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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL
CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE PRAIAL DE
PIRANGI DO NORTE (PARNAMIRIM-RN), COM
ÊNFASE NA ANÁLISE GRANULOMÉTRICA DO
SEDIMENTO
Lucas Felipe dos Santos
NATAL, RN.
Maio, 2016.
i
Lucas Felipe dos Santos
CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE PRAIAL DE
PIRANGI DO NORTE (PARNAMIRIM-RN), COM
ÊNFASE NA ANÁLISE GRANULOMÉTRICA DO
SEDIMENTO
Orientadora: Profa. Dra. Maria Christina de Araújo
NATAL, RN.
Maio, 2016.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
Universidade Federal do Rio Grande do Norte como
parte dos requisitos para a obtenção do título de
Engenheiro Ambiental.
ii
Lucas Felipe dos Santos
CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE PRAIAL DE
PIRANGI DO NORTE (PARNAMIRIM-RN), COM
ÊNFASE NA ANÁLISE GRANULOMÉTRICA DO
SEDIMENTO
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________
Dra. Maria Christina de Araújo - Orientadora
______________________________________________________
Dra. Karina Patrícia Vieira Cunha
______________________________________________________
Dra. Jacqueline Santos Silva-Cavalcanti
iii
Catalogação da publicação na fonte.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Biblioteca Central Zila Mamede
Santos, Lucas Felipe dos.
Caracterização do ambiente praial de Pirangi do Norte (Parnamirim-RN), com ênfase na análise
granulométrica do sedimento / Lucas Felipe dos Santos. – Natal, RN, 2016.
40 f: il.
Orientadora: Maria Christina de Araújo..
Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Tecnologia,
Departamento de Engenharia Civil.
1. Engenharia ambiental – Monografia. 2. Sedimentos – Monografia. 3. Granulometria –
Monografia. 4. Impacto ambiental – Avaliação – Monografia. 5. Pirangi do Norte, Praia de (RN) –
Monografia. 6. Praias – Parmamirim (RN) – Monografia. I. Araújo, Maria Christina de. II. Título.
RN/UF/BCZM CDU 627
iv
AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sua estrutura, seu corpo docente,
técnicos administrativos e demais funcionários por contribuírem na minha formação.
Ao Departamento de Oceanografia e Limnologia, por disponibilizar o Laboratório
de Oceanografia Costeira para analises das amostras coletas.
À minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Maria Christina Barbosa de Araújo, pela paciência,
pela disponibilidade, pelo suporte, pela motivação e acompanhamento direto em todas as
etapas que permitiram o desenvolvimento desse trabalho.
A Prof.ª Dr.ª Jacqueline Santos Silva-Cavalcanti por ter participado da banca que
avaliou o projeto inicial desse trabalho, como também por fazer parte da atual banca com
suas contribuições.
A Vice coordenadora do Curso de Engenharia Ambiental Prof.ª Dr.ª Karina Patrícia
Vieira Cunha pela participação da banca que avaliou o projeto inicial desse trabalho, como
também por fazer parte da atual banca com suas contribuições.
As estagiarias do Laboratório Oceanografia Costeira, Julia e Shirley, pela ajuda e
suporte nas coletas em campo quanto nas analises em laboratório, que permitiram agilidade
e eficiência na apuração de dados para o trabalho.
Aos meus colegas e amigos(as) da minha turma de Graduação, pelo
companheirismo, encontros e amizade durante o período de curso, em especial a Carlos
Alberto e Herika Cavalcante por me ajudarem na coleta de dados para o trabalho.
As minhas amigas Maria Gabriela e Fernanda Rego, pela ajuda na coleta de dados
em campo, pela amizade, pelo apoio e incentivo durante o período de graduação.
A Minha família, Ana Cristina Felipe e Paulo Roberto dos Santos, meus pais, pelo
exemplo, pela criação, pela educação, pelo incentivo e amor sempre, que fazem com que
eu e meu irmão, Pedro Felipe dos Santos, estejamos em busca de ser pessoas/profissionais
melhores no que fazemos na vida.
Aos meus familiares, em especial aos primos Tobias e Daniel dos Santos, pela
ajuda em todo o período de coletas de dados.
A Deus Por ter me dado paz, tranquilidade, saúde e sabedoria durante toda minha
graduação.
v
SUMÁRIO Pág.
1. INTRODUÇÃO 1
2. OBJETIVOS 2
2.1 Objetivo geral 2
2.2 Objetivos específicos 2
3. MATERIAIS E MÉTODOS 2
3.1 Descrição de Área 2
3.2 Material e métodos 5
3.2.1 Determinação da largura do ambiente praial emerso 5
3.2.2 Análise granulométrica 6
3.2.3 Caracterização da praia em relação a aspectos naturais e
antrópicos
7
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 9
4.1 Largura do ambiente praial emerso 9
4.2 Análise granulométrica 10
4.3 Caracterização da praia em relação a aspectos naturais e
antrópicos
16
4.3.1 Aspectos naturais 16
4.3.2 Aspectos antrópicos 20
5. CONCLUSÕES 26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 27
vi
LISTA DE FIGURAS Pág.
Figura 1: Localização da área de estudo e dos 10 pontos de coleta de
sedimento. Cada ponto representa também o limite final de cada
um dos 10 trechos analisados.
3
Figura 2: Foz do Rio Pirangi. (Fonte: http://natalonline.com/litoral-
sul/pirangi)
4
Figura 3: Cajueiro de Pirangi. (Fonte: http://natalonline.com/litoral-
sul/pirangi)
5
Figura 4: Piscinas naturais, conhecidos como "Parrachos de Pirangi".
(Fonte:http://natalonline.com/litoral-sul/pirangi)
5
Figura 5: Diagrama simplificado do ambiente praial emerso (pós-praia +
estirâncio), onde foram efetuadas as medições.
6
Figura 6: Variação de largura do ambiental praial emerso entre os pontos
amostrais.
10
Figura 7: Ambiente praial com largura > 100m na maré baixa em Pirangi
do Norte. Foto: Lucas Santos
10
Figura 8: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi
do Norte em novembro/2015.
11
Figura 9: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi
do Norte em dezembro/2015.
11
Figura 10: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi
do Norte em janeiro/2016.
12
Figura 11: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi
do Norte em fevereiro/2016.
12
Figura 12: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi
do Norte em março/2016.
12
Figura 13: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi
do Norte em abril/2016.
13
Figura 14: Percentual da fração fina (silte + argila) para a praia de Pirangi
do Norte ao longo dos meses de amostragem.
13
Figura 15: Representação gráfica da análise granulométrica (fração areia)
para a praia de Pirangi do Norte.
14
vii
Figura 16:
Declividade acentuada, com formação de berma nas imediações
dos trechos 7 e 8 em Pirangi do Norte. A: visão superior.
B:visão Inferior.Fotos: Lucas Santos.
15
Figura 17: Representação gráfica dos parâmetros naturais avaliados para a
praia de Pirangi do Norte.
17
Figura 18: Recifes no ambiente praial de Pirangi do Norte. A: sul da praia;
B: norte da praia.
18
Figura 19: Cobertura vegetal presente na praia de Pirangi do Norte. A:
Trecho 2. B: Cordão dunar ao norte. Foto: Lucas Santos
19
Figura 20: Representação gráfica dos parâmetros antrópicos avaliados para
a praia de Pirangi do Norte.
21
Figura 21: Tubulações com descarga de água servida na areia da praia em
Pirangi do Norte. A: Trecho 5. B: Trecho 6.
22
Figura 22: Acúmulo de lixo na praia de Pirangi do Norte. A: Trecho 3. B:
Trecho 4
23
Figura 23: Ocupação do ambiente praial em Pirangi do Norte. A/B:
Ocupação da pós-praia e estirâncio. C: Ocupação acima da pós-
praia.
24
Figura 24: A: Uso da praia de Pirangi do Norte aos domingos. B: Atividade
comercial. Fotos: Lucas Santos
25
viii
LISTA DE TABELAS Pág.
Tabela 1: Escala de Wentworth (1922) para análise granulométrica de
sedimentos.
7
Tabela 2: Parâmetros utilizados para avaliação de aspectos naturais e
antrópicos na praia de Pirangi do Norte, com base em Araújo e
Costa (2008).
8
ix
RESUMO
A zona costeira é um dos ambientes mais complexos da natureza, com alta hidrodinâmica.
Praias turísticas são muito utilizadas para o lazer e os usuários estão cada vez mais
exigentes em relação à qualidade dos recursos e a infraestrutura disponível. Pirangi do
Norte (Parnamirim-RN), está localizada perto do rio Pirangi (23km de Natal). O estudo
teve como objetivo caracterizar a praia de Pirangi, com ênfase na análise granulométrica
dos sedimentos. A amostragem foi realizada de novembro de 2015 a abril de 2016. Um
total de 120 amostras de sedimentos foram coletadas em 10 locais perpendiculares à costa,
e classificados de acordo com a escala granulométrica de Wentworth (1922). A medição da
praia foi realizada nos mesmos locais em dois períodos de maré (2,7 e -0,1). Também foi
realizada a caracterização da praia em 10 trechos com aproximadamente de 200m cada um,
onde doze parâmetros foram avaliados. Cada um dos parâmetros foi avaliado com base em
uma escala de atributos que vão desde a pior (1) para a melhor (3) qualidade. Os resultados
mostraram que a granulometria dos sedimentos variou principalmente de areia fina a
média. A praia de Pirangi tem uma largura média de mais de 100m na maré baixa, e não
tem nenhuma evidência de erosão costeira. Em relação aos parâmetros avaliados, as
melhores condições ocorreram nos extremos sul e norte da praia. Os principais problemas
observados na praia são a falta de vegetação, a poluição por resíduos sólidos e águas
residuais e a alta atividade comercial em alguns lugares, especialmente nos trechos centrais
da praia. Este trabalho pode ser útil para o planejamento ambiental da praia de Pirangi.
Palavras chave: praias turísticas; análise granulométrica; avaliação ambiental.
x
ABSTRACT
The coastal zone is one of the most complex environments in nature, with high
hydrodynamic. Tourist beaches are heavily used for recreation and users are increasingly
demanding regarding the quality of resources and the available infrastructure. Pirangi do
Norte beach (Parnamirim - RN), is located near to Pirangi river (23km far from Natal).
The study aimed to characterize the Pirangi beach with emphasis on particle size analysis
of the sediment. Sampling took place from November 2015 to April 2016. A total of 120
sediment samples were collected at 10 sites perpendicular to the coast, and classified
according to the particle size range of Wentworth (1922). Measuring of the beach it was
held in the same locations in two periods of tide (2.7 and -0.1). It was also carried out the
beach characterization in 10 stretches of approximately 200m each, where twelve
parameters were assessed. Each of parameters was assessed based on an attribute scale
ranging from the worst (1) to the best (3) quality. The results showed that the sediment
grain size distribution from Pirangi beach ranged mainly from fine to medium sand. The
beach has an average width of over 100m at low tide, and has no evidence of coastal
erosion. Regarding the evaluated parameters, the best conditions occur in the extreme
south and north. The main problems observed on the beach are the lack of vegetation,
pollution from solid waste and sewage and high commercial activity in some places,
especially in the central stretches of beach. This work may be useful for the environmental
planning of the Pirangi beach.
Keywords: tourist beaches; particle size analysis; environmental assessment.
1
1. INTRODUÇÃO
O território brasileiro apresenta uma extensa faixa litorânea com aproximadamente
7,4 mil km (PORTAL BRASIL, 2015),compreendendo as regiões Norte, Nordeste, Sudeste
e Sul, com planícies costeiras e praias arenosas oceânicas, ambientes de formação
geológica recente e de grande vulnerabilidade, distribuídos ao longo da costa.
A zona costeira brasileira é uma área privilegiada do território nacional por sua
diversidade de praias e paisagens, principalmente quando se refere a seus recursos naturais
e econômicos (QUINAMO et al, 2013). Por conta desses atrativos torna-se uma região
bastante habitada, pois aproximadamente 39 milhões de habitantes (23,43%) da população
brasileira ocupam esta área (STROHAECKER, 2007).
A zona costeira é uma região onde ocorre o encontro do continente com o mar,
constituindo uma zona de fronteira sujeita a constantes alterações morfodinâmicas,
modelada por processos marinhos e continentais. Apresenta grande variabilidade temporal
e espacial, comportando-se como um sistema ambiental instável, desde o passado remoto
até os dias atuais, em função de uma série de processos continentais e marinhos, dos quais
em sua maioria controlados por fatores meteorológicos. Esses processos, na formação de
distintos tipos de costa, englobam movimentos tectônicos ao longo das margens
continentais, oscilações do nível do mar e dinâmica erosiva e deposicional associada à ação
de ondas, marés, correntes e, também, à ação fluvial e eólica (LIMA et al, 2006).
As praias, setores que compõem a zona costeira (LIMA et al, 2006), constituem
sistemas dinâmicos, em que elementos básicos como ventos, água e areia interagem,
resultando em processos hidrodinâmicos e deposicionais. A morfologia dos perfis praiais
em uma determinada região, é função do nível energético das ondas, uma vez que essa
energia é liberada nas zonas costeiras (SILVA & ADORNO, 2011). Os ambientes praiais
apresentam-se como depósitos de sedimentos inconsolidados não vegetados, comumente
de granulometria areia, que se estendem desde a linha de baixa-mar até alguma feição
geomorfológica, como: dunas, falésias ou qualquer estrutura desenvolvida pelo homem
(JESUS, 2013).
As praias apresentam uma importância socioeconômica muito grande, como por
exemplo: o turismo, lazer para população, como também sua alta dinâmica sedimentar e
morfológica, que é responsável pelo amortecimento da energia hidráulica, processo esse
que protege a região costeira (QUINAMO et al, 2013). Nenhum outro ambiente natural
recebe maior número de visitantes do que praias, nem suporta tantas atividades
2
simultaneamente. O uso recreacional de uma praia pode provocar tanto efeitos diretos
quanto indiretos nas condições da mesma. Por causa disso, existe uma contínua
necessidade de informações acerca desses supervalorizados ambientes, objetivando seu
controle e conservação. Esses fatores vêm motivando diversas pesquisas buscando um
melhor entendimento/conhecimento das características desses ambientes, a fim de se ter
uma utilização racional e preservação dos mesmos.
A praia de Pirangi do Norte é considerada um dos principais pontos turísticos do
litoral sul do Rio Grande do Norte, sendo intensamente utilizada praticamente durante todo
o ano. Como toda praia turística, sofre a ação da intensa atividade antrópica, o que justifica
a importância do conhecimento de suas características naturais e de uso, a fim de subsidiar
um melhor planejamento.
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Caracterizar o ambiente praial de Pirangi do Norte (Parnamirim-RN), com ênfase
na análise granulométrica do sedimento.
2.2 Objetivos específicos
Analisar a granulometria dos sedimentos do ambiente praial emerso (pós-
praia e estirâncio);
Determinar a variação de largura do ambiente praial emerso (em marés de
sizígia), ao longo da praia durante o mês de março de 2016;
Avaliar a praia em relação a alguns aspectos naturais e antrópicos.
3. METODOLOGIA
3.1 Descrição de Área
A pesquisa foi realizada na praia de Pirangi do Norte (Figura 1), pertencente ao
município de Parnamirim, litoral sul do estado do Rio Grande do Norte, distante cerca de
23km da capital (Natal), cujo acesso se dá através da Rota do Sol (BR – 063).
3
Figura 1: Localização da área de estudo e dos 10 pontos de coleta de sedimento. Cada
ponto representa também o limite final de cada um dos 10 trechos analisados.
4
A faixa de praia de Pirangi do Norte apresenta um comprimento de
aproximadamente 2.300m entre as coordenadas 5°57’53,20”S / 35°08’01,66”O e
5°58’51,81”S / 35°07’16,85”O (Figuras 1 e 2).A Bacia do rio Pirangi caracteriza-se por
uma extensão relativamente pequena, tendo a rede hidrográfica formada pelos rios
Pitimbu, Taborda, Mendes, Pium, Água Vermelha e Pirangi (SEMARH, 2016).
Figura 2: Foz do Rio Pirangi. (Fonte: http://natalonline.com/litoral-sul/pirangi)
A área apresenta clima tropical chuvoso com verão seco e estação chuvosa se
adiantando para o outono. Composta de Formação Barreiras, a qual é distribuída ao longo
da extensa faixa litorânea, é também formada por vários Depósitos Sedimentares
Marinhos, característicos de sedimentos arenosos muito selecionados, de granulometria
fina e média, de cor branca ou creme, que aparecem na faixa de praia. (CAMPOS, 2015).
Além disso, é evidente o processo de aporte de sedimento trazido pelo Rio Pirangi,
depositado ao longo da faixa litorânea.
Pirangi do Norte caracteriza-se como uma praia de veraneio por ter uma alta
concentração de casas para este fim, ocupadas nos períodos de alta estação. Como também
turística por apresentar atrativos para essa atividade como: O maior Cajueiro do Mundo
principal ponto turístico, cobrindo uma área de aproximadamente 8500m2 (Figura 3).
Como outra opção de atrativo turístico são as piscinas naturais formadas nos arrecifes
(arenitos), popularmente conhecidas como “Parrachos de Pirangi” (Figura 4), localizados a
300 metros da costa e visitados durante a maré baixa (DIAGNÓSTICO DE TURISMO DA
PONTA DE PIRANGI/RN, 2011).
5
Figura 3: Cajueiro de Pirangi. (Fonte: http://natalonline.com/litoral-sul/pirangi)
Figura 4: Piscinas naturais, conhecidos como "Parrachos de Pirangi".
(Fonte:http://natalonline.com/litoral-sul/pirangi)
3.2 Material e métodos
3.2.1 Determinação da largura do ambiente praial emerso
A medição do ambiente praial emerso (pós-praia e estirâncio) (Figura 5), foi
realizada nos dias 9 e 10 de março de 2016 em marés de sizígia (-0,1 e 2.7m), nos mesmos
pontos utilizados para coleta de sedimento, considerando-se como limite superior
estruturas construídas ou vegetação e como limite inferior a linha d’água.
6
ESTIRÂNCIO
maré baixamaré alta
PÓS-PRAIA
ANTEPRAIA
medição do ambiente praial emerso
Figura 5: Diagrama simplificado do ambiente praial emerso (pós-praia + estirâncio), onde
foram efetuadas as medições.
3.2.2 Análise granulométrica
A coleta de sedimento foi realizada mensalmente durante o período de Novembro
de 2015 a Abril de 2016, em 10 pontos ao longo da praia (Figura 1). Em cada ponto foram
coletadas 2 amostras perpendiculares em relação à linha d'água (uma na região de pós-
praia e outra no estirâncio médio), totalizando 120 amostras. As amostras foram
acondicionadas em sacos plásticos e devidamente etiquetadas.
No Laboratório de Oceanografia Costeira do Depto. de Oceanografia e Limnologia
(DOL), os sedimentos passaram pelos procedimentos iniciais de secagem em estufa à
temperatura de 60°C, e posterior quarteamento. Em seguida foi separada uma amostra de
100g para realização do peneiramento úmido com separação das frações finas (silte e
argila). À seguir, o restante da amostra foi seca e submetida a peneiramento à seco para
distribuição em classes granulométricas segundo Wentworth (1922) (Tabela 1).
7
Tabela 1: Escala de Wentworth (1922) para análise granulométrica de sedimentos.
INTERVALO GRANULOMÉTRICO (MM) NOME
>256 Matacão
256 a 64 Bloco
64 a 4,0 Seixo
4,0 a 2,0 Grânulo
2,0 a 1,0 Areia muito grossa
1,0 a 0,50 Areia grossa
0,50 a 0,250 Areia média
0,250 a 0,125 Areia fina
0,125 a 0,062 Areia muito fina
0,062 a 0,031 Silte grosso
0,031 a 0,016 Silte médio
0.016 a 0,008 Silte fino
0,008 a 0,004 Silte muito fino
<0,004 Argila
3.2.3 Caracterização da praia em relação a aspectos naturais e antrópicos
A caracterização da praia foi realizada em 10 trechos de aproximadamente 200m
cada (início na foz do rio Pirangi), através de caminhamento. Foram avaliados 12
parâmetros (Tabela 2), que incluem aspectos naturais e antrópicos. Os parâmetros foram
classificados em uma escala, partindo da pior condição (1), para a melhor (3), com base em
Araújo e Costa (2008).
8
Tabela 2: Parâmetros utilizados para avaliação de aspectos naturais e antrópicos na praia
de Pirangi do Norte, com base em Araújo e Costa (2008).
ESCALA
PARÂMETROS 1 2 3
Aspectos Naturais
A Material predominante no
ambiente praial Rocha ou lama Areia grossa
Areia fina ou
média
B Largura do ambiente praial
emerso estreita (<30m)
mediana (31 -
100m) larga (>100)
C Presença de recifes Ausente Esparsa
Presente,
formando
piscinas
naturais
D Cobertura vegetal rasteira Ausente Escassa Abundante
E Cobertura vegetal arbórea Ausente Escassa Abundante
F
Transparência da água
(visibilidade mínima de
1m)
Água turva,
visibilidade
muito baixa
Visibilidade
reduzida
Água
transparente,
visibilidade
elevada
Aspectos Antrópicos
G Evidência de descarga de
esgoto
Clara
evidência
Alguma
evidência Sem evidência
H Lixo na areia e/ou na água Clara
evidência
Alguma
evidência Sem evidência
I
Ambiente construído (por
obras públicas e/ou
privadas)
No estirâncio Na pós-praia Atrás da pós-
praia
J Infraestrutura (banheiros,
chuveiros, restaurantes) Ausente Reduzida Suficiente
K Uso da praia Muito elevado Médio a alto Baixo ou
ausente
L Nível de atividade
comercial Muito elevada Média a alta
Baixa ou
ausente
9
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Largura do ambiente praial emerso
Segundo Manso et al., (1995), o ambiente praial abrange quatro unidades
morfológicas; duna frontal, pós-praia, estirâncio e ante-praia, estendendo-se desde pontos
permanentemente submersos, situados além da zona de arrebentação, onde as ondas de
maior altura já não selecionam nem mobilizam material, até a faixa de dunas e/ou escarpas
que ficam à retaguarda do ambiente.
Normalmente praias litorâneas apresentam grande variação de largura do ambiente
praial emerso, quando consideradas condições de marés baixas de sizígia, quando ocorre o
maior recuo da água, evidenciando maior área do estirâncio. Essa condição, de maior ou
menor largura do ambiente praial muitas vezes está relacionada com fatores antrópicos,
como a ocupação irregular dos espaços costeiros. No Rio Grande do Norte, algumas praias,
como por exemplo, Genipabu, ainda possuem grandes trechos de pós-praia conservada, já
outras, como Ponta Negra, o ambiente praial encontra-se bastante reduzido em alguns
trechos, em decorrência da construção em cima da pós-praia e do próprio estirâncio.
Segundo Manso et al., (1995), estudos realizados em várias regiões costeiras do
mundo têm evidenciado que as praias, em escala mundial, apresentam tendência à erosão.
O processo de erosão é um fenômeno natural, porém frequentemente é acentuado pelas
ações do homem. A erosão atinge indistintamente costas rochosas e arenosas, regiões
pouco urbanizadas ou com grandes concentrações humanas. Quando a intensidade da
erosão é tal que impede a existência de uma praia com uma largura mínima que favoreça
os aspectos de proteção, conservação e recreação, o desenvolvimento urbanístico da zona e
o seu grau de utilização podem ser claramente afetados (JIMÉNEZ & VALDEMORO,
2003).
Em Pirangi do Norte, a largura do ambiente praial emerso na maré baixa avaliada
variou de 42 a 186 metros (Figura 6), com um valor médio de largura de 97,5 metros. A
maioria dos pontos amostrados apresentou valores próximos ou maiores (Figura 7) que a
média, evidenciando a presença de estirâncio e pós-praia. Já nas marés altas a largura foi
de 0 metros em 3 dos pontos medidos, situados nas extremidades da praia, os quais
representam 30% da extensão da praia. No restante dos pontos a largura variou de 3 a 29
metros, com os maiores valores na parte central da praia, evidenciando uma área de pós-
praia pouco comprometida por ações antrópicas.
10
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
La
rgu
ra (m
)
Pontos
Maré Baixa
Maré Alta
P10
P1
N
Figura 6: Variação de largura do ambiental praial emerso entre os pontos amostrais.
Figura 7: Ambiente praial com largura > 100m na maré baixa em Pirangi do Norte. Foto:
Lucas Santos
4.2 Análise granulométrica
Os resultados foram expressos na forma de gráficos mensais e também em um
quadro onde as classes granulométricas foram representadas espacialmente por um
gradiente colorido de forma a facilitar a interpretação dos dados ao longo dos trechos
analisados.
11
A praia de Pirangi do Norte apresenta sedimento composto principalmente pela
fração arenosa, variando de areia fina (0,125 a 0,25mm) a areia média (0,25 a 0,5 mm).
Esse padrão se manteve relativamente constante ao longo dos meses avaliados (Figuras 8,
9, 10, 11, 12, 13 e 15).
Pirangi é uma praia predominantemente plana com características de praia
dissipativa, de baixa energia, especialmente nos trechos iniciais (1 ao 6). Isso
provavelmente é o fator determinante na granulometria encontrada.
A fração de granulometria fina (silte + argila), foi muito pouco expressiva,
atingindo o máximo de 6% do peso total da amostra (100g) (Figura 14). Os valores mais
altos ocorreram nos meses de dezembro/2015 e janeiro/2016, chegando a
aproximadamente 6%, em contra partida os dois últimos meses, março e abril de 2016,
apresentaram os menores valores percentuais, não conseguindo atingir os 2%. Com relação
à localização no ambiente praial, os maiores valores ocorreram predominantemente no
estirâncio.
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
100,00
1A 1B 2A 2B 3A 3B 4A 4B 5A 5B 6A 6B 7A 7B 8A 8B 9A 9B 10A 10B
%
Amostras
1,00 mm
500µm
250µm
125µm
63µm
Figura 8: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi do Norte em
novembro/2015.
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
100,00
1A 1B 2A 2B 3A 3B 4A 4B 5A 5B 6A 6B 7A 7B 8A 8B 9A 9B 10A 10B
%
Amostras
1,00 mm
500µm
250µm
125µm
63µm
12
Figura 9: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi do Norte em
dezembro/2015.
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
100,00
1A 1B 2A 2B 3A 3B 4A 4B 5A 5B 6A 6B 7A 7B 8A 8B 9A 9B 10A 10B
%
Amostras
1,00 mm
500µm
250µm
125µm
63µm
Figura 10: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi do Norte em
janeiro/2016.
0,00
10,00
20,00
30,00
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1A 1B 2A 2B 3A 3B 4A 4B 5A 5B 6A 6B 7A 7B 8A 8B 9A 9B 10A 10B
%
Amostras
1,00 mm
500µm
250µm
125µm
63µm
Figura 11: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi do Norte em
fevereiro/2016.
0,00
10,00
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30,00
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1A 1B 2A 2B 3A 3B 4A 4B 5A 5B 6A 6B 7A 7B 8A 8B 9A 9B 10A 10B
%
Amostras
1,00 mm
500µm
250µm
125µm
63µm
Figura 12: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi do Norte em
março/2016.
13
0,00
10,00
20,00
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1A 1B 2A 2B 3A 3B 4A 4B 5A 5B 6A 6B 7A 7B 8A 8B 9A 9B 10A 10B
%
Amostras
1,00 mm
500µm
250µm
125µm
63µm
Figura 13: Análise granulométrica da fração areia para a praia de Pirangi do Norte em
abril/2016.
0,00%
1,00%
2,00%
3,00%
4,00%
5,00%
6,00%
7,00%
8,00%
9,00%
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1A 1B 2A 2B 3A 3B 4A 4B 5A 5B 6A 6B 7A 7B 8A 8B 9A 9B 10A 10B
Amostras
nov/15
dez/15
jan/16
fev/16
mar/16
abr/16
Figura 14: Percentual da fração fina (silte + argila) para a praia de Pirangi do Norte ao
longo dos meses de amostragem.
14
Figura 15: Quadro representativo da análise granulométrica (fração areia) para a praia de
Pirangi do Norte.
15
Segundo Bird (2008), em praias adjacentes a desembocaduras fluviais é comum a
presença de sedimentos mais grossos (areia média a grossa) aportados pelo rio. A
composição de tamanho de grão do material praial pode variar lateralmente,
particularmente nos arredores de costões rochosos em erosão, onde a proporção de material
grosso localmente derivado pode ser alta, e perto a desembocaduras de rios, onde é
provável que uma proporção maior de sedimento fluvial grosso esteja presente.
No trecho 1 analisado, local mais próximo da foz do rio Pirangi, ocorreu areia
grossa (0,50mm) principalmente no estirâncio, em quatro dos meses avaliados. A fração de
areia mais grossa (embora não predominante), volta a ocorrer especialmente à partir do
trecho 6, quando a praia começa a mudar um pouco sua morfologia, passando para um
perfil mais reflectivo, com formação de berma no trechos 7 e 8 (Figura 16).
Segundo Komar (1977), o aumento do tamanho dos grãos de areia pode estar
relacionado à maior velocidade da corrente longitudinal, que possibilita transporte de
fundo. Com a diminuição da velocidade, o transporte é feito por suspensão, com
sedimentos de diâmetros menores, o que gera uma tendência à diminuição do diâmetro no
sentido do transporte de sedimentos pela corrente.
A B
Figura 16: Declividade acentuada, com formação de berma nas imediações dos trechos 7 e
8 em Pirangi do Norte. A: visão superior. B: visão Inferior. Fotos: Lucas Santos.
Quanto menor o diâmetro dos grãos de sedimento de uma praia, mais facilmente
pode ocorrer o transporte dos mesmos através do vento e de correntes longitudinais. Em
muitas praias, onde o aporte de sedimento é precário ou a dinâmica costeira é prejudicada
16
por construções irregulares isso pode levar a eventos de erosão. Este fato ocorre, por
exemplo, na praia de Ponta Negra, litoral central de Natal (SANTANA, 2013).
No entanto, aparentemente não há em Pirangi do Norte problemas de perda de
sedimentos com evidências de áreas em processo de erosão. Este fato pode indicar que há
um equilíbrio na dinâmica costeira, com relação ao aporte e perda de sedimento.
4.3 Caracterização da praia em relação a aspectos naturais e antrópicos
Os resultados foram expressos em dois quadros (Figuras 17 e 20) onde os
parâmetros analisados foram representados espacialmente por um gradiente colorido
indicando a condição alcançada (1, 2 ou 3), de forma a facilitar a interpretação dos dados
ao longo dos trechos avaliados.
4.3.1 Aspectos naturais
Segundo a classificação de praias definida no Projeto ORLA (PROJETO ORLA,
2002), Pirangi do Norte é considerada Orla Exposta, a qual se caracteriza por possuir
ambiente litorâneo constituído por costões rochosos ou praias oceânicas, com elevada taxa
de circulação e renovação de água. Geralmente caracterizada por praias abertas, com zona
de arrebentação bem desenvolvida. Apresenta formato de baixa concavidade, sendo mais
retilíneas e de orientação normal à direção de maior incidência da ação dominante dos
ventos e ondas, com sedimentos geralmente compostos por areia fina.
Normalmente a qualidade ambiental de uma praia está relacionada à manutenção
das condições naturais de seus atributos, como ambiente praial sem ocupação, cobertura
vegetal preservada, água e areia livres de poluentes.
Em Pirangi do Norte, para atributos considerados naturais, as melhores condições
se concentram nos extremos da praia, especialmente nos trechos 1, 2, 8, 9 e 10 (Figura 17).
17
Figura 17: Quadro representativo dos parâmetros naturais avaliados para a praia de Pirangi
do Norte.
18
Cerca de 50% da praia tem o ambiente praial bastante largo, com mais de 100m nas
marés mais baixas (Figuras 6 e 7). Nesses locais a pós-praia se mantém preservada, o que
favorece a dinâmica sedimentar, evitando riscos de erosão costeira. Mesmo nos trechos
onde a largura não ultrapassa os 100m, ainda assim não há indícios que caracterizam
processos erosivos.
Ambientes praiais largos, especialmente em praias dissipativas, favorecem o uso da
praia para atividades recreativas, já que existe um amplo espaço mesmo em marés
intermediárias.
Em Pirangi, não há linhas recifais visíveis, apenas a ocorrência de rochas areníticas
provavelmente impregnadas de óxido de ferro, nas extremidades da praia (Figura 18).
Essas formações favorecem a ocorrência de piscinas naturais que permitem um banho mais
seguro.
A
Fonte: http://m.feriasbrasil.com.br/rn/parnamirim).
B Foto: Lucas Santos
Figura 18: Recifes no ambiente praial de Pirangi do Norte. A: sul da praia; B: norte da
praia.
Com relação à cobertura vegetal, ela é mais abundante também nos extremos da
área, especialmente nos trechos 1 e 2 (Figuras 20A); nesses trechos a vegetação tanto
arbórea, quanto rasteira encontra-se presente em larga escala. Nos trechos finais, 9 e 10
também aparecem, mas em menor proporção.
No restante da praia a vegetação é bastante esparsa. A partir do trecho 3 ela foi
praticamente retirada para dar ocupação às estruturas construídas, casas e bares, restando
apenas poucas árvores, principalmente coqueiros.
Na parte mais ao norte da área, especialmente à partir do trecho 5 ocorre um cordão
dunar incipiente (incipient dune ridge) (Figura 20B), que segundo definição de Suguio
(1998), constitui um depósito eólico linear menos desenvolvido (mais baixo) e, em geral,
19
apresentando cobertura vegetal reduzida. As dunas incipientes são também conhecidas
como “dunas de crista praial” de acordo com Bigarella et al., (1969). Segundo Angulo
(2004), esses cordões incipientes são feições com altura inferior a 3m. Em alguns pontos
do litoral do Rio Grande do Sul, por exemplo, estes atingem entre 0,5 e 1m (CALLIARI et
al., 2005).
Essa vegetação caracteriza-se pela predominância de gramíneas, sendo conhecida
como vegetação fixadora de dunas e como vegetação de restinga, uma vez que ocorre
sobre areais de origem marinha.
A B
Figura 19: Cobertura vegetal presente na praia de Pirangi do Norte. A: Trecho 2. B:
Cordão dunar ao norte. Foto: Lucas Santos
Com relação à transparência da água, a influência do rio Pirangi é visível
especialmente ao sul da área, nos trechos adjacentes. O rio traz em suas águas uma carga
considerável de material particulado e com ajuda das correntes marinhas longitudinais há o
transporte desse material por praticamente toda a extensão da praia, reduzindo a
visibilidade da água. Como exceção a esse fato temos, os dois últimos trechos (9 e 10) que
estão após a barreira de recifes que reduzem a influencia desse material particulado e torna
a água visualmente mais transparente.
20
4.3.2 Aspectos antrópicos
De acordo com a classificação do Projeto ORLA (PROJETO ORLA, 2002), Pirangi
do Norte é considerada Orla em Processo de Urbanização, a qual se caracteriza por áreas
de baixo ou médio adensamento de construções e população, apresentando indícios de
ocupação recente ou em processo de ocupação. São áreas com paisagens parcialmente
antropizadas, em processo de mudança cultural, e com médio potencial de poluição
sanitária e estética.
Praias próximas a centros urbanos e que possuem atrativos naturais com potencial
para exploração turística, como é o caso de Pirangi do Norte (cajueiro gigante e parrachos)
normalmente atraem quantidades crescentes de pessoas, dependendo do nível de
divulgação de seus atrativos. A busca por essas opções, aliada às características do mar
local, como águas tranquilas, piscinas naturais, e oferta de comidas e bebidas,
provavelmente acarretará sempre o uso cada vez mais intenso dos espaços disponíveis,
gerando inúmeros conflitos.
Com relação aos parâmetros antrópicos avaliados, os quais são bons indicadores de
possíveis impactos, observou-se que as melhores condições também se encontram nos
trechos mais extremos da praia (Figura 20).
A parte mais central da praia de Pirangi do Norte apresenta vários aspectos que são
contrastantes com os demais trechos, entre esses são destaque, a descarga de água servida
na praia, com aspecto que pode indicar contaminação por esgotos; a ocupação irregular do
ambiente praial por construções; a presença de lixo na areia; e o elevado uso da praia, com
intensa atividade comercial associada.
21
Figura 20: Quadro representativo dos parâmetros antrópicos avaliados para a praia de
Pirangi do Norte.
22
Em vários pontos da praia podem ser observadas tubulações que descartam água de
origem desconhecida, como por exemplo, no ponto 5 (Figura 21A) e 6 (Figura 21B). O
mau cheiro percebido nos pontos de saída das tubulações pode indicar contaminação da
água por esgotos, o que pode afetar as condições sanitárias da praia, já que nas marés mais
altas a água marinha se comunica com a água que escoa pelas tubulações. Segundo estudo
realizado por Dantas (2015) valores de nitrato e amônia acima do permitido foram
encontrados na água servida descartada na praia de Pirangi do Norte, indicando que
recebem matéria orgânica.
Os usuários conseguem observar essa situação e assim ficam receosos com relação
à qualidade da água marinha. Em um estudo de percepção ambiental com usuários da praia
de Pirangi realizado por Azevedo (2014), 16% dos respondentes avaliaram a qualidade da
água como “provavelmente contaminada por esgoto”.
A B
Figura 21: Tubulações com descarga de água servida na areia da praia em Pirangi do
Norte. A: Trecho 5. B: Trecho 6.
A presença de lixo na praia é outro problema que ocorre especialmente nos trechos
mais centrais. Este fato pode estar associado ao uso da praia, que é concentrado no local.
Em um estudo realizado por Dantas (2015) durante um período de três meses, foi recolhido
na praia de Pirangi, um total de 3.481 itens de resíduos, especialmente compostos por
plásticos e restos de alimentos como cocos.
Muitos usuários descartam o lixo diretamente na areia da praia, ou porque não há
lixeiras em número suficiente (Figuras 22 A e B), ou porque não têm o hábito de se
preocupar com os espaços públicos. Normalmente os comerciantes dos bares e barracas
recolhem parte do lixo ao final do dia, mas isso não é suficiente para redução do problema.
23
Acúmulos de lixo em praias são bastante comuns e podem gerar uma série de
impactos que incluem comprometimento estético da área, contaminação de áreas costeiras
próximas e do próprio mar, riscos para usuários, riscos para a biota marinha e gastos
econômicos (ARAÚJO & COSTA, 2006; SILVA et al, 2008; SILVA-CAVALCANTI et
al, 2009).
A B
Figura 22: Acúmulo de lixo na praia de Pirangi do Norte. A: Trecho 3. B: Trecho 4.
Com relação à ocupação do ambiente praial, observa-se em Pirangi, a presença
predominante de casas de veraneio e restaurante ou bares na orla. Mas apenas entre os
trechos 3 ao 5 as construções estão presentes principalmente sobre a pós-praia
(Figuras 23A/B). No restante da praia, elas se localizam atrás da pós-praia (Figuras
23C/D).
Uma vez que se constrói sobre o ambiente praial, interrompendo o sistema natural
de abastecimento do mesmo com sedimentos, muitas vezes há a necessidade da construção
de estruturas tentando reter o sedimento existente e conter a força das ondas, ventos e
marés. A seleção da melhor opção para estabilização da praia é difícil. Deve ser
considerado o valor de cada praia, o valor das estruturas localizadas na área e os custos de
cada método de controle da erosão (DANIEL, 2001).
24
A B
C D
Figura 23: Ocupação do ambiente praial em Pirangi do Norte. A/B: Ocupação da pós-praia
e estirâncio. C/D: Ocupação acima da pós-praia.
Também os trechos mais centrais, são caracterizados pela intensa atividade
comercial, pela grande concentração de usuários (Figuras 23A; 24B) de praia e número
expressivo de vendedores ambulantes (Figura 24B) com a venda de água de coco,
protetores solares, óculos, roupas de banho, entre outros produtos.
O comércio sem planejamento traz uma série de problemas, principalmente
relacionados com a poluição ambiental, com aumento de ligações clandestinas e produção
de lixo. Outro impacto que provavelmente será sentido em pouco tempo, será o
comprometimento da qualidade ambiental dos parrachos, acarretado pela visitação
excessiva.
Os trechos 5 e 6, a atividade comercial é menor, sendo representada por poucos
quiosques com algumas mesas e cadeiras, recebendo uma quantidade razoável de banhistas
e usuários, porém não tão expressivos quanto os dos trechos anteriormente citados. O
destaque dessas áreas é a ocupação das casas de veraneio na região da pós-praia, sendo
susceptível a ação das ondas em casos de mares muito altas.
25
Segundo Azevedo (2014), o uso recreativo da praia de Pirangi é elevado
principalmente nos finais de semana, mas ocorre de forma diferenciada quando se compara
os sábados e os domingos. Aos sábados o público frequentador utiliza a infraestrutura dos
bares localizados na praia, consumindo os produtos oferecidos nesses locais (Figura 23A);
já aos domingos, uma grande quantidade de pessoas utiliza tendas armadas na praia,
chegando em grupos familiares ou de amigos e trazendo de casa praticamente tudo o que
vai consumir (Figura 24A). Essas pessoas se localizam especialmente nos trechos 3 e 4.
A B
Figura 24: A: Uso da praia de Pirangi do Norte aos domingos. B: Atividade comercial.
Fotos: Lucas Santos
Em toda a praia, não existe um aparato de infraestrutura satisfatória que dê suporte
ao uso recreativo. Faltam banheiros públicos, chuveiros, salva-vidas e lixeiras em
quantidade suficiente para acomodar todo o lixo produzido. Nos trechos onde há a
concentração dos bares e restaurantes, o público utiliza banheiros improvisados ou aqueles
presentes no restaurante da Marina Badauê, ponto de saída de turistas para os parrachos.
26
5. CONCLUSÕES
A praia de Pirangi do Norte possui de maneira predominante seu sedimento
pertencente à fração areia, ocorrendo variações de quantitativas de areia média na parte
norte da praia, isso devido a características da área como também dinâmica de ondas.
Já quanto aos aspectos ambientais e antrópicos a praia mostrou possuir regiões
distintas, nos quais sua extremidade sul, próxima ao rio, e a porção norte demonstraram
melhores condições ambientais, como também reduzida atividade por ação antrópica,
destoando das áreas ao centro e sul da praia, que apresentam intensa atividade comercial e
turística prejudicando a qualidade ambiental da praia. Um dos parâmetros antrópicos que
ocorre ao longo da praia mesmo que de maneira não tão evidente, em certas áreas, são as
descargas de esgoto, que lançam efluentes diretamente na praia em direção do mar.
A praia de Pirangi do Norte é um ambiente susceptível a problemas decorrentes da
ação antrópica, e embora ainda não esteja com níveis de comprometimento muito
acentuados, existe uma série de impactos associados ao uso da praia e a ocupação
desordenada, principalmente pelas atividades comerciais.
Assim é imprescindível a elaboração de ações, projetos ou até mesmo de um plano de
gestão costeira, a fim de, ordenar/organizar as atividades comercias e turísticas, como
também trabalho de conscientização dos usuários, moradores e comerciantes da
importância da conservação da praia, com a finalidade de reduzir a degradação do
ambiente praial, destacando as belezas naturais que tanto atrai os visitantes à praia de
Pirangi do Norte.
27
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