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I Caracterização de Materiais e Desenvolvimento de Nova Ferramenta para a Soldadura por Projecção de Chassis de Fornos Microondas Gonçalo Abreu Rosa Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia de Materiais Júri Presidente: Professor Doutor Luís Manuel Guerra da Silva Rosa Orientador: Professor Doutor Pedro Miguel dos Santos Vilaça da Silva Vogais: Professor Doutor Vítor Manuel Martins Gonçalves Novembro de 2008

Caracterização de Materiais e Desenvolvimento de Nova ... · O actual relatório incide sobre a 2ª fase de trabalhos, que foi planeada após o trabalho da 1ª fase em que se procedeu

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I

Caracterização de Materiais e Desenvolvimento de Nova

Ferramenta para a Soldadura por Projecção de

Chassis de Fornos Microondas

Gonçalo Abreu Rosa

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia de Materiais

Júri

Presidente: Professor Doutor Luís Manuel Guerra da Silva Rosa

Orientador: Professor Doutor Pedro Miguel dos Santos Vilaça da Silva

Vogais: Professor Doutor Vítor Manuel Martins Gonçalves

Novembro de 2008

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I

AGRADECIMENTOS

Gostaria em primeiro lugar de agradecer o apoio técnico e financeiro que me foi prestado pelo IDMEC

e pela Gonvarri-Portugal para a realização deste projecto.

Devo agradecer também ao meu orientador, o Professor Pedro Vilaça, pelo tempo, paciência,

disponibilidade e principalmente pelo apoio que revelou no decorrer da dissertação. Tal auxílio

revelou-se indispensável na elaboração desta mesma dissertação.

Gostaria de agradecer e muito à Ana, pelos inúmeros momentos de apoio, bem, por tudo, não existe

forma de descrever a importância que teve para a conclusão deste trabalho.

Devo deixar também uma palavra de agradecimento ao Sr. João Luís da empresa JL Tornearia pelo

apoio, disponibilidade e entusiasmo que mostrou no exigente desenvolvimento do protótipo da

ferramenta GISTeka.

Para os meus colegas e amigos Joana Lima, Sérgio Silva, Rodrigo Santos, Bruno Nunes, Vítor Costa,

Ricardo Réfega, Bruno Emílio, Jorge Balula, Luís Aires, Filipe Nascimento e Gonçalo Monteiro,

obrigado pela ajuda que me prestaram, nem que tenha sido apenas um incentivo.

Claro que não podia deixar de referenciar a minha família por todo o seu apoio, que mesmo em

situações difíceis, nunca deixou que me faltasse disponibilidade para a conclusão desta dissertação.

Ao meu avô João dedico-lhe este trabalho, por pouco que seja, sei que ele gostaria de o ir festejar

comigo.

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II

RESUMO

Este trabalho enquadra-se no âmbito de um projecto de prestação de serviço de investigação e

desenvolvimento do IDMEC-Pólo IST à empresa Gonvarri-Portugal, no desenvolvimento de soluções

tecnológicas que permitam a uma das suas empresas clientes a utilização de chapas finas de aço

galvanizado, electrozincado e aluminizado, na produção de chassis de fornos microondas. Uma das

tecnologias de fabrico utilizadas é a soldadura por resistência na variante de projecção, que permite

uma fácil automatização e dessa forma dar resposta às elevadas cadências de produção que

caracterizam estes produtos. Actualmente, estes materiais que se pretendem introduzir, ao contrário

do que acontece com os aços inoxidáveis, tipicamente utilizados, apresentam dificuldades devido à

sua baixa soldabilidade impedindo a sua utilização.

O actual relatório incide sobre a 2ª fase de trabalhos, que foi planeada após o trabalho da 1ª fase em

que se procedeu à caracterização detalhada de um grupo de características físicas, químicas e

mecânicas de chapas potencialmente utilizadas na produção de fornos microondas. Como resultado

da primeira fase de trabalho, concluiu-se que o problema tecnológico que surgiu inerente a esta

substituição de materiais deve-se à dificuldade em soldar estes materiais, devido aos baixos valores

de resistência eléctrica de contacto, derivados do revestimento superficial. Assim, a sensibilidade à

variação de qualquer parâmetro de soldadura é amplificada, principalmente do parâmetro: força de

contacto entre as peças. Pelo que nesta 2ª fase do trabalho, desenvolveu-se uma solução tecnológica

que permite uniformizar a força aplicada em todos os pontos soldados em simultâneo. Foi construído

um protótipo e testada a sua principal função de uniformizar a força aplicada.

Tendo em vista determinar os parâmetros de soldadura a implementar para os novos materiais, foi

utilizado o software SORPAS, de simulação computacional com base no método numérico de

elementos finitos, especialmente dedicado à soldadura por resistência.

Por solicitação da empresa para quem este trabalho está a ser desenvolvido, esta 2ª fase iniciou-se

com a caracterização de um 2º grupo de materiais, em termos das suas características morfológicas,

dureza, composição química, propriedades mecânicas e eléctricas.

PALAVRAS-CHAVE

Caracterização de materiais;

Revestimento superficial de aços;

Soldadura por resistência na variante de projecção;

Sistema fechado de uniformização de carga;

Simulação computacional numérica.

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III

ABSTRACT

This work is part of a research and technological development project of IDMEC-IST, in the support of

the company Gonvarri-Portugal focusing the development of technological solutions improving the

weldability of galvanized, electrogalvanized and aluminized steel sheets, applied in the production of

chassis of microwave ovens. Currently, the low weldability of these materials presents difficulties, and

thus, limits their application mainly when compared to the typically used stainless steel sheets. The

technology used for welding is a variant of resistance welding – projection welding, which allows easy

automation and thus meet the high production rates that characterize these products.

The current report focus stage 2 of the project which was implemented after the work held in stage 1,

during which it was conducted a detailed physical, chemical and mechanical, characterization of a

group of potential materials to apply in the production of microwave ovens. As result of the first phase

of the project it was concluded that the main technological problem that arose inherent in this

replacement of materials (the difficulty in welding these materials), is related with the low values of

electrical resistance at the contact interface derived from its surface coating. Thus, the sensitivity to

change of any welding parameter is increased, with emphasis for the contact force between the pieces.

During stage 2 it was developed a technical solution that allows the force, applied simultaneously at all

weld spots, to be uniform. A prototype of the new system was produced and its main function was

tested (to homogenize the force applied in all the weld spots).

In order to determine the welding parameters to implement industrially, a simulation software

dedicated to the resistance welding process, was used – SORPAS. The numerical method of

SORPAS is the finite element method.

Answering to a Gonvarri-Portugal’s request, stage 2 began with the characterization of a second

group of materials of their interest to apply in the production of microwave ovens chassis, regarding

material surface morphological characteristics, hardness, chemical composition, mechanical and

electrical properties.

KEYWORDS

Materials characterization;

Surface coating of steels;

Projection resistance welding;

Homogenize force close system;

Numerical computacional simulation.

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IV

ÍNDICE

Agradecimentos ........................................................................................................................................ I

Resumo ................................................................................................................................................... II

Palavras-chave ........................................................................................................................................ II

Abstract................................................................................................................................................... III

Keywords ................................................................................................................................................ III

Índice ...................................................................................................................................................... IV

Lista de figuras ...................................................................................................................................... VII

Lista de tabelas ...................................................................................................................................... IX

I. Introdução ........................................................................................................................................ 1

I.1 Enquadramento e Objectivos .................................................................................................. 1

I.2 Apresentação das entidades envolvidas ................................................................................. 2

I.2.1 Grupo Gonvarri .................................................................................................................... 2

I.2.2 Grupo Teka .......................................................................................................................... 3

I.2.3 IDMEC – Pólo Instituto Superior Técnico ............................................................................ 4

I.3 Estrutura do relatório ............................................................................................................... 5

II. Pesquisa bibliográfica ...................................................................................................................... 6

II.1 Aspectos de soldadura na produção de fornos microondas ................................................... 6

II.1.1 Componentes estruturais ................................................................................................ 6

II.1.2 Sequência de estações de soldadura dos chassis dos fornos na Teka ......................... 8

II.2 Materiais aplicados em chassis de fornos microondas ......................................................... 10

II.3 Revestimentos superficiais aplicados em chassis de fornos microondas ............................ 11

II.3.1 Revestimentos superficiais de zinco ............................................................................. 11

II.3.2 Revestimentos superficiais de alumínio ........................................................................ 15

II.4 Aspectos tecnológicos do processo de soldadura por resistência na variante de projecção 16

II.4.1 Fundamentos do processo de soldadura por resistência na variante de projecção ..... 17

II.4.2 Vantagens e particularidades desta variante do processo de soldadura por resistência

22

II.4.3 Soldabilidade de aços com revestimentos de zinco ...................................................... 23

II.5 SORPAS® ............................................................................................................................. 25

II.5.1 Método de elementos finitos .......................................................................................... 26

II.5.2 Simulações no SORPAS® ............................................................................................ 27

II.5.3 Aplicações do software .................................................................................................. 27

III. Caracterização dos novos materiais a introduzir na construção de chassis de fornos

microondas ............................................................................................................................................ 28

III.1 Nota introdutória .................................................................................................................... 28

III.2 Caracterização metalográfica ................................................................................................ 28

III.2.1 Morfologia superficial por SEM e composição química via EDS .................................. 28

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V

III.2.2 Ensaios de dureza e microdureza ................................................................................. 33

III.2.3 Medição da espessura dos revestimentos .................................................................... 35

III.3 Ensaio de resistência mecânica ............................................................................................ 36

III.4 Ensaio de resistência eléctrica de contacto .......................................................................... 39

IV. Desenvolvimento de uma nova ferramenta para a soldadura dos chassis .............................. 43

IV.1 Nota introdutória .................................................................................................................. 43

IV.2 Identificação dos problemas da actual solução .................................................................... 43

IV.3 Estabelecimento da nova solução ......................................................................................... 46

IV.4 Desenvolvimento do conceito da nova ferramenta .............................................................. 49

IV.4.1 Sub-sistemas .................................................................................................................. 50

IV.4.2 Componentes individuais .............................................................................................. 53

IV.5 Comentário final .................................................................................................................... 58

V. Simulação computacional numérica ............................................................................................. 59

V.1 Nota introdutória .................................................................................................................. 59

V.2 Geometria dos elementos ..................................................................................................... 59

V.2.1 Elemento máquina ........................................................................................................ 60

V.2.2 Canal de refrigeração .................................................................................................... 61

V.2.3 Chapa superior e inferior ............................................................................................... 61

V.2.4 Revestimento superficial ............................................................................................... 62

V.2.5 Eléctrodo inferior .......................................................................................................... 62

V.2.6 Eléctrodo superior ......................................................................................................... 64

V.3 Aproximações adoptadas para efectuar a simulação no SORPAS® ...................................... 64

V.3.1 Forma dos eléctrodos .................................................................................................... 64

V.3.2 Material das chapas a utilizar ........................................................................................ 66

V.4 Resultados obtidos com o SORPAS® ..................................................................................... 67

V.4.1 Desenvolvimento da malha ........................................................................................... 67

V.4.2 Propriedades físicas consideradas................................................................................. 69

V.4.3 Estabelecimento dos parâmetros de simulação do ciclo de soldadura no SORPAS® .... 71

V.4.4 Resultados da análise final I e II .................................................................................... 73

V.4.5 Análise de resultados .................................................................................................... 76

VI. Ferramenta GISTeka ................................................................................................................. 77

VI.1 Nota introdutória .................................................................................................................... 77

VI.2 Esquema de montagem / desmontagem da ferramenta ....................................................... 77

VI.3 Procedimento experimental dos ensaios de carga ............................................................... 79

VI.4 Resultados obtidos ................................................................................................................ 82

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VI

VI.5 Análise de resultados ............................................................................................................ 83

VII. Conclusões ................................................................................................................................ 84

VIII. Desenvolvimentos futuros ......................................................................................................... 85

Bibliografia ............................................................................................................................................. 86

Anexos ................................................................................................................................................... 88

Anexo 1 – Desenhos de fabrico dos componentes da ferramenta Gisteka ...................................... 88

Anexo 2 – Resultados de soldabilidade finais obtidos no SORPAS® .............................................. 89

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VII

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Evolução do volume de negócios do grupo, em milhões de euros [1]. .................................. 2

Figura 2 – Alguns equipamentos produzidos pelo Grupo Teka [2]. ........................................................ 3

Figura 3 - Perspectiva da zona de tecnologia de soldadura nas instalações laboratoriais do IDMEC no

IST ............................................................................................................................................................ 5

Figura 4 – Componentes electrónicos de um forno microondas [3]. ...................................................... 6

Figura 5 - Alguns componentes estruturais de um forno microondas [4]. ............................................. 6

Figura 6 – Chassis completo de um forno microondas, em aço inox. ..................................................... 7

Figura 7 – Perspectivas das partes que compõe a guia de onda............................................................. 7

Figura 8 – Reflector do grill. .................................................................................................................... 7

Figura 9 – Cavidade do forno. ................................................................................................................. 8

Figura 10 – Tampa da cavidade com o reflector já soldado. ................................................................... 8

Figura 11 – Painel frontal do chassis. ...................................................................................................... 8

Figura 12 – Painel traseiro do chassis. .................................................................................................... 8

Figura 13 – Estação de escovagem dos chassis dos fornos microondas. .............................................. 10

Figura 14 – Diagrama do processo de galvanização por imersão a quente [7]. ................................... 12

Figura 15 – Diferentes camadas formadas durante a galvanização por imersão a quente [6]............. 13

Figura 16 - Compostos do ácido crómico, H2Cr2O7 e H2CrO4 [8]. .......................................................... 14

Figura 17 – Fotomicrografia das diferentes fases presentes num material galvanizado por imersão a

quente [6]. ............................................................................................................................................. 14

Figura 18 – Primeira máquina patenteada de soldadura por resistência [9]. ....................................... 16

Figura 19 – Robot de soldadura por resistência [10]. ........................................................................... 16

Figura 20 - Zona denominada por nugget [11]. .................................................................................... 17

Figura 21 – Resistências eléctricas desenvolvidas no processo de soldadura por resistência [12]. ..... 17

Figura 22 – Relação da resistividade eléctrica com a temperatura para materiais condutores. .......... 18

Figura 23 – Evolução gráfica das diferentes resistências ao longo do ciclo de soldadura [5]............... 19

Figura 24 – Formação do nugget, com evidência do cadinho plástico [14]. ......................................... 20

Figura 25 – Variação da resistência eléctrica à passagem da corrente em função da força de aperto

[14]. ....................................................................................................................................................... 21

Figura 26 – Evolução gráfica da corrente eléctrica e da força de contacto durante os quatro

momentos da soldadura. ...................................................................................................................... 22

Figura 27 – Ligação “colada”, defeito comum na soldadura de chapas galvanizadas [5]. .................... 25

Figura 28 - Comparação da resolução entre o microscópio óptico e o electrónico [17]. ..................... 29

Figura 29 – Microscópio FEG-SEM: JEOL 7001F com Oxford EDS detector e EBSD, utilizado nos ensaios

realizados. ............................................................................................................................................. 30

Figura 30 – Imagens da topografia das amostras obtido por SEM. ...................................................... 30

Figura 31 - Zonas onde foram realizadas a análises por EDS na chapa 1, galvanizado 1. ..................... 31

Figura 32 - Zonas onde foram realizadas as análises por EDS na chapa 2, galvanizado 2. ................... 31

Figura 33 - Zonas onde foram realizadas as análises por EDS na chapa 3, aluminizado 1. ................... 32

Figura 34 - Zonas onde foram realizadas as análises por EDS na chapa 4, aluminizado 2. ................... 32

Figura 35 - Zonas onde foram realizadas as análises por EDS na chapa 5, electrozincado. .................. 33

Figura 36 – Equipamento utilizado e esquema do respectivo identador (pirâmide de diamante com

um ângulo de 136° entre as fases opostas). ......................................................................................... 34

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VIII

Figura 37 – Gráfico comparativo dos valores médios das durezas e microdurezas bem como os

respectivos desvios padrões dos materiais ensaiados. ......................................................................... 34

Figura 38 – Equipamento utilizado na medição de espessuras dos revestimentos e gama de precisão.

............................................................................................................................................................... 35

Figura 39 - Pormenor do extensómetro da máquina de ensaios de tracção. ....................................... 37

Figura 40 – Valores comparativos da tensão limite de elasticidade. .................................................... 37

Figura 41 - Valores comparativos da tensão máxima. .......................................................................... 38

Figura 42 - Valores comparativos da tenacidade. ................................................................................. 38

Figura 43 – Aparelho de medição de resistência de contacto. ............................................................. 39

Figura 44 – Pormenor do ensaio de medição de resistências de contacto. .......................................... 39

Figura 45 – Prensa e matrizes utilizadas na enformação das bossas, com forma semi-esférica e cónica,

utilizadas no ensaio de determinação da resistência de contacto do grupo de materiais. .................. 40

Figura 46 – Gráfico dos valores médios das resistências de contacto medidas em todas as diversas

condições. .............................................................................................................................................. 41

Figura 47 – Gráfico dos valores médios das resistências de contacto entre chapas planas, no estado

original. .................................................................................................................................................. 41

Figura 48 – Gráfico dos valores médios das resistências de contacto com bossa semi-esférica, no

estado original. ...................................................................................................................................... 42

Figura 49 – Ponto forte, soldadura bem consolidada. .......................................................................... 46

Figura 50 – Ponto fraco, más propriedades mecânicas e metalúrgicas. ............................................... 46

Figura 51 – Exemplo de um eléctrodo em mau estado, com desgaste e contaminação evidentes. .... 46

Figura 52 – Sistema mecânico fechado de uniformização da carga aplicada por múltiplos eléctrodos

adaptável a equipamentos convencionais de soldadura por resistência – ferramenta GISTeka ......... 47

Figura 53 – Cavidade interna estanque visível no corte do plano frontal da ferramenta. ................... 47

Figura 54 – Vista explodida dos componentes da ferramenta GISTeka................................................ 48

Figura 55 – Representação da ferramenta GISTeka já instalada. ......................................................... 49

Figura 56 – União dos reservatórios superior e inferior ....................................................................... 50

Figura 57 – Montagem de alguns componentes no reservatório superior. ......................................... 51

Figura 58 – Pormenor do isolamento eléctrico da ferramenta GISTeka. .............................................. 51

Figura 59 – Pormenores do sub-sistema de refrigeração dos eléctrodos. ........................................... 52

Figura 60 – Representação do sub-sistema de alimentação eléctrica dos eléctrodos. ........................ 53

Figura 61 – Representação dos elementos que formam os eléctrodos da ferramenta GISTeka e

respectivo esquema de montagem ....................................................................................................... 54

Figura 62 – Corte representativo do ponto morto superior e inferior do eléctrodo. ........................... 55

Figura 63 – Pormenor das ferragens de constrangimento da rotação dos eléctrodos colocadas no

reservatório inferior. ............................................................................................................................. 55

Figura 64 – Perspectivas do reservatório inferior ................................................................................. 56

Figura 65 – Perspectivas do reservatório superior................................................................................ 57

Figura 66 – Perspectiva do êmbolo de nivelamento da posição vertical dos eléctrodos. .................... 57

Figura 67 – Perspectiva da flange de suporte. ...................................................................................... 57

Figura 68 – Perspectiva da base de alimentação eléctrica. .................................................................. 58

Figura 69 – Visualização gráfica de um corte da montagem (ferramenta + eléctrodos + chapas). ...... 60

Figura 70 – Janela de inserção de dados. .............................................................................................. 60

Figura 71 – Elemento máquina superior ............................................................................................... 60

Figura 72 – Elemento máquina inferior................................................................................................. 60

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IX

Figura 73 – Representação do canal de refrigeração ............................................................................ 61

Figura 74 – Chapa superior.................................................................................................................... 61

Figura 75 – Montagem pormenor da bossa em resina ......................................................................... 62

Figura 76 – Pormenor da bossa utilizadas na simulação. ...................................................................... 62

Figura 77 – Chapa inferior ..................................................................................................................... 62

Figura 78 – Representação esquemática dos eléctrodos da ferramenta GISTeka e do eléctrodo

inferior. .................................................................................................................................................. 62

Figura 79 – Eléctrodo inferior real......................................................................................................... 63

Figura 80 – Eléctrodo inferior na simulação. ......................................................................................... 63

Figura 81 – Eléctrodo superior sem furo de alinhamento .................................................................... 64

Figura 82 – Eléctrodo superior com furo de alinhamento .................................................................... 64

Figura 83 – Geometria do eléctrodo real. ............................................................................................. 65

Figura 84 – Aproximação da zona de contacto do eléctrodo ................................................................ 65

Figura 85 – Aproximação efectuada ao canal de refrigeração dos eléctrodos ..................................... 65

Figura 86 – Detalhe do furo de alinhamento na base do eléctrodo ..................................................... 66

Figura 87 – Aproximação do furo de alinhamento no software ........................................................... 66

Figura 88 – Representação da malha utilizada...................................................................................... 68

Figura 89 – Representação dos pontos de controlo de densidade. ...................................................... 68

Figura 90 – Janela de introdução de dados para as especificações da máquina. ................................. 72

Figura 91 – Regulação do factor de interface. ...................................................................................... 72

Figura 92 – Janela do SORPAS Simulation Watcher. ............................................................................. 73

Figura 93 – Distribuição final de temperaturas e visualização do nugget para o grupo de análise I.... 75

Figura 94 - Distribuição final de temperaturas e visualização do nugget para o grupo de análise II. .. 76

Figura 95 – Representação do encosto entre chapas fora da zona das bossas. ................................... 78

Figura 96 – Célula de carga utilizada nos ensaios. ................................................................................ 79

Figura 97 – Barra receptora da força aplicada pelos eléctrodos com suporte/encaixe da célula de

carga, de forma possível de posicionar sob todos os eléctrodos.......................................................... 79

Figura 98 – Aparato experimental do ensaio de carga à ferramenta GISTeka. .................................... 80

Figura 99 – Pormenores da preparação experimental dos ensaios de carga. ...................................... 80

Figura 100 – Preparação da máquina de soldadura para a determinação da relação pressão-força. . 81

Figura 101 – Gráficos comparativos dos valores da força de aperto a diferentes alturas de

funcionamento. ..................................................................................................................................... 83

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Sequência de estações de soldadura dos chassis dos fornos microondas. ........................... 9

Tabela 2 – Tabela de potenciais galvânicos dos metais [6]. .................................................................. 11

Tabela 3 – Propriedades térmicas e eléctricas dos materiais utilizados na soldadura [5]. ................... 24

Tabela 4 – Identificação e nomenclatura atribuída ao grupo de materiais fornecido pela Gonvarri-

Portugal. ................................................................................................................................................ 28

Tabela 5 - Composição química e propriedades mecânicas expectáveis segundo as normas, do grupo

de materiais fornecido pela Gonvarri-Portugal. .................................................................................... 28

Tabela 6 – Composição química obtida via EDS para a chapa 1, galvanizado 1. .................................. 31

Tabela 7 – Composição química obtida via EDS para a chapa 2, galvanizado 2. .................................. 31

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X

Tabela 8 – Composição química obtida via EDS para a chapa 3, aluminizado 1. .................................. 32

Tabela 9 – Composição química obtida via EDS para a chapa 4, aluminizado 2. .................................. 32

Tabela 10 – Composição química obtida via EDS para a chapa 5, electrozincado. ............................... 33

Tabela 11 – Valores da espessura do revestimento obtido para todas as amostras. ........................... 35

Tabela 12 – Gama de operação do medidor de resistências de contacto. ........................................... 39

Tabela 13 - Valores médios das resistências de contacto medidas em todas as diversas condições. .. 40

Tabela 14 – Legenda da vista explodida da ferramenta GISTeka (Figura 54). ...................................... 48

Tabela 15 – Propriedades físicas da liga de cobre AMPCO 95 [18]. ...................................................... 63

Tabela 16 – Comparação entre os dois tipos de aços [19] e [20]. ........................................................ 67

Tabela 17 – Intervalos de tempo utilizados entre cálculos no SORPAS®. ............................................. 68

Tabela 18 – Propriedades físicas dos materiais considerados pelo software durante a simulação. .... 70

Tabela 19 – Resultados finais obtidos no SORPAS® para o grupo de análise I. ..................................... 74

Tabela 20 – Resultados finais obtidos no SORPAS® para o grupo de análise I. ..................................... 75

Tabela 21 – Variação dos resultados finais obtidos no SORPAS® entre os grupos de análise I e II. ...... 76

Tabela 22 – Relação pressão-força da máquina de soldadura. ............................................................. 81

Tabela 23 – Valores registados nos ensaios de carga para as quatro posições do eléctrodo em teste.

............................................................................................................................................................... 82

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1

I. INTRODUÇÃO

I.1 ENQUADRAMENTO E OBJECTIVOS

O trabalho desenvolvido integra-se na prestação de serviço de colaboração científica e

desenvolvimento tecnológico do IDMEC pólo Instituto Superior Técnico à empresa Gonvarri Portugal

(designada daqui em diante simplesmente por Gonvarri), visando apoiar um dos seus clientes, a Teka

Portugal (designada daqui em diante simplesmente por Teka) no contínuo desenvolvimento da sua

actividade produtiva.

A Teka, utiliza no fabrico do chassis dos fornos microondas vários tipos de chapa fina de aço, entre

os quais os aços inoxidáveis são os mais utilizados, substituídos por vezes pelos aços

electrozincados e incluindo os aços aluminizados em zonas com exigência de boa reflexibilidade

superficial. No entanto, devido a variações profundas das disponibilidades no mercado é por vezes

difícil encontrar estes materiais, o que faz com que os preços sejam muitas vezes inflacionados.

Assim sendo, torna-se necessário encontrar novas soluções para conseguir ultrapassar este facto, e

manter os elevados níveis de produtividade associados à garantia de qualidade característica desta

reputada empresa. Uma das formas possíveis é através da procura e introdução de novos materiais

que apresentem vantagens para todas as entidades envolvidas no processo de produção.

A base deste trabalho tem como finalidade desenvolver o conhecimento de forma a permitir a

introdução de um novo material no fabrico dos chassis dos fornos microondas, com principal ênfase

para o aço galvanizado. O problema inerente à introdução deste material no processo produtivo,

prende-se com os actuais baixos níveis de soldabilidade por resistência na variante por projecção, ou

por bossas.

O trabalho agora apresentado vem no seguimento de uma primeira fase onde foram caracterizados

uma gama representativa de materiais fornecidos pela Gonvarri à sua cliente Teka, e identificadas as

principais causas das dificuldades tecnológicas resultantes da aplicação da soldadura por resistência,

na variante por bossas, a estes novos materiais. Pretende-se assim, nesta segunda fase do trabalho,

o desenvolvimento de novas soluções tecnológicas que permitam soldar por resistência os chassis

dos fornos microondas incluindo aço galvanizado e electrozincado, com um nível de qualidade e

fiabilidade semelhante às ligações obtidas actualmente com os aços inoxidáveis. Assim, os principais

objectivos deste trabalho são os seguintes:

Caracterizar a composição química, dureza, resistência mecânica, resistência eléctrica e

morfologia da superfície de um segundo grupo de materiais que a Gonvarri seleccionou para

fornecer à Teka tendo em vista a sua aplicação no fabrico dos fornos microondas;

Desenvolver o conceito de um novo sistema mecânico fechado de actuação dos eléctrodos

de soldadura que permita uniformizar a carga aplicada pelos diversos eléctrodos nas chapas

a0 soldar por resistência na variante de projecção;

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2

Simulação computacional numérica das condições de soldadura com o novo sistema

desenvolvido, tendo em vista o apoio tecnológico na transferência para a aplicação real da

nova solução tecnológica focando o estabelecimento dos parâmetros de soldadura;

Acompanhamento do processo de produção de um protótipo e ensaio da sua funcionalidade

mecânica.

I.2 APRESENTAÇÃO DAS ENTIDADES ENVOLVIDAS

I.2.1 GRUPO GONVARRI

O Grupo Gonvarri fundado há mais de 45 anos em Espanha, dedica-se à comercialização de aço,

tendo iniciado um processo de internacionalização que o levou à criação de unidades em Portugal,

Itália, Polónia e Brasil.

O seu desenvolvimento está assente em importantes taxas de crescimento (Figura 1) que o

consolidaram como líder espanhol de centros de serviço de aço e como uma das principais

referências no mercado europeu e brasileiro.

Figura 1 - Evolução do volume de negócios do grupo, em milhões de euros [1].

O grupo desenvolve uma estratégia de procura de produtos e serviços, que conferem um valor

acrescentado aos seus clientes, os quais confiam na capacidade e experiência do grupo para

fornecer tanto produtos como serviços logísticos e/ou de desenvolvimento de produtos. Esta relação

privilegiada complementa-se com a relação desenvolvida ao longo dos anos com os principais

siderúrgicos mundiais. Com um consumo de aço bastante significativo no panorama mundial grandes

fabricantes são fornecedores habituais do Grupo Gonvarri, o que lhes permite contar constantemente

com a qualidade que precisam e propor aos seus fornecedores o desenvolvimento de características

específicas.

Esta capacidade no aprovisionamento de aço, juntamente com a versatilidade e flexibilidade que

oferece o facto de contar com linhas próprias de decapagem, galvanização, laminagem,

electrozincagem e skin-pass tornam a Gonvarri o fornecedor de referência dos principais

consumidores de aço nos nossos mercados e a sua melhor alternativa na procura de materiais. Na

sua carteira de clientes estão representados todas as áreas consumidoras de aço, como o sector

automóvel, sistemas de armazenamento, segurança rodoviária, electrodomésticos e construção. Esta

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3

diversificação de clientes e sectores fortalece a evolução da companhia que, desta forma, não se vê

afectada pelos movimentos de um único sector, dando grande estabilidade aos resultados do grupo.

I.2.2 GRUPO TEKA

A Teka é um grupo industrial com cerca de 5.600 colaboradores, em todo o mundo, com um volume

anual de negócios de mais de 800 milhões de euros e 80 anos de experiência. As áreas de negócio

do Grupo Teka abrangem equipamento doméstico e profissional para cozinha e casa de banho,

contentores em aço inoxidável e componentes electrónicos.

No que respeita a cozinhas, a Teka encontra-se entre as marcas líder de lava-louças e equipamentos

encastráveis, fabricando utensílios domésticos de alta qualidade e equipamento comercial (Figura 2).

O sector de cozinhas da Teka dispõe de onze fábricas na Europa, duas na América e uma na Ásia.

Figura 2 – Alguns equipamentos produzidos pelo Grupo Teka [2].

A Teka Portugal é uma das principais subsidiárias do Grupo Teka, grupo multinacional de origem

alemã, fundado em 1924. Com um capital social de 7,5 milhões de euros, mais de 200 colaboradores,

e uma facturação que ultrapassou em 2004 os 46,5 milhões de euros, a Teka Portugal é uma das

maiores empresas da região centro, ocupando uma área fabril e comercial de 20.500 metros

quadrados no Concelho de Ílhavo.

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4

A Teka Portugal fabrica actualmente microondas, placas de encastrar, chaminés decorativas, tampas

de vidro para placas e esterilizadores de ar. Fabrica ainda equipamentos industriais tais como,

depósitos em aço inoxidável para a indústria química e alimentar.

I.2.3 IDMEC – PÓLO INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO

Criado no âmbito do “Programa Ciência”, o IDMEC é uma associação privada, científica, tecnológica

e de formação, sem fins lucrativos, cujos membros fundadores são o Instituto Superior Técnico (IST)

e a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). O IDMEC, no seu âmbito de

actuação, desenvolve a sua actividade assente em cinco objectivos estratégicos:

Promover de acções de Investigação e Desenvolvimento;

Desenvolver programas de formação avançada;

Promover a transferência tecnológica;

Avaliar e auditar novos processos nas empresas;

Desenvolver programas de gestão integrados nas áreas energética, logística e tecnológica.

Enquadrado nestes objectivos, o IDMEC aposta no desenvolvimento de acções específicas e

especializadas no domínio da Engenharia Mecânica, verificando-se a nível nacional um papel

relevante na coordenação da investigação e do desenvolvimento nesta área.

Apresenta-se em dois Pólos, IDMEC/IST em Lisboa e o IDMEC/FEUP no Porto. Cada Pólo está

organizado em Centros de Investigação apoiados por laboratórios de elevada capacidade tecnológica.

O Pólo IDMEC/IST engloba os seguintes Centros: Projecto Mecânico, Sistemas Inteligentes,

Tecnologias Avançadas de Produção e Tecnologias de Energia.

Em particular, o grupo de soldadura do Centro de Tecnologias Avançadas de Produção do

IDMEC/IST, tem uma longa tradição no desenvolvimento de trabalho de investigação e

desenvolvimento tecnológico na área das tecnologias de ligação por soldadura e adesivos há mais de

3 décadas. Como resultado deste esforço, o seu trabalho experimental e computacional é hoje

reconhecido a nível nacional e internacional, conforme se pode comprovar através dos vários

projectos em que participou e que se encontra actualmente envolvido, muitos dos quais na

transferência tecnológica e serviço/apoio à indústria.

Para além de promover uma cooperação permanente com os agentes económicos nacionais, o

IDMEC mantém relações privilegiadas com a comunidade empresarial, através da participação em

projectos nacionais e internacionais de I&DT, redes de formação transnacional e acordos de

colaboração bilateral.

É política estratégica do IDMEC a prossecução e alargamento de conhecimentos científicos e

tecnológicos, a inovação, produtividade e flexibilidade, a qualidade e o baixo custo energético e

ambiental, processos fundamentais para o crescimento consistente e sustentado da indústria

Portuguesa.

Para um conhecimento mais aprofundado do instituto recomenda-se o endereço internet da mesma:

http://www.dem.ist.utl.pt/IDMEC/

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5

Figura 3 - Perspectiva da zona de tecnologia de soldadura nas instalações laboratoriais do IDMEC no IST

I.3 ESTRUTURA DO RELATÓRIO

O relatório está dividido em oito capítulos, cuja ordem e conteúdo se apresentam de seguida:

Capítulo I – Enquadramento do trabalho no projecto global de cooperação em I&D

envolvendo a Gonvarri, a Teka e o IDMEC;

Capítulo II – Abordagem bibliográfica aos temas estudados durante o relatório,

nomeadamente os aspectos de soldadura na produção de microondas, materiais e

revestimentos utilizados, aspectos tecnológicos do processo de soldadura e software de

análise numérica utilizado;

Capítulo III – Caracterização metalúrgica, mecânica e eléctrica dos materiais seleccionados

pela Gonvarri para aplicação na construção de fornos microondas;

Capítulo IV – Desenvolvimento da nova ferramenta para a soldadura dos chassis dos fornos

microondas, como resultado da identificação do problema actual, estabelecimento de um

plano de solução e respectivo desenvolvimento do conceito de um novo sistema de actuação

dos eléctrodos;

Capítulo V – Simulação computacional numérica num software apropriado de modo a avaliar

a eficácia do conceito desenvolvido e o desenvolvimento dos respectivos parâmetros de

funcionamento a serem transferidos para ambiente de produção industrial;

Capítulo VI – Características e ensaios de funcionalidade da ferramenta GISTeka;

Capítulo VII – Conclusões coligidas do trabalho realizado;

Capítulo VIII – Proposta de desenvolvimentos futuros.

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6

II. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

II.1 ASPECTOS DE SOLDADURA NA PRODUÇÃO DE FORNOS MICROONDAS

Como a maioria dos electrodomésticos os fornos microondas são constituídos por vários

componentes os quais estão invisíveis num primeiro contacto. Nesta secção, pretende-se mostrar os

vários componentes que se podem encontrar num forno deste género e qual a sua função no produto

final.

Figura 4 – Componentes electrónicos de um forno microondas [3].

Figura 5 - Alguns componentes estruturais de um forno microondas [4].

Como se pode observar na Figura 4 e na Figura 5 é possível distinguir dois tipos de componentes

num forno microondas: os electrónicos e os estruturais (chassis). A seguinte descrição centra-se nos

componentes estruturais uma vez que o objectivo deste trabalho envolve apenas estes.

II.1.1 COMPONENTES ESTRUTURAIS

A produção de um chassis de um forno microondas envolve a soldadura de vários componentes

estruturais, nomeadamente: cavidade do chassis, tampa da cavidade, os painéis frontal e traseiro do

chassis, a guia de onda e o reflector.

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7

Figura 6 – Chassis completo de um forno microondas, em aço inox.

A guia de onda é composta por duas partes distintas, que serão soldadas e colocadas na parte lateral

do microondas, numa cavidade existente. Tem como função direccionar a radiação desde a fonte até

à cavidade do forno.

Figura 7 – Perspectivas das partes que compõe a guia de onda.

Caso o forno a ser produzido tenha a função grill é colocado na tampa superior do chassis um

reflector a separar a resistência do grill da restante cavidade. Dada a especificidade da sua função,

esta peça tem algumas características próprias, por exemplo tem um revestimento aluminizado de

modo a garantir a reflectividade necessária.

Figura 8 – Reflector do grill.

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8

Além destes componentes mais específicos temos o “esqueleto” do chassis do forno microondas, a

cavidade, respectiva tampa e os painéis frontais e traseiros.

Figura 9 – Cavidade do forno. Figura 10 – Tampa da cavidade com o reflector já

soldado.

Figura 11 – Painel frontal do chassis. Figura 12 – Painel traseiro do chassis.

II.1.2 SEQUÊNCIA DE ESTAÇÕES DE SOLDADURA DOS CHASSIS DOS FORNOS NA TEKA

Os chassis dos fornos microondas passam por sete estações de soldadura antes da etapa final de

escovagem.

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9

Na estação de soldadura nº 1 é soldado o

reflector na tampa da cavidade do chassis.

Na estação nº 2 é estabelecida a ligação entre a

tampa da cavidade e a cavidade do chassis do

forno.

O painel frontal do chassis é colocado na

estação de soldadura nº 3.

A estação nº 4 é constituida por duas máquinas

de modo a soldar as duas peças que compõem a

guia de onda.

Na estação nº 5 é soldada a guia de onda à

cavidade fechada do chassis.

Por fim nas estações 6 e 7 é ligado o painel

traseiro completando o chassis do forno

microondas.

Tabela 1 – Sequência de estações de soldadura dos chassis dos fornos microondas.

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10

Ao sair da estação de soldadura nº 7, os chassis são encaminhados à etapa final de escovagem, de

modo a limpar o painel frontal de qualquer vestígio da soldadura e a melhorar o acabamento

superficial.

Figura 13 – Estação de escovagem dos chassis dos fornos microondas.

II.2 MATERIAIS APLICADOS EM CHASSIS DE FORNOS MICROONDAS

As características do aço fazem com que este seja amplamente utilizado em vastas aplicações de

engenharia. As suas excelentes propriedades mecânicas (como resistência mecânica e ductilidade),

bem como as suas boas performances no que respeita à enformabilidade e soldabilidade fazem deste,

um material de eleição. Abundância, as propriedades ferromagnéticas, a possibilidade de reutilização

e custo são outros factores positivos deste material.

Mais de 80% das soldaduras por resistência são realizadas em aços de baixo carbono, ou seja, ligas

de Fe-C com percentagens em peso de carbono inferior a 0,25% e de outros elementos de liga

inferior a 1%.

Existe apenas um cuidado a ter no que respeita à composição química dos aços utilizados em

soldadura por resistência, a percentagem em peso de Fósforo e Enxofre deve ser inferior a 0,045%.

Estes elementos têm influência marcante no comportamento mecânico, produzindo soldaduras

frágeis.

No entanto este material é susceptível à corrosão em ambientes húmidos e a oxidação a

temperaturas elevadas, o que o torna vulnerável em algumas situações, sendo por isso necessário

fornecer-lhe algum tipo de protecção.

A actual ênfase na protecção contra a corrosão tem sido dirigida para uma gradual substituição do

aço carbono por aço revestido, o qual confere uma maior resistência à corrosão, com grande

aplicação, por exemplo, nas indústrias dos electrodomésticos, automóvel e construção civil [5].

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11

II.3 REVESTIMENTOS SUPERFICIAIS APLICADOS EM CHASSIS DE FORNOS MICROONDAS

Existem alguns métodos de protecção contra a corrosão do aço, entre eles podem destacar-se:

Alteração do metal pela adição de elementos de liga;

Controlo do potencial electroquímico pela aplicação de correntes anódicas ou catódica;

Utilização de revestimentos orgânicos ou metálicos.

Um dos métodos mais utilizados para a protecção do aço é a aplicação de revestimentos metálicos.

II.3.1 REVESTIMENTOS SUPERFICIAIS DE ZINCO

A utilização do zinco como revestimento ocorreu pela primeira vez em 1741, quando o químico

francês Melouin descobriu que um revestimento de zinco poderia proteger o aço contra a corrosão.

Em 1837, o engenheiro Sorel patenteou o processo utilizando o termo galvanização (do nome de

Luigi Galvani, 1737-1798) uma vez que é uma corrente galvânica que protege o aço, quando se dá o

contacto do zinco com o aço num meio húmido (devido a criação de uma diferença de potencial entre

os metais).

Como se pode observar na tabela de potenciais galvânicos, o zinco é mais anódico do que o

elemento ferro pelo que quando em conjunto, será o zinco o primeiro a iniciar a corrosão originando

uma protecção catódica, ou seja, o zinco sacrifica-se para proteger o ferro.

Tabela 2 – Tabela de potenciais galvânicos dos metais [6].

Mesmo que uma pequena área de aço fique exposta, o metal base não sofre (ou sofre pouco) os

efeitos da corrosão, pois o zinco aumentará a sua taxa de corrosão de modo a atingir um novo

equilíbrio, protegendo assim a área descoberta.

A espessura do revestimento é um factor importante na performance dos produtos revestidos. Pode

dizer-se que revestimentos mais espessos promovem maior protecção contra a corrosão, no entanto

revestimentos mais finos possibilitam melhores propriedades de enformabilidade e soldabilidade. A

quantidade de revestimento é expressa em termos de massa por unidade de área [6].

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12

II.3.1.1 Processos de aplicação de revestimentos de zinco

Quando se realiza uma galvanização existem vários factores que podem influenciar a qualidade do

revestimento, entre os quais se destacam: o tipo de material base, o estado superficial das peças, as

velocidades de imersão/remoção do banho, a temperatura do banho, o tempo de imersão, e a

composição do banho. A influência de cada um desses factores é determinante no revestimento final

obtido, por isso o seu controle é fundamental.

- GALVANIZAÇÃO POR IMERSÃO A QUENTE

A galvanização por imersão a quente é um processo perfeitamente definido, sendo basicamente o

mesmo para qualquer produto, podendo variar na espessura da camada, na geometria da peça e na

composição química do material base (aço).

É o processo mais económico, contudo os metais e ligas propensos à aplicação de revestimentos por

este método estão limitados àqueles que apresentam pontos de fusão suficientemente baixos para

permitir que a chapa metálica passe pelo banho de metal fundido sem que ocorram deformações ou

empenamentos.

Este processo ocorre basicamente em três etapas: limpeza superficial, galvanização e

arrefecimento/passivação da camada de zinco, ilustradas na Figura 14.

Figura 14 – Diagrama do processo de galvanização por imersão a quente [7].

Para se obter um acabamento perfeito das peças zincadas é necessário que as peças estejam

completamente limpas. Assim a eliminação de óleos, graxas, óxidos, tintas ou qualquer outro tipo de

substância que existam na superfície do metal base é um requisito básico.

O procedimento do tratamento é descrito abaixo, no entanto, entre cada uma das etapas deve

proceder-se à lavagem das chapas com água corrente, na qual se deve proceder a um controlo de

pH, de forma a remover qualquer resíduo que resulte de passos anteriores.

Desengorduramento - esta etapa tem como objectivo garantir a remoção de substâncias

orgânicas, da superfície do material, pois a sua presença afecta não só o processo em si,

mas também a acção dos ácidos de decapagem. É utilizado um desengordurante alcalino

numa solução aquosa, a quente ou a frio para remover qualquer resíduo de contaminantes;

Decapagem - de forma a remover da superfície das chapas, óxidos presentes nomeadamente

óxido de ferro, faz-se a imersão das chapas em ácido clorídrico ou em ácido sulfúrico. A

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13

escolha de um ou outro método deve ser realizada a partir de considerações de ordem

técnica e/ou económica. A decapagem clorídrica realiza-se à temperatura ambiente, com uma

solução aquosa de 1 a 17% HCl. Utilizam-se frequentemente inibidores para que só os óxidos

e outros aditivos que reduzam a tensão superficial entre o líquido decapante e a peça sejam

removidos. A decapagem com ácido sulfúrico utiliza uma solução aquosa de 7,5 a 15% de

H2SO4, a uma temperatura entre os 70 e os 90°C;

Fluxagem - utiliza-se ZnCL2 3NH4CL à temperatura de 60 a 80°C, para dissolver os resíduos

salinos que restam na superfície da peça e promover a cristalização de uma camada de sal, a

qual impede a oxidação até à imersão no banho de zinco fundido;

Galvanização - após realizada a primeira etapa, inicia-se a fase de galvanização

propriamente dita, que consiste na imersão das chapas numa cuba com no mínimo 98% de

zinco puro fundido, a uma temperatura entre 445 e 460°C, onde o ferro vai reagir com o zinco

iniciando a formação de camadas distintas (Figura 15) que vão formar o revestimento

protector.

Figura 15 – Diferentes camadas formadas durante a galvanização por imersão a quente [6].

O tempo de permanência das peças no banho tem de ser o suficiente para que as chapas alcancem

a temperatura do banho. O tempo médio de imersão é aproximadamente de 3 a 4 minutos.

Posteriormente as chapas são retiradas lentamente e o zinco em excesso é removido através de

drenagem com auxilio de métodos de vibração e/ou centrifugação.

A temperatura exterior, a humidade e a qualidade do ar não afectam a qualidade do revestimento

galvanizado.

Arrefecimento e passivação da camada de zinco - a reacção do aço com o zinco pode

prolongar-se após a extracção, uma vez que a chapa retém o calor fornecido durante a

galvanização. A velocidade de arrefecimento imposta deve ser seleccionada tendo em conta

os coeficientes de dilatação térmica do aço e do zinco, pois podem criar-se tensões internas

na chapa durante o arrefecimento a ponto de fragilizar a matéria.

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14

Para que o revestimento de zinco adquira ao longo de toda a superfície uma capa protectora,

procede-se a sua passivação em soluções cromatantes à base de ácido crómico (conjunto de aniões

cromato e dicromato).

Figura 16 - Compostos do ácido crómico, H2Cr2O7 e H2CrO4 [8].

As reacções metalúrgicas promovidas entre o Zn e o Fe durante a galvanização fazem com que o

revestimento possua excelente aderência ao material base, muito maior que a apresentada pelos

revestimentos produzidos por processos mecânicos ou químicos.

A secção transversal esquemática do revestimento zinco - ferro encontra-se ilustrada na

fotomicrografia da Figura 17, onde é possível distinguir as três camadas da liga e uma camada de

zinco metálico puro.

Figura 17 – Fotomicrografia das diferentes fases presentes num material galvanizado por imersão a quente [6].

- ELECTROZINCAGEM OU GALVANIZAÇÃO ELECTROLÍTICA

A electrozincagem consiste numa deposição electrolítica de sais de zinco sobre o metal base. O zinco

é utilizado como ânodo numa cuba electrolítica à temperatura ambiente, dissolvendo-se no electrólito

constituindo uma solução de sais de zinco e precipitando-se no cátodo, que é constituído pelo metal

base. O processo é descrito em seguida:

O primeiro passo consiste na limpeza das chapas. Para que o acabamento do metal seja

perfeito, é preciso que a superfície esteja completamente limpa, tal como no processo de

galvanização a quente;

No ânodo coloca-se o zinco que se diluirá na solução electrolítica e será conduzido até o

material que se encontra em contacto com o cátodo. Devido a alta corrente aplicada este

zinco é depositado na superfície e permanecerá mesmo sob severas deformações.

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15

Trata-se de uma técnica especialmente útil quando a aplicação de altas temperaturas às peças de

aço a podem danificar. No caso da galvanização electrolítica, não existem variações dimensionais de

origem térmica nem se alteram as propriedades mecânicas do aço.

Estes revestimentos são compostos apenas por zinco “puro”, ou seja apresentam uma estrutura

completamente homogénea. Com a electrozincagem obtém-se geralmente um revestimento muito

fino, liso e uniforme, constituído por zinco depositado numa ou em ambas as faces da chapa de aço.

O revestimento é simultaneamente denso e de excelente aderência. A espessura da película e as

suas propriedades dependem da densidade de corrente aplicada, da concentração de sais do banho,

da presença de aditivos e do tipo de aço.

Caracterizado por uma superfície microfacetada representativa do aspecto característico dos cristais

hexagonais de zinco, o aço electrozincado não promove a formação de intermetálicos, a sua estrutura

é muito mais simples do que as estrutura dos aços galvanizados.

A electrozincagem confere uma protecção adequada para inúmeras aplicações. Estes revestimentos

são geralmente tratados com soluções de cromatos, para promover uma melhor aparência, reduzir

manchas e de forma a retardar a formação de produtos de corrosão branca (criados sob condições

de extrema humidade).

O revestimento de zinco puro que se obtêm é muito deformável, por isso ideal para estampagem.

Com uma fosfatação posterior, o revestimento encontra-se preparado para pintura, assim a

electrozincagem é utilizada quando se pretende uma superfície de extrema qualidade, sendo utilizada

numa grande panóplia de aplicações [6].

II.3.2 REVESTIMENTOS SUPERFICIAIS DE ALUMÍNIO

O uso de revestimentos de alumínio tem como finalidade a utilização em solicitações onde seja

necessário bons resultados à resistência a corrosão, oxidação, boa condutividade eléctrica, alta

reflectividade e receptividade para se poderem realizar acabamentos superficiais.

Quando se pretende realizar revestimentos deste tipo, é necessário ter em atenção dois factores de

extrema importância para que se consigam obter os melhores resultados:

É necessário realizar uma boa preparação da superfície do aço;

No caso do processo se realizar a alta temperatura, o controlo da formação e crescimento do

intermetálico produzido é crucial.

Basicamente o processo de obtenção de aços aluminizados por imersão a quente ocorre em três

etapas sendo o procedimento semelhante com o que ocorre nos aços galvanizados. Primeiro efectua-

se uma preparação da superfície do material base, seguido da imersão num banho de alumínio

líquido puro (tipo II) ou alumínio com 10% Si (tipo I) durante um determinado período de tempo e

posterior arrefecimento.

Os banhos de alumínio podem ter várias composições, no entanto, quando se pretende uma boa

aderência e enformabilidade, é costume utilizar um banho com uma composição de 4% a 10% de

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16

silício de forma a retardar a formação da liga entre o banho metálico e o material base. Estes banhos

geralmente contêm ainda 0.1 a 3.0% de ferro.

Este processo, como já foi referido, forma um composto intermetálico entre o material base (aço) e o

alumínio da superfície. A fase do intermetálico varia consoante a composição do banho, o tempo de

imersão e a temperatura. O revestimento resultante é muito fino e apresenta na sua composição

partículas discretas de silício, resultante do processo [6].

II.4 ASPECTOS TECNOLÓGICOS DO PROCESSO DE SOLDADURA POR RESISTÊNCIA NA VARIANTE

DE PROJECÇÃO

O conceito em que se baseia o processo de soldadura por resistência foi introduzido em 1877 por

Elihu Thomson (Figura 18), cuja patente data de Abril de 1891 (U.S. Patent 451345) e começou a ser

utilizado para produção de pequenos electrodomésticos em 1898.

Desde 1933, o processo de soldadura por resistência, principalmente na variante por pontos, tem sido

aplicada a uma larga escala na indústria, nomeadamente em indústrias que produzem séries grandes

com elevados requisitos de qualidade, tais como: automóvel (carroçaria, radiadores), eléctrica

(contactos eléctricos, relés, lâmpadas) e de electrodomésticos (chassis principal e estruturas de

suporte de componentes).

Figura 18 – Primeira máquina patenteada de soldadura por resistência [9].

Figura 19 – Robot de soldadura por resistência [10].

A variante de projecção do processo de soldadura por resistência, embora não seja tão utilizada

como a soldadura por pontos, tem várias vantagens sobre as restantes variantes sempre que a forma

das peças a soldar o permita. Esta variante necessita de um investimento inicial superior, uma vez

que o custo associado aos equipamentos e à preparação das peças é superior, mas o investimento é

facilmente recuperável com produções médias ou elevadas [5].

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17

II.4.1 FUNDAMENTOS DO PROCESSO DE SOLDADURA POR RESISTÊNCIA NA VARIANTE DE PROJECÇÃO

Tal como no processo de soldadura por resistência na variante de pontos, este é um processo

autógeno em que as chapas são ligadas entre si por zonas denominadas por nuggets. Estes nuggets

são as zonas onde se desenvolve a fusão e o posterior forjamento das chapas.

Figura 20 - Zona denominada por nugget [11].

De seguida irá abordar-se detalhadamente alguns parâmetros importantes do processo de soldadura

por resistência.

II.4.1.1 Resistência eléctrica de contacto

O nugget é formado pelo calor gerado através da circulação da corrente eléctrica entre os dois

eléctrodos, o superior e o inferior. A corrente ao atravessar as chapas a soldar vai encontrar diversas

resistências ao seu movimento, que causa a dissipação de energia sob a forma de calor.

O calor produzido pelas resistências à passagem da corrente eléctrica pode ser determinado a partir

da Lei de Joule:

(1)

em que: E – energia dissipada [J];

R – resistência [Ω];

I – intensidade da corrente eléctrica [A];

t – tempo [s].

Tal como na variante por pontos, existem dois tipos de resistência eléctrica envolvidos no processo: a

resistência intrínseca dos materiais utilizados (chapas e eléctrodos) e a resistência de contacto

desenvolvida nas interfaces dos componentes.

Figura 21 – Resistências eléctricas desenvolvidas no processo de soldadura por resistência [12].

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18

A resistência de contacto (Rc) entre duas superfícies metálicas com apenas um constituinte, é dada

pela seguinte equação [13]:

(2)

Sendo: ρ – resistividade eléctrica [Ω.m];

H – dureza Vickers do material do material menos duro;

F – força de contacto [N].

A Rc varia inversamente com a raiz quadrada da força aplicada, portanto no processo de soldadura, a

resistência de contacto de maior valor será a da interface que se situa entre as chapas (Rc2 - Figura

21) uma vez que a força de contacto será menor. Será na interface entre as chapas que, durante a

passagem da corrente eléctrica, se irá produzir mais calor, dando origem à zona fundida. O valor

desta resistência vai diminuindo desde o inicio da soldadura atingindo zero quando se inicia a fusão,

sendo responsável pela formação do nugget.

As resistências intrínsecas dos materiais das chapas (Rs2 e Rs3 - Figura 21) são de pouca importância

para a formação do nugget, mas após a formação da zona fundida tornam-se as principais fontes do

calor desenvolvido na soldadura. Este facto deve-se ao aumento da temperatura, tal como em todos

os materiais condutores, a resistividade eléctrica aumenta linearmente com a temperatura (Figura 22).

Figura 22 – Relação da resistividade eléctrica com a temperatura para materiais condutores.

De modo a prolongar a vida útil dos eléctrodos, a energia dissipada pelas resistências de contacto

das interfaces entre os eléctrodos e as chapas (Rc1 e Rs3 - Figura 21) deveria ser a menor possível.

Além de provocar desgaste aos eléctrodos o calor produzido por estas resistências de contacto irá

danificar as chapas junto dos eléctrodos, provocando o aspecto “queimado” da soldadura.

Optimizando o contacto entre os eléctrodos e as chapas, reduz-se o valor destas resistências.

Resis

tivid

ade (

Ω.m

)

Temperatura (K)

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19

Figura 23 – Evolução gráfica das diferentes resistências ao longo do ciclo de soldadura [5].

Até agora tem-se partido da premissa que o valor das resistências é simétrico em relação ao plano de

soldadura, mas quando se está perante situações que envolvam chapas com espessuras e/ou

materiais diferentes, deve-se garantir que o centro de calor se situa entre as chapas a soldar. O novo

equilíbrio térmico pode ser conseguido variando o valor das resistências referidas, através da forma e

materiais dos eléctrodos e da pressão aplicada durante a soldadura [5].

II.4.1.2 Corrente eléctrica

Praticamente todas as redes domésticas e indústrias utilizam redes eléctricas com corrente alterna. A

fácil aplicação de transformadores permite o transporte da corrente com elevado rendimento. Na

Europa as redes de baixa tensão são trifásicas, três condutores mais o neutro, com uma tensão entre

fases de 380V para aplicações industriais e de 220V para aplicações domésticas e iluminação com

uma frequência de 50Hz.

O uso deste tipo de corrente na soldadura por resistência tem vantagens, uma vez que é fácil e

económica, contudo apresenta problemas com grandes potências. Em soldaduras realizadas com

tempos muito curtos, o caso do alumínio, ocorrem elevadas variações de intensidade na corrente.

O objectivo da utilização da corrente eléctrica nesta soldadura é, segundo a Lei de Joule, introduzir

calor de modo a alcançar a temperatura de fusão do material e promover o posterior forjamento da

zona do nugget na fase de arrefecimento. Portanto, como parâmetro de soldadura utiliza-se a

intensidade de corrente [A] ou a densidade de corrente [A/mm2] [5].

A corrente de soldadura atravessa o circuito formado pelo secundário do transformador, os

condutores, os eléctrodos e as peças a soldar aquecendo-as à temperatura desejada. Os

equipamentos de soldadura por projecção, as chamadas “prensas de soldadura por resistência”

podem produzir correntes muito variáveis chegando a atingir os 100 kA.

Em soldadura por resistência é por vezes difícil de conhecer com exactidão a corrente de soldadura,

não podendo os equipamentos ser regulados directamente como as fontes de corrente utilizadas em

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20

soldadura por arco eléctrico. Estas têm uma característica particular que é o facto de a corrente variar

pouco com tensão do arco. Esta característica é normalmente obtida juntando ao transformador um

shunt magnético o qual separa o primário do secundário. Como se sabe o órgão de regulação do

shunt é regulado directamente em corrente eléctrica.

Procura-se sempre construir transformadores que tenham uma baixa impedância interna, não

existindo um shunt magnético entre o primário e o secundário. Assim pode-se dizer que a corrente do

secundário (I2) depende unicamente da impedância total (Z2) do circuito secundário e da tensão

secundária em vazio (V20) do transformador [14].

(3)

Por vezes devido a um excesso de corrente utilizada, ou por um tempo de soldadura demasiado

longo, ocorre fusão fora da zona pretendida, normalmente na zona entre o eléctrodo e as chapas.

Dado o forte campo magnético que se forma entre os eléctrodos o material fundido é expelido dando

origem a projecções metálicas (faíscas), o que além do risco de segurança para o operador acarreta

danos aos eléctrodos e na qualidade da soldadura (soldadura queimada).

II.4.1.3 Pressão

O efeito da pressão aplicada no processo de soldadura por resistência deve ser cuidadosamente

considerado. A continuidade do meio é garantida pela pressão exercida pelo que esta deverá ser

suficientemente elevada para que o encosto entre as peças a soldar e os eléctrodos seja perfeito.

A força de aperto tem as seguintes funções:

Encostar as peças a soldar;

Manter fechado o cadinho plástico bem como opor-se à deformação resultante da dilatação

de material que ocorre na passagem do estado sólido ao estado liquido;

Fechar o circuito eléctrico e manter constante a resistência de contacto entre os materiais a

soldar;

Após o corte da corrente, forjar o material durante o seu arrefecimento.

O metal em fusão é contido no nugget por uma zona de material deformada plasticamente formando

um “cadinho plástico”. A deformação plástica deve-se a dois factores: ao aumento de volume da zona

em fusão e à propagação de calor pelo material junto da zona fundida.

A zona adjacente ao nugget está sujeita a temperaturas elevadas, ≥ 0,5 Thomóloga, o que reduz a

resistência mecânica do material facilitando o forjamento.

Figura 24 – Formação do nugget, com evidência do cadinho plástico [14].

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21

Embora a pressão não influencie directamente a produção de calor responsável pela formação da

soldadura, esta desempenha um papel fundamental na quantidade de calor produzido por efeito de

Joule.

Figura 25 – Variação da resistência eléctrica à passagem da corrente em função da força de aperto [14].

Tal como indicado na equação 2, a resistência de contacto diminui quando a força de aperto dos

materiais a soldar aumenta (Figura 25) pelo que em termos práticos se substitui o parâmetro

resistência de contacto pelo parâmetro “Força exercida pelo eléctrodo” ou “Força de aperto”.

No arrefecimento a manutenção da pressão aplicada aumenta a velocidade de arrefecimento

provocando o afinamento de grão do material fundido.

II.4.1.4 Tempo de soldadura

O tempo necessário de passagem de corrente depende de vários factores, nomeadamente, do tipo

de materiais a soldar, da sua espessura, do acabamento superficial e da força de aperto. Este

parâmetro é medido em milisegundos (ms) ou em ciclos, sendo 1 ciclo igual a

.

Consoante o tipo de equipamento a utilizar, o tempo de passagem da corrente pode ser regulado pelo

operador ou por temporizador incorporado no equipamento. Em determinados equipamentos as

quedas de tensão podem também ser compensadas por variações no tempo de soldadura [14].

A soldadura divide-se em quatro momentos distintos:

Squeeze - este é o tempo necessário para atingir e estabilizar a pressão de soldadura pela

máquina e estabilizar as deformações nos materiais;

Weld - é o tempo em que existe passagem de corrente eléctrica entre as chapas e

consequente geração de calor;

Hold - é o tempo necessário para o arrefecimento da zona da soldadura e solidificação dos

materiais e consequente forjamento da zona fundida. Durante este momento os eléctrodos

continuam em contacto com as peças de modo a facilitar o arrefecimento.

Off - é o tempo após retirar o eléctrodo, onde o arrefecimento da peça e do próprio eléctrodo

ocorre separadamente. Este momento é mais utilizado na variante automatizada por pontos,

que consiste no tempo de operação entre os diversos robots da linha de produção.

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22

Figura 26 – Evolução gráfica da corrente eléctrica e da força de contacto durante os quatro momentos da soldadura.

II.4.2 VANTAGENS E PARTICULARIDADES DESTA VARIANTE DO PROCESSO DE SOLDADURA POR

RESISTÊNCIA

Na variante de projecção o local onde o nugget se desenvolve é determinado por uma indentação

produzida artificialmente na chapa superior designada por bossa. Nesta variante o ponto de ligação é

então determinado pela posição destas bossas nas chapas e não como na variante por pontos pela

posição dos eléctrodos.

II.4.2.1 Consumo de cobre

Quando comparado com a variante por pontos o processo de soldadura por resistência na variante de

projecção apresenta taxas de desgaste dos eléctrodos inferiores. Sendo as gamas de intensidade de

corrente semelhantes, na variante de projecção a superfície de contacto do eléctrodo com a chapa é

muito superior, o que implica temperaturas de trabalho mais baixas nos eléctrodos.

O custo e a implementação em funcionamento do par peça/eléctrodo acarreta maiores custos

inicialmente, mas os custos de manutenção inferiores e o tempo de vida dos eléctrodos

substancialmente superior, tornam-se uma vantagem da variante por projecção [5].

II.4.2.2 Realização simultânea de várias soldaduras

Com esta variante é possível a realização de vários pontos de soldadura tendo apenas como limite a

capacidade da máquina utilizada. Teoricamente todos os pontos seriam realizados com os mesmos

valores de pressão e densidade de corrente.

A distância entre pontos é menor, pois a soldadura realiza-se simultaneamente eliminando as

correntes de fuga que se formam quando comparado com a variante por pontos. O facto de se obter

um maior número de soldaduras na mesma peça permite valores de resistências mecânicas

superiores [5].

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23

II.4.2.3 Qualidade e precisão da soldadura

Ao colocar na máquina de soldadura, as peças são orientadas até à sua posição, garantindo uma

elevada estabilidade dimensional.

Quando devidamente optimizados os parâmetros deste processo é possível eliminar correntes de

fuga, pontos quentes na superfície das peças e outros defeitos, obtendo soldaduras com elevada

qualidade sem depender do operador [5].

II.4.2.4 Aplicabilidade do processo

Com peças devidamente projectadas para serem soldadas nesta variante, apresenta diversas

vantagens, algumas já referenciadas, quando comparada com a variante por pontos, por exemplo

peças de geometrias complexas com difícil acesso para os eléctrodos individuais.

Tem como principal aplicação peças de grandes dimensões ou com elevados pontos de ligação, esta

variante permite soldar chapas lisas ou rugosas, materiais sinterizados, peças com diferentes

composições, aço/latão ou outros bronzes (excepto cobre) e é raramente utilizada para a soldadura

de alumínios, dada as características da camada superficial de alumina que cobre este metal.

Esta variante é bastante adequada para a soldadura de aços com revestimentos (galvanizados,

alumizados, etc.), necessitando apenas de especial cuidado com a pressão de soldadura aplicada de

modo a evitar a deformação da bossa antes da formação do nugget e subsequente má ligação [5].

II.4.3 SOLDABILIDADE DE AÇOS COM REVESTIMENTOS DE ZINCO

A soldabilidade de um metal (para o processo de soldadura por resistência) é controlada por três

factores:

Resistividade eléctrica;

Condutividade térmica;

Temperatura de fusão.

Os metais com elevada resistividade eléctrica, com baixa condutividade térmica e uma temperatura

de fusão relativamente baixa são todos facilmente soldáveis (exemplo: materiais ferrosos). Os metais

que apresentam baixas resistividades eléctricas e elevadas condutividades térmicas serão mais

difíceis de soldar (como é o caso das ligas de magnésio). Estas três propriedades podem ser

combinadas numa expressão empírica que indicia a soldabilidade, W, de um metal pelo processo de

soldadura por resistência:

(4)

em que: W – Índice de soldabilidade;

ρ – resistividade eléctrica [ .cm];

Tf – temperatura de fusão [°C];

Krel – condutividade térmica relativamente ao cobre [KCu=49.8w/(m.K)].

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24

Se o índice de soldabilidade for inferior a 0,25 a dificuldade em obter ligações de qualidade é

bastante elevada, caso o W se situe entre 0,26 e 0,75 a dificuldade é média. Entre 0,75 e 2 a

soldabilidade é boa e para valores de W superiores a 2 é excelente. Utilizando esta expressão

empírica, o aço carbono comum teria W =10, para aço inoxidável o valor do índice de soldabilidade é

superior a 35 e o alumínio apresenta valores entre 0,75 e 2, dependendo da liga em questão. Para

ligas de cobre este índice é muito baixo [15].

O objectivo a atingir é a produção de soldaduras de elevada qualidade com custo de produção

reduzido mantendo as funções do revestimento superficial nas zonas soldadas. Para tal são

efectuados ajustes aos parâmetros de soldadura tendo em conta os efeitos do revestimento na:

resistência de contacto; na miscibilidade do revestimento com o metal base na zona do cadinho

plástico; contaminação dos eléctrodos, etc.

Na soldadura de chapas galvanizadas pode ser complicado obter nuggets com percentagens

satisfatórias de material fundido de ambas as chapas, embora a soldadura possa parecer perfeita. Os

problemas que surgem na soldadura de chapas com revestimentos derivam do facto de se inserir na

zona de contacto um outro metal que possui resistividades eléctricas e pontos de fusão distintos.

Zinco Aços Carbono

Propriedades térmicas

Temperatura de fusão [°C] 418 ± 5% 1530 ± 5%

Temperatura de ebulição [°C] 918 ± 5% 2450 ± 5%

Propriedades eléctricas

Resistividade eléctrica [µΩ.m] 0.059 ± 10% 0.11 – 0.16 ± 10%

Tabela 3 – Propriedades térmicas e eléctricas dos materiais utilizados na soldadura [5].

Caso os parâmetros de pressão, intensidade de corrente e tempo utilizados não sejam os adequados

é possível que durante a soldadura ocorra apenas a fusão das camadas superficiais dando lugar a

uma ligação “colada”, ou seja, de baixa resistência mecânica.

Com o aumento da temperatura na interface entre as bossas e a chapa inferior e caso a pressão de

soldadura aplicada não for a suficiente para quebrar o revestimento superficial de zinco, ocorre a

fusão da camada de zinco dando lugar a uma ligação colada. Este defeito de soldadura surge devido

a dois factores relacionados com o revestimento:

Resistividade eléctrica do zinco é menor (Tabela 3). A corrente é desviada do trajecto previsto

percorrendo o material que oferece menor resistência à sua passagem, neste caso será o

revestimento. Sem atravessar as duas chapas de aço a corrente não produz a energia

necessária para a produção do nugget no local estabelecido;

Temperatura de fusão do zinco é substancialmente menor (Tabela 3). Embora não se atinja a

temperatura de fusão de aço, a passagem de corrente através do revestimento produz

energia suficiente para fundir o zinco. A ligação formada entre os revestimentos das duas

chapas dá origem a uma soldadura fraca.

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25

Figura 27 – Ligação “colada”, defeito comum na soldadura de chapas galvanizadas [5].

Outro dos problemas da soldadura de peças com revestimentos metálicos é a contaminação dos

eléctrodos de cobre. No decorrer da soldadura atingem-se temperaturas superiores à temperatura de

fusão do aço, o que significa que na zona do nugget já se atingiu a temperatura de ebulição do zinco

(Tabela 3). A difusão de átomos de zinco nos eléctrodos irá promover a formação de uma liga de

latão (Cu + Zn) à superfície, o que irá alterar as propriedades dos eléctrodos, nomeadamente a

resistividade eléctrica e as propriedades mecânicas.

De modo a reduzir a deterioração dos eléctrodos por contaminação, deverá dificultar-se a difusão do

zinco, ou seja, diminuir a temperatura no eléctrodo. O que pode ser assegurado com uma

refrigeração adequada dos eléctrodos e utilizar pressões elevadas para reduzir a resistência de

contacto e reduzir a energia dissipada nessa zona e de tempos de soldadura o mais curtos possível,

de modo a diminuir a taxa de difusão do zinco para os eléctrodos.

II.5 SORPAS®

O SORPAS® (Simulation and Optimization of Resistance Projection And Spot welding processes) é

um software especializado em soldadura por resistência. Tem sido utilizado directamente na indústria

automóvel, metalúrgica, electrónica, na produção de equipamentos de soldadura e outras indústrias

metalúrgicas de transformação.

É utilizado na indústria para avaliar a soldabilidade de materiais, estudar novos designs e novas

selecções de eléctrodos, bem como para optimizar os parâmetros de controlo do processo. Com a

ajuda de funções para determinar algumas propriedades das zonas soldadas após a soldadura, este

software tem sido utilizado também na área da Qualidade.

O SORPAS® parte de uma plataforma simples e intuitiva permitindo a sua aplicação directamente na

indústria. Este software foi desenvolvido com base no método de elementos finitos (MEF) e na

experiência adquirida pela Engenharia de soldadura. As principais características deste programa

podem ser resumidas da seguinte forma:

Profissional, validado e especializado em soldadura por resistência;

Objectivo, criado especificamente para aplicações industriais;

Simples, desenvolvido por engenheiros para uso directo na indústria [16].

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26

II.5.1 MÉTODO DE ELEMENTOS FINITOS

No SORPAS® todas as simulações numéricas são efectuadas através do método de elementos

finitos (MEF). O MEF é um método numérico com uma vasta gama de aplicações em engenharia, que

aborda um problema complexo dividindo-o num número de elementos mais simples. Quando o

problema é resolvido num elemento, a solução para o problema inteiro pode ser obtida pela

integração das soluções de todos os elementos que o compõem. Devido a este procedimento o MEF

pode ser utilizado para resolver quase todos os problemas de engenharia envolvendo geometrias

complexas e diversas combinações de materiais.

Após anos de pesquisa e desenvolvimento, tendo em vista as aplicações industriais, todos os

procedimentos numéricos foram desenvolvidos e automatizados dentro do software de modo a que

os utilizadores não necessitem de conhecimento prévio do MEF para funcionar com o SORPAS®.

Embora um conhecimento básico prévio do MEF facilite a compreensão do software produzindo

simulações mais coerentes.

De seguida serão apresentados dois conceitos relacionados com o MEF que têm bastante influência

nas simulações [16].

II.5.1.1 Densidade da malha

A densidade da malha, ou o tamanho dos diferentes elementos, tem uma contribuição essencial na

precisão dos cálculos do MEF no que respeita à distribuição das variáveis na geometria do problema

ou nos materiais.

O procedimento de dividir o domínio do problema (geometria e materiais) em vários elementos

menores é denominado por geração de malha. No SORPAS® são utilizados elementos quadriláteros.

Os cálculos do MEF são baseados nos valores das variáveis nos pontos nodais e nas interpolações

entre os pontos nodais dentro dos elementos. Quantos mais pontos nodais, ou seja, quanto mais

divididos os elementos, mais precisos são os resultados da distribuição geométrica das variáveis,

contudo, apesar de melhorar a precisão dos resultados em determinadas zonas, irá aumentar

igualmente o número de cálculos a efectuar e consequentemente o tempo da simulação. Um modo

de aumentar a eficiência da simulação é regular o número de elementos de acordo com as

características da zona em análise, ou seja, em zonas com gradientes elevados, aumentar

efectivamente o número de elementos, e em zonas com menos variações diminui-lo, mantendo assim

um número total razoável. Este software permite aos utilizadores definir onde introduzir novos

elementos e a densidade destes, bem como o número total de elementos [16].

II.5.1.2 “Time step”

De modo a calcular as variações dinâmicas e não lineares, o tempo do processo de soldadura é

dividido em pequenos intervalos durante a simulação. Os cálculos realizados pelo MEF serão

efectuados sequencialmente de modo a simular as variações dinâmicas de acordo com o momento

da soldadura que está a ocorrer (squeeze, weld, hold ou off). No SORPAS® é possível modificar os

intervalos de tempo utilizados em cada fase individualmente, bem como suprimir alguns.

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27

Tal como a densidade da malha, os intervalos de tempo têm uma grande influência na precisão das

simulações do MEF. Quanto menor for o intervalo de tempo em que se divide a análise, maior será a

precisão dos resultados obtidos para as variações dinâmicas que ocorrem durante o ciclo de

soldadura. Mas ao aumentar o número de intervalos vamos aumentar o número de cálculos a

efectuar, aumentando necessariamente o tempo total da simulação [16].

II.5.2 SIMULAÇÕES NO SORPAS®

No SORPAS® as simulações são um processo de soldadura por resistência virtual. A única diferença

para com o processo de soldadura real é que no software todo o processo, desde o design dos

componentes até à soldadura ocorre num computador sem o recurso a materiais reais, o que permite

aos utilizadores avaliar a soldabilidade e eficácia dos materiais, dos componentes e optimizar os

parâmetros do controlo do processo, antes de efectuar testes reais.

O procedimento da simulação pode ser dividido em três etapas:

Preparação dos dados – são definidos os materiais e geometrias dos eléctrodos e das

chapas a soldar, o tipo de máquina utilizada e os parâmetros de controlo do processo;

Simulação – as chapas são soldadas de acordo com os dados inseridos anteriormente.

Podem-se efectuar três tipos de simulações: simulação simples, simulações em conjunto e

optimizações automáticas;

Avaliação dos resultados – podem-se avaliar os resultados através dos: gráficos dos

parâmetros de controlo, animações do desenvolvimento do nugget de soldadura, distribuições

de temperaturas nos materiais, etc.

Os dados de cada simulação serão gravados de acordo com o especificado na etapa de preparação

[16].

II.5.3 APLICAÇÕES DO SOFTWARE

Ao permitir testar e optimizar os parâmetros de controlo do processo de soldadura, o design dos

componentes e a soldabilidade dos materiais sem realizar testes reais, é possível reduzir custos e

tempo no desenvolvimento de novas soluções. São apresentadas, de seguida, algumas aplicações

deste software:

Avaliação da soldabilidade de novos materiais e designs;

Optimização dos parâmetros de controlo do processo de soldadura;

Previsão da qualidade do ponto de soldadura e propriedades metalúrgicas na ZAC;

Manutenção de equipamentos;

Formação [16].

Este software será utilizado no trabalho com o âmbito de avaliar a soldabilidade de um novo design

dos eléctrodos para o processo de soldadura por resistência na variante de projecção, e dos

componentes a soldar.

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28

III. CARACTERIZAÇÃO DOS NOVOS MATERIAIS A INTRODUZIR NA CONSTRUÇÃO

DE CHASSIS DE FORNOS MICROONDAS

III.1 NOTA INTRODUTÓRIA

A apresentação dos diversos resultados da caracterização metalográfica e das respectivas

propriedades mecânicas e eléctricas será dividida nos vários ensaios realizados. O grupo de

materiais fornecido pela Gonvarri tinha a seguinte constituição:

Designação IST

Galvanizado 1 Chapa 1

Galvanizado 2 Chapa 2

Aluminizado 1 Chapa 3

Aluminizado 2 Chapa 4

Electrozincado Chapa 5

Designação Gonvarri

7094263 XSG 10/10

6247478 DX 51D+Z200

5744503 DX 51D+S120

7265090 DX 51D+S120

7381831 DC 01 ZE 25/25

Revestimento Superficial

Galvanizado Galvanizado Aluminizado Aluminizado Electrozincado

Espessura [mm]

0.6 0.6 0.5 0.5 0.8

Tabela 4 – Identificação e nomenclatura atribuída ao grupo de materiais fornecido pela Gonvarri-Portugal.

As condições técnicas normalizadas previstas para estes aços são descritas pela norma portuguesa

NP 10152 e pela norma europeia EN 10327. Segundo estas, as composições e características

mecânicas expectáveis dos materiais encontram-se na Tabela 5.

Material Norma Composição Química Propriedades Mecânicas

C Si Mn P S Ti σ0,2 [MPa] σMáx. [MPa] Amin [%]

XSG - - - - - - - - - -

DX 51 EN10327:2004 0.12 0.5 0.6 0.1 0.045 0.3 - 270/500 22

DC 01 EN10152:1998 0.12 - 0.6 0.045 0.045 - 140/280 270/410 28

Tabela 5 - Composição química e propriedades mecânicas expectáveis segundo as normas, do grupo de materiais fornecido pela Gonvarri-Portugal.

III.2 CARACTERIZAÇÃO METALOGRÁFICA

III.2.1 MORFOLOGIA SUPERFICIAL POR SEM E COMPOSIÇÃO QUÍMICA VIA EDS

O microscópio electrónico de varrimento (SEM) produz imagens de alta ampliação (até 300000x) e

resolução. As imagens fornecidas possuem um carácter virtual, uma vez que o que é visualizado no

monitor do aparelho é a transcodificação da energia dos electrões. O meio de transporte da

informação é determinante na ampliação e resolução que se pretende, na Figura 28 é representado

uma comparação da resolução (ρ) entre o microscópio óptico e o electrónico.

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29

Figura 28 - Comparação da resolução entre o microscópio óptico e o electrónico [17].

O princípio de funcionamento do SEM consiste na emissão de um feixe de electrões por um filamento

capilar de tungsténio (eléctrodo negativo), mediante a aplicação de uma diferença de potencial entre

o filamento e a amostra (eléctrodo positivo), que pode variar de 0,5 a 30 kV.

Variando a diferença de potencial altera-se a velocidade/energia com que os electrões embatem na

amostra. A correcção do percurso do feixe de electrões é realizada por lentes electromagnéticas

condensadoras que alinham o feixe em direcção à abertura da objectiva. A objectiva ajusta o foco do

feixe de electrões antes de estes atingirem a amostra a analisar.

Da interacção entre a amostra e o feixe de electrões resultam três tipos de sinais:

Electrões secundários, este tipo de sinal produz contraste topográfico. Como este tipo de

electrões provem da superfície da amostra, nas elevações a libertação de electrões é em

maior número dando origem a zonas mais claras enquanto depressões (menos electrões

secundários) são zonas mais escuras;

Electrões retrodifundidos, dão origem a informação qualitativa acerca dos elementos que

compõem a amostra (contraste químico: zonas claras elementos com número atómico alto,

zonas escuras com número atómico baixo);

Raios-X característicos, são fotões que resultam de transições electrónicas específicas de

cada elemento, fornecendo informação quantitativa acerca da composição química da

amostra. Este tipo de sinal pode ser captado por duas técnicas, WDS (Wavelenght Dispersive

Spectroscopy) e EDS (Energy Dispersive Spectroscopy).

O EDS é um acessório essencial na caracterização microscópica dos materiais. Quando o feixe de

electrões incide sobre a amostra, os electrões mais externos dos átomos e iões constituintes são

excitados, mudando de níveis energéticos. Ao retornarem para sua posição inicial libertam a energia

adquirida, a qual é característica do elemento e da transição, sob a forma de fotões.

Um detector instalado na câmara de vácuo do SEM mede a energia associada a esse fotão. Como os

fotões libertados de um determinado átomo possuem energias distintas, é possível, no ponto de

incidência do feixe, determinar quais os elementos químicos estão presentes naquele local e assim

identificar em pouco tempo que elemento está presente na amostra.

O diâmetro reduzido do feixe de electrões permite a determinação da composição em amostras de

tamanhos muito reduzidos permitindo uma análise química quase que pontual.

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30

- RESULTADOS OBTIDOS

O equipamento de microscopia electrónica de varrimento utilizado foi um SEM de emissão de campo

térmico da marca: JEOL, de modelo: JSM-7001F, que produz imagens de alta ampliação (até

300.000 X) e com uma resolução de 1.4nm.

Figura 29 – Microscópio FEG-SEM: JEOL 7001F com Oxford EDS detector e EBSD, utilizado nos ensaios realizados.

Foram retiradas imagens da superfície de cada uma das 5 chapas sendo bem visível a diferença na

topologia decorrente do tipo de revestimento utilizado. Desde o início que a análise morfológica

destacou a existência de cavidades na camada de revestimento superficial, que implicaram a análise

da composição química via EDS no interior das cavidades e nas zonas mais exteriores da camada de

revestimento superficial.

Chapa 1 – Galvanizado 1 Chapa 2 – Galvanizado 2

Chapa 3 – Aluminizado 1 Chapa 4 – Aluminizado 2 Chapa 5 - Electrozincado

Figura 30 – Imagens da topografia das amostras obtido por SEM.

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As composições químicas obtidas através da análise EDS são apresentadas em seguida.

Figura 31 - Zonas onde foram realizadas a análises por EDS na chapa 1, galvanizado 1.

Galvanizado 1

Cavidade [%pond.] Superfície [%pond.]

Elemento C O Al Zn Elemento C O Al Zn

Composição 23.50 1.48 0.67 74.35 Composição 14.12 1.25 0.55 84.09

Tabela 6 – Composição química obtida via EDS para a chapa 1, galvanizado 1.

Figura 32 - Zonas onde foram realizadas as análises por EDS na chapa 2, galvanizado 2.

Galvanizado 2

Cavidade [%pond.] Superfície [%pond.]

Elemento C O Al Cr Fe Zn Elemento C O Al Fe Zn

Composição 9.40 4.65 0.67 0.63 0.58 84.07 Composição 13.32 0.93 0.38 0.17 85.21

Tabela 7 – Composição química obtida via EDS para a chapa 2, galvanizado 2.

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32

Figura 33 - Zonas onde foram realizadas as análises por EDS na chapa 3, aluminizado 1.

Aluminizado 1

Cavidade [%pond.] Superfície [%pond.]

Elemento C O Al Si Cr Elemento C O Al Si

Composição 17.92 12.09 59.75 8.79 1.45 Composição 16.55 3.79 56.53 23.13

Tabela 8 – Composição química obtida via EDS para a chapa 3, aluminizado 1.

Figura 34 - Zonas onde foram realizadas as análises por EDS na chapa 4, aluminizado 2.

Aluminizado 2

Cavidade [%pond.] Superfície [%pond.]

Elemento C O Al Si Cr Elemento C O Al Si

Composição 32.83 5.10 60.69 1.00 0.38 Composição 26.92 1.15 70.85 1.08

Tabela 9 – Composição química obtida via EDS para a chapa 4, aluminizado 2.

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33

Figura 35 - Zonas onde foram realizadas as análises por EDS na chapa 5, electrozincado.

Electrozincado

Cavidade [%pond.] Superfície [%pond.]

Elemento C O P Fe Zn Elemento C O P Fe Zn

Composição 4.26 24.48 7.89 3.68 59.69 Composição 11.15 17.28 6.33 4.44 60.80

Tabela 10 – Composição química obtida via EDS para a chapa 5, electrozincado.

- ANÁLISE DE RESULTADOS

Da caracterização morfológica realizada à superfície dos diversos materiais via SEM é possível

concluir que existem nas chapas electrozincadas cavidades de dimensões relevantes resultantes da

forma como o revestimento “por agulhas” se orienta localmente. Nos revestimentos galvanizados a

dimensão das cavidades é relativamente menor do que nas electrozincadas e tem uma aparência

ondulada característica do banho em que é formada. No caso dos revestimentos aluminizados apesar

de mais uniforme do que os restantes revestimentos analisados existem pequenos poros

relativamente profundos.

Da análise química via EDS das superfícies e cavidades é possível observar maior quantidade de Zn

nos revestimentos galvanizados, relativamente aos electrozincados e que, tipicamente, o nível de Fe

aumenta e o Zn diminui nas cavidades. Também merece relevo a existência de vestígios de

elementos químicos (estranhos à composição do aço e do revestimento) que possivelmente são

resíduos de produtos do processo de limpeza, realizado na preparação da aplicação do revestimento

superficial.

III.2.2 ENSAIOS DE DUREZA E MICRODUREZA

A dureza é a propriedade característica dos materiais no estado sólido, que expressa a resistência a

deformações permanentes e está directamente relacionada com a força de ligação entre os átomos.

Este tipo de ensaios mecânicos é realizado com grande frequência devido aos seguintes factores:

Simplicidade e baixo custo – não é necessária a preparação de outro material e o

equipamento é relativamente pouco dispendioso;

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34

Ensaios não destrutivos – o material não é fracturado ou excessivamente deformado, sendo

apenas efectuada uma pequena impressão;

Outras propriedades mecânicas podem ser obtidas através dos ensaios de dureza, como a

tensão limite de elasticidade (Lei de Tabor).

O ensaio de dureza realizado foi o ensaio Vickers, que se caracteriza por um identador de base

piramidal com um ângulo de 136º entre as faces opostas. Os ensaios foram realizados num

equipamento Struers Duramin ½, cuja capacidade de medição é de 250µm para uma ampliação de

40x, e respectiva resolução de 0.01 µm.

Figura 36 – Equipamento utilizado e esquema do respectivo identador (pirâmide de diamante com um ângulo de 136° entre as fases opostas).

O objectivo final destes ensaios é obter uma relação entre a força aplicada e a área impressa no

material, estes valores são obtidos através da medição da diagonal para o ensaio Vickers.

Obviamente, quanto menor for a identação maior será a dureza do material.

- RESULTADOS OBTIDOS

Foram realizados dois tipos de ensaios, um ensaio de dureza HV1, ao qual corresponde uma força

aplicada de 9,807N e um ensaio de microdureza, HV03, de 2,942N. O tempo de identação foi igual

tanto num ensaio com no outro, mais concretamente 15s.

Figura 37 – Gráfico comparativo dos valores médios das durezas e microdurezas bem como os respectivos desvios

padrões dos materiais ensaiados.

83.3 86.2100.8

201.0

106.1

0,0

50,0

100,0

150,0

200,0

250,0

Dureza [HV1]

Valor médio

73.6 78.7100.4

125.3 117.9

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

120,0

140,0

160,0

Dureza [HV03]

Valor médio

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35

- ANÁLISE DE RESULTADOS

O nível de dureza Vickers pode ser estabelecido hierarquicamente para os três tipos de revestimento

da seguinte forma: a dureza obtida para o aço galvanizado é inferior à dos revestimentos

electrozincado e aluminizado, enquanto estes alternam entre si os valores mais altos.

III.2.3 MEDIÇÃO DA ESPESSURA DOS REVESTIMENTOS

A espessura dos revestimentos é uma condição importante tendo em conta a aplicação em vista para

estes materiais. Assim, após a recepção das chapas, foi-se verificar se os valores das espessuras

das chapas recebidas correspondiam aos valores mencionados nas respectivas normas de condições

técnicas de fornecimento deste tipo de materiais.

- RESULTADOS OBTIDOS

Para a realização deste ensaio utilizou-se um medidor de espessura, Elcometer 355, com uma

capacidade de resolução dos 0 aos 1500mm. A sua precisão é distinta consoante a gama de leitura,

assim entre:

Espessura do

revestimento [mm] Precisão [mm]

0 - 200 0.1

200 – 500 0.5

500 - 1500 1.0

Figura 38 – Equipamento utilizado na medição de espessuras dos revestimentos e gama de precisão.

Os valores obtidos neste ensaio são resultado do tratamento estatístico da medição nove vezes

consecutivas dos valores da espessura do revestimento.

Normas: *EN 10327:2004; **EN 10142; ***EN 10154;

****EN 10152:1998

Ensaio (Número de Medições = 9)

Média [µm]

Desvio Padrão [µm]

Valor Expectável [µm]

Intervalo Admissível [µm]

Chapa 1 10.5 3 7* [5;12] *

Chapa 2 10.9 1 - [13;14] **

Chapa 3 21.4 4.9 - [19;20] ***

Chapa 4 18.2 3.4 - [19;20] ***

Chapa 5 2.5 0.3 2.5 **** -

Tabela 11 – Valores da espessura do revestimento obtido para todas as amostras.

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36

- ANÁLISE DE RESULTADOS

Existem algumas discrepâncias entre as espessuras das camadas de revestimento do grupo de

materiais e o valor admissível, onde a maior ocorre no caso da chapa 2 com uma espessura cerca de

2 µm inferior ao mínimo especificado em norma. De uma forma geral a espessura da camada de

revestimento do aço aluminizado ( 20 µm) é maior que a espessura do aço galvanizado ( 10 µm) que

se apresenta superior a espessura do aço electrozincado ( 2.5 µm).

III.3 ENSAIO DE RESISTÊNCIA MECÂNICA

Num ensaio de tracção uniaxial é possível retirar informação sobre: módulo de elasticidade,

resiliência, tenacidade, tensão limite de elasticidade, tensão máxima, coeficiente de estricção, tensão

de fractura e extensões correspondentes.

Geralmente, o ensaio é realizado num provete de formas e dimensões padronizadas, para que os

resultados obtidos possam ser comparados/reproduzidos. O provete é colocado numa máquina de

ensaios que com velocidade de deformação constante aplica força na sua direcção axial, sendo

medidas as deformações correspondentes. Normalmente, o ensaio ocorre até a fractura do material.

Os pares de valor (deformação, força), obtidos no decorrer dos ensaios de tracção realizados, foram

tratados de forma adequada, para se poderem estabelecer as curvas de Tensão nominal (S) versus

Extensão nominal (e), e posteriormente transformados nas curvas de Tensão verdadeira (σ) versus

Extensão verdadeira (ε), com base nas relações estabelecidas em seguida:

1

1lnln1

00

0

0

00

0

eSlA

lF

A

F

el

l

l

dld

A

Fs

l

l

l

lle

(5)

Existem vantagens na utilização das tensões/extensões verdadeiras em detrimento das

tensões/extensões nominais:

As extensões verdadeiras são aditivas, enquanto as extensões nominais não o são;

A curva tensão verdadeira/extensão verdadeira é idêntica em tracção e em compressão;

A condição de incompressibilidade, característica da deformação plástica dos materiais

metálicos, pode escrever-se em termos do somatório das extensões verdadeiras,

0321

.

- RESULTADOS OBTIDOS

A partir das curvas de Tensão verdadeira (σ) versus Extensão verdadeira (ε), foram obtidos os

valores de tensão máxima, tensão limite de elasticidade e tenacidade na direcção de laminagem e na

direcção perpendicular a esta.

Para uma boa estimativa da tensão limite de elasticidade e do valor da tenacidade, as curvas Tensão

verdadeira (σ) versus Extensão verdadeira (ε), foram separadas nas suas componentes elástica e

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37

plástica, tendo então cada uma destas componentes, sido aproximada pelas leis de Hooke e de

Ludwik, respectivamente.

Figura 39 - Pormenor do extensómetro da máquina de ensaios de tracção.

Procede-se de seguida a uma análise comparativa para os dois grupos de materiais fornecidos pela

Gonvarri.

Figura 40 – Valores comparativos da tensão limite de elasticidade.

70.76

342.04391.98 389.96

178.85162.7

383.9 392.5 388.1

183.6

0

100

200

300

400

500

Galvanizado 1 Galvanizado 2 Aluminizado 1 Aluminizado 2 Electrozincado

Tensão Limite de Elasticidade [MPa]

Direcção de Laminagem Perpendicular à Direcção de Laminagem

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38

Figura 41 - Valores comparativos da tensão máxima.

Figura 42 - Valores comparativos da tenacidade.

- ANÁLISE DE RESULTADOS

Através dos resultados dos ensaios de tracção podemos constatar que o comportamento dos aços

aluminizados é diferente do comportamento dos aços revestidos com Zn. Nos gráficos da tensão

limite de elasticidade, é possível observar valores mais elevados na direcção perpendicular a

direcção de laminagem do que na direcção de laminagem. No que respeita a tensão máxima, o

material que apresenta o valor mais alto é o aço aluminizado. Os revestidos a zinco, não atingem

valores de tensão máxima tão elevados. Os valores de tenacidade apresentados pelos diferentes

materiais são muito próximos, no entanto o aço aluminizado apresenta valores mais baixos quando

comparado com os outros materiais. Os aços revestidos com zinco apresentam um comportamento

muito semelhante, com excepção da chapa 2, cuja resistência mecânica apresenta valores bem

próximos dos aluminizados.

295.5

493.3 508.7 511.1419.9413.1 483.6 514.3 505.4

421.8

0

100

200

300

400

500

600

Galvanizado 1 Galvanizado 2 Aluminizado 1 Aluminizado 2 Electrozincado

Tensão Máxima [MPa]

Direcção de Laminagem Perpendicular à Direcção de Laminagem

85.3 83.4 76.9 85.5116.3120.1 110.2

82.5 73.3

122.0

0

20

40

60

80

100

120

140

Galvanizado 1 Galvanizado 2 Aluminizado 1 Aluminizado 2 Electrozincado

Tenacidade [J/mm3]

Direcção de Laminagem Perpendicular à Direcção de Laminagem

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39

III.4 ENSAIO DE RESISTÊNCIA ELÉCTRICA DE CONTACTO

O aparelho de medição da resistência eléctrica de contacto funciona pelo método de Kelvin (alteração

à ponte de Wheatstone para medição de resistências de baixo valor). Este equipamento deve

trabalhar dentro da gama de temperatura entre os 0 e os 40°C, e a uma humidade relativa máxima de

80%, a que corresponderam as condições de ensaio deste trabalho.

Efectua medições em aproximadamente 0,5 segundos e utiliza uma pressão de trabalho de 4 bar. As

gamas de operação são dadas na Tabela 12.

Corrente imposta

Limite máximo da resistência a medir

1 mA 600 µΩ

10 mA 6 mΩ

100 mA 60 mΩ

1 A 600 mΩ

10 A 6 Ω

10 A 60 Ω

Figura 43 – Aparelho de medição de resistência de contacto.

Tabela 12 – Gama de operação do medidor de resistências de contacto.

Colocam-se as chapas entre dois eléctrodos de cobre (similares aos utilizados na soldadura por

resistência na variante por pontos). Os eléctrodos possuem um diâmetro de 15 mm num eixo, e são

truncados a 10 mm noutro. A pressão aplicada nos eléctrodos foi de 4 bar. Lateralmente, existem dois

contactos (opostos entre eles) que vão contactar a superfície de cada uma das chapas superior e

inferior (estes contactos encontram-se identificados na Figura 44 pelas setas a vermelho).

Figura 44 – Pormenor do ensaio de medição de resistências de contacto.

O valor de resistência medido é o da junção entre chapas (não entrando para o valor obtido a

resistividade das chapas envolvidas no contacto). Como curiosidade, este teste foi realizado nas

OGMA (Alverca), e está definido na norma de soldadura por resistência na variante por pontos da

empresa Lockeed.

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40

- RESULTADOS OBTIDOS

Para a realização deste ensaio utilizaram-se 6 pares de amostras de cada chapa para cada tipo de

condição. As condições que se impuseram foram: chapa original, ou seja, tal como nos foi fornecida

pela Gonvarri e chapa lixada superficialmente na zona de medição, com lixa de granulometria 600.

Avaliou-se ainda a resistência de contacto entre materiais em estado original, mas em que uma das

chapas do par tinha uma bossa enformada. A geometria das bossas enformadas tem uma altura

aproximadamente igual à das bossas enformadas pela Teka na produção dos seus chassis (cerca de

0.5mm). As geometrias consideradas para estas bossas foram uma semi-esférica e cónica.

Figura 45 – Prensa e matrizes utilizadas na enformação das bossas, com forma semi-esférica e cónica, utilizadas no ensaio de determinação da resistência de contacto do grupo de materiais.

Não lixado

[μΩ] Lixado

[μΩ] Bossas Cónicas

[μΩ] Bossas Semi-Esféricas

[μΩ]

Chapa 1 (galvanizado 1)

21.88 2.08 17.98 11.25

Chapa 2 (galvanizado 2)

552.57 1.15 570 142.25

Chapa 3 (aluminizado 1)

809.14 204.59 112.63 59.55

Chapa 4 (aluminizado 2)

685.29 74.44 89.8 32.4

Chapa 5 (electrozincado)

3185 62.27 2138.5 522.5

Tabela 13 - Valores médios das resistências de contacto medidas em todas as diversas condições.

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41

Figura 46 – Gráfico dos valores médios das resistências de contacto medidas em todas as diversas condições.

Figura 47 – Gráfico dos valores médios das resistências de contacto entre chapas planas, no estado original.

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

Galvanizado 1 Galvanizado 2 Aluminizado 1 Aluminizado 2 Electrozincado

Resistência de contacto [µΩ]

Não lixado Lixado Bossas Cónicas Bossas Esféricas

21.9

552.6809.1 685.3

3185.0

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

Galvanizado 1 Galvanizado 2 Aluminizado 1 Aluminizado 2 Electrozincado

Resis

tên

cia

elé

ctr

ica [

µΩ

]

Resistência de contacto entre chapas planas

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42

Figura 48 – Gráfico dos valores médios das resistências de contacto com bossa semi-esférica, no estado original.

- ANÁLISE DE RESULTADOS

Todas as resistências eléctricas medidas sob diferentes condições superficiais para os três tipos de

revestimentos foram coerentes. As interfaces entre materiais com revestimento galvanizado

apresentam uma resistência eléctrica significativamente inferior, com excepção, mais uma vez, da

chapa 2, cujos valores se aproximam dos revestimentos aluminizados.

11.3

142.3

59.632.4

522.5

0

100

200

300

400

500

600

Galvanizado 1 Galvanizado 2 Aluminizado 1 Aluminizado 2 Electrozincado

Resis

tên

cia

elé

ctr

ica [

µΩ

]

Resistências de contacto entre chapas com bossas esféricas

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43

IV. DESENVOLVIMENTO DE UMA NOVA FERRAMENTA PARA A SOLDADURA DOS

CHASSIS

O conteúdo das páginas 43 a 56 não pode aqui ser reproduzido por se tratar de informação

confidencial abrangida pelo dever de sigilo.

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57

V. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL NUMÉRICA

O conteúdo das páginas 57 a 76 não pode aqui ser reproduzido por se tratar de informação

confidencial abrangida pelo dever de sigilo.

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77

VI. FERRAMENTA GISTEKA

VI.1 NOTA INTRODUTÓRIA

A ferramenta GISTeka foi produzida de acordo com os conceitos apresentados no capítulo IV, e

seguindo os elementos dos desenhos técnicos de conjunto e fabrico (incluindo acabamentos e

tolerância geométricas) que se encontram no Anexo 1.

Neste capítulo destaca-se a apresentação dos resultados dos ensaios mecânicos realizados sobre o

protótipo produzido.

A avaliação de funcionalidade do conceito que serve de tese deste projecto, ou seja, a uniformização

da carga aplicada, foi testada do ponto de vista mecânico. Embora a inovação inerente neste conceito

seja do funcionamento mecânico, a avaliação de funcionamento eléctrico e mecânico era desejável.

No entanto, os equipamentos de soldadura disponíveis no IST não permitiam atingir os níveis de

corrente eléctrica necessária (cerca de 6 kA x 7 eléctrodos = 42 kA) para aplicar na simulação da

aplicação da ferramenta GISTeka. Desta forma a avaliação de funcionalidade eléctrica ficará de ser

realizada nas instalações da empresa fabricante dos chassis dos fornos microondas.

VI.2 ESQUEMA DE MONTAGEM / DESMONTAGEM DA FERRAMENTA

O conteúdo das páginas 77 a 79 não pode aqui ser reproduzido por se tratar de informação

confidencial abrangida pelo dever de sigilo.

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79

VI.3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL DOS ENSAIOS DE CARGA

Com o intuito de averiguar a funcionalidade mecânica do conceito do novo sistema de uniformização

da carga aplicada pelos diferentes eléctrodos, tese que sustentou o desenvolvimento deste projecto,

realizaram-se ensaios de carga com monitorização da força por via de uma célula de carga comercial

com avaliação digital de marca: Tecna; Modelo: Force analizer TE1460; com capacidade de medição

de força máxima de 2000 daN e precisão: +/-1% da força máxima (20 daN).

A aplicação da carga de aperto foi realizada com uma máquina de soldadura por resistência (marca

Tecna; modelo: Resistance welder) programada para funcionar sem aplicação de corrente eléctrica.

Efectuaram-se diversos ensaios testando a força aplicada por cada eléctrodo a diversas alturas.

Figura 49 – Célula de carga utilizada nos ensaios.

Figura 50 – Barra receptora da força aplicada pelos eléctrodos com suporte/encaixe da célula de carga, de forma possível de posicionar sob

todos os eléctrodos.

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80

De modo a realizar o ensaio com a ferramenta, foi necessário desenvolver uma barra auxiliar que

permitisse a colocação do equipamento de medição (célula de carga) junto do eléctrodo a testar, sem

alterar o funcionamento dos eléctrodos adjacentes. Foi então fabricada uma barra que permite o

encosto de todos os eléctrodos da ferramenta quando aplicada a carga (ver Figura 50). O desenho de

fabrico da barra auxiliar encontra-se no Anexo 1.

Figura 51 – Aparato experimental do ensaio de carga à ferramenta GISTeka.

A ferramenta GISTeka foi colocada sobre uma plataforma de alumínio que permitia a ligação da

ferramenta por meio de dois parafusos M12 à plataforma de fixação inferior. A barra auxiliar contendo

a célula de carga foi então colocada sobre os eléctrodos individualmente, sendo a carga aplicada pela

plataforma de fixação superior sobre a barra auxiliar (ver Figura 51 e Figura 52).

Figura 52 – Pormenores da preparação experimental dos ensaios de carga.

- ESTABELECIMENTO DA RELAÇÃO PRESSÃO-FORÇA APLICADA PELA MÁQUINA DE SOLDADURA

Porque no equipamento de soldadura a aplicação da força de aperto é realizada por via da prescrição

do parâmetro de pressão, houve necessidade de determinar a relação entre a pressão aplicada pela

máquina de soldadura e as forças aplicada na célula de carga (sem presença da ferramenta

GISTeka). Para tal, utilizou-se a célula de carga e a barra auxiliar referidas anteriormente, bem como,

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81

dois blocos de madeira dispostos como exemplificado na Figura 53, de modo a permitir uma completa

transmissão à célula de carga da força aplicada por parte da máquina de soldadura.

Figura 53 – Preparação da máquina de soldadura para a determinação da relação pressão-força.

Pressão aplicada pela

máquina [bar]

Força medida na célula de

carga [N]

Média do valor de

força [N]

0.5

2660

2734

2840

2710

2640

2840

2760

2690

1

3700

3803

3770

3800

3870

3780

3910

3790

1.1

4010

4057

4040

4100

4130

4050

4060

4010

1.2

4420

4340

4320

4310

4310

4340

4330

4350

Tabela 14 – Relação pressão-força da máquina de soldadura.

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82

De acordo com as simulações efectuadas a força de aperto a utilizar durante o ciclo de soldadura

seria de 600 N por eléctrodo, o que perfaz uma força total a aplicar na ferramenta de 4200 N.

Analisando os resultados obtidos pela célula de carga foi decidido usar uma pressão de 1.2 bar na

máquina de soldadura, uma vez que esta é a mais próxima da força de aperto obtida através da

simulação numérica (ver Capítulo V).

VI.4 RESULTADOS OBTIDOS

No decorrer dos ensaios adoptou-se para o eléctrodo em teste quatro posições diferentes: com os

eléctrodos todos alinhados (Δh = 0); com uma altura adicional para o eléctrodo em teste de 1.2 mm

(Δh = 1.2); com uma altura adicional de 2 mm (Δh = 2) e com uma altura adicional de 2.4 mm (Δh =

2.4). Desta forma, foram medidas as forças desenvolvidas em todos os eléctrodos, alinhados e

desalinhados, sendo para cada condição realizadas 3 medições (para efeito de análise estatística).

Os resultados obtidos encontram-se na Tabela 15 e Figura 54.

Força registada nos eléctrodos [N] Força total

experimental [N]

Nº do eléctrodo

1 2 3 4 5 6 7

Δh = 0

575 558 597 571 571 573 576 4040

569 568 583 582 575 578 579 4110

568 572 572 600 582 597 579 4040

Valor médio 571 566 584 584 576 583 578 4063

Δh = 1.2

585 580 574 579 578 607 605 4110

593 594 592 562 587 602 599 4130

579 595 591 574 586 608 577 4100

Valor médio 586 590 586 572 584 606 594 4113

Δh = 2

576 569 600 575 579 588 587 4090

581 599 595 577 587 613 593 4130

583 592 594 578 588 592 596 4140

Valor médio 580 587 596 577 585 598 592 4120

Δh = 2.4

564 588 562 597 577 599 591 4070

585 610 585 592 593 615 613 4130

560 612 579 611 574 602 580 4110

Valor médio 570 603 575 600 581 605 595 4103

Tabela 15 – Valores registados nos ensaios de carga para as quatro posições do eléctrodo em teste.

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Figura 54 – Gráficos comparativos dos valores da força de aperto a diferentes alturas de funcionamento.

VI.5 ANÁLISE DE RESULTADOS

Observando os resultados obtidos nos diferentes ensaios constata-se que:

Analisando os ensaios individualmente, a força aplicada por cada eléctrodo é uniforme.

Tomando na pior situação uma diferença, entre os valores máximos e mínimos de força, igual

a 36 N o que em percentagem equivale a cerca de 6% para um Δh de 2.4 mm. Na melhor

situação apresenta uma diferença de 18 N, equivalendo em percentagem a 3%, para o caso

em que os eléctrodos se encontram todos alinhados (Δh=0). Tais diferenças são

desprezáveis pois estão totalmente dentro da precisão da célula de carga e devem-se

também aos meios de ensaio, pois a aplicação da força por parte da máquina de soldadura

apresentou uma variação máxima de 110 N para a pressão utilizada;

Analisando os resultados os resultados obtidos para cada eléctrodo, a força aplicada nas

diferentes posições de teste é também uniforme. Tomando no pior caso, valores de variação

máxima da força de aperto de 37 N, ou seja de 6%, para o eléctrodo 2 e na melhor situação

de 9 N, equivalendo a 1%, para o eléctrodo 5;

Desta forma é possível concluir que o conceito de funcionamento da ferramenta GISTeka,

segue a tese que suporta este projecto, ou seja, a contribuição para a uniformização das

forças aplicadas pelos múltiplos eléctrodos.

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VII. CONCLUSÕES

De entre as diversas conclusões que foram sendo estabelecidas ao longo deste relatório, que reflecte

o resultado das tarefas de investigação e desenvolvimento no âmbito do presente trabalho,

destacam-se as seguintes:

As dificuldades de soldabilidade por resistência dos novos materiais que se pretendem

introduzir na produção dos chassis dos fornos microondas (aços galvanizados e

electrozincados), está principalmente associada com o facto da resistência eléctrica de

interface entre as chapas ser muito baixa quando comparada com a existente nos aços

inoxidáveis. Este facto é principalmente crítico para os revestimentos galvanizados;

De entre as chapas galvanizadas fornecidas pela Gonvarri, como potenciais materiais a

fornecer ao seu cliente Teka para o fabrico dos chassis dos fornos microondas, o material

com a designação: 6247478 - DX 51D+Z200, apresentou o melhor potencial de utilização, ou

seja, a maior resistência eléctrica de interface entre as chapas;

Foi desenvolvido um conceito de ferramenta para contribuir para a melhoria de soldabilidade

por resistência dos novos materiais que se pretendem introduzir na produção dos chassis dos

fornos microondas (aços galvanizados e electrozincados), que uniformiza a força de aperto

entre as chapas aplicada nos diferentes pontos de soldadura, minimizando a influência dos

baixos valores de resistência eléctrica de interface entre as chapas. Ao novo sistema de

funcionamento dos eléctrodos foi atribuído o acrónimo GISTeka;

Foi produzido um protótipo do novo sistema de funcionamento dos eléctrodos - ferramenta

GISTeka;

O conceito subjacente ao funcionamento da ferramenta GISTeka, e que serviu de principal

tese neste trabalho, foi testado com êxito do ponto de vista de funcionalidade mecânica;

A simulação computacional do processo de soldadura por resistência na variante de

projecção, ou por bossas, foi realizada com base nas propriedades físicas e metalúrgicas

determinadas experimentalmente, nas características geométricas da nova ferramenta

GISTeka e das chapas em aço galvanizado 6247478 - DX 51D+Z200, sendo o

desenvolvimento dos parâmetros da análise realizado com base em valores obtidos

experimentalmente sob condições reais. Foi possível encontrar um grupo de parâmetros que

permitiu obter juntas soldadas com condições aceitáveis.

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VIII. DESENVOLVIMENTOS FUTUROS

Face ao trabalho desenvolvido, seria interessante como desenvolvimento futuro, abordar algumas

questões importantes em áreas particulares, tais como:

Na implementação das soluções em ambiente industrial, avaliar a funcionalidade eléctrica,

térmica e mecânica da ferramenta acoplada, a precisão e estanquicidade dos vedantes

utilizados e executar de alinhamento das chapas nos eléctrodos;

Introduzir melhorias ao conceito desenvolvido neste trabalho, nomeadamente, na posição do

furo de purga e no sistema de refrigeração dos eléctrodos;

Avaliação da eficiência de funcionamento do sistema (resistência mecânica, metalúrgica e

reprodutibilidade) e comparação com a solução actualmente utilizada;

Análise financeira de todo o conceito desenvolvido;

Aplicação deste novo conceito nas restantes estações de soldadura na linha de produção dos

chassis dos fornos microondas.

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ANEXOS

ANEXO 1 – DESENHOS DE FABRICO DOS COMPONENTES DA FERRAMENTA GISTEKA

O conteúdo das páginas 88 não pode aqui ser reproduzido por se tratar de informação confidencial

abrangida pelo dever de sigilo.

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ANEXO 2 – RESULTADOS DE SOLDABILIDADE FINAIS OBTIDOS NO SORPAS®

O conteúdo das páginas 89 a 96 não pode aqui ser reproduzido por se tratar de informação

confidencial abrangida pelo dever de sigilo.