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Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO IGUAÇU 2001 A 2004 108

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Capítulo III

MORTALIDADE DE ADOLESCENTESEM FOZ DO IGUAÇU

2001 A 2004

108

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APRESENTAÇÃO

José Humberto de Góes Junior*

O Direito à Vida, como direito fundamental de todos os seres humanos, sobremaneira, de crianças e adolescentes, regidos pelo princípio da proteção integral contra qualquer forma de violência, crueldade e opressão que possam ser promovidos em suas relações com a família, com a sociedade ou com o Estado, está descrito, com perfeição, no art. 3º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, acompanhado do art. 6º do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, de 1966; do art. 6º da Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, de 1989; dos arts. 5º e 227, da Constituição Federal de 1988; do art. 4º da Lei 8.069/90 Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Ao analisar construções normativas como estas, afirmam Peces-Barba e Peréz Luño, citados por Luis Prieto Sanchís, catedrático de Filosofia do Direito da Universidade Castilla-La Mancha Espanha, estar destituído de qualquer valor um sistema de direitos fundamentais se, na prática não possuir instrumentos capazes de garantir sua proteção, no seu dizer, se não houver um Estado formalmente preparado, com um Poder Judiciário dotado de competências, estrutura necessária e consciente do dever de elevar a categoria superior de importância a defesa dos direitos humanos.

Válidos [os direitos humanos] do ponto de vista filosófico, mais que pelo prisma de sua implementação prática, não podemos olvidar que a norma, seja ela definidora de direitos ou aquela que se encarrega do aparelhamento de mecanismos de garantia de direitos, está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses, põe à prova, a todo instante, a organização e a capacidade do Estado Democrático de Direito em prover à coletividade das condições necessárias à vida, com dignidade, no espaço coletivo.

Nenhuma estrutura formal do Estado, portanto, ou a mera consagração normativa de direitos ou de instrumentos formais de garantia é capaz de reformular comportamentos sociais ou de evitar violações de interesses positivados. Antes de ser um problema filosófico ou científico, de formulação de conceitos, fundamentos ou de integração sob uma lógica coordenada, os Direitos Humanos devem ser pensados, como preconiza Bobbio, sob a ótica de sua realização, da busca de meios mais seguros para obstar, seus contínuos desrespeitos.

Assim é que, ainda sob orientação de Bobbio, podemos comparar a letra da Declaração Universal de 1948 com o que nos deparamos a nossa volta. Pelo que se depreende, serão duas as constatações. A primeira destas, relacionada ao campo teórico, obrigará o observador a reconhecer as “antecipações iluminadas dos filósofos”, as “corajosas formulações dos juristas”, os “esforços dos políticos de boa vontade”. Diante da segunda verificação, todavia, concebida a partir da análise da prática dos direitos humanos, somos forçados a admitir que a luta não se basta na mobilização para o reconhecimento normativo de direitos e interesses legítimos. Há que se encarar um longo percurso, pleno de mobilizações, de modo que o vazio entre a positivação e o implemento de direitos seja, o mais prontamente possível, preenchido.

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Decerto, entre os direitos com maior histórico de violações, o direito à vida é dos mais golpeados, mormente quando se trata de adolescentes e jovens, maiores vítimas de homicídios no Brasil. Malgrado a consagração normativa pátria e o compromisso internacional de proteger e implementar uma política de defesa dos direitos humanos, este País ainda não tomou o rumo do implemento e do respeito do direito à vida, pressuposto de aquisição de todos os demais direitos.

Fundado neste pressuposto é que o recém-criado em Foz do Iguaçu, Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente CEDEDICA, órgão da Fundação Nosso Lar, entidade da sociedade civil, sem fins lucrativos, com ampla atuação no atendimento e defesa de direitos de crianças e adolescentes, aceitou o desafio proposto, no dia de seu lançamento oficial, 25 de fevereiro do corrente ano, pelo Juiz da Vara da Infância e Juventude, Rui Muggiati, de descobrir as causas para o elevado número de mortes, quase sempre, homicídios, de meninos e meninas com idade entre 12 e 18 anos, no Município de Foz do Iguaçu.

A partir de então, com objetivo de dotar a investigação de caráter científico e das capacidades cognitivas necessárias, reunimos o interesse social à orientação metodológica, traduzida na organização do período a ser pesquisado, do instrumento a ser utilizado e as parcerias a serem firmadas, para o desempenho do trabalho e para a sustentação financeira do projeto.

De pronto, convidamos a Universidade do Oeste do Paraná UNIOESTE, que se fez parceira, através do trabalho de excelência desempenhado pelos professores Amarildo Jorge da Silva, José Afonso de Oliveira e Valdecir Simão, bem como dos alunos que se encarregaram da pesquisa de campo e a organização dos dados (Adham Mohamed El-Mokhtar Ibrahim, Aparecido José Martins, Gislaine Ferreira, Jeylliy Machado, Matheus Engelage Diesel e, inicialmente, Elvio Kertelt Legnani), e solicitamos apoio financeiro da Itaipu Binacional que, de imediato, não apenas proporcionou a realização investigativa como passou a ser uma das entusiastas do projeto.

E é, mais uma vez, com apoio da Itaipu Binacional que, após 8 (oito) meses de larga dedicação ao trabalho investigativo, concluímos com êxito o trabalho e podemos oferecer ao Município de Foz do Iguaçu, ao Estado do Paraná, ao Governo Federal e à Sociedade Civil, através da presente publicação, os dados obtidos, as constatações, as proposições necessárias à superação do elevado índice local de mortes prematuras de adolescentes e jovens.

Quiçá este material seja uma valiosa fonte de consulta para o Poder Público e Sociedade Civil engajada na luta pelos Direitos Humanos.

*José Humberto de Góes Junior é advogado e foi Coordenador da Pesquisa pelo CEDEDICA/Fundação Nosso Lar

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COMENTÁRIOS SOBRE A PESQUISA ACERCA DA MORTALIDADE EM FOZ DO IGUAÇU

Ruy Muggiati*

Numa sociedade justa, o direito à vida é sagrado, garantido pelos serviços de proteção do Estado e realizado socialmente pelo esforço solidário de todos os cidadãos.

Infelizmente, em Foz do Iguaçu, é fato notório que muitos adolescentes têm sido vítimas de homicídios dolosos.

No curso do ano de 2005, o Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDEDICA), da Fundação Nosso Lar, com apoio da Itaipu Binacional, resolveu empreender a primeira pesquisa para levantar os dados dessa triste realidade, bem como o perfil e as principais características das vidas desses adolescentes vitimizados e de suas famílias.

Dificilmente se poderá exagerar a carga de enorme sofrimento que tais gráficos e números representam, especialmente para aqueles que viram partir seus filhos, de um modo tão duro e incompreensível. Vidas humanas que jamais retornarão, e que traziam em si um promissor potencial de riquezas igualmente perdidas.

Na Vara da Infância e da Juventude, tenho me deparado com várias mães que passaram por essa terrível experiência, algumas até duas ou mesmo três vezes. Não há palavras que sirvam de consolo. Em alguns casos, tem-se a percepção de uma incrível coragem de viver dignamente. Em outros, as marcas da tragédia são ainda visíveis e trazem um sofrimento indizível.

Quanto a nós, somos todos interpelados em nossa humanidade, pois temos de dar conta do que somos e de quanto ainda temos em capacidade de compaixão, de indignação, de solidariedade, numa palavra, de querer que haja justiça na face da terra, especialmente na cidade onde vivemos, um lugar especial, tão cumulado de belezas raras e dádivas da natureza.

Os dados estatísticos levantados na pesquisa nos permitem fazer algo nessa direção. Doravante, não temos mais a escusa do desconhecimento, o pretexto do não sei por onde começar, ou a desculpa esfarrapada do não posso fazer nada. Ou seja, passa a ser dever de todos, cidadãos, comunidade e Estado-Município, com apoio dos governos federal e estadual, extrair das informações coletadas, agora disponíveis, as referências necessárias para ações concretas no sentido de transformar Foz do Iguaçu numa sociedade justa e solidária. Uma sociedade onde a vida humana seja valorizada em seu grau máximo e onde a pessoa humana seja plenamente reconhecida em toda a sua dignidade.

Os primeiros passos se guiam pela reflexão e interpretação dos dados estatísticos, proporcionando a tematização do problema, o que é sobremodo importante, a fim de que seja tratado prioritariamente e ocupe o espaço mais nobre das nossas preocupações cotidianas.

Na seqüência, a reflexão nos permitirá entender melhor o que se passa ao

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nosso redor, de onde vem tanta violência, como esta que atinge os adolescentes, e quais são os aspectos mais importantes que os tornam vulneráveis a ela, bem como os que produzem o efeito contrário. Podemos assim trabalhar com o binômio vulnerabilidade / invulnerabilidade e as causas de cada qual.

De saída se verifica que, na grande maioria dos casos (89%), os ferimentos mortais foram provocados por armas de fogo.

Levanta-se daí como legítima a proposta de se fazer, nesta região da tríplice fronteira, tendo em vista a sua posição geográfica estratégica, a proibição do comércio de armas de fogo, mediante acordo entre os governos dos três Países. Tal medida possibilitaria às autoridades policiais um trabalho mais eficaz de repressão do tráfico e da proliferação de tais armas, inibindo em conseqüência a sua entrada no País de modo irregular.

Outro dado interessante é o referente à escolarização. Embora a curva de adolescentes cresça verticalmente quando a idade se aproxima dos dezoito anos, a sua grande maioria não concluiu o ensino fundamental.

O que se depreende é a confirmação de uma verdade já rebatida: a escola funciona como círculo de proteção eficiente e diminui a vulnerabilidade. Em sentido contrário, a evasão escolar é o caminho da desproteção e da maior vulnerabilidade.

Isso tem várias explicações: o adolescente que estuda passa pelo menos quatro horas do dia letivo dentro de uma sala de aula. Seus interesses são, numa parcela considerável, ligados à vida escolar e às tarefas de casa. Isso significa, além disso, uma boa ocupação do tempo, sobrando menos tempo para se envolver em confusões. Aliás, a pesquisa também mostrou que um considerável percentual de adolescente mortos (33%) “meteu-se em confusão”.

Na mesma linha de pensamento, em bases sólidas, se pode afirmar que a opção por uma escola integral, ou o contraturno pleno e universal, são medidas oportunas e convenientes, que trarão automaticamente maior proteção, vale dizer, virão em reforço da invulnerabilidade.

Como se vê, muito há por analisar e principalmente por fazer. Também é absolutamente certo que não há tempo a perder.

É enorme a nossa responsabilidade!Que Deus nos ajude.

* Dr. Ruy Muggiati é Juiz de Direito da Vara da Infância e Juventude de Foz do Iguaçu

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MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO IGUAÇU 2001 A 2004: MITOS E CONSTATAÇÕES.

José Humberto de Góes Junior

1 INTRODUÇÃO

Pesquisar a violência urbana é sempre um grande desafio. Terreno de avaliações apaixonadas, sensacionalistas e preconceituosas, com grande poder incursivo na sociedade, o tema se vê alheio a estudos sérios, cujo intento seja o de descobrir seus fatores desencadeantes ou retrativos.

Um estudo sobre a violência, de início, necessita partir da idéia de que este é um fenômeno social presente em toda a história da humanidade, desde que os seres humanos puderam expressar a insatisfação ou rechaço a certos comportamentos. O que, no entanto, indubitavelmente, inclina os integrantes da sociedade a aceitarem a naturalização de certos comportamentos e a negarem assimilação a outros pode estar relacionada ao modo como os valores de convivência humana são inseridos e alimentados no espaço social.

Decerto, o poder e a legitimidade (ainda que alcançada pela força ou pela atuação ideológica) de quem comanda, exerce papel fundamental para a definição do que é um comportamento socialmente aceito ou uma conduta reprovável, confundida com a violência e, em certas circunstâncias, com o crime.

É este também um dos fatores pelos quais a representação social do que significa violência se restringe a um conjunto de atos que atingem ou objetivam atingir fisicamente a vítima. Ou seja, o termo violência, como ocorre ao logo da história, confunde-se com uma de suas modalidades apenas, a violência física, revelada e reproduzida no imaginário social pela ameaça ou crueldade em face do corpo.

Um outro aspecto a ser observado é o componente de classe das análises simplórias. Não é exagero afirmar que a violência física é considerada aceitável por estudos conservadores quando a vítima é podre ou muito pobre. Matérias de jornais, revistas, programas de Televisão, justificam acontecimentos de violência contra os pobres com alicerce em análises plenas de mensagens subliminares, ou, mesmo, generalizantes e reducionistas dos bairros periféricos das cidades (relacionados à pobreza). É de se dizer, ao considerarem áreas pobres do perímetro urbano como espaço cujo fato social exclusivo é a violência, estudos sensacionalistas reduzem este fenômeno à pobreza e provoca no imaginário social a constituição de estereótipos acerca de comunidades e seus integrantes.

Não demora para que se fortaleça a conotação do “outro” [1] como desconhecido, e, por não se saber quem seja, com alguém a ser temido, combatido, afastado do convívio social; em lugar do “outro-igual” a ser encontrado, atraído a compartilhar o espaço.

Em contradição, este “outro-desconhecido”, sob estigmatização da violência

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é convidado a “habitar” o espaço não-rotulado da sociedade, as classes média e alta, quando adota comportamentos atribuídos a estas classes sociais ou se submete a elas na condição dócil de dominação. O mesmo morador de favelas que é visto, generalizadamente, como inserto em condições de violência, obtém a relativização do estereótipo a que está relacionado, quando ocupa funções de empregadas domésticas, porteiros e zeladores em condomínios das classes média e alta, trabalha na linha de frente das forças repressoras do Estado, como a polícia e as forças armadas, em forças de segurança particular, ou ainda, adotam comportamentos alheios a sua condição sócio-econômica.

Mais propícia, com efeito, passa a ser a sociedade para o desempenho de “novas” ideologias [2], sobretudo aquelas que favorecem a comercialização da “segurança”. Pois, análises fundadas na formação de estigmas acerca do outro instigam um instrumento natural de defesa dos indivíduos que limita a ação humana, o medo. Em conseqüência, ensejam comportamentos sociais apaixonados, reacionários, irracionais, ligeiramente formulados.

No âmbito do Estado, por outro lado, as declarações inflamadas incentivam e, mesmo, justificam, o uso de mecanismos institucionais do Estado para a propagação da violência. Seja pela apropriação ou pessoalização do uso de bens ou serviços públicos em favor do enriquecimento de agente políticos ou efetivos do quadro de servidores estatais; seja pela apropriação ou pessoalização do uso de bens e serviços públicos para o desempenho de atos contra indivíduos ou grupos de pessoas, em nome dos interesses particulares de quem domina o Estado, como se pode perceber nos casos de corrupção policial, da formação de grupos de extermínio, do abuso de poder, situações estas que se fortalecem ante a ausência de políticas públicas ou à existência de barreiras ao acesso à justiça social, que se erigem às camadas mais pobres da população.

Não se pode preconizar, portanto, como se vê em análises passionais, que a violência física tem lugar nas comunidades mais pobres porque “marginais se matam uns aos outros” ou porque as vítimas teriam relação com a criminalidade. Ao contrário, a compreensão dos fatores que ensejam uma maior predominância da violência física entre os pobres passa ainda pela análise da omissão estatal, da negação de direitos, entre estes o direito à vida e à segurança pública, decorrente do uso privado do Estado. A falta de disposição à cidadania ou o uso pessoal da coisa pública é o que permite ação de cidadãos contra cidadãos e de agentes do Estado, com abuso de poder, em face dos indivíduos.

Um estudo sobre a violência, além disso, não pode se valer de análises preconceituosas, de valor meramente retórico e passional, cuja implicação mais significativa é relacionar o fenômeno social a deformações éticas ou morais da pessoa que dispõe de certas condutas.

Destarte, quando se observou a necessidade de pesquisar a mortalidade de adolescentes em Foz do Iguaçu, a preocupação manifesta era a de realizar uma investigação consistente, cujo fundamento precípuo seria a inter-relação complexa entre fatores psicológicos, materiais e sociológicos, atuantes no Município como propulsores da violência física.

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Esta finalidade, talvez, não seja lograda imediatamente, haja vista estar o estudo debruçado sobre um tema amplo e, em contrapartida, dispor de um curto período de tempo para execução e análise de dados obtidos. Todavia, pela quantidade e importância das informações coletadas sobre vários dos aspectos da vida dos adolescentes mortos em determinado período (2001-2004), no município, a pesquisa ora realizada poderá dar enorme contributo para análises posteriores, sobre situações específicas relacionadas aos falecimentos. Sobretudo, porque se preocupou em relacionar informações constantes em certidões de óbito, laudos cadavéricos e entrevistas com familiares e amigos dos adolescentes mortos.

O uso destes instrumentos, em verdade, permitiu que o estudo se afastasse da simples correlação numérica entre as estatísticas do Município de Foz do Iguaçu,

Total de Mortes de Adolescentes Vítimas de Homicídio por

Sexo e Idade

2,29 2,86

12,57

18,86

22,86

31,43

01,71

1,14 0,57 1,710,571,711,71

0

5

10

15

20

25

30

35

12 anos 13 anos 14 anos 15 anos 16 anos 17 anos 18 anos

Idade

Valo

res

em

%

Maculino

Feminino

Total de Mortes de Adolescentes por Idade e Sexo em

causas diversas do Homicídio

4,44

2,22

1011,11 11,11

14,44

10

1,11

3,334,44

5,55

7,776,66

3,334,44

00

2

4

6

8

10

12

14

16

12 anos 13 anos 14 anos 15 anos 16 anos 17 anos 18 anos idade não

definida

Idade

Valo

res

em

% Masculino

Feminino

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anteriormente produzidas, para fazer, através da realidade suportada e da construção de um perfil para os adolescentes mortos, sobressaírem-se as fragilidades, bem como as necessidades de alteração das políticas públicas voltadas para o segmento.

Para permitir maior acuidade, exatidão nas análises e planejamento mais preciso das visitas familiares, optou-se pela modalidade diacrônica de pesquisa, é de se dizer, pelo estudo de fatos passados.

Motivo similar foi observado ao se considerar uma faixa etária precisa, entre 12 e 18 anos, ainda que, em contrário ao Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90, que considera adolescente apenas indivíduos entre 12 e 18 anos incompletos. Isto porque, a condição objetiva descrita na norma para estabelecer os parâmetros etários da adolescência não é capaz de perceber as incursões dos modos presentes da vida social que estendem a adolescência, tampouco a relação que a ação pública, ou a falta de políticas destinadas a indivíduos neste momento da vida, alcançam inevitavelmente a todos aqueles que legalmente se encontram recém-saídos da adolescência. De modo mais claro, completar 18 anos não é pré-requisito para que se abandone as condições sociais, psicológicas e materiais próprias do adolescente ou para que se possa superar a omissão do Estado em relação à adolescência.

Calcado nestas concepções, o trabalho se iniciou com a análise das certidões de óbito e dos laudos cadavéricos disponíveis [3].

De início, foram constatadas 265 mortes de adolescentes, no período de 2001 a 2004 em Foz do Iguaçu. Destas, 175 foram homicídios, enquanto 90 decorreram de outras causas.

Além dos números totais, a pesquisa documental proporcionou traçar um panorama geral dos mortos, em que se incluía a distribuição por idade, sexo, local de moradia, local do fato, com destaque para as coincidências entre estes espaços, modo de trato dispensado pelo registro civil aos adolescentes mortos, e causa aparente [4] de morte.

Em seguida, o trabalho se valeu da aplicação de questionários às famílias, parentes e amigos dos adolescentes mortos. Neste caso, embora houvesse uma pretensão inicial de encontrar pessoas relacionadas a todos os adolescentes, o percurso investigativo, conduziu a pesquisa à condição de trabalho por amostragem [uma significativa amostragem]. Entre 175 adolescentes vítimas de homicídio no período de 2001 a 2004, foi possível, entre os meses de maio e setembro de 2005, obter informações sobre 104, a saber, quase 60%; e, entre 90 mortos por causas diversas do homicídio, foram entrevistadas 53 pessoas, entre familiares e amigos, ou seja, 59% destes tiveram informações prestadas.

Para evitar a reprodução de estigmas e a compreensão de que os adolescentes vítimas de homicídios possuíam envolvimento direto com a criminalidade e que sua morte foi conseqüência desta relação, os dados concernentes aos meninos e meninas mortos por causas diversas do homicídio serão postos lado a lado, acompanhados de análise conjunta, ressalvada a impossibilidade de se fazer uma abordagem fria, racionalista, como se os números não representassem vidas que se perderam.

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2 DADOS

Dos mortos por homicídio, aproximadamente 93% são do sexo masculino (1,71% - 12 anos; 2,29% - 13 anos; 2,86% - 14 anos; 12,57% - 15 anos; 18,86% - 16 anos; 22,86% - 17 anos; 31,43% - 18 anos) e, aproximadamente, 7% são do sexo feminino (1,14% - 12 anos; 0% - 13 anos; 0,57% - 14 anos; 1,71% - 15 anos; 1,71% - 16 anos; 0,57% - 17 anos; 1,71% - 18 anos). Entre os mortos por causas diversas do homicídio, aproximadamente, 67% são do sexo masculino (4,44% - 12 anos; 2,22% -

13 anos; 10 % - 14anos; 11,11% - 15 anos; 11,11% - 16 anos; 14,44% - 17 anos; 10% - 18 anos; 1,11% idade não definida) e, aproximadamente, 33% são do sexo feminino (3,33% - 12 anos; 4,44% - 13 anos; 5,55% - 14 anos; 7,77% - 15 anos; 6,66% - 16 anos; 3,33% - 17 anos; 4,44% - 18 anos; 0% - idade não definida).Apesar das dificuldades de ter a exata classificação por raça, haja vista inexistirem dados, seja nos registros de óbito ou pela impossibilidade de encontrar os laudos cadavéricos de todas as mortes por homicídio ou não-homicídio, ocorridas em ambiente diverso do hospital, obtivemos entre os mortos por homicídio com informações prestadas por familiares ou amigos, um percentual de 67% de brancos, 26% de pardos (que podem representar os descendentes de indígenas ou de imigrantes de outras regiões do Brasil que vieram para Foz após a construção de Itaipu e da criação da zona comercial de Ciudad del Este), 3% de negros e 4% de pessoas com raça não especificada. Entre as vítimas de homicídio sobre que não foi possível obter informações, encontram-se 28% de brancos; 7% de pardos; 1% de negros; e, 64% com raça não especificada.Evidente, por haver traços marcantes da colonização européia na região Sul do Brasil, a população mais numerosa é de brancos, por conseguinte, seria também provável que o maior número de vítimas com identificação de raça, fosse também de pessoas consideradas brancas.Quanto à distribuição de mortos vítimas de homicídio é possível observar que não há qualquer ocorrência entre as classes alta ou muito alta, decerto, porque podem dispor de recursos financeiros para suprir a falta de políticas públicas, dotar os filhos de bens materiais necessários ou de consumo e não sofrem diretamente com a deficiência de segurança pública porque podem pagar por outras formas de segurança.Entre os mortos por homicídio com informações, 48% se diziam muito pobres, 38% pobres, 12% classe média-baixa e 2%, de classe média. Entre as causas mais citadas, 21% foram mortos por causa do tráfico ou uso de drogas; 14%, devido ao envolvimento com mulheres; 9%, por vingança; 10%, por briga; 5%, por conflito com a polícia; 3%, acidente com arma de fogo; 2%, por ato cometido por familiares e/ou amigos; 2%, por briga entre cigarreiros; e, ainda, 10%, por outros motivos, não relacionados.Aqueles mortos por causas diversas do homicídio, 58% se diziam pobres, 30% integravam a classe média-baixa, 6%, muito pobre, 6%, média-alta. Neste caso, também não foram identificadas pessoas muito ricas, embora, ao cruzarmos estas informações com os números correspondentes às causas de morte diversas do

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homicídio, constatar-se-á que alguns tipos de morte não estão relacionadas diretamente com a classe social.Entre adolescentes do sexo feminino, as causas de morte em casos não relacionados ao homicídio são em 27% por doenças infecto-contagiosas; 19%, por morte natural; 13% por atropelamento; 13% por negligência médica; 6% por doenças não infecciosas; 3% por infecção hospitalar; 3% por afogamento; e, 6% por outros causas.Quando se depara com adolescentes do sexo masculino em mortes diversas do homicídio, a pesquisa encontra 21% de mortos por afogamento; 19% de mortos por causas naturais; 17% de mortos por acidente de trânsito; 8%, por doenças infecto-contagiosas; 8% por outras doenças; 5% por atropelamento; 5% por negligência médica; 2% por infecção hospitalar; 15% por outros motivos.Se observadas as ocorrências derivadas da fragilidade da política de saúde, o número alcança o percentual de 28% dos mortos do sexo masculino e 49% dos mortos do sexo feminino em casos diversos do homicídio, situações, que, em verdade, poderiam ter sido evitadas se as falhas do sistema de saúde pública, que atendem a maior parte da população, fossem corrigidas.

A) Da Organização Familiar

Ao contrário do que as análises preconceituosas e ligeiras preconizam, somente 21% dos adolescentes vítimas de homicídio não possuíam o pai; 10% não conheceram o pai e 13% não tinham mãe. Em 52% dos casos, moravam com os dois genitores, contra 33%, que residia com apenas um dos pais.Entre aqueles que residiam com os pais ou um só dos genitores, é possível perceber que somente em 16% a presença dos pais em casa era muito baixa.No que concerne aos adolescentes mortos em situações não relacionadas ao homicídio, somente 9% dos que tiveram informações prestadas afirmaram não ter pai ou que não chegaram a conhecer o pai; 6% não tinham mãe e 75% residiam com ambos os genitores, contra 19% que moravam com um só destes.O genitor paterno de 62% das vítimas de homicídio com informações prestadas desempenhavam um trabalho considerado sem qualificação (9% estão relacionados a atividades ilícitas), contra 83% das mortes com informações ocasionadas em situações diferentes do homicídio (4% desempenham trabalho ilícito). Ainda, entre as vítimas de homicídio, as entrevistas apontam 23% dos genitores que desempenhavam trabalho com exigência de qualificação, contra 4% entre os acometidos por outros tipos de morte.Quanto às mães, 40% daquelas que tiveram filhos vítimas de homicídio eram donas-de-casa; 50% desenvolviam outras atividades laborais externas, sendo, neste caso, 18% envolvidas com atividades ilícitas; 48% das genitoras que perderam seus filhos por outras causas de morte afirmam estar integrada ao trabalho doméstico voltado a sua própria família, enquanto 48% exerciam outras formas de trabalho, qualificadas ou não-qualificadas, sendo 10% integradas a atividades ilícitas.Os pais dos adolescentes vítimas de homicídio se dizem casados em 41% dos casos, e, em 22%, apresentam-se sob união estável. Em 92% das entrevistas, as famílias

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alegam viver em casa própria. Com os adolescentes falecidos em outras circunstâncias, 62% das famílias foram formadas através do casamento e 13% a partir da constituição de união estável. Quanto à situação de moradia, em 79% dos casos de mortes por causas diversas do homicídio, a casa era própria.Em verdade, diante das circunstâncias em que se inseriam as famílias, é possível notar que, muitas destas, dizem-se proprietárias de um imóvel, ainda que este se situe em ocupação urbana irregular, em regiões de reserva ecológica ou em margens de rios. Para fazerem esta afirmação, é de se supor, que consideram apenas o fato de ter conquistado o seu espaço de moradia pelo seu próprio esforço, não pagarem aluguel ou estarem dependentes de financiamentos bancários.No entanto, grande parte das vezes, as moradias são precárias, de poucas dimensões, sem condições mínimas de dignidade (piso, banheiro, cômodos separados e móveis).Também é significativo o número de adolescentes cujos entrevistados diziam ter pais separados. Em caso de vítimas de homicídio, os separados judicialmente (4%) somados aos separados de fato (28%) alcançam 32%, enquanto 19% dos adolescentes mortos por outras causas tinham pais divorciados (2%), separados judicialmente (2%) e separados de fato (15%).

B) Da Situação de EscolaridadeQuase sempre, as vítimas de homicídio, pelo que se pode notar, eram adolescentes com baixo nível de escolaridade, algumas vezes, com distorções entre série e faixa etária. Do total das vítimas de homicídio de que se obteve informações, 54% estudavam e 10% concluíram o ensino fundamental. Na maior parte das vezes, quase 50% dos que freqüentavam a escola, os adolescentes estudavam no turno da noite.Entre os mortos por outras causas que não o homicídio, 71% estudavam e 23% concluíram o ensino fundamental. Dos que estudavam, 52% freqüentavam a escola no período da manhã.

C) Das Relações com o trabalhoO trabalho era uma realidade para 46% dos adolescentes vítimas de homicídio; 78% dos quais, segundo os entrevistados trabalhavam no Paraguai e 22% tinham, pelo menos, um parente que trabalhava no Paraguai [5]. Em todos os casos, o trabalho que exerciam não exigia qualificação, sendo que 44% dos trabalhos não-qualificados desempenhavam atividades ilegais (95% - contrabando; 5% tráfico de drogas). Entre os meninos e meninas trabalhadores, alguns por terem sua própria família, outros por não considerarem importante/necessário, 39% contribuíam para o orçamento familiar.Dos mortos por causas não relacionadas ao homicídio, 38% trabalhavam; destes, 20% ajudavam os pais em comércio da família; 20% eram autônomos no Paraguai, 10% faziam serviços domésticos; 5% eram funileiros; 5% eram aprendizes em oficina mecânica; 40% exerciam outras atividades. Do total, 6% tinham, pelo menos um parente, que trabalhava no Paraguai.Entre os que trabalhavam, 83% ajudavam financeiramente a família, sendo que 10,53% destes, embora não trabalhassem, recebiam benefício de prestação

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continuada, previsto na Lei Orgânica da Assistência Social.

D) Das Condições de sociabilidade

1.Religião

Dos adolescentes mortos em homicídios, 78%, segundo os entrevistados possuíam religião (58% católicos e 20% evangélicos), não obstante fossem praticantes 33% das vítimas.Entre os adolescentes mortos em causas diversas do homicídio, 94% possuíam religião (62% católicos; 30% evangélicos; 2% islamismo). Em contrapartida, a prática religiosa estivesse relacionada com 60% do total.Segundo as informações prestadas, não possuíam qualquer tipo de religião, 22% das vítimas de homicídios e 6% das vítimas de outras causas de morte.

2.Das Formas de diversão

As formas mais freqüentes de diversão entre os adolescentes vítimas de homicídio, a pesquisa constata jogar futebol (23%), seguida de festas (15%) e beber com os amigos (4%), com a ressalva de que em 28% dos casos foram apontadas mais de uma opção e em 21% outras formas não dispostas no questionário.Para os parentes e amigos de vítimas de outros tipos de mortes, entre os modos mais freqüentes de diversão estão jogar futebol, festas (8%), brincar (8%), sair com a família (8%) e música. Em 13%, os adolescentes tinham mais de uma forma de diversão e 9% destacaram modos não dispostos no questionário.É preocupante, todavia, o número de adolescentes cujas famílias afirmam não ter qualquer tipo de diversão (6% entre as vítimas de homicídio e 13% em casos de mortes por outros motivos) e que, em alguns casos, principalmente vítimas de homicídio, os familiares afirmam como modo de diversão o consumo de drogas, sozinho ou em companhia dos amigos.A diversão acontecia para 52% dos adolescentes mortos em homicídio nos finais de semana. Porém, 20% se divertiam todos os dias; 13% quase todos os dias. Entre os adolescentes mortos por outras causas, 54% se divertiam nos finais de semana; 15% todos os dias, 6% quase todos os dias, 4% quando podia.

3.Do Comportamento social

Entre os adolescentes vítimas de homicídio, 16%, segundo os entrevistados eram briguentos; 34% apresentavam-se como esquentados; 33% havia participado de alguma confusão (46%, brigas em geral; 16%, roubo; 13% já haviam matado outras pessoas; 8%, brigas no colégio; 3%, tiroteio na escola; 3%, tiroteio com a polícia). Entre as respostas dos familiares e amigos, foram encontradas contradições para o termo briguento e esquentado em 48% das informações destes quesitos. Sobre os mortos por outras causas 4% foram considerados briguentos pelos entrevistados;

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11% eram esquentados e 2% se meteram em confusão.Como é natural nesta fase da vida, a maior parte dos adolescentes costumavam andar em grupos (59% das vítimas de homicídio; 47% de adolescentes cujas mortes decorreram de outras causas).São os grupos de vizinhos e amigos da rua (33%), seguidos por amigos do colégio (12%), por gangues (13%), por amigos que a família não conhecia (10%), por amigos do futebol e por amigos da igreja (5%) com que mais se relacionavam os adolescentes mortos em homicídio. Ainda, 16% apresentaram mais de uma resposta e 5% outros grupos.Sobre os mortos por causas outras, encontram-se entre os grupos mais freqüentes vizinhos e amigos da rua (28%), seguidos por amigos da igreja (28%), por amigos do colégio (16%), amigos do futebol (4%),enquanto 16% apresentaram mais de uma resposta e 4% outros grupos. Quando o tema passa a comportamento sócio-familiar, relações com os pais, irmãos, espaço extra-residencial, 28% dos adolescentes mortos por homicídio davam trabalho segundo os entrevistados. Em 51% dos casos dar trabalho significou envolvimento com drogas; em 25%, envolvimento com a criminalidade, 15%, a desobediência aos pais, em 5%, a promoção de brigas familiares, e, em 2%, a irresponsabilidade. Não obstante estas afirmações entre aqueles que apresentam problemas de comportamento, a situação mais difícil para os pais foi em 38% dos casos, envolvimento com drogas; 21%, a agressividade; 19%, a fuga de casa; 17%, o envolvimento com a criminalidade e 5%, o uso de bebidas alcoólicas.Vale ressaltar, ante os dados sobre a situação mais difícil para os pais, que as drogas lícitas ou ilícitas estão presentes em, pelo menos, 43% dos casos.Dos demais adolescentes, 6% são considerados adolescentes que davam trabalho, embora 13% do total de adolescentes mortos por causas não relacionadas ao homicídio passaram pelo Conselho Tutelar (44%, por problemas de comportamento; 14%, por furtos ou outros pequenos delitos; 14% por trabalhar com engraxate; 14% por pedir dinheiro no sinal; 14% por fugir de casa).Das vítimas de Homicídio, 22% tinham passagem pelo Conselho Tutelar. Em 46% dos casos, por interesse da família em ajudar o filho; 18%, por mau comportamento na escola; 12% por perda de controle do filho; 6%, por estar em situação de risco na ponte da amizade; 6%, por estar em situação de risco nas ruas; 12%, por outros motivos.Quando o assunto é passagem pelo sistema sócio-educativo [6], entre as vítimas de homicídio, 6% tinham passagem, exclusivamente, pela Polícia (sendo 83%, uma única vez e 17% mais de cinco vezes); 33% pelo CIAADI (44%, uma única vez, 32%, duas; 12%, três vezes; 3%, quatro vezes; 3%, cinco vezes; e, 3%, mais de cinco vezes); 49% cumulavam passagens pela Polícia e pelo CIAADI [7], sendo que destes, pela Polícia, 40% passou uma vez; 20%, duas vezes; 20%, três vezes; 30%, mais de cinco vezes; e, pelo CIAADI, 50% passaram uma vez; 30%, duas vezes; 10%, três vezes; 20%, mais de cinco vezes.Do total de adolescentes vítimas de homicídio, ainda é possível constatar que 1% cumulou passagem pela Polícia, pelo CIAADI e por Abrigo.

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As passagens pelo sistema de repressão ao ato infracional cometido por adolescentes se dão em 31%, por roubo; 14%, por tráfico de drogas; 10%, por furto; 7%, por uso de drogas; 6%, por atentado contra a vida ou à pessoa; 4%, por porte ilegal de armas; 1%, por contrabando. Ainda é possível observar um percentual de 14% que cometeram outros delitos não relacionados e 13% que cumpriram medida sócio-educativa ou estiveram em internação provisória por mais de um motivo.Dos demais adolescentes mortos, 4% já haviam estado na delegacia por cometimento de ato infracional (50% por contrabando; 50% por motivos não informados); 6% tinham passagem pelo CIAADI (34%, por roubo; 33% por furto; 33% por pedir dinheiro no sinal).

4.Da Investigação do homicídio

Das famílias que tiveram adolescentes vítimas de homicídio, somente 45% foram chamadas para prestar depoimentos, seja na polícia e/ou na justiça. Destas, em 53% dos casos a família foi chamada uma única vez a comparecer à polícia, em 17%, a comparecer duas vezes; em 2%, três vezes; em 2% mais vezes; e, 26% não informaram. Também de todas as que foram convocadas pela justiça (4%), 50% foram uma só vez à justiça e 50%, três vezes; e, 6% afirmam ter sido convocadas pela polícia e pela justiça, mas não compareceram.Foi preciso, em 10% dos casos, que as famílias procurassem a polícia para noticiar a morte do adolescente.Do total de mortos por homicídio; 26% tinham alguém interessado em sua morte; em 42% do total de casos, a família conhece o autor do crime; e, 8% dos entrevistados sobre homicídios negaram-se a falar sobre o tema.Em 62% dos casos, quem prestou informações não sabe informar sobre a situação atual do autor do crime. Contudo, 13% afirmam estar em liberdade;12% dizem que espera julgamento em liberdade; 6% dizem que foi morto pela polícia; 5% afirmam que já morreu; 2% dizem que foi preso e foi solto, ou seja, nenhum cumpre pena privativa de liberdade, segundo os entrevistados.As famílias de 11% das vítimas de homicídios foram ameaçadas pelo autor do crime, sendo que 33% mudaram de endereço; 27% não foram encontradas; e, 2% não quiseram responder ao questionário.As famílias de 7% das vítimas de homicídio afirmam ter outros filhos em situação que levou à morte o adolescente pesquisado e 5% tiveram outros parentes vítimas de homicídio.5.Das Características e distribuição anual das mortes de adolescentes

Os homicídios de adolescentes em Foz do Iguaçu, entre os anos de 2001 a 2004, são por motivo torpe em 29% dos casos investigados (104 é o número de casos com informações prestadas).Por ano, pode-se afirmar que, em caso de homicídio, são 31 mortes em 2001; 57, em 2002; 48, em 2003; 39, em 2004.Em casos de outros tipos de morte, são 25, em 2001; 20, em 2002; 20, em 2003; e, 25,

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em 2004.

6.Distribuição local das mortes por homicídio

A região da cidade com maior número de casos em que o local do fato ensejador coincide com o local de residência [8] é a região da Vila C, com 20 mortos em 4 anos. Quanto ao local de residência a Vila “C” é também a região em que o maior número de vítimas residiam (35 em 4 anos), seguida pela Região do São Francisco (32 casos em

4 anos); coincidentemente, os locais do município que possuem a parcela da população, respectivamente, 34.952 (12,5%) e 45.298 habitantes (16,2%) [9], ou seja, com o maior número de residentes.

7.Meios pelos quais se dão o Homicídio

Como se pode observar, a presença da arma de fogo, ocorre em 89% de todos os homicídios, nos quais se incluem aqueles com informações prestadas e aqueles em que não foram encontrados familiares ou amigos das vítimas. Isso decorre da proximidade com a fronteira Brasil/Paraguai, através de que ocorrem o contrabando, o tráfico de drogas e o tráfico de armas. Quanto às armas de fogo, a facilidade de aquisição, em conseqüência do preço e da falta de fiscalização eficiente, permite a mais pessoas terem a sua disposição revólveres, pistolas e outros tipos de armamentos de fácil porte. Neste contexto, o uso da arma passa a ser constante em grande parte dos conflitos, sem importar o grau de complexidade destes (29% dos homicídios de

Distribuição de Homicídios de Adolescentes

por Causas

5%

89%

1%1%

1%

1%1%

1%

Arma de fogo

Arma branca

Afogamento

Estrangulamento

Espancamento

Instrumento cortante earma de fogoEletricidade

Ação contundente

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adolescentes em Foz do Iguaçu, no período pesquisado, foram por motivo torpe, ou seja, fútil).Para se ter uma idéia de como esta situação se institucionaliza na sociedade iguaçuense, é preciso considerar o número de adolescentes que possuem arma de fogo, por conseguinte, deduzir o modo como esta realidade pode se estender aos adultos. Em recente pesquisa [10] realizada por Rodrigo Cavalcante Gama de Azevedo, estudante da Universidade do Oeste do Paraná UNIOESTE do Campus de Foz do Iguaçu, sob orientação da Professora Isadora Minotto Gomes Schwertner, para a I Mostra Jurídica de Iniciação Científica da UNIOESTE, realizada entre os dias 16 e 18 de novembro de 2005, foi possível observar que entre 80 entrevistados, 4, a saber, 5%, responderam sim à pergunta: “você possui ou já possuiu arma de fogo?”. Sobre a pergunta: “você conhece algum adolescente que tenha?”, 30, ou seja, 37,5%, responderam sim. O que significa dizer que, entre 80 adolescentes, pelo menos, 34 estão próximos a uma arma de fogo, 30, por conhecerem alguma outra pessoa com idade entre 12 e 18 anos (o que pode significar que seja um ou mais, ou, mesmo, o colega de escola que afirma possuir uma arma). Indiretamente, porém, incluindo os que não sabem que colegas do estabelecimento de ensino tenham arma, 76 adolescentes estão muito próximos de uma arma de fogo, podendo ser vítimas de homicídio. Número que aumenta para o total dos entrevistados se se imaginar que os que têm arma se relacionam com outros adolescentes que também possuam.

3 AÇÕES PÚBLICAS PROPOSTAS

a) Construção de Centros ou Escolas de formação profissional nos bairros;b) Construção e revitalização de espaços de lazer nos bairros;c) Promoção de controle eficaz de armas e passagem de crianças e adolescentes na Ponte da Amizade;d) Programa de proteção a adolescentes ameaçados de morte;e) Programa de egressos do sistema sócio-educativo;f) Programas de apoio material e psicológico às famílias;g) Programa de apoio psicológico às famílias de vítimas de homicídio;h) Ação Estadual e Federal para fiscalização das polícias e das investigações;i) Programa de formação de educadores para o protagonismo juvenil;j) Programa de atendimento a crianças, adolescentes e famílias para combate ao uso de substâncias psicoativas;k) Programas de atendimento integral ao adolescente com cursos de música, dança, teatro, esportes.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASAZEVEDO, Rodrigo Cavalcante Gama de. Estatuto da Criança e do Adolescente: A Cultura e o Conhecimento Jurídico entre os Adolescentes nas Escolas de Foz do Iguaçu Ensino Médio e Magistério. 2005. Projeto de Iniciação Científica I Mostra de Iniciação Científica da Universidade do Oeste do Paraná. Foz do Iguaçu/PR.BAUMAN, Zygmunt. Globalização: As Conseqüências Humanas. Tradução Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. 8. ed. Rio de Janeiro: Campus. 1992.Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu Radiografia socioeconômica 2005 WACQUANT, Loïc. Os Condenados da Cidade: Estudo sobre a marginalidade avançada. Tradução João Roberto Martins Filho. Rio de Janeiro: Reavan; FASE, 2001.

[1] As concepções de outro na psicanálise se distribuem como outro-igual ou seja, que é o próprio reconhecimento de si mesmo; outro-complemento/ideal, forma que se deseja alcançar; outro-simbólico que se imagina como diferença essencial e indesejável com o sujeito que o constrói. (Dicionário Enciclopédico de psicanálise: o legado de Freud e Lacan/ editado por Pierre Kaufmann; tradução, Vera Ribeiro, Maria Luiza X. de ª Borges; consultoria, Marco Antonio Coutinho Jorge. Rio de Janeiro: Jorge Zaahr Ed., 1996.[2] Recrudescimento de penas, construções de prisões com vigilância extrema, parte de uma política de segurança pública reacionária, que admite a violação de direitos fundamentais e garantias fundamentais, de cunho maniqueísta, paliativa, porque não altera a ordem social, e com traços marcantes do nazi-fascismo.[3] Embora tenham sido requisitados por três vezes (ofícios n.° 57/2005; 66/2005; 67/2005), os laudos cadavéricos, por falta de resposta do Instituto Médico Legal do Estado do Paraná, os laudos cadavéricos utilizados na pesquisa foram aqueles que se encontravam disponíveis na Varada Infância. [4] Chama-se causa aparente pela discrepância, muitas vezes, entre a declaração constante na certidão de óbito e o fato real que ensejou a morte, descoberto somente após entrevistar as famílias.[5] Nesta região de tríplice-fronteira, é muito comum pessoas de um país exercerem atividade laboral no país vizinho. Há muitos brasileiros que trabalham no Paraguai, paraguaios que trabalham no Brasil, Argentinos que trabalham no Brasil, brasileiros que trabalham na Argentina, argentinos que trabalham no Paraguai e paraguaios que trabalham na Argentina. No entanto, em grande parte das vezes, sobretudo no que concerne aos brasileiros, afirmar que trabalha no Paraguai pode ser um eufemismo. Na verdade, pode significar que o indivíduo vive do transporte ilegal de mercadorias ou que simplesmente compra produtos para revender no Brasil. [6] Considera-se sistema sócio-educativo para efeitos desta pesquisa os órgãos de repressão ao ato infracional cometidos por adolescentes, polícia e Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Infrator CIAADI. Não foram admitidos o Ministério Público, encarregado de promover a representação em face do adolescente e a Vara da Infância, responsável pelo julgamento dos processos. [7] Toda passagem pelo CIAADI exige que o adolescente tenha antes passado pela Polícia. Pois esta é a porta de entrada do sistema sócio-educativo. Porém, nem sempre a recíproca é verdadeira. Em casos de delitos de pequeno potencial ofensivo e sem ameaça ou violência contra a pessoa, o adolescente é, geralmente, encaminhado à família através de termo de responsabilidade e com o dever de comparecer no mesmo dia, no primeiro dia útil subseqüente ou em data marcada pelo representante do Ministério Público para a oitiva informal do adolescente, posterior representação ou remissão com ou sem indicação de aplicação de medida sócio-educativa em meio aberto (art. 174 c/c 179 e 180 ECA). Portanto, adotamos classificações diferenciadas para destacar a cumulação de pequenos delitos com atos de mais gravidade. É o caso, por exemplo de adolescente ter passagens pela polícia e pelo CIAADI. Se isso ocorre, é porque cometeu delitos que não o levariam ao CIAADI e atos infracionais cuja solução normativa é a internação. [8] A coincidência considerada pela pesquisa é apenas relacionada ao bairro de moradia e o bairro onde se deu o fato que ensejou a morte do adolescente. [9] Radiografia Socioeconômica de Foz do Iguaçu 2004.[10] Estatuto da Criança e do Adolescente: A Cultura e o Conhecimento Jurídico entre os Adolescentes nas Escolas de Foz do Iguaçu Ensino Médio e Magistério.

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CRIMINALIDADE E EDUCAÇÃO

José Afonso de Oliveira*

1 INTRODUÇÃO

Como todas as cidades brasileiras, infelizmente, vive Foz do Iguaçu uma situação muito tensa, de grande conflito, onde a marca visível é a criminalidade. Cidade que cresceu rapidamente, atraindo pessoas de todos os recantos do mundo, não podendo gerar empregos na mesma proporção, hoje, em função desse fator e, mais profundamente ainda, em função de suas imensas desigualdades sociais, vive um clima onde a violência atinge em cheio as camadas mais jovens da cidade. Para a solução desse problema, só viável à médio-longo prazo, é preciso pensar e articular um sistema educacional que possa ser eficiente. Não vai bastar colocar as crianças na escola é preciso que elas saiam da escola, em tempo previsto, conseguindo entender o conhecimento como ferramenta fundamental para a inserção na sociedade, no atual mundo globalizado.

Palavras-chave: globalização, educação, inserção social, eficiência.

2 A SITUAÇÃO DA VIOLÊNCIA EM FOZ DO IGUAÇU

Matéria publicada pelo jornal A Gazeta do Iguaçu, de 29 de outubro de 2005, de responsabilidade de Ronildo Pimentel mostra que “Os adolescentes e jovens com idade entre 12 e 25 anos sãos as principais vítimas de mortes por homicídios de 2005 em Foz do Iguaçu. Das 224 execuções registradas pelo Instituto Médico Legal (IML), de 1º de janeiro a 24 de outubro, 118 (52,6%) eram de pessoas daquela faixa etária. Disparos de armas de fogo, facadas ou golpes desferidos com paus e pedras integram as formas de assassinatos. A maioria das vítimas tinha baixa escolaridade, era do sexo masculino e estava desempregada”.

Essa situação, por demais violenta, leva as autoridades da cidade, especialmente ligadas ao trato com crianças e adolescentes a efetuarem um estudo mais minucioso do problema, tomando como referência os anos de 2001 até 2004. Tendo acesso aos atestados de óbitos das vítimas desse período foram constatados 266 adolescentes mortos, sendo que 175 deles (65,7%) foram vítimas de homicídios.

De outro lado a cidade tem hoje 293.646 habitantes, sendo que a maioria de seus habitantes (26%) estão na faixa etária entre 25 e 39 anos, perfazendo um total de 76.348 habitantes. No entanto se tomarmos como faixa etária de zero à 25 anos teremos 155.633, ou seja, 52,9%, como sendo mais da metade da população da cidade. Isso significa dizer que Foz do Iguaçu tem uma população excessivamente jovem, fruto das migrações que ocorreram recentemente.

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Agora a renda familiar da maioria das pessoas da cidade (42%) ou 31.080 pessoas é de até 2 salários mínimos ou R$ 600,00. muito baixo para o porte da cidade. De outro lado somente 3% ou 2.200 pessoas tem salário superior a 20 salários mínimos ou R$ 6.000,00 indicando claramente a gritante desigualdade social existente.

A cidade conta hoje com 60.412 estudantes no ensino fundamental, de acordo com o requisito da obrigatoriedade do Estado com a educação e temos apenas 15.761 no ensino médio, indicando grande defasagem na passagem de uma modalidade para a outra. Os grandes problemas que se apresentam são vistos também nacionalmente, como sejam os altos índices de evasão e repetência que afirmam a falência do sistema educacional, quanto à sua finalidade primordial de educar. Esse fato vai aparecer com clareza e dureza quando analisamos os homicídios e verificamos que a maioria das vítimas são de baixa escolaridade, ou seja, estão nas estatísticas da evasão e repetência escolares. Não obtiveram sucesso na sua escolarização que possibilitasse uma melhoria de condição social.

É assim que 54% dos adolescentes mortos não estudavam e 90% não concluíram o ensino fundamental o que vai corroborar o que estamos afirmando.

É diante desse quadro, colocado com intensa marginalidade enconômico-financeira que vamos encontrar que a maioria das vítimas tinha trabalho, não qualificado, e procuravam ajudar as suas respectivas famílias. Isso mostra que, tendo escolarização maior e mais eficiente, eles teriam uma forma melhor de inserção social, evitando a violência como caminho para a sua sobrevivência.

3 ORIGEM DA VIOLÊNCIA NO BRASIL

É muito difícil determiná-la com precisão mas podemos ver também com clareza que a violência no Brasil remonta à sua estrutura social, à formação da sociedade brasileira. Sempre, desde os tempos coloniais, se teve posições extremamente violentas como sendo fatos naturais. Por exemplo, a forma como escravos e índios foram tratados, usando de grande violência era tida como algo benéfico, ou, no mínimo, natural.

De sorte que no Brasil colonial essas camadas, tanto quanto também brancos pobres deveriam viver sem qualquer possibilidade de direitos fazendo trabalhos subjugados aos verdadeiros senhores, brancos, europeus, proprietários rurais. Para eles, proprietários, formadores da aristocracia rural a ociosidade e os privilégios, para os demais o trabalho, como castigo, a escravatura, a miséria e, por isso mesmo os lugares distantes nos espaços territoriais. Criou-se assim uma mentalidade social, onde isso é entendido como sendo natural, não havendo possibilidade de qualquer alteração desse quadro social.

A sociedade foi crescendo, modificando-se, passando por vários períodos de expansão capitalista industrial, financeira e hoje temos cidades tomadas por altos índices de violência.

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Enquanto as vítimas da violência estavam nas periferias das nossas grandes cidades tudo era entendido como sendo natural, longe da vida que levávamos nas cidades, nos empregos, escritórios, lugares de lazer, residências. Na medida em que a marginalidade se organiza e invade outros espaços urbanos, temos a intimidação, o medo e a violência generalizada.

Também os custos elevados com os serviços de politraumatismo em pronto-socorros e emergências hospitalares devem ser devidamente levados em consideração pois grande soma de verbas acabam sendo utilizadas nesses casos, ao invés de trabalhos de saúde mais amplos para grandes contingentes populacionais. Quanto custa o tratamento de um baleado, com tempo relativamente longo de internação hospitalar? Não seria melhor utilizar esses recursos para o atendimento de saúde de grande número de pessoas?

Mas, voltando à violência, cujos atos são ativados e atiçados no imaginário social através, mais efusivamente, da televisão e do rádio em que se propagam trabalhos jornalísticos sensacionalistas e irresponsáveis, só teremos mesmo o aumento de índice de violência generalizada (embora muitos ainda considerem estar confinada nas periferias urbanas, como no caso de Foz do Iguaçu).

Isso possibilita que as autoridades estejam apenas pretensamente preocupadas na solução dessa problemática, pouco fazendo para que possamos ter, a médio-longo prazo uma situação diferenciada. É bom entender que a marginalidade e violência acabam se deslocando das periferias para os centros, na exata medida em que a crise econômico-social vai ficando cada vez mais aguda.

Devemos aqui acrescentar dois fatores próprios para a violência de Foz do Iguaçu. O primeiro foi o empreendimento da construção da hidrelétrica de Itaipu que passou a ser uma fonte de emprego de grandes proporções e, mais do que isso, pagando altos salários [claro que isso nem sempre é verdade, mas funciona como atrativo de populações de várias regiões por tempos relativamente longos, mesmo que os empreendimentos de construção já estejam esgotados].

De outra forma, a fronteira sempre é caminho para a fuga, para o desconhecido e, nesse sentido, há o fugir da lei, a impunidade, o atravessar o rio etc. formas essas encontradas na cidade com bastante freqüência.

Mas há também o atrativo do Paraguai que remunera o trabalho com valores mais elevados, fruto de toda uma situação à margem de qualquer lei. Isso acaba funcionando como excelente atrativo para pessoas que se encontram em situações difíceis e de risco de sobrevivência. Explica-se assim que milhares de pessoas, Brasil afora, comecem a utilizar um comércio ilegal ou legal até outro dia, como maneira de conseguir a sobrevivência pessoal e familiar.

4 A EDUCAÇÃO COMO FATOR DE INSERÇÃO SOCIAL

Por mais difícil que possa ser, a educação é hoje um grande fator de inserção social, projetando a possibilidade de um futuro melhor. Quando analisamos a

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violência em Foz do Iguaçu, envolvendo adolescentes, em um período de 4 anos (2001-2004) temos um traço em comum que é a baixa escolarização. Trata-se de adolescentes semi-analfabetos para quem a educação significou muito pouco ou mesmo nada. Se tivessem tido uma escolarização com maior tempo de duração e melhor qualidade, certamente que a situação seria outra.

Por isso, o que fica aqui é a pergunta fundamental do que significa, nos dias atuais, educar. Não mais o fato automático de colocação no mercado de trabalho, mais do que isso, preparar alguém para a sociedade nova que se vislumbra, onde o conhecimento é requisito fundamental para poder ter um bom nível de vida.

É preciso buscar novas alternativas onde os investimentos feitos em educação que tem hoje percentuais fixos nos orçamentos públicos, possam efetivamente ser utilizados, em função da melhoria de qualidade da política pública e da sua capacidade de proporcionar inserção social. De nada adiantam discussões, hoje, inúteis sobre metodologias educacionais se não conseguimos efetivamente uma melhoria no quadro social em que vivemos.

Essa educação significa também atuar de forma diferenciada com a sociedade brasileira, de sorte a produzir mudanças no imaginário social das pessoas, abrindo assim novas frentes de diálogo, criatividade para formas mais humanas de convívio social. Esse trabalho tem que existir e tomar as dimensões da educação como um todo, em todos os seus níveis na atualidade.

Mas educar para a atualidade significa também utilizar todas as modernas tecnologias disponíveis para que, trabalhando as informações o conhecimento possa ser produzido, ferramenta essencial para a inserção social na atualidade.

Estamos vivendo a fase do processo de globalização através de que aliado ao desemprego estrutural como fenômeno da atualidade, surge também o tempo livre, a ociosidade que deve ser utilizado no sentido de inserir e não de excluir, como vem acontecendo com o crime organizado. Disputar a utilização do tempo com os setores criminosos da sociedade é algo fundamental e para tanto temos que utilizar os espaços educacionais existentes, levando os jovens para uma outra condição social. Criativos, inteligentes eles serão capazes de reverter o quadro atual em que estão sendo paulatinamente inseridos e que os leva a uma morte prematura.

Só a educação tem essa possibilidade de agir imediatamente, portanto produzindo ações concretas de menor impacto de violência, ao mesmo tempo em que a médio-longo prazo possa se traduzir em novas formas de convívio social onde persistam sinais claros de harmonia social, tanto quanto também com a natureza, produzindo trabalhos e ações de intensa solidariedade social.

Há toda uma gama de ações que vão desde aparatos técnico-científicos até de artes, representações etc que produzem situações novas de inserção social. É preciso ousar, tentar e criar essas novas atividades a que eu também vou acabar chamando de um processo sócio-educativo, entendendo que este ultrapassa os muros escolares e avança em direção a sociedade como um todo.

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CONCLUSÃO

Assistir ao que estamos vendo, onde adolescentes são mortos prematuramente é algo terrível pelo absurdo em si mesmo. Os fatos são os mais fúteis possíveis. É preciso reverter urgentemente esse quadro, de sorte a garantir uma convivência saudável para todos.

Passo essencial desse processo é eliminar toda e qualquer forma de discriminação, preconceito que hoje são extremamente fortes pois que arraigados culturalmente na sociedade.

Isso só é possível com um processo novo de educação onde o saber, o conhecer, possa trazer modificações concretas nas ações e vida das pessoas. Todos nós temos que aprender a viver em novas condições em uma realidade que está sendo agora construída, onde a solidariedade deve ser uma marca fundamental.

Pensar e continuar agindo ao contrário, gerando o confronto, a violência que vai dominando e esgarçando o tecido social, só leva mesmo à destruição, ao medo, à incerteza. Se desejamos uma sociedade diferente é preciso que possamos agir agora, enquanto é tempo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GIDDEENS, Anthony. O Estado-Nação e a Violência. São Paulo: Edusp, 1985.FOUCAULT, Michel. Em Defesa da Sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2002.MIR, Luís GUERRA CIVIL. Estado e Trauma. São Paulo: Geração Editorial, 2004BORIS, Fausto. Crime e Cotidiano. São Paulo: Edusp, 2001.Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu Radiografia socioeconômica, 2005

*José Afonso de Oliveira é professor da Universidade do Oeste do Paraná - UNIOESTE, campus de Foz do Iguaçu e da União Dinâmica de Faculdades Cataratas.

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PARECER DE UM PESQUISADOR

Aparecido José Martins*

RESUMO

De abril a outubro de 2005, a Fundação Nosso Lar, entidade voltada ao

atendimento e à defesa dos direitos de crianças e adolescentes no Município de Foz do

Iguaçu, em parceria com a Universidade Estadual do Oeste do Paraná Unioeste e

apoio financeiro da Itaipu Binacional, a partir da constatação da Vara da Infância e

Adolescência local, realizou pesquisa para esclarecer os principais motivos da alta

taxa de mortalidade de adolescentes na região.

Para a coleta prévia de dados e para as entrevistas, arregimentaram-se

discentes do curso de Direito da Unioeste Foz que, munidos de questionários, foram

às comunidades obter informações, com parentes e amigos, sobre as vítimas do

período 2001-2004.O presente artigo objetiva expor a experiência do bolsista, resultante do

contato pessoal com os familiares e amigos das vítimas e as abstrações decorrentes do conhecimento empírico acerca dos adolescentes, adquiridas durante as entrevistas.

1 INTRODUÇÃO

Quando se ouve falar que alguém perdeu uma batalha ou uma luta, conseqüentemente se abstrai que uma outra pessoa a ganhou. Nada mais elementar que o princípio do benefício de alguns em detrimento de outros. É bom lembrar-se, porém, que tal lógica tem suas contradições, como se constata no decurso da pesquisa que intenta traçar o perfil sócio-econômico dos familiares e dos adolescentes mortos em Foz do Iguaçu, tanto dos que morreram vítimas de homicídio, quanto outros cuja causa de morte não se confunde com o assassínio, no período 2001-2004. O trabalho de campo para averiguação dos dados e fatos circunscritos às vítimas e parentes descortinou ao pesquisador um quadro melancólico, dolorido e muito, muito perigoso, que submete aparentemente de maneira irreversível a maioria das famílias que perdera um de seus adolescentes, quando não dois, vítimas da violência.

É comum, quando a imprensa difunde algum assassinato de adolescente, creditar tal fatalidade à própria irresponsabilidade juvenil, à rebeldia da vítima e, na maioria dos casos, crê-se piamente que o morto só recebeu o que merecia, principalmente se se tratar de jovem com perfil social estigmatizado.

Profundamente arraigada na sociedade, esta concepção exerce imensa capacidade de influenciar os pesquisadores, mais ainda, aqueles que se deparam com

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o tema pela primeira vez. Segundo Mário Volpi, oficial de Projetos do Fundo das Nações Unidas para a Infância UNICEF “Há preconceito contra adolescentes vítimas de homicídios. Por se achar que eles são autores de atos infracionais, os assassinatos quase nunca são investigados. A criação de órgãos de proteção é fundamental para romper esse ciclo de impunidade e acabar com o preconceito.”

Portanto, a missão, pelo tema abordado, “Mortalidade Adolescente em Foz do Iguaçu”, não seria das mais simples. Necessitar-se-ia de muita serenidade e sutileza para dirigir perguntas previamente elaboradas em questionário padrão [algumas que até poderiam parecer comprometedoras aos entrevistados] e para absorver dos parentes e amigos das vítimas respostas capazes de contribuir para a compreensão da realidade dos adolescentes no Município de Foz do Iguaçu, falecidos no período englobado na pesquisa.

Fundado na segurança pessoal das pessoas a quem se dirigiam as questões, mesmo porque é fácil raciocinar que grande parte dos autores dos homicídios ocorridos continuam soltos e mantêm algumas áreas sob seu comando, fazia mister ao entrevistador o compromisso ético-científico em proteger o conteúdo, a identidade dos indivíduos e a sua própria segurança.

Todo o tempo foi imperioso conviver com a apreensão, com o medo de sofrer danos à integridade física ao ser notado no desempenho de trabalho que questionasse mortes por homicídios, perpetrados em áreas sob comando, possivelmente, das pessoas que promoveram a morte do adolescente.

Em dois momentos ficou mais evidente este receio. No primeiro caso, ao adentrar área de ocupação urbana irregular em uma região conhecida por estar sob poder de grupos exploradores do mercado informal (cigarreiros, etc), o bolsista indagava sobre a localização do endereço e das pessoas que desejava contatar (mãe da vítima ou declarante constante na certidão de óbito), sem no entanto fazer qualquer referência ao porquê da busca, não obstante crescente curiosidade dos indivíduos. Observou que um casal posicionado, alguns minutos antes, na entrada da comunidade, conversava irrequieto com uma terceira pessoa. Ainda assim, seus interlocutores deram-lhe uma pista de onde poderia encontrar a senhora procurada.

Enquanto caminhava, foi capaz de escutar a frase: tem boi na linha; e, surpreso, constatou que o homem que formava o casal visto na entrada havia chegado antes ao local onde deveria continuar a pesquisa. Foi enorme o espanto quando um jovem de aproximadamente 17 anos o interpelou sobre o objetivo em encontrar certa pessoa. O Rapaz demonstrava saber da busca e afirmava ser sobrinho da pessoa procurada, mas não aceitou responder a qualquer das perguntas. Inquirido sobre sua tia, mãe da vítima, disse ter-se mudado do local após o homicídio.

Deste fato, é possível depreender o quanto é eficiente a comunicação em alguns lugares e que poderia sofrer algum tipo de represália, o que forçou o encerramento das averiguações naquela localidade.

O segundo caso se deu em área sob condições semelhantes, uma ocupação urbana irregular, porém, com maior incidência de crimes contra a vida.

Delimitada a oeste com o Rio Paraná, divisor de terras brasileiras e

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entradas da comunidade, que fica em plano mais baixo que a superfície do asfalto, seu limite à leste.

Apesar do grande número de casas, o silêncio era o que mais percebia no local. De pronto, veio ao pensamento um temor por si e pela pessoa que deveria encontrar. Apesar de saber que para si mesmo era difícil o trabalho, imaginava, sobretudo a possibilidade de riscos e de retaliações à pessoa a quem deveria entrevistar, após o momento em que falasse ao pesquisador. Sob a preocupação de não expor a família ou amigo do adolescente morto, desistiu da procura.

Não obstante os obstáculos dessa natureza,ou de outra, que se poderiam interpor, havia a expectativa da importância da pesquisa e do papel fundamental exercido pelo entrevistador. Era consciente de que o trabalho deveria ser sólido, com implicações fáticas suficientes para alterar a realidade de Foz do Iguaçu no campo da violência ou da prestação de serviços para adolescentes no Município, do qual o entrevistador, opcionalmente, fez-se cidadão há três décadas.

O que não imaginava era que, através da comunicação com as famílias, encontraria [e isso ocorreu várias vezes] ora uma mãe com crise de depressão profunda, mãe que não conseguia mais trabalhar, nem ao menos sair de casa, desde o assassinato do filho ou da filha, ora mães que tiveram que mudar de endereço para não mais ver autor do homicídio de que seu filho foi vítima andando ostensiva e impunemente nas proximidades de sua residência; pais e mães obrigados a remoer seus sofrimentos calados, sob o risco de retaliação se ousassem reclamar demais.

O entrevistador não foi capaz de supor, de início, que leria nos olhos da jovem amiga de uma das adolescentes assassinadas na periferia, uma enorme saudade da companheira, cujo sobrenome era idêntico ao seu sem que houvera qualquer relação parental. Neste momento, observou que a garota, ao mesmo tempo em que falava da amiga morta, falava de si, de seus projetos, de voltar a estudar e de fazer concurso. Parecia querer dizer que estava pronta para lutar mais corajosamente, como se fosse possível com isso viver por ela e pela amiga com a qual não mais podia contar.

Igualmente, não havia como prever ser possível deparar-se com dor e ira misturados tão intensamente em uma só pessoa, como em um dos entrevistados que perdera seu irmão por assassinato. Enquanto respondia ao questionário, seus dentes rangiam ruidosamente entre uma pergunta e outra e pareceu impossível concluir o que seus olhos buscavam, olhando tão para dentro de si mesmo, como numa crise de autismo. Subitamente, insurgiu-se uma forte sensação de haver descoberto a existência de um poço muito profundo e seco.

Ante as emoções apresentadas pelos parentes e amigos dos adolescentes mortos, não apenas a serenidade, o compromisso ético-científico, a preocupação com a segurança pessoal dos entrevistados e do entrevistador foram bastante. A sensibilidade, aliada às palavras de conforto e de encorajamento, passaram a se fazer imprescindíveis no contato com as pessoas que se disponibilizaram a prestar informações. Esta percepção não apenas dilatara a função do entrevistador, como também o permitia compreender que sua participação incentivava as pessoas à fala. Por conseguinte, de simples indagador de fatos, tornava-se orientador, amigo e

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confidente dos parentes e amigos das vítimas, e conseguia, mais facilmente, com paciência para escutar e sensibilidade para entender, criar um canal de contato, de confiança e de respeito com o entrevistado.

Nessa fase, a expectativa inicial do trabalho de campo se amplia. Conclui-se do contato com as pessoas que números, nomes, idades e causas, sobre os quais se processaram análises prévias, são mais que alimentadores de gráficos a expor. Representam a vida, as condições sociais, o problema das pessoas, ora estigmatizadas, de quem se violam direitos dos mais elementares, amalgamadas numa sensação de impotência, existente em muitas comunidades, de vazio, presente em muitos lares e, o que é pior, pela impressão de impunidade sistemática.

Da concepção meritória para explicar o morticínio de adolescentes ou seja, cada um ganha o que merece ou procura no transcorrer da pesquisa, constata-se que a faixa etária em questão é extremamente vulnerável ao meio onde vive e não é justo nem razoável requerer de um adolescente o mesmo discernimento e estrutura psicológica exigidos aos adultos.

Tal mudança de visão decorre principalmente da certificação de que a grande maioria das jovens vítimas respaldava-se na informalidade e até mesmo no auxílio ao narcotráfico para ganhar dinheiro, quando na realidade deveria estar em escolas ou congêneres educacionais e recreativos. Foram vítimas, antes de tudo, de uma espécie de adultismo prematuro, segundo o que, a criança e o adolescente não podem viver o presente e o prazer de terem a idade que têm. Devem crescer; demonstrar responsabilidade; adquirir comportamentos adultos; e, acima de tudo, como reflexo de todas estas exigências sociais, prover o sustento da família e ganhar independência financeira e social rapidamente.

Ainda, não há como negar, crianças e adolescentes, na atualidade, sofrem pressão constante da cultura de consumo, segundo a qual, todo o valor do indivíduo se reduz a sua capacidade de compra. Desse modo, se de um lado, sofre pressão inconsciente, potencializada pelos meios de comunicação de massa, pela aquisição material de tudo que transmita idéia de riqueza, por outro, o adolescente vê-se limitado pela realidade sócio-econômica em que está inserido.

Nesse contexto, fica mais fácil buscar refúgio nas drogas, ou materializar seus desejos de consumo mediante práticas como furto, tráfico de entorpecentes, exposição à exploração sexual, ou outras atividades ilegais que permitam o ganho financeiro, sobremaneira, quando se observa que vários deles, haja vista as conseqüências geradas à família pela dificuldade financeira e pela pobreza material, sequer possuíam qualquer núcleo familiar sólido.

Também é possível mencionar que algumas transformações ideológicas em favor da pesquisa se deram a partir de constatada a realidade familiar e a vulnerabilidade do adolescente imerso em condições como as que foram observadas.

Atualmente, é mais fácil acreditar que, em lugar de estigmatizações, é a realização de políticas públicas eficientes e específicas para os adolescentes em situação de vulnerabilidade em Foz do Iguaçu, ademais da participação social efetiva na sua condução, que devem ser produzidas e propagadas no Município.

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CONCLUSÃO

Como dito, há batalhas inglórias, onde só resultam derrotados. Foi isso o que ocorreu com os adolescentes iguaçuenses vitimados. Perdeu o Estado enquanto tutor das garantias à vida. Perderam os pais, irmãos, as famílias e os amigos, que crêem terem falhado em algum lugar. Perde toda a sociedade, sempre que faz vistas grossas quando matam seus adolescentes.

Uma boa maneira de reverter o prognóstico desse tipo de batalha, na contramão do processo anterior ganhar sem que haja perdedores está na oportunidade de que se estimule o uso das experiências dos que atuam na área e no aprofundamento constante do estudo dos fatos geradores da violência contra adolescentes e jovens, para que se previnam quadros sociais semelhantes no futuro.

A partir das análises de dados, Estado e sociedade podem articular-se com objetivo de atingir metas que contemplem, principalmente, parcelas específicas dessa faixa etária mais vulneráveis à violência (pertinência étnica, situação econômica, estrutura familiar, etc,). Segundo José Fernando Silva, presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda): “As políticas e os orçamentos devem ser feitos a partir das diferenças para que o ECA seja efetivado”. Pode parecer simplória a solução, mas o que prevê o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), positivação no ordenamento jurídico brasileiro da Convenção Internacional dos Direitos da Criança, do qual o Brasil é signatário, se observado e posto em prática, previne eficazmente qualquer sociedade do morticínio de adolescentes e suas seqüelas psicológicas nas comunidades atingidas.

3 REFERÊNCIAS:

-ARTICULAÇÃO contra a violência. Disponível em:www.mol.org.br/index.cfm?fuseaction=noticias.detalhe&nNoticia=7112&unecod=99&area=0 - 20k (pesquisa realizada em 29 de outubro de 2005)-HOMICÍDIOS de crianças e adolescentes sobem mais de 80%. Disponível em: http://www.andi.org.br/notícias/templates/bol (pesquisa realizada em 31 de outubro de 2005).- HOMICÍDIOS entre adolescentes no Sul do Brasil: situação de vulnerabilidade s e g u n d o s e u s f a m i l i a r e s . D i s p o n í v e l e m : http://www.scielo.br/scielo.php?pids=S0102-3 (pesquisa realizada em 31 de outubro de 2005).-O MAL viver no consumismo. Disponível em:http://www.drogas.casadio.org\news\sociedade_de_consumo_e_droga.htm-65k (pesquisa realizada em 29 de outubro de 2005)

*Aparecido José Martins é estudante de Direito da Universidade

Do Oeste do Paraná e bolsista da pesquisa.136

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PESQUISAR A MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO IGUAÇU DESAFIOS PESOAIS E CIENTÍFICOS.

*Gislaine Ferreira*

1. IMPRESSÕES QUANTO ÁS MORTES VIOLENTAS EM FOZ DO IGUAÇU (SENSO COMUM)

Quando se trata de violência relacionada a adolescentes, prevalecem as construções de causa/conseqüência com atribuição de responsabilidade à família sobre os acontecimentos, seja pela omissão dos pais em manter diálogo profícuo com os filhos sobre os riscos do trabalho ilegal ou pela permissão dada à prática de atos ilícitos e ao envolvimento com pessoas de conduta considerada pela sociedade como reprovável.

De modo semelhante, análises simplificadas ocorrem, em razão de mortes violentas de adolescentes. A responsabilização da própria família, quando não, da própria vítima, rege as idéias que se professam quanto ao tema. Pois, sem investigação da conjuntura sócio-econômico-familiar do adolescente, criam-se concepções de culpa e comodismo dos genitores, ante a inação para combater “práticas delituosas”, evitar ou questionar a origem do dinheiro trazido pelo adolescente. Este, por sua vez, em caso de famílias mais atentas, é visto como indivíduo que não respeita a autoridade dos pais, não procura trabalho lícito em prol de um meio mais fácil de ascensão social, através do contrabando e do tráfico de drogas, não freqüenta a escola ou não estuda com a devida dedicação, por descompromisso e ociosidade.

Com efeito, as referidas compreensões ideológicas, acabam por justificar os homicídios de adolescentes como se conflitos entre “marginais” fossem e eximir a sociedade de suas responsabilidades para com a busca de soluções para o problema.

2. MORTES VIOLÊNTAS DE ADOLESCENTES

Apesar da tentativa de conhecer previamente o conjunto de fatores que ensejam as mortes de adolescentes por homicídio, através da análise de certidões de óbito e laudos cadavéricos, a pesquisa de campo traz notória diferença entre o que se esperava e os resultados alcançados durante a fase de mapeamento inicial das vítimas. Anteriormente, havia somente números exilados da complexa relação que mantêm com a realidade social, ou seja, dados frios, profundamente desconectados das condições sócio-econômico-familiares dos adolescentes, que contribuíam apenas para o delineamento de algumas poucas conclusões, tais como o número total e as localidades de maior profusão de casos.

À medida que a realidade dos adolescentes se abria diante dos olhos do pesquisador de campo, estudante de Direito da Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE, campus Foz do Iguaçu, os números passaram a integrar uma

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complexa relação de condições: dificuldades financeiras, a exclusão do mercado de trabalho formal, vulnerabilidade social, empobrecimento material, ineficiência ou inexistência de serviços e políticas públicas, problemas familiares, pessoais e comunitários; e novas compreensões acerca do tema puderam se formar.

Com a pesquisa de campo, a responsabilidade e o compromisso com a necessidade de contribuir para a formação do conhecimento acerca da mortalidade de adolescentes em Foz do Iguaçu tomaram o lugar do receio inicial de adentrar às comunidades, de falar com familiares e amigos sobre os adolescentes mortos. Com este contato, foi possível a estes interlocutores a expressão de suas dificuldades sociais, econômicas, e também emocionais. De igual modo, ao pesquisador, que se insere em condições de vida diferenciadas, o trabalho de descortinar o perfil dos adolescentes mortos em Foz do Iguaçu entre os anos de 2001 e 2004 foi a possibilidade de vivenciar novas experiências e acumular um conhecimento real sobre o tema, mesmo que em algumas situações tenha sido a sua ação investigativa um tanto quanto perigosa e desafiadora.

Pois, o modelo de pesquisa de campo adotado, a entrevista, permite conhecer a realidade tal como ela é, ademais de permitir a comparação de números, de índices e de suposições sobre o assunto a ser pesquisado. É, também, o diferencial que a pesquisa de campo proporciona no espaço de construção de novas idéias e posicionamentos quanto a questões controversas da sociedade.

Assim é que foi possível perceber que não há como afirmar a delinqüência ou má formação de caráter das vítimas, sobretudo quando se trata de mortos por homicídios. Os resultados da pesquisa, ao contrário, mostram as mortes, de modo geral, como efeito de uma sociedade excludente e descompassada, que estimula à aquisição de bens e que não fornece meios para que todos tenham a oportunidade de obtê-los, que se omite diante da desproporcionalidade existente entre as classes sociais, e de um Estado que se exime, pela inexistência de políticas públicas bem estruturadas e efetivas, da responsabilidade de alterar o atual estado de coisas. Pois, segundo os dados colhidos sobre condições de vida, tanto financeira quanto social, sobre escolaridade, qualificação profissional, o tipo de trabalho, o relacionamento social e familiar, situação de moradia, bem como classe social, dos adolescentes e de seus familiares, todos os problemas analisados são passíveis de solução, desde que haja um compromisso real do Estado e da Sociedade.

É o que se pode afirmar, a partir da análise dos dados obtidos em 104 entrevistas sobre adolescentes vítimas de homicídios em Foz do Iguaçu, no período de 2001 a 2004:

No que se refere à escolaridade dos indivíduos, de faixa etária entre 12 a 18 anos, 46% não estudavam na época em que foram assassinados, e, dos 104 adolescentes mortos, 90% não concluíram o ensino fundamental;

- O percentual dos adolescentes que trabalhavam era de 46%. Todos eram relacionados ao trabalho sem exigência de qualificação profissional. Do total de

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envolvidos com trabalho não qualificado, 22% trabalhavam no Paraguai sem o cumprimento de direitos trabalhistas ou no trabalho ilegal (44% entre os que exerciam atividades no Paraguai), sendo que dessas atividades ilegais, 95% eram voltadas para o contrabando e 5% tráfico de drogas. Dos adolescentes que trabalhavam 39% contribuíam financeiramente para a manutenção da família;

- Quanto à profissão dos pais, 76% dos entrevistados trabalhavam em atividades que não exigiam qualificação profissional, geralmente relacionados ao trabalho doméstico;

- Para divertirem-se os adolescentes encontravam como alternativas as festas (25%), o futebol (21%), beber com amigos (20%), dançar (16%), beber sozinho (9%), e outras formas de diversão (9%);

- Segundo as estatísticas da pesquisa, 59% dos adolescentes andavam em grupo. Os mais apontados são: vizinhos e amigos da rua (33%), gangues (13%), amigos do colégio (12%) e amigos que a família não conhecia (12%);

- De acordo com as entrevistas, 70% dos jovens mortos não davam trabalho aos pais, 28% davam trabalho e 2% não sabiam dizer;

- Relativo ao comportamento dos considerados “problemáticos”, a situação mais difícil de ser enfrentada pelos familiares eram: drogas (38%), agressividade (21%), fuga de casa (19%), envolvimento com a criminalidade (17%), bebida (5%);

- Sobre a situação de moradia da família dos adolescentes, 92% possuíam casa própria, sendo que a maioria dessas casas foi construída em lugares de difícil acesso e irregulares;

- A soma do percentual entre pobres e muito pobres, quanto à classe social é de 86% das famílias entrevistadas.

Desse modo, quando se fala em adolescentes mortos como indivíduos inseridos num contexto de criminalidade, é preciso, antes de tudo, analisar suas condições objetivas de vida e como estas ensejam a produção de sua subjetividade, ou seja, como a falta de trabalhos em condições dignas de vida ou de perspectivas de alterações do estágio de pobreza em que se inserem, estimulam a sua participação em atividades ilegais e como estas se transformam em única alternativa papável aos olhos de alguns indivíduos. Ademais disso, é preciso compreender que papel exercem a omissão do Poder Público em promover investimentos sociais, principalmente, em educação de qualidade, em moradia descente, em lazer e desporto, entre outros; a falta de preparo para trabalho, tanto pela idade quanto pela inexistência ao acesso de qualificação profissional de nível técnico e superior; e, a sensação de independência que se alcança quando se obtém algum tipo de vantagem financeira e que gera, de

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certo modo, a perda da autoridade que os pais exercem sobre os filhos. De fato, este último aspecto, aliado à imaturidade para discernir sobre o

valor vida perante a oportunidade de conseguir mais renda, e junto com a falsa impressão de não existirem limites nem conseqüências para seus atos, faz dos adolescentes alvos fáceis para a exploração da força de “trabalho” para prática de ilícitos penais, como roubo, furto, tráfico de drogas, contrabando, entre outros.

A escola, por estar pautada em conceitos e condições desmotivadoras, ao mesmo tempo em que se constitui como alternativa de alteração de vida somente a longo prazo, e por ser obrigada a concorrer com a priorização do trabalho, também perde espaço na vida destes indivíduos que se vêem cada vez mais expulsos do ambiente acadêmico.

Para as famílias, a necessidade de sobrevivência e a falta de qualificação, de igual modo, impõem, muitas vezes, o trabalho no meio informal, em condições precárias ou em atividades ilícitas, como o contrabando de produtos falsificados, ampliando o risco pessoal e social que envolve a família e as crianças e adolescentes que a integram.

Portanto, a reversão deste quadro depende da interligação dos diversos setores da sociedade e do Estado, tais como: órgãos da justiça, instituições de ensino, prefeitura, instituições religiosas, entre outros, a quem incumbiria o estabelecimento de um plano de ação e políticas públicas de inclusão social e de atendimento às necessidades específicas dos adolescentes e de suas famílias, originários, sobretudo, de comunidades empobrecidas de Foz do Iguaçu.BIBLIOGRAFIA:

CRUZ NETO, Otávio; DESLANDES, Suely Ferreira; GOMES, Romeu et al. Pesquisa social teoria, método e criatividade. 22. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.

ENGELS, Friedrich; MARX, Karl. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Martin Claret, 2004.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 33. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.

* é estudante de Direito da Universidade doOeste do Paraná UNIOESTE, bolsista da Pesquisa.

Gislaine Ferreira

“Em Ciências Sociais, tendo como referência a pesquisa qualitativa, o trabalho de campo se apresenta como uma possibilidade de conseguirmos não só uma aproximação com aquilo que desejamos conhecer e estudar, mas também de criar um conhecimento, partindo da realidade presente no campo” (CRUZ, 2003, p.51).

É que, para eles, pessoa humana são apenas eles. Os outros, estes são ”coisas”. Para eles há um só direito o seu direito de viverem em paz, ante o direito de sobreviverem, que talvez nem sequer reconheçam, mas somente admitam aos oprimidos. E isto ainda, porque, afinal, é preciso que os oprimidos existam, para que eles existam e sejam “generosos...” (FREIRE, 1970, p. 45).

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HOMICÍDIOS DE ADOLESCENTES EM FOZ DO IGUAÇU/2001 A 2004:BAUMAN E WACQUANT NO CONTEXTO LOCAL.

José Humberto de Góes Junior

1 INTRODUÇÃO

A análise de mortes por homicídio no Brasil está, quase sempre, associada a uma profusão de entendimentos, cujo teor gravita entre o maniqueísmo trágico-niilista [1]; entre a passionalidade e a inconsistência de argumentos [2]; entre a relação causa/conseqüência [3]; e, entre abordagens acadêmicas, que podem alicerçar compreensões preconcebidas ou permitir análises consistentes da realidade, com apontamento de opções de ação ao Poder Público.

Em caso de ser a vítima adolescente, é comum naturalizar-se a morte sob pretexto de ser o homicídio uma conseqüência natural de seu envolvimento em contexto de criminalidade, sem que se aborde toda a extensão do problema com análises das políticas públicas e das condições sob que vivem ou viviam os cidadãos acometidos em maior número por esta forma de mortalidade.

Isto porque se cometem graves equívocos ao se avaliar a violência e a pessoa vítima ou autora do fato ensejador de violência.

O estudo do primeiro tema, por vezes, está isolado da compreensão de todo o conjunto de fatores em que se insere, o que provoca uma confusão de conceitos com aquele atribuído ao crime violento[4].

No que concerne à pessoa, seja vítima ou autora de ato socialmente considerado violento, os discursos, sob análises externas, imputam responsabilidades e moldam representações sociais que não condizem com a realidade, além processarem julgamentos que se atrelam a um foco auto-referencial do “outro”.

Um estudo sobre violência que anseia obter crédito de cientificidade deve, antes de tudo, olvidar as pontualidades e o olhar taxativo, reducionista e unilateral, para, pois, constitui-se como veio multidimensional, construído a partir da vítima e/ou do agente direto da ação violenta, do resgate das condições em que se insere e que, com probabilidade, podem operar para que este responda violentamente a certos estímulos sociais.

Não se deve haver qualquer interesse, contudo, em reduzir o estudo da violência urbana, sobremaneira, dos casos de homicídios de adolescentes, a uma concepção psicologista que reduz toda a sua compreensão à deformação do “eu” e sua relação com o outro. A análise dos homicídios de adolescentes deve enfocar inevitavelmente os fatores sociológicos de produção e reprodução de comportamentos e de representações sociais, estigmas que rotulam e ensejam a ação confirmativa das pechas imputadas a certos grupos ou indivíduos.

Para afastar análises míticas e reducionistas, faz-se mister estudar fatores sociais que podem ensejar a violência física em Foz do Iguaçu e provocar a morte de grande número de adolescentes no município. Esta abordagem não pode prescindir

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de dois sociólogos da atualidade, Loïc Wacquant e Zygmunt Bauman, cujos pensamentos relacionados à violência urbana descritos neste artigo pode ser extraídos das obras “Os Condenados da Cidade” e “Globalização: as conseqüências humanas”, respectivamente.

O primeiro trata da realidade dos bairros das periferias francesas e dos guetos negros norte-americanos e sua relação com a violência urbana. Já Bauman, através do capítulo “Turistas e Vagabundos”, procura enfatizar o modo como a sociedade de consumo incita comportamentos, entre estes, ações violentas.

No presente artigo, ademais, far-se-á um comparativo entre os autores, os números de homicídios de adolescentes em Foz do Iguaçu entre os anos de 2001 e 2004, matérias publicadas na revista Veja, de 24 de janeiro de 2001, e na revista Os Caminhos da Terra, de outubro de 2005, de modo que se possa visualizar com maior acuidade os verdadeiros fatores desencadeantes da violência física no município da fronteira do Brasil com o Paraguai e com a Argentina.

2 MITOS E CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA VIOLÊNCIA EM FOZ DO IGUAÇU

I) Histórico

No início da década de 1960, Foz do Iguaçu não passava de uma cidade de pequeno porte, cuja população alcançava as cifras de pouco menos de 30.000 habitantes. Com a influência das construções da Ponte Internacional da Amizade, em 1965, da BR-277 que interliga o Município a Curitiba e ao litoral do Estado do Paraná[5], e da Usina Hidrelétrica de Itaipu, fruto de acordo binacional com o Paraguai, o crescimento populacional se intensificou. Em 1980, o número de habitantes havia aumentado na ordem de 385%, segundo dados da Administração Municipal[6].

De fato, nenhum impacto no aumento da população local foi tão intenso quanto aquele ocasionado por esta última obra. Ademais de atrair cerca de 20.000 trabalhadores para a sua construção e incentivar a aproximação entre brasileiros e paraguaios, Itaipu permitiu que a cidade passasse a ser conhecida nacional e internacionalmente e divulgasse as suas belezas naturais, cujos ícones são as Cataratas do Rio Iguaçu e o Parque Nacional, reconhecido pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade, em 1986.

Apesar de fazer parte do acordo interno, entre Governo Federal e os Municípios que teriam áreas inundadas para a formação do lago de Itaipu, o pagamento de royalties, o Poder Público não logrou constituir políticas que pudessem aliviar os impactos do crescimento acelerado da população.

Diante da omissão do Estado, a única alternativa de sobrevivência e ganhos financeiros para os trabalhadores que fixaram moradia após as obras de construção da usina recém-implantada no Município, bem como para aqueles de outras partes, nacionais e estrangeiros[7], atraídos a Foz do Iguaçu pela promessa de mudança de

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vida, passou a ser o mercado turístico, as atividades que se relacionam diretamente com o turismo e/ou a aproximação com a Zona Comercial de Puerto Presidente Franco, atualmente, Ciudad del Este.

Devido às exigências de aprimoramento rápido da esfera de atendimento ao turista, trabalhadores menos qualificados (sem conhecimento de línguas estrangeiras, formação técnica ou superior em hotelaria e turismo), foram obrigados a ceder espaço para indivíduos de outras partes do Brasil e do outros Países, com possibilidade de cumprirem os requisitos impostos pelo setor.

A alternativa de sobrevivência, destarte, para a grande massa de trabalhadores, com baixa qualificação, vindos de várias partes do Brasil e do mundo, alguns com procedência do serviço braçal, foi começar a adquirir produtos no Paraguai, a baixo preço, e negociá-los em espaço próximo à fronteira e/ou em outras praças do mercado interno brasileiro. Sobretudo, diante de fatores como:

a) o avanço do neoliberalismo, nas décadas de 1980 e 1990, cujos fundamentos mais importantes são o estímulo ao setor de serviços com emprego de mão-de-obra cada vez mais qualificada; o incentivo ao trabalho autônomo; o incentivo às indústrias produtoras de bens de consumo e ao mercado de capitais; o incentivo à aquisição de produtos de pequena e média duração, bem como de produtos eletrônicos; a redução de postos formais de trabalho; a redução do Estado no mercado de empregos e na promoção de políticas públicas;

b) a venda de mercadorias originárias de várias partes do mundo ou produzidas no Paraguai sem observação aos acordos internacionais sobre marcas e patentes, com baixos custos de mão-de-obra, devido à facilidade para sonegação dos impostos paraguaios e à contratação de trabalhadores sem garantias laborais mínimas; c) a possibilidade de se transpor facilmente a fronteira com o Brasil, portando produtos com valor além da quota permitida [8] haja vista a corrupção de alguns dos agentes de fiscalização, brasileiros e paraguaios; e,

d) a possibilidade de residir no Brasil com manutenção de empregos e/ou atividades comerciais no Paraguai, o que facilita burlar a fiscalização das mercadorias que saem de território paraguaio e entram no espaço brasileiro.

Com a intensificação, na Ponte da Amizade e no Município de Foz do Iguaçu, do fluxo de pessoas e automóveis, que, em si, já dificultavam a fiscalização de todos os passantes, somada às condições que impulsionaram o contrabando, outras atividades surgem como forma de obtenção de riquezas: o tráfico de pessoas, de drogas, lícitas e ilícitas, produzidas no Paraguai e em outras partes da América Latina, e o comércio ilegal de armas de fogo dos mais diversos calibres.

Diante disso, não foi preciso largo espaço de tempo para que se desse a dualização da sociedade local. De um lado, indivíduos com alta capacidade

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aquisitiva, portadores de riquezas e poder político, e, de outro, cidadãos excluídos do mercado de consumo ou com condição reduzida de aquisição de bens, quase sempre, explorados pelos empregadores do turismo, de outros segmentos do setor de serviços e do comércio ilegal de produtos, armas, drogas e pessoas.

A polarização social se agrava ainda mais em Foz do Iguaçu com a falta de políticas públicas de moradia capazes de acompanhar o ritmo de crescimento populacional, permitindo que houvesse a concentração de pessoas de baixa renda em regiões de acesso restrito a bens e serviços públicos e o surgimento de grandes ocupações urbanas ao longo do rio Paraná, fronteira natural do Brasil com o Paraguai. Pois, sem um conjunto articulado de ações que regularizasse e dotasse estes espaços de infra-estrutura e condições dignas de habitação (segurança pública, educação, saúde, geração de emprego e renda, qualificação profissional, entre outras), somados às circunstâncias que favorecem o crescimento do comércio de produtos do Paraguai, criam-se condições para que estas comunidades se transformem em espaço de atração para traficantes de drogas, de armas e de pessoas, “cigarreiros” [9] e contrabandistas de produtos eletrônicos e de informática.

II) Relação da Violência Urbana em Foz do Iguaçu com a globalização da economia

Sob novo momento do capitalismo mundial que se inicia nos anos 1960 e se fortalece, no Brasil, durante a década de 1990, com a institucionalização do individualismo e da competitividade, propaga-se a capacidade de consumo como requisito essencial de participação na sociedade capitalista. (BAUMAN, 1999). Símbolo deste novo modelo de organização social, eleva-se à condição de objetivo supremo a realização individual, traduzida à mente como busca pelo bem-estar, pelo prazer e pela comodidade, também sinônimos de status, poder e “qualidade de vida”.

Paradoxalmente, reduzem-se os empregos formais, instituem-se as condições precárias e a informalidade como possibilidade de obtenção de renda, diminui-se o poder aquisitivo dos cidadãos, restringe-se a oferta de serviços públicos e encurtam-se os gastos estatais com políticas básicas e de assistência social. Ou seja, fortalece-se a dualidade entre os cidadãos que podem comprar “qualidade de vida” e aqueles excluídos de condições dignas de sobrevivência, ao que se soma, a competição entre os mais pobres pelos serviços, políticas, empregos, salários, bem assim, por objetos de consumo, disponíveis.

Esta polaridade, segundo Bauman, dá-se através de formas de representações sociais pensadas a partir de dois modos de comportamentos, o de “turistas” e o de “vagabundos”, vencedores e vencidos, respectivamente.

Para compreensão exata dos termos, é mister analisar o contexto a partir do qual foram cunhados, a sociedade de consumo, cujas características principais são: a) a forte presença da tecnologia e dos meios de comunicação de massa; b) a superação das fronteiras naturais entre os povos e entre os Estados, devido à criação do espaço virtual; c) a economia voltada à produção do efêmero (produtos com pouca durabilidade e serventia, destinados apenas à satisfação do desejo de consumo) e das

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relações precárias de trabalho; d) a produção industrial voltada para a instigação, satisfação e sucessão de desejos de consumo de bens, serviços e atenção pública por outros que permitam a “conquista” de “tentações” ainda não alcançadas; e) a “pobreza não como sintoma da doença do capitalismo”, mas como “evidência da sua saúde e robustez, do seu ímpeto para uma acumulação e esforço sempre maiores” (BAUMAN, 1999, p. 87); f) a inversão de prioridades sociais e mudanças de comportamentos coletivos, individuais e culturais, haja vista o abandono da condição de soldado e de produtor, comportamentos valorizados na sociedade moderna, para o de indócil consumidor, cultuado na era pós-moderna.

Nesta conjuntura, ser “turista” não é apenas visitar espaços externos àquele relacionado à sua residência, mas introjetar e propagar condutas decorrentes das ideologias que atualmente se distribuem no espaço social. É um estilo de vida que tem na circulação, na possibilidade de escolher seus destinos e de deixar as regiões de pobreza, a convergência de condições socioeconômicas que o permite consumir, realizar de seus desejos, e ser adorado por sua riqueza e por seu status.

O “vagabundo” é a representação da pobreza, da prisão ao espaço físico e ao tempo, pois não pode transpor as barreiras espaciais, devido às limitações financeiras e às exigências de vistos, autorizações, ao mesmo tempo em que tem menor acesso a “viajar” pelo espaço virtual. Por vezes, não pode ficar parado, mas não pode escolher o lugar de permanecer. Não tem como ocupar suas horas com o efêmero, com “aventuras” consumistas.

Por estarem sob mesma influência ideológica, turistas e vagabundos se assemelham como consumidores, ambos desejam obter do mundo a realização de sonhos e desejos, a satisfação de suas “tentações”. Para Bauman,

tanto o turista como o vagabundo são consumidores e os consumidores dos tempos modernos avançados ou pós-modernos são caçadores de emoções e colecionadores de experiências; sua relação com o mundo é primordialmente estética: eles percebem o mundo como um alimento para a sensibilidade, uma matriz de possíveis experiências [que se vivem], e o mapeiam de acordo com as experiências. Ambos são tocados atraídos e repelidos pelas sensações prometidas [10].

Os “vagabundos”, contudo, não conseguem praticar as sensações, não logram realizar os desejos provocados por esta relação estética com o mundo. E, a todo o tempo, anseiam realizar seus sonhos como os “turistas”, não aceitam as limitações impostas por suas condições financeiras, desejam assumir a condição relacionada àquele e não se conformam com as estigmatizações que se vêem obrigados a suportar. A riqueza e o modo de vida dos ricos passa a ser o seu objeto de adoração.

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Os “turistas”, por causa dessa aproximação, em mundo constituído e ideado em favor dos que têm dinheiro, vêm os “vagabundos” como o seu alter ego, ou seja, analisa-se como diferente, como integrante de um modelo de vida superado, e se sentem confortáveis pela certeza de não ser “vagabundo”. De igual modo, este é a figura que assombra e move o turista a acumular mais riqueza, como meio de livrar-se de eventual transposição da linha tênue que separam ambas as condições de vida.

Neste aspecto, é a ação reacionária dos “turistas”, cumulada ao poder de realização de seus anseios, que se permitirá a exclusão dos pobres dos espaços sociais e o seu exílio dentro do município (concentração em certas áreas urbanas ou construções de bairros específicos para a habitação dos pobres, com pouca infra-estrutura, hospitais, escolas, serviços básicos, como transporte, coleta de lixo, água encanada e energia elétrica). É da necessidade de cercá-las, destarte, de condições de sustentabilidade e justificação, principalmente, de cunho ideológico, que se constituem discursos fundamentalistas de “lei e ordem”, a formatação do Estado Penal, dotado de um sistema punitivo como fator de controle social da pobreza [11] (FOUCAULT, 2005; WACQUANT, 2001), que se aprova a violação de direitos fundamentais e o extermínio de pessoas, seja através da pena de morte ou da formação de milícias armadas.

Em Foz do Iguaçu, por se tratar de uma cidade jovem, com alteração recente de seu desenho físico, populacional e dos mecanismos sob que seus habitantes constroem seus modos de sobrevivência e acumulação de riquezas, a distribuição de representações sociais se recompõe nos anos de 1980 e 1990. Com efeito, é comum ver-se a estratificação de sua sociedade violada. “Vagabundos” assumem a condição de “turistas”, embora um número menor de “turistas” passem ao status de “vagabundos”.

É esta reconfiguração recente dos papéis sociais que vai fazer pairar sobre a cidade o mito de construtora de riquezas, de local que transforma a vida das pessoas, sem importar os modos como muitos integrantes dos grupos mais abastados da população tenham acumulado capital e bens. Afinal, para um inconsciente coletivo formado nesta conjuntura, não há lugar para o julgamento moral de condutas. Valoriza-se, em contrário, a riqueza e o modo de vida que ela pode proporcionar, como objetos de contemplação e signos de vitória. (BAUMAN, 1999).

Com a redução da importância humana ao que o indivíduo possui ou pode possuir, criam-se classificações que separam os integrantes da sociedade entre “vencedores” e “vencidos”, entre aqueles que conseguem superar os desafios impostos pelo ambiente e se tornam ricos, realizam seus desejos, adquirem bens, e, aqueles que estão fadados à miséria, que não podem superar o seu estágio de pobreza, haja vista as condições sociais em que estão inscritos. Com isso, reduz-se igualmente a compreensão do “outro”[12] como ser humano integrante fático do espaço da social, dotado de limitações e capacidades, de sentimentos, envolto em laços complexos de sociabilidade, e, valoriza-se o uso da força física como recurso ao reconhecimento social[13], ou seja, como modo de anular estigmas, carências, descumprimento de direitos, discriminações e preconceitos, garantia de estratégias de sobrevivência e/ou de participação ativa na sociedade de consumo.

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Dito de outro modo, quando o contexto organizacional ao invés de privilegiar os interesses coletivos e o sentimento de comunidade, gera a relação fisiológica (que elimina a preocupação dos cidadãos com a cidade, com o seu desenvolvimento, com a integração plena de todos os seus residentes), marca as relações inter-pessoais pela desconfiança, pela competição, e, de forma imediata, perpetua a superioridade dos interesses individuais sobre os interesses coletivos, a violência passa a ser a alternativa mais próxima para a garantia de sobrevivência, inclusão social e aquisição de condições e modos de vida semelhantes aos ostentados pelos que se favorecem da organização social para seu interesse próprio. Mais ainda entre os adolescentes e jovens que: a) sofrem com a pressão social e familiar para a geração de recursos e participação do orçamento doméstico, devido à pobreza e ao desemprego dos parentes adultos; b) apesar de serem incentivados diuturnamente a adquirir bens de consumo, estão excluídos da sociedade de consumo[14]; e, c) não vêem perspectivas de transformação de vida através do processo educativo, que traz resultados lentos, por vezes, incertos, haja vista não haver, atual dinâmica social, relação direta entre graduação de nível superior/trabalho/salários dignos, sem contar com a falta de qualidade e dinamismo do ensino nas escolas públicas.

III) Adolescentes e adultos jovens mais próximos da violência

Alguns fatores podem ajudar a compreender porque os adolescentes e jovens ficam mais expostos à violência.

O primeiro deles se refere à sua relação com o Estado repressor, omisso quanto à constituição de políticas públicas de proteção dos indivíduos integrantes de comunidades mais pobres.

Referir-se à proteção de comunidades mais pobres é destacar, antes de mais nada, a ação pública capaz de estabelecer uma conexão de cidadania, de respeito à condição humana, com provimento de circunstâncias dignas de sobrevivência, promoção de direitos sociais, através de serviços públicos acessíveis e de qualidade, participação ampla do Ente Público na economia para compensar as distorções do sistema econômico e constituição de programas de renda mínima digna e qualificação para os trabalhadores exilados do mercado de empregos formais e de baixos salários.

Proteger comunidades deixa de ser uma referência ao desempenho de uma política de segurança pública compreendida em seus moldes mais restritos, por que se justifica exclusivamente o uso da ação policial e se reafirma o discurso do Estado Penal, puramente repressor, a que as comunidades mais pobres estão habituadas a reconhecer como única forma de Estado existente. É, ao contrário, um conjunto articulado de ações que passam também pela ação policial, mas que, fiscalizada e em defesa dos interesses dos cidadãos, não significa a destituição da condição de sujeitos de direitos.

Apesar desta compreensão, é a omissão do Estado em promover políticas

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públicas nas comunidades mais pobres que prevalece, conduzindo estes espaços ao degredo, à miséria, ao conflito entre seus integrantes e/ou entre moradores locais e indivíduos de outras localidades igualmente negligenciadas, que geram brigas, mortes, cooptação dos adolescentes para atividades ilegais, ademais de permitir que se instalem condições à violência praticada por agentes policiais.

É um mito afirmar, portanto, que as comunidades pobres são violentas, que estão fadadas ao crime, à depravação e à ilegalidade. Em verdade, ao contrário do discurso mais amplamente difundido pelos veículos midiáticos, a violência nestes espaços é decorrência da falta ou redução do Estado quanto à promoção de direitos, quando não uma reação às injustiças sociais, à privação econômica, às desigualdades sociais crescentes e à estigmatização da comunidade[15].

A produção de estigmas em torno das comunidades, decerto, é outro dos fatores pelos quais adolescentes e adultos jovens estão mais expostos à violência. Por um lado, se vêem às voltas com a violência simbólica, calcada no desprezo das comunidades e no preconceito por que passam seus habitantes, no abandono do espaço social, na falta de qualidade dos serviços prestados aos seus cidadãos ou quando buscam emprego, relacionam-se com autoridades e moradores de localidades diversas; por outro, a violência física, cometida por policiais, algumas vezes, pelas forças armadas, que, sob o espectro da representação social das comunidades pobres[16], investem-se contra os seus integrantes, através de revistas violentas, invasão de domicílios, prisões ilegais, quando a corrupção e a criminalidade policial não geram o extermínio de moradores, entre estes adolescentes.

Concorrem, ademais, para que adolescentes e jovens adultos estejam mais expostos à violência a necessidade que se propaga na sociedade atual de se tornar um consumidor pleno, a privação socioeconômica da família, com pressão sobre crianças e adolescentes para a geração de renda e participação no orçamento familiar. Para alguém como baixa escolaridade, inexperiência profissional, com necessidades básicas a serem supridas, família imersa em condições precárias, rejeitados pelo mercado de trabalho ou que se negam a realizar trabalhos pesados, com pouca retribuição e sem perspectiva de crescimento profissional, atividades ilegais, como o tráfico de drogas, podem se transformar em uma oportunidade de emprego por tempo integral[17]. (WACQUANT, 2001).

Como afirma Wacquant, ao analisar os guetos negros norte-americanos e a violência instalada nestes espaços,

no vácuo criado pela ausência de firmas legítimas, vias ilegais de trabalho como roubo e “depenagem” de carros, assalto e especialmente tráfico de drogas podem envolver complexas estruturas organizacionais que quase refletem as das empresas da economia oficial. Além disso, o tráfico é com freqüência a única forma de negócios conhecida pelos adolescentes do gueto, uma forma que tem a virtude adicional de ser um

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empregador que verdadeiramente oferece “oportunidades iguais” (Williams, 1989; Sullivan, 1989, capítulo 7). E também, diferentemente de tantos estabelecimentos de serviços em que se trabalha por salários de fome com pouca chance de aumento, o emprego no tráfico promete recompensa imediata aos que apresentam uma boa ética de trabalho.

Malgrado a satisfação financeira, as atividades ilegais, a economia das drogas exerce graves problemas às comunidades. “Se de um lado, solapa a disposição dos jovens para trabalhar por baixos salários”, por outro, cria “ambiente com elevado risco de mortes precoces, deforma as relações familiares”[18] e enfraquece as relações sociais pela desconfiança, pelo medo, pelos atos de violência, que asseguram a credibilidade comercial e evitam que o negócio seja tomado por concorrentes ou usurpado por usuários e outros indivíduos interessados no tráfico, como policiais e outras autoridades corruptas. (WACQUANT, 2001)

Desse modo, as atividades ilegais tanto podem ser arriscadas para os adolescentes e adultos jovens que a estas acorrem, como podem se transformar em risco para aqueles que, embora não atuem em “atividades subterrâneas”, como chama Wacquant, estão muito próximos dos locais em que elas são desempenhadas, haja vista estarem as comunidades desprovidas de políticas públicas consistentes, como mencionamos, capazes de proteger e prover de condições dignas os indivíduos e comunidades mais pobres[19].

Para se ter uma idéia do que esta aproximação pode implicar, poderiam ser citados dois dos casos iguaçuenses mais emblemáticos da omissão do Estado quanto ao direito à vida, ocorridos entre 2001 e 2004. O primeiro deles, de um adolescente que, por negar-se a pagar um pastel para um traficante que atuava em seu bairro, foi morto diante de todas as pessoas da comunidade que se encontravam próximas ao local. Em outra circunstância, um adolescente foi vítima de homicídio por haver presenciado o cometimento de um crime.

Não se pode negar, outrossim, que a busca de modelos de vida prazerosos, no entanto, sem muitas perspectivas de aventuras consumistas, pode também propor aos adolescentes o uso de substâncias psicoativas como alternativa de prazer[20], possibilidade de fuga de sua realidade ou compensação à falta do alimento. Esta situação, todavia, é também um dos modos pelos quais os adolescentes podem se tornar mais vulneráveis à morte em Foz do Iguaçu. A uma, porque a alternativa de prazer pode se transformar em dependência e, a partir do confronto necessidade de obter a satisfação do vício x dificuldade financeira, podem ser conduzidos à prática de atos infracionais, dos mais simples aos considerados mais graves. A partir desta ação ou, meramente, por serem encontrados sob efeito ou em uso de drogas, tornam-se passíveis de conflitos diretos com vítimas ou com a polícia ou de serem, simplesmente, exterminado. A duas, pode endividar-se de tal modo que, para servir de exemplo a outros compradores, seja morto por traficantes. A três, pode ser

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incentivado a atuar em enfrentamentos armados entre quadrilhas para a defesa de pontos de venda e dos ganhos financeiros dos chefes do tráfico[21].

Não se pode esquecer que, no contexto local de Foz do Iguaçu, também é fator de risco de morte ser um egresso do sistema sócio-educativo. Entre os adolescentes mortos com informações prestadas por entrevistados, 48% tiveram passagens pela polícia, pelo CIAADI ou cumularam passagens pelos dois espaços de repressão ao ato infracional cometido por adolescentes.

Os motivos para estas mortes são incertos, pois não se sabe se correspondem a “acerto de contas”, vingança, “queima de arquivo”. O fato de inexistirem programas estaduais de proteção a adolescentes ameaçados de morte e para egressos do sistema sócio-educativo, também contribui significativamente para que adolescentes recém-saídos do CIAADI sejam vítimas de homicídio em Foz do Iguaçu.

Também contribui, decerto, para a exposição dos adolescentes e jovens à violência a grande quantidade de armas de fogo presentes na sociedade. Em Foz do Iguaçu, não é um processo de alta complexidade adquirir uma arma de fogo advinda do Paraguai, o que aliado “à expulsão (...) do mercado de trabalho, difusão do tráfico de drogas modificou as regras do confronto masculino nas ruas de forma que fornecem combustível à escalada de morte”[22]. Por isso, a realidade local é ainda mais perversa com os adolescentes e adultos jovens, maiores vítimas do tráfico, por conseguinte, de homicídios.

Em recente pesquisa[23] realizada por Rodrigo Cavalcante Gama de Azevedo, estudante da Universidade do Oeste do Paraná UNIOESTE do Campus de Foz do Iguaçu, sob orientação da também advogada do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Foz do Iguaçu (CEDEDICA) e professora, Isadora Minotto Gomes Schwertner, para a I Mostra Jurídica de Iniciação Científica da UNIOESTE, realizada entre os dias 16 e 18 de novembro de 2005, foi possível observar que entre 80 entrevistados, 4, a saber, 5%, responderam sim à pergunta: “você possui ou já possuiu arma de fogo?”. Sobre a pergunta: “você conhece algum adolescente que tenha?”, 30, ou seja, 37,5%, responderam sim. O que significa dizer que, entre 80 adolescentes, pelo menos, 34 estão próximos a uma arma de fogo, 30, por conhecerem alguma outra pessoa com idade entre 12 e 18 anos (o que pode significar que seja um ou mais, ou, mesmo, o colega de escola que afirma possuir uma arma). Indiretamente, porém, incluindo os que não sabem que colegas do estabelecimento de ensino tenham arma, 76 adolescentes estão muito próximos de uma arma de fogo, podendo ser vítimas de homicídio. Número que aumenta para o total dos entrevistados se se imaginar que os que têm arma se relacionam com outros adolescentes que também possuam.

Com mais armas em circulação, mais pessoas correm riscos de morrer, porque, seja por motivos torpes ou mais graves, usá-las passa ser recurso certo se está presente em meio a um conflito. Assim é que, entre os casos de homicídios de adolescentes em Foz do Iguaçu, registrados entre os anos 2001 e 2004, 89%, morreram em decorrência do emprego de arma de fogo.

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incentivado a atuar em enfrentamentos armados entre quadrilhas para a defesa de pontos de venda e dos ganhos financeiros dos chefes do tráfico[21].

Não se pode esquecer que, no contexto local de Foz do Iguaçu, também é fator de risco de morte ser um egresso do sistema sócio-educativo. Entre os adolescentes mortos com informações prestadas por entrevistados, 48% tiveram passagens pela polícia, pelo CIAADI ou cumularam passagens pelos dois espaços de repressão ao ato infracional cometido por adolescentes.

Os motivos para estas mortes são incertos, pois não se sabe se correspondem a “acerto de contas”, vingança, “queima de arquivo”. O fato de inexistirem programas estaduais de proteção a adolescentes ameaçados de morte e para egressos do sistema sócio-educativo, também contribui significativamente para que adolescentes recém-saídos do CIAADI sejam vítimas de homicídio em Foz do Iguaçu.

Também contribui, decerto, para a exposição dos adolescentes e jovens à violência a grande quantidade de armas de fogo presentes na sociedade. Em Foz do Iguaçu, não é um processo de alta complexidade adquirir uma arma de fogo advinda do Paraguai, o que aliado “à expulsão (...) do mercado de trabalho, difusão do tráfico de drogas modificou as regras do confronto masculino nas ruas de forma que fornecem combustível à escalada de morte”[22]. Por isso, a realidade local é ainda mais perversa com os adolescentes e adultos jovens, maiores vítimas do tráfico, por conseguinte, de homicídios.

Em recente pesquisa[23] realizada por Rodrigo Cavalcante Gama de Azevedo, estudante da Universidade do Oeste do Paraná UNIOESTE do Campus de Foz do Iguaçu, sob orientação da também advogada do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Foz do Iguaçu (CEDEDICA) e professora, Isadora Minotto Gomes Schwertner, para a I Mostra Jurídica de Iniciação Científica da UNIOESTE, realizada entre os dias 16 e 18 de novembro de 2005, foi possível observar que entre 80 entrevistados, 4, a saber, 5%, responderam sim à pergunta: “você possui ou já possuiu arma de fogo?”. Sobre a pergunta: “você conhece algum adolescente que tenha?”, 30, ou seja, 37,5%, responderam sim. O que significa dizer que, entre 80 adolescentes, pelo menos, 34 estão próximos a uma arma de fogo, 30, por conhecerem alguma outra pessoa com idade entre 12 e 18 anos (o que pode significar que seja um ou mais, ou, mesmo, o colega de escola que afirma possuir uma arma). Indiretamente, porém, incluindo os que não sabem que colegas do estabelecimento de ensino tenham arma, 76 adolescentes estão muito próximos de uma arma de fogo, podendo ser vítimas de homicídio. Número que aumenta para o total dos entrevistados se se imaginar que os que têm arma se relacionam com outros adolescentes que também possuam.

Com mais armas em circulação, mais pessoas correm riscos de morrer, porque, seja por motivos torpes ou mais graves, usá-las passa ser recurso certo se está presente em meio a um conflito. Assim é que, entre os casos de homicídios de adolescentes em Foz do Iguaçu, registrados entre os anos 2001 e 2004, 89%, morreram em decorrência do emprego de arma de fogo.

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IV) Os estigmas criados em torno do tema: mídia x realidade

A tentativa de se compreender a violência tem sido marcada por uma infinidade de produções jornalísticas e acadêmicas. A complexidade do tema, entretanto, em ambos os espaços, faz frutificarem-se análises fundadas em preconceitos, superficiais, capazes de retro-alimentar visões deturpadas de comunidades periféricas e, ao exercem influência quanto à percepção, geração e vivência da realidade por parte dos Administradores, que devem se ocupar das políticas públicas, e pelos moradores das áreas analisadas, alvo das intervenções estatais, acaba por produzir atos violentos.

Como afirma Wacquant, o efeito bem conhecido da profecia auto-realizante que se observa toda vez que um discurso é investido do poder de fazer advir no mundo das coisas aquilo mesmo que o discurso diz que lá já existe pode revelar-se particularmente poderoso no caso de populações que, além de sua marginalização econômica, sofrem, antes de mais nada, por serem desprovidas do controle de sua própria representação pública (WACQUANT, 2001, pp. 115, 116)

Para ilustrar os modos como os meios de comunicação dominantes retratam a violência urbana, cujas vítimas são as populações mais empobrecidas, principalmente adolescentes e adultos jovens, é preciso resgatar a Revista Veja publicada em 24 de janeiro de 2001.

“O cerco da periferia os bairros de classe média estão sendo espremidos por um cinturão de pobreza e criminalidade que cresce seis vezes mais que a região central das metrópoles brasileiras” é a capa da Revista, cuja matéria se referência se intitula: “A explosão da periferia”. Em seu conteúdo, pode ser destacada forte conotação ideológica, ordenada pelo firme propósito de construir representações sociais e fomentar modelos de ação que, por uma parte, justificam a política econômica de veio neoliberal, eliminam a relação de cidadania entre os habitantes de áreas periféricas e o Estado e justificam a ação meramente repressora do Poder Público; e, por outro, reduz a violência ao caráter de deformação moral dos pobres, considerados como “invasores” do espaço da cidade.

Como estratégia do discurso, os jornalistas Kristhian Kaminski, Patrícia Queiroz, Ricardo Mendonça, Diogo Shelp, Leonardo Coutinho, Lucila Soares, Marcio Parcelli e Raul Juste Lores, lançam mão de condenar, sob todas os aspectos, as comunidades periféricas, através do uso de adjetivações (“ameaçador”, “mancha urbana”, plena de defeitos, incômodo), de fotos e tabelas tendenciosamente ordenados (que, por si sós, formam uma imagem reducionista dos espaços

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empobrecidos das cidades) e de análises trágico-niilistas externas da vida nos bairros pobres.

No que concerne ao exercício de direitos sociais, a omissão do Estado na prestação de políticas públicas é colocada não para produzir compreensão do negligenciamento das populações empobrecidas ao longo da história do Brasil e do recurso à atividade criminosa como alternativa possível ao desemprego, à baixa qualificação, aos reduzidos salários, como mecanismo de penetração na sociedade de consumo, mas para afirmar a inação pública, inclusive do ponto de vista repressor, de contenção e banimento das comunidades do espaço físico das cidades, como fontes de problemas para as classes média e alta.

Isto fica claro em alguns trechos da matéria:Até alguns anos atrás, apenas os moradores das áreas populares viviam em pânico, não saíam à noite e corriam o risco de ver um amigo ou parente ser assassinado por marginais. Embora a criminalidade seja ainda muito mais acentuada nos bairros pobres, o medo que antes era só deles migrou para as áreas mais ricas das grandes cidades (sem grifo no original).

É como se uma espécie de Muro de Berlim tivesse sido derrubado. As regiões mais abastadas das metrópoles estão conhecendo de perto, e com grande intensidade, o impacto da chegada da miséria. Como a periferia não oferece hospitais, as unidades de saúde dos bairros mais centrais vivem lotadas. Muitas das vilas de periferia se situam em áreas de mananciais, que alimentam rios e represas usados para captação de água. Como na periferia não há coleta de lixo nem sistema de esgoto, tudo acaba sendo jogado nos córregos que vão poluir os rios mais adiante. Isso quando bairros populares não surgem diretamente em torno das represas urbanas. (sem grifo no original).

Tudo é tratado como se os “problemas ecológicos”, “sociais”, de “organização física”, das cidades decorressem exclusivamente da ocupação do espaço urbano pelos indivíduos empobrecidos[24]. Nenhuma referência, no entanto, ocorre quanto à concentração fundiária, à monocultura, à automação do campo, ao desemprego e à exploração da mão-de-obra por baixos salários, agravados nas cidades pelo privilegiamento dos interesses de grandes corporações do mercado imobiliário, através de Planos Diretores e/ou de Parcelamento e Divisão do Solo Urbano que, em lugar de organizar com justiça o espaço das cidades, de proteger as

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áreas de interesse ambiental e comum do povo, de limitar o direito de construir com base no direito de vizinhança[25], fixaram-se como instrumentos injustos, excludentes e segregacionistas.

A Revista também não analisa as fragilidades das políticas públicas empregadas à organização do crescimento populacional nas áreas urbanas (ocasionado por fatores socioeconômicos e pela omissão do Estado em promover a dignidade dos cidadãos no campo e na cidade), e, para compensar a falta de argumentos capazes de explicar o surgimento da periferia pela falta de contenção repressora do fluxo migratório dos pobres para as cidades e/ou, quando instalados, da omissão do Estado em removê-los deste espaço[26], como se não tivessem direito a ocupar o solo urbano, fotos que mostram casas pobres (retratadas em preto-e-branco), literalmente, espremendo arranha-céus e edifícios de luxo (em cores), são o seu recurso ideológico.

Para reafirmar o Estado mínimo, a Revista abandona, ainda, qualquer idéia que possa incentivar a ação pública de melhoria dos serviços e das políticas destinadas à periferia. Segundo a matéria, somente com o crescimento econômico, tal como ocorreu em Países ricos, como Estados Unidos e Inglaterra, ou com o esforço individual de integrantes ou de agentes individuais externos à comunidade (ações assistenciais desempenhadas por artistas famosos saídos de áreas marginalizadas e igrejas evangélicas), é que poderia ser modificada a situação de marginalidade social.

Evidente, nem uma ou outra ação é capaz de alterar a realidade das comunidades empobrecidas de quaisquer partes do planeta e reduzir a violência urbana. Primeiro, como afirmam Bauman e Wacquant, é o privilegiamento da economia um fator preponderante para o aumento das desigualdades sociais e concentração de renda. Em segundo lugar, a ação individual nestes espaços se constrói com fundamento no individualismo, na competição, no rechaço ao espaço em que se reside. Por último, as ações assistencialistas e religiosas apenas saciam a momentaneamente algumas necessidades, alienam as pessoas e reforçam o individualismo e a competição. Pois, não empenham a organização política da comunidade, não ensejam debates públicos sobre falta e ineficiência de ações estatais articuladas ou sobre o descaso quanto às políticas de proteção dos cidadãos.

Sem uma compreensão profunda da ordem de coisas em que estão inseridas, as pessoas, individualmente, ainda que através da religião, não dispõem de meios capazes de promover alterações significativas. O estigma de viver em uma comunidade pobre, criminosa, moralmente degradada, acompanharia, inevitavelmente, os indivíduos, principalmente, os jovens em recém-iniciado empreendimento de busca por emprego, em seus relacionamentos amorosos com pessoas externas à comunidade, na relação com a polícia ou com outros agentes públicos. (WACQUANT, 2001).

Pois, é raro encontrar matérias jornalísticas realmente pautadas em estudos sérios, com bases sociológicas sólidas[27], que evitem visões reducionistas de áreas marginalizadas da cidade. Enquanto isso, proliferam programas de TV, reportagens televisivas, referências em jornais e revistas a comunidades empobrecidas como espaços de crime; a mortes de adolescentes como aceitável, por se tratar de resultado

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do conflito entre “bandidos”; à violência como conseqüência de problemas individuais de ordem moral, todas pautadas em entendimentos que aceitam, como mecanismo exigível, a violência em face da violência (ou dos bairros pobres que representam a violência no imaginário popular).

Estas concepções, ao contrario do que se pensa, não resolvem o problema da violência, produzem mais respostas sociais violentas, até mesmo diante da falta de instrumentos políticos de protesto[28] para que as comunidades demonstrem suas insatisfações com os rótulos que os imputam, com as injustiças sociais, com a privação econômica, com as desigualdades sociais crescentes e com a exclusão do mercado de consumo.

Nenhuma resposta satisfatória ocorrerá enquanto a violência for “estudada” e representada no imaginário social como algo em si, exilada do contexto em que se insere. Para Wacquant,

a atenta análise comparativa de seu tempo, contexto e desenvolvimento mostra que, longe de expressões irracionais e atávicas de incivilidade, a recente inquietação pública dos pobres urbanos (...) constitui uma resposta (sócio)lógica à compacta violência estrutural liberada sobre eles por uma série de transformações econômicas e s o c i o p o l í t i c a s q u e s e r e f o r ç a m mutuamente[29].

Embora não diretamente abordado pela matéria analisada, em redor dos estudos sobre a mortalidade de adolescentes nas grandes cidades, tem-se criado mitos e preconceitos. O mais grave destes conclui que as mortes de adolescentes são resultado do conflito entre “bandidos”, sem levar em consideração a quantidade de armas presentes na sociedade, a falta de políticas de proteção das comunidades mais pobres, agravada por suas representações sociais e pela corrupção de integrantes de forças de repressão e o crime como alternativa de sobrevivência.

Em verdade, mais uma vez para se justificar o abandono das comunidades, ou ainda, o cercamento dos ricos em condomínios de luxo e o uso de objetos de segurança privada, intencionalmente, induz-se a construção de representações que deslocam o foco mais importante da análise.

Ser ou não ser bandido não é motivo para se ter o direito à vida usurpado. O que deve ser levado em consideração é que são vidas que se perdem em sinal de negligência, de abandono, de desprezo do Poder Público em proteger as comunidades e os seus integrantes.

Afinal, dos 175 adolescentes vítimas de homicídios em Foz do Iguaçu, entre 2001 e 2004, 46% estavam fora do sistema de ensino, 98% eram pobres, 46% eram obrigados a trabalhar. Do total de adolescentes trabalhadores e trabalhadoras, 44% estavam vinculados ao trabalho ilegal, quase sempre (95% das vezes) no tráfico de drogas.

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3 CONCLUSÃO

A violência urbana no Brasil e em Foz do Iguaçu está relacionada, sobretudo, ao modo como a sociedade se organiza e se transforma em espaço de exclusão social.

Apesar de ainda prevalecerem ações de Estado, tipicamente reacionárias, de cunho estigmatizante e repressor, baseadas em estudos inconsistentes, que não logram alterar a configuração do problema, porque não estão dispostas a contrariar a lógica excludente do sistema capitalista e da sociedade de consumo, não há outra saída para a violência urbana, especificamente para que sejam evitadas mais mortes de adolescentes em Foz do Iguaçu, senão a formulação de políticas públicas com ações imediatas e de médio e longo prazo.

Diante das peculiaridades locais, portanto, devem se constituir como ações públicas para adolescentes em Foz do Iguaçu:

a) Construção de Centros ou Escolas de formação profissional nos bairros;b) Construção e revitalização de espaços de lazer nos bairros;c) Promoção de controle eficaz de armas e passagem de crianças e adolescentes

na Ponte da Amizade;d) Programa de proteção a adolescentes ameaçados de morte;e) Programa de egressos do sistema sócio-educativo;f) Programas de apoio material e psicológico às famílias; g) Programa de apoio psicológico às famílias de vítimas de homicídio;h) Ação Estadual e Federal para fiscalização das polícias e das investigações;i) Programa de formação de educadores para o protagonismo juvenil;j) Programa de atendimento a crianças, adolescentes e famílias para combate

ao uso de substâncias psicoativas;k) Programas de atendimento integral ao adolescente com cursos de música,

dança, teatro, esportes.

*

[1] Segundo esta concepção, através da ineficiência do Estado, põem-se em guerra civil dois lados opostos constituídos, de modo inconsistente, de “cidadãos de bem” e pessoas supostamente inadaptadas ao espaço social e às regras de convivência humana, os “bandidos”.[2] Com recurso ao medo e ao constructo de uma sensação de insegurança e de impotência por parte dos cidadãos em face da violência, estas concepções justificam a desconsideração de direitos fundamentais, a auto-proteção, a formulação de ações de segurança pública com enfoque exclusivo na aquisição de armamentos e veículos, construções de penitenciárias e endurecimento de penas.[3] O homicídio é explicado e, mesmo, em certos casos, aceito, pela transferência das responsabilidades pelo fato gerador à vítima, quando esta integra grupos vulneráveis da sociedade e, por sua condição de classe, raça, gênero, sexualidade, sofre a imputação de estigmas. Segundo esta interpretação, também pode ocorrer o reforço da responsabilidade do autor do fato, quando este se encontra em semelhante condição socioeconômica a da vítima ou o fato gera forte repercussão social.[4] Do ponto de vista formal, ““Crime é um fato humano contrário à lei” (Carmignani); “Crime é qualquer ação legalmente punível”; “Crime é toda ação ou omissão proibida pela lei sob ameaça de pena”; “Crime é uma conduta (ação ou omissão) contrária ao Direito, a que a lei atribui uma pena””. (MIRABETE, 2004, p. 95). Porém, é possível compreendermos como crime uma conduta que,

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historicamente e de acordo com a correlação de forças dos integrantes de uma sociedade, torna-se punível através das instituições de direito. Neste aspecto, de acordo com uma movimentação da sociedade, cujos fatores são variados, um fato poder ser considerado crime enquanto a ação for historicamente rechaçada pelos integrantes da sociedade. Em contrapartida, a violência pode ser um adjetivo que caracteriza um crime ou um ato disposto ou, simplesmente, como palavra abstrata, ainda que não se deva conceituar violência sem a sua relação imanente, é um conjunto de fatores ideológicos, políticos, institucionais, simbólicos, físicos, psicológicos, que atentam contra a dignidade, a liberdade, a integridade física ou psíquica ou limita o seu exercício de direitos ou as condições individuais e/ou coletivas de bem-estar.[5] No início da década de 60 a população de Foz do Iguaçu era de 28.080 habitantes, passando para 33.970 em 1970 (http://www2.fozdoiguacu.pr.gov.br/Portal/Pagina.aspx?Id=18)[6] Em 1980, a população de Foz do Iguaçu já era de 136.320 habitantes. (http://www2.fozdoiguacu.pr.gov.br/Portal/Pagina.aspx?Id=18)[7] Foz do Iguaçu, segundo o Poder Público Municipal, formada pela confluência de pessoas originárias de 73 etnias.[8] A quota para transporte de mercadorias até o ano de 2005 era de U$ 150,00 dólares. Na atualidade, se encontra em U$ 300,00 ou U$ 500,00 dólares, se o comprador utilizar transporte aéreo.[9] Cigarreiros são os indivíduos que atuam somente no contrabando de cigarros, produzidos no Paraguai a custo inferior, com menor fiscalização e em descumprimento aos acordos internacionais de marcas e patentes.[10] BAUMAN, 1999. pp. 102, 103. [11]Sobre este tema afirma, em referência a Paul Chevigny: “Entre as instituições Estatais, uma particular atenção deve ser dada à polícia como um órgão da manutenção não só da ordem pública, mas, num sentido muito concreto que o leva de volta à sua missão histórica original, da nova ordem de desigualdade social vertiginosa e de uma conjunção explosiva de miséria feroz e de estupenda afluência criada pelo capitalismo neoliberal nas cidades de países desenvolvidos e em desenvolvimento por toda parte do globo.” Idem, p.12.[12] Como ser abstrato, o “outro” passa a ser um modelo que se deseja assumir, e, como ser concreto, o “outro” toma a condição de obstáculo a ser superado, em prol da concretização de desejos de consumo, similar ao que ocorre em jogos eletrônicos, com reforço de desenhos animados, cinema e novelas de TV, em que os “inimigos” são eliminados para se alcançar o objetivo da “vitória”. A diferença entre estes instrumentos de institucionalização ideológica é que, enquanto os jogos eletrônicos produzem a sensação, ainda que fugaz , de ser cada um o sujeito ativo da vitória pela eliminação dos “obstáculos” (entre estes os “inimigos” que se não “morrerem”, “podem matar”), os demais meios reforçam a absorção destes conceitos pela sensação de realidade, ensejada pela trama de comportamentos que se projeta ao espectador. Ao prefaciar o livro Os Condenados da Cidade de Loïc Wacquant, Luiz César de Queiroz Ribeiro afirma, sobre a falta de políticas públicas e a concentração de camadas operárias nas periferias americanas, inglesas e francesas, concepções que podem ser utilizadas com perfeição para o caso brasileiro e iguaçuense, com a ressalva de que muitos dos que vivem em espaços urbanos estigmatizados com políticas públicas frágeis, concentram-se totalmente em suas comunidades e participam ou participaram do mercado formal de empregos, sequer podendo adquirir a condição de operário ou de proletário: “A concentração territorial das camadas operárias empobrecidas participa agora ativamente do processo da sua destituição como atores sociais e políticos. Por outro lado,a concepção moralista e moralizadora que hoje organiza as formas pelas quais são enunciadas as ameaças representadas pelas manifestas e crescentes distâncias sociais e culturais entre os deserdados e os vencedores da sociedade de mercado, ao responsabilizar os pobres e excluídos pela sua pobreza e exclusão, reintroduz no discurso público a ótica estigmatizadora que demonizou as camadas populares no século XIX. O recalcado pânico social das “classes perigosas” retorna ao imaginário coletivo na sua versão social-política e social-acadêmica, e participa da condenação do subproletariado urbano. Condenando-o à desqualificação, à invisibilidade e à inutilidade sociais, transforma-o em fração pobre do salariat em segmento marginal da sociedade. Condenando-o à exclusão da divisão social do trabalho e a viver em uma economia da pobreza, não raro alimenta-o com práticas do capitalismo predatório das drogas e do roubo. Condenando-o ao cárcere de um ambiente social e cultural que incentiva e valoriza a prática da

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violência como único recurso, produz, especialmente para os jovens, a ilusão do reconhecimento social.” (WACQUANT, 2001, p.14). Em Foz do Iguaçu, esta sensação de ser um consumidor frustrado é ainda maior. Ademais da publicidade intensa que oferece modos de vida mais hedonistas, os jovens da fronteira têm os seus estímulos à assunção ser cada um o sujeito ativo da vitória pela eliminação dos “obstáculos” (entre estes os “inimigos” que se não “morrerem”, “podem matar”), os demais meios reforçam a absorção destes conceitos pela sensação de realidade, ensejada pela trama de comportamentos que se projeta ao espectador. [13] Ao prefaciar o livro Os Condenados da Cidade de Loïc Wacquant, Luiz César de Queiroz Ribeiro afirma, sobre a falta de políticas públicas e a concentração de camadas operárias nas periferias americanas, inglesas e francesas, concepções que podem ser utilizadas com perfeição para o caso brasileiro e iguaçuense, com a ressalva de que muitos dos que vivem em espaços urbanos estigmatizados com políticas públicas frágeis, concentram-se totalmente em suas comunidades e participam ou participaram do mercado formal de empregos, sequer podendo adquirir a condição de operário ou de proletário: “A concentração territorial das camadas operárias empobrecidas participa agora ativamente do processo da sua destituição como atores sociais e políticos. Por outro lado,a concepção moralista e moralizadora que hoje organiza as formas pelas quais são enunciadas as ameaças representadas pelas manifestas e crescentes distâncias sociais e culturais entre os deserdados e os vencedores da sociedade de mercado, ao responsabilizar os pobres e excluídos pela sua pobreza e exclusão, reintroduz no discurso público a ótica estigmatizadora que demonizou as camadas populares no século XIX. O recalcado pânico social das “classes perigosas” retorna ao imaginário coletivo na sua versão social-política e social-acadêmica, e participa da condenação do subproletariado urbano. Condenando-o à desqualificação, à invisibilidade e à inutilidade sociais, transforma-o em fração pobre do salariat em segmento marginal da sociedade. Condenando-o à exclusão da divisão social do trabalho e a viver em uma economia da pobreza, não raro alimenta-o com práticas do capitalismo predatório das drogas e do roubo. Condenando-o ao cárcere de um ambiente social e cultural que incentiva e valoriza a prática da violência como único recurso, produz, especialmente para os jovens, a ilusão do reconhecimento social.” (WACQUANT, 2001, p.14).[14] Em Foz do Iguaçu, esta sensação de ser um consumidor frustrado é ainda maior. Ademais da publicidade intensa que oferece modos de vida mais hedonistas, os jovens da fronteira têm os seus estímulos à assunção ao papel de consumidores veementemente aguçados, por um lado, pela oferta, com preços mais acessíveis, de produtos eletrônicos e outros bens de consumo no Paraguai, por outro pela forte presença de estrangeiros e brasileiros, através do turismo, que lhes imprimem a conotação de realizar modo de vida diferente daquele a que se obrigado a suportar, enquanto sua limitação de recursos, porém, implacavelmente os lembra da sua impossibilidade de obter a realização deste papel e dos prazeres que poderia ensejar.[15]Em nota sobre a violência no gueto, Wacquant faz afirmações que podem ser analogicamente utilizadas para analisar a situação local de Foz do Iguaçu: “...qualquer relato sobre o gueto deve começar com essa violência em função de sua acuidade vivencial e das ramificações enormemente dilaceradas nas vidas dos que são por ela apanhados. (...) a violência nas zonas centrais é, em suas formas e organização, bem diferente do que revelam os relatos jornalísticos; de certo modo, menos horrorosa e, de outro, muito pior, em particular devido à sua rotina e ao seu caráter socialmente entrópico. (...) essa destrutiva violência “vinda de baixo” deve ser analisada não como uma expressão de “patologia”, mas como função do grau de penetração e do modo de regulagem desse território pelo EStado uma resposta a vários tipos de violência “vindos de cima” e um produto colateral do abandono político das instituições públicas no Centro da cidade (Wacquant, 1993b)” (WACQUANT, 2001, p. 55).[16] É possível compreender a ação violenta de agentes das forças repressoras do Estado, cujos integrantes, em grande parte das vezes, têm origem em comunidades pobres estigmatizadas, como uma ação de diferenciação do agente público, impulsionada pelas fragilidades das políticas de proteção às comunidades mais pobres, por conseguinte, pela falta de fiscalização da ação policial e do compromisso de agentes do Poder Público com a extensão do Estado Democrático de Direito a todos os cidadãos. É como uma estratégia de distanciamento da comunidade, de reabilitação, de reafirmação da legitimidade de sua condição de poder e status perante a sociedade, que policiais e outros agentes repressores agem em desrespeito aos cidadãos de comunidades pobres, ameaçam, negam seus direitos mais elementares e

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anulam suas perspectivas de alteração da realidade.[17] Conforme afirma a Revista Os Caminhos da Terra, ““um jovem antes de entrar para um grupo criminoso pensa bastante antes de fazer isso e toma a decisão por falta de opções”, lembra Marianna Olinger, do Viva Rio. Mais do que uma escolha pelo crime, é uma escolha pelo emprego e pelo reconhecimento social. Um trabalho ilegal e de extremo risco, mas em que o dinheiro entra de forma rápida. Assim, pode ajudar afamília, melhorar de vida, dar vazão às suas aspirações de consumo”. (SAKAMOTO, Outubro de 2005, p. 49).[18] WACQUANT, 201, pp. 65, 66. [19] Embora trate do gueto norte-americano e, ao contrário, do que afirma a mídia sensasionalista, temos menos semelhanças aos guetos do que se diz, citamos Wacquant quanto a algo que se passa em comunidades pobres de Foz do Iguaçu e em outras partes do Brasil acerca da relação que a cidadania estabelece com a polícia: “os moradores do gueto vêem-se divididos entre a necessidade de proteção diante da criminalidade generalizada e o medo de que a intervenção policial aumente a violência, ao invés de diminuí-la , devido ao seu comportamento discriminatório e brutal”. (...) “Para os jovens irados dos enclaves urbanos decadentes, a polícia é, assim, o último amortecedor entre eles e a sociedade e representa “o inimigo”, o intruso num território onde seu domínio é amiúde contestado abertamente e no qual ela incita o desafio e a hostilidade, quando não a agressão”. “Reconhece-se que a polícia, quando é considerada uma força estranha pela comunidade, torna-se incapaz para cumprir outro papel que não seja o puramente repressivo e, em tais circunstâncias, pode apenas acrescentar ainda mais desordem e violência (Wacquant, 1993b)”. Em complemento, afirma o mesmo autor: “A raiva profunda que muito sentem, em face da exclusão sistemática no mercado de trabalho e da negação da dignidade individual que acompanha a auto-suficiência econômica, encontra uma válvula de escape num discurso niilista que glorifica a predação e a violência como meios de acesso à esfera do consumo e que destaca a polícia como alvo de sua inimizade, no desejo de dar uma forma humana aos mecanismos que os excluem (Dubet, 1987, p. 80-9; Jazouli, 1992, p. 148-9).” (Idem, pp. 35; 149).[20]Muitos parentes e amigos de adolescentes vítimas de homicídios expressam claramente esta conotação de “alternativa de aventura” ao ser indagados sobre os modos de divertimento do adolescente. Chama atenção como os entrevistados confundem usar substâncias psicoativas e divertir-se. Muitos pais afirmam que os filhos se divertiam todos os dias porque “usavam drogas”, ou que não saíam de casa, senão para comprar drogas voltando em seguida para fazer uso das substâncias que adquiriu.[21]Entre os familiares e amigos de adolescentes entrevistados, 23% afirmam estarem a morte do adolescente relacionada às drogas (21%, uso ou tráfico, 2% máfia de cigarreiros). [22] (WACQUANT, 2001, p. 55)[23] Estatuto da Criança e do Adolescente: A Cultura e o Conhecimento Jurídico entre os Adolescentes nas Escolas de Foz do Iguaçu Ensino Médio e Magistério.[24] “A periferia sempre foi um lugar tremendamente ameaçador para seus moradores. Quem acharia razoável viver numa região que reúne praticamente todos os defeitos que uma cidade pode ter? as ruas não têm calçamento e se alagam quando chove. Os bairros não possuem hospital nem dentistas. Em boa parte das casas, a água encanada e o esgoto são obtidos apenas com ligação clandestina ou de forma que, em muitos casos, os detritos correm a céu aberto. Praça e área verde são artigos de luxo. Como não há coleta de lixo, os moradores servem-se dos rios e vivem num ambiente poluído e cheio de doenças. As casas são erguidas em lotes sem calçada e o terreno é tão estreito que não estimula o plantio de árvores. Isso sem falar no policiamento, que é raro, nas taxas de criminalidade, nos donos das bocas-de-fumo, nas chacinas. E o que dizer do salário? Para atingir o rendimento anual do morador de um bairro mais central, o habitante da periferia precisa trabalhar durante quase seis anos”. (Idem, p. 89).[25] Proteção contra os impactos que uma construção pode ocasionar aos residentes próximos ou à cidade como um todo, do ponto de vista segurança, dos serviços públicos, das questões ecológicas, do aspecto estético-urbanístico da cidade. (Art. 4º, IV, da Lei 10.257/2001, Estatuto da Cidade.)[26] “Freado o crescimento, é preciso adotar medidas de duas ordens. Onde houver construções irregulares que ofereçam risco para quem lá mora, a única saída é a remoção das pessoas” (Idem, p. 93).[27] “Pó de Guerra Por que o tráfico de drogas mata tantos jovens nas grandes cidades brasileiras? TERRA foi até os morros e favelas buscar resposta”, reportagem de capa da Revista “Os Caminhos da Terra”.

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28] Se formas diretas de protesto infrapolítico, através da ruptura popular da ordem pública, da tomada direta de bens e da destruição de propriedades, espalham-se nos distritos urbanos pobres da sociedade avançada, é porque também os meios formais de pressão sobre o Estado declinaram, juntamente com a decomposição dos mecanismos tradicionais de representação política dos pobres. (...) Na ausência de mecanismo político apto a formular demandas coletivas em uma linguagem compreensível aos administradores do Estado, o que resta aos jovens urbanos senão tomar as ruas?” (Idem, pp. 33, 34).[29] Idem. p. 28.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AZEVEDO, Rodrigo Cavalcante Gama de. Estatuto da Criança e do Adolescente: A Cultura e o Conhecimento Jurídico entre os Adolescentes nas Escolas de Foz do Iguaçu Ensino Médio e Magistério. 2005. Projeto de Iniciação Científica I Mostra de Iniciação Científica da Universidade do Oeste do Paraná. Foz do Iguaçu/PR.BAUMAN, Zygmunt. Globalização: As Conseqüências Humanas. Tradução Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.KAMINSKI, Kristhian; QUEIROZ, Patrícia; MENDONÇA, Ricardo; SHELP, Diogo; COUTINHO, Leonardo; SOARES, Lucila; PARCELLI, Marcio; LORES, Raúl Juste; A Explosão da Pareiferia. Revista Veja. São Paulo: editora Abril, jan./2001, ano 34, n. 3, 2001MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal: Parte Geral. 21 ed. São Paulo: Atlas, 2004. v. 1Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu Radiografia socioeconômica 2005 SAKAMOTO, Leonardo; Pó de Guerra. Revista Os Caminhos da Terra. São Paulo: editora Peixes, out./2005, ano 13, n. 162, 2005WACQUANT, Loïc. Os Condenados da Cidade: Estudo sobre a marginalidade avançada. Tradução João Roberto Martins Filho. Rio de Janeiro: Reavan; FASE, 2001.Consulta a páginas eletrônicas:http://www.fozdoiguacu.pr.gov.br/Portal/Pagina.aspx?Id=18Http://www.itaipu.gov.br

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ANEXOS

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Total de Mortes de Adolescentes por Idade e Sexo em

causas diversas do Homicídio

4,44

11,11 11,11

1,11

4,44

0

1010

14,44

2,22

4,443,33

6,66

7,77

5,55

3,33

0

2

4

6

8

10

12

14

16

12 anos 13 anos 14 anos 15 anos 16 anos 17 anos 18 anos idadenão

definida

Idade

Va

lore

se

m%

Masculino

Feminino

Percentual de Adolescentes Mortos por Causas

Diversas do Homicídio, cujas Famílias ou Outra Pessoa

Prestou Informações à Pesquisa

59%

41%sim

não

Classe Social dos Adolescentes Mortos por

Causas Diversas do Homicídio

6%

58%

30%

6%

Muito pobre

pobre

média baixa

média alta

Anexo IMortes por causas diversas do homicídio.

162

Page 57: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Pessoa que Prestou Informações sobre o Adolescente

9%

49%9%

13%

4%

8%

8%Pai

Mãe

Tia/Tio

Irmão/Irmã

Primo/Prima

Avó/Avô

Conhecido/Conhecida

Adolescentes Mortos por Causas Diversas do

Homicídio que, segundo os/as Entrevistados/as,

Tinham Pai

91%

9%

sim

não

Percentual de Adoldescentes que Chegaram a

Conhecer o Pai

91%

9%

sim

não

Percentual de Adolescentes que Tinham Mãe

94%

6% 0%

sim

não

não sabe dizer

163

Page 58: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Com quem Residiam os Adolescentes Mortos por

Causas Diversas do Homicídio

75%

19%

6%

Com os dois pais

Com um só dos pais

Com outro parente

Profissão do Genitor

4%

83%

0%

9%

0%

4%

0%

Exige qualif icacão

Não exige qualif icação

desempregado

não sabe dizer

não informada

Ilícitas

aposentado

Características Gerais do Trabalho Não-qualificado

dos Pais

96%

4%

Lícitos

Ilícitos

Profissão da Genitora

48%

0%8%

40%

4%

Dona-de-casa

Desempregada

Exige qualif icação

Não exige qualif icação

Não Informado

164

Page 59: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Características Gerais do Trabalho Não-qualificado

da Mãe

90%

10%

Lícitos

Ilícitos

Situação da União Paterna dos Adolescentes

Mortos por Causas Diversas do Homicídio

62%13%

2%

2%

15%

6%

Casados

Juntados

Divorciados

Separados

Judicialmente

Separados

Outro (viúvos/mãe

solteira)

Condições de Moradia dos Adolescentes Mortos

por Causas Diversas do Homicídio

79%

11%

2%

6%

2%

Casa Própria

Casa Alugada

Casa Financiada

Mora de favor

Não sabe informar

165

Page 60: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

166

Page 61: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Bairro Onde morava

Encontrados Não Encontrados

a 1 1 Três Lagoas b 1 1 Jardim Primavera c 1 0 Três Bandeiras d 2 0 Porto Belo e 3 0 Jardim Itaipu f 1 0 Vila Borges g 1 1 Profilurb II h 1 0 Jardim Santa Rosa i 1 0 Jardim Cláudia j 1 0 Profilurb I l 1 0 Cohapar I m 3 0 Cidade Nova n 4 1 Morumbi II o 1 1 Morumbi I p 1 0 Jardim Duarte q 1 0 Morenitas r 2 2 Jardim Jupira s 2 0 Jardim Bela Vista t 2 0 Polo CENTRO u 2 2 Centro v 4 1 Jardim São Paulo x 2 0 Vila C z 1 0 Jardim Califórnia a1 1 1 Ouro Verde a2 1 0 Jardim Dourado a3 1 0 Jardim das Flores a4 1 0 Novo Mundo a5 2 0 Jardim Europa a6 1 2 Morumbi III a7 1 0 Bervely Falls Park a8 1 0 Profilurb III a9 1 0 Vila Adriana a10 1 0 Pilar Parque Campestre a11 1 0 Jardim Linear a12 1 1 Vila A a13 1 0 Morumbi IV a14 0 1 Favela do Bambu a15 0 1 Vila Portes a16 0 1 Parque Nacional a17 0 1 Portal da Foz a18 0 1 Vila Almada a19 0 2 Vila Adriana II a20 0 1 Local Ignorado a21 0 1 Jardim Central a22 0 1 Residencial Graúna a23 0 1 Cohapar III

167

Page 62: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Percentual de Adolescentes que Estudavam

71%

25%

4%

sim

não

não sabe dizer

Percentual de Adolescentes que Estudavam

71%

25%

4%

sim

não

não sabe dizer

Grau de Escolaridade dos Adolescentes, que

segundo os/as Entrevistados/as Estudavam

012345678

Ap

en

as

1S

éri

e

2S

éri

e

3S

éri

e

4S

éri

e

5S

éri

e

6S

éri

e

7S

éri

e

8S

éri

e

1A

no

2A

no

3A

no

Esc

ola

pa

ra

Est

ud

ava

m

S ér i e

Estudava

Percentual de Adolescentes Mortos que Concluíram

o Ensino Fundamental, cujos/as Entrevidos/as

apontam estudar ou não estudar no momento em que

falecerão

23%

75%

2%

sim

não

não sabe dizer

168

Page 63: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Grau de Escolaridade dos Adolescentes que, segundo os/as

Entrevistados/as, não estudavam

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Alf 1

Série

2

Série

3

Série

4

Série

5

Série

6

Série

7

Série

8

Série

1 Ano 2 Ano 3 Ano EPCD SND

Série

mero

em

Alg

ari

sm

os

Formas de Trabalho mais comuns entre os

adolescentes mortos por causas diversas do

homicídio

20%

20%

10%5%5%

40%

Ajudava os pais no

comércio da família

Autônomo no paraguai

Empregada doméstica

Funileiro

Empregado aprendiz

em oficia mecânica

Outros

Distribuição de Adolescentes, que estudavam

ou não-estudavam, por Turnos

52%

24%

16%

8%

Matutino

Vespertino

Noturno

Não informado

169

Page 64: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Percentual de Adolescentes, entre aqueles que

trabalhavam ou não-trabalhavam, que ajudavam

financeiramente na manutenção da casa

83%

13%

4%

sim

não

não sabe dizer

Percentuald e Adolescentes que Trabalhavam

38%

60%

2%

sim

não

não sabe dizer

Adolescentes que Tinham Alguém da Família que

Trabalhava no Paraguai

0%

6%

94%

0%

alguém da família

trabalhava no PY

sim

não

não sabe dizer

170

Page 65: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Percentual de Adolescentes que Praticavam

algum tipo de Religião

60%

25%

15%

sim

não

não sabe dizer

Percentual de Adolescentes que Tinham

Religião

94%

2%

4%

sim

não

não sabe dizer

Tipos de Religião Praticadas

62%

30%

2% 6%

Católico

Evangélico

Islamismo

Nenhum

171

Page 66: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Formas de Diversão

24%

8%

4%

11%8%

4%

13%

13%

9%

6%Jogar futebol

Saía com a família

Assistir televisão

Festa

Brincar

Música

Mais de uma opção

Nenhum

Outros

Não sabe

Dias em que os Adolescentes mais se

Divertiam

54%

6%

15%

6%

4%

15%

No final de semana

Quase todos os dias

Todos os dias

Não saía

Quando podia

Não sabe informar

Percentual de Adolescentes que, segundo

os/as Entrevistados/as, eram "Briguentos"

4%

96%

0%

sim

não

não sabe dizer

172

Page 67: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Percentual de Adolescentes que, segundo

os/as Entrevistados/as, meteram-se em

"Confusão"

2%

98%

0%

sim

não

não sabe dizer

Percentual de Adolescentes que Andavam em

Grupo

47%

51%

2%

sim

não

não sabe dizer

Percentual de Adolescentes que foram

Apontados pelos/as Entrevistados/as como

Esquentados

11%

89%

0%

sim

não

não sabe dizer

Percentual de Adolescentes que, segundo os/as

Entrevistados/as davam Trabalho

90%

6% 4%

sim

não

não sabe dizer

173

Page 68: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Grupos mais freqüentados pelos Adolescentes,

segundo os/as Entrevistados/as

0%

28%

4%

16%28%

0%

4%

16%

4%

Grupos em que saía

Igreja

Futebol

Amigos do Colégio

Vizinhos e amigos da rua

Amigos que a família nãoconheciaNão sabe informar

M ais de uma resposta

Outros

Percentual de Adolescentes que tinham

passagem pelo Conselho Tutelar

13%

87%

0%

sim

não

não sabe dizer

Percentual de Adolescentes que tinham

passagem pela Polícia

4%

96%

0%

sim

não

não sabe dizer

Principais Motivos pelos quais Adolescentes

Mortos por causas diversas do Homicídio tiveram

passagens pela Polícia

50%50%

Contrabando de

mercadoria

Não Informado

174

Page 69: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Percentual de Adolescentes que tinham

passagem pelo CIAADI

6%

94%

0%

sim

não

não sabe dizer

Principais causas de Morte de Adolescentes do

Sexo Feminino que não foram vítimas de

homicídio

6%

13%

3%

19%

10%13%

27%

3%6%

Doença

Negliência médica

Afogamento

Morte Natural

Acidente de trânsito

Atropelamento

Doença Infecto-contagiosa

Infecção hospitalar

Outros

Principais causas de Morte de Adolescentes

do Sexo Masculino que não foram vítimas de

homicídio

8%

5%

21%

19%17%

5%

8%

2%

15%

Doença

Negliência médica

Afogamento

M orte Natural

Acidente de trânsito

Atropelamento

Doença Infecto-contagiosa

Infecção hospitalar

Outros

175

Page 70: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Principais Motivos pelos quais Adolescentes

Mortos por causas diversas do Homicídio

tiveram passagens pelo CIAADI

34%

33%

33%Roubo

Furto

Pedir dinheiro no sinal

Principais motivos pelos quais ocorreram

passagens de Adolescentes Mortos por causas

diversas do homicídio pelo Conselho Tutelar

44%

14%

14%

14%

14%

Problemas decomportamento

Furto (pequenosdelitos)

Fugir de casa

Pedir dinheiro no sinal

Trabalhar comoengraxate

176

Page 71: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Mortes de Adolescentes por Causas Diversas do

Homicídio Distribuídas por Ano (2001 a 2004)

14

11

14 14

119

6

11

25

20

25

20

0

5

10

15

20

25

30

Ano 2001 Ano 2002 Ano 2003 Ano 2004

Ano

Va

lore

se

mA

lga

ris

mo

s

encontrados

não encontrados

TOTAL

177

Page 72: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Total de Mortes por Região

0

10

20

30

40

50

60

70

CI AKLP TL VC PM SF JSP RR VCa C PI H NL J A ST

Bairro

Valo

res

em

Alg

ari

sm

os

encontrados

não encontrados

total

Mortes por Região encontrados não encontrados total Campos do Iguaçu 0 0 0

AKLP 1 0 1 Três Lagoas 4 2 6

Vila C 3 1 4 Porto Meira 2 3 5

São Francisco 1 0 1 Jd. São Paulo 0 0 0 Região Rural 0 0 0 Vila Carimã 0 1 1

Pq. Imperatriz 2 2 4 Hospital 35 25 60

Não Localizado 4 2 6 Jd. América 0 1 1

Sta Terezinha Itaipu 1 0 1 TOTAL 53 37 90

178

Page 73: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Distribuição de Adolescentes pelo Local da

Morte

0

5

10

15

20

25

30

35

40

TL ST NI PP CN JBV PI VS PI MIV VC VA VCa FB VAlm CT VAdr

II

H

Local

mero

sem

Alg

ari

sm

os

Encontrados

Não Encontrados

Local da Morte Encontrados Não Encontrados Total Três Lagoas 4 1 5

Sta Terezinha Itaipu 1 0 1 Não Informado 4 2 6 Pq Presidente 1 0 1 Cidada Nova 1 0 1 Jd Bela Vista 1 0 1

Profilurb I 1 2 3 Vila Shalon 1 0 1

Pq Imperatriz 1 2 3 Morumbi IV 1 0 1

Vila C 1 0 1 Vila A 1 0 1

Vila Carimã 0 1 1 Favela do Bambu 0 1 1

Vila Almada 0 1 1 Conjunto Tucuruí 0 1 1 Vila Adriana II 0 1 1

Hospital 35 25 60 Total 53 37 90

179

Page 74: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Total de Homicídios de Adolescentes por Sexo e

Idade

1,71 2,29 2,86

12,57

18,86

22,86

31,43

1,14 0 0,57 1,71 1,71 0,57 1,71

0

5

10

15

20

25

30

35

12 anos 13 anos 14 anos 15 anos 16 anos 17 anos 18 anos

Idade

Valo

res

em

%

Maculino

Feminino

Pessoa que Prestou Informações sobre o Adolescente Vítima

de Homicídio

18%

25%

1%12%

18%

5%

5%

4%

1%

7%

2%

2%Pai

Mãe

Pai e Mãe

Tia/Tio

Irmão/Irmã

Primo/Prima

Avó/Avô

Madrasta

Padrasto

Vizinho

Conhecido/Conhecida

Sobrinho

Total de Adolescentes Vítimas de Homicídio, Distribuídos

por Sexo

Feminino

7%

Maculino

93%

Maculino

Feminino

Anexo IIMortes por Homicídio.

180

Page 75: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Divisão de Adolescentes Vítimas de Homicídio por Raça,

segundo os Entrevistados/as

3%

67%

26%

4%

Negro

Branco

Pardo

Não especif icado

Percentual de Adolescentes Vítimas de Homicídio sem

Informações Prestadas por Entrevistado/a, divididos por Raça

1%

28%

7%64%

Negro

Branco

Pardo

Não especif icado

Percentual de Adolescentes Mortos, segundo os/as

Entrevistados/as, por Classe Social

38%

48%

12% 0%

0%2%

muito pobre

pobre

média-baixa

média-alta

alta

muito rica

Distribuição de Homicídios de Adolescentes por

Causas

1%

1% 1%

1%

1%

1%

89%

5%

Arma de fogo

Arma branca

Afogamento

Estrangulamento

Espancamento

Instrumento cortante earma de fogoEletricidade

Ação contundente

181

Page 76: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Percentual de Adolescentes Vítimas de Homicídios que,

segundo os/as Entrevistados/as, tinham Pai

79%

21%0%

sim

não

não sabe dizer

Percentual de Adolescentes Vítimas de Homicídios que,

segundo os/as Entrevistados/as, chegaram a conhecer o Pai

90%

10% 0%

sim

não

não sabe dizer

Percentual dos Adolescentes Vítimas de Homicídio que,

segundo os/as Entrevistados/as, tinham Mãe

87%

13% 0%

sim

não

não sabe dizer

Presença dos Pais em Casa, segundo os/as Entrevistados/as

33%

43%

7%

16%1%

Pouca

Média

Grande

Nenhuma

sem informação

182

Page 77: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Com Quem Residiam os Adolescentes Vítimas de Homicídios,

segundo os/as Entrevistados/as.

52%

33%

5%

2%

3% 5%

Com os dois pais

Com um só dos pais

Com outro parente

Com sua própria família

Sozinho

com amigos

Características do Trabalho Não-qualificado dos Pais dos

Adolescentes Mortos, segundo os/as Entrevistados/as

91%

9%

Lícitas

Ilícitas

Profissão dos Pais dos Adolescentes Mortos Segundo os/as

Entrevistados/as

23%

62%

2%

2%

2%9%

Exige qualif icacão

Não exige qualif icação

aposentado

desempregado

não sabe

não informada

Profissão das Mães dos Adolescentes Mortos segundo os/as

Entrevistados/as

40%

50%

0%

10%

Dona-de-casa

Outras atividades

Desempregada

Não Informado

183

Page 78: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Situação dos Pais do Adolescente Morto, segundo

os/as Entrevistados/as

41%

22%

1%

4%

28%

4% Casados

Juntados

Divorciados

Separados Judicialmente

Separados

Outro (viúvos/mãe solteira)

Caracterísiticas do Trabalho Não-qualificado das

Mães dos Adolescentes Mortos Segundo os/as

Entrevistados/as

82%

18%

Lícitas

Ilícitas

Situação de Moradia da Família dos Adolescentes

Mortos, segundo os/as Entrevistados/as

4%

1%3%

92%

Casa Própria

Casa Alugada

Casa Financiada

Mora de favor

184

Page 79: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Percentual dos Adolescentes Mortos que

Concluíram o Ensino Fundamental, segundo

os/as Entrevistados/as

10%

90%

0%

sim

não

não sabe dizer

Percentual de Adolescentes Mortos que

Estudavam, segundo os/as Entrevistados/as

54%

46%

0%

sim

não

não sabe dizer

Distribuição de Adolescentes Mortos, por Turno Escolar e Série, segundo os/as

Entrevistados/as

01234567

Ap

en

as

alf

ab

eti

za

do

2S

éri

e

4S

éri

e

6S

éri

e

8S

éri

e

2A

no

Un

ive

rsid

ad

e

Su

ple

tiv

o

Série

Va

lor

em

Alg

ari

sm

os

turno não informado

manhã

Tarde

Noite

185

Page 80: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Grau de Escolaridade dos Adolescentes Mortes,

segundo os/as Entrevistados/as

19%

6%

6%6%8%

0%0%0%

39%

4%

0%2%2%

0%

8%

Apenas alfabetizado1 Série2 Série3 Série4 Série5 Série6 Série

7 Série8 Série1 Ano2 Ano3 AnoUniversidadeNão InformadoSupletivo

Percentual de Adolescentes Mortos que Trabalhavam,

segundo os/as Entrevistados/as

46%

54%

0%

sim

não

não sabe dizer

Pecentual de Adolescentes Mortos que Contriubuíam

Financeiramente para a Manutenção da Família,

segundo os/as Entrevistrados/as

39%

61%

0%

sim

não

não sabe dizer

186

Page 81: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Modalidade de Trabalho que realizavam os

Adolescentes Mortos, segundo os/as Entrevistados/as

0%

100%

Qualificado

Não-qualificado

Características Gerais do Trabalho Não-qualificado, segundo

os/as Entrevistados/as

56%

44% Legal

Ilegal

Formas Mais Freqüentes de Trabalho Não-qualificado,

segundo os/as Entrevistados/as

95%

5%

Contrabando

Tráfico de drogas

Percentual de Adolescentes que possuíam algum

Parente que Trabalhava no Paraguai, segundo

os/as Entrevistados/as

32%

68%

0%

sim

não

não sabe dizer

187

Page 82: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Percentual de Adolescentes que Trabalhavam no

Paraguai, segundo os/as Entrevistados/as

22%

78%

0%

sim

não

não sabe dizer

Percentual de Adolescentes Mortos que, segundo

os/as Entrevistados/as, possuíam Religião

78%

22%0%

sim

não

não sabe dizer

Percentual de Adolescentes Mortos que, segundo

os/as Entrevistados/as, praticavam algum tipo de

Religião

33%

67%

0%

sim

não

não sabe dizer

Religiões mais Freqüentemente Praticadas, segundo

os/as Entrevistados/as

58%20%

0%

0%

0% 22%Católico

Evangélico

Espírita

Umbanda

Outra

Nenhuma

188

Page 83: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Formas mais Freqüentes de Divertimento dos

Adolescentes Mortos,segundo os/as Entrevistados/as

23%

0%

2%

15%

28%

21%

0%

0% 0%4%

6%

1%

Jogar futebol

Assistir a futebol

Dançar

Festa

Boteco

Beber com amigos

Beber sozinho

Visitar parentes

Mais de uma opção

Outros

Não sabe

Nenhum

Opções mais Apontadas entre Aqueles que, segundo

os/as Entrevistados/as, Possuíam mais de uma Forma

de Diversão

21%

3%

16%

25%

4%

20%

1%

1% 9%

Jogar futebol

Assistir a futebol

Dançar

Festa

Boteco

Beber com amigos

Beber sozinho

Visitar parentes

Outros

Freqüência com que os Adolescentes se Divertiam

durante a Semana,segundo os/as Entrevistados/as

52%

13%

20%

3%

2%

10%

No final de semana

Quase todos os dias

Todos os dias

Não saía

Quando podia

Não sabe informar

Percentual de Adolescentes que, segundo os/as

Entrevistados/as, apresentava-se como Briguento

16%

83%

1%

sim

não

não sabe dizer

189

Page 84: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Percentual de Adolescentes que, segundo os/as

Entrevistados/as, apresentava-se como

"Esquentado"

34%

65%

1%

sim

não

não sabe dizer

Percentual de Adolescentes que, segundo os/as

Entrevistados/as, meteu-se em "Confusão"

33%

63%

4%

sim

não

não sabe dizer

Respostas Contraditórias entre os itens

"briguento" e "esquentado"

48%52%

Sim

Não

Percentual de Adolescentes que costumavam

andar em Grupos, segundo os/as Entrevistados/as

59%

39%

2%

sim

não

não sabe dizer

190

Page 85: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Principais formas, segundo os/as

Entrevistados/as, de confusão em que se

Envolvia Parcela dos Adolescentes Mortos

46%

8%3%

16%

13%

3%

11%

Brigas em geral

Brigas no colégio

Tiroteio na escola por

causa de drogas

Roubo

Homicida

Tiroteio com polícia

Não sabe responder

Grupos mais Apontados, pelos/as Entrevistados/as

5%8%

12%

33%10%

13%

16%

3%

Igreja

Futebol

Amigos do Colégio

Vizinhos e amigos daruaAmigos que a famílianão conheciaGangues

Mais de uma resposta

Outros

Percentual de Adolescentes que, segundo os/as

Entrevistados/as, "Dava Trabalho"

28%

70%

2%

sim

não

não sabe dizer

191

Page 86: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Percentual de Adolescentes Mortos que tinham

envolvimento com Drogas, segundo os/as

Entrevistados/as

31%

69%

0%

sim

não

não sabe dizer

Situação mais difícil de ser enfrentada pelos Pais,

segundo os/as Entrevistados/as

5%

38%

21%

19%

17%Bebida

Drogas

Agressividade

Fuga de casa

Envolvimento com acriminalidade

Principais Problemas de Comportamento dos

Adolescentes Apontados pelos/as

Entrevistados/as

15%

5%

51%

25%

2%

2%

Desobediente

Promovia brigas

familiares

Envolvimento com

drogas

Envolvimento com a

criminalidade

Irresponsabilidade

Não sabe dizer

192

Page 87: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Principais Motivos Apontados pelos Entrevistados

para a Passagem do Adolescente pelo Conselho

Tutelar

12%

46%18%

6%

6%

12%

Perda de controle dofilho

Tentativa de ajudar ofilho

Mal-comportamento naescola

Estar em situação derisco na Ponte daAmizadeEstar em situação derisco nas ruas

Outro

Percentual de Adolescentes Mortos que Tinham

passagem pelo Conselho Tutelar, segundo os/as

Entrevistados/as

22%

73%

5%

sim

não

não sabe dizer

Percentual de Adolescentes Mortos com passagem

apenas pela Polícia, segundo os/as

Entrevistados/as

6%

90%

4%

sim

não

não sabe dizer

Percentual de Adolescentes Mortos que cumularam

passagens pela Polícia e pelo CIAADI, segundo os/as

Entrevistados/as

49%47%

4%

sim

não

não sabe dizer

193

Page 88: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Percentual dos Adolescentes Mortos que tinham

passagem apenas pelo CIAADI, segundo os/as

Entrevistados/as

33%

63%

4%

sim

não

não sabe dizer

Distribuição Percentual, por Número de Vezes,

dos Adolescentes que, segundo os/as

Entrevistados/as, apresentam passagem pela

Polícia

83%

0%

0%

0%

0%

17%

uma

duas

tês

quatro

cinco

mais de cinco

Distribuição Percentual, por Número de Vezes, dos

Adolescentes que, segundo os/as Entrevistados/as,

apresentam passagem pelo CIAADI

44%

32%

12%

3%

3%

3% 3%

uma

duas

três

quatro

cinco

mais de cinco

Não sabe dizer

Percentual de Adolescentes, entre Todos os que Foram

Vítimas de Homicídio, que cumulam passagens por

Abrigo, Polícia e CIAADI2%

98%

sim

não

194

Page 89: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Distribuição Percentual, por Número de Vezes,

dos Adolescentes que, segundo os/as

Entrevistados/as, cumulam passagens pelo

CIAADI e pela Polícia

0

10

20

30

40

50

60

uma duas três quatro cinco mais de

cinco

Não

sabe

dizerNúmero de Vezes

Valo

res

em

%

CIAADI

POLÍCIA

Como se Distribuem os Adolescentes que os/as

Entrevistados/as Apontam Passagens pelo Sistema

Sócio-Educativo e/ou de Proteção

12%

66%

0%

20%

2%

Polícia

CIAADI

Abrigo

CIAADI e Polícia

Todas

Principais Motivos das Passagens por Instituições de

Repressão ao Cometimento de Ato Infracional

10%

31%

4%1%6%7%0%

13%

4%

10%

14%

Furto

Roubo

Tráfico de Drogas

Contrabando

Atentado contra a vida ou apessoaUso de drogas

"Vadiagem"

M ais de um motivo

Porte de armas

Não sabe dizer

Outros

195

Page 90: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Prinicpais Motivos Apontados como Causa da

Mortalidade Adolescente

10%2%

9%

21%

2%22%

14%

5%

3%

10%

2%

Briga

Roubo

Vingança

Drogas (usuário e/ou tráfico)

Cometido por familiares e/ouamigosbriga de cigarreiros

Não sabe informar

Envolvimento com M ulher

causada por conflito com apolíciaAcidente com armas de fogo

Outros

Percentual de Famílias de Adolescentes Mortos que

foram chamados a Prestar Depoimento

45%

51%

4%

sim

não

não sabe dizer

Distribuição de Adolescentes, por Número de

Vezes, cujas Famílias, entre aquelas que afirmam

ter sido Convocadas a depor, estiveram na

Polícia

17%

2%

53%

26%

2%

uma

duas

três

mais

não informado

Distribuição de Adolescentes, por Número de

Vezes, cujas Famílias foram Convocadas a depor

na Justiça

96%

0%

0%2%2% uma

duas

três

mais

não foram convocadaspela justiça

196

Page 91: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Percentual de Adolescentes cujas Famílias Foram

Convocadas, mas não Compareceram para Prestar

Depoimento na Polícia e/ou na Justiça

6%

94%

sim

não

Percentual de Adolescentes que, segundo os/as

Entrevistados/as, possuía alguém interessado

em sua Morte

26%

67%

7%

sim

não

não sabe dizer

Percentual de Entrevistados/as que afirmam ter a

Família conhecimento de quem é o Autor do

homícidio de seus Filhos

42%

50%

8%

Sim

Não

Não quiseram falarsobre o assunto

Percentual de Famílias que Possuem outros Filhos em

situação semelhante àquela que causou a morte de

outro filho Adolescente

7%

93%

Sim

Não

197

Page 92: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Situação dos Autores do Homicídio de

Adolescentes, segundo os/as Entrevistados/as

13%

12%

0%

2%

5%

62%

6%

livre

presa

espera julgameno emliberdade

foi preso e foi solto

já morreu

não sabe informar

foi morto pela polícia

Percentual de Famílias que Tiveram outros Filhos

ou Parentes Vítimas de Homicídios5%

95%

Sim

Não

Famílias que declaram ter sido Ameaçadas pelos

Autores de Homicídio de seus Filhos11%

89%

sim

não

Percentual de Famílias que Procuraram a Polícia,

segundo os/as Entrevistados/as, para noticiar a

Morte de seus filhos10%

90%

sim

não

198

Page 93: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Percentual de Famílias de Adolescentes Mortos que

mudaram de Endereço após a Morte

33%

38%

27%

2%mudaram

não mudaram

não encontrado

Família não quisresponder oquestionário

Características dos Motivos de Mortes de

Adolescentes em Foz do Iguaçu

29%

71%

Adolescentesassassinados por motivotorpe

Adolescentesassassinados por outrosmotivos

Distribuição de Homicídios de Adolescentes entre os

Anos de 2001 a 2004

17

30 29 28

14

27

19

11

31

57

48

39

0

10

20

30

40

50

60

Ano 2001 Ano 2002 Ano 2003 Ano 2004

me

roe

ma

lga

ris

mo

s

Encontrados

Não encontrados

TOTAL

199

Page 94: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Distribuição de Óbitos por Região segundo a

coincidência entre o local do fato ensejador do

homicídio e o local de residência da vítima

3

14

2 1

20

12

6

0

35

8

23

16

8

2

9

14

8

5

1

11

7

1

0

5

10

15

20

25

Parque

Imperatriz

São

Francisco

Jardim

São Paulo

Vila

Carimã

Vila C Porto

Meira

Jardim

América

Área Rural AKLP Central Três

Lagoas

Campos

do Iguaçu

Região da Cidade

Va

lore

se

mA

lga

ris

mo

s

sim

não

Mortes de Adolescentes Vítimas de Homicídios,

em 4(quatro) anos, por região, de acordo com o

Local de Residência

13

32

4

3528

17

39

149

29

05

10152025303540

Pa

rqu

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pe

ratr

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ran

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Ja

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Vila

Ca

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ide

nte

se

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Região

Va

lore

se

mA

lga

ris

mo

s

200

Page 95: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Percentual do Homicídios cujo local do fato

ensejador coincide com o local de residência da

Vítima

47%

53%

sim

não

Total de Óbitos por Região da Cidade, de

acordo com o local em que aconteceu o fato

ensejador do homicídio

6

30

10

3

2926

14

5 4

16 15

3

14

0

5

10

15

20

25

30

35

Pa

rqu

e

Imp

era

triz

oF

ran

cis

co

Ja

rdim

o

Pa

ulo

Vila

Ca

rim

ã

Vila

C

Po

rto

Me

ira

Ja

rdim

Am

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ca

Áre

aR

ura

l

AK

LP

Ce

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al

Trê

sL

ag

oa

s

Ca

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Igu

u

loc

al

do

fato

oid

en

tifi

ca

do

Regiões da Cidades

Va

lor

em

Alg

ari

sm

os

Total em 4 anos

201

Page 96: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

202

Page 97: Capítulo III MORTALIDADE DE ADOLESCENTES EM FOZ DO … · O Direito à Vida, ... está inserida em um sistema social complexo de coisas que contradiz, ou, na melhor das hipóteses,

Legenda

a Três Lagoasb Jardim Panoramac Santo Antôniod Porto Belod Jardim Itaipue Vila Yolandaf Profilurb IIg Vila Mirandah Portal da Fozi Vila União (Favela da Guarda Mirim)j Jardim São Luízl Profilurb Im Morumbi IIn Morumbi Io Morumbi IVp Morenitasq Morenitas IIr Jardim Novo Horizontes Jardim Bela Vistat Vila Bancáriau Centrov Jardim Florençax Jardim São Pauloz Vila Ca1 Jardim Califórniaa2 Ouro Verdea3 Jardim das Floresa4 Morumbi IIIa5 Gleba Guarania6 Jardim Paranáa7 Vale do Sola8 Jardim Lancastera9 Vila Brás

a10 Parque Imperatriza11 Arroio Dourado

a12 Jardim San Rafaela13 Vila Shalon

a14 Aparecidinha a15 Favela do Bambu

a16 Vila Resistênciaa17 Vila São Sebastião

a18 Favela da Mosca(Jardim Primavera)

a19 Vila Adrianaa20 Vila Portes a21 Santa Rita

a22 Jardim Vitóriaa23 Vila Benício

a24 Conjunto Remador a25 Sanga Funda

a26 Local não informadoa27 Jardim Guaíra

a28 Boycia29 Jardim Itália

a30 Hospitala31 Jardim Manaus

a32 Polo Centroa33 Jardim Douradoa34 Jardim Canadá

a35 Cidade Novaa36 Jardim Linhares

a37 Jardim Jupiraa38 Lote Grande

a39 Jardim Tarobáa40 Vila Brasíliaa41 Jardim Alicea42 Favela Sadi

(Jardim América)

203