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Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF 4, 5 e 6 de junho de 2012 CARTASUS: GESTÃO PARTICIPATIVA, TRANSPARÊNCIA, AVALIAÇÃO E SATISFAÇÃO CIDADÃ Luiz Odorico Monteiro de Andrade Kelly Gonçalves Meira Arruda Silvia Vasconcelos do Prado Arruda

CARTASUS: GESTÃO PARTICIPATIVA, TRANSPARÊNCIA, AVALIAÇÃO E ... · Painel 30/108 Inovação em gestão no SUS: a ouvidoria ativa como estratégia para garantir acesso e acolhimento

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Centro de Convenções Ulysses Guimarães

Brasília/DF – 4, 5 e 6 de junho de 2012

CARTASUS: GESTÃO PARTICIPATIVA, TRANSPARÊNCIA, AVALIAÇÃO E

SATISFAÇÃO CIDADÃ

Luiz Odorico Monteiro de Andrade Kelly Gonçalves Meira Arruda

Silvia Vasconcelos do Prado Arruda

Painel 30/108 Inovação em gestão no SUS: a ouvidoria ativa como estratégia para garantir acesso e acolhimento com qualidade, transparência, avaliação e satisfação cidadã.

CARTASUS: GESTÃO PARTICIPATIVA, TRANSPARÊNCIA,

AVALIAÇÃO E SATISFAÇÃO CIDADÃ

LUIZ ODORICO MONTEIRO DE ANDRADE KELLY GONÇALVES MEIRA ARRUDA

SILVIA VASCONCELOS DO PRADO ARRUDA

RESUMO Objetivo: A CartaSUS é uma ação que tem o objetivo de reforçar o controle e a participação da população na gestão do SUS. Visa estabelecer uma relação direta dos gestores do sistema de saúde com os cidadãos, buscando angariar a adesão da sociedade na defesa do SUS, bem como identificar a percepção dos usuários em relação à qualidade do atendimento. Metodologia: A Carta é enviada, mensalmente, aos cidadãos que passaram por Internação Hospitalar pelo SUS. Além disso, a cada seis meses, o envio também ocorre aos cidadãos que passaram por Procedimento de Alta Complexidade. Nela constam dados do cidadão, informações da internação ou do procedimento que o mesmo realizou, valor que o SUS pagou por isso e uma pesquisa de avaliação do atendimento que ele recebeu no hospital. Resultados esperados: Com a participação do cidadão, ou seja, com a confirmação das informações contidas na carta ou com a manifestação de desacordo, e com as respostas sobre a qualidade do atendimento tem-se materiais de pesquisa que dão subsídio à Gestão. Conclusão: Para que as melhorias do Sistema Único de Saúde sejam concretizadas faz-se necessária a efetiva participação da sociedade, passível de direitos e de obrigações. Assim, o Departamento de Ouvidoria-Geral do SUS surge como mais um serviço para o fortalecimento da participação social e da qualificação da gestão no SUS.

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INTRODUÇÃO

De acordo com o Decreto no 7.530 de 21 de Julho de 2011, ao

Departamento de Ouvidoria – Geral do SUS (DOGES) compete, dentre outras

funções, implementar políticas de estímulo à participação de usuários e entidades da

sociedade no processo de avaliação dos serviços prestados pelo SUS e assegurar

aos cidadãos o acesso às informações sobre o direito à saúde e às relativas ao

exercício desse direito.

Dessa forma, o DOGES se fortalece como instrumento potencial de

exercício da cidadania e instrumento de gestão, contribuindo para uma democracia

participativa. Atua como um canal direto de comunicação da comunidade e dos

usuários do SUS para subsidiar a política de saúde do País e contribuir com a

prática do controle social.

Foi publicado em Junho de 2011, no Decreto no 7.508, que o Contrato

Organizativo de Ação Pública de Saúde observará algumas diretrizes básicas para

fins de garantia da gestão participativa, como o estabelecimento de estratégias que

incorporem a avaliação do usuário das ações e dos serviços, como ferramenta de

sua melhoria.

A avaliação é entendida como um processo que implica julgar, emitir um

julgamento de valor, tendo por base uma análise do que foi realizado (intervenção,

ação, serviço, procedimento etc.) ou uma análise do resultado obtido, sempre em

comparação com um referencial considerado como um ideal a ser alcançado.

Reconhece os direitos de cidadania dos usuários dos serviços de saúde.

Novas responsabilidades da gestão do sistema de saúde requerem a

incorporação da avaliação como componente do processo de planejamento, como

atividade capaz de subsidiar as tomadas de decisões e como elemento auxiliar nas

iniciativas voltadas para a mudança do modelo assistencial. A incorporação da

avaliação como uma atividade sistemática ao interior da gestão de saúde pode ser

considerada como um dos indicadores de modificação do modelo assistencial.

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Alguns autores definem a participação como o conjunto de atividades

relacionadas ao momento eleitoral. Sugestivas dessa interpretação são as

definições de Pasquino, para os quais, por participação política deve-se entender

como “o conjunto de ações e de comportamentos que aspiram a influenciar de forma

mais ou menos direta e mais ou menos legal as decisões dos detentores do poder

no sistema político ou em organizações políticas particulares, bem como a própria

escolha daqueles, com o propósito de manter ou modificar a estrutura (e,

consequentemente, os valores) do sistema de interesses dominante”.

A participação política constitui um elemento essencial das democracias

contemporâneas; é considerada por alguns autores como o coração da democracia.

Não se fala em democracia sem a participação livre dos cidadãos nos processos de

governo. É através dela que o cidadão manifesta suas demandas e faz ouvir suas

queixas de uma forma mais ampla. Além disso, faz com que os governos e políticos

sejam mais responsáveis ao se sentirem mais controlados.

A ideia de participação e controle social está intimamente relacionada,

pois por meio da participação na gestão pública, os cidadãos podem intervir na

tomada da decisão administrativa, orientando a Administração para que adote

medidas que realmente atendam ao interesse público e, ao mesmo tempo, podem

exercer controle sobre a ação do Estado, exigindo que o gestor público preste

contas de sua atuação.

A Constituição garante, em seus artigos 196 a 200, que cabe ao poder

público dispor sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua

execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa de

direito privado. As ações e serviços públicos de saúde constituem um sistema único,

organizado de acordo com diretrizes como a participação da comunidade,

competindo, além de outras atribuições, o controle e a fiscalização de

procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde.

A Gestão Estratégica e Participativa constitui-se em um conjunto de

atividades voltadas ao aprimoramento da gestão do SUS, visando maior eficácia,

eficiência e efetividade, por meio de ações que incluem o apoio ao controle social, a

educação popular, a mobilização social, a busca da equidade, o monitoramento e

avaliação, a ouvidoria, entre outros.

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É de fundamental importância a criação de alternativas eficientes de

informação e de escuta do usuário do SUS e da população em geral, reformulando o

conceito e a dinâmica das ouvidorias, transformando-as em fontes de informações

privilegiadas para fomentar a gestão do SUS.

A CartaSUS é um instrumento de gestão estratégica que envolve a

avaliação direta das ações e serviços de saúde pelo cidadão usuário do SUS e visa

garantir a efetivação de uma gestão participativa e dialógica. Além disso, permite à

gestão monitorar e controlar a efetividade de atendimentos realizados pelo Sistema

Único de Saúde.

O monitoramento e avaliação buscam identificar pontos de fragilidade que

merecerão a adoção de medidas ou intervenções por parte dos gestores, visando

superar os desafios que impedem o avanço da saúde pública no Brasil.

OBJETIVOS

O objetivo da ação é, em primeiro lugar, estabelecer uma relação direta

dos gestores do sistema de saúde com os cidadãos, buscando angariar a adesão da

sociedade na Defesa do SUS. Em segundo lugar, a carta busca identificar a

percepção dos usuários em relação à qualidade do atendimento do SUS.

Objetivos gerais

Contribuir com o movimento de defesa do SUS, buscando estratégias

de aproximação dos cidadãos que utilizam o sistema e seus gestores.

Contribuir para o desenvolvimento de metodologias de análise sobre as

práticas de atenção do SUS, com foco na visão do usuário sobre a

qualidade do atendimento recebido.

Contribuir para o conhecimento, a reflexão e a sensibilização dos

gestores, profissionais e prestadores de serviços de saúde e da

comunidade, para que possam dar suporte à condução democrática

dos processos de formulação e avaliação de políticas de saúde.

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Objetivos específicos

Construir metodologias democráticas e participativas de avaliação e

monitoramento da atenção e da gestão em saúde, incorporando a

percepção dos usuários sobre a qualidade do atendimento recebido

por eles.

Construir relatórios gerenciais com as informações da pesquisa,

disponibilizando-os aos Gestores Municipais e Estaduais.

Mensurar a qualificação dos prestadores de serviços do Sistema Único

de Saúde sob a visão do cidadão usuário desse sistema, identificando

necessidades de adequações dos mesmos.

Contribuir com a ampliação da transparência na gestão pública de

saúde, garantindo o funcionamento efetivo, autônomo e articulado do

controle social.

Informar aos gestores a avaliação dos usuários e conhecer a opinião

dos municípios e estados acerca dos principais problemas apontados,

buscando uma maior aproximação da sociedade com as formas de

organização do modelo assistencial no país.

DESENVOLVIMENTO

Avaliação da qualidade sob a ótica do cidadão usuário

A partir de 1970, observou-se uma valorização do usuário como um

elemento poderoso na avaliação dos serviços de saúde, resultado da visão do

paciente como um consumidor de serviços de saúde. Diversos esforços teóricos e

de pesquisa têm sido empreendidos para caracterizar a avaliação da qualidade de

serviços de saúde realizada pelos usuários.

As razões para este crescimento foram, para Lebow (1974), o resultado

do aumento do interesse com relação ao cuidado do paciente por parte dos

profissionais médicos; da participação dos cientistas sociais, com suas sofisticadas

técnicas, na abordagem das medidas de qualidade do cuidado médico; do aumento

do questionamento pela população da infalibilidade ou homogeneidade do cuidado

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médico; do maior interesse dos órgãos públicos quanto ao estudo de todos os

aspectos de saúde; do desenvolvimento de grandes organizações (planos de

seguros) interessados no monitoramento da saúde e no cuidado de seus clientes; e

da visão de saúde como um fator de qualidade de vida.

Vários fatores afetam a percepção do paciente quanto à qualidade,

destacando-se as experiências anteriores de contato com serviços médicos, as

condições em que elas se deram e o seu estado atual de saúde. Estes fatores

tornam complexa a percepção individual do cuidado de saúde e não são

considerados nas propostas de avaliação de processo e resultado. (Leblow, 1974)

Uma contribuição teórica amplamente reconhecida na área é a de Avedis

Donabedian, autor que a partir de meados da década de 60 aparece como

referência quase obrigatória em qualquer trabalho sobre qualidade em serviços de

saúde. Donabedian propôs uma metodologia de avaliação do cuidado médico

baseada na análise da Estrutura, do Processo e do Resultado.

Para este autor, a avaliação dos serviços comporta sempre o

desempenho técnico, ou seja, a aplicação do conhecimento e da tecnologia médica

de modo a maximizar os benefícios e minimizar os riscos, de acordo com as

preferências de cada paciente; o relacionamento pessoal com o paciente, de modo a

satisfazer dos preceitos éticos as normas sociais; e as verdadeiras expectativas e

necessidades dos pacientes.

A partir da interação entre o paciente e o médico, existe um processo

complexo, que vai desde componentes comportamentais até componentes técnicos

muito específicos. A avaliação qualitativa do cuidado médico poderia se dar em três

de seus componentes: Estrutura, Processo e Resultado.

Observa-se nessa abordagem de Donabedian, uma valorização desta

dimensão dual do ato médico, como ciência e técnica médica por um lado, e

enquanto “arte do cuidado”, por outro. O reconhecimento dessa dupla dimensão do

cuidado em saúde implicou em consequências limitadoras das possibilidades de

avaliação da qualidade dos serviços pela mera mensuração da percepção ou da

satisfação do usuário. O desconhecimento do usuário médio quanto ao conteúdo

técnico das práticas limita em muito a sua capacidade de discernimento sobre o

nível de qualidade dos serviços a que é submetido (ele, em geral, se comporta como

“paciente”, agente passivo do cuidado).

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Para Donabedian o estudo da satisfação do paciente seria o mais

importante objetivo no estudo do desempenho técnico. A satisfação do paciente

seria um indicador somente aproximado da qualidade do serviço, não podendo ser

um indicador direto ou indireto, porém se deveria dar mais atenção às necessidades

do paciente. A satisfação dos profissionais de saúde seria também uma importante

dimensão na avaliação global da qualidade do cuidado.

A incorporação do usuário na avaliação tem sido valorizada não apenas

por se caracterizar um indicador sensível da qualidade do serviço prestado, mas por

estar potencialmente relacionada à maior adequação no uso do serviço. Aspectos

ligados a mudanças de comportamento, incluindo adesão à orientação fornecida,

podem ser identificados como resultantes do ajuste do usuário como responsável

pela avaliação, o que articula, além dos aspectos econômicos de eficiência e

eficácia dos serviços, a aceitabilidade social dos mesmos.

Uma questão recorrente nas discussões de qualidade de serviços de

saúde é a vulnerabilidade dos usuários frente aos processos técnicos utilizados

pelos médicos e demais profissionais de saúde. Essa vulnerabilidade dos

consumidores frente à dimensão técnica dos serviços não é exclusiva do caso da

saúde, mas manteria uma equivalência com os demais consumidores em geral de

bens e serviços.

Para Nogueira, a referida vulnerabilidade dos consumidores frente à

dimensão técnica do serviço pode ser então relativizada para quem a capacidade de

juízo objetivo pelos consumidores é, em geral, subestimada, sendo uma

característica comum a todos os consumidores dos demais bens ou serviços,

somente minorada através da educação para o consumo.

Poderia ser minorada, mas não de todo eliminada. Pode se admitir que

existam graus diferenciados de vulnerabilidade do consumidor frente à dimensão

técnica dos serviços, ampliada no caso dos serviços de saúde e demais serviços

com alta e crescente densidade tecnológica, que variam em função do nível de

educação e de informação do usuário. Esta constatação implica em consequências

transcendentes para as técnicas de mensuração da percepção da qualidade pelo

consumidor, pois resulta na constatação de que esta percepção, em graus variados

e desconhecidos, corresponde a uma falsa percepção.

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Percebe-se, de toda maneira, uma lacuna de mensuração difícil, senão

impossível, entre o serviço percebido e a expectativa do consumidor. Essa lacuna,

cuja amplitude caracterizaria a qualidade final do serviço, seria função de outras

lacunas secundárias (entre expectativas do consumidor e percepções do serviço

quanto a estas expectativas; entre a percepção e as especificações de qualidade

dos serviços; entre as especificações de qualidade do serviço e o serviço oferecido;

e entre comunicações externas e serviço oferecido).

A forma como o consumidor percebe os serviços oferecidos, isto é, a

diferença entre o “serviço percebido” e o “serviço oferecido”, seria função da

capacidade de julgamento do consumidor sobre a adequabilidade e correção dos

procedimentos realizados durante a prestação do serviço. No caso de serviços com

conteúdo técnico relevante, como é o caso dos serviços de saúde e de outros, esta

lacuna mostra uma grande diferenciação de consumidor para consumidor, na

proporção do nível de seu conhecimento sobre a dimensão técnica do serviço. O

grau de desenvolvimento de seu conhecimento sobre a dimensão técnica do serviço

vai influir diretamente na formação de sua opinião sobre a qualidade do serviço.

Este modelo conceitual insere-se numa classificação das diferentes

definições de qualidade como uma abordagem baseada no usuário.

Essas concepções entendem a qualidade como um atributo de caráter subjetivo

e de difícil mensuração, a qual está relacionada com a satisfação do consumidor

com o produto.

Esse tipo de abordagem baseia-se num entendimento do conceito de

qualidade como um “juízo sintético” acerca das características de um produto ou

serviço. Na raiz de qualquer avaliação de qualidade está uma variedade de juízos

sobre cada uma das propriedades ou qualidades de um produto consideradas

individualmente. Mas o que transparece no final do processo é muito mais a

sentença, como uma espécie de veredicto. Qualidade é, portanto, a síntese dos

juízos sobre as propriedades de um produto.

Nogueira, ao analisar este tipo de abordagem, que entende a qualidade

como uma opinião expressa sobre um produto ou serviço, recorre à clássica

discussão do campo filosófico entre “opinião” e “conhecimento”. Afastando-se das

visões que oporiam rigidamente ciência e opinião, admite que a opinião assimilaria

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progressivamente conteúdos da ciência e da experiência e, mesmo no caso da

saúde, não se apresentando como um caso absolutamente singular frente aos

outros mercados e o consumidor, não insistiria indefinidamente em escolher

pelas aparências.

Pode-se entender que o estudo da percepção do usuário quanto à

qualidade, apresenta-se como um componente da avaliação geral da qualidade dos

serviços de saúde, não podendo ser realizada isoladamente pelas limitações desta

percepção quanto às dimensões técnicas do serviço. Essa limitação, da

vulnerabilidade do usuário frente à dimensão técnica, apesar de ser reconhecida por

diversos autores, tem sido em geral relativizada, indicando a possibilidade lógica e a

pertinência de sua utilização na avaliação dos serviços de saúde.

A CartaSUS

A escassa experiência em avaliação da percepção da qualidade dos

serviços de saúde no Brasil indica a necessidade de maior preocupação com o

desenvolvimento de metodologias adequadas. Mesmo com a adoção de enfoques

metodológicos já existentes na literatura e já testados, é necessária a adequação

dos modelos teóricos e das metodologias e instrumentos correspondentes.

A utilização de mais de um enfoque metodológico em um mesmo universo pode

contribuir para a seleção de metodologia mais pertinente.

A avaliação dos serviços de saúde se constituía basicamente em um

instrumento de verificação da efetiva implementação de decisões e ações

administrativas e gerenciais, enquanto tal concentrava sua atenção sobre os

aspectos relativos às "estruturas" e "processos" (Donabedian) que organizam a

atenção prestada pelos serviços.

Na discussão da qualidade nos serviços de saúde, a avaliação deve

aparecer como um dos instrumentos de intervenção, devendo dar conta também dos

resultados obtidos pelos serviços sobre os processos saúde/doença, tanto em nível

individual como coletivo. Nessa nova construção, deve ser possível uma

problematização mais ampliada das questões envolvidas na definição de uma

qualidade sempre mutante, que passa pela capacidade de transitar, identificando as

descontinuidades, desde os aspectos mais específicos, individuais, até aqueles mais

gerais, coletivos.

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O resultado de um monitoramento e avaliação representa a percepção

dos envolvidos sobre o processo de formulação, sobre o conteúdo e sobre o uso

do serviço.

O Controle social pode ser definido, justamente, como a capacidade que

a sociedade civil tem de interferir na gestão pública, controlando as ações do estado

sobre a sociedade. É, acima de tudo, partilhar poder; construir um processo político

pedagógico de conquista da cidadania e fortalecimento da sociedade civil.

O fortalecimento da mobilização e do controle social pode ser efetivado

mediante a criação de outros canais de comunicação entre o cidadão e o governo,

através da promoção da educação popular com novas ações e programas de saúde.

A CartaSUS é uma ferramenta na qual os usuários podem avaliar o

atendimento e os serviços prestados nas unidades públicas ou conveniadas com o

SUS. É enviada ao cidadão para que o mesmo tenha acesso aos recursos pagos

pelo seu atendimento e se manifeste quanto à sua avaliação do serviço.

É um instrumento que, além de ser utilizado para ampliar a transparência

na gestão pública de saúde, atua como disseminador de informações, que não

ocorre somente quanto ao atendimento prestado e os direitos do cidadão usuário do

SUS, mas também quanto a programas e campanhas do Ministério da Saúde como

papel educativo.

A disseminação de informações constitui um aspecto fundamental no

entendimento de que as Ouvidorias possuem postura proativa à medida que

fornecem orientação sobre saúde à população. Acredita-se que essa atuação

contribui para a saúde preventiva e formação de cidadãos mais conscientes de seus

direitos e deveres.

Além disso, permite que o Departamento de Ouvidoria Geral do SUS

registre manifestações baseadas no conhecimento dos requisitos precedentes para

tanto, evitando demandas infundadas. Propicia também aos cidadãos, um espaço

para busca de compreensão sobre o SUS e sobre como as diversas formas de

participação de controle social podem contribuir para sua melhoria.

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A Carta tem como característica marcante esse caráter informativo e

provocador de manifestações, mas busca, também, apreender de forma simples e

quantificável, a percepção geral dos usuários sobre o atendimento recebido.

Ou seja, uma carta de caráter informativo, mas com canais aberto para sua

manifestação, seja sugestão, reclamação, denúncia, informação, elogio ou

solicitação.

METODOLOGIA

Na CartaSUS constam informações que orientam quanto à transparência

da Gestão, a importância da participação do cidadão; informações sobre o

atendimento realizado e o valor que o SUS pagou pelo mesmo; e uma pesquisa de

avaliação quanto ao serviço prestado ao usuário do Sistema de Saúde.

O instrumento utilizado para a realização da Pesquisa de Satisfação

consiste num cartão-resposta anexado à carta. No cartão resposta contém cinco

perguntas relativas ao atendimento prestado pela equipe médica, ao atendimento

prestado pela equipe de enfermagem, à maneira como o cidadão foi tratado no

hospital, ao estado das instalações físicas do estabelecimento e questiona também se

o cidadão recomendaria a unidade em que foi atendido para algum amigo ou familiar.

Essa Pesquisa é uma ferramenta que permite visualizar a situação

assistencial do país como um todo. Seu desdobramento analítico deve ser oferecido

a todos os gestores do SUS, para que estes possam utilizar as informações em

benefício da assistência hospitalar prestada em sua área de gestão.

O envio dessas cartas aos cidadãos usuários do Sistema Único de Saúde

ocorre para que os mesmos possam conferir os procedimentos realizados, valores

pagos pelo SUS e outros dados do seu atendimento. Essa sistemática permite a

fiscalização dos serviços do Sistema Único de Saúde, possibilitando o controle dos

recursos públicos e subsidiando a Gestão Pública, e a avaliação do atendimento

prestado, conhecendo a percepção do usuário e aferindo a qualidade do

atendimento por meio da aplicação da pesquisa de satisfação.

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É uma sistemática ampla, pois pode ser direcionada a cidadãos que

passaram por procedimento específico, de acordo com o objetivo da Gestão, sendo

que o Ministério da Saúde conta com Sistemas Informatizados que permitem o

acesso a informações do atendimento na atenção básica, informações

ambulatoriais, hospitalares, entre outras. Nesses sistemas sabe-se, dentre outros

dados, os cidadãos que foram atendidos pelo SUS e os procedimentos que os

mesmos realizaram.

Concomitante ao envio das cartas é necessário estabelecer e aprimorar

as possibilidades de resposta do usuário, sendo fundamental facilitar esta

comunicação e proporcionar um contato objetivo, porém claro e humanizado. Para

esta finalidade, o Departamento de Ouvidoria-Geral do SUS conta com a Central de

Pesquisa e Acolhimento Humanizado de Manifestações da Ouvidoria Geral do SUS,

que permite um tratamento individual das ligações, buscando conhecer os principais

aspectos do atendimento e orientar o usuário no que for necessário e solicitado.

Este serviço é gratuito para os usuários e ocorre pelo Disque Saúde 136. Outros

canais de comunicação utilizados são o FormulárioWeb, espaço para manifestação

disponibilizado no site do Ministério da Saúde, as cartas espontâneas enviadas ao

referido órgão e o atendimento presencial.

As 05 (cinco) perguntas sobre a qualidade do atendimento que são

inseridas na carta podem ser respondidas através do cartão resposta destacável,

com porte pago pelo Ministério da Saúde, bastando preenchê-lo e entregá-lo ao

carteiro, agência ou caixa de coleta do CORREIO. Porém, a Ouvidoria-Geral do SUS

também disponibiliza todos os seus canais de entrada para que o cidadão responda

à carta.

Os registros gerados no DOGES, não só oriundos da carta, mas todos de

forma geral, podem ser classificados como Denúncia, Elogio, Reclamação,

Sugestão, Informação e Solicitação, que resultam numa série de ações, incluindo a

apuração de Denúncias. Para tratamento, encaminhamento e acompanhamento

desses registros, a Ouvidoria conta com o Sistema Informatizado OuvidorSUS,

regulamentado pela Portaria no 8, de 25 de maio de 2007.

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O Sistema permite a disseminação de informações, o registro e o

encaminhamento das manifestações dos cidadãos. Possibilita a troca de

informações entre os órgãos responsáveis pela gestão do SUS, para adoção das

providências cabíveis diante das manifestações recebidas.

São objetivos do OuvidorSUS atuar como ferramenta no processo de

descentralização do Sistema Nacional de Ouvidorias do SUS; facilitar a

democratização de informações em saúde; agilizar o processo de recebimento,

encaminhamento, acompanhamento e resposta das manifestações recebidas; e gerar

relatórios gerenciais que auxiliem na melhoria contínua do Sistema Único de Saúde.

Com a participação do cidadão, ou seja, com a confirmação das

informações contidas na carta ou manifestações de desacordo; com as respostas

sobre a qualidade do atendimento; e com demais manifestações geradas, tem-se

materiais de pesquisa que possibilitarão elaboração de relatórios gerenciais para

subsidiar a Gestão de todos os entes federativos.

Com o envio das cartas pode-se, também, analisar a devolução das

mesmas, identificando informações quanto aos endereços dos pacientes; analisar a

tendência de aumento ou queda de Denúncias, decorrentes do caráter de

fiscalização e, consequentemente, inibir irregularidades do Sistema CartaSUS;

dentre outros aspectos.

Em uma segunda etapa é possível adotar uma nova abordagem para

avaliar a assistência prestada pelo SUS, consistindo na verificação do tempo de

espera transcorrido entre a indicação médica e a efetiva internação para realização

do procedimento indicado. Além do tempo de espera, a ação possibilita focar em

fatores que retardam o atendimento como, por exemplo, falta de profissional

especializado, falta de leito ou equipamento etc.

CONCLUSÃO

Avaliar aspectos estreitamente vinculados à promoção da saúde, como a

descentralização político-gerencial do sistema e a participação da população, implica

qualificar e institucionalizar a avaliação nos diversos níveis de governo

comprometidos com as mudanças do modelo assistencial do SUS.

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Ter a avaliação instituída na estrutura da política, entretanto, requer

cuidado em razão das inúmeras transformações que as intenções, diretrizes e

normas que orientam a política sofrem ao serem implantadas no âmbito federal,

estadual e municipal de gestão do sistema.

Este cuidado se torna particularmente importante no Brasil, diante da

difícil e desigual realidade socioeconômica, da extensão territorial nacional, da

heterogeneidade dos problemas regionais, das distintas capacidades locais e da

diversidade cultural.

Os anseios da população para a melhoria dos serviços prestados pelo

SUS não são pequenos. Para que essas melhorias sejam concretizadas faz-se

necessária a efetiva participação da sociedade, passível de direitos e de obrigações,

na luta pela garantia dos preceitos constitucionais. Assim, o Departamento de

Ouvidoria-Geral do SUS surge como mais um serviço para o fortalecimento da

participação social e da qualificação da gestão no SUS.

Há uma crescente quantidade de ações da Ouvidoria do SUS que fazem

com que aumente o volume de manifestações da população. É necessário que haja

uma devida sensibilização e articulação dos gestores da saúde e de outros setores,

garantindo eficiência e resolutividade no tratamento dessas manifestações e

subsidiando ações para melhorias contínuas do Sistema Único de Saúde.

A CartaSUS atua como uma expressão da democracia por meio de

modelo participativo, capaz de gerar a vocalização coletiva ou individual e promover

uma postura ativa ao exercício abusivo ou arbitrário do serviço público de saúde.

Todos os meios de entrada à Ouvidoria caracterizam-na como forte

defensora do controle social, integrando a sociedade com a Gestão do SUS e

incentivando a participação dos cidadãos no exercício do poder, colocando a

vontade social como fator de avaliação para a criação de metas a serem alcançadas

no âmbito de algumas políticas públicas.

Quanto mais bem informado o cidadão, melhor condição tem de participar

dos processos decisórios e de apontar falhas. Isso realimenta o sistema, garantindo

maior eficiência e menos omissão. Dar transparência aos atos da administração

pública é a forma da população conhecer como seus representantes estão aplicando

os recursos públicos, controlando os gastos do Governo e garantindo, assim, sua

correta aplicação.

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O incentivo à integralidade no SUS representa campo no qual é possível

a construção da autonomia das pessoas como cidadãos, como usuários do sistema

de saúde e como centro de todo o processo de organização das práticas de saúde.

É preciso promover práticas solidárias, criativas e flexíveis que contribuam

para superar relações excludentes e situações de iniquidade, e concretizem

propósitos sociais de bem-estar para todos.

À gestão participativa requer a adoção de instrumentos e mecanismos

inovadores que efetivem a participação popular. Pressupõe, portanto, ampliação de

espaços públicos e coletivos para o exercício do diálogo, visto que sem o diálogo

não há comunicação e, consequentemente, não há uma verdadeira educação.

REFERÊNCIAS

1. Falando de Ouvidoria: experiências e reflexões / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento de Ouvidoria-Geral do SUS – Brasília: Ministério da Saúde, 2010.

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4. BRASIL. Decreto 7.508, de 28 de Junho de 2011. Regulamenta a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde (SUS), o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa, e dá outras providências.

5. BRASIL. Lei no 8.142, de 28 de Dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 31 dez. 1990.

6. BRASIL. Ministério da Saúde; ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Sistema de Planejamento do SUS (PlanejaSUS): uma construção coletiva: Monitoramento e avaliação: processo de formulação, conteúdo e uso dos instrumentos do PlanejaSUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. (Série B. Textos Básicos de Saúde).

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11. NOGUEIRA, R.P. Perspectivas da qualidade em saúde. Rio de Janeiro: Qualitymark Ed., 1994.

12. ESPERIDIAO, Monique; TRAD, Leny Alves Bomfim. Avaliação de satisfação de usuários. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, 2012. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232005000500031&lng=en&nrm=iso>. access on 04 May 2012. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232005000500031.

13. NOVAES, H. Maria Dutilh; TANAKA, Oswaldo Y.. A Epidemiologia na avaliação dos serviços de saúde: a discussão da qualidade. Saude soc., São Paulo, v. 4, n. 1-2, 1995. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12901995000100023&lng=en&nrm=iso>. Access on 07 May 2012. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12901995000100023.

14. BORBA, Julian. Participação política: uma revisão dos modelos de classificação. Versão Dezembro, 2010.

15. Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Diretrizes nacionais para o processo de educação permanente no controle social do SUS. Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Saúde – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2006.

16. Brasil. Ministério da Saúde. Departamento de Ouvidoria Geral do SUS. Relatório Gerencial de 2011. Disponível em http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/relatorio_gerencial_2011.pdf. Acesso em 07 de Maio de 2012.

17. Avaliação da qualidade dos serviços de saúde pelos usuários. Projeto carta ao usuário do SUS. Secretaria de Atenção à Saúde – SAS e Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa – SGEP. Ministério da Saúde. Outubro de 2011.

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ANEXO I – MODELO CARTASUS

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AUTORIA

Luiz Odorico Monteiro de Andrade – Secretário de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde.

Endereço eletrônico: [email protected] Kelly Gonçalves Meira Arruda – Coordenadora Geral de Pesquisa e Processamento de Demandas do Departamento de Ouvidoria Geral do SUS.

Endereço eletrônico: [email protected] Silvia Vasconcelos do Prado Arruda – Consultora do Departamento de Ouvidoria Geral do SUS.

Endereço eletrônico: [email protected]