CAPRA - Ponto de Mutação - Cap. 1

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O PONTO DE MUTAOFichamentoFritjof Capra

CAPRA, Fritjof. Ponto de Mutao: a cincia, a sociedade e a cultura emergente. So Paulo: Cultrix, 2006. Captulo 1 - A inverso da situao 1. Constatao de cenrio de crise As ltimas duas dcadas de nosso sculo vm registrando um estado de profunda crise mundial. uma crise complexa, multidimensional, cujas facetas afeta a todos os aspectos de nossa vida a sade e o modo de vida, a qualidade do meio ambiente e das relaes sociais, da economia, tecnologia e poltica. uma crise de dimenses intelectuais, morais e espirituais; uma crise de escala e premncia sem precedentes em toda a histria da humanidade. Pela primeira vez, temos que nos defrontar com a real ameaa de extino da raa humana e de toda a vida no planeta (p. 19). 2. Produo e gastos com armamentos, ao custo de mais de 1 bilho de dlares ao dia, o pior parte deste gasto feito por uma centena de pases do Terceiro Mundo, que gastam mais do que a capacidade de produo de riquezas internas (renda nacional). 3. Armas e fome Enquanto isso, mais de 15 milhes de pessoas em sua maioria crianas morrem anualmente de fome; outros 500 milhes de seres humanos esto gravemente subnutridos. Cerca de 40 por cento da populao mundial no tem acesso a servios profissionais de sade; entretanto, os pases em desenvolvimento gastam trs vezes mais em armamentos do que em assistncia sade da populao. Trinta e cinco por cento da humanidade carece de gua potvel, enquanto metade de seus cientistas e engenheiros dedica-se tecnologia da fabricao de armas (p. 19-20).

4. O discurso do Pentgono pelaconstruo de mais armas como sinnimo de mais segurana, ao contrrio, mais armas nucleares significa mais insegurana (ver o exemplo da disputa da regio da Caxemira pela ndia e Paquisto), ou seja, [...] As armas nucleares no nos trazem segurana, como o establisment militar deseja que acreditemos; elas meramente aumentam a probabilidade de uma destruio global (p. 20). 5. Ameaas que a humanidade enfrenta a) Armas nucleares; b) Usinas nucleares fonte de energia confivel, limpa e barata, mas j sabemos que ela no nada disso 360 reatores em operao naquela poca uma ameaa ao bem-estar global o autor viveria para ver comprovada a sua constatao com o acidente nuclear da usina de Chernobyl, na Ucrnia, em 1986 os maiores riscos so exploses e vazamentos de reatores (plutnio), ou seja, [...] a energia nuclear e as armas nucleares so inextricavelmente ligadas, sendo apenas aspectos diferentes da mesma ameaa humanidade. Com a sua proliferao contnua, a probabilidade de extino global da vida na Terra torna-se maior a cada dia (p. 20-21) em 2010 o nmero de unidas em operao chega a 438, mais 31 unidades em construo, entre as quais Angra III (Brasil). 6. Mudanas climticas catstrofe global Mesmo pondo de lado a ameaa de uma catstrofe nuclear, o ecossistema global e a futura evoluo da vida na Terra esto correndo srio perigo e podem 2

muito bem resultar num desastre ecolgico em grande escala. A superpopulao e a tecnologia industrial tm contribudo de vrias maneiras para uma grave deteriorao do meio ambiente natural, do qual dependemos completamente. Por conseguinte, nossa sade e nosso bem-estar esto seriamente ameaados. Nossas principais cidades esto cobertas por camadas de smogi sufocante, cor de mostarda [...] (p. 21) ao falar do efeito em outras partes do Planeta, o aluno pode atualizar este dado com as informaes sobre o Efeito Estufa, descoberto em 1986, sobre a

Antrctica pelo fsico britnico Joe Farman. 7. Contaminao da gua e alimentospor agrotxicos [...] Nos Estados Unidos, aditivos alimentares sintticos, pesticidas, agrotxicos, plsticos e outros produtos qumicos so comercializados numa proporo atualmente avaliada em mais de mil novos compostos qumicos por ano. Assim, o envenenamento qumico passa a fazer parte, cada vez mais, de nossa vida. Alm disso, as ameaas nossa sade atravs da poluio do ar, da gua e dos alimentos constituem meros efeitos diretos e bvios da tecnologia humana sobre o meio ambiente natural [...] (p. 21). 8. Patologia Social Deteriorao do meio ambiente natural acompanhada pelo aumento de problemas de sade, ou seja, [...] Enquanto as doenas nutricionais e infecciosas so as maiores responsveis pela morte no Terceiro Mundo, os pases industrializados so flagelados pelas doenas crnicas e degenerativas apropriadamente chamadas doenas da civilizao, sobretudo as enfermidades cardacas, o cncer e o derrame. Quanto ao aspecto psicolgico, a depresso grave, a esquizofrenia e 3

outros distrbios de comportamento parecem brotar de uma deteriorao paralela de nosso meio ambiente social. Existem numerosos sinais de desintegrao social, incluindo o recrudescimento de crimes violentos, acidentes e suicdios; o aumento do alcoolismo e do consumo de drogas; e um nmero crescente de crianas com deficincia de aprendizagem e distrbios de comportamento. O aumento de crimes violentos e de suicdios de pessoas jovens to elevado que foi classificado como epidemia [...] (p. 22). 9. Patologia econmica Inflao galopante, desemprego macio, distribuio desigual de renda e da riqueza a resposta tem sido a luta pela definio de prioridades. 10. A incapacidade dos ESPECIALISTAS em responderem aos desafios da contemporaneidade Um sinal impressionante do nosso tempo o fato de as pessoas que se presume especialistas em vrios campos j no estarem capacitadas a lidar com os problemas urgentes que surgem em suas respectivas reas de especializao. Os economistas so incapazes de entender a inflao, os oncologistas esto totalmente confusos acerca das causas do cncer, os psiquiatras so mistificados pela esquizofrenia, a polcia v-se impotente em face da criminalidade crescente [...] (p. 22-23) nos EUA eram comuns os presidentes recorrem aos especialistas assessoramento. 11. Crise Cultural - PARADIGMA Os problemas so sistmicos, ou seja, esto interligados. Assim, [...] uma resoluo s poder ser implementada se a estrutura da prpria teia for mudada, o que envolver transformaes profundas em nossas instituies sociais, em nossos valores e idias [...] (p. 23), para o autor a maior parte dos nossos principais

pensadores utilizam modelos de anlise obsoletos a maior parte dos cientistas entrevistados pelo Washington Post eram homens. 12. Percepo chinesa sobre o fenmeno CRISE perigo / oportunidade. 13. Perodos de transformao Os socilogos ocidentais confirmaram essa intuio antiga. Estudos de perodos de transformao cultural em vrias sociedades mostrarem que essas transformaes so tipicamente precedidas por uma variedade de indicadores sociais, muitos deles idnticos aos sintomas de nossa crise atual. Incluem uma sensao de alienao e um aumento de doenas mentais, crimes violentos e desintegrao social, assim como um interesse maior na prtica religiosa; tudo isso foi tambm observado em nossa sociedade na dcada passada (p. 24). 14. Estudo de Arnold Toynbee (A study of history) [] Segundo Toynbee, a gnese de civilizao consiste na transio de uma condio esttica para a atividade dinmica. Essa transio pode ocorrer espontaneamente, atravs da influncia de alguma civilizao j existente, ou atravs da desintegrao de uma ou mais civilizaes de uma gerao mais antiga. Toynbee v o padro bsico na gnese das civilizaes como um padro de interao a que chama desafio-e-resposta. Um desafio do ambiente natural ou social provoca uma resposta criativa numa sociedade, ou num grupo social, a qual induz essa sociedade a entrar no processo de civilizao (p. 24) o aluno pode pensar a ascenso da China moderna com a Revoluo de Mao Ts-Tung (1 out. 1949). 15. Esquema do processo de ascenso e queda das Civilizaes

CAPRA, 2006, p. 25.

16. Ciclos

de mudanas ritmos (perspectiva) O ritmo recorrente no crescimento cultural parece estar relacionado com processos de flutuao que tm sido observados ao longo dos tempos e sempre foram considerados parte da dinmica fundamental do universo. Segundo os antigos filsofos chineses, todas as manifestaes da realidade so geradas pela interao dinmica entre dois plos de fora: o yin e o yang. Herclito, na Grcia antiga, comparou a ordem do mundo a um fogo eternamente vivo que se acende e apaga conforme a medida. Empdocles atribuiu as mudanas no universo ao fluxo e refluxo de duas foras complementares, a que chamou amor e dio (p. 25) o aluno dever trabalhar os conceitos de fora e mudana (Fsica e Sociologia). Em relao a sociologia observar os elementos que permitem operar a mudana no contexto social e a manuteno. 17. A idia de ritmo est presente tambm em Saint-Simon (perodos orgnicos e crticos que se alternavam); Herbert Spencer (o universo passa por uma srie de integraes e diferenciaes); Hegel (pensa a histria humana como um desenvolvimento de um espiral, que parte de uma forma de unidade, depois se desintegra (desunio) e posteriormente se 4

reagrupa (reintegrao) num plano superior evoluo cultural. 18. Declnio descrio do processo Depois de atingirem o apogeu de vitalidade, as civilizaes tendem a perder seu vigor cultural e declinam. Um elemento essencial nesse colapso cultural, segundo Toynbee, a perda de flexibilidade. Quando estruturas sociais e padres de comportamento tornam-se to rgidos que a sociedade no pode mais adaptarse a situaes cambiantes, ela incapaz d elevar avante o processo criativo de evoluo cultural. Entra em colapso e, finalmente, desintegra-se. Enquanto as civilizaes em crescimento exibem uma variedade e uma versatilidade sem limites, as que esto em processo de desintegrao mostram uniformidade e ausncia de inventividade. A perda de flexibilidade numa sociedade em desintegrao acompanhada de uma perda geral de harmonia entre seus elementos, o que inevitavelmente leva ao desencadeamento de discrdias e ruptura social (p. 26) identificar exemplos atravs dos processos que passaram os portugueses, espanhis nos sculos XV e XVII, a ascenso e queda do imprio ingls (sculo XVIII e XIX) e os sinais de colapso da civilizao norteamericana (sculo XX e XXI). verificar a existncia de minorias que ainda persistem junto ao processo desafioresposta papel dos novos protagonistas. 19. Padres culturais (ver tambm p. 26-27). 20. Perodos de transio trs ao todo a) SISTEMA PATRIARCAL - A primeira transio, e talvez a mais profunda, deve-se ao lento, relutante, mas inevitvel declnio do patriarcado. A periodicidade 5

associada ao patriarcado de, pelo menos, trs mil anos, um perodo to extenso que no podemos dizer se estamos diante de um processo cclico ou no, pois so mnimas as informaes de que dispomos acerca das eras pr-patriarcais. O que sabemos que, nestes ltimos trs mil anos, a civilizao ocidental e suas precursoras, assim como a grande maioria das outras culturas, basearam-se em sistemas filosficos, sociais e polticos em que os homens pela fora, presso direta, ou atravs do ritual, da tradio, lei e linguagem, costumes, etiqueta, educao e diviso do trabalho determinam que papel as mulheres devem ou no desempenhar, e no qual a fmea est em toda parte submetida ao macho (RICH, 1977, p. 40)ii (p. 27) O aluno dever ter a sensibilidade para compreender a dimenso do patriarcado para a estruturao da civilizao ocidental. O poder do patriarcado tem sido extremamente difcil de entender por ser totalmente preponderante. Tem influenciado nossas idias mais bsicas acerca da natureza humana e de nossa relao com o universo a natureza do homem e a relao dele com o universo, na linguagem patriarcal. Era o nico sistema que, at data recente, nunca tinha sido abertamente desafiado em toda a histria documentada, e cujas doutrinas eram to universalmente aceitas que pareciam constituir leis da natureza; na verdade, eram usualmente apresentadas como tal. Hoje, porm, a desintegrao do patriarcado tornou-se evidente. O movimento feminista uma das mais fortes correntes

culturais do nosso temo, e ter um profundo efeito sobre a nossa futura evoluo (p. 27).

b) Mudana da matriz energtica Solar A segunda transio, que ter um profundo impacto sobre nossa vida, nos imposta pelo declnio da era do combustvel fssil. Os combustveis fsseis carvo, petrleo e gs natural tm sido as principais fontes de energia da moderna era industrial, e, quando se esgotarem, essa era chegar ao fim. Numa ampla perspectiva histrica da evoluo cultural, a era do combustvel fssil e a era industrial so apenas um breve episdio, um pico estreito em torno do ano 2000 em nosso grfico. Os combustveis fsseis estaro esgotados por volta de 2300, mas os efeitos econmicos e polticos desse declnio j esto sendo sentidos. Esta dcada ser marcada pela transio da era do combustvel fssil para uma era solar acionada por energia renovvel oriunda do Sol; essa mudana envolver transformaes radicais em nossos sistemas econmicos e polticos (p. 27-28). c) Mudanas de paradigmasiii A terceira transio tambm est relacionada com valores culturais. Envolve o que hoje freqentemente chamado de mudanas de paradigmas uma mudana profunda no pensamento, percepo e valores que formam uma determinada viso da realidade. O paradigma ora em transformao dominou nossa cultura durante muitas centenas de anos, ao longo dos quais modelou nossa moderna sociedade ocidental e influenciou significativamente o resto do mundo. Esse paradigma compreende um certo nmero de idias e valores que diferem nitidamente dos da Idade Mdia; valores que estiveram associados a vrias correntes da cultura ocidental, entre elas a revoluo 6

cientfica, o Iluminismo e a Revoluo Industrial. Incluem a crena de que o mtodo cientfico a nica abordagem vlida do conhecimento; a concepo do universo como um sistema mecnico composto de unidades materiais elementares; a concepo da vida em sociedade como uma luta competitiva pela existncia; e a crena do progresso material ilimitado, a ser alcanado atravs do crescimento econmico e tecnolgico. Nas dcadas mais recentes, conclui-se que todas essas idias e esses valores esto seriamente limitados e necessitam de uma reviso radical (p. 28).

Fonte: Capra (2006, p. 28).

21. Ver os escritos de Pitirim A.Sorokin sobre a evoluo e declnio das civilizaes ocidentais trabalho escrito entre 1937 e 1941 SOROKIN, P. A. Sociedade, Cultura e Personalidade: sua estrutura e dinmica sistema de sociologia geral. Porto Alegre: Editora Globo, 1968. (v. 1 e 2). Sorokin denominava esses trs sistemas de valores de o sensualista, o ideacional e o idealstico. O sistema sensualista de valores sustenta que s a matria a realidade ltima e que os fenmenos espirituais nada mais so do que uma manifestao da matria. Professa que todos os valores ticos so relativos e que a percepo sensorial a nica fonte de conhecimento e verdade. O sistema ideacional de valores profundamente diferente. Sustenta que a verdadeira realidade se situa alm do mundo material, do

domnio espiritual, e que o conhecimento pode ser obtido atravs da experincia interior. Subscreve valores ticos absolutos e padres sobre-humanos de justia, verdade e beleza. As representaes ocidentais do conceito ideacional de realidade espiritual incluem idias platnicas, a alma e as imagens judaico-crists de Deus, mas Sorokin sublinha que idias semelhantes so expressas no Oriente, de forma diferente, nas culturas hindu, budista e taosta (p. 29) mediar o entendimento do aluno para tornar o texto mais palatvel, ou seja, busca-se evitar que o leitor menos preparado para este tipo de reflexo perca o gosto em continuar a leitura. Sorokin afirma que os ritmos cclicos de interao entre expresses sensualistas e ideacionais de cultura humana tambm produzem um estgio intermdio, sintetizador o idealstico -, o qual representa sua combinao harmoniosa. De acordo com as crenas idealsticas, a verdadeira realidade tem aspectos sensoriais e supersensoriais que coexistem numa unidade que abrange tudo. Assim, os perodos culturais idealsticos tendem a alcanar as mais elevadas e mais nobres expresses dos estilos ideacionais e sensualistas, produzindo equilbrio, integrao e plena realizao esttica em arte, filosofia, cincia e tecnologia. Exemplos de tais perodos idealsticos so a Grcia dos sculos V e IV a.C. e a Renascena europia (p. 29). 22. Esses trs padres bsicos da expresso cultural humana produziram, segundo Sorokin, ciclos identificveis na civilizao ocidental, que ele plotou em dezenas de mapas de sistemas de crenas, guerras e conflitos intestinos, desenvolvimento cientfico e tecnolgico, instituies 7

jurdicas e vrias outras instituies sociais. Ele tambm mapeou flutuaes de estilos em arquitetura, pintura, escultura e literatura. No modelo de Sorokin, a atual mudana de paradigma e o declnio da Era Industrial constituem um outro perodo de maturao e declnio da cultura sensualista. A ascenso da nossa atual era sensualista foi precedida pela ascendncia da cultura ideacional durante a ascenso do cristianismo e o desenrolar da Idade Mdia, e pelo florescimento subseqente de um estgio idealstico durante a Renascena europia. Foi o lento declnio dessas pocas ideacional e idealstica nos sculos XV e XVI que abriu caminho para um novo perodo sensualista nos sculos XVII, XVIII e XIX, uma era marcada pelo sistema de valores do Iluminismo, pelas concepes cientificas de Descartes e Newton, e pela tecnologia da Revoluo Industrial. No sculo XX, esses valores e idias sensualistas esto novamente em declnio; assim, em 1937, com grande previso, Sorokin apontou como o crepsculo da cultura sensualista a mudana de paradigma e as convulses sociais que hoje estamos testemunhando (p. 29-30). 23. Para Sorokin estamos vivendo um perodo de transio, mas no qualquer fase de transformaes culturais, mas poucas daquelas que a humanidade presenciou e que provoca rupturas profundas, ou na concepo de Lewis Mumford a) surgimento da civilizao com o advento da agricultura no Neoltico; b) ascenso do cristianismo; c) Transio da Idade Mdia para a Idade Cientfica. 24. Para F. Capra as mudanas agora podem ser mais intensas e profundas devido ao ritmo com que esto ocorrendo, ou seja, estamos chegando a um momento decisivo (ver p. 30).

25.Atitude diante das mudanas inevitveis Transformaes culturais essa magnitude e profundidade no podem ser evitadas. No devem der detidas mas, pelo contrrio, bem recebidas, pois so a nica sada que se evitem a angstia, o colapso e a mumificao [...] (p. 3031) fase de reavaliao e renascimento cultural. Durante essa fase de reavaliao e renascimento cultural, ser importante minimizar as agruras, a discrdia e as rupturas que inevitavelmente ocorrem em perodos de grandes mudanas sociais, a fim de tornar a transio to indolor quanto possvel. Portanto, essencial que se v alm dos meros ataques a determinados grupos ou instituies sociais, mostrando que suas atitudes e comportamento refletem um sistema de valores que sustenta toda a nossa cultura mas est ficando agora obsoleto. Ser necessrio reconhecer e comunicar amplamente o fato de que as nossas mudanas sociais correntes so manifestaes de uma transformao cultural muito mais ampla e inevitvel. Somente ento estaremos aptos a abordar a espcie de transio cultural harmoniosa e pacifica descrita num dos mais antigos livros de sabedoria da humanidade, o I Ching chins, ou O livro das mutaes: O movimento natural, surge espontaneamente. Por essa razo, a transformao do antigo torna-se fcil. O antigo descartado, e o novo introduzido. Ambas as medidas se harmonizam com o tempo, no resultando da, portanto, nenhum dano (p. 31). 26. Concepo marxista de histria e a luta de classes (motor da histria) aspecto importante a ser trabalhado pelos alunos de Sociologia.

[...] Segundo Marx, as razes da evoluo social no se situam numa mudana de idias ou valores, mas nos fatos econmicos e tecnolgicos. A dinmica da mudana a de uma interao dialtica de opostos decorrente de contradies que so intrnsecas a todas as coisas. Marx tirou essas idias de Hegel e adaptou-a sua anlise da mudana social, afirmando que todas as transformaes que ocorrem na sociedade provm de suas contradies internas. Considerou que os princpios contraditrios da organizao social esto consubstanciados nas classes da sociedade e que a luta de classes e a conseqncia da sua interao dialtica (p. 31-32) observar que a luta de classes para Marx a fora propulsora da histria (estudar o conceito de fora propulsora em Fsica). 27. Idia de contnua flutuao cclica sustentado pelo princpio do yin e o yang. 28. TAO Os filsofos chineses viam a realidade, a cuja essncia primria chamaram to, como um processo de contnuo fluxo e mudana. Na concepo deles, todos os fenmenos que observamos participam desse processo csmico e so, pois, intrinsecamente dinmicos. A principal caracterstica do to a natureza cclica de seu movimento incessante; a natureza, em todos os seus aspectos tanto os do mundo fsico quanto os dos domnio psicolgico e social exibe padres cclicos. Os chineses atribuem a essa idia de padres cclicos uma estrutura definida, mediante a introduo dos opostos yin e yang, os dois plos que fixam os limites para os ciclos de mudana [...] (p. 32-33) Equilbrio dinmico entre as partes.. 29. Caractersticas do yin e e yang Segundo Porkert, o yin corresponde a tudo o que contrtil, receptivo e 8

conservador, ao passo que o yang implica tudo o que expansivo, agressivo e exigente [...] (p. 33).

YIN Terra Lua Noite Inverno Umidade frescor Interior

YANG Cu Sol Dia Vero Segura Calidez Superfcie

Fonte: CAPRA, 2006, p. 33.

30. Na cultura chinesa, o yin e o yangnunca foram associados a valores morais. O que bom no yin ou yang, mas o equilbrio dinmico entre ambos, o que mau ou nocivo o desequilbrio entre os dois (p. 33). 31. Gnero yin = feminino; yang = masculino. associao difcil de fazer hoje devido as distores operadas pelo patriarcado, que tende a ver um como passivo e outro como ativo o aluno pode esmiuar sobre esta perspectiva no campo da Biologia, ao diferenciar sexo de gnero. [...] Em biologia humana, as caractersticas masculinas e femininas no esto nitidamente separadas, mas ocorrem, em propores variadas, em ambos os sexos. Da mesma forma, os antigos chineses acreditavam que todas as pessoas, homens ou mulheres, passam por fases yin e yang. A personalidade de cada homem e de cada mulher no uma entidade esttica, mas um fenmeno dinmico resultante da interao entre elementos masculinos e femininos. Essa concepo da natureza humana est em contraste flagrante com a da nossa cultura patriarcal, que estabeleceu uma ordem rgida em que se supe que todos os homens so masculinos e todas as mulheres, femininas, e distorceu o significado desses termos ao conferir aos homens os papis de protagonistas 9

e a maioria dos privilgios da sociedade (p. 34). 32. Teoria sexual de Aristteles Em virtude dessa predisposio patriarcal, a freqente associao do yin com a passividade e do yang com a atividade particularmente perigosa. Em nossa cultura, as mulheres tm sido tradicionalmente retratadas como passivas e receptivas, e os homens, como ativos e criativos. Essas imagens remontam teoria da sexualidade de Aristteles, e tm sido usadas ao longo dos sculos como explicao cientfica para manter as mulheres num papel subordinado, subserviente, em relao aos homens. A associao do yin com passividade e do yang com atividade parece ser ainda uma outra expresso de esteretipos patriarcais, uma moderna interpretao ocidental que est longe de refletir o significado original dos termos chineses (p. 34) o aluno dever ser capaz de apreender a percepo aristotlica sobre a mulher e os reflexos desta leitura sobre o cristianismo. "A natureza s faz mulheres quando no pode fazer homens. A mulher , portanto, um homem inferior." Aristteles. 33. Fluxo transformao e mudana Um dos mais importantes insights da antiga cultura chinesa foi o reconhecimento de que a atividade o constante fluxo de transformao e mudana, como o chama Chuang-ts um aspecto essencial do universo. A mudana, segundo esse ponto de vista, no ocorre como conseqncia de alguma fora, mas uma tendncia natural, inata em todas as coisas e situaes. O universo est empenhado em um movimento e uma atividade incessante, num contnuo processo csmico a que os chineses chamaram to o caminho. A noo de repouso

absoluto, ou inatividade, estava quase inteiramente ausente da filosofia chinesa. De acordo com Hellmut Wilhelm, um dos principais intrpretes ocidentais do I Ching, o estado de imobilidade absoluta uma abstrao tal que os chineses (...) no podiam conceb-lo (p. 34). 34. Termo wu-wei = no-ao. errado usarmos este termo como sinnimo de passividade, pois o certo seria uma inatividade de apenas uma espcie de atividade, ou seja, no agir contrria a natureza. 35. Racional e intuitivo O racional e o intuitivo so modos complementares de funcionamento da mente humana. O pensamento racional linear, concentrado, analtico. Pertence ao domnio do intelecto, cuja funo discriminar, medir e classificar. Assim, o conhecimento racional tende a ser fragmentado. O conhecimento intuitivo, por outro lado, baseia-se numa experincia direta, nointelectual, da realidade, em decorrncia de um estado ampliado de percepo consciente. Tende a ser sintetizador, holstico e nolinear. Da ser evidente que o conhecimento racional suscetvel de gerar atividade egocntrica, ou yang, ao passo que a sabedoria intuitiva constitui a base da atividade ecolgica, ou yin (p. 35).

[...] a preferncia flagrantemente sistemtica por valores, atitudes e padres de comportamento yang resultou num sistema de instituies acadmicas, polticas e econmicas que se apiam mutuamente, e que acabaram virtualmente cegas para o perigoso desequilbrio do sistema de valores que motiva suas atividades. De acordo com a sabedoria chinesa, nenhum dos valores defendidos pela nossa cultura intrinsecamente mau; no entanto, ao isol-los de seus opostos polares, ao focalizar o yang e investi-lo de virtude moral e de poder poltico, ocasionamos o atual e melanclico estado de coisas. Nossa cultura orgulha-se de ser cientfica; nossa poca apontada como a Era Cientfica. Ela dominada pelo pensamento racional, e o conhecimento cientfico freqentemente considerado a nica espcie aceitvel de conhecimento. No se reconhece geralmente que possa existir um conhecimento (ou conscincia) intuitivo, o qual to vlido e seguro quanto o outro. Essa atitude, conhecida como cientificismo, muito difundida, e impregna nosso sistema educacional e todas as outras instituies sociais e polticas [...] (p. 36-37). Descartes Penso, logo existo. 37. Diviso entre mente e corpo e as conseqncias para o equilbrio entre natureza e cultura. 38. Natureza mulher = associao perversa. A noo do homem como dominador da natureza e da mulher e a crena no papel superior da mente racional foram apoiadas e encorajadas pela tradio judaicocrist, que adere imagem de um deus masculino, personificado da razo suprema e fonte do poder ltimo, que governa o mundo a partir do alto e lhe impe sua lei divina. As leis d natureza 10

YIN Feminino Contrtil Conservador Receptivo Cooperativo Intuitivo Sinttico

YANG Masculino Expansivo Exigente Agressivo Competiti vo Racional Analtico

Fonte: CAPRA, 2006, p. 36.

36. Cientificismo - A nossa sociedadetem favorecido ao yang em detrimento do yin (ver p. 36) desequilbrio cultural.

investigadas pelos cientistas eram vistas como reflexos dessa lei divina, originada no esprito de Deus (p. 38) pesquisar sobre os efeitos da nfase no esprito racional (cientifico) para a ecologia. 39. Conscincia ecolgica sabedoria intuitiva - risco da insanidade Portanto, a conscincia ecolgica somente surgir quando aliarmos ao nosso conhecimento racional uma intuio da natureza nolinear de nosso meio ambiente. Tal sabedoria intuitiva caracterstica das culturas tradicionais, noletradas, especialmente as culturas dos ndios americanos, em que a vida foi organizada em torno de uma conscincia altamente refinada do meio ambiente. Na corrente principal de nossa cultura, por outro lado, foi negligenciado o cultivo da sabedoria intuitiva. Isso pode estar relacionado com o fato de que, m nossa evoluo, ocorreu uma crescente separao entre os aspectos biolgicos e culturais da natureza humana. A evoluo biolgicas da espcie humana parou h uns 50 000 anos. Da em diante, a evoluo processou-se no mais gentica, mas social e culturalmente, enquanto o corpo e o crebro humanos permaneceram essencialmente os mesmos em estrutura e tamanho. Em nossa civilizao, modificamos a tal ponto nosso meio ambiente durante essa evoluo cultural que perdemos o contato com nossa base biolgica e ecolgica mais do que qualquer outra cultura e qualquer outra civilizao no passado [...] (p. 39) ver aspectos da evoluo Sociologia, Antropologia, Biologia. 40. Desequilbrio cultural (ver p. 40) partes e todo, num sentido absoluto, no existe controle e a padronizao. [...] Situao semelhante existe em nosso sistema educacional, no qual a auto-afirmao recompensada no que se refere ao comportamento 11

competitivo mas desencorajado quando se expressa em termos de idias originais e questionamento da autoridade (p. 41). 41. Competio versus cooperao viso errnea dos darwinistas sociais do sculo XX. evidente que o comportamento agressivo, competitivo, se fosse absolutamente o nico, tornaria a vida impossvel [...] (p. 42). 42. Por esta breve panormica de atitudes e valores culturais, podemos ver que nossa cultura promoveu e recompensou sistematicamente os elementos yang, masculinos ou autoafirmativos da natureza humana, e desprezou os aspectos yin, femininos ou intuitivos. Hoje, porm, estamos testemunhando o comeo de um grande movimento evolutivo [...] (p. 42) instigar os alunos para pensar esta questo. 43. Movimento ecolgico para o historiador cultural Theodore Roszak denominou de contracultura. 44. Dessa ampla perspectiva histrica, assiste-se chegada e partida rtmica de culturas, e a preservao de tradies culturais nem sempre constitui o objetivo mais desejvel. O que temos de fazer para minimizar as agruras e provaes da mudana inevitvel reconhecer o mais claramente possvel as novas condies e transformar nossas vidas e nossas instituies sociais de acordo com elas [...] (p. 44) papel dos fsicos instigar os alunos para escrever e discutir esta dimenso. 45.Limites dos conceitos Uma das principais lies que os fsicos tiveram que aprender neste sculo foi o fato de que todos os conceitos e teorias que usamos para descrever a natureza so limitados. Em virtude das limitaes essenciais da menta racional, temos de aceitar o fato de que, como disse Werner Heisenberg, toda palavra e todo

conceito, por mais claros que possam parecer, tm apenas uma limitada gama de aplicabilidade. As teorias cientficas no estaro nunca aptas a fornecer uma descrio completa e definitiva da realidade. Sero sempre aproximaes da verdadeira natureza das coisas. Em termos claros: os cientistas no lidam com a verdade; eles lidam com descries da realidade limitadas e aproximadas (p. 45). 46. Uma limitao da cincia o modelo da fsica newtoniana clssica modelo mecanicista, e, cartesiano. Todas as cincias precisam se apressar para acompanhar os novos tempos. Captulo 2 A mquina do mundo newtoniano

47. Sculo

16 e 17 Nova Mentalidade - Modernidade A viso do mundo e o sistema de valores que esto na base de nossa cultura, e que tm de ser cuidadosamente reexaminados, foram formulados em suas linhas essenciais nos sculos XVI e XVII. Entre 1500 e 1700 houve uma mudana drstica na maneira como as pessoas descreviam o mundo e em todo seu modo de pensar. A nova mentalidade e a nova percepo do cosmo propiciaram nossa civilizao ocidental aqueles aspectos que so caractersticos da era moderna. Eles tornaram-se a base do paradigma que dominou a nossa cultura nos ltimos trezentos anos e est gora prestes a mudar (p.49).

48.

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i

Combinao de fumaa e nevoeiro esta percepo j foi ultrapassada, os alunos podem ler a obra Al Core e contextualizar melhor este item.ii

RICH, Adrienne. Of woman Born. New York: Bantam, 1977, p. 40. Do grego paradeigma, padro.

iii