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CCB/Departamento de Psicologia geral e Análise do · PDF file · 2012-11-06sensíveis as necessidades de proteção e conforto da criança. Já no apego ansioso-ambivalente a pessoa

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CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA GERAL E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO

PSICOLOGIA CLÍNICA NA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO

Relacionamento Amoroso

Luisa Guedes Di Mauro

Natália Gióia Cípola

Paula Francine Gimenez

O relacionamento amoroso é um assunto muito importante, pois poucas pessoas

passam a vida sem jamais amar. A maioria das pessoas busca um parceiro amoroso,

namora, se casa, ou ainda podem sofrer por estarem sozinhas. O relacionamento

amoroso é um assunto muito falado, não só atualmente, mas desde o início da

civilização. Esse assunto está nas poesias, nos livros, nas revistas, em filmes, novelas,

músicas, etc.

A fim de entender os relacionamentos amorosos, há teorias que buscam explicar

o que é o amor, como o amor nasce e funciona, bem como os diferentes aspectos desse

sentimento e dos fenômenos relacionados. O amor é um termo utilizado para nomear

um grupo de sentimentos, ações e pensamentos, que apesar de estarem relacionados,

variam bastante de pessoa para pessoa, o que demonstra que os seres humanos amam de

formas diferentes. Isso pode gerar problemas, pois ao se apaixonar por alguém com um

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estilo de amor diferente do seu, pode-se inferir erroneamente que a outra pessoa não te

ama, já que não age da mesma forma que você.

Em “O Mapa do Amor”, Ailton Amélio (2001) descreve três teorias acerca do

amor. A primeira é a teoria sobre os estilos de amor de John Alan Lee (1988), que fala

sobre as diferenças individuais na forma de amar e de se apaixonar. Para Lee, existem

três estilos primários de amor, que podem ser combinados com intensidades diferentes,

originando diversos estilos de amor – fenômeno análogo à percepção das cores. Os

estilos mais estudados são os três estilos primários (Eros, Ludos e Estorge), e mais três

estilos secundários (Mania, Pragma e Ágape). O estilo Eros sente atração imediata pelo

parceiro, principalmente pela aparência física; o Estorge consiste naquele amor que

nasce das amizades, baseado nos interesses em comum e nas semelhanças entre os

parceiros; Ludos é o estilo de amor que sente atração simultaneamente por diferentes

parceiros, enfatiza a sedução; o estilo Mania (composto pelo Eros mais o Ludos) é

marcado pelo ciúme e possessividade; o Pragma (Ludos e Estorge) dá importância ao

lado prático do relacionamento, examinam os pretendentes para ver se atendem as suas

expectativas antes de se apaixonar; e o estilo Ágape (Estorge e Eros) que consiste

naquelas pessoas que estão dispostas a fazer sacrifícios pelo parceiro.

A segunda teoria descrita é a teoria do apego de Bowlby. Para ele, já nascemos com a

capacidade de nos apegar às outras pessoas, capacidade essa que é útil para a nossa

espécie. Segundo essa teoria, o estilo de apego que a criança vivenciou com os seus

cuidadores, normalmente a mãe e o pai, irá influenciar no estilo de apego da pessoa

quando adulto, seja nas amizades ou nos relacionamentos amorosos. Classificaram três

tipos de apego: seguro, ansioso-ambivalente e evitativo – os três estilos podem estar

presentes em diferentes intensidades. No apego seguro, o indivíduo sente segurança, é

confiante para explorar o mundo; esse modelo é promovido por pais disponíveis e

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sensíveis as necessidades de proteção e conforto da criança. Já no apego ansioso-

ambivalente a pessoa tende a apresentar ansiedade de separação, a ficar ansiosa quanto à

exploração do mundo; esse modelo é promovido por pais que se mostram disponíveis

apenas em algumas situações, há separações ou ameaças de abandono como formas de

controle, o que gera insegurança. O último tipo de apego, o evitativo ou ansioso com

evitação, o indivíduo não tem nenhuma confiança de que ao procurar cuidado, ele será

atendido pelo contrário, ele acredita que será rejeitado; as pessoas desse tipo de apego

tentem a se tornarem auto-suficientes, sem o amor ou a ajuda dos outros. Vale lembrar

que o estilo de apego de criança vai se alterando de acordo as experiências sociais que a

pessoa vai tendo durante a vida, com tios, avós, outras crianças, professores, e não

somente com os pais, até chegar ao estilo de amor romântico.

A terceira teoria é a da expansão do Eu de Elaine Aron e Arthur Aron. Essa

teoria propõe que ao se deparar com uma pessoa que possua qualidades que admiramos,

desejamos incorporá-las ao nosso eu, nos vinculando a essa pessoa.

Além dos tipos de Amor, Aílton Amélio (2001) também destaca em seu livro a

seleção de um parceiro como um dos passos mais importantes para um relacionamento

amoroso, visto que a escolha adequada do parceiro facilita o início do relacionamento,

contribui para que ele seja satisfatório e duradouro. Entretanto, essa seleção é complexa,

permeada por alguns princípios que a regem. A seleção de parceiro é determinada por

três níveis que afetam simultaneamente na seleção de parceiros, que são: filogenético,

ontogenético e cultural.

No nível filogenético, a escolha do parceiro visa garantir a continuidade da

espécie, e está presente na carga genética. A seleção de parceiros nesse nível se baseia

em características que indicam a capacidade reprodutiva do parceiro, como juventude,

sinais de saúde e aspectos sexuais. Há diferenças na seleção de parceiros entre homens e

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mulheres. Por uma questão evolutiva, as mulheres são mais seletivas e criteriosas ao

escolherem um parceiro, pelo elevado investimento dispensado na gravidez de cada

filho. Constataram também que por um fator evolutivo de proteção, onde o homem

tinha de sustentar e defender a mulher e os filhos, que as mulheres tentem a valorizar

mais a capacidade de ganho material do que os homens. Por outro lado, os homens

estariam preocupados com o número de descendentes, por isso valorizariam

características que apontam para a capacidade reprodutiva, como a boa aparência

(Altafin, Lauandos, Caramaschi, 2009)

O nível cultural se refere às características que são valorizadas em um parceiro

amoroso pela cultura, e podem variar entre as culturas e as épocas historicamente

distintas. Nesse nível, podemos observar as diferenças existentes entre as culturas

relacionadas, por exemplo, a ter somente um parceiro, enquanto outras culturas aceitam

o homem se casar com mais de uma mulher. Ou ainda, como a seleção de parceiros

muda com o passar do tempo, já que antigamente os casamentos eram arranjados com

interesses econômicos, na qual a mulher não tinha escolhas, e atualmente a mulher

ganhou mais autonomia, e se valoriza mais o apaixonar-se e casar com quem ama.

Há também características selecionadas na escolha de um parceiro pelo nível

ontogenético, que variam de pessoa para pessoa, mesmo elas tendo a mesma carga

genética e pertencendo à mesma cultura. Por exemplo, há pessoas que preferem um

parceiro mais extrovertido, outras pessoas preferem mais tímidos, ou ainda há pessoas

que buscam um parceiro que goste de sair, enquanto outros preferem um parceiro que

goste de programas em casa. As pessoas possuem preferências distintas nas

características do parceiro amoroso porque elas passaram por experiências pessoais

distintas.

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Há também alguns princípios que regem a seleção de parceiros. Nós utilizamos

tais princípios para escolher as qualidades que queremos num parceiro, e os defeitos que

não queremos, embora nem sempre tenhamos consciência das variáveis que controlam

essa seleção. O uso desses princípios varia de pessoa para pessoa, de grupos de

características (algumas características seguem um princípio enquanto outra

característica segue um outro princípio), podem variar também de acordo com as

circunstâncias.

Um dos princípios é o da homogamia, que afirma que os relacionamentos

amorosos têm mais chance de dar certo quando os parceiros são semelhantes entre si.

Estudos têm demonstrado a eficácia desse princípio, uma vez que são iniciados mais

facilmente (frequentam os mesmos lugares), são mais satisfatórios para ambas as partes

(compartilharem muitas coisas em comum, desejos, objetivos). Em geral, ocorre mais

frequentemente relacionamentos em que os envolvidos acreditam na mesma religião,

compartilham o mesmo nível de escolaridade, e que têm nível socioeconômico

semelhantes.

Outro princípio é o da admiração, como um requisito essencial para o amor.

Esse principio está relacionado a uma das formas de amor de expansão do ego, onde o

relacionamento amoroso com uma pessoa que possua qualidades admiradas, é uma

forma de incorporá-las ao seu mundo. Há também o principio das médias ponderadas.

Segundo esse principio, as pessoas avaliam o grau de atração dos seus parceiros

amorosos levando em conta suas qualidades e seus defeitos, e o grau de importância de

cada uma dessas qualidades e defeitos.

A seleção de parceiro vai além desses princípios. É necessário verificar se o

parceiro está disponível, se tem disposição para se envolver amorosamente e estabelecer

um compromisso, se o parceiro também sente atração amorosa, se tem compatibilidade

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sexual, entre outros. Por isso a seleção de parceiro é uma tarefa difícil, e muitas vezes

uma má escolha pode trazer sofrimentos para ambas as partes.

Posteriormente à seleção de parceiros, o próximo passo visa manter a relação

estabelecida, o que também não é uma tarefa fácil, visto a dificuldade que as pessoas

possuem nas suas relações interpessoais. Segundo Matarazzo (2008), no início de um

relacionamento, o amor é só encantamento. Quando amamos sentimos um desejo

intenso de intimidade sexual, uma grande necessidade de atrair a atenção do outro,

preocupamo-nos com o bem-estar do outro e desenvolvemos a certeza de que a vida

perderia o significado sem ele. Mas, com o tempo, essa fase de união perfeita começa a

se desintegrar, e o outro começa a mostrar defeitos e falhas com as quais não

contávamos. E nessa fase existem basicamente dois caminhos: o caminho do medo e o

caminho da coragem.

No caminho do medo existem três maneiras diferentes de se comportar. A

primeira é ceder; nega os próprios sentimentos ou necessidades para fazer o que o outro

quer e, assim, evitar o conflito. O segundo é controlar; fazer com que o outro ceda, por

meio de ameaças, críticas, acusações, reclamações, sarcasmo, sermões, mentiras e

lágrimas. E a terceira é aparentar indiferença; ignora o problema ou o conflito para

evitar desaprovação e impedir o controle. Com os parceiros seguindo esse caminho, as

dificuldades aparecem no relacionamento: falta de comunicação, falta de sexo

prazeroso, discussões, brigas sem fim, sentir-se morto, incapaz de amar ou de ser

amado, etc.

Mas em vez de ceder, controlar ou ficar indiferente, pode-se optar pelo caminho

da coragem, do crescer e do aprender. Para isso, é preciso buscar descobrir por que cada

um está sentindo o que está sentindo e se comportando da forma como está se

comportando. É preciso se engajar num processo de busca para descobrir as seguintes

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questões: quais são as razões que o meu companheiro tem para comportar-se dessa

maneira; quais são as expectativas que não estão sendo preenchidas; como o

comportamento do meu parceiro está me afetando; por que estou bravo; por que é tão

importante eu conseguir mudar o meu parceiro ou ter razão; o que vou ganhar agindo

assim; como meu medo, minha irritação ou minha indiferença afetam meu

companheiro; quais são as conseqüências; o que está acontecendo entre nós; qual minha

parte nesse problema.

Portanto, é necessário entender que as circunstâncias relacionadas à atração

inicial são muito diferentes das variáveis para a manutenção do relacionamento, do

porque permanecer juntos duradouramente. Para conseguir manter um relacionamento,

o casal deve entender que as brigas amorosas são humanas, normais e necessárias, e

devem desempenhar a função de livrá-los de expectativas irreais.

Referências

Amélio, A. O mapa do amor: tudo o que você queria saber sobre o amor e ninguém

sabia responder. São Paulo: Editora Gente, 2001.

Altafin, E. R. P., Lauandos, J. M., Caramaschi, S. Seleção de parceiros: diferenças entre

gêneros em diferentes contextos. Publicado em Psicol. Argum., Curitiba, v. 27, n. 57, p.

117-129, 2009

Matarazzo, M. H. Nós dois: as várias formas de amar. Rio de janeiro: Editora Record,

2008.