Caminhos do Territorio 2010

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    Apresentao DED 05Sistematizar para aprender com as experincias 07Metodologia utilizada nesta publicao 09Introduo temtica do caderno 11Prefcio 13Contextualizao geral 15A realidade do Piau 17I - O Territrio Vale do Rio Guaribas (TVG) 19Contextualizao com recorte no territrio

    A parceria do DED com MDA/SDT no Territrio Vale do Rio Guaribas

    Fortalecimento do Ncleo Diretivo a partir da comunicao

    Introduo de novos conceitos de desenvolvimento rural a partir de intercmbios

    Introduo da educao contextualizada no TVG projeto ATLAS

    Prticas prometedoras, lies-chave e perspectivas

    Sumrio

    II - O Territrio Tabuleiros do Alto Parnaba (TAP) 37Contextualizao com recorte no territrio

    Parceria do DED com o FOTECE

    Participao no Desenvolvimento Territorial: A incluso do Ncleo Tcnico noprocesso

    Capacitao do Colegiado Territorial sobre meio ambiente e uso sustentveldos recursos naturais

    Prticas prometedoras, lies-chave e perspectivas

    A realidade do ACRE 43III - O Territrio Alto Acre e Capixaba e a experincia do CONDIAC 45A parceria DED CONDIAC

    Aplicao de instrumentos de planejamento regional participativo

    Capacitao tcnica

    Prticas prometedoras, lies-chave e perspectivas

    Vozes do Territrio 51

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    >Apresentao DED

    DED Servio Alemo de Cooperao Tcnica e Social

    O DED uma instituio da cooperao alem que, desde o ano 1963, atua em pases em via dedesenvolvimento na sia, frica e Amrica Latina. Mediante o envio de cooperantes (prossio -nais qualicados) e o em prego de outros instrumentos de apoio, o DED de senvolve e consolidacapacidades, juntamente com organizaes parceiras, governamentais e da sociedade civil, como objetivo de provocar mudanas sustentveis, que melhorem as condies de vida das popu-

    laes locais.

    No Brasil, desde 1966, o DED atua, no marco da cooperao Brasil-Alemanha, no fortalecimentode processos de desenvolvimento sustentvel e democrtico, que possibilitem a participaode grupos marginalizados na vida social, econmica e poltica do pas, e que contribuam para areduo da pobreza e a conservao do meio ambiente.

    Nesse contexto, o Programa Amaznia, do DED, colabora com a proteo e o uso sustentvel daoresta, atravs de uma atuao integral de manejo orestal sustentvel, agroecologia e forta-lecimento da democracia, que inclui a melhoria da qualidade de vida das famlias da regio e ofortalecimento das organizaes locais.

    J o Programa Nordeste, que foi encerrado em 2009 e contou com parcerias durante mais de 40anos na regio, objetivou contribuir para que a sociedade civil e o poder pblico trabalhassemcom maior impacto nos campos da promoo da democracia e do dese nvolvimento sustentvele justo nos mbitos rurais e urbanos.

    Para o DED, de grande importncia garantir a troca de experincias e a sistematizao dosconhecimentos produzidos entre os seus parceiros das duas regies (NE e NO).

    DED Brasil

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    >Sistematizar para aprendercom as experincias

    No cotidiano das entidades, so feitas inmeras experincias e adquiridos diversos conhecimen-tos, a partir das atividades realizadas. Desaos so superados e logo surgem novos. Como elasconseguem super-los? Qual foi o caminho que traaram? Para responder a essas perguntas,instituies preocupadas com o desenvolvimento sustentvel tm integrado, cada vez mais, sua rotina de planejamento, monitoramento e avaliao a prtica da sistematizao de experi-ncias.

    Trata-se de um processo participativo de aprendizagem, que tem como papel fundamental pro-mover a reexo e interpretao crtica a partir de um olhar para trs, para o caminho percorri-do. A sua caracterstica predominante o ordenamento e a estruturao de experincias feitas,mas que, muitas vezes, encontram-se dispersas em relatrios, material de publicidade e nascabeas das pessoas que participaram do processo. Ao juntar as peas, so preservados conhe-cimentos e produzidos novos. So identicadas as lies aprendidas e fornecidas informaessobre prticas promissoras, o que serve para o contnuo aprimoramento da ao.

    Mas, em que a sistematizao de experincias diferente do monitoramento e da avaliao? Defato, todas essas reas so bastante entrelaadas. No entanto, as duas ltimas visam examinar,de forma operacional e pragmtica, se as metas postas esto sendo alcanadas em tempo equais os ajustes so necessrios, em casos de desvios. J a sistematizao foca em aumentar acompreenso sobre processos de trabalho, para proporcionar a reexo e a aprendizagem indi -vidual e coletiva. Outra nalidade a documentao coerente de informaes, numa linguagemacessvel, com a inteno de fomentar a memria institucional e de dar visibilidade s experin-cias, para que elas possam serv ir como inspirao para organizaes e pessoas que pretendamfazer algo parecido.

    Assim, dentro do DED, a idia da sistematizao no surgiu s com a inteno de mostrar ostrabalhos exitosos que foram apoiados, mas tambm com o interesse de que ela sirva comotransferncia de conhecimento, e como base de reexo, inspirao, referncia e aprendizagemem outras regies do Brasil e do mundo, onde, para que se melhorem as situaes de vida, sonecessrias vrias transformaes.

    >Metodologia utilizadanesta publicao

    Para iniciar a sistematizao das experincias desta srie de cadernos publicada pelo DED, foimontado, dentro da Organizao, um Grupo de Trabalho (GT), que contou com a participao decoordenadores, cooperantes, bolsistas e da assessoria de comunicao. Um estudo da bibliogra-a sobre o processo de sistematizao de experincias orientou a conceituao da metodologia.

    Para este nmero, a anlise das parcerias com entidades que promovem o Desenvolvimento

    Territorial forneceu as informaes necessrias para se propor a sistematizao de trs projetos,sendo dois no Nordeste e um na Amaznia. No Nordeste, foram sistematizadas experinciasfeitas no mbito de uma parceria com o Ministrio de Desenvolvimento Agrrio, atravs da Se-cretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT). Os dois projetos se deram no Piau, tendo comoparceiros locais, no Territrio Tabuleiros do A lto Paraba, o Frum de Desenvolvimento dos Cer-rados Piauiense e a Associao Regional Integrada de Desenvolvimento Agroecolgico (ARIDAS);e, no Territrio Vale do Rio Guaribas, o Colegiado Territorial e a Organizao No Governamental(ONG) Centro de Estudos Ligados a Tcnicas Alternativas (CELTA). J na Amaznia, trata-se de umprojeto em parceria com o Consrcio de Desenvolvimento Intermunicipal do Alto Acre e Capixa-ba (CONDIAC), no Acre.

    Todas as experincias foram realizadas nos ltimos cinco anos e se destacam por terem alcan-ado uma ampla e efetiva participao da sociedade civil nos processos de desenvolvimentoterritorial, podendo inspirar iniciativas semelhantes em outras regies.

    Considerando que sistematizao mais do que a organizao de dados, foram realizados, nocaso do Nordeste, alm da anlise de documentos (propostas, relatrios e cartas entre o DED eos parceiros), duas ocinas de Lies Aprendidas, que tiveram a participao de nove a vinte e

    cinco pessoas. No caso da Amaznia, foram feitas entrevistas com cinco pessoas-chave do pro-jeto. Essas aconteceram a partir de um roteiro xo, permitindo o aprofundamento do entendi-mento e a re-anlise das aes ligadas s experincias, assim como uma descrio mais prximada realidade na qual elas aconteceram.

    Juntas, as ocinas e as entrevistas permitiram escutar as interpretaes dos sujeitos do conhe-cimento e dos agentes transformadores nos espaos que foram envolvidos, enriquecendo o pro-cesso de sistematizao, que poder ser apreciado nesta publicao.

    Janina Budi- cooperante do DED Brasil

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    >Introduo temtica do caderno

    Desde o incio de sua atuao no Brasil, o DED tem apoiado, atravs de parcerias locais, o de-senvolvimento sustentvel no Nordeste do pas. Nesse desao, o foco tem sido a reduo dapobreza e a incluso social dos grupos mais desfavorecidos, do campo e da cidade, atravs dodesenvolvimento de capacidades, em cooperao com entidades da sociedade civil e do gover-no, nos diferentes nveis.

    Com a criao de Territrios Rurais, por parte do Ministrio de Desenvolvimento Agrrio (MDA),visando articulao das principais instituies dos diversos municpios, em regies selecionadas,foram colocados os fundamentos para que os atores locais assumissem uma maior responsabili-dade na formulao de propostas conjuntas de desenvolvimento e de acesso a polticas pblicas.

    Ante esse desao, em 2005, o MDA, atravs da recm-criada Secretaria de DesenvolvimentoTerritorial, e o DED selaram uma parceria de apoio na consolidao de dois territrios-chave noPiau, o Vale do Rio Guaribas e o Tabuleiro do Alto Parnaba, para o fortalecimento das estruturasde governabilidade e a assessoria no planejamento e implementao de projetos vinculados aomeio ambiente e ao fomento de cadeias de valor. Posteriormente, uma nova parceria foi esta-belecida na Amaznia, mais concretamente no Estado do Acre, atravs do Consrcio de Desen-volvimento Intermunicipal do Alto Acre e Capixaba para promover o desenvolvimento regionalparticipativo e sustentvel.

    No contexto de encerramento do Programa Nordeste do DED e de um fortalecimento das par-cerias e dos projetos na Amaznia, estamos no momento propcio para analisar os resultadosdesses trabalhos de desenvolvimento territorial numa perspectiva de sistematizao das liesaprendidas junto com as instituies locais.

    Esperamos que os resultados apresentados neste caderno sirvam como insumo para que osatores envolvidos nesse tipo de processo conheam as experincias realizadas e tenham a opor-

    tunidade de reetir sobre os aprendizados, possibilitando, assim, eventuais ajustes na deniodos prximos passos.

    Agradecemos a todas as instituies parceiras envolvidas e as pessoas que as compem pelacooperao durante essa caminhada conjunta e desejamos que desfrutem de uma tima leituracheia de aprendizados.

    Dr. Karl Ahlers diretor do DED BrasilThomas Jaeschke coordenador do programas Amaznia/

    Nordeste Desenvolvimento Rural e Uso Sustentvel dosRecursos Naturais

    >Prefcio

    O Brasil tem se destacado p or uma expressiva reduo das desigualdades que assolaram, histo-ricamente, sua populao. Recentemente, apresentou-se como capaz de enfrentar a crise econ-mica internacional, justamente por manter sua opo pelo fortalecimento do mercado interno,de sua capacidade de produo de alimentos, da valorizao de polticas pblicas especcaspara atender sua diversidade social e cultural e do reconhecimento do dinamismo endgenodos diferentes territrios e regies b rasileiras.

    Nesse contexto, percebe-se que essa riqueza social e cultural, assim como a potencialidade dedinamizao da economia nacional, tambm est no Brasil Rural, fazendo com que haja um re-conhecimento diferenciado para essa parte do pas. No o rural do atraso, no o rural sem gente,mas um rural que estava afastado do debate sobre os rumos do desenvolvimento e que, hoje,ganha valorizao e espao para participar da agenda do desenvolvimento nacional.

    Reconhece-se a responsabilidade do rural na segurana e na soberania alimentar do pas, na pro-duo de emprego e renda, na produo das guas, da energia e no equilbrio climtico. O rural, emsua diversidade social e cultural, em sua desigual estrutura agrcola e agrria, construiu seu espaopara compor a denio de desenvolvimento que precisa ser sustentvel inequivocamente.

    Essa estratgia de promoo do desenvolvimento rural sustentvel rmou-se considerando, emsua agenda,, a abordagem territorial como forma de incluir mltiplos segmentos sociais no de-bate da concepo e dos rumos desse desenvolvimento.

    A existncia, hoje, no pas, de mais de 200 territrios rurais de identidade institucionalizadose com estruturas colegiadas que articulam a gesto pblica e a gesto social evidencia a ne-cessidade latente que havia na sociedade brasileira de espaos mais democrticos, capazes deconstruir entendimentos e pactuaes como condio para o des envolvimento.

    Todavia, no basta a disposio poltico-institucional para que esses processos se construam. preciso que, na sociedade, exista uma disposio para dar vida a um projeto de desenvolvimen-to. nesse contexto que o DED veio aportar sua e xperincia de cooperao.

    O DED caracterizou sua atuao no pas como parceiro de inumerveis experincias criativas esignicativas para a promoo do desenvolvimento, tanto em reas rurais como urbanas, co -mungando da concepo de desenvolvimento sustentvel que se consolida no Brasil hoje.

    Sua disposio institucional, expressa no trabalho de seus dirigentes e prossionais, est com-prometida com os princpios que orientam a estratgia de desenvolvimento rural sustentveldos territrios rurais e a orientao mais geral do Governo Lula, que promove a participaosocial e a cidadania, a equidade e o desenvolvimento social numa perspectiva que valoriza as

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    >Contextualizao geral

    No Brasil, as desigualdades sociais, econmicas e culturais marcam as reas rurais. Esse cenrio oresultado do processo histrico de uma estruturao do campo, fundamentada na concentrao deterras. Apesar desse contexto, existe, nas reas rurais do pas, um conjunto de diferentes movimen-tos sociais e instituies da sociedade civil, que apostam em outras formas de organizao social eeconmica, baseadas na agricultura familiar.

    nessa conjuntura que se insere a poltica de Desenvolvimento Territorial do Ministrio de Desenvol-vimento Agrrio, que, atravs da sua Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT), implementa oPrograma Nacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentvel dos Territrios Rurais.

    A SDT* entende como territrio rural um espao fsico, geogracamente denido, geralmente cont-nuo, compreendendo a cidade e o campo, caracterizado por critrios multidimensionais tais comoambiente, economia, sociedade, cultura, poltica e as instituies, alm de uma populao com gru-pos sociais relativamente distintos, que se relacionam, interna e externamente, por meio de pro-cessos especcos, onde se pode distinguir um ou mais elementos que indicam identidade e coesosocial, cultural e territorial.

    Trata-se, portanto, de Territrios Rurais de Identidade, referncia bsica que rene as condies dedilogo necessrias ao seu desenvolvimento sustentvel.

    A abordagem territorial centrada nas pessoas, levando-se em considerao os pontos de interaoentre os sistemas socioculturais, ambientais e econmicos. Trata-se de uma viso integradora deespaos, atores sociais, mercados e polticas pblicas de interveno, atravs da qual se pretendealcanar:

    >O fortalecimento da gesto social

    >O fortalecimento das redes sociais de cooperao

    >A dinamizao das economias territoriais

    >A articulao institucional e poltica, resultando na articulao das diversas polticas pblicas,assim como a descentralizao e regionalizao dessas.

    Para a identicao de territrios rurais**, a SDT toma como base a densidade e populao em mi-crorregies denidas pelo IBGE, que entende como rea rural aquela com densidade demogrcade at 80 hab/km e uma populao mdia, por municpio componente do territrio, de at 50.000.Outro critrio de identicao baseia-se na demanda social, a partir da concentrao de agricultoresfamiliares, famlias assentadas pela reforma agrria e acampados.

    * Fontes: Portal da SDT http://www.mda.gov.br/sdt/index.php? sccid=470 , a cessado em 05/11/2009; Relatrio anual de ati-vidades/DED,cooperante Nicole Weber Ferreira dos Santos (2006); Territrios rurais: desenvolvimento rural sustentvel e re -duo das desigualdadesdo Ministrio de Integrao Nacional - http://www.integracao.gov.br/ ,acessado em 05/11/2009

    **Fontes: Referncias ara uma Estrat ia de Desenvolvimento Rural Sustentvel no Brasil- MDA/STD 2005

    mltiplas dimenses do desenvolvimento: scio-cultural, econmico, ambiental e poltico-insti-tucional.

    Uma das principais expertises do DED a construo de metodologias de apoio a organizaessociais e governamentais, como meio de promover esse outro modelo de dese nvolvimento.

    Dessa forma, a identicao do DED como parceiro para promover o trabalho de fortalecimentoda gesto social em territrios rurais foi uma consequncia natural para atender a uma polticapblica que requeria este tipo de abordagem e disposio.

    Os resultados dessa parceria, tanto no Piau como no Acre, sero apresentados a seguir e reve-lam o vigor e a maturidade, tanto das equipes diretamente envolvidas como das comunidades elideranas do poder pblico e da sociedade civil no que tange gesto social.

    Mas, preciso dizer que o leitor no vai apenas conhecer experincias que foram sistemati-zadas, e sim perceber as conexes entre essas e os processos de desenvolvimento ao qual nosreferimos antes. possvel, neste texto, identicarmos os nexos entre os micro-processos deconstruo de conhecimento e da luta social e poltica nos territrios com os macro-processosde construo de estratgias articuladas e integradas de polticas pblicas mais amplas.

    Por m, gostaria de referir a importncia do trabalho de articulao e concertao quase perm a-nentes com os mltiplos atores de governo nos nveis federal, estadual e municipais, que teveo apoio da equipe do DED. Essa experincia revela como ess a dimenso de articulao poltico-institucional importante para o sucesso das iniciativas territoriais.

    Fernanda Corezola - Diretora do Departamento deAes de Desenvolvimento Territorial da Secretaria de

    Desenvolvimento Territorial/ Ministrio doDesenvolvimento Agrrio

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    > A realidade do Piau

    Pensado para promover a articulao de diferentes polticas pblicas, que vi-sam elevar a qualidade de vida dos segmentos sociais vinculados agricultu-ra familiar, a partir do desenvolvimento sustentvel dos seus sistemas pro-

    dutivos, o Programa Nacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentvel dosTerritrios Rurais vem sendo implementado no Piau desde 2003. Depois dedcadas com polticas de desenvolvimento rural focadas nas macrorregies,a proposta desencadeada trabalha com unidades menores. No Estado, so 11territrios rurais, compostos por 27 aglomerados de municpios1.

    Nesta publicao, sero focados dois desses territrios rurais: o Territrio doVale do Rio Guaribas (TVG), situado no sudeste do Piau, e o Territrio Tabu-leiros do Alto Parnaba (TAP), que ca no sudoeste do Estado. Em ambos, umColegiado Territorial, composto por representantes de diferentes rgos dopoder pblico e por movimentos sociais, topou assumir o desao de criar Pla-nos Territoriais de Desenvolvimento Rural Sustentvel (PTDRS) especcospara suas regies, e de acompanhar a sua operacionalizao.

    Esse processo vem escoltado por um trabalho de mobilizao, articulao esensibilizao, tanto dentro do Colegiado Territorial, quanto junto socie-dade civil e aos rgos municipais dos territrios. Algumas das experinciasfeitas por esses colegiados sero apresentadas com a nalidade de divulgar

    boas prticas e lies aprendidas, que possam servir para processos similaresem outros territrios rurais do Brasil.

    1Formam-se aglomerados de municpios onde se encontram realidades parecidas nas suas di-menses scio-culturais, arranjos produtivos, infraestrutura, transporte, servios bancrios,sade e educao. Dos aglomerados, saem as representaes escolhidas pelos atores locais paraas decises territoriais.

    Alm de ser territrio rural, o Territrio Vale do Rio Guaribasfoi integrado ao Programa Territrios da Cidadania, lanado

    pelo Governo Federal em 2008.O programa no se limita a enfrentar problemas especcos,mas combina diferentes aes para reduzir as desigualdadessociais e promover um desenvolvimento harmonioso e sus-tentvel. Portanto, envolve, na sua execuo, 15 ministrios.

    Os seguintes critrios orientam a identicao dos territriosrurais que integram o Programa Territrios da Cidadania:

    >menor ndice de Desenvolvimento Humano (IDH);

    >maior concentrao de agricultores familiares e assenta-mentos da reforma agrria;

    >maior nmero de benecirios do Programa Bolsa Famlia;

    >maior concentrao de populaes quilombolas e indge-nas;

    >maior nmero de municpios com baixo dinamismo econ-mico;

    >maior organizao social (capital social).

    Fontes: http://www.mda.gov.br/portal/index/show/index/cod/1867/codInterno/15664 , acessado em 05/11/2009

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    I - O Territrio Vale do Rio Guaribas (TVG)

    Contextualizao com recorte no territrio

    O Territrio Vale do Rio Guaribas composto por 39 municpios, situados na regio sudeste doPiau, nas divisas com os estados Pernambuco, Cear e Bahia. Com sua rea de 20.938 km, eleocupa 8% do territrio estadual. A sua paisagem caracterizada pela vegetao clida e espi-nhosa do bioma caatinga, composta por cactos, arbustos e rvores de pequeno porte, com baixae irregular precipitao de chuvas.

    A sua populao, essencialmente rural, de 331.395 habitantes, o que equivalente a 10,2%da populao total do Estado. Em 29 municpios (81%) do TVG, existem at 10.000 habitantes.Entre os seus se gmentos rurais, encontram-se 39.026 agricultores/as familiares, 781 famlias as-sentadas, 160 famlias de pescadores e 34 comunidades quilombolas2. A nova poltica territorialse dirige a esse pblico.

    Os indicadores do IDH com uma mdia de 0,60 situam o TVG entre os piores ndices do Estado3.

    J o percentual de domiclios pobres no territrio de 54,4%, e a renda o fator que mais in -uencia negativamente.

    A atividade econmica de maior relevncia no meio rural tem sido a agropecuria, mais espe-cicamente a ovinocapricultura, a apicultura, a cajucultura e a mandiocultura, assim como asagroindstrias de sucos e doces. Lavouras permanentes e temporrias e pastagens ocupam amaior parte das terras, embora 54% j tenha sofrido a antropizao4. A estruturao de coope-rativas e associaes tem sido a estratgia utilizada para a organizao produtiva do territrio,capaz de gerar emprego e renda no meio rural.

    O TVG dispe de um Colegiado Territorial, composto por uma Plenria dos representantes detodos os municpios do territrio, um Ncleo Diretivo (de carter paritrio) e um Ncleo Tcnico(composto por agrnomos, tcnicos agrcolas etc.). na plenria que se elegem as representa -es dos dois ncleos.

    O Ncleo Tcnico (NT) do Territrio ainda no se estabeleceu com uma atuao mais permanen-

    te. Dessa forma, as experincias aqui relatadas so focadas nas aes do Ncleo Diretivo (ND).O ND Territrio Vale do Rio Guaribas conta com uma articuladora territorial, responsvel pelaoperacionalizao do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentvel, vinculada orga-nizao no governamental CELTA que, por sua v ez, acompanha o processo do desenvolvimentoterritorial como parceiro local da SDT .

    2 Dessas, 18 comunidades foram certicadas pela Fundao Palmares, e mais 16 comunidades foram identicadas e seencontram em processo de certicao.

    3 Em 2008, o IDH mdio do Piau foi de 0,703 (Relatrio Emprego, Desenvolvimento Humano e Trabalho Decente - Aexperincia brasileira recente, lanado por trs agncias da ONU: CEPAL (Comisso Econmica para Amrica Latina eCaribe), OIT (Organizao Internacional do Trabalho) e PNUD. Relatrio publicado em 8 de setembro de 2008. http://www.geocotidiano.xpg.com.br/textos/idh_estados_2008.htm , acessado em 05/11/2009). 4 Uso indevido da terra pelos seres humanos, causando prejuzo ambiental.

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    O Plano Territorial de Desenvolvimento Rural *Sustentvel (PTDRS) um instrumento de planeja-mento e gesto. Ele tem como princpio a participao social na sua construo, e busca poten-cializar a implantao de aes que promovam e favoream a melhoria da qualidade de vida dohomem e da mulher, como tambm a sua insero na sociedade.

    O PTDRS engloba quatro dimenses: econmica, scio-cultural, poltico-institucional e ambien-tal. Partindo delas, cada territrio dene eixos aglutinadores, dos quais saem as linhas de aoque se operacionalizam atravs de projetos elaborados pelo Colegiado Territorial.

    * Fonte: Plano Territorial de Desenvolvimento Sustentvel guia de planejamento, MDA/ SDT, documentode apoio N 2 (2005).

    A parceria do DED com MDA/SDT no Territrio Vale do Rio Guaribas

    A parceria do DED com MDA/ SDT se iniciou em 2005, e foi incentivada por uma solicitao doMinistrio ao DED para a contratao de um prossional alemo para assessorar a implementa-o e consolidao do novo modelo de desenvolvimento rural no Territrio Vale do Guaribas.

    A demanda era a de um assessor para apoiar a mobilizao e qualicao dos integrantes doColegiado Territorial, com o objetivo de fortalecer as capacidades locais para a gesto social.Outra necessidade era melhorar a interveno desse colegiado no planejamento e na imple-mentao de projetos de desenvolvimento territorial no TVG, voltados para a consolidao decadeias produtivas existentes e para a implantao de novas.

    De 2005 a 2009, um agrnomo7 contratado pelo DED assessorou ao Colegiado Territorial do

    TVG. Nesse contexto, em 2005/2006, o DED apoiou o projeto Convivncia, gnero e produoagroecolgica, que possibilitou a realizao de trs intercmbios e trs cursos sobre vrias ca-deias produtivas; e, em 2008, contribuiu com o fortalecimento da comunicao no territrio, apartir da interveno da sua assessora de comunicao8.

    Fortalecimento do Ncleo Diretivo a partir da comunicao

    a) Descrio da Experincia

    Na transio para um novo modelo de desenvolvimento rural, as instncias participativas tmpapel central por serem espaos onde se visam fortalecer as capacidades de autogesto dosprocessos de desenvolvimento sustentvel. Assim, ao mesmo tempo em que o Ncleo Diretivodo TVG planeja, monitora e avalia aes territoriais, ele mesmo alvo de processos transforma-trios. Os seus membros so confrontados com mltiplos desaos, e precisam denir normase regras de convivncia para poder atuar em conjunto e ter uma base comum para viabilizar aimplementao do PDTRS.

    Foi desse contexto e da percepo dos participantes de que havia uma necessidade de se tra-balhar a comunicao interna do Ncleo Diretivo do TVG e, ao mesmo tempo, de comunicar asaes para fora dele, visando divulgar e fortalecer o conceito do desenvolvimento territorial naregio, que nasceu o estmulo para o estudo do assunto.

    Assim, um dos momentos-chave foi a realizao de uma ocina sobre Comunicao e Sus -tentabilidade, com durao de dois dias, facilitada pela asse ssora de comunicao do DED. Na

    5 As seguintes entidades e rgos fazem parte do Ncleo Diretivo do TVG: Sindicato dos Trabalhadores Rurais, SecretariaEstadual de Educao e Cultura; Cmara de Vereadores de Picos; CELTA; Programa de Sade e Saneamento - PRO-SAR; Movimento dos Pequenos Produtores; EMATER-PI; Associaes de Produtores Rurais; Coordenao Estadual dasComunidades Quilombolas; Central de Cooperativas de Cajucultores do Estado do Piau - COOCAJUPI; Associaes deMulheres.

    6 Referncias para a Gesto Social dos Territrios Rurais - Guia Para A Organizao Social, Secretaria de Desenvolvimen-to Territorial SDT/ Ministrio do Desenvolvimento Agrrio MDA, Documento de Apoio N 03 (2006:31)

    7 Roland Schneider

    8 Ana Clia Floriano

    No mais, integram o Ncleo Diretivo 24 pessoas de rgos do poder pblico e da sociedade civilorganizada. Fazem parte rgos municipais, estaduais e federais, como a EMATER, a Secretariado Estado de Educao - SEDUC, a Secretaria do Estado de Sade do Piau - SESAPI, e a Univer-sidade Estadual do Piau-UESPI, entre outros. Como entidades da sociedade civil organizada,esto o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), associaes de mulheres, pescadores eprodutores rurais, a Coordenao Estadual das Comunidades Quilombolas CECOQ, a Centralda Mandiocultura etc.5

    A funo do Ncleo Diretivo, junto com o Ncleo Tcnico, a de articular os atores sociais para aconstruo e implementao dos planos e projetos territoriais, visando ao desenvolvimento ru-ral sustentvel e, de maneira geral, a efetivao das decises da Plenria6. Cabem a ele, tambm,o monitoramento e a avaliao dos processos e resultados. Trata-se, portanto, de um espao decompartilhamento do poder e das responsabilidades, onde se experimentam novas formas de

    gesto social. Em seguida, sero apresentadas algumas atividades que ajudaram a fortaleceresse novo espao, alm de algumas aes desenvolvidas em torno da dinamizao econmica.

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    atividade, foi destacado que o conceito de sustentabilidade organizacional ultrapassa a questonanceira, englobando, tambm, as dimenses scio-poltica e tcnico-gerencial. Foram abor -dados tanto aspectos da comunicao interna quanto da externa, que visa alcanar a mobiliza-o social a partir da gerao de debate, onde o grupo-alvo participa ativamente.

    b) Resultados

    A ocina trouxe para os participantes o reconhecimento de que a comunicao fundamentalpara o sucesso das aes desenvolvidas no territrio e para as relaes pessoais dentro das ins-tncias participativas do TVG. Essa ltima constatao teve repercusses positivas no compor-tamento das pessoas que integram o Ncleo Diretivo. Desde ento, o colegiado se sente maisestimulado para o trabalho de gesto social. Ele se comunica melhor entre si, o que facilita aconcretizao de propostas de projetos, a capacidade de negociao, articulao e proposio.

    Foi fundado, dentro do Ncleo Diretivo, um grupo de trabalho para elaborar um Plano de Comu-nicao, que visa divulgao dos projetos no TVG, aumentando o conhecimento da populaosobre os processos de d esenvolvimento territorial e a aceitao da proposta. Nesse contexto, aaproximao de estudantes dos cursos de comunicao da universidade traz a perspectiva deum grande apoio.

    Aps a ocina, o Ncleo Diretivo comeou a buscar um contato mais frequente com as TVs erdios locais, o que fez com que a visibilidade das atividades aumentasse.

    Introduo de novos conceitos dedesenvolvimento rurala partir de intercmbios

    a) Descrio da experincia

    Para ter a capacidade de pensar um novo modelo

    de desenvolvimento rural, baseado na sustentabili-dade, faz-se necessrio conhecer e lidar com mode-los diferentes de produo e comercializao. Paraa produo, surgiu, nos ltimos anos, a agroecolo-gica como alternativa mais saudvel e sustentvel,e que vai ao encontro do aumento da demanda porprodutos ambientalmente corretos. Recentemente,ela est sendo vinculada a um conceito mais abran-gente de produo e comercializao: o da cadeiade valor. Essa descreve um sistema constitudo poratores inter-relacionados numa sucesso de proces-

    sos de produo, transformao e comercializao do produto, e busca da orientao estratgi-ca na demanda do mercado9.

    No contexto do TVG, fez-se necessrio organizar um processo de aproximao do Ncleo Di-retivo e de tcnicos agrcolas com essas temticas. Foram promovidas diversas capacitaes,constando, entre elas, ocinas em tcnicas agroecolgicas e cursos sobre cadeias de valor ecerticao e comercializao orgnica. A frequente realizao de intercmbios com entidadesque atuam na rea da agroecologia com uma viso de cadeias de valor teve um forte impacto.

    Ocorreram intercmbios com quatro instituies situadas em outros estados do Nordeste: aONG Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituies No Governamentais Alter-nativas (Caatinga), em Ouricouri (PE), a Cooperativa de Agropecuria Familiar de Canudos Uaue Curaa (Coopercuc), em Uau (BA), a Cooperativa dos Produtores Orgnico dos Tabuleiros Lito-

    rneos (Biofruta), em Parnaba (PI), e a Associao de Desenvolvimento Educacional e Culturalde Tau ADEC (CE).

    Foram vrias as experincias visitadas na ONG Caatinga. L, os participantes do intercmbiotiveram a oportunidade de conhecer sistemas agroorestais e tecnologias para o combate deserticao. Eles tiveram acesso a tcnicas agroecolgicas, como a compostagem orgnica,fermentados orgnicos e defensivos naturais. O grupo tambm pde observar cultivos agro-ecolgicos, como o das hortalias orgnicas, alm das barragens subterrneas, para garantiro acesso gua para plantao. Uma visita feira orgnica do local deu o exemplo de comoocorre a comercializao dos produtos.

    Na COOPERCUC, os tcnicos da EMATER do TVG tiveram oportunidade de conhecer a cadeia devalor do umbu, fruta nativa da caatinga, que pode ser transformada em geleias, sucos e docesem pastas, que esto sendo vendidos, atravs do Comrcio Justo, na Europa. O intercmbiocom a cooperativa BIOFRUTA forneceu informaes sobre a produo de caju orgnico, outraplanta nativa que j vem sendo aproveitada no TVG, porm ainda fora do processo orgnico. Jo contato com a ADEC despertou o interesse de investir no p lantio de algodo orgnico, espcietradicionalmente plantada na regio, mas que pouco aproveitada desde a praga do bicudo,

    nos anos 1980.b) Resultados

    Os intercmbios trouxeram para os atores territoriais do TVG a noo da produo ambiental-mente sustentvel, que antes mal existia na regio; a identicao da necessidade de diversi-car o cultivo; alm do conhecimento de tecnologias concretas, que visam ao combate deser ti-cao, principalmente, e diante das ameaas de degradao no bioma da caatinga.

    9 Veja tambm Plano Nacional de Promoo das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade, Grupo de CoordenaoMinistrio do Desenvolvimento Agrrio MDA, Ministrio do Meio Ambiente MMA, Ministrio do DesenvolvimentoSocial e Combate Fome MDS (2009:9)

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    Para reforar o efeito positivo dos intercmbios, foram instaladas, no TVG, Unidades de Trans-ferncia de Tecnologia (UTT), campos de demonstrao para tecnologias de plantao agroeco-lgica e agroorestal. A visita COOPERCUC proporcionou a introduo de uma nova cadeia devalor na regio. Foi a partir do intercmbio com a cooperativa que os tcnicos da EMATER ca-ram convencidos que o umbu poderia ter um v alor produtivo para o Territrio. Como resultado,o rgo decidiu apoiar uma iniciativa que resultou na aprovao da construo de trs fbricasmaiores e uma menor para o beneciamento do umbu. Trata-se de um processo de valorizaode uma fruta nativa, o que resulta no resgate de culturas locais.

    A visita Cooperativa BIOFRUTA, por sua vez, serviu para inspirar a EMATER a investir mais naproduo de caju orgnico no territrio, considerando novas tcnicas como, por exemplo, nousar agrotxicos e aproveitar os efeitos positivos do plantio consorciado do caju com plantasleguminosas, para poder responder s exigncias legais para a certicao orgnica (em fase deimplementao).

    O contato com a ADEC fez com que 33 agricultores da regio de Paulistana iniciassem uma expe-rincia com algodo orgnico, sendo que a primeira safra foi colhida em 2008/2009. O resultadofoi satisfatrio tanto em relao produo quanto comercializao, e uma das entidades quecompem o ncleo diretivo, a ONG CELTA, se inseriu na Rede de Algodo Agroecolgico. Para a sa-fra 2009/2010, a perspectiva ampliar o plantio para 300 produtores em seis municpios do TVG.

    Recentemente, o Ncleo Diretivo deniu duas cadeias de v alor como estratgicas para os recur-sos do Projeto de Infra-Estrutura e Servios em Territrios Rurais (Proinf) / MDA do ano 2009.Em 2010, ser dada prioridade s cadeias produtivas apicultura e mandiocultura. Essa posioreete a maturidade do grupo, que vem reconhecendo a necessidade de fazer investimentos emuma determinada cadeia produtiva em vista da sua consolidao. Esse mais um resultado dascapacitaes e intercmbios.

    10 Alm das instituies mencionadas, vale destacar, ainda, a EMBRAPA, a Universidade Estadual do Piau UESPI, e aCooperativa de Produo e Servios de Tcnicos Agrcolas do Piau COOTAPI.

    Resumindo: Os intercmbios serviram para despertar o interesse de que necessrio aprendernovas tcnicas para aumentar a quantidade e a qualidade dos produtos agrcolas no territrio,alm de criar perspectivas e estimular a criatividade. Os campos de demonstrao ajudam a tra-zer as novas tecnologias agrcolas sustentveis para o territrio, de forma a facilitar o entendi-mento da populao local. O conhecimento novo, gerado nos ncleos Diretivo e Tcnico, resultana elaborao de projetos territoriais, que visam promover novas cadeias de valor sustentveis,para beneciar a populao. O trabalho ampliado10, em rede, forneceu pistas sobre onde encon-trar conhecimentos e como aproveitar experincias existentes. Na colaborao do ND com oMinistrio da Integrao, conseguiu-se a articulao de cinco cadeias de valor (ovelhas, cabras,caju, mandioca, algodo orgnico) no plano de ao para a macrorregio Chapada do Araripe,o que promete um impacto maior na dinamizao econmica.

    Introduo da educao contextualizada no TVG projeto ATLAS

    a) Descrio da experincia

    O bioma da caatinga est cada vez mais exposto a processos de degradao e deserticao. Foia partir de um seminrio regional sobre Educao Contextualizada que se deu incio a um pro-

    jeto que trouxe para o TVG um novo olhar sobre o semirido e a noo da necessidade de pro-mover a convivncia sustentvel com esse meio. O projeto ATLAS surgiu como esforo coletivoda Secretaria de Educao SEDUC, de Teresina, e suas gerncias regionais, da Rede de Educaodo Semi-rido Brasileiro RESAB, do Programa Permanente de Convivncia com o Semi-rido PPCSA, do Movimento de Pequenos Agricultores MPA, e do DED. A iniciativa foi apoiada peloMinistrio do Meio Am biente, Articulao no Semi-rido Brasileiro ASA e Cooperao TcnicaAlem - GTZ.

    Alm de levar aos municpios informaes sobre o processo de deserticao, o objetivo do pro-jeto foi discutir, de forma prtica, as experincias relacionadas produo apropriada, atravs

    de projetos a serem desenvolvidos por alunos e professores nas escolas. Para isso, foram realiza-das ocinas pedaggicas nos 39 municpios do TVG, com educadores do territrio, para que eleslevassem adiante o trabalho nos seus estabelecimentos de ensino. Foram distribudos, ainda,materiais escolares focados na temtica.

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    b) Resultados

    O projeto ATLAS teve um respaldo muito positivo entre as instituies de educao do territrio.Foram capacitados 98 multiplicadores e distribudos 15 mil livros escolares e 21 mil cadernosde trabalho, em 27 municpios do TVG. A iniciativa tem continuidade a partir da sua integraono Plano de Ao do Ministrio de Integrao para a macrorregio Chapada do Araripe, quefar com que a experincia seja levada para mais territrios e m unicpios nos estados do Piau,Pernambuco e Cear.

    Prticas prometedoras, lies-chave e perspectivas

    Desaos na realizao das aes

    Um dos desaos constantes no trabalho do desenvolvimento territorial a rotao de pessoalnas ONGs e instituies estatais. Isso diculta construir aes permanentes e uma capacitaocontnua de pessoas. Quaisquer atividades de desenvolvimento territorial tm que se adaptara essa realidade.

    O investimento na capacitao dos integrantes das instncias participativas precisa ser con-tnuo, para que possa haver especializao e aprofundamento de questes relevantes para odesenvolvimento do territrio. Assim, o debate sobre o carter de projetos territoriais precisa serpuxado continuadamente, pois leva tempo para as pessoas comearem a entender seu papel dedeciso poltica e a agirem pensando no te rritrio como um todo, deixando para trs conceitu-aes antigas focadas no desenvolvimento municipal.

    Lies-chave

    Os espaos de gesto s ocial so lugares de encontro de interesses distintos, por reunir agentespblicos e representaes de sujeitos sociais, cada um com seus pontos de vista. Isso tem impli-caes para a cooperao nos colegiados quando chega a hora de tomar decises.

    Trabalhar a comunicao interna ajudou o Ncleo Diretivo do TVG a superar barreiras, esclarecera misso comum e estabelecer regras de convivncia para as reunies, o que vem facilitando aatuao, desde ento.

    Outra lio que, sem alguma estratgia efetiva de divulgao das aes, o Programa de Desen-volvimento Territorial dicilmente se enraizar. Dessa forma, a comunicao externa tem papelcentral na difuso da poltica territorial.

    Os intercmbios trouxeram para o TVG novos conceitos e tecnologias necessrias para promo-ver o desenvolvimento territorial sustentvel. As visitas in loco proporcionaram uma compre-enso imediata, facilitando a aceitao e a disposio para o fazer igual. Uma lio tirada que os efeitos de um intercmbio so maiores quanto menor o grupo, por garantir que seja um

    momento de mais qualidade. Um elemento interessante que, em geral, as ONGs se mostrarammais abertas s demandas especcas dos visitantes do que instituies estaduais. Nesse tipode troca, importante que algumas condies bsicas, como o bioma, sejam parecidas com asdo prprio territrio para aumentar a probabilidade de reaplicao das tcnicas.

    O projeto ATLAS de Educao Contextualizada, por sua vez, fortalece as atividades de combate deserticao do TVG, atravs da sua ampla aplicao nas escolas do territrio, atuando, portan-to, com um carter complementar. Em longo prazo, essa iniciativa possibilitar um entendimen-to comum na regio sobre a necessidade de trabalhar cuidadosamente com os recursos naturaisdisponveis, criando, assim, condies favorveis para o desenvolvimento rural sustentvel.

    Perspectivas para uma possvel aplicao de aes similares em outros lugares/contextos

    Pode-se constatar que as atividades do Ncleo Diretivo do TVG, no mbito do desenvolvimentoterritorial rural sustentvel, como o fortalecimento das instncias de gesto social e a introdu-o de novas tecnologias para a melhoria da produo e o combate degradao do solo soprticas prometedoras, aplicveis e experimentveis em outros lugares.

    Porm, mostram a necessidade de uma assessoria para os colegiados territoriais que enfatizeo desenvolvimento organizacional dos espaos de gesto social e fortalea o insumo de novasidias e conceitos, a partir do trabalho em rede.

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    II - O Territrio Tabuleiros do

    Alto Parnaba (TAP)

    Contextualizao com recorte no territrio

    O territrio Tabuleiros do Alto Parnaba (TAP) situado no sudoeste do Piau, na divisa com oMaranho, e com os territrios Tabuleiros dos Rios Piau e Itauira e Chapada das Mangabeiras.Ele composto por 12 municpios, sendo o mais populoso o de Uruui. Com sua rea de 32.851km, ele ocupa 13% do territrio do Estado. A sua vegetao dominada pelo bioma do cerrado,incluindo as matas dos cocais de babau e buritizais. Vrios rios e riachos percorrem o TAP, sendoo rio Parnaba o mais importante.

    A populao do TAP de 73.580 habitantes, representando apenas 2,4% da populao piauien-se. Desses, 63,6 % das pessoas vivem em pequenas cidades e 36,4 % na rea rural. Com umamdia de 2,2 habitante por km, o territrio caracterizado por imensos vazios populacionais. OIDH do TAP mdio baixo: 0,623, sendo a renda o fator que mais inuencia negativamente, pois

    nenhum dos municpios atinge um ndice de renda superior a 0,600.11

    O setor agrcola do TAP complexo. Com a chegada de agricultores de outras regies (gachos,paranaenses e goianos), durante os anos 80 e 90, e de grupos internacionais de grande porte, emseguida, foram feitos grandes plantios de monocultura de soja, destinada exportao, e eucalipto,usado como fonte energtica. Hoje, o territrio conhecido por ter a maior rea de soja do estado(76,5% do total). Entre a populao que, historicamente, ocupa a regio, permanece a agriculturafamiliar de baixo rendimento, baseada em culturas de subsistncia (feijo, milho, mandioca, arroz)

    11 A mdia nacional do sub-ndice de renda em 2007 foi de 0,761.

    e o extrativismo (buriti, fava danta, pequi). O recurso das famlias complementado pela aposen -tadoria e auxlios governamentais (Bolsa Renda e Bolsa Escola). O ltimo levantamento feito emoutubro de 2009, mostra que 77% dos agricultores familiares no so donos da terra em que tra-balham.

    Portanto, a paisagem do territrio marcada por grandes plantios do agronegcio, permeados depequenos roados da agricultura familiar. Os monocultivos apresentam-se como potencial econ-mico do TAP, embora o impacto causado ao processo produtivo nas dimenses sociais e ambientaiscoloque-os em xeque.

    O territrio Tabuleiros do Alto Parnaba dispe de um Colegiado Territorial denominado Frum Ter-

    ritorial de Desenvolvimento Sustentvel do Cerrado Piauiense (FOTECE). Ele composto por umaPlenria, pelos ncleos Diretivo (ND) e Tcnico (NT), e por uma Secretaria Executiva, que funcionacomo unidade de apoio.

    As reunies dos dois ncleos so coordenadas pela Secretaria Executiva, que assumida pela arti-culadora territorial. Ela responsvel pela mobilizao e articulao dos ncleos, assim como pelaoperacionalizao do Plano Territorial de Desenvolvimento Sustentvel Rural PTDRS. No TAP, a ar-ticuladora territorial vinculada ONG Associao Regional Integrada de Desenvolvimento Agroe-cologico e Sustentvel - ARIDAS, parceira local da SDT.

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    Existem no FOTECE, ainda, quatro Grupos de Trabalho (GTs). Eles focam temas especcos, que tmrelevncia para o processo do desenvolvimento territorial: Meio Ambiente, Agroecologia, Gesto eProjetos.

    No Ncleo Diretivo, esto representados os 12 municpios, com paridade garantida entre os inte-grantes do poder pblico (vindos das cmaras e prefeituras municipais e entidade estadual de assis-tncia tcnica) e da sociedade civil organizada (em primeiro lugar, representada pelos sindicatos detrabalhadores rurais, alm da colnia de pescadores, representaes de assentados, ONGs locais).

    No TAP, o ND s conseguiu se rmar a partir de 2009. At a, e contrrio a muitos outros territriosde desenvolvimento rural, o Ncleo Tcnico funcionou como elemento-chave para desencadear oprocesso do desenvolvimento territorial.

    O NT composto por 15 integrantes, entre tcnicos da EMATER, das prefeituras municipais e dos

    sindicatos dos trabalhadores rurais. Cabe a ele oferecer apoio tcnico s atividades do FOTECE eacompanhar o Ncleo Diretivo, alm de elaborar projetos territoriais. Em seguida, sero apresenta-das algumas experincias que contriburam para fortalecer o Ncleo Tcnico.

    Parceria do DED com o FOTECE

    12 Nicole Weber Ferreira dos Santos

    A parceria do DED com MDA/SDT se iniciou em maio de 2005, com a solicitao feita pelo Minis-trio de um/a cooperante para assessorar a implementao e consolidao do Programa Na-cional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentvel dos Territrios Rurais, no Territrio Tabuleirosdo Alto Paraba. A ideia era, mais especicamente, a de qualicar a interveno do ColegiadoTerritorial em processos de planejamento ambiental.

    A disponibilizao de uma engenheira ambiental12, pelo DED, ocorreu de 2005 a 2009. No entan-to, com um Colegiado Territorial ainda em fase de consolidao, no incio da parceria, a solidi-cao do mesmo e processos de desenvolvimento organizacional se tornaram os focos priorit-rios do trabalho da prossional, seguidos por questes de preservao ambiental.

    Alm da cooperante, o DED apoiou o Colegiado Territorial, de forma pontual, a partir d e projetostemticos. Assim, foram realizados, em 2005, um seminrio e um intercmbio, que trataram do

    tema Extrativismo e os recursos naturais do cerrado.

    Participao no Desenvolvimento Territorial: A incluso do NcleoTcnico no processo

    a) Descrio da experincia

    Em 2005, quando o processo de desenvolvimento territorial ganhou fora com a formalizaoda instncia do Colegiado e a contratao de uma assessoria territorial pela SDT, Tabuleiro doAlto Parnaba encontrava-se num estgio de baixo nvel de organizao. As relaes entre asentidades do poder pblico e da sociedade civil organizada eram marcadas por uma profundadesconana. Essa situao no era diferente no Ncleo Tcnico. A questo era como garantir aparticipao da assistncia tcnica estadual, dos tcnicos das prefeituras municipais e dos sin-dicatos de trabalhadores rurais no Ncleo, e como assegurar que o NT acompanhasse as aesterritoriais.

    A aproximao da entidade de assistncia tcnica estadual EMATER do Ncleo Tcnico foi

    estratgica. Porm faltavam, para o rgo, meios de trabalho e infraestrutura, como compu-tadores. Os tcnicos se queixavam da desvalorizao da sua funo e da ausncia de recursospara realizar a extenso rural. Por falta de capacitao, os prossionais no conseguiram acom-panhar as discusses no mbito da agricultura familiar.

    Um aspecto positivo dentro desse contexto era o fato de que a EMATER contava com a presenade tcnicos em quase todos os municpios, e tinha acabado de reforar o quadro de prossio-nais, via concurso pblico. Atravs do Programa de Apoio a Projetos de Infra-estrutura e Servios

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    (ProInf 2004) em te rritrios rurais do Ministrio de Desenvolvimento Agrrio, o rgo tinha sidocontemplado com novos equipamentos e transportes, o que possibilitaria um melhor funciona-mento dos procedimentos bsicos.

    Aps negociao, os diretores da EMATER liberaram os tcnicos para integrar o processo do de-senvolvimento territorial. Mas isso no garantia a par ticipao de fato nas atividades do NcleoTcnico. A maioria dos prossionais era responsvel pelos trmites de requerimento para crdi-tos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF e, desse trabalho,recebiam um complemento aos seus baixos salrios. Dessa forma, foi difcil motiv-los parauma atividade extra, e no remunerada, de desenvolvimento territorial no NT.

    Para solucionar esse impasse, foi negociada a integrao de um custeio de deslocamento e ali-mentao para os participantes do Ncleo Tcnico no convnio do FOTECE com a SDT. Esse me-canismo ajudou a aumentar a motivao dos tcnicos. Com o passar do tempo, eles viraram osarticuladores locais nos municpios, o que fortaleceu a implementao do conceito do desenvol-vimento territorial no TAP.

    No incio dessa caminhada conjunta, foi realizado, pela articuladora territorial e a cooperante,um levantamento das necessidades e demandas do grupo que integrava o Ncleo Tcnico, apartir de discusses envolvendo toda a equipe. Como consequncia, foi planejada uma srie decapacitaes, em conjunto com o prprio Ncleo, e que interessou aos tcnicos, por lhes darema oportunidade de novas aprendizagens.

    Nessa fase, a articuladora territorial e a cooperante foram cuidadosas em no prometer nada queno tinham certeza se ia ser possvel cumprir, para no perder a conana que comeou a brotar.

    As muitas capacitaes desenvolvidas zeram com que os tcnicos sentissem a sua mo de obramais valorizada, principalmente em espaos de formao compartilhados com os agricultoresfamiliares. Entre os cursos constavam: Elaborao de projetos e viabilidade econmica, GPS13 eAutoCad14, caprinocultura, metodologias participativas.

    13 Global Positioning System (Sistema de Posicionamento Global). Sistema que permite a localizao exata de um apa-relho receptor GPA a partir de sinais de satlite. Guardas orestais, trabalhos de prospeco e explorao de recursosnaturais, gelogos, entre outros, so beneciados pela tecnologia. Na agricultura, pode ajudar no armazenamento dedados relativos produtividade da lavoura (agricultura da preciso). http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_de_Posicio-namento_Global, acessado em 02/12/2009

    14 Software para a elaborao de peas de desenho tcnico em modelos tridimensionais (3D). amplamente utilizado naengenharia agrcola para projetos agrcolas de irrigao, entre muitas outras aplicaes possveis.

    Por causa da infraestrutura precria das rodovias no territrio, foi introduzidaa viagem conjunta dos tcnicos da EMATER, das prefeituras e dos sindicatosat o local das capacitaes. Esses ambientes foram escolhidos cuidadosamen-te, para que fossem espaos neutros, onde ningum deveria se sentir mais emcasa do que o outro. No perodo da noite, eram realizados eventos culturais,onde cada um contribua com o se u conhecimento especco.

    b) Resultados

    O planejamento participativo das capacitaes, que considerou as demandaslocais, foi fundamental para promover a participao e identicao dos tc-nicos com o ncleo. No passado, os processos de formao eram realizadospor pessoas externas, com menos conhecimento sobre as condies e neces-sidades da regio. Dessa maneira, elas no atingiam o grupo-alvo. Uma situa-o que mudou a partir da nova abordagem.

    A partir dos espaos de capacitao compartilhada, foi possvel criar um cli-ma de conana entre os tcnicos e agricultores familiares. Estabeleceram-seboas relaes interpessoais, superando os preconceitos que um tinha em rela-o ao outro e atitudes bairristas.

    Como resultado, foi possvel perceber o aumento da autoestima prossionaldos tcnicos. Isso, junto com a destinao de mais recursos de ProInf, paraequipar os escritrios e adquirir transportes para EMATER, fez com que surgis-se um maior clima de conana na prpria entidade de assistncia tcnica.

    Noonon no nonono nononono nono nononon nononononono nonono nononononono nono nonono nonononono.Noonon no nonononono nono nono nononon

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    A partir dos anos 2005 e 2006, os tcnicos comearam a se identicar maise mais com o processo de desenvolvimento territorial. Hoje, eles iniciam eapoiam o processo de articulao entre as entidades dos municpios, execu-tando, vrias vezes, o papel de moderadores e assegurando o uxo e nive -lamento de informaes. Os prossionais incorporaram, ainda, uma visoterritorial e contribuem signicativamente na qualicao das discussesdo colegiado FOTECE.

    Capacitao do Colegiado Territorial sobre meioambiente e uso sustentvel dos recursos naturais

    a) Descrio da Experincia

    No TAP, grande parte da vegetao do cerrado e das matas ciliares foi desma-tada tanto pela agricultura familiar quanto em favor das monoculturas desoja e da produo de carvo. Isso, junto com a introduo de agrotxicos naproduo agrcola, cujos resduos chegam at o lenol fretico e os riachos,causa um desequilbrio ambiental e ameaa a sade da populao local.

    No incio da parceria, o recorte ambiental era algo novo para a maioria dosagentes do desenvolvimento territorial. Para aproxim-los da temtica, foirealizado, em 2005, um seminrio apoiado pelo DED, que tratou o extrati -vismo dos recursos naturais do cerrado como alternativa sustentvel de ge-rao de renda. Outro momento-chave foi a realizao de um intercmbio,que possibilitou aos atores do ncleo Diretivo e Tcnico conhecerem siste-mas agroorestais sustentveis, assim como o processamento e a comer -cializao de produtos extrativistas. Juntos, os eventos fortaleceram o en-tendimento comum de que a preservao e o uso sustentvel dos recursosnaturais no se opem dinamizao econmica, preconceito que existia no

    Colegiado, no incio.

    A partir daquele momento, as discusses em torno da gesto ambientale do uso sustentvel dos recursos naturais se deram de modo transversal.Em cada capacitao com o Ncleo Tcnico, foi introduzido um mdulo queabordava o tema. O mesmo aconteceu durante o processo da elaborao doPlano de Desenvolvimento Territorial Rural Sustentvel.

    Em 2007, o debate foi fortalecido a partir da realizao de um seminrioregional chamado O Cerrado entre o desenvolvimento e o meio ambiente,

    que tratou da legislao ambiental e analisou a sua implementao no territrio de forma cr-tica e com a presena de representantes do IBAMA regional. Participaram, ainda, integrantesde ONGs de toda a regio do cerrado brasileiro, que apresentaram as suas boas prticas narea de preservao e uso sustentvel do bioma. Seus relatos estimularam os integrantes doColegiado Territorial do TAP a pensar projetos parecidos para o territrio. Um dos resultadosfoi a elaborao, pelos integrantes do NT, de capacitaes relacionadas ao tema para pequenosagricultores da regio.

    b) Resultados

    Hoje, diferente da situao inicial, os integrantes d o FOTECE e do Ncleo Tcnico, de modo es-pecico, contribuem, de forma mais qualicada, para as discusses territoriais relacionadas preservao e ao uso sustentvel dos recursos naturais.

    No PTDRS do territrio, elaborado de modo participativo em 2006, esto inseridas a proteo ea gesto sustentvel dos recursos naturais com rubrica prpria. Os integrantes do Frum co-mearam a discutir a falta de eccia nas instncias de controle ambiental na regio e a pensarem aes para melhorar essa situao.

    Prticas prometedoras, lies-chave e perspectivas

    Desaos na realizao das aes

    Existem vrios desaos na realizao das aes territoriais do TAP, sendo que nem todos po -dem ser resolvidos dentro do mbito de governana do Colegiado Territorial.

    Entre os que fogem ao controle, existe o consenso de que necessrio a poltica nacional dedesenvolvimento agrrio retomar a poltica de extenso rural e melhorar as condies para arealizao das atividades.

    Um dos maiores desaos e m nvel territorial tange colaborao dos gestores municipais como Programa de Desenvolvimento Territorial Rural. Foi um processo demorado obter o apoiodas secretarias municipais de Agricultura e Meio Ambiente ao Colegiado Territorial do TAP e,at hoje, quase nenhum prefeito, e muito menos os vereadores do territrio, participam dessamobilizao.

    Ainda em relao s prefeituras, elas nem sempre esto preparadas para assumir as iniciati-vas priorizadas pelo Colegiado. Na sua maioria, as aes te rritoriais se do a partir de projetosque visam atingir vrios municpios. Se um deles no est em condies de receber o projeto,os outros tambm cam de fora, j que, muitas vezes, os projetos territoriais visam agregar

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    vrios municpios numa meta s e, portanto, legalmente, uma prefeitura no pode assumir oprojeto sozinha se os documentos necessrios das outras prefeituras no esto em dia.

    Entre os desaos internos, consta a necessidade de melhorar o comprometimento dos coor -denadores e diretores da entidade de assistncia tcnica com o processo de desenvolvimentoterritorial, para legitimar, ainda mais, o engajamento dos seus tcnicos.

    Outra questo a necessidade de aumentar a presena de mulheres na entidade de assistn-cia tcnica, para que possa ser atingido um pblico que sempre consta entre os menos favore-cidos no campo rural.

    Lies-chave

    Entre as lies-chave est a necessidade de incluir, no trabalho da assistncia tcnica e do

    desenvolvimento territorial rural, fatores sociais e humanos como, por exemplo, consideraro baixo nvel de educao formal e o acesso limitado a informaes entre os integrantes dosrgos colegiados. Esses, na sua maioria, foram criados num ambiente marcado por fortescontrastes econmicos e sociais, o que resultou numa baixa autoestima entre os que no per-tencem s velhas e novas oligarquias, mas que, a partir de seu engajamento em instnciasparticipativas como o FOTECE, deparam-se subitamente com a possibilidade de participar natomada de decises.

    Cada territrio tem a sua histria social marcada por conitos de interesses que, muitas vezes,orientam-se pela participao de indivduos em uma determinada entidade, instituio, oupartido. Para um desenvolvimento territorial rural que se baseia na inter-institucionalidade ena cooperao entre os diversos segmentos sociais, esses conitos histricos podem signicarum entrave.

    No TAP, foi a partir de uma v iso mais pedaggica e orientada, trazida pela articuladora terri-torial e a cooperante, que o trabalho do desenvolvimento territorial comeou ganhar respaldo.Desde ento, conseguiu-se a aproximao de todos os participantes, que passaram a se perce-ber parceiros na luta por melhorias.

    A introduo, no TAP, de um recorte ambiental continua sendo um processo em construo.Uma das lies-chave foi a de que necessrio partir das percepes e demandas locais paraencontrar a maneira certa de trazer a tem tica para o territrio. No caso do Tabuleiro do AltoParnaba, houve, inicialmente, uma viso ambiental fortemente ligada a um tipo de preserva-o que iria impedir o desenvolvimento econmico to necessrio. Apresentar ao Colegiadoboas prticas em usos sustentveis dos recursos naturais, a partir do extrativismo, e a potnciaeconmica que esse carrega consigo, quando inserido em cadeias produtivas de valor, ajudoua criar uma maior abertura entre os participantes.

    Perspectiva para a continuao da ao

    Depois do processo de estruturao e consolidao do conceito de desenvolvimento territo-rial no TAP, o Colegiado est, atualmente, entrando na primeira fase de implementao decadeias produtivas, que visam incentivar o extrativismo do buriti (implementao de umaagroindstria de beneciamento de doce e leo) como forma de gerar renda e melhorar orelacionamento do agricultor familiar com o meio ambiente.

    Outra ao territorial visa fortalecer a cadeira produtiva da ovinocaprinocultura no territrio,a partir de uma Unidade Territorial de Difuso de Tecnologia (UTDT) e a instalao de Unida-des de Transferncia de Tecnologia - UTTs (em 07 municpios do territrio). Ambos os proces-sos precisam ser acompanhados por um trabalho de assistncia tcnica e organizao social

    junto s comunidades.

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    A realidade do ACRE

    A concentrao de terras e a ausncia de uma regularizao fundiria so ca-ractersticas comuns em todas as partes do Brasil. No entanto, na Amaznia,

    a ocupao intensicada e desordenada durante a ditadura militar, conformeo lema Homens sem terra, para terra sem homens, provocou graves impac-tos ambientais para a oresta. Diante disso, as polticas de desenvolvimentoterritorial encontram na regio desaos especcos. Isto , eles esto relacio-nados histria da ocupao por migrantes de outras regies do pas.

    No Acre, a concentrao de terras foi maior do que a mdia do B rasil. A cria-o extensiva de gado por sulistas chegados nas dcadas 70 e 80 causou v-rios conitos com os soldados da borracha, relacionados posse de terra,enraizados na regio desde o nal do sculo XIX. Esse perodo violento cul-minou com o assassinato do lder do movimento sindical dos trabalhadoresrurais de Xapuri, Chico Mendes, em 1988. Aps sua morte, foram implemen-tadas vrias reservas extrativistas e reas de conservao, que valorizam ohomem da oresta e a orestania.15

    Dessa forma, o desenvolvimento territorial na Amaznia est confrontadocom um panorama diversicado de tipos de territrios, populaes, uso daterra e da propriedade, o que signica tambm uma maior diversidade de

    atores sociais a serem considerados. O governo acreano apoia essa heteroge-neidade de iniciativas e atores, h vrios anos, o que vem contribuindo parao sucesso de novos modelos de desenvolvimento local, baseados na convi-vncia sustentvel com a oresta.

    15 O termo orestania surgiu nos meados dos anos 1990, quando jovens militantes do PT,entre eles, o jornalista Antonio Alves, foram chamados a participar do governo acreano. Sur-giu como alternativa ao conceito da cidadania (vinculado ao substantivo cidade), j quea maioria da populao acreana marcada pela experincia de conviver com a oresta. entendido como um novo pacto que no abrange s o social, mas que tambm se baseia noequilbrio das aes humanas com o meio ambiente. Hoje, o conceito da orestania integra a

    poltica ocial do governo do Estado do Acre, que vem apoiando um processo de desenvolvi -mento heterogneo, baseado em processos participativos. (artigo Florestania, de AntonioAlves, http://www.bibliotecadaoresta.ac.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=69:orestania-toinho-alves&catid=20:digos-da-orestania-artigos-&Itemid=68,acessado em 24/11/2009)

    Em seguida, ser apresentada a experincia de desenvolvimento do territ-rio do Alto Acre e Capixaba, sob um ngulo diferente das experincias expos-

    tas anteriormente. Trata-se da iniciativa do Consrcio de DesenvolvimentoIntermunicipal Alto do Acre e Capixaba CONDIAC, que tem como foco dasua atuao a promoo da viso territorial dentro das prefeituras.

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    III - Descrio do Territrio Alto Acre eCapixaba e do CONDIAC

    O Territrio Alto Acre e Capixaba est localizado no leste do estado do Acre, limitando-se ao nor-te com os municpios de Rio Branco e Plcido de Castro, e ao sul, leste e oeste, com as Repblicasda Bolvia e do Peru. As suas marcas so o Rio Acre e a rodovia federal BR 317, a ltima sendoentendida como principal eixo de desenvolvimento, com projeo de construo at o oceanoPacco, para facilitar o acesso do pas aos dinmicos mercados da sia.

    O territrio composto por cinco municpios: Assis Brasil, Brasileia, Epitaciolndia, Xapuri e Ca-pixaba. Encontra-se nele uma das primeiras e maiores Reservas Extrativistas do Brasil, a RESEXChico Mendes, e duas terras indgenas (TIs). Com uma rea de 15.347,5 km, o Territrio do AltoAcre e Capixaba ocupa 10% do territrio do estado. A sua vegetao dominada pelo biomaamaznico, com inmeras espcies de plantas e rvores tropicais, e caracterizado por um climaquente e mido.

    O Territrio Alto Acre e Capixaba possui 63.090 habitantes, o que representa 9.3% da popula-o do Acre (IBGE, 2008). Desses, 46,5 % habitam as reas rurais e 53,5% vivem em pequenase mdias cidades. Com uma densidade populacional de 3,17 habitantes por km, o territrio caracterizado por grandes reas de oresta, com populao muito dispersa. O ndice de Desen-volvimento Humano do Territrio do Alto Acre e Capixaba encontra-se em 0,66 , abaixo da mdiado Acre16, sendo a renda o fator que mais inuencia negativamente com 0,57.

    A estrutura agrria do territrio complexa devido histria de ocupao do estado17. J sobrea pecuria, entre 1996 e 2004, o crescimento do rebanho bovino nos municpios de Xapuri, Capi-xaba e Brasileia foi considervel, com aumentos de 74%, 63% e 54%, respectivamente. 18

    Esse crescimento tambm ocorre em reas de conservao, por ser ainda a principal fonte derenda para as famlias de pequenos produtores dos projetos de colonizao e reservas extrati-vistas. Junto pecuria, o desmatamento ilegal tem crescido, especialmente nas matas ciliaresdo Rio Acre. Em 2005, 27,7% do territrio estava desmatado.

    O extrativismo de produtos orestais no madeireiros (ltex, castanha-do-brasil, leo de copa-ba, entre outros) amplamente praticado e constitui-se numa alternativa econmica tradicio -nal. O Territrio Alto Acre e Capixaba responsvel por 70% da produo de castanha do estadoque, por sua vez, o maior produtor no mbito nacional. Investimentos estaduais e municipais

    recentes contriburam para a diversicao das cadeias produtivas, tanto na rea da agriculturaquanto do extrativismo. Porm, uma nova perspectiva econmica surge a partir do turismo na-cional e internacional.

    16 Em 2005, ltima data disponvel, do IDH do Acre era de 0,751 (publicado pelo Programa das Naes Unidos paraDesenvolvimento, http://www.pnud.org.br/pobreza_desigualdade/reportagens/index.php?id01=3039&lay=pde, aces-sado em 18/11/2009)

    17 Veja a seo anterior

    18 Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentvel do Territrio Rural do Alto Acre e Capixaba, de Marinelsonde Oliveira Brilhante (consultor) para o Ministrio do Desenvolvimento Agrrio MDA/ Secretria de DesenvolvimentoTerritorial SDT (2007:41)

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    Desde maio de 2004, o territrio dispe do Consrcio de Desenvolvimento Intermunicipal Altodo Acre e Capixaba (Condiac), nico no estado nesse nvel, cuja nalidade promover a inte-grao dos municpios para fortalec-los no desenvolvimento de polticas pblicas conjuntas.Ele foi fundado com o objetivo inicial de viabilizar a captao de recursos para a implemen-tao de um sistema regional de gesto de resduos slidos. Hoje, o CONDIAC trabalha paraalm dessa temtica, principalmente na produo familiar e na gesto territorial e ambiental,sendo que a abordagem da gesto ambiental foi fortalecida a partir da implementao dapoltica de desenvolvimento territorial do Ministrio de Desenvolvimento Agrrio. Esto in-cludos a o levantamento e processamento de informaes espaciais sobre as zonas urbanase rurais.

    O Consrcio integra o Conselho de Desenvolvimento Rural Sustentvel do Territrio Alto Acre eCapixaba (CTAC), onde, desde 2009, exerce a presidncia, cando responsvel pela implementa -

    o do Programa Territrios da Cidadania do Ministrio de Desenvolvimento Agrrio, alm dedisponibilizar a infraestrutura e apoio logstico para facilitar a atuao do Conselho.

    O CONDIAC estruturado da seguinte maneira:

    Um Conselho Gestor composto pelos prefeitos dos cinco municpios que integram o territrio. a instncia mxima de tomada de deciso e tem a responsabilidade poltica pelo direciona-mento das aes. Anualmente, um dos prefeitos eleito presidente do Conselho, assumindo,tambm, a presidncia do CONDIAC.

    Um Conselho Fiscal formado por representantes das Cmaras Municipais. Tem a funo desupervisionar a execuo das aes e a prestao de contas do Consrcio.

    Um Conselho Consultivo composto por um conjunto de entidades federadas e da sociedadecivil organizada. Realiza aes que so detalhadas em convnios especcos, alm de apoiartecnicamente as aes do Consrcio.

    Uma Secretaria Executiva formada por um secretrio-executivo e uma equipe tcnica e ad-ministrativa. Tem a responsabilidade pela operacionalizao das atividades. Cabe ao secretrio-

    executivo manter sua gesto imparcial, a partir da tica territorial e no a partir de concepespoltico-partidrias, e gerir a equipe interna, alm de convocar encontros temticos com os pre-feitos e outros atores sociais, de acordo com as necessidades. A equipe tcnica atualmentecomposta por nove f uncionrios, incluindo prossionais contratados atravs de convnios como Governo do Estado do Acre e com o DED. Quatro funcionrios se dedicam prestao de ser-vios tcnicos e trs pessoas da equipe garantem suporte logstico e de organizao no nveladministrativo.

    Existem, ainda, cinco Comisses Temticas (gesto ambiental, infra-estrutura, produo e renda,assuntos sociais e integrao fronteiria), compostas por tcnicos das respectivas secretarias,que se renem conforme as necessidades.

    A parceria DED CONDIAC

    A parceria entre CONDIAC e DED foi iniciada em 2005, tendo como nalidade o fortalecimentodo desenvolvimento regional sustentvel, da boa governana 19 e do dilogo com a sociedadecivil, a partir da introduo de instrumentos par ticipativos de planejamento20.

    O apoio do DED consistiu na contratao de um prossional brasileiro21 (desde 2005) e um pro-ssional europeu (desde 2006)22 para fortalecer o processo de planejamento participativo. Foidisponibilizado, ainda, um veculo apto para as viagens necessrias aos cinco municpios. Algunsrecursos foram liberados para atividades fora do municpio, impresso de produtos na rea dedivulgao, aquisies na rea do georeferenciamento e realizao de ocinas de planejamentoe comunicao, em 2008 e 2009, facilitadas por consultoras externas e do DED23.

    Aplicao de instrumentos de planejamento regional participativo

    a) Descrio da experincia

    O CONDIAC teve uma contribuio signicativa na elaborao de produtos necessrios ao de-senvolvimento territorial. Com o apoio na coordenao do Consrcio, foram construdos os se-guintes instrumentos: Agenda 21 (A21), Plano de Ordenamento Territorial Local (OTL) e PlanoDiretor (PD), para implementao nos cinco municpios. Eles tm como caracterstica comum ametodologia participativa, unindo tcnicos municipais, instituies estaduais e representantesda sociedade civil com o objetivo de facilitar o planejamento e a gesto para um desenvolvimen-to sustentvel, considerando as dimenses econmicas, sociais e ambientais.

    19 Segundo o Banco Mundial, governana a maneira pela qual o poder exercido na administrao dos recursos so-ciais e econmicos de um pas, visando ao desenvolvimento, implicando, ainda, a capacidade dos governos de planejar,formular implementar polticas e cumprir funes. (Governance and Development, World Bank, 1992; em AlcindoGonalves, O Conceito de governana, XIV Encontro do Conpedi, 2005:1, http://www.conpedi.org/manaus/arquivos/Anais/Alcindo%20Goncalves.pdf, acessado em 21/11/2009).

    Por sua vez, a boa governana se baseia em oito caractersticas: Participao, Estado de direito, Transparncia, Res-ponsabilidade, Orientao por consenso, Igualdade e inclusividade, Efetividade e ecincia, Prestao de conta (ac -countability). http://pt.wikipedia.org/wiki/Governan%C3%A7a_corporativa#As_oito_principais_caracter.C3.ADsticas_da_.22boa_governan.C3.A7a.22, acessado em 21/11/2009)

    20 Cabe ressaltar que a parceria surgiu em colaborao com outras agncias da cooperao alem, como a CooperaoTcnica Alem GTZ e a Organizao de Desenvolvimento de Recursos Humanos, de Formao Contnua e de Dilogo emNvel Internacional InWEnt. Ambas zeram importantes contribuies ao CONDIAC, a partir do apoio a processos parti-cipativos de Desenvolvimento Territorial e a capacitaes.

    21 Adelson Gonalves dos Santos

    22 Pavel Jezek

    23 Ana Clia Floriano, Waldtraud Schreiber-Krueger, Patrcia Coube

    A A d i C f i M di l b M i A bi t D l i t d O CONDIAC ti i d j t il t d O d t T it i l L l

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    A Agenda 21 surgiu na 1 Conferencia Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento daOrganizao das Naes Unidas (ONU), realizada no Rio de Janeiro, em 1992. Mais um processoou pacto social do que um instrumento, ela visa formulao e implementao de polticas p-blicas a longo prazo, a partir da construo coletiva de um programa de ao. Esse se baseia naanlise das vulnerabilidades e potencialidades locais, que orientam a denio das prioridadesna construo de um cenrio de futuro desejvel. Entre 2005 e 2006, foram elaborados as A21locais nos cinco municpios que compem o Territrio Alto Acre e Capixaba. O CONDIAC coor-denou o processo, que foi apoiado pela Organizao No Governamental internacional WorldWildlife Fund - WWF.

    O Plano de Ordenamento Territorial Local um instrumento de carter mais tcnico, que visaestudar o ambiente natural de um dado territrio, a partir de uma escala menor. O primeiroobjetivo conhecer e zonear a rea, considerando sua vegetao, seus recursos hdricos e suaqualidade de solo, entre outros. Consequentemente, o conhecimento acumulado ajudar a criarplanos de utilizao do territrio mais adequados. Faz parte desse processo a combinao demapas temticos sobre reas de risco e conitos territoriais, entre outros, que servem para fazerum planejamento de investimento e implementao de obras mais adequadas s necessidadesdo territrio.

    O CONDIAC participou na e xecuo do projeto piloto de Ordenamento Territorial Local no mu-nicpio de Brasilia, em coordenao de Secretaria do Estado do Meio Ambiente SEMA, e comnanciamento apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Os outros municpiosesto na fase de elaborao dos seus planos. Alm do seu engajamento para o ordenamentoterritorial no Territrio do Alto Acre e Capixaba, o Consrcio participa ativamente da iniciativaMAP (Madre de Dios-Acre-Pando), que promove o dilogo tri nacional sobre o assunto entrePeru, Brasil e Bolvia. 24

    O Plano Diretor direcionado, principalmente, ao desenvolvimento dos espaos urbanos. Trata-se de uma denio de reas para diferentes tipos de uso, como rea de comrcio, de habita -o, de trnsito, de drenagem, de esgoto, de lixo, de lazer, entre outros. Ele foi promulgado naConstituio Federal do Brasil, em 1988, e na regulamentao atravs do Estatuto da Cidade, em2001, como obrigatrio para municpios com populao acima de 20 mil habitantes, ou menoreslocalizados em reas de interesse turstico ou de impacto de grandes projetos de infraestrutura,entre outras condies especiais.

    Os municpios do Territrio do Alto Acre e Capixaba aderiram, de maneira voluntria, ao PlanoDiretor. A elaborao participativa do Plano consiste em trs fases: a) a leitura comunitria dasituao atual; b) a leitura tcnica, que visa denio de prioridades, a elaborao de propostasc) e a pactuao e aprovao; a ltima seguida pela implementao do projeto de lei. Por virarlei, o Plano Diretor costuma ter importncia maior para as prefeituras em comparao com aAgenda 21 ou o Plano de Ordenamento Territorial Local.

    A primeira fase do Plano Diretor foi concluda em todos os municpios, em 2006, com apoio deWWF25. Durante o ano 2009, CONDIAC realizou, em parceria com a organizao de cooperaoCARE International, a segunda fase, chamada leitura tcnica, com a expectativa de que a leido Plano Diretor seja aprovada em todos os cinco municpios, durante o primeiro semestre de2010.

    Sob tica do desenvolvimento regional, a Agenda 21, o Plano de Ordenamento Territorial Locale o Plano Diretor tm relao complementar nas diferentes dimenses e escalas temporais eespaciais em que atuam. Diferente da prtica comum das prefeituras, que costumam realizar

    planejamentos anuais ou com previso de, no mximo, quatro anos, os instrumentos promovi-dos pelo CONDIAC visam a um perodo de dez anos, partindo das necessidades locais, sendo queos planos elaborados continuam abertos para atualizaes.

    24 A iniciativa MAP promove seminrios tri e bi nacionais sobre Desenvolvimento Regional Integrado. Nos ltimos anos,tem realizado seminrios sobre Ordenamento Territorial, Gesto Territorial Participativa e Mudanas Climticas. O CON-DIAC tem dado importante contribuio na organizao e realizao desses eventos, e conseguido se consolidar comoagente de desenvolvimento territorial alm das fronteiras.

    25 Alm do WWF World Wildlife Fund e do DED, constaram como parceiros no processo a Cooperao Tcnica Alem GTZ,a Rede GTA (Grupo de Trabalho Amaznico), a Universidade Federal do Acre e o Governo do Estado do Acre.

    A funo do CONDIAC nos processos de elaborao foi a de articulao entre governos nancia construo de um novo posto de sade com base na anlise do tamanho da populao local

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    A funo do CONDIAC nos processos de elaborao foi a de articulao entre governos, nancia-dores, consultores e sociedade civil, assim como a elaborao dos produtos que hoje se encon-tram disposio das prefeituras e populaes locais.

    b) Resultados

    A Agenda 21 foi reconhecida pelos prefeitos e vereadores dos cinco municpios, via decreto. Elaest sendo consultada por estudantes e alunos, e est disponvel nas principais instituies dosmunicpios. Persiste o desao de garantir a aplicao e o monitoramento das A21 pela sociedadecivil, atravs de Fruns 21, que foram criados d urante o processo de elaborao. O maior obst-culo o custo da manuteno dos Fruns (transporte, alimentao, remunerao). As prefeiturasno dispem de recursos extras para mant-los e, muitas vezes, no os tm como prioridade.

    A relao dos governos municipais com as Agendas 21 ambgua: atualmente, as prefeituras

    realizam cerca de 20% dos projetos previstos no documento por reconhecerem a sua urgnciae importncia. No entanto, quase nunca fazem a relao desses com a A21. Ocorre que eles seapresentam como autores dos projetos, j na perspectiva do prximo processo eleitoral. O inte-resse o de mostrar populao o que j conseguiram implementar, enfatizando a sua contri-buio, na esperana de ganhar novamente os votos dos eleitores, em vez de destacar que essesprojetos foram pensados coletivamente e com a participao das comunidades.

    Em relao ao ordenamento territorial local, o municpio de Brasileia est com o plano e mapasmunicipais elaborados. Esses produtos j facilitam a tomada de decises sobre, por e xemplo, olocal onde construir uma nova escola, considerando o nmero de crianas e adolescentes, ou a

    construo de um novo posto de sade, com base na anlise do tamanho da populao localnuma dada rea. Embora o processo de Brasileia tenha demorado bem mais do que esperado,ele serve como aprendizagem para os outros municpios.

    Os desaos principais estavam na denio inadequada de papis e na distribuio no muitoclara de responsabilidades entre estado e municpio. Por um lado, todo o processo logstico foitransferido ao municpio, mas em relao metodologia e tomada de decises, a responsa-bilidade cou em parte na mo das instituies estaduais, o que dicultou a identicao daprefeitura com o processo.

    Com os PDs municipais, ainda em elaborao, no possvel identicar resultados concretos,alm do sucesso da concluso da primeira fase, que contou com ampla participao da socieda-de civil.

    De forma geral, possvel constatar que a participao como mtodo e como princpio de aopoltica ganhou terreno nos cinco municpios que compem o Territrio do Alto Acre e Capixaba.A partir da atuao do CONDIAC, promoveu-se uma viso mais regionalista dentro das prefei-turas.

    O Consrcio, por sua vez, acumulou competncia tcnica e logstica na rea do planejamentoregional. Portanto, conseguiu se estabelecer como parceiro convel e motivador do desen-volvimento territorial tanto para os municpios quanto para o estado. Os dados de georeferen-ciamento que esto sendo continuamente levantados e atualizados serviro para pesquisas eavaliaes, que podem, futuramente, resultar em um re-ordenamento territorial mais susten-tvel. Essa transferncia do conhecimento acumulado para os processos de tomada de decisopoltica um dos prximos desaos a serem enfrentados pelo Consrcio.

    Capacitao tcnica

    a) Descrio da experincia

    Um planejamento regional pertinente depende das capacidades e dos conhecimentos dispon-veis no territrio, que possam fornecer os dados necessrios no momento de decises polticas.Tcnicos treinados so indispensveis para, por exemplo, a elaborao e a interpretao de da-dos georeferenciados, a localizao de vias de transporte, o controle de incndios ou a avaliaosobre a presena de substncias perigosas nas guas e nos solos.

    No incio da parceria do CONDIAC com o DED, foram identicadas algumas lacunas de conhe -cimento tcnico. Por exemplo, a estratgia municipal de preservao do me io ambiente estavalimitada a servios de limpeza da cidade ou cuidado de reas verdes. O estado estava focadono zoneamento da ocupao e do uso de solo e da gesto das unidades de conservao, mas

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    houve pouca preocupao com temticas, como gesto integrada de lixo, esgoto, controle dasqueimadas, tratamento de substncias p erigosas, proteo contra rudos ou contaminao at-mosfrica.

    Percebeu-se que os tcnicos no costumavam trabalhar com mapas, s vezes, de difcil acesso,s vezes, com ausncia ou erro de informaes. Portanto, a capacitao foi identicada comoimportante linha de ao para contribuir com a melhoria das condies para o planejamentoterritorial.

    Diante desse contexto, tem sido implementada um a srie de capacitaes metodolgicas paratcnicos dos municpios, que tm contribudo, em sequncia, com seus conhecimentos nos pro-cessos de elaborao da Agenda 21, do Plano de Ordenamento Territorial Local e do Plano Di-retor. Os prossionais participantes foram liberados, pelas prefeituras, dos seus trabalhos derotina nas secretarias de planejamento, meio ambiente e cadastro. Os tcnicos da equipe doCONDIAC tambm participaram dos cursos.

    A deciso sobre os contedos a serem trabalhados parte de um levantamento peridico dasdemandas dos tcnicos. Os temas inicialmente focados foram planejamento, monitoramento eavaliao, seguidos por capacitaes tcnicas em geoprocessamento (GIS e GPS)26 para facilitaro levantamento de dados e a elaborao de mapas. Outras questes abordadas foram a prote-o e a gesto do meio ambiente e dos recursos naturais. Um cooperante do CONDIAC, contrata-do com apoio do DED (atualmente um engenheiro orestal), capacita os tcnicos de acordo coma demanda identicada em temas relacionados com a agricultura familiar. Para o ano de 2010, aprojeo abordar a legislao ambiental e a valorizao dos servios ambientais.

    b) Resultados

    Para criar uma oferta de capacitaes temticas que correspondessem s demandas dos tcni-cos locais, foi preciso ter um especial cuidado e uma linguagem adequada para conseguir iden-

    ticar as necessidades reais. Geralmente, as pessoas no gostam de ter algumexaminando de que forma se trabalha, com quais mtodos e tecnologias, comque tipo de infraestrutura etc. Foi importante se conquistar, primeiro, a con-ana dos tcnicos. Em alguns casos, percebeu-se que no existia uma culturado querer aprender. Nesse sentido, os prossionais no comunicavam as de-mandas e era preciso fazer uma oferta atrativa para convenc-los a participarde uma capacitao, vencendo os desaos logsticos nos municpios.

    Hoje, cerca de 20 tcnicos fazem parte de uma rede de capacitao, alm deoutros que participam esporadicamente. Eles formam um grupo que trabalhacom os temas desenvolvimento territorial, gesto e preservao ambiental.

    O conhecimento adquirido na rea de georeferenciamento ajudou os tcnicos

    a produzir mapas temticos sobre os recursos e espaos naturais, anteriomenteno representados em escala local. Foram elaborados planos de preveno paracasos de enchentes e incndios, assim como planos de gesto das guas, ambosantes inexistentes. Esse procedimento foi acompanhado por um processo desensibilizao, por exemplo, em relao necessidade de trabalhar para preser-var a produtividade dos solos ou a segurana do abastecimento de gua.

    O CONDIAC acumulou, ao longo dos cinco anos, conhecimento tcnico e umaampla base de dados que faz com que ele se torne, cada vez mais, um centrode referncia para as prefeituras municipais. Os tcnicos do Consrcio assimila-ram uma postura de compartilhar o conhecimento nas capacitaes. O conhe-cimento compartilhado o fundamento a partir do qual o CONDIAC transfereinformaes importantes para as prefeituras, no momento da tomada de de-cises tcnicas e polticas, como por exemplo, a de nio de onde ser precisoconstruir ou melhorar os acessos para facilitar o transporte de ltex extrado aser entregue na nova fbrica de preservativos masculinos NATEX em Xapuri.27

    26 GIS- Geographic Information System ou em portugus: Sistema de Informao Geogrca (SIG).

    Trata-se de um sistema de hardware, software, informao espacial e procedimentos computacionais que facilita aanlise, gesto ou representao do espao e dos fenmenos que nele ocorrem. Os campos de aplicao so vastos,podendo-se utilizar para a cartograa, para estudos de impacto ambiental ou para a demarcao exata de propriedadesde terra, entre outros. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_de_informa%C3%A7%C3%A3o_geogr%C3%A1ca, aces-sado em 02/12/2009).

    Para entender o que GPS, favor veja a nota de referncia nmero 13.

    27 Implementado como projeto de dinamizao econmica pelo governo estadual do Acre, a fbricaNatex funciona desde 2007 e produz os primeiros preservativos no mundo fabricados a partir do l-tex de seringal nativo. O sucesso da iniciativa depende em grande parte na capacidade do CONDIACe das prefeituras locais em garantir e organizar a mo de obra local, a produo e entrega do ltexnatural com qualidade, assim como seu transporte at a fbrica. Hoje, so 160 pessoas direitamen-te empregadas pela fbrica, e em torno de 700 famlias nas orestas produzindo o ltex. Para maisinformaes: http://www.preservativosnatex.com.br/

    Prticas prometedoras, lies-chave e perspectivas Lies-chave

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    Prticas prometedoras, lies chave e perspectivas

    De forma geral, o CONDIAC conseguiu consolidar-se no Territrio do Alto Acre eCapixaba como importante entidade de planejamento regional e de coordena-o entre as prefeituras, instituies estaduais e organizaes da sociedade ci-vil. Ao mesmo tem po, virou centro de informaes e georeferncia, de serviosrelacionados ao planejamento regional, a elaborao de material cartogrcoe de projetos, a realizao de capacitaes e a assessoria em gesto amb