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CAO – Crim Boletim Criminal Comentado n° 062
Subprocuradoria-Geral de Justiça de Políticas Criminais e Institucionais
Mário Luiz Sarrubbo
Coordenador do CAO Criminal
Arthur Pinto Lemos Junior
Assessores
Fernanda Narezi Pimentel Rosa
Marcelo Sorrentino Neira
Paulo José de Palma
Ricardo José Gasques de Almeida Silvares
Rogério Sanches Cunha
Analista Jurídica
Ana Karenina Saura Rodrigues
Boletim Criminal Comentado n° 062 – Agosto 2019
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SUMÁRIO
SUMÁRIO --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2
ESTUDOS DO CAOCRIM--------------------------------------------------------------------------------------------------- 3
1 - Tema: Execução provisória da pena ................................................................................................. 3
STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM ------------------------------ 6
DIREITO PROCESSUAL PENAL ------------------------------------------------------------------------------------------- 6
1- Tema: Execução Penal- Falta grave cometida em regime fechado e reinício da contagem do prazo
para a progressão de regime ................................................................................................................ 6
2- Tema: Homicídio praticado por policial militar contra civil – competência para apreciação do
pedido de arquivamento do IP .............................................................................................................. 8
DIREITO PENAL ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 10
1- Tema: STJ- LEI DE DROGAS - jurisprudência em teses .................................................................... 10
2- Tema: Medida de segurança- Crime apenado com reclusão- Internação ...................................... 10
3- Tema: Indeferimento do indulto no tráfico de drogas................................................................... 11
Boletim Criminal Comentado n° 062 – Agosto 2019
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ESTUDOS DO CAOCRIM
1-Tema: Execução provisória da pena
No HC 126.292, modificando orientação antes firmada, o STF considerou possível o início da execução
da pena após o recurso em segunda instância.
No julgamento, considerou-se que a prisão após a apreciação de recurso pela segunda instância não
desobedece a postulados constitucionais – nem mesmo ao da presunção de inocência – porque, a
essa altura, o agente teve plena oportunidade de se defender por meio do devido processo legal
desde a primeira instância. Uma vez julgada a apelação e estabelecida a condenação (situação que
gera inclusive a suspensão dos direitos políticos em virtude das disposições da LC nº 135/2010),
exaure-se a possibilidade de discutir o fato e a prova, razão pela qual a presunção se inverte. Não é
possível, após o pronunciamento do órgão colegiado, que o princípio da presunção de inocência seja
utilizado como instrumento para obstar indefinidamente a execução penal. Considerou-se, ainda, a
respeito da possibilidade de que haja equívoco inclusive no julgamento de segunda instância, que há
as medidas cautelares e o habeas corpus, expedientes aptos a fazer cessar eventual constrangimento
ilegal.
O tema voltou à pauta do tribunal por meio das ADC 43 e 44, nas quais se pretendia a declaração de
constitucionalidade do art. 283 do CPP, segundo o qual “Ninguém poderá ser preso senão em
flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em
decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do
processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva”. Pretendia-se, com isso, evitar os
efeitos da decisão tomada no habeas corpus já citado, ou seja, que a prisão se tornasse possível após
o julgamento de recursos em segunda instância.
O objetivo não foi, todavia, alcançado, pois o STF conferiu ao art. 283 do CPP interpretação conforme
para afastar aquela segundo a qual o dispositivo legal obstaria o início da execução da pena assim
que esgotadas as instâncias ordinárias.
Contrariamente à implantação da medida, o primeiro obstáculo que se opunha era exatamente o
princípio da presunção de inocência. Argumentava-se que sem o trânsito em julgado a execução da
pena infringia o disposto no art. 5º, LVII, da CF, contrariando postulados de direito penal garantista.
Considerou-se, no entanto, que a presunção de inocência tem sentido dinâmico, modificando-se
conforme se avança a marcha processual. Dessa forma, se no início do processo a presunção pende
efetivamente para a inocência, uma vez proferido julgamento em recurso de segunda instância essa
presunção passa a ser de não culpa, pois, nessa altura, encerrou-se a análise de questões fáticas e
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probatórias. Portanto, uma vez que o tribunal (TJ/TRF) tenha considerado bem provados o fato e suas
circunstâncias, os recursos constitucionais não abordarão esses aspectos, pois estarão adstritos aos
limites que lhe são impostos constitucional e legalmente.
Além disso, deve-se refletir a respeito do conceito de trânsito em julgado no processo penal, que o
Código de Processo Penal não estabelece e que, parece-nos, não pode ser tomado de empréstimo
do Código de Processo Civil. O conceito de trânsito em julgado no processo penal não está
relacionado ao esgotamento de todos os recursos, mas ao esgotamento da análise fática, como, aliás,
ocorre em outros países igualmente democráticos em que operam cortes constitucionais – cujos
recursos têm efeitos rescisórios – e nos quais é inconcebível que um condenado em segunda
instância aguarde o pronunciamento de cortes superiores para iniciar o cumprimento da pena. Não
fosse isso o bastante, pressupor, no processo penal, o encerramento de todas as formas recursais
tornaria inalcançável o trânsito em julgado porque a revisão criminal está elencada entre os recursos.
Impedir a execução imediata exigindo que se esgotem também os recursos constitucionais impõe
diversos efeitos deletérios: a) incentiva a seletividade penal, pois, sabe-se, não são todos que
dispõem de condições financeiras para suportar os custos de um processo até tribunais superiores.
Ao mesmo tempo, as defensorias públicas nem sempre têm estrutura para atender à demanda
daqueles que não têm capacidade financeira; b) incentiva a proliferação de recursos especiais e
extraordinários com intuito meramente protelatório, que inundam os tribunais superiores e que na
maior parte das vezes não surtem nenhum efeito a não ser mesmo adiar a execução da pena; c)
agrava o descrédito que a sociedade nutre pelo sistema penal, pois veem-se réus autores de crimes
muitas vezes gravíssimos permanecerem soltos por anos e anos, estendendo demasiadamente o
lapso entre a prática do crime e o cumprimento da pena, que aliás muitas vezes sequer é alcançado
diante do comum reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva. Arruínam-se, portanto, os
objetivos da pena, não só em relação ao condenado (retribuição, ressocialização e prevenção
especial) como também aos demais membros da sociedade (prevenção geral).
Argumentava-se também que a execução da pena em seguida ao pronunciamento da segunda
instância contrariava o disposto no art. 5º, LXI, da CF, segundo o qual “ninguém será preso senão em
flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente (...)”. O
dispositivo não impõe, no entanto, nenhum óbice à execução imediata da pena – embora o
constituinte pudesse tê-lo feito, caso considerasse necessário –, até porque o que se busca impedir
por meio de uma garantia segundo a qual não há prisão a não ser em flagrante ou decorrente de
ordem judicial é evidentemente a prisão arbitrária, imposta por abuso de autoridade, portanto à
margem da lei, o que definitivamente não se aplica à prisão determinada por um órgão colegiado de
julgadores.
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Outro argumento utilizado por aqueles que pretendiam impedir a execução imediata da pena é o
incremento do caos carcerário que essa medida pode causar. Utilizou-se, aliás, um pronunciamento
do próprio STF na ADPF 347, segundo o qual o sistema penitenciário brasileiro deveria ser
caracterizado como “estado de coisas inconstitucional” diante da massiva violação de direitos
fundamentais ocorridas nas unidades prisionais. Determinar, portanto, a execução adiantada da
pena levaria ainda mais condenados a se submeter à violação de direitos.
No entanto, embora se reconheça a existência de graves problemas estruturais no sistema
penitenciário, deve ser ressaltado que isso não guarda relação direta com a execução da pena, mas
decorre da multiplicação de prisões cautelares sobre fatos que, não raras vezes, carecem de maior
importância. Não se justifica que, em virtude de decisões judiciais reversíveis, de natureza precária,
impeça-se o cumprimento de outras decisões que, sobre os fatos e as provas, são definitivas.
Sabendo que o crime doloso contra a vida é julgado, já em primeiro grau, por órgão colegiado -
jurados- e soberano (art. 5º. XVIII, CF/88), cabe execução penal provisória da pena após condenação
perante o Conselho de Sentença?
O ministro Luis Roberto Barroso, compondo a 1ª Turma do STF, no julgamento do HC 118.770, em
7/3/2017, abriu divergência que foi acolhida por maioria de votos. Destacou que "[...] a presunção
de inocência é princípio (e não regra) e, como tal, pode ser aplicada com maior ou menor intensidade,
quando ponderada com outros princípios ou bens jurídicos constitucionais colidentes. No caso
específico da condenação pelo Tribunal do Júri, na medida em que a responsabilidade penal do réu
já foi assentada soberanamente pelo Júri, e o Tribunal não pode substituir-se aos jurados na
apreciação de fatos e provas (CF/88, artigo 5º, XXXVIII, c), o princípio da presunção de inocência
adquire menor peso ao ser ponderado com o interesse constitucional na efetividade da lei penal, em
prol dos bens jurídicos que ela visa resguardar (CF/88, artigos 5º, caput e LXXVIII e 144). Assim,
interpretação que interdite a prisão como consequência da condenação pelo Tribunal do Júri
representa proteção insatisfatória de direitos fundamentais, como a vida, a dignidade humana e a
integridade física e moral das pessoas".
Partiu-se, portanto, da premissa de que, face à soberania que é inerente ao Tribunal do Júri,
decorrente de expresso texto constitucional nesse sentido (art. 5º, inc. XXXVIII, "c" da Carta), seria
admitida a imediata prisão do réu, assim que condenado pelo Tribunal popular.
Clique aqui para acessar modelo de requerimento de execução provisória da pena
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STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM
DIREITO PROCESSUAL PENAL:
1- Tema: Execução Penal- Falta grave cometida em regime fechado e reinício da contagem do prazo
para a progressão de regime
STF- HC 114494, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 28/11/2017,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-287 DIVULG 12-12-2017 PUBLIC 13-12-2017
HABEAS CORPUS – RECURSO ORDINÁRIO – SUBSTITUIÇÃO. Em jogo, na via direta, a liberdade de ir e
vir do cidadão, cabível é o habeas corpus, ainda que substitutivo do recurso ordinário constitucional.
PENA – REGIME DE CUMPRIMENTO – FALTA GRAVE – PROGRESSÃO – TEMPO –
TERMO INICIAL. Uma vez cometida falta grave no curso do cumprimento da pena em regime fechado,
tem-se a fixação de novo termo inicial para progredir – inteligência da Lei de Execução Penal.
STJ- REsp 1765936/RS, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
21/03/2019, DJe 02/04/2019
RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO PENAL. VIOLAÇÃO DOS ARTS. 52, CAPUT; 112, CAPUT; 118, CAPUT, I
E § 2º; E 127, TODOS DA LEP. FALTA GRAVE COMETIDA EM REGIME FECHADO. AUSÊNCIA DE
REGRESSÃO. AUDIÊNCIA DE JUSTIFICAÇÃO JUDICIAL. PRESCINDIBILIDADE. JURISPRUDÊNCIA DO STJ.
RECONHECIMENTO DA FALTA GRAVE PELO JUÍZO DA EXECUÇÃO E PELO TRIBUNAL DE ORIGEM.
SUFICIÊNCIA DAS MEDIDAS ADMINISTRATIVAS. INVIABILIDADE. ALTERAÇÃO DA DATA-BASE PARA
BENEFÍCIOS DA EXECUÇÃO E PERDA DE ATÉ 1/3 DOS DIAS REMIDOS. DISCRICIONARIEDADE DO
ÓRGÃO JULGADOR SOMENTE QUANTO À FRAÇÃO DA PERDA. PRECEDENTES DE AMBAS AS TURMAS
DA TERCEIRA SEÇÃO. DETERMINADO O RETORNO DOS AUTOS.
1. Verifica-se a regularidade da decisão do Juízo da execução penal, em dispensar a audiência de
justificação, notadamente em razão da ausência de regressão de regime prisional, portanto, em
conformidade com jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.
2. A orientação deste Superior Tribunal se firmou no mesmo sentido do acórdão estadual, de que é
prescindível nova oitiva do apenado antes da homologação judicial da falta grave se ele foi
previamente ouvido em procedimento administrativo disciplinar, no qual foram observados os
direitos à ampla defesa e ao contraditório (AgRg no HC n. 367.421/SP, Ministro Rogerio Schietti Cruz,
Sexta Turma, DJe 1º/8/2017).
3. Reconhecida a falta grave, merece reparos a decisão proferida nos embargos infringentes, que
atestou a regularidade procedimental, no que diz respeito ao entendimento do Juízo da Execução
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Criminal quanto à suficiência das medidas administrativas aplicadas, de competência exclusiva do
diretor do estabelecimento prisional.
4. Na presente hipótese, tanto o Juízo da execução como o Tribunal a quo reconheceram a
configuração da falta grave, dessa forma, imperioso o retorno dos autos para aplicação das sanções
cabíveis, notadamente no que se refere à fixação de nova data-base para concessão de novos
benefícios, exceto livramento condicional, indulto e comutação da pena; bem como na escolha da
fração de perda dos dias remidos.
5. Recurso especial provido para determinar o retorno dos autos ao Tribunal de Justiça do Rio Grande
do Sul, a fim de que seja estabelecida, de maneira fundamentada, a fração da perda dos dias remidos
aplicável ao caso, observado o limite de 1/3, bem como definida a nova data-base para concessão de
novos benefícios, exceto livramento condicional, indulto e comutação da pena.
COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM
Lendo o presente julgado, algumas observações devem ser feitas sobre o tema falta grave na
execução penal:
a) a jurisprudência do STF e do STJ caminha no sentido de que a data-base para progressão de regime
é aquela em que o preso preenche os requisitos da lei, e não a data em que o juízo das execuções
penais concede o benefício, ou seja, que a decisão possui natureza declaratória e não constitutiva.
No TJSP havia controvérsia sobre a matéria, porém, recentemente, nos autos do Processo n.º
2103746-20.2018.8.26.0000, por maioria de votos, o TJSP fixou como tese jurídica em Incidente de
Resolução de Demandas Repetitivas a natureza declaratória da decisão que concede progressão de
regime. Nova sessão de julgamento foi marcada para o dia 24/10/19 para liberação da ementa. Após
a publicação do acórdão, a Procuradoria Criminal analisará o cabimento de recurso.
b) o cometimento de falta grave não implica na perda de todos os dias remidos. Consoante a redação
do artigo 127, o condenado perderá até 1/3 (um terço) do tempo remido, recomeçando a contagem
a partir da data da infração disciplinar. Para tanto, o juiz deverá observar o disposto no art. 57 da LEP,
ou seja, levar em conta a natureza, os motivos, as circunstâncias e as consequências do fato, bem
como a pessoa do faltoso e seu tempo de prisão;
c) de acordo com o enunciado da Súmula 441 do STJ, “A falta grave não interrompe o prazo para
obtenção de livramento condicional”. A Súmula 535, por sua vez, apregoa que “A prática de falta
grave não interrompe o prazo para fim de comutação de pena ou indulto”. No que se refere à
progressão, a falta grave gera o reinício da contagem do prazo (nova data-base para concessão do
benefício);
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d) nos exatos termos do que anuncia a Súmula 526 do STJ, “O reconhecimento de falta grave
decorrente do cometimento de fato definido como crime doloso no cumprimento da pena prescinde
do trânsito em julgado de sentença penal condenatória no processo penal instaurado para apuração
do fato”.
2- Tema: Homicídio praticado por policial militar contra civil – competência para apreciação do
pedido de arquivamento do IP
STJ- AgRg no REsp 1803239/SP, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 21/05/2019, DJe 03/06/2019
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PROCESSO PENAL. HOMICÍDIO PRATICADO POR
POLICIAL MILITAR EM SERVIÇO CONTRA CIVIL. COMPETÊNCIA AFETA AO TRIBUNAL DO JÚRI. AGRAVO
DESPROVIDO.
1. Não cabe à Justiça Militar determinar o arquivamento do feito, ainda que entenda ser o caso de
excludente de ilicitude, mas, sim, encaminhar os autos à Justiça Comum, conforme previsto no art.
82, § 2º, do Código de Processo Penal Militar (nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra
civil, a Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça comum) (HC
n.385.778/SP, Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 30/6/2017)
2. Agravo regimental desprovido.
No mesmo sentido: RECURSO ESPECIAL Nº 1.814.794 – SP
Clique aqui para ter acesso ao inteiro teor da decisão
Esta jurisprudência foi incluída a pedido do Setor de Recursos Criminais Extraordinários e Especiais.
COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM
Reza o art. 125, §4o, da CF/88, que crimes militares definidos em lei, quando dolosos contra a vida
de civil, são da competência do júri. O art. 82, §2o., do CPPM, por sua vez, anuncia que nesses casos
a Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à Justiça Comum.
Buscando coexistir os dois artigos, o Tribunal de Justiça Militar publicou a Resolução nº 54, na qual
conclui e resolve que para a investigação de crimes dolosos contra vida cometidos por militares
contra civis é atribuição da polícia judiciária militar.
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A constitucionalidade da referida resolução foi questionada pelo Procurador-Geral de Justiça do
Estado de São Paulo perante a Corte de Justiça Paulista, recebendo tal feito o nº 2166281-
19.2017.8.26.0000.
No dia 13 de setembro de 2017, o relator, Exmo. Desembargador Péricles Piza deferiu a liminar
pleiteada pelo Procurador-Geral e suspendeu os efeitos, ex nunc, da eficácia da resolução
impugnada, sendo que, até o momento, o mérito da ADI ainda não foi julgado, encontrando-se,
portanto, em vigor referida medida liminar suspensiva.
Diante desse quadro, em obediência à liminar do TJ, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de
São Paulo vem fazendo valer a sua Resolução n. 40/2015, que disciplina o procedimento a ser
adotado no caso de “morte decorrente de intervenção policial”, estando ou não o agente em serviço,
ficando determinado que: “Os policiais que primeiro atenderem a ocorrência deverão preservar o
local até a chegada do Delegado de Polícia, e providenciar para que não se alterem o estado e
conservação das coisas para a realização de perícia, comunicando, imediatamente, o COPOM ou
CEPOL, conforme o caso”, determinando, ainda, que o Delegado deverá apreender os objetos que
tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais, bem como colher todos os
elementos informativos que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias, inclusive,
desde logo, identificar e qualificar as testemunhas presenciais do fato, ficando claro, assim, que a
Resolução SSP-40 determina que a condução das apurações ficará a cargo do Delegado de Polícia. À
Polícia Militar cabe, segundo a mesma Resolução, zelar pela observância dos procedimentos
operacionais de preservação do local do crime, e a respectiva Corregedoria deverá acompanhar a
ocorrência, com o objetivo de coletar dados e informações para instrução de procedimento
administrativo.
Cientes desse cenário, Promotores de Justiça, no exercício do controle externo da atividade policial,
com fundamento no art. 129, VII, da Constituição Federal, art. 103, XIII, “c” da Lei Complementar
Estadual 734/1993, art. 4o., IX, da Resolução 20/2007 do CNMP, têm encaminhado recomendação
às policias militar e civil no sentido de ver obedecida a liminar do TJ, bem como a Resolução no. 40/15
da SSP SP.
O CAO-CRIM, com a finalidade de uniformizar (e fortalecer) a postura dos órgãos de execução do MP,
confeccionou modelo de SUGESTÃO (ou recomendação para quem tiver instaurado procedimento),
que pode ser utilizado no exercício do controle externo da atividade policial, publicado no boletim
da segunda semana de agosto de 2018 (clique aqui para ter acesso ao modelo).
Boletim Criminal Comentado n° 062 – Agosto 2019
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DIREITO PENAL:
1- Tema: STJ- LEI DE DROGAS - jurisprudência em teses
Clique aqui para ter acesso as Jurisprudências
2- Tema: Medida de segurança- Crime apenado com reclusão- Internação
STJ- AgRg no HC 447.412/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
julgado em 11/09/2018, DJe 20/09/2018
AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. ABSOLVIÇÃO IMPRÓPRIA.
APLICAÇÃO DE MEDIDA DE SEGURANÇA. INTERNAÇÃO. SUBSTITUIÇÃO POR TRATAMENTO
AMBULATORIAL. IMPOSSIBILIDADE. CRIME APENADO COM RECLUSÃO. MODIFICAR O
ENTENDIMENTO DO TRIBUNAL DE ORIGEM. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO DO MATERIAL
FÁTICO/PROBATÓRIO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL AFASTADO.
Clique aqui para ter acesso ao inteiro teor da decisão
Esta jurisprudência foi incluída a pedido do Setor de Recursos Criminais Extraordinários e Especiais.
COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM
A medida de segurança, espécie de sanção penal, pode ser de duas espécies: detentiva ou restritiva.
A medida de segurança detentiva (art. 96, I, CP) representa a internação em hospital de custódia e
tratamento psiquiátrico.
Por sua vez, a medida de segurança restritiva (art. 96, II, CP) corresponde ao tratamento ambulatorial.
A tese vencedora na 5ª.T do STJ é no sentido de que apenas é cabível a imposição de medida de
segurança de tratamento ambulatorial (restritiva) se o fato previsto como crime for punível com
detenção (HC 143.016/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, Quinta Turma, julgado em 09/02/2010, DJe
22/03/2010). No mesmo diapasão: HC 419.819/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA,
julgado em 17/04/2018, DJe 24/04/2018; HC 394.821/MS, por mim relatado, QUINTA TURMA,
julgado em 17/08/2017, DJe 29/08/2017 e HC 213.294/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA
TURMA, julgado em 01/10/2013, DJe 10/10/2013).
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A mens legis do artigo 97 do Código Penal consiste em impor, como regra, a internação aos
inimputáveis na hipótese de delitos punidos com reclusão, e somente facultar o tratamento
ambulatorial - atribuindo-se ao juiz certa discricionariedade - aos casos punidos com detenção, sendo
cabível, nesta última hipótese, a averiguação da periculosidade do agente para respaldar a adoção
de uma medida ou de outra, à luz do princípio do livre convencimento motivado (HC 394.072/MS,
Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em
23/05/2017, DJe 30/05/2017).
No homicídio doloso, por exemplo, impõe-se a aplicação de internação.
Por fim, deve ser alertado que o CNJ reconhece o caráter excepcional da medida detentiva
(internação), recomendando na Resolução nº 113 do Conselho Nacional de Justiça, em seu artigo 17,
o que segue:
“O juiz competente para a execução da medida de segurança, sempre que possível buscará
implementar políticas antimanicomiais, conforme sistemática da Lei nº 10.216, de 06 de abril de
2001”.
3- Tema: Indeferimento do indulto no tráfico de drogas
STJ- AgRg no HC 464.605/RJ, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
02/04/2019, DJe 08/04/2019
PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO DE DROGAS.
INDULTO. DECRETO PRESIDENCIAL N. 9.246/2017. VEDAÇÃO LEGAL CONTIDA NO ART. 44, CAPUT, DA
LEI 11.343/2006. INDEFERIMENTO DO BENEFÍCIO. AGRAVO DESPROVIDO.
1. O art. 44 da Lei n. 11.343/2006 estatui que "os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a
37 da Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória,
vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos."
2. Embora a vedação à concessão do indulto ao crime de associação para o tráfico de drogas (art.
35 da Lei n. 11.343/2006) não conste, de fato, no Decreto Presidencial n. 9.246/2017, está
expressamente delineada no art. 44, caput, da Lei n. 11.343/2006.
3. Não é possível a concessão de indulto ou comutação da pena ao condenado pelo delito de
associação para o tráfico de drogas, pois há vedação legal contida no art. 44, caput, da Lei n.
11.343/2006.
Precedentes.
Boletim Criminal Comentado n° 062 – Agosto 2019
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4. Agravo regimental desprovido.
COMENTÁRIOS DO CAO-CRIM
O art. 44 da Lei de Drogas prevê consequências típicas de um crime hediondo (aliás, até mais
rigorosas) para os delitos previstos nos arts. 33, caput e § 1.º, e 34 a 37 desta Lei.
Uma das vedações é o indulto.
De acordo com o STJ, embora a vedação à concessão do indulto ao crime de associação para o tráfico
de drogas (art. 35 da Lei n. 11.343/06) não conste no Decreto Presidencial n. 9.246/2017, está
expressamente proibida no art. 44, caput, da Lei de Drogas.
Indaga-se se a vedação abrange também o indulto humanitário, ou seja, aquele concedido por razões
de grave deficiência física ou em virtude de debilitado estado de saúde.
Uma primeira corrente leciona que a referida causa extintiva da punibilidade pode ser concedida
inclusive para condenados por crimes hediondos ou assemelhados, hipótese à qual não seria
aplicável a vedação legal. Por força do princípio da humanidade, até mesmo condenados por crimes
de especial gravidade têm o direito de padecer seu estado doentio em sossego ou de preparar-se
para a morte com dignidade, notadamente nas hipóteses em que os cuidados médicos não possam
ser prestados no próprio estabelecimento penal.
As decisões mais recentes dos Tribunais Superiores, contudo, adotam tese diversa, impedindo até
mesmo o indulto humanitário.