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Cartografia Critica Analise Discurso Geografico Revista Geoamazonia

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Geografia

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Cartografia crtica para anlise do discurso geogrfico Jovenildo Cardoso RODRIGUES ________________________________________________ Revista GeoAmaznia, Belm, v. 02, n. 2, p. 79 - 91,jul./dez. 2013. 79 CARTOGRAFIACRTICAPARAANLISEDO DISCURSO GEOGRFICO Jovenildo Cardoso RODRIGUES1 Resumo Ageografiacontempornea,particularmenteageografiacrticaortodoxa,aolongodoseu processodeformaoepistemolgicaedisciplinardesenvolveuumasriedereflexesque tenderamanegligenciaroumesmomarginalizaromapa,compreendidoenquantoheranada geografiatradicionalepragmtica.Considerandotalquesto/discusso,esteensaioobjetiva apresentaralgumasreflexesacercadopapeldacartografianoperodoatual,bemcomo,da "CartografiaGeogrficaCrtica"(CGC)demaneiraasepensaromapa,paraalmdacrtica ortodoxa,compreendendo-ocomopartedaanlisedodiscursogeogrfico,instrumentode saberepoderapartirdoqualsetornapossvelinterpretararealidadesocioespaciale,mesmo, contribuiremprocessos de emancipaosocial. Palavras-chave:Cartografia;CartografiaGeogrficaCrtica;Mapa. LA CARTOGRAPHIECRITIQUEPOUR L'ANALYSEDU DISCOURS GOGRAPHIQU Rsum Lagographiecontemporaine,enparticulierlagographiecritiqueorthodoxe,aucoursdeson dveloppementpistmologiqueetdisciplinaireadveloppunesriederflexionsquiont tendancengligeroummemarginaliserlacarte,comprisecommeunhritagedela gographietraditionnelleetdelapragmatique.partirdecettequestion/discussion,cet essaiviseprsenterquelquesrflexionssurlerledelacartographiedelapriodeactuelle, ainsiquela"CartographieGographiqueCritique"(CCG),afinderflchirlacarte,au-del delacritiqueorthodoxe,enlacomprenantpartirdel'analysedudiscoursgographique commeuninstrumentdeconnaissanceetdeforcesurlequelondevientpossibled'interprter laralitsocio-espacialet mmede contribuer des processusd'mancipationsociale. Mots-cls: Cartographie;CartographieGographiqueCritique;Carte. CARTOGRAFIACRITICAPARAEL ANLISISDEL DISCURSO GEOGRFICO Resumen LaGeografaContempornea,particularmentelaGeografaOrtodoxaalolargodesuproceso deformacinepistemolgicaydisciplina,hadesarolladounaseriedereflexionesquellevana descuidarohastamismomarginalizarelmapa,comprendidoenloquetrataherenciadela geografatradicionalypragmtica.Considerandoestacuestin/discusin,steensayotiene comoobjetivopresentaralgunasreflexionesacercadelpapeldelacartografaenelperodo actual,sobretodoeldela"CartografaGeogrficaCritica"(CGC)demodoquenosllevea pensarelmapamsalldelacrticaortodoxa,comprendindolocomopartedelanlisisdel discursogeogrfico,instrumentodelsaberypoder,apartirdelcualsetorneposible interpretarlarealidadsocio-espacialyhastamismocontribuirenprocesosdeemancipacin social. Palabrasclave: Cartografa;CartografaGeogrficaCritica;Mapa. 1EconomistaeGegrafo,DoutorandodoProgramadePs-Graduaoem Geografia da Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (UNESP) Presidente Prudente/So Paulo. e-mail:[email protected]. Cartografia crtica para anlise do discurso geogrfico Jovenildo Cardoso RODRIGUES ________________________________________________ Revista GeoAmaznia, Belm, v. 02, n. 2, p. 79 - 91,jul./dez. 2013. 80 INTRODUO Tantonassociedadesocidentaiscomonasorientais,acartografia invariavelmenteuneoobjetivoaosubjetivo,aprticaaosvalores,omitoao fatocomprovado,aprecisoaproximao.Ashistriaseurocntricas tradicionaistmdesprezadoosusosmticos,psicolgicosesimblicosdos mapas,valorizandoseu uso prtico; isso se deve mais nossa obsesso pelos modeloscientficosdoquehistriarealda prtica cartogrfica (HARLEY, 1991,p. 9). Aconstruodopensamentogeogrficoaolongodoprocessodeformaoda sociedadeocidentalestevebaseadoemgrandemedidaassociaoentregeografiaeos mapas.Ocartersubjetivoeporvezesideolgicodesuaconcepo,sejaenquantoimagem mental,sejaenquantosimulacro,ouenquantorepresentaodoterritrio,osmapasexercem umfascnioeaomesmotempoumpapelimportanteparaainterpretaodeprocessos,de dinmicasde produoe reproduoda realidadee da sociedade. Aesserespeito,Girardi(2008)afirmaqueomapaconfigura-seelemento representativoquepossibilitaatransmissodavisodemundodeseuautore,por excelncia,partedodiscursogeogrfico,instrumentodaanlisegeogrfica.Dessaforma,a "teoriacrticadomapa"(HARLEY,1989)oprimeiropontodeaproximaoparaa construodereflexesquepermitampensaroqueGirardi(2008)concebecomo"Cartografia GeogrficaCrtica- CGC". Comefeito,opresenteensaioobjetivaapresentaralgumasreflexesacercadopapel dacartografianoperodoatual,bemcomo,da"CartografiaGeogrficaCrtica"(CGC),noo desenvolvidaoriginalmenteporGirardi(2008),demaneiraasepensaromapa,paraalmda crticaortodoxa,compreendendo-ocomopartedaanlisedodiscursogeogrfico,instrumento desaberepoderapartirdoqualsetornapossvelinterpretararealidadesocioespaciale, mesmo,contribuiremprocessosdeemancipaosocial.Omesmoensaioapresenta-se subdivididoemdoismomentos:umprimeiromomento,noqualserotratadoselementos relacionadoscartografiaegeografiacartogrfica;umsegundomomento,noqualse promoveumaabordagemacerca da cartografiageogrficano Brasil. CARTOGRAFIAE GEOGRAFIACARTOGRFICA:BREVES EXPLANAES SegundoHarley(1989),aolongodahistriadeformaodahumanidade,osmapas sempreapresentaramcertofascnio,sejapelapossibilidadedeinterpretaodecaractersticas Cartografia crtica para anlise do discurso geogrfico Jovenildo Cardoso RODRIGUES ________________________________________________ Revista GeoAmaznia, Belm, v. 02, n. 2, p. 79 - 91,jul./dez. 2013. 81 domeioambiente,sejacomoinstrumentodeinterpretaodeelementosobjetivose subjetivos,constituindo-selinguagemvisualde praticamentetodas as civilizaes. Aosubstituremoespaorealporumespaoanalgico(processobsicoda cartografia),oshomensadquiriramumdomniointelectualdouniversoque trouxeinumerveisconsequncias.Osmapasprecederamaescrituraea notaomatemticaemmuitassociedades,massomentenosculoXIX foramassociadassdisciplinasmodernascujoconjuntoconstituia cartografia (HARLEY, 1989, p.5) AindasegundoHarley(1989),osmapaseacartografiaconstituemaumstempo, linguagemeprticahistrica,podendorevelardiferentesvisesdemundo,medidaemque carregamumsimbolismoquepodeestarassociadoaocontedonelesrepresentado,asaber, processos de poder, de saber, de vigilnciae de influnciapoltica. ParaBarbosa(1967),aCartografiaconfiguracampodeconhecimentoqueseapresenta sobumaformavisualdeexpresso,regidaporregrasmatemticasequerepresenta graficamentefatose fenmenos,de formaa sereminterpretadosracionalmente. AindasegundoBarbosa,ocaminhoparaestabelecerametodologiacartogrfica perpassapeloentendimentoepeladivisoemtrstiposderepresentaes:aCartografia Geral,aCartografiaEspecialeaCartografiaTemtica.Aprimeirarespectivamente,est diretamenteligadastcnicasdolevantamentotopogrfico,geodsiaefotogrametria, apresentando-sesubdivididaemCartografiaGeral,Cadastral,TopogrficaeGeogrfica(Op. cit). Jacartografiaespecialestligadaaatividadesespecficas,visandoatender rigidamenteosobjetivosdatcnicaoucinciaaqueserve(ibid).Attulodeexemplificao desta perspectivatm-se as CartografiasNutica,Aeronutica,Meteorolgica. Porfim,aCartografiatemticaatuanumcampovastoemquehnecessidadede correlacionarinmeroselementossuperfcietopogrfica,distinguindo-sedaCartografia GeralquevisaosimplesconhecimentodatopografiaedaCartografiaespecial,queobjetiva servira umfimexclusivo(BARBOSA,1967).Considerandooperodocontemporneoeanecessidadedeconstruodeuma perspectivadepensamentoquepermitapensarasdiferenasentreumaabordagem cartogrficaeumaabordagemdecartografiageogrfica,assimcomo,omovimentorelacional entreabordagemtericaeemprica,Girardi(2008)afirmaqueacartografiaanalisaoespao enquantofontede informaespara o seuobjeto de estudo. Cartografia crtica para anlise do discurso geogrfico Jovenildo Cardoso RODRIGUES ________________________________________________ Revista GeoAmaznia, Belm, v. 02, n. 2, p. 79 - 91,jul./dez. 2013. 82 Dentrodessaperspectiva,acartografiaprocuralevantarerepresentarasinformaes primriasdoespao,descobrindomelhoresformasparatalemprego.Assim,enquantoa preocupaodacartografiaestrelacionadarepresentao,tendonomapacomoum desfechofinalemsi(BARBOSA,1967),ageografiasepreocupacomousodomapana anlisedoespaogeogrfico,eparaissoomapaconstitui-secomoummeio,uminstrumental metodolgico(GIRARDI,2008). Paraqueoprocessodemapeamentoconsigacontemplarumaconcepocrtica,que transcendaacontribuiomeramenteterica,trsabordagenscartogrficaspodemser adotadascomocomplementareseindissociveisnaCGC,quaissejam:semiologiagrfica, visualizaocartogrficaemodelizaogrfica(GIRARDI,2008).Anfaseda"CGC"est naadoodateoriacrticadomapaenquantoprocedimentometodolgico,queconsisteno usodomapaparainterpretarambivalncias,contradiesedesigualdadesexpressasapartir de representaesdo espao (ibid). Emrelaoaoscontedos,tcnicas,objetivosehabilidadesdoscartgrafose gegrafos,pode-sedizerqueexistemgrossomodo,duascartografias,quaissejam:a cartografiasistemticaeacartografiageogrfica.Estaltimarespectivamente,constituiuma especificidadedageografia(GIRARDI,2008).AindasegundoGirardi(2008),adefiniode cartografiageogrficaestdiretamenterelacionadaaostiposdemapas,seucontedo,fontede informaese mtodosde representao. Compreende-seaquiqueotermo"mtodosderepresentao"apresentadonas afirmaesdoautorsupracitadonoencontra-senosentidodomtodoenquantovisogeral demundoconstitudodeumconjuntodeteoriascientficasqueporvezesarticulam-seou chocam-se,mastosomentecomoconjuntodetcnicas,deinformaes,deconhecimentos tecnolgicosque possibilitama interpretaode fenmenos. Demodogeral,acartografiasistemticaeacartografiatemticapodemser caracterizadosdaseguintemaneira:Oprimeiroagregamapasdegraudeprecisomaior,cuja elaboraorequerconhecimentosespecficossobretudodascinciasexatasetecnolgicas (ibid).Nestetipodecartografia,adescrioconstituielementoessencial,asprincipais informaesrepresentadassorelativasscaractersticasbsicasdoterrenoeapreciso consideradaindispensvel(GIRARDI,2008).Talcartografiapodeserdenominadaaindade cartografiatopogrfica,de refernciagerale cartografiasistemtica. Porsuavez,considerandooconjuntodemapasdacartografiatemtica,aprecisono determinante,pormnototalmenteignorada(ibid).Osmapasquecompemeste Cartografia crtica para anlise do discurso geogrfico Jovenildo Cardoso RODRIGUES ________________________________________________ Revista GeoAmaznia, Belm, v. 02, n. 2, p. 79 - 91,jul./dez. 2013. 83 conjuntosooresultadodarepresentaodetemasdiversossobreumabasecartogrficaque renemapasdoprimeiroconjuntoconcebido(ibid).Osmapasdessesegundoconjunto possuemcaractersticasmaisexplicativaseanalticas,sendochamadoscomumentedemapas temticos. Considerandoasparticularidadesdaproduodasinmerasperspectivasdepensaro papelda cartografia,o que se compreendepor mapastopogrficose cartas geogrficas? MAPAS TOPOGRFICOSE CARTASGEOGRFICAS Raisz(1969)emsuasreflexesarespeitodoobjetodeestudodacartografia,classifica osmapasemgeraiseespeciais.Osmapasgeraissoostopogrficosemgrandeescala,com informaesgeraisdasuperfciedaterra,nosseusacidentesgeogrficos,planimtricos, enquantoosmapasespeciaissoosmapaspolticos,urbanos,econmicoseestatsticos, artsticosedepropaganda(RAISZ,1969).Portanto,paraRaisz,osmapasespeciais apresentamespecificidadesassociadasscaractersticaseaintencionalidadesdiversas,que buscamproduzirrepresentaespara efeitode anlises. dentrodessaperspectivaquesetemaproduodemapaspolticos;mapasurbanos (plantascadastrais);mapasdecomunicaes,mostrandoestradasdeferroederodagem; mapascientficosdediferentesclasses;mapaseconmicosouestatsticos;mapasartsticos parailustraodeannciosoupropaganda;cartasnuticaseareasemapascadastrais, desenhadosemgrandeescalaequerepresentamaspropriedadesereascultivadas (BARBOSA,1967). Aoseumodo,Libault(1975)consideraadivisoentremapastopogrficosecartas geogrficascomoprodutodeparticularidadesrelacionadasdivisoentrecartografia topogrficaecartografiageogrfica.AindasegundoLibault(1975),osmapastopogrficos constituemarepresentaodoconjuntodeinformaeslocalizadassobreumdeterminado terreno,sejaeledebasenaturalousocialmentealteradopelaaoantrpica,aopassoqueas cartasgeogrficasestariamligadasanliseexplicativaediscussodosresultados constatadosno mapeamento. Acartografiatemtica,cartografiageogrficaougeocartografia,nosdizeresdeLibault (1975)caracteriza-sesobretudopelapossibilidadedeconstruoderepresentaes cartogrficasquepermitamestabelecerexplicaesacercadedinmicas,hierarquias, densidades,fluxos,constituindo-seinstrumentodeimportnciaconsidervelparaabordagem Cartografia crtica para anlise do discurso geogrfico Jovenildo Cardoso RODRIGUES ________________________________________________ Revista GeoAmaznia, Belm, v. 02, n. 2, p. 79 - 91,jul./dez. 2013. 84 geogrficas,sejamelasreferentespossibilidadedeproduodemapastemticosquetratem de questeseconmicas,demogrficase espaciais. Joly(2004)concebeaCartografiaapartirdeduasdivises,soelas:aCartografia TopogrficaeaCartografiaTemtica.Nestesentido,aprimeiraperspectivarespectivamente, caracteriza-seportratardoselementosdescritivosegeomtricosnoqueconcerne abordagemdainformao,aopassoqueacartografiatemticacaracteriza-seporuma abordagemexplicativadosdadosobtidos.Portanto,otermocartografiatemticaempregado paradesignaracartografiaquesepreocupacomaelaboraodosmapasquerepresentam elementosno apenasdescritivos,masexplicativosde determinadoselementosda realidade. Porsuavez,oInstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatstica(IBGE,1999)divideas representaescartogrficasem:mapasgerais,temticoseespeciais,considerandoanatureza e a finalidadeda representao. OsmapasgeraissoconsideradospeloIBGE,comodocumentoscartogrficos elaboradoscomafinalidadedeforneceraousurioumabasecartogrficacompossibilidade deaplicaesgeneralizadas(ibid).Taismapasgeraissosubdivididosaindaem:cadastrais, topogrficose geogrficos. ApartirdabasecartogrficafornecidapeloIBGE,pode-seefetuaraproduode mapastemticosdiversosqueinteressamdemaneiramaisdiretaCartografiaGeogrfica (GIRARDI,2008).Aesserespeito,oIBGE(1999)afirmaaindaqueosmapastemticos podemserdivididosemtrsgrupos,quaissejam:oprimeirogrupo,compostopelosmapasde notao,querepresentamadistribuiodasinformaespormeiodecoresetonalidadecom sinaisgrficos;aopassoqueosegundogrupoconsisteemmapasestatsticosquerepresentam tantofenmenosfsicosquantohumanos;efinalmente,umterceirogrupoaserconcebidoa partirdeinformaeseelementosderepresentaescartogrficasanteriores,queser denominadodemapasdesntese,osquaispossuemfinalidadeexplicativaapartirda representaodeumfenmeno,constituindo-seenquantomapasqueformamumaabstrao intelectual(GIRARDI,2008). Porsuavez,paraMartinelli(2005),odesenvolvimentodacartografiatemticaea produodemapastemticosdecorredanecessidadedeseproduzirmapasparadiversas aplicaes,fatoquenorteouapassagemdarepresentaodaspropriedadesapenasvisual, paraarepresentaodaspropriedadesanalticasdosobjetos.Dessaforma,omapapassoua ser o produto do raciocnioqueseu autorempreendeudianteda realidade(ibid). Cartografia crtica para anlise do discurso geogrfico Jovenildo Cardoso RODRIGUES ________________________________________________ Revista GeoAmaznia, Belm, v. 02, n. 2, p. 79 - 91,jul./dez. 2013. 85 NosdizeresdeMartinelli(2003),aindaqueageografiapossuacertatradiona produoeusoderepresentaescartogrficastemticas,osmapastemticosnopodemser vistoscomopertencentesexclusivamentegeografia,umavezqueoutrasdisciplinas cientficastendemafazerusodesteinstrumentoparaaconstruodeinterpretaes.No obstante,taismapasinteressamgeografiamedidaquepermitempromoverumaabordagem representativae interpretativada dimensoespaciale territorialem diferentesescalas. Outraclassificaoimportanteparaadefiniodeespecificidadesdacartografia concebidoporArchela(2000),paraquemacartografiapodesersubdivididaem:Cartografia SistemticaeCartografiaTemtica.ACartografiaSistemticautilizaconveneseescala padro,contemplandoaexecuodosmapeamentosbsicosquebuscamoequilbrioda representaoaltimtricaeplanimtricadosacidentesnaturaisedosfenmenosculturais, bemcomo, a localizaode fatose situaesgeogrficas. Porsuavez,omapeamentodacartografiatemticaconsisteemuminstrumentode expressodosresultadosadquiridospelageografiaepelasdemaiscinciasquetem necessidadedeseexpressarnaformagrfica(ARCHELA,2000),aspectos,caractersticas, processos de mudanasa partirda produode representaescartogrficas. Ousodacartografiaconstituiprocedimentodepesquisacadavezmaisaplicadoparaa produodeinterpretaesgeraissejadoespaourbanoerural,sejadedinmicas demogrficaseeconmicas,sejadefluxosdemercadorias,servioseinformaes.No obstante,torna-senecessrioressaltarquecomotodoprocedimentometodolgico,a utilizaodorespectivoinstrumentocartogrficoapresentapossibilidadeselimitesque devemponderadosquandoseconstrioobjetodepesquisaemgeografia,sobpenasede caminharrumoaum"determinismocartogrfico"quetendeaconceberomapacomoumfim emsi e no comopossibilidadeinterpretativae explicativapara pensar o real. A CARTOGRAFIADE BASE E A CARTOGRAFIAGEOGRFICA Girardi(2008),emsuasreflexesarespeitodasdiferentescartografiasesuarelao comoselementosmetodolgicoseprocedimentosdepesquisa,adotaoparCartografiade BaseeCartografiaGeogrficaparadesignaradiferenaentreoscontedostcnicos,objetivos ehabilidadesquecompemacartografiadeinteressedoscartgrafoseaqueladeinteresse dosgegrafos.Dentrodessaperspectiva,acartografiadebaseseriaresponsvelpela elaboraodosmapasbase(ibid.).Taismapasenvolvemprocessosdeelaborao,usode Cartografia crtica para anlise do discurso geogrfico Jovenildo Cardoso RODRIGUES ________________________________________________ Revista GeoAmaznia, Belm, v. 02, n. 2, p. 79 - 91,jul./dez. 2013. 86 tcnicaseconhecimentoscartogrficosmuitoespecficos,presentesnocontedocurricularda engenhariacartogrfica. Osmapasbaseemquestosoaquelesquefornecemcomprecisoasinformaesdo terreno,asaber,mapastopogrficosparanavegao,aelaboraoprimriademapas geomorfolgicos,geolgicos,pedolgicos(GIRARDI,2008). Partindo-sedosmapasbase,seroutilizadasasrespectivasbasescartogrficasna elaboraodosmapasdacartografiageogrfica.Aesserespeito,Girardi(2008)consideraa noodecartografiageogrficacomomaissignificativoparadesignarumaperspectivada geografiaquesepreocupa,maisespecificamente,comoprocessodemapeamento.No obstante,torna-senecessrioressaltaraindaqueacartografiageogrficatambmseinteressa pelosmapasdacartografiadebase,pormnoconstituiobjetodeseuinteressemaiora elaboraoprimriade taismapas. Acartografiageogrficatemcomoprincipalobjetivoconcebereencontraras melhoresformaspara utilizaodos mapaspara a anlisedo espao geogrfico. Comoa geografia urbana oua geografia rural,a cartografia geogrfica uma especialidadedageografiae,domesmomodo,temsuaspreocupaes especficas,mastambmtemasqueinteressamdeformageralcincia geogrfica.Nageografiaosavanostericos,metodolgicosetcnicos sobreomapapreocupaoespecficadacartografiageogrfica,porm,a elaboraoeousodomapacomumatodageografia, j que seu objeto de estudo o espao (GIRARDI, 2008, p. 50). Acartografiageogrficaconstituiimportanteespecialidadedageografiaresponsvel pelapesquisa,ensinoetrabalhocomosmapas,aoconceberaprimorarteorias,desenvolver prticasdeleitura,elaboraodemapasepesquisassobrenovosprocedimentos metodolgicoscomoinstrumentoparaconstruoexplicativadeelementosdoespao geogrfico(ibid). Comefeito,a"CartografiaGeogrficaCrtica"(GIRARDI,2008)constitui instrumentoepossibilidadeimportanteparaaconstruodageografia,noapenasporseu carteroperacionalatravsdautilizaodenovastcnicasetecnologias,produode representaescartogrficassofisticadas,masenquantoinstrumentalmetodolgicoque apresentaelevadapotencialidadeoperacionalparaaproduoderepresentaescartogrficas quepermitaminterpretarmudanasepermanncias,aeserelaes,ambivalnciase contradiesinerentes produo da realidadesocioespacial. Cartografia crtica para anlise do discurso geogrfico Jovenildo Cardoso RODRIGUES ________________________________________________ Revista GeoAmaznia, Belm, v. 02, n. 2, p. 79 - 91,jul./dez. 2013. 87 CARTOGRAFIAGEOGRFICANOBRASIL:REVISITANDOPERSPECTIVASE ABORDANDO NOVAS PROPOSIES Ageografiabrasileiracontempornea,pautadanacorrentecrticadopensamento geogrficoortodoxoapresentaumatendnciaanegligenciarsistematicamenteomapacomo instrumentodeanlisegeogrfica.Considerandoestaperspectiva,convmfazeraseguinte indagao:Qualo papelda cartografiana geografiatradicional,pragmticae crtica? Aesserespeito,Santos(2002)afirmaqueageografiatradicionalcaracterizou-se fundamentalmenteporumaconstruofilosfica,pautadanumaperspectivalinearque reduziaarealidadeaomundodossentidos,aosfenmenosdaaparncia.dentrodessa perspectivaqueamesmageografiatradicionaldesenvolveuseucorpusdeconhecimento pautadona empiria,na observao,na descrio,na enumeraoe na classificaodos fatos. Convmressaltaraquiqueosmapasjeramutilizadosemdiversasabordagens geogrficas,comonasconstruesdeHumboldt,RittereRatzel(MORAES,2001).No obstante,omesmopassaaserutilizadocommaiordestaquenasabordagensregionaisdeLa Blache(Op.cit).Talfatodecorredeumacaractersticapeculiardametodologiautilizadapor esteautor,queconsistianolevantamentocartogrficoinicial,bemcomonaconcluso,em geral,constitudaporumconjuntodecartas,quequandosobrepostasprojetariamrelaes inerentesao modo de vidaregional(MORAES,2001). SegundoSantos(2002),essapropostametodolgica,pautadanaamplautilizaode mapastrazidaparaoBrasileincorporadaaoprocessodesistematizaodadisciplina,detal maneiraqueageografiaeosmapasapresentavam-secomoelementosindissociveisparaos pesquisadoresdesta correntegeogrficatradicional. Apartirdosanosde1970evidencia-semomentomarcadopelomovimentoderuptura, derenovaodageografia,tantodopontodevistadosfundamentostericos,quantonoque concerneaoinstrumentaloperacionaldageografiatradicional,umavezqueestacorrenteno maisconseguiuacompanharoprocessodetransformaesdesencadeadaspelo desenvolvimentodeformascapitalistasdeproduonaquelascircunstnciashistrico-geogrficas(SANTOS, 2002). Nessemomentoduasoutrascorrentesdepensamentogeogrficoemascenso canalizaramumasriedecrticasincapacidadedageografiatradicionaldeexplicara realidade,soelas:ageografiapragmticaeageografiacrtica.Aprimeirarespectivamente, baseadaemgrandemedidanumaabordagemneopositivistaequantitativa,promoviauma Cartografia crtica para anlise do discurso geogrfico Jovenildo Cardoso RODRIGUES ________________________________________________ Revista GeoAmaznia, Belm, v. 02, n. 2, p. 79 - 91,jul./dez. 2013. 88 crticaincapacidadedageografiatradicionalemtratararealidade,considerandoa complexidadede questesprticase tericasque se apresentavam(MORAES,2001). Acorrentedageografiapragmticapautou-se,primordialmente,nadisseminaode umapropostaterico-metodolgica,segundoaqual,tecnologiaeasanlisesdedados quantitativosdeveriamestarnacentralidadedaconstruotericaeoperacional(MORAES, 2001).Nessascircunstnciasecomoresultadodetaisinfluncias,queousodemodelos matemticoseestatsticosnosestudosgeogrficosseampliouaomesmotempoemqueo trabalhode campo passoua ser negligenciado(MORAES,2001). dentrodessaperspectivaquesepassouaampliarousodocomputador,do sensoriamentoremotoedomapeamentoautomticonaelaboraodetipologias(MORAES, 2001).Umadasprincipaiscrticasaessacorrentetericaestrelacionadaaodistanciamento darealidadepromovidoporumapropostametodolgicaqueprivilegiouexcessivamentea matematizaodasabordagensexplicativasemdetrimentodotrabalhodecampo,da observaodo objeto emlcus (SANTOS, 2002). Jageografiacrtica,enquantocorrentesdepensamentopautadanageografia humanistaenomaterialismohistrico-dialtico,constituramperspectivasdepensamento que,paraalmdeestabelecercrticasgeografiatradicional,tambmcriticaram enfaticamenteageografiapragmtica.Taiscrticascentraram-setantonoempirismo exacerbado,quantonadespolitizaodo discursogeogrfico(MORAES,2001). Outracrticadacorrentecrticaaosestudosdascorrentestradicionalepragmticadiz respeitoaoexageronousodastcnicas,vistocomoumadascausasdodescomprometimento comamudanasocialdarealidade(MORAES,2001).Essacorrentetendeuaprojetarum discursoquestionadorarespeitodousodatcnicanosestudosgeogrficos,quepassarama servistoscomoheranadaarquiteturaideolgicadascorrentestradicionaisemdefesada reproduodeprocessosdealienao(LACOSTE,2003).Talfatocontribuiuparacerta neglignciaporpartedestacorrentedepensamento,noqueconcerneaousodomapaede tcnicasestatsticasna geografiacrtica. Aoconfundirmtodocomprocedimentometodolgico,ignorandoousodomapa enquantoinstrumentooperacional,ageografiacrticaortodoxareduziuaprpria potencialidadedeinterpretao,representaoeanlisedoobjetodeestudodageografia (GIRARDI,2008).nosentidodecontribuircomaconstruodeumpensamentogeogrficopautadona necessidadedesuperaodestaconcepoequivocada,queGirardi(2008)propea Cartografia crtica para anlise do discurso geogrfico Jovenildo Cardoso RODRIGUES ________________________________________________ Revista GeoAmaznia, Belm, v. 02, n. 2, p. 79 - 91,jul./dez. 2013. 89 "CartografiaGeogrficaCrtica"(CGC),umavezqueestacompreendeomapaenquanto partedodiscursogeogrfico,potencializandointerpretaeseexplicaesdeprocessos socioespaciaisepermitindoqueseevidencieeinterpreteascontradiesimanentesaomodo capitalistade produo,suas manifestaese particularidades. Torna-senecessrioadvertirqueacartografiaoumesmoa"CartografiaGeogrfica Crtica",enquantoinstrumentometodolgicoeaomesmotempo,possibilidadeparaa produoderepresentaesdoespao,apresentaumvisquetemrelaocomavisode mundoadotadapelopesquisador,detalmaneiraquetaisrepresentaescartogrficaspodem exprimirinteressesdacoletividadesocialouapresentarumvisideolgicovisandoatendera interessesindividuaisde classesou grupossociais. CONSIDERAESFINAIS Historicamenteacartografiaexerceupapelsignificativocomoinstrumentoparaefeito deconhecimentodoespaogeogrficocomvistasdominaoporpartedeEstados-naes. Durantemuitotempo,osabercartogrfico,enquantoconhecimentodedeterminadas particularidadesdoterritrio,constituiu-seelementodeimportnciasignificativaparao exercciodopoder.Noqueconcerneaodebatedacinciageogrfica,aproduocartogrfica constituiuelementooperacionalrelevantepara interpretaessobre a realidadesocioespacial. Umasriedeconfusesinterpretativasassociadasaofatodequeacartografiaem determinadomomentohistricogeogrfico,constituiu-seinstrumentalbastanteutilizadotanto porpartedoEstado,quantopelageografiatradicionalparaefeitodaconstruodeum discursogeogrficoquetendeualegitimaraeseintervenesdopoderpblico;aesestas queatendiamainteressesdegruposeconmicosepolticosprivilegiados;fizeramcomquea correntedageografiacrtica,apartirdosanosde1970,promovesseumacrticaaomapa,e, portanto,cartografia,compreendidacomomtodoenocomoprocedimentooperacionalde pesquisa. Essetipodeinterpretaocontribuiusignificativamenteparacertaneglignciaem relaoaousodesseimportanteinstrumentooperacionalparaainterpretaogeogrficada realidadeespacial.Opensamentogeogrficocontemporneoparececaminharrumoauma perspectivadereconhecimentodacartografiaenquantoinstrumentooperacionalrelevante para a interpretaode processose fenmenosinerentes realidadesocioespacial. Cartografia crtica para anlise do discurso geogrfico Jovenildo Cardoso RODRIGUES ________________________________________________ Revista GeoAmaznia, Belm, v. 02, n. 2, p. 79 - 91,jul./dez. 2013. 90 Dessamaneira,torna-seprimordial,noperodoatual,pensaraproduodeuma cartografiageogrfica,queparaalmdodiscursoortodoxosimplificador,permita compreend-laenquantoinstrumentometodolgiconecessrioparainterpretareexplicar contradieseparadoxosdamodernidade,umavezque,asociedadeatualvempassandopor umprocessodecomplexificaomuitoacelerada,fatoquerequerarregimentaodeuma sriedenovosprocedimentosmetodolgicosque,associadosaoutrosinstrumentos operacionais,permitamler,interpretareexplicararealidadesocioespacialemsuadiversidade e complexidade. Noobstante,omapanodeveserinterpretadocomoumdadoapriori,queserealiza apenasporsuaapresentaocomoacessrioilustrativo,aser"enxertado"parafazervolume, comonormalmentetem-seidentificadoeminmerosartigosacadmicos,trabalhode graduao,mestradoemesmoemtesesdedoutorado.Arepresentaocartogrficaterpapel relevantenaanlisedodiscursogeogrficomedidaqueseestabeleaumainterpretao explicativada representaocartogrficae sua relaocomo objeto estudado. REFERNCIASBIBLIOGRFICAS ARCHELA,R.S.AnlisedaCartografiabrasileira:bibliografiadeCartografiana Geografianoperodode1935-1997.SoPaulo,2000.Tese(DoutoradoemGeografia) Faculdadede Filosofia,Letrase CinciasHumanas,Universidadede So Paulo,2000. BARBOSA,R.P.RevistaBrasileiradeGeografia.Aquestodomtodocartogrfico.v.29, n.4, out./dez.1967.Riode Janeiro:IBGE,1967. 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