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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAQUARA – UNIARA

ReitorLuiz Felipe Cabral Mauro

Pró-Reitoria AcadêmicaFlávio Módolo

Pró-Reitoria AdministrativaFernando Soares Mauro

EditoresDenilson Teixeira

Douglas PeiróLívia Nunes

Luis Henrique RosimMaria Lúcia Ribeiro

EditoraçãoLívia Nunes

CapaBruno Zago

Conselho EditorialBarbara Fadel – Uni-Facef /Franca

Denise Freitas – UFSCar/São CarlosMarcelo Tavares – UFES/Vitória

Maria do Carmo Calijuri – USP/SãoCarlos

Mary Rosa Rodrigues de Marchi –Unesp/Araraquara

Sonia Maria Pessoa PereiraBergamasco – Unicamp/Campinas

RevisãoDirce Charara Monteiro (Inglês)

Lívia Nunes (Português)Rosmary dos Santos (Bibliográfica)

REVISTA UNIARA

REVISTA UNIARA: Revista do Centro Universitário de Araraquara.Araraquara – SP – Brasil, 1997.v. 16, n. 1, jul. 2013. 192 p.

Publicação Semestral do Centro Universitário de Araraquara – Uniara.

ISSN 1415-3580

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SUMÁRIO

RESENHA DO LIVRO: "A FILOSOFIA DE KARL MARX", DE SÉRGIO LESSA

E IVO TONET/BOOK REVIEW: KARL MARX'S PHILOSOPHY, BY SÉRGIO LESSA E IVO TONET

Flávio Roberto Chaddad

COMUNICAÇÕES BREVES

MARKETING DE RELACIONAMENTO E INOVAÇÃO: UM ESTUDO EM

ORGANIZAÇÕES DO SEGMENTO GRÁFICO EM NATAL-RN/RELATIONSHIP AND INNOVATION

MARKETING: A STUDY OF GRAPHIC SEGMENT ORGANIZATIONS IN NATAL-RNAna Débora Morais da RosaRichard Medeiros de Araújo

A CONTRATAÇÃO MINERÁRIA NO NOVO MARCO REGULATÓRIO DA MINERAÇÃO

BRASILEIRA: APONTAMENTOS SOBRE OS INSTITUTOS DA AUTORIZAÇÃO DE PESQUISA E CONCESSÃO DE LAVRA/MINING CONTRATAÇÃO LICENSE IN THE NEW REGULATORY FRAMEWORK OF BRAZILIAN MINING: SOME NOTES

ON THE INSTITUTES OF RESEARCH AUTHORIZATION AND MINING CONCESSION

Adhemar Ronquim Filho

COMPOSTOS FENÓLICOS EM DIFERENTES MARCAS DE CERVEJA: COMPARAÇÃO

QUALITATIVA DE DIFERENTES MARCAS E SUA RELAÇÃO COM A SAÚDE HUMANA/PHENOLIC COMPOUNDS

IN DIFFERENT BEER BRANDS: A QUALITATIVE COMPARISON OF DIFFERENTE BRANDS AND THEIR RELATIONSHIP

WITH HUMAN HEALTH

Denis Cardoso MacielLigia Mara Henrique ElóiChristiane de Oliveira Jordão

VARIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL NA ABUNDÂNCIA DE ORDENS E FAMÍLIAS

DE MACROINVERTEBRADOS BENTÔNICOS REGISTRADOS EM ÁREA DE NASCENTE, CAMPO VERDE-MT/SPATIAL-TEMPORAL VARIATION IN THE ABUNDANCE OF ORDERS AND FAMILIES OF BENTHIC

MACROINVERTEBRATES RECORDED IN A SPRING AREA, CAMPO VERDE-MTDaniela Cristina ZardoEdna Lopes HardoimRicardo AmorimCarolina Hortêncio Malheiros

...................................6

REVISTA UNIARA, v.16, n.1, julho 2013 3

RESENHA

...................................7

EDITORIAL

...................................9

.................................25

.................................41

.................................53

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4 REVISTA UNIARA, v.16, n.1, julho 2013

..................................79

..................................91

..................................67ESTRESSE OXIDATIVO COMO FATOR IMPORTANTE NA FISIOPATOLOGIA DA

DOENÇA DE ALZHEIMER/OXIDATIVE STRESS AS AN IMPORTANT FACTOR IN THE

PATHOPHYSIOLOGY OF ALZHEIMER'S DISEASE

Tanise GemelliRodrigo Binkowski de AndradeAlexandre Luz CastroLarissa Pacheco GarciaCláudia Funchal

PROTEÍNA C REATIVA, FUNÇÃO ENDOTELIAL E INFLUÊNCIA GENÉTICA:ASSOCIAÇÃO COM A OBESIDADE/C-REACTIVE PROTEIN, ENDOTHELIAL FUNCTION AND GENETIC INFLUENCE:ASSOCIATION WITH OBESITY

Fabiana Guichard de AbreuLeandro Silva de LemosAlana Schraiber ColatoNiara da Silva MedeirosMarilu FiegenbaumCaroline DaniAlessandra PeresJerri Luiz Ribeiro

ARTIGOS ORIGINAIS

NOVAS PERSPECTIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL NA AMAZÔNIA:PROCESSOS SOCIOAMBIENTAIS E A SUSTENTABILIDADE EM PROJETOS DE REFORMA AGRÁRIA/NEW

PERSPECTIVES FOR THE RURAL DEVELOPMENT IN AMAZON: SOCIOENVIRONMENTAL PROCESSES AND

SUSTAINABILITY IN AGRARIAN REFORM PROJECTS

Poliana Cardosa de OliveiraJosé Ambrósio Ferreira NetoRoseni Aparecida de MouraNathalía Thaís Cosmo da Silva

A DIMENSÃO DA QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS NA CONSTRUÇÃO

DO BARÔMETRO DA SUSTENTABILIDADE/THE DIMENSION OF HYDRIC RESOURCES QUALITY IN THE

CONSTRUCTION OF THE SUSTAINABILITY BAROMETER

André Cavalcante da Silva BatalhãoDenilson Teixeira

CONFLITO SOCIOAMBIENTAL E POLUIÇÃO INDUSTRIAL: O CASO DA BACIA

DO RIO GRAMAME-MUMBABA - PB/SOCIOENVIRONMENTAL CONFLICT AND INDUSTRIAL POLLUTION:THE CASE OF RIO GRAMAME-MUMBAIA BASIN - PBEdilon Mendes NunesLoreley Gomes Garcia

................................105

ARTIGOS DE REVISÃO

................................121

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NORMAS DE PUBLICAÇÃO ................................191

INSETOS AQUÁTICOS ASSOCIADOS A MACRÓFITAS SUBMERSAS COM

DIFERENTES COMPLEXIDADES MORFOLÓGICAS/AQUATIC INSECTS ASSOCIATED WITH

SUBMERGED MACROPHYTES WITH DIFFERENT MORPHOLOGICAL COMPLEXITIES

Douglas F. PeiróHugo H. SaulinoGuilherme Rossi GorniJuliano José CorbiAdrie Pool FioravanteGabriele Amaral

PRODUTIVIDADE E QUALIDADE DA BETERRABA EM FUNÇÃO DA APLICAÇÃO DE

DOSES DE NITROGÊNIO/BEET PRODUCTIVITY AND QUALITY, CONSIDERING THE APPLICATION OF NITROGEN DOSES

Claudiane Reiz BarretoMárcio Roggia ZanuzoCarmem WobetoClaudineli Cássia Bueno da Rosa

EFEITO DA POMADA DE BARBATIMÃO (STRYPHNODENDROM BARBATIMAN

MARTIUS) ASSOCIADO AO ULTRASSOM DE BAIXA INTENSIDADE SOBRE A CICATRIZAÇÃO POR SEGUNDA

INTENÇÃO DE LESÕES CUTÂNEAS TOTAIS EM RATOS/THE EFFECTS OF "BARBATIMÃO" OINTMENT

(STRYPHNODENDROM BARBATIMAN MARTIUS) ASSOCIATED WITH LOW INTENSITY ULTRASOUND ON THE HEALING

OF TOTAL CUTANEOUS LESIONS IN RATS

Anelise Stella BallabenAna Rosa CrisciMaria Helena Simões Jorge

O USO DE RECURSOS DIDÁTICOS COMO ESTRATÉGIA NO ENSINO DE CIÊNCIAS

E BIOLOGIA/THE USE OF DIDACTIC RESOURCES AS A STRATEGY IN SCIENCES AND BIOLOGY TEACHING

Mario Marcos LopesMaria Betânea Platzer

................................133

................................145

................................159

................................173

................................183

ARTIGO DE DIVULGAÇÃO

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO PROCESSO DE DESINFECÇÃO EM SUPERFÍCIES

INANIMADAS DE UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE POR PESQUISA DE BIOMARCADORES/AN EVALUATION

OF THE QUALITY OF THE DESINFECTION PROCESS IN INANIMATED SURFACES OF BASIC HEALTH UNITS BY

BIOMARKERS RESEARCH

Ana Paula Bandeira FucciMoniele Storti MarcolinoValéria da Cruz Oliveira de CastroCatia Rezende

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A produção e a aquisição de dados científicos são consideradas tarefasdemoradas e custosas para grande parte das instituições de pesquisa, uma vezque exigem investimentos financeiros e tempo. Os dados são recursos básicos,e por isso devem ser de fácil acesso aos usuários. Em geral, a necessidade delocalização e acesso rápido a dados específicos, dentro de grandes conjuntosde dados, é comum, tornando relevante a sua documentação e organização.Cabe destacar a construção do Sistema Nacional de Informação sobre MeioAmbiente (SINIMA). Segundo o Ministério de Meio Ambiente, o referidosistema é uma plataforma conceitual baseada na integração e compartilhamentode informações entre os diversos sistemas existentes ou a construir no âmbitodo SISNAMA (Lei n. 6.938/81).

Diferentes exemplos confirmam como a tecnologia de bancos de dados(IBGE, SEADE, BACEN, SNIS) têm se expandido para diversas áreas deaplicação e agregam funcionalidades que viabilizam a disseminação deinformações, principalmente, com o auxílio da internet.

Valorizar a disponibilidade de dados e informações não significa desconheceros desafios quanto à metodologia empregada e a periodicidade de aquisiçãodesses dados, além da necessária discussão sobre a construção de indicadores.As revistas científicas, por sua vez, são sem dúvida a principal fonte de dadose informações de melhor qualidade para o público acadêmico. Uma boa revisãobibliográfica – que, há pouco mais de 10 anos, levava pelo menos seis mesesde trabalho árduo – atualmente pode ser obtida, com resultados maissatisfatórios, em seis dias. Parte disso é reflexo dos investimentos do governona compra do acesso às principais bases de dados e da facilidade em relaçãoà navegação via internet. Assim nossa revista tem investido na sua estrutura,conteúdo e periodicidade, para definitivamente fazer parte desse universo. Ouseja, a partir do processo de indexação, ao qual estamos nos submetendo,aumentar sua visibilidade e contribuição como importante fonte de dados einformações na área multi-interdisciplinar. Esse é nosso próximo compromisso,nossa nova conquista.

Os Editores

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rial

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nha

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RESENHA DO LIVRO: “A FILOSOFIA DE KARL MARX”, DE SÉRGIO

LESSA E IVO TONET

CHADDAD, Flávio Roberto. Mestre em Educação pela PUC-Campinas.Rua Benedito Pires de Almeida, n.° 15. Vila Rica I. Dois Córregos, SP. CEP: 17300-000.

E-mail: [email protected].

O livro "INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DEKARL MARX" é de uma leitura simples e fácil. Osautores discutem as questões metodológicas e asquestões sociais postas por Karl Marx durante a suavida. É dividido em 16 capítulos, com 1 conclusão aofinal. De modo geral, pode ser dividido em duas partescentrais. A primeira versa sobre as questões ideológicasque permeiam o debate atual sobre o capitalismo e ocomunismo, sobre as questões que envolvem oconhecimento e o método materialismo históricodialético. A segunda mostra como ocorreu o processode dominação do homem pelo homem durante aHistória, seus mecanismos garantidores deste processoe a utilização da alienação e da ideologia para que esteprocesso se realize de forma plena, bem como asuperação para esse estado de coisas que encontrarespaldo no comunismo.

No início, os autores trabalham as grandes linhasdo debate ideológico contemporâneo. Traçam umparalelo sobre as duas visões de homem. A primeiradiz que o homem é em si um indivíduo burguês,individualista, que só pensa em arrecadar, cada vezmais riquezas. Na outra vertente, que eles afirmam sera revolucionária, o homem é assim porque a sociedadecapitalista o faz desta forma. Desse jeito, como ocapitalismo e o individualismo são produtos da história,cabe ao homem superá-los.

Em outras instâncias, eles afirmam que, na óticamarxista, para existir o homem deve transformar anatureza. Esse processo é constituído por duas fases.A primeira é a prévia-ideação, ou seja, seu pensamentoagindo sobre a natureza. A segunda é a objetivização,que nada mais é que a transformação e a realizaçãodo trabalho. Nesse processo, o homem se transformae transforma a sociedade, pois é um ser social. O quepossibilitará novas prévias-ideações, novos projetos,novas situações, transformando sua história e a história

social. Esse processo é inerente ao modo de como ohomem conhece e produz conhecimentos pela História.Nesse sentido, a objetivização, como já ditoanteriormente, passa a influenciar toda a sociedade eo conhecimento se generaliza, podendo ser aplicadoem várias situações, não apenas naquela em que foiproposto. Assim, o trabalho é o fundamento do sersocial, porque produz uma nova sociedade a todo omomento que se realiza.

Quando os autores tratam do idealismo e domaterialismo, essências do materialismo históricodialético, eles apontam as características de cada qualpara a sociedade; dizem que, para Marx, por causado parco desenvolvimento industrial da sociedade, osfilósofos e sociólogos pensavam a sociedade ou comoproduto da natureza, ou como produto das ideias.Assim, Marx, a partir do exame da sociedade capitalistado século XVIII, afirmou que o mundo dos homensnão é só ideia nem só matéria, mas sim uma sínteseentre ideia e matéria, que apenas poderia existir a partirda transformação da realidade. Para Marx, segundoos autores, sem a materialidade natural não poderiaexistir a consciência dos homens. Da mesma forma, oser social só poderia existir como síntese das ideiascom a materialidade, o que produz a sociedade humana.

Com relação ao conhecimento, entre as ideias e omundo objetivo há uma intensa mediação que tem notrabalho a sua categoria fundante. Assim, o futuro é odesdobramento causal do presente com todas asmediações e acasos possíveis, mas nunca é umaconsequência natural. Há neste caso uma distância,conforme afirmam os autores, entre intenção e gesto.As consequências dos atos humanos divergem dosobjetivos que queremos atingir, o que leva a uma novaação sobre as consequências de nossos atos, que édenominada "período das consequências" por Lukács:o que produz conhecimentos inimagináveis sobre o que

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CHADDAD

está se tentando investigar. Mas é impossível umconhecimento absoluto sobre a realidade. Umarealidade e uma consciência, ambas em movimento,não podem jamais resultar em um conhecimento fixo,imutável e absoluto, segundo as palavras dos autores.

Já em outro momento do livro, ou segunda parte,os autores convergem para o processo histórico queoriginou a apropriação dos excedentes e atransformação dos seres humanos em seres dominados,escravizados por outros homens ou mesmo, noprocesso capitalista, o antagonismo de classes entreos capitalistas – burgueses – e os proletários. Paraeles, nas sociedades primitivas havia a autoridade, masnão existia o Estado, que está a serviço de uma classe.A partir da criação das sociedades escravistas é quesurgiram o Estado e o Direito, para fundamentar aexploração dos homens pelos próprios homens, comoocorreu na Grécia antiga e em Roma.

Levando avante o curso da História, mesmoexistindo o Estado e o Direito para submeter grandeparte dos homens ao domínio de uma pequena parcela– os senhores –, o sistema escravista foi levado àderrocada, em decorrência dos altos custos de semanter os escravos e os exércitos para garantir a possedos escravos pelos senhores. A partir daí começou osistema de produção feudal e o aparecimento dosservos e dos senhores, que detinham o poder dasterras. Mas, aqui, os servos eram donos de uma parteda produção e das ferramentas, o que interessava aosservos. Surgiram, então, novas técnicas produtivas etodos começaram a produzir mais do que consumiam,o que favoreceu o comércio, surgindo duas classes –os artesãos e os comerciantes (burgueses).

A partir disso, determinou-se historicamente o modode produção capitalista e com ele a mais-valia. Houve,nesse modo de produção, a separação do trabalhadordos meios de produção e do produto, o que veio a serchamado por Marx e Engels como a acumulaçãoprimitiva de capital. Conforme afirmam, o capital é umsujeito sem sujeito, tem força e não é controlável. Poronde passa deixa um rastro de destruição e morte,haja vista as duas grandes guerras mundiais e a explosãodas bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. Assim,

o capital, para os autores, tem apenas uma utilidade:comprar mais força de trabalho para realizar a maisvalia. Lançou a humanidade até em nossos dias em umperíodo de desenvolvimento das forças sem igual emtoda a história, mas que veio acompanhando pelareificação do homem e da natureza. Assim, ele reduztudo à mercadoria, inclusive a força de trabalho – oque são coisas e não pessoas. Reduz a coletividadeem mero instrumento para enriquecimento privado degrupos, uma minoria. Assim, o individualismo burguêsdeu origem a uma sociedade em que as necessidadescoletivas estão subordinadas ao enriquecimentoprivado, e as necessidades humanas (coletivas eindividuais) estão submetidas ao complexo processode acumulação do capital pelos burgueses. Para issolança mão de aparatos que são inerentes ao estadodemocrático e aos processos de alienação, em que osistema se reveste de um monstro invisível – sem rosto– que se esconde por trás de relações de sociais e deprodução.

Assim, os autores concluem que o capitalismo éproduto da História, foi criado por homens, e delesdevem vir a solução para esse estado de coisas. Umadessas saídas está na compreensão desse estado decoisas, não como algo imutável – como querem ospensadores do capital –, mas como algo criado peloshomens. Sua superação, para os autoresinterpretadores da filosofia de Karl Marx, seria ocomunismo, principalmente no momento em que asforças produtivas atingiram um grandedesenvolvimento e podem suprir as necessidades daspessoas.

REFERÊNCIAS

LESSA, S; TONET, I. Introdução à filosofia deMarx. 2 ed. São Paulo: Editora Expressão Popular,2011. 124p.

RECEBIDO EM 31/5/2013ACEITO EM 7/7/2013

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MARKETING DE RELACIONAMENTO E INOVAÇÃO: UM ESTUDOEM ORGANIZAÇÕES DO SEGMENTO GRÁFICO EM NATAL/RN

ROSA, Ana Débora Morais da. Agente Local de Inovação pelo SEBRAE-RN 2012-2013. Bolsista doCNPQ. Formada em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

(2010). Cursando pós-graduação em Gestão Estratégica de Pessoas pela UNI-RN, Rua Teatrólogo Meira Pires,1993 CEP 59.080-090, Natal/RN. Brasil. Email: [email protected].

ARAÚJO, Richard Medeiros de. Doutor em Administração pelo PPGA/UFRN. Professor da UNIFACEX.Orientador do ALI/RN. E-mail: [email protected].

RESUMO

Este trabalho busca analisar, por meio de uma pesquisa quantitativa, realizada através da aplicação de questionárioscom perguntas fechadas, o uso da dimensão Relacionamento, uma das 13 dimensões que compõem o instrumentoRadar da Inovação, método utilizado para mensurar o grau de inovação das empresas. As empresas analisadas,em sua totalidade sete gráficas atendidas pelo Programa Agentes Locais de Inovação do Rio Grande do Norte,não possuem ações eficazes para manter os clientes, conhecem suas necessidades e expectativas com relaçãoao produto/serviço, contudo não inovaram em práticas para aperfeiçoar e firmar relacionamentos duradouros.Foi possível perceber que os empresários estão absorvendo aos poucos essa cultura de propiciar facilidades erecursos que atendam aos desejos e necessidades dos seus clientes. Conclui-se que as empresas estão abertasa novos conhecimentos, conceitos e mudanças, facilitando o incentivo à cultura da inovação e a novas abordagensque propiciem o crescimento e expansão do setor, por meio de práticas para melhorar o relacionamento com osclientes.

PALAVRAS-CHAVE: Radar da Inovação, Dimensão Relacionamento, Relacionamento, Empresas gráficas, RioGrande do Norte.

RELATIONSHIP AND INNOVATION MARKETING: A STUDY OF GRAPHIC SEGMENT ORGANIZATIONS IN NATAL-RN

ABSTRACT

This work aims to analyze, through a quantitative research with the application of questionnaires with closedquestions, the use of the Relationship dimension, one of the 13 dimensions that make up the Innovation Radarinstrument, a method applied to measure the degree of innovation of enterprises. The analyzed companies, as awhole, seven graphics assisted by the Innovation Local Agents Program at Rio Grande do Norte, don't haveeffective actions to keep the customers, they know their needs and expectations about the product / service, but,despite that, they haven't innovated their practices to improve and establish lasting relationships. It was possibleto notice that entrepreneurs are slowly absorbing the culture of providing facilities and resources that meet thedesires and needs of their customers. We conclude that companies are open to new knowledge, concepts andchanges, which is a cultural incentive for innovation and new approaches that will propitiate the growth and theexpansion of the sector, using practices to improve the relationship with their customers.

KEYWORDS: Innovation Radar, Relationship Dimension, Relationship, Graphic Companies, Rio Grande doNorte.

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INTRODUÇÃO

Atualmente, muito se tem discutido acerca dainovação como um elemento competitivo, um diferencialentre as organizações. A inovação propicia a expansãode empresas responsáveis por mudanças em suaspráticas de gestão, processos, produtos, marketing,entre outras áreas.

A busca e a prática da inovação passam a ser umanecessidade imprescindível para que as organizaçõespossam encontrar os mecanismos mais adequados paraconduzir as suas operações e, principalmente, formulare implementar suas estratégias (CÂNDIDO; BRITO,2003). "A inovação não acontece por acidente. Éresultado de um processo sistemático e organizado demudança administrada, que transforma novas ideias emrealidades de sucesso" (BESSANT; TIDD, 2009, p.45).

As empresas estão se preocupando em dar atençãoexclusiva ao seu cliente, pois a organização, paracrescer e ter estabilidade, necessita adotar uma políticade marketing de relacionamento. É de grandeimportância alcançar a satisfação total de seus clientes.O marketing de relacionamento permite que a empresaprojete todas as suas ações, buscando umaaproximação e uma maior integração entre o cliente ea empresa. Se a empresa se preocupa com o bem-estar e a satisfação do seu cliente, consegue atenderprontamente suas solicitações. Ele certamentereconhecerá o valor e esforço disponibilizado e,possivelmente, se tornará fiel à organização.

A satisfação do consumidor é primordial para aprosperidade e permanência das empresas no mercadocompetitivo. Clientes satisfeitos são fiéis, para eles opreço não é o principal atrativo. Bee (2000) enfatiza aimportância da boa comunicação nos relacionamentos,uma vez que a habilidade em se comunicar é a essênciado atendimento e fundamental no contato direto como cliente. É necessário criar uma relação de confiançae parceria.

O presente estudo se propõe a analisar e abordaro tema relacionamento com os clientes, como fatorprimordial no crescimento e desenvolvimento dasorganizações, principalmente nas micro e pequenasempresas – MPEs. A dimensão relacionamento,

integrante do Diagnóstico Radar da Inovação, será aprincipal fonte de pesquisa utilizada para a realizaçãodo estudo proposto.

Utilizando essa dimensão e analisando os conceitosde marketing de relacionamento, este trabalho temcomo objetivo geral propor um relato acerca docomportamento dessa dimensão.

REFERENCIAL TEÓRICO

Conceitos de inovaçãoAtualmente as MPEs ouvem diariamente a palavra

"inovação". Ela está presente com frequência nas relaçõesinternas e externas das organizações. A palavra inovaçãovem do latim innovatio, tendo como significado aintrodução de alguma novidade, de algo novo, emqualquer atividade humana. O Manual de Oslo (2004),elaborado pela Organização para a Cooperação e oDesenvolvimento econômico – OCDE, na sua terceiraedição, define a inovação como a implementação deum produto (bem ou serviço), novo ou significativamentemelhorado, ou um processo, ou um novo método demarketing, ou um novo método organizacional naspráticas de negócios, na organização do local de trabalhoou nas relações externas.

Segundo o Manual de Oslo (2004), o processo deinovação inclui atividades em várias etapas científicas,tecnológicas, organizacionais, financeiras e comerciaisque de fato levem, ou pretendem levar, à implantaçãode produtos ou processos tecnologicamente novos ouaprimorados. Algumas delas podem ser inovadoraspor si mesmas; outras, embora não sejam novidades,são necessárias para a implantação.

"A inovação é a criação de coisas novas ou orearranjar de coisas antigas, mas de uma novaforma. Em termos muito simples, inovar significater uma ideia nova ou, por vezes, aplicar as ideiasde outros com eficácia e, é claro, de formaoriginal" (SARKAR, 2008, 115-116).

A inovação está em toda parte e é responsável peloaumento da competitividade no mercado elucratividade do empresário e da sua equipe de

ROSA & ARAÚJO

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REVISTA UNIARA, v.16, n.1, julho 2013 11

colaboradores. Inovar é necessário e primordial nocontexto mercadológico, pois é a principal ferramentada atualidade responsável pelo crescimento edesenvolvimento das organizações. Muitos empresáriosse questionam se inovar custa caro; contudo, a inovaçãomuitas vezes está relacionada a coisas muito simples.As empresas podem adotar soluções bastante comunse corriqueiras, mas que fazem a diferença porque sãocapazes de aumentar a rentabilidade dos empresários,sendo uma forma de diferencial competitivo. Nos diasatuais, uma empresa pode continuar viva no mercadose adaptar e melhorar continuamente seus produtos eserviços para atender às necessidades e proporcionara satisfação de seus clientes.

Bessant e Tidd (2009) enfatizam que "a inovaçãorealmente faz uma grande diferença para empresas detodos os tipos e tamanhos". É necessário mudar eacompanhar as novas tendências do mercado. Muitaspequenas e médias empresas fracassam por nãovisualizarem a necessidade de mudar e acompanhar omercado, esse conhecido pelas suas constantestransformações.

Inovar não é complicado, é simples quando aempresa possui uma forte liderança que estimula umambiente propício para a criatividade. Desse modo,estrategicamente terá boas condições de inovar. Ainovação é a ferramenta específica dos empreendedores,os meios com os quais eles exploram a mudança comouma oportunidade para um negócio diferente ou umserviço diferente (SARKAR, 2008).

Os tipos de inovaçãoÉ fundamental compreender por que as empresas

inovam. Uma das principais razões, por exemplo, podeser entendida pelo aumento da demanda ou pelaredução dos custos. Um novo produto, ou processo,pode ser uma fonte de vantagem mercadológica paraa organização. A inovação pode melhorar a capacidadeempresarial da empresa de adquirir e criar novosconhecimentos, que depois poderão ser usados coma finalidade de desenvolver outras inovações, trazendobenefícios, crescimentos e diferenciação para aempresa.

O Manual de Oslo (2004) ressalta que o trabalhode Joseph Schumpeter influenciou bastante as teoriasda inovação. Seu argumento é de que odesenvolvimento econômico é conduzido pelainovação por meio de um processo dinâmico, em queas novas tecnologias substituem as antigas, um processopor ele denominado "destruição criadora". SegundoSchumpeter, inovações "radicais" engendram rupturasmais intensas, enquanto inovações "incrementais" dãocontinuidade ao processo de mudança. Schumpeter(1934, apud MANUAL DE OSLO, 2004) propôsuma lista de cinco tipos de inovação:

i. Introdução de novos produtos.ii. Introdução de novos métodos de produção.iii. Abertura de novos mercados.iv. Desenvolvimento de novas fontes provedoras

de matérias-primas e outros insumos.v. Criação de novas estruturas de mercado em

uma indústria.A inovação pode ser caracterizada como radical

ou incremental. Segundo Sarkar (2008, p.139), "ainovação radical continua a ser no sentido deSchumpeter, algo que é totalmente novo, de acordocom as cinco linhas definidas por esse economistaaustríaco". Portanto, quando as novas ideias resultamem produtos ou processos totalmente novos, que antesnão existiam no mercado. De acordo com Sarkar(2008), inovação incremental geralmente estárelacionada com melhorias passo a passo dos produtosexistentes e tende a reforçar a posição de mercado.

É importante ressaltar que a organização que inova,oferece produtos e serviços que são úteis aos clientes,utiliza processos mais eficientes, é aberta a novosmétodos organizacionais e investe em ações demarketing. Existem diferentes formas de inovação, eelas podem ser classificadas de diversas maneiras.

Radar da inovaçãoEm razão do crescimento das práticas inovadoras

e da importância socioeconômica da MPE no país,são necessários conhecimento e dados aprofundadosda realidade dessas organizações, que busquemdiagnosticar e mensurar o atual Grau de Inovação.

Marketing de relacionamento e inovação: um estudo...

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12 REVISTA UNIARA, v.16, n.1, julho 2013

De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio àsMicro e Pequenas Empresas – SEBRAE (2010),uma metodologia para mensurar o Grau de Inovaçãonas empresas foi desenvolvida utilizando comoreferência o trabalho do professor MohanbirSawhney, da Kellogg School of Management, querelaciona as dimensões pelas quais uma empresa podeprocurar caminhos para inovar. O Radar da Inovaçãodo professor Sawhney reúne 12 dimensões,entretanto a abordagem não destaca o ambienteinterno da organização. Assim, foi desenvolvida pelaBachmann & Associados (2008) uma dimensãoadicional denominada "Ambiência inovadora", já queum clima organizacional propício à inovação é pré-requisito para uma empresa inovadora.

Para esta ferramenta, foi adotada uma escala demedição com três situações, variando de 1 a 5, ondeo escore mínimo consiste em uma organização poucoou nada inovadora, e o escore máximo, em umaorganização inovadora sistêmica. Essa avaliação nãoconsiste apenas em avaliar o número de inovações dasempresas, mas também a maturidade dos processosde inovação. Pois muitas novas organizações provêmde uma única ideia de sucesso, portanto se entendeque isso não é suficiente para caracterizar uma empresainovadora. Tendo em vista essa questão, foi buscadainspiração em diversos modelos usados para medir ograu de maturidade de processos, optando-se por darum escore maior às empresas que tenham uma práticaestruturada que vise à inovação. A medição caracterizaas empresas em "pouco ou nada inovadoras","inovadoras ocasionais" e "inovadoras sistêmicas". Essaescala também atende à recomendação do Manual deOslo [6], que estabelece que os pontos de vista dasempresas sejam registrados, ou em bases binárias, oucom uma estreita faixa de respostas possíveis.

Como período de tempo necessário a serconsiderado na avaliação, para acompanhar a evoluçãoda empresa e baseado em várias pesquisas e estudosna área, a metodologia tomou um horizonte de trêsanos para o levantamento dos dados e informações.

As dimensões utilizadas para avaliar e diagnosticaro atual Grau de Inovação das empresas, fornecendo

todos os dados e informações necessárias, podem sercaracterizadas como: Oferta, Plataforma, Marca,Clientes, Soluções, Relacionamento, Agregação devalor, Processos, Organização, Cadeia defornecimento, Presença, Rede e Ambiência inovadora.É por meio da análise dos dados fornecidos por essas13 dimensões que se pode conhecer e desenvolver oambiente inovador no âmbito interno e externo dasorganizações.

Radar da Inovação: dimensão RelacionamentoCom a finalidade de operacionalizar o cálculo do

Grau de Inovação das empresas, foi desenvolvido umformulário que priorizou o Radar da Inovação. Ametodologia também adota uma abordagem maisqualitativa que quantitativa, para respeitar a menordisponibilidade de informações que é típica das MPEs.

A dimensão Relacionamento, originalmentedenominada de "Experiência do Cliente", leva em contatudo que o consumidor vê, ouve, sente ou experimenta,de algum modo, ao interagir com a empresa em todosos momentos. Como exemplos de ações visandofornecer experiências positivas aos clientes, temos:

Oferecer uma planilha eletrônica que ajude o clientea selecionar o produto mais adequado?

Uma sala de espera com design mais elaborado?Um catálogo com recursos visuais diferenciados ou

com amostras.Para avaliar a dimensão Relacionamento, tomaram-

se as questões:A empresa adotou alguma facilidade ou recurso

(senhas, cafezinho, vitrine, etc.) para melhorar orelacionamento com os clientes?

A empresa adotou algum novo recurso deinformática (web site, email, CD, etc.) para serelacionar com os clientes (BACHMANN;DESTEFANI, 2008)?

Essas questões são de grande importância paradesenvolver o relacionamento das empresas com seusclientes, pois atualmente eles não procuram apenas umbom atendimento, buscam um diferencial. O bomrelacionamento é o início de todo o processo defidelização dos clientes.

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Conceitos de marketingO marketing, dentre várias definições, é um conjunto

de atividades direcionadas para satisfazer asnecessidades e desejos do consumidor. É por meiodo marketing que as empresas conquistam e fidelizamseus clientes, por meio da produção de bens e/ouserviços, a escolha do preço adequado, a distribuiçãoeficiente e ágil, a comunicação com o público-alvo,seja por meio de propaganda, promoção em pontosde vendas, sorteios e mala direta.

"O marketing é uma das mais poderosasferramentas empregadas pelas organizações em sualuta eterna pelo crescimento e sobrevivência"(DALRYMPLE; PARSONS, 2003, p.1). Essa é aessência do conceito de marketing e o precedente paraa criação da satisfação do cliente e da lealdade.

Para Kotler (2006), o marketing é o processo deplanejar e executar a concepção, a determinação dopreço, a promoção e a distribuição de ideias, bens eserviços para criar trocas que satisfaçam metasindividuais e organizacionais. É necessário que asempresas procurem conhecer o que seus clientesdesejam e ofereçam exatamente o que eles necessitam.

"O objetivo do marketing é conhecer e entender ocliente tão bem que o produto ou o serviço sejaadequado a ele e se venda sozinho" (KOTLER, 2006p. 4). O importante é que se antecipem diante dosseus concorrentes e de forma que seus produtos/serviços sejam atrativos, possuam um diferencial.Assim, as organizações terão clientes satisfeitos e,consequentemente, fidelizados. De acordo com Kotler(2000), as empresas orientadas para o marketing têmuma preocupação constante com os desejos dosclientes. Quando esses desejos mudam, as empresasprocuram evoluir, orientando-se pelo que os clientesquerem, buscando formas que possam atendê-los.

No âmbito atual, o conceito de marketing estásempre sendo atualizado, o mercado está sempremudando e as empresas precisam acompanhar essasmudanças. O marketing tem um importante papel nosucesso das organizações. Elas necessitam ter objetivosdefinidos, estratégias e ações, pois, se nãoacompanharem as mudanças, tendem a ficar obsoletas.

As organizações não podem operar centradas nasvendas de produtos, e sim no atendimento àsnecessidades e expectativas dos clientes. Esse é umdos papéis do marketing, simples teoria, mas que naprática tem uma importância relevante nodesenvolvimento das empresas.

Marketing de relacionamentoO marketing de relacionamento – MR é geralmente

descrito como uma abordagem para desenvolverclientes leais de longo prazo e, dessa forma, aumentara lucratividade. Para Gummesson (2010, p. 22), omarketing de relacionamento é a interação das redesde relacionamentos. Segundo o autor, relacionamentosnecessitam que pelo menos duas partes estejam emcontato uma com a outra. Uma rede é um conjunto derelacionamentos de muitas partes, o que pode setransformar em modelos extremamente complexos.Sendo assim:

"Adotar o marketing de relacionamentosignifica, para a empresa, que ela se dedique aoestabelecimento, manutenção e constantemelhora de seus relacionamentos com seusclientes – sejam os internos, sejam os externos– com uma finalidade de lucro mútuo, de modoque os objetivos das partes envolvidas sejamatingidos" (FELISONIE; GIANGRANDE(2007, p.10).

Em sua essência, o marketing de relacionamentocircunda um novo conceito de cliente, aquele querepresenta parceria, ou mesmo parte integranteessencial à constituição da empresa prestadora debens ou serviços, e à sua continuidade bem-sucedidano mundo organizacional contemporâneo. Em resumo,marketing de relacionamento é a construção de umarelação duradoura entre a empresa e o cliente,baseada na confiança e em ganhos mútuos ao longodo tempo. Para que a empresa adquira vantagemcompetitiva e ganhe destaque junto à concorrência,é imprescindível a administração do relacionamentocom o cliente.

Marketing de relacionamento e inovação: um estudo...

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METODOLOGIA

Nesta etapa do trabalho, será explicada ametodologia utilizada, os procedimentos e critériosadotados para a seleção do método de pesquisa epara a coleta dos dados utilizados. Segundo Malhotra(2005), o processo do modelo de pesquisa começacom a definição do problema em questão. Pararealizar uma pesquisa é preciso promover o confrontoentre os dados, as evidências, as informaçõescoletadas sobre determinado assunto e oconhecimento teórico acumulado a respeito dele,objetivando obter informações pertinentes à resoluçãodo problema de pesquisa.

Com relação aos meios e p rocedimentos depesquisa, o estudo é caracterizado como umapesquisa bibliográfica e exploratória, com o objetivode analisar as ações de marketing de relacionamentoem empresas participantes do Programa AgentesLocais de Inovação – ALI do segmento gráfico nomunicípio de Natal-RN.

De acordo com Vergara (2005, p. 47-48), pesquisabibliográfica é o estudo sistematizado desenvolvido combase em material publicado em livros, revistas, jornaise redes eletrônicas, isto é, material acessível ao públicoem geral.

O material utilizado na pesquisa bibliográficaconstitui-se de livros, artigos em revistas, anais decongresso, periódicos, internet e outros. Neste estudo,várias obras dessa natureza foram utilizadas comosubsídio à elaboração do instrumento de coleta,especificamente os que tratavam dos temas inovaçãoe marketing de relacionamento, bem como o "Radarda Inovação".

O universo da pesquisa são empresas do setorgráfico do município de Natal-RN, que correspondea sete organizações. O instrumento de coleta foiaplicado aos gestores das gráficas atendidas peloPrograma ALI.

A técnica de coleta de dados adotada foi oquestionário com perguntas claras e objetivas, o qual,segundo Vergara (2007), "não é apenas um formulário,

ou um conjunto de questões listadas sem muitareflexão". Para tanto, requer esforço intelectual anteriorde planejamento, com base na conceituação doproblema de pesquisa e do plano da pesquisa.

O instrumento de pesquisa é composto por questõesobjetivas e fechadas, cujas variáveis que o compõemtêm por base a dimensão Relacionamento do Radarda Inovação, desenvolvido utilizando como referênciao trabalho de Mohanbir Sawhney, da Kellogg Schoolof Management (SEBRAE, 2010).

Os dados coletados possibilitaram informaçõesnecessárias para pesquisa. Foi realizado umlevantamento e contagem das respostas, o resultadodos dados foi tratado quantitativamente, através databulação no software Word e Excel, e serãoapresentados por meio de gráficos.

Análise dos dadosEste capítulo tem por objetivo analisar os dados e

resultados da pesquisa de campo, realizada com osgestores de empresas do segmento gráfico do municípiode Natal-RN. A pesquisa foi aplicada em sete gestorespor meio de um questionário com perguntas específicas.As gráficas que constituem o universo da pesquisa nãoserão identificadas e, sim, chamadas de empresas A,B, C, D, E, F e G.

Perfil das empresasNa pesquisa foram abordadas questões como o

tipo da empresa, faturamento anual, idade, sexo e graude instrução do gestor. Os questionários foramaplicados com gráficas atuantes nos bairros de CidadeAlta, Tirol, Alecrim, Candelária e na Zona Norte domunicípio de Natal.

Setenta e um por cento das empresas entrevistadaspossuem o faturamento médio anual de até R$360.000,00, e 29% de R$ 360.000,01 a R$3.600.000,00. As demais opções não foram escolhidas,evidenciando claramente que o setor está inserido nacondição de empresas de micro e pequeno portes, focodo trabalho realizado.

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Verificou-se que 57% das empresas entrevistadas se constituem juridicamente como Empresa Individual deResponsabilidade Limitada; as demais (43%) correspondem a Sociedade Empresarial (Ltda.), como mostra aTabela 2.

Tabela 2 – Perfil das empresas.

Fonte: Pesquisa de campo (2012).

A Tabela 3 representa a faixa etária dos gestores, compreendendo que grande parte possui acima de 50anos de idade.

Tabela 3 – Perfil das empresas.

Fonte: Pesquisa de campo (2012).

Somando-se a quantidade de entrevistados, temos em sua totalidade uma amostra de sete pessoas, todasdo sexo masculino. Essa informação pode ser observada na Tabela 4.

Tabela 1 – Perfil das empresas.

Fonte: Pesquisa de campo (2012).

Faturamento R$ 0,00 a 360.000,00 R$ 360.000,01 a 3.600.000,00

Acima de R$ 3.600.000,01

71% 29% 0%

Tipo de Empresa

Sociedade Empresarial

(Ltda)

Empreendedor Individual

Produtor Rural

Associação/Sindicato

Empresa Individual de Responsabilidade

Limitada

Outras Organizações

Privadas

43% 0% 0% 0% 57% 0%

Idade Até 20 anos De 21 anos a 30 anos

De 31 anos a 40 anos

De 41 anos a 50 anos

Acima de 50 anos

0% 28% 29% 0% 43%

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Análise do Radar da Inovação e suas dimensõesDe acordo com pesquisa realizada pelo Sindicato

das Indústrias Gráficas do Rio Grande do Norte (2003/2011), as mudanças ocorridas nos últimos anos naeconomia e no mercado tiveram efeitos sobre todosos segmentos empresariais e a indústria gráfica potiguarnão passou incólume por elas. Em síntese, o setor sofreuuma evolução considerável e atualmente o Rio Grandedo Norte possui um moderno parque gráfico, comcondições de realizar dos mais simples aos maissofisticados serviços. O aumento da modernização einvestimentos em novos equipamentos, o número deempresas sindicalizadas, a queda contínua dostalonários de Notas Fiscais, principal fonte de serviçoe renda das pequenas gráficas, a informatização, entre

Tabela 4 – Perfil das empresas.

Fonte: Pesquisa de campo (2012).

Sexo Feminino Masculino

0% 100%

A Tabela 5 observa o grau de instrução dos gestores das gráficas analisadas, indicando que 43% dosentrevistados têm nível superior completo; outros três empresários possuem ensino médio completo, e apenasum deles superior incompleto, dados estes que indicam que a maioria dos gestores do setor não investe emcursos de graduação.

outras, foram algumas das principais mudançasevidenciadas nos últimos anos. Ainda segundo oestudo, essa modernização, que proporcionoucompetitividade e qualidade ao setor, foi fruto de anosde investimentos feitos pelos empresários. Neste estudotambém foi possível perceber as principaisnecessidades relatadas pelas empresas entrevistadas.Modernização de equipamentos, capital de giro,treinamento de mão de obra e aquisição de novosequipamentos foram algumas citadas como prioridadepelas gráficas.

Utilizando a ferramenta Radar da Inovação, seráapresentada uma análise geral das 13 dimensões dassete empresas participantes do Programa AgentesLocais de Inovação, por meio do Quadro 1.

Grau de Instrução

Ensino Fundamental incompleto

Ensino Fundamental

completo

Ensino Médio

incompleto

Ensino Médio

completo

Superior incompleto

Superior completo

0% 0% 0% 43% 14% 43%

Tabela 5 – Perfil das empresas.

Fonte: Pesquisa de campo (2012).

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Diante da aplicação do Radar da Inovação nasempresas estudadas, foi constatado que, com base nostrês últimos anos, as empresas do setor gráfico domunicípio de Natal investiram em novos equipamentos,aumentaram seu mix de produtos e serviços oferecidosaos clientes, identificaram novos mercados, ofertaramnovas soluções complementares, entraram nas redessociais, entre outras mudanças que contribuíram como desenvolvimento e expansão do setor.

Na dimensão oferta constatou-se que todas asempresas analisadas lançaram um ou mais de um novoproduto no mercado nos últimos três anos, sacolaspersonalizadas, banners, novos tipos de cartões,convites, entre outros, foram alguns que obtiveramsucesso entre os clientes. Grande parte dessasempresas, quando questionadas se retiraram algumproduto por não ter tido uma aceitação muito boa,respondeu que todos os produtos colocados nomercado obtiveram o sucesso esperado. Apenas asempresas A e E retiraram a digitação do seu mix deserviços.

Com relação à dimensão Plataforma, o mesmoproduto é oferecido em uma ou mais de duas versõespara atingir novos mercados ou grupos de

consumidores em todas as empresas. Os empresáriosestão atentos em oferecer a seus clientes diversasopções e atender a suas necessidades e expectativas.

Na dimensão Marca, as empresas B, D e Gpossuem suas marcas registradas. As empresas usamsuas marcas em propagandas e utilizam em algunsprodutos produzidos, facilitando assim a divulgaçãodo empreendimento sem gerar custos.

Já na dimensão Processos, as empresas adquiriramnovos equipamentos para obter maior eficiência,qualidade, flexibilidade ou menor ciclo de produção.Esses dados demonstram que as gráficas estão atentasem oferecer rapidez no processo, qualidade eatendimento rápido aos seus clientes. Além da atençãoem novas tecnologias. Com relação aos sistemas degestão e certificações, os empresários não adotaramnenhuma nova prática de gestão, como o GQT, MEG,Just in Time, Reengenharia, Manual de Boas Práticase também não receberam qualquer certificação deprocesso (ISO 9001, ISO 14001 etc.) ou de produto(ABNT).

Com relação à dimensão Organização, a empresaD adotou uma nova abordagem para melhorar seusresultados, como o casual day, política que algumas

Quadro 1 – Grau de inovação do Radar da Inovação do universo investigado.Fonte: Dados coletados da Ferramenta Radar da Inovação, aplicado nas empresas em 2012.

Empresa

Dimensão / pontuação do radar

Grau Total

1.

Ofe

rta

2.

Plat

afor

ma

3.

Mar

ca

4.

Clie

ntes

5.

Solu

ções

6.

Rel

acio

nam

ento

7.

Agr

egaç

ão d

e V

alor

8.

Proc

esso

s

9.

Org

aniz

ação

10.

Cad

eia

de

Forn

ecim

ento

11.

Pres

ença

12.

Red

e

13.

Am

biên

cia

Inov

ador

a

Empresa A 3,0 4,0 3,0 3,0 2,0 1,0 1,0 1,7 1,0 1,0 1,0 1,0 2,0 2,1 Empresa B 2,6 5,0 4,0 3,0 2,0 2,0 3,0 1,3 1,5 1,0 1,0 1,0 2,3 2,5 Empresa C 2,2 3,0 3,0 3,0 1,0 1,0 2,0 1,7 1,0 1,0 1,0 1,0 2,0 1,9 Empresa D 2,2 4,0 5,0 3,0 3,0 4,0 2,0 1,7 2,0 1,0 1,0 1,0 2,0 2,6 Empresa E 3,0 3,0 3,0 3,0 2,0 2,0 1,0 2,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,3 2,0 Empresa F 1,8 3,0 4,0 1,7 1,0 2,0 1,0 1,3 1,0 1,0 1,0 1,0 1,5 1,8 Empresa G 3,8 3,0 5,0 3,0 3,0 3,0 5,0 1,3 3,0 1,0 3,0 1,0 3,0 3,2

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empresas adotam de permitir que os funcionáriostroquem o visual formal pelo casual uma vez porsemana, normalmente no último dia de trabalho. Já aempresa B fez parceria com outra organização parafornecer produtos ou serviços melhores e maiscompletos. As demais empresas não adotaramnenhuma das práticas descritas acima.

Na dimensão Presença foi constatado que asempresas não criaram nenhum ponto ou canal de vendadiferente dos existentes anteriormente, assim como nãoestabeleceram novas relações com distribuidores paraa venda dos seus produtos e serviços. Os dadosdemonstram que as empresas não buscam entrar emnovos mercados, nem atender a outro público-alvo,ficando restrita a sua venda de produtos ao seu pontocomercial.

Na dimensão Ambiência Inovadora constatou-seque grande parte das empresas analisadas não fizeramuso de consultorias ou do apoio de entidades como oSEBRAE, SENAI, SESI, universidades, empresasjúnior, sindicatos patronais ou serviços como o Serviçode Respostas Técnicas – SBRT.

A empresa com um maior grau de inovação é a G,a pontuação 3,2 evidencia e comprova os investimentose mudanças que a empresa fez durante os três últimosanos. Aquisição de novos equipamentos, registro demarca, oferta de novos produtos e serviços aos clientessão algumas das ações implantadas por essa empresaque possui um ambiente propicio a inovação.

Em seguida, destacam-se as empresas B e D, que,assim como a G, investiram em novas mudanças. Asduas empresas citadas têm um tempo de mercadosignificativo e muita experiência no setor em que atuam.Estão sempre buscando novos conhecimentos paraaplicar no negócio. A empresa D oferece ao clienteum mix de serviços diferenciado. Já a B é especializada

em convites e referência no mercado.Já as empresas A e E possuem os graus de

inovação prat icamente iguais: 2,1 e 2,0,respectivamente. Os gestores entrevistados estãocomeçando a investir nas empresas, adquirindomaquinário para expandir seu mix de produtos eserviços, fazendo mudanças em seus layouts,logomarcas e nos itens que compõem a marca, entreoutras ações que possibilitarão o desenvolvimento eexpansão das empresas.

As empresas C e F foram as que menos implantarammudanças organizacionais. Os gestores entrevistadosafirmaram que a ausência de capital não permitiu queas ações planejadas fossem cumpridas.

Análise da dimensão RelacionamentoA dimensão Relacionamento, nos três últimos anos

de atividade, não foi desenvolvida por grande partedas empresas. Não foi prioridade o investimento emnovos recursos e facilidades que pudessem agregarvalor e manter o cliente satisfeito com a empresa.

Os critérios que compõem a dimensão Relaciona-mento do Radar da Inovação preocupam os gestores,pois, com a competitividade acirrada, o que propiciapreços competitivos no mercado, se torna mais difícilfidelizar os clientes. Investimentos em websites, brindesem datas comemorativas, salas personalizadas e visitasexternas já estão sendo avaliados com um grau deimportância maior pelos gestores, tendo em vista apreocupação do segmento em manter umrelacionamento duradouro com o cliente.

Os resultados das entrevistas permitiram identificare analisar a dimensão com os gestores das sete gráficasde micro e pequeno porte. Mediante análise estatística,por meio da aplicação do questionário, obtiveram-seos resultados que serão expostos em conseguinte.

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A Tabela 6 corresponde às facilidades ourecursos utilizados pela empresa, para aperfeiçoare melhorar o relacionamento com seus clientes,assim como os canais de comunicação usados pelosempresários. Das opções sugeridas foi possívelconstatar que 33% das empresas utilizam oatendimento personalizado e brindes como recursosque tenham como intuito promover uma maiorsatisfação por parte dos clientes. Do total, 17%utiliza salas de espera e cafezinho, um resultadoinexpressivo, tendo em vista a importância de mantero cliente confortável no ambiente enquanto eleaguarda o atendimento . Esse resultado écontraditório à teoria de Almeida (2002), segundoa qual fidelizar o cliente é a chave para a lucratividadee o crescimento da empresa. Atrair o cliente nãobasta mais, mantê-lo se tornou mais importante.

O e-mail é o canal mais eficaz citado: 35% das

empresas aproveitam esse meio para enviarinformações importantes ao cliente, como orçamentos,promoções, divulgação dos produtos e serviços, entreoutras. O telefone corresponde a 30% no grau deimportância desses gestores.

As demais opções são importantes para qualquerorganização, porém não são utilizadas de formadinâmica pelos empresários, o que traria bonsresultados em termos de divulgação e ampliação docadastro de clientes. O website, pouco utilizado pelasempresas analisadas, é uma ferramenta rápida eeficiente de comunicação: através dela o cliente podeconhecer a história da empresa, visualizar os serviçosque ela oferece por meio de um portfólio próprio,solicitar orçamentos, recrutar e selecionar pessoas pelolink "envie seu currículo", entre outras opções queaperfeiçoariam os processos de relacionamento dasempresas com seus clientes.

Tabela 6 – Ações de marketing de relacionamento.

Fonte: Pesquisa de campo (2012).

A empresa nos últimos anos adotou facilidades ou recursos para melhoria do relacionamento com os clientes, tais como:

Cartão de aniversário

Brindes Sala de espera

Cafezinho Atendimento personalizado

0% 33% 17% 17% 33%

Dentre os canais de comunicação abaixo, a empresa utiliza para se relacionar com seus clientes:

Telefone Site Email Facebook Visitas externas

30% 15% 35% 5% 15%

Marketing de relacionamento e inovação: um estudo...

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A Tabela 7 verifica o uso da tecnologia dainformação como forma de diferenciação norelacionamento com os clientes. Entretanto, foiconstatado que 57% das empresas não estão nas redessociais. Apenas 29% utilizam o Facebook e 14%, oTwitter. Com o avanço da tecnologia da informação edos meios de comunicação, o uso das redes sociaisno mundo corporativo vem aumentando ao longo dosanos. É cada vez maior o número de empresas queestão aderindo. Por meio do Facebook e o Twitter,por exemplo, a divulgação pode ser realizada atravésde fotos no mural, além de manter o cliente atualizadoquanto às novidades e informações da empresa. Nosegmento gráfico estudado, a utilização das redessociais ainda é pouco significativo, grande parte dasempresas não utilizam esses meios de comunicação.

O pós-venda é uma ferramenta primordial de

pesquisa, pois ajuda a compreender e mensurar asatisfação dos clientes com a empresa, por meio deinformações que permitirão correções no processode venda. A Tabela 7 faz referência à utilização demétodos formalizados para mensurar a satisfação docliente com a empresa, como uma avaliação desatisfação anual ou periódica – 43% dos gestoresnão fazem uso desses métodos para conhecer asatisfação dos clientes com os produtos e serviçosque a eles são ofertados. As demais empresas fazemuso frequente, regular ou raramente utilizam o método.O pós-venda não é uma prática muito utilizada pelasempresas pesquisadas, sendo assim, grande partedelas não conhece os graus diversos de opinião esatisfação dos clientes. Para Bentes (2012, p.153)muitas empresas perdem seus clientes por problemade atendimento no pós-venda.

Tabela 7 – Ações de marketing de relacionamento.

Fonte: Pesquisa de campo (2012)

Quanto à tecnologia da informação, a empresa faz uso das seguintes redes sociais:

Twitter Orkut Facebook Linkedin Nenhuma das alternativas anteriores

14% 0% 29% 0% 57%

A empresa se utiliza de métodos formalizados para mensurar a satisfação dos clientes de forma:

Frequente Regular Esporádico Raramente Não utiliza

29% 14% 0% 14% 43%

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As organizações devem conhecer antecipa-damente os desejos e expectativas dos clientes. Issopode ser feito por meio de perguntas abertas paraque os clientes possam repassar com clareza essasinformações, de visitas indicando interesse nasrelações, de parcerias, entre outras ações quepropiciem reconhecer o que os clientes esperam edesejam dos produtos e serviços oferecidos. A Tabela8 apresenta as opções que a empresa oferece, tendoem vista o conhecimento das principais necessidadese expectativas dos clientes. Qualidade dos produtos

e serviços é a opção que elas mais valorizam ecumprem no atendimento aos seus clientes.Atendimento personalizado e cumprimento dosprazos de entrega se tornam fatores importantes paraa satisfação do consumidor, com 30% e 20%,respectivamente. Os dados coletados condizem coma afirmação de Bentes (2012, p. 61) que o caminhopara o sucesso é entender as necessidades eexpectativas dos clientes, para que junto venhamargumentos e possibilidade de venda e bomatendimento após a compra do produto ou serviço.

Tabela 8 – Ações de marketing de relacionamento.

Fonte: Pesquisa de campo (2012).

Dentre as principais necessidades e expectativas dos seus clientes, a empresa oferece:

Atendimento personalizado

Qualidade dos produtos

e serviços

Cumprimento dos prazos de

entrega

Formas de pagamento

Outros

30% 35% 20% 15% 0%

A forma de registro objetivando a melhoria do relacionamento ao cliente é feita:

Frequente Regular Esporádica Raramente Não utiliza

28% 29% 0% 0% 43%

A empresa realiza ações voltadas para promover um melhor relacionamento com os clientes através de:

Promoções de vendas

Brindes em datas

comemorativas

Confraternizações Campanhas publicitárias

Outros

22% 34% 0% 11% 33%

Marketing de relacionamento e inovação: um estudo...

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Na Tabela 8 pode-se constatar como é feita a formade registro objetivando a melhoria do relacionamentocom o cliente, como as reclamações e as sugestões,por exemplo – 43% dos entrevistados não utilizamnenhum meio de registro formalizado. É importanteconhecer os clientes, saber como eles pensam, comodecidem e do que gostam e não gostam. Por essesmotivos são bem-vindas as pesquisas de opiniãoformais. Com essas informações, a empresa evita ainsatisfação do cliente, resolvendo seu problema deimediato e registrando para que ele não se repitanovamente. Dentre as empresas pesquisadas, 29%fazem isso de forma regular e 28%, frequentemente,percentuais ainda pequenos, tendo em vista aimportância dessa prática.

Atualmente é importante a empresa realizar açõesque sejam direcionadas aos seus clientes, como formade diferenciação, em razão da concorrência acirrada,principalmente no segmento pesquisado. Na Tabela 8podem ser visualizadas as ações para promover ummelhor relacionamento com os clientes: 34% dasempresas enviam brindes em datas comemorativas, emsua maioria no Natal e ano-novo. No segmento gráfico,os brindes são geralmente os itens mais enviados aosclientes: agendas, canetas, calendários e canecas fazemparte das opções personalizadas mais utilizadas.Observa-se que apenas 11% se envolvem emcampanhas publicitárias, tendo em vista a importânciade firmar parcerias de longo prazo, 22% possuempromoções de vendas e não há confraternizações comos clientes.

De acordo com a análise apresentada, foi possívelperceber que as empresas representadas por seusgestores precisam adotar práticas que visemaumentar o relacionamento com seus clientes, pormeio de ações voltadas para um bom atendimento,conhecer suas necessidades e expectativas,estabelecer meios de comunicação mais eficientese formalizar seus processos. Essas ações irãopropiciar que o cliente enxergue a empresa de ummodo diferenciado e não a procure apenas por elater o preço mais competitivo em relação as suasconcorrentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme foi observado, o segmento gráfico estásempre em constantes mudanças; portanto, se faznecessário que as empresas absorvam a cultura dainovação para se diferenciar e conquistar lugar nomercado em que atuam. Algumas das empresasinvestem em equipamentos modernos, entretanto, emsua maioria, colocam a questão do relacionamento como cliente em segundo plano.

O presente artigo se propôs a analisar como osegmento gráfico do município de Natal utiliza omarketing de relacionamento para conquistar e fidelizarclientes. Os dados permitem confirmar que asorganizações investigadas precisam de ajustes econhecimentos no que diz respeito à importância dorelacionamento com os clientes como estratégiacompetitiva de mercado.

É possível compreender que parte das empresas,fontes de pesquisa para a realização do paper, conheceas necessidades e desejos dos seus clientes; contudo,atender com excelência o cliente não é a prioridadeprincipal. Algumas ações são realizadas, porém essenúmero não é significativo. Praticar um preço maiscompetitivo em relação à concorrência na indústriagráfica é o fator primordial na conquista dos clientes,tendo em vista que a qualidade, os prazos de entrega,as formas de pagamentos são praticamente iguais emtodas as empresas do segmento.

A pesquisa mostrou a falta de interesse dosempresários no investimento em capacitações para seuscolaboradores, o que muitas vezes pode ser prejudicialno contato direto, já que não possuem conhecimentosadequados para lidar e atender os clientes de maneiraapropriada.

Alguns dos gestores, preocupados com asmudanças ocorridas no setor, estão visualizando aimportância de adotar facilidades ou recursos quevenham a melhorar o relacionamento com seusclientes, criando novos canais de comunicação edivulgação dos seus produtos e serviços. Os sites eas redes sociais são meios importantes nesse processode estruturação de uma comunicação mais rápida eeficiente.

ROSA & ARAÚJO

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A pesquisa foi limitada às indústrias gráficasatendidas pelo Programa ALI, e o estudo mostrouque, dentro do que já foi citado e de acordo com oque foi observado, seriam necessários, inicialmente,a realização de uma pesquisa de mercado e perfil docliente, o aumento da capacidade gerencial doresponsável, por meio de capacitações, e odesenvolvimento da visão da importância domarketing de relacionamento para a sobrevivência detoda e qualquer organização. Para o gestor, essaprática pode ser feita através de ações inovadorasque tragam benefícios para a empresa, como aaproximação do cliente.

Quanto à pesquisa, pode-se evidenciar que ouniverso de gráficas no município de Natal é muitoextenso, e a pesquisa poderia ser expandida paratodo o setor; assim, poderia ser feita umacomparação entre as empresas com informaçõesprecisas e completas.

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Marketing de relacionamento e inovação: um estudo...

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ROSA & ARAÚJO

RECEBIDO EM 31/3/2013ACEITO EM 7/7/2013

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A CONTRATAÇÃO MINERÁRIA NO NOVO MARCOREGULATÓRIO DA MINERAÇÃO BRASILEIRA: APONTAMENTOS

SOBRE OS INSTITUTOS DA AUTORIZAÇÃO DE PESQUISA ECONCESSÃO DE LAVRA

RONQUIM FILHO, Adhemar. Centro Universitário de Araraquara – UNIARA, residente e domiciliado àAvenida Gustavo Fleury Charmillot, n.º 381, Condomínio Residencial Paraíso, Bloco Jacarandá, apto. n.º 4, CEP

14804-012, Araraquara, São Paulo. E-mail: [email protected].

RESUMO

Tendo em vista a relevância da mineração na atualidade, busca o Poder Público meios para estimular o seuincremento, com foco em impulsos à pesquisa e ao avanço da transformação mineral, basilares para impulsionara atividade de modo profícuo. Nesse diapasão, aprofundam-se as discussões acerca da cristalização de umnovo marco regulatório da mineração brasileira que, apesar de reunir um número significativo de propostas, nãopossui um texto fechado e, atualmente, encontra-se, apesar da premência, distante de uma aprovação ou umapalavra final (apesar da urgência). Contudo, o que se nota da leitura das propostas apresentadas é que sepretende a instituição de novas regras para a modernização da mineração brasileira, tendo este trabalho aproposta de sugerir caminhos para compatibilizar os conflitos permeados pelos variados interesses dissonantesque circundam a mineração brasileira neste momento. Saliente-se que, com a ausência de publicidade oficialdas propostas da alteração, a abordagem restará delimitada ao que foi divulgado pelo Ministério de Minas eEnergia – MME e pelos estudos já apresentados por experts na matéria (ligados ao governo e/ou a iniciativaprivada). Restringiu-se a discutir mudanças a serem implementadas com o novo marco regulatório, destacando-se pontos a serem observados, e, dentre os temas que obrigatoriamente exigem atualização, destacam-sealterações nos procedimentos de autorizações de pesquisa e de concessão de lavra.

PALAVRAS-CHAVE: Mineração; Novo marco regulatório; Exploração econômica; Direitos Minerários.

MINING CONTRATAÇÃO LICENSE IN THE NEW REGULATORY FRAMEWORK OF BRAZILIAN MINING: SOME NOTES ON

THE INSTITUTES OF RESEARCH AUTHORIZATION AND MINING CONCESSION

ABSTRACT

Given the importance of mining nowadays, Government seeks ways to stimulate its growth, focusing on potentializingresearch and the advancement of mineral processing, the basic items for speeding up this activity in a profitable way.In this sense, the discussions on the crystallization of a new regulatory framework for the Brazilian mining have beendeepened and, despite gathering a significant number of proposals, it does not have a closed text, and, currently, itis far from obtaining an approval or a final word (despite the urgency). However, the analysis of the proposals thathave been presented reveals that there is an intention to institute new rules for the modernization of Brazilian mining,and this paper has the purpose of suggesting ways to reconcile conflicts permeated by various dissonant intereststhat surround the Brazilian mining at this time. It should be emphasized that, given the lack of official disclosure of theamendments proposed, the approach will continue limited to what has been released by MME (Ministry of Minesand Energy) and by the studies that have already been presented by experts in the field (connected to governmentand/or private businesses). It is restricted to discuss changes to be implemented with the new regulatory framework,highlighting points to be observed, and, among the topics that require mandatory update, we can emphasize thechanges in the procedures of exploration permits and mining.

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RONQUIM FILHO

KEYWORDS: Mining; New regulatory framework;Economic exploitation; Mineral Rights.

INTRODUÇÃO

Estando prestes a ser enviado para votação noCongresso Nacional o Novo Marco Regulatório daMineração Brasileira, reputa-se de bom grado discutiralguns tópicos que necessariamente serão abordadosnas mudanças a serem engendradas na legislaçãominerária brasileira. Sem sombra de dúvidas, o pontomais relevante a ser discutido será a formação dacontratação mineraria, a qual, estruturalmente, podetrazer mais eficácia ao sistema brasileiro minerário, focoprincipal deste trabalho.

O embasamento deste trabalho será conceituarnovos modelos para desburocratizar o atual estágiodos regimes de outorga minerários, os quais possuemprocedimentos antigos, que não se coadunam com arealidade atual e o caráter estratégico da extraçãomineral, fundamental para o desenvolvimento daeconomia nacional. Com suporte na doutrina nacionale nos dados técnicos qualitativos e quantitativos sobrea Mineração brasileira buscar-se-á contribuir com apresente discussão acerca do novo e premente MarcoRegulatório da Mineração Brasileira.

DOS REGIMES DE APROVEITAMENTO DAS SUBSTÂNCIAS

MINERAIS

O atual Código de Mineração – CM lista variadosregimes legais de aproveitamento mineral em seu art.2.°, pelos quais ocorre os acessos à pesquisa e àexploração dos bens minerários no Brasil. Regimelegal, portanto, são as variantes previstas em lei, comprocedimentos e objetos distintos, que estabelecemcomo os particulares podem praticar as atividadesminerárias em terra pátria, de forma acolmatada como ordenamento.

Especialmente neste trabalho, discorrer-se-á acercados sistemas de autorização e da concessão, os quaissão mais comuns, e, de fato, edificantes da ordemminerária brasileira, e devem ser, irrefutavelmente,objetos de ajustes a fim de dar suporte à mineraçãobrasileira do Século XXI.

Da autorização de pesquisaA pesquisa mineral é uma fase árdua, dispendiosa,

incerta e, na maioria das vezes, estende-se porlongínquos anos, sem nenhuma garantia ao seu detentor,que, no regramento atual, obtém um alvará do diretor-geral do Departamento Nacional de Pesquisa Mineral– DNPM, a fim de que possa o particular autorizadoavaliar a jazida e atestar a exequibilidade do seuaproveitamento econômico, isto é, propriamente efetuara pesquisa mineral, o primeiro acesso a título minerário.Inicia-se por um requerimento do interessado aoDNPM (art. 16, do CM), que conseguirá o Alvarácaso tenha regularmente instruído o seu pedido e aárea não esteja anteriormente onerada, ou seja, livre(art. 18, do CM). É composta de diversas subfases,compreendidas inicialmente como prospecção oureconhecimento geológico, em que se procuram áreascom suposta possibilidade de apresentar depósitosminerais, desde que reputadas como livres. Seguindo,vasculham-se, em terrenos identificados com potencialmineral, os atributos do solo e do subsolo, de carátermais técnico, perfazendo levantamentos geológicos,geofísicos e geoquímicos da área pesquisada. Alémdisso, realizam estudos de afloramentos, tanto nocampo quanto na esfera laboratorial, a fim de apurar-se a extensão das reservas, seus valores e teores, edos custos para a exploração, ou seja, se existentesem quantidades e possibilidades tais que justifiquem acontinuidade das pesquisas e uma posterior lavra,representada por uma avaliação técnico-econômica.

Pela autorização, atesta-se a existência das jazidasem determinada área. A própria exposição de motivosdo CM figura esse regime como uma expectativa dedireito ao autorizado (pessoa física e/ou jurídica), pois,por seu risco e conta, passa a ter o direito de fazerpesquisas em determinado terreno com indícios dedepósitos minerais, mas sem nenhuma certeza de que,de fato, terá o retorno pretendido e poderá efetuar aexploração. O fator risco, suprarretratado, é que deveinspirar a apreciação do legislador reformadorminerário, pois, para ser atrativo ao empresariado, oinvestimento na desgastante fase de pesquisa, cara, esem certeza de retorno, exige contrapartida estatal para

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A contratação minerária no novo marco regulatório...

mitigar os custos e ser afável ao deslocamento dequantias para o descobrimento de recursos minerais.Destarte, a pesquisa minerária obstina verificar sedeterminada área detém recurso mineral dotado deviabilidade técnica (possibilidade de extração) eexequibilidade econômica (retorno financeiro aoexplorador). Essas variantes são apresentadas em umrelatório final de pesquisa, expedido pelo DNPM, noqual é ventilada a sua viabilidade ou não e o seureconhecimento como mina. O CM prevê como prazode validade do alvará de autorização um termo nãoinferior a um e nem superior a três anos, de acordocom o DNPM (art. 22, III), e, em conjugação com aCF/1988 (Constituição Federal de 1988), deve sersempre por termo determinado (art. 176, § 3.º), a serfixado por legislador ordinário. Trata-se de um prazoexíguo e, de fato, inócuo, se for observado que a médiade pesquisa de uma área para reconhecer comodetentora de exequibilidade residente chega a até cincovezes mais.

Da natureza jurídica da autorização de pesquisaA bem da verdade, quase que em uníssono, a

autorização para pesquisa ou lavra (como serámostrado à frente) – denomina-se assim – não deixade ser obviamente um Contrato Administrativo, vistoque engendrado entre particular e, necessariamente, aAdministração Pública, representada por sua autarquiaDNPM. Além disso, como em qualquer contratoadministrativo, tem em seu âmago um interesse público(no caso, da União), como já visto, pois são benfazejasao Estado as descobertas geológicas e as suastransformações para uso de todos, impulsionando aeconomia.

Convém tratar a autorização de pesquisa comosendo uma espécie de contrato administrativodenominado permissão de uso por sua discri-cionariedade, já quer permite o jus imperii daadministração e, por sua precariedade, pode estasuprimir ou cancelar o ato, ao contrário das concessõesadministrativas, que são estáveis. Herrmann (1990, p.130) sustenta ser a autorização uma permissão deuso de bem público (no interesse do Estado), pois

atribuído unilateralmente pela administração, aoassegurar que o particular possa fazer o trabalho deidentificação dos recursos geológicos e sua viabilidadefinanceira por prazo determinado e podendo serrevogado no interesse público.

Dada a precariedade da autorização de pesquisaao repousar os seus sustentáculos nas permissões deuso, carreada de precariedade e não estimulante aocapital potencial estrangeiro, por não ser esteio desegurança jurídica, justificam-se alterações noregramento minerário, a fim de que haja uma junçãoentre estes dois institutos minerários, aparentementesubsequentes, para se tornarem um e amainarem aprecariedade tão desairosa ao investidor minerário. Aconjugação dessas duas fases em um contratotípico de concessão administrativa seria maisprofícua aos fins gerais e aos interesses, inclusivedos particulares.

Não se pode deixar de citar que os instrumentosde outorga previstos na CF/1988 (autorização econcessão) possuem atributos próprios, o que dificultaenquadrá-los diretamente em qualquer espécie decontrato administrativo conhecido.

Neste ponto reside algo que deve ser observadono novo marco regulatório da mineração. Deve serimposta ao empresário mineiro, como requisitoobrigatório, antes do deferimento, a apresentação deum cronograma com prazos máximos para a realizaçãodas fases de pesquisa, a demonstração de que terácondições financeiras para investimento anual, de formaindubitável, e a comprovação de que arcará com otempo de maturação da pesquisa. Desta feita, aadministração dará o direito de vasculhar o depósitogeológico àquele que mostrar um misto demerecimento/capacidade para levar à frente o projetode pesquisa.

Essa cautela serviria para mitigar o efeito de "sentarna jazida de forma improdutiva, para finsespeculatórios", o que o empresário Eike Batista,magnata do setor, reputou ocorrer de forma comumhoje no Brasil (entrevista ao programa "Roda Viva",da Rede Cultura de Televisão, em data de 30/8/2010).Nesse diapasão, prevaleceria o interesse público, pois

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seria uma forma regulamentada de o Estado atribuir odireito àquele que, de fato, reunir condições para aempreitada minerária e poder fomentar os custosnecessários para os estudos na fase de pesquisa, tãoelevados como retratados neste trabalho. E o interessenacional consubstanciado na outorga minerária residenaquele empresário que, com presteza e eficiência,apresentar o relatório positivo ou não, com oexaurimento dos trabalhos de moldes célere eprodutivo. Para tanto, antes da autorização, deverãoser averiguados no candidato a dupla característica:CAPACIDADE PARA INVESTIMENTOSMÍNIMOS (FINANCEIRA) e TÉCNICA.

Se a CF/1988 brada a importância indelével dointeresse público, não se pode admitir uma vinculaçãoadministrativa, não se permitindo sequer umaapreciação técnica do Estado acerca do candidato aotítulo minerário.

Atualmente o procedimento tem como base umformato burocrático, com o mero preenchimento derequisitos formais se capaz de gerar ao empresário,mesmo incapacitado técnica e financeiramente, o direitode alcançar o alvará, e mais, conseguir prorrogaçõesinfindáveis de prazo, de forma dilatória, apenas paranão perder o título sem nenhuma retribuição financeira,visto ser prevista a possibilidade de cessão outransferência deste, nos moldes do art. 22, I, do CM.Perfaz-se neste ato o procedimento iníquo deespeculação minerária, contrária aos interessesnacionais e que poderia ser abolida se critérios técnicosservissem para elidir a possibilidade de terceiros nãodotados de condições financeiras e técnicas para aempreitada alcançassem o alvará. É premente seradotada essa temática na elaboração do novo marcoregulatório da mineração, o que atribuiria um graurecomendado de discricionariedade à administraçãona autorização de pesquisa.

Em que pese a impropriedade terminológica parao ato administrativo de outorga ("autorização"), queestá em descompasso com Direito Administrativo ecom a concepção da CF/1988, o novo marco deveráprivilegiar um acentuado caráter discricionário àquela,podendo evitar o acesso a áreas com potencial teor

mineralógico a particulares que não detenhamcondições de levar à frente a empreitada de pesquisas.

Será um grande avanço, e necessário, visto queatualmente o alvará de pesquisa vem sendo entregue ainteressados como ato vinculado, pois não tem oDNPM (e espera-se, tenha a Agência Nacional deMineração – ANAMI) liberdade de se indispor contraa lei em tese, e tendo o postulante obedecido aospressupostos legais, que atualmente não envolvem análiseda viabilidade do particular em dar andamento aostrabalhos de pesquisa com eficiência e prazos regulares,lhe é outorgado o direito de pesquisa, mesmo que, nofundo, o objetivo seja meramente especulatório.

No novo projeto concretizador do marcoregulatório, as autorizações passariam a ser atribuídasapenas a pessoas jurídicas (a concessão de lavra jápermite apenas o acesso a essas e, portanto, nada maisjusto do que a pesquisa também ter como requisitopara deferimento esta condição), em áreas livres, oque é recomendável dentro dessa proposta de participara terceiros que tenham condições notórias de arcarcom os custos vilipendiosos que envolvem essa fasena mineração. Além disso, e o que é salutar dentro damodernização buscada, a fixação de prazos máximosrazoáveis e a permissão de apenas uma prorrogação,e não mais várias dessas, de forma indefinida, como épossível hoje. Trata-se do sistema 5+3, ou seja, cincoanos para a realização da pesquisa, com possibilidadede prorrogar-se por, no máximo, uma vez, e por apenastrês anos, desde que comprovada a necessidadeimperiosa e imprescindível de trabalhoscomplementares para o fim dos estudos.

Nos termos da proposta, a fim de atestar a evoluçãodos trabalhos e o cumprimento do investimentoprojetado quando do requerimento da autorização,salutar faz-se a apresentação de relatório anual à futuraANAMI, para que esta verifique a adequação e ocomprometimento do detentor do título minerário. Anão realização das metas previstas e/ou o não depósitode capital para o avanço das pesquisas, desde queinjustificados, devem possuir previsão de aplicação desanções, como multas e até mesmo a perda do direitooutorgado, deixando área em estado de disponibilidade

RONQUIM FILHO

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a terceiros interessados em prosseguir com os estudosminerários. Como exemplos, seguem os prazos de

A contratação minerária no novo marco regulatório...

1(Disponível em <http://www.mme.gov.br/sgm/galerias/arquivos/noticias/Apresentaxo_Ministro_1903.pdf> Acesso em 04janeiro 2012).

Quadro 1 – Prazos de pesquisa mineral.Fonte: Ministério de Minas e Enegia – MME1.

pesquisa mineral dispostos em outros países, a títulode comparação:

PAÍS PRAZO DE PESQUISA África do Sul Até 5 anos. Pode ser renovado apenas uma vez por um período não

maior que três anos. Chile Dois anos, prorrogáveis por mais dois anos Colômbia 3 anos

Prorrogação do prazo de Pesquisa: 2 anos a cada vez, até o limite total de 11 anos.

Peru Livre, desde que o dono permita. Exceto áreas de concessão alheia e cercadas ou cultivada

Sul da Austrália

Prazo máximo da licença: 5 anos, renováveis pelo Ministro em casos específicos

Oeste da Austrália

Exploração Inicial e Licença de Retenção (na maioria das concessões garantida por cinco anos, renováveis) e inclui o direito de prioridade para requerer o direito de garantia do título de lavra

Índia Licença de Pesquisa: máximo 3 anos; licença de Reconhecimento: 3 anos prorrogáveis por até 5 anos

China O prazo de pesquisa é 150 dias, ampliado em 50 dias para cada unidade de medida

Talvez uma maior influência a ser observada pelolegislador pátrio tenha de ser buscada no DireitoMineral sul-africano, estabelecido em um país comgrandes recursos geológicos e que em 2004 sofreu asua última reforma legislativa nessa seara. Antes, o titulardo direito minerário poderia explorar por prazoindeterminado, deixando aberto o espaço paraespeculação mineral, o que ora se busca elidir.

O sistema passou a ser do "use ou perca",possuindo o Estado discricionariedade ampla na outorgade direitos minerários, além de os prazos passarem aser determinados e rígidos. Outrossim, exigem-serequisitos mínimos de despesas com a área explorada,tudo em consonância com as propostas atualmente em

pauta no novo marco regulatório (WENTZEL, 2011).Nesse sentido, coaduna-se com a compreensão de

Freire (2010, p. 126), que possui

preocupação maior com a fase de pesquisa emrelação à lavra, citou exemplos de países que seutilizam do sistema de concessão – mais estável– também na fase de pesquisa. Seriam essespaíses o Chile, Bolívia, Paraguai, Peru, Equadore México. Entende aceitável a ideia de se fazerconcessão para a fase de pesquisa, mas critica apossibilidade da autorização na fase de lavra,situação que geraria insegurança, sem qualquerbenefício para o País e para os investidores.

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Por outro lado, a fim de que se estimulem osinvestimentos em pesquisas geológicas no Brasil,especialmente de estrangeiros, a autorização depesquisa deve ser concebida, caso não haja acompilação para título único, como será exposto àfrente, de apanágio relativo às concessões clássicasdo Direito Administrativo, contratos sem caráterprecário, não ficando a mercê o particular de, aqualquer tempo, mesmo que cumprindo regularmenteas obrigações impostas, sofrer a decepção de o atoconcedente ser cancelado de forma imotivada pelaadministração, o que atenta contra a segurança jurídicatão fundamental quando se trata de direitos minerários.Inobstante, o aproveitamento de afloramentos que vêma ser estudados e apresentam-se viáveis para aexplotação como jazida é irrisório, tratando-se de fatogeológico anômalo.

DO SISTEMA DA PRIORIDADE

O sistema da prioridade veio a substituir o dapreferência, a partir do advento da CF/1988 e do CM,consolidando como definitivo para a atividade mineráriao anterior requerimento regular junto ao DNPM deautorização e/ou concessão, outorgando privilégioàquele que precipuamente manejar o seu interesse naexploração do recurso geológico. Em relação aoproprietário da respectiva área, com a supressão dosistema da preferência e estando em condições deigualdade com terceiros, tem resguardado apenas odireito de participação nos resultados da lavra. Isso seencontra em assonância com o art. 11, ) do CM.

Estando a área livre e regular procedimentalmenteo pleito, estatui-se a presunção de prioridade, a qualse confirma com o cumprimento dos requisitos do art.16 do CM. O direito de prioridade estaria assentadona isonomia erigida pela CF/1988, assegurandoigualdade a todos no acesso a títulos minerários,bastando apenas cumprir imperativos formais e ser oprimeiro a chegar com o pleito junto à autarquia mineral,ou seja, que tiver a precedência de entrada dorequerimento junto ao DNPM, e, desta forma, oprimeiro no tempo.

Se por um lado sustenta a igualdade entre os

postulantes aos títulos minerários, de outro expurgaqualquer discricionariedade administrativa, pois aAdministração nada pode fazer para obstar o pleitodaquele que primeiro vencer a longa fila do DNPM eapresentar os documentos exigidos, mesmo que,contraproducente aos interesses da Nação no que atineao avanço da explotação minerária, não reunircondições operacionais para implementar os recursosnecessários para as pesquisas e posterior exploraçãodas jazidas.

O protocolo prioritário (primeiro e regular) decidea sorte do recurso geológico enquistado em dadapropriedade, ceifando qualquer atuação governamentalem contrário, mesmo que no interesse da sociedade,ávida pelo crescimento do setor minerário brasileiro.Com o título, pode o beneficiado defender esta posseminerária de terceiros (inclusive o proprietário), poisonera a área, e ceder a outrem, mediante remuneração,gerando um ativo valioso, o que justifica a intensificaçãode filas perante o DNPM para a consecução do direitode prioridade por pessoas físicas e jurídicas.

Exsurge a necessidade de que o novo marcoregulatório da mineração tutele com acuridade aquestão da prioridade outorgada, sempre com vistasa deferi-las àqueles que se apresentarem técnica/financeiramente aptos a levar à frente a empreitadaminerária. É o melhor modo para se combater apossibilidade de manipulação, título aventado pelaentão ministra das Minas e Energia Dilma Rousseff emseminário de 2004, ventilado por Ribeiro (2006, p.315). Tal possibilidade de manipulação é engendradapelos que, sem interesse em pesquisar e/ou lavrar,requerem a prioridade já com o intuito exclusivo eardiloso de apenas negociar com terceiros a áreaoutorgada.

A bem da verdade, é mister que, no mesmodiapasão que supostamente o procedimento daprioridade estaria em termos constitucionais, poistrataria a todos de modo igual (princípio da isonomia),garantindo ao primeiro que requerer a pesquisa juntoà futura ANAMI, remontando à época colonial e suaregra da descoberta, presente, também, nos demaispaíses da América Latina, atesta-se uma contradição

RONQUIM FILHO

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em termos à Carta Magna, ao não garantir umacompetição necessária aos interessados em levar umaaventura minerária. O que define, atualmente, é a fila,ou melhor, aquele que chegar primeiro ao DNPM parapostular o direito à pesquisa/lavra.

Pouco importa nos dias atuais a existência de outrosinteressados, mesmo em melhores condições. Ocritério definidor é o que favorece o empresário queestiver em primeiro na fila na hora em que abrir o guichêdo DNPM. É uma situação cômica, mas real, e quepode ser assistida constantemente junto à autarquiaminerária, como uma repetida e sem graça ópera bufa,pois despreza outrem que reúna eventual maior méritopara assumir os encargos para a exploração mineral,não exigindo do detentor do título garantia deinvestimentos mínimos ou da suficiência de fundos paraos atos minerários.

O sistema da prioridade nos moldes atuais nãocongrega os interesses da União e é anti-isonômico, abem da verdade, ao não resguardar ao que temmelhores condições técnicas o acesso ao títulominerário, entregando-o ao que vencer a correria atéa porta do DNPM. É uma aberração jurídica

continuada que tem de ser abolida com o novo marcoregulatório da mineração.

Notícia recente2 aponta que o irracional sistemaanticoncorrencial e anti-isonômico levou o Tribunal deContas da União – TCU a observar que, naSuperintendência do DNPM de Minas Gerais, "emrelato dos funcionários da autarquia, foi-nosinformada a existência de um 'comércio da fila deprioridade', onde pessoas são contratadas para,literalmente, montar guarda permanente na portado DNPM." Essa é uma das artimanhas que o atualsistema possibilita.

Em notícia recente do diário "Valor Econômico"3,mais uma vez se comprovam as absurdas ocorrênciasoriundas do sistema de filas que define o empreendedorque terá o direito à prioridade na pesquisa/lavra.

O Estado-Eficiência almejado pela ConstituiçãoRepublicana Brasileira não se coaduna com o sistemade prioridade nos termos atuais que, em que impere aexistência de mais interessados em determinada área,discerne e resolve a competição com a precedênciana chegada ao protocolo, concepção que deve serespancada para a adequação do novo marco

A contratação minerária no novo marco regulatório...

2Disponível em <http://www.hojeemdia.com.br/noticias/economia-e-negocios/estrutura-precaria-para-licenca-de-lavra-no-estado-de-minas-1.378634> Acesso em 12 dezembro 2011. As distorções criadas no processo de requerimento para exploração mineral têm gerado situações esdrúxulas nas regionaisdo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) em Minas e no Pará. A disputa por áreas de mineração envolvedesde a contratação de "velocistas" até a atuação de "cambistas minerais".Para protocolar um requerimento, o DNPM adota o critério de ordem de chegada. Nos dias de recebimento dos protocolos,disputas acirradas ocorrem nas regionais. Na frente do departamento, em Belém, por exemplo, os "corredores" encarregadosde dar entrada nos protocolos fazem até aquecimento para a "hora da largada". O desafio é vencer a distância de 50 metrosque separa a porta do prédio do balcão onde são entregues os pedidos de pesquisa mineral, segundo relato feito ao Tribunalde Contas da União (TCU) por funcionários da autarquia na sede do Pará. Um vídeo divulgado pela internet mostra oscorredores treinando na frente da sede do DNPM.Pelas regras do código de mineração, a mineradora que registra o pedido tem autorização para estudar a área concedida porum prazo de um a três anos, período que ainda pode ser prorrogado por mais três anos, a critério do DNPM.Em Minas Gerais, o interesse pelo registro de requerimentos de pesquisa criou um comércio de "fila de prioridade". Na portada sede do DNPM, em Belo Horizonte, cambistas guardam lugar na fila do protocolo, o que leva empresas interessadas emdeterminado projeto a "comprar" o lugar, se quiserem entregar o pedido primeiro.Em relatos aos auditores do Tribunal de Contas da União (TCU), funcionários do DNPM admitiram que, em algumas ocasiões,os cambistas chegam a protocolar, por conta própria, requerimentos de áreas com grande potencial minerário, embora sejaóbvio que não farão nenhum tipo de estudo na região. O objetivo é fazer o repasse desse requerimento para um interessado,por um preço alto. (Disponível em <http://www.valor.com.br/brasil/1118452/para-protocolar-pedido-e-preciso-recorrer-velocista> Acesso em 4 janeiro 2012).

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regulatório da mineração às necessidades do interessesocial que circunda a atividade. Ou se altera essaestrutura viciada ou haverá a perpetuação de ummodus operandi inútil à economia mineral brasileira,visto que se consagra a gratuidade do registro. Àquele

que obtém esse, transforma-se em dono, tendo a opçãovender a concessão ou aguardar e especular. Em estudoprimoroso realizado por Freire (2011) acerca dosistema de Prioridade e seu acolhimento por outrasnações, sintetiza-se o seguinte quadro:

RONQUIM FILHO

PAÍS REGULAMENTO MOÇAMBIQUE Caso ocorram dois pedidos para uma mesma área dentro de um intervalo de até uma

hora, a ambos os requerimentos será atribuída a mesma prioridade. Para aquele país, se houver mais de um pretendente para a mesma área, os pleiteantes serão informados dos fatos e convidados a oferecer a melhor oferta pela concessão da área disputada.

ARGENTINA Definiu como critério para o desempate a qualidade do pedido apresentado. Quanto mais certo, claro e inequívoco for o Requerimento em detrimento do outro, maior será a chance de a ele ser atribuída a prioridade

SUÉCIA Todos os Requerimentos feitos no mesmo dia são revestidos de direito de prioridade. Dessa forma, os requerentes de área comum terão igual direito

ÍNDIA Aborda a possibilidade de a um requerimento posteriormente apresentado ser concedida a preferência. Para tanto, o pedido tardio deve atender a alguns requisitos elencados em lei, tais como: (1) a experiência do propositor, bem como as minas eventualmente por ele já exploradas ou possuídas; (2) a capacidade financeira do aplicante; (3) a qualidade e a natureza dos empregados a serem contratados ou já estabelecidos na empresa; (4) qualquer outra razão estipulada pelo Governo Estadual, desde que tenham sido anteriormente aprovadas pelo Governo Federal

ÁFRICA DO SUL

Todos os requerimentos realizados no mesmo dia possuem a mesma prioridade. A lei ainda estipula que, quando há dois requerimentos com prioridade, cabe ao Ministro a incumbência de dar preferência ao pedido da pessoa que possui um histórico de desvantagem. A lei não determina especificamente em que consistiria histórico de desvantagem. Interpreto essa expressão dentro de um contexto social

Quadro 2 – Sistema de Prioridade.

Fonte: Freire (2011).

A estrutura atual deve ser atacada e aprimoradapara evitar fatos desairosos ao setor lustrados retro.O que se busca, a partir de agora, é a mescla perfeitano sistema de prioridade, que congregue a isonomia,mais propriamente, o acesso possível a todos a direitosminerários, com a competição entre os interessados,sendo vencedor aquele que apresentar as melhorescondições técnico-financeiras, privilegiando os anseiospúblicos da mineração.

A receita a ser seguida para se justificar o sistemade prioridade é simples: critérios técnicos para se atingiro interesse público, o que seria alcançado, caso seadotasse este novo procedimento no marco regulatórioda mineração de lege ferenda, que deve privilegiar o

caráter meritório, em vez de mera ordem cronológica.

DO REGIME DE CONCESSÃO

Ontologicamente, uma autorização administrativaperfaz-se por um ato discricionário, unilateral e precárioda administração em relação ao particular interessadoem benefício deste, jamais dependendo de licitação, afim de sanar a prática de atividades que, em tese, seriamtotalmente colidentes com a lei (poder de políciaestatal), como a autorização para porte de arma, que,inexistente, é um tipo de contravenção penal. Vê-se,desta feita, que não se amolda ao instituto daautorização de pesquisa com completude, no formatoatual, pois esta congrega o interesse do Estado também

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(no investimento privado nos recursos geológicos), nãosendo plenamente precário, visto haver sérios óbicesà exclusão do direito outorgado ao particular e não édiscricionário, já que, caso cumpridas as previsõeslegais, é fornecido o alvará ao particular, de formameramente cartorária.

A concessão administrativa é uma solução antigaadotada pelo Estado para que serviços de interessedeste, estratégicos, mas não essenciais no que se refereà assistência à sociedade (como saúde e educação),pudessem ter os seus custos transferidos a terceirosparticulares, que injetariam recursos para a suaefetivação e possível lucro, ao mesmo tempo em queacarretaria vantagens sociais. Tem sua abrangência maisa atividades econômicas, interessantes a empresários,que podem investir trazendo bons resultados própriospara a sociedade e para a própria pessoa jurídica dedireito público respectiva, perfazendo uma contribuiçãoentre a administração e o terceiro (JUSTEN FILHO,2002, p. 42)4.

Dessa forma, os riscos são transferidos aosparticulares, mediante licitação (BORIO, 1999, p.283), sem que haja flexibilização na fiscalização estatalem defesa do interesse público, sem o dispêndio docapital financeiro do Estado. Nesse aspecto, encontra-se a confluência entre as concessões clássicas e asminerárias, pois a alea é transferida ao particular, que,apesar de imensos investimentos em tese, pode nãoobter o retorno, mas não há prejuízo ao erário em casode insucesso. Para Diniz (2006, p. 531), a concessão

é o contrato pelo qual uma ou várias pessoas secomprometem perante à administração pública afazer executar às suas expensas, assumindotodos os riscos, trabalho de utilidade pública

mediante o recebimento de retribuição ou devantagens estipuladas no ato de concessão.

Em se podendo admitir o ato de outorga deexplotação minerária a terceiro como, de fato, umaconcessão, pela intersecção ontológica conceitual, háde ser apontadas algumas não congruências,especialmente a deformidade de o ato concedenteminerário não ser atualmente formalizado por contrato,o que é da essência natural de uma concessãoadministrativa.

Di Pietro (2011, p. 296) observa, com parêntesesnossos:

é feita por contrato (deve ser a partir do novomarco regulatório da mineração, para maiorefetividade do sistema), em que o poder públicotransfere apenas a execução do serviço e conservaa sua titularidade (na concessão minerária, atitular é a União, por imperativo constitucional,fazendo jus ao royalties da CFEM, com baseno retorno da jazida), alterando as cláusulasregulamentares, retomando a execução do serviçopor meio de encampação, fiscalizando e punindo,administrativamente, o concessionário, em caso deinadimplemento (a grande falha do regime atualminerário é esta, na medida em que, por nãose estatuir por contrato, não há vigor garantidoao Estado para fiscalizar, sancionar e excluiro particular que não esteja atuandoprodutivamente na explotação, o que deve sersanado pelo novo marco regulatório damineração).

Pela atual redação do CM, terminada a fase de

A contratação minerária no novo marco regulatório...

4Na verdade, os fatos apontam para uma crescente necessidade de parcerias entre o poder público e a iniciativa privada, nosmais diversos setores da economia, o que tem imposto certa distensão às fronteiras conceituais do instituto da concessão,tornando-o cada vez mais um gênero do qual decorrem diversas espécies, conformadas, cada uma, por legislação específica.O vocábulo 'concessão' tem sido, então, conforme o entendimento da doutrina administrativista nacional, utilizado emdiferentes sentidos, tais como a concessão de serviço público, a concessão de obra pública, a concessão de uso de bempúblico, a concessão de direito real de uso, a concessão para exploração de minas e jazidas, a concessão florestal, entreoutras (MARTINS, 2011, p. 40).

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pesquisa e aprovado o relatório final, terá o agente oprazo de até um ano para requerer a Concessão deLavra ou negociar este direito (art. 31). Ora, residenesta redação uma grande contradição do sistema.Primeiramente, não se justifica aguardar um exato anopara que possa o particular definir qual a sua conduta.Trata-se de um prazo elástico demais, contrário aodinamismo que se exige do novo ordenamentominerário.

O que deve proceder, e deve ser abarcado no novomarco regulatório da mineração, é que, aprovada apesquisa, imediatamente, em prazo curtíssimo, de dias,deve a empresa mineira dar prosseguimento aostrabalhos, agora já de lavra, caso seja a jazida viável.É contrário ao interesse nacional um prazo elevadopara a tomada da decisão do titular. Outrossim,estimula o que se quer combater frontalmente, ou seja,a especulação minerária, mais claro, o título meramenteutilizado para ser alienado a terceiro, sem que haja,com brevidade, a exploração e a retirada dos minériostão relevantes à sociedade.

Aliás, atualmente, o DNPM, que será sucedido pelaagência, como já exposto alhures, pode prorrogar oprazo para a decisão do titular, mediante solicitaçãodeste (art. 31, parágrafo único, do CM). Após isso,caso não adote o agente qualquer medida prática, teráa perda de seu direito e a área será reputada comodisponível, assim declarada pela atual autarquia,ficando à mercê do pleito de terceiro interessado quepretender explotar a área pesquisada, após adivulgação por parte do órgão (art. 32, do CM).

Com exatidão, Munia Machado (op. cit., p. 165)considera, em posicionamento confluente ao que sedefende neste trabalho: "não obstante a separaçãofeita pelo legislador, os regimes de autorização econcessão correspondem, a rigor, a um regime legalúnico, que poderíamos denominar regime deautorização e concessão."

Não se justifica esse "intervalo" excessivo entre asfases, patrocinado pela legislação. O que ocorre é quea concessão deve ser reputada, pela novel legislação,um período sucessivo à pesquisa e, dessa forma, aaprovação do relatório deve obrigar o titular, em prazo

exíguo (dias), a manifestar o interesse no alcance daconcessão (no regime atual, a concessão, nos termosdo art. 43, do CM, processa-se por portaria expedidapelo ministro de Minas e Energia). Por conseguinte,dar andamento nos trabalhos exploratórios ou,contrariamente, ceder a terceiro os estudos, desde quehaja a aprovação formal, anterior e expressa daadministração, que, inversamente, em não acatando,abrirá procedimento de licitação de terceirosinteressados em dar andamento aos trabalhos mineiros.Nesse caso, deve prever a lei que, caso a viabilidadeaferida pela pesquisa se concretize, e a mina em vogaseja, de fato, rentável, um pequeno quinhão deve serdestinado ao titular que praticou a pesquisa, a título demero ressarcimento de despesas, pelos estudosdispendidos e que vieram, eventualmente, a contribuircom o trabalho de terceiros.

A deformidade do atual regramento tambémtransparece ao constatar-se que a atual lei de regênciaprevê que a outorga da concessão a particularprocessar-se-á mediante portaria, espécie atonormativo (lei lato sensu) de inferior grau, que, deregra, sem esmiuçar a sua origem administrativa,normalmente serve para gerir situação e condiçõesadministrativas do poder público. É um contrassenso,portanto, um ato de tamanha relevância e de desveladocaráter ser trespassado a alguém mediante titulaçãooriunda de uma portaria, o que desnatura, como já foidito, o instituto da concessão administrativa clássica,espécie de contrato formulado entre Estado eparticular, com cláusulas bem definidas, sérias, rígidase vigorosas para cumular direitos e obrigações mútuasentre as partes, com penalidades, hipóteses de extinçãoe delimitação da extensão das condutas das partes(comutatividade).

Há, portanto, na lei atual, uma desmistificação deum conceito clássico do Direito Administrativo,devendo, para que haja a evolução do sistema, sermanejada a concessão por meio de contratoadministrativo subscrito entre as partes contratantes(União e particular) A bem da verdade, de modo maisprofícuo já na fase pré-pesquisa, para se elidir o quese atesta hoje, rectius, o isolamento entre as fases,

RONQUIM FILHO

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com interregno excessivo, descaracterizando asucessão de procedimentos que deve ocorrer para quea atividade minerária transcorra de maneira maisdinâmica.

A crítica à deformidade, que se atesta a partir dautilização do termo concessão de forma afastada ànatureza de sua origem de contrato administrativo, fazcom que Freire defenda, uma vez mais, uma novaterminologia, ou seja, CONSENTIMENTO PARALAVRA, o qual seria o adotado em vários países (comoo Chile) (op. cit., p. 84). Para este, por se veicularmediante portaria, há apenas um beneplácito para oaproveitamento industrial por parte do particular dajazida, o que inviabilizaria a adoção de cláusulas deprodutividade, pela singeleza desse ato normativo, e,nessa ótica, não atenderia os fins para os quais sepretende conduzir o Direito Minerário, com maissegurança para a União e para o particular investidor,o que apenas ocorreria por meio de um documento dedireitos e obrigações bilaterais.

Sabe-se que, além do autor supra, há uma correnteem defesa de uma nova terminologia para o ato deoutorga de explotação, inclusive com a adoção deconsentimento de lavra. Todavia, essa questãomeramente acerca do signo vernacular não é produtivaa fim de sanar os principais pontos cegos do sistema.O que se impende obstinar é estatuir a regência darelação entre o particular e a mina de modo mais seguroe tendente à consecução dos objetivos colimados maisclaramente, uma explotação contínua e produtiva, coma garantia de que o titular, de fato, terá condições paralevar a mina em frente. Outrossim, desenvolver-se-ásuas atividades no prazo e com investimentos mínimosgarantidos, como se comprometeu com o Estado, afim de que, em caso de descumprimento, possa esteaplicar as sanções cabíveis e, principalmente, retomara condução da jazida, o que, pela lei atual, é de extremadificuldade, para não se dizer possuir chances iníquasde ocorrer.

Assim, a preocupação deve estar no conteúdo enão na embalagem do sistema. Dessa forma, de nadaadiantará um novo marco regulatório apenas para aalteração de terminologia e não de procedimentos e

de poderes da União e dos particulares bem definidose reconhecidos. Não deixa de ser, em sentido amplo,a jazida, um bem público e também, em lataconcepção, apta a gerar um serviço público, extraçãode riquezas minerais, de interesse da sociedade. Sendoassim, mesmo que não se coadune integralmente coma concessão clássica de Direito Administrativo, deveobedecer à forma contratual para a expansão domundo minerário. O foco deve ser o âmago e nãoaspectos superficiais como adoções terminológicas quepodem não ser capazes de dar o andamento colimadopara este setor hodiernamente.

Vivacqua (p. 487), já em 1942, visualizava nesseinstrumento algo mais vigoroso que um mero atoadministrativo autorizativo e, pode-se concluir,demanda a concretização por um elemento mais forte,no que se encaixa com perfeição um contratoadministrativo, podendo ser oriundo da visão clássicade concessão administrativa.

A visão que tem de ser trazida pela nova legislaçãomineral sobre a concessão é a de que,irrefragavelmente, é um contrato entre particular(empresa mineira) e União, para uma pacificaçãoamenizadora do sistema mineral do Brasil, propiciandoum maior poder de fiscalização e de intervenção dopoder público na concessão.

Por outro lado, os ajustes que devem ser realizadosno novo marco regulatório da mineração direcionampara adequar a concessão ao contrato clássico deDireito Administrativo, sanando as lacunas atualmenteexistentes, como a fixação de prazo certo edeterminado, a formalização por contratação bilateralentre as partes e a previsão de licitação para os casosde concorrência entre particulares com interessesparalelos sobre determinada área. Como a CF/1988mencionou a concessão como um dos regimes deexploração mineral, mas não esmiuçou detalhes (comcorreção) de suas características, cabe ao legisladorordinário, no novo marco regulatório da mineração,erigir seus procedimentos e a sua aproximação comos atributos da concessão clássica de DireitoAdministrativo para que haja a assonância com a novaCarta Constitucional, que não teve, por si, como

A contratação minerária no novo marco regulatório...

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atualizar conceitos traçados no CM, mas não fincadosmais de acordo com as novas exigências que aatividade mineral imprescinde a partir da legislaçãoestrutural.

São fatores a ser tratados no novo marco regulatórioda mineração acerca da concessão minerária:

LicitaçãoQuando houver mais de um interessado na área, o

que se atesta pelo pedido de prioridade apresentadodentro de 48 horas a partir do primeiro requerimento, aadministração expediria edital concorrencial para quehaja a ratificação, em prazo assinalado, por parte dasque requereram prioridade, dos interesses das empresasminerárias e que obedeçam as condições editalícias. Amelhor proposta quanto a prazos, valores previstos deinvestimento e garantias para a União, dentre outras,vence o certame e passa a fazer a pesquisa minerária(dentro da concepção que a autorização e concessãodevem ser consideradas como sucedâneas e,obviamente, é perda de tempo discutir tratar-se de doisinstitutos distintos, já que o fim é o mesmo – a explotaçãode recursos minerais). Os setores energéticos, elétricoe de petróleo e gás já adotam lato sensu o sistemalicitatório (leilões públicos), tutelados pelas agências jáconstituídas (Agência Nacional de Energia Elétrica –ANEEL e Agência Nacional de Petróleo – ANP). Sobesse prisma, a título de exemplo, a gigante Petrobrásbriga em caráter de igualdade com outras empresasinteressadas, estimulando critérios para o deferimento auma das interessadas, com detalhada apresentação deproposta e procedimentos para a exploração de riquezanacional.

Esse módulo de regulação visa mitigar a vinculaçãoda atuação estatal hoje em mineração, que fica à mercêde atuar de forma cartorial, acatando a documentaçãoapresentada por interessado em área supostamentecom recursos geológicos viáveis, não submetendo estea uma disputa com outrem para atestar se atuaráconforme exige o interesse público minerário. Não háalternativa à administração de acordo com o atualsistema, pois submissa a cumprimento dos requisitosformais e burocráticos do interessado, relegando a

apuração do interesse público no ato de outorga e,pior, desconsiderando variados princípiosconstitucionais minerários, como prevalência dasoberania e do interesse nacional e função social dapropriedade minerária.

Contrato administrativoJá foi assinalada acima a necessidade de

conformação da concessão mineral com a concessãoclássica de Direito Administrativo para um melhoratendimento do interesse nacional e dos particularesoutorgados. Não se pode repousar tão significativaavença administrativa a um ato inferior, visto a relevânciado bem social tratado, devendo ser previstas cláusulasessenciais a ser respeitadas pelos concessionários, asquais devem reproduzir:

a) delimitação da área e dos recursos mineráriosobjeto do contrato;

b) demonstração de condições técnico-econômicasdo concessionário;

c) prazo estipulado e determinado para a concessão;d) previsão expressa e delimitada de prorrogação,

a qual, ao contrário de atualmente, não pode excederde uma;

e) hipóteses de extinção do contrato (término doprazo previsto, consenso, descumprimento, nãoidentificação de jazida ou não viabilidade técnico-econômica dessa e seu exaurimento) e retomada damina pela União para o repasse a terceiro, prevendoressarcimento de custos e despesas para oconcessionário desalojado, desde que tenhaapresentado significativa evolução na pesquisa/lavra;

f) sanções por descumprimento (multas – limitadasno novo marco regulatório da mineração –; interdiçãoda mina e extinção contratual);

g) garantias por parte do concessionário, paracomprovar condições de levar a exploração à frente ede que cumprirá os prazos assinalados;

h) a permissão para que o concessionário utilizedos direitos minerários (reais) como penhor e, portanto,garantia para a obtenção de financiamentos para autilização na pesquisa e na exploração;

i) previsão de taxa de ocupação progressiva no

RONQUIM FILHO

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tempo a ser paga periodicamente pelo empreendedormineiro, como meio para amenizar a propriedademinerária improdutiva, com fins meramenteespeculatórios; e

j) plano para o fechamento da mina, com a retiradae a destinação dos equipamentos instalados para amina; dentre várias outras condições.

Quanto mais seguro o sistema, mais os investimentosprivados surgirão, havendo desenvolvimento daspesquisas geológicas, tão carentes no Brasil hoje, porforça dos parcos investimentos estatais nesta seara.Nada melhor do que oferecer uma segurança jurídicaao particular para que essa invista e não sejasurpreendido por novos humores estatais, calcado emprecariedade de título, caso não redigido por contratobilateral entre as partes diversas, com direitos eobrigações firmados entre poder concedente eminerador.

Pontes (op. cit., pp. 121-122), consente a totaladequação da concessão mineral com o regime deDireito Administrativo, pois:

Discorda assim da classificação da concessãomineral como sendo um instituto sui generis epeculiar, sem relação com as demais concessões.Considera ainda que a concessão se materializacomo ato administrativo vinculado mediantecontrato administrativo, como ocorre na grandemaioria das concessões. Portanto, entende o

expositor que a concessão é um gênero, quecomporta várias espécies, entre elas a concessãomineral. Mencionou, também, outros exemplos deespécies de concessão, tais como as de serviçopúblico, de obra pública, de uso de bem público,florestal e outras.(...) a concessão mineral é um instituto de assentoconstitucional a ser conformado por lei ordinária,mas que se insere no regime de direito público, eque reúne diversos elementos, tais como:instrumentação por contrato administrativo, prazodeterminado, condições de prorrogação, prestaçãode contas, responsabilidade ambiental, sanções queinibam condutas vedadas, entre outros.

Prazo para concessãoAo aproximar-se a concessão minerária de sua

origem administrativa, os seus pontos estruturais devemser absorvidos, especialmente a fixação de prazodeterminado para, além da pesquisa, dar-se aexplotação, e não a situação sine die a que se assisteatualmente, que estimula absurdamente a especulaçãoe a maturação da propriedade para a cessão do direitoa terceiros (praticamente um comércio de direitosminerários)5, muito menos custosa do que a práticados atos minerários sucessivos.

As outras nações adotam o prazo determinadopara a concessão minerária, o que deve inspirar onovo regramento minerário brasileiro (Quadro 3):

A contratação minerária no novo marco regulatório...

5"O que vemos hoje no caso das jazidas de minério é um comércio paralelo, até mesmo clandestino, e por isso criminoso.Empresas privadas e empresários registram as jazidas e fazem um leilão particular destes ativos de minérios. Não éexagero afirmar que todo esse processo conta com facilidades nos órgãos reguladores, o que gera corrupção em algumasautarquias, como vemos noticiado na mídia nacional.Hoje, a China está loteando grande parte do subsolo brasileiro, sobretudo em Minas Gerais, comprando de particularesou de empresas o direito de concessão de exploração de jazidas de minério de ferro. Tudo isso beneficiados por essemodelo que vigora sobre as concessões de jazidas" (OLIVEIRA, 2011, p. 143).

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RONQUIM FILHO

PAÍS PRAZO DE CONCESSÃO DE LAVRA África do Sul 30 anos, renovado por

no máximo mais 30 anos Colômbia 30 anos, com prorrogação de no máximo 20

anos Canadá Ontário

21 anos no máximo

Canadá Quebec

20 anos, renováveis pelo período de 10 anos, até limite 50 anos, e após por prazo indeterminado

Sul da Austrália

21 anos, prorrogáveis

Oeste da Austrália

21 anos prorrogáveis

Índia Licença de Lavra: 20 a 30 anos

China Varia de 10 a 30 anos e pode ser estendido

Quadro 3 – Prazos de concessão de lavra.Fonte: Ministério de Minas e Enegia – MME.

O setor petrolífero brasileiro trabalha comconcessões por prazo determinado e máximo de 35anos, termo ainda acima do que se observa naexperiência internacional, que recomenda um temponão superior a trinta anos para o direito de explotaçãopor parte do particular.

Do acesso aos direitos mineráriosA atual proposta de limitar o acesso à pesquisa e à

lavra propriamente dita exclusivamente a pessoasjurídicas e brasileiras (empresas mineiras – atualmentea autorização pode ser outorgada a pessoa física)atende, de um lado, ao objetivo de transferir aparticulares com condições de efetuar a exploraçãomineral (presume-se que a pessoa jurídica reúnemaiores condições do que uma pessoa física), e, deoutro, a manutenção dos pilares da mineração comosoberania nacional, ao limitar ao acesso a estrangeirosa riquezas estratégicas brasileiras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve o afã de contribuir mesmominimamente para o debate acerca do novo MarcoRegulatório da Mineração que, pretende-se, servirá

para mitigar os conflitos do setor e saciar os interessesconflitantes instalados entre Estado (soberano nosrecursos minerais), sociedade (que aufere osbenefícios da explotação) e empresários mineiros (quevisam ao lucro, mas têm altos custos para viabilizar aextração final dos minérios), e modificará os atuaissistemas de autorização de pesquisa e de concessãode lavra, sendo estas alterações básicas o discutidono presente ensaio.

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RECEBIDO EM 6/12/12ACEITO EM 14/6/2013

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COMPOSTOS FENÓLICOS EM DIFERENTES MARCAS DECERVEJA: COMPARAÇÃO QUALITATIVA DE DIFERENTES

MARCAS E SUA RELAÇÃO COM A SAÚDE HUMANA

MACIEL, Denis Cardoso; ELÓI, Ligia Mara Henrique. Discentes do Curso de Farmácia do CentroUniversitário de Votuporanga/Campus Centro.

E-mail: [email protected]; [email protected]ÃO, Christiane de Oliveira. Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário de Votuporanga/

Campus Centro, Rua Pernambuco, 1594 – Centro, CEP 15500-006.E-mail: [email protected]

RESUMO

Atualmente vem se observando o intenso interesse em alimentos que, além da nutrição, ofereçam atividadesfuncionais em relação à prevenção de alguns distúrbios fisiológicos. A presença dos compostos fenólicos emalguns alimentos faz com que os mesmos sejam capazes de prevenir doenças como câncer, arteriosclerose,doenças cardíacas, inflamações, entre outros benefícios, pelo fato de os mesmos agirem como agentesantioxidantes no organismo. Sendo a cerveja umas das bebidas mais consumidas pelos brasileiros, e por apresentarem sua composição compostos do tipo fenólicos, este estudo objetivou realizar uma análise qualitativa ecomparativa da composição destes em cinco diferentes marcas de cervejas do tipo Pilsen mais consumidas pelapopulação brasileira, relacionando-os com seus efeitos à saúde humana. Foram utilizados os métodos de ReaçõesCromogênicas – RCR e Cromatografia em Camada Delgada – CCDA para identificação dos compostos,métodos que se mostraram eficientes perante a proposta do trabalho. Encontraram-se nas cervejas a presençade compostos do grupo dos flavonóides, catequinas e taninos, além da presença de ácidos fenólicos, como ocafeico, vanílico e ferúlico. Tais substâncias fazem com que a cerveja adquira um potencial antioxidante queapresenta benefícios à saúde de quem a consome, indiferentemente da marca, já que todas apresentaramsemelhante padrão de compostos do tipo fenólicos, podendo assim desprover principalmente de açãoantiarterioscleróticas, anti-inflamatórias, anticarcinogênicas, antitrombóticas, entre outras.

PALAVRAS-CHAVE: Cerveja; Compostos fenólicos; Saúde humana.

PHENOLIC COMPOUNDS IN DIFFERENT BEER BRANDS: A QUALITATIVE COMPARISON OF DIFFERENTE BRANDS AND

THEIR RELATIONSHIP WITH HUMAN HEALTH

ABSTRACT

Nowadays, we have observed a great interest in food that, besides nutrition, provides functional activities inrelation to the prevention of some physiological disorders.The presence of phenolic compounds in some kindsof food makes them able to prevent some diseases, such as cancer, arteriosclerosis, heart diseases, inflammations,as well as other benefits, because they behave like antioxidant agents in the organism. Considering that beer isone of the most consumed drinks by Brazilian people and it also has as part of its composition some compoundslike the phenolic ones, our research aimed at performing a qualitative and comparative analysis using the phenoliccompounds in five different brands of "Pilsen" beer that are more consumed by the population, in relation to theireffects to health. To identify the compounds, two methods were used, chromogenic reactions and thin layerchromatography, methods that were efficient for this research. Compounds from the group of flavonoids,flavanones, catechins and tannins, beside some phenolic acids, such as the caffeic, the para-coumarica and

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ferulic ones were found in beer. Such substancesprovide beer with an antioxidant power that presentsbenefits for the health of those who drink it, no matterthe brand, because they showed the same pattern ofphenolic compounds, having, this way, mainly an anti-atherosclerotic, anti-inflammatory, anticarcinogenic,antithrombotic action, among others.

KEYWORDS: Beer; Phenolic Compounds; Humanhealth.

INTRODUÇÃO

Apreciada por muitos na atualidade e indispensávelpara os momentos de lazer de grande parte dosbrasileiros, a cerveja, que movimenta bilhões nomercado mundial, é uma bebida que se originou dacultura mediterrânea há milhares de anos. Evidênciashistóricas apontam que seu uso na Antiguidade nãoera exclusivo somente como uma bebida, mas que amesma também apresentava propriedades e finsmedicinais (FREITAS et al., 2006).

A cerveja é um produto obtido através do processode fermentação alcoólica do mosto de cereal maltado,na grande maioria o da cevada, podendo seradicionados outros cereais e substâncias adjuvantespara condicionar as características desejadas aoproduto. Um dos principais componentes da cervejaé também a água, pois a sua boa qualidade estádiretamente relacionada com a qualidade final doproduto (FREITAS et al., 2006).

As cervejas mais consumidas e que predominamno mercado brasileiro são as do tipo Pilsen, aspopularmente conhecidas como "cervejas claras",sendo produzidas em larga escala pela indústriacervejeira no país (KUCK, 2008). O Brasil é um dosmaiores produtores de cerveja, ficando atrás somentede países desenvolvidos como China (a campeã emprodução), Estados Unidos, Alemanha e Rússia. Jáem relação ao consumo, ocupa posição entre osprimeiros no ranking e, assim sendo, devido ao seugrande consumo, apresenta imenso interesse depesquisa, tanto em caráter para melhora de suaprodução, quanto em relação aos seus efeitos a saúde

humana (SIQUEIRA; BOLINI; MACEDO, 2008).O equilíbrio entre os compostos da cerveja é

essencial para sua qualidade e condiz com seusaspectos sensoriais, assim, podendo ou não ser aceitapelo consumidor quanto as suas características lábeis.Possui um complexo de compostos que lhesproporciona moderado sabor e aroma e suacomposição está diretamente relacionada à qualidade,sendo um sério problema para indústria brasileira aperda por sabores indesejáveis (ARAÚJO; SILVA;MINIM, 2003).

Os processos de oxidação que ocorrem nosalimentos é fator influenciável na vida de prateleira demuitos produtos da indústria alimentícia. Diante desseaspecto, os compostos fenólicos presentes na cervejaapresentam grande influência no seu processo deconservação, sendo de suma importância econômicapara as indústrias, já que a oxidação desses podemalterar as características sensoriais da mesma, como osabor, cor e o aroma. Um exemplo é a oxidação dostaninos que pode levar ao escurecimento da bebida(DEGÁSPARI, 2004; KUCK, 2008).

Uma pesquisa realizada na Universidade Estadualde Campinas – Unicamp analisou as característicasbioquímicas e sensoriais de três marcas de cervejadurante o processo de envelhecimento, no qual seconclui que a cerveja pode perder cerca de 50% desua capacidade antioxidante até o fim de sua vida deprateleira, que dura cerca de seis meses. A diminuiçãoda concentração de compostos fenólicos na cervejaestá diretamente ligada as suas característicasorganolépticas, em especiais os flavonoides(SANTOS; 2007).

Em relação aos benefícios à saúde pelo consumoda cerveja, estes se relacionam com a presença deagentes antioxidantes que reagem com os radicais livresno organismo. Os radicais livres soltos no plasmapodem reagir com o DNA, RNA, proteínas ouquaisquer outras substâncias oxidáveis, podendocontribuir para o aparecimento de doençasdegenerativas ou até mesmo o envelhecimento. Osantioxidantes são obtidos pelo organismo através dadieta de alimentos que os contenham em sua

MACIEL et al.

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composição, sendo a principal forma de obtê-los, enecessário, pois o sistema antioxidante não supresozinho essa necessidade do organismo. As vitaminas,compostos fenólicos e os carotenoides são osprincipais antioxidantes obtidos na dieta (PEREIRA;VIDAL; CONSTANT, 2009).

De acordo com o publicado no jornal da Unicamp,a cerveja ainda pode ser também fonte de vitaminaB9, devido à presença de folatos, compostosequivalentes ao ácido fólico, que são muito importantesno combate à anemia e doenças cardiovasculares(GARDENAL, 2010). Já o etanol, considerado ogrande vilão da cerveja, também pode apresentarbenefícios à saúde, pois pode interferir no metabolismode HDL – bom colesterol – e na fibrinoloses, podendoapresentar papel importante na absorção decompostos fenólicos (FREITAS et al., 2006).

Tem-se observado atualmente grande interesse napesquisa e estudo de compostos fenólicos e alimentosque os contenham em sua composição, devido ao fatode esses alimentos apresentarem muito mais que suafunção nutritiva, também auxiliando e prevenindo emdistúrbios fisiológicos, apresentando atividadesfuncionais como ação antiarterioscleróticas, anti-inflamatórias, anticarcinogênicas, antitrombóticas eantiosteoporóticas (FURLONG et al., 2003).

Consumidores e produtores têm apresentadoatualmente um grande interesse nos compostos fenólicos.Os polifenóis são os antioxidantes encontrados em maiorquantidade na dieta, sendo as principais fontes produtoscomo os sucos, vinhos, chocolates, chás e a entãodiscutida cerveja. Ultimamente, vem se associando umarelação entre alimentos ricos em compostos fenólicosna prevenção de doenças, como inflamações, doençascardiovasculares, etc. (SIQUEIRA; BOLINI;MACEDO, 2008).

Os polifenóis presentes na cerveja são adquiridosprincipalmente da casca da cevada e do lúpulo. Dentreeles podemos destacar os ácidos fenólicos e osflavonoides, as antocianinas e seus derivados produtosde oxidação e os flavonóis. Além de contribuírem paraa saúde dos consumidores, também têm influênciasobre a conservação da cerveja, podendo retardar o

seu processo de envelhecimento. Aparecem tambémoutros compostos, como os taninos, por exemplo(FREITAS et al., 2006).

A importância desses compostos para a saúde ede seu desempenho na produção de cerveja justificauma maior atenção na sua caracterização analítica ebioquímica, o que objetivou este trabalho a realizaruma análise qualitativa de identificação de compostosfenólicos presentes nas diferentes marcas de cervejado tipo Pilsen mais consumidas pela populaçãobrasileira e relacioná-los com efeitos na saúde humana.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram analisadas neste trabalho 5 diferentes marcasde cervejas do tipo Pilsen, dentre as mais consumidasno mercado brasileiro, provenientes de embalagem dealumínio de 350 ml que apresentassem tempo deprateleira não muito equidistantes, variando-se nomáximo em até dez dias a data de fabricação entre asmesmas, e o tempo de prateleira não podia passar de30 dias da fabricação.

Os métodos analíticos utilizados para a identificaçãoqualitativa dos compostos foram os descritos abaixo erealizados em triplicatas. O método de RCR forambaseados nos métodos descritos por MATOS (1997)e os de CCDA realizados pela otimização demetodologias descritas por PEREIRA (2010).

Determinação dos compostos fenólicos porRCR – Reações Cromogênicas

Operações PreliminaresConcentraram-se amostras de cerveja em béqueres

de 10 ml cada em chapa de aquecimento até se obtera metade do volume. Pipetaram-se sete porções de3-4 ml em tubos de ensaio numerados. Foramsubmetidos o conteúdo dos tubos de ensaio aosseguintes testes:

Testes para fenóis e taninos (Teste 1)Tomou-se o tubo número 1 e juntaram três gotas

de solução alcoólica de FeCl3 a 0,1 mol. Agitou-sebem e observou-se qualquer variação de sua cor ouformação de precipitado abundante, escuro. Foi

Compostos fenólicos em diferentes marcas de cerveja...

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comparado com um teste em branco, isto é, usandoapenas água e cloreto férrico.

- Coloração variável entre o azul e o vermelhoé indicativo da presença de fenóis, quando o teste"branco" for negativo.

- Precipitado escuro de tonalidade azul indica apresença de taninos pirogálicos (taninoshidrolizáveis) e verde, a presença de taninosflobabênicos (taninos condensados oucatequéticos).

Testes para antocianinas, antocianididinas eflavonoides (Teste 2)

Tomaram-se os tubos de números 2, 3 e 4, e foiacidulado um deles a pH 3 com solução de HCl a 0,1mol, alcalinizado outro a pH 8,5 e o terceiro a pH 11com solução de NaCl a 0,1 mol. Observou-se qualquermudança da coloração do material.

- Aparecimento de cores diversas indica apresença de vários constituintes, de acordo com aTabela 1.

MACIEL et al.

Tabela 1 – Teste para determinação de antocianinas, antocianididinas e flavonoides.

Fonte: Dados de pesquisa.

Constituintes

Cor em meio

ácido (3) alcalino (8,5) alcalino (11)

Antocianinas e Antocianidinas Vermelha Lilás Azul Púrpura

Flavonas, Flavonoides e Xantonas Amarela

Chalconas e Auronas Vermelha Vermelho Púrpura

Flavonóis Vermelho laranja

Obs.: A presença de um dos constituintes pode mascarar a cor indicativa da presença de outro.

Testes para leucoantocianidinas, catequinas eflavanonas (Teste 3)

Tomaram-se os tubos numerados 5 e 6, e foiacidulado o primeiro por adição de HCl (concentração)até pH 1-3 e alcalinizado o outro com NaOH(concentração) até pH 11. Foram aquecidos com

auxílio de uma lâmpada de álcool durante 2-3 minutos,cuidadosamente. Observou-se qualquer modificaçãona cor, por comparação com os tubos corresponden-tes usados no teste anterior.

- Aparecimento ou intensificação de cor indica apresença de constituintes especificados na Tabela 2.

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Testes para flavonóis, flavanonas, flavanonóise xantonas (Teste 4)

Adicionaram-se ao tubo de número7 algunscentigramas de magnésio granulado ou em fita e 0,5ml de HCl concentrado. Aguardou-se o término dareação indicada pelo fim da efervescência e foiobservado por comparação mudança na cor da misturada reação nos tubos 5 e 7 (acidificados).

- Aparecimento ou intensificação de cor vermelhaé indicativo da presença de flavonóis, flavanonas,flavanonóis e/ou xantonas, livres de seus heterosídios.

Análises cromatográficas das substânciasfenólicas nos extratos hidroalcoólicos

Na análise por Cromatografia em camada delgadaanalítica – CCDA, realizada pela otimização demetodologias descritas por Stahl (1969), foramutilizadas em cromato placas com sílica gel 60 F254

(Merck). Como fase móvel, utilizou-se o sistema desolvente: tolueno : metanol (7:3). O ensaio foi realizadoem triplicata para permitir a revelação das placas pornebulização com os reativos de vanilina sulfúrica(vanilina a 2 % em etanol e adicionada de 10 % deácido sulfúrico) e a mistura (1:1) de FeCl3 (cloretoférrico) + K3Fe(CN)6 (ferricianeto de potássio). Apósnebulização dos reativos, revelou-se a presença dediferentes substâncias fenólicas nos extratos analisados.Utilizou-se, como parâmetro de avaliação, a cordesenvolvida na sequência de reveladores empregadospara a detecção do perfil cromatográfico dos extratoshidroalcoólicos (PEREIRA, 2010, p.22-23.)

Na Tabela 3 estão apresentados os testes comreveladores químicos para a determinação de algunsdos ácidos fenólicos por cromatografia em camadadelgada analítica (TUZEN; OZDEMIR, 2003 apudPEREIRA, 2010).

Compostos fenólicos em diferentes marcas de cerveja...

Tabela 2 – Teste para determinação de leucoantocianidinas, catequinas e flavanonas.

Fonte: Dados de pesquisa.

Constituintes Cor em meio

ácido (1-3) alcalino (11)

Leucoantocianidinas Vermelha

Catequinas (Taninos catequéticos) Pardo-amarelo

Flavononas Vermelho laranja

Obs.: No caso da presença de ambos, um constituinte pode mascarar a cor indicativa de outro.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas diferentes amostras de cervejas analisadas poreste trabalho, os compostos fenólicos encontrados porRC estão dispostos na Tabela 4, enquanto osidentificados por CCDA estão presentes na Tabela 5.

As diferentes marcas de cervejas analisadasapresentaram padrão de substâncias fenólicasbasicamente semelhante, quando realizados todos ostestes propostos. As técnicas realizadas demonstraramser abrangentes, reprodutíveis e de fácil execução, sendoadequadas para o procedimento de identificação doperfil de substâncias presentes nas diferentes amostrasanalisadas. Mas vale ressaltar que, em alguns casos, apresença de um dos compostos pode mascarar a

detecção de outro nos testes. Sendo assim, para casosque necessitem da identificação de determinadocomposto em si, é necessário que se valha de outrametodologia de identificação mais específica. A baixaconcentração dos compostos nas amostras tambémpodem se tornar empecilho na sua identificação.

Dentre os compostos fenólicos que podem estarpresentes na cerveja, foi possível identificar pelasanálises a presença de compostos pertencentes aogrupo dos flavonoides, flavonas, flavononas, além dascatequinas e taninos flobabênicos. Registrou-setambém a presença de ácidos fenólicos como cafeico,ferúlico e para-cumárico, assim demonstrados nasTabelas 4 e 5.

MACIEL et al.

Ácidos FeCl3 + K3Fe (CN)6

Vanilina + H2SO4

Cinâmico Amarelo - Ferúlico Azul escuro Lilás claro Vanílico Azul Rosa

para-cumárico Azul Lilás claro para-hidroxi benzoico Azul claro -

Cafeico Azul escuro Lilás

Tabela 3 – Testes para determinação de ácidos fenólicos por Cromatografia em Camada Delgada.

Fonte: Dados de pesquisa.

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Os compostos fenólicos presentes na cervejaprovêm do lúpulo e, na sua grande maioria, do malteda cevada, fazendo com que a bebida se torne umaboa fonte de polifenóis. Porém, os compostosderivados lúpulo são mais fáceis de seremcaracterizados que os da cevada, pois durante oprocessamento da bebida eles podem sofrer mudanças,tornando-os de difícil caracterização (SIQUEIRA;BOLINI; MACEDO, 2008).

Geralmente os compostos fenólicos são encontradosna cerveja ligados a outros compostos, como ésterese glicosídeos, mas também é possível encontrá-los emsua forma livre, e algumas substâncias apresentarãomaior possibilidade de serem encontradas ou no malteou no lúpulo. Os derivados de ácidos hidrobenzoicose ácidos hidroxinâmicos, como, por exemplo, os ácidosferúlico, para-cumárico e cafeico (identificados pelostestes), são extraídos mais comumente do malte,

Compostos fenólicos em diferentes marcas de cerveja...

Tabela 4 – Compostos fenólicos identificados por RCR.

Fonte: Dados de pesquisa.

Compostos fenólicos identificados nas amostras de cerveja do tipo Pilsen Amostra

A Amostra

B Amostra

C Amostra

D Amostra

E Fenóis - - - - -

Taninos flobabênicos + + + + + Taninos Pirogálicos - - - - -

Antocianinas e Antocianidinas - - - - - Flavonas, Flavonoides

e Xantonas + + + + +

Chalconas e Auronas - - - - - Flavonóis - - - - -

Leucoantocianidinas - - - - - Catequinas + + + + + Flavononas + + + + +

Tabela 5 – Ácidos fenólicos identificados por CCDA.

Fonte: Dados de pesquisa.

Ácidos presentes na amostras de cerveja do tipo Pilsen

Cafeico Ferúlico Vanílico Cinâmico para-cumárico

para-hidroxi benzoico

Amostra A + + - - + - Amostra B + + - - + - Amostra C + + - - + - Amostra D + + - - + - Amostra E + + - - + -

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enquanto do lúpulo provêm os flavonóis, chalconas eflavanonas. Igualmente encontráveis, tanto no lúpuloquanto no malte, são os taninos derivados de flavonóis,as catequinas e procianidinas (SIQUEIRA; BOLINI;MACEDO, 2008).

A matéria-prima utilizada é fundamental na qualidadeda composição final dos compostos fenólicos, quetambém pode ser influenciada pelo processo defermentação. O enriquecimento ou empobrecimentona composição desses nos alimentos e bebidas estádiretamente relacionado ao processamento no qualforam submetidos para sua produção (SIQUEIRA;BOLINI; MACEDO, 2008).

Os compostos fenólicos atuam como neutralizadoresou sequestradores de radicais livres no organismo oucomo queladores de metais de transição. Devido àressonância do anel aromático presente em suasestruturas, os intermediários formados pela ação deantioxidantes fenólicos adquirem característica estável.O fato de reduzirem radicais livres reativos estárelacionado ao poder redutor do grupamento hidroxila,o que lhes confere sua capacidade antioxidante(PEREIRA; VIDAL; CONSTANT, 2009).

As substâncias reativas oxigenadas, assimdenominadas as diferentes formas de oxigênioextremamente reativas, estão relacionadas aoaparecimento de doenças como câncer, diabetes,doenças cardíacas, aterosclerose, artrite, entre outras,além de estar ligadas também aos processos deenvelhecimento do corpo. Assim sendo, diversosestudos mostraram que, por meio da dieta diária, épossível proteger o organismo dos processos oxidativosque ocorrem naturalmente, através da ingestão dealimentos ricos em antioxidantes, como, por exemplo,os presentes na cerveja (DEGÁSPARI, 2004).

Dentre os compostos fenólicos presentes nabebida, os flavonoides estão entre os mais efetivosno auxílio à saúde humana. Os efeitos farmacológicose bioquímicos que se destacam são as açõesantioxidantes, antiplaquetária e antiinflamatória e seusefeitos antialérgicos. Além disso, os mesmos podemauxiliar beneficamente nos processos decarcinogênese, por meio da inibição de enzimas ligadas

a este processo, como a prostaglandina sintetase, aciclooxigenase e lipoxigenase. Podem atuar tambémcomo indutores enzimáticos para algumas enzimas dositema desentoxicante, como a glutationa S-tranferase. Nos alimentos, os mesmos podem atuarsobre a preservação da vitamina C e impedindo aformação de radicais livres (PEREIRA; VIDAL;CONSTANT, 2009).

Quando falamos de saúde, o flavonoide presentena cerveja que se destaca é a rutina. Esta acaba porproduzir efeitos benéficos associados à elevação naatividade da enzima antioxidante superóxido dismutase,assim, diminuindo os fatores de risco paraaterosclerose e doenças cardiovasculares, além daelevação do colesterol-HDL (PEREIRA; VIDAL;CONSTANT, 2009).

Compostos monoméricos como a catequina e aquercetina, por serem capazes de quelar radicais livrese inibir a enzima lipoxigenase, que promovem o inícioda ruptura dos ácidos graxos insaturados, quandoliberadas através da polimerização, podem formarnovos compostos fenólicos, apresentando de maneiraefetiva ação como antioxidantes no organismo(SIQUEIRA; BOLINI; MACEDO, 2008).

Destacam-se, também, os ácidos fenólicos, porpossuir atividade antioxidante que auxilia tanto nosalimentos quanto para o organismo. Seus efeitosbenéficos estão relacionados à prevenção e tratamentode doenças como o câncer e doenças cardiovasculares(PEREIRA; VIDAL; CONSTANT, 2009). Por seremcapazes de sequestrar os radicais livres do organismo,evitando que os mesmos interajam, oxidando o DNAdas células, acabam por atuar como anticarcinogênicos(SIQUEIRA; BOLINI; MACEDO, 2008).

Os efeitos anticarcinogênicos dos compostosfenólicos estão diretamente relacionados à prevençãodo câncer de pulmão, fígado, esôfago, cólon, mama epele. Dentre eles se destacam o resveratrol, ácidocafeico, flavonóis e a quercetina, todos compostospresentes na cerveja (ANGELO; JORGE, 2007).

Dos ácidos fenólicos, o ferúlico é o composto maissimples e encontrado em maior abundância na cerveja,totalizando cerca de 50% ou mais da quantidade total

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de ácidos fenólicos na bebida. Pode ser encontradoem sua forma livre ou na grande maioria ligado aoutras substâncias presentes na cerveja, como osaçúcares, ácidos orgânicos, substâncias nitrogenadase íons metálicos, o que dificulta sua quantificação.Devido a sua poderosa ação antioxidante, o acidoferúlico no organismo é considerado um potentefotoprotetor, podendo atuar efetivamente no auxílioà prevenção de cânceres de pele (SIQUEIRABOLINI; MACEDO, 2008).

Devido à presença de compostos fenólicos, aoconsumir a cerveja, mesmo que inconscientemente, umapessoa está absorvendo para sua dieta substâncias queauxiliam na prevenção de algumas doenças que possamacometer a sua saúde, mostrando assim que a cervejaé uma boa fonte desses compostos, devido à altaconcentração deles na mesma. Mas, para se obter umamaior concentração na absorção dos compostosfenólicos através do consumo de cerveja, aconselha-se que seja consumida logo após a sua fabricação,pois uma pesquisa realizada confirmou que, após 15dias de prateleira, perde até 35% de seus compostosfenólicos, e até o final de seu prazo de validade podeaumentar para 50% a perda destes (SANTOS, 2007).

O consumo de antioxidantes dietéticos, além deinúmeros benefícios à saúde, torna-se importantedevido ao fato de não haver estudos ou evidências deque o consumo de alimentos ricos em antioxidantesacarretem efeitos prejudiciais no decorrer da vida(PEREIRA; VIDAL; CONSTANT, 2009). Mas, emrelação à cerveja, é necessário que esse consumo sejamoderado, pois a presença do álcool, ao mesmo tempoem que traz benefícios, pode trazer prejuízos à saúde,tanto em curto prazo, como afetar a concentração,diminuir reflexos, provocar alterações fisiológicas,interferir na coordenação motora, quanto a efeitos delongo prazo, como a perda de capacidade neurológica,dependência, alguns tipos de câncer na garganta,esôfago, fígado e degeneração do mesmo, problemascardiovasculares, entre outros (CARLINI et al., 2001;BALAN; CAMPOS, 2006; GALILEU, 2008).

De acordo com reportagem publicada na "BeerLife", uma revista conceituada sobre o ramo cervejeiro,

e outros estudos realizados, tendo como foco oconsumo da cerveja e sua relação com saúde,aconselha-se que uma pessoa tome até três dosesdiárias da bebida, cada dose equivalendo a umaunidade alcoólica (cerca de 12 a 14 g de álcool), assimdefinido pela Organização Mundial de Saúde – OMS,o que representa a quantidade encontrada em umalatinha de cerveja de 350 mL (BEER LIFE, 2009;ANDRADE et al., 2009; CUNHA, 2011).

Existe também uma proporção em relação ao sexo,sendo aconselhado que as mulheres consumam duasdoses e o homem até três por dia, pois o organismofeminino apresenta menor resistência aos efeitosalcoólicos. Mas vale ressaltar que essa regra possuiexceção, já que cada organismo tem um tipo deresposta aos efeitos e à metabolização do álcool(ANDRADE et al., 2009; CUNHA, 2011).

Um estudo realizado aponta que a frequência coma qual é consumida a cerveja também apresentainfluência sobre os seus benefícios, afirmando que oideal seria o consumo da bebida entre três a no máximocinco dias por semana, e que não há necessidade doaumento da dose para que se consiga absorver maisseus benefícios. Esse intervalo também é necessário,pois o organismo precisa de um tempo de descansodo consumo de álcool, para que possa eliminá-lo doorganismo, um processo que pode levar cerca de até48 horas para ser concluído totalmente (PENNA &HECKTHEUER, 2004; ANDRADE & OLIVEIRA,2009; CUNHA, 2011).

Cabe ressaltar que o consumo de bebida alcoólicanão é recomendado a menores de idade, gestantes,idosos, pessoas que apresentem problemas cardíacosou estejam fazendo uso de qualquer tipo de medicação.Além do que, cerveja não é remédio, por isso, jamaisserá receitada por um profissional como meio de curaou prevenção de alguma patogenia. Não se podemconfundir os fatos, pois a cerveja não pode se tornarsubstituto de nenhum tipo de terapia medicamentosa,mas complementar hábitos saudáveis quando feito oconsumo de forma regular (ANDRADE; OLIVEIRA,2009).

Diversos estudos epidemiológicos vêm indicando

Compostos fenólicos em diferentes marcas de cerveja...

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que o consumo de bebidas alcoólicas, como o vinho ea cerveja, ambas ricas em compostos fenólicos, estãodiretamente relacionadas à prevenção de algumasdoenças, dentre elas as cardiovasculares, bem comoa diminuição da taxa de mortalidade, quandocomparados os que consomem a bebida commoderação e os que não a consomem ou o fazem emdemasia. A prevenção de algumas doenças está cadavez mais relacionada ao consumo de alimentos ricosem polifenóis, o que vem sendo diariamente confirmadopor diversos estudos realizados em todo o mundo(SIQUEIRA; BOLINI; MACEDO, 2008).

CONCLUSÕES

A presença de compostos fenólicos na cerveja lheproporciona uma ação antioxidante, tornando-a capazde auxiliar em alguns distúrbios fisiológicos doorganismo, sem a preocupação dos efeitos do álcooldevido a seu baixo teor na bebida. As cinco marcasanalisadas apresentaram em sua composição apresença de compostos que são essenciais na dietahumana, não se diferenciando em relação ao perfil decomposição. Sendo assim, ao consumi-las,indiferentemente da marca, estarão absorvendo eaproveitando os benefícios oferecidos por essescompostos, desde que o consumo da bebida seja deforma moderada e consciente.

O intuito do trabalho não é incentivar o uso dabebida alcoólica, no caso a cerveja. A intenção destefoi disponibilizar aos que a consomem informaçõessobre seus efeitos à saúde e como aproveitá-los deforma eficiente, sem que o consumo da mesma, aoinvés de proporcionar benefícios, acabem por provocarou agravar distúrbios fisiológicos no organismo,afirmando-se que os que não o fazem devem assimcontinuar.

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RECEBIDO EM 30/1/2013ACEITO EM 13/5/2013

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VARIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL NA ABUNDÂNCIA DE ORDENS EFAMÍLIAS DE MACROINVERTEBRADOS BENTÔNICOS

REGISTRADOS EM ÁREA DE NASCENTE, CAMPO VERDE-MT

ZARDO, Daniela Cristina. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos, UniversidadeFederal de Mato Grosso (UFMT). Avenida Fernando Corrêa, Cuiabá-MT. Tel: (65) 3615 8764. E-mail:

[email protected], Edna Lopes. Doutora do Departamento de Botânica e Ecologia/Instituto de Biociências/

Universidade Federal de Mato Grosso. Avenida Fernando Corrêa, Cuiabá-MT.AMORIM, Ricardo. Doutor do Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos/Universidade Federal

de Mato Grosso. Avenida Fernando Corrêa, Cuiabá-MT. MALHEIROS, Carolina Hortêncio. Bióloga, Mestre em recursos Hídricos pela UFMT. Avenida Fernando

Corrêa, Cuiabá-MT.

RESUMO

Os macroinvertebrados bentônicos estão entre os principais organismos utilizados na avaliação de impactosambientais e monitoramento biológico em ecossistemas aquáticos. A distribuição desses organismos é determinadapelo tipo e pela diversidade de habitats disponíveis para a comunidade. O presente estudo teve como objetivocontribuir com o conhecimento da distribuição de macroinvertebrados bentônicos em áreas impactadas doestado de Mato Grosso, inventariando as ordens e famílias com ocorrência em uma nascente represada emárea agrícola no Município de Campo Verde-MT, analisando a estrutura da comunidade nos períodos chuvosoe de estiagem, avaliando sua abundância e riqueza. A área de estudo está localizada na nascente do Rio SãoLourenço-MT, onde são cultivados soja, milheto e algodão (latitude S 15º 37' 18,8" e longitude W 55º10"24,8"). Em sua adjacência (ca. de 30m) foi represada uma de suas nascentes, amostrada em sua entrada (P2),na zona limnética (P3) e em sua saída (P4). Além desses três pontos, foram amostrados uma de suas nascentes(P1) e um córrego abaixo da represa (P6). Cada ponto foi amostrado seis vezes, três no período chuvoso e trêsno período de estiagem, com três réplicas em cada ponto. A maior ocorrência de organismos se deu no períodochuvoso, com 216 organismos, nos pontos P2 e o P3. Diptera foi a mais abundante no período chuvoso,representada pela família Chironomidae.

PALAVRAS-CHAVE: Agricultura; Comunidade; Monitoramento biológico; Macroinvertebrados bentônicos.

SPATIAL-TEMPORAL VARIATION IN THE ABUNDANCE OF ORDERS AND FAMILIES OF BENTHIC MACROINVERTEBRATES

RECORDED IN A SPRING AREA, CAMPO VERDE-MT

ABSTRACT

The benthic macroinvertebrates are among the main organisms used in the evaluation of environmental and biologicalmonitoring in aquatic ecosystems. The distribution of these organisms is mainly determined by the type and diversityof habitats available to the community. This paper aims to contribute to the knowledge of the distribution ofmacroinvertebrates in the state of Mato Grosso, analyzing the macroinvertebrates orders and families occurring ina spring dammed in an agricultural land in the municipality of Campo Verde-MT, evaluating the structure of thecommunity in rainy and dry periods The study area is located in the headwaters of São Lourenço River - TM,where soybeans, millet and cotton (latitude S 15 ° 37 '18.8 "W and longitude 55 º 10 '24.8") are cultivated. In itsvicinity (ca. 30 m) one of its sources was dammed, sampled at its input (P2) in the limnetic zone (P3) and at its

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ZARDO et al.

output (P4). In addition to these three points, we sampledone of its sources (P1) and a stream below the dam(P6). Each point was sampled six times, three during therainy season and three during the dry season, with threereplicates at each point. The increased occurrence oforganisms occurred in the rainy season, with 216organisms at P2 and P3 points. Diptera was the mostabundant in the rainy season, represented by theChironomidae family.

KEYWORDS: Agriculture; Community; Biologicalmonitoring; Benthic macroinvertebrates.

INTRODUÇÃO

A integridade e o funcionamento dos ecossistemasaquáticos dependem da interação com o sistematerrestre. A diversidade da fauna e flora das águascontinentais está relacionada com os mecanismos defuncionamento de rios, lagos, áreas alagadas e represas,tais como o ciclo hidrológico e a variedade de habitatse nichos (TUNDISI et al., 2006).

Os macroinvertebrados bentônicos são organismosque vivem parte ou todo o seu ciclo de vida no fundodos ecossistemas aquáticos, associados a diversossubstratos, tanto orgânicos quanto inorgânicos. Suadistribuição e diversidade são diretamente influenciadaspela estrutura do sedimento, quantidade de detritosorgânicos, mudanças do substrato e da água emdecorrência dos períodos sazonais; e indiretamenteafetadas por modificações nas concentrações denutrientes e mudanças na produtividade primária(WARD, 1992). Constituem um dos grupos biológicosmais diversificados e abundantes dos ambientesaquáticos, constituindo importante fonte de energia paraníveis tróficos superiores, tanto em cadeias alimentaresde pastoreio quanto de detritos.

O regime de chuvas é um fator ambientalimportante na dinâmica de organização e estruturadas comunidades aquáticas. Ele afeta alguns dosprincipais parâmetros associados à distribuição deespécies como vazão, entrada de matéria orgânicanos corpos d'água, estabilidade e disponibilidade demicrohabitats (EGLER, 2002).

As atividades humanas caracterizadas comoimpactantes são aquelas que promovem distúrbios nesseequilíbrio dinâmico, sendo capazes de afetar em algumaescala o funcionamento dos ecossistemas. A magnitudede um impacto é proporcional a sua frequência, extensãoespacial e duração temporal. Os maiores impactos sãoaqueles que afetam a resiliência dos sistemas, impedindoo restabelecimento da condição ambiental e biológicaanterior (CLEMENTS, 2000).

A agricultura é apontada como a principalresponsável pelos distúrbios nos ecossistemas hídricos.Entre os principais impactos associados a essa atividadedestacam-se o desmatamento, a consequente erosãodos solos e a contaminação não pontual das águas porresíduos de fertilizantes e pesticidas (ONGLEY, 1997).

O presente estudo teve como objetivo contribuircom estudos de distribuição de macroinvertebradosbentônicos no estado de Mato Grosso, inventariandoas ordens e famílias de macroinvertebrados comocorrência em uma nascente represada em área agrícolano Município de Campo Verde-MT, analisando aestrutura da comunidade nos períodos chuvoso e deestiagem, avaliando sua abundância e riqueza.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudoO Município de Campo Verde (Figura 1) localiza-

se no sudeste do Mato Grosso e a 190 km ao lestede Cuiabá com latitude S15º33'17" e longitudeW55º10'25", com altitude de 736m e área de4.744,5km2. O solo é basicamente constituído delatosolo vermelho escuro e areias quartzozashidromórficas. A área está inserida no relevo doPlanalto dos Guimarães, Serra dos Coroados, Serrado Roncador e nas Bacias do Araguaia-Tocantins ena do Prata. O clima é tropical com temperaturavariando entre 18º a 24ºC, com máxima de 34ºC.Possuem duas estações bem definidas, a da seca (dejunho a setembro) e a das chuvas (de outubro a maio),e a precipitação corresponde de 9,4 mm a 25 mm(SILVA, 2004). É banhado pelos rios São Lourenço,Rio das Mortes, Aricá Mirin, Cumbica, Roncador,Ximbica, Galheiros e da Casca. Sua economia provém

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Variação espaço-temporal na abundância de ordens e famílias...

de diversos setores, sendo o plantio de soja(75.000ha), algodão (60.416ha) e milho (26.000ha)

que colocam o município em destaque nacional(RODRIGUES et al., 2005).

Figura 1 – Mapa da localização do município de Campo Verde e área de estudo definida numa Fazenda emCampo Verde, Mato Grosso. Escala: 1: 3.500.

Fonte: Bonilha (2011).

A área de estudo está localizada na nascente doRio São Lourenço-MT, microbacia hidrográfica do altorio São Lourenço, próxima à área urbana do municípiode Campo Verde. Essa área está intensamente ocupadapela agricultura, em vários locais a mata ciliar éinexistente e ocorre ocupação pela agricultura dascabeceiras de drenagem de diversos córregos queformam este rio.

Área de coletaA área de coleta das amostras localiza-se em uma

fazenda no Município de Campo Verde-MT, onde

são cultivados soja, milheto e algodão. Em suaadjacência (ca. de 30m) foi represada uma dasnascentes do Rio São Lourenço (latitude S 15º 37'18,8" e longitude W 55º10" 24,8", sistema WGS84)que foi amostrada em sua entrada (P2), na zonalimnética (P3) e em sua saída (P4). Além desses trêspontos, foi amostrada uma das nascentes do Rio SãoLourenço (P1), e um córrego abaixo da represa (P6),conforme apresentado na Figura 2.

O estudo foi realizado em dois períodos sazonais,correspondendo à estação chuvosa e à estiagem naregião.

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Descrição dos Pontos de coletaO P1 é o ponto referente à nascente do rio São

Lourenço. Com aproximadamente 40 cm deprofundidade, caracteriza-se pela presença da mataciliar, muita vegetação e serrapilheira, apresentandopouca luminosidade.

O P2 e o P3, pontos referentes à represa, apresentamaproximadamente 1,40 m e 1,70 m de profundidade,respectivamente. Caracterizam-se pela ausência da mataciliar e abundância de macrófitas aquáticas e troncos deárvores ao fundo. O P4 refere-se à saída da represa.Com cerca de 1,20 m de profundidade, caracteriza-sepor ser a área mais aberta do local estudado, comausência da mata ciliar e pouca vegetação.

O P6 refere-se ao córrego a jusante da represa.Com aproximadamente 60 cm de profundidade,caracteriza-se pela presença de mata ciliar, muitavegetação e serrapilheira e com pouca luminosidade.

Coleta e análise dos dados

Para coletas de sedimento foi utilizada uma dragade Petersen com área amostral de 0,0375 m2. Cadaponto foi amostrado seis vezes, três no períodochuvoso (novembro/2009, janeiro e março de 2010)e três no período de estiagem (maio, julho e setembrode 2010), com três réplicas em cada ponto, totalizandouma área amostral de 0,225 m2.

As coletas das amostras na represa foram feitasem três estações amostrais – P2, P3 e P4, localizadasem duas extremidades (P2 e P4) e na região centralda represa (P3), integrando-se as amostras da margemdireita e esquerda.

As amostras foram acondicionadas em sacosplásticos e adicionado álcool 96% para preservaçãoaté chegar ao laboratório de Ecologia Aquática daUniversidade Federal de Mato Grosso (UFMT), ondeforam lavadas sobre peneiras com abertura de malhasde 1,00, 0,50 e 0,25 mm. Após serem lavadas, asamostras foram triadas e identificadas com auxílio deum microscópio estereoscópico e fixadas com álcool

ZARDO et al.

Figura 2 – Pontos de coleta definidos numa Fazenda em Campo Verde, Mato Grosso (Google Earth,2009). Escala: 1: 3.500.

Fonte: BONILHA (2011).

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70%. Os exemplares foram identificados até o nívelde família (MERRITT & CUMMINS, 1996) nolaboratório LATEMAS/IB-UFMT.

As amostras para análise de granulometria e dematéria orgânica foram coletadas nos pontosdeterminados (aproximadamente 300g de sedimento),coletados com a draga Petersen e colocados em sacosplásticos estéreis devidamente identificados e resfriadosaté o processamento em laboratório. As análises foramrealizadas no laboratório de Física do Solo e Fertilidadedo Solo da Faculdade de Agronomia e MedicinaVeterinária – FAMEV (UFMT).

Para análise dos resultados foi considerada aabundância de organismos, buscando quantificar onúmero de indivíduos das ordens e famílias presentesnas amostras em cada período amostral (RICKLEFS,2003). Calculou-se a correlação de Sperman entre asvariáveis bióticas e abióticas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os teores de areia e silte foram maiores no períodochuvoso em todos os pontos amostrais, o que podeser explicado pelo aumento do volume de água eaumento da correnteza (Figura 3).

Variação espaço-temporal na abundância de ordens e famílias...

Figura 3 – Média dos resultados de Granulometria nos pontos amostrais no período chuvoso.Fonte: Dados de Pesquisa.

No período de estiagem, a concentração de argila e areia foram maiores em todos os pontos amostrais,conforme demonstrado na Figura 4.

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O P6 foi o único ponto que apresentou maiorquantidade de sedimento fino, nos períodos estudados.Isto deve estar relacionado com processos erosivosmais intensos nos pontos a montante com consequenteaporte de sedimentos carreados dos solos para dentrodo corpo d'água. Para Allan (1995), o substrato, emgeral, tem a tendência de diminuir de tamanho departícula em direção a jusante.

Nos pontos P2, P3 e P4 houve predominância dotipo granulométrico argila; segundo Callisto; Esteves(1996), essa frequência está relacionada com áreasimpactadas, com ausência de mata ciliar.

Nos últimos anos, tem sido cada vez maisimportante a análise do sedimento na avaliação daqualidade dos ecossistemas aquáticos. Tradicional-mente esse compartimento tem sido consideradoimportante nos processos de (geo) acumulação, comsignificância histórica para a bacia de drenagem. Atual-mente, também tem importância reconhecida nos pro-cessos de reutilização de materiais autóctone e alóctonee de trocas e/ou interações de diferentes espécies

químicas com a coluna d'água e a biota residente(HÅKANSON; JANSSON, 1983; MOZETO et al.,2006).

Billy et al. (2000), estudando o impacto daagricultura em riachos de cabeceira na França,encontraram significante variação da granulometria nosentido montante jusante. Moretti; Calisto (2005)encontraram, na bacia do rio Doce (MG), composiçãogranulométrica do sedimento dos rios formada de areiamédia e grossa, e atribuíram o fato à erosão e remoçãode florestas das margens.

Em relação à matéria orgânica, observam-se naFigura 5 os pontos referentes à represa (P2, P3 e P4):a concentração foi maior no período chuvoso, o quepode estar relacionado com a presença de macrófitasnesses pontos, principalmente no P2 e P3. No P1(nascente) e no P6 (córrego a jusante da represa)observa-se que a concentração de matéria orgânicafoi maior no período de estiagem, o que pode estarrelacionado com a mata existente ao redor dessescursos d'água.

ZARDO et al.

Figura 4 – Média dos resultados de Granulometria nos pontos amostrais no período de estiagem.Fonte: Dados de Pesquisa.

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Wetzel (1975) cita que a fauna bentônica é muitodiversificada, sendo extremamente heterogênea emlagos e outros corpos d'água, em função das variaçõesdas condições necessárias para alimentação,crescimento e reprodução. Segundo o autor, essascondições podem ser fortemente influenciadas pelasmudanças do substrato e da água, em decorrência dosperíodos sazonais e da introdução de matéria orgânica

que pode ser usada para alimentação, sendo umavariável de extrema importância para compreender adinâmica das comunidades em um corpo hídrico.

Em relação aos invertebrados, foram coletadosmacroinvertebrados bentônicos pertencentes ao filoArthropoda, da classe Insecta. Foram observadas nasamostras seis ordens durante o período estudado(Tabela1).

Variação espaço-temporal na abundância de ordens e famílias...

Figura 5 – Média dos resultados de matéria orgânica nos pontos amostrais nos períodos chuvoso e deestiagem.

Fonte: Dados de Pesquisa.

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ZARDO et al.

Tabela 1 – Abundância absoluta por família dos macroinvertebrados bentônicos coletados nos pontosamostrais durante o período de estudo (nov/09, jan/10 e mar/10, maio/10, julho/10 e set/10).

Fonte: Dados de Pesquisa.

Táxon

Estações amostrais

P1 P2 P3 P4 P6 Total

Diptera

Chironomidae 29 74 73 38 10 224

Ceratopogonidae 01 11 21 9 - 42

Tabanidae 01 01

Coleoptera

Dytiscidae - 5 4 - - 9

Elmidae 01 5 6 - 4 16

Hydrophilidae - 3 2 - - 5

Hexacyloepus - - 21 - - 21

Ephemeroptera

Leptophlebiidae 1 1 2

Baetidae 1 2 1 4

Leptohyphidae 2 2

Tricoptera

Hydropsychidae 1 - 2 - 1 4

Hydroptilidae 1 - 1 1 - 3

Leptoceridae - 1 1 - - 2

Odonata

Libellulidae - 3 2 - 2 7

Acari

Hydracarinae - - 4 - - 4

Total 34 103 143 49 17 346

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REVISTA UNIARA, v.16, n.1, julho 2013 61

Variação espaço-temporal na abundância de ordens e famílias...

A maior abundância de organismos se deu noperíodo chuvoso, com 216 indivíduos coletados. Issose deve pela chegada das chuvas, o que provoca ocarreamento de material de origem alóctone. Com oaumento do material carreado, do volume de água eda profundidade, se elevou, também, o número dehabitats disponíveis para os macroinvertebradosbentônicos. Com isso, houve o favorecimento de umnúmero maior de organismos colonizando o sedimentonesse período.

A ordem Diptera foi a mais abundante nos períodosestudados (chuvoso e estiagem), com 267 indivíduoscapturados. Os resultados obtidos mostram variaçõestemporais e espaciais na comunidade bentônica. Aabundância de indivíduos foi maior durante o períodochuvoso em relação ao período de estiagem e variou,

também, de acordo com fatores abióticos e bióticosnos locais de amostragem.

Os pontos amostrais onde foram registradas asmaiores abundância de organismos no período chuvosoforam o P2 e o P3, caracterizados como entrada emeio da represa, com 92 e 12 organismos coletadosrespectivamente (Figura 6). No período de estiagem,os pontos amostrais com maior abundância deorganismos foram o P3 e o P4, caracterizados comomeio e saída da represa, com 36 e 42 organismoscoletados, respectivamente (Figura 7). Nos pontos emquestão foi encontrada uma maior concentração desedimentos argilosos nesse período, ricos em detritosorgânicos representados, principalmente, por restos devegetação, o que pode servir de alimentação para essesorganismos.

Figura 6 – Abundância relativa dos grupos taxonômicos coletados ao longo das estações amostrais noperíodo chuvoso.

Fonte: Dados de Pesquisa.

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Dos 346 organismos coletados, as famílias maisfrequentes foram Chironomidae (64,3%) eCeratopogonidae (12,06%) da ordem Diptera;Elmidae (4,59%) e Dytiscidae (2,58%) da ordemColeoptera.

A família Chironomidae constitui um grupoimportante sob o ponto de vista ecológico. O fato deapresentarem ampla distribuição na maioria dosecossistemas aquáticos e ocorrer em alta densidade eriqueza (HIRABAYASHI & WOTTON, 1998 apudABURAYA & CALLIL, 2007), além de possuíremhábitos sedentários, capacita este grupo a refletir sobreas mudanças ecológicas locais (CALLISTO &ESTEVES 1998, GOULART & CALLISTO 2003).Em relação à abundância da família Chironomidae,algumas espécies são consideradas sensíveis e outrastolerantes aos impactos provenientes dos múltiplos usosdo solo. Entretanto, é reconhecida a supremacia dessegrupo em locais expostos a interferências antrópicas,como o desmatamento e a entrada de poluentesinorgânicos, por exemplo, agrotóxicos lixiviados de

ZARDO et al.

campos agrícolas (CORBI et al., 2006), o que podeexplicar a grande abundância desse grupo nos pontosamostrais estudados.

Organismos das ordens Ephemeroptera eTricoptera, conhecidos por serem indicadores demelhor qualidade de água, foram encontrados nospontos P2 e P3 no período chuvoso e P1 e P4 noperíodo de estiagem. A ocorrência desses organismosna área aberta da represa (P2, P3 e P4) pode serexplicada pela grande concentração de argila e matériaorgânica no sedimento e pela existência de macrófitasnas margens, que pode servir como alimento e abrigo.Já no P1, a existência da mata ciliar proporciona umamaior diversidade de habitats para esses organismos.

Na análise de correlação de Sperman, observa-seuma correlação significativa entre matéria orgânica e amaioria das ordens encontradas; Dipetera (r=0,251),Coleoptera (r=0,554), Ephemeroptera (r=0,554) eTricoptera (r=0,453). Wetzel (1983) cita que a faunabentônica é muito diversificada sendo extremamenteheterogênea em lagos e outros corpos d'água em função

Figura 7 – Abundância relativa dos grupos taxonômicos coletados ao longo das estações amostrais noperíodo de estiagem.

Fonte: Dados de Pesquisa.

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REVISTA UNIARA, v.16, n.1, julho 2013 63

Variação espaço-temporal na abundância de ordens e famílias...

das variações das condições necessárias paraalimentação, crescimento e reprodução. Segundo esteautor, essas condições podem ser fortementeinfluenciadas pelas mudanças do substrato e da água,em decorrência dos períodos sazonais e da introduçãode matéria orgânica que pode ser usada paraalimentação, sendo uma variável de extremaimportância para compreender a dinâmica dascomunidades em um corpo hídrico.

Roque et al. (2003), Brito Júnior (2003) e Oliveira(2009) encontraram maior abundância de larvas deDiptera em locais com maior quantidade de matériaorgânica, Egler (2002) encontrou maior abundânciade tricoptera e coleoptera no período chuvoso,relacionando a ocorrência de chuva com o maior aportede matéria orgânica para o curso d'água.

CONCLUSÃO

Atribui-se a maior abundância e riqueza deinvertebrados amostrada em área aberta da represa(P2 e P3) a uma maior quantidade de material alóctonetransportado, onde, com a falta de vegetação ciliar, háuma maior penetração de radiação solar e,consequentemente, uma maior produção de materialautóctone como algas, macrófitas e perifíton. Dessamaneira, a comunidade dos macroinvertebrados darepresa disporia não somente do material alóctone, mastambém da matéria orgânica e algas que afloram coma ausência do dossel, explicando os resultadosencontrados.

A vasta ocorrência da ordem Diptera e da famíliaChironomidae pode ser considerada uma característicados sistemas aquáticos da região ou uma consequênciada condição em que esses sistemas estão inseridos.Fatores resultantes da poluição e eutrofização comomatéria orgânica dissolvida, nutrientes em excesso epresença de substâncias tóxicas afetamconsideravelmente a comunidade demacroinvertebrados bentônicos, alterando a estruturae distribuição da comunidade; porém, organismos dafamília Chironomidae apresentam adaptaçõesmorfológicas ou fisiológicas especiais, que os tornammais tolerantes às baixas concentrações de oxigênio.

A matéria orgânica relacionou-se com praticamentetodas as ordens, com exceção de Odonata e Acari,sendo uma variável de extrema importância na dinâmicadessas comunidades no ambiente aquático, explicandoa distribuição das mesmas no ambiente estudado.

Observa-se que os resultados encontrados foraminfluenciados pela quantidade de chuva registrada nolocal no período estudado, pela quantidade de matériaorgânica registrada no sedimento e principalmente pelascaracterísticas do local, onde a ausência da mata ciliare as ações antrópicas na região foram determinantespara os resultados encontrados.

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REVISTA UNIARA,v.16, n.1, julho 2013 65

Variação espaço-temporal na abundância de ordens e famílias...

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REVISTA UNIARA, v.16, n.1, julho 2013 67

ESTRESSE OXIDATIVO COMO FATOR IMPORTANTE NAFISIOPATOLOGIA DA DOENÇA DE ALZHEIMER

GEMELLI, Tanise; ANDRADE, Rodrigo Binkowski de; CASTRO, Alexandre Luz. Biomédicos,doutorandos do Departamento de Bioquímica, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS.

GARCIA, Larissa Pacheco. Médica, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre-RS.FUNCHAL, Cláudia. Farmacêutica bioquímica, mestre e doutora em Bioquímica, docente do Programa de

Pós-Graduação em Biociências e Reabilitação do Centro Universitário Metodista do IPA. Rua Cel. JoaquimPedro Salgado, 80 - Porto Alegre-RS, CEP 90420-060. Tel: (51) 3316 1233. E-mail:

[email protected]; [email protected].

RESUMO

O estresse oxidativo tem sido apontado como um ator importante na patogênese de várias doenças, incluindodoenças neurodegenerativas. A Doença de Alzheimer é uma desordem neurodegenerativa relacionada à idade,que é reconhecida como a forma mais comum de demência. Neste artigo, o objetivo foi revisar a participaçãode estresse oxidativo na Doença de Alzheimer. A Doença de Alzheimer é caracterizada histopatologicamentepela presença de placas amilóides extracelulares, emaranhados neurofibrilares intracelulares, a presença deoligômeros do peptídeo -amiloide e a perda de sinapse. Além disso, o cérebro e o sistema nervoso são maispropensos ao estresse oxidativo e o dano oxidativo influencia nas doenças neurodegenerativas. Entretanto, oaumento do dano oxidativo, disfunção mitocondrial, acúmulo de agregados de proteínas oxidadas, inflamaçãoe defeitos nas proteínas constituem patologias complexas interligadas que levam à morte celular de neurônios.Mutações no ácido desoxirribonucleico mitocondrial e estresse oxidativo contribuem para o envelhecimento,afetando diferentes sistemas de sinalização da célula, bem como conectividade neuronal, podendo levar à mortecelular, sendo o maior fator de risco para doenças neurodegenerativas, como na Doença de Alzheimer.

PALAVRAS-CHAVE: Estresse Oxidativo; Doença de Alzheimer; doenças neurodegenerativas.

OXIDATIVE STRESS AS AN IMPORTANT FACTOR IN THE PATHOPHYSIOLOGY OF ALZHEIMER'S DISEASE

ABSTRACT

Oxidative stress has been associated to play a crucial role in the pathogenesis of many diseases, includingneurodegenerative diseases. Alzheimer's disease is an age-related neurodegenerative disorder, which is recognizedas the most common form of dementia. In this article, the aim was to review the involvement of oxidative stress onAlzheimer's disease. Alzheimer's disease is histopathologically characterized by the presence of extracellular amyloidplaques, intracellular neurofibrillary tangles, the presence of oligomers of amyloid-? peptide and loss of synapses.Moreover, the brain and the nervous system are more prone to oxidative stress and oxidative damage influences theneurodegenerative diseases. However, increased oxidative damage, mitochondrial dysfunction, accumulation ofoxidized aggregated proteins, inflammation, and defects in proteins constitute complex intertwined pathologies thatlead to neuronal cell death. Mitochondrial mutations on deoxyribonucleic acid and oxidative stress contribute toaging, affecting different cell signaling systems, as well as the connectivity and neuronal cell death may lead to thelargest risk factor for neurodegenerative diseases such as Alzheimer's Disease.

KEYWORDS: Oxidative stress; Alzheimer's Disease; Neurodegenerative diseases.

artig

os d

e rev

isão

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INTRODUÇÃO

Em organismos aeróbicos saudáveis, há umequilíbrio entre a produção de várias espécies reativase as defesas antioxidantes. Algumas dessas espéciesnão são imediatamente removidas, porquedesempenham importantes papéis biológicos nadefesa contra infecções e são também importantesmediadores da resposta inflamatória (HALLIWELL;GUTTERIDGE, 2007; HALLIWELL, 2011). Ooxigênio é extremamente importante para asobrevivência dos seres humanos, pois a vidaaeróbica depende de combustão controlada para ofornecimento de energia. Esse processo é catalisadopela maquinaria metabólica, que pode ser danificadapor descontroladas reações oxidativas associadas àprodução de energia, levando a um aumento naprodução de radicais livres e/ou espécies reativas(CHAVKO et al., 2003).

O termo radical livre é usado para determinarqualquer átomo ou molécula com existênciaindependente, contendo um ou mais elétronsdesemparelhado nas suas camadas de valência. Issocaracteriza uma atração para um campo magnético,o que pode torná-lo altamente reativo, capaz de reagircom qualquer composto situado próximo à sua órbitaexterna, tendo uma função oxidante ou redutora deelétrons (SHAMI; MOREIRA, 2004). Essas espéciessão continuamente produzidas no organismo duranteo metabolismo celular e podem desempenhar funçõesfisiológicas importantes, quando em concentraçõesbaixas ou moderadas. As principais fontes de radicaislivres são as organelas citoplasmáticas, quemetabolizam o oxigênio, o nitrogênio e o cloro(HALLIWELL, 2006a).

Por causa das ameaças extremas de oxidação nãocontrolada, a vida aeróbia desenvolveu um conjuntocomplexo de sistemas antioxidantes para controlaressas reações e reparar ou substituir a maquinariacelular danificada. Ao mesmo tempo, os sistemasenzimáticos evoluíram para a produção de espéciesreativas, como moléculas de sinalização biológica, dereações biossintéticas, de defesa química e dedesintoxicação (DEAN, 2006; HALLIWELL, 2011).

Nesse contexto, o estresse oxidativo é

caracterizado como um desbalanço entre a produçãode radicais livres e a capacidade da célula de sedefender contra eles (HALLIWELL, 2006b). O altoconsumo de oxigênio e o relativo baixo nível deantioxidantes resultam em suscetibilidade do tecidocerebral ao dano oxidativo (HALLIWELL, 2006a).Um aumento líquido nas espécies reativas podeproduzir o dano a lipídios, proteínas e ao ácidodesoxirribonucléico – DNA, induzindo à necrose ou àapoptose (KUSHNAREVA; NEWMEYER, 2010).Diferentes estudos mostram que reações oxidativascontribuem para muitas consequências doenvelhecimento e dos principais processos patológicos,incluindo doenças cardiovasculares (STOCKER;KEANEY, 2004), doenças pulmonares (CANTIN,2004), diabetes (BONNEFONT-ROUSSELOT,2004), câncer (BERGER, 2005) e as doençasneurodegenerativas (VINA et al., 2004).

O crescimento de relatos clínicos e tambémexperimentais sugere que o estresse oxidativo podedesempenhar um papel importante na degeneraçãoneuronal, em doenças como a Doença de Alzheimer– DA, esclerose lateral amiotrófica, doença deParkinson e doença de Huntington (MÖLLER, 2010;ALIEV et al., 2013). A perturbação na função ou aperda da integridade do retículo endoplasmático,devido ao estresse oxidativo, pode ser causada, porexemplo, pelo acúmulo e depósito de proteínas não-dobradas e por mudanças na homeostasia do cálciodentro dessa organela (PASCHEN; FRANDSEN,2001). Além disso, muitas evidências sugerem queas mitocôndrias tenham um papel central em doençasneurodegenerativas, em razão de seu papel naregulação da morte celular (MICHAEL et al., 2006).As mutações no DNA mitocondrial e o estresseoxidativo contribuem para o envelhecimento, sendoo maior fator de risco para doenças neuro-degenerativas (MATTSON, 2006; ALIEV et al.,2013). A mitocôndria é a principal fonte de espéciesreativas e de defesas antioxidantes nas células(CADENAS; DAVIES, 2000). Nessa organela sãogerados os ânions superóxido (O2

-) no espaçointermembrana pelo vazamento de elétrons, que secombinam com o oxigênio molecular no complexo

GEMELLI et al.

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III da cadeia de transporte de elétrons, em umprocesso que é dependente do potencial demembrana; e na matriz mitocondrial, através de umsítio não definido do complexo I (HAN et al., 2001).Além disso, a mitocôndria participa ativamente dahomeostase de cálcio (PENG; JOU, 2010) e estáenvolvida em diversos processos que levam à mortecelular, incluindo liberação de citocromo c (PENG;JOU, 2010; ALIEV et al.; 2011). Acredita-se quetodos esses processos estejam interligados e que umdesequilíbrio nessas funções possa estar envolvidona fisiopatologia de diversas doençasneurodegenerativas (VILA et al., 2008).

O estresse oxidativo foi implicado na progressãoda DA, ocasionando a perda progressiva depopulações de células neuronais específicas eassociando-se com a formação de agregados deproteína, contribuindo para patogênese da doença(KEVIN et al., 2004; SULTANA et al., 2006; ;ALIEV et al., 2011).Portanto, o objetivo do nossoestudo foi realizar uma revisão da literatura sobre aDA e o estresse oxidativo.

METODOLOGIA

Fizemos extensa revisão de literatura em bases dedados de artigos como Pubmed, Science Direct,Scopus e Scielo. A busca de artigos nessas bases dedados foi limitada nas línguas inglesa, espanhola eportuguesa. Também foram utilizados livros,dissertações de mestrado e teses de doutorado, e osart igos analisados foram selecionados porapresentarem grande pertinência ao tema. Foramselecionados artigos e livros entre 2000 e 2013 quediscutiam estresse oxidativo, DA e que relacionavamdoenças neurodegenerativas.

DOENÇA DE ALZHEIMER

A DA, uma doença neurodegenerativa progressiva,é a causa mais comum de síndrome demencial. Éresponsável por aproximadamente 60-70% de todosos casos de demência. Sua prevalência aumenta coma idade, sendo de cerca de 1% no grupo etário de 60-64 anos, e 24-33% naqueles com idade superior a 85anos (APRAHAMIAN et al., 2009; SCHAEFFER

et al., 2011). Sua apresentação mais comum é o déficitde memória, que envolve uma dificuldade emaprendizagem e na evocação de informaçõesrecentemente aprendidas. Esse sintoma evoluiinsidiosamente e progride lentamente ao longo dotempo. O declínio de outras funções, como a atenção,a linguagem e as funções executivas, pode surgirconcomitantemente à alteração de memória ouposteriormente a ela (MEGA, 2002; GALLUCI et al.,2005; MCKHANN et al., 2011).

Dentre os principais fatores de risco correlacionadoscom a ocorrência da DA, situam-se a idade e apredisposição genética. Observa-se, entretanto, quea maioria dos casos de DA são esporádicos. Apenas5% dos pacientes têm a Doença de Alzheimer Familiar– DAF, uma forma incomum que tende a ocorrer maiscedo, e está relacionada com mutações em diversosgenes, tais como o gene codificador da proteínaprecursora de amiloide – APP, da presinilina 1 (PS1)e 2 (PS2) e da apolipoproteína E (ApoE) (SHU;CHECLER, 2002; FRIDMAN et al., 2004;PHILIPSON et al., 2010; XIE et al., 2013).

Foram também apontados como fatores associadosà DA a ocorrência de diabete melito e dehiperlipidemia, e ainda o uso de tabaco. Dentre osfatores protetores, estão a dieta mediterrânea, aatividade física, a escolaridade, a ingestão de ácidofólico e o consumo moderado de álcool. A qualidadeda evidência para tais associações, porém, é baixa naliteratura médica (SCARMEAS et al., 2009;MARTHA et al., 2011).

O diagnóstico de DA é baseado primariamenteem características clínicas assentadas na anamnesee em um exame clínico, especialmente neurológicoe psiquiátrico, detalhado. Exames laboratoriais e deneuroimagem devem ser utilizados no diagnósticodiferencial com outras causas de demência. O usode biomarcadores, até o momento, é empregadounicamente em estudos experimentais (FROTA etal., 2011). As escalas, como o Mini-Mental StateExamination – MMSE e o Clinical DementiaRating – CDR, permitem avaliar a progressão dossintomas (BLENNOW et al., 2006). O diagnósticodefinitivo, entretanto, é obtido apenas após análise

Estresse oxidativo como fator importante...

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histopatológica de materiais de autópsia. Tal análiserevela perda neuronal nas camadas piramidais docórtex cerebral e degenerações sinápticas intensas,tanto em nível hipocampal quanto neocortical, alémde identificar os depósitos extracelulares dopeptídeo beta-amiloide (A), as placas neuríticasou senis e os emaranhados neurofibrilares – ENFintracelulares da proteína Tau hiperfosforilada(PERL, 2000; CHAUHAN; CHAUHAN, 2006;MARTHA et al., 2011). As placas senis sãoformadas através do acúmulo e da agregação doA, formando neuritos distróficos, astrócitosreativos e microglia ativada. Acredita-se que aconcentração de placas neuríticas esteja relacionadaao grau de demência dos afetados. Os emaranhadosneurofibrilares são formados pela deposição deproteína Tau, sendo sua principal função estabilizaros microtúbulos responsáveis em organizar a funçãoneuronal (PERL, 2000; ALLARD et al., 2012).

Durante as últimas décadas, muitas hipótesesforam geradas para explicar a fisiopatologia da DA.A Hipótese da Cascata Amiloide considera comoponto chave no desenvolvimento da doença os efeitosneurotóxicos do A. O acúmulo das formas solúveisdesse peptídeo leva à toxicidade sináptica e àneurotoxicidade, ocasionando a quebra dahomeostase do cálcio, a indução de estresse oxidativoe a disfunção mitocondrial (BLENNOW et al., 2006;HAUPTMANN et al., 2006; KARRAN et al.,2011; ALIEV et al., 2013).

O A é derivado por clivagem proteolítica da APPpela ação de beta e gama secretases. Em condiçõesnormais, o A é degradado por enzimas e retiradodo encéfalo através de um balanço entre efluxo einfluxo, mediados pela proteína receptora de LDL ereceptores para produtos finais de glicosilaçãoavançada. Na DA, um desbalanço entre a produçãoe o clearence do A levam ao depósito de oligômerosdeste peptídeo (em especial A42) no espaçoextracelular, ocasionando inibição do potencial de

longa duração hipocampal e da plasticidade sináptica(BLENNOW et al., 2006; BUTTERFIELD et al.,2007; KARRAN et al., 2011). Estudos recentesrevelam também a ocorrência de uma produçãoexcessiva de A intraneuronal, podendo esta causarlise neuronal e formação de placas senis(FERNANDEZ-VIZARRA et al., 2004; KARRANet al., 2011). As placas acabam por desencadearativação astrocítica e microglial e a produção deresposta inflamatória, gerada no entorno dosdepósitos de A, e assim contribuem com a mortede neurônios, com o déficit de neurotransmissorescolinérgicos, serotoninérgicos, noradrenérgicos e coma redução dos níveis de somatostatina e corticotropina(ANGOSTO; GONZÁLEZ, 2009).

Uma teoria recente propõe que a APP e a presinilina1 (PS1) podem modular os sinais intracelulares e,assim, induzir anormalidades no ciclo celular, levandoà morte neuronal e, possivelmente, à deposição deamiloide. A hipótese é apoiada pela presença de umarede complexa de proteínas, claramente envolvida naregulação de mecanismos de transdução de sinal queinteragem com APP e PS1 (NIZZARI et al., 2012;XIE et al., 2013). Quando a sinalização ativada poressas proteínas se torna disfuncional nos neurônios,ocorre a ativação da via da enzima regula por sinalextracelular (ERK1/2), levando à neurodegeneração.Essa enzima está relacionada a estímulos extracelularespara a proliferação celular, a sobrevivência e adiferenciação, assim como para a morte celular e paraa apoptose (NIZZARI et al., 2012).

DOENÇA DE ALZHEIMER E ESTRESSE OXIDATIVO

O estresse oxidativo na DA se manifesta atravésda presença de proteínas oxidadas, de produtos deglicosilação avançada, da peroxidação lipídica e daformação de espécies tóxicas, tais como peróxidos,álcoois, aldeídos, carbonilas, cetonas e de modificaçõesoxidativas no DNA nuclear e mitocondrial (Figura 1)(GELLA et al., 2009).

GEMELLI et al.

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Na mitocôndria, o A reduz o potencial demembrana mitocondrial, inibe a cadeia transportadorade elétrons, diminui a taxa respiratória e induz aliberação de espécies reativas, favorecendo aocorrência de apoptose (Figura 2) (ALIEV et al.,2013). O A pode também causar neurotoxicidadepor meio da produção direta destas espécies reativas,

através da interação com Cu2+, Fe2+ e Zn2+

(FINEFROCK et al., 2003; ALIEV et al.; 2011).Na presença de tais metais de transição, observa-seque o peróxido de hidrogênio é cataliticamenteconvertido em radical hidroxila de alta toxicidade,pelas reações de Fenton e Haber-Weiss (PÉREZ;ARANCIBIA, 2007).

Estresse oxidativo como fator importante...

Figura 1 – Efeitos do estresse oxidativo sobre níveis moleculares e celulares e seus respectivos marcadores.8-HOdG: 8-hidroxi-2 desoxiguanosina, AGEs: produtos finais da glicosilação avançada.

Fonte: Dados de pesquisa.

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Observa-se também que o A se encontrafortemente relacionado ao dano oxidativo àsmembranas lipídicas, tornando-as mais hidrofílicas ealterando a função de transportadores, enzimas ereceptores celulares localizados nessas membranas. Empacientes com DA, observou-se um aumento naprodução 4-hidroxi-2-trans-nonenal (4HNE), um dosprincipais produtos da oxidação lipídica, ocasionandomodificações oxidativas do transportador de glutamatoGLT1 e, assim, contribuindo para a neurodegeneração.Além disso, sabe-se que o 4HNE se liga às proteínasglutationa-S-transferase e proteína 1, ocasionandoredução da atividade das mesmas (PÉREZ;ARANCIBIA, 2007).

Em estudos prévios, foi demonstrado que, atravésda ação das ERO, os lipídios de membrana tiveramsua conformação alterada e participaram da formaçãode emaranhados neurofibrilares em encéfalos depacientes portadores de DA (ANSARI; SCHEFF,2010; CHAUHAN; CHAUHAN, 2006; XIE et al.,2013).

O aumento de ERO na DA está relacionado com aoxidação de cadeias laterais de proteínas. Os gruposcarbonilas são introduzidos nas proteínas pela oxidaçãoda hidroxila dos aminoácidos de cadeia lateral dentrode derivados de aldeídos e cetonas, levando àcarbonilação dessas proteínas. Esse grupamentotambém pode ser introduzido nas proteínas por

GEMELLI et al.

Figura 2 – Disfunção mitocondrial em DA. APP: precursor da proteína amilóide, ERO: espécies reativas deoxigênio, ATP: adenosina trifosfato, TAU: proteína TAU.

Fonte: Dados de pesquisa.

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REVISTA UNIARA, v.16, n.1, julho 2013 73

oxidação direta dos aminoácidos lisina, arginina, prolinae treonina, ou a partir da clivagem de ligações peptídicaspela via -amidação ou pela oxidação dos resíduosde glutamil (GELLA et al., 2009). A produção dederivados reativos de carbonilas e aldeídos pode serresultado da oxidação de lipídios, do DNA e deaçúcares, que podem, por sua vez, reagir com proteínase também formar carbonilas proteicas (VINA et al.,2004; HALLIWELL, 2011).

Estudos recentes demonstraram um aumento naquebra do DNA em cérebro de pacientes com DA.Esse achado pode ser explicado pelo aumento de EROno cérebro, induzindo ao influxo de cálcio viareceptores de glutamato, desencadeando umatoxicidade cerebral. Esse processo pode culminar coma morte celular (BUTTERFIELD et al., 2007). Aoxidação do DNA é marcada pelo aumento dos níveisde 8-hidroxiguanosina (8-OHG), 8-hidroxiadenina, 5-hidroxiuracila e 8-hidroxi-2 desoxiguanosina (8OHdG)no lobo temporal, parietal e frontal na DA. Um hipótesepara esse dano é o aumento de carbonilas livres nosnúcleos de neurônios e glia na DA (LOVELL;MARKESBERY, 2007).

Com o passar dos anos, houve um aumento napesquisa terapêutica, com importantes avanços quantoà utilização de nutrientes antioxidantes que podem reduziro risco para a DA. A abordagem eficaz baseada emnutrição é de grande benefício a esses pacientes, devidoa um risco relativamente baixo de efeitos colaterais, umavez que medicamentos disponíveis para o tratamentoDA possuem baixos efeitos e não alteram a progressãoda doença. Alguns estudos epidemiológicos demons-traram que a dieta mediterrânea, rica em vegetais, azeitee peixe, que inclui também quantidades moderadas devinho e baixas quantidades de carne vermelha, podeinfluenciar positivamente na DA (SCARMEAS et al.,2009; KNOPMAN, 2009). A utilização de nutrientesantioxidantes para retardar a progressão da DA é muitobenéfica, pois o uso de compostos vitamínicos, como avitamina D e complexo B, especialmente a vitamina B12,estão associados como o declínio cognitivo no envelheci-mento (ANNWEILER et al., 2010; NELSON et al.,2009; SOZIO et al., 2013).

Outro composto antioxidante com propriedadesanti-amiloidogênicos é o resveratrol, no entanto, aaplicação terapêutica dos seus efeitos benéficos podeser limitada. Frozza et al. (2013) demonstraram que aação do resveratrol, quando administrado na formade nanocápsula, pode aumentar significativamente aeficácia desse antioxidante em controlar parcialmenteos efeitos deletérios do A.

Entretanto, abordagens baseadas em nutriçãomerecem uma investigação mais aprofundada, comoparte integrante de estratégias terapêuticas, mas podemser consideradas, em razão de seu baixo risco de efeitoscolaterais e seu potencial para influenciar nos processospatológicos desde os primórdios do estabelecimentoda DA.

CONCLUSÃO

Em razão de sua alta taxa metabólica, sua altautilização de oxigênio, seu alto teor de ácidos graxospoliinsaturados oxidáveis e da presença de metaisredox-ativos, bem como da capacidade relativamentereduzida de regeneração celular, o cérebro éparticularmente vulnerável ao dano oxidativo (VALKO,2007). Na DA foram relatados diferentes danoscausados por espécies (XIE et al., 2013; ALIEV etal.; 2011). Marcadores de peroxidação lipídica,incluindo 4 hidroxinonenal (4-HNE) e malondialdeído(MDA), têm sido identificados no córtex cerebral eno hipocampo de pacientes com DA. Um sinal muitocomum nas doenças neurodegenerativas é o acúmuloe depósito de proteínas deformadas oxidativamenteque afetam diferentes sistemas de sinalização da célula,bem como afetam a conectividade neuronal, podendolevar à morte celular (FINEFROCK et al., 2003).Portanto, o estresse oxidativo parece desempenharum importante papel no desenvolvimento decaracterísticas presentes nas doenças neurodege-nerativas, como na DA.

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Universitário Metodista, do IPA.FIEGENBAUM, Marilu. Profa. Dra. da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.

DANI, Caroline; PERES, Alessandra; RIBEIRO, Jerri Luiz. Professores doutores do Centro UniversitárioMetodista, do IPA. Avenida Cruz Alta 326. Bairro Nonoai, Porto Alegre-RS. CEP 90830-020. E-mail:

[email protected].

RESUMO

A obesidade é uma doença crônica e multifatorial, que vem aumentando sua incidência ao longo dos anos e estásendo considerada um problema de saúde pública. É caracterizada por um estado crônico de baixo grau deinflamação, no qual os níveis de proteína C reativa geralmente estão aumentados. Esse processo inflamatóriopode alterar a função endotelial nesses indivíduos, uma vez que os níveis elevados de proteína C reativa estãorelacionados a uma baixa produção de óxido nítrico, o qual é responsável pela vasodilatação do endotélio.Vários estudos têm demonstrado a influência de polimorfismos nos genes da proteína C reativa e da enzimaóxido nítrico sintase endotelial em indivíduos obesos e saudáveis. Dessa forma, esta revisão de literatura temcomo objetivo discutir a relação da obesidade com níveis de PCR e função endotelial, bem como elucidar aassociação de fatores genéticos. Foram consultados artigos científicos dos bancos de dados PubMed, ScienceDirect e Scielo, utilizando os seguintes descritores e combinações entre eles: proteína C reativa, função/disfunção endotelial, polimorfismo e obesidade e seus respectivos em inglês. Com isso, concluímos que indivíduosobesos apresentam elevados níveis de proteína C reativa, em decorrência do excesso de gordura corporal, eisso implica uma redução na síntese de óxido nítrico. Todos esses fatores podem ser influenciados porpolimorfismos nos genes reguladores da produção dessas proteínas.

PALAVRAS-CHAVE: Inflamação; disfunção endotelial; polimorfismos.

C-REACTIVE PROTEIN, ENDOTHELIAL FUNCTION AND GENETIC INFLUENCE: ASSOCIATION WITH OBESITY

ABSTRACT

Obesity is a multifactor chronic disease and its incidence has been increasing over the years and is being considereda public health problem. It is characterized by a chronic state of low grade inflammation, in which the C-reactiveprotein levels are usually increased. This inflammatory process can change the endothelial function in theseindividuals, since elevated levels of C-reactive protein are related to a low production of nitric oxide, which isresponsible for the endothelium vasodilation. Several studies have demonstrated the influence of polymorphismsin the genes of C-reactive protein and of the endothelial nitric oxide synthesis enzyme in obese and healthyindividuals. Thus this literature review aims at discussing the relationship between obesity and C-reactive proteinlevels and endothelial function, as well as to elucidate the association of genetic factors. Scientific articles fromthe databases PubMed, Science Direct and Scielo were consulted, using the following keywords and combinationsof them: C-reactive protein, function/endothelial dysfunction, polymorphism and obesity. Thus, we concludedthat obese individuals have elevated levels of C-reactive protein as a result of excess of body fat and this impliesa reduction in nitric oxide synthesis. All these factors can be influenced by polymorphisms in regulatory genes ofthe production of these proteins.

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KEYWORDS: Inflammation; endothelial dysfunction;polymorphisms.

INTRODUÇÃO

Em países, tanto desenvolvidos ou em desen-volvimento, os índices de obesidade vêm aumentandoem crianças, adolescentes e adultos. Segundo aOrganização Mundial de Saúde – OMS, no Brasil, entreos adultos, o índice de sobrepeso (IMC 25 Kg/m2) éde 54% em homens e 60,3% em mulheres, e opercentual de obesidade (IMC 30 Kg/m2) é de 12,4%para os homens e 24,5% para as mulheres(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2010).

A etiologia multifatorial da obesidade é conhecida,principalmente, pela influência da hereditariedade,anormalidades metabólicas, fatores socioculturais,hábitos alimentares inadequados e sedentarismo(AACE, 1998). Porém, mais recentemente, associa-se a obesidade com alterações no sistema imunológicoe função endotelial, o que é considerado um estadocrônico de baixo grau de inflamação (O'ROURKE etal., 2006).

Alguns biomarcadores são muito utilizados paraidentificar níveis inflamatórios em indivíduos obesos. Aproteína C reativa – PCR é um dos mais frequentes, evários trabalhos demonstram que ela está associadacom riscos cardiovasculares em diferentes populações,com a obesidade e a resistência à insulina ou podemediar o efeito da obesidade no diabetes mellitus tipo2 e doenças coronarianas (THOMPSON et al., 2010;ZULIANI et al., 2009; PANAGIOTAKOS et al.,2005; MATHIEU et al., 2009)

Estudos mostram que os níveis de PCR influenciamna função endotelial (HARO et al., 2008; CLAPP etal., 2005; KIM et al., 2008), uma vez que ela podealterar o metabolismo do óxido nítrico – ON, reduzindoseu efeito e, consequentemente, prejudicando avasodilatação, este um importante fator para odesenvolvimento de doença arterial periférica nestapopulação (AVOGARO e KREUTZENBERG, 2005;CLELAND et al., 2000; CHEN et al., 2012).

Além disso, há evidências de que os níveis de PCRsão uma característica complexa, influenciada tanto por

fatores clínicos quanto por fatores genéticos (LEDUEe RIFAI, 2003). A constatação de que algunspolimorfismos no gene da PCR podem afetardiretamente seus níveis séricos pode ser de importânciaclínica substancial, já que a predisposição genética paraelevados níveis sanguíneos de PCR pode representarum risco maior para o desenvolvimento de doençascardíacas (HINGORANI; SHAH; CASAS, 2006).

A importância do ON na regulação do sistemacardiovascular resultou em estudos para avaliar sepolimorfismos no gene da enzima óxido nítrico sintaseendotelial – eNOS, responsável pela conversão de L-arginina em ON, estão associados com doençascardiovasculares, se estes alteram a disponibilidade domesmo e se alteram os níveis de PCR (SANDRIM etal., 2007; HSIEH et al., 2008; NEJATIZADEH etal., 2008).

Nesse contexto, esta revisão de literatura visadiscutir a relação da obesidade com níveis de PCR efunção endotelial, assim como elucidar como os fatoresgenéticos estão associados aos mesmos. Para talobjetivo, consultaram-se artigos científicos,provenientes dos bancos de dados PubMed, ScienceDirect e Scielo, utilizando os seguintes descritores ecombinações entre eles: proteína C reativa, função/disfunção endotelial, polimorfismo e obesidade e seusrespectivos em inglês.

OBESIDADE E PROTEÍNA C REATIVA

A PCR é uma proteína de fase aguda, produzidapelo fígado, em resposta ao estímulo de citocinasinflamatórias como a Interleucina-6 (IL-6) e Fator deNecrose Tumoral (TNF)-. Sua dosagem é utilizadapara diagnóstico de estados inflamatórios e infecções(BAUMANN e GAULDIE, 1994). Em 1999, Visseret al. publicaram o primeiro artigo relacionando PCRcom obesidade, o que caracteriza um estado crônicode baixo grau de inflamação; a partir disso, váriaspesquisas vêm sendo realizadas para confirmar talassociação.

Dessa forma, em um estudo envolvendo 190homens e mulheres, com idade entre 25 e 75 anos eÍndice de Massa Corporal (IMC) 25 kg/m², nos

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quais foram dosados os níveis de PCR ultrassensível,foi observado que, quando separados por gênero, asmulheres apresentaram níveis mais elevados que oshomens (5,35±0,38 mg/L vs. 2,84±0,43 mg/L,p<0,001) e, em relação à Síndrome Metabólica – SM,quando ela estava presente os níveis foram maiselevados do que quando estava ausente (4,85±0,47mg/L vs. 3,34±0,36 mg/L, p<0,05). Adicionalmente,os níveis de PCR tiveram um aumento gradualconforme o número de elementos da SM aumentavanesses indivíduos. Além disso, valores maiores de PCRforam observados nos indivíduos com obesidadeabdominal (5,10±0,38 mg/L) quando comparados comaqueles sem este tipo de obesidade (2,56±0,38 mg/L) (FLOREZ et al., 2006). Isso pode estarrelacionado à produção acentuada de marcadoresinflamatórios pelo tecido adiposo abdominal, como aIL-6, que regula a produção e liberação de PCR(PICKUP et al., 1997).

O Coronary Artery Risk Development inYoung Adults – CARDIA é um estudo multicêntricoque vem avaliando, desde 1985, a evolução do riscocardio-vascular em milhares de pessoas nos EstadosUnidos da América. Ishii et al. (2012) utilizaramdados desse trabalho, que determinaram asconcentrações de PCR em 3.300 indivíduos comidade entre 18 e 30 anos. Com isso, mostraram que90,1% da amostra não teve episódios de elevaçãoda PCR acima de 10 mg/L, enquanto 6,8% teveuma elevação e 3,1%, pelo menos duas ocasiõesde elevação, ao longo de 13 anos. Além disso, asmulheres tiveram mais episódios únicos ou repetidosde elevação da PCR que os homens, mesmo apóscontro le para uso de hormônios sexuais,acentuando-se ainda mais quando apresentavamobesidade (IMC > 30 Kg/m²).

Uma possível explicação é que altos níveis deestrogênio podem implicar níveis aumentados de PCRem mulheres, uma vez que já foi demonstrado que aterapia com estrogênio exógeno aumenta os níveisdessa proteína (LAKOSKI et al., 2005; HU et al.,2006). Também a obesidade está relacionada àsuscetibilidade a infecções, o que pode contribuir com

recorrentes aumentos da PCR (FALAGAS eKOMPOTI, 2006).

Para elucidar as possíveis associações da obesidadecom níveis aumentados de PCR, o estudo de Belfki etal. (2012) conduziu um caso com 149 pacientes comSM e 152 sem SM (controle), com idade entre 35 e75 anos, no qual foram feitas dosagens de parâmetrosbioquímicos e de PCR e mensurações antropométricas.Como esperado, as médias dos parâmetrosbioquímicos foram maiores nos indivíduos com a SM,bem como os níveis de PCR (4,41±3,73 mg/L vs.2,68±2,59 mg/L, p<0,001). Adicionalmente, os níveisde PCR mostraram-se proporcionalmente aumentadosem relação ao número de componentes da SM que opaciente apresentava.

Similarmente, um estudo transversal, que envolveu131 crianças/adolescentes com obesidade e 114 comIMC normal (controle), com faixa etária de 2,3 a 19anos, verificou que as concentrações da PCRultrassensível foram significativamente maiores no grupoobesidade (1,43±2,74 mg/L) que no grupo controle(0,42±2,83 mg/L). Em ambos os grupos, asconcentrações de PCR não diferiram entre os sexos(BRASIL et al., 2007).

Os níveis plasmáticos de PCR também serelacionam com a quantidade de gordura corporal,obesidade visceral, circunferência abdominal,resistência à insulina, diabetes mellitus (PASCERI;WILLERSON; YEH, 2000) e circunferência da cintura(NAKAMURA et al., 2008), de modo que a pesquisade Wang et al. (2011) elucidou a relação das altasconcentrações de PCR com o aumento do IMC epercentual de gordura corpórea em estudantesuniversitários com sobrepeso e obesidade, e atribuiuesse aumento aos altos índices de inatividade físicadesses jovens.

Corroborando, o estudo de Oliveira et al. (2011),que obteve uma amostra de 1.319 indivíduos, deambos os sexos, observou, através de análisemultivariada, associações significativamente positivasentre PCR ultrassensível, IMC e distribuição degordura generalizada em cada gênero. Nos homens,o padrão central de distribuição de gordura foi,

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também, associado de forma positiva com a PCR.Em contraste, os valores de gordura subcutâneaperiférica foram negativamente associados com osníveis de PCR em mulheres. Essa associação negativapode ser devido ao tecido adiposo periférico possuiruma maior atividade da lipase lipoproteica e menorvolume de ácidos graxos. O tecido recruta os ácidosgraxos da circulação e os estoca, protegendo o fígadoda alta exposição a eles, o que resulta em uma baixaprodução de marcadores inflamatórios (FRAYN,2002). Os adipócitos periféricos também podemsecretar mais adiponectina, que possui propriedadesantiaterogênicas e antiinflamatórias (BERG; COMBS;SCHERER, 2002).

Além do papel pró-inflamatório da PCR, háevidências da associação entre a elevação da PCR emarcadores indiretos de ativação endotelial (fator deVon Willebrand, molécula de adesão celular vascular-1) (YUDKIN et al., 1999) e com a síntese de ON(CLELAND et al., 2000), evidenciando uma relaçãocom a inflamação vascular e disfunção endotelial, queestão presentes na obesidade.

FUNÇÃO ENDOTELIAL E PROTEÍNA C REATIVA NA

OBESIDADE

A doença arterial periférica – DAP presente naobesidade está relacionada ao processo inflamatório.Esta inflamação pode modular propriedades funcionaisdo endotélio, desencadeando uma série de mudançasque estão diretamente relacionadas com o início,progressão e gravidade da alteração do tecidoendotelial (HARO et al., 2008).

O endotélio forma uma barreira física entre a parededo vaso e o lúmen, além de segregar uma variedadede mediadores com funções que podem regular o tônusmuscular, agregação plaquetária, coagulação efibrinólise, sendo os vasodilatadores e vasoconstritoressegregados, a fim de regular o diâmetro vascular(AVOGARO e KREUTZENBERG, 2005). Quandohá um desequilíbrio nesses mediadores, pode ocorrera disfunção endotelial, possivelmente relacionada àredução da capacidade de relaxamento do endotélio,causado principalmente pela baixa biodisponibilidade

de ON (MOMBOULI e VANHOUTTE, 1999; LINet al., 2007).

O ON é o principal vasodilatador presente noendotélio, formado pela conversão de L-arginina emON e L-citrulina a partir da enzima óxido nítrico sintase(eNOS), podendo ser regulado por hormônios, comoa insulina, pelo shear stress, por processos agonistas,além de ser influenciado pelos níveis de PCR emcondições específicas (CLAPP et al., 2005;AVOGARO e KREUTZENBERG, 2005; ZHONGet al., 2006). Além do ON, há outros mediadoresque também controlam a vasodilatação, regulando ocalibre vascular, pressão arterial, reduzindo riscoscardiovasculares e melhorando o fluxo sanguíneo paraos tecidos (AVOGARO e KREUTZENBERG, 2005).

Estudos que associam disfunção endotelial e PCRsugerem que a mesma aumenta a proteólise local esistêmica podendo contribuir para a vulnerabilidadeda formação da placa aterosclerótica, verificandoinclusive que os níveis de PCR são inversamenteproporcionais à função endotelial, uma vez que osníveis aumentados da PCR podem contribuir para aredução da dilatação dependente de ON (KIM etal., 2008; AVOGARO e KREUTZENBERG, 2005;TOUSOULIS et al., 2011).

Entretanto, um estudo de 2005 demonstrou que ometabolismo do ON pode ser afetado pelos níveis dePCR, através de um modelo de disfunção endotelialem humanos, verificando que a PCR tem um efeitodireto e específico sobre a função endotelial, por meiode um aumento prolongado na produção de ON. Esseaumento se dá pela PCR aumentar a expressão docofator da eNOS, porém pode desregular osreceptores celulares de ON, ocorrendo, assim, umaredução no seu efeito (CLAPP et al., 2005).

A associação dos níveis de PCR com a funçãoendotelial também foi demonstrada por Haro et al.(2008), que avaliaram 156 homens e verificaram que,quanto menor a dilatação arterial, maior os níveis dePCR, podendo inferir que a PCR está associada àgravidade clínica da DAP, reafirmando a hipótese quea inflamação contribui para a alteração da funçãoendotelial.

ABREU et al.

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Um estudo conduzido por Sinisalo et al. (2000)apontou que, em pacientes com doença arterialcoronariana decorrente da obesidade, a PCR reduziue regulou concomitantemente a função endotelial, apósmelhora do quadro inflamatório, o que correlacionapositivamente esses marcadores.

Nesse contexto, Chen et al. (2012) verificaramque, em culturas de células endoteliais, a PCR, alémde prever eventos cardiovasculares, está relacionadaà inibição da enzima eNOS e, consequentemente, aosníveis reduzidos de ON. Este evento pode prejudicara função endotelial, promover apoptose das célulasprogenitoras endoteliais, podendo ter papelfundamental no desenvolvimento e progressão daaterosclerose, em indivíduos obesos, por exemplo.

Entretanto, um estudo realizado por Lin et al.(2007) verificou que indivíduos com obesidademórbida tinham níveis de PCR aumentados quandocomparados a indivíduos saudáveis, e os níveis denitrito e nitrato totais não tiveram diferença significativa.Porém, quando os indivíduos com obesidade mórbidaforam submetidos à cirurgia bariátrica, os níveis dePCR, nitrito e nitrato totais reduziram após cirurgia,mas não tiveram correlação, sugerindo que outrosmecanismos de estresse oxidativo e/ou estadoinflamatório, por exemplo, podem ter funções naregulação da produção de ON.

Como na obesidade há um aumento das célulasadiposas, principalmente na região visceral, estagordura acumulada pode estar relacionada ao aumentodo processo inflamatório com a elevação da PCR eoutras citocinas, e está correlacionada não somentecom a disfunção endotelial, mas também com outrosmecanismos, como o metabolismo da glicose e estresseoxidativo (YUDKIN, 2003).

Nesse contexto, a obesidade associada aosedentarismo pode ser um fator importante no desen-volvimento da disfunção endotelial, e a PCR pode serum marcador indireto de lesão vascular, apresentarníveis elevados quando há processos inflamatórios eser associada à disfunção endotelial. Essa associaçãoacontece na obesidade devido à secreção de citocinaspelas células adiposas, além de associar-se também

com a relação cintura quadril e o IMC (CHEN et al.,2012; SELVIN; PAYNTER; ERLINGER, 2008).

É importante ressaltar que a função do endotélio ea expressão da PCR são influenciadas por algunsfatores como sexo, alimentação, tabagismo, exercíciofísico, uso de álcool e estado hormonal. Esses fatores,associados à obesidade, podem alterar o perfil lipídico,metabolismo da glicose, além de ter associação comos níveis de PCR e função endotelial (YUDKIN, 2003;HICKLING et al., 2008; BERMUDEZ et al., 2002).

INFLUÊNCIA GENÉTICA NOS NÍVEIS SÉRICOS DE PROTEÍNA

C REATIVA

O gene que codifica a PCR (CRP) está localizadono cromossomo 1 na região 1q23.2 (FLOYD-SMITHet al., 1986; WALSH; DIVANE; WHITEHEAD,1986), e sua sequência foi simultaneamente determina-da em 1985 por dois grupos de pesquisadores, quereportaram sua estrutura sendo composta por umintron separando dois exons (WOO, KORENBERG,WHITEHEAD, 1985; LEI et al., 1985). Uma vez queo gene CRP foi identificado e sua sequência relatada,vários grupos investigaram sua região promotoraproximal e como esta regula a produção de ácidoribonucleico mensageiro (HAGE e SZALAI, 2007).

A regulação da expressão de PCR ocorreprincipalmente em nível transcricional, sendo a IL-6 oindutor principal do processo de transcrição e a IL-1age sinergicamente potencializando esse efeito(KUSHNER et al., 1995).

A forte associação entre a concentração plasmáticade PCR, o risco de doença coronariana e apossibilidade de um papel patogênico na ateroscleroseenfatizam a importância de determinar a influênciagenética na produção dessa proteína (KOVACS etal., 2005). Estudos familiares têm demonstrado que avariação nos níveis séricos de PCR é um traçohereditário e se estima que os níveis sanguíneos são de35-40% geneticamente determinados (PANKOW etal., 2001). Logo depois de estabelecido que asdiferenças nos níveis de PCR estão associadas comdiferenças genéticas, pesquisas foram realizadas paraidentificar diferentes polimorfismos no gene CRP para

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determinar se eles afetam diretamente o nível sanguíneo da proteína (HAGE e SZALAI, 2007). (Tabela 1)

ABREU et al.

SNPs Alelo Relação com níveis sanguíneos de PCR Estudos

-717 A>G (rs2794521)

- Sem associação com os níveis sanguíneos

em indivíduos chineses

Chen et al.

(2005)

A Associado com níveis sanguíneos

elevados da proteína antes e após

treinamento físico

Obisesan et al.

(2004)

-757 T>C (rs3093059) C Níveis sanguíneos elevados em

indivíduos aparentemente saudáveis

Assayag e t al.

(2009)

+1059 G>C (rs1800947) G Níveis sanguíneos elevados em

indivíduos obesos taiwaneses

Teng et al.

(2009)

C Baixos níveis sanguíneos em indivíduos

ta iwaneses

Teng et al.

(2009)

- Sem associação com os níveis sanguíneos

em pacientes com aterosclerose

intracraniana ou com lesões

ateroscleróticas extracranianas e

indivíduos controles

Liu et a l. (2008)

+1444 C>T (rs1130864) T

T

Níveis sanguíneos e levados em homens

saudáveis e pacientes com bypass arteria l

coronário

Brull et al.

(2003)

Níveis sanguíneos e levados

independentemente da idade, gênero e

IMC em adolescentes mexicanos

Mendoza-

Carrera et a l.

(2010)

+1009 A>G (rs2794521) G Baixos níveis sanguíneos em homens

chineses idosos

Sheu et al.

(2007)

Tabela 1 – Polimorfismos no gene CRP e a relação dos alelos com os níveis séricos da PCR relatados emalguns estudos.

PCR: proteína C reativa; SNPs: Single Nucleotide Polymorphisms; IMC: índice de massa corporal.Fonte: Dados de pesquisa.

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Um ressequenciamento sistemático do CRPdemonstrou pelo menos 40 Single NucleotidePolymorphisms – SNPs, que formam pelo menos 29haplótipos diferentes, sendo então indiscutível que estegene é polimórfico (HAGE e SZALAI, 2007).

Szalai et al. (2002) foram o primeiro grupo areportar associação entre os polimorfismos da PCR eseus níveis sanguíneos basais. Enquanto Teng et al.(2009) demonstraram pela primeira vez que osgenótipos do CRP interagiram com a obesidade. Osresultados encontrados neste estudo oferecem maisprovas de que múltiplos fatores, incluindo diferençasétnicas, efeitos epistáticos e interações genótipo-ambiente podem influenciar a associação entre osgenótipos/haplótipos do CRP, o nível sérico de PCR eeventos cardiovasculares.

Além disso, no estudo de Hsieh et al. (2008) foidemonstrada a relação entre o polimorfismo +894G>T (rs1799983) da eNOS com níveis elevados dePCR e SM na população chinesa, na qual os indivíduoscom o alelo T possuíam níveis significativamenteelevados de PCR quando comparados com indivíduosGG para o polimorfismo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com esta revisão de literatura, podemos concluirque a obesidade está associada a diversascomorbidades, como um estado inflamatório acentuadoe risco de desenvolvimento de DAP decorrente dadisfunção endotelial, e as concentrações séricas de PCRsão influenciadas por polimorfismos. Os altos níveisde PCR resultantes do excesso de gordura corporalpodem induzir uma redução na síntese de ON, levandoa alterações endoteliais.

Sabe-se que a inatividade física pode agravar ossintomas relacionados à obesidade; portanto, ressalta-se a importância de órgãos públicos incentivarem ecriarem programas de reabilitação física e psicossocialpara essa população, através da prática de exercíciosfísicos regulares e orientação para hábitos alimentaressaudáveis.

Portanto, mais estudos são necessários paraesclarecer as alterações no perfil inflamatório e nafunção endotelial em indivíduos obesos, bem como

identificar a função dos SNPs no gene CRP e no geneda eNOS, para elucidar suas influências nos níveissanguíneos da PCR e no risco para doençascardiovasculares por meio da realização de estudosgenômicos funcionais.

CONFLITOS DE INTERESSE

Os autores declaram não haver potenciais conflitosde interesse.

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RECEBIDO EM 18/9/2012ACEITO EM 21/5/2013

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artig

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NOVAS PERSPECTIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL NAAMAZÔNIA: PROCESSOS SOCIOAMBIENTAIS E A

SUSTENTABILIDADE EM PROJETOS DE REFORMA AGRÁRIA

OLIVEIRA, Poliana Cardoso de. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural doDepartamento de Economia Rural da Universidade de Viçosa. E-mail: [email protected].

FERREIRA NETO, José Ambrósio. Professor-coordenador do Programa de Pós- Graduação em ExtensãoRural do Departamento de Economia Rural da Universidade de Viçosa. E-mail: [email protected], Roseni Aparecida de. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural do

Departamento de Economia Rural da Universidade Federal de Viçosa. E-mail: [email protected], Nathália Thaís Cosmo da. Doutoranda da Universidade de Santiago de Compostela. E-mail:

[email protected].

RESUMO

Este trabalho analisa uma nova forma de organização dos projetos de reforma agrária, baseada na valorizaçãodas práticas extrativistas e das comunidades tradicionais na Amazônia: os Projetos de Desenvolvimento Sustentável– PDS, como uma contribuição para a compreensão dos processos socioambientais que envolvem a dinâmicada reforma agrária no Brasil. Também permite a reflexão sobre diferentes abordagens da sustentabilidade dosassentamentos rurais na Região Amazônica. A discussão será sustentada pelo estudo de caso do PDS NovaBonal, localizado no município de Senador Guiomard, no estado do Acre.

PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento rural; Reforma agrária; Sustentabilidade; PDS; Amazônia.

NEW PERSPECTIVES FOR THE RURAL DEVELOPMENT IN AMAZON: SOCIOENVIRONMENTAL PROCESSES AND

SUSTAINABILITY IN AGRARIAN REFORM PROJECTS

ABSTRACT

This paper analyzes a new form of organization of agrarian reform projects, based on the valuation of extractivepractices and of the traditional communities in Amazon: the Sustainable Development Projects – SDP as acontribution to the understanding of environmental and social processes involving the dynamic of agrarian reformin Brazil. It also allows a reflection on different approaches to sustainability of rural settlements in the AmazonRegion. The discussion will be supported by the case study of the SDP Nova Bonal, located in the municipalityof Senador Guiomar, in the state of Acre.

KEYWORDS: Rural development; Agrarian reform; Sustainability; SDP; Amazon.

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INTRODUÇÃO

Este artigo se apresenta como fruto de trabalhosdedicados a entender a temática da reforma agrária,pelos debates no Grupo de Pesquisa "Assentamentos",da Universidade Federal de Viçosa, e também porpesquisas de campo e intervenções em projetos deassentamentos no Estado do Acre e, mais recentemente,pelo envolvimento em pesquisas empíricas relativas aodesenvolvimento sustentável na Amazônia.

Formalmente, o grupo de pesquisa "Assentamentos"existe desde 2008, mas as discussões e trabalhos decampo são anteriores a essa data. Inicialmente, osdebates eram mais direcionados à realidade mineira,sobretudo na busca de respostas quanto aos impactosdos assentamentos rurais no desenvolvimentosocioeconômico das regiões onde foramimplementados. A partir de 2007 se iniciou o processode investigação no Acre e, como ocorre com o iníciode toda pesquisa, esta teve um caráter exploratório nosentido de conhecer a realidade que se apresentava eque trazia à temática da reforma agrária uma série dequestionamentos sobre sustentabilidade e uso derecursos comuns. Como condição para análiseconceitual deste tema, se empreendeu uma revisão daliteratura abordando, principalmente, três aspectos: arealidade dos assentamentos rurais no Acre, discussõessobre conceito de sustentabilidade e, finalmente, sobreos projetos de reforma agrária no atual debate sobredesenvolvimento rural. Assim, este artigo consiste emum ensaio argumentativo e se inicia na análise dasdiretrizes que fundamentam a implementação dosassentamentos rurais, bem como na explicitação dedas diferentes modalidades assumidas por esseempreendimento público. Até o final do ano 2000, asmodalidades de assentamento mais utilizadas peloInstituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária– INCRA na Região Amazônica eram o Projeto deAssentamento – PA, o Projeto de AssentamentoAgroextrativista – PAE e o Projeto de RegulamentaçãoFundiária – PAF. Segundo reconhece o próprioINCRA, a modalidade PA, mais comum em todo opaís, é voltada para a organização territorial,infraestrutura, promoção indireta da assistência técnica,

ensino, saúde e previdência social, além de habitaçãorural, armazenamento e comercialização da produção.O PAE beneficia os agricultores extrativistas e o PAFvisa à regularização das terras da união ocupadas, emaspectos relacionados à identificação e titulação dessasáreas.

A partir do ano 2000 foi criada a modalidade deProjeto de Desenvolvimento Sustentável – PDS, comoresultado da busca por um modelo alternativo quepudesse evitar os impactos negativos queassentamentos mal estruturados, principalmente namodalidade PA, acarretavam ao meio ambiente. Dessamaneira, o PDS é uma modalidade que se diferenciadas outras implementadas pelo INCRA porque possuiorientações voltadas à gestão ambiental, buscandoresponder às mudanças na legislação pela incorporaçãoda biodiversidade como um valor a ser preservadopela reforma agrária. Esta modalidade de assentamentose destina às populações que pretendem trabalhar coma agricultura fazendo o uso sustentável de áreas deinteresse ambiental. Segundo Guerra (2002), opropósito dos PDS's é alcançar sustentabilidade dosassentamentos ao longo do tempo, conjugandoqualidade de vida para os seus habitantes de formaque os impactos ambientais sejam limitados. À medidaque promove maior abertura das atividadeseconômicas, o PDS não se restringe apenas àagricultura e ao extrativismo, incluindo também opçõesde atividades com o manejo de pesca, caça, entreoutros. Ademais, favorece a participação da populaçãoem todas as instâncias decisórias do projeto. Naprática, o PDS pode ser classificado como um modelointermediário entre o PA e o PAE, pois não é tão abertoquanto o primeiro nem tão rigoroso e restrito a práticasagrícolas convencionais como o segundo.

No entanto, Gerra (2002) evidencia que, paraviabilidade das ações empreendidas pela criação doPDS, existe uma série de condições, tais como:implantação do manejo florestal; melhoria das práticasextrativistas existentes; fortalecimento das organizaçõescomunitárias de assistência técnica e de crédito;aperfeiçoamento do sistema de comercialização; alémda implantação de infraestruturas como vias de acesso

OLIVEIRA et al.

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e sistemas de saúde e educação. A autora acentua que,ao não respeitar esses critérios, se corre o risco deesses assentamentos se tornarem iguais aosconvencionais, nos quais se verifica alto índice dedesmatamento e evasão da população.

Nessa perspectiva, embora a temática da reformaagrária seja amplamente discutida em muitas pesquisas,é no âmbito das discussões relacionadas ao meioambiente que o "tema velho" (SIQUEIRA, 2006) seatualiza, uma vez que os impactos socioeconômicosacarretados pelas mudanças na economia não são maisos únicos em foco nas "lentes" dos estudiosos. Sendoassim, a análise do uso e apropriação dos recursosnaturais e desenvolvimento socioeconômico nosProjetos de Desenvolvimento Sustentável podecontribuir para a compreensão dos processossocioambientais nos quais a reforma agrária se insere.

DESENVOLVIMENTO RURAL E SUSTENTABILIDADE

Quado se aborda a questão do desenvolvimentorural é preciso considerar as perspectivas dos atores edas redes com as quais estes interagem e, sobretudo,a forma como esses atores se relacionam com o exteriore com o território, pois, como afirmam Rodrigues etal. (2007), o desenvolvimento rural deve ser entendidocomo o aumento da capacidade de criação e liberdadeno espaço rural. Além disso, as relações com oterritório devem considerar a integração entre váriostipos de capital que influenciam a capacidade e aliberdade nesses espaços. Em sintonia com essaperspectiva, Vachon (2002) argumenta que umaestratégia que tem por interesse o desenvolvimentolocal e sustentável deve se basear em princípios devalorização da organização social dos indivíduos, e aspessoas devem ser consideradas como força motrizdo desenvolvimento. Dessa forma, um dos desafiosatuais no âmbito dos debates sobre desenvolvimentoé a inclusão de outros aspectos que não só os ligadoscom a economia. Para além da racionalidadeeconomicista, o desenvolvimento deve ser visto comoo acesso a um modo de vida em que as pessoas têmmais importância que a produção de bens e serviços,e a realização pessoal e coletiva se prioriza sobre o

funcionamento dos indivíduos como consumidor.No caso brasileiro, como argumenta Schneider

(2010), até a década de 90 existia uma forte identificaçãodo desenvolvimento rural com a agenda das ações deintervenção do Estado ou das agências dedesenvolvimento. Esse fato fez com que muitospesquisadores e estudiosos se afastassem do tema, porconsiderá-lo excessivamente político e normativo. Dessaforma, na opinião do autor, desenvolvimento rural passoua ser identificado com políticas de intervenção no meiorural, especialmente em regiões pobres.

Segundo Schneider (2010), a retomada da temáticafoi influenciada pelas transformações sociais, políticase econômicas que se operaram no âmbito do Estado,dos atores da sociedade civil e nos enfoques analíticosdos próprios estudiosos e analistas, desdobrando-seem políticas governamentais direcionadas para areforma agrária, crédito para agricultura familiar, apoioaos territórios rurais, e estímulo a ações afirmativaspara mulheres, jovens, aposentados e negros.

Assim, os fatores decisivos que contribuíram paraque as discussões em torno do tema desenvolvimentorural tenham ganhado projeção, escala e, sobretudo,legitimidade, na opinião de Schneider (2010), seriam:

A trajetória das discussões em torno da agriculturafamiliar e de seu potencial como modelo social,econômico e produtivo para a sociedade brasileira sefirmou como uma categoria política.

A crescente influência e ação do Estado no meiorural, que se deu tanto por meio das políticas para aagricultura familiar quanto das ações relacionadas àreforma agrária, segurança alimentar, entre outras,

As mudanças no âmbito político e ideológico.Essas mudanças têm duplo sentido. Por um lado,setores das elites agrárias, que até então eramcontrários às mudanças, particularmente no apoio àspolíticas sociais e de caráter compensatório, viram-seforçados a mudar de posição, tal como na questão dareforma agrária. O outro lado dessa mudança de caráterpolítico e ideológico está no fato de que, na década de1990, lentamente, foi sendo construída umaargumentação que visava descortinar as diferençasfundamentais existentes entre o universo de produtores

Novas perspectivas para o desenvolvimento rural na Amazônia...

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da agricultura brasileira.O que se percebe, no entanto, sobretudo na

passagem da década de 1990 para a década posterior,é não somente a emergência da abordagem territorialdo desenvolvimento, mas a intensificação da relaçãoentre os debates relativos ao desenvolvimento rural eao desenvolvimento sustentável. Autores dedicados àtemática do desenvolvimento rural passaram tambéma se dedicar a esse tema que, nos últimos anos, emergiuneste cenário. Assim, para Almeida e Navarro (1998),o conceito de desenvolvimento sustentável está alémdo crescimento econômico indiscriminado da regiãoimplicada, mas consiste essencialmente em potencializaraqueles esquemas de desenvolvimento que têm comoobjetivo a satisfação das necessidades da geraçãopresente sem comprometer a capacidade das geraçõesfuturas para satisfazer suas próprias necessidades. Paraesses autores, a definição oficial de desenvolvimentosustentável se encontra imersa desde sua formulação,em uma profunda polêmica de natureza multidisciplinarentre o que se define como orientações teóricas, porum lado, do pensamento liberal, por outro, dopensamento alternativo.

Vale salientar que o debate sobre o tema dasustentabilidade ambiental transcende e extrapola afronteira do espaço rural, porque a própria discussãoda sustentabilidade é anterior à retomada do debatesobre o desenvolvimento rural, de modo que, segundoLeff (2009), o princípio de sustentabilidade surge nocontexto de globalização e aparece como um sinal quereorienta o processo civilizatório da humanidade.

Assim, a discussão acerca da sustentabilidade nascecomo critério normativo para reconstruir a ordemeconômica e como condição para a sobrevivênciahumana sendo apresentada, principalmente, pelosquestionamentos das bases de produção. Nessesentido, pode-se dizer que a emergência de um discursoda sustentabilidade nasce na Conferência das NaçõesUnidas sobre o Meio Ambiente Humano – Estocolmo– 1972 e no Brasil, especificamente, nas Conferênciasdas Nações Unidas sobre Meio Ambiente eDesenvolvimento – Rio Janeiro – 1992.

Como bem ressalta Almeida (2007), a

sustentabilidade deve ser vista como uma ideia, umconceito em disputa, com limites ainda indefinidos e,sobretudo, com grandes conflitos de interesses. Parao autor, a crise de modelos baseados nos pressupostosdo desenvolvimento industrial capitalista demonstrouesgotamento, oportunizando, assim, o modo dedesenvolvimento ou organização social com basesocial, econômico e cultural e ambiental maissustentável. Em outras, o desenvolvimento sustentávelparece abarcar a ideia de uma busca de integraçãosistêmica entre diferentes níveis da vida social, entre aexploração dos recursos naturais, o desenvolvimentotecnológico e a mudança social.

Para Almeida (2007), esse novo desenvolvimento,com base sustentável, apresenta alguns desafios elimites, no que se refere à agricultura. Nesse sentido,na opinião do autor, embora os organismos "oficiais"tenham se esforçado para alcançar uma conceituaçãode desenvolvimento sustentável que seja aceita pelamaioria dos atores/agentes econômicos envolvidoscom o desenvolvimento das sociedadescontemporâneas, esses esforços não têm sido tãopromissores, o que se constitui num desafio paraaqueles que estão apresentados na busca dodesenvolvimento.

O debate sobre desenvolvimento sustentável hojeestá polarizado entre duas concepções principais: deum lado, o conceito/ideia gestado dentro da esfera daeconomia, sendo referência para interpretação docontexto social. Incorpora, desse modo, a natureza àcadeia de produção, ou seja, a natureza passa a serum bem de capital. De outro, a ideia que tenta quebrara hegemonia do discurso econômico e a expansãodesmesurada da esfera econômica, indo além da visãoinstrumental desta, segundo a qual a economia se impõeà ideia/conceito, como salienta Almeida (2007).

Nesse sentido, é importante a contribuição analíticade Favareto (2007), quando argumenta que a noçãode desenvolvimento deve ser compreendida comoevolução de uma configuração histórica que podecaminhar rumo às inúmeras direções, se opondo,portanto, à ideia atrelada à linearidade evolutiva quese desdobra em projetos normativos do

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desenvolvimento, os quais abarcam indicadoreseconômicos, sociais e ambientais de determinado país,região ou grupo social.

De tal modo, vale considerar as proposições deSen (2000), ao argumentar que o processo dedesenvolvimento deve ser centrado na liberdade, quepor sua vez deve ser orientada para o agente. Sen(2000) considera que, com oportunidades sociaisadequadas, os agentes não precisam ser vistos comobeneficiários passivos de engenhosos programas dedesenvolvimento. Para o estudioso, a lacuna entre asduas perspectivas, ou seja, entre a concentração deriqueza econômica e um enfoque mais amplo sobre avida que se pode levar, é a questão fundamental naconceituação do desenvolvimento. As análises dodesenvolvimento devem considerar em seu escopo asliberdades dos indivíduos, os elementos constitutivosbásicos e atentarem-se particularmente para aexpansão das capacidades dos atores de levar o tipode vida que valorizam.

Para compreender então o universo desses atoressociais em questão – beneficiários de reforma agráriano Acre –, faz-se necessário considerar a perspectivaem que inicialmente foi concebido o desenvolvimentona Amazônia, sobretudo a partir da década de 1960,em que se dava a valorização das práticas produtivastotalmente distantes daquelas atualmente preconizadaspelo discurso sustentável. Em outras palavras, atémesmo a incorporação da abordagem sustentável naformulação de políticas públicas não deve ser feita pelanegação da história em que se sobressaiu o aspectoprodutivista, mas lançando mão e conhecendo maisprofundamente as trajetórias sociais para que aspolíticas públicas possam estar em consonância como mundo vivido1 dos atores em questão.

Além disso, existem outras questões de ordem práticaque devem ser levadas em consideração. Nesse sentido,Guerra (2002) assegura que a construção dodesenvolvimento sustentável em um projeto de reformaagrária depende, basicamente, da aptidão agrícola daorganização política dos assentados e da sua capacidadede interagir com as entidades governamentais e não-governamentais. Dessa forma, a sustentabilidadeambiental deve ser analisada por várias abordagens,considerando que a preservação do meio ambiente sóse sustenta com a utilização racional dos recursosnaturais, o que garantirá a produção no longo prazo.Além disso, a autora reforça que, ao considerar que emum assentamento de reforma agrária a superfície deexploração é limitada, com poucas possibilidades deexpansão, a sua sustentabilidade estará intimamenterelacionada ao número de pessoas presentes na área.Finalmente, a sustentabilidade econômica de um projetode reforma agrária resume-se na sua capacidade derealização e de comercialização da produção. Exige umasérie de implementos, como geração de produtosdurante todo o ano, obtenção de créditos e subsídios,capacidade de escoamento dessa produção, existênciade um mercado consolidado.

Pode-se, enfim, perceber que a implementação deassentamentos rurais na Amazônia se insere num campocomplexo em que o que está em questão não é, tãosomente, a adequação aos padrões sustentáveispreconizados e a serem alcançados. A questãofundamental parece ser a necessidade de conhecer astrajetórias dos atores sociais, para que estes, numaperspectiva de Sen (2000), sejam agentes do seudesenvolvimento e tenham suas liberdades ampliadas,o que não nega a perspectiva sustentável, mas insere osatores sociais como principal elemento a ser considerado.

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1A linguagem é para Habermas o meio no qual se realizam as interações através da interpenetração e dependência do mundosistêmico, que corresponde à ação instrumental e o mundo vivido que se refere à ação comunicativa. Sem negar a validade ea necessidade da ação instrumental que assegura a reprodução material e institucional da vida, Habermas sustenta que a açãocomunicativa é maior que a ação instrumental. Através do conceito de descentração proposto por Piaget em que o sujeito écapaz de assumir várias perspectivas diante da ação, e da perspectividade sustentada por Selman e Mead no sentido deabandonar seu próprio ponto de vista, a ação comunicativa acaba por fornecer ao sujeito os meios de exprimir seus sentimentose angústias em relação aos outros, transformando, assim, a subjetividade em intersubjetividade.

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FORMAS DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL E OS PROJETOS DE

ASSENTAMENTOS

Os assentamentos extrativistas na Amazônia sãoalvos de um amplo leque de discussões, tendo destaqueaquelas que enfatizam o elevado percentual dedesmatamento da floresta atribuído à implementaçãode tais projetos. Frente às diferentes opiniões edebates sobre as questões que influenciam a práticado extrativismo na Amazônia e seus impactos sobre afloresta, a proposta do presente artigo consiste emanalisar essa questão não somente no âmbito dodiscurso e/ou das polarizações político-ideológicas emrelação à pertinência da reforma agrária ou seu efeitosperversos. Procura uma compreensão mais significativae aprofundada acerca das questões que envolvem osassentamentos rurais, o desmatamento da Amazônia ea possível interação entre o homem e o ambiente deforma racional.

Tomando como base o Artigo 2.º, do Capítulo 1.ºdo Estatuto da Terra, que faz menção à função socialda terra, a propriedade só desempenha integralmentea sua função social quando "favorece o bem-estar dosproprietários trabalhadores e suas famílias; mantémníveis altos de produtividade; assegura a conservaçãodos recursos naturais e cria justa relação de trabalho".Nesse sentido, Duguit (2000) contribui com a ideiasobre a propriedade no âmbito de sua função social:

A propriedade deixou de ser o direito subjetivo doindivíduo e tende a se tornar a função social dodetentor da riqueza mobiliária; a propriedade implicapara todo detentor de uma riqueza a obrigação deempregá-la para o crescimento da riqueza sociale para interdependência social. Só o proprietáriopode executar certa tarefa social. Só ele podeaumentar a riqueza geral utilizando a sua própria;a propriedade não é, de modo algum, um direitointangível e sagrado, mas um direito em constantemudança que se deve modelar sobre asnecessidades sociais ás quais deve responder(DUGUIT apud GONDINHO, 2000, p.402).

No que tange à propriedade do ponto de vista da

posse da terra e sua utilização, existem quatrocategorias que se diferenciam entre si (livre acesso,comunal, privada e estatal). Buscando diferenciar asquatro categorias, Feeny et al. (2001) explicam que,em uma comunidade de livre acesso, os recursos nãosão regulados, ou seja, são abertos a qualquer pessoa,como, por exemplo, no caso da atmosfera global. Oque não acontece em uma propriedade privada, umavez que os direitos de propriedade são reconhecidose impostos pelo Estado ao proprietário; um bomexemplo são as pastagens privadas. Já numapropriedade comunal, os recursos são manejados poruma comunidade identificável de usuáriosinterdependentes, como nas associações de usuáriosde reservatórios de água subterrâneos. Finalmente,numa propriedade estatal, como as terras destinadasà reforma agrária antes da emancipação dos projetos,os direitos aos recursos são alocados exclusivamentepelo governo que, por sua vez, toma as decisões emrelação ao acesso aos recursos e ao nível deexploração. Dessa forma, o autor prossegue sereferindo aos resultados encontrados nas evidênciasde exclusão (ao acesso ou controle de acesso aosrecursos) e a regulação de usos e usuários, assim comoexposto por Hardin (1968). A discussão central desteúltimo em seu artigo recai no fato de que, das quatrocategorias de propriedade, não apenas os regimes dedireito privado e estatal seriam eficientes ao usoregulado de forma conciliada com a sustentabilidade,como também o uso comunal dos recursos seriaeficiente do ponto de vista de Feeny et al. (2001), apartir da autorregulação dos usuários, ou seja, regrase normas impostas pelos indivíduos.

Buscando operacionalizar tais conceitos à realidadedos assentamentos na Amazônia, ainda de acordo comFeeny et al. (2001), as comunidades são capazes dese organizar e monitorar o uso dos recursos regulandonão apenas a atuação de terceiros, como também autilização dos recursos por seus membros, de forma ater como tendência manter o uso sustentável dosrecursos disponíveis. Por seu lado, Leff (2007)argumenta que "a racionalidade ambiental não é aexpressão de uma lógica, mas o efeito de um conjunto

OLIVEIRA et al.

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de interesses e de práticas sociais que articulam ordensmateriais diversas que dão sentido e organizamprocessos sociais através de certas regras, meios efins socialmente construídos".

É em consonância com essa lógica que oextrativismo foi visto nos anos 1980 como alternativaao desmatamento para os povos que sobreviviam dafloresta, principalmente após a morte de ChicoMendes2, em 1988, que lutava a favor desta "doutrina".A possibilidade de coleta de látex e frutos, além dacaça e pesca, era uma opção de sobrevivência àsfamílias e uma "esperança" aos efeitos negativos que apecuária e as áreas de pastagem estavam causandoao território amazônico. Segundo Anderson e Loris(2001), o estabelecimento de reservas extrativistas naAmazônia deve ser considerado como um importantepasso para a promoção de formas socialmente justasde uso da terra, de forma conciliar o desenvolvimentoeconômico e a conservação ambiental.

No entanto, constantemente se observamreportagens midiáticas e também estudos sobre osfrustrados resultados econômicos, sociais e ambientaisque reservas extrativistas e assentamentos na RegiãoAmazônica têm apresentado, contrariando asexpectativas dos idealizadores dos projetos desustentabilidade. De acordo com uma lista dos cemmaiores desmatadores da Amazônia, divulgada peloMinistério do Meio Ambiente – MMA (2008), oINCRA liderava a lista, seguido de empresasparticulares. Desde então, tem-se buscado investigaros motivos e alternativas que minimizassem os efeitosnegativos causados pelos projetos de assentamentos,sobretudo na Amazônia.

As técnicas primitivas utilizadas pela maioria dosseringueiros são apontadas como um dos supostosmotivos da ausência de suporte financeiro às famílias,obrigando-as a optar por atividades econômicas que

sejam mais rentáveis, mas que acarretam efeitosperversos ao meio ambiente.

Cabe dizer ainda que o uso da pecuária comoatividade econômica tem crescido como meio de vidaadicional para os moradores de assentamentos ereservas extrativistas, uma vez que as atividadesextrativistas não conseguem custear a sobrevivênciadas famílias, o que não implica necessariamente oabandono das atividades tradicionais pelos moradores.Visando contornar os efeitos nocivos tanto para asociedade quanto ao ambiente, os novos projetos deassentamento têm valorizado a participação dos atoressociais nos processos de decisão internos, o quepermite à comunidade expor as verdadeirasnecessidades e, junto às instituições, procurar"soluções" para as mesmas. Leef (2007) afirma que"os saberes técnicos e as práticas tradicionais são parteindissociável dos valores culturais de diferentesformações sociais, constituem recursos produtivos paraa conservação da natureza e capacidades próprias paraa autogestão dos recursos de cada comunidade".Assim, as populações que obtêm suas rendas a partirda exploração dos recursos florestais têm consciênciados impactos que a natureza sofre com essas atividades,e os esforços e colaborações por parte destas já têmcontribuído para a diminuição dos números dodesmatamento nos últimos anos. Diante do empenhodas comunidades e das instituições, tem-se atingidomedidas por meio de regras e acordos coletivosimportantes para a diminuição do "ritmo dasmotosserras".

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO3

Segundo Guerra (2002), o Acre é o Estadobrasileiro que mais tem se sobressaído em questõesreferentes à preservação da Amazônia. Além de suavegetação ser composta por floresta tropical aberta e

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2Chico Mendes foi o principal líder dos seringueiros nas décadas de 70 e 80, e tornou-se referência mundial da luta contra odesmatamento da Amazônia.3As informações contidas neste item são baseadas no estudo realizado por Raísa Guerra, intitulado "É possível Atingir aSustentabilidade nos Assentamentos de Reforma Agrária na Amazônia Legal? O caso do PDS São Salvador no estado doAcre" (2002).

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densa, possui a maior área de floresta tropical intacta.A autora ainda explica que o processo de ocupaçãodo Estado teve início com a valorização da borrachano mercado externo no século XIX, quando o governobrasileiro incentivou o processo de ocupação deterritórios que até então eram ocupados, na sua maiorparte, por indígenas. À mercê dos altos e baixos dociclo da borracha, os primeiros ocupantes quechegaram ao território eram de origem nordestina,especificamente cearenses que "fugiam" da seca quecastigava a região. Na década de 1960, com o governomilitar, foram implantadas as polít icas dedesenvolvimento de incentivo à ocupação e integraçãoda Amazônia, a partir das quais o Acre passou poruma nova fase de ocupação, em que os migrantesvinham não apenas do Nordeste, mas também do Sule Centro-oeste brasileiros. Naquela década tambémforam criadas instituições governamentais comoSuperintendência do Desenvolvimento da Amazônia4

– SUDAM e o Instituto Nacional de Colonização eReforma Agrária – INCRA, com o intuito de planejare gerenciar ações federais. A partir de então, deu-se oinício ao incentivo às atividades agropastoris pelogoverno, como uma tentativa de substituição aoextrativismo. Devido a esse incentivo, foram suspensosos financiamentos destinados aos seringais, o queforçou os seringalistas a venderem suas propriedadespor preços inferiores ao seu valor real, como forma dearcarem com dívidas bancárias. O resultado desseperíodo foi que, na década de 1970, o cenário eracomposto por uma grande concentração de terras nasmãos de poucos proprietários, expansão da pecuária,além de conflitos entre os novos proprietários dasterras e as populações instaladas nas propriedades.

Apesar dos primeiros projetos oficiais do INCRAno Acre terem sido implantados a partir da década de1970, foi somente nos anos 1990, durante o governo

de Fernando Henrique, que a criação de assentamentosrurais começou a ganhar mais espaço naquele Estado.Segundo dados do próprio INCRA (2008), o Estadopossui cerca de 130 projetos de assentamentos quebeneficiam, aproximadamente, 27.915 famílias. É nessaconjuntura que se iniciaram as discussões a respeito docrescente desmatamento na Amazônia, em decorrênciado aumento no número de projetos implantados. Oprincipal argumento era que, com as políticas de incentivoà ocupação desses territórios, na década de 1960, e acriação dos assentamentos, houve um aumento dasatividades agropastoris, principalmente a pecuária.

Neste momento de crescente preocupação com ofuturo da Amazônia, mesmo que permaneça no âmbitoda retórica e, devido às críticas da mídia e deambientalistas ao desempenho dos assentamentosrurais e à política de desenvolvimento que resultou emcomprometedores feitos econômicos, sociais eambientais, é que se tem buscado um modelo diferentede organização dos assentamentos. É importantedestacar que cada modelo de assentamento (ProjetoAssentamento, Projeto Agroextrativista) é implantadoa partir das características ambientais da área, fato quejustifica não se utilizar apenas um modelo. Os ecólogoshumanos alertam, no entanto, que tais políticasprecisam ser modificadas para acomodar diferençaslocais, uma vez que nenhum padrão global é aplicávela todos os comuns do mundo. É somente no campo,diariamente registrando práticas culturais e ciclosecológicos, que se pode entender a real complexidadede terras historicamente desenvolvidas e socialmenteesculpidas e de sistemas de posse de recursos(GOLDMAN, 2001, p.50).

PROJETO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – PDSNOVA BONAL

No que se refere ao Projeto de Desenvolvimento

OLIVEIRA et al.

4SUDAM é uma autarquia do governo federal do Brasil, criada no governo de Castelo Branco, em 1966, com a finalidade depromover o desenvolvimento da Região Amazônica. Veio a substituir uma outra autarquia denominada Superintendência doPlano de Valorização Econômica da Amazônia – SPVEA, criada por Getúlio Vargas em 1953, cujo objetivo também era odesenvolvimento da Região Amazônica.

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Sustentável – PDS Nova Bonal, localizado nomunicípio de Senador Guiomard, seu processo deconstituição, de acordo com dados do documentoPlano de Desenvolvimento do Assentamento – PDAdo PDS Nova Bonal (2008), o assentamento teveorigem ainda nos anos 1970, quando empresários doGrupo Bonal adquiriram a área para exploração dasseringas. As primeiras famílias de trabalhadoreschegaram às terras em 1972 para trabalhar napropriedade onde se iniciou o plantio dos seringais paraextração do látex. Com a mudança de foco econômiconos anos 1980, teve início o plantio de pupunha paracomercialização de palmito; com isso, váriosseringueiros foram demitidos, devido ao fato do manejoda nova cultura demandar menos mão de obra.

Apesar de demitidos, a maioria continuouinformalmente na área, praticando o extrativismo. Aindade acordo com o documento anteriormente citado, em1990 os funcionários que haviam sido demitidos nofinal dos anos 1970, e que continuavam a sobreviverda exploração do látex, organizaram-se em umaassociação a fim de reivindicar antigos direitostrabalhistas. A ação tomou proporções que permitiramque areão imóvel fosse reivindicado para fins dereforma agrária e, em 2005 o INCRA, em negociaçãocom os proprietários, adquiriu a área para constituiçãode um PDS destinado às famílias que ali já viviam eoutras de trabalhadores sem-terra. Ainda de acordocom banco de dados do INCRA (2008), o projetopossui uma área estimada em 10.447.800 há, dos quaisse estima que apenas 176 ha foram desmatados.

Sendo assim, no que se refere ao processo demobilização e organização do PDS Nova Bonal,prioritariamente visou a uma produção agroextrativistae agropecuária que garantisse a vida digna das famílias,ao mesmo tempo em que se pretendia levar emconsideração a manutenção de característicasambientais. Esse fato demonstra a preocupação dasfamílias assentadas com o meio ambiente, uma vez queas mesmas já conheciam diversos exemplos, inclusiveem assentamentos rurais próximos, de situações emque a não preocupação com os recursos naturais trouxeconsequências negativas sobre a qualidade da água,

solo e disponibilidade de recursos extrativistas.A organização social do PDS Nova Bonal se fez

em três agrovilas – Bom Destino, Morada Nova eRetiro –, mantendo a estrutura de organização territorialexistente antes da criação do assentamento. Toda ainfraestrutura existente no imóvel antes da criação doassentamento é atualmente utilizada de forma coletivae comunitária, como, por exemplo, a casa-sede queatualmente é o escritório da cooperativa dosassentados.

A participação das 150 famílias beneficiadas duranteo processo se fez evidente, as fases de definição edivisão das áreas produtivas do assentamento foramrealizadas no decorrer de reuniões entre as famíliasassentadas e a equipe do INCRA. O objetivo eraidentificar os principais pontos de delimitação elocalização das agrovilas, bem como outros aspectosimportantes na implementação do projeto, comotamanho das áreas de produção florestal – APF`s,áreas de preservação permanente – APP`s, edistribuição dos ramais.

No que tange à dimensão produtiva do PDS NovaBonal, a participação das famílias também foi importantena elaboração do programa produtivo do assentamento.Foram discutidas em assembleias questões ligadas aoestímulo à produtividade dos produtos já existentes e àadoção de outras atividades de diversificação dentroda cadeia produtiva do assentamento. Todas essasdiscussões em espaços coletivos visavam àsustentabilidade econômica ao longo do tempo, àelevação dos índices sociais e à manutenção da qualidadeambiental do PDS Nova Bonal. As principais culturasindicadas pelas famílias foram seringa e pupunha,atividades já exploradas na área. Fato que evidencia oconhecimento que parte das famílias dispunha referenteao manejo dessas culturas.

De acordo com o INCRA (2008), a antiga FazendaBonal possuía um complexo industrial parabeneficiamento do palmito e da pupunha. Com aaquisição do imóvel, toda a infraestrutura foi repassadapara os assentados que criaram a Cooperativa Agro-extrativista Bom Destino LTDA – CAEB, que éresponsável pela unidade de processamento e pela

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comercialização da produção palmito com a marca"Nova Bonal". Essa cooperativa possui um papelimportante na organização social das famíliasassentadas, não só pelo fato de fortalecer a organizaçãoassociativista, mas também por realizar um amplo

trabalho entre os jovens residentes no PDS NovaBonal, à medida que estimula a formação de lideranças,com intuito de conduzirem o empreendimento no futuro.O quadro abaixo reúne as principais atividadesexistentes no assentamento.

OLIVEIRA et al.

Quadro 1 – Principais atividades praticadas pelas famílias do PDS Nova Bonal.Fonte: INCRA (2008).

Atividade PDS Nova Bonal Atividades agrícolas Arroz, feijão, milho, mandioca

Extrativ ismo Borracha, castanha, Açaí, pupunha, palmito

Produção animal Área destinada à criação de bovinos, suínos, aves, eqüinos

Principal entrave Necessidade de fortalecimento e consolidação dos serviços de assistência técnica

Ao observar as informações do quadro acima, nota-se que as culturas de subsistência mais trabalhadaspelas famílias beneficiadas são milho, arroz, feijão emandioca. Além dessas culturas, os assentados tambémfazem recorrem à horticultura e a pomares, sendo asculturas mais comuns, nesses casos, mangas, melancia,abacaxi, abóbora e quiabo. No incremento aoextrativismo, identifica-se a borracha nativa, castanhado Brasil e outras essências vegetais.A pecuária também aparece entre as atividadeprodutivas praticadas pelas famílias no PDS NovaBonal: os assentados trabalham com a criação de gadode leite e corte, apesar de a produção de leite aindaser insuficiente para atender à demanda das famílias. Amaioria das famílias realiza criação de pequenosanimais, como cabras, suínos e aves, geralmentedestinados ao autoconsumo e, eventualmente, à vendados excedentes.

Fazendo uma pequena alusão aos fundamentos queinstituem a criação dos PDS's, de que, por meio daconsciência da importância da preservação doambiente, se devem buscar o bom uso e o manejo dosrecursos naturais ao mesmo tempo em que se promoveo desenvolvimento socioeconômico das famíliasassentadas, destaca-se na constituição do PDS NovaBonal, o interesse e a participação das famílias nos

processos de decisão envolvendo a implementação doprojeto. Essas circunstâncias favorecem tanto odesenvolvimento das atividades ligadas ao extrativismo,o bem-estar e a qualidade de vida das famílias quantoas questões que atendem à preservação do ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o caso apresentado, o PDS NovaBonal, pode-se dizer que essa modalidade de projetode reforma agrária é uma alternativa com diretrizes quese apoiam no tripé que considera aspectos ambientais,sociais e econômicos.

Sendo assim, nota-se uma preocupação do Estadocom as questões ambientais, ao criar novasmodalidades de projetos de reforma agrária quebuscam contornar os impactos negativos provocadospor outros tipos de modalidades de projetos de reformaagrária. O Projeto de Desenvolvimento Sustentável –PDS é uma modalidade que tem evitado que a pecuáriase torne atividade predominante, uma vez que tentaarticular outros tipos de atividades ao extrativismo deforma a garantir sustentabilidade das pessoas e doambiente.

Além disso, entende-se a que criação dessamodalidade de projeto de assentamento aponta parauma convergência de fatores que, em conjunto,

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qualificam o PDS como de grande potencial. No casodo PDS Nova Bonal, destacam-se fatores como aexistência da cooperativa e sua forma de organizaçãoparticipativa em torno das necessidades de açõescoletivas e comunitárias, o que atribui ao projeto maiorconsistência, tanto social quanto política e econômica.

Outro fator que contribui para que o PDS NovaBonal seja considerado referência na implementaçãodessa modalidade de assentamento é a trajetória dasfamílias, que, por terem vivenciado conjuntamente todasas fases do processo de luta pela área em que se constituio projeto, fizeram com que a coesão social e osentimento de pertencimento se aflorassem.

A localização do projeto nas proximidades da sededo município e também da capital estadual, RioBranco, favorece o acesso fácil a mercados, ampliandoassim a possibilidade de o assentamento se inserir nadinâmica econômica municipal e regional e,conseqüentemente, amplia também a capacidade deas famílias obterem maior renda.

Vale ressaltar que a realidade apresentada nãopode ser tomada como unanimidade: muitos projetosde cunho sustentável por diversos fatores acabam porreproduzir o padrão dos ditos assentamentostradicionais. O que se observa geralmente é que seapresentam os descompassos normativos, conceituaise práticos em torno desses projetos. Assim, as açõesno plano normativo, ou seja, das leis, e neste caso naespecificação do tipo de assentamento, sobretudo naAmazônia brasileira, não são antecedidas doconhecimento das práticas locais e da trajetória dosatores sociais em questão. Estão muito mais emsintonia com o atual discurso, parte científico, parteideológico, sobre sustentabilidade, que justamentepreconiza a necessidade da conservação da floresta,mas que se torna um descompasso por nãoproblematizar e tampouco tentar compatibilizar arealidade dos atores rurais dessa região, na qual seobservam práticas postuladas como não sustentáveiscomo a caça, com a realidade que se pretende lograr.Isso porque tal qual nas políticas de caráter top down,ou seja, de cima para baixo, características doperíodo militar no Brasil, atualmente se incorpora o

termo sustentabilidade como a noção mais justa dodesenvolvimento, não apresentando um conhecimentoprévio das trajetórias sociais e o que as motiva.

Ademais, no atual debate envolvendo susten-tabilidade, estão pouco claros os aspectos formais quepossibilitam às comunidades obter renda pela utilizaçãoe/ou preservação da biodiversidade, sobretudo noBrasil, que, contrariamente às políticas de desenvol-vimento rural como da União Europeia, não pensa emformas de remunerar o fator sustentabilidade dos atoresrurais por representar uma externalidade positiva paratoda a sociedade.

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A DIMENSÃO DA QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS NACONSTRUÇÃO DO BARÔMETRO DA SUSTENTABILIDADE

BATALHÃO, André Cavalcante da Silva. Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente peloCentro Universitário de Araraquara – UNIARA. Especialista em Gestão e Manejo Ambiental na Agroindústria

pela Universidade Federal de Lavras – UFLA. E-mail: [email protected], Denilson. Professor da Universidade Federal de Goiás – UFG/EEC e pesquisador do Programa

de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente do Centro Universitário de Araraquara –UNIARA. E-mail: [email protected].

RESUMO

Os Indicadores de Sustentabilidade são parâmetros que caracterizam acontecimentos passados, evidenciamretratos situacionais do presente e auxiliam na projeção de cenários futuros em relação à sustentabilidade. Essesinstrumentos permitem verificações periódicas do processo de desenvolvimento sustentável em diversas escalas.O Barômetro da Sustentabilidade se encaixa nessa proposta, pois avalia, a partir do tratamento igualitário entrehomem e natureza, o grau de sustentabilidade e vem sendo utilizado do âmbito local ao nacional. Dentro dessaperspectiva, o objetivo básico da presente pesquisa foi analisar a dimensão da qualidade dos recursos hídricosna elaboração desse instrumento, tendo como exemplo o município de Ribeirão Preto. A metodologia adotadateve como principal fundamento o Ciclo de Sete Estágios para aplicação do Barômetro da Sustentabilidade. OBarômetro da Sustentabilidade, como ferramenta de avaliação, se revelou útil na contribuição para o entendimentode fenômenos naturais, sendo relevante para a análise dos recursos hídricos em escala local. Esse instrumentoé parte componente de um processo de gestão ambiental, não podendo ser considerado de forma isolada. OBarômetro da Sustentabilidade mostrou que Ribeirão Preto está em um nível razoável em relação aos recursoshídricos analisados e considerados na pesquisa. O índice do tema Água, originado pela ferramenta de avaliação,apresentou o maior valor dentre os outros temas analisados no Subsistema Ecológico para o município, estandoem conformidade ambiental e sanitária.

PALAVRAS-CHAVE: Indicadores de sustentabilidade; Recursos hídricos; Barômetro da Sustentabilidade.

THE DIMENSION OF HYDRIC RESOURCES QUALITY IN THE CONSTRUCTION OF THE SUSTAINABILITY BAROMETER

ABSTRACT

The Sustainability Indicators are parameters that characterize past events, evidence situational portraits of thepresent and assist in projecting future scenarios in relation to sustainability. These instruments allow periodicchecks of the process of sustainable development at various scales. The Barometer of Sustainability fits thisproposal, because, treating men and nature equally, it assesses the degree of sustainability and has been usedfrom local to national scope. Within this perspective, the basic aim of this research was to analyze the qualitydimension of water resources in the development of this instrument, taking as an example the city of RibeirãoPreto, SP, Brazil. The adopted methodology had as its main foundation the Seven Stages Cycle for implementingthe Barometer of Sustainability. The Barometer of Sustainability as an assessment tool has proved to be useful incontributing to the understanding of natural phenomena, being relevant to the analysis of water resources at thelocal level. This tool is a component part of an environmental management process and cannot be consideredalone. The Barometer of Sustainability showed that Ribeirão Preto is at a reasonable level in relation to the waterresources which were analyzed and considered in the research. The index of the theme Water, originated fromthe assessment tool, showed the highest value among the other topics discussed in the Ecological Subsystem forthe city, being in health and environmental compliance.

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KEYWORDS: Sustainability indicator; Water resources;Sustainability Barometer.

INTRODUÇÃO

O processo de urbanização e industrialização nasúltimas décadas tem ocorrido sem considerar de formaefetiva os inúmeros impactos negativos gerados nossistemas ambientais. Nessa perspectiva, os indicadoresde sustentabilidade servem como matéria-prima paraauxiliar a edificação e manutenção de políticas públicas.

Os indicadores direcionados para o acompa-nhamento do Desenvolvimento Sustentável podem serdefinidos como ferramentas metodológicas quepermitem transmitir informações técnicas de uma formasintética, conservando o significado original dos dados,aceitando, dependendo do objeto estudado, apenasas variáveis que melhor espelham os objetivos dapesquisa. Esses indicadores quantificam e qualificamfenômenos, acontecimentos e realidades complexas,tendo papel relevante nos processos decisórios.

A ferramenta de avaliação escolhida para a presentepesquisa foi o Barômetro da Sustentabilidade – BS,pois permite entender, avaliar e comunicar a sociedadesobre as interações entre homem e bioesfera. O BS éuma metodologia de avaliação da sustentabilidadedesenvolvido pelo pesquisador Prescott-Allen,evidenciada a partir da obra The Wellbeing of Nations,em 2001, apoiado pela International Union forConservation of Nature and Natural Resources –IUCN e pelo International Development ResearchCenter – IDRC. A partir dessa ferramenta construímoso nível de sustentabilidade dos recursos hídricos emescala local.

O objetivo principal deste trabalho foi identificar aimportância do tema Água para a construção doBarômetro da Sustentabilidade, que é uma ferramenta

de acompanhamento do processo de sustentabilidade,tendo como exemplo o município de Ribeirão Preto(SP) – Brasil.

REFERENCIAL TEÓRICO

O Barômetro da Sustentabilidade faz parte doSystem Assessment Method – SAM, e trabalha nomonitoramento das condições humanas e ecológicasrelacionadas ao progresso do desenvolvimentosustentável. Foi criado para aumentar a percepção doconjunto e entender a interação entre sociedade e omeio ambiente, de forma coerente, e para que hajaampla visão desses dois subsistemas. Traz em suaessência a necessidade de integrar e organizar dadospara, de forma efetiva, auxiliar a representação dodiagnóstico ambiental. Segundo o autor Prescott-Allen(2001), o método está em conformidade com osPrincípios de Bellagio para avaliar o DesenvolvimentoSustentável. O método foi projetado em vários níveisgeográficos, incluindo nacional, regional, provincial emunicipal, mas é menos adequado em escalas muitopequenas (abaixo de 100 km²).

Robert Prescott-Allen, em sua obra The Wellbeingof Nations: A Country-by-Country Index of Qualityof Life and the Environment, de 2001, traz comohipótese que o Desenvolvimento Sustentável se dá apartir da combinação do bem-estar humano com obem-estar ecológico. Essa hipótese é evidenciada nametáfora do Ovo do Bem-Estar. Essa metáforademonstra que: Desenvolvimento sustentável = bem-estar humano + bem-estar do ecossistema. Assimcomo um ovo só é bom se a clara e a gema estãobons, então a sociedade está bem e sustentável somentese as pessoas e os ecossistemas estão bem (GUIJT etal. 2001a, p. 10). A Figura 1 permite visualizar ahipótese colocada pelo autor:

BATALHÃO & TEIXEIRA

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IMPORTÂNCIA DO BARÔMETRO

A ferramenta de avaliação Barômetro daSustentabilidade se mostra efetiva em escala global alocal. Ela contribui para percepção da complexidadede um sistema ou território, facilitando o entendimentodos fenômenos sociais e naturais dentro do universode pesquisa, provendo o acompanhamento doDesenvolvimento Sustentável e auxiliando a tomadade decisão. O BS pode auxiliar os governos noprocesso de gestão para diferentes dimensões deanálise, pois ele reflete informações do Sistema,Subsistemas, Temas e Indicadores. O BS é partecomponente do processo de gestão ambiental, nãopodendo ser considerado de forma isolada. Cabedestacar que a utilização do BS como uma ferramentaque contribui sensivelmente para a sustentabilidadepromove não só a reflexão sobre o real significado doDesenvolvimento Sustentável, como também acontinuidade e manutenção da qualidade ambientallocal, compatibilizando políticas públicas ambientaistambém no âmbito municipal.

IMPORTÂNCIA DO TEMA "RECURSOS HÍDRICOS" PARA

O BARÔMETRO

Em relação aos recursos hídricos, por exemplo,problemas de escassez, qualidade e contaminação daságuas vêm afetando significativamente o equilíbrio doecossistema ambiental, por meio da desestruturaçãodo ambiente físico-químico e da dinâmica natural dascomunidades. Para avaliar quão impactado se encontrao ecossistema ambiental, tem sido utilizada a mediçãodas alterações nas concentrações das variáveis físicas,químicas e microbiológicas (coliformes totais e fecais),que se constituem como ferramentas fundamentais nomonitoramento, na classificação e no enquadramentode rios e córregos em classes de qualidade de água epadrões de potabilidade e balneabilidade humanas(GOULART; CALLISTO, 2003). Assim, pode-sedefinir a qualidade de um ambiente aquático como umconjunto de concentrações, especificações e elementosfísicos de substâncias orgânicas e inorgânicas e dacomposição e condição da biota aquática em um corpod'água (GASTALDINI; MENDONÇA, 2001). Alémdisso, o uso e a ocupação do solo influenciam naqualidade e na quantidade dos recursos hídricos deuma bacia hidrográfica, tornando fundamental sua

A dimensão da qualidade dos recursos hídricos...

Figura 1 – O Ovo do Bem-Estar, igualdade de tratamento entre pessoas e ecossistema.Fonte: Guijt et al. (2001c).

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análise, pois as alterações geradas decorrem,principalmente, de atividades antrópicas, comodesmatamento, reflorestamento e urbanização,promovendo impactos de grande importância sobre ocomportamento hidrológico da bacia e, em particular,no que se refere ao escoamento superficial. OBarômetro da Sustentabilidade, a partir de suas escalasde desempenho, em que são estabelecidos os limitespara cada grau de sustentabilidade, propicia umdiagnóstico analítico de dados quantitativos da água eproporciona um retrato qualitativo da variávelanalisada.

METODOLOGIA

A metodologia adotada nesta pesquisa é

fundamentada na aplicação da ferramenta de avaliaçãoda sustentabilidade, Barômetro da Sustentabilidade, comcaracterísticas exploratória e descritiva, a partir de umalocalidade delimitada como o universo da investigação(Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, Brasil), e recortetemporal 2010-2011 para o tema Água.

A seleção dos indicadores para compor oBarômetro da Sustentabilidade se dá a partir de ummétodo hierarquizado, composto por sete estágios, queajuda a justificar a importância e relevância dosindicadores escolhidos em relação ao conceito deDesenvolvimento Sustentável, tornando perceptíveisdeficiências e necessidades do espaço físicoconsiderado no estudo. Os sete estágios estãoapresentados na Figura 2.

BATALHÃO & TEIXEIRA

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Figura 2 – Ciclo de sete estágios para aplicação do Barômetro da Sustentabilidade.Fonte: Guijt et al. (2001c).

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Dentro os procedimentos de análise das variáveisdo tema Água, considerando o sistema (objeto)adotado na pesquisa, foram levados em consideraçãoa disponibilidade dos dados e o que vai ser medidopelos indicadores escolhidos. Assim, conseguimosclarificar as dimensões de sustentabilidade e agrupar oconceito que cada indicador traz isoladamente,gerando um índice. Com a utilização do Ciclo de SeteEstágios podem ser analisados os elementos esubelementos que requerem atenção prioritária,fornecendo informações das causas dos principaisproblemas e quais ações são necessárias comoresposta. O Barômetro da Sustentabilidade fornecefotografias das dimensões ecológicas e humanas, quesão complementares e exercem impacto uma sobre aoutra no processo de sustentabilidade, sem favorecernenhumas das duas (Subsistema Humano e Ecológico).

A transposição do valor numérico do indicador para

a Escala do Barômetro da Sustentabilidade é feita pormeio de uma fórmula de interpolação linear simples(KRONEMBERGER; CARVALHO; CLEVELÁRIOJUNIOR, 2004), que indica o intervalo (dimensão)de qualidade em que determinado indicador estáalocado:

Onde: A = limite anterior do intervalo que contém X. P = limite posterior do intervalo que contém X.

Depois de feita a transposição para a escala doBS, visualizamos em qual setor (dimensão) desustentabilidade o indicador se encaixa. A Tabela 1demonstra o alcance dos setores do BS.

BATALHÃO & TEIXEIRA

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As variáveis consideradas na presente pesquisa, no tema Água, são: o IQA (Índice de Qualidade de Água),IVA (Índice de Qualidade de Proteção da Vida Aquática) e IPAS (Indicador de Potabilidade de ÁguaSubterrânea), como apresentado na Tabela 2.

A dimensão da qualidade dos recursos hídricos...

Pontos

Setor Alcance Topo Definição

Bom 100-81 100 Desempenho desejável, objetivo plenamente

alcançado.

Razoável 80-61 80 Desempenho aceitável, objetivo quase alcançado.

Médio 60-41 60 Desempenho neutro ou de transição.

Pobre 40-21 40 Desempenho indesejável.

Ruim 20-1 20 Desempenho inaceitável.

Base 0 0 Base da escala.

Tabela 1 – Os cinco setores do Barômetro da Sustentabilidade.

Fonte: Modificado de Prescott-Allen, 2001.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

O tema Água apresentou o valor de 71,5 na Escalado BS, considerado como potencialmente sustentável.Dentre os partícipes desse tema, estão os indicadoresIQA e IPAS, com melhor e pior desempenho,

BATALHÃO & TEIXEIRA

Tabela 2 – Tema, Indicadores, Fontes para elaboração das Escalas de Desempenho e ano das informações.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Tema

Indicadores

Fonte e referência para elaboração

da Escala de Desempenho

Ano da

informação

ÁG

UA

IQA (Índice de Qualidade

de Água)

Fonte: CETESB (2012). O IQA varia em

uma escala de 0 a 100 (CETESB, 2012),

mes mo critério adotado para escala de

desempenho.

2011

IVA (Índice de Qualidade

de Proteção da Vida

Aquática)

Fonte: CETESB (2012). Escala de

desempenho elaborada de acordo com as

faixas de classificação do IVA.

2011

IPAS (Indicador de

Potabilidade das Águas

Subterrâneas)

Fonte: SÃO PAULO (2011). Escala de

desempenho enquadrada nas faixas de

qualidade consolidadas para o IPAS.

2010

respectivamente. A Tabela 3 aponta onde estálocalizado o nível de sustentabilidade, de acordo coma Escala do Barômetro da Sustentabilidade, osindicadores para Ribeirão Preto e os seus limites deintervalo para o tema Água.

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A dimensão da qualidade dos recursos hídricos...

Tabela 3 – Escalas de Desempenho dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável de Ribeirão Preto-SPe sua associação com a Escala do Barômetro da Sustentabilidade.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Indicadores Grau no dos indicadores

no BS

Grau do Tema

Estado do te ma em relação ao Desenvolvimento Sustentável

IQA (Índice de Qualidade de

Água) 44

71,5 Razoável IVA (Índice de Qualidade de

Proteção da Vida Aquática)

74

IPAS (Indicador de Potabilidade de Água Subterrânea)

97

IDS

Valores dos IDS

para RP

ES CALA DO BARÔMETRO DA S USTENTABILIDADE

0 – 20 21 – 40 41 – 60 61 – 80 81 – 100

Ruim Pobre Médio Razoável Bom

ES CALA DE D ES EMPENHO DOS INDICADORES DE RP

IQA (Índice de Qualidade

de Água) 39 =19 >19 – =36 >36 – =51 >51 – =79

>79 – 100

IVA (Índice de Qualidade

de Proteção da Vida

Aquática)

2,8 =6,8 =6,7 – >4,6 =4,5 – >3,4 =3,3 – >2,6 =2,5

IPAS (Indicador de Potabilidade das Águas

Subterrânea)

95,8 0 – 33 - >33 – 67 - >67 – 100

Valores na Escala do BS

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BATALHÃO & TEIXEIRA

A qualidade dos recursos hídricos, a partir dasvariáveis adotadas nesta pesquisa, apresentou-seaceitável, ou seja, possuem significados ambientais esanitários admissíveis na avaliação do ambienteaquático. O tema Água está inserido na faixa desustentabilidade "razoável'' na escala do Barômetro daSustentabilidade (grau 71,5), influenciandopositivamente o desempenho do subsistema ecológico.

O monitoramento da qualidade das águas interioresdoces é composto por redes de amostragem manual eautomática, que têm como foco um diagnóstico dosusos múltiplos dos recursos hídricos. A análise dasdistribuições geográficas dos pontos por UGRHI,município e corpo hídrico constitui-se em ferramentapara subsidiar a avaliação dos rios e reservatórios(CETESB, 2012). Segundo a CETESB (2012), a redede água doce é constituída por 354 pontos de

amostragem. Foram incluídos 12 novos pontos decoleta e excluídos 2 pontos, resultando em umincremento de 10 pontos de amostragem. O ponto decoleta escolhido para a presente pesquisa estálocalizado em um manancial no município de RibeirãoPreto-SP, Lat. S 21 05 13 Long. W 47 48 56, códigoCETESB RIPE04900, a jusante da ETE de RibeirãoPreto (CETESB, 2012).

Por estar a jusante da ETE, o RIPE04900 forneceum melhor retrato do impacto que o ecossistema alilocalizado pode sofrer, mostrando-se um indicadorfundamental para o entendimento das necessidadesambientais do local. De acordo com a CETESB (2012),a rede de monitoramento empregada no ponto decoleta escolhido é denominada Rede Básica, tipo demonitoramento utilizado em 84% dos pontos de redede água doce em 2011, e tem como objetivo fornecer

A representação gráfica (Figura 3) mostra odesempenho do tema Água, na escala do Barômetro

Figura 3 – Desempenho dos temas no Subsistema Ecológico na Escala do BS.Fonte: Elaborado pelos autores.

da Sustentabilidade, no Subsistema Ecológico, nacidade de Ribeirão Preto.

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A dimensão da qualidade dos recursos hídricos...

um diagnóstico geral dos recursos hídricos,caracterizando variáveis físicas, químicas e biológicas.A média do IQA do RIPE04900, em 2011, foi de 39,e de 44 na escala do BS, resultado considerado comointermediário. O Gráfico 1 demonstra a distribuição

de valores do IQA nos meses considerados pelaCETESB no ano de 2011 (mais recentes valoresdivulgados), bem como o melhor desempenho do mêsde novembro e o ponto crítico do ano, que foi no mêsde maio.

Gráfico 1 – IQA do RIPE04900 em 2011.Fonte: Elaborado pelo autor com dados da CETESB, 2012.

O Estado de São Paulo apresentou uma distribuiçãopercentual das categorias do IQA, na UGRHI 4 –Pardo, onde o ponto de coleta RIPE04900 estáinserido, de 83% como bom e 17% como regular em2011 (CETESB, 2012). Em um estudo de escalanacional, realizado pelo IBGE em 2010, que selecionoucorpos d´agua localizados em algumas unidades dafederação (Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro,São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul), podemosencontrar dois corpos d´agua que apresentam valoresabaixo e igual ao do IQA encontrado para a cidade deRibeirão Preto: Zona Metropolitana/Alto Tietê, em SãoPaulo, onde de 1992 a 2008 seu IQA não passou dovalor de 33,4, que foi o maior índice alcançado, noano de 1996. O corpo d´agua Rio Iguaçu/ZonaMetropolitana, no Paraná, teve seu último valor de IQAdivulgado de 31, em 2006, um declínio de oito pontosem relação a 2005, ano em que o IQA de 2011 doRIPE04900 foi semelhante ao corpo d´agua

paranaense (IBGE, 2010).A falta de saneamento básico é um dos maiores

problemas ambientais e sociais do Brasil, pois o baixopercentual de tratamento dos esgotos coletados elançados em corpos d'água se reflete no alto valor deDBO e baixo IQA dos rios que cortam grandes áreasurbanas, atravessam zonas industrializadas, ou passampor muitas cidades de médio e grande portes. Acontaminação de rios por efluentes domésticos,industriais e resíduos sólidos encarece o tratamentode água para abastecimento público e começa a gerarsituações de escassez de disponibilidade de água dequalidade em áreas com abundantes recursos hídricos(IBGE, 2010).

O IPAS teve o desempenho de 97 pontos na escalado BS, considerado potencialmente sustentável,contribuindo para o bom desempenho do tema noSubsistema. O IPAS da UGRHI 4 (Tabela 8, página110) Pardo, da qual Ribeirão Preto é componente,

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Analisando o desempenho das UGRHIs, em 2010,último ano em que foram geradas as informações, noEstado de São Paulo observou-se que as UGRHI 2(Paraíba do Sul) e 16 (Tietê/Batalha) tiveram os pioresíndices de potabilidade de água subterrânea, com 60%e 55,6% respectivamente; entretanto, permanecemenquadradas com desempenho regular. Destacam-seainda, na mesma faixa, as UGRHI 5 (Piracicaba/Capivari/Jundiaí), 18 (São José dos Dourados) e 21(Peixe). As UGRHIs 12 (Baixo Pardo/Grande) e 22

(Pontal do Paranapanema) atingiram 100% dasamostras dentro dos padrões de potabilidade. Éimportante salientar que a distribuição dos pontos deamostragem é desigual nas UGRHIs, uma vez queexistem UGRHIs com maior e menor número depontos de amostragem. De 2006 a 2010, o IPAS doEstado de São Paulo apresentou seu maior índice em2006 (86,9%) e o menor em 2007 (77,7%) (SÃOPAULO, 2011), percebido com a apresentação doGráfico 3.

atingiu em sua última análise (em 2010) o valor de95,8%, o quarto maior valor do Estado de SãoPaulo. Para análise de água subterrânea no Estadode São Paulo em 2010, foram monitorados 235poços distribuídos pelas UGRHIs, totalizando 456amostras ao longo do ano, e a UGRHI 4 – Pardopossuía 12 pontos de amostragem (SÃO PAULO,2012). Dentre os pontos monitorados, o IPAS noEstado, a partir da proporção de amostras de água

subterrânea bruta, foi classificado como potável, ouseja, em conformidade com os padrões depotabilidade do Ministério da Saúde (SÃOPAULO, 2011). A partir dos dados do índice de2006 a 2010, chegou-se a uma média do IPAS parao Estado de São Paulo de 81,16%, consideradacomo um bom padrão de qualidade. O Gráfico 2apresenta uma comparação do IPAS por UGRHI,em 2010.

Gráfico 2 – Comparação do IPAS por UGRHI no Estado de São Paulo em 2010.Fonte: São Paulo, 2011.

BATALHÃO & TEIXEIRA

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Pode-se perceber uma leve, mas gradual, evoluçãodesse indicador a partir de 2007, período no qual apolítica ambiental paulista se tornou mais efetiva, coma formulação de Projetos Ambientais Estratégicos –PAE, que estabelece um modelo organizacional denatureza matricial, integrando as diversas áreas deatuação da Secretaria de Meio Ambiente do Estadode São Paulo (SÃO PAULO, 2010). Dentre os 21projetos elaborados para o cumprimento das metasestabelecidas, estão relacionados ao tema Água apreocupação com os aquíferos e o esgoto tratado. Deacordo com São Paulo (2011), a meta para do índicepara 2020 é alcançar um valor acima de 85%.

Dentre outros estudos realizados a partir doBarômetro da Sustentabilidade, dois foramdesenvolvidos a partir de localidades. Tratando-se dotema Água, as cidades de João Pessoa e CampinaGrande, ambas cidades paraibanas, apresentaramíndices temáticos na mesma faixa de sustentabilidadede Ribeirão Preto. João Pessoa apresentou o índicetemático de 76,39, considerado como razoável oupotencialmente sustentável para o tema Água(LUCENA; CAVALCANTE; CÂNDIDO, 2011), e

Campina Grande apresentou o índice 79,96(BARROS; AMORIM; CÂNDIDO, 2009).

CONCLUSÕES

O Barômetro da Sustentabilidade é partecomponente de um processo de gestão ambiental, nãopodendo ser considerado de forma isolada. O BS podeser utilizado para o aprimoramento de planejamentosdirecionados aos recursos hídricos e na elaboraçãode planos estratégicos de bacias hidrográficas. Issocontribui para a identificação de áreas críticas, o queajuda a minimizar os impactos negativos (degradação)e gera matéria-prima para a elaboração de políticaspúblicas que amparem e preservem a qualidade daágua para o consumo humano e animal.

Esse instrumento mostrou que Ribeirão Preto estáem um nível razoável em relação aos recursos hídricosanalisados e considerados na pesquisa. O índice dotema Água, originado pela ferramenta de avaliação,apresentou o maior valor dentre os temas consideradose analisados na pesquisa (Atmosfera, Solo eBiodiversidade) no Subsistema Ecológico para omunicípio.

Gráfico 3 – Evolução do IPAS do Estado de São Paulo, de 2006 a 2010.Fonte: São Paulo, 2011.

A dimensão da qualidade dos recursos hídricos...

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As intervenções governamentais devem serorientadas para o equilíbrio entre bem-estar humano eecológico, e assegurar que a água seja disponibilizadacontinuamente e com um nível satisfatório de qualidadee segurança. A aplicação do BS fornece informaçõescriteriosas, que são um passo fundamental para aconscientização da sociedade e da gestão do poderpúblico em relação à vulnerabilidade dos recursoshídricos e à oferta de água na localidade. Com aedificação de bases informacionais contendo dados dosrecursos hídricos, podemos promover a conservaçãoe o uso sustentável da água, internalizando tais questõesnas políticas públicas do município, tratando a questãode forma participativa.

REFERÊNCIAS

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SÃO PAULO. Painel da Qualidade Ambiental2011. São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente/Coordenadoria de Planejamento Ambiental, 2011.132 p.

BATALHÃO & TEIXEIRA

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__________. Política Ambiental Paulista 2007-2010: Relatório de cumprimento de metas eresultados. São Paulo: Secretaria do MeioAmbiente, 2010. 112 p.

__________. ZEE – Zoneamento ecológico-econômico: base para o desenvolvimentosustentável do Estado de São Paulo. São Paulo:Secretaria do Meio Ambiente, 2012. 224 p.

RECEBIDO EM 31/5/2013ACEITO EM 17/7/2013

A dimensão da qualidade dos recursos hídricos...

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CONFLITO SOCIOAMBIENTAL E POLUIÇÃO INDUSTRIAL: OCASO DA BACIA DO RIO GRAMAME-MUMBABA – PB

NUNES, Edilon Mendes. Professor a djunto das Faculdades ASPER e FASER. Doutorando emDesenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA – Universidade Federal da Pernambuco. Mestre emDesenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA – Universidade Federal da Paraíba. Graduado em

Administração de Empresas e Ciências Sociais. João Pessoa-Paraíba. E-mail: [email protected], Loreley Gomes. Professora e coordenadora do Programa de Pós-graduação em Sociologia –

PPGS – Universidade Federal da Paraíba. Pós-doutora pela Southern Oregan University. Professora doPrograma de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA-UFPB.

E-mail: [email protected].

RESUMO

Este é um estudo de Ecologia Política. Trata-se da análise do Conflito Socioambiental de poluição industrial naBacia do Rio Gramame, na comunidade de Mumbaba de Baixo, iniciado na década de 1960, mas que só muitorecentemente passou a ser entendido como tal. Como se buscou compreender a complexidade do objeto emestudo, traçamos um caminho metodológico de análise do conflito a partir das partes que o compõem. Dessaforma, identificamos os atores, suas atuações, articulações, poderes e influência no conflito. Utilizamos umametodologia socioantropológica por meio da observação participante, técnica "bola de neve", realização deentrevistas semiestruturadas, modelos mentais, análise de percepções e registros fotográficos. Constatamosque os atores não estão articulados e, em sua maioria, não desempenham seu papel definido por legislação, oque compromete as perspectivas de resolução, fazendo com que a situação se perpetue. Este trabalho se tornarelevante por trazer à tona vozes que são silenciadas e, por isso, é um trabalho provocativo.

PALAVRAS-CHAVE: Ecologia política; Conflito socioambiental; Bacia do Rio Gramame; Mumbaba.

SOCIOENVIRONMENTAL CONFLICT AND INDUSTRIAL POLLUTION: THE CASE OF RIO GRAMAME-MUMBAIA BASIN – PB

ABSTRACT

This is a case study of Political Ecology. It is an analysis of the Social Environmental Conflict of industrialpollution in the Basin of Rio Gramame, in the community of Mumbaba de Baixo. Although this conflict has begunin the decade of 1960, it has been recognized only recently. As we have sought to understand the complexitiesof this study, we draw a methodological road of analysis of the conflict based on each part of its components. Inthis way, we have identified all those involved, their actions, articulations, powers, and their influence on theconflict. We have used a social-anthropological approach by means of participant observation, with the "snowball"technique, as well as semi-structured interviews, mental models, analysis of perceptions and photographic records.We have found that actors are not articulated and the majority of them do not follow their script as defined bylegislation, which impairs the perspectives of resolution and, as a result, the situation has been perpetuated. Thisstudy is relevant for bringing to surface all the voices that go unheard, and for this reason, it is a provocativework.

KEYWORDS: Political Ecology; Social Environmental Conflict; Rio Gramame Basin; Mumbaba.

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INTRODUÇÃO

O movimento da Ecologia Política, surgido nadécada de 1980 através dos movimentos sociais eambientalistas, possui um conceito basilar: InjustiçaAmbiental. Injustiça dos ricos sobre os pobres, dosque possuem maior poder aquisitivo, poder e influênciasobre os desprovidos. Injustiça no sentido de que oque é ruim é dividido entre todos (muito embora osmaiores impactados sejam os pobres) e o que é bom,resultante, é aproveitado apenas por uma pequenaparcela (ACSELRAD; MELO E BEZERRA, 2009).

Nessa perspectiva, a discussão acerca dadistribuição e percepção de riscos é feita por Beck(2007, p. 96), quando o sociólogo alemão denominaa moderna sociedade de Sociedade de Risco e afirma,claramente, que a poluição é democrática. Nestasociedade, a justiça ambiental e as éticas do meioambiente são simplesmente sobrepostas pela sujeiraambiental, sob o argumento da ciência, do progresso,do desenvolvimento das grandes corporações que,além de prejudicarem todo o ecossistema, mantêm-selucrando através de sua utilização. Com a destruiçãoda qualidade de vida dos ecossistemas, crescem aslimitações de seu uso pelas populações quedesempenhavam uma relação de interdependência ouque utilizavam os recursos naturais do meio.

Nos Estados Unidos, anos 1980, surgirammovimentos populares contra a poluição, sobretudoporque, dentre outros motivos, percebeu-se que osnegros, naquele país, eram submetidos a condiçõesdesiguais. O lixo tóxico e os rejeitos das indústrias eramlançados nos considerados "bairros negros". Alémdisso, o movimento (Racismo Ambiental) surgiu como intuito de criticar as soluções tecnicistas aosproblemas que deveriam ser discutidos e decididos portodos. Daí surgiu a ideia de Justiça Ambiental comoconceito norteador da luta pela igualdade na qualidadedo uso dos recursos, do meio ambiente em geral(Acselrad, Melo e Bezerra, 2009).

Dentre os princípios da Justiça Ambiental, constam"Poluição tóxica para ninguém", "Por uma transiçãojusta" (a luta contra a poluição não pode destruir oemprego dos trabalhadores das indústrias ou penalizar

as populações mais pobres, através da transferênciado problema de um lugar para o outro). Portanto, omovimento de Justiça Ambiental não apregoa que obeneficiamento dos ricos se realize em detrimento daexpropriação do uso dos recursos pelos pobres.

Por outro lado, Alier (2007) lembra que não existecivilização ecologicamente inocente. A população localcontribui para a degradação do meio no qual estáinserida, embora em nível, intensidade e forma diferente.

Em se tratando de conflitos, Little (2001, p.107),afirma que existem vários tipos e que estes estão emtodas as esferas da vida humana, desde as esferaspsicológicas, políticas, econômicas e religiosas. Noentanto, os tipos de conflitos que mais têm sedestacado, nos últimos anos, são os conflitossocioambientais denominados como "Conflitos SociaisAmbientalizados" (LOPES, 2006, p.34).

Existem conflitos em todas as esferas, por todas ascausas. Aos conflitos são adicionadas variáveis comonovas formas de lidar, novas estratégias e até novosatores, como o ambiente que não deve ser consideradoapenas como palco da situação, mas como um agentede transformação capaz de modificar e de sermodificado pelos outros atores.

É nesse contexto que é inserida, na esfera dosconflitos, a esfera ambiental. Os ConflitosSocioambientais são aqueles nos quais os atorespassam a utilizar a questão ambiental como repertóriode seus interesses e reivindicações. Seriam, então, umanova questão social, uma nova questão da esferapública iniciada nos países industrializados, ligada aosgrandes acidentes industriais, de seus riscos e de suainternacionalização (LOPES, 2006, p.34).

Com o intuito de não apenas listar, mas de conferirvisibilidade, o Mapa de Conflitos envolvendo InjustiçaAmbiental e Saúde no Brasil (2010) registrou cercade 300 casos, em todos os estados do país. A listanão apresenta todos os conflitos existentes, como nocaso da Paraíba, de que constam apenas seis: Fazen-deiros versus Agricultores (Pocinhos); problemascausados por barragem (Alagoa Grande); relocaçãode ribeirinhos para construção de barragem (Aroeiras);poluição de rio, lixo e desrespeito à cultura dos índios

NUNES & GARCIA

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Potiguara (Rio Tinto), carcinocultura versus pescado-res e indígenas (Santa Rita); e, ainda, poluição industrialde rio versus comunidade de Maguinhos (Bayeux).

Nesses conflitos, os lados opostos possuemdiferentes cotas de poder e influência, o que incidediretamente na resolução ou perpetuação do conflito.Ainda de acordo com Little (2001), existem três tiposde conflitos socioambientais, com suas respectivasdimensões: conflitos em torno do controle dos recursosnaturais (dimensões políticas, sociais e jurídicas);conflitos em torno dos impactos ambientais(contaminação do meio, degradação dos ecossistemase esgotamento dos recursos naturais); e conflitos emtorno do uso dos conhecimentos ambientais (entregrupos sociais em torno da percepção de risco, comotambém em se tratando de lugares sagrados).

Para Alier (2007), as estruturas sociais e a utilizaçãodo meio ambiente estão entrelaçadas de muitasmaneiras. Nesse sentido, é a caracterização da formade utilização do meio que vai diferenciar os lados doconflito, evidenciar seus interesses e estabelecer umcampo de tensão. Aqui cabe ressaltar que, aindasegundo Alier (2007), solucionar o conflito não equivalenecessariamente à solução do problema."Exemplificando, um conflito internacional sobre direitosde pesca pode ser resolvido com a ampliação das cotasde pescado, agudizando ainda mais o problema dasobrepesca" (ALIER, 2007, p. 107).

Os conflitos não possuem dinâmica única. Eles sãohistóricos (ALONSO e COSTA, 2000, p.10), mudamcom o tempo, se reorganizam e o poder, assim comoa influência, pode ser momentâneo para uns atores.Em outros momentos, aqueles que não tinhaminfluência alguma ou pouca influência podem, por meiode estratégia, conhecimento e outras formas, adquirirum melhor posicionamento na situação e conseguirimpor sua vontade, satisfazendo seus interesses porum período de tempo. No entanto, mais à frente, tudopode mudar novamente.

Na lógica de Lukes (1980), existem conflitosabertos, que se manifestam claramente, assim como,os latentes e os encobertos. Os latentes são aquelesque podem se manifestar quando os atores perceberem

que seus interesses podem ser ou estão sendodesconsiderados em uma situação já existente. Já osconflitos encobertos são aqueles que não possuemforça o suficiente para manifestar-se, mas eles sãointrínsecos, eles estão ali dentro, nos bastidores(COHEN, 1981) das situações sociais. Podemos aténão diferenciá-los, porque são muito parecidos. Noentanto, entendemos que os primeiros, os latentes, sãoo estado em que se encontram os conflitos enquantoos segundos são tipos de conflitos.

Leff (2008, p.348) afirma que novos atores têmvindo à cena política fazendo novas reivindicações demelhoria da qualidade do ambiente e da vida, comotambém espaços de autonomia cultural e autogestãoprodutiva.

Muitos conflitos entendidos como territoriais seenquadram nos conflitos ambientais, pois envolvemdisputas por território, em que, de um lado, estão osgrandes proprietários e, de outro, agricultores, índios,ribeirinhos, etc. Assim tem ocorrido com comunidadesindígenas em Rio Tinto, que lutam contra o capitalsucroalcooleiro, tentando manter sua identidadeenquanto têm seu espaço tomado (SILVA e LIMA,2010). Da mesma forma acontece quando o Estadonão se faz presente em situações de tomada de terraspara a formação de assentamento: disputas pelaexploração e utilização dos recursos em assen-tamentos na região semiárida da Paraíba (CUNHA eNUNES, 2008).

Sendo assim, quando falamos em conflitosocioambiental, faz-se necessário compreender a suadimensão e complexidade: além de uma série de atoresenvolvidos, existem as cotas de poder e influência, asarticulações, as tensões, o campo do conflito em si,seus desdobramentos e suas limitações.

Nessa perspectiva, este trabalho se propôs aanalisar o conflito socioambiental gerado a partir dapoluição industrial da Bacia do Rio Gramame-Mumbaba, em João Pessoa-PB, sob o enfoque dosatores envolvidos.

Desde a década de 1980, estudos vêm sendorealizados tendo como foco a Bacia do Rio Gramame.São análises das condições físico-químicas do rio

Conflito socioambiental e poluição industrial...

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Gramame (DA PAZ, 1988), da gestão de recursoshídricos (ROSA, 2001), do uso de agrotóxicos nasáreas irrigadas da bacia (GADELHA et al., 2001), dapresença de chumbo em relação à saúde dos ribeirinhos(MACHADO, 2003), da qualidade da água(ABRAHÃO, 2006), da salubridade ambiental dascomunidades (SILVA, 2006), dos efeitos do turismona demanda de água da bacia (FONSECA, 2008),da biodiversidade, uso e conservação (BARBOSA etal., 2009) e dos impactos sobre as comunidadesribeirinhas (GARCIA et al., 2009). Para além desses,existiu um projeto no Centro de Tecnologia daUniversidade Federal da Paraíba – UFPB/CNPq quetratou da restauração das nascentes e da rede detrabalho da restauração do rio Gramame, que buscoudesenvolver conhecimentos voltados para a criação eatuação de uma rede de relacionamentos destinada àrestauração do alto curso do rio Gramame. NoDepartamento de Sistemática e Ecologia – DSE/UFPBtambém foi desenvolvido um projeto sobre apercepção da população e a catalogação da ictiofaunae os processos de bioacumulação nos peixes.

Por outro lado, até então, não há trabalhos quetratem a situação de poluição industrial da bacia comoum conflito socioambiental, especificando acomunidade de Mumbaba. Por isso, este estudo tevecomo objetivos a análise da dinâmica do conflitoestabelecido, buscando compreender as suas origens,relações, forças e distribuição de poder entre osdiversos atores, portanto, sua complexidade.

Os stakeholders da pesquisa foram os principaisatores envolvidos no conflito socioambiental depoluição industrial em Mumbaba. Importa ressaltar queo conflito de poluição atinge todo o baixo Gramame.No entanto, neste trabalho tratamos apenas do conflitona Comunidade de Mumbaba, tendo em vista o fatode a comunidade integrar a região do conflito, mas foiexcluída do monitoramento realizado em 2008, quandofoi firmado um Termo de Ajustamento de Conduta entretrês indústrias do Distrito Industrial, órgãoslicenciadores e fiscalizadores ambientais, MinistérioPúblico Federal e Estadual e as comunidades deEngenho Velho, Mituaçu e Gramame.

MATERIAL E MÉTODOS

Os participantes-colaboradores deste trabalhoforam o Ministério Público Federal e Estadual, a ONGAssociação Paraibana dos Amigos da Natureza –APAN, o Comitê de Bacia Hidrográfica do Litoral Sul,a Agência Executiva de Gestão de Águas do Estadoda Paraíba – AESA e a comunidade de Mumbaba,perfazendo um total de 25 entrevistados, excetuando-se as conversas informais durante a realização de todotrabalho de campo.

Para análise e compreensão dos atores nosbaseamos nas representações sociais sobre osproblemas ambientais, técnica também utilizada porGuivant (2005), ou seja, como esses problemas sãodefinidos e quais significados eles recebem dos diversosgrupos de atores ou, ainda, como os problemas sãopercebidos por meio de demandas construídassocialmente, aplicamos questionários semiestruturadoscom os principais atores do conflito. Nessesquestionários, perguntamos sobre a atuação noconflito, as parcerias existentes, o conhecimento dasituação atual, as formas de resolução do problemade poluição, sobre gestão compartilhada dentre outras.Além disso, foram feitos registros visuais (fotografiase vídeos) no campo.

Os que demonstraram dispor de mais tempo emaior interesse em colaborar foram entrevistados e,posteriormente as entrevistas foram transcritas.Procedemos ainda com uma pesquisa bibliográfica edocumental.

Utilizamos a técnica da Observação Participante(WHYTE, 1980), respeitando a todas as regras docampo (solicitar permissão para a realização daentrevista; marcar horários conforme disponibilidadedos pesquisados; não intervir nas situações de campoe outras), através das quais pudemos coletar grandeparte dos dados.

Para a identificação dos principais atores nosapoiamos na técnica "bola de neve" (BIERNACK eWALDORF, 1981), que consiste na abordagem deatores-chave, que vão indicando outros atores a serementrevistados. Nas situações em que não foi possívelentrevistar ou aplicar questionário com o ator, buscou-

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se dados por meio de pesquisa documental ebibliográfica, pois como menciona Lodi (1986, p.14),as entrevistas, sozinhas, não são capazes de dar contado campo, sendo necessárias a pesquisa documentale a observação.

A análise da percepção dos atores, também usadapor Guivant (2005), foi realizada através dasrepresentações sociais, como também nas ideias deTuan (1980), quando associa o termo "topofilia" aosentimento de lugar, de pertencimento que os atoresdão às sensações de estéticas, táteis, simbólicas aorelacionar-se com o meio no qual estão inseridos.

A BACIA DO RIO GRAMAME-MUMBABA

A Bacia do rio Gramame localiza-se entre aslatitudes 7º 11' e 7º 23' Sul e as longitudes 34º 48' e35º 10' Oeste, na região litorânea, em João Pessoa.Abrange os municípios de Alhandra, Conde, Cruz doEspírito Santo, João Pessoa, Pedras de Fogo, SantaRita e São Miguel de Taipu (MACHADO, 2003). Abacia abastece 70% da Grande João Pessoa (quase 1milhão de pessoas), através da barragem Gramame-Mamuaba, com capacidade para 56,4 milhões m³ eárea de 589,1 km². As nascentes, difusas e pontuais,localizam-se na área rural do município de Pedras deFogo, se estendendo até praia de Barra de Gramame,limite entre os municípios de João Pessoa e Conde.

As comunidades localizadas no território da baciaapresentam problemas comuns às comunidadeslocalizadas em periferias dos centros urbanos, como:desemprego, baixa escolaridade da população,deficiência de transportes, vias de acesso sempavimentação, falta de água encanada, falta de escolas

de Ensino Médio e Supletivo, crescente marginalizaçãoe êxodo dos jovens e adolescentes para os grandescentros por falta de opções de trabalho, estudos e lazer(GARCIA et al., 2009).

Faz parte desse contexto a Comunidade deMumbaba, contemplada pela Agenda 21 e integranteda região do programa Cinturão Verde. A comunidadelocaliza-se na região sudoeste da cidade de João Pessoae possui uma população estimada em 1.641 indivíduosde 471 famílias, de acordo com informações cedidasno Programa de Saúde da Família da comunidade.

A situação de poluição na Bacia do Rio Gramame-Mumbaba existe desde a instalação do DistritoIndustrial de João Pessoa, no final da década de 1960.Desde então, o ecossistema e os comunitários têmsofrido com os efeitos da poluição causada pelolançamento dos dejetos das empresas nas redes dedrenagem que, por sua vez, chegam aos cursos de águada bacia. O distrito localiza-se às margens da BR 101,à distância aproximada de 6 quilômetros do centro dacidade de João Pessoa. Ocupa uma área de 642 ha,sendo esta a principal fonte poluidora da bacia,contribuindo para a perda da capacidade deautodepuração dos rios Gramame, Mumbaba eMamuaba (ABRAHÃO, 2006).

Como a área do distrito é cortada pelo riachoMussuré, desde o início das atividades no local, elefunciona como depositário dos efluentes líquidos aligerados. Cada indústria deveria ser responsável pelotratamento adequado de seus efluentes e rejeitos. Noentanto, os efluentes são descartados no riachoMussuré, com ou sem tratamento, ou através de redede drenagem pluvial existente (ABRAHÃO, 2006).

Conflito socioambiental e poluição industrial...

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Na Bacia do Rio Gramame, encontram-seinstaladas indústrias tradicionais, como as de produtosalimentícios, construção civil, serviços de reparação,manutenção e instalação, minerais não metálicos,metalúrgica, têxteis, etc. A maioria não conta comtratamento adequado e eficiente dos seus efluentes,tampouco têm informações detalhadas sobre ascaracterísticas deles, nem do destino final. Isso ocorre,sobretudo, nas unidades de pequeno porte, que evitamonerar o custo final do produto (MACHADO, 2003).

O problema de poluição industrial surge então como funcionamento do distrito. Já o conflito tornou-sepúblico com ações políticas que visionaram apreservação ambiental do rio Gramame, ocorridas apartir de 1984, por meio de denúncias públicas sobreo agravamento da situação (O NORTE, 1984).

Em 1992, foi criado o movimento Salve o RioGramame, a partir de discussões das associaçõescomunitárias em conjunto com ambientalistas(CORREIO DA PARAÍBA, 1993).

Em 2009, foi formado um grupo ("força-tarefa"),composto por técnicos do Ministério Público emconjunto com a Superintendência de Desenvolvimentodo Meio Ambiente – SUDEMA e a AESA, pararealizar novas vistorias e autuações nas indústrias dodistrito. Após o término dessa fase, pretende-seconvocar um novo grupo de empresas para a firmação

de um novo Termo de Ajustamento de Conduta - TAC,com previsão de dois anos. O novo acordo terá umaabrangência maior, envolvendo mais empresas e outrascomunidades pertencentes à área do conflito.

Até então, a comunidade de Mumbaba não foiinserida nesse contexto, mesmo tendo sido o palco damorte, em 2000, de uma senhora que caiu no córregopor onde passaram, naquele momento, efluentes químicosindustriais. O córrego atravessa toda comunidade e, naverdade, constitui uma rede de drenagem pluvial utilizadapelas indústrias para transportar seus efluentes para adepuração nos rios da região.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Existem 117 empreendimentos industriaiscadastrados como usuários da Bacia do Rio Gramame.Das outorgas concedidas pelo órgão licenciador, aapenas uma delas é permitindo o lançamento deefluentes no rio Mumbaba, muito embora ela seencontre após a comunidade, não tendo relação algumacom o córrego que atravessa a comunidade deMumbaba. Isso nos mostra que todos os outroslançamentos realizados são feitos de forma irregular.

Percebeu-se que muitas dessas indústrias estão comprocesso de licença e outorga ainda em andamento,mas que já descarregam seus poluentes nos corposd'água da região. Esses poluentes são considerados

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Foto 1: Efluentes industriais pela rede de drenagem e aningas, em Mumbaba.Fonte: Arquivo pessoal-pesquisa de campo, 2011.

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perigosos, tanto para a população humana como parao ecossistema em geral. No entanto, as indústrias, namaioria das vezes, não se enxergam como poluidoras,porque afirmam que seus efluentes são tratados. Essasindústrias já foram representadas por alguns de seusfuncionários em reuniões que ocorreram em Mumbaba,mas até então não lograram êxito no que tange àresolução do problema e do conflito.

O Ministério Público, entendido como mediadordo conflito, realizou vistorias no Distrito Industrial eestá em busca da firmação de um novo TAC. Noentanto, seu trabalho, apesar de representar umexemplo de mediação para o país, caminha a passoslentos, sobretudo por causa da morosidade dosprocessos, mas também pela ausência de articulaçãoentre todos os atores do conflito.

A SUDEMA e a AESA, como órgãos estataislicenciadores e fiscalizadores, não desconhecem asituação de conflito, mas também não possuem atuaçãonenhuma sobre o mesmo, muito embora nosregramentos que fundamentam a existência dessesórgãos haja a atribuição de arbitragem dos conflitosrelacionados à água. No que tange à articulação, ocontato com os demais atores é restrito, mesmo aAESA sendo o órgão que coordena o Comitê de BaciaHidrográfica do Rio Gramame e Abiaí.

No passado, a APAN já teve atuação no conflito.Atualmente, nos foi informado que há interesse e que,inclusive, a ONG participou da formatação do atualcomitê de bacia. No entanto, sua representante afirmouque a ONG foi excluída ao tentar participar como titulardo órgão colegiado de gestão da bacia.

Conflito socioambiental e poluição industrial...

Quadro 1 – Identificando os atores.Fonte: Dados de pesquisa.

Classificação Ator Social Privado Indústrias Estado Ministério Público

SUDEMA – Superintendência de Administração do Meio Ambiente AESA – Agência Executiva de Gestão de Águas do Estado da Paraíba

Terceiro Setor APAN – Associação Paraibana dos Amigos da Natureza Órgão Colegiado Comitê de Bacia do Litoral Sul

Comunidade Comunitários

O comitê, coordenado pela AESA, está ainda emsua segunda gestão. Portanto, ainda em processo deformação. Não existe atuação no conflito, mesmo tendocomo uma de suas atribuições a arbitragem de conflitos.Com os outros atores, não há articulação, mas tambémreconhecem a existência do conflito gerado a partir dapoluição industrial.

Os comunitários entrevistados moram há pelomenos dez anos no local. Todos afirmaram que asituação já se prolonga há anos e tende a piorar. Elesdeclararam que os efluentes têm gerado problemas nasaúde da população, sobretudo na das crianças. Alguns

deles reconhecem que o lugar é impróprio para morardevido à poluição, não apenas manifestada por meiodos efluentes, mas também poluição atmosférica, queagrava a situação.

No passado, os comunitários usaram o ecossistemapara pesca, banho entre outros usos. Atualmente, aindaexiste uso dos corpos hídricos da região, muito emboraseja de conhecimento de todos a situação de poluição.Além disso, os comunitários também contribuem paraa situação de poluição, por meio do descarteindiscriminado de lixo doméstico por toda acomunidade (ALIER, 2007).

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Quanto à articulação e participação em busca daresolução do problema e do conflito, o que pudemosperceber é que não existem. Existiram tentativas dearticulação interna, mas são sempre atrapalhadas pormembros internos da comunidade, cooptados pelaspróprias indústrias que oferecem empregos em trocade, por exemplo, avisarem quando chega fiscalizaçãono território da comunidade.

Constatamos que, para além da situação depoluição, o problema e o conflito giram também emtorno do território onde a comunidade se instalou.Trata-se de uma zona industrial. Enquanto oscomunitários afirmam que já habitavam a área ou que,posteriormente, receberam os terrenos das indústrias,estas, por outro lado, afirmam que eles são "invasores".

Dessa forma, à comunidade, além de saneamento,infraestrutura, faltam ações de sensibilização ambiental,eficazes o suficiente para despertá-los para as formascorretas de disposição dos resíduos sólidos e líquidosdomésticos. Que não simplesmente joguem nas ruasou no próprio córrego, como é muito comum. Quemnão mora próximo ao córrego, ou seja, quem não éafetado por ele, não abraça a causa. Tem-se aimpressão de que a população já não mais se incomodacom aquele cenário. Parece ainda que não háidentificação da população com os rios da região, poiso meio ambiente não se apresenta como questãorelevante para as classes sociais que ainda não têmasseguradas as condições básicas de sobrevivência(FUKS,1998).

No que tange ao Distrito Industrial de João Pessoa,é improvável que todas as indústrias fechem com asautuações do Ministério Público e parceiros. Os rios

não serão desviados e os moradores provavelmentenão serão deslocados do lugar. Permanece o jogo depoder e influência, onde, como bem descreveram oscomunitários, muito embora não tendo a ideia das forçase influências que não se apresentam claramente, o"dinheiro tem ainda tem conseguido se sobressair".

Os papéis da agência de água, do órgão queadministra o meio ambiente estadual e do comitê, sãoimprescindíveis na luta contra a poluição industrial dabacia como um todo, porém, no conflito, que é apenasum dentre tantos, segundo o presidente do comitê,esses atores são coadjuvantes, com pouca ou nenhumainfluência para a resolução do problema.

Quanto aos regramentos, é inegável que houve umdesenvolvimento em termos de abrangência da lei, maso problema é sua aplicabilidade. O processo dedescentralização das responsabilidades, culpabilizaçãoe estabelecimento de conceitos claros – como o depoluição – fizeram com que os recursos hídricosficassem resguardados apenas teoricamente e, portanto,com menor possibilidade de atenderem às presentes efuturas gerações.

O papel dos atores sociais, seja dos órgãosestabelecidos pelas políticas nacionais, estaduais emunicipais de meio ambiente e recursos hídricos, ouaté mesmo das organizações do terceiro setor quetrabalhem com a temática, é assegurar o equilíbrio dosrecursos, dos usos e intermediar os possíveis conflitosem meio a um cenário de tensão social, política eambiental entre o progresso econômico, a preservaçãoe a sustentabilidade socioambiental. Para tanto, mesmocom o aparato jurídico ambiental, os desafios sãoimensos, pois vai além de uma questão de

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Foto 2 – Lixo doméstico em toda comunidade de Mumbaba. Fonte: Arquivo pessoal-pesquisa de campo, 2011.

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sensibilização, onde o capital natural, antes de ser vistocomo tal, é um sistema que possui leis e funcionamentopróprios.

Nesse sentido, entende-se que não há a articulaçãodevida para que o problema e/ou o conflito sejamresolvidos e, enquanto isso, os regramentos, as funções,os papéis e o poder e influência conferidos a cadaindivíduo e órgão ficam perdidos, inoperantes em meioa um clima tenso e degradante. Trata-se de uma questãoética, trata-se da busca pela justiça ambiental.

As perspectivas de resolução do conflito desteestudo passam integralmente pela gestão de recursoshídricos da Bacia do Rio Gramame-Mumbaba e, paraisso, é necessária, além da obediência aos regramentosfederais, estaduais e municipais, a participação de todosos atores direta ou indiretamente ligados à causa.Incluem-se aí a agência de águas, o órgão licenciadore o comitê de bacia, que tem se mostrado ausente nagestão porque ainda é um órgão embrionário.

Alguns conceitos, como o de participação,articulação, mobilização e mediação, também sãoimprescindíveis não apenas à compreensão da situaçãode conflito, mas à resolução das situações proble-máticas. No caso da mediação na situação do conflitode Mumbaba, o que se pode dizer é que, se falta credi-bilidade por parte da comunidade, é porque não existeinformação, não existe conexão entre estes e o Minis-tério Público, por exemplo, fato muito comum, comotemos visto.

Para obtermos a melhor solução, tanto para oproblema como para o conflito, é necessário um exercí-cio de separação das partes, decomposição e, poste-riormente união, associação, relação entre elas. A partirdesse exercício de simplificação e complexificação, pormeio da reordenação das partes, é que se podeproceder a uma análise do objeto estudado. Compre-endemos que, só com o atendimento das questões decada esfera (ambiental, social, política/administrativa,jurídica, técnica e econômica), a situação poderámelhorar para todas as partes, sobretudo para o meioe para as pessoas que ali habitam. Assim como noestudo de Silva e Lima (2010), é possível observar acontradição no modo de uso e exploração dos

recursos. Enquanto as indústrias utilizam os recursoshídricos para captação de água, assim como"depósitos", a população, embora aja também deforma inadequada em alguns aspectos como vimos,utiliza os recursos em prol da coletividade.

Quanto às medidas/procedimentos de resolução dasituação declarados pelos agentes deste estudo,afirmamos que algumas delas são ingênuas, outrastecnicistas ou simplistas porque atendem a interessesindividuais, pontuais. Nesse sentido, propomos algunscaminhos que podem ser seguidos pelos tomadoresde decisão para que não apenas o problema sejaresolvido, mas o conflito. Esta é uma questão em quetemos insistido, mas, que caso não seja atendida, oconflito e/ou o problema podem ser sanados momenta-neamente, mas permanecerão existindo até queaconteça um novo fenômeno que o faça emergirnovamente.

As questões indicadas abordam desde as atitudesrelacionadas às origens do conflito até medidas decompensação, reparação e incentivo. Além disso, opoder público, em todas as suas esferas, deve entrarefetivamente em Mumbaba, realizando obras deinfraestrutura, por exemplo.

Também em Cunha e Nunes (2008) é demonstradaa necessidade de uma reorganização dos direitos depropriedade e constituição de arranjos sociais para oefetivo controle dos recursos comuns (naquele caso,da terra). Enxergamos a mesma necessidade no casoem questão, onde só depois dessa reorganização,tendo por base a justiça ambiental e a aplicação efetivada legislação, é que se pode pensar em resolução doconflito e do problema.

Além de medidas de nível micro, mas que resultamem efeitos positivos, propomos mudanças nasestruturas dos empreendimentos industriais, assim comoaplicabilidade dos instrumentos de planejamento egestão dos recursos hídricos.

Todos esses esforços para a resolução serãoperdidos se não houver a união das forças estatais,comunitárias, privadas e do terceiro setor, onde cadaqual cumpra com aquilo que se propôs.

O fluxo de informações, assim como o

Conflito socioambiental e poluição industrial...

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monitoramento e controle de todos sobre todos,também é fundamental para o encaminhamento devido.Não é apenas com o cumprimento dos princípios dousuário-pagador e do poluidor-pagador que oproblema será resolvido.

Todas as indústrias devem ser monitoradas,fiscalizadas (o que está em processo) e todas devemrever seu processo produtivo, com ênfase no destinoque dão aos seus resíduos, partículas, gases e efluentes.Estes devem ser tratados ou filtrados.

A população deve ser esclarecida e atualizada (oscomunitários devem se mobilizar, inclusive para obterestas informações) sobre a situação, que deve sercomprovada por testes/análises. Além disso, sãonecessárias a revitalização do córrego e a construçãode passarelas nos pontos críticos. É necessária,portanto, a articulação entre os atores, o cumprimentode suas funções e o atendimento à legislação vigente,o que não tem ocorrido desde o estabelecimento doconflito. Só assim aquela paisagem verde rural eaqueles que ali habitam poderão reencontrar oequilíbrio de outrora.

Este não pode ser mais um conflito rejeitado, velado,encoberto. Deve-se rejeitar a ocultação da realidade,a fim de evitar a entrada ou a manifestação do conflito.Negar a existência do conflito ou rejeitá-lo sóprejudicará as partes envolvidas, sobretudo as maisvulneráveis, desprovidas ou com pouco poder einfluência. Esperamos que, no fim das contas, os reaisinteresses dos agentes envolvidos e, mais importanteque isso, suas ações, sejam diretamente proporcionaisàs possibilidades de se atingir um denominador comum,por meio de cenários economicamente viáveis,socialmente justos, ambientalmente sustentáveis epoliticamente democráticos.

Dessa forma, o conflito de poluição industrial daBacia do Rio Gramame configura-se como um conflitoambiental territorial (ZHOURI e LASCHEFSKI,2005), visto que se liga às formas de apropriaçãomaterial do espaço, onde, por um lado, a populaçãodeseja condições salubres em seu espaço de moradia,enquanto as indústrias querem o espaço para lançarseus efluentes. Por isso, as origens do conflito estão

relacionadas ao fato de os comunitários serem vistoscomo invasores daquela área. O córrego é o meioatravés do qual o conflito se manifesta e por meio doqual as indústrias impõem seu poder, sua influência,sua afirmação de que ali é o lugar delas e não doscomunitários. Sendo assim, o foco do conflito não é apoluição dos rios nem as acusações de invasão, mas arede de drenagem de água pluvial transformada emduto para o transporte de efluentes. Esta que setransformou em sinônimo de riscos de saúde àcomunidade e ao ecossistema.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio do Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.Agradecemos ainda ao PRODEMA-UFPB, assimcomo a todos os comunitários e demais atores quecolaboraram com o desenvolvimento da pesquisa.

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INSETOS AQUÁTICOS ASSOCIADOS A MACRÓFITAS SUBMERSASCOM DIFERENTES COMPLEXIDADES MORFOLÓGICAS

PEIRÓ, Douglas F. Professor doutor do Departamento de Ciências Biológicas e da Saúde do CentroUniversitário de Araraquara - UNIARA. Laboratório de Biologia Aquática, Programa de Mestrado em

Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente. Rua Carlos Gomes 1338, 14801-340, Araraquara/SP. E-mail:[email protected].

SAULINO, Hugo H.. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais (PPG-ERN), UFSCar, Laboratório de Ecologia de Insetos Aquáticos (LEIA), Rodovia Washington Luís (SP-310), Km

235, 13565-905, São Carlos/SP. GORNI, Guilherme Rossi. Professor doutor do Departamento de CiênciasBiológicas e da Saúde do Centro Universitário de Araraquara - UNIARA. Laboratório de Biologia Aquática,

Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.CORBI, Juliano José. Professor doutor do Departamento de Hidráulica e Saneamento, EESC, USP, Av.

Trabalhador sãocarlense 400, CP 359, 13566-590. São Carlos/SP.FIORAVANTE, Adrie Pool; AMARAL, Gabriele. Discentes egressos do Curso de Ciências Biológicas do

Centro Universitário de Araraquara - UNIARA.

RESUMO

O objetivo deste estudo foi analisar a diversidade e a estrutura da comunidade de insetos aquáticos associadasà macrófitas aquáticas submersas com diferentes complexidades morfológicas com relação às estruturas foliares.As coletas ocorreram em períodos seco e chuvoso, no Ribeirão das Anhumas, Américo Brasiliense/SP. Foramanalisadas quatro espécies de macrófitas submersas: Vallisneria sp., Eleocharis sp., Egeria najas e Otteliasp. A entomofauna coletada foi identificada até o nível de família, com exceção de Chironomidae, identificadaaté nível de tribo. A estrutura da comunidade foi analisada através dos índices de diversidade de Simpson,Equitabilidade de Pielou, participação relativa de categoria funcional e dominância de táxons. A composiçãofaunística entre os diferentes períodos de coleta foi analisada por meio de uma n-MDS com índice de Morisita.A estrutura da comunidade de insetos associada a macrófitas, com diferentes morfologias estruturais, foi analisadapor meio da similaridade, calculada pelo índice de Bray-Curtis. Foram identificadas 17 famílias pertencentes acinco ordens, de um total de 1642 espécimes. A família Hydropsychidae (Trichoptera) apresentou eudominância(52,6%), seguidas pela tribo Pentaneurini (Chironomidae) (13,8%) e da família Trichoryithidae (Ephemeroptera)(10%). Os resultados demonstram que não houve grandes variações da diversidade entre as espécies de macrófitasanalisadas e períodos de coleta. Os grupos funcionais predadores e coletores foram predominantes. A análisede n-MDS indicou ausência de variação entre os períodos de coleta. A análise de similaridade indicou que asmacrófitas E. najas e Otellia sp. possuem estrutura faunística similar, diferenciando-se das demais espéciesanalisadas. Os resultados demonstraram que a estrutura morfológica das macrófitas pode apresentar distintasestruturas de comunidades de insetos aquáticos.

PALAVRAS-CHAVE: Entomofauna aquática; Hidrófitas; Sistema lótico; Córrego de baixa ordem.

AQUATIC INSECTS ASSOCIATED WITH SUBMERGED MACROPHYTES WITH DIFFERENT MORPHOLOGICAL COMPLEXITIES

ABSTRACT

The aim of the study was to analyze the diversity and community structure of aquatic insects associated withspecies of submersed macrophytes with different morphological complexity in relation to leaf structure. Samplingoccurred in raining and dry periods at Ribeirão das Anhumas, Américo Brasiliense/SP. Four macrophytes were

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analyzed: Vallisneria sp., Eleocharis sp., Egerianajas and Ottelia sp. The entomological communitywas identified up to the family level, and at tribe levelfor Chironomidae. The community structure wasanalyzed using diversity indices of Simpson, Equitabilityevenness, relative participation of functional categoryand taxa dominance. The dispersion of faunalcomposition between the different collection periodswas analyzed using a n-MDS with Morisita index. Thestructure of the insect community associated withmacrophytes with different structural morphologies wasanalyzed using structural similarity calculated by theBray-Curtis index. Seventeen families were identifiedfrom five orders, a total of 1642 specimens. The familyHydropsychidae (Trichoptera) presented eudominance(52.6%), followed by the tribe Pentaneurini(Chironomidae) (13.8%) and family Trichoryithidae(Ephemeroptera) (10%). The results showed that therewere no large diversity variations in the analyzedmacrophyte species and the sampling periods. Thepredator and collector functional groups werepredominant. The n-MDS analysis indicated theabsence of seasonal variation and, the similarity analysisindicated that macrophyte E. najas and Otellia sp.,presented similar fauna structure, differing from otheranalyzed species. The results demonstrated that themorphological structure of macrophytes may havedifferent structures of aquatic insect communities.

KEYWORDS: Aquatic entomofauna; Hydrophytes; Loticsystem; Low order stream.

INTRODUÇÃO

Os macroinvertebrados aquáticos compõem umdos componentes mais ricos e diversificados dascomunidades de água doce, habitando tanto ambienteslênticos como lóticos. Esses organismos são importantescomponentes dos sistemas aquáticos, pois servem dealimento para peixes e crustáceos, além dedesempenhar um papel central na dinâmica denutrientes, na transformação de matéria e no fluxo deenergia do ecossistema (ESTEVES, 1998; BUENOet al., 2003). Os macroinvertebrados de ambientes

lóticos são representados por vários filos, entre eles ofilo Arthropoda, que inclui os insetos, os ácaros e oscrustáceos (HAUER & RESH, 1996). Os insetosdestacam-se por sua diversidade e abundância,correspondendo a uma grande porcentagem dessafauna (HYNES, 1970; LAKE, 1990). A distribuiçãodos insetos aquáticos está diretamente relacionada àscaracterísticas morfológicas dos rios (velocidade dacorrenteza, profundidade e tipo de substrato), àscaracterísticas químicas e físicas da água (oxigêniodissolvido, pH e temperatura) (CALLISTO, 2005),como também pela disponibilidade de recursosalimentares (RESH & ROSEMBERG, 1984;MERRITT & CUMMINS, 1996).

Entre os tipos de habitat mais propícios para ascomunidades de insetos aquáticos, destacam-se osbancos de macrófitas aquáticas. Esses vegetaisapresentam variadas estruturações, que os classificamem diferentes grupos: emergentes (enraizadas nosedimento do corpo hídrico, com as folhas voltadaspara a parte aérea – acima da superfície); com folhasflutuantes (enraizadas no sedimento, com as folhasflutuando na superfície d'água); livres flutuantes (quetipicamente flutuam na superfície d'água semenraizamento no sedimento; e submersas (plantas quecrescem completamente submersas na coluna d'águae enraizadas ao substrato) (CHAMBERS et al.,2008). As características dessas plantas possibilitamseu estabelecimento nos mais diversoscompartimentos dos sistemas lóticos, como nasmargens e nos leitos dos córregos. A presença dessacomunidade vegetal nos ambientes aquáticoscontribui para uma maior heterogeneidade de habitat(MARGALEF, 1983), e é fonte de alimento paradiversas espécies (THOMAZ et al., 2008). Asdiferenças existentes entre os animais presentes nasplantas estão relacionadas à procura de alimento eabrigo, como também à maior superfície fornecidapelas mesmas (MINSHALL, 1984; CORREIA,1999). Alguns estudos afirmam que a riqueza ediversidade ecológica de invertebrados em sistemasaquáticos se correlacionam positivamente com acomplexidade morfológica das plantas (THOMAZ

PEIRÓ et al.

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et al., 2008; THOMAZ & CUNHA, 2010), tendoem vista uma maior disponibilidade de nichos para afauna associada.

A entomofauna fitófila é composta por ninfas, larvase indivíduos adultos das mais diversas ordens. Entreos grupos de insetos aquáticos associados, destacam-se os insetos minadores folheares (WARD, 1992),coletores detritívoros (PEIRÓ & ALVES, 2006) eorganismos casuais ou facultativos; poucos são osanimais herbívoros que utilizam o tecido vegetal comofonte de alimento (SONODA, 1999). Muitos estudossão encontrados na literatura científica tratando deinsetos aquáticos associados a macrófitas aquáticas deambientes lênticos, (GLOWACKA et al., 1976;MASTRANTUONO, 1986; CORREIA,1999;SONODA; 1999, CORBI & TRIVINHO-STRIXINO, 2002; PEIRÓ & ALVES, 2006. PEIRÓ& GORNI, 2010); entretanto, estudos que abordama associação de insetos aquáticos fitófilos em ambienteslóticos permanecem escassos (OLIVEIRA et al.,1997; AYRES-PERES et al., 2006).

Devido à importância desses organismos, queconstituem um dos elos das cadeias de detritos e deherbívora no meio aquático, e também devido ao baixoconhecimento das suas relações com macrófitas emsistemas lóticos, o objetivo deste estudo foi analisar adiversidade e estrutura da comunidade de insetosaquáticos associada a macrófitas submersas comdiferentes complexidades morfológicas em um córregona região central do Estado de São Paulo. Para issofoi testada a seguinte hipótese: macrófitas submersascom diferentes complexidades morfológicasapresentam diversidade e estrutura de comunidadesde insetos diferenciadas.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudoAs coletas ocorreram em um trecho do Ribeirão das

Anhumas (Américo Brasiliense/SP), situado na regiãocentral do Estado de São Paulo. Este ribeirão éclassificado de 1.ª a 3.ª ordem, com água bemoxigenada, pertencente à bacia hidrográfica do rio Mogi-guaçu. A amostragem das macrofitas foi realizada emum canal de escoamento de uma represa (21º42'18''S,048º01'32''O, altitude 534 m) pertencente a um clubede atividades náuticas. Esse segmento do ribeirãoapresenta largura média de 3 metros, com profundidademédia de 1 metro e substrato arenoso.

Método de coletaAs coletas ocorreram em dois períodos de seca e

de chuva: 30 de junho de 2007 e 5 de abril de 2008(períodos secos), 6 de outubro de 2007 e 18 de janeirode 2008 (períodos chuvosos). Foram selecionadasquatro espécies de hidrófitas submersas com estruturasmorfológicas diferentes (Figura 1), localizadas no leitodo córrego: Vallisneria sp., Eleocharis sp. (gramíneaanfíbia) – classificadas com estrutura morfológicasimples, tendo em vista as folhas do tipo lanceoladas enão ramificadas; Egeria najas, e Ottelia sp. –classificadas como macrófitas de estrutura morfológicacomplexa, apresentando maior número de inserçõesfolheares. As plantas foram removidas manualmente,com auxílio de uma rede "D" de malha com aberturade 0,25 mm. O material coletado foi transferido paragalões de 5 litros contendo 1,5 litros de água do local.Após a amostragem, os recipientes foram transportadospara o laboratório para a triagem e separação daentomofauna associada às plantas.

Insetos aquáticos associados a macrófitas submersas...

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Triagem e identificação da entomofaunaAs larvas de insetos aquáticos foram triadas em

bandejas transiluminadas e identificadas como auxíliode lupas até o nível de família, com exceção deChironomidae (identificados até nível de tribo),utilizando os seguintes guias de identificação: Mccfferty(1981), Merritt & Cummins (1996), Nieser & Melo(1997), Carvalho & Calil (2000) e Fernandez &Dominguez (2001). As categorias funcionais dealimentação dos insetos coletados foram estabelecidasde acordo a classificação adotada por Merrit &Cummins (1996), considerando as seguintes categorias:fragmentadores (que se alimentam de grandespartículas de matéria orgânica morta), raspadores (quese alimentam de algas perifíticas), coletores (que sealimentam de matéria orgânica morta de partículas finas)e predadores (que se alimentam das demais categoriasfuncionais, e outros animais).

Análise dos dadosA estrutura da comunidade de insetos aquáticos em

cada macrófita foi analisada através dos índices dediversidade de Simpson, Equitabilidade de Pielou eda participação relativa de cada categoria funcionalde alimentação. A dominância dos táxons foiestabelecida de acordo com suas relativas abundância:eudominantes (>10%), dominantes (10%),subdominantes (2-5%), recessivos (1-2%), sub-recessivos (<1%) (de acordo com Trivinho-Strixino,1993). Após a identificação e contagem, os espécimesforam armazenados em frascos de vidro etiquetadoscontendo ETOH 75% e depositados na coleção doLaboratório de Biologia Aquática do Departamentode Ciências Biológicas e da Saúde do CentroUniversitário de Araraquara – UNIARA.

Visando obter uma relação de dispersão dacomposição da fauna em relação às estações sazonais

PEIRÓ et al.

Figura 1 – Macrófitas aquáticas submersas com diferentes estruturas morfológicas coletadas no Ribeirão dasAnhumas, Américo Brasiliense/SP. Estrutura morfológica simples: A. Vallisneria sp. e B. Eleocharis sp.

Estrutura morfológica complexa: C. Egeria najas e D. Ottelia sp.Fonte: Ilustração adaptada e modificada de: http://www.nhn.leidenuniv.nl/, http://www.plantsystematics.org/ e

http://www.idtools.org.

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(seca e chuvosa), foi obtido um diagrama de ordenaçãoresultante de um escalonamento multidimensional nãométrico (n-MDS) com índice de Morisita. Para essaanálise foram utilizados dados brutos de abundância detodas as coletas correspondentes às estações sazonais,obtidas por meio da análise das macrófitas aquáticas.

A análise de agrupamento (UPGMA) de BrayCurtis com os dados de abundância foi empregadacom o objetivo de verificar a similaridade nacomposição da fauna bentônica dentre as macrófitasestudadas. Para a realização das análises foi utilizadoo software Palaeontological Statistics (PAST – versão1.49) (HAMMER et al., 2001).

RESULTADOS

Foram identificadas 17 famílias pertencentes a cincoordens, em um total de 1.642 espécimes (Tabela 1).Analisando a composição da entomofauna associada

às macrófitas, observou-se que a FamíliaHydropsychidae (Trichoptera) foi a mais abundante,apresentando eudominância (52,6%), seguida da triboPentaneurini (Chironomidae) (13,8%) e da FamíliaTrichoryithidae (Ephemeroptera) (10%). Outrasfamílias da ordem Trichoptera – Hydroptilidae,Odontoceridae e Leptoceridae – apresentaramdominância e subdominância durante os dois períodos,indicando uma expressiva participação relativa nosperíodos de coleta. Outras famílias se apresentaramvariando entre subdominância e recessividade, porémmuitos dos táxons identificados apresentaram baixaparticipação relativa (sub-recessivos) (Tabela 1). Operíodo chuvoso apresentou a maior abundância deinsetos dentre os dois períodos coletados. As menoresabundâncias associadas às macrófitas foram obtidasem Vallisneria sp. e Ottelia sp., no período seco, eem E. najas, no período chuvoso.

Insetos aquáticos associados a macrófitas submersas...

Tabela 1 – Composição taxonômica e classificação de dominância dos insetos aquáticos associados amacróficas submersas com diferentes estruturas morfológicas, no Ribeirão das Anhumas, região central do

Estado de São Paulo. Pr: predador, Co: coletor, Ra: raspador, Fr: fragmentador.

Fonte: Dados de pesquisa.

Ordem TaxaCategoria Funcional

Vallesneria Eleocharis Egeria Ottellia Vallesneria Eleocharis Egeria Ottellia

Ephemeroptera Tricorythidae Co 1 28 27 37 13 48 0 9Ephemerellidae Co 0 0 2 0 0 10 0 0Leptohyphidae Co 0 21 13 2 0 13 28 32

Diptera Empididae Pr 0 0 0 0 3 0 1 1Chironomini Co 0 2 2 2 0 4 2 0Tanytarsini Co 2 0 0 0 9 0 0 1Pentaneurini Pr 15 11 52 5 48 81 2 12Orthocladiinae Co 0 3 3 1 2 9 4 3

Odonata Calopterygidae Pr 2 3 1 2 1 0 4 2Protoneuridae Pr 0 1 1 0 0 0 0 0Libellulidae Pr 1 2 0 2 0 1 0 0Coenagrionidae Pr 0 1 0 0 0 3 0 0

Trichoptera Hydropsychidae Co 3 84 192 2 150 91 97 245Hydroptilidae Ra 10 0 39 0 8 9 0 2Odontoceridae Fr 0 5 0 6 0 8 3 13Leptoceridae Fr 0 0 6 5 4 22 22 12

Coleoptera Hydrophilidae Pr 0 1 1 0 4 6 0 1Total 34 162 339 64 242 305 163 333

Macrófita

Período Seco Período Chuvoso

Macrófita

>10% 10% 2-5% 1-2% <1%

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A análise da estrutura da comunidade indicou quenão houve grandes alterações das variáveiscomunitárias dentre as diferentes macrófitas, comotambém dentre os diferentes os períodos deamostragem. As maiores diversidades estiverampresentes em Vallisneria sp. (no período seco) e emEleocharis sp. (no período chuvoso). Os menoresíndices de diversidade foram observados em E. najas(no período seco) e Ottelia sp. (no período chuvoso).O mesmo resultado foi obtido com o índice deequitabilidade de Pielou (Tabela 2).

Os grupos funcionais de alimentação predadores ecoletores predominaram entre as diferentes macrófitase períodos de coleta. E. najas e Ottelia sp. apresen-taram menores participações relativas de predadoresno período chuvoso. Vallisneria sp. e E. najasapresentaram maior participação relativa do grupo deinsetos raspadores no período seco. A participaçãorelativa do grupo de insetos fragmentadores foi maiornas macrófitas E. najas e Eleocharis sp. (no períodochuvoso), seguido de Ottelia sp. nos períodos (seco echuvoso) (Tabela 2).

PEIRÓ et al.

Tabela 2. Análise da estrutura das comunidades de insetos aquáticos associados a macrófitas submersascom diferentes estruturas morfológicas, no Ribeirão das Anhumas, região central do Estado de São Paulo.

Fonte: Dados de pesquisa.

Périodo secoVallisneria Eleocharis Egeria Otellia Vallisneria Eleocharis Egeria Otellia

Riqueza_S 7 12 12 10 10 13 9 12Abundância 34 162 339 64 242 305 163 333Dominância 0,30 0,32 0,37 0,36 0,43 0,20 0,40 0,56Simpson_1-D 0,70 0,68 0,63 0,64 0,57 0,80 0,60 0,44Equitabilidade_J 0,76 0,62 0,57 0,67 0,55 0,76 0,58 0,43Coletores (%) 17,65 85,19 70,50 75,86 72,80 57,38 80,86 87,61Predadores (%) 52,94 11,73 16,22 15,52 22,18 29,84 3,70 4,23Raspadores (%) 29,41 0,00 11,50 0,00 3,35 2,95 0,00 0,60Fragmentadores (%) 0,00 3,09 1,77 8,62 1,67 9,84 15,43 7,55

Périodo chuvoso

A análise n-MDS confirma a ausência de variaçãosazonal da entomofauna em relação às macrófitasamostradas, visto que não foi observada nítidaseparação entre as estações seca de chuvosa (Figura

2). A tendência de agrupamento das amostras naregião central do gráfico indica a proximidade dosvalores de abundância registrados em cada umadelas.

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A análise de agrupamento indicou os gêneros demacrófitas E. najas e Otellia sp. como os mais similares(aproximadamente 80% de similaridade) (Figura 3). Emcontrapartida, a macrófita Valisneria sp. apresentoucomposição faunística menos similar, com cerca de 64%

de similaridade. Ademais, foi possível verificar, de acordocom a análise, uma nítida separação de três grupos (1:E. najas e Otellia sp.; 2: Eleocharis sp.; 3: Valisneriasp.) refletindo diferentes complexidades morfológicasdas macrófitas em questão.

Insetos aquáticos associados a macrófitas submersas...

Figura 2 – n-MDS das amostras de macrófitas coletadas em diferentes períodos sazonais no Ribeirão dasAnhumas (Américo Brasiliense/SP). S: estação seca; C: estação chuvosa. Valor do stress = 0,1465.

Fonte: Dados de pesquisa.

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DISCUSSÃO

As macrófitas aquáticas possibilitam o acúmulo dedetritos, favorecendo a associação de uma rica fauna(DUDGEON, 1988; BLANCO-BELMONTE 1989/90; TRIVINHO-STRIXINO & STRIXINO 1993).E a baixa variação da diversidade e riqueza observadano local de estudo se deve mais aos hábitos alimentaresou necessidade de abrigo dos insetos (WARD, 1992;CORREIA, 1999).

Diversos autores têm reportado a famíliaHydropsychidae como a mais abundante entre osTrichoptera nos ecossistemas lóticos (UIEDA &GAJARDO, 1996; BISPO & OLIVEIRA, 1998). Apredominância dessa família, classificada comocoletora, pode estar relacionada com algumas variáveisdo córrego. A presença de correnteza e baixa

profundidade junto aos bancos de macrófitasproporcionou um local favorável para a colonização,contribuindo com uma maior disponibilidade dealimento, composto principalmente por matériaorgânica morta de partículas finas. Outra característicaestá relacionada à biologia dos Hydropsychidae, quecostumam obter alimento através da construção decasulos fixados em rochas, galhos ou plantas(WIGGINS, 1977; OLIVEIRA & FROEHLICH,1996), o que pode ter favorecido a dominância dessafamília entre os bancos de macrófitas.

As categorias funcionais de alimentação maisabundantes no presente estudo nos leva a supor que otecido vegetal vivo seja muito pouco utilizado, emdecorrência da considerável participação de coletorese de predadores. Este resultado está de acordo com

PEIRÓ et al.

Figura 3 – Análise de similaridade da entomofauna associada à macrófitas aquáticas coletadas no Ribeirãodas Anhumas (Américo Brasiliense/SP). Correlação cofenética = 0,91.

Fonte: Dados de pesquisa.

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outros autores, que têm demonstrado que o tecido deuma macrófita aquática seja pouco utilizado comoalimento. Porém, é mais comum que espécies ditascomo minadoras folheares a utilizem para obtençãode oxigênio (BOYD, 1970; GLOWACKA et al, 1976;LAMBERTI & MOORE, 1984; STRIXINO &TRIVINHO-STRIXINO, 1984; ROSINE, 1955).Nesse caso, a presença de macrófitas no leito docórrego pode ter desempenhado um papel semelhantea um filtro acumulador de detritos, proporcionando àfauna um local que propicia a obtenção de alimento.

A ausência de distinção entre os períodos de coletapode também ser explicada pela utilização dos bancosde macrófitas como habitat, onde a entomofaunaencontra proteção contra predadores, como, porexemplo, de pequenos peixes. Em alguns estudos,observou-se que variação de fluxo d'água entre essasduas estações pode gerar maior delimitação de habitatnos sistemas lóticos (BROW & BRUSSOCK, 1991;AGRANDI, 1996; SAULINO et al., 2011). Noperíodo seco, com o fluxo d'água menor, há maiordistinção e separação de pontos de corredeiras eremansos, enquanto no período chuvoso a tendênciaé ocorrer uma maior homogeneização de habitat,devido às inundações. Os resultados indicam que aentomofauna presente nos bancos de macrófitas nãofoi afetada por essa variável ambiental.

A maior similaridade entre os táxons de insetosaquáticos registrados nas macrófitas E. najas e Otteliasp. está relacionada com suas estruturas morfológicas,classificadas neste estudo como mais complexas emrelação as demais espécies estudadas. Diversosestudos registram uma relação positiva entre acomplexidade estrutural desses vegetais com adiversidade de insetos (THOMAZ et al., 2008;THOMAZ & CUNHA, 2010). A presença de maiorquantidade de inserções folheares pode terproporcionado maior quantidade de nichos, abrigandoassim um grupo entomofaunístico mais semelhante.

Os resultados demonstram a capacidade potencialde as macrófitas aquáticas abrigarem uma considerávelriqueza e abundância de insetos aquáticos, e que suascomplexidades morfológicas podem apresentar

Insetos aquáticos associados a macrófitas submersas...

distintas estruturas de comunidades.

AgradecimentosEste estudo é parte do trabalho de conclusão de

curso de APF e GA. Agradecemos a identificação dasmacróficas, feitas gentilmente pelo Dr. Claudinei daCruz, Dr. Robinson Antonio Pitelli e Dra. Silvia PatriciaCarraschi. Agradecemos todo o suporte na aquisiçãodo Laboratório de Biologia Aquática, pelacoordenação do Curso de Biologia da UNIARA, napessoa da profa. Teresa K. Muraoka; e pela da chefiado Departamento de Ciências Biológicas e da Saúde,na pessoa da Profa. Dra. Celi. V. Crepaldi.

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RECEBIDO EM 7/5/2013ACEITO EM 4/7/2013

PEIRÓ et al.

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REVISTA UNIARA, v.16, n.1, julho 2013 145

PRODUTIVIDADE E QUALIDADE DA BETERRABA EM FUNÇÃODA APLICAÇÃO DE DOSES DE NITROGÊNIO

BARRETO, Claudiane Reiz; ZANUZO, Márcio Roggia; WOBETO, Carmem; ROSA, Claudineli CássiaBueno da. Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT. Avenida Alexandre Ferronato, n.o 1200 – Setor

Industrial – Sinop-MT. E-mail: [email protected].

RESUMO

A beterraba esta entre as principais hortaliças cultivadas no Brasil, ocupando a 13.ª posição, em termos devalor econômico de sua produção, e a adubação nitrogenada possui papel fundamental na qualidade eprodutividade da cultura. O presente estudo avaliou a influência das doses de nitrogênio (0, 25, 50, 75, 100 e150 kg.ha-1) em cobertura nas cultivares Early Wonder e Itapuã de beterraba. O delineamento experimentalutilizado foi o de blocos casualizados, em esquema fatorial 2x6 (cultivar x doses) com quatro repetições. Foramavaliados o número de folhas, o teor de clorofila, peso médio, diâmetro médio, acidez total titulável, pH esólidos solúveis. Apenas o parâmetro número de folhas variou significativamente com as doses aplicadas e comas variedades, em que se obteve maior número de folhas para a cultivar Itapuã na dose de 25 kg.ha-1. Para pesomédio houve resultado significativo apenas nas variedades, onde se sobressaiu a cultivar Itapuã também nadose de 25 kg.ha-1. As demais fontes de variação estudadas não responderam significativamente às doses e àscultivares.

PALAVRAS-CHAVE: Beta vulgaris L., Área foliar; Raízes tuberosas.

BEET PRODUCTIVITY AND QUALITY, CONSIDERING THE APPLICATION OF NITROGEN DOSES

ABSTRACT

The beet is among the main vegetables grown in Brazil occupying the 13th position in terms of economic valueof its production and nitrogen fertilization has a fundamental role in the quality and in the productivity of theculture. The present study evaluated the influence of nitrogen doses (0, 25, 50, 75, 100 and 150 kg ha-1) incoverage way in the Early Wonder and Itapuã beet cultivars. The experimental design was a randomized blockdesign in a factorial scheme 2x6 (cultivar x doses) with four replicates. The number of leaves, chlorophyllcontent, weight, diameter, total acidity, pH and soluble solids were evaluated. Only the number of leaves parametervaried significantly according to the applied doses and varieties, obtaining more leaves in Itapuã at a dose of 25kg ha-1. Considering the medium weight there was significant result only in the varieties in which the cultivarItapuã was predominant also in the dose of 25 kg ha-1. The other sources of variation studied did not respondsignificantly to the doses and cultivars.

KEYWORDS: Beta vulgaris L., Leaf area; Tuberous roots.

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146 REVISTA UNIARA, v.16, n.1, julho 2013

BARRETO et al.

INTRODUÇÃO

A beterraba (Beta vulgaris L.) é uma raiztuberosa, originária da Europa, pertencente à famíliaChenopodiaceae. Assim como a acelga e o espinafre,tem uma típica coloração vermelho-escuro, devido àbetalaína, pigmento natural que pode ser usado comocorante, que também ocorre nas nervuras e no pecíolodas folhas, é de formato globular-achatado e temsabor acentuadamente doce (FILGUEIRA, 1982;RESENDE e CORDEIRO, 2007; SILVA et al.,2011).

No Brasil, seu cultivo é predominante na RegiãoSudeste, que representa cerca de 250 mil toneladaspor ano, gerando renda para mais de 500 mil pessoaspor ano – os produtores de beterraba movimentamR$ 256,5 milhões por ano no varejo, e o valor dacadeia produtiva dessa hortaliça atingiu R$ 841,2milhões em 2010 (TIVELLI et al., 2011). No país, oseu cultivo é designado exclusivamente para a mesadiferente dos países europeus, que utilizam a culturacomo fonte de açúcar.

A beterraba destaca-se, dentre as hortaliças, porsua composição nutricional, sobretudo em vitaminasdo complexo B. Seu consumo se dá tanto das folhasquanto da raiz, sendo esta consumida crua ou cozida(TRANI et al., 1995; ZÁRATE et al., 2008).

A raiz tuberosa consiste do entumescimento do eixohipocótilo-raiz e de porção superior limitada da raizpivotante. É o principal órgão armazenador de reservase tem seu crescimento e composição influenciados pelaadubação nitrogenada (AQUINO et al., 2006).

O nitrogênio contribui para o aumento daprodutividade das culturas por promover a expansãofoliar e o acúmulo de massa verde. Além de constituintede várias moléculas orgânicas, tais como proteínas,ácidos nucleicos e clorofilas, o nitrogênio exerce grandeefeito no crescimento das plantas e na qualidade dosprodutos vegetais, e a beterraba é uma cultura bastanteexigente em termos nutricionais. Porém, adubaçõesexcessivas contendo N podem afetar na qualidade daraiz, provocando acúmulo de glutamina (AQUINO etal., 2006; MARQUES et al., 2010).

Em estudo realizado por Damasceno et al. (2011),

em Minas Gerais, onde foram testadas as doses de 0,100, 200 e 300 kg.ha-1 de N, foi verificado um aumentolinear conforme se aumentavam as doses, e aprodutividade máxima de matéria fresca da parte aéreae raiz, e diâmetro de raiz, foi obtida com a dose de300 kg ha-1 de N. Resultados parecidos foram obtidopor Oliveira et al. (2003) na cultura do coentro, emque foram analisadas as doses de 0, 20, 40, 60, e 80kg ha-1 de N, em que também se obtiveram melhoresresultados na dose mais alta.

O manejo criterioso da adubação consiste emotimizar a produtividade, satisfazendo as necessidadesnutricionais da cultura pela adoção de técnicas quepropiciam maior eficiência no uso dos adubos. Aaplicação racional de fertilizantes exige o conhecimentoda disponibilidade de nutrientes no solo, das exigênciasnutricionais da cultura e da avaliação do estadonutricional das plantas (SOUZA et al., 2012).

O uso de adubação nitrogenada em beterraba é deextrema importância, porém a dose deve ser estudadapara se entender a recomendação ideal para cadaregião. Para o norte do Mato Grosso há poucosestudos referentes à adubação de N em beterraba,por isso se vê a importância de outros estudos de dosesde N em cobertura.

Neste trabalho se objetivou avaliar as diferentesdoses de nitrogênio na produtividade e qualidade dacultura da beterraba.

MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi realizado na área experimental daUniversidade Federal do Mato Grosso – UFMT,campus de Sinop, no período de abril a julho de 2011.O clima da região é tropical com estação, sendoclassificado por Köppen-Geiger como Aw. A médiade precipitação na região é de 154,3mm para o mêsde abril, 53,8mm para maio, 17,9mm para junho e4,4mm para o mês de julho. O solo é do tipo LatossoloVermelho-Amarelo (LVA), textura argilosa (Santos etal., 2006), com as seguintes características químicasno perfil 0-20cm:

pH H2O = 4,9; Ca = 0,6 cmolc dm-3; Mg = 0,3cmolc dm-3; K = 0,08 cmolc dm-3 e P(melh) = 0,5 mg

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Produtividade e qualidade da beterraba...

REVISTA UNIARA, v.16, n.1, julho 2013 147

dm-3. Micronutrientes: B = 0,24 mg.dm-3 , Cu = 0,2mg.dm-3, Fe = 46 mg.dm-3, Mn = 0,8 mg.dm-3, Zn =1,2 mg.dm-3, e teor de matéria orgânica = 2,5 dag kg-

1. O extrator para Boro foi (BaCl2.2H2O 0,125% aquente; Cu, Fe, Mn, Zn (DTPA pH 7,3).

Visando à correção da acidez do solo e aofornecimento de Ca e Mg às plantas, foi aplicado, 30dias antes da semeadura da beterraba, calcáriocalcinado (PRNT=70%; CaO = 28%; MgO = 19%),aplicado e incorporado ao solo na dose de 3 t ha-1.

O calcário foi aplicado ao solo até atingir V% (70)e incorporado com o auxílio de uma enxada rotativa,20 dias antes do plantio. Durante a semeadura, fez-sea adubação utilizando a formulação 4-14-8 na dosede 2.000 kg ha-1, conforme recomendação descritapor Filgueira (1982).

Os tratamentos foram assim definidos: testemunha,dose de 25 kg ha-1 (0,12 kg m-2) de N em cobertura,dose de 50 kg ha-1 (0,24 kg m-2) de N em cobertura,dose de 75 kg ha-1 (0,36 kg m-2) de N em cobertura,dose de 100 kg ha-1 (0,48 kg m-2) de N em coberturae dose de 150 kg ha-1 (0,72 kg m-2) de N em cobertura.

As parcelas para plantio apresentavam 1,20 m delargura por 1 metro de comprimento. No plantio,utilizou-se o espaçamento de 25x25 cm (linha eentrelinha), onde foram semeadas três sementes porcova. Após 20 dias da germinação, realizou-se umdesbaste, deixando-se apenas a planta mais vigorosa.A área útil da parcela constituiu-se das três linhascentrais, em que foram avaliadas 16 plantas no interiorda parcela, excluindo-se a bordadura. Utilizaram-separa tal duas cultivares, Early Wonder e Itapuã. Oplantio foi realizado no dia 9 de abril e o desbaste, em29 de abril de 2011. A irrigação foi realizada com oauxílio de mangueiras gotejadoras com lâmina diáriade 5mm, aplicada durante o período noturno com basena evapotranspiração do tanque Classe A.

As adubações de cobertura foram realizadasaplicando-se como fonte de N o adubo Nitrocálcio,utilizando-se doses crescentes de nitrogênio (0, 25, 50,75, 100, 150 kg ha-¹ de N), 50 dias após a semeadura.

Durante a condução do experimento, procederam-se tratos culturais, como capinas manuais, até os 40

dias após a germinação, e aplicação de fungicida einseticida recomendados para a cultura com intervalosde sete dias, para a prevenção da mancha decercóspora (Cercosporabeticola) e o ataque deinsetos como a vaquinha (Diabotica speciosa), alémda aplicação de micronutriente boro (B), sendoutilizado como fonte Bórax na dose de 2kg ha-1,aplicado em cobertura 30 dias após germinação.

As avaliações constituíram-se de análises físico-químicas, como: a) teor de clorofila: avaliado utilizando-se um aparelho clorofilômetro portátil (Clorofilog) emfolhas recém-desenvolvidas (TRANI et al., 1997), eo resultado expresso em clorofila total, b) Peso: avaliadopesando-se as raízes com o auxílio de balança digitalcom três casas decimais, o resultado foi expresso emgramas, c) diâmetro: mensurado com o auxílio de umpaquímetro digital, e os resultados expressos em cm,d) teor de açúcar: mensurado com o auxílio de umrefratômetro portátil e o resultado expresso em °Brix,e) pH e acidez total titulável: mensurados com o auxíliode um pHmetro de bancada, em que se pesaram 10gramas das raízes, sendo estas triturada em 90mL deágua destilada. Nesse momento se fez a leitura do pHe, em seguida, conduziu-se a titulação com NaOH(0,1N) até atingir o pH 8,1. O resultado foi expressoem porcentagem (%). As avaliações quanto ao teorde clorofila e número de folhas foram realizadas no diaanterior à colheita; as demais avaliações foramrealizadas pós-colheita.

O delineamento experimental empregado foi o deblocos casualizados em esquema fatorial 2x6 (2cultivares X 6 doses), com 4 repetições, totalizando48 parcelas. Os dados foram submetidos à análise devariância e as médias comparadas pelo teste de Tukeycom p<(0,05) com o auxílio de software (StatysticalAnalysis System).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1 estão representados o teor de sólidossolúveis (oBrix), em que o aumento das doses de Nnão foi significativo para nenhuma das cultivaresanalisadas, mostrando um comportamento sigmoide daaplicação de nitrogênio para ambas as cultivares.

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Aquino et al. (2006), avaliando adubação nitroge-nada em beterraba (cultivar Early Wonder 2000),verificaram que o aumento de doses de nitrogênioinfluenciaram o teor de sólidos solúveis (oBrix), de formaa obter aumento com o incremento da dose, porémhouve aumento somente até a dose de 193 kg.ha-1,com oBrix máximo estimado de 10,4, havendo reduçãoa partir dessa dose. O oBrix máximo obtido nestetrabalho foi de 15,08, na cultivar Itapuã, e 14,81, nacultivar Early Wonder, não apresentando diferençassignificativas em função das doses aplicadas.

Porém, Barcelos (2010), avaliando o desempenho

da beterraba 'Katrina' submetida a lâminas de água edoses de nitrogênio aplicadas via fertirrigação, observouque o teor de sólidos solúveis na beterraba foi indiferenteàs lâminas e às doses.

A influência das doses de nitrogênio para o pesomédio das raízes de beterraba não foi significativa paradose e interação cultivar e dose (Tabela 2). Porém,observa-se neste estudo que houve diferença entre oscultivares, sendo a cultivar Itapuã superior à cultivar EarlyWonder. Provavelmente, a cultivar Itapuã foi superiorpor ser adaptada a climas quentes, enquanto a cultivarEarly Wonder é adaptada a climas mais amenos.

Teor de Sólidos Solúveis

Doses de Nitrogênio (kg ha-1)

Fator 0 25 50 75 100 150

cv. Early Wonder

12,50

± 1,98

14,81

± 0,62

13,56

± 1,78

11,75

± 2,18

13,18

± 2,93

12,75

± 2,10

cv. Itapuã 14,81

± 2,70

13,98

± 1,27

13,81

± 2,30

11,50

± 4,27

14,06

± 1,63

15,08

± 2,40

Teste f

Cultivar 0,2641ns

Dose 0,3317ns

Cv. x Dose 0,7025ns

CV (%) 16,99118

Tabela 1 – Influência das doses de nitrogênio no teor de sólidos solúveis.

± Desvio padrão da média; ns não significativo pelo teste f.Fonte: Dados de pesquisa.

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BARRETO et al.

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Trani et al. (2005) observaram que a qualidade dasraízes de beterraba não foi influenciada pelas doses denitrogênio aplicadas. Esses autores comentam que aresposta da aplicação de nitrogênio em beterrabadepende do tipo de solo, da temperatura, da época emodo de adubação e da fonte de nitrogênio, ou seja, ainteração desses fatores esclarece as diferençassignificativas que há nas doses de nitrogêniorecomendadas em literatura. Porém, Purqueiro et al.(2009), avaliando a produtividade e qualidade debeterraba cv. 'Early Wonder 2000', cultivada em plantiodireto em função das doses de nitrogênio e molibdênio,observaram incremento linear e crescente na matériafresca por quilograma adicional de nitrogênio utilizado.

Na Tabela 3 estão representados os resultados dodiâmetro médio das raízes, em que não houve interação

entre doses, cultivares e interação dose x cultivares,porém houve tendência de maior diâmetro médio paraa cultivar Early Wonder, na dose de 75 kg ha-1, e paraa cultivar Itapuã, na dose de 25 kg ha-1. Trani et al.(2005), avaliando o efeito de doses de nitrogênio emcobertura na mesma cultura, também observaramresultado semelhante, pois em seus estudos nãoverificaram o efeito de doses de nitrogênio sobre odiâmetro das raízes. Porém, Damasceno et al. (2011),trabalhando com a cultivar 'Early Wonder Stays Green'em Minas Gerais, mostraram que a aplicação dediferentes doses de nitrogênio promoveu uma respostalinear no diâmetro de raiz, sendo encontrado o valormáximo de diâmetro de 7 cm. Neste estudo, a cultivarEarly Wonder e Itapuã apresentaram diâmetros médiosde 3,23 e 4,34 cm, respectivamente.

Tabela 2 – Influência das doses de nitrogênio no peso médio das raízes.

± Desvio padrão da média; ns não significativo pelo teste f; * significativo a 0,05 de probabilidade; ** dados transformadospara logaritmos.

Fonte: Dados de pesquisa.

Peso Médio das Raízes**

Doses de Nitrogênio (kg ha-1)

Fator 0 25 50 75 100 150

cv. Early Wonder

1,55

± 0,26

1,58

± 0,12

1,65

± 0,27

1,72

± 0,30

1,65

± 0,15

1,45

± 0,24

cv. Itapuã 1,85

± 0,16

1,88

± 0,15

1,59

± 0,29

1,68

± 0,06

1,72

± 0,16

1,76

± 0,15

Teste f

Cultivar 0,0285*

Dose 0,8649ns

Cv. x Dose 0,3285ns

CV (%) 12,93538

Produtividade e qualidade da beterraba...

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Possivelmente esse comportamento estárelacionado à deficiência de molibdênio, pois, de acordocom Enéas Filho et al. (2012), este elemento é essencialpara a fixação de nitrogênio e assimilação de nitratos,pois íons Mo (Mo4+ a Mo6+) são componentes dealgumas enzimas, incluindo a redutase do nitrato e anitrogenase, envolvidas na redução de nitrato paranitrito e de nitrogênio atmosférico para amônio; assim,

a deficiência de molibdênio no solo pode aparecercomo deficiência de nitrogênio, mesmo que a plantatenha bom suprimento de nitrato.

Quanto à acidez total titulável, os resultados tambémnão foram significativos estatisticamente ao nível decultivar, dose e na interação entre dose e cultivar(Tabela 4). A acidez total variou de 1,66 a 2,67 g.100g-

1 de peso fresco.

Tabela 3 – Influência das doses de nitrogênio no diâmetro médio das raízes de beterraba.

± Desvio padrão da média; ns não significativo pelo teste f; ** dados transformados em logaritmos.Fonte: Dados de pesquisa.

Diâmetro Médio das Raízes**

Doses de Nitrogênio (kg ha-1)

Fator 0 25 50 75 100 150

cv. Early Wonder

1,53

± 0,23

1,55

± 0,13

1,53

± 0,20

1,59

± 0,19

1,58

± 0,11

1,51

± 0,18

cv. Itapuã 1,63

± 0,09

1,72

± 0,05

1,45

± 0,07

1,59

± 0,01

1,61

± 0,05

1,60

± 0,09

Teste f

Cultivar 0,2455ns

Dose 0,5376ns

Cv. x Dose 0,6160ns

CV (%) 9,131809

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BARRETO et al.

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Cardoso et al. (2007), avaliando a produtividadee qualidade de tubérculos de batata em função dedoses e parcelamentos de nitrogênio e potássio,observaram que o uso do parcelamento e da dose daadubação nitrogenada e potássica não contribuiu parao aumento da característica acidez total titulável nostubérculos de batata, ou seja, seus resultadoscorroboram com este trabalho.

Barcelos (2010), avaliando o desempenho dabeterraba 'Katrina' submetida a diferentes lâminas deirrigação e doses de nitrogênio aplicadas via fertirrigação,observou também o mesmo resultado, em que a acideztotal titulável não sofreu influência das doses deadubação nitrogenada, mostrando-se médias crescentes.

Já nos trabalhos descritos por Marques et al.(2010), a acidez total titulável foi crescente com o

aumento da dose. Isso pode ser explicado, pois, deacordo com os autores, a nutrição potássica aumentao teor de acidez, sendo assim, o potássio, fornecidoatravés do esterco bovino, elevou o teor de ácidoascórbico, o que os levou a relacionar o crescenteaumento da acidez titulável com o acréscimo depotássio nos tratamentos.

Em nosso estudo não houve resultados significativospara pH (Tabela 5): obteve-se pH de 6.58 para a cultivarEarly Wonder, na dose de 150 kg.ha-1, e para a cultivarItapuã, 6,55 na testemunha. Os resultados demonstramcomportamentos diferentes entre os cultivares, porémnão significativos. De acordo com Marques et al.(2010), a composição química da beterraba varia comas condições da cultura, variedade, estágio dematuração, nutrição e outros fatores.

Tabela 4 – Influência das doses de nitrogênio na acidez total titulável.

± Desvio padrão da média; ns não significativo pelo teste f; ** dados transformados em logaritmos.Fonte: Dados de pesquisa.

Acidez Total Titulável**

Doses de Nitrogênio (kg ha-1)

Fator 0 25 50 75 100 150

cv. Early Wonder

1,07

± 0,01

1,08

± 0,02

1,07

± 0,01

1,08

± 0,02

1,07

± 0,00

1,09

± 0,01

cv. Itapuã 1,10

± 0,01

1,06

± 0,00

1,07

± 0,01

1,08

± 0,03

1,07

± 1,04

1,06

± 0,01

Teste f

Cultivar 0,6395ns

Dose 0,6021ns

Cv. x Dose 0,3959ns

CV (%) 2,107073

Produtividade e qualidade da beterraba...

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Barcelos (2010), avaliando o desempenho dabeterraba 'Katrina', observou o mesmo resultado – opH não sofreu influência das doses de adubaçãonitrogenada, mostrando-se médias crescentes. Nostrabalhos descritos por Marques et al. (2010) o pHtambém não sofreu alteração.

Outro parâmetro importante a ser avaliado é onúmero de folhas, pois o mesmo pode funcionar comofonte e dreno para a raiz. O número de folhas foiinfluenciado pela variedade, dose e a interação entredose e variedade. Entre as cultivares analisadas,observou-se que a cultivar Itapuã foi superior à cultivar

Early Wonder.O aumento crescente da dose de nitrogênio mostrou

uma variação no número de folhas de 4 a 10 por planta,sendo o maior número de folhas obtido com a menordose (Tabela 6). O número de folhas também variouentre as cultivares: a cultivar Itapuã é que apresentoumelhor resposta na dose de 126,29 kg ha-1, de acordocom a análise de regressão (Figura 1); porém, com ocoeficiente de determinação (R2) mais próximo de 0 doque de 1, o dado se torna pouco confiável, pois, quandoR2=0, significa que grande parte da variação de Y não éexplicada linearmente pela variável independente.

Tabela 5 – Influência das doses de nitrogênio no pH.

± Desvio padrão da média; ns não significativo pelo teste f.Fonte: Dados de pesquisa.

pH

Doses de Nitrogênio (kg ha-1)

Fator 0 25 50 75 100 150

cv. Early Wonder

6,55

± 0,03

6,53

± 0,03

6,50

± 0,01

6,53

± 0,06

6,41

± 0,06

6,52

± 0,01

cv. Itapuã 6,50

± 0,06

6,55

± 0,03

6,52

± 0,06

6,51

± 0,02

6,58

± 0,14

6,52

± 0,08

Teste f

Cultivar 0,2414ns

Dose 0,8688ns

Cv. x Dose 0,0472ns

CV (%) 1,015849

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BARRETO et al.

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Tabela 6 – Influência das doses de nitrogênio no número de folhas.

± Desvio padrão da média; * significativo a 0,05 de probabilidade.Fonte: Dados de pesquisa.

Número de Folhas

Doses de Nitrogênio (kg ha-1)

Fator 0 25 50 75 100 150

cv. Early Wonder

8,03

± 2,81

6,68

± 1,10

7,65

± 1,97

7,30

± 1,85

7,09

± 0,83

6,71

± 1,41

cv. Itapuã 10,05

± 0,94

10,08

± 1,55

4,99

± 0,95

7,66

± 0,43

9,34

± 1,12

8,79

± 0,06

Teste f

Cultivar 0,0085*

Dose 0,0206*

Cv. x Dose 0,0056*

CV (%) 18,91949

Análise de Regressão

Y cv. Itapuã = 0,4316x2 – 3,1896x + 13,106* R2 = 0,3988

Produtividade e qualidade da beterraba...

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Alves et al. (2008), avaliando o desenvolvimentoe estado nutricional da beterraba conduzida em vasosplásticos com solução nutritiva, sob casa de vegetaçãoe em função da omissão de nutrientes, verificaram quea falta de N para a beterraba reduziu consideravel-mente o número de folhas.

Os resultados da leitura do clorofilômetro nãoforam significativos para as doses ou para cultivares(Tabela 7); no entanto, a cultivar Itapuã apresentouleitura superior aos demais tratamentos na dose de25 kg.ha-1, porém não diferindo do tratamentocontrole.

Figura 1 – Influência das doses de nitrogênio no número de folhas.Fonte: Dados de pesquisa.

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BARRETO et al.

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Trani et al. (2005) obtiveram resultados contráriosao estudar o efeito de doses de nitrogênio em coberturana beterraba, pois observaram que há uma relação lineare positiva entre o teor de N das folhas com a dose deN aplicada em cobertura.

Porém, os resultados observados por Soratto etal. (2004) – que, avaliando o teor de clorofila emfeijoeiro, em razão da adubação nitrogenada – foramsemelhantes aos resultados deste trabalho: maioresdoses de N disponíveis no solo aumentaram o teor dopigmento, até certo ponto, indicando a não produçãode clorofila pelas plantas além da quantidade de quenecessitam.

CONCLUSÃO

1. Apenas o parâmetro número de folhas foi

significativo com as doses aplicadas e com asvariedades, em que se obteve maior número de folhaspara a cultivar Itapuã na dose de 25 kg.ha-1.

2. Para peso médio houve resultado significativoapenas para variedade.

3. No presente estudo não houve influência dasdoses de N na produção de beterraba na região.

As demais fontes de variação estudadas não foraminfluenciadas pelas doses de nitrogênio avaliadas.

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Tabela 7 – Influência das doses de nitrogênio no teor de clorofila.

± Desvio padrão da média; ns não significativo pelo teste f.Fonte: Dados de pesquisa.

Teor de Clorofila

Doses de Nitrogênio (kg ha-1)

Fator 0 25 50 75 100 150

cv. Early Wonder

43,71

± 7,20

43,46

± 5,05

45,28

± 7,31

46,60

± 3,62

44,43

± 3,11

44,20

± 7,36

cv. Itapuã 48,72

± 3,35

49,58

± 1,52

31,97

± 7,40

47,28

± 3,70

48,60

± 4,98

45,82

± 9,69

Teste f

Cultivar 0,6849ns

Dose 0,0632ns

Cv. x Dose 0,0248ns

CV (%) 12,98421

Produtividade e qualidade da beterraba...

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BARRETO et al.

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EFEITO DA POMADA DE BARBATIMÃO (STRYPHNODENDROMBARBATIMAN MARTIUS) ASSOCIADO AO ULTRASSOM DE BAIXA

INTENSIDADE SOBRE A CICATRIZAÇÃO POR SEGUNDAINTENÇÃO DE LESÕES CUTÂNEAS TOTAIS EM RATOS

BALLABEN, Anelise Stella. Biomédica. CRISCI, Ana Rosa. Mestre. E-mail: [email protected], Maria Helena Simões. Mestre. Centro Universitário Barão de Mauá. Rua: Ramos de Azevedo, 425,

Jardim Paulista. CEP 14090-180, Ribeirão Preto-SP.

RESUMO

Pesquisas relacionadas ao tratamento de feridas cutâneas são motivo de interesse de pesquisadores, que buscamnovos produtos e tecnologias com a possibilidade de acelerar o processo cicatricial. A presente pesquisa teve porobjetivo analisar a ação cicatrizante da pomada de barbatimão a 5% (Stryphnodendrom barbatiman Martius),associada ao ultrassom pulsado – USP de baixa intensidade, no modelo de cicatrização por segunda intenção.Foram utilizados 24 ratos Wistar (250-300g), divididos em 4 grupos: A: o grupo controle; B: tratado com Barbatimão;C: foi tratado com USP; e D: aplicação de USP associado com Barbatimão. Após anestesia com cloridrato deKetamina 100mg/kg e cloridrato de Xilazima 6mg/kg, foi realizada a tricotomia da região dorsal de cada animal,seguida se uma lesão cortante de aproximadamente 1,0 cm², que atingiu o tecido subcutâneo. Observou-se que oUSP apresentou maior poder de cicatrização nos cinco primeiros dias de tratamento (p=0,1), comparado com obarbatimão (p=0,2). Porém, nos dez dias de lesão, o barbatimão apresentou-se mais eficiente (p= 0,3) quandocomparado ao USP (p=0,9). Já a associação de ambos não mostrou capacidade de acelerar a cicatrização.Observou-se que ambos os tratamentos têm poder cicatrizante quando usados isoladamente.

PALAVRAS-CHAVE: Stryphnodendron barbatimam; Terapia por ultrassom; Cicatrização.

THE EFFECTS OF "BARBATIMÃO" OINTMENT (STRYPHNODENDROM BARBATIMAN MARTIUS) ASSOCIATED WITH LOW

INTENSITY ULTRASOUND ON THE HEALING OF TOTAL CUTANEOUS LESIONS IN RATS

ABSTRACT

Related researches for the treatment of skin wounds is a matter of interest to researchers seeking new productsand technology with the possibility of accelerating the healing process. The present study had as aim to analyzethe healing action of "Barbatimão" ointment at 5% (Stryphnodendrom Barbatiman Martius) associated withlow intensity pulsed ultrasound on the second intention healing process. The experiment was carried out using 24Wistar rats (250-300g) divided into 4 groups: A was the control group, B: was treated with Barbatiman ointment,C: with pulsating ultrasound and D: with a combination of pulsating ultrasound and Barbatiman ointment. Afteranaesthesia with Ketamin 100g/kg and Xilamin chlorohidrate 6mg/kg, the dorsal region of the animal was shavedand an approximate 1.0 cm2 incision into the subcutaneous tissue was made. It was seen that in the first 5 daysof treatment (p=0,1) the pulsating Ultrasound presented the best healing when compared to the "Barbatimão"ointment (p=0.2). However, after 10 days the lesions treated with "Barbatimão" showed that this treatment wasbetter (p=0.3) compared to the pulsating ultrasound (p=0.9), but the association of the two types of treatmentswas not as successful at accelerating the healing process. Thus it was determined that separately they were moreefficient at healing wounds.

KEYWORDS: Stryphnodendrom barbatiman; Ultrasound therapy; Healing.

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BALLABEN et al.

INTRODUÇÃO

A cicatrização tecidual é um processo dinâmico,independentemente de como foi induzida, seja portraumatismo ou por qualquer tipo de procedimentocirúrgico. Esse processo envolve uma série defenômenos, como a inflamação, quimiotaxia,proliferação celular, diferenciação celular. Quando oprocesso inflamatório não pode ser eliminado,desencadeia-se uma resposta complexa, que podelevar a uma inflamação crônica (GONÇALVES ePARIZOTTO, 1998; BALBINO et al., 2005;STEVENS e LOWE, 2000; KUMAR et al., 2005).

Devido a isso, um arsenal terapêutico tem sedesenvolvido, nos últimos anos, não somente comsubstâncias sintéticas, como também com aincorporação de fitoterápicos, inclusive com alguns játestados e apresentando resultados significativos(GARROS et al., 2006). Vários estudos com extratosde plantas têm sido utilizados como atividadescicatrizantes, antimicrobianas e imunomoduladora(ATES e ERDOÚRUL, 2003; ARORA e KAUR,2004; AMIRGHOFRAN et al., 2009).

O barbatimão é uma planta nativa do Cerradobrasileiro, que contém alto teor de taninos que lheproporcionam ação adstringente, antisséptica,antioxidante e cicatrizantes (FARIA, 1992). É umaárvore que cresce de maneira isolada e, das 26 espéciesdessa árvore, 25 são nativas do Brasil.

Pelo fato de o barbatimão possuir propriedadesadstringentes, permite que haja a formação de umrevestimento protetor que impede a multiplicação debactérias e, consequentemente, age como umaassepsia. Isso tudo é devido à precipitação dasproteínas das células superficiais da mucosa e dostecidos lesados desprotegidos (COSTA, 1986).

Inúmeras plantas são utilizadas com atividadescicatrizantes, como a Calendula officinales(calêndula) (FLEISCHNER, 1985), a Eclipta alba(agrião-de-brejo), o Symphytum officinale (confrei)e o Stryphnodendron adstringens (NETO et al.,1996).

De acordo com Jorge Neto et al. (1996), existemtrabalhos que já descreveram a grande eficiência no

tratamento de úlcera varicosa , devido a associaçãodo barbatimão com a calêndula. Silva (2006),trabalhando com gatas ovariohisterectomizadas,verificou que os curativos com iodopovidona ebarbatimão apresentaram o mesmo tempo decicatrização, quando comparados entre si,demonstrando que o fitoterápico possui açãocicatrizante confiável.

Estudos realizados com a utilização da pomadacontendo 3% de fito completo fenólica de barbatimãomostram que a cicatrização de lesões de grau I e IIocorreu em um período de 3 a 6 semanas e as de grauIII, entre 10 e 18 semanas. Todas as lesões tratadascom a pomada cicatrizaram completamente(MINATEL et al., 2010). Entretanto, estão sendointroduzidas, terapias físicas, como o ultrassom pulsadode baixa intensidade, que minimiza o risco de lesõesteciduais, que podem ocorrer com intensidadeselevadas e com o modo contínuo (FERREIRA et al.,2008; MENDONÇA et al., 2006). Recentemente,esses efeitos benéficos foram relacionados à irradiaçãoultrassônica pulsada de baixa intensidade sobre oprocesso de cicatrização e regeneração de diferentestecidos (MENDONÇA et al., 2006).

Utilizado no tratamento de lesões de tecidos moles,o ultrassom pode acelerar a reparação tecidual nassuas diferentes fases, sendo possível melhorar tanto avelocidade da cicatrização, quanto a qualidade dotecido cicatricial (inflamação aguda, proliferação eremodelação) desde o seu início, liberando histaminase fatores de crescimento, pela degranulação demacrófagos, mastócitos e plaquetas. Além disso,ocorre também um aumento de colágeno, pois osfibroblastos e as células endoteliais sofrem ação doultrassom e, com isso, o tecido fica mais resistente àação da tração (FERREIRA et al., 2008).

Dados na literatura quanto ao uso combinado doultrassom pulsado – USP com alguma substânciaquímica para a cicatrização de feridas são escassos.Camargo (2007) associou o USP com papaína emforma de gel em úlceras de pressão, porém, esta erapara evitar a aderência da gaze e facilitar a remoçãodo curativo sem dor para os pacientes, obtendo assim

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Efeito da Pomada de barbatimão...

REVISTA UNIARA, v.16, n.1, julho 2013 161

resultados significativos.A proposta é, portanto, verificar se o processo de

cicatrização se torna mais eficaz por meio daassociação dos dois tratamentos: o ultrassom pulsadode baixa intensidade com a pomada de barbatimão,com a finalidade de serem utilizados pela equipe desaúde como um tratamento inovador e não invasivo,para a redução do tempo de cicatrização da pele.

MATERIAIS E MÉTODO

Foram utilizados neste experimento 24 ratos comvariação de 250g a 300g de peso, divididos em 4grupos. Os ratos foram anestesiados com aplicaçãode 0,2 mg/kg de cloridrato de xilazina 2% (rompum) e0,3 mg/kg de cloridrato de ketamina 10%, para arealização da lesão na pele.

A lesão foi realizada na região dorsal; inicialmente,foi feita a tricotomia e a delimitação de uma área de 1cm², onde foi realizada a lesão com o auxílio de bisturiou tesoura apropriada (Figura 1).

No grupo controle (grupo A), formado por oitoratos, após a lesão cirúrgica, foi aplicado soro fisiológicoapenas para manter a hidratação do local. Desse grupo,quatro animais foram sacrificados após cinco dias dalesão e os outros quatro foram sacrificados dez diasapós a lesão.

No grupo B experimental, com oito ratos, após alesão cirúrgica, os animais receberam a aplicação dapomada Fitoscar (Stryphanodendron adstringens(Mart.) Covelle.), extrato seco 5% do laboratórioApsen (Figuras 2C e D), sendo que, destes animais,quatro foram sacrificados cinco dias após a lesão e osoutros quatro foram sacrificados dez dias após a lesão.

Os quatro animais do grupo C foram submetidos,

após a lesão, a aplicações diárias de USP por cincominutos, sempre no mesmo horário, e da mesmamaneira dois deles foram sacrificados cinco dias apósa lesão e os outros dois animais, dez dias após a lesão.

No último grupo, o D, os quatro animais foramsubmetidos, após a lesão, à aplicação da pomadaFitoscar, associada a aplicações diárias de ultrassomde baixa intensidade por cinco minutos, sempre nomesmo horário (Figuras 2A e B); dois foramsacrificados cinco dias após a lesão e os outros dois,dez dias após a lesão.

Portanto, o sacrifício dos animais em câmara dedióxido de carbono, conforme aprovação do Comitêde ética Animal, foi realizado no 5.º e 10.º dias doexperimento, para a avaliação do processo cicatricialnesses intervalos.

Após a eutanásia dos animais, as regiões lesionadasforam retiradas, fixadas em formol 10% e processadaspelas técnicas histológicas de rotina. As coloraçõesfeitas foram: Hematoxilina e eosina. Os corteshistológicos foram analisados sob microscopia ópticae as fotomicrografias realizadas através defotomicroscópio, para a identificação das áreas decicatrização.

Os dados histopatológicos foram transformados emescores e quantificados de acordo com a técnica deMYERS modificada. A soma dos produtos da Tabela1, a seguir, correspondeu ao escore total para cadaanimal. Os resultados foram avaliados por análise devariância, para determinar as diferenças existentes entreos grupos, foi feito um teste não paramétrico deKruskal-Wallis. (apêndice). Foram consideradassignificativas comparações com P igual ou menor a 0,05(p<0,05*).

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BALLABEN et al.

Variáveis 0 -

ausente +1 - leve +2 -

moderado + 4

maciço Fator

abcesso -10

crosta -1

regeneração epitelial +5

fibroblastos +5

tecido granulação +5

colágeno +10

Escore total

Tabela 1 – Variáveis e escores (Método de Myers).

Fonte: Medeiros et al., 1999.

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Efeito da Pomada de barbatimão...

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Figura 1 – Etapas dos procedimentos cirúgicos: Em A:animais em gaiolas individuais e identificadas, Em B:manipulação para anaestesia, Em C : anestesia , Em D: tricotomia, Em E: padronização dos cortes, Em F:

marcação do corte, Em G: procedimento cirúrgico, Em H: finalização da lesão.Fonte: Dados de pesquisa.

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RESULTADOS

Durante os cinco primeiros dias de tratamento,observou-se na análise histopatológica das áreas dosanimais do grupo tratado (Figuras 3B,4B e 5B), compomada de barbatimão, uma grande vascularização(seta curta) e presença de crosta fibrino-leucocitária(asterisco), infiltrado inflamatório (seta pontilhada),formação de neovasos (seta curta) e presença defibroblastos (seta vasada).

Durante os cinco primeiros dias de tratamento,observou-se na análise histopatológica das áreas dosanimais do grupo tratado com o ultrassom pulsadode baixa intensidade (Figuras 3C, 4C e 5C) apresença de infiltrado inflamatório (seta pontilhada)e crosta fibrino-leucocitária (asterisco), e presençade grande número de polimorfonucleares (seta

pontilhada).Durante os cinco primeiros dias de tratamento,

observou-se na análise histopatológica das áreas dosanimais tratados com a associação dos tratamentos(Figuras 3D, 4D e 5D) a presença de infiltradoinflamatório (seta pontilhada), poucos vasosneoformados (seta curta) e muitos polimorfonucleares(seta pontilhada).

Durante os cinco primeiros dias de tratamento,observou-se na análise histopatológica das áreas dosanimais do grupo controle (Figuras 3A, 4 A e 5A),que recebeu apenas soro fisiológico como tratamentotópico, a presença de crosta fibrino-leucocitária (*)completamente solta da região lesada e infiltradoleucocitário (seta pontilhada) e presença de grandenúmero de polimorfonucleares (seta pontilhada).

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BALLABEN et al.

Figura 2 – Etapas das aplicações diárias. Em A: Aparelho de USP utilizado no experimento. Em B:Aplicação de ondas ultrassonicas. Em C e D: Aplicação da pomada de barbatimão.

Fonte: Dados de pesquisa.

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Efeito da Pomada de barbatimão...

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Figura 3 – Fotomicrografias dos aspectos histopatológicos das feridas com 5 dias de tratamento(H.E.)(Pan 4x) Em A: grupo controle, em B: grupo tratado com barbatimão, Em C: grupo tratado com USP,

em D: grupo tratado com USP e barbatimão.Presença de crosta fibrino-leucocitária (*), Infiltradoleucocitário (seta pontilhada), neovascularização (seta curta). Aumento final 40x.

Fonte: Dados de pesquisa.

Figura 4 – Fotomicrografias dos aspectos histopatológicos das feridas com 5 dias de tratamento(H.E.)(10x). Em A: grupo controle, em B: grupo tratado com barbatimão, Em C: grupo tratado com USP,

em D: grupo tratado com USP e barbatimão. Presença de, Infiltrado leucocitário (seta pontilhada),neovascularização (seta curta). ) Aumento final 40x.

Fonte: Dados de pesquisa.

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A análise histopatológica dos animais tratadosdurante dez dias com pomada de barbatimão (Figuras6B, 7B e 8B) mostra tecido epitelial refeito e totalmenteaderido à derme (seta cheia), presença de crosta soltado tecido reepitelizado (asterisco), presença defibroblastos (seta vasada) e disposição homogênea defibras colágenas (*).

Na análise histopatológica dos animais tratadosdurante dez dias com ultrassom pulsado de baixaintensidade (Figuras 6C, 7C e 8C), observou-segrande quantidade de fibroblastos (seta vasada),crosta fibrino leucocit ária complet amentedesprendida (asterisco), reepitelização completa(seta cheia) e grande quantidade de neovasos (setacurta).

Na análise histopatológica dos animais tratadosdurante dez dias com tratamento associado (Figuras6D, 7D e 8D) notou-se a ausência de crostafibrinoleucocitária, uma reepitelização completa (setacheia), uma grande quantidade de fibroblastosalinhados (seta vasada), assim com uma maiorvascularização (seta curta) quando comparada comos outros tipos de tratamento.

A análise histopatológica dos animais tratadosdurante dez dias (Figuras 6 A, 7A e 8A) apenas comsoro fisiológico como tratamento tópico mostra apresença de crosta fibrino-leucocitária ainda muitoaderida ao epitélio (asterisco), a reepitelização maisatrasada em relação aos demais tratamentos (seta cheia)e a presença de fibroblastos.

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BALLABEN et al.

Figura 5 – Fotomicrografias dos aspectos histopatológicos das feridas com 5 dias de tratamento(H.E.)( 40x). Em A: grupo controle, em B: grupo tratado com barbatimão, Em C: grupo tratado com USP,

em D: grupo tratado com USP e barbatimão. Presença de polimorfonucleares (seta curta pontilhada),fibroblastos(seta vasada) e neovasos( seta curta). Aumento final 400x.

Fonte: Dados de pesquisa.

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Efeito da Pomada de barbatimão...

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Figura 6 – Fotomicrografias dos aspectos histopatológicos das feridas com 10 dias de tratamento(H.E.) (Pan). Em A: grupo controle, em B: grupo tratado com barbatimão, Em C: grupo tratado com USP,em D: grupo tratado com USP e barbatimão.Presença de crosta fibrino-leucocitária (*), neovascularização

(seta curta), reepitelização (seta cheia). Aumento final 100x.Fonte: Dados de pesquisa.

Figura 7 – Fotomicrografias dos aspectos histopatológicos das feridas com 10 dias de tratamento(H.E.) (10x). Em A: Controle, em B: grupo tratado com barbatimão, Em C: grupo tratado com USP, em D:grupo tratado com USP e barbatimão. Presença de neovascularização (seta curta), crosta fibrino-leucocitária

(*) e reepitelização (seta cheia) Aumento final 100x.Fonte: Dados de pesquisa.

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BALLABEN et al.

Figura 8 - Fotomicrografias dos aspectos histopatológicos das feridas com 10 dias de tratamento(H.E.)( 40x). Em A: grupo controle, em B: grupo tratado com barbatimão, Em C: grupo tratado com USP,em D: grupo tratado com USP e barbatimão. Presença de fibroblastos (seta vasada) e neovasos (seta curta)

e fibras colágenas (*). Aumento final 400x.Fonte: Dados de pesquisa.

Para as avaliações estatísticas foi aplicado o testeKruskal-Wallis (análise de variância não-paramétricaou teste não-paramétrico para comparação de médiasde mais de dois grupos). Esse teste não-paramétricofoi utilizado devido ao tamanho reduzido das amostraspara cada tratamento, e não foi verificada distribuiçãogaussiana para os dados.

O teste de comparação de médias foi realizado paracomparar os escores médios obtidos com o tratamentofeito com a pomada de barbatimão, o tratamento comUSP, com a associação de ambos e com o grupo controle.Devido ao pequeno tamanho amostral, não houvediferença estatística significante nos tratamentos aplicados:os resultados obtidos foram p=0,1437 aos cinco dias detratamento e p=0,6821 aos dez dias de tratamento.

Foram feitas outras análises: o grupo controle,comparado com o grupo que foi tratado com a pomadade barbatimão durante cinco dias, foi p=0,2; com o

USP foi p= 0,1333 e, com a associação de ambos, foip= 0,9999. O grupo controle, comparado com o grupoque foi tratado com a pomada de barbatimão durantedez dias, resultou em p= 0,3429; com o USP foi p=0,9999 e, com a associação de ambos, foi p= 0,8.

Com essas análises também não conseguimosdiferença estatística significativa, devido à pequenaamostragem de animais.

DISCUSSÃO

Em concordância com Santos et al. (2002), acicatrização é um processo que ocorre para garantir areparação e o fechamento de uma área lesada.

Esse reparo tissular é um processo complexo, queenvolve a interação entre células da matriz extracelulare circulatórias, ambas ativadas por diversosmediadores químicos, por elementos da própria matrizextracelular, por alterações de natureza física e química

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da região da lesão e de áreas circunjacentes. Emboradidaticamente o processo de cicatrização seja divididoem três fases, elas se comportam independentementee sequencialmente no tempo. Portanto, os eventoscelulares, tissulares e metabólicos possuem umacronologia pré-estabelecida (BALBINO et al., 2005).

Esse fato se torna relevante devido aos aspectosterapêuticos adotados, pois não seria correto, porexemplo, administrar um potencializador da migraçãode neutrófilos se a análise cronológica da lesão indicarque ocorre o predomínio da reepitelização. Sendoassim, muitas pesquisas devem ser realizadas no sentidode empregar a substância tópica, ou qualquer outratecnologia que acelere o processo cicatricial normal,no tempo cronológico da lesão.

O que é feito de imediato é proteger a ferida decomplicações físicas, químicas ou bacteriológicas quepossam retardar o processo cicatricial (ARAUJO etal., 1994).

Foi, portanto, o objetivo primário desta investigaçãoassociar uma tecnologia conhecida e comprovadamenteatuante nos processos cicatriciais, o USP pulsado debaixa intensidade, com uma substância química tambémconhecida e utilizada pelos profissionais da saúde, apomada de barbatimão. O rato foi o modeloexperimental escolhido por ser de fácil manutenção emanuseio, sendo também de dimensões adequadas àprodução das lesões padronizadas e aos tipos detratamentos propostos.

As lesões cutâneas foram extensas, com remoçãocompleta da pele em área padronizada, expondo afáscia do músculo subjacente do dorso do animal, paraque não houvesse interferência dele no mecanismo decicatrização. Após a retirada do fragmento de pele,ocorre a formação de uma solução de continuidadeque é preenchida inicialmente por fibrina, coágulo eexsudato inflamatório, formando a crosta que recobrea ferida (BEVILACQUA et al. 1981; MARCHINI,1994). Em nossos achados, todos os tipos detratamento, inclusive no grupo controle, foi observadanos cinco primeiros dias da lesão a formação deexsudato inflamatório e crosta cobrindo a ferida.

Porém, resultados evidenciaram que a pomada de

barbatimão, comparada com o controle, se mostroumais eficiente nos primeiros cinco dias de tratamento(p=0,2), comparados aos dez dias de tratamento(p=0,3), o que comprova sua propriedade cicatrizantee anti-inflamatória, segundo Favoreto et al. (1985),que também demonstraram a eficiência daspreparações aquosas de barbatimão no tratamento deúlceras de contenção em ratos.

Young e Dyson (1990a) observaram que, desde o5.º dia da produção da lesão, havia um contingentemuito menor de células inflamatórias. Foi o que seobservou neste experimento, quando se comparou como grupo controle. Porém, na associação da pomadade barbatimão com o ultrassom pulsado de baixaintensidade comparada com o controle, nos cincoprimeiros dias, isso não foi possível observar: osresultados foram ainda menos significativos (p=0,9),provavelmente por atuarem em fases da lesãocronologicamente diferentes.

O ultrassom pulsado de baixa intensidade, segundoDyson,(1987), age nas fases do mecanismo fisiológico(inflamação aguda, proliferação e remodelação) desdeo seu início, no qual promove a liberação de histaminae de fatores de crescimento, pela degranulação demacrófagos, mastócitos e plaquetas. Os fibroblastos eas células endoteliais também podem ser afetados peloultrassom, aumentando a síntese de colágeno, o queconfere maior resistência do tecido à tração.

Nossos achados com o ultrassom pulsado de baixaintensidade, nos cinco primeiros dias de tratamento,foi melhor (p=0,1), em comparação aos dez dias detratamento (p= 0,9).

Na associação da pomada de barbatimão com oultrassom pulsado de baixa intensidade, emcomparação com o controle, nos dez primeiros diasos resultados foram mais significativos (p= 0,8).Sugere-se que a diferença de efeito entre os tratamentosnão foi detectada por causa do tamanho amostrallimitado. Ferreira (2005), para verificar apenas osefeitos do ultrassom pulsado de baixa intensidade nacicatrização de lesões cutâneas por segunda intenção,utilizou 30 animais no seu grupo controle e 30 animaisno grupo que recebeu o estímulo utrassônico – durante

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o experimento, 6 animais morreram e foram substituídospara manter a uniformidade dos grupos.

Como o mecanismo pelo qual o barbatimão estimulaa proliferação celular dos queratinócitos na cicatrizaçãoainda não é conhecido, de acordo com Santos (2002),sugerem-se novas investigações, com o objetivo deidentificar qual a melhor fase para se usar a pomadade barbatimão.

Nossos achados se coadunam com investigaçõessemelhantes que usaram o USP pulsado de baixaintensidade e a pomada de barbatimão isoladamentenos cinco primeiros dias da lesão e obtiveram resultadosestatisticamente significativos. Embora aos dez diasapós a lesão se observe uma reepitelização total comtodos os tipos de tratamento, pode-se afirmar que apomada de barbatimão é o tratamento mais eficiente.

Tendo em vista os resultados obtidos para o períodocompreendido entre o quinto e o décimo dias, ao secomparar a área de lesão nos grupos controle, compomada de barbatimão e irradiado com o ultrassompulsado de baixa intensidade e com a associação deambos os tratamentos, sugere-se que novas pesquisassejam conduzidas, no intuito de identificar em qual diao grupo tratado com o ultrassom pulsado de baixaintensidade e o grupo tratado com a pomada debarbatimão sobre a cicatrização cutânea apresentammelhor eficácia, já que os métodos podem ser utilizadospelos profissionais dessas áreas, devido ao baixo custoe possibilidade de aplicações em domicílio.

CONCLUSÃO

É possível concluir que ambos os tratamentos sãoconfiáveis, quando utilizados isoladamente. São debaixo custo e de fácil manuseio.

O ultrassom pulsado de baixa intensidade deve serusado imediatamente após a lesão, pois écomprovadamente mais eficiente nos cinco primeiros diasda lesão, quando comparado com o grupo controle.

Com relação à pomada de barbatimão, pouco aindase sabe sobre a fase exata da cicatrização em que elaatua, porém sabemos que, usada isoladamente durantenos dez primeiros dias da cicatrização, funciona comoum ótimo cicatrizante.

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O USO DE RECURSOS DIDÁTICOS COMO ESTRATÉGIA NOENSINO DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA

LOPES, Mario Marcos. Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pelo Centro Universitáriode Araraquara – UNIARA, Especialista em Didática e Tendências Pedagógicas pela Faculdade São Luís deJaboticabal, Professor tutor do Curso de Aperfeiçoamento em Educação Ambiental pela Universidade de São

Paulo – Unifesp. Docente da Rede Estadual de Ensino de São Paulo. E-mail: [email protected], Maria Betânea. Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp.

Docente nos cursos de Pedagogia e Ciências Biológicas do Centro Universitário de Araraquara – UNIARA.Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Formação Docente e Práticas Pedagógicas (CNPq/UNIARA).

E-mail: [email protected].

RESUMO

O ensino de Ciências e Biologia é recente na escola, e tem sido praticado de acordo com diferentes propostaseducacionais, que se instalaram ao longo das décadas. A LDB (Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996)propõe um projeto pedagógico que vá além de lousa, giz e palestra do professor, a fim de preparar melhor oeducando para os desafios do mercado de trabalho. Nesse sentido, este artigo pretende contribuir para adiscussão referente à prática pedagógica e aos recursos didáticos que possam auxiliar no processo de ensino eaprendizagem, especialmente nas disciplinas de Ciências e de Biologia. A partir de uma abordagem qualitativa,esta pesquisa pretende contribuir para construção de novos conhecimentos que possam ser gerados a partir deum olhar cuidadoso e crítico das fontes documentais. Por fim, o grande desafio do educador é tornar o ensinode Ciências e Biologia prazeroso e instigante, sendo capaz de desenvolver no aluno o saber científico e o gostopor essas disciplinas.

PALAVRAS-CHAVE: Didática; Ciências; Processo de ensino e aprendizagem; Recursos didáticos.

THE USE OF DIDACTIC RESOURCES AS A STRATEGY IN SCIENCES AND BIOLOGY TEACHING

ABSTRACT

The teaching of Science and Biology at school is recent, and has been practiced according to the differenteducational proposals, that have been developed along the last decades. The LDB (Lei nº 9.394, December,20, 1996) proposes a pedagogical project that goes beyond the blackboard, chalk and teacher's talk in order tobetter prepare the students for the challenges of the labor market. Thus, this paper aims at contributing to thediscussion on the teaching practice and teaching resources that can help the teaching and learning process,especially in the disciplines of Science and Biology. Based on a qualitative approach, this research aims atcontributing to the construction of new knowledge that can be generated from a careful and critical look at thedocumentary sources. Finally, the great challenge of the educator is to make the teaching of Science and Biologypleasurable and exciting, being able to develop in students the scientific knowledge and the taste for these schoolsubjects.

KEYWORDS: Didactics; Science; Teaching and learning; Teaching resources.

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LOPES & PLATZER

INTRODUÇÃO

As disciplinas de Ciências e Biologia passaram, aolongo da história, por diversas modificações ereformulações, influenciadas por variadas tendênciaseducacionais e pelo contexto social vivenciado nasdiferentes décadas. Nos dias atuais, temos percebidouma crescente busca por novos métodos, para que oensino dessas disciplinas estimule a curiosidade dosalunos e os tornem capazes de compreender, explicare intervir de forma consciente na natureza e nasociedade (CECCON, 2008).

Nesse contexto, o ensino de Ciências e Biologiadeve proporcionar ao aluno a oportunidade devisualização de conceitos ou processos que estão sendoconstruídos por ele na escola. Sabe-se que o papel daeducação é conduzir o crescimento intelectual, morale ético através de ensinamentos, exemplos eexperiências, fazendo com que cada indivíduo seconscientize e se responsabilize pelo destino da suaprópria vida.

Entretanto, esse processo de aprendizagem podeser complementado com a utilização de recursosdidáticos audiovisuais, ferramentas computacionais,práticas no laboratório e na sala de aula e atividadesexternas; até o próprio livro didático, quando bemutilizado, pode ser uma ferramenta importante.

Diante do exposto, este artigo pretende contribuirpara a discussão referente à prática pedagógica e aosrecursos didáticos que podem auxiliar no processo deensino e aprendizagem de Ciências e de Biologia.

Para tanto, optou-se pela pesquisa documental, bemcomo a pesquisa bibliográfica, ferramentasmetodológicas utilizadas para alicerçar e sedimentaras discussões apresentadas, possibilitando ampliar acompreensão do tema proposto para estudo. Apesquisa assume ainda uma abordagem qualitativa,enfatizando não a descrição de informações recolhidas,mas a importância de novos conhecimentos que podemser gerados a partir de um olhar cuidadoso e críticodas fontes documentais.

Por fim, os resultados apontam para um grandedesafio, tornar o ensino de Ciências e Biologiaprazerosos e instigantes, sendo capaz de desenvolver

no aluno o saber científico. Nesse sentido, os diversosdocumentos têm lançado um sólido alicerce medianteo qual se podem buscar a organização e areorganização da educação.

PROCEDIMENTOS MEDOTOLÓGICOS

Por meio de uma revisão bibliográfica, buscaram-se na literatura os estudos relacionados aos recursosdidáticos e metodológicos, apontados pelos diversospesquisadores, analisando as orientações e habilidadesnecessárias a esses dois campos de conhecimento(Ciências e Biologia). De acordo com Pádua (2000,p.65), a finalidade da pesquisa bibliográfica é "colocaro pesquisador em contato com o que já se produziu eregistrou a respeito de seu tema de pesquisa".

Para que os objetivos propostos pudessem seratingidos, o trabalho recorreu também à pesquisadocumental, que se caracteriza pela consulta de leis,resoluções, portarias, decretos, enfim, todos os demaisdocumentos que, de alguma forma, possam vir a auxiliarna busca de respostas ao problema de pesquisa. Pádua(2000, p.65) colabora ao afirmar que documento é"toda base de conhecimento fixado materialmente esuscetível de ser utilizado para consulta, estudo ouprova".

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A evolução do ensino de Ciências e BiologiaPara acompanhar as diversas mudanças das

tendências educacionais, as disciplinas de Ciências eBiologia passaram por reformulações, de acordo comos acontecimentos das diferentes décadas.Apresentamos a trajetória dessas mudanças e o desafiodos docentes na busca por estratégias que provoquemnos educandos a curiosidade, tornando-os capazes deinterpretar e intervir, de forma consciente, na natureza.

O ensino de CiênciasO ensino de Ciências é recente na escola de ensino

fundamental, e tem sido praticado de acordo comdiferentes propostas educacionais que se instalaramao longo das décadas. Muitas das propostas, utilizadasainda hoje, são baseadas na simples transmissão de

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conteúdo, tendo como recurso exclusivo o livro didáticoe a lousa; entretanto, outras já introduziram avançosproduzidos nas últimas décadas, especialmente noensino de Ciências (BRASIL, 1998).

Até o estabelecimento da Lei de Diretrizes e Basesda Educação – LDB, em 1961, as aulas de CiênciasNaturais eram ministradas apenas nas duas últimasséries do antigo curso ginasial. A LDB n.º 4.024estendeu a obrigatoriedade do ensino da disciplina atodas as séries ginasiais e, a partir de 1971, com a Lein.º 5.692, o ensino de Ciências passou a ter caráterobrigatório nas oito séries do primeiro grau (BRASIL,1998). A Lei n.º 10.172, de 9 de janeiro de 2001, queestabeleceu a implantação progressiva do EnsinoFundamental de nove anos, manteve a obrigatoriedadeda referida disciplina, constante da Base NacionalComum da Matriz Curricular.

O cenário escolar brasileiro por muito tempo foidominado pelo ensino tradicionalista, ainda queesforços de renovação estivessem surgindo. Aosprofessores cabia apenas a transmissão deconhecimentos acumulados ao longo do tempo pelahumanidade, por meio de aulas expositivas; aos alunos,por sua vez, cabia a reprodução e repetição dasinformações.

Nessa época, a qualidade do ensino era definidapela quantidade de informações e conteúdostrabalhados. O principal recurso de estudo e avaliaçãoera o questionário, ao qual os alunos deveriamresponder detendo-se nas ideias apresentadas em aulaou no livro didático escolhido pelo professor.

Diante do exposto, surgiu a necessidade derenovação das propostas do ensino de Ciências, paraque o currículo respondesse ao avanço doconhecimento científico e às demandas pedagógicasgeradas por influência do movimento Escola Nova.

Essa nova tendência, segundo Azevedo et al.(2010), deslocou o eixo da questão pedagógica dosaspectos puramente lógicos para aspectos psicológicos,valorizando a participação ativa do aluno no processode ensino e aprendizagem. As aulas práticas passarama representar importante elemento para a compreensãoativa de conceitos, mesmo que sua implementação

prática tenha sido difícil, em escala nacional.A nova proposta para o ensino de Ciências passou

a dar condições para o aluno vivenciar o que sechamava método científico, ou seja, a partir de suasobservações, levantar hipóteses, testá-las, refutá-las eabandoná-las quando fosse o caso, trabalhando deforma a redescobrir conhecimentos.

Apesar de algumas mudanças não atingirem amaioria das escolas e terem criado a ideia no corpodocente de que somente com laboratórios é possívelalguma modificação no ensino de Ciências, muitosmateriais didáticos, produzidos segundo essa novaproposta de aprendizagem, constituíram um avançorelativo para a melhoria do ensino de Ciências Naturais,introduzindo novos conteúdos.

Transcorridos quase 30 anos, o ensino de Ciênciasainda é trabalhado, em muitas salas de aula, nãolevando em conta sequer o progresso relativo que essaproposta representou. Durante a década de 80, noentanto, pesquisas (BRASIL, 1998) sobre o ensinode Ciências revelaram o que muitos professores játinham percebido: que a experimentação, sem umaatitude investigativa maior, não garante a aprendizagemdos conhecimentos científicos.

No âmbito geral, as discussões sobre as novastendências e correntes pedagógicas foram importantese influenciaram o ensino de Ciências, enfatizandoconteúdos socialmente relevantes, questionando tantoa abordagem quanto a organização dos conteúdos,identificando a necessidade de um ensino que integrasseos diferentes conteúdos, com um caráter tambéminterdisciplinar, o que tem representado importantedesafio para a didática da área.

A história da Ciência mostra que as teorias dopassado podem auxiliar a compreensão dasconcepções dos estudantes do presente, além deconstituir conteúdo relevante do aprendizado.

As diferentes propostas reconhecem, hoje, que osmais variados valores humanos não são alheios aoaprendizado científico, e a Ciência deve ser apreendidaem suas relações com a Tecnologia e com as demaisquestões sociais e ambientais. Essas novas propostasinovadoras têm trazido reformulação de conteúdos e

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métodos, mas é preciso reconhecer que, na maior partedas salas de aula, persistem velhas práticas. Mudar talestado de inércia não é algo que se possa fazerunicamente a partir de novas teorias, ainda que exija,sim, uma nova compreensão do sentido mesmo daeducação, do processo no qual se aprende. O presenteestudo pretende contribuir para essa novacompreensão (SÃO PAULO, 2008a).

O ensino de BiologiaOs Parâmetros Curriculares Nacionais para o

Ensino Médio (BRASIL, 2000), entendidos comoreferenciais para a renovação e reelaboração daproposta curricular, afirmam que é objeto do estudoda Biologia o fenômeno vida em toda sua diversidadede manifestações. Esse fenômeno se caracteriza porum conjunto de processos organizados e integrados,no nível de uma célula, de um indivíduo, ou ainda deorganismos no seu meio. As diferentes formas de vidaestão sujeitas a transformações, que ocorrem no tempoe no espaço, sendo, ao mesmo tempo, propiciadorasde transformações no ambiente.

Ao longo da história da humanidade, diversas foramas explicações para o surgimento e a diversidade davida, de modo que os modelos científicos conviverame convivem com outros sistemas explicativos. Oaprendizado da Biologia deve permitir a compreensãoda natureza viva e dos limites dos diferentes sistemasexplicativos, a contraposição entre os mesmos e apercepção de que a ciência não tem respostasdefinitivas para tudo, sendo uma de suas característicasa possibilidade de ser questionada e de se transformar.Deve permitir, ainda, a compreensão de que os modelosna ciência servem para explicar tanto aquilo quepodemos observar diretamente como também aquiloque só podemos inferir, e que tais modelos são produtosda mente humana e não da própria natureza,construções mentais que procuram sempre manter arealidade observada como critério de legitimação.

Segundo Carneiro e Gastal (2005), esses elementostornam possível aos alunos entender que há uma amplarede de relações com os diversos campos: científico,social, econômico e político.

O conhecimento da Biologia deve auxiliar ojulgamento de questões polêmicas, no tocante aoaproveitamento de recursos naturais, aodesenvolvimento e à utilização de tecnologias queimplicam intensa intervenção humana no ambiente, cujaavaliação deve levar em conta a dinâmica dosorganismos, dos ecossistemas enfim, o modo como anatureza se comporta e a vida se processa.

Os assuntos atuais, como o desenvolvimento daGenética e da Biologia Molecular, as tecnologias demanipulação do Ácido Desoxirribonucleico (DNA) ede clonagem, trazem à tona aspectos éticos envolvidosna produção e aplicação do conhecimento científico etecnológico, chamando à reflexão sobre as relaçõesentre a ciência, a tecnologia e a sociedade. Conhecera estrutura molecular da vida, os mecanismos deperpetuação, diferenciação das espécies e diversifica-ção intraespecífica, além da importância da biodiversi-dade para a vida no planeta, é essencial para um posi-cionamento criterioso relativo ao conjunto das constru-ções e intervenções humanas no mundo contempo-râneo (FABRÍCIO et al., 2006).

Neste século, vivencia-se grande processo decriação científica, inigualável a tempos anteriores. Arelação entre Ciência e Tecnologia se amplia, tornando-se mais presente no cotidiano e modificando cada vezmais o mundo e o próprio ser humano. Diversasquestões relativas à valorização da vida, à ética nasrelações entre seres humanos, o seu meio e o planeta,ao desenvolvimento tecnológico e sua direta relaçãocom a qualidade de vida marcam fortemente este século,colocando em discussão os valores envolvidos naprodução e aplicação do conhecimento científico etecnológico.

No ensino de Biologia, enfim, é fundamental para odesenvolvimento de posturas e valores relacionadosàs interações entre os seres humanos, entre eles e omeio, entre o ser humano e o conhecimento,contribuindo para uma educação que formará cidadãossolidários e sensíveis, conscientes dos processos eregularidades de mundo e da vida, capazes assim derealizar ações práticas, de fazer julgamentos e de tomardecisões (SÃO PAULO, 2008b).

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Recursos didáticos no ensino de Ciências eBiologia

A LDB (Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996)propõe um projeto pedagógico que vá além de lousa,giz e palestra do professor, a fim de preparar melhor oeducando para os desafios de mercado de trabalho.Nesse sentido, o professor, como principal mediadorda aprendizagem e da relação com os alunos, necessitade apoio e/ou suporte para desenvolver seu trabalho eestar preparado para fornecer os conhecimentosnecessários exigidos dentro de um conteúdoacadêmico pré-estabelecido (ESCOLANO, 2004).

Cada docente deve encontrar uma forma maisadequada de integrar as várias tecnologias eprocedimentos metodológicos. Mas também éimportante que amplie, que aprenda a dominar asformas de comunicação interpessoal e as decomunicação audiovisual.

Este artigo não tem a pretensão de apresentarreceitas, porque as situações são muito diversificadase há vários fatores que influenciam o processo de ensinoe aprendizagem no ambiente escolar. É importante quecada docente encontre o que o faça sentir-se bem,comunicar-se bem, ensinar bem, auxiliando os alunosnesse processo de aprendizagem; em contrapartida, éimportante diversificar as formas de ministrar aula, derealizar atividades, de avaliar.

As experiências (OLIVEIRA e FISCHER, 2007;LINSINGEN, 2007; POSSOBOM et al., 2003;entre outras) mostram que há inúmeras possibilidadesde diversificação das metodologias de ensino comresultados muito interessantes, facilitando assim oprocesso de ensino e aprendizagem.

É importante destacar que ao professor deverá serdada a possibilidade de produzir um material próprio,inovador e que vá além do livro. Nesse caso, énecessário ampliar as possibilidades no ensino e inserirnovos recursos didáticos em sala de aula, o que deveser considerado e aceito de forma aberta peloprofessor. É preciso abandonar preconceitos, pensarna viabilidade e, principalmente, na necessidade deenriquecer ferramentas de trabalho, queproporcionarão melhoria no ensino e precisam ser

urgentemente avaliadas pelos educadores de hoje.

A experimentação como forma de ensinarNa maioria das vezes, o professor depara-se na sala

de aula com perguntas a respeito de questões atuais deCiências e Biologia, envolvendo temas comotransgênicos, células-troncos, biotecnologia, entre outros.

Essas questões científicas e tecnológicas passarama ter grande influência na vida de toda a sociedade,convivendo com as maravilhas das novas tecnologias,mas também com as consequências do impacto daatividade humana sobre os ambientes.

Diante disso, muitos professores, preocupados coma banalização do ensino, acreditam que a Ciência e aBiologia devam ter outras funções além daquelastradicionalmente propostas no currículo escolar.Segundo essa tendência, os jovens deverão serpreparados a enfrentar e resolver problemas comnítidos componentes biológicos e científicos. De acordocom Krasilchik (2005), os objetivos do ensino dessasdisciplinas seriam: aprender conceitos básicos, analisaro processo de pesquisa científica e analisar asimplicações sociais da Ciência e da Tecnologia.

A Ciência e a Biologia podem ser as disciplinas maisrelevantes e merecedoras da atenção dos educandosou as mais insignificantes e pouco atraentes,dependendo do que for ensinado e dos recursosdisponíveis para esse processo.

Fernandes (1998) destaca que a maioria dos alunosvê a Ciência e a Biologia como disciplinas cheias denomes, ciclos e tabelas a serem decorados. Assim, aquestão que se coloca é: como atrair os alunos aoestudo e como estimular seu interesse e participação?

Para responder a essa questão não pode haver umafórmula única, pois, como já apontamos, cada situaçãode ensino é diferente da outra. É preciso buscarsoluções, refletir sobre o tema e trocar experiências.

Além disso, consideramos fundamental a busca pornovos recursos didáticos, que levem os alunos aconfrontar-se com experimentos de caráterinvestigativo para que, diante de um fenômeno emestudo, imprimam suas próprias concepções econclusões. É fundamental que o aluno seja instigado

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a propor uma explicação e a confronte com oconhecimento científico aprendido, gerando um conflitocognitivo, um dos motores da evolução conceitual.

Segundo Krasilchik (2005, p.86), "as aulas delaboratório têm um lugar insubstituível no ensino daCiência e Biologia, pois desempenham funções únicas:permitem que os alunos tenham contato direto com osfenômenos, manipulando os materiais e equipamentose observando organismos".

As aulas práticas ou experimentais são um recursopedagógico de grande importância, em que oseducandos põem em prática hipóteses e ideiasaprendidas em sala de aula sobre fenômenos naturaisou tecnológicos e que estão presentes em seu cotidiano(MORAES, 1998). Por mais simples que seja aexperiência, ela se torna rica ao revelar as contradiçõesentre o pensamento do aluno, o limite de validade dashipóteses levantadas e o conhecimento científico.

Com as aulas práticas ou experimentais, espera-seque o educando construa um conhecimento significativoe não simples memorização, sem valor algum. Segundoas propostas "construtivistas", uma aprendizagemsignificativa requer a participação dos atores envolvidosna construção do conhecimento (MORAES, 1998).

Todavia, a implantação dessa modalidade didática,segundo Moreira e Diniz (2003), parece serdesfavorável na visão de alguns docentes, o que resultana inoperância dos laboratórios das escolas. Alémdisso, questiona-se também se as atividadesdenominadas "experimentais" têm assumido realmenteesse caráter ou são aulas meramente demonstrativas.

Entretanto, dados disponíveis em estudos na área(KRASILCHIK, 2005; POSSOBOM et al., 2003)apontam que é inegável que a experimentação tem sidoum dos grandes problemas do ensino atual, quer pelaausência de laboratórios em muitas escolas, quer pelainexperiência dos professores, ou ainda pelos currículossobrecarregados. Contudo, alguns trabalhos nessa áreamostram resultados satisfatórios. Possobom et al.(2003) citam que, em uma escola estadual localizadano município de Botucatu-SP, observou-se que, apesardas precárias condições apresentadas com relação amateriais e espaço para atividades de laboratório, foi

possível superar os problemas, ou a maior parte deles,adaptando os diversos ambientes disponíveis eutilizando materiais simples e de baixo custo,proporcionando um aprendizado mais eficiente e maismotivador que as tradicionais aulas expositivas.

O livro de Ciência e Biologia como recursodidático

Os livros de Ciências e Biologia, diferentemente dosdemais livros, têm a função da aplicação do métodocientífico, estimulando a análise de fenômenos, o testede hipóteses e a formulação de conclusões.Adicionalmente, devem proporcionar ao aluno umacompreensão filosófica, científica e estética de suarealidade, oferecendo suporte no processo deformação dos cidadãos (VALENTE, 1993).

Segundo Bizzo (2002), historicamente, os livrosdidáticos têm sido compreendidos como agentesdeterminantes de currículos, limitando a inserção denovas abordagens e possibilidades de contextualizaçãodo conhecimento.

Diante dessas impropriedades, tornou-se evidentea necessidade de criar instrumentos para adequar oslivros didáticos a uma nova realidade educacional,comprometida com as demandas sociais. Tanto acomunidade científica como as escolas (públicas eparticulares) e o próprio governo federal emitiram sinaisde preocupação nesse sentido (VASCONCELOS;SOUTO, 2003).

Entretanto, os livros didáticos podem apresentar-se como um importante apoio pedagógico, visto quenão contêm apenas linguagem textual, mas sim outroselementos informativos que facilitam a atividadedocente, a compreensão pelo aluno, e subsidiam aaprendizagem.

Os recursos visuais fornecem suporte vital às ideiase informações contidas no livro, e por isso merecematenção especial. A observação das imagens veiculadaspelos livros didáticos contempla questões como aqualidade da impressão, a sua inserção ao longo dotexto e a relação estabelecida entre texto e imagem.Nos livros didáticos predominam imagens altamentedidatizadas. Além do mais, Bruzzo (2004) afirma que

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o conhecimento das Ciências Naturais estáintrinsecamente associado à apreciação de imagens eilustrações, pois isso facilita a interação dos alunos comos conteúdos e com as vivências do seu cotidiano

A função das ilustrações é tornar as informaçõesmais claras, estimulando a compreensão e a interaçãoentre leitores e o texto científico.

Além disso, muitos livros contêm recursoscomplementares ou adicionais, como glossários, atlasilustrativos, cadernos de atividades, guiasexperimentais, e oferecem novas oportunidades deexercitar o conhecimento em construção eproporcionam melhor compreensão das informaçõestrabalhadas ao longo da obra.

Novas Tecnologias de Informação eComunicação – TIC's no ensino de Ciências eBiologia

As autoridades políticas, professores epesquisadores têm considerado o uso de novasTecnologias de Informação e Comunicação – TIC'sna educação, um movimento necessário na formaçãodos alunos, já que a tendência do mercado de trabalhoé a máxima exigência do indivíduo quanto às suasqualificações científicas e tecnológicas.

Por isso, o conhecimento não pode ficar restrito aosimples aprendizado adquirido nas tradicionais salasde aula, pois só o exame crítico do conhecimento levaà descoberta. É preciso buscar novas dimensões parao uso de tecnologias, através de uma visão democráticae coerente da realidade brasileira.

Segundo Oliveira e Fischer (2007), a informáticase apresenta como um importante aliado da educação,uma ferramenta de trabalho no apoio pedagógico que,por seu caráter interativo, motiva e auxilia positivamenteos alunos na construção do conhecimento, desde queo professor crie situações de aprendizagem adaptadasà sua realidade.

Apesar dos fortes apelos da mídia e das qualidadesinerentes ao computador, a sua dispersão nas escolasestá hoje abaixo do que se anunciava e se desejava. Ainformática na educação ainda não penetrou as ideiasdos educadores e, por isso, não está firmada no sistema

educacional.O proveito do computador em relação ao âmbito

educacional está relacionado à sua característica deinteratividade, à sua grande probabilidade de ser uminstrumento que pode ser utilizado para promover aaprendizagem individualizada, visto que ele só executao que se ordena; assim sendo, limita-se aos potenciaise anseios humanos.

Entretanto, outra questão importante destacada porValente (1993, p.7) diz respeito à formação doprofessor para o uso dessas novas tecnologias, quenão pode ficar restrita ao domínio da máquina, masdeve ser vista num contexto mais amplo daspossibilidades que a envolvem. Ou seja, a formação"deve oferecer condições para o professor construirconhecimento sobre técnicas computacionais eentender por que e como integrar o computador emsua prática pedagógica".

Segundo Moran (2000), o papel do professor éfundamental nos projetos de inovações, até porque aqualidade de um ambiente tecnológico de ensinodepende muito mais de como ele é exploradodidaticamente do que de suas características técnicas.A simples presença de novas tecnologias na escola nãoé, por si só, garantia de maior qualidade na educação,pois a modernidade pode mascarar um ensinotradicional, baseado na recepção e na memorizaçãode informações.

O uso de histórias em quadrinhos no ensino deCiências e Biologia

A utilização de histórias em quadrinhos comorecurso didático, segundo especialistas (KAMEL,2006; MOYA, 1977), é extremamente relevante parao ensino de Ciência e Biologia, nos mais diversos níveisde ensino. Inúmeros trabalhos encontrados, no Brasile no exterior, confirmam o uso desse recurso para aefetivação do ensino dessas disciplinas.

Segundo Moya (1977), os quadrinhos são umaforma de comunicação rápida e internacional, emrelação a todas as formas modernas de contato entreos homens deste século. Na visão de Cirne (2000), osquadrinhos são uma literatura marcada por ideias, com

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o objetivo atingir um determinado objetivo. Seus textosse apresentam como unidades comunicativas,manifestam intenções diferentes: informar, convencer,seduzir, divertir, sugerir estados de ânimo, entre outras.

Como recurso didático pedagógico, o interesse douso das histórias em quadrinhos em sala de aula parteda intenção de propor uma nova perspectivametodológica para o ensino, especialmente de Ciênciase Biologia.

Inúmeros estudiosos e pesquisadores que discutemo assunto (GONÇALVES e MACHADO, 2005;CIRNE, 2000) acreditam, quase de forma unânime,na utilização das histórias em quadrinhos como meiopedagógico, com o objet ivo de ativar odesenvolvimento do educando pela leitura,despertando sua criatividade, descobrindo seu ladoartístico e crítico. Além do mais, usar os quadrinhoscomo método de ensino proporciona um melhorentendimento sobre determinados conceitos, ajudandoo aluno a compreender melhor algumas abstrações.

O assunto é amplamente discutido no meioacadêmico nacional e internacional, através dedissertações e artigos, que apresentam propostas deanálise e utilização de quadrinhos não apenas comorecurso para a educação científica, mas também comomeio para divulgação das Ciências.

A autora Linsingen (2007), em seu artigo "Mangáse sua utilização pedagógica no ensino de Ciências soba perspectiva CTS", aponta características presentesnos quadrinhos que permitem o debate de seusconteúdos sob o enfoque Ciência, Tecnologia eSociedade, e destaca a busca de alternativas queatraiam o interesse do estudante ou mesmo quediminuam essa distância conceitual entre este e oprofessor.

Outros importantes trabalhos, que contribuem paraas reflexões acerca do uso de quadrinhos em aulas deCiências e Biologia, são debatidos pelos autoresGonçalves e Machado (2005), que propõem autilização de quadrinhos como recurso didático nasséries iniciais, para a discussão dos conteúdosministrados. Em um de seus trabalhos, os autoresanalisam 261 revistas da "Turma da Mônica", de

Maurício de Sousa, e concluem que, apesar dosdiversos erros conceituais nas histórias, essaconstatação não impede o alcance desse material comoinstrumento didático para fomentar discussões em aulasde Ciências e Biologia. Assim, destacam o papelfundamental do professor como mediador dasdiscussões entre a mensagem do material e o conteúdocurricular nas referidas disciplinas.

Por fim, Testoni (2004) aponta como reflexão aimportância do papel do professor na compreensãocrítica do enredo dessas histórias, na seleção dessematerial e no planejamento das atividades nas quaispretende utilizar as histórias em quadrinhos comoinstrumento de reflexão para as aulas de Ciências eBiologia.

A história em quadrinhos é apenas mais um dosinstrumentos a serviço de práticas motivadoras einovadoras no ensino de Ciências, que devem serplanejadas com o intuito de promover aos educandosum olhar mais crítico e sistemático acerca dasinformações recebidas não apenas pelos quadrinhos,mas por qualquer outro meio de divulgação científica,ou não, que seja passível de análise e equívoco.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ensino de Ciências e Biologia ainda se encontradistante do proposto nos documentos oficiais que regema educação; entretanto, tem-se percebido umamudança nas estratégias didáticas utilizadas naabordagem dos conteúdos, para que a aprendizagemocorra de forma mais significativa.

Os recursos didáticos são instrumentoscomplementares que ajudam a transformar as ideiasem fatos e em realidades, contribuindo para umamelhoria no referido processo. Por meio dessesmecanismos, os professores têm a oportunidade detornar as aulas mais dinâmicas e interessantes, além deauxiliar na transferência de situações, experiências,demonstrações, sons, imagens e fatos para o campoda consciência, onde então eles se transformam emideias claras e inteligíveis; entretanto, eles em si nãofazem milagre se o professor não estiver capacitado ecomprometido com seu trabalho.

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Por fim, pode-se considerar que, em um contextodidático, a função dos recursos didáticos é sedimentaros conteúdos escolares, ou seja, mediar as relaçõesde forma que os alunos se apropriem dos conteúdosescolares. Aliás, esse deve ser o objetivo maior de suautilização no processo ensino e aprendizagem. Ogrande desafio do educador é tornar o ensino deCiências e Biologia prazeroso e instigante, sendo capazde desenvolver no aluno o saber científico e o gostopor essas disciplinas.

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RECEBIDO EM 20/2/2013ACEITO EM 17/4/2013

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AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO PROCESSO DE DESINFECÇÃOEM SUPERFÍCIES INANIMADAS DE UNIDADES BÁSICAS DE

SAÚDE POR PESQUISA DE BIOMARCADORES

FUCCI, Ana Paula Bandeira; MARCOLINO, Moniele Storti. Discentes do curso de Farmácia UNIFEV.CASTRO, Valéria da Cruz Oliveira de; REZENDE, Catia. Docentes do curso de Fármacia UNIFEV. Rua

Pernambuco, n.°4196 – Centro – Votuporanga-SP. E-mail: [email protected].

RESUMO

A Infecção Relacionada à Assistência à Saúde – IRAS pode ocorrer pela transmissão exógena por meio dacontaminação de superfícies contaminadas. A presente pesquisa teve como objetivo verificar a qualidade doprocesso de desinfecção de superfícies inanimadas de Unidades Básicas de Saúde – UBS de um município donoroeste paulista, através da presença de Staphylococcus aureus e Escherichia coli. Foram avaliadas seteUBSs, em horários e dias aleatórios, abrangendo as seguintes superfícies: maçaneta da sala de curativos, torneirase bebedouros, mesa do consultório, guichê da recepção. Swabs estéreis foram friccionados em 20 cm2 dassuperfícies e transportados em meio Stuart ao Laboratório Didático de Análises Clínicas do UNIFEV. Asamostras foram cultivadas em Ágar Sangue e MacConkey, a 35±1oC por 24 horas, em jarra de microaerofiliae aerobiose, respectivamente. O Staphylococcus aureus foi identificado por meio da produção de hemolysin,catalalase and coagulase. Já a Escherichia coli, via os seguintes testes bioquímicos: TSI,citrato urease, indole,lysine, ornithine and arginina. Das 105 amostras analisadas, 6,66% apresentaram positivas para S. aureus e2,85% para E. coli. As superfícies que apresentaram a presença dos bioindicadores foram: o guichê da recepção,guichê da farmácia, maçaneta da sala de curativos, torneira da sala de curativos e bebedouro. Esses resultadoscorroboram outros estudos que demonstram que as superfícies inanimadas são importantes fontes decontaminação no ambiente de assistência à saúde, contribuindo com a contaminação cruzada e,consequentemente, com o aumento de infecção ao paciente que está sujeito aos procedimentos nesse contexto.Dentro desse contexto, o poder público, através das políticas públicas de saúde, é responsável pela capacitaçãodos profissionais da saúde, contribuindo na promoção e prevenção da saúde coletiva.

PALAVRAS-CHAVE: Staphylococcus aureus; Escherichia coli; Superfícies; IRAS; Biomarcadores.

AN EVALUATION OF THE QUALITY OF THE DESINFECTION PROCESS IN INANIMATED SURFACES OF BASIC HEALTH

UNITS BY BIOMARKERS RESEARCH

ABSTRACT

Infection Related Health Care – IRHC may occur by exogenous transmission through the contamination ofcontaminated surfaces. This study aimed at verifying the quality of the process of disinfecting inanimate surfacesof Basic Health Units – BHU in a northeastern city in São Paulo state, through the presence of biomarkers,Staphylococcus aureus and Escherichia coli. We evaluated 7 UBS in random times and days, covering thefollowing areas: dressing-room doorknob, drinking fountains and faucets, office desk, reception counter. Sterileswabs were rubbed on a 20 cm2 surface and transported to the laboratory in Stuart medium to the ClinicalAnalyses Didactic Laboratory of UNIFEV. The samples were cultured on Blood agar and MacConkey agar at35 ± 1oC for 24 hours in aerobic and microaerophilic jar, respectively. Staphylococcus aureus was identifiedby the production of hemolysin, catalase and coagulase. Escherichia coli was identified using the biochemicaltests: TSI, citrate, urease, indole, lysine, ornithine and arginine. Of the 105 samples analyzed, 6.66% of the

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samples were positive for Staphylococcus aureus andEscherichia coli to 2.85%. The Areas which showedthe presence of biomarkers were: the reception booth,booth pharmacy, handles of the dressing room, dressingroom faucet and drinking fountain. These resultscorroborate other studies that show that inanimatesurfaces are important sources of contamination in thehealthcare environment, contributing to cross-contamination and, consequently, to the increase ofinfection to the patient who is subjected to proceduresin this environment. Within this context, government,by means of public health policies, is responsible forthe training of health professionals, contributing to thepromotion and prevention of public health

KEYWORDS: Staphylococcus aureus; Escherichiacoli; Surfaces; IRHA; Biomarker.

INTRODUÇÃO

Infecção Relacionada à Assistência à Saúde – IRASsão infecções adquiridas após a admissão do pacienteao hospital, que se podem manifestar durante suainternação ou após sua alta, desde que estejamrelacionadas com algum procedimento realizado durantesua permanência no hospital. Também podem serrelacionadas com procedimentos que foram realizadosem ambulatórios, consultórios e outras unidades ligadasao atendimento a saúde (BRASIL, 1998).

A IRAS no Brasil é um importante problema desaúde pública, gerando dificuldades sociais eeconômicas, tanto em países desenvolvidos como empaíses em desenvolvimento, ocasionando um aumentosignificativo na morbidade, na mortalidade e nos custoshospitalares (WENZEL, 1992; RABHAE, 2000;BOYCE, 1997).

O ambiente em estabelecimentos de saúde, que incluio ar, a água e as superfícies inanimadas que cercam opaciente, guarda íntima relação com as InfecçõesRelacionadas à Assistência a Saúde, podendoproporcionar focos de contato e de transmissão deagentes patogênicos (ANDRADE et al., 2000).

Quando as normas de Biossegurança (Lei 8974/1995) não são seguidas adequadamente, os

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FUCCI et al.

equipamentos utilizados e materiais se tornamextremamente perigosos, levando os profissionaisligados diretamente à sua rotina, e também os visitantes,vítimas pela exposição aos agentes contaminantes enocivos à saúde (CARVALHO, 1999).

As mãos contaminadas dos funcionários atuamcomo um importante meio de disseminação nomecanismo de transmissão de infecção nosestabelecimentos de saúde, onde os artigos de múltiplosusos acabam se tornando veículos de agentesinfecciosos, quando não sofrerem os processos dedescontaminação após cada uso. Os locais e aspessoas onde estes artigos são preparados podemtornar-se fontes de infecção para os hospedeirossuscetíveis. Uma das importantes fontes decontaminação são o contato direto com fluidoscorpóreos, durante a realização de procedimentos quesejam considerados invasivos ou por meio damanipulação de algum artigo como roupas, lixo e atémesmo as superfícies contaminadas, sem que se utilizemas medidas de biossegurança (BRASIL, 1994;SEQUEIRA, 2001).

Os agentes patogênicos podem ser transferidospara as mais diversas superfícies através do contatodireto com as mãos, equipamentos, respingos de sanguee saliva, micro-organismos do meio ambiente entreoutros, carregados pelos indivíduos presentes nestelocal. Nas últimas décadas acabou se levantando aquestão da importância do ambiente como um grandereservatório de micro-organismos multirresistentes,onde estes podem agravar o quadro de pacientessuscetíveis (TEIXEIRA, VALLE, 1996; SHIOMORIet al., 2002).

Itens hospitalares se tornam um grande reservatóriode patógenos, que promovem a contaminação cruzadado estabelecimento de saúde e, assim, a contaminaçãodas mãos, justificando a sua limpeza e desinfecçãoadequadas (CARVALHO, 2005).

O homem também pode infectar-se por meio dapoeira infecciosa, que pode ser originada de fontehumana ou ambiental: através do espirro ou do ato detossir, quando se expelem gotículas que vão sedepositar nas superfícies, de onde evaporam deixando

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Avaliação da qualidade do processo de desinfecção...

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resíduos; a movimentação de lençol e o ato de varrero assoalho, que faz com que esses resíduos fiquemcirculantes no ar junto com o micro-organismo quepode sobreviver por longos períodos nessa poeira, emambientes de pouca ventilação, o que acaba criandoum perigo significativo em hospitais, clínicas,consultórios odontológicos, pois contribui para adisseminação de várias doenças. As infecçõestransmitidas pelo ar podem ser restritas ao tratorespiratório ou podem acometer outras áreas do corpo(MELO et al., 2004).

O Staphylococcus aureus permanece como umimportante patógeno envolvido à etiologia das IRAS,podendo sobreviver por meses em amostras clínicassecas, sendo resistente ao calor e elevadasconcentrações de sal. Os indivíduos sadios sãocolonizados desde a amamentação e podem albergaresse micro-organismo na nasofaringe, ocasionalmentena pele e muito raramente na vagina. A partir dessessítios, pode-se contaminar a pele e membranas mucosasdo paciente, objetos ou até outros pacientes porcontato direto ou aerossol, ocasionando infecções porconta do seu fator de virulência ou através de suaresistência aos antimicrobianos utilizados atualmente(BRASIL, 2004; MUNDIM et al., 2003).

A E. coli faz parte da microbiota humana, presenteno trato gastrointestinal, e é comumente causadora desepse, meningites neonatais, infecções do trato urinárioe gastroenterites; a maioria dessas infecções sãoendógenas, exceto a meningite neonatal e gastroenterite(PRÈRE, FAYET, 2005).

Dentro desse contexto, o objetivo deste estudo foirealizar a avaliação da qualidade do processo dedesinfecção nas superfícies inanimadas de UnidadesBásicas de Saúde, por pesquisa de biomarcadores, jáque a biossegurança, por meio da adoção de normase procedimentos seguros, visa à manutenção da saúdedos pacientes; assim, faz-se necessária esta avaliação(SCHEIDT et al., 2006).

METODOLOGIA

No período de junho a outubro de 2012 foramanalisadas sete Unidades Básicas de Saúde – UBS do

Noroeste Paulista. As UBS estavam localizadas embairros periféricos da cidade, sendo uma UBSconsiderada de grande porte, com pronto-atendimento,onde se realizavam pequenas cirurgias. As outrasrealizam procedimentos relacionados às diversasespecialidades: atendimento ginecológico, pediátrico,geral, odontológico, grupo para diabéticos, hipertensos,terceira idade, Programa Viva Leite, saúde de ferroentre outros. As crianças e os idosos eram os pacientesmais frequentes nas unidades avaliadas.

Em seis UBSs foram avaliadas as seguintessuperfícies inanimadas: guichê da recepção, guichê dafarmácia, maçaneta da sala de curativos, torneira dasala de curativos e bebedouro. Na unidade de grandeporte foram avaliados maçaneta da sala de medicação,mesa da sala de medicação, torneira da sala demedicação, maçaneta da sala de pequenas cirurgias ebebedouro. Essas coletas foram realizadas através dafricção, em 20 cm2 da superfície investigada, comswabs estéreis. Os mesmos foram acondicionados emmeio de transporte Stuart e caixa isotérmica,encaminhados ao Laboratório Didático de AnálisesClínicas da UNIFEV. As amostras foram cultivadasem Ágar Sangue e MacConkey incubadas a 35 ± 1°Cpor 24 horas em jarra de microaerofilia e aerobiose,respectivamente. Após a incubação foi realizada aconfirmação macroscópica, por meio da hemolisina, emicroscópica das colônias, através do método deGram. Posteriormente, as colônias suspeitas de S.aureus foram submetidas às provas da catalase,coagulase e sal Manitol. Para confirmação de colôniassuspeitas de E. coli foram realizadas as provasbioquímicas: TSI, Citrato de Simmons, Urease, Lisina,Ornitina, Arginina e Indol.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Cada uma das sete UBS's foi avaliada em trêsmeses diferentes, em dias e horários aleatórios. Dessamaneira, foram avaliadas 15 amostras por unidade,totalizando 105 amostras.

Das 105 amostras, 6,7% (7/105) foram positivaspara Staphylococcus aureus e 2,9% (3/105) paraEscherichia coli. Ao correlacionarmos os locais

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FUCCI et al.

analisados e as porcentagens de contaminação pelosbiomarcadores, foram verificados índices semelhantes

na torneira da sala de curativos, guichê da farmácia,maçaneta da sala de curativos e bebedouro (Tabela 1).

Tabela 1 – Correlação das superfícies avaliadas e frequência de biomarcadores em 105 amostrasanalisadas.

Fonte: Dados de pesquisa.

Staphylococcus aureus RESULTADO POSITIVO

VALOR EM PORCENTAGEM

Torneira da Sala de Curativos

Guichê da Recepção

Guichê da Farmácia

Maçaneta da Sala de Curativos

2/7

1/7

2/7

2/7

28,6%

14,3%

28,6%

28,6%

Escherichia coli

Bebedouro

Torneira

2/7

1/7

28,6%

14,3%

Raros dados da literatura demonstram pesquisa debioindicadores realizadas em Unidades Básicas, sendofrequentes os estudos que abordam o ambientehospitalar.

O índice de contaminação demonstrado nesteestudo está muito abaixo de dados relatados empesquisas envolvendo superfícies inanimadas noambiente hospitalar.

Oie e colaboradores (2002) relataram 27% deamostras positivas para S. aureus em maçanetas deenfermarias. Carvalho (2005) realizou uma pesquisaem Hospital de Uberlândia, demonstrandocontaminação de 40% das superfícies de enfermariaspor S. aureus.

Um estudo realizado no Hospital Público de Goiásdemonstrou uma variação de contaminação emsuperfícies inanimadas por E. coli de 25,59% a32,56%, sendo mais frequente no período chuvosoque na estiagem (FEITOSA et al., 2008)

As amostras avaliadas pertencem à área não crítica,que não são ocupadas por pacientes, como bancadase depósitos; e semicríticas, que entram em contato coma pele não íntegra ou com mucosas íntegras (BRASIL,1992).

Ao avaliar a porcentagem de contaminação das seteUnidades pelos locais analisados, constatou-se quesomente uma UBS não apresentou contaminação debioindicadores na superfície (Tabela 2).

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Acredita-se que a ausência dos patógenospesquisados nas superfícies da UBS de maiorcomplexidade se deva aos maiores cuidados embiossegurança, uma vez que são executadosprocedimentos hospitalares mais complexos. Nasoutras UBS's, mesmo havendo baixa frequência dospatógenos nas superfícies estudadas, constata-se quehá risco de contaminar pacientes e visitantes.

O S. aureus é considerado o patógeno humanomais importante do seu gênero, o Staphylococcus SP.As manifestações clínicas das doenças causadas poresse patógeno variam: intoxicações alimentares einfecções hospitalares graves, principalmente dacorrente sanguínea, por ele ser secretor de exotoxinase enzimas que podem também causar variedades deinfecções cutâneas e sistêmicas, que incluem furúnculos,abscessos do choque tóxico e até a síndrome dochoque tóxico neonatal. As infecções causada por essepatógeno acomete pacientes de todas as faixas etárias,mas com uma frequência maior em indivíduos acimade 50 anos. Por isso é de grande importância suaidentificação e que se reconheçam os prováveisreservatórios para a avaliação da distribuição dessaespécie bacteriana, envolvida em complicaçõesinfecciosas de um estabelecimento de saúde, e assimpromover o monitoramento de sua incidência(BROOKS et al., 2000; IWATSUKI et al., 2006;

KEIM, 2005; MOREIRA et al., 1998).Os dados corroboram com pesquisa desenvolvida

por Moreira (2002), que comprovou a presença decepas do gênero Staphylococcus em três diferentestipos de bancadas – mármore, granito e fórmica – emhospitais, podendo-se afirmar que em qualquer lugaré possível encontrar microrganismos; no entanto, o fatorque tira isso da normalidade é sua colonizaçãodemasiada e sua ligação com as IRAS, o que leva emconsideração o fator da veiculação do profissional desaúde.

Mesmos os locais aparentemente limpos a olho nupodem estar contaminados, desde que haja umapequena quantidade de material orgânico, sendo asmãos o principal veículo de contaminação cruzada.Dessa maneira, a correta lavagem e desinfecção dasmãos já resolveria boa parte das contaminações dassuperfícies inanimadas. Além disso, é necessário quese tenha conhecimento dos vários agentes químicos,seus mecanismos de ação e aplicação (MOREIRA,2002; YASSAKA et al., 2005).

A Portaria n.º 930 (D.O.U. de 27/08/92),substituída pela Portaria 2616, de 12/5/1999, atualizaconceitos e normas do controle de infecção hospitalar,no seu anexo V, métodos e produtos químicos paralimpeza, desinfecção e esterilização de artigos e áreasem estabelecimentos de saúde do país. Para que

Tabela 2 – Frequência de biomarcadores nas Unidades analisadas.

Fonte: Dados de pesquisa.

UNIDADE MICRO-ORGANIS MO LOCAL VALOR ABSOLUTO PORCENTAGEM

UNIDADE 1 Staphylococcus aureus Guichê da Recepção 1/15 6,7%

UNIDADE 2 Staphylococcus aureus

Escherichia coli Torneira da Sala de Curativos

Bebedouro 1/15 1/15 13,3%

UNIDADE 3 Staphylococcus aureus Torneira da Sala de Medicações Bebedouro 2/15 13,3%

UNIDADE 4 Staphylococcus aureus Maçaneta da Sala de Curativos 1/15 6,7%

UNIDADE 5 Staphylococcus aureus

Escherichia coli Torneira da Sala de Curativos Maçaneta da Sala de Coleta

Guichê da Farmácia

1/15 1/15 1/15

20%

UNIDADE 6 - - - - UNIDADE 7 Staphylococcus aureus Guichê da Farmácia 1/15 6,7%

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FUCCI et al.

alcance a eficácia no processo, há a necessidade dese detalhar prioridades, opções e considerações quantoao tipo de carga microbiana depositada na superfíciea ser processada, concentração de produtos, tempode exposição, validade em uso e outros fatoresrelacionados (BRASIL, 1992).

Em superfícies como balcões do posto deenfermagem, deve-se fazer a desinfecção diariamentecom álcool e depois álcool iodado, através do métodode fricção, que é feito por meio da fricção mecânicacom esponja, escova, vassoura, etc. Já para a limpezadeve-se usar água e sabão diariamente através dométodo de fricção com o uso de luvas. Em superfíciescomo bebedouros de esguicho, deve-se realizar adesinfecção e descontaminação diariamente com álcoolatravés do método de fricção utilizando luvas, para alimpeza utiliza-se diariamente água e sabão através dométodo de fricção utilizando luvas (BRASIL, 1994).

ConclusãoConclui-se, com o presente estudo, que as

superfícies inanimadas podem apresentar importantespatógenos implicados nas IRAS. Isso pode serdemonstrado por meio da presença de biomarcadoresque demonstram a deficiência na qualidade dedesinfecção dessas superfícies.

Dessa maneira, é necessária a capacitação contínuados profissionais da saúde sobre procedimentos debiossegurança, contribuindo na qualidade da saúdecoletiva e na prevenção de doenças.

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RECEBIDO EM 30/1/2013ACEITO EM 22/5/2013

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REVISTA UNIARA, v.16, n.1, julho 2013 191

A Revista Uniara é uma publicação multidisciplinardo Centro Universitário de Araraquara – Uniara quetem por finalidade divulgar artigos originais de diferentesáreas do conhecimento.

Os textos submetidos não deverão ser apresentadosem outro periódico e, após a sua aceitação, será solicitadados autores a transferência dos direitos autorais. Osmanuscritos serão encaminhados a pareceristas, quedeverão analisar o valor científico do trabalho.

Os trabalhos deverão ser enquadrados em uma dasseguintes modalidades:

a) Artigos originais: trabalhos inéditos de pesquisacom no máximo 25 páginas, incluindo figuras, tabelas,quadros, esquemas, etc.;

b) Artigos de revisão: sínteses de conhecimentosdisponíveis sobre determinado tema, mediante análisee interpretação de bibliografia pertinente, com nomáximo 25 páginas;

c) Comunicações breves: resultados preliminaresde pesquisa, com no máximo 10 páginas incluindofiguras, tabelas e referências;

d) Resenhas ou análise crítica de livros: máximo 4páginas;

e) Seção temática (a convite): seção destinada àpublicação de trabalhos sobre temas de interesse atual.

PREPARAÇÃO DOS MANUSCRITOSAs submissões dos manuscritos deverão atender

aos seguintes critérios:a) Os textos deverão ser digitados em espaço

duplo, fonte Times New Roman, tamanho 12;b) Título do artigo, nome e endereço dos autores

(nome completo por extenso e filiação acadêmica).Havendo autores com diferentes endereços, elesdeverão vir imediatamente após o nome de cada autor.Agrupar os autores por endereço. O autor paracorrespondência e seu endereço, incluindo e-mail,deverão ser assinalados com asterisco;

c) Os resumos deverão ser redigidos em portuguêse em inglês, em um único parágrafo (máximo de 250palavras), de modo claro e conciso contendo:objetivo, procedimentos metodológicos, resultadose conclusões, acompanhados de 3 palavras-chave,

também redigidas em português e em inglês;d) Figuras (incluindo gráficos, esquemas, etc.)

deverão utilizar o mesmo padrão de letra do texto,ser numeradas sequencialmente, em algarismosarábicos, com a respectiva legenda. As figuras deverãoser encaminhadas em folhas separadas, com alocalização aproximada indicada no texto. Ilustrações(fotografias, gráficos, desenhos, mapas, etc.) deverãoser enviadas e em preto-e-branco, em arquivosformato jpg e/ou tif.

e) Só deverão ser utilizadas unidades de medida,símbolos e abreviaturas padronizados. Abreviações nãofamiliares deverão ser definidas na primeira vez em queforem apresentadas no texto;

f) Os artigos referentes a pesquisas envolvendoseres humanos e animais deverão ser acompanhadosde uma cópia do parecer emitido por um Comitê deÉtica em Pesquisa aprovando o desenvolvimento dapesquisa;

g) Os manuscritos deverão conter, de modo geral:introdução, metodologia, resultados e discussão,conclusão, agradecimentos e referências. Recomenda-se evitar a subdivisão do texto em um grande númerode subtítulos ou itens.

h) As referências deverão ser elaboradas deacordo com as normas da Associação Brasileira deNormas Técnicas (ABNT), conforme formatosdescritos a seguir:

1) LIVRO

SOBRENOME, Nome. Título em destaque:subtítulo. Edição. Cidade: Editora, ano. Número devolumes ou páginas. (Série).

Edição do livro:- se for em português colocar: 2. ed.- se for em inglês colocar: 2nd ed.

2) CAPÍTULO DE LIVRO

Autor do capítulo diferente do responsávelpelo livro todo:

AUTOR DO CAPÍTULO. Título do capítulo. In:AUTOR DO LIVRO. Título do livro em destaque.Edição. Cidade: Editora, ano. volume, capítulo,

NORMAS DE PUBLICAÇÃO

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página inicial-final da parte.Único autor para o livro todoAUTOR DO CAPÍTULO. Título do capítulo. In:

______. Título do livro em destaque. Edição.Cidade: Editora, ano. volume, capítulo, páginainicial-final da parte.

3) ARTIGO DE PERIÓDICO

SOBRENOME, Nome. Título do artigo. Título doperiódico em destaque, v., n., p. inicial-final, mêsabreviado no idioma de origem. ano de publicação.

4) ARTIGO DE JORNAL

AUTOR do artigo. Título do artigo. Título do jornalem destaque, cidade de publicação, dia, mêsabreviado. Ano. Número ou Título do Caderno, Seçãoou Suplemento, p. seguido dos números da páginainicial e final, separados entre si por hífen.

5) DISSERTAÇÃO, TESE E MONOGRAFIA

SOBRENOME, Nome do autor. Título emdestaque: subtítulo. Ano de publicação. Número devolumes ou folhas. Categoria (Curso) – Instituição,Cidade da defesa, ano da defesa.

6) EVENTO CIENTÍFICO – CONSIDERADO NO TODO

TÍTULO DO EVENTO, número., ano, cidade derealização. Título da publicação em destaque.Cidade de publicação: Editora, data. Páginas ouvolumes.

7) EVENTO CIENTÍFICO – CONSIDERADO EM PARTE

(Trabalhos apresentados e publicados)AUTOR DO TRABALHO. Título do trabalho:

subtítulo. In: NOME DO EVENTO,em número, ano,cidade de realização. Título da publicação emdestaque. Cidade de publicação. Título do documento(Anais, proceedings, etc. em destaque), local: Editora,ano. Página inicial-final do trabalho.

8) NORMA TÉCNICA

NOME DA ENTIDADE RESPONSÁVEL.Título da norma em destaque: subtítulo. Cidade depublicação, ano. Número de páginas.

9) DOCUMENTO ELETRÔNICO

Após a indicação dos dados de cada documento,acrescentar as informações sobre a descrição físicado meio eletrônico respectivo.

– SE FOR CD-ROM acrescentar o: Número deCD-ROM

– SE FOR ON-LINE acrescentar: Disponível em:<endereço eletrônico>. Acesso em: dia mês abreviado.Ano.

Os manuscritos que não estiverem de acordo comas Normas de Publicação serão devolvidos aosautores.

Os textos para publicação deverão ser enviadospor meio eletrônico para [email protected]ções pelo telefone: (16) 3301-7126.

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