociedade é como a célula doente para oorganismo humano, sempre há e haverá a célula malignaque é controlada e contida pela defesa orgânica, a doençaestará caracterizada com a alta taxa destas unidadesmórbidas, porém cada célula doente merece, por si só,tratamento. Dir-se-ia, com precisão, que a violência,quando guiada por valores éticos-sociais, não pode serdescartada, é, pois, um mal necessário e ainda inerenteao nosso estágio evolucional (...)”

As relações sociais que reproduzem exclusão e miséria são uma formaexplícita de violência.

MÓDULO 12 Criminalidade e Violência

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Cultura da violência e situação de guerra

Reportagem- Editorial Carlos Vogot (www.comciencia.br)

“No Brasil, a violência não é um fenômeno recente.‘A sociedade brasileira tradicional, a partir de umcomplexo equilíbrio de hierarquia e individualismos,desenvolveu, associado a um sistema de trocas,reciprocidade na desigualdade e patronagem, o uso daviolência, mais ou menos legítimo, por parte de atoressociais bem definidos’, analisa Gilberto Velho. Nestecontexto, a manipulação do poder, a corrupção e o uso daforça são (dentro de certos limites) aceitos, tolerados emesmo valorizados, tendo papel fundamental namanutenção do sistema social. Pode-se dizer que aviolência foi, de certo modo, legitimada historicamente nasociedade brasileira.

‘No entanto’, pondera o antropólogo, ‘o panoramaatual apresenta algumas características que alteram eagravam o quadro tradicional’. A criminalidade exacer badanos coloca praticamente em pé de igualdade com paísesque estão em guerra civil.

Exemplos disso aconteceram em 1993, no Rio deJaneiro, quando à chacina da Candelária seguiu-se a deVigário Geral e o pânico se instaurou entre a populaçãoda cidade, cuja sensação era de que não havia mais emquem confiar. ‘Em 1994, as ações criminais e as reaçõesda sociedade atingiram um grau extremo de exacer ba ção.A governabilidade foi comprometida, abrindo espa ço paratendências anárquicas, e mesmo criminosas, naspolícias’, escreve Rubem César Fernandes, presidente daONG Viva Rio, no texto O Rio reagiu.

A violência é nutrida pela corrupção, que atinge todosos níveis da administração pública, gerando umageneralizada falta de credibilidade e de confiança nasautoridades, levando os indivíduos a se defenderem porsi próprios ou, mais grave, a quererem fazer justiça comas próprias mãos. ‘Perdem-se referências simbólicassignificativas, perdem-se expectativas de convivênciasocial elementares’, diz Gilberto Velho. Por isso, segundoele, embora tenha raízes na pobreza e na miséria, aviolência não é apenas um fenômeno socioeconômico. Étambém ético-moral.”

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1. Sobre o primeiro texto, de Luiz O. O. Amaral, é possível afirmar quea) o sistema penal brasileiro funciona de forma equitativa para todos

os grupos sociais.b) as cidades faveladas, quilombadas ou mocambadas se defrontam

com nossas ‘cidades europeias’, em que a violência é inexistente,devido à bem aplicada segurança pública.

c) violência e crime são comportamentos sociais inerentes à naturezahumana; cada sociedade estabelece até que ponto há de tolerar aviolência e o limite à violência não é apenas legal, mas, sobretudosocial.

d) a violência não é inerente à natureza humana. Trata-se de umcomponente cultural e socialmente ensinado.

e) a violência é sempre contrária aos valores ético-sociais.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

2. As cidades faveladas, quilombadas ou mocambadas que hoje sedefrontam com nossas ‘cidades europeias’ (em potencial guerrilhaurbana) são uma realidade gêmea daquela outra que tem relegado, nãoé de agora, a segurança pública, em todo País, a uma atuação autofágica(porque pobre em prevenção e seriedade política, mas rica emautodestruição) e, portanto, socialmente explosiva (porque aodescomprometer até o mero soldado PM, profissionalmente subutili -zado, sub-remunerado, compromete com o crime novos contingentesde excluídos e exploradores...)”. Julgue as assertivas abaixo, tendo emvista o texto anterior, seus conhecimentos e sua reflexão.I. A cidade brasileira é espaço de convivência marcada por desigual -

dades que trazem as marcas da violência.II. Não se pode imputar aos agentes públicos de administração

quaisquer responsabilidades pelo caos urbano. Trata-se de umprocesso natural de macrocefalia, típica das grandes cidades.

III. As cidades europeias são, de acordo com o texto, quilomboladas emocambadas.

IV. A violência urbana resulta de processos acumulativos de displicên -cia política. São coerentes apenas:

a) I e II b) II e III c) II e IV d) III e IV e) I e IV

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

3. A violência e o crime (violência reprimida formalmente pela lei),todavia, são comportamentos sociais inerentes à natureza humana; cadasociedade estabelece até que ponto há de tolerar a violência. Assim, olimite à violência não é apenas legal, mas, sobretudo social. A existênciado crime é fato social normal, embora sempre abominável e logo punívelseu autor; anormal e patologia social é o crime em taxas altas. O crimepara a sociedade é como a célula doente para o organismo humano,sempre há e haverá a célula maligna que é controlada e contida peladefesa orgânica; a doença estará caracterizada com a alta taxa dessasunidades mórbidas, porém cada célula doente merece, por si só,tratamento. Essa concepção está presente na sociologia de:a) Max Weber b) Karl Marx c) Augusto Comted) Émile Durkheim e) Pierre Bourdieu

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

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4. Dir-se-ia, com precisão, que a violência, quando guiada por valoresético-sociais, não pode ser descartada, é, pois, um mal necessário eainda inerente ao nosso estágio evolucional (...) Com isso, o autor dafrase pretendeu afirmar quea) sempre haverá violência.b) a violência é uma forma de convívio recomendada.c) não há sociedade estruturada sobre relações solidárias.d) sempre houve a exclusão social. A ambição é parte da natureza

humana.e) a violência pode ser um meio de controlar e organizar uma sociedade

estruturada por tensões.RESOLUÇÃO:Resposta: E

5. No Brasil, a violência não é um fenômeno recente. Sobre isso, julgueas assertivas abaixo.I. A sociedade brasileira tradicional, a partir de um complexo equilí brio

de hierarquia e individualismos, desenvolveu, associado a um sistemade trocas, reciprocidade na desigualdade e na patrona gem; com isso,ensejou-se o uso da violência, mais ou menos legítimo, por parte deatores sociais bem definidos.

II. Neste contexto, a manipulação de poder, a corrupção e o uso da forçasão (dentro de certos limites) aceitos, tolerados e mesmo valorizados,tendo papel fundamental na manutenção do sistema social.

III. Pode-se dizer que a violência foi, de certo modo, legitimadahistoricamente na sociedade brasileira.

IV. O panorama atual apresenta algumas características que alteram eagravam o quadro tradicional. A criminalidade exacerbada nos colocapraticamente em pé de igualdade com países que estão em guerracivil.

Estão corretas (apenas):a) Todas. b) I, II e IV. c) I e III. d) III e IV e) I, II e III

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

6. Violência e crueldade são fenômenos distintos. Sobre essa distinção,é verdadeiro afirmar que a) a violência é menos aceita socialmente, em geral, do que a

crueldade.b) não há qualquer forma aceitável de violência ou de crueldade. A

violência é um problema de patologia individual; enquanto acrueldade resulta de estímulos externos, como a mídia.

c) a crueldade é um fenômeno psicótico, enquanto a violência tem umadimensão sociológica.

d) crueldade e violência constituem aspectos da natureza humana esão socialmente mais ou menos aceitáveis.

e) ambos são aspectos mais ligados a questões culturais do queespecificamente à singularidade humana.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

7. Sobre o problema da violência, leia e julgue as assertivas abaixo. I. Violência é um comportamento que causa dano a outra pessoa, ser vivo

ou objeto. Invade a autonomia, integridade física ou psicológica emesmo a vida de outro. É o uso excessivo de força, além do necessárioou esperado. O termo deriva do latim violentia (que por sua vez é amplo,é qualquer comportamento que deriva de vis, força, vigor); aplicação deforça, vigor, contra qualquer coisa ou ente.

II. Assim, violência diferencia-se de força, palavras que costumam estarpróximas na língua e no pensamento cotidiano. Enquanto forçadesigna, em sua acepção filosófica, energia ou "firmeza" de algo,violência caracteriza-se pela ação corrupta, impaciente e baseada naira, que não convence ou busca convencer o outro, simplesmente oagride.

III. Existe violência explícita quando há ruptura de normas ou moralsociais estabelecidas a esse respeito: Trata-se de um conceitoabsoluto, não variando entre sociedades. Por exemplo, rituais deiniciação em certas sociedades tradicionais ou do oriente são tãoviolentos quanto os crimes cometidos na sociedade moderna.

Estão corretas (apenas):a) Todas. b) I e II. c) I e III. d) I. e) II e III.

RESOLUÇÃO:Resposta: B

8. Já foram realizados diversos estudos sobre a relação entre violênciana mídia e comportamento agressivo, mas até agora não há nenhumaevidência conclusiva dessa relação. A televisão e o cinema são aponta -dos como irradiadores desses comportamentos, na medida em quepoderiam influenciar um indivíduo ou grupo.Isso significa queI. o senso comum tende a imputar à mídia responsabilidade pelo

aumento da violência, mas não há ainda provas concretas dessarelação;

II. não há provas concretas sobre a relação entre mídia e violênciadevido à falta de estudos acerca dessa questão;

III. a mídia de informação, como o telejornalismo, retrata imparcial menteos fenômenos sociais e não pode ser responsabilizada peladisseminação de atos de violência.

Estão corretas apenas:a) Todas. b) I e II c) I e III. d) I. e) II e III.

RESOLUÇÃO:Resposta: D

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9. Essa forma de violência consiste em um comportamento não físicoespecífico por parte do agressor, seja este agressor um indivíduo ou umgrupo específico num dado momento ou situação.

Muitas vezes, o tratamento desumano, tais como rejeição, deprecia -ção, indiferença, discriminação, desrespeito, punições (exageradas)podem ser considerados graves tipos de violência. Essa modalidademuitas vezes não deixa (inicialmente) marcas visíveis no indivíduo, maspode levar a graves estados emocionais. Muitos destes estados podemtornar-se irrecuperáveis em um indivíduo, de qualquer idade.

As crianças são mais expostas a esse tipo de violência, haja vistaque dispõem de menos recursos que lhe assegurem a proteção. Oambiente familiar e a escola têm sido os locais mais reportados. Pais eparentes próximos podem desencadear uma situação conflituosa queenvolva a criança, por exemplo. Na escola, colegas, professores oumesmo a instituição escolar como um todo podem ser os causadoresde situações de constrangimento.Essa modalidade de violência pode ser definida comoa) violência psicológica. b) crueldade. c) criminosa.d) violência doméstica. e) violência urbana.

RESOLUÇÃO:Resposta: A

10. (UNESP-2013)

TEXTO 1Sobre o estupro coletivo de uma estudante de 23 anos em Nova

Déli, o advogado que defende os suspeitos declarou: “Até o momentoeu não vi um único exemplo de estupro de uma mulher respeitável”.Sobre esta declaração, o advogado garantiu que não tentou difamar avítima. “Eu só disse que as mulheres são respeitadas na Índia, sejammães, irmãs, amigas, mas diga-me que país respeita uma prostituta?!”

(Advogado de acusados de estupro na Índia denuncia confissão

forçada.http://noticias.uol.com.br. Adaptado.)

TEXTO 2Na Índia, a violência contra as mulheres tomou uma nova e maisperversa forma, a partir do cruzamento de duas linhas: as estruturaspatriarcais tradicionais e as estruturas capitalistas emergentes.Precisamos pensar nas relações entre a violência do sistema econômicoe a violência contra as mulheres.

(Vandana Shiva, filósofa indiana. No continuum da violência.

O Estado de S.Paulo, 12.01.2013. Adaptado.)

Os textos referem-se ao fato ocorrido na Índia em dezembro de 2012.Pela leitura atenta dos textos, podemos afirmar que:a) segundo a filósofa, fatos como esse explicam-se pela confluência

de fatores históricos e econômicos de exclusão social.b) para a filósofa, a violência contra as mulheres na Índia deve-se

exclusivamente ao neoliberalismo econômico.c) as duas interpretações sugerem que a prevenção de tais atos

violentos depende do resgate de valores religiosos.d) sob a ótica do advogado, esse fato ocorreu em virtude do

desrespeito aos direitos humanos.e) as duas interpretações limitam-se a reproduzir preconceitos de

gênero socialmente hegemônicos naquele país.

RESOLUÇÃO:

A filósofa indiana afirma que a nova forma de violência apresenta

duas origens: uma histórica, identificada nas estruturas patriarcais

tradicionais; e outra, econômica, que é a exclusão social promovida

pelo sistema capitalista emergente.

Resposta: A

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1. A sociologia tem diversas áreas de estudo e interesse. A violência éum de seus objetos de estudo. Interessa especificamente ao sociólogo:I. as relações entre estruturas sociais, cultura e violência.II. o problema da violência doméstica.III. a relação entre estruturas políticas, conflitos sociais e movimentos

populares.IV. teorias do Direito em criminalidade.V. desigualdades, discriminação e exclusão como formas de violência.VI. crueldade humana como psicopatologia.

Estão corretas:a) Todas. b) Apenas I, II, III, IV e V. c) Apenas I, III, IV, V e VI. d) Apenas I, II, III, V e VI. e) Apenas I, III e V.

2. Sobre o problema da violência, é possível afirmar quea) não há como elaborar uma abordagem científica dessa questão.b) o problema da exclusão explica e justifica atos de violência no

cotidiano de uma sociedade como a nossa. c) segundo Max Weber, o Estado possui o monopólio legítimo da

violência.d) não existem formas de violência socialmente aceitas.e) violência e criminalidade são fenômenos distintos e são vistos como

fenômenos relacionados apenas pelo senso comum, em que não háanálise ou reflexão.

3. Existem crimes que não são violentos e atos violentos que não sãonecessariamente criminosos. Disso decorre quea) a violência é de interesse do olhar sociológico; enquanto a

criminalidade é pesquisada pela ciência do Direito.b) a violência revela índices muito maiores do que os da criminalidade.c) o vandalismo é um fenômeno específico de violência; enquanto o

homicídio, de criminalidade.d) a diferença está sobretudo visível na origem social do agente que

faz uso da violência ou do criminoso.e) violência e criminalidade são fenômenos distintos, embora possam

ocorrer juntos.

4. A estrutura social com a qual se formou o Brasil foi marcada pelaescravatura, patriarcalidade, sistema latifundiário e profundasdesigualdades. Assim, podemos afirmar que:I. Há uma herança histórica da violência no País.II. Todo descendente de excluídos e escravos tem naturalmente um

coeficiente acentuado para se tornar um agente da violência ecriminalidade.

III. Não há qualquer relação entre esses dados históricos e a questãoda violência no Brasil.

IV. O sistema colonial teve tendências autoritárias e reproduziuestruturas sociais violentas, como a escravidão.

São coerentes apenas:a) I e II b) II e III c) II e IV d) III e IV e) I e IV

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5. “A violência é nutrida pela corrupção, gerando uma generalizada faltade confiança nas autoridades.” Como consequência, temosa) uma população espontaneamente inclinada à corrupção e ao erro.b) um direito garantido ao Estado, segundo Max Weber, que é o uso

legítimo da violência. c) uma prova de que os processos democráticos facilitadores da

participação popular são destinados ao fracasso. d) uma tendência a aumentar os investimentos em segurança privada

por parte da população mais abastada.e) a consolidação de um estado de direito.

6. “A violência não é apenas um fenômeno sócio-econômico. É tambémético-moral.”Isso significaa) que as condições sócio-econômicas não servem para compreender

o fenômeno da violência.b) que o meio social e a origem familiar podem justificar uma

personalidade inclinada à violência e ao crime.c) que o estudo da condição econômica e da origem social é

insuficiente para entender o problema da violência. d) que embora a origem social de uma pessoa possa justificar atos de

violência, não os pode explicar.e) que a violência é um problema exclusivamente de ordem moral.

7. “Nosso sistema penal alcança melhor e mais depressa pobres,negros e nordestinos (migrantes depauperados).” Trata-se de um problema relacionado ao (s) conceito (s) dea) injustiça e impunidade.b) origem social dos criminosos.c) determinação das condições sociais sobre o comportamento ético.d) classes sociais e criminalidade.e) equidade e estado de direito.

8. Èmile Durkheim desenvolveu uma teoria sobre a violência. Leia ejulgue os itens abaixo.I. Violência e crimes são fenômenos “normais” ou frequentes em

determinadas sociedades.

II. Cada sociedade avalia até que ponto pode tolerar eventos deviolência.

III. Devido a sua influência no positivismo, dentro do paralelo quetraçava entre organismo biológico e sociedade, entendia a violênciae o crime como formas de anomalia e patologia social.

IV. Para ele, o Estado teria o monopólio legítimo da violência.

São coerentes:a) Todas. b) I, II e III, apenas. c) II e IV, apenas.d) II, III e IV, apenas. e) I e IV, apenas.

9. Sobre o problema da delinquência, analise as assertivas abaixo:

I. É aquela que se revela nas ações fora da lei socialmente reconhe -

cida. A análise deste tipo de ação necessita passar pela

compreensão da violência estrutural, que não só confronta os

indivíduos uns com os outros, mas também os corrompe e

impulsiona ao delito.

II. A desigualdade, a alienação do trabalho e nas relações, o menos pre -

zo de valores e normas em função do lucro, o consumis mo, o culto

à força e o machismo são alguns dos fatores que contribuem para a

expansão da delinquência. Portanto, sadismos, sequestros, guerras

entre quadrilhas, delitos sob a ação do álcool e de drogas, roubos e

furtos devem ser compreendidos dentro do marco referen cial da

violência estrutural, dentro de especificidades históricas.

III. Contribuindo para a reflexão acadêmica sobre o tema, recomenda-se

a seguinte postura metodológica relacional e dialética: em primeiro

lugar, evitar adotar uma perspectiva histórica na análise sociológica

e persistir em uma discussão de viés valorativo e normativo, ou seja,

um discurso a favor ou contra, que facilita o entendimento do

fenômeno.

IV. A violência é um desafio para a sociedade, e não apenas um mal. Ela

pode, inclusive, ser elemento de mudanças, ou um indício de

necessidade de mudanças.

É (são) coerente(s):a) Todas. b) Apenas I, II e IV. c) Apenas I e III. d) Apenas II, III e IV. e) Apenas II.

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1) B 2) C 3) E 4) E 5) D 6) C 7) A 8) B 9) B

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1. Introdução

A Sociologia do Trabalho estuda as relações sociaisde trabalho, os fenômenos resultantes de tais relações eo papel dos sujeitos ou agentes envolvidos nas relaçõese ambientes de trabalho, como fábricas e sindicatos.

Alguns autores, como Karl Marx e o filósofo italianoAntonio Gramsci, entendem o trabalho como essência dacondição humana, pois o homem não consegue viver emestado de natureza, necessitando transformá-la. Assim, ohomem constrói artefatos para se adequar ao mundo e ofaz através do trabalho. O trabalho, assim entendido,estabelece e impõe relações sociais que interessam aoolhar sociológico. Contudo, por muito tem po, o trabalhofoi considerado uma atividade depre ciável. É possível queessa visão tenha surgido exatamente por ter sedebruçado um olhar sobre a forma alienada e explorada dotrabalho humano, que produz uma existên cia humanaindigna, como acontece com a escravidão.

A palavra trabalho teria surgido do vocábulo Tripalium,que significava na antiguidade latina um castigo a seaplicar aos escravos preguiçosos. Os gre gos antigostambém depreciavam essa atividade e achavam quesomente o ócio criativo era digno dos homens livres ecaberia aos escravos a atividade do trabalho e achavamisso muito natural. O sociólogo Max Weber escreveu AÉtica Protestante e o Espírito do Capitalismo, em quemostra que o trabalho, de acordo com a concepção moraldos protestantes, seria uma virtude agradável a Deus,abandonando a ideia de castigo. Isso teria, por exemplo,contribuído para o acúmulo de capital nos EUA.

Por outro lado, outros pensadores também passarama entender a dimensão humana e universal do trabalho,valorizando-o, principalmente a partir do século XIX. Asescravaturas são progressivamente substituídas pelaforma assalariada de trabalho, em que a exploração nãodeixa de estar presente. Contudo, o trabalho assalariadoestaria mais de acordo com os princípios da democraciae do Humanismo.

A Sociologia estuda as implicâncias sociais da relaçãode trabalho com as ferramentas, com a técnica e atecnologia moderna. A Sociologia observa as transfor -mações que derivam da passagem do trabalho comsimples ferramentas individuais durante o períodoartesanal do processo de produção, ao trabalho indus trialcom grandes máquinas e ao trabalho no mundo dainformatização e da informação. Assim, as ciências sociaisacompanham as transformações históricas que ocorrerame ocorrem durante as Revoluções Industriais, assim comoas mudanças nas relações sociais que são produzidaspelas diversas formas de trabalho.

Os homens estabelecem relações necessárias para realizar o trabalho.

2. Texto

O trabalho enquanto dimensão contraditória da

potencialidade humana na trajetória de

reestruturação produtiva.

(adaptado)

Por Jane Maria dos Santos

O trabalho enquanto contradição

“Ao analisarmos a temática do trabalho, deparamo-nos com um paradoxo, uma contradição: ao mesmotempo em que o trabalho constrói o homem, ele tambémo destrói. Dessa maneira, primeiramente iremos analisarde que modo o trabalho é um fator positivo para aestruturação dos homens e dos grupos sociais e de quemodo o trabalho é um fator de negação da potenciali dadehumana.

O trabalho e sua dimensão positiva

Iniciemos então com a positividade do trabalho, que seencontra em seu sentido ontológico. O trabalho é a formafundante do ser social, forma primeira ou protoforma daatividade humana, da práxis (Antunes, 2002). Nessesentido, o trabalho se torna humano através da atividadede intercâmbio entre o homem e a natureza, no qual ele atransforma de acordo com as suas necessidades esimultaneamente ele também se transforma.

O trabalho é também uma atividade essencialmentehumana, devido ao fato de que ele é dotado de teleolo gia:projeto que é previamente planejado de modo intencionalpela mente do homem, como ser da práxis, visando umadeterminada finalidade. Esse é o fator que diferencia otrabalho humano do trabalho de todos os outros animais:ele é intencional.

Enquanto o homem adapta a natureza em função dasatisfação das suas necessidades, o animal adapta-se ànatureza, desfrutando das condições que ela lhe oferece.

MÓDULO 13 Sociologia do Trabalho

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Se pensarmos no pássaro joão-de-barro, ou na abelha, ouna aranha etc., eles sempre constroem suas moradias domesmo modo, através de seu trabalho, que nunca secomplexifica e que é resultado da objetividade de uminstinto. Já os homens executam construções que a cadadia que passa vão sendo cada vez mais comple xas, namedida em que o homem vai aperfei çoando-as em suasprojeções mentais. Ou seja, a construção realizada porum homem é resultado da objetividade de suasubjetividade e também é influenciada pelas relaçõessociais às quais ele é constantemente subme tido. Assim,através do trabalho, os homens vão produ zin dohistoricamente a sua existência e suas relações sociais.Essa é a positividade do trabalho humano criativo.

Portanto, a positividade do trabalho o revela comouma atividade que funda o homem como ser social, queé calcada no princípio da criatividade. Nesse sentido,podemos perceber sua dimensão qualitativa, que sedistingue pela habilidade que é própria e inerente a todae qualquer produção de bens socialmente úteis, realizadapelo homem.

A dimensão do trabalho como fator de negação

da potencialidade humana

Prosseguiremos então com o trabalho como fator denegação da potencialidade humana. Na nossa socieda decapitalista, os homens produzem historicamente suaexistência através do trabalho (Marx, 2002). Para que issoaconteça, através do trabalho que eles executam etambém de acordo com sua história, eles são divididossocialmente entre duas classes que apresentaminteresses antagônicos.

Uma classe é a dos proprietários dos meios deprodução, ou seja, dos capitalistas, e a outra é a dospossuidores apenas de sua força de trabalho, que são osproletários. A relação entre ambas expressa uma notávelrelação de desigualdade social e econômica. Comoexemplos dessa afirmação, temos dois fenô menos: oprimeiro é que o trabalhador proletário trabalha sob ocontrole do capitalista e o segundo é que o produtoproduzido diretamente pelo proletário não é propriedadedele, mas sim dos capitalistas (Antunes, 2002).

Por conseguinte, o resultado final do trabalho nãopertence ao trabalhador; o trabalho, então, tem caráterexterior ao do trabalhador. Essa é, então, umamanifestação de alienação. Para o trabalhador proletário,o trabalho é algo penoso, que o remete ao sacrifício.Assim, as condições que regem o capitalismo edeterminam o processo de trabalho causam a alienaçãodo trabalhador. Consequentemente o proletário nãoconsegue se reconhecer enquanto sujeito do produto doseu trabalho, pois ele não decide nem mesmo sobre oque, como, para que e para quem produzir.

Nas relações de produção a alienação acontece devários modos e o estranhamento é a forma específica de

alienação no sistema capitalista. O trabalhador produz algoestranho, que não é seu, que ele não pode possuir, queele não consegue se ver como produtor direto dessedeterminado algo e produz para alguém estranho (quegeralmente é o detentor dos meios de produção), que namaioria das vezes ele nem conhece (Antunes, 2002).

Assim, esse trabalhador proletário, que vive do seutrabalho e para o seu trabalho, é transformado pelasrelações sociais e pelas relações de produção em meramercadoria. Ele é cada vez mais explorado e sempredesvinculado do produto de seu trabalho quando estáproduzindo para o ‘outro’.

Há então, um processo de humanização da coisa ecoisifi cação do homem, criando o fetichismo da merca -doria e a consequente desumanização dos indivíduosenvolvidos em tal processo. A coisa, ou seja, o produto,adquire uma certa ‘humanização’, uma vida própria. Já ostrabalhadores que produziram a coisa, são cada vez maisdesumanizados em detrimento do que produziram. Suasubjetividade e importância enquanto ser humano sãodescartadas. Apenas o que interessa para os detentoresdos meios de produção, é a força de trabalho dostrabalhadores. E para os trabalhadores, alienados peloprocesso de trabalho no qual eles estão inseridos,somente interessa a mínima quantia que eles recebempara prover o sustento deles e de suas respectivasfamílias.

Portanto, a dimensão negativa do trabalho o revelacomo fator de coisificação da potencialidade humana nocapitalismo, como atividade que foi transformada emlabor, sacrifício, objetificação, devido à sobreposição desua dimensão quantitativa em relação à qualitativa.Ambas dimensões se distinguem apenas pelo ‘quantum’socialmente materializado na mercadoria, que é o queprevalece no capitalismo. Todo esse contexto traz comoconsequências o fato de o trabalhador não se reconhecerenquanto sujeito do produto de seu trabalho, que acabapor negar sua dimensão de ser social, e também pelo fatode seu trabalho pertencer a outrem e não a ele mesmo(Antunes, 2002).

A reestruturação produtiva e o mundo do

trabalho

Podemos perceber que o capitalismo se nutrefundamentalmente da exploração dos trabalhadores. Emmomentos de crise, os capitalistas tentam recuperar oslucros perdidos às custas de explorar mais ainda ostrabalhadores, o que agrava ainda mais a situação. Então, o sistema capitalista é atingido em todo o seuconjunto pela crise econômica e consequentementeacaba criando as condições objetivas de sua ruína. Osmodelos de organização da produção surgem comoalternativas às crises econômicas do capitalismo. Com opassar do tempo, esses modelos vão se tornandoinsuficientes e incapazes de conter as contradiçõesinerentes ao sistema.

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Nessa perspectiva, daremos continuidade à discus -são através da análise dos modelos de organização daprodução que surgem como alternativas às criseseconômicas do capitalismo.

Consequentemente, a partir do momento em que umdeterminado modelo vai entrando em decadência, outromodelo surge como resposta à crise, acarretandotransformações no processo produtivo. O próprio modelodenominado ‘fordismo’, surge como alternativa a uma dascrises do capitalismo e acaba se tornando um modelopadrão de organização do trabalho e um modo deregulação das relações na economia.

O fordismo foi criado em 1913, por Henry Ford, etrouxe consigo inovações tecnológicas, novas formasdiferenciadas de gestão e novos princípios de organizaçãoda produção (Gounet, 2002).

Essa modificação na produção realizada por Fordocorre porque ele tinha em mente fabricar um veículo depreço relativamente baixo (que para isso deveria serproduzido de modo padronizado), de forma que fossecomprado em massa. A ideia surgiu em função do antigoregime de trabalho, que produzia os carros lentamentedevido ao fato deles serem compostos por múltiplaspeças e, por isso, como produtos finais, custavam muitocaro (Gounet, 2002).

Ford modifica todo o processo de produção, aplicandoem sua fábrica os métodos elaborados por FriedrichTaylor, que em seu conjunto são denominados‘taylorismo’, que diz respeito à organização científica dotrabalho (Gounet, 2002).

O ‘taylorismo’ é essencialmente uma técnica socialde dominação, elaborada por Friedrich Taylor, tendo comoprincipal característica a individualização dos salários. Sejaatravés do salário por peça produzida, seja através deprêmios adicionais, forma explícita de introduzir acompetição entre os trabalhadores, objetivan do oaumento da produtividade do trabalho e evitando qualquerperda de tempo na produção. Com fundamen tação em oque move o mundo é o dinheiro, se a pessoa não recebeela não produz, a remuneração é um incentivo, assim osincentivos seriam sempre financeiros.

As determinações das tarefas não deveriam ficar acargo dos operários, mas deveriam ser estudadas,classificadas e sistematizadas por cientistas do trabalho,no caso, a gerência. Como ideia do planejamento para teruma cientificidade, ciência no sentido positivista, comdeterminados conceitos de base empírica, o operáriodeve apenas realizar as instruções, submeter-se àsordens impostas pela hierarquia da fábrica. Segundo osprincípios do ‘taylorismo’ cada tarefa e cada movimentode cada trabalhador possuem uma ciência, um saber fazerprofissional.

Assim havia métodos como: método de racionalizar aprodução, logo, de possibilitar o aumento da produtivi dade

do trabalho ‘economizando tempo’, assegurandodefinitivamente o controle do tempo do trabalhador pelaclasse dominante.

A alienação do trabalhador tenta se apresentar comoum dos subprodutos da ‘administração científica’. Ao sealienar, ele perde o sentido da totalidade em relação aoprocesso produtivo, e por conseguinte, do produto. Otrabalhador individualmente está fragmentado, sendoexecutor de uma tarefa simples e rotineira. Amecanização da produção reduziu o trabalho a um ciclode movimentos repetitivos.

Assenta-se nos princípios do ‘taylorismo’, como aprodução em massa e em série, consolidação do operário-massa, onde o trabalho de um depende do outro,padronização do processo de trabalho e também doproduto. Dessa perspectiva, o modelo assume outraracionalização: o parcelamento das tarefas e consequen -te mente o parcelamento do saber. Com isso, o operárioexecuta apenas uma função específica e não conhecemais a execução de todas as operações do processo deprodução. Além disso também foi racionalizado o tempo,através da introdução do cronômetro, para regular otempo de trabalho e os movimentos dos trabalhadores.Assim a produção torna-se padronizada, rotinizada ehierarquizada (divisão social do trabalho), acarretando adesqualificação dos operários na execução de seusrespectivos trabalhos.

Enfim, o modelo de organização da produção‘taylorista’ reduziu o homem a gestos e movimentos, semcapacidade de desenvolver atividades mentais, quedepois de uma aprendizagem rápida, funcionava comouma máquina. O homem, de acordo com esse modelo deorganização da produção, podia ser programado, sempossibilidades de alterações, em função da experiência,das condicionantes ambientais, técnicas eorganizacionais. A redução do trabalho mental também éenfatizada na medida em que a superespecialização datarefa levou a simplificação do trabalho a um nívelelevado, desprovendo o indivíduo de sua capacidadepensante.

A natureza genérica do ‘fordismo’ é também umamarca característica da divisão do trabalho, da aplicaçãodos métodos ‘tayloristas’ e da atribuição de funçõesparcelares dotadas de conteúdo praticamente nulo atrabalhadores de uma maneira permanente, rotineira emonótona. Nesse sentido, enquanto Ford se ateve ainovações e incrementações tecnológicas da produção,Taylor se ateve as inovações e incrementações no âmbitoda gestão da produção, visando mudanças na relação dogestor com o trabalhador (Silva, 2001).

O primeiro passo de Ford visando a produção emmassa, foi de racionalizar ao máximo as operaçõesefetuadas pelos operários para combater desperdícios,fundamentando-se nos princípios ‘tayloristas’ e da esteira

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rolante, que possibilitava a ligação dos trabalhosindividuais sucessivos, gerando uma produção fluida(Gounet, 2002).

A eficiência do ‘fordismo’ exige escassas doses dequalificação dos trabalhadores e de envolvimento dosmesmos com o sucesso da produção e da empresa;exige-se dos trabalhadores que cumpram as tarefas deconteúdo prescritas pelos gestores da produção.

Consequentemente o ritmo do trabalho foi intensifi -cado com a diminuição do tempo morto da jornada detrabalho. Ao falarmos sobre essa caracterização do‘fordismo’, a teoria é ilustrada pelas imagens do clássicofilme Tempos modernos, o qual trata de forma bastantecômica (embora não deixe de ser trágica), todas essasimplementações na organização da produção que asfábricas começam a assumir, buscando a eficácia e arigidez.

A princípio, para obter mão de obra suficiente para aprodução em massa, Ford atrai trabalhadores para suafábrica através de um significativo aumento de salário.Mas somente receberia esse salário o operário quecomprovasse ter boa conduta, distante de certasvicissitudes como beber e fumar. Com essa tática eleconsegue atrair mão de obra para a fábrica, mas não pagaesse salário para muitos operários, alegando que nãoderam boas provas de uma conduta disciplinada (Gounet,2002).

Dessa maneira, Ford estava concretizando osfundamentos básicos desse modelo: aumento daprodutividade, dos salários reais dos trabalhadores e doconsumo de massa.

À luz do filme Tempos modernos conseguimoscompreender melhor a dinâmica dos modelos ‘fordista’ e‘taylorista’, quando nele são expressas cenas deintensificação do ritmo de trabalho, racionalização dotempo, hierarquização, fragmentação do processo detrabalho, que geram o trabalho como fator de negação dapotencialidade humana e consequentemente causamanifestações de alienação no sentido de alheamento edesumanização dos trabalhadores.

Já no filme A classe operária vai ao paraíso, tornam-se claramente explícitas as manifestações de alienaçãodentro de uma fábrica e a precarização do trabalho quenela ocorre de forma generalizada; a exigência do perfilde um operário padrão que cumpre cotas; um ritmo detrabalho enlouquecido; a influência negativa do trabalhona subjetividade dos operários, que afeta até mesmo suasrelações íntimas e interpessoais; a impregnação do tempode trabalho ao tempo livre do trabalhador; e como pontopositivo, a tentativa constante e persistente de lutar peloestabelecimento de uma forte unidade sindical, mas quenão consegue ser objetivada.

O filme Tempos Modernos mostra a rotina no rordismo. (Chaplin nafoto).

Visando obter maior intensidade no processo detrabalho, o ‘fordismo’ retoma e desenvolve o ‘taylorismo’,por meio de esteiras nos diversos segmentos doprocesso de trabalho, assegurando o deslocamento dasmatérias-primas em transformação; e pela fixação dostrabalhadores em seus postos de trabalho. Deste modo,é garantida que a cadência de trabalho passe a serregulada de maneira mecânica e externa ao trabalhador.Podemos, portanto, caracterizar o ‘fordismo’ comoprodução em massa rígida, alicerçada no trabalho vivo(Vieira, 2001).

Crises econômicas são características do sistemacapitalista, diante de sua crescente incapacidade de nãoconseguir conter por si só suas contradições. Então,surgem como resposta, transformações no processoprodutivo através de um modelo de acumulação flexível,um novo modelo de organização da produçãodenominado ‘toyotismo’.

Chama-se ‘toyotismo’, porque ele foi desenvolvido eimplantado na fábrica da Toyota, situada no Japão. Essemodelo tem dupla origem. A primeira foi diante danecessidade de implantar o ‘fordismo’ no Japão, nointuito de beneficiar a produção e promover umaprogressiva lucratividade. Mas Ohno, presidente daToyota, não admitiu essa ideia. Desse modo, ele propôsobservar as experiências norte-americanas em relação ao‘fordismo’, não para copiá-las e sim para através delas,utilizar a pesquisa e a criatividade para elaborar ummodelo que se adaptasse à situação do Japão, que erade produzir pequenas quantidades de vários modelos deprodutos. E a segunda, foi que as empresas do Japãosofriam o constante risco de desaparecer, perante acompetitividade com as empresas norte-americanas, senenhuma atitude fosse tomada para superá-las (Gounet).

Devido ao limitado e pequeno espaço geográficojaponês, todo o desperdício deveria ser combatido e, paraisso a fábrica Toyota foi organizada em torno de quatrooperações: transporte, produção, estocagem e controle

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de qualidade. Apenas a produção é que agregava valor aoproduto e os outros três, por gerarem custos, foramlimitados ao máximo (Gounet, 2002).

Assim, o ‘toyotismo’ é: ‘Um sistema de organizaçãoda produção baseado em uma resposta imediata àsvariações da demanda e que exige, portanto, umaorganização flexível do trabalho (inclusive dostrabalhadores)’ (idem p. 29).

Ao invés de produzir em série, como no ‘fordismo’,esse modelo visava produzir de acordo com a demandavários modelos, mas cada um em pequena quantidade.Ou seja, somente se produziria o que era vendido ehaveria uma supressão dos estoques – just in time.

As principais características do ‘toyotismo’ emrelação à produção, é que ela é flexível, devendo serdeterminada pelo consumo e pronta para suprir ademanda do mesmo, apresentando também diversidadede produtos. Além disso, a organização do processo detrabalho ‘toyotista’, diferentemente da verticalização‘fordista’, é marcado pela horizontalização, sendo cada vezmais intensificado. Os trabalhadores são progres -sivamente flexibilizados em relação às horas extras.Consequentemente o trabalho temporário e a subcontrata -ção predominam nas relações trabalhistas. Em suma,podemos perceber que o que determina a produção nessemodelo de organização de produção, é o consumo.

A produção é organizada através do método kanban,baseado num sistema de cartazes colocados em caixasque orientam as encomendas conforme a demanda, quegeralmente era utilizado nos supermer cados, nos quaisos produtos somente são repostos quando eles sãovendidos (Gounet, 2002).

Com toda essa flexibilização da produção, aorganização do trabalho é também flexibilizada: a relação‘fordista’ um homem/uma máquina é rompida e agora otrabalhador torna-se polivalente (ou seja, opera váriasmáquinas ao mesmo tempo) e ao invés do trabalho serfragmentado, ele agora é executado por equipes ou pelosCCQ’s – Círculos de Controle de Qualidade (Silva, 2001).

Segundo T. Gounet, o ‘toyotismo’ e sua respectivaeficiência eram também caracterizados pelos cinco zeros:zero atraso, zero estoques, zero defeitos, zero panes ezero papéis.

O trabalho é constantemente flexibilizado e éintensificado ao máximo; é contratado um mínimo deoperários, que executam o máximo de horas extras; osindicato é totalmente vinculado ao patrão; a contrataçãode trabalhadores é reduzida (agora os operários ou sãosubcontratados ou são temporários, dependendo dascondições e das demandas do mercado); há a implan -tação da terceirização, que provoca a segmentação dostrabalhadores, a precarização do trabalho e o enfraque -cimento dos sindicatos, em que direitos trabalhistas sãoflexibilizados ou até mesmo eliminados.

Ora, é o ‘toyotismo’ que irá propiciar, com um maiorpoder ideológico, no campo organizacional, os apelos àadministração participativa, destacando-se o sindicalis mo departicipação e os CCQ’s; reconstituindo, para isso, a linha

de montagem e instaurando uma nova forma de gestão daforça de trabalho. Deste modo, uma carac terís tica centraldo ‘toyotismo’ é a vigência da “manipula ção” doconsentimento operário, objetivada em um conjunto deinovações organizacionais, institucionais (e relacionais) nocomplexo de produção de merca dorias, que permitem‘superar’ os limites postos pelo ‘taylorismo’/ ‘fordismo’.

As mudanças trazidas pela adoção de princípios comoautonomia e liberdade para o trabalhador a fim deaumentar a produtividade, representariam a mais finaessência do ‘toyotismo’. Entretanto, algumas caracterís -ticas desses novos modelos contrapunham-se ao estiloclássico da linha de montagem enquanto esquemaprodutivo. O rompimento com os antigos padrões degestão da força de trabalho representaria o rompimentocom o passado, com a burocracia e com a hierarquia ecaberia aos gestores construir uma nova empresa, carac -terizada pela interação, comunicação, solidarie dade,cooperação, integração e pela flexibili dade. A grandetentativa é de fazer o indivíduo se identificar com aorganização e seus objetivos.

Dentro do ‘toyotismo’, é o próprio indivíduo que deveencontrar seus limites, seu papel, seu espaço dentro daorganização. O controle organizacional ganha novoscontornos, e as permissões e proibições tornam-seinternalizadas pelo trabalhador. Com a diminuição dasupervisão, da vigilância constante, é ele que vai seautorregular.

Além da incorporação do autocontrole não há umsupervisor imediato de quem se possa reclamar ouescapar, assim a resistência do indivíduo pode se daratravés da manifestação de doenças do trabalho, comoos distúrbios mentais e estresse.

Juntamente com a internalização do controle, há acobrança, por parte dos dirigentes empresariais, doenvolvimento com a implantação de mudanças e dodesenvolvimento da adaptabilidade e de uma certaintegração em relação à empresa.

Num paradoxo, o discurso empresarial fala comfrequência no trabalho em equipe, mas o gerenciamentotorna-se cada vez mais individual e individualista. Oprocesso de individualização do coletivo de trabalha doresenfraquece a noção de classe operária, na qual um é ovigia do outro, não mais o colega, o companheiro.

Novas políticas de recursos humanos sãoimplantadas nas organizações, podendo constituir riscosmentais significativos. Se por um lado a carga física detrabalho reduz-se com a ampliação da automação, a cargapsíquica, pode elevar-se, levando os trabalhadores a umestado de tensão e conflitos internos constantes. Dentrodesse novo modelo de organização, busca-se construirum novo trabalhador e uma nova gestão da força detrabalho.

Para a Gerência da Qualidade Total, o produto demelhor qualidade é aquele que atende às necessidadesdo cliente. Assim o propósito da empresa seja assumido

– 97

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por todos sem precisar fazer chamadas, não pode traba -lhar só com metas quantitativas e sim buscar a qualidadetotal constante, e que este propósito da empresa sejaassumido por todos.

À empresa deve atender as necessidades e desejosdo cliente, para isso deve melhorar de forma contínuaseus processos, de modo a favorecer a qualidade eprodutividade.

O clima organizacional da empresa é enfatizado,deixando claro que todos os funcionários devem partici pardos desafios que a empresa enfrenta, destruindo asbarreiras entre os departamentos, deve-se trabalhar emequipe, pois a transformação da empresa é competênciade todos. Sendo assim a empresa deve estar bem-estruturada e harmônica para produzir com qualidade.

Na verdade, o aspecto original do ‘toyotismo’ éarticular a continuidade da racionalização do trabalho,intrínseca ao ‘taylorismo’ e ‘fordismo’, com as novasnecessidades da acumulação capitalista (Antunes, 2001).

Todos os modelos de organização da produçãoreferem-se ao planejamento e organização do processode trabalho de forma que possibilite o aumento deprodução e diminuição dos custos, gerando assim maiorprodutividade, o que significa ampliar o excedente (mais-valia). Ou seja, eles buscam uma organização racional dotrabalho em dados objetivos, mensuráveis, por isso,trabalham com controle estatístico do processo detrabalho, organização metódica com base nesse controle.Buscam diminuir o excedente e com isso que o lucroaumente.

Esses modelos têm, portanto, um eixo comum,ressaltado por esses processos aqui enfatizados. Todoseles afirmam ser generalizados, universais e aplicáveisem qualquer processo de trabalho; todos eles trabalhamcom a ideia da padronização da produção.

As mudanças no mundo do trabalho

Todas as medidas trazidas pelos modelos de organi -zação da produção inerentes ao sistema capita listaafetaram fortemente a classe trabalhadora e o seumovimento sindical e operário. Paralelamente, esse con -texto traz consigo um processo de mudanças em nossasociedade, que nos leva a pensar sobre as mudanças nomundo do trabalho.

É na década de 1980 que ocorrem profundastransformações no mundo do trabalho. Segundo RicardoAntunes, foi nela que a classe-que-vive-do-trabalho sofrea mais aguda crise desse século, que atingiu tanto a suamaterialidade, quanto a sua subjetividade.

As mudanças que ocorrem no mundo do trabalho nãonos fazem perceber a continuidade que há entre o‘fordismo’/’taylorismo’ e o ‘toyotismo’. Antes de tudo,deve mos perceber que ambos são padrões deacumulação e que contribuem para as mudanças nomundo do trabalho.

Também na década de 1980, começam a ocorrer

hibridizações desses e de outros modelos de gestão e deorganização da produção (Antunes, 2002).

Com a flexibilização do trabalho e dos trabalhadores ede todas as características que lhes são ineren tes, osdireitos do trabalho são desregulamen tados, desquali -ficados, desorganizados e precarizados. As formascontratualizadas da força de trabalho são tambémprecarizadas: o vínculo empregatício formal vem sofrendouma ofensiva cada vez maior (Antunes, 2002).

Consequentemente, há o enfraquecimento dossindicatos devido a sua perda de representatividade coma diminuição do número de trabalhadores formais. E os trabalhadores precarizados muitas vezes nem têmrepresentação sindical. Há, então, a crise con tem porâneado sindicalismo: crescente individualiza ção de trabalho,resignação social, fortíssima corrente que desregulamentae flexibiliza o limitado mercado de tra ba lho, os sindicatosdeixam de ser combativos para serem defensivos (há umainstitucionalização sindical) etc (Antunes, 2002).

E uma das mais graves consequências que todo essecontexto acarreta é a desumanização dos múltiplossujeitos que são os trabalhadores assalariados. Asubmissão dos mesmos a um trabalho imposto, assala ria -do, sacrificado, estranho e irreconhecível a eles acabaproduzindo a alienação.

Na maioria das vezes, através do trabalho alienado,esses sujeitos conseguem apenas prover insuficien -temente suas necessidades básicas. Afinal essetrabalhador está trabalhando para outro, não sendo donode sua própria atividade. Por isso, o trabalho torna-se paraele uma força estranha, no sentido que ele vai satisfazere beneficiar outro indivíduo e não ele mesmo.

Podemos perceber, que a tendência atual é que otrabalho seja caracterizado como uma dimensão negativado homem e de sua potencialidade. Dessa maneira, ostrabalhadores contemporâneos acabam sendosubmetidos apenas a esse trabalho negativo, que não trazconsigo uma consequência benéfica para aqueles que oexecuta.

Contudo, as mudanças no mundo do trabalho acabamrevelando que:

De fato, o processo de reestruturação produtiva, quese ancora em novas formas de regulação do trabalho,baseia-se sobretudo na flexibilização da produção comoingrediente fundamental para a intensificação do trabalho,a desregulamentação dos direitos sociais dostrabalhadores, o enfraquecimento do sindicalismocombativo e a desverticalização da produção (Silva, 2001).

Paralelamente à progressiva dimensão negativa dotrabalho, sua dimensão positiva, que o expressa enquantoatividade intencional e criativa, é propor cional menteprejudicada e minimizada, devido às mudanças ocorridasconstantemente no mundo do trabalho.

Podemos concluir, portanto, que depois desse brevepercurso, constatamos que essa contradição que otrabalho traz historicamente consigo se torna cada vezmais acentuada, de acordo com os modelos de

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organização da produção que vão surgindo no contextoda reestruturação produtiva. Nesse sentido, a situaçãoaqui analisada expressa que a contradição dessadualidade de dimensões acaba reforçando a negativa eem detrimento da positiva. Tudo isso porque o sistemacapitalista de produção, tendo em vista seu própriobenefício, está atento apenas para as questões objetivasque regem em função de uma lucratividade cada vezmaior e as condições subjetivas são desconsideradas”

Operários almoçando no alto da construção.

– 99

O Trabalho na Sociedade Tupinambá

O Trabalho na Sociedade Tupinambá

(resumo – adaptado)

Por Marco Cruz

“José de Anchieta em suas Cartas, pág. 378, assimreferiu-se aos tupinambás: ‘Se deixam morrer de tristezae nojo vendo-se escravo, sendo eles livres’.

O Dr. Koshiba fala em termos de ‘sociedade dotempo livre’, uma vez que 5 horas diárias de trabalhoeram suficientes para eles’.

Léry, no famoso diálogo com um tupinambá, escutoudeste: ‘Temos pais, mães e filhos a quem amamos masestamos certos de que depois da nossa morte a terra quenos nutriu também os nutrirá. ‘Por isso, descan sa mossem maiores cuidados’.

Um velho ditado grego dizia: ‘Se quer fazer Pítoclesfeliz não lhe aumente os bens, mas diminua seusdesejos’.

Na sociedade de consumo atual a ânsia do ter o novoobjeto, a tecnologia de ponta, é insaciável e até mesmoangustiante.

Como já disse nosso redator, José Correia Batista emseu primeiro livro, ‘... acabaremos tendo que retornar aosíndios’. Por que não?

O ócio dos silvícolas foi menosprezado como‘tendências inatas’ ao Dolce far niente, entretanto,Helbert Baldus estudando os tapirapés conclui que o‘ócio’ deles não era exagerado, mas necessário para a

restauração das forças . Constatou também um envelhe -ci mento precoce das mulheres que não dispunham desseócio todo para restaurarem-se.

Abbeville considerava a caça e a pesca um ótimopassatempo. Já o Pe. Antônio Montoya afirmava que,comparativamente, as mulheres trabalhavam muito mais.Desde crianças menores de sete anos, auxiliando aamassar o barro e tecer, até as adultas que catavampiolhos de todos, além de todas as tarefas domésticasque realizavam, chegando às uainuy [mais de 40 anos],que se dedicavam à cerâmica e eram encarregadas dascarnes dos sacrifícios e, finalmente, as anciãs queauxiliavam a reco lher as flechas durante as batalhas.

O homem deixava por conta da mulher o carrega -mento do equipamento e das crianças, pois precisavaficar livre para defendê-las dos animais ferozes e dosataques surpresa dos inimigos. As mulhe res somente nagravidez tinham suas tarefas moderadas.

Outra característica da sociedade tupinambásegundo Evreux é que nunca desistem de trabalhar,seguindo o princípio: ‘cada um trabalha segundo suasforças, mesmo na velhice’.

Como vimos, morrer de angústia por estarescravizado não é que o índio seja preguiçoso, masrejeitava o trabalho imposto. A propósito, a escravidãoentre os índios não chegou a desenvolver novas camadassociais. Achavam um absurdo deixar um inimigo vivo. Sóforam aprender a exploração de mão de obra alheia comos brancos.”

1. “O trabalho é a forma fundante do ser social, forma primeira ouprotoforma da atividade humana, da práxis.”

(Jane M. dos Santos)

Assinale a alternativa que dá sentido à frase.a) O trabalho é condição essencial e universal da existência humana, sem

o qual não se estabelece possibilidade de alguma sobrevivência.b) O trabalho representa sempre estado de alienação. A exploração do

homem pelo homem é emergência do trabalho.c) O trabalho pode tornar-se alienação quando não exercido

espontaneamente.

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d) A sociedade é constituída de relações tensas de conflito e relaçõesde trabalho que expressam exploração.

e) Sempre houve trabalho, desde o início da história da humanidade, efoi a partir dele que se estabeleceram as desigualdades sociais.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

2. A positividade do trabalho o revela como uma atividade que funda ohomem como ser social, que é calcada no princípio da criatividade. Pormeio do trabalho, construímos historicamente nossa existência e nossasrelações sociais. Pode-se dizer que o trabalho original torna o homemlivre, pois ele o planeja e o executa por sua vontade. Dessa forma,podemos afirmar:I. O trabalho não alienado é aquele fundante do ser social. Assim, o

homem estabelece relações e afirma sua humanidade pelo trabalho.II. Há uma antropologia que valoriza o trabalho, fundamentada na

concepção grega de que o trabalho é realização dos cidadãos e sereslivres.

III. Só há um tipo de trabalho: aquele que é executado e planejadosegundo a vontade do próprio homem livre.

Assinale a alternativa que expõe a (as) correta (corretas):a) Todas b) I e III c) I e II d) Apenas I e) Apenas III

RESOLUÇÃO:Resposta: D

3. (PUC-Rio) – As últimas décadas do século XX assistiram a umarevolução nos sistemas de produção e de trabalho.

As opções abaixo apresentam algumas das consequências dessasmudanças, à exceção: a) da substituição do trabalho humano por robôs flexíveis e

programados.b) da substituição, na ocupação da mão-de-obra, do setor de serviços

pelo setor industrial.c) do comando de sistemas de produção por computadores e

programas avançados.d) da produção altamente concentrada combinada com uma flexível

integração de empresas subcontratadas.e) do redimensionamento da escala de produção em função de mega-

mercados ou mercados mundiais.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

4. (UDESC) – Para otimizar a produção fabril no século XIX, duas teoriasse destacaram: o taylorismo (Winslow Taylor – 1856-1915) e o fordismo(Henry Ford – 1863-1947).

Leia e analise as afirmativas sobre os desdobramentos concretos dessasteorias.I. O taylorismo propunha uma série de normas para elevar a

produtividade, por meio da maximização da eficiência da mão-de-obra, aprimorando a racionalização do trabalho e pagando prêmiospela produtividade.

II. O fordismo impunha uma série de normas para aumentar a eficiênciaeconômica de uma empresa. Entre elas, exigia que a produção fosseespecializada e verticalizada.

III. Produção especializada significa produzir um só produto em massa,ou em série, apoiando-se no trabalho especializado e em umatecnologia que aumente a produtividade por operário.

IV. O taylorismo foi muito benéfico à organização dos trabalhadoreseuropeus que, por isso, criaram vários sindicatos e várias leis deproteção ao trabalhador.

V. Tanto o taylorismo como o fordismo só chegaram ao Brasil em 1980.Assinale a alternativa correta.a) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.b) Somente as afirmativas I e V são verdadeiras.c) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras.d) Somente as afirmativas III, IV e V são verdadeiras.e) Todas as afirmativas são verdadeiras.

RESOLUÇÃO: Resposta: A

5. Responder à questão com base no texto e nas afirmativas abaixo.

“O desemprego acentua a crise nas grandes cidades e se expressa no

aumento da criminalidade e na formação de guetos geográficos e

culturais. Ele é também fonte da instabilidade política e da descrença

nas instituições e nos partidos tradicionais, o que alimenta os novos

grupos extremistas europeus.”(Panorama do Mundo, 1999.)

O texto refere-seI. à globalização, que provocou uma movimentação mais acentuada

das indústrias que necessitam de mão-de-obra para paísesperiféricos, reduzindo o número de empregos na Europa.

II. à revolução técnico-científica, que desenvolveu a informática e arobótica, aumentando as taxas de desemprego.

III. aos grupos extremistas neoliberais, que se fecham em guetosgeográficos para defenderem a permanência de latinos clandestinosem países ricos europeus.

IV. ao crescente aumento do ramo manufatureiro na Europa, que tendea aprofundar a crise do desemprego, pois este ramo necessita demenores investimentos em tecnologia.

Pela análise das afirmativas, conclui-se que somente estão corretas

a) I, II e III. b) I e II. c) I e III. d) II e IV. e) III e IV.

RESOLUÇÃO: Resposta: B

6. A posição central ocupada pela técnica é fundamental para explicara atual fase do capitalismo em que se insere o pós-fordismo.Esta nova forma de organização da produção promove o seguinteconjunto de consequências:

a) retração do setor de comércio e prestação de serviços. Ampliação de

um mercado consumidor seletivo, diversificado e requintado. b) intensificação das estratégias de produção e consumo em nível

internacional. Redução do fluxo de informação e dos veículos depropaganda.

c) redução da distância entre os estabelecimentos industriais ecomerciais. Acelerado ritmo de inovações do produto com mercadospouco especializados.

d) crescente terceirização das atividades de apoio à produção e àdistribuição. Elevados níveis de concentração de capitais comformação de conglomerados. Qualificação do trabalhador.

e) manutenção dos direitos trabalhistas e fortalecimentos dossindicatos.

RESOLUÇÃO: Resposta: D

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7. Leia as informações e responda ao teste.

TAYLORISMO– separação do trabalho por tarefas e níveis hierárquicos– racionalização da produção– controle do tempo– estabelecimento de níveis mínimos de produtividade

FORDISMO– produção e consumo em massa– extrema especialização do trabalho– rígida padronização da produção– linha de montagem

PÓS-FORDISMO– estratégias de produção e consumo em escala planetária– valorização da pesquisa científica– desenvolvimento de novas tecnologias– flexibilização dos contratos de trabalhoPelas características dos modelos produtivos do momento da 2.ª Revo -lu ção Industrial, é possível afirmar que o fordismo absorveu certosaspectos do taylorismo, incorporando novas características. Essa afirmação se justifica, dentre outras razões, porque os objetivosdo fordismo, principalmente, pressupunham:a) elevada qualificação intelectual do trabalhador ligada ao controle de

tarefas sofisticadasb) altos ganhos de produtividade vinculados a estratégias flexíveis de

divisão do trabalho na linha de montagem

c) redução do custo da produção associada às potencialidades deconsumo dos próprios operários das fábricas

d) máxima utilização do tempo de trabalho do operário relacionada àdespreocupação com os contratos trabalhistas

e) qualificação do trabalhador e alta robotização

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

8. Com a flexibilização da produção do pós-fordismo ou do toyotismo,

o que ocorre com o trabalho humano?

I. Com a flexibilização do trabalho e dos trabalhadores e de todas as

suas características que lhes são inerentes, os direitos do trabalho

são desregulamentados, desqualificados, desorganizados e precari -

zados. II. As formas contratualizadas da força de trabalho são também

precarizadas: o vínculo empregatício formal vem sofrendo umaofensiva cada vez maior.

III. Crescente emprego de mão de obra braçal, sem garantias de melhorsucesso de carreira para os mais qualificados.

Assinale a alternativa que expõe a (as) correta (corretas):a) Todas b) I e III c) I e II d) Apenas I e) Apenas III

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

– 101

1. Que princípio positivo pode ser encontrado no trabalho humano?

2. Há uma dimensão do trabalho que aparece como fator de negação

da potencialidade humana. Assim, responda:

a) Como se estabelece essa dimensão negativa?

b) O que resulta dessa dimensão?

3. “Assim esse trabalhador proletário, que vive do seu trabalho e para

o seu trabalho, é transformado pelas relações sociais e pelas relações

de produção em mera mercadoria. Ele é cada vez mais explorado e

sempre desvinculado do produto de seu trabalho quando está

produzindo para o ‘outro’.”

(Jane N. dos Santos)

O conceito que melhor define a ideia no texto anterior é:

a) Exploração. b) Classe social.

c) Alienação d) Mercado de trabalho.

e) Capital humano

4. Defina fordismo, taylorismo e explique a relação entre os dois.

5. Que consequências o fordismo trouxe para as formas de trabalho ede conhecimento?

6. Com a flexibilização da produção do pós-fordismo ou do toyotismo,o que ocorre com o trabalho humano?

7. “O trabalho é a forma fundante do ser social, forma primeira ouprotoforma da atividade humana, da práxis”.

(Antunes apud Jane M. dos Santos)

Explique o sentido dessas palavras.

8. Se o trabalho é condição universal dos homens e essencial àsobrevivência, como se explica que tantas pessoas sobrevivam semtrabalhar?

9. Que consequências o fordismo trouxe para as formas de trabalho ede conhecimento?

10.Com a flexibilização da produção do pós-fordismo ou do toyotismo,

o que ocorre com o trabalho humano?

11.Que consequências o fordismo trouxe para as formas de trabalho e

de conhecimento?

I. O parcelamento das tarefas e consequentemente o parcelamento

do saber.

II. O operário executaria diferentes funções e conheceria mais a

execução de todas as operações do processo de produção.

III. Além disso, também foi racionalizado o tempo, com a introdução do

cronômetro, para regular o tempo de trabalho e os movimentos dos

trabalhadores.

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IV. Assim, a produção torna-se menos padronizada, menos rotinizada e

hierarquizada (divisão social do trabalho), acarretando a qualificação

dos operários na execução de seus respectivos trabalhos.

São verdadeiras:

a) I e II b) I e III c) II e III d)III e IV e) I e IV

12.É essencialmente uma técnica social de dominação, tendo como

principal característica a individualização dos salários. Seja através do

salário por peça produzida, seja através de prêmios adicionais, forma

explícita de introduzir a competição entre os trabalhadores, objetivando

o aumento da produtividade do trabalho e evitando qualquer perda de

tempo na produção. Trata-se do

a) taylorismo.

b) fordismo.

c) toyotismo.

d) acumulação flexível do Just in Time.

e) pós-fordismo.

13.Leia as informações e responda o teste.

TAYLORISMO– separação do trabalho por tarefas e níveis hierárquicos– racionalização da produção– controle do tempo– estabelecimento de níveis mínimos de produtividade

FORDISMO– produção e consumo em massa– extrema especialização do trabalho– rígida padronização da produção– linha de montagem

PÓS-FORDISMO– estratégias de produção e consumo em escala planetária– valorização da pesquisa científica– desenvolvimento de novas tecnologias– flexibilização dos contratos de trabalho

A posição central ocupada pela técnica é fundamental para explicar

a atual fase do capitalismo em que se insere o pós-fordismo.

Esta nova forma de organização da produção promove o seguinte

conjunto de consequências:

a) retração do setor de comércio e prestação de serviços. Ampliação de

um mercado consumidor seletivo, diversificado e sofisticado.

b) intensificação das estratégias de produção e consumo em nível

internacional. Redução do fluxo de informação e dos veículos de

propaganda.

c) redução da distância entre os estabelecimentos industriais e

comerciais. Acelerado ritmo de inovações do produto com mercados

pouco especializados.

d) crescente terceirização das atividades de apoio à produção e à

distribuição. Elevados níveis de concentração de capitais com

formação de conglomerados. Qualificação do trabalhador.

e) manutenção dos direitos trabalhistas e fortalecimentos dos sindicatos.

14.“A divisão do trabalho e a mecanização complementam-se e

reforçam-se mutuamente. (...) somente com a introdução da maquinaria,

com seu ritmo constante, é possível realizar o sonho – ou o pesadelo –

de uma administração exata do tempo e dos movimentos do operário,

sem a onerosa necessidade de colocar um capataz e um cronometrador

atrás de cada um.”

ENGUITA, Mariano F. “Tecnologia e sociedade: a ideologia da

racionalidade técnica, a organização do trabalho e a educação”.

In: SILVA, Tomaz T. da (org.) Trabalho, Educação e Prática Social. Porto

Alegre: Artes Médicas, 1991. p.235.

Tomando como referência a citação acima, podemos afirmar que

I. o taylorismo, concepção produtivista desenvolvida por Frederick

Taylor nos Estados Unidos, entre o final do século XIX e início do

século XX, tinha como características o controle sobre os gestos e

comportamentos do trabalhador, com o intuito de evitar o

"desperdício de tempo" e a decomposição da produção em movi -

mentos monótonos, causando tédio e idiotização do trabalhador.

II. o fordismo, desenvolvido por Henry Ford, seguiu a trilha aberta por

Taylor ao utilizar a linha de montagem na fabricação em massa de

automóveis, ao fixar o operário em um mesmo posto, subordinando-

o à máquina.

III. no mundo contemporâneo, a chamada "desindustrialização" –

processo de utilização da microeletrônica para a criação de novos

postos de trabalho – substituiu os antigos robôs, provocando a

diminuição do desemprego, melhorando a distribuição de renda em

países emergentes como o Brasil e criando novas oportunidades de

lazer aos trabalhadores.

Assinale

a) se apenas I e II são corretas.

b) se apenas I é correta.

c) se apenas II é correta.

d) se apenas II e III são corretas.

e) se todas são corretas.

15.Há uma dimensão do trabalho que aparece como fator de negação

da potencialidade humana. Nesse sentido, assinale a errada:

a) Estabelece-se através da sociedade de classes. Uma classe é a dos

proprietários dos meios de produção, ou seja, dos capitalistas, e a

outra é a dos possuidores apenas de sua força de trabalho, que são

os proletários.

b) Trata-se de uma forma de desigualdade social e econômica. Como

exemplos dessa afirmação, temos dois fenômenos: o primeiro é que

o trabalhador proletário trabalha sob o controle do capitalista e o

segundo é que o produto produzido diretamente pelo proletário não

é propriedade dele, mas sim dos capitalistas.

c) O resultado final do trabalho não pertence ao trabalhador; o trabalho

então tem caráter exterior ao do trabalhador. Essa é, então, uma

manifestação de alienação.

d) Para o trabalhador proletário, o trabalho é algo penoso, que o remete

ao sacrifício.

e) O proletário se reconhece enquanto sujeito do produto do seu traba -

lho, pois ele decide sobre o que, como, para que e para quem produzir.

102 –

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16.Pelo trabalho, o homem aprende a conhecer as suas próprias forças

e limitações, desenvolve a inteligência, as habilidades, impõe-se uma

disciplina, relaciona-se com os companheiros e vive os afetos de toda

relação. Nesse sentido, dizemos que o homem se autoproduz, pois ele

se modifica e se constrói a partir de sua ação. E nesse movimento tece

sua liberdade.

Interprete o texto e, utilizando seus conhecimentos e conceitos já

estudados, assinale a correta.

a) O trabalho enobrece o homem.

b) Toda forma de trabalho liberta o homem.

c) O homem se faz a si mesmo por meio do trabalho não alienado.

d) Não há liberdade sem emprego.

e) A ação do homem impõe uma disciplina de trabalho que lhe permite

a autoconstrução e tece a liberdade já dada.

– 103

1) A positividade do trabalho o revela como uma atividade que

funda o homem como ser social, que é calcada no princípio da

criatividade. Através do trabalho, construímos historicamente

nossa existência e nossas relações sociais. Pode-se dizer que

o trabalho original torna o homem livre, pois ele o planeja e o

executa por sua vontade.

2) a) Estabelece-se através da sociedade de classes. Uma classe

é a dos proprietários dos meios de produção, ou seja, dos

capita lis tas, e a outra é a dos possuidores apenas de sua

força de trabalho, que são os proletários. Trata-se de uma

forma de desigualdade social e econômica. Como exemplos

dessa afirma ção, temos dois fenômenos: o primeiro é que o

traba lhador proletário trabalha sob o controle do capitalista

e o segundo é que o produto produzido diretamente pelo

proletário não é propriedade dele, mas sim dos capitalistas.

b) O resultado final do trabalho não pertence ao trabalhador;

o trabalho, então, tem caráter exterior ao do trabalhador.

Essa é, então, uma manifestação de alienação. Para o

trabalhador proletário, o trabalho é algo penoso, que o

remete ao sacrifício. O proletário não consegue se reconhe -

cer enquanto sujeito do produto do seu trabalho, pois ele

não decide nem mesmo sobre o que, como, para que e para

quem produzir.

3) C

4) O fordismo foi criado em 1913, por Henry Ford. O princípio é a

produção em série e a exploração do trabalho humano

autômato. O ‘taylorismo’ é essencialmente uma técnica social

de dominação, elaborada por Friedrich Taylor, tendo como

principal característica a individualização dos salários. Seja

através do salário por peça produzida, seja através de prêmios

adicionais, forma explícita de introduzir a competição entre os

trabalhadores, objetivando o aumento da produtividade do

trabalho e evitando qualquer perda de tempo na produção.

‘Taylorismo’, em geral, diz respeito à organização científica do

trabalho. Ford aplicou em sua fábrica os métodos elaborados

por Taylor, inaugurando uma forma mundial de produzir.

5) O parcelamento das tarefas e consequentemente o

parcelamento do saber. O operário executaria apenas uma

função específica e não conheceria mais a execução de todas

as operações do processo de produção. Além disso, também

foi racionalizado o tempo, através da introdução do

cronômetro, para regular o tempo de trabalho e os

movimentos dos trabalhadores. Assim a produção torna-se

padronizada, rotinizada e hierarquizada (divisão social do

trabalho), acarretando a desqualificação dos operários na

execução de seus respectivos trabalhos.

6) Com a flexibilização do trabalho e dos trabalhadores e de

todas as características que lhes são inerentes, os direitos do

trabalho são desregulamentados, desqualificados, desorgani -

zados e precarizados. As formas contratualizadas da força de

trabalho são também precarizadas: o vínculo empregatício

formal vem sofrendo uma ofensiva cada vez maior.

7) Para o autor, o trabalho é condição essencial e universal da

existência humana, sem o qual não se estabelece qualquer

possibilidade de sobrevivência.

8) Há alguém que trabalha por essa pessoa, seja por

solidariedade, como os pais que trabalham pelos filhos; seja

por exploração do trabalho alheio.

9) O parcelamento das tarefas e consequentemente o parcela -

men to do saber. O operário executaria apenas uma função

espec í fica e não conheceria mais a execução de todas as

operações do processo de produção. Além disso, também foi

racionalizado o tempo, através da introdução do cronômetro,

para regular o tempo de trabalho e os movimentos dos

trabalhadores. Assim a produção torna-se padronizada,

rotinizada e hierarquizada (divisão social do trabalho),

acarretando a desqualificação dos operários na execução de

seus respectivos trabalhos.

10) Com a flexibilização do trabalho e dos trabalhadores e de

todas as características que lhes são inerentes, os direitos do

trabalho são desregulamentados, desqualificados, desorgani -

zados e precarizados. As formas contratualizadas da força de

trabalho são também precarizadas: o vínculo empregatício

formal vem sofrendo uma ofensiva cada vez maior.

11) B

12) A

13) D

14) C

15) E

16) C

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O que se faz agora com as crianças é o que elas farãodepois com a sociedade.

(Karl Mannheim)

1. Karl mannheiM

Introdução

Karl Mannheim nasceu em Budapeste na Hungria em1891 e faleceu em Londres em 1949. Apesar disso, podeser considerado um representante da sociologia alemã.Estudou em Berlim e em Heidelberg, onde foi aluno doprofessor Alfred Weber, irmão do renomado Max Weber.Lecionou em Frankfurt até a ascensão do nazismo,quando fugiu para Londres, vindo a lecionar na LondonSchool of Economics. Sua formação foi em Filosofia eSociologia, e, apesar de ter sido aluno de um Weber, foi omarxismo que marcou sobremaneira o seu pensamento.Em parte, não acreditava nos processos revolucionários,senão nos pensamentos revolucionários, inspirados nasutopias de uma sociedade melhor. Foi influenciadotambém pelo pragmatismo e pelo historicismo ingleses.Suas obras mais notáveis são: Ideologia e Utopia; eLiberdade, Poder e Planejamento Democrático.Mannheim também deixou contribuições para aSociologia da Educação.

Karl Mannheim é considerado o fundador da Sociologia doConhecimento.

2. A Sociologia do Conhecimento

Mannheim é considerado o fundador da Sociologia doConhecimento. Segundo esse grande sociólogo, todaprodução de conhecimento não resulta apenas daconsciência puramente teórica, mas, sobretudo deelementos de natureza não teórica, provenientes da vidasocial e das influências e vontades a que o produtor,enquanto indivíduo proveniente de uma realidade social,está sujeito.

Trata-se do pressuposto da determinação histórico-social do conhecimento, em que a produção científica e aapreensão da realidade estão impregnadas de“constelações” e “estilos de pensamento”: termosusados pelo sociólogo em questão. Esses termosrepresentam o conjunto de influências sob as quais ossaberes são construídos e os referenciais que permitemenxergar e interpretar o mundo. Em outros termos, oconhecimento não é retrato da realidade, masinterpretação. Cabe à Sociologia do Conhecimento expore considerar as influências culturais de contexto queestão presentes nas teorias.

Mannheim, por enfatizar que o conhecimento seriasobretudo ponto de vista e contextualização, foi acusadode relativista.

Cabe à Sociologia do Conhecimento estudar o contexto social ehistórico em que o conhecimento é sempre produzido.

3. Ideologia e Utopia

Em seu livro Ideologia e Utopia, Mannheim postula aalternância de tendências históricas à conservação e àmudança que geram, respectivamente, a ideologia e autopia. Isso significa que as ideologias são conserva doras,para Mannheim, enquanto as utopias tendem atransformar as sociedades, através de processoshistóricos que estabelecem valores originais e novasestruturas sociais.

MÓDULO 14 Karl Mannheim e Pierre Bourdieu

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Há, de fato, em seu pensamento, uma contraposiçãoentre ideologia que tem uma função conservadora, poistende a conservar o status quo, e utopia que propõealterações nas formas vigentes de sociedade. Assim,cada fase da humanidade seria dominada por certo tipo depensamento e a comparação entre vários estilosdiferentes seria impossível. Em cada fase aparecemtendências conflitantes, apontando seja para aconservação, seja para a mudança. A adesão à primeiratende a produzir ideologias e a adesão à segunda tende aproduzir utopias. A Sociologia do Conheciemto sugere umimanente conteúdo político dos discursos organizados eaceitos, inclusive nas funções assumidas pelas ideologiase pelas utopias.

Segundo Mannheim, as ideologias produzem a conservação social; eas utopias, a transformação.

4. Texto

Ideologia e Utopia (trecho)

Por Antonio Ozaí da Silva

“Em geral, tomamos ideologia e utopia como sinô -nimos. Por exemplo, nos referimos ao comunismo (socia -lis mo) e, praticamente com o mesmo sentido, à utopiacomunista (socialista); da mesma forma, consideramos aideologia anarquista como semelhante à utopia libertária.Quando, porém, aludimos às ideologias de cunhoconservador e/ou liberal, não estabelecemos vínculoscom utopias. Na linguagem política corrente, essasideologias são concebidas como valores e ideias quelegitimam e mantêm o status quo. Geralmente nãofalamos em ‘utopia conservadora’ e ‘utopia liberal’.Reservamos a expressão utopia para as ideologiascontestatórias, as quais colocam-se como objetivo orevolucionamento da ordem social e, portanto, a cons -trução do ‘não existente’ a partir da negação do ‘existen -te’. Por isso, é mais comum falarmos em utopiascomunista, socialista e anarquista.

Se tomarmos, porém, o pensamento liberal em suasorigens, é possível fazer o mesmo raciocínio. Numa épocaem que predominava a sociedade feudal e a ideologia danobreza e do clero era seu sustentáculo, as ideias liberaisdiziam respeito ao ‘não existente’, à transformação daordem social tradicional e sua superação pelo liberalismo,pela ordem social do capital. O liberalismo foirevolucionário e, portanto, utópico. Mas tão logo derrotouo feudalismo e conquistou seu espaço, tornou-se umaideologia conservadora e perdeu seus traços utópicos.Não podia ser diferente, pois se a burguesia levasse àsúltimas consequências seu lema ‘Igualdade, Liberdade,Fraternidade’, teria que negar-se a si própria. E nenhumaclasse social comete suicídio político.

O mesmo ocorreu com o ‘socialismo realmenteexistente’: à sua vitória seguiu-se a necessidade deconservar a ordem. Os revolucionários de hoje são osconservadores de amanhã. Não é mero acaso que, sejanas revoluções burguesas ou nas socialistas, surja acrítica interna dos setores minoritários que almejamempurrar a revolução para além dos limites dos quedesejam estabilizar o poder. A nova ordem precisa sernegada para que a utopia permaneça; o não existentecontinua a ser o objetivo a perseguir. No entanto, osnovos grupos e classes sociais no poder não podemtolerar os que se mantêm utopistas. Suas cabeças devemser guilhotinadas, seus corpos são cravados pelas balasdos fuzis dos camaradas da véspera; aos períodosrevolucionários seguem-se os tempos inquisito riais.Assim, os líderes bolcheviques tiveram que perseguir osanarquistas e silenciar a oposição interna no partido; ostalinismo e congêneres completou o serviço. A novaortodoxia não tolera heresias.

A história parece dar razão a Karl Mannheim. Eledistingue ideologia e utopia. A primeira refere-se ao con -jun to de ideias que objetivam manter a ordem existente;a segunda, às ideias que fundamentam as ações pelatransformação desta. De acordo com Mannheim:

‘O conceito de ‘ideologia’ reflete uma das desco -bertas emergentes do conflito político, que é a de que osgrupos dominantes podem, em seu pensar, tornar-se tãointensamente ligados por interesses a uma situação quesimplesmente não são mais capazes de ver certos fatosque iriam solapar seu senso de dominação. Está implícitana palavra ‘ideologia’ a noção de que, em certassituações, o inconsciente coletivo de certos gruposobscurece a condição real da sociedade, tanto para sicomo para os demais, estabilizando-a, portanto.

O conceito de pensar utópico reflete a descobertaoposta à primeira, que é a de que certos grupos oprimi dosestão intelectualmente interessados na destruição e natransformação de uma dada condição da sociedade que,mesmo involuntariamente, somente veem na situa ção oselementos que tendem a negá-la. Seu pensa men to éincapaz de diagnosticar corretamente uma situaçãoexistente da sociedade. Eles não estão absolutamentepreocupados com o que realmente existe; antes, em seupensamento, buscam mudar a situação existente. Seu

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pensamento nunca é um diagnóstico da situação;somente pode ser usado como uma orientação para aação. Na mentalidade utópica, o inconsciente coletivo,guiado pela representação tendencial e pelo desejo deação, oculta determinados aspectos da realidade. Volta ascostas a tudo que pudesse abalar sua crença ou paralisarseu desejo de mudar as coisas’. Ideologia e utopia são distinguidas pela relação quemantêm com a ordem social existente. Para que as ideiasdesempenhem o papel utópico, isto é, adquiram um‘estado de espírito utópico’, é necessário que não apenastranscendam a ordem, mas que incorporem-se nosgrupos sociais oprimidos e capazes de revolucionar aordem. A mentalidade utópica, em suma, é revolucio nária;a ideologia permanece atrelada ao existente.”

O conhecimento éconstruído e tem sempre um imanenteconteúdo político.

Ciência, Universidade e Ideologia: a Política do

Conhecimento

Por Simon Schwartzman (Apresentação)

O que une as questões da ciência, da universidade eda ideologia entre si é que todas fazem parte de um todomaior que é a política do conhecimento. Esta política podee deve ser pensada em dois sentidos. Por um lado, énecessário fazer algo com nossas instituições científicas,educacionais, artísticas e culturais, é necessária umapolítica adequada da cultura e do conhecimento. Por outrolado, os cientistas, estudantes, professores, artistas,escritores e intelectuais constituem um grupo socialextremamente ativo, ou seja, fazem políticaconstantemente.

Pensar nessas questões é enfrentar os temas maisclássicos da sociologia do conhecimento. Como conhecerde forma adequada o mundo em que vivemos? Comodistinguir o conhecimento verdadeiro do falso? Qual opapel do conhecimento na organização da sociedade noprogresso social, na conquista da felici dade humana?Qual a função política do conheci mento? Quais são osdeterminantes sociais dos diversos tipos deconhecimento? Que é, afinal, o ‘conhecimento científico?’Como ele se diferencia do conhecimento prático, doconhecimento ideológico e da tecnologia? Qual arelação entre o conhecimento e a ética? Essas questões

têm sido centrais no pensamento filosófico de todos ostempos, e é também crucial no pensamento social epolítico contemporâneo. Elas foram básicas para Marx,em sua crítica à ideologia e em sua tentativa de dar aométodo dialético hegeliano uma base empírica; paraAuguste Comte, com sua teoria dos ‘três estados’ dedesenvolvimento da humanidade, do teológico aometafísico e ao científico; para Émile Durkheim, em seuestudo sobre a formação de conceitos a partir derepresentações religiosas; para Max Weber, em suaspesquisas históricas sobre as origens da racionalidade;para Karl Mannheim, em seus ensaios sobre a ideologiae a utopia; para Gramsci, em seus escritos sobre osintelectuais; e assim por diante.

A Sociologia do Conhecimento tem sua origem nanoção, estabelecida principalmente a partir de Marx, deque as diversas formas de conhecimento não sedesenvolvem no vácuo social, em função da simplesacumulação de informações, conceitos e teorias. Existemépocas e situações históricas que favorecem mais osurgimento de certo tipo de estudos do que outros,existem grupos sociais que, em determinadas circuns -tâncias, são mais capazes de desenvolver certas formasde conhecimento do que outras. Por que alguns países,algumas classes sociais, em algumas épocas históricas,foram capazes de desenvolver conhecimentos técnicosou científicos de determinado tipo? Quais as condiçõessociais que favorecem o surgimento das grandesreligiões? Como surgem e como se transformam asideologias? Qual a prática social efetiva que permite osurgimento das diversas formas de conhecimento? Comoestas diversas formas de conhecimento científico,ideológico, religioso, de sentido comum se relacionamentre si? Qual tem sido a função histórica da universi dadee da educação formal em seus diversos níveis nodesenvolvimento das diversas formas de conhecimento?

A preocupação com essas questões deixa de ser umcampo fértil para o entendimento da realidade social e setorna uma fonte de confusão e caos conceitual quandose passa da busca de relações ao reducionismo daatividade de conhecimento ao nível dos interesseseconômicos e políticos dos diversos setores e classessociais. Com esse reducionismo, o problema do conhe -cimento deixa de ser examinado em sua complexidadesocial e epistemológica próprias, e passa a ser simplesobjeto de análise ideológica. Existem explicaçõessociológicas e intelectuais para a fascinação com essereducionismo. As razões intelectuais têm a ver com oataque marxista ao conhecimento teórico, através doconceito de práxis, que leva frequentemente a apagar aslinhas de demarcação entre o campo do conhecimento eo campo da ação político-partidária. As razões sociológicasreferem-se ao papel político que os intelectuais buscamdesempenhar em suas sociedades, que os leva,frequentemente, a se frustrarem e não se conformaremcom as limitações da atividade acadêmica.

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O resultado da combinação desses dois fatores temsido com frequência o desenvolvimento de concepçõesextremamente simplistas a respeito da organização daatividade do conhecimento em sociedades modernas, porum lado; e, por outro, uma politização exacerbada daproblemática do conhecimento, que termina por colocarem sério risco o próprio campo e autonomia da atividadeintelectual. A moderna Sociologia do Conheci mentodesenvolve-se no espaço que ela trata de criar entre oextremo de uma concepção do conheci mento comoatividade neutra e desgarrada do mundo dos homens e ooutro extremo da ideia da fusão e da redução total detodas as formas de conhecimento ao jogo de poderpolítico e econômico. O problema teórico da Sociologia doConhecimento é estabelecer como o conheci mento temsido, de fato, condicionado, em seu conteúdo e em suascondições de produção, nos diver sos contextos sociais;seu problema político tem sido o de explicitar as condiçõesque permitem o desenvol vimento de formas deconhecimento dinâmicas, criativas, dotadas de riqueza eprofundidade, e socialmente relevantes.

Pensar nos problemas do relacionamento entreconhecimento e política significa pensar em muitas dasquestões mais cruciais de nossa sociedade, que confia naeventual vitória da Razão sobre as atuais desventuras pelasquais passamos. Chamar atenção para o aspecto políticoda ciência, por exemplo, significa apostar na ideia de que abusca de conhecimento superior não é um simplesmecanismo cego que responde a processos autônomos enão controlados de crescimento histórico, mas algo quetem uma potencialidade de liberação humana e quemerece, sempre, ser buscado e incenti vado. Nessesentido, a atividade científica e a liberdade intelectualmerecem e necessitam ser defendi das e estimuladas oque não significa, obvia mente, que não exista um amploespaço para escolhas, preferências e opções. A últimaproposição mais geral, pois, que preside esses trabalhos éque não existe, certamente, uma Razão hegeliana nem umfuturo científico positivista a nos aguardar no fim da história;mas que, apesar disso, o conhecimento é melhor do que aignorância, e que esse valor deve ser explorado emaximizado em todos os momentos.”

Sociologia da Educação em Mannheim

Por Alberto Tosi Rodrigues

(Trechos do livro: Sociologia da Educação)

Mannheim e a Luz no Fim do Túnel

“Mannheim retoma a formulação de Weber sobre ostipos de educação – pedagogias do cultivo e do treina -mento – e acrescenta a essa formulação a perspectiva deum programa para a mudança da educação.

Fugindo do pessimismo weberiano, o referido autorpropõe a educadores e educandos que utilizem asociologia como embasamento teórico para a com preen -

são da situação educacional moderna.Para Mannhiem o pensamento social não pode

explicar a vida humana, mas apenas expressá-la. O papelda teoria, portanto, é compreender o que as pessoaspensam sobre a sociedade e não o de propor explicaçõeshipotéticas sobre ela.

O autor defendia uma sociedade que fosseessencialmente democrática, uma democracia de bem-estar social dirigida pelo planejamento racional egovernada por cientistas.

Mannheim também admite que a racionalização davida levou a um declínio da educação voltada para aformação do homem integral, mas que o arejamentopromovido pela democratização das relações sociaispermitiu o surgimento de novas esperanças. Nessesentido, embora o capitalismo tenha gerado desigual -dades sociais, o interesse dos jovens das classes inferio -res em ascender socialmente à elite traz ao pro cessoeducacional as contribuições culturais das diferentescamadas sociais e intercomunicação entre elas.

Percebeu a importância da sociologia na moderni -dade, para o estudo dos fenômenos educacionais,justamente porque a vida baseada na tradição estava seesgotando. Nas épocas históricas dominadas pelatradição (pré-capitalista), a educação resumia-se a ajudara criança a ajustar-se à ordem social tradicional menteestabelecida. Valendo-se da influência da Psica ná lise,observa que tal processo era apenas de as simi lação‘inconsciente’, pela criança, do modelo da ordem vigente.Mas quanto mais a tradição vai sendo substituída pelaracionalização da vida, provocada pela consolidação dasociedade industrial, mais os conteúdos educacionaisdevem ser transmitidos num processo ‘consciente’, emque o educador se aperceba do meio social em que vivee das mudanças pelas quais passa. Para ele, nem osobjetivos do processo educacional, nem as metas podemser concebidos sem a conside ração do contexto social,pois eles são socialmente orientados.

Não concordava com a ideia de que a teoria podeexistir apenas pela teoria. Achava que a sociologia poderiaservir de base para o aprimoramento da educação.

‘Queremos compreender nosso tempo, as dificulda -des desta Era e como a educação sadia pode contribuirpara a regeneração da sociedade e do homem’.

(MANNHEIM apud RODRIGUES, 2007, p.82).

Regenerar de quê? Regenerar a sociedade e ohomem dos efeitos perversos que vêm embutidos noprocesso de racionalização detectado por Weber. Valer-seda compreensão dos diferentes tipos históricos deeducação, construídos por Weber, para a montagem deuma pedagogia que dê conta de educar o homemmoderno sem arrancar-lhe as possibilidades oferecidaspor uma formação integral.

Para Mannheim não há porque pensar que apedagogia do cultivo está condenada à morte. Os modosde vida incutidos por esta educação, voltada para a culturae a erudição, estavam associados ao poder de certasclasses privilegiadas ‘que dispunham de lazer e deenergias excedentes para cultivá-la’, e tais classes

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entraram em declínio com o desenvolvimento do capi ta -lis mo e a ascensão da burguesia. Concorda Mannheim quea educação especializada desintegra a personalidade e acapacidade de compreender de modo mais completo omundo em que se vive. No entan to, argumenta que agrande questão educacional da primeira metade do séculoXX era saber se os valores veiculados por este tipo deformação são exclusivamente dessas classes ociosas ouse podem ser transferidos em alguma média às classesmédias e aos trabalhadores.

O elemento histórico decisivo na abertura daspossibilidades na sociedade atual é político: o advento dademocracia moderna.

Para Mannheim, a Sociologia da Educação seria capaz de proporprojetos pedagógicos para ampliar os horizontes humanos.

O que seria essa ‘educação sadia’ para Mannheim?Mannheim compreende que existem tendências no

sentido de criar padrões melhores de vida. Os movi -mentos da juventude são responsáveis pelo desenvol -vimento de um ideal de homem ‘sincero’, interessadonuma relação mais autêntica com a natureza e com osoutros. A Psicanálise é responsável por um novo padrãode vida, com saúde mental, capaz de deixar o homemlivre das repressões adquiridas na formação.

A modernidade não tem apenas custos, ou ameaçasà liberdade. Ela traz também esperanças e valores sociaissolidários, abertos.

‘A principal contribuição de todas as que a modernademocracia é capaz de oferecer é a possibilidade de quetodas as camadas sociais venham a contribuir com oprocesso educacional. E a Sociologia é a disciplina, emsua visão, capaz de fazer a síntese dessas contri bui ções.Por isso é tão importante, para ele, que a Sociologia sirvade base à Pedagogia’.

(RODRIGUES, 2007, p.83).

Mannheim era um homem de seu tempo, em buscade um programa de estudos em Sociologia da Educaçãoque possibilitasse a formulação de projetos educacionaisque ampliassem o horizonte do homem, que superasseas divisões em blocos políticos e ideológicos, que não osatisfaziam. (...)”

(p.83).

5. Pierre Bourdieu e o Século XX

Introdução

Pierre Félix Bourdieu nasceu em Denguin em 1930 efaleceu em Paris em 2002. De origem simples e campe -sina, Pierre Bourdieu tornou-se, segundo muitos, o maiorsociólogo do século XX. Filósofo de formação, Bourdieuinteressou-se por sociologia e antropologia durante umaviagem de convocação militar à Argélia, onde teve contatocom a sociedade cabila. Não há tema das ciênciashumanas que não tivesse sido criteriosa mente trabalhadopor esse grande pensador. Deixou mais de 300 trabalhosintelectuais e enfocou, em particular, o problema dadominação e da miséria.

Bourdieu era avesso à filiação de escola em ciênciassociais e posicionou-se, sem contradições, entre osgrandes clássicos: Durkheim, Marx e Weber.

Em sua obra encontramos temas como educação,cultura, literatura, arte, mídia, linguística e política: osgrandes temas que desenharam o século XX. Colocou-secomo crítico do neoliberalismo e da globalização,mostrando as engrenagens que aí produziam a exclusãosocial.

Em nosso caderno, destacamos duas abordagensimportantes em Bourdieu: a sociologia do gosto,revelando que o gosto é produção da cultura e não, comose julga, expressão unicamente da apreciação pessoal; eum texto sobre a educação, em que a educação aparececomo sistema de reprodução das desigualdades.

6. Texto

Uma introdução a Pierre Bourdieu

(Revista CULT - Publicado em 14 de março de 2010)

Pela discussão do gosto, Bourdieu denunciouas distorções na produção da cultura e nasua difusão educacional

Por Maria da Graça Jacintho Setton: profes sora deSociologia na Faculdade de Educação da USP, autorade Rotary Club: habitus, estilo de vida e sociabili dade (Ed.Annablume) e organizadora dos artigos de Bourdieureunidos em A produção da crença: uma contribuição parauma teoria dos bens simbólicos (Ed. Zouk).

“Considerado um dos maiores sociólogos de línguafrancesa das últimas décadas, Pierre Bourdieu é um dosmais importantes pensadores do século 20. Sua produçãointelectual, desde a década de 1960, estende-se por umaextensa variedade de objetos e temas de estudo. Emboracontemporâneo, é tão respeitado quanto um clássico.Crítico mordaz dos mecanismos de reprodução dasdesigualdades sociais, Bourdieu cons truiu um importantereferencial no campo das ciências humanas.

No entanto, mesmo sendo reconhecida pela originali -dade, a obra de Bourdieu é objeto de grande controvérsia.

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A maior parte de seus críticos, numa leitura parcial deseus trabalhos, classifica-o como um teórico dareprodução das desigualdades sociais. Não obstante, areflexão de Bourdieu se destaca por uma singulari dade.Para ele, os condicionamentos materiais e simbólicosagem sobre nós (sociedade e indivíduos) numa complexarelação de interdependência. Ou seja, a posição social ouo poder que detemos na sociedade não dependemapenas do volume de dinheiro que acumulamos ou deuma situação de prestígio que desfrutamos por possuirescolaridade ou qualquer outra particularidade dedestaque, mas está na articulação de sentidos que essesaspectos podem assumir em cada momento histórico.

Para o autor, a sociologia deve aproveitar sua vastaherança acadêmica, apoiar-se nas teorias sociaisdesenvolvidas pelos grandes pensadores das ciênciashumanas, fazer uso de técnicas estatísticas e etnográfi case utilizar procedimentos metodológicos sérios e vigilantespara se fortalecer como ciência.

Bourdieu fez de sua vida acadêmica e intelectual umaarma política e de sua sociologia uma sociologia engajada,profundamente comprometida com a denún cia dosmecanismos de dominação em uma socie da de injusta.De acordo com sua perspectiva, a sociedade ocidentalcapitalista é uma sociedade hierar quizada, orga nizadasegundo uma divisão de poderes extrema mente desigual.Mas como se organizaria essa distribui ção desigual depoderes?

Como as formações sociais capitalistas conseguemmanter os grupos sociais e os indivíduos hierarquizados?Em outras palavras, como se perpetua uma situação dedominação entre os grupos sociais?

Bourdieu foi um sociólogo politicamente ativo e preocupado com a coerência.

Concepção relacional da sociedade

É possível afirmar que Bourdieu tem uma concepçãorelacional e sistêmica do social. A estrutura social é vistacomo um sistema hierarquizado de poder e privilégio,determinado tanto pelas relações materiais e/oueconômicas (salário, renda) como pelas relaçõessimbólicas (status) e/ou culturais (escolarização) entre osindivíduos. Segundo esse ponto de vista, a diferente

localização dos grupos nessa estrutura social deriva dadesigual distribuição de recursos e poderes de cada umde nós. Por recursos ou poderes, Bourdieu entende maisespecificamente o capital econômico (renda, salários,imóveis), o capital cultural (saberes e conhecimentosreconhecidos por diplomas e títulos), o capital social(relações sociais que podem ser revertidas em capital,relações que podem ser capitalizadas) e por fim, mas nãopor ordem de importância, o capital simbólico (o quevulgarmente chamamos prestígio e/ou honra).

Assim, a posição de privilégio ou não privilégioocupada por um grupo ou indivíduo é definida de acordocom o volume e a composição de um ou mais capitaisadquiridos e ou incorporados ao longo de suas trajetóriassociais. O conjunto desses capitais seria compreendidoa partir de um sistema de disposições de cultura (nassuas dimensões material, simbólica e cultural, entreoutras), denominado por ele habitus.

A sociologia, para Bourdieu, é uma ciência queincomoda, pois tende a interpretar os fenômenos sociaisde maneira crítica. Para os interesses desta introdução,vejamos apenas uma de suas muitas contribuições nocampo da Sociologia da Cultura; mais especificamente, amaneira pela qual Bourdieu interpreta a formação dogosto cultural de cada um de nós, pondo em xeque umdos consensos mais difundidos de nossa história cultural,o de que gosto não se discute.

A produção do gosto

Posto isso, a sociologia de Bourdieu é mais que umasociologia da reprodução das diferenças, materiais oueconômicas; é uma sociologia interpretativa do jogo depoder das distinções econômicas e culturais de umasociedade hierarquizada. Aqui chamo atenção para umaspecto de sua obra relativa à interpretação da produçãodo gosto cultural. Bourdieu considera que o gosto e aspráticas de cultura de cada um de nós são resultados deum feixe de condições específicas de socialização. É nahistória das experiências de vida dos grupos e dosindivíduos que podemos apreender a composição degosto e compreender as vantagens e desvantagensmateriais e simbólicas que assumem.

Nas décadas de 60 e 70 do século passado, Bourdieuse envolve em uma série de pesquisas de caráterqualitativo e quantitativo sobre a vida cultural, sobre aspráticas de lazer e de consumo de cultura entre oseuropeus, sobretudo, entre os franceses.

Dessas experiências de investigação Bourdieupublica, em 1976, uma grande pesquisa intituladaAnatomia do gosto. Mais tarde, essa mesma pesquisapassa a ser objeto de publicação de sua obra-prima,lançada em 1979: o livro intitulado A distinção – críticasocial do julgamento. Nessas duas obras, Bourdieu e umaequipe de pesquisadores tentam explicar e discutir a

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variação do gosto entre os segmentos sociais. Isto é,analisando a variedade das práticas culturais entre osgrupos, Bourdieu acaba por afirmar que o gosto cultural eos estilos de vida da burguesia, das camadas médias edo operariado, ou seja, as maneiras de se relacionar comas práticas da cultura desses sujeitos, estãoprofundamente marcadas pelas trajetórias sociais vividaspor cada um deles.

Mais especificamente Bourdieu afirma que aspráticas culturais são determinadas, em grande parte,pelas trajetórias educativas e socializadoras dos agentes.Dito com outras palavras, Bourdieu afirma, causando umgrande mal-estar na época, que o gosto cultural é produtoe fruto de um processo educativo, ambientado na famíliae na escola e não fruto de uma sensibilidade inata dosagentes sociais.

‘Capital cultural incorporado’

Nesse sentido, Bourdieu põe em discussão,desafiando várias autoridades, um consenso muito emvoga, relativo à crença de que gosto e os estilos de vidaseriam uma questão de foro íntimo. Para o autor, o gostoseria, ao contrário, o resultado de imbricadas relações deforça poderosamente alicerçadas nas instituiçõestransmissoras de cultura da sociedade capitalista.

Para fundamentar essa afirmação, Bourdieu argu -menta que essas instituições seriam a família e a escola;seriam elas responsáveis pelas nossas competênciasculturais ou gostos culturais. De um lado, chamou a aten -ção para o aprendizado precoce e insensível, efetuadodesde a primeira infância, no seio da família, e prolon gadopor um aprendizado escolar que o pressupõe e ocompleta (aprendizado mais comum entre as elites). Deoutro, destacou os aprendizados tardio, metódico e acele -rado, adquiridos nas instituições de ensino, fora doambiente familiar, em tese um conhecimento aberto paratodos.

Assim, a distinção entre esses dois tipos de aprendi -zado, o familiar e o escolar, refere-se a duas maneiras deadquirir bens da cultura e com eles se habituar. Ou seja,os aprendizados efetuados nos ambientes familiaresseriam caracterizados pelo seu desprendimento einvisibilidade, garantindo a seu portador um certodesembaraço na apreensão e apreciação cultural; por suavez, o aprendizado escolar sistemático seria caracterizadopor ser voluntário e consciente, garantindo a seu portadoruma familiaridade tardia com a produção cultural.

Essas duas formas de aprendizado, segundoBourdieu, seriam responsáveis pela formação do gostocultural dos indivíduos. Seria, especificamente, o quechamaríamos de “capital cultural incorporado”, umadimensão do habitus de cada um; uma predisposição agostar de determinados produtos da cultura, por exemplo,

filmes, livros ou música, consagrados ou nãopela cultura culta; uma tendência desenvolvida em cadaum de nós, incorporada e que supõe uma interiorização eidentificação com certas informações e/ou saberes;um capital, enfim, em uma versão simbólica, transvertidoem disposições de cultura, portanto, fruto de um trabalhode assimilação, conquistado a custa de muitoinvestimento, tempo, dinheiro e desembaraço no casodos grupos privilegiados.

O descompasso educacional

Seria pertinente perguntar: qual o significado dessascontribuições de Bourdieu para a interpretação dasculturas? Qual o significado da perspectiva crítica sobre aprodução do gosto cultural nas sociedades capitalistas?

Para responder a essa questão, valeria fazer umapequena digressão. É sabido, entre os sociólogos daeducação, que todas as relações educativas esocializadoras são relações de comunicação. Isto é, amensagem comunicativa, mais propriamente o conjuntode regras culturais disponibilizadas pela escola, sobretudoaquelas relativas às artes eruditas ou à cultura letradadependem da posse prévia de códigos de apreciação. Emoutras palavras, a sensibilidade estética, a capacidade deassimilar e se identificar com um objeto artísticodependem fundamentalmente do acesso e, sobretudo,de um aprendizado prévio de códigos e instrumentos deapropriação, isto é, uma sensibilização anterior,normalmente conquistada no seio familiar.

Ora, diria Bourdieu, em uma sociedade hierarqui zadae injusta como a nossa, não são todas as famílias quepossuem a bagagem culta e letrada para se apropriar e seidentificar com os ensinamentos escolares. Alguns, os deorigem social superior, terão certamente mais facilidadedo que outros, pois já adquiriram parte dessesensinamentos em casa. Existiria uma aproxima ção e umasimilaridade entre a cultura escolar e a cultura dos grupossociais dominantes, pois estes há muitas geraçõesacumulam conhecimentos disponi bilizados pela escola.Nesse sentido, o sistema de ensino que trata a todosigualmente, cobrando de todos o que só alguns detêm (afamiliaridade com a cultura culta), não leva emconsideração as diferenças de base determinadas pelasdesigualdades de origem social. Bourdieu detecta, então,um descompasso entre a competência cultural exigida epromovida pela escola e a competência culturalapreendida nas famílias dos segmentos mais populares.

Em síntese, para Bourdieu o sistema escolar, em vezde oferecer acesso democrático de uma competênciacultural específica para todos, tende a reforçar asdistinções de capital cultural de seu público. Agindo dessaforma, o sistema escolar limitaria o acesso e o plenoaproveitamento dos indivíduos pertencentes às famílias

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menos escolarizadas, pois cobraria deles o que eles nãotêm, ou seja, um conhecimento cultural anterior, aquelenecessário para se realizar a contento o processo detransmissão de uma cultura culta. Essa cobrança escolarfoi denominada por ele como uma violênciasimbólica, pois imporia o reconhecimento e a legitimi dadede uma única forma de cultura, desconsiderando einferiorizando a cultura dos segmentos populares.

Assim, convertendo as desigualdades sociais, ouseja, as diferenças de aprendizado anterior, emdesigualdades de acesso à cultura culta, o sistema deensino tende a perpetuar a estrutura da distribuiçãodo capital cultural, contribuindo para reproduzir e legitimaras diferenças de gosto entre os grupos sociais. Postoisso, as disposições exigidas pela escola, como porexemplo, as sensibilidades pelas letras ou pela estéticavisual ou musical, enfim, uma estética artística, privilégiode alguns poucos, tendem a intensificar as vantagensdaqueles mais bem aquinhoados, material eculturalmente.

Para Bourdieu, o gosto e a apreciação da arte dependem de valoreshierarquizados pela cultura.

Distinções do gosto

Com esse argumento Bourdieu põe em discussão umdos maiores consensos do século, qual seja, gosto nãose discute. Ao contrário, para ele o gosto não é uma

propriedade inata dos indivíduos. O gosto é produzido e éresultado de um feixe de condições materiais e simbóli casacumuladas no percurso de nossa trajetória edu cativa. Paraele, o gosto cultural se adquire; mais do que isso, éresultado de diferenças de origem e de oportuni dadessociais e, portanto, deve ser denunciado enquanto tal.

Nesse sentido, as distinções do gosto culturalrevelam, sobretudo, uma ordem social injusta, em que asdiferenças de cultura de origem podem ser transubstan -ciadas em diferenças entre o bom e o mau gosto numapermanente estratégia de classificar hierarquicamente acultura dos segmentos sociais.

Para finalizar, seria interessante fazer algumasressalvas a esse pensamento. Pierre Bourdieu é ainda hojerespeitado como um dos fundadores do paradigma teóricoacerca das práticas de cultura. Não obstante, uma série detrabalhos vem tentando atualizar suas contribuições,admitindo a existência de outros espaços transmissorese legitimadores de um gosto cultural. Entre eles podemosdestacar o poder das mídias ou, no caso especifico dosjovens, seus grupos de pares. Nas sociedades modernas,portanto, uma gama complexa de referências de culturapartilharia com a escola e a família a formação do gostode todos os segmentos sociais.”

Sociologia da Educação para Educadores

Por José Maurício Fonzaghi Mazzucco

“Há uma área da Sociologia especificamentepreocupada com a realidade socioeducacional e pode moschamá-la de Sociologia da Educação. Encontramos entreos clássicos, essa preocupação.

Assim, interessa ao sociólogo os processos educacio -nais de sociabilização, mas também a forma como osistema educacional funciona para reproduzir relaçõessociais. Entre os clássicos, particularmente Durkheimdedicou-se ao estudo da educação e escreveu os livrosEducação e Sociologia e A Evolução Pedagó gica naFrança e Educação Moral. Mannheim dedicou importanteobra acerca da educação e o pensamento marxistaproduziu reflexões fundamentais sobre o papelconservador e revolucionário da educação.

Para Durkheim, a função da educação é conservar asociedade. Segundo ele, a educação teria o papel desuperpor ao ser que somos ao nascer, individual eassocial, um ser inteiramente novo. Acreditava, porém,que, para reproduzir a solidariedade social, nem todos osindivíduos nasceriam para refletir. Seria sempre preciso,pensava Durkheim, que houvessem homens desensibilidade e homens de ação, de tal forma que nãocaberia a todos o acesso a educação.

Assim, o pensamento conservador justifica adesigualdade social e de acesso ao conhecimento comofenômeno natural. Nesse caso, porém, corre-se o riscode se estar perdendo o fenômeno social na análise, poisa desigualdade é tomada apenas como questão individual.

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Atribui-se o fracasso ou o sucesso escolar à capacidadeou incapacidade pessoal, parecendo, então, tratar-se dequestão de competência. O verdadeiro problemapermanece escondido.

O papel da sociologia é justamente o de desnatu -ralizar, expondo abordagens científicas, e, assim,transcen der o senso comum. Através da Sociologia daEducação é possível compreender que a educação se dáno contexto de uma sociedade específica, e portanto, nãohá uma educação ideal, mas a educação adequada àsnecessidades históricas das sociedades.

Existem diferentes teorias sociológicas, portanto,existem também diferentes enfoques sobre o problemada educação. Na França, o mais expressivo sociólogo a sededicar ao estudo do sistema educacional, conside radopor muitos, o maior sociólogo do século XX, foi PierreBourdieu. No Brasil, um dos pioneiros na Sociologia daEducação foi Fernando Azevedo, signatário do Manifestodos Pioneiros da Escola Nova em 1932, responsável pelaReforma do Ensino no então Distrito Federal (1927). Foiainda um dos intelectuais responsáveis pela fundação daUniversidade de São Paulo – USP em 1934.

Pierre Bourdieu mostrou como o sistema educacionalse tornou, no capitalismo, uma forma sutil de reproduçãodas desigualdades e dos privilégios. Mostrou como aorigem social do indivíduo se torna destino escolar.

Segundo Bourdieu, a educação hoje mascara-se dedemocracia e dificulta a mobilidade social. O aluno debaixa renda é acusado pelo seu fracasso na escola e nãosão percebidas as condições sociais em que sedesenvolve o aprendizado e em que funciona o sistemade ensino. Assim, por outro lado, o êxito escolar nãoresultaria do dom natural da inteligência (o que constituiuma ideologia), mas do capital cultural, ou seja, dabagagem de cultura que o estudante herda da família edo meio social e classe em que nasceu. Em outrostermos, o sucesso na escola não é efeito de aptidõesnaturais, mas de uma realidade objetivamente dada queo agente incorpora, tornando-a subjetiva. A esse proces -so de interiorização do que é objetivamente determinado,Bourdieu chama de habitus. Um médico ou um advogadobem-sucedido ou ainda, alguém de espíritoempreendedor pode julgar ser portador, por exemplo, deuma vocação íntima, mas na verdade, trata-se de habitusherdado do meio social (classe) e da família em forma decapital cultural. A escola, conclui o sociólogo francês,permanece sendo uma das instituições principais demanutenção de privilégios.

Bourdieu conduziu suas investigações com rigorosapostura de observação científica, utilizando o recurso dacoleta de dados, da construção de categorias e daobservação criteriosa, de forma que, muito do queproduziu nos anos 1970 permanece válido.

Bourdieu acompanhou o movimento de democra ti -zação do ensino e mostrou o equívoco (e maisespecificamente a função ideológica desse equívoco) dese acreditar que o acesso à escola por parte da parcelada população até então não frequentadora da escola,formaria uma sociedade democrática e mais justa.

Verificou que a simples frequência escolar não eragarantia de êxito na sociedade. A mera expansão dosistema escolar não seria suficiente para promover umareal reforma da sociedade, no sentido de concretizar aequidade social.

Ocorreu uma nova forma de exclusão, mais sutil,percebida mais tardiamente, dentro do próprio sistemaescolar. Chamou a esses novos excluídos, agoraestigmatizados pela frequência escolar, porque tiveram‘suas chances’, de os ‘excluídos do interior’.

Ocorre dentro da escola uma seleção fundamentadano capital cultural e no habitus que cada escolar porta eherda do meio social de origem. Tais critérios permane -cem opacos aos próprios educadores. O aluno portadorde um privilegiado capital cultural, como viagensrealizadas, hábito da leitura, familiaridade com obras dearte e intimidade com uma linguagem mais sofisticada, étomado diante das técnicas de avaliação, comonaturalmente inteligente, dedicado e merecedor de umfuturo brilhante. Deixa-se escapar, nessa análisesuperficial e preconceituosa, a percepção sociológica darealidade. Não se percebe que se está reproduzindo osprivilégios da classe dominante.

O que tudo isso significa? Significa que a Sociologiada educação não se destina aos sociólogos, mas deveinteressar, sobretudo, a todos os envolvidos com o siste -ma educacional: agentes políticos, agentes da educação(mestres, gestores, psicólogos e pedagogos), pais etc.

O olhar sociológico permite identificar os mecanis -mos de reprodução das desigualdades e sem ele não hácomo projetar planos reais de reorganização do tecidosocial. Não basta o argumento vazio da justiça e ética oua evocação da cidadania e dos direitos. Tampouco, pode-se ainda encarar a Sociologia da Educação apenas comomera exigência curricular. Há de se confiar a essadisciplina a tarefa de participar das políticas educa cio naise de orientar educadores às práticas mais coerentes deavaliação e de resgate do que a sociedade já tolheu aosjovens educandos: cultura.”

Para Bourdieu, a educação é um mecanismo que reproduz asdesigualdades sociais.

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Bourdieu e a educação

Pelo sistema de ensino, as diferenças iniciais declasse são transformadas em desigualdades de destinoescolar e em forma específica de dominação.

Por Ana Paula Hey e Afrânio Mendes Catani

“A partir dos anos 1960, e durante quase 45 anos,Pierre Bourdieu produziu um conjunto de análises noâmbito da Sociologia da Educação e da cultura queinfluenciou decisivamente algumas gerações deintelectuais, obtendo o reconhecimento de pesquisa -dores, estudantes e ativistas que atuam em várias outrasesferas da sociedade. Em Uma sociologia da produçãodo mundo cultural e escolar, introdução a Escritos deeducação (1998), que reúne 12 textos do sociólogofrancês, Maria A. Nogueira e Afrânio Catani escrevem oseguinte: ‘Ao mesmo tempo em que colocava novosquestionamentos, sua obra fornecia respostas originais,renovando o pensamento sociológico sobre as funções eo funcionamento social dos sistemas de ensino nassociedades contemporâneas, e sobre as relações quemantêm os diferentes grupos sociais com a escola e como saber. Conceitos e categorias analíticas por eleconstruídos constituem hoje moeda corrente da pesquisaeducacional, impregnando boa parte das análisesbrasileiras sobre as condições de produção e dedistribuição dos bens culturais e simbólicos, entre osquais se incluem os produtos escolares’.

Bourdieu, em seus escritos, procurou questionar, nassociedades de classes, a temática que persegue muitosintelectuais: a compreensão de como e por que pequenosgrupos de indivíduos conseguem se apoderar dos meiosde dominação, permitindo nomear e repre sentar arealidade, construindo categorias, classifica ções e visõesde mundo às quais todos os outros são obrigados a sereferir. Compreender o mundo, para ele, converte-se empoderoso instrumento de libertação – é esseprocedimento que ele realiza, dentre outros domínios, noeducacional.

A cultura vem a ser um sistema de significaçõeshierarquizadas, tornando-se um móvel de lutas entregrupos sociais cuja finalidade é a de manterdistanciamentos distintivos entre classes sociais. Adominação cultural se expressa na fórmula segundo aqual a cada posição na hierarquia social corresponde umacultura específica (elitista, média, de massa),caracterizadas respectivamente pela distinção, pelapretensão e pela privação. Definida por gostos e formasde apreciação estética, a cultura é central no processo dedominação; é a imposição da cultura dominante comosendo ‘a cultura’ que faz com que as classes dominadasatribuam sua situação subalterna à sua supostadeficiência cultural, e não à imposição pura e simples. Osistema de ensino desempenha papel de realce nareprodução dessa relação de dominação cultural,

funcionando ainda, para Bento Prado Jr., ‘como chancelade diferenças culturais e linguísticas já dadas, antes daescolarização, no quadro da socialização primeira, que énecessariamente diferencial, segundo a inscrição dasfamílias nas diferentes classes sociais’.

‘O código linguístico da burguesia (com seuscacoetes, idiotismos, suas particularidades) seráencontrado, pelos futuros notáveis, nas salas de aula,como a linguagem da razão, da cultura, numa palavra,como elemento ou horizonte da Verdade. O particular éarbitrariamente erigido em universal e o ‘capital cultural’adquirido na esfera doméstica, pelos filhos da burguesia,lhes assegura um privilégio considerável no destinoescolar e profissional. No Destino, enfim’.

(“A Educação depois de 1968”, em Os Descaminhos da Educação,ed. Brasiliense).

A escola como reprodutora da dominação

A função do sistema de ensino é servir de instrumentode legitimação das desigualdades sociais. Longe de serlibertadora, a escola é conservadora e mantém adominação dos dominantes sobre as classes populares,sendo representada como um instrumento de reforço dasdesigualdades e como reprodutora cultural, pois há oacesso desigual à cultura segundo a origem de classe.

O filósofo idealista Alain (Émile Chartier, 1868-1951) foiprofessor durante décadas na Khâgne (classes preparatóriasàs Escolas Normais nas áreas de letras e filosofia, onde sãorecrutados os intelectuais de maior prestígio no campointelectual francês) do Lycée Henri IV (Paris) tendo, dentrecentenas de outros alunos, Raymond Aron, Simone Weill eGeorges Canguilhem. Em 1932, Alain escrevia em Propossur l éducation – Pédagogie enfantine, de maneiraapologética, que ‘se pode perfeitamente dizer que não hápensamento a não ser na escola’.

Bourdieu construirá sua trajetória analítica no domínioda Sociologia da Educação procurando opor-se a umidealismo como o preconizado por Alain, em que a reflexãoé destituída de qualquer fundamento histórico, como navelha tradição francesa. Em artigo de 1966, ‘A escolaconservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura’,rompe com as explicações fundadas em aptidões naturaise individuais e critica o mito do ‘dom’, desvendando ascondições sociais e culturais que permitiriam odesenvolvimento desse mito. Desmonta, também, osmecanismos através dos quais o sistema de ensinotransforma as diferenças iniciais – resultado da transmissãofamiliar da herança cultural – em desigualdades de destinoescolar. Explora a relação com o saber, em detrimento dosaber em si mesmo, mostrando como os estudantesprovenientes de famílias desprovidas de capital culturalapresentarão uma relação com as obras da culturaveiculadas pela escola que tende a ser interessada,laboriosa, tensa, esforçada, enquanto para os alunosoriginários de meios culturalmente privilegiados essa relação

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está marcada pelo diletantismo, desenvoltura, elegância,facilidade verbal ‘natural’. Ao avaliar o desempenho dosalunos, a escola leva em conta, conscientemente ou não,esse modo de aquisição e uso do saber.

Segundo Bourdieu, ‘para que sejam desfavorecidosos mais favorecidos, é necessário e suficiente que a escolaignore, no âmbito dos conteúdos do ensino que transmite,dos métodos e técnicas de transmissão e dos critérios deavaliação, as desigualdades culturais entre as crianças dasdiferentes classes sociais. Tratando todos os educandos,por mais desiguais que sejam eles de fato, como iguaisem direitos e deveres, o sistema escolar é levado a darsua sanção às desigualdades iniciais diante da cultura’.

Bourdieu constrói seu esquema analítico relativo aosistema escolar e às relações não explícitas que oancoram em uma longa trajetória que envolve análisesempíricas objetivas, centradas em estatísticas da situaçãoescolar francesa. Já em 1964, em Les étudiants et leursétudes (Os estudantes e seus estudos) e Les héritiers.Les étudiants et la culture (Os herdeiros. Os estudantese a cultura), escritos com Jean-Claude Passeron, examinacomo os estudantes se relacionam com a estrutura dosistema escolar e como são nele representados, econstata a desigual representação das diferentes classessociais no sistema superior. Investiga a cultura ‘legítima’,aquela das classes privilegiadas que é validada nosexames escolares e nos diplomas outorgados, e o ensino,aquele que autentica um corpo de conhecimentos, desaber-fazer e, sobretudo, de saber dizer, que constitui opatrimônio das classes cultivadas.

O fato de desvendar as desigualdades do ensinofrancês, tanto como sistema como em seu interior, signif -ica uma grande mudança no pressuposto já canonizado –principalmente com Durkheim, que personifica o ideal daTerceira República (1870-1940), conhecida como ARepública dos Professores –, em que a escola deveriafornecer a educação para todos os indivíduos, proporcio -nando-lhes instrumentos que pudessem garantir sualiberdade, mas, também, sua ascensão social.

Ao afirmar que o sistema escolar institui fronteirassociais análogas àquelas que separavam a grande nobrezada pequena nobreza, e esta dos simples plebeus, aoinstaurar uma ruptura entre os alunos das grandes escolase os das faculdades (ao analisar o campo universitáriofrancês e o papel das Grandes Écoles), Bourdieu desvela acrueza da desigualdade social e, ao mesmo tempo, comoela é simulada no sistema escolar e entranhada nasestruturas cognitivas dos participantes desse universo –professores, alunos, dirigentes.

Conhecimento e poder

Assim, a instituição escolar é vista como desem pe -nhando uma grande função de produção de diferençascognitivas, uma vez que ajuda a produzir esquemas deapreciação, percepção e ação do mundo social por via da

internalização dos sistemas classificatórios dominantesno mundo social global.

Suas análises da educação, então, passam a perten cerao campo da sociologia do conhecimento e da sociologia dopoder, pois como ele mesmo afirma, longe de ser umaciência aplicada e adequada somente aos pedagogos, elase situa na base de uma antropolo gia geral do poder e dalegitimidade, porquanto se detém ‘nos mecanismosresponsáveis pela reprodução das estruturas sociais e pelareprodução das estruturas mentais’.

Para Loïc Wacquant, Bourdieu oferece uma anatomiada produção do novo capital [o cultural] e uma análise dosefeitos sociais de sua circulação nos vários camposenvolvidos no trabalho de dominação. Em La noblessed État (A nobreza do Estado) comprova e reforça suas tesesiniciais sobre o sistema de ensino e a ‘relação de colisão ecolusão, de autonomia e cumplicidade, de distância e dedependência entre poder material e poder simbólico’. Suasociologia da educação é, antes de tudo, uma ‘antropologiagenerativa dos poderes focada na contribuição especialque as formas simbólicas dão à respectiva operação,conversão e naturalização. (…) O interesse de Bourdieupela escola deriva do papel que ele lhe atribui comogarantidor da ordem social contem porânea via magia doEstado que consagra as divisões sociais, inscrevendo-assimultaneamente na objetividade das distribuiçõesmateriais e na subjetividade das classificações cognitivas’.

A apropriação do autor no campo educacionalbrasileiro ocorre de forma mais incisiva no uso de suasnoções mais evidentes e, não raramente, desvinculadasde sua epistemologia. É por isso que podemos encontraros ‘teóricos’ de Bourdieu, os ‘ativistas’ e, de forma menosusual, aqueles que se apropriam de sua ‘práticaepistemológica’. Constata-se a necessidade de re-conhecer o autor, buscando o entendimento da teoriasociológica que embasa suas noções mais conhecidas etambém mais banalizadas, assim como o sentido dapercepção do mundo social que tal teoria informa.Bourdieu nos ensina que toda prática humana encontra-seimersa em uma ordem social, sobretudo essa categoriaespecífica de práticas inerentes ao mundo acadêmico.Fazer uma sociologia da educação bourdieusiana,analisando o papel do sistema de ensino na consagraçãodas divisões sociais e consolidando um novo modo dedominação, torna-se um desafio até para os acadêmicosmais ousados.”

Ana Paula Hey é professora no Programa de Pós-Graduação em Educação da UMESP e autora do livroEsboço de uma sociologia do campo acadêmico: Aeducação superior no Brasil (EDUFSCar/FAPESP).

Afrânio Mendes Catani é professor na Faculdade deEducação da USP e pesquisador do CNPq. Organizou,com Maria Alice Nogueira, Escritos de educação (Vozes),reunindo ensaios de Pierre Bourdieu.

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A percepção sociopolítica em Karl Mannheim.

(Trecho)Por Suzana J. de Oliveira Carmo

“(...)

Analisando o cenário político em suas patologias, aomesmo passo, diagnosticando o contexto histórico dahumanidade, Mannheim sugere um estudo inovadordestas questões humanas, erigindo a existência de umobservador empírico que se assemelha a um ‘revolu -cionário’ (paciencioso por estratégia, mas, não inerte peladominação), em verdade, um ‘reformador’, retra tadocomo um sujeito capaz de aplicar mecanismos e métodose, de empreender na melhor oportuni dade não só teoriaepistemológica, mas, primordial mente, novas técnicas deremodelagem da sociedade.Assim, ainda que mantendo uma postura médica aoexarar um diagnóstico científico dos evidentes malessociais, Mannheim não se limitou ao diagnóstico dotempo ou da sociedade, sua tese vai além, e, se inspirafundamentalmente em algo, por ele denominado como:Conhecimento Ateórico. Noutras palavras, enfatiza umacognição que emerge da abordagem prática daexperiência humana; advinda da imediata concreçãohistórica dos fatos. Porque para ele, seriam estes os doisfatores determinantes e que assinalam o rumo na marchados acontecimentos.

Partindo da constatação de que a sociedade humana,de fato e verdadeiramente, só pode revestir-se ou fundar-se sob duas formas: edificação piramidal, onde na baseestão sedimentadas as massas e no ápice a minoriadominante (estrutura ditatorial); ou em plano horizontal,organizada pelo planejamento de instituições e controladapela divisão do poder político (estrutura democrática).Mannheim, não vê nas técnicas de contro le social, quetão costumeiramente são utilizadas pelos governos, umaessência boa ou ruim, vislumbra sim, uma vulnerabilidadeem função da vontade humana daquele que as utiliza sobo falso argumento de serem tão somente um mecanismode contenção econômica, política ou social. Daí porque,na maioria das vezes, esta utilização, onde os verdadeirosobjetivos estão camufla dos, resulta em uma eficiênciaantagônica, impondo à sociedade uma escravidãointelectual, por institucio nalizar crenças, credos ecomporta mentos que não correspondem à próprianatureza do cidadão, tampouco, ao exercício da cidadania.

Neste ponto, insurge a primeira afirmativa fulcrada noconhecimento ateórico: ‘Só vale a pena estudar a

natureza da sociedade tal como é, se somos capazes deinsinuar as medidas que, tomadas a tempo, poderãotornar a sociedade aquilo que deve ser’.

Notadamente, convencido de que só o conheci men -to concreto da sociedade é capaz de definir quais são ouserão suas tendências políticas. Mannheim ressalta que,a sociedade não consegue sobreviver se fomentaconformismo e conformi da de, porque estas sãocaracterísticas evidentes de algo monótono ou fadado àinércia, e como tal, passível de se tornar obsoleto.

Conferindo verdade à doutrina precursora de ÉmileDurkheim, assinala que só as sociedades simples comoas dos povos primitivos podem funcionar satisfatoria -mente quando fundadas na homogeneidade e naconformidade. Porque a integração social em toda a suamagnitude, jamais foi ou será alcançada por via de umcomportamento comum e uniforme, ou contrário, exigeuma coordenação geral e complexa, de ideias ecomportamentos variados. Desta forma, nos aclara que,não basta, para que haja vigor na sociedade, tampouco,para a manutenção do Estado, a existência fictícia ouabstrata do Princípio Democrático, quando sua materia li -zação ou percepção sinestésica, está em umadependência ávida de que antecedentemente ocorra asatisfação de uma neces sida de orgânica básica, que é ade Justiça Social. Lembrando que ‘a reivindicação demaior justiça não implica, forçosamente, uma concepçãomecânica de igualdade. Diferenças razoáveis de renda ede acumulação de riqueza, para gerar o estímulonecessário aos empreendimentos, podem ser mantidasdesde que não interfiram nas linhas mestras doplanejamento nem aumentem de molde a impedir acooperação entre as diferentes classes’. (...)

Fica, então, evidente que o funcionamento adequadodo organismo social está sob a égide das atitudes edecisões políticas, embora, o respaldo autorizante destastomadas de decisão seja conferido pela sociedade. De talmodo, o funcionamento da democracia está sujeitoironicamente ao consentimento democrático e à existên -cia da justiça social. E, este sistema de intercâm bio, estecircuito fluxo, retrata não só a viabilidade e manutenção dosistema como um todo, a priori, demarca que os insumosaxiológicos que o alimentam, são de ordem ética.

E, uma vez mais, de acordo com Mannheim, nem atolerância democrática nem a objetividade científica estãoautori zadas a nos determinar abstinência às lutas queneces sariamente devam ser travadas em prol daquilo quejulgamos ser verdadeiro. Apontando que, só uma

1. A percepção sociopolítica em Karl Mannhein2. Sociologia do Conhecimento3. Pierre Bourdieu e a Violência Simbólica

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democracia militante pode sobreviver em tempos dedesordem moral ou ética. A ideia de militância quandoatrelada à democracia, significa a existência de umaatitude de defesa dos procedi mentos corretos, dosvalores socioculturais, da decência, do respeito àcidadania etc.

‘[...] que a liberdade e a democracia são neces saria -mente incompletas enquanto as oportunidades sociaisestiverem tolhidas pela desigualdade econô mica, éirresponsável não compreender quão grande realizaçãoelas representam e que através delas podemos ampliar oâmbito do progresso social’. (...)”

Sociologia do Conhecimento

(Extraído da Wikipedia)

“Concebida como o estudo das condições sociais deprodução de conhecimento. Seu enfoque abarca as relaçõessociais envolvidas na produção do conheci mento. O objetodesse tipo de sociologia não se confunde aos da teoria doconhecimento ou epistemo logia. É a gênese doconhecimento intelectual e dos usos no ambiente social.Assim, consideram-se outros fatores determinantes daprodução de conhecimento que não os da consciênciapuramente teórica, mas também de elementos de naturezanão teórica, provenientes da vida social e das influências evontades a que o indivíduo está sujeito.

A influência de tais fatores é de grande importância esua investigação é objeto da Sociologia do Conheci mento.Esta formulação teórica tem em vista que cada períodohistórico da humanidade é dominantemente influenciadopor certo tipo de pensamento ou de formulações teóricastidas como relevantes. Em cada momento histórico,tendências conflitantes apontando tanto para aconservação da ordem quanto para a sua transformaçãosurgiriam em vista dos interesses políticos e ideológicosdos agentes envoltos na prática da produção doconhecimento.

A Sociologia do Conhecimento, tal como definidaanteriormente, difere da Teoria do Conhecimento pelofato de que esta última debruça-se sobre os problemascomuns a todas as áreas do conhecimento científicopreocupando-se não com sua ‘gênese social’. Aocontrário, a Teoria do Conhecimento está envolvida nodesenvolvimento do conhecimento científico num nívelmetateórico, confundindo-se, pois, com a Metodologiadas Ciências no seu sentido forte: a fundamentação deteorias. As obras de autores como Karl Popper e ThomasKuhn são exemplares a esse respeito. Thomas Kuhn,entretanto, está no limiar entre a pesquisa metodológicade fundamentação de teorias e a Sociologia do Conheci -mento. Sua principal obra, a Estrutura das Revoluçõescientíficas, versa sobre problemas típicos da Metodologiae Epistemologia científicas ao mesmo tempo em queconsidera o papel dos mecanismos e processos tipica -

mente sociais que estão no seu cerne. Parte da premissaque a prática da ciência é também uma prática social e,portanto, histórica, residindo nisto a sua proximidade coma subdisciplina da Sociologia do Conhecimento. A obra deKuhn é, porém, mais próxima da Sociologia da Ciência,enquanto que a de Popper está mais próxima deMetodologia e Epistemologia da Ciência.”

Pierre Bourdieu e a Violência Simbólica

Por Pablo Silva Machado Bispo dos Santos

Um dos conceitos comentados e menos conhecidosna obra de Pierre Bourdieu é o de violência simbólica.Criado com o objetivo de elucidar as relações de domi -nação que não pressupõe a coerção física ocor ridas entreas pessoas e entre os grupos presentes no mundo social,o eminente sociólogo francês cunha esta noção, a qualcorresponde a um tipo de violência que é exercida emparte com o consentimento de quem a sofre.

A raiz da violência simbólica estaria deste modopresente nos símbolos e signos culturais, especialmenteno reconhecimento tácito da autoridade exercida porcertas pessoas e grupos de pessoas. Deste modo, aviolência simbólica nem é percebida como violência, massim como uma espécie de interdição desenvolvida combase em um respeito que ‘naturalmente’ se exerce deum para outro. Como exemplo disto temos a atitudeprofessoral, a qual pressupõe o uso legitimado deestratégias punitivas em relação aos alunos (comoreprovações e castigos) que não se enquadram nosmoldes sociais da instituição escolar.

No que tange à concordância entre o dominado e odominador, este aspecto da argumentação de Bourdieu émuito pouco entendido, pois algumas pessoas entendemcomo se houvesse um acordo formalmente estabelecidono qual a dominação é reconhecida como legítima,quando na verdade esta se dá pela ação das forças sociaise pela estrutura das normas internas do campo do mundosocial em que os indivíduos se inserem, e que de certamaneira se incorporam (até mesmo corporalmente) emseus habitus.”

Pequeno glossário da teoria de Bourdieu

(Publicado em 14 de março de 2010, Revista CULT)

Os conceitos de Bourdieu, aqui expostos de maneiraesquemática, devem ser compreendidos em suainterdependência, ou seja, na relação de um ao outro. Comoadverte o próprio autor, em Réponses: ‘noções comohabitus, campo e capital podem ser definidos, massomente no interior do sistema teórico que elesconstituem, nunca isoladamente’.

Eduardo Socha

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campo: noção que caracteriza a autonomia de certodomínio de concorrência e disputa interna. Serve deinstrumento ao método relacional de análise dasdominações e práticas específicas de um determinadoespaço social. Cada espaço corresponde, assim, a umcampo específico – cultural, econômico, educacional,científico, jornalístico etc -, no qual são determinados aposição social dos agentes e onde se revelam, porexemplo, as figuras de “autoridade”, detentoras de maiorvolume de capital.

capital: ampliando a concepção marxista, Bourdieuentende por esse termo não apenas o acúmulo de bense riquezas econômicas, mas todo recurso ou poder quese manifesta em uma atividade social. Assim, além docapital econômico (renda, salários, imóveis), é decisivopara o sociólogo a compreensão de capital cultural(saberes e conhecimentos reconhecidos por diplomas etítulos), capital social (relações sociais que podem serconvertidas em recursos de dominação). Em resumo,refere-se a um capital simbólico (aquilo que chamamosprestígio ou honra e que permite identificar os agentesno espaço social). Ou seja, desigualdades sociais nãodecorreriam somente de desigualdades econômicas, mastambém dos entraves causados, por exemplo, pelo deficitde capital cultural no acesso a bens simbólicos.

estratégia: em Coisas Ditas, Bourdieu afirma que “anoção de estratégia é o instrumento de uma ruptura como ponto de vista objetivista e com a ação sem agente,suposta pelo estruturalismo (que recorre por exemplo ànoção de inconsciente) [...] Ela é produto do sentidoprático.”

habitus: sistema aberto de disposições, ações epercepções que os indivíduos adquirem com o tempo emsuas experiências sociais (tanto na dimensão material,

corpórea, quanto simbólica, cultural, entre outras). O habitusvai, no entanto, além do indivíduo, diz respeito às estruturasrelacionais nas quais está inserido, possibilitando acompreensão tanto de sua posição num campo quanto seuconjunto de capitais. Bourdieu pretende, assim, superar aantinomia entre objetivismo (no caso, preponderância dasestruturas sociais sobre as ações do sujeito) esubjetivismo (primazia da ação do sujeito em relação àsdeterminações sociais) nas ciências humanas (verestratégia). Segundo Maria Drosila Vasconcelos, trata-sede “uma matriz, deter minada pela posição social doindivíduo que lhe permite pensar, ver e agir nas maisvariadas situações. O habitus traduz, dessa forma, estilosde vida, julgamentos políticos, morais, estéticos. Ele étambém um meio de ação que permite criar oudesenvolver estratégias individuais ou coletivas.”

papel da sociologia: para Bourdieu, “a sociologia nãomereceria talvez nenhuma hora de atenção se tivessecomo objetivo apenas descobrir os fios que movem osindivíduos que ela observa, se ela esqueces se que temcompromisso com os homens, justamente quando estes,à maneira das marionetes, participam de um jogo cujasregras ignoram, enfim, se ela não tivesse como tarefarestituir o sentido dos próprios atos destes homens” (Lebal des célibataires, inédito no Brasil).

sentido prático: origem das práticas rituais que estabe -lecem a coerência parcial em um determinado campo.

violência simbólica: termo que explicaria a adesão dosdominados em um campo: trata-se da dominaçãoconsentida, pela aceitação das regras e crenças pa r -tilhadas como se fossem “naturais”, e da incapaci dadecrítica de reconhecer o caráter arbitrário de tais regrasimpostas pelas autoridades dominantes de um campo.

– 117

1. Sobre a sociologia de Karl Mannheim, julgue as proposições que seseguem:

I. Em seu livro Ideologia e Utopia, postula a alternância de tendênciashistóricas à conservação e à mudança que geram, respectivamente,a ideologia e a utopia.

II. A sociologia do conhecimento denuncia a determinação histórico-social da produção intelectual, resultando nos estilos depensamento.

III. Mannheim foi um opositor sem igual do relativismo, pois adotou umapostura positivista diante da ciência e o ato do conhecimentoresultaria da consciência puramente teórica.

São coerentes apenas:a) I e II. b) I e III. c) II e III. d) I. e) II.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

2. São categorias fundamentais na sociologia de Karl Mannheim:a) Constelação e ponto de vista.b) Alienação e liberdade.c) Ação social e compreensão.d) Fato social e coerção.e) Hegemonia e escola unitária.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

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3. “... Se houve algum dia um estudo interdisciplinar, este é aeducação, sujeita a grave deformação se algum estudioso aplicar sualente de aumento apenas a uma parte dela.”

(Mannheim) Nesta frase, o sociólogoa) defendeu a interdisciplinaridade, mas a distinguiu do processo da

educação que deve ser orientada a partir da especificidade dasdisciplinas.

b) afirmou que a educação interdisciplinar constitui perigo capaz dedeformar os objetivos reais da educação.

c) afirmou que a educação deve ser interdisciplinar para escapar dadeformação decorrente das especialização excessivas.

d) defendeu a educação especializada e técnica própria da sociedademoderna e apropriada a ela.

e) espera que a interdisciplinaridade não venha a deformar o caráterdos educandos e os objetivos da educação.

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

4. Cabe à sociologia do conhecimento expor e considerar as influênciasculturais de contexto que estão presentes nas teorias. Isso estárelacionado com as seguintes questões:I. Toda produção de conhecimento resulta sobretudo da consciência

puramente teórica. II. Há influências provenientes da vida social e influências e vontades a

que o produtor, enquanto indivíduo proveniente de uma realidadesocial, está sujeito.

III. Trata-se do pressuposto da determinação histórico-social doconhecimento, em que a produção científica e a apreensão darealidade estão impregnadas de “constelações” e “estilos depensamento.

IV. O conhecimento é retrato da realidade, não interpretação. Cabe àsociologia do conhecimento expor e considerar as influênciasculturais de contexto que estão presentes nas teorias.

São verdadeiras:a) I e II b) I e III c) II e III d) III e IV e) I e IV

RESOLUÇÃO:

Resposta: C

5. Em seu livro Ideologia e Utopia, Mannheim postulaa) que utopia e ideologia são sinônimos e estabelecem sonhos

realizáveis de um mundo melhor.b) a alternância de tendências históricas à conservação e à mudança que

geram, respectivamente, a ideologia e a utopia.c) uma teoria segundo a qual não deveria haver influências ideológicas

nas produções científicas, assim, justifica-se a busca máxima deneutralidade.

d) que as utopias são conservadoras, enquanto as ideologias tendem atransformar as sociedades por processos históricos que estabelecemvalores originais e novas estruturas sociais.

e) utopias são ideologias irrealizáveis e fantasiosas.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

6. A sociologia do conhecimento sugere um imanente conteúdo políticodos discursos organizados e aceitos, inclusive nas funções assumidaspelas ideologias e pelas utopias. Assim:I. Cada fase, da humanidade seria dominada por certo tipo de

pensamento e a comparação entre vários estilos diferentes seriaimpossível.

II. Em cada fase, aparecem tendências conflitantes, apontando sejapara a conservação, seja para a mudança. A adesão à primeira tendea produzir ideologias e a adesão à segunda tende a produzir utopias.

III. Não há, no pensamento de Mannheim, relação alguma entre omovimento histórico das ideologias, das utopias e a sociologia doconhecimento.

São coerentes apenas:a) I e II b) I e III c) II e III d) I e) II

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

7. O liberalismo foi revolucionário e, portanto, utópico. Mas tão logoderrotou o feudalismo e conquistou seu espaço, tornou-se uma ideologiaconservadora e perdeu seus traços utópicos. Esse fato, em relação àteoria de Mannheim, éa) um fato que comprova a ideia de que a questão da ideologia e da

utopia comporta grande complexidade e contradição.b) uma evidente exemplificação do que o sociólogo postula em seu livro

Ideologia e Utopia.c) um aspecto que relativiza sua ideia de que as ideologias são

revolucionárias.d) um dado histórico que comprova o papel conservador das utopias.e) uma prova de que os reacionários do passado podem tornar-se

revolucionários amanhã.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

8. Leia e julgue as proposições abaixo sobre a sociologia de KarlMannheim.I. Mannheim propõe a educadores e educandos que utilizem a

sociologia como embasamento teórico para a compreensão dasituação educacional moderna.

II. Para Mannheim o pensamento social não pode explicar a vidahumana, mas apenas expressá-la.

III. O papel da teoria é compreender o que as pessoas pensam sobre asociedade e não o de propor explicações hipotéticas sobre ela. Essesociólogo entendia que o conhecimento é construído sobre “pontosde vista”.

Estão (está) corretas (correta):a) Todas b) Apenas I e II c) Apenas II e III d) Apenas I e III e) Apenas II

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

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9. “... o sistema de ensino amplamente aberto a todos, e no entantoestritamente reservado a alguns, consiga a façanha de reunir asaparências da ‘democratização’ com a realidade da reprodução (...) comum efeito acentuado de legitimação social.”

(Bourdieu)O texto refere-se de fato a um (uma)a) processo democrático.b) estratégia ideológica.c) processo de inflação de diplomas.d) organização de uma escola para todos.e) processo de acumulação de capital cultural.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

10.Para Bourdieu, o sistema social antigo promovia uma exclusão clara;

enquanto hoje, o sistema com classificações imprecisas e confusas

favorece

a) uma exclusão mais brutal.

b) uma democratização do acesso à inclusão.

c) uma percepção mais clara de quantos serão excluídos.

d) um maior ajustamento social, a partir de uma escolarização

includente e equitativa, aspirando à dessegregação.

e) uma exclusão mais sutil.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

11. Pierre Bourdieu não enfatiza, em suas análises, o saber em simesmo, mas a relação com o saber. Isso significa quea) o ensino se torna um bem inalcançável para os desafortunados da

inteligência humana.b) o modelo competitivo da ascensão individual é o recomendado, por

considerar as aptidões e competências dos candidatos ao mercadode trabalho.

c) a acumulação de capital cultural se torna o meio mais justo e legítimopara conduzir os candidatos ao mercado de trabalho, numasociedade que valoriza a competição que estimula o desenvolvi -mento.

d) os educandos terão desempenhos diferentes diante do processoescolar de acordo com a bagagem de capital cultural herdado pelomeio, classe e família.

e) além dos critérios internos de avaliação (vocabulário técnico, porexemplo), o professor deve considerar critérios externos.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

12. “... enquanto não se tiver feito tudo para obrigar e autorizar ainstituição escolar a desempenhar a função que lhe cabe, de fato e dedireito, ou seja, a de desenvolver em todos os membros da sociedade,sem distinção, a aptidão para as práticas culturais que a sociedadeconsidera como as nobres”.

(Pierre Bourdieu).

A colocação acima sugere a seguinte proposição: a) Não há muitas esperanças na sociedade humana de conduzir a

educação em um patamar mais legítimo de bem-estar social.b) O conceito de equidade merece atenção na proposta de uma

educação voltada para um projeto social de bem-estar e justiça.

c) É preciso investir nas potencialidades naturais de cada cidadão paralegitimar uma ordem mais competitiva e mais justa.

d) A sociedade capitalista pode gerar uma educação mais coerente seincluir todos os que nascem, de fato e comprovadamente, comdeterminadas aptidões de aprendizado.

e) Um teste de vocação e de inteligência seria um caminho para oEstado selecionar cérebros capacitados e portadores de umadequado capital cultural para ingressar nos melhores institutos deensino público de uma Nação.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

13. “A entrada de frações, até então fracas utilizadoras da escola, nacorrida e na concorrência pelo título escolar, tem tido como efeito obrigaras frações de classe, cuja reprodução era assegurada principal ouexclusivamente pela escola, a intensificar seus investimentos paramanter a raridade relativa de seus diplomas e, correlativamente, suaposição na estrutura de classe...”

(P. Bourdieu)

Segundo Bourdieu, e pela lógica do próprio texto, isso promove:a) uma democratização real e crescente na escolarização.b) uma inflação de diplomas.c) a organização de uma sociedade mais justa.d) a superação das contradições sociais.e) o desenvolvimento científico.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

14. Sistema aberto de disposições, ações e percepções que osindivíduos adquirem com o tempo em suas experiências sociais (tantona dimensão material, corpórea, quanto simbólica, cultural, entre outras).Vai, no entanto, além do indivíduo, diz respeito às estruturas relacionaisnas quais está inserto, possibilitando a compreensão tanto de suaposição num campo quanto seu conjunto de capitais. Bourdieupretende, assim, superar a antinomia entre objetivismo (no caso,preponderância da estruturas sociais sobre as ações do sujeito) e subje -ti vismo (primazia da ação do sujeito em relação às determinaçõessociais) nas ciências humanas. O conceito bourdieuano aqui definido é:a) Capital social b) Habitus c) Capital culturald) Campo e) Estratégia

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

15. A cultura vem a ser um sistema de significações hierarquizadas,tornando-se um móvel de lutas entre grupos sociais cuja finalidade é ade manter distanciamentos distintivos entre classes sociais. O conceitocentral aqui exposto é:a) Classes sociais, de Max Weberb) Ideologia de Mannheimc) Mass Culture, de Adornod) Capital cultural, de Bourdieue) Sistemas de significações, de Mannheim

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

– 119

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16. Sobre a sociologia de Bourdieu, leia e julgue as proposições abaixo.

I. A dominação cultural se expressa na fórmula segundo a qual a cada

posição na hierarquia social corresponde uma cultura específica

(elitista, média, de massa), caracterizadas respectivamente pela

distinção, pela pretensão e pela privação. Definida por gostos e

formas de apreciação estética, a cultura é central no processo de

dominação; é a imposição da cultura dominante como sendo “a

cultura” que faz com que as classes dominadas atribuam sua

situação subalterna à sua suposta deficiência cultural, e não à

imposição pura e simples.

II. O sistema de ensino desempenha papel de realce na superação

dessa relação de dominação cultural, funcionando ainda “como

solução de diferenças culturais e linguísticas já dadas, antes da

escolarização, no quadro da socialização primeira, que é

necessariamente diferencial, segundo a inscrição das famílias nas

diferentes classes sociais. (…)

III. O código linguístico da burguesia (com seus cacoetes, idiotismos,

sua particularidade) será encontrado, pelos futuros notáveis, nas

salas de aula, como a linguagem da razão, da cultura, numa palavra,

como elemento ou horizonte da Verdade.

IV. O particular é arbitrariamente erigido em universal e o ‘capital

cultural’ adquirido na esfera doméstica, pelos filhos da burguesia,

lhes assegura um privilégio considerável no destino escolar, mas que

não repercute no profissional.

São corretas:a) I e II b) I e III c) II e III d) I e IV e) III e IV

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

120 –

1. Qual é o significado do pressuposto, na sociologia de Mannheim, deque há um conhecimento ateórico?

2. Como operam, para Mannheim, as ideologias e as utopias?

3. Que relação existe, no pensamento de Mannheim, entre omovimento histórico das ideologias, das utopias e a sociologia doconhecimento?

4. Mannheim propõe a educadores e educandos que utilizem asociologia como embasamento teórico para a compreensão da situaçãoeducacional moderna. Para Mannhiem o pensamento social não podeexplicar a vida humana, mas apenas expressá-la. O que isso significa?

5. Leia e julgue as proposições sobre educação de acordo com a teoriasociológica de Mannheim.I. Mannheim achava que a sociologia poderia servir de base para o

aprimoramento da educação. II. Segundo Mannheim, em concordância com Max Weber, a sociedade

moderna passou por um processo de encantamento, o que levou aum declínio da educação como formadora integral do homem.

III. A sociologia da educação, esclarecendo os processos sociais,possibilitaria a formulação de propostas pedagógicas capazes deampliar os horizontes do homem.

Estão (está) corretas (correta):a) Todas b) Apenas I e II c) Apenas II e III d) Apenas I e III e) Apenas II

6. Sobre a sociologia do conhecimento, assinale a única alternativafalsa.a) Pensar nos problemas do relacionamento entre conhecimento e

política significa pensar em muitas das questões mais cruciais denossa sociedade, que confia na eventual vitória da Razão sobre asatuais desventuras pelas quais passamos.

b) Chamar atenção para o aspecto político da ciência, por exemplo,

significa apostar na ideia de que a busca de conhecimento superiornão é um simples mecanismo cego que responde a processosautônomos e não controlados de crescimento histórico, mas algoque tem uma potencialidade de liberação humana e que merece,sempre, ser buscado e incentivado.

c) Nesse sentido, a atividade científica e a liberdade intelectualmerecem e necessitam ser defendidas e estimuladas, mas issosignifica, obviamente, que não existe um amplo espaço paraescolhas, preferências e opções.

d) A última proposição mais geral, pois, que preside esses trabalhos é

que não existe, certamente, uma razão hegeliana nem um futuro

científico positivista a nos aguardar no fim da história; mas que,

apesar disso, o conhecimento é melhor do que a ignorância, e que

esse valor deve ser explorado e maximizado em todos os

momentos.

e) O problema teórico da sociologia do conhecimento é estabelecer

como o conhecimento tem sido, de fato, condicionado, em seu

conteúdo e em suas condições de produção, nos diversos contextos

sociais; seu problema político tem sido o de explicitar as condições

que permitem o desenvolvimento de formas de conhecimento

dinâmicas, criativas, dotadas de riqueza e profundidade, e

socialmente relevantes.

7. Por que alguns países, algumas classes sociais, em algumas épocashistóricas, foram capazes de desenvolver conhecimentos técnicos oucientíficos de determinado tipo? Quais as condições sociais quefavorecem o surgimento das grandes religiões? Como surgem e comose transformam as ideologias? Qual a prática social efetiva que permiteo surgimento das diversas formas de conhecimento? Como estasdiversas formas de conhecimento científico, ideológico, religioso, desentido comum se relacionam entre si? Qual tem sido a função históricada universidade e da educação formal em seus diversos níveis nodesenvolvimento das diversas formas de conhecimento? Essas questões

a) permanecem sem resposta.

b) constituem objetos da sociologia do conhecimento.

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c) comprovam a inexistência de qualquer ligação entre conhecimento

e circunstâncias.

d) relativizam a importância da sociologia do conhecimento.

e) evidenciam a autonomia da atividade intelectual.

8. “O conceito de “ideologia” reflete uma das descobertas emergentesdo conflito político, que é a de que os ______________ podem, em seupensar, tornar-se tão intensamente ligados por interesses a umasituação que simplesmente não são mais capazes de ver certos fatosque iriam solapar seu senso de dominação. Está implícita na palavra“ideologia” a noção de que, em certas situações, o inconsciente coletivode certos grupos obscurece a condição real da sociedade, tanto para sicomo para os demais, estabilizando-a portanto. O conceito que melhorcompleta a frase é:

a) membros da classe subalterna b) intelectuais

c) pesquisadores d) grupos dominantes

e) filósofos e sociólogos

9. A história parece dar razão a Karl Mannheim. Ele distingue ideologiae utopia. A primeira refere-se ao conjunto de ideias que objetivam____________ a ordem existente; a segunda, às ideias que fundamentamas ações pela ______________ desta.As palavras que respectivamente concluem o pensamento acima são:a) alterar, manutençãob) revolucionar, reproduçãoc) reproduzir, conservaçãod) conservar, manutençãoe) manter, transformação

10. Identifique as observações aceitáveis de acordo com a sociologia deMannheim.I. Toda produção de conhecimento não resulta apenas da consciência

puramente teórica. É fruto de influências sociais.II. Pressuposto da determinação histórico-social do conhecimento: a

produção científica e a apreensão da realidade estão impregnadasde “constelações” e “estilos de pensamento.”

III. Mannheim acusou a sociologia marxista de ser relativista e asociologia do conhecimento afastou-se definitivamente dessatendência.

Estão (está) corretas (correta):a) Todas b) Apenas I e II c) Apenas II e III d) Apenas I e III e) Apenas II

11. Para Bourdieu, o sistema de ensino no mundo tornou-se:a) um sistema de reprodução da sociedade de privilegiados e excluídos.b) um caminho confiável para o êxito econômico pessoal.c) uma alternativa democrática para construir uma sociedade mais

justa.d) uma ideologia da classe dominada.

e) a única oportunidade de se conhecer a inteligência natural das

pessoas.

12. Explique a expressão usada por Bourdieu: “Excluídos do Interior”.

13. Para Bourdieu, a luta de concorrência, preconizada pelo capitalismo,eterniza, não condições diferentes, mas a diferença das condições.Reflita e comente o sentido dessa frase.

14. Para o sociólogo José de Souza Martins, a imagem não temconteúdo independente. “Mas ela apresenta indícios de relaçõessociais, de mentalidades, de formas de consciência social e de maneirasde ver o mundo que tornam possível uma sociologia do conhecimentovisual. Uma das consequências dessa linha de pensamento é que ofotógrafo passa a ser encarado como um intelectual, um produtor deconhecimento”.Comente a afirmação de Martins.

15. Segundo Pierre Bourdieu, a função do sistema de ensino é servir deinstrumento de legitimação das desigualdades sociais. Longe de serlibertadora, a escola é conservadora e mantém a dominação dosdominantes sobre as classes populares, sendo representada como a) um caminho para a ascensão social da classe subalterna.b) uma forma de estabelecer uma democratização dos bens culturais,

originalmente concentrados nas mãos da classe dominante. c) um instrumento de reforço das desigualdades e como reprodutora

cultural, pois há o acesso desigual à cultura segundo a origem declasse.

d) um meio de assegurar o estabelecimento de uma sociedade maisequitativa.

e) um caminho para a parcial superação das desigualdades e para odesenvolvimento de uma sociedade global bem informada.

16. Assinale a alternativa que não corresponde a uma análise dosociólogo Pierre Bourdieu acerca da educação na sociedade capitalista.a) Existem estratégias ideológicas de reprodução do patrimônio que

legitimam os privilégios, naturalizando-os.b) O êxito escolar resulta, de fato e sobretudo, de aptidões naturais que

constituem o capital humano.c) Há uma hierarquia de bens simbólicos historicamente construída de

acordo com os interesses do capital.d) A categoria marxista de classe social é fundamental para a exata

compreensão do funcionamento da estrutura de ensino, como modode reprodução das desigualdades.

e) A educação, na sociedade de classes, mascara-se de democracia edificulta a mobilidade social.

17.“Mas todos esses fatores reunidos não podem justificar completa -mente a hegemonia que a produção exerce sobre o mercado mundial.É a razão pela qual é necessário levar em consideração o papel de algunsdos responsáveis pelas estratégias de import-export, conceitual mentemistificadores-mistificados, que podem veicular, sem seu conheci -mento, a parte oculta – e, muitas vezes, maldita – dos produtos culturaisque fazem circular.”

(Pierre Bourdieu)

Assinale a alternativa que interpreta corretamente o pensamento acima.

a) O autor julga incompetentes os conceitos e categorias construídas

sobre o plano histórico e singular de uma sociedade. Melhor seria

construir categorias universais capazes de representar diversas

sociedades e culturas.

b) O autor valoriza o natural em detrimento (prejuízo) da abordagem

histórica.

c) Para o autor existe um imperialismo cultural que se reflete na

produção científica nas universidades de várias localidades do

mundo.

d) É necessário ocultar, segundo Bourdieu, as raízes históricas das

categorias científicas produzidas nas universidades.

– 121

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e) Os produtos de pesquisa norte-americana adquirem uma estatura

internacional recomendada, pois para se alcançar rigor científico, é

preciso encontrar categorias universais.

18. Pierre Bourdieu construiu ou utilizou algumas categorias importantespara traçar a sua sociologia. Assinale a alternativa que agrupacorretamente algumas dessas categorias.I. Capital culturalII. HistoricidadeIII. IdeologiaIV. Estratégias de reprodução de privilégios ou de patrimônioV. Capital social

a) Somente I, II e V. b) Somente I, III e IV.c) I, II, III, IV e V. d) III, IV e V, somente.e) I, II, III e V, somente.

19. “Crianças de alta renda herdam saberes, cuja rentabilidade escolaré tanto maior quanto mais frequentemente esses imponderáveis deatitude são atribuídos ao dom.” (P. Bourdieu) Isso acontece devidoa) a uma estratégia ideológica.b) ao processo de aculturação.c) à aquisição de capital social.d) à incorporação rápida de capital cultural.e) ao fato de se ter nascido com uma inteligência privilegiada.

20. O habitus, para Bourdieu, representa a inércia do grupo. Conclui-se,portanto:I. a sua função é assegurar as práticas econômicas para além das

gerações.II. que ele tende a reproduzir nos sucessores o que foi adquirido pelos

predecessores.III. que o grupo se apropria do habitus e este é apropriado ao grupo.

São verdadeiras e coerentes:a) I, II e III b) I e II somente. c) II e III somente d) I e III somente e) I somente.

21. Para Bourdieu, é a rede de ligações estáveis e duráveis que objetivauma solidariedade, entre agentes afins, capaz de proporcionar lucrosmateriais e simbólicos, não necessariamente de forma consciente. Trata-se doa) capital econômico.b) capital cultural.c) capital social.d) capital objetivado e incorporado.e) capital institucionalizado.

122 –

1) O conhecimento não resultaria apenas de uma consciência

teórica pura e transparente, mas de um mundo de influências

históricas e sociais.

2) Haveria uma contraposição entre ideologia que tem uma

função conservadora, pois tende a conservar o status quo, e

utopia que propõe alterações nas formas vigentes de

sociedade.

3) A sociologia do conheciemto sugere um imanente conteúdo

político dos discursos organizados e aceitos, inclusive nos

papéis desempenhados pelas ideologias e pelas utopias.

4) O papel da teoria é compreender o que as pessoas pensam

sobre a sociedade e não o de propor explicações hipotéticas

sobre ela. Esse sociólogo entendia que o conhecimento é

construído sobre “pontos de vista”.

5) D 6) C 7) B

8) D 9) E 10) B

11) A

12) São os excluídos dentro da escola. Com a democratização do

sistema de ensino, acreditou-se estar projetando uma nova

socieda de democrática. Bourdieu mostrou que o sistema

continua excluindo, pois se introduzem as contradições sociais

na escola.

13) O capitalismo tem um mecanismo que permite a mobilidade

social, porém suas estruturas excessivamente competitivas e

desiguais (de chances diferentes) dificultam a mobilidade e

reproduzem a sociedade dos privilégios.

14) Para Martins, uma fotografia não é apenas uma imagem, mas

um conjunto imenso de subimagens que podem ser lidas pelo

sociólogo – que inevitavelmente poderá tirar também dessa

leitura muita informação sobre a mentalidade do fotógrafo e

sobre o mundo social em que as imagens foram produzidas.

15) C 16) B 17) C

18) C 19) A 20) A

21) C

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Os brancos diziam que em nenhum país do mundoessa nefanda instituição foi tão doce como no Brasil.Agora não me passa pela cabeça - não deve passar pelacabeça de ninguém - que essa nefanda instituição, comoos próprios brancos chamavam a escravidão, que elapudesse ser doce em algum lugar. Ela só pode ser doceda perspectiva de quem estivesse na casa-grande e nãona perspectiva de quem estivesse na senzala.

(Florestan Fernandes)

Afirmo que iniciei a minha aprendizagem sociológicaaos seis anos, quando precisei ganhar a vida como sefosse um adulto e penetrei, pelas vias da experiênciaconcreta, no conhecimento do que é a convivênciahumana e a sociedade.

(Florestan Fernandes)

1. Introdução

Alguns pesquisadores dividem a história dopensamento social brasileiro em dois grandes períodos, ea década de 1950 pode ser apontada como uma ruptura.

O primeiro período pode ser chamado de ensaísta econta com textos de historiadores, médicos, jornalistas,advogados e engenheiros que interpretaram o Brasil semgrandes critérios científicos, o que não diminui o seu valor,além de produzir grandes obras literárias. O principalnome que se destaca nesse período é o de Euclides daCunha que escreveu Os Sertões.

O segundo período: o “científico”, inicia com a insti -tuciona lização das ciências sociais e com a elaboração detextos trabalhados com maior rigor científico. Destaca-seaqui o nome de Florestan Fernandes.

Florestan Fernandes foi sociólogo e político brasileiro,nascido na cidade de São Paulo, considerado o fundadorda Sociologia Crítica no Brasil. Foi defensor da EscolaPública e, sempre foi ligado aos movimentos sociais ereivindicatórios e às organizações políticas de esquerda.Foi preso político várias vezes, tornou-se ProfessorCatedrático na USP, efetivado por concurso de títulos eprovas (1965). Lutou contra a ditadura militar e militoupoliticamente. Estudou o problema dos negros no Brasil,relacionando-o com a questão das classes sociais. Suavida é absolutamente comovente e merece um estudo aparte.

A infância de Florestan foi marcada pela carestia edificuldades que ficariam registradas em sua obra,particularmente na sua sensibilidade para com osexcluídos. Florestan era filho de lavadeira e abandonoucedo os estudos para trabalhar e afirmou: “Eu nunca teria

sido o sociólogo em que me converti sem o meu passadoe sem a socialização pré e extraescolar que recebi,através das duras lições da vida”. Foi ajudante de bar bea -ria, engraxate e auxiliar de alfaiataria. Com apenas dezanos de idade, quando os operários paulistanos saíram àsruas para festejar a Revolução de 1930, comandada porGetúlio Vargas, o futuro sociólogo se juntou àsmanifestações populares portadoras de esperança.

Em 1941, chegou à universidade, depois de se formarno curso de madureza (supletivo, uma espécie de ensinotardio para adultos). Trabalhara como garçom num bar nocentro de São Paulo – o Bidu – onde discutia históriaantiga com frequentadores intelectuais. Foi tambémentregador de amostras de laboratório.

Possui mais de 50 obras publicadas, dentre elaspodemos citar:• A Organização Social dos Tupinambás (1949).• A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá

(1952)• Método de Interpretação Funcionalista na Sociologia

(1953)

Vejamos ainda, adiante, no texto da professora SylviaG. Garcia, alguns percursos da brilhante formaçãoacadêmica de Florestan.

Florestan foi um dos pais da sociologia científica no Brasil

MÓDULO 15 Sociologia no Brasil

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Dois clássicos do chamado período ensaísta

Sérgio B. de Holanda lançou o livro Raízes do Brasilem 1936. Foi um avanço teórico, pois a sua reflexãoabandonou o conceito de massa ou povo como alienadoe de fácil manipulação. Ao contrário, identifi cava, em suaobra, o governo como um sistema retrógrado,conservador e as elites econômicas como indiferentes à pobreza. Embora não fosse marxista,acreditou num processo de expansão democráticafundada no pluralismo das instituições formadas docenário político-ideológico. Queria, assim, superar oabismo entre elites e sociedade; Estado e coletividade.

Sérgio Buarque de Holanda viu no homem brasileiro o traço dacordialidade.

Um conceito muito importante que aparece em suaobra é o de homem cordial. Cordialidade não se refereaqui à gentileza, mas faz referência à raiz do termo:cardíaco, ou seja, do coração. A cordialidade do homembrasileiro refere-se à dificuldade que se tem de lidar comquestões políticas e sociais de forma racional e deconsiderar com impessoalidade a esfera pública. Acordialidade consiste num traço cultural brasileiro que vêo mundo com paixão, numa subjetividade egocêntrica.

Gilberto Freyre publicou Casa Grande & Senzala em1933. Foi o grande opositor às interpretações racistas(particularmente de Nina Rodrigues) e que sobrevalori -zavam a questão biológica. Introduziu, dessa forma, umaanálise culturalista para entender a formação dos povosno Brasil. Em outros termos: passou do paradigma racialpara o cultural. Apesar do grande avanço, hoje, écompreendido como um autor conservador. Lê-se, emsua obra, um aspecto positivo em relação à miscigena -ção, não só biológico, mas sobretudo, cultural. Em CasaGrande & Senzala escreveu: “a miscigenação, quelargamente se praticou aqui, corrigiu a distância social quedoutro modo se teria conservado enorme, entre a casa-grande e a mata tropical, a casa-grande e a senzala”.

Gilberto Freyre escreveu uma obra original e polêmica.

Freyre foi acusado, principalmente pelo sociólogoFlorestan Fernandes, de criar o mito brasileiro dademocracia racial. Para Florestan, esse mito permitiu àscamadas dominantes manterem seus privilégios semcompetição, nem confronto.

2. Texto

Biografia de Florestan Fernandes (1920-1995)

Por prof.a Sylvia Gemignani Garcia

(Departamento de Sociologia - FFLCH/USP)

“Em 1941, ingressou na Faculdade de Filosofia,Ciências e Letras da USP, formando-se em CiênciasSociais. Iniciou sua carreira docente em 1945, comoassistente do professor Fernando de Azevedo, na cadeirade Sociologia II. Na Escola Livre de Sociologia e Política,obteve o título de mestre com a dissertação Aorganização social dos tupinambás. Em 1951, defendeu,na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, atese de doutoramento: A função social da guerra nasociedade tupinambá, posteriormente consagrado comoclássico da etnologia brasileira, que explora com maestriao método funcionalista.

Uma linha de trabalho característica dos anos 50 foi oestudo das perspectivas teórico-metodológicas daSociologia. Seus ensaios mais importantes acerca dafundamentação da sociologia como ciência serão,posteriormente, reunidos no livro Fundamentos empíricosda explicação sociológica. Seu comprometimentointelectual com o desenvolvimento da ciência no Brasil,entendido como requisito básico para a inserção do Paísna civilização moderna, científica e tecnológica, situa suamarcante atuação na Campanha de Defesa da EscolaPública, em finais da década, em prol do ensino público,laico e gratuito enquanto direito fundamental do cidadãodo mundo moderno.

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Durante o período, foi assistente catedrático, livredocente e professor titular na cadeira de Sociologia I,substituindo o sociólogo e professor francês RogerBastide em caráter interino até 1964, ano em que seefetivou na cátedra, com a tese A integração do negro nasociedade de classes. Como o título da obra permiteentrever, o período caracteriza-se pelo estudo da inserçãoda sociedade nacional na civilização moderna, em umprograma de pesquisa voltado para o desenvol vimento deuma sociologia brasileira. Nesse âmbito, orientou dezenasde dissertações e teses acerca dos processos deindustrialização e mudança social no País e teorizou osdilemas do subdesenvolvimento capitalista. Inicialmenteno bojo dos debates em torno das reformas de base e,posteriormente, após o golpe de Estado, nos termos dareforma universitária coordena da pelos militares, produziudiagnósticos substanciais sobre a situação educacional e aquestão da universidade pública, identificando osobstáculos históricos e sociais ao desenvolvimento daciência e da cultura na sociedade brasileira inserida naperiferia do capitalismo monopolista.

Aposentado compulsoriamente pela ditadura militarem 1969, foi Visiting Scholar na Universidade de Columbia,professor titular na Universidade de Toronto e VisitingProfessor na Universidade de Yale e, a partir de 1978,professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.Em 1975, veio a público a obra A revolução burguesa noBrasil, que renova radicalmente concep ções tradicionais econtemporâneas da burguesia e do desenvolvimento docapitalismo no País, em uma análise tecida com diferentesperspectivas teóricas da sociologia, que faz dialogarproblemas formulados em tom weberiano cominterpretações alinhadas à dialética marxista. No início de1979, retornou a Faculdade de Filosofia, Letras e CiênciasHumanas, agora reformada, para um curso de férias sobrea experiência socialista em Cuba, a convite dos estudantesdo Centro Acadêmico de Ciências Sociais.

Em suas análises sobre o socialismo, apropriou-se devariadas perspectivas do marxismo clássico e moderno,forjando uma concepção teórico-prática que se diferenciaa um só tempo do dogmatismo teórico e da prática deconcessões da esquerda. Em 1986 e em 1990, foi eleitodeputado federal pelo Partido dos Trabalhadores. Tendocolaborado com a Folha de S. Paulo desde a década de 40,passou, em junho de 1989, a ter uma coluna semanalnesse jornal.

Florestan emmanifestaçãoem frente aoCongressoNacional durante aConstituintede 1988.

O nome de Florestan Fernandes está obrigatoria -mente associado à pesquisa sociológica no Brasil e naAmérica Latina. Sociólogo e professor universitário, commais de cinquenta obras publicadas, ele transformou opensamento social no país e estabeleceu um novo estilode investigação sociológica, marcado pelo rigor analítico ecrítico, e um novo padrão de atuação intelectual.”

Movimento Negro e a Relação Classe/Raça

Por Claudio Reis (cientista social)

“Neste início de século, parece não haver dúvidassobre a consolidação do movimento negro no cenário daslutas sociais do Brasil. Seu combate contra o racismo,chega ao século XXI de modo bastante forte e atuantenuma demonstração de importância em relação aoconjunto dos movimentos sociais. Graças a isso, adiscriminação racial, que é um dos principais problemasestruturais da nação brasileira, ganhou uma amplavisibilidade social. O que, de certa forma, forçou mais umavez o debate sobre a questão racial no Brasil e a situaçãosubalterna dos negros.

Entretanto, esse avanço não se deu de modo harmô -nico e consensual internamente. Em muitos momentos opróprio movimento negro demonstra fragili dades emrelação à sua unidade. Principalmente sobre a questãoque envolve a relação classe/raça. De um lado, existemsetores defensores de uma luta antirracismo desvincu -lada com a questão de classe, já que para eles, no Brasilo elemento determinante para a situação social de umindivíduo é muito mais racial do que classista. De outro,argumentam que no Brasil, assim como em qualqueroutro país capitalista, a situação de classe interferediretamente nas questões raciais. E neste sentido, a lutaantirracismo deve ser vinculada à luta de classes.

Claro que essas duas posições, que permeiammuitos dos debates internos do movimento negro, nãoparecem ser de simples solução. Tanto uma quanto aoutra, apresentam boas argumentações, com diversosexemplos coerentes e legítimos. Todavia, ao invés decaminharem para uma posição consensual, elasassumem, quase sempre, a forma da polarização-oposi -ção. Demonstrando que classe e raça não são elementosfáceis de conciliação. A pergunta que se pode fazer é:quais são os motivos para a existência dessa polarizaçãointerna no movimento negro?

Florestan Fernandes foi um dos principais autoresbrasileiros a se defrontar com essa questão. Sendo quepara ele a união desses dois elementos era fundamentalpara uma luta eficaz do movimento negro. Encarregado de fazer um estudo sobre os negros noBrasil para a UNESCO, Florestan, em 1951, passou apesquisar a relação raça e classe em São Paulo. Nestaocasião, lançou-se ao confronto da ideia de que no Brasil

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existia uma ‘democracia racial’, fundamentada porGilberto Freyre. Para o escritor pernambucano, aharmonia racial seria a contribuição brasileira para asrelações sociais de outros povos.

Por um lado, esse conflito poderia até ser justificadocaso os negros da sociedade brasileira estivesseminseridos nas diversas classes sociais de modoequilibrado, sem grandes assimetrias. Pois assim, nãohaveria como argumentar que o racismo é praticadoindependente mente da classe social. Isso poderia atéacontecer, quer dizer, haver práticas racistas indepen -dente da condição de classe dos negros. Talvez, osEstados Unidos seja um bom exemplo disso. Mesmo quea eliminação do fator classe, ainda sim, seja arriscada.Todavia, essa não é a realidade do Brasil. A grande maioriados negros brasileiros está inserida nas classessubalternas. E isso não é, de maneira alguma, umanovidade. Portanto, como não envolver a classe social naquestão do racismo?

Por outro lado, a situação do negro brasileiro foi, porum bom tempo, desmerecida pelo movimentocomunista. O próprio Partido Comunista Brasileiro, defendia a tesede que a questão do racismo era uma questão puramentede classe. Tal postura, certamente, acabou distanciando omovimento negro das lutas de cunho classista. Mesmoque, em muitos casos, essa grande parte da populaçãoestivesse inserida na estrutura da classe operária, ela nãose sentia representada pelos órgãos comunistas na lutaantirracismo. As privações que o negro sofria eram vistasapenas sob o ângulo do interior da fábrica,desconsiderando todo o aspecto repressivo lançado pelacultural racista da sociedade.

De certa maneira, o que acontece nos dias atuaisreferente à recusa de parte do movimento negro emconsiderar a questão de classe, assemelha-se ao que omovimento comunista fez tempos antes com a luta donegro. Partindo das reflexões de Florestan, ambos,estiveram ou estão em direções equivocadas.

Para ele, no Brasil classe e raça são dois elementosexplosivos e revolucionários e que por isso devem serunidos. Simbolicamente o 1.o de maio, dia do trabalho, e20 de novembro, dedicado a Zumbi, representam os laçoseconômicos, morais e políticos que prendem osoprimidos entre si e subordinam todas as suas causas auma mesma bandeira revolucionária. Assim, os comunis -tas devem saber que o ‘preconceito e a discrimi naçãoraciais estão presos a uma rede da exploração do homempelo homem e que o bombardeiro da identidade racial éo prelúdio ou o requisito da formação de uma populaçãoexcedente destinada, em massa, ao trabalho sujo e malpago...’

(Florestan)

A questão exposta pelo autor está centrada na ideiade que o operário negro necessita superar dois tipos deideologias que as classes dominantes do capitalismocriaram. A primeira corresponde à ideia de que o pobrenão se torna rico devido tanto à sua vida mundana, quantoà falta de parcimônia com relação aos seus ganhos. A

segunda relaciona-se à ideia de que os negros fazemparte de uma raça inferior, não dotada de razão ecivilidade, em relação aos brancos. Então o negro operáriodos dias atuais carrega nas costas o peso de duas fortesideologias, produzidas pelo capital, a de que ele é‘mundano’ e ‘inferior’.

Assim, os negros possuem uma tarefa dupla, a dedesvendar os motivos pelos quais são operários etambém pelos quais são submetidos ao racismo pelaselites em geral, mas fundamentalmente a branca. Taisreivindicações fazem parte de um profundo e amploprojeto de nação realmente revolucionário, pois tem comoobjetivo desmistificar a realidade criada pelas elites doBrasil. Portanto, os negros têm como tarefa ‘limpar’ danação brasileira parte significativa das formas estranhadasde entender a sua sociabilidade. E neste sentido, um dosprimeiros obstáculos a ser superado corresponde à teoriada existência de uma ‘democracia racial’.

Para Florestan, a desmistificação dessa ideia deconvivência pacífica entre as raças no Brasil, deveria serum dos primeiros passos que o movimento negro deveriadar como forma de fortalecimento. Em seguida, eledeveria construir um movimento de oposição à ideologiadominante, criando assim suas bases político-culturais decombate não apenas ao racismo, mas também aocapitalismo. Na verdade, sua luta deve ser canalizada paraa conquista de uma ‘Segunda Abolição’ que parta de baixopara cima, ao contrário da Primeira.

Combatendo além da elite branca, também a pequenacamada privilegiada negra. Esse pequeno grupo de negrosque passou a integrar as camadas médias, que segundoFlorestan são os ‘novos negros’, devem ser combatidosuma vez que, alcançado o conforto da vida burguesa, elespassaram a rejeitar e satanizar o movimento negro perantea sociedade. Tal processo de ida de alguns negros para asclasses privilegiadas teve início na década de 1940,aprofundando-se posterior mente. O ‘novo negro’, naverdade, buscava a igualdade social por meio de umprocesso pacífico e gradual. Voltando-se para os interessespequeno-burgueses e prontos a excluir de suas relaçõesos ‘negros inferiores’. Assim, a luta contra a subordinaçãodo movimento passou a ficar em mãos exclusivas dagrande maioria oprimida.

Aqui fica evidente que a chamada ‘democracia racial’não teve como alvo apenas as classe dominantes, em suamaioria branca, seus propósitos ideológicos tambémpenetraram de modo devastador entre os negros. Emconsequência, percebe-se o aprisionamento de partedesses indivíduos em certos paradoxos que conduzem ànegação de si próprio. Não conseguindo se ver como defato são vistos pelos brancos.

De modo breve, essas são algumas questões postaspor Florestan Fernandes que podem ajudar sobre aquestão aqui posta, que é o de ressaltar algumasdeterminações da relação raça/classe no interior do

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movimento negro. Mesmo que Florestan tenha feitoessas análises no final da década de 1980, suas ideiaspermanecem instigando e contribuindo para se pensarnovas táticas teórico-políticas. De certa forma, suas ideiasainda podem ajudar a entender o papel social e históricoque o movimento negro tem numa sociedade capitalistacomo a brasileira. Também fornecem elementos quedesmistificam a polarização-oposição estrutural entreclasse operária/movimentos sociais, deixando clara aexistência de equívocos de ambos os lados. Em outraspalavras, para o autor, a estrutura da classe operáriabrasileira é composta não somente pela questão social,mas também pela questão racial, o que concretiza aparticularidade da luta de classes no Brasil. E neste sentido, tenta traduzir suas especificidadesnacionais em luta radical, buscando a particularidade doprocesso de inovação social em âmbitos brasileiros.

Mesmo que o crescimento do movimento negroesteja assentado, fundamentalmente, sobre lutas raciaisespecíficas – ou seja, em equívocos anteriores e bastantecaros a ele, graças ao isolamento social provocado –estruturalmente raça e classe no Brasil estão intimamenteligadas.

E as sugestões dadas por Florestan contribuem parase entender os motivos nos quais repousam essapolarização-oposição entre classe/raça presente nointerior desse movimento. Primeiro pela recusa doscomunistas em tratarem a questão racial em suasverdadeiras dimensões. Segundo pela ‘cooptação’ decerta parte dos negros ao universo ideológico das elites.

Ao que parece, a junção desses dois fatores criaramo que hoje é facilmente percebível nos debates domovimento negro sobre a relação classe/raça.

Portanto, as tarefas desse movimento parecem sermuito mais complexas do que se possa imaginar, àmedida que trava uma batalha tanto externa contra asdesigualdades sociais e raciais, quanto interna para buscaruma unidade de grupo realmente definido e coesoperante a sociedade. Ao que tudo indica, a solução deuma está intimamente ligada ao caráter da outra. Nestesentido, as formas assumidas pela luta política-ideológicaestão ligadas aos rumos teóricos pelos quais a relaçãoraça/classe se desenvolveram.”

Florestan entre índios xavantes em 1986.

A educação para o professor Florestan

(adaptado)Por Bianca Wild

Antonio Candido, intelectual amigo de Florestan pormais de 40 anos, costumava dividir a vida do amigo, comoprofessor, em fases: a primeira fase é a do Florestanprofessor da década de 1940, aquele da cons tru ção dosaber, que está construindo o seu e construin do apossibilidade de saber dos outros; o Florestan da décadade 1950 é aquele que se apaixona perdidamente pelaexplicação dos saberes do mundo, porque tendo ele osinstrumentos necessários em suas mãos dedica-se aaplicá-los para a compreensão dos problemas do mundo eo grande terceiro momento de Florestan professor inicia-se no final da década de 1950 e inicio da década de 1960,quando ele, tendo aplicado o seu saber na compreensãodo mundo, transforma-o em poderosa arma de combate,claro que essas etapas distintas na realidade estãomisturadas, porque sempre esteve presente a terceira naprimeira e a primeira na terceira, afinal para Florestan, osaber estava em estado de construção constante, no quetodos também acredita mos assim como Florestan, énecessário educar e educar-se para a vida.

Muitos educadores estavam envolvidos na criação deum projeto que através do Estado-educador, privi legias sea educação escolarizada, tornando o acesso e apermanência cada vez maior nas classes mais baixas, aomesmo tempo estava em andamento a aprovação da leide diretrizes da educação nacional, que com o apoio daselites, não suportavam essas propostas e neste momentonasce a campanha em defesa da escola pública, unindodiversos intelectuais além de outros segmentos dasociedade.

No meio intelectual uniram-se diferentes correntes depensamento educacional, os liberais idealistas, os liberaispragmáticos e os socialistas, nesta encontravam-seFlorestan, Fernando Henrique Cardoso e Darcy Ribeiro.

Tendo a educação se apresentado como um dostemas centrais da sua vida, Florestan atuou na campa nhae teve importante atuação na Assembleia Constituin te eno processo de construção da LDB, so fren do decep çõesno processo de constituição da Lei de Dire tri zes e Basesda Educação e até com seu amigo Darcy Ribeiro, quecomete uma grande injustiça ao dizer a seguinte frase:‘Florestan não se inquieta com o milhão de alunos doproletariado infantil, que pagam caro para estudar à noite,em escolas péssimas, montadas para fazer lucrosempresariais, enganando-os. Abandona-os à sua sorte’.

Afirmação esta, que soa praticamente como um insultocontra Florestan, uma injúria contra quem sempre lutoupelos menos favorecidos, que mobilizou diferentes seg -men tos para a construção de um projeto democrático etentou incluir nas leis medidas que contemplassem aeducação popular, encontrando resistências nas comis -sões. Considera também, que o projeto da câmaraconsolida o atual sistema de ensino e que continuaria a

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manter o Brasil na condição do ‘...país que oferece a seupovo a pior educação’.

Esse conflito vivido entre Florestan e Darcy Ribeirofoi aberto e ocupou notoriedade na mídia, persistindo atépróximo dos últimos dias da vida do professor. Florestanfoi professor durante toda a sua vida, seu desejo era queos direitos humanos e a cidadania fossem respeitados etransmitidos aos alunos, ou melhor dizendo educandos,para ele, buscar a compreensão daquilo que os alunosvivenciam e direcioná-los corretamente, é imprescindível,levando em conside ração a formação do educandoenquanto cidadão participante e pesquisador sobre a vidasocial como um todo, procurando assim compreen der asdiferentes maneiras que se interpreta as ações do próprio‘eu’ no espaço escolar onde atuam, como também emsuas comunidades, e em maior escala em sua cidade, emseu estado e em seu país.

Florestan criticava a pedagogia tradicional econdenava a postura de distanciamento dos educadoresdo real processo social, acreditando que estes deveriamestar engajados na tarefa de transformação social, porisso era um defensor permanente da escola pública, paraele não poderia existir Estado ou sociedade democráticasem uma educação democrática via escola públicagratuita.

Como bom marxista que era, sempre defendeu umaeducação vinculada ao pensamento socialista, porqueentendia a classe trabalhadora como a principal forçarevolucionária, e, portanto, seus membros deveriam estarbem orientados, preparados, informados e principal menteconscientes de seu papel e isto seria de responsabilidadeda educação, logo entendia a educação como um fator demudança social, que tem como responsabilidade retirar oseducandos de um cotidiano a qual estão vinculados ondeo que se pretende fazer é apenas fazer valer o processo detransmissão e imposição de um conhecimento estanque,totalmente distanciado da realidade e principalmente,imposto pelo sistema.

Para Florestan essa forma de ensino está amarradaàs tradições ligadas aos modelos dominantes deconstrução de conhecimento, só é ensinado o que é

permitido, que não ameaça a ideologia imposta.Florestanacreditava que, mesmo com as diferentes necessidadesexistentes no contexto educacional brasileiro, era possívelcriar condições para que surgisse um exercício pleno eativo da crítica e da democracia, pois a principal virtudede um intelectual é a rebeldia crítica e questionadora e apossibilidade do surgimento destes; para ele a transfor -mação na educação era necessária, pois as concepçõesde ensino petrificam e cristalizam a aprendi zagem natorpe encenação unidirecional da imposição e transmis -são curricular, onde hábitos, valores e condutas simples -men te preparam indivíduos para atenderem aosinteresses do mercado econômico.

Tente imaginar Florestan hoje, o que ele acharia doensino alienador transmitido nas escolas onde não se podequestionar. Ou melhor, os educandos não são incentivadosa questionar. O que ele pensaria sobre o ensino técnico daschamadas FAETECs e outras? Como reagiria diante dodesvio de recursos gritantes da educação?

Bom, mas para Florestan a sociedade está emconstante construção até ser atingido um ideal, pois oideal é o que esta por vir, é o que está a nossa frente, e éprincipalmente pelo que lutamos, não o entendendocomo algo utópico no sentido de impossível de existir,mas sim do que existe, mas que só não está em vigência,não está acontecendo agora, mas que devemos nosesforçar para atingi-lo e no qual se deve depositar eempenhar toda a esperança existente e a nossa ação parase tornar real, acontecido; essa é a mensagem deFlorestan, o desafio de realizar um diálogo de compe -tências em busca de uma igualdade em meio a todas asdiferenças, uma exploração da diversidade fertilizada pelaética, por um esforço de afastar as falsas moralida des, ocinismo, a hipocrisia, a dominação e sempre de formahumilde e corajosa ampliar o espaço humano nassociedades, procurando superar os limites da realidadeimposta, desnudar e desvelar os precon ceitos, descobrirnovos caminhos, novas possibilidades, trabalhando eafirmando a diferença, a diversidade e reconhecendo aigualdade trilhando um caminho, uma senda, compreen -dendo a sociedade como um projeto em construção.”

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Algumas palavras de Florestan Fernandes

Sou um marxista que acha que a solução para osproblemas dos países capitalistas está na revolução. Dizerisso não é uma fanfarronice. É assumir, de formaexplícita, o dever político mínimo que pesa sobre alguémque é militante, embora não esteja em um partido

comunista e que, afinal de contas, tentou, durante toda avida, manter uma coerência que liga a responsa bilidadeintelectual à condição de socialista militante erevolucionário.

(FERNANDES, Florestan. Que tipo de República?. 2.a ed. São Paulo :

Ed. Brasiliense, 1986.)

Algumas palavras de Florestan Fernandes

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Eu, felizmente, não cumpri o caminho comum entreimigrantes, de aspirar à ascensão social e adotar astécnicas das classes dominantes. Fiquei fiel a minhaorigem social .

(Folha de S. Paulo, 22/01/95.)

Eu tenho uma vida vivida. Isso é muito importante.Agora, é preciso ver qual o horizonte intelectual dapessoa, porque a idade não é um valor. A pessoa podeviver vegetativamente ou de uma forma criadora, nãoimportam as suas origens.

(Folha de S. Paulo, 22/01/95.)

...a minha formação acadêmica superpôs-se a umaformação humana que ela não conseguiu destorcer nemesterilizar. Portanto, ainda que isso pareça poucoortodoxo e antiintelectualista, afirmo que iniciei a minhaaprendizagem ‘sociológica’ aos seis anos, quandoprecisei ganhar a vida como se fosse um adulto epenetrei, pelas vias da experiência concreta, no conheci -mento do que é a convivência humana e a sociedade, emuma cidade na qual não prevalecia a ‘ordem das bicadas’,mas a ‘relação de presa’, pela qual o homem sealimentava do homem, do mesmo modo que o tubarãocome a sardinha ou o gavião devora os animais depequeno porte. A criança estava perdida neste mundohostil e tinha de voltar-se para dentro de si mesma paraprocurar nas ‘técnicas do corpo’ e nos ‘ardis dos frascos’os meios de autodefesa para a sobrevivência. Eu nãoestava sozinho. Havia a minha mãe. Porém a soma deduas fraquezas não compõe uma força. Éramos varridospela ‘tempestade da vida’ e o que nos salvou foi o nossoorgulho selvagem, que deitava raízes na concepçãoagreste do mundo rústico, imperante nas pequenasaldeias do norte de Portugal, onde as pessoas se mediamcom o lobo e se defendiam a pau do animal ou de outroser humano”.

(FERNANDES, FLORESTAN. A Sociologia no Brasil.

2.a ed. Petrópolis: Vozes, 1980.)

Se tinha pouco tempo para aproveitar a infância, nempor isso deixava de sofrer o impacto humano da vida nastrocinhas e de ter résteas de luz que vinham pela amizadeque se forma através do companheirismo (nos grupos defolguedos, de amigos de vizinhança, dos colegas que sededicavam ao mesmo mister, como meninos de rua,engraxates, entregadores de carne, biscateiros,aprendizes de alfaiate e por aí afora). O caráter humanochegou-me por essas frestas, pelas quais descobri queo ‘grande homem’ não é o que se impõe aos outros decima para baixo ou através da história; é o homem queestende a mão aos semelhantes e engole a própriaamargura para compartilhar a sua condição humana comos outros, dando-se a si próprio, como fariam os meus

tupinambás. Os que não tem nada que dividir repartemcom os outros as suas pessoas – o ponto de partida e dechegada da filosofia de folk dentro da qual organizei aminha primeira forma de sabedoria sobre o homem, avida e o mundo.

(FERNANDES, FLORESTAN. A Sociologia no Brasil.

2.a ed. Petrópolis: Vozes, 1980.)

O menino que eu era vivia essa amalgamaçãoconvertendo-se em um ser humano de tipo especial,fascinado pelo luxo de uns ou pela pompa dos quedesciam de carros com motoristas de libré, abrindo asportas, diante do Teatro Municipal ou do Cine Paramount;passando o dia a dia oscilando entre a fome e a fartura,trabalhando como se fosse adulto – o código de honra deninguém evitava esse ‘fardo da criança’ – e tendo deadmitir que a limpeza exigente de minha mãe não excluíaa presença das baratas, a roupa remendada e larga –ganha de famílias generosas ou herdada dos mais velhos– a intolerância destes e a fuga pelo sonho. Em suma,para os que gostam de um toque artístico, um ‘mundo’de Dickens ou de Carlitos, rebentado como uma floraçãode belle époque provinciana.

(FERNANDES, FLORESTAN. A Sociologia no Brasil.

2.a ed. Petrópolis: Vozes, 1980.)

A minha socialização plebeia poderia ser mais rica.Porém, o submundo dentro do qual circulava, de engra -xates, entregadores de carne, aprendizes de barbeiro oude alfaiates, balconistas de padarias, copeiros, garçons,ajudantes de cozinheiro etc., fechava-se dentro de umcírculo pobre. Os seus componentes não acompanhavamcom ardor os conflitos operários e com frequênciaformavam a própria opinião através das pessoas a queserviam ou de jornais sensacionalistas.

(FERNANDES, FLORESTAN. A Sociologia no Brasil.

2.a ed. Petrópolis: Vozes, 1980.)

Apesar da minha condição de socialista militante, nãotentei vincular a estratégia de trabalho apontadaexclusivamente ao marxismo. Tanto no plano do ensinoquanto no da pesquisa não procurei romper com oecletismo, herdado dos professores europeus e postopor mim em uma outra órbita, com uma compreensãomais rigorosa da interdependência dos vários modelos deexplicação na Sociologia. Evoluí rapidamente, portan to,para um ecletismo balanceado e que convergia,criticamente, para o significado lógico e empíricoespecífico de cada solução metodológica e de cadacontribuição teórica. Em termos operacionais, deixava ocampo aberto para que os estudantes e os pesquisa doresjovens pudessem receber um treino sociológico capaz deprepará-los, de fato, para colo carem em prática aestratégia de trabalho mencionada. Pelo menos três

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campos da sociologia saíram privilegiados – o daSociologia Descritiva, o da Sociologia Comparada e o daSociologia Diferencial ou Histórica – e o adestra mentosociológico precisaria cobrir, naturalmen te, pelo menosesses três campos. Não obstante, o caminho percorridoenvolvia rupturas profundas. Primeiro, com minhasambições científicas anteriores. De início, senti-me forte -mente inclinado a concentrar-me nos problemas teóricosda Sociologia e vários dos meus ensaios revelam essapreocupação, pela qual, no fundo, o ‘colonizado’procurava igualar-se ao ’colonizador’.

(FERNANDES, FLORESTAN. A Sociologia no Brasil. 2.a ed. Petrópolis: Vozes, 1980.)

Não me preparei para ser um universitário, mas fuiuniversitário no sentido pleno da palavra. A tal ponto quequando deixei de ser universitário, fiquei desarvorado. Eunão sei pra onde vou. Estou numa crise que é psicológica,é moral e é política... (pois) ...perdi um ponto de referênciae de identidade que poderia ser muito vantajoso paraminha sobrevivência e o meu trabalho.

(Entrevista de Florestan Fernandes. Transformação, Assis, 1975. p.74.)

130 –

1. Considerava-se um sociólogo militante, unindo a teoria à prática. Suaobra foi influenciada pelos clássicos da disciplina, sobretudo por KarlMarx. Nesse sentido, a busca de síntese entre a formalização teóricaprecisa (clássica) e a ação prática transformadora marcou toda a suavida. De formação nacional e “uspiana” e influenciado por RogerBastide, estudou a integração do elemento negro na sociedade declasses. Militou no Partido dos Trabalhadores como deputado federal.Trata-se de:a) Fernando Henrique Cardoso. b) Gilberto Freyre. c) Sérgio Buarque de Holanda. d) Renato Ortiz. e) Florestan Fernandes.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

2. No século XIX e início do século XX, foi elaborado um pensamentosocial no Brasil para entender o País e buscar soluções viáveis de “curade seus males”. Sobre ele, podemos afirmar quea) foi o período de institucionalização das Ciências Sociais no País.b) coincide com a chamada missão francesa que trouxe para o País

intelectuais como Lèvi-Strauss e Bastide.c) foi um período marcado pelo rigor científico e metodologia

especificamente sociológica. d) contou com a contribuição de advogados, médicos, literatos e

militares que se aventuraram em viagens pelo interior do País.e) não teve qualquer valor enquanto legado intelectual, pois a “verdadeira

sociologia” surgiria apenas com a institucionalização das CiênciasSociais na USP e na Escola Superior de Sociologia e Política.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

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3. A pressuposta passagem de uma sociologia brasileira ensaísta parauma sociologia acadêmica, institucionalizada e científica pode seridentificada com o seguinte autor e professor:a) Florestan Fernandes. b) Gilberto Freyre.c) Euclides da Cunha. d) Nina Rodrigues.e) Edgard Roquette-Pinto.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

4. “... Se a ideia de uma ciência engajada parece ao olhar contempo -râneo um anacronismo, permanece válido afirmar a dimensão éticacomo algo constitutivo da formação das ciências sociais.”

(Lima, Nísia Trindade – Um Sertão chamado Brasil)

Na frase acima, a autora defendeua) a neutralidade da ciência.b) o compromisso político do cientista.c) o rigor científico.d) a autonomia da ciência.e) o espírito missionário dos higienistas brasileiros.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

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5. (UEL) – Leia o texto a seguir.

Na verdade, a ideologia impessoal do liberalismo democrático jamais senaturalizou entre nós. Só assimilamos efetivamente esses princípios atéonde coincidiram com a negação pura e simples de uma autoridadeincômoda, confirmando nosso instintivo horror às hierarquias epermitindo tratar com familiaridade os governantes.

(HOLANDA, S. B. de. Raízes do Brasil. São Paulo:

Companhia das Letras, 1995. p. 160.)

O trecho de Raízes do Brasil ilustra a interpretação de Sérgio Buarquede Holanda sobre a tradição política brasileira.A esse respeito, considere as afirmativas a seguir.I. As mudanças políticas no Brasil ocorreram conservando elementos

patrimonialistas e paternalistas que dificultam a consolidaçãodemocrática.

II. A política brasileira é tradicionalmente voltada para a recusa dasrelações hierárquicas, as quais são incompatíveis com regimesdemocráticos.

III. As relações pessoais entre governantes e governados inviabilizarama instauração do fenômeno democrático no País com a mesmasolidez verificada nas nações que adotaram o liberalismo clássico.

IV. A cordialidade, princípio da democracia, possibilitou que seenraizassem, no País, práticas sociais opostas aos princípios doclientelismo político.

Assinale a alternativa correta.a) Somente as afirmativas I e II são corretas.b) Somente as afirmativas I e III são corretas.c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

RESOLUÇÃO:

Resposta: B

6. (UEL) – Leia o texto a seguir, que remete ao debate sobre questõesde gênero.A violência contra a mulher acontece cotidianamente e nem sempreganha destaque na imprensa, afirmou a ministra da Secretaria dePolíticas para as Mulheres, Nilcéa Freire [...]. “Quando surgem casos,principalmente com pessoas famosas, que chegam aos jornais, é que asociedade efetivamente se dá conta de que aquilo acontececotidianamente e não sai nos jornais. As mulheres são violentadas, sãosubjugadas cotidianamente [...]”, afirmou a ministra. [...] “Eliza morreuporque contrariou um homem que achou que lhe deveria impor umcastigo. Ela morreu como morrem tantas outras quando rompemrelacionamentos violentos”, disse a ministra.

(“Violência contra as mulheres é diária, diz ministra”, Agência Brasil, Brasília, 11 jul. 2010.)

Com base no texto e nos conhecimentos socioantropológicos sobre otema, é correto afirmar:a) Questões de gênero são definidas a partir da classe social, razão pela

qual são mais presentes nas camadas populares do que entre aselites.

b) As identidades sociais masculina e feminina são configuradas a partirde características biológicas imutáveis presentes em cada um.

c) As diferenças de gênero são determinadas no terreno econômico,daí o fato de serem produto da sociedade capitalista.

d) As experiências socialistas do século XX demonstram que nelas asquestões de gênero são resolvidas de modo a estabelecer aigualdade real entre homens e mulheres.

e) As relações de gênero são construídas socialmente e favorecem,nas condições históricas atuais, a dominação masculina.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

132 –

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7. (UEL) – No dia 16 de junho de 2010, o Senado brasileiro aprovou oEstatuto da Igualdade Racial. Os senadores [...] suprimiram do texto otermo “fortalecer a identidade negra”, sob o argumento de que nãoexiste no País uma identidade negra [...]. “O que existe é uma identidadebrasileira. Apesar de existentes, o preconceito e a discriminação nãoserviram para impedir a formação de uma sociedade plural, diversa emiscigenada”, defende o relatório de Demóstenes Torres.

(Folha.com. Cotidiano, 16 jun. 2010. Disponível em:<http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/751897-sem-cotas-estatuto-da igualdaderacial- e-aprovado-na-ccj-do-senado.shtml>. Acesso em: 16

jun. 2010.)

Com base no texto e nos conhecimentos atuais sobre a questãoda identidade, é correto afirmar:a) A identidade nacional brasileira é fruto de um processo histórico de

realização da harmonia das relações sociais entre diferentesraças/etnias, por meio da miscigenação.

b) A ideia de identidade nacional é um recurso discursivo desenraizadodo terreno da cultura e da política, sendo sua base de preocupaçãoa realização de interesses individuais e privados.

c) Lutas identitárias são problemas típicos de países coloniais e detradição escravista, motivo da sua ausência em paísesdesenvolvidos, como a Alemanha e a França.

d) Embora pautadas na ação coletiva, as lutas identitárias, a exemplodos partidos políticos, colocam em segundo plano o indivíduo e suasdemandas imediatas.

e) As identidades nacionais são construídas socialmente, com base nasrelações de força desenvolvidas entre os grupos, com a tendênciacomum de eleger, como universais, as características dosdominantes.

RESOLUÇÃO:

Resposta: E

8. O “preconceito e a discriminação raciais estão presos a uma rededa exploração do homem pelo homem e que o bombardeio daidentidade racial é prelúdio ou requisito da formação de uma populaçãoexcedente destinada, em massa, ao trabalho sujo e mal pago...”

(Florestan)

Assim, Florestan a) se opôs ao mito da democracia racial e inseriu o debate no problema

das classes sociais. b) afirmou que a própria questão operária noPaís seria sobretudo uma

questão social e não racial.c) afirmou que a democracia racial só não foi atingida devido às

desigualdades existentes entre as raças no País.d) pretendeu confirmar as teorias de Gilberto Freyre.e) sustentou que os EUA tinham os mesmos problemas raciais que o

nosso país, deixando de lado as raízes históricas que os particu -larizavam.

RESOLUÇÃO:

Resposta: A

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9. Sobre a sociologia de Florestan Fernandes, leia e julgue asproposições abaixo:I. A questão exposta por Florestan está centrada na ideia de que o

operário negro necessita superar os tipos de ideologias que asclasses dominantes do capitalismo criaram.

II. A primeira ideologia corresponde à ideia de que o pobre não se tornarico devido tanto à sua vida mundana, quanto à falta de parcimôniacom relação aos seus ganhos.

III. A segunda relaciona-se à ideia de que os negros não fazem partede uma raça inferior, sendo dotada de razão e civilidade, em relaçãoaos brancos.

IV. Então o negro operário dos dias atuais carrega nas costas o peso deduas fortes ideologias, produzidas pelo capital, a de que ele é“mundano” e “inferior”.

Assinale a alternativa correta.a) Somente as afirmativas I e II são corretas.b) Somente as afirmativas I e III são corretas.c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

RESOLUÇÃO:

Resposta: D

134 –

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1. Que contribuição Florestan Fernandes deu ao estudo sobre aquestão sociológica dos negros no Brasil?

2. A questão exposta por Florestan está centrada na ideia de que ooperário negro necessita superar dois tipos de ideologias que as classesdominantes do capitalismo criaram. Explique.

3. Para Florestan, as concepções de ensino petrificam e cristalizam aaprendizagem na torpe encenação unidirecional da imposição etransmissão curricular, onde hábitos, valores e condutas simplesmentepreparam indivíduos para atenderem aos interesses do mercadoeconômico. Em contrapartida, o que o sociólogo brasileiro esperava daeducação no País?

4. Sobre a sociologia de Florestan Fernandes, leia e julgue asproposições abaixo:I. Para Florestan, as concepções de ensino petrificam e cristalizam a

aprendizagem na torpe encenação unidirecional da imposição etransmissão curricular, na qual hábitos, valores e condutassimplesmente preparam indivíduos para atenderem aos interessesdo mercado econômico. A transformação na educação eranecessária.

II. Mesmo com as diferentes necessidades existentes no contextoeducacional brasileiro, era possível criar condições para que surgisseum exercício pleno e ativo da crítica e da democracia, pois a principalvirtude de um intelectual é a rebeldia crítica e questionadora.

III. Florestan criou o conceito de capital cultural para explicar asdesigualdades sociais reproduzidas pelo sistema educacional.

Estão (está) corretas (correta):a) Todas. b) Apenas I e II. c) Apenas II e III.d) Apenas I e III. e) Apenas II.

5. Nas diferenças no acesso à educação e na distribuição desigual derendas estão as marcas da discriminação social. A que segmentos dapopulação essa afirmação se refere?a) Imigrantes.b) Migrantes nordestinos.c) Brancos durante o Império.d) Jovens.e) Afrodescendentes.

6. “O processo de integração econômica dos próximos decênios, sepor um lado exigirá a ruptura de formas arcaicas de aproveitamento derecursos em certas regiões, por outro requererá uma visão de conjuntodo aproveitamento de recursos e fatores no País. A oferta crescente dealimentos nas zonas urbanas, exigida pela industrialização, aincorporação de novas terras e os translados inter-regionais de mão-de-obra são aspectos de um mesmo problema de redistribuição geográficade fatores. Na medida em que avance essa redistribuição, aincorporação de novas terras e recursos naturais permitirá umaproveitamento mais racional da mão-de-obra disponível no País,mediante menores inversões de capital por unidade de produto.”

(FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Nacional, 1980. p. 242.)

De acordo com o texto, é correto afirmar que o autor se refere à relaçãoentrea) modernização, trabalho e capitalismo. b) diversidade cultural, imigração e monocultura. c) blocos econômicos, agroindústria e concentração de renda. d) latifúndio, produção em massa e empreendedorismo. e) renda per capita, concentração regional e agronegócio.

7. (UEL) – “A falta de coesão em nossa vida social não representa,assim, um fenômeno moderno. E é por isso que erram profundamenteaqueles que imaginam na volta à tradição, a certa tradição, a únicadefesa possível contra nossa desordem. Os mandamentos e asordenações que elaboraram esses eruditos são, em verdade, criaçõesengenhosas de espírito, destacadas do mundo e contrárias a ele. Nossaanarquia, nossa incapacidade de organização sólida não representam, aseu ver, mais do que uma ausência da única ordem que lhes parecenecessária e eficaz. Se a considerarmos bem, a hierarquia que exaltamé que precisa de tal anarquia para se justificar e ganhar prestígio.”

(HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 33.)

Caio Prado Junior, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda sãointelectuais da chamada “Geração de 30”, primeiro momento dasociologia no Brasil como atividade autônoma, voltada para oconhecimento sistemático e metódico da sociedade. Sobre aspreocupações características dessa geração, considere as afirmativas aseguir. I. Critica o processo de modernização e defende a preservação das

raízes rurais como o caminho mais desejável para a ordem e oprogresso da sociedade brasileira.

II. Promove a desmistificação da retórica liberal vigente e a denúnciada visão hierárquica e autoritária das elites brasileiras.

III. Exalta a produção intelectual erudita e escolástica dos bacharéiscomo instrumento de transformação social.

IV. Faz a defesa do cientificismo como instrumento de compreensão eexplicação da sociedade brasileira.

Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e III. b) I e IV. c) II e IV. d) I, II e III. e) II, III e IV.

8. Sobre a questão sociológica dos negros no Brasil, assinale a únicaalternativa errada.a) Neste início de século, parece não haver dúvidas sobre a

consolidação do movimento negro no cenário das lutas sociais doBrasil. Seu combate contra o racismo chega ao século XXI de modobastante forte e atuante. Florestan Fernandes foi um dos iniciadoresdesse dabate.

b) A discriminação racial, que é um dos principais problemas estruturaisda nação brasileira, ganhou uma ampla visibilidade social. O que, decerta forma, forçou mais uma vez o debate sobre a questão racialno Brasil e a situação subalterna dos negros.

c) Esse debate se deu de modo harmônico e consensual entre ossociólogos. Em muitos momentos, porém, o movimento negrodemonstra fragilidades em relação à sua unidade. Principalmentesobre a questão que envolve a relação classe/raça.

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d) De um lado, entre os militantes, existem setores defensores de umaluta antirracismo desvinculada com a questão de classe, já que, paraeles, no Brasil o elemento determinante para a situação social de umindivíduo é muito mais racial do que classista. De outro, argumentamque no Brasil, assim como em qualquer outro país capitalista, asituação de classe interfere diretamente nas questões raciais. E,neste sentido, a luta antirracismo deve ser vinculada à luta declasses.

e) Duas posições que permeiam muitos dos debates internos domovimento negro não parecem ser simples de solução. Tanto umaquanto a outra apresentam boas argumentações, com diversosexemplos coerentes e legítimos. O movimento social militante pelaquestão dos negros, ao invés de caminhar para uma posição

consensual, assume, quase sempre, a forma da polarização-oposição, demonstrando que classe e raça não são elementos fáceisde conciliação.

9. Nas relações sociais no Brasil, há uma tensão constante entre odistante e o próximo. Nesse sentido, a alteridade, geralmente, se situaa) num espaço de ameaça ao conceito de humanidade abstrata.b) deslocado das relações sociais, mas num espaço adequado para a

convivência.c) num espaço geográfico sempre distante.d) ideologicamente naturalizado como o outro diferente (estranho).e) numa classificação étnica- racial que impossibilita o contato com o

semelhante.

136 –

1) Florestan se opôs ao mito da democracia racial e inseriu o

debate no problema das classes sociais. A própria questão

operária no País não seria só uma questão social, mas

também uma questão racial. Assim, ele afirmou que o

“preconceito e a discriminação raciais estão presos a uma

rede da exploração do homem pelo homem e que o

bombardeiro da identidade racial é prelúdio ou o requisito da

formação de uma população excedente destinada, em massa,

ao trabalho sujo e mal pago...” (Florestan)

2) A primeira corresponde à ideia de que o pobre não se torna

rico devido tanto à sua vida mundana, quanto à falta de

parcimônia com relação aos seus ganhos. A segunda

relaciona-se à ideia de que os negros fazem parte de uma raça

inferior, não dotada de razão e civilidade, em relação aos

brancos. Então o negro operário dos dias atuais carrega nas

costas o peso de duas fortes ideologias, produzidas pelo

capital, a de que ele é “mundano” e “inferior”.

3) A transformação na educação era necessária. Mesmo com as

diferentes necessidades existentes no contexto educacional

brasileiro era possível criar condições para que surgisse um

exercício pleno e ativo da crítica e da democracia, pois a

principal virtude de um intelectual é a rebeldia crítica e

questionadora.

4) B

5) E

6) A

7) C

8) C

9) D

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