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48 www.backstage.com.br REPORTAGEM Karyne Lins [email protected] Captação A captação da gaita é realmente algo muito especial. Por não ser um instrumento amplamente utilizado, muitas vezes os gaitistas encontram dificuldades pelo simples fato do desconhecimento. Esses músicos estão trabalhando para reverter essa situação e falam como produzem um som particular. e gravação de gaita F lavio Guimarães foi o primeiro a utilizar a gaita diatônica, que era praticamente desconhecida no Brasil, que já ti- nha uma tradição de gaita cromática e a popularização da diatônica começa na segunda metade dos anos 80 com a fundação do Blues Etílicos, que tinha na gaita uma sonoridade totalmente diferente. Ela era usada por artistas como Bob Dylan para estilos de folk e rock. Flavio se especializou e neste tipo de gaita e passou a ser requisitado para gravações em discos de Rita Lee, Ed Motta, Titãs, Cássia Eller, Luiz Melodia e outros. No estúdio Os músicos passam as idéias e ouvem os palpites de captação dos técnicos. Os técnicos não precisam necessariamente saber dominar este instrumento, mas precisam conhecer pelo menos o tipo de som que querem da gaita. “O ideal é que seja um traba- lho em conjunto. De uma forma geral, já tenho uma idéia do resultado que quero obter, mas o técnico é importante para au- xiliar na obtenção deste objetivo”, disse José Staneck, gaitista de jazz e clássico. Em sua vasta experiência, Jefferson Gonçalves disse que a maioria dos técnicos gosta de gaita limpa, captada pelo microfone de voz. Porém, este som nem sempre fica bom para o tipo de música que vai ser gravada. A parceria em estúdio começa quando o instrumentista mostra outras possibilidades e deixa a critério do técnico escolher a melhor. “Nos meus CDs, eu sempre trabalho em parceria com o téc- nico do estúdio. Gosto de gravar a gaita por último e para cada música eu testo maneiras diferentes de captação, como aconteceu no meu primeiro solo Gréia”, disse Jefferson Gonçalves. Flavio Guimarães Foto: Divulgação

Captação - Revista Backstage · 50 REPORTAGEM ro que, dependendo do estilo musical, pretendemos obter um resultado dife-rente, mas isso passa pela execução e não pela captação”,

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Karyne [email protected]

CaptaçãoA captação da gaita é realmente algo muito especial. Por não ser uminstrumento amplamente utilizado, muitas vezes os gaitistas encontramdificuldades pelo simples fato do desconhecimento. Esses músicos estãotrabalhando para reverter essa situação e falam como produzem um somparticular.

e gravação de gaita

Flavio Guimarães foi o primeiro a utilizar a gaita diatônica,que era praticamente desconhecida no Brasil, que já ti-nha uma tradição de gaita cromática e a popularização

da diatônica começa na segunda metade dos anos 80 com afundação do Blues Etílicos, que tinha na gaita uma sonoridadetotalmente diferente. Ela era usada por artistas como Bob Dylanpara estilos de folk e rock. Flavio se especializou e neste tipo degaita e passou a ser requisitado para gravações em discos de RitaLee, Ed Motta, Titãs, Cássia Eller, Luiz Melodia e outros.

No estúdioOs músicos passam as idéias e ouvem os palpites de captação

dos técnicos. Os técnicos não precisam necessariamente saberdominar este instrumento, mas precisam conhecer pelo menos o

tipo de som que querem da gaita. “O ideal é que seja um traba-lho em conjunto. De uma forma geral, já tenho uma idéia doresultado que quero obter, mas o técnico é importante para au-xiliar na obtenção deste objetivo”, disse José Staneck, gaitista dejazz e clássico.

Em sua vasta experiência, Jefferson Gonçalves disse que a maioriados técnicos gosta de gaita limpa, captada pelo microfone de voz.Porém, este som nem sempre fica bom para o tipo de música que vaiser gravada. A parceria em estúdio começa quando o instrumentistamostra outras possibilidades e deixa a critério do técnico escolher amelhor. “Nos meus CDs, eu sempre trabalho em parceria com o téc-nico do estúdio. Gosto de gravar a gaita por último e para cada músicaeu testo maneiras diferentes de captação, como aconteceu no meuprimeiro solo Gréia”, disse Jefferson Gonçalves.

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Guta Menezes prefere que tudo sejafeito a dois. “Cada músico tem sua ma-neira de tocar. Logo, a captação deve serfeita de acordo com a concepção decada músico, respeitando o conheci-mento do profissional do som”, disseGuta. Johnny Rover, músico brasileiromorando atualmente nos EUA, concor-da que depende do tipo de produção,experiência do músico e do técnico degravação. “Eu tenho o meu conceito pró-prio para gravar, mas estou sempre abertoa sugestões do técnico do estúdio ou doprodutor”, disse.

Especialização em gaitaDaniel Cheese, Fábio Mesquita e

Roberto Reis são alguns exemplos de téc-nicos que estão acostumados a gravar etrabalhar em shows com bandas que pos-suem gaitistas e isso facilita muito nahora da gravação. “Se o técnico é tam-bém músico e conhece os fundamentos,pequenos problemas podem ter soluçãorápida apenas com uma breve olhada napartitura. É preciso sensibilidade, acuroauditivo e conhecer bem os equipamen-tos e como eles resultam em seu estúdio”,opinou Staneck.

“O Blues abre um leque inesgotável deimprovisos. Com isso, posso me dar ao luxode experimentar novas alternativas de gra-vação. Já consegui ótimos resultados com oJefferson Gonçalves e o Flávio Guimarães

na área de blues, e com o José Staneck,Mauricio Einhorn e o Gabriel Grossi na áreade jazz brasileiro”, confirmou DanielCheese, que já gravou quase todos os artis-tas em 20 anos de carreira.

Conceito de gravação ecaptaçãoJohnny Rover disse que esse conceito

depende do estilo e objetivo do trabalho,do músico e da produção. Para cada esti-lo musical onde se insere a gaita há umtipo de timbragem específica. Para cadapadrão de gravação e para cada estiloexiste um tipo de regulagem e timbra-gem diferentes para o instrumento, assimcomo a guitarra. Não se grava uma gui-tarra de jazz da mesma forma que umaguitarra de rock, o equipamento e aregulagem são completamente diferen-tes e na gaita acontece o mesmo.

Jefferson não adota um conceito úni-co ou uma regra. Foi testando e procu-rando um som diferente para cada estilo.Testa várias possibilidades de captação eprincipalmente configurações de equi-pamento. “Em gravações de outros artis-tas ou bandas, na maioria das vezes o pro-dutor do CD ou o próprio técnico do es-túdio já sabem como fazer isso. Quandoacho que posso dar algum palpite eles medeixam a vontade, mas na maioria dessasgravações o padrão do timbre é bem lim-po, sem uso de amplificadores. A capta-ção é feita por um microfone de voz”,explicou Jefferson.

“Muitos gaitistas gostam de captar osom junto ao corpo do instrumento, masdependendo do estilo podem tentar ou-tras captações”, disse Guta Menezes. JoséStaneck disse que esse conceito se de-senvolve de acordo com cada um. “É cla-

Existem vários modelos de gaitas.As mais usadas são a cromática e adiatônica. Dentre esses dois modelosexiste uma infinidade de configura-ções. Existem gaitas com corpo emmadeira, ABS, metal, plástico, etc.Quando se fala de gaita com corpo demadeira, abre-se um leque muito maior,pois dependendo do tipo de madeirausada o timbre da gaita muda. Além docorpo outra parte da gaita que influen-cia na sonoridade e no timbre é a placade proteção. Dependendo do tamanhodessa placa e do modelo, ela produzum som diferente. As placas de vozes(nome da parte da gaita onde ficam as

Modelos de Gaitas

palhetas) também ajudam na timbra-gem, pois dependendo da espessuradas placas de vozes o timbre tambémmuda. Isso tudo somado à regulagemque cada gaitista faz em suas gaitasmais o modo que segura e como soprae aspira a gaita, cada um vai ter umasonoridade particular. Por isso que nãoadianta usar a mesma gaita, o mesmoamplificador ou o mesmo microfone deum determinado gaitista, pois o somque você vai tirar é completamente di-ferente. Cada um tem um tipo de arca-da dentária, tamanho de língua, mão,etc. Essas coisas interferem diretamen-te no som que sai do instrumento.

“Em gravações deoutros artistas ou

bandas, na maioria dasvezes o produtor do

CD ou o própriotécnico do estúdio já

sabem como fazerisso” (Jefferson)

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Jefferson Gonçalves Luiz Avellar e José Staneck (em pé)

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ro que, dependendo do estilo musical,pretendemos obter um resultado dife-rente, mas isso passa pela execução e nãopela captação”, opina Staneck.

Guta lembrou que existe uma procurade informação para o aprimoramento dastécnicas de captação e gravação. Seja nautilização de novos microfones ou mes-mo na experimentação com novos mode-los de gaitas.

O básico na captaçãoNo blues, a maioria das gaitas é grava-

da com o uso de um amplificador valvu-lado e de um microfone estilo Bullet, podeser o Astatic ou o 520D. Esses são modelosque se encontram no mercado, mas exis-tem aqui no Brasil e no exterior pessoasque pegam microfones antigos e fazemmodificações para usar na gaita. Na gran-de maioria, esses microfones têm um sombem parecido, sujos e graves, dependendodo tipo da cápsula usada ele distorce maisou menos. Essa saturação ouvida nas gai-tas de blues é feita com a combinação domicrofone e do amplificador.

As válvulas que são usadas nos amplifi-cadores de gaita têm um ganho menor epor isso pode aumentar o volume sem termicrofonia. Assim, as válvulas produzem

uma saturação natural. Essa configuraçãoé bastante usada em gaitas diatônicas,mas alguns gaitistas usam essa configura-ção para gaita cromática também. A cap-tação é bem parecida com a captação fei-ta para guitarra. Coloca-se o amplificadorem uma sala e a captação é feita por ummicrofone colocado na frente de auto fa-lante do amplificador e enviado para o sis-tema de gravação. Para country, pop, jazzou até mesmo no blues pode-se usar essamesma configuração mudando apenas omicrofone usado na gaita.

A preferência particularpor salas e microfonesQuando Jefferson vai gravar com ampli-

ficador, procura usar a mesma sala onde sãocolocados os amplificadores de guitarra equando grava gaita limpa, direta no micro-fone de voz, usa a mesma sala de gravaçãode voz. Quando se tem uma sala com boareverberação ele usa o reverb natural dasala e dispensa pedais de reverb. “Na mi-nha opinião, uma boa sala trabalhada emconjunto com uma boa captação é o idealpara uma boa gravação. Eu já gravo o somcom todos os efeitos e regulagens prontase o que vale é a captação. Não gosto degravar e depois acertar timbres em progra-mas de gravação. O máximo que faço épassar o que foi captado do meu som porum pré-valvulado e assim fazer a mixa-gem”, disse Jefferson.

Staneck já teve oportunidade de gra-var em várias salas e disse gostar das nãomuito reverberantes e menores. “Hojenão tenho a menor dúvida de que o me-lhor microfone para gravação de gaitacromática, para desespero de todos ostécnicos e durante muito tempo paramim também, ainda é o SM58 seguradona mão. Por isso prefiro salas menoresonde o som acústico fica mais envol-vente”, opinou José Staneck. Guta Me-nezes lembra que, a principio, já que écaptado o som colado ao instrumento, areverberação da sala não é usada. Porém,no caso de se usar outro microfonecondensador para ambiência, a sala teráinfluência no som. Como se especializouem gaita cromática, prefere usar os mi-crofones SM58 ou Audix Fireball desen-volvido para o instrumento.

“Ambos são microfones dinâmicos ecardióides. Gravo segurando o microfonejunto ao corpo da gaita para pegar o som dire-to e captar mais os médios e graves. Porém, sequiser somar, pode-se usar mais um microfo-ne condensador para captar a ambiência,como o AKG 414 BTLII ou Neumann U87”.

Jeohvah da Gaita toca profissional-mente há quarenta e sete anos e já gra-vou com importantes artistas do Nordes-te, como o trio harmônico AlcymarMonteiro (Canhoto da Paraíba), CláudioAlmeida, Reginaldo Rossi, CDs internacio-nais com a cantora Teça Calazans, edita-dos na França, entre outros. Ele contouum pouco da história da introdução dagaita no Nordeste. Esse fato data de épo-cas imemoriais, pelo fato de ser um instru-mento extremamente melancólico e demuito baixo custo, muito identificado como sofrimento do povo nordestino, como jáé de conhecimento da maioria das pesso-as na obra de Zé Dantas, HumbertoTeixeira, Luiz Gonzaga, Catulo da Paixão

Jeohvah da Gaita

Cearence, entre outros. A tristeza e asaga deste povo é abordada não somen-te na música, mas também na literatura,como a de Euclides da Cunha, que versasobre a saga do nordestino e sua capaci-dade de resistir a todo tipo de obstáculo.A principal característica da música nor-destina é a utilização do modo gregoMixolídio, forma que consiste na utilizaçãode escala com aplicação da sétima dimi-nuta e a quinta aumentada na melodia, oque dá um caráter de música árabe. Aharmônica é conhecida no Nordeste porpelo menos uma dezena de nomes, co-meçando por Zonofona-Harmoinca (agrafia é esta mesmo), vialêjo-realejo,gaitinha, e enfim, gaita de boca.

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Jehovah da Gaita

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Flávio Guimarães já usou um banhei-ro de estúdio para captar a ambiência dolocal e dispensar reverb. “Ficou muitobom. Depois, o dono do estúdio adaptouo banheiro numa sala mais viva”, lem-brou Flávio. Johnny Rover concorda comFlávio Guimarães. “Se a sala tiver umareverberação natural, isso é muito bom.Por isso é normal utilizar um corredor ouaté colocar amplificadores no banheiro.Gosto de microfonar o(s) amplificador(es) usando dois microfones (um pertodo amplificador e o outro mais distancia-do) para mesclar as captações na mixa-gem e assim poder escolher a dinâmica etimbre mais ideal para o estilo da músi-ca”, disse Johnny Rover.

Mauricio Einhorn iniciou sua carreiraem 1947, aos 10 anos, no programa dasgaitas Hering, na Rádio Nacional, e já sãosessenta anos tocando profissionalmente.Ele lembra que o processo de captação e gra-vação era feito com um único microfone eum canal na mesa. Hoje ele utiliza somenteum SM58 onde leva para suas gravações porser, segundo ele, o mais adequado para cor-tar os agudos, especialmente quando usa agaita diatônica.

Johnny Rover salientou que a escolha

dos microfones depende do estilo do tra-balho. Quanto a gaita, o corpo pode serde madeira ou plástico ou metal, e issointerfere no timbre e na resposta. Para oestilo de blues tradicional, os preferidossão os microfones do estilo ‘bullet’, quesão microfones mais antigos da Astatic,Turner, etc. Para e gaita limpa, vários mi-crofone de voz são de boa qualidadepara a gaita também.

EquipamentosJohnny Rover explicou que amplifica-

dores para gaita geralmente são parecidosou iguais aos de guitarra. A maioria é devalvulados, que podem ser ‘vintage’ tipoum Fender Bassman 1959 ou pode ser umamplificador ‘boutique’ desenvolvido es-pecialmente para a gaita, com falantes efreqüência especialmente ajustados.Hoje existem até ‘virtual-amps’ com com-ponentes eletrônicos que simulam ostimbres de um amplificador.

Na opinião de Jefferson, o músico ain-da deve procurar seu som e experimentartodos os modelos de amplificadores, mi-crofones e pedais possíveis e não se fe-char para o que tem de novo no merca-do. “Little Walter foi o gaitista que maisexperimentou e é chamado de Hendrixda gaita. Ele foi o primeiro a amplificar oinstrumento e usar efeitos. Ele experi-mentou tudo o que tinha na época ecriou um estilo de tocar gaita e um sompróprio. Por que não fazer isso hoje? Seele estivesse vivo estaria testando tudo oque fosse possível”, disse o músico.

Flávio Guimarães acha essencial gra-var blues e rock com amplificador valvu-lado. Ele utiliza um Fender Super Reverbde 1972, um Fender Champ valvuladode 1958 e um microfone Astatic modeloJT30, de 1970. O som da gaita lembra oda guitarra com este sistema de amplifi-cação. Não usa pedais e dependendo dotrabalho também usa microfones de voz,que, segundo Flávio, reforçam as fre-qüências médio graves. “Tenho utilizado

microfones customizados e até um clássi-co SM 58. Antigos amplificadores Fen-der e Mesa Booguie, mas gostaria de tes-tar os amps nacionais em minhas produ-ções. Tenho ouvido falar muito bem de-les. E a diferença pode ser na potência doamp e a curva de equalização”, disseDaniel Cheese.

Jefferson Gonçalves usa um modelo degaita que desenvolveu com a Hering emparceria com o luthier Fabrício Casarejos.Ambos realizaram uma pesquisa detalha-

“É o músico ter o som expressivoe limpo no instrumento. Que só seconsegue com dedicação e o pas-sar dos anos”.

(Guta Menezes)

“Testar de tudo e verificar qual omelhor equipamento e instrumentopara suas Gigs”.

(Jefferson Gonçalves)

“Procure resolver primeiro que tipode som você quer acusticamente. Esteé o principal. Não adianta de nada mi-crofones de todo tipo, estúdios maravi-lhosos, equipamentos caríssimos, sevocê não estiver satisfeito com o seu somnatural. É ele que vai determinar tudo.Jamais jogue para o equipamento umproblema que é seu e de sua gaita”.

(Staneck)

Dicas

“Gosto de microfonaros amplificadores

usando doismicrofones para

mesclar as captaçõesna mixagem e assim

poder escolher adinâmica” (Rover)

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Guta Menezes

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da para criar um sistema de afinação pes-soal que melhor correspondesse ao seu usoe pegada. “Como toco muito forte e usomuito trato vocal na execução dos inter-valos, acordes/ bicordes, criamos uma ta-bela de afinação ideal para esse estilo detocar”, revelou Jefferson que usa microfo-nes Astatic JT30, Hohner Blues Blaster,SM 58, Shaker Madcat e Mic-5 HeringHarmônicas.

Para gaita amplificada, Johnny Rovergosta de uma combinação de amplificado-res grandes e pequenos. Ele utilizou umFender Concert 1962 e um Valco Nationalao mesmo tempo na maioria das músicasde seu disco solo que está em fase de grava-ção. Quanto a microfones ‘bullet’, Johnnytem um 707A, em que o elemento de cristaltem uma resposta superforte, e só usa essemicrofone no estúdio.

Guta Menezes utiliza as gaitas Heringe gosta de gravar no Pro Tools usando al-guns plug-ins como IR-L, Focusrite,Bomb Factory, SSL, entre outros. JoséStaneck procura usar monitores paraque o som fique mais fiel possível e nãogosta de caixas amplificadas porque, se-gundo ele, normalmente alteram muitoo som natural.

Captando graves e agudosGuta Menezes prefere um som encor-

pado e como a gaita tem um som metáli-co, se preocupa em atenuar o médio-agu-do entre 1k a 4k e dar um ganho na fre-qüência médio-grave. Dependendo dotipo de microfone que Jefferson está usan-do numa gravação, às vezes, usa um pedalequalizador e corta algumas freqüênciase depois na mixagem regula melhor, issotudo depende também da tonalidade dagaita. “A gaita naturalmente tem umafreqüência mais aguda, então, captar ossons graves e médio-graves se torna mui-to importante para evitar aquele timbresuper fino e agudo. Um pouco de distor-ção também é algo a ser considerado de-

pendendo do objetivo do trabalho”, ex-plicou Johnny Rover.

“Certa vez ouvi do músico e arranja-dor Flávio Paiva que todo gaitista quan-do entra em estúdio descobre que nãogosta do som de seu instrumento. Isso éuma grande verdade. Todos começam aquerer criar em estúdio um som que nãoexiste. Para mim, este toque foi funda-mental para mudar minha concepção,não só de gravação como também deperformance. Faço no máximo um pe-queno ajuste nas freqüências de 125 e3K e nas freqüências altas do reverberutilizado”, disse Staneck.

MixagemSegundo Johnny Rover, escolher os mi-

crofones ideais, regular o timbre do ampli-ficador, posicionar o amplificador e micro-fones corretamente facilitará a mixagem.Jefferson dá a dica para pesquisar um bomlocal na sala de gravação onde serão colo-cados o amplificador e os microfones. “Vaifacilitar na mixagem o uso de equalizado-res. Quando gravo no Pro Tools costumousar o equalizador da Focusrite ou daWaves, às vezes uso uma leve compressãopara evitar picos. Um bom instrumentoafinado e sem ruídos mecânicos é funda-mental num set de gravação. É importan-te saber se a gravação é 440 ou 442Hz”,opinou Guta Menezes. “Quando adicio-nam muitos efeitos digitais na mixagem, o

timbre natural do instrumento se perde.Se necessário, reverb, delay e compressãodevem ser usados com cautela”, disse Flá-vio Guimarães.

Trabalho com os timbresPrimeiramente precisa-se saber qual a

sonoridade que o gaitista quer. Com atecnologia existem várias possibilidades.O músico pode usar reverbs, distorção,delay, compressores, equalizadores, umagama de efeitos. Basta ter o bom senso nahora de usá-los para não descaracterizaro instrumento. “Gosto de usar reverb dotipo Chambers para encorpar o som juntocom equalizador e um pré-amplificador(Bomb Factory)”, disse Guta.

Johnny Rover prefere um timbre maisencorpado com um pouco de distorção edinâmica harmônica. José Staneck hojeem dia quase não equaliza a gaita.“Cada vez mais usa o som que eu repro-duzo com o mínimo de interferência. Éclaro que se o local tiver uma reflexãodos agudos exagerada temos que fazeralguns ajustes, pois a gaita já é aguda osuficiente”, disse Staneck.

Parceriado técnico e do músicoO ideal é uma relação de respeito e

diálogo com espaço para criatividade.Não há nenhum empecilho para que al-guém escreva bem para gaita, inclusivesuas características se encontram emqualquer manual de orquestração mo-derno. “Eu acho que o técnico precisasaber se comunicar com os músicos deforma que ajude a um ou todos a fazer osajustes necessários. Para se obter um bomresultado, a parceria entre técnico e mú-sico e muito importante”, disse Rover.“Há técnicos com os quais eu já gravohabitualmente há muitos anos e já sabemo que quero. Porém me deixam à vonta-de para qualquer diálogo”, confirmouMauricio Einhorn.

“Certa vez ouvi domúsico e arranjador

Flávio Paiva que todogaitista quando entraem estúdio descobre

que não gosta do somde seu instrumento”

(Staneck)