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    Cincia PolticaJulian Borba

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    Copyright 2006. Todos os direitos desta edio reservados

    SECRETARIA DE EDUCAO A DISTNCIA (SEAD/UFSC). Nenhuma parte

    deste material poder ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio

    eletrnico, por fotocpia e outros, sem a prvia autorizao, por escrito, do autor.

    B726c Borba, JulianCincia poltica / Julian Borba. Florianpolis :

    SEaD/UFSC,2006.

    128p.

    Inclui bibliografia

    1. Poltica. 2. Polticas empresariais. 3. Planejamento.

    4. Participao. I. Universidade Federal de Santa Catarina.Secretaria de Educao a Distncia. II. Ttulo.

    CDU: 32

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    Catalogao na publicao por: Onlia Silva

    Guimares CRB-14/071

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    4PRESIDENTE DA REPBLICALuiz Incio Lula da SilvaMINISTR O DA EDUCAOFernando HaddadSECRETRIO DE EDUCAO A DISTNCIARonaldo MotaDIRETOR DO DEPARTAMENTO DE POLTICAS EM EDUCAOA DISTNCI AHlio Chaves FilhoSISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASILUNIVERSI DADE FE DERAL DE SANTA CATARINAR E IT O RLcio Jos BotelhoVICE-REITOR Ariovaldo BolzanPR-REITOR DE ENSINO DE GRADUAOMarcos LafimDIRETORA DE EDUCAO A DISTNCIAAraci Hack CatapanC E N T R O S O C IO E C O N M IC OD IR E T O RMaurcio Fernandes PereiraVICE-DIRETORAltair BorguetDEPARTAMENTO DE CINCIAS DA ADMINISTRAOCHEFE DO DEPARTAMENTOJoo Nilo LinharesCOORDENADOR DE CURSOAlexandre Marino CostaCOMISSO DE PLANEJAMENTO, ORGANIZAO EFUNCIONAMENTO

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    Alexandre Marino Costa

    Gilberto de Oliveira Moritz

    Joo Nilo Linhares

    Luiz Salgado Klaes

    Marcos Baptista Lopez Dalmau

    Maurcio Fernandes Pereira

    Raimundo Nonato de Oliveira Lima

    FUNDAO DE ESTUDOS E PESQUISAS SOCIOECONMICOSPRESIDENTEGuilherme Jlio da SilvaSECRETARIA DE EDUCAO A DISTNCIASECRETRIO DE EDUCAO A DISTNCIACcero Ricardo Frana BarbosaCOORDENAO FINANCEIRAVladimir Arthur FeyCOORDENAO PEDAGGICA

    Na ra Ma ria Pim ent elAPOIO PEDAGGICODenise Aparecida Bunn

    Juliete Schneider

    Leila Procpia do NascimentoSUPERVISO DE CURSOFlavia Maria de OliveiraSUPERVISO DE INTERNETCludio Fernando MacielDESIGN GRFIC OMariana LorenzettiM O N IT O R IAEgdio Staroscky

    Dilton Ferreira Junior

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    6REVISO ORTOGRFICAVera VasilvskiORGANIZAO DO CONTEDOJulian BorbaUNIVERSIDADE DE BRASLIA UnBTimothy Martin MulhollandReitor da Universidad e de BrasliaEdgar Nobuo MamiyaVice-Reitor da Universidade de BrasliaCENTRO DE EDUCAO A DISTNCIA-CEAD/UnBSylvio Quezado de MagalhesDiretor em ExerccioCoordenador ExecutivoRicardo de SagebinSecretar ia E xecutivaEliane Breder MotaUnidade de Produo UPRJovanka SadeckGerente da Unidade ProduoRevisoBruno RochaDesigner EducacionalLuciana KuryIlustraoRodrigo Mafra

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    APRESENTAOVoc est iniciando a disciplina de Cincia Poltica no curso de

    Ad ministr ao a Di st nci a.

    Espero que possamos desenvolver um proveitoso trabalho ao

    longo deste semestre.

    A disc ipl ina es t org anizada em to rno de quest es de suma

    importncia, seja para o universo de atuao do futuro administrador,

    seja para a formao como cidado atuante e consciente.

    Muitos dos temas em anlise fazem parte do nosso dia-a-dia.

    Nossa contribuio ao abordar tais questes a partir do olhar da

    cincia fornecer novas possibilidades de compreenso e

    posicionamento diante de problemas e questes relacionados poltica

    e administrao de empresas.

    Na modalidade de educao a distncia, o seu desempenho est

    diretamente relacionado sua dedicao no s ao contedo presenteno material impresso, como tambm na busca de outras fontes de

    informao e da interface permanente com nossa equipe.

    Um bom trabalho a todos.

    Prof. Julian Borba

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    SUMRIOUNIDADE 1 - Anlise polt ica: estud o das cat egor ias, dos conceitos e pr oblemasbsicos da C incia Polt ica 09

    O que poltica ................................................................................. 11Os recursos polticos e a influncia poltica ........................................ 29

    Bibliografia ....................................................................................... 46UNIDADE 2 - Sistema polt ico clssico e contempor neo e suas influncias empolt icas empr esariais 47

    A histria das idias e das instituies polticas .................................. 49Os sistemas polticos e as polticas empresariais .................................. 68

    Bibliografia ....................................................................................... 76UNIDADE 3 - Planej amen to e toma da de decises 78

    Decises polticas, estratgicas, tticas e operacionais ............................................... 80Deciso poltica e atores polticos ...................................................... 92

    Decises polticas e alternativas decisrias ......................................... 94Desafios aos processos de deciso do moderno gestor pblico ........... 98

    Bibliografia ....................................................................................... 101UNIDADE 4 - Par ticipao e infor mao 10 4

    O que participao .......................................................................... 106

    Tipos de participao ......................................................................... 107

    Os graus e os nveis de participao .................................................... 110Por que participar .............................................................................. 112Condicionantes da participao ........................................................... 120

    Os principais espaos de participao ................................................. 126Participao no Brasil ........................................................................ 128

    Participao e informao .................................................................. 132

    Bibliografia ....................................................................................... 133

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    UNIDADE 1Anlise poltica: estudo das categorias, dos conceitos e dos problemas

    bsicos da Cincia Poltica

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    10OBJETIVO

    Nesta unidade, voc vai conhecer, ou rever, caso j conhea, o que Cincia Poltica e os principais elementos utilizados na anlise poltica.

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    11O QUE P O L T I C A

    inquestionvel que o universo empresarial tem profundas

    interfaces com o que acontece no mundo da poltica. Exemplos no

    faltam para comprovar essa afirmao. Podemos citar desde o impacto

    que crises polticas podem ter sobre a economia de um pas, passando

    por questes como a definio da taxa de juros pelo Banco Central,

    chegando at as polticas pblicas de infra-estrutura, segurana e bem-

    estar social.

    Em outras palavras, a poltica afeta diretamente a dinmica das

    organizaes, sendo fundamental ao administrador conhecer esse

    universo para o bom exerccio de suas funes.

    Comecemos, ento, definindo poltica.

    Para tratar dessa questo, vamos utilizar a argumentao

    desenvolvida por Dallari (2004, p. 8), em seu livro O que participao

    pol tica. Segundo esse autor, a palavra poltica tem origem grega,

    sendo especialmente importante para a compreenso de seu sentido o

    exame da obra do filsofo Aristteles, que viveu em Atenas no sculo IV

    antes de Cristo:

    Com essas consideraes, possvel perceber que a origem dai d i a d e p o l t i c a est relacionada organizao da vida emcolet ividade, s maneiras de se organizar essa vida.

    As mu dan as hist rica s promoveram profu ndas alte ra es na

    forma como as sociedades se organizam. Essas mudanas, porm, no

    afetaram o ncleo da idia de poltica, que continua o mesmo desde a

    Grcia Antiga. Para ilustrar esse significado histrico da idia de poltica

    como ao e organizao da vida em coletividade, retiramos um

    exemplo da apresentao do livro O que poltica, de Wolfgang Leo

    Maar (2004, p. 7-8).

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    Em 1984, aps vinte anos de Presidentes impostos pelos militares,

    milhes foram s ruas em comcios por todo o pas na memorvel

    Campanha das diretas para se manifestarem pela eleio direta,

    secreta e universal do Presidente da Repblica. Como se sabe, este

    acabaria por ser indicado por um colgio eleitoral pela via indireta,

    porque a maioria dos congressistas eleitos foi contrria eleio direta.

    Em 1985, este mesmo Congresso Nacional rejeitaria a proposta de

    convocao de uma Assemblia Nacional Constituinte livre e soberana,

    desvinculada do Congresso Nacional, anulando assim os esforos

    populares para que os congressistas no agissem em benefcio prprio.

    No incio de 1986 o governo decretou o plano cruzado, promovendo

    uma reforma econmica em que se anunciavam benefcios populaomajoritria de baixa renda, com

    o que conquistou amplo apoio

    nas eleies de 15 de novembro.

    Encerrado o pleito, o governo

    decretou novas medidas

    altamente impopulares, levando

    as centrais sindicais a

    convocarem uma greve nacional

    de protesto contra a poltica

    econmica do governo. Em

    alguns lugares o exrcito foi s ruas para garantir a ordem e as

    instituies, a exemplo do que fez em 1964.

    No preciso se estender mais. Este breve recorte de alguns

    momentos da histria recente do Brasil elucida exemplarmente o

    significado da poltica por meio dos movimentos que visam interferir na

    realidade social a partir da existncia de conflitos que no podem ser

    resolvidos de nenhuma outra forma.

    Os gregos davam o nome de polis cidade, isto , ao lugar onde as pessoasviviam juntas. E Aristteles diz que ohomem um animal poltico, porquenenhum ser humano vive sozinho etodos precisam da companhia dosoutros. A prpria natureza dos sereshumanos que exige que ningum vivasozinho. Assim sendo, a poltica serefere vida na polis, ou seja, vida em

    comum, s regras de organizao dessavida, aos objetivos da comunidade e sdecises sobre todos esses pontos(DALLARI, 2004, p. 8).

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    Ap s cita r es se exe mp lo, Le o

    Maar (2004, p. 8) afirma que ele serve

    para demonstrar que a poltica surge

    junto com a pr pr ia hist ri a, se ndo

    resultado da atividade dos prprios

    homens vivendo em sociedade.

    Conclui afirmando que os homens tm

    todas as condies de interferir e

    desafiar o enredo da histria, pois [...] entre o voto e a fora das armas

    est uma gama variada de formas de ao desenvolvidas historicamente

    visando resolver conflitos de interesses, configurando assim a atividade

    poltica em sua questo fundamental: sua relao com o poder (LEOMAAR, 2004, p. 9).

    Destaca Leo Maar (2004) que os significados atribudos idia de

    poltica hoje esto relacionados a dois grandes espaos de expresso:O p o d e r p o l t i c o i n s t i t u c i o n a l a s s o c i a d o e s f e r a d a

    p o l t i c a i n s t i t u c i o n a l . O autor cita, como exemplos, um deputado ou u mrgo da administrao pblica, os quais so polticos para a totalidade

    das pessoas. Nesse sentido, todas as atividades associadas de algum

    modo esfera institucional poltica, e o espao onde se realizam,

    tambm so polticas (p. 10).

    A se gunda esf er a a qu e se remete a idi a de pol ti ca

    aquela relacionada ao de diversos grupos e organizaes e sd i v e r s a s f o r m a s d e m a n i f e s t a o d o c o n f l i t o n a s o c i e d a d e. Comoexemplo, podemos citar:

    Quanto se fala da poltica da Igreja, isto no se

    refere apenas s relaes entre a Igreja e as instituies

    polticas, mas existncia de uma poltica que se

    expressa na Igreja em relao a certas questes como a

    misria, a violncia, etc. Do mesmo modo, a poltica dos

    sindicatos no se refere unicamente poltica sindical,

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    desenvolvida pelo governo para os sindicatos, mas s

    questes que dizem respeito prpria atividade do

    sindicato em relao aos seus fil iados e ao restante da

    sociedade. A poltica feminista no se refere apenas ao

    Estado, mas aos homens e s mulheres em geral. As

    empresas tm polticas para realizarem determinadas

    metas no relacionamento com outras empresas, ou com

    seus empregados. As pessoas no seu relacionamento

    cotidiano desenvolvem polticas para alcanar seus

    objetivos nas relaes de trabalho, de amor ou de lazer

    [...] (LEO MAAR, 2004, p. 10).

    perceptvel que o segundo significado

    mais vago e fluido do que o primeiro, pois aprpria histria estabeleceu uma delimitao

    rgida da idia de poltica, associando-a ao

    espao institucional.

    Nesse sentido, seria mais preciso usar a

    expresso poltica no plural, ou seja,

    polticas, pois somente assim teramos

    condies de captar todas as formas em queesse fenmeno manifesta-se em nossas vidas.

    O OBJ ETO DA CINCIA POLT ICA O PODERDesde Aristteles, uma dimenso da idia de poltica aquela

    associada existncia de autoridade ou governo, ou seja, s regras de

    organizao da vida em coletividade.

    Partindo dessa idia de que poltica implica autoridade ou

    governo, vrios cientistas polticos buscaram definir a C incia Pol t icacomo uma disciplina que se dedicaria ao estudo da formao e da

    Porm, o quedevemos lembrarquando nosreferimos idiade poltica queela pode seexpressar dediversas formas enos mais variadosmeios, estando,contudo, sempreassociada idiado poder.

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    d i v i s o d o p o d e r (DAHL, 1970). Assim, o ato poltico seria aquelerealizado dentro da perspectiva de poder.

    Considerando-se que a afirmao anterior correta e que a

    Cincia Poltica se dedica ao estudo da formao e da diviso do poder,

    h necessidade de precisar o conceito de poder.

    Segundo o filsofo e cientista poltico italiano Norberto Bobbio

    (1987), no h estudioso da poltica que no parta de alguma maneira,

    direta ou indiretamente, de uma d e f i n i o d e p o d e r e de uma anl ised o f e n m e n o d o p o d e r .

    Ai nda de aco rdo co m Bo bbio (1987, p.

    77-78), na f i l o s o f i a p o l t i c a, o problema dopoder foi apresentado sob trs aspectos,

    base dos quais se podem distinguir as trs

    teorias fundamentais que buscam explicar o

    que esse fenmeno: a s u b s t a n c i a l i s t a , as u b j e t i v i s t a e a relacional .

    Na teoria substancialista, o poder

    concebido como algo que se possui e que seusa como um outro bem qualquer. Tpica

    interpretao substancialista do poder a do

    filsofo Thomas H obbes (1651), segundo aqual o poder de um homem [...] consiste nos

    meios de que presentemente dispe para

    obter qualquer visvel bem futuro (apud

    BOBBIO, 1987, p. 77). Tais meios podem ser

    naturais, como a inteligncia e a fora, ou

    adquiridos, como a riqueza.

    T h o m a s H o b b e s f il sof o ecientista poltico ingls, ThomasHobbes nasceu em Westport, em5 de abril de 1588, e faleceu em 4de dezembro de 1679. Sabe-seque Hobbes, em certas ocasies,entre 1621 e 1625, secretariouBacon ajudando-o a traduziralguns de seus Ensaios para olatim. O principal fruto dosestudos clssicos a que sededicou foi a traduo da obra deTucididas.

    Disponvel em:

    .

    Voc ver ainda nesta unidade os

    problemas bsicos com que lida afilosofia poltica

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    Tpica interpretao subjetivista

    do poder a exposta por J o h n L o c k e(1694, II, XXI), que por poder

    entende no a coisa que serve para

    alcanar o objetivo, mas a capacidade

    do sujeito de obter certos efeitos

    (apud BOBBIO, 1987, p. 77). Segundo

    Bobbio (1987, p. 77), para

    exemplificar essa explicao, util iza-

    se a frase o fogo tem o poder de

    fundir metais [...] do mesmo modo que

    o soberano tem o poder de fazer asleis e, fazendo as leis, de influir sobre

    a conduta dos sditos.

    Ai nda, segund o Bo bbio, a int erpreta o mais ace ita no di sc urso

    poltico contemporneo a que remete ao conceito relacional depoder e estabelece que, por poder, se deve entender uma relaoentre dois sujeitos, dos quais o primeiro obtm do segundo um

    comportamento que, caso contrrio, no ocorreria.

    Visto que o conceito mais aceito de poder o que o concebe como

    um fenmeno relacional, vejamos a didtica definio do socilogo

    ingls Anthony Giddens (2005, p. 342) que afirma que o poder consiste

    na habilidade de os indivduos ou grupos fazerem valer os prprios

    interesses ou as prprias preocupaes, mesmo diante das resistnciasde outras pessoas.

    J o h n L o c k e na sc eu na pe que nacidade de Wrington, em Somerset,na regio sudoeste da Inglaterra,a 29 de agosto de 1632, vindo afalecer em 1704. Destaca-se pelasua teoria das idias e pelo seupostulado da legitimidade dapropriedade inserido na sua teoriasocial e poltica. Para ele, odireito de propriedade a base daliberdade humana porque todohomem tem uma propriedade que sua prpria pessoa. O governoexiste para proteger esse direito.Entre suas principais obras esto:Letter on Toleration (1689),Second Letter on Toleration(1690) Two Treatises of Government(1690).

    Disponvel em:

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    Ai nda segun do o aut or , s veze s, essa postu ra implica o uso

    direto da fora. Ele cita como exemplo disso o fato histrico ocorrido

    entre a Indonsia e o Timor Leste, em que as autoridades indonsias se

    opuseram violentamente ao movimento democrtico do Timor Leste.

    Giddens (2005, p. 342) tambm afirma que o poder est presente em

    quase todas as relaes sociais incluindo aquela que existe entre o

    empregador e o empregado.

    Feitas as distines quanto s interpretaes do fenmeno do

    poder, devemos lembrar que a c i n c i a p o l t i c a trata de um tipoespecfico de poder: o poder poltico. Assim, nosso prximo passo

    diferenciar o p o d e r p o l t i c o de todas as outras formas que podeassumir uma relao de poder.

    Retornando a Bobbio (1987, p. 80), ele afirma que, do ponto de

    vista dos critrios que foram adotados para distinguir as vrias formas

    de poder, o poder poltico foi definido como aquele que est em

    condies de recorrer em ltima instncia fora (e est em condies

    de faz-lo, porque dela detm o monoplio).

    Ai nda segun do Bo bbi o (1987, p. 80) , essa uma defi ni o qu e se

    refere ao meio de que se serve o detentor do poder para obter os efeitos

    desejados. Como exemplo, podemos citar novamente o caso da

    Indonsia, em que o emprego da fora contra o Timor Leste

    apresentado como uma defesa contra a integridade territorial Indonsia

    contra um movimento regional pela independncia (GIDDENS, 2005, p.

    342).

    O critrio do meio o mais comumente usado, inclusive porque

    permite uma tipologia de poder (chamada de trs poderes): econmico,

    ideolgico e poltico, ou seja, da riqueza, do saber e da fora (BOBBIO,

    1987). Com essa tipologia, possvel identificar as vrias faces em que

    esse fenmeno se apresenta em nossas sociedades.

    Vejamos, ento, como podem ser conceituadas as trs formas de

    poder (BOBBIO, 1987, p. 82-84):

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    O p o d e r e c o n m i c o vale-se da posse de certosbens necessrios, ou percebidos como tais, numa situao de escassez,

    para induzir os que no os possuem a adotar certa conduta. Consistente

    principalmente na execuo de um trabalho til. Na posse dos meios de

    produo, reside enorme fonte de poder por parte daqueles que os

    possuem contra os que no os possuem, exatamente no sentido

    especfico da capacidade de determinar o comportamento alheio. Em

    qualquer sociedade em que existam proprietrios e no-proprietrios, o

    poder deriva da possibilidade que a disposio exclusiva de um bem lhe

    d de obter que o no-proprietrio (ou proprietrio apenas de sua fora

    de trabalho) trabalhe para ele e apenas nas condies por ele

    estabelecidas.

    O p o d e r i d e o l g i c o vale-se da posse de certasformas de saber, doutrinas, conhecimentos, s vezes apenas de

    informaes, ou de cdigos de conduta, para exercer influncia no

    comportamento alheio e induzir os membros do grupo a realizarem ou

    no uma ao. Desse tipo de condicionamento deriva a importncia

    social daqueles que sabem, sejam eles os sacerdotes nas sociedades

    tradicionais ou os literatos, os cientistas, os tcnicos, os assimchamados "intelectuais", nas sociedades secularizadas, porque

    mediante os conhecimentos por eles difundidos ou os valores por eles

    firmados e inculcados realiza-se o processo de socializao do qual

    todo grupo social necessita para poder estar junto.

    O p o d e r p o l t i c o : o caminho mais usual paradiferenciar o poder poltico das outras formas de poder quanto ao uso

    da f o r a f s i c a. Em outras palavras, o detentor do poder poltico aquele que tem exclusividade do direito de uso da fora fsica sobre um

    determinado territrio. Quem tem o direito exclusivo de usar a fora

    sobre um determinado territrio o soberano. O socilogo alemo Max

    Weber (1992) foi quem definiu essa especificidade do poder poltico.

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    L e i t u r a c o m p l e m e n t a r :Para conceituar Estado, vamos seguir aproposta de Antnio Carlos Wolkmer,em seu livro Elementos para umacrtica do Estado (1990), e AnthonyGiddens (2005), em seu Sociologia.

    Weber define o Estado como detentor do monoplio da coao fsica

    legtima.

    Essas trs formas de poder tm em comum a contribuio

    conjunta para instituir e para manter sociedades de pessoasd e s i g u a i s d i v i d i d a s e m f o r t e s e f r a c o s c o m b a s e n o p o d e r p o l t i c o ,e m r i c o s e p o b r e s c o m b a s e n o p o d e r e c o n m i c o , e m s b i o s eignorantes com base no poder ideolgico. G enericamente, emsuperiores e inferiores (BOBBIO, 1987, p. 84, grifos nossos).

    Vista essa distino entre os tipos de poder, visto que o poder

    poltico deriva do monoplio da fora legtima num determinado

    territrio e que a expresso desse poder o fenmeno do Estado,

    surge a conceituao da cincia poltica como a cincia encarregada

    do estudo do poder poltico ou, em outras palavras, como um ramo

    das cincias sociais que trata da teoria, organizao, do governo e

    das prticas do Estado (= poder poltico).

    Os autores que se enquadram nessa categoria s vezes tambm

    insistem que as instituies em anlise devem ser legais ou ter base

    legal, mas a presena desse adendo no de maneira alguma universal

    (DAHL, 1968 EASTON, 1970). Nesse sentido, achamos interessante

    incluir algumas breves consideraes sobre o conceito de Estado.

    O que o Estado?

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    No incio de seu trabalho, Wolkmer (1990, p. 9) coloca que:

    [...] a categoria terica Estado deve ser entendida, no

    presente ensaio, como a instncia politicamente organizada,

    munida de coero e de poder, que, pela legitimidade da

    maioria, administra os mltiplos interesses antagnicos e osobjetivos do todo social, sendo sua rea de atuao

    delimitada a um determinado espao fsico.

    O socilogo Anthony Giddens (2005, p. 343) detalha mais esse

    conceito, ao definir que o Estado:

    [...] existe onde h um mecanismo poltico de governo

    (instituies como um parlamento ou congresso, alm de

    servidores pblicos) controlando determinado t e r r i t r i o , cujaa u t o r i d a d e conta com o amparo de um s i s t e m a l e g a l e dacapacidade de utilizar a f o r a m i l i t a r para implementar suaspolticas. Todas as sociedades modernas so e s t a d o s -n a e s , ou seja, estados nos quais a grande massa dapopulao composta por c i d a d o s que se consideram partede uma nica nao (grifo nosso).

    Da citao acima, como se pde observar nas palavras grifadas,

    vrios conceitos precisam ser esclarecidos, o que leva novamente arecorrer a Giddens (2005, p. 343).

    G overno : refere-se representao regular de polticas,decises e assuntos de Estado por parte de servidores que compem

    um mecanismo poltico.A u t o r i d a d e: o emprego legtimo do poder.

    L e g i t i m i d a d e: entende-se que aqueles que se submetem autoridade de um governo consentem nessa autoridade.

    Os conceitos de soberania, cidadania e nacionalismo so

    elaborados por Giddens (2005, p. 342-343):

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    Soberania: os territrios governados pelos estados tradicionaissempre foram mal definidos, e o nvel de controle exercido pelo governo

    central bastante fraco. A noo de soberania de que o governo possuiautoridade sobre uma rea que tenha uma fronteira clara, dentro da qual

    ele representa o poder supremo tinha pouca relevncia. Contrastando

    com essa viso, todos os estados-naes so estados soberanos.C idadania: nos estados tradicionais, a maior parte da populao

    governada pelo rei ou imperador demonstrava pouca conscincia, ou

    interesse, em relao aos seus governantes. Tambm no tinha nenhum

    direito poltico ou influncia sobre esse aspecto. Normalmente, apenas

    as classes dominantes ou os grupos mais ricos tinham a sensao de

    pertencer a uma comunidade poltica global. J nas sociedades

    modernas, a maioria das pessoas que vivem dentro dos limites de um

    sistema poltico c i d a d , as quais possuem direitos e deveres comunse se consideram parte de uma nao. Embora algumas pessoas sejam

    refugiadas polticas ou aptridas, quase todos os que vivem no mundo

    de hoje so membros de uma ordem poltica nacional definida.N a c i o n a l i s m o : os estados-naes esto relacionados ao

    crescimento do n a c i o n a l i s m o , o qual pode ser definido como umconjunto de smbolos e convices responsveis pelo sentimento de

    pertencer a uma nica comunidade poltica. Assim, ao serem britnicos,

    norte-americanos, canadenses ou russos, os indivduos tm a sensao

    de orgulho e de pertencer a essas comunidades. Esses so os

    sentimentos que deram mpeto busca dos timorenses orientais pela

    independncia. provvel que, de uma forma ou de outra, as pessoas

    tenham sempre sentido algum tipo de identidade com grupos sociais afamlia, o vilarejo ou a comunidade religiosa. O nacionalismo, contudo,

    surgiu apenas com o desenvolvimento do estado moderno, sendo a

    principal expresso dos sentimentos de identidade em uma comunidade

    soberana distinta.

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    At aqui, vi mos uma s rie de conce itos relaciona dos ao poder

    poltico e sua manifestao no fenmeno do Estado. Vejamos agora,

    em termos histricos, como se d o desenvolvimento dessa

    instituio.

    Segundo Wolkmer (1990, p. 21), o Estado surgiu como realidade

    tpica da era de produo capitalista (sculo XVIII) e das necessidades

    materiais de uma classe emergente (burguesia), enriquecida

    economicamente:

    Tambm importante considerar como fatores determinantes

    a crise na formao da estrutura feudal, as profundas

    transformaes polticas, sociais e econmicas, bem como a

    jun o pa rt icul ar de el em en to s int er no s e ex ter no s qu eabalaram algumas sociedades polticas europias.

    Ai nda se gundo Wol kmer (19 90, p. 22), algumas te orias,

    principalmente vindas de correntes jurdicas, tentam explicar o

    surgimento do Estado a partir de uma continuidade histrica de seus

    elementos materiais constitutivos (territrio, povo e poder soberano).

    Wolkmer sustenta que isso i ncorreto, pois

    o Estado enquanto fenmeno histrico de dominaoapresenta originalidade, desenvolvimento e caractersticas

    prprias para cada momento histrico e para cada modo de

    produo, com a subordinao plena das organizaes

    polticas ao poder da Igreja no feudalismo e com a

    secularizao e unidade nacional da modernidade.

    Dessa forma, na interpretao desse autor, o moderno Estado,

    com todas as caractersticas constitutivas que vimos acima (nao,

    cidadania, autoridade, legitimidade, soberania), produto das condiesestruturais inerentes ao capitalismo burgus europeu, no sendo,

    portanto, mero reflexo evolutivo ou aperfeioamento de outros tipos

    histricos anteriores (Estado-Antigo, Cidade-Estado, Estado Medieval).

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    Na Unidade 2, voc vai ver como se da evoluo histrica dos vrios sistemaspolticos e o significado de expressescomo liberalismo.

    An alisa ndo a evol uo hi st ri ca do fenmeno esta ta l, Wol kmer

    (1990, p. 25) afirma que o Estado Moderno surge, inicialmente, sob a

    forma de Estado Absolutista (legitimado pelo poder monrquico),

    evoluindo, posteriormente para o Estado Li beral Capitalista.

    Desse modo, o Estado Absolutista seria uma forma de transio, de

    preparao para o advento do Estado Liberal. Ainda segundo esse

    autor, embora a organizao absolutista comportasse matizes

    marcadamente capitalistas, a

    burguesia no era ainda,

    necessariamente, a classe

    poltica e economicamente

    dominante.

    Por ora, basta fixar a

    idia de que o Estado com as

    caractersticas que destacamos

    acima uma instituio tpica

    da chamada modernidade.

    Para prosseguir no

    objetivo traado nesta unidade, que estabelecer alguns conceitos e

    categorias centrais na anlise poltica, necessrio um conceito que

    tenha certa neutralidade e que seja passvel de operacionalizao.

    Ac redita mos que uma boa maneira de se guir nes sa tr ajetr ia seja adota r

    a proposta de anlise do Estado feita por Max Weber (1992) e por ns

    esboada, quando tratamos da definio do poder poltico.

    E m i l M a x i m i l l i a n W e b e r mai sconhecido como Max Weber, nasceu emErfurt, Alemanha, em 21 de abril de1864, e faleceu em Munique, em 14 de

    jun ho de 19 20 . Fo i um int el ec tu al al em oe um dos fundadores da Sociologia. conhecido, sobretudo, pelo seu trabalhosobre a Sociologia da religio. Suas

    obras de mais destaque so A ticapr ot es tan te e o Esprito do Capitalismo.

    Disponvel em:

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    Vejamos com mais detalhe o conceito de Estado:

    Para Weber (1992), por poltica entende-se qualquer tipo

    de liderana independente em ao (por exemplo: poltica de descontos,

    poltica educacional, etc.).

    No ensaio A poltica como vocao, Weber (1992) aborda

    apenas a liderana, ou a influncia sobre a liderana, de uma

    associao poltica, que o Estado.

    Para definir o que Estado de um ponto de vista

    sociolgico, Weber (1992) afirma que no se pode partir dos fins, pois

    eles variam com a histria, mas de termos de meios especficos a ele.

    Desse modo, afirma que a especificidade da associao poltica se dpelo uso da fora fsica.

    Estado moderno, de maneira sociolgica, pode ser

    conceituado como comunidade humana que pretende, com xito, o

    monoplio legtimo da fora fsica, dentro de um determinado territrio

    (WEBER, 1992, p. 98). O Estado a nica fonte com direito de usar a

    violncia.

    A parti r des sa defini o de Es ta do, Weber (1992, p. 98)

    define a poltica como a participao no poder ou a luta para influir na

    distribuio do poder, seja entre estados ou grupos dentro de um

    Estado.

    A exi st n cia do Es ta do e de to das as inst itu ies polt ica s,

    para Weber (1992, p. 98), s pode ser compreendida a partir do fato de

    que sua existncia se d a partir de homens dominando homens

    relao mantida por meio da violncia legtima.

    Conceituando-se o Estado como a instituio que mantm o

    monoplio da fora legtima num determinado territrio e sendo o Estado

    a maior expresso do poder poltico, fica mais clara a definio

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    anteriormente desenvolvida de cincia poltica como cincia

    encarregada do estudo do poder poltico.

    Cabe, porm, uma nova indagao: Ser a cincia poltica a

    nica forma possvel de se estudar o poder poltico? O que

    caracteriza propriamente uma cincia da poltica? Voc vai ver de

    maneira mais apropriada como responder a essas questes na

    unidade seguinte.

    C INCIA POLTICA E FILOSOFIA POLTICANorberto Bobbio (1987, p. 55) afirma que o estudo do p o d e r

    p o l t i c o est dividido entre duas disciplinas didaticamente distintas: aFi losofia Pol t ica e a C incia Pol t ica.

    Segundo Bobbio (1987), na Filosofia Pol t ica socompreendidos trs tipos de investigao:

    da melhor forma de governo ou da tima repblica

    do fundamento do Estado ou do poder poltico, com aconseqente justificao (ou injustificao) da obrigao poltica

    da essncia da categoria do poltico ou da politicidade,

    com a prevalecente disputa sobre a distino entre tica e poltica.

    Ai nda se gundo Bo bbio (19 87), por Cincia Polt ica entende-sehoje uma investigao no campo da vida poltica capaz de satisfazer

    trs condies:

    o princpio de verificao ou de falsificao como critrio

    da aceitabilidade de seus resultados

    o uso de tcnicas da razo que permitam dar uma

    explicao causal, em sentido forte ou mesmo em sentido fraco, do

    fenmeno investigado

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    a absteno ou abstinncia de juzos de valor, a assim

    chamada avaloratividade.

    Segundo Giovanni Sartori (1981), a expresso Cincia Poltica e

    sua noo podem ser precisadas em funo de duas variveis:

    o estado da organizao do saber

    o grau de diferenciao cultural dos agregados humanos.

    Nesse sentido, apesar de as duas disciplinas terem o mesmo

    objeto como referncia (o poder poltico), possvel identificar

    diferenas significativas quanto forma de abordar o fenmeno

    estudado. Enquanto a Filosofia est preocupada com os fundamentos do

    poder poltico e a reflexo sobre boas ou ms formas de governo, aCincia Poltica adota como critrio para sua constituio a idia de ser

    isenta de valores quanto ao melhor ou pior sistema poltico, pois sua

    preocupao central est em compreender e explicar os fenmenos

    polticos por meio da anlise sistemtica da forma como eles se

    apresentam nas diversas sociedades e nos tempos histricos mais

    variados.

    Mediante essas formulaes, verifica-se, ento, que as diferenas

    entre as duas disciplinas esto em seus propsitos e na forma (mtodo)

    como tratam os fenmenos da poltica.

    Enquanto na filosofia a preocupao fundamental est na busca

    dos fundamentos ltimos da poltica e na construo de modelos

    ideais de organizao, a cincia poltica baseia-se, sobretudo na

    busca de explicaes para a dinmica de funcionamento dos sistemas

    pol ticos, util izando pr oce dimento s pr pr ios do mto do cient f ico.

    O S SISTEMAS POLTICO SJ que nos pargrafos anteriores util izamos a expresso

    sistema poltico e que a Unidade 2 prev a discusso dos sistemas

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    polticos clssicos e contemporneos, cabem aqui algumas

    consideraes sobre essa temtica, pois, desde os anos 1960, uma

    srie de cientistas polticos tem procurado utilizar a linguagem dos

    sistemas para estudar o mundo da poltica, o que tem provocado

    grandes alteraes no vocabulrio da disciplina, bem como nos

    resultados alcanados pelos estudos.

    Segundo Bobbio (1987), nessa teoria, a relao entre o conjunto

    das instituies polticas e o sistema social em seu todo representada

    como uma relao demanda-resposta ( input-output). Nesse caso, a

    funo das instituies polticas dar respostas s demandas

    provenientes do ambiente social ou, segundo uma terminologia corrente,converter as demandas em respostas. Nas palavras de Bobbio (1987, p.

    60):

    As re spost as da s inst itu ie s po lti cas s o da da s so b a forma

    de decises coletivas vinculatrias para toda a sociedade. Por

    sua vez, estas respostas retroagem sobre a transformao do

    ambiente social, do qual, em seqncia ao modo como so

    dadas as respostas, nascem novas demandas, num processo

    de mudana contnua que pode ser gradual quando existe

    correspondncia entre demandas e respostas, brusco quando

    por uma sobrecarga de demandas sobre as respostas

    interrompe-se o fluxo da retroao, e as instituies polticas

    vigentes, no conseguindo mais dar respostas satisfatrias,

    sofrem um processo de transformao que pode chegar fase

    final de completa modificao. [...] Ficando estabelecida a

    diversa interpretao da funo do Estado na sociedade, a

    representao sistmica do Estado deseja propor um esquema

    conceitual para analisar como as instituies polticasfuncionam, como exercem a funo que lhes prpria, seja

    qual for a interpretao de que lhes faa.

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    28C ARACTER STICAS DOS SISTEMAS POLTICO S

    Uma primeira caracterstica de todos os sistemas polticosconhecidos e estudados que os recursos polticos so distribudos

    desigualmente. Mas o que umr e c u r s o p o l t i c o ?

    Existem, segundo Dahl

    (1970, p. 29), alguns motivos

    pelos quais o recurso poltico

    distribui-se de maneira irregular

    praticamente em toda

    sociedade:

    Em toda sociedade

    existe certa especializao de funes. Nas sociedades avanadas ela

    extensa. A especializao de funes (diviso do trabalho) cria

    diferenciaes no acesso aos diferentes recursos polticos. Exemplo: um

    secretrio de Estado e um membro da Comisso de Relaes Exteriores

    do Senado tm mais acesso a informaes sobre a poltica externanorte-americana do que a maioria dos cidados.

    Em virtude de diferenciaes herdadas socialmente, as

    pessoas no comeam a vida com o mesmo acesso a recursos, e

    aqueles que saram na frente, geralmente aumentam sua vantagem.

    Exemplos: riqueza, posio social, grau cultural que diferenciam uns dos

    outros. Quanto ao ltimo, cabe salientar que as oportunidades de

    educao relacionam-se, pelo menos em parte, riqueza, posio

    social ou posio poltica do pas (DAHL, 1970, p. 30).

    As varia es nas herana s soci ais, junto co m as varia es

    experimentais, determinam diferenas em relao aos estmulos e

    objetivos de diferentes elementos em uma sociedade. Diferenas de

    motivao levam a diferenas em habilidades e em recursos, pois nem

    Para responder a essa questo,adotaremos as definies de Robert Dahl(1970), em seu livro Anlise poltica.Segundo esse autor, recurso poltico um meio pelo qual uma pessoa consegueinfluenciar o comportamento de outrasrecurso poltico, por conseguinte,compreende dinheiro, informao,

    alimentao, ameaa de foras e outrascoisas (DAHL, 1970, p. 29).

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    todos so igualmente motivados a entrar na poltica, a tornarem-se

    lderes ou a adquirirem recursos que ajudam o lder a ter influncia

    sobre os demais (DAHL, 1970, p. 30).

    Dessa forma, podemos concluir que, por vrias razes,

    extremamente difcil (para alguns autores, impossvel) criar uma

    sociedade em que os recursos polticos sejam uniformemente

    distribudos entre todos os adultos.

    Isso no implica afirmar a impossibilidade de existir uma

    sociedade sem distribuio desigual de recursos polticos. Todos os

    projetos emancipatrios, como o socialismo e o anarquismo, partem doprincpio de que desejvel e possvel construir uma sociedade com

    distribuio igual do poder.

    O S R ECURSOS P O L T IC O S E A I NFLUNCIA P O L T I C ADahl (1970, p. 31) afirma que alguns membros do sistema poltico

    procuram adquirir influncia sobre as diretrizes, regras e decises

    determinadas pelo governo i s s o i n f l u n c i a p o l t i c a. As pessoasprocuram influncia poltica no necessariamente pela influncia em si,

    mas porque o controle sobre o governo uma forma evidente e

    conhecida de favorecer os prprios objetivos e valores.

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    A infl u nci a pol t ica, porm, distr ibui -se de maneira irr egu lar entr e

    os membros adultos de um sistema poltico (DAHL, 1970). Essa

    proposio relaciona-se claramente primeira, que trata da distribuio

    desigual dos recursos. Disso derivam duas proposies:

    certas pessoas dispem de mais recursos com os quais

    podem influenciar o governo, se e quando desejarem

    inversamente, indivduos com maior influncia podem

    adquirir controle sobre maiores recursos polticos.

    Existem vrias razes pelas quais a influncia poltica

    distribuda irregularmente nos sistemas polticos, que podem ser

    reduzidas a t rs fatores fundamentais (DAHL, 1970, p. 32):em virtude de desigualdades na distribuio de recursos,

    ponto j discutido

    em virtude das variaes na habilidade com que diferentes

    indivduos empregam seus recursos polticos. As diferenas na

    habilidade poltica, por sua vez, derivam das diferenas de oportunidade

    e estmulos para aprender e praticar as tcnicas polticas

    em virtude das variaes na extenso com que diferentes

    indivduos empregam seus recursos com objetivos polticos. Exemplo:

    entre duas pessoas ricas, uma pode aplicar maiores propores de sua

    fortuna para adquirir influncia poltica, ao passo que a outra o far para

    alcanar xito em seus negcios.

    A cad eia ca usa l pode ser il ust rada da se gui nte maneira:

    Figura 1: Cadeia causal .Fonte: Dahl (1970, p. 33)

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    31O BJET IVOS CONFLITUOSOS NOS SISTEMAS POLTI COS

    Dahl (1970, p. 33) define que os membros de um sistema poltico

    perseguem, na maioria das vezes, objetivos conflituosos, os quais sotratados, dentre outras formas, pelo governo desse sistema.

    Conflitos e consenso so dois aspectos importantes de qualquer

    sistema poltico.

    Com isso, quer dizer o autor que os conflitos esto na base da

    organizao poltica das sociedades e uma das funes centrais das

    instituies polticas processar esses conflitos de forma a produzir

    consensos e cooperao social.

    Nas sociedades complexas, grande parte dos conflitos mediada,

    arbitrada, suprimida, resolvida ou liquidada pela prpria sociedade, por

    meio de suas instituies, como famlia, amigos, associaes,

    movimentos sociais etc. No entanto, o grande foco de resoluo da

    maioria dos conflitos sociais continua sendo o Estado.

    Dessa forma, podemos dizer que o Estado uma instituio que

    surgiu para resolver os problemas da vida em coletividade. Tais

    problemas ocorrem a partir do chamado processo de diferenciao

    social, quando a sociedade passa a se organizar a partir de grupos

    portadores de identidades (classe, sexo, religio, cor), valores,

    interesses e opinies divergentes.

    Visando evitar o conflito generalizado entre esses interesses

    divergentes, uma escolha racional dos indivduos criar uma instituio

    que busque transformar esses focos potenciais de conflitos em formas

    cooperativas de ao. (Essa interpretao tributria do modelo hobbesianono campo da anlise poltica. Ver Santos,1998).

    Diante disso, surgiu o fenmeno do Estado . Da vem anecessidade de ele ser o regulador da vida em sociedade e ter

    monoplio sobre o uso da fora fsica e da coero num determinado

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    autores desenvolveram esquemas classificatrios prprios. Diante da

    necessidade de propor uma mnima classificao da diversidade das

    formas de organizao da vida poltica no mundo contemporneo,

    adotamos o critrio de classificao estabelecido por Giddens (2005, p.

    343), no qual os trs tipos fundamentais de sistema poltico so: m o n a r q u i a, democracia l iberal e a u t o r i t a r i s m o . Vejamos cada umdeles:

    M ONARQUIAO fundamento da autoridade das monarquias est no costume, e

    no na lei. De acordo com Giddens (2005), apesar de alguns Estados

    modernos ainda terem monarcas, eles tornam-

    se pouco mais do que figuras decorativas,

    desempenhando funes simblicas e como

    foco de identidade nacional, porm sem

    praticamente nenhuma influncia no curso dos

    eventos polticos. Verifica-se nesse caso a

    figura dos m o n a r c a s c o n s t i t u c i o n a i s , como arainha do Reino Unido, o rei da Sucia e at mesmo o imperador do

    Japo cujo poder efetivo encontra severas restries na Constituio,

    a qual confere autoridade queles que foram eleitos como

    representantes do povo (GIDDENS, 2005, p. 343).

    A va sta maioria dos Es ta dos moderno s so R epblicas (nopossuem reis, nem rainhas ), e hoje, no incio do sculo XXI, a maioriadelas democrtica. Vejamos ento o conceito de democracia.

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    34DE M O C R A C IA

    O significado fundamental do termo

    est associado ao governo do povo (demospovo, kratos poder). Logo, seu significado

    fundamental que se trata de um sistema

    poltico no qual quem governa o povo, e

    no os monarcas ou os aristocratas.

    EXPLORANDO O CONCEITO DE DEMOCRACIA:NO QUE CONSISTE O GO VERNO DO POVO?

    A id ia que est por tr s da democracia bast ante clara, o povo

    deve ser o responsvel pelo seu prprio governo, sob condies de

    igualdade poltica, em vez de se submeter a um domnio que venha de

    cima, por parte de lderes que no se responsabilizam por ele. Porm,ao observarmos a expresso mais de perto, no fica totalmente claro

    o que significa ser dominado pelo povo. Como apontou David Held

    (1996), cada uma das partes da expresso pode dar margem a

    dvidas.

    P O VOQuem o povo?

    Que tipo de participao permitida a essas

    pessoas?

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    Que condies so aceitas como conducentes

    participao?

    DOMNIOO alcance desse domnio deveria ser amplo ou

    restrito? At que ponto? Deveria ficar limitado, por exemplo, esfera

    governamental ou pode haver democracia em outras esferas, como a

    democracia industrial?

    O domnio pode cobrir as decises administrativas

    do dia-a-dia que devem ser tomadas pelo governo ou ele deveria se

    restringir s grandes decises polticas?

    GOVERNO preciso obedecer ao governo do povo? Qual o

    lugar da obrigao e da dissenso?

    Al gumas pessoa s desr esp eita ri am a lei seacreditassem que as leis existentes so injustas?

    Sob quais circunstncias, se houver alguma, os

    governos democrticos deveriam fazer uso da coero contra os

    indivduos que discordam de suas polticas?

    Como enfatiza Held (ano), as discusses em torno do governo

    do povo ultrapassam estas questes bsicas. Existem opinies

    contrastantes a respeito das condies necessrias para o sucesso

    de uma democracia. possvel manter democracia durante perodos

    de guerra e crise civis? necessrio que a sociedade democrtica

    seja, sobretudo, alfabetizada ou possua um certo nmero de riqueza

    social? No h consenso a respeito desses aspectos fundamentais

    que envolvem a democracia, quanto mais em relao s numerosas

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    exerccio desse tipo de democracia so bastante limitados, tendo em

    vista problemas como a complexidade das decises e o tamanho das

    organizaes polticas. Exemplo: Como implementar uma democracia

    participativa numa sociedade como a brasileira, que tem 180 milhes

    de habitantes? Como fazer para a populao decidir sobre a maioria

    dos assuntos relevantes?

    Todavia, mesmo reconhecendo os limites desse formato

    institucional de democracia, possvel verificar sua aplicao em vrios

    espaos. Giddens (2005) cita o exemplo das comunidades de New

    England, situada no nordeste dos EUA, que do continuidade prtica

    das r e u n i e s m u n i c i p a i s anuais, quando a populao rene-se em diasmarcados para deliberar a respeito de questes locais. Outro casocitado pelo autor o emprego dos p l e b i s c i t o s, nos quais o povoexpressa sua opinio sobre questes especficas. Temos como exemplo,

    os plebiscitos realizados na Europa sobre a adeso ou no de pases

    Unio Monetria Europia. No Brasil, tivemos o exemplo do plebiscito de

    1992, em que a populao decidiu sobre o pas retornar ao regime

    monrquico ou manter-se como Repblica e quanto ao sistema de

    governo, no caso, o parlamentarismo ou presidencialismo. Como se

    sabe, a populao decidiu por uma Repblica Presidencialista. Ainda em

    termos de Brasil, h outras formas de exerccio da democracia

    participativa, como os referendos e a i n i c i a t i v a p o p u l a r l e g i s l a t i v a.Um dos exemplos mais bem-sucedidos desse tipo de democracia em

    nosso pas tem sido a prtica dos Oramentos Participativos, em que a

    populao chamada para decidir sobre os destinos dos recursos

    pblicos de municpios e estados, bem como os casos de Conselhos

    Gestores de Polticas Pblicas. Para verificar como esses institutos

    apresentam-se no Brasil, veja o texto complementar de autoria de

    Benevides (2003).

    A idia de democracia representat iva est associada formamais comum de expresso dos regimes democrticos

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    contemporneos. Nesse modelo, as decises que afetam a

    comunidade no so tomadas pelo conjunto de seus membros, mas

    pelas pessoas que eles elegeram para essa finalidade (GIDDENS,

    2005, p. 344). Os representantes, na maioria dos casos, so eleitos

    por p a r t i d o s p o l t i c o s , os quais podem ser definidos como umaorganizao voltada para a conquista do controle legtimo do governo

    por meio do processo eleitoral (p. 351).

    O modelo da democracia se expressa por meio de eleies que

    so disputadas por partidos polticos, nas quais, em geral, os eleitores

    so formados pela populao adulta do pas. Outros elementos

    utilizados para que uma democracia seja minimamente caracterizada

    como representativa so (DAHL, 1998):a existncia de cargos eleitos

    eleies livres, peridicas e imparciais

    liberdade de expresso

    liberdade de informao

    direito de livre associao.

    A exi st nci a dess as regras condiciona a exi st ncia da democracia

    representativa, que se materializa em diferentes formatos institucionais,

    dependendo da articulao verificada quanto a suas regras internas.

    Dentre tais regras, podemos verificar uma srie de diferenas internas

    entre os pases. Nesse sentido, vale citar alguns apontamentos de

    Giddens.

    O S PARTIDOS POLTICOS E A VOTAO NOS PASES DOOCIDENTESISTEMAS PARTIDRIOS

    Podemos definir um p a r t i d o p o l t i c o como uma organizaovoltada para a conquista do controle legtimo do governo por meio de

    um processo eleitoral. Existem muitos tipos de sistema partidrio. O

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    sucesso de um sistema bipartidrio ou de um sistema que envolva

    mais de dois partidos depende, em grande parte, da natureza dos

    procedimentos eleitorais de determinado pas. Dois partidos tendem a

    dominar o sistema poltico nos lugares em que as eleies se baseiam

    no princpio de o vencedor leva tudo. O candidato que obtm o

    maior nmero de votos em um distrito eleitoral vence a eleio nesse

    local e representa todo o eleitorado no Parlamento. Nos casos em que

    as eleies se baseiam em princpios diferentes, como na

    representao proporcional (em que as cadeiras de uma assemblia

    representativa so determinadas em funo das propores de votos

    obtidos), os sistemas bipartidrios so menos comuns.

    Em alguns pases o lder do partido majoritrio, ou de um dospartidos que esto em coalizo, assume automaticamente o lugar do

    primeiro-ministro, o smbolo poltico mais alto da nao. Em outros

    casos (como nos Estados Unidos), a eleio do presidente e as

    eleies partidrias para os principais organismos representativos

    ocorrem separadamente. Dificilmente existe algum partido eleitoral

    nos pases ocidentais que seja exatamente idntico aos outros, sendo

    que a maioria mais complicada do que o do Reino Unido. A

    Al emanha po de servir co mo um exe mp lo. Ne ss e pas , el egem-se os

    membros para o Bundestag (Parlamento), atravs de um sistema que

    combina a idia de o vencedor leva tudo e as regras da eleio

    proporcional. A metade dos membros desse Parlamento eleita em

    distritos eleitorais nos quais vence o candidato que consegue a

    maioria dos votos. Os outros 50% so eleitos de acordo com as

    propores dos votos que eles recebem em reas regionais

    especficas. Foi esse sistema que permitiu ao Partido Verde ganhar

    cadeiras no Parlamento. Estabeleceu-se um limite de 5% a fim de

    impedir uma proliferao excessiva de partidos pequenos. Essa

    proporo o mnimo que deve ser atingido para que um partido

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    obtenha representao parlamentar. Um sistema semelhante tambm

    utilizado nas eleies locais.

    Os sistemas que possuem dois partidos dominantes, como na

    Gr-Bretanha e nos Estados Unidos, tendem a levar a uma

    concentrao de posies de meio-termo, a qual rene a maioria

    dos votos e exclui as opinies mais radicais. Nesses pases, os

    partidos geralmente cultivam uma imagem moderada, chegando s

    vezes a serem to parecidos entre si que a escolha que oferecem

    insignificante. Em princpio, cada partido pode representar uma

    pluralidade de interesses, mas, muitas vezes, eles se combinam em

    um programa ameno com poucas polticas distintas. Os sistemas

    multipartidrios permitem que interesses e pontos de vistadivergentes sejam expressados de maneira mais direta, oferecendo

    um espao para a representao de alternativas radicais. Por outro

    lado, sozinho, nenhum partido conseguir atingir maioria total. Essa

    uma situao que leva a coalizes que podem enfrentar certa

    inabilidade na hora da tomada de decises em funo de grandes

    conflitos internos, ou a uma rpida sucesso de eleies e novos

    governos, sendo que nenhum com capacidade para permanecer no

    poder durante muito tempo, produzindo, portanto, resultados bastante

    limitados.F o n t e: Giddens (2005, p.. 351-352).

    AUTORITARISMOSeguindo o critrio de Giddens

    (2005, p. 344), o autoritarismo surge como

    terceiro modelo de sistema poltico

    contemporneo. Nesse caso, h uma

    forma de organizao poltica em que as

    necessidades e os interesses do Estado

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    ganham prioridade sobre os dos cidados comuns, e nenhum

    mecanismo legal de resistncia ao governo, ou para remover um lder

    do poder, restitudo.

    Ap esa r de quase um te ro dos pas es do mundo est ar or gan iza do

    de forma autoritria, um fato digno de nota que a democracia tem se

    tornado a forma dominante de organizao poltica. Cabe destacar,

    porm, que, apesar do grande avano dos regimes democrticos (o que

    pode ser observado no mapa da figura 2), eles encontram-se diante de

    dilemas e contradies bastante srios. Nesse sentido, para fins de

    reflexo e de atividades referentes a esta unidade, destacamos uma

    passagem do texto de Giddens, intitulada Os paradoxos da democracia.

    O S PARADOXOS DA DEMO CRACI ADiante da grande difuso da democracia liberal, era de se

    esperar que ela estivesse funcionando com muito sucesso.

    Entretanto, a democracia vem enfrentando dificuldades em quase

    todos os lugares. O paradoxo da democracia intricado: por um

    lado, ela est avanando em todo o globo mas, por outro, nas

    sociedades democrticas maduras que h muito tempo contam com

    instituies democrticas, notam-se altos nveis de desiluso em

    relao aos processos democrticos. A democracia enfrenta

    problemas em seus principais pases de origem na Gr Bretanha, na

    Europa e nos EUA, por exemplo, levantamentos mostram que

    propores cada vez maiores de pessoas esto insatisfeitas com o

    sistema poltico ou expressam indiferena em relao a ele.Por que h tantas pessoas descontentes com o mesmo sistema

    poltico que parece estar arrebatando o mundo inteiro? As respostas

    para essa questo esto curiosamente relacionadas aos fatores que

    auxiliaram na difuso da democracia o impacto das novas

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    tecnologias na rea das comunicaes e a globalizao da vida

    social.

    Conforme observou o socilogo norte-americano Daniel Bell, o

    governo nacional tornou-se pequeno demais para responder s

    grandes questes como a influncia da concorrncia econmica

    global ou a destruio do meio ambiente porm, grande demais para

    lidar com as pequenas questes, problemas que afetam cidades ou

    regies especficas. Os governos tm um poder restrito, por exemplo,

    sobre as atividades dos gigantes das corporaes empresariais a

    tores principais da economia global. Uma corporao dos EUA pode

    decidir pelo fechamento de suas usinas de produo na Gr-Bretanha,

    abrindo uma nova fbrica no Mxico em seu lugar, a fim de diminuircustos e competir de forma mais eficaz com outras corporaes. O

    resultado a demisso de milhares de trabalhadores britnicos, os

    quais provavelmente esperaro que o governo faa alguma coisa mas

    os governos nacionais no tm capacidade para controlar processos

    que estejam relacionados economia mundial.

    Em muitas democracias, os cidados demonstram pouca

    confiana em seus representantes eleitos, concluindo que a poltica

    nacional produz um impacto cada vez menor sobre suas vidas. H um

    cinismo crescente em relao aos polticos que alegam ter a

    habilidade de prever ou de controlar questes globais que estejam

    ocorrendo em nveis que ultrapassam os limites do Estado-nao.

    Muitos cidados entendem que os polticos so praticamente

    impotentes para influenciar mudanas globais, e, portanto, suspeitam

    muito das proclamaes de triunfalistas. Pesquisas pblicas de

    opinio realizadas em diversos pases do Ocidente revelam que os

    polticos tm um srio problema de imagem! cada vez maior o

    nmero de cidados a julgar que eles agem em interesse prprio e

    que no esto comprometidos com questes que preocupam o

    eleitorado.

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    Al gumas evi dnci as qu e leva m a ess a conc lus o fo ram

    extradas dos resultados de dois estudos de segmentos da populao

    recentes.

    Segundo os levantamentos, as atitudes polticas encontradas entre os

    britnicos jovens e os de meia-idade caracterizam-se mais pelo

    cinismo do que por qualquer outro fator. Entre os entrevistados noc o o r t e de 1970, 44% acreditavamque os polticos estavam na

    poltica em benefcio prprio.

    Trinta por cento daqueles que

    nasceram em 1958 concordavam

    que o partido poltico que est no poder praticamente irrelevante, jque h poucas vantagens diretas para os cidados comuns. Os

    levantamentos revelaram que o cinismo poltico mais pronunciado

    entre os indivduos que no possuem qualificaes educacionais

    (ESRC, 1997).

    Ao mesmo te mp o que hou ve um enc olhi mento do poder dos

    governos em relao s questes globais, as autoridades polticas

    tambm se distanciaram da vida da maioria dos cidados. Muitos

    cidados ficam indignados com o fato de que as decises que afetam

    suas vidas sejam tomadas por intermedirios do poder

    funcionrios a servio do partido, grupos de interesse, lobistas e

    servidores burocratas. Ao mesmo tempo, eles acabam acreditando na

    incapacidade do governo em lidar com questes locais importantes

    como o crime e os sem-teto. O resultado a queda substancial da

    confiana no governo, o que, por sua vez, afeta a disposio das

    pessoas de participar do processo poltico.

    Os efeitos da era da informao aberta so sentidos no

    apenas nos estados autoritrios, mas tambm nas democracias.

    Vivemos em um mundo no qual os cidados e o governo tm acesso a

    praticamente as mesmas informaes. At mesmo os governos

    CoorteSo estudos observacionais nos quaisos indivduos so classificados (ouselecionados) segundo o statusdeexposio

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    democrticos dependem h muito tempo de certos caminhos no-

    democrticos de operao que vo desde a corrupo at o

    favorecimento, os acordos secretos e as redes formadas por velhos

    amigos que hoje so rpida e freqentemente revelados graas aos

    avanos na tecnologia da informao. Alguns processos que

    costumavam ficar escondidos agora vm luz, provocando indignao

    e desiluso entre o eleitorado democrtico. Cada vez mais, os velhos

    mtodos vo enfraquecendo e as estruturas polticas existentes

    deixam de ser uma garantia.

    Hoje em dia, alguns observadores lamentam que os cidados

    dos estados democrticos estejam apticos e tenham perdido o

    interesse pelo processo poltico. verdade que os ndices de votaotm apresentado uma queda nas ltimas dcadas e que a afil iao,

    nos principais partidos polticos, tambm esteja em declnio. Contudo,

    um erro sugerir que as pessoas tenham perdido o interesse e a f

    na prpria democracia. As pesquisas de opinio mostram que a

    maioria dos habitantes dos pases democrticos citam a democracia

    como forma preferida de governo. Alm disso, h sinais de que, na

    verdade, o interesse na poltica vem aumentando, mas simplesmente

    estava sendo canalizado para outras direes, diferentes dos partidos

    polticos ortodoxos. O nmero de fil iados a grupos e associaes

    polticas est crescendo e os ativistas esto dedicando suas energias

    para novos movimentos sociais concentrados em torno de questes

    isoladas, como o meio ambiente, os direitos dos animais, a poltica

    comercial e no-proliferao nuclear [...].

    Qual ento o destino da democracia, numa poca na qual a

    governana democrtica parece estar despreparada para lidar com o

    fluxo dos eventos? Alguns observadores sugerem que haja pouco a

    ser feito, que o governo no pode esperar controlar as mudanas que

    ocorrem em ritmo acelerado nossa volta e que o modo de ao mais

    prudente esteja na reduo do papel do governo, permitindo que as

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    foras de mercado mostrem o caminho. Entretanto, esta uma

    abordagem suspeita. Em nosso mundo descontrolado, precisamos de

    um governo mais, no menos, atuante. Porm, um governo eficaz em

    nossa era exige que a democracia seja aprofundada no nvel do

    Estado-nao, bem como acima e abaixo deste nvel.Fonte: Giddens (2005, p. 347 350-352).

    F i g u r a 2 : M a p a r e p r e s e n t a t i v o d o a v a n o d o s r e g i m e s d e m o c r t i c o s .Fon te : G i d d e n s ( 2 0 0 5 , p . 3 4 8 - 3 4 9 ) .

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    REFERNCIASBENEVIDES, Maria V. Ns, o povo. Reformas polticas para

    radicalizar a democracia. In: BENEVIDES et al. Reforma poltica e

    cidadania. So Paulo: Fundao Perseu Abramo, 2003.

    BOBBIO, Norberto. Estado, governo e sociedade: para uma teoria

    geral da poltica. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

    DAHL, Robert. A moderna anlise poltica. So Paulo: Lidador,

    1970.

    DALLARI, Dalmo de Abreu. O que participao poltica. So

    Paulo: Brasiliense, 2004.

    DAHL, Robert. Poliarquia: participao e oposio. So Paulo:

    EDUSP, 1998.

    EASTON, David. Modalidades de anlise poltica. Rio de Janeiro:

    Jorge Zahar Editores, 1970.

    GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2005.

    LEO MAAR, Wolfgang. O que poltica. So Paulo: Brasiliense,

    2004.RUA, Maria das Graas. Anlise de polticas pblicas: conceitos

    bsicos. In: O estudo da poltica: textos introdutrios. Braslia: Paralelo

    15, 1995.

    SANTOS, Fabiano. A poltica como cincia ou em busca do

    contingente perdido. In: RUA, Maria das Graas et al. (Org.). O estudo

    da poltica: textos introdutrios. Braslia: Paralelo 15, 1998.

    SARTORI, Giovanni. A poltica. Braslia: Ed. UNB, 1981.WEBER, Max. Cincia e poltica: duas vocaes. So Paulo:

    Cultrix, 1992.

    WOLKMER, Antnio Carlos. Elementos para uma crtica do

    Estado. Porto Alegre: Srgio Fabris Editores, 1990.

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    UNIDADE 2Sistema poltico clssico e contemporneo e suas influncias em polticas

    empresariais

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    48OBJETIVO

    Nesta unidade, voc vai buscar desenvolver algumas consideraestericas e histricas sobre os sistemas polticos, destacando suas possveis

    interfaces com o universo das organizaes.

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    49A H ISTRIA DAS I DIAS DAS I NSTITUIES P O L T IC A S

    Essa afirmao leva

    concluso de que a

    atividade poltica sempre

    est em constante

    transformao, seja no

    plano das idias, das

    prticas ou das instituies.

    Um exemplo disso o fato de que, embora os partidos polticos sejam

    instituies fundamentais para a caracterizao de nossos sistemas

    polticos democrticos, isso no significa que eles no tenham sofrido

    ou venham a sofrer alteraes ao longo da histria, ou mesmo que se

    tornem dispensveis em futuras formas de organizao poltica.

    Vejamos, ento, alguns importantes elementos histricos

    caractersticos dos sistemas polticos.

    ATIVIDADE POLT ICA DE GRE GOS E ROM ANOSQualquer manual de Cincia

    Poltica, quando vai tratar da histria

    (das idias e instituies), deve iniciar

    pela Grcia, pelo simples fato, como

    vimos na Unidade 1, de que a idia depoltica surgiu na G rcia ant iga.Segundo Leo Maar (2004, p. 30) a

    origem do termo est associada a partir da atividade social

    desenvolvida pelos homens da polis, a 'cidade estado grega. O fato de

    a poltica, no contexto grego, ser uma atividade social a diferenciava

    Um primeiro aspecto a ser destacado, quandoanalisamos a poltica em perspectiva histrica, que ela resultado de um longo processo [...],durante o qual ela se firmou como atividade navida social dos homens (LEO MAAR, 2004, p.28).

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    de outros contextos, como o da Prsia

    ou do Egito, onde a atividade poltica

    seria a do governante, que comandava

    autocraticamente o coletivo em direo

    a certos objetivos (p. 30). Dessa forma,

    conclui Leo Maar que o que a poltica

    grega acrescenta aos outros estados

    a referncia cidade, ao coletivo da

    pol is, ao discurso, cidadania,

    soberania, lei ( idem).

    Dois pensadores so

    fundamentais em qualquer referncia

    vida poltica grega: Plato e Aristteles.

    A obra dess es dois pensa dores foi

    dedicada, dentre outras questes,

    busca dos fundamentos de qual seria a

    melhor forma de organizao poltica

    das sociedades (LEO MAAR, 2004, p.

    31). Nesse sentido, temos em Plato

    uma aposta na virtude do governante, que deveria conhecer os fins da

    Polis, de modo a oferecer uma luz que retirasse os sditos da

    escurido. J Aristteles defende a idia de que a poltica util iza

    todas as outras cincias e todas elas perseguem um determinado bem,

    o fim que ela persegue pode englobar todos os outros fins, a ponto de

    este fim ser o bem supremo dos homens ( idem).

    Um aspecto importante da experincia grega a ser destacado aassociao que se verifica nesse contexto entre as idias de t i c a ep o l t i c a. A poltica, nesse caso, seria a prpria materializao da tica,[...] um referencial para o comportamento individual em face do coletivo

    social, da multiplicidade da polis ( ibidem).

    Plato Na sc eu em At en as, em428 ou 427 a.C, e faleceu em 347a.C. De pais aristocrticos eabastados, de antiga e nobreprospia, temperamento artstico edialtico, (manifestao

    caracterstica e suma do gniogrego) deu, na mocidade, livrecurso ao seu talento potico, queo acompanhou durante a vidatoda, manifestando-se naexpresso esttica de seusescritos. Aos vinte anos, Platotravou relao com Scrates egozou por oito anos doensinamento e da amizade domestre. A coleo das obras dePlato compreende trinta e cincodilogos e um conjunto de treze

    cartas, dentre elas: Apologia deScrates, Banquete ou Do Bem,Repblica (livros II a X) ,Parmnidesou Das Formas.

    Disponvel em:

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    Quanto ao m o d e l o r o m a n o , cabe destacar o fato de termos a aexperincia da poltica como atividade centralizada e exercida por um

    Estado forte e centralizador (LEO MAAR, 2004, p. 32). A atividade

    poltica, nesse contexto, dizia respeito relao entre a autoridade do

    governante e os direitos e deveres dos governados, e seria efetuada por

    meio do instrumento do direito: o D ireito R omano . Por ele, garantia-sea no-interferncia do Estado na propriedade privada, nos interesses

    patrcios, a no-ingerncia do pblico, coletivo, no particular (LEO

    MAAR, 2004, p. 33).

    A IDADE MDIA E O RENASCIMENTOA Idade Mdia teve como elemento central de sua organizao

    poltica a associao entre o poder poltico e a religio (HELD, 1987).

    Nesse contexto, segundo Leo Maar (2004, p. 35), presenciaria uma

    duplicidade do poder, sendo o poltico exercido pela nobreza e o civil

    exercido pelo clero religioso.

    Ar ist t el es Na sc eu em Es ta gi ra , col n ia gr eg a daTrcia, no litoral setentrional do mar Egeu, em 384 a.C.

    Ao s de zoi to an os, em 36 7, foi pa ra At en as e ing re ssouna academia platnica, onde ficou por vinte anos, at amorte do mestre. Nesse perodo, estudou tambm osfilsofos pr-platnicos, que lhe foram teis naconstruo do seu grande sistema. Aristteles fundou oLiceu, a sudoeste de Atenas. Alguns exemplos de suasobras so: os Dilogos, trs livros sobre a filosofia,quatro livros sobre a justia, poemas, cartas, oraes,

    apologia, havendo nestas dvidas quanto a sua efetivaautoria.

    Disponvel em:http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/liceu/obras_aristoteles.htm

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    Quando se trata da organizao poltica da Idade Mdia, no se

    pode esquecer do R enascimento (sculo XV), enesse caso obrigatrio destacar a presena

    do pensador Nicolau Maquiavel (1469-1527).

    Em sua famosa obra O Prncipe, esse pensador

    formula uma srie de conselhos no sentido de o

    soberano conquistar e manter seu poder. Numa

    interpretao do pensamento de Maquiavel,

    pode-se afirmar que, para ele, a funo da

    poltica seria colocar ordem no mundo, a qual

    poderia ser interpretada como uma luta para

    conquistar, manter e conter o poder (HELD,

    1987).

    Esse pensador tambm desenvolveu as idias de v i r t u d e e f o r t u n a,que apontavam no sentido de que o bom governo aquele portador da

    virtude, ou seja, o conhecimento e a dedicao coisa pblica e

    fortuna, que estava associada dimenso do acaso, da sorte que todo

    governante precisa ter para se manter no poder. Por fim, temos em

    Maquiavel um conceito de governo r e p u b l i c a n o, que seria formado,segundo Magalhes (2001, p. 46), por: mecanismos capazes de fazer

    valer a vontade da maioria e educar os membros da comunidade para

    viverem de acordo com a liberdade cvica e que criem limites para o

    exerccio do poder arbitrrio, seja ele do prncipe, da aristocracia ou do

    prprio povo.

    A TEORIA POLTICA MODERNAA parti r do s cul o XVII , a grande inov ao nas fo rmas de pens ar a

    poltica aconteceu no movimento intelectual conhecido comoc o n t r a t u a l i s t a. Segundo Bobbio e Bovero (1994), num sentido amplo,

    Renascimento Foi um movimento intelectual, cientficoe artstico que teve sua maiorexpresso na Itlia, representouprecisamente a primeira erupo danova mentalidade racionalista, secular,que busca centrar a finalidade doconhecimento no homem e na vidamaterial, desvinculando as atividadespolticas de finalidades religiosas epassando a consider-las um conjuntode atividade com objetivosessencialmente mundanos(MAGALHES, 2001, p.41).

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    por contratualismo deveria se entender uma escola de pensamento

    poltico europeu, surgida entre os sculos XVII e XVIII, que colocava os

    fundamentos ou a origem do poder

    poltico num contrato firmado entre os

    homens. Os principais autores dessa

    escola foram Thomas Hobbes (1588-

    1679), John Locke (1632-1704) e Jean

    Jacques Rousseau (1712-1778).

    Deve-se destacar que cada um

    desses pensadores tinha uma viso

    diferenciada sobre a melhor forma de

    organizar o poder poltico. Enquanto

    Hobbes defendia o modelo das

    monarquias absolutas, Locke era

    militante da causa da monarquia

    constitucional. J Rousseau era

    defensor de um modelo republicano de

    organizao.

    O que unifica esses pensadores o fato de colocarem a origem do

    Estado na vontade dos homens. A idia do contrato pode ser vista como

    uma abstrao, no sentido de justificar o fenmeno estatal como

    construdo pela ao humana.

    Al guns co ncei to s so fundamenta is no vo cab ulr io cont ratu al ista

    (apesar das particularidades que cada autor confere a esses conceitos):estado de natureza: momento em que os homens vivem

    sem normas e regras de regulao da vida sociald i r e i t o s n a t u r ai s : direitos dos seres humanos que no so

    oriundos do Estado, mas derivados da razo humana (MAGALHES,

    2001)

    J e a n J a c q u e s R o u s s e a u nasceu em 28/07/1712, emGenebra, Sua, numa famlia deorigem francesa e protestante efaleceu em 1778. Rousseaudeclara-se inimigo do progresso.Para ele, o progresso das cinciase das artes tornou o homemvicioso e mau, corrompendo suanatureza ntima. Freqentementese resume a tese de Rousseauaos seguintes termos: o homem bom por natureza, a sociedade ocorrompe. Sua obra mais polmicae discutida O contrato social,nessa obra, ele pesquisa ascondies de um Estado socialque fosse legtimo, que no maiscorrompesse o homem.

    Disponvel em:

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    c o n t r a t o s o c i a l : momento em que os homens saem doEstado de natureza e decidem criar o Estado como instituio capaz de

    regular a vida social.

    Para alm desse universo conceitual, o que deve ser retido na

    anlise desses pensadores o fato de que temos a a construo de

    uma teoria da poltica, em que a poltica vista como produto da

    vontade dos homens, os quais tm direitos (os direitos naturais), e a

    funo do Estado proteg-los. Dessa afirmao deriva a idia de que

    com os contratualistas surgiram as primeiras construes intelectuais

    sobre o E s t a d o l i m i t a d o , seja no campo de suas f u n e s , seja nocampo de seus poderes .

    A te mti ca do Es ta do li mi ta do fo i amplia da por outros pensa dores,como o Baro de Montesquieu (1689-1755), John Stuart Mil l (1806-1873) e Adam Smith (1723-1790).

    J o h n S t u a r t M i l l na sc eu em Lo ndres , em 20 de mai o de 18 06 , efaleceu em Avinho, 8 de maio de 1873. Foi um filsofo, eeconomista e um dos pensadores liberais mais influentes do sculoXIX. Sucessor do liberalismo de John Locke, no sculo XIX, props,em seu E s s a y s o n G o v e r n m e n t (1978), a instituio do governorepresentativo, de carter eletivo, mediante o qual seus executivosseriam impedidos de abusar do poder, graas ao freio do exercciopor mandato de tempo limitado.

    Disponvel em:A d a m S m i t h co nsi de ra do o formul ad or da teo ri a ec on m ica ,nasceu em 1723, em Kirkcaldy, na Esccia e faleceu em17/06/1790. Grande parte das contribuies de Adam Smith para ocampo da economia no foi original, porm, ele foi o primeiro alanar os fundamentos para o campo dessa cincia.

    Disponvel em:

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    Tais pensadores podem ser

    enquadrados na tradio dol i b e r a l i s m o , que justamente temcomo princpio a defesa de que o

    Estado deve ter funes

    delimitadas, seja no campo de

    seus poderes (liberalismo

    poltico), seja no campo de suas

    funes (liberalismo econmico).

    A idia do cidad o porta dor de

    direitos inviolveis, como a vida

    ou a propriedade, argumentode origem tipicamente liberal,

    assim como tambm o a defesa

    de que o Estado deve ter suas

    funes limitadas para garantir o funcionamento do mercado, pois este

    resolveria os problemas de gerao do bem-estar coletivo, por meio da

    mo invisvel.

    Em autores como Montesquieu e John Stuart Mill, temos a defesa

    do Estado limitado em seus poderes, ou seja, a questo central desuas ref lexes como garantir que o poder do Estado no se tornea b s o l u t o . Para isso, o primeiro deles defendeu a idia de que a melhormaneira de limitar os poderes estatais por sua diviso em trs: o

    poder Executivo, o poder Legislativo e o Judicirio. Dessa forma, cada

    um deles teria funes delimitadas e seria exercido por pessoas

    distintas, funcionando como um sistema de pesos e contra-pesos, cada

    um controlando os demais. J John Stuart Mill defendeu a idia de que a

    melhor maneira de evitar um governo d e s p t i c o (de poderes il imitados)seria o governo representat ivo , ou seja, uma forma de organizaoinstitucional em que os vrios setores e as foras da sociedade

    pudessem estar representados no parlamento. Tais representantes,

    B a r o d e M o n t e s q u i e u Ca rl osLouis de Secondat, Baro de LaBrede e de Montesquieu (1689-1755),conhecido na histria comoMontesquieu, desempenhou um papel

    de destaque na transformao daFrana do sculo XVIII. Foipresidente do Parlamento deBordus, escritor, fi lsofo ehistoriador. Primeiro publicou vriosensaios sobre a fsica e histrianatural e depois se dedicou ao estudode histria, poltica e moral. Suaobra fundamental, que corresponde a40 anos de observao denomina-seO e s p r i t o d a s l e i s .Disponvel em:

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    porm, deveriam ter liberdade em relao a seus representados, para

    tomar as decises que acreditassem ser as melhores para a sociedade.

    Por fim, em Adam Smith, temos a defesa do Estado l imitado emsuas funes , aquilo que ficou conhecido como liberalismo econmico.Temos, nesse autor, a defesa de que o bom governo aquele que no

    intervm de modo nenhum na ordem econmica. Sua funo seria

    proteger a ordem na sociedade, bem como garantir a vigncia do

    princpio da propriedade privada. Segundo Smith, o governo, ao deixar a

    economia funcionar por conta prpria, estaria contribuindo para a

    produo do bem comum, pois haveria algo como uma mo invisvel

    que guiaria o mercado, de modo que, mesmo numa situao em que

    todos os participantes do mercado busquem o lucro e a acumulao, oresultado seria o bem-estar coletivo.

    As te orias li ber ai s oferecer am as base s par a a organi za o da

    maioria dos Estados europeus no perodo posterior Revoluo

    Francesa (1789), em que foram eliminadas as monarquias absolutas.

    Nesse novo contexto, as idias de livre mercado e direitos do cidado

    foram disseminadas e institudas em boa parte dos pases do Velho

    Mundo.K ARL MARX E A CRTICA AO ESTADO

    K a r l M a r x ec ono mist a, fi lsof o e so ci al ist a,nasceu em Trier, na Alemanha, em 5 de maio de1818, e morreu em Londres, na Inglaterra, em 14de maro de 1883. Estudou na Universidade deBerlim, principalmente a filosofia hegeliana, eformou-se em Iena, em 1841, com a tese Sobreas diferenas da filosofia da natureza deDemcrito e de Epicuro. Em 1864, Marx foi co-fundador da Associao Internacional dosOperrios, depois chamada I Internacional,desempenhando dominante papel de direo. Em1867, publicou o primeiro volume da sua obra

    rinci a l , O Ca i tal .

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    Se os liberais estavam preocupados em defender um Estado

    limitado em suas funes e poderes, o filsofo e economista alemoKarl Marx denunciou a sociedade capitalista como alienadora erepressiva e o Estado como um dos

    instrumentos que garantiriam a

    reproduo desse tipo de sociedade.

    Nesta perspectiva, o Estado seria um

    rgo de classe, pois suas funes

    estariam relacionadas para garantir a

    reproduo do modo de produo

    capitalista, cuja essncia seria a

    diviso da sociedade em classes(sendo as duas classes fundamentais

    a burguesia e o proletariado) e a

    explorao de uma maioria

    (proletariado) por uma minoria

    (burguesia).

    Na perspectiva de Marx, os ideais de liberdade e igualdade no

    passariam de uma maquiagem ideolgica para garantir a dominao daburguesia, no contexto do capitalismo. Haveria, no modo de produo

    capitalista, uma contradio entre a igualdade formal (perante a lei) e a

    igualdade real (ser proprietrio ou no das relaes de produo).

    Ap esar diss o, Marx ident ifi ca va no modo de produ o cap ita li sta

    um carter revolucionrio, pois este tinha como caracterstica bsica o

    fato de transformar constantemente a sociedade, mediante, por

    exemplo, as contnuas mudanas tecnolgicas. Esse fato, segundo

    Marx, ao mesmo tempo em que seria a fora desse modo de produo,

    seria tambm sua fraqueza, pois dessa mudana constante surgiriam

    aqueles que poderiam pr fim explorao do homem pelo homem, ou

    seja, aos proletrios. Nesse sentido, os proletrios seriam a classe

    que poria fim dominao burguesa, pela instaurao do c o m u n i s m o .

    Leitura Complementar

    Sobre as diferenciaes entreliberalismo poltico e liberalismoeconmico, ver : BOBBIO,Norberto. Liberalismo edemocracia. 3. ed. Braslia:Editora UNB, 1990.

    Para maiores esclarecimentossobre o contratualismo e osconceitos de repblica,monarquia, constitucionalismo,absolutismo, ver: BOBBIO.Dicionrio de poltica. Braslia:Editora UNB, 1992. 2 v.

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    Nas palavras de Sell (2001, p. 176), O centro das preocupaes

    polticas de Marx estava voltado para a superao da ordem social

    capitalista. Ele afirmava que somente a classe operria, pelo seu papel

    chave no capitalismo, tinha as foras e as condies para a revoluo

    que derrubaria a burguesia e comearia uma nova etapa da

    humanidade: a sociedade comunista.

    Esse processo em que o proletariado se torna uma classe

    revolucionria estaria marcado por sua organizao poltica por meio,

    primeiro, dos sindicatos e, depois, na forma de u m p a r t i d o p o l t i c o . Olivro O m a n i f e s t o d o p a r t i d o c o m u n i s t a foi escrito por Marx (1847)com o propsito de pensar um

    programa poltico para o proletariado.

    Nessa obra, que inicia com a famosa

    frase Proletrios do mundo, uni-

    vos!, identificam-se tambm algumas

    consideraes sobre o que seria uma

    sociedade comunista. Apesar de

    Marx ter escrito muito pouco sobre

    isso, dois elementos so essenciais ao pensar o comunismo (SELL,2001, p. 178):

    a abolio das classes sociais

    a abolio do Estado.

    Marx acreditava que o comunismo seria marcado pela associao

    livre dos trabalhadores, em que o livre desenvolvimento de cada um a

    condio para o livre desenvolvimento de todos (SELL, 2001, p. 178).Dessa forma, no teramos mais classes sociais na sociedade

    comunista.

    Dessa formulao surge que, se o Estado era produto da diviso

    da sociedade em classes, uma derivao lgica disso que, quando as

    classes sociais fossem extintas com o comunismo, o Estado no teria

    O Manif es t o do Part ido Comunis t afoielaborado por Marx e Engels comoprograma da Liga dos Comunistas pordeciso do seu II Congresso, realizadoem Londres, na Inglaterra, entre 29 denovembro e 8 de dezembro de 1847.Disponvel em:

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    mais razo de existir. Assim, uma segunda caracterstica do comunismo

    seria a extino do Estado.

    As id ias de Marx fo rnecer am o substr ato ideol g ico para os

    partidos comunistas e socialistas em todo o sculo XX. Tiveram sua

    aplicao nos experimentos socialistas derivados de revolues, como a

    Revoluo Russa de 1917, a Revoluo Chinesa de 1949, a Revoluo

    Cubana de 1959, alm de muitas outras. O chamado socialismo real

    entrou em grande crise aps a queda do muro de Berlim, em 1989, e a

    posterior dissoluo da Unio Sovitica em 1991.

    L IBERALISMO, KE YNESIANISMO E NEOLIBERALISMOCom relao organizao do Estado, na maioria dos pases do

    mundo, vigorou at os anos 30 do sculo XX o argumento da mo

    invisvel, formulado por Adam Smith, no qual o capitalismo aparecia

    como um sistema ideal em termos de racionalidade e eficincia,

    segundo Tosi Rodrigues (1995). Nesse construto, as funes do Estado

    deveriam limitar-se a fazer cumprir os contratos e garantir a propriedade

    privada.

    A Gra nd e De pr esso do s ano s 30 foi um fen m en o mun di al , qu e af et ou

    todas as grandes economias capitalistas. Nos Estados Unidos, porexemplo, em 24 de outubro de 1929 (um dia que ficou conhecido comoquinta-feira negra), a bolsa de valores de Nova Iorque teve umaqueda brusca nas cotaes dos ttulos, fenmeno que acaboudestruindo toda a confiana na economia. Com isso, os empresriosreduziram a produo e os investimentos, o que causou a diminuioda renda nacional e do nmero de empregos, diminuindo mais ainda aconfiana na economia. Antes de encerrado o processo, milhares deempresas tinham ido falncia, milhes de pessoas tinham ficado sememprego e estava sendo preparada uma das maiores catstrofes dahistria (HUNT, 1984 apud TOSI RODRIGUES, 1995, p. 3).

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    Porm, j no final do referido sculo, o funcionamento real do

    capitalismo comeava a apresentar

    evidncias que contrariavam suas

    teorias justificadoras. Em vez da mo

    invisvel que produziria o bem

    comum, o que se observava era a concentrao de