41
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE PRAIAL DE PIRANGI DO NORTE (PARNAMIRIM-RN), COM ÊNFASE NA ANÁLISE GRANULOMÉTRICA DO SEDIMENTO Lucas Felipe dos Santos NATAL, RN. Maio, 2016.

CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE PRAIAL DE … · e classificados de acordo com a escala granulométrica de Wentworth (1922). A medição da

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL

CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE PRAIAL DE

PIRANGI DO NORTE (PARNAMIRIM-RN), COM

ÊNFASE NA ANÁLISE GRANULOMÉTRICA DO

SEDIMENTO

Lucas Felipe dos Santos

NATAL, RN.

Maio, 2016.

i

Lucas Felipe dos Santos

CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE PRAIAL DE

PIRANGI DO NORTE (PARNAMIRIM-RN), COM

ÊNFASE NA ANÁLISE GRANULOMÉTRICA DO

SEDIMENTO

Orientadora: Profa. Dra. Maria Christina de Araújo

NATAL, RN.

Maio, 2016.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Universidade Federal do Rio Grande do Norte como

parte dos requisitos para a obtenção do título de

Engenheiro Ambiental.

ii

Lucas Felipe dos Santos

CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE PRAIAL DE

PIRANGI DO NORTE (PARNAMIRIM-RN), COM

ÊNFASE NA ANÁLISE GRANULOMÉTRICA DO

SEDIMENTO

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________

Dra. Maria Christina de Araújo - Orientadora

______________________________________________________

Dra. Karina Patrícia Vieira Cunha

______________________________________________________

Dra. Jacqueline Santos Silva-Cavalcanti

iii

Catalogação da publicação na fonte.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Biblioteca Central Zila Mamede

Santos, Lucas Felipe dos.

Caracterização do ambiente praial de Pirangi do Norte (Parnamirim-RN), com ênfase na análise

granulométrica do sedimento / Lucas Felipe dos Santos. – Natal, RN, 2016.

40 f: il.

Orientadora: Maria Christina de Araújo..

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Tecnologia,

Departamento de Engenharia Civil.

1. Engenharia ambiental – Monografia. 2. Sedimentos – Monografia. 3. Granulometria –

Monografia. 4. Impacto ambiental – Avaliação – Monografia. 5. Pirangi do Norte, Praia de (RN) –

Monografia. 6. Praias – Parmamirim (RN) – Monografia. I. Araújo, Maria Christina de. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 627

iv

AGRADECIMENTOS

À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sua estrutura, seu corpo docente,

técnicos administrativos e demais funcionários por contribuírem na minha formação.

Ao Departamento de Oceanografia e Limnologia, por disponibilizar o Laboratório

de Oceanografia Costeira para analises das amostras coletas.

À minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Maria Christina Barbosa de Araújo, pela paciência,

pela disponibilidade, pelo suporte, pela motivação e acompanhamento direto em todas as

etapas que permitiram o desenvolvimento desse trabalho.

A Prof.ª Dr.ª Jacqueline Santos Silva-Cavalcanti por ter participado da banca que

avaliou o projeto inicial desse trabalho, como também por fazer parte da atual banca com

suas contribuições.

A Vice coordenadora do Curso de Engenharia Ambiental Prof.ª Dr.ª Karina Patrícia

Vieira Cunha pela participação da banca que avaliou o projeto inicial desse trabalho, como

também por fazer parte da atual banca com suas contribuições.

As estagiarias do Laboratório Oceanografia Costeira, Julia e Shirley, pela ajuda e

suporte nas coletas em campo quanto nas analises em laboratório, que permitiram agilidade

e eficiência na apuração de dados para o trabalho.

Aos meus colegas e amigos(as) da minha turma de Graduação, pelo

companheirismo, encontros e amizade durante o período de curso, em especial a Carlos

Alberto e Herika Cavalcante por me ajudarem na coleta de dados para o trabalho.

As minhas amigas Maria Gabriela e Fernanda Rego, pela ajuda na coleta de dados

em campo, pela amizade, pelo apoio e incentivo durante o período de graduação.

A Minha família, Ana Cristina Felipe e Paulo Roberto dos Santos, meus pais, pelo

exemplo, pela criação, pela educação, pelo incentivo e amor sempre, que fazem com que

eu e meu irmão, Pedro Felipe dos Santos, estejamos em busca de ser pessoas/profissionais

melhores no que fazemos na vida.

Aos meus familiares, em especial aos primos Tobias e Daniel dos Santos, pela

ajuda em todo o período de coletas de dados.

A Deus Por ter me dado paz, tranquilidade, saúde e sabedoria durante toda minha

graduação.

v

SUMÁRIO Pág.

1. INTRODUÇÃO 1

2. OBJETIVOS 2

2.1 Objetivo geral 2

2.2 Objetivos específicos 2

3. MATERIAIS E MÉTODOS 2

3.1 Descrição de Área 2

3.2 Material e métodos 5

3.2.1 Determinação da largura do ambiente praial emerso 5

3.2.2 Análise granulométrica 6

3.2.3 Caracterização da praia em relação a aspectos naturais e

antrópicos

7

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 9

4.1 Largura do ambiente praial emerso 9

4.2 Análise granulométrica 10

4.3 Caracterização da praia em relação a aspectos naturais e

antrópicos

16

4.3.1 Aspectos naturais 16

4.3.2 Aspectos antrópicos 20

5. CONCLUSÕES 26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 27

vi

LISTA DE FIGURAS Pág.

Figura 1: Localização da área de estudo e dos 10 pontos de coleta de

sedimento. Cada ponto representa também o limite final de cada

um dos 10 trechos analisados.

3

Figura 2: Foz do Rio Pirangi. (Fonte: http://natalonline.com/litoral-

sul/pirangi)

4

Figura 3: Cajueiro de Pirangi. (Fonte: http://natalonline.com/litoral-

sul/pirangi)

5

Figura 4: Piscinas naturais, conhecidos como "Parrachos de Pirangi".

(Fonte:http://natalonline.com/litoral-sul/pirangi)

5

Figura 5: Diagrama simplificado do ambiente praial emerso (pós-praia +

estirâncio), onde foram efetuadas as medições.

6

Figura 6: Variação de largura do ambiental praial emerso entre os pontos

amostrais.

10

Figura 7: Ambiente praial com largura > 100m na maré baixa em Pirangi

do Norte. Foto: Lucas Santos

10

Figura 8: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi

do Norte em novembro/2015.

11

Figura 9: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi

do Norte em dezembro/2015.

11

Figura 10: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi

do Norte em janeiro/2016.

12

Figura 11: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi

do Norte em fevereiro/2016.

12

Figura 12: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi

do Norte em março/2016.

12

Figura 13: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi

do Norte em abril/2016.

13

Figura 14: Percentual da fração fina (silte + argila) para a praia de Pirangi

do Norte ao longo dos meses de amostragem.

13

Figura 15: Representação gráfica da análise granulométrica (fração areia)

para a praia de Pirangi do Norte.

14

vii

Figura 16:

Declividade acentuada, com formação de berma nas imediações

dos trechos 7 e 8 em Pirangi do Norte. A: visão superior.

B:visão Inferior.Fotos: Lucas Santos.

15

Figura 17: Representação gráfica dos parâmetros naturais avaliados para a

praia de Pirangi do Norte.

17

Figura 18: Recifes no ambiente praial de Pirangi do Norte. A: sul da praia;

B: norte da praia.

18

Figura 19: Cobertura vegetal presente na praia de Pirangi do Norte. A:

Trecho 2. B: Cordão dunar ao norte. Foto: Lucas Santos

19

Figura 20: Representação gráfica dos parâmetros antrópicos avaliados para

a praia de Pirangi do Norte.

21

Figura 21: Tubulações com descarga de água servida na areia da praia em

Pirangi do Norte. A: Trecho 5. B: Trecho 6.

22

Figura 22: Acúmulo de lixo na praia de Pirangi do Norte. A: Trecho 3. B:

Trecho 4

23

Figura 23: Ocupação do ambiente praial em Pirangi do Norte. A/B:

Ocupação da pós-praia e estirâncio. C: Ocupação acima da pós-

praia.

24

Figura 24: A: Uso da praia de Pirangi do Norte aos domingos. B: Atividade

comercial. Fotos: Lucas Santos

25

viii

LISTA DE TABELAS Pág.

Tabela 1: Escala de Wentworth (1922) para análise granulométrica de

sedimentos.

7

Tabela 2: Parâmetros utilizados para avaliação de aspectos naturais e

antrópicos na praia de Pirangi do Norte, com base em Araújo e

Costa (2008).

8

ix

RESUMO

A zona costeira é um dos ambientes mais complexos da natureza, com alta hidrodinâmica.

Praias turísticas são muito utilizadas para o lazer e os usuários estão cada vez mais

exigentes em relação à qualidade dos recursos e a infraestrutura disponível. Pirangi do

Norte (Parnamirim-RN), está localizada perto do rio Pirangi (23km de Natal). O estudo

teve como objetivo caracterizar a praia de Pirangi, com ênfase na análise granulométrica

dos sedimentos. A amostragem foi realizada de novembro de 2015 a abril de 2016. Um

total de 120 amostras de sedimentos foram coletadas em 10 locais perpendiculares à costa,

e classificados de acordo com a escala granulométrica de Wentworth (1922). A medição da

praia foi realizada nos mesmos locais em dois períodos de maré (2,7 e -0,1). Também foi

realizada a caracterização da praia em 10 trechos com aproximadamente de 200m cada um,

onde doze parâmetros foram avaliados. Cada um dos parâmetros foi avaliado com base em

uma escala de atributos que vão desde a pior (1) para a melhor (3) qualidade. Os resultados

mostraram que a granulometria dos sedimentos variou principalmente de areia fina a

média. A praia de Pirangi tem uma largura média de mais de 100m na maré baixa, e não

tem nenhuma evidência de erosão costeira. Em relação aos parâmetros avaliados, as

melhores condições ocorreram nos extremos sul e norte da praia. Os principais problemas

observados na praia são a falta de vegetação, a poluição por resíduos sólidos e águas

residuais e a alta atividade comercial em alguns lugares, especialmente nos trechos centrais

da praia. Este trabalho pode ser útil para o planejamento ambiental da praia de Pirangi.

Palavras chave: praias turísticas; análise granulométrica; avaliação ambiental.

x

ABSTRACT

The coastal zone is one of the most complex environments in nature, with high

hydrodynamic. Tourist beaches are heavily used for recreation and users are increasingly

demanding regarding the quality of resources and the available infrastructure. Pirangi do

Norte beach (Parnamirim - RN), is located near to Pirangi river (23km far from Natal).

The study aimed to characterize the Pirangi beach with emphasis on particle size analysis

of the sediment. Sampling took place from November 2015 to April 2016. A total of 120

sediment samples were collected at 10 sites perpendicular to the coast, and classified

according to the particle size range of Wentworth (1922). Measuring of the beach it was

held in the same locations in two periods of tide (2.7 and -0.1). It was also carried out the

beach characterization in 10 stretches of approximately 200m each, where twelve

parameters were assessed. Each of parameters was assessed based on an attribute scale

ranging from the worst (1) to the best (3) quality. The results showed that the sediment

grain size distribution from Pirangi beach ranged mainly from fine to medium sand. The

beach has an average width of over 100m at low tide, and has no evidence of coastal

erosion. Regarding the evaluated parameters, the best conditions occur in the extreme

south and north. The main problems observed on the beach are the lack of vegetation,

pollution from solid waste and sewage and high commercial activity in some places,

especially in the central stretches of beach. This work may be useful for the environmental

planning of the Pirangi beach.

Keywords: tourist beaches; particle size analysis; environmental assessment.

1

1. INTRODUÇÃO

O território brasileiro apresenta uma extensa faixa litorânea com aproximadamente

7,4 mil km (PORTAL BRASIL, 2015),compreendendo as regiões Norte, Nordeste, Sudeste

e Sul, com planícies costeiras e praias arenosas oceânicas, ambientes de formação

geológica recente e de grande vulnerabilidade, distribuídos ao longo da costa.

A zona costeira brasileira é uma área privilegiada do território nacional por sua

diversidade de praias e paisagens, principalmente quando se refere a seus recursos naturais

e econômicos (QUINAMO et al, 2013). Por conta desses atrativos torna-se uma região

bastante habitada, pois aproximadamente 39 milhões de habitantes (23,43%) da população

brasileira ocupam esta área (STROHAECKER, 2007).

A zona costeira é uma região onde ocorre o encontro do continente com o mar,

constituindo uma zona de fronteira sujeita a constantes alterações morfodinâmicas,

modelada por processos marinhos e continentais. Apresenta grande variabilidade temporal

e espacial, comportando-se como um sistema ambiental instável, desde o passado remoto

até os dias atuais, em função de uma série de processos continentais e marinhos, dos quais

em sua maioria controlados por fatores meteorológicos. Esses processos, na formação de

distintos tipos de costa, englobam movimentos tectônicos ao longo das margens

continentais, oscilações do nível do mar e dinâmica erosiva e deposicional associada à ação

de ondas, marés, correntes e, também, à ação fluvial e eólica (LIMA et al, 2006).

As praias, setores que compõem a zona costeira (LIMA et al, 2006), constituem

sistemas dinâmicos, em que elementos básicos como ventos, água e areia interagem,

resultando em processos hidrodinâmicos e deposicionais. A morfologia dos perfis praiais

em uma determinada região, é função do nível energético das ondas, uma vez que essa

energia é liberada nas zonas costeiras (SILVA & ADORNO, 2011). Os ambientes praiais

apresentam-se como depósitos de sedimentos inconsolidados não vegetados, comumente

de granulometria areia, que se estendem desde a linha de baixa-mar até alguma feição

geomorfológica, como: dunas, falésias ou qualquer estrutura desenvolvida pelo homem

(JESUS, 2013).

As praias apresentam uma importância socioeconômica muito grande, como por

exemplo: o turismo, lazer para população, como também sua alta dinâmica sedimentar e

morfológica, que é responsável pelo amortecimento da energia hidráulica, processo esse

que protege a região costeira (QUINAMO et al, 2013). Nenhum outro ambiente natural

recebe maior número de visitantes do que praias, nem suporta tantas atividades

2

simultaneamente. O uso recreacional de uma praia pode provocar tanto efeitos diretos

quanto indiretos nas condições da mesma. Por causa disso, existe uma contínua

necessidade de informações acerca desses supervalorizados ambientes, objetivando seu

controle e conservação. Esses fatores vêm motivando diversas pesquisas buscando um

melhor entendimento/conhecimento das características desses ambientes, a fim de se ter

uma utilização racional e preservação dos mesmos.

A praia de Pirangi do Norte é considerada um dos principais pontos turísticos do

litoral sul do Rio Grande do Norte, sendo intensamente utilizada praticamente durante todo

o ano. Como toda praia turística, sofre a ação da intensa atividade antrópica, o que justifica

a importância do conhecimento de suas características naturais e de uso, a fim de subsidiar

um melhor planejamento.

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Caracterizar o ambiente praial de Pirangi do Norte (Parnamirim-RN), com ênfase

na análise granulométrica do sedimento.

2.2 Objetivos específicos

Analisar a granulometria dos sedimentos do ambiente praial emerso (pós-

praia e estirâncio);

Determinar a variação de largura do ambiente praial emerso (em marés de

sizígia), ao longo da praia durante o mês de março de 2016;

Avaliar a praia em relação a alguns aspectos naturais e antrópicos.

3. METODOLOGIA

3.1 Descrição de Área

A pesquisa foi realizada na praia de Pirangi do Norte (Figura 1), pertencente ao

município de Parnamirim, litoral sul do estado do Rio Grande do Norte, distante cerca de

23km da capital (Natal), cujo acesso se dá através da Rota do Sol (BR – 063).

3

Figura 1: Localização da área de estudo e dos 10 pontos de coleta de sedimento. Cada

ponto representa também o limite final de cada um dos 10 trechos analisados.

4

A faixa de praia de Pirangi do Norte apresenta um comprimento de

aproximadamente 2.300m entre as coordenadas 5°57’53,20”S / 35°08’01,66”O e

5°58’51,81”S / 35°07’16,85”O (Figuras 1 e 2).A Bacia do rio Pirangi caracteriza-se por

uma extensão relativamente pequena, tendo a rede hidrográfica formada pelos rios

Pitimbu, Taborda, Mendes, Pium, Água Vermelha e Pirangi (SEMARH, 2016).

Figura 2: Foz do Rio Pirangi. (Fonte: http://natalonline.com/litoral-sul/pirangi)

A área apresenta clima tropical chuvoso com verão seco e estação chuvosa se

adiantando para o outono. Composta de Formação Barreiras, a qual é distribuída ao longo

da extensa faixa litorânea, é também formada por vários Depósitos Sedimentares

Marinhos, característicos de sedimentos arenosos muito selecionados, de granulometria

fina e média, de cor branca ou creme, que aparecem na faixa de praia. (CAMPOS, 2015).

Além disso, é evidente o processo de aporte de sedimento trazido pelo Rio Pirangi,

depositado ao longo da faixa litorânea.

Pirangi do Norte caracteriza-se como uma praia de veraneio por ter uma alta

concentração de casas para este fim, ocupadas nos períodos de alta estação. Como também

turística por apresentar atrativos para essa atividade como: O maior Cajueiro do Mundo

principal ponto turístico, cobrindo uma área de aproximadamente 8500m2 (Figura 3).

Como outra opção de atrativo turístico são as piscinas naturais formadas nos arrecifes

(arenitos), popularmente conhecidas como “Parrachos de Pirangi” (Figura 4), localizados a

300 metros da costa e visitados durante a maré baixa (DIAGNÓSTICO DE TURISMO DA

PONTA DE PIRANGI/RN, 2011).

5

Figura 3: Cajueiro de Pirangi. (Fonte: http://natalonline.com/litoral-sul/pirangi)

Figura 4: Piscinas naturais, conhecidos como "Parrachos de Pirangi".

(Fonte:http://natalonline.com/litoral-sul/pirangi)

3.2 Material e métodos

3.2.1 Determinação da largura do ambiente praial emerso

A medição do ambiente praial emerso (pós-praia e estirâncio) (Figura 5), foi

realizada nos dias 9 e 10 de março de 2016 em marés de sizígia (-0,1 e 2.7m), nos mesmos

pontos utilizados para coleta de sedimento, considerando-se como limite superior

estruturas construídas ou vegetação e como limite inferior a linha d’água.

6

ESTIRÂNCIO

maré baixamaré alta

PÓS-PRAIA

ANTEPRAIA

medição do ambiente praial emerso

Figura 5: Diagrama simplificado do ambiente praial emerso (pós-praia + estirâncio), onde

foram efetuadas as medições.

3.2.2 Análise granulométrica

A coleta de sedimento foi realizada mensalmente durante o período de Novembro

de 2015 a Abril de 2016, em 10 pontos ao longo da praia (Figura 1). Em cada ponto foram

coletadas 2 amostras perpendiculares em relação à linha d'água (uma na região de pós-

praia e outra no estirâncio médio), totalizando 120 amostras. As amostras foram

acondicionadas em sacos plásticos e devidamente etiquetadas.

No Laboratório de Oceanografia Costeira do Depto. de Oceanografia e Limnologia

(DOL), os sedimentos passaram pelos procedimentos iniciais de secagem em estufa à

temperatura de 60°C, e posterior quarteamento. Em seguida foi separada uma amostra de

100g para realização do peneiramento úmido com separação das frações finas (silte e

argila). À seguir, o restante da amostra foi seca e submetida a peneiramento à seco para

distribuição em classes granulométricas segundo Wentworth (1922) (Tabela 1).

7

Tabela 1: Escala de Wentworth (1922) para análise granulométrica de sedimentos.

INTERVALO GRANULOMÉTRICO (MM) NOME

>256 Matacão

256 a 64 Bloco

64 a 4,0 Seixo

4,0 a 2,0 Grânulo

2,0 a 1,0 Areia muito grossa

1,0 a 0,50 Areia grossa

0,50 a 0,250 Areia média

0,250 a 0,125 Areia fina

0,125 a 0,062 Areia muito fina

0,062 a 0,031 Silte grosso

0,031 a 0,016 Silte médio

0.016 a 0,008 Silte fino

0,008 a 0,004 Silte muito fino

<0,004 Argila

3.2.3 Caracterização da praia em relação a aspectos naturais e antrópicos

A caracterização da praia foi realizada em 10 trechos de aproximadamente 200m

cada (início na foz do rio Pirangi), através de caminhamento. Foram avaliados 12

parâmetros (Tabela 2), que incluem aspectos naturais e antrópicos. Os parâmetros foram

classificados em uma escala, partindo da pior condição (1), para a melhor (3), com base em

Araújo e Costa (2008).

8

Tabela 2: Parâmetros utilizados para avaliação de aspectos naturais e antrópicos na praia

de Pirangi do Norte, com base em Araújo e Costa (2008).

ESCALA

PARÂMETROS 1 2 3

Aspectos Naturais

A Material predominante no

ambiente praial Rocha ou lama Areia grossa

Areia fina ou

média

B Largura do ambiente praial

emerso estreita (<30m)

mediana (31 -

100m) larga (>100)

C Presença de recifes Ausente Esparsa

Presente,

formando

piscinas

naturais

D Cobertura vegetal rasteira Ausente Escassa Abundante

E Cobertura vegetal arbórea Ausente Escassa Abundante

F

Transparência da água

(visibilidade mínima de

1m)

Água turva,

visibilidade

muito baixa

Visibilidade

reduzida

Água

transparente,

visibilidade

elevada

Aspectos Antrópicos

G Evidência de descarga de

esgoto

Clara

evidência

Alguma

evidência Sem evidência

H Lixo na areia e/ou na água Clara

evidência

Alguma

evidência Sem evidência

I

Ambiente construído (por

obras públicas e/ou

privadas)

No estirâncio Na pós-praia Atrás da pós-

praia

J Infraestrutura (banheiros,

chuveiros, restaurantes) Ausente Reduzida Suficiente

K Uso da praia Muito elevado Médio a alto Baixo ou

ausente

L Nível de atividade

comercial Muito elevada Média a alta

Baixa ou

ausente

9

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Largura do ambiente praial emerso

Segundo Manso et al., (1995), o ambiente praial abrange quatro unidades

morfológicas; duna frontal, pós-praia, estirâncio e ante-praia, estendendo-se desde pontos

permanentemente submersos, situados além da zona de arrebentação, onde as ondas de

maior altura já não selecionam nem mobilizam material, até a faixa de dunas e/ou escarpas

que ficam à retaguarda do ambiente.

Normalmente praias litorâneas apresentam grande variação de largura do ambiente

praial emerso, quando consideradas condições de marés baixas de sizígia, quando ocorre o

maior recuo da água, evidenciando maior área do estirâncio. Essa condição, de maior ou

menor largura do ambiente praial muitas vezes está relacionada com fatores antrópicos,

como a ocupação irregular dos espaços costeiros. No Rio Grande do Norte, algumas praias,

como por exemplo, Genipabu, ainda possuem grandes trechos de pós-praia conservada, já

outras, como Ponta Negra, o ambiente praial encontra-se bastante reduzido em alguns

trechos, em decorrência da construção em cima da pós-praia e do próprio estirâncio.

Segundo Manso et al., (1995), estudos realizados em várias regiões costeiras do

mundo têm evidenciado que as praias, em escala mundial, apresentam tendência à erosão.

O processo de erosão é um fenômeno natural, porém frequentemente é acentuado pelas

ações do homem. A erosão atinge indistintamente costas rochosas e arenosas, regiões

pouco urbanizadas ou com grandes concentrações humanas. Quando a intensidade da

erosão é tal que impede a existência de uma praia com uma largura mínima que favoreça

os aspectos de proteção, conservação e recreação, o desenvolvimento urbanístico da zona e

o seu grau de utilização podem ser claramente afetados (JIMÉNEZ & VALDEMORO,

2003).

Em Pirangi do Norte, a largura do ambiente praial emerso na maré baixa avaliada

variou de 42 a 186 metros (Figura 6), com um valor médio de largura de 97,5 metros. A

maioria dos pontos amostrados apresentou valores próximos ou maiores (Figura 7) que a

média, evidenciando a presença de estirâncio e pós-praia. Já nas marés altas a largura foi

de 0 metros em 3 dos pontos medidos, situados nas extremidades da praia, os quais

representam 30% da extensão da praia. No restante dos pontos a largura variou de 3 a 29

metros, com os maiores valores na parte central da praia, evidenciando uma área de pós-

praia pouco comprometida por ações antrópicas.

10

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

La

rgu

ra (m

)

Pontos

Maré Baixa

Maré Alta

P10

P1

N

Figura 6: Variação de largura do ambiental praial emerso entre os pontos amostrais.

Figura 7: Ambiente praial com largura > 100m na maré baixa em Pirangi do Norte. Foto:

Lucas Santos

4.2 Análise granulométrica

Os resultados foram expressos na forma de gráficos mensais e também em um

quadro onde as classes granulométricas foram representadas espacialmente por um

gradiente colorido de forma a facilitar a interpretação dos dados ao longo dos trechos

analisados.

11

A praia de Pirangi do Norte apresenta sedimento composto principalmente pela

fração arenosa, variando de areia fina (0,125 a 0,25mm) a areia média (0,25 a 0,5 mm).

Esse padrão se manteve relativamente constante ao longo dos meses avaliados (Figuras 8,

9, 10, 11, 12, 13 e 15).

Pirangi é uma praia predominantemente plana com características de praia

dissipativa, de baixa energia, especialmente nos trechos iniciais (1 ao 6). Isso

provavelmente é o fator determinante na granulometria encontrada.

A fração de granulometria fina (silte + argila), foi muito pouco expressiva,

atingindo o máximo de 6% do peso total da amostra (100g) (Figura 14). Os valores mais

altos ocorreram nos meses de dezembro/2015 e janeiro/2016, chegando a

aproximadamente 6%, em contra partida os dois últimos meses, março e abril de 2016,

apresentaram os menores valores percentuais, não conseguindo atingir os 2%. Com relação

à localização no ambiente praial, os maiores valores ocorreram predominantemente no

estirâncio.

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

1A 1B 2A 2B 3A 3B 4A 4B 5A 5B 6A 6B 7A 7B 8A 8B 9A 9B 10A 10B

%

Amostras

1,00 mm

500µm

250µm

125µm

63µm

Figura 8: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi do Norte em

novembro/2015.

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

1A 1B 2A 2B 3A 3B 4A 4B 5A 5B 6A 6B 7A 7B 8A 8B 9A 9B 10A 10B

%

Amostras

1,00 mm

500µm

250µm

125µm

63µm

12

Figura 9: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi do Norte em

dezembro/2015.

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

1A 1B 2A 2B 3A 3B 4A 4B 5A 5B 6A 6B 7A 7B 8A 8B 9A 9B 10A 10B

%

Amostras

1,00 mm

500µm

250µm

125µm

63µm

Figura 10: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi do Norte em

janeiro/2016.

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

1A 1B 2A 2B 3A 3B 4A 4B 5A 5B 6A 6B 7A 7B 8A 8B 9A 9B 10A 10B

%

Amostras

1,00 mm

500µm

250µm

125µm

63µm

Figura 11: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi do Norte em

fevereiro/2016.

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

1A 1B 2A 2B 3A 3B 4A 4B 5A 5B 6A 6B 7A 7B 8A 8B 9A 9B 10A 10B

%

Amostras

1,00 mm

500µm

250µm

125µm

63µm

Figura 12: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi do Norte em

março/2016.

13

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

1A 1B 2A 2B 3A 3B 4A 4B 5A 5B 6A 6B 7A 7B 8A 8B 9A 9B 10A 10B

%

Amostras

1,00 mm

500µm

250µm

125µm

63µm

Figura 13: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi do Norte em

abril/2016.

0,00%

1,00%

2,00%

3,00%

4,00%

5,00%

6,00%

7,00%

8,00%

9,00%

10,00%

1A 1B 2A 2B 3A 3B 4A 4B 5A 5B 6A 6B 7A 7B 8A 8B 9A 9B 10A 10B

Amostras

nov/15

dez/15

jan/16

fev/16

mar/16

abr/16

Figura 14: Percentual da fração fina (silte + argila) para a praia de Pirangi do Norte ao

longo dos meses de amostragem.

14

Figura 15: Quadro representativo da análise granulométrica (fração areia) para a praia de

Pirangi do Norte.

15

Segundo Bird (2008), em praias adjacentes a desembocaduras fluviais é comum a

presença de sedimentos mais grossos (areia média a grossa) aportados pelo rio. A

composição de tamanho de grão do material praial pode variar lateralmente,

particularmente nos arredores de costões rochosos em erosão, onde a proporção de material

grosso localmente derivado pode ser alta, e perto a desembocaduras de rios, onde é

provável que uma proporção maior de sedimento fluvial grosso esteja presente.

No trecho 1 analisado, local mais próximo da foz do rio Pirangi, ocorreu areia

grossa (0,50mm) principalmente no estirâncio, em quatro dos meses avaliados. A fração de

areia mais grossa (embora não predominante), volta a ocorrer especialmente à partir do

trecho 6, quando a praia começa a mudar um pouco sua morfologia, passando para um

perfil mais reflectivo, com formação de berma no trechos 7 e 8 (Figura 16).

Segundo Komar (1977), o aumento do tamanho dos grãos de areia pode estar

relacionado à maior velocidade da corrente longitudinal, que possibilita transporte de

fundo. Com a diminuição da velocidade, o transporte é feito por suspensão, com

sedimentos de diâmetros menores, o que gera uma tendência à diminuição do diâmetro no

sentido do transporte de sedimentos pela corrente.

A B

Figura 16: Declividade acentuada, com formação de berma nas imediações dos trechos 7 e

8 em Pirangi do Norte. A: visão superior. B: visão Inferior. Fotos: Lucas Santos.

Quanto menor o diâmetro dos grãos de sedimento de uma praia, mais facilmente

pode ocorrer o transporte dos mesmos através do vento e de correntes longitudinais. Em

muitas praias, onde o aporte de sedimento é precário ou a dinâmica costeira é prejudicada

16

por construções irregulares isso pode levar a eventos de erosão. Este fato ocorre, por

exemplo, na praia de Ponta Negra, litoral central de Natal (SANTANA, 2013).

No entanto, aparentemente não há em Pirangi do Norte problemas de perda de

sedimentos com evidências de áreas em processo de erosão. Este fato pode indicar que há

um equilíbrio na dinâmica costeira, com relação ao aporte e perda de sedimento.

4.3 Caracterização da praia em relação a aspectos naturais e antrópicos

Os resultados foram expressos em dois quadros (Figuras 17 e 20) onde os

parâmetros analisados foram representados espacialmente por um gradiente colorido

indicando a condição alcançada (1, 2 ou 3), de forma a facilitar a interpretação dos dados

ao longo dos trechos avaliados.

4.3.1 Aspectos naturais

Segundo a classificação de praias definida no Projeto ORLA (PROJETO ORLA,

2002), Pirangi do Norte é considerada Orla Exposta, a qual se caracteriza por possuir

ambiente litorâneo constituído por costões rochosos ou praias oceânicas, com elevada taxa

de circulação e renovação de água. Geralmente caracterizada por praias abertas, com zona

de arrebentação bem desenvolvida. Apresenta formato de baixa concavidade, sendo mais

retilíneas e de orientação normal à direção de maior incidência da ação dominante dos

ventos e ondas, com sedimentos geralmente compostos por areia fina.

Normalmente a qualidade ambiental de uma praia está relacionada à manutenção

das condições naturais de seus atributos, como ambiente praial sem ocupação, cobertura

vegetal preservada, água e areia livres de poluentes.

Em Pirangi do Norte, para atributos considerados naturais, as melhores condições

se concentram nos extremos da praia, especialmente nos trechos 1, 2, 8, 9 e 10 (Figura 17).

17

Figura 17: Quadro representativo dos parâmetros naturais avaliados para a praia de Pirangi

do Norte.

18

Cerca de 50% da praia tem o ambiente praial bastante largo, com mais de 100m nas

marés mais baixas (Figuras 6 e 7). Nesses locais a pós-praia se mantém preservada, o que

favorece a dinâmica sedimentar, evitando riscos de erosão costeira. Mesmo nos trechos

onde a largura não ultrapassa os 100m, ainda assim não há indícios que caracterizam

processos erosivos.

Ambientes praiais largos, especialmente em praias dissipativas, favorecem o uso da

praia para atividades recreativas, já que existe um amplo espaço mesmo em marés

intermediárias.

Em Pirangi, não há linhas recifais visíveis, apenas a ocorrência de rochas areníticas

provavelmente impregnadas de óxido de ferro, nas extremidades da praia (Figura 18).

Essas formações favorecem a ocorrência de piscinas naturais que permitem um banho mais

seguro.

A

Fonte: http://m.feriasbrasil.com.br/rn/parnamirim).

B Foto: Lucas Santos

Figura 18: Recifes no ambiente praial de Pirangi do Norte. A: sul da praia; B: norte da

praia.

Com relação à cobertura vegetal, ela é mais abundante também nos extremos da

área, especialmente nos trechos 1 e 2 (Figuras 20A); nesses trechos a vegetação tanto

arbórea, quanto rasteira encontra-se presente em larga escala. Nos trechos finais, 9 e 10

também aparecem, mas em menor proporção.

No restante da praia a vegetação é bastante esparsa. A partir do trecho 3 ela foi

praticamente retirada para dar ocupação às estruturas construídas, casas e bares, restando

apenas poucas árvores, principalmente coqueiros.

Na parte mais ao norte da área, especialmente à partir do trecho 5 ocorre um cordão

dunar incipiente (incipient dune ridge) (Figura 20B), que segundo definição de Suguio

(1998), constitui um depósito eólico linear menos desenvolvido (mais baixo) e, em geral,

19

apresentando cobertura vegetal reduzida. As dunas incipientes são também conhecidas

como “dunas de crista praial” de acordo com Bigarella et al., (1969). Segundo Angulo

(2004), esses cordões incipientes são feições com altura inferior a 3m. Em alguns pontos

do litoral do Rio Grande do Sul, por exemplo, estes atingem entre 0,5 e 1m (CALLIARI et

al., 2005).

Essa vegetação caracteriza-se pela predominância de gramíneas, sendo conhecida

como vegetação fixadora de dunas e como vegetação de restinga, uma vez que ocorre

sobre areais de origem marinha.

A B

Figura 19: Cobertura vegetal presente na praia de Pirangi do Norte. A: Trecho 2. B:

Cordão dunar ao norte. Foto: Lucas Santos

Com relação à transparência da água, a influência do rio Pirangi é visível

especialmente ao sul da área, nos trechos adjacentes. O rio traz em suas águas uma carga

considerável de material particulado e com ajuda das correntes marinhas longitudinais há o

transporte desse material por praticamente toda a extensão da praia, reduzindo a

visibilidade da água. Como exceção a esse fato temos, os dois últimos trechos (9 e 10) que

estão após a barreira de recifes que reduzem a influencia desse material particulado e torna

a água visualmente mais transparente.

20

4.3.2 Aspectos antrópicos

De acordo com a classificação do Projeto ORLA (PROJETO ORLA, 2002), Pirangi

do Norte é considerada Orla em Processo de Urbanização, a qual se caracteriza por áreas

de baixo ou médio adensamento de construções e população, apresentando indícios de

ocupação recente ou em processo de ocupação. São áreas com paisagens parcialmente

antropizadas, em processo de mudança cultural, e com médio potencial de poluição

sanitária e estética.

Praias próximas a centros urbanos e que possuem atrativos naturais com potencial

para exploração turística, como é o caso de Pirangi do Norte (cajueiro gigante e parrachos)

normalmente atraem quantidades crescentes de pessoas, dependendo do nível de

divulgação de seus atrativos. A busca por essas opções, aliada às características do mar

local, como águas tranquilas, piscinas naturais, e oferta de comidas e bebidas,

provavelmente acarretará sempre o uso cada vez mais intenso dos espaços disponíveis,

gerando inúmeros conflitos.

Com relação aos parâmetros antrópicos avaliados, os quais são bons indicadores de

possíveis impactos, observou-se que as melhores condições também se encontram nos

trechos mais extremos da praia (Figura 20).

A parte mais central da praia de Pirangi do Norte apresenta vários aspectos que são

contrastantes com os demais trechos, entre esses são destaque, a descarga de água servida

na praia, com aspecto que pode indicar contaminação por esgotos; a ocupação irregular do

ambiente praial por construções; a presença de lixo na areia; e o elevado uso da praia, com

intensa atividade comercial associada.

21

Figura 20: Quadro representativo dos parâmetros antrópicos avaliados para a praia de

Pirangi do Norte.

22

Em vários pontos da praia podem ser observadas tubulações que descartam água de

origem desconhecida, como por exemplo, no ponto 5 (Figura 21A) e 6 (Figura 21B). O

mau cheiro percebido nos pontos de saída das tubulações pode indicar contaminação da

água por esgotos, o que pode afetar as condições sanitárias da praia, já que nas marés mais

altas a água marinha se comunica com a água que escoa pelas tubulações. Segundo estudo

realizado por Dantas (2015) valores de nitrato e amônia acima do permitido foram

encontrados na água servida descartada na praia de Pirangi do Norte, indicando que

recebem matéria orgânica.

Os usuários conseguem observar essa situação e assim ficam receosos com relação

à qualidade da água marinha. Em um estudo de percepção ambiental com usuários da praia

de Pirangi realizado por Azevedo (2014), 16% dos respondentes avaliaram a qualidade da

água como “provavelmente contaminada por esgoto”.

A B

Figura 21: Tubulações com descarga de água servida na areia da praia em Pirangi do

Norte. A: Trecho 5. B: Trecho 6.

A presença de lixo na praia é outro problema que ocorre especialmente nos trechos

mais centrais. Este fato pode estar associado ao uso da praia, que é concentrado no local.

Em um estudo realizado por Dantas (2015) durante um período de três meses, foi recolhido

na praia de Pirangi, um total de 3.481 itens de resíduos, especialmente compostos por

plásticos e restos de alimentos como cocos.

Muitos usuários descartam o lixo diretamente na areia da praia, ou porque não há

lixeiras em número suficiente (Figuras 22 A e B), ou porque não têm o hábito de se

preocupar com os espaços públicos. Normalmente os comerciantes dos bares e barracas

recolhem parte do lixo ao final do dia, mas isso não é suficiente para redução do problema.

23

Acúmulos de lixo em praias são bastante comuns e podem gerar uma série de

impactos que incluem comprometimento estético da área, contaminação de áreas costeiras

próximas e do próprio mar, riscos para usuários, riscos para a biota marinha e gastos

econômicos (ARAÚJO & COSTA, 2006; SILVA et al, 2008; SILVA-CAVALCANTI et

al, 2009).

A B

Figura 22: Acúmulo de lixo na praia de Pirangi do Norte. A: Trecho 3. B: Trecho 4.

Com relação à ocupação do ambiente praial, observa-se em Pirangi, a presença

predominante de casas de veraneio e restaurante ou bares na orla. Mas apenas entre os

trechos 3 ao 5 as construções estão presentes principalmente sobre a pós-praia

(Figuras 23A/B). No restante da praia, elas se localizam atrás da pós-praia (Figuras

23C/D).

Uma vez que se constrói sobre o ambiente praial, interrompendo o sistema natural

de abastecimento do mesmo com sedimentos, muitas vezes há a necessidade da construção

de estruturas tentando reter o sedimento existente e conter a força das ondas, ventos e

marés. A seleção da melhor opção para estabilização da praia é difícil. Deve ser

considerado o valor de cada praia, o valor das estruturas localizadas na área e os custos de

cada método de controle da erosão (DANIEL, 2001).

24

A B

C D

Figura 23: Ocupação do ambiente praial em Pirangi do Norte. A/B: Ocupação da pós-praia

e estirâncio. C/D: Ocupação acima da pós-praia.

Também os trechos mais centrais, são caracterizados pela intensa atividade

comercial, pela grande concentração de usuários (Figuras 23A; 24B) de praia e número

expressivo de vendedores ambulantes (Figura 24B) com a venda de água de coco,

protetores solares, óculos, roupas de banho, entre outros produtos.

O comércio sem planejamento traz uma série de problemas, principalmente

relacionados com a poluição ambiental, com aumento de ligações clandestinas e produção

de lixo. Outro impacto que provavelmente será sentido em pouco tempo, será o

comprometimento da qualidade ambiental dos parrachos, acarretado pela visitação

excessiva.

Os trechos 5 e 6, a atividade comercial é menor, sendo representada por poucos

quiosques com algumas mesas e cadeiras, recebendo uma quantidade razoável de banhistas

e usuários, porém não tão expressivos quanto os dos trechos anteriormente citados. O

destaque dessas áreas é a ocupação das casas de veraneio na região da pós-praia, sendo

susceptível a ação das ondas em casos de mares muito altas.

25

Segundo Azevedo (2014), o uso recreativo da praia de Pirangi é elevado

principalmente nos finais de semana, mas ocorre de forma diferenciada quando se compara

os sábados e os domingos. Aos sábados o público frequentador utiliza a infraestrutura dos

bares localizados na praia, consumindo os produtos oferecidos nesses locais (Figura 23A);

já aos domingos, uma grande quantidade de pessoas utiliza tendas armadas na praia,

chegando em grupos familiares ou de amigos e trazendo de casa praticamente tudo o que

vai consumir (Figura 24A). Essas pessoas se localizam especialmente nos trechos 3 e 4.

A B

Figura 24: A: Uso da praia de Pirangi do Norte aos domingos. B: Atividade comercial.

Fotos: Lucas Santos

Em toda a praia, não existe um aparato de infraestrutura satisfatória que dê suporte

ao uso recreativo. Faltam banheiros públicos, chuveiros, salva-vidas e lixeiras em

quantidade suficiente para acomodar todo o lixo produzido. Nos trechos onde há a

concentração dos bares e restaurantes, o público utiliza banheiros improvisados ou aqueles

presentes no restaurante da Marina Badauê, ponto de saída de turistas para os parrachos.

26

5. CONCLUSÕES

A praia de Pirangi do Norte possui de maneira predominante seu sedimento

pertencente à fração areia, ocorrendo variações de quantitativas de areia média na parte

norte da praia, isso devido a características da área como também dinâmica de ondas.

Já quanto aos aspectos ambientais e antrópicos a praia mostrou possuir regiões

distintas, nos quais sua extremidade sul, próxima ao rio, e a porção norte demonstraram

melhores condições ambientais, como também reduzida atividade por ação antrópica,

destoando das áreas ao centro e sul da praia, que apresentam intensa atividade comercial e

turística prejudicando a qualidade ambiental da praia. Um dos parâmetros antrópicos que

ocorre ao longo da praia mesmo que de maneira não tão evidente, em certas áreas, são as

descargas de esgoto, que lançam efluentes diretamente na praia em direção do mar.

A praia de Pirangi do Norte é um ambiente susceptível a problemas decorrentes da

ação antrópica, e embora ainda não esteja com níveis de comprometimento muito

acentuados, existe uma série de impactos associados ao uso da praia e a ocupação

desordenada, principalmente pelas atividades comerciais.

Assim é imprescindível a elaboração de ações, projetos ou até mesmo de um plano de

gestão costeira, a fim de, ordenar/organizar as atividades comercias e turísticas, como

também trabalho de conscientização dos usuários, moradores e comerciantes da

importância da conservação da praia, com a finalidade de reduzir a degradação do

ambiente praial, destacando as belezas naturais que tanto atrai os visitantes à praia de

Pirangi do Norte.

27

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ANGULO, R.J. 2004. Mapa do cenozóico do litoral do estado do Paraná. Boletim

Paranaense de Geociências. 55, 25-42.

ARAÚJO, M. C. B. & COSTA, M.F. 2006. The significance of solid wastes with land-

based sources for a tourist beach: Pernambuco, Brazil. Pan-American Journal of Aquatic

Sciences. 1 (1), 28-34.

ARAÚJO, M.C.B.; COSTA, M.F. 2008. Environmental Quality Indicators for Recreational

Beaches Classification. Journal of Coastal Research, 24 (6), 1439–1449.

AZEVEDO, D. A. A. de. 2014. Praias turísticas do Rio Grande do Norte (Jenipabu, Ponta

Negra, Pirangi): Avaliação da percepção dos usuários e caracterização do uso. Monografia

(Graduação). Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 33p.

BIGARELLA, J.J.; ALESSI, A.H.; BECKER, R.D.; DUARTE, G. K. 1969. Textural

characteristics of the coastal dune, sand ridge and beach sediments. Boletim Paranaense

de Geociências. 27, 15-80.

BIRD, E. C. Coastal geomorphology: an introduction. 2008. New York: John Wiley &

Sons, 2ª ed. 436 p.

CALLIARI, L.R.; PEREIRA, P.S.; OLIVEIRA, A.O.; FIGUEIREDO, S.A. 2005.

Variabilidade das dunas frontais no litoral norte e médio do Rio Grande do Sul. GRAVEL.

3, 15-30.

CAMPOS, M. V. C. V. 2015. Diagnóstico Ambiental da praia de Pirangi do Norte

(Parnamirim – RN), com base no Projeto Orla. Monografia (Especialização) Universidade

Federal do Rio Grande do Norte. 48p

DANIEL, H. 2001. Replenishment versus retreat: the cost of maintaining Delaware’s

beaches. Ocean & Costal Management, 44: 87-104.

28

DIAGNÓSTICO DE TURISMO DA PONTA DE PIRANGI/RN, 2011 - ONG

OCEÂNICA. Disponível em: <http://pontadepirangi.org.br/wp-

content/uploads/2014/07/Projeto_ponta_de_pirangi-2011.-turismo.pdf>. Acesso:

04/05/2016.

DANTAS, I. P. B. 2015. Avaliação da poluição em duas praias do Rio Grande do Norte

(Praia do Meio e Pirangi do Norte): relação com o uso da praia. Monografia (Graduação)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 38p.

FÉRIAS BRASIL. Disponível em: <http://m.feriasbrasil.com.br/rn/parnamirim>. Acesso:

16/05/2016.

JESUS, L. V.; ANDRADE, A. C. S. 2013. Parâmetros Granulométricos dos sedimentos da

praia dos Artistas – Aracaju – SE. SCIENTIA PLENA. 9, (5), 1 – 9.

JIMÉNEZ, J.A. & VALDEMORO, H.I. 2003. La influencia de la dinâmica costera em la

explotación layas (I) – Erosíon a largo plazo. Equipamiento y Servicios Municipales.

109, 28-37.

KOMAR, P. D. 1977. Selective long shore transport rates of different grain-size fractions

with in a beach. Journal of Sedimentary Petrology. 47, 1444-1453.

LIMA, E. S.; FONTES, A. L.; SANTOS, M. A.; CORREIA, A. L. F.; 2006.

Caracterização sedimentar e morfodinâmica do litoral norte, do estado de Sergipe,

municípios de Pacatuba e Brejo Grande. IV Simpósio Nacional de Geomorfologia/

Regional Conference on Geomorphology. 1, 1 – 9.

MANSO, V. A. V.; COUTINHO, P. N.; LIMA, A. T. O.; ALMEIDA, L. E. S. B.;

MEDEIROS, A. B.; BORBA, A. L. S.; LIRA, A. R. A.; PEDROSA, F. J. A.; MARTINS,

M. H. A.; CHAVES, N. S.; DUARTE, R. X.; IVO, P. S. 1995. Estudo da erosão costeira

da praia da Boa Viagem. Convênio EMLURB/FADE/LGGM/UFPE: Relatório técnico.

106p. Recife.

29

NOMINUTO.COM. Disponível em: <http://www.nominuto.com/noticias/cidades/caern-

retoma-obra-de-esgotamento-sanitario-em-pium-cotovelo-e-pirangi/68437/>. Acesso:

16/05/2016.

PORTAL DO BRASIL. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/turismo/2015/01/litoral-

brasileiro-tem-7-4-mil-km-de-belezas-naturais>. Acesso: 24/10/2015. Por Portal Brasil.

Publicado 21/01/2015.

PROJETO ORLA - Volume1: Fundamentos para gestão integrada. 2002. MMA -

Fundamentos para Gestão Integrada Costeira. Brasília: MMA/SQA; 78p. Brasília:

MP/SPU.

QUINAMO, L. A.; BARROS, L. C.; MANSO, V. A. V.; ARRUDA, K. E. C. 2013.

Estudos Granulométricos e Morfoscópicos dos sedimentos do estirâncio Médio e aspectos

ambientais da praia da Boa Viagem – Recife – PE. Estudos Geológicos, 23(1), 13 – 22.

SANTANA L. O. 2013. Características ambientais e de ocupação do ambiente praial de

Ponta Negra (Natal-RN): Relação com os processos erosivos presentes. Monografia

(Graduação), Univerdade Federal do Rio Grande do Norte. 35p.

SEMARH - BACIAS HIDROGRÁFICAS DO RN, 2016. Disponível em:

<http://servicos.searh.rn.gov.br/semarh/sistemadeinformacoes/consulta/cBaciaDetalhe.asp?

CodigoEstadual=09>. Acesso: 20/04/2016.

SILVA, J. S.; BARBOSA, S.C.T.; COSTA, M. (2008). Flag Items as a Tool for

Monitoring Solid Wastes from Users on Urban Beaches. Journal of Coastal Research, 24

(4), 890–898.

SILVA-CAVALCANTI, J.S.; ARAÚJO, M.C.B.; COSTA, M.F. 2009. Plastic litter on an

urban beach: a case study in Brazil. Waste Management Research, 27; 93–97.

SILVA, P. I.; ADORNO, E. V. 2011. Parâmetros ambientais e granulométricos nas praias

de Cabuçu e Bom Jesus dos Pobres no Recôncavo da Bahia. Estudos de Biologia –

Ambiente e Diversidade, 32; 76 – 81.

30

STROHAECKER, T. M.; 2007. A urbanização no Litoral Norte do Estado do Rio Grande

do Sul: contribuição para gestão urbana ambiental do município de Capão da Canoa. Tese

(Doutorado em Geociências). Curso de Pós-Graduação em Geociências, Instituto de

Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 395p. Disponível em:

<https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/10086/000594717.pdf?sequence=1>.

Acesso: 22/10/2015.

SUGUIO, K. 1998. Dicionário de geologia sedimentar e áreas afins. 1222p. Rio de Janeiro.

WENTWORTH, C.K. 1922. A scale of grade and class term for clastic sediments. Journal

of Geology, 30, 377-392.