Upload
gabriel-domingues
View
230
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
1/134
Cincia PolticaJulian Borba
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
2/134
2
Copyright 2006. Todos os direitos desta edio reservados
SECRETARIA DE EDUCAO A DISTNCIA (SEAD/UFSC). Nenhuma parte
deste material poder ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio
eletrnico, por fotocpia e outros, sem a prvia autorizao, por escrito, do autor.
B726c Borba, JulianCincia poltica / Julian Borba. Florianpolis :
SEaD/UFSC,2006.
128p.
Inclui bibliografia
1. Poltica. 2. Polticas empresariais. 3. Planejamento.
4. Participao. I. Universidade Federal de Santa Catarina.Secretaria de Educao a Distncia. II. Ttulo.
CDU: 32
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
3/134
3
Catalogao na publicao por: Onlia Silva
Guimares CRB-14/071
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
4/134
4PRESIDENTE DA REPBLICALuiz Incio Lula da SilvaMINISTR O DA EDUCAOFernando HaddadSECRETRIO DE EDUCAO A DISTNCIARonaldo MotaDIRETOR DO DEPARTAMENTO DE POLTICAS EM EDUCAOA DISTNCI AHlio Chaves FilhoSISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASILUNIVERSI DADE FE DERAL DE SANTA CATARINAR E IT O RLcio Jos BotelhoVICE-REITOR Ariovaldo BolzanPR-REITOR DE ENSINO DE GRADUAOMarcos LafimDIRETORA DE EDUCAO A DISTNCIAAraci Hack CatapanC E N T R O S O C IO E C O N M IC OD IR E T O RMaurcio Fernandes PereiraVICE-DIRETORAltair BorguetDEPARTAMENTO DE CINCIAS DA ADMINISTRAOCHEFE DO DEPARTAMENTOJoo Nilo LinharesCOORDENADOR DE CURSOAlexandre Marino CostaCOMISSO DE PLANEJAMENTO, ORGANIZAO EFUNCIONAMENTO
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
5/134
5
Alexandre Marino Costa
Gilberto de Oliveira Moritz
Joo Nilo Linhares
Luiz Salgado Klaes
Marcos Baptista Lopez Dalmau
Maurcio Fernandes Pereira
Raimundo Nonato de Oliveira Lima
FUNDAO DE ESTUDOS E PESQUISAS SOCIOECONMICOSPRESIDENTEGuilherme Jlio da SilvaSECRETARIA DE EDUCAO A DISTNCIASECRETRIO DE EDUCAO A DISTNCIACcero Ricardo Frana BarbosaCOORDENAO FINANCEIRAVladimir Arthur FeyCOORDENAO PEDAGGICA
Na ra Ma ria Pim ent elAPOIO PEDAGGICODenise Aparecida Bunn
Juliete Schneider
Leila Procpia do NascimentoSUPERVISO DE CURSOFlavia Maria de OliveiraSUPERVISO DE INTERNETCludio Fernando MacielDESIGN GRFIC OMariana LorenzettiM O N IT O R IAEgdio Staroscky
Dilton Ferreira Junior
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
6/134
6REVISO ORTOGRFICAVera VasilvskiORGANIZAO DO CONTEDOJulian BorbaUNIVERSIDADE DE BRASLIA UnBTimothy Martin MulhollandReitor da Universidad e de BrasliaEdgar Nobuo MamiyaVice-Reitor da Universidade de BrasliaCENTRO DE EDUCAO A DISTNCIA-CEAD/UnBSylvio Quezado de MagalhesDiretor em ExerccioCoordenador ExecutivoRicardo de SagebinSecretar ia E xecutivaEliane Breder MotaUnidade de Produo UPRJovanka SadeckGerente da Unidade ProduoRevisoBruno RochaDesigner EducacionalLuciana KuryIlustraoRodrigo Mafra
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
7/134
7
APRESENTAOVoc est iniciando a disciplina de Cincia Poltica no curso de
Ad ministr ao a Di st nci a.
Espero que possamos desenvolver um proveitoso trabalho ao
longo deste semestre.
A disc ipl ina es t org anizada em to rno de quest es de suma
importncia, seja para o universo de atuao do futuro administrador,
seja para a formao como cidado atuante e consciente.
Muitos dos temas em anlise fazem parte do nosso dia-a-dia.
Nossa contribuio ao abordar tais questes a partir do olhar da
cincia fornecer novas possibilidades de compreenso e
posicionamento diante de problemas e questes relacionados poltica
e administrao de empresas.
Na modalidade de educao a distncia, o seu desempenho est
diretamente relacionado sua dedicao no s ao contedo presenteno material impresso, como tambm na busca de outras fontes de
informao e da interface permanente com nossa equipe.
Um bom trabalho a todos.
Prof. Julian Borba
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
8/134
8
SUMRIOUNIDADE 1 - Anlise polt ica: estud o das cat egor ias, dos conceitos e pr oblemasbsicos da C incia Polt ica 09
O que poltica ................................................................................. 11Os recursos polticos e a influncia poltica ........................................ 29
Bibliografia ....................................................................................... 46UNIDADE 2 - Sistema polt ico clssico e contempor neo e suas influncias empolt icas empr esariais 47
A histria das idias e das instituies polticas .................................. 49Os sistemas polticos e as polticas empresariais .................................. 68
Bibliografia ....................................................................................... 76UNIDADE 3 - Planej amen to e toma da de decises 78
Decises polticas, estratgicas, tticas e operacionais ............................................... 80Deciso poltica e atores polticos ...................................................... 92
Decises polticas e alternativas decisrias ......................................... 94Desafios aos processos de deciso do moderno gestor pblico ........... 98
Bibliografia ....................................................................................... 101UNIDADE 4 - Par ticipao e infor mao 10 4
O que participao .......................................................................... 106
Tipos de participao ......................................................................... 107
Os graus e os nveis de participao .................................................... 110Por que participar .............................................................................. 112Condicionantes da participao ........................................................... 120
Os principais espaos de participao ................................................. 126Participao no Brasil ........................................................................ 128
Participao e informao .................................................................. 132
Bibliografia ....................................................................................... 133
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
9/134
9
UNIDADE 1Anlise poltica: estudo das categorias, dos conceitos e dos problemas
bsicos da Cincia Poltica
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
10/134
10OBJETIVO
Nesta unidade, voc vai conhecer, ou rever, caso j conhea, o que Cincia Poltica e os principais elementos utilizados na anlise poltica.
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
11/134
11O QUE P O L T I C A
inquestionvel que o universo empresarial tem profundas
interfaces com o que acontece no mundo da poltica. Exemplos no
faltam para comprovar essa afirmao. Podemos citar desde o impacto
que crises polticas podem ter sobre a economia de um pas, passando
por questes como a definio da taxa de juros pelo Banco Central,
chegando at as polticas pblicas de infra-estrutura, segurana e bem-
estar social.
Em outras palavras, a poltica afeta diretamente a dinmica das
organizaes, sendo fundamental ao administrador conhecer esse
universo para o bom exerccio de suas funes.
Comecemos, ento, definindo poltica.
Para tratar dessa questo, vamos utilizar a argumentao
desenvolvida por Dallari (2004, p. 8), em seu livro O que participao
pol tica. Segundo esse autor, a palavra poltica tem origem grega,
sendo especialmente importante para a compreenso de seu sentido o
exame da obra do filsofo Aristteles, que viveu em Atenas no sculo IV
antes de Cristo:
Com essas consideraes, possvel perceber que a origem dai d i a d e p o l t i c a est relacionada organizao da vida emcolet ividade, s maneiras de se organizar essa vida.
As mu dan as hist rica s promoveram profu ndas alte ra es na
forma como as sociedades se organizam. Essas mudanas, porm, no
afetaram o ncleo da idia de poltica, que continua o mesmo desde a
Grcia Antiga. Para ilustrar esse significado histrico da idia de poltica
como ao e organizao da vida em coletividade, retiramos um
exemplo da apresentao do livro O que poltica, de Wolfgang Leo
Maar (2004, p. 7-8).
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
12/134
12
Em 1984, aps vinte anos de Presidentes impostos pelos militares,
milhes foram s ruas em comcios por todo o pas na memorvel
Campanha das diretas para se manifestarem pela eleio direta,
secreta e universal do Presidente da Repblica. Como se sabe, este
acabaria por ser indicado por um colgio eleitoral pela via indireta,
porque a maioria dos congressistas eleitos foi contrria eleio direta.
Em 1985, este mesmo Congresso Nacional rejeitaria a proposta de
convocao de uma Assemblia Nacional Constituinte livre e soberana,
desvinculada do Congresso Nacional, anulando assim os esforos
populares para que os congressistas no agissem em benefcio prprio.
No incio de 1986 o governo decretou o plano cruzado, promovendo
uma reforma econmica em que se anunciavam benefcios populaomajoritria de baixa renda, com
o que conquistou amplo apoio
nas eleies de 15 de novembro.
Encerrado o pleito, o governo
decretou novas medidas
altamente impopulares, levando
as centrais sindicais a
convocarem uma greve nacional
de protesto contra a poltica
econmica do governo. Em
alguns lugares o exrcito foi s ruas para garantir a ordem e as
instituies, a exemplo do que fez em 1964.
No preciso se estender mais. Este breve recorte de alguns
momentos da histria recente do Brasil elucida exemplarmente o
significado da poltica por meio dos movimentos que visam interferir na
realidade social a partir da existncia de conflitos que no podem ser
resolvidos de nenhuma outra forma.
Os gregos davam o nome de polis cidade, isto , ao lugar onde as pessoasviviam juntas. E Aristteles diz que ohomem um animal poltico, porquenenhum ser humano vive sozinho etodos precisam da companhia dosoutros. A prpria natureza dos sereshumanos que exige que ningum vivasozinho. Assim sendo, a poltica serefere vida na polis, ou seja, vida em
comum, s regras de organizao dessavida, aos objetivos da comunidade e sdecises sobre todos esses pontos(DALLARI, 2004, p. 8).
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
13/134
13
Ap s cita r es se exe mp lo, Le o
Maar (2004, p. 8) afirma que ele serve
para demonstrar que a poltica surge
junto com a pr pr ia hist ri a, se ndo
resultado da atividade dos prprios
homens vivendo em sociedade.
Conclui afirmando que os homens tm
todas as condies de interferir e
desafiar o enredo da histria, pois [...] entre o voto e a fora das armas
est uma gama variada de formas de ao desenvolvidas historicamente
visando resolver conflitos de interesses, configurando assim a atividade
poltica em sua questo fundamental: sua relao com o poder (LEOMAAR, 2004, p. 9).
Destaca Leo Maar (2004) que os significados atribudos idia de
poltica hoje esto relacionados a dois grandes espaos de expresso:O p o d e r p o l t i c o i n s t i t u c i o n a l a s s o c i a d o e s f e r a d a
p o l t i c a i n s t i t u c i o n a l . O autor cita, como exemplos, um deputado ou u mrgo da administrao pblica, os quais so polticos para a totalidade
das pessoas. Nesse sentido, todas as atividades associadas de algum
modo esfera institucional poltica, e o espao onde se realizam,
tambm so polticas (p. 10).
A se gunda esf er a a qu e se remete a idi a de pol ti ca
aquela relacionada ao de diversos grupos e organizaes e sd i v e r s a s f o r m a s d e m a n i f e s t a o d o c o n f l i t o n a s o c i e d a d e. Comoexemplo, podemos citar:
Quanto se fala da poltica da Igreja, isto no se
refere apenas s relaes entre a Igreja e as instituies
polticas, mas existncia de uma poltica que se
expressa na Igreja em relao a certas questes como a
misria, a violncia, etc. Do mesmo modo, a poltica dos
sindicatos no se refere unicamente poltica sindical,
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
14/134
14
desenvolvida pelo governo para os sindicatos, mas s
questes que dizem respeito prpria atividade do
sindicato em relao aos seus fil iados e ao restante da
sociedade. A poltica feminista no se refere apenas ao
Estado, mas aos homens e s mulheres em geral. As
empresas tm polticas para realizarem determinadas
metas no relacionamento com outras empresas, ou com
seus empregados. As pessoas no seu relacionamento
cotidiano desenvolvem polticas para alcanar seus
objetivos nas relaes de trabalho, de amor ou de lazer
[...] (LEO MAAR, 2004, p. 10).
perceptvel que o segundo significado
mais vago e fluido do que o primeiro, pois aprpria histria estabeleceu uma delimitao
rgida da idia de poltica, associando-a ao
espao institucional.
Nesse sentido, seria mais preciso usar a
expresso poltica no plural, ou seja,
polticas, pois somente assim teramos
condies de captar todas as formas em queesse fenmeno manifesta-se em nossas vidas.
O OBJ ETO DA CINCIA POLT ICA O PODERDesde Aristteles, uma dimenso da idia de poltica aquela
associada existncia de autoridade ou governo, ou seja, s regras de
organizao da vida em coletividade.
Partindo dessa idia de que poltica implica autoridade ou
governo, vrios cientistas polticos buscaram definir a C incia Pol t icacomo uma disciplina que se dedicaria ao estudo da formao e da
Porm, o quedevemos lembrarquando nosreferimos idiade poltica queela pode seexpressar dediversas formas enos mais variadosmeios, estando,contudo, sempreassociada idiado poder.
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
15/134
15
d i v i s o d o p o d e r (DAHL, 1970). Assim, o ato poltico seria aquelerealizado dentro da perspectiva de poder.
Considerando-se que a afirmao anterior correta e que a
Cincia Poltica se dedica ao estudo da formao e da diviso do poder,
h necessidade de precisar o conceito de poder.
Segundo o filsofo e cientista poltico italiano Norberto Bobbio
(1987), no h estudioso da poltica que no parta de alguma maneira,
direta ou indiretamente, de uma d e f i n i o d e p o d e r e de uma anl ised o f e n m e n o d o p o d e r .
Ai nda de aco rdo co m Bo bbio (1987, p.
77-78), na f i l o s o f i a p o l t i c a, o problema dopoder foi apresentado sob trs aspectos,
base dos quais se podem distinguir as trs
teorias fundamentais que buscam explicar o
que esse fenmeno: a s u b s t a n c i a l i s t a , as u b j e t i v i s t a e a relacional .
Na teoria substancialista, o poder
concebido como algo que se possui e que seusa como um outro bem qualquer. Tpica
interpretao substancialista do poder a do
filsofo Thomas H obbes (1651), segundo aqual o poder de um homem [...] consiste nos
meios de que presentemente dispe para
obter qualquer visvel bem futuro (apud
BOBBIO, 1987, p. 77). Tais meios podem ser
naturais, como a inteligncia e a fora, ou
adquiridos, como a riqueza.
T h o m a s H o b b e s f il sof o ecientista poltico ingls, ThomasHobbes nasceu em Westport, em5 de abril de 1588, e faleceu em 4de dezembro de 1679. Sabe-seque Hobbes, em certas ocasies,entre 1621 e 1625, secretariouBacon ajudando-o a traduziralguns de seus Ensaios para olatim. O principal fruto dosestudos clssicos a que sededicou foi a traduo da obra deTucididas.
Disponvel em:
.
Voc ver ainda nesta unidade os
problemas bsicos com que lida afilosofia poltica
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
16/134
16
Tpica interpretao subjetivista
do poder a exposta por J o h n L o c k e(1694, II, XXI), que por poder
entende no a coisa que serve para
alcanar o objetivo, mas a capacidade
do sujeito de obter certos efeitos
(apud BOBBIO, 1987, p. 77). Segundo
Bobbio (1987, p. 77), para
exemplificar essa explicao, util iza-
se a frase o fogo tem o poder de
fundir metais [...] do mesmo modo que
o soberano tem o poder de fazer asleis e, fazendo as leis, de influir sobre
a conduta dos sditos.
Ai nda, segund o Bo bbio, a int erpreta o mais ace ita no di sc urso
poltico contemporneo a que remete ao conceito relacional depoder e estabelece que, por poder, se deve entender uma relaoentre dois sujeitos, dos quais o primeiro obtm do segundo um
comportamento que, caso contrrio, no ocorreria.
Visto que o conceito mais aceito de poder o que o concebe como
um fenmeno relacional, vejamos a didtica definio do socilogo
ingls Anthony Giddens (2005, p. 342) que afirma que o poder consiste
na habilidade de os indivduos ou grupos fazerem valer os prprios
interesses ou as prprias preocupaes, mesmo diante das resistnciasde outras pessoas.
J o h n L o c k e na sc eu na pe que nacidade de Wrington, em Somerset,na regio sudoeste da Inglaterra,a 29 de agosto de 1632, vindo afalecer em 1704. Destaca-se pelasua teoria das idias e pelo seupostulado da legitimidade dapropriedade inserido na sua teoriasocial e poltica. Para ele, odireito de propriedade a base daliberdade humana porque todohomem tem uma propriedade que sua prpria pessoa. O governoexiste para proteger esse direito.Entre suas principais obras esto:Letter on Toleration (1689),Second Letter on Toleration(1690) Two Treatises of Government(1690).
Disponvel em:
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
17/134
17
Ai nda segun do o aut or , s veze s, essa postu ra implica o uso
direto da fora. Ele cita como exemplo disso o fato histrico ocorrido
entre a Indonsia e o Timor Leste, em que as autoridades indonsias se
opuseram violentamente ao movimento democrtico do Timor Leste.
Giddens (2005, p. 342) tambm afirma que o poder est presente em
quase todas as relaes sociais incluindo aquela que existe entre o
empregador e o empregado.
Feitas as distines quanto s interpretaes do fenmeno do
poder, devemos lembrar que a c i n c i a p o l t i c a trata de um tipoespecfico de poder: o poder poltico. Assim, nosso prximo passo
diferenciar o p o d e r p o l t i c o de todas as outras formas que podeassumir uma relao de poder.
Retornando a Bobbio (1987, p. 80), ele afirma que, do ponto de
vista dos critrios que foram adotados para distinguir as vrias formas
de poder, o poder poltico foi definido como aquele que est em
condies de recorrer em ltima instncia fora (e est em condies
de faz-lo, porque dela detm o monoplio).
Ai nda segun do Bo bbi o (1987, p. 80) , essa uma defi ni o qu e se
refere ao meio de que se serve o detentor do poder para obter os efeitos
desejados. Como exemplo, podemos citar novamente o caso da
Indonsia, em que o emprego da fora contra o Timor Leste
apresentado como uma defesa contra a integridade territorial Indonsia
contra um movimento regional pela independncia (GIDDENS, 2005, p.
342).
O critrio do meio o mais comumente usado, inclusive porque
permite uma tipologia de poder (chamada de trs poderes): econmico,
ideolgico e poltico, ou seja, da riqueza, do saber e da fora (BOBBIO,
1987). Com essa tipologia, possvel identificar as vrias faces em que
esse fenmeno se apresenta em nossas sociedades.
Vejamos, ento, como podem ser conceituadas as trs formas de
poder (BOBBIO, 1987, p. 82-84):
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
18/134
18
O p o d e r e c o n m i c o vale-se da posse de certosbens necessrios, ou percebidos como tais, numa situao de escassez,
para induzir os que no os possuem a adotar certa conduta. Consistente
principalmente na execuo de um trabalho til. Na posse dos meios de
produo, reside enorme fonte de poder por parte daqueles que os
possuem contra os que no os possuem, exatamente no sentido
especfico da capacidade de determinar o comportamento alheio. Em
qualquer sociedade em que existam proprietrios e no-proprietrios, o
poder deriva da possibilidade que a disposio exclusiva de um bem lhe
d de obter que o no-proprietrio (ou proprietrio apenas de sua fora
de trabalho) trabalhe para ele e apenas nas condies por ele
estabelecidas.
O p o d e r i d e o l g i c o vale-se da posse de certasformas de saber, doutrinas, conhecimentos, s vezes apenas de
informaes, ou de cdigos de conduta, para exercer influncia no
comportamento alheio e induzir os membros do grupo a realizarem ou
no uma ao. Desse tipo de condicionamento deriva a importncia
social daqueles que sabem, sejam eles os sacerdotes nas sociedades
tradicionais ou os literatos, os cientistas, os tcnicos, os assimchamados "intelectuais", nas sociedades secularizadas, porque
mediante os conhecimentos por eles difundidos ou os valores por eles
firmados e inculcados realiza-se o processo de socializao do qual
todo grupo social necessita para poder estar junto.
O p o d e r p o l t i c o : o caminho mais usual paradiferenciar o poder poltico das outras formas de poder quanto ao uso
da f o r a f s i c a. Em outras palavras, o detentor do poder poltico aquele que tem exclusividade do direito de uso da fora fsica sobre um
determinado territrio. Quem tem o direito exclusivo de usar a fora
sobre um determinado territrio o soberano. O socilogo alemo Max
Weber (1992) foi quem definiu essa especificidade do poder poltico.
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
19/134
19
L e i t u r a c o m p l e m e n t a r :Para conceituar Estado, vamos seguir aproposta de Antnio Carlos Wolkmer,em seu livro Elementos para umacrtica do Estado (1990), e AnthonyGiddens (2005), em seu Sociologia.
Weber define o Estado como detentor do monoplio da coao fsica
legtima.
Essas trs formas de poder tm em comum a contribuio
conjunta para instituir e para manter sociedades de pessoasd e s i g u a i s d i v i d i d a s e m f o r t e s e f r a c o s c o m b a s e n o p o d e r p o l t i c o ,e m r i c o s e p o b r e s c o m b a s e n o p o d e r e c o n m i c o , e m s b i o s eignorantes com base no poder ideolgico. G enericamente, emsuperiores e inferiores (BOBBIO, 1987, p. 84, grifos nossos).
Vista essa distino entre os tipos de poder, visto que o poder
poltico deriva do monoplio da fora legtima num determinado
territrio e que a expresso desse poder o fenmeno do Estado,
surge a conceituao da cincia poltica como a cincia encarregada
do estudo do poder poltico ou, em outras palavras, como um ramo
das cincias sociais que trata da teoria, organizao, do governo e
das prticas do Estado (= poder poltico).
Os autores que se enquadram nessa categoria s vezes tambm
insistem que as instituies em anlise devem ser legais ou ter base
legal, mas a presena desse adendo no de maneira alguma universal
(DAHL, 1968 EASTON, 1970). Nesse sentido, achamos interessante
incluir algumas breves consideraes sobre o conceito de Estado.
O que o Estado?
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
20/134
20
No incio de seu trabalho, Wolkmer (1990, p. 9) coloca que:
[...] a categoria terica Estado deve ser entendida, no
presente ensaio, como a instncia politicamente organizada,
munida de coero e de poder, que, pela legitimidade da
maioria, administra os mltiplos interesses antagnicos e osobjetivos do todo social, sendo sua rea de atuao
delimitada a um determinado espao fsico.
O socilogo Anthony Giddens (2005, p. 343) detalha mais esse
conceito, ao definir que o Estado:
[...] existe onde h um mecanismo poltico de governo
(instituies como um parlamento ou congresso, alm de
servidores pblicos) controlando determinado t e r r i t r i o , cujaa u t o r i d a d e conta com o amparo de um s i s t e m a l e g a l e dacapacidade de utilizar a f o r a m i l i t a r para implementar suaspolticas. Todas as sociedades modernas so e s t a d o s -n a e s , ou seja, estados nos quais a grande massa dapopulao composta por c i d a d o s que se consideram partede uma nica nao (grifo nosso).
Da citao acima, como se pde observar nas palavras grifadas,
vrios conceitos precisam ser esclarecidos, o que leva novamente arecorrer a Giddens (2005, p. 343).
G overno : refere-se representao regular de polticas,decises e assuntos de Estado por parte de servidores que compem
um mecanismo poltico.A u t o r i d a d e: o emprego legtimo do poder.
L e g i t i m i d a d e: entende-se que aqueles que se submetem autoridade de um governo consentem nessa autoridade.
Os conceitos de soberania, cidadania e nacionalismo so
elaborados por Giddens (2005, p. 342-343):
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
21/134
21
Soberania: os territrios governados pelos estados tradicionaissempre foram mal definidos, e o nvel de controle exercido pelo governo
central bastante fraco. A noo de soberania de que o governo possuiautoridade sobre uma rea que tenha uma fronteira clara, dentro da qual
ele representa o poder supremo tinha pouca relevncia. Contrastando
com essa viso, todos os estados-naes so estados soberanos.C idadania: nos estados tradicionais, a maior parte da populao
governada pelo rei ou imperador demonstrava pouca conscincia, ou
interesse, em relao aos seus governantes. Tambm no tinha nenhum
direito poltico ou influncia sobre esse aspecto. Normalmente, apenas
as classes dominantes ou os grupos mais ricos tinham a sensao de
pertencer a uma comunidade poltica global. J nas sociedades
modernas, a maioria das pessoas que vivem dentro dos limites de um
sistema poltico c i d a d , as quais possuem direitos e deveres comunse se consideram parte de uma nao. Embora algumas pessoas sejam
refugiadas polticas ou aptridas, quase todos os que vivem no mundo
de hoje so membros de uma ordem poltica nacional definida.N a c i o n a l i s m o : os estados-naes esto relacionados ao
crescimento do n a c i o n a l i s m o , o qual pode ser definido como umconjunto de smbolos e convices responsveis pelo sentimento de
pertencer a uma nica comunidade poltica. Assim, ao serem britnicos,
norte-americanos, canadenses ou russos, os indivduos tm a sensao
de orgulho e de pertencer a essas comunidades. Esses so os
sentimentos que deram mpeto busca dos timorenses orientais pela
independncia. provvel que, de uma forma ou de outra, as pessoas
tenham sempre sentido algum tipo de identidade com grupos sociais afamlia, o vilarejo ou a comunidade religiosa. O nacionalismo, contudo,
surgiu apenas com o desenvolvimento do estado moderno, sendo a
principal expresso dos sentimentos de identidade em uma comunidade
soberana distinta.
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
22/134
22
At aqui, vi mos uma s rie de conce itos relaciona dos ao poder
poltico e sua manifestao no fenmeno do Estado. Vejamos agora,
em termos histricos, como se d o desenvolvimento dessa
instituio.
Segundo Wolkmer (1990, p. 21), o Estado surgiu como realidade
tpica da era de produo capitalista (sculo XVIII) e das necessidades
materiais de uma classe emergente (burguesia), enriquecida
economicamente:
Tambm importante considerar como fatores determinantes
a crise na formao da estrutura feudal, as profundas
transformaes polticas, sociais e econmicas, bem como a
jun o pa rt icul ar de el em en to s int er no s e ex ter no s qu eabalaram algumas sociedades polticas europias.
Ai nda se gundo Wol kmer (19 90, p. 22), algumas te orias,
principalmente vindas de correntes jurdicas, tentam explicar o
surgimento do Estado a partir de uma continuidade histrica de seus
elementos materiais constitutivos (territrio, povo e poder soberano).
Wolkmer sustenta que isso i ncorreto, pois
o Estado enquanto fenmeno histrico de dominaoapresenta originalidade, desenvolvimento e caractersticas
prprias para cada momento histrico e para cada modo de
produo, com a subordinao plena das organizaes
polticas ao poder da Igreja no feudalismo e com a
secularizao e unidade nacional da modernidade.
Dessa forma, na interpretao desse autor, o moderno Estado,
com todas as caractersticas constitutivas que vimos acima (nao,
cidadania, autoridade, legitimidade, soberania), produto das condiesestruturais inerentes ao capitalismo burgus europeu, no sendo,
portanto, mero reflexo evolutivo ou aperfeioamento de outros tipos
histricos anteriores (Estado-Antigo, Cidade-Estado, Estado Medieval).
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
23/134
23
Na Unidade 2, voc vai ver como se da evoluo histrica dos vrios sistemaspolticos e o significado de expressescomo liberalismo.
An alisa ndo a evol uo hi st ri ca do fenmeno esta ta l, Wol kmer
(1990, p. 25) afirma que o Estado Moderno surge, inicialmente, sob a
forma de Estado Absolutista (legitimado pelo poder monrquico),
evoluindo, posteriormente para o Estado Li beral Capitalista.
Desse modo, o Estado Absolutista seria uma forma de transio, de
preparao para o advento do Estado Liberal. Ainda segundo esse
autor, embora a organizao absolutista comportasse matizes
marcadamente capitalistas, a
burguesia no era ainda,
necessariamente, a classe
poltica e economicamente
dominante.
Por ora, basta fixar a
idia de que o Estado com as
caractersticas que destacamos
acima uma instituio tpica
da chamada modernidade.
Para prosseguir no
objetivo traado nesta unidade, que estabelecer alguns conceitos e
categorias centrais na anlise poltica, necessrio um conceito que
tenha certa neutralidade e que seja passvel de operacionalizao.
Ac redita mos que uma boa maneira de se guir nes sa tr ajetr ia seja adota r
a proposta de anlise do Estado feita por Max Weber (1992) e por ns
esboada, quando tratamos da definio do poder poltico.
E m i l M a x i m i l l i a n W e b e r mai sconhecido como Max Weber, nasceu emErfurt, Alemanha, em 21 de abril de1864, e faleceu em Munique, em 14 de
jun ho de 19 20 . Fo i um int el ec tu al al em oe um dos fundadores da Sociologia. conhecido, sobretudo, pelo seu trabalhosobre a Sociologia da religio. Suas
obras de mais destaque so A ticapr ot es tan te e o Esprito do Capitalismo.
Disponvel em:
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
24/134
24
Vejamos com mais detalhe o conceito de Estado:
Para Weber (1992), por poltica entende-se qualquer tipo
de liderana independente em ao (por exemplo: poltica de descontos,
poltica educacional, etc.).
No ensaio A poltica como vocao, Weber (1992) aborda
apenas a liderana, ou a influncia sobre a liderana, de uma
associao poltica, que o Estado.
Para definir o que Estado de um ponto de vista
sociolgico, Weber (1992) afirma que no se pode partir dos fins, pois
eles variam com a histria, mas de termos de meios especficos a ele.
Desse modo, afirma que a especificidade da associao poltica se dpelo uso da fora fsica.
Estado moderno, de maneira sociolgica, pode ser
conceituado como comunidade humana que pretende, com xito, o
monoplio legtimo da fora fsica, dentro de um determinado territrio
(WEBER, 1992, p. 98). O Estado a nica fonte com direito de usar a
violncia.
A parti r des sa defini o de Es ta do, Weber (1992, p. 98)
define a poltica como a participao no poder ou a luta para influir na
distribuio do poder, seja entre estados ou grupos dentro de um
Estado.
A exi st n cia do Es ta do e de to das as inst itu ies polt ica s,
para Weber (1992, p. 98), s pode ser compreendida a partir do fato de
que sua existncia se d a partir de homens dominando homens
relao mantida por meio da violncia legtima.
Conceituando-se o Estado como a instituio que mantm o
monoplio da fora legtima num determinado territrio e sendo o Estado
a maior expresso do poder poltico, fica mais clara a definio
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
25/134
25
anteriormente desenvolvida de cincia poltica como cincia
encarregada do estudo do poder poltico.
Cabe, porm, uma nova indagao: Ser a cincia poltica a
nica forma possvel de se estudar o poder poltico? O que
caracteriza propriamente uma cincia da poltica? Voc vai ver de
maneira mais apropriada como responder a essas questes na
unidade seguinte.
C INCIA POLTICA E FILOSOFIA POLTICANorberto Bobbio (1987, p. 55) afirma que o estudo do p o d e r
p o l t i c o est dividido entre duas disciplinas didaticamente distintas: aFi losofia Pol t ica e a C incia Pol t ica.
Segundo Bobbio (1987), na Filosofia Pol t ica socompreendidos trs tipos de investigao:
da melhor forma de governo ou da tima repblica
do fundamento do Estado ou do poder poltico, com aconseqente justificao (ou injustificao) da obrigao poltica
da essncia da categoria do poltico ou da politicidade,
com a prevalecente disputa sobre a distino entre tica e poltica.
Ai nda se gundo Bo bbio (19 87), por Cincia Polt ica entende-sehoje uma investigao no campo da vida poltica capaz de satisfazer
trs condies:
o princpio de verificao ou de falsificao como critrio
da aceitabilidade de seus resultados
o uso de tcnicas da razo que permitam dar uma
explicao causal, em sentido forte ou mesmo em sentido fraco, do
fenmeno investigado
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
26/134
26
a absteno ou abstinncia de juzos de valor, a assim
chamada avaloratividade.
Segundo Giovanni Sartori (1981), a expresso Cincia Poltica e
sua noo podem ser precisadas em funo de duas variveis:
o estado da organizao do saber
o grau de diferenciao cultural dos agregados humanos.
Nesse sentido, apesar de as duas disciplinas terem o mesmo
objeto como referncia (o poder poltico), possvel identificar
diferenas significativas quanto forma de abordar o fenmeno
estudado. Enquanto a Filosofia est preocupada com os fundamentos do
poder poltico e a reflexo sobre boas ou ms formas de governo, aCincia Poltica adota como critrio para sua constituio a idia de ser
isenta de valores quanto ao melhor ou pior sistema poltico, pois sua
preocupao central est em compreender e explicar os fenmenos
polticos por meio da anlise sistemtica da forma como eles se
apresentam nas diversas sociedades e nos tempos histricos mais
variados.
Mediante essas formulaes, verifica-se, ento, que as diferenas
entre as duas disciplinas esto em seus propsitos e na forma (mtodo)
como tratam os fenmenos da poltica.
Enquanto na filosofia a preocupao fundamental est na busca
dos fundamentos ltimos da poltica e na construo de modelos
ideais de organizao, a cincia poltica baseia-se, sobretudo na
busca de explicaes para a dinmica de funcionamento dos sistemas
pol ticos, util izando pr oce dimento s pr pr ios do mto do cient f ico.
O S SISTEMAS POLTICO SJ que nos pargrafos anteriores util izamos a expresso
sistema poltico e que a Unidade 2 prev a discusso dos sistemas
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
27/134
27
polticos clssicos e contemporneos, cabem aqui algumas
consideraes sobre essa temtica, pois, desde os anos 1960, uma
srie de cientistas polticos tem procurado utilizar a linguagem dos
sistemas para estudar o mundo da poltica, o que tem provocado
grandes alteraes no vocabulrio da disciplina, bem como nos
resultados alcanados pelos estudos.
Segundo Bobbio (1987), nessa teoria, a relao entre o conjunto
das instituies polticas e o sistema social em seu todo representada
como uma relao demanda-resposta ( input-output). Nesse caso, a
funo das instituies polticas dar respostas s demandas
provenientes do ambiente social ou, segundo uma terminologia corrente,converter as demandas em respostas. Nas palavras de Bobbio (1987, p.
60):
As re spost as da s inst itu ie s po lti cas s o da da s so b a forma
de decises coletivas vinculatrias para toda a sociedade. Por
sua vez, estas respostas retroagem sobre a transformao do
ambiente social, do qual, em seqncia ao modo como so
dadas as respostas, nascem novas demandas, num processo
de mudana contnua que pode ser gradual quando existe
correspondncia entre demandas e respostas, brusco quando
por uma sobrecarga de demandas sobre as respostas
interrompe-se o fluxo da retroao, e as instituies polticas
vigentes, no conseguindo mais dar respostas satisfatrias,
sofrem um processo de transformao que pode chegar fase
final de completa modificao. [...] Ficando estabelecida a
diversa interpretao da funo do Estado na sociedade, a
representao sistmica do Estado deseja propor um esquema
conceitual para analisar como as instituies polticasfuncionam, como exercem a funo que lhes prpria, seja
qual for a interpretao de que lhes faa.
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
28/134
28C ARACTER STICAS DOS SISTEMAS POLTICO S
Uma primeira caracterstica de todos os sistemas polticosconhecidos e estudados que os recursos polticos so distribudos
desigualmente. Mas o que umr e c u r s o p o l t i c o ?
Existem, segundo Dahl
(1970, p. 29), alguns motivos
pelos quais o recurso poltico
distribui-se de maneira irregular
praticamente em toda
sociedade:
Em toda sociedade
existe certa especializao de funes. Nas sociedades avanadas ela
extensa. A especializao de funes (diviso do trabalho) cria
diferenciaes no acesso aos diferentes recursos polticos. Exemplo: um
secretrio de Estado e um membro da Comisso de Relaes Exteriores
do Senado tm mais acesso a informaes sobre a poltica externanorte-americana do que a maioria dos cidados.
Em virtude de diferenciaes herdadas socialmente, as
pessoas no comeam a vida com o mesmo acesso a recursos, e
aqueles que saram na frente, geralmente aumentam sua vantagem.
Exemplos: riqueza, posio social, grau cultural que diferenciam uns dos
outros. Quanto ao ltimo, cabe salientar que as oportunidades de
educao relacionam-se, pelo menos em parte, riqueza, posio
social ou posio poltica do pas (DAHL, 1970, p. 30).
As varia es nas herana s soci ais, junto co m as varia es
experimentais, determinam diferenas em relao aos estmulos e
objetivos de diferentes elementos em uma sociedade. Diferenas de
motivao levam a diferenas em habilidades e em recursos, pois nem
Para responder a essa questo,adotaremos as definies de Robert Dahl(1970), em seu livro Anlise poltica.Segundo esse autor, recurso poltico um meio pelo qual uma pessoa consegueinfluenciar o comportamento de outrasrecurso poltico, por conseguinte,compreende dinheiro, informao,
alimentao, ameaa de foras e outrascoisas (DAHL, 1970, p. 29).
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
29/134
29
todos so igualmente motivados a entrar na poltica, a tornarem-se
lderes ou a adquirirem recursos que ajudam o lder a ter influncia
sobre os demais (DAHL, 1970, p. 30).
Dessa forma, podemos concluir que, por vrias razes,
extremamente difcil (para alguns autores, impossvel) criar uma
sociedade em que os recursos polticos sejam uniformemente
distribudos entre todos os adultos.
Isso no implica afirmar a impossibilidade de existir uma
sociedade sem distribuio desigual de recursos polticos. Todos os
projetos emancipatrios, como o socialismo e o anarquismo, partem doprincpio de que desejvel e possvel construir uma sociedade com
distribuio igual do poder.
O S R ECURSOS P O L T IC O S E A I NFLUNCIA P O L T I C ADahl (1970, p. 31) afirma que alguns membros do sistema poltico
procuram adquirir influncia sobre as diretrizes, regras e decises
determinadas pelo governo i s s o i n f l u n c i a p o l t i c a. As pessoasprocuram influncia poltica no necessariamente pela influncia em si,
mas porque o controle sobre o governo uma forma evidente e
conhecida de favorecer os prprios objetivos e valores.
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
30/134
30
A infl u nci a pol t ica, porm, distr ibui -se de maneira irr egu lar entr e
os membros adultos de um sistema poltico (DAHL, 1970). Essa
proposio relaciona-se claramente primeira, que trata da distribuio
desigual dos recursos. Disso derivam duas proposies:
certas pessoas dispem de mais recursos com os quais
podem influenciar o governo, se e quando desejarem
inversamente, indivduos com maior influncia podem
adquirir controle sobre maiores recursos polticos.
Existem vrias razes pelas quais a influncia poltica
distribuda irregularmente nos sistemas polticos, que podem ser
reduzidas a t rs fatores fundamentais (DAHL, 1970, p. 32):em virtude de desigualdades na distribuio de recursos,
ponto j discutido
em virtude das variaes na habilidade com que diferentes
indivduos empregam seus recursos polticos. As diferenas na
habilidade poltica, por sua vez, derivam das diferenas de oportunidade
e estmulos para aprender e praticar as tcnicas polticas
em virtude das variaes na extenso com que diferentes
indivduos empregam seus recursos com objetivos polticos. Exemplo:
entre duas pessoas ricas, uma pode aplicar maiores propores de sua
fortuna para adquirir influncia poltica, ao passo que a outra o far para
alcanar xito em seus negcios.
A cad eia ca usa l pode ser il ust rada da se gui nte maneira:
Figura 1: Cadeia causal .Fonte: Dahl (1970, p. 33)
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
31/134
31O BJET IVOS CONFLITUOSOS NOS SISTEMAS POLTI COS
Dahl (1970, p. 33) define que os membros de um sistema poltico
perseguem, na maioria das vezes, objetivos conflituosos, os quais sotratados, dentre outras formas, pelo governo desse sistema.
Conflitos e consenso so dois aspectos importantes de qualquer
sistema poltico.
Com isso, quer dizer o autor que os conflitos esto na base da
organizao poltica das sociedades e uma das funes centrais das
instituies polticas processar esses conflitos de forma a produzir
consensos e cooperao social.
Nas sociedades complexas, grande parte dos conflitos mediada,
arbitrada, suprimida, resolvida ou liquidada pela prpria sociedade, por
meio de suas instituies, como famlia, amigos, associaes,
movimentos sociais etc. No entanto, o grande foco de resoluo da
maioria dos conflitos sociais continua sendo o Estado.
Dessa forma, podemos dizer que o Estado uma instituio que
surgiu para resolver os problemas da vida em coletividade. Tais
problemas ocorrem a partir do chamado processo de diferenciao
social, quando a sociedade passa a se organizar a partir de grupos
portadores de identidades (classe, sexo, religio, cor), valores,
interesses e opinies divergentes.
Visando evitar o conflito generalizado entre esses interesses
divergentes, uma escolha racional dos indivduos criar uma instituio
que busque transformar esses focos potenciais de conflitos em formas
cooperativas de ao. (Essa interpretao tributria do modelo hobbesianono campo da anlise poltica. Ver Santos,1998).
Diante disso, surgiu o fenmeno do Estado . Da vem anecessidade de ele ser o regulador da vida em sociedade e ter
monoplio sobre o uso da fora fsica e da coero num determinado
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
32/134
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
33/134
33
autores desenvolveram esquemas classificatrios prprios. Diante da
necessidade de propor uma mnima classificao da diversidade das
formas de organizao da vida poltica no mundo contemporneo,
adotamos o critrio de classificao estabelecido por Giddens (2005, p.
343), no qual os trs tipos fundamentais de sistema poltico so: m o n a r q u i a, democracia l iberal e a u t o r i t a r i s m o . Vejamos cada umdeles:
M ONARQUIAO fundamento da autoridade das monarquias est no costume, e
no na lei. De acordo com Giddens (2005), apesar de alguns Estados
modernos ainda terem monarcas, eles tornam-
se pouco mais do que figuras decorativas,
desempenhando funes simblicas e como
foco de identidade nacional, porm sem
praticamente nenhuma influncia no curso dos
eventos polticos. Verifica-se nesse caso a
figura dos m o n a r c a s c o n s t i t u c i o n a i s , como arainha do Reino Unido, o rei da Sucia e at mesmo o imperador do
Japo cujo poder efetivo encontra severas restries na Constituio,
a qual confere autoridade queles que foram eleitos como
representantes do povo (GIDDENS, 2005, p. 343).
A va sta maioria dos Es ta dos moderno s so R epblicas (nopossuem reis, nem rainhas ), e hoje, no incio do sculo XXI, a maioriadelas democrtica. Vejamos ento o conceito de democracia.
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
34/134
34DE M O C R A C IA
O significado fundamental do termo
est associado ao governo do povo (demospovo, kratos poder). Logo, seu significado
fundamental que se trata de um sistema
poltico no qual quem governa o povo, e
no os monarcas ou os aristocratas.
EXPLORANDO O CONCEITO DE DEMOCRACIA:NO QUE CONSISTE O GO VERNO DO POVO?
A id ia que est por tr s da democracia bast ante clara, o povo
deve ser o responsvel pelo seu prprio governo, sob condies de
igualdade poltica, em vez de se submeter a um domnio que venha de
cima, por parte de lderes que no se responsabilizam por ele. Porm,ao observarmos a expresso mais de perto, no fica totalmente claro
o que significa ser dominado pelo povo. Como apontou David Held
(1996), cada uma das partes da expresso pode dar margem a
dvidas.
P O VOQuem o povo?
Que tipo de participao permitida a essas
pessoas?
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
35/134
35
Que condies so aceitas como conducentes
participao?
DOMNIOO alcance desse domnio deveria ser amplo ou
restrito? At que ponto? Deveria ficar limitado, por exemplo, esfera
governamental ou pode haver democracia em outras esferas, como a
democracia industrial?
O domnio pode cobrir as decises administrativas
do dia-a-dia que devem ser tomadas pelo governo ou ele deveria se
restringir s grandes decises polticas?
GOVERNO preciso obedecer ao governo do povo? Qual o
lugar da obrigao e da dissenso?
Al gumas pessoa s desr esp eita ri am a lei seacreditassem que as leis existentes so injustas?
Sob quais circunstncias, se houver alguma, os
governos democrticos deveriam fazer uso da coero contra os
indivduos que discordam de suas polticas?
Como enfatiza Held (ano), as discusses em torno do governo
do povo ultrapassam estas questes bsicas. Existem opinies
contrastantes a respeito das condies necessrias para o sucesso
de uma democracia. possvel manter democracia durante perodos
de guerra e crise civis? necessrio que a sociedade democrtica
seja, sobretudo, alfabetizada ou possua um certo nmero de riqueza
social? No h consenso a respeito desses aspectos fundamentais
que envolvem a democracia, quanto mais em relao s numerosas
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
36/134
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
37/134
37
exerccio desse tipo de democracia so bastante limitados, tendo em
vista problemas como a complexidade das decises e o tamanho das
organizaes polticas. Exemplo: Como implementar uma democracia
participativa numa sociedade como a brasileira, que tem 180 milhes
de habitantes? Como fazer para a populao decidir sobre a maioria
dos assuntos relevantes?
Todavia, mesmo reconhecendo os limites desse formato
institucional de democracia, possvel verificar sua aplicao em vrios
espaos. Giddens (2005) cita o exemplo das comunidades de New
England, situada no nordeste dos EUA, que do continuidade prtica
das r e u n i e s m u n i c i p a i s anuais, quando a populao rene-se em diasmarcados para deliberar a respeito de questes locais. Outro casocitado pelo autor o emprego dos p l e b i s c i t o s, nos quais o povoexpressa sua opinio sobre questes especficas. Temos como exemplo,
os plebiscitos realizados na Europa sobre a adeso ou no de pases
Unio Monetria Europia. No Brasil, tivemos o exemplo do plebiscito de
1992, em que a populao decidiu sobre o pas retornar ao regime
monrquico ou manter-se como Repblica e quanto ao sistema de
governo, no caso, o parlamentarismo ou presidencialismo. Como se
sabe, a populao decidiu por uma Repblica Presidencialista. Ainda em
termos de Brasil, h outras formas de exerccio da democracia
participativa, como os referendos e a i n i c i a t i v a p o p u l a r l e g i s l a t i v a.Um dos exemplos mais bem-sucedidos desse tipo de democracia em
nosso pas tem sido a prtica dos Oramentos Participativos, em que a
populao chamada para decidir sobre os destinos dos recursos
pblicos de municpios e estados, bem como os casos de Conselhos
Gestores de Polticas Pblicas. Para verificar como esses institutos
apresentam-se no Brasil, veja o texto complementar de autoria de
Benevides (2003).
A idia de democracia representat iva est associada formamais comum de expresso dos regimes democrticos
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
38/134
38
contemporneos. Nesse modelo, as decises que afetam a
comunidade no so tomadas pelo conjunto de seus membros, mas
pelas pessoas que eles elegeram para essa finalidade (GIDDENS,
2005, p. 344). Os representantes, na maioria dos casos, so eleitos
por p a r t i d o s p o l t i c o s , os quais podem ser definidos como umaorganizao voltada para a conquista do controle legtimo do governo
por meio do processo eleitoral (p. 351).
O modelo da democracia se expressa por meio de eleies que
so disputadas por partidos polticos, nas quais, em geral, os eleitores
so formados pela populao adulta do pas. Outros elementos
utilizados para que uma democracia seja minimamente caracterizada
como representativa so (DAHL, 1998):a existncia de cargos eleitos
eleies livres, peridicas e imparciais
liberdade de expresso
liberdade de informao
direito de livre associao.
A exi st nci a dess as regras condiciona a exi st ncia da democracia
representativa, que se materializa em diferentes formatos institucionais,
dependendo da articulao verificada quanto a suas regras internas.
Dentre tais regras, podemos verificar uma srie de diferenas internas
entre os pases. Nesse sentido, vale citar alguns apontamentos de
Giddens.
O S PARTIDOS POLTICOS E A VOTAO NOS PASES DOOCIDENTESISTEMAS PARTIDRIOS
Podemos definir um p a r t i d o p o l t i c o como uma organizaovoltada para a conquista do controle legtimo do governo por meio de
um processo eleitoral. Existem muitos tipos de sistema partidrio. O
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
39/134
39
sucesso de um sistema bipartidrio ou de um sistema que envolva
mais de dois partidos depende, em grande parte, da natureza dos
procedimentos eleitorais de determinado pas. Dois partidos tendem a
dominar o sistema poltico nos lugares em que as eleies se baseiam
no princpio de o vencedor leva tudo. O candidato que obtm o
maior nmero de votos em um distrito eleitoral vence a eleio nesse
local e representa todo o eleitorado no Parlamento. Nos casos em que
as eleies se baseiam em princpios diferentes, como na
representao proporcional (em que as cadeiras de uma assemblia
representativa so determinadas em funo das propores de votos
obtidos), os sistemas bipartidrios so menos comuns.
Em alguns pases o lder do partido majoritrio, ou de um dospartidos que esto em coalizo, assume automaticamente o lugar do
primeiro-ministro, o smbolo poltico mais alto da nao. Em outros
casos (como nos Estados Unidos), a eleio do presidente e as
eleies partidrias para os principais organismos representativos
ocorrem separadamente. Dificilmente existe algum partido eleitoral
nos pases ocidentais que seja exatamente idntico aos outros, sendo
que a maioria mais complicada do que o do Reino Unido. A
Al emanha po de servir co mo um exe mp lo. Ne ss e pas , el egem-se os
membros para o Bundestag (Parlamento), atravs de um sistema que
combina a idia de o vencedor leva tudo e as regras da eleio
proporcional. A metade dos membros desse Parlamento eleita em
distritos eleitorais nos quais vence o candidato que consegue a
maioria dos votos. Os outros 50% so eleitos de acordo com as
propores dos votos que eles recebem em reas regionais
especficas. Foi esse sistema que permitiu ao Partido Verde ganhar
cadeiras no Parlamento. Estabeleceu-se um limite de 5% a fim de
impedir uma proliferao excessiva de partidos pequenos. Essa
proporo o mnimo que deve ser atingido para que um partido
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
40/134
40
obtenha representao parlamentar. Um sistema semelhante tambm
utilizado nas eleies locais.
Os sistemas que possuem dois partidos dominantes, como na
Gr-Bretanha e nos Estados Unidos, tendem a levar a uma
concentrao de posies de meio-termo, a qual rene a maioria
dos votos e exclui as opinies mais radicais. Nesses pases, os
partidos geralmente cultivam uma imagem moderada, chegando s
vezes a serem to parecidos entre si que a escolha que oferecem
insignificante. Em princpio, cada partido pode representar uma
pluralidade de interesses, mas, muitas vezes, eles se combinam em
um programa ameno com poucas polticas distintas. Os sistemas
multipartidrios permitem que interesses e pontos de vistadivergentes sejam expressados de maneira mais direta, oferecendo
um espao para a representao de alternativas radicais. Por outro
lado, sozinho, nenhum partido conseguir atingir maioria total. Essa
uma situao que leva a coalizes que podem enfrentar certa
inabilidade na hora da tomada de decises em funo de grandes
conflitos internos, ou a uma rpida sucesso de eleies e novos
governos, sendo que nenhum com capacidade para permanecer no
poder durante muito tempo, produzindo, portanto, resultados bastante
limitados.F o n t e: Giddens (2005, p.. 351-352).
AUTORITARISMOSeguindo o critrio de Giddens
(2005, p. 344), o autoritarismo surge como
terceiro modelo de sistema poltico
contemporneo. Nesse caso, h uma
forma de organizao poltica em que as
necessidades e os interesses do Estado
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
41/134
41
ganham prioridade sobre os dos cidados comuns, e nenhum
mecanismo legal de resistncia ao governo, ou para remover um lder
do poder, restitudo.
Ap esa r de quase um te ro dos pas es do mundo est ar or gan iza do
de forma autoritria, um fato digno de nota que a democracia tem se
tornado a forma dominante de organizao poltica. Cabe destacar,
porm, que, apesar do grande avano dos regimes democrticos (o que
pode ser observado no mapa da figura 2), eles encontram-se diante de
dilemas e contradies bastante srios. Nesse sentido, para fins de
reflexo e de atividades referentes a esta unidade, destacamos uma
passagem do texto de Giddens, intitulada Os paradoxos da democracia.
O S PARADOXOS DA DEMO CRACI ADiante da grande difuso da democracia liberal, era de se
esperar que ela estivesse funcionando com muito sucesso.
Entretanto, a democracia vem enfrentando dificuldades em quase
todos os lugares. O paradoxo da democracia intricado: por um
lado, ela est avanando em todo o globo mas, por outro, nas
sociedades democrticas maduras que h muito tempo contam com
instituies democrticas, notam-se altos nveis de desiluso em
relao aos processos democrticos. A democracia enfrenta
problemas em seus principais pases de origem na Gr Bretanha, na
Europa e nos EUA, por exemplo, levantamentos mostram que
propores cada vez maiores de pessoas esto insatisfeitas com o
sistema poltico ou expressam indiferena em relao a ele.Por que h tantas pessoas descontentes com o mesmo sistema
poltico que parece estar arrebatando o mundo inteiro? As respostas
para essa questo esto curiosamente relacionadas aos fatores que
auxiliaram na difuso da democracia o impacto das novas
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
42/134
42
tecnologias na rea das comunicaes e a globalizao da vida
social.
Conforme observou o socilogo norte-americano Daniel Bell, o
governo nacional tornou-se pequeno demais para responder s
grandes questes como a influncia da concorrncia econmica
global ou a destruio do meio ambiente porm, grande demais para
lidar com as pequenas questes, problemas que afetam cidades ou
regies especficas. Os governos tm um poder restrito, por exemplo,
sobre as atividades dos gigantes das corporaes empresariais a
tores principais da economia global. Uma corporao dos EUA pode
decidir pelo fechamento de suas usinas de produo na Gr-Bretanha,
abrindo uma nova fbrica no Mxico em seu lugar, a fim de diminuircustos e competir de forma mais eficaz com outras corporaes. O
resultado a demisso de milhares de trabalhadores britnicos, os
quais provavelmente esperaro que o governo faa alguma coisa mas
os governos nacionais no tm capacidade para controlar processos
que estejam relacionados economia mundial.
Em muitas democracias, os cidados demonstram pouca
confiana em seus representantes eleitos, concluindo que a poltica
nacional produz um impacto cada vez menor sobre suas vidas. H um
cinismo crescente em relao aos polticos que alegam ter a
habilidade de prever ou de controlar questes globais que estejam
ocorrendo em nveis que ultrapassam os limites do Estado-nao.
Muitos cidados entendem que os polticos so praticamente
impotentes para influenciar mudanas globais, e, portanto, suspeitam
muito das proclamaes de triunfalistas. Pesquisas pblicas de
opinio realizadas em diversos pases do Ocidente revelam que os
polticos tm um srio problema de imagem! cada vez maior o
nmero de cidados a julgar que eles agem em interesse prprio e
que no esto comprometidos com questes que preocupam o
eleitorado.
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
43/134
43
Al gumas evi dnci as qu e leva m a ess a conc lus o fo ram
extradas dos resultados de dois estudos de segmentos da populao
recentes.
Segundo os levantamentos, as atitudes polticas encontradas entre os
britnicos jovens e os de meia-idade caracterizam-se mais pelo
cinismo do que por qualquer outro fator. Entre os entrevistados noc o o r t e de 1970, 44% acreditavamque os polticos estavam na
poltica em benefcio prprio.
Trinta por cento daqueles que
nasceram em 1958 concordavam
que o partido poltico que est no poder praticamente irrelevante, jque h poucas vantagens diretas para os cidados comuns. Os
levantamentos revelaram que o cinismo poltico mais pronunciado
entre os indivduos que no possuem qualificaes educacionais
(ESRC, 1997).
Ao mesmo te mp o que hou ve um enc olhi mento do poder dos
governos em relao s questes globais, as autoridades polticas
tambm se distanciaram da vida da maioria dos cidados. Muitos
cidados ficam indignados com o fato de que as decises que afetam
suas vidas sejam tomadas por intermedirios do poder
funcionrios a servio do partido, grupos de interesse, lobistas e
servidores burocratas. Ao mesmo tempo, eles acabam acreditando na
incapacidade do governo em lidar com questes locais importantes
como o crime e os sem-teto. O resultado a queda substancial da
confiana no governo, o que, por sua vez, afeta a disposio das
pessoas de participar do processo poltico.
Os efeitos da era da informao aberta so sentidos no
apenas nos estados autoritrios, mas tambm nas democracias.
Vivemos em um mundo no qual os cidados e o governo tm acesso a
praticamente as mesmas informaes. At mesmo os governos
CoorteSo estudos observacionais nos quaisos indivduos so classificados (ouselecionados) segundo o statusdeexposio
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
44/134
44
democrticos dependem h muito tempo de certos caminhos no-
democrticos de operao que vo desde a corrupo at o
favorecimento, os acordos secretos e as redes formadas por velhos
amigos que hoje so rpida e freqentemente revelados graas aos
avanos na tecnologia da informao. Alguns processos que
costumavam ficar escondidos agora vm luz, provocando indignao
e desiluso entre o eleitorado democrtico. Cada vez mais, os velhos
mtodos vo enfraquecendo e as estruturas polticas existentes
deixam de ser uma garantia.
Hoje em dia, alguns observadores lamentam que os cidados
dos estados democrticos estejam apticos e tenham perdido o
interesse pelo processo poltico. verdade que os ndices de votaotm apresentado uma queda nas ltimas dcadas e que a afil iao,
nos principais partidos polticos, tambm esteja em declnio. Contudo,
um erro sugerir que as pessoas tenham perdido o interesse e a f
na prpria democracia. As pesquisas de opinio mostram que a
maioria dos habitantes dos pases democrticos citam a democracia
como forma preferida de governo. Alm disso, h sinais de que, na
verdade, o interesse na poltica vem aumentando, mas simplesmente
estava sendo canalizado para outras direes, diferentes dos partidos
polticos ortodoxos. O nmero de fil iados a grupos e associaes
polticas est crescendo e os ativistas esto dedicando suas energias
para novos movimentos sociais concentrados em torno de questes
isoladas, como o meio ambiente, os direitos dos animais, a poltica
comercial e no-proliferao nuclear [...].
Qual ento o destino da democracia, numa poca na qual a
governana democrtica parece estar despreparada para lidar com o
fluxo dos eventos? Alguns observadores sugerem que haja pouco a
ser feito, que o governo no pode esperar controlar as mudanas que
ocorrem em ritmo acelerado nossa volta e que o modo de ao mais
prudente esteja na reduo do papel do governo, permitindo que as
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
45/134
45
foras de mercado mostrem o caminho. Entretanto, esta uma
abordagem suspeita. Em nosso mundo descontrolado, precisamos de
um governo mais, no menos, atuante. Porm, um governo eficaz em
nossa era exige que a democracia seja aprofundada no nvel do
Estado-nao, bem como acima e abaixo deste nvel.Fonte: Giddens (2005, p. 347 350-352).
F i g u r a 2 : M a p a r e p r e s e n t a t i v o d o a v a n o d o s r e g i m e s d e m o c r t i c o s .Fon te : G i d d e n s ( 2 0 0 5 , p . 3 4 8 - 3 4 9 ) .
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
46/134
46
REFERNCIASBENEVIDES, Maria V. Ns, o povo. Reformas polticas para
radicalizar a democracia. In: BENEVIDES et al. Reforma poltica e
cidadania. So Paulo: Fundao Perseu Abramo, 2003.
BOBBIO, Norberto. Estado, governo e sociedade: para uma teoria
geral da poltica. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
DAHL, Robert. A moderna anlise poltica. So Paulo: Lidador,
1970.
DALLARI, Dalmo de Abreu. O que participao poltica. So
Paulo: Brasiliense, 2004.
DAHL, Robert. Poliarquia: participao e oposio. So Paulo:
EDUSP, 1998.
EASTON, David. Modalidades de anlise poltica. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editores, 1970.
GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2005.
LEO MAAR, Wolfgang. O que poltica. So Paulo: Brasiliense,
2004.RUA, Maria das Graas. Anlise de polticas pblicas: conceitos
bsicos. In: O estudo da poltica: textos introdutrios. Braslia: Paralelo
15, 1995.
SANTOS, Fabiano. A poltica como cincia ou em busca do
contingente perdido. In: RUA, Maria das Graas et al. (Org.). O estudo
da poltica: textos introdutrios. Braslia: Paralelo 15, 1998.
SARTORI, Giovanni. A poltica. Braslia: Ed. UNB, 1981.WEBER, Max. Cincia e poltica: duas vocaes. So Paulo:
Cultrix, 1992.
WOLKMER, Antnio Carlos. Elementos para uma crtica do
Estado. Porto Alegre: Srgio Fabris Editores, 1990.
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
47/134
47
UNIDADE 2Sistema poltico clssico e contemporneo e suas influncias em polticas
empresariais
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
48/134
48OBJETIVO
Nesta unidade, voc vai buscar desenvolver algumas consideraestericas e histricas sobre os sistemas polticos, destacando suas possveis
interfaces com o universo das organizaes.
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
49/134
49A H ISTRIA DAS I DIAS DAS I NSTITUIES P O L T IC A S
Essa afirmao leva
concluso de que a
atividade poltica sempre
est em constante
transformao, seja no
plano das idias, das
prticas ou das instituies.
Um exemplo disso o fato de que, embora os partidos polticos sejam
instituies fundamentais para a caracterizao de nossos sistemas
polticos democrticos, isso no significa que eles no tenham sofrido
ou venham a sofrer alteraes ao longo da histria, ou mesmo que se
tornem dispensveis em futuras formas de organizao poltica.
Vejamos, ento, alguns importantes elementos histricos
caractersticos dos sistemas polticos.
ATIVIDADE POLT ICA DE GRE GOS E ROM ANOSQualquer manual de Cincia
Poltica, quando vai tratar da histria
(das idias e instituies), deve iniciar
pela Grcia, pelo simples fato, como
vimos na Unidade 1, de que a idia depoltica surgiu na G rcia ant iga.Segundo Leo Maar (2004, p. 30) a
origem do termo est associada a partir da atividade social
desenvolvida pelos homens da polis, a 'cidade estado grega. O fato de
a poltica, no contexto grego, ser uma atividade social a diferenciava
Um primeiro aspecto a ser destacado, quandoanalisamos a poltica em perspectiva histrica, que ela resultado de um longo processo [...],durante o qual ela se firmou como atividade navida social dos homens (LEO MAAR, 2004, p.28).
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
50/134
50
de outros contextos, como o da Prsia
ou do Egito, onde a atividade poltica
seria a do governante, que comandava
autocraticamente o coletivo em direo
a certos objetivos (p. 30). Dessa forma,
conclui Leo Maar que o que a poltica
grega acrescenta aos outros estados
a referncia cidade, ao coletivo da
pol is, ao discurso, cidadania,
soberania, lei ( idem).
Dois pensadores so
fundamentais em qualquer referncia
vida poltica grega: Plato e Aristteles.
A obra dess es dois pensa dores foi
dedicada, dentre outras questes,
busca dos fundamentos de qual seria a
melhor forma de organizao poltica
das sociedades (LEO MAAR, 2004, p.
31). Nesse sentido, temos em Plato
uma aposta na virtude do governante, que deveria conhecer os fins da
Polis, de modo a oferecer uma luz que retirasse os sditos da
escurido. J Aristteles defende a idia de que a poltica util iza
todas as outras cincias e todas elas perseguem um determinado bem,
o fim que ela persegue pode englobar todos os outros fins, a ponto de
este fim ser o bem supremo dos homens ( idem).
Um aspecto importante da experincia grega a ser destacado aassociao que se verifica nesse contexto entre as idias de t i c a ep o l t i c a. A poltica, nesse caso, seria a prpria materializao da tica,[...] um referencial para o comportamento individual em face do coletivo
social, da multiplicidade da polis ( ibidem).
Plato Na sc eu em At en as, em428 ou 427 a.C, e faleceu em 347a.C. De pais aristocrticos eabastados, de antiga e nobreprospia, temperamento artstico edialtico, (manifestao
caracterstica e suma do gniogrego) deu, na mocidade, livrecurso ao seu talento potico, queo acompanhou durante a vidatoda, manifestando-se naexpresso esttica de seusescritos. Aos vinte anos, Platotravou relao com Scrates egozou por oito anos doensinamento e da amizade domestre. A coleo das obras dePlato compreende trinta e cincodilogos e um conjunto de treze
cartas, dentre elas: Apologia deScrates, Banquete ou Do Bem,Repblica (livros II a X) ,Parmnidesou Das Formas.
Disponvel em:
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
51/134
51
Quanto ao m o d e l o r o m a n o , cabe destacar o fato de termos a aexperincia da poltica como atividade centralizada e exercida por um
Estado forte e centralizador (LEO MAAR, 2004, p. 32). A atividade
poltica, nesse contexto, dizia respeito relao entre a autoridade do
governante e os direitos e deveres dos governados, e seria efetuada por
meio do instrumento do direito: o D ireito R omano . Por ele, garantia-sea no-interferncia do Estado na propriedade privada, nos interesses
patrcios, a no-ingerncia do pblico, coletivo, no particular (LEO
MAAR, 2004, p. 33).
A IDADE MDIA E O RENASCIMENTOA Idade Mdia teve como elemento central de sua organizao
poltica a associao entre o poder poltico e a religio (HELD, 1987).
Nesse contexto, segundo Leo Maar (2004, p. 35), presenciaria uma
duplicidade do poder, sendo o poltico exercido pela nobreza e o civil
exercido pelo clero religioso.
Ar ist t el es Na sc eu em Es ta gi ra , col n ia gr eg a daTrcia, no litoral setentrional do mar Egeu, em 384 a.C.
Ao s de zoi to an os, em 36 7, foi pa ra At en as e ing re ssouna academia platnica, onde ficou por vinte anos, at amorte do mestre. Nesse perodo, estudou tambm osfilsofos pr-platnicos, que lhe foram teis naconstruo do seu grande sistema. Aristteles fundou oLiceu, a sudoeste de Atenas. Alguns exemplos de suasobras so: os Dilogos, trs livros sobre a filosofia,quatro livros sobre a justia, poemas, cartas, oraes,
apologia, havendo nestas dvidas quanto a sua efetivaautoria.
Disponvel em:http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/liceu/obras_aristoteles.htm
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
52/134
52
Quando se trata da organizao poltica da Idade Mdia, no se
pode esquecer do R enascimento (sculo XV), enesse caso obrigatrio destacar a presena
do pensador Nicolau Maquiavel (1469-1527).
Em sua famosa obra O Prncipe, esse pensador
formula uma srie de conselhos no sentido de o
soberano conquistar e manter seu poder. Numa
interpretao do pensamento de Maquiavel,
pode-se afirmar que, para ele, a funo da
poltica seria colocar ordem no mundo, a qual
poderia ser interpretada como uma luta para
conquistar, manter e conter o poder (HELD,
1987).
Esse pensador tambm desenvolveu as idias de v i r t u d e e f o r t u n a,que apontavam no sentido de que o bom governo aquele portador da
virtude, ou seja, o conhecimento e a dedicao coisa pblica e
fortuna, que estava associada dimenso do acaso, da sorte que todo
governante precisa ter para se manter no poder. Por fim, temos em
Maquiavel um conceito de governo r e p u b l i c a n o, que seria formado,segundo Magalhes (2001, p. 46), por: mecanismos capazes de fazer
valer a vontade da maioria e educar os membros da comunidade para
viverem de acordo com a liberdade cvica e que criem limites para o
exerccio do poder arbitrrio, seja ele do prncipe, da aristocracia ou do
prprio povo.
A TEORIA POLTICA MODERNAA parti r do s cul o XVII , a grande inov ao nas fo rmas de pens ar a
poltica aconteceu no movimento intelectual conhecido comoc o n t r a t u a l i s t a. Segundo Bobbio e Bovero (1994), num sentido amplo,
Renascimento Foi um movimento intelectual, cientficoe artstico que teve sua maiorexpresso na Itlia, representouprecisamente a primeira erupo danova mentalidade racionalista, secular,que busca centrar a finalidade doconhecimento no homem e na vidamaterial, desvinculando as atividadespolticas de finalidades religiosas epassando a consider-las um conjuntode atividade com objetivosessencialmente mundanos(MAGALHES, 2001, p.41).
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
53/134
53
por contratualismo deveria se entender uma escola de pensamento
poltico europeu, surgida entre os sculos XVII e XVIII, que colocava os
fundamentos ou a origem do poder
poltico num contrato firmado entre os
homens. Os principais autores dessa
escola foram Thomas Hobbes (1588-
1679), John Locke (1632-1704) e Jean
Jacques Rousseau (1712-1778).
Deve-se destacar que cada um
desses pensadores tinha uma viso
diferenciada sobre a melhor forma de
organizar o poder poltico. Enquanto
Hobbes defendia o modelo das
monarquias absolutas, Locke era
militante da causa da monarquia
constitucional. J Rousseau era
defensor de um modelo republicano de
organizao.
O que unifica esses pensadores o fato de colocarem a origem do
Estado na vontade dos homens. A idia do contrato pode ser vista como
uma abstrao, no sentido de justificar o fenmeno estatal como
construdo pela ao humana.
Al guns co ncei to s so fundamenta is no vo cab ulr io cont ratu al ista
(apesar das particularidades que cada autor confere a esses conceitos):estado de natureza: momento em que os homens vivem
sem normas e regras de regulao da vida sociald i r e i t o s n a t u r ai s : direitos dos seres humanos que no so
oriundos do Estado, mas derivados da razo humana (MAGALHES,
2001)
J e a n J a c q u e s R o u s s e a u nasceu em 28/07/1712, emGenebra, Sua, numa famlia deorigem francesa e protestante efaleceu em 1778. Rousseaudeclara-se inimigo do progresso.Para ele, o progresso das cinciase das artes tornou o homemvicioso e mau, corrompendo suanatureza ntima. Freqentementese resume a tese de Rousseauaos seguintes termos: o homem bom por natureza, a sociedade ocorrompe. Sua obra mais polmicae discutida O contrato social,nessa obra, ele pesquisa ascondies de um Estado socialque fosse legtimo, que no maiscorrompesse o homem.
Disponvel em:
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
54/134
54
c o n t r a t o s o c i a l : momento em que os homens saem doEstado de natureza e decidem criar o Estado como instituio capaz de
regular a vida social.
Para alm desse universo conceitual, o que deve ser retido na
anlise desses pensadores o fato de que temos a a construo de
uma teoria da poltica, em que a poltica vista como produto da
vontade dos homens, os quais tm direitos (os direitos naturais), e a
funo do Estado proteg-los. Dessa afirmao deriva a idia de que
com os contratualistas surgiram as primeiras construes intelectuais
sobre o E s t a d o l i m i t a d o , seja no campo de suas f u n e s , seja nocampo de seus poderes .
A te mti ca do Es ta do li mi ta do fo i amplia da por outros pensa dores,como o Baro de Montesquieu (1689-1755), John Stuart Mil l (1806-1873) e Adam Smith (1723-1790).
J o h n S t u a r t M i l l na sc eu em Lo ndres , em 20 de mai o de 18 06 , efaleceu em Avinho, 8 de maio de 1873. Foi um filsofo, eeconomista e um dos pensadores liberais mais influentes do sculoXIX. Sucessor do liberalismo de John Locke, no sculo XIX, props,em seu E s s a y s o n G o v e r n m e n t (1978), a instituio do governorepresentativo, de carter eletivo, mediante o qual seus executivosseriam impedidos de abusar do poder, graas ao freio do exercciopor mandato de tempo limitado.
Disponvel em:A d a m S m i t h co nsi de ra do o formul ad or da teo ri a ec on m ica ,nasceu em 1723, em Kirkcaldy, na Esccia e faleceu em17/06/1790. Grande parte das contribuies de Adam Smith para ocampo da economia no foi original, porm, ele foi o primeiro alanar os fundamentos para o campo dessa cincia.
Disponvel em:
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
55/134
55
Tais pensadores podem ser
enquadrados na tradio dol i b e r a l i s m o , que justamente temcomo princpio a defesa de que o
Estado deve ter funes
delimitadas, seja no campo de
seus poderes (liberalismo
poltico), seja no campo de suas
funes (liberalismo econmico).
A idia do cidad o porta dor de
direitos inviolveis, como a vida
ou a propriedade, argumentode origem tipicamente liberal,
assim como tambm o a defesa
de que o Estado deve ter suas
funes limitadas para garantir o funcionamento do mercado, pois este
resolveria os problemas de gerao do bem-estar coletivo, por meio da
mo invisvel.
Em autores como Montesquieu e John Stuart Mill, temos a defesa
do Estado limitado em seus poderes, ou seja, a questo central desuas ref lexes como garantir que o poder do Estado no se tornea b s o l u t o . Para isso, o primeiro deles defendeu a idia de que a melhormaneira de limitar os poderes estatais por sua diviso em trs: o
poder Executivo, o poder Legislativo e o Judicirio. Dessa forma, cada
um deles teria funes delimitadas e seria exercido por pessoas
distintas, funcionando como um sistema de pesos e contra-pesos, cada
um controlando os demais. J John Stuart Mill defendeu a idia de que a
melhor maneira de evitar um governo d e s p t i c o (de poderes il imitados)seria o governo representat ivo , ou seja, uma forma de organizaoinstitucional em que os vrios setores e as foras da sociedade
pudessem estar representados no parlamento. Tais representantes,
B a r o d e M o n t e s q u i e u Ca rl osLouis de Secondat, Baro de LaBrede e de Montesquieu (1689-1755),conhecido na histria comoMontesquieu, desempenhou um papel
de destaque na transformao daFrana do sculo XVIII. Foipresidente do Parlamento deBordus, escritor, fi lsofo ehistoriador. Primeiro publicou vriosensaios sobre a fsica e histrianatural e depois se dedicou ao estudode histria, poltica e moral. Suaobra fundamental, que corresponde a40 anos de observao denomina-seO e s p r i t o d a s l e i s .Disponvel em:
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
56/134
56
porm, deveriam ter liberdade em relao a seus representados, para
tomar as decises que acreditassem ser as melhores para a sociedade.
Por fim, em Adam Smith, temos a defesa do Estado l imitado emsuas funes , aquilo que ficou conhecido como liberalismo econmico.Temos, nesse autor, a defesa de que o bom governo aquele que no
intervm de modo nenhum na ordem econmica. Sua funo seria
proteger a ordem na sociedade, bem como garantir a vigncia do
princpio da propriedade privada. Segundo Smith, o governo, ao deixar a
economia funcionar por conta prpria, estaria contribuindo para a
produo do bem comum, pois haveria algo como uma mo invisvel
que guiaria o mercado, de modo que, mesmo numa situao em que
todos os participantes do mercado busquem o lucro e a acumulao, oresultado seria o bem-estar coletivo.
As te orias li ber ai s oferecer am as base s par a a organi za o da
maioria dos Estados europeus no perodo posterior Revoluo
Francesa (1789), em que foram eliminadas as monarquias absolutas.
Nesse novo contexto, as idias de livre mercado e direitos do cidado
foram disseminadas e institudas em boa parte dos pases do Velho
Mundo.K ARL MARX E A CRTICA AO ESTADO
K a r l M a r x ec ono mist a, fi lsof o e so ci al ist a,nasceu em Trier, na Alemanha, em 5 de maio de1818, e morreu em Londres, na Inglaterra, em 14de maro de 1883. Estudou na Universidade deBerlim, principalmente a filosofia hegeliana, eformou-se em Iena, em 1841, com a tese Sobreas diferenas da filosofia da natureza deDemcrito e de Epicuro. Em 1864, Marx foi co-fundador da Associao Internacional dosOperrios, depois chamada I Internacional,desempenhando dominante papel de direo. Em1867, publicou o primeiro volume da sua obra
rinci a l , O Ca i tal .
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
57/134
57
Se os liberais estavam preocupados em defender um Estado
limitado em suas funes e poderes, o filsofo e economista alemoKarl Marx denunciou a sociedade capitalista como alienadora erepressiva e o Estado como um dos
instrumentos que garantiriam a
reproduo desse tipo de sociedade.
Nesta perspectiva, o Estado seria um
rgo de classe, pois suas funes
estariam relacionadas para garantir a
reproduo do modo de produo
capitalista, cuja essncia seria a
diviso da sociedade em classes(sendo as duas classes fundamentais
a burguesia e o proletariado) e a
explorao de uma maioria
(proletariado) por uma minoria
(burguesia).
Na perspectiva de Marx, os ideais de liberdade e igualdade no
passariam de uma maquiagem ideolgica para garantir a dominao daburguesia, no contexto do capitalismo. Haveria, no modo de produo
capitalista, uma contradio entre a igualdade formal (perante a lei) e a
igualdade real (ser proprietrio ou no das relaes de produo).
Ap esar diss o, Marx ident ifi ca va no modo de produ o cap ita li sta
um carter revolucionrio, pois este tinha como caracterstica bsica o
fato de transformar constantemente a sociedade, mediante, por
exemplo, as contnuas mudanas tecnolgicas. Esse fato, segundo
Marx, ao mesmo tempo em que seria a fora desse modo de produo,
seria tambm sua fraqueza, pois dessa mudana constante surgiriam
aqueles que poderiam pr fim explorao do homem pelo homem, ou
seja, aos proletrios. Nesse sentido, os proletrios seriam a classe
que poria fim dominao burguesa, pela instaurao do c o m u n i s m o .
Leitura Complementar
Sobre as diferenciaes entreliberalismo poltico e liberalismoeconmico, ver : BOBBIO,Norberto. Liberalismo edemocracia. 3. ed. Braslia:Editora UNB, 1990.
Para maiores esclarecimentossobre o contratualismo e osconceitos de repblica,monarquia, constitucionalismo,absolutismo, ver: BOBBIO.Dicionrio de poltica. Braslia:Editora UNB, 1992. 2 v.
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
58/134
58
Nas palavras de Sell (2001, p. 176), O centro das preocupaes
polticas de Marx estava voltado para a superao da ordem social
capitalista. Ele afirmava que somente a classe operria, pelo seu papel
chave no capitalismo, tinha as foras e as condies para a revoluo
que derrubaria a burguesia e comearia uma nova etapa da
humanidade: a sociedade comunista.
Esse processo em que o proletariado se torna uma classe
revolucionria estaria marcado por sua organizao poltica por meio,
primeiro, dos sindicatos e, depois, na forma de u m p a r t i d o p o l t i c o . Olivro O m a n i f e s t o d o p a r t i d o c o m u n i s t a foi escrito por Marx (1847)com o propsito de pensar um
programa poltico para o proletariado.
Nessa obra, que inicia com a famosa
frase Proletrios do mundo, uni-
vos!, identificam-se tambm algumas
consideraes sobre o que seria uma
sociedade comunista. Apesar de
Marx ter escrito muito pouco sobre
isso, dois elementos so essenciais ao pensar o comunismo (SELL,2001, p. 178):
a abolio das classes sociais
a abolio do Estado.
Marx acreditava que o comunismo seria marcado pela associao
livre dos trabalhadores, em que o livre desenvolvimento de cada um a
condio para o livre desenvolvimento de todos (SELL, 2001, p. 178).Dessa forma, no teramos mais classes sociais na sociedade
comunista.
Dessa formulao surge que, se o Estado era produto da diviso
da sociedade em classes, uma derivao lgica disso que, quando as
classes sociais fossem extintas com o comunismo, o Estado no teria
O Manif es t o do Part ido Comunis t afoielaborado por Marx e Engels comoprograma da Liga dos Comunistas pordeciso do seu II Congresso, realizadoem Londres, na Inglaterra, entre 29 denovembro e 8 de dezembro de 1847.Disponvel em:
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
59/134
59
mais razo de existir. Assim, uma segunda caracterstica do comunismo
seria a extino do Estado.
As id ias de Marx fo rnecer am o substr ato ideol g ico para os
partidos comunistas e socialistas em todo o sculo XX. Tiveram sua
aplicao nos experimentos socialistas derivados de revolues, como a
Revoluo Russa de 1917, a Revoluo Chinesa de 1949, a Revoluo
Cubana de 1959, alm de muitas outras. O chamado socialismo real
entrou em grande crise aps a queda do muro de Berlim, em 1989, e a
posterior dissoluo da Unio Sovitica em 1991.
L IBERALISMO, KE YNESIANISMO E NEOLIBERALISMOCom relao organizao do Estado, na maioria dos pases do
mundo, vigorou at os anos 30 do sculo XX o argumento da mo
invisvel, formulado por Adam Smith, no qual o capitalismo aparecia
como um sistema ideal em termos de racionalidade e eficincia,
segundo Tosi Rodrigues (1995). Nesse construto, as funes do Estado
deveriam limitar-se a fazer cumprir os contratos e garantir a propriedade
privada.
A Gra nd e De pr esso do s ano s 30 foi um fen m en o mun di al , qu e af et ou
todas as grandes economias capitalistas. Nos Estados Unidos, porexemplo, em 24 de outubro de 1929 (um dia que ficou conhecido comoquinta-feira negra), a bolsa de valores de Nova Iorque teve umaqueda brusca nas cotaes dos ttulos, fenmeno que acaboudestruindo toda a confiana na economia. Com isso, os empresriosreduziram a produo e os investimentos, o que causou a diminuioda renda nacional e do nmero de empregos, diminuindo mais ainda aconfiana na economia. Antes de encerrado o processo, milhares deempresas tinham ido falncia, milhes de pessoas tinham ficado sememprego e estava sendo preparada uma das maiores catstrofes dahistria (HUNT, 1984 apud TOSI RODRIGUES, 1995, p. 3).
7/28/2019 Ciencia Politica Conteudo
60/134
60
Porm, j no final do referido sculo, o funcionamento real do
capitalismo comeava a apresentar
evidncias que contrariavam suas
teorias justificadoras. Em vez da mo
invisvel que produziria o bem
comum, o que se observava era a concentrao de